ESTUDOS NA PROFECIA
DE MIQUÉIAS
Sumário
I – QUESTÕES INTRODUTÓRIAS À PROFECIA DE MIQUÉIAS ............................ 2
3.3.2 – A razão para o Juízo: Os Pecados de Judá e sua ruína (Miquéias 6.8-13) ... 9
MIQUEIAS
Rev. João Ricardo Ferreira de França.
A nossa série de estudos nos Profetas Menores tem como objetivo trazer a lume a
profecia do Antigo Testamento nos moldes destes profetas tão desconhecidos pela igreja
de nosso tempo. Esta segunda fase de nossos estudos nos concentraremos nos profetas:
Miquéias, Naum, Habaquque, Sofias com o objetivo de sermos edificados e desafiados
pela mensagem que estes profetas trouxeram para o povo de Deus.
1. O título do Livro:
A primeira informação que precisamos considerar é o nome do Livro que tem por
título Miquéias. Devemos ressaltar que os nomes que os profetas possuem, e geralmente
revelam, a temática da mensagem que será desenvolvida por eles durante o ministério
profético.
1.1 – O Nome do Profeta:
O nome profeta “é uma indagação exclamativa”1 o nome no hebraico é
“[”מיכָ הmikah]
ִ ao que tudo indica esta é uma forma abreviada, pois, a forma mais longa
1
FILHO, Isaltino Gomes Coelho. Os Profetas II. Rio de Janeiro: Juerp, 2011, p. 17.
2
YOUNG, Edward. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1964, p.231.
3
FILHO, Isaltino Gomes Coelho. Os Profetas II. Rio de Janeiro: Juerp, 2011, p. 17
4
YOUNG, Edward. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1964, p.232.
5
STURZ, Richard J. Miquéis In: Baker, David Weston, Obadias, Naum, Habacuque, Sofonias / David
Weston Baker. Jonas / Thomas Desmond Alexander. Miquéias / Richard J. Sturz., Säo Paulo : Vida Nova,
2001., p.156
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há nada de significativo que se oponha a ser a obra lavrada por um único autor. Mas,
alguns eruditos que “só atribuem alguns oráculos ao profeta”.6 Porque nos parece
mensagens fragmentadas, entretanto, os eruditos da alta crítica ignoram que a profecia de
Miquéias só pode ser “bem mais compreendida como uma antologia das mensagens
proféticas”7 que se seguiram durante o mistério profético do mesmo.
2 . – A Data Da Profecia.
O segundo aspecto a ser considerado é a data em que tal profecia veio a ser
proferida ou escrita. Quando observamos as informações contidas no primeiro verso da
profecia que situa o profeta exercendo seu ministério em três reinados. Alguém nos
lembra que:
6
SICRE, José Luiz. El Profetismo en Israel. Stella / Navarra: Editora Verbo Divino, 1998 ,p.208
7
DILLARD, Raymond B; LOGMAN III, Tremper. Introdução ao Antigo Testamento. Tradução: Sueli
da Silva Saraiva. São Paulo: Vida Nova, 2006, p.382
8
STURZ, Richard J. Miquéis In: Baker, David Weston, Obadias, Naum, Habacuque, Sofonias / David
Weston Baker. Jonas / Thomas Desmond Alexander. Miquéias / Richard J. Sturz., Säo Paulo : Vida Nova,
2001., p.159
9
FILHO, Isaltino Gomes Coelho. Os Profetas II. Rio de Janeiro: Juerp, 2011, p. 20
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Tudo isto por causa da transgressão de Jacó e dos pecados da casa de Israel.
Qual é a transgressão de Jacó? Não é Samaria? E quais os altos de Judá? Não
é Jerusalém? Todas as suas imagens de escultura serão despedaçadas, e todos
os salários de sua impureza serão queimados, e de todos os seus ídolos eu farei
uma ruína, porque do preço da prostituição os ajuntou, e a este preço volverão.
Aqui duas palavras mostram a tônica da situação perversa da vida religiosa desse
povo: Transgressão e Pecado. Alguém nos apresenta um comentário interessante sobre
estes dois termos:
10
GRONINGEN, Gerard Van. Revelação Messiânica no Velho Testamento. Tradução: Cláudio Wagner.
