A LUZ DA
BIBLIA SAGRADA
OBRA SEM FINS LUCRATIVOS
O ESPIRITISMO
À Luz DA
BIBLIA SAGRADA
O ESPIRITISMO Á LUZ DA BÍBLIA SAGRADA
COPYRIGHT © 2000 BY MELCÍADES JOSÉ DE BRITO
Direção Editorial
José Carlos de Carvalho
Coordenação Editorial
José Renato de Carvalho
Capa
Depto. de Arte DPL
Revisão Geral
José de Sousa e Almeida
Editoração Eletrônica
Depto. editorial DPL
I S B N : 85-7501-015-8
ANO DE EDIÇÃO: 2000
DEDICATÓRIA
PREFÁCIO
EXPLICAÇÕES INICIAIS
O Autor
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES 19
I. A PALAVRA DE DEUS 21
I I . CONSULTAR os MORTOS 35
I I I . ANTIGOS RITUAIS 56
V. A PESSOA DE CRISTO 94
X. O INFERNO 187
X I . EPÍLOGO 200
15
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus, mas sim o do Anticristo,
que agora já está no mundo" (João lª. carta).
8. "Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos
para levar-nos a Deus" (Pedro)
9. "O sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo o pecado"
(João)
10. "Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores." (Paulo)
1 l."Os ímpios serão lançados no inferno"
12. "sem derramamento de sangue não há remissão de pecados"
13."pela graça sois salvos por meio da fé, e isto não vem de vós,
nem das obras, mas é dom de Deus"...
I4."pelas obras ninguém será justificado diante de Deus"
15."aquele que crê no Filho de Deus tem a vida eterna, mas
aquele que não crê no Filho de Deus não verá a vida, mas sobre ele
permanece a ira de Deus".
16. "Não temais os que matam o corpo, e depois não têm mais
que fazer; mas eu vos mostrarei a quem deveis temer: temei a Deus —
aquele que depois de matar T E M P O D E R PARA LANÇAR NO
I N F E R N O ; — sim a Esse temei." (Lucas, cap. 12).
21
I. A PALAVRA DE DEUS
Aliás, é bom que se diga, não foi apenas Moisés que fez uso do
nome do Senhor Deus, para alicerçar seus ensinamentos e sua
legislação, mesmo aquela que era de natureza puramente civil. Vários
outros profetas do Antigo Testamento também assim agiram.
Isaías, Jeremias, Ezequiel, por exemplo, ao interpretar e repassar
ensinamentos freqüentemente diziam "Assim diz o S E N H O R . . . " . E
isso fez com que a Bíblia, como um todo (Antigo e Novo Testamento),
passasse a ser rotulada como A PALAVRA DE D E U S .
Só como exemplo, vamos citar alguns desses momentos,
destacando que até para trato de assuntos triviais, o nome do Senhor
foi utilizado:
"Assim diz o Senhor Jeová dos Exércitos: Anda, vai ter com
este tesoureiro, com Sebna, o mordomo e dize-lhe: que é que tens
aqui? Ou a quem tens tu aqui, para que cavasses aqui uma sepultura..."
(Isaías 22:15);
"Assim diz o Senhor Jeová, que ajunta os dispersos de Israel:
Ainda ajuntarei outros aos que já se ajuntaram. Vós todos os animais
do campo, todas as feras dos bosques, vinde comer" (Isaías 56, vers. 8
e 9);
"Diz ainda mais o Senhor: Porquanto as filhas de Sião se
exaltam, e andam de pescoço erguido, e têm olhares impudentes, e,
quando andam, como que vão dançando, e cascavelando com os pés"
(Isaías 3:16);
"Assim diz o Senhor: Que injustiça acharam vossos pais em
mim, para se afastarem de mim, indo após a vaidade e tornando-se
levianos? (Jeremias 2:5);
"Assim diz o Senhor: Do mesmo modo farei apodrecer a soberba
de Judá e a soberba de Jerusalém. Este povo maligno, que se recusa a
ouvir as minhas palavras, que caminha segundo o propósito do seu
coração e anda após deuses alheios, para servi-los e inclinar-se diante
deles, será tal como este cinto, que para nada presta (Jeremias 13,
vers. 9 e 10);
26
"E era sábado quando Jesus fez o lodo e lhe abriu os olhos"
(João 9:14). "Então, alguns dos fariseus diziam: Este homem não é de
Deus, pois não guarda o sábado" (Êxodo 16:29; João 9:16) (Êxodo
35:2; Levítico 16:31).
"Mas se vós soubésseis o que significa: misericórdia quero e
não sacrifício, não condenaríeis os inocentes" (Oséias 6:6; Mateus 12:7)
"E eis que está aqui quem é maior do que Salomão" (Mateus
12:42); no Antigo Testamento Salomão é considerado o maior de
todos os reis da Terra.
"Outrossim, ouviste que foi dito aos antigos: Não perjurarás,
mas cumprirás teus juramentos ao Senhor. E u , porém, vos digo que,
de maneira nenhuma jureis..." (Levítico 19:12; Mateus 5:33)
Entre Moisés e Jesus decorreram 1.400 anos (ou 1.250 anos,
segundo outros estudiosos). Coube ao Cristo revelar ao Homem a
verdadeira imagem e o mais puro conceito de Deus, traduzido numa
só palavra: Pai. Coube ao Cristo revelar-nos a Vida Espiritual, e o
caminho a seguir para alcançá-la. Coube ao Mestre desfazer antigos
conceitos e contradições, sem, contudo, desmerecer o trabalho dos
antigos profetas, que teve, a seu tempo, sua razão de ser.
É lamentável que após 2.000 anos de Evangelho ainda existam
irmãos que abandonem o Cristo com suas lições e exemplos —
inclusive exemplos de contatos com os mortos, conforme veremos -, e
recorram a conceitos e ilações deturpadas do Antigo Testamento, para
combater uma Doutrina que, prometida por Jesus, vem sob sua
direção, promover a reforma moral dos homens. São de Jesus os
seguintes ensinamentos:
"Muita coisa tinha para vos dizer, mas vós não o podeis suportar
ainda" (João 16:12).
