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SABÓIA DE MEDEIROS
zona bainítica
2012
TAMIRES CORGHI VERÍSSIMO
zona bainítica
2012
A Deus, a minha família e aos meus
amigos de todas as horas.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, por todo o apoio e incentivo dados ao longo do trabalho e do curso,
mas principalmente pela oportunidade de ingressar na faculdade. As minhas irmãs pelos
conselhos e pela tolerância nas horas mais complicadas.
Ao meu orientador Rodrigo Magnabosco por toda a ajuda, conselhos e até mesmo
pelas cobranças e puxões de orelha. Às minhas colegas de sala, Cecília de Freitas
Vendramine, Marcela Nunes Colli e Júlia Marangoni pela convivência, dicas, auxílios e
conselhos sobre o trabalho.
Ao MSc. Eduardo Franco de Monlevade por toda a orientação, conselhos e dicas, além
da sugestão do tema do presente trabalho.
A empresa Mangels Industrial S. A. pela doação do aço para análise e para a empresa
TecFar pela doação do sal utilizado no tratamento térmico.
A Deus, por ter me ajudado a superar todas as horas difíceis e por ter chegado até aqui.
RESUMO
O AISI 15B30 é um aço ao boro, com crescente aplicação industrial. Suas principais
aplicações são as molas estáticas, as ferramentas para a construção civil, os implementos
agrícolas e as auto peças. Na maioria das vezes, esse material é vendido com a estrutura
bainítica e para atender a essa exigência, é fundamental o conhecimento da curva TTT.
Visando essa exigência, o objetivo desse trabalho consiste no levantamento experimental da
curva TTT do aço AISI 15B30, e um objetivo secundário é o de validar a curva esboçada pelo
programa SteCal 3.0. Para isso, utilizou-se o software SteCal 3.0 para esboçar a curva e com
os resultados experimentais, foi possível concluir que o programa não estima os tempos de
transformação de bainita coerentes com os reais, independente de algumas falhas cometidas
ao longo do experimento. Possíveis explicações para o ocorrido estão ligadas a maneira que
os dados de composição química são inseridos no programa, ao tamanho de grão da matéria
prima e a veracidade dos dados da composição química do material.
The AISI 15B30 is a boron steel, with increasing industrial application. Its main
applications are the static springs, tools for construction, agricultural implements and auto
parts. In most cases, this material is sold with a bainitic structure and to meet this
requirement, it is crucial the understanding of the TTT curve. Aiming at this requirement, the
objective of this study is a survey of the experimental TTT curve of AISI 15B30, and a
secondary objective is to validate the experimental curve outlined by the SteCal 3.0 software.
For this, the software SteCal 3.0 was used to sketch the curve and with the experimental
results was possible to conclude that the program does not estimate the times of bainite
transformation coherent with the real ones, independent of the mistakes made during the
experiment. Possible explanations for the incident are linked to the way that chemical
composition data are entered into the program, the grain size of the raw material and the
accuracy of the chemical composition data of the material.
Figura 1 – Curva TTT do aço 1080, com 0,79% de C e 0,76% de Mn. ..................................... 9
Figura 2 – Comparação do diagrama binário Fe-C (a) com uma curva TTT de um aço
eutetóide (b) e um aço hipoeutetóide com 0,5% de C (c)......................................................... 10
Figura 3 - Influência dos elementos de liga na (a) temperatura de transformação eutetóide e
(b) teor de carbono na transfomação eutetóide. ........................................................................ 12
Figura 4 - Diagrama esquemático de um tratamento térmico de austêmpera sobreposto a uma
curva TTT de um aço médio carbono. ...................................................................................... 13
Figura 5 - Imagem obtida por microscópio eletrônico de transmissão (MET). A seta indica um
carboneto M23(B,C)6 não dissolvido em um aço baixo carbono (0,10%) com 20 ppm de boro
temperado. A austenitização foi feita a 950°C por 30 minutos e o resfriamento foi em água. 15
Figura 6 - Dissolução do boro em função da temperatura de austenitização em um aço baixo
carbono (0,10%) contendo 25 ppm de boro, sendo (a) e (b) a 1000°C e (c) e (d) a 1100°C. . 16
Figura 7 - Temperabilidade do aço A514-J em função do teor de boro. .................................. 17
Figura 8 - Efeito do boro nas propriedades mecânicas do aço A514-J temperado a 1175°C. . 18
Figura 9 - Evolução da temperabilidade dos aços AISI 4025 (traços sólidos) e AISI 4125
(linhas tracejadas) em relação a bainita (no gráfico indicada como B) e martensita (indicada
como M). t é o tempo gasto entre 700 e 300°C ao longo da CCT. ........................................ 19
Figura 10 - Imagem obtida por microscopia óptica mostrando a nucleação da ferrita nos
carbonetos no contorno de grão austenítico. ............................................................................ 20
Figura 11 - Curvas de energia associadas a formação de um núcleo de uma fase mais estável
em uma menos estável, em função do raio do núcleo. ............................................................. 22
Figura 12 - Representação da junção das curvas que representam a diminuição do tamanho do
raio crítico e o aumento da mobilidade dos átomos. ................................................................ 23
Figura 13 - Diferentes morfologias da ferrita. .......................................................................... 25
Figura 14 - Comparação das curvas TTT sem (a esquerda) e com (a direita) adição de
elementos de liga. ..................................................................................................................... 27
Figura 15 - Esquema das morfologias de bainita mais comuns. .............................................. 28
Figura 16 – Imagens de microestruturas de bainita superior, confirmando o aspecto de pena de
ave............................................................................................................................................. 29
Figura 17 - Imagem obtida através do microscópio eletrônico de transmissão, evidenciando a
presença de carbonetos na bainita. ........................................................................................... 30
Figura 18 - Formação de bainita no contorno de grão da austenita. ......................................... 32
Figura 19 - Curvas de transformação isotérmica referentes à formação de bainita de um aço
com 1%Cr-0,4%C. .................................................................................................................... 33
Figura 20 – Ataque de um ferro fundido cinzento com (a) Nital e (b) Picral. ......................... 36
Figura 21 - Tela do SteCal para entrada dos dados de composição química. .......................... 39
Figura 22 - (a) Amostra do aço 15B30 para experimento antes de ser cortada; (b) amostra
cortada, com 20 x 25 mm de lado. ............................................................................................ 40
Figura 23 - Curva TTT determinada pelo software Stecal 3.0. ................................................ 41
Figura 24 - Gráfico traçado no programa Excel com o eixo X em minutos, para facilitar a
utilização................................................................................................................................... 41
Figura 25 - Forno Jung tipo mufla sem a atmosfera controlada, utilizado para austenitização
das peças. .................................................................................................................................. 42
Figura 26 - Diagrama pseudo-binário Fe-C, feito com o auxílio do programa Stecal 3.0. ...... 43
Figura 27 - Amostra com o arame para facilitar a sua manipulação. ....................................... 44
Figura 28 - Amostra introduzida no banho de sal para tratemento térmico de austêmpera. .... 44
Figura 29 - Amostra sendo resfriada em água com auxílio de uma tenaz. ............................... 45
Figura 30 - Equipamento utilizado para medição de dureza Vickers das amostras analisadas.
