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ERR TOLIOS y23- TOL /DBelIIF « LAGE T/LFRS. GAM oD ALGUMAS NOTAS SOBRE A IMPORTANCIA DO ESPAGO PARA O. DESENVOLVIMENTO SOCIAL Manceto Lopes pe Souza* ABSTRACT Some notes on the importance of space for social development The paper discusses the importance development, the article then gives of space for social development. Itin- attention to that of social space. This tends toreactto the disorientationand Is followed by a general overview of lack of theoretical/strategic creativiy the ways the spatial olmension has which are now affecting the olscus- been incorporated in the history of sions on development, ironically ina development’ theory-building. At the ‘moment of sharpening of social con- ed, the paper stresses the importance tradictions andexclusionaty practices of social space for the construction of inall geographical scales. Starting with _anallernative conceptualization of de- 2 critical discussion of the concept of velopment Palavras iniciais © presente trabalho é, a um s6 tempo, ambicioso e despretensioso. Ambicioso, porque se pretendeu entrentar, em algumas paginas, quatro tare- fas nada faceis: 1) esquadrinhar o conceito de desenvolvimento: 2) em seg da, fazer 0 mesmo com o de espago social; 3) apresentar uma panordmica sobre o tratamento dispensado a dimenso espacial ao longo da histéria da teorizagto sobre 0 desenvolvimento; 4) finalmente, discutr, com os olhos voltados para uma conceituagao alternativa de desenvolvimento, a importa cia do espaco social. Este trabalho é, contudo, também despretensioso, por- que o autor esta consciente de nao poder oferecer, no Ambito de um artigo, mais que um tratamento meramente introdut6rio dos assuntos que aborda. Na verdade, para se fazer.um minimo de justiga a iteratura atualmente dispo- nivel e ao acervo de conhecimentos acumulados, cada um dos temas das * Professor Adjunto do Departamento de Geogratia da UFRJ e pesquisador do CNPq, “4 Revista TERRITORIO, ano Il, n? 3, jul/dez. 1997 nenhum deles isento de controvérsias, merece Savor si e6, um extenso estudo. Sela como for, oxalé. as imperfeigdes destas paginas nao as impegam de estimular 0 aprofundamento de um debate ce, precisamente na alual conjuntura do desorientagéo fata de criatividade 1 Bea e estratégica a propésito do desenvolvimento, conjuntura essa que € igualmente um momento de agudlzagao de exciusbes @ contracigoes socials nas mais diferentes escalas, tem de ser valorizado. sepdes, todos complexos @ 1. O conceit de desenvolvimento Faz-se mister sublinhar, para comegar, que. a0 contrario do que fre qoentemonte se imagina, 0 conceito de desenvoWvimento nao @ univace, @ Aivifo menos se esgota na idéia de desenvolvimento econdmico. A rigor, 0 Gesonvolvimento econdmico resume-se a uma conjugagao de crescimento {expresso através do incremento do PIB, do PNB ou da renda nacional per capita) com modernizagao tecnoligica, Ele abrange, portanto, um aspecto fneramente quantitative, mas 0 ullrapassa, pois compreende também 0 2s- pecto qualitative que é uma crescente complexidade da estrutura da econo: ria (progresso técnico, crescente integragao intersetorial etc.), tudo isso tra- Guzindo-se através de um aumento da produtividade média do trabalho. Ade- ais, nao s&0 incomuns, nos manuais de Economia do Desenvolvimento, blustes complementares a objetivos como a melhoria dos niveis de educa- géo e sade da populagdo. Infelizmente, entretanto, ha limites para o que se Bode fazor com as palavras: ou bem a dimenséo econémica da sociedade passa a onglebar todas as demas (rligiéo, poder et), coisa que nem mos- fro os ecoromistas sugerem, ou entdo deve-se reconhecer que, conquanto 0 desenvolvimento econémico soja dependente, a longo prazo, de fatores tals ‘camo investimentos em “capital humano", ele ndo necessariamente se faz ‘Scompanhar por uma diminuigdo dos problemas socials - aliés, nem sequer das disparidades sécio-econdmicas. “Tomar o desenvolvimento econémico como sindnimo de desenvolvi- mento fout courté, com efeito, uma impropriedade, porque, se aquele se refe- te 20 processo em cujo bojo uma soctadade consegue produzir bens em malor ‘quantidade, de methor qualidade e com mais eficiéncia, ele conceme a mel 5, 0 ndo a fins, Se a renda per capita bem pode representar.uma fiorao estatistica, uma vez que nada revela sobre a distribuipao da riqueza social- mente produzida, qual é, entéo, a sua utiidade como indicador de nivel de tbem-estar, ainda que meramente material? A ponderagao de que o cresci- mento, 20 gorar empregos, possul um inegavel apelo social, @ & primeira fa, mais intoressante, mas ndo é muito menos vazia: se o crescimento vier ‘a reboque de um progresso técnico poupador de méo-de-obra e de desem- prego tecnolégico, os empregos novos por ele gerados poder nao compen eee awantitativa e/ou