Você está na página 1de 669

Giselle Medeiros da Costa One

(Org.)

Biotecnologia
interativa

IMEA
João Pessoa - PB
2019
Instituto Medeiros de Educação
Avançada - IMEA
Editor Chefe
Giselle Medeiros da Costa One

Corpo Editorial
Beatriz Susana Ovruski de Ceballos
Giselle Medeiros da Costa One
Helder Neves de Albuquerque
Sylvana Maria Onofre Duarte Mahon

Revisão Final
Giselle Medeiros da Costa One

FICHA CATALOGRÁFICA
Dados de Acordo com AACR2, CDU e CUTTER
One, Giselle Medeiros da Costa.
O59s Biotecnologia interativa/ Organizador: Giselle Medeiros da Costa
One. IMEA. 2019.
668 fls.
Prefixo editorial: 53005
ISBN: 978-85-53005-17-8
Modelo de acesso: Word Wide Web
<http://www.cinasama.com.br>

Instituto Medeiros de Educação Avançada – IMEA – João


Pessoa - PB

1. Biotecnologia 2. Genética 3. Biotecnologia molecular. I. Giselle


Medeiros da Costa One II. Biotecnologia interativa
CDU: 575

Laureno Marques Sales, Bibliotecário especialista. CRB -15/121

Direitos desta Edição reservados ao Instituto Medeiros de Educação Avançada –


IMEA
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
IMEA
Instituto Medeiros de Educação
Avançada
Proibida a reprodução, total ou parcial, por qualquer
meio ou processo, seja reprográfico, fotográfico,
gráfico, microfilmagem, entre outros. Estas proibições
aplicam-se também às características gráficas e/ou
editoriais.
A violação dos direitos autorais é punível como Crime
(Código Penal art. 184 e §§; Lei 9.895/80), com
busca e apreensão e indenizações diversas (Lei
9.610/98 – Lei dos Direitos Autorais - arts. 122, 123,
124 e 126)

Todas as opiniões e textos presentes


neste livro são de inteira responsabilidade
de seus autores, ficando o organizador
isento dos crimes de plágios e
informações enganosas.

IMEA

Instituto Medeiros de Educação Avançada

Av Senador Ruy Carneiro, 115 ANDAR: 1; CXPST: 072;


João Pessoa - PB
58032-100
Impresso no Brasil
2019
Aos participantes do CINASAMA pela
dedicação que executam suas
atividades e pelo amor que escrevem os
capítulos que compõem esse livro.
A maioria das idéias fundamentais da ciência são
essencialmente sensíveis e, regra geral, podem ser expressas em
linguagem compreensível a todos.
Albert Einstein
PREFÁCIO

O CINASAMA é um evento que tem como objetivo


proporcionar subsídios para que os participantes tenham
acesso às novas exigências do mercado e da educação. E ao
mesmo tempo, reiterar o intuito Educacional, Biológico,
Nutricional e Ambiental de direcionar todos que formam a
Comunidade acadêmica para uma Saúde Humana e
Educação socioambiental para a Vida.
O que é saúde? O assunto foi discutido durante esse
evento e aqui apresentado em forma resumida para registrar
a preocupação dos profissionais envolvidos com o tema
portanto, desejamos boa leitura e reflexão.
Os livros “SAÚDE interativa 1, 2, 3 e 4”;
Biotecnologia interativa; Odontologia interativa,
Farmácia interativa, Meio ambiente: uma visão
interativa 1 e 2, e Nutrição interativa 1 e 2” têm
conteúdo interdisciplinar, contribuindo para o aprendizado e
compreensão de varias temáticas dentro da área em estudo.
Esta obra é uma coletânea de pesquisas de campo e
bibliográfica, fruto dos trabalhos apresentados no Congresso
Internacional de Saúde e Meio Ambiente realizado entre os
dias 14 e 15 de dezembro de 2018 na cidade de João Pessoa-
PB.
Os eixos temáticos abordados no Congresso
Internacional de Saúde e Meio Ambiente e nos livros
garantem uma ampla discussão, incentivando, promovendo
e apoiando a pesquisa. Os organizadores objetivaram
incentivar, promover, e apoiar a pesquisa em geral para que
os leitores aproveitem cada capítulo como uma leitura
prazerosa e com a competência, eficiência e profissionalismo
da equipe de autores que muito se dedicaram a escrever
trabalhos de excelente qualidade direcionados a um público
vasto.
Esta publicação pode ser destinada aos diversos
leitores que se interessem pelos temas debatidos.
Espera-se que este trabalho desperte novas ações,
estimule novas percepções e desenvolva novos humanos
cidadãos.
SUMÁRIO
GENÉTICA _________________________________________________ 15

CAPÍTULO 1 ________________________________________________ 16
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2 ____________________________________ 16

MELHORAMENTO DOS RECURSOS GENÉTICOS ____________________ 37

CAPÍTULO 2 ________________________________________________ 38
CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE SEMENTES DE JUÁ (ZIZIPHUS JOAZEIRO
MART) EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS ________________________ 38

BIOLOGIA MOLECULAR _______________________________________ 57

CAPÍTULO 3 ________________________________________________ 58
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA _____________________________________________________ 58
CAPÍTULO 4 ________________________________________________ 75
DIAGNÓSTICO DO PAPILOMA VÍRUS HUMANO ATRAVÉS DAS PRINCIPAIS
TÉCNICAS DE BIOLOGIA MOLECULAR ____________________________ 75
CAPÍTULO 5 ________________________________________________ 93
MÉTODOS MOLECULARES DE GENOTIPAGEM PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ALIMENTOS EM UNIDADES DE
NUTRIÇÃO HOSPITALAR ______________________________________ 93
CAPÍTULO 6 _______________________________________________ 110
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA _________________ 110
CAPÍTULO 7 _______________________________________________ 135
CANAIS IÔNICOS COMO ALVO FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL _______________________________________ 135
CAPÍTULO 8 _______________________________________________ 154
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
_________________________________________________________ 154
CAPÍTULO 9 _______________________________________________ 177
SINGLE-NUCLEOTIDE POLYMORPHISMS EM GENES DE REPARO E
SUSCEPTIBILIDADE AO CÂNCER DE MAMA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
_________________________________________________________ 177

BIOTECNOLOGIA ___________________________________________ 194

CAPÍTULO 10 ______________________________________________ 195


PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR BEAUVERIA BASSIANA, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
_________________________________________________________ 195
CAPÍTULO 11 ______________________________________________ 219
PRODUÇÃO DE CELULASES POR FUNGOS FILAMENTOSOS ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
_________________________________________________________ 219
CAPÍTULO 12 ______________________________________________ 236
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO _____________________________________ 236
CAPÍTULO 13 ______________________________________________ 260
MELHORAMENTO GENÉTICO DA AGAVE CONTRIBUI NA ATIVIDADE
INSETICIDA CONTRA O AEDES AEGYPTI? __________________________ 260
CAPÍTULO 14 ______________________________________________ 277
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA MARESINA 1, UM MEDIADOR LIPÍDICO
DERIVADO DO ÁCIDO GRAXO POLIINSATURADO DO ÔMEGA 3, NO
PROCESSO INFLAMATÓRIO. __________________________________ 277
CAPÍTULO 15 ______________________________________________ 294
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DO ACETURATO DE DIMINAZENO, UM
ATIVADOR DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA II, FRENTE A
DISTÚRBIOS DIARREICOS ____________________________________ 294
CAPÍTULO 16 ______________________________________________ 309
POLISSACARÍDEOS EXTRAIDOS DE ALGAS MARINHAS DO NORDESTE
BRASILEIRO INIBEM A LIGAÇÃO DA TOXINA DE VIBRIO CHOLERAE AO
RECEPTOR GM1 IN VITRO ____________________________________ 309
CAPÍTULO 17 ______________________________________________ 327
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE RÃS
ANÁLOGOS A BOMBESINA ___________________________________ 327
CAPÍTULO 18 ______________________________________________ 347
A SÍNTESE VERDE DE NANOPARTÍCULAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA
_________________________________________________________ 347
CAPÍTULO 19 ______________________________________________ 363
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO LACTOBACILLUS REUTERI DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL ________________________________________ 363
CAPÍTULO 20 ______________________________________________ 386
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA. ____________________________________________ 386
CAPÍTULO 21 ______________________________________________ 411
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (ANACARDIUM OCCIDENTALE) COMO MATERIAL
DE PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA ___________________ 411
CAPÍTULO 22 ______________________________________________ 432
POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO ASSOCIADO A RESOLUÇÃO DE DISTÚRBIOS
GÁSTRICOS _______________________________________________ 432
CAPÍTULO 23 ______________________________________________ 450
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DO
ACÍDO VANÍLICO, COM ÊNFASE EM SEU DERIVADO SEMISSINTÉTICO
VANILATO DE ISOPROPILA. ___________________________________ 450
CAPÍTULO 24 ______________________________________________ 466
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DE NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS COMO
VEÍCULO DRUG DELIVERY ____________________________________ 466
CAPÍTULO 25 ______________________________________________ 483
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO 483
CAPÍTULO 26 ______________________________________________ 504
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS __________ 504
CAPÍTULO 27 ______________________________________________ 529
O POTENCIAL DA ESPÉCIE STREPTOMYCES HYDROSCOPICUS NA PRODUÇÃO DE
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS BIOATIVOS _______________________ 529
CAPÍTULO 28 ______________________________________________ 547
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO _____________________________ 547
CAPÍTULO 29 ______________________________________________ 568
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM
MACRÓFAGOS PERITONEAIS ESTIMULADOS COM LPS _____________ 568
CAPÍTULO 30 ______________________________________________ 588
ESTUDO DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA EM AMOSTRAS DE MAÇÃ E
GOIABA POR MEIO DA SECAGEM SOLAR ________________________ 588
CAPÍTULO 31 ______________________________________________ 605
ESTUDOS PARA A PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS E MÉTODOS A
PARTIR DO BETA CARIOFILENO SÃO PROMISSORES? UMA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA _____________________________________________ 605
CAPÍTULO 32 ______________________________________________ 622
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
_________________________________________________________ 622
CAPÍTULO 33 ______________________________________________ 644
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
_________________________________________________________ 644
GENÉTICA

15
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
CAPÍTULO 1

AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO


G1793A DO GENE DA ENZIMA MTHFR NA
PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA,
EM PARÂMETROS ANTROPOMÉTRICOS E
ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES
COM DIABETES MELLITUS TIPO 2
Mayara Karla dos Santos NUNES 1
Camila Maria Cordeiro DIAS 2
Caroline Severo de ASSIS 3
Mussara Gomes Cavalcante Alves MONTEIRO 3
Jairo Alves da SILVA 4
1
Pós-graduanda em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica de Medicamentos; UFPB;
2
Graduanda em Farmácia, UFPB; 3 Pós-Graduandas em Ciências da Nutrição, UFPB;
4
Graduado em Ciências da Nutrição, UNINASSAU;
mayarakarlasn@hotmail.com.

RESUMO: O objetivo do trabalho foi avaliar a ocorrência de


nefropatia diabética (ND), os parâmetros antropométricos com
o polimorfismo G1793A do gene MTHFR e aspectos atitudinais
em pacientes com diabetes melittus tipo 2 (DM2). Foram
analisados pacientes, com tempo diagnostico entre 5 e 10 anos,
com idade superior a 40 anos, que foram divididos em dois
grupos: com nefropatia (ND) e sem nefropatia (SND). O DNA
genômico foi extraído de células bucais e o polimorfismo
G1793A da MTHFR foi identificado através da técnica PCR-
RFLP. Os resultados obtidos foram analisados pelo teste exato
de Fisher, com nível de significância p<0,05. O tempo de
duração de diabetes foi de 7,47 ±2,22 anos no grupo com
nefropatia e 6,89 ±2,00 no grupo sem nefropatia: p=0,1625. A

16
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
frequência do alelo MTHFR 1793A foi 3,33% no grupo com
nefropatia e 5% no grupo sem nefropatia; p=0,6749. A
frequência do alelo MTHFR 1793G foi 93,33% no grupo ND e
90% no grupo SND. O genótipo heterozigoto GA apareceu em
6,67% no grupo ND e 10% no grupo SND. As médias do escore
ATT-19 dos pacientes com ND foram 50,97±15,22 e no grupo
sem ND 50,74±17,12 com o p= 0,9429. Podemos concluir que
a presença do alelo MTHFR 1793A não influenciou para
presença de ND na população analisada neste estudo.
Palavras chave: Diabetes. Nefropatia. Polimorfismo.

INTRODUÇÃO

O diabetes mellitus (DM) é uma doença crônica não


transmissível caracterizada por distúrbios metabólicos que
causam o acúmulo de açúcar na corrente sanguínea induzindo
inúmeras complicações. Apesar de ser uma doença em que na
maioria dos casos se pode prevenir, os dados apresentados
pela World Health Organization (WHO) revelam que a
prevalência dos casos de diabetes no mundo duplicou entre os
anos de 1980 e 2014, com maior incidência em países de baixa
e média renda; principalmente pelo envelhecimento
populacional, maior urbanização, industrialização,
sedentarismo e maior prevalência da obesidade (SBD, 2015).
Além disso, a DM está entre as dez doenças que mais
matam no mundo, com cerca de 1,5 milhões de mortes ao ano
(WHO, 2016). Considerado um problema de saúde gravíssimo
por seu alto custo econômico para a sociedade e por interferir
diretamente na qualidade de vida das pessoas, cerca de 415
milhões de indivíduos entre 20 e 79 anos possuem DM no

17
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
mundo, e até 2040 espera-se que esse número cresça a 642
milhões (IDF, 2015).
Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS),
estima-se que no Brasil a DM atinge cerca de 6,2% da
população acima de 18 anos. Ainda em nível nacional, a DM
atinge cerca de 7% das mulheres, enquanto nos homens há
uma recorrência de 5,4%. Outro dado importante é a faixa de
escolaridade dos pacientes diabéticos, com predominância
para as pessoas sem instrução ou com ensino fundamental
incompleto, com 9,6% (IBGE, 2014).
O diabetes pode ser classificado em tipo 1, tipo 2,
gestacional e secundário a outras patologias e todos têm em
comum o fato de que a glicemia está acima dos valores
considerados normais (WHO, 2014; ADS, 2015). O DM tipo 1 é
resultado da destruição das células β (beta) do pâncreas devido
a um processo autoimune levando à deficiência total de insulina
no corpo, desenvolve-se com maior frequência entre jovens e
adolescentes (ASHCROFT, RORSMAN, 2012). Os principais
sintomas observados em pacientes com DM tipo 1 são: poliúria,
polifagia, polidipsia, perda de peso e alterações visuais. Além
de o paciente ser totalmente dependente de insulina para evitar
hiperglicemia, podendo agravar-se a um quadro de cetoacidose
(FU et al., 2013). O DM 1 está presente em 5% a 10% dos casos
de diabetes mellitus, sendo minoria diante da DM tipo 2 (SBD,
2015). Devido a não produção de insulina, todos os pacientes
que possuem DM tipo 1 são dependentes de insulina
regularmente (FU et al., 2013; SILVERTHORN, 2016).
O DM tipo 2 é o mais comum ocorrendo entre 90 a 95%
dos pacientes, e sua principal característica é o
comprometimento tanto da ação quanto da secreção da
18
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
insulina, apresentando retardo na resposta do organismo à
ingestão de glicose, demonstrando deficiência ao transportar a
glicose para dentro da célula aumentando sua concentração no
sangue (GIACOMINI, HAHN, SIQUEIRA, 2013; MONTESINOS,
2014). No DM tipo 2, os sintomas apresentados são menos
agudos que no tipo 1 devido a presença da insulina, mesmo
com a resistência do metabolismo a sua ação (SILVERTHORN,
2016). Porém, os pacientes com o DM2 podem apresentar os
mesmos sintomas citados, além de feridas de difícil cicatrização
nos estágios mais avançados da doença.
Sedentarismo, má alimentação, sobrepeso e obesidade,
idade avançada, histórico familiar de diabetes, histórico de
diabetes gestacional e tabagismo são fatores de risco para
diabetes tipo 2 (WHO, 2016). Os danos causados em diversos
órgãos do corpo pelo diabetes podem trazer sérios problemas
para a saúde do indivíduo diabético. As complicações
consequentes desses danos são fatores que trazem uma
péssima qualidade de vida para a pessoa que convive com a
doença, além de serem significantes contribuintes para a
redução da sobrevida.
A hiperglicemia crônica está associada com o risco de
progressão de complicações macro e microvasculares (ABBAS
et al., 2013). Nas complicações macro vasculares grandes
vasos são obstruídos dando origem a problemas
cardiovasculares que incluem o acidente vascular cerebral,
gangrena periférica e infarto do miocárdio. Quanto à
complicação microvascular atinge pequenos vasos, arteríolas e
capilares. Esse comprometimento microvascular atinge
principalmente os olhos, os rins e os nervos periféricos, levando

19
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
a nefropatia, retinopatia e neuropatia, respectivamente
(DOMINGUETI, 2014; NICHOLAS e MARK; 2015; WHO, 2016).
Além dos fatores de riscos já citados anteriormente, a
hereditariedade, também, contribui diretamente para o
desenvolvimento da DM2 (ABBAS et al., 2013; HALDAR et al.,
2015). A genética está diretamente relacionada com o
aparecimento ou não das complicações diabéticas, há genes
que predispõem o indivíduo a desenvolver ou não o DM tipo 2.
Porém, se faz necessária uma ativação dessa predisposição
genética por fatores externos, sendo eles comportamentais ou
ambientais (HALDAR et al., 2015).
A hiperglicemia é um fator influenciado pelo
comportamento e pelo estilo de vida do paciente, sendo
importante para o desenvolvimento da nefropatia diabética. Ela
contribui para a lesão glomerular com a ativação das vias dos
polióis e das hexosaminas, ativação da proteína cinase C (PKC)
e formação dos produtos finais da glicosilação avançada
(PGAs). Os PGAs constituem um grupo resultante de diversas
reações não enzimáticas que unem a glicose em excesso no
sangue a proteínas, lipídeos e ácidos nucleicos. Esses PGAs
podem formar ligações cruzadas com proteínas, alterando sua
estrutura e função na matriz extracelular, na membrana basal e
no endotélio do glomérulo renal (GIACOMINI, HAHN,
SIQUEIRA, 2013; MONTESINOS, 2014; HALDAR et al., 2015).
A ND é uma das principais complicações
microvasculares e atinge aproximadamente 35% dos pacientes
com DM (SBD, 2015). É responsável por um importante
aumento na morbidade e mortalidade, além de ser uma das
principais causas da doença renal em estágio terminal, 26% dos

20
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
pacientes em início de diálise apresentam quadro de ND
(AMORIM et al., 2013).
Entretanto, como apenas 35% dos pacientes com DM
desenvolvem lesão renal, se as lesões causadas pela
hiperglicemia crônica fossem suficientes para ocasionar
alterações nos rins, todos os pacientes com DM teriam ND. O
DM induz importantes alterações metabólicas, hormonais e em
fatores de crescimento, essas alterações ocorrem praticamente
em todos os pacientes. Com isso existem evidências
crescentes que o controle da glicemia seja um fator necessário,
mas não suficiente para evitar o desenvolvimento da ND
(GARCIA; PEREIRA, 2015).
A genética tem um papel importante no desenvolvimento
da ND, tendo em vista que sua origem é multifatorial. Genes
modificadores são importantes para a taxa de progressão da
lesão, da microalbuminúria à insuficiência renal crônica terminal
(IRCT). Diversos genes candidatos foram testados quanto à sua
associação com esta complicação diabética, vários estudos
genéticos têm sido feitos com o intuito de descobrir possíveis
fatores genéticos envolvidos nesta doença (LIM, 2014;
MCKNIGHT, DUFFY, MAXWELL, 2015).
O gene da metilenotetrahidrofolatoredutase (MTHFR)
vem sendo estudado e relacionado com o aparecimento das
complicações diabéticas. A MTHFR tem uma grande relevância
na regulação da via do ácido fólico, essa enzima catalisa a
conversão irreversível de 5,10-metilenotetrahidrofolato em 5-
metiltetrahidrofolato e o 5-metiltetrahidrofolato é doador de um
carbono para e remetilação da homocisteína em metionina
(GOYETTE et al., 1998).

21
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
As concentrações plasmáticas de homocisteína
dependem de fatores nutricionais, ambientais e genéticos
(ZAPPACOSTA et al., 2013). Uma mutação no gene da MTHFR
é considerada um dos defeitos genéticos mais comuns que
afetam o metabolismo da homocisteína. Estudos têm
demonstrado relação entre os níveis de homocisteína e
complicações diabéticas, tanto macrovasculares quanto
microvasculares, como retinopatia e nefropatia (IZMIRLI, 2013;
NIU et al., 2012; KAYADIBI et al., 2014; MA et al., 2014;
MALAGUARNERA et al., 2014; SETTIN et al., 2014; XU et al.,
2014).
O gene da MTHFR está localizado no braço curto do
cromossomo 1 no genoma humano, o transcrito primário
(cDNA) para o MTHFR possui 2,2 kb nucleotídeos distribuídos
em 11 íntrons e 12 éxons (GOYETTE et al., 1998). A troca da
citosina pela timina na posição 677 do gene, ocorre no éxon4 e
é caracterizado por uma substituição da alanina pela valina no
códon 222. Esse polimorfismo denominado C677T ou
rs1801133 foi considerado responsável por dar origem a uma
variante não resistente a alterações na temperatura e causar a
redução significativa da atividade da enzima.
Outro polimorfismo investigado no gene da MTHFR é o
A1298C ou rs1801131, esta mutação também induz a
diminuição da atividade da enzima, porém, ele não resulta em
uma proteína termolábil, como o C677T. Essa variante
polimórfica ocorre no éxon7 e é caracterizada pela troca do
glutamato por alanina no códon 429 (B. ZAPPACOSTA et al.,
2013; NMJ VAN DER PUT, F GABREELS, EMB STEVENS et
al.,1998; I WEISBERG et al., 1998).

22
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
Um novo sítio polimórfico do gene da MTHFR foi
identificado por Rady et al. em 2002, o G1793A ou rs2274976.
A troca da guanina por adenina na posição 1793 do gene no
éxon 11 resulta na substituição da arginina por glutamina e não
há relatos publicados sobre seu envolvimento na atividade da
MTHFR nem seu envolvimento com complicações diabéticas
(RADY et al., 2002; MORITZ NETO, MOURA JUNIOR,
PERSUHN, 2013).
A atividade defeituosa do gene MTHFR, implicados por
polimorfismos, modulam vias metabólicas que influenciam no
estresse oxidativo, este pode levar ao surgimento e/ou
agravamento das microcomplicações diabéticas. A partir das
evidências científicas apresentadas teve-se por objetivo avaliar
o polimorfismo G1793A do gene da MTHFR com a ocorrência
de nefropatia diabética, parâmetros antropométricos e aspectos
atitudinais em pacientes com diabetes melittus tipo 2.

MATERIAIS E MÉTODO

População e amostra
Foram incluídos na amostra pacientes diabéticos com
tempo de diagnóstico entre 5 a 10 anos atendidos nos Serviços
de referências para diabéticos Hospital Universitário Lauro
Wanderley (HULW), da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB), em João Pessoa. Os pacientes selecionados
receberam um convite a participar do estudo através da
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O
presente projeto foi aprovado Comissão de Ética para
Pesquisas em Humanos da Universidade Federal da Paraíba
(Número do Parecer: 257.325; Data da Relatoria: 23/04/2013).
23
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
A devolutiva dos resultados foi realizada diretamente aos
pacientes que assim o desejarem, assim como através de
relatório para o Hospital Lauro Wanderley.

Categorização dos grupos experimentais


Os pacientes foram recrutados no ambulatório de
Endocrinologia do HULW e os que desejaram participar foi
realizado a dosagem de albumina em urina de 24 horas para
identificação de ND. Os pacientes foram incluídos em grupos
clínicos: com ND e sem ND (SND).

Determinação da albuminúria
Avaliou-se o comprometimento renal através da
quantificação de albumina em amostra de urina de 24 horas. A
urina coletada foi analisada em equipamento automatizado pelo
método turbidimétrico utilizando kit Labtest. Microalbuminúria é
definida como concentração de albumina urinária > 30
mg/L/24h.

Variáveis sócio-demográficas e antropométrica


Foram coletadas através de instrumento adequado no
qual o paciente submeteu-se a uma entrevista para
identificação da região de residência, local de nascimento,
idade (anos), sexo, raça/cor, escolaridade, situação conjugal.
As variáveis antropométricas são: peso (kg) determinado em
balança, altura (cm) e circunferência da cintura que será medida
por fita métrica. O índice de massa corporal foi calculado
dividindo-se o peso em quilogramas pela estatura em metros
quadrados. A circunferência da cintura foi analisada segundo

24
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
pontos de corte da OMS para avaliar risco metabólico
associado à adiposidade abdominal.

Análise da atitude em relação à doença


Para analisar a atitude dos pacientes, foi utilizado o
questionário ATT-19. Trata-se de um instrumento auto-
preenchível sobre a medida de ajustamento psicológico para
DM, desenvolvido como resposta às necessidades de avaliação
de aspectos psicológicos e emocionais sobre a doença
(WELCH; DUNN; BEENEY, 2001). Consiste de 19 itens que
incluem seis fatores: a) estresse associado a DM, b)
receptividade ao tratamento, c) confiança no tratamento, d)
eficácia pessoal, e) percepção sobre a saúde, f) aceitação
social. As questões 11, 15 e 18 começam com o escore reverso.
A principal aplicação da escala de atitudes foi associada à
avaliação da intervenção educacional. Cada resposta é medida
pela escala de Likert de cinco pontos (discordo totalmente -
escore 1; até concordo totalmente - escore 5). O total da taxa-
escore varia entre 19 a 95 pontos. Um alto escore indica a
atitude positiva sobre a doença.

25
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
Extração do DNA genômico de células da mucosa oral
Foi seguida a metodologia apresentada por Aidar e
colaboradores (2007) para a extração de células do epitélio oral
e extração do DNA. Depois de coletada as células da mucosa
oral através de bochecho de uma solução de sacarose a 3% por
1 minuto transferiu-se o material para um tubo e completou-o
com uma solução de T.N.E. (69,5% de etanol absoluto; 3,6% de
TRIS; 5% de NaCl; 3,5% de EDTA e 18,4% de água milliQ) até
10 mL e o centrifugou por 10 minutos a 3.200 rpm (rotações por
minuto) em temperatura ambiente (25°C), ocasionado a
precipitação das celulas. Então se desprezou o sobrenadante e
em seguida adicionou-se 1mL de T.N.E. e o material foi
centrifugado a 3.200 rpm por 5 minutos, ao final desprezou-se
o sobrenadante. Em seguida foi adicionado 1 mL de solução de
lise ao precipitado, que tem como objetivo o rompimento das
membranas das células, e o material foi submetido ao vortex
para a ampliação do contato da solução de lise com as células.
Posteriormente adicionou-se uma solução mix de (290µL de
solução de lise + 10µL de proteinase K) para o rompimento das
membranas das células ainda existentes e precipitar as
proteínas, em seguida o material foi submetido a um banho-
maria por 55° C por 12 horas, para o perfeito funcionamento da
enzima proteinase K. Passado o tempo necessário retirou-se o
material e o colocou num tubo ependorf de 2 mL, adicionou-se
500µL de acetato de amônia + 1mM de EDTA, levou o material
para o vortex e centrifugou a 14.000 rpm por 12 minutos a 4ºC,
para a precipitação das proteínas. Posteriormente dividiu-se o
sobrenadante em dois tubos de ependorf de 1,5 mL,
acrescentou-os 540µL de isopropanol e os homogeneizou
cuidadosamente para a precipitação do DNA. Em seguida Em
26
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
seguida os tubos foram centrifugados a 14.000 rpm por 7
minutos a 4°C, desprezado o sobrenadante e foram
adicionados 1mL de etanol 70%. Então o material foi
homogeneizado, centrifugado a 14.000 rpm por 7 minutos a 4°C
e foi desprezado o sobrenadante. Posteriormente esperou-se
os tubos secarem e o DNA foi ressuspendido com 40µL de uma
solução de T.E. e guardado a -20°C.

Genotipagem do polimorfismo MTHFR G1793A


A presença polimorfismo G1793A do gene MTHFR foi
determinada através da amplificação de um fragmentodoéxon
11do gene que codificada MTHFR através da reação em cadeia
da polimerase (PCR – Polymerase Chain Reaction). As
amostras foram submetidas a uma etapa inicial de dois min a
94°C e 30 ciclos de 94°C para desnaturação da molécula, 1 min
a 66°C para o anelamento e 1 min a 72°C para extensão da
molécula. Ao final do PCR, obteve-se um fragmento de 310pb.
A digestão com a enzima BsbrI, cliva o fragmento em duas
bandas de 233pb e 77pb para o genótipo 1793GG, três bandas
de 310pb, 233pb e 77pb para o genótipo 1793GA e uma banda
de 310pb para o genótipo 1973AA (RADY et al., 2002). As
amostras digeridas foram observadas em gel de eletroforese
com poliacrilamida 1,5% e corado em nitrato de prata.

Análise estatística
Os dados quantitativos foram expressos por média e
desvio-padrão, enquanto os dados qualitativos foram expressos
por números absolutos ou valores percentuais. Comparações
entre grupos foram feitas com o teste T independente ou com o

27
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
seu correspondente não-paramétrico Mann-Whitney. As
distribuições de alelos e genótipos entre os grupos foram
comparadas usando o teste exato de Fisher. Adotou-se um
valor de p <0,05 como estatisticamente significativo. Os dados
foram analisados por meio do software Graph Pad Instat 3.0
(San Diego, CA, EUA).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste trabalho foram analisados 122 pacientes, sendo


36 apresentando ND e 86 SND. A caracterização clínica e
antropométrica dos grupos (Tabela 1) permite identificar que no
grupo portador de nefropatia (com ND) o percentual de
pacientes portadores de hipertensão arterial é estatisticamente
maior do que no grupo de pacientes diabéticos sem a
complicação (p=0,0057). A hipertensão tem sido considerada
um fator de risco isolado para doença renal diabética e
aparentemente a elevação de creatinina e piora na taxa de
filtração glomerular aparecem associadas com o quadro
(VERMA et al., 2016). Quanto às demais variáveis analisadas,
não foram identificadas diferenças significativas. Uma das
características mais importantes deste estudo é o fato de que o
recrutamento foi rigoroso quanto ao tempo de diagnóstico de
diabetes, evitando disparidades entre grupo ND e SND
(p=0,1625).
Com relação às variáveis antropométricas
analisadas, diferenças entre os grupos não foram identificadas,
IMC (p=0,5674) e Circunferência abdominal (p=0,3326). Mesmo
quando os grupos feminino e masculino foram analisados
isoladamente, os grupos mostraram-se semelhantes do ponto
28
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
de vista estatístico. A adiposidade abdominal foi associada a
elevação da microalbuminúria, mas não à baixa taxa de filtração
glomerular em indivíduos diabéticos chineses (WANG et al.,
2016). Em indivíduos obesos diabéticos, a circunferência
abdominal pode aparecer significativamente maior no grupo
portador de nefropatia (BLASLOV et al., 2015). Cabe ressaltar
que no presente estudo, além de terem sido estudados apenas
pacientes com tempo de diagnóstico entre 5 e 10 anos, havia
na amostra indivíduos não obesos, prejudicando parâmetros de
comparação com os estudos citados.

Tabela 1. Caracterização clínica e antropométrica dos


pacientes com e sem Nefropatia Diabética
Com ND (36) Sem ND (86) p
Idade 59,80(±7,06) 57,41(±9,87) 0,1888
Tempo de DM 7,47(±2,22) 6,89(±2,00) 0,1625
IMC 29,11(±4,92) 29,69(±5,05) 0,5674
Circunf. abdominal 102,58(±11,43) 105,15(±13,99) 0,3326
Circunf. abdominal (fem.) 102,18(±10,97) 104,93(±14,76) 0,4758
Circunf. abdominal (mas.) 102,95 (±12,11) 107,08 (±11,76) 0,2693
Hipertensão 86,11% (31) 60,46% (52) 0,0057*
Dislipidemia 66,66% (24) 47,67 (41) 0,0733
Tabagismo 8,33% (3) 5,81% (5) 0,6924
Etilismo 11,11% (4) 13,95% (12) 0,7760
Sedentarismo 58,33% (21) 56,97% (49) 1,0000
* p ˂ 0,05, considerado estatisticamente significativo/
Fonte: Dados da pesquisa.

29
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
Quanto à análise do polimorfismo G1793A da MTHFR só
foi possível genotipar 110 pacientes, sendo 30 ND e 80 SND. A
seguir, na tabela 2 a distribuição genotípica.

Tabela 2. Distribuição dos genótipos G1793A da MTHFR dos


pacientes ND e SND
Grupos
ND (30) SND (80) p OR( IC 95%)
genotípicos
1,267
GG 28 (93,33%) 72 (90%) 0,6740
(0.2561 to 6.265)

GA 2 (6,67%) 8 (10%)

AA 0 0

Frequência
3,33% 5%
do alelo A
*p ˂ 0,05 = diferença após aplicação do teste exato de Fischer
Fonte: Dados da pesquisa.

A análise de genótipos do polimorfismo G1793A da


MTHFR mostrou resultados parecidos entre os grupos ND e
SND com p= 0,6740. A frequencia do alelo MTHFR 1793A foi
3% no grupo com Nefropatia e 5% nos grupos controle (Tabelas
2), mostrando que a ausência de homozigotos AA na amostra
é consequencia da raridade alélica. A baixa frequencia
identificada não é novidade na literatura e vem sendo relatada
desde a divulgação deste polimorfismo (RADY et al., 2002).

30
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
Estudos relatam que o G1793A pode ser associado a
várias condições clínicas de interesse epidemiológico, como
câncer de pulmão (SHI et al., 2005), câncer de cabeça e
pescoço (NEUMANN, et al., 2005), acidente vascular cerebral
isquêmico (GIUSTI et al., 2010), doença de Kawasaki (YOON
et al., 2011) e fissuras lábio-palatinas (AQUINO et al., 2014). Os
resultados deste estudo sugerem que não existe associação
entre o referido alelo e a ocorrência de complicação renal nos
pacientes diabéticos.

Tabela 3. Relação dos genótipos G1793A da MTHFR com


parâmetros antropométricos
GA (12) GG (105) p
IMC 29,44 (±4,17) 29,57 (±5,06) 0,9318
Circunf.
103,66 (±10,11) 104,57 (±13,50) 0,8227
abdominal
Fonte: Dados da pesquisa.
Independentemente da existência de nefropatia, os
pacientes foram separados pelo genótipo, gerando os grupos
GA e GG e não foi identificada diferença significativa entre
grupos quanto ao IMC (p=0,9318) e a Circunferência Abdominal
(p=0,8227) (Tabela 3). Além disso, os grupos foram
semelhantes quanto à idade (p=0,2915) e tempo de diagnóstico
de DM (p=0,6563) – dados não mostrados.
O questionário ATT-19, traduzido e validado para língua
portuguesa (TORRES et al., 2005) foi aplicado e utilizado para
analisar a atitude dos indivíduos em relação à patologia. Os
resultados indicaram que não existiram diferenças significativas
entre os resultados dos grupos teste e controle (Tabela 4).
31
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2

Tabela 4. Análise do escore ATT-19 nos grupos clínicos


experimentais
ND SND p
Médias do
50,97 (±15,22) 50,74 (± 17,12) 0,9429
escore ATT-19
Fonte: Dados da pesquisa.

CONCLUSÕES

A presença do alelo MTHFR 1793A não foi fator de risco


para ND (Nefropatia Diabética) na população analisada neste
estudo. Hipertensão arterial foi confirmada como fator de risco
para a ND. O genótipo ou a presença de complicações não
foram determinantes no índice de massa corporal. Quanto ao
questionário ATT-19, utilizado para análise atitudinal do
indivíduo, não houve diferença entre o grupo com ou sem a
nefropatia diabética.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABBAS, S.; TASLEEM RAZA, S.; AHMED, F.; AHMAD, A.; RIZVI AND, S.;
MAHDI, F. Association of Genetic polymorphism of PPARγ-2, ACE,
MTHFR, FABP-2 and FTO genes in risk prediction of type 2 diabetes
mellitus. Journal of Biomedical Science, v.20, n.80, 2013.
AIDAR, M; LINE, S. R. A simple and cost-effective protocol for DNA
isolation from buccal epithelial cells. Brazilian Dentist Journal, v.18, n.2,
p. 148-52, 2007.
AMERICAN DIABETES ASSOCIATION et al. 2. Classification and
diagnosis of diabetes. Diabetes Care, v.38, n.1, p.8-16, 2015.

