Você está na página 1de 24

Direito Constitucional - Poder Executivo

1. INTRODUÇÃO

O Brasil adota o sistema de governo presidencialista desde a Constituição de 1891, tendo


sido interrompido apenas em um breve período, de 1961 a 1963. Nele, o Presidente assume a função
de Chefe de Estado (representação externa) e de Chefe de Governo (gerência interna). Os Ministros,
seus auxiliares, são livremente escolhidos e demissíveis ad nutum, sem necessidade de
fundamentação.

No nosso sistema presidencialista, o Presidente não possui qualquer possibilidade de


dissolver o parlamento, sendo a mera tentativa disso uma absoluta afronta à separação dos
Poderes, ao contrário do que ocorre na maioria dos sistemas parlamentaristas.

O padrão de governança desenvolvido no Brasil pós-ditatorial é denominado no âmbito da


ciência política como PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO, “cujo principal eixo de impacto está na
relação entre os Poderes Executivo e Legislativo”. A expressão, cunhada por Sérgio Henrique
Abranches, aponta para um “dilema institucional” brasileiro. Mesmo eleito diretamente (o que não
ocorre no parlamentarismo, onde o Legislativo forma o gabinete governamental), o presidente da
República torna-se refém do Congresso. Este, por outro lado, embora forte o bastante para azucrinar
1
a vida do presidente de plantão, não possui musculatura suficiente para ditar o ritmo da política e
enfrentar com razoável autonomia e celeridade as grandes questões nacionais.

2. FUNÇÕES

Tradicionalmente, o Poder Executivo tem a função de governo, com atribuições políticas,


colegislativas e de decisão, e função administrativa, manifestada pela intervenção, fomento e
prestação de serviços públicos.

Como se pode depreender, a designação Poder Executivo acaba por descrever, de forma
acanhada, as funções desempenhadas, que, por óbvio, transcendem a mera execução da lei. Daí
anota Konrad Hesse que a expressão Poder Executivo acabou por transformar-se numa referência
geral daquilo que não está compreendido nas atividades do Poder Legislativo e do Poder Judiciário.
A ideia abrange funções de governo e administração, não obstante os demais Poderes também
terem essas atribuições de forma pontual (como funções atípicas).
Direito Constitucional - Poder Executivo

3. INVESTIDURA

O Presidente e o Vice Presidente são eleitos pelo sistema eleitoral majoritário de dois
turnos (e não o puro ou simples), já que será considerado eleito o candidato que obtiver a maioria
dos votos válidos. Entretanto, se no primeiro turno essa maioria não for alcançada, necessariamente
deverá haver um segundo turno.

Votos válidos são os votos que não são em branco ou nulos (art. 77, § § 2º e 3º).

O Presidente é eleito simultaneamente ao Vice, por meio de sufrágio universal e pelo voto
direto e secreto, em eleição realizada no primeiro e no último domingo de outubro do ano eletivo,
para o primeiro e segundo turno, respectivamente.

Antigamente, o Brasil adotava sistema pelo qual o Vice-Presidente seria o segundo colocado
nas eleições. Entretanto, isso era algo que causava bastantes problemas políticos, já que quando o
Presidente tinha de ser substituído, o Vice avacalhava tudo.

Art. 77. A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República realizar-se-á,


simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo
de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato 2
presidencial vigente.

§ 1º - A eleição do Presidente da República importará a do Vice-Presidente com ele


registrado.

§ 2º - Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado por partido político,
obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos.

§ 3º - Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação, far-se-á nova


eleição em até vinte dias após a proclamação do resultado, concorrendo os dois candidatos
mais votados e considerando-se eleito aquele que obtiver a maioria dos votos válidos.

§ 4º - Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, desistência ou impedimento


legal de candidato, convocar-se-á, dentre os remanescentes, o de maior votação.

§ 5º - Se, na hipótese dos parágrafos anteriores, remanescer, em segundo lugar, mais de


um candidato com a mesma votação, qualificar-se-á o mais idoso.

São requisitos para a candidatura ao cargo de Presidente e Vice:

a) Ser brasileiro nato;

b) Estar em pleno gozo dos direitos políticos;

c) Ter mais de 35 anos;


Direito Constitucional - Poder Executivo

d) Filiação a partido político;

e) Possuir alistamento eleitoral.

Se antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, desistência ou impedimento legal de


candidato a Presidente, será convocado o terceiro colocado nas eleições. Em qualquer caso, se
houver empate entre os candidatos que figurarem em segundo lugar na disputa, qualificar-se-á o
mais idoso. Se essas situações recaírem sobre o Vice, outro deve ser escolhido. Porém, SE A
MORTE OU DESISTÊNCIA OCORRER APÓS A ELEIÇÃO, MAS ANTES DA DIPLOMAÇÃO,
CONSIDERAR-SE-Á ELEITO O VICE-PRESIDENTE.

A posse de Presidente e Vice deverá ocorrer no dia 1º de janeiro do ano subsequente às


eleições, em sessão conjunta do Congresso Nacional. Se após decorridos 10 dias da data fixada
para a posse, um dos dois candidatos não tiver assumido, o cargo será considerado
automaticamente vago, salvo motivo de força maior.

Art. 78. O Presidente e o Vice-Presidente da República tomarão posse em sessão do


Congresso Nacional, prestando o compromisso de manter, defender e cumprir a
Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união,
a integridade e a independência do Brasil. 3
Parágrafo único. Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o Presidente ou o
Vice-Presidente, salvo motivo de força maior, não tiver assumido o cargo, este será
declarado vago.

Nessa situação, o cargo só será declarado vago se não comparecerem, sem motivo de
força maior, os dois candidatos. SE APENAS O VICE NÃO COMPARECER, O PRESIDENTE
TOMARÁ POSSE E GOVERNARÁ TODO O PERÍODO SEM VICE. SE APENAS O PRESIDENTE
NÃO COMPARECER, O VICE TOMARÁ POSSE DA PRESIDÊNCIA E GOVERNARÁ SEM VICE.

Isso é interessante, pois o Brasil admite que haja somente Presidente, sem Vice. Nos
EUA não se admite a inexistência de vice. Se vagar o cargo do PR e o vice assumir, tem que ter a
escolha obrigatória de um vice. É um processo sumário nos EUA. O PR indicará um senador para
ser vice. É uma forma que a constituição americana prevê para ocupar o cargo de vice PR.

4. REELEIÇÃO
Direito Constitucional - Poder Executivo

A Emenda Constitucional nº 16/97 introduziu o instituto da reeleição de cargos do Poder


Executivo (CR, art. 14, § 5), permitindo que o Presidente da República, o Governador de Estado ou
o Prefeito postulem um novo mandato.

O texto constitucional não contemplou qualquer exigência quanto à necessidade de


desincompatibilização, de modo que a candidatura à reeleição dá-se com o candidato no exercício
efetivo do cargo.

Evidentemente que, na condição de Presidente, ele não poderá fazer campanha política (o
que é totalmente ignorado pelos candidatos).