.................................................................................................................................................. 46
Figura 31 – Sobreposição da Figura 24, com as temperaturas e os tempos estabelecidos. ...... 47
Figura 32 - Aço 15B30 sem tratamento térmico atacado com Nital 3%. ................................. 48
Figura 33 - Gráfico com os valores da dureza em função do tempo de exposição ao tratamento
térmico de austêmpera das amostras tratadas a 380°C. ............................................................ 49
Figura 34 - Amostra austenitizada a 380°C por 48 segundos, atacada com Picral 4%. ........... 50
Figura 35 - Amostra tratada térmicamente a 380° por 0,8 minutos, atacada com Nital 3%. ... 51
Figura 36 - Amostra austemperada a 380°C por 0,8 minutos observada no MEV. O ataque
utilizado foi Nital 3%. .............................................................................................................. 52
Figura 37 - Amostra austemperada a 380°C por 0,8 minutos, atacada com Nital 3% , analisada
com o auxílio do MEV. ............................................................................................................ 53
Figura 38 - Microestrutura da amostra austemperada por 3 minutos à temperatura de 380°C,
atacada com Picral 4%. ............................................................................................................. 54
Figura 39 - Amostra austemperada por 3 minutos observada no MEV, atacada com Nital 3%.
.................................................................................................................................................. 55
Figura 40 - Amostra austemperada a 380°C por 3 minutos, atacada com Nital 3%. A
martensita está indicada na imagem como M. .......................................................................... 56
Figura 41 - Amostras tratadas termicamente a 380°C nos tempos de (a) 4 minutos e 18
segundos, (b) 10 minutos e (c) 15 minutos. Todas atacadas com Picral. ................................. 57
Figura 42 – Gráfico da dureza em função do tempo de austempera das amostras tratadas
termicamente a 450°C. ............................................................................................................. 58
Figura 43 - Amostra tratada termicamente a 450°C por 0,7 minutos, atacada com Picral 4%.59
Figura 44 - Estrutura observada na amostra austemperada a 450°C por 0,7 minutos com o
auxílio do MEV. O ataque utilizado foi Nital 3%. ................................................................... 60
Figura 45 - Estrutura observada no MEV da amostra austemperada a 450°C por 0,7 minutos.
O ataque utilizado foi Nital 3%. ............................................................................................... 61
Figura 46 - Estrutura da amostra tratada térmicamente por 2 minutos à 450°C atacada com
Picral 4%. ................................................................................................................................. 62
Figura 47 - Imagem obtida no MEV da amostra austemperada por 2 minutos a 450°C. O
ataque utilizado foi Nital 3%. ................................................................................................... 63
Figura 48 - Imagem adquirida com o auxílio do MEV para a a amostra tratada térmicamente a
450°C por 2 minutos. Ataque utilizado: Nital 3%. ................................................................... 64
Figura 49 - Amostras austemperadas a 450°C por (a) 2 minutos, (b) 10 minutos e (c) 65
minutos. Todas atacadas com Picral. ........................................................................................ 65
Figura 50 - Gráfico da dureza versus o tempo de tratamento térmico para as amostras tratadas
a 575°C. .................................................................................................................................... 66
Figura 51 - Amostra austemperada a 575°C por 16 minutos, atacada com Picral 4%. ............ 67
Figura 52 - Amostra de 16 minutos, deixando clara a presença de zonas bandeadas. O ataque
utilizado foi o Picral 4%. .......................................................................................................... 68
Figura 53 - Imagem obtida no MEV da amostra austemperada a 575°C por 16 minutos. O
ataque utilizado foi Nital 3%. ................................................................................................... 69
Figura 54 - Imagem obtida no MEV, para a amostra tratada por 16 minutos a 575°C. Ataque:
Nital 3%. ................................................................................................................................... 70
Figura 55 - 15B30 tratado termicamente a 575°C por 34 minutos, atacado com Picral 4%. ... 71
Figura 56 - Amostra bandeada com 34 minutos de austêmpera a 575°C, atacada com Picral
4%. ............................................................................................................................................ 72
Figura 57 - Amostra com tratamento térmico de 160 minutos a 575°C, atacado com Picral
4%. ............................................................................................................................................ 73
Figura 58 - Amostra de 160 minutos com menor aumento, mostrando bem as regiões
bandeadas. O ataque utilizado foi Picral 4%. ........................................................................... 74
Figura 59 - Amostra austemperada por 275 minutos a 575°C, atacada com Picral 4%. .......... 75
Figura 60 - Amostra de 275 minutos de tratamento térmico a 575°C, atacada com Picral 4%,
revelando as regiões de bandeamento. ..................................................................................... 76
Figura 61 - Amostra austemperada a 575°C por 750 minutos, atacada com Picral. ................ 77
Figura 62 - Amostra tratada térmicamente por 750 minutos, mostrando as regiões bandeadas.