"Conhece-se a árvore pelo fruto. Assim toda árvore boa produz
bons frutos, e toda árvore má produz frutos maus" (Mateus 7:16).
"Porque quem não é contra nós é por nós (Marcos 9:40).
"Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará
em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo
quanto vos tenho dito" (João 14:26).
31
Ao dizer que o Consolador viria para "lembrar" tudo o que nos
havia dito, Jesus previa que seus ensinos seriam esquecidos ou
preteridos por outros. Claro, só se lembra alguma coisa quando ela
está esquecida. Infelizmente, é forçoso admitir isto, muitos dos que se
dizem seguidores do Senhor Jesus trocam os conceitos e exemplos do
Mestre pelos do Antigo Testamento. Esquecem, lamentavelmente, de
Jesus.
Atualmente, 2.000 anos após a vinda do Messias — e ainda
desconhecendo todos os atributos divinos, devido à nossa ignorância
espiritual —, já temos condições de entender que Deus, o Criador de
todas as coisas, foi ontem, é hoje, e será amanhã, o Mesmo. Dentre
seus infinitos atributos estão a onisciência, a onipresença, a
imutabilidade, o amor, a perfeição, a justiça, a bondade etc, qualidades
estas transmitidas a tudo que é obra Sua, de natureza física, moral e
espiritual.
Alguns dos atributos divinos nos foram revelados por Jesus:
A onipotência: "Aos homens isso é impossível, mas a Deus tudo
é possível" (Mateus 19:26);
A bondade: "Se vós, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos
vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus" (Mateus 7:11);
"Não há bom senão um só que é Deus" (Mateus 19:17);
A perfeição: "Sede perfeitos, como perfeito é o Pai que está nos
céus" (Mateus 5:48).
Note que o mundo mudou. De Moisés até os nossos dias são
passados 3.400 anos. O homem progrediu extraordinariamente, nas
artes, na ciência, na filosofia, no seu aprendizado rumo à perfeição.
Agora, proponho a você uma reflexão: o conceito que hoje temos
acerca de Deus, será o mesmo da época dos antigos profetas? Terá
havido algum progresso nesse entendimento?
Moisés pregou a imagem de um Deus dos Exércitos, que tinha
adversários e patrocinava a defesa de uns contra os outros, enquanto
Jesus revelou ser Deus um Pai misericordioso, justo e bom. Qual dos
dois conceitos está mais coerente com a grandiosidade e beleza da
Criação? O de Moisés ou o de Jesus?
32
Moisés levou 40 anos para efetuar esta transição? Por várias razões,
nós diremos. E uma delas seria o propósito do líder de fazer com que
a geração antiga fosse substituída pela nova, antes da entrada em Canaã,
de forma que, chegando no local previsto, não introduzissem as práticas
e os costumes antigos, aprendidos no Egito e no contato com outros
povos.
A geração nova não havia presenciado os fenômenos que
antecederam à saída do Egito, nem vivido as dificuldades iniciais da
travessia no deserto. Mostrava-se menos rebelde e menos desobediente.
Havia sido instruída à luz da Revelação mosaica e estava, portanto,
em melhor condição de garantir fidelidade aos preceitos religiosos
instituídos por seu líder.
Embora o Deuteronômio tenha sido escrito já no final da missão
terrena de Moisés, o legislador hebreu revelou grande interesse pela
sua perpetuação. Passou a ser seu livro preferido. Houve tamanha
preocupação do legislador para com a conservação, o conhecimento e
o cumprimento daqueles escritos que ele determinou sua leitura
pública e integral, a cada sete anos:
"E deu-lhes ordem Moisés, dizendo: Ao fim de cada sete anos,
no tempo determinado do ano da remição, na Festa dos Tabernáculos,
quando todo o Israel vier a comparecer perante o SENHOR, teu Deus,
no lugar que ele escolher, lerás esta Lei diante de todo o Israel aos seus
ouvidos" (Deuteronômio 31:10 e 11).
Por força disto, o Deuteronômio passou a ser o livro mosaico
mais difundido, a ponto de ter trechos seus citados inclusive por Jesus.
Veja esse momento:
"E um doutor da lei, interrogou-o para o experimentar, dizendo:
Mestre, qual é o grande mandamento da Lei? E Jesus disse-lhe: Amarás
o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de
todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento"
(Mateus 22:35 a 38).
A resposta dada por Jesus foi em cima do que se contém em
Deuteronômio 6:5, com um detalhe extraordinariamente interessante:
Jesus fez ver ao doutor da lei que era conhecedor da Lei Antiga,
37
Pontos a Recordar:
1. O propósito de Moisés ao traçar a recomendação era evitar o
ressurgimento de práticas que induzissem ao politeísmo e à idolatria;
2. O Espiritismo não tem nada a ver com adivinhação, feitiçaria
ou encantamento. Quem prega essas coisas, atribuindo-as ao
Espiritismo, age por ingenuidade, ignorância ou por absoluta má-fé;
3. No Espiritismo não existe a evocação aos mortos, com fins
de se obter adivinhação, feitiçaria ou encantamento. Pode ser que o
façam outras doutrinas que também praticam a mediunidade, mas
não o Espiritismo;
4. A proibição de consulta aos mortos foi atitude prudente e
correta de Moisés, tendo em vista o grau de inferioridade moral do
povo que conduzia, que se valia do recurso para fins ignóbeis;
5. A mediunidade é um fenômeno que acompanha o homem
desde a antigüidade e o Espiritismo não é responsável pelos eventuais
desvios de seus portadores;
6. O Espiritismo desaconselha o recurso à mediunidade para
uso fora das finalidades evangélicas;
7. Jesus desconsiderou a recomendação do Deuteronômio,
consultando os mortos no Monte Tabor, na presença de três apóstolos,
para nos servir de exemplo. Só isto já bastaria para mostrar a
desqualificação e inoportunidade da ultrapassada recomendação do
Antigo Testamento;
8 . 0 articulista diz que: "...a própria base do espiritismo — o
consultar os mortos — é uma plena desobediência a Deus". Chegou
nossa vez de dizer que: se existe desobediência, não é apenas nossa. É
também de Jesus! Ele consultou os mortos.
