Você está na página 1de 6

Período Republicano

Da Proclamação da República à Revolução de Trinta

“Desagregação da sociedade agrária patriarcal e ascensão da burguesia urbana


sob a tríplice impacto da Abolição, da República e da Industrialização. Conseqüências
na arquitetura.” (p. 75).

Três fatores estão na base das profundas transformações ocorridas na cidade do


Rio de Janeiro nos últimos três quartos de século: A Abolição, a República, a
Industrialização [...].” (p. 75).

“A Abolição, para a arquitetura foi o fato capital. O escravo tinha na sociedade


colonial e na imperial tríplice significação: na economia [...]; na família [...]; na casa
[...] cujo funcionamento dependia dele e cujo programa sem ele teve de ser não somente
reduzido como modificado na sua orgânica e no seu funcionamento.” (p. 75).

“As propriedades rurais, ou empregaram o colono assalariado, ou pereceram de


todo, deixando atrás de si ruínas pungentes [...].” (p. 75).

“Das propriedades urbanas, só persistiram vivas as pequenas ou médias, em que


os escravos não ocupavam mais do que uma dependência dos fundos. As grandes casas,
umas transformaram-se em escolas, asilos e congêneres instituições [...]; ainda outras
tiveram de ser abandonadas sendo aproveitadas depois como casas de cômodos, que
transformadas em cortiços, foram, como as estalagens em que os novos-ricos acharam
um bom emprego de capital [...].” (p.75).

“A República [...] foi causa da democratização pela extinção dos privilégios da


nobreza e sua gradual destruição e pela implantação de novos costumes a que
contribuíram o bonde, o café, o cinema, o futebol e tudo o que favoreceu a mescla de
clases –, ainda que isso tenha sido atingido com a quebra de valores tradicionais
insubstituíveis: os da vida patriarcal [...].” (p. 75-76).

“Na arquitetura reduzem-se os programas, primeiro pelo fracionamento da


grande propriedade em loteamentos, cada terreno se repartindo em numerosos outros,
em cada um dos quais se erguiam casas de menores proporções; depois, na substituição
da casa individual pelo prédio coletivo de apartamentos que reunia na mesma casa
muitas família, a princípio pertencendo todo o prédio a um só proprietário, depois a
proprietários distintos, um para cada pavimento; finalmente no fracionamento de cada
pavimento em unidades separadas de condomínio [...].” (p. 76).

“A Industrialização introduziu novos materiais e processos e métodos de


construir que afetaram irreversivelmente e em escala crescente a arquitetura. Já no
princípio do século XIX, a Revolução Industrial [...] começava a influir no Brasil
substituindo a produção artesanal pela mecânica padronizada e em série, a qual, com a
conquista dos mercados difundia novas normas de pensamento e ação que conduziram o
arquiteto, o engenheiro, o construtor, a considerarem os problemas não em termos de
artesanato como no período Colonial, mas no de indústria, criando a mentalidade
propícia a esse campo de atividade que com a República tomou novo alento e de etapa
em etapa daria à arquitetura caráter industrial.” (p. 76).

“A passagem de uma para outra sociedade – a do Império para a da República –


introduziu como tributo certa vulgaridade de costumes e gosto que só agora começa a
ser compreendida como inevitável consequência de uma época de compromisso entre
duas culturas distintas, e que na arquitetura e na construção se fez acompanhar de
múltiplos conflitos, causas principais da desorientação de arquitetos e construtores: 1º)
conflito de classes [...]; 2º) conflito de programas: a casa grande rural e a casa
apalacetada urbana versus a fábrica ou usina da casa de tamanho médio ou pequeno,
mais tarde substituída pela casa coletiva de apartamentos; 3º) conflito no agente de
trabalho [...]; 4º) conflito de técnicas [...]; 5º) conflito nos métodos de trabalho [...]; 6º)
conflito nos materiais [...]; 7º) conflito nas estruturas dos edifícios [...]. (p. 76).

A Década de 1900- 1910

“De todos os fatos que assinalaram a passagem do Império para a República,


nenhum excedeu em importância para o Rio de Janeiro, à remodelação da cidade,
empreendida no Governo Rodrigues Alves (1902-1906). [...]” (p. 77).