O ataque utilizado foi Picral. .................................................................................................... 78
Figura 63 - Resultado do ensaio de EDS, sendo o gráfico vermelho a distribuição de carbono
ao longo da amostra, o verde a de Manganês e o azul a de Ferro. ........................................... 79
Figura 64 - Gráficos esboçados pelo SteCaL 3.0 para tamanhos de grão 4 (a) e 10 (b). ......... 80
SUMÁRIO
2.10 O programa SteCal 3.0 e o seu uso para esboço da curva TTT de um aço 37
3 METODOLOGIA ................................................................................................ 40
5 CONCLUSÕES .................................................................................................... 82
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 83
6
1 INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
Os aços ao boro (B) vem sendo utilizados desde a segunda metade do século XX por
apresentarem uma boa temperabilidade. Por ser relativamente mais barato quando comparado
a outros elementos de liga, como o Mo, o B passou a ser muito utilizado já que uma pequena
quantidade desse elemento nos aços gera uma melhora significativa em suas propriedades.
(MALTEPIERRE; TRICOT, 1975)
O aço AISI 15B30 é um aço médio carbono que contém boro e que é comercializado,
geralmente, com microestrutura bainítica – produto de transformação formado em uma faixa
de temperatura intermediária, entre a formação de perlita e de martensita - constituída de
agregados de ferrita e cementita em dimensões características muito pequenas. (COLPAERT,
2008)
A Mangels Industrial S.A., empresa que comercializa esse aço devido a suas boas
propriedades e um custo relativamente menor quando comparado aos aços do tipo alto
carbono, forneceu a informação de que suas principais aplicações são as molas estáticas, as
ferramentas para a construção civil (espátulas e desempenadeiras), os implementos agrícolas
(facas para corte de cana, colheita e descaroçamento de algodão, lâminas roçadeiras de grama)
e as auto peças (linguetas de cinto de segurança, componentes de embreagem e presilhas para
contra-peso de roda automotiva) (informação verbal).1
Para que esse aço atinja as propriedades que lhe são exigidas, este deve ser submetido
a uma austêmpera - tratamento térmico no qual o aço é aquecido até sua temperatura de
austenitização e resfriado rapidamente para uma temperatura de 230 a 400ºC (que varia de
acordo com o aço) que é mantida constante a fim de se obter uma transformação isotérmica
gerando bainita - e para que seja possível determinar as condições para esse tratamento, o
1
Informação verbal concedida por Eduardo Franco de Monlevade, no dia 13 de janeiro de 2012 em
comunicação.
7
2 REVISÃO DA LITERATURA
Figura 2 – Comparação do diagrama binário Fe-C (a) com uma curva TTT de um aço eutetóide (b) e um aço
hipoeutetóide com 0,5% de C (c).
Fonte: Krauss, 2005, p.182.
Outra importante diferença das curvas TTT dos aços hipoeutetóides e eutetóides é a
temperatura Ms. Se observarmos, é possível notar que quanto menor o teor de carbono, maior
é a temperatura Ms. Além dessa, outra distinção é a aceleração da transformação de austenita
em ferrita pró-eutetóide com a diminuição do carbono, o que pode ser notado pela posição do
nariz da curva nos dois gráficos (o nariz da curva do aço hipoeutetóide é mais próximo do
eixo da temperatura se comparado ao do aço eutetóide). (KRAUSS, 2005)
Grande parte das curvas TTT foram levantadas por exame metalográfico de amostras
mantidas por diversos tempos em diversas temperaturas entre Ae3, Acm e Ms. O
procedimento utilizado é o de aquecer a amostra até a temperatura de austenitização e mantê-
11
la nessa temperatura até que essa se torne em uma estrutura monofásica, com 100% de
austenita. Em seguida, as amostras são bruscamente resfriadas, normalmente imersas em
banhos de sal, para um tratamento isotérmico e é mantida nessa temperatura por diversos
tempos. Por fim, as amostras são resfriadas a temperatura ambiente, em alta taxa de
resfriamento, para que a austenita não transformada no tratamento térmico se transforme em
martensita. (KRAUSS, 2005)
Outra forma de se estabelecer essa curva é por auxílio de dilatometria, uma técnica
que utiliza a variação de dimensões da amostra com a variação da temperatura. Essa técnica é
possível devido a expansão que acompanha a transformação da austenita em ferrita e misturas
de ferrita e carbonetos. Entretanto, ao checar por metalografia o início de transformação
indicado pela dilatometria é possível observar que este apresenta um certo desvio, visto que o
início registrado ocorre quando a austenita já foi transformada em aproximadamente 3%. A
metalografia é capaz de revelar o primeiro 1% transformado. (KRAUSS, 2005)
Sabe-se que os aços não são misturas somente de ferro e carbono. Eles contêm
também uma série de elementos de liga e impurezas que podem ser incorporadas a ferrita,
cementita e austenita. Essa incorporação é feita pela substituição do átomo de ferro quando o
átomo do elemento de liga ou impureza possui tamanho próximo ao do ferro. No caso de
12
serem menores que os átomos de ferro, eles ocupam os interstícios (como o carbono e o
nitrogênio). (KRAUSS, 1990)
(a) (b)
Figura 3 - Influência dos elementos de liga na (a) temperatura de transformação eutetóide e (b) teor de carbono
na transfomação eutetóide.
Fonte: Krauss, 1990, p. 12;
Figura 4 - Diagrama esquemático de um tratamento térmico de austêmpera sobreposto a uma curva TTT de um
aço médio carbono.
Fonte: Krauss, 1990, p.267.
Tabela 1 - Comparação das composições químicas dos aços AISI 15B30 e AISI 1030.
2
Informação verbal concedida por Eduardo Franco de Monlevade, no dia 13 de janeiro de 2012.
15
Figura 5 - Imagem obtida por microscópio eletrônico de transmissão (MET). A seta indica um carboneto
M23(B,C)6 não dissolvido em um aço baixo carbono (0,10%) com 20 ppm de boro temperado. A austenitização
foi feita a 950°C por 30 minutos e o resfriamento foi em água.