56
I I I . ANTIGOS RITUAIS
Diz o articulista:
"Por que a alma da carne está no sangue, pelo que vo-lo tenho
dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o
sangue que fará expiação pela alma" (Levitico cap. 17, vers. 11).
Essa simbologia do sangue perdurou por muitos séculos. O
homem sempre esteve muito fascinado pelo sangue e a história registra
o seu uso em muitos rituais religiosos, de diversos povos. Essa é, por
sinal, uma das razões para que muitos apregoem que o mérito maior
da vida do Cristo foi derramar seu sangue na cruz e que este
derramamento foi para expiação dos nossos pecados. Dão ao ato
sacrificial de Jesus uma importância muito maior da que deveriam
dar aos seus ensinamentos morais.
Na Santa Ceia, Jesus recorreu à simbologia do sangue e,
tomando um cálice, disse para os seus discípulos: "Tomai e bebei,
porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é
derramado por muitos, para remissão dos pecados" (Mateus cap. 26,
vers. 27 e 28). Fez o mesmo com o pão, que partiu e deu ao discípulos
dizendo "isto é o meu corpo". Ainda hoje muitos não alcançam o
sentido figurado deste ato.
Muitas das lições de Jesus nos foram transmitidas por meio de
parábolas e alegorias. O Cristo se valia de imagens materiais para
divulgar seus ensinamentos, por dois motivos. Primeiro, por serem
facilmente impressionáveis, facilitando a sua memorização e
conseqüente divulgação. Segundo porque sabia, de antemão, que com
o passar dos tempos o homem alcançaria maior progresso espiritual e
tudo aquilo que Ele ensinou, de forma figurada, seria entendido em
sua acepção espiritual.
Ao citar o sangue do Novo Testamento, que é derramado para
remição dos pecados, Jesus estava anunciando sua própria crucificação
e profetizando os fatos que se sucederiam após o encerramento de sua
missão terrena, como a perseguição e morte dos primeiros cristãos e
de muitos outros missionários que vieram ao mundo para dar
continuidade à obra redentora de evangelização dos homens.
O sangue derramado, em nome do Evangelho de Jesus, está
patente, ao longo desses vinte séculos, nos atos de perseguição e morte
58
vosso prepúcio; e isto será por sinal do concerto entre mim e vós"
(Gênesis cap. 17, vers. 9 e 10).
Para os crentes, o ritual mosaico está obsoleto e eles não o
observam. Por isto não praticam a circuncisão, as oferendas, os
holocaustos etc. No entanto, na hora de buscar enxertos bíblicos para
censurar o Espiritismo, correm ao Antigo Testamento, como fez o
articulista ao citar Deuteronômio, Levítico e Isaías. Sabe por quê?
Porque nos ensinos de Jesus não encontram respaldo para esse
propósito. O jeito é se valer daquilo que eles mesmos consideram
obsoleto.
O segundo concerto teria sido consumado no Gólgota, no
instante em que Jesus teria expiado nossos pecados através de sua
crucificação. Esse ato teria levado Deus a mudar a ordem das coisas e,
a partir daí, a salvação das almas estaria condicionada "à fé".
O sangue de Jesus Cristo é o ponto principal e o seu
derramamento na cruz teria propiciado o perdão dos pecados de todos
aqueles que viessem a se arrepender e crer. Apegam-se ao que está
escrito em Mateus 26:28 "Porque isto é o meu sangue, o sangue do
Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remição dos
pecados", já por nós comentado acima.
Segundo alguns evangélicos (crentes; protestantes) os mortos
estão "dormindo", aguardando o dia de Juízo, quando todos
recuperaremos os corpos materiais que tivemos e iremos para o tribunal
divino para julgamento.
Segundo outros, no momento da morte o crente seria conduzido
à presença de Cristo, permanecendo em plena consciência e
desfrutando da alegria diante da bondade e do amor de Deus, num
lugar de repouso e segurança chamado céu. Viver no céu inclui a
adoração e o louvor. Com a ressurreição, a alma deixaria o céu e
retornaria ao corpo carnal. Seria até de se perguntar: se a vida no céu
já é tão completa, para que a ressurreição?
Na Lei de Moisés, a remição dos pecados decorria da observância
à Lei e do sacrifício de animais. No concerto com Jesus, referida
remição seria obtida mediante a fé, ou seja, a aceitação de Cristo como
63
foi: "se queres ser perfeito, vai, vende....". O moço não perguntou o
que fazer para ser perfeito. Ele perguntou o que fazer para conseguir a
vida eterna. Percebeu?
A resposta do Mestre deixa claro que para Ele a expressão "vida
eterna", é sinônimo de "perfeição". Daí porque respondeu daquela
maneira. O Cristo poderia ter respondido assim: Se queres a vida
eterna, vai, vende Mas não fez isso. Respondeu dizendo: Se queres
ser perfeito, vai, vende...
Em outras palavras, Jesus estava dizendo que só alcança a vida
eterna aqueles que atingem a perfeição. Logo, pregou a Lei de Evolução
dos Espíritos, cujo estudo somente agora é aprofundado pela Revelação
espírita.
Vamos adiante. Quando Jesus disse ao jovem, "vai, vende o
que tens, dá aos pobres...", ele estava recomendando o desprendimento
dos bens terrenos, através da caridade. O moço, apesar de possuir
muitas virtudes, tinha apego aos bens terrenos, por conseguinte não
era caridoso. Jesus notou esta fraqueza.
