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O culto que desonra ao Senhor

Por Silas Alves Figueira

Texto base: Malaquias 1.6-14

INTRODUÇÃO

O profeta Malaquias surge no cenário da história cerca de cem anos depois que o povo judeu
havia voltado do cativeiro babilônico. Provavelmente já havia passado a época de Ageu,
Zacarias, Esdras e Neemias, e o próprio povo já começava a se instalar na terra; porém, não
com a mesma prosperidade que antes [1].

Devido a isso, o povo caiu em profundo desânimo espiritual, a começar pelos sacerdotes.
Quando eles começaram a observar que as profecias antigas não estavam se cumprindo como
o esperado, tanto os sacerdotes quanto o povo começou a achar que o Senhor havia se
esquecido deles. Por sua vez, o templo que antes era monumental, comparado com o que eles
haviam reconstruído era sem expressão. Com isso a desmotivação tomou o coração das
pessoas e os sacerdotes começaram a exercer o seu ofício sem temor e se corromperam
totalmente. Devido a isso o culto estava totalmente corrompido também.

É nesse cenário da história que o Senhor levanta o profeta Malaquias para corrigir o seu povo
e, principalmente, os sacerdotes; homens que foram levantados por Deus para levar o povo à
adoração e temor ao Senhor. No entanto, o modo como estavam servindo ao Senhor era uma
desgraça para o nome dele [2]. Diante dessa situação, o Senhor levanta o profeta Malaquias
para que tanto os sacerdotes, quanto o povo se voltem para o Senhor.

Os profetas eram o último recurso de Deus para comunicar sua vontade ao povo. Deus levanta
os profetas, que vinham no poder do Espírito Santo e na autoridade de Deus, chamando o
povo ao arrependimento ou advertindo-o das consequências de seus atos. Às vezes pensamos
que o papel do profeta era prever o futuro, que essa era a função principal, mas na verdade
não era – a previsão do futuro era uma parte relativamente pequena do seu ofício. A tarefa do
profeta era chamar o povo ao arrependimento e à obediência da Lei [3]. E foi para isso que o
profeta Malaquias havia sido levantado pelo Senhor: trazer os sacerdotes e o povo de volta
para Ele observando a Sua Lei e o que nela era exigido.

Quando que o culto desonra ao Senhor?

EM PRIMEIRO LUGAR, O CULTO DESONRA AO SENHOR QUANDO O CULTO SE TORNA SEM


TEMOR E SEM ESPIRITUALIDADE (Ml 1.6,7).
Malaquais inicia essa mensagem fazendo uma declaração indiscutível: “O filho honra o pai e o
servo ao seu senhor” (1.6). A primeira relação envolve afeição e a segunda respeito. Mas os
sacerdotes não demonstraram nem amor nem respeito a Deus [4]. Os sacerdotes estavam
totalmente apáticos em relação a dar a Deus a honra que lhe era devida. Eles perderam o
temor e como consequência a espiritualidade deles foi a zero.

Quando liderança perde o temor a Deus e a espiritualidade algumas coisas ocorrem:

1º – Há um total desprezo a Deus e ao culto a Ele oferecido. Os sacerdotes perderam a


fidelidade a Deus e a Sua Palavra. Havia culto, mas não havia adoração. Havia culto, mas os
sacerdotes não se preocupavam em observar os preceitos da Palavra de Deus. Eles se
tornaram profissionais da religião. Eles andavam na contra mão dos ensinamentos bíblicos.
Honravam líderes humanos, mas não honravam a Deus.

Hernandes Dias Lopes diz que a apostasia começa na liderança. As falsas doutrinas começam
nos seminários, descem aos púlpitos e daí matam as igrejas. Os desvios da teologia desemboca
no desvio moral: o liberalismo, o sincretismo e a ortodoxia morta desembocam em vida
relaxada [5].

