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Trilha de Aprendizagem 1 — Modelo constitucional do processo civil

Sumário

1. Introdução ao estudo do tema 4


2. Modelo constitucional de processo civil 6
2.1 Objetivos de aprendizagem 7
3. Explorando os conceitos: parte 1 8
4. Explorando os conceitos: parte 2 9
5. Síntese 12
6. Referências 13

Direito Processual Civil — Fundamentos Constitucionais do Processo


Trilha de Aprendizagem 1 — Modelo constitucional do processo civil

1. Introdução ao estudo do
tema
O tema dos fundamentos constitucionais do processo civil
é contemporâneo da nova compreensão e estudo do direito
constitucional, a partir do qual se supera a dicotomia entre
direito público e direito privado, instituindo-se a denominada
constitucionalização do direito privado, como decorrência da
prevalência dos direitos fundamentais em detrimento de uma
visão autoritária e estática dos direitos consagrados em esferas
infraconstitucionais.

Trata-se do neoconstitucionalismo, dentro do qual se preconiza


a Constituição Federal para além de hierarquicamente superior,
como centro do sistema normativo, superando-se a ideia de um
documento de cunho meramente político.

A partir dessa nova visão de aplicação do direito constitucional,


chega-se ao consenso de que não basta a previsão dos direitos
fundamentais no texto constitucional, mas é preciso garantir que
tais direitos tenham eficácia no ordenamento jurídico, também
nos outros segmentos do direito, assumindo que a Constituição
possui uma carga valorativa, não necessariamente positivada,
com eficácia vertical, isto é, atuante na relação do Estado com
o particular e eficácia horizontal, atuante na relação entre
particulares.

Por esse motivo, muitos compreendem o neoconstitucionalismo


como enquadrado na fase pós-positivismo, isto é, fase na qual se
supera o direito posto diante da aplicação dos valores axiológicos
presentes na Constituição Federal.

O julgamento do recurso extraordinário n. 363889, julgado em 02


de junho de 2011, é emblemático de tal aplicação, tendo em vista
que nele se exigiu uma ponderação de valores entre a força da coisa
julgada, implementada no sistema processual como importante
conquista para a segurança jurídica, e o direito fundamental da
busca da identidade genética, ao ter como objeto o pedido de
nova abertura de um processo de investigação de paternidade já
julgado.

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Os ministros entenderam prevalecer o direito fundamental, e não


o direito à coisa julgada, admitindo reabrir o processo por sete
votos a favor.

É exatamente dentro desse contexto que se centrará o estudo


do componente curricular Fundamentos Constitucionais do
Processo, o qual dividiremos de maneira a compreender o
modelo constitucional de processo civil e como ele se reflete nos
fundamentos que são aplicáveis à disciplina, com destaque, dentre
outros, para os princípios do contraditório, da efetividade, do
duplo grau de jurisdição, da oralidade e da motivação, conforme
a seguinte divisão:

•  trilha de aprendizagem 1 - modelo constitucional de


processo civil;

•  trilha de aprendizagem 2 - princípios constitucionais do


processo civil - acesso à justiça e meios alternativos de solução
de conflitos;

•  trilha de aprendizagem 3 - princípios constitucionais do


processo civil - devido processo legal;

•  trilha de aprendizagem 4 - princípios constitucionais do


processo civil - contraditório;

•  trilha de aprendizagem 5 - juiz natural, imparcialidade e


motivação;

•  trilha de aprendizagem 6 - efetividade e duração razoável


do processo;

•  trilha de aprendizagem 7 - duplo grau de jurisdição;

•  trilha de aprendizagem 8 - dispositivo, oralidade e persuasão


racional.

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2. Modelo constitucional de
processo civil
Nesta trilha de aprendizagem vamos compreender a relevância
dos princípios constitucionais que direcionam a aplicação das
normas do processo. É possível definir o estudo da trilha como
introdução ao estudo do direito constitucional processual.

Abordaremos, também, a diferença existente entre o olhar das


normas processuais sedimentadas no Código de Processo Civil e
aquele olhar utilizado para análise das normas com base na ótica
constitucional.

Com isso será possível identificar aquelas normas que, embora


basilares ao processo civil, possuem status superior à lei, pois estão
disciplinadas nos dispositivos constitucionais, podendo nessa
qualidade ser invocadas para proteção de demandas processuais
reais.