Antes, porém, de Jesus anunciar a recomendação final, o moço
fez sua confissão de fé e renovou a pergunta inicial. Disse assim: "tudo
isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda?
Lembremo-nos que estamos diante de um jovem correto,
cumpridor da Lei de Moisés. Atente para a expressão "ainda". Que
me falta ainda?
Na descrição feita por Marcos (cap. 10, vers. 17 a 25), Jesus
teria dito: "falta-te uma coisa: vai, vende o que tens...". Preste atenção
no termo "uma coisa". Jesus não disse que faltavam duas, três, ou
quatro coisas. Disse que faltava apenas uma, e essa uma coisa era
exatamente a caridade. Viu agora a importância que Jesus atribuiu à
caridade?
O sujeito pode ter todas as virtudes, mas se não tiver a caridade
terá que exercitá-la. Se não o fez nesta existência, fará na próxima.
Ainda bem que existe a reencarnação. Já pensou se não existisse? O
que seria dos que desenvolvem a fé e a capacidade de louvar a Deus e
esquecem da caridade? Não teriam a vida eterna, conforme disse Jesus.
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(Mateus 5:48). "Eu neles e tu em mim, para que eles sejam perfeitos
em unidade e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim e
que tens amado a eles como me tens amado a mim" (João 17:23).
A respeito da afirmação de que "É mais fácil passar um camelo
no fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino do Céu",
cabe uma explicação: Jerusalém, como outras cidades existentes na
época do Cristo, eram protegidas por muralhas. Estas muralhas
possuíam portões, para entrada na cidade, e que, ao final do dia, eram
fechados, para proteger seus habitantes. Afora os portões, existiam
outras entradas, bem pequenas, chamadas de "agulhas", destinadas à
entrada de pessoas quando o portão principal já estivesse trancado.
O camelo era um dos animais muito utilizado para o transporte
de pessoas e mercadorias. Seus condutores, ao chegarem fora de hora,
se quisessem entrar na cidade, tinham que passar pelas "agulhas".
Alguns conseguiam, com esforço e habilidade, fazer com que seus
camelos se arrastassem pelo solo e atravessassem por aquelas pequenas
entradas. Outros não, e estes eram a maioria. Pernoitavam do lado de
fora, junto com seus animais e pertences. Esta situação levou a que se
popularizasse, entre aquele povo, o ditado: "É mais fácil um camelo
passar no fundo de uma agulha de que... isto ou aquilo".
Ao fazer aquela comparação, Jesus, estava empregando um
ditado da época, para se tornar compreendido pelo povo. É bom
destacar que Ele não estava, com aquelas palavras, condenando o rico
ao inferno, como muitos pensam. Suas palavras foram: "é mais facil...".
E isto não significa que seja impossível. Apenas, é mais fácil. Por
exemplo: diante de um edifício de 50 andares, posso dizer que é mais
fácil chegar ao último andar pelo elevador do que pela escada. Mas se
eu for pela escada também chego.
Pontos a Recordar:
V. A PESSOA DE CRISTO
Não precisa vestir uma forma humana para isto. Basta olhar o céu
estrelado! Ou a semente que brota. Ou o fruto saboroso. Ou o encanto
de uma linda flor.
O segundo ensino bíblico mencionado no início deste capítulo,
a respeito da P E S S O A DE C R I S T O , foi retirado do Antigo
Testamento. O articulista, em seu trabalho, não citou a fonte e,
novamente, citou apenas um trecho do versículo. Fazer citação bíblica
e não citar a fonte é perdoável, porém, deixá-la pela metade, não faz
parte da boa prática evangélica. Para seu exame, informo que é Isaías
capítulo 53, versículo 5 e está assim redigido:
"Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas
nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e,
pelas suas pisaduras, fomos sarados" (Isaías 53:5).
No início do capítulo IV já tivemos oportunidade de falar a
respeito do livro de Isaías, escrito há 700 anos do nascimento de Cristo.
Isaías foi quem mais profetizou a respeito de Jesus.
O trecho utilizado pelo articulista diz respeito à previsão bíblica
do sofrimento e morte de Jesus na Cruz. Foi uma profecia, feita sete
séculos antes e que se confirmou. O fato em si dá validade ao fenômeno
mediúnico. A visão de Isaías decorreu de seu contato com o Plano
Espiritual. Foram seus superiores espirituais que lhe proporcionaram
a visão, com a finalidade de preparar o povo judeu para a vinda de
Jesus.
É importante observar que Isaías não determinou a data em
que o Messias viria. A Espiritualidade Superior, ao anunciar fatos
premonitórios, raramente estabelece a data em que ocorrerão. E esse
ponto serve até como recurso para diferenciar se uma comunicação é
de boa qualidade ou não, visto que os Espíritos inferiores fixam datas
e se divertem com a confiança que atribuímos às suas leviandades.
Raciocinando em cima do tempo decorrido de Isaías até Jesus,
podemos concluir que muitas gerações se sucederam, sem que a visão
profética se confirmasse. E havia grande expectativa em torno da vinda
desse Salvador. Vem aí o Messias.... e nada! Setecentos anos não são
brincadeira.
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para Deus, que, em certa ocasião, o Mestre apelou para suas obras,
para que n'Ele acreditássemos: Disse Jesus:
"Se não faço as obras de meu Pai não me acreditais. Mas, se as
faço, e não credes em mim, crede nas obras, para que conheçais e
acrediteis que o Pai está em mim, e eu, nEle" (João 10:37 e 38).
Perceba que Jesus chegou a lançar mão desse argumento. Crede
nas obras...! Ou seja, Ele antes de vir sabia que apenas sua "palavra"
não seria bastante. Houve necessidade de se programarem as curas,
para que houvesse um mínimo de atenção ao que Ele fazia e pregava.