Também não há qualquer restrição quanto à possibilidade de nova eleição para períodos
descontínuos. O Presidente da República reeleito poderá, após deixar o cargo, vir a postular nova
investidura. Assim, somente não se admite três mandatos seguidos.

5. VICE PRESIDENTE

Além das funções relacionadas com a substituição do Presidente da República, o Vice-


Presidente exercerá as atribuições que lhe forem conferidas em lei complementar1 e outras missões 4
que lhe forem confiadas pelo Presidente da República (CR, art. 79, parágrafo único). O Vice-
Presidente da República integra o Conselho da República (art. 89) e o Conselho de Defesa (art. 91).

Discutiu-se, recentemente, se o Vice-Presidente da República poderia ser designado para


cargo de Ministro de Estado. Não há no texto constitucional qualquer óbice a tal designação.
Evidentemente, caso tenha de substituir o Presidente da República, o Vice-Presidente ocupante
de uma pasta dela deverá licenciar-se passando os encargos do Ministério a quem for designado
para substituí-lo.

6. IMPEDIMENTOS E VACÂNCIA

Impedimentos são afastamentos temporários do Presidente, hipótese em que o Vice o


substituirá no exercício pleno da presidência.

Vacância é o afastamento definitivo do Presidente, decorrente de morte, renúncia ou perda


do cargo, hipótese na qual o Vice irá sucedê-lo, exercendo definitivamente o restante do mandato.

1 Essa LC não existe ainda.


Direito Constitucional - Poder Executivo

Presidente e Vice poderão ausentar-se do país por mais de 15 dias somente se houver
autorização do Congresso Nacional, mediante decreto legislativo, sob pena de perda do cargo. Essa
regra, por força do princípio da simetria, é de observância obrigatória pelos estados-membros.
Ressalte-se que a constituição estadual não pode fixar prazo inferior a 15 dias como nesses casos
de ausência do chefe do executivo (STF. Plenário. ADI 775/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
3/4/2014 e STF. Plenário. ADI 2453/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/4/2014.)

Se houver vacância do cargo de Presidente e Vice, serão chamados para substituí-lo,


temporariamente e nesta ordem, os Presidentes da Câmara, do Senado e do STF (art. 80, CR/88),
que exercerão o cargo até que (art. 81):

a) Se faça nova eleição direta em 90 dias, caso as vagas surjam antes de decorridos dois
anos do mandato;

b) Se faça eleição indireta em 30 dias pelo Congresso Nacional, se vagos os cargos nos
últimos dois anos.

Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presidente, ou vacância dos


respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o
Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal
5
Federal.

Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição


noventa dias depois de aberta a última vaga.

§ 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para
ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional,
na forma da lei.

§ 2º - Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus antecessores.

Em ambos os casos, os empossados irão apenas completar o restante do período do


mandato, podendo ser reconduzidos, mediante reeleição, apenas por uma vez.

Sobre os substitutos eventuais do Presidente da República a que se refere o art. 80 da CF/88,


STF decidiu que caso ostentem a posição de réus criminais perante o STF, ficarão impossibilitados
de exercer o ofício de Presidente da República. No entanto, mesmo sendo réus, podem continuar na
chefia do Poder por eles titularizados:

O Tribunal referendou parcialmente medida cautelar deferida em arguição de


descumprimento de preceito fundamental para assentar que os substitutos eventuais do
presidente da República a que se refere o art. 80 da CF, caso ostentem a posição de réus
criminais perante o STF, ficarão impossibilitados de exercer o ofício de presidente da
República e, por maioria, negou referendo à liminar, no ponto em que ela estendia a
Direito Constitucional - Poder Executivo

determinação de afastamento imediato desses mesmos substitutos eventuais do presidente


da República em relação aos cargos de chefia e direção por eles titularizados em suas
respectivas Casas. (...) Ressaltou que a cláusula inscrita no art. 86, § 1º, da CF torna claro
o sentido de intencionalidade do constituinte, que quis impor ao presidente da República o
afastamento cautelar (e temporário) do desempenho do mandato presidencial, considerada,
em essência, a exigência de preservação da respeitabilidade das instituições republicanas,
que constitui, na verdade, o núcleo que informa e conforma esse processo de suspensão
preventiva. Por isso, os substitutos eventuais do presidente da República, se tornados réus
criminais perante o STF, não poderiam ser convocados para o desempenho transitório do
ofício presidencial, pois não teria sentido que, ostentando a condição formal de acusados
em juízo penal, viessem a dispor de maior poder jurídico, ou de maior aptidão, que o próprio
chefe do Poder Executivo da União, titular do mandato presidencial. Por consequência, os
agentes públicos que detêm as titularidades funcionais que os habilitam,
constitucionalmente, a substituir o chefe do Poder Executivo da União em caráter eventual,
caso tornados réus criminais perante esta Corte, não ficariam afastados, ipso facto, dos
cargos de direção que exercem na Câmara dos Deputados, no Senado Federal e no STF.
Na realidade, apenas sofreriam interdição para o exercício do ofício de presidente da
República. (ADPF 402 MC-REF, rel. min. Marco Aurélio, j. 7-12-2016, P, Informativo 850)

7. ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA (ART. 84)

Compete privativamente ao Presidente da República:

I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;


6
II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração
federal;

III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição;

Em relação a essa iniciativa, se não houver prazo determinado na Constituição da


República, não pode a Constituição do Estado ou a Lei Orgânica Municipal fixá-lo:

EMENTA [...] 2. Os arts. 19 e 29 do ADCT da Constituição do Rio Grande do Sul incidem


em inconstitucionalidade formal, por ofensa às regras de competência legislativa privativa
da União (art. 22, VII e XX, CF/88). Criação de loterias e implantação do seguro rural no
Estado. Embora ausente conteúdo normativo obrigacional ou estruturador, o simples
comando de produção legislativa abre margem para que o Estado do Rio Grande do Sul
edite diplomas sobre matérias que não lhe são afetas, como decorre da repartição de
competências estabelecida na Constituição Federal. 3. É inconstitucional qualquer
tentativa do Poder Legislativo de definir previamente conteúdos ou estabelecer
prazos para que o Poder Executivo, em relação às matérias afetas a sua iniciativa,
apresente proposições legislativas, mesmo em sede da Constituição estadual,
porquanto ofende, na seara administrativa, a garantia de gestão superior dada ao
Chefe daquele poder. Os dispositivos do ADCT da Constituição gaúcha, ora questionados,
exorbitam da autorização constitucional de auto-organização, interferindo indevidamente na
necessária independência e na harmonia entre os Poderes, criando, globalmente, na forma
nominada pelo autor, verdadeiro plano de governo, tolhendo o campo de discricionariedade
e as prerrogativas próprias do chefe do Poder Executivo, em ofensa aos arts. 2º e 84, inciso
II, da Carta Magna. 4. Ação direta de inconstitucionalidade de que se conhece parcialmente
e que se julga, na parte de que se conhece, procedente.
Direito Constitucional - Poder Executivo

(ADI 179, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 19/02/2014,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-062 DIVULG 27-03-2014 PUBLIC 28-03-2014)

IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e


regulamentos para sua fiel execução;

Sobre os decretos regulamentares, tem-se: A diferença entre lei e regulamento, no Direito


brasileiro, não se limita à origem ou à supremacia daquela sobre este. A distinção
substancial reside no fato de que a lei pode inovar originariamente no ordenamento jurídico,
enquanto o regulamento não o altera, mas tão-somente fixa as “regras orgânicas e
processuais destinadas a pôr em execução os princípios institucionais estabelecidos por lei,
ou para desenvolver os preceitos constantes da lei, expressos ou implícitos, dentro da órbita
por ele circunscrita, isto é, as diretrizes, em pormenor, por ela determinada”. (Gilmar
Mendes).

