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A professora Marta Kohl de Oliveira, neste livro, ressalta importantes pontos na teoria de Vygotsky:- “o homem
biológico transforma-se em social por meio de um processo de internalização e atividades, comportamentos e
signos culturalmente desenvolvidos” – a obra de Vygotsky é apenas um esboço de um projeto;
– um grande problema na área da educação no Brasil é a tentativa de se estabelecer uma proposta pedagógica
única, baseada numa idéia de escolha da melhor teoria, principalmente nos confrontos entre as teorias de
Vygotsky e Piaget.
E a autora considera, ainda, que estes autores nos trazem uma enorme contribuição, destacando que a melhor
forma de atuação será a de compreender o melhor possível cada abordagem para que haja um real
aprimoramento da reflexão sobre o objeto a ser estudado. Vivemos hoje um momento em que as ciências em
geral, e as ciências humanas em particular, tendem a buscar áreas de intersecção, formas de integrar o
conhecimento acumulado, de modo a alcançar uma compreensão mais completa de seus objetos.
A interdisciplinaridade e a abordagem qualitativa têm, pois, forte apelo para o pensamento contemporâneo. Do
mesmo modo, a ideia do ser humano como imerso num contexto histórico e a ênfase em seus processos de
transformação também são proposições muito importantes no ideário contemporâneo. A discussão do
pensamento Vygotsky na área da educação e da psicologia nos remete a uma reflexão sobre as relações entre este
autor e Piaget.
No Brasil, Piaget tem sido a referência teórica básica nessas áreas e a penetração das ideias de Vygotsky sugere,
inevitavelmente, um confronto entre as teorias dos dois autores. Vygotsky foi o primeiro psicólogo moderno a
sugerir os mecanismos pelos quais a cultura torna-se parte da natureza de cada pessoa ao insistir em que as
funções psicológicas são um produto da atividade cerebral, explicando a transformação dos processos
psicológicos elementares em processos complexos dentro da história.
As concepções de Vygotsky sobre o processo de formação de conceitos remetem às relações entre pensamento e
linguagem, à questão cultural no processo de construção de significados pelos indivíduos, ao processo de
internalização e ao papel da escola na transmissão de conhecimento, que é de natureza diferente daqueles
aprendidos na vida cotidiana. O autor propõe uma visão de formação das funções psíquicas superiores como
internalização mediada pela cultura.
Duas concepções sobre o funcionamento do cérebro humano colocam que (…) “o cérebro é a base biológica, e
suas peculiaridades definem limites e possibilidades para o desenvolvimento humano.”
Essas concepções fundamentam sua ideia de que as funções psicológicas superiores (por ex. linguagem,
memória) são construídas ao longo da história social do homem em sua relação com o mundo. Assim, as funções
psicológicas superiores referem-se a processos voluntários, ações conscientes, mecanismos intencionais e
dependem de processos de aprendizagem.
A linguagem, sistema simbólico dos grupos humanos, representa um salto qualitativo na evolução da espécie. É
ela que fornece os conceitos, as formas de organização do real, a mediação entre o sujeito e o objeto do
conhecimento. É por meio dela que as funções mentais superiores são socialmente formadas e culturalmente
transmitidas. Sendo assim, sociedades e culturas diferentes produzem estruturas diferenciadas.
A cultura fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade, ou seja, o universo de
significações que permite construir a interpretação do mundo real. Ela dá o local de negociações no qual seus
membros estão em constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significações.
Existem, pelo menos, dois níveis de desenvolvimento identificados por Vygotsky: um, o nível real, já adquirido
ou formado, que determina o que a criança é capaz de fazer por si própria, e o outro, potencial, ou seja, a
capacidade de aprender com outra pessoa. Essa interação e sua relação com a imbricação entre os processos de
ensino e aprendizagem podem ser melhor compreendidos quando nos remetemos ao conceito de ZDP.
A aprendizagem interage com o desenvolvimento, produzindo abertura nas zonas (distância entre aquilo que a
criança faz sozinha e o que ela é capaz de fazer com a intervenção de um adulto; potencialidade para aprender,
que não é a mesma para todas as pessoas; distância entre os níveis de desenvolvimento real e potencial) nos
quais as interações sociais são o centro, estando então, ambos os processos – aprendizagem e desenvolvimento
– interrelacionados; assim, um conceito novo que se pretenda trabalhar, como por exemplo, em matemática,
requer sempre um grau de experiência anterior para a criança.
