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Publicações CID
Textos clássicos do pensamento humano/4
Coordenadores:
Arcângelo K. Buzzi
Leonardo Boff
FICHA CATALOGRAFICA
(Preparada pelo Centro de Catalogação-na-fonte do
Sindicato Nacional dos Editores de Litros, RJ)
CDD — 340.58
340.093502
76-0123 CDÜ — 34(354)
O CÓDIGO
de Hammurabi
Introdtição, tradução
(do original cuneiforme)
e comentários de
E. Bouzon
3» EDIÇÃO
V VOZES;
PETRÓPOLIS
1980
© destâ tradução, 1976
Editora Vozes Ltda.
Rua Frei Luís, 100
25.600 Petrópolis, RJ
Brasil
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Sumário
Apresentação 7
1. Prólogo 19
2. As leis 25
3. Epílogo 109
Bibliografia 115
li.
r
Apresentação
E. Bouzon
40
INTRODUÇÃO
11
Infelizmente Samsuiluna (1685-1648 a.C.) e seus su-
cessores não foram capazes de continuar a obra de
Hammurabi. Em 1531 a.C., o rei hitita Mursili I sa-
queou e incendiou a capital Babel. 10 O último descen-
dente de Hammurabi, Samsuditana (1561-1531 a.C.),
parece ter morrido durante o ataque hitita contra
Babel. Mursili, contudo, não ocupou Babel; logo após a
conquista regressou à sua pátria. O vácuo deixado foi,
logo, preenchido pela invasão das hordas cassitas. 17
13
parte dele. Esta não foi, certamente, a intenção da
obra de Hammürabi. Nota-se que alguns pontos da
vida cotidiana não são tratados por Hammürabi, em-
bora a praxe do dia-a-dia nos tribunais babilônicos
conhecesse regras e leis que regulavam esses pontos
omitidos por Hammürabi. À obra legal de Hammürabi
tem um caráter bem marcante de reforma legal. Di-
rige-se contra os abusos de seu tempo. Por isso, reto-
ma apenas algumas tradições legais antigas comple-
tando-as, tornando, às. vezes, mais rigorosas algumas
penas, abolindo abusos, falsas interpretações, etc. 2 3
A obra de Hammürabi foi, sem dúvida, uma tentativa
gigantesca de reformar e unificar o direito no seu
reino.
O «Código de Hammürabi» apresenta uma estrutura
literária análoga à do «Código de Lipit-Istar» com
sua divisão tripartida em prólogo, corpo legal e epí-
logo. No prólogo, escrito no <$Jaleto próprio do gênero
épico, Hammürabi a p r e s e n t a ^ como o soberano cha-
mado pelos grandes deuses A 0 p n , Enlil, Samas e Mar-
duk para fazer a justiça (iodaram) brilhar sobre o
país. 30 O epílogo, escrito iguplmente em estilo épico,
fala da finalidade da obra Hammürabi: «(Estas
são) as prescrições de justiça, que Hammürabi, o rei
forte, estabeleceu e que fez Q país tomar um cami-
nho seguro e uma direção 31 Acentua, também,
33. Sobre a figura para nóa não muito clara do ENSÍ, cf. D. O. Edzard,
art. "Herrscher", era Reallexikon der Asayriologie, IV, p. 337-338; H. Frank-
fort, Kingahip and the Gode, Chicago 1948, p. 221ss.
34. Cf. A. L. Oppenheim, Ancient Mesopotamia, Chicago 1864, p. 74ss;
H. Schmõkel, Kulturgeachichte d es Alten Orient, Stuttgart 1961, p. 85BS.
35. Cf. R. Harris, Organisation and Administralion ot, the Cloíater in
Ancient Babylonia, Journal oi Economie and Social History of the Orient
6(1963), 121-157; W . Bollig-, art. "Gesellschaft", em Reallexiktm der Assy-
riologie, III, p. 234, § 2.
36. Cf. H, Frankfort, op. cit., p. 2J5ss. Aliás, no início da chamada
"Lista suméria dos reis" pode-ae ver claramente esta mentalidade. Cf. trad.
ingl. em A N E T 265: "When Kingship waa lowered from h e a v e n . . . "
37. O 3umeriograma LUGAL significa "liomem grande".
15
tivo e político do país. Era o.lugar das grandes deci-
sões, a última instância a que o cidadão podia apelar.