Fonte: Banerji, Morral, 1979, p.3.
como mostra a Figura 6. Foi comprovado que a quantidade de boro presente no aço controla a
temperatura de completa dissolução dos carbonetos. (BANERJI, MORRAL, 1979)
Figura 6 - Dissolução do boro em função da temperatura de austenitização em um aço baixo carbono (0,10%)
contendo 25 ppm de boro, sendo (a) e (b) a 1000°C e (c) e (d) a 1100°C.
Fonte: Banerji, Morral, 1979, p.4.
as durezas mostradas na Tabela 3 e na Figura 7, o maior fator boro – que consiste em uma
relação entre o diâmetro ideal obtido pela curva Jominy e o diâmetro ideal para cada
composição sem o boro - comprova a faixa ideal de adição desse elemento.
Figura 8 - Efeito do boro nas propriedades mecânicas do aço A514-J temperado a 1175°C.
Fonte: Melloy, Slimmon e Podgursky, 1973, p.2281.
Outro fator que não deve ser desconsiderado na temperabilidade atingida em um aço
ao boro é a condição de austenitização. Estudos em aços com baixo teor de nitrogênio
comprovam que a temperabilidade aumenta com o aumento da temperatura de austenitização,
como ilustram as curvas na Figura 9. Entretanto, um aspecto que é muitas vezes muito
investigado na temperabilidade dos aços ao boro é o tamanho de grão austenítico. Em todos
os experimentos realizados nesses estudos, pode-se verificar que o boro tem pouquíssima
influência no tamanho de grão austenítico. (BANERJI, MORRAL, 1979)
19
Figura 9 - Evolução da temperabilidade dos aços AISI 4025 (traços sólidos) e AISI 4125 (linhas tracejadas) em
relação a bainita (no gráfico indicada como B) e martensita (indicada como M). t é o tempo gasto entre 700 e
300°C ao longo da CCT.
Fonte: Banerji, Morral, 1979, p.8.
Figura 10 - Imagem obtida por microscopia óptica mostrando a nucleação da ferrita nos carbonetos no contorno
de grão austenítico.
Fonte: Banerji, Morral, 1979, p. 12.
Segundo Morral e Cameron, existe uma outra explicação para o significativo aumento
da temperabilidade de um aço com a adição de boro e esta é baseada na distribuição da
densidade atômica da estrutura. Em uma rede de átomos de um contorno de grão, mesmo
naqueles com contornos de altos ângulos (onde é esperado que ocorra nucleação mais
facilmente), existem regiões de alta e baixa densidade atômica. Essas regiões de baixa
densidade são posições favoráveis para a nucleação de ferrita. É possível que os carbonetos de
boro ocupem essas posições quando segregados ou então eles pode precipitar na forma de
M23(B,C)6. Nesse caso, quando o átomo de boto ocupa uma região de baixa densidade
atômica, ele causa uma variação na energia livre do sistema, e quando precipita no contorno
de grão austenítico na forma de M23(B,C)6, ele ocupa o local que seria favorável para a
nucleação de ferrita. Partindo do pressuposto que o boro ocupe metade das posições, a curva
em “C” da ferrita na curva TTT vai ser deslocada em um fator de 2. Se o boro ocupar todos os
espaços, a ferrita terá que se formar em outro local a uma taxa reduzida. É possível que o boro
presente nos aços ao boro sejam suficientes para ocupar todos esses espaços, e essa é a
principal explicação para o fato de uma baixíssima quantidade de boro ter uma influência
tremenda na temperabilidade. (BANERJI, MORRAL, 1979)
21
Figura 11 - Curvas de energia associadas a formação de um núcleo de uma fase mais estável em uma menos
estável, em função do raio do núcleo.
Fonte:Magnabosco, 2012, adaptado de Porter, p.183.
Nota-se que a Figura 11 marca um raio, nomeado raio crítico, que indica o tamanho do
raio que é mínimo para o crescimento de um núcleo, ou seja, núcleos formados com raios
inferiores ao raio crítico tendem a desaparecer. (COLPAERT, 2008)
energia livre liberada pela transformação será usada para aumentar a área da interface. Se o
raio for menor que o tamanho crítico, a energia livre do sistema irá aumentar ao invés de
diminuir com o crescimento, e esse núcleo tenderá a desaparecer. Entretanto, é difícil
entender como um núcleo atinge o tamanho crítico, já se parte do pressuposto de que ele parte
de um raio com um tamanho inferior ao raio crítico. (ZENER, 1945)
É possível, mas muito improvável, que um grão cresça a partir de dimensões atômicas
até atingir o tamanho crítico, contradizendo as leis da termodinâmica (já que esta prevê o que
é mais provável acontecer, não o que necessariamente vai acontecer). (ZENER, 1945)
A reação austenita-ferrita ocorre a 912°C no ferro puro e entre 723 e 910°C em ligas
ferro carbono. Porém, essa temperatura de transformação pode ocorrer a temperaturas
próximas de 600°C em tratamentos térmicos, como a têmpera, a partir do estado austenítico
abaixo das temperaturas eutetóides. Tanto nas fases hipo como hipereutetóides, observa-se
alterações morfológicas com a diminuição da temperatura de transformação. Muitas vezes
essas transformações ocorrem devido a diferentes orientações cristalográficas.
(HONEYCOMBE, 1981)
Honeycombe (1981) afirma que Dubé propôs uma classificação de quatro morfologias
de ferrita, que foram revistas por Aaronson. Estas são alotriomorfos de limite de grão, lamelas
laterais de Widmanstätten, idiomorfos intergranulares e lamelas intergranulares, conforme
Figura 13.
25
Figura 14 - Comparação das curvas TTT sem (a esquerda) e com (a direita) adição de elementos de liga.
Fonte: ASM v.9, 2004, p. 461
Segundo Zener e Member (1945), a única condição que precisa ser atendida para
ocorrer a transformação é a queda na energia livre total do sistema. Não é necessário que a
fase antiga e a nova estejam em equilíbrio e nem que a fase final esteja em equilíbrio estável.
