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José Domingues
Professor da Universidade Lusíada do Porto
Exame crítico às Leis de El-Rei D. Afonso III, pp. 185-223
“E tão grande justiça exerceu no reino que, tal como antes da sua
chegada, em qualquer lugar do reino de Portugal vigorava o feito
da guerra, a rapina e a devastação, assim sob o seu poder e pela sua
acção mais amplamente prosperou e prevaleceu a paz, a segurança
e a tranquilidade; qualquer um se podia sentar à sombra da sua
figueira ou da sua videira, gozando com alegria os alimentos de sua
mesa; qualquer um dormia descansado em sua casa; qualquer um
tinha condições para transportar consigo tesouros de prata e ouro,
quantidades grandes ou pequenas de qualquer substância preciosa,
por todo o reino de Portugal. Mesmo por sítios intransitáveis e
desertos, por bosques com sombras e esconderijos, por caminhos de
cabras, pelas grutas de montes estendidos ou erguidos até às nuvens,
o fedor dos corpos queimados em prol da justiça transformava-se,
nas narinas de quem quer que fosse, em odor de incenso ou de
qualquer substância aromática”.
Resumo
Palavras chave
Direito Medieval Português; Leis de D. Afonso III; Ius Proprium.
Abstract
Legislative policy of king Afonso III has been assessed from the collection
Portugaliae Monumenta Historica, a work of mid-nineteenth century, unique
in the Portuguese juris-history, that remains as one of the safest props to study
and understand the normative structures of the Bolonhês reign. However, the
recognized contribution megalithic of Alexandre Herculano shall not prevent
that the –suum quique tribuere– Afonso III give up what is Afonso III. Therefore,
in this brief work it is questioned whether, as commonly stated, Afonso III has
been the most legislator monarch of the Portuguese Middle Ages to the point of
already speaking in a Rule of law throughout his reign (1248-1279).
Key-words
Medieval Portuguese Law; Laws of Afonso III; Ius Proprium.
1 V. g., Marcello CAETANO, História do Direito (Séc. XII-XVI), seguida de Subsídios para a História das
Fontes do Direito em Portugal no Séc. XVI, textos introdutórios e notas de Nuno Espinosa Gomes da
Silva, Editorial Verbo, 4.ª Edição, Lisboa / São Paulo, 2000: «Consolidação do Estado (1248-1495)»;
Nuno Espinosa Gomes da SILVA, História do Direito Português – Fontes de Direito, 5.ª edição revista e
actualizada, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2011: «Época de Recepção do Direito Comum
(1248-c. 1446)»; Mário Júlio de Almeida e COSTA, História do Direito Português, 5.ª edição revista
e actualizada, Almedina, Coimbra, 2011: «Período do Direito Português de Inspiração Romano-
Canónica».
2 Ruy de ALBUQUERQUE e Martim de ALBUQUERQUE, História do Direito Português, vol. 1, Sintra,
2005, p. 13.
3 José DOMINGUES, “Recepção do Ius commune medieval em Portugal, até às Ordenações Afonsinas”,
em Initium 17, 2012, p. 143; Fátima Regina FERNANDES, “A Recepção do Direito Romano no
Ocidente Europeu Medieval: Portugal, um caso de afirmação régia”, em História: Questões &
Debates 41, Curitiba, 2004, pp. 73-83. Albuquerque e Albuquerque, História do Direito Português, pp.
339-341. No entanto, o Direito romano já é utilizado em Portugal desde, pelo menos, o reinado
anterior de D. Sancho II, conforme atilou André VITÓRIA, Legal Culture in Portugal from the Twelfth
to the Fourteenth Centuries, Doctoral dissertation in Medieval History submitted at the Universidade
do Porto, Porto, 2012.
4 José DOMINGUES, “Os Primórdios do Ius Corrigendi em Portugal: Os Meirinhos-mores de D.
Afonso III”, em Revista Direito – Lusíada Porto, n.º 1 e 2, Porto, 2011, pp. 171-205, em http://www.
academia.edu/3099263/_Os_primordios_do_Ius_corrigendi_em_Portugal_Os_meirinhos-mores_
de_D._Afonso_III_ (consultado no dia 7 de Agosto de 2013).
5 José MARQUES, “O foral da Póvoa de Varzim de 1308, no contexto da política dionisina de
organização e defesa do território nacional”, em Boletim Cultural de Póvoa de Varzim, vol. 42, 2008,
p. 307.
6 Alexandre HERCULANO, Portugalliae Monumenta Historica: A saeculo octavo post christum usque ad
quintumdecimum – Leges et Consuetudines, vol. 1 fasc. 2, Academia das Ciências, Lisboa, 1858, em
http://www.quinto.com.br/pmhVIII.htm (consultado no dia 6 de Agosto de 2013) [= PMH Leges];
cf. também Manuel BENTO, Subsídios para a História do Direito Português (Notas dos «Portugaliae
Monumenta Historica»), União Gráfica, Lisboa, 1941, pp. 37-68.
7 Entre os mais recentes, v. g., VITÓRIA, Legal Culture in Portugal from the Twelfth to the Fourteenth
Centuries, p. 119 –“Over 230 decrees can be ascribed to Afonso III”–; Leontina VENTURA e António
Resende de OLIVEIRA, “Os Livros do Rei: Administração e cultura no tempo de D. Afonso III”,
em Boletim do Arquivo da Universidade de Coimbra, vol. 25, Imprensa da Universidade, Coimbra,
2012, p. 188, em http://iduc.uc.pt/index.php/boletimauc/article/view/455/368 (consultado no
dia 31 de Agosto de 2013) –“no governo de D. Afonso III impôs-se (…) o «império da lei». Alexandre
Herculano ao organizar os Portugaliae Monumenta Historica, pôde, assim, recolher 233 leis atribuídas a
este monarca”–; Leontina Domingos VENTURA, D. Afonso III, 7.ª edição, Círculo de Leitores, 2012,
p. 129 –“Em suma: tendo como especial desígnio a estabilidade do reino e o bem comum, as suas 233 leis
incidiram sobremaneira…”–; Judite A. Gonçalves de FREITAS, O Estado em Portugal (Séculos XII-XVI):
Modernidades Medievais, Alêtheia Editores, 2012 –«Afonso III (1248-1279) promulga duzentas e trinta
e três (233) leis»–; COSTA, História do Direito Português, p. 288, nota 1 –“Encontram-se identificados,
até finais do século XIII, cerca de 250 textos que podem incluir-se num sentido amplo de «lei» (posturas,
degredos, estabelecimentos, ordenação e constituições). Conjectura-se que 220, aproximadamente, se situem
entre 1248/1279”– ; SILVA, História do Direito Português, p. 283 –“Afonso III promulgará duzentas e
trinta e três leis”–; CAETANO, História do Direito, p. 344 –“a partir de D. Afonso III multiplicam-se
as leis régias. (…) De D. Afonso III conhecem-se mais de 200 leis”–; José DOMINGUES, As Ordenações
Afonsinas – Três Séculos de Direito medieval (1211-1512), Zéfiro Editora, Sintra, 2008, pp. 474-506,
em http://www.academia.edu/3123263/As_Ordenacoes_Afonsinas_-_Tres_Seculos_de_Direito_
Medieval_1211-1512_ (consultado no dia 6 de Agosto de 2013); Maria Teresa da Silva MORAIS,
“Leis gerais desde o início da monarquia até ao fim do reinado de D. Afonso III. Levantamento
comparativo entre os Portugaliae Monumenta Historica, o Livro das Leis e Posturas e as
Ordenações de D. Duarte”, relatório de Mestrado da cadeira de História do Direito, Faculdade
de Direito da Universidade de Lisboa, 1984/85, publicado em Estudos em Homenagem ao Professor
Doutor Manuel Gomes da Silva, Lisboa, 2004, pp. 807-882; Fátima Regina FERNANDES, Comentários
à Legislação Medieval Portuguesa de Afonso III, Curitiba: Juruá, 2000; Armando Luís de Carvalho
HOMEM, “Dionisius et Alfonsus, Dei Gratia Reges et Communis Utilitatis Gratia Legiferi”, em
Revista da Faculdade de Letras – História, II série, vol. IX, Porto, 1994, p. 15 –“«corpus» de 233 leis”–,
foros extensos locais –Foros de Santarém, Torres Novas, Guarda, Beja, Garvão,
etc.13– vertidos para romance, truncados, resumidos, repetidos, seccionados,
sob múltiplas designações –lei, postura, encouto, conselho, decreto ou degredo,
estabelecimento, ordenação, constituição, capítulo– e, não raro, inçados de
gralhas de datação e adjudicação duvidosa quanto ao monarca promanante.
