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1. INTRODUÇÃO
2. FUNÇÕES
Como se pode depreender, a designação Poder Executivo acaba por descrever, de forma
acanhada, as funções desempenhadas, que, por óbvio, transcendem a mera execução da lei. Daí
anota Konrad Hesse que a expressão Poder Executivo acabou por transformar-se numa referência
geral daquilo que não está compreendido nas atividades do Poder Legislativo e do Poder Judiciário.
A ideia abrange funções de governo e administração, não obstante os demais Poderes também
terem essas atribuições de forma pontual (como funções atípicas).
Direito Constitucional - Poder Executivo
3. INVESTIDURA
O Presidente e o Vice Presidente são eleitos pelo sistema eleitoral majoritário de dois
turnos (e não o puro ou simples), já que será considerado eleito o candidato que obtiver a maioria
dos votos válidos. Entretanto, se no primeiro turno essa maioria não for alcançada, necessariamente
deverá haver um segundo turno.
Votos válidos são os votos que não são em branco ou nulos (art. 77, § § 2º e 3º).
O Presidente é eleito simultaneamente ao Vice, por meio de sufrágio universal e pelo voto
direto e secreto, em eleição realizada no primeiro e no último domingo de outubro do ano eletivo,
para o primeiro e segundo turno, respectivamente.
Antigamente, o Brasil adotava sistema pelo qual o Vice-Presidente seria o segundo colocado
nas eleições. Entretanto, isso era algo que causava bastantes problemas políticos, já que quando o
Presidente tinha de ser substituído, o Vice avacalhava tudo.
§ 2º - Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado por partido político,
obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos.
Nessa situação, o cargo só será declarado vago se não comparecerem, sem motivo de
força maior, os dois candidatos. SE APENAS O VICE NÃO COMPARECER, O PRESIDENTE
TOMARÁ POSSE E GOVERNARÁ TODO O PERÍODO SEM VICE. SE APENAS O PRESIDENTE
NÃO COMPARECER, O VICE TOMARÁ POSSE DA PRESIDÊNCIA E GOVERNARÁ SEM VICE.
Isso é interessante, pois o Brasil admite que haja somente Presidente, sem Vice. Nos
EUA não se admite a inexistência de vice. Se vagar o cargo do PR e o vice assumir, tem que ter a
escolha obrigatória de um vice. É um processo sumário nos EUA. O PR indicará um senador para
ser vice. É uma forma que a constituição americana prevê para ocupar o cargo de vice PR.
4. REELEIÇÃO
Direito Constitucional - Poder Executivo
Evidentemente que, na condição de Presidente, ele não poderá fazer campanha política (o
que é totalmente ignorado pelos candidatos).
Também não há qualquer restrição quanto à possibilidade de nova eleição para períodos
descontínuos. O Presidente da República reeleito poderá, após deixar o cargo, vir a postular nova
investidura. Assim, somente não se admite três mandatos seguidos.
5. VICE PRESIDENTE
6. IMPEDIMENTOS E VACÂNCIA
Presidente e Vice poderão ausentar-se do país por mais de 15 dias somente se houver
autorização do Congresso Nacional, mediante decreto legislativo, sob pena de perda do cargo. Essa
regra, por força do princípio da simetria, é de observância obrigatória pelos estados-membros.
Ressalte-se que a constituição estadual não pode fixar prazo inferior a 15 dias como nesses casos
de ausência do chefe do executivo (STF. Plenário. ADI 775/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
3/4/2014 e STF. Plenário. ADI 2453/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/4/2014.)
a) Se faça nova eleição direta em 90 dias, caso as vagas surjam antes de decorridos dois
anos do mandato;
b) Se faça eleição indireta em 30 dias pelo Congresso Nacional, se vagos os cargos nos
últimos dois anos.
§ 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para
ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional,
na forma da lei.
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição;
(ADI 179, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 19/02/2014,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-062 DIVULG 27-03-2014 PUBLIC 28-03-2014)
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos
instituídos em lei; Atribuição delegável.
XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal
Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da
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XVII - nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII;
XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional
ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas
mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional;
XXII - permitir, nos casos previstos em LEI COMPLEMENTAR, que forças estrangeiras
transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente;
XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei; Atribuição delegável
somente quanto ao provimento, segundo o paragrafo único. O STF entendeu que,
pelo paralelismo das formas, também é competente o presidente da república para
desprover o cargo público federal, na forma da lei. Nesse sentido, o STF decidiu ser
válida a DELEGAÇÃO de poderes feita pelo Presidente da República a Ministro de
Estado a fim de que este possa aplicar pena de DEMISSÃO (desprover) a servidor
federal (STF, MS 25.518).
XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62;
Todas essas atribuições, ressalvadas as que ficaram consignadas, são indelegáveis. Além
disso, elas não são exaustivas, apenas exemplificativas.
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Todas as atribuições privativas são extensíveis, no que couber, e por força do federalismo e
do princípio da simetria, aos demais Chefes dos Poderes Executivos de outros entes federados.
8. MINISTROS DE ESTADO
São atribuições do Ministro de Estado, além de outras que lhe sejam delegadas pelo
Presidente da República, exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades
da Administração Federal na área de sua competência e referendar atos e decretos assinados pelo
Presidente da República, expedir instruções para execução de leis, decretos e regulamentos (CR,
art. 87, parágrafo único).
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Como visto anteriormente, os Ministros poderão até mesmo editar decretos autônomos, caso
lhes seja delegada essa prerrogativa pelo Presidente.
Os Ministros de Estado serão processados e julgados, nas infrações penais comuns e nos
crimes de responsabilidade, pelo STF (CR, art. 102,1, c).
Porém, se o MS for impetrado em face de órgão colegiado presidido por Ministro de Estado,
a competência não será do STJ, e sim do juízo competente para julgar demandas em face de tal
órgão. Nesse sentido:
(STF, RMS 21560, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, TRIBUNAL PLENO, julgado em
24/11/1992, DJ 18-12-1992 PP-24375 EMENT VOL-01689-02 PP-00289)
Presidente, possui requisitos para a nomeação que são mais rigorosos em relação aos demais
Ministros. Exige-se idade mínima de 35 anos, reputação ilibada e notório conhecimento jurídico. No
que toca à prerrogativa de foro, também há um tratamento constitucional diferenciado. O
Advogado-Geral, em relação ao crime de responsabilidade, é sempre julgado perante o
Senado (CR, art. 52, II), tal como o Presidente da República, o Procurador-Geral da República
e os Ministros do Supremo Tribunal Federal.
O deputado federal ou senador da República poderá ser nomeado para o cargo de Ministro
de Estado (CR, art. 56, I). Nesse caso, faculta-se-lhe a opção "pela remuneração do mandato" (CR,
art. 56, § 39).
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extraído do livro do Gilmar Mendes
Direito Constitucional - Poder Executivo
O funcionamento do Conselho Nacional de Defesa está disciplinado pela Lei nº 8.183, de 1993.
12. RESPONSABILIZAÇÃO
b) Atos que atentem contra o livre exercício do Poder Legislativo, Judiciário e do MP; 13
c) Atos que atentem contra o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
Súmula 722, STF: “São da competência legislativa da União a definição dos crimes de
responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento”.
Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara
dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas
infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.
§ 2º - Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver concluído,
cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do
processo.
Qualquer cidadão é parte legítima para oferecer acusação contra o Presidente perante a
Câmara, pela prática de crime de responsabilidade.
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O EXAME REALIZADO PELA CÂMARA TEM NATUREZA POLÍTICA E DISCRICIONÁRIA,
E CONSISTIRÁ NUM JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DA DENÚNCIA, CABENDO,
POSTERIORMENTE, AO SENADO PROLATAR OUTRA DECISÃO SOBRE A
ADMISSIBILIDADE, POR MAIORIA SIMPLES.
Lembrar que o STF já decidiu ser legítimo que a Mesa da Câmara indefira liminarmente o
pedido de impeachment se manifestamente incabível.
