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COMITÉ DE POLÍTICA MONETÁRIA

COMUNICADO N.º 09/2016


Maputo, 14 de Dezembro de 2016

BANCO DE MOÇAMBIQUE MANTÉM AS TAXAS DE JURO E O COEFICIENTE


DE RESERVAS OBRIGATÓRIAS. CONTUDO, ALERTA PARA O
AGRAVAMENTO DOS RISCOS DOMÉSTICOS

O Comité de Política Monetária (CPMO) do Banco de Moçambique decidiu hoje manter


as taxas de juro de referência e o coeficiente de reservas obrigatórias, após sucessivos
aumentos, em face do abrandamento da inflação esperada.

Estas medidas justificam-se pelo facto de, a partir de Outubro de 2016, alguns indicadores
monetários e financeiros terem começado a evoluir no sentido esperado, com destaque
para a taxa de câmbio, o que abre boas perspectivas para que a curto e médio prazos a
inflação desacelere, permitindo assim reforçar o princípio de taxas de juro reais positivas.

Projecções mais recentes indicam que a inflação anual poderá situar-se abaixo das
expectativas feitas pelo CPMO em Outubro, que apontavam para um nível em redor de
30% no final de 2016, muito embora subsistam riscos da conjuntura doméstica e
internacional que a ocorrer de forma severa poderão impactar na sua trajectória
estimada.

O Comité de Política Monetária mantém-se vigilante e a acompanhar de forma


permanente os indicadores sujeitos a monitoria, com destaque para a inflação, podendo,
por isso, no intervalo que vai desta sessão à próxima agendada para Fevereiro de 2017,
tomar medidas correctivas que se mostrarem adequadas para reforçar a estabilidade
macroeconómica e do sector financeiro.

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RECUPERAÇÃO DO PREÇO DAS COMMODITIES E SINAIS DE EXPANSÃO DA
ACTIVIDADE ECONÓMICA MUNDIAL RELANÇAM AS EXPECTATIVAS DE
CRESCIMENTO DAS EXPORTAÇÕES DE MOÇAMBIQUE

Os últimos dados sobre a actividade económica mundial mostram uma recuperação das
economias avançadas e um abrandamento da desaceleração nas economias emergentes.
A conjuntura internacional indica uma expansão da actividade económica nas economias
avançadas, com destaque para a recuperação da Zona Euro e dos EUA, depois de um
crescimento abaixo do esperado no segundo trimestre. Do lado das economias de mercado
emergentes, a Índia e a Coreia do Sul mantêm taxas de crescimento mais elevadas
comparativamente à China cujo ritmo de expansão estabilizou a um nível inferior quando
comparado com os anos anteriores. Este desempenho tem contribuído para uma ligeira
recuperação do preço das matérias-primas no mercado internacional, com impacto positivo
para as perspectivas de crescimento das exportações moçambicanas e consequente melhoria do
saldo da conta corrente do país.

O efeito combinado do aumento das exportações e da diminuição das importações levou


à redução do défice das transações comerciais entre Moçambique e o resto do mundo.
Após cinco trimestres consecutivos de redução, as exportações de bens, nomeadamente, carvão
mineral, gás, energia eléctrica e areias pesadas aumentaram no terceiro trimestre de 2016
quando comparadas às de igual período de 2015. Este aumento está em linha com a recuperação
do preço das commodities no mercado internacional, num contexto em que as importações
continuam a reduzir devido, por um lado, à desaceleração da actividade económica doméstica
e, por outro, ao efeito da depreciação da taxa de câmbio do Metical. Estes factores combinados
permitiram uma redução do défice da conta corrente em 29,3% até ao terceiro trimestre de
2016.

As medidas de política monetária restritiva, conjugadas com a melhoria da balança


comercial no terceiro trimestre, contribuíram para reduzir o défice de moeda externa no
mercado doméstico, descomprimindo deste modo a pressão sobre as Reservas
Internacionais Líquidas. Desde o mês de Novembro, o Banco de Moçambique tem vindo a
comprar divisas no Mercado Cambial Interbancário (MCI), tendo adquirido dos bancos
comerciais, até ao dia 13 de Dezembro corrente, um total de cerca de USD 174 milhões,
montante que permitiu aumentar as Reservas Internacionais Líquidas para um saldo de cerca
de USD 1.754 milhões, suficiente para cobrir cerca de 3,5 meses de importação de bens e
serviços não factoriais, excluindo os grandes projectos.