Campinas: Luz para o Caminho, 1995, p.,455
11
Deuteronômio 15.7-10.
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Devemos ressaltar que a crise social se dá por causa da crise religiosa. Esta é a
primeira verdade que devemos ter firmada em nossa mente. O pastor Isaltino nos lembra
exatamente esta verdade quando nos lembra que a “nação está socialmente desarranjada
porque sua relação com Deus está errada”.13
O afastar-se de Deus gera toda uma corrupção na vida do povo que apresenta uma
falsa adoração ao todo-poderoso. O pecado de Idolatria era veementemente condenado
nos profetas menores conforme já vimos nos estudos anteriores, aqui nesta profecia não
é diferente.
No capítulo 1.5 lemos: “[...] E quais os altos de Judá? Não é Jerusalém? [...]” na
literatura bíblica esta expressão revela a corrupção litúrgica onde Deus é substituído pelos
ídolos. Os chamados lugares “altos” no Antigo Testamente eram usados para “culto às
divindades ligadas à fertilidade” onde havia o ritual da prostituição feito por uma
“prostituta cultual”14 Este tipo de adoração era comum na vida do povo do pacto.
Devemos nos lembrar que apenas Israel, o Reino do Norte, era entregue à idolatria
conforme nós lemos em 1º Reis 12.27-29. Assim de igual modo esta prática se estendeu
até Judá, cuja a capital, era Jerusalém; estava caminhando nas mesmas pisadas de Israel
cuja capital era Samaria. É exatamente a isso que o texto de Miquéias 6.16 faz menção:
“porque observaste os estatutos de Onri e todas as obras da casa de Acabe e andaste nos
conselhos deles. Por isso, eu farei de ti uma desolação e dos habitantes da tua cidade,
um alvo de vaias; assim, trareis sobre vós o opróbrio dos povos”. Toda a sorte de
perversão agora estava presente na cidade. Isto é possível porque “cultos pervertidos
produzem condutas pervertidas”.15
12
CRABTREE, A.R. Profetas Menores. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1971, p.134
13
FILHO, Isaltino Gomes Coelho. Os Profetas II. Rio de Janeiro: Juerp, 2011, p. 25.
14
BALANCIN, Euclides; STORNIOLO, Ivo. Como Ler o Livro de Miquéias. São Paulo: Edições
Paulinas, 1990, p.14.
15
FILHO, Isaltino Gomes Coelho. Os Profetas II. Rio de Janeiro: Juerp, 2011, p. 27.
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se casas, as tomam; assim, fazem violência a um homem e à sua casa, a uma pessoa e à
sua herança.”
Ouvi, agora, o que diz o SENHOR: Levanta-te, defende a tua causa perante os
montes, e ouçam os outeiros a tua voz. Ouvi, montes, a controvérsia do
SENHOR, e vós, duráveis fundamentos da terra, porque o SENHOR tem
controvérsia com o seu povo e com Israel entrará em juízo . (Miquéias 6.1-
2)
Os elementos da natureza (a criação) são trazidos como pertencentes ao júri. O
Senhor expõe a sua queixa diante desse tribunal. Os cinco primeiros versos temos a fala
de Yahweh, mas o mesmo é interrompido pela resposta apresentada pelo povo:
16
Ibid, 34.
17
SCHOKEL, Alonso Luiz. DIAZ, J.L. Sicre. Los Profetas II, Madrid: Ediciones Cristandad,1980 ,p.1035
18
HARRISON, R.K. Introduccion al Antiguo Testamento – Volume III, Michigan: TELL, 1993 , p.218.
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19
FILHO, Isaltino Gomes Coelho. Os Profetas II. Rio de Janeiro: Juerp, 2011, p. 38.
20
STURZ, Richard J. Miquéis In: Baker, David Weston, Obadias, Naum, Habacuque, Sofonias / David
Weston Baker. Jonas / Thomas Desmond Alexander. Miquéias / Richard J. Sturz., Säo Paulo : Vida Nova,
2001., p.262-263.
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Nos versos de 9-16 temos a segunda queixa de Deus em relação ao povo de Judá.
