Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Competências Conversacionais na
Prática Docente: proposta de um
modelo auxiliar de Coordenação
de Ações Para o Aprendizado
Mútuo.
Prof. MSc. Sandro Tavares Silva (/u/sandrots/),
20 de janeiro de 2008
(/u/sandrots/)
André Luiz Mariz Silva, Mário de Oliveira Braga Filho, Sóstenes Leite da Silva Lucena e Sandro
Tavares Silva
almariz@ucb.br, braga@ucb.br, sostenesleite@gmail.com, sandrots@gmail.com
Problema: avaliar a interação existente entre discentes e docentes dos cursos de Bacharelado
em Ciência da Computação (BCC) e Bacharelado em Sistemas de Informação (BSI) da
Universidade Católica de Brasília – UCB, a partir da ótica dos discentes, buscando identificar o
seu impacto no processo de ensino-aprendizagem.
RESUMO
Com base nos conceitos das competências conversacionais, e sua importância no processo da
construção de relações mais saudáveis e construtivas, o presente artigo busca identificar as
interações existentes entre docentes e discentes nos cursos de BCC e BSI da Universidade
Católica de Brasília. Através de questionário respondido pelos alunos, foi feita uma análise do
nível de interação existente entre aluno x aluno, aluno x professor e aluno x direção. A análise
permitiu a elaboração de um modelo de coordenação de ações como instrumento facilitador
das interações em sala de aula, formalizado por meio do plano de ensino.
PALAVRAS CHAVES
Rotinas defensivas, competências conversacionais, diálogos organizacionais, coordenação de
compromissos, aprendizado mútuo.
http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/competencias-conversacionais-na-pratica-docente-proposta-de-um-modelo-auxiliar-de-coo… 1/16
09/01/2018 Competências Conversacionais na Prática Docente: proposta de um modelo auxiliar de Coordenação de Ações Para o Aprendizado Mút…
ABSTRACT
With base in the competences of conversation concepts, and its importance in the construction
process of more healthy and constructive relations, the present article search identify the
existing interactions between prelecters and students in BCC's Courses and BSI of the Catholic
University of Brasília. Through questionnaire answered by the students, it was made a level
analysis of existing interaction between student x student, student x professor and student x
courses direction. The analysis allowed the elaboration of an actions coordination model as
facilitative instrument of the interactions in class room, formalized by means of the teaching
plan.
KEYWORDS
Defensive routines, conversational abilities, organizational dialogues, coordination of
commitments, mutual learne.
INTRODUÇÃO
Os ambientes aqui analisados são a sala de aula e a Direção dos cursos de BCC e BSI. A
análise do ambiente da Direção justifica-se tendo em vista que, normalmente é a ela que o
aluno recorre sempre que necessita de apoio para solucionar problemas, desde os mais
simples (ex. matrícula, grade escolar), até alguns mais complexos (ex. desentendimentos entre
aluno/professor e aluno/aluno, aluno/instituição).
Considerando que o binômio ensino-aprendizagem é a síntese do processo educacional, a qual
proporciona ao indivíduo a capacidade de permear os diversos campos de atuação: social,
profissional, intelectual e emocional – este trabalho está circunscrito no âmbito das
conversações e sua importância no processo de construção de relações mais
saudáveis e produtivas no ambiente universitário e parte do princípio de que os alunos
pesquisados não possuem as distinções conversacionais que são a base para “aprender a
conviver”.
Nascemos com uma herança genética, vivemos a todo momento, sofrendo as influências do
ambiente no qual vivemos, mas é justamente o aprendizado que nos leva à adaptação e à
superação dos óbices apresentados pelo determinismo daqueles agentes.
A própria definição de educação – extraída da lei 9394/96 de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), em seu artigo 1º. – estabelece que “[...] abrange os processos formativos que
se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de
ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
manifestações culturais”.
Este artigo inclui pesquisa bibliográfica sobre o tema dos conversações a qual subsidiou a
análise da sua natureza lingüística e ontológica, das suas formas e da sua importância
crescente num mundo globalizado onde as fronteiras que separam as pessoas são cada vez
mais tênues e há uma tendência inequívoca da união mundial dos povos, das nações, das
culturas e das pessoas. Neste cenário, as conversações se revertem numa ferramenta
indispensável a todos nós, uma vez que ninguém pode abdicar da enexorável necessidade de
bem relacionar-se, sob pena de padecer no roll dos excluídos.