Para que as obras ocorressem, o Plano Espiritual escolheu, dentre
a multidão de candidatos, aqueles que melhor se prestavam para
contribuir com o Mestre no cumprimento de sua missão. Foi assim
que muitos aqui nasceram portando enfermidades diversas ou as
adquiriram em certo período da vida, para serem curados pelo Cristo.
Muitos em provação, outros em expiação. Tudo devidamente planejado
e acertado, sem nenhuma possibilidade de erro.
As curas que Jesus realizou traziam, portanto, o carimbo do
"merecimento" dos espíritos beneficiados. Merecimento porque eram
enfermidades decorrentes de provações voluntárias ou fim de reparação
de erros.
O Mestre não curou a todos que O procuraram, mas somente
aqueles que reencarnaram com esse objetivo, e que não foram poucos.
Eis aí a razão pela qual ao realizar grande parte de suas curas, Jesus
declarava "Tua fé te salvou" (Lucas 8:48, por exemplo).
Atendeu-se, assim, à necessidade da época de "ver para crer" e
não houve derrogação das Leis de Deus. Nenhum devedor, não remido
do erro, pôde ser curado, posto que, no próprio dizer de Jesus: "todo
aquele que comete pecado, é escravo do pecado" (João 8:34).
Da narrativa de Lucas, inteiramente transcrita acima, você
percebe uma coisa: ninguém tocou Jesus, apesar dEle ter dito que
"...tocai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como
vedes que eu tenho". O respeito tributado ao Mestre era tão grande,
como Ele de fato merecia, que bastaram suas palavras para que os
discípulos se envergonhassem de estar desacreditando do seu
"ressurgimento".
110
Pontos a Recordar:
Pontos a Recordar
V I I . A MORTE DE CRISTO
consta da Doutrina ensinada por Jesus. Logo, era ponto de vista dele
ou até mesmo um recurso utilizado para convencimento de novos
fiéis. Útil para aquela época, porém, sem sustentação doutrinária.
Alguns exemplos da pregação de Paulo, acerca do sangue de
Cristo:
"Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue,
seremos por ele salvos da ira" (Romanos 5:19);
"Em quem temos a redenção pelo sangue, a remição das ofensas,
segundo as riquezas da sua graça" (Efésios 1:7);
"Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já
pelo sangue de Cristo chegastes perto" (Efésios 2:13).
É preciso ver, primeiramente, quem era Paulo, para podermos
entender o porquê de determinadas posições que Ele adotou. Homem
rigoroso no cumprimento de Leis, extremista em suas convicções,
fortemente determinado a defender as causas que abraçava, trazia ainda
dentro de si o resultado da educação recebida no farisaísmo, e algumas
das idéias ali aprendidas acabaram refletindo-se no Cristianismo
nascente.
Dentre estas idéias estava a da remição do pecado pelo sangue.
A Lei Antiga recomendava o derramamento de sangue de animais
para se alcançar a purificação. Essa idéia estava incutida na mente de
Paulo. Trocar sangue de animais pelo sangue de Jesus foi um recurso
que se lhe pareceu extremamente válido, para fortalecer suas pregações
evangélicas, porque:
• a idéia de salvação pelo sangue estava sacramentada entre
os judeus e era conhecida pelos gentios;
• seria mais fácil as pessoas aceitarem o Evangelho,
associando a salvação cristã também ao sangue. Não mais o sangue de
animais, mas sim o sangue de Jesus;
• Jesus havia feito referência ao sangue, no ato da Santa
Ceia, citando o Sangue do Novo Testamento;
A crucificação do Mestre foi um fato de grande impacto, e ao
citar o seu sangue, estar-se-ia trazendo à lembrança aquele padecimento
suportado com resignação e fé.
137
Pontos a Recordar:
10. Jesus morreu aos 33 anos por uma razão muito sensata:
estava concluída aquela sua missão! Não foi a contragosto seu que os
soldados romanos O prenderam. O estilo de morte, crucificado,
decorreu do fato de ser a cruz, naquela época e local, o meio utilizado
para punir os considerados infratores.
1 1 . 0 sofrimento é transitório. A purificação da alma se efetiva
com sua evolução, e tem no binômio Trabalho e Amor seu verdadeiro
caminho.
12. Os Espíritos não se "salvam", eles progridem. E progridem
por seus próprios esforços e méritos. A salvação à moda protestante
seria uma beatitude imerecida, posto que decorreria dos esforços e
méritos do Cristo.
143
V I I I . O MEIO DA SALVAÇÃO
cap. 17, vers. 20 e 21). Por analogia, podemos afirmar que: o inferno
também está dentro de nós.
Quero lhe mostrar, também, um tremendo contra-senso, com
essa estória de que "os ímpios serão lançados no inferno". Compare
essa citação bíblica evocada pelo articulista com uma outra que ele
mesmo fez: "A nossa salvação depende... da nossa sincera fé em Cristo
como o nosso único Salvador...".
Você tem, na primeira citação, aquilo que seria o motivo da
condenação: o fato de ser ímpio. Foi ímpio, tchau, vai pro inferno!
Na segunda, você tem o motivo da salvação: a sincera fé em Cristo
como o nosso único Salvador. Teve fé, parabéns, seja bem-vindo ao
céu.
Aí eu pergunto: E se o sujeito deixar de ser ímpio? Serve para
alguma coisa? É aí que está o contra-senso. Se a salvação depende da
fé, ser ímpio ou deixar de sê-lo não faz diferença alguma. Deixar de
ser ímpio não implica, necessariamente, aceitar Jesus. Significa
regenerar-se moralmente.
E se o sujeito for ímpio e tiver fé? Como é que fica? É lançado
ao inferno, ou encontra a salvação?
