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Projecção estereográfica e de igual área

CAPÍTULO 1. PROJECÇÃO ESTEREOGRÁFICA


E DE IGUAL ÁREA

1.1. Introdução

A projecção estereográfica é um método rápido, fácil e eficaz para resolver


problemas geométricos em geologia estrutural.
A projecção estereográfica permite-nos projectar linhas e planos, determinar a
orientação da linha de intersecção de dois planos, determinar o ângulo entre duas linhas e
o ângulo entre dois planos, medir o ângulo entre uma linha e um plano, rodar linhas e
planos no espaço em torno de um eixo vertical, horizontal ou inclinado.

1.2. Redes

Dois tipos de rede são de uso comum: a rede estereográfica ou rede de Wulff e a
rede de igual área de Lambert ou rede de Schmidt (Fig. 1.1). As duas redes são
construídas de forma diferente.
A projecção estereográfica é um tipo de projecção azimutal (ver Glossário). Os
termos rede de Wulff ou rede estereográfica referem-se apenas às redes desenhadas numa
projecção estereográfica. O termo estereograma refere os pontos ou curvas projectados
numa rede estereográfica.
A projecção de igual área é um segundo tipo de projecção azimutal que pode ser
usada para projectar o hemisfério inferior num plano horizontal. Uma projecção de igual
área não é uma projecção estereográfica. O termo rede de Schmidt refere uma rede
desenhada numa projecção de igual área e é distinto de rede estereográfica. Na prática,
todavia, os geólogos tendem a usar o termo rede estereográfica indistintamente, para
designar tanto a rede de Wulff com a rede de Schmidt.

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Projecção estereográfica e de igual área

FIGURA 1.1. (a) Rede estereográfica ou rede de Wulff. (b) Rede de igual área de Lambert
ou rede de Schmidt (ROWLAND & DUEBENDORFER, 1994).

1.2.1. Construção da rede estereográfica


Podemos entender melhor a projecção estereográfica se partirmos da projecção
esférica. Imagine um observador no centro de uma grande esfera de vidro (Fig. 1.2). A
projecção esférica pode ser utilizada para representar as orientações de uma linha ou de
um plano que passam pelo centro da esfera. Qualquer recta intersecta a superfície da
esfera em dois pontos, que representam a sua projecção esférica. Um plano intersecta a
superfície da esfera segundo uma circunferência. Infelizmente, uma esfera não é
facilmente transportada, por isso pode ser projectada num plano a duas dimensões. As
projecções planares de uma esfera são designadas por projecções azimutais. O plano de
projecção pode ser tangente à superfície da esfera, pode estar a uma determinada distância
da superfície da esfera ou pode passar pelo centro da esfera. O plano de projecção pode ter
uma orientação qualquer e isso determina se a projecção é equatorial, polar ou oblíqua. A
projecção estereográfica é um tipo de projecção azimutal que foi desenvolvida e refinada
pelos cristalógrafos. Em geologia o plano de projecção usado é o plano equatorial (Fig.
1.3).

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Projecção estereográfica e de igual área

Projecção esférica de uma


linha

Projecção esférica de um
plano

FIGURA 1.2. Projecção esférica de linhas e planos


(MARSHAK & MITRA, 1988).

Consideremos um ponto P marcado no hemisfério inferior da esfera, representando


a projecção esférica de uma linha que passa pelo centro da esfera (Fig. 1.3). Se traçarmos
uma linha de projecção que une esse ponto com o zénite, situado no topo da esfera, a
projecção estereográfica da linha é o ponto de intersecção (P’) da recta que une P ao
zénite com o plano equatorial de projecção. A intersecção do plano de projecção
equatorial com a esfera é designada por primitiva. A projecção de uma linha vertical é um
ponto no centro da primitiva e de uma linha horizontal são dois pontos sobre a primitiva.
Consideremos um plano inclinado que passa pelo centro da esfera e a sua
projecção esférica no hemisfério inferior, definida por um semi-círculo (Fig. 1.4a). Para
construir a projecção estereográfica do plano une-se cada ponto do semi-círculo ao zénite
da esfera e marcam-se as intersecções destas linhas de projecção com o plano equatorial
(Fig. 1.4b). Estas linhas rectas geram parte de um cone circular que intersecta o plano de
projecção equatorial como um arco circular. O arco é a projecção estereográfica do plano
e designa-se por traço ciclográfico do plano ou círculo máximo (Fig. 1.4c). Note-se que a
projecção de um plano horizontal é a própria primitiva e a de um plano vertical é uma
recta que passa pelo centro da primitiva. Se projectarmos, desta forma, uma série de
planos com direcção N-S e inclinados para E ou W com pendores de 10 em 10°
construímos uma rede de círculos máximos (Fig. 1.5).

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Projecção estereográfica e de igual área

zénite

FIGURA 1.3. Projecção estereográfica de uma linha. (P-


projecção esférica da linha no hemisfério inferior, P’-projecção
estereográfica da linha) (MARSHAK & MITRA, 1988).

A intersecção da esfera com um plano que não passa pelo centro é um círculo
menor. Tais círculos menores também resultam da intersecção de cones circulares com a
esfera se o apex desses cones se posicionarem no centro da esfera (Figs. 1.6 e 1.7).

traço ciclográfico

plano de projecção estereográfica

círculo máximo
projecção esférica de uma plano
círculo máximo

a b

traço ciclográfico ou
círculo máximo

FIGURA 1.4. Projecção estereográfica de um plano inclinado. (a) Projecção esférica (r é o raio). (b) As
linhas de projecção, do zénite ao círculo máximo no hemisfério inferior, intersectam o plano de projecção
equatorial segundo um arco circular. (c) Estereograma do plano inclinado (MARSHAK & MITRA, 1988).

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FIGURA 1.5. Estereograma de uma família de círculos


máximos com direcção N-S (PHILLIPS, 1954).

plano de projecção

círculos máximos
círculos menores

FIGURA 1.6. Círculos menores representando uma família de cones


circulares com eixo N-S (MARSHAK & MITRA, 1988).