No tempo de Hammurabi, principalmente, esse centra-
lismo atingiu o seu auge. Hammurabi criou um siste-
ma completo de governadores e altos funcionários que
lhe permitiu um controle absoluto sobre todas as es-
feras da vida pública do país 3 8 , como aliás se pode
d-eduzir da inúmera correspondência do rei com seus
funcionários e de outros documentos da época. Ja
A sociedade babilônica no tempo de Hammurabi es-
tava dividida em três classes sociais. O homem livre,
em posse de todos os direitos de cidadão, era chamado
awllum. 10 Dessa camada social eram recrutados os
funcionários, os escribas, os sacerdotes. A essa classe
pertenciam também os profissionais independentes, os
comerciantes, os camponeses e grande parte dos sol-
dados. 11 Naturalmente, havia dentro da classe dos
awllum toda uma gama de diferenças sociais desde os
influentes governadores, altos funcionários, ricos co-
merciantes até os pequenos camponeses ligados a uma
obrigação feudal. A partir da época de Hammurabi
aparece na sociedade babilônica uma classe intermé-
dia entre os awllum e os escravos. Os membros desta
classe são denominados no «Código de Hammurabi»
muskênum. 42 Não se conhece, ao certo, a verdadeira
função dessa class« na estrutura da sociedade babi-
lônica. No tempo de Hammurabi formava, sem dúvi-
da, a grande massa da população. Agrupava, prova-
velmente, os pequenos arrendatários, os soldados mais
simples, pastores, escravos libertos, etc. Muitos de-
les ganhavam a vida alugando-se como trabalhador
Ifí
jornaleiro. 13 Em sua reforma legal Hammurabi preo-
cupa-se, também, com a situação dessa classe e pro-
cura defender os seus direitos especialmente em rela-
ção ao salário que lhe é devido.
A camada ínfima da sociedade babilônica era for-
mada pelos escravos. Em geral, a sorte dos escravos
dependia, em grande parte, do sentido humanitário
dos senhores. Mas os escravos tinham na lei uma certa
proteção. E a reforma de Hammurabi preocupou-se
também com os direitos dos escravos. Hammurabi de-
termina o limite máximo do tempo de serviço para
aqueles que por dívidas eram obrigados à escravidão. 41
A um escravo, a reforma de Hammurabi dava o di-
reito d-e esposar a filha de um homem livre, e os fi-
lhos deste casamento eram considerados livres. 43 Ham-
murabi determina, outrossim, como proceder a divisão
da herança em tais matrimônios. 16 A legislação de
Hammurabi admitia uma certa diferença entre os vá-
rios tipos de escravos. A escrava que gerava filhos em
lugar da esposa principal, por exemplo, gozava na so-
ciedade babilônica de uma situação privilegiada aceita
e protegida pela reforma de Hammurabi. 47 Os mais
infelizes entre os escravos eram, sem dúvida, os pri-
sioneiros de guerra trazidos para a Babilônia. 48
A família era a unidade menor da sociedade e re-
presentava um papel central, como cerne da estrutu-
tura social babilônica. Vigorava o sistema patriarcal.
Embora a poligamia fosse permitida, o matrimônio
ex-a, de certo modo, monogãmico; só uma mulher po-
dia ter o título e os direitos plenos da esposa. 49 No
esforço de reforma de Hammurabi vê-se, claramente,
uma grande preocupação do legislador em salvaguar-
17
dar os direitos da esposa contra a arbitrariedade do
marido e dos filhos. Geralmente era o pai que esco-
lhia a esposa para o seu filho e pagava o terhatum,
isto é: a quantia exigida pelo pai da noiva como com-
pensação pela perda da filha. As famílias mais ricas
a juntavam ao terhatum um presente nupcial comple-
mentar chamado em acádico biblum. Saindo da casa
de seu pai, a esposa levava consigo um dote — deno-
minado em acádico seriktum — que permanecia du-
rante o matrimônio propriedade da esposa e depois de
sua morte era dado aos filhos ou" voltava à casa de
seu pai, caso essa esposa morresse sem deixar filhos.
Após as formalidades do pagamento do terhatum era
redigido o contrato matrimonial, considerado na re-
forma de Hammurabi como «conditio sine qua non»
para a validade do matrimônio. 50 A Babilônia conhe-
cia, também, o costume da filiação adotiva. Os pro-
blemas ligados a tal costume são largamente trata-
dos na legislação de Hammurabi. 51
No tempo de Hammurabi o comércio era, sem dú-
vida, supervisionado e regulamentado pelo palácio. Mas
as transações comerciais estavam, de fato, nas mãos
do tamkãrüm. 52 As diversas mercadorias eram trans-
portadas por via marítima pelo Eufrates ou em cara-
vanas e atingiam as localidades mais distantes do mun-
do então conhecido. Com o grande desenvolvimento da
vida comercial na época de Hammurabi, o tamkãrüm
se tornou mais uma espécie de banqueiro que finan-
ciava a expedição comercial por meio de uma socieda-
de (tappütum) ou enviava um agente seu (samallüm)
com capital para as diversas transações ou com mer-
cadorias para vender. 53 Os lucros ou prejuízos eram
divididos após a viagem de acordo com o contrato fei-
to antes da partida. O pequeno comércio varejista era
explorado pela taberneira, que vendia não apenas bebi-
das, mas tudo o que era necessário para o dia-a-dia.
