Salvador
2017
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Salvador
2017
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CDD 342.085
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Banca Examinadora
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Dr. Ricardo Maurício Freire Soares, meu orientador, à Professora Dra.
Roxana Cardoso Brasileiro Borges por me aceitar no Tirocínio Docente Orientado,
passando-me seus conhecimentos e direcionamento para avançar nessa nova
experiência da vida acadêmica. Obrigado ao Professor Dr. Nelson Cerqueira, pelos
debates que pudemos vivenciar bem como os conselhos que me ajudaram a
avançar em meus estudos descortinando horizontes que anteriormente nunca havia
explorado. À Doutora Mônica Aguiar por todo apoio dado para concretização deste
trabalho.
Agradeço aos meus amados pais, Avacy e Graça, por todos os valores morais que
me passaram na vida e os ensinamentos que me trouxeram para ter garra e força e
sempre lutar pelo que quero na vida e mesmo nos momentos mais difíceis continuar
lutando em busca do que objetivo: Obrigado pais pelos princípios que me passaram
e por todo amor que me deram na vida cuidando de mim nos momentos que tive
mais dificuldades. Também aos meus irmãos Fábio e Luciano pela paciência e
companheirismo entendendo meus defeitos, que não são poucos, e compreendendo
minhas faltas sendo os irmãos mais completos que alguém poderia ter nessa vida.
Obrigado a Deus, pela luz que coloca a cada dia no meu caminho e quando meus
horizontes parecem obscuros, sempre irradia seu amor me ensinando o melhor
caminho a seguir. Meu obrigado especial ao meu filho Filipe, a quem amo com todas
as minhas forças e que se tornou minha maior motivação de vida bem como ao
nosso próximo filho ou filha que planejamos receber de Deus com muito amor: que
com esse esforço eu possa vir a contribuir para seu crescimento intelectual e moral
ensinando-lhes como seguir o caminho certo na vida e servindo-lhes como um bom
exemplo.
-6-
LIMA, André Barreto. A banalização nas demandas judiciais relativas a danos morais
individuais julgadas no Brasil. 110 f. 2017. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de
Direito, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.
RESUMO
ABSTRACT
The present work aims to demonstrate the existence of trivializing the actions for
damages in Brazil by those who demand judicially unaware of what really is a
damage that hurts the individual honor. We seek to highlight a historical view about
the moral damage, demonstrating the existence of the quest for compensation for
moral damage in ancient times of Rome, as well as the interpretation of this kind of
damage throughout the middle ages and the conflicts of the great wars that
advanced along the modern age to the contemporaneity. Subsequently, the aim is to
demonstrate the creation of civil legislation with the civil code which guarantees the
protection of private rights of the individual, having as the Napoleon code by
checking the opening of that coding in Brazil through the civil code of Clóvis
Beviláqua, evolving nowadays with the encoding of 2002. Then there is the
protection of the right to individual moral integrity through the various branches of law
that seek to protect the moral condition of the individual through the 1988 Federal
Constitution, civil, as well as encoding of the penal code. Then it turns out that there
may be damage as a result of a moral damage. Subsequently, the importance of
human dignity, relating it to the honor, explaining that the individual vectors are
principles that must be followed guiding the country legislation, describing how
should the role of the State in this context seeking to guarantee human dignity. In this
tuning fork, brings up, that in the quest for fulfillment of human dignity, international
organizations have been set up in order to guarantee this important right, the
example of the United Nations Organization– ONU, as well as the conclusion of
international treaties. Then there is the valorization of the human being in Brazil after
several battles fought in the period of military dictatorship and that with the
Neoconstitucionalismo, guarantees were achieved to promote rights relating to the
honor of the human person. Then there is the issue of trivialization in actions for
damages in Brazil as a result of the excess of unnecessary demands compensation
for such damages lawsuit, seeking evidence that the punitive damages differ from
everyday events, as well as some people don't enter the judiciary in pursuit of
Justice, but a financial opportunity, swelling the judicial machine demands and
creating by this power a more commonplace about an Institute that deserves the due
caution with respect to his. After the vision that was given to moral damages before
the Federal Constitution of 1988, which the majority of vision nowadays. Then, if for
example the experience of the United States of America with the trial of the damages
by the Supreme Court. Analyzing the influence of these American tried in the
solutions adopted in Brazil. Finally, there is the panorama of the measures that are
adopted in Brazil, whether they are positive or not, and what impacts can bring to
future generations.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 11
1.1 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO ................................................................. 13
1.2 METODOLOGIA........................................................................................................ 16
7 CONCLUSÃO........................................................................................................... 101
1 INTRODUÇÃO
Além disso, a questão dos danos morais ganhou tanto valor que o mesmo
pode ter uma repercussão inclusive na esfera material. É o caso do médico que tem
um consultório onde atende seus pacientes e tem ventilada contra o seu nome uma
acusação que vem a ferir sua honra fazendo com que os pacientes deixem de
buscar seus serviços, tendo assim lucros cessantes derivados da sua honra atingida
no meio social em que ocupa.
Com o passar dos anos, os direitos personalíssimos ganharam cada vez mais
força e a busca pela valorização do indivíduo cresceu cada vez mais. Observa-se
então um esforço grande em buscar a valorização da honra individual protegendo a
dignidade da pessoa a cada dia, de forma que, tratados, convenções e a criação de
organizações foram pontos cruciais para evolução dessa causa, criando-se
inclusive, a título de exemplo, a Organização das Nações Unidas – ONU que atua
internacionalmente e diversos países fazem parte da mesma.
Mas com os direitos também vêm os abusos, e a garantia legal por uma
indenização por dano moral acabou servindo de meio para que indivíduos que
sofreram danos materiais adentrassem ao Poder Judiciário para pleitear
indenizações por danos morais, mesmo sem ter direito, como uma forma de buscar
um enriquecimento ilícito.
Por sua vez, o Poder Judiciário acaba por não suprir essa crescente demanda
não somente pelo inchaço no numero de pleitos por danos morais, mas também
pelo despreparo e pela desmotivação de funcionários públicos que acabam por não
dar a devida celeridade nas demandas internas, todavia, há também a falta de
servidores para atender proporcionalmente a crescente demanda por danos morais.
Face a todo exposto, tem-se um panorama a ser explorado, no que tange aos
danos morais e às consequências da forma pela qual os mesmos são vistos hoje,
trazendo enfrentamentos para as gerações futuras. É o que será abordado no
presente trabalho.
A presente pesquisa parte do estudo dos danos morais individuais, que hoje
acabam sofrendo uma banalização em virtude do excesso desnecessário de
demandas por danos morais junto ao Poder Judiciário. Com as liberdades
conquistadas na Constituição Federal do Brasil, a exemplo do acesso gratuito à
justiça e o direito à celeridade processual, as demandas por danos morais
cresceram desarrazoadamente.
Assim, tem-se que a reparação por um dano moral efetivado não tem o intuito
de definir um preço, mas sim, uma satisfação compensatória, pois, por exemplo,
uma pessoa que sofreu uma cirurgia plástica no rosto e que ficou com uma cicatriz
irreparável fruto de um mal procedimento cirúrgico, não terá a sua beleza física
recomposta, nem por todo dinheiro do mundo.
geral no código civil de 1916, finalizando com a análise de alguns julgados recentes
sobre o tema.
Por fim, tem-se a questão dos processos julgados pela Suprema Corte
Americana e a repercussão dos mesmos na justiça brasileira, explicitando o punitive
damages e enfatizando quais medidas positivas podem ser adotadas para melhorar
a questão do julgamento de danos morais no Brasil, bem como qual a previsão para
as gerações futuras. Apresentado, então, o desenvolvimento do trabalho,
conheçamos a metodologia da pesquisa.
1.2 METODOLOGIA
1
MARCONI, Maria de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed.
São Paulo: Atlas, 2003. p. 106.
- 17 -
Segundo o referido autor, o mencionado código foi colocado em vigor por Ur-
Nammu, quem fundou a terceira dinastia de UR, país primitivo dos povos sumérios.
O código é mais antigo que o código de Hamurabi em aproximadamente trezentos
anos tendo sido descoberto em 1952 pelo assirólogo e professor da Universidade da
Pensilvânia Samuel Noah Kram.
2
SILVA, Américo Luís Martins da. O Dano Moral e Sua Reparação Civil. 2ª ed. Rio de Janeiro:
Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 75.
- 18 -
A lenda da fundação de Roma diz que a mesma foi criada por Rômulo e
Remo em 753 a.C.. Eles cresceram amamentados por uma loba e, futuramente,
após a fundação de Roma, um deles matou o outro por discordância de pontos de
vista. De acordo com Costa, Roma teve como sua principal característica a
3
CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. 4ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.26.
- 19 -
Quanto á legislação em si, Costa6 expõe que a Lei das XII Tábuas foi a
primeira legislação escrita naquele país e que na mesma, observa-se que nos seus
§2º e §9º já existia, primariamente, a possibilidade de reparação por dano moral.
A Lei das XII tábuas foi editada por causa da diferenciação de classes que,
segundo Wolkmer7, gerou uma série de instituições políticas e jurídicas, assim como
um ambiente de conturbação e de conflitos de classe, fruto das desigualdades
sociais, principalmente entre patrícios e plebeus: “esta situação se manifestou, por
exemplo, na rebelião plebeia que gerou a elaboração da famosa Lei das XII
Tábuas.”
4
Costa conceitua Império Romano como um império que se estende à Inglaterra, da Gália à Ibéria,
da África ao Oriente, até os confins do Império Persa, tendo sido considerado um dos maiores
impérios de toda a humanidade de todos os tempos. Para maior aprofundar conferir COSTA, Elder
Lisbôa Ferreira da. História do Direito: De Roma à História do Povo Hebreu e Mulçumano. A Evolução
do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo. Belém: Unama, 2009. p.
40.
5
Ibid., p.51.
6
COSTA, Elder Lisbôa Ferreira da. História do Direito: De Roma à História do Povo Hebreu e
Mulçumano. A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo.
Belém: Unama, 2009. p. 61.
7
WOLKMER, Antônio Carlos. Fundamentos de História do Direito. 3ª ed. 2 tir. Belo Horizonte: Del
Rey, 2006, p. 138.
- 20 -
Nesse sentido, Silva8 acrescenta que na Lei das XII Tábuas verificavam-se
casos relativos ao malum carmen ou famosum carmem (versos infames), bem como
a occentatum (injúrias), demonstrando que a injúria era para os antigos romanos um
ato ofensivo à honra ou boa reputação do indivíduo.
Com o passar dos tempos, o Império Romano atingiu sua decadência, que na
visão de Wolkmer11, foi fruto de colapsos na economia escravagista e crescimento
do exército de desocupados. Ademais, acrescenta-se à sua decadência, o Estado,
que passou a ser insolvente e falsário reduzindo o quantitativo de prata na cunha de
moedas, morte de mais de 15 mil soldados de legiões, bem como a ascensão da
Igreja que acompanhou o novo modelo, baseado na propriedade de terras,
(conhecidas como feudos).
No modelo feudal, o Senhor Feudal criava a lei dentro de sua unidade de terra
e o sistema escravagista deu lugar ao sistema de servidão. A queda do Império
Romano em 476 d.C. constituiu apenas o último passo no processo de
desintegração dando lugar ao novo sistema.
8
SILVA, Américo Luís Martins da Silva. O Dano Moral e Sua Reparação Civil. 2ª ed. Rio de Janeiro:
Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 75.
9
SANTOS, Enoque Ribeiro dos. O Dano Moral da Dispensa do Empregado. 3ª ed. São Paulo: 2002.
p.62.
10
COSTA, op. cit. 45.
11
WOLKMER, op. cit.105 .
- 21 -
12
LASSALLE, Ferdinand. A Essência da Constituição. 9ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p.34.
13
Que era chamado de “Corpus Juris Canonici”, e regulava a organização da Igreja Católica bem
como os deveres de seus fiéis e que também abordava vários casos que constituíam essencialmente
danos morais, atribuindo-lhes a correspondente reparação. Para maior aprofundar ver em SILVA,
Américo Luís Martins da. O Dano Moral e Sua Reparação Civil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Revista
dos Tribunais, 2002. p.85.
