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COMPARATIVO SOBRE OS TEÓRICOS

IOHANNES AMOS COMENIUS x JEAN-JACQUES ROUSSEAU x JOHANN


HEINRICH PESTALLOZZI

Iohannes Amos Comenius, Jean - Jacques Rousseau e Johann Heinrich Pestalozzi


são as bases do pensamento pedagógico europeu, difundindo-se posteriormente por todo
o mundo, demarcando as concepções pedagógicas que atualmente são conhecidas como
Pedagogia Tradicional e Pedagogia Renovada.

Iohannes Amos Comenius (Jan Amos Komenský) (1592-1670), pensador do século


XVII e pai da Didática Moderna, foi pioneiro na proposta de uma educação democrática e
inclusiva. Ele organizou a didática em quatro períodos: a infância, a puerícia, a
adolescência e a juventude, assim como introduziu questionamentos acerca da educação
de crianças menores de seis anos e o que elas deveriam aprender.

Considerado um clássico da educação e da didática, também foi o primeiro teórico


a respeitar a inteligência e os sentimentos da criança, Comenius defendia que o cultivo
dos sentidos e da imaginação precedia o desenvolvimento racional. Ele afirmava que,
para o desenvolvimento da criança eram necessários materiais diversos que seriam
internalizados, tornando assim a experiência mais concreta e a possibilidade do brincar e
do aprender pelos sentidos. (GASPARIN, 1997).

Comenius é autor da obra Didática Magna, um livro publicado em 1649, com o


ideal de pansofia, que prega um ensinar “tudo a todos totalmente” (Omnes Omnia
Omnimo) e que marca o início da sistematização da pedagogia e da didática no Ocidente.
(SILVA, 2006)

Sua referencia como autor contemporâneo, se dá em dois aspectos, segundo Silva


(2006): uma, pela sua crítica sobre a concepção do processo de conhecimento que
converge de um empirismo impressionista a um inatismo enquanto predisposição natural
para o conhecer e outra, sobre temáticas completamente atuais, contempladas na sua
proposta de educação, tais como, democratização do ensino, reforma das escolas, ensino
não-fragmentado, educação infantil (de zero a seis anos) com conteúdos filosóficos e
princípio da heterogeneidade educacional.

A obra Didática Magna ou Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos, tinha
pretensão de ser um método seguro de instituir, em todas as comunidades, escolas para
a formação de jovens, independente de sexo ou classe social. Neste livro, considerado
maior contribuição para o pensamento educacional, ele racionaliza todas as ações
educativas, desde a teoria didática até as questões cotidianas de sala de aula.(SILVA,
2006).

As relações entre professor e aluno seriam consideradas as possibilidades e os


interesses da criança, de modo que o professor passaria a ser visto como um profissional,
não um missionário, e seria bem remunerado por seu trabalho. Apesar de ser um
religioso, Comênio propôs uma ruptura radical com o modelo de escola da Igreja Católica,
voltado para a elite e dedicado aos estudos abstratos. (SILVA, 2006).

Gasparin (1997) refere que Comenius foi capaz de fazer uma leitura da realidade
em suas múltiplas e contraditórias determinações, mostrando direções alternativas,
questionando a educação que estava estabelecida, buscando novos horizontes para as
escolas e o processo pedagógico, expressando as ansiedades dos homens de seu
tempo, contestando valores instituídos; pregando utopias, com grande coragem e
determinação, como um profeta que anuncia a aurora de uma nova era.

Comenius nomeou seu método de ensinar tudo a todos como “Didacografia”, uma
vez que, graças a tal método, poder-se-ia fazer imprimir na mente dos alunos – ao mesmo
tempo e por meio do ensino de um só professor – o conhecimento de todas as coisas, ou
melhor, o conhecimento dos fundamentos, das razões e dos objetivos das coisas
principais. (GASPARIN, 1997).

Batista (2017) refere que este pensador concebeu a educação como forma de
humanização, de fazê-lo passar de um estado bruto para o de ser humano propriamente,
“convém formar o homem, se ele deve ser homem”. Segundo ele, a formação do homem,
deve começar na primeira idade, devido à semelhança de sua estrutura com a da
natureza (plantas) e pela incerteza da vida, que é breve.

Para ele, a escola é uma das principais bases da sociedade, o fundamento da


formação humana. Refere que o espaço apropriado para a aprendizagem deveria ser a
escola, pois em grandes grupos, onde houvesse o compromisso com a produção de
conhecimento, o ensino seria mais estimulante do que na solidão. A escola deveria ser
uma verdadeira “oficina de humanidade”, onde se ensina “tudo a todos”. (BATISTA, 2017) .