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2.1 Objetivos de aprendizagem

•  objetivos conceituais - o objetivo inicial é que o aluno


compreenda a diferença entre os conceitos de direito
constitucional processual e de direito processual constitucional;

•  objetivos procedimentais e habilidades - com base no


conceito e diferenciação entre direito constitucional processual
e direito processual constitucional, o aluno conseguirá
relacionar os princípios constitucionais que regem o direito
processual civil e devem embasar toda sua interpretação;

•  objetivos atitudinais e valores - a partir dessa compreensão


o aluno desenvolverá sua atividade prática profissional tendo
como diretriz os princípios apreendidos e norte de sua atuação
a compatibilização dos fundamentos processuais utilizados
com os valores constitucionais estudados.

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3. Explorando os conceitos:
parte 1
Para melhor introdução ao tema dos fundamentos constitucionais
do processo, inicialmente indaga-se: qual relação podemos
estabelecer entre as duas disciplinas que serão tratadas (direito
constitucional e direito processual civil)?

No intuito de auxiliar o correto direcionamento da resposta ao


questionamento acima, podemos perguntar: há hierarquia entre
o direito constitucional e o direito processual civil? E, ainda, há
relação complementar entre o direito constitucional e o direito
processual civil?

Acrescenta-se a tais questões aquela relativa à clássica divisão dos


ramos do direito entre o direito público e o direito privado, na
qual se coloca o direito constitucional, administrativo, tributário e
penal de um lado e o direito civil e empresarial de outro. Em qual
dos lados se enquadraria o direito processual civil?

Ainda que pareçam nebulosas e confusas as respostas para essas


questões, ao final dessa primeira trilha seremos capazes de
respondê-las com precisão e segurança.

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4. Explorando os conceitos:
parte 2
Inicialmente, com relação à dicotomia entre direito público e
direito privado, o estudo contemporâneo mostra, cada vez mais,
que há uma tendência em superá-la, diante da evidente interseção
de cada seguimento, pela própria evolução das relações privadas
e pela aplicação do direito como conjunto harmônico e coerente,
construído com base na hierarquia da Constituição.

Entretanto, não se pode desconsiderar que a divisão entre público


e privado foi necessária em uma época na qual o capitalismo
se firmava e a sociedade clamava pela imposição de limites ao
Estado. Nessa época, havia uma rígida separação entre Estado e
sociedade, vedando-se a influência do poder público nas relações
privadas.

É nesse contexto de necessidade de proteção da sociedade contra


o arbítrio estatal, com a prevalência da ideologia burguesa como
regente do direito privado, que ganha força a consagração dos
direitos fundamentais.

Diante da natureza e significância dos direitos fundamentais


a compreensão evolui e fez extrapolar o papel dos direitos
fundamentais no ordenamento jurídico. Antes entendidos
como necessários para imposição de limites ao poder estatal, os
direitos fundamentais passaram a ser muito mais!!! Passaram a
ser compreendidos como diretrizes de interpretação e aplicação
de toda norma jurídica, formando-se um sistema harmônico,
pautado da hierarquia da Constituição Federal, em sua dimensão
axiológica e não mais formal.

Nesse sentido, Daniel Sarmento (2005) afirma que os direitos


fundamentais não só conferem aos particulares direitos subjetivos,
mas constituem o valor a ser protegido em um Estado Democrático
de Direito, de maneira que não se limitam, obviamente, ao
impedimento de intervenção estatal, mas conferem aos cidadãos
também a garantia de preservação desses direitos e, ainda mais, o
direito a uma interpretação e aplicação de todo o corpo normativo
tendo os direitos fundamentais como norte.

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Logo, temos que a natureza e significância dos direitos


fundamentais fez extrapolar sua compreensão para que não
fossem analisados pelo sistema apenas como limites ao poder
estatal, mas também como diretrizes de interpretação e aplicação
de toda norma integrante do ordenamento jurídico.

Para saber mais sobre esse tema veja SARMENTO, D. Interesses


públicos vs. interesses privados na perspectiva da teoria e da
filosofia constitucional. In: SARMENTO, D. (org.). Interesses
públicos versus interesses privados: desconstruindo o princípio
de supremacia do interesse público. Rio de Janeiro: Lúmen Juris,
2005, p. 82-116.

Por esse motivo, muitos direitos que teriam um caráter de direito


privado individual passam a adquirir contorno de direito público,
superando-se a dicotomia estrita inicialmente apresentada:
natureza de direito público estritamente; ou natureza de direito
privado estritamente.

É exatamente o que ocorre com o direito processual civil!

O direito processual é responsável por ordenar e direcionar os


modos como a atividade jurisdicional se exerce e, portanto, teria
cunho predominantemente público.

Entretanto, não é por ter tal predominância que o direito


processual civil não possa regulamentar normas regentes do
direito particular voltadas à realização do direito material cuja
tutela se requer, utilizando-se o processo como meio.

