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Simulado de Português

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TEXTO

Não sei você, mas eu nunca estive cara a cara com um hímen. Certamente nos
esbarramos ao longo da vida, mas terá sido um contato superficial e o afastamento foi
amigável, sem motivo para rompimento.
Eu julgava mesmo que ele, assim como o teletrim e o professor de OSPB, já tivesse
sido extinto. Ninguém fala mais dele, e sua presença, outrora tão requisitada, hoje soa como
um anacronismo.
O hímen só voltou à minha mente por causa de um vídeo, visto um dia desses, em que
uma simpática mocinha derruba certos mitos a respeito dessa (obsoleta) peculiaridade da
anatomia feminina. Foi quando descobri que a total ignorância no assunto não era
exclusividade minha.
Admito que o hímen atiçava minha curiosidade, ali por volta da pré-adolescência. Eu o
imaginava como um daqueles bastidores que as bordadeiras usam, só que em vez de algodão,
haveria uma membrana, tipo essas de bola de soprar. A membrana arrebentaria na noite de
núpcias (sim, sou do tempo da noite de núpcias) e pronto, problema resolvido.
Isso, claro, se o hímen não fosse complacente. Esse era um conceito perturbador. E se
a membrana fosse muito resistente, e se recusasse a ceder passagem, permanecendo ali,
desafiadora, feito um escudo invisível? A simples ideia de vir a topar com um obstáculo que
barrasse a entrada, como se eu fosse um penetra, um sócio com mensalidade vencida, me
causava leve terror. Eu ouvira dizer que, por outro lado, o hímen podia se romper, por
exemplo, pulando corda ou andando de bicicleta – então, uma calói e uns quatro metros de
corda de bacalhau haveriam de fazer parte do meu kit lua de mel, just in case.
O hímen suscitava também questões práticas. Como as virgens urinavam? A única
hipótese possível era a membrana ser porosa. Menos parecida com a da bola de soprar, um
pouco como um coador de pano (sou do tempo do coador de pano). Mas basta olhar pra um
coador de pano e perceber que a solução não era nada higiênica.
Talvez as virgens simplesmente não urinassem. Mas algo me dizia que ou essa teoria
estava furada ou os bebês do sexo feminino não nasciam virgens, mas se tornavam virgens
(eu, apesar da pouca idade, tinha meus momentos de Simone de Beauvoir). Depois que se
envirginavam, deixavam de urinar – até a fatídica noite de núpcias, a partir da qual
recuperavam essa função. Sim, minha ignorância sobre o hímen se estendia também à uretra.
O que contava é que o hímen tinha o papel de lacre, de selo de segurança. Ele era a
prova incontestável de que a virgindade feminina era uma virtude – em contraponto à
masculina, que era um mico. O homem precisaria adquirir bastante prática para, na hora H,
saber exatamente o que fazer ao se defrontar, lança em punho, com o dragão do hímen. O
fracasso masculino não seria a impotência (fantasma que sequer me ocorria então), mas não
conseguir derrotar o hímen de primeira. Para garantir o êxito é que talvez fossem necessárias
as tais preliminares – possivelmente uma pedalada de 12 km ou meia hora pulando corda.
Eu imaginava se o hímen se romperia fazendo “ploc” (acho que não faz). Se sangraria a
ponto de precisar bandeide e mertiolate (possivelmente, não). Se ficava no começo, no meio
ou (o que seria um pesadelo) lá no fundo – um fundo talvez fora do alcance, além das minhas
possibilidades. E, mais que tudo, eu me perguntava por que isso era tão importante, a ponto
de haver exames médicos para detectá-lo intacto num pré-nupcial, e cirurgias para reconstituí-
lo no caso de a moça ter merendado antes do recreio.
Todas essas questões estavam, até um dia desses, totalmente esquecidas, perdidas nas
brumas dos meus 12, 13 anos, que foi quando descobri de onde vêm os bebês e como é que
foram parar lá dentro. E também que passei a sentir uma estranha atração por meninas
ciclistas ou que gostavam de pular corda.
Não era fácil ser pré-adolescente num tempo em que não havia gúgol pra gente se
informar direito.
(Eduardo Affonso: https://www.facebook.com/eduardoalvesaffonso/posts/10220276278006802)

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1- Pode-se afirmar corretamente que o texto se centra

(A) no hímen, que gera no autor uma série de dúvidas anatômicas que o acompanham desde a
adolescência.
(B) no sexo, que é cercado de tabus, cheio de segredos, sobretudo no corpo feminino, e
problemas emocionais pré-adolescentes.
(C) nas relações humanas, que têm vida própria e peculiar, ultrapassando as características de
seus componentes.
(D) numa preocupação sexual do autor, uma vez que ele se sente inseguro diante de certa
parte do corpo feminino.
(E) numa parte do corpo feminino, que serve de ponto de partida para reflexões do autor
sobre quais eram suas preocupações quando pré-adolescente.

2- Aponte a afirmação correta a respeito do trecho abaixo:

Não sei você, mas eu nunca estive cara a cara com um hímen. Certamente nos
esbarramos ao longo da vida, mas terá sido um contato superficial e o afastamento foi
amigável, sem motivo para rompimento.