14
BYINGTON, Carlos Amadeu Botelho. A Moral, a Lei, a Ética e a Religiosidade na Filosofia, no
Direito e na Psicologia. Palestra proferida no II Encontro “Ética para o Juiz – Um Olhar Externo”.
Evento da Corregedoria do Tribunal de Justiça de São Paulo. Escola Paulista de Magistratura, São
Paulo, 22 de novembro de 2013. Disponível em <http://www.carlosbyington.com.br/site/wp-
content/themes/drcarlosbyington/PDF/pt/A_Moral,_a_Lei,_a_Etica_e_a_Religiosidade_na_Filosofia,_
no_Direito.pdf> . Acesso em: 17 nov. 2016, p.03.
15
PASSOS, José Joaquim Calmon de. Direito, Poder, Justiça e Processo. Rio e Janeiro: Forense,
2000, p.56.
- 22 -
16
LOPES, José Reinaldo de Lima. O Direito na História. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2011, p.92.
17
Ibid, p. 59.
18
PASSOS, José Joaquim Calmon de. Direito, Poder, Justiça e Processo. Rio e Janeiro: Forense,
2000.p. 55.
19
Havia no sistema feudal uma valorização extrema à propriedade de terras e a referida posse
absolvia dois poderes para nós muito distintos: o direito de jurisdição (julgar as disputas dentro do
território respectivo e o que chamaríamos hoje de um direito de propriedade na verdade algumas
parcelas de poder de exploração da terra). Haviam serviços que eram ligados a terra e outros ao
direito sobre a mesma. Para maior entendimento ver em LOPES, José Reinaldo de Lima. O Direito na
História. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 59.
- 23 -
participações de terra detinha maior poder, a igreja sobressaia-se uma vez que, de
acordo com Magnoli20, através das indulgências e do confisco de bens nas
inquisições ela era grande detentora de terras.
20
MAGNOLI, Demétrio. História das Guerras. São Paulo: Editora Contexto, 2006, p.106.
21
Ibid, loc. cit.
22
“Nesse sentido a Igreja também poderia ser classificada como Senhor Feudal, pois detinha vastas
propriedades de terra e, por seu poder espiritual e temporal abranger toda a Europa durante o
período medieval, foi certamente a única instituição sólida existente”. Para aprofundar o assunto ler
WOLKMER, Antônio Carlos. Fundamentos de História do Direito. 3ª ed. 2 tir. Ver. E ampl. Belo
Horizonte: Del Rey, 2006. p. 177.
23
HECHT, Emmanuel e SERVENTE Pierre. O Século de Sangue. 1914 a 2014. As Vinte Guerras que
Mudaram o Mundo. São Paulo: Contexto, 2015, p. 5-6.
- 24 -
24
GRESPAN, Jorge. Revolução Francesa e Iluminismo. São Paulo: Contexto, 2008, p.22.
25
BYINGTON, Carlos Amadeu Botelho. A Moral, a Lei, a Ética e a Religiosidade na Filosofia, no
Direito e na Psicologia. Palestra proferida no II Encontro “Ética para o Juiz – Um Olhar Externo”.
Evento da Corregedoria do Tribunal de Justiça de São Paulo. Escola Paulista de Magistratura, São
Paulo, 22 de novembro de 2013. Disponível em <http://www.carlosbyington.com.br/site/wp-
content/themes/drcarlosbyington/PDF/pt/A_Moral,_a_Lei,_a_Etica_e_a_Religiosidade_na_Filosofia,_
no_Direito.pdf> . Acesso em: 17 nov. 2016, p.02.
26
“A França vivenciou simultaneamente no final da década de 1780: a) uma “revolução aristocrática”
que objetivava a descentralização além da autonomia local; b) uma “revolução burguesa” que visava
extirpar os obstáculos existentes para a produção e afirmar o direito inalienável à propriedade
privada; c) uma “revolução popular”, de um lado urbana, voltada para a imediata melhoria das
condições de existência e da situação do trabalho, e de outro lado rural, direcionada para a conquista
da posse da terra e a erradicação da servidão”. Para maiores informações verificar em MAGNOLI,
Demétrio. História das Guerras. São Paulo: Editora Contexto, 2006. p.195.
- 25 -
Conforme bem explicita Martins29, a Revolução Industrial teve seu marco com
o aparecimento da máquina a vapor e, posteriormente, com o avanço das
tecnologias, foi criado o tear mecânico, que demandava a utilização de pessoas para
manipular os referidos equipamentos.
27
SIEY’ES, Emmanuel Joseph. A Constituinte Burguesa. Qu’est-ce que le Tiers État?. 4ª ed. Rio de
Janeiro: Lumen Iuris, 2001, p. 7.
28
HOBSBAWM, Eric J.. A ERA DAS REVOLUÇÕES. 1789-1848. 34ª ed. São Paulo: Paz e Terra,
2014, p. 75.
29
“Tudo começou com o surgimento da máquina a vapor, Indústrias se instalaram onde existia
carvão, como ocorreu na Inglaterra. Os trabalhadores eram explorados com trabalhos abusivos em
minas. O trabalhador prestava serviços e condições insalubres, sujeito a incêndios, explosões,
intoxicação por gases, inundações, desmoronamentos, prestando serviços por baixos salários e as
horas trabalhadas extrapolavam 8 horas por dia. Ocorriam vários acidentes de trabalho, além das
várias doenças decorrentes dos gases, da poeira, principalmente a tuberculose, a asma e a
pneumonia”. Para maiores informações verificar em MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 24ª
ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 5-6.
- 26 -
Mas até essa conquista, muito desprezo e humilhação aos indivíduos foram
cometidos ao longo da Segunda Grande Guerra, e o aspecto moral foi rebaixado a
nada. De acordo com Hecht e Servent34, os arianos deviam dominar os povos, em
função da suposta hierarquia superior que eles ocupavam em relação à escala
30
HOBSBAWM, op. cit. 59.
31
HECHT, Emmanuel e SERVENTE Pierre. O Século de Sangue. 1914 a 2014. As Vinte Guerras que
Mudaram o Mundo. São Paulo: Contexto, 2015. p. 15-16.
32
MAGNOLI, Demétrio. História das Guerras. São Paulo: Editora Contexto, 2006. p. 344.
33
MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à Pessoa Humana: Uma Leitura Civil-Constitucional dos
Danos Morais. 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2003, p.66.
34
HECHT e SERVENTE, op. cit. p. 16.
- 27 -
Para Hitler, a guerra era tanto um meio como um fim 35, buscava-se a
expansão territorial a ferro e sangue. Na visão de Hitler, o estrondo de armas
eliminaria os mais fracos assegurando o triunfo à raça mais forte.
35
Vale ressaltar que os Judeus não foram os únicos a serem dominados por um Reich nazista, que
perseguia objetivos tanto econômicos quanto ideológicos, visto que os territórios conquistados
deviam servir em seu esforço de guerra. Com base no autoritarismo, os nazistas se utilizavam de
violência (pilhagens, requisições, taxas de câmbio abusivas) para conseguirem seus objetivos. Para
aprofundar, verificar em HECHT, Emmanuel e SERVENTE Pierre. O Século de Sangue. 1914 a 2014.
As Vinte Guerras que Mudaram o Mundo. São Paulo: Contexto, 2015. p. 62 e 69.
36
Ibid., p. 68.
37
MAGNOLI, Demétrio. História das Guerras. São Paulo: Editora Contexto, 2006, p.355.
- 28 -
38
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil – Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos.
v. II, 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2011, p.64.
39
Ibd., p.89.
- 29 -
mesmo no Brasil, enfatizando direitos nas relações privadas inclusive no que tange
ao direito a honra, são elas: o Código de Napoleão, o Código Civil de 2016
(demonstrando a recepção da legislação civil por parte do Brasil e as suas diversas
influências) e o novo Código Civil de 2002, conforme será abordado a seguir .
Mas o grande passo para Codificação Civil foi dado na França com o Código
de Napoleão, editado em 1804 fruto da constituição francesa de 03 de setembro de
1791, que dispôs que seria feito um código com todas as leis civis do país e que
40
GARCIA, Wander e PINHEIRO, Gabriela R.. Manual Completo de Direito Civil – V. único. São
Paulo: Editora Foco Jurídico, 2014, p. 38.
41
Isso ganhou destaque depois que a França, em 1807, publicou o Código Comercial. O Direito
Privado, mais do que nunca, ficava com dois grandes ramos, o Direito Civil (regulado pelo Código
Civil) e o Direito Comercial (regulado pelo Código Comercial).
42
MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à Pessoa Humana: Uma Leitura Civil-Constitucional dos
Danos Morais. 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2003, p.64.
- 30 -
teve dispositivos tão aplicáveis à realidade civil que continuam sendo aplicados até
hoje na França, mesmo que com alguns dispositivos alterados.
Todavia, com o passar dos tempos o referido código sofreu diversas críticas
em virtude de imperfeições, que para alguns o titularizavam como legislação
atrasada, o que ensejou alterações no mesmo. Cabe salientar, entretanto, que a
cultura é mutável no tempo e no espaço o que de fato traz essa necessidade de
adaptação do direito aos anseios de uma sociedade que marcha rumo ao progresso.
De acordo com Venosa 43, o Código de Napoleão era dividido em três livros
com títulos subdivididos em capítulos compostos por diversas seções havendo
sempre um título preliminar antes do Livro Primeiro contendo livros que tratavam
“Das Pessoas”, “Dos Bens e as Diferentes Modificações da Propriedade” e os
“Diversos Modos pelos quais se adquire a Propriedade” englobando neste último,
regimes matrimoniais, direitos reais e obrigações.
43
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil – Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos.
v. II, 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2011, p.94.
44
Ibid. P.100
- 31 -
O Código Civil de 1916 era composto por 1.807 artigos, sendo antecedido de
uma Lei de Introdução ao Código Civil. Entretanto, com o processo evolutivo,
referido código acabou por abrir caminho para que leis esparsas que trataram de
temas que a evolução social exigia disciplinamento entrassem em vigor 46.
Como pontos positivos, tem-se que o código de 1916 trouxe inovações para o
Direito Civil que, segundo Venosa47, contribuíram para o avanço legal daquela época
como exemplo a locação que deu ensejo aos contratos de trabalho, a inserção dos
direitos concernentes à separação e divórcio no direito de família, o direito
obrigacional que exigia alargamento das noções de responsabilidade civil bem como
abusos de direito, dentre outros.
45
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil – Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos.
v. II, 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2011, p.100.
46
A exemplo da Lei nº 4.121/62 (Estatuto da Mulher Casada), a Lei 6.515/77 (Lei do Divórcio), a Lei
nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), as leis que reconheceram direitos aos
companheiros e conviventes (Leis 8.971/94 e 9.278/96), a Lei dos Registros Públicos (Lei nº
6.015/73), as diversas leis de locação, o Código de Defesa do Consumidor, o Código de Águas, o
Código de Minas e outros diplomas revogaram vários dispositivos e capítulos do Código Civil, uma
tentativa de atualizar nossa legislação civil.
47
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil – Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos.
v. II, 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2011, p.103.
- 32 -
48
“O novo Código Civil expressa, genericamente, os impulsos vitais, formados nos tempos atuais,
tendo por parâmetro a justiça social e o respeito à dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III). Mira-
se no princípio da socialidade, refletindo a prevalência do interesse coletivo sobre o individual, dando
ênfase à função social da propriedade e do contrato e à posse-trabalho, e ao mesmo tempo, contém
não só o princípio da eticidade, fundado no respeito à dignidade humana, priorizando a boa fé
subjetiva e objetiva, a probidade e à equidade, como também o princípio da operabilidade, na busca
de solução mais justa, a norma possa, na análise de caso por caso, ser efetivamente aplicada.” Para
aprofundar os estudos verificar em NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 30ª ed. Rio de
Janeiro: Editora Forense, 2008. p.363.
- 33 -
Em 1973, após várias emendas, foi publicada uma segunda edição revisada
do referido anteprojeto e só após inúmeros debates na câmara foi provado o projeto
de lei nº 634/75 em 1984, que ficou adormecido durante anos no senado, sendo
levado à votação somente no ano de 2001, sendo aprovado através da Lei nº 10.406
de 10 de janeiro de 2002.