19
do) estabeleceram para ele (Marduk) em seu meio
20 uma realeza eterna, cujos fundamentos são firmes co-
mo o céu e a terra, naquele dia Anum e Enlil pronun-
ciaram o meu nome, para alegrar os homens, Hammu-
30 rabi, o príncipe piedoso, temente a deus, para fazer
surgir justiça na terra, para eliminar o mau e o per-
verso, para que o forte não oprima o fraco, para, como
o sol, levantar-se sobre os cabeças-pretas 10 e iluminar
40 o país.
Eu (sou) Hammurabi, o pastor, chamado por Enlil,
50 aquele que acumula opulência e prosperidade, aquele
que realiza todas as coisas para Nippur, D U R . A N .
60 K l u , guarda piedoso de É . K U R 12, o rei eficiente que
restaurou Eridu 1 J em seu lugar, aquele que purifica
II o culto de É . A B Z T J " , conquistador(?) dos quatro
cantos da terra, aquele que magnífica o nome de Ba-
bel, que alegra o coração de Marduk, seu senhor, que
10 todos os dias está a serviço da É . S A G . I L A 1 3 , descen-
dência real 1 6 , que Sin 1 7 criou, aquele que faz próspera
a cidade de Ur, humilde suplicante, que traz abun-
20 dância para É . K I á . N U . G Á L 1 S , o rei inteligente, obe-
diente a samas 1 9 , o forte, aquele que fortificou os
21
brilho É . M E . T E . U R . S A G 3 2 , ' aquele que executou
com exatidão os grandes ritos de Inanna, aquele que
cuida do templo H U R . S A G . K A L A M . M A 33, rede 34
70 para o inimigo, a quem Erra, seu companheiro, fez
III alcançar seu desejo, aquele que fez Kutha 35 eminente,
que presenteia ricamente todas as coisas a Meslam 36,
touro indomável que escorneia os inimigos, favorito
10 de Tutu 37, aquele que traz alegria à cidade de Bor-
sippa 3S, o piedoso que não negligencia Ezida, deus dos
reis, aquele que conhece a sabedoria, aquele que au-
20 mettta as terras de cultura de Dilbat 3a , aquele que
enche os celeiros de Ninurta 10 o poderoso, o senhor,
cujos ornamentos são o cetro e a coroa, a quem a sá-,
30 bia Mama 11 fez perfeito, aquele que fixa os planos
de Kes l2, aquele que multiplica os alimentos puros para
N i n t u ( e u sou) o prudente, o perfeito, aquele que
UO procura pastagens e lugares de água para Lagas 44 e
Girsujr>, aquele que oferece imponentes oblações a
Eninnu aquele que prende os inimigos, o protegido
50 de Telitum 4T, aquele que realizou os oráculos de Za-
balam 4S , aquele que alegra o coração de IStar, (eu
22
sou) o príncipe puro, cujas orações Adad 4 9 conhece,
60 aquele que tranqüiliza o coração de Adad, o guerreiro,
em Bit-Kar-kara 50 , aquele que sempre mantém às pro-
priedades em Eudgálgal 51 , (eu sou) o rei que* dá a
vida à cidade de Adab 52, que cuida do templo Emah,
70 senhor dos reis, combatente sem rival, aquele que
IV presenteia a vida à cidade de Maskan-sãpir 53 , que
providencia abundância para Meslam, o prudente ad-
10 ministrador, aquele que atingiu a fonte da sabedoria,
aquele que protegeu o povo de Malgum 5 4 da catás-
trofe, aquele que solidamente estabeleceu sua morada
em prosperidade, aquele que para sempre estabeleceu
20 oferendas puras para Ea e Damgàlnunna 55, que mag-
nificaram a sua realeza.
(Eu sou) o primeiro dos reis, aquele que subjugou
as regiões do Eufrates sob as ordens de Dagan 66, seu
30 criador, aquele que poupou os povos de Mari e Tu-
tul 5T , (eu sou) o príncipe piedoso, que alegra a face
de Tispak 5S , aquele que estabeleceu oferendas puras
para Ninazu co , aquele que salvou SPUS homens da
23
UO desgraça, aquele que estabeleceu seus fundamentos nc
meio de Babel em paz, pastor dos povos, aqüele cujas
obras agradam a Istar, aquele que estabeleceu Istaj
50 na Eulmas 60 no meio da praça de Acade, aquele qut
faz a verdade aparecer, aquele que dirige os povos
60 aquele que conduziu sua boa protetora para ASsur.
aquele que silencia os gritadores, o rei que proclamo!
em Nínive 61 as ordens de Iátar no Emesmes.
