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UNIVERSIDADE DESAO PAULO Reitor: Prof. Dr. Fdvio Fava de Moraes ‘View Reitor: Profs, Drs, Myriam Kral FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRASE, CIENCIAS HUMANAS. Ditetor: Blof. Dr, Jo%o Baptista Bosges Pereira Vieeiretor: Prof Dr. Francis H. Aubert 2PARTAMENTO DE HISTORIA Chel: Profa. Dri. Radel Glezet Vicewhfe Prof, Dr. Norberto Goarinle José Jobson de Andrade Arruda Professor ‘Titular de Historia Moderna da Faculdade de Filosofia, Letras ¢Ciencias Humanas da USP A Grande Revolucio | Inglesa, 1640-1780 Revolucdo Inglesa e Revolucae Industrial na Construgao da Sociedade Moderna Departamento de Historia - USP. | Editora Hucitee | Sao Paulo 1996 Capitulo 3 A Revolugao Inglesa ¢ as pré-condigdes da industrializagao 3.1, A Revolucdo ¢ a transformagio do Estado 31.1 A Revolugto Inglesa na “Era das Revolugdes Burguesas” © ponto de partida para # compreensiio do sentido social da Revolugao Inglesa ¢ 0 proprio conceito de revoluc&o. conceito este que, se aplicado aos movimentos sociais ¢ politicos do século XVII, soria passivel de restrig6es'. Insistem alguns autores que o termo ti- nha entZio uma utilizagdo predominantemente cientifica atrelado & astronomia®, O proprio HOBBES, por exemplo, no usou o tertno num sentido politico, preferindo “revolta”, “rebelido” ou “‘subversio” ao invés de revolugao®, Tais reservas, contudo, nao invalidam a existéncia efetiva de ‘uma revolugio no século XVII pois os agentes do proceso histé- rico nfio tém que ter, necessariamente, uma clara consciéneia do significado de suas ages para que elas se realizem, nom muito me- hn Locke: Two Treatises of Goverment, Cambridge, Cambridgo Univesity Press, 1960, ® CE SNOW, ¥, - “The Concept of Revolution in Seventeeth Cent Historical Journal, vol. V, 1962, yp. 169-17 alana > Sobre a tipotogia e o sentido das revolugées Cf CHALMERS, Johnson - Revolution and the Social System. Stanford, Hover Institution Stidies, 1964 BRINTON, C. « The Anatomy of a Revohuion. New York, 1938; ECKSTEIN, Hiorry ed.) ~Hoteme! War. New York, 1964; LASLETI. P.- The lWorld We Have Lost. Loudon, Methuen, 1965; WALZER, M. - The Revolution of the Saints A Study in the Origins of Radical Polite. London, Weident&ta: 1966: MORRE AR, Barsington - Social Origins af Dictatorship ard Democracy: Lord and Peasant in the Making of the Mfodern World. armendsworth, Penguin University Books, 1973, 1A Gravoe Rrvweio Incase, 1640-1790 nos uma conceituagao precisa para 0 resultado de suas ages, nestes termos, mesmo que a:pretensio das forcas sociais envolvidas no * proceso fosse realizar uma reforma’, o resultado bem poderia ser uma reyolugdo, independentemente do conceito jé ter sido cunhado ou no®, debate em tomo do sentido social da Revoligdo Inglesa no momento € intenso®. Deixando de lado a tradigao historiografica que tem suas raizes no século XIX’, cumpre lembrar que a explicagao da Revolucdo Inglesa em termos constitucionais, isolada dos seus " aspectos econémicos e até mesmo sotiais, resumirido-se ‘a uma huta de partidos, marcou os trabalhos de Trevelyan®. A Richard TAWNEY. devemos a renovagaio das perspectivas, Formulou a hipdtese do descom- * Cf STONE, Lawrenee-“La Revolucion inglesa”, in Revoluciones y Rebellones de la Furope Moderna, Trad. esp., Madsid, Alianza Bd. 1975, p72 2 dom, bidem. Os principals estudos historiogritices dispontveis sto: HALE, IR. = The Evolution of British Historiography. London, MacMillan, 1961, STERN, F (ed) « The Varieties of History from Voltaire to tse Present. London, MacMillon. 1970, RICHARDSON, RC. & CHALONER, W.H.- British Zaonomic and Socid Histon: @ Bibliographical Guide, Mancheste, Manchester University Pres, 1975; WALTER, Gérard - La Revolucin Inglea, Trad. esp, Barcelona, Guialto Ealiciones, 1971, pp. 419-443. Antigas colegos de documentos de grande utilidede em GARDINER, 8. R. - Consitational Documents of the Puritan Revolution, 625-1660. Oxford, Oxford Univesity Press, 1958. PROTHERO, G W. States ant Constinitionc’ Doses of the Reigns Of Elizabesh ond James 1. Oxtord, Oxford Univesity Press, 1954, TANNER, J. R. Conefitnfonal Poexmtents of the Reign of James J. Carabsidge, Cambridge University Press, 1852. Além de documentos, encntatnse ites comentéios em KENYON, 1B + The Start Constitution. Carnie, Cambridge University Pres, 1966, “Acton ea sire cate révoluion puntsine dont parle SR. Cordier, délenchéo Fr un confit entre isttations et idfologiesreligieuses? Ou bien: come le. ‘Seyait Macaulay, d la permiére coalfonistion ence la lideté et fe iberaisme, combat qui devait mestre I’ Angleterre sr la voie que la méneraté te monaschie farlementaire et sux likens civiles?™. STONE, Lawrence = Les Cases de la Révolution Anglaise. Trad, fane., Pati, Flammarion, 1974, p75. A peineima dnterpretagio € tibuteda a GARDINER, S. R.- The First Tuo Starland the Puritan Revolution. London, 1876; segunda s MACAULAY, 1.13 The History of Enola fron tre Accession of Jens I Landen, 1849 Nérios tmbaihos eseritos por TREVELYAN, assentam-se sobre esta tes: TREVELYAN, GM. -Historyof England, London, Longnians, 1925, The Pgs 50 Jeet Jonson oe Avonane AmtuDn paso éntre a realidade econdmica ¢ a estrutura social para explicar a guerra civil, Salientou o declinio relative da aristocracia num petiodo de depreciagiio monetaria c a ascensio de uma nova classe, a gen- try, enriquecida pelas novas oportunidades da economia de mefcads®, H Dos trabalhos de TAWNEY fluiram duas grandes vertentes explicati- ‘vas que, por sua vez, desemembrar-se-iam em outras possibilidades, Primeiramente, Lawrence STONE salientou o papel da aristocracia, atribuindo a Revolugdo a alienagao de amplos setores das elites em relagdo as instituigdes religiosas ¢ politicas vigentes™*: Nestes térmas, a monarquia nao teria sido aniquilada por uma Revolugdo. Simplesmente perdeu seu apoio e sustentagdo fundamental: a aristocracia® ‘Numa perspectiva radicalmente oposta, H.R. TREVOR-ROPER Passava a destacar o papel da gentry, especialmente a mere gentry, constituida por homens com situagao financeira precéria, num momento em que as rendas da terra eram drenadas pela inflagao™”. Explodiu Revohuion 1658-1689, Londen, Butler é Tanner, 1938; English Social History Loudon, Longmans, 1944 * E extremamente