Outro ponto importante que merece ser observado no novo código civil é que
o mesmo deixa questões polêmicas pendentes de discussões jurisprudenciais para
serem disciplinadas por legislações específicas, como, por exemplo, a bioética,
contratos eletrônicos, experiências em seres humanos, clonagem humana.
Fica claro que o novo código civil traz uma carga constitucional voltada para
valoração do ser humano que o diferencia do Código de 1916, de forma que,
questões como a boa-fé e a função social passam a valorar a dignidade humana do
indivíduo e da coletividade nessa nova legislação50.
49
“O objeto do estudo do direito civil apresenta dois setores distintos. Um deles se refere à matéria de
interesse comum aos diversos ramos do jurídicos e que abrange o estudo sobre as pessoas, bens e
fatos jurídicos. O outro setor constitui propriamente a temática do Direito Civil e compreende as
seguintes matérias, conforme a ordem fixada pelo Código Civil de 2002: Obrigações, Empresas,
Coisas, Família e Sucessões, que expressam os interesses fundamentais das pessoas.” Para
aprofundar os estudos verificar em NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 30ª ed. Rio de
Janeiro: Editora Forense, 2008. p.364.
50
Cláusula geral que exige um comportamento condizente com a probidade e a boa-fé objetiva (CC,
art. 422) e a que proclama a função social do contrato (art. 421).
51
PEREIRA,Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. 25ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012.
p.18.
- 34 -
Com o passar dos anos, observou-se que o Direito Civil adquiriu uma nova
roupagem e, ao contrário do Código Civil de 1916 - este de cunho essencialmente
patrimonialista - tem-se que a nova configuração do direito privado finca-se,
principalmente, na valoração do indivíduo.
52
LASSALLE, Ferdinand. A Essência da Constituição. 9ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. p.
20.
- 35 -
Desta forma, o direito à honra merece uma proteção especial que, conforme
será explicitado a seguir, é defendido nas esferas Constitucional, Civil e inclusive
Penal.
Nesse diapasão, tem-se que a Carta Magna cria uma barreira protetora à
honra dos indivíduos fruto, historicamente, de uma conquista da sociedade, que
vivenciou, anos antes da Constituição de 1988, um período de ditadura militar no
Brasil.
54
A honra, de acordo com Castro , é o conjunto de qualidades que
caracterizam a dignidade da pessoa, o respeito dos concidadãos, o bom nome, a
reputação, sendo assim, um direito fundamental da pessoa a ser resguardado,
preservando assim sua dignidade.
53
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
54
CASTRO, Mônica Neves Aguiar da Silva. Honra, Imagem, Vida Privada e Intimidade, em Colisão
com Outros Direitos. 1ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p.05
- 36 -
Nessa nova perspectiva, tem-se não só que a honra deve ser protegida, mas,
se lesada, pode ser objeto inclusive de reparação através do direito de resposta ou
por indenização.
Desta forma, para que ele possa, como exemplo, conseguir um bom
emprego, ou crescer em sua carreira profissional, ou mesmo no convívio entre
amigos ou no relacionamento afetivo, a boa índole faz-se essencial.
De acordo com Passos 55, para sua realização pessoal o homem precisa estar
inserido no espaço social, deixando claro o entrelaçamento entre a condição
humana e a sociedade que ele ocupa.
55
PASSOS, José Joaquim Calmon de. Direito, Poder, Justiça e Processo. Rio e Janeiro: Forense,
2000, p.42.
- 37 -
qual o mesmo não é mais visto pela sociedade como era antes, o que pode causar-
lhe um dano de ordem moral.
Na visão de Venosa58 o dano moral é exatamente “um prejuízo que não afeta
o patrimônio econômico, mas afeta a mente, a reputação da vítima”, assim, à época
do Código Civil de 1916, a doutrina e a jurisprudência eram bastante cautelosas
quando tratavam da reparação por dano moral, o que foi prontamente sanado com o
56
BYINGTON, Carlos Amadeu Botelho. A Moral, a Lei, a Ética e a Religiosidade na Filosofia, no
Direito e na Psicologia. Palestra proferida no II Encontro “Ética para o Juiz – Um Olhar Externo”.
Evento da Corregedoria do Tribunal de Justiça de São Paulo. Escola Paulista de Magistratura, São
Paulo, 22 de novembro de 2013. Disponível em <http://www.carlosbyington.com.br/site/wp-
content/themes/drcarlosbyington/PDF/pt/A_Moral,_a_Lei,_a_Etica_e_a_Religiosidade_na_Filosofia,_
no_Direito.pdf> . Acesso em: 17 nov. 2016, p.01.
57
CASTRO, Mônica Neves Aguiar da Silva. Honra, Imagem, Vida Privada e Intimidade, em Colisão
com Outros Direitos. 1ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 6.
58
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil – Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos.
v. II, 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2011, p. 341.
- 38 -
Código Civil de 2002 em seu art. 186 59, pois para Venosa60 “não é porque o dano
exclusivamente moral é difícil de ser avaliado economicamente que deve ser
deixado de lado”.
Nessa esteira, o dano moral pode ser direto ou indireto. No primeiro caso,
tem-se uma “lesão específica de um direito extrapatrimonial, como os direitos da
personalidade” enquanto que no segundo conceito, observa-se que o mesmo ocorre
quando há uma lesão específica a um bem ou interesse de natureza patrimonial,
mas que de modo reflexo, produz um prejuízo na esfera extra patrimonial.
Pode então haver ofensa à dignidade da pessoa humana sem dor, vexame,
sofrimento, assim como pode haver dor, vexame e sofrimento sem violação da
dignidade.
Citada honra quando violada pode ser objeto de reparação, ou por retratação
ou mesmo por indenização, uma vez que a dignidade da pessoa humana passou a
ganhar cada vez mais força com a Constituição Federal de 1988 e o novo Código
Civil de 2002, agora com uma visão não meramente patrimonialista, mas
considerando, cada vez mais, os direitos da personalidade.
Nessa linha de raciocínio, importante se faz explicitar que o dano moral não
deve ser confundido com meros transtornos diários aos quais todos estão sujeitos,
pois estes são aborrecimentos do dia a dia e fazem parte do cotidiano e se fossem
assim classificados como dano moral, a concepção de dano moral e
responsabilidade civil entrariam em descrédito, conforme enfatiza Tartuce61.
O mencionado autor deixa claro que cabe ao juiz, analisando o caso concreto
e diante da sua experiência, apontar se a reparação imaterial é cabível ou não.
Nesse sentido, foi aprovado, na III Jornada de Direito Civil, o Enunciado nº 159 do
59
Art. 186 – Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
60
Ibid., p. 342.
61
TARTUCE, Flávio. Direito Civil – Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 7ª ed. São
Paulo: Método, 2012, p. 394.
- 39 -
Conselho de Justiça Federal, pelo qual o dano moral não se confunde com os meros
aborrecimentos decorrentes de prejuízo material.
Desta forma, Oliveira Júnior62 assevera que as ofensas à honra podem surgir
das mais variadas formas, seja através de escritos (cartas ou bilhetes), seja por meio
de publicações (jornais/revistas/periódicos/folhetos), seja por intermédio das novas
modalidades e transmissão de dados (fax/Internet) ou, ainda, de forma mais comum,
que é a palavra, seja diretamente dirigida, ou por meio de um comentário maldoso a
terceiros (“fofocas”), ou por telefone, ou mesmo pelos meios convencionais de
comunicação, como rádio e a televisão.
Nesse sentido, tem-se que as lesões causadas à honra são passíveis de não
somente multas como também reclusão. Assim, observa-se a preocupação que o
62
OLIVEIRA JÚNIOR, Arthur Martinho. Danos Morais e a Imagem. São Paulo: Lex Editora, 2006, p.
40.
- 40 -
direito tem tanto na esfera Civil como na esfera Penal na defesa da honra do
indivíduo, de forma que, existe uma abordagem sobre as tipificações penais, sobre
os crimes que abalam a honra, bem como as possíveis indenizações e penas
oriundas da honra abalada nas esferas penal e civil.
Referido crime tem como pena a detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
e multa, conforme discrimina o art. 138 do Código Penal. A segunda tipificação de
63
JESUS, Damásio de. Direito Penal – Parte Especial. v. II. 31ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 240.
64
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Especial – Dos Crimes Contra a
Pessoa. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 319.
- 41 -
crimes contra a honra é a difamação, que difere-se da calúnia, pois nesta faz-se
necessário que a ofensa dirigida à vítima tenha o condão de defini-la praticante de
um ato criminoso sem ela ter praticado o citado ato, enquanto que na difamação,
faz-se necessário apenas que “o agente impute fatos à vítima que sejam ofensivos à
sua reputação”. Como pena, o código penal determina a reclusão de 3 (três) meses
a 1 (hum) ano e multa.
65
BITENCOURT, op. cit., p. 342.
66
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Especial – Dos Crimes Contra a
Pessoa. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 352.
- 42 -
Bitencourt67 descreve bem os caracteres da honra lesados nesse crime, que são a
dignidade e o decoro, citando que a dignidade é o sentimento de honorabilidade da
pessoa, ou seja, seu valor social, que pode ser lesada com expressões como
“bicha”, “ladrão” ou outras formas de se ofender.
Um ponto importante que não pode deixar de ser mencionado no que tange à
preocupação recíproca que teve os legisladores penal e civil, diz respeito aos
impactos que as ações questionadas em uma seara podem ter em outra. Nesse
prisma, vislumbra-se a situação de um indivíduo que teve sua honra afetada.
Pelo Código Civil, esse indivíduo tem um prazo prescricional de 03 (três) anos
para pretender a reparação civil (Arts. 186 e 206, § 3º, “V” do Código Civil). Contudo,
o indivíduo pode também pleitear dita compensação na esfera penal buscando
reparação por uma injúria, ou calúnia ou difamação, o que deixa evidenciados os
impactos das decisões em uma seara do direito sobre outra na esfera dos danos a
honra.
67
Ibid.
- 43 -
De acordo com o que reza o art. 200 do Código Civil de 2002, a prescrição
desse crime só terá seu prazo inicial quando da sentença definitiva na esfera penal,
ou seja, só após a sentença transitada em julgado na esfera penal é que vai
começar a ser contado o prazo prescricional de 3 (três) anos ditado pelo art. 206,
§3º, “V” do Código Civil.
68
RESP. 1.180.237-MT (2010/0024327-6) - Recurso especial. Responsabilidade civil. Acidente de
trânsito. Prescrição da pretensão indenizatória. Suspensão prevista no artigo 200 do código
civil. Necessidade de instauração de inquérito policial ou de ação penal. Inaplicabilidade da regra ao
caso. (RESP. – 1180237, nº de distribuição 2010/0024327-6, STJ, Min. PAULO DE TARSO
SANSEVERINO - TERCEIRA TURMA, julgado em 19/06/2012, publicado em 22/06/2012).
69
JESUS, Damásio de. Direito Penal – Parte Especial. v. II. 31ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 238.
70
Ibid.
- 44 -
Diante do citado conceito, tem-se que o dano pode girar na esfera material e
patrimonial ou mesmo na esfera imaterial, atingindo assim o psicológico, a
personalidade do indivíduo.
71
SANTOS, Enoque Ribeiro dos. O Dano Moral da Dispensa do Empregado. 3ª ed. São Paulo: 2002,
p. 74.
72
FROTA, Pablo Malheiros da Cunha. Danos Morais e a Pessoa Jurídica. 1ª ed. São Paulo: Editora
Método, 2008, p.208.
- 45 -
Classifica, desse modo, em dano que afeta a parte social do patrimônio moral
(honra, reputação, etc.) e dano que molesta a parte afetiva do patrimônio moral (dor,
tristeza, saudade etc.); dano moral que provoca direta ou indiretamente dano
patrimonial (cicatriz deformante, etc.) e dano moral puro (dor, tristeza, etc.).
73
CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. 4ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.18.
74
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil – Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos.
v. II, 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2011, p. 339.
- 46 -
Desse modo, dispõe o art. 402 do Código Civil 75 que a extensão do dano
pode ir além do que pode ser visto como perda imediata, mas também engloba
perdas relativas ao que se deixou de ganhar a partir do momento em que se é
vitimado com o dano.
75
Art. 402 - Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor
abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.
76
RESP nº 19.402-SP - Responsabilidade civil. Acidente durante transporte ferroviário. Ação
indenizatória. Cumulação das indenizações pelo dano material e pelo dano moral. Ação ajuizada
por mãe viúva, ante o falecimento de filho de 17 anos, já assalariado, vitimado em queda de trem.