(Eu sou) o piedoso, aquele que fervorosamente su-;
plica aos grandes deuses, o descendente de Sumu-la-
70 ilu 62, o poderoso herdeiro de Sin-muballit 63 , sementí
Y eterna de realeza, rei forte, o sol de Babel, aquel«.
que faz surgir a luz para o país de Sumer e Acade
10 o rei que traz à obediência os quatro cantos da terra,
o protegido de Istar.
Quando o deus Marduk encarregou-me de fazer jus-
tiça aos povos, de ensinar o bom caminho ao país.
20 eu estabeleci a verdade e o direito na linguagem dc
país, eu promovi o bem-estar do povo. Naquele dia:
nrt. "Ninazu", em Wórttrburh der Mutholoitic, vol. I, i>. 110). O texto ' (
aqui provavelmente à proteção e asilo que os habitantes de Efaunn
contraram em Babel após uma catástrofe natural. ^
60. É . U L . M A S era o templo <la deusa Istar na antiga cidade tle A
fundada por Sariíon I, que reinou nos anos 23.",0-2.300 a.C. aproximadam^.
«1. Nínive, situada na marifem esquerda do Tigres, foi a última ca
do reino assírio. É . M E S . M E S era o templo de Istar em Nínive.
fi2. O rei Sumu-la-ilu <1816-17X1 a.C.) foi o fundador da dinastia <
Babel tcf. H. Schmükel, Gcschichte de* altev Vorderaxien, p. 106ss).
63. SinmuballiJ. bisneto de Sumulailu, era o pai de Hammurabi (cf.
Schmõlrl Gesrhicht? deu alten Vorderaxirn. p. lOfiss).
24.
2. A s leis
25
Este § está em aparente contradição com o § 6. Contudo este
•parágrafo parece querer abrir uma exceção pa/ra alguns obje-
tos de propriedade do templo 01.1 do palácio, que podiam ser
compensados (cf. G . R . DRIVER-J. C . MILES, The Babylonian
Laws, vol. I, p. 81s). Na segunda parte do artigo é tratado o
caso em que a pessoa lesada é um muSkênum, isto é: um ci-
dadão intermediário entre o awltum e o escravo.
* # *
* * *
27
5. A expressúo acádica a-na si-ím-tim it-ta-la-ak: "foi para o destino"
indica uma morte natural. r v y
6. Literalmente a expressão acádica Xum-ma a-wi-lum su-ú si-bu-su Ia
qir-bu significa: "Se esse awTIum, suas testemunhas não estão perto".
resolvido por meio de um ordálio, uvia espécie de julgamento
divino. O sumeriograma 1D = "rio" aparece no texto prece-
dido do prefixo indicativo dos nomes divinos DINGIR. O rio
provavelmente o Eufrates — considerado como uma divin-
dade devia resolver a questão.
* * *
* * *
* * *
* * *
* # *
* # *
31
Conforme o (significado da raiz acádica habãtum, este pará-
grafo não se refere a qualquer roubo, mas exclusivamente a
um roubo onde é empregada a violência, isto é: a assaltos à
mão armada (cf. W . von SODEN, Akkadisches Handwõrter-
buch, vol. I, sub. v. habãtum, p. 303; cf. tb. G. R. DRIVER-J.
. C. MILES, The Babylonian Laws, vol. I, p. 109s).
* # *
* * *
. * * *
32
O termo acádico numãtum indica um bem móvel qualquer (cf.
W. von SODEN, Akkadisches Handwôrterbuch, vol. II, p. 803
sub voce). Este parágrafo apresenta um caso especial de rou-
bo e encerra o tema "roubo" tratado no conjunto de artigos
21-25.
# * *
* * *
33
ção, um lugar fortificado (cf. W. von SODEN, Akkadischea
Handworterbuch, vol. I, p. 160). Mais difícil, ainda, é a inter-
pretação dá forma, "tu-úr-ru", provavelmente um, stativum D
da raiz verbal târum. A tradução "foi feito prisioneiro" é,
apenas, aproximada.
* # +
* # *
* * *
35
tar do rei ura mercenário como substituto e o condu-
50 ziu: esse capitão ou esse tenente será morto.
* * *
* * *
36
gado a t r i b u t o : sua tábua será quebrada, ele perderá
20 sua prata e o campo, pomar ou casa retornarão ao
seu dono.
# * *
* * *
37
O significado da expressão acádica ilkum ahúm não é clara:
um, feudatário estrangeiro(?), um outro feudatário(?).
