paleo bi
aleobi ogeogr
biogeogr afia
ogeografia
ValériaGallo
Francisco Figueiredo
A Paleobiogeografia é o ramo da Paleontologia poral e espacial para o desenvolvimento das biotas, tais
que lida com a distribuição de grupos de organismos como eventos eustáticos, tectônica de placas, grandes
representados exclusivamente por fósseis. A base mudanças climáticas e de direção de correntes marinhas,
conceitual é derivada da Biogeografia que, por sua vez, todas de difícil detecção sob condições atuais. Estes gran-
é a ciência que busca reconstruir os padrões de distribui- des eventos fazem parte da história do taxon.
ção geográfica dos seres vivos e explicá-los segundo O ponto de partida para o estudo paleobiogeo-
processos históricos subjacentes. As informações sobre gráfico é o reconhecimento de centros de endemismo,
distribuição geográfica aparecem condensadas na maio- ou seja, coincidência detectada na sobreposição de áreas
ria dos trabalhos de Sistemática e são muitas vezes apre- de distribuição de taxa não relacionados. Trata-se de um
sentadas em mapas. padrão compartilhado, portanto possibilita a realização
O fato de toda espécie concentrar-se em uma área de testes e geração de hipóteses por parte do
geográfica constitui um padrão biogeográfico particu- paleobiogeógrafo (figura 16.1).
lar. Algumas são mais restritas, adquirindo o status de Já no século XVIII, o naturalista francês Georges
relíquias biogeográficas, enquanto que outras apresen- Louis Leclerc de Buffon (1707-1788) havia chamado a
tam ampla distribuição, sendo quase cosmopolitas. Isto atenção para o fato de que áreas com semelhantes condi-
indica maior ou menor grau de endemicidade. Mas, afir- ções ecológicas abrigam diferentes taxa. É o que hoje de-
mar que esta ou aquela espécie é endêmica não esclare- nominamos Lei de Buffon (Nelson, 1978) e que explica o
ce o fato dela estar onde está. Então, como explicar esse endemismo e a disjunção geográfica. Em conseqüência
padrão? A Ecologia nos apresenta resposta estéril para a dessa lei, uma distribuição geográfica congruente sugere
questão: a espécie está lá porque existem recursos que causas históricas. Ou o grupo de organismos (populações,
estão sendo utilizados por ela. Se ela não ocorre em espécies, taxa supra-específicos) surgiu ali ou veio de ou-
outro lugar é porque lá não existem tais recursos. Em tro lugar. No primeiro caso, se for uma espécie, implica em
outras palavras, a Ecologia nos mostra porque dada es- dizer que a especiação ocorreu lá. No segundo caso, houve
pécie se mantém na sua área de distribuição. dispersão e conseqüente colonização.
O enfoque biogeográfico, em contraste com o A Biogeografia, como considerada aqui, é a
ecológico, clama por explicações de larga escala tem- Biogeografia Histórica, que lida particularmente com a
248 Paleontologia
Figura 16.1 Quadros (A-E) mostrando áreas de distribuição de cinco espécies (1-5) norte-americanas de aves. No quadro
inferior direito, observa-se o centro de endemismo resultante da superposição destas áreas (modificado de Udvardy, 1969).
Figura 16.4 Mapa paleogeográfico do Neojurássico indicando localidades com ocorrência de peixes (1 - 5). Evidências
geológicas e paleontológicas sugerem um intercâmbio faunístico pelo Mar de Tethys (“Corredor Hispânico ou Caribenho”)
(modificado de Arratia, 1994).
Biogeografia. Ele desenvolveu uma metodologia gráfi- bém se transformam. Mudanças nos atributos e nas áreas
ca para a recuperação de padrões biogeográficos repli- que abrigam organismos estão interligadas. Para ele,
cados, explicando-os de forma coerente segundo pro- Terra e biota evoluíram em conjunto, em regime de
cessos históricos (Croizat, 1952, 1958, 1964). Nesse as- intervenção recíproca. Com a introdução do conceito de
pecto, ele resgatou o conceito de vicariância introdu- espaço relativo em Biogeografia, Croizat pôs em che-
zido pelo botânico inglês Joseph Dalton Hooker (1817- que a hipótese corrente para sua época de uma Terra
1911), como uma alternativa para a dispersão através de estática (espaço absoluto), cuja história seria indepen-
barreiras pré-existentes. Por vicariância (vicarius, aque- dente daquela dos seres vivos.
