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BARBÁRIE?
INTRODUÇÃO.
Ao assumir esses princípios evidencia-se que a Arteiii teve e terá papel fundamental na
“sobrevivência cultural humana”. Foi por meio das práticas artísticas que o ser humano
desenvolveu sua mente, sua cultura, bem com a ciência e a tecnologia, agrupando-asem
atividades que funcionam como elementos agregadores dos seres humanos, ao
alinhar/aproximar comportamentos em processos de interação/integração social.A realização
de atividades artísticas mobiliza e integra áreas do cérebro em aprendizagem e domínios da
vida cotidiana, no estudo e no trabalho. Com esse olhar sobre a dimensão da arte ( como os
filmes), podemos pensá-la no âmbito da na escola, tendo em vista não somente afirmar seus
valores estéticos, mas refletir sobre os inúmeros contextos sociais, onde estão presentes as
contradições de todas as ordens. Por outro lado, pela e através da arte é possível questionar os
valores estéticos das culturas hegemônicas e elitistas, impostos às minorias sociais, ou mesmo
a alguns grupos majoritário, porém sem ter hegemonia político-econômica na sociedade.
Portanto, visando romper com o “monoculturalismo” é fundamental possibilitar e
proporcionar aos alunos a experiências de leituras e, por meio delas, firmar a importância do
trabalho com filmes, dado que são capazes de abordarem as diversas formas de linguagens e
estéticas sociais, de modo a compreendê-las e respeitá-las, reconstruindo-as conforme sejam
trabalhados pelos professores, como o fez a protagonista principal do filme Escritores da
Liberdade, a professora que propôs aos alunos a escrita de um diário sobre suas vidas, ou seja,
desuas visões de mundo.
Sobre o papel dos diários na adolescência, Lima e Santiago afirmam:
A adolescência é o momento paradigmático da escrita de um diário. As
meninas, no despertar da puberdade, costumam ser presenteadas com diários
fechados com cadeados, para a escrita de suas experiências pessoais e
pensamentos íntimos. A escrita do diário, como uma prática privada e
confessional, é mantida, por vezes, durante todo o período da
adolescência.(2012, p. 2)
No decorrer do tempo, os alunos vão se engajando na elaboração de seus diários,
comentando sobre sua vida, suas perspectivas e correlacionando com os livros propostos pela
professora. Desenvolvem um espírito crítico, pois tiveram condições de melhor reconhecer,
sentir, pensar e refletir sobre seus próprios ideais de vida e de sociedade. Assumem outra
atitude: de responsabilidade para com o outro. Desta forma, uma motivação para o futuro
melhor, a necessidade de expressão seus sentimentos e o reconhecimento de que sua
identidade é forjada por eles mesmos, enquanto sujeitosque “produzem”suaspróprias
histórias. A professora, ao despertar nos alunos a possibilidade da “educação
transformadora”, trouxe à tona o “espírito” do cidadão crítico, conhecedor de seus direitos e
deveres, mas além disso, a necessidade de conviverem na diversidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Num mundo cada vez mais globalizado, onde o aqui e agora ocupam todas as atenções
e a informação se tornou mais atraente que o próprio conhecimento, onde visões imediatistas
naturalizam o social, onde o passado é desconsiderado enquanto experiência para o presente,
ou seja, a memória história passa a ser mais um “artefato” dos arquivos e dos museus. Por
isso, é imperativo pensar o fenômeno educacional, bem como conhecê-lo em suas múltiplas
dimensões, com todos os problemas inerentes ou produzidos no âmbito da educacional. Neste
sentido, ganha relevo nas últimas décadas as discussões sobre a formação continuada dos
profissionais que lidam com ensino, pois não basta somente formar professores capazes de
operacionalizar os mais modernos recursos e técnicas, didáticos e pedagógicos. Estes são sim
relevantes ao ensino, porém desde que sejam “ferramentas” com as quais possam “evocar” a
capacidade reflexiva dos alunos, como bem pôde ser evidenciado no filme Escritores da
Liberdade, no momento em que a memória dos alunos foi “despertada” pela leitura do livro O
diário de Anne Frank, fez emergir a brutalidade da barbárie do holocausto de Auschwitz, em
outras palavras, por meio do cinema (que se constitui numa arte) é possível ensinar a história
da educação melhor articulada com as questões centrais que norteiam as dimensões e
discussões que envolvem memória histórica.
É nestaperspectivaque os propositores das políticas públicas deveriam projetar os
novos conteúdos (supostamente de interesse dos alunos) nos programas curriculares. No
entanto, a questão se mantém: considerar que os sujeitos envolvidos, no caso os professores,
detém saberes especializados, e também os produzem e reproduzem ao adequá-los ao grau de
compreensão dos alunos. Esquecem que as situações de ensino e aprendizagem se renovam
continuamente, que o simples domínio de técnicas e conteúdos a serem ensinados e se tornam
insuficientes para os alunos, bem com a própria formação continuada dos professores.
É necessário então articular as políticas de formação continuada com as reais carências
e anseios da sociedade, uma vez que apenas assim serão capazes de estabelecer um
conhecimento pedagógico, cujo objetivo principal seja proporcionar uma formação autônoma
e sem as interferências dos organismos internacionais. É com este perspectiva que pensamos o
presente artigo, no qual sinalizaremos para os impactos da globalização no campo
educacional, num primeiro momento e, posteriormente discutiremos sobre as ações
governamentais para a formação continuada de professores no Brasil do século XXI. Portanto,
no cinema e na literatura encontramos fios compostos de experiências vividas, sentimentos,
reflexões, concepções eolhares, alinhavados pelo “tear da história”, em seu movimento do
rolo urdidor, do pente e da cala, por onde se deslocam os fios da trama das memórias e com
os quais a História da Educação pode recuperar enquanto “artefatos” do passado educacional
e elementos formadores do presente.
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i
O filme "Escritores da Liberdade" de 2007, com direção e roteiro de Richard LaGravenese, aborda, de uma
forma comovente e instigante, o desafio da professora Erin (Hilary Swank) em ensinar Língua Inglesa e
Literatura para um grupo de adolescentes oriundos de um contexto social, problemático e violento de meados de
1990. Ao mesmo tempo, a trama retrata o desprendimento desta professora para superar suas próprias
dificuldades, bem como promover a integração dos alunos com o contexto norte americano marcado pela
indiferença e preconceitos quanto às minorias sociais.
ii
O artigo 277 da Constituição Federal, promulgada em 1988, define como prioridade absoluta o atendimento à
criança e ao adolescente: “É dever da família, da sociedade, o direito à vida, à saúde, a alimentação, à educação,
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.”
iii
Quando se trata da área curricular, grafa-se Arte; nos demais casos, arte.