Em autógrafo ou mesmo em apógrafo, são escassos os monumentos legislativos
avulsos e isolados das compilações, que permitam juízos de valor mais seguros,
perspicazes e equitativos.
Neste panorama caótico de difícil saída, a pena dos Portugaliae Monumenta
Historica acabou por incluir no reinado de Afonso III, indiscriminadamente, todo
o tipo de acto normativo em que tropeçou –lei, costume, doutrina, jurisprudência
e acordos– de 1248 a 1279, a que também somou aqueles que considerou de “data
duvidosa quanto ao reinado”14. Assim chegando muito rapidamente ao referido
número astronómico de duzentas e trinta e três (233) leis de Afonso III15.
Esta contagem exagerada de mais de duas centenas de diplomas suscitou
vincada posição crítica por parte de António Manuel Hespanha. No seu pensar
deixou bem claro que Herculano terá abordado o conceito de lei “em termos
historicamente errados, projectando sobre o passado os elementos do conceito
oitocentista generalidade, origem parlamentar, permanência, «dignidade» das
matérias (emanação da soberania)”. Recorrendo à doutrina jurídica medial e
exemplificando com o conceito alargado das Partidas de Afonso X de Castela16,
alvitra que “se o interesse do historiador é o de detetar a medida de intervenção
13 Publicados em Collecção de Livros Ineditos de Historia Portugueza, dos reinados de D. João I, D. Duarte,
D. Affonso V e D. João II, publicados de ordem da Academia Real das Ciências de Lisboa, tomo IV
(foros de Santarém, S. Martinho de Mouros e Torres Novas) Lisboa, 1816, em http://archive.org/
details/collecadeliv04corruoft (consultado no dia 8 de Agosto de 2013); e tomo V (foros de Garvão,
Guarda e Beja), Lisboa, 1824, em http://archive.org/details/collecadeliv05corruoft (consultado
no dia 8 de Agosto de 2013).
14 PMH Leges, pp. 326-330_CCXVII-CCXXXIII.
15 Embora em muito menor escala, esta dificuldade também se fez sentir para os reinados subsequentes.
V. g., Carvalho Homem ao enredar-se na legislação de D. Dinis e D. Afonso IV sentiu necessidade
de se escudar no conceito aventado por dois conceituados autores estrangeiros –Léopold Génicot
e Albert Rigaudière–, o que não o eximiu de confundir diplomas gerais e abstractos –verdadeiras
leis régias, dissimuladas sob a forma de carta régia– com diplomas particulares e vice-versa. Cf.
Armando Luís de Carvalho HOMEM, “Dionisius et Alfonsus, Dei Gratia Reges et Communis
Utilitatis Gratia Legiferi”, em Revista da Faculdade de Letras – História, II série, vol. IX, Porto, 1994,
pp. 11-110, em http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2119.pdf (consultado no dia 9 de Agosto
de 2013). A apreciação crítica em DOMINGUES, As Ordenações Afonsinas, pp. 49-51.
16 A este propósito cf. Faustino MARTÍNEZ MARTÍNEZ, “San Isidoro, Santo Tomás y Alfonso X: tres
aproximaciones paralelas al concepto de Ley”, em Revista Internacional de Direito da UNICAP, em
http://www.unicap.br/rid/html/artigos.html (consultado no dia 9 de Agosto de 2013). O autor,
ao conceito das Partidas de Afonso X acrescenta o conceito vertido para outro texto jurídico da sua
lavra, o Foro Real: “La ley ama e enseña las cosas que son de Dios, e es fuente de enseñamiento, e maestra
de derecho, e de justicia, e ordenamiento de buenas costumbres, e guiamiento del pueblo e de su vida, e es tan
bien para las mugeres como para los varones, tambien para los mancebos como para los viejos, tan bien para
los sabios como para los non sabios, asi para los de la cibdat como para los de fuera, e es guarda del rey e de
los pueblos” (FR 1.6.1); cf. também o conceito de lei em Fernão Lopes, apud SILVA, História do Direito
Português, pp. 285-286.
17 António Manuel Hespanha, Cultura Jurídica Europeia: síntese de um milénio, Almedina, Coimbra,
2012, pp. 183-185. Cf. também as observações aos Portugaliae Monumenta Historica feitas por Teresa
Morais, em Morais, “Leis gerais desde o início da monarquia até ao fim do reinado de D. Afonso
III”, pp. 806-813.
18 José Artur Duarte Nogueira, Lei e Poder Régio I. As Leis de Afonso II, Associação Académica da
Faculdade de Direito de Lisboa, Lisboa, 2006, pp. 143-168 (163-164).
19 Consagrado no actual art. 6º do Código Civil: “A ignorância ou má interpretação da lei não justifica a
falta do seu cumprimento nem isenta as pessoas das sanções nela estabelecidas”.
20 El Fuero Real de España, diligentemente hecho por el noble Rey Don Alonso IX: Glosado por el egregio
Doctor Alonso Dias de Montalvo, Tomo I, Madrid, 1781, Livro I, Título 5, Lei 4, p. 73.
21 Hespanha, Cultura Jurídica Europeia, p. 184 nota 293. A obra a que se reporta este autor foi
submetida a um concurso da FCT, mas acabou por não ser publicada por não ter sido selecionada
para financiamento.