(A) As palavras “hímen” e “amigável” não são acentuadas de acordo com a mesma regra.
(B) A expressão “cara a cara” foi redigida incorretamente pelo autor, pois deveria haver hífen
ligando os elementos desse substantivo composto: cara-a-cara.
(C) No primeiro período, há quatro encontros vocálicos e três dígrafos.
(D) A palavra “rompimento” foi usada acidentalmente pelo autor, o que acabou gerando um
efeito de humor relacionado ao tema.
(E) O vocábulo “nos” tem como referente o autor do texto e o leitor, representado pelo
pronome “você”.

3- Marque a afirmação correta a respeito do trecho abaixo:

Eu julgava mesmo que ele, assim como o teletrim e o professor de OSPB, já tivesse
sido extinto. Ninguém fala mais dele, e sua presença, outrora tão requisitada, hoje soa como
um anacronismo.

(A) O conectivo “assim como” estabelece tão somente um nexo semântico de comparação no
contexto acima.
(B) A recomendação gramatical é que seja usado o particípio regular em locução verbal
constituída por “ter/haver + particípio”, por isso há incorreção em “tivesse sido extinto”.
(C) Os três advérbios do trecho indicam tempo: já, mais e hoje.
(D) Apesar de a terceira vírgula, segundo alguns gramáticos, ser facultativa, seu emprego
torna mais clara a relação sintática estabelecida pela conjunção “e”.
(E) O vocábulo “um”, em suas duas ocorrências, por indicar quantidade, é classificado como
numeral cardinal.

4- Indique a afirmação incorreta a respeito do trecho abaixo:

O hímen só voltou à minha mente por causa de um vídeo, visto um dia desses, em que
uma simpática mocinha derruba certos mitos a respeito dessa (obsoleta) peculiaridade da
anatomia feminina. Foi quando descobri que a total ignorância no assunto não era
exclusividade minha.

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(A) Se o trecho O hímen só voltou à minha mente estivesse, num contexto hipotético,
integralmente no plural, a crase seria obrigatória.
(B) O conectivo “por causa de” poderia ser substituído, sem prejuízo da correção e do sentido
por “devido a”, “em virtude de”, “em razão de”.
(C) O vocábulo “que”, em suas duas ocorrências, tem classificações morfológicas distintas.
(D) Os termos “da anatomia feminina” e “no assunto” estabelecem relações semânticas e
sintáticas diferentes com os termos a que se ligam.
(E) O segmento “Foi quando” estabelece uma clara relação coesiva com o conteúdo do período
anterior.

5- Leia o trecho a seguir:

Admito que o hímen atiçava minha curiosidade, ali por volta da pré-adolescência. Eu o
imaginava como um daqueles bastidores que as bordadeiras usam, só que em vez de algodão,
haveria uma membrana, tipo essas de bola de soprar. A membrana arrebentaria na noite de
núpcias (sim, sou do tempo da noite de núpcias) e pronto, problema resolvido.

Está incorreto o que se afirma em

(A) O primeiro período poderia ser reescrito, sem desvio gramatical, assim: “Admito que
minha curiosidade era atiçada pelo hímen...”.
(B) Segundo as regras da ortografia vigente, a palavra “pré-adolescência” não deveria ter
hífen, ficando assim: preadolescência.
(C) O conectivo “só que” tem o mesmo papel coesivo que “mas, porém, contudo, todavia,
entretanto, no entanto, não obstante”.
(D) No registro coloquial, usa-se “tipo” como uma preposição acidental, equivalente a “como”.
(E) O uso do pretérito imperfeito do indicativo carrega a noção de que os fatos relatados no
passado eram então presentes e contínuos num espaço de tempo.

6- Das afirmações sobre o trecho a seguir, marque a única correta.

Isso, claro, se o hímen não fosse complacente. Esse era um conceito perturbador. E se
a membrana fosse muito resistente, e se recusasse a ceder passagem, permanecendo ali,
desafiadora, feito um escudo invisível? A simples ideia de vir a topar com um obstáculo que
barrasse a entrada, como se eu fosse um penetra, um sócio com mensalidade vencida, me
causava leve terror. Eu ouvira dizer que, por outro lado, o hímen podia se romper, por
exemplo, pulando corda ou andando de bicicleta – então, uma calói e uns quatro metros de
corda de bacalhau haveriam de fazer parte do meu kit lua de mel, just in case.

(A) O segmento “um conceito perturbador” refere-se, anaforicamente, à ideia de o hímen não
ser complacente.
(B) O vocábulo “feito” deverá ser substituído por “tal qual” se a intenção for alterar o registro
(de informal para formal).
(C) A colocação do pronome oblíquo “me” após a vírgula torna errado o segmento.
(D) O valor semântico das orações do segmento “pulando corda ou andando de bicicleta”
exprime modo, condição ou consequência.
(E) A expressão “por outro lado” estabelece um contraponto entre a ideia de o hímen ser
complacente ou não.