Uma comparação entre os parágrafos anteriores e o § 40 mos-
tra claramente que a legislação babilônica distinguia pelo me-
nos dois tipos de feudatários. Um primeiro grupo era for-
mado pelos soldados redúm e bã'irum e pelo feudatário obri-
gado a tributo. Estes não podiam alienar seus bens feudais
(cf. §§ 36-39; U). Um segundo grupo era formado pela sa-
cerdotisa naditum, pelo mercador (sumeriograma DAM. GÃR)
e pelo ilkum ahúm. Estes podiam vender seus bens feudais;
contudo com a "conditio sine qua non" de que o novo proprie-
tário assumisse as obrigações feudais ligadas ao usufruto des-
ses bens.
n n
deslterroará o campo que ele deixou baldio e o devol-
verá ao proprietário do campo.
* * *
* # *
39
§ 46 Se ele (ainda) não recebeu a renda de seu cam-
po, quer tenha arrendado o campo pela metade, quer
50 pela terça parte (da p r o d u ç ã o ) : o agricultor e o dono
do campo dividirão o grão, que foi produzido no cam-
po, na proporção fixada.
* * *
* * *
40
ziu no campo grão ou sésamo, no tempo da colheita o
proprietário do campo tomará o grão ou o sésamo que
foi produzido no campo e dará ao mercador grão cor-
40 respondente à (quantidade de) prata, que ele tomou
emprestada, com seus juros e (além disso) dará' ao
mercador os gastos do cultivo.
'% .+• t-
42
em que este não possua os meios suficientes para indenizar
os prejuízos causados.
* * *
43
de Hammurabi previa uma multa bastante pesada para im-
pedir os abusos; o dobro da multa prevista no § 56: cerca
de 1000 litros de grão para cada hectare de terreno.
* * *
* * *
44
r
multa pesada, se se considera que um cscravo valia apenas
um terço de mina (cf. § 214; 252). O rigor da pena é, con-
tudo, compreensível considerando-se a escassez de macieira na
Babilônia. Nesta mesma linha encontra-se na legislação bíbli-
ca do Dcutcronômio a proibição expressa de destruir árvores
frutíferas cm uma cidade conquistada (cf. Dt 20,10-20).
* * *
* * *
* * *
# * sít
* * *
* •(! *
46
§ A 1 1 Se um awllum tomou prata de um mercador
e seu mercador exigiu dele o pagamento e ele não
tem nada para pagar e deu ao mercador o seu po-
mar depois da fecundação e disse-íhe; «Toma por tua
prata tantas tâmaras quantas o pomar produzir». Este
mercador não poderá concordar; o dono do pomar to-
mará as tâmaras que o pomar produzir e pagará ao
mercador ia prata e seus juros conforme sua tábua
e as restantes tâmaras que o pomar produzir o dono
do pomar tomará para si.
* * #
47
§ D Se um a w l l u m construir sobre o [terreno baldio]
[de seu v i z i n h o ] , s e m permissão de [seu v i z i n h o ] :
ele perderá a casa [que c o n s t r u i u ] e [o terreno baldio
voltará] a [seu proprietário].
* * *
* * *
* * #
. * * #
40
§ O [Se um mercador emprestou a juros grãos ou
prata e não recebeu o capital, m a s recebeu os juros do
grão ou da p r a t a ] , e ou não descontou o grão [ou a
prata] que recebeu e não redigiu uma nova tábua ou
adicionou os juros ao capital: esse mercador resti-
tuirá em dobro todo grão ou prata que tomou.
* * *
* * *
* * * .
51
ou seja, O comissionado, um pequeno comerciante que recebia
de um mercador praia, grão, etc., para vender e comerciar nas
diversas cidades da Babilônia. Estes parágrafos regulam o
. relacionamento entre o mercador e seu comissionado.
A tradução da parte central do § V é apenas aproximada, o
texto está, em parte, bastante mutilado. Seguimos aqui a re-
construção ~ qUe parece bastante provável — de Finet (cf.
Le Code de Hammurapi, p. 72): SAMÁN.LÁ i-na KASKAL
i-p-qi-du-hm i-ma-ak-ka^ar: "... le commis, au cours de la
mission qui foi a étê confiée, commercera(?)..."
A expressão ut-mi-Su i-ma-an-nu-ú: "ele contará seus dias"
significa, provavelmente, qul o comissionado devia descontar
as suas despesas, que naturalmente dependiam do tempo que
durava a viagem de negócios.
* * *
* * *
62
Em caso de assalto durante a expedição comercial, o comis-
sionado não. estava obrigado a restituir os bens perdidos. Mas,
nestes casos, o comissionado assaltado devia tomar sobre si
um juramento solene feito diante da divindade da cidade,
* # *
* stc *
ífc * *
* * *
54
o rigor da pena mostra tratar-se de um perigo público (cf.
como ilustração Jos 2,1-11).