Direito Constitucional - Poder Executivo
Assim que instaurado o julgamento do Presidente no Senado Federal, ele ficará suspenso de
suas funções, somente retornando ao cargo se for absolvido ou, decorridos 180 dias, o julgamento
não estiver concluído.
O Presidente somente será condenado por crime de responsabilidade pelo voto de 2/3 dos
Senadores, em votação nominal aberta, fato que acarretará a perda do cargo e inabilitação, por
oito anos, para o exercício de qualquer cargo, função ou emprego público.
Por fim, não poderá o Poder Judiciário, de forma alguma, alterar a decisão proferida pelo
Senado no processo de impeachment; somente poderá se manifestar, quando provocado, acerca
das garantias constitucionais.
A partir do que o STF decidiu acima, podemos identificar as seguintes etapas principais do
rito do processo de impeachment.
3 Extraído de <https://www.dizerodireito.com.br/2015/12/analise-juridica-da-decisao-do-stf-que.html>
Direito Constitucional - Poder Executivo
• Caso seja admitido o prosseguimento da denúncia, deverá ser constituída comissão especial
formada por Deputados Federais para análise do pedido e elaboração de parecer.
• A eleição dos membros da comissão deverá ser aberta e não pode haver candidatura
alternativa (avulsa). A comissão é escolhida a partir de uma chapa única com nomes indicados pelos
líderes partidários. A votação aberta será apenas para que o Plenário da Casa aprove ou não a chapa
única que foi apresentada.
• O Presidente denunciado deverá ter direito à defesa no rito da Câmara dos Deputados.
Assim, depois que houver o recebimento da denúncia, o Presidente da República será notificado
para manifestar-se, querendo, no prazo de dez sessões.
• Vale ressaltar, no entanto, que não deve haver grande dilação probatória na Câmara dos
Deputados (o rito é abreviado). A comissão até pode pedir a realização de diligências, mas estas
devem ser unicamente para esclarecer alguns pontos da denúncia, não podendo ser feitas para
provar a procedência ou improcedência da acusação. Isso porque o papel da Câmara não é reunir
provas sobre o mérito da acusação, mas apenas o de autorizar ou não o prosseguimento. Quem irá
realizar ampla dilação probatória é o Senado.
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• O Plenário da Câmara deverá decidir se autoriza a abertura do processo de impeachment
por 2/3 dos votos.
SENADO FEDERAL
• Esse parecer será votado pelo Plenário do Senado, que irá decidir se deve receber ou não
a denúncia que foi autorizada pela Câmara.
• A decisão do Senado que decide se instaura ou não o processo se dá pelo voto da maioria
simples, presente a maioria absoluta de seus membros. Aplica-se aqui, por analogia, o art. 47 da Lei
nº 1.079/50. Assim, devem estar presentes no mínimo 42 Senadores no dia da sessão (maioria
absoluta de 81) e, destes, bastaria o voto de 22 Senadores.
• Caso seja condenado, quem assume é o Vice-Presidente, que irá completar o mandato (não
é necessária a convocação de novas eleições).
Como já visto, os crimes comuns praticados pelo Presidente e pelo Vice serão julgados pelo
STF. As prerrogativas e imunidades que eles têm não se referem à sua pessoa, mas são inerentes
ao seu cargo, tendo por objetivo a independência do Poder Executivo frente a outros Poderes.
a) Imunidades: o Presidente não possui imunidade material, ou seja, ele não é inviolável
por suas palavras e opiniões. Possui ele três imunidades processuais ou formais, a saber:
Direito Constitucional - Poder Executivo
i. Imunidade processual (Art. 86): Somente poderá ser processado e julgado por crime
comum conexo ao cargo ou de responsabilidade, após a autorização da Câmara dos Deputados,
pelo voto de 2/3 de seus membros, em votação nominal aberta. A autorização da Câmara não
vincula o Senado nos crimes de responsabilidade e nem o STF nos crimes comuns.
ii. Imunidade prisional (Art. 86, § 3º): Impossibilidade de qualquer prisão provisória. Ele
somente poderá ser preso após prolatada sentença condenatória pelo STF. Não existe a menor
possibilidade de ser preso em flagrante ou de ser decretado outro tipo de prisão cautelar. Por que
dessa imunidade? Pois o Chefe do Executivo Federal é também o Chefe do Estado, representante
da República Federativa do Brasil. Logo, isso visa a resguardar o próprio Estado enquanto pessoa
jurídica de direito internacional.