FIGURA 1.7. Círculos máximos e menores na rede de Wulff


(PHILLIPS, 1954).

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Projecção estereográfica e de igual área

1.2.2. Construção da rede de igual área


A base geométrica para a construção da projecção de igual área está representada
na Figura 1.8. Nesta figura, Z é o zénite da esfera, C é o centro da esfera e C’ a base da
esfera. O plano de projecção é tangente à esfera em C’, que é o centro da projecção
azimutal. Uma linha inclinada (CP) que passa pelo centro da esfera intersecta a superfície
da esfera de projecção no ponto P. O ponto P é a projecção esférica da linha CP. Um arco
circular cujo centro é C’ e passa pelo ponto P intersecta o plano de projecção em P’. P’ é a
projecção de P no plano de projecção azimutal.

FIGURA 1.8. Base geométrica para a construção da projecção de igual


área (MARSHAK & MITRA, 1988).

Usando este procedimento é possível construir uma rede de igual área. Nesta rede,
as curvas traçadas de N para S representam projecções de igual área de planos com
diferentes pendores e que contêm o eixo horizontal N-S da esfera de projecção. A segunda
série de curvas representam projecções de igual área de cones circulares cujos vértices se
situam no centro da esfera de projecção e cujos eixos são coaxiais com o eixo N-S da
esfera de projecção (Fig. 1.6). Assim, a rede de igual área é análoga à rede de Wulff e é
usada, da mesma forma, para projectar rectas, planos e polos. As curvas numa rede de
igual área são arcos elípticos e não segmentos de arcos circulares como na rede de igual
ângulo. As linhas da rede com direcção N-S são designadas por círculos máximos e o
outro conjunto de linhas por círculos menores.

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Em síntese, as propriedades da projecção estereográfica de igual ângulo são (Fig.


1.9):
a) a projecção preserva as relações angulares; isto significa que o ângulo entre as
tangentes a dois traços de círculos máximos no seu ponto de intersecção é o mesmo que o
ângulo entre os dois planos representados pelos referidos traços (Fig. 1.9a);
b) a projecção estereográfica não conserva a área; círculos idênticos inscritos em
diferentes partes da esfera de projecção são representados por círculos de diferentes
tamanhos no estereograma; um círculo com uma determinada área parece maior se
projectado próximo da primitiva do que se projectado no centro da rede (Fig. 1.9b);
c) as áreas 10°x10° próximas dos limites da rede são maiores do que no centro
(Fig. 1.9c); esta propriedade faz com que a rede de Wulff não seja adequada para o
tratamento estatístico de dados; concentrações iguais de polos em diferentes posições na
superfície da esfera de projecção aparecem como concentrações desiguais de polos no
plano da projecção estereográfica.

FIGURA 1.9. Propriedades da projecção estereográfica de igual ângulo (MARSHAK & MITRA, 1988)
(ver texto).

As propriedades da projecção de igual área são (Fig. 1.10):


a) círculos idênticos na esfera de projecção projectam-se como elipses com várias
relações axiais mas com a mesma área (Fig. 1.10a);
b) as áreas 10°x10° próximas dos limites da rede têm a mesma dimensão que no
centro (Fig. 1.10b).

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FIGURA 1.10. Propriedades da projecção de igual área (MARSHAK & MITRA, 1988) (ver texto).

Tendo em conta as propriedades enunciadas, a projecção de igual área ou Lambert


é usada em problemas onde a concentração de pontos é significativa, ou seja, para análise
de um grande número de medidas.

1.3. Técnicas de projecção

Para resolver os exercícios que lhe são propostos necessita do seguinte material:
rede estereográfica, folha de papel vegetal, “punaise”, lápis e borracha.
Antes de usar a sua rede é conveniente colá-la num cartão resistente e forrá-la com
papel transparente. Assim poderá usá-la na sala de aula e no campo sem receio de a sujar
ou molhar. Fure o centro da rede com o “punaise” e insira-o na parte de trás da rede. Se o
fixar com fita cola isso impede que o buraco do centro aumente durante a resolução dos
exercícios. Quando não está a usar a rede tape o “punaise” com um pedaço de borracha.
Coloque a folha de papel vegetal sobre a rede e fure-a com o “punaise” (Fig. 1.11). Este
serve de eixo de rotação para a folha de papel vegetal. Assinale na folha de papel vegetal a
posição do N.

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Rede Papel vegetal

FIGURA 1.11. Montagem da rede estereográfica, papel vegetal e


“punaise” para resolver exercícios (DAVIS & REYNOLDS, 1996).

1.3.1. Projecção de uma linha


Considere uma linha com orientação 38°;S42°W (Fig. 1.12a). Conte 42° no
sentido dos ponteiros do relógio, a partir do Sul, e desenhe um pequeno traço sobre a
primitiva indicando a direcção da linha (Fig. 1.12b). Rode o papel vegetal de forma a

colocar a

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FIGURA 1.12. Projecção estereográfica de uma linha com atitude


38°;S42°W (MARSHAK & MITRA, 1988) (ver texto).
marca coincidente com o Sul da rede (Fig. 1.12c). Conte 38°, da primitiva para o centro,
ao longo
do diâmetro N-S da rede, e desenhe um ponto para representar a linha (Fig. 1.12c). Rode o
papel vegetal para a sua posição inicial (Fig. 1.12d). Note que para marcar o mergulho
desta linha usámos o diâmetro N-S, no entanto, podemos projectar a linha contando o
ângulo de mergulho no diâmetro E-W. O ponto resultante tem exactamente a mesma
localização.