V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente;

VI - dispor, mediante decreto, sobre:(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de


2001) trata-se, aqui, de decreto autônomo, com força de lei. Atribuição delegável.

a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de


despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; (Incluída pela Emenda Constitucional
nº 32, de 2001)

b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; (Incluída pela Emenda


Constitucional nº 32, de 2001) 7
VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes
diplomáticos;

VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso


Nacional; o referendo se dá por decreto legislativo

IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio; o Estado de sítio somente é


decretado após autorização do Congresso Nacional por Decreto Legislativo

X - decretar e executar a intervenção federal;

XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional por ocasião da abertura


da sessão legislativa, expondo a situação do País e solicitando as providências que julgar
necessárias;

XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos
instituídos em lei; Atribuição delegável.

XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os Comandantes da


Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los para
os cargos que lhes são privativos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de
02/09/99)

XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal
Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da
Direito Constitucional - Poder Executivo

República, o presidente e os diretores do banco central E OUTROS SERVIDORES,


QUANDO DETERMINADO EM LEI; aprovação mediante Resolução

XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do Tribunal de Contas da União;

XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição, e o Advogado-Geral


da União;

XVII - nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII;

XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional;

XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional
ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas
mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional;

XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional; autorização


ou referendo feito por decreto legislativo

XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas;

XXII - permitir, nos casos previstos em LEI COMPLEMENTAR, que forças estrangeiras
transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente;

XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes 8


orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta Constituição;

XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta dias após a


abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior;

XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei; Atribuição delegável
somente quanto ao provimento, segundo o paragrafo único. O STF entendeu que,
pelo paralelismo das formas, também é competente o presidente da república para
desprover o cargo público federal, na forma da lei. Nesse sentido, o STF decidiu ser
válida a DELEGAÇÃO de poderes feita pelo Presidente da República a Ministro de
Estado a fim de que este possa aplicar pena de DEMISSÃO (desprover) a servidor
federal (STF, MS 25.518).

XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62;

XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Constituição.

Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribuições mencionadas


nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da
República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas
respectivas delegações.

Todas essas atribuições, ressalvadas as que ficaram consignadas, são indelegáveis. Além
disso, elas não são exaustivas, apenas exemplificativas.
Direito Constitucional - Poder Executivo

Todas as atribuições privativas são extensíveis, no que couber, e por força do federalismo e
do princípio da simetria, aos demais Chefes dos Poderes Executivos de outros entes federados.

8. MINISTROS DE ESTADO

Os Ministros de Estado são auxiliares do Presidente da República na direção superior da


Administração Federal. Os Ministros são de livre nomeação pelo Presidente da República, podendo
ser por ele exonerados a qualquer tempo, sendo desnecessária a sabatina do Senado Federal,
salvo para o presidente do BACEN, que é equiparado.

Poderão ser Ministros quaisquer brasileiros, natos ou naturalizados, maior de 21 anos e no


pleno exercício de seus direitos políticos; porém, somente poderá ser ministro da defesa
brasileiro nato.

São atribuições do Ministro de Estado, além de outras que lhe sejam delegadas pelo
Presidente da República, exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades
da Administração Federal na área de sua competência e referendar atos e decretos assinados pelo
Presidente da República, expedir instruções para execução de leis, decretos e regulamentos (CR,
art. 87, parágrafo único).
9

Como visto anteriormente, os Ministros poderão até mesmo editar decretos autônomos, caso
lhes seja delegada essa prerrogativa pelo Presidente.

Os Ministros de Estado serão processados e julgados, nas infrações penais comuns e nos
crimes de responsabilidade, pelo STF (CR, art. 102,1, c).

Nos crimes de responsabilidade conexos com os do Presidente da República, serão


processados pelo Senado Federal (CR, art. 52, I ) .

Os mandados de segurança e os habeas data impetrados contra atos de Ministro de Estado


serão julgados pelo STJ (CR, art. 105, b). Também os habeas corpus nos quais Ministro de Estado
for apontado como autoridade coatora serão julgados pelo STJ (CR, art. 105, I, c).

Porém, se o MS for impetrado em face de órgão colegiado presidido por Ministro de Estado,
a competência não será do STJ, e sim do juízo competente para julgar demandas em face de tal
órgão. Nesse sentido:

COMPETÊNCIA - MANDADO DE SEGURANÇA - ATO DE MINISTRO DE ESTADO


PRATICADO NA QUALIDADE DE PRESIDENTE DE ÓRGÃO COLEGIADO - JUÍZO
FEDERAL x SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. A luz do disposto no artigo 105, inciso I,
Direito Constitucional - Poder Executivo

alinea "b", da Constituição da República, a competência do Superior Tribunal de Justiça em


mandado de segurança pressupoe a posição do Ministro de Estado, como autoridade
coatora, considerado o ato, comissivo ou omissivo, ligado a atividade especifica que exerca,
inerente ao cargo, ou seja, a atuação, em si, como Ministro de Estado, a integrar a mais alta
equipe de assessores do Presidente da Republica. Tratando-se de procedimento relativo
a órgão colegiado, como e o caso do Conselho Curador do Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço, do qual o Ministro do Trabalho e presidente por força do disposto
no par. 1. do artigo 3., da Lei n. 8.036/90, a competência para processar e julgar o
mandado de segurança e do JUÍZO FEDERAL. Precedente: recurso em mandado de
segurança n. 10.078-DF, Pleno do Supremo Tribunal Federal, relator designado Ministro
Pedro Chaves, julgado em 22 de agosto de 1962, publicado na Revista Trimestral de
Jurisprudência n. 28, paginas 90 a 92.