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O AUMENTO DOS PREÇOS ADMINISTRADOS E A QUEDA DA OFERTA DE
PRODUTOS FRESCOS CONTRIBUÍRAM PARA A ACELERAÇÃO DA INFLAÇÃO

O impacto do ajustamento dos preços administrados e a redução da oferta de produtos


frescos foram determinantes para o agravamento em 3,24% no índice de preços no
consumidor da Cidade de Maputo, em Novembro. Com esta variação, a inflação anual
acelerou em Novembro para 28,1%, após 26,5% em Outubro. Este aumento deveu-se
essencialmente ao impacto da subida dos preços administrados, designadamente, da
electricidade em 37% e da água em 11%, perante um contínuo défice da oferta de produtos
frescos nos mercados da cidade de Maputo, o que agravou os preços desta categoria em 6,2%.
Do mesmo modo, o IPC de Moçambique, que agrega as cidades de Maputo, Beira e Nampula,
registou uma variação mensal de 2,89% e anual de 26,83%.

A prevalência da instabilidade militar em algumas zonas do País e o efeito das condições


climatéricas adversas continuam a afectar o comportamento dos preços e a actividade
económica. O aumento dos preços continua a ser afectado pelos choques do lado da oferta, que
também explica a contínua desaceleração da taxa de crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB). Nos primeiros nove meses de 2016, a taxa de crescimento do PIB abrandou para 4,0%,
após 6,8% em igual período de 2015. Esta desaceleração reflecte, fundamentalmente, a queda
de actividade ocorrida em quase todos os sectores da economia, exceptuando o sector
financeiro. Adicionalmente, o Indicador de Clima Económico (ICE), que agrega a apreciação
dos empresários dos diferentes sectores em relação ao desempenho da actividade económica,
registou, em Outubro de 2016, o seu valor mais baixo desde Janeiro de 2004, o que sugere que
o crescimento do PIB continuará a abrandar no quarto trimestre.

O desempenho fiscal nos primeiros nove meses de 2016 revela um agravamento do défice
público e aumento do recurso, pelo Estado, ao financiamento interno, afectando a
liquidez do sistema, com impactos sobre o andamento dos preços. A execução orçamental
até Setembro de 2016 foi caracterizada por um ligeiro incremento da receita, contrariado por
um substancial agravamento da despesa, o que contribuiu para elevar o défice público, antes e
depois de donativos. Dados mais recentes sobre a actividade financeira do Estado no mês de
Novembro mostram que a sua posição líquida junto do sistema bancário nacional deteriorou,
em consequência de maior recurso ao financiamento interno, o que denota um incremento do
risco fiscal sobre a liquidez da economia e, em última instância, sobre a inflação.

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Entretanto, a desaceleração dos agregados monetários e a apreciação do Metical
contribuem para amortecer a pressão sobre os preços e melhoram as perspectivas de
inflação, de curto e médio prazos. Nos bancos comerciais, dados mais recentes indicam que
o Dólar norte-americano foi cotado em 72,4 MT/USD no dia 13 de Dezembro, nível que
representa uma apreciação do metical na ordem dos 7,8% desde 7 de Outubro, tendo a
depreciação anual recuado de um máximo de 71,5% para cerca de 31%1. Relativamente ao
Rand sul-africano, a informação mais recente mostra que este foi transacionado a 5.33
MT/ZAR, o equivalente a uma apreciação face à cotação do fecho de Outubro e uma
desaceleração das perdas nominais do metical, passando de 88,2% para cerca de 40,0%. A
relativa estabilidade que o mercado cambial apresenta traduz o efeito das medidas de política
monetária que foram sendo tomadas ao longo dos últimos meses com vista ao controlo da
liquidez, aliadas às medidas de reforço da disciplina e transparência do mercado, com impacto
imediato na alteração das expectativas dos agentes económicos.

O SISTEMA FINANCEIRO MOÇAMBICANO CONTINUA SÃO E SÓLIDO

As intervenções do Banco de Moçambique em duas instituições de crédito permitiram


reduzir o risco de contágio para todo o sistema e reforçar a estabilidade do sector
financeiro. A avaliação mais recente indica que o sistema financeiro, como um todo, continua
sólido e bem capitalizado, com o rácio de solvabilidade médio do sistema a situar-se em 14,8%
em Outubro de 2016. Em termos específicos, os 4 maiores bancos, com uma quota de mercado
de cerca de 76%, apresentam um rácio médio de 13,8%. Os 4 seguintes, com uma quota de
mercado de 12,3% têm um rácio de 16,6%, sendo que os restantes com uma quota de mercado
de 4,7% apresentam um rácio médio de 24,6%. O rácio médio do crédito malparado aumentou
ligeiramente, situando-se em torno dos 6%, sendo que os 4 maiores bancos têm uma média de
5,5%. Os 4 bancos seguintes apresentam um rácio de 7,4%, enquanto os restantes exibem
10,7%.