le que substitui outro; –antia, sufixo que denota ação e
efeito) entende-se o isolamento de grupos de organis- Croizat (1958) reconheceu na história
mos (populações, espécies e taxa supra-específicos) pelo biogeográfica de um grupo de organismos duas fa-
aparecimento de uma barreira (física ou ecológica). ses: uma de mobilismo e outra de imobilismo. Na
Nesse caso, a barreira é da mesma idade dos grupos de primeira, os organismos tenderiam a se espalhar por
organismos separados por ela (figura 16.5). A importân- uma dada área geográfica até se depararem com
cia desse conceito é que se trata de um evento comum barreiras restritivas. Nesse período, a área mantém-
aos elementos de uma biota. Em conseqüência disso, se estática. Na segunda fase, após a distribuição dos
hipóteses fundamentadas em vicariância (evento co- organismos ter se estabilizado, estes estariam de-
mum) seriam testáveis, enquanto que aquelas baseadas pendentes da dinâmica da área (tectônica, mudança
em dispersão aleatória (evento particular), não. climática). A dispersão de uma espécie ou taxon
Para Croizat (1964), a evolução é constituída de supra-específico seria a do primeiro caso, ou seja,
três componentes: forma, espaço e tempo. Por forma, expansão da área de distribuição na ausência de uma
subentende-se todo e qualquer atributo intrínseco de barreira. Ele achava pouco provável que padrões
um organismo. Esses atributos sofrem transformação ao biogeográficos de escala global fossem o resultado
longo do tempo (evolução biológica). Em contrapartida, da convergência de rotas de dispersão de organis-
as áreas onde esses organismos são encontrados tam- mos com diferentes potenciais para ultrapassar
Paleobiogeografia 253
Figura 16.5 Hipóteses sobre a distribuição geográfica de espécies. Em A, a barreira é pré-existente; em B, a barreira é da
mesma idade das espécies divergentes.
Figura 16.6 Relações filogenéticas de dinossauros alossauróides e história das suas áreas de distribuição. O evento 1
corresponde à separação de porções da Laurásia do Oeste do Gondwana; o evento 2 indica fragmentação posterior do Oeste do
Gondwana em América do Sul e África [on line - http://cas.bellarmine.edu/tietjen/Ecology/evolution_of_dinosaurs.htm].
de um contexto geológico moderno áreas híbridas (com- d) construir matrizes de conectividade para os tra-
postas) ou de fusão de placas tectônicas. ços individuais e para os traços em conjunto;
A Pan-biogeografia possibilita um reconhecimen- e) avaliar estatisticamente a congruência dos tra-
to a priori de vários padrões congruentes de distribuição ços (alto índice de conectividade sugere a presença de
geográfica quando nenhuma análise filogenética acha- nós);
se disponível (Morrone & Crisci, 1990). Além disso, tem f) construir matrizes de incidência;
se revelado útil no reconhecimento de áreas híbridas,
g) indicar no mapa os traços generalizados, linhas
ponto fraco da Biogeografia Cladística (Crisci & Morrone,
de base, nós e centros de massa.
1992).
O método de Léon Croizat foi refinado por Page O método de Craw (1988) inclui as seguintes etapas:
(1987) e Craw (1988). O primeiro autor apresentou o a) construir traços individuais para grupos
seguinte procedimento metodológico (figura 16.11): monofiléticos;
a) construir traços individuais para grupos b) construir uma matriz do tipo áreas versus traços
monofiléticos; individuais (presença=1; ausência=0), sendo os traços
b) ligar as localidades seguindo o critério de dis- tratados como caracteres para as áreas analisadas;
tância mínima; c) utilizar o programa PHYLIP (Felsenstein,
c) orientar os traços individuais a partir de infor- 1986) para obter o maior “clique” (conjunto de traços
mação sobre a linha de base, relação filogenética ou individuais compatíveis) que será considerado como tra-
centros de massa; ço generalizado;
256 Paleontologia
Figura 16.9 Exposição gráfica dos principais conceitos pan-biogeográficos. O traço individual do taxon hipotético A está
representado por localidades (círculos) conectadas segundo o critério de mínima distância. No caso do taxon B, as localidades estão
representadas por estrelas. Os centros de massa estão circunscritos por linhas tracejadas. As linhas de base representam bacias
oceânicas separando blocos continentais (modificado de Craw et alii, 1999).
