O termo “hindu” tem sua origem na civilização que surgiu entre os rios Indo e Sarasvatî (este último seco há séculos). Já
“hinduísmo” é usado para designar todo o conjunto cultural que tenha relação direta ou indireta com os Vedas.
As origens do hinduísmo se perdem no tempo. Sua precisão histórica não é exata e o que temos de concreto são as evidências
encontradas em sítios arqueológicos como Mohenjo Daro e Harappa.
Muitos ainda sustentam que a origem do hinduísmo se deu através da invasão do subcontinente indiano pelos arianos vindos do
leste europeu. Essa visão está cada vez mais em desuso e os cientistas já têm indícios que provam que a civilização ariana
védica, que falava sânscrito, é a mesma que a civilização do Vale do Indo.
Atualmente a data aceita para a origem do hinduísmo é de sete mil anos com o surgimento e a predominância dos
ensinamentos da sabedoria védica, apesar de as escrituras hindus relatarem fatos ocorridos há mais de trezentos mil anos.
Antes desse período, que chamamos de Pré-Védico, a civilização do Vale do Indo estava em franco desenvolvimento, com
cidades que continham até 20.000 habitantes, ricas na agricultura, no artesanato e com um comércio relativamente
desenvolvido. Isso se deu por volta de sete mil anos a.C.
Por volta de 4500 a.C., o subcontinente indiano sofreu mudanças climáticas causadas em parte pelo movimento de placas
tectônicas no decorrer de vários séculos.
Uma das conseqüências desses movimentos tectônicos foi a total seca do rio Sarasvatî, quando dois de seus principais afluentes
passaram a desaguar no famoso rio Ganges (Gangâ).
Com isso, a população estabelecida nas margens desse rio se deslocaram para a fértil e aconchegante planície do Ganges dando
início a Era Védica. Isso se deu por volta de 3.000 a.C.
OS VEDAS
A palavra “Vedas” vem do sânscrito e tem como raiz “Vid” que pode ser traduzida como “conhecimento”. Assim, os Vedas são o
compendio da sabedoria revelada diretamente pelo plano espiritual superior.
Os Vedas é composto por quatro livros divididos da seguinte maneira:
Ainda na Era Védica temos o Purâna Original, que trata das histórias e contos envolvendo os deuses e deusas de então.
Na Era Pós-Védica (aprox. 2.500 a.C.) nós temos o surgimento dos Brâhmanas, os sacerdotes altamente especializados que
dominaram a cultura por mil anos. A produção literária desse período é conhecida como Brâhmanas e trata da ritualística e suas
normas.
Nesse período também temos o surgimento dos Ãranyakas, textos rituais para os ascetas que viviam isolados nas florestas,
chamados de âranyakas.
De 1500 a.C. a aproximadamente 800 a.C. surgiram os Upanishads, textos que introduziram o “voltar pra dentro”, a busca pela
mudança interior.
Esse conhecimento é todo voltado para a renúncia às coisas do mundo.
O número certo de Upanishads é incerto. Muitos afirmam existir mais de 108 Upanishads. Em verdade o número 108 é
considerado mágico pelos hindus pois demonstra o Uno (1) que permeia o Todo (0) e que é infinito (8).
É através do estudo desses Upanishads que a metafísica hindu surgiu, séculos mais tarde, recebendo o nome de Vedanta (lit.
Final dos Vedas) ou Uttara-Mîmâmsâ (“Investigação Posterior”).
Dentro da literatura hindu também temos que nos referir aos grandes épicos, o Mahabharata e o Ramayana.
O Mahabharata é o texto mais extenso da literatura humana e foi escrito pelo sábio Vyasa, segundo os textos hindus, através da
clarividência e auxiliado pelo deus Ganesha. Ele trata da guerra entre os clãs dos Kurus e dos Pandavas, seus primos.
Tudo começa com um jogo de dados aonde o líder dos Pandavas perde todo o reino que governava e é obrigado a exilar-se
junto com seus quatro irmãos.
Passado o período do exílio os irmãos retornam para reconquistar seu reino e são auxiliados pelo grande sábio Sri Krishna,
considerado como uma encarnação divina pelos hindus.
Mas esse texto é mais conhecido por conter um capítulo conhecido como Baghavad Gita ou “A Canção do Senhor”, que é algo
como a Bíblia para o hindu.
Nesse texto, Krishna descreve o sistema de Yoga a Arjuna, seu amigo e discípulo.
Rama era o primogênito e herdeiro do trono e tinha três irmãos. Para o hindu, Rama é considerado o sétimo avatar ou
encarnação divina.