32
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
AMORIM, N. O. B.; LISBOA, H. R. K.; SIQUEIRA, L. D. O. Glicação não
enzimática de proteínas na gênese da nefropatia diabética. Revista
Hospital das Clínicas de Porto Alegre, v.33, n.2, 2013.
AQUINO, S. N.; HOSHI, R.; BAGORDAKIS, E.; PUCCIARELI, M. G. R.;
MESSETTI, A. C.; MOREIRA, H. et al. MTHFR rs2274976 Polymorphism Is
a Risk Marker for Nonsyndromic Cleft Lip with or without Cleft Palate in the
Brazilian Population. Wiley Online Library, v.100, p .30-35, 2014
ASHCROFT, F. M; RORSMAN, P. Diabetes mellitus and the β cell: the last
ten years. Cell, v. 148, p. 1160-1171, 2012.
BLASLOV, K.; BULUM, T.; DUVNJAK, L. Waist-to-height ratio is
independently associated with chronic kidney disease in overweight type 2
diabetic patients. Endocrine Research, v. 40, p. 8-195, 2015.
DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES: 2014-
2015/SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES; [organização José Egidio
Paulo de Oliveira, Sérgio Vencio]. – São Paulo: AC Farmacêutica, 2015.
DOMINGUETI, C. Avaliação da função renal e sua associação com FVW,
ADAMTS13 E DÍMERO D em pacientes diabéticos tipo 1. 2014. 174 f. Tese
(Doutorado em Ciências Farmacêuticas) - Departamento de Análises
Clínicas e Toxicológicas, Faculdade de Farmácia, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte – Minas Gerais, 2014.
FU, Z.; GILBERT, E. R.; LIU, D. Regulation of insulin synthesis and
secretion and pancreatic beta-cell dysfunction in diabetes. Current
Diabetes Reviews, v. 9, n. 1, p. 25–53, jan 2013.
GARCIA, A. C. F. C.; PEREIRA, J. C. ALTERAÇÃO RENAL EM
PACIENTES DIABÉTICOS. SYNTHESIS| Revistal Digital FAPAM, v.6,
p.1-14, 2016.
GIACOMINI, MM.; HAHN, S.; SIQUEIRA, L.O. 2013. Análise de correlação
do perfil lipídico e dano oxidativo em pacientes diabéticos. Revista
Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada, v.6, n.2, p. 251-255, 2013.
GIUSTI, B.; SARACINI, C.; BOLLI, P.; MAGI, A.; MARTINELLI, I.;
PEYVANDI, F. et al. Early-onset ischaemic stroke: Analysis of 58
polymorphisms in 17 genes involved in methionine metabolism - Blood
Coagulation, Fibrinolysis and Cellular Haemostasis, v.104, n.2, p.231-
242, 2010.
GOYETTE, P.; ADITYA, P.; MILOS, R.; FROSST, P.; TRAN, P.; CHEN, Z.;
CHAN, M.; ROZEN, R. Gene structure of human and mouse
methylenetetrahydrofolatereductase (MTHFR) - Mammalian Genome, v.9,
p.652-656, 1998.
HALDAR, S. R.; CHAKRABARTY, A.; CHOWDHURY, S.; HALDAR, A.;
SENGUPTA, S.; BHATTACHARYYA, M. Oxidative stress-related genes in

33
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
type 2 diabetes: association analysis and their clinical impact. Biochemical
genetics, v.53, p.93-119, 2015.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.
2014. Pesquisa Nacional de Saúde 2013: percepção do estado de
saúde, estilos de vida e doenças crônicas. Rio de Janeiro: IBGE, p. 23-
47.
INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION. IDF Diabetes Atlas, 7th edn.
Brussels, Belgium: International Diabetes Federation, 2015. Disponível
em: http://www.diabetesatlas.org/across-the-globe.html.
IZMIRLI; MUZEYYEN. A literature review of MTHFR (C677T and
A1298Cpolymorphisms) and cancer risk. Molecular Biology Reports,
v.40, 2013.
KAYADIBI, H.; SERTOGLU, E.; UYANIK, M. Plasma total homocysteine
levels in diabetic retinopathy. Biomed Research International, 2014.
LIM, ANDY KH. Diabetic nephropathy–complications and treatment.
International Journal of Nephrology and Renovascular Disease, v.7,
p.361, 2014.
MA, Y.; LI, L.; GENG, X. B; HONG, Y.; SHANG, X. M.; TAN, Z. et al.
Correlation between hyperhomocysteinemia and outcomes of patients with
acute myocardial infarction. American Journal Therapeutics, 2014.
MALAGUARNERA, G.; GAGLIANO, C.; GIORDANO, M.; SALOMONE, S.;
VACANTE, M.; BUCOLO, C. et al. Homocysteine serum levels in diabetic
patients with non proliferative, proliferative and without retinopathy. Biomed
Research International, 2014.
MCKNIGHT, A. J.; DUFFY, S.; MAXWELL, A. P. Genetics of diabetic
nephropathy: a long road of discovery. Current Diabetes Reports, v.15,
n.7, p.41, 2015.
MONTESINOS, J. F. F. Análisis del la relación del genotipado y
marcadores de estrés oxidativo con la presencia y grado de vasculopatía
periférica en pacientes con diabetes tipo 2. 2014. 94 f.. Tese (Doutorado
em Medicina) – Departamento de Medicina, Universidade de
Valencia, Valencia, 2014.
MORITZ NETO, A. I.; MOURA, J. R.; PERSUHN, D. C. Frequência do
polimorfismo G1793A MTHFR em indivíduos com doença arterial
coronariana precoce:. Estudo transversal, São Paulo
Medical Journal, Vol.131, n.5, p. 296-300, 2013.
NEUMANN, A. S.; LYONS, H. J.; SHEN, H.; LIU, Z.; SHI, Q.; STURGIS, E.
M. et al. Methylenetetrahydrofolatereductase polymorphisms and risk of
squamous cell carcinoma of the head and neck: a case-control analysis –
International Journal of Cancer, v.115, p.131-136, 2005.

34
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
NICHOLAS, D. F. R.; MARK E. C. 50 years forward: mechanisms of
hyperglycaemia-driven diabetic complications. Diabetologia, 2015.
NIU, W.; QI, Y. An updated meta-analysis of methylenetetrahydrofolate
reductase gene 677C/T polymorphism with diabetic nephropathy and
diabetic retinopathy. Diabetes Research and Clinical Practice. v. 95,
p.110-108, 2012.
RADY, L. P.; SZUES, S.; GRADY, J.; HUDNALL, S. D.; KELLNER, L. H.;
NITOWSKY, H. et al. Genetic Polymorphisms of
MethylenetetrahydrofolateReductase (MTHFR) and Methionine Synthase
Reductase (MTRR) in Ethnic Populations in Texas; a Report of a Novel
MTHFR Polymorphic Site, G1793A - American Journal of Medical
Genetics, v.107, p.162-168, 2002.
SETTIN, A.; EL-BAZ, R.; ISMAEEL, A.; TOLBA, W.; ALLAH, W.A.
Association of ACE and MTHFR genetic polymorphisms with type 2
diabetes mellitus: Susceptibility and complications. Journal Renin-
Angiotensin-Aldosterone System, 2014.
SHI, Q.; ZHANG, Z.; LI, G.; PILLOW, P. C.; HERNANDEZ, L. M.; SPITZ, M.
R.; EI, Q. Sex Differences in Risk of Lung Cancer Associated with
Methylene-tetrahydrofolate Reductase Polymorphisms - Cancer
Epidemiology, Biomarkers & Prevention, v.14, n.6, 2005.
SILVERTHORN, DEE U. Fisiologia Humana – Uma abordagem integrada.
7 ed. Porto Alegre; Artmed, 2016.
TORRES HC, VIRGINIA A H, SCHALL VT. [Validation of Diabetes Mellitus
Knowledge (DKN-A) and Attitude (ATT-19) Questionnaires]. Revista de
Saúde Pública, v.39, n.6, 2005.
VAN DER PUT N.M.J.; GABREELS F.; STEVENS E.M.B. et al. A second
common mutation in themethylenetetrahydrofolatereductase gene:
anadditionalriskfactor for neural-tube defects? American Journal Human
Genetics, v.62, p.1044–1051, 1998.
VERMA, A.; VYAS, S.; AGARWAL, A.; ABBAS, S.; AGARWAL, D.P.;
KUMAR, R. Diabetic Kidney Disease and Hypertension: A True Love Story.
Journal of Clinical and Diagnostic Research, v.10, n.3, p. 3-11, 2016.
WAN, Z.; DING, L.; HUANG, X.; CHEN, Y.; SUN, W.; LIN, L. et al.
Abdominal adiposity contributes to adverse glycemic control and
albuminuria in Chinese type 2 diabetic patients: A cross-sectional study.
Journal of Diabetes, v.9, n.3, p. 285-295, 2016.
WEISBERG, I.; TRAN, P.; CHRISTENSEN, B.; SIBANI, S.; ROZEN, R. A
secondgeneticpolymorphism in methylenetetrahydrofolatereductase
(MTHFR) associatedwithdecreasedenzymeactivity. Molecular Genetics
and Metabolism, v.64, p.169–172,1998.

35
AUSÊNCIA DE EFEITO DO POLIMORFISMO G1793A DO GENE DA ENZIMA
MTHFR NA PRESENÇA DE NEFROPATIA DIABÉTICA, EM PARÂMETROS
ANTROPOMÉTRICOS E ASPECTOS ATITUDINAIS EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
WELCH, G.; DUNN, S.M.; BEENEY, L.J. The ATT39: a measure of
psychosocial adjustment to diabetes. In: Bradley C, editor. Handbook of
psychology and diabetes. Amsterdam: Harwood Academic Publishers,
p. 223-47, 2001.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global status report on
noncommunicable diseases 2014. Geneva: World Health Organization,
2014.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global report on diabetes. Geneva:
World Health Organization, 2016.
XU, J.; XU, J. L.; WANG, Y. X.; YOU, Q. S.; JONAS, J. B.; WEI, W. B. Ten-
Year Cumulative Incidence of Diabetic Retinopathy. The Beijing Eye Study
2001/2011. PLoS One, v.9, 2014.
YOON, K. L.; KO, J. H.; SHIM, K. S.; HAN, M. Y.; CHA, S.H; KIM, S. K.;
JUNG, J. H. Polymorphisms of methylenetetrahydrofolatereductase are not
a risk factor for Kawasaki disease in the Korean population - The Korean
Pediatric Society, v.54, n.8, p.335-339, 2011.

36
MELHORAMENTO
DOS RECURSOS
GENÉTICOS

37
CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE SEMENTES DE JUÁ (Ziziphus joazeiro Mart)
EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS
CAPÍTULO 2

CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE
SEMENTES DE JUÁ (Ziziphus joazeiro Mart)
EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS
Luzia Marcia de Melo SILVA¹
Francinalva Cordeiro de SOUSA¹
Danielle dos Santos Tavares PEREIRA¹
Géssika Cecília Carvalho da SILVA¹
Ângela Matilde da Silva ALVES¹
¹Professora do Instituto Federal de Alagoas – IFAL Campus Murici;
dluziamarcia@yahoo.com

RESUMO: Apesar do reconhecimento científico das suas


potencialidades e importância para a biodiversidade, espécies
arbóreas da caatinga ainda permanecem sem a atenção devida
por parte de programas eficientes que visem à conservação e
valorização como recurso natural junto à população. O Ziziphus
joazeiro Mart. é uma das espécies nessa condição e até hoje
muito pouco estudada. O objetivo deste trabalho foi determinar
as curvas de congelamento das sementes de juá com teores de
água de 6, 9, 12 e 15% base úmida ± 0,1% nas temperaturas
criogênicas de: nitrogênio líquido (-196 °C) e no vapor do
nitrogênio (-170 °C), bem como determinar a difusividade
térmica efetiva, com a finalidade subsequente de inseri-las em
um Banco de Germoplasma Criogênico. Com o propósito de
expressar o comportamento cinético do congelamento das
sementes de juá, foi usado o modelo de Fourier levando-se em
consideração o primeiro termo da série, além dos Modelos I e II
de Cavalcanti Mata. Os resultados obtidos indicam que as
curvas de congelamento criogênico são exponenciais e não se
distinguem com clareza as três fases típica, devido à velocidade

38
CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE SEMENTES DE JUÁ (Ziziphus joazeiro Mart)
EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS
de congelamento e maior gradiente térmico a que estão
expostas as sementes; para os Modelos de Fourier e Modelo I
de Cavalcanti Mata, a difusividade térmica aumenta com a
diminuição do teor de água em todas as temperaturas. Já no
Modelo II de Cavalcanti Mata não é possível extrair a
difusividade térmica, mas se podem obter constantes de
congelamento, que é função da temperatura e do teor de água
do produto.
Palavras-chave: Sementes. Criogenia. Difusividade térmica.

INTRODUÇÃO

A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro que


cobre cerca de 10% da área do país, com a maior parte de sua
área no nordeste do Brasil (BRASIL, 2018). O Ziziphus joazeiro
Mart. é uma árvore de porte médio, possui ramos tortuosos com
espinhos e copa verde durante o ano inteiro. Essa espécie é
muito conhecida pelos seus frutos comestíveis e também
devido às suas propriedades farmacológicas (SILVA, 2012). É
uma planta rica em saponina, muito usada pela população local
como expectorante no combate a bronquite e pela indústria
farmacêutica na fabricação de xampus e dentifrício. Além disso,
o juazeiro serve de alimento para o rebanho caprino durante a
estação seca por apresentar-se sempre com folhas (LORENZI,
2008). Suas inflorescências surgem nas axilas foliares, sendo
compostas por muitas flores amarelas e pequenas. O néctar é
o principal recurso coletado pelos visitantes florais, entre eles
vespas e abelhas nativas. As flores do juazeiro fornecem
principalmente néctar para a manutenção das abelhas durante
a estação seca. Por manter sua folhagem verde durante o ano
inteiro, o juazeiro é muito utilizado em projetos de arborização
visando o sombreamento (SILVA, 2012).

39
CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE SEMENTES DE JUÁ (Ziziphus joazeiro Mart)
EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS
Em que pese à evolução da biotecnologia, torna-se
necessário conservar todas as espécies, tanto as antigas, como
as novas, uma vez que o gene de determinadas espécies que
não são interessantes para a ciência no momento, poderá, no
entanto, ser uma preciosidade, no futuro, para resoluções de
problemas, ora existentes, ou mesmo os que hoje inexistem
(GONZAGA et al., 2003). Para que as constantes pesquisas
continuem sendo realizadas faz-se necessário à preservação
das atuais cultivares em bancos de germoplasma, com o
objetivo de fornecer matéria-prima para a engenharia genética
ou para os programas de melhoramento vegetal, com a
finalidade de criar novas cultivares mais produtivas para
diversas condições edafoclimáticas e mais resistentes a pragas
e doenças (ALMEIDA et al., 2010).
Um dos processos indispensáveis à preservação dessas
espécies no banco de germoplasma é o congelamento do
material genético que pode variar da temperatura de -20ºC até
temperaturas criogênicas, -196 ºC. De acordo com Cavalcanti
Mata & Duarte (2012) o congelamento a baixas temperaturas
pode ser classificado em três nomenclaturas: congelamento
convencional (lento), em que o processo ocorre em
temperaturas variando de 0 a -60 ºC; congelamento
semicriogênico (rápido), cujo processo ocorre nas temperaturas
entre -60 a -130 ºC e congelamento criogênico (ultra-rápido)
com temperaturas variando entre -130 ºC a -196 ºC.
No processo de crioconservação é imprescindível
conhecer as características da cinética de congelamento das
sementes, uma vez que possibilita determinar os tempos
necessários para que as sementes possam ser congeladas em
diferentes temperaturas podendo-se determinar sua
difusividade térmica efetiva, que é a propriedade física deste

40
CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE SEMENTES DE JUÁ (Ziziphus joazeiro Mart)
EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS
produto biológico que estabelece como a energia se propaga
da parte externa até o interior do produto (BONOMO et al.,
2009; BARBIN et al., 2010).
Durante o congelamento, primeiramente é removido o
calor sensível para diminuir a temperatura de um alimento até
o ponto de congelamento. Uma quantidade substancial de
energia é, portanto, necessária para remover o calor latente,
formar os cristais de gelo e congelar os alimentos. O calor
latente de outros componentes do alimento deve ser removido
antes que solidifiquem, mas na maioria dos alimentos, esses
componentes estão presentes em pequenas quantidades e é
necessária a remoção de uma quantidade relativamente
pequena de calor para que a cristalização aconteça
(FELLOWS, 2006).
Assim, o objetivo deste trabalho foi determinar as curvas
de congelamento das sementes de juá com teores de água de
6, 9, 12 e 15% base úmida ± 0,1% nas temperaturas criogênicas
de: nitrogênio líquido (- 196 °C) e no vapor do nitrogênio (-170
°C), bem como determinar a difusividade térmica efetiva.

MATERIAIS E MÉTODOS

Os experimentos foram conduzidos no Setor de


Criogenia do Laboratório de Armazenamento e Processamento
de Produtos Agrícolas (LAPPA) da Unidade Acadêmica de
Engenharia Agrícola, da Universidade Federal de Campina
Grande (UFCG – PB).
Utilizaram-se sementes de juá (material ainda não
padronizado pelas Regras para Análise de Sementes) oriundas
de frutos fisiologicamente maduros, coletados no Campus da
UFCG na cidade de Campina Grande – PB (cidade que está a

41
CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE SEMENTES DE JUÁ (Ziziphus joazeiro Mart)
EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS
uma altitude média de 551 metros acima do nível do mar, com
latitude – 07 ° 13’ 50’’, longitude 35° 52’ 52’’e uma área que
abrange 599,6 km²), entre maio e julho de 2012, sendo
coletados diretamente da árvore quando iniciaram a queda
espontânea.
As sementes de juá foram extraídas dos frutos com teor
de água elevado (15,86% b.u.). Após a determinação do teor de
água inicial, as sementes foram submetidas à secagem na
temperatura de 40 °C até atingirem os teores de água
estabelecidos para os diferentes ensaios das curvas de
congelamento (6, 9, 12, e 15% b.u. ±0,1). A quantidade de água
evaporada, em gramas, foi determinada de acordo com a
seguinte expressão:
100−𝑋
𝑃𝑓 = 𝑃𝑖 × 100−𝑋 𝑖 (1)
𝑓

Em que: Pf = peso final da amostra, g; Pi = peso inicial da


amostra, g; Xi = teor de água inicial das sementes, % (b.u.); Xf
= teor de água desejada das sementes, % (b.u.).

No procedimento de secagem das sementes as


amostras foram colocadas em uma Câmara, modelo MA
415/Marconi, a 40ºC, sendo os lotes de sementes pesados a
cada uma hora, utilizando uma balança semi-analítica (Mod. BS
3000A) com precisão de 0,001g até atingir os pesos referentes
aos teores de água desejados. As sementes oriundas das
operações de secagem nos respectivos teores de água foram
selecionadas manualmente, tomando por base as suas
características físicas semelhantes como, tamanho e forma,
além de aspecto saudável. Logo após, foram determinadas as
dimensões de comprimento, largura e espessura de 30

42
CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE SEMENTES DE JUÁ (Ziziphus joazeiro Mart)
EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS
sementes, com auxílio de um paquímetro digital, marca
Mitutuyo com resolução de 0,01 mm.
Para proceder à tomada dos dados da evolução do
processo de congelamento em função da temperatura e do
tempo, efetuou-se um furo no centro geométrico de cada
semente escolhida nos respectivos teores de água, o qual foi
determinado através de valores de comprimento, largura e
espessura de cada semente. Para monitoramento da
temperatura no interior da semente, foi conectado um termopar
a um registrador multicanal, e da mesma forma, outro termopar
foi colocado no interior do ambiente em que se realizaram as
leituras, ou seja, no vapor de nitrogênio (-170 °C) e no nitrogênio
líquido (-196°C), com o propósito de verificar a temperatura de
equilíbrio, correspondente ao final do processo.
Para o estudo da cinética de congelamento das
sementes de juá as leituras foram realizadas em intervalo de 5
segundos, até a conclusão o experimento. O término dos
registros das temperaturas aconteceu quando o segundo
termopar atingia a temperatura de congelamento em cada
botijão criogênico. Dessa maneira, foram realizadas três
repetições para cada teor de água, obtendo as curvas de
congelamento nas temperaturas criogênicas em função do
tempo.
Os modelos matemáticos utilizados para descrever a
cinética de congelamento nos diversos teores de água (6, 9, 12
e 15%) foram os de Fourier, utilizando o primeiro termo da série,
o Modelo I e Modelo II, proposto por Cavalcanti Mata (2012).
Para execução dos tratamentos matemáticos, tomaram-se os
valores experimentais das curvas de congelamento das
sementes das duas espécies, sendo obtido os parâmetros fator
de atraso (J) e difusividade térmica (α), para o modelo de

43
CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE SEMENTES DE JUÁ (Ziziphus joazeiro Mart)
EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS
Fourier utilizando o 1° termo da série, de acordo com a Equação
(2):

𝑇 − 𝑇∞
𝑅𝑇 = = 𝐽𝑒𝑥𝑝 (𝑘 · 𝑡) (2)
𝑇° − 𝑇∞

Em que:

𝑆𝑒𝑛𝜆−𝜆 ∙ 𝐶𝑜𝑠𝜆
𝐽 = 2 𝜆−𝑆𝑒𝑛𝜆 ∙ 𝐶𝑜𝑠𝜆 (𝑓𝑎𝑡𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑎𝑡𝑟𝑎𝑠𝑜)

𝜆2 ∙ 𝛼
𝑘=
𝑟2

Em que:
RT = razão de temperatura, adimensional; T = temperatura em
cada momento, ºC; T∞ = temperatura do meio de
congelamento, ºC; To = temperatura inicial do produto, ºC; J =
fator de atraso; k = coeficiente da cinética de congelamento; t =
tempo, seg; λ = raiz da equação transcendental; α = difusividade
térmica efetiva, mm2.s-1; r = raio da esfera equivalente, mm.

O Modelo I de Cavalcanti Mata (2012) propõe uma


equação derivada do modelo de Fourier, utilizando o 1° termo
da série, no qual é realizado uma correção no tempo de ordem
exponencial (N) e seu modelo pode ser escrito como:
𝜆² ∙ 𝛼
𝑅𝑇 = 𝐽′ exp ( 2 ) 𝑡 𝑁 (3)
𝑟
Em que:
J’ = fator de atraso, variando entre 1,001 e 1,006.

44
CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE SEMENTES DE JUÁ (Ziziphus joazeiro Mart)
EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS
O Modelo II proposto por Cavalcanti Mata (2012) é um
modelo empírico, onde o autor introduz coeficientes na cinética
de congelamento, de maneira que exista uma mudança de
curvatura no comportamento cinético, podendo ser escrito
como:
𝑅𝑇
𝐴2 − 𝐴1
= 𝐴1 + (4)
1 + exp((𝐴3 − 𝑡) 𝐴4 )

Em que:
A1, A2, A3 e A4 = coeficientes da equação de congelamento.

Com os dados de razão de temperatura em função do


tempo, foi realizada uma análise de regressão não linear, pelo
método Quasi-Newton através do programa computacional
Statistica, versão 7.0. Para cada modelo foram considerados o
coeficiente de determinação (R²) e o erro médio relativo (P).
𝑛
100 |(𝑅𝑇𝑒𝑥𝑝 𝑅𝑇𝑝𝑟𝑒 )|
𝑃= ∑ (5)
𝑛 𝑅𝑇𝑒𝑥𝑝
𝑖=1

Em que:
RTpre = razão de temperatura predita pelo modelo; RTexp = razão
de temperatura experimental; n = número de observações do
experimento;

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1 encontram-se os parâmetros das equações


de congelamentos propostas para as sementes de juá (λ, r m),

45
CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE SEMENTES DE JUÁ (Ziziphus joazeiro Mart)
EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS
coeficiente do modelo (J, J’, k), bem como os coeficientes de
determinação das curvas de congelamento das sementes, seu
erro médio relativo, além de sua difusividade térmica efetiva.
Observa-se que a difusividade térmica efetiva das sementes
aumenta com a diminuição do teor de água, nas temperaturas
de -170°C e -196°C para o Modelo de Fourier e o Modelo I de
Cavalcanti Mata (2012). Resultados semelhantes foram
encontrados por Subramanian & Viswanathan (2003), que
trabalhando com grãos de milho miúdo (“minor millet”),
obtiveram valores crescentes da difusividade térmica com o
decréscimo do teor de água dos grãos.

Tabela 1. Parâmetros das sementes de juá e coeficientes dos


modelos da cinética de congelamento a temperaturas
criogênicas.
Modelo de Fourier (1° termo da série)
Curvas de congelamento (T = -170 ºC)
Teor de λ rm J k R² (%) α (mm2s- P(%)
1
Água (% (mm) )
b.u.)
6 0,49679 5,2460 1,02496 0,00960 98,24 1,07036 36,67
9 1,01099 5,3809 1,10690 0,00748 97,44 0,21190 44,93
12 1,09658 5,3443 1,12673 0,00652 98,35 0,15486 41,92
15 1,26672 5,4361 1,17192 0,00583 97,10 0,10737 44,79
Curvas de congelamento (T = -196 ºC)
Teor de λ rm J k R²(%) α (mm2s- P(%)
1
Água (% (mm) )
b.u.)
6 1,25891 5,0761 1,16967 0,03812 94,44 0,61976 54,60
9 1,38755 5,3139 1,20892 0,03603 92,02 0,52844 47,81
12 1,43693 5,3443 1,22526 0,02906 92,56 0,40197 48,30
15 1,46989 5,4032 1,23657 0,02479 92,86 0,33497 48,64
Modelo I de Cavalcanti Mata
Curvas de congelamento (T = -170 ºC)
Teor de λ rm J k R² (%) α (mm2s- P(%)
1
Água (% (mm) )
b.u.)
6 0,31550 5,2460 1,01000 0,00217 99,21 0,59988 36,49

46
CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE SEMENTES DE JUÁ (Ziziphus joazeiro Mart)
EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS
9 0,31550 5,3809 1,01000 0,00064 98,65 0,18616 44,47
12 0,39621 5,3443 1,01581 0,00093 99,31 0,16920 41,39
15 0,58382 5,4361 1,03461 0,00039 98,87 0,03381 44,10
Curvas de congelamento (T = -196 ºC)
Teor de λ rm J k R²(%) α (mm2s- P(%)
1
Água (% (mm) )
b.u.)
6 0,24770 5,0761 1,00615 0,00036 98,48 0,15119 54,26
9 0,43020 5,3139 1,01866 0,00032 98,73 0,04882 46,35
12 0,55930 5,3443 1,03172 0,00029 98,50 0,02648 46,88
15 0,34200 5,4032 1,01176 0,00005 98,91 0,01148 46,85
Modelo II de Cavalcanti Mata
Curvas de congelamento (T = -170 ºC)
Teor de rm (mm) A1 A2 A3 A4 R²(%) P(%)
Água (%
b.u.)
6 5,2460 -0,217 8,4464 -251,31 -0,007 99,85 35,92
9 5,3809 -0,200 1,4051 99,306 -0,010 99,87 43,98
12 5,3443 7,3873 -0,4111 -382,86 0,0039 99,81 40,93
15 5,4361 1,1306 -0,0381 158,61 0,0125 99,95 43,46
Curvas de congelamento (T = -196 ºC)
Teor de rm (mm) A1 A2 A3 A4 R²(%) P(%)
Água (%
b.u.)
6 5,0761 0,9857 -0,0311 31,159 0,1312 99,63 53,69
9 5,3139 0,9810 0,0026 32,317 0,1421 99,75 45,71
12 5,3443 0,9797 0,0054 37,277 0,1300 99,89 46,16
15 5,4032 0,9753 0,0080 44,635 0,1172 99,75 46,41

Para todos os teores de água analisados a raiz da


equação transcendental foi variável, apresentando valores
inversamente proporcionais, ou seja, à medida que se diminuiu
a temperatura estes aumentaram. Com relação ao fator de
atraso (J), observa-se que, as curvas de congelamento
criogênico apresentam valores que expressam o conceito de
fator de atraso que deve estar acima de 1, pois segundo
Spagnol et al. (1989) o termo fator de atraso indica o tempo
necessário para que o congelamento ultrapasse o ciclo
logarítmico. Nos teores de agua, 6 e 9% (b.u.), o modelo I de
Cavalcanti Mata apresentou valores de J inferiores a 1,0 o que
47
CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE SEMENTES DE JUÁ (Ziziphus joazeiro Mart)
EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS
não corresponde ao fenômeno físico real, sendo assim
procedeu-se uma nova análise de regressão fixando o valor em
1,001, obtendo-se um novo valor de k.
Os valores de k para o Modelo de Fourier com 1° termo
da série apresentaram-se de forma inversamente proporcional
para as duas espécies em estudo, ou seja, à medida que se
diminui a temperatura estes aumentaram. Estes resultados
encontram concordância com Amaral et al.(2010), que em
estudos sobre a difusividade e a energia de ativação de grãos
de bico com base na cinética de congelamento encontraram
resultados similares aos encontrados no presente estudo.
Ao se comparar o comportamento cinético do
congelamento das sementes de juá observa-se que o Modelo
II, de Cavalcanti Mata, apresenta um ajuste melhor dos dados
calculados com os experimentais, destacando-se que este
modelo é empírico não permitindo determinar a difusividade
térmica do processo de congelamento das sementes e sim,
uma constante de congelamento. Os demais modelos aplicados
permitem obter a difusividade térmica efetiva do processo de
congelamento das sementes, porem não apresentam um bom
ajuste entre os dados experimentais e os estimados em toda a
extensão da curva. Isso implica dizer que o Modelo de Fourier
com um termo da série, não permite expressar a cinética de
congelamento nas temperaturas criogênicas com diferentes
teores de água, fator esse que pode ser sintetizado através de
uma correção exponencial no tempo o que pode ser verificado
no Modelo I de Cavalcanti Mata, apresentando coeficientes de
determinação variando de 98,48 a 99,31%. Resultados
semelhantes foram encontrados por Cavalcanti Mata et al.
(2012) que estudando a cinética de congelamento do feijão

48
CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE SEMENTES DE JUÁ (Ziziphus joazeiro Mart)
EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS
(Phaseolus vulgaris L.) obteve coeficientes de determinação,
superiores a 99%, os quais foram considerados satisfatórios.
Verifica-se que a difusividade térmica na temperatura de
-170ºC para o Modelo de Fourier, nos diferentes teores de agua,
é inferior a estimada pelo Modelo de Cavalcanti Mata. Esses
valores de difusividade térmica são semelhantes aos obtidos
por Cavalcanti Mata et al. (2012), de 0,7394 mm 2 s-1; Outras
observações permitem concluir que os dados da difusividade
térmica obtido pelo Modelo I de Cavalcanti Mata são mais
consistentes ao se analisar o comportamento da cinética de
congelamento das sementes nos diferentes teores de água,
onde o Modelo de Fourier tem coeficientes de determinação
inferiores variando de (92,02 a 98,35%), além de erro médio
relativo (P) superior a 30%, indicando que o Modelo de Fourier
utilizando o 1° termo da série não representa tão bem a cinética
de congelamento quanto o Modelo I de Cavalcanti Mata, em
que os coeficientes de determinação variam de (98,48 a
99,31%), respectivamente, com erros médios relativos (P)
inferiores.
O comportamento cinético do congelamento das
sementes de juá, nas temperaturas criogênicas encontra-se nas
Figuras 1 (A; B; C), respectivamente, para os Modelos de
Fourier, Modelo I e II de Cavalcanti Mata. Nas curvas de
congelamento das sementes por imersão no vapor de
nitrogênio (-170ºC) e em nitrogênio líquido (-196ºC), não se
distingue com clareza as três fazes típicas do congelamento
devido à velocidade de processo e um maior gradiente térmico
a que estão expostas as sementes, além do baixo teor de água.

Figura 1. Dados experimentais e calculados pelo Modelo de


Fourier com o 1º termo da série (A), pelo Modelo I de Cavalcanti

49
CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE SEMENTES DE JUÁ (Ziziphus joazeiro Mart)
EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS
Mata (B) e pelo Modelo II de Cavalcanti Mata (C), das curvas
de congelamento de sementes de juá nas temperaturas de -170
°C e -196 ºC.

1,0
(A)
Modelo de Fourier
RT (razão de temperatura, adimensional)

RT = J*exp(k*t)
0,8 T=-170°C

0,6

Teores de Água
6%
0,4 9%
12%
15%
0,2

0,0

0 50 100 150 200 250 300 350 400


Tempo (segundos)

50
CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE SEMENTES DE JUÁ (Ziziphus joazeiro Mart)
EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS

1,0

(B)

RT (razão de temperatura, adimensional)


Modelo I de Cavalcanti Mata
0,8

T=-170°C

0,6

Teores de Água
0,4 6%
9%
12%
0,2 15%

0,0

0 50 100 150 200 250 300 350 400

Tempo (segundos)

1,0
(A)
RT (razão de temperatura, adimensional)

Modelo de Fourier
RT = J*exp(k*t)
0,8
T=-196°C

0,6

Teores de Água
0,4 6%
9%
12%
15%
0,2

0,0

0 20 40 60 80 100
Tempo (segundos)

51
CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE SEMENTES DE JUÁ (Ziziphus joazeiro Mart)
EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS

1,0
(C)

RT (razão de temperatura, adimensional)


Modelo II de Cavalcanti Mata
0,8
T=-170°C

0,6

Teores de Água
0,4 6%
9%
12%
15%
0,2

0,0

0 50 100 150 200 250 300 350 400


Tempo (segundos)

1,0
RT (razão de temperatura, adimensional)

(B)
Modelo I de Cavalcanti Mata
0,8

T=-196°C

0,6

0,4 Teores de Água


6%
9%
0,2
12%
15%

0,0

0 20 40 60 80 100

Tempo (segundos)

52
CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE SEMENTES DE JUÁ (Ziziphus joazeiro Mart)
EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS

1,0
(C)

RT (razão de temperatura, adimensional)


Modelo II de Cavalcanti Mata
0,8
T=-196°C

0,6

0,4
Teores de Água
6%
9%
12%
0,2
15%

0,0

0 20 40 60 80 100
Tempo (segundos)

Goldfarb et al. (2010) estudando as curvas de


congelamento de sementes de pinhão manso com teor de água
em torno de 8% b.u. salienta que, as curvas nas temperaturas
criogênicas para este produto não se distinguem as três fases
típicas de congelamento. As três fases distintas são: a Fase 1
que corresponde ao resfriamento do produto, e vai, da
temperatura ambiente até o início da temperatura de
congelamento desse produto, é caracterizado por uma típica
curva exponencial. A Fase 2, é constituída pelo congelamento
do produto. Nesta fase a fração de água na forma liquida ou na
forma de vapor, absorve a energia para formar os cristais de
gelo, e a curva característica é praticamente uma reta com
pequena inclinação. E na Fase 3 a curva característica volta a
ser uma exponencial, que corresponde ao pós congelamento
do produto.
As sementes de juá analisadas apresentaram um teor de
água de aproximadamente 6; 9; 12 e 15% base úmida (b.u), ou
seja, baixas percentagens de água. Como as curvas de
congelamento da espécie em estudo não apresentam as três
53
CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE SEMENTES DE JUÁ (Ziziphus joazeiro Mart)
EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS
fases distintas, anteriormente descritas, pode-se dizer que o
teor de água, embora passe pelas três fases, não é
suficientemente marcante de modo a conferir a essas curvas de
congelamento um aspecto de uma curva sigmoide, tendo
predominância à curva característica de matéria seca que é
uma curva exponencial. Esta afirmação encontra consonância
com Kasahara et al. (1986) e Goldfarb et al. (2010), ao
salientarem que só os produtos agrícolas, com teor de água
elevado, em torno de 50 a 90%, base úmida, apresentam de
maneira evidente as três fases do congelamento.
Depreende-se ainda da análise das curvas apresentadas
nas Figuras 1 (A;B;C), que se demanda mais tempo para se
alcançar o estado final de congelamento, àquelas sementes
com um teor de água mais elevado, comportamento este
totalmente esperado. De acordo com Goldfarb et al. (2010)
outro fator a ser considerado é a temperatura, uma vez que
quanto maior o gradiente térmico a que o produto está exposto,
maior também é a velocidade de congelamento.