55
Hammurapi, p. 76). Um awllum parte para uma viagem co-
mercial e encarrega um outro awllum do transporte dos obje-
tos que deverão ser vendidos nessa viagem. Mas o "transpor-
tador" se apodera indevidamente dos bens a ele consignados.
* * *
* * *
* * *
56
tia e a garantia morreu de morte natural 11 na casa
de seu credor: este caso não terá processo.
* * *
57
duas possíveis modalidades: ou vender á esposa, filho ou filha,
ou entregá-los em serviço pela dívida. •
A expressão a-na ki-iã-Sa-artim, da raiz kasãSum = "sujeitar",
indica provavelmente um "Schuldsklavendienst" (cf. W. von
SODEN, Akkadisches Handwõrterbuch, vol. I, p. 492b). Daí a
tradução aproximada de "serviço pela dívida".
O tempo máximo de serviço ou de escravidão por causa de
uma dívida é de três anos, no quarto ano deverão novamente
receber a liberdade (cf. Êx 21,2-11; Dt 15,12-18). .
* # #
58
que contestou completamente ( a quantidade de) grão
que foi armazenado em sua casa: o proprietário do
grão declarará oficialmente diante da divindade (a
quantidade de) seu grão e o dono da casa dará ao
20 proprietário do grão o dobro 17 do que tomou.
sfc H»
59
se quem recebeu o depósito negar o fato, o depositante não
poderá recorrer a um processo.
* * *
* * *
* * *
61
40 § 128 Se um awllum tomou uma esposa e não redigiu
o seu contrato: essa mulher não é sua esposa.
* # *
62
Este parágrafo apresenta o caso de uma esposa acusada de
' adultério por seu próprio marido. Não há flagrante nem é
mencionado o nome do amante. Mas na falta de provas, é
previsto pela lei um juramento diante do deus da cidade. Sub-
metendo-se a este juramento religioso, a esposa comprova sua
inocência e pode voltar para casa. A expressão arna É-Sa :
"para a sua casa" indica provavelmente a casa paterna, dessa
mulher (cf. § 142),
* * *
63
schleichen" (?) (cf. Orièntalia 20, 263-264; Grundriss der Akka-
dischen Grammatik, p. 136, § 101 g). Daí nossa tradução
"afastar-se secretamente".
* * *
§ 134 Se um a w l l u m a f a s t o u - s e secretamente e em
30 sua casa não há o que c o m e r : sua esposa poderá en-
trar na casa de u m outro. E s s a mulher não t e m culpa.
* * *
* # *
64
de um o u t r o ; se este awllum voltou e quer retomar
, sua e s p o s a : a esposa do fugitivo não retornará a seu
7CL esposo, porque ele desprezou a sua cidade e f u g i u .
* * *
65
i
§ 139 Se não há t e r h a t u m : dar-lhe-á uma mina de
prata como indenização de repúdio.
# # *
66
será examinado e m seu distrito. S e ela f o r irrepreen-
70 sível e não tiver f a l t a e o seu esposo f o r um saidor
XXXI e a tiver humilhado m u i t o : essa mulher não t e m cul-
pa, ela t o m a r á seu dote e irá para a casa de seu pai.
* * *
67
40 . casa. E s s a sugétum não será, (contudo), igualada à
naditum.
* * *
68
R. LABAT, Traité akkadien de diagnostics et pronostics mé-
dicaux, Leiden 1951, XXVII). Não se conhecem maiores deta-
lhes sobre essa doença. Este artigo se enquadra perfeitamente
dentro da linha de reforma de Hammurabi com sua preocupa-
ção pelos fracos e desprotegidos.
* * *
69
não poderá responsabilizar 2n sua esposa e se essa m u -
lher, antes de entrar na casa do awllum, tinha sobre
50 si uma dívida: seu credor não poderá responsabili-
zar 26 seu marido.
70
morte liqüida o marido. Não é dito, outrossim, se a esposa
culpada devia ser morta antes da empalagão. . Provavelmente a
mulher era; antes, morta e depois empãlada (cf. § 21 — cf.
também a legislação bíblica em Dt 21,22-23). A legislação as-
síria previa a pena de empalação somente para uma mulher
que praticou voluntariamente um aborto (cf. G. CARDASCIA,
Les Lois assyriennes, p. 244, A § 53).
71
de um matrimônio ainda não consumado. Neste caso o pai que
dormiu com a noiva de seu filho é obrigado a pagar a essa
mulher meia mina (cerca de 250 g) de prata como indeniza-
ção pela violação e restituir-lhe integralmente o seu dote. De-
pois disso essa mulher é livre. Ela pode ser esposada por
quem lhe agradar.