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A acentuada queda da depreciação anual traduz, em grande medida, o efeito base captado
nos 24,5% de aumento mensal do câmbio em Novembro do ano transacto.
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REDUZ A LIQUIDEZ APÓS ÚLTIMO AGRAVAMENTO DO COEFICIENTE DAS
RESERVAS OBRIGATÓRIAS

A liquidez do sistema bancário reduziu em cerca de 5 mil milhões de Meticais em


resultado do agravamento do coeficiente das reservas obrigatórias que entrou em
efectividade a 22 de Novembro de 2016, e mantém-se num nível adequado para assegurar
as operações do mercado monetário. No Mercado Monetário Interbancário (MMI), o Banco
de Moçambique emitiu, em Novembro, Bilhetes de Tesouro no valor de 3,5 mil milhões de
meticais visando enxugar a liquidez e contribuir para o alcance da meta da Base Monetária
(BaM), que se situou em 597 milhões de Meticais, abaixo da meta indicativa estabelecida para
o mês em referência. Estima-se que o sistema bancário possua na actualidade um excesso de
liquidez em moeda nacional em redor dos 2,5 mil milhões Meticais, que oscila em função da
actividade financeira do Estado e das injecções efectuadas pelo Banco de Moçambique no
Moza banco.

Aumento das taxas de juro do Mercado Monetário Interbancário (MMI) para níveis em
redor da taxa da Facilidade Permanente de Cedência (FPC). Em Novembro, as taxas de
juro médias ponderadas resultantes dos leilões de BT para as maturidades de 91 e 182 dias,
aumentaram para 22,50% (mais 321 pontos base) e 23,00% (mais 220 pontos base). A taxa de
juro das permutas de liquidez entre os bancos comerciais subiu em 10 pontos base para 23,16%,
no último dia de Novembro. Por seu turno, entre Outubro e Novembro, os bancos comerciais
agravaram as taxas de juro nominais praticadas nas suas operações activas para máximos em
redor de 37,5% para maturidade de um ano e mínima para 19,5%. Para o mesmo período, a
prime rate média do sistema passou de 24,2% para 27,8%.

MANUTENÇÃO DAS TAXAS DE JURO E O COEFICIENTE DE RESERVAS


OBRIGATÓRIAS EM FACE DAS PERSPECTIVAS DE ABRANDAMENTO DA
PRESSÃO INFLACIONÁRIA COM AS TAXAS DE JURO REAIS A CONVERGIREM
PARA VALORES POSITIVOS, NO MÉDIO PRAZO

O CPMO analisou os desenvolvimentos recentes da conjuntura internacional caracterizada por


sinais de recuperação da economia global e pela tendência para o aumento dos preços
internacionais das commodities, em face da recuperação da actividade económica a que se
assiste em algumas economias desenvolvidas e nos mercados emergentes. Na conjuntura
doméstica, o CPMO avaliou o comportamento recente dos principais indicadores
macroeconómicos e financeiros e as suas perspectivas para o final do corrente ano, que
apontam para um crescimento do PIB em torno de 3,5% e a inflação anual abaixo da projecção

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de 30% anunciada em Outubro, em face da tendência mais recente da taxa de câmbio do
Metical, conjugada com sinais de contenção da procura agregada resultante das medidas de
política monetária restritivas que vêm sendo tomadas.

Neste sentido, estando as medidas a produzir os efeitos esperados e os principais indicadores a


evoluir positivamente em linha com as perspectivas, o CPMO considera apropriado manter a
actual postura da política monetária e reforçar a vigilância dos principais indicadores, perante
os riscos que subsistem na conjuntura doméstica e internacional, que, a verificarem-se, poderão
comprometer a estabilidade macroeconómica e o objectivo de inflação mais baixa em 2017.

Assim, o CPMO tomou as seguintes decisões de política:

 Manter a taxa de juro da Facilidade Permanente de Cedência de liquidez nos


23,25%;

 Manter a taxa de juro da Facilidade Permanente de Depósitos nos 16,25%;

 Assegurar o cumprimento da meta revista da base monetária estabelecida para


Dezembro do ano em curso que é de 103.249 milhões de Meticais;

 Manter o coeficiente de Reservas Obrigatórias para a componente em moedas


nacional e estrangeira em 15,50%,

 Instruir as Instituições de Crédito a publicar trimestralmente, informação sobre os


seus níveis de solvabilidade e de liquidez, com efeitos a partir de Março de 2017.

Entretanto, e na eventualidade de os riscos identificados se materializarem, comprometendo


evolução dos indicadores, o Banco de Moçambique poderá tomar as medidas correctivas
necessárias antes da próxima reunião do CPMO agendada para o dia 14 de Fevereiro de 2017.

Rogério Lucas Zandamela


Governador

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