CONCLUSÕES

As curvas de congelamento criogênico das sementes de


juá com teor de água variando entre 6 e 15% b.u., são
exponenciais e não se distinguem com clareza as três fases
típicas, devido à velocidade de congelamento e um maior
gradiente térmico a que estão expostas as sementes;
Na comparação entre os modelos, percebe-se que o
modelo semi-teórico de Cavalcanti Mata (Modelo I), bem como
o Modelo II de Cavalcanti Mata descreve de forma satisfatória,
o processo de cinética de congelamento para as temperaturas

54
CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE SEMENTES DE JUÁ (Ziziphus joazeiro Mart)
EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS
criogênicas estudadas, representando melhor os dados
experimentais que o modelo teórico;
Para os Modelos de Fourier e Modelo I de Cavalcanti
Mata, a difusividade térmica aumenta com a diminuição do teor
de água em todas as temperaturas. Já no Modelo II de
Cavalcanti Mata não é possível extrair a difusividade térmica,
mas se podem obter constantes de congelamento, que é função
da temperatura e do teor de água do produto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, F. de A. C. et al. Estudo de técnicas para o armazenamento de


cinco oleaginosas em condições ambientais e criogênicas. Revista
Brasileira de Produtos Agroindustriais, v.12, p.189-202, 2010.
AMARAL, D. S. et al. Determinação da difusividade e da energia de
ativação para o grão de bico com base na cinética de congelamento.
CONNEPI, Maceió: IFAL, 2010.
BARBIN, D. F. et al. Avaliação da estabilidade de soluções modelo (cmc-
sacarose) em recongelamentos. Boletim do CEPPA, v.28, p.125-132,
2010.
BONOMO, R. C. F. et al. Thermophysical properties of cashew juice at
different concentrations and temperatures. Revista Brasileira de Produtos
Agroindustriais, v.11, p.35-42, 2009.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Síntese das discussões e
recomendações do componente biodiversidade da Caatinga. Disponível
em:<http://www.mma.gov.br/estruturas/203/_arquivos/produto_icid_analuce
_203.pdf>. Acesso em: 08 out. 2018.
CAVALCANTI MATA, M. E. R. M. et al. Cinética de congelamento do feijão
(Phaseolus vulgaris L.) a baixas temperaturas. Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental, v.16, n.6, p.667–674, 2012.
FELLOWS, P. J. Tecnologia do processamento de alimentos. Porto
Alegre: Artmed, 2006.
GOLDFARB, M. et al. Cinética de congelamento criogênico de sementes
de pinhão manso (Jatropha curcas L.). Engenharia Ambiental, v.7, p.195-
203, 2010.
GONZAGA, T.W.O. et al. Crioconservação de sementes de aroeira
(Astronium urudeuva Engl.), e baraúna (Schinopsis brasiliensis Engl.).
Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.5,
n.2, p.145-154, 2003.
55
CINÉTICA DE CONGELAMENTO DE SEMENTES DE JUÁ (Ziziphus joazeiro Mart)
EM TEMPERATURAS CRIOGÊNICAS
HORN, M. M. et al. Determinação da energia de ativação em hidrogéis
poliméricos a partir de dados termogravimétricos. Polímeros, v.20, p.201-
204, 2010.
KASHARA, G.I. et al. Cinética de congelación y propriedades termofísicas
em dos espécies de frutales menores. In: KASAHARA, G.J. Refrigeración
y congelación de alimentos. Santiago de Chile: Maval, 1986, cap.4, p.81-
109.
LORENZI, H. Árvores brasileiras: Manual de identificação e cultivo de
plantas arbóreas nativas do Brasil. 5. Ed. v.1. São Paulo: Plantarum,
2008. 384p.
PIMENTEL, L.W. Crioconservação de sementes de girassol
(Helianthus annuus L.). 2009. 76 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Agrícola) – Universidade Federal de Campina Grande – UFCG – PB,
Campina Grande.
SILVA, C. M. Ziziphus joazeiro. In: SILVA, C. M. et al. Guia de plantas:
visitadas por abelhas na caatinga. 1. ed. Fortaleza, CE : Editora
Fundação Brasil Cidadão, 2012. p. 65-68. ISBN 978-85-98564-05-0.
SPAGNOL, W.A. et al. Modelamento matemático do pré-resfriamento de
frutas e hortaliças: uma revisão. Boletim da Sociedade Brasileira de
Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v.23, n.3/4, p.192-200,
1989.
SUBRAMANIAN, S.; VISWANATHAN, R. Thermal properties of minor millet
grains and flours. Biosystems Engineering, London, v.84, n.3, p.289-296,
2003.
VIUDA-MARTOS, M. et al. Pomegranate and its many functional
components as related to human health: A Review. Comprehensive
Reviews in Food Science and Food Safety, v.9, p.635-654, 2010.

56
BIOLOGIA
MOLECULAR

57
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
CAPÍTULO 3

ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS


COMO TERAPIA NO MANEJO DA ASMA
Luara de Sousa Monteiro DUARTE1
Luciana Vilar TORRES1
Milena Bezerra COUTINHO1
Thaísa Leite Rolim WANDERLEY2
Cibério Landim MACÊDO3
1
Farmacêuticas Residentes pelo Programa de Residência Multiprofissional em
Saúde da Criança - REMUSC; 2Farmacêutica e Preceptora da REMUSC; 3Farmacêutico e
Tutor da REMUSC.
e-mail: luaramonteiro@hotmail.com

RESUMO: A asma é uma doença inflamatória crônica,


associada à exarcebação da resposta das vias aéreas,
ocasionando obstrução do fluxo de ar, caracterizada por
sibilância, tosse e opressão torácica. Pacientes com
descontrole da doença permanecem sintomáticos apesar do
tratamento aprimorado, gerando altos custos com
medicamentos, e pouca qualidade de vida. Devido à
necessidade, foram desenvolvidos anticorpos monoclonais
como terapia com o objetivo de favorecer tratamentos mais
específicos e personalizados à esses pacientes. Foi realizada
uma busca ativa de artigos em português e inglês, publicados
entre os anos de 2013 a 2018, utilizando os descritores:
anticorpos monoclonais; asma; medicamentos; tratamento;
Xolair; nas bases de dados Scielo, Lilacs, Medline e NCBI. O
primeiro aprovado foi o omalizumabe, anti-IgE, mostrando
eficácia nas exacerbações da asma, e diminuição na
necessidade de uso de corticosteroides inalatórios e
broncodilatadores. Devido a asma está associada à eosinofilia,
surgiram três anticorpos monoclonais que bloqueiam seus
efeitos, especificamente a IL-5: reslizumabe, mepolizumabe e

58
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
benralizumabe. O lebrikizumabe é um anti-IL-13, que foi
relacionado a melhora da função pulmonar e diminuição das
exacerbações. Tralokinumabe e dupilumabe também são anti-
IL-13 ainda sob investigação. O dupilumabe também age
bloqueando a IL-4. O surgimento desses medicamentos trouxe
avanços significativos no tratamento da asma, favorecendo
melhoria na qualidade de vida dos pacientes.
Palavras-chave: Anticorpos monoclonais. Asma. Tratamento.

INTRODUÇÃO

A asma é uma doença inflamatória crônica, que está


associada à exarcebação da resposta das vias aéreas inferiores
relacionada à muitos elementos celulares, ocasionando
obstrução do fluxo de ar intrapulmonar que se mostra reversível
de forma espontânea ou com tratamento. É decorrente de uma
interação entre exposição ambiental a alérgenos e irritantes,
genética e outros fatores específicos que levam a evolução e
permanência dos sintomas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013).
É caracterizada por sibilância, falta de ar, tosse e
opressão torácica, causada pela limitação do fluxo aéreo devido
a alterações inflamatórias e estruturais (PELAIA et al., 2018). A
obstrução crônica das vias aéreas pode resultar em fechamento
dessas vias ou ventilação irregular de pequenas vias aéreas, o
que é associado a exacerbações graves (CHUNG et al., 2014).
É uma doença crônica com alta prevalência, com
estimativa de 300 milhões de indivíduos de todas as idades
(BROM, 2015), afetando cerca de 10% dos adultos e uma
proporção ainda maior de crianças. É uma das principais
causas de internações hospitalares e atualmente, a terceira
causa de morte em todo o mundo (BARNES et al., 2015).

59
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
A Organização Global Initiative for Asthma, descreve
diretrizes para que o paciente asmático seja avaliado de acordo
com os sintomas apresentados, comorbidades, atividade
pulmonar e medicamentos essenciais para seu controle. A
intensidade da doença também pode ser analisada pelas
exacerbações nos pacientes e a necessidade de tratamento no
controle da sintomatologia (BROM, 2015).
É cada vez mais evidente que a asma grave não é uma
doença única, devido à variedade de suas apresentações
clínicas e características fisiológicas. Para entender melhor
essa heterogeneidade, surgiu o conceito de fenotipagem da
asma. Um fenótipo é definido como as características
compostas e observáveis de um organismo, resultantes da
interação entre sua constituição genética, os fatores ambientais
e suas influências, que são relativamente estáveis, mas não
invariáveis com o tempo (CHUNG et al., 2014).
A fenotipagem integra características biológicas e
clínicas, variando de características moleculares, celulares,
morfológicas e funcionais às características orientadas para o
paciente, com o objetivo de melhorar a terapia. Em última
análise, esses fenótipos devem evoluir para endotipos de asma,
que é descrito como a interação das características clínicas da
doença com um processo patológico. Em geral, a estabilidade
dos fenótipos é necessária para fornecer evidências de sua
utilidade clínica, que no caso da asma será determinada pelas
suas consequências terapêuticas (CHUNG et al., 2014).
Comorbidades associadas que possam interferir no bom
funcionamento cardiorrespiratório constituem um fator de risco
grave. A exposição à fumaça do cigarro e o hábito de fumar
aumentam drasticamente o risco de morte, por afetar
diretamente a função pulmonar devido a existência de uma

60
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
correlação direta com o volume expiratório forçado no primeiro
segundo (VEF1) (FERNANDES et al., 2013).
Embora os sintomas da asma possam ser controlados
com a terapia padrão que baseia-se principalmente em
combinações de corticosteroides inalatórios, broncodilatador de
longa duração (agonistas β2-adrenérgicos) e, eventualmente,
inibidores orais de leucotrieno, a doença permanece
sintomática e inadequadamente controlada em torno de 5 a
10% dos pacientes, gerando transtornos sociais e,
consequentemente, prejuízos na qualidade de vida. Nestes
doentes, os sintomas da asma podem ser agravados por
comorbidades concomitantes, que também podem ser
observados como diagnósticos diferenciais (COSTA et al.,
2015).
Os tratamentos que se conhecem atualmente, não se
aplicam a todos os tipos de asma existentes. Muitas vezes,
alguns pacientes não respondem a certos esquemas
terapêuticos seja por falhas na responsividade do organismo ou
mesmo pela falta de adesão ao tratamento (REIS; MACHADO,
2017).
Em consequência à essa necessidade, nos últimos anos
foram desenvolvidos anticorpos monoclonais como terapia para
a asma de moderada a grave. Os anticorpos monoclonais são
moléculas sintetizadas por organismos vivos, denominados
como medicamentos biológicos, que em contraste com
produtos químicos compostos e agonistas ou antagonistas de
moléculas pequenas, ligam-se em locais específicos, como por
exemplo, uma citocina ou receptor, atuando com o intuito de
melhorar a eficácia dos tratamentos e reduzir os efeitos
colaterais possíveis (REGATEIRO; MOURA; FARIA, 2017;
BOYMAN et al., 2015).

61
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
Estes anticorpos são provenientes de um único linfócito
B selecionado de modo artificial e replicado numerosas vezes
como um clone. Assim, o anticorpo monoclonal liga-se a um
epítopo característico e específico (CORDEIRO et al., 2014).
Devido a essa seletividade, os agentes biológicos são
ideais para os tratamentos que necessitam ser personalizados
e/ou precisos. Isso, no entanto, requer conhecimento detalhado
da fisiopatologia e subtipos da doença a ser tratada (BOYMAN
et al., 2015).
O primeiro conceito proposto foi designado por Paul
Erlich, que em 1906 ganhou um Prêmio Nobel com a expressão
de bala mágica, dando origem ao conceito de receptores
específicos. A primeira descrição de anticorpos monoclonais foi
realizada por Kohler e Milstein em 1975, que descobriram a
Tecnologia de hibridoma, avaliando células híbridas formadas a
partir da união de linfócitos B ativados, denominados células
normais, e células de mieloma que são as células malignas
(CORDEIRO et al., 2014; HAFEEZ; GAN; SCOTT, 2018).
Transformaram essas células malignas em linfócitos B
imortalizados, para que fossem capazes de secretar anticorpos
contra o antígeno utilizado como imunizante, capazes de reagir
a um epítopo específico. A primeira geração de anticorpos
monoclonais foi produzida a partir de linfócitos B de
camundongos, denominados anticorpos monoclonais murinos.
Porém, o sistema imunológico humano passou a produzir
anticorpos anticamundongos. Como os anticorpos murinos
demonstraram muita imunogenicidade, a partir de técnicas de
recombinação gênica, surgiram as formas quiméricas. Ou seja,
a substituição dos domínios ligantes do camundongo por
domínios humanos, no intuito de tornar os anticorpos
monoclonais mais humanizados para que as reações

62
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
imunogênicas produzidas pelo próprio organismo fossem
diminuídas. Devido a essas técnicas, a criação desses
anticorpos continuou evoluindo. Depois da produção de formas
quiméricas, surgiram os anticorpos humanizados e
posteriormente anticorpos monoclonais totalmente humanos
(CORDEIRO et al., 2014).
Os anticorpos monoclonais de uso clínico possuem como
alvos moléculas de adesão, moléculas secretadas ou proteínas
extracelulares de proteínas transmembranas. Atuam como
agonistas ou antagonistas de receptores e possuem ação de
neutralizar alvos, como citocinas e marcadores celular. Vários
deles já foram testados no uso da asma, e os principais agem
como antagonistas de algumas citocinas com perfil Th2 e
Imunoglobulina E. São elas: interleucina-4 (IL-4), interleucina-5
(IL-5), interleucina-9 (IL-9) e interleucina-13 (IL-13) (AGONDI,
2012).
O objetivo deste trabalho foi de descrever as mais
recentes terapias utilizadas no tratamento da asma, com o
intuito de mostrar o avanço dos medicamentos que buscam
proporcionar uma melhoria na qualidade de vida dos pacientes
que sofrem com o não controle da doença, e que agem de modo
específico e mais individualizado.

MATERIAIS E MÉTODO

Foi realizada uma revisão da literatura por meio de


levantamento bibliográfico durante o mês de julho de 2018,
buscando publicações indexadas nas bases de dados do
Scielo, Lilacs, Medline, e NCBI.
Foram utilizados as Diretrizes da Sociedade Brasileira de
Pneumologia e Tisiologia para o Manejo da asma e artigos

63
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
publicados em português e inglês. Os critérios de inclusão
adotados para a seleção de artigos foram: artigos nas
categorias original e revisão de literatura; no período
compreendido entre os anos de 2013 a 2018; que contivessem
em seu título e⁄ou resumo os descritores: anticorpos
monoclonais ou monoclonal antibodies; asma ou asthma;
medicamentos ou drugs; tratamento ou treatment.
Foram excluídos da pesquisa os artigos que não
atendiam aos critérios de inclusão anteriormente mencionados,
aqueles não relacionados com o objetivo tema desta revisão
bibliográfica, os publicados em outro formato que não artigo
científico (trabalho de conclusão de curso, dissertação, tese,
relato de caso, resenha, etc.), e em outro idioma senão aos
relacionados na metodologia.
A partir da leitura dos resumos, foram excluídos ainda os
artigos que não tinham relação com o objetivo deste estudo,
que não possuíam informações relevantes que
complementassem o levantamento bibliográfico ou que
tivessem informações repetidas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As terapias atuais não se aplicam a todos os tipos de


asma. Enquanto alguns pacientes possuem boa responsividade
aos tratamentos conhecidos, outros não respondem aos tipos
de tratamento disponíveis. As pesquisas atuais têm sido
voltadas para determinação das características de cada
paciente, permitindo que a terapia seja personalizada de acordo
com seus fenótipos (REIS; MACHADO, 2017).
O fenótipo eosinofílico (Th2) prevalece em
aproximadamente 60% dos pacientes adultos com asma leve a

64
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
grave, apresentando vasta sensibilidade aos corticosteroides
inalatórios, demonstrando a diversidade no modo que a asma
se apresenta. Normalmente a asma eosinofílica envolve a
resposta de células Th2, células epiteliais que secretam
linfopoetina estrosômica tímica (TSLP), quimiocinas que atraem
eosinófilos, mastócitos e suas principais citocinas. Dentre elas
estão a IL-4, IL-5 e IL-13 (WENZEL, 2012).
Até o ano de 2012, o único medicamento biológico
aprovado para o tratamento da asma era o omalizumabe. Sua
aprovação ocorreu pela Food and Drug Administration (FDA) no
ano de 2003 para o tratamento de asma moderada a grave em
pacientes maiores de 12 anos, e pela European Medicines
Agency (EMA) inicialmente para tratamento também em
pacientes maiores de 12 anos e posteriormente acima dos 6
anos de idade, com asma alérgica grave não controlada e que
demonstrassem múltiplas exacerbações (REGATEIRO;
MOURA; FARIA, 2017).
É um anticorpo monoclonal humanizado imunoglobulina
G1k (IgG1k) dirigido à fração Fc da imunoglobulina E (IgE) livre
e membranar dos linfócitos B, utilizado por via subcutânea uma
vez por semana, observando o nível sérico basal de IgE. Em
estudos na Fase Clínica, os doentes que receberam
omalizumabe tinham menos exacerbações da asma,
experimentaram melhorias nos sintomas e na qualidade de
vida, e diminuíram a necessidade de uso de corticosteroides
inalatórios e broncodilatadores (REGATEIRO; MOURA; FARIA,
2017).
A interleucina-5 (IL-5) é uma citocina pró-inflamatória
produzida por linfócitos Th2 e mastócitos, que atua sobre
linfócitos B, basófilos e está envolvida na maturação,
recrutamento e ativação de eosinófilos. Essa interleucina é

65
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
produzida principalmente por linfócitos Th2, células T
citotóxicas tipo 2, eosinófilos, mastócitos e células T-ϒδ, e mais
recentemente, células linfoides inatas têm se mostrado uma
importante fonte de IL-5 (HILVERING, 2015).
Durante a ativação dos linfócitos B, a IL-5 promove sua
proliferação e a mudança de classe de imunoglobulina para IgE,
e ainda a diferenciação de basófilos e liberação de histamina
(REGATEIRO; MOURA; FARIA, 2017).
Devido a asma está associada à eosinofilia tecidual em
40% a 60% dos pacientes e a intensidade da eosinofilia foi
correlacionada com a gravidade da asma (CAZZOLA et al.,
2018), surgiram três principais anticorpos monoclonais que
bloqueiam seus efeitos. São o reslizumabe, mepolizumabe e
benralizumabe (específico para IL-5Rα) (BARNES, 2018).
O reslizumabe é um anticorpo monoclonal do subtipo
imunoglobulina G4 (IgG4) que foi desenvolvido para bloquear a
bioatividade da IL-5 e reduzir seus níveis biologicamente
disponíveis, tornando-o clinicamente benéfico no bloqueio de
processos inflamatórios patológicos. Níveis altos de expressão
da IL-5 é frequentemente associado à eosinofilia em doenças
atópicas e síndromes hipereosinofílicas (CAZZOLA et al.,
2018).
É indicado como tratamento de manutenção adicional em
pacientes com asma grave maiores de 18 anos, que possuam
eosinofilia. Sua administração se dá por meio endovenoso, uma
vez a cada 4 semanas (BROM et al., 2015). Foi autorizado pelo
FDA para comercialização em março de 2016 e pela EMA no
mês de julho do mesmo ano, para o tratamento em adultos da
asma eosinofílica grave (REGATEIRO; MOURA; FARIA, 2017).
Castro et al. (2015) realizou dois estudos avaliando o
uso do reslizumabe em pacientes que demonstravam

66
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
exacerbações relevantes da asma. Foram designados
aleatoriamente 953 pacientes a receber o medicamento ou o
placebo. Em ambos os estudos, os doentes que receberam
reslizumabe tiveram uma redução significativa na frequência de
exacerbações da asma em comparação com aqueles que
receberam placebo. Foram observados eventos adversos
comuns no reslizumabe semelhantes ao placebo. Os mais
comuns foram agravamento dos sintomas da asma, infecções
do trato superior respiratório e nasofaringite.
O medicamento mepolizumabe também é um anticorpo
anti-IL-5, que age diminuindo o número de eosinófilos no
sangue e no escarro em pacientes com asma refratária mesmo
em uso de altas doses de corticosteroides (BRAIDO et al.,
2018).
Barnes (2018) relata que quando o mepolizumabe foi
administrado como uma única injeção intravenosa, induziu uma
redução rápida e pronunciada relacionada à dose nos
eosinófilos circulantes, que persistiram por 3 meses, e uma
redução nos eosinófilos no escarro após a inalação do
alérgeno.
Em dois estudos subsequentes, os pacientes com asma
grave foram selecionados apenas se tivessem sintomas
persistentes, exacerbações frequentes e aumento maior que
3% de eosinófilos no escarro, apesar da terapia máxima com
corticoesteroides inalatórios e agonista β2 de longa duração.
Ambos os estudos mostraram uma redução acentuada em
aproximadamente 50% das exacerbações, e houve também
uma redução na dose de manutenção dos corticosteroides orais
naqueles pacientes que os utilizavam. Estudos posteriores de
até 12 meses em pacientes refratários com eosinofilia
persistente no escarro mostraram melhoras clínicas

67
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
semelhantes, demonstrando também melhorias no VEF1 e na
qualidade de vida. O mepolizumabe também mostrou eficácia
em doentes com granulomatose eosinofílica com poliangite
(também conhecida como síndrome de Churg-Strauss), que é
frequentemente associada com asma grave, e induz a remissão
prolongada em muitos pacientes (BARNES, 2018).
Outro exemplo de medicamento é o benralizumabe, que
é um anticorpo monoclonal humanizado. A ligação do
benralizumabe com a cadeia alfa do receptor da IL-5 resulta na
inibição da hetero-oligomerização das subunidades alfa e beta
e, portanto, nenhuma transdução de sinal ocorre. Vários
ensaios principais documentaram que o benralizumabe reduz
as taxas de exacerbação da asma com um aumento no
intervalo de tempo, melhora estatisticamente o VEF1 e a
qualidade de vida relacionada à doença. Este anticorpo
apresenta boa tolerabilidade em pacientes com asma grave
(MATERA et al., 2017).
Somente esse antagonista IL-5 que age bloqueando o
efeito dessa interleucina em eosinófilos, promovendo, portanto,
a morte dessas células por meio de citotoxicidade (COSTA et
al., 2015).
Estudos clínicos de pacientes com asma eosinofílica
grave tratados com benralizumabe demonstraram resultados
clínicos semelhantes aos anticorpos anti-IL-5. Embora também
seja eficaz na asma leve a moderada, aumentando o VEF1,
seus efeitos são modestos e, portanto, é improvável que seja
de custo efetivo. Uma dose única de benralizumabe
administrada no tempo de uma exacerbação aguda, reduziu
taxas de exacerbações, especialmente aquelas que geravam
hospitalização dos pacientes. Normalmente, sua administração
é subcutânea a cada 4 ou 8 semanas. Embora o benralizumabe

68
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
teoricamente tenha início de ação mais rápido em relação ao
mepolizumabe e reslizumabe, isso não parece significar
vantagem devido estas terapias serem usados à longo prazo.
Anticorpos formados contra essas drogas foram relatados em
uma pequena proporção de pacientes, mas não está claro se
isso reduz a sua eficácia clínica (BARNES, 2018).
O lebrikizumabe é um anticorpo monoclonal IgG4
humanizado que se liga a IL-13, inibindo sua função. Dentre os
efeitos produzidos pela IL-13 encontram-se o aumento da
secreção de IgE pelos linfócitos B, hiperrreatividade das vias
aéreas, hipersecreção mucoide, influxo celular inflamatório e
síntese de colágeno pelos fibroblastos. Este anticorpo é
utilizado por via subcutânea a cada 4 semanas, e foi
relacionado a melhora da função dos pulmões em pacientes
com asma moderada a grave e que obtivessem a medição
do óxido nítrico no ar exalado e/ou nível sérico de periostina
elevados. A periostina é uma proteína que após estimulação da
IL-13 é secretada, sendo utilizada como biomarcador (AGONDI
et al., 2012).
Costa et al. (2015), descreveram que estudos placebos
controlados demonstraram melhoria de 5,5% no VEF1 em
pacientes utilizando associadamente lebrikizumabe e
corticoesteroides inalatórios, numa dose mensal de 250mg
quando comparados ao placebo. A periostina foi utilizada como
biomarcador para identificar pacientes com fenótipo T2/Th2. Em
outro estudo, o uso do lebrikizumabe foi capaz de reduzir
significativamente a taxa de exacerbações de asma em
pessoas que apresentavam níveis elevados de periostina ou
maior número de eosinófilos no sangue. Observou-se também
uma melhora da função pulmonar nos pacientes que possuíam
esses biomarcadores aumentados.

69
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
Estratégias terapêuticas ainda estão sendo
desenvolvidas e existem tratamentos biológicos sob
investigação. Dupilumabe, um anticorpo monoclonal totalmente
humano que bloqueia as vias tanto da IL-4 como da IL-13, já foi
aprovado pelo FDA para tratar dermatite atópica grave. Em um
estudo de Fase II, o dupilumabe aumentou a função pulmonar
e reduziu as exacerbações graves com uma taxa de 70% em
pacientes com descontrole persistente da asma (BRAIDO et al.,
2018).
Os tratamentos anti-IL-4 ou anti-IL-13 parecem estar
bem tolerados e sem efeitos colaterais graves. Os efeitos
colaterais mais comuns são dores de cabeça e nasofaringite. O
dupilumabe pode estar associado a um leve aumento da
susceptibilidade a infecções por vírus e conjuntivite ou ceratite.
O aumento dos níveis de eosinófilos no sangue que são vistos
com estes tratamentos é de significado clínico incerto
(BARNES, 2018).
Estudos de fase II do dupilumabe descritos por Costa et
al. (2015), relatam que 87% das exacerbações foram reduzidas
em comparação com o grupo que utilizou o placebo, sendo
eficazes com o uso isolado do anticorpo ou em associação com
corticosteroides inalatórios e antagonistas de receptor de
leucotrieno. Além disso, houve aumento do VEF1, melhora dos
sintomas e qualidade de vida. Seus eventos adversos foram, no
geral, parecidos com o grupo placebo. Ao menos em 50% dos
pacientes com asma, há a ativação de linfócitos Th2 com
atuação de IL-4 e IL-13. Sua administração também é por via
subcutânea a cada 4 semanas, e para sua utilização analisa-se
como biomarcadores o sangue eosinófilo e a fração exalada do
óxido nítrico. Em estudos do dupilumabe em comparação aos

70
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
estudos com lebrikizumabe, anticorpo monoclonal anti-IL-13,
observou-se que o dupilumabe apresentou maior eficácia.
Um outro, o tralokinumabe, é um anticorpo monoclonal
humano IgG4 que está sendo investigado em pacientes com
asma não controlada em estudos de fase III, afim de avaliar sua
eficácia e segurança em adultos e adolescentes com asma não
controlada (BRAIDO et al., 2018).
Age de maneira específica e potente, neutralizando a IL-
13, havendo relatos de estudos que houveram melhorias da
função pulmonar, medida por espirometria, porém com pouco
ou nenhum efeito sobre as exacerbações. A neutralização da
IL-13 proporciona o aumento na contagem de eosinófilos no
sangue periférico, possivelmente devido à inibição da adesão
eosinofílica-endotelial (RUSSELL et al., 2018).
A compreensão dos mecanismos complexos da
inflamação, que resultam na entidade clínica que chamamos de
asma, melhorou exponencialmente nas últimas décadas. Esse
conhecimento resultou no desenvolvimento de terapias
biológicas resultando no uso de vários anticorpos monoclonais,
incluindo os dirigidos contra IgE (omalizumabe), interleucina-13
(lebrikizumabe), interleucina-5 (mepolizumabe e reslizumabe),
subunidades alfa da interleucina-4 e receptores de interleucina-
5 (dupilumabe e benralizumabe) (SHAW, 2017).
Várias citocinas que promovem a resposta imune do tipo
2, incluindo IL-4, IL-5 e IL-13, agora se apresentam como alvos
em pacientes com doenças grave das vias aéreas, por
mostrarem efeitos em pacientes cuidadosamente selecionados.
A IL-5 desempenha um papel fundamental na inflamação
eosinofílica, promovendo a diferenciação de precursores de
eosinófilos na medula óssea e também estimulando e
prolongando a sobrevivência de eosinófilos nas vias aéreas.

71
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
Portanto, tem sido um alvo importante para a inibição no
tratamento de doenças refratárias como a asma eosinofílica,
seja pelo bloqueio do anticorpo, da citocina ou de seu receptor
IL-5Rα (BARNES, 2018).

CONCLUSÕES

A asma é um problema de saúde pública. Existem


estratégias estabelecidas para o controle e manejo da doença
para favorecer o acesso aos serviços de saúde, como também
a promoção da educação para o autocuidado.
Os medicamentos são uma fonte essencial nesse
controle e manejo. Sabendo-se da ampla gama de células e
mediadores inflamatórios envolvidos nessa patogênese, alguns
desses medicamentos biológicos já estão sendo
comercializados e outros estão em fases avançadas de
desenvolvimento por apresentarem a vantagem de serem muito
mais seletivos que os medicamentos tradicionais.
O grande desafio da atualidade é proporcionar o acesso
desses medicamentos a população asmática. Como ainda é
uma terapia recente, os custos apresentam-se elevados,
dificultando a aquisição e manutenção do tratamento, e muitas
vezes gerando processos de judicialização.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGONDI, R. C. et al. Anticorpos monoclonais no tratamento da asma.


Revista Brasileira de Alergia e Imunopatologia, v.35, n.5, p.177-182,
2012.
BARNES, P. J. et al. Chronic obstructive pulmonar disease. Nature
Reviews Disease Primers, v.1, p.1-21, 2015.

72
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
BARNES, P. J. Targeting cytokines to treat asthma and chronic obstructive
pulmonar disease. Nature Reviews Immunology, v.18, n.7, p.454-466,
2018.
BOYMAN, O. et al. EAACI IG Biologicals task force paper on the use of
biologic agents in allergic disorders. Allergy, v.70, n.7, p.727-754, 2015.
BRAIDO, F. et al. Phenotypes/endotypes-driven treatment in asthma.
Current Opinion in Allergy and Clinical Immunology, v.18, n.3, p.184-
189, 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. PORTARIA Nº 1.317, DE 25 DE
NOVEMBRO DE 2013. Aprova o Protocolo Clínico e Diretrizes
Terapêuticas da Asma. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 ago.
2013.
BROM, L. et al. Novos biológicos para asma: terapia anti-interleucina-5.
Brazilian Journal of Allergy and Immunology, v.3, n.5, p.197-204, 2015.
CASTRO, M. et al. Reslizumab for inadequately controlled asthma with
elevated blood eosinophil counts: Results from two multicentre parallel,
double-blind, randomised, placebo-controlled, phase 3 trials. The Lancet
Respiratory Medicine, v.3, n.5, p.355-366, 2015.
CAZZOLA, M. et al. Safety of humanized monoclonal antibodies against IL-
5 in asthma: focus on reslizumab. Expert Opinion on Drug Safety, v.17,
p.429-435, 2018.
CHUNG, K. F. International ERS/ATS guidelines on definition, evaluation
and treatment of
severe asthma. European Respiratory Journal, v.43, p.343–373, 2014.
CORDEIRO, M. L. S. et al. Anticorpos Monoclonais: Implicações
Terapêuticas no Câncer. Revista Saúde e Ciência Online, v.3, n.3, p.252-
262, 2014.
COSTA, E. et al. Guia para o manejo da asma grave. Brazilian Journal of
Allergy and Immunology, v.3, n.5, p.205-225, 2015.
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia para o
Manejo da Asma. Jornal Brasileiro de Pneumologia, v. 38, supl. 1, p. S1-
S46, 2012. Acesso em: 17 de julho de
2018. http://dx.doi.org/10.1590/S1806-37132006001100002.
FERNANDES, A. G. O. et al. Fatores de risco para morte por asma.
Brazilian Journal of Allergy and Immunology, v.1, n.3, p.141-148, 2013.
HAFEEZ, U.; GAN, H. K.; SCOTT, A. M. Monoclonal antibodies as
immunomodulatory therapy against cancer and autoimmune diseases.
Current Opinion in Pharmacology, v.41, p.114–121, 2018.
HILVERING, B.; XUE, L.; PAVORD, I.D. Evidence for the efficacy and
safety of anti-interleukin-5 treatment in the management of refractory
eosinophilic asthma. Therapeutic Advances in Respiratory Disease, v.9,
n.4, p.135-145, 2015.

73
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
MATERA, M. G. et al. Benralizumab for the treatment of asthma. Drugs
Today, v.53, n.12, p.633-645, 2017.
PELAIA, C. et al. Benralizumab in the treatment of severe asthma: design,
development and potential place in therapy. Drug Design, Development
and Therapy, v.12, p.619-628, 2018.
REGATEIRO, F.; MOURA, A. L.; FARIA, E. Novos biológicos para o
tratamento da asma. Revista Portuguesa de Imunoalergologia, v.25, n.2,
p.99-113, 2017.
REIS, A. P.; MACHADO, J. A. N. Medicina de precisão na asma. Arquivos
de Asma, Alergia e Imunologia, v.1, n.4, p.349-356, 2017.
RUSSELL, R. J. et al. Effect of tralokinumab, an interleukin-13 neutralising
monoclonal antibody, on eosinophilic airway inflammation in uncontrolled
moderate-to-severe asthma (MESOS): a multicentre, double-blind,
randomised, placebo-controlled phase 2 trial. The Lancet Respiratory
Medicine, v.6, n.7, p.499-510, 2018.
SHAW, J. A. Tezepelumab: A new pathway to asthma control. South
African Respiratory Journal, v.23, n.4, p.123, 2017.
WENZEL, S. E. Asthma phenotypes: the evolution from clinical to molecular
approaches. Nature Medicine, v.18, p.716-725, 2012.

74
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
CAPÍTULO 4

DIAGNÓSTICO DO PAPILOMA VÍRUS


HUMANO ATRAVÉS DAS PRINCIPAIS
TÉCNICAS DE BIOLOGIA MOLECULAR
Auvani Antunes da Silva JÚNIOR¹
Diogo Taffarelly de Vasconcelos SANTOS2
Isadora Maria Gomes ALMEIDA2
Rodrigo Pereira Galindo da SILVA 3
Vitor de Lima BEZERRA 2
1
Orientador/Docente de Odontologia do Centro Universitário Uninassau, Caruaru,PE,Brasil.;
2
Discentes do curso de Medicina da UFPE-CAA,Caruaru,PE, Brasil. 3 Discente de
Odontologia do Centro Universitário ACES-UNITA,Caruaru,PE, Brasil.
auvaniantunes@gmail.com

RESUMO: Anualmente são diagnosticados mais de 500 mil


novos casos de câncer de colo do útero em todo mundo, sendo
destes, segundo pesquisadores, 99% correlacionados a
presença do Papiloma Vírus Humano (HPV). O objetivo
principal deste trabalho foi conhecer as principais técnicas de
identificação do HPV e a genotipagem do mesmo, e ainda
diferenciar estas técnicas com o intuito de observar vantagens
e desvantagens de cada uma, o que possibilita ao pesquisador
um melhor discernimento sobre a escolha da técnica mais
eficaz para estudos futuros. Foram avaliados para escrita do
estudo, publicações disponíveis nos bancos de dados da Scielo
Brasil, Science Direct, e Pubmed. Entre as tecnicas de
genotipagem viral para o HPV, foram abordadas nesta
pesquisa: Exame Citopatológico (papanicolau); Reação em
Cadeia da Polimeraze – PCR e suas formas variantes, como:
PCR em tempo real (qRT – PCR); PCR-RFLP (Restriction
fragmente length polymorphism); Nested – PCR, Microarranjos
75
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
e Captura Hibrida. Entre as técnicas citadas neste artigo, todas
possuem uma alta relevância na detecção de genotipagem do
HPV, ficando a critério do pesquisador a escolha de qual utilizar.
Dentre as técnicas analisadas no presente trabalho, todas
demonstraram alta relevância. No entanto, a técnica Nested –
PCR apresentou uma aplicação mais vantajosa na identificação
de genótipos do HPV, pelo fato de exibir uma maior
sensibilidade, em comparação às demais técnicas abordadas.
Palavras-chave: Genotipagem. PCR. Câncer de colo do útero.