importante « produgao de TAWNEY. Suas prineipais teses Folativas ao papel das clases sociais nas RevolugGes Ingleses aparecem emt TAWNEY, RE. - The Agrarian Problems in the Sixteenth Comtury. London, 1912; "The Rise of the Gentry, 1558-1640”, in Essays in Seonomtie History, I M, CARUS-WILSON (@i.). London, Butler & Tanner, 1966, Algumas das Froposigees de 7 ova ligeiramente mioditicadas por XERIDGE, E Agrarian Problems in the Sixteenth Century and fier’ Loedon, Allen & Unwin, 1969, “Antes que estellae Ia guera civil, las principales insttuoiones del gobierno entral perdieron su prestigio y se derumbaron. Aunque la erisis séle os intoligibel ala luz del cambio social y evansmico, lo quo hay que explicet er Dimer lugar no es una ersis, dentro de Iu sociedad, sino una crisis dentro del regimen: [a alienacion do grandes seviores de las élites respecto do las insti= tuciones politicas y reigicsas vigentes”. STONE, Lawrence - “La Revolucion Inglesa", in Revoluciones y Rebeliones de la Europa Moderna. Trad, exp. Madrid, Alianza Editorial, 1975, p.77 "A principal tese de STONE foi apresentada consistentemente num estudo clissico, STONE, Lawrence - The Crisis of the Aristocracy 1538-1641. Oxford ‘Oxford University Press, 1967 CE TREVOR-ROPER, H.R. “The Gentry 15401640” - Zeonome History Review, Suppl.1, 1953. Mais explicitamente, “protestation dea part des vielinies une depression générale contre une Bureaucratic privilégiée, une eile Rea A Gans Rivowcto Iu 164041780 nos uma conceituaséo precisa para o resultado de suas agbes, nestes termos, mesmo que @ pretensfo das forgas sociais envolvidas no processo fosse realizar uma reforma’,’o resultado bem poderia ser uma reyoluga6, independentemente do conceito ja ter sido cunhado ou ndo* O debate em tomo do sentido social da Revolugao Inglesa no momento € intenso®. Deixando de lado a tradig&o historiografica que tem suas raizes no séoulo XTX’, cumpre lembrar que a explicagzio da Revolugdio Inglesa em’termos constitueionais, isolada dos seus aspectos econdiniccs € até ittesma sociais, resutnindo-se a uma luta de partidos, marcou os trabalhos de Treveiyan®, A Richard TAWNEY devemos a renovacdo das perspectivas. Formulou a hipétese do descom- ‘avvrmnee “La Revolosion Ingles”, in Revolucionesy Rebeliones de fa Europa Moderna, Trad. esp, Madsid, Aliaaza Ea, 1975, p72 2% em, iim, © 0s principais estudos historiogréfioos disponiveis sto: HALE, IR. - The uolution of Briish Historiography. London, MaoWalan, 1967, STERN, F. (ed) ~ The Varieties of History jrom Veltaire to the Present. London, MacMfilan, 1970;RICHARDSON,R C. & CHALONER, W.H.- British Bonomi and Social Histor: a Bibliographical Guide, Manchester, Manchester Univesity Press, 1976; WALTER, Gérard - 1a Revolucién Inglesa, Tad. ep, Barcelona, Gijaloo Ediciones, 1971, pp. 419-443. Antigas colegdes de documentos de grande uilldade em GARDINER, 8. R - Constinuonal Documents of the Puritan Revohution, 1625-1650, Oxtord, Oxford University Press, 1958; PROTHIERO, G, W" Statutes ard Constiaional Documents of the Reigis of Elizabeth and lanes i. Oxford, Oxford University Press, 1954; TANNER, J. R. Constitutional Documents of the Reign of James I. Corabridge, Cambridge University Press, 1982. Além de dovamentos,enconratn-s ites comemtrios emt KENYON, J. 2 = Me Sinart Constacion. Cambridge, Cambridge University Pres, 1956 7 “Acon eu afaize eet volution puritans dont pale § R. Gardiner, déclenchée par un confit enie institutions et idéologies reigieuses? Ou bien, comme le voyait Macaulay, & la perme ooottontation entre ln liberé et le liéralisme, combat qui devait mettre i" Angletere sur la voie que a ménerait dle monarchie parlementare et aus libertésciviles?”. STONE, Lawrence - Les Causes de fa Révoluion Anglaise. Trad. frane., Pais, Flanwnarion, 1974, p75. A primeira inturpretapio & tibuada a GARDINER, 8, R.- The First Teo Suart and the Puritan Revolution Landon, 1876;a soguada s MACAULAY, TB. The Hilson of Eglin from the Accestion of lames 18 Lonon, 1809, * Verios tmabathos esenios por TREVELYAN, assentamrse sobre esta tess: TREVELYAN, GM. Hlsiory of Englend, London, Langrtans, 1926: The English 30 Jost Jasen 9 Aeaoe ARsDA passo entre a realidade econéntica ¢ a estrutura social para explicar a guerra civil, Salientou o declinio relativo da aristocracia num periodo de depreciagdo monetaria ¢ a ascensio de uma nova classe, a gen- try, enriquecida pelas novas oportunidades da economia de mercado”, Dos trabalhos de TAWNEY fluiram duas grarides vertentes explicati- vvas que, por sua vez, desemembrar-se-iam em outras possibilidades. Primeiramente, Lawrence STONE salienttou o papel da aristocracia, atribuindo a Revolugdo & alienagdo de amplos setores das elites em relagdo As'instituigdes religiosas ¢ politicas vigentes'”. Nestes termos; ‘a monarquia nio teria sids aniquilada por uma Revolugio. Simplesmente perdeu seu apoio sustentagao fundamental: a aristocracia!’. Numa perspectiva radicalmente oposta, H.R. TREVOR-ROPER passava a destacar o papel da gentry, especialmente a mere gentry, constituida por homens com situagio financeira precéria, nurn momento ‘em que as rendas da tezra eram drenadas pela inflagao'®, Explodiu Revokution 1688-1689, London, Bulee & Tanner, 1938, English Social History, Yondon, Longmans, 1344 E extremamente importants a produpfo de TAWNEY. Suss principais teses relatives a0 papel das classes soviis nas Revologées Inglesas aparecern em: ‘TAWNEY, RE. The Agrarian Problems in the Sixteenth Century. London, 1912; "Tho Rise of the Gentry, 1958-1640", in Essay dn Economic History, M, CARUS-WILSON (ed). London, Butler & Tanner, 1966. Algumas dos 5 de TAWNRY foram ligeitanon:e modiSioudas pot RERRIDOE, 8 Agrarian Probiems in the Sixteenth Century and dfter’ London. Allen & Unwin, 1969, “Antes que estllae In guerra cil, las principales indttuciones del gobierno central perdieron su prestigio y se derumbaron. Aunque la crisis s6lo es inteligibel ala luz cet cambio social y econémico, 10 que hay que explicar em primer lugar no es uno crisis dentro de a sociedad, sino una eisis dentro del égiman: ia aliemicién de grandes secteras de ls dlites respect de las insti- tusiones polities y religiosas vigenles”. STONE, Lawrence ~ “La Revolucion Inglesa”, in Revoluciones y Rebeliones de la Europa Moderna, Trad. esp. Madi, Abinza Edson, 1973,p. 7 AA principal tese de STONE fo: apresentads consistentements num estnd eldssio, STONE, Lawrence Mie Crisieaf the rstocracy 1558-1611. Oxford, Ostend tnivesity Prove. 