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artigo de revisão
MEDICAMENTOS FITOTERÁPICOS POR
IDOSOS
Tamara Ângelo *
Charlis Chaves Ribeiro **
RESUMO
Com o objetivo de avaliar o uso de plantas medicinais e
medicamentos fitoterápicos por idosos, foi realizado um
estudo de delineamento transversal, de base
populacional na cidade de Cordeiros – BA, entre junho
e outubro de 2013. O método de amostragem por
conglomerados foi utilizado e questionários
padronizados foram aplicados a adultos com idade
acima de 60 anos, totalizando 300 idosos
entrevistados. Cerca de 70 % dos idosos utilizam
plantas medicinais e destes, 61 % só fazem uso
quando estão doentes. Ainda assim, menos de 4 % das
indicações são realizadas por profissionais de saúde. A
planta mais citada foi o capim santo (72 vezes). Em
relação aos medicamentos fitoterápicos, apenas 34 %
dos idosos relataram utilizar e o mais citado foi o
extrato de carqueja (16 vezes). Observou-se que faltam
profissionais capacitados para prestar orientação
adequada, pois, apesar de terem acesso relativamente
frequente a serviços de saúde, 100 % dos
entrevistados acreditam que as plantas e
medicamentos em questão não podem causar qualquer
dano à saúde. Além disso, cerca de 46 % afirmaram
que não trocariam medicamentos sintéticos por plantas * Doutoranda do programa de
Ciências Farmacêuticas da
ou fitoterápicos, mesmo se indicados por médicos ou Universidade de Brasília. Mestre em
farmacêuticos. É necessário que os profissionais de Ciências pela Universidade de São
Paulo na área de Medicamentos e
saúde se capacitem nessa área e orientem melhor os Cosméticos Foi professora no curso
pacientes quanto ao uso racional de plantas medicinais de Farmácia da FAINOR e da UFBA.
e medicamentos fitoterápicos. E-mail: taosantos@gmail.com.
** Faculdade Independente do
Nordeste. E-mail:
Palavras-chave: Plantas Medicinais. Medicamentos Fitoterápi- charlis.cr@hotmail.com
cos. Idosos. Uso Racional de Medicamentos.
1 INTRODUÇÃO
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percentual. Assim, a amostra desejável foi a maioria dos idosos (47,67 %) não tinha
estimada em no mínimo 291 indivíduos. estudo formal, seguidos por 45,33 %
A seleção dos participantes foi daqueles que cursaram o 1º grau
realizada por conglomerados, incluindo incompleto.
todas as ruas da cidade e a zona rural. A Segundo o último censo
escolha das residências foi realizada ao demográfico realizado pelo IBGE em
acaso e todos os idosos domiciliados 2010, pode-se constatar que na cidade de
foram convidados a participar do estudo. Cordeiros a maioria dos idosos era do
A coleta de dados foi realizada por sexo feminino, o que também foi
meio de um questionário padronizado, observado nessa pesquisa. Além disso,
aplicado com entrevistas presenciais dos também observou-se que as famílias dos
indivíduos que aceitaram participar da entrevistados continuam não possuindo
pesquisa. Foram coletados dados uma boa renda familiar.
socioeconômicos, além de informações Em relação ao acesso ao serviço
sobre o estado de saúde e o uso e de saúde, foi observado que 54,75 % dos
conhecimento de plantas medicinais e idosos tem esse acesso mensalmente,
fitoterápicos. 27,00 % semestralmente, 13,31 %
A tabulação e análise dos dados foi anualmente, 4,18 % menos que uma vez
realizada no Software Microsoft Excel for no ano, e os que têm acesso ao serviço
Mac 2011, programa no qual também saúde semanalmente foi apenas 1,00 %.