1.3.2. Projecção de um plano e do seu polo


A orientação de qualquer plano pode ser representada especificando a orientação
da normal ao plano. A projecção de um plano é um arco circular e a da linha perpendicular
ao plano é um ponto. O polo de um plano é um ponto no estereograma que representa a
normal ao plano. Pode, facilmente, visualizar o polo de um plano segurando um lápis
entre os dedos da sua mão (Fig. 1.13a). A mão representa o plano e o lápis o polo.
Consideremos um plano com atitude N30°W;50°SW (Fig. 1.13a e b). Conte 30°
para W, no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, a partir do N, e desenhe um
pequeno traço sobre a primitiva para indicar a direcção (Fig. 1.13c). Rode o papel vegetal,
no sentido dos ponteiros do relógio, de forma a fazer coincidir o traço que acabou de
marcar com o N da rede. Conte 50° ao longo da linha E-W, a partir da primitiva, da
esquerda para a direita, de acordo com a direcção do pendor. Localize e desenhe o círculo
máximo que representa o plano com um pendor de 50° para SW e direcção N30°W (Fig.
1.13d). A partir do traço do círculo máximo conte 90° ao longo do diâmetro E-W e no
sentido do centro da rede e projecte o ponto P. A orientação do polo P é 40°;N60°E. Note
que o ângulo de mergulho do polo é complementar do pendor do plano (40°+60°=90°) e a
direcção do polo é complementar da direcção do plano (30°+60°=90°). Rode o papel
vegetal para a sua posição original, fazendo coincidir a marca do N com o N da rede (Fig.
1.13e).

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normal ao plano

a b c

FIGURA 1.13. Projecção de plano, com atitude N30°W;50°SW, e do seu polo (MARSHAK & MITRA,
1988) (ver texto).

1.3.3. Determinação da intersecção de dois planos


Considere dois planos com as seguintes coordenadas S80°E;20°S (estratificação) e
d
N30°E;70°E (clivagem e Lembre-se que a intersecção de dois planos
de fluxo) (Fig. 1.14a).
é uma linha. Assim, projecte os planos desenhando os respectivos círculos máximos (Fig.
1.14b). Os dois círculos máximos intersectam-se num ponto que representa uma lineação
de intersecção L. Rode o papel vegetal de forma a trazer a lineação ao diâmetro N-S (Fig.
1.14b). Meça o mergulho a partir da primitiva, no sentido do centro da rede, e marque,
com um traço, a posição em que uma linha traçada a partir de L, sobre o diâmetro N-S,
intersecta a primitiva (Fig. 1.14b). Este traço indica a direcção da linha. Rode o papel
vegetal para a posição inicial (Fig. 1.14c). A lineação de intersecção mergulha 20°
segundo a direcção S24°W.

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estratificação

clivagem

a b c

FIGURA 1.14. Linha de intersecção entre dois planos (MARSHAK & MITRA, 1988) (ver texto).

1.3.4. Determinação do ângulo entre duas linhas


Considere as linhas 16°;N42°E e 80°;S16°E. O ângulo entre duas linhas é medido
no plano que as contém. Projecte as linhas na rede estereográfica (Fig. 1.15a). Determine
o plano definido pelas linhas rodando o papel vegetal até que os dois pontos que
representam as linhas fiquem sobre o mesmo círculo máximo (Fig. 1.15b). O plano assim
traçado tem direcção N40°E e pendor 81°SE. O ângulo entre as duas linhas é medido ao
longo deste círculo máximo contando os círculos menores, de 2 em 2°, que o intersectam
(Fig. 1.15c). O ângulo agudo que separa os pontos é de 80° e o obtuso de 100°.

linha 1

linha 1=16°;N42°E
80°

linha 2=80°;S16°E linha 2

a b c

FIGURA 1.15. Ângulo entre duas linhas (ver texto).

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Projecção estereográfica e de igual área

1.3.5. Determinação do ângulo entre dois planos


O ângulo diedro é o ângulo entre dois planos medido num terceiro plano
perpendicular aos dois primeiros. O ângulo diedro é facilmente determinado medindo o
ângulo entre os polos. Em muitos casos o ângulo diedro é especificado como sendo o
agudo. Então, se o ângulo medido é agudo pode ser usado como ângulo diedro, mas se o
ângulo entre os polos é obtuso o suplementar é registado como sendo o ângulo diedro.
Todavia, quando se pede o ângulo inter-flancos (ver Glossário) o problema é um pouco
mais complicado. O ângulo inter-flancos é sempre o suplementar do ângulo entre os polos
e pode ser agudo ou obtuso. O problema é que nem sempre é fácil decidir se usamos o
ângulo agudo ou obtuso entre os polos para calcular o suplementar. Para efectuar a
escolha acertada tem de se visualizar a dobra e, se necessário, efectuar um perfil
esquemático.

P2

P1

FIGURA 1.16. Ângulo inter-flancos de uma dobra (MARSHAK & MITRA, 1988) (ver texto).

Considere uma dobra cujos flancos têm as seguintes coordenadas: N20°E;70°NW


(flanco A) e N30°W;65°NE (flanco B) (Fig. 1.16a). Projecte os dois flancos e respectivos
polos (Fig. 1.16b e c). Rode o papel vegetal até que os polos fiquem alinhados no mesmo
círculo máximo (Fig. 1.16d). O plano representado por este círculo máximo é

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Projecção estereográfica e de igual área

perpendicular à linha de intersecção dos flancos. O ângulo entre os polos, medido ao


longo deste círculo máximo é obtuso e igual a 114° (Fig. 1.16d). Se voltarmos à Figura
1.16a, para visualizar a dobra, percebemos que o ângulo é agudo e, por isso, consideramos
o suplementar (66°).

1.3.6. Pendor verdadeiro e aparente


Reveja os conceitos de pendor verdadeiro e aparente, no Glossário.
Considere um dique (D) com a atitude N25°E;65°SE. O dique está exposto numa
parede (P) N10°W;vertical de uma pedreira (Fig. 1.17a). Qual o pendor aparente do dique
na parede da pedreira? Trace o círculo máximo que representa o dique (Fig. 1.17b).
Marque com um traço, sobre a primitiva, a direcção N10°W. O diâmetro da rede que passa
por este traço representa a parede vertical da pedreira (Fig. 1.17c). O ponto de intersecção
entre esta recta e o círculo máximo que representa o dique é a projecção estereográfica da
linha de intersecção destes dois planos. Rode o papel vegetal para que o traço que indica a
direcção N10°W coincida com o diâmetro N-S (Fig. 1.17d). Leia o ângulo a partir da
primitiva até ao ponto de intersecção dos dois planos. O pendor aparente é 52° e a
direcção do pendor aparente S10°E.

