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Mata
Uma vez que vemos ser toda a cidade-estado uma certa comunidade e que toda a
comunidade é constituída em razão de um bem (com efeito, todos agem sempre em
vista do que lhes parecer ser o bem), é evidente que todas as cidades-estados anelam
um bem, sobretudo, a comunidade suprema e que contém as restantes visa ao supremo
bem. É esta comunidade que se chama cidade-estado, e é ela a comunidade política.
Todos quantos julgam que o político, o rei, o intendente e o senhor de escravos são o
mesmo não estão certos (Com efeito, julgam que diferem pelo grande ou pequeno
número [de subordinados], e não que cada uma dessas funções difere pela espécie.
Assim, se há poucos [subordinados], a função é de senhor de escravos, se há um
pouco mais, é o intendente, se há ainda mais, é o político ou o rei, como se em nada
diferissem uma pequena cidade-estado e uma grande casa.)
O que pode, com efeito, pelo pensamento fazer previsões por natureza é o que
comanda, e, por natureza, é senhor dos escravos. Por sua vez, o que pode com o corpo
suportar fadigas é o comandado e, por natureza, esse é o escravo. Por essa razão, o
escravo e o senhor formam um mesmo. Por sua respectiva natureza, distinguem-se
então a fêmea e o escravo (a natureza não faz nada igual aos ferreiros de Delfos, que
fazem as suas facas de modo falho, mas a cada coisa reserva uma única função. Com
efeito, assim cada um dos instrumentos melhor cumpriria seu fim, se se destinasse não
a muitas funções, mas apenas a uma).
Entre os bárbaros, porém, a varoa e o escravo têm o mesmo nível. A causa disso é que
eles não têm o que por natureza comanda, mas a comunidade deles passa a ser de
escrava e de escravo. Por isso dizem os poetas “É razoável que os gregos dominem os
bárbaros, porque por natureza o bárbaro e o escravo são iguais”. Dessas duas
comunidades, a primeira [a surgir] é a família, e Hesíodo disse corretamente, quando
compôs o verso “A casa primeiro, depois a mulher e o boi para arar.” Com efeito, o
boi é o agregado dos necessitados.” A casa é, portanto, a comunidade composta
segundo a natureza para o dia a dia, e os seus membros Carondas chama de
“companheiros do celeiro”; Epimênides de Creta chama de companheiros da
manjedoura”. A vila é a primeira das comunidades formadas por muitas famílias para
fazer face às necessidades não cotidianas. A vila parece ser, sobretudo, uma extensão
da família, alguns chamam seus membros de filhos do mesmo leite e filhos dos filhos.
Por isso primeiro as cidades-estados foram comandadas por reis, e ainda hoje são
comandadas por eles as tribos. Com efeito, cidades-estados e tribos se formaram pelo
fato de terem sido comandadas por reis. Com efeito, toda a família se submete ao
comando do mais idoso, como a colônia ou extensão das famílias, pelo parentesco de
seus membros. E é isto o que disse Homero “Cada um institui a lei aos seus filhos e
esposas, pois dispersos viviam nos tempos de outrora.” Por isso todos os homens
(uma vez que uma parte deles ainda hoje tem um rei, qual tinham antigamente) dizem
também serem os deuses comandados por um rei, pois tornamos semelhantes às
nossas próprias vidas as vidas dos deuses da mesma forma que fazemos as suas
formas semelhantes a nós mesmos.
Pelo que foi exposto, torna-se evidente que a cidade pertence às coisas que são por
natureza e que o homem, por natureza, é um animal político. Também o que por
natureza ou por acaso não tem a sua cidade-estado é inferior ou superior ao homem,
como aquele que Homero injuriou: “Sem família, sem lei e sem morada”. Com efeito,
o que por natureza é isto também deseja a guerra, como peça desgarrada no jogo. É
evidente por que razão o homem é animal político mais do que toda a abelha ou mais
do que todo o animal gregário. Com efeito, como dizemos, a natureza não faz nada
em vão. E dos animais somente o homem tem a palavra.
A voz é sinal de prazer ou de pena, por isso subsiste também em outros animais (com
efeito, a natureza deles alcança até a sensação de pena ou de prazer e as reconhece,
separando-as, uma da outra). O discurso é para tornar claro o que convém e que é
prejudicial, como também o que é justo e o que é injusto. Ao comparar os homens aos
outros animais, vê-se que isso lhes é próprio: ter a sensação do bem e do mal, do justo
e do injusto, e de outras. O conjunto dessas sensações (aisthéseis) é que faz a família e
a cidade-estado.