1967 ; CE -TREVOR-ROPER, H.R. - “Tho Gentry 1540-1686" Zeononie History Review, Sopp J 1953, Meisexpliciament,“potestation del part des victimes Pune dépression générale contre ane bureaucratic privléaica, une cit A Guowe Revouuito Tits, 1640-1780 extdo um violento debate, nem sempre polido, antre os defensores da crise da aristooracia ¢ da emergéncia da gentry, ao qual ndo es- capou o préprio TAWNEY, atacado por todos. + Paralelamente, ums corrente interpretativa com base no matetialis- mo dialético, vinha se pondo, Nesse viés, insistia-se que a Revolugio Inglesa envolvera uma luta de classes, fora revoluciondria ¢ progres- sista, 20 mesmo tempo que a destruigdo da monarquia significara a abolig&io dos entraves a0 desenvolvimento do pais ¢ & constitui¢ao de, uma estratura social ¢ politica mais avangada”?, Para C. HILL "4 Revolugdo Inglesa dé 1640-60, foi um grande mo- vimento social, como a Revolugdo Francesa de 1789. poder do Estado, protetor da velha ordem essen- cialmente feudal, foi violentamente destruido o 0 po- der passou para as mios de uma nova classe, ¢ assim, o livre desenvolvimento do capitalisino torou-se pos sivel. A Guerra Civil foi uma luta de classes, na qual © despotismo de Carlos I foi defendido pelas forgas teacionarias da Igreja e terratenentes reacionarios © Parlamento atacou o Rei porque pode apelar para © apoio entusidstico da classe dos comerciantes ¢ industriais no campo ena cidade, os yeomen ea gentry progressista, © as amplas massas da popuiagdo, onde “quer qué fossem capazes de entender, pela livre dis- cussiio, que a futa esa iminente’"* capitaliste”, “La Révolution Anglaise de Cromwell, uae Nouvelle Inte pretation”. cimales, Economies ~ Sociéiés - Civilisarions, juillei-septembre, 1955,p.331 & Cf MORTON, A L. -d People History of England, London, Let Book Clu 1933, ¥ HILL, C. = The English Revoiuulon 1640, London, Lawrence & Wishart, 1985 (primeira publicagio 1940), p. 6. Idem - “La RévolutionAnglaise du XVIe Siéele”, Revue Historique, janvier-mars, 1959, pp. $-32. A visto mais anipla da Revolupto inserida no conjunto dos movimentos popillaes da époce modem aparece-em DAVIES, C.S.L. - “Les Réveltes Pupulaives en’ Angleterss (1500- 700)", in drinates, Eeanonies - Sociétés - Civilisaions, javier-fevtiar, 1969, pp.24-60. 2 Jost Jens oe Asma abe AMR As ctiticas suscitadas por esta linhagem explicativa nfo conseguiram abalar a concepgaio de Revolugao Inglesa como revolugao burguesa’®, De toda evidéncia, a composigao social dos grupos em luta no apre- sentava uma nitidez cristalina ¢ a clivagem ¢ nebulosa, pois “havia membros de todas as classes em ambos os lados”"’, Mas o que se deve entender por uma revolugo burguesa nfo é uma revolugéo na qual a burguesia participa diretamente da luta, mas uma revolugiio que abre espago para o avango do capitalismo”, Ayulta neste contexto o papel da gentry na Revolugao'’. Quem eraa gentry? Pergunta dificil de responder. Primeiramente ¢ necess4- rio distinguir a gentry do século XVI, tendencialmente aristocrati- zada, da gentry do século do séeulo XVI, uma nova gentry. Sua composigao variade incluia estratos de varias classes sociais, pois integrava filhos mais novos dos lords, cavalheiros, squires, gentle- mans, portanto, elementos integrados numa socicdade estamental, ‘As principe ctiticas a esta postura foram explicitadas por ZAGORIN, Insistia que a Revolugdo Inglesa fora o resultado de divisbes, dentro da prépria elite politica, que corresponde & divisdo entre a Corte ¢ 0 Pais. O canto nito se dou entre as ordens da sociedade. Foi um conflito verticalizado que dividiu aristooraeia, 2 gentry, e as oligarquias de mercadores das cidades, apresen- tando um caréter essencialmente oonservedor, Cf. ZAGORIN, Per story of Political Tought in the English Revolution. London, Routledge & Kegan Paul, 1965, Mhe Court and the County. London, Routledge, 1959. No mesmo sentido de ertioa ds explicagéos do fundaraontagtio marsista vide HEXTER. J HL - The Reign of King Pym. Cambridge, Cambridge Univessiy Press, 1981 % HILL, C. - The Listener, & de outubro de 1973. Apnd RICHARDSON, RC. = The Debate on the English Revolution, Londoa, Methyen, 1877, p. 136. 4 Tdow, ibidem. ® Cf. HOBSBAWM, Bric - “The General Crisis of the European Beonomy in the Yith Century”. Past and Present. A Jounal af Historical Sudies, 18 5 ¢ 6, ‘May-November, 1954, Num sentido contzitio, que envolve a presctipagio em desvincular 2 crise geral do século XVII do contesto de uma revolugao bburguesa, ver TREVOR-ROPER, H.R, - “The General Crisis of the 17th Century”. Past and Present. Journal of Historical Studies, »* 6, November, 1958: Amos os artigus se eicoatiam (cadazidos © inselidus ua coleténed Capitatisme Transigho. Theo Araujo SANTIAGO {org.). Rie de Janeiro, Blcorado, 1975 3 A Giese Revougko Bees, 16404780 estratificada a parti da posigao, deveres, honras e privilégios. Esta era de certa forma 2 declining gentry. Mas havia uma rising gentry, isto ¢, composta por individuos originarios da camada de pequenos Proprietarios ou posseiros livres, os yeomen que avangavam no sentido de libertar-se das remanecentes obrigagdes feudais, constituindo um gmupo de pequenos agricultores capitalistas ambiciosos, conscientes de que néo tinham reservas suficientes para correr grandes riscos, mas decididos a aproveitar todas as oportunidades para aumentar 08 seus Iucros"”, Mais secentemente. WALLERSTEIN retomou aques- to ‘0 termo gentry cobria um grupo de homens que tinham todos as mesmas relagSes com os meios de brodusdes: proprietarios de terra ndo arrendada pro- duzindo para o mercado, Trata-se de uma classe capi- talista emergente que foi recrutada a ‘partir de variadas categorias sociais” Era a nova nobreza “que recebia essencialmente sob a forma de renda da terra o que antes recebiam como direitos feudais™™" Pareco-nos, contudo, ser mais importante ver o surgimento da gentry n&o como forga econdmica ou Politica e sim como uma categoria social". Apesar de nao deterem diretamente as rédeas.do poder”, » A nostio de “deotining gent” ¢ “rising gentry” aparece em HILL, C. -"Rescat Interpretations of the Civil War”, in Purigansm and Revolution. New York, Sehocken Books, 1958, p. 8. Sobre a eamada ascendentc dos yeomen que {endem a identificar-se com a gentry, vide ZAGORIN, Perez -““The Social Interpretation ofthe English Revolution”. Journal of Economie History, vo UX, n°3, Seplember, 1959, p. 388, * WALLERSTEIN, Immanuel - The Modern World-System ~ Capitalist Agriculture and the Origins of the Exropecn World-Economy in the Sixteenth Century New York, Academic Press, 1974, p. 240, 2 HILL, C. = “Recent,."