Vale ressaltar que a mudança de fase que ocorre não é necessariamente a que mais diminui a
energia livre total do sistema, mas sim a que se procede na melhor taxa. (CLARENCE,
MEMBER, 1945)
Da mesma forma, essa estrutura pode ser classificada, de acordo com a faixa de
temperatura em que se forma e suas características microestruturais, em bainita superior e
inferior e esta é uma classificação importante devido as diferenças em suas propriedades
mecânicas, morfologias e modo de formação. (COLPAERT, 2008)
carbonetos são maiores (Figura 15a e c) se comparados aos da bainita inferior (Figura 15b e
d). (COLPAERT, 2008) (HONEYCOMBE, 1981)
A morfologia da cementita em torno das ripas de ferrita varia de acordo com o teor de
carbono no aço. Aços com baixo teor de carbono apresentam forma de fiadas descontínuas e
partículas isoladas, enquanto aços de alto teor de carbono podem apresentar fiadas contínuas.
Em alguns casos a cementita pode não precipitar, gerando austenita retida. Quando isso
acontece, a bainita é nomeada granular, e uma alternativa para isso é a transformação desta
austenita retida em martensita de alto carbono, influindo na sua ductilidade. Devido a alta
rugosidade causada pelo ataque excessivo em volta da cementita, a bainita superior apresenta-
se escura na microscopia ótica. Normalmente, tem um aspecto de penas de ave (conforme
Figura 16). (COLPAERT, 2008) (HONEYCOMBE, 1981)
29
No caso da bainita inferior a ferrita apresenta-se como placas longas, com aspecto
acicular muito próximo ao da martensita - dificultando a diferenciação destas duas
microestruturas (nesse caso, ataques coloridos podem auxiliar).3 Geralmente, as lamelas de
ferrita se formam nos contornos de grão de austenita, mas há casos em que a nucleação ocorre
no interior do grão (nucleação intragranular) nos quais são observados lamelas secundárias
formadas a partir de lamelas primárias longe dos limites do grão, como mostram as Figura
15b e d. Após a transformação, os carbonetos precipitam-se dentro da ferrita, mas podem
precipitar fora também. (COLPAERT, 2008)
3
Nesse caso, pode-se realizar o ataque colorido LePera, melhor explicado posteriormente.
30
(3)
Para que seja possível realizar a metalografia, são utilizados reagentes para atacar a
peça ou amostra em estudo. Esses reagentes causam contraste na imagem para que esta possa
ser vista pelo olho humano. A Erro! Fonte de referência não encontrada. mostra uma
relação de ataques que podem ser utilizados em aços ao carbono, sendo eles o Nital (em
diferentes concentrações de áciddo nítrico, geralmente de 1 a 4%), Picral e LePera.
(PETZOW, 1999)
Amostras de aço contendo ferrita, perlita, martensita, cementita e bainita podem ser
atacadas utilizando Nital à temperatura ambiente. Normalmente, é uma solução de álcool com
ácido nítrico (HNO3) com concentração de 1 a 4% e é o reagente mais comum para ataque de
aços. Revela os contornos de grão da fase ferrítica e seus constituintes e é realizado por
imersão da amostra por mais de 60 segundos na solução. (ASM, 2004)
(a) (b)
Figura 20 – Ataque de um ferro fundido cinzento com (a) Nital e (b) Picral.
Fonte: ASM, 2004, p. 1297 – 1298.
Analisando a Figura 20a é possível observar áreas perlíticas pouco atacadas ou não
atacadas (indicadas com setas), enquanto na Figura 20b o ataque da perlita aparece mais
homogêneo. (ASM, 2004)
Dr. Emanuel Beraha trabalhou para desenvolver um ataque com maiores contrastes
utilizando vários reagentes diferentes, sendo alguns deles utilizando o metabissulfito de sódio.
37
Para que seja possível a realização desse ataque, a amostra deve ser lixada e polida.
Em seguida é imersa de 6 a 8 segundos em uma solução de Picral 4% e polida novamente
com a politriz de 0,25 microns. Esse procedimento deve ser repetido até que todo o metal
remanescente seja removido, garantindo que a etapa de polimento seja longa o suficiente para
remover a aparência queimada criada pelo ataque com picral. Normalmente essa sequência é
repetida de 2 a 3 vezes para retirada de todo o metal remanescente. (LEPERA, 1980)
Após essa etapa, a amostra deve ser polida com pano de polimento impregnado com
pasta de diamante de 0,25 micron de granulometria e mergulhada imediatamente na mistura
de metabissulfito por 5 a 10 segundos. A amostra deve ser agitada enquanto atacada e após ter
sido retirada da mistura, deve ser limpa com álcool etílico e algodão molhado. A amostra deve
apresentar uma cor laranja-dourado clara. Se, após o ataque a ferrita estiver azul e apresentar
alguns grãos mais escuros que os outros, o ataque foi excessivo. (LEPERA, 1980)
2.10 O programa SteCal 3.0 e o seu uso para esboço da curva TTT de
um aço
O software é composto por uma combinação dos mais efetivos e precisos métodos de
cálculo, não é somente uma base de dados na qual as propriedades e comportamentos de
diferentes tipos de aços são armazenados. Os métodos são baseados em aproximações lógicas.
O programa não aceita a entrada de valores incoerentes ou que possam gerar erros nos
cálculos. (TARÍN, PÉREZ, STEVENSON, 2004)
38
Este software vem sendo utilizado como um método de instrução desde 1985 no
departamento de materiais da Escola de Engenharia Aeronáutica na Universidade Politécnica
de Madrid. (TARÍN, PÉREZ, STEVENSON, 2004)
Tabela 5 - Limites permitidos e recomendados para a entrada dos elementos no SteCal 3.0.