São cumuláveis as indenizações pelo dano material e pelo dano moral, ainda que oriundos do mesmo
fato. Fixação de indenização pelo dano moral em valor igual a cinquenta salários mínimos vigorantes
a data do pagamento. (RESP. – 19.402-SP, nº de distribuição 1992/0004807-2, STJ, Min. ATHOS
CARNEIRO ANDRIGHI - T4 – QUARTA TURMA, julgado em 30/03/1992, publicado em 20/04/1992).
- 47 -
Nesse prisma, observa-se que a reparação de um dano moral dá-se por uma
compensação, pois o dano moral em si não é como um patrimônio atingido no qual
se pode mensurar o quantitativo a ser pago, ou seja, referido dano atinge o aspecto
psicológico do indivíduo.
77
TARTUCE, Flávio. Direito Civil – Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 7ª ed. São Paulo:
Método, 2012, p. 390.
78
MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à Pessoa Humana: Uma Leitura Civil-Constitucional dos
Danos Morais. 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2003, p.145.
79
TARTUCE, op. cit. p. 406.
- 48 -
Referido autor conclui que o dano moral não se resolve em uma indenização
propriamente dita, uma vez que, ao contrario do dano patrimonial que pode ser
mensurado em função da perda material sofrida e indenizado em um valor monetário
que possa trazer ao bem atingido sua forma original, o dano moral não pode ter suas
consequências extintas por um mero pagamento pecuniário, sendo assim
compensado e não ressarcido.
80
RESP nº 665.425/AM - Direito Civil. Responsabilidade civil. Hospital. Ação de indenização. Dano
moral. Erro médico. Sequelas estéticas e psicológicas permanentes. Conjunto probatório. Montante
indenizatório. Razoabilidade. Súmula 7/STJ. Pré-questionamento. Ausência. Embargos de
declaração. Omissão e contradição inexistentes. Rejeitam-se os embargos de declaração quando
inexistente qualquer omissão, obscuridade ou contradição na decisão embargada. Na revisão do
valor arbitrado a título de dano moral não se mensura a dor, o sofrimento, mas tão somente se avalia
a proporcionalidade do valor fixado ante as circunstâncias verificadas nos autos, o poder econômico
do ofensor e o caráter educativo da sanção. (RESP. – 665.425/AM, nº de distribuição 2004/0068236-
3, STJ, Ministra NANCY ANDRIGHI- T3 - TERCEIRA TURMA, julgado em 25/04/2005, publicado em
16/05/2005).
81
TARTUCE, Flávio. Direito Civil – Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 7ª ed. São Paulo:
Método, 2012, p. 408 e p. 409.
- 49 -
A valoração da dignidade dos ser humano vem sendo alvo de muita atenção
ao longo das últimas décadas, de forma que, observa-se que o direito agora, com
82
Art.12 – Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar
perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista nesse
artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até mesmo o quarto
grau.
83
RESP 1.071.158-RJ - Civil e processual civil. Indenização. Dano moral. Vítima. falecimento.
Sucessores. Legitimidade. Pedido. Petição inicial. Interpretação lógico-sistemática. Art. 42 do cp.
Ofensas veiculada sem procedimento extrajudicial. Inaplicabilidade. Ofensas contra juiz.
Inaplicabilidade. Dano moral. Indenização. Revisão pelo STJ. Valor irrisório ou excessivo.
Possibilidade. (RESP. – 1.071.158-RJ, nº de distribuição 2008/0146386-9, STJ, Ministra NANCY
ANDRIGHI - T3 - TERCEIRA TURMA, julgado em 25/10/2011, publicado em 07/11/2011).
- 50 -
Assim, a Constituição Federal de 1988, fruto das lutas sociais de um povo que
sofreu durante anos os reflexos da ditadura militar e o período pós-guerra que
demonstrou ao mundo a figura da humilhação e exploração que um ser humano
pode ser submetido, reconheceu a dignidade da pessoa humana com um princípio
norteador da citada carta magna e que se reflete sobre toda a legislação brasileira.
86
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 30ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2008, p.
199.
87
MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à Pessoa Humana: Uma Leitura Civil-Constitucional dos
Danos Morais. 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2003, p. 77.
88
SOARES, Ricardo Maurício Freire. Elementos da Teoria Geral do Direito. 1ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2013, p. 252.
- 52 -
89
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 30ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2008, p.
200.
90
NADER, op. cit., p. 203.
- 53 -
91
NUNES, Luiz Antônio Rizzato. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana:
Doutrina e Jurisprudência. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p.55.
92
“Assim, por exemplo, o princípio da intimidade, vida privada, honra, imagem da pessoa humana
etc. deve ser entendido pelo da dignidade. No conflito entre liberdade de expressão e intimidade é a
dignidade que dá a direção para a solução. Na real colisão de honras, é a dignidade que servirá – via
proporcionalidade – para sopesar os direitos, limites e interesses postos e gerar a resolução”.
93
SOARES, Ricardo Maurício Freire. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana. 1ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p.137.
- 54 -
Nesse horizonte, tem-se que a dignidade humana pode ser analisada por três
prismas de dimensão, onde na primeira dimensão, a dignidade humana é vista como
valores intrínsecos à natureza do ser humano que sequer precisam ser positivados,
a exemplo da vida, da saúde, liberdade e outros direitos que fazem parte da
essência do ser humano.
94
NUNES, Luiz Antônio Rizzato. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana:
Doutrina e Jurisprudência. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p.52.
95
MARTINS, Flademir Jerônimo Belinati. Dignidade da Pessoa Humana. Princípio Constitucional
Fundamental. 1ª ed. Curitiba: Editora Juruá, 2003, p. 36.
96
SOARES, Ricardo Maurício Freire. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana. 1ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p.135.
- 55 -
97
CHOHFI, Thiago e MENDES, Maristela Piconi. A Segunda Dimensão da Dignidade Humana no
Direito Laboral. São Paulo: Caderno de Direito UNIMEP, 2001, p. 15.
98
Ibid., p.16.
99
Ibid., p.15.
- 56 -
direito civil, conforme aponta Schreiber100, existe agora uma força maior que impõe a
reparabilidade do dano extrapatrimonial.
Nesse sentido, Mello103 enfatiza que o direito reflete a soberania estatal, esta
que serve como um instrumento de gestão da sociedade que almeja segurança e
garantias e, com base na soberania estatal, é posto um conjunto de normas jurídicas
que regulam a efetivação dos direitos e garantias.
Todavia, a sociedade é multável com o passar do tempo, uma vez que, com a
evolução histórica, novos acontecimentos e situações surgem com a urgente
necessidade de disciplinamento legal para regular determinadas situações, assim, o
direito busca adaptações às novas situações mirando-as à luz dos princípios que
são fruto das experiências já vivenciadas e que podem ser tomadas como moldes
para criação de novos direitos.
100
SCHEREIBER, Anderson. Direitos da Personalidade. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 90.
101
MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à Pessoa Humana: Uma Leitura Civil-Constitucional dos
Danos Morais. 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2003.p. 133.
102
“O dano moral tem como causa a injusta violação a uma situação jurídica subjetiva
extrapatrimonial, protegida pelo ordenamento jurídico através da cláusula geral de tutela da
personalidade que foi instituída e tem sua fonte na Constituição Federal, em particular e
diretamente decorrente do princípio da dignidade da pessoa humana (também identificado como
princípio geral de respeito à dignidade humana)”. Para maior aprofundamento verificar em MORAES,
Maria Celina Bodin de. Danos à Pessoa Humana: Uma Leitura Civil-Constitucional dos Danos Morais.
1ª ed. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2003.p. 133.
103
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. O conteúdo jurídico do princípio da igualdade. 3ª Ed. São
Paulo: Editora Malheiros, 2011, p. 80.
- 57 -
De acordo com Passos 105, a vida humana ao longo do tempo sofre alterações
em função do dinamismo fruto da evolução. Face o exposto, o Brasil sofreu ao logo
de muitos anos processos que vieram a fortalecer a criação de um princípio
norteador e protetor do indivíduo que é o princípio da dignidade da pessoa humana.
104
Ibid., p. 83.
105
PASSOS, José Joaquim Calmon de. Direito, Poder, Justiça e Processo. Rio e Janeiro: Forense,
2000, p.54.
106
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 30ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2008,
p.138.
107
Ibid., p. 135.
- 58 -
Desta forma, o Estado não só valoriza o indivíduo, mas sim todo o coletivo
buscando atender os interesses da sociedade civil priorizando o direito coletivo ao
individual, é o que pode ser observado em um Estado de Direito onde são
preservados os direitos humanos.
108
SOARES, Ricardo Maurício Freire. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana. 1ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p.149.
109
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 30ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2008,
p.138.
- 59 -
Desta forma, com o findar da Guerra Fria, foi criada a Organização das
Nações Unidas – ONU, dando continuidade aos trabalhos empregados pelo
Conselho Nacional das Nações Unidas. O objetivo maior sempre foi o de manter a
110
CHOHFI, Thiago e MENDES, Maristela Piconi. A Segunda Dimensão da Dignidade Humana no
Direito Laboral. São Paulo: Caderno de Direito UNIMEP, 2001, p. 13.
111
MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à Pessoa Humana: Uma Leitura Civil-Constitucional dos
Danos Morais. 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2003, p. 85.
- 60 -
paz mundial e para tanto, o combate às atrocidades e guerras sempre foi um dos
maiores focos dessa Organização.
Nesse sentido, diversas missões foram executadas pela ONU com o intuito de
buscar manter o equilíbrio internacional, de forma que, segundo Faganello 112, com o
fim da Guerra Fria as peacekeeping operations passaram a ser empregadas com
maior frequência na missão consagrada à Organização das Nações Unidas (ONU),
de manter a paz e a segurança internacional. Foram 35 operações desdobradas
durante a década de 1990.
Foi com a Carta das Nações Unidas que em 1945 a Comunidade das Nações
Unidas estabeleceu matérias relativas à segurança nacional e a busca pela proteção
dos direitos humanos, preservando assim a integridade moral dos indivíduos em um
contexto de guerras em que pessoas eram enviadas para campos de concentração
e executadas em massa.
112
FAGNELLO, Priscila Liane Fett. Operação de Manutenção da Paz da ONU: De que forma os
Direitos Humanos revolucionaram a principal ferramenta internacional da paz. Brasília: FUNAG, 2013,
p. 17.
113
Ibid., p. 24.
114
Ibid.
- 61 -
Vale ressaltar que os tratados internacionais que tiverem como objeto direitos
humanos, terão um status superior às normas infraconstitucionais, paralisando-as
quando for o caso.
115
“Em conformidade com todo exposto, forçoso é reconhecer que a Carta Magna de 1988 incluiu,
dentre os direitos constitucionalmente protegidos, aqueles enunciados nos tratados internacionais de
que o Brasil seja parte. As regras internacionais definidoras de direitos humanos, previstas em
tratados ratificados pelo Brasil, ingressam em nosso ordenamento jurídico com status de norma
constitucional.” Para um maior entendimento verificar em PERLATTI, João Eduardo Franco. O conflito
entre o direito interno brasileiro e os tratados internacionais de direitos humanos. São Paulo:
Paradigma Ciências Jurídicas, 2001. p. 44.
116
SOARES, Ricardo Maurício Freire. Elementos da Teoria Geral do Direito. 1ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2013, p.252.
- 62 -
de parâmetro para intelecção dos referidos direitos que, aprovados, em cada Casa
do Congresso Nacional, em dois turnos, por 3/5 dos votos dos respectivos membros,
serão considerados hierarquicamente equivalentes às emendas constitucionais.
117
“Mesmo que parte da doutrina considere relativa e contestável, em termos gerais, a classificação
entre tratados-lei e tratados-contrato, pelo menos para a determinação dos critérios interpretativos
aplicáveis a uma e outra espécie de tratado sua validade é afirmada”. Para maior aprofundamento ver
OLIVEIRA, Renata Fialho de. Interpretação e Aplicação de Convenções Internacionais em matéria
Substantiva, Processual e Conflitual. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2014. p. 89-91.
