A economia da articulação
Vamos começar este tema com uma situação hipotética:
Será que você sempre precisa criar novas unidades linguísticas para elaborar as inúmeras mensagens que
resultam de suas atividades linguísticas diárias, sejam elas orais ou escritas? Vejamos dois exemplos:
1 – Imagine se para indicar o plural tivéssemos de utilizar um vocábulo totalmente diferente daquele que
Certamente, nossa capacidade de memória não daria conta de tanta informação. Sabemos, contudo, que as
línguas se caracterizam por um sistema de organização baseada, por sua vez, em um sistema de dupla
articulação. Esse sistema permite que possamos transmitir mais informação com menos esforço. A dupla
articulação da linguagem é um fator, portanto, de economia linguística e um dos principais aspectos que
diferenciam a linguagem humana da comunicação dos animais. O linguista que elaborou a teoria da dupla
articulação da linguagem foi um discípulo de Saussure.
André Martinet
Para compreender a análise e a descrição linguística que se realiza por meio do método estruturalista,
vamos conhecer a teoria da dupla articulação da linguagem de André Martinet (1978).
Martinet está na mesma tradição de pesquisas que Saussure, uma vez que ambos compartilham da
concepção sistemática de língua.
Para ele, a linguagem humana é articulada. E é essa característica que a distingue da comunicação dos
animais. Fixar, comunicar e transmitir a experiência humana por meio da representação só foi possível
graças à linguagem articulada, pela qual se verifica o processo de humanização, em contraposição a um
estágio anterior, em que possivelmente existiria uma manifestação por meio de complexos indiferenciados
de sons relacionados a experiências concretas.
Convém explicitar o sentido em que aqui se emprega o termo "articulação". Por mais que articulação
signifique, também, em linguística, o ato de produzir os sons da fala por meio do aparelho fonador, o termo,
dentro do contexto das duas articulações, significa a combinação de unidades discretas para formar o
enunciado. Afirmar que a linguagem humana é articulada significa dizer, portanto, que os enunciados
produzidos em uma língua não se apresentam como um todo indivisível. Ou seja, aquilo que fisicamente é
um contínuo (as propriedades acústicas do som) ou mesmo psiquicamente (a massa de pensamento que
precede a formalização por meio do signo linguístico), pode ser desmembrado em partes menores.
"Articulado", nesse contexto, significa, portanto, "constituído de partes". Referido
às línguas naturais, o vocábulo "articulação" alude à possibilidade de um enunciado ser dividido nas partes
que o constituem.
Para Martinet, todo enunciado da língua articula-se em dois planos:
"toco" possuem em comum a sequência de significantes "toc-" [tok], sendo diferentes os demais elementos
do seu plano de expressão, [avam] (de "tocavam"), [avamuz] (de "tocávamos"), [o] (de "toco"):
toc-{-avam
toc-{-ávamos
toc-{-o
A identidade parcial do plano do conteúdo dessas três formas deve ser atribuída a [toc], parte igual nas três
formas significantes. A diversidade de significado existente entre elas (3ª pessoa do singular/1ª pessoa do
singular/1ª pessoa do plural, pretérito imperfeito/ presente) deve ser atribuída às diferenças perceptíveis
nas três cadeias de significantes, - avam, -amávamos, -o:
toc..............a...............va...................m
toc..............á...............va...................mos
toc......................................................o
Concluímos, assim:
a) Que {toc-}, {-a}, {-va}, {-o}, {-mos} são cadeias de significantes dotadas de
7. violinistas v – i – o – l – i – n – i – s – t – a – s
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Cada uma das unidades numeradas de 1 a 7 no plano de expressão (cadeia de
significantes) de "tocavam", e de 1 a 11 no plano de expressão de "violinistas" e que foi obtida por meio de
processo da divisão, já não é um morfema. Ao dividir o plano de expressão dos morfemas nos elementos que
o constituem, destruímos o seu plano de conteúdo (significado). A unidade 1, por exemplo, de "tocavam",
isto é, [t], que entrava na cadeia significante de "toco", "tocávamos", "tocavam", não possui em si mesma
nenhum significado. Em outras palavras, [t] não está relacionado de modo necessário nem exclusivo com o
significado do verbo "tocar", sob qualquer de suas formas, porque esse mesmo elemento compõe o plano de
expressão de outras formas da língua portuguesa, portadoras de significado totalmente diferente, "tomar",
"pata", "teclar" etc. Por outro lado, nenhum desses elementos numerados de 1 a 7 no exemplo 6, e de 1 a 11
no exemplo 7, deixa-se dividir em elementos menores ainda: tais elementos são unidades mínimas do plano
de expressão.Às unidades mínimas do plano de expressão que, não contendo em si mesmas nenhum
significado, combinam-se entre si para formar morfemas, denominamos "fonemas".
Os fonemas são unidades de nível linguístico inferior (unidades da 2ª articulação), que não possuem outra
função além da de poder ser combinadas para formar as unidades do nível linguístico que lhes é
INFOGRÁFICO (https://ead.uninove.br/ead/disciplinas/web/_g/ling68/a03if01_ling68.htm)
ATIVIDADE FINAL
da - s]
C. [inter - subjetiv - (i) dad - e - s] | [benefic - i - a - ra - m] | [cont - a -
da - s]
D. [inter - subjetiv - (i) dade - s] | [benefici - a - ra - m] | [cont - ada - s]
REFERÊNCIA
The International Phonetic Association ¿ IPA. - <http://www.langsci.ucl.ac.uk/ipa/>
(http://www.langsci.ucl.ac.uk/ipa/)