Passos e seus Colaboradores

“Colaboraram na remodelação da cidade homens ilustres, como Oswaldo Cruz


que a saneou livrando-a do flagelo da febre amarela que a atormentava desde meados do
século anterior e Lauro Müller que com a cooperação de José Del Vecchio e Paulo de
Frontin dotou-a respectivamente de um porto moderno à altura de uma metrópole e de
uma grande avenida centralizando as comunicações para as zonas norte e sul – Avenida
Central. Esta [...] foi traçada [...] com apenas 33 m de largura [...].” (p. 77).

“Ambos melhoramentos – as instalações do porto e a Avenida Central – faziam


parte de um plano urbanístico de envergadura, obra do prefeito Francisco Pereira Passos
que com atitudes decididas e em certos casos até violentas ( o bota abaixo do dito
popular), demoliu um número enorme de prédios da noite para o dia, rasgando
logradouros modernos [...].” (p. 77).

“Várias das novas ruas – com espanto e até protesto dos moradores – passaram a
ter 17 m de largura, ou 25 m [...]; os leitos foram abaulados com sarjetas laterais [...];
surgiram os calçamentos de asfalto ou de paralelepípedos de granito com lastro de
concreto [...]; passeios de concreto cimentado [...], ou ainda formando caprichosos
desenhos [...]; chanfraram-se e arredondaram-se os cantos dos quarteirões; criaram-se
refúgios para pedestres; melhoraram-se as instalações de água, esgotos [...], gás,
iluminação elétrica; estenderam-se as linhas de bondes pelos bairros e substitui-se a
tração animal por tração elétrica; arborizaram-se as ruas; criaram-se jardins [...],
reformando-se ou melhorando-se os existentes na Praça da República e outros; abriu-se
o túnel do Leme; canalizaram-se, retificaram-se, melhoraram-se os cursos dos rios [...];
remodelou-se o Canal do Mangue, marginando-o com palmeiras imperiais que tanto
impressionaram mais tarde Le Corbusier.” (p. 77-78).

Posturas

“Em 1903 o benemérito Prefeito elaborou novo regulamento de construção que


vigorou até 1925 e que entre outras medidas rebaixou para quatro metros o pé-direito
mínimo do primeiro pavimento e autorizou porões habitáveis de no mínimo dois metros
e no máximo três metros. [...] A redução introduzida pelo prefeito Pereira Passos foi um
benefício mas só em 1917 foram adotados pés-direitos de três metros em uso até hoje.”
(p. 78).

A Capital Federal

“O plano de Passos, elaborado com ponderação, equilíbrio e largueza de visão


de um verdadeiro urbanista, inaugurou uma nova etapa na história da cidade. [...]” (p.
78).

“As novas obras atraíram engenheiros, arquitetos, construtores e desenhistas


estrangeiro, e insuflaram vitalidade nos de casa, principalmente nos arquitetos, que eram
por então em número muito reduzido [...].” (p. 79).

A Arquitetura na Avenida Central

“A abertura na Avenida Central foi o fato capital desse princípio de século. [...]
Para os prédios da avenida, a comissão construtora incumbida das obras [...] instituiu
um Concurso Internacional de Fachadas, em que como programa só contavam a largura
do lote e o gabarito regulamentar, com o que, contrariando o sentido orgânico inerente a
todo verdadeiro projeto arquitetônico – em que plantas, seções e fachadas formam um
só todo indissolúvel – se deu sanção legal ao conceito que persistiu por mais de trinta
anos (até o sucesso alcançado pela moderna arquitetura do Brasil) de que o arquiteto era
um desenhista de fachadas.” (p. 79).

“No prazo recorde de vinte meses foram desapropriados e demolidos 590 velhos
prédios, numa extensão de 1.795 m, reloteados, vendidos ou permutados os terrenos, e
rasgada a avenida, inaugurada por trechos [...].” (p. 79).

Variedade de Estilos

“Além dos premiados no concurso, praticamente todos os principais arquitetos,


engenheiros e construtores da época realizaram projetos de prédios para a nova avenida,
os quais ainda que rotulados sob os mais diversos estilos, na maioria não os possuíam,
resultando cada qual freqüentemente da associação de formas oriundas de estilos
distintos. A preocupação maior era a da variedade, seguindo-se a inspiração vinda de
fora [...].” (p. 79-80).