- Op cil, p 8 * Numeroscs estudos regionais enfatizam a preponderdncia politica loca! da gentry. CE SIMPSON, 4. - The Health of the Gentry 1519 1660. Canteoe, Combridge University Pras, 1961; EVERITT, A. = Tee Community of Kent and the Great Rebellion 1640-1660. Leicester, Leivesiey University Press, 1866. Domesimo autor, “Phe Country Commamity",in IVUS, EW. The Einglsih Say: Jon leas 6: AteRaos Arstoa € cla que no fundo conduz o proceso revolucionario ¢ que de sous resultados benéficos se apropria”, Segundo o proprio Lawrence: STONE, “a natureza revolucionaria da Revolugao Inglesa pode ser demonstrada em parte pelos seus feitos ¢, por outro lado, por suas palavras. Nao somente conse~ > guiu a execugdo de um Rei... como também a aboligzo da monarquia; nao se limitou a punir a uns tantos nobres € confiscar suas propriedades, mas também. aboliu-a- Gémara'dos Lords; fido somiente protester ‘contra os “desagradavsis curas” de Hobbes, os clérigos © os bispos, mas também bloqucou a Igreja oficial e se apoderou das propriedades do espiscopado: nao somente atacow aos funcionarios pouco populares, mas também aboliu todo um sistema de instituigdes administrativas e legais do governo de suma impor- téncia... Aqui houve um choque de ideais ¢ ideologias © © nascimento de conceitos radicais que afetaram todos os aspectos do comportamento humano e todas as instituigdes da sociedad, desde a familia atéa Igreja © o Estado™, ‘Nao poderia haver melhor resumo das transformagées essenciais Propercionadas pelavRevolucho lnglesa.-Portautto; Seu carter a Revolution 1690-1666. London, Uarper Torehbook, 1968, pp. 4863; The Local Community ond the Great Rebeltion, London, Histotieal Association, 1968, “0s exticos que consideram a Guerra Civil como uma revolugo burguesa sto cartes co afrmar que do coniito nfo resultou a tomada do poder pellico pr parte de burguesis. As classes superiores rurais mantiversm @ fine comando de politica.” MOORE JR., Barrington - ls Origens Soctats da Ditadura ¢ da Democracia. Senhores e Canponeses na Constragde do Mundo Moderno. Trai. pol, Lisboa, Edigdes Cosmos, 1967, p. 39. Para POULANTZAS, 2 Rovoloydo aglesa pemntiu o predominio franeo do modo capitalists de producto sobre os outtes modoe de produgio, ne formagdo Serial ingles, CL POULANTZAS; Nicas - Poder Politico y Chistes Sociales ‘ado Capitaista. Trad, esp. Miso, Siglo XXL, 1971, p. 218 Lavsrence - “La Revolucién Inglesa", in Revoluciones v Rebeliones ela Euvopa Mocerna Made, Aiaza Laiteral, 1973, 9.70 A Grn Rave Iain 16101780 Tevolugdo burguesa néo se evidencia apenas pelo fato de que uma classe agraria capitalista, associada a setores mercantis urbanos, ‘exercesse em tiltima insténcia 0 poder. Mas, ¢ sobretudo, pelo que la criou, isto é, condigses plenas para o avango das forgas produtivas capitalistes na Inglaterra, que cluminariam na Revolugdo Industrial, © que nos permitiria concluir que, ‘do ponto de vista do avango do processo capitalista de produgo, a Revolugao Inglesa merece datar o inicio da Bra das Revolugdes"*. “Impde-sé, aqui, uma comparago com a Revolugao Francesa, aquela que tradicionalmente foi considerada a Revolugdo burguesa mater por seu carter liberal e democratico™, mas na qual a burguesia somente conseguiu empolgar 0 poder apoiando-se “amplamente no pequeno campesinato ¢ na pequena burguesia, ¢, ocasionalmente, nos trabalhadores das manufaturas presentes, sobretudo, no sanculotismo parisiense”™”” Nesta perspectiva poder-se-ia dizer que se trata de uma revolugao burguesa fracassada, pois a burguesia detém a hegemonia dentro do Estado na dependéncia do campesinato e da pequena burguesia®® 0 Estado francés, entendido como Estado capitalista tipico, deve-se ais aos fracassos e decepedes do que aos éxitos politicos da burgue- sid’*. Nestes tertaos, “A transformagao capitalista da agricultura eda peque- na empresa, a condigo essencial para um rapido desenvolvimento econémico, foi reduzida a um ras- * ARRUDA, José Jobson de Andrade - “Forgas Socials © Conviegbes Rel. giosas no Processo Politico das Revolupoes Inglesas do Séeulo XVII". Comni- nicapio apresentada no 9° Simpésia da ANPUH, Niteréi, 1979, *CARRUDA, José Jobson de Andrede - “A Era das Revolugdes Burguesas: 0 Problema das Origens”, in Anais dio Atuseu Paulista, Tomo XXX, Sto Paulo, 980/981, p. 142, POULANTZAS, Nicos - Poder Politica v Classes Sociales en el Estado Capiialista: Imad. esp,, MEsign, Siglo NXi. 197i, p. 221 28 Ider, sbidem, p, 222, 26 Idem, idem, p. 225 6 Jos foes 22 Asses Asai tejo, ¢ com la a velocidade da urbanizagao, a expan- so do mercado interno, a multiplicago da classe trabalhadora ¢, consequentemente, do ulterior avan- g0 da revolugao prolctaria”, ‘Noutros termos, poder-se ia considerar que “a parte capitalista da economia francesa era uma: superestrtura erguida sobre a base imével do campe- sinato ¢ da pequena burguesia”®". “Sua especificidade -_\- dst iia gestagdo de uma revolugio popuiar que chiga’ a ultrapassar, no nivel da pratica politica, a classe hegeménica ~ a burguesia, Essa éa sua especificida- de: mas no Ihe permite erigir-se em modelo, pois a verdadeira revolugao burguesa ¢ aquela que ctia con- digdes para a implantagao do ‘capitatismo selvagem’, acelerando efetivamente o proceso revolucionario™”. Paradoxalmente, foi uma revolugdio de compromisso social en- ‘tre a nobreza e a burguesia, a Revolugdo Inglesa do século XVI, que climinou drasticamente 0 antigo modo de produg&o artesanal, suprimia as barreiras para o avango do cercameiito das terras e a complementagao da Revolugdo Agraria constituindo o tripé Banco da Inglaterra-Governador do Tesouro-Primeiro Ministro, respon- sével pelo assalio tos miercadus colonials ¢ rtundiais, realizado, do Ponto de vista da instalapao do capitalismo pleno, a verdadeira revolu- g&o burguesa da Europa®. 