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FICHAMENTO – A PELE DA CULTURA

DE KERCKHOVE, Derrick. A pele da cultura: investigando a nova realidade


eletrônica. São Paulo: Annablume, 2009 (edição original de 1995)

Tal como as reflexões de Pierre Levy e Manuel Castells, as ideias de De


Kerckhove refletem sobre as vivências do final do século passado, quando a era das
mídias sociais online, os smartphones no Brasil ainda não eram disseminados. Mesmo
que parece um rizoma do passado, o marco crucial foi a difusão dos computadores e da
internet. Em linhas gerais, reflete sobre a nova realidade eletrônica, atualizando a obra
de McLuhan, quando tratou da era elétrica/eletrônica difundida pelo uso em massa da
televisão.

O autor cunha o termo “tecnopsicologia” para tratar dos efeitos das tecnologias
elétricas.

No capítulo 3, intitulado “O programa alfabético: as origens da tecnologia da


linguagem”, discorre que a escrita tenha origem no sistema de registro das trocas, ou
seja, a base da criação do dinheiro. E que nossa sequência de escrita, enquanto uma
linguagem comparada a um software de condução da nossa psicologia, afeta também
nosso comportamento físico, emocional e mental.

“O alfabeto encontrou o seu papel no cérebro: especificar as rotinas que iriam


suportar o software de funcionamento articulado no brainframe cerebral letrado. O
alfabeto criou duas revoluções complementares: uma no cérebro e outra no mundo” (p.
46).

E conclui: “o alfabeto terá provavelmente alterado a maneira como vemos o


mundo” (p. 46).

CONVERGENCIA –

No subtítulo integração, De Kerckhove (1995/2009) pontua a ocorrência de um


processo de integração tecnológica, na qual “inteligência artificial, sistemas periciais e
redes neurais estão invadindo todos os media integrando as tecnologias eletrônicas -
através da digitalização universal -, fazendo convergir o áudio, o vídeo, as
telecomunicações e as tecnologias computacionais” (p. 57).

Para o autor, a digitalização é uma construção que remonta “ás origens da escrita
alfabética que corta a realidade em letras que não tem sentido entre si” (p. 57). A
digitalização tem uma história: a tradução do alfabeto para a eletricidade aconteceu já
por via do uso telégrafo, quando seu inventor, Samuel Morse reduziu as 26 letras do
alfabeto em três códigos: longo, curto e sem sinal. Depois, os informatas reduziram para
dois códigos: on/off.
Essa integração tecnológica acontece em três níveis: “interior-
hiperconcentração e aceleração do poder computacional; exterior- padronização das
redes de telecomunicações internacionais; e interativa: interatividade biológica
homem/máquina na realidade virtual” (DE KERCKHOVE, 1995/2009, p. 57).

“Agora a velocidade da interação atingiu a imediaticidade” (p. 64)

MC LUHANA-MEIO É MENSAGEM

Na versão brasileira da obra “A pele da cultura”, de 2009, uma entrevista


realizada por Vinicius Pereira, estudioso também das ideias de McLuhan foi adicionada
ao final da obra. Nessa entrevista, uma das questões abordava a forma como as pessoas
se comunicam no século XXI e em sua fala, De Kerckhove reflete sobre a presença
maciça dos celulares e atualiza mais uma vez uma das ideias centrais de seu mestre:
“McLuhan sugeriu que o meio é a mensagem e o usuário é o conteúdo. Isso é verdade:
nós estamos no centro de uma imersão completa no ambiente dos media e da
informação. As pessoas estão criando as suas próprias networks, das mais imediatas
(amigos e família) até as globais, em blogs e softwares sociais” (2009, p. 246- De
Kerckhove em entrevista a Vinicius Pereira). A TV esta perdendo partilha de mentes,
atenção, globos oculares para outra tela: a Internet. E a Internet no celular se configurou
nesse final da segunda década do século XXI como a tela, dentre as cinco que disputam
nossa atenção, que condensa todas as mídias. e envolvem diferentes estratégias de
reação: a televisão, o computador, a internet, videogame e telefone celular.

“AS UNIVERSIDADE TEM SE BENEFICIADO MUITO POR ESTAREM


CONECTADAS E MUITO DO AMBIENTE DE REDE FOI FORJADO DENTRO OU
AO REDOR DAS UNIVERSIDADES” (DE KERCKHOVE, 2009, em entrevista para
Vinicius Pereira, p. 247).

“O anúncio é a informação” (DE KERCKHOVE, 2009, em entrevista a


Vinicius Pereira)

As tecnologias eletrônicas estendem nosso ser físico muito mais que os limites
de nossa pele, porque o sentido dos limites corporais porque a fronteira tradicional entre
o que está dentro e o que está fora são problemáticas nas interações informáticas. “O eu
online não se apoia em nenhum tipo de tempo, espaço ou corpo, e é, sem dúvida, um
presente” (DE KERCKHOVE, 1995/2009, p. 221).

Um ambiente pan-cognitivo, no qual usuário individual, produtor e consumidor


transformam-se ao mesmo tempo em uma “entidade ubíqua e nodal/neural” (p. 222).

“Mídias eletrônicas são campos unificadores imediatos” (DE KERCKHOVE,


1995/2009, p. 223)
Com as tecnologias elétrico-eletrônicas, como a televisão, a imaginação passou a
acontecer fora do corpo e da mente, em uma experiência psicológica pública e coletiva.
Na televisão, as imagens não vêm da experiência pessoal dos indivíduos, mas do
trabalho de uma equipe de profissionais e fornece um involucro psicotecnológico moral,
elaborando parte de nossos pensamentos em nosso lugar.

Já os computadores estabelecem mediação entre sistema nervoso interno e


sistemas de processamento. Expandem as raízes da psicologia humana. “A eletricidade
é também o meio que liga o mundo inteiro numa só rede. [...] as novas mídias
eletrônicas efetuam uma espécie de mediação social numa única e continua extensão
dos nossos poderes pessoais de imaginação, concentração e ação” (DE KERCKHOVE,
1995/2009, p. 227)

“Os sistemas de processamento de informação, como os computadores e os


vídeos, são extensões de algumas das principais propriedades intelectuais das nossas
mentes. Desta forma, podem ser consideradas tecnologias da psique – psicotecnologias.
É o caso do telefone, rádio, televisão, computadores e satélites, por exemplo”. (DE
KERCKHOVE, 1995/2009, p. 228) Modificam as relações no tecido social e com isso,
alteram também aspectos psicológicos, em especifico aqueles relacionados a interação
entre a mente e a máquina.

“O fluxo eletrônico delimita as nossas fronteiras pessoais. O feixe de elétrons


apaga a maior parte das nossas defesa psicológicas e corrói as paredes de nossa
identidade priva” (DE KERCKHOVE, 1995/2009, p. 233).

A foto da terra faz com que seja nossa, permite uma apropriação e uma
percepção do todo e do uno. “É uma experiência psicológica com implicações imensas
A melhor vingança contra as psicotecnologias que nos transformariam em extensões
delas próprias é inclui-las dentro da nossa psicologia pessoal. Um novo ser humano está
nascendo” (p. 235)

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