O uso dos valores entre os limites recomendados vão proporcionar uma menor
possibilidade de erro nos cálculos. Todavia, erros podem ocorrer se numerosos elementos
estiverem próximos aos limites superior ou inferior das margens especificadas, porém isso
não é comum nos aços de baixa liga. (TARÍN, PÉREZ, STEVENSON, 2004)
As entradas das quantidades dos elementos no programa são realizadas de acordo com
a Figura 21. Vale ressaltar que a entrada do elemento boro é feita somente através de uma
seleção confirmando a presença ou não desse elemento. (TARÍN, PÉREZ, STEVENSON,
2004)
O eixo da temperatura varia de acordo com o tipo de aço e, para cada caso,
cobre o intervalo de 40ºC abaixo da M50 e 30ºC acima da A3. A A1, A3, Bs, Ms e M50
previamente calculadas também são identificadas no eixo. (TARÍN, PÉREZ, STEVENSON,
2004)
40
3 METODOLOGIA
A empresa Mangels Industrial S.A. fez a doação de uma amostra do aço AISI 15B30
para realização dos experimentos que visam o levantamento da curva TTT deste material. A
amostra possui 2,25 milímetros de espessura, 285 mm de largura, e 604 mm (Figura 22 a) de
comprimento e foi cortada em amostras retangulares menores, de 20 por 25 milímetros de
lado (Figura 22 b). Esse tamanho foi escolhido considerando-se que a amostra deve possuir
um tamanho adequado para ser resfriada rapidamente, não ser tão pequena para facilitar a sua
manipulação e ter a sua secção de estudo (longitudinal) facilmente identificada (que no caso é
a secção de 20 mm de lado).
(a) (b)
Figura 22 - (a) Amostra do aço 15B30 para experimento antes de ser cortada; (b) amostra cortada, com 20 x 25
mm de lado.
Fonte: Autor
Usou-se como base a curva TTT obtida pelo programa Stecal 3.0 – software que
simula curvas de tratamento térmico de acordo com a composição do aço - para estimar as
temperaturas e os tempos de trabalho no experimento (Figura 23). No esboço dessa curva, não
foram introduzidos os elementos de liga que não possuíam entrada na base de dados do
programa (conforme sugeria o manual) e o adotou-se um tamanho de grão médio (7), visto
que esse não foi devidamente medido. Assim, um objetivo secundário será o de validar a
curva TTT determinada pelo software mencionado. Através da curva base e com o auxílio do
programa Leitor – software que auxilia a leitura de pontos exatos de gráficos – a curva foi
traçada no programa Microsoft Excel para que a unidade do eixo das abscissas (tempo) fosse
retrabalhada (já que o Stecal 3.0 fornecia um gráfico em escala logarítimica começando em
41
segundos e terminando em horas). O gráfico foi refeito com o eixo X em escala logarítmica
em minutos, na região da transformação bainítica, e é apresentado na Figura 24.
650
600
550
Temperatura [°C]
500
Início Bainita
450 50% Bainita
100% Bainita
400
350
300
0.1 1 10 100 1000 10000
Log t [min]
Figura 24 - Gráfico traçado no programa Excel com o eixo X em minutos, para facilitar a utilização.
Fonte: Autor
42
O experimento teve início com parte das amostras sendo levadas a um forno Jung tipo
mufla sem a atmosfera controlada (Figura 25), sendo submetidas a uma temperatura de 850ºC
por 20 minutos (tempo suficiente para que a temperatura se uniformizasse ao longo de toda a
amostra), de forma que no final a fase presente fosse 100% austenita e que estivesse
completamente homogênea, ou seja, que o aço estivesse completamente austenitizado. Essa
temperatura foi escolhida baseada na curva TTT do programa Stecal e na Tabela 6, abaixo.
Figura 25 - Forno Jung tipo mufla sem a atmosfera controlada, utilizado para austenitização
das peças.
Fonte: Autor
Figura 26 - Diagrama pseudo-binário Fe-C, feito com o auxílio do programa Stecal 3.0.
Fonte: Autor
Vale ressaltar que foi feito um furo na parte superior de um dos lados das amostras
para amarrá-las com um arame, conforme Figura 27. Isso facilita a manipulação dos corpos de
prova ao coloca-los e retirá-los do forno (eles são movimentados pelo arame amarrado).
44
Por fim, as amostras foram retiradas do cadinho com o auxílio de uma tenaz e imersas
em água, como mostra a Figura 29, de modo que fossem resfriadas a temperatura ambiente.
Vale ressaltar que uma amostra do material sem tratamento térmico também foi
preparada para análise da estrutura.
Todo esse procedimento foi realizado nas temperaturas e tempos indicados na Tabela
7 - Temperaturas e tempos utilizados nos tratamentos térmicos.Tabela 7 e na Figura 31,
obtendo-se a formação de bainita parcial ou total em diferentes temperaturas; a quantificação
das microestruturas formadas permitirá a validação da curva TTT obtida com o software
SteCal para o aço em estudo na região de transformação bainítica.
Fonte: Autor
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Figura 32 - Aço 15B30 sem tratamento térmico atacado com Nital 3%.
Fonte: Autor.
.
49
550
500
Dureza (HV1,0)
450
400
350
300
0 1 2 3 4 5 6
Tempo (min)
Figura 33 - Gráfico com os valores da dureza em função do tempo de exposição ao tratamento térmico de
austêmpera das amostras tratadas a 380°C.
Fonte: Autor
Figura 34 - Amostra austenitizada a 380°C por 48 segundos, atacada com Picral 4%.
Fonte: Autor.
Para que não fique dúvidas que a região clara é composta por martensita, a amostra foi
atacada com Nital 3%, como mostra a Figura 35.
51
Figura 35 - Amostra tratada térmicamente a 380° por 0,8 minutos, atacada com Nital 3%.
Fonte: Autor.
A Figura 35 não deixa dúvidas que a região clara da Figura 34 é composta por
martensita, mas revela uma região mais clara próxima aos campos de formação de bainita.
Para melhor identificar essa estrutura clara, utilizou-se o MEV, e as imagens obtidas são
mostradas na Figura 36 e Figura 37.
52
Figura 36 - Amostra austemperada a 380°C por 0,8 minutos observada no MEV. O ataque utilizado foi Nital 3%.
Fonte: Autor.
53
Figura 37 - Amostra austemperada a 380°C por 0,8 minutos, atacada com Nital 3% , analisada com o auxílio do
MEV.
Nessa imagem também é possível identificar a bainita como inferior, visto que os
carbonetos apresentam-se alinhados e finos.
Figura 38 - Microestrutura da amostra austemperada por 3 minutos à temperatura de 380°C, atacada com Picral
4%.
