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Luiz Filgueiras

PADRÃO DE REPRODUÇÃO DO CAPITAL E CAPITALISMO

DOSSIÊ
DEPENDENTE NO BRASIL ATUAL

Luiz Filgueiras*

A Teoria Marxista da Dependência (TMD), com o objetivo de entender as formas de reprodução do capital,
nas distintas formações econômico-sociais, em diferentes períodos históricos do desenvolvimento capita-
lista, construiu o conceito de Padrão de Reprodução do Capital (PRC), apoiada na conhecida forma geral
do ciclo do capital industrial, que é, também, a forma do ciclo do capital-dinheiro – conforme formulado
por Marx. Este texto discute o alcance e o limite desse conceito para a compreensão da formação econômi-
co-social brasileira contemporânea. Aponta que, embora ele contribua para o entendimento de formações
econômico-sociais concretas, seu nível de abstração não permite perceber diferenças importantes existen-
tes entre elas – em especial as latino-americanas. Como consequência, propõe, de forma complementar e
em um nível menor de abstração, o conceito de Padrão de Desenvolvimento Capitalista (PDC), devidamente
redefinido, e que se refere apenas a uma formação econômico-social singular (única pela sua história).
Palavras-chave: Teoria Marxista da Dependência. Padrão de Reprodução. América Latina. Padrão de Desen-
volvimento. Brasil.

INTRODUÇÃO consolidou; e atingiu seu ápice nos últimos cin-


quenta anos, com o processo de mundialização
Segundo a Teoria Marxista da Depen- do capital, sob o comando e a dominância do
dência (TMD), o capitalismo, desde sua gêne- capital financeiro – o que lhe conferiu novas de-
se na Europa, já trazia, em si, uma tendência terminações (Chesnais, 1996).
expansiva de incorporação e subordinação de Assim, a expansão do capitalismo se fez,
todas as regiões do planeta à sua lógica, vindo desde sempre, de forma “desigual e combina-
a se constituir, já na segunda metade do século da” (Löwy, 1998), através de ondas sucessivas
XIX, como um sistema mundial. de internacionalização do capital, que institu-
O impulso inicial dessa expansão, ex- íram e reconfiguraram, algumas vezes, a divi-

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presso no sistema colonial mercantilista (sécu- são internacional do trabalho, primeiramente
los XVI-XVIII), ganhou força com a Revolução sob a hegemonia da Inglaterra e, posteriormen-
Industrial, que colocou a Inglaterra na vanguar- te, dos EUA.
da desse movimento, dando origem (ao longo Por isso, a TMD, tal como as teorias do
do século XIX) à primeira forma de divisão in- imperialismo, percebe o sistema capitalista
ternacional do trabalho – que, de modo seme- mundial como uma ordem hierárquica, na qual
lhante a todas as demais formas que se sucede- uma pequena minoria de países (pioneiros do
ram no tempo, foi inequivocamente assimétrica desenvolvimento capitalista) condiciona e su-
no que se refere ao poder, à inserção e ao lugar bordina a grande maioria que, posteriormen-
ocupado pelos distintos países na ordem capi- te, foi sendo incorporada. Distintamente das
talista internacional. Esse processo se aprofun- teorias do imperialismo, mas de forma com-
dou na virada do século XIX para o XX, quando plementar a elas, a TMD concebe o sistema
o imperialismo moderno, da era do capital, se capitalista mundial a partir da estrutura e da
dinâmica econômico-social e política dos pa-
* Universidade Federal da Bahia (UFBA). Faculdade de
Economia. íses subordinados, que, em última instância,
Praça Treze de Maio, n. 06, Centro. Cep: 40.060-300. Sal-
vador – Bahia – Brasil. luizmfil@gmail.com têm seu desenvolvimento condicionado pelo

http://dx.doi.org/10.1590/S0103-49792018000300006 519
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desenvolvimento dos países imperialistas pode assumir formas concretas diferentes ao


(Amaral, 2012). longo da história do capitalismo e da divisão
Com essa perspectiva, a TMD identifi- internacional do trabalho. Tais formas pos-
ca características específicas na forma como o suem relevância para se entender o modo de
capitalismo se desenvolveu nos países subor- articulação internacional dos países, assim
dinados, dando origem ao capitalismo depen- como o caráter de suas classes e frações de
dente, cuja reprodução está subsumida pela classe dominantes, suas relações com as clas-
reprodução do capital nos países imperialistas. ses trabalhadoras, as características do seu Es-
Portanto, ela advoga a existência de um capi- tado, o bloco político no poder, a política eco-
talismo particular que, a despeito de ser regi- nômica posta em prática pelos governos etc.
do pelas leis gerais de movimento do capital, No capitalismo dependente, regido pela troca
apresenta leis específicas que redefinem a for- desigual e a superexploração da força de tra-
ma como as primeiras se realizam nas econo- balho, essas formas estão associadas a (e evi-
mias dependentes, condicionando o processo denciam) distintos modos como se concretiza
de reprodução do capital nelas existente. Em a dependência em cada momento histórico.
síntese, embora essas economias não sejam Para dar conta das formas de reprodução
um simples reflexo das economias do centro, do capital nas distintas formações econômico-
no longo prazo, sua dinâmica está delimita- -sociais, em diferentes períodos históricos do
da pelo movimento de reprodução do capital desenvolvimento capitalista, a TMD construiu
imperialista e pela posição subordinada que o conceito de Padrão de Reprodução do Capital
ocupam na divisão internacional do trabalho (PRC), apoiada na conhecida forma geral do ciclo
(Marini, 1973a, 1973b). do capital industrial que é, também, a forma do
Nessa reconstrução histórico-teórica do ciclo do capital-dinheiro. A partir dele, pode-se
capitalismo dependente, situada em nível de indagar sobre as principais características que
abstração menor do que aquele no qual Marx configuram certas regularidades na reprodução
construiu sua teoria do capital e do capitalis- do capital em certo espaço territorial, em dado
mo – pois incorpora as relações internacionais momento histórico – constituindo-se, assim, um
entre distintos Estados nacionais, o mercado padrão que nos informa como o capitalismo, em
mundial e a competição intercapitalista –­­ , a uma formação econômico-social concreta, se re-
TMD elabora novos conceitos que, embora sub- produz de modo articulado com a reprodução
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sumidos aos conceitos construídos por Marx, internacional do capital (Osório, 2012a).
estão associados à forma de funcionamento do O objetivo deste texto é o de discutir o
capitalismo dependente (Osório, 2012a). alcance e o limite desse conceito para a com-
Esses novos conceitos – troca desigual, preensão da formação econômico-social brasi-
superexploração da força de trabalho, subim- leira contemporânea. Aponta-se que, embora
perialismo, etc. –, embora pertinentes à com- ele contribua para o entendimento de forma-
preensão do capitalismo dependente, ainda ções econômico-sociais concretas, seu nível
se situam num nível de abstração elevado, ou de abstração não permite perceber diferenças
seja, explicam as características mais gerais importantes existentes entre elas – em especial
desse tipo de capitalismo, as quais o diferen- as latino-americanas. Como consequência,
ciam do capitalismo dos países imperialistas, propõe-se aqui, de forma complementar e em
evidenciando que seu ciclo de reprodução do um nível menor de abstração, o conceito de
capital está condicionado pelo ciclo de repro- Padrão de Desenvolvimento Capitalista (PDC),
dução do capital imperialista (Marini, 1979). devidamente redefinido, que se refere apenas a
No entanto, a TMD deu um passo adian- uma formação econômico-social singular (úni-
te ao reconhecer que a reprodução do capital ca pela sua história).