3.1.2 O conflito social no contexto revoluciondrio 0 exemplo inglés no campo das revolugses burguesas, que viabi- liza a suporagio do antigo modo de produgao e sua’substituigao pelo »° HOBSBAWM, Eric - A Bra das Revolugées, Trad. port, Rio de Jansive, Ba Pazevierre, 1977p. 88 * 3 Idem, ibidem, p. 197, 2 ARRUDA, José Jobson de Andrade “A 9 Idem, ibidem, p. 146, a.” = Op. cit, pp. 145-146. A Gas Revourio tsa 1610-1780 modo de produs&o capitalista, diferencia-se do exemplo francés exatamente pela independéncia do bloco do poder ém relagiio aos estratos populares, camponeses, artestios comerciantes, em suma a Pequena burguesia. Se a participagdo das camadas populares foi decisiva nos sucessos militares que envolveram a destnuigo da, Monarquia € do partido Realista, através de sua ativa participagao no New model Army ~ cuja forga principal era a cavalaria yeomanry-, também houve a eliminagao quase absoluta dos movimentos politicos mais radicais originariosda poquena burgvesia. O papel das camadas populares, stia atuagio, seus anseios, suas frustragées no contexto revolucionario ngo foram ainda suficientemente estudadas™, Especialmente a atuagao dos Levellers, Diggers, Ranters, etc."*. No obstante, podemos avangar algumas consideragées. Os Levellers representavam o grupo dos pequenos produtores’®, “Bra uma classe que possuia a propriedadee o orgulho de sua propria independéncia, mas era uma classe gue no tempo da Guerra Civil estava Intando para reservar sua independéncia em relago ao erescimento do capitalismo™”, Sobre programa politico dos Levellers, vide FIRTH, C. Hl @d) ~The Clake Papers. London, 1891; MACPHERSON, C.B. - The Political Theory of Possessing Lndiviciaion Hobbes to Leake, rfecd, 1962, GARDINER. 3. = Pirrtaniom and Revolution: Studies th the Interpretation of the E evolution ofthe Seventeenth Century. London, 1958, HILL, Ce “The Meme Headed Moser in Late Tudor and Keely Sivan Political Thinking”, in From the Renaissence tothe Counter Reformation, CARTER, CH, (ed), Londen, 10966, pp, 296-324; WOODHOUSE, A'SP- Puritanism and Liberds Loncom, 1951; WOLFE, DM. - Levellers Afamifestations of the Pures Revoluion New York, 1994; HALLER, W.-Litertyand Reformation. New York, Colusbia Univesity Press, 1955; ZAGORIN, Perez - History of Political Phought in ‘he English Revolution Loon, Routloige & Kegan, 1965 2 Uma das prineipais tentativas do aprofundamento deste tema disponivel, enconteaae etn HILL, C. = The Hori Tumed! Upside Down: Raion! dees During the English Revotution, Harmondsworth, Penguin Books, 1974 26.Cf HILL, C. « The English Reveltion [640, Landon: Lawrence ® Wiehat, 1955, p. 48; <2 = i ¥ MANNING, Brian - “The Loveies”, ia The English Revoluton 1600-1660 EW.IVES (ed) London, Hamer Torchbooks, 968, pis se “Yost lose we Anesaoe Ansioo Esta camada social depenidia da’ grande burguesia no plano eco- némico ¢ ideolégico, cstando no século XVII em franca mobilidade, pois enquanto alguns de seus estratos ascendiam rumo a gentry outros engrossavam a chusma dos trabathadores sem terra. Toda esta‘situag&o foi agravada pela Guerra Civil, o que explica o fato dos Levellers terem deixado de ser apenas 0 setor mais radical da burguesia, passando a ataca-la™*. Agrediam os ricos, condenavam sua arrogincia ¢ opressio em relagao aos pobres. Exigiam o retorno das doagées -assistenciais.e a devolucdo das terras.expropriadas. defendendo trabalho e salaries mais justos”, Os Levellers advogavam a criagdo de uma constituigéo que limitasse © poder do Parlamento™, Rejeitavam a Monarquia-Mista na qual o poder da Camara dos Comuns era limitada pelo Rei e pelos Lords Nao pretendiam poder absoluto, mas a retrigdo do poder constituido pela soberania popular’. Pensavam na divisdo extrema do poder, de tal sorte que esta atomizagio pudesse evitar abusos dos seus de- tentores. Por isso mesmo foram acoimados de um certo vezo anarquista. Os Levellers diziam-se representantes dos homens pobres, dos Pequenos comerciantes ¢ dos trabalhadores. Sob sua influéncia formou- se 0 Conselho do Exército, constituido por oficiais soldades eleitos pelo regimento. Numa reunido em Putney, em 1647, adotou-se o Agreement.of the people..que.continba basicamente 0 programa dos Levellers‘: desejavam completa liberdade de comércio para os 2% CETILL, C. - The English. Op. sit pp 29 MANNING, Brian -Op. cit p. 154 “© “The Leveller party had its origins in the dismay of parlisment’s radical supporters in the Civil War at the azbtrary proceedings of the House of Commons in imprisioning people without ‘rial and in refasing (0 receive pelitioas; and at the way in which mentbers of parliament used their positions to enrich themselves at the expense of the public’. MANNING, Brian - Op. sit, p47, 4 Idem, ibidem, p. 147 © 0 programa na integra se encontra em HALLER, W. e DAVIES, G. - The Leveller Tracts, New York, 1944,pp. 195-155, Um resume do mesmo aparece ‘em MARX, Roland - L,ngleterre des Révoturion. Paris, Armand Colin, 1971 pp. 202-204, Sobre as diverpéncias entre os Levellers e, prineipalments, d ‘posicto dos setores mais moderados ao programma, vide BREWSTER, David 1 A Grows Revoww2ko owes, 164041780, pequenos produtores; liberdade de comércio para os grandes comerciantes em relagdo aos monopolizadores; desestabilizagao da Igreja; aboligéo dos titulos; reforma da lei dos débitos e garantia para as pequenas propriedades; instituigao do regime republicano ¢ do‘sufrigio uni- versal masculino. Como se vé, programa extremamente avangado para os meados do século XVII. Seu ideal era uma Utopia de pequenos produtores no plano econdmico e uma democracia pequeno-burguesa no aspecto politico”. - Concrotamente; os Levellers foram.um instrumento-decisivo-na persuasio do exército a abolir a Monazquia; a Camara dos Lords ¢ implantago do regime republicano, a Commonwealth. Mas, 0s lideres do exército rosistiram em atacar os privilégios dos ricos. Depois da sua tentativa frustrada de assumir o controle do exéreito e da tomada de Londres, foram dizimados em Burford, em 1649. A instauragao do regime de Cromwell visava garantir a supremacia da gentry ¢ dos comerciantes®* O movimento dos Levellers tivera o condo de promover a agitagao social, disparando ages mais radicais. Os Diggers, que se consideravam. os True Levellers, basicamente compostos por antigos proprietarios ou posseiros sem terra, trausformados agora num verdadeiro proletariado tural, desejavam 0 apossamento das terras pertencentes 4 Monarquia, Seu lider, Gerard WINSTANLEY® estimulou a fomagiode comunidades Diggers’ que despontaram em varias localidades"®, Mas foi na localidade de St. Gearge Hill, em Surrey, que tomaram a iniciativa de apossar- se da terra, Neste momento, a comunidade nao se apresentava cocsa em suas posigSes, & medida que tinha sido conspurcada nos seus E, & HOWELL IR,, Roger - “Reconsidering the Levellers: the Evidence of the Moderate”, Past & Present, Number 46, Feoruary, 1970, pp. 49 HILL, C.