* * *
* * *
72
xou-se atrair por ama outra mulher e disse a seu so-
jf.0 g r o : « N ã o tomarei tua filha como esposa»: o pai da
filha levará consigo tudo o que lhe tiver sido trazido.
80
§ 162 Se um awllum tomou uma mulher como esposa
e ela lhe gerou filhos e (depois) essa mulher m o r -
XXXIV reu 3 1 : seu pai não poderá reclamar o dote, seu dote é
de seus filhos.
74
esta disposição vai certamente de encontro a abusos de sua
época (cf. G. R. DRIVER-J. C. MILES, The Babylonian Laws,
vol. I, p. 345a).
# • «ti
75
§ 167 Se um. awílum tomou uma esposa, ela lhe gerou
80 filhos, e (depois) essa mulher morreu 4 1 e (se) após
a sua morte 1 3 ele tomou uma outra mulher e ela (lhe)
XXXY gerou filhos: depois que o pai morrer, os filhos não
repartirão conforme as mães, mas tomará cada um
do dote de sua mãe 4 3 ; os bens da casa paterna, eles
(os) repartirão em partes iguais.
* * *
76
§ 170 Se a primeira esposa de um awllum lhe gerou
40 filhos e a sua escrava (também) lhe gerou filhos;
(se) o pai, durante a sua vida, disse aos filhos que
a escrava lhe gerou: « V ó s sois meus filhos» e os con-
tou com os filhos da primeira esposa: depois que o
50 pai morrer 4Í , os filhos da primeira esposa e os filhos
da escrava dividirão em partes iguais os bens da casa
paterna; m a s o herdeiro, filho da primeira esposa, es-
colherá entre as partes e tomará.
* * *
77
deiros. Na segunda parte ê declarada a parte da hlrtum na
distribuição da herança.
* * *
78
de escravo. Um escravo pode contrair matrimônio com a filha
de um awllum. Os filhos deste matrimônio são livres, o dono
do escravo não tem direito algum sobre eles. Na lei eles são
considerados DUMU .MES DUMU.MI a-wl-lim: "filhos da fi-
lha do awllum.
* * #
79
4O ção cia casa do seu primeiro marido e confiarão a casa
de seu primeiro marido ao seu segundo marido e à
mulher e lhes farão redigir uma tábua. Eles guardarão
a casa, criarão os filhos pequenos e não venderão os
50 objetos. O comprador que comprar os objetos dos fi-
lhos de uma viúva perderá a sua prata; os bens vol-
60 tarão ao seu proprietário.
* * *
80
m a s ela não poderá vender nem dar a outro como he-
r a n ç a ; sua herança pertence a seus irmãos.
81
§ 180 Se um pai não deu um dote à sua filha, na-
ditum de um convento ou M I Z I . I K . R U . U M : depois que
50 o pai morrer 55, ela terá nos bens da casa paterna uma
parte como a de um herdeiro; enquanto ela viver, ela
usufruirá, mas a herança é de seus irmãos.
* * * ,
82
recebendo um terço de sua -parte de herdeiro normal. Mas não
•poderá receber nenhuma parte ligada a uma obrigação de ser-
viço (cf. § 40). Além disso, uma naditum de Marduk é livre
de dispor de sua herança como quiser (compare com os §§
180-181).
* * *
* * *
* * *
83
mãe: essa criança adotada deverá Voltar à casa de
seu pai.
* * *
84
Este -parágrafo mostra mais uma vez a preocupação de jus-
tiça social da reforma de Hammürabi. O filho adotivo deve
gozar dos mesmos direitos dos filhos naturais. Este artigo
supõe, naturalmente, que os pais do adotado vivem e são co-
nhecidos. Um contrato de adoção pode ser rescindido no coso
em que o adotado seja prejudicado em seus direitos como filho.
* * *
Sobre o gerseqqüm cf. § 187, sobre a M1ZI .IK .RU .UM cf.
§ 178.
* * *
85
casa de seu pai, desprezou seu pai que o cria ou sua
20 mãe que o cria e partiu para a câsa de seu p a i : ar-
rancarão o seu olho.
86
.§ 1 9 6 S e u m awilum destruiu o olho de um (outro)
a w l l u m 6 6 : destruirão o seu olho.
* # *
87
No caso de um muskênum a perda do dente pode ser com-
pensada com uma indenização de 1/3 de mina, ou seja: cerca
de 165 gramas de prata.
# * *
§ 2 0 2 Se um a w l l u m agrediu a f a c e de um awllum
que lhe é s u p e r i o r : será golpeado 6 0 (vezes) diante
80 da assembléia com um chicote (de couro) de boi.