Figura 16.12 Etapas de uma análise biogeográfica cladística. Construção de cladogramas de área a partir de cladogramas
taxonômicos e a derivação de um cladograma geral de áreas (modificado de Morrone & Crisci, 1995).
Figura 16.13 Cladogramas de áreas para quatro áreas de distribuição (A,B,C e D) a partir de quatro distintos cladogramas
taxonômicos (a-d são taxa) (modificado de Espinoza & Llorente, 1991). A condição trivial verifica-se na correspondência direta
entre um taxon e uma área. Os problemas que mascaram o padrão biogeográfico ocorrem quando: um taxon pode ter se extinguido
em dada área e/ou não tivemos informação sobre ele naquela área por algum motivo (área ausente); um taxon pode ser encontrado
em mais de uma área (ampla distribuição); mais de um taxon é encontrado em determinada área (redundância).
sência de especiação), extinção ou dispersão. São fontes sições 0, 1 e 2 (Nelson & Platnick, 1981; Veller et alii,
de incongruências nos cladogramas de áreas. 1999, 2000) (figura 16.14).
Com a finalidade de solucionar particularmente Os princípios e métodos da escola de
esses problemas biogeográficos, sem ter que excluir da- Biogeografia Cladística consistem, em síntese, na análi-
dos ou assumir histórias múltiplas para as áreas, foram se de padrões congruentes de distribuição geográfica a
desenvolvidos procedimentos conhecidos como supo- partir de cladogramas de área derivados de cladogramas
Paleobiogeografia 259
de taxa (Humphries & Parenti, 1999; Veller et alii, 1999, Parcimônica de Brooks e de Análise Parcimônica de
2000). O protocolo pode ser resumido nas seguintes eta- Endemismos).
pas: A seguir são apresentados os principais métodos
a) definir grupos monofiléticos que ocorram, no de padrão e suas formas de lidar com os principais pro-
mínimo, em três áreas (enunciado de três taxa); blemas paleobiogeográficos.
b) construir e/ou utilizar cladogramas para cada
taxon; Análise de Componentes
c) substituir os nomes dos taxa terminais dos
A análise de componentes começa com
cladogramas pelos nomes das áreas em que ocorrem,
cladogramas de áreas construídos para cada grupo
obtendo cladogramas resolvidos de área;
monofilético estudado (figura 16.15). Os entrenós
d) observar possíveis sobreposições entre os correspondem a hipóteses potenciais de relacionamen-
cladogramas de áreas, propondo um cladograma geral to de áreas ancestrais, ou seja, componentes, e são re-
de áreas; presentados, em geral, por números.
e) sugerir processos para explicar o padrão A quantificação da análise de componentes en-
biogeográfico obtido. volve as seguintes etapas:
Da mesma forma que no cladismo atual, na a) construir cladogramas de taxa;
Biogeografia Cladística existem métodos correntes que
b) construir cladogramas de áreas;
dão ênfase à recuperação de padrões e outros, à descri-
ção dos processos. Mesmo dentro do conjunto de técni- c) identificar os possíveis problemas biogeográ-
cas que buscam recuperar o padrão, temos critérios dis- ficos;
tintos utilizados para a escolha do cladograma geral de d) aplicar as suposições 0, 1 e 2;
áreas (Veller et alii, 2000): e) obter um cladograma geral de áreas com base
a) compatibilidade: interseção de distintos con- na interseção dos conjuntos de cladogramas de áreas;
juntos de cladogramas de áreas aplicando as suposições f) gerar matriz do tipo componentes versus áreas;
0, 1 e 2 (por exemplo, métodos de Análise de Compo- g) aplicar o algoritmo de parcimônia de
nentes, de Enunciado de Três Áreas e de Árvores Re- Wagner (na qual a seqüência de transformação de
conciliadas); caracteres é sempre aditiva e admite a reversibilidade
b) parcimônia: escolha do cladograma geral de da transformação, Kluge & Farris, 1969) ou analisar
áreas utilizando-se um algoritmo de simplicidade e apli- com algoritmo de compatibilidade (Zandee & Ross,
cando a suposição 0 (por exemplo, método de Análise 1987);
260 Paleontologia
Figura 16.15 Aplicação da suposição 2 na escolha do cladograma geral de áreas a partir de cladogramas de áreas problemá-
ticos (modificado de Morrone & Crisci, 1995). O cladograma geral de áreas (destacado em fundo cinza) é obtido a partir do clique,
que corresponde ao conjunto de componentes mais freqüentes.