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Projecção estereográfica e de igual área

FIGURA 1.17. Pendor aparente de um plano com pendor verdadeiro conhecido (MARSHAK & MITRA,
1988) (ver texto).
1.3.7. “Pitch” ou “Rake” de uma linha
Reveja o conceito de “pitch” ou “rake” de uma linha, em anexo.
Considere um plano de xistosidade, 110°;43°SW, e uma lineação mineralógica
contida nesse plano, 34°;160° (Fig. 1.18a). Determine o “pitch” da lineação no plano de
xistosidade. Siga os procedimentos enunciados nas alíneas 1.3.1 e 1.3.2 para projectar o
plano e a linha. Rode o papel vegetal de forma a que a direcção da foliação coincida com
o N da rede (Fig. 1.18b). Leia o ângulo a partir da primitiva, ao longo do círculo máximo,
até à lineação, tendo em atenção que o “pitch” é sempre um ângulo inferior a 90° (Fig.
1.18b). Rode o papel vegetal para a posição inicial (Fig. 1.18c). Neste caso, a orientação
da lineação mineralógica é dada por um “pitch” de 58°E na xistosidade 110°;43°S.

a b c

FIGURA 1.18. “Pitch” ou “rake” de uma linha contida num plano (MARSHAK & MITRA, 1988) (ver
texto).

1.3.8. Ângulo entre uma linha e um plano


O ângulo entre uma linha e um plano é o ângulo medido entre a linha e a sua
projecção ortográfica no plano. Este ângulo deve ser medido num segundo plano que
contém a linha e é perpendicular ao primeiro ou, por outras palavras, contém o seu polo.
Numa estereograma o ângulo entre uma linha e um plano é medido ao longo do círculo
máximo que contém a linha e o polo do plano.
Considere a charneira de uma dobra, com coordenadas 30°;260°, exposta numa
diaclase, com atitude 150°;60°E (Fig. 1.19a). Determine o ângulo entre a charneira da
dobra e a superfície da diaclase. Projecte a charneira (C) (Fig. 1.19b) e o círculo máximo

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Projecção estereográfica e de igual área

que representa a diaclase no estereograma. Projecte, igualmente, no diâmetro E-W, o polo


(P) deste plano (Fig. 1.19c). Rode a folha de papel vegetal de forma a alinhar no mesmo
círculo máximo a charneira C e o polo P (Fig. 1.19d). O plano assim obtido intersecta o
círculo máximo que representa a diaclase no ponto X. Meça o ângulo entre as linhas C e X
ao longo deste círculo máximo (Fig. 1.19d). O ângulo entre a linha de charneira e a
diaclase é de 75°.

charneira da dobra

C
D

C
C

FIGURA 1.19. Ângulo entre uma linha e um plano (MARSHAK & MITRA, 1988) (ver texto).

1.3.9. Bissecção do ângulo entre dois planos.


Um plano que bissecta o ângulo entre dois planos que se intersectam deve conter a
linha de intersecção entre os dois planos e a linha que bissecta o ângulo diedro entre os
planos. Para a maioria das dobras em “chevron” e “kinks” é razoável assumir que o plano
que bissecta o ângulo entre os dois flancos da dobra e contém a charneira é o plano axial.
Considere os dois flancos de uma dobra em “chevron” (flanco A e flanco B) com
coordenadas N60°E;40°SE e N80°W;50°NE, respectivamente (Fig. 1.20a). Determine a
atitude do plano axial (PA) desta dobra. Vamos assumir que o plano axial bissecta o

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Projecção estereográfica e de igual área

ângulo entre os dois flancos. Projecte os planos e respectivos polos (Fig. 1.20b). A recta C
representa a linha de charneira. Rode a folha de papel vegetal até que os polos fiquem
alinhados no mesmo círculo máximo e determine o ponto B, à mesma distância angular de
cada polo (Fig. 1.20c). Rode o papel vegetal de forma a alinhar B e C no mesmo círculo
máximo (Fig. 20d). Este círculo máximo representa o plano que bissecta o ângulo entre os
flancos e contém a charneira, ou seja, o plano axial da dobra. Rode o papel vegetal para a
sua posição original (Fig. 1.20e). O plano axial tem atitude N84°E;84°S.

a PA
b

c d e

FIGURA 1.20. Plano bissector do ângulo entre dois planos que se intersectam (MARSHAK & MITRA,
1988) (ver texto).

1.3.10. Rotações
Para resolver alguns problemas em geologia estrutural é necessário simular a
rotação física de um elemento estrutural em torno de um eixo no espaço.
Existem dois procedimentos básicos usados para efectuar uma rotação: (1) rotação
em torno de um eixo vertical e (2) rotação em torno de um eixo horizontal. A rotação em

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Projecção estereográfica e de igual área

torno de um eixo inclinado é facilmente realizada pela combinação dos dois métodos
anteriores.
Rotação de uma linha em torno de um eixo vertical
Considere a linha 40°;S50°E. Qual a sua orientação após ter sido rodada 40° no
sentido dos ponteiros do relógio em torno de um eixo vertical? (Nota: o ponto de vista do
observador é de cima para baixo, conforme a Figura 1.21a).
Conforme representação na Figura 1.21a, à medida que a linha roda descreve um
segmento de um cone circular cujo eixo passa através do centro da rede estereográfica.
Projecte o ponto L que representa a linha (Fig. 1.21b). Desenhe um traço na primitiva
indicando a direcção da linha. Sem mover a folha de papel transparente conte 40°, no
sentido dos ponteiros do relógio, ao longo da primitiva e desenhe um segundo traço
marcando a direcção S10°E. Rode a folha de papel transparente de forma a colocar o
segundo traço no diâmetro NS (Fig. 1.21c). Conte 40°, a partir da primitiva, no sentido do
centro da rede, e marque o ponto L’ que representa a posição final da linha, depois da
rotação, com coordenadas 40°;S10°E (Fig. 1.21d). Repare que a direcção da linha mudou
mas o mergulho se manteve.

