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Cenários futuros e projeções populacionais

para pequenas áreas:método e aplicação


para distritos paulistanos 2000-2010

Paulo de Martino Jannuzzi*

As projeções populacionais para pequenas áreas, como municípios, distritos,


bairros e unidades territoriais de planejamento, vêm sendo cada vez mais
demandadas em projetos e atividades nos setores público e privado. A elaboração
e o acompanhamento de Planos Diretores Urbanos e Planos Plurianuais de
Investimento, a avaliação de impacto de grandes projetos urbanos e a alocação
de recursos em processos de planejamento participativo são algumas das
atividades que vêm sendo executadas em bases tecnicamente mais aprimoradas
no país, requerendo estimativas e projeções populacionais para os municípios
e suas subdivisões. Assim, este trabalho apresenta uma metodologia de projeção
demográfica para pequenas áreas, como bairros, distritos ou sub-regiões de
municípios, passível de aplicação no país, tendo em vista as limitações e
confiabilidade da informação disponível na escala municipal. Apresenta-se
inicialmente o modelo quantitativo, aqui denominado ProjPeq, que permite a
especificação de parâmetros relacionados ao crescimento vegetativo e
atratividade residencial de cada pequena área. Discute-se em seguida a
importância da incorporação do conhecimento e opinião de técnicos e
especialistas para especificação de hipóteses sobre o crescimento urbano-
regional em cenários prospectivos. Ilustra-se a metodologia com uma aplicação
realizada para projeção populacional para distritos da cidade de São Paulo,
comparando os resultados com aqueles produzidos por outros métodos.

Palavras-chave: Projeção demográfica. Pequenas áreas. Cenários futuros.

Introdução

As projeções populacionais para A elaboração e o acompanhamento de


pequenas áreas como municípios, distritos, Planos Diretores Urbanos e Planos
bairros e unidades territoriais de Plurianuais de Investimento, a avaliação de
planejamento são cada vez mais de- impacto de grandes projetos urbanos e a
mandadas em projetos e atividades nos alocação de recursos em processos de
setores público e privado. Prefeituras, planejamento participativo são algumas das
concessionárias de serviços de energia, atividades que vêm sendo executadas em
água, saneamento e telefonia, empresas de bases tecnicamente mais aprimoradas no
transportes urbanos, consultorias em país, exigindo estimativas e projeções
planejamento urbano e regional, univer- populacionais para os municípios e suas
sidades e empresas do ramo imobiliário e subdivisões. Em grandes centros urbanos,
construção civil vêm requerendo esse tipo a definição sobre volume e espacialização
de informação mais específica no dos investimentos em infra-estrutura de
planejamento e monitoramento de suas serviços urbanos – como expansão das
atividades. redes de abastecimento de água e esgotos,

* Professor do Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE.
Assessor técnico da Diretoria Executiva da Fundação Seade.

R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 24, n. 1, p. 109-136, jan./jun. 2007


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de energia elétrica e pavimentação –, a e de saúde, especificados com detalhamento


decisão sobre localização de novas escolas geográfico cada vez maior, exigem-se
e postos de saúde e o planejamento da oferta denominadores populacionais estimados de
e roteiro das linhas de ônibus e dos serviços forma consistente, a fim de que os
de coleta de lixo são tarefas do planeja- indicadores de monitoramento construídos
mento e gestão urbana que necessitam de sejam, de fato, medidas úteis.
conhecimento circunstanciado da dinâmica A formação mais extensiva de técnicos
de crescimento (ou decrescimento) das com capacitação em Demografia, o avanço
distintas zonas, bairros e distritos dos tecnológico, o barateamento relativo do
municípios. hardware e software, o surgimento de
A experiência histórica dos grandes pacotes com procedimentos para tratar
centros urbanos no país mostra que projetos dados e métodos demográficos em
como a implantação de uma nova linha de microcomputador, a disponibilização
Metrô, a instalação de um novo shopping crescente, pelas agências estatísticas, de
center e a construção de uma nova avenida microdados de Censos Demográficos e
ou túnel certamente deveriam ser outras pesquisas também constituem
precedidos por análises consistentes fatores potencializadores para o cresci-
acerca do impacto demográfico decorrente mento da demanda por projeções para
dos mesmos, seja na área mais diretamente pequenas áreas, em função da resolução
afetada, seja nos arredores e regiões mais bem-sucedida e mais ágil de problemas
afastadas, tendo em vista o efeito em cascata metodológicos típicos da estimação de
verificado no preço dos terrenos, aluguéis, população pertencente a espaços
verticalização, avanço do comércio que se geográficos mais restritos. Esses mesmos
processa antes, durante e após o projeto fatores também têm impulsionado o
urbano. desenvolvimento de projetos específicos
Além disso, projeções populacionais voltados para a oferta de outros insumos
para domínios inframunicipais vêm sendo informacionais para o planejamento, como
cada vez mais requeridas para permitir o as projeções de domicílios, de força de
monitoramento e a avaliação de programas trabalho, etc. (ARRIAGA, 2001).
sociais, já que constituem o denominador de Este trabalho insere-se neste esforço
vários indicadores sociais periodicamente técnico-científico, apresentando uma
construídos. Para que se possa avaliar a metodologia de projeção demográfica para
efetividade do investimento na oferta de pequenas áreas, como bairros, distritos ou
ensino pré-escolar em um município ou se sub-regiões de municípios, passível de
dispor dos indicadores preconizados pelo aplicação no país, tendo em vista as
Fundo de Desenvolvimento da Educação limitações e confiabilidade da informação
Básica, é necessário obter estimativas disponível na escala municipal. Apresenta-
populacionais consistentes para as faixas se, inicialmente, o modelo quantitativo, aqui
de 4 a 6 e de 7 a 14 anos, nas diversas denominado ProjPeq, que permite a
regiões e áreas de atendimento potencial especificação de parâmetros relacionados
das escolas. Para que uma Secretaria ao crescimento vegetativo e à atratividade
Municipal de Saúde possa avaliar a residencial de cada pequena área. Discute-
cobertura de campanhas de vacinação, são se, em seguida, a importância da incor-
necessárias estimativas de crianças de 0 a poração do conhecimento e opinião de
2 ou de 0 a 4 anos, dependendo do tipo de técnicos e especialistas para especificação
vacina, para as diversas áreas de influência de hipóteses sobre o crescimento urbano-
e circunscrição dos postos e equipamentos regional em cenários prospectivos. Ilustra-
de saúde. No caso do município de São se a metodologia com uma aplicação
Paulo, são cerca de 400 áreas de realizada para projeção populacional para
monitoramento e vigilância de Saúde distritos da Cidade de São Paulo,
Pública. Enfim, com a melhoria da qualidade comparando os resultados com aqueles
e a informatização dos registros escolares produzidos por outros métodos.