(STF, RMS 21560, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, TRIBUNAL PLENO, julgado em
24/11/1992, DJ 18-12-1992 PP-24375 EMENT VOL-01689-02 PP-00289)

9. REQUISITOS ESPECIAIS PARA DETERMINADOS CARGOS DE


MINISTROS E MINISTROS EQUIPARADOS

Tema interessante colocou-se na ação direta de inconstitucionalidade proposta contra a


Medida Provisória n. 207, de 2004, convertida na Lei n. 11.036/2004, que transformou o cargo de
Presidente do Banco Central em cargo de Ministro de Estado.
10
Sustentou-se que o Presidente do Banco Central não poderia ser titular de cargo de
Ministro de Estado por estar submetido, nos termos da Constituição, a um regime próprio de
nomeação — aprovação pelo Senado Federal (CR, arts. 52, III, d, e 84, I e XIV). Suscitou-se que
o ato impugnado seria ofensivo ao princípio da separação de Poderes. Quando a Constituição diz,
no art. 84, I, que compete privativamente ao Presidente da República nomear e exonerar os Ministros
de Estado, obviamente está implícito que tal nomeação se dará na forma da Constituição e da lei.
Não poderá, por exemplo, o Presidente nomear um menor de 21 anos para chefiar um Ministério.
Também não poderá nomear alguém que esteja privado de seus direitos políticos (CR, art. 87).

No caso da nomeação do Presidente do Banco Central, por evidente, haverá um


procedimento constitucional específico, que terá como pressuposto a aprovação prévia pelo Senado,
nos termos do art. 52, III, d. Não vejo, portanto, como interpretar a norma impugnada como
autorizadora do afastamento da exigência constitucional de prévia aprovação pelo Senado.

De resto, o modelo constitucional contém algumas situações que demonstram tratamento


bastante casuístico no que toca aos cargos mais elevados da República.

Notório exemplo é o do Advogado-Geral da União, que é Ministro por determinação


legal. No plano constitucional, o Advogado-Geral, nomeado e diretamente subordinado ao
Direito Constitucional - Poder Executivo

Presidente, possui requisitos para a nomeação que são mais rigorosos em relação aos demais
Ministros. Exige-se idade mínima de 35 anos, reputação ilibada e notório conhecimento jurídico. No
que toca à prerrogativa de foro, também há um tratamento constitucional diferenciado. O
Advogado-Geral, em relação ao crime de responsabilidade, é sempre julgado perante o
Senado (CR, art. 52, II), tal como o Presidente da República, o Procurador-Geral da República
e os Ministros do Supremo Tribunal Federal.

Já os Ministros de Estado, no que toca aos crimes de responsabilidade, com ressalva de


atos conexos a atos do Presidente, em regra são julgados perante o STF (CR, art. 102, I, c).

Outro exemplo interessante de situação singular é o dos Comandantes Militares. Não


obstante os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica estarem subordinados
ao Ministério da Defesa, remanescem eles com foro especial perante o Supremo Tribunal
Federal. Note-se que tais autoridades nem sequer possuem status de Ministro. Por fim, estão
abrangidos pela mesma disposição que confere prerrogativa de foro aos Comandantes Militares os
chefes de missão diplomática de caráter permanente (CR, art. 102, I, c). Também aqui tem-se
tratamento idêntico entre autoridades de diferentes hierarquias, tendo em vista que os chefes de
missão diplomática estão subordinados ao Ministro das Relações Exteriores.2 11
10. EXERCÍCIO DO CARGO DE MINISTRO POR PARLAMENTAR E
QUEBRA DE DECORO

O deputado federal ou senador da República poderá ser nomeado para o cargo de Ministro
de Estado (CR, art. 56, I). Nesse caso, faculta-se-lhe a opção "pela remuneração do mandato" (CR,
art. 56, § 39).

É de indagar, assim, sobre o regime de responsabilidade do parlamentar no exercício do


cargo de Ministro de Estado: estaria submetido somente ao regime da responsabilidade do aludido
cargo? Poderia também vir a ser responsabilizado na condição de parlamentar, por eventual atentado
ao decoro (CR, art. 55 , II)?

O STF CONSIDEROU, NO "CASO JOSÉ DIRCEU", QUE O EXERCÍCIO DO CARGO


DE MINISTRO NÃO TORNA O PARLAMENTAR, A PRIORI,

2
extraído do livro do Gilmar Mendes
Direito Constitucional - Poder Executivo

INDENE À PERSECUÇÃO DISCIPLINAR POR EVENTUAL QUEBRA DE DECORO


POR ATO PRATICADO NO EXERCÍCIO DESSE CARGO.

11. ÓRGÃOS CONSULTIVOS

Existem dois órgãos consultivos do Presidente da República, o Conselho de Defesa Nacional


e o Conselho da República.

Ambos terão manifestação obrigatória quando a Constituição o exigir, mas meramente


opinativa, sendo que em nenhum deles participa o Presidente do STF.

11.1. CONSELHO DE DEFESA NACIONAL

O Conselho de Defesa configura órgão de consulta do Presidente da República para


assuntos relacionados à soberania nacional e à defesa do Estado democrático e dele
participam, como membros natos, o Vice-Presidente da República, o Presidente da Câmara dos
Deputados, o Presidente do Senado Federal, o Ministro da Justiça, o Ministro de Estado da Defesa,
o Ministro das Relações Exteriores, o Ministro do Planejamento e os Comandantes da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica. 12
Compete ao Conselho de Defesa opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de celebra-
ção da paz, nos termos da Constituição, sobre a decretação do estado de defesa, do estado de sítio
e da intervenção federal, propor os critérios e condições de utilização de áreas indispensáveis à
segurança do território nacional e opinar sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira
e nas relacionadas com a preservação e a exploração dos recursos naturais de qualquer tipo,
estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento de iniciativas necessárias a garantir a
independência nacional e a defesa do Estado democrático (CR, art. 91).

O funcionamento do Conselho Nacional de Defesa está disciplinado pela Lei nº 8.183, de 1993.

11.2. CONSELHO DA REPÚBLICA

A Constituição concebeu como elevado órgão de consulta do Presidente da República o


Conselho da República, composto pelo Vice-Presidente da República, pelo Presidente da Câmara
dos Deputados, pelo Presidente do Senado Federal, pelos líderes da maioria e da minoria na Câmara
dos Deputados, pelos líderes da maioria e da minoria no Senado Federal, pelo Ministro da Justiça e
por seis cidadãos brasileiros natos, com mais de 35 anos de idade, sendo dois nomeados pelo
Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos
Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução.
Direito Constitucional - Poder Executivo

Compete ao Conselho da República pronunciar-se sobre a intervenção federal, estado


de defesa e estado de sítio e sobre questões relevantes para a estabilidade das instituições
democráticas (CR, arts. 89 e 90).

A organização e o funcionamento do Conselho estão disciplinados pela Lei nº 8.041, de 1990.

12. RESPONSABILIZAÇÃO

12.1. CRIMES DE RESPONSABILIDADE

Crimes de responsabilidade são infrações político-administrativas, definidas na Constituição


ou em lei federal, que poderão ser cometidas no desempenho de função pública e poderão resultar
no impedimento para o exercício da função pública ou na vacância do cargo.

São exemplos de crimes de responsabilidade, em rol não taxativo previsto na CR/88, em


relação às condutas do Presidente (art. 85):

a) Atos que atentem contra a Constituição;

b) Atos que atentem contra o livre exercício do Poder Legislativo, Judiciário e do MP; 13
c) Atos que atentem contra o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;

d) Atos que atentem contra a segurança interna do país;

e) Atos que atentem contra a probidade na administração, a lei orçamentária e o cumprimento


das leis e das decisões judiciais.