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Para isso, na seção que se segue a esta – com a incorporação de mais determinações
Introdução, é discutido e detalhado o conceito histórico-sociais para além daquelas necessá-
de PRC e seu uso por Osório (2012b) na defini- rias à caracterização do capitalismo em geral.
ção de um Padrão Exportador de Especializa- Ele estabelece “mediações entre os níveis mais
ção Produtiva que caracterizaria, hoje, todos os abstratos e mais gerais de análise (modo de
países da América Latina. Na sequência, dis- produção capitalista e sistema mundial capita-
cute-se e detalha-se o conceito de PDC e, pos- lista) e os níveis menos abstratos ou históricos
teriormente, a partir dele, analisam-se a estru- concretos (formação econômico-social e con-
tura e a dinâmica do capitalismo dependente juntura)” (Osório, 2012a, p. 41). Objetiva “dar
brasileiro. Por fim, nas Considerações Finais, conta da forma como o capital se reproduz
evidenciam-se, sinteticamente, os dilemas po- em um período histórico específico e em um
lítico-econômicos que demarcam, atualmente, espaço territorial determinado (no centro, na
o desenvolvimento do capitalismo dependente semiperiferia e na periferia), considerando as
brasileiro. características de sua metamorfose na passa-
gem pelas esferas da produção e da circulação”
(Osório, 2012a, p. 40).
O CONCEITO DE PADRÃO DE RE- Portanto, esse conceito, ao permitir a
PRODUÇÃO DO CAPITAL1 passagem da análise para o plano da dinâmi-
ca histórico-concreta, possibilita a identifica-
A TMD, em seus conceitos básicos, ex- ção de distintas formas de dependência e de
plica as particularidades do capitalismo de- ciclos de reprodução do capital no capitalismo
pendente em geral, isto é, aquilo que ele tem dependente, assim como a hierarquização dos
de fundamental e que o diferencia do capita- países dependentes como periféricos e semi-
lismo imperialista. No entanto, ao longo do periféricos.
desenvolvimento do capitalismo como sistema A partir do ciclo de reprodução do capi-
mundial, a forma assumida pela dependência tal industrial, ou o ciclo do capital-dinheiro, re-
foi se transmutando conforme a reconfigura- presentado por Marx como D – M ... P ... M’ – D’,
ção do capitalismo nos países imperialistas e, a TMD identifica e discute os elementos fun-
por consequência, o surgimento de outros ti- damentais, de natureza qualitativa, que deter-
pos de divisão internacional do trabalho. minam e dão substância ao conceito de PRC,

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Assim, a forma de reprodução do capital que possibilitará a análise da dependência em
nas economias dependentes, por estar subor- situações singulares. Ele integra o processo de
dinada à reprodução do capital no plano inter- valorização com as formas materiais que este
nacional, também se modifica – com a consti- assume ao encarnar-se em determinados valo-
tuição de padrões específicos de reprodução, res de uso: “... o valor de uso da valorização de-
que podem distinguir um mesmo país ao longo fine as características do capitalismo que será
do tempo ou países distintos no mesmo mo- gerado” (Osório, 2012a, p. 46).
mento histórico. Considerando-se D - M, a primeira fase
O conceito de PRC, pensado inicialmen- da circulação, o capital-dinheiro D, que dá
te por Marini (1982), e desenvolvido posterior- partida ao processo de reprodução, coloca-se
mente por Osório (2012a), tem por função fazer a questão do financiamento da acumulação e
a mediação entre as leis gerais do capitalismo e das características do investimento realizado:
a dinâmica concreta da reprodução do capital sua origem (capital estatal, apoiado em impos-
1
Essa seção tem como referência dois textos de Osório
tos diretos e indiretos ou através de empresas
(2012a, 2012b) que tratam, respectivamente, do conceito estatais, capital privado nacional e/ou capital
de PRC e de sua utilização para a caracterização da Améri-
ca Latina na contemporaneidade. estrangeiro), o modo de realizá-lo (lucros re-

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tidos, empréstimos, investimento estrangeiro Na segunda fase da circulação M’ – D’,


direto, associações e/ou mercado de capitais) e de realização das mercadorias, M’ nos infor-
a que setores se destina primordialmente. Nas ma sobre o tipo de mercadoria (valor de uso)
circunstâncias atuais do capitalismo, é também produzida: bens de capital e/ou bens de consu-
importante observar a prevalência da dominân- mo (bens-salário e suntuários, duráveis e não
cia financeira no processo de acumulação. duráveis), commodities industriais e agrícolas
A compra de mercadorias necessárias ao etc. e seu destino (mercado interno e/ou ex-
processo produtivo – isto é, meios de produção portação). E D’ traz subjacente a forma de fi-
e força de trabalho, representados por M ­– nos nanciamento da realização das mercadorias (o
remete à identificação da origem dos meios de sistema de crédito para a compra de meios de
produção (produzidos e comprados localmen- produção e o consumo das famílias).
te e/ou importados) e à natureza da relação ca- Nas economias dependentes, a impor-
pital–trabalho e de sua regulação. tância dos bens de consumo é maior, de forma
Nas economias dependentes, o ciclo do contraditória com o que ocorre no processo
capital, nessa primeira fase da circulação, arti- de produção – apoiado na superexploração da
cula-se e subordina-se duplamente ao capital força de trabalho. A estrutura concentrada da
imperialista: os empréstimos e o investimento distribuição de renda limita o crescimento do
estrangeiro direto, assim como os meios de pro- mercado interno e provoca uma cisão ou se-
dução produzidos nos países imperialistas, são paração entre produção e consumo de massa,
a forma concreta dessa articulação dependente. implicando que parte importante da produção
A observação de P evidencia a natureza é para exportação.
do processo produtivo: a tecnologia utilizada Vê-se, portanto, que, embora esse ciclo
(origem, propriedade e como é adquirida) e as de reprodução do capital, como valor, expres-
formas de organização do processo produção e se como o processo de acumulação ocorre em
de gestão e consumo da força de trabalho pelo qualquer economia capitalista, ele não tem a
capital (jornada de trabalho, produtividade e mesma natureza e o mesmo significado quan-
intensificação do trabalho), além do seu grau do se consideram seus elementos materiais nos
de qualificação. países imperialistas e nos países dependentes.
No capitalismo dependente, a introdução Há distinções fundamentais sobre como a re-
de nova tecnologia, decorrente da presença de produção do capital se dá em cada um desses
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empresas estrangeiras, leva à diferenciação da polos – que constituem o sistema capitalista


estrutura produtiva e a um processo precoce de mundial.
monopolização, além de se constituir em uma A subordinação do ciclo do capital dos
forma essencial de transferência de excedentes. países dependentes ao ciclo do capital dos paí-
Restará às pequenas e médias empresas, como ses imperialistas se expressa em todas as fases
arma para competir, a superexploração dos tra- do processo de reprodução do capital. Os vín-
balhadores, com o aumento da intensidade do culos de dependência se fazem presentes no
trabalho, a extensão da jornada e a redução dos financiamento e no investimento, nas impor-
salários – práticas que também beneficiam as tações de máquinas e equipamentos, na supe-
empresas dominantes. Por fim, a tecnologia im- rexploração do trabalho, no uso da tecnologia
portada implica taxas de desemprego elevadas e importada e no pagamento de royalties e pa-
subemprego, constituindo-se um vasto exército tentes, no tipo de mercadoria produzida e ex-
industrial de reserva, essencial à superexplora- portada, na remessa de juros e lucros etc. Em
ção, com a estrutura de produção tendendo a resumo: dependência tecnológica, comercial e
se separar progressivamente das necessidades financeira. Portanto, todo o ciclo de reprodu-
reais de consumo da classe trabalhadora. ção do capital, nos países dependentes, está