22 Jesús Vallejo, “El Cáliz de Plata. Articulación de órdenes jurídicos en la jurisprudencia del ius
commune”, em Revista de Historia del Derecho, 38, Buenos Aires, 2009, pp. 6-7, em http://www.
scielo.org.ar/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1853-17842009000200002 (consultado no dia 5 de
Agosto de 2013).
23 José DOMINGUES, “As Partidas de Castela e o Processo Medieval Português”, em Initium
18, Barcelona, 2013, pp. 127-178. José DOMINGUES, “As Partidas de Castela na Sistemática
Compilatória do Livro IV da Reforma das Ordenações”, em Initium 19, Barcelona, 2014 (a publicar).
24 José DOMINGUES, “Direito Romano na sistemática compilatória das Ordenações Afonsinas”, em
Actas do XV Congresso Internacional e XVIII Congresso Ibero-Americano de Direito Romano, Lisboa,
2013 (a editar).
25 Ocorre-me, a talho de foice, a problemática que se tem desenvolvido em torno da lei do acervo
de Afonso II (Coimbra 1211) por causa da supremacia do Direito canónico sobre o Direito régio
ou vice-versa. Veja-se as exegeses e identificação dos principais protagonistas em NOGUEIRA,
Lei e Poder Régio I. As Leis de Afonso II, pp. 243-250 e SILVA, História do Direito Português, pp.
183-185 (nota. 2). A esta erudita controvérsia junta-se a opinião de outro não menos conceituado
protagonista –Paulo OTERO, “D. Afonso II e a Edificação do Estado: A raiz do Constitucionalismo
Português”, em Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor Martim de Albuquerque, vol. II, Faculdade de
Direito da Universidade de Lisboa, Coimbra Editora, 2010, pp. 523-538 (528-530)–, que antevê na
lei de Afonso II “uma «nacionalização» da solução jurídica de Graciano”. Aspando as palavras do próprio
autor, “a lei de D. Afonso II mostra, afinal, a prevalência ou primado do Direito do Estado, segundo resulta
deve ser interpretado com algumas reservas e não vinculado ao critério da estrita
subsidiariedade das fontes do Ius commune –aliás, como seria possível relegar
totalmente para esse estalão o Ius canonicum ou as determinações régias26?–. Não
será de todo despicienda a epígrafe escolhida “quando a Ley contradiz aa Degratal,
qual dellas se deve guardar” e, por outro lado, tudo leva a crer que nem sequer
estaria “en manos de dichas potestades políticas superiores la determinación
unilateral por vía normativa del modo de articulación de los ordenamientos que
en principio parecen situarse en una posición inferior”27. Em suma, estes critérios
são indispensáveis para uma boa interpretação do Direito e equitativa aplicação
e execução da Justiça, conciliando e harmonizando a multiplicidade de fontes
vigentes, mas sem qualquer garantia de sobreposição total e genérica de uma
fonte em relação à outra.
Também não me parece totalmente certa a referência a uma eventual
intenção dos compiladores consolidarem a legislação real ou do rei: a par das leis
do monarca foram incluídas nas Ordenações concórdias, concordatas, capítulos
de cortes, formulários, costumes e estilos da corte e até posturas de âmbito local,
v. g., a postura do concelho do Porto sobre o fretamento dos navios, feita pelo
concelho e homens bons do Porto e confirmada por D. Dinis e D. Afonso IV (OA
da vontade do monarca em autovincular as suas leis ao respeito pelos «direytos da Santa egreia de Roma».
Não existe qualquer força jurídica autónoma ou heterovinculativa do Direito Canónico perante o Direito do
Estado: o Direito Canónico prevalece por vontade do rei, segundo resulta de uma lei do Estado, enquanto o
monarca assim o determinar e sempre nos termos futuros em que ele o fixar”. Sem pretensão de melhor
arenga, reconhecendo e aceitando o elevado mérito de todos os intervenientes e das suas avalisadas
teses e conceituada argumentação, destacando o carácter extremamente sedutor desta última,
penso que a laconicidade e as variantes do texto normativo em apreço ainda permitem diferente
interpretação. No meu modesto entendimento estou convicto que desta lei destila apenas um
reconhecimento expresso da aplicabilidade do Direito canónico (e garantia dos direitos da Igreja)
a par com o Direito civil e o respeito mútuo entre ambos, mas sem pretender estabelecer qualquer
hierarquia ou prevalência de um dos ramos do Direito sobre o outro. Este entendimento perdurou
desde os primevos tempos da monarquia portuguesa até à Lei da Boa Razão (18 de Agosto de 1769),
que remeteu a aplicação do Direito canónico apenas para os tribunais eclesiásticos. O “separar das
águas” não se confundirá com as assíduas controvérsias que, ao longo desses séculos, estiveram
sempre latentes entre os dois poderes em relação à franja de matérias sobreposta a ambos iura,
mais difusa e menos consensual. Estas acabariam por ser resolvidas, maioritariamente, de forma
pactuada –atente-se, v. g., na reacção da Igreja contra a regulamentação unilateral tentada por D.
João I através das leis jacobinas de 1419– com recurso a específicos critérios regulamentadores
e identificação de caso a caso e nunca por meio de um critério geral de supremacia de um dos
Direitos. E muito menos me parece credível, independentemente dos circunstancialismo políticos,
o reconhecimento geral da supremacia de um Direito pelo sumo titular do poder antagónico –que
aliás, dentro do próprio pecúlio legislativo de Afonso II, acaba por gerar contradições insanáveis–.
Duarte Nogueira também duvida da supremacia do ordenamento jurídico da Igreja –cf. José Duarte
NOGUEIRA, “Organização intermédia do Estado – séculos XIII e XIV. Uma perspectiva júris-
historiográfica”, in Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Paulo de Pitta e Cunha, III, Coimbra,
2010, p. 532)
26 Saliente-se que, apesar das determinações de el-rei sobre os casos concretos constarem no final
da escala, depois de corridas todas as fontes imediatas e “subsidiárias”, “nom tam somente taaes
determinaçoões som desembargo daquelle feito, que se trauta, mais som Ley pera desembargarem outro
semelhante” (OA 2.9.2).
27 Vallejo, “El Cáliz de Plata. Articulación de órdenes jurídicos en la jurisprudencia del ius commune”,
p. 5.