É de se comentar, ainda, que para censurar o Espiritismo o
articulista voltou a usar frases soltas do Antigo Testamento. É notório
o afã com que eles buscam na Lei Antiga um meio de contestar o
Espiritismo. Nisto também há uma diferença entre nós: eles preferem
os antigos profetas, nós preferimos Jesus.
E o Mestre nos disse: "Nem todo que diz Senhor, Senhor, entrará
no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está
nos céus" (Mateus 7:21).
Ao dizer tal coisa, Jesus deixou claro uma diferença entre falar
e fazer. Para isto nós chamamos muito a sua atenção. Falar, pregar,
cantar, louvar ao Senhor, tem sua importância, no entanto, é preciso
fazer. O que define o verdadeiro cristão são os atos que ele pratica. A
propósito da salvação, veja o que dizem Paulo, Lucas e João:
"Deus quer que todos os homens se salvem e venham ao
conhecimento da verdade" (Paulo — 1 Timóteo 2:4).
148
"o cancelamento das dívidas dos pobres a cada sete anos" (Deut.
15:1-6).
Vejam quantos absurdos aparecem lá em cima. Um deles, diz
que um filho desobediente deve ser apedrejado até que morra. Nem
os antigos cumpriram isso. Eles apedrejavam os filhos dos outros. Mas
os seus próprios... duvido muito.
Por aí você vê a qualidade dos ensinos que faziam parte do
Antigo Testamento. Jesus reformulou tudo isso. Quem quiser ficar
com os profetas antigos, que fique. Agora, por um questão de honra,
deviam ser fiéis a eles. No nosso entendimento, tem tanta coisa boa
para se ler, que não devemos perder tempo lendo coisas já ultrapassadas.
A Doutrina dos Espíritos é o Consolador prometido. Com ela,
desaparece a figura do Inferno Eterno. A Lei da Reencarnação
possibilita a todos os Espíritos o resgate das dívidas e a caminhada
para a perfeição. Com isto, não sobra ninguém para o inferno, como
desejam os evangélicos. Em compensação, se cumpre a vontade de
Deus, que quer que todos os homens se salvem!
A esse respeito, lembremos Jesus: "Ainda tenho muitas coisas
para vos dizer, mas vós não podeis suportar ainda" (João 16:12). Atente
para a expressão muitas coisas. Não é uma coisa, ou duas, ou três. São
muitas. Muitas coisas! Logo, a revelação que Ele nos trouxe ficou
incompleta. Ele não pôde dizer tudo porque os homens não podiam
suportar (compreender). Por isto Ele prometeu o Consolador, que
viria nos conduzir a toda a verdade (João 16:13).
Jesus não fez pregações ostensivas da reencarnação. Esta é uma
daquelas muitas coisas que Ele não aprofundou, porque os homens
não podiam suportar ainda. No entanto, em várias ocasiões Ele deixou
a reencarnação bem evidenciada. Vamos lembrar algumas:
* na entrevista reservada que manteve com Nicodemos Ele disse
categoricamente que "Na verdade, na verdade te digo que ninguém
pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo" (João 3:3). Sendo
Nicodemos Mestre de Israel, pôde Jesus falar abertamente da
reencarnação. E olhe a ênfase com que Ele iniciou: na verdade, na
verdade...
151
dizendo: "Se queres ser perfeito..." (Mateus cap. 19, vers. 16 a 24).
Numa só existência ninguém atinge a perfeição. Entre nós, ninguém
é perfeito.
* Ao curar um paralítico em Betesda, disse Jesus: "Eis que já
estás curado, não peques mais, para que não te suceda coisa pior"
(João 5:14). Se para aquele paralítico a doença era conseqüência dos
pecados, porque não será para os que já nascem doentes? E os que
nascem doentes, quando pecaram? Resposta: Noutra existência.
Veja que falta aos detratores do Espiritismo argumentos
racionais e verdadeiros. Na ausência destes, eles apelam para frases de
efeito do tipo "os ímpios serão lançados no inferno..." "o sangue de
Jesus nos purifica dos pecados....", "ferido por nossas transgressões..."
"os espíritas também serão condenados" ou coisas parecidas. Tais
expressões recheiam o discurso de palavras bonitas, com uma aparência
de seriedade. Adornam seus autores de um ar de entendimento e
preocupação que, em verdade, não possuem.
São palavras bonitas e vazias, mais nada.
Falta-lhes lógica e coerência com a sabedoria, a bondade e a
justiça de Deus. Nada explicam.
Faça uma retrospectiva do que dissemos até aqui. Sublinhe
aquilo que mais lhe chamou a atenção ou que, ao menos, tenha
despertado dúvidas em você. Risque e rabisque. Este trabalho foi feito
para isto mesmo.
Reúna suas observações pessoais e veja quanta coisa, que aqui
comentamos, você já ouviu em pregações evangélicas, que até aceitou,
sem se dar ao cuidado de refletir. Existem pregadores profissionais,
não esqueça disso. São treinados na arte de falar e convencer. Sobem
nas tribunas, pregam em praças públicas, falam emocionados e
aparentam conhecer a Bíblia. Ensinam-lhe coisas (às vezes vendem)
como "boas", mas que se você parar para pensar vai ver que não têm
sustentação racional.
Existe coisa mais insensata de que pregar o Amor de Deus, o
amor que o Pai tem por todos os seus filhos, e ao mesmo tempo ensinar
que marchamos para o inferno eterno?
153
diz em seus comentários que "A morte d'Ele sobre a cruz foi o sacrifício
perfeito e completo que pagou o preço do nosso pecado...".
É querer moleza, Não acha? Você pode errar à vontade, porque
Jesus já pagou o preço. Visto por outros olhos, já que tudo está quitado,
vamos pecar? Um absurdo isto.