Referencial Teórico
Escuta e Diálogo
http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/competencias-conversacionais-na-pratica-docente-proposta-de-um-modelo-auxiliar-de-coo… 2/16
09/01/2018 Competências Conversacionais na Prática Docente: proposta de um modelo auxiliar de Coordenação de Ações Para o Aprendizado Mút…
Conversamos a maior parte do nosso tempo, quando não estamos dialogando com nós
mesmos, estamos interagindo com outras pessoas, seja pessoalmente ou através de
tecnologias da comunicação. O diálogo é elemento constitutivo da linguagem. No fenômeno do
diálogo cada um é ouvinte sensível, respeitoso e ativo, elaborando e somando algo à
contribuição de outra parte ou partes.
A linguagem constrói e modifica o mundo e as conversações têm importante papel na nossa
interação com o mundo social. Através das conversações agregamos novas palavras, novos
conceitos e novos comportamentos ao nosso repertório comportamental.
Esse processo não é linear, pois através da interação surgem novas possibilidades de refletir
sobre si mesmo e de se chegar a um ponto diferente do inicial.
Segundo Rafael Echeverria (2004, p.3) “se soubéssemos como cada um conversa, como cada
um dialoga consigo mesmo e com as pessoas em seu redor, começaríamos a entender o
mistério profundo da alma humana, as particularidades de cada um e seus segredos”. Podemos
perceber o quanto a conversa e o diálogo, revelam coisas sobre nós e como transformam o
mundo. O diálogo é essencial no relacionamento das pessoas nas organizações.
Segundo Leboyer (2000, p.55), as competências são repertórios comportamentais adquiridos
que algumas pessoas têm um domínio melhor do que outras em determinados contextos.
Através das competências pessoais o sujeito pode emitir respostas mais adequadas em
algumas situações, apresentando melhores resultados.
As conversações no ambiente de trabalho formam uma importante rede que definem não só o
destino do trabalhador, como também revela como nos relacionamos com o outro. A partir de
cada rede de diálogos dentro de uma empresa, que pode ser considerada um sistema dinâmico
de conversações, podemos vislumbrar todas as possibilidades de produtividade e projeções e
os “porquês” dos seus problemas.
Percebe-se no geral, que existem falhas na comunicação das empresas devido à falta de
competências conversacionais. Cada um tem seu universo, suas vivências, seu modelo mental,
que muitas vezes parece não estar disposto a mudar a forma de agir e pensar. O sujeito na
organização, principalmente líderes e gerentes, deveriam trabalhar suas competências
organizacionais intrínsecas, fazendo uma auto-análise, de forma que facilitasse o fluxo do
trabalho em equipes.
“... um gerente deve dedicar 50% do seu tempo a si mesmo, tentando modificar hábitos,
questionando valores e gerando comportamentos que não lhe são espontâneos. A principal
gerência que ele tem que fazer é a de si mesmo (...)”.
(Dee Hock citado por Echeverria na revista reflexão, p.7)
A distinção de escuta é parte fundamental na compreensão de diálogo. Escutar implica ter
sensibilidade e abertura para compreender as inquietações e opiniões do outro dentro de
sua legitimidade, aceitando novas possibilidades. Respeitar a legitimidade do outro torna a
escuta efetiva e permite que a fala de um faça refletir e modificar as ações do outro.
Segundo ROCHA (2003, p.168) as competências sociais e prática de conversações
qualificadas melhoram a eficácia do processo de comunicação institucional e são foco da
gestão estratégica das organizações. Quando o profissional não busca desenvolver suas
competências conversacionais torna suas redes de interação social escassas e a comunicação
falha.
Expor e Indagar Produtivos
Normalmente as conversas são uma forma de embate, onde os interlocutores se esmeram na
tentativa de derrotar seu inimigo. Neste aspecto as conversações se revestem de um jogo de
soma zero no qual as pessoas não estão interessadas em escutar (e não apenas ouvir), em
http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/competencias-conversacionais-na-pratica-docente-proposta-de-um-modelo-auxiliar-de-coo… 3/16
09/01/2018 Competências Conversacionais na Prática Docente: proposta de um modelo auxiliar de Coordenação de Ações Para o Aprendizado Mút…
entender o que a outra tenta comunicar. Na verdade eles se empenham em se fazerem ouvir e
em convencer o outro de que ele está errado. O que se busca não é a razão ou a verdade, e
sim a defesa ou justificação da imagem pública de cada um que, normalmente, quer ser
reconhecido com o mais inteligente, o mais poderoso, o mais criativo etc. Isso é o que Kofman
rotula como modelo de “controle unilateral”. Kofman (2002, p.92) afirma que:
“O controlador pensa que a única definição válida é a sua definição do que se necessita
alcançar e a maneira pela qual deve ser obtido. Ele se vê sempre certo e os outros, sempre
equivocados; ele supõe que é racional e aberto, enquanto os outros não o são; que somente
ele está agindo em benefício de todos. Então, e,e assume a ‘responsabilidade’ de conduzir a
conversa na direção ‘apropriada’.”