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Projecção estereográfica e de igual área

FIGURA 1.21. Rotação de uma linha inclinada em torno de um eixo vertical (MARSHAK & MITRA,
1988) (ver texto).

Rotação de um plano em torno de um eixo vertical


Considere um plano com atitude N30°W;40°SW. Qual a orientação desse plano
após ter sido rodado 70° no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio em torno de um
eixo vertical? (Nota: o ponto de vista do observador é de cima para baixo, conforme a
Figura 1.22a).
Desenhe o círculo máximo que representa o plano e o seu polo (Fig. 1.22b).
Coloque a marca da direcção N30°W alinhada com o N da rede estereográfica, conte 70°
no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, ao longo da primitiva, e marque um
traço, sobre a primitiva, representando a direcção S80°W (Fig. 1.22b). Esta é a nova
direcção do plano. Coloque a marca S80°W no eixo N-S da rede, conte 40° no eixo W-E e
desenhe o círculo máximo e o polo P’ do novo plano (Fig. 1.22c). Rode o papel
transparente para a sua posição original. Após a rotação a atitude do plano é N80°E;40°SE
(Fig. 1.22d). Note que o pendor do plano não se altera após a rotação. O polo P’ está a 70°
de P se considerarmos uma rotação no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio ao
longo de um círculo concêntrico com a primitiva.

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Projecção estereográfica e de igual área

FIGURA 1.22. Rotação de um plano em torno de um eixo vertical (MARSHAK & MITRA, 1988) (ver
texto).
Rotação de uma linha em torno de um eixo horizontal
Uma linha que representa um eixo de rotação horizontal projecta-se como dois
pontos sobre a primitiva da rede estereográfica. Para simular a rotação em torno de um
eixo horizontal devemos rodar o papel transparente de forma a trazer o eixo de rotação
para a linha N-S da rede. A rotação de qualquer linha em torno deste eixo é efectuada
movendo o ponto, que representa a linha, ao longo de um círculo menor da rede
estereográfica. A rotação de um plano é efectuada movendo todos os pontos do círculo
máximo, que representa o plano, segundo distâncias angulares iguais, ao longo dos
círculos menores.
Considere uma lineação de estiramento que mergulha 30° segundo o azimute 220°.
Qual a orientação desta lineação depois de ter sido rodada 30°, no sentido contrário ao dos
ponteiros do relógio, quando se olha para N, em torno de um eixo horizontal com direcção
N10°W (Fig. 1.23a)?
Projecte o ponto L, que representa a lineação, e desenhe um traço sobre a primitiva
indicando a direcção N10°W do eixo de rotação (Fig. 1.23b). Rode o papel vegetal 10°, no
sentido dos ponteiros do relógio, de forma a que o eixo de rotação coincida com a linha
NS da rede. Conte 30°, para a direita, ao longo do círculo menor que contém o ponto L, e
projecte o novo ponto L’, representando a nova posição da linha depois da rotação (Fig.
1.23c). Note que a rotação aumenta o mergulho da linha e modifica a sua direcção. L’
mergulha 51° segundo o azimute 202°.

Eixo de rotação

Lineação rodada

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Projecção estereográfica e de igual área

FIGURA 1.23. Rotação de uma linha em torno de um eixo horizontal (MARSHAK & MITRA, 1988) (ver
texto).
Rotação de um plano em torno de um eixo paralelo à sua direcção
Considere um plano com coordenadas N20°E;20°SE. (a) Qual é a atitude do plano
depois
Lineação
de ter sido rodado 30° no sentido dos ponteiros do relógio, quando se olha para
NE, em torno de um eixo paralelo à direcção (Fig. 1.24a)? (b) Qual a atitude do plano
depois de ter sido rodado 30° no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, quando se
olha para NE, em torno de um eixo paralelo à direcção (Fig. 1.24a)?
Projecte o círculo máximo e o polo P do plano original. Coloque o traço da
direcção do plano coincidente com o eixo N-S da rede estereográfica. Conte 30° para a
esquerda, ao longo do diâmetro W-E, e desenhe o novo polo e o novo círculo máximo do
plano com coordenadas N20°E;50°SE (Fig. 1.24b). Para rodar no sentido contrário ao dos
ponteiros do relógio conte 30° para a direita, a partir do polo e do traço original do plano.
Note que depois de contar 20° alcança a primitiva e o plano é horizontal. Se continuarmos
a rotação o plano começa a inclinar para NW, e os 10° restantes são contados do lado
oposto a partir da primitiva (Fig. 1.24c). O plano rodado tem agora as coordenadas
N20°E;10°NW. No caso (a) a rotação origina um aumento do pendor do plano enquanto
no (b) a inclinação do plano é menor do que a do original.

Eixo de rotação
(N20°E)

FIGURA 1.24. Rotação de um plano em torno de um eixo paralelo à sua direcção (MARSHAK & MITRA,
1988) (ver texto).

Rotação de um plano em torno de um eixo horizontal oblíquo à sua direcção

21
Projecção estereográfica e de igual área

Uma camada inclinada tem coordenadas N20°E;70°SE. Qual a orientação da


camada após ter sido rodada 30°, no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio
(olhando de S para N), em torno de um eixo horizontal com direcção N10°W(Fig. 1.25a)?
Projecte o plano e o respectivo polo (P) (Fig. 1.25b). Marque, com um traço sobre
a primitiva, a direcção N10°W do eixo de rotação. Rode o papel vegetal, no sentido dos
ponteiros do relógio, de forma a que o traço marcado coincida com o N da rede
estereográfica. O polo P situa-se agora sobre outro círculo menor da rede (Fig. 1.25c).
Conte 30°, para a direita, ao longo desse cículo menor, e projecte o ponto P’, que
representa o polo do plano rodado. Rode o papel vegetal de forma a que P’ coincida com o
diâmetro E-W da rede e desenhe o traço de círculo máximo do plano rodado (Fig. 1.25d).
O plano rodado tem coordenadas N30°E;45°SE (Fig. 1.25e). Assim, a rotação em torno de
um eixo horizontal oblíquo à direcção de um plano modifica a direcção e o pendor desse
plano.

