ESTÁ ÁRVORE NÃO VAI CRESCER POR CIMA DE MIM Cadáveres de peixes Brilham na lama Caixas de biscoito monte de excremento JONTEX BELMONT Absorventes rasgados Sangue Das mulheres de Cólquida MAS VOCÊ TEM QUE TOMAR CUIDADO SIM SIM SIM SIM SIM BOCETA SUJA EU DIGO A ELA ESTE É MEU HOMEM ME FODE VEM DOCINHO Até que a Argo destrua seu crânio O navio não mais usado Pendurado na árvore hangar e lugar de defecação dos abutres à espera Acocorados nos trens Rostos de jornal e cuspe Um membro nu em cada calça olha a carne laqueada Sarjeta que custa o salário de três semanas Até que o verniz Estale Suas mulheres esquentam a comida penduram as camas nas janelas escovam O vômito dos ternos domingueiros Canos de esgoto Expelindo crianças em levas contra o avanço dos vermes Aguardente é barata
As crianças mijam nas garrafas vazias
Sonho de um monstruoso Coito em Chicago Mulheres lambuzadas de sangue Nos necrotérios Os mortos não olham pela janela Não tamborilam na privada É isso que eles são Terra cagada pelos sobreviventes ALGUNS PENDURADOS EM POSTES DE LUZ LÍNGUA DE FORA NA BARRIGA O LETREIRO EU SOU UM COVARDE
PAISAGEM COM ARGONAUTAS
Devo falar de mim Eu quem De quem se fala quando Se fala de mim Quem está Na chuva de excremento dos pássaros Na pele calcinada Ou outro Eu estandarte Andrajo sangrento desfraldado Flutuar Entre nada e Ninguém desde que haja vento Eu escarro de homem Eu escarro De mulher Lugar-comum em cima de lugar-comum Eu inferno de sonhos Que leva meu nome acidental Eu medo Do meu nome acidental MEU AVÔ FOI IDIOTA NA BEÓCIA Eu minha viagem marítima Eu minha anexação Minha Caminhada pelos subúrbios eu Minha morte Na chuva excremento dos pássaros na pele calcinada A âncora é o último cordão umbilical Com o horizonte desaparece a memória da costa Pássaros são despedida são reencontro A árvore abatida lavra a cobra o mar Fino entre o eu e o não mais eu o casco O MAR É A NOIVA DO MARINHEIRO Os mortos dizem estão no fundo de pé Nadadores eretos Descansam até os ossos Acasalamento dos peixes no tórax estripado Cracas no crânio Sede é fogo Chama-se água o que queima a pele Fome mastiga a gengiva sal os lábios Obscenidades excitam a carne só Até que o homem agarra o homem Calor de mulher é uma cantilena As estrelas sinais frios O céu exerce gélida vigilância Ou o desembarque infeliz Contra o mar sibila O estalo das latas de cerveja DA VIDA DE UM HOMEM Lembrança de uma batalha de tanques Minha caminhada pelos subúrbios eu Entre os escombros e entulhos cresce O NOVO Cubículos para foder com aquecimento central O tubo da imagem vomita mundo na sala Deterioração faz parte do plano O contêiner Serve de cemitério Vultos nos escombros Nativos do concreto Parada Dos zumbis perfurados de anúncios Nos uniformes da moda de ontem cedo A juventude de hoje fantasmas Dos mortos da guerra que acontecerá amanhã MAS O QUE RESTA É PATROCINADO PELAS BOMBAS No esplêndido acasalamento de albumina e zinco As crianças fazem paisagens de lixo Uma mulher é o conforto habitual NO MEIO DAS COXAS A MORTE TEM UMA ESPERANÇA Ou o sonho iugoslavo Entre estátuas quebradas em fuga De uma catástrofe desconhecida A mãe a reboque a velha com a canga O FUTURO acompanha em couraça enferrujada Um bando de atores passa em marcha VOCÊS NÃO PERCEBEM QUE ELES SÃO PERIGOSOS SÃO ATORES CADA PÉ DE CADEIRA VIVE UM CACHORRO Lama de palavras de meu Corpo sem dono abandonado Como sair da mata espessa Dos meus sonhos que cresce lenta Silenciosa ao meu redor Um farrapo de Shakespeare No paraíso das bactérias O céu é uma luva caçando Mascarado de nuvens de arquitetura desconhecida Descanso na árvore morta As irmãs papa-defunto Meus dedos brincando na vagina À noite na janela entre cidade e paisagem Assistíamos a morte lenta das moscas Como Nero pairava exultante sobre Roma Até o carro passar Areia no câmbio Um lobo na estrada quando ele se despedaçou Viagem de ônibus ao amanhecer À direita e à esquerda As irmãs se evaporando sob o vestido O meio-dia Empoava suas cinzas sobre minha pele Durante a viagem ouvíamos a tela rasgar E víamos as imagens entrando umas nas outras As matas ardiam em EASTMAN COLOR Mas a viagem não tinha chegada NO PARKING Com um olho Polifemo controlava O trânsito no único cruzamento Nosso cais era um cinema morto As estrelas em concorrência apodreciam sobre a tela Na bilheteria Fritz Lang estrangulava Boris Karloff O vento sul brincava com velhos cartazes OU O DESEMBARQUE INFELIZ Os negros mortos Cravados como estacas no atoleiro Nos uniformes de seus inimigos DO YOU REMEMBER DO YOU NO I DON’T O sangue seco Fumega ao sol O teatro da minha morte Estreou quando eu estava entre as montanhas No meio dos companheiros mortos sobre a pedra E acima de mim surgiu o esperado avião Sem refletir eu sabia Que aquele aparelho era O que minhas avós chamavam de Deus A pressão do ar varria os cadáveres do platô E tiros espocavam em minha fuga cambaleante Eu sentia MEU sangue escapando de MINHAS veias E MEU corpo se transformando na paisagem DA MINHA morte PELAS COSTAS O PORCO O resto é lírica Quem tem os melhores dentes O sangue ou a pedra
O texto requer o naturalismo da cena. MARGEM ABANDONADA pode ser apresentada durante o funcionamento de um Peep Show, PAISAGEM COM ARGONAUTAS pressupõe as catástrofes nas quais a humanidade trabalha. A paisagem pode ser uma estrela morta, onde uma missão de resgate de um outro tempo ou de um outro espaço ouve uma voz e encontra um morto. Como em qualquer paisagem, o Eu neste trecho do texto é coletivo.