118
“Em função das características dos tratados-contrato e da importância da identificação da vontade
das partes no processo interpretativo, aplica-se para interpretação critérios que valorizem a
interpretação subjetiva”. Ibidem, p.90.
119
GABSCH, Rodrigo D’Araújo. Aprovação de Tratados Internacionais pelo Brasil: Possíveis
Operações para Acelerar seu Processo. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2010, p.35.
- 63 -
Por não serem facilmente subordinados, os índios não eram bons escravos,
papel que ficou para os negros africanos que vieram em navios negreiros para
serem explorados em nosso país.
Nela, as liberdades agora eram trazidas de forma que o povo, por exemplo,
através do impeachment poderia inclusive retirar o Presidente da República que não
estivesse atendendo aos anseios do povo.
É o que deixa claro Lassale, o mesmo elucida que não adianta o que está
escrito em uma folha de papel e que por mais leis que existam, são as aspirações de
122
Ibid., p. 93.
123
SOARES, Ricardo Maurício Freire. Elementos da Teoria Geral do Direito. 1ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2013, p. 255.
- 65 -
um povo que devem criar a lei, e se assim não for, a Constituição de um país nada
mais será que uma mera folha de papel124.
124
“A essência da Constituição está nos Fatores Reais do Poder que regem uma nação que quando
escritos em folha de papel acabam por receber expressão escrita. A partir desse momento,
incorporamos a um papel não são simplesmente fatores reais do poder, mas sim o verdadeiro direito”.
Para ler mais verificar em LASSALLE, Ferdinand. A Essência da Constituição. 9ª ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2009. p. 20.
125
REZENDE, Maria José de. A Ditadura Militar no Brasil: Repressão e Pretensão de Legitimidade.
1964-1984. Londrina : Eduel, 2013. p.89.
- 66 -
Com isso o ser humano passou a ser considerado e seus valores morais
dignificados de maneira que abusos que anteriormente eram cometidos, a exemplo
da tortura e do racismo, passaram a serem crimes inafiançáveis.
126
SOARES, Ricardo Maurício Freire. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana. 1ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p.135.
- 67 -
127
BARROSO, Luis Roberto. O Constitucionalismo Democrático no Brasil: Crônica de um Sucesso
Imprevisto. Revista Neoconstitucionalismo em Perspectiva. Viçosa: UFG, 2014.p. 28.
128
Ibid., p. 33.
- 68 -
Para tanto, a Justiça deve analisar o caso concreto e tem a tarefa de filtrar o que
realmente é um dano que venha a ferir a honra do indivíduo e o que é um
acontecimento cotidiano. Muitas pessoas, por exemplo, que adentrarem a um metrô
e que se chocam sendo empurradas em meio à multidão agitada que briga por uma
vaga; não se configura dano que venha a ferir a honra e a moral individual, até
porque, todos os que ali se encontram são vítimas da referida conturbação.
129
SOARES, Ricardo Maurício Freire. Elementos da Teoria Geral do Direito. 1ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2013, p.247.
- 69 -
Em muitas ações em que conste uma busca legítima por uma reparabilidade por
um dano material, consta-se como pedido acessório a reparação por dano moral,
objetivando-se ganhar uma quantia financeira a mais, o que torna a ação judicial
uma espécie de oportunidade financeira.
130
“CCB – 2002 - Art. 953 – A indenização por injúria, difamação ou calúnia consistirá na reparação
do dano que delas resulte o ofendido.
Parágrafo único. Se o ofendido não puder provar prejuízo material, caberá ao juiz fixar,
equitativamente, o valor da indenização, na conformidade das circunstâncias do caso”.
131
CASTRO, Mônica Neves Aguiar da Silva. Honra, Imagem, Vida Privada e Intimidade, em Colisão
com Outros Direitos. 1ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p.05.
- 70 -
De acordo com Passos 133, o homem é uma criatura incompleta que necessita
de aceitação social para ter sua realização pessoal, necessitando assim da
aprovação dos outros para se sentir inédito ou irrepetível.
De acordo com Moraes134, é preciso saber identificar o que realmente vem a ser
um dano moral, situações essas que venham a extremar os atributos intrínsecos da
pessoa humana que devem ser protegidos pelo direito.
132
MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à Pessoa Humana: Uma Leitura Civil-Constitucional dos
Danos Morais. 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2003, p.175.
133
PASSOS, José Joaquim Calmon de. Direito, Poder, Justiça e Processo. Rio e Janeiro: Forense,
2000, p.41.
134
MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à Pessoa Humana: Uma Leitura Civil-Constitucional dos
Danos Morais. 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2003, p.72.
135
“Pode-se perceber que como o instituto do dano moral tornou – se algo tão conhecido da
população e está tão ligado ao cotidiano das pessoas que acaba se confundindo com um mero
dissabor, um aborrecimento.
Um mero dissabor não tem condão de gerar uma indenização por danos morais, pois se trata de
situações que o cidadão esta sujeito a passar em seu dia a dia. Para ensejar uma indenização por
- 71 -
Assim, tem-se que o dano de ordem moral deve ser reparado, mas com uma
finalidade não de vingança, como era a lei do talião: “olho por olho dente por dente”,
mas visando aplacar o sentimento de vingança do indivíduo e trazer-lhe um lenitivo
capaz de traduzir a ele que atos que ofendem a honra são punidos com a finalidade
de manter a ordem no convívio social e preservar a dignidade humana. Conforme
elucida Reis138.
danos morais é necessário uma dor intensa, um vexame, um sofrimento ou uma humilhação que foge
à normalidade, interferindo no comportamento psicológico do indivíduo. Logo, não é qualquer caso
que se enquadra como dano moral”. Aprofundar em FERREIRA, Thiago Soares. A Banalização do
Dano Moral. Monografia apresentada à Universidade Católica de Brasília. Brasília: Universidade
Católica de Brasília, 2012.ps. 45-47”.
136
“Para que possamos entender, um mero dissabor, um aborrecimento são situações que qualquer
indivíduo está sujeito a passar em seu dia a dia e que acaba sendo confundindo com uma dor, (raiva,
decepção e etc..) e que acaba se parecendo com o conceito de dano moral”. Aprofundar em
FERREIRA, Thiago Soares. A Banalização do Dano Moral. Monografia apresentada à Universidade
Católica de Brasília. Brasília: Universidade Católica de Brasília, 2012.p. 48”.
137
“A grande preocupação em inserir legalmente o caráter punitivo aos danos extrapatrimoniais
advém da experiência norte-americana, pois a ausência de critérios definidos para o arbitramento do
dano, bem como o profundo conhecimento de suas consequências para sociedade, causam
perplexidade, tendo em vista o conceito de dano punitivo (punitive damages)”. Avançar os estudos
em FROTA, Pablo Malheiros da Cunha. Danos Morais e a Pessoa Jurídica. 1ª ed. São Paulo: Editora
Método, 2008. p. 216.
138
“A função da indenização deve, no nosso modo de entender, constituir não um procedimento de
vingança privada e voluntária, mas uma forma de reparar e aplacar o sentimento de vingança nas
pessoas lesionadas” para maior aprofundamento ver REIS, Clayton. Os Novos Rumos da
Indenização Por Dano Moral. 1ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p.130.
- 72 -
Outra peculiaridade que deve ser considerada é se o dano sofrido pelo indivíduo
foi capaz de causar alterações na vida do mesmo, bem como se houve algum tipo
de sofrimento, pois se assim não ocorreu, haverá ali a identificação de um dissabor
cotidiano ao qual todos são vitimas no seu dia a dia.
139
PASSOS, José Joaquim Calmon de. Direito, Poder, Justiça e Processo. Rio e Janeiro: Forense,
2000, p.11.
140
“Os contratempos derivados do conserto do carro objeto de colisão, por exemplo, mesmo que
sejam pagas as despesas com a utilização de outro veículo, nosso quotidiano foi perturbado e algum
desconforto ocorreu que jamais teria ocorrido não fosse aquele ato causador do dano.”
141
“O Código Civil cuida ainda, com especial atenção, de algumas repercussões patrimoniais da
violação à honra. Como já se adiantou, a codificação autoriza a revogação por ingratidão da doação
por parte do doador se o donatário “o injuriou gravemente ou o caluniou” (art. 557, III), ou, ainda, se
praticou tal ofensa em face do “cônjuge, ascendente, descendente, ainda que adotivo, ou irmão do
doador” (art. 558). Na mesma direção, o art. 1.814 chega ao ponto de eleger a violação à honra como
causa de exclusão da sucessão hereditária, nos seguintes termos:
“Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:
[...] II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime
contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro [...]”. Para saber mais ler SCHEREIBER,
Anderson. Direitos da Personalidade. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2013. p.77.
142
FERREIRA, Thiago Soares. A Banalização do Dano Moral. Monografia apresentada à
Universidade Católica de Brasília. Brasília: Universidade Católica de Brasília, 2012, p.51.
- 73 -
cadastro não cria a possibilidade de reparação por dano moral, é o que elucida a
súmula 385 do STJ, todavia, ressalva-se o direito de busca por cancelamento justo.
Mais um exemplo sobre o tema é o que reza a súmula 370 do STJ que deixa
claro que a apresentação de cheque pré-datado antecipadamente caracteriza sim
um dano moral.
Por exemplo, um dano de ordem material que não causou um dano moral, mas
que pleiteia-se o segundo em função de um ganho a mais no resultado financeiro da
ação.
Ou ainda, existem aqueles que adentram com um pleito único e específico por
danos morais sem que esse sequer tenha existido. Nesse sentido, cabe ao juiz
analisar especificamente o caso concreto para verificar se o dano moral ocorreu e
avaliar a indenização justa refutando as tentativas de ganhos exorbitantes.
143
PASSOS, José Joaquim Calmon de. Direito, Poder, Justiça e Processo. Rio e Janeiro: Forense,
2000, p.13.
- 74 -
que sair dessa negociação mercadológica, mas o advogado sempre tem o seu
quinhão financeiro garantido144.
Nessa esteira, como a legislação civil pátria não trás critérios específicos para
indenização, o magistrado tende a buscar arbitrar a quantia a ser paga a título de
dano moral, como bem explica Tartuce147, que afirma que mesmo não especificado
no Código Civil de 2002 os critérios para quantificação, bem como indenização, a
doutrina e jurisprudência não são unânimes no que tange aos critérios que devem
ser utilizados, sabendo-se apenas que o magistrado deve-se utilizar do arbitramento.
Desta forma, quanto aos critérios mais utilizados para indenização pelo dano
moral, tem-se o arbitramento, que é o mais comum em nosso país, mas também
existe o método de tarifação, através do qual existe um tabelamento pelo dano
causado, todavia, não é esse o critério predominante no Brasil. A súmula 281 do
STJ reforça esse entendimento “a indenização por dano moral não está sujeita à
tarifação”.
144
“A honra, no mundo capitalista, também tem uma valor de mercado. Se não vale a lei da oferta e
da procura, vale a lei do desencoraja e enriquece. O ofendido precisa lucrar com a ofensa e o ofensor
estimar que o preço pago convida-o a sair do mercado, porque não compensador o negócio. Não me
parece justo, entretanto, que o ganho do ofendido seja tão estimulante que ele se sinta tentado a
explorar esse rendoso negócio. Sem esquecer o sócio de ambos os contendores, o advogado,
sempre beneficiado com uma parcela não muito desprezível do resultado obtido, resultado esse
impossível de ser alcançado sem que entre na cena um terceiro personagem também suspeito – o
magistrado”.
145
BYINGTON, Carlos Amadeu Botelho. A Moral, a Lei, a Ética e a Religiosidade na Filosofia, no
Direito e na Psicologia. Palestra proferida no II Encontro “Ética para o Juiz – Um Olhar Externo”.
Evento da Corregedoria do Tribunal de Justiça de São Paulo. Escola Paulista de Magistratura, São
Paulo, 22 de novembro de 2013. Disponível em <http://www.carlosbyington.com.br/site/wp-
content/themes/drcarlosbyington/PDF/pt/A_Moral,_a_Lei,_a_Etica_e_a_Religiosidade_na_Filosofia,_
no_Direito.pdf> . Acesso em: 17 nov. 2016, p.06.
146
Nesses casos, esses profissionais do Direito frequentemente usam sua inteligência e o seu
conhecimento para descobrir falhas formais que, ou invalidem os processos, ou os prorroguem
indefinidamente. Trabalham dentro da moralidade das leis, para encobrir o delito, ferindo frontalmente
a Ética.