-Op. eit, p. 51 *" Sobre Oliver CROMWELL ver HILL, C. - God t Englishman Oliver Crommvell and the English Revolution. London, [lerper Tozehbook, 1970. ‘ WINSTANLEY, Gerrard - The Law of Feedon and Other Writtings. HILL, C. {@d). London, Penguin Books, sd “6 Cf. HILL, C.- The World Turned Upside Down, Radical Ideas During the English Revolution. London, Penguin Books, 1974, p. 124 © seas oo ideais e objetivos pelajpresénga de outras dissidéncias sociais ¢ religiosas’”. ‘A resisténcia pacifica pregada por seus lideres nao foi suficiente para preserva-los da ago armada do exército, chamado pelos proprie~ ‘tarios locais para dizinia-los, em 1651. Estava liquidado o movimento mais democratic produzido pela Revolugao Inglesa. Mas também estava consolidada a hegemonia burguesa ¢ aberto 0 caminho para a preponderancia do modo de produgdo capitalista. O processo de desapropriagio das terras que ento se seguiria quase no encon- ‘trou -oponentes ‘acelerando-se,-destarte, ‘0: proceso. de- acumulagao.~ primitiva via renda da terra, rumo a Revolugdo Industrial”, Nesse sentido, importantes medidas foram adotadas pela burguesia inglesa, com vistas 4 consolidagéio do seu universo social: conquista da Irlanda ¢ conseqiente expropriagio de camponeses ¢ proprietarios conquista da Bseécia, necessaria para impedir a restauragdo da velha ordem e abertura de mercados para os comerciantes ingleses; institui- ‘do dos Atos de Navegagio com vistas a combater a hegemonia holandesa no comércio maritimo; fortalecimento da marinha de guer- ra ¢ das operagées militares, resultando na conquista da Jamaica ¢ Dunquerque; aboli¢&o dos direitos feudais, que consagrava a proprie- dade privada ¢ deixava os pequenos posseiros, os copyholders, a mercé dos cercamentos das terras; confisco, desarmamento ¢ taxagao da aristocracia a ponte de-arruiné-la; confisco das terrasda Igreite.. da Coroa ¢ do partidarios do Rei”. ‘A intensidade de uma Revolugdo mede-se tanto pelo que supera ‘quanto pelo que cria. Mostramos atras que a Revolugiio havia pratica- ‘We should bear in mind the whole mobile intinerant population, evict cotagers, whether peasants or craftsmen, slowly greviting to the big cities and there finding themselves outsiders, Sometimes forming temselves into religious groups which rapidly became more and more radical”, ©. Gerrard Wisataley appears to have had some trouble in this Digger colonoy with Ranters who joined the comunity and ‘caused soandal”. They attached too ‘much importance to ‘meat, drink, plesure and women’. HILL, C. = Op. eit, respestivamente, pp. 203 e 229. i 48 Cf POULANTZAS, Nicos = Poder Politico y Classes Soctales.en ef Estado Copitalista, Trad. esp., México, Siglo XXL, 1971, p. 213. “EHILL, C. = The #glish Revolution 1640, London, Lawrence & Wishart, 1958, pp. 53-54 ot A Grama Revue Inasss, 1640-1789 mente arrasado o aparelho do Estado legado pelos Stuarts: veremos agora que medidas importantissimas foram tomadas no sentido de impulsionar 0 progresso econémico, via expansio territorial e maritima. Efetivamente, s¢ o Estado eriado pela Revolugdo guardava ainda ‘esquicios da antiga estratura de poder, estes io passaivam de semelhan, gas formais™, Tratava-se de um novo Estado, pega essencial para a compreensio das transformag®es mais profundas que entlo se segui. "am, no sentido do aceleramento do processo de acumulagao, 345 A supremacia burguesa nos dominios do poder Deuma forma geral, o papel do Estado no proceso de industrializagio & pouco conkecido. © problema toma-se ainda mais complexo, Guando pensado no quadro do Antigo Regime. Dai a incerteza que Perpassa 0 texto de muitos historiadores quando tentam estabelecer lima relago entre o Estado ¢ a mudanga institucional necessAria ao desenvolvimento econsinico™. Por outro lado, insiste-se na importancia cstratégica do Estado na aceieragaio do erescimento econdmico. Nesta. Perspectiva, ¢ 0 sistema industrial que dé ao Estado uma importancia crucial na sua politica de encorajamento econémico” Aiguns estudos realizados mais recentemente sobre o papel do EstadS nit vida écondmica da época moderna tém sugerido algumas pistas. Douglas NORTH ¢ Robert Paul THOMAS procuram explicar os diferentes estagios de crescimento econémico em varias partes %* “Postesiormente, ol prodominio en el Estado dal tipo Foulal persisitré aun ‘erpuss de haber Hegnd> Ia burguesia al pedcrpoltce, ejemplo oorcunen pone s Cesaiuste entte los estruturas de Estado y el poder del Eewian POULANTZAS, Nicos -Op, cit, p 217, * CE EOHLEN, Claude - Ow est-ce que la Révotutionindtstrele? Pars, Robert Lafont, 197%, p. 167 © CE NORTH Douglas C. & Thomas, Robe Growth of the Wester World”, Sores, Vol. XU Apait, 1970, p. 1 ® KUZNETS, Simon - ~The State as @ Unit in the Study of Leonomsie Growth” in The Jenrnal of Heonomie History. Xt, 1951, pp. 28-29 Paul -“An Economie Theory ofthe ‘it The Economie History: Revievy- Seood da Europa pelas diferencas nos direitos de propriedide que o Estado protege. Assim, haveria creseimento econémico quando o Estado protegesse direitos de propriedade que davam aos homens incenti~ os para as-atividades produtivas, Inversdmente, se 0 Estado desse proteydo a direitos de propriedade que incentivassem o declinio da produgio total da economia, evidentemente contribuiria para impe- dir 0 crescimento econémico™, Contrariamente, Frederic C. LANE, enfatiza 0 papel do Estado como empresa que produz prote¢io, © que Ihe permite eievar nominalmente-os custos da proteso,alcangan- do uma receita tributiria mais consideravel. 