foram gerados os gráficos e tabelas. Devido ao Programa de Saúde da Família
(PSF), há um incentivo para que os idosos
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO procurem o posto mais próximo para fazer
uma triagem de rotina e com isso pelo
Foram entrevistados 300 Idosos, menos uma vez ao mês a maioria dos
com idades entre 60 e 98 anos, sendo a idosos tem contato com algum profissional
média de 70,09 anos (DP = 7,34). Entre de saúde (BARROS et al., 2007).
estes, 59 % correspondia ao sexo Em relação ao local onde os idosos
feminino. A renda familiar foi de até um tem acesso ao serviço de saúde, 62,21 %
salário mínimo para 54,67 % dos encontram junto ao Programa de Saúde
entrevistados. Em relação à escolaridade, da Família (PSF), que nos últimos anos
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teve uma melhoria na qualidade do dos idosos, com opção de citar as três
serviço prestado, com novos principais. A Figura 1 apresenta um
estabelecimentos e mais especialistas. gráfico com os resultados. A maioria dos
Por esse motivo, o hospital público é idosos entrevistados relataram sofrer de
menos procurado, sendo utilizado doenças do sistema circulatório e 11,68 %
principalmente para emergências, por dos idosos disseram que não tem
30,43 % dos entrevistados. Como na qualquer problema de saúde.
Cidade não há hospitais e consultórios
Figura 1 - Principais doenças relatadas por idosos
particulares, esse serviço é pouco (60+) na cidade de Cordeiros - BA
0,00%
pequeno porte no Brasil, os recursos e
investimentos em saúde são poucos e há
necessidade de deslocamento para outros
municípios em busca de medicina Fonte: Dados da Pesquisa
especializada. Mesmo na atenção básica,
os serviços de saúde possuem um valor Segundo o Ministério da Saúde, as
muito alto para a população de baixa principais doenças que mais acometem a
renda e muitos optam pelo SUS (ETHUR população brasileira estão relacionadas
et al., 2011). ao sistema circulatório e aos transtornos
Foram coletadas informações relacionados ao coração. Esses
sobre o estado de saúde e o uso e problemas podem estar relacionados com
conhecimento de plantas medicinais e hereditariedade, má alimentação,
fitoterápicos. sedentarismo e obesidade. A maioria dos
Por se tratar de um grupo que idosos hoje relata possuir algum tipo de
geralmente apresenta diversas patologias, problema de saúde que os impede de
foram levantadas as principais doenças desenvolver as atividades do cotidiano e a
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vezes), erva doce (47), erva cidreira (43) e Gabiraba Campoman Noz- Myristica
esia moscada fragrans
hortelã (31). xanthocarp
a
Não foi observado nenhum uso Gengibre
Zingiber Olivia Olea
officinale europaea L
incorreto quanto à indicação das plantas. Psidium Pata de Bauhinia
Goiaba
guajava Vaca Link
Contudo, ainda assim, a falta do Graviola
Annona Pau Ferro Caesalpinia
muricata L férrea
acompanhamento de um profissional Mentha x Picão Bidens
Hortelã
villosa L pilosa
capacitado pode trazer riscos à saúde do Jatobá
Hymenaea Poejo Mentha
courbaril pulegium L
usuário (BADKE, 2008; BALDAUF et al., Junça
Cyperus Quebra Phyllanthus
esculentus Pedra niruri L
2009; SIMÕES, 2004). Citrus Quina Quassia
Laranjeira
sinensis L amara
Citrus limon Romã Punica
Limão
Tabela 2 - Espécies de plantas medicinais L granatum L
utilizadas por idosos (60+) na cidade de Cordeiros Linum Salsinha Petrosolium
Linhaça
– BA usitatissim sativu
Nome Nome Nome Nome Artemisia Sena Senna L
Losma
vulgar científico vulgar científico canphorata
Cereus Seriguela Spondias L
Persea Banana Musa SP Mandacaru
Abacate Jamacaru
americana
Ocimum Sete Copa Terminalia
Malpighia Boldo Vernonia Manjericã
Acerola basilicum catappa
glabra L Baker
Passiflora Sete Cuphea
Nasturtium Caboclinho Sporophila Maracujá
Agrião sp Sangria Cham
L L
Chenopodiu Transsage Plantago
Glycyrrhiza Camomila Chamomilla Mastruz
Alcaçu m L m major L
glabra recutita
Melissa Offi Umburana Amburana
Rosmarinus Capim Cymbopogo Melissa
Alecrim cinalis claudii
L Santo n citratus
Mentha Carqueja Baccharis Fonte: Dados da Pesquisa
Alevante
spicata L trimera
Parietaria Carrapicho Desmodium
Alfavaca
officinalis adscend
Gossypium Cavalinha Equisetum
Após explicação minuciosa do que é
Algodão
L spp
Camellia L. Chia Salvia
um medicamento fitoterápico, a maioria
Amélia
hispânica L
Anadenanth Chuchu Sechium
dos entrevistados relatou que não faz o
Angico
era C edule
Schinus Cipó da Tynnanthus
uso destes medicamentos (Tabela 3).