2º – A liderança se torna canal de maldição de não de bênção (Ml 2.2). A maldição nada mais é
que a punição da quebra da Lei. Talvez a palavra mais adequada aqui seja castigo. Tanto o
mundo físico quanto o mundo espiritual são regidos por leis. A diferença entre uma lei e um
conselho é que a lei é sancionada pela punição, caso contrário, ela perderia sua força, trazendo
o caos para os relacionamentos. Por mais que as pessoas estejam acostumadas com a
impunidade, espiritualmente a lei de colher o que semeia não será quebrada (Gl 6.7) [6].

A liderança jamais é neutra, ela é uma bênção ou maldição. Sempre que um líder transgride,
ele é um laço para o povo. A liderança é como um espelho. O espelho para ser útil precisa
estar limpo, ser plano e estar bem iluminado. A vida do líder é a vida da sua liderança, mas os
pecados são os mestres do pecado [7].

3º – Há um total cinismo e falta de temor a Deus (Ml 1.7). Eles foram repreendidos, mas não
demonstram nenhum arrependimento. Eles foram corrigidos, mas pouco se importaram com
que o Senhor estava lhes falando.

O mesmo tem ocorrido hoje. O Senhor não deixou de falar com seu povo. A Palavra está nas
mãos dos líderes e eles têm por obrigação lê-la e praticá-la, mas quantos estão interessados
nisso? Muito poucos, infelizmente. Muitos estão distorcendo a Palavra para se beneficiar
através dela; e o povo que não lê a Bíblia acredita nesses falsos líderes, embora muitos que se
juntam a eles são iguais a eles também. Buscam a Deus para se beneficiarem ou para
simplesmente como rotina de vida. São religiosos, mas não adoradores, por isso oferecem
qualquer coisa num total cinismo e falta de temor a Deus.

EM SEGUNDO LUGAR, O CULTO DESONRA AO SENHOR QUANDO O CULTO HONRA AOS


HOMENS, MAS NÃO HORA A DEUS (Ml 1.8,9).

Eles não tinham coragem de oferecer ao governador a oferta que ofereciam a Deus. Honravam
os líderes humanos, mas não honravam a Deus. Entregavam para o sacrifício animais que era
inadmissível oferecer há uma pessoa. Mas queriam a bênção do Senhor sobre as suas vidas
oferecendo esse tipo de coisa a Ele. As pessoas buscavam agradar ao governador, mas
estavam longe de agradar a Deus. E isso não é diferente dos dias de hoje.

Estamos vivendo a época do culto as celebridades. O culto hoje, em muitas igrejas, é


antropocêntrico e não Cristocêntrico. Os cultos tem sido mais uma apresentação que culto a
Deus. Tem sido mais show que verdadeira adoração. As pessoas estão mais preocupadas com
a roupa que vão à igreja do que com a roupa espiritual. Esse antropocentrismo tem gerado
crentes adoradores de selfies e não adoradores do Senhor.

1º – O culto antropocêntrico adora aos homens e não a Deus. Há um respeito exacerbado aos
líderes humanos, mas não a Deus que é o verdadeiro Senhor. Por isso que o Senhor diz para ao
povo para apresentar o sacrifício que ofereciam ao Senhor ao governador e vê se ele aceitaria.

Hoje muitas pessoas vão à igreja por causa do cantor que irá se apresentar, por causa do
pastor popstar que irá pregar. Por que é a igreja da moda. Porque tem muitos jovens. Mas não
vão por causa de Deus.

2º – O culto antropocêntrico honra mais aos homens que a Deus. Há mais respeito em muitos
púlpitos por aí aos políticos que neles se apresentam que ao Senhor de toda a terra. Há uma
bajulação a esse tipo de pessoa que a Deus. Alguns cantores são tratados como deuses. Já o
pregador muitas vezes mal recebe uma oferta.

Teve um irmão que disse que foi pregar em uma igreja. Chegando lá havia um cantor famoso
que iria se apresentar. O cantor recebeu uma oferta de trinta mil reais e o pastor uma oferta
de hum mil quinhentos reais. Esse irmão disse que não havia cobrado nada para estar ali, mas
o que fizeram era algo totalmente desproporcional. Honram mais o cantor que o pregador da
palavra.
EM TERCEIRO LUGAR, O CULTO DESONRA AO SENHOR QUANDO SE OFERECE RESTO E NÃO AS
PRIMÍCIAS (Ml 1.8,9,13,14).

É preferível não ter religião alguma do que ter uma religião que não dá a Deus o que há de
melhor. Se o nosso conceito de Deus é tão baixo a ponto de pensarmos que ele se agrada com
uma adoração indiferente, então não conhecemos o Deus da Bíblia. Na verdade, um Deus que
nos incentiva a fazer menos do que o nosso melhor não é um Deus digno de adoração [8].

Os animais que haviam sido oferecidos como ofertas eram cegos, aleijados, rasgados por feras,
roubados e até doentes. Isso era um insulto a Deus. Até homens famintos evitariam comer tais
animais. Essa prática era contrária a orientação bíblica (Lv 22.20; Dt 15.21). Mais os sacerdotes
não estavam se importando com isso.

Mas por que os sacerdotes ofereciam tais animais?

1º – Porque tais sacerdotes também não ofereciam a Deus o que tinham de melhor. Eles não
eram capazes de corrigir o povo, pois eles não eram sacerdotes irrepreensíveis.

Eles eram piores que o povo, pois o povo na verdade os imitava. Eles estavam agindo iguais
Hofni e Finéias filhos do sacerdote Eli (1Sm 2.12-17,22,27-29).

Muitos líderes hoje também não corrigem o povo porque eles mesmos andam em pecado.
Não tem compromisso com Deus, mas são filhos do diabo travestidos de sacerdotes do
Senhor.

2º – Porque os sacerdotes e seus familiares se beneficiavam do que era oferecido no altar. Eles
escolhiam as melhores carnes. Escolhiam as carnes de animais que não estavam doentes e
separavam para si. Os sacerdotes queriam estar certos de que teriam comida na mesa. Afinal,
a economia não andava bem, os impostos eram altos, e o dinheiro estava escasso; apenas os
israelitas mais devotos levavam animais perfeitos para o Senhor. Desse modo, os sacerdotes
contentavam-se com algo aquém do melhor e incentivavam o povo a trazer o que tivesse
disponível. Um animal doente iria morrer de qualquer forma, e os coxos não serviam para
nada mesmo, então o povo podia muito bem levá-lo para o Senhor! Esqueceram-se de que o
“obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros
(1Sm 15.22; Sl 51.16,17; Mq 6.6-8; Mc 12.28-34) [9].

E hoje não tem sido diferente. Muitos líderes estão mais preocupados com seus salários do
que ver a igreja adorar de forma certa ao Senhor. O que importa para tais líderes é garantir o
salário mensal. Por isso muitos fazem vista grossa ao pecado do povo. O importante é mantê-
los na igreja não importa que com isso o pecado prevaleça em suas vidas. O importante é
manter a “casa cheia”, ainda que seja de pessoas vazias.

Por isso que muitas igrejas estão imitando o mundo com seus cultos que imitam clubes
noturnos com sua música doentia. Os ministros oferecem “porcos” no altar, para atrair
pessoas a ouvir o seu “evangelho” [10]. No entanto, pastores sérios, que tem compromisso
com a Palavra de Deus têm sido vistos e chamados de fundamentalistas, radicais, fariseus;
pastores que não amam as pessoas. Só que é o contrário, esses pastores querem ver a igreja e
o povo que a frequenta abençoados e não amaldiçoados. Eles se importam com Deus e em
oferecer o melhor culto a Ele. Esses pastores são boca de Deus e profetas de Deus, mas como
sempre ocorreu as pessoas não gostam de ouvir a verdade que liberta, por isso procuram
pastores que falam o que eles querem ouvir e não o que o Senhor tem a falar (2Tm 4.1-4).

EM QUARTO LUGAR, O CULTO DESONRA AO SENHOR QUANDO SE TORNA UM CULTO INÚTIL


(Ml 1.10).