7- Levando-se em conta o segmento abaixo, está incorreta a afirmação presente em que


alternativa?

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O hímen suscitava também questões práticas. Como as virgens urinavam? A única


hipótese possível era a membrana ser porosa. Menos parecida com a da bola de soprar, um
pouco como um coador de pano (sou do tempo do coador de pano). Mas basta olhar pra um
coador de pano e perceber que a solução não era nada higiênica.

(A) Todo o parágrafo está relacionado a dúvidas e elucubrações que o autor mantém a
respeito das características do hímen.
(B) A pergunta seguida de resposta atesta que não houve a intenção duma interrogação
retórica.
(C) As formas femininas “porosa”, “parecida” e “a” (em “a da bola de soprar”) indicam que
houve concordância nominal correta com o referente “membrana”.
(D) A mudança de tempo verbal dentro dos parênteses indica que o autor se posicionou dentro
do espaço de tempo da escrita do texto, e não do tempo das memórias.
(E) Pode-se interpretar que o “e” ligando as orações “olhar pra um coador de pano” e
“perceber que a solução não era nada higiênica” indica finalidade.

8- Leia o trecho:

Talvez as virgens simplesmente não urinassem. Mas algo me dizia que ou essa teoria
estava furada ou os bebês do sexo feminino não nasciam virgens, mas se tornavam virgens
(eu, apesar da pouca idade, tinha meus momentos de Simone de Beauvoir). Depois que se
envirginavam, deixavam de urinar – até a fatídica noite de núpcias, a partir da qual
recuperavam essa função. Sim, minha ignorância sobre o hímen se estendia também à uretra.

Só está correto o que se afirma em

(A) Há linguagem denotativa nestes trechos: Talvez as virgens simplesmente não urinassem e
essa teoria estava furada.
(B) O segmento “mas se tornavam virgens” não poderia ser reescrito, para se manter a
correção gramatical, assim: mas tornavam-se virgens.
(C) Há uma relação assaz obscura de intertextualidade no segundo período.
(D) A ausência da vírgula antes do segundo “ou” implica desvio de pontuação.
(E) A forma verbal “envirginavam” é um neologismo formado por derivação prefixal e sufixal.

9- Marque a alternativa com comentário incorreto depois de ler o trecho abaixo:

O que contava é que o hímen tinha o papel de lacre, de selo de segurança. Ele era a
prova incontestável de que a virgindade feminina era uma virtude – em contraponto à
masculina, que era um mico. O homem precisaria adquirir bastante prática para, na hora H,
saber exatamente o que fazer ao se defrontar, lança em punho, com o dragão do hímen. O
fracasso masculino não seria a impotência (fantasma que sequer me ocorria então), mas não
conseguir derrotar o hímen de primeira. Para garantir o êxito é que talvez fossem necessárias
as tais preliminares – possivelmente uma pedalada de 12 km ou meia hora pulando corda.

(A) A forma desenvolvida da oração “ao se defrontar” estará correta se for redigida assim:
quando se defrontasse.
(B) O entendimento de que a virgindade feminina era uma virtude e que a masculina era um
mico se dá porque o pronome relativo “que” retoma o referente “virgindade masculina” e
exerce função sintática de sujeito da oração que introduz.
(C) No primeiro período, a expressão expletiva e invariável “é que” tem papel de realce na
frase.

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(D) Quando se usa a expressão expletiva “é que” após um adjunto adverbial ou oração
adverbial deslocados, a vírgula após eles não é usada, de modo que o segmento “Para garantir
o êxito é que talvez fossem...” está correto.
(E) Estaria de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa a seguinte reescritura: “...
(fantasma que nem sequer me ocorria então),...”.

10- Sobre o trecho abaixo, aponte a reescritura que mantém o sentido e a correção.

Todas essas questões estavam, até um dia desses, totalmente esquecidas, perdidas nas
brumas dos meus 12, 13 anos, que foi quando descobri de onde vêm os bebês e como é que
foram parar lá dentro.

(A) Todas essas questões estavam totalmente esquecidas, perdidas nas brumas dos meus 12,
13 anos, que foi quando descobri, até um dia desses, de onde vêm os bebês e como é que
foram parar lá dentro.
(B) Todas essas questões estavam simplesmente esquecidas, desaparecidas nas cerrações dos
meus 12, 13 anos os quais foi quando descobri daonde vêm os bebês e como é que foram
parar lá dentro.
(C) Estavam, até um dia desses, tais pontos totalmente esquecidos, perdidos, nas memórias
dos meus 12, 13 anos, quando descobri de onde vem os bebês e como foram parar lá dentro.
(D) Tais pontos totalmente esquecidos, perdidos, nas capitulações de meus 12, 13 anos,
estavam, até um dia desses, quando descobri de onde vêm os bebês e como que foram parar
lá dentro.
(E) Todas essas perquisições estavam, até um dia desses, completamente olvidadas, perdidas
nas incertezas de meus 12, 13 anos, nos quais descobri donde vêm os nenês e como foram
parar lá dentro.

GABARITO
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