As pessoas que operam deste modo partem da premissa que suas conclusões estão
perfeitamente embasadas e que escolheram a melhor opção após haverem examinado todas
as opções possíveis. Como elas pensaram em tudo e como seu processo de raciocínio ocorreu
dentro da lógica correta, elas passam a tentar convencer as outras pessoas a agirem
corretamente, ou seja, da maneira que elas pensaram. O pressuposto de modelo é que apenas
um está certo e de que não há possibilidade de que ambos possam construir algo que seja
maior do que aquilo que cada um propõe individualmente.
Dentro deste contexto podemos destacar dois elementos lingüísticos fundamentais: o expor e o
indagar os quais abordaremos a seguir.
Kofman (2002, 93) descreve algumas estratégias utilizadas pelas pessoas que utilizam este tipo
de expor improdutivo, conforme já descrevemos:
• Apresentar opiniões como se fossem fatos comprovados;
• Não explicar e nem revelar os raciocínios que justifiquem a opinião;
• Não expor dúvidas e nem revelar as áreas de insegurança;
• Evitar perguntas e objeções;
• Defender sua própria opinião como sendo a única razoável;
• Falar mais do que escutar, interrompendo o outro.
O resultado do expor improdutivo é a impossibilidade de que os interlocutores possam
compreender a posição dos outros e de que os outros possam compreender a posição da
pessoa, a deterioração dos vínculos entre os indivíduos, criam ressentimentos e resignação e
corroem a afetividade coletiva.
Para que esses obstáculos sejam removidos, as pessoas precisam realizar o que Kofman
(2002, p. 98) chama de expor produtivo. Segundo ele, este modelo consiste em “(...) abrir aos
outros os nossos raciocínios, para ajudá-los a entender por que pensamos o que pensamos.
Permite aos outros trazer (e/ou questionar) elementos do processo de pensamento, em vez de
discutir o produto final. Expor produtivamente gera um pensamento coletivo, cria uma
compreensão e direção compartilhadas e transforma as palavras em ações coordenadas (...)”.
Isso ajuda a trazer à tona e a resolver eventuais diferenças de conhecimento, diferenças de
raciocínio e diferenças de propósito. Ele, também, sugere algumas estratégias para que
possamos realizar o expor produtivo:
• Assumir a autoria das opiniões, inferências e interpretações expressas por você;
• Admitir para si próprio e para ou outros que você pode estar equivocado, que seja por ter
informações incompletas, por ter cometido um erro lógico, por fazer inferências inválidas ou por
qualquer outro motivo;
• Expor os pressupostos, preconceitos e presunções dos quais você têm consciência, de modo
a explicar o cenário e contexto onde suas idéias foram construídas;
• Expor os dados objetivos que fundamentam o seu raciocínio. Lembrar que fundamentar é
http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/competencias-conversacionais-na-pratica-docente-proposta-de-um-modelo-auxiliar-de-coo… 4/16
09/01/2018 Competências Conversacionais na Prática Docente: proposta de um modelo auxiliar de Coordenação de Ações Para o Aprendizado Mút…
diferente de validar;
• Ilustras o raciocínio com exemplos e casos concretos;
• Verificar a compreensão dos outros sobre esses pontos;
• Convidar os outros a opinarem sobre a perspectiva exposta;
• Evitar a tentação de defender a própria posição antes de compreender a oposição dos outros.
O objetivo é agir com humildade e respeito buscando trazer à tona as verdadeiras e relevantes
diferenças para que se construa a disposição de aprenderem juntos e cooperar focando a
consecução do objetivo proposto.
Também o indagar desempenha um papel importante nas discussões, exatamente devido a sua
ausência. As pessoas apenas indagam quando desejam entender o que seu interlocutor está
dizendo. Neste sentido, o indagar improdutivo ocorre quando as pessoas tentam defender suas
posições e pensam que se fizerem perguntas genuínas, estarão dando ao seu competidor a
oportunidade de reforçar seus argumentos, uma vez que estariam mostrando sua área de
ignorância.