4.5), a postura sobre o engeitar das bestas de Évora (OA 4.22) e o costume do
concelho de Lisboa sobre os arrendamentos (OA 4.73). Tal como ficou dito para
os juristas do Ius commune, também para os compiladores das Ordenações a
lei não se define pela entidade que a dita. O uso da terminologia nem sempre
se coaduna com os parâmetros habituais do pensamento jurídico actual, v. g.,
surgem asserções identificando o costume com o Direito “Costume he e des hi he
dereyto que”28; sobre a colação dos bens doados aos filhos em vida, o compilador
diz “ElRey Dom Affonso o Terceiro da louvada memoria em seu tempo fez
Ley em esta forma que se segue”, apesar de começar com “Custume he”, e no
respectivo comentário diz que “visto per nós o dito custume tornado em Ley”
(OA 4.105.1); sobre a citação por força nova, o incipit no livro III “ElRey Dom
Affonso o Terceiro da louvada Memoria em seu tempo fez Ley” (OA 3.52.1) e
no livro IV “ElRey Dom Affonso o Terceiro em seu tempo fez Ley em esta forma
que se segue” não corresponde com o incipit do próprio diploma normativo
“Custume he” (OA 5.69.1), etc…
Voltando a uma perspectiva crítica actual, sem descurar as muitas
adversidades inerentes, importa diferenciar e caracterizar as fontes de Direito
no tempo de Afonso III, a que se reportam a sua feitura e o seu valor jurídico
originário, como de seguida se irá explanar dentro dos parcos limites de tempo e
espaço disponíveis. No fundo fica singela tentativa de se explanarem, na medida
do possível, alguns indícios que sirvam de incentivo e permitam distinguir as leis
do rei Afonso III de outras estruturas normativas do seu reinado.
Dois documentos outorgados por D. Afonso III, que não constam arrolados
nos Portugaliae Monumenta Historica, me parecem reunir as características
suficientemente próximas de uma lei régia para que possam ser aqui incluídos,
acrescentando o pecúlio angariado por Alexandre Herculano para este monarca
português da segunda metade do século XIII:
(i) 1255.Julho (Cortes de Guimarães) – Lei de D. Afonso III que, para atalhar
aos abusos dos fidalgos padroeiros, limita o exercício do seu direito de
padroádigo nos mosteiros e igrejas que lhe pertençam29.
(ii) 1261?.Maio.05 (Cortes de Coimbra)? – Carta enviada ao comendador,
pretor e concelho de Tomar onde consta uma lei de D. Afonso III que
isenta as viúvas, órfãos e idosos do pagamento do tributo de fossadeira30.
www.ulusiada.pt/clima/ius-proprium-leis-gerais/d-afonso-iii/lei-da-isencao-de-fossadeira/
(consultado no dia 9 de Setembro de 2013).
31 A propósito desta cúria desconhecida, cf. José DOMINGUES, “Padroado Medieval Melgacense
(S.ta Mª da Porta, S.ta Mª do Campo e S. Fagundo)”, em Boletim Cultural de Melgaço, n.º3, edição
Câmara Municipal de Melgaço, 2004, pp. 68-70; DOMINGUES, As Ordenações Afonsinas, pp. 151-
153; e VENTURA, D. Afonso III, pp. 125-126.
32 Cf. o resumo em VENTURA, D. Afonso III, p. 126.
1258) até à festa de S. João Baptista da era de 1298 (24 de Junho de 1260) –“Item
manda nosso ssenhor ElRej que o Mejrinho faça entregar per carta e per portejro
de nosso ssenhor el Rej todolas roubas e todalas aos Moesteiros e aas Ejgreias as
que achar fejtas en esses Monesteiros e en essas Ejgreias E os prelados delas des
aquel tempo en que foj feito o degredo en Gimarãaes ata xj. dias ate Kalendas
daBril da Era M.ª e Lx. vj. ata a ffesta de San Johane bbatista da Era M.ª Lx. viijº.
pelo qual tempo durou esse degredo”33–. Este documento requer uma especial
atenção para um dia se averiguar o que Herculano considerou “providencias de
diversas epochas”34.
A outra lei de Afonso III isenta uma determinada classe social considerada
mais desfavorecida –composta pelas viúvas, os órfãos, inclusive os órfãos de pai
a viver sob a alçada da mãe, e os idosos– do pagamento do tributo de fossadeira35.
Consta sob a forma de uma carta régia enviada aos coevos comendador, pretor
e concelho de Tomar. E chegou até nós através de uma confirmação posterior do
seu filho e sucessor, D. Dinis, concedida em Santarém no dia 5 de Maio de 1319.
Esta confirmação dionisina surge a solicitação do procurador régio, porque o
diploma original estava escrito em papel e se quebrava. O facto de ter sido este
oficial mor da justiça a requerer o treslado, e, sobretudo, o conteúdo material do
acto destilar as suprarreferidas características de lei régia, inculcam tratar-se de
uma plausível lei de D. Afonso III.
Malogradamente, o diploma afonsino é silente quanto ao ano da sua
outorga, apenas indicando o local, dia e mês –Coimbra, dia 5 de Maio–. Sabendo,
de antemão, que foi dado pelo sobrejuiz Vicente Dias podemos estabelecer-lhe
uma primeira datação crítica com o dies a quo em 5 de Maio de 1248 e o dies
ad quem em 5 de Maio de 1261. Assim o aconselha e permite a investigação
levada a cabo por Leontina Ventura em torno do múnus deste magistrado:
“Vicente Dias de Coimbra é um sobrejuiz que Afonso «herda» já do tempo de seu
irmão. Casado com Boa Peres, neta do chanceler Julião Pais, fora antes alcaide
de Coimbra (1225) e nesta cidade exercia funções judiciais. Desde 1239 está na
corte de Sancho II, aparecendo vulgarmente junto do sobrejuiz Soeiro Gonçalves
e de Afonso Martins Vivas, que também conhecemos de algumas situações em
que participa em arbitragens judiciais em Coimbra. É sobrejuiz de Afonso III
desde que assume a realeza e, nessa qualidade seu conselheiro de 1248 a 1256”
–na listagem final dos sobrejuizes, a autora, arrolou “Vicente Dias (1239, 1248-
1261)”–36.
Dentro deste espaço temporal de oito anos (1248-1261), seguindo o itinerário
régio de Afonso III traçado por Alves Dias, surge como mais provável o ano de
1261. Durante esse ano a Corte terá estanciado em Coimbra, seguramente, desde
o dia 11 de Abril até ao dia 7 de Maio. A confirmar-se esta data, estaremos perante
mais um diploma legislativo promulgado nas profícuas Cortes de Coimbra deste
ano, que terá sido “um ano de intensa e rica actividade legislativa”37. Embora
mais remota, outra hipótese plausível a considerar é a do ano de 1256: no dia 4
de Abril a Corte está em Lisboa e no dia 9 de Maio já surge em Coimbra, onde
permanece até ao dia 2538.
Sem postergar totalmente esta última plausibilidade, neste momento,
ponderando o facto de coincidir com a reunião parlamentar e da maior certeza que
no dia 5 de Maio desse ano a Corte estava em Coimbra, não me parece demasiado
arriscado optar pelo ano de 1261. Por isso, até melhor argumento ou prova em
contrário, fica estabelecida a data de 5 de Maio de 1261, em Coimbra, para a lei
régia que isenta as viúvas, órfãos e idosos do tributo militar da fossadeira. Para
confirmação, infirmação e futuras averiguações segue, no final, o seu traslado na
íntegra.
Passando aos diferentes registos escritos, para leis que já constam nos
Portugaliae Monumenta Historica, cumpre aqui salientar as seguintes novas
versões em documentos medievos:
42 Lisboa, IAN/TT – Ordem de Avis e Convento de São Bento de Avis, mç. 2, n.º 78, em http://
digitarq.dgarq.gov.pt/details?id=4634300 (consultado no dia 8 de Agosto de 2013).