O STF se posiciona no sentido de que somente a União dispõe de competência para a


definição formal dos crimes de responsabilidade, pois eles têm caráter de Direito Penal.

Súmula 722, STF: “São da competência legislativa da União a definição dos crimes de
responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento”.

Súmula vinculante 46: A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das


respectivas normas de processo e julgamento são da competência legislativa privativa da União.

O julgamento dos crimes de responsabilidade ocorrerá no Senado Federal, após


autorização não vinculativa (a autorização permite a revisão pelo Senado – Caso Dilma) da
Câmara dos Deputados, e será presidido pelo Presidente do STF.
Direito Constitucional - Poder Executivo

Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara
dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas
infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.

§ 1º - O Presidente ficará suspenso de suas funções:

I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo Supremo


Tribunal Federal;

II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo Senado Federal.

§ 2º - Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver concluído,
cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do
processo.

§ 3º - Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente


da República não estará sujeito a prisão.

§ 4º - O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser


responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.

Qualquer cidadão é parte legítima para oferecer acusação contra o Presidente perante a
Câmara, pela prática de crime de responsabilidade.
14
O EXAME REALIZADO PELA CÂMARA TEM NATUREZA POLÍTICA E DISCRICIONÁRIA,
E CONSISTIRÁ NUM JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DA DENÚNCIA, CABENDO,
POSTERIORMENTE, AO SENADO PROLATAR OUTRA DECISÃO SOBRE A
ADMISSIBILIDADE, POR MAIORIA SIMPLES.

A votação quanto à admissibilidade ou não da denúncia, perante a Câmara dos Deputados,


HÁ DE FAZER-SE DE FORMA NOMINAL ABERTA, somente sendo aceita a denúncia em face do
Presidente por 2/3 dos votos dos Deputados. O exame realizado pela Câmara dos deputados, sobre
a procedência ou improcedência da acusação é de natureza política, com forte conteúdo de
discricionariedade: não examinará propriamente se houve cometimento de crime de
responsabilidade, mas sim a conveniência política social da instauração do processo de impedimento
do Presidente da República no Senado Federal.

O simples oferecimento da acusação à Câmara já coloca o Presidente na condição de


acusado, razão pela qual lhe deverá ser assegurado o direito à ampla defesa e ao
contraditório, sob pena de nulidade do procedimento.

Lembrar que o STF já decidiu ser legítimo que a Mesa da Câmara indefira liminarmente o
pedido de impeachment se manifestamente incabível.
Direito Constitucional - Poder Executivo

Assim que instaurado o julgamento do Presidente no Senado Federal, ele ficará suspenso de
suas funções, somente retornando ao cargo se for absolvido ou, decorridos 180 dias, o julgamento
não estiver concluído.

O Presidente somente será condenado por crime de responsabilidade pelo voto de 2/3 dos
Senadores, em votação nominal aberta, fato que acarretará a perda do cargo e inabilitação, por
oito anos, para o exercício de qualquer cargo, função ou emprego público.

A sentença do julgamento será formalizada por meio de expedição de uma Resolução do


Senado; de acordo com o STF, a renúncia ao cargo, na sessão de julgamento, não paralisa o
processo de impeachment. Mais: se apresentada a denúncia enquanto ele estiver no cargo,
mesmo após o término do mandato, o julgamento prosseguirá.

Por fim, não poderá o Poder Judiciário, de forma alguma, alterar a decisão proferida pelo
Senado no processo de impeachment; somente poderá se manifestar, quando provocado, acerca
das garantias constitucionais.

É importante lembrar que, no Caso Dilma, o Senado permitiu o fracionamento da


responsabilidade, já que houve apenas a perda da função, sem a inabilitação para o exercício 15
das funções públicas ou a suspensão dos direitos políticos.

RITO QUE SERÁ ADOTADO3

A partir do que o STF decidiu acima, podemos identificar as seguintes etapas principais do
rito do processo de impeachment.

CÂMARA DOS DEPUTADOS (FASE DE JUÍZO DE ADMISSIBILDADE)

• O Presidente da Câmara admite ou não o prosseguimento da denúncia.

• Não há direito à defesa prévia antes do recebimento da denúncia pelo Presidente da


Câmara, ou seja, não é necessário ouvir antes o Presidente da República que estiver sendo
denunciado.

• Do despacho do Presidente que indeferir o recebimento da denúncia, caberá recurso ao


Plenário (art. 218, § 3º, do RICD).

3 Extraído de <https://www.dizerodireito.com.br/2015/12/analise-juridica-da-decisao-do-stf-que.html>
Direito Constitucional - Poder Executivo

• Caso seja admitido o prosseguimento da denúncia, deverá ser constituída comissão especial
formada por Deputados Federais para análise do pedido e elaboração de parecer.

• A eleição dos membros da comissão deverá ser aberta e não pode haver candidatura
alternativa (avulsa). A comissão é escolhida a partir de uma chapa única com nomes indicados pelos
líderes partidários. A votação aberta será apenas para que o Plenário da Casa aprove ou não a chapa
única que foi apresentada.

• O Presidente denunciado deverá ter direito à defesa no rito da Câmara dos Deputados.
Assim, depois que houver o recebimento da denúncia, o Presidente da República será notificado
para manifestar-se, querendo, no prazo de dez sessões.

• Vale ressaltar, no entanto, que não deve haver grande dilação probatória na Câmara dos
Deputados (o rito é abreviado). A comissão até pode pedir a realização de diligências, mas estas
devem ser unicamente para esclarecer alguns pontos da denúncia, não podendo ser feitas para
provar a procedência ou improcedência da acusação. Isso porque o papel da Câmara não é reunir
provas sobre o mérito da acusação, mas apenas o de autorizar ou não o prosseguimento. Quem irá
realizar ampla dilação probatória é o Senado.
16
• O Plenário da Câmara deverá decidir se autoriza a abertura do processo de impeachment
por 2/3 dos votos.

• O processo é, então, remetido ao Senado.

SENADO FEDERAL

• Chegando o processo no Senado, deverá ser instaurada uma comissão especial de


Senadores para analisar o pedido de impeachment e preparar um parecer (arts. 44 a 46 da Lei nº
1.079/50, aplicados por analogia).

• Esse parecer será votado pelo Plenário do Senado, que irá decidir se deve receber ou não
a denúncia que foi autorizada pela Câmara.

• Assim, o Senado, independentemente da decisão da Câmara, não é obrigado a instaurar o


processo de impeachment, ou seja, pode rejeitar a denúncia.

• Se rejeitar a denúncia, haverá o arquivamento do processo.


Direito Constitucional - Poder Executivo

• Se receber, iniciará a fase de processamento, com a produção de provas e, ao final, o


Senado votará pela absolvição ou condenação do Presidente.