0 Estado, nestes termos, é tipico do absolutismo, acabando por se constituir, seguado 0 autor, num Estado perdulario, De qualquer forma, deve-se considerar também que o Estado amplia o mercado de trabalho, pois tem a necessidade de compor os aparelhos de dominagio®, As Revolugées Inglesas deram ao Estado maior reprosentatividade, 0 qu rmitiu cumprir a sua missao, ears conseguir © triunfo completo do capitalismo na Gri-Bretanha, com uma combinagio de protesonisto rigido e guerras econdmicas agressivas™ Sua politica econdmica segue sendo, na maior parte, moldada nos principios do mercantilismo”. Mas tem um sentido diferente. Rasta observar o.conjunto das medidas tomaas..para ver que-no = The Rise af Western World: ‘Seoul ear aayec sats en Setar ecenre al Ciacnemey ae cree *HORBAWN Eee Bromo mion ce eit Id mais obedecem rigidamente as suas determinagdes, Inicia‘sé uma fase de desenvolvimento industrial “deliberadamente eneorajado pelo Parlamento™® A produeao substitui o consumo como principal preacupagaio do Estado”, Libera-se a exportagio de tecidos apés 1689, cuja taxagio alfandegaria passa a ser isenta a partir de 1700. Proibe-se a importa- Sto de tecidos leves de algodio que concorriam com a produgdo in. glesa. Estimula-se a exportagdo de cereais™. Sao baixadas leis que proibem a produgio industrial nas colénias, com vistas a proteger a * Indiistria metropolitama. Nas regides mais pobres a piodhigao'é eimulads Para atender a exportagao. A tradicionat inckistria da id recebe protesao. © comércio maritimo expande-se com 0 estimulo A construggo naval © 5 leis de protego ao comércio inglés, que visavam enfraquecer os holandeses em primeiro lugar‘. No setor agricola séo retirados 6s tltimos obstaculos ao cercamento das terras, abrindo espago para © investimento de capitais na agricnltura e conseqiente ‘modernizagio técnica, Eleva-se o poder do’ Estado com a ampliagao da sua capacidade tributaria. A politica econdmica é sistematizada e a fundagao do Banco da Inglaterra permite a. administragao da divide interna”. As guerras comerciais permitom a consolidagdo do Império. Segundo Richard TAWNEY, a mentalidade softeu profundas transformagces Reformulando a famosa tese de Max WEBER“, chama tengo para ‘o-conservadsrismno inicial da religigo'reforniada iii Inglaterta; que ~ Se Math ond 17th Centuries. M. POSTAN (ed). Cabridge, Canibadge University Pross, 1967, p. 516. HILL, C. - The Century of Revolution 1603-1714. new York, The Norton Library, 1961, p. 267, ONES, [Deane -La Revolucion nglesa, Trad. esp. Buenos Aires, Siglo XXI, (968,p. 401 £° HILL, C.-Op. eit, p, 269. “ MATHIAS, Peter - The First Industrial Nation, An Economie History of Britain 1706-1914, London, Methuen, 1972, pp. 82-84-86, ©2 JONES, I. Deane Op. cit, p. 385, of dem, ibidem, 9. 385, se - “ACE WEBER, Max « 4'Ziea Protestantee 0 Espirito do Coptalism “had Bort, Sao Paulo, Editora Poneite 16, + dose Fomor ne Arona Arson somente apés o relacicnaiento entre o puritanismo e a sociedade, tornou compativel a disciplina divina com a religiao do comércio™ cardter repressivo do. Estado revelava-se mais presente Uma analise sistematica do Estado no: contexto da Revolugdo Industrial ¢intentada por Barry SUPPLE, Ele assume uma definigao de Estado que leva em consideragdo o seu carater quase absolato, mas considera-o também como parte da sociedade, refietindo for- gas sociais particulares e representando grupos especificos de classes sociais. Evidentemente, o Estado pode ter certa parcela de artibrarie- dade, mas nao pode agir inteitamente’ independents das condicées Jocalizadas no interior'da sociedade. Nestes termos, apesar de o Es- tado moldar a sociedade em alguns aspectos, ¢ muito mais corrcto. ‘entendé-lo como o arranjo instituicional, utilizado por um grupo dentro da sociedade, para exercer a dominagio politica’ Assim, entendendo 0 Estado como um comité de classe oufragéo de classe explica a Revolugio Industrial na Inglaterra a partir do mercado, considerando, porém, que as caracteristicas intrinsecas do mercado, que diferenciavam a realidade inglesa do restante da Europa, eram em larga medida fungdo do Estado. “Assim, toda evoluedo do govemno, desde a Guerra Civil do século XVI, resuitou num elevado grau de estabilidade politica ¢ harmonia social”, “© CE -TAWNEY, RIL A Religido ¢ 0 Singinento do Capitalismo, Trad. port Sto Paulo, Puitora Perspeciva, 1971. Para um selacionemento denso entre a tica capitalista © a sociedade, vide TILL, C.-Soctery & Puritanism in Pré- + Revolutionary England. New York, Schocken Books, 1967 6 “ICs a state promoting the capitalist economic process rather thea the welfare ofthe wrkng cs ht has eneand br. Te te of hse imartcg in the class struggle generated by early industrial capitalism was changin RICHARDS, Paste Hendon Wenes" Past & Posen ac 83h, 1979,p. 115, ae © Cf SUPPLE, Bary “he tate andthe nds Revolton’, in The Fontana Economie History of Enrope, Val, 3. The ddustral Revolution, Calo 3 CIPOLLA (64); Glasgow, FontenaCeltins, 1973,” & idem, fbidem, p. 306, © Idem, ibider, p. 315. A Guus Revouupto Bess, 1690-1780 singe ints mais, a classe governante, preponderantemente agria patizava e, até mesmo representava, os interesses financeisoe g sitio pensé-lo teoricamente, ou soja, como ua ‘ondensagao material ('Bstado-apareiho) de uma relasdo de foreas entre classes © Fagdes de classe, fal como se exprimem, sempre de mod especifice (eparagio relativa do Estado e da economis dando lugar as instituigées proprias do Estado capitaista) il no proprio seio do Estado”! ef deus teers, © Esto €fato de uma condensaglo materia : a relagdo de classe. Nao h a Horidade entre Estaéo economia, Po" TaHlo de exte Esta separagio, que atravessa toda a histérin do capitalismo e que nfo impede de modo algum, jé na fase do pré-monopolisme, que © papel constietive eee EEE Zhis.was; in fact, mevedrilisn fa diltienl samt aevoation In eee Tea vt nereaiin Se dition sort avigaon baw ck Inerate acre paral wade for Britsh and clonal bunece det ged colonial expores to come fst Retaon aed poms to bass through Britain, and vwich supolted te ae ant to aes he mean: Wars which sere uedety mass ee Tr isa Pts Stel psn an ea I ye tine and shipitis enjoyed a worldwide dominance if hate ‘and manufacturers had p large