43 CLIMA: Afonso III-5, Lei do padroado, em http://www.ulusiada.pt/clima/ius-proprium-leis-
gerais/d-afonso-iii/lei-do-padroado/ (consultado no dia 9 de Setembro de 2013).
44 Lisboa, IAN/TT – Mosteiro de S. Pedro de Pedroso, maço 7, n.º11, em http://digitarq.dgarq.
gov.pt/details?id=4499400 (consultado no dia 8 de Agosto de 2013); publicado em Ana Maria
MARTINS, Documentos Portugueses do Noroeste e da Região de Lisboa. Da Produção Primitiva ao Século
XVI, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 2001, doc. 36, pp. 164-168.
45 Porto, AHM – Livro A, fls. 151-154. Cf. DOMINGUES, As Ordenações Afonsinas, p. 41.
46 CLIMA: Afonso III-11, Lei da moeda, em http://www.ulusiada.pt/clima/ius-proprium-leis-
gerais/d-afonso-iii/lei-da-moeda-2/ (consultado no dia 9 de Setembro de 2013).
47 Braga, AD – Colecção Cronológica, doc. 65 (original autógrafo); Braga, AD – Livro das Cadeias,
doc. 56, fls. 36v-38v. O documento da Colecção Cronológica foi, entretanto, publicado em fac-simile
por J. Ferraro VAZ, Numária Medieval Portuguesa – 1128-1383, Lisboa, 1960, tomo II, doc. XXVIII.
Acompanhado, a página 317, da seguinte nota: “O original no Arq. De Braga, que reproduzimos,
será uma daquelas escripturas referidas por FERNÃO LOPES a propósito da mudança feita na moeda por
D. Afonso IV: «E dizem que foi entom conveemça antre elRei e os prellados e o poboo do reino, que elRei
nunca mais mudasse moeda, mas que se mantevesse daquela guisa, sob çertas comdiçooens e penas que em as
escripturas que sobrello forom feitas, som postas; as quaaes poserom em Bragaa, e em Alcobaça, e em outros
logares em guarda» (Crón. de D. Fernando, LV; cf. GAMA BARROS, in Hist. da Administração, 2.ª ed., III,
140 e 143 nota 2)”. Cf. DOMINGUES, As Ordenações Afonsinas, p. 41.
48 Para além das já referidas, v. g., não refere a impressão anterior da lei da almotaçaria de 26 de
Dezembro de 1253, feita por João Pedro RIBEIRO, Dissertações Chronologicas e Criticas sobre a
Historia e Jurisprudencia Ecclesiastica e Civil de Portugal, Tomo III 2.ª Parte, Lisboa, 1813, doc. 21, pp.
59-72, em http://archive.org/details/dissertaesch03ribe (consultado no dia 8 de Agosto de 2013);
a partir da edição de RIBEIRO, no mesmo ano dos Portugaliae Monumenta Historica, foi publicada
por Manuel Bernardo Lopes FERNANDES, Memoria das Moedas Correntes em Portugal, desde o
Tempo dos Romanos, até o anno de 1856, Parte I, Lisboa, 1856, pp. 36-37, em http://books.google.
pt/books?id=XS_0HUB-r0sC&pg=PA12&dq=%22moedas+correntes+em+Portugal%22&cd=1#v
=onepage&q&f=false (consultado no dia 8 de Agosto de 2013). Também nunca faz referência à
publicação dos foros promovida pela Academia Real das Ciências de Lisboa.
49 José Anastácio de FIGUEIREDO, Nova História da Militar Ordem de Malta, Parte II, Lisboa,
1800, § CXXVIII, pp. 182-183 (extracto em Latim e Português), em http://archive.org/details/
novahistoriadami02figu (consultado no dia 8 de Agosto de 2013).
50 CLIMA: Afonso III-13, Lei dos alcaides, em http://www.ulusiada.pt/clima/ius-proprium-leis-
gerais/d-afonso-iii/lei-dos-alcaides/ (consultado no dia 9 de Setembro de 2013).
62 Sobre esta lei no ordenamento jurídico português, cf. Paulo MERÊA, “Á Margem das Ordenações”,
em Estudos de História do Direito I: Direito Potuguês, Impresa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2007,
pp. 309-317.
63 PMH Leges, p. 328.
decreto dimanado da vontade régia. O exame cuidadoso mostra que esse texto
é mero capítulo de um pequeno tratado do novo processo adoptado no tribunal
da corte (…) A leitura atenta mostra sem dificuldade não estarmos perante uma
lei”89–. Para eliminar duplicações indesejáveis deve ainda ser feito o cotejo com
os fragmentos que traduzam a mesma regulamentação jurídica, tarefa ingrata
legada por Herculano que se dispensou de “indicar em cada um dos estatutos a
lei que substancía ou que lhe é correlactiva, deixando esse cuidado aos estudiosos
do nosso primitivo direito”90.
No segundo tratado processual foram registados alguns formulários
jurídicos da Casa da Justiça de el-rei, que merecem aqui uma atenção sumária.
89 Caetano, História do Direito, pp. 403-404. Apesar de Marcello Caetano (p. 405 nota 1) ter refutado
Luís Carlos de Azevedo, que considera o texto como lei das Cortes de Leiria de 1254 ou de Coimbra
de 1261, continuam a afirmar o contrário, Ventura, D. Afonso III, p. 133 –“Afonso III promulgou
um conjunto legislativo, qual pequeno tratado processual ou manual de processo judicial”–; Fernandes,
Comentários à Legislação Medieval Portuguesa de Afonso III, pp. 135-177 (173) –“código processual
elaborado a mando de Afonso III”–.
90 PMH Leges, p. 300. Um dos grandes arcanos –ainda por resolver de forma satisfatória– é a da
duplicação de fontes, não raro, no próprio códice. Este óbice requer um cotejo atento e detalhado
de todos os textos conhecidos e não apenas os que fazem parte desta tentativa codificadora, que
deve ser alargado para além das meras coincidências literais.
91 Para o caso da chancelaria do bispado do Porto, v. g., Maria João Oliveira e SILVA, A Escrita na
Catedral: A Chancelaria Episcopal do Porto na Idade Média (Estudo Diplomático e Paleográfico),
Dissertação de Doutoramento em História, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto,
2010, pp. 29 e ss.; para o arcebispado de Braga, v. g., Maria Cristina CUNHA, “A organização da
chancelaria arquiepiscopal de Braga (dos primórdios a 1244)”, em Lusitania Sacra, 2.ª série, n.º 13-14,
Lisboa, 2001-2002, pp. 453-466, em http://repositorio.ucp.pt/handle/10400.14/4471 (consultado
no dia 17 de Agosto de 2013).