A condenação criminal transita em julgado acarretará a suspensão dos direitos políticos (CR,
art. 15, III) e, por conseguinte, a perda do mandato do Presidente da República.
iii. Imunidade processual penal (Art. 86, § 4º): Irresponsabilidade temporária. Na vigência do 18
mandato, o Presidente não responderá pela prática de crimes que não guardem conexão com seu
cargo, sejam eles anteriores ou não. Somente responderá após o término, perante a Justiça comum.
Porém, essa imunidade somente se aplica às infrações de natureza penal, não impedindo a
apuração, na vigência do mandato, da responsabilidade civil, administrativa, fiscal ou tributária dos atos
por ele praticados. Ademais, ELE PODERÁ PERFEITAMENTE SER INVESTIGADO PELA POLÍCIA
JUDICIÁRIA. O QUE NÃO PODE É HAVER DENÚNCIA OU QUEIXA-CRIME CONTRA SI.
Nesse caso, o prazo prescricional dos crimes comuns praticados durante o exercício do
mandato e a ele estranho fica suspenso, até seu término.
O foro privilegiado, nos crimes comuns, refere-se somente às infrações de natureza penal,
em todas as suas modalidades (contravenções, crimes eleitorais etc.), não alcançando o julgamento
de ações de natureza civil, por exemplo, a ação civil pública.
Encerrado o mandato, qualquer que seja o motivo, os processos existentes serão remetidos
à Justiça comum, para o regular prosseguimento.
Importante lembrar, finalmente, que, para que sejam julgados por crimes comuns perante
o STJ, não há necessidade de autorização das Assembleias Legislativas para julgamento. Vale
ressaltar que se a Constituição Estadual exigir autorização da Assembleia para que o
Governador seja processado criminalmente, essa previsão é considerada inconstitucional.
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Assim, é vedado às unidades federativas instituir normas que condicionem a instauração de ação penal
contra Governador por crime comum à previa autorização da Casa Legislativa. Se o STJ receber a
denúncia ou queixa-crime contra o Governador, ele não ficará automaticamente suspenso de
suas funções. Cabe ao STJ dispor, fundamentadamente, sobre a aplicação de medidas
cautelares penais, inclusive afastamento do cargo. (STF. Plenário. ADI 5540/MG, Rel. Min. Edson
Fachin, julgado em 3/5/2017 e STF. Plenário. ADI 4764/AC, ADI 4797/MT e ADI 4798/PI, Rel. Min.
Celso de Mello, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgados em 4/5/2017) - Info 863.
Primeiramente, cumpre lembrar que o STF entende que somente a União pode legislar acerca
do crime de responsabilidade:
Art. 78. O Governador será julgado nos crimes de responsabilidade, pela forma que
determinar a Constituição do Estado e não poderá ser condenado senão a perda do cargo,
com inabilitação até cinco anos para o exercício de qualquer função pública, sem prejuízo
da ação da justiça comum.
§ 1º Quando o tribunal de julgamento for de jurisdição mista serão iguais, pelo número, os
representantes dos órgãos que o integrarem, excluído o Presidente, que será o Presidente
do Tribunal de Justiça.
§ 2º Em qualquer hipótese, só poderá ser decretada a condenação pelo voto de dois terços
dos membros de que se compuser o tribunal de julgamento.
dos membros dos membros do legislativo, mediante eleição pela Assembleia; a dos
desembargadores, mediante sorteio.
O STF já teve a oportunidade de se manifestar sobre o tema, declarando que tal norma foi
recepcionada pela Constituição de 1988:
[...]
(ADI 1628, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 10/08/2006, DJ 24-
11-2006 PP-00060 EMENT VOL-02257-02 PP-00311) 21
13. OUTRAS PRERROGATIVAS DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
O Presidente não tem prerrogativa de isenção do dever de testemunhar. O que ele tem
é a prerrogativa legal, prevista no CPP, de, além de escolher o dia, hora e local para depor, de ser
inquirido por escrito.