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subsumido à reprodução do capital imperialis- Padrão exportador de especialização pro-


ta – elemento externo, mas que se internaliza dutiva
ao participar do ciclo da economia dependente
– configurando-se numa forma de reprodução A partir do conceito de PRC, Osório
“partida”, na qual o consumo dos trabalhado- (2012b) identifica, na história da América Lati-
res, na economia dependente, não se consti- na, três padrões, que se sucederam ao longo do
tui em componente fundamental de realização tempo: o Padrão Agromineiro Exportador (até
das mercadorias (Marini, 1973a, 1973b, 1979). a segunda década do século XX), o Padrão In-
Adicionalmente, faz-se necessária a dustrial (a partir da segunda metade dos anos
consideração do Estado e das políticas econô- 1930 até meados dos anos 1970) e, atualmente,
micas que constituem o PRC, esfera que arti- o Padrão Exportador de Especialização Produ-
cula as suas dimensões econômica e política. tiva (de meados dos anos 1980 até o presente).
Nesse âmbito, devem-se distinguir as frações Todos eles fazem parte do movimento mais ge-
do capital e os setores que estão no centro do ral do sistema capitalista mundial, que redefi-
PRC, evidenciando quem exerce a hegemonia ne a divisão internacional e o lugar e o sentido
em seu interior, além de identificar o propósi- dos países dependentes nela.
to das políticas (fins, objetivos, metas etc.) e O Padrão Exportador de Especialização
as práticas ou mecanismos de decisão (ações, Produtiva – que, segundo Osório, caracteriza
meios, instrumentos, medidas, etc.), assim hoje todos os países da América Latina – de-
como os destinatários sociais das decisões (se- correu de grandes transformações no sistema
tores, classes, grupos etc.). capitalista mundial nas últimas quatro déca-
No capitalismo dependente, tanto o das, e tem os seguintes traços: 1) regresso a
capital estrangeiro quanto o Estado são deci- produções seletivas (bens secundários e/ou
sivos no processo de reprodução do capital, primários); 2) relocalização de segmentos pro-
com o primeiro articulando diretamente com dutivos; 3) novas organizações da produção/
o exterior o ciclo da economia dependente e o toyotismo; 4) flexibilidade laboral e precarie-
segundo participando direta ou indiretamente dade; 5) economias voltadas para a exportação;
de todas as fases do processo de acumulação 6) drásticas reduções e segmentação do mer-
e influenciando decisivamente a forma de ar- cado interno; 7) fortes polarizações sociais; 8)
ticulação com o imperialismo e a trajetória da aumento da exploração e da superexploração;

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economia. e 9) níveis elevados de pobreza e indigência.
O processo de substituição de sucessi- Apesar desses elementos comuns, Osó-
vos PRC, acompanhado por revoluções tecno- rio destaca que é necessário observar como
lógicas, resulta em mudanças nas condições esse padrão se desenvolve nas diversas forma-
materiais de reprodução do capital: “mudan- ções econômico-sociais, em especial suas re-
ças nos setores ou ramos que serão eixos da percussões na estrutura de classes e no Estado,
acumulação, na organização do trabalho, nas admitindo, portanto, “diferenças ‘nacionais’
condições técnicas, nas mercadorias produzi- dentro de um mesmo padrão de reprodução do
das, nos mercados para os quais será dirigida capital” (Osório, 2012a, p. 80).
a produção, nos agentes que farão os investi- No entanto, a nosso ver, assumindo-se a
mentos, no tipo de associação com o capital análise do PRC a partir das características ma-
estrangeiro, enfim, no conjunto ou em alguns teriais do ciclo do capital – que permitem iden-
dos principais estágios que marcam o rumo do tificar as distintas classes e frações de classe
ciclo do capital.” (Osório, 2012a, p. 70). e do capital, bem como suas respectivas posi-
ções no bloco no poder e o lugar do Estado no
processo de acumulação, assim como diversos

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outros atributos que caracterizam um PRC –, to a existência dessas diferenças (Dossiê, 2013;
não se pode generalizar, para todos os países Luce, 2011).
da América Latina, um mesmo tipo de padrão, Ademais, acredito que uma maior preci-
considerando-se a realidade atual, e muito me- são na qualificação do desenvolvimento capi-
nos quando se tem por referência o Padrão In- talista dependente no Brasil exige nível de abs-
dustrial. Existem diferenças fundamentais não tração menor do que aquele no qual se situa a
apenas na forma como esse último padrão se noção de PRC – incorporando traços históricos
desenvolveu nesses países, mas no próprio pa- que o diferenciam dos demais países da Amé-
drão: a história factual informa que o processo rica Latina, o que nos leva ao uso do conceito
de industrialização na América Latina se res- de PDC.
tringiu, fundamentalmente, a Brasil, México
e Argentina; os demais tiveram uma ou outra
indústria, o que não mostrou força suficiente O CONCEITO DE PADRÃO DE DE-
para redefinir, mesmo que parcialmente, a di- SENVOLVIMENTO CAPITALISTA2
nâmica da economia “para dentro”, com a di-
versificação e ampliação significativa de seus O conceito de Padrão de Reprodução do
respectivos mercados internos. Capital (PRC) aponta para a discussão da estru-
O mesmo vale para a situação atual, em tura e da dinâmica das economias dependen-
que pese o fato de estar ocorrendo um proces- tes, identificando cada forma concreta assumi-
so de especialização produtiva e desindus- da pela dependência e como ela se realiza. No
trialização da região, com efeitos em suas ex- entanto, seu nível de abstração ainda carece
portações. Pelo menos no caso do Brasil, essa de certas determinações histórico-sociais, o
especialização ocorre fundamentalmente em que limita o reconhecimento das diferenças
sua pauta exportadora, pois sua estrutura pro- existentes entre os países latino-americanos,
dutiva é ainda muito diversificada em todos os apesar de unidos e assemelhados pelo caráter
setores. Por isso, as transformações ocorridas dependente de suas economias, e em especial
não foram fortes o suficiente para redefinir, de a passagem da análise para o entendimento
novo, a dinâmica de sua economia “para fora”: das sucessivas conjunturas.
seu mercado interno ainda é o destino princi- Com o objetivo de sanar essa dificulda-
pal da produção, pois sua desindustrialização de, apresento o conceito de Padrão de Desen-
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(e perda de participação de produtos manufa- volvimento Capitalista (PDC), devidamente


turados em suas exportações) ainda é um fe- redefinido como um conceito de caráter trans-
nômeno relativo e não absoluto (Filgueiras et disciplinar, isto é, que sintetiza e expressa, ao
al., 2012). mesmo tempo, as dimensões econômica, social
Na verdade, a mundialização do capital e política de uma determinada formação eco-
não homogeneizou os PRC de todos os países nômico-social. Portanto, ele não se confunde
da América Latina: há diferenças importantes com os conceitos de Padrão de Acumulação,
entre suas respectivas estruturas produtivas próprio da Escola de Campinas, e de “Regime
(grau de complexidade), suas classes e frações de Acumulação”, proposto pela Escola da Re-
de classes dominantes, o lugar e o papel do gulação – ambos construídos também em um
Estado no processo de acumulação e, em úl- nível de abstração mais elevado e focando, es-
tima instância, o lugar que ocupam na divisão sencialmente, a dimensão econômica do fenô-
internacional do trabalho: periferia ou semi- meno (Almeida Filho, 1993).
periferia. A própria possibilidade de reconhe-
cimento da presença de um subimperialismo 2
Essa seção é uma reprodução atualizada de formulações
acerca do Modelo Liberal-Periférico desenvolvidas em tra-
brasileiro na América do Sul tem como supos- balhos anteriores por Filgueiras (2005, 2006, 2013, 2017).