92 A propósito de formulários medievais eclesiásticos em Portugal, Maria Cristina de Almeida
CUNHA, “Fórmulas e formulários: os documentos da Colegiada de Guimarães (1128-1211)”,
em Actas do 2.º Congresso Histórico de Guimarães, Vol. 4, Guimarães, 1997, pp. 173-182, em http://
repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/23473 (consultado no dia 17 de Agosto de 2013); Saúl
António GOMES, “Um formulário monástico português medieval: o manuscrito alcobacense
47 da BNL”, em Humanitas, vol. 51, Coimbra, 1999, pp. 141-184, em https://digitalis-dsp.sib.
uc.pt/handle/10316.2/7942 (consultado no dia 17 de Agosto de 2013); Saúl António GOMES,
“Observações sobre dois formulários eclesiásticos medievais portugueses”, em Humanitas, vol. 53,
Coimbra, 2001, pp. 249-274, em https://digitalis-dsp.sib.uc.pt/handle/10316.2/7998 (consultado
no dia 17 de Agosto de 2013).
93 Saúl António GOMES, “Testemunhos de formulários régios medievais portuguese”, em Os
Reinos Ibéricos na Idade Média: Livro em Homenagem ao Professor Doutor Humberto Carlos Baquero
Summa dictaminis, que faz Parte de quase todas as edições do Liber plurimorum
tractatuum juris, composta na segunda metade do século XIII por Domingos
Domingues de Viseu94. Citando Guido Van Dievoet, para António Gomes “os
formulários consagravam os modelos estereotipados de redacção textual tidos
por mais convenientes e pertencentes aos actos emanados de uma qualquer
autoridade pública ou privada enquanto entidade legislativa, executiva e judicial.
Chanceleres e escribas de reis e senhores, papas e bispos, abades e clérigos
notários contavam com o auxílio precioso desses cadernos em pergaminho ou
em papel onde se compilavam fórmulas e modelos estilísticos que inventariavam
as modalidades de escrita segundo a consideração das escalas sociais e dos
objectivos institucionais a que se destinavam tais documentos”95.
Os formulários legais, umbilicalmente ligados às várias fases do processo
medievo português, chegam-nos mormente através das primordiais compilações
das Ordenações do reino – Livro de Leis e Posturas, Ordenações de D. Duarte
e Ordenações Afonsinas–. Uma vez que essas fórmulas surgem assiduamente
misturadas com outros actos legislativos o mais plausível é que as fontes primárias
das Ordenações tenham sido códices-miscelâneos –v. g., o referido código de
processo de Afonso III– e não códices-formulários, criados estes com o único e
específico propósito de registar esse tipo de actos96. Para o reinado de Afonso
III, foram coligidas e alistadas duas (2) fórmulas para a contestação verbal da
demanda e treze (13) fórmulas processuais para o recurso de apelação (sendo
uma abreviada por remissão – XI):
Sobre a contestação:
Moreno, coordenação de Luís Adão da Fonseca, Luís Carlos Amaral e Maria Fernanda Ferreira
Santos, vol. III, Livraria Civilização Editora, Porto, 2003, pp. 1291-1299; PMH Leges, pp. 332-333;
as “alegações gerais para julgar”, em Martim de Albuquerque, “O Regimento Quatrocentista da Casa
da Suplicação”, separata especial do volume XVII dos Arquivos do Centro Cultural Português, Paris,
1982, pp. 59-71; a propósito das sentenças régias, Jorge André Nunes Barbosa da Veiga TESTOS,
Sentenças Régias em tempo das Ordenações Afonsinas (1446-1512) – Um Estudo de Diplomática judicial,
Dissertação de Mestrado em Paleografia e Diplomática, Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa – Departamento de História, Lisboa, 2011.
94 Antonio GARCÍA Y GARCÍA, Estudios sobre la Canonistica Portuguesa Medieval, Madrid, 1976;
Paulo MERÊA, “Domingos Domingues, Canonista Português do Século XIII”, Estudos de História
do Direito I – Direito Português, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2007, pp. 429-436.
95 Gomes, “Testemunhos de formulários régios medievais portuguese”, p. 1292.
96 “Os formulários nem sempre assumem, como se sabe, uma unidade mecânica codicológica. Podem aparecer
inscritos em fólios marginais de códices, circunstancialmente, sem grande preocupação de organização e
sistematização. A sua inscrição em códices ou pergaminhos não pensados, primitivamente, para tal efeito,
nada tem de estranho. O carácter eminentemente prático de tal tipo de informação, explica o seu lançamento
em fólios inesperados e, até, o sentido invariavelmente muito breve e episódico de tais cópias” –GOMES,
“Testemunhos de formulários régios medievais portuguese”, p. 1294–.
97 CLIMA: Tribunal da Corte-42, Formulário das palavras para contestar por confissão, em
http://www.ulusiada.pt/clima/ius-proprium-costumes-e-estilos-da-corte/tribunal-da-corte/
104 Saúl António Gomes tributa este formulário ao reinado de D. Dinis –cf. GOMES, “Testemunhos
de formulários régios medievais portuguese”–.
105 Para o sobrejuiz julgar revel o que apelou, passados trinta dias, deve atender o prazo de mais três
dias fixados na lei da corte.
106 CLIMA: Código de Processo (1248-1279)-25, formulário de apelação, em http://www.ulusiada.
pt/clima/ius-proprium-costumes-e-estilos-da-corte/codigo-de-processo-1248-1279/estilo-da-
corte-e-formularios-das-apelacoes-2/ (consultado no dia 21 de Setembro de 2013).
107 Cf. PMH Leges, p. 238_XXVIII.
108 As custas de trinta dias de recurso seriam pagas conforme taxadas pelo costume da corte: ao peão
18 dinheiros cada dia; ao que trás besta 4 soldos e meio; e a partir destes valores, por qualquer
homem ou mulher que, segundo o costume pudessem trazer à casa de el-rei, assim lhe seriam
pagas as custas (PMH Leges, pp. 323-324_CCXVI); cf. de forma mais desenvolvida o costume
segundo o chantre de Évora (PMH Leges, p. 290_CLXIII).
109 Saúl António Gomes tributa este formulário ao reinado de D. Dinis –cf. GOMES, “Testemunhos
de formulários régios medievais portuguese”–.
110 CLIMA: Código de Processo (1248-1279)-25, formulário de apelação, em http://www.ulusiada.
pt/clima/ius-proprium-costumes-e-estilos-da-corte/codigo-de-processo-1248-1279/estilo-da-
corte-e-formularios-das-apelacoes-2/ (consultado no dia 21 de Setembro de 2013).
confirma que o juiz a quo deu por escrito, em carta de agravo, as razões
ou argumentos dambas as partes, a decisão proferida em 1.ª instância e o
agravo ou fundamento justificativo de recurso, com um dia fixo para as
partes comparecerem na corte perante o sobrejuiz; (c) identifica o dito dia;
(d) o réu demandado/recorrido compareceu por si ou por outrem em sua
representação e aí se manteve por três dias, segundo a postura da corte;
(e) o que apelou não compareceu nem enviou ninguém por si; (f) confirma
a decisão do juiz a quo; (g) impõe-lhe que, vista esta carta, faça cumprir
a sua decisão; (h) condena o revel no pagamento das custas do recurso à
outra parte; (i) a execução seria feita primeiro nos bens móveis e, se estes
não fossem suficientes, nos bens de raiz.