O desenvolvimento cognitivo é produzido pelo processo de internalização da interação social com materiais
fornecidos pela cultura, sendo que o processo se constrói de fora para dentro. Para Vygotsky, a atividade do
sujeito refere-se ao domínio dos instrumentos de mediação, inclusive sua transformação por uma atividade
mental. Para ele, o sujeito não é apenas ativo, mas interativo, porque forma conhecimentos e se constitui a partir
de relações intra e interpessoais.
É na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se vão internalizando conhecimentos, papéis e funções
sociais, o que permite a formação de conhecimentos e da própria consciência. Trata-se de um processo que
caminha do plano social – relações interpessoais – para o plano individual interno – relações
intrapessoais. Portanto, a escola é o lugar onde a intervenção pedagógica intencional desencadeia o processo de
ensino-aprendizagem.
O professor tem o papel explícito de interferir neste processo, diferentemente de situações informais nas quais
a criança aprende por imersão em um ambiente cultural. É o papel do docente, portanto, que provoca avanços
dos alunos e isto se torna possível com a interferência do educador na zona de desenvolvimento proximal
(ZDP).
Vemos ainda como fator relevante para a educação, decorrente das interpretações das teorias de Vygotsky, a
importância da atuação dos outros membros do grupo social na mediação entre a cultura e o indivíduo, pois uma
intervenção deliberada desses membros da cultura, nessa perspectiva, é essencial no processo de
desenvolvimento. Isso nos mostra os processos pedagógicos como intencionais, deliberados, sendo o objeto
dessa intervenção a construção de conceitos.
O aluno não é somente o sujeito da aprendizagem; ele é aquele que aprende, junto ao outro, o que o seu grupo
social produz, como por exemplo: valores, linguagem e o próprio conhecimento.A formação de conceitos
espontâneos ou cotidianos, desenvolvidos no decorrer das interações sociais, diferencia-se dos conceitos
científicos adquiridos pelo ensino, parte de um sistema organizado de conhecimentos.
A aprendizagem é fundamental ao desenvolvimento dos processos internos na interação com outras pessoas.
Ao observar a zona proximal, o educador pode orientar o aprendizado no sentido de adiantar o desenvolvimento
potencial de uma criança, tornando-o real. Nesse processo, o ensino deve passar do grupo para o indivíduo. Em
outras palavras, o ambiente influenciaria a internalização das atividades cognitivas no indivíduo, de modo que o
aprendizado gere o desenvolvimento. Portanto, o desenvolvimento mental só pode realizar-se por intermédio do
aprendizado.
O Biológico e o cultural: os desdobramentos do pensamento de Vygotsky.
A professora Marta Kohl de Oliveira aborda neste capítulo, três aspectos fundamentais: – o funcionamento
cerebral como suporte biológico do funcionamento psicológico;
– a atividade do homem no mundo, inserida num sistema de relações sociais, como o principal foco de interesse
dos estudos em psicologia.
Um dos pilares do pensamento de Vygotsky é a idéia de que as funções mentais superiores são construídas ao
longo da história social do homem, a história social objetiva tem um papel essencial no desenvolvimento
psicológico que não pode ser buscado em propriedades naturais do sistema nervoso, ou seja, o cérebro é um
sistema aberto em constante interação com o meio, este meio será capaz de transformar suas estruturas e
mecanismos de funcionamento, podendo se adaptar a diferentes necessidades e servindo a diversas funções
estabelecidas na história do homem. Luria (um de seus colaboradores) aprofunda em sua obra a questão da
estrutura básica do cérebro em três unidades: a unidade para regulação da atividade cerebral e do estado de
vigília; a unidade para recebimento, análise e armazenamento de informações; a unidade para programação,
regulação e controle da atividade.
Atividade psicológica é para Luria um sistema complexo que envolve a operação simultânea de três unidades
funcionais: percepção visual; a análise da síntese da informação recebida pelo sistema visual; os movimentos dos
olhos pelas várias partes do objeto a ser percebido. Outro aspecto importante refere-se à organização cerebral,
cuja ideia é a de que a estrutura dos processos mentais e relações entre os vários sistemas funcionais
transformam-se ao longo do desenvolvimento individual.
Outro importante colaborador de Vygotsky foi Alexei Leontiev, para quem as atividades humanas são formas de
relação do homem com o mundo, dirigidas por motivos, por fins a serem alcançados, ou seja, o homem orienta-
se por objetivos, planeja suas ações agindo de forma intencional. Leontiev distingue a estrutura da atividade
humana em três níveis de funcionamento: a atividade propriamente dita, as ações e as operações.
29 de julho de 2018