147
TARTUCE, Flávio. Direito Civil – Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 7ª ed. São
Paulo: Método, 2012, p.408.
- 75 -
que não pode sofrer um quanto indenizatório capaz de leva-lo à falência total, como
diz Santana148.
Desta forma, evita-se que se oportunize a demanda por dano moral como forma
de um ganho financeiro superior ao dano que realmente foi sofrido por aquele
vitimado em sua honra sem alijar a ação de dano moral que visa uma reparação.
Por fim, Schreiber afirma que a inibição por demandas por danos morais
objetivando uma oportunidade financeira e a justiça no caso em concreto, faz-se
também por uma reparação que não enseje necessariamente um valor monetário, a
exemplo daquele que é ofendido e que pode receber do ofensor um pedido de
desculpas em público como forma de “lavar a sua honra” mitigada149.
148
“A atuação do juiz dirige-se a encontrar uma quantia que não seja ínfima, simbólica, que não
represente uma mera censura judicial, ou reduzida a ponto de desmerecer a relevante natureza
jurídica do bem da vida violado (direitos da personalidade). Por outro lado, o juiz não pode
estabelecer um valor para o dano moral que represente um enriquecimento ilícito da vítima, um
injustificado aumento patrimonial, ou corresponda a um montante desproporcional à condição
econômica do ofensor, fato capaz de levá-lo à ruína”. Para complementar leitura ver SANTANA,
Héctor Valverde. A fixação do valor da indenização por dano moral. Revista de Informação
Legislativa. Brasília a. 44 n. 175 jul./set. 2007. p.27.
149
“À parte a indenização monetária, o dano moral pode ser compensado também de modo não
pecuniário, caso isso atenda ao interesse da vítima. Tome-se como exemplo a situação do
empregado que, humilhado pelo empregador no ambiente de trabalho, decide promover ação judicial
com o legítimo propósito de ver reparado o dano que sofreu em sua honra. É certo que a atribuição
de um valor financeiro tem efeito benéfico sobre a vítima, mas compensação ainda mais ampla pode
ser alcançada, além da indenização em dinheiro, se o empregador for condenado, por exemplo, a
- 76 -
O número de demandas judiciais por danos morais tem aumentado não só pelo
fato de que o indivíduo não aceita ser atingido de forma alguma e para ele tudo é um
dano que fere sua honra, mas também por outros fatores.
Nesse prisma, tem-se que o instituto acaba sendo banalizado, pois o juiz em
alguns casos erra na hora de julgar, e favorece a quem não tinha um direito legítimo
a ser pleiteado.
Desta forma, de acordo com Ferreira152, isso acaba por abarrotar a máquina
judiciária de processos tornando-a cada vez mais lenta e a justiça que deveria ser
feita em tempo justo, acaba sendo postergada, quando não executada, face a pleitos
temerários.
Diz o mencionado autor que este grande número de ações ajuizadas tem gerado
um aumento significativo na quantidade de processo em tramitação no judiciário,
elevando o numero de serviço, causando lentidão nos serviço prestado pelo
judiciário brasileiro.
Desta forma, o juiz não deve se enganar em sua análise, buscando visualizar a
existência ou não do dano, mensurando o quanto a ser pago em função da extensão
153
TARTUCE, Flávio. Direito Civil – Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 7ª ed. São
Paulo: Método, 2012, p.409.
154
“[...] na esteira da melhor doutrina e jurisprudência, na fixação da indenização por danos morais, o
magistrado deve agir com equidade, analisando:
a) a extensão do dano;
b) as condições socioeconômicas e culturais dos envolvidos;
c) as condições psicológicas das partes;
d) o grau de culpa do agente, de terceiro ou da vitima”.
155
SCHEREIBER, Anderson. Direitos da Personalidade. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2013, p.75.
156
Além disso, é o mandamento constitucional do artigo 5º, inciso LXXIV, ao dispor que “o Estado
prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de fundos”. Regra
constitucional que, sem dúvida, coopera sobremaneira para o acesso da população ao Judiciário,
contribuindo ainda, para a atuação do princípio da igualdade, ao facilitar o alcance de classes menos
favorecidas ao Judiciário, para fazer valer os seus direitos.
Nos termos do artigo 2º desta lei, fará jus ao benefício “todo aquele cuja situação econômica não lhe
permita pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo do sustento próprio
ou da família”. Para maior aprofundamento ver FERREIRA, Thiago Soares. A Banalização do Dano
Moral. Monografia apresentada à Universidade Católica de Brasília. Brasília: Universidade Católica de
Brasília, 2012, p.50.
- 78 -
Desta forma, a conscientização do papel educativo das penas deve ser avaliado
e não buscar sempre uma reparabilidade financeira nas causas por danos morais, o
que requer uma mudança cultural daqueles que adentram às portas da justiça.
Com o passar dos tempos, mais pessoas tem adentrado ao Poder Judiciário e
essa demanda crescente não acompanha o crescimento da prestação jurisdicional,
que além de morosa, acaba por ter funcionários desmotivados para execução dos
serviços, conforme estudos da PUCRS157.
Outro ponto a ser considerado é que com a Constituição Federal de 1988, várias
conquistas sociais foram garantidas, além de liberdades e o acesso à justiça.
Mesmo com ações intentadas anteriormente à Carta Magna de 1988, os direitos
relativos aos danos morais já possuíam uma perspectiva de garantia, mesmo que de
forma geral.
Nesse sentido, vale ressaltar que o dano moral não é pago, mas sim reparado,
então o magistrado deve ter a devida cautela mesmo com um cenário desfavorável,
com uma maquina pública desmotivada e uma crescente demanda cotidiana de
processos, na análise minuciosa do caso concreto.
Mesmo com todo esse cenário desfavorável, a reparabilidade por danos morais
é um direito que deve ser exercitado por todos os que tiverem sua honra atingida
pleiteando assim seu direito.
157
A pesquisa realizada pela equipe da Administração identificou uma série de problemas com as
equipes administrativas nos Tribunais, dentre elas: baixa motivação, falta de perspectiva de carreira,
falta de conhecimento em gestão, ausência de programas de qualificação, grande número de
estagiários, evasão de servidores, dentre outras”. Para maior aprofundamento ver PUCRS - Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Demandas
judiciais e morosidade da justiça civil. Porto Alegre: PUCRS, 2011, p.192.
- 79 -
5.2.1 Visão do Poder judiciário acerca das demandas pleiteando danos morais
O juiz deve sempre ater-se ao caso concreto para fixação desse valor e, além
disso, objetivar restituir a vítima à situação original em que se encontrava, utilizando-
se de um lenitivo para aplacar o sofrimento ocorrido, é o que elucida Schreiber159
citando que o magistrado deve valer-se de meios não pecuniários para alcançar a
mais ampla compensação do dano moral sofrido.
158
“Na maioria das vezes, o STJ conserva o valor arbitrado pelas instâncias inferiores, ainda que
esse valor desvie da recomendação da Corte. Por exemplo, em casos de morte a Seção de Direito
Privado do STJ recomenda valores entre 300 e 500 salários mínimos, mas mantém decisões de
tribunais locais até 100 salários mínimos acima ou abaixo do recomendado (entre 200 e 600 salários
mínimos). Assim, os acórdãos que fixam um novo valor são mais expressivos, pois revelam, com
maior rigor, o que o STJ considera razoável”. Aprofundar em COUTO, Igor Costa e SILVA, Isaura
Salgado. A quantificação do dano moral segundo o Superior Tribunal de Justiça. Revista
Civilistica.com, FAPERJ/PUC RIO: a.2. n.1. 2013, p.10.
159
SCHEREIBER, Anderson. Novos Paradigmas da Responsabilidade Civil: Da Erosão dos Filtros da
Reparação à Diluição dos Danos. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2013, p.80.
160
Ibidem, p. 83.
161
“Embaixo da foto do retratado lia-se, em letras menores, a seguinte afirmativa:
“Violência voltou a imperar na Rua Duque de Caxias, atrás do prédio da Delegacia de Cabo Frio.” O
fato retratado pela divulgação da imagem (a presença do sujeito naquela rua) era verdadeiro, sendo
certo que a mesma foto já havia sido utilizada pelo jornal meses antes, sem impugnações, para dar
notícia de um incêndio ocorrido naquela rua, evento que, aí sim, guardava relação com o fotografado.
Todavia, a nova veiculação da foto em notícia atinente a disputa amorosa causou dano à honra do
- 80 -
Existem ainda os danos morais cumulados com danos materiais, que segundo
Couto e Silva, tendem a ter valores bastante diferenciados, pois existem várias
hipóteses de danos materiais específicos, inclusive danos de ordem estética 163.
retratado e de sua mulher, já que, conforme registrou o TJ/RJ, “quem vê a foto e lê o texto abaixo,
naturalmente a relaciona com a nota divulgada que fala da disputa de duas mulheres a bala, sendo a
figura do apelado, o pivô da referida disputa”. Em outras palavras, o fato real não pode ser divulgado
em conexão com manchete que diz respeito a outro fato, também real, mas que nenhuma relação
guarda com o primeiro.”
162
“Aqui, como em outros campos, o direito de informar não pode servir de carta branca para
estampar declarações de qualquer tipo, sem uma responsável ponderação entre o interesse social na
difusão daquela afirmação e o impacto negativo que pode produzir sobre a honra das pessoas”.
163
COUTO, Igor Costa; SILVA, Isaura Salgado. A quantificação do dano moral segundo o Superior
Tribunal de Justiça. Revista Civilistica.com, FAPERJ/PUC RIO: a.2. n.1. 2013. p.13.
164
REsp 519.258 – STJ, 4ª T., REsp 519.258, Rel. Min. Fernando Gonçalves, j. em 06.05.2008.
165
REsp 1.081.432 STJ, 4ª T., REsp 1.081.432, Rel. Min. Carlos Fernando Mathias, j. em 03.03.2009.
- 81 -
Ou seja, face o exposto fica bem claro que só o caso concreto vai definir sob
qual enfoque o magistrado analisará a causa e definirá qual a posição do Poder
Judiciário frente ao dano moral pleiteado na ação ou mesmo o dano moral cumulado
com um dano material.
166
REsp: 232103 SP 1999/0086120-5, Relator: Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, Data de
Julgamento: 18/11/1999, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJ 17.12.1999 p. 382:
RESPONSABILIDADE CIVIL. Dano moral. Fato anterior a 1988. A indenização pelo dano moral pode
ser deferida por fato ocorrido antes da Constituição de 1988, pois já antes dela o nosso ordenamento
legal admitia a responsabilidade civil do causador de dano extrapatrimonial. Recurso conhecido e
provido.
167
REsp 320462 SP 2001/0048993-1, Relator: Ministro BARROS MONTEIRO, Data do julgamento:
15/09/2005, T4 - QUARTA TURMA, Data da Publicação: DJ 24.10.2005 p.327.
168
RESPONSABILIDADE CIVIL Acidente de trânsito Indenização por morte do marido e pai dos
autores, passageiro da empresa-ré. Responsabilidade objetiva desta, sendo inócua a apuração da
culpa do motorista do ônibus. Pensão corretamente fixada em 2/3 da remuneração auferida pela
vítima à época do acidente, como anotado na carteira de trabalho, resguardando o direito de
acrescer. Descabimento, por outro lado, do dano moral por ser o evento anterior à CF/88. Agravo
retido improvido e apelos parcialmente providos.
- 82 -
Por conseguinte, de acordo com o REsp 646154 RJ 170, observa-se outro caso
em que o pedido de dano moral ocorreu antes da Constituição de 1988 diante de
falha no pagamento de FGTS.
O relator Min. Humberto Gomes de Barros assevera que o pagamento por danos
morais é cabível mesmo o fato tendo ocorrido 19 anos antes da Constituição Federal
de 1988 porque “A prova do dano moral é desnecessária, bastando a demonstração
do indevido saque do FGTS, para que seja deferida a indenização” cominando
assim na indenização de R$15.000,00.