(viii) Formulário111 da carta do sobrejuiz dirigida ao juiz a quo, em caso de
revelia do próprio recorrente, se a sentença é interlocutória e o recorrente
o demandado (réu) (PMH 317_CCXIV)112: (a) relatório da demanda; (b)
confirma que o juiz a quo deu por escrito, em carta de agravo, as razões
ou argumentos dambas as partes, a decisão proferida em 1.ª instância e
o agravo ou fundamento justificativo de recurso, com um dia fixo para
as partes comparecerem na corte perante o sobrejuiz; (c) identifica o dito
dia; (d) o autor demandador/recorrido compareceu por si ou por outrem
em sua representação e aí se manteve por três dias, segundo a postura da
corte; (e) o que apelou não compareceu nem enviou ninguém por si e foi
julgado revel; (f) confirma a decisão do juiz a quo; e (g) impõe-lhe que,
vista esta carta, faça cumprir a sua decisão interlocutória; (h) manda que o
recorrido não seja obrigado a responder até que a outra parte lhe pague as
custas de trinta dias do recurso; (i) pagas estas custas, o juiz a quo fará vir
perante si as partes, para as ouvir e prosseguir a demanda, dando a cada
um o que é Direito.
(ix) Formulário113 da carta do sobrejuiz dirigida ao juiz a quo, em caso de
revelia do próprio recorrente, se a sentença é definitiva e o recorrente o
demandado (réu) (PMH 317-318_CCXIV)114: (a) relatório da demanda; (b)
confirma que o juiz a quo deu por escrito, em carta de agravo, as razões
ou argumentos dambas as partes, a decisão proferida em 1.ª instância e
o agravo ou fundamento justificativo de recurso, com um dia fixo para
as partes comparecerem na corte perante o sobrejuiz; (c) identifica o dito
111 Saúl António Gomes tributa este formulário ao reinado de D. Dinis –cf. GOMES, “Testemunhos
de formulários régios medievais portuguese”–.
112 CLIMA: Código de Processo (1248-1279)-25, formulário de apelação, em http://www.ulusiada.
pt/clima/ius-proprium-costumes-e-estilos-da-corte/codigo-de-processo-1248-1279/estilo-da-
corte-e-formularios-das-apelacoes-2/ (consultado no dia 21 de Setembro de 2013).
113 Saúl António Gomes tributa este formulário ao reinado de D. Dinis –cf. GOMES, “Testemunhos
de formulários régios medievais portuguese”–.
114 CLIMA: Código de Processo (1248-1279)-25, formulário de apelação, em http://www.ulusiada.
pt/clima/ius-proprium-costumes-e-estilos-da-corte/codigo-de-processo-1248-1279/estilo-da-
corte-e-formularios-das-apelacoes-2/ (consultado no dia 21 de Setembro de 2013).
dia; (d) manda ao juiz a quo que, vista esta carta, faça cumprir a decisão
dada em primeira instância; (e) condena o revel no pagamento das custas
de trinta dias de recurso à outra parte; (f) manda executar os bens móveis
necessários e, se não abondar o móvel, venda-se os móveis de raiz.
115 Saúl António Gomes tributa este formulário ao reinado de D. Dinis –cf. GOMES, “Testemunhos
de formulários régios medievais portuguese”–.
116 CLIMA: Código de Processo (1248-1279)-26, formulário de apelação, em http://www.ulusiada.
pt/clima/ius-proprium-costumes-e-estilos-da-corte/codigo-de-processo-1248-1279/formularios-
das-apelacoes-3/ (consultado no dia 21 de Setembro de 2013).
117 CLIMA: Código de Processo (1248-1279)-26, formulário de apelação, em http://www.ulusiada.
pt/clima/ius-proprium-costumes-e-estilos-da-corte/codigo-de-processo-1248-1279/formularios-
das-apelacoes-3/ (consultado no dia 21 de Setembro de 2013).
118 Saúl António Gomes tributa este formulário ao reinado de D. Dinis –cf. GOMES, “Testemunhos
122 “Si quis in tantam furoris pervenit audaciam, ut possessionem rerum apud fiscum vel apud
homines quoslibet constitutarum ante eventum iudicialis arbitrii violenter invaserit, dominus
quidem constitutus possessionem quam abstulit restituat possessori et dominium eiusdem rei
amittat: sin vero alienarum rerum possessionem invasit, non solum eam possidentibus reddat,
verum etiam aestimationem earundem rerum restituere compellatur”. Sobre este costume, cf.
MERÊA, “Á Margem das Ordenações”, pp. 310-312.
123 CLIMA: Reinado Desconhecido-7, costume que revoga o Código, em http://www.ulusiada.
pt/clima/ius-proprium-leis-gerais/reinado-desconhecido/costume-que-revoga-o-codigo/
(consultado no dia 21 de Setembro de 2013).
124 CLIMA: Tribunal da Corte-3, estilo da corte sobre o Direito comum, em http://www.ulusiada.
pt/clima/ius-proprium-costumes-e-estilos-da-corte/tribunal-da-corte/estilo-da-corte-sobre-o-
direito-comum/ (consultado no dia 21 de Setembro de 2013).
125 CLIMA: Afonso III-109, Direito que considera provados os factos não contestados, em http://
www.ulusiada.pt/clima/ius-proprium-leis-gerais/d-afonso-iii/direito-que-considera-provados-
os-factos-nao-contestados/ (consultado no dia 21 de Setembro de 2013).
126 CLIMA: Costumes do Reino-1, Cânone sobre o momento da revogação do procurador, em
http://www.ulusiada.pt/clima/ius-proprium-costumes-e-estilos-da-corte/costumes-do-reino/
canone-do-momento-de-revogacao-do-procurador/ (consultado no dia 21 de Setembro de 2013).
127 DOMINGUES, “As Partidas de Castela e o Processo Medieval Português”.
128 Nas Ordenações de D. Duarte repetem-se estes normativos, mas sem qualquer referência ao
chantre de Évora.
129 CLIMA: Tribunal da Corte-40, Chantre de Évora: do ferimento em co-autoria, em http://www.
ulusiada.pt/clima/ius-proprium-costumes-e-estilos-da-corte/tribunal-da-corte/chantre-evora-
do-ferimento-em-co-autoria/ (consultado no dia 21 de Setembro de 2013).
130 CLIMA: Tribunal da Corte-41, Chantre de Évora: da exibição de imóvel em litígio, em http://
www.ulusiada.pt/clima/ius-proprium-costumes-e-estilos-da-corte/tribunal-da-corte/chantre-
evora-da-exibicao-de-imovel-em-litigio/ (consultado no dia 21 de Setembro de 2013).