Ao testemunhar, ele deve assumir o compromisso de dizer a verdade sobre tudo aquilo que
tiver conhecimento.
Por questão de lógica ele não pode ser incorporado pelas Forças armadas, visto que já
é o comandante chefe das Forças armadas.
Executivo, Legislativo e Judiciário, mesmo assim não pode haver a prevalência de um sobre o outro,
salvo apenas no caso de parlamentarismo, em que quem manda no Executivo é o Legislativo. Assim,
é fundamental que haja uma limitação dos poderes excessivos do Poder Executivo, sobretudo o de
baixar medidas provisórias de forma abusiva.
Nas ditaduras atuais, o presidente imperial não pode ser contrariado, vigora o "mito" da ideia
única, encarnada na "glória" da economia de mercado, com sua sanha consumista e na implantação
da globalização, ou melhor, da renovação do pacto colonial em bases pós-modernas. Ser oposição,
ou simplesmente discordar, é um sacrilégio, gera reações dos detentores do sistema, via seus
veículos de comunicação, orquestrados para perpetuar a domesticação social e ridicularizar os
inimigos. Isto, sem contar com os cortes de verbas e os rigores da lei para os adversários.
O Legislativo não só permite o uso arbitrário das medidas provisórias, mesmo tendo
competência constitucional para frear os abusos, exigindo o cumprimento dos pressupostos
constitucionais de relevância e urgência, mas, também, curva-se, em sua maioria, aos caprichos do
rei/presidente, votando de acordo com seus desejos, em virtude da força extraordinária do orçamento
estatal (onde se distribui benefícios aos aliados), da distribuição fisiológica de cargos públicos e para
manter o sistema socioeconômico excludente para inúmeros e benevolente para poucos. Caso o
legislador não vote ao sabor das ordens do "soberano", provavelmente cairá no ostracismo, será
execrado pelos donos do poder e varrido do mapa político na próxima eleição.
Por sinal, não é por obra dos deuses que a miséria aumentou no país. Segundo o Relatório
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de Desenvolvimento Humano da ONU de 2001, o Brasil está 69º lugar, das 162 nações pesquisadas,
atrás da Argentina, em grave crise econômica desde o final do século passado, e da Colômbia, em
guerra civil à anos. Em matéria de acesso da população aos avanços tecnológicas estamos, também,
pessimamente colocados, ou seja, 43º lugar, entre 72 países investigados.
O mega poder do Executivo tem inúmeras razões, mas explica-se, em parte, pela
necessidade de o Estado intervir no domínio econômico e social, em uma economia de mercado,
onde a lei de oferta e procura não funciona naturalmente, ficando inviável aquela sem a ação estatal,
devido as demandas e interesses plurais e conflitantes, sempre à espera de normas adequadas e
imediatas. Sendo o Legislativo naturalmente lento, pela sua diversidade de representação política, e
pouco familiarizado para normatizar tais interesses antagônicos, principalmente as matérias
econômicas, a missão foi "absorvida" pelo Executivo.
De acordo com o nosso direito positivo, a lei de orçamento depende da lei do plano plurianual e
da lei de diretrizes orçamentárias, todas de competência exclusiva do Executivo para sua iniciativa, e
apesar de serem aprovadas pelo Legislativo tal competência reforça, ainda, mais o mega poder daquele.
Paralelamente, o Judiciário não está aparelhado para julgar os conflitos que envolvem as
normas de Direito Econômico, nem para enfrentá-las. A sua lentidão e seu pequeno envolvimento
com tais normas levam à insegurança jurídica, dilatada pelas constantes mudanças e especificidades
técnicas daquelas, facilitando, assim as aberrações legais e o avanço do presidencialismo imperial.
Hoje, apenas a existência formal dos três poderes não garante mais a separação das funções
do Estado, nem muito menos a democracia. Mesmo porque o Estado ganhou outras competências
e missões, sendo ineficazes os atuais três poderes para dar sustentáculo à democracia.