Eixo de rotação

Camada
inclinada Camada
rodada

FIGURA 1.25. Rotação de um plano em torno de um eixo horizontal oblíquo à direcção do plano
(MARSHAK & MITRA, 1988) (ver texto).

Rotação de uma lineação num plano

22
Projecção estereográfica e de igual área

Uma camada invertida tem coordenadas N30°W;40°SW. Uma lineação no plano


de estratificação tem um “pitch” de 30°NW. Qual era a orientação da lineação quando a
estratificação era horizontal?
A camada deve ser, inicialmente, rodada para o plano horizontal. Para isso, deve
ser rodada, em torno da sua linha de direcção, primeiro 50°, no sentido contrário ao dos
ponteiros do relógio, olhando de SE para NW, até ficar na posição vertical, e depois 90°,
no mesmo sentido, para ficar horizontal (Fig. 1.26a). Projecte o plano e a lineação (L).
Oriente a folha de papel vegetal de forma a que a direcção do plano coincida com o N da
rede estereográfica (Fig. 1.26b). A partir do traço do círculo máximo conte 140° para a
direita ao longo do diâmetro E-W e desenhe o novo círculo máximo que coincide com a
primitiva. Conte, também, 140° para a direita ao longo do círculo menor que contém o
ponto L e projecte L’ sobre a primitiva. O ponto L’ representa a lineação na posição
horizontal após a rotação. Note que a rotação modifica o mergulho e a direcção da
lineação. Rode o papel vegetal para a posição inicial (Fig. 1.26c). A lineação é horizontal
e tem direcção NS.

Lineação

FIGURA 1.26. Rotação de uma lineação contida num plano em torno de um eixo paralelo à direcção desse
plano (MARSHAK & MITRA, 1988) (ver texto).

Rotação em torno de um eixo inclinado


Horizontalizando o eixo de rotação
A estratificação no flanco de uma dobra tem coordenadas N60°W;40°SW. Qual a
orientação da estratificação após ter sido rodada 40° no sentido contrário ao dos ponteiros
do relógio (olhando de baixo para cima segundo a direcção da inclinação) em torno de um
eixo com atitude 30°;S80°W (Fig. 1.27a)?

23
Projecção estereográfica e de igual área

Projecte o eixo de rotação R e o polo do flanco da dobra P (Fig. 1.27b). Rode o


papel vegetal, no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, de forma que R se
posicione sobre o diâmetro EW da rede. Rode R para a horizontal, contando 30° para a
esquerda, ao longo do diâmetro EW, até à primitiva e projecte R’ nessa posição. Mouva P,
o mesmo valor angular e na mesma direcção ao longo do círculo menor que o contém, e
projecte P’ (Fig. 1.27c). Rode o papel vegetal até que R’ coincida com o N da rede. Rode
P’, no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio contando 40° para a direita ao longo
do círculo menor que o contém, e projecte P’’ nesta posição (Fig. 1.27d). R’ não se move
durante esta operação porque é o eixo de rotação. Rode o papel vegetal de forma a que R’
se posicione, novamente, no diâmetro EW. Conte 30°, ao longo do diâmetro EW, de forma
a que R’ volte para a sua posição inicial R (Fig. 1.27e). Mouva P’’, ao longo do círculo
menor que o contém, 30° para a direita e projecte um novo ponto P’’’. P’’’ é a posição
final do polo da estratificação após a rotação. Trace, agora, o círculo máximo que
representa o plano de estratificação rodado (Fig. 1.27f). A sua orientação é N88°W;71°S.

Flanco da
dobra

Flanco da dobra
rodado

FIGURA 1.27. Rotação de um plano em torno de um eixo inclinado horizontalizando o eixo de rotação
(MARSHAK & MITRA, 1988) (ver texto).

24
Projecção estereográfica e de igual área

Projectando o plano de rotação


Projecte o eixo de rotação R e a recta A a ser rodada (Fig. 1.28). Meça o ângulo
entre R e A.
Projecte o traço do círculo máximo cujo polo é R. Este plano, porque é perpendicular a R,
representa o plano de rotação. Desenhe o círculo máximo que contém R e A de forma a
obter a projecção ortográfica de A (a) no plano de rotação. Rode a recta a no sentido
pedido, ao longo do plano de projecção, tantos graus quanto a amplitude da rotação, e
projecte a’. Desenhe o traço de círculo máximo que contém a’ e R. Localize sobre esse
círculo máximo a recta A’, tal que o ângulo entre R e A’ seja igual ao ângulo entre R e A.
A’ é a projecção da recta A depois de rodada em torno de um eixo inclinado R com a
amplitude e sentido pretendidos.

FIGURA 1.28. Rotação em torno de um eixo inclinado (RAMSAY & HUBER, 1983)

1.4. Determinação da atitude das camadas a partir de sondagens

A sondagem é uma técnica importante utilizada na prospecção de reservatórios de


petróleo, na determinação das dimensões e localização de corpos mineralizados ou
simplesmente para obter dados importantes da geologia abaixo da superfície.
O uso dos dados das sondagens para obter informação sobre a orientação das
camadas abaixo da superfície é condicionado por limitações geométricas inerentes a esses
dados. Estas limitações dependem do número e da orientação dos furos de sondagem.

25
Projecção estereográfica e de igual área

Se durante a execução de um furo de sondagem pudessemos evitar que o


testemunho rodasse teríamos informação equivalente à obtida à superfície, quando
medimos as coordenadas de um camada com a bússola num afloramento. Infelizmente,
não se pode evitar a rotação do testemunho durante a sua extracção. Assim, as únicas
informações obtidas a partir de um testemunho de sondagem não orientado são a
profundidade de um horizonte particular e o ângulo entre as estruturas planares
(estratificação, xistosidade, fracturas, etc.) e o eixo da sondagem (Fig. 1.29a). A
orientação das estruturas planares só é determinada se estas forem perpendiculares ao eixo
do testemunho. A atitude de planos com outras orientações não pode ser determinada a
partir de uma só sondagem não orientada.