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A metodologia de projeção para existência de cultura administrativa e


pequenas áreas: o modelo ProjPeq planejamento mais avançados, fatores
ainda limitantes para a maioria de
As técnicas clássicas para projeções municípios no Brasil.
populacionais para pequenas áreas O modelo aqui proposto procura
compreendem, em geral, modelos de oferecer uma alternativa metodológica que
extrapolação de uma função matemática de prescinde de investimentos ou esforços
dados populacionais passados, de técnicos muito vultosos na produção de
repartição de acréscimos populacionais de projeções de totais populacionais para
uma área maior ou de emprego de um pequenas áreas, sendo possivelmente
modelo estatístico de regressão baseado viável de implementação em vários
em séries históricas de uma determinada municípios médios e grandes no país. Em
variável, supostamente correlacionada ao termos de disponibilidade de dados, o
crescimento populacional (JARDIM, 2001; modelo requer informações históricas sobre
WALDVOGEL, 1998; SANTOS, 1989). Não nascimentos e óbitos em domínios
são, na realidade, na terminologia proposta inframunicipais – algo que vem se
por Smith et al. (2001), métodos de projeção estruturando em vários municípios como
demográfica, mas sim de estimação necessidade de acompanhamento da
demográfica. Atenção Básica à Saúde e Vigilância
Entre as variáveis sintomáticas mais Sanitária (e, naturalmente, como con-
citadas nestas aplicações de estimação trapartida dos repasses do Sistema Único
populacional de pequenas áreas, estão as de Saúde) – e indicadores de “atratividade
estatísticas de nascimentos, óbitos, registros residencial” de bairros e regiões, como
médicos e de atendimento hospitalar, custos de moradia, disponibilidade de
registros de construção e demolição de terrenos e índices de verticalização –
imóveis das prefeituras, matrículas esco- parâmetros da morfologia urbana que vêm
lares e outros dados administrativos de sendo compilados nas experiências de
escolas, licenças de automóveis, infor- elaboração de Planos Diretores e
mações sobre recolhimento de impostos, Orçamentos Participativos em algumas
ligações residenciais de eletricidade e outros cidades no país.
serviços de infra-estrutura. Estes dados estruturados – espe-
Técnicas mais modernas de estimação cificados para cada pequena área de
populacional de pequenas áreas envolvem interesse ou unidade territorial básica de
o uso de modelos geoestatísticos que planejamento – fornecem as bases para
combinam informações de cadastros informar os parâmetros do modelo
imobiliários, por exemplo, com o emprego quantitativo adotado, que corresponde a um
de imagens de satélites ou fotografias sistema de equações diferenciais usado em
aéreas periódicas da ocupação territorial dinâmica populacional de espécies
do espaço urbano, como o sistema competitivas em Ecologia, um caso
apresentado por Bell (1997) na Austrália. específico do modelo mais geral proposto
No Brasil, há algumas experiências neste por Lotka (1988), em seu estudo seminal
sentido, de uso mais analítico do sobre Teoria Analítica sobre Populações.
geoprocessamento na gestão municipal Em seu modelo geral, empregado em
(SABOYA, 2000), mas ainda são raras as diversas aplicações em Ecologia Humana
aplicações mais sofisticadas, como a – da Dinâmica Populacional à Dinâmica de
apresentada por Kempel (2003), no Balanço Energético na Terra (SMITH;
acompanhamento da expansão urbana na ROSSERT, 1998) –, o aumento de cada
Amazônia através de imagens de satélites. espécie depende da sua taxa de
Naturalmente, isso se deve não apenas à crescimento vegetativo (nascimentos
necessidade de investimentos elevados menos óbitos) e da forma de interação com
para criação e manutenção da base de as demais espécies existentes (compe-
dados georreferenciados, mas também à tição, predação ou parasitismo), forma essa

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QUADRO 1
Sistema de equações diferenciais da dinâmica populacional

que pode potencializar o ritmo de censitárias da população de municípios


crescimento ou mesmo extinção de uma fluminenses.
dada espécie. A resolução recursiva do sistema
No caso específico aqui estudado, de requer, como um dos insumos, a trajetória
adaptação do modelo geral de Lotka para dos níveis de natalidade e mortalidade em
representar a dinâmica demográfica de cada pequena área no horizonte de
populações inseridas em pequenas áreas, projeção. A disponibilidade de séries
os habitantes dessas localidades (bairros históricas de razoável extensão desses
ou distritos, por exemplo) representam as indicadores é uma exigência para garantir
“espécies” e a região (município ou grande qualidade preditiva do modelo. A solução
área) corresponde ao habitat, com seus por algoritmo recursivo requer também um
recursos limitados de espaço físico, imóveis, valor inicial para os coeficientes de
vias públicas, empregos, etc. (Quadro 1). atratividade residencial, que podem ser
Assim, a taxa de crescimento populacional estimados a partir do comportamento
de cada bairro ou distrito dependerá da sua demográfico na década anterior e da
respectiva taxa de crescimento vegetativo relação dos mesmos com os fatores físico-
(uma função do coeficiente ci(t)) e de seu territoriais mencionados. Outro parâmetro
grau de atratividade migratória ou necessário para resolução do sistema de
residencial (uma função do coeficiente di(t)). equações diferenciais é a projeção
Naturalmente, esta adaptação do modelo demográfica, no período de interesse, da
geral de Lotka deve ser entendida dentro grande região que congrega as pequenas
das limitações pragmáticas do objeto aqui áreas, elaborada idealmente através do
discutido, de computação de totais método das componentes ou alguma
populacionais futuros, sem discriminação combinação desse método e razão de
por sexo ou idade. coortes (SMITH et al., 2001; SHORTER et
A solução do sistema dinâmico de al., 1995). Assim, podem ser introduzidas
equações apresentado anteriormente pode nas projeções das pequenas áreas – de
ser implementada através de técnicas forma indireta – as perspectivas futuras
recursivas (Quadro 2), como mostrado por idealizadas das três componentes demo-
Szwarcwald e Castilho (1989), 1 que a gráficas para a grande região, contrapondo-
aplicaram para calcular estimativas inter- as às tendências extrapolativas do passado

1
No âmbito do já referido projeto de pesquisa (CNPq Proc. 305071/02-5), a solução recursiva foi implementada em rotinas
computacionais escritas para o pacote Matlab 6.5.

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QUADRO 2
Solução recursiva do sistema de equações diferenciais

recente que, em geral, orientam a definição intra-urbanos, preços do aluguel, custo dos
dos parâmetros ci(t) e di(t) do modelo. terrenos e moradias, proximidade de locais
A integração do modelo ProjPeq com o de maior oferta de empregos, poluição,
das componentes pode ter um elemento custos de transporte, determinantes
adicional para a estimativa de populações urbanísticos (uso do solo, grau de
em domínios territoriais ainda menores – as verticalização permitido, etc.), restrições de
pequeníssimas áreas –, como ilustrado no natureza ambiental ou geográfica
Diagrama 1. Para a grande área são (presença de áreas de proteção, áreas
necessárias hipóteses acerca da evolução sujeitas a inundação, etc.), existência de
do nível e padrão da fecundidade, vazios urbanos, características do sistema
mortalidade e migração. No caso da viário e do transporte público e impactos
migração, é preciso que se façam decorrentes das intervenções públicas
conjecturas sobre seus determinantes (ACIOLY; DAVIDSON, 1998; NIGRIELLO et
socioeconômicos, como dinâmica do al., 2005; JANNUZZI; JANNUZZI, 2002b).
mercado de trabalho regional, diferenciais Nos casos em que são necessárias
inter-regionais de salários, perspectivas de estimativas para áreas ainda menores, pode-
mobilidade social e de acesso a bens e se empregar o método AiBi, ou
serviços públicos, etc. (EBANKS, 1992; ainda qualquer método de repartição
JANNUZZI, 2000). populacional, modelos baseados em
Para cada pequena área, requerem-se variáveis sintomáticas ou algoritmos de
hipóteses acerca da evolução, por um lado, interpolação espaço-temporal. A escolha da
das taxas de natalidade e mortalidade e, técnica mais adequada para se obterem
por outro, da atratividade migratória ou essas estimativas deve se pautar pela
residencial. O grau de atratividade disponibilidade de dados adicionais e pelas
residencial é um parâmetro fundamental na hipóteses feitas acerca da dinâmica
projeção de pequenas áreas, tendo em vista populacional das pequeníssimas áreas. Em
sua sensibilidade a uma série de fatores situações em que se dispõe apenas de totais
físico-territoriais, como, no caso de espaços populacionais para as pequeníssimas áreas