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Mas, da mesma forma que esses dois A configuração do chamado Bloco Políti-
conceitos, o PDC se refere a um fenômeno his- co no Poder (Poulantzas, 1977), num determi-
tórico-estrutural de longo prazo, não se asse- nado período histórico, constitui seu atributo
melhando, portanto, aos conceitos de “padrão fundamental, que precede hierarquicamente
ou regime de crescimento” e “regime de polí- todos os demais, porque, ao mesmo tempo em
tica macroeconômica” (Oreiro, 2011), “estraté- que os expressa sinteticamente, também os
gia de crescimento ou desenvolvimento”, “con- subsume, delimitando seu significado e alcan-
venções de desenvolvimento” (Erber, 2011) ce. Ele se situa na confluência entre estrutura e
e “políticas de desenvolvimento ou políticas conjuntura, economia e política, Estado e mer-
desenvolvimentistas”, conceitos que dizem cado, sendo composto, em cada conjuntura,
respeito e se circunscrevem a determinadas por determinadas classes e frações de classe
situações e características conjunturais que es- que dominam o aparelho de Estado, direcio-
tão presentes, essencialmente, no plano da di- nando-o de acordo com seus interesses – atra-
nâmica econômica imediata e (ou) da ação dos vés da escolha e da colocação em prática de
agentes político-econômicos e do Estado, e que certas políticas econômico-sociais.
podem variar ao longo da vigência de um mes- A classe ou fração que tem a capacidade
mo Padrão de Desenvolvimento Capitalista. de unificar e dirigir, política e ideologicamen-
Em relação ao conceito de PRC da TMD, te, as demais, a partir de seus interesses espe-
o de PDC aqui apresentado é construído em cíficos – transformados e reconhecidos como
um nível de abstração menor, incorporando parte dos interesses gerais do conjunto do blo-
a história e as especificidades econômico-so- co –, mas também contemplando parcialmente
ciais e políticas dos distintos países. Isso sig- outros interesses localizados em seu interior,
nifica dizer que o PDC é um conceito menos assume a liderança e hegemonia do bloco no
abrangente, uma singularidade que diz res- poder. Se essa hegemonia incorporar, margi-
peito apenas a uma determinada formação nal ou mais significativamente, interesses das
econômico-social, cujas características, em classes subordinadas ou de algumas de suas
sua totalidade, não podem ser generalizadas frações – que não compõem o bloco no poder
para outros países. Adicionalmente, além de –, ela deixa de ser restrita a ele e se amplia,
incorporar as dimensões econômica, social e abarcando o conjunto da sociedade (Poulant-
política, ele permite articular estrutura e con- zas, 1977).

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juntura, entendida esta como o modo como a Os demais atributos essenciais na defi-
estrutura se expressa em um dado momento. nição de um PDC, sintetizados pelo bloco no
Isto é feito com a ajuda de outro conceito, o poder, expressam, ao mesmo tempo, os inte-
de Regime de Política Macroeconômica (RPM), resses nele localizados, dando-lhes sentido e
que será esclarecido mais adiante, cuja exis- significado. Eles estão estreitamente relacio-
tência e características sempre estarão subsu- nados e são compatíveis entre si, evidencian-
midas e condicionadas ao PDC existente. do que as diversas dimensões do processo de
De forma concisa, um Padrão de De- desenvolvimento capitalista, tal como ele se
senvolvimento Capitalista é definido por um apresenta numa formação econômico-social
“conjunto de atributos – econômico-sociais e específica, se reproduzem de modo articulado
políticos – que estrutura, organiza e delimi- e concomitante. Esses atributos são apresenta-
ta a dinâmica do processo de acumulação de dos a seguir.
capital, e as relações econômico-sociais a ele 1. A natureza e o tipo de regulação da
subjacentes, existentes em determinado Es- relação entre capital e trabalho. Indicam o
tado (espaço) nacional durante certo período grau de assimetria (correlação de forças) exis-
histórico” (Filgueiras, 2013). tente entre as duas classes fundamentais de

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qualquer PDC (trabalhadores e capitalistas). frações do capital. Aqui se destacam as polí-


Isso remete às formas de organização do pro- ticas econômico-sociais e, em especial, o tipo
cesso de trabalho e de contratação da força de Regime de Política Macroeconômica; além
de trabalho, que envolvem as representações das articulações e favorecimentos com relação
corporativas (sindicatos e associações) de tra- a determinadas frações do capital. A partici-
balhadores e capitalistas, bem como o Estado. pação do Estado, se diretamente, no plano da
Essa relação e o modo como o Estado participa própria produção/financiamento e/ou de modo
dela permitem visualizar a natureza e o tipo de indireto, através da regulação, planejamento e
exploração da força de trabalho, a existência indução do capital em geral, vai depender de-
ou não de superexploração do trabalho. Além cisivamente da natureza do bloco no poder.
disso, remete à existência, ou não, de institui- 5. O processo de criação e incorporação
ções e legislação reguladoras do mercado de do progresso técnico. Trata-se de um atributo
trabalho e do consumo da força de trabalho essencial para definir o lugar ocupado pelo
pelo capital. país no sistema capitalista mundial, pois a
2. O caráter e a dinâmica das relações capacidade endógena de geração, adoção e di-
intercapitalistas. Apontam a força e a impor- fusão das inovações, bem como a existência,
tância das distintas frações do capital e suas ou não, de um sistema nacional de inovações
articulações no interior do Estado, bem como e de uma política industrial, comercial e tec-
evidenciam as frações e setores do capital que nológica definem o caráter dependente ou
“puxam” a economia (que se situam no centro imperialista do capitalismo. Numa economia
da acumulação). Aqui se destacam os interes- dependente, isso se relaciona, estreitamente,
ses específicos das distintas frações do capital, com o espaço ocupado pelas empresas multi-
do ponto de vista setorial, do seu tamanho, da nacionais na estrutura produtiva, a existência
inserção internacional e da articulação com os ou não de empresas estatais importantes e o
capitais imperialistas. Esses são atributos deci- tipo de articulação existente entre as distintas
sivos para definir as frações do capital que par- frações do capital e o imperialismo. Esse é um
ticipam do bloco no poder e, entre elas, quem aspecto com implicações diretas sobre o tipo
exerce a hegemonia em seu interior. e o montante de excedente transferido para os
3. O modo de inserção internacional do países imperialistas.
país. Esse atributo evidencia o lugar ocupado 6. O modo de financiamento da acumu-
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pelo país na divisão internacional do trabalho, lação. Esse também é um aspecto incontorná-
os tipos de restrições externas existentes e, vel para se definir o lugar ocupado pelo país
como consequência, seu grau de vulnerabili- no sistema mundial capitalista, pois evidencia
dade externa (conjuntural e estrutural) e suas a existência, ou não, de uma dependência fi-
limitações no que concerne à adoção e execu- nanceira estrutural – que condiciona seu de-
ção de políticas econômico-sociais. No que se senvolvimento e sua capacidade de colocar
refere aos países periféricos, essa inserção – do em prática políticas econômico-sociais. Isso
ponto de vista produtivo, comercial, financei- se relaciona com a existência e a importância
ro e tecnológico – define e esclarece a nature- de instituições financeiras públicas e (ou) pri-
za de sua dependência no contexto do sistema vadas nacionais, vis-à-vis o financiamento ex-
mundial capitalista. terno, bem como aos mecanismos de financia-
4. O lugar e o modo como o Estado se mento através dos mercados de capitais e de tí-
articula com o processo de acumulação. Infor- tulos e (ou) de empréstimos e endividamento.
ma, desde logo, o caráter do Bloco no Poder 7. A estrutura de propriedade e a dis-
e seus interesses, assim como o grau de au- tribuição de renda e da riqueza. Remetem ao
tonomia relativa do Estado frente às distintas lugar e ao grau de importância dos mercados