131 CLIMA: Tribunal da Corte-42, Chantre de Évora: sobre o recurso de apelação, em http://www.
ulusiada.pt/clima/ius-proprium-costumes-e-estilos-da-corte/tribunal-da-corte/chantre-evora-
4. Os Livros de Registos.
(i) “Em nome da santa trindade padre E filho E spiritu santo. Aqui se começa
o primeiro livro dos degredos E constituçoões que fez o muy nobre dom
afonso o quinto Rey de portugual que foy”;
(ii) “Aqui se começam as ordenaçoões E custumes que o dito Rej dom afonso
pos na sa corte E no seu Regno Julgadas E guardadas”;
(iii) “Aquy Começam os custumes E a hordenaçom que o dito Rey ffez nas
Suas audiançias E no rregno”;
(iv) “Aquy se começam os costumes E os stabelimentos da Cassa del rrey”144.
143 VENTURA e OLIVEIRA, “Os Livros do Rei: Administração e cultura no tempo de D. Afonso III”, pp.
187-188.
144 ODD, pp. 54, 76, 123 e 140.
5. Conclusão.
Doc. 1
1255.Setembro.06 – Coimbra.
Em carta enviada ao meirinho de el-rei, Martim Real, e porteiros de Entre-
Douro-e-Minho:
1255.Julho – Cortes de Guimarães
Lei de D. Afonso III que, para atalhar aos abusos dos fidalgos padroeiros,
limita o exercício do seu direito de padroádigo nos mosteiros e igrejas que lhe
pertençam.
Braga, AD – Gaveta 2 de Igrejas, doc. 135.
CLIMA: Afonso III-5, Lei do padroado, em http://www.ulusiada.pt/
clima/ius-proprium-leis-gerais/d-afonso-iii/lei-do-padroado-2/(consultado no
dia 7 de Setembro de 2013)
Alfonsus Dei gratia rex Portugalie et Come[s] Bollonie vobis Martino Riali
meo merino et illis qui in vestro loco fuerint et portariis de Inter Dorium et
Minium salutem. Sciatis quod ego feci meam Curiam apud Vimaranem mense
Julii in Era M.ª CC.ª L XL.ª III.ª et habui Consilium cum meis Riquis hominibus
et cum meis <Filiis> d’algo qualiter milites irent ad monasteria et ad ecclesias et
qualiter provideatur sibi in eis.
In primo constitui sic:
Milites pausent in monasteriis et non pausent in ecclesiis neque in terminis
monasterii.
Item quando milites fecerint concilia non comedant ipsa die in monasteriis
nec in ecclesiis.
Item si milites pausaverint in monasterio stent ibi per unum diem et in alia
die sequenti exeant inde et non tornent ibi neque dimittant restadam in monasterio
neque hominem suum neque bestiam que faciant cuscam in monasterio.
Item filii concubinorum non sint heredes monasteriorum neque ecclesiarum
neque raubent in testamentis.
Item filii legitimi non petant algum in naturis patris vel matris a quibus
habent testamentum, sed comedant ibi moderate si necesse fuerit.
Si multi milites habuerint unum casale pro testamento dividant inter se
servicium de ipso casali et quousque illud servitium dividatur nichil detur eis.
Item detur algum de monasterio vel de ecclesia pro ad suam pressionem et
pro ad suam filiam casare et pro ad suum filium facere militem.
Item neque homines non levent secum ad monasteria plures milites quam
quindecim et hac si de IIIIor in IIIIor mensibus quando plus fuerit.
Item infanzom non vadit ad monasterium nisi cum duobus militibus et non
maez.
Milites non colligant vinum in cupis de petito de monasteriis nec de ecclesiis
et si ibi colligerint accipiat meyrinus eis vinum cum cupis.
Item milites non populent nec erment in coutis nec in terminis monasterii
nec in testamentis nec habeant ibi maladiam neque levent inde ofrecionem
neque luitosam neque erment neque populent in terram devassa testamentis
monasteriorum sed milites habeant suas vineas et suos coutos prout habebant
eos in tempore patris mei et avi mei.
Et quemcumque contra mea decreta supradicta venerit mando portario
meo qui steterit in monasterio vel in ecclesia ubi fractum fuerit decretum quod
pignoret eum pro meo encouto de quingentis soldis pro ad me et pinoret eum
quod corrigat et medet dapnum in dupplo quod fecerit in monasterio vel ecclesia.
Et si aliquis forciaverit meum portarium qui pignoverit pro supradictis decretis.
Mando meyrino quod capiat ei quantum habuerit. Proinde unde aliter non sit.
Datum apud Colimbriam VI die Setembris. Rege mandante per dominum
Egidium maiordomum Curie e per Cancellarium . Era M.ª CC.ª LXL.ª III.ª. D.
Petri fecit.
Doc. 2
1319.Maio.05 – Santarém.
D. Dinis confirma a cata de seu pai, D. Afonso III:
1261?.Maio.05 – Cortes de Coimbra?.
Carta enviada ao comendador, pretor e concelho de Tomar onde se isentam
as viúvas, órfãos e idosos do pagamento do tributo de fossadeira.
Lisboa, IAN/TT – Leitura Nova, Liv. 27 (Liv. 11 da Estremadura), fl. 220v,
em http://digitarq.dgarq.gov.pt/details?id=4223218 (consultado no dia 7 de
Agosto de 2013).
CLIMA: Afonso III-12, Lei da isenção de fossadeira, em http://www.
ulusiada.pt/clima/ius-proprium-leis-gerais/d-afonso-iii/lei-de-isencao-de-
fossadeira/ (consultado no dia 8 de Agosto de 2013).
A uila de tomar trelado em pubrica forma de huuma carta per que el Rey
mandou que has viuuas orfaaos e velhos fossem escusados e non pagassem
fosadeira etcª
Dom Denis pella graça de Deus Rey de Portugal e do Algarve a quantos esta
carta virem faço saber que ho meu procurador me mostrou hũua carta del Rey
Dom Afonsso meu padre da qual ho teor tal he:
«Alfonsus Dei gratia rex Portugalie Comes Bolonie comendatori et pretori
et concílio de Tomar salutem. Scietis quod vidue et orphani et senes excusati
mandaverunt mihi dicere quod vos constringitis eos quod dent fossadariam unde
mando vobis quod non demandetis fossadariam viduis nec orphanis qui sunt in
potestatem matrum suarum nec demendetis fossadariam senibus qui debent ut
ipsi dicunt et teneatis omnes scilicet viduas et orphanos et senes excusatos ad
suum directum et ad suum forum et non saquetis inde ipsos unde aliud non
faciatis et si inde aliter feceritis ego me proinde ad vos tornabo et faciam quod
vos pectabitis eas de casis vestris et ut videam qualiter meum mandatum facitis
mando quod ipsi teneant istam meam cartam apertam . Datum Colimbrie per
Vincentium Didaci superiudicem Vª die Maii».
A qual carta mostrada e pubricada perante mim porque era feita em papel
e quebrantava pedio me o meu procurador que lhi mandasse ende dar o trelado
e eu mandei lho dar.
Dada em Santarem cinquo dias de Mayo. El Rey o mandou per Afonso
Martii[n]s vice chanceler. Vicente Gill a fez. Era de mil e trezentos e cinquenta e
sete anos.