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Nessa dissertação não pretendo construir uma visão completa das obras de Walter
Benjamin e Umberto Eco, tampouco abordá-las de forma extremamente detalhada, pois seria
um trabalho monumental que exigiria anos de pesquisa. Dito isso, o objetivo central pode ser
explicitado.
Ao analisar as obras de Eco e Benjamin, é possível identificar algumas semelhanças
entre seus discursos: ambas as obras possuem um idealismo com relação à subjetividade da
realidade.
Nas Teses sobre o Conceito da História de Walter Benjamin, há uma clara crítica aos
processos vigentes de materialismo histórico, aos quais mantém o passado preso a um só
sentido. As teses 14 e 16 demonstram esse ideal benjaminiano:
TESE 14: “A história é objeto de uma construção cujo lugar não é o tempo
homogêneo e vazio, mas um tempo saturado de ‘agoras’. Assim, a Roma antiga era
para Robespierre um passado carregado de ‘agoras’, que ele fez explodir do
continuum da história. A Revolução Francesa se via como uma Roma ressurreta.
Ela citava a Roma antiga como a moda cita um vestuário antigo. A moda tem um
faro para o actual, onde quer que ele esteja na folhagem do antigamente. Ela é um
salto de tigre em direção ao passado. Somente, ele se dá numa arena comandada
pela classe dominante. O mesmo salto, sob o livre céu da história, é o salto
dialético da Revolução, como o concebeu Marx”.
historicismo, com a meretriz "era uma vez". Ele fica senhor das suas forças,
suficientemente viril para fazer saltar pelos ares o continuum da história”.
(BENJAMIN, 2012, p. 249-250)
Essas concepções de abertura das obras de arte, tanto visuais quanto literárias,
expandem todo o universo interpretativo do meio artístico. O ampliamento dessas
interpretações foi uma grande teorização de Eco, que permitiu com que novas concepções e
ideais pudessem ser construídos.
Esses dois espectros abordados: a narrativa histórica de Benjamin, e a obra aberta de
Eco, podem ser relacionados como obras de abertura aos princípios anteriores, onde O
Narrador de Benjamin pode, segundo Jeanne Marie Gagnebin, ser considerado uma “teoria
antecipada da obra aberta” (BENJAMIN, 2012, p. 12). A quebra representada por eles
modifica as narrativas e questionamentos que se põem posteriormente às suas obras.
A história relacionada à cinematografia representa um espectro afetado por essas obras
de abertura, já que sem as concepções de história baseada na experiência contemporânea do
historiador, essa fusão de áreas não poderia ter sido tão explorada quanto é atualmente. As
relações entre história e cinema são baseadas na amplitude interpretativa da obra de arte
cinematográfica e na concepção mais aberta de história conceituada na atualidade, sem elas, o
cinema não poderia ter sido conceituado como um campo da historiografia.
Portanto, Eco e Benjamin teriam aberto as portas para algumas concepções sem as
quais o estudo do cinema como uma obra aberta à interpretações de diversos sentidos, tanto
historiográficos quanto artísticos, não pudessem ser tão bem exploradas, onde as narrativas
transformam os meios em que as críticas possam surgir mais consolidadas, sem o peso de uma
regência fixa que priva as possibilidades de interpretação.
REFERÊNCIAS:
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história
da cultura. Tradução: Sérgio Paulo Rouanet. Prefácio: Jeanne Marie Gagnebin. 8ª ed.
São Paulo: Brasiliense, 2012 (Obras Escolhidas v.1).
ECO, Umberto. Obra Aberta. São Paulo: Editora Perspectiva, 2ª ed., 1969.