• A decisão do Senado que decide se instaura ou não o processo se dá pelo voto da maioria
simples, presente a maioria absoluta de seus membros. Aplica-se aqui, por analogia, o art. 47 da Lei
nº 1.079/50. Assim, devem estar presentes no mínimo 42 Senadores no dia da sessão (maioria
absoluta de 81) e, destes, bastaria o voto de 22 Senadores.

• Se o Senado aceitar a denúncia, inicia-se a instrução probatória e o Presidente da República


deverá ser afastado do cargo temporariamente (art. 86, § 1º, II, da CF/88). Se, após 180 dias do
afastamento do Presidente, o julgamento ainda não tiver sido concluído, cessará o seu afastamento
e ele reassumirá, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo.

• A defesa tem direito de se manifestar após a acusação: no curso do procedimento de


impeachment, o Presidente terá a prerrogativa de se manifestar, de um modo geral, após a acusação.

• O interrogatório deve ser o ato final da instrução probatória: o interrogatório do Presidente,


instrumento de autodefesa que materializa as garantias do contraditório e da ampla defesa, deve ser
o último ato de instrução do processo de impeachment. 17
• Ao final do processo, os Senadores deverão votar se o Presidente deve ser condenado ou
absolvido. Para que seja condenado, é necessário o voto de 2/3 dos Senadores.

• Se for condenada, a Presidente receberá duas sanções: a) perda do cargo; b) inabilitação


para o exercício de funções públicas por 8 anos. Além disso, poderá ser eventualmente denunciado
criminalmente pelo Ministério Público.

• Caso seja condenado, quem assume é o Vice-Presidente, que irá completar o mandato (não
é necessária a convocação de novas eleições).

12.2. CRIMES COMUNS

Como já visto, os crimes comuns praticados pelo Presidente e pelo Vice serão julgados pelo
STF. As prerrogativas e imunidades que eles têm não se referem à sua pessoa, mas são inerentes
ao seu cargo, tendo por objetivo a independência do Poder Executivo frente a outros Poderes.

a) Imunidades: o Presidente não possui imunidade material, ou seja, ele não é inviolável
por suas palavras e opiniões. Possui ele três imunidades processuais ou formais, a saber:
Direito Constitucional - Poder Executivo

i. Imunidade processual (Art. 86): Somente poderá ser processado e julgado por crime
comum conexo ao cargo ou de responsabilidade, após a autorização da Câmara dos Deputados,
pelo voto de 2/3 de seus membros, em votação nominal aberta. A autorização da Câmara não
vincula o Senado nos crimes de responsabilidade e nem o STF nos crimes comuns.

Essa imunidade, porém, não impede a instauração de inquéritos policiais ou procedimentos


investigatórios em curso perante o STF.

ii. Imunidade prisional (Art. 86, § 3º): Impossibilidade de qualquer prisão provisória. Ele
somente poderá ser preso após prolatada sentença condenatória pelo STF. Não existe a menor
possibilidade de ser preso em flagrante ou de ser decretado outro tipo de prisão cautelar. Por que
dessa imunidade? Pois o Chefe do Executivo Federal é também o Chefe do Estado, representante
da República Federativa do Brasil. Logo, isso visa a resguardar o próprio Estado enquanto pessoa
jurídica de direito internacional.

A condenação criminal transita em julgado acarretará a suspensão dos direitos políticos (CR,
art. 15, III) e, por conseguinte, a perda do mandato do Presidente da República.

iii. Imunidade processual penal (Art. 86, § 4º): Irresponsabilidade temporária. Na vigência do 18
mandato, o Presidente não responderá pela prática de crimes que não guardem conexão com seu
cargo, sejam eles anteriores ou não. Somente responderá após o término, perante a Justiça comum.

Porém, essa imunidade somente se aplica às infrações de natureza penal, não impedindo a
apuração, na vigência do mandato, da responsabilidade civil, administrativa, fiscal ou tributária dos atos
por ele praticados. Ademais, ELE PODERÁ PERFEITAMENTE SER INVESTIGADO PELA POLÍCIA
JUDICIÁRIA. O QUE NÃO PODE É HAVER DENÚNCIA OU QUEIXA-CRIME CONTRA SI.

Nesse caso, o prazo prescricional dos crimes comuns praticados durante o exercício do
mandato e a ele estranho fica suspenso, até seu término.

A irresponsabilidade penal relativa se revela compatível apenas com a condição institucional


de Chefe de Estado do Presidente. Por se tratar exceção ao princípio republicano, esta prerrogativa
somente pode ser contemplada pela Constituição da República, não podendo ser estendida pelas
Constituições estaduais a Governadores e Prefeitos.

b) Prerrogativa de foro: a prerrogativa de foro em relação aos crimes de responsabilidade


se relaciona ao julgamento pelo Senado Federal. Já em relação aos crimes comuns conexos ao
exercício do cargo, se relaciona ao julgamento pelo STF.
Direito Constitucional - Poder Executivo

O foro privilegiado, nos crimes comuns, refere-se somente às infrações de natureza penal,
em todas as suas modalidades (contravenções, crimes eleitorais etc.), não alcançando o julgamento
de ações de natureza civil, por exemplo, a ação civil pública.

Se recebida a denúncia pelo STF e se instaurado o processo pelo Senado, o Presidente


ficará suspenso de suas funções pelo prazo máximo de 180 dias.

Encerrado o mandato, qualquer que seja o motivo, os processos existentes serão remetidos
à Justiça comum, para o regular prosseguimento.

12.2.1. Imunidade do Chefe do Executivo Estadual

Os governadores de Estado não possuem qualquer imunidade material ou formal e não


possuem irresponsabilidade temporária; apenas possuem foro privilegiado.

Importante lembrar, finalmente, que, para que sejam julgados por crimes comuns perante
o STJ, não há necessidade de autorização das Assembleias Legislativas para julgamento. Vale
ressaltar que se a Constituição Estadual exigir autorização da Assembleia para que o
Governador seja processado criminalmente, essa previsão é considerada inconstitucional.
19
Assim, é vedado às unidades federativas instituir normas que condicionem a instauração de ação penal
contra Governador por crime comum à previa autorização da Casa Legislativa. Se o STJ receber a
denúncia ou queixa-crime contra o Governador, ele não ficará automaticamente suspenso de
suas funções. Cabe ao STJ dispor, fundamentadamente, sobre a aplicação de medidas
cautelares penais, inclusive afastamento do cargo. (STF. Plenário. ADI 5540/MG, Rel. Min. Edson
Fachin, julgado em 3/5/2017 e STF. Plenário. ADI 4764/AC, ADI 4797/MT e ADI 4798/PI, Rel. Min.
Celso de Mello, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgados em 4/5/2017) - Info 863.

12.2.2. Julgamento dos Governadores e seus Auxiliares nos Crimes de Responsabilidade

E no caso de crimes de responsabilidade praticados por Governador e seus auxiliares


(Secretários), quem será competente para julgar?