“Misturavam-se assim os estilos no mesmo edifício [...].” (p. 80).


O Neogótico e os Estilos Orientais

“[...] o estilo Neogótico [...] e os orientais. O primeiro [...] foi de preferência


empregado na arquitetura religiosa, nele sendo projetadas as igrejas de Nossa Senhora
da Paz em Ipanema e a do Senhor do Bonfim em Copacabana, ambas de autoria do
professor Gastão Bahiana [...]; nos segundos, geralmente tratados com grande perfeição
de execução, construíram-se o Pavilhão Mourisco, situado no fim da Praia de Botafogo,
no qual predominavam os dourados e azuis de vistoso efeito [...]. (p. 82).

Banimento do Colonial

“A revivescência de estilos históricos não incluía, nesse princípio de século, o


estilo luso-brasileiro do tempo da colônia, o qual, nas reformas que se faziam realizadas
sempre com incompreensão e desamor (ainda não tínhamos àquele tempo a ternura que
hoje nos inspira tudo o que é português), ia sendo descaracterizado. [...].” (p. 82).

Art Nouveau

“Não se limitou apenas a revivescência de estilos históricos esse princípio de


século, notando-se também, desde 1900, manifestações de Art Nouveau, então ainda em
seu efêmero mas efervescente surto, na Bélgica, França, Áustria, Alemanha, Inglaterra,
Itália e outros países da Europa. O episódio ainda precisa ser estudado, mas é possível
desde já avaliar sua vitalidade nas artes gráficas, na pintura, na sensibilidade das elites,
folheando-se as revistas da época [...]. Na arquitetura, por falta de adequada catalogação
nas épocas próprias – o que vai exigir agora uma investigação muito mais penosa e
difícil –, são muito poucos os remanescentes estudados [...]. Muitos prédios ainda
existentes sem que possam a rigor ser considerados Art Nouveau, incluem elementos
nesse estilo: grades, lambris, mobiliário, lustres, etc. [...].” (p. 83).

“À mesma chave de movimentos de arte nova pertence o trabalho (não


premiado) apresentado por Victor Dubugras no concurso de projetos para o Teatro
Municipal e os de Carlos Eckman para os edifícios Hasenclever e Herm Stoltz, da
Avenida Central [...].” (p. 83).

Exposição de 1908

“A desenvoltura que caracterizou os projetos arquitetônicos da Avenida Central,


degenerou em licença na Exposição de 1908 na Praia Vermelha [...].” (p. 85).

A Década de 1910- 1920

Rebecchi, Morales, S. Telles, Heitor de Melo

“A passagem da primeira para a segunda década do século foi marcada por


projetos que revelavam maior coerência estilística e apuro formal devidos entre outros a
Rafael Rebecchi, Morales de los Rios (pai), Armando da Silva Telles e Heitor de Mello.
[...].” (p. 85).
Técnica de Transição, os Artífices

“Nessas casas como nas de estilo francês em geral, empregavam-se revestimento


a cimento branco fingindo aparelho, ornamentação cuidada de bom desenho e telhados
de ardósia [...] ou de folha de Flandres [...] –, cuja disposição em mansardas com
guarnições rendilhadas de zinco ou cobre, lanternins e olhais e mesmo os materiais,
eram conjunto e o pormenor, solução habitual em Paris. Nos interiores, além dos papéis
pintados [...] e dos papiers machés de Henderson e Le Roy, importados desde 1895 pela
Casa David e usados para substituirem mecanicamente, nos tetos, os ricos estucados,
eram comuns desde as primeiras décadas do século as esmeradas pinturas a óleo com
cercaduras floreadas, também de muita durabilidade [...]. A liquidação difinitiva de
ambas iria ocorrer, por força de conflitos de técnicas: a técnica pré-Revolução Industrial
e a técnica de Revolução Industrial – a artesanal e a mecânica – esta sufocando e
praticamente anulando aquela, reduzida nos dias presentes, de mais em mais, como
indústria, ao mero preparo de protótipos para fabricação em série.” (p.85-86).

A Máquina Anula o Homem

“Na época em que estamos analisando, esses homens, embora com o destino
selado, ainda estavam em plena forma, porque tudo se reduzia a questões de gosto e de
estilo, já que os arquitetos não se davam conta de que as profundas transformações
técnicas, econômicas e sociais provocadas no mundo pela Revolução Industrial em
marcha, cujos reflexos já se tinham feito sentir no Brasil desde princípios ou meados do
século passado, exigiam na arquitetura modificações de fundo, orientadas de dentro para
fora (e não ao inverso, como se fazia) e em que a forma plástica fosse mais efeito do
que causa, antes resultante do que ponto de partida da transformação.” (p. 86).

Viret, Marmorat, Gire, Riedlinger (A difusão do concreto armado.)

“A década 1910-1920 foi assinalada pela presença dos profissionais franceses


Viret & Marmorat e Gire e do tedesco L. Riedlinger, cuja atuação representou um passo
no sentido da integração da nossa arquitetura na civilização industrial.” (p. 86).

“Viret & Marmarot foram autores de um dos primeiros prédios de apartamentos


da cidade, o edifícil Lafont [...]. Gire foi o autos em 1917, do projeto do Copacabana
Palace Hotel [...]. Riedlinger foi a principal figura dos primórdios do concreto armado
no Brasil; diplomado na Alemanha por uma escola técnica de ensino médio, fez-se aqui
grande engenheiro e foi dos primeiros a mandar vir encarregados de obras daquele país,
que manejando réguas de cálculo e tendo noção bastante aperfeiçoada do concreto
armado, contribuíram para o aprimoramento da técnica de construir e para a formação
de encarregados brasileiros de elevado gabarito. [...] Fazia-lhe concorrência o escritório
técnico de Hennebique [...]. (p.86-87).

“[...] No seu escritório ingressou desde o começo (1912) o estudante Emílio


Baumgart, avô das estruturas de concreto-armado de brasileiros, introdutor do concreto
ciclópico nas peças de grande volume e calculista [...]. Formou discípulos de
envergadura: A.A. Noronha, Adalberto Nogueira, Fragoso, J.B. Biddart, Silvio Reis,
Silvio Matos, Jermann e muito mais, que colocaram o concreto armado brasileiro no
destacado lugar que hoje ocupa e abriram caminho para enquadrar nossa arquitetura no
verdadeiro espírito da Era Industrial.” (p. 87).

“Foi, de resto, através das estruturas – de ferro primeiro (principalmente nas


pontes e estações ferroviárias, que se construíram no Brasil desde meados do século
passado) depois nas de concreto-armado – que a Era Industrial se acusou na nossa
arquitetura [...].” (p. 87).

A Década 1920- 1930

“A década 1920- 1930, do Pós-Guerra, caracterizou-se em todo o Ocidente por


movimentos de inquietação e procura de rumos para renovação das artes. Foi marcada
pelo aparecimento de Vers Une Architecture (1923) e L’Urbanisme (1925) de Le
Corbusier, que, pela genialidade das ideias e originalidade das soluções iniciaram uma
nova era para a arquitetura e o urbanismo.” (p. 87).

“Nessa fase o Rio de Janeiro foi palco de um conflito de tendências: de um lado


as tradicionais, de outro as modernas. Na linda tradicional, depois da apuração de
formas da década anterior, entrava-se numa espécie de triagem, em que iriam disputar a
preferência dois estilos o Luiz XVI ou, num sentido mais exato, os estilos
classicizantes, variantes estilísticas de uma orientação que já vinha desde princípios do
século XIX, preconizados para os edifícios de porte monumental, e o Neocolonial que,
recém-adotado em residências, hotéis e escolas, seria usado com sucesso em pavilhões
de exposição e acabaria por penetrar também nos edifícios de porte monumental,
afirmando-se como o estilo mais característico dessa fase. A linda moderna iniciada
com a literatura, a pintura e a escultura só depois ganhou a arquitetura, em que tudo não
passou no Rio de Janeiro, durante a década de 20-30, de artigos polêmicos nos jornais e
de tímidos ensaios.” (p. 87-88).

Você também pode gostar