O livro conta a história de Rama, que vê sua esposa Sita ser raptada por um demônio chamado Ravana e a empreitada que ele
realiza para a sua libertação.
O Ramayana é recheado de histórias onde a lealdade, devoção e amizade são o foco principal.
No épico Rama é ajudado por seu bravo irmão Lakshamana e por seu fiel amigo e devoto Hanumam, um símio.
É nesse período (800 a.C. – 100 a.C.) que o sentimento de renúncia (samnyâsa) e de dharma (dever social e espiritual) são
fortemente estabelecidos. Esses dois preceitos são a base para o desenvolvimento do Yoga.
O desenvolvimento do Yoga e do Sâmkhya ocorreu lado a lado e seu período clássico se deu por volta de 100 a.C. a 600 d C.
Foi nesse período que Patanjali compilou o Yoga-Sutra e que Ishvara-Krishna compôs o Sâmkhya-Kârikâ. As cidades eram
prósperas e reinava a bandeira da tolerância religiosa na Índia, permitindo a sobrevivência de cultos menores de outras
religiões.
Por volto do ano 700 d. C. surge o Tantra, uma disciplina que é a síntese espiritual de diversas correntes filosóficas.
O Tantra, ao contrário do que o ocidental pensa, não é uma disciplina espiritual baseada no sexo. O sexo é só um dos elementos
de apoio e quando usado não é relacionado com o corpo, mas sim com um ato devocional.
O praticante do Tantra vê na sua esposa o reflexo da Mãe Divina e sua esposa vê o marido como o Pai Celestial. Quando a união
sexual ocorre é como uma oferenda, um sacrifício que se faz a Deus no altar do coração, dentro do templo do corpo.
Há monges tântricos (os tantrikas) que são brahmacharya (celibatários) e outros que praticam a sublimação da energia sexual,
transformando em uma energia mais sutil chamada “ojas”.
O Tantra da muita ênfase ao poder serpentino conhecido como Kundalini. Kundalini é uma palavra sânscrita que tem origem em
Kundal que significa enroscado. Essa energia é chamada assim por causa do seu movimento em espiral e por estar “enroscada”
num ponto energético situado no centro de força piscoespiritual da base da coluna. Essa energia em nada tem a ver com a
energia sexual, pois é totalmente espiritual.
Enquanto adormecida a Kundalini se manifesta apenas no apoio da manutenção da vida e na aderência de nossa consciência aos
objetos exteriores e interiores relacionados ao mundo, sendo a contraparte energética estática do Prana ou força vital que é
dinâmica.
As disciplinas tântricas visam o gradual despertar da Kundalini e, como conseqüência imediata desse despertar, a aquisição de
poderes psíquicos que, para o praticante ainda sem controle de seu ego, são pedras de tropeço.
Essa relação de devoção e amor à divindade que surgiu no Tantra desenvolveu-se de tal maneira que provocou a divisão da
sociedade hindu em grupos de devotos fervorosos, principalmente os vaishinavas, adoradores dos aspectos de Vishnu e dos
shaivas, adoradores dos aspectos de Shiva.
No século XVIII o pensamento dos sábios hindus começa a sofrer uma mudança influenciada por esse movimento amoroso e
devocional (bhakti) e muitos começam a serem universalistas, ou seja, abraçam não só as verdades hindus, mas aceitam e
adaptam ao seu contexto de vida os ensinamentos cristãos, budistas, taoístas e islâmicos.
Como exemplo podemos citar o “Louco de Deus”, Sri Paramahansa Ramakrishna que viveu no séc. XIX, chamado assim pelo seu
amor anelante a Deus e que realizou a Verdade tanto pelas várias disciplinas hindus, como a Vedanta e o Tantra, quanto pelo
caminho cristão e islâmico.
Ainda hoje, Ramakrishna é venerado como um Avatar na Índia. Gandhi também é um outro grande exemplo, pois sempre lutou
pelo convívio pacifico e harmonioso entre hindus e mulçumanos.
Hoje é muito difícil encontrar um verdadeiro mestre ou guru na Índia. Infelizmente muitos dos sacerdotes e o povo em geral dão
muito valor aos rituais, deixando a vivência da espiritualidade em segundo plano.
Isso não é nada diferente do que ocorre nas diversas religiões do mundo, aonde as belezas do altar exterior tem mais valor do
que a beleza do altar do coração.
“Os pés do Senhor estão firmemente estabelecidos no lótus do seu coração. Aprecie-os com tua visão espiritual e encharque-os
com a água do teu amor puro e verdadeiro”.
Namastê
Carolina Taliberti