Eixo do testemunho

a b
FIGURA 1.29. (a) Ângulo δ entre o eixo do testemunho e o polo π do plano de estratificação num furo de
sondagem. (b) Duplo cone circular descrevendo o conjunto de todas as posições possíveis do polo da
estratificação em relação ao eixo do testemunho (RAMSAY & HUBER, 1983).

Imagine um testemunho que contém um plano de estratificação inclinado em


relação ao seu eixo. Se rodarmos o testemunho 360° o lugar de todas as orientações
possíveis da estratificação é um duplo cone circular cujo eixo é o eixo do testemunho (Fig.
1.29b). Consoante a orientação do furo de sondagem e do ângulo que a estrutura planar
faz com o eixo do testemunho, o cone que define todas as orientações possíveis da
estrutura planar intersecta a superfície do solo como um círculo, uma elipse, uma parábola
ou uma hipérbole (Fig. 1.30).

26
Projecção estereográfica e de igual área

Eixo do testemunho

Circular

Parabólica Hiperbólica
Elíptica

FIGURA 1.30. A inclinação do eixo da sondagem determina o tipo de secção cónica (circular, elíptica,
parabólica ou hiperbólica) segundo a qual o cone intersecta a superfície do solo (MARSHAK & MITRA,
1988).

Durante a execução de sondagens pouco profundas pode-se desenhar uma marca


de orientação, para que a orientação do testemunho relativamente ao furo de sondagem
seja conhecida, mesmo que o testemunho se parta ou rode durante a realização da
sondagem. A orientação do vertical
Sondagem testemunho deve ser efectuada se os trabalhos tiverem como
Sondagem inclinada

objectivo a recolha de dados paleomagnéticos ou quando se pretende fazer a análise da


anisotropia da rocha. A orientação do testemunho é feita fixando uma marca no topo do
testemunho (Fig. 1.31a), se a sondagem é vertical, ou gravando uma linha na parte lateral
do testemunho (Fig. 1.31b), se a sondagem é inclinada.

27
Projecção estereográfica e de igual área

Marca de orientação

Marca de orientação

FIGURA 1.31. Marcas de orientação usadas em sondagens pouco profundas. (a) Sondagem vertical com
marca no topo. (b) Sondagem inclinada com marca lateral (MARSHAK & MITRA, 1988).

Dados de três furos de sondagem


Em sondagens não orientadas podemos determinar as coordenadas de um plano
estrutural relacionando dados de diferentes sondagens. Assim, três furos de sondagem não
paralelos permitem-nos determinar a atitude de um plano estrutural. O ponto de
intersecção dos círculos, representando o lugar de todos os polos possíveis para a
estratificação, na rede estereográfica dá um único polo para o plano estrutural cuja atitude
se quer determinar. Este tipo de análise é condicionada pelo paralelismo das superfícies de
estratificação em toda a área investigada e pela ausência de curvatura no furo de
sondagem.
Três furos de sondagem não paralelos têm as seguintes coordenadas e ângulos
eixo-
-estratificação:

Sondagem Ângulo eixo-estratificação


1 29°;N45°W 39°
2 51°;S13°W 41°
3 46°;N55°E 51°

Determine a atitude da estratificação.


Projecte o furo de sondagem 1 num estereograma. O ângulo entre o polo da
estratificação e o eixo do testemunho é 90°-39°=51°. Faça coincidir o ponto que
representa o furo de sondagem com o eixo EW da rede estereográfica. Trace a recta que
une esse ponto com o N da rede (Fig. 1.32a) até intersectar a primitiva. Conte 51°, sobre a

28
Projecção estereográfica e de igual área

primitiva, para ambos os lados do ponto marcado. Una os novos pontos sobre a primitiva
com o N da rede e registe a intersecção destas rectas com a linha EW. Esses pontos na
linha EW definem o diâmetro da circunferência. Determine o ponto médio e desenhe a
circunferência com um compasso. Projecte o furo de sondagem 2 no estereograma. O
ângulo entre o polo da estratificação e o eixo do testemunho é 90°-41°=49°. Desenhe a
circunferência em torno da sondagem 2, usando o mesmo método utilizado para a
sondagem 1 (Fig. 1.32b). Projecte o furo de sondagem 3 no estereograma e use o mesmo
método utilizado para os furos anteriores, sabendo que o ângulo entre o polo da
estratificação e o eixo do testemunho é 90°-51°=39° (Fig. 1.32c).
As três circunferências intersectam-se num ponto que representa o polo da
estratificação. Usando este polo desenhe o traço de círculo máximo correspondente à
estratificação. A atitude da estratificação é N75°E;13°S (Fig. 1.32d).

FIGURA 1.32. Determinação da atitude da estratificação a partir de três furos de sondagem não paralelos
(MARSHAK & MITRA, 1988).

29
Projecção estereográfica e de igual área

1.5. Análise de dobras com uma rede de igual área

Geometricamente uma dobra é uma superfície curva. Há dois tipos de dobras: (1)
dobras cilíndricas (Fig. 1.33a) são geradas pelo movimento de uma linha recta imaginária
paralelamente a ela própria no espaço (a linha que gera a dobra é designada por eixo da
dobra) e (2) dobras não cilíndricas (Fig. 1.33b) geradas por uma linha que se move no
espaço de forma não paralela a ela própria. Se uma extremidade da linha é fixada a dobra
resultante é designada por dobra cónica. Se o movimento da linha não é sistemático a
dobra resultante é complexa. Por vezes, as dobras complexas podem ser subdivididas em
partes que são aproximadamente cilíndricas. A geometria de superfícies cilíndricas ou
cónicas pode ser analisada em diagramas ß e π numa rede de igual área.

FIGURA 1.33. (a) Dobras cilíndricas; (b) Dobras não cilíndricas (ROWLAND & DUEBENDORFER,
1994).