526
Luiz Filgueiras

interno e externo no processo de acumulação enraizadas do PDC brasileiro – e conjuntural


e crescimento, portanto, na dinâmica macroe- – a dinâmica macroeconômica de curto prazo.
conômica. Nesse âmbito, a existência e o con- Ao se fragmentar ou separar economia
teúdo das políticas sociais são cruciais e co- e política e não se distinguir estrutura de con-
locam o Estado, mais uma vez, numa posição juntura, perde-se a visão de conjunto e difi-
decisiva. Esse atributo explicita o grau de de- culta-se o entendimento de como os interesses
sigualdade e pobreza existente na sociedade. materiais, sociais e políticos – das classes e
No capitalismo dependente, a concentração da frações de classe – se cruzam e se determinam
propriedade fundiária, rural e urbana, impli- mutuamente, dando um sentido e uma tendên-
cou o desenvolvimento de grandes centros ur- cia de longo prazo, em torno da qual ocorrem
banos densamente povoados, fortemente seg- flutuações e inflexões (econômicas e políti-
mentados do ponto de vista social e espacial, cas), mas que não têm capacidade de alterar
e com ampla presença de atividades informais esse padrão.
(autônomas) precárias. A superação do primeiro problema é
8. As formas de organização e represen- dada pelo caráter transdisciplinar do próprio
tação política das distintas classes e frações conceito de PDC, expresso na noção de bloco
de classes. Trata-se da presença e da força de político no poder que, ao se situar na conflu-
movimentos sociais, sindicatos e partidos po- ência entre economia e política e sintetizar os
líticos e, em especial, a atuação e o grau de au- demais atributos econômico-sociais do PDC,
tonomia relativa do Estado frente às distintas consolida todas as dimensões da formação
classes e frações de classe. econômico-social. A solução do segundo pro-
Todos esses atributos que, conjunta- blema exige a distinção clara entre o PDC exis-
mente, configuram um PDC remetem a uma tente e o RPM a ele subsumido, evidenciando
questão central para a análise de sua estrutura como ambos se articulam na explicação da re-
e dinâmica, qual seja: a relação entre as dimen- lação entre as tendências de longo prazo e as
sões nacional e internacional do processo de flutuações e inflexões (econômicas e políticas)
desenvolvimento, isto é, a importância relativa conjunturais, com as respectivas políticas eco-
das circunstâncias internas e externas e a for- nômico-sociais momentaneamente adotadas.
ma como elas se articulam e se relacionam na A partir daí se pode enquadrar de forma
conformação desse padrão. precisa, e entender melhor, as continuidades

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e descontinuidades entre os governos que se
sucederam no país a partir do início dos anos
O CASO BRASILEIRO3 1990, assim como os desempenhos distintos
apresentados pela economia em cada um de-
O conceito de Padrão de Desenvolvi- les – com a manutenção da mesma forma de
mento Capitalista (Filgueiras, 2013) procura dependência, consubstanciada num mesmo
superar dois problemas que estão presentes no PDC, que denomino de Padrão Liberal Periféri-
debate sobre a natureza e a dinâmica do ca- co (PLP), mas com sucessivos e distintos RPM.
pitalismo dependente brasileiro, tal como ele No plano mundial, o casamento políti-
se configurou a partir dos anos 1990: de um co-prático entre o neoliberalismo e o capital
lado, a separação (ou frágil articulação) entre financeiro (uma espécie de afinidade eletiva),
economia e política, e, de outro, a não distin- possibilitado pela crise do capitalismo e do Es-
ção e hierarquização entre as dimensões estru- tado de Bem-Estar nos anos 1970, deu origem
tural – as características mais permanentes e a um programa político-econômico que pode
ser resumido pelas seguintes características:
3
Essa seção reproduz, atualizando, análises desenvolvidas
por Filgueiras (2013, 2017). privatizações, desregulação e liberalização. No

527
PADRÃO DE REPRODUÇÃO DO CAPITAL E CAPITALISMO ...

entanto, esse programa e suas políticas concre- gueiras, 2013):


tas foram postos em prática de acordo com as - A relação entre capital e trabalho teve sua as-
especificidades das distintas formações econô- simetria aumentada a favor do primeiro, em
mico-sociais – singularizadas, sobretudo, pela razão da reestruturação produtiva e da aber-
sua condição de centro ou periferia, mas não tura comercial, que implicaram o crescimen-
apenas, pois tanto o centro quanto a periferia to do desemprego estrutural, do trabalho in-
também não são homogêneos. Portanto, existe formal, da terceirização e da precarização do
mais de um PDC associado ao neoliberalismo. trabalho em todas as suas dimensões. Como
O PLP é a forma concreta específica as- consequência, a capacidade de organização,
sumida pela mundialização do capital e o ne- mobilização e negociação dos sindicatos se
oliberalismo no Brasil a partir dos anos 1990, reduziu dramaticamente.
configurado a partir de rupturas fundamentais - As relações intercapitalistas, em razão da
com relação à estrutura econômico-social an- abertura comercial-financeira e das priva-
terior, própria do Padrão de Substituição de tizações, foram redefinidas, alterando-se a
Importações vigente até então no país, e como posição e a importância relativa das distin-
resultado das disputas entre distintas frações tas frações do capital no processo de acu-
de classes de sua burguesia, e entre estas e as mulação e na dinâmica macroeconômica: o
classes trabalhadoras. No seu início, com o Go- capital financeiro (nacional e internacional)
verno Collor, cristalizou-se o que já era uma re- passou a ocupar posição dominante, deslo-
alidade no plano mundial, qual seja: uma nova cando a antiga hegemonia do capital indus-
hegemonia, desta feita comandada pelo capital trial; o capital estatal perdeu relevância em
financeiro, que subordinou a lógica produtiva favor do capital estrangeiro; e fortaleceram-
a sua própria lógica volátil e de curto prazo. Na -se grandes grupos econômicos nacionais
sequência, esse padrão se aprofundou durante produtores e exportadores de commodities e
os Governos de FHC e se legitimou. Momenta- o agronegócio.
neamente, durante os Governos Lula e Dilma. - A inserção internacional do país na nova di-
Isso significa dizer que, do ponto de vis- visão internacional do trabalho se alterou
ta do PLP, o caráter dos governos Collor, FHC para pior, aumentando sua vulnerabilidade
e Temer, de um lado, e dos Governos Lula e externa estrutural. De um lado, a pauta de
Dilma de outro, se assemelham – seja promo- exportação do país se reprimarizou e se apro-
Caderno CRH, Salvador, v. 31, n. 84, p. 519-534, Set./Dez. 2018