Fonte: Autor.
Figura 39 - Amostra austemperada por 3 minutos observada no MEV, atacada com Nital 3%.
Fonte: Autor.
56
Figura 40 - Amostra austemperada a 380°C por 3 minutos, atacada com Nital 3%. A martensita está indicada na
imagem como M.
Fonte: Autor.
(a) (b)
(c)
Figura 41 - Amostras tratadas termicamente a 380°C nos tempos de (a) 4 minutos e 18 segundos, (b) 10 minutos
e (c) 15 minutos. Todas atacadas com Picral.
Fonte: Autor.
Entretanto, analisando a Figura 41, é possível notar que a bainita vai se tornando mais
grosseira com o aumento do tempo de tratamento. Por se tratar de uma estrutura que se forma
por difusão e sabendo-se que a difusão é diretamente proporcional ao tempo e a temperatura,
esperava-se encontrar uma estrutura mais grosseira com o aumento do tempo de tratamento.
410
390
370
Dureza (HV1,0)
350
330
310
290
270
250
0 10 20 30 40 50 60 70
Tempo (min)
Figura 42 – Gráfico da dureza em função do tempo de austempera das amostras tratadas termicamente a 450°C.
Fonte: Autor
Fazendo um comparativo dos valores expostos nas Figura 33 e 34, podemos perceber
que os valores de dureza tiveram uma ligeira queda devido ao aumento da temperatura de
tratamento, que leva a formação de uma bainita mais grosseira se comparada com a formada
na temperatura mais baixa. A 450°C, a precipitação dos carbonetos da bainita ocorre
provavelmente nas interfaces das agulhas de ferrita formadas (predominância de bainita
superior), o que também contribui para o amolecimento da amostra.
A imagem obtida na análise da amostra tratada termicamente por 0,7 minutos nessa
temperatura pode ser visualizada na Figura 43.
59
Figura 43 - Amostra tratada termicamente a 450°C por 0,7 minutos, atacada com Picral 4%.
Fonte: Autor.
Figura 44 - Estrutura observada na amostra austemperada a 450°C por 0,7 minutos com o auxílio do MEV. O
ataque utilizado foi Nital 3%.
Fonte: Autor.
61
Figura 45 - Estrutura observada no MEV da amostra austemperada a 450°C por 0,7 minutos. O ataque utilizado
foi Nital 3%.
Fonte: Autor.
Figura 46 - Estrutura da amostra tratada térmicamente por 2 minutos à 450°C atacada com Picral 4%.
Fonte: Autor.
A imagem mostra uma estrutura quase 100% baninítica, porém com uma região
martensítica no centro. Isso não era esperado, já que nesse segundo tempo dessa temperatura,
o SteCal 3.0 previa uma quantidade de bainita ainda inferior a 50%. Isso pode ser melhor
visualizado na Figura 31.
Uma possível explicação para a presença de martensita no centro é que essa região é a
última a ser transformada devido a dificuldade de troca de calor. Entretanto, como a amostra
utilizada possui apenas 2,25 mm de espessura, essa hipótese foi descartada. Outra ideia que
não pode ser desconsiderada é o fato de a matéria prima apresentar-se completamente
bandeada no centro. Esse bandeamento pode ter levado a essa formação de martensita no
centro da amostra.
Figura 47 - Imagem obtida no MEV da amostra austemperada por 2 minutos a 450°C. O ataque utilizado foi
Nital 3%.
Fonte: Autor.
64
Figura 48 - Imagem adquirida com o auxílio do MEV para a a amostra tratada térmicamente a 450°C por 2
minutos. Ataque utilizado: Nital 3%.
Os tempos seguintes se apresentaram 100% bainíticos (Figura 49), e por isso não
tiveram suas durezas com variações relevantes.
65
(a) (b)
(c)
Figura 49 - Amostras austemperadas a 450°C por (a) 2 minutos, (b) 10 minutos e (c) 65 minutos. Todas atacadas
com Picral.
Fonte: Autor.
235
230
225
Dureza (HV1,0)
220
215
210
205
0 100 200 300 400 500 600 700 800
Tempo (min)
Figura 50 - Gráfico da dureza versus o tempo de tratamento térmico para as amostras tratadas a 575°C.
Fonte: Autor
Para essa temperatura não houve variação significativa na dureza das amostras
conforme se aumentava o tempo de austêmpera. Essa propriedade não era esperada para a
amostra de 16 minutos, visto que nesse tempo a dureza deveria ser maior, já que nela existe
grande quantidade de martensita.
Comparando os três gráficos de dureza obtidos (Figura 33, Figura 42, Figura 50) é
possível observar que o valor da dureza é inversamente proporcional a temperatura exposta.
Dessa forma, nota-se que as amostras austemperadas a temperatura de 575°C são as que
apresentam menor valor de dureza, seguida pela de 450°C e 380°C.
Figura 51 - Amostra austemperada a 575°C por 16 minutos, atacada com Picral 4%.
Fonte: Autor.
68
Figura 52 - Amostra de 16 minutos, deixando clara a presença de zonas bandeadas. O ataque utilizado foi o
Picral 4%.
Fonte: Autor.
Para identificar essa estrutura clara como ferrita ou como outra fase, fez-se o uso do
MEV. A microestrutura pode ser analisa nas Figura 53 e 54.
69
Figura 53 - Imagem obtida no MEV da amostra austemperada a 575°C por 16 minutos. O ataque utilizado foi
Nital 3%.
Fonte: Autor.
70
Figura 54 - Imagem obtida no MEV, para a amostra tratada por 16 minutos a 575°C. Ataque: Nital 3%.
Fonte: Autor.
A ferrita presente na amostra explica o fato de a dureza ter apresentado uma ligeira
queda em relação as amostras tratadas às temperaturas de 380°C e 450°C. Também á possível
observar que nessa temperatura não ocorre a formação de martensita, ou seja, desde o
primeiro tempo a austenita já foi completamente transformada não ocorrendo estrutura
martensítica mesmo com o resfriamento rápido após o banho de sal.