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DIAGRAMA 1
Integração de metodologias para projeções demográficas

e se imagina que a dinâmica populacional cedimento consultivo-participativo. Afinal,


futura está fortemente condiciona pela nas projeções populacionais para
evolução tendencial passada, a técnica AiBi pequenas áreas, as hipóteses sobre
parece ser a mais apropriada. Em outros mobilidade geográfica da população
casos em que se têm dados adicionais e a geralmente têm papel mais decisivo nas
distribuição populacional está mais con- tendências de crescimento do que o
dicionada pelos atributos físico-territoriais componente vegetativo, requerendo o
existentes, outras metodologias mais delineamento ou a antecipação de
sofisticadas podem ser aplicadas. tendências específicas sobre o dinamismo
do mercado de trabalho regional – fator
Refinando os parâmetros do modelo determinante dos modelos clássicos de
ProjPeq: cenários futuros e migração intra-regional – e/ou dinamismo
incorporação do conhecimento de do mercado imobiliário local – fator
especialistas determinante dos modelos clássicos de
mobilidade intra-urbana (RICHARSON,
Além de modelagem matemática 1978; REES, 1994).
consistente, a projeção populacional para Cenários futuros constituem descrições
pequenas áreas requer especificação de hipotéticas de eventos inter-relacionados,
cenários futuros abrangentes para a a se concretizarem no médio e longo
localidade de interesse, contemplando a prazos, construídas com a finalidade de
especificação de hipóteses sobre mercado focalizar a atenção sobre aspectos que
de trabalho regional, impacto das políticas causam mais impacto sobre o processo em
públicas, efeito de vetores de crescimento questão (BUARQUE, 2003; MARCIAL;
urbano, etc., validados por um painel de GRUMBACH, 2002). Os cenários futuros
especialistas, através de algum pro- não devem ser confundidos com as

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variantes alta, média ou baixa das Soviética, nos tempos da Guerra Fria, e,
projeções, resultantes das combinações de depois, como instrumento mais geral
hipóteses de alta ou baixa fecundidade, para antecipação dos impactos do
baixa ou alta mortalidade, etc., nem com as desenvolvimento tecnológico, decisões
macrorreferências históricas e ideológicas geopolíticas, estratégias corporativas de
– paradigma neomaltusiano, paradigma grandes empresas, etc.
adaptativo tecnológico, etc. (ROBISON, Os primeiros trabalhos da RAND
2003) –, que costumam orientar de forma Corporation e o relatório do Clube de Roma
implícita ou explicita os demógrafos são alguns exemplos de estudos de futuro
envolvidos na elaboração das projeções. com larga repercussão pelo mundo. No
Cenários futuros são abstrações Brasil, a Embrapa parece ter sido uma das
contextuais multidisciplinares acerca de primeiras organizações brasileiras a
possíveis trajetórias futuras da realidade encarar de forma sistemática a elaboração
social e econômica de uma sociedade, de cenários prospectivos. A Universidade
podendo ser normativos (quando con- de São Paulo e a PUC-SP contam,
figuram futuros idealizados ou desejados), inclusive, com programas acadêmicos neste
exploratórios (caracterizam situações sentido.
futuras possíveis, mediante simulação e Como preconizado por Marcial e
encadeamento de eventos de provável Grumbach (2002), a construção dos
ocorrência e possíveis rupturas de cenários futuros deve ser elaborada por
tendências), extrapolativos (encaram o um conjunto de especialistas de diversas
futuro como continuidade do passado áreas de conhecimento, como demó-
recente, assumindo como baixos os riscos grafos, urbanistas, economistas regionais,
de transformações significativas na sociólogos urbanos e geógrafos, per-
realidade) e referenciais (quando carac- tencentes a diferentes instituições, de modo
terizam a evolução futura como a mais a garantir maior pluralidade de visões de
provável, tendo em vista os consensos futuro. Naturalmente, não se espera que
sobre mudanças e tendências dominantes este painel de especialistas seja uma
a se processarem no médio e longo amostra probabilística dos pesquisadores
prazos).2 das diferentes áreas de conhecimento
A construção de cenários é uma envolvidas, mas sim uma amostra
atividade bastante difundida, legitimada e intencionalmente escolhida, cuja qua-
institucionalizada atualmente, presente em lidade será julgada, a posteriori, pelas
organismos internacionais e centros de contribuições efetivas e engajamento nas
pesquisa e análise política. Marinho e respostas às questões formuladas. Vale
Quirino (1995) citam, entre os precursores observar, contudo, que obter a participação
dos Estudos do Futuro – disciplina voluntária desses especialistas costuma ser
acadêmica em que os autores inserem as mais difícil do que poder-se-ia supor à
atividades de construção de cenários –, dois primeira vista.
pensadores com grande influência Mediante o emprego de oficinas e
na Demografia: Malthus e Condorcet. reuniões, entrevistas, remessa de ques-
Entretanto, foi a partir da Segunda Guerra tionários estruturados ou consultas pela
Mundial que estudos desta natureza se Internet – seguindo, por exemplo, as
consolidaram, primeiramente, como recurso recomendações de aplicação da Técnica
metodológico para elaboração de planos Delphi (WRIGHT, 1994) –, compilam-se as
de contingência e estratégias de combate opiniões dos especialistas, técnicos e
em situações de um sempre possível agentes com relação aos “fatos portadores
confronto entre os EUA e a então União do futuro” – macrodeterminantes ou

2
Esta tipologia foi retirada do material do minicurso “Técnicas de estruturação de cenários prospectivos para políticas públicas e
projeções populacionais”, ministrado pelo Prof. Carlos Francisco Simões Gomes e oferecido na Ence, em agosto de 2004, no
âmbito do subprojeto de Capacitação em Indicadores Sociais e Políticas Públicas, financiado pela Fundação Ford.

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condicionantes do desenvolvimento e antecipar fatores que podem modificá-las


econômico-regional, da mobilidade geo- no futuro. Keilman (1990) defende que
gráfica da população, etc. – na forma de projeções demográficas sejam desenvol-
descrições estruturadas (cenários futuros), vidas com equipes multidisciplinares não só
submetidas posteriormente para apro- porque aportam subsídios relevantes para
fundamento ou validação. Com base nos estabelecimento das hipóteses sobre os
cenários futuros considerados mais componentes demográficos, mas também
factíveis, passa-se então à não menos porque conferem maior legitimidade técnica
complexa e trabalhosa tradução das ao produto final e maior aceitação por parte
percepções qualitativas em cifras de potenciais usuários. De fato, como
quantitativas, a serem atribuídas aos observam Rainford e Masser (1987), em
parâmetros do modelo (Diagrama 2).3 estudo de caso em “Town Planning” na
O emprego de técnicas de construção Inglaterra, a participação de técnicos
de cenários multidisciplinares em projetos municipais, agentes privados ligados
de elaboração de projeções populacionais à construção civil e representantes
parece ser ainda muito incipiente no Brasil, comunitários é importante não só pela
mas na bibliografia internacional há incorporação de conhecimentos específicos
referências sobre a importância desse acerca da dinâmica intra-urbana e projetos
aprimoramento metodológico. Ahlburg e futuros de investimentos comerciais e de
Lutz (1999) preconizam a consulta de lazer, como também pela legitimação que
especialistas para ajudar na definição das essa participação confere ao trabalho,
hipóteses das componentes demográficas potencializando seu uso efetivo no futuro.

DIAGRAMA 2
Construção de cenários futuros para a dinâmica intra-urbana

3
“Em linhas gerais, o método Delphi consulta um grupo de especialistas a respeito de eventos futuros através de um questionário,
que é repassado continuadas vezes até que seja obtida uma convergência de respostas, um consenso, que representa uma consolidação
do julgamento intuitivo do grupo. Pressupõe-se que o julgamento coletivo, ao ser bem organizado, é melhor do que a opinião de um
só indivíduo. O anonimato dos respondentes, a representação estatística dos resultados e o feedback de respostas do grupo para
revalidação nas rodadas subseqüentes são as principais características deste método” (WRIGHT; GIOVINAZZO, 2000).