“Num debate (do latim battuere, ‘bater’, ‘golpear’, a raiz presente também em abater, combater,
rebater, embate, batalha, e batalhão), o objetivo das perguntas não é entender as idéias dos
outros. Quem indaga (improdutivamente) o faz para afirmar sua posição ou refutar a posição do
outro. Certas perguntas nada mais são do que pretextos para interromper quem está
apresentando suas idéias; outras, uma forma refinada de ridicularizar o orador. Algumas
perguntas buscam vazios na defesa do oponente; outras vão abertamente ao ataque. Tais
perguntas são como um interrogatório no qual o promotor tanta desvirtuar a história do
acusado. A indagação improdutiva é, em essência, uma forma alternativa de expor a própria
‘verdade’.“ (Kofman, 2002, p.94).
As pessoas quando usam o recurso do indagar improdutivo, utilizar-se de algumas estratégias
como:
• Expressar as declarações como perguntas;
• Formular somente perguntas tendenciosas ou retóricas;
• Evitar a formulação de perguntas que exponham desconhecimento;
• Solicitar as opiniões do outro apenas para verificar que concordam com as suas;
• Escutar unicamente aquilo que reforçar suas próprias idéias, descartando tudo o mais;
• Não fazer perguntas sobre dados ou raciocínios;
• Formular perguntas capciosas, carregadas de pressupostos tóxicos nas entrelinhas.
O resultado desse comportamento é o mesmo observado no expor improdutivo, comumente
verificado no ambiente da sala de aula.
Para evitar todos esses males, Kofman (2002, p102) considera que o indagar produtivo “(...) é
uma maneira de descobrir os raciocínios dos outros e ajudá-los a expor não só o que pensam
como também por que pensam aquilo que pensam. Permite aos outros apresentar os
elementos do seu processo de pensamento e ser escutados com respeito e atenção. Indagar
produtivamente gera um clima de colaboração e elimina as barreiras defensivas”.
Kofman também sugere algumas estratégias para que se possa realizar a indagação produtiva:
• Não interromper o outro (ou “completar” as frases dele);
• Manter contato visual e uma postura corporal aberta;
• Verificar se compreendeu a perspectiva do outro e convidá-lo a se apropriar da sua
interpretação mediante o reflexo desintoxicante (resumir a postura do interlocutor, re-
expressando-a de maneira responsável e lhe perguntando se você captou aquilo que ele
pretendeu comunicar);
• Orientar a indagação para o aprendizado e não para provar que você está certo e o outro
http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/competencias-conversacionais-na-pratica-docente-proposta-de-um-modelo-auxiliar-de-coo… 5/16
09/01/2018 Competências Conversacionais na Prática Docente: proposta de um modelo auxiliar de Coordenação de Ações Para o Aprendizado Mút…
errado;
• Investigar os pressupostos subjacentes à interpretação do outro;
• Perguntar pelas observações e dados que sustentam o raciocínio do outro;
• Solicitar ao interlocutor que exponha suas inferências lógicas e os parâmetros de avaliação
que utiliza;
• Pedir que o interlocutor ilustre seu raciocínio com exemplos e casos concretos;
• Verificar se você compreendeu a posição da outra pessoa, resumindo os principais pontos do
discurso dela;
• Uma vez que o outro aceite o resumo feito por você e for necessário, pedir permissão para
acrescentar informações ou apresentar alguma divergência.
Como podemos observar, o indagar produtivo é um complemento ao expor produtivo. Kofman
(2002, p.103) afirma que “A grande vantagem dessas duas técnicas complementares é que
basta um só dos participantes da conversação saber utilizá-la para melhorar a qualidade da
conversação como um todo (...)”. Na verdade o mais importante no indagar produtivo é a
atitude e a disposição na escuta. Assim, podemos afirmar que “A capacidade de prestação
atenção é inversamente proporcional à necessidade de ter razão”.