markets in Asia end Amer, a ad privileged access t sda Y rae marks in Asia and America, we Nas @ major entrepét for Europe, and if, es scene Men ee, evelopaens ere chica samponose = then the slate did play an important a Industrial Revolution”, a 31 * POULANTZAS, Nicos - G4 1977,p. 22, a her readiness for indisaisaton 1 t albeit indirect, role in the pio a SUPLLE, Bany «The Site.” Op. cit oe Estado em Crise. trad, por, Rio de Janeiro, Greal, 66 do Estado'nas relagdes de produgao capitalistas, no sseja seniio a formia precisa que reveste, no capitalismo, a presenga especifica ¢ constitutiva do Estado nas ‘telagdes de produgao e, assim, em sua reprodugao””. Nestes termos, o Estado nao é entendido apenas como o repres: tante dos interesses de uma classe. Ele tem seu espaco proprio, inscrito nas relagées de classe 0 Estado nio se modifica apenas com a transformagao do modo de produgio capitalista. Modifica-se também gm func dos.diferentes.. estigios ou fases que o proprio capitalismo vai assumindo, E incorreto pensar que © Estado liberal ndo tenha comprometimento com a ‘economia’ “Mesmo na época do liberalism econémico, propa- gado pela escola clissica da economia politica, e do principio sactossanto do faisser faire, o engajamen- to do Estado em matéria econémica nunca cessou de funcionar. A ago do Estado, mesmo dissimula~ da, se manifestava com uma importancia cada vez maior” O problema que subjaz as configuragées peculiares que 0 Estado asssume é a relagdo de classe. O delineamento de tal imbricagdo bastante complexe. Vajarse 0 exemplo do Estado absalutista: gonsidera- do por uns, como 0 resultado de um equilibrio de classes”; por outros, como a expressiio do interesse geral pubblico” ¢ por terceiros, como uma expresso reformulada da nobreza ameagada pelos movi- ado em Crise. Trad, port, Rio de Janeiro, Graal, ? POULANTZAS, Nicos - O. 19TIpp. 1G-1T 3 CEPOULANTZAS, Nicos - Estado, Poder y Socialismo. Trad, esp., Buenos Aires, Siglo XX1, 1979, p. 14. + YUCO, Nikoin = “Lintervention de But e le Changement de Stmcture du Capitalism in Fourth International Conference of Beonomie History. Bloomigton, 1968, 177, % CRENGELS, Fisch -l Onige da Familia, da Propriedede Private 0 Estat, Trad port, Rio Ge Teneto, Eira] Vitoria, 8 % POULANTZAS, Kieos « Poder Politico y Classes Sociales en ef Estalo Capitalist. Ton. cap, Mésico, Siglo XXK, 1971, p. 208 mentos camporieses”, equagdio esta que ter denodados dei © provocado intensos debates”. Veja-se, pois, que a definigao da estrutura social da época mo derna & condigo fundamental para o equacionamento do problema, Para Roland MOUSNIER, trata-se de uma sociedade de ordens®. Para Ernest LABROUSSE ¢ uma sociedade de classes". Pensamos que ao invés de centrar o debate nas classes ou ordens, na burguc- sia ou na nobreza, surtiria melhor resultado abandonar o pressupos- to da. polarizacdo.social presente nestes: debates" que ‘represeita: evidentemeate, a transposig&o para 0 Antigo Regime dé umia estrati- ficagdo social tipica do capitalismo pleno. Nao seria mais proficuo pensar em termos de segmentagdo social e das inameras possibi- lidades que se apresentavam ao Estado Absolutista no manejo das forgas sociais em conflito? A importancia de tais consideragdes prende-se & necessidade deespecificar a relagao de classe inscrita no Estado saido das Revolgies. Inglesas, “Se a Revolugdo de 1640 colocou as bases do predo- minio politico da burguesia, sem divvida nao the den o poder politico. O dominio econdmico da burguesia... aero ce ene eC eee ” ANDERSON, Peny - Lineages of the ABsoliist Steve London, Verso Edition 1973, pp. 1839. % CE ALTHUSSER, Louis -Aontesquiew, le Politique et Histoire, Pris, 1969, ply » Ura debate envolvendo R. MOUSNIER - “Les Mouvernents Populares et la Societe Frangsise du XVI Sila”, Revue de Travaux de Ieademie des Sciences Morales et Politiques, 1962, © LUBLINSKAYA, AD. - French absolutism: the Crucial Phase’ 1626-1629, Cambridge, 1968, aparece em PARKER, David - “The Social Foundation of French Abyolutism 1610-1630" Pasi & Present, 53, November, 1971. pp. 689 8° CE MOUSNIER, R.* Les Hierarchies Sociales de 1450 4 nos jours, Pati, BUF, 1869. © Cf LABROUSSE - “Voies nouvelles vers une histoire de la bourgeoisie cecidentale au XIlle et XIXe Sidele (1700-1850)", in Decimno Consees Internacionale di ScienzesStoriche, 1955. Para wea debate calie LABROUSSE Roland MOUSNIER, vide HistériaSocial-Profemas, Fontes ¢ Métodes. Coléquo da Uscola Nammel Superior de Saint-Clond, 1965, Trad Pott, Lisboa, Editors Cosmos, 1967, pp. 45-52, se-desencalous 1780b 0 dominio politico da- nobreza proprietiria... Depois, ... a burguesia... chega, a0 poder Sob a hegemonia da nobreza e, posteriormente, depois do Reform Act de 1832, chega & hegemonia do bloco do poder”. Por outro lado, o Parlamento “concentra por exceléncia o poder da frag hegemd- nica do bloco no poder, porque ele consegue igual- -““atiénte;'¢ 20 mésitio tempo, coxcentrar em si o papel politico-idedléyico do Estado com relagdo As classes dominadas”™* Estado-nagao que nasce das Revolugdes Inglesas eviden- cia a dinémica do poder de classe em dois niveis fundamentais, am- bos promotores da acumulago capitalista. Referimo-nos 8 transfor- magdo da estrutura agréria ¢ a conquista do mercado mundial, em cuja andlise esperamos surpreender a articulago acima delineada. 3.2 As transformag6es na estrutura agraria 3.21 A legislacdo agréria da Revolugdo E exatamente no nivel das transformagSes ocorridas na estrutu- ra agraria que se pode penetrar no 4mago das questées sécio-politi- cas geradas pela Revolugdo, cujas transformages no governo destrui- ram as prerrogativas da Corte ¢ estabeleceram a soberania do Parla- mento. O antigo Conselho Privado ndo tinha mais 0 controle efetivo dos governos locais. O Parlamento conduzia a politica fiscal ¢ as decisées politicas om iltima instancia™’. A forea social do Parlamento = POULANTZAS, Nieos - Poder Police y Clases Sociales on el Estado Capitalist, Trad. exp, México, Siglo XXL, 1971. p 216. : 8 BOULANTZAS, Mest -O Biiao enfCrse, Trad por, Ris nate Git, 1977.97 * Cf WiLL, C. - Reformation to Industrial Revolutfon. Vol. 2. The Pelican Economie History of Brita. armorawottn, Penge Books, 1973, p13

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