h) gerar cladograma(s) geral(is) de área(s); b) obter cladogramas de áreas para cada taxon;
i) no caso de haver múltiplos cladogramas de c) construir uma matriz contendo enunciados de
áreas, pode-se utilizar técnica de consenso (Kitching et três áreas a partir dos cladogramas de áreas particulares;
alii, 1998) para reduzir o seu número. d) utilizar o algoritmo de parcimônia.
A análise de parcimônia de Wagner (item g) pode O programa utilizado na criação da matriz é o
ser feita com o auxílio do programa Hennig86 (Farris, TAS (Nelson & Ladiges, 1991b) e a análise pode ser
1988) e o algoritmo de compatibilidade (item g) pode feita com o programa Hennig86.
ser implementado com o programa CAFCA (Zandee,
1991). Árvores Reconciliadas
Os programas COMPONENT versões 1.5 e 2.0
(Page, 1989, 1993a, respectivamente) são os mais utili- Uma metodologia ainda mais refinada na re-
zados na análise de componentes. O COMPONENT construção paleobiogeográfica consiste na obtenção
2.0 encontra-se disponível na Internet (http:// de árvores reconciliadas. Neste método, proposto por
taxonomy.zoology.gla.ac.uk/rod/cpw.html). Page (1993b), o cladograma produzido para o pri-
meiro taxon considerado é sobreposto ao de outros
taxa encontrados nas áreas estudadas, visando à
Enunciado de Três Áreas
detecção de congruências. Este método objetiva re-
O enunciado de três áreas (TAS - “three-area conciliar os distintos cladogramas de áreas, de modo
statements”, Nelson & Ladiges, 1991a) obedece o mes- a maximizar a história compartilhada entre os mes-
mo modelo conceitual do “three-taxon statements” uti- mos (figura 16.16).
lizado no Cladismo Numérico (Nelson & Platnick, 1991) As etapas são as seguintes:
e consiste das seguintes etapas: a) selecionar cladogramas de taxa monofiléticos
a) escolher cladogramas de taxa; distribuídos nas áreas estudadas;
Paleobiogeografia 261
Figura 16.16 Árvores reconciliadas. (A) Reconciliação entre um cladograma de áreas (com letras minúsculas) e seu
cladograma geral de áreas (com letras maiúsculas). (B) Exemplo mais complexo mostrando que uma duplicação é postulada para
reconciliar as árvores (modificado de Morrone & Crisci, 1995).
b) substituir nos cladogramas taxonômicos os taxa sentes como não informativas ao invés de primitiva-
terminais pelas áreas onde eles ocorrem, produzindo mente ausentes.
cladogramas de áreas; Os procedimentos básicos da BPA consistem em
c) reconciliar os cladogramas particulares de (figura 16.17):
áreas aplicando os seguintes critérios - Duplicações a) construir matrizes do tipo áreas versus compo-
(número de vezes que se deve duplicar um clado), nentes por codificação binária (presença/ausência), com
Folhas adicionadas [diferença no número de nós dos base em todos os cladogramas de taxa/áreas levados em
cladogramas (=itens de erro)], Perdas (número de nós consideração;
“perdidos”);
b) aplicar o algoritmo de parcimônia de Wagner
d) obter o cladograma geral de áreas que com o programa Hennig 86;
minimize tais critérios para o conjunto de cladogramas
c) obter cladograma geral de áreas.