INTRODUÇÃO

Segundo estudos do Instituto Nacional do Câncer


(INCA), foi estimado cerca de 16.370 novos casos de câncer de
colo do útero para o biênio 2018-2019, o que corresponde a
aproximadamente a 16 casos a cada 100 mil mulheres, sendo
este a terceira maior causa de câncer entre mulheres. Esta
neoplasia tem se configurado um grave problema de saúde
mundial. (INCA, 2018). Segundo a organização mundial de
Saúde (OMS) estima-se que esta patologia atinge cerca de 9
milhões de pessoas por ano e, em média, 5 milhões vem a óbito
devido ao câncer (SANTOS et al., 2015). O câncer de colo do
útero (CCU) é a terceira maior causa de mortes por câncer entre
as mulheres no Brasil, porém não é um problema exclusivo da
saúde pública brasileira, outros países também são afetados,
sendo que aproximadamente 80% desses casos são
documentados em países em desenvolvimento (MAIA, et al.,
2018).
O CCU é uma patologia que demonstra evolução lenta,
percorrendo diferentes fases como a benigna, pré-invasivas e
invasivas, que são caracterizadas como neoplasias

76
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
intraepiteliais de cérvice uterina (NICs), sendo consideradas
ainda como de alto e baixo grau, segundo o Sistema Bethesda
(2011) (ROCHA et al., 2018).
A partir dos estudos de Souza e Costa (2015) o controle
de CCU necessita de ações referentes a prevenção de
infecções pelo papiloma vírus humano (HPV) que é transmitido
principalmente por ato sexual, sendo o principal fator de risco
para o câncer do colo do útero. Além disso, o início precoce da
atividade sexual, múltiplos parceiros, uso de anticoncepcional
oral, tabagismo, outros hábitos de risco e baixas condições
socioeconômicas, tem sido citadas como fatores de risco para
desenvolvimento de lesões e câncer (SANTOS et al., 2015).
A principal forma de prevenção do CCU é a realização
do exame de Papanicolaou, também conhecido como exame
citopatológico de cérviceuterina ou exame de prevenção do colo
do útero, consiste em coleta esfoliativa das células de colo
uterino fixação da amostra em lamina para ser corada e feito
análise morfológica por especialistas. O Ministério da Saúde
preconiza que o exame seja realizado por todas as mulheres
que tenham iniciado sua vida sexual (ABREU et al., 2018). A
eficácia do exame Papanicolau reside no fato de que ele pode
detectar doenças que ocorrem no colo uterino antes do
desenvolvimento do câncer (DE SOUZA; COSTA, 2015).
A relação de oncogênese do HPV e o CCU está bem
estabelecida na literatura atual. O DNA do HPVs de alto risco é
detectado na maioria dos raspados de colo uterino (92,6% a
99,7%) com lesões e ou carcinomas (GUPTA et al., 2018)
Existem mais de 200 tipos virais do HPV, logo a análise
e classificação do vírus permite melhor direcionamento das
terapias antivirais e das drogas utilizadas, possibilitando, assim,
os avanços científicos em relação à patologia e busca da cura.

77
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
Com o desenvolvimento da biotecnologia, a biologia molecular
se torna uma grande ferramenta na identificação segura e
rápida dos vários subtipos de HPVs, o que permite um melhor
acompanhamento no tratamento e melhor prognósticos
(ASSUNÇAO; CORREIA, 2014).
O objetivo desta revisão foi apresentar as diversas
técnicas de identificação de genotipagem viral do HPV e
descrever as mesmas, com o intuito de permitir um melhor
conhecimento das técnicas moleculares que possam se
enquadrar em estudos de identificação de subtipos de HPVs.

METODOLOGIA

O presente estudo constitui-se de uma revisão narrativa


da literatura de artigos publicados no o período de 2014 a 2018,
quanto as técnicas de biologia molecular (genotipagem) para
identificação do Papiloma Vírus Humano (HPV)s. As pesquisas
foram realizadas em bancos de dados da Scielo Brasil, Science
Direct, e Pubmed, Google Acadêmico e internet livre. Os artigos
selecionados deveriam apresentar as seguintes características
para serem inclusos na pesquisa: no título ou resumo o descritor
fixo viral genotyping of HPV mais no mínimo um descritor
variável, entre eles human papillomavirus; PCR (polymerase
Chain reaction); hybrid capture. A partir da análise das 62
publicações encontradas durante as buscas nos bancos de
dados, foram selecionados 43 artigos, os quais serviram de
base para a revisão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

O papiloma vírus constitui uma cepa de vírus que atinge


mais de 500.000 pessoas anualmente, existem mais de 100

78
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
tipos do HPV, e a utilização de técnicas de identificação
genotípicas possibilita o acompanhamento e tratamento, o que
permite uma redução das taxas de mortalidade e mobilidade
(FERREIRA et al., 2016). A identificação correta do genótipo do
HPV é de grande importância para o início de uma intervenção
terapêutica, desta forma, os avanços biotecnológicos e as
pesquisas desenvolvidas na biologia molecular possibilitam a
execução de várias metodologias, as quais serão listadas nesta
revisão.

OBTENÇÃO DE AMOSTRAS ATRAVÉS DA TÉCNICA DE


PAPANICOLAOU

Dentre os artigos analisados foi observado que a


principal forma de obtenção das amostras biológicas para
detecção do HPV consiste na coleta de células da região de
colo uterino através da técnica de Papanicolaou, também
conhecido como exame citopatológico ou ainda exame de
prevenção. Esta técnica, por sua vez, não é uma metodologia
da biologia molecular, porém, necessita ser abordada pois a
partir dela será obtida as amostras para os testes moleculares.
Logo que o exame de papanicolaou é oferecido pelo Sistema
Único de Saúde (SUS), como ferramenta de rastreio de para
identificação de lesões ocasionadas pelo HPV (NASCIMENTO
et al., 2015).
A coleta consiste na visualização do colo do útero,
utilizando o especulo e, em seguida, utiliza-se uma espátula de
Ayre e escova endocervical para coleta esfoliativa de células da
endocervice e ectocervice. Imediatamente após a coleta as
células são depositadas em uma lâmina previamente
identificada e processada com uma bateria de coloração que

79
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
possui um conjunto de três corantes: Hematoxilina, OG-36 e
EA- 36 ou EA-65 (TONINATO et al., 2016). Após a coloração,
as lâminas são analisadas por profissionais especialistas em
citopatologia e classificadas como normais, lesão intraepitelial
de baixo grau, lesão intraepitelial de alto grau, carcinoma in situ,
carcinoma e atipias.

REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE – PCR

Uma das técnicas de biologia molecular mais


empregadas para na identificação e genotipagem viral é a
reação em cadeia da polimerase (PCR), a mesma tem como
objetivo a amplificação de sequências específicas do material
genético. Existem na literatra dois tipos de PCR, genérica ou
específica. Na técnica de PCR genérica, os primers
(sequências de nucleotídeos desenvolvidos de acordo com o
gene alvo) que são complementares as regiões mais
conservadas do DNA do vírus, chamados assim de
consensuais; o vírus do HPV, possui sua região alvo e a região
L1. Já a PCR específica, possui o objetivo da genotipagem viral,
onde os primers utilizados são complementares a regiões com
variação de nucleotídeos que determinam o genótipo do vírus;
desta forma os primers utilizado são chamados de específicos.
No HPV, os alvos são os genes E6 e E7. Logo, pode-se concluir
que o uso de primers consensuais é indicado quando o objetivo
é identificar se o vírus está presente nas amostras analisadas,
e no específico é possível além de identificar, determinar qual
dos mais de 100 tipos virais estão presentes nas amostras
(CLIFFORD et al., 2016).
A técnica de PCR pode ser dividida em três etapas, que
necessitam passar por um pré-aquecimento a 94ºC durante 4

80
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
minutos. A primeira etapa consiste na desnaturação, processo
em que a dupla fita é separada por aquecimento a 94ºC durante
30 segundos; na segunda etapa conhecida como anelamento,
os primers (que irão funcionar como sinalizador de inicio e
término do fragmento) associam-se ao DNA de fita simples em
uma temperatura de 45ºC durante 1 minuto; por fim é realizado
a etapa de extensão , na qual, a enzima DNA polimerase deve
reconhecer o primer presente na região 5’-3’, funciona como
sítio de inicialização de síntese da nova fita, que ocorre em
temperatura de 72ºC por 1 minutos e 30 segundos, esse ciclo
se repete 40 vezes, finalizando com uma extensão da fita
formada a 4ºC durante 10 minutos (CLIFFORD et al., 2016).
A técnica de PCR é acompanhada de uma técnica
chamada de eletroforese, a qual permite a visualização das
bandas do material genético (fragmentos proteicos). Pode ser
empregada para amostras de diferentes materiais genéticos
como RNA, DNA ou proteínas. Na técnica de eletroforese são
utilizados princípios físico-químicos para separação dos
fragmentos. Utiliza-se o gel de agarose 2% que é colocado em
solução tampão, por onde passa uma corrente elétrica. No caso
do DNA ser material genético do HPV, devido sua carga
negativa a amostra migra do polo negativo para o positivo
separando as bandas por peso molar.
Após a corrida do DNA, cora-se o gel em solução de
SYBER® GREEN ou brometo de etídio. Os fragmentos serão
dispostos de acordo com seu peso molar, onde os fragmentos
com menor peso molecular migram mais rapidamente,
localizando-se na porção mais inferior do gel. A visualização
das bandas é realizada por meio de exposição a luz UV.
Contudo, o teste se dará positivo para o DNA do HPV quando
ocorre a presença das bandas correspondentes às regiões

81
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
gênicas que correspondentes ao vírus (NASCIMENTO et al.,
2015; TONINATO et al., 2016).

PCR EM TEMPO REAL (qRT – PCR)

A reação em cadeia da polimerase em tempo real (RT-


PCR), tem como objetivo a conversão da fita simples de mRNA
em DNA complementar (cDNA), tal mudança ocorre com a
utilização da enzima transcriptase reversa. E a reação da PCR
será realizada através de cDNA; logo a utilização da técnica RT-
PCR é de grande importância quando o pesquisador detém um
organismo que possui um genoma de fita simples como no caso
do RNA (ASSUNÇÃO et al., 2018).
A qRT-PCR possui as três primeiras etapas da PCR
convencional, sendo diferenciada pela possibilidade de
quantificação da expressão do material genético viral em tempo
real; esse fenômeno é possível de ser visto durante a execução
da técnica pela formação de gráficos que possibilitam monitorar
a fluorescência emitida durante a reação, como um indicador da
produção de DNA amplificado em cada ciclo de PCR. A
fluorescência pode ser obtida por vários métodos, pelo brometo
de etidio ou o mais utilizado, o corante intercalador de bases
SYBR®Green utilizado em técnicas mais avançadas, como a
de Beacons, que são oligonucleotídeos que possuem um
fluoroforo na ponta 5’ e na extremidade 3’ um não-fluroforo
(quencher-apagador) (ASSUNÇÃO et al., 2018; GUENAT et al.,
2018).
A técnica de Beacon tem como princípio o fato de que na
fase inicial da PCR, as pontas 5’-3’ estarem próximas uma a
outra, isso permite a transferência de energia do corante
repórter para o apagador, impedindo assim uma possível

82
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
emissão de radiação, porém se o processo avançar para a
etapa de anelamento, quando ocorre o resfriamento com a
baixa da temperatura, ocorre a hibridização dos sinalizadores,
que neste momento irão se apresentar de maneira linear. Na
nova estrutura formada, será emitida radiação pelo corante
repórter que será detectável, e a emissão de fluorescência será
proporcional ao material amplificado. A extensão da enzima
DNA polimerase não será impedida pelo sinalizador, pois este
será removido com o prolongamento da fita alvo (GUENAT et
al., 2018).
São empregados alguns equipamentos para aferição da
radiação emitida pelo sinalizador: sistema óptico, termociclador,
hardware e um software especifico de interface. A qRT-PCR
possui três fases particulares, além da fase convencional: fase
exponencial, na qual é acumulado o dobro do produto de cada
ciclo; fase linear, na qual os reagentes são utilizados com
grande variabilidade; e a fase platô, em que acontece o fim da
reação, ou seja, a partir desta faze os produtos não mais serão
produzidos apenas degradados, é nesta mesma etapa que na
PCR tradicional é realizado a aplicação do produto da PCR no
gel de agarose 2% (KIM, 2017).

83
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
PCR-RFLP (RESTRICTION FRAGMENT LENGTH
POLYMORPHISM)

O emprego da técnica de reação em cadeia da plimerase


por restrição de extensões de fragmentos polimórficos (PCR-
RFLP) junto a convencional possibilita a detecção de cerca de
40 tipos diferentes de HPV, tal técnica faz uso de enzimas de
restrição para detecção do genótipo viral. Consiste na
amplificação do DNA por uma PCR convencional, seguida do
processo da ação enzimática, que são capazes de reconhecer
regiões sítios de restrição específicos e clivalos; ao longo do
material genético de um indivíduo existem alterações que
geram polimorfismos. Ao clivar as moléculas, as endonucleares
formam fragmentos com diferentes pesos moleculares,
detecção das variações gênicas do HPV com o auxílio de
sondas hibridizadoras (TEIXEIRA et al., 2016).
O produto da PCR necessita ser disposto em tubos, nos
quais são adicionados endonucleases: Bam HI, Dde I, Hae III,
Hinf I, Pst I, Rsa I, Sau 3AI (Life Technologies GIBCO/BRL);
ocorrendo a clivagem (de acordo com as especificações
técnicas informadas pelo fabricante), em seguida a solução é
submetida a banho-maria, a 37ºC por duas horas; ao final é
adicionado 4μL de loading buffer(0,25% de azul de bromofenol,
e 15% de Ficoll tipo 400); uma alíquota de 24μL deve ser
utilizada na eletroforese em gel de agarose 2%, sendo
submetido a coloração; a visualização das bandas ocorre por
estímulos de luz UV; o pesquisador pode optar pela técnica de
“Southern blot” ou pelo fotodocumentador, nesse caso, os
resultados obtidos são comparados com a tabela padrão de
Bernard et al.e colaboradores (TEIXEIRA et al., 2016).

84
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
MICROARRANJOS

A técnica de micro arranjos é conhecida também como


biochip ou chip de DNA, é frequentemente utilizada na análise
de expressão gênica e análise de genomas funcionais. Nessa
técnica é empregado em uma lâmina de vidro, sequências de
sondas de DNA com capacidade de se hibridizarem com
amosras a serem identificadas, hibridização esta que se torna
possível devido o princípio da complementariedade e/ou
semelhança em sequência genética, o qual pode ser
empregado na identificação genotípica do HPV (KIM, 2017).
Na identificação do HPV, o sistema de micro arranjos
possibilita determinar a presença de 24 tipos de HPV; dos quais
nove são considerados de baixo risco oncogênico (6,11,
34,40,42,43,44,54,70) e 15 são considerados de alto risco
(16,18,31,33,35,39,45,51,52,53,56,58,59,66). A amostra de
células da cérvice, são submetidas inicialmente a uma PCR
convencional, para amplificação da região L1 pelo par de
primers GP+. Como teste controle, é utilizado a β-globina, que
também é amplificada. Os produtos da PCR devem ser
submetidos à eletroforese em gel de agarose 2% e em seguida
10μL da amostra deverá ser desnaturada à temperatura de
95°C por cinco minutos, posteriormente adicionada solução de
hibridização e disposta o material em lâmina (KIM, 2017; KANG;
KIM, 2016).
O processo é realizado por 90 minutos com uma
temperatura de 43ºC, em seguida é realizado lavagem e
secagem. E por fim os dados obtidos serão analisados pelo
sistema de scanner Chip DNA, onde cada hibridização DNA-
sonda corresponde a positividade para o tipo de HPV
determinado. É importante ressaltar que as amostras positivas

85
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
em gel de agarose e negativas no microarranjo são
consideradas outros tipos de HPVs, ou seja, não corresponde
à nenhum dos 24 tipos de HPVs do potencial de análise do
sistema de micro arranjos (KANG; KIM, 2016).

NESTED – PCR

A técnica de Nested-PCR é um método bastante


sensível, capaz de realizar a amplificação de uma determinada
sequência de um fragmento previamente amplificado, diferente
da técnica convencional de PCR, nesta é necessário utilizar
dois sistemas diferentes de primers. A técnica de Nested-PCR
constitui-se de dois “rounds” de PCR. No primeiro, utiliza-se
primers identificados como MY09/MY11, que se anela a região
L1 do material genético do HPV, produzindo um fragmento de
450pb; a região L1 é alvo de amplificação, pois é considerada
a mais conservada do vírus HPV (SIRIAUNKGUL et al., 2014).
Em seguida são realizados 40 ciclos, dos quais, ocorrem
etapas respectivamente: desnaturação, anelação e extensão.
Após a primeira etapa, uma alíquota de 2µL do produto obtido
é submetido a uma nova reação em cadeia da polimerase,
porém esta se utiliza do par de primers GP5+/GP6+ que irá
produzir um fragmento de 150 pb a partir do primeiro round, o
que permite afirmar o aumento de especificidade da técnica. Ao
final da técnica o produto final é exposto à eletroforese em gel
de poliacrilamida de concentração de 8% (SIRIAUNKGUL et al.,
2014; RAMESH et al.,2018).

CAPTURA HIBRIDA

86
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
Trata-se de uma técnica qualitativa e quantitativa, tendo
a capacidade e identificar a presença do DNA viral e seu tipo
específico, metodologia reconhecida pela Agência nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA). A metodologia de captura híbrida
já é capaz de identificar os tipos: 16, 18, 31,33, 39, 45, 51, 52,
56, 58, 59, 68. Seus resultados são expressos em relação a
unidade relativa de luz, a técnica é considerado positiva para
presença de partículas virais quando o valor é maior ou igual a
1 pg/mL. E quando a presença de partículas virais for superior
a 100 pg/mL, o risco para neoplasias de grau II e III é dito como
aumentado. O método apresenta desvantagens por não ser
capaz de identificar todos os tipos de HPV e não possuir
sensibilidade suficiente para diagnosticar infecções na fase
inicial (DA SILVA RÉUS, et al., 2017).

Tabela 1. Comparativo de vantagens e desvantagens das


ténicas de identificação do HPV.
Técnica de Referência Desvantagens Vantagens
detecção do
HPV
Papanicolau NASCIMENTO A margem de erro Possibilidade de
et al., 2015. varia de 2 a 50% para identificação de
falsos negativos na alterações
técnica de citológicas na
Papanicolaou; tal mucosa
indicativo deve-se a acometida pelo
fatores, como: falha HPV em estágios
na tratáveis, é uma
coleta, de leitura técnica de baixo
microscópica das custo e acessível
amostras e de no sistema único
interpretação de saúde.
no diagnóstico.
PCR CLIFFORD et Possibilidade de Capacidade de
convencional al., 2016. falhas no momento detecção de

87
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
de amplificação por níveis muito
ineficiência de baixos de carga
primers ou decorrente viral em células e
de erro no processo tecidos;
de extração do DNA. identificação de
grande
quantidade de
tipos de HPV.
PCR em Tempo GUENAT et al., Técnica bastante Menor chance de
Real 2018. onerosa em relação a contaminação de
equipamentos de amostras
analise analisadas;
da amostra rápida execução
(softwares). (30 minutos),
metodologia
considerada
eficiente e
sensível.
PCR – RFLP TEIXEIRA et al., Baixa sensibilidade Fácil manejo
2016 na detecção de pelos laboratórios
múltiplos tipos de de detecção,
HPV na mesma capaz de detectar
amostra; incapaz de individualmente
identificar todos os grande número
tipos de HPV de alto de HPVs.
risco oncogênico;
Necessidade de alta
quantidade de
enzimas de restrição.
Microarranjos KANG; KIM, Metodologia ainda Capacidade de
2016 pouco sensível. detecção de
múltiplos HPVs
em uma mesma
amostra.
Nested – PCR SIRIAUNKGUL Técnica de tempo Alta sensibilidade
et al., 2014 demorada e a qual na detecção;
necessita ocorrer em mostra-se que
duas etapas. essa técnica é
38%
mais específica
do que a PCR

88
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
convencional,
identifica o DNA –
viral
em amostras com
infecção
múltiplas.
Captura Híbrida DA SILVA RÉUS Alta sensibilidade
et al., 2017 e de rápida
execução, menos
onerosa que a
PCR
convencional.
Fonte: Dados da pesquisa.

CONCLUSÕES

A evolução das pesquisas Biotecnológicas permitiu o


desenvolvimento de várias técnicas de identificação do vírus
HPV como evidenciadas no decorrer do presente trabalho.
Dentre as técnicas apresentadas, a técnica de Nested-PCR
apresentou mais eficiência em relação as demais, devido sua
alta capacidade de identificação de sequências genéticas com
apenas dois “rounds” de PCR. Sendo assim, seria de grande
relevância a incorporação desta metodologia no rastreio do
HPV em pacientes de alto risco ao desenvolvimento e/ou lesões
pelo vírus citado.

REFERÊNCIAS

ABREU, M. N. S.; SOARES, A. D.; RAMOS, D. A. O.; SOARES, F. V.;


NUNES FILHO, G.; VALADÃO, A. F.; MOTTA, P. G. D. Conhecimento e
percepção sobre o HPV na população com mais de 18 anos da cidade de
Ipatinga, MG, Brasil. Ciencia & saude coletiva, v. 23, p. 849-860, 2018.
Disponível em: <https://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S1413-
81232018000300849&script=sci_arttext&tlng=en>. Acesso em: 16/09/2018.

89
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
ASSUNÇÃO, J. G. F.; E ARAUJO CORREIA, A. K. Análise comparativa
das técnicas de biologia molecular para genotipagem do papiloma vírus
humano-hpv. CATUSSABA-ISSN 2237-3608, v. 3, n. 2, p. 97-105, 2014.
Disponível em:
<https://repositorio.unp.br/index.php/catussaba/article/view/273>. Acesso
em: 16/09/2018.
CLIFFORD, G. M.; VACCARELLA, S.; FRANCESCHI, S.; TENET, V.;
UMULISA, M. C.; TSHOMO, U.; SNIJDERS, P. J. Comparison of two
widely used human papillomavirus detection and genotyping methods,
GP5+/6+-based PCR followed by reverse line blot hybridization and
multiplex type-specific E7-based PCR. Journal of clinical microbiology,
v. 54, n. 8, p. 2031-2038, 2016. Disponível em:
<https://jcm.asm.org/content/54/8/2031.short>. Acesso em: 16/09/2018.
DA SILVA RÉUS, B.; MACHADO, A. R.; MADEIRA, K.; DE AZEVEDO
SIMÕES, P. W. T.; RONCHI, D. I. Achados citológicos em pacientes com
captura híbrida positiva para papilomavírus humano em um laboratório de
patologia de criciúma. Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 46, n. 4, p.
62-71, 2017. Disponível em:
<http://www.acm.org.br/acm/seer/index.php/arquivos/article/view/196>.
Acesso em: 16/09/218.
DE SOUZA, A.F.; COSTA, L.H.R. Conhecimento de mulheres sobre HPV e
câncer do colo do útero após consulta de enfermagem. Revista Brasileira
de Cancerologia, v. 61, n. 4, p. 343-350, 2015. Disponível em:
<http://www1.inca.gov.br/rbc/n_61/v04/pdf/05-artigo-conhecimento-de-
mulheres-sobre-hpv-e-cancer-do-colo-do-utero-apos-consulta-de-
enfermagem.pdf>. Acesso em: 16/09/2018.
FERREIRA, M.; FERREIRA, S.; FERREIRA, N.; ANDRADE, J.; CHAVES,
C.; DUARTE, J. Lifestyles and surveillance of sexual and reproductive
women's health. Procedia-social and behavioral sciences, v. 217, p.
1019-1027, 2016. Disponível em:
<https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1877042816001221.
Acesso em: 16/09/2018.
GUENAT, D.; DALSTEIN, V.; MAUNY, F.; SAUNIER, M.; BRIOLAT, J.;
CLAVEL, C. PRÉTET, J. L. Development and interlaboratory agreement of
real-time PCR for HPV16 quantification in liquid-based cervical
samples. Papillomavirus Research, 2018. Disponível em:
<https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S240585211830034X> .
Acesso em: 16/09/2018.
GUPTA, S.; PALMER, C.; BIK, E. M.; CARDENAS, J. P.; NUÑEZ, H.;
KRAAL, L.; GODDARD, A. D. Self-sampling for human papillomavirus
testing: increased cervical cancer screening participation and incorporation
in international screening programs. Frontiers in public health, v. 6, p. 77,
2018. Disponível em:
90
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
<https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpubh.2018.00077/full>.
Acesso em: 1609/2018.
INCA. Instituto Nacional de Câncer. RETROPERITONEAIS, Tumores.
Estimativa 2018: Incidência de Câncer no Brasil. Revista Brasileira de
Cancerologia, v. 64, n. 1, p. 119-120, 2018. Disponível em:
<http://www1.inca.gov.br/rbc/n_64/v01/pdf/15-resenha-estimativa-2018-
incidencia-de-cancer-no-brasil.pdf>. Acesso em: 16/09/2018.
KANG, W. D.; KIM, S. M. Human papillomavirus genotyping as a reliable
prognostic marker of recurrence after loop electrosurgical excision
procedure for high-grade cervical intraepithelial neoplasia (CIN2-3)
especially in postmenopausal women. Menopause, v. 23, n. 1, p. 81-86,
2016. Disponível em:
<https://journals.lww.com/menopausejournal/Fulltext/2016/01000/Human_p
apillomavirus_genotyping_as_a_reliable.15.aspx>. Acesso em: 16/09/2018.
KIM, S.M. Microarray technology for identification of human papilloma virus
subtype in oropharyngeal squamous cell carcinoma. European Archives
of Oto-Rhino-Laryngology, v. 274, n. 12, p. 4255-4257, 2017. Disponível
em: <https://link.springer.com/content/pdf/10.1007/s00405-017-4662-
0.pdf>. Acesso em: 18/09/2018.
MAIA, R. C. B.; SILVEIRA, B. L.; DE CARVALHO, M. F. A. Câncer do colo
do útero: papel do enfermeiro na estratégia e saúde da família. Revista
Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente, v. 9, n. 1, p.
348-372, 2018. Disponível em:
<http://www.faema.edu.br/revistas/index.php/Revista-
FAEMA/article/view/622/501>. Acesso em: 12/08/2018.
NASCIMENTO, G. W. D. C.; PEREIRA, C. C. D. A.; NASCIMENTO, D. I. D.
C.; LOURENÇO, G. C.; MACHADO, C. J. Cervical cancer screening
coverage in the state of Minas Gerais, Brazil between 2000-2010: a study
using data from the Cervical Cancer Information System
(SISCOLO). Cadernos Saúde Coletiva, v. 23, n. 3, p. 253-260, 2015.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-
462X2015000300253&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em: 21/08/2018.
RAMESH, P. S.; DEVEGOWDA, D.; NAIK, P. R.; PRATHIBHA,
DODDAMANI, P.; NATARAJ, S. M. Evaluating the feasibility of Nested PCR
as a screening tool to detect hpv infection in saliva of oral squamous cell
carcinoma subjects. JOURNAL OF CLINICAL AND DIAGNOSTIC
RESEARCH, v. 12, n. 7, p. BC22-BC25, 2018. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/profile/Pushkal_S_R3/publication/32596628
0_Evaluating_the_Feasibility_of_Nested_PCR_as_a_Screening_Tool_to_D
etect_HPV_Infection_in_Saliva_of_Oral_Squamous_Cell_Carcinoma_Subj
ects/links/5b308e0ca6fdcc8506cb9384/Evaluating-the-Feasibility-of-
Nested-PCR-as-a-Screening-Tool-to-Detect-HPV-Infection-in-Saliva-of-
Oral-Squamous-Cell-Carcinoma-Subjects.pdf>. Acesso em: 25/06/2018.
91
ANTICORPOS MONOCLONAIS UTILIZADOS COMO TERAPIA NO MANEJO DA
ASMA
ROCHA, M. G. L.; LINARD, A. G.; DOS SANTOS, L. V. F.; DE SOUSA, L.
B. Acolhimento na consulta ginecológica de enfermagem: percepções de
mulheres da Estratégia Saúde da Família. Revista da Rede de
Enfermagem do Nordeste, v. 19, 2018. Disponível em:
<www.redalyc.org/service/redalyc/downloadPdf/3240/324054783016/8>.
Acesso em: 29/09/2018.
SANTOS, C. M.; SILVA, D. D. A. N.; SILVA, G. G. P.; DE OLIVEIRA, T. S.;
DOS SANTOS MAIA, L. F. O enfermeiro na assistência à mulher com
câncer de colo uterino. Revista científica de enfermagem, v. 5, n. 14, p.
19-24, 2015. Disponível em:
<https://www.recien.com.br/index.php/Recien/article/view/107>. Acesso
em: 22/08/2018.
SIRIAUNKGUL, S.; SETTAKORN, J.; SUKPAN, K.; SRISOMBOON, J.;
UTAIPAT, U.; LEKAWANVIJIT, S.; KHUNAMORNPONG, S. HPV detection
and genotyping in vulvar squamous cell carcinoma in northern
Thailand. Asian Pac J Cancer Prev, v. 15, n. 8, p. 3773-3778, 2014.
Disponível em:
<http://journal.waocp.org/article_29154_04f530bcaa3fb4e3fc1b0122c2d15a
49.pdf>. Acesso em: 16/08/2018.
TEIXEIRA, L. O.; VIEIRA, V. C.; GERMANO, F. N.; GONÇALVES, C. V.;
SOARES, M. A.; MARTINEZ, A. M. Prevalência dos tipos de Papilomavírus
Humano em mulheres atendidas em um Hospital Universitário no Sul do
Brasil. Medicina (Ribeirao Preto. Online), v. 49, n. 2, p. 116-123, 2016.
Disponível em:
<https://www.revistas.usp.br/rmrp/article/view/118395/115949>. Acesso
em: 11/08/2018.
TONINATO, L. G. D.; IRIE, M. M. T.; CONSOLARO, M. E. L.; TEIXEIRA, J.;
BOER, C. G. Vaginose bacteriana diagnosticada em exames citológicos de
rotina: prevalência e características dos esfregaços de Papanicolaou.
Revista Brasileira de Análises Clínicas, v. 48, p. 165-169, 2016.
Disponível em: <http://www.rbac.org.br/wp-
content/uploads/2016/06/ARTIGO-12_RBAC-48-2-2016-ref.-1205.pdf>.
Acesso em: 12/09/2018.

92
MÉTODOS MOLECULARES DE GENOTIPAGEM PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ALIMENTOS EM UNIDADES DE NUTRIÇÃO
HOSPITALAR
CAPÍTULO 5

MÉTODOS MOLECULARES DE
GENOTIPAGEM PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE
ALIMENTOS EM UNIDADES DE NUTRIÇÃO
HOSPITALAR
Hirisleide Bezerra ALVES 1
Hirisdiane Bezerra ALVES 2
Fábio Rodrigo Araújo PEREIRA 3
1
Biomédica, UNINASSAU/ Mestranda em Genética, UFPE; 2 Graduanda do curso de
Enfermagem, UNINASSAU; 3 Orientador/Professor, UNINASSAU.
hirisleidebezerra@gmail.com

RESUMO: A qualidade microbiológica de alimentos constitui


um dos parâmetros utilizados na caracterização de segurança
alimentar. Mediante a complexidade da cadeia produtiva,
considerar alimentos seguros com risco igual à zero é
impraticável, visto a abrangência de fatores que permitem a
contaminação dos mesmos em diversas fases do processo.
Considerando a ocorrência de contaminação de alimentos em
Unidades de Nutrição Hospitalar como um fator agravante ao
quadro clínico de pacientes, mediante desenvolvimento de
toxinfecções alimentares, é crucial a avaliação microbiológica
dos alimentos fornecidos, através de técnicas fidedignas à
identificação de agentes contaminantes. Nesse contexto, o
presente trabalho objetiva apresentar os métodos moleculares
de genotipagem para a avaliação microbiológica de alimentos
em Unidades de Nutrição Hospitalar. Consiste em uma revisão
bibliográfica integrativa, na qual as bases de dados
MEDLINE/PUBMED, LILACS, Scientific Eletronic Library Online
(SCIELO), DOT LIB e Revistas Eletrônicas de Saúde foram

93
MÉTODOS MOLECULARES DE GENOTIPAGEM PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ALIMENTOS EM UNIDADES DE NUTRIÇÃO
HOSPITALAR
consultadas para o levantamento de artigos científicos
publicados em periódicos indexados e livros, no período de
2013 a 2017. As técnicas de genotipagem permitem uma veraz
identificação do agente contaminante do alimento, visto que,
englobam métodos que baseiam-se na amplificação do material
genético, hibridização e sequenciamento gênico, permitindo a
detecção do microrganismo mediante análise genômica. Assim,
possibilitam elucidar com precisão o nível de segurança
alimentar, denotando a fonte propagadora do agente
patogênico, características intrínsecas à contaminação e riscos
adjuntos ao patógeno.
Palavras-chave: Segurança alimentar. Dieta hospitalar.
Identificação genômica.

INTRODUÇÃO

A alimentação como processo nutricional, constituindo-


se fator intrínseco à sobrevivência e um primórdio na rotina
diária, ao longo dos anos sofreu modificações relevantes
concernentes à origem e composição dos gêneros alimentícios,
bem como, na totalidade de sua cadeia produtiva. Em suma às
alterações, a questão da segurança alimentar tem adquirido
maior disseminação e relevância, com perspectivas
abrangentes, tratando da qualidade do alimento de acordo com
aspectos físicos, químicos e microbiológicos, englobando toda
a cadeia de produção, a fim de promover parâmetros de saúde
adequados (SILVA et al., 2015).
Mediante a complexidade da cadeia produtiva,
considerar alimentos seguros com risco igual à zero é
impraticável, visto a abrangência de fatores que permitem a
contaminação dos mesmos em diversas fases do processo.
Desse modo, a caracterização da segurança de tais gêneros é

94
MÉTODOS MOLECULARES DE GENOTIPAGEM PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ALIMENTOS EM UNIDADES DE NUTRIÇÃO
HOSPITALAR
estabelecida por meio de riscos e limites aceitáveis de
contaminação, admitindo critérios microbiológicos para
determinar alimentos dentro dos parâmetros de qualidade. A
análise da qualidade microbiológica dos alimentos é
imprescindível para determinar a aceitabilidade dos mesmos,
frente ao risco em desenvolver doenças de origem alimentar
com uma ingestão, em certo grau, de inúmeros patógenos
(FORSYTHE, 2013).
As toxinfecções alimentares de origem microbiana têm
sido reconhecidas como o problema de saúde pública mais
abrangente no mundo atual e causa importante na diminuição
da produtividade, das perdas econômicas que afetam os
países, empresas e simples consumidores (SILVA et al., 2015).
Existe um grande número de fatores associados ao processo
produtivo, bem como ao próprio alimento, que contribuem para
tornar o mesmo inseguro, causando toxinfecções àquelas
pessoas que os ingerirem. As principais causas podem ser
resumidas como: controle inadequado da temperatura durante
o cozimento, resfriamento e estocagem; higiene pessoal
insuficiente; contaminação cruzada entre produtos crus e
processados; monitoramento inadequado dos processos
(FORSYTHE, 2013).
Os microrganismos patogênicos estão presentes no solo
e, consequentemente, nas colheitas, no gado, nas aves e nos
peixes. Portanto, é inevitável que produtos crus utilizados como
ingredientes carreguem contaminação patogênica. Dessa
forma, para evitar toxinfecções alimentares, os patógenos de
ingredientes devem ser identificados e controlados, através de
um monitoramento microbiológico visando à prevenção de
doenças consequentes. Toda a cadeia produtiva deve ser

95
MÉTODOS MOLECULARES DE GENOTIPAGEM PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ALIMENTOS EM UNIDADES DE NUTRIÇÃO
HOSPITALAR
analisada, visto que contaminações cruzadas ocorrem e são
responsáveis por contaminações pós-processamento do
alimento (ou seja, após a etapa de cozimento) (MEDEIROS;
CARVALHO; FRANCO, 2017).
No âmbito hospitalar, a questão da segurança alimentar
é fundamental, verificando-se a necessidade de ofertar
alimentos que auxiliem na recuperação, proporcionando um
aporte de nutrientes ao paciente internado, para preservar seu
estado nutricional, pelo seu papel co-terapêutico em doenças
crônicas e agudas. Os resultados do gerenciamento
inadequado nas etapas de elaboração de uma alimentação,
com produtos e ingredientes com contaminações
microbiológicas, na Unidade de Nutrição Hospitalar
representam problemas sérios, uma vez que aumentam o risco
de os pacientes internados adquirirem uma toxinfecção
alimentar, ou até mesmo, uma infecção hospitalar, agravando,
consequentemente, o quadro clínico dos mesmos (SILVA et al.,
2015).
Nesse contexto, caracterizar a qualidade microbiológica
dos alimentos em Unidades de Nutrição Hospitalar é
imprescindível a fim de assegurar uma dieta que auxilie na
convalescência dos pacientes, frente ao risco de complicações
mediante ingestão de produtos contaminados. O
monitoramento e identificação veraz dos agentes patogênicos
contaminantes é primordial de modo a determinar o nível de
contaminação, a fonte propagadora dos agentes, qualificando a
cadeia produtiva e elucidando complicações clínicas
associadas a estes patógenos. Deste modo, o presente
trabalho teve como objetivo apresentar as técnicas moleculares
de identificação genômica como ferramentas para avaliação da

96
MÉTODOS MOLECULARES DE GENOTIPAGEM PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ALIMENTOS EM UNIDADES DE NUTRIÇÃO
HOSPITALAR
qualidade microbiológica de alimentos em unidades de nutrição
hospitalar.