Por esse motivo, a resposta ao último questionamento realizado


na introdução (em qual dos lados se enquadraria o direito
processual civil?) pode não ser única ao se admitir que o processo
civil é ramo do direito público, com forte interface junto ao direito
privado, diante de sua preocupação também na realização do
direito material.

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Dessa forma, a autonomia do direito processual não afasta sua


vinculação ao direito material e sobretudo quando o direito
material tiver cunho de direito fundamental.

Ora, especificamente nesse tema, não vamos falar em publicização


do direito, tendo em vista que o direito constitucional já possui
natureza de direito público, de maneira que nesse caso não faria
sentido se falar em publicização do direito constitucional pela
interface com o direito processual civil.

Entretanto, tendo em vista que o direito constitucional é público e


alcança a dimensão de total influência nos demais ramos do direito,
por uma conexão de via dupla, não se pode deixar de registrar que
há, por via transversa, a privatização do direito público.

Sobre esse tema interessa compreender que o direito processual


civil se inter-relaciona com o direito constitucional de duas
maneiras diferentes, razão pela qual podemos estabelecer dois
conceitos:

•  direito constitucional processual - refere-se ao conjunto


de princípios e normas de natureza processual civil que se
encontra na Constituição;

•  direito processual constitucional - refere-se ao conjunto de


normas que regulam a aplicação da jurisdição constitucional.

O direito processual constitucional pode ser exemplificado com


base nas normas regentes do habeas data, da ação direta de
inconstitucionalidade e do mandado de segurança; entretanto,
foge ao objeto de nosso estudo.

O direito constitucional processual, por sua vez, pode ser


identificado nos princípios consagrados na Constituição Federal
que regem diretamente o direito processual civil, conferindo
o parâmetro central de aplicação e interpretação das normas
processuais.

Essa correlação assegura a posição do ordenamento jurídico


brasileiro em não permitir que o processo se resuma a um
conjunto de normas técnicas desprovidas de valor axiológico, mas,
ao contrário, se traduz em um instrumento político e ético para
solução de conflitos à luz da lei mais alta do país: a Constituição.

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5. Síntese

Diante do estudo realizado até aqui, é importante que você consiga


desenvolver a compreensão do contexto no qual se insere o direito
processual civil e em quais dimensões ele se relaciona com a
Constituição Federal, em uma relação interdisciplinar, conforme
a ilustração abaixo:

Figura 1: Dimensões de relacionamento: direito processual civil e Constituição


Federal

Fonte: Elaborado pelo autor.

A partir dessa diferenciação, vamos aprofundar o estudo das


normas de direito processual disciplinadas na Constituição que
são consideradas parâmetros de referência de interpretação
para atuação prática e interpretativa do direito processual civil,
estreitando nosso foco para o conteúdo desse conjunto normativo
que compõe o denominado direito constitucional processual.

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6. Referências

ANJOS, A. F. A. Os princípios constitucionais processuais e as


normas fundamentais no novo Código Civil. In: Revista da
EJUSE, n. 25, 2016. Disponível em: <https://bdjur.stj.jus.br/jspui/
bitstream/2011/102577/principios_constitucionais_processuais_
anjos. pdf>. Acesso em: 04 dez. 2017.

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Teoria geral do direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 2013.
Recurso online. ISBN 9788502221536. Acesso em: 04 dez. 2017.

DANTAS, F. W. L. Breves considerações sobre o direito processual


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GRECCO FILHO, V. Direito Processual Civil Brasileiro. São


Paulo: Saraiva, 2010. Disponível em: <https://pt.scribd.com/
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NEGRÃO, T. Código de Processo Civil e legislação processual


em vigor. São Paulo: Saraiva, 2017. Recurso online. Acesso em: 04
dez. 2017.

NEVES, D. A. A. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo:


Juspodivm, 2017. Disponível em: <https://www.e-livros.xyz/ver/
manual-de-direito-processual-civil-daniel-neves>. Acesso em: 04
dez. 2017.

SARMENTO, D. Interesses públicos vs. interesses privados na


perspectiva da teoria e da filosofia constitucional. In: SARMENTO,
D. (org.) Interesses públicos versus interesses privados:
desconstruindo o princípio de supremacia do interesse público.
Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2005, p. 82-116.

Direito Processual Civil — Fundamentos Constitucionais do Processo 13


Trilha de Aprendizagem 1 — Modelo constitucional do processo civil

THEODORO JÚNIOR, H. Código de Processo Civil anotado.


2015. Recurso online. Rio de Janeiro: Forense, 2015. Acesso em:
04 dez. 2017.

______________________. Curso de direito processual civil.


Rio de Janeiro: Forense, 2017. Acesso em: 04 dez. 2017.

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ead.mackenzie.br

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