Primeiramente, cumpre lembrar que o STF entende que somente a União pode legislar acerca
do crime de responsabilidade:

Ementa: Direito Constitucional. Ação Direta de Inconstitucionalidade. Governador de


Estado. Normas da Constituição Estadual sobre Crimes de Responsabilidade. Licença
Prévia da Assembleia Legislativa para Instauração de Processos por Crimes Comuns . 1.
“A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas
normas de processo e julgamento são da competência legislativa privativa da União”
(Súmula Vinculante 46, resultado da conversão da Súmula 722/STF). São, portanto,
Direito Constitucional - Poder Executivo

inválidas as normas de Constituição Estadual que atribuam o julgamento de crime de


responsabilidade à Assembleia Legislativa, em desacordo com a Lei nº 1.079/1950.
Precedentes. 2. A Constituição Estadual não pode condicionar a instauração de
processo judicial por crime comum contra Governador à licença prévia da
Assembleia Legislativa. A república, que inclui a ideia de responsabilidade dos
governantes, é prevista como um princípio constitucional sensível (CRFB/1988, art. 34, VII,
a), e, portanto, de observância obrigatória, sendo norma de reprodução proibida pelos
Estados-membros a exceção prevista no art. 51, I, da Constituição da República. 3. Tendo
em vista que as Constituições Estaduais não podem estabelecer a chamada “licença
prévia”, também não podem elas autorizar o afastamento automático do Governador de
suas funções quando recebida a denúncia ou a queixa-crime pelo Superior Tribunal de
Justiça. É que, como não pode haver controle político prévio, não deve haver afastamento
automático em razão de ato jurisdicional sem cunho decisório e do qual sequer se exige
fundamentação (HC 101.971, Primeira Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. em 21.06.2011,
DJe 02.09.2011; HC 93.056 Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, j. em 16.12.2008,
DJe 14.05.2009; e RHC 118.379 (Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, j. em 11.03.2014,
DJe 31.03.2014), sob pena de violação ao princípio democrático. 4. Também aos
Governadores são aplicáveis as medidas cautelares diversas da prisão previstas no art. 319
do Código de Processo Penal, entre elas “a suspensão do exercício de função pública”, e
outras que se mostrarem necessárias e cujo fundamento decorre do poder geral de cautela
conferido pelo ordenamento jurídico brasileiro aos juízes. 5. Pedido julgado integralmente
procedente, com declaração de inconstitucionalidade por arrastamento da suspensão
funcional automática do Governador do Estado pelo mero recebimento da denúncia ou
queixa-crime. Afirmação da seguinte tese: “É vedado às unidades federativas instituírem
normas que condicionem a instauração de ação penal contra o Governador, por crime
comum, à prévia autorização da casa legislativa, cabendo ao Superior Tribunal de Justiça
dispor, fundamentadamente, sobre a aplicação de medidas cautelares penais, inclusive
afastamento do cargo". 20
(ADI 4764, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO
BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 04/05/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-178
DIVULG 14-08-2017 PUBLIC 15-08-2017)

Os estados-membros deverão observar o disposto na Lei nº 1.079, segundo a qual caberá a


um Tribunal Especial (composto de membros da AL e de Desembargadores do TJ) o julgamento,
conforme a Lei nº 1.079/50:

Art. 78. O Governador será julgado nos crimes de responsabilidade, pela forma que
determinar a Constituição do Estado e não poderá ser condenado senão a perda do cargo,
com inabilitação até cinco anos para o exercício de qualquer função pública, sem prejuízo
da ação da justiça comum.

§ 1º Quando o tribunal de julgamento for de jurisdição mista serão iguais, pelo número, os
representantes dos órgãos que o integrarem, excluído o Presidente, que será o Presidente
do Tribunal de Justiça.

§ 2º Em qualquer hipótese, só poderá ser decretada a condenação pelo voto de dois terços
dos membros de que se compuser o tribunal de julgamento.

§ 3º Nos Estados, onde as Constituições não determinarem o processo nos crimes de


responsabilidade dos Governadores, aplicar-se-á o disposto nesta lei, devendo, porém, o
julgamento ser proferido por um tribunal composto de cinco membros do Legislativo
e de cinco desembargadores sob a presidência do Presidente do Tribunal de Justiça
local, que terá direito de voto no caso de empate. A escolha desse Tribunal será feita - a
Direito Constitucional - Poder Executivo

dos membros dos membros do legislativo, mediante eleição pela Assembleia; a dos
desembargadores, mediante sorteio.

O STF já teve a oportunidade de se manifestar sobre o tema, declarando que tal norma foi
recepcionada pela Constituição de 1988:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. IMPUGNAÇÃO DA EXPRES-


SÃO "E JULGAR" [ART. 40, XX]; DO TRECHO "POR OITO ANOS" [ART. 40, PARÁGRAFO
ÚNICO]; DO ART. 73, § 1º, II, E § § 3º E 4º, TODOS DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE
SANTA CATARINA. IMPUGNAÇÃO DE EXPRESSÃO CONTIDA NO § 4º DO ARTIGO 232
DO REGIMENTO INTERNO DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA. PRECEITOS RELATIVOS
AO PROCESSO DE IMPEACHMENT DO GOVERNADOR. LEI FEDERAL N. 1.079/50.
CRIMES DE RESPONSABILIDADE. RECEBIMENTO DO ARTIGO 78 PELA ORDEM
CONSTITUCIONAL VIGENTE. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 22, I, DA CONSTITUIÇÃO DO
BRASIL. 1. A expressão "e julgar", que consta do inciso XX do artigo 40, e o inciso II do §
1º do artigo 73 da Constituição catarinense consubstanciam normas processuais a serem
observadas no julgamento da prática de crimes de responsabilidade. Matéria cuja
competência legislativa é da União. Precedentes. 2. Lei federal n. 1.079/50, que disciplina
o processamento dos crimes de responsabilidade. Recebimento, pela Constituição
vigente, do disposto no artigo 78, que atribui a um Tribunal Especial a competência
para julgar o Governador. Precedentes.

[...]
(ADI 1628, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 10/08/2006, DJ 24-
11-2006 PP-00060 EMENT VOL-02257-02 PP-00311) 21
13. OUTRAS PRERROGATIVAS DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

O Presidente não tem prerrogativa de isenção do dever de testemunhar. O que ele tem
é a prerrogativa legal, prevista no CPP, de, além de escolher o dia, hora e local para depor, de ser
inquirido por escrito.

Ao testemunhar, ele deve assumir o compromisso de dizer a verdade sobre tudo aquilo que
tiver conhecimento.

Ele tem a prerrogativa de irredutibilidade de subsidio.

Por questão de lógica ele não pode ser incorporado pelas Forças armadas, visto que já
é o comandante chefe das Forças armadas.

14. PRESIDENCIALISMO IMPERIAL

O sistema presidencialismo imperial, como o brasileiro, com o Chefe do Poder Executivo


podendo baixar medidas provisórias, não combina com o Estado Democrático de Direito, que
pressupõe a separação, independência e harmonia entre os Poderes da União. Ainda que se entenda
que o poder estatal é uno e que haja uma tripartição de funções, distribuídas entre os Poderes
Direito Constitucional - Poder Executivo

Executivo, Legislativo e Judiciário, mesmo assim não pode haver a prevalência de um sobre o outro,
salvo apenas no caso de parlamentarismo, em que quem manda no Executivo é o Legislativo. Assim,
é fundamental que haja uma limitação dos poderes excessivos do Poder Executivo, sobretudo o de
baixar medidas provisórias de forma abusiva.