Ontologia da Linguagem
A linguagem é ação. Por meio dela é possível criar novos objetos e produtos, transformar o
mundo, abrir ou fechar possibilidades, construir futuros diferentes. Para Echeverría:
“Através dela, vamos também construindo nossas identidades, tanto as individuais quanto as
coletivas. O que dizemos, o que calamos, vai progressivamente contribuindo para definir como
somos percebidos pelos demais e por nós mesmos”. (ECHEVERRÍA, 2001, p. 53)
Já Bauer (2003, p. 5), “linguagem também é ação pois, muito além de descrever a realidade, a
linguagem é o que nos permite criar a realidade. Quando convidamos alguém para almoçar,
não estamos descrevendo nada, estamos abrindo uma possibilidade, de fazer acontecer algo
que não existia antes. Quando dizemos a alguém ‘olá, bom dia’, não estamos descrevendo uma
saudação, estamos fazendo-a. Quando falamos, não estamos apenas discursando sobre ações
possíveis, estamos agindo, estamos fazendo as coisas acontecerem. Quando falamos,
estabelecemos compromissos para conosco e para com nossos ouvintes, compromissos que
abrem determinadas possibilidades de ações, enquanto que ao mesmo tempo fecham outras.”
Flores (1997, p. 44) afirma que nada ocorre sem a linguagem, sendo necessário, portanto, para
compreender qualquer atividade organizacional, compreender os atos de falar e escutar. Ainda
para o autor, a linguagem não deve ser compreendida apenas como um instrumento que
utilizamos para representar nosso pensamento, mas sim como conversações; especificamente
“conversas para ação” e “conversas de possibilidades”.
No entendimento de Echeverría (1994, p. 47), a linguagem não pode ser considerada como
capacidade e propriedade individual. Os indivíduos, como seres humanos, são constituídos na
linguagem, o que torna esta última precedente às pessoas. Prossegue o autor (1994, p. 54)
defendendo que:
“(...) somos o que somos devido a uma cultura lingüística na qual crescemos e à nossa posição
no sistema de coordenação do comportamento (isto é, da linguagem) à qual pertencemos.
Nesse sentido, o indivíduo não é somente uma construção lingüística, mas também uma
construção social”.
http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/competencias-conversacionais-na-pratica-docente-proposta-de-um-modelo-auxiliar-de-coo… 6/16
09/01/2018 Competências Conversacionais na Prática Docente: proposta de um modelo auxiliar de Coordenação de Ações Para o Aprendizado Mút…
OBSERVADOR
Não podemos concluir como as coisas são, podemos apenas concluir que observamos as
mesmas percepções. Ao partilhar uma distinção, partilhamos aquilo que observamos. Essa
capacidade comum de observação cria a ilusão de estarmos descrevendo as coisas como elas
seriam “verdadeiramente”. (BAUER, 2003, p. 8).
Diferentemente de outros seres, o ser humano tem um comportamento no mundo de reação ao
que acontece, respondendo de acordo como observa o mundo e as coisas que nele habitam.
Podemos dizer que somos, enquanto seres humanos, diferentes observadores do mundo, pois
o vemos de maneiras diferentes, pois temos experiências de vida particulares, que nos levam a
ter inquietudes que nos são próprias. (HENRIQUE, 2003, p. 57).
Kofman (2002, p.315) descreve o apredizado de laço simples, duplo e triplo e afirma que “A
transição do modelo de controle unilateral para o modelo de aprendizado mútuo não pode
ocorrer somente por meio de mudanças cosméticas na linguagem. Mudar modelos mentais
exige grande esforço pessoal. Criar uma cultura de abertura e melhoria contínua requer uma
transformação pessoal”. A partir dessa concepção ele propos o “Mapa do Observador” para
explicar como o processo de aprendizagem ocorre e a importância do modelo mental nesse
processo:
Figura – 2: Mapa do Observador
A figura – 2 descreve como se dá o processo de aprendizagem. O aprendizado 0, significa, na
prática, que não houve aprendizagem e ocorre quando a pessoa não muda suas ações mesmo
se elas falharem. O aprendizado 1 (laço simples) ocorre quando a pessoa, tendo falhado sua
ação, corrige sua resposta e tenta novamente. No aprendizado 2 (laço duplo) não tendo surtido
efeito as ações desencadeadas no aprendizado 1, a pessoa busca redefinir o problema, os
objetivos ou mesmo a forma de interpretar a situação posta. Quando isso não surte efeito e o
problema persiste, é necessário lançar mão do aprendizado 3 (laço triplo), que consistem em
rever nossa forma de gerar interpretações. É abandonar nosso modelo mental e considerar
outros modelos.
Kofman (2002, p. 319), afirma que “(...) nossos modelos mentais evoluem condicionados pela
biologia, liguagem, cultura e história pessoal. No aprendizado 3, começamos a examinar como
esses fatores cria em nós uma predisposição para interpretar o mundo de uma maneira que
nos faz felizes e estressados”.