Então alguém dirá: não, porque ninguém sabe quando a morte
vem. É uma contradição muito grande. Cristo pagou ou não por nossos
pecados? Se ele pagou, eu nada mais devo! Pouco importa quando a
morte venha. Todos os meus pecados, os que eu cometi até hoje e os
que ainda vou cometer, Ele pagou antecipadamente. É isso o que se
deduz da afirmação do articulista. "A morte d'Ele foi o sacrifício
perfeito e completo, que pagou o preço do nosso pecado...".
Uma pessoa sensata jamais poderá aceitar uma coisa desta. Os
antigos também acreditavam que "A morte de bodes e bezerros era o
sacrifício perfeito e completo que pagava o preço dos pecados deles...".
Era ingenuidade.
É hora de voltarmos a nos concentrar em Jesus e no seu
Evangelho. E seus exemplos, não servem? Serve somente a morte d'Ele
na cruz? Ele não ficou apenas orando ao Pai, louvando a Deus, e
esperando a hora de retornar à glória celestial. Ele foi à luta. Procurou
os sofredores, os oprimidos, os desesperados, as vítimas do infortúnio.
Ele levou alegria onde havia tristeza; saúde onde havia doença; luz
onde havia trevas; amor onde havia ódio. Ensinou o que fazer (João
15,vers. 12 a 14):
"O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros,
assim como eu vos amei";
"Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua
vida pelos seus irmãos";
"Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando".
O verdadeiro caminho que Jesus apontou para a iluminação da
alma é o amor ao próximo. Os Espíritos nos dizem que "toda a verdade
se encontra no Cristianismo. São de origem humana os erros que nele
se enraizaram". Muitos desses erros nascem de interpretações
158
equivocadas, como essa de que "A morte d'Ele foi o sacrifício perfeito
e completo, que pagou o preço do nosso pecado...".
Há um fato histórico que é importante rever. A Doutrina
original de Jesus sofreu, logo nos seus primeiros anos de divulgação,
forte influência do culto antigo dos hebreus. Os apóstolos tiveram
que ceder e adotar costumes, rituais e práticas exteriores, da Lei
mosaica, sob pena de serem simplesmente banidos pelos sacerdotes
hebreus. Somente com essas "concessões" foi possível ganhar espaço
para a manutenção da Casa do Caminho e das primeiras "igrejas"
cristãs.
A propósito, você sabe por que estão reunidos, na Bíblia, o
Antigo e o Novo Testamento? Por imposição dos poderosos sacerdotes
da Lei antiga. O Cristianismo foi tolerado sob condições. Uma delas
foi manter o vínculo com a Doutrina Antiga.
Com a vinculação da Igreja ao Poder a partir da célebre
conversão de Constantino (300 anos d . C ) , e depois com Justiniano,
o Cristianismo sofreu sérias mudanças, desfigurando-se ao longo do
tempo.
A Doutrina original, que se baseava na simplicidade, na prática
da caridade, na fraternidade e na comunicação com o Plano Espiritual
— consagrada no Pentecostes, quando os Espíritos comunicantes
falaram diversas línguas e profetizaram, conforme ATOS cap. 2,
versículos 1 a 13 —, pois bem, a Doutrina original o período infeliz
da Idade Média, o longo período da Inquisição, tudo concorrendo
para desnaturar o Cristianismo Primitivo.
Havia necessidade de restauração da Doutrina Original e de
ser revelada aos homens parte daquelas muitas coisas que Jesus tinha
para nos dizer, mas não disse. Esta missão foi confiada aos Espíritos
Superiores, que desde meados do século XIX vêm trabalhando junto
aos homens de boa vontade e sem preconceitos, para implantar em
definitivo neste mundo a Lei do Amor, que Jesus e outros missionários
seus ensinaram.
O Cristianismo é fácil de ser compreendido e praticado. Tudo
se resume na Lei do Amor ao Próximo. Fazer aos outros tudo aquilo
159
Pontos a Recordar:
1. A falta de fidelidade ao texto bíblico depõe contra a
honestidade de propósitos de quem assim age, e tem o fim de
possibilitar distorções, confundindo o leitor.
2. A visão limitada a respeito de Deus, decorria do orgulho e da
inferioridade moral do povo hebreu, daquela época, que via nos filhos
de outras raças seres estranhos à Criação.
3. Foi com base nesse errôneo pensamento que se firmou a
Doutrina Antiga, que Jesus corrigiu, reformulando conceitos que não
guardavam conformidade com a verdadeira pessoa de Deus, a quem
Ele definiu como sendo "Pai".
4. Aquele ranço de cultura do povo judeu, que defendia para si
o exclusivismo e o privilégio divino, foi tão forte que ainda hoje produz
adeptos. Vemos resquícios desse sentimento nos que se auto-
proclamam "salvos".
5. Não vemos nada de tão extraordinário em se dizer: "os ímpios
serão lançados ao inferno....". ímpios são os incrédulos, os ateus, os
perversos, o que não é o caso dos espíritas.
6. "Deus quer que todos os homens se salvem e venham ao
conhecimento da verdade". A vontade de Deus é soberana. Se Ele
quer que todos os homens se salvem, não será uma frase solta do
Antigo Testamento que vai mudar essa sua soberana vontade.
7. Jesus não fez pregações ostensivas sobre a reencarnação. Esta
é uma daquelas muitas coisas que Ele não aprofundou, porque os
homens não podiam suportar ainda. No entanto, em várias ocasiões
Ele a deixou bem evidenciada.
8. Os que pregam que "sem derramamento de sangue não há
remição" ainda não se aperceberam de que o Cristo substituiu o
derramamento de sangue, dos antigos, pela prática do Amor.
162
"Pela graça sois salvos por meio da fé, e isto não vem de
vós, nem das obras, mas é dom de Deus"
"Pelas obras ninguém será justificado diante de Deus"
"Aquele que crê no filho de Deus tem a vida eterna, mas
aquele que não crê no Filho de Deus não verá a vida, mas sobre
ele permanece a ira de Deus"
Disse Jesus: "Tenho ainda outras ovelhas que não são deste
aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha
voz, e haverá um rebanho e um Pastor" (João 10:16). Não seria uma
alusão aos povos de outros continentes?