Há grande concentração dos poderes do Estado no chefe Executivo, originando, assim, um


presidencialismo imperial ou uma ditadura pós-moderna.

Nas ditaduras atuais, o presidente imperial não pode ser contrariado, vigora o "mito" da ideia
única, encarnada na "glória" da economia de mercado, com sua sanha consumista e na implantação
da globalização, ou melhor, da renovação do pacto colonial em bases pós-modernas. Ser oposição,
ou simplesmente discordar, é um sacrilégio, gera reações dos detentores do sistema, via seus
veículos de comunicação, orquestrados para perpetuar a domesticação social e ridicularizar os
inimigos. Isto, sem contar com os cortes de verbas e os rigores da lei para os adversários.

Em nosso "autoritarismo civil", o Executivo subtrai do Legislativo a missão de legislar, por


intermédio da eclética representatividade de seus pares, editando as vergonhosas medidas
provisórias, que de provisórias só têm o nome, e igualmente aos famigerados decretos-lei das
22
ditaduras Vargas e Militar, normatiza todas as matérias de direito, desobedecendo a Carta Magna de
1988 (art. 62 da C.F.).

O Legislativo não só permite o uso arbitrário das medidas provisórias, mesmo tendo
competência constitucional para frear os abusos, exigindo o cumprimento dos pressupostos
constitucionais de relevância e urgência, mas, também, curva-se, em sua maioria, aos caprichos do
rei/presidente, votando de acordo com seus desejos, em virtude da força extraordinária do orçamento
estatal (onde se distribui benefícios aos aliados), da distribuição fisiológica de cargos públicos e para
manter o sistema socioeconômico excludente para inúmeros e benevolente para poucos. Caso o
legislador não vote ao sabor das ordens do "soberano", provavelmente cairá no ostracismo, será
execrado pelos donos do poder e varrido do mapa político na próxima eleição.

O Judiciário, em nossa ditadura pós-moderna, também perdeu a sua independência em julgar


os conflitos à luz do direito. As escolhas dos membros dos tribunais superiores, por vezes, não
obedecem aos critérios de mérito pela carreira jurídica, mas sim a outros, tais como a capacidade do
escolhido em "juridicizar" os atos do Executivo. E em alguns julgamentos, as decisões prolatadas
não estão de acordo com os comandos constitucionais, e sim com a vontade política dos dominantes
(STF e o apagão).
Direito Constitucional - Poder Executivo

As eleições no presidencialismo imperial são utilizadas como fantasia social, os seus


resultados são previsíveis, ganham sempre os homens do regime, e quando são imprevisíveis,
mudam-se as normas eleitorais. Ademais, é frequente os ocupantes do poder, via manobras
múltiplas, escolherem os seus adversários dentre os opositores, e desta forma encenam o jogo
democrático, garantem o discurso de autoridade e impõem a pseudo legitimidade de um governo,
nitidamente, privado, onde o dinheiro é o grande precursor da democracia.

Como no passado, a ditadura pós-moderna gera milhares de seres humanos descartáveis,


implantando o holocausto social a cada política econômica genocida, efetivada ao prazer do "poder
invisível", ou melhor, do poder econômico privado, os reais ditadores e donos da nação, já que para
eles a divindade é o lucro e as trevas o bem estar social entre os homens.

O "autoritarismo civil" da atualidade continua pagando uma divida externa impagável e já


paga, há muito tempo, por nós. Graças à mágica dos juros extorsivos a dívida só aumenta. Portanto,
continuamos curvados diante do cassino global dos bancos internacionais, liquidando nossas
riquezas naturais, aniquilando a soberania e semeando a miséria, para pagar o que não devemos.

Por sinal, não é por obra dos deuses que a miséria aumentou no país. Segundo o Relatório
23
de Desenvolvimento Humano da ONU de 2001, o Brasil está 69º lugar, das 162 nações pesquisadas,
atrás da Argentina, em grave crise econômica desde o final do século passado, e da Colômbia, em
guerra civil à anos. Em matéria de acesso da população aos avanços tecnológicas estamos, também,
pessimamente colocados, ou seja, 43º lugar, entre 72 países investigados.

O mega poder do Executivo tem inúmeras razões, mas explica-se, em parte, pela
necessidade de o Estado intervir no domínio econômico e social, em uma economia de mercado,
onde a lei de oferta e procura não funciona naturalmente, ficando inviável aquela sem a ação estatal,
devido as demandas e interesses plurais e conflitantes, sempre à espera de normas adequadas e
imediatas. Sendo o Legislativo naturalmente lento, pela sua diversidade de representação política, e
pouco familiarizado para normatizar tais interesses antagônicos, principalmente as matérias
econômicas, a missão foi "absorvida" pelo Executivo.

A execução do orçamento pelo Executivo é ainda um grande instrumento do agigantamento


de seu poder, por intermédio do gasto do dinheiro público se ativa ou inibe setores da economia,
influenciando o processo produtivo, podendo gerar, assim, riqueza para alguns e "aparthaid" social
para muitos, ou a cassação dos privilégios de poucos e a justiça distributiva para todos.
Direito Constitucional - Poder Executivo

De acordo com o nosso direito positivo, a lei de orçamento depende da lei do plano plurianual e
da lei de diretrizes orçamentárias, todas de competência exclusiva do Executivo para sua iniciativa, e
apesar de serem aprovadas pelo Legislativo tal competência reforça, ainda, mais o mega poder daquele.

Paralelamente, o Judiciário não está aparelhado para julgar os conflitos que envolvem as
normas de Direito Econômico, nem para enfrentá-las. A sua lentidão e seu pequeno envolvimento
com tais normas levam à insegurança jurídica, dilatada pelas constantes mudanças e especificidades
técnicas daquelas, facilitando, assim as aberrações legais e o avanço do presidencialismo imperial.

Hoje, apenas a existência formal dos três poderes não garante mais a separação das funções
do Estado, nem muito menos a democracia. Mesmo porque o Estado ganhou outras competências
e missões, sendo ineficazes os atuais três poderes para dar sustentáculo à democracia.

Existe a necessidade de criarmos novos centros estatais de poder, democráticos, eficazes,


com participação social plural, e dotados de capacidade de decisão, para juntar-se aos três poderes
de Montesquieu. Um deles poderia ser o "Poder Econômico", ou seja, o 4º poder, que seria
implantado nos Municípios, Estados e União, com a função de regulamentar suas políticas
econômicas, contribuindo assim para definhamento das ditaduras pós-modernas, bem como de seus
24
mecanismos e tecnologias de dominação, próprias da sociedade do século XXI, a fim de
conquistarmos uma democracia real e socialmente justa.

Você também pode gostar