de áreas. Os resultados obtidos devem ser contrastados
com hipóteses geológicas correntes sobre origem e
evolução de bacias sedimentares e deriva continental. Análise Parcimônica de Endemismos
O programa COMPONENT versão 2.0 (Page, O método foi proposto por Rosen (1988) em um
1993a) é o indicado para o processamento e análise dos contexto paleontológico. Permite analisar informação
dados paleobiogeográficos. histórica contida na distribuição geográfica de grupos
taxonômicos a partir de uma matriz do tipo taxa versus
Análise Parcimônica de Brooks áreas (ou localidades). As áreas são tratadas como taxa e
os taxa como caracteres. A raiz do cladograma é deter-
A Análise Parcimônica de cladogramas do tipo
minada em função de uma área hipotética codificada
taxon/área, correntemente designada como BPA com zeros. Um algoritmo de parcimônia é empregado
(“Brooks Parsimony Analysis”), foi proposta por Wiley na construção de cladogramas de áreas (figura 16.18).
(1988), tendo como base as idéias originalmente de-
O método permite uma interpretação da história
senvolvidas por Brooks (1985) em estudos de Ecolo-
da ocupação da área por taxa ao longo do tempo geoló-
gia Histórica, abordando as relações entre hospedeiro/
gico, mas ignora relações de parentesco entre os taxa.
parasita.
BPA é baseada na suposição 0, de forma que
Fósseis, Sistemática e Reconstrução
aceita as relações dos cladogramas originais de áreas.
Paleobiogeográfica
As áreas ocupadas por taxa com ampla distribuição
geográfica indicam monofiletismo dessas áreas. Mas A importância dos fósseis em estudos de
ao contrário da suposição 0, BPA considera áreas au- Biogeografia Histórica foi (e continua sendo) um tema
262 Paleontologia
Figura 16.17 Análise Parcimônica de Brooks. (A) Cladograma de áreas completo. (B) Cladograma de áreas sem uma
determinada área, condição indicada na matriz com uma marca de questão (“?”). (C) Cladograma de áreas com um taxon de ampla
distribuição, presente em duas áreas (A e B). (D) Cladograma de áreas com uma distribuição redundante (dois taxa na área B). (E)
Matriz geral de dados contendo áreas versus componentes. (F) Cladograma geral de áreas obtido da matriz geral de dados mediante
a aplicação do algoritmo de parcimônia de Wagner (modificado de Morrone & Crisci, 1995).
bastante debatido entre paleontólogos e neontólogos. dem também ampliar o conhecimento sobre a extensão
De um lado, alguns pesquisadores, tais como Patterson da área de distribuição.
(1981), postulam que dificilmente os fósseis mudariam O registro fossilífero é sabidamente incompleto.
substancialmente uma hipótese filogenética proposta Alguns organismos foram privilegiados em processos
com base apenas em taxa recentes. Já Grande (1985) de fossilização em detrimento de outros, de modo que a
aponta algumas contribuições relevantes dos fósseis na história de um taxon e de sua área de distribuição será
Sistemática e Biogeografia. sempre parcialmente conhecida.
Os fósseis auxiliam na determinação da idade mí- Um bom exemplo de aplicação da Sistemática
nima de um taxon, ou seja, o seu registro mais antigo e Biogeografia de grupos extintos como pré-requisito
conhecido, podendo auxiliar na calibragem de eventos para a formulação de hipóteses paleogeográficas é
cladogenéticos (figura 16.19). Eles possibilitam também apresentado por Corrêa de Vasconcellos (2000). Este
o reconhecimento de taxa afins que, dependendo do autor utilizou corais rugosos bentônicos (não
seu estado de preservação, podem gerar informações hermatípicos) encontrados no Carbonífero da Bacia
anatômicas (por exemplo, caracteres intermediários) e do Amazonas para corroborar a presença de um mar
ecológicas complementares. Estes taxa adicionais po- epicontinental na região da atual Amazônia e uma
Paleobiogeografia 263
Figura 16.18 Análise Parcimônica de Endemismos. (A) Mapa da região norte da América do Sul dividido em 15 quadrícu-
las. (B) Matriz de dados mostrando espécies por quadrículas. (C) Cladograma das quadrículas obtidos por parcimônia de Wagner.
(D) Reconstituição das áreas de endemismo (a-c) com base nos grupos do cladograma (segundo Morrone & Crisci, 1995).
conexão marinha com a Laurásia. Até então, as evi- BRUNDIN, L. 1966. Transantartic relationships and their
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