O profeta pinta uma imagem assustadora, pois, o povo vem acumulando “tesouro de
impiedade” (vs.10) sendo frutos de balanças enganosas (vs.10-11) e havia muita violência
e falsidade entre o povo (vs.12). Então a demanda do Senhor é apresentada de forma
severa:
Assim, também passarei eu a ferir-te e te deixarei desolada por causa dos teus
pecados. Comerás e não te fartarás; a fome estará nas tuas entranhas;
removerás os teus bens, mas não os livrarás; e aquilo que livrares, eu o
entregarei à espada. Semearás; contudo, não segarás; pisarás a azeitona, porém
não te ungirás com azeite; pisarás a vindima; no entanto, não lhe beberás o
vinho, porque observaste os estatutos de Onri e todas as obras da casa de Acabe
e andaste nos conselhos deles. Por isso, eu farei de ti uma desolação e dos
habitantes da tua cidade, um alvo de vaias; assim, trareis sobre vós o opróbrio
dos povos.
O Reino do Sul, isto é, Judá estava caminhando nos mesmos passos do Reino do
Norte, isto é, Samaria. E a degradação moral estava presente por causa da idolatria que
fora importada da casa de Acabe .
Ai de mim! Porque estou como quando são colhidas as frutas do verão, como
os rabiscos da vindima: não há cacho de uvas para chupar, nem figos temporãos
que a minha alma deseja. Pereceu da terra o piedoso, e não há entre os homens
um que seja reto; todos espreitam para derramarem sangue; cada um caça a seu
irmão com rede. As suas mãos estão sobre o mal e o fazem diligentemente; o
príncipe exige condenação, o juiz aceita suborno, o grande fala dos maus
desejos de sua alma, e, assim, todos eles juntamente urdem a trama. O melhor
deles é como um espinheiro; o mais reto é pior do que uma sebe de espinhos.
É chegado o dia anunciado por tuas sentinelas, o dia do teu castigo; aí está a
confusão deles. Não creiais no amigo, nem confieis no companheiro. Guarda
a porta de tua boca àquela que reclina sobre o teu peito. Porque o filho despreza
o pai, a filha se levanta contra a mãe, a nora, contra a sogra; os inimigos do
homem são os da sua própria casa.
Este é o primeiro fundamento que a profecia apresenta para o juízo divino contra
o povo do pacto; vale salientar que a temática do juízo já fora desenvolvida com
propriedade na profecia de Miquéias, pois, ele anuncia o julgamento divino contra os
falsos profetas (3.5). O profeta também anuncia o futuro cativeiro babilônico no capítulo
4.10. Na verdade, o anuncio do cativeiro estava presente desde o primeiro capítulo da
profecia conformes lemos em 1.15-16.
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3.3.2 – A razão para o Juízo: Os Pecados de Judá e sua ruína (Miquéias 6.8-13)
Aqui vemos uma “a mistura de condenação em razão do pecado”21 com a possível
restauração do povo. Nos versos de 8-13 essa mistura é nítida. Deus alerta sobre o juízo
que vem sobre o povo por uma nação inimiga, mas que haverá uma possibilidade de
restauração.
A tônica de juízo se faz presente em todo o livro conforme vemos nos capítulos
3.12: “Portanto, por causa de vós, Sião será lavrada como um campo, e Jerusalém se
tornará em montões de ruínas, e o monte do templo, numa colina coberta de mato.” A
ruína da cidade era algo certo, pois, os pecados do povo conduziriam até esta etapa do
juízo divino. Este é um quadro de total abandono no qual a nação estaria vivendo.
O juízo é preconizado no livro alertando que até os ricos passariam por privações
(Miquéias 6.14-15) devido aos pecados cometidos. E ainda seriam humilhados
profundamente (Miquéias 2.3-4).