CONFIANÇA
http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/competencias-conversacionais-na-pratica-docente-proposta-de-um-modelo-auxiliar-de-coo… 7/16
09/01/2018 Competências Conversacionais na Prática Docente: proposta de um modelo auxiliar de Coordenação de Ações Para o Aprendizado Mút…
PROMESSAS
No subdomínio da linguagem encontramos variadas competências que remetem tanto ao
escutar como ao falar. Dentro deste último, cabe-nos distinguir diferentes ações que realizamos
cada uma das quais incide diretamente na efetividade de nosso trabalho. Chamamos a essas
ações de “atos da fala” ou de “atos lingüísticos básicos”. Surgem, a partir daí, múltiplas
competências conversacionais concretas. Dentro delas estão incluídas, por exemplo, a maneira
como fazemos e fundamentamos nossos juízos, a maneira como os entregamos e os
recebemos, a maneira como pedimos e oferecemos, a maneira como constituímos e
cumprimos nossas promessas, etc. (ECHEVERRÍA, 2001, p. 65)
As promessas são atos lingüísticos diferentes das afirmações ou das declarações. São,
essencialmente, atos lingüísticos que permitem coordenar ações com outros. Quando se faz
uma promessa, alguém se compromete perante outra pessoa em realizar uma ação no futuro.
(ECHEVERRÍA, 1994, p. 92)
O ato de fazer uma promessa compreende quatro elementos fundamentais: um orador, um
ouvinte, uma condição de satisfação (ação a ser desenvolvida) e um fator tempo.
(ECHEVERRÍA, 1994, p. 94)
Ao fazermos uma promessa dois processos diferentes são envolvidos: o de fazer a promessa e
o de cumpri-la. Fazer uma promessa é estritamente comunicativo e, portanto, lingüístico.
Cumpri-la pode ser comunicativo ou não. (ECHEVERRÍA, 1994, p. 94)
Não podemos fazer promessas sem petições e ofertas e ambas são ações de abertura em
direção a concretização de uma promessa. (ECHEVERRÍA, 1994, p. 97)
As nossas petições são movimentos lingüísticos no sentido de obter uma promessa do ouvinte.
Se recusada, não haverá promessa. A declaração de aceitação a uma petição completa a ação
necessária para se fazer uma promessa. (ECHEVERRÍA, 1994, p. 97)
As ofertas são promessas condicionais que dependem também da declaração de aceitação do
ouvinte. Quando fazemos uma oferta, entretanto, ainda não prometemos nada. (ECHEVERRÍA,
1994, p. 98)
Resumidamente, Echeverría (1994, p. 102) nos fala sobre os atos lingüísticos que: quando se
faz uma afirmação, se está comprometido com a veracidade do que se afirma. Quando se faz
uma declaração, compromete-se com a validez e a adequação do declarado. Ao fazer uma
promessa, uma petição ou uma oferta, o compromisso está com a sinceridade ao prometer. E,
quando se compromete a cumpri-la, está se comprometendo também a competência individual
para levá-la a efeito, conforme as condições de satisfação estipuladas.
Resultados da Pesquisa
http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/competencias-conversacionais-na-pratica-docente-proposta-de-um-modelo-auxiliar-de-coo… 8/16
09/01/2018 Competências Conversacionais na Prática Docente: proposta de um modelo auxiliar de Coordenação de Ações Para o Aprendizado Mút…
http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/competencias-conversacionais-na-pratica-docente-proposta-de-um-modelo-auxiliar-de-coo… 9/16
09/01/2018 Competências Conversacionais na Prática Docente: proposta de um modelo auxiliar de Coordenação de Ações Para o Aprendizado Mút…
http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/competencias-conversacionais-na-pratica-docente-proposta-de-um-modelo-auxiliar-de-co… 10/16
09/01/2018 Competências Conversacionais na Prática Docente: proposta de um modelo auxiliar de Coordenação de Ações Para o Aprendizado Mút…
Como demonstra o gráfico – 12 apenas 33% dos alunos consideram que suas sugestões, suas
iniciativas de contribuição e suas idéias são sempre reconhecidas pela direção do curso. Mais
uma vez identificamos a existência de indícios de conversações deficientes e até mesmo de
rotinas defensivas, já que o Gráfico – 11 aponta que a maioria dos discentes entendem que há
espaço para expor suas contribuições.