vendo-o ativamente (comportamento dos pri- fundou o processo de desindustrialização


meiros), seja aceitando-o como irreversível, iniciado ainda na década de 1980. De outro,
o limite do possível, e a ele se adaptando (no cresceu dramaticamente sua dependência
caso dos segundos). Contudo, quando se con- financeira, com o Estado se fragilizando e
sideram os distintos RPM por eles adotados, reduzindo fortemente sua capacidade de fa-
esses governos se diferenciam na condução zer política macroeconômica. Tudo isso de-
e administração, em cada conjuntura, desse correu da abertura comercial-financeira que
padrão de desenvolvimento (Filgueiras, 2006; também alimentou a desindustrialização do
Filgueiras; Gonçalves, 2007). país e o crescimento da dívida pública – esta,
como em outros países periféricos, transfor-
mou-se em plataforma de acumulação para o
O Padrão Liberal Periférico (PLP) capital financeiro internacional.
- O papel e a importância do Estado, no proces-
As características fundamentais desse so de acumulação e na dinâmica macroeco-
padrão, que o diferenciam do padrão de subs- nômica, se alteraram – em virtude do proces-
tituição de importações, são as seguintes (Fil- so de privatização e da abertura financeira.

528
Luiz Filgueiras

O Estado se fragilizou financeiramente e per- - As novas formas de organização e representa-


deu capacidade de financiar e regular a eco- ção política das distintas classes e frações de
nomia e de operacionalizar políticas macro- classes, com a ampliação da esfera da socie-
econômicas – apesar de seu resgate parcial e dade civil, evidenciaram: 1) a incapacidade
momentâneo nos governos Lula e Dilma. hegemônica da burguesia, o que levou à cen-
- O modo de financiamento da acumulação se tralização e ao deslocamento do poder polí-
modificou radicalmente: investimentos es- tico real para fora das instituições políticas
trangeiros diretos e empréstimos internacio- formais; 2) a importância da grande mídia
nais foram substituídos por investimentos corporativa na manipulação da esfera pú-
estrangeiros nos mercados financeiros (Bol- blica, como partido principal do capital em
sa de Valores e Título da Dívida pública); e geral e do capital financeiro em particular
o financiamento estatal reduziu-se drasti- (Souza, 2017); 3) mais recentemente, a “ju-
camente – o que resultou em forte queda da dicialização” da política e a deterioração da
taxa investimento em relação ao PIB. democracia formal, com a constituição, ain-
- A estrutura de propriedade e a distribuição da em processo, de um Estado de exceção.
de renda (entre capital e trabalho) e da ri- - Por fim, em razão de todas essas mudanças
queza não se alteraram, apesar da redução e, ao mesmo tempo, alimentando-as, consti-
momentânea da pobreza absoluta e de uma tuiu-se um novo bloco no poder, sob a he-
pequena melhora na distribuição da renda gemonia absoluta, num primeiro momento,
do trabalho durante os Governos Lula e Dil- do capital financeiro e da burguesia cosmo-
ma. No total dos rendimentos das diversas polita,4 que passou a ditar as políticas fun-
frações do capital (lucros, juros e aluguéis), damentais do Estado. Posteriormente, como
o capital financeiro aumentou sua participa- condição de sobrevivência do próprio PLP,
ção na apropriação da mais-valia. cresceu a importância do agronegócio e da
- O processo de criação e incorporação do pro- indústria produtora de commodities, com o
gresso técnico: com o PLP, a capacidade do protagonismo da burguesia interna.5
país nessa área, que já não era grande, redu- Em suma, o padrão é liberal porque foi
ziu-se drasticamente. A redução do financia- constituído a partir da abertura comercial e
mento público, as privatizações de empre- financeira, das privatizações e da desregula-
sas estatais e as incorporações (e fusões) de ção da economia, com a clara hegemonia do

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empresas nacionais pelo capital estrangeiro capital financeiro – frente às demais frações do
– associadas ao novo Regime de Proprieda-
de Intelectual imposto pelos EUA no plano 4
Os interesses da burguesia cosmopolita, assim como o
seu modo de se reproduzir enquanto classe social, estão,
internacional, através da OMC – afastaram desde sempre, fortemente associados e imbricados com os
mais ainda o país da fronteira tecnológica e capitais estrangeiros, o capital financeiro e o imperialis-
mo; com sua hegemonia político-ideológica se expressan-
implicaram novas formas de transferência de do, de forma inequívoca, no parlamento, no judiciário e
nos grandes meios de comunicação.
renda para os países imperialistas. Mais re- 5
A grande burguesia interna, conceito cunhado por Nico-
centemente, após o golpe que levou Temer à las Poulantzas (1974, 1977), não é sinônimo de burguesia
nacional; diferentemente desta última, que já não existe
Presidência, a desestruturação da engenharia no Brasil há décadas, não possui contradições incontor-
pesada nacional, a abertura das áreas do pré- náveis com os capitais estrangeiros e o imperialismo, não
é nacionalista; mas possui um espaço próprio de reprodu-
-sal ao capital estrangeiro, com a modificação ção do capital que não passa necessariamente pela alian-
ça com estes últimos - portanto, diferencia-se também da
do regime de exploração, e o desmonte da ca- burguesia cosmopolita associada, política e objetivamente,
ao imperialismo. Essa fração da burguesia brasileira está
deia produtiva do petróleo, com a extinção da presente, e pode ser identificada, em vários ramos da in-
política de conteúdo nacional, fragilizaram dústria de transformação (têxtil, alimentos, bebidas, bens
de capital, entre outros), na cadeia produtiva do petróleo,
ainda mais a capacidade de o país gerar e in- na construção civil pesada, na produção de commodities
agrícolas e minerais, em segmentos do grande comércio
corporar conhecimento e progresso técnico. varejista e do agronegócio.