Para o pensador, a ligação existente entre filosofia e educação, pode-se encontrar


na especificação do conteúdo a que ele se refere: ensinar “tudo”. Pois o importante não é
o conhecimento de todas as ciências, mas conhecer os fundamentos, “as razões e os
objetivos” das principais coisas que existem na natureza e o que os homens fabricam.
(SILVA, 2006).

Jean - Jacques Rousseau (1712 - 1778), viveu no século XVIII, no “século das
luzes”, no período do Iluminismo (Era da razão). É considerado um grande estudioso
dentro das áreas da política e da educação. Opõe-se ao iluminismo por não considerar
apenas a razão como uma única realidade humana. Ele levava em consideração a
natureza humana, ou seja, as paixões, sentimentos, atitudes e ações. (MANZAN, 2013).

Rousseau revolucionou o conceito de Educação, condenando veementemente


aquela que era oferecida na época. Por isso, suas ideias foram alvo de muita polêmica e
são discutidas até hoje.

Sua principal obra foi ‘Emílio ou da educação’, publicada em 1762, em que ele
enfatiza sua preocupação quanto ao estabelecimento da caracterização do “ser” da
criança, pontuando na infância de maneira geral, vestígios do homem em estado de
natureza. Ao fazer isso, Manzan (2013), refere o estabelecimento de uma periodização da
vida e do aprendizado, e aponta em seu texto uma denuncia explicita quanto ao descaso
da época perante o tema da infância.

Ele defende que é necessário respeitar os ritmos de aprendizagem, tal qual as


etapas da vida em que o sujeito estará apto para receber esse ou aquele conhecimento e
preocupa-se quanto aos modos de agir e de proceder no ensino, tanto no que toca aos
conteúdos quanto nos aspectos concernentes às formas de ensinar (BOTO, 2010).

A tarefa da educação consiste em resgatar do olvido da memória os princípios


essenciais da existência humana, que a sociedade, pelas suas muitas contingências, nos
condiciona a esquecer, de modo que a preocupação pedagógica é centrada sobre o corpo
da criança. (MARTINS, 2012)

Para Rousseau, segundo Martins (2012), na sociedade, o homem encontra-se


preso e circunscrito à figura do cidadão, enredado por um conjunto de máscaras que mais
não fazem do que remeter a condição humana ao esquecimento. Segundo ele, o homem
político ou o homem que vive em sociedade, traz consigo uma máscara de artificialidade
que tapa e se sobrepõe à sua verdadeira natureza.

Johann Heinrich Pestalozzi (1746 - 1827), dirigia um instituto de ensino localizado à


margem do Lago Neuchâtel, em Yverdon, na Suíça, que ficou célebre em toda a Europa.
(VILLAS-BÔAS, 2017). Sua trajetória de vida influenciou na sistematização da sua
pedagogia.
Pestalozzi formou muitas figuras mais importantes do século XIX, a exemplo de
Friedrich Fröbel (1782-1852), célebre pedagogo que criou o jardim de infância; Hyppolite
Léon Denizard Rivail (1804-1869), aluno e instrutor do instituto por muitos anos, grande
educador que assumiu o pseudônimo Allan Kardec aos seus 52 anos; além de famosos
políticos, artistas etc. (VILLAS-BÔAS, 2017).

Pestalozzi tinha como meta, abolir algumas heranças das escolas tradicionais que
obrigavam os estudantes a serem passivos, e para tal sistematizou uma proposta
pedagógica que mudou o estatuto do aluno, do professor e do saber, conectando o ensino
ao aprendizado pela intuição. (OLIVEIRA, 2017).

Oliveira (2017) refere que Pestalozzi considerava que as leis psicológicas dariam
as diretrizes do ensino e da educação da criança. A instrução elementar tinha como
objetivo desenvolver as forças morais, intelectuais e físicas da criança, levando em
consideração que a vida cotidiana dessa criança, de modo que o desenvolvimento de tais
forças seguisse seu curso natural.

Pestalozzi pôs em prática as idéias de Rousseau, quando defendeu uma educação


não-repressiva e dedicou ampla atenção ao ensino como meio de desenvolvimento das
capacidades humanas, como cultivo do sentimento, da mente e do caráter,
compreendendo que a educação verdadeira e natural conduz à perfeição, à plenitude das
capacidades humanas”. (ZANATTA, 2005).

Compreendendo a importância da função social da escola, Pestalozzi postulou a


difusão do saber universal a todas as classes sociais como condição para se alcançar a
dignidade humana. Como proposito, dedicou-se a descobrir as leis que propiciassem o
desenvolvimento integral da criança. (ZANATTA, 2005).