Entre os apóstolos de Jesus havia divergência. Entre nós, seus
seguidores, também há. Seguimos o mesmo Evangelho, e o
interpretamos, em alguns pontos, de forma diferente. Estamos aqui
num bate-bola com o irmão articulista, porque divergimos da maneira
de pensar dele, embora respeitemos seu livre-arbítrio para continuar
pensando da forma que quer.
Exemplo dessa divergência está no tocante à fé. Paulo ora
pregava a salvação pela fé, ora pela caridade. Tiago, se opunha a Paulo,
neste particular, e ensinava a salvação unicamente pelas obras. Um e
outro tiveram papel importante na divulgação do Evangelho e foram
escolhidos por Jesus, embora o Cristo de antemão soubesse que iriam
divergir. Ouçamos Tiago:
"Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé e não
tiver as obras? Porventura, a fé pode salvá-lo?" (Tiago 2:14);
"Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma"
(Tiago 2:17);
"Vedes, então, que o homem é justificado pelas obras e não
somente pela fé" (Tiago 2:24).
Agora relembremos algumas citações de Paulo, a respeito da fé
e da caridade. Perceba a dubiedade de pensamento do apóstolo:
"Pela graça sois salvos por meio da fé, e isso não vem de vós; é
dom de Deus" (Efésios 2:8);
"Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as
obras da lei" (Romanos 3:28);
"Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade, estas
três; mas a maior destas é a caridade" (1 Coríntios 13:13);
"E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os
mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé. de maneira tal
que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria" (1
Coríntios 13:2).
167
Agora, não podem é tomar aqueles exemplos para dizer que o mesmo
acontecerá conosco, porque são situações absolutamente diferentes.
Naqueles casos os corpos estavam intactos. O mesmo não acontece
com quem já morreu há muitos anos, milênios até, cujos corpos foram
decompostos pelas leis naturais criadas por Deus, das quais corpo
nenhum escapa.
Lázaro, Tabita e os outros dois casos retomaram a vida e
passaram a conviver com seus familiares normalmente. Eram doentes,
que foram curados de suas enfermidades. Viveram, com certeza, longo
tempo, depois morreram. Se ressuscitassem, de novo, no tal "dia de
juízo", seriam entre os viventes os exemplares únicos de d u p l a
ressurreição.
Outra coisa: depois que se ressuscita, o Espírito não experimenta
mais a morte. O tal corpo ressurrecto, estaria livre de enfermidades e
de envelhecimento e serviria eternamente ao Espírito. Alguém sabe
me dizer onde estão Lázaro, Tabita e os outros dois ressuscitados? Será
que, por haverem ressuscitado, já ganharam o céu ou o inferno, antes
de nós?
Também não posso admitir aquela última possibilidade. Seria
um tratamento parcial de Deus. Por que somente eles quatro já teriam
sido julgados?
Jesus reapareceu, em alguns momentos, depois se despediu e
retornou ao Mundo Espiritual, não sendo mais visto. Há alguma coisa
diferente na ressurreição de Jesus e na daqueles quatro casos
comentados. Aqueles permaneceram neste mundo, Jesus não. Basta
isso para começarmos a entender que o corpo em que Jesus se mostrou
após a crucificação era diferente do corpo que ele usara nesta vida.
Era um corpo espiritual, que se mostrou tangível, como
acontece com os casos de materialização de Espíritos. Ou suas aparições
foram resultantes do fenômeno de vidência (faculdade de se ver os
Espíritos).
A grande questão que se levanta é acerca do desaparecimento
do corpo de Jesus. Para onde ele teria ido? Ninguém sabe. Aliás, há
uma pessoa que sabe. Chama-se José de Arimatéia, que recebeu
178
Pontos a Recordar:
X. O INFERNO
Pontos a Recordar:
X I . EPÍLOGO
Está aí, minha amiga, a abordagem que nos foi possível fazer a
respeito do opúsculo que lhe foi entregue. É até possível que em alguns
instantes tenhamos sido bastante enérgicos. Se foi assim, a falha é
nossa, não é da Doutrina Espírita. Não era este o nosso propósito.
Afinal, nós temos recebido instruções dos Espíritos que nos aconselham
a tolerar todos esses assaques lançados contra o Espiritismo.
Dizem os irmãos espirituais que com Jesus não foi diferente.
Foi até pior. A mensagem do Mestre somente se instalou no mundo
graças à ação incansável de valorosos missionários que souberam,
mesmo com o sacrifício da própria vida, dar testemunhos fortes de fé,
determinação, iluminação e coragem.
Registramos, neste instante, que fomos contundentes ao tratar
de ensinos tirados do Antigo Testamento, podendo ter passado a
impressão de desprezo pelos livros que o compõem. Que fique claro,
no entanto, que assim agimos unicamente para dar total força à
Revelação transmitida por Jesus, que em muitos pontos alterou o
entendimento dos antigos profetas.
Temos todo o respeito pelos livros do Antigo Testamento e
reconhecemos que ali estão também verdades e revelações divinas
recebidas por inspiração, por profetas sinceros e devotados. Temos
especial apreço pelo livro Eclesiastes e pelos Salmos, onde muitas vezes
vamos buscar inspiração e consolo para nossos problemas e ansiedades.
A Doutrina Espírita, como restauradora do Evangelho, está
exposta às trevas, advindas da desinformação e da inferioridade moral
dos homens. Tanto aqui, como no lado espiritual da vida, estão aqueles
que, entorpecidos pelo veneno da ira, do ódio, do rancor, da maldade,
da inveja, e alguns até da ignorância e da ingenuidade, tudo fazem
para que a mensagem do Divino Mestre seja confundida e mal
interpretada.
201
Melcíades,
Julho de 1997.
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