4. Você se sente à vontade para expor suas idéias ou seus problemas na direção do curso?
3925580102030405060NuncaRaras VezesAlgumasVezesSempre
Gráfico – 13
A leitura do Gráfico – 13, em consonância com o Gráfico – 12, indica que mesmo não havendo
total reconhecimento de suas sugestões 83% dos alunos sentem-se à vontade para expor suas
idéias no ambiente da direção dos cursos.
http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/competencias-conversacionais-na-pratica-docente-proposta-de-um-modelo-auxiliar-de-co… 11/16
09/01/2018 Competências Conversacionais na Prática Docente: proposta de um modelo auxiliar de Coordenação de Ações Para o Aprendizado Mút…
segundo Paulo Freire (1998), o diálogo leva o homem a se comunicar com a realidade e a
aprofundar a sua tomada de consciência sobre ela, de modo a perceber qual será seu papel
nesse contexto social em plena transformação. Requer ainda uma desenvoltura para abrir o
diálogo em sala de aula, uma predisposição à mudança nas rotinas da prática pedagógica,
acompanhando a evolução da instituição de ensino e criando um diferencial para os seus
alunos.
Não se trata aqui de, a princípio, criar todas as distinções das competências conversacionais
tanto no professor como no aluno, distinções estas que não se criam e não se aprendem de
uma hora para outra, mas de apresentar uma proposta de construção gradativa destas
distinções, já a partir da elaboração do plano de ensino.
Segundo KOFMAN (2002, p.47) as três fases das conversações a preparação, execução e
reflexão conferem à conversação maior efetividade, melhores relações, mais dignidade e auto-
satisfação dos interlocutores.
Embora o plano de ensino formal tenha que seguir algumas determinações do projeto
pedagógico do curso em questão, nos tópicos relativos à ementa da disciplina e bibliografia
básica, a construção dos itens como cronograma das atividades, o método de avaliação e as
atividades extra-classe representam a primeira oportunidade de estabelecimento de
conversações entre o professor e seus alunos.
Adotando o Modelo Auxiliar de Coordenação de Ações Para o Aprendizado Mútuo (Figura – 1)
– baseado nas três fases da conversação (Kofman, 2002, p.47), e no Modelo do Observador
(Kofman, 2002, p.316) – na elaboração do plano de ensino, o professor passa a atuar como
agente criador da distinção das competências conversacionais na interação em sala de aula à
medida que desenvolve a consciência da importância de tais competências no “aprender a
conviver”.
Algumas perguntas são úteis para orientar o professor na criação do contexto adequado do
plano de ensino, instrumento de formalização do modelo:
• Podemos enfocar o tema de imediato ou precisaremos primeiro solucionar outros assuntos
pendentes?
• O que eu quero que aconteça em relação às tarefas?
• Qual a relação que quero construir com meus alunos?
• Quais valores eu uso como guia do meu comportamento?
• Quais as circunstâncias ideais para iniciar a exposição do plano?
• Terei condições de cumprir as promessas?
• Qual o pré-saber que a disciplina exige?
Esses preparativos devem levar em consideração e se basearem em três níveis fundamentais:
os valores pessoais dos alunos, o reconhecimento do aluno como interlocutor e os requisitos da
tarefa.
É importante ainda reconhecer que tais preparativos não visam vencer ou convencer os alunos
e sim tornar a relação efetiva a partir da criação de uma consciência de aprendizado mútuo.
Aprende aluno, aprende professor, cresce aluno, cresce professor e se estabelece a relação de
“ganha-ganha”.
O que se pretende demonstrar como significativo e novo enquanto processo transformacional é
que a criação de um plano de ensino flexível, podendo ser reavaliado, rediscutido e adaptado,
possibilitará a busca na excelência do aprendizado e amenizara as relações professor x aluno
tão importantes ao processo de ensino-aprendizagem.
Modelo Auxiliar de Coordenação de Ações Para o Aprendizado Mútuo. ReflexãoAvaliação
conjunta realizadaperiodicamenteExecuçãoRealização ordinária das atividadesnecessárias à
http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/competencias-conversacionais-na-pratica-docente-proposta-de-um-modelo-auxiliar-de-co… 12/16
09/01/2018 Competências Conversacionais na Prática Docente: proposta de um modelo auxiliar de Coordenação de Ações Para o Aprendizado Mút…
Metodologia
A classificação desta pesquisa é aplicada, tendo em vista o seu objeto: Apresentar um
instrumento auxiliar na coordenação de ações para aprendizado mútuo e na conscientização da
importância das distinções das competências conversacionais na prática docente. Possui uma
abordagem qualitativa, à medida que procurou-se traduzir numericamente opiniões e
informações para posterior classificação e análise, e também entender o porquê de
determinados comportamentos. Assume um caráter descritivo, pois visa a expor características
de um determinado grupo, neste caso, as condições para o desenvolvimento de competências
necessárias para a interação produtiva entre docentes e discentes.