Pestalozzi afirmava que a função principal do ensino é levar as crianças a


desenvolver suas habilidades naturais e inatas. Pestalozzi era contra castigos e punições,
propunha um ensino de período integral e também a divisão das crianças em três turmas,
respeitando suas idades e fases do desenvolvimento. (INCONTRI, 2008)

Zanatta (2005) descreve que em sua concepção, a criança é tal como um


organismo que se desenvolve de acordo com leis definidas e ordenadas e contém em si
todas as capacidades da natureza humana, que se revelam como unidade da mente,
coração e mão (ou arte), e devem ser devolvidas por meio da educação intelectual,
profissional e moral, estreitamente ligadas entre si.
Uma das preocupações mais fortes da pedagogia pestalozziana, idêntica à de
Comenius, um século e meio antes, era a de favorecer na criança a posse da linguagem
dentro de parâmetros de precisão e objetividade. Tratava-se de garantir que tudo o que
passase ao domínio da linguagem fosse antes sentido, percebido, observado,
experimentado. (INCONTRI, 2008)

Pestalozzi, que deu continuidade às ideias de Rousseau. Nenhum dos pensadores


modernos deu tanta contribuição à Educação quanto Pestalozzi, que exaltou o amor e o
afeto nesse processo. Segundo Incontri (2008), Pestalozzi pregava o amor entre
educador e educando e a educação ativa, em que a criança aprende fazendo, devem
preceder a racionalização de conceitos e a sua verbalização.

Para Incontri (2008), diferente de Rousseau, cuja teoria é idealizada, Pestalozzi,


experimentava a sua teoria e abstraia a teoria da prática nas várias escolas que criou. Do
mesmo modo para Comenius, deve-se aprender os fundamentos e as finalidades de
todas as coisas, também através de uma educação ativa, antes de sobrecarregar a
memória de palavras vazias.

É fato que, Comenius tem enfoque na educação integral e segundo Gasparin


(1997), trouxe a realidade social para a sala de aula, enquanto Rousseau, trouxe à
pedagogia, ensinamentos com base em seu olhar diferenciado sobre a infância e
Pestalozzi ressaltou a ideia da pedagogia com afetividade.

São grandes pensadores e idealistas que revolucionaram a educação com suas


teorias, propostas e práticas pedagógicas, com intuito de desenvolver o indivíduo na sua
integralidade. Ainda hoje, estes pensadores têm grande influência na Pedagogia da
atualidade, portanto pode-se afirmar que as ideias difundidas no tempo em que viveram,
são atemporais e fundamentais para as transformações essenciais na educação.
REFERENCIAS

BATISTA, D. E. A didática de Comênio: entre o método de ensino e a viva voz do


professor. Pro-Posições [online]. 2017, vol.28, suppl.1, pp.256-276. ISSN 1980-
6248. http://dx.doi.org/10.1590/1980-6248-2016-0101.

BOTO, C. A invenção do Emílio como conjectura: opção metodológica da escrita de


Rousseau. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.36, n.1, p. 207-225, jan./abr. 2010.

GASPARIN, J. L. Comênio: A Emergência da Modernidade na Educação. Petrópolis:


RJ: Ed. Vozes, 1997. 147 p.

INCONTRI, D. Pestalozzi e Kardec - Quem foi mestre de quem? (In: Revista Cristã de
Espiritismo, São Paulo: Vivência Editorial 55ª edição fev/mar. 2008)

MARTINS, C. Máscara e Educação em Jean-Jacques Rousseau. Diacrítica [online].


2012, vol.26, n.2, pp.354-369. ISSN 0807-8967.

MANZAN, A. P. A. L. et al. A vida de Jean-Jacques Rousseau: Uma saga fascinante.


Revista Encontro de Pesquisa em Educação Uberaba, v. 1, n.1, p. 19-29, 2013.

OLIVEIRA, M. Pedagogia Intuitiva da Escola Elementar de Pestalozzi: como se


ensinava Aritmética? Bolema, Rio Claro (SP), v. 31, n. 59, p. 1005-1031, dez. 2017

SILVA, U. R. da. Filosofia, educação e metodologia de ensino em Comenius. In: II


Seminário Nacional de Filosofia e Educação, 2006, Santa Maria. Anais do II Seminário
Nacional de Filosofia e Educação – confluências. Santa Maria: Editora da UFSM, 2006. v.
1.

VILLAS-BÔAS, M. A. Pestalozzi e a revolução da educação brasileira. Carta Capital


[online]. 2017. Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/blogs/vanguardas-do-
conhecimento/pestalozzi-e-a-revolucao-da-educacao-brasileira>. Acesso em: 12 ago.
2018.

ZANATTA, B. A. O método intuitivo e a percepção sensorial como legado de


Pestalozzi para a geografia escolar. Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 66, p. 165-184,
maio/ago. 2005

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