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Aplicação do modelo ProjPeq para As etapas metodológicas da aplicação


projeções populacionais nos distritos da do modelo para projeção da população dos
cidade de São Paulo: 2005-2010 distritos da cidade de São Paulo estão
apresentadas no Diagrama 3.4 O primeiro
A metodologia exposta anteriormente, passo foi a compilação dos estudos sobre
com emprego do modelo ProjPeq e de a dinâmica demográfica recente do
técnicas de cenários futuros, foi aplicada município e seus distritos, bem como a
para elaboração de projeções popu- análise das tendências apontadas pelo
lacionais nos distritos do município de São Censo Demográfico 2000. Vale observar
Paulo, no período de 2005 a 2010. Essa é que, no caso de não se dispor de amplo
uma situação interessante e viável de material bibliográfico para consulta –
aplicação do modelo porque, por um lado, o que não era o caso nessa aplicação –,
trata-se de uma região cuja dinâmica essa etapa também poderia ter sido
populacional tem sido determinada por realizada através da organização de
diversos fatores demográficos, econômicos seminários ou de entrevistas com alguns
e sociais referidos dentro e fora de seus especialistas-chave, que permitiriam o
limites – o que enfatizaria a necessidade delineamento das tendências históricas e
de se dispor de cenários futuros multi- fatores determinantes do crescimento
disciplinares para subsidiar as projeções populacional. O objetivo dessa etapa é
demográficas – e, por outro, dispõe-se de subsidiar a elaboração de um instrumento
estatísticas vitais e outros registros estruturado e dirigido – com cenários futuros,
administrativos de boa qualidade e se possível – para coleta de informações
historicidade para os distritos – necessários junto a pesquisadores e técnicos acerca
para especificação e calibragem dos das perspectivas futuras da região em
parâmetros do modelo. análise.

Diagrama 3
Etapas da aplicação do modelo ProjPeq para distritos do município de São Paulo

4
O período de execução dessas etapas compreendeu, aproximadamente, de junho de 2002 a dezembro de 2004.

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Assim, no levantamento bibliográfico populacional do município de São Paulo


previsto na primeira etapa – que está para o horizonte de 2000-2010 (segunda
sistematizado em Jannuzzi e Jannuzzi etapa do Diagrama 3).
(2002b) –, abordou-se a dinâmica O primeiro cenário hipotético construído
demográfica da capital paulista em três – tendencial, de natureza mais extrapolativa
momentos: os primeiros 50 anos do século na terminologia exposta anteriormente –
XX, período em que a população da capital supunha a continuidade das tendências
paulista cresceu a uma taxa média de 4,5% manifestadas nas últimas duas décadas, de
ao ano, pelo afluxo de numerosos con- crescimento populacional menos intenso
tingentes de migrantes do interior de São que a média nacional (0,5% ao ano entre
Paulo, dos Estados de Minas Gerais e do 2000 e 2010 na capital, contra 1,2% no país),
Nordeste e mesmo de outros países; a partir por conta da persistência de dificuldades
dos anos 60 e em especial ao longo da do mercado de trabalho da capital, do custo
década de 80, quando houve arrefecimento elevado de moradia, do agravamento das
do crescimento populacional e a taxa deseconomias da aglomeração urbana
declinou para 1,2% ao ano, sinalizando (poluição, congestionamentos, violência
perda de atratividade e retenção migratória, urbana, etc.) e do impacto crescente das
no bojo da crise do emprego, redução do restrições ambientais (como a dispo-
dinamismo industrial, redirecionamento dos nibilidade de água). Nesse cenário, manter-
fluxos migratórios para cidades médias, se-iam o padrão e o ritmo da mobilidade
ampliação do fenômeno de retorno dos residencial em direção à periferia e
migrantes do Nordeste e de outras regiões municípios da região metropolitana.
e deseconomias da aglomeração (vio- Os dois outros cenários construídos –
lência, congestionamentos, perda da equilíbrio e retomada, de natureza
qualidade de vida, problemas de poluição exploratória – também supunham a
sonora, do ar e visual, etc.); e o período manutenção desse processo de perife-
mais recente, dos anos 90, de continuidade rização da população, mas com uma
do processo de evasão populacional do melhoria das condições de absorção do
município, revelada por uma taxa média mercado de trabalho paulistano, devido ao
anual de crescimento abaixo de 1%. melhor desempenho da economia
No texto referido analisou-se também brasileira, levando a retomada de fluxos
o processo de redistribuição territorial mais volumosos de migrantes para a região
da população, apontando o padrão metropolitana e capital. A diferença entre
radiocêntrico de expansão da cidade, em esses dois últimos cenários estava na
que os custos de terrenos e dos aluguéis suposta capacidade de fixação de novos e
das áreas já urbanizadas (muitas já em antigos habitantes no território municipal,
processo de verticalização) forçavam a maior no cenário retomada do que no
ocupação territorial cada vez mais periférica equilíbrio (crescimento médio de 1,6% ao
do município, através de loteamentos ano entre 2000 e 2010, superior à média
irregulares e autoconstrução. Nas duas nacional, no primeiro cenário, contra 1,2%
últimas décadas, percebe-se a conti- no segundo).
nuidade do processo de periferização da Através de um questionário estruturado
população no município, revelada pelas enviado por correio (vide Apêndice 1), esses
taxas negativas de crescimento dos bairros cenários foram submetidos para análise
centrais e de ocupação mais antiga e de 54 especialistas e pesquisadores
aceleração do aumento das regiões mais das questões relacionadas à dinâmica
periféricas ao norte e leste do município. demográfica e planejamento urbano da
Tendo como referência essas ten- capital, o que veio a se configurar na terceira
dências demográficas do município e suas etapa da aplicação da metodologia de
regiões e os possíveis cenários futuros de projeção.
desenvolvimento regional, elaboraram-se Na avaliação de 23 dos 30 espe-
três hipóteses sobre o ritmo de crescimento cialistas consultados que responderam

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ao questionário, o cenário tendencial era o explique pelas especificidades do


mais factível. A conjuntura do mercado de levantamento, voltado para a captação de
trabalho, a evolução dos custos de moradia opiniões com relação ao impacto
e o comportamento da violência, po- demográfico-territorial de fatores eco-
luição e outros fatores ligados à nômicos e políticas públicas no crescimento
qualidade de vida foram apontados como populacional do município.5
os elementos determinantes ou condi- Como passo final da metodologia
cionantes do ritmo de crescimento (quinta etapa), foram incorporados os
populacional da capital. subsídios levantados no modelo quan-
A maioria dos especialistas con- titativo ProjPeq, com a especificação da
sultados revelou não acreditar na eficácia trajetória futura dos parâmetros do modelo
da legislação e da fiscalização no e do total populacional do município
ordenamento da ocupação urbana e nas (cenário tendencial). 6 A introdução de
áreas de mananciais. É revelador dessa subsídios qualitativos em modelos
descrença o fato de que, ao serem quantitativos não é certamente tarefa
solicitados para identificar as áreas de maior simples, e aqui isso não foi diferente. Em
dinamismo demográfico na presente atividades de projeção populacional pelo
década, dois terços dos respondentes não método das componentes, por exemplo,
hesitaram em apontar a Zona Leste e costuma-se fazer testes, calibragens e
metade dos mesmos indicou a região mais ajustes nas estimativas de fecundidade,
ao sul de São Paulo. A área do entorno das mortalidade e migração – em função de
Rodovias Anhangüera e Bandeirantes, ao sugestões de especialistas acerca das
norte, foram também citadas por número tendências futuras – para avaliar seus
expressivo de especialistas (13 dos 24 que efeitos nos totais populacionais e nas
responderam a esse quesito do ques- estruturas demográficas projetados. No
tionário). presente caso, foram feitas diversas
Os pesquisadores apontaram ainda a simulações e calibragens no parâmetro
possibilidade de políticas urbanas referente à atratividade residencial, para
específicas – nas áreas de transporte, avaliar a intensidade e o sentido das
habitação e acesso a serviços públicos – mudanças nos totais projetados e para
também virem a ter papel relevante na adequá-los às percepções e expectativas
dinâmica demográfica futura do município. mais consensuais do conjunto de
A maioria deles achava, inclusive, que seria especialistas. O parâmetro relativo ao
possível que intervenções e programas crescimento vegetativo foi definido a partir
públicos pudessem provocar algum efeito da evolução delineada pela série histórica
na retomada da ocupação residencial nas das taxas de natalidade e mortalidade por
áreas centrais. distrito, na década de 90 (Gráfico 1). Assim,
Nova sondagem foi realizada (quarta um desafio a ser enfrentado em próximos
etapa) com os especialistas, para estudos no campo das projeções refere-se
apresentação dos resultados da sondagem à aplicação de técnicas específicas de
anterior e aprofundamento da análise pesquisa operacional – Análise Multicritério,
prospectiva intramunicipal (vide Apêndice por exemplo – como ferramenta para
2). Embora os 54 especialistas fossem computar parâmetros quantitativos que
novamente convidados a participar, possam expressar consensos de opiniões
somente dez aceitaram, o que talvez se coletadas de forma estruturada junto a

5
A taxa de resposta na primeira rodada foi de 55%, relativamente alta pelo que se tem documentado neste tipo de consulta. Na
segunda rodada foi de 18%, o que talvez se explique pela especificidade das questões envolvidas. Vale observar que os resultados
de pesquisas realizadas com amostras intencionais – como no caso – se julgam tanto pela complexidade e riqueza do corpus das
contribuições como pela diversidade dos respondentes.
6
Observe-se que os coeficientes de atratividade residencial, calculados de forma iterativa no modelo, referentes ao cenário tendencial,
convergem para valores negativos, dadas as restrições impostas no crescimento da população do município (Gráfico 1).

R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 24, n. 1, p. 109-136, jan./jun. 2007 119
Januzzi, P.M. Cenários futuros e projeções populacionais para pequenas áreas

GRÁFICO 1
Evolução dos parâmetros do modelo de projeção para os distritos
Município de São Paulo – 2000-2010

Fonte: IBGE. Censos Demográficos 1980, 1991 e 2000. Elaboração própria.


Nota: Para clareza do gráfico, retiraram-se as legendas com referências aos distritos.

especialistas, como vem sendo realizado expandir em função do crescimento


em aplicações na elaboração de cenários vegetativo, garantido pela enorme parcela
futuros ou no campo da tomada de decisão de mulheres em idade reprodutiva residente
por empresas ou setor público (ENSSLIN et na cidade. Mantidas essas tendências, o
al., 2001; GOMES et al., 2004). teto populacional do município não passaria
Pelo resultado do modelo, a população de 12,5 milhões de pessoas ao longo do
da capital chegaria, em 2010, a cerca de século XXI.
10,9 milhões. A taxa média de crescimento Como era de se esperar, em con-
demográfico, entre 2000 e 2010, seria da seqüência do padrão radiocêntrico-
ordem de 0,5% ao ano, significando um centrífugo da ocupação do território
acréscimo anual de mais de 50 mil paulistano e da baixa efetividade da
pessoas. Mesmo com um saldo migratório fiscalização no ordenamento da ocupação
negativo, o município continuaria a se residencial, os distritos mais periféricos em

120 R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 24, n. 1, p. 109-136, jan./jun. 2007
Januzzi, P.M. Cenários futuros e projeções populacionais para pequenas áreas

MAPA 1
Taxas médias anuais de crescimento populacional dos distritos
Município de São Paulo – 2000-2010

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2000. Elaboração própria.

direção ao eixo Anhangüera, ao sul e a leste nos distritos com maior dinamismo
tenderiam a continuar crescendo a taxas demográfico nos anos 90, como Cidade
comparativamente mais elevadas, con- Tiradentes, Anhangüera, Campo Limpo e
centrando cerca de dois terços dos Capão Redondo, para citar alguns. No
munícipes em 2010 (Mapa 1 e Tabela 1). Os caso desse último, a população estimada
distritos situados na área central de São para 2010 seria cerca de 300 mil pessoas,
Paulo manteriam a tendência de evasão no cenário tendencial, e uma cifra 65 mil
populacional, mas em ritmo cada vez menor. maior, no cenário de retomada, indicando
Comportamento similar estariam apre- uma diferença relativa da ordem de 20%
sentando os distritos situados no anel da população média estimada. Tais
intermediário, entre o centro e a periferia. diferenças justificam-se pela trajetória dos
As projeções populacionais definidas coeficientes de atratividade residencial dos
pelos dois outros cenários propostos distritos ao longo do período.
levariam a quantitativos populacionais Como não se estabeleceram hipóteses
maiores: de 11,9 milhões (cenário equilí- sobre o crescimento intra-urbano, os
brio) e 12,3 milhões (cenário retomada). As coeficientes de atratividade dos distritos
diferenças – absolutas ou relativas – das tendem a convergir, ao longo dos dez anos,
populações projetadas para cada distrito, para patamares, em geral, mais próximos
segundo os três conjuntos de hipóteses, entre si (Gráfico 2). Vale observar, porém,
podem ser bastante significativas, sobretudo que o ritmo de aproximação e amplitude de

7
Agradeço a Gustavo Coelho e sua equipe pela produção dos totais populacionais por áreas de ponderação, compatibilizadas para
os Censos Demográficos de 1991 e 2000.

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Januzzi, P.M. Cenários futuros e projeções populacionais para pequenas áreas

GRÁFICO 2
Taxas médias anuais de crescimento populacional dos distritos, segundo diferentes cenários
Município de São Paulo – 1980-2010

Fonte: IBGE. Censos Demográficos 1980, 1991 e 2000. Elaboração própria.


Nota: Para clareza do gráfico, retiraram-se as legendas com referências aos distritos.

TABELA 1
População projetada dos distritos, por diferentes cenários
Município de São Paulo – 1991-2010

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Januzzi, P.M. Cenários futuros e projeções populacionais para pequenas áreas

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Januzzi, P.M. Cenários futuros e projeções populacionais para pequenas áreas

Fonte: Fundação Seade; Prefeitura de São Paulo. Elaboração própria.

TABELA 2
População e estimativas populacionais para áreas de ponderação
Distrito de Perdizes – 1991-2010

Fonte: IBGE. Censos Demográficos 1991 e 200. Elaboração própria.

124 R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 24, n. 1, p. 109-136, jan./jun. 2007
Januzzi, P.M. Cenários futuros e projeções populacionais para pequenas áreas

variação das taxas projetadas é distinto em Comparação das projeções para os


cada cenário idealizado. distritos de São Paulo em 2010
Como apresentado no Diagrama 1, é
possível obterem-se estimativas popu- A comparação dos resultados do
lacionais para subáreas em cada distrito, modelo ProjPeq – cenário tendencial – com
como bairros ou áreas de ponderação do as projeções demográficas elaboradas pela
Censo Demográfico. Para ilustrar uma Secretaria Municipal de Planejamento da
aplicação neste sentido, com os resultados Prefeitura de São Paulo, pelo método AiBi,
do modelo ProjPeq – cenário tendencial – e pelo Seade, para 2010, revela, como era
apresentados anteriormente, computaram- de se esperar, algumas diferenças
se as estimativas populacionais para áreas significativas (Tabela 3 e Gráfico 3).
de ponderação do Censo Demográfico para Em primeiro lugar, as diferenças de
o distrito de Perdizes7 (Tabela 2). população nos distritos (absolutas e
Naturalmente, a consistência das relativas) devem-se às diferenças entre os
estimativas depende, em boa medida, do totais projetados para o Município de São
grau de compatibilização das subdivisões Paulo em 2010: aquele calculado pela
nos dois momentos passados, afinal, o Prefeitura é 4,3% maior que o usado no
modelo AiBi procura reproduzir a tendência ProjPeq (cenário tendencial, anteriormente
passada observada na pequeníssima área, descrito); e o projetado pelo Seade é
calibrada pela tendência prospectiva da superior em cerca de 51 mil (0,5% de
pequena área que a engloba. Se se dispuser diferença). No caso do total elaborado pela
de outras informações mais específicas, com técnica AiBi, a diferença é mínima,
qualidade e referidas às pequeníssimas decorrente de erros de aproximação nos
áreas – como as constantes no Cadastro cálculos intermediários, já que se tomou o
Imobiliário do município – é possível chegar- total previsto pelo cenário tendencial.
se a estimativas mais robustas para as Nota-se que as projeções distritais
mesmas. fornecidas pelo ProjPeq, AiBi e Seade são

TABELA 3
População projetada dos distritos, segundo diferentes metodologias
Município de São Paulo – 2010

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Januzzi, P.M. Cenários futuros e projeções populacionais para pequenas áreas

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Januzzi, P.M. Cenários futuros e projeções populacionais para pequenas áreas

Fonte: Fundação Seade; Prefeitura de São Paulo. Elaboração própria.

GRÁFICO 3
Comparação das diferenças relativas entre a população projetada dos distritos pelo modelo ProjPeq – cenário
tendencial e outras metodologias
Município de São Paulo – 2010

Fonte: Fundação Seade; Prefeitura de São Paulo. Elaboração própria.

R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 24, n. 1, p. 109-136, jan./jun. 2007 127
Januzzi, P.M. Cenários futuros e projeções populacionais para pequenas áreas

mais próximas entre si (Tabela 4). Em cerca diferenças relativas apresenta assimetria à
de 61 dos 96 distritos, as diferenças nas esquerda (Gráfico 4).
projeções do ProjPeq e AiBi situam-se entre Entretanto, parte significativa das
-5% e 5%. Na comparação com as diferenças deve-se, sem dúvida, às
projeções fornecidas pelo Seade, os tendências imputadas para o dinamismo
resultados são similares: em 65 distritos demográfico dos distritos nas diversas fontes
constata-se uma diferença inferior a 5 e metodologias, especialmente para os
pontos percentuais. Já na comparação com distritos centrais e os mais periféricos. Como
as cifras da Prefeitura, diferenças abaixo o método empregado pela Prefeitura –
de 5 pontos percentuais são verificadas em provavelmente uma técnica matemática ex-
apenas 25 dos 96 distritos. Nota-se também trapolativa – tende a reproduzir para 2000-
que o histograma das freqüências das 2010 o comportamento da década anterior,

TABELA 4
Freqüência das diferenças de população projetada dos distritos,
segundo diferentes metodologias com o ProjPeq
Município de São Paulo – 2010

Fonte: Fundação Seade; Prefeitura de São Paulo. Elaboração própria.

GRÁFICO 4
Histograma da freqüência das diferenças de população projetada dos distritos,
segundo diferentes metodologias com o ProjPeq
Município de São Paulo – 2010

Fonte: Fundação Seade; Prefeitura de São Paulo. Elaboração própria.

128 R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 24, n. 1, p. 109-136, jan./jun. 2007
Januzzi, P.M. Cenários futuros e projeções populacionais para pequenas áreas

GRÁFICO 5
Taxas de crescimento populacional dos distritos, segundo método de
projeção
Município de São Paulo – 2000-2010

Fonte: Fundação Seade; Prefeitura de São Paulo. Elaboração própria.


Nota: Para clareza do gráfico, retiraram-se as legendas com referências aos distritos.

as diferenças das cifras projetadas com o Seade, tendem a convergir no médio e longo
ProjPeq acabam se amplificando nos distritos prazos. Tal propriedade garante consistência
centrais e naqueles situados mais na periferia, interna nos resultados projetados pelo
ou seja, nas áreas com queda ou aumento modelo no médio e longo prazos, um atributo
mais acentuados no período 1991-2000. desejável em metodologias de projeção na
Essas diferenças de totais popu- opinião de Long (1995). Do ponto de vista
lacionais projetados para os distritos entre substantivo, o modelo aponta para a
os diversos métodos e aqueles obtidos com convergência das taxas de crescimento
o modelo ProjPeq persistem também pelas demográfico, tendência controversa mas
características intrínsecas do sistema de prevista em modelos interpretativos da
equações diferenciais lotkiano, de Economia Regional.
tendência ou busca por convergência das A tendência à convergência do modelo
taxas de crescimento das populações das ProjPeq pode ser atenuada ou mesmo
pequenas áreas, ou, pelo menos, da revertida com a imputação de tendências
redução dos diferenciais entre as mesmas. nos parâmetros, em especial aquele
De fato, como se pode verificar no Gráfico referente à atratividade residencial. Como
5, as taxas de crescimento distrital proje- discutido e mostrado empiricamente em
tadas pelo modelo ProjPeq Tendencial, Jannuzzi e Jannuzzi (2002b), este
assim como as produzidas pelo AiBi e pelo parâmetro guarda correlação com aspectos

R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 24, n. 1, p. 109-136, jan./jun. 2007 129
Januzzi, P.M. Cenários futuros e projeções populacionais para pequenas áreas

importantes da morfologia urbana, como é certamente uma característica inte-


densidade populacional, verticalização, ressante, sobretudo em relação aos
custos do terrenos, etc. métodos extrapolativos. Sua aplicação em
diferentes contextos vem se mostrando
Considerações finais consistente, especialmente se articulada
com o emprego simultâneo da técnica de
Tem havido uma demanda crescente por cenários futuros.
indicadores e projeções demográficas para Os resultados aqui apresentados e
pequenas áreas, para fins de planejamento outras aplicações dessa metodologia 8
no setor público e privado, que tem sido sugerem que um dos possíveis empregos
atendida através de métodos clássicos de deste modelo seja no aprimoramento da
extrapolação ou repartição baseada em metodologia de projeções demográficas
funções matemáticas, ou ainda por meio de municipais usada pelo IBGE. A idéia é
métodos estatísticos de estimação. utilizar a metodologia ProjPeq como uma
O método aqui apresentado é uma etapa intermediária no processo de
contribuição também nesse sentido. Não estimativas municipais, tomando o país e
produz necessariamente estimativas futuras Estados como grandes áreas – com
mais precisas que a de outros métodos. população projetada através do método das
Como se procurou mostrar, o modelo componentes – e as microrregiões como as
ProjPeq é um método eminentemente pequenas áreas. Dessa forma, podem ser
demográfico, derivado do Sistema Geral incorporadas, nas projeções, as avaliações
proposto por Lotka para dinâmica de e perspectivas de técnicos e pesquisadores
populações. A possibilidade de interferir em quanto ao desenvolvimento econômico nas
seus parâmetros, relativos ao crescimento microrregiões brasileiras, chegando-se
vegetativo e à atratividade migratória, possivelmente a estimativas populacionais
incorporando informação de especialistas, mais consistentes. Para desagregar a

DIAGRAMA 4
Possível aplicação do modelo ProjPeq e outras técnicas para aprimoramento das projeções demográficas municipais

8
O modelo ProjPeq tem sido empregado para elaboração de projeções demográficas municipais, em projetos dos setores público
e privado no país voltados à elaboração de Planos Plurianuais, demanda de recursos hídricos, programas de fomento ao
desenvolvimento regional ou análises de impacto socioambiental, relatados no relatório de pesquisa do referido projeto.
9
Naturalmente há que se ter um esforço sistemático e não pontual e episódico de capacitação de técnicos das agências estaduais
em métodos de computação de indicadores demográficos, correção de dados e projeções, de forma análoga ao que se tem feito
com o programa de elaboração dos PIBs estaduais e municipais. Seria também muito oportuno que a Associação Brasileira de
Estudos Populacionais retomasse seus programas de capacitação regional em Demografia desenvolvidos ao longo dos anos 90.