A versão NVI trás esse texto dessa forma:

Ah, se um de vocês fechasse as portas do templo. Assim ao menos não acenderiam o fogo do
meu altar inutilmente. Não tenho prazer em vocês, diz o Senhor dos Exércitos, e não aceitarei
as suas ofertas.

Esses sacerdotes pós-exílio não aprenderam nada com a história; da quase destruição de Judá
pelos babilônicos, do quanto sofreram com a invasão do inimigo devido ao pecado que eles
haviam cometido e que eles insistiam em cometer. A experiência amarga que sofreram não os
ensinou nada a respeito de Deus e de como Ele é santo e não aceita um culto apóstata.

Não houve entre eles um único sacerdote que fechasse as portas do templo para dar um basta
naquela hipocrisia. Eles estavam com a mente cauterizada e com o coração empedernido. Eles
se tornaram profissionais do templo, pois eles não ofereciam nenhum sacrifício se não
levassem alguma vantagem.

Deus prefere a igreja fechada a um culto hipócrita. É inútil acender o fogo do altar se nele
vamos oferecer uma oferta imunda, se nossa vida está contaminada, cheia de impureza e ódio
(Mt 5.23-25) [11].

O culto inaceitável é gerado por duas coisas na vida do sacerdote e do ofertante:


1º – Falta de temor (Ml 1.12). Pode ser que alguém ofereça ao Senhor um culto inaceitável por
falta de conhecimento, isso é possível. Mas os judeus faziam isso de forma consciente. Eles
haviam perdido o temor, mesmo depois de terem passado tudo que haviam passado e de
como o Senhor com poder e graça os trouxera de volta para sua terra.

Hoje não tem sido diferente, muitos estão oferecendo a Deus um culto desprezível, mas
achando que o Senhor não está se importando com isso. A falta de temor é extrema na vida de
muitos líderes e isso reflete na vida de muitos liderados.

Por isso não temos visto igrejas inclusivas; igrejas que recebem pessoas em adultério como
membros e muitas são colocadas como líderes de departamentos. Sobem no altar com a vida
torta como que se o Senhor estivesse interessado em adoração e não no adorador. Mas o
salmo 50.21 nos diz:

“Tens feito estas coisas, e eu me calei; pensavas que eu era teu igual; mas eu te arguirei e
porei tudo à tua vista”.

Um dia tais pessoas irão prestar contas diante do Senhor. Com Deus não se brinca.

2º – As pessoas fazem votos de tolo (Ml 1.14). Não cumprem os seus votos. Prometem, mas
não cumprem. Dizem que darão o melhor, mas entregam o pior.

O que temos visto na vida de muitas pessoas hoje é a mesma coisa. Prometem ser mais fiéis,
mas não são. Prometem frequentar a igreja, mas na hora optam por estarem em qualquer
outro lugar do que está na presença do Senhor oferecendo-lhe o seu culto. Vão de festa a
shopping no dia do Senhor. E isso independe se é dia de ceia ou se é há uma festividade
especial na igreja. E o pior que isso não é esporádico, mas é frequente.

Mas quando o “calo aperta”, fazem votos de tolo. O Senhor não está interessado em seus
votos, mas no cumprimento deles.

CONCLUSÃO

É com pesar que temos visto isso ocorrer hoje em dia em muitas igrejas. O tempo passa, mas o
homem não mudou; os mesmos erros do passado são repetidos hoje. A falta de temor, de
reverência, de zelo pelas coisas de Deus continua a mesma na vida de muitas pessoas e o pior,
na falta de muitos líderes.
Todos nós somos responsáveis pelo culto, mas a responsabilidade maior é dos pastores e
líderes; observe que a censura é dirigida primeiramente a eles. Por isso meu irmão tome
cuidado onde você frequenta não se deixe levar pelo engano, pois as consequências serão
sentidas por todos e não só pelos seus líderes.

Honre a Deus com seu culto e com a sua vida, pois o Senhor espera isso de todos nós. Não dê a
Ele o pior, mas o melhor.

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