529
PADRÃO DE REPRODUÇÃO DO CAPITAL E CAPITALISMO ...

capital. E é periférico porque o neoliberalismo distintas frações do capital (2º governo Lula
assume características específicas nos países e governo Dilma).
capitalistas dependentes, as quais o tornam 5. O momento atual (governo Temer), de re-
mais regressivo ainda quando comparado à composição da hegemonia absoluta do ca-
sua agenda e à forma como é operacionalizado pital financeiro e da burguesia cosmopolita,
nos países capitalistas centrais. com uma nova onda de reformas neoliberais
Do ponto de vista da dinâmica macroe- e a volta do tripé macroeconômico em sua
conômica, a característica fundamental desse versão rígida.
padrão de desenvolvimento capitalista, que Ao longo dessas cinco fases, o PLP so-
aprofundou estruturalmente a dependência freu três inflexões que, além de reconfigurarem
tecnológica e financeira do país, se expressa parcialmente o bloco no poder, provocaram
em sua extrema instabilidade e sua grande vul- alterações parciais e circunstanciais em sua
nerabilidade externa estrutural – que acompa- dinâmica, em virtude da adoção de distintos
nham, de perto, as alterações cíclicas da eco- RPM,6 diretamente relacionados às mudanças
nomia internacional. Esse padrão de desen- na conjuntura econômica internacional, quais
volvimento, com as características estruturais sejam: a âncora cambial do Plano Real no pri-
aqui mencionadas, iguala todos os governos meiro governo FHC; o tripé macroeconômico
brasileiros que se sucederam a partir de 1990. (metas de inflação, superávit fiscal primário e
No entanto, sua constituição passou por câmbio flutuante) rígido no segundo Governo
cinco momentos distintos, desde o começo da FHC e em parte do primeiro governo Lula; esse
década de 1990. mesmo tripé, flexibilizado no segundo governo
1. Uma fase inicial de transição, bastante tur- Lula e no primeiro governo Dilma; e, recente-
bulenta, de ruptura com o MSI e implanta- mente, a partir do segundo governo Dilma, e
ção das primeiras ações concretas de nature- mais ainda do Governo Temer, retornou-se à
za neoliberal, com o começo da hegemonia aplicação rígida desse tripé.
do capital financeiro (Governo Collor).
2. Uma fase de ampliação e consolidação da
nova ordem econômico-social neoliberal, O PLP E SEUS RPM
com a implementação do Plano Real e das
reformas neoliberais, na qual se amplia e se Esses distintos regimes, dependentes de-
Caderno CRH, Salvador, v. 31, n. 84, p. 519-534, Set./Dez. 2018

consolida a hegemonia absoluta do capital cisivamente da conjuntura internacional e que


financeiro no interior do bloco no poder (1o refletem prioridades e vantagens diferentes para
Governo FHC). as diversas frações do capital, sempre implicam
3. Uma fase iniciada com o fim da âncora cam- alguma acomodação do bloco no poder. Portan-
bial e a adoção do tripé macroeconômico, na to, são esses RPM que diferenciam os governos
qual se fortalece o capital produtor-exporta- de FHC e Temer, de um lado, e os governos de
dor de commodities – que amplia seu espaço Lula e Dilma, de outro – apesar de todos se asse-
no bloco no poder por ser vital para reduzir melharem do ponto de vista do predomínio do
a instabilidade do modelo (2o Governo FHC Padrão de Desenvolvimento Capitalista Liberal
e 1º Governo Lula). Periférico, seja através de sua promoção ativa
4. Uma fase na qual se amplia a presença da (comportamento dos primeiros), seja de forma
burguesia interna no interior do bloco no po- adaptativa passiva (os segundos).
der, em articulação com o Estado, com esse
último voltando a ter um papel ativo e mais
6
Um Regime de Política Macroeconômica se define pelos
seus objetivos, metas operacionais e instrumentos utiliza-
direto no processo econômico e na arbitra- dos; de acordo com o tipo de regime de crescimento a ser
perseguido e consolidado: “puxado” pelo salário, pelo in-
gem (autonomia relativa) dos interesses das vestimento ou pelas exportações.

530
Luiz Filgueiras

Desse modo, a hegemonia do capital fi- A melhora desses e de outros indicado-


nanceiro no Brasil foi incontestável até o início res veio acompanhada de uma inflexão do blo-
do segundo Governo FHC (1999-2002), quan- co no poder, na qual o capital financeiro sofreu
do a política econômica do Plano Real, cen- um deslocamento em sua hegemonia absoluta,
trada na chamada “âncora cambial”, levou à tendo de admitir o crescimento da influência
sobrevalorização do real e a uma crise cambial de outras frações do capital na condução do
arrasadora, que obrigou à mudança dessa polí- Estado: o agronegócio, o capital produtor e ex-
tica. A partir daí o bloco no poder passou por portador de commodities, as grandes emprei-
uma acomodação em sua correlação de forças teiras e os grandes grupos do comércio vare-
internas, com o fortalecimento de frações do jista. Em suma, a chamada burguesia interna
capital exportador – indústria extrativa mine- passou a ser objeto prioritário das políticas
ral e agronegócio –, condição crucial para re- do Estado, em especial através do BNDES, do
dução da vulnerabilidade externa conjuntural Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal
do país. Mais adiante, já na virada do primeiro e da Petrobrás. E tudo isso, com apoio em um
para o segundo Governo Lula, o bloco no po- maior protagonismo do Estado, foi feito sem
der sofreu uma segunda acomodação: cresce- atingir os interesses fundamentais do capital
ram em importância outras frações do capital, financeiro.
como as grandes empreiteiras e as grandes re- Esse momento conjuntural específico do
des de comércio varejista – na esteira da reto- PLP, produto de uma conjuntura internacio-
mada dos investimentos do Estado e de uma nal favorável e caracterizado por um regime
política econômica de estímulo ao consumo. de política macroeconômica que flexibilizou
Por fim, a partir do governo Temer, o capital o “tripé”, reacomodou as distintas frações do
financeiro e a burguesia cosmopolita recupe- capital no interior do bloco no poder e permi-
ram a hegemonia absoluta no interior do bloco tiu incorporar, via mercado e de forma passi-
no poder. va, determinadas demandas populares. Essa
Durante todo esse período, a hegemo- circunstância conjuntural – que trouxe para o
nia do capital financeiro nunca foi questiona- primeiro plano a constituição de uma aliança
da, muito menos superada – apesar de ele ter informal entre os interesses da burguesia inter-
sido obrigado a partilhar o poder com outras na e de segmentos da classe trabalhadora, pro-
frações do capital, o que se expressou durante piciando a incorporação de algumas de suas

Caderno CRH, Salvador, v. 31, n. 84, p. 519-534, Set./Dez. 2018


o segundo Governo Lula na flexibilização do demandas – foi interpretada, no calor da luta
tripé de política macroeconômica. política, como um novo padrão de desenvol-
O boom econômico internacional nos vimento, denominado de neodesenvolvimen-
anos 2000, só interrompido pela crise mundial tismo (desenvolvimento com distribuição de
deflagrada em 2008, permitiu, em razão da re- renda e inclusão social) – que teria superado
dução da vulnerabilidade externa conjuntural o Padrão Liberal Periférico característico dos
do país, a flexibilização (relaxamento) do tripé Governos Collor e FHC (Barbosa; Souza, 2010).
macroeconômico. Essa flexibilização, associada No entanto, a crise mundial do capita-
a outras políticas – Bolsa Família, aumento real lismo deflagrada em 2008, com a consequente
do salário mínimo e um programa de habitação piora da conjuntura internacional, bem como
popular –, teve como consequência a elevação o impeachment de Dilma e a retomada das
das taxas de crescimento do país e a redução das contrarreformas neoliberais a partir daí des-
taxas de desemprego, assim como a diminuição mentiram categoricamente essa ilusão. A crise
da pobreza absoluta e uma pequena redução da incialmente dificultou e, depois, acabou por
concentração de renda no interior dos rendimen- inviabilizar a continuação da flexibilização do
tos do trabalho (Druck; Filgueiras, 2007). tripé macroeconômico e a compatibilização