Nessa esteira, no REsp 512393 SP171 tem-se mais uma caso de fato ocorrido
antes da Constituição Federal de 1988 em que foi reconhecido o pagamento de
indenização por dano moral. Tem-se nessa situação a ocorrência de um dano moral
proveniente da perda de audição de um empregado fruto de acidente de trabalho
oriundo de altos ruídos provocados no ambiente laboral, sendo fixado o pagamento
por danos morais na ordem de R$39.000,00.
169
“O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO (Relator):
1. Prima facie, acha-se satisfeito, no caso, o requisito do prequestionamento, uma vez que a decisão
recorrida apreciou às expressas o tema relativo ao dano moral.
É suficiente, para o atendimento do aludido pressuposto, que a questão jurídica tenha sido analisada
pelo Tribunal de origem, pouco relevando que não tenha sido feita referência, de modo específico,
aos preceitos legais posteriormente invocados no apelo especial.
2. A promulgação da Carta Política de 1988 apenas veio reforçar, na ordem jurídica brasileira, a
previsão já existente da reparação por dano moral. Encontrava-se a indenização contemplada na
regra geral constante do art. 159 do Código Civil de 1916.
Daí o verbete sumular n. 37 desta Casa, que não deixa dúvida alguma a respeito: São cumuláveis as
indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.
Descabida, pois, a distinção feita pelo acórdão combatido segundo o qual a cumulação por danos
material e moral somente era admissível em favor da própria vítima.
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é inequívoca a respeito. Quando do julgamento do
REsp n. 232.103-SP, relator Ministro Ruy Rosado de Aguiar, esta Quarta Turma decidiu com base na
seguinte ementa: RESPONSABILIDADE CIVIL. Dano moral. Fato anterior a 1988. A indenização pelo
dano moral pode ser deferido por fato ocorrido antes da Constituição de 1988, pois já antes dela o
nosso ordenamento legal admitia a responsabilidade civil do causador de dano extrapatrimonial.
Recurso conhecido e provido”.
Nesses termos, ao excluir a indenização por dano moral na espécie, o julgado recorrido afrontou a
norma inserta no art. 159 do CC/1916”.
170
REsp: 646154 RJ 2004/0033220-6, Relator: Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Data de
Julgamento: 21/11/2006, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 18/12/2006 p. 366.
171
REsp: 512393 SP 2003/0035485-8, Relator: Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO,
Data de Julgamento: 10/04/2007, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 27/08/2007 p.
220.
- 83 -
Face a todo exposto, observa-se que mesmo que o direito a indenização por
danos morais tenha sido explicitado na Constituição Federal de 1988, o
reconhecimento do mesmo era reconhecido em julgados conforme elencado
anteriormente, com base na regra geral constante do art. 159 do Código Civil de
1916: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência,
violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”.
Mesmo que as figuras públicas devam suportar o ônus de seu próprio sucesso e
uma vez enveredando pela carreira de político sabe-se que seu nome pode ser
ventilado em ataques perante o público, não é aceitável que sejam aceitas
acusações falsas objetivando macular a imagem do político, ferindo-lhe moralmente,
o que é passível de uma punição por crime contra honra.
172
“O comportamento identificado nas pesquisas de campo realizadas pelos sociólogos
especialmente, tornou possível verificar que os indivíduos – pessoas físicas e jurídicas – utilizam-se
do Judiciário, muitas vezes, de forma alternativa (que não na busca da efetiva prestação
jurisdicional), de acordo com seus interesses”. Para aprofundar ver PUCRS - Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Demandas judiciais e
morosidade da justiça civil. Porto Alegre: PUCRS, 2011 pag. 188
173
REsp: 1.025.047/SP SP 2008/0016673-2, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de
Julgamento : 26/06/2008, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 05/08/2008
174
SCHEREIBER, Anderson. Novos Paradigmas da Responsabilidade Civil: Da Erosão dos Filtros da
Reparação à Diluição dos Danos. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2013, p.80.
- 84 -
Quanto aos valores pagos por ofensa a honra, a jurisprudência tem entendido
que vítimas com maior poder aquisitivo tendem a receber valores maiores a título de
175
REsp: 984.803/ES: 2007/0209936-1, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento :
26/05/2009, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 19/08/2009. p. 223.
176
SCHEREIBER, Anderson. Novos Paradigmas da Responsabilidade Civil: Da Erosão dos Filtros da
Reparação à Diluição dos Danos. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2013, p.84.
177 “
Outro instrumento importante é o direito de resposta, que consiste na faculdade de replicar ou
retificar matéria publicada. O próprio Supremo Tribunal Federal, na decisão que fulminou a Lei de
Imprensa, ressalvou o direito de resposta, derivado do art. 5º, V da Constituição da República, norma
“de eficácia plena e aplicabilidade imediata”. A resposta deve se dar, no mínimo, a mesma visibilidade
e destaque da matéria difamatória, repelindo-se com veemência a técnica maliciosa de errar em
letras garrafais e corrigir em notas miúdas”. Para maior aprofundamento ver SCHEREIBER,
Anderson. Direitos da Personalidade. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2013.p. 80.
- 85 -
danos morais, todavia, o magistrado deve cautelar-se em seu julgamento para não
criar uma situação que venha a configurar um enriquecimento ilícito fruto de sua
sentença, conforme explicitam Couto e Silva178 mencionando REsp 959.780 ES 179
com relatoria do Ministro Paulo De Tarso Sanseverino180.
178
COUTO, Igor Costa e SILVA, Isaura Salgado. A quantificação do dano moral segundo o Superior
Tribunal de Justiça. Revista Civilistica.com, FAPERJ/PUC RIO: a.2. n.1. 2013 , p. 07.
179
REsp: 959.780/ES: 2007/0055491-9, Relator: Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Data
de Julgamento: 26/04/2011, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 06/05/2011.
180
“Vítimas com alto poder aquisitivo ou relevância política tendem a receber valores maiores a título
de compensação, ao passo que vítimas de menor padrão socioeconômico recebem quantias
menores. Cabe reproduzir mais uma explicação do Ministro Paulo de Tarso Sanseverino:
“As condições pessoais da vítima constituem também circunstâncias relevantes, podendo o juiz
valorar a sua posição social, política e econômica. A valoração da situação econômica do ofendido
constitui matéria controvertida, pois parte da doutrina e da jurisprudência entende que se deve evitar
que uma indenização elevada conduza a um enriquecimento injustificado, aparecendo como um
prêmio ao ofendido.
O juiz, ao valorar a posição social e política do ofendido, deve ter a mesma cautela para que não
ocorra também uma discriminação, em função das condições pessoais da vítima, ensejando que
pessoas atingidas pelo mesmo evento danoso recebam indenizações díspares por esse fundamento.”
...
Esse arbitramento equitativo será pautado pelo postulado da razoabilidade, transformando o juiz em
um montante econômico a agressão a um bem jurídico sem essa natureza. O próprio julgador da
demanda indenizatória, na mesma sentença em que aprecia a ocorrência do ato ilícito, deve proceder
ao arbitramento da indenização”.
181
BASTOS Guilherme Augusto Caputo. Danos morais: o conceito, a banalização e a indenização.
Revista TST. Brasília, vol. 73, no 2, abr/jun 2007, p.100.
182
REsp: 222522/MA: 2007/0055491-9, Relator: Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Data
de Julgamento: 26/04/2011, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 06/05/2011.
183
“[...] decisões prolatadas pelo egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão e pelo colendo
Superior Tribunal de Justiça no célebre processo em que o Banco do Brasil S/A foi condenado pelo
juízo de origem a pagar a uma vidraçaria indenização no importe de R$ 258.000.000,00 em
decorrência da indevida devolução de um cheque em valor equivalente a 3,48 salários mínimos. Tal
importância foi reduzida pela egrégia Corte Regional a R$ 145.000,00 e, sucessivamente, a 20
salários mínimos pela colenda Corte”.
- 86 -
Por conseguinte tem-se que mesmo pautado no punitive damages existe uma
preocupação muito grande em não se gerar enriquecimento desmensurado à
pessoa lesada fruto da aplicação desse método de punição.
Desta forma, muitas das decisões da Suprema Corte Americana acabam por
influenciar nas decisões do judiciário brasileiro. Nesse prisma, questiona-se acerca
das alternativas adotadas pelo Brasil no que tange às ações por danos morais, se as
mesmas são positivas ou não.
184
“O Art. III da Constituição dos Estados Unidos da América prevê em sua seção 1 que o Poder
Judiciário será investido em uma Suprema Corte e nos tribunais inferiores que forem oportunamente
estabelecidos por determinação do Congresso. A Suprema Corte tem sede em Washington,
reunindo-se anualmente durante um período que começa na primeira segunda-feira de outubro e
dura normalmente até o início de junho, ocupando prédio próprio desde 1935, em um quarteirão
inteiro no lado oposto ao Capitólia”.
185
MORAES, Alexandre de. Jurisdição Constitucional: Breves Notas Comparativas sobre a Estrutura
do Supremo Tribunal Federal e a Corte Suprema Norte-Americana. Cadernos de Direito: Cadernos do
Curso de Mestrado em Direito da Universidade Metodista de Piracicaba. Controle de
Constitucionalidade. V.5 n 8-9, jan a dez/2005. São Paulo: 2005, p. 28.
186
BAUM, Lawrence. A Suprema Corte Americana: Uma análise da mais notória e respeitada
instituição judiciária do mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: Forense, 1987.p. 28.
187
MORAES, op. cit., p. 12.
188
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. A Suprema Corte Norte-Americana: um modelo para o
mundo? Revista Brasileira de Direito Comparado. N 26. Rio de Janeiro: Instituto de Direito
Comparado Luso-Brasileiro, 2004, p. 35.
- 88 -
189
“Compõe-se a Suprema Corte de nove membros, intitulados Justices (o Chief Justice, que a
preside, e oito Associate Justices), nomeados pelo Presidente dos Estados Unidos, mediante
aprovação do Senado. O Chief Justice não é eleito pelos seus pares, mas designado pelo Presidente
dos Estados Unidos, que pode escolhê-lo dentre os próprios membros do tribunal ou nomear pessoa
até então estranha a seus quadros. Não há fixação de mandato para o Presidente: salvo o
extraordinário caso de impeachment, ele permanece na presidência até que faleça ou se retire da
Corte”.
190
MORAES, Alexandre de. Jurisdição Constitucional: Breves Notas Comparativas sobre a Estrutura
do Supremo Tribunal Federal e a Corte Suprema Norte-Americana. Cadernos de Direito: Cadernos do
Curso de Mestrado em Direito da Universidade Metodista de Piracicaba. Controle de
Constitucionalidade. V.5 n 8-9, jan a dez/2005. São Paulo: 2005. p. 14.
191
“[...] A Corte Suprema é “política” numa variedade de sentidos. A maior parte das pessoas
nomeadas para a Corte foi, antes, participante ativa da política e, frequentemente, as nomeações são
objeto de considerável disputa política”. Para maior aprofundamento ver em BAUM, Lawrence. A
Suprema Corte Americana: Uma análise da mais notória e respeitada instituição judiciária do mundo
contemporâneo. Rio de Janeiro: Forense, 1987.p. 12.
192
Ibid., p. 16.
- 89 -
levados diretamente dos tribunais distritais em certas ocasiões em que uma lei do
Congresso foi declarada inconstitucional, é o que deixa claro Baum 193.
No que tange aos tribunais distritais, estes julgam todos os casos federais ao
nível de julgamento de primeira instância, exceto quanto a algumas classes
especializadas de casos que vão para o Tribunal Tributário, Tribunal de Comércio
Internacional e o Tribunal de Reclamações.
193
Ibid., p. 25.
194
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. A Suprema Corte Norte-Americana: um modelo para o
mundo? Revista Brasileira de Direito Comparado. N 26. Rio de Janeiro: Instituto de Direito
Comparado Luso-Brasileiro, 2004, p. 38.
195
BAUM, op. cit., p. 23.
196
BARBOSA MOREIRA, op. cit., p. 38.
- 90 -
A doutrina americana traz ainda a figura do exemplary damage que tem por
intuito coibir a repetição do referido ato criminoso por outrem através de penas
197
RESEDÁ, Salomão. A Aplicabilidade do Punitive Damage nas ações de indenização por dano
moral no ordenamento jurídico brasileiro. Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade
Federal da Bahia – UFBA. Salvador: UFBA, 2008, p. 224.
198
BASTOS Guilherme Augusto Caputo. Danos morais: o conceito, a banalização e a indenização.
Revista TST. Brasília, vol. 73, no 2, abr/jun 2007, p.89.
199
“Porém, antes disso, também é necessário lembrar que o ordenamento americano apresenta
inúmeros sinônimos para o instituto em estudo. “Exemplary damage”, “vindictive damage”, “smart
damage” ou até mesmo “smart money” são expressões utilizadas pelos Norte-Americanos como
equivalentes ao punitive damage. Não há qualquer diferença entre eles, todos se referem ao mesmo
foco”. Ibid., p. 232
200
Ibid., p. 236.
- 91 -
Outras categorias de imputação aos atos danosos são intituladas como actual
damages, que pode ser chamado de compensatory damages e o nominal damage.
No primeiro caso tem-se uma compensação da vítima de forma a desprezar a
situação do sujeito ativo enquanto que no segundo caso existe uma indenização
simbólica para danos causados em menor potencial. Resedá202 acrescenta a
existência de outras duas categorias: “o general damage e o direct damages ou
necessary damages”203 .
Nessa esteira, uma preocupação importante não pode deixar de ser pontuada
no que tange às indenizações milionárias, ou seja, muitas vezes, com o intuito de se
punir severamente com um valor acrescido, objetivando a desestímulo de uma ação,
pode-se enveredar por um caminho onde se estimule o enriquecimento fruto de uma
decisão judicial.
201
Ibid., p. 226.
202
Ibid., p. 233.
203
“Também conhecido por direct damages ou necessary damages eles estão diretamente
relacionados aos danos desprovidos de valoração econômica. Tais danos, por sua vez, não
necessitam de comprovação, bastando apenas a demonstração da existência do comportamento
ilícito, ou seja, do nexo causal. São consequências de atos que por si só já possuem uma presunção
de prejuízo, como no caso da perda de um ente querido”.
204
RASEDÁ, op. cit., p. 240.
- 92 -
Outro caso marcante, segundo Lanne206, foi travado entre a BMW of North
America vs. Gore (Certiorari to the Supreme Court of Alabama nº 94-896.
Argumentos em 11/10/95 – Decisão em 20/05/96) no qual houve um valor
condenatório a título de punitive damage elevadíssimo, todavia a Suprema Corte
ventilou que mesmo sendo valor exorbitante, seria justificado por ser uma
penalidade imposta pelo Estado a quem descumpre suas leis, baseando-se no
interesse do Estado em proteger sua economia e seus consumidores.
Foi marcante também o julgado acerca do caso conhecido como Ford Pinto
Case que segundo Resedá207, envolveu a empresa automotiva Ford no ano de 1972
quando a condutora do veículo Ford Pinto, Sra. Luly Gray, foi vitimada em acidente
de trânsito em autoestrada indo a óbito, e o passageiro Richard Grimshaw, de treze
anos de idade, sofreu lesões corporais gravíssimas. A empresa sopesou os custos
205
RESEDÁ, Salomão. A Aplicabilidade do Punitive Damage nas ações de indenização por dano
moral no ordenamento jurídico brasileiro. Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade
Federal da Bahia – UFBA. Salvador: UFBA, 2008, p. 241.
206
LANNE, Yuri Nathan da Costa. Indústria do dano moral ou da lesão? uma solução a partir do
instituto do punitive damages . ARGUMENTUM. Revista de Direito. n 15. São Paulo: UNIMAR, 2014,
p. 177.
207
RESEDÁ, op. cit., p. 243: “No julgamento, ficou provado que, durante testes de colisão, os
engenheiros da Ford descobriram que um acidente envolvendo a traseira do veículo poderia
facilmente romper o tanque de combustível e provocar incêndio. Ocorre que, conforme também se
demonstrou, a linha de produção já se encontrava montada ao tempo desta descoberta. Desse modo,
os executivos da empresa preferiram produzir o veículo como originalmente projetado, mesmo
sabendo que as intervenções necessárias poderiam evitar danos e salvar milhares de vidas. Um
documento interno da própria empresa apresentou estudo envolvendo o custo aproximado das
indenizações relacionadas com o defeito de fabricação do veículo; valor este que incluía as mortes e
lesões corporais. Da mesma forma, foram levantados os gastos necessários para corrigir o problema
a partir de um recall de todos os veículos. O confronto destes dois tópicos possibilitou à empresa
chegar à conclusão de que o pagamento das indenizações era muito mais vantajoso do que o
aperfeiçoamento necessário para evitar os acidentes.”
- 93 -
A empresa ofereceu somente US$800.00, o que foi rejeitado pela vítima que
adentrou as vias judiciais pleiteando US$100,000.00 por compensatory damage e o
triplo desse valor por punitive damage. Ficou comprovado que a temperatura sendo
menor poderia ter causado um dano menor à vítima e a empresa foi condenada a
indenizar a autora pelo dano sofrido209.
Outra situação emblemática foi travada entre Curtis Publishing Co. v. Buttus,
quando houve publicação de matéria ofensiva à reputação do demandante em 1962.
Segundo Resedá210, o conteúdo da matéria jornalística versava acerca de uma
acusação na qual um jogo de futebol americano entre as Universidades de Alabama
e Georgia tinha sido combinado com participação do diretor esportivo com base em
escutas telefônicas sem quaisquer provas da real existência dos enlances entre as
partes.
damage e mais US$ 3.000.000,00 como punitive damage. O tribunal reduziu o total
a ser pago para US$ 460.000,00 através de apelação.
211
RESEDÁ, Ibid., p. 253.
- 95 -
Na visão de Schereiber213, no Brasil não existe essa previsão legal, mas, com
o avanço da legislação civil observa-se que a aplicabilidade do caráter
compensatório com o caráter punitivo214.
212
RESEDÁ, Ibid., p. 227.
213
SCHEREIBER, Anderson. Direitos da Personalidade. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 20.
214
“O instituto não encontra previsão expressa no direito brasileiro. Em nossa tradição, a punição
sempre foi desempenhada pelo direito penal, reservando-se ao direito civil uma função
exclusivamente reparatória. Entretanto, no campo do dano moral, o espírito punitivo tem feito estrada.
No afã de assegurar indenizações mais elevadas às vítimas, a doutrina brasileira tem aludido a um
“duplo caráter” da indenização por dano moral, que combinaria (i) o caráter compensatório, voltado a
reparar o dano moral sofrido, e (ii) o “caráter punitivo para que o causador do dano, pelo fato da
condenação se veja castigado pela ofensa que praticou” . Diversos autores sustentam, nessa direção,
que “a indenização do dano moral tem um inequívoco sabor de pena, de represália pelo mal injusto”.”
- 96 -
Como exemplo, tem-se que no Brasil as decisões por danos morais não são
tomadas por um Tribunal do Júri enquanto que nos Estados Unidos o panorama é
esse, tendo o Tribunal do Júri Brasileiro competência para participar no julgamento
de crimes dolosos contra a vida, conforme elucida Resedá217 ao mencionar que a
Constituição Federal de 1988, na alínea d, do inciso XXXVIII, do art. 5º determina a
competência exclusiva para a “o julgamento dos crimes dolosos contra a vida”. Não
havendo o que se falar sobre competência do Tribunal do Júri para aferir, e aplicar, o
valor condizente a título de caráter punitivo dos danos morais.
215
SOUZA COSTA, Ana Carolina Gusmão de. Dano Moral e Indenização Punitiva. Artigo Científico
apresentado à Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: EMERJ, 2009, p.
14.
216
: “Uma coisa, no entanto, afigura-se indubitável: várias das características da Suprema Corte norte-
americana causariam estranheza, quando não escândalo, se fossem transplantadas para o nosso
universo judicial. Podem ser aceitas, nos Estados Unidos, com tranquilidade, e até produzir, lá, bons
frutos; não quer dizer necessariamente que fosse proveitoso copiá-las aqui”. Para aprofundamento
verificar em BARBOSA MOREIRA, José Carlos. A Suprema Corte Norte-Americana: um modelo para
o mundo? Revista Brasileira de Direito Comparado. N 26. Rio de Janeiro: Instituto de Direito
Comparado Luso-Brasileiro, 2004. p. 51.
217
RESEDÁ, Salomão. A Aplicabilidade do Punitive Damage nas ações de indenização por dano
moral no ordenamento jurídico brasileiro. Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade
Federal da Bahia – UFBA. Salvador: UFBA, 2008, p. 283.
- 97 -
Assim, Resedá218 deixa claro que o duplo caráter do punitive damage, vem
sendo plenamente aceito no Brasil no que tange às ações de danos morais
individuais, ganhando cada vez mais força na jurisprudência, apesar de não ser um
comportamento majoritário, mas já existem posturas mais rígidas do Poder Judiciário
na aplicação desse instituto.
O que não pode ser refutado é o objetivo da aplicabilidade desse instituto que
é o de ressarcir o dano moral sofrido, bem como desestimular a reincidência da
prática que gerou esse dano.
Ao longo dos últimos anos, visualiza-se que o Poder Judiciário tem buscado
efetivar ações que contribuem para melhoria no atendimento, mesmo que ficando
218
RESEDÁ, Ibid., p. 304.
- 98 -
ainda a dever. Um grande esforço que foi aplicado nessa busca por superação, foi a
criação do Conselho Nacional de Justiça, o CNJ.
219
Artigo 103-B § 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do
Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras
atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura:
II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos
atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-
los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da
lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União;
III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive
contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro
que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e
correicional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar a remoção,
a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço
e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa.
- 99 -
220
FERREIRA, Thiago Soares. A Banalização do Dano Moral. Monografia apresentada à
Universidade Católica de Brasília. Brasília: Universidade Católica de Brasília, 2012, p.51: “Fica em
falta também o judiciário brasileiro que não faz campanha de conscientização. Deveria ser feita algo
que explicasse ao cidadão o que é dano moral, a finalidade do dano moral, dentro do possível
procurar explicar ao cidadão algumas causas que possam ensejam o dano moral, mesmo sabendo
que este é um instituto subjetivo, aonde não se consegue vislumbrar a partir de que ponto deixa de
ser um mero dissabor, um aborrecimento e passa a ser algo que mereça ser indenizado”.
221
MARTELLI MOREIRA, João Luiz. Planejar o Futuro é Planejar o Presente. Revista CEJ – Centro
de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal. Administração da Justiça. N 1 (1997).
Brasília: CEJ, 1997, p. 31.
- 100 -
relativas a danos morais antes mesmo das mesmas tornarem-se objeto de querelas
mais acirradas, para tanto, a conciliação, arbitragem e a mediação desempenham
um papel muito importante nesse contexto.
O que merece ser entendido é que deve existir um esforço das duas partes,
daquele que pretende ou daquele que adentrou às portas do judiciário, bem como do
próprio Poder Judiciário no intuito de tentar resolver da melhor maneira possível as
questões relativas aos danos morais, evitando assim a banalização dos processos
que objetivam a reparação por danos morais.
- 101 -
7 CONCLUSAO
Com o período de guerras, os danos morais eram cometidos cada vez mais e
as classes mais oprimidas buscavam justiça revoltando-se contra quem estava no
poder, a exemplo das Revoluções Francesa e Industrial, contudo, foi com as duas
grandes guerras mundiais (dentre varias outras que ocorreram na história) que o ser
humano foi cada vez mais desprezado e mau tratado inclusive em campos de
concentração sendo executado por pelotões de fuzilamento ou em câmeras de gás,
dentre outras formas meticulosas de extermínio em massa.
Assim, o demandante pode acessar tanto a ceara civil como penal para
buscar o seu direito, podendo na ceara civil a ação ficar com seu prazo suspenso
até que expire a tramitação penal.
Quanto aos esforços pela dignificação do homem, tem-se que as diretivas não
são dadas somente no Brasil, e que o mundo tem essa preocupação, principalmente
- 103 -
Na busca por uma reparação por um dano moral sofrido, observa-se que
existe uma banalização não só por parte de quem demanda, uma vez que, não sabe
a real caracterização de um dano moral, mas também por parte do judiciário, que ao
receber uma demanda exacerbada, acaba por não dar conta de julgar tantos
processos, além disso, advogados oportunistas pleiteiam danos morais inexistentes
com o intuito de aumentarem seus honorários com uma sentença mais favorável.
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