MATERIAIS E MÉTODO

A pesquisa corresponde a uma revisão bibliográfica


integrativa, na qual as bases de dados do MEDLINE/PUBMED,
LILACS, Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), DOT LIB
e Revistas Eletrônicas de Saúde foram consultadas para o
levantamento de artigos científicos publicados em periódicos
indexados e livros, compreendidos no período de 2013 a 2017.
Na estratégia de busca, foram utilizados os descritores:
Segurança Alimentar; Microbiologia de Alimentos; Nutrição
Hospitalar; Genotipagem. Entre 32 fontes encontradas, 16
foram selecionadas à constituir tal revisão integrativa,
utilizando-se como critérios de inclusão livros e artigos em
português e inglês intrínsecos ao tema, com ênfase na
problemática proposta. Após uma ampla seleção, os artigos e
livros foram sistematicamente lidos e analisados com objetivo
de confrontar as variáveis de interesse do estudo com os
achados da literatura.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em Unidades de Nutrição Hospitalar, os parâmetros


higiênico-sanitários devem ser estritamente seguidos visando a
preparação e fornecimento de alimentos seguros ao paciente
internado. Contudo, verifica-se um déficit no manejo da
qualidade microbiológica destes alimentos decorrente da falta
de um programa de treinamento de boas práticas de higiene
para os indivíduos que trabalham direta ou indiretamente neste
97
MÉTODOS MOLECULARES DE GENOTIPAGEM PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ALIMENTOS EM UNIDADES DE NUTRIÇÃO
HOSPITALAR
setor (MEDEIROS; CARVALHO; FRANCO, 2017). Os
princípios de higiene em qualquer Unidade de Alimentação e
Nutrição devem ser rígidos, visto que, alimentos contaminados
podem contribuir à complicações no quadro clínico dos
pacientes (SILVA et al., 2015).
A administração de alimentos eventualmente
contaminados pode não somente causar distúrbios
gastrintestinais, mas contribuir para infecções mais graves,
especialmente em pacientes imunodeprimidos (SACCOL et al.,
2013). Os agentes patogênicos contaminantes presentes nos
alimentos podem, muitas vezes, agir como causadores
potenciais de processos patológicos infecciosos. A principal
complicação infecciosa é a gastroenterocolite, decorrente da
contaminação microbiana durante o preparo e administração
das dietas (RIBEIRO, 2017).
Alimentos carreadores de agentes microbianos podem
se constituir em fonte de infecção sistêmica para pacientes
hospitalizados, cuja imunidade está baixa. Sendo assim, a
responsabilidade com inocuidade e segurança dos alimentos
deve ser ainda maior, podendo um surto de toxinfecção
alimentar trazer graves consequências e agregar risco de morte
aos pacientes (FERREIRA et al., 2013).
A toxinfecção alimentar, no contexto hospitalar, pode
promover, além da sintomatologia característica a patologia, um
agravamento do quadro clínico dos pacientes, bem como,
conduzir a óbito. Desta forma, a avaliação da qualidade
microbiológica dos componentes de uma dieta hospitalar é
imprescindível a fim de identificar e quantificar os agentes
patogênicos, bem como, distinguir a fonte contaminante
(RIBEIRO, 2017). Todavia, considerando-se os riscos de

98
MÉTODOS MOLECULARES DE GENOTIPAGEM PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ALIMENTOS EM UNIDADES DE NUTRIÇÃO
HOSPITALAR
contaminação durante a análise microbiológica, o tempo
requerido e a similaridade entre patógenos de acordo com
características bioquímicas e morfológicas da colônia, pode-se
dizer então que, os métodos moleculares de genotipagem
destacam-se por apresentar significativa eficiência e
especificidade na identificação de qualquer microrganismo,
fundamentado na análise do material genético e sem a
exigência de exames complementares para determinação do
mesmo.
Os métodos moleculares de genotipagem visam à
identificação de sequências de material genético a fim de
caracterizar determinada espécie, partindo-se de sequências
conhecidas a partir da comparação de alelos ou
estabelecimento de genomas através do sequenciamento de
genes. Nesse contexto, as técnicas aplicadas à genotipagem
compreendem métodos de amplificação gênica, hibridização e
sequenciamento de DNA/RNA, objetivando a caracterização
genômica (MOREIRA, 2015).
A PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) é uma
técnica básica dos marcadores moleculares, que consiste na
amplificação exponencial de pequenas quantidades de DNA
complementar a um DNA molde a partir da síntese in vitro,
utilizando os seguintes componentes básicos da replicação
celular: cópias do DNA molde que deverá ser amplificado,
apresentando relativo grau de pureza; enzima Taq DNA
polimerase capaz de produzir cópias relativamente fiéis do DNA
molde; um DNA iniciador (primer) que propicia o início da
extensão pela Taq DNA polimerase; os desoxirribonucleotídeos
(dNTPs) que são as unidades básicas para construção da fita
complementar ao DNA molde − dATP, dCTP, dGTP e dTTP;

99
MÉTODOS MOLECULARES DE GENOTIPAGEM PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ALIMENTOS EM UNIDADES DE NUTRIÇÃO
HOSPITALAR
solução tampão, contendo o cofator magnésio (Mg), necessário
para que a enzima DNA polimerase desempenhe sua atividade;
BSA (Albumina de Soro Bovino), a fim de acelerar a reação
(MOREIRA, 2015).
Cada ciclo de amplificação compreende 3 etapas,
determinadas por alternância de temperatura: 1) 93-95ºC –
Desnaturação do DNA genômico; 2) 50-70ºC – Anelamento do
primer, cuja temperatura depende da Tm do primer; 3) 70-75ºC
– Síntese ou extensão da nova fita, geralmente a 72ºC
(MOREIRA, 2015). Ao final de cada ciclo tem-se a amplificação
exponencial do DNA. A Figura 1 ilustra a técnica de PCR.

Figura 1. Etapas da PCR, representando a amplificação


exponencial ao término de cada ciclo.

Fonte: MOREIRA (2015).

A amplificação do DNA é observada através da


eletroforese, na qual, a partir de correntes elétricas, os
fragmentos correspondentes aos alelos migram, separando-se
de acordo com o tamanho, como apresentado na Figura 2
(HAAS; TORRES, 2016). A partir da comparação entre os

100
MÉTODOS MOLECULARES DE GENOTIPAGEM PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ALIMENTOS EM UNIDADES DE NUTRIÇÃO
HOSPITALAR
fragmentos de DNA amplificados, com amostras já
estabelecidas, determina-se a identificação do organismo.

Figura 2. Eletroforese de várias amostras de DNA.

Fonte: MOREIRA (2015).

Devido à rapidez, especificidade e baixo custo, a PCR


tem se tornado uma das técnicas mais usadas para a detecção
de microrganismos patogênicos na avaliação da qualidade
microbiológica de alimentos (RIBEIRO, 2017). Além da PCR
convencional, têm-se as variantes: RT-PCR, Race PCR, Nested
PCR, PCR Multiplex e Real-Time PCR.
No que tange os métodos moleculares de genotipagem
a partir da hibridização, pode-se citar a técnica de Southern blot,
Northern blot e Microarrays.
A técnica de Southern blot permite a detecção de
moléculas de DNA após a sua separação eletroforética, por
hibridização com uma sonda, cuja sequência é complementar à
sequência de DNA em estudo. A sonda consiste em um
fragmento de DNA (ou RNA) de sequência conhecida que
contém algum tipo de marcação e pode ser detectado,
geralmente marcado radioativamente (P32) ou por adição de um

101
MÉTODOS MOLECULARES DE GENOTIPAGEM PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ALIMENTOS EM UNIDADES DE NUTRIÇÃO
HOSPITALAR
grupamento químico (digoxigenina ou biotina) (GEBBIE, 2014;
MOREIRA, 2015).
Esta técnica, representada na Figura 3, possibilita a
identificação de sequências de DNA presentes na amostra a
partir da hibridização à sonda marcada, podendo ser aplicada à
investigação de genes envolvidos com a patogenicidade de
diversos isolados bacterianos, permitindo a identificação de
uma cepa bacteriana específica (MOREIRA, 2015).

Figura 3. Técnica de Southern Blot.

Fonte: MOREIRA (2015).

Northern blot consiste numa técnica voltada ao estudo da


expressão gênica a partir da análise de RNA, a fim de denotar
a expressividade de determinado gene. Compreende a
eletroforese de RNA, com transferência para a membrana de
nitrocelulose e posterior hibridização com sonda marcada.

102
MÉTODOS MOLECULARES DE GENOTIPAGEM PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ALIMENTOS EM UNIDADES DE NUTRIÇÃO
HOSPITALAR
Técnica similar a do Southern Blot, diferindo apenas quanto ao
material analisado (RNA) (DEININGER; BELANCIO, 2016).
Microarrays constituem uma poderosa tecnologia para a
análise da expressão gênica e detecção de genes a partir de
inúmeros spots “pequenos poços” contendo moléculas-alvo
marcadas capazes de hibridizar com a amostra mediante
complementariedade (MOREIRA, 2015). Os microarranjos
podem ser transcriptômicos, fundamentando-se na capacidade
de um RNAm hibridizar-se ao seu DNA molde, ou genômicos,
baseados na complementariedade da dupla fita de DNA.
Permitem a medição simultânea dos níveis de expressão de até
100000 genes, a partir de sequências individuais contidas em
cada spot (MARZANCOLA; SEDIGHI; LI, 2016).
Os microchips utilizados correspondem a pequenas
placas de vidro, náilon ou sílica com centenas de sondas,
fixadas mediante diferentes tecnologias (robótica,
fotolitografia). As sondas utilizadas são sintetizadas e fixadas
em uma superfície sólida com pequenos pontos microscópicos
− spots. Cada spot contém milhares de sondas idênticas que
irão hibridizar com moléculas-alvo marcadas com fluoróforos
(MOREIRA, 2015). A hibridização entre a sonda fixada ao chip
e qualquer sequência de ácido nucleico presente numa
amostra, ocorre quando existe complementariedade entre
estas. A amostra a ser estudada deverá ser marcada então com
um fluorocromo e adicionada ao microchip, permitindo assim a
identificação da ocorrência de hibridização. Posteriormente, o
microchip é lavado para que as sequências não hibridizadas
sejam retiradas. As sequências perfeitamente hibridizadas
geram fluorescência intensa, enquanto outras sequências com
discordância de uma única base geram fluorescência de menor

103
MÉTODOS MOLECULARES DE GENOTIPAGEM PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ALIMENTOS EM UNIDADES DE NUTRIÇÃO
HOSPITALAR
intensidade. Os dados podem então ser analisados por uma
variedade de métodos de bioinformática (MOREIRA, 2015;
MARZANCOLA; SEDIGHI; LI, 2016).
Dentre as técnicas de genotipagem que se baseiam no
sequenciamento genético, destacam-se as plataformas de
sequenciamento de segunda geração (Next Generation
Sequencing): Plataforma 454 (Pirosequenciamento) e
Plataforma Illumina (Solexa).
A plataforma 454 consiste em uma tecnologia voltada ao
sequenciamento de DNA com base no princípio do
"sequenciamento por síntese”, com elevada eficiência e
rapidez, disponibilizada no mercado pela empresa Roche
(sequenciador 454 GS20) (LEVY; MYERS, 2016). Este método
pode ser dividido em três etapas: preparo da amostra, PCR em
emulsão e sequenciamento. Na primeira etapa, o DNA é
fragmentado aleatoriamente por nebulização, sendo
selecionados os fragmentos com tamanho adequado. Em
seguida, liga-se dois adaptadores (A e B) às extremidades dos
fragmentos selecionados. Os fragmentos obtidos são ligados à
microesferas magnéticas por meio do pareamento do adaptador
B com sequências curtas complementares presentes na
superfície da microesfera, onde ocorrerá a amplificação deste
fragmento. O adaptador A, por sua vez, servirá de molde para
anelamento do primer responsável pelo início da amplificação
(MOREIRA, 2015; LEVY; MYERS, 2016).
As microesferas ligadas aos fragmentos únicos de fita
simples são então emulsionadas em uma mistura de água e
óleo com reagentes de PCR para amplificação clonal do
fragmento fita simples em cerca de 1 milhão de cópias. Desta
forma, estas microesferas agem como reatores de amplificação

104
MÉTODOS MOLECULARES DE GENOTIPAGEM PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ALIMENTOS EM UNIDADES DE NUTRIÇÃO
HOSPITALAR
individual produzindo milhares de cópias de um único molde
(LEVY; MYERS, 2016). Na última etapa, estas microesferas são
adicionadas a uma placa de modo que cada orifício da placa
receba uma única microesfera. Posteriormente são adicionados
os reagentes necessários para sequenciamento do DNA
(MOREIRA, 2015).
As reações de sequenciamento ocorrem em cada poço,
para um único tipo de fragmento ligado à microesfera, não
havendo, portanto, competição por reagentes com outros
fragmentos da biblioteca (MOREIRA, 2015). Pirofosfato
inorgânico (PPi) é liberado a cada incorporação de um
nucleotídeo complementar a fita molde. Este PPi livre é
convertido, pela enzima ATP sulfurilase, em ATP, que por sua
vez fornece energia para oxidar a luciferina à oxiluciferina.
Como consequência desta reação, temos a emissão de luz.
Desta forma, cada incorporação de nucleotídeo à cadeia de
DNA nascente emitirá luz, imediatamente convertida em
pirogramas. A interpretação destes “pirogramas” permite
identificar a sequências de nucleotídeos do DNA molde (LEVY;
MYERS, 2016).
O sequenciamento é realizado em ciclos, e a cada ciclo
um tipo determinado de nucleotídeo é adicionado à reação. Se
o nucleotídeo adicionado for incorporado à sequência em
síntese, um sinal de luz é emitido, sendo a intensidade desse
sinal um reflexo do número de nucleotídeos desse tipo
específico que foram sucessivamente incorporados na
molécula. Como o nucleotídeo que é adicionado a cada ciclo é
conhecido, o sinal de luz emitido pode ser diretamente utilizado
como informação de sequência. As leituras produzidas

105
MÉTODOS MOLECULARES DE GENOTIPAGEM PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ALIMENTOS EM UNIDADES DE NUTRIÇÃO
HOSPITALAR
possuem geralmente cerca de 250 pb (LE GALLO; LOZY;
SINO, 2017).
O desenvolvimento da plataforma Illumina® ocorreu
devido ao trabalho conjunto de quatro companhias: Solexa,
Lynx Therapeutics, Manteia Predictive Medicine e Illumina,
baseando-se na metodologia proposta por Turcatti (2008) e
colaboradores (MOREIRA, 2015). Esta parceria resultou no
desenvolvimento do sequenciador Illumina Genome Analyser.
O princípio desta metodologia é similar ao método proposto por
Sanger, pois temos em ambas a síntese de uma fita
complementar ao DNA alvo utilizando DNA polimerase e
nucleotídeos terminadores marcados com diferentes
fluoróforos. A fluorescência emitida após a incorporação de
cada nucleotídeo é registrada como imagem e no final, através
de uma decodificação destas imagens, tem se a sequência de
interesse (MOREIRA, 2015).
A inovação dessa plataforma consiste na clonagem in
vitro dos fragmentos em uma plataforma sólida de vidro,
processo também conhecido como PCR de fase sólida
(MARDIS, 2013; WALKER; GOODFELLOW, 2017). A
superfície de clonagem (flowcells) é dividida em oito linhas que
podem ser utilizadas para o sequenciamento de até oito
bibliotecas. Em cada linha, adaptadores são fixados à superfície
pela extremidade 5’, deixando a extremidade 3’ livre para servir
na iniciação da reação de sequenciamento dos fragmentos
imobilizados no suporte por hibridização (MOREIRA, 2015).

CONCLUSÕES

106
MÉTODOS MOLECULARES DE GENOTIPAGEM PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ALIMENTOS EM UNIDADES DE NUTRIÇÃO
HOSPITALAR
A avaliação da qualidade microbiológica dos alimentos é
essencial a fim de estabelecer o parâmetro de segurança dos
mesmos frente aos riscos de contaminação envoltos à cadeia
produtiva. Identificar e quantificar os agentes contaminantes da
forma mais precisa e específica é primordial na caracterização
do nível de segurança alimentar.
No contexto hospitalar, a necessidade de vigilância
quanto à qualidade dos alimentos fornecidos aos pacientes, a
fim de assegurar a dieta como fator promotor para a
recuperação do mesmo, torna relevante a aplicabilidade de
métodos moleculares de genotipagem, voltados à análise
microbiológica, considerando que, através de técnicas de
amplificação gênica, hibridização ou sequenciamento,
microrganismos contaminantes são especificamente
identificados, possibilitando a avaliação do nível de
contaminação no setor de nutrição hospitalar.
Apesar da elevada especificidade e precisão que
envolvem as técnicas moleculares de genotipagem
apresentadas, a aplicabilidade das mesmas na avaliação da
qualidade microbiológica de alimentos, principalmente em
setores hospitalares, é limitada em razão do custo associado
aos equipamentos e à mão-de-obra especializada.
Deste modo, torna-se necessário intenso investimento
do setor público, não só quanto à mão-de-obra especializada,
mas também, à compra de equipamentos e manutenção de
laboratórios de biologia molecular nas Unidades de Nutrição
Hospitalar, ressaltando a fidedignidade e eficiência de tais
métodos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

107
MÉTODOS MOLECULARES DE GENOTIPAGEM PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ALIMENTOS EM UNIDADES DE NUTRIÇÃO
HOSPITALAR

BRASIL, Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde.


Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Doenças
Transmitidas por Alimentos. Brasília: Ministério da Saúde, 2015.
DEININGER, P; BELANCIO, V. P. Detection of LINE-1 RNAs by Northern
Blot. Methods in Molecular Biology, v. 1400, p. 167-182, 2016.
FERREIRA, J. S. et al. Conhecimento, atitudes e práticas em segurança
alimentar demanipuladores de alimentos em hospitais públicos de
Salvador, BAHIA. Revista Baiana de Saúde Pública, v.37, n. 1, p.35-55,
2013.
FORSYTHE, Stephen J. Microbiologia da Segurança dos Alimentos. 2.
ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
GEBBIE, L. Genomic Southern blot analysis. Methods in Molecular
Biology, v. 1099, p. 159-177, 2014.
HAAS, D. J.; TORRES, A. C. D. Aplicações das técnicas de PCR no
diagnóstico de doenças infecciosas dos animais. Revista Científica de
Medicina Veterinária, v. 30, n. 26, 2016.
LE GALLO, M; LOZY, F; SINO, DW. Next Generation Sequencing.
Advances in Experimental Medicine and Biology, v. 943, p. 119-148,
2017.
LEVY, SE; MYERS, R. M. Advancements in Next-Generation Sequencing.
Annual Review of Genomics and Human Genetics, v. 17, p. 95-115,
2016.
MARDIS, E. R. Next-generation sequencing platforms. Annual Review of
Analytical Chemistry, v. 6, p. 287-303, 2013.
MARZANCOLA, M. G.; SEDIGHI, A; LI, P. C. DNA Microarray-Based
Diagnostics. Methods in Molecular Biology, v. 1368, p. 161-178, 2016.
MEDEIROS, M. G. G. A; CARVALHO, L. R.; FRANCO, R. M. Percepção
sobre a higiene dos manipuladores de alimentos e perfil microbiológico em
restaurante universitário. Ciência & Saúde Coletiva, v. 22, n. 2, p. 383-
392, 2017.
MOREIRA, Leandro Márcio. Ciências Genômicas: Fundamentos e
Aplicações. 1. ed. Ribeirão Preto: Sociedade Brasileira de Genética, 2015.
RIBEIRO, E. S. S. Condições higiênico-sanitárias de uma unidade de
alimentação e nutrição hospitalar: manipuladores de alimentos em
foco. 2017. 69f. Monografia (Graduação em Nutrição) – Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2017.
SACCOL, A. L. F. et al. Lista de Avaliação de Boas Práticas para Serviços
de Alimentação. Resolução – RDC 216/2004 – ANVISA. São Paulo:
Varela; 2013.

108
MÉTODOS MOLECULARES DE GENOTIPAGEM PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ALIMENTOS EM UNIDADES DE NUTRIÇÃO
HOSPITALAR
SILVA, Ana Alice. et al. Manipulação de alimentos em uma cozinha
hospitalar: ênfase na segurança dos alimentos. Caderno Pedagógico,
Lajeado, v. 12, n. 1, p. 111-123, 2015.
WALKER, C; GOODFELLOW, P. J. Traditional approaches to molecular
genetic analysis. Molecular Genetics of Endometrial Carcinoma, v,
1138, p. 234- 246, 2017.

109
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
CAPÍTULO 6

BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO
MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE
MAMA
José Roberto Dantas de Andrade SANTOS1
Maria Isabela Ferreira de ARAÚJO1
Ray Ravilly Alves ARRUDA1
Tarcísio Tarso Corrêa BONIFÁCIO1
Discentes do Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular-PPgBCM/UFPB1
joserobertodasantos@gmail.com

RESUMO: O câncer de mama é o tipo mais frequente de câncer


entre as mulheres. É uma doença heterogênea composta de
vários subtipos distintos. Fatores genéticos e de estilo de vida
estão implicados na sua etiologia. Histórico de câncer de mama
em um parente de primero grau, nuliparidade, um primeiro parto
tardio, o consumo de álcool e a reposição de hormônios sexuais
já foram descritos como possíveis fatores de risco para o
desenvolvimento do câncer de mama. Os fatores prognósticos
tradicionais incluem o estado dos linfonodos axilares, o
tamanho do tumor, o grau nuclear e histológico. Uma infinidade
de moléculas envolvidas na biologia do câncer de mama tem
sido estudada como potenciais marcadores prognósticos.
Essas moléculas são utilizadas rotineiramente para tomar
decisões de tratamento em pacientes em estágio inicial,
incluem marcadores de proliferação (por exemplo, Ki-67),
receptores hormonais e o receptor do fator de crescimento
epidérmico humano 2 (HER-2). Neste estudo foi realizado um
levantamento da contribuição genética e dos biomarcadores
disponíveis para diagnóstico e/ou direcionamento terapêutico e
ainda, a caracterização dos subtipos moleculares do carcinoma

110
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
mamário. É cada vez mais importante a compreensão dos
mecanismos moleculares que permeiam o estabelecimento do
câncer de mama, a partir desses conhecimentos, podem ser
traçadas estratégias terapêuticas ou prognósticas que
melhorem a qualidade de vida dos pacientes acometidos por
esse tipo de câncer.
Palavras-chave: Biomarcadores. Variações genéticas.
Carcinoma mamário

INTRODUÇÃO

O câncer é uma decorrência de falhas nos mecanismos


que normalmente controlam o crescimento e a proliferação
celular. Mutações em três grandes classes de genes estão
envolvidas no estabelecimento do câncer: os proto- oncogenes,
que normalmente promove o crescimento celular, os genes
supressores tumorais, que regulam esse crescimento, e uma
terceira classe mais especializada de genes, denominada
genes caretaker, que protegem a integridade do genoma
(LODISH et al., 2014).
O câncer de mama é o câncer mais comum em mulheres
de todo o mundo (SIEGEL et al., 2016). Progressos
significativos em profilaxia, diagnóstico e manejo deste tipo de
câncer tem sido alcançado, especialmente na última década
(ZHANG et al., 2018). Apesar disso, as mortes femininas por
câncer de mama não diminuíram, uma vez que os avanços no
tratamento apenas compensaram a crescente incidência
proveniente do desenvolvimento demográfico e mudanças no
estilo de vida (HARRIS; BERGKVIST; WOLK, 2016).
Os subtipos de tumores mamários são biologicamente
distintos e definidos pela análise imunohistoquímica da
expressão do receptor de estrogênio (RE), receptor de
111
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
progesterona (RP) e do receptor de fator de crescimento
epidermal (HER-2) (YANG, 2010).
Algumas condições como a idade mais tardia do primeiro
parto, nuliparidade, história familiar de câncer de mama e
reposição de hormônios sexuais parecem estar envolvidos com
o surgimento dos tumores (MADIGAN et al., 1995; SCHAIRER
et al., 2011). O mecanismo exato da carcinogênese na mama
ainda não está claro, no entanto, alguns fatores como o
estresse oxidativo e variações genéticas são frenquentemente
descritos (PENG et al., 2014; POGO; HOLLAND; 2017).
Em geral, os fatores prognósticos mais utilizados em
câncer de mama incluem características do paciente,
características do tumor, marcadores tumorais (receptor de
estrogênio, receptor de progesterona, dentre outros) e
marcadores genéticos (BRCA1 / 2) (GOLDHIRSCH et al., 2007;
ROSS et al., 2003; LI et al., 2018).
Neste sentido, fez-se necessário um levantamento dos
estudos que envolvem os marcadores genético-moleculares,
focando nas mais recentes descobertas de potenciais
biomarcadores, além da caracterização dos subtipos de câncer
de mama adotado pelos laboratórios de patologia clínica.

MATERIAIS E MÉTODOS

Tendo em vista a heterogeneidade já relatada e a


necessidade de se conhecer melhor os aspectos genéticos e
moleculares do câncer de mama, foi realizado um levantamento
dos dados que envolvem desde os genes que contribuem para
o desenvolvimento deste tipo de câncer, até biomarcadores
bem estabelecidos na literatura e nos laboratórios de patologia
clínica que auxiliam no diagnóstico e na terapêutica dos

112
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
tumores mamários. Além disso, foram destacados os perfis
imunohistoquímicos dos subtipos já conhecidos. Trazendo um
contexto histórico junto às descobertas mais recentes deste
complexo campo. Para tanto, foram selecionados artigos das
seguintes bases de dados: PubMed, Scopus e SciELO. Para a
busca, as palavras-chave utilizadas foram: breast cancer;
genetic variants; progesterone and estrogen receptor;
molecular biomakers and breast cancer.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O câncer de mama é uma doença heterogênea


composta por um número crescente de subtipos biológicos
reconhecidos. Além disso, este tipo de câncer é multifatorial,
causado por fatores hereditários e ambientais complexos
(CAREY et al., 2006; ZHANG et al., 2011).
Uma visão geral dos genomas do câncer de mama
demonstra notável complexidade e variabilidade genômica. Os
tumores individuais geralmente apresentam aberrações que
desregulam centenas ou mesmo milhares de genes, que podem
ocorrer em vários níveis, como cromossômico, replicação
gênica, transcrição e epigenética (GODONE et al., 2018).

113
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
Marcadores genéticos

A heterogeneidade marcante devido a mudanças


genéticas, epigenéticas e transcricionais envolvendo um
elevado número de genes e proteínas são fatores relevantes
para o prognóstico clínico e tratamento médico do câncer de
mama. No entanto, é necessária uma abordagem ampla para
desvendar as complexidades subjacentes aos mecanismos de
carcinogênese (MORA et al., 2014).
Segundo Renfro e colaboradores (2017), esta é era da
oncologia de precisão, cujos pacientes podem ser tratados de
acordo com seu perfil genético. A oncologia tem se tornado
cada vez mais compreendida em nível celular e molecular, com
muitos subtipos de câncer sendo descritos em função de
biomarcadores ou mutações genéticas tumorais.
Na pesquisa sobre câncer de mama, o objetivo no campo
da oncogenômica é responder a questões clínicas relevantes
relacionadas a pacientes cujos tumores permanecerão inativos
por um longo tempo, a terapia direcionada apropriada de acordo
com o cenário adjuvante e a abordagem mais eficaz para
melhorar a qualidade de vida desses pacientes. Apesar dos
avanços em projetos inovadores de estudos clínicos, a
heterogeneidade intratumoral e intertumoral persiste como
desafios (GODONE et al., 2018).

BRCA1 e BRCA2

Alguns marcadores são historicamente utilizados como


fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de mama.
Mulheres nascidas com mutações nos genes supressores de
tumores BRCA1 ou BRCA2 apresentam risco significativamente

114
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
maior de desenvolvimento da doença do que mulheres na
população geral, essas chances aumentam consideravelmente
com o decorrer do tempo (KING et al., 2003).
BRCA1 e BRCA2 codificam proteínas que são cruciais
para o reparo preciso de quebras duplas de DNA (DSBs) por
recombinação homóloga (HR), um processo que é mediado
pela DNA recombinase RAD51. Células com BRCA1 ou BRCA2
com defeito não têm a capacidade de localizar RAD51 para
reparar o DNA danificado e são incapazes de realizar
recombinação homóloga (LORD; ASHWORTH, 2013). Se uma
cópia de qualquer um dos genes for mutada na linhagem
germinativa, o resultado é uma síndrome hereditária de câncer
de mama e ovário (HBOC), herdada de maneira autossômica
dominante (ROY et al., 2012).
Estes genes desempenham um papel importante na
manutenção da integridade do genoma. Eles estão envolvidos
diretamente em várias etapas durante o reparo de quebra de
fita dupla (DSBR), eles controlam as respostas do chekpoint do
ciclo celular e estão envolvidos na segregação cromossômica.
A perda completa da função de qualquer dessas proteínas leva
a um aumento dramático na instabilidade genômica
(O'DONOVAN; LIVINGSTON, 2012).
Essas mutações podem ocorrer por meio de um
processo hereditário ou esporádico. Aqueles com mutações
herdadas de BRCA têm um alelo BRCA inativado. O epitélio da
mama dependente de estrogênio sofre rápida replicação e
proliferação celular durante a puberdade. Essas alterações
exercem uma pressão sobre o sistema de reparo do DNA que
é incapaz de reparar o DNA danificado, resultando, portanto, na
morte celular. Durante este processo, uma pequena população
de células com DNA danificado irá escapar da morte celular,

115
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
resultando na produção de proteínas com base em DNA
mutado e danificado (XU et al., 1999; WINTERS et al., 2017). A
tabela 1 mostra estes e alguns outros genes importantes que
contribuem para o desenvolvimento do câncer de mama.

Tabela 1. Principais genes envolvidos no


estabelecimento do câncer de mama.
Gene Localização Função
Manutenção da integridade
BRCA1 17q21.31 do genoma

BRCA2 13q13.1 Manutenção da integridade


do genoma

TP53 17q13.1 Manutenção da integridade e


estabilidade genômica

PTEN 10q23.31 Regulação do ciclo celular,


proliferação e apoptose

BCL2 18q21.33 Sobrevivência celular/


antiapoptótico

Fonte: Autor, 2018

Mutações esporádicas da BRCA são semelhantes à


fisiopatologia observada em um processo herdado. Com a
rápida proliferação no epitélio da mama estimulada pelo
estrogênio, a taxa de mutações que ocorrem dentro do gene
BRCA é aumentada. Além disso, mutações de perda de função
somática de BRCA1 e BRCA2 também foram encontradas em
vários outros tipos de câncer, assim como a metilação do
promotor do gene BRCA1, que está associada a uma redução

116
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
de expressão desse gene. (LORD; ASHWORTH, 2013;
WINTERS et al., 2017).

TP53

Até o momento, as mutações no gene TP53 ainda são,


de longe, o evento genômico mais frequente nos genomas do
câncer (SILWAL-PANDIT et al., 2016).
A proteína TP53 é ativada em resposta a uma variedade
de sinais de estresse, como danos no DNA, sinais
hiperproliferativos, hipóxia, estresse oxidativo e depleção de
ribonucleotídeos e suprime a transformação e proliferação
celular, principalmente por desencadear a interrupção do ciclo
celular, reparo de DNA e apoptose. Ao longo dos anos, o papel
do TP53 em outros processos celulares, tais como o
metabolismo, a angiogênese, as respostas imunes, a
manutenção de células-tronco e a relação tumor/células
estromais foram sendo esclarecidos (BIEGING et al., 2014).
As mutações pontuais são as aberrações somáticas mais
comuns no gene TP53 relatadas no câncer, seguidas de
pequenas inserções e deleções, e com rearranjos mais
complexos sendo menos frequentes. O espectro de mutação,
em todos os cânceres, incluindo mama e ovário, é dominado
por mutações missense predominantemente localizadas nos
exons 5-8, abrangendo o domínio de ligação ao DNA da
proteína, com hotpots mutacionais em determinados códons
(LEROY et al., 2014; SILWAL-PANDIT et al., 2016)
Segundo Bertheau e colaboradores (2013), mutações no
gene TP53 são as alterações genéticas mais frequentes no
câncer de mama, observadas em 30% dos carcinomas
mamários.Tumores de mama com características associadas a

117
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
comportamento proliferativo e agressivo e desfecho clínico
desfavorável, como tamanho grande do tumor, metástase de
linfonodos axilares, alto grau histológico e negatividade do
receptor de estrogênio (RE), são frequentemente mutados para
TP53 (SHAH et al., 2012; SILWAL-PANDIT et al., 2014).

PTEN (Phosphatase and tensin homolog)

A PTEN foi a primeira fosfatase a ser identificada como


um supressor tumoral com diversas funções, incluindo
regulação do ciclo celular, apoptose e metástase. Mutações ou
uma expressão reduzida do gene PTEN estão associadas a
uma ampla variedade de tumores humanos. Sabe-se que as
mutações germinais no PTEN causam a síndrome de Cowden
(CS), que é caracterizada por um alto risco de câncer de mama.
Em famílias com SC, ∼80% têm mutações germinativas no
gene PTEN e pacientes do sexo feminino têm chances de 25 a
50% de desenvolver câncer de mama. Nos carcinomas
esporádicos de mama, a frequência de perda de PTEN é de 30
a 40% e a frequência de mutação somática do PTEN
intragênico é <5% (WENG; BROWN; EMG, 2001; ZHANG et al.,
2013).
Além da inativação de BRCA1 / 2 e p53, a repressão
desse gene supressor tumoral também desempenha um papel
na predisposição para o câncer de mama. PTEN codifica uma
fosfatase proteolipídica e seu principal substrato é fosfatidil-
inositol 3,4,5 trifosfato (PIP3), o produto da fosfoinositida 3-
quinase (PI3K) (DUMITRESCU; CORTALA, 2005;
SCHWARZENBACH et al., 2012).
O PTEN controla negativamente a via de transdução de
sinal PI3 / AKT intracelular, regulando a sinalização de múltiplos
118
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
processos biológicos, como metabolismo celular, proliferação e
apoptose. A repressão do PTEN resulta na ativação da via
PI3K-AKT, que dá origem ao aumento da sobrevivência celular,
pode causar transformação maligna e tem sido associada à
invasão e metástase do câncer de mama (BLANCO-APARICIO
et al., 2007; SCHWARZENBACH et al., 2012).

BCL-2 (B-cell lymphoma 2)

A família de proteínas BCL-2 foi identificada como um


grupo de proteínas que desempenham um papel integral na
manutenção do equilíbrio entre a sobrevivência celular e a
apoptose. O BCL-2 medeia seus efeitos pró-sobrevivência,
ligando-se às proteínas pró-apoptóticas BCL2-associated-X-
protein (BAX) e BCL-2 homologous antagonist killer (BAK),
prejudicando sua capacidade de liberar proteínas
apoptogênicas, como citocromo c das mitocôndrias
(ABDULLAH; CHOW, 2013).
Vários estudos têm demonstrado que a expressão de
BCL2 é um prognóstico promissor e marcador preditivo,
especialmente, nos tumores que expressam receptores
hormonais. A expressão de BCL2 é regulada diretamente pelo
estrogênio e, desta forma, comumente mostra altos níveis de
expressão nos canceres de mama ER positivo (ALI et al., 2012;
SPORIKOVA et al., 2018).

119
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
Marcadores moleculares bem estabelecidos

De acordo com Hirata e colaboradores (2014), a


identificação de marcadores que possam predizer o
comportamento do tumor é particularmente importante no
câncer de mama. A determinação de marcadores tumais é uma
ferramenta útil para o manejo clínico em pacientes com câncer
auxiliando no diagnóstico, estadiamento, avaliação da resposta
terapêutica, detecção de recorrência e metástase e
desenvolvimento de novas modalidades de tratamento. A tabela
2 mostra alguns dos principais marcadores descritos na
literatura.