1.5.1. Diagramas ß de dobras cilíndricas


Cada segmento de uma superfície cilindricamente dobrada contém uma linha que é
paralela ao eixo da dobra. Quaisquer dois planos tangentes à superfície dobrada
intersectam-na ao longo de uma linha que é paralela ao eixo da dobra. Numa projecção de
igual área os círculos máximos representando as atitudes da superfície dobrada em
diferentes pontos da dobra devem todos intersectar-se num ponto comum que representa o
eixo da dobra. Este ponto é designado por eixo ß.
Na prática, todavia, as dobras reais não têm uma morfologia perfeitamente
cilíndrica, de forma que as medições da direcção e pendor em vários pontos da dobra

30
Projecção estereográfica e de igual área

produzem círculos máximos que não se intersectam num ponto comum, embora os pontos
de intersecção se concentrem numa determinada área que dá uma orientação média para o
eixo ß. Para n atitudes planares projectadas (Fig. 1.34) o número de intersecções x é dado
pela progressão aritmética
x = 0 + 1 + 2 +...+ (n-1) = n (n-1) / 2.
Assim, se houver 200 planos projectados o número de intersecções é 19 900. O contorno
dos pontos de intersecção salienta uma área com máxima concentração das intersecções.

3 planos, 1+2 pontos β


2 planos, 1 ponto β

4 planos, 1+2+3 pontos β n planos, n(n-1)/2 pontos β

FIGURA 1.34. Diagrama β de dobras cilíndricas. O número de intersecções de círculos máximos aumenta
rapidamente à medida que o número de planos projectados também aumenta (MARSHAK & MITRA,
1988).

31
Projecção estereográfica e de igual área

Uma projecção de eixos ß não é a melhor forma de representar as atitudes medidas


numa dobra, por várias razões:
1) O número de pontos numa projecção do eixo ß é maior do que o número de
medidas; assim, o número de dados pode parecer superior à realidade;
2) Se houver dispersão dos dados originais podem ocorrer concentrações do eixo ß
afastadas da concentração principal, originando interpretações irróneas; tais erros tornam-
se inaceitáveis se o ângulo inter-flancos é muito pequeno (<40°) ou muito grande (>140°);
3) A construção do diagrama ß é morosa devido ao elevado número de círculos
máximos a projectar e o número de intersecções pode ficar demasiado grande, mesmo
para um pequeno conjunto de dados.

1.5.2. Diagramas π de dobras cilíndricas


Um diagrama π é uma projecção de igual área dos polos dos planos tangentes à
superfície dobrada. Na prática isto significa que se tivermos medidas de direcção e pendor
em muitos pontos de uma dobra, projectamos o polo de cada plano em vez do traço de
círculo máximo. Numa dobra cilíndrica cada um dos polos é perpendicular ao eixo da
dobra. Assim, os polos são paralelos ao plano perpendicular ao eixo da dobra. Numa
projecção de igual área os polos definem o traço de círculo máximo de um plano,
designado por cículo π (Fig. 1.35). O polo do círculo π é o eixo π e representa o eixo da
dobra. O eixo π deve coincidir com o eixo ß numa projecção.

Círculo π

FIGURA 1.35. Diagrama π de dobras cilíndricas. Os polos dos planos concentram-se ao longo de um
círculo máximo cujo polo é o eixo (π=β) (MARSHAK & MITRA, 1988).
Numa dobra muito aberta, com um ângulo inter-flancos grande, a distribuição dos
polos, numa rede de igual área, corresponde a uma elipse (Fig. 1.36b). Com o decréscimo

32
Projecção estereográfica e de igual área

do ângulo inter-flancos o padrão de distribuição dos polos muda para uma cerca de círculo
máximo incompleta e, finalmente, para uma cerca de círculo máximo completa (Fig.
1.36c).

Camada inclinada não dobrada


Dobra muito aberta Dobra fechada

FIGURA 1.36. Modificações no padrão de distribuição dos polos num diagrama π com o aumento do
ângulo inter-flancos (MARSHAK & MITRA, 1988).

Um diagrama π dá informação, não só, sobre o eixo da dobra, mas também sob a
forma da dobra. Por exemplo, se uma dobra possui uma zona de charneira larga e
arredondada a densidade dos pontos será uniforme no círculo π e os dois pontos extremos
no círculo definem o ângulo inter-flancos (Fig. 1.37a). O círculo π para uma dobra com
flancos planares e zona de charneira estreita possui duas zonas de distribuição máxima
correspondentes aos dois flancos e estes máximos podem ser usados para determinar o
ângulo inter-flancos (Fig. 1.37b). Para uma dobra em “chevron”o círculo π na projecção é
definido por dois pontos máximos correspondentes aos dois flancos (Fig. 1.37c). Muitas
dobras naturais mostram padrões que são intermédios entre um círculo π de charneira
larga e um círculo π de dois máximos (flancos).

33
Projecção estereográfica e de igual área

FIGURA 1.37. Variação dos diagramas π função da forma da dobra. (a) Dobra com charneira larga
arredondada; (b) dobra com charneira estreita; (c) dobra em “chevron”; (d) dobras assimétricas
(MARSHAK & MITRA, 1988).

Normalmente, não é possível dizer nada de conclusivo sobre a simetria das dobras
a partir de um diagrama π, porque outros factores para além do pendor dos flancos da
dobra determinam a simetria da dobra. A concentração de pontos ao longo da cerca que

34
Projecção estereográfica e de igual área

define o círculo π pode ser consequência da amostragem. Se a distribuição espacial das


medidas numa série de dobras é uniforme haverá poucas leituras dos flancos curtos das
dobras assimétricas, resultando numa assimetria no padrão de polos do diagrama π (Fig.
1.37d).

Traço axial

Plano axial

Eixo π

Círculo dos polos da estratificação

FIGURA 1.38. Determinação da atitude do plano axial a partir de um diagrama π (MARSHAK & MITRA,
1988).

A orientação do plano axial pode ser determinada se o eixo π for conhecido e se a


orientação do traço axial numa localidade for determinada. O círculo máximo que contém
esses dois pontos dá a orientação do plano axial (Fig. 1.38).

35
Projecção estereográfica e de igual área

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