* * *
* *• *
88
10 deverá j u r a r : « N ã o o agredi deliberadamente»; além
disso deverá pagar o m é d i c o . 6 7
* * *
90
§ 2 1 5 Se um médico f e z em um awílum uma incisão
difícil com u m a f a c a de bronze e curou o awílum ou
60 ( s e ) abriu a n a k k a p t u m de um awílum com u m a f a c a
de bronze e curou o olho do a w í l u m : ele t o m a r á 1 0
siclos de prata.
* * *
91
A expressão acááica IR ki-ma IR: "escravo como escravo" in-
dica que o escravo restituido deve ter o mesmo valor do es-
cravo morto.
92
Os §§ 224-225 determinam os honorários de um veterinário no
caso de uma intervenção cirúrgica difícil e também a respon-
sabilidade desse veterinário no caso de morte do animal em
conseqüência da operação.
slc * *
* * *
* * *
93
de 35 m-) 'de casa construída clc deverá receber 2 siclos (cer-
ca de 16 y) de prata.
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* # *
* # *
95
outra carga e esse barqueiro foi negligente e afundou
50 o barco ou perdeu sua carga 7 4 : o barqueiro pagará
o barco que afundou e tudo o que se perdeu de sua
carga. 74
* * *
* * *
* * *
96
• (Rudcr-)Schiff") c o Vi*MÁ Sa mu-uq-qé-el-pi-tim indica u
barco que navega na direção da correnteza do rio (cf. W. von
S O D E N , ibid., p. (174 b : "flussabwürts fali rendes (Segel-)Schiff" ).
Em caso de colisão entre dois barcos a culpa recaia sobre o
barqueiro que dirigia o barco na direção contrária à corrente.
Este barco era o menos veloz e por liso podia ner mais facil-
mente controlado e dirigido.
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* * *
97
A existência de leões no tempo de Hammurabi é testemunhada
também nos textos de Mari (cf. ARM I, 118, 14; G. DOSSIN,
Documents de Mari, em Syria 48(1971), p. 1-19). Este pará-
grafo determina que sé um animal alugado for devorado por
um leão em campo aberto, a perda é exclusivamente de seu
proprietário; quem alugou o animal não está obrigado a com-
pensar a perda.
* * *
* * *
76. Em acádico GU4 ki-ma GU*, literalmente: "um boi coma o boi".
77. Em acádico GU4 ki-ma GU<t literalmente: "um boi como o boi".
O § 249 trata do caso de morte natural do animal. O locador
devia jurar diante do deus da cidade sua inocência em rela-
ção à morte do animal. Conforme a concepção babilânica, uma
doença era sempre a conseqüência de uma intervenção puni-
tiva de deus. Um texto de uma carta , do Arquivo real de Mari
— contemporâneo de Hammurabi — ilustra bem esta concep-
ção. Trata-se, provavelmente, de uma epidemia e o governador
de Terqa comunica ao rei: "Em Kulhitim o deus * começou a
devorar bois e pessoas, morrem por dia dois ou três. homens"
(cf. ARM III, 61, 10-13).
# • #
99
70 § 253 Se um awllum contratou um (outro) awllum
para cuidar de seu campo e adiantou^lhe cereais, con-
fiou-lhe bois e ligou-o por um contrato para cultivar
o campo; se esse awllum roubou sementes ou alimen-
80 tos e (isto) foi encontrado em suas mãos: eles lhe
cortarão a mão.
sfc :)e *
* * *
Cantral
O termo pihãtum indica uma obrigação assumida por alguém
.ou imposta a alguém. Neste parágrafo o termo refere-se, sem
dúvida, à multa imposta no § 255. A forma Gtn da raiz verbal
masârum é registrada por W. von SODEN com o significado de
"hin- und hersclileifen" (cf. Akkadisches Handwõrterbuch, vol.
II, p. 624b). A pena imposta era, pois, ser amarrado a uma
parelha de bois e arrastado pelo campo, que ele devia ter
trabalhado. Tal castigo corresponde praticamente à pena de
morte.
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101
f§§ 7, 9, 10) ou d'une 'compensation três élevée f§§ 8, 205)"
{Le Code de Hammurapi, p. 126). A pena imposta aqui é 5
sidos de prata, isto é: cerca de 40 gramas de prata.
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* $
78. Em acádico GU4 kirma GXJi UDU ki-ma UDU, literalmente: "um
boi como o boi, uma ovelha como a ovelha".
102
§ 264 Se [um pastor,] a quem foi entregue gado
maior ou gado menor para apascentar, recebeu seu
50 salário completo e seu coração foi contentado, (se)
ele diminuiu o número do gado maior (ou) diminuiu
o número do gado menor e deixou cair o número de
60 crias: ele pagará, conforme o teor de seu contrato,
as crias e o rendimento.
O parágrafo regulamenta o caso de um pastor contratado que,
por incompetência ou por negligência, dizima o rebanho que
lhe foi conf