130 R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 24, n. 1, p. 109-136, jan./jun. 2007
Januzzi, P.M. Cenários futuros e projeções populacionais para pequenas áreas

população das microrregiões para os Boas práticas no campo das projeções


municípios lá contidos, empregar-se-ia o parecem mostrar que é importante garantir,
método AiBi ora usado (Diagrama 4). além do uso de metodologias adequadas
A idéia básica dessa proposta é utilizar à disponibilidade da informação confiável
as técnicas adequadas para o tipo de existente e da incorporação de co-
informação disponível nas diferentes nhecimento externo de especialistas
escalas. Para Brasil e Estados, há estudos através de cenários prospectivos, a
e estimativas históricas consistentes legitimidade institucional de sua
para as três variáveis do método das produção. Uma projeção “boa” não é
componentes; para microrregiões é aquela pretensamente “confiável”, com
possível dispor de estimativas ajustadas e margem de erro restrita, algo que não se
comparáveis das taxas de natalidade, pode estritamente estimar. Uma projeção
mortalidade e atratividade migratória para “boa” é aquela reconhecida como
as décadas anteriores, necessárias para tal pelos usuários e especialistas, a
especificação dos parâmetro do modelo partir do juízo de valor da consistência
ProjPeq; em nível municipal, não há muito metodológica das técnicas, da trans-
mais informação consistente e comparável parência das escolhas normativas
que os dados populacionais levantados nos inevitáveis neste tipo de atividade
Censos Demográficos, o que torna a técnica e da legitimidade político-institucional
AiBi uma solução bastante razoável. dos agentes participantes na sua
Além de garantir, em tese, um aprimo- elaboração.
ramento técnico na produção das projeções Novos esforços de aplicação desse
municipais, essa integração de metodologias método deverão mostrar sua utilidade como
abriria a possibilidade concreta de viabilizar ferramenta de simulação de cenários
parcerias do IBGE com institutos estaduais populacionais em uma perspectiva mais
de estatística, incorporando o conhecimento exploratória (na simulação de impactos de
destes na especificação de cenários e projetos públicos ou privados) ou normativa
projeções para as microrregiões, replicando (relativa ao futuro desejável). Talvez sejam
a experiência colaborativa bem-sucedida do esses os melhores usos que se possam
Cômputo das Contas Regionais e Produto fazer dos métodos de projeções
Interno Bruto Municipal.9 populacionais para pequenas áreas.

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132 R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 24, n. 1, p. 109-136, jan./jun. 2007
Januzzi, P.M. Cenários futuros e projeções populacionais para pequenas áreas

APÊNDICE 1: Painel com especialistas


Perspectivas do Crescimento Populacional do Município de São Paulo em 2000-2010

Este questionário está sendo enviado a você com o objetivo de captar suas apreciações
acerca do crescimento populacional do Município de São Paulo na presente década. Esta
atividade faz parte de um projeto de pesquisa com financiamento do CNPq – Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – que visa, entre outros objetivos, testar uma
metodologia alternativa – painel Delphi – de incorporação da opinião de especialistas de
diversas formações e campos de atuação em projetos de elaboração de Projeções
Populacionais.
Apreciaria muito sua gentileza e disponibilidade em responder a esse breve questionário
e remetê-lo de volta no envelope anexo. Se preferir, posso lhe enviar este questionário por
e-mail. Não há necessidade de se identificar. Os resultados parciais e finais da pesquisa serão
comunicados para todo o painel de especialistas, sem qualquer cruzamento de quesitos que
possa permitir a identificação dos respondentes.
Agradeço antecipadamente sua colaboração e por qualquer material ou comentário escrito
que você quiser anexar a este questionário.

Paulo Jannuzzi
Prof. Mestrado em Estudos Populacionais/ENCE/IBGE
pjannuzzi@ibge.gov.br

1. Natureza da instituição de seu vínculo populacional do Município de São Paulo


de trabalho ou pesquisa: (apenas 1 alternativa):
( )1 Universidade ( )1 Pesquiso ou trabalho na temática
( )2 Centro de pesquisa/análise ( )2 Acompanho a discussão
( )3 Órgão públ. estatística/planejamento ( )3 Conheço pouco
( )4 Empresa pública ( )4 Desconheço o assunto/tema
( )5 Empresa de consultoria 4. Na sua opinião, entre 2000-2010, a taxa
( )6 Outros: _______________________ de crescimento populacional do
município de São Paulo deve ser:
2. Área de especialização acadêmica ou
( )1 Bem mais alta que a de 1991-2000
campo de atuação profissional
predominante (uma ou mais alternativas, ( )2 Mais alta que a de 1991-2000
dentre as abaixo): ( )3 Próxima da verificada em 1991-2000
( )1 Planejamento urbano/regional ( )4 Mais baixa que a de 1991-2000
( )2 Mercado imobiliário ( )5 Bem mais baixa que a de 1991-2000
( )3 Estudos urbanos em geral
5. Na sua opinião, entre 2000-2010, em
( )4 Migração/mobilidade intra-urbana relação à Região Metropolitana de São
( )5 Projeções populacionais Paulo (RMSP), a taxa de crescimento
( )6 Demografia em geral populacional do município de São Paulo
deve ser:
( )7 Mercado de trabalho
( )1 Bem mais alta que a da RMSP
( )8 Engenharia ambien./saneam./trafeg.
( )2 Mais alta que a da RMSP
( )9 Outros: ______________________
( )3 Próxima da verificada para a RMSP
3. Como você qualifica seu nível de ( )4 Mais baixa que a da RMSP
conhecimento sobre tendências
( )5 Bem mais baixa que a da RMSP
recentes e determinantes da dinâmica

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Januzzi, P.M. Cenários futuros e projeções populacionais para pequenas áreas

6. Na sua opinião, entre 2000-2010, a ( )3 Taxas médias anuais mais elevadas que
fiscalização existente nas áreas próximas a média nacional, como conseqüência
aos mananciais terá efeito na diminuição de recuperação do nível de emprego e
do ritmo de ocupação dessas áreas? economia metropolitana, com maior
( )1 Sim, é muito provável poder de fixação das famílias no
( )2 É possível município, mas mantendo a tendência de
crescimento mais acentuado nos distritos
( )3 É pouco provável e municípios periféricos.
( )4 Não sei/prefiro não opinar agora ( )4 Outro:_____________________________
7. Na sua opinião, em 2000-2010, a 10. Assinale com círculos ou setas no mapa
legislação e fiscalização de uso e abaixo as áreas ou vetores de maior
ocupação do solo, na forma exercida crescimento demográfico em 2000-
normalmente no município, poderão vir a
2010 (1 a 5 áreas ou vetores):
ter papel indutor/regulador da ocupação
residencial nos distritos do município?
( )1 Sim, é muito provável
( )2 É possível
( )3 É pouco provável
( )4 Não sei/prefiro não opinar agora

8. Na sua opinião, em 2000-2010, as


políticas e intervenções urbanas nas
regiões centrais do município terão
impacto em termos de retomada da
ocupação residencial dessas áreas?
( )1 Sim, é muito provável
( )2 É possível
( )3 É pouco provável
( )4 Não sei/prefiro não opinar agora