Além da formação de ferrita não estar de acordo com o software Stecal 3.0, pode-se
dizer que a própria formação de bainita também não está. Segundo o programa, no tempo de
71
Figura 55 - 15B30 tratado termicamente a 575°C por 34 minutos, atacado com Picral 4%.
Fonte: Autor.
72
Figura 56 - Amostra bandeada com 34 minutos de austêmpera a 575°C, atacada com Picral 4%.
Fonte: Autor.
A estrutura da amostra austemperada por 160 minutos pode ser vista na Figura 57. Da
mesma forma que as outras, também foi encontrado bandeamento e a foto com menor
aumento é mostrada na Figura 58. Nela estão presentes bainita e ferrita, porém a primeira
apresenta-se mais grosseira em relação à do tempo anterior.
73
Figura 57 - Amostra com tratamento térmico de 160 minutos a 575°C, atacado com Picral 4%.
Fonte: Autor.
74
Figura 58 - Amostra de 160 minutos com menor aumento, mostrando bem as regiões bandeadas. O ataque
utilizado foi Picral 4%.
Fonte: Autor.
As amostras com tempos de 275 minutos e 750 minutos apresentaram estruturas que
são mostradas nas Figura 59 a 62.
75
Figura 59 - Amostra austemperada por 275 minutos a 575°C, atacada com Picral 4%.
Fonte: Autor.
76
Figura 60 - Amostra de 275 minutos de tratamento térmico a 575°C, atacada com Picral 4%, revelando as
regiões de bandeamento.
Fonte: Autor.
77
Figura 61 - Amostra austemperada a 575°C por 750 minutos, atacada com Picral.
Fonte: Autor.
78
Figura 62 - Amostra tratada térmicamente por 750 minutos, mostrando as regiões bandeadas. O ataque utilizado
foi Picral.
Fonte: Autor.
Como foi possível observar, a presença de segregação foi marcante nas regiões
centrais da amostra. Para melhor identificar essas regiões fez-se, com o auxílio do MEV, um
ensaio de EDS e assim foram obtidos os resultados mostrados na Figura 63.
79
Figura 63 - Resultado do ensaio de EDS, sendo o gráfico vermelho a distribuição de carbono ao longo da
amostra, o verde a de Manganês e o azul a de Ferro.
Fonte: Autor.
Com o resultado desse teste é possível notar que o manganês se encontra distribuído
irregularmente ao longo de toda a amostra e os picos representam as regiões com maior
concentração desse elemento, e possivelmente as regiões mais bandeadas das amostras.
Outro fator que pode ter influenciado os resultados é o tamanho de grão de partida.
Para esboço do gráfico (Figura 23) utilizou-se um tamanho de grão médio (7). Para melhor
80
discussão, fez-se um comparativo dos gráficos obtidos com o maior e menor tamanho de grão
disponibilizado pelo software. Essa comparação pode ser vista na Figura 64.
(a)
(b)
Figura 64 - Gráficos esboçados pelo SteCaL 3.0 para tamanhos de grão 4 (a) e 10 (b).
Fonte: Autor.
15 segundos a aproximadamente 450°C, enquanto com o tamanho de grão maior esse início
se desloca para quase 1 minuto.
Como não foi determinado o tamanho de grão da matéria-prima, essa pode ter sido
uma fonte da não congruência entre os resultados obtidos e os esperados pela simulação, já
que as transformações por difusão ocorreram em tempos menores que os estimados pelo
software SteCal 3.0. Provavelmente, o tamanho de grão da amostra era inferior ao estimado.
Além disso, como já visto acima, o programa não permite a entrada exata do teor de
boro nos dados da composição química. Nos resultados experimentais, pode-se observar que
as transformações ocorrem em tempos menores que os previstos pelo software, o que leva a
pensar que o SteCal superestima o efeito do boro na temperabilidade, prevendo um efeito
muito maior deste elemento sobre o aço (o que estima a curva muito mais deslocada para a
direita do que ela efetivamente está).
Por fim, levando em conta a temperatura de austenitização, vale ressaltar que essa
pode não ter sido selecionada corretamente. Se a temperatura não foi alta o suficiente, o boro
pode ter ficado na estrutura como solução sólida. Isso não permitiria a precipitação dos carbo-
boretos M23(B,C)6 nas regiões dos contornos de grão austeníticos e, consequentemente, não
inibiria a nucleação de ferrita, o que não levaria a um aumento na temperabilidade do aço e as
transformações bainítica ocorreriam em tempos inferiores aos previstos pelo software.
82
5 CONCLUSÕES
A curva esboçada pelo software SteCal não está de acordo com os resultados
experimentais obtidos nos tratamentos isotérmicos do aço AISI 15B30 na região de formação
de bainita, e as possíveis causas são:
I) A curva esboçada pelo SteCal 3.0 poderia estar mais em acordo com os
resultados experimentais se tivesse sido medido o tamanho de grão da matéria-
prima, avaliando o efeito desse na temperabilidade do aço.
II) O programa pode superestimar a presença do Boro, esboçando uma
temperabilidade muito maior ao aço.
III) O aço pode não ter o teor de boro esperado, ou o boro não foi totalmente
solubilizado na temperatura de austenitização adotada.
Deste modo, conclui-se que é possível o estudo cinético das transformações bainíticas
isotérmicas do aço AISI 15B30 nas dependências do Centro Universitário da FEI por meio de
análise metalográfica, mas o estudo pode ser aprimorado se o tamanho de grão austenítico for
melhor avaliado, se for incorporado termopar de controle de temperatura do banho de sal, se o
teor de B efetivo no aço for devidamente verificado e se a temperatura de austenitização for
determinada com maior precisão.
83
REFERÊNCIAS
AMERICAN SOCIETY FOR METALS. ASM Handbook Vol. 4: Heat Treating. 12.
ed. Estados Unidos da América, ASM Internacional, 1991.
COSTA E SILVA, A; MEI, P. ROBERTO. Aços e Ligas Especiais. 2.ed. São Paulo,
Edgard Blücher, 2006.
TARÍN, P.; PÉREZ, J.; STEVESON, S. Stecal 3.0: User Manual. Ohio, ASM
Internacional, 2004.