Aroeira
molle L trindade Fasci Tabela 3 - Utilização de medicamentos
Ruta Erva – Melissa
fitoterápicos por idosos (60+) na cidade de
Arruda graveolens Cidreira officinalis
L.
Cordeiros - BA
Tanacetum Erva – Foeniculum Variável n %
Artimijo Uso de medicamentos
L Doce vulgare
Vernonia L Espinheira Maytenus fitoterápicos
Assa Peixe sim 108 36,00
Santa ilicifolia
Stryphnode Fedegoso Cassia não 192 64,00
Baba Timão Local de aquisição
ndron A ocidentalis
Aloe vera L. Folha de Melissa Offi SUS 0 0,00
Babosa Cana cinalis farmácia de manipulação 5 4,63
drogaria 80 74,07
outro 23 21,30
Fonte: Dados da Pesquisa
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uma reação adversa devido à mistura de Pelo observado, a escolha das está
medicamentos, apesar de anteriormente relacionada principalmente a problemas
100 % ter relatado que não acredita em do sistema circulatório.
efeitos negativos causados por plantas e Em relação a medicamentos
fitoterápicos. Isso indica que há fitoterápicos, a utilização é baixa, devido
desconhecimento e falta de orientação. ao pouco conhecimento tanto pelos
No geral, o que se observa é a falta entrevistados quanto pelos profissionais e
de indicação profissional e de orientação pela dificuldade de acesso.
quanto ao uso, provavelmente devido ao Com base nas entrevistas,
pouco conhecimento dos profissionais da percebe-se que não existe assistência
área de saúde. Isso traz prejuízos à farmacêutica no município. Com isso, o
população, uma vez que poderiam utilizar uso racional de plantas e medicamentos
recursos eficazes e acessíveis com maior fitoterápicos está comprometido. Além
frequência e com maior segurança (SILVA disso, outros profissionais da área da
et al., 2012; SANTOS et al., 2012). saúde que acompanham esses idosos
deveriam ter mais conhecimento sobre o
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS assunto para indicar o uso com
segurança.
A prática do uso de plantas Além de o estudo contribuir para a
medicinais, como esperado, é feita pela a elucidação do uso de plantas medicinal e
maioria dois idosos entrevistados, mas fitoterápico por idosos, os resultados
esse uso se dá mais quando surge encontrados poderão servir como
alguma patologia ou quando o referência para que os riscos à saúde
medicamento alopático não está surtindo pelo uso indevido sejam diminuídos ou
o efeito esperado. até mesmo que o assunto seja mais
discutido entre os profissionais de saúde.
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ABSTRACT
REFERÊNCIAS
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Utilização de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos por idosos
Bras. Pl. Med., Botucatu, v.11, n.3, p.282- Florianópolis, SC, Brasil. Acta Bot. Brás,
291, 2009. v.24, n.2, p.395-406, 2010.
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