9. Se tivesse que optar por um dos cenários


futuros de crescimento populacional 11. Que aspectos, fatores ou questões você
para o município, qual deles você considera mais determinantes ou
considera mais plausível ao longo de condicionantes para a dinâmica
2000-2010? demográfica do Município de São
Paulo?
( )1 Taxas de crescimento declinantes,
abaixo da média nacional, como ( )1 Conjuntura do mercado de trabalho
conseqüência de menor intensidade ( )2 Restrições ambientais/água
migratória, pela conjuntura desfavorável ( )3 Custo da moradia
do mercado de trabalho regional, custos
( )4 Qualidade de vida(violência/poluição)
crescentes de moradia, deseconomias
da aglomeração urbana, restrições ( )5 Outros: _______________________
ambientais ao crescimento populacional ( )6 Outros: _______________________
( )2 Taxas de crescimento estáveis, ( )7 Outros: _______________________
semelhante à média nacional, com
relativa retomada dos fluxos migratórios, 12. Comentários, críticas ou sugestões:
em uma conjuntura melhor do mercado __________________________________________________________________
de trabalho, mas com manutenção da
_______________________________________
tendência à periferização da população
em direção aos municípios da RMSP. _______________________________________

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Januzzi, P.M. Cenários futuros e projeções populacionais para pequenas áreas

APÊNDICE 2: Painel com especialistas - 2ª rodada


Perspectivas do Crescimento Populacional do Município de São Paulo em 2000-2010

Prezado colega,
Dando continuidade ao processo de consulta a especialistas e pesquisadores com relação às
perspectivas do crescimento populacional do Município de São Paulo na presente década, estou
lhe enviando os resultados da primeira rodada de consulta e um novo questionário. Como
resultados, seguem um conjunto de tabelas e um pequeno ensaio prospectivo.
O novo questionário procura incorporar sugestões encaminhadas pelo conjunto de
especialistas e enfocar mais especificamente os efeitos e impactos demográfico-espaciais
decorrentes das políticas públicas no campo habitacional, transportes, desenvolvimento urbano e
de iniciativas de agentes privados na capital.
Apreciaria muito sua gentileza e disponibilidade em responder as questões e remeter o
questionário de volta no envelope anexo. Se preferir, posso lhe enviar este questionário por e-mail.
Tal como na consulta anterior, não há necessidade de se identificar. Os resultados parciais e finais
da pesquisa serão comunicados para todo o painel de especialistas, sem qualquer cruzamento de
quesitos que possa permitir a identificação dos respondentes.
Agradeço antecipadamente sua colaboração e por qualquer material ou comentário escrito
que você quiser anexar a este questionário.
Paulo Jannuzzi
Prof. Mestrado em Estudos Populacionais/ENCE/IBGE
pjannuzzi@ibge.gov.br

1. Natureza da instituição de seu vínculo ( )12 Outros: ______________________


de trabalho ou pesquisa predominante:
( )1 Universidade 3. Como você qualifica seu nível de
( )2 Centro de pesquisa/análise conhecimento sobre tendências
( )3 Órgão públ. estatística/planejamento recentes e determinantes da dinâmica
populacional do Município de São Paulo
( )4 Empresa pública municipal
(apenas 1 alternativa):
( )5 Empresa pública estadual/federal
( )1 Pesquiso ou trabalho na temática
( )6 Organização não-governamental
( )2 Acompanho a discussão
( )7 Prefeitura/Secretaria Municipal
( )3 Conheço pouco
( )8 Governo estadual/federal
( )4 Desconheço o assunto/tema
( )9 Empresa de consultoria
( )10Outros: ______________________ 4. Você respondeu e encaminhou o
questionário da 1a rodada de consulta?
2. Área de especialização acadêmica ou ( )1 Sim
campo de atuação profissional predo-
( )2 Não
minante (até 3 alternativas):
( )3 Não estou certo/não me lembro
( )1 Planejamento urbano/regional
( )2 Mercado imobiliário 5. Como você se posicionaria com relação
( )3 Estudos urbanos/Sociologia Urbana ao ensaio prospectivo anexo, que trata
do cenário populacional para a capital
( )4 Migração/mobilidade intra-urbana
em 2000-2010? (Use espaço no verso,
( )5 Projeções populacionais se necessário, para sua avaliação)
( )6 Demografia em geral ( )1 Concordo com as principais idéias
( )7 Mercado de trabalho/desenv.local ( )2 Concordo parcialmente
( )8 Engenharia ambien./saneam./trafeg.
( )3 Mais discordo do que concordo
( )9 Estudos do futuro/cenários
( )4 Discordo bastante das idéias
( )10 Políticas públicas
( )5 Não saberia me posicionar
( )11 Meio ambiente

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Januzzi, P.M. Cenários futuros e projeções populacionais para pequenas áreas

Comentários adicionais:

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Januzzi, P.M. Cenários futuros e projeções populacionais para pequenas áreas

Resumen

Escenarios futuros y proyecciones poblacionales para pequeñas áreas: método y aplicación


para distritos paulistas 2000-2010

Las proyecciones poblacionales para pequeñas áreas como municipios, distritos, barrios,
unidades territoriales de planificación, están siendo cada vez más demandadas en proyectos
y actividades en los sectores público y privado. La elaboración y el acompañamiento de
Planes Directores Urbanos y Planes Plurianuales de Inversión, la evaluación del impacto de
grandes proyectos urbanos y la adjudicación de recursos en procesos de planificación
participativa, son algunas de las actividades que están siendo ejecutadas en las bases
técnicamente más perfeccionadas en el país, requiriendo estimaciones y proyecciones
poblacionales para los municipios y sus subdivisiones. Así este trabajo presenta una
metodología de proyección demográfica para pequeñas áreas, como barrios, distritos o sub-
regiones de municipios, pasibles de aplicación en el país, considerando las limitaciones y
confiabilidad de la información disponible en la escala municipal. Se presenta inicialmente el
modelo cuantitativo, aquí denominado ProjPeq, que permite la especificación de parámetros
relacionados al crecimiento vegetativo y atractivo residencial de cada pequeña área. A
continuación se discute la relevancia de la incorporación del conocimiento y la opinión de
técnicos y especialistas para especificación de hipótesis sobre el crecimiento urbano-regional
en escenarios prospectivos. La metodología es ilustrada con una aplicación realizada para
proyección poblacional para distritos de la ciudad de San Pablo, comparando los resultados
con aquéllos producidos por otros métodos.

Palabras-clave: Proyección demográfica. Pequeñas áreas. Escenarios futuros.

Abstratct

Scenario for population projections for small areas: method and application for districts in
São Paulo 2000-2010

Population projections in Brazil for small areas, such as municipalities, districts, neighborhoods
and territorial units, are in ever greater demand for public and private projects and activities.
This kind of population data is used to improve planning capabilities at the local level, such as
input for urban planning and the allocation of resources for participated planning processes.
Most proposed models in the literature are data intensive, based on administrative records
maintained by local agencies or governmental offices. Since the coverage and quality of this
type of data is very limited in many parts of underdeveloped countries, these models are often
useless. This article presents an alternative method of demographic projection for small areas
– known as ProjPeq – to produce populational estimates in small areas, a method that is useful
when good census data and vital statistics are available. The model presented here is an
integrated method for projecting population sizes by using cohort components at the regional
level, together with a system of differential equations to divide up the total population based on
two parameters – a vegetative factor and a residential attractive factor. The article first presents
the integrated model of the demographic component-dynamic system. Secondly, it discusses
the importance and use of expert qualitative data on future scenarios in order to project activities.
It also presents an application at the district level for the city of São Paulo, comparing results
with estimates computed by other techniques.

Key words: Demographic projections. Small area estimation. Future scenarios.

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