21
STURZ, Richard J. Miquéis In: Baker, David Weston, Obadias, Naum, Habacuque, Sofonias / David
Weston Baker. Jonas / Thomas Desmond Alexander. Miquéias / Richard J. Sturz., Säo Paulo : Vida Nova,
2001., p.270
22
TOW, Timothy, The Minor Prophets, República de Singapura: Far Eastern Bible College, 2001, p.88
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Deus ele nunca se lembra de nossos pecados, os nem nesta vida e nem na futura,
mas “não havendo conversão, não há perdão. Não houve arrependimento em Judá.”23
23
FILHO, Isaltino Gomes Coelho. Os Profetas II. Rio de Janeiro: Juerp, 2011, p. 40
24
GRONINGEN, Gerard Van. Revelação Messiânica no Velho Testamento. Tradução: Cláudio
Wagner. Campinas: Luz para o Caminho, 1995, p.461.
25
Idem
26
FILHO, Isaltino Gomes Coelho. Os Profetas II. Rio de Janeiro: Juerp, 2011, p. 53-54.
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Gérard Van Groningem nos apresenta uma relação daquilo que Miquéias
proclama a respeito do Messias:
1. O juízo vindouro sobre os dois reinos (Norte e Sul): O exílio era algo certo.
Jerusalém seria destruída e “arada como um campo” (Miquéias 3.12) – e a
motivação bem sabemos aquele povo maquinava o mal, cobiçava campos,
defraudava e adorava ídolos (Miquéias 2.1-3; 5.11-15). O reino do Norte seria
invadido pela Assíria (Miquéias 5.5) e um século depois o reino do Sul seria
levado para a Babilônia (4.10) e os descendentes de Jacó seria espalhados pelas
as nações (Miquéias 5.7,8)
2. A promessa de Retorno do Remanescente do Exílio: Esta promessa possui
implicações escatológicas para o futuro (Miquéias 2.12-13; 4.6-8; 7.15-17).
3. A Profecia descreve o nascimento do Messias em termos claros: Uma parturiente
em Belém e a mãe do futuro Governante do povo. O nascimento humilde e o
27
GRONINGEN, Gerard Van. Revelação Messiânica no Velho Testamento. Tradução: Cláudio
Wagner. Campinas: Luz para o Caminho, 1995, p.462
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A esperança do Povo de Deus sempre foi o Messias que não se limita a cor da
pele, a raça, o sexo ou a nação! A esperança no Cristo é fundamental para alicerçar a fé
da Igreja como um todo, que Deus nos conceda a graça de agradecermos sempre por tão
obra de redenção.
28
Esta seção sobre a escatologia de Miquéias devo integralmente ao texto de Gerard Van Groninguem no
livro Revelação Messiânica do Velho Testamento nas páginas 463-464.
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REFERÊNCIAS BIBLIGRÁFICAS
1. BALANCIN, Euclides; STORNIOLO, Ivo. Como Ler o Livro de Miquéias.
São Paulo: Edições Paulinas, 1990, p.14.
2. CRABTREE, A.R. Profetas Menores. Rio de Janeiro: Casa Publicadora
Batista, 1971, p.134
3. Deuteronômio 15.7-10.
4. DILLARD, Raymond B; LOGMAN III, Tremper. Introdução ao Antigo
Testamento. Tradução: Sueli da Silva Saraiva. São Paulo: Vida Nova, 2006.
5. FILHO, Isaltino Gomes Coelho. Os Profetas II. Rio de Janeiro: Juerp, 2011.
6. GRONINGEN, Gerard Van. Revelação Messiânica no Velho Testamento.
Tradução: Cláudio Wagner. Campinas: Luz para o Caminho, 1995.
7. HARRISON, R.K. Introduccion al Antiguo Testamento – Volume III,
Michigan: TELL, 1993 , p.218.
8. SCHOKEL, Alonso Luiz. DIAZ, J.L. Sicre. Los Profetas II, Madrid: Ediciones
Cristandad,1980 ,p.1035
9. SICRE, José Luiz. El Profetismo en Israel. Stella / Navarra: Editora Verbo
Divino, 1998 ,p.208
10. STURZ, Richard J. Miquéis In: Baker, David Weston, Obadias, Naum,
Habacuque, Sofonias / David Weston Baker. Jonas / Thomas Desmond
Alexander. Miquéias / Richard J. Sturz., Säo Paulo : Vida Nova, 2001.
11. TOW, Timothy, The Minor Prophets, República de Singapura: Far Eastern
Bible College, 2001.
12. YOUNG, Edward. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova,
1964.