A pesquisa foi realizada com os alunos dos Cursos de Bacharelado em Ciências da
Computação e de Sistemas de Informação da Universidade Católica de Brasília, por meio da
aplicação de um questionário (anexo – I).
O questionário foi enviado a todos os alunos de graduação de ambos os cursos por meio do
instrumento de comunicação “Graduação on-line” disponível na estrutura administrativa da
Universidade, em 12 de junho de 2006.
Em função do prazo estabelecido para entrega das respostas e elaboração da análise, foram
selecionados 97 (noventa e sete) questionários respondidos até o dia 16 de junho de 2006.
Conclusão
Diante do que pudemos observar em nossa investigação, há falhas no processo de ensino-
aprendizagem, no que se refere à efetividade das conversações e na existência de rotinas
defensivas.
Entendemos que tais problemas decorrem, em grande parte, da falta de distinções por parte
dos atores sobre competências conversacionais, diálogos e escuta, expor e indagar, ciclo de
promessas e coordenação de compromissos. Considerando que tais distinções necessitam ser
introduzidas e cultivadas no processo ensino-aprendizagem, e reconhecendo as dificuldades
em viabilizar o aprendizado das referidas distinções a todos os atores, recomendamos
fortemente que todos os docentes sejam adequadamente capacitados de modo a obterem os
http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/competencias-conversacionais-na-pratica-docente-proposta-de-um-modelo-auxiliar-de-co… 13/16
09/01/2018 Competências Conversacionais na Prática Docente: proposta de um modelo auxiliar de Coordenação de Ações Para o Aprendizado Mút…
QUESTIONÁRIO
A despeito das modernas tecnologias educacionais que se tornam necessárias para o ensino
das Ciências da Computação e da gestão dos Sistemas de Informação, é inegável que o
processo ensino/aprendizagem ainda ocorra, predominantemente, por meio das interações
lingüísticas entre professor e alunos. Conforme considera STUBSS (1983) a razão fundamental
para se observar, gravar e estudar as interações conversacionais entre professor e alunos em
sala de aula é que o diálogo professor/alunos constitui o processo educacional em si, ou pelo
menos, a maior parte dele para a maioria dos educandos.
Uma característica inerente da relação professor/alunos, é a assimetria causada por diversos
fatores como, por exemplo, a diferença de experiência e conhecimentos, a diferença da idade e
quase sempre o poder que é conferido a cada um, pela instituição de ensino.
O professor, em geral é quem escolhe os conteúdos que serão ensinados aos alunos e a
maneira como estes conteúdos serão transmitidos, sendo assim esta posição confere ao
professor, nesta relação, o direito de falar mais e de dirigir o discurso de acordo com os tópicos
conversacionais que ele julga serem relevantes para determinada aula. Cabe ainda ao
professor, determinar se durante sua aula será garantido um espaço de atuação e manifestação
aos seus alunos.
O Objetivo deste trabalho é verificar, sob a ótica do aluno, se as interações e diálogos estão
presentes na prática docente e até que ponto elas contribuem positiva ou negativamente no
http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/competencias-conversacionais-na-pratica-docente-proposta-de-um-modelo-auxiliar-de-co… 14/16
09/01/2018 Competências Conversacionais na Prática Docente: proposta de um modelo auxiliar de Coordenação de Ações Para o Aprendizado Mút…
processo ensino/aprendizagem.
Após responder o questionário o mesmo deverá ser enviado para o endereço eletrônico
braga@ucb.br até o dia 16/junho/2006.
http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/competencias-conversacionais-na-pratica-docente-proposta-de-um-modelo-auxiliar-de-co… 15/16
09/01/2018 Competências Conversacionais na Prática Docente: proposta de um modelo auxiliar de Coordenação de Ações Para o Aprendizado Mút…
Sempre
9 - Na sala de aula há clima de medo de represálias ou perseguições?
Nunca
Raras Vezes
Algumas Vezes
Sempre
http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/competencias-conversacionais-na-pratica-docente-proposta-de-um-modelo-auxiliar-de-co… 16/16