531
PADRÃO DE REPRODUÇÃO DO CAPITAL E CAPITALISMO ...

dos interesses divergentes das distintas frações política macroeconômica, adotados desde o
do capital e dos distintos setores populares. início dos anos 1990, e de algumas inflexões
Na esteira da persistência da crise in- ocorridas no bloco no poder, não se alteraram
ternacional, o capital financeiro voltou a ter as características essenciais do PLP – forma
protagonismo mais ativo e exigiu o retorno concreta de expressão da doutrina e do progra-
da aplicação rígida do tripé macroeconômico ma neoliberal no Brasil.
como política econômica permanente de Esta- Do ponto de vista estrutural, o PLP atua-
do. Abriu-se, então, uma disputa entre a bur- lizou, e até piorou, algumas das características
guesia cosmopolita e a burguesia interna pelo mais marcantes da formação econômico-social
comando do Estado e de suas políticas, que brasileira: a dependência externa tecnológica e
veio a culminar com a derrota da segunda, im- financeira, com grande transferência de renda
pulsionada pelo golpe de Estado operaciona- para fora do país; a inserção passiva e subal-
lizado através do impeachment da Presidente terna na divisão internacional do trabalho; a
e o retorno, já no Governo Temer, da agenda enorme concentração de renda e desigualdade
neoliberal em sua face mais radical. social; o rebaixamento permanente do estatuto
do trabalhador; e a apropriação do público (e
do Estado) pelo privado (grande capital).
CONSIDERAÇÕES FINAIS A trajetória do PLP forjou um consen-
so básico entre as distintas frações do capital,
O argumento fundamental apresenta- apesar das diferentes posições que ocupam no
do neste texto é o de que o conceito de PRC, processo de acumulação capitalista (Filguei-
próprio da TMD, é insuficiente para dar con- ras, 2017): 1- a abertura comercial e financeira
ta das especificidades das distintas formações da economia, com a sua consequente interna-
econômico-sociais capitalistas, em especial os cionalização, é condição obrigatória de inser-
capitalismos dependentes dos países latino-a- ção do país na nova ordem dominada pelo ca-
mericanos. Daí a necessidade de uma análise pital financeiro; 2) a dominância desse capital
com menor nível de abstração. e o processo de financeirização da economia
No que tange ao Brasil, acredita-se que o não podem ser questionados; a adaptação à
padrão exportador de especialização produtiva nova ordem capitalista é o único caminho pos-
não expressa o modo de reprodução do capital sível; 3) a continuação do processo de privati-
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existente em sua formação econômico-social, zação – com a consequente redução do Estado


apesar de algumas características semelhantes. no âmbito produtivo – deve continuar, tanto
Em primeiro lugar, porque não se trata de uma por meio dos novos investimentos na área de
economia fundamentalmente exportadora, infraestrutura do país, quanto da venda das
tampouco uma economia especializada, com empresas públicas ainda existentes; 4) a des-
uma estrutura produtiva pouco diversificada, regulamentação do mercado de trabalho deve
embora tenha crescido a participação de com- ser aprofundada, na linha da “prevalência do
modities em suas exportações, nas últimas dé- negociado sobre o legislado”; 5) as reformas
cadas. E, em segundo, porque sua dinâmica, neoliberais, e a redução de direitos sociais, são
embora fortemente subordinada à reprodução pré-condições para a redução do “custo Brasil”
do capital imperialista e sua projeção interna- e o desenvolvimento do capitalismo brasileiro.
cional, ainda é fortemente influenciada pelo Desse modo, não há qualquer possibi-
mercado interno, espaço principal de realiza- lidade de construção política de um projeto
ção das mercadorias produzidas. nacional de caráter capitalista vir a ser con-
Com relação ao PDC brasileiro, eviden- cebido e dirigido por qualquer fração da bur-
ciou-se que, apesar dos distintos regimes de guesia brasileira, em virtude de sua absoluta

532
Luiz Filgueiras

incapacidade de expressar e incorporar, econô- LÖWY, M. A teoria do desenvolvimento desigual e


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PADRÃO DE REPRODUÇÃO DO CAPITAL E CAPITALISMO ...

CAPITAL AND CAPITALISM REPRODUCTION CAPITAL ET NORME DE REPRODUCTION DU


STANDARD DEPENDENT IN CURRENT BRAZIL CAPITALISME DEPENDANT DU BRESIL ACTUEL

Luiz Filgueiras Luiz Filgueiras

The Marxist Theory of Dependency (MTD), with La Théorie Marxiste de la Dépendance (TMD), dans
the aim of understanding the ways in which le but de comprendre la façon dont le capital est
capital is reproduced in different economic and reproduit dans différentes formations économiques
social formations in different historical periods of et sociales dans différentes périodes historiques du
capitalist development, constructed the concept of développement capitaliste, a construit le concept
Capital Reproduction Pattern (CRP), supported in de Modèle de Reproduction du Capital (MRC),
the known general form of the cycle of industrial soutenu dans la forme générale connue du cycle du
capital, which is also the form of the money- capital industriel, qui est aussi la forme du cycle du
capital cycle - as formulated by Marx. This text capital-argent - tel que formulé par Marx. Ce texte
discusses the scope and limit of this concept for discute la portée et la limite de ce concept pour la
the understanding of contemporary Brazilian socio- compréhension de la formation socio-économique
economic formation. It is pointed out that, although brésilienne contemporaine. Il est souligné que,
it contributes to the understanding of concrete bien qu’il contribue à la compréhension de
socio-economic formations, its level of abstraction formations socio-économiques concrètes, son
does not allow to perceive important differences niveau d’abstraction ne permet pas de percevoir
existing between them - especially the Latin les différences importantes existant entre eux - en
American ones. As a consequence, it is proposed, particulier les latino-américains. En conséquence
in a complementary way and in a lower level of il est proposé, d’une manière complémentaire et
abstraction, the concept of a Capitalist Development dans un niveau d’abstraction inférieur, le concept
Pattern (CDP), duly redefined, and which refers de Modèle de Développement Capitaliste (MDC),
only to a unique socio-economic formation (unique dûment redéfini, qui se réfère uniquement à une
in its history). formation économique et sociale singulière (unique
pour son histoire).

Keywords: Marxist Theory of Dependence. Dependent Mots-clés: Théorie Marxiste de la Dépendance.


Capitalism. Capital Reproduction Pattern. Capitalist Capitalisme Dépendant. Modèle de Reproduction
Development Pattern. Brazilian Economy. de Capital. Modèle de Développement Capitaliste.
Économie brésilienne.
Caderno CRH, Salvador, v. 31, n. 84, p. 519-534, Set./Dez. 2018

Luiz Filgueiras – Doutor em Teoria Econômica. Pós-Doutorado em Economia pela Universidade Paris
13. Professor Titular da Universidade Federal da Bahia. Atua na área de Economia Política e Economia
Brasileira Contemporânea, com ênfase principalmente nos seguintes temas: padrões de acumulação e
de desenvolvimento, inserção internacional, política econômica, planos de estabilização, crise e padrões
de desenvolvimento, políticas sociais e mercado de trabalho, reestruturação produtiva e emprego.
Publicações recentes: Economia política versus economia positiva: proposta de um antimanual de
introdução à economia. Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política, v. 50, p. 142-164, 2018;
Ajuste fiscal e as universidades públicas brasileiras: a nova investida do banco mundial. Caderno do
CEAS, v. 242, p. 603-634, 2017; Economia, política e o bloco no poder no Brasil. Bahia Análise & Dados,
v. 27, p. 147-177, 2017; História do Plano Real. Ed. Boitempo, 2000, 2016.

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