qualitativamente, os empregos perdidos, e ndo evitarao f i | ‘Algumas notas sobre a impottancia do espaco para.o desenvolvimento social 15, © agravamento de situagées de exclusdo. Por sua vez, a modemizagai teanologic,além de seus impactos sobre 0 mundo do trabalho, pode tor sua positvidade relativizada com a ajuda da consideracdo de diferentes aspec- tos, todos de interesse para se saber alguma coisa acerca da qualidade de ‘vida de uma populagdo: as novas tecnologias (e as novas espacialidades, os novos padrées de consumo) estimulam a criatividade e a convivialidade! de 8008 operadores @ usuarios — ou antes embrutecem o espiito e atomizam a sociedade? A modernizagéo colabora verdadeiramente para uma vida mais saudavel?? A modemizagao contribul para uma participagdo mais ampla da populagéo nos processos decisérios, para estimblar uma cultura politica mais democratica, para formar cidadtios mais conscientes, para uma maior liber- dade individual e coletiva? Dito isto, cabe insistir: o desenvolvimento estritamente econd 6 pode se. na melhor des hpdteses, um mo, e jamais um fim, no sendo razo&vel, por conseguinte, “economicizar" 0 conceito de desenvol- vimento em geral. £ dbvio que ninguém, em s& consciéncia, proporia que 0 objetivo do desenvolvimento se limita 20 crescimento & modernizacéo ‘tecnolégica. No entanto, precisamente porque a ideolagia do desenvolv. mento Negendnioa Tecdbre inferesees vieulados ao fm (no sentido 0 ‘meta) quae & porpoluagao do modelo Socll captalista é neste contexto, dos beneficios de determinados grupos ou classes, ela privilegia um con- ceito que coloca em primero plano os melos pelos quals se pode aprimo- faresse models No hiator dosse concatfo Tortemetteectogizado a dis Gussao atica e politica sobre os fins é sacrificada (ou mesmo desaparece), Sionsesenonia om leo ara Soaiots tonal oto se mols Mas", retorquirdo os mais conservadores ou conformistas, “os fins ja nao so claros, dado que nao hé inelhor sistema?”... No Ambito de visées mais explicitamentes taleoiégicas @ historicistas, como o classico esquema etapista de Rostow ou a arenga de raiz hegeliana sobre o “fim da historia’ fim (meta, desejo) implicito de alguns converte-se em tim (télos, objetivo supremo, estagio final) explicito: vive-se no melhor dos mundos poss! veis, o horizonte do modelo civilizat6rio capitalista é definitivo e intranspo- * Aexpressao “convivialidade” ~ designando uma situagdo onde a téc 0 fea técnica (e, poder- se-a acrescentar, o espazo} aproxima os homens ao invés de afastévlos e eslimula, 1a sua sociabilidade ao invés de miné-la ~ ¢ indissociavel do nome de Ivan ich, um dos mais argutos criticos do “progresso" © das pseudovantagens oferecidas pela sociodade industrial ¢ de consumo (ILLICH, 1886). ‘Aresposta a esta pergunta deve ndo apenas levar em conta as diferentes impactos negativos sobre o ambiente natural © o desperdicio de recursos, o que restringe a qualidade de vida presente e futura, mas também o fato de que os avangos técnicos no que diz respeito, por exemplo, & medicina, muitas vezes acabam sendo uma resposta para problemas acarretados ou agravades pela prépria modernizago, como © stress e outras “doengas da civilzagao". 16 Revista TERRITORIO, ano Il, n® 3, jul /dez. 1997 nivel (nao estaria al do *socialismo real” para pro. Eis, Gio proprio mito do desenvowimento, nucleo da ideclogia homénima.® Entretanto, os fantasmas continuam a rondar, @ o barulho do arrastar de Correntes até mesmo aumenta de intensidade: notadamente no ambito do Capltalismo, um modo de produgao que nao pode abdicar do imperativo de Grescimento, posto que isso faz parte de sua esséncia, a espiral da degra- Gago ambiental parece ser algo muito mais sério que uma impertoigdo corrigivel mediante ajustes; ao lado disso, a exclusao social, tradicional explosiva na periferia capitalista, insiste em se manifestar mesmo |é onde Se julgava estar diante da materializacao do fim mitificado (pense-se ho aumento do desemprego em um “Primeiro Mundo” cada vez mais pés-fordista e sacudido pela Terceira Revolugao Industrial; pense-se ha “nova pobreza", no aumento da xenofobia ¢ da intolerancia interétnica na Europa). (Ora, a propria literatura cientifica, a despeito da hegemonia dessa Idoologia do desenvolvimento etnocéntrica (mais precisamente: europel- céntrica) e capitalistafila, tem gerado, aqui e acola, varias reagées, menos ‘ou mais radicais, ao reducionismo economicista. Timido como fosse, 0 fenfoque redistribution with growth, de meados dos anos 70, representou uma primeira autocritica interna ao ambiente conservador (vale dizer, acritico perante o capitalismo), desde que as teorias da modernizagao @ do crescimento iniciaram o seu pontificado, na década de 50: constatou- ‘30 — @ com que atraso! ~ que crescimento e modernizago nao eram uma

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