Tabela 2. Características gerais dos marcadores moleculares


bem estabelecidos no câncer de mama.
Marcador Características Função Valor preditivo e/ou
moleculares valor prognóstico

Receptor de Proteína expressa Liga-se a Resposta à


estrogênio (RE) no epitélio e no hormônios terapias endócrinas
estroma mamário. circulantes

Receptor de Proteína expressa Liga-se a Resposta à


progesterona(RP) no epitélio e no hormônios terapias endócrinas
estroma mamário. circulantes

Receptor de Crescimento, Resistente à


HER-2 tirosina quinase diferenciação e terapias
transmembrana sobrevivência endócrinas/ alto
celular índice de
proliferação
Proteína expressa Síntese de Valor
Ki-67 no córtex nucleolar rRNA e divisão complementar/ alto
durante a interfase celular índice de
proliferação celular
Fonte: Autor, 2018

120
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
Alguns marcadores moleculares estão associados ao
prognóstico, alguns estão associados a resposta à terapia e
alguns estão associados a ambos. Os fatores prognósticos
correlacionam-se com a sobrevida independente da terapia
sistêmica e são usados para selecionar pacientes em risco. Os
fatores preditivos correlacionam a resposta à terapia
independente do prognóstico e têm impacto significativo em
populações selecionadas de pacientes (ESTEVA;
HORTOBAGYI, 2004; RAKHA et al., 2017)

Receptores Hormonais

Aproximadamente 80% dos cânceres de mama


expressam receptores de estrogênio, receptores de
progesterona ou ambos (TURNER et al., 2015). Os receptores
hormonais são proteínas expressas tanto no epitélio quanto no
estroma mamário que se ligam a hormônios circulantes,
mediando seus efeitos celulares (HIRATA et al., 2014).
Os cânceres de mama classificados pela expressão
imunohistoquímica (IHC) positiva de RE e RP têm
características clínicas, patológicas e moleculares diferentes.
Admite-se que fatores de risco estão intimamente associados
com tumores de mama RE+ e RP+ e podem envolver
mecanismos relacionados à exposição ao estrogênio e
progesterona, enquanto a etiologia do câncer de mama RE- e
RP- deve ser independente da exposição hormonal (YOO et al.,
2001; HUANG; WARNER; ÅKEGUSTAFSSON, 2015).
Os resultados da IHC correlacionam-se estreitamente
com ensaios bioquímicos de ligação de ligantes e taxas de
resposta clínica à terapia endócrina. A IHC, ao contrário de
ensaios químicos, não requer a destruição de amostras de

121
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
tecido, sendo assim, mostra a distribuição dos tecidos de RE,
tornando-se o método preferido para determinar o status RE /
RP em amostras de câncer de mama (EROLES et al., 2012).
O desenvolvimento de drogas direcionadas a esses
receptores hormonais, como o tamoxifeno, trouxe uma melhora
significativa na sobrevida de mulheres com câncer de mama
com receptor hormonal positivo (PAYANDEH et al., 2014).
O tamoxifeno foi a primeira terapia anti-estrogênica
dirigida ao RE para terapia adjuvante. Os efeitos antagonistas
deste fármaco no tecido mamário podem resultar da sua
capacidade de se ligar ao domínio de ligação ao ligando do RE,
bloqueando eficazmente o potencial de estimulação do
estrogênio (JENSEN; JORDAN, 2003; JORDAN, 2015).

HER-2

O receptor de fator de crescimento epidérmico humano-


2 (HER-2) é um receptor de tirosina quinase transmembrana
implicado no crescimento, diferenciação e sobrevivência celular
(LI et al., 2018). Vários nomes foram dados para este gene,
como c-erb-2, cerbB-2, C-erbB-2, HER-2, HER-2 / neu, ERBB2,
erbB2, erbB-2, neu protein e neu (EISENBERG; KOIFMAN,
2001). Para esta revisão foi adotado o termo "HER-2".
A superexpressão do HER-2 está presente em
aproximadamente 20% dos tumores de câncer de mama
(HANNA et al., 2014). A superexpressão de HER2 está
associada a uma doença mais agressiva, maior taxa de
recorrência e menor sobrevida (MITRI; CONSTANTINE,
O'REGAN, 2012; SWAIN et al., 2015). Os canceres com essa
característica exibem uma superexpressão de genes
relacionados a proliferação (EROLES et al., 2012).

122
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
O status HER-2 também é um preditor de certos
tratamentos sistêmicos. Slamon et al (2011), propuseram pela
primeira vez que o estado HER-2 é um fator prognóstico
independente do câncer de mama, independente do tamanho
do tumor, do linfonodo e do status do ER.
Estudos anteriores mostraram que o câncer de mama
com superexpressão HER-2 é resistente a agentes
quimioterápicos e não é sensível à terapia endócrina ou à
radioterapia. Portanto, a superexpressão de HER-2 geralmente
prediz um mau prognóstico em pacientes com câncer de mama.
No entanto, o surgimento de novas estratégias terapêuticas
mudou essa situação. O trastuzumab, por exemplo, foi
originalmente usado em pacientes com câncer de mama com
metástases e posteriormente aplicado à quimioterapia
convencional. Muitos estudos mostraram que este tipo de
medicação pode prolongar a sobrevida de pacientes com
câncer de mama HER-2 positivo (BASELGA et al., 1998; LI et
al., 2018).

Ki-67

O Ki-67 é uma proteína nuclear associada à proliferação


celular e foi originalmente identificada por Gerdes et al (1983),
usando um anticorpo monoclonal de camundongo dirigido
contra um antígeno nuclear da linhagem celular de um linfoma
de Hodgkin. Assim como os outros marcadores, o método de
análise mais prevalente do antígeno Ki-67 é a avaliação imuno-
histoquímica. Foi demonstrado que o antígeno nuclear Ki-67 é
expresso em determinadas fases do ciclo celular, mais
precisamente nas fases S, G1, G2 e M, mas não existe em G0
(INWALD et al., 2013).

123
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
Estudos identificaram o envolvimento do Ki-67 nos
estágios iniciais da síntese de rRNA dependente de polimerase
I e, embora pareça que a proteína tenha uma função importante
na divisão celular, seu papel exato ainda é obscuro e há pouco
trabalho publicado neste sentido (BULLWINKE et al., 2006;
YERUSHALMI et al., 2010).
Desde a sua descoberta tem havido interesse no papel
do Ki-67 como marcador de proliferação no câncer,
particularmente nos linfomas, mama, endócrino e cancros
cerebrais. Embora ainda não seja utilizado como padrão no
câncer de mama, é comumente usado como um complemento
junto a sistemas de graduação que incluem contagem mitótica,
como um sinal de proliferação celular (LUPORSI et al., 2012).

Classificação molecular

A classificação molecular baseada na expressão de RE,


RP e HER-2 é simples. Esses três biomarcadores são
frequentemente relatados pelos departamentos de patologia.
Os protocolos de coloração e de notificação estão bem
estabelecidos e os programas de controle de qualidade já estão
disponíveis em muitos centros. A subtipagem molecular desses
três biomarcadores pode fornecer uma melhor compreensão da
heterogeneidade molecular do câncer de mama mostrando
diferentes características clinicopatológicas, padrões distintos
de sobrevida, e fornecem informações sobre a resposta
terapêutica (PARK et al., 2012)
Na classificação original de Perou et al (2000), subtipos
distintos de câncer de mama foram descritos: (1) Luminal, (2)
Basal-like, (3) Normal breast–like (4) HER2-positivo.

124
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
Ao longo da última década, o uso das novas tecnologias
de expressão gênica vem esclarecendo a diversidade biológica
do câncer de mama e levou a uma nova classificação através
da identificação de subtipos de câncer de mama com discretos
padrões de expressão gênica (JONES et al., 2012). Cinco
subtipos foram reconhecidos. A tabela 3 mostra informações
importantes acerca dos subtipos descritos.
Dois dos cinco subtipos são derivados em grande parte
de tumores positivos para os receptores de estrogênio (ER+):
subtipos luminal A e B.
Três dos cinco subtipos são derivados em grande parte
de cânceres negativos para os receptores de estrogênio (RE-):
normal breast-like, basal cell-like e HER-2 positivo.

Tabela 3. Perfil dos subtipos moleculares do câncer de mama.


Subtipo Frequência Perfil IHC Genes de Prognóstico
molecular proliferação
Luminal A 50-60% ER+ PR+ HER2- Baixo Bom

Luminal B 10-20% ER + PR+/- Alto Intermediário/


HER+/- ruim

Normal 5-10% ER +/- HER- Baixo Intermediário


breast like

Basal like 10-20% ER- PR- HER- Alto Ruim

HER-2 15-20% ER- PR- HER+ Alto Ruim


positivo
Fonte: Autor, 2018

Grupo receptor de estrogênio positivo (RE+)

Compreendem os subtipos luminais A e B. O subtipo


luminal A é um grupo que corresponde principalmente a
125
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
tumores RE-positivos de baixo grau histológico. Já o subtipo
luminal B, também consiste de tumores RE-positivos, (no
entanto, frequentemente expressa níveis mais baixos de
receptores hormonais), geralmente de alto grau histológico, e
consistentemente exibe altos níveis de expressão de genes
relacionados à proliferação (JONES et al., 2012).

Grupo receptor de estrogênio negativo (RE-)

O grupo do tipo basal like mostra a maior diversidade dos


três (RE-) no que diz respeito às características
histopatológicas, perfis de mutação, resposta à quimioterapia,
comportamento metastático e taxas de sobrevivência. Este
subtipo é geralmente caracterizado pela expressão das
citoqueratinas de alto peso molecular CK 5/6 e CK14
juntamente com EGFR, c-KIT, FOXC1, mutações frequentes de
TP53 e um alto índice de proliferação (VUONG et al., 2014).
Este tipo de tumor têm um prognóstico extremamente
ruim. O imunofenótipo desses tumores é interessante, pois eles
são frequentemente, embora não invariavelmente, triplos
negativos (RE, RP e HER-2 negativos). No geral, a morfologia
e o imunofenótipo são suficientemente diferentes para serem
úteis na prática diagnóstica ao alertar o patologista para a
probabilidade de o câncer ser de um subtipo "basal". Coloração
adicional para citoqueratinas de alto peso molecular pode ser
realizada para confirmar a suspeita (SILVA; CLARKE;
LAKHANI, 2007).
O subtipo normal like é caracterizado pela expressão de
genes associados ao tecido adiposo e outros tipos de células
estromais, apresentando um prognóstico intermediário entre o

126
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
luminal e o basal e geralmente não respondem à quimioterapia
neoadjuvante (JONES et al., 2012).
Eles não têm a expressão de RE, HER-2 e RP, então
esses tumores também podem ser classificados como triplo
negativo, sem serem considerados como basais, pois são
negativos para CK5 e EGFR. O significado clínico destes
tumores ainda está por ser determinado e devido à sua
raridade, existem poucos estudos sobre este subtipo. Este é um
grupo controverso e é considerado por alguns autores para
representar a contaminação celular normal das amostras, em
vez de um subtipo intrínseco real (WEIGELT et al., 2010;
RAKHA et al., 2017).
Por último, o subtipo HER-positivo. O receptor do fator
de crescimento epidérmico humano-2 (HER-2) é um gene do
receptor do fator de crescimento que é amplificado em
aproximadamente 20% dos cânceres de mama (VERMA et al.,
2012). Sua principal função é mediar o crescimento, a
diferenciação e a sobrevivência das células, promovendo um
comportamento mais agressivo dos tumores. Estudos têm
mostrado que mulheres cujos tumores exibem, ou amplificação
do gene HER-2 ou superexpressão de sua proteína codificada
têm uma forma mais agressiva de câncer de mama em
comparação com mulheres cujos tumores não expressam HER-
2 (DAWOOD et al., 2010).
Esses tumores são caracterizados pela alta expressão
do gene HER-2 e outros genes associados à via HER2 e / ou
ao amplicon HER-2 localizado no cromossomo 17q12.
Morfologicamente, esses tumores são altamente proliferativos,
75% têm alto grau histológico e nuclear e mais de 40% têm
mutações p53. Alguns cânceres do subtipo HER2-positivo são
positivos para ER, mas geralmente expressam baixos níveis

127
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
desse receptor (TSUTSUI et al., 2003; YERSAL; BARUTCA,
2014).

CONCLUSÕES

O câncer de mama é uma doença que possui um caráter


clínico e molecular heterogêneo. Neste estudo foram abordados
importantes conceitos acerca da complexidade molecular da
doença. Revisamos os genes para os quais a existência de
associação é suficientemente robusta para ser incorparado
como um componente de suscetibilidade a carcinogênese
mamária, e os que contribuem indiretamente para esse
processo.
Os genes BRCA1/2, por exemplo, conferem um alto risco
de câncer de mama. Outros genes como TP53, PTEN E BCL2
conferem níveis variados de risco, mas também já tiveram sua
contribuição relatadas.
A classificação molecular depende majoritariamente do
status dos receptores hormonais e dos receptores HER-2, a
subtipagem desses biomarcadores oferecem uma melhor
compreensão e podem sinalizar um diagnóstico precoce e
estratégias terapêuticas personalizadas. Além disso, a
expressão de outros genes, principalmente aqueles
relacionados com proliferação celular também favorecem a
classificação em subtipos moleculares.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABDULLAH, L. N.; CHOW, E. K. Mechanisms of chemoresistance in cancer


stem cells. Clinical and translational medicine, v. 2, n. 1, p. 3, 2013.
ALI, H. R; DAWSON, S. J.; BLOWS, F. M.; PROVENZANO, E.; LEUNG, S.;
NIELSEN, T.; PHAROAH, P. D.; CALDAS, C. A Ki67/BCL2 index based on

128
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
immunohistochemistry is highly prognostic in ER‐positive breast
cancer. The Journal of pathology, v.226, n.1, p.97-107, 2012.
BASELGA, J.; NORTON. L.; ALBANELL, J.; KIM, Y. M.; MENDELSOHN, J.
Recombinant humanized anti-HER2 antibody (Herceptin) enhances the
antitumor activity of paclitaxel and doxorubicin against HER2/neu
overexpressing human breast cancer xenografts. Cancer Res. v. 58, n.13,
p.2825–2831, 1998.
BERTHEAU, P.; LEHMANN-CHE, J.; VARNA, M.; DUMAY, A.; POIROT,
B.; PORCHER, R.; TURPIN, E.; PLASSA, LF.; ROQUANCOURT, A.;
BOURSTYN, E.; CREMOUX, P.; JANIN, A.; GIACCHETTI, S.; ESPIÉ, M.;
THÉ, H. p53 in breast cancer subtypes and new insights into response to
chemotherapy. The Breast, v.22, p.27-29, 2013.
BIEGING, K. T.; MELLO, S. S. ATTARDI, L. D. Unravelling mechanisms of
p53-mediated tumour suppression. Nat Rev Cancer, v.14, n.5, p.359–370,
2014.
BLANCO-APARICIO, C.; RENNER, O.; LEAL, J. F.; CARNERO, A. PTEN,
more than the AKT pathway. Carcinogenesis, v.28, n.7, p.1379–1386,
2007.
BULLWINKEL, J.; BARON-LUHR, B.; LUDEMANN, A.; WOHLENBERG,
C.; GERDES, J.; SCHOLZEN, T. Ki67 protein is associated with ribosomal
RNA transcription in quiescent and proliferating cells. J Cell Physiol, v.206,
p.624–35, 2006.
CAREY, L. A.; PEROU, C. M.; LIVASY, C. A.; DRESSLER, L. G.; COWAN,
D.; CONWAY, K. et al. Race, breast cancer subtypes, and survival in the
Carolina Breast Cancer Study. JAMA, v.295, n.21, p.2492-2502, 2006.
DA SILVA, L.; CLARKE, C.; LAKHANI, S. R. Basal-like breast
cancer. Journal of clinical pathology, 2007.
DAWOOD, S.; BROGLIO, K.; BUZDAR, A. U.; HORTOBAGYI, G. N.;
GIORDANO, S. H. Prognosis of women with metastatic breast cancer by
HER2 status and trastuzumab treatment: an institutional-based
review. Journal of clinical oncology, v.28, n.1, p.92, 2010.
DUMITRESCU, R. G.; COTARLA, I. Understanding breast cancer risk—
where do we stand in 2005? J Cell Mol Med, v.9, n.1, p.208–221, 2005.
EISENBERG, A. L. A.; KOIFMAN, S. “Cancer de mama: marcadores
tumorais,” Revista Brasileira De Cancerologia, vol. 47, p. 11, 2001.
EROLES, P.; BOSCH, A.; PÉREZ-FIDALGO, J. A.; LLUCH, A. Molecular
biology in breast cancer: intrinsic subtypes and signaling pathways. Cancer
treatment reviews, v.38, n.6, p.698-707, 2012.
ESTEVA, F. J.; HORTOBAGYI, G. N. Prognostic molecular markers in early
breast cancer. Breast cancer research, v. 6, n. 3, p. 109, 2004.
GERDES J, SCHWAB U, LEMKE H, STEIN H. Production of a mouse
monoclonal antibody reactive with a human nuclear antigen associated with
cell proliferation. Int J Cancer, v.31, n.1, p.13–20, 1983.
129
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
GODONE, R. L. N.; LEITÃO, G. M.; ARAÚJO, N. B.; CASTELLETTI, C. H.
M.; LIMA-FILHO, J. L.; MARTINS, D. B. G. Clinical and molecular aspects
of breast cancer: Targets and therapies. Biomedicine &
Pharmacotherapy, v.106, p.14-34, 2018.
HANNA, W. M.; RÜSCHOFF, J.; BILOUS, M.; COUDRY, R. A.; DOWSETT,
M.; OSAMURA, R. Y.; VIALE, G. HER2 in situ hybridization in breast
cancer: clinical implications of polysomy 17 and genetic
heterogeneity. Modern Pathology, v.27, n.1, p.4, 2014.
HARRIS, H. R.; BERGKVIST, L.; WOLK, A. Adherence to the world cancer
research fund/american institute for cancer research recommendations and
breast cancer risk. Int. J. Cancer. v.138, n.11, p.2657–2664, 2016.
HIRATA, B. K. B.; ODA, J. M. M.; GUEMBAROVSKI, R. L.; ARIZA, C. B.;
OLIVEIRA, C. E. C.; WATANABE, M. A. E. “Molecular Markers for Breast
Cancer: Prediction on Tumor Behavior,” Disease Markers, v.2014, 2014.
HUANG, Bo; WARNER, Margaret; GUSTAFSSON, Jan-Åke. Estrogen
receptors in breast carcinogenesis and endocrine therapy. Molecular and
cellular endocrinology, v. 418, p. 240-244, 2015.
INWALD, E. C.; KLINKHAMMER-SCHALKE, M.; HOFSTÄDTER, F.;
ZEMAN, F.; KOLLER, M.; GERSTENHAUER, M.; ORTMANN, O. Ki-67 is a
prognostic parameter in breast cancer patients: results of a large
population-based cohort of a cancer registry. Breast cancer research and
treatment, v.139, v.2, p.539-552, 2013.
JENSEN, E. V.; V. C. JORDAN, V. C. “The estrogen receptor: a model for
molecular medicine,” Clinical Cancer Research, vol. 9, no. 6, pp. 1980–
1989, 2003.
JONES, R. L.; CONSTANTINIDOU, A.; REIS-FILHO, J. S. Molecular
classification of breast cancer. Surgical pathology clinics, v.5, n.3, p. 701-
717, 2012.
JORDAN, V. C. The new biology of estrogen-induced apoptosis applied to
treat and prevent breast cancer. Endocrine-related cancer, v. 22, n. 1, p.
p.1-31, 2015.
KING, M. C.; MARKS, J. H.; MANDELL, J. B; Breast and ovarian cancer
risks due to inherited mutations in BRCA1 and BRCA2. Science, v.302,
n.5645, p.643-646, 2003.
LEROY, B.; ANDERSON, M.; SOUSSI, T. TP53 mutations in human
cancer: Database reassessment and prospects for the next decade. Hum
Mutat, v.35, n.6, p.672–688, 2014.
LI, S.; WEI, W.; JIANG, Y.; LI, Q.; HUANG, Q.; YANG, H.; LIU, J.
Comparison of the efficacy and survival analysis of neoadjuvant
chemotherapy for Her-2-positive breast cancer. Drug design,
development and therapy, v.12, p.3085, 2018.
LI, X.; DAI, D.; CHEN, B.; TANG, H.; XIE, X.; WEI, W. Clinicopathological
and Prognostic Significance of Cancer Antigen 15-3 and Carcinoembryonic
130
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
Antigen in Breast Cancer: A Meta-Analysis including 12,993
Patients. Disease markers, v.2018, 2018.
LORD, C. J.; ASHWORTH, A. Mechanisms of resistance to therapies
targeting BRCA-mutant cancers. Nature Medicine, v.19, n.11, p.1381–1388,
2013.
LODISH, H.; BERK, A.; KAISER, C. A.; KRIEGER, M.; BRETSCHER, A.;
PLOEGH, H.; AMON, A. Biologia celular e molecular. Artmed Editora,
2014.
LUPORSI, E.; ANDRÉ, F.; SPYRATOS, F.; MARTIN, P. M.; JACQUEMIER,
J.; PENAULT-LLORCA, F.; EGELE, C. Ki-67: level of evidence and
methodological considerations for its role in the clinical management of
breast cancer: analytical and critical review. Breast cancer research and
treatment, v.132, n.3, p.895-915, 2012.
MADIGAN, M. P.; ZIEGLER, R. G.; BENICHOU, J.; BYRNE, C.; HOOVER,
R. N. Proportion of breast cancer cases in the United States explained by
well-established risk factors. JNCI: Journal of the National Cancer
Institute, v.87, n.22, p.1681-1685, 1995.
MITRI, Z.; CONSTANTINE, T.; O'REGAN, R.; The HER2 receptor in breast
cancer: pathophysiology, clinical use, and new advances in
therapy. Chemotherapy research and practice, v. 2012, 2012.
MORA, A.; TARANTA, M.; ZAKI, N.; BADIDI, E.; CINTI, C.; CAPOBIANCO,
E. Ensemble inference by integrative cancer networks, Front. Genet. v.5,
p.59, 2014.
O'DONOVAN, P. J.; LIVINGSTON, D. M. BRCA1 and BRCA2:
breast/ovarian cancer susceptibility gene products and participants in DNA
double-strand break repair. Carcinogenesis, v. 31, n. 6, p. 961-967, 2010.
PARK, S.; KOO, J. S.; KIM, M. S.; PARK, H. S.; LEE, J. S.; LEE, J. S.;
PARK, B. W. et al. Characteristics and outcomes according to molecular
subtypes of breast cancer as classified by a panel of four biomarkers using
immunohistochemistry. The Breast, v.21, n.1, p.50-57, 2012.
PAYANDEH, M.; SADEGHI, M.; SADEGHI, E. Comparison of IHC, FISH,
ER and PR in Breast Cancer in Western Iran. American Journal of
Cancer, v.2, n.2, p.37-41, 2014.
PENG, Q.; LU, Y.; LAO, X.; CHEN, Z.; LI, R.; SUI, J.; LI, S. The NQO1
Pro187Ser polymorphism and breast cancer susceptibility: evidence from
an updated meta-analysis. Diagnostic pathology, v.9, n.1, p.100, 2014.
PEROU, C. M.; SORLIE, T.; EISEN, M. B.; VAN, R. M.; JEFFREY, S. S.;
REES C. A., et al. Molecular portraits of human breast tumours. Nature,
v.406, n.6797, p.747, 2000.
POGO, B.; HOLLAND, J. F. Breast Cancer Carcinogenesis. In: Schwab
M. (eds) Encyclopedia of Cancer. Springer, Berlin, Heidelberg, p. 493-
496, 2011.

131
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
RAKHA, E. A.; GREEN, A. R. Molecular classification of breast cancer:
what the pathologist needs to know. Pathology, v.49, n.2, p.111–119,
2017.
RENFRO, L. A.; AN, M.; MANDREKAR, S. J. Precision oncology: A new
era of cancer clinical trials. Cancer letters, v. 387, p. 121-126, 2017.
ROSS, J. S.; FLETCHER, J. A.; LINETTE, G. P.; STEC, J.; CLARK, E.;
AYERS, M.; BLOOM, K. J. The Her-2/neu gene and protein in breast
cancer 2003: biomarker and target of therapy. The oncologist, v.8, n.4,
p.307-325, 2003.
ROY, R.; CHUN, J.; POWELL, S. N. BRCA1 and BRCA2: different roles in
a common pathway of genome protection. Nature Reviews Cancer, v. 12,
n. 1, p. 68, 2012.
SCHAIRER, C.; LUBIN, J.; TROISI, R.; STURGEON, S.; BRINTON, L.;
HOOVER, R. Menopausal estrogen and estrogen-progestin replacement
therapy and breast cancer risk. Jama, v.283, n.4, p.485-491, 2000.
SCHWARZENBACH, H.; MILDE-LANGOSCH, K.; STEINBACH, B.;
MÜLLER, V.; PANTEL, K. Diagnostic potential of PTEN-targeting miR-214
in the blood of breast cancer patients. Breast cancer research and
treatment, v.134, n.3, p.933-941, 2012.
SHAH, S. P.; ROTH, A.; GOYA, R.; OLOUMI, A.; HA, G.; ZHAO, Y.;
BASHASHATI, A. The clonal and mutational evolution spectrum of primary
triple-negative breast cancers. Nature, v.486, n.7403, p.395, 2012.
SIEGEL R.L.; MILLER K.D., JEMAL A. Cancer statistics, CA Cancer J.
Clin. v.66, n.1, p.7–30, 2016.
SILWAL-PANDIT, L.; LANGERØD, A.; BØRRESEN-DALE, A.-L.
TP53Mutations in Breast and Ovarian Cancer. Cold Spring Harbor
Perspectives in Medicine, v.7, n.1, p.a026252, 2017.
SILWAL-PANDIT, L.; VOLLAN, H.; CHIN, S. TP53 mutation spectrum in
breast cancer is subtype specific and has distinct prognostic relevance.
Clin Cancer, v.20, n.13, p.3569–3580, 2014.
SLAMON, D.; EIERMANN, W.; ROBERT, N.; PIENKOWSKI, T.; MARTIN,
M.; PRESS, M.; PINTER, T. et al. Adjuvant trastuzumab in HER2-positive
breast cancer. New England Journal of Medicine, v.365, n.14, p.1273-
1283, 2011.
SPORIKOVA, Z.; KOUDELAKOVA, V.; TROJANEC, R.; HAJDUCH, M.
Genetic Markers in Triple-Negative Breast Cancer. Clinical breast câncer,
v.18, n.5, p.841-850, 2018.
SWAIN, S. M.; BASELGA, J.; KIM, S. B.; RO, J.; SEMIGLAZOV, V.;
CAMPONE, M.; CLARK, E. Pertuzumab, trastuzumab, and docetaxel in
HER2-positive metastatic breast cancer. New England Journal of
Medicine, v.372, n.8, p.724-734, 2015.
TSUTSUI, S.; OHNO, S.; MURAKAMI, S.; KATAOKA, A.; KINOSHITA, J.;
HACHITANDA, Y. Prognostic significance of the coexpression of p53
132
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
protein and c-erbB2 in breast cancer. Am J Surg. v.185, n.2, p.165–167,
2003.
TURNER, N. C.; RO, J.; ANDRÉ, F.; LOI, S.; VERMA, S.; IWATA, H.;
Giorgetti, C. Palbociclib in hormone-receptor–positive advanced breast
cancer. New England Journal of Medicine, v.373, n.3, p.209-219, 2015.
VERMA, S.; MILES, D.; GIANNI, L.; KROP, I. E.; WELSLAU, M.;
BASELGA, J.; FANG, L. Trastuzumab emtansine for HER2-positive
advanced breast cancer. New England Journal of Medicine, v.367, n.19,
p.1783-1791, 2012.
VUONG, D.; SIMPSON, P. T.; GREEN, B.; CUMMINGS, M. C.; LAKHANI,
S. R. Molecular classification of breast cancer. Virchows Archiv, v.465,
n.1, p.1-14, 2014.
WEIGELT, B., MACKAY, A.; A'HERN, R.; NATRAJAN, R.; TAN, D. S.;
DOWSETT, M.; REIS-FILHO, J. S. Breast cancer molecular profiling with
single sample predictors: a retrospective analysis. The lancet
oncology, v.11, n.4, p.339-349, 2010.
WENG, L. P.; BROWN, J. L.; ENG, C. PTEN coordinates (G1) arrest by
down-regulating cyclin D1 via its protein phosphatase activity and up-
regulating p27 via its lipid phosphatase activity in a breast cancer model.
Hum Mol Genet, v.10, n.6, p.599–604, 2001.
YANG, X. R.; CHANG-CLAUDE, J.; GOODE, E. L.; COUCH, F. J.;
NEVANLINNA, H.; MILNE, R. L.; FASCHING, P. A. Associations of breast
cancer risk factors with tumor subtypes: a pooled analysis from the Breast
Cancer Association Consortium studies. Journal of the National Cancer
Institute, v.103, n.3, p.250-263, 2010.
YOO, K. Y.; TAJIMA, K.; PARK, S. K.; KANG, D.; KIM, S. U.; HIROSE, K.;
MIURA, S. Postmenopausal obesity as a breast cancer risk factor
according to estrogen and progesterone receptor status (Japan). Cancer
letters, v.167, n.1, p.57-63, 2001.
WINTERS, S.; MARTIN, C.; MURPHY, D.; SHOKAR, N. K. Breast Cancer
Epidemiology, Prevention, and Screening. Approaches to Understanding
Breast Cancer, v.151, p.1–32, 2017.
YERSAL, O.; BARUTCA S. “Biological subtypes of breast cancer:
Prognostic and therapeutic implications”. World journal of clinical
oncology, v.5, n.3, p. 412-24, 2014.
YERUSHALMI, R.; WOODS, R.; RAVDIN, P. M.; HAYES, M. M.; GELMON,
K. A. Ki67 in breast cancer: prognostic and predictive potential. The lancet
oncology, v.11, n.2, p.174-183, 2010.
Yi, S. M.; Li, G. Y. The association of SIPA1 gene polymorphisms with
breast cancer risk: evidence from published studies. Tumor Biology, v.35,
n.1, p.441-445, 2014.
XU, X.; WAGNER, K. U.; LARSON, D.; WEAVER, Z., LI, C.; RIED, T.;
DENG, C. X. Conditional mutation of Brca1 in mammary epithelial cells
133
BIOMARCADORES, CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR E GENES ESTRATÉGICOS
NO O ESTABELECIMENTO DO CÂNCER DE MAMA
results in blunted ductal morphogenesis and tumour formation. Nature
genetics, v.22, n.1, p.37, 1999.
ZHANG, B.; BEEGHLY-FADIEL, A.; LONG, J.; ZHENG, W. Genetic
variants associated with breast-cancer risk: comprehensive research
synopsis, meta-analysis, and epidemiological evidence. The lancet
oncology, v.12, n.5, p.477-488, 2011.
ZHANG, H. Y.; LIANG, F.; JIA, Z. L.; SONG, S. T.; JIANG, Z. F. PTEN
mutation, methylation and expression in breast cancer patients. Oncology
letters, v.6, n.1, p.161-168, 2013.
ZHANG, H.; ZHU, W.; BISKUP, E.; YANG, W.; YANG, Z.; WANG, H.; HU,
G. Incidence, risk factors and prognostic characteristics of bone metastases
and skeletal-related events (SREs) in breast cancer patients: A systematic
review of the real world data. Journal of bone oncology, v.11, p.38-50,
2018.

134
CANAIS IÔNICOS COMO ALVO FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL
CAPÍTULO 7

CANAIS IÔNICOS COMO ALVO


FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL
Carmem Gabriela Gomes de FIGUEIREDO 1
Claudenice Rodrigues do NASCIMENTO 2
Gláucia Faheina Verissimo MARTINS3
1
Professora da Pós-Graduação em Gerontologia da ETS/UFPB, Mestre em Biologia Celular e
Molecular Aplicada/UPE; Professora da ETS/UFPB, Mestre em Desenvolvimento e Meio
Ambiente PRODEMA/UFPB; 3 Doutora em Biotecnologia em Saúde RENORBIO/UFPB,
Orientadora/Professora da Unidade Acadêmica de Saúde-Centro de Educação e
Saúde/UFCG-Campus Cuité.
gabrielagfigueiredo@gmail.com

RESUMO: O câncer colorretal (CCR) é o terceiro câncer mais


comum no mundo. A introdução de agentes-alvo melhorou a
sobrevida global da doença metastática. No entanto, 40-50%
dos doentes não experimentam efeitos benéficos e continua
sendo um desafio selecionar pacientes susceptíveis que
respondam bem à terapia. Desde a descoberta da participação
de vários canais iônicos na regulação da proliferação celular e
da morte celular programada há duas décadas, a relação do
canal iônico na progressão do câncer passou por um rápido
desenvolvimento. Embora os mecanismos responsáveis pelo
impacto dos moduladores do canal iônico no crescimento do
câncer não tenham sido totalmente esclarecidos, vários
experimentos in vivo direcionados a diversos canais iônicos em
modelos de CCR mostram a potencialidade dos canais como
alvos terapêuticos. Na presente revisão, apresentamos uma
visão geral atualizada dos canais iônicos expressos e
diferencialmente expressos no CCR que poderiam funcionar

135
CANAIS IÔNICOS COMO ALVO FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL
como alvo farmacológico. Os canais expressos em CCR foram
os de potássio (K2P9.1, Kv3.4, Kv1.3, Kv1.5, Kv10.1, Kv11.1),
sódio (Nav1.5), cálcio (Cav1.3), cloreto (hCLCA1, CLCRG2,
CLCRG4) e aquaporinas (AQP-1, AQP-2, AQP-5, AQP-8 e
AQP-9). O conhecimento da presença destes canais, que já são
alvos farmacológicos para outras doenças, pode proporcionar a
descoberta de nova terapias para o câncer colorretal, bem
como servir como diagnóstico molecular e diferencial trazendo
novas possibilidades.
Palavras-chave: Câncer colorretal. Canais iônicos. Terapia.

INTRODUÇÃO

O câncer colorretal (CCR) é o terceiro mais comum no


mundo, com 1,36 milhão de pessoas diagnosticadas (FERLAY
et al., 2015). Abrange tumores que acometem um segmento do
intestino grosso (o cólon) e o reto. No Brasil, este tipo de câncer
é a terceira causa mais comum de morte relacionada a
neoplasias malignas e sua incidência vem aumentando em
comparação a outros tipos de tumores que acometem o
aparelho digestivo com uma estimativa de 36.360 novos casos,
sendo 17.380 homens e 18.980 mulheres (INSTITUTO
NACIONAL DO CÂNCER, 2018).
A doença é mais frequente em pessoas entre 50 e 70
anos de vida, acometendo entre 2 a 6% da população mais
jovem. Com o aumento da expectativa de vida o CCR apresenta
importância crescente no perfil da mortalidade por câncer
estimando-se em 6% o risco acumulado de desenvolvimento da
enfermidade ao longo da vida, sendo uma das metas da
Organização Mundial da Saúde reduzir esta taxa de
mortalidade pela doença (RALAIDOVY et al., 2018).

136
CANAIS IÔNICOS COMO ALVO FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL
A introdução de agentes-alvo melhorou a sobrevida
global da doença metastática. No entanto, 40-50% dos doentes
não experimentam efeitos benéficos e continua sendo um
desafio selecionar pacientes susceptíveis que respondam bem
à terapia (FAKIH, 2015).
Nas últimas décadas, a progressão do CCR foi decifrada
como um processo de múltiplas etapas ordenadas, que
depende de uma série de alterações genéticas, envolvendo a
falta de genes supressores de tumores e de reparo do DNA
acompanhados pela ativação de oncogenes. Cada uma dessas
aberrações genéticas leva à realização de etapas morfológicas
específicas que levam a mucosa colônica normal a um
verdadeiro carcinoma invasivo, através de lesões específicas e
ordenadas graças a modelos animais já bem estabelecidos
(TESTA; PELOSI; CASTELLI, 2018).
De maneira geral, entre os genes cuja expressão é
alterada durante o processo carcinogênico, aqueles que
codificam canais iônicos e transportadores estão adquirindo um
papel relevante nos últimos anos. Nesse aspecto é grande o
interesse da comunidade científica em definir marcadores de
prognóstico e terapias mais eficazes considerando a
heterogeneidade do CCR.
Os canais iônicos presentes na membrana plasmática
são proteínas transmembranares que facilitam seletivamente a
permeação de íons específicos entre os ambientes intracelular
e extracelular. Ao controlar estes fluxos iônicos em múltiplos
locais dentro das células e em múltiplas escalas de tempo, os
canais iônicos formam rapidamente os sinais celulares em
tecidos excitatórios, como o músculo cardíaco e o tecido
nervoso, mas também estão envolvidos em processos mais
lentos, como a proliferação (HOFFMANN; HOLM;

137
CANAIS IÔNICOS COMO ALVO FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL
LAMBERT, 2014; RAO et al., 2015), apoptose (KONDRATSKYI
et al., 2015), migração (SCHWAB; STOCKION, 2014) e adesão
celular (LITAN; LANGHANS, 2015) em células não excitáveis.
Está bem estabelecido que mudanças nos fluxos iônicos
através das membranas celulares em função do tempo são
fundamentais na manutenção da homeostase celular de todas
as células vivas. Consequentemente, a desregulação da
atividade dos canais iônicos é um evento crítico em condições
patológicas de vários tecidos, incluindo o câncer (LEANZA et
al., 2016).
Evidências crescentes indicam que uma variedade de
tipos de canal, não apenas na membrana plasmática, mas
também nas organelas intracelulares, como nas mitocôndrias,
estão envolvidas na progressão neoplásica e contribuem de
forma importante para a aquisição das principais características
das células cancerosas (LASTRAIOLI; LORIO; ARCANGEL,
2015; LEANZA et al., 2016).
Estudos tem demonstrado o envolvimento dos canais
iônicos em eventos como a mitogênese, o controle da
proliferação celular e da apoptose, bem como a migração e
metástase celular. Desta forma, a superexpressão de alguns
canais iônicos tem sido associada ao mau
prognóstico, enquanto outros canais são agora reconhecidos
como potenciais biomarcadores para determinados tipos de
câncer. Esses relatos, juntamente com o potencial de direcionar
a função dos canais iônicos através da modulação
farmacológica, tornam a compreensão do papel dos canais
iônicos na biologia do câncer de importância fundamental
(D'AMICO; GASPAROLI; ARCANGELI, 2013).
Portanto, os canais que afetam o desenvolvimento e a
progressão do câncer têm sido definidos como “canais

138
CANAIS IÔNICOS COMO ALVO FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL
oncogênicos”. A progressão do tumor leva à aquisição de um
perfil molecular específico, dando origem a diferentes clones
malignos que exibem características genotípicas e fenotípicas
alteradas. A esse respeito, a identificação do tipo e nível de
expressão de um determinado conjunto de canais iônicos é
especialmente importante, pois os canais iônicos não apenas
contribuem para a progressão maligna, mas também oferecem
uma possibilidade de intervenção terapêutica através de sua
modulação (LEANZA et al., 2016).
Assim, a identificação do tipo e nível de expressão de um
determinado conjunto de canais iônicos em tecidos patológicos
pode ajudar a estabelecer estratégias para direcionar
especificamente as células cancerígenas, mas não os tecidos
saudáveis, em contraste com os quimioterápicos mais
amplamente utilizados que afetam as células que se proliferam
mais rapidamente (LEANZA et al., 2016).
Considerando o potencial uso dos canais iônicos na
intervenção terapêutica do câncer colorretal, este trabalho
descreve os canais iônicos que estão expressos no câncer
colorretal e os diferencialmente expressos que poderiam
funcionar como alvo farmacológico.

MATERIAIS E MÉTODO

Estudo de revisão integrativa da literatura, o qual reuniu


trabalhos publicados nos últimos 5 anos, e assim, possibilitou a
síntese do estado da arte sobre a temática proposta tendo como
pergunta condutora: quais canais iônicos estão expressos no
câncer colorretal e os diferencialmente expressos que poderiam
funcionar como alvo farmacológico. Após a formulação da
pergunta condutora, procedeu-se a localização e avaliação

139
CANAIS IÔNICOS COMO ALVO FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL
crítica dos trabalhos na literatura científica disponível, seguida
pela coleta de dados, análise e apresentação, interpretação dos
dados possibilitando assim, um aprimoramento e atualização da
revisão (SOARES et al., 2014).
Foram utilizados apenas artigos como acervo para a
construção desta revisão. O levantamento dos trabalhos que
tratassem do tema proposto, foi feito através de pesquisas nos
bancos de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS): LILACS
(Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde), base de dados internacional PUBMED (Medical
Published – service of the U.S. National Library of Medicine),
SciELO (Scientific Eletronic Library Online). Os descritores
utilizados para a estratégia de busca, de acordo com o
dicionário em ciências da saúde (DECS), foram: câncer
colorretal (colorectal câncer), canais iônicos (ion channels),
terapêutica (therapeutics) seja no título, resumo ou corpo do
texto.
Os critérios de seleção foram: artigos em português e
inglês com os textos completos disponíveis nas bases de dados
supracitadas no período estabelecido. Em um primeiro
momento, foram avaliados títulos e resumos, sendo excluídos
artigos que abordavam um tipo de tumor diferente do colorretal.
Posteriormente, foi realizada uma leitura crítica dos estudos
remanescentes, sendo selecionados os que preencheram os
critérios predefinidos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após leitura criteriosa dos artigos nas bases de dados


indexados nos referidos bancos de dados nos últimos 5 anos,
obedecendo ao período de publicação, sendo os mesmos

140
CANAIS IÔNICOS COMO ALVO FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL
selecionados de forma minuciosa e verificando a adequação
aos critérios de inclusão e exclusão conforme a importância
para responder ao tema proposto nos periódicos, realizou-se o
fechamento catalográfico do material bibliográfico.
Um total de 44 artigos foram obtidos na busca das bases
de dados utilizando os descritores estabelecidos. Os filtros
foram selecionados a partir das opções propostas em cada
base de dados, reduzindo assim, após essa etapa, o número de
periódicos para responder a pergunta condutora do estudo.
Os tipos de canais iônicos encontrados como sendo
expressos no CCR foram os de potássio, sódio, cálcio, cloreto
e aquaporinas. A tabela 1 ilustra a nomenclatura dos canais
encontrados e o gene que codifica cada canal.

Tabela 1. Nomenclatura dos canas iônicos encontrados e seus genes


Tipo do canal Gene Nome do canal
Potássio KCNK9 K2P9.1
KCNC4 Kv3.4
KCNA3 Kv1.3
KCNA5 Kv1.5
KCNH1 Kv10.1
KCNH2 Kv11.1
Sódio SCN5A Nav1.5
Cálcio CACNA1D Cav1.3
Cloreto CLCA1 hCLCA1
CLCA2 CLCRG2
CLCA4 CLCRG4
Aquaporinas AQP1 AQP-1
AQP3 AQP-2
AQP5 AQP-5
AQP8 AQP-8
AQP9 AQP-9
Fonte: HUGO Gene Nomenclature Committee, 2018

141
CANAIS IÔNICOS COMO ALVO FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL
A análise dos trabalhos permitiu verificar que alguns
destes canais estavam expressos em linhagens celulares ou
em tumores primários. Além disso, pode-se verificar quais
estavam expressos, superexpressos ou tiveram sua expressão
inibida. A tabela 2 resume estes achados, bem como, a função
de cada canal em linhagens celulares e algumas correlações
clínicas.

Tabela 2. Canais iônicos expressos no câncer colorretal


Tipo Nome Expres- Função Expressão Correlação Ref
do são (células) Tumores Clínica
canal (células) primários
Potás- K2P9.1 + Williams
sio et
al.,2013
Kv3.4 + Invasão Song et
e al.,2018
migração
Kv1.3 + + He et al.,
2017
Kv1.5 + Comes et
al., 2013
Kv10.1 + Amplifica- Resultado Cázares-
ção ruim Ordoñez,
2017
Kv11.1 + Invasivi- ++ correla- Fator Lastraioli
dade ção com prognóstico et
fenótipo negativo al.,2015;
invasivo indepen- Crociane
dente nos et al.,
estágios I e 2013;
II do CCR Peng et
al., 2017;
Cázares-
Ordoñez,
2017
Sódio Nav1.5 Invasão House et
celular; al.,2015
Bloquea- Baptista;
do por Hon,201
Ropiva- 4
caína

142
CANAIS IÔNICOS COMO ALVO FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL
Cálcio Cav1.3 ++ Fourbon
et
al.,2017
Cloret hCLC −− Li et
o A1 diminuição al.,2017
da
expressão
CLCR Diferencia- Yang et
G-2 ção celular al., 2013
CLCR −− Yang et
G-4 Diminui- al., 2013
ção da
expressão
Aqua- AQP- + Migração + estágios Shi et al.,
porina 1 precoces e 2014
em
metásta-
ses
hepáticas
AQP- + Regula- ++ Envolvi- Shi et al.,
3 mentado mento do 2014
pelo linfonodo, Li et
EGF diferencia- al.,2013
ção,
metástase
AQP- + ++ + Shi et al.,
5 Prolifera- nos 2014
ção estágios
iniciais e
nas
metástase
s hepáticas
AQP- - Wu et
8 al.,2018
AQP- Níveis Dou et
9 reduzidos al.,2013
estão
associados à
falta de
resposta à
terapia
adjuvante no
CCR estágio
IIIb

+: expresso
++: superexpresso

143
CANAIS IÔNICOS COMO ALVO FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL
--: diminuição da expressão
EGF: Fator de Crescimento Epidérmico

Os canais de potássio tornaram-se um foco na biologia


do câncer, pois desempenham papéis nos comportamentos
celulares associados à progressão do câncer, incluindo
proliferação, migração e apoptose, angiogênese (D'AMICO;
GASPAROLI; ARCANGELI, 2013). Estudos de expressão
gênica para canais de potássio de duplo poro em amostras de
câncer colorretal, encontraram uma superexpressão do canal
de potássio K2P9.1 nestas amostras (WILLIAMS; BATEMAN;
O´KELLY, 2013).
O canal de potássio voltagem dependente (Kv), Kv3.4, é
conhecido por atuar como um sensor de oxigênio, e sua função
na hipóxia tem sido bem investigada. Entretanto, a relação entre
o canal e a hipóxia tumoral ainda não é compreendida. No que
diz respeito à migração e invasão, estudo in vitro demonstrou
que o uso de um inibidor do canal Kv3.4 fez com que fosse
reduzida a migração e invasão de células de câncer colorretal
HT-29, tornando este canal um novo alvo terapêutico para
metástase de câncer colorretal (SONG et al., 2018).
Expressão aberrante do canal de potássio voltagem
dependente Kv1.3 também foi relatada no câncer colorretal. Ao
analisarem a regulação bem como a expressão do
Kv1.3 no câncer colorretal usando linhagens celulares e
amostras clínicas de câncer colorretal primário, He e
colaboradores (2017), verificaram que a expressão do canal foi
regulada pela metilação da região promotora do gene em
células CCR humanas. O gene que codifica o canal foi metilado
na maioria das amostras clínicas. Esta metilação de Kv1.3 estava
associada com a idade, diferenciação do tumor e sobrevida de
5 anos. Os autores concluíram que o gene do Kv1.3 é
144
CANAIS IÔNICOS COMO ALVO FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL
frequentemente metilado no câncer colorretal humano e sua
expressão regulada pela metilação da região
promotora. Portanto, a metilação Kv1.3 pode servir como
marcadores de diagnóstico e prognóstico no câncer colorretal.
A expressão de Kv10.1 (ou EAG1) é um marcador de mau
prognóstico em alguns cânceres humanos (URREGO et al.,
2014). Existe uma correlação entre os níveis de expressão de
Kv10.1 e recidiva tumoral assim como redução da sobrevida
global em pacientes com câncer colorretal (CÁZARES-
ORDOÑEZ; PARDO, 2017).
A distribuição restrita deste canal em tecidos normais é
uma das características mais atraentes como um
potencial marcador tumoral e alvo terapêutico. Esforços para
elucidar os mecanismos subjacentes a este padrão de
expressão têm sido amplamente mal sucedidos. A ideia de
canais iônicos de membrana como alvos terapêuticos atraiu
cada vez mais atenção. Estes canais são particularmente
atraentes como alvos de câncer porque sua expressão na
superfície celular não é detectada em tecidos normais fora do
sistema nervoso central, mas é significativamente detectada em
muitos tumores de diferentes origens. Além disso, são
expressos de forma aberrante em vários tumores humanos, e
sua inibição prejudica a proliferação de linhagens celulares
tumorais. Portanto, anticorpos específicos contra o K v10.1
podem representar ferramentas promissoras para o
desenvolvimento de estratégias que eliminam seletivamente
células tumorais (COMES et al., 2015).
Experiências in vivo usando bloqueadores do canal de
potássio voltagem dependente Kv11.1 (ou hERG1) demonstram
a importância em vários sistemas: em um estudo recente,
células de câncer colorretal (HCT116) foram injetadas em

145
CANAIS IÔNICOS COMO ALVO FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL
camundongos que foram então tratados com inibidores
específicos de Kv11.1 WAY123,398 e E4031 (ambas as
substâncias 20 mg/kg por via intraperitoneal por duas semanas
diárias). Foi detectada uma redução de aproximadamente 50%
do volume do tumor, mas o mais importante é que esses
fármacos também foram muito eficazes, usando a mesma
linhagem de animais que não continham proteína p53, e as
drogas inibiram tanto a angiogênese quanto a
metástase (CROCIANI et al., 2013).
Resultados semelhantes foram obtidos em carcinoma
colorretal induzido por azoximetano (substância
carcinogênica) (FIORI et al., 2013). Fiori e colaboradores (2013)
testaram a relevância in vivo dos canais Kv11.1 durante a
carcinogênese colorretal. Usando tanto camundongos com
mutação do gene envolvido na Polipose Adenomatosa
Familiar quanto camundongos tratados com um carcinogênico
e que superexpressavam o canal de potássio voltagem
dependente Kv11.1. Ao administrarem intraperitonialmente um
inibidor deste canal, E-4031, perceberam uma redução de 80%
no número de pólipos colônicos.
Da mesma forma, a expressão funcional dos canais de
+
Na dependentes de voltagem (Nav1.5) foi demonstrada em
múltiplos tipos de células cancerígenas onde a atividade do
canal induz a uma característica invasiva ao tumor. Porém os
mecanismos de sinalização celular pelos quais estes canais
promovem a oncogênese permanecem pouco
compreendidos. House e colaboradores (2015),
demonstraram in vitro que a atividade dos canais de sódio
voltagem dependentes induz a alterações na expressão de
genes relacionados com a característica de invasibilidade de

146
CANAIS IÔNICOS COMO ALVO FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL
células de câncer colorretal (SW620), tornando-as mais
invasivas.
Estudo in vitro com a linhagem de células de câncer
colorretal SW620 demonstraram que um anestésico que é
utilizado durante a cirurgia de retirada dos tumores do CCR
foi capaz de inibir os canais de sódio voltagem dependentes
Nav1.5 (BAPTISTA et al., 2014).
Os canais de cálcio do tipo T (CACNA) medeiam o
influxo de cálcio através da membrana celular. Regulam
numerosos processos fisiológicos, incluindo marcapassos
cardíacos e atividade neuronal. Além disso, eles foram
implicados na proliferação, migração e diferenciação de
tecidos tumorais, muito embora ainda não se conheça
completamente os mecanismos envolvidos. Acredita-se que
variações na expressão gênica destes canais promovem a
formação de tumores e impedem a resposta ao tratamento
(FORNARO et al., 2017).
Os canais de cálcio voltagem dependentes regulam
a homeostase de Ca 2+ em células excitáveis após a
despolarização da membrana plasmáticae, porém tem sido
relacionados com o desenvolvimento de tumores. Fourbon e
colaboradores (2017) demonstraram que a proteína que
compõe a subunidade alfa 1D do canal de cálcio voltagem
dependente (CaV1.3) estava superexpressa e regulou
a concentração intracelular de cálcio e a migração
de células cancerígenas do cólon em estudo in vitro usando
linhagem celular de câncer colorretal HCT116.
Diferente dos canais abordados até aqui, o canal de
cloreto acessório 1 (CLCA1) acredita-se atuar como um
supressor tumoral. Isso porque Li e colaboradores (2017) em
um estudo in vitro e in vivo ao investigarem as funções e

147
CANAIS IÔNICOS COMO ALVO FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL
mecanismos da CLCA1 no câncer colorretal verificaram que o
nível de expressão gênica do canal em tecidos com o tumor
foi significativamente diminuído em comparação com o tecido
normal e sugerem que níveis aumentados de expressão
de CLCA1 podem suprimir a agressividade da CRC, podendo
atuar como um supressor tumoral. Achados semelhantes
também foram encontrados para o canal CLCA4 (YANG et al.,
2013).
A quebra do equilíbrio entre a proliferação e
diferenciação celular é um dos fatores que pode levar ao
câncer, porém os mecanismos moleculares que mantém este
equilíbrio ainda não estão totalmente definidos. Yang e
colaboradores (2013) demonstraram que a expressão do
canal CLCA4 foi reduzida de forma significativa em pacientes
de CCR.
A metástase do câncer colorretal é uma das causas
mais comuns de morte no mundo, sendo importante o estudo
de preditores de agressividade e invasibilidade dos tumores.
A metástase à distância das células cancerosas colorretais é
um processo de múltiplos estágios, no qual as células escapam
dos locais de câncer primário e estabelecem focos de
metástase em tecidos distantes (NAXEROVA et al., 2017).
Aquaporinas (AQPs) compõem uma família de proteínas
de transporte de membrana, que são expressas em uma
variedade de tecidos epiteliais. 5 membros (AQPs AQP1, 2, 4,
5 e 8) funcionam como transportadores seletivos de água em
resposta a um gradiente osmótico. Evidências recentes
sugerem que a superexpressão de várias AQPs está implicada
na tumorigênese, incluindo migração de células tumorais,
angiogênese e crescimento tumoral (WANG et al., 2015). Os
inibidores de aquaporinas ou reguladores negativos podem

148
CANAIS IÔNICOS COMO ALVO FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL
ser novos fármacos anticancerígenos (PAPADOPOULOS;
SAADOUN, 2015).
Trabalhos demonstraram que as aquaporinas 1, 3 e 5
(AQP1, AQP3, AQP5) tiveram um alto nível de expressão no
câncer colorretal (SHI et al., 2014; YOSHIDA et al., 2013)
sendo a expressão da aquaporina 1 um fator de mal
prognóstico CCR em estágios II e III (YOSHIDA et al., 2013)
enquanto que o silenciamento de AQP5 melhorou a
resistência a drogas em células de câncer de colorretal (SHI
et al., 2014).
Smith e colaboradores (2018) investigaram o potencial
papel antitumoral da bacopasida II, substância que os mesmos
autores verificaram ser um inibidor da aquaporina 1, no câncer
colorretal. Para isso verificaram o grau de expressão da AQP-1
nas linhagens de células de câncer colorretal HT-29, SW480,
SW620 e HCT116 e depois trataram estas células com o
inibidor da expressão de AQp-1 a bacopasida II, um extrato da
erva medicinal Bacopa monnieri. Verificou-se que a bacopasida
II inibiu o crescimento das células por induzir a paragem do ciclo
celular e apoptose, mostrando o potencial deste canal e da
substância como alvos terapêuticos para o CCR.
Embora a terapia com anticorpos monoclonais seja
prescrita para o CCR, a metástase resistente à terapia é a
principal causa de morte dos pacientes com CCR, o que indica
as demandas urgentes para a descoberta de novos alvos
terapêuticos. Wu e colaboradores (2018) demonstraram o
significado funcional de AQP8 no crescimento de células CRC
e metástase. A superexpressão da AQP8 em células de CCR
SW480 e HT-29 diminuiu notavelmente o crescimento, a
agressividade e a formação de colônias nestas células.

149
CANAIS IÔNICOS COMO ALVO FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL
CONCLUSÕES

Diversos e recentes estudos tem demonstrado o


potencial dos canais iônicos como alvos para a terapêutica do
câncer colorretal. Conhecendo o conjunto dos canais que
contribuem para o desenvolvimento do câncer colorretal, o uso
de uma terapia combinada usando mais do que um inibidor de
canal ou empregando-os juntamente com quimioterápicos
parece ser uma possível abordagem terapêutica futura.
No entanto, a principal questão é que, na maioria dos
casos, a especificidade dos fármacos dirigidos aos canais
iónicos para os efeitos antiproliferativos, pro-apoptóticos, anti-
angiogênicos ou anti-metastáticos observados não foi
comprovada utilizando ferramentas genéticas. Mais estudos
sobre estas questões necessitam ser feitos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAPTISTA-HON, D. T.; ROBERTSON, F. M.; ROBERTSON, G. B. et al.


Potent inhibition by ropivacaine of metastatic colon cancer SW620 cell
invasion and NaV1.5 channel function. Br. J. Anaesth. v.113, n. 1, p. 39-
48, 2014.
CÁZARES-ORDOÑEZ, V.; PARDO, L. A. Kv10.1 potassium channel: from
the brain to the tumors. Biochem Cell Biol. v. 95, n. 5, p. 531-536, 2017.
COMES, N.; BIELANSKA, J.; VALLEJO-GRACIA, A. et al. The voltage-
dependent K+ channels Kv1.3 and Kv1.5 in human câncer. Front Physiol.
v. 4, p. 283, 2013.
COMES, N.; SERRANO-ALBARRÁS, A; CAPERA, J. et al. Involvement of
potassium channels in the progression of cancer to a more malignant
phenotype. Biochimica et Biophysica Acta (BBA) - Biomembranes. v.1848,
n. 10, Part B, p. 2477-2492, 2015.
CROCIANI, O.; ZANIERI, F.; PILLOZZI, F. et al. hERG1 channels modulate
integrin signaling to trigger angiogenesis and tumor progression in
colorectal câncer. Sci. Rep. v. 3, p. 3308, 2013.

150
CANAIS IÔNICOS COMO ALVO FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL
D'AMICO, M.; GASPAROLI, L.; ARCANGELI, A. Potassium channels:
novel emerging biomarkers and targets for therapyin cancer. Recent Pat
Anticancer Drug Discov. v.18, n. 1, p. 53-65, 2013.
DOU, R.; DENG, Y.; HUANG, L. et al. Multi-microarray identifies lower
AQP9 expression in adjuvant chemotherapy nonresponders with stage III
colorectal câncer. Cancer Lett. v. 336, n. 1, p. 106-113, 2013.
FAKIH, M. G. Metastatic colorectal cancer: current state and future
directions. J Clin Oncol. v. 33, n. 16, p.1809-24, 2015.
FERLAY, J.; SOERJOMATARAM, I.; DIKSHIT, R. et al. Cancer incidence
and mortality worldwide: sources, methods and major patterns in
GLOBOCAN 2012. Int J Cancer. v.136, p.359-386, 2015.
FIORE, A.; CARRARESI, L.; MORABITO, A. et al. Characterization of
hERG1 channel role in mouse colorectal carcinogenesis. Cancer Med. v.2,
n. 5, p. 583-594, 2013.
FORNARO, L.; VIVALDI, C.; LIN, D. et al. Prognostic relevance of a T-type
calcium channels gene signature in solid tumours: A correlation ready for
clinical validation. PLoS One. v. 12, n. 8, p. e0182818, 2017.
FOURBON, Y.; GUÉGUINOU, M.; FELIX, R. et al. Ca2+ protein alpha 1D
of CaV1.3 regulates intracellular calciumconcentration and migration
of colon cancer cells through a non-canonical activity. Sci Rep. v. 7, n. 1, p.
14199, 2017.
HE, T.; WANG, C.; ZHANG, M. et al. Epigenetic regulation of voltage-gated
potassium ion channel molecule Kv1.3 in mechanisms of colorectal cancer.
Discov Med. v. 23, n.126, p.155-162, 2017.
HOFFMANN, K.; HOLM, N.B.; LAMBERT, I.H. Functions of volume-
sensitive and calcium-activated chloride channels. IUBMB Life. v. 66, n. 4,
p. 257-267, 2014.
HOUSE, C. D.; WANG,B.; CENICCOLA, K. et al. Voltage-gated
Na+ Channel Activity Increases Colon Cancer Transcriptional Activity and
Invasion Via Persistent MAPK Signaling. Sci Rep. v. 5, p. 11541, 2015.
HUGO Gene Nomenclature Committee. Gene Data. Disponível em:
https://www.genenames.org/. Acessado em 20 de novembro de 2018.
INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER. Câncer. Tipos de Câncer.
Colorretal. Rio de Janeiro: INCA, 2018.
KONDRATSKYI, A. et al. Ion channels in the regulation of apoptosis.
Biochim. Biophys. Acta. v.1848, p. 2532-2546, 2015.
LASTRAIOLI, E.; LORIO, J.; ARCANGEL, A. Ion channel expression as
promising cancer biomarker. Biochimica et Biophysica Acta (BBA) -
Biomembranes. v. 1848, n.10B, p. 2685-2702, 2015.
LEANZA, L.; MANAGÒ, A. ZORATTI, M. et al. Pharmacological targeting
of ion channels for cancer therapy: In vivo evidences. Biochimica et
Biophysica Acta (BBA) - Molecular Cell Research. v. 1863, n. 6B, p.
1385-1397, 2016.
151
CANAIS IÔNICOS COMO ALVO FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL
LI, A.; LU, D.; ZHANG, Y. et al. Critical role of aquaporin-3 in epidermal
growth factor-induced migration of colorectal carcinoma cells and its clinical
significance. Oncol. Rep. v. 29, n. 2, p. 535-540, 2013.
LI, X.; HU, W.; ZHOU, J. et al. CLCA1 suppresses colorectal cancer
aggressiveness via inhibition of the Wnt/beta-catenin signaling pathway.
Cell Commun Signal. v.15, n. 1, p. 38, 2017.
LITAN, A.; LANGHANS, S. A. Cancer as a channelopathy: ion channels
and pumps in tumor development and progression. Front. Cell.
Neurosci. v.9, p. 86, 2015.
NAXEROVA, K.; REITER, J. G.; BRACHTEL, E. et al. Origins of lymphatic
and distant metastases in human colorectal cancer. Science. v. 357, n.
6346, p. 55-60, 2017.
PAPADOPOULOS, M. C.; SAADOUN, S. Key roles of aquaporins in tumor
biology. Biochimica et Biophysica Acta (BBA) - Biomembranes. v.1848,
n. 10, Part B, p. 2576-2583, 2015.
PENG, J.; OU, Q.; WU, X. et al. Expression of voltage-gated
sodium channel Nav1.5 in non-metastatic colon cancer and its associations
with estrogen receptor (ER)-β expression and clinical outcomes. Chin J
Cancer. v. 36, n. 1, p. 89, 2017.
RAO, V.R. et al. Voltage-gated ion channels in cancer cell proliferation.
Cancers (Basel). v. 7, n. 2, p. 849-875, 2015.
RALAIDOVY, A. H.; GOPALAPPA, C.; ILBAWI, A. et al. Cost-effective
interventions for breast cancer, cervical cancer, and colorectal cancer: new
results from WHO-CHOICE. Eff Resour Alloc. v.16, n. 38, p.1-14, 2018.
SCHWAB, A.; STOCKION, C. Channels and transporters in tumour cell
migration and invasion Philos. Trans. R. Soc. Lond. Ser. B Biol.
Sci. v.369, n. 1638, p. 20130102, 2014.
SHI, X.; WU, S.; YANG, Y. et al. AQP5 silencing suppresses p38 MAPK
signaling and improves drug resistance in colon cancer cells. Tumour
Biol. v. 35, p. 7035-7045, 2014.
SMITH, E.; PALETHORNE, H. M.; HARDINGHAM, J. E. The Purified
Extract from the Medicinal Plant Bacopa monnieri, Bacopaside II, Inhibits
Growth of Colon Cancer Cells In Vitro by Inducing Cell Cycle Arrest and
Apoptosis. Cells. v. 7, n. 7, pii: E81, 2018.
SOARES, C. B. et al. Revisão integrativa: conceitos e métodos usados na
enfermagem. Rev Esc Enferm USP, v. 48, n. 2, p. 335-45, 2014.
SONG, M. S.; PARK, S. M.; PARK, J. S. et al. Kv3.1 and Kv3.4, Are
Involved in Cancer Cell Migration and Invasion. Int J Mol Sci. v. 19, n. 4,pii:
E1061, 2018.
TESTA, U.; PELOSI, E.; CASTELLI, G. Colorectal Cancer: Genetic
Abnormalities, Tumor Progression, Tumor Heterogeneity, Clonal Evolution
and Tumor-Initiating Cells. Med Sci (Basel). v. 6, n. 2, p. 31, 2018.

152
CANAIS IÔNICOS COMO ALVO FARMACOLÓGICO PARA TERAPIA DO
CÂNCER COLORRETAL
URREGO, D. TOMCZAK, A. P.; ZAHED, F. et al. Potassium channels in
cell cycle and cell proliferation. Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci. v.
369, n. 1638, p.20130094, 2014.
WANG, J.; FENG, L.; ZHU, Z. et al. Aquaporins as diagnostic and
therapeutic targets in cancer: how far we are? J Transl Med. v. 13, p. 1-11,
2015.
WILLIAMS, S.; BATEMAN, A.; O'KELLY, I. Altered expression of two-pore
domain potassium (K2P) channels in cancer. PLoS One. v. 8, n. 10,
p.e74589, 2013.
WU, D. Q.;YANG, Z. F.;WANG, K. J. et al. AQP8 inhibits colorectal cancer
growth and metastasis by down-regulating PI3K/AKT signaling and PCDH7
expression. Am J Cancer Res. v. 8, n. 2, p. 266–279, 2018.
YANG, B.; CAO, L.; LIU, B.et al. The transition from proliferation to
differentiation in colorectal cancer is regulated by the calcium activated
chloride channel A1. PLoS One. v.8, n. 4, p. e60861, 2013.
YOSHIDA, T.; HOJO, S.; SEKINE, S. et al. Expression of aquaporin-1 is a
poor prognostic factor for stage II and III colon câncer. Mol. Clin. Oncol.
v. 1, p. 953-958, 2013.

153
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
CAPÍTULO 8

AS BASES MOLECULARES DA
HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR
(HAP)
Thales de Mileto Henrique DOURADO 1
Bianca Teixeira Morais de OLIVEIRA 1
Olivia Alves da Costa SOUSA NETA 2
Ulrich VASCONCELOS 3
Rafael de Almeida TRAVASSOS 4
1
Graduandos do curso de Bacharelado em Biotecnologia, UFPB; 2 Pós-graduanda em
Farmacologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas – ICB-USP ; 4 Professor do Departamento
de Biotecnologia – CBIOTEC/UFPB. 4 Orientador/Professor do Departamento de Biologia
Celular e Molecular – CBIOTEC/UFPB.
rafaeltravassos@cbiotec.ufpb.br

RESUMO: O termo hipertensão arterial pulmonar (HAP)


descreve uma subpopulação de pacientes diagnosticados com
hipertensão pulmonar (HP). É um distúrbio fisiopatológico
caracterizado por uma elevação sustentada da pressão arterial
pulmonar média para níveis acima de 25 mmHg e que envolve
mecanismos complexos de alterações genéticas e
epigenéticas, desbalanço nos agentes vasoativos,
remodelamento da parede arterial pulmonar e trombose in situ.
Esse trabalho consistiu em apresentar uma visão geral dos
principais mecanismos moleculares responsáveis pelo início e
desenvolvimento dessa doença. A partir das pesquisas
bibliográficas consultadas pôde-se concluir que na HAP, as
células vasculares pulmonares apresentam perfis moleculares
anormais, que incluem alterações nos genes que codificam a
CAV-1, o BMPR2 e outros membros da família da TGF-β,
expressão prolongada de fatores induzidos de hipóxia (HIFs),
desbalanço na liberação de substâncias vasoativas (NO, PGI2
e ET-1) e angiogênicas (VEGF), característicos de uma
disfunção endotelial, resposta à processos inflamatórios (em

154
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
especial à IL-6), mudanças fenotípicas associadas à transição
endotélio-mesenquimal (EndMT) e alterações no perfil
metabólico. Essas características moleculares estimulam uma
proliferação e diferenciação anormal dessas células e
resistência à apoptose. Esses achados podem auxiliar no
desenvolvimento de novas técnicas de diagnóstico e novos
alvos terapêuticos que possam aumentar a expectativa de vida
dos pacientes e melhorar sua qualidade de vida.
Palavras-chave: Hipertensão arterial pulmonar. Bases
moleculares. Disfunção endotelial.

INTRODUÇÃO

O fluxo sanguíneo pulmonar é o débito cardíaco do lado


direito do coração. Ele é ejetado do ventrículo direito e levado
para os pulmões pela artéria pulmonar. O pulmão tem duas
circulações, uma circulação de baixo fluxo e alta pressão e uma
circulação de alto fluxo e baixa pressão. A circulação de alta
pressão e fluxo baixo supre a traqueia, a árvore brônquica,
incluindo os bronquíolos terminais, os tecidos de sustentação
do pulmão e as camadas externas (adventícia) dos vasos
sanguíneos, artérias e veias, com sangue arterial sistêmico. As
artérias brônquicas, ramos da aorta torácica, suprem a maior
parte de sangue arterial sistêmico, com pressão que é
ligeiramente inferior à pressão aórtica. A circulação de baixa
pressão e fluxo elevado leva sangue venoso de todas as partes
do corpo para os capilares alveolares, onde ganha oxigênio (O2)
e perde dióxido de carbono (CO2). A artéria pulmonar, que
recebe sangue do ventrículo direito, e seus ramos arteriais
levam sangue para os capilares alveolares, onde ocorrem as
trocas gasosas, e então, as veias pulmonares devolvem o
sangue para o átrio esquerdo, para ser bombeado pelo

155
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
ventrículo esquerdo para toda a circulação sistêmica
(CONSTANZO, 2014; HALL, 2017)
A artéria pulmonar se estende por 5 centímetros além
do ápice do ventrículo direito, dividindo-se nos ramos principais
direito e esquerdo, que suprem os dois respectivos pulmões.
Seus ramos são curtos, e todas as artérias do pulmão, mesmo
as menores artérias e arteríolas, têm diâmetros maiores do que
suas correspondentes na circulação sistêmica. Esse aspecto,
combinado ao fato de que os vasos são finos e distensíveis, dá
à árvore pulmonar grande complacência, chegando até
aproximadamente a 7 mL/mmHg, que é similar ao valor de toda
a árvore arterial sistêmica. Essa grande complacência permite
que as artérias pulmonares acomodem o volume sistólico do
ventrículo direito. A pressão arterial pulmonar sistólica situa-se
normalmente, em média, nos 25 mmHg no ser humano, a
pressão arterial pulmonar diastólica é de aproximadamente
8 mmHg, o valor normal da pressão arterial pulmonar média
(PAPm) em repouso é 14 ± 3.3 mmHg, tendo como limite
superior normal o valor de 20,6 mmHg (HALL, 2017; MONTANI
et al, 2013).
A resistência vascular pulmonar (RVP) e a complacência
arterial total (C) quantificam as propriedades resistivas e
elásticas das artérias pulmonares que modulam os
componentes estacionários e pulsáteis da carga arterial
pulmonar, respectivamente. Alterações de cunho funcional nas
artérias pulmonares ou no ventrículo direito podem ocasionar
mudanças nessas variáveis acarretando o desenvolvimento de
doenças tais como a hipertensão arterial pulmonar (CHEMLA et
al, 2015).
O termo hipertensão arterial pulmonar (HAP) descreve
uma subpopulação de pacientes diagnosticados com
hipertensão pulmonar (HP). É um distúrbio fisiopatológico
156
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
caracterizado por uma elevação na pressão arterial pulmonar
média para acima de 25 mmHg em repouso ou 30 mmHg com
exercícios físicos. Os pacientes geralmente apresentam níveis
muito mais elevados de pressão arterial pulmonar, porém,
sintomas vagos e insidiosos de aumento da fadiga e dispneia.
Alguns pacientes são diagnosticados somente após episódios
sincopais, que podem refletir níveis supra-sistêmicos de
pressão pulmonar e baixo débito cardíaco (RANCHOUX et al,
2017).
Uma persistência no quadro de hipertensão pulmonar
pode acarretar um remodelamento grave das artérias
pulmonares distais, aumento da resistência vascular pulmonar
e disfunção ventricular direita, o tornando incapaz de bombear
de modo eficaz o sangue para os pulmões e o paciente
apresenta sintomas que incluem falta de ar, fadiga, fraqueza,
angina e síncope. Menos comumente, os pacientes também
podem descrever tosse seca, náuseas e vômitos induzidos por
exercícios. Os sintomas em repouso ocorrem apenas em casos
avançados (BRADLEY et al, 2016; GAILIÈ et al, 2015).
Em 1998, uma classificação clínica de hipertensão
pulmonar foi estabelecida, categorizando a HP em grupos que
compartilham características patológicas, hemodinâmicas e
abordagens terapêuticas semelhantes. Durante o 5º Simpósio
Mundial realizado em Nice, na França, em 2013, o consenso foi
alcançado para manter o esquema geral das classificações
clínicas anteriores. No entanto, uma melhor compreensão dos
mecanismos da doença levou a modificações e atualizações
especialmente para pacientes caracterizados com hipertensão
arterial pulmonar. A partir de então, cinco grupos de transtornos
que causam HP foram identificados: hipertensão arterial
pulmonar (Grupo 1); hipertensão pulmonar por doença cardíaca
esquerda (Grupo 2); hipertensão pulmonar por doença
157
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
pulmonar crônica e/ou hipoxia (Grupo 3); hipertensão pulmonar
tromboembólica crônica (Grupo 4); e hipertensão pulmonar
devido a mecanismos multifatoriais pouco claros (Grupo 5)
(KIELY et al, 2013; SIMONNEAU, 2013).
No grupo 1 (HAP), são encontradas algumas
características fisiopatológicas comuns que resultam num
aumento da pressão pulmonar: vasoconstrição, trombose in situ
e hipertrofia medial que leva à oclusão das arteríolas
pulmonares pequenas e médias e à formação de lesões
plexiformes. Diversos mecanismos predisponentes ou
promotores que contribuem para o remodelamento vascular
pulmonar excessivo na HAP foram elucidados na última
década, tais como disfunção endotelial e consequente
desequilibrio de mediadores vasoativos, incluindo a
prostaciclina, óxido nítrico e endotelina-1, inflamação
sustentada, superexpressão de fatores indutores de hipóxia e
fatores angiogênicos, inibição da morte celular e ativação
excessiva das vias de sinalização, além do impacto de
hormônios sistêmicos, fatores de crescimento locais, citocinas,
fatores de transcrição e mutações em células germinativas. No
geral, a patogênese da HAP compartilha semelhanças com a
carcinogênese como a proliferação celular excessiva,
resistência à apoptose, alterações metabólicas e transições
fenotípicas (COURBOULIN et al, 2016; GUIGNABERT et al,
2015).
O remodelamento vascular pulmonar hipertrófico das
arteríolas distais leva a um aumento da pós-carga ventricular
direita, insuficiência cardíaca e morte prematura. Entre 11% e
40% dos pacientes com hipertensão arterial pulmonar idiopática
(HAPI), que corresponde ao desenvolvimento da doença sem
histórico familiar ou fator desencadeante conhecido, e 70% dos
pacientes com história familiar de HAP apresentam uma
158
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
mutação no gene que codifica o receptor de proteína
morfogenética óssea do tipo 2 (BMPR2); no entanto, a
penetrância é baixa e os portadores têm apenas 20% de risco
vitalício de desenvolver hipertensão pulmonar (GUIGNABERT
et al, 2015; KIELY, 2013).
Ainda não existem dados nacionais sobre a prevalência
da HAP no Brasil. Encontra-se em andamento o Registro
Nacional de Hipertensão Pulmonar, elaborado pelo Comitê
Brasileiro de Hipertensão Pulmonar, formado pelas sociedades
brasileiras de Cardiologia, Pneumologia e Tisiologia e
Reumatologia (ROMANO et al, 2018).
O relato na literatura de dados de incidência de HP à
nível global é pouco esclarecido. No Reino Unido, foi relatada
uma prevalência de 97 casos por milhão de habitantes. A taxa
de mortalidade padronizada por idade nos EUA varia entre 4,5
e 12,3 por 100.000 habitantes. A nível mundial a estimativa
mais baixa de prevalência da HAP é de 15 casos por milhão de
habitantes, enquanto a HAPI, é mais rara e com prevalência de
5.9 casos por milhão de habitantes (JUNIOR, 2015; KIELY,
2013).
Para o diagnóstico da HP é fundamental que se tenha
uma história clínica detalhada e a pesquisa de prováveis fatores
de risco desencadeadores do processo para que se possa
confirmar que os critérios hemodinâmicos são atendidos e para
descrever sua etiologia e gravidade funcional. Geralmente, o
diagnóstico é mais tardio, quando surgem os sintomas de
intolerância ao exercício, dispneia e fadiga, como também
sinais de baixo débito causados pela disfunção progressiva
ventricular direita, que podem causar episódios de síncope ou
pré-síncope (GAILÈ et al, 2015, PFEIFFER, 2014).
O cateterismo cardíaco direito permanece essencial
para o diagnóstico de HP ou HAP. Um dos problemas comuns
159
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
no diagnóstico de pacientes com HP é a distinção entre HAP e
HP por insuficiência cardíaca esquerda com fração de ejeção
preservada (ICEFP). O diagnóstico precoce da HAP permanece
difícil e os programas de rastreamento em pacientes
assintomáticos são viáveis apenas em populações de alto risco,
particularmente em pacientes com esclerose sistêmica, para os
quais dados recentes sugerem que uma combinação de
avaliação clínica e testes de função pulmonar incluindo
capacidade de difusão de monóxido de carbono, biomarcadores
e ecocardiografia têm um valor preditivo mais alto do que a
ecocardiografia isolada. Testes de vasorreatividade podem ser
realizados utilizando óxido nítrico (10-20 ppm), adenosina ou
iloproste nos pacientes com o diagnóstico de HAPI, relacionado
a medicamentos (HAPD) e relacionado a HAP com história
hereditária (HAPH) (HOEPER, 2013; ROMANO et al, 2018).
Os pacientes devem ser sistematicamente avaliados e os
sintomas que traduzem o grau da HAP devem ser classificados
de acordo com a classificação funcional estabelecida pela New
York Heart Association/OMS: Pacientes com HAP, mas sem
limitação das atividades físicas. Atividades físicas habituais não
causam dispneia ou fadiga excessiva, dor torácica ou pré-
síncope (Classe 1); Pacientes com HAP que resulta em discreta
limitação das atividades físicas (Classe 2); Pacientes com HAP
que resulta em relevante limitação das atividades físicas
(Classe 3); Pacientes com HAP que resulta em incapacidade
para realizar qualquer atividade física, sem sintomas (Classe 4).
Pacientes de diferentes classes funcionais exigem terapias
específicas baseadas na progressão dos sintomas, avaliação
de capacidade física, parâmetros hemodinâmicos e indicadores
da função do ventrículo direito (FERREIRA et al, 2014;
ROMANO et al, 2018).

160
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
Os medicamentos para o tratamento da HAP têm sido
usados há cerca de 16 anos. Até o momento existem três alvos
terapêuticos identificados: Via da endotelina (ambrisentana
bosentana, macitentana); Via do Óxido nítrico (inibidores das
fosfodiesterases como sildenafila, taldalafila, e o agonista da
guanilciclase, riociguate) e a via das prostaciclinas
(epoprosteronol selexipague trepostinil). Para os pacientes que
tenham indicação de realizar o teste de vassoreatividade HAPI,
HAPH, HAPD e classe funcional I ou II deve-se avaliar o
resultado do exame, e se positivo, isto é, redução de mais de
10 mmHg e pressão arterial pulmonar média maior que
40 mmHg, o uso dos bloqueadores de canal de cálcio está
indicado. Em pacientes com classe funcional III e IV deve-se
utilizar a associação de medicamentos com alvos terapêuticos
distintos baseados em características específicas de cada
paciente (ROMANO et al, 2018).
Como já apresentado, a HAP é uma síndrome clínica
grave, multifatorial, multidisciplinar de alta morbimortalidade,
que compromete progressivamente a capacidade física,
causando grandes prejuízos à qualidade de vida do paciente.
Apesar do progresso em seu manejo, ela continua sendo uma
condição que diminui consideravelmente a expectativa de vida
dos pacientes, e dados de todo o mundo indicam que a maioria
dos pacientes ainda é diagnosticada em um estágio tardio da
doença, e não se espera que isso mude em um futuro próximo
(HOEPER et al, 2013; KIELY et al, 2013; PFEIFFER, 2014).
Entender seus mecanismos e bases moleculares é
imprecindível para o desenvolvimento de novas perspetivas de
diagnósticos e tratamentos. Sendo assim, o objetivo desse
trabalho consiste em revisar as principais bases moleculares
responsáveis pelo estabelecimento e desenvolvimento da
hipertensão arterial pulmonar já relatadas pela bibliografia.
161
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)

MATERIAIS E MÉTODOS

Artigos de revisão são alicerces para redação científica,


representam avaliações críticas e integrativas da literatura em
que funcionalmente reconhecem a unidade e diversidade
interpretativa de eixos temáticos que explanam problemas de
interesses gerais e sistematizados de uma comunidade
específica (FERENHOF, FERNANDES, 2016). A revisão
bibliográfica estabelece uma síntese da variedade divergente
ou complementar de argumentações, investigações e estudos
científicos, a fim de convergir os resultados dos portfólios
consultados. Sua essência e relevância manifestam-se na
integração e consistência de assuntos de importância geral no
âmbito científico e acadêmico, possibilitando maior facilidade,
disponibilidade no encontro de um conhecimento atualizado e
em crescente expansão. (SEVERINO, 2017).
Este trabalho buscou revisar as bases moleculares que
desencadeiam a evolução fisiopatológica da Hipertensão
Arterial Pulmonar por meio de uma elucidação minuciosa de
conceitos, projetos, convenções e experimentações recentes,
as quais possibilitam a construção de um conhecimento mais
objetivo e contemporâneo dessa condição clínica que vem
ganhando notoriedade nas últimas décadas com o aumento de
casos relatados. As distintas ramificações clínicas e seu
potencial patológico realçam a necessidade de ampliar as
investigações na geração de estudos mais conclusivos para
compreensão total, visando o desenvolvimento de novos
métodos de diagnóstico e tratamentos mais eficazes.
A metodologia empregada na estruturação deste
trabalho consistiu em três etapas: (1°) Entrada de informações
contendo estratégias de buscas, frequência de consultas em
162
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
banco de dados e a seleção e padronização de documentos;
(2°) Processamento de dados o qual era formado pela gestão,
análise e síntese das pesquisas, consolidação e elaboração de
pré-resumos; (3°) Escrita crítica das argumentações
encontradas, construção de modelos teóricos e resumo dos
resultados (FERENHOF, FERNANDES, 2016).
Foi realizado um levantamento bibliográfico em livros,
anais e diretrizes estabelecidas por instituições de pesquisa e
um número total de 37 referências que atenderam aos critérios
de inclusão foram utilizadas para elaboração desse trabalho. Os
critérios de inclusão foram: período de publicação de 2013 a
2018, investigação de resumos com a presença das seguintes
palavras-chave (Hipertensão arterial pulmonar, endotélio,
inflamação, disfunção endotelial e fatores genéticos).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na última década, foram realizadas muitas descobertas


acerca da predisposição hereditária à HAP. Mutações no gene
que codifica o receptor de proteína morfogênica óssea do tipo
2 (BMPR2) foram considerados as principais causas genéticas
para o desenvolvimento da doença (AUSTIN, 2015).
O BMPR2 é um gene de 190 kb com 13 exons, localizado
no cromossomo 2q33, responsável por codificar um receptor
transmembranar serina/treonina cinase que pertence à
superfamília do fator de crescimento transformador β (TGF-β),
e é especificamente reconhecido pelas proteínas
morfogenéticas ósseas (BMPs), que estão envolvidas em várias
vias de sinalização que regulam a diferenciação celular,
proliferação e apoptose. As principais alterações nesse gene
são mutações missence, entretanto, Hara et al (2017)
reportaram três novas mutações, incluindo duas mutações no
163
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
splicing (IVS8-6_7delTTinsA e IVS9-2A>G) e uma deleção
(c.1279delG). Essas alterações são responsáveis pelo
desenvolvimento da disfunção endotelial e interferem no
processo de crescimento e proliferação dos vasos pulmonares
e são identificadas em aproximadamente 75% dos pacientes
com HAP que apresentam HAPH e em até 25% dos pacientes
com HAPI (GUIGNABERT et al, 2015; POUSADA et al, 2016;
RUBIN, 2017).
A descoberta do BMPR2 destacou a relevância da
superfamília do TGF-β na fisiopatologia da HAP e, uma
pequena porcentagem de casos da HAPH é também atribuída
a mutações em outros membros dessa superfamília ou a
proteínas de sinalização relacionadas, como por exemplo o
receptor da activina A do tipo 1 (ACVRL1), endoglina (ENG) e
na família de proteínas mães contra decapentaplégicos
homólogos (SMAD3, SMAD4 e SMAD9) (AUSTIN; LOYD, 2014;
POUSADA et al, 2016).
Recentemente, novos estudos realizados em pacientes
com HAP identificaram outros fatores genéticos relacionados à
doença. Pôde-se observar que esses pacientes apresentavam
uma baixa expressão de cerebelina-2 (CBLN2) por parte das
células endoteliais, e que está envolvida na regulação da
proliferação do músculo liso vascular, além de mutações no
gene KCNA5, que expressa canais de potássio sensíveis à
voltagem responsáveis pela manutenção na contração do
músculo liso vascular pulmonar (GERMAIN et al, 2013; WANG
et al, 2016).
Pesquisas demonstraram que alterações no gene que
codifica a caveolina 1 (CAV-1) também estão presentes em
pacientes com HAP. Caveolas são invaginações de 50-100nm
localizadas nas membranas celulares, ricas em colesterol e
esfingolipídeos. Cada caveola é composta por
164
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
aproximadamente 100-200 proteínas de membrana chamadas
caveolinas, que estão presentes na membrana de diversas
estruturas celulares (PRADO, 2017).
A CAV-1 apresenta diversas funções relatadas na
bibliografia, entre elas se destacam a redução da proliferação
celular e inibição do receptor do fator de crescimento endotelial
vascular (VEGFR), inibindo assim a angiogênese. Alguns
estudos sugerem que o papel de CAV-1 como transportador de
colesterol e regulador da homeostase afetaria a função
mitocondrial. Na sua ausência, o colesterol se acumularia na
mitocôndria causando disfunção, reduzindo a eficiência da
produção de energia pela cadeia respiratória e aumentando a
produção de espécies reativas de oxigênio (ROS). Alterações
na caveolina podem desencadear alguns tipos de câncer,
obesidade e distúrbios cardiovasculares (PRADO, 2017;
SOUBRIER et al, 2013).
Trabalhos recentes demonstraram que uma série de
mecanismos celulares e moleculares são ativados em resposta
à hipóxia alveolar. O oxigênio (O2) é essencial para a
homeostase e bom funcionamento da maioria dos órgãos e
tecidos humanos e, portanto, tem seus níveis regulados de
acordo com as necessidades das células e tecidos. Nos
alvéolos os níveis de O2 se encontram frequentemente em
níveis reduzidos de O2 (hipóxia), levando à ativação de
respostas fisiológicas ou fisiopatológicas nas artérias
pulmonares. Essas respostas ocorrem através da ativação de
fatores de transcrição. Os fatores induzidos por hipóxia (HIFs)
são os fatores de transcrição mais expressos durante a hipóxia
(VEITH et al, 2015).
O HIF-1α, o HIF-2α e o menos estudado HIF-3α são
fatores de transcrição heterodiméricos, que apresentam uma
subunidade α e β e pertencem à família de fatores de
165
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
transcrição hélice-alça-hélice básica sensíveis ao oxigênio que
direcionam a resposta transcricional à hipóxia. Sob condições
de baixa disponibilidade de O2, as subunidades do HIF-1α e
HIF-2α são estabilizadas, principalmente, por espécies reativas
de oxigênio (ROS). Em seguida, são translocados do
citoplasma para o núcleo, onde eles dimerizam, com a
subunidade β formando, juntamente com co-ativadores, um
fator de transcrição ativo. A ligação do HIF aos elementos de
resposta à hipóxia (HREs) permite a expressão dos genes alvos
do HIF que tem como função canônica uma resposta as baixas
concentrações de oxigênio. Entretanto, estudos indicam que a
ativação prolongada dos HIFs no pulmão pode contribuir para
alterações fisiopatológicas impotantes, tais como disfunção
endotelial, disfunção mitocondrial e remodelamento do
ventrículo direito, resultando no desenvolvimento de
hipertensão arterial pulmonar (HAP) (LAGORY, GIACCIA,
2016; VEITH et al, 2015).
Uma outra evidência que aponta para o desenvolvimento
da HAP é o fato de células vasculares pulmonares isoladas de
pacientes com essa doença apresentarem anormalidades
genéticas somáticas. Esse fato foi descoberto inicialmente em
células endoteliais, que apresentavam uma instabilidade nos
microssatélites, uma condição de hipermutabilidade genética
que ocasiona as lesões plexiformes características dessa
doença (LEOPOLD, MARON, 2016).
Foi demonstrado, através de um cultivo de células
vasculares pulmonares com HAP que a inflamação sustentada,
característica dessa doença, pode gerar danos ao DNA. Essas
células exibem marcadores aumentados de dano ao DNA, bem
como uma superexpressão do gene que codifica uma proteína
de reparo ao DNA, a poli (ADP-ribose) polimerase-1 (PARP-1).
A ativação da PARP-1 é responsável pela baixa regulação do
166
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
microRNA-204 e a subsequente ativação dos fatores de
transcrição NFAT (fator nuclear de células T ativadas) e HIF-1α.
Estes fatos resultam na proliferação anormal das céulas do
músculo liso vascular pulmonar e resistência à apoptose. In
vivo, o inibidor da PARP-1 clinicamente disponível ABT-888
reverteu a HAP em dois modelos experimentais (Sugen/hipóxia
e monocrotalina) (MELOCHE et al, 2014).
Além disso, células endoteliais pulmonares isoladas de
paciêntes com HAP, apresentam uma baixa expressão no gene
que codifica a proteína de ligação do DNA topoisomerase-2,
que tem importante função regulatória durante a replicação do
DNA, tornando essas células susceptíveis à lesões no DNA
(PEREZ et al, 2014).
Estudos recentes fornecem evidências de que as
alterações genéticas nas células vasculares pulmonares
promovem o desenvolvimento de uma disfunção endotelial. O
endotélio é um tecido altamente especializado que regula a
homeostase vascular. Suas funções básicas incluem a
regulação do tônus vascular num balanço entre agentes
vasoconstrictores como a endotelina-1 (ET-1) e agentes
vasodilatadores como o óxido nítrico (NO) e a prostaciclina
(PGI2), a adesão de leucócitos, o crescimento de células
musculares lisas e a agregação plaquetária (GUIGNABERT et
al, 2015, TEIXEIRA, 2014).
Uma função endotelial normal está diretamente
associada ao equilíbrio entre os três mediadores que atuam na
regulação do diâmetro do vaso pulmonar por indução de
vasodilatação (NO, PGI2) ou vasoconstrição (ET-1). Aumento
ou diminuição nas quantidades de qualquer agente produzido
ou alterações em seus receptores e vias de sinalização podem,
portanto, alterar o equilíbrio e promover uma disfunção
endotelial, característico da HAP (CHESTER, YACOUB, 2014).
167
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
Processos inflamatórios podem ser uma das causas da
disfunção endotelial. Estudos recentes vem associando
marcadores inflamatórios como o desbalanço dos agentes
contráteis, em especial, uma diminuição nos níveis de NO e
aumento nos níveis de ET-1. Estudos clínicos e não-clínicos
indicam que a Interleucina-6 (IL-6) é uma citocina pró-
inflamatória multifuncional importante no desenvolvimento da
fisipatologia da HAP e está diretamente associada com a
sobrevida de pacientes com HAPI. No entanto, os mecanismos
moleculares da patogênese mediada pela IL-6 da HAPI têm
sido pouco esclarecidos. Descobriu-se que o bloqueio de IL-6
pelo anticorpo monoclonal anti-receptor de IL-6, MR16-1,
melhorou a hipertensão pulmonar induzida por hipóxia (HPH) e
impediu o acúmulo de células Th17 induzidas por hipóxia e
macrófagos do subtipo M2 nos pulmões (HASHIMOTO-
KATAOKA et al, 2014; TEIXEIRA et al, 2014).
Consistentemente, os níveis de expressão dos genes
IL-17 e IL-21, genes característicos de células Th17, foram
aumentados após exposição à hipóxia nos pulmões de
camundongos tratados com anticorpo controle, mas não nos
pulmões de camundongos tratados com MR16-1. Embora o
bloqueio da IL-17 com um anticorpo anti-IL-17A não tenha efeito
na HPH, os camundongos deficientes em receptores da IL-21
foram resistentes à HPH e não apresentaram acúmulo
significativo de macrófagos M2 nos pulmões. De acordo com
esses achados, a IL-21 promoveu a polarização dos
macrófagos alveolares primários em direção ao fenótipo M2.
Esses achados sugerem que a IL-21 promove a HAP em
associação com a polarização dos macrófagos M2, em resposta
à sinalização da IL-6 (HASHIMOTO-KATAOKA et al, 2014).
A disfunção endotelial cria um microambiente local
anormal na parede vascular pulmonar que tem um papel crítico
168
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
no início e na perpetuação da obstrução arterial pulmonar
progressiva característica da HAP. Em pacientes com essa
doença foi comprovado que o endotélio além de liberar de
maneira desequilibrada a ET-1, o NO e a PGI2, também libera
outros mediadores importantes para o remodelamento e
obstrução vascular, incluindo fatores de crescimento como o
fator de crescimento de fibroblastos (FGF-2) e o fator de
crescimento endotelial vascular (VEGF), moléculas vasoativas
como a serotonina (5-HT), angiotensina II (ANG-2), além de
citocinas (IL-1, IL-6, fator inibitório da migração de macrófagos
[MIF]) e quimiocinas (proteína quimioatrativa de monócitos
[MCP] -1) (GUIGNABERT et al, 2015; RANCHOUX et al, 2017).
Qualquer esforço para entender a base da patologia
vascular observada na HAP deve levar em consideração a
contribuição de cada uma das principais vias de sinalização que
promove a angiogênese. Uma das mais importantes é a via do
fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), um regulador
crucial do desenvolvimento vascular. O VEGFA é geralmente a
isoforma da proteína VEGF mais abundante, e tem como
principais funções aumentar a permeabilidade vascular,
angiogênese e sobrevida de células vasculares. Estudos
revelam que em pacientes com HAP, o VEGFA e seus
receptores (VEGFR1 E VEGFR2) estão superexpressos e, em
situações de hipóxia o VEGFA, interage com o receptor
VEGFR2 e desencadeia uma complexa cascata de sinalização
que resulta em proliferação endotelial, resistência à apoptose,
vasoconstricção e finalmente angiogênese (RANCHOUX, 2017;
VOEKEL, ARROYO, 2014).
Outras pesquisas envolvendo o endotélio levantaram a
hipótese de que ocorria uma transição endotélio-mesenquimal
(EndMT) em pacientes com HAP. (LEOPOLD; MARON, 2016).
A EndMT é uma forma especializada de plasticidade epitélio-
169
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
mesenquimal (EMT) caracterizada pela alteração da morfologia
celular endotelial para um formato fibroblastóide, perda das
junções gap, dissociação da membrana basal, perda da
expressão dos marcadores endoteliais, tais como CD31 e
caderina, e ganho da expressão de marcadores mesenquimais
tais como a α-actina do músculo liso e a vimentina, além do
ganho de propriedades invasivas e migratórias (LEOPOLD;
MARON, 2016; PINTO, 2015). Estudos demonstraram que
células endoteliais que realizam essa mudança de fenótipo
apresentam um aumento dos marcadores mesenquimais FN1,
SM22 CNN1 e CD90, além de diminuições nos marcadores
endoteliais CD31 e CDH5 e uma superexpressão de genes
mesenquimais COLIA1, COL1A2, FN1 e CNN1 (PINTO, 2015)
A EndoMT é estimulada por membros da superfamília
TGF-β que sinalizam pelas vias canônicas (SMAD 2/3) e não
canônica (ERK 1/2 e p38MAPK). A EndoMT também pode
ocorrer após a exposição à moléculas inflamatórias, como a
IL-1β e o fator de necrose tumoral-α (TNF-α) ou a ativação do
receptor AT1 da angiotensina II. Em pacientes com HAP, uma
análise das lesões plexiformes da artéria pulmonar revelou que
as células endoteliais estavam inchadas e algumas delas
expressavam tanto marcadores endoteliais quanto α-actina do
músculo liso (KREENING et al, 2015).
O metabolismo celular é um processo dinâmico onde
ocorrem reações de catabolismo ou anabolismo que podem
mudar rapidamente em resposta a um estímulo patológico ou
fisiológico. A glicólise ocorre quando a glicose é absorvida pelos
transportadores de glicose (GLUT-1) e (GLUT-4), é fosforilada
pela hexoquinase (HK) e passa então por uma série de reações
para formação do piruvato, que é o substrato da piruvato
desidrogenase (PDH) na mitocôndria (RYAN, ARCHER, 2015).

170
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
Ácidos graxos livres (AGL) são absorvidos por proteínas
transportadoras de ácidos graxos (FATP-1) e (FATP-6) e
transformados em acilcarnitinas que são transportadas através
da membrana mitocondrial pela carnitina palmitoiltransferase-1
(CPT1) e transformada em acil-CoA pela carnitina
palmitoiltransferase-2 (CPT2). O Acil-CoA é convertido em
acetil-CoA durante a β-oxidação. Na HAP, há aumento da
glicólise aeróbica devido à regulação positiva normômica do
HIF-1α, que regula positivamente a piruvato desidrogenase
quinase (PDK) para inibir a piruvato desidrogenase e a
regulação epigenética do gene da superóxido dismutase 2
(SOD2), impedindo assim que ocorra a cadeia respiratória o
que pode levar a fragmentação mitocondrial. Esse fenômeno de
fragmentação mitocondrial promove um aumento na
proliferação celular e resistência à apoptose (LEOPOLD,
MARON, 2016; RYAN, ARCHER, 2015).

171
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
CONCLUSÕES

O trabalho consistiu num levantamento bibliográfico


sobre os principais aspectos moleculares característicos da
hipertensão arterial pulmonar (HAP). De acordo com o que foi
apresentado, a HAP é uma síndrome clínica, caracterizado pela
elevação da pressão arterial pulmonar média (PAPm) para
níveis acima de 25 mmHg, levando a um aumento na
resistência das artérias pulmonares com eventual perda da
função ventricular direita.
A partir da bibliografia consultada, inúmeras
particularidades moleculares foram associadas com o
desenvolvimento dessa doença, onde se destacam os fatores
genéticos e epigenéticos, disfunção endotelial, processos
inflamatórios e alterações metabólicas.
Sendo assim, pôde-se concluir que a HAP é uma doença
multifatorial e que há uma carência no entendimento da
patogênese dessa doença, sendo assim, uma boa
compreensão dos mecanismos moleculares inerentes a doença
pode possibilitar novas formas de diagnóstico e novas
perspectivas terapêuticas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AUSTIN, E. D.; LOYD, J. E. The Genetics of Pulmonary Arterial


Hypertension. Circulation Research. v. 115, n. 1, p. 189-202, 2014.
BRADLEY, A. M.; GALIÈ, N. Pulmonary Arterial Hypertension Diagnosis,
Treatment, and Clinical Management in the Contemporary Era. JAMA
Cardiology. v. 1, n. 0, p. 1056-1065, 2016.
CHEMLA, D.; LAU, L. M. T.; PAPELIER, Y.; ATTAL, P.; HERVÉ, P.
Pulmonary vascular resistance and compliance relationship in pulmonary
hypertension. European Respiratory Journal. v. 46, p. 1178-1189, 2015.
CHESTER, A. H.; YACOUB, M. H. The role of endothelin-1 in pulmonary
arterial hypertension. Global Cardiology Science and Practice. v. 14, n.
2, p. 62-78, 2014.

172
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
CONTANZO, L. S. FISIOLOGIA. 5 ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora
Ltda, 2014.
COURBOULIN, A.; RANCHOUX, B.; COHEN-KAMINSKI, S.; PERROS, F.;
BONNET, S. MicroRNA networks in pulmonary arterial hypertension: share
mechanisms with cancer?. Current Option in Oncology. v. 28, n. 1, p. 72-
82, 2016.
FERENHOF, H. A; FERNANDES, R.F., DESMISTIFICANDO A REVISÃO
DE LITERATURA COMO BASE PARA REDAÇÃO CIENTÍFICA: MÉTODO
SSF. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina. V. 21, n. 3, p.
550-563, 2016.
GALIÈ, N.; HUMBERT, M.; VACHIERY, J. L.; GIBBS, S.; LANG, I.;
TORBICKI, A.; SIMONNEAU, G.; PEACOCK, A.; NOORDEGRAAF, A. V.;
BEGHETTI, M.; GHOFRANI, A.; SANCHEZ, M. A. G.; HANSMANN, G.;
KEPLETKO, W.; LANCELLOTTI, P.; MATUCCI, M.; MCDONAGH, T.;
PIERARD, L. A.; TRINDADE, P. T.; ZOMPATORI, M.; HOEPER, M. 2015
ESC/ERS Guidelines for the diagnosis and treatment of pulmonary
hypertension. European Heart Journal, 2015.
GERMAIN, M.; EYRIES, M.; MONTANI, D.; POIRIER, O.; GIRERD, B.;
DORFMÜLLER, P.; COULET, F.; NADAUD, S.; MAUGENRE, S.;
GUIGNABERT, C.; CARPENTIER, W.; VONK-NOORDEGRAAF, A.; LEVY,
M.; CHAOUAT, A.; LAMBERT, J. C.; MARION, B. M.; DUPUY, A. M.;
LETENNEUR, L.; LATHROP, M.; AMOUYEL, P.; RAVEL, T. J. L.;
DELCROIX, M.; AUSTIN, E. D.; ROBBINS, I. M.; HEMNES, A. R.; LOYD, J.
E.; BERMAN-ROSENZWIEG, E.; BARST, R. J.; CHUNG, W. K.;
SIMONNEAU, G.; TRÉGOUËT, D. A.; HUMBERT, M.; SOUBRIER, F.
Genome-wide association analysis identifies a susceptibility locus for
pulmonary arterial hypertension. Nature Genetics. v. 45, n. 5, p. 518-521,
2013.
GERMAIN, M.; EYRIES, M.; MONTANI, D.; POIRIER, O.; GIRERD, B.;
DORFMÜLLER, P.; COULET, F.; NADAUD, S.; MAUGENRE, S.;
GUIGNABERT, C.; CARPENTIER, W.; VONK-NOORDEGRAAF, A.; LEVY,
M.; CHAOUAT, A.; LAMBERT, J. C.; BERTRAND, M.; DUPUY, A. .;
LETENNEUR, L.; LATHROP, M.; AMOUYEL, P.; RAVEL, T. J. L.;
DELCROIX, M.; AUSTIN, E. D.; ROBBINS, I. M.; HEMNES, A. R.; LOYD, J.
E.; BERMAN-ROSENZWEIG, E.; BARST, R. J.; CHUNG, W. K.;
SIMONNEAU, G.; TRÉGOUET, D. A.; HUMBERT, M.; SOUBRIER, F.
Genome-wide association analysis identifies a susceptibility locus for
pulmonary arterial hypertension. Nature Genetics. v. 45, n. 5, p. 518-523,
2013.
GUIGNABERT, C.; TU, L.; GIRERD, B.; RICHARD, N.; HUERTAS, A.;
MONTANI, D.; HUMBERT, M. New Molecular Targets of Pulmonary
Vascular Remodeling in Pulmonary Arterial Hypertension Importance of
Endothelial Communication. Translating Basic Research Into Clinical
Practice. v. 147, n. 2, p. 529-537, 2015.
173
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 13 ed. Rio de Janeiro: Elsevier
Editora Ltda, 2017.
HARA, H.; TAKEDA, N.; MORITA, H.; HATANO, M.; AMIYA, E.; MAKI, H.;
MINATSUKI, S.; TAKI, M.; SHIRAISHI, Y.; FUJIWARA, T.; MAEMURA, S.;
KOMURO, I. Three novel BMPR2 mutations associated with advanced
pulmonary arterial hypertension. Human Genome Variation. v. 4, 2017.
HASHIMOTO-KATAOKA, T.; HOSEN, N.; SONOBE, T.; ARITA, Y.; YASUI,
T.; MASAKI, T.; MINAMI, M.; INAGAKI, T.; MIYAGAWA, S.; SAWA, Y.;
MURAKAMI, M.; KUMANOGOH, A.; YAMAUCHI-TAKIHARA, K.;
OKUMURA, M.; KISHIMOTO, T.; KOMURO, I.; SHIRAI, M.; SAKATA, Y.;
NAKAOKA, Y. Interleukin-6/interleukin-21 signaling axis is critical in the
pathogenesis of pulmonary arterial hypertension. Proceedings of the
National Academy of Sciences. v. 112, n. 20, p. 2677-2686, 2015.
HOEPER, M. M.; BOGARD, H. J.; CONDLIFFE, R.; FRANTZ, R.;
KHANNA, D.; KURZYNA, M.; LANGLEBEN, D.; MANES, A.; SATOH, T.;
TORRES, F. WILKINS, M. R.; BADESCH, D. B. Definitions and Diagnosis
of Pulmonary Hypertension. Journal of the American College of
Cardiology. v. 62, n. 25, p. 42-50, 2013
JÚNIOR, L. M. Hipertensão Pulmonar. Revista da Faculdade de Ciências
Médicas de Sorocaba. v. 16, n. 4, p. 161-163, 2014.
KIELY, D. G.; ELLIOT, C. A.; SABROE, I.; CONDLIFFE, R. Pulmonary
hypertension: diagnosis and management. The British Medical Journal. v.
346, p. 31-35, 2013.
KREENING, G.; BARAUNA, B. G.; KRIEGER, J. E.; HARMSEN, M. C.;
MOONEN, J. R. A. J. Endothelial Plasticity: Shifting Phenotypes through
Force Feedback. Stem Cells Internacional. v. 16, 2015.
LAGORY, E. L.; GIACCIA, A.J. The ever-expanding role of HIF in tumour
and stromal biology. Nature Cell Biology. v. 18, n. 4, p. 356-365, 2016.
LEOPOLD, J. A.; MARON, B. A. Molecular Mechanisms of Pulmonary
Vascular Remodeling in Pulmonary Arterial Hypertension. International
Journal of Molecular Sciences. v. 17, n. 5, p. 761-775, 2016.
MELOCHE, J.; PFLIEGER, A.; VAILLANCOURT, M.; PAULIN, R.; POTUS,
F.; ZERVOPOULOS, F.; GRAYDON, C.; COURBOULIN, A.; BONNET, S.
B.; TREMBLAY, E.; COUTURE, C.; MICHELAKIS, E. D.; PROVENCHER,
S.; BONNET, S. Role for DNA Damage Signaling in Pulmonary Arterial
Hypertension. Journal of the American Heart Association. v. 129, n. 7, p.
786-797, 2014.
MONTANI, D.; GUNTHER, S.; DORMULLER, P.; PERROS, F.; GIRERD,
B.; GARCIA, G.; JAIS, X.; SAVALE, L.; MACARI, E. A.; PRICE, L. C.;
HUMBERT, M.; SIMONNEAU, G.; SITBON, O. Pulmonary arterial
hypertension. Orphanet journal of rare diseases. v. 8, n. 1, p.
1-28, 2013.

174
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
PEREZ, V. A. J.; YUAN, K.; LYUKSYUTOVA, M. A.; DEWEY, F.;
ORCHOLSKI, M. E.; SCHUFFLE, E. M.; MATHUR, M.; JUNIOR, L. Y.;
ROJAS, V.; LI, C. G.; CAO, A.; ALASTALO, T. P.; KHAZENI, N.;
CIMPRICH, K. A.; BUTTE, A. J.; ASHLEY, E.; ZAMANIAN, R. T. Whole-
Exome Sequencing Reveals TopBP1 as a Novel Gene in Idiopathic
Pulmonary Arterial Hypertension. American Journal of Respiratory and
Critical Care Medicine. v. 189, n. 10, p. 1260-1272, 2014.
PFEIFFER, M. E. T. Hipertensão Arterial Pulmonar: Abordagem Clínica,
Diagnóstica e Avaliação Funcional. Revista do DERC. v. 20, n. 2, p. 50-54,
2014.
PINTO, M. T. Avaliação dos fatores indutores de transição epitélio-
mesenquimal (EMT) na biologia das células endoteliais. Tese
(Doutorado), USP – Faculdade de ciências farmacêuticas de Ribeirão
Preto, 2015.
POUSADA, G.; LUPO, V.; SÁNCHEZ, S. C.; SATTA, M. A.;
MONETAGUDO, A. S.; BALOIRA, A.; ESPONÓS, C.; VALVERDE, D.
Molecular and functional characterization of the BMPR2 gene in Pulmonary
Arterial Hypertension. Scientific Reports. v. 7, n. 1923, p. 1-19, 2016.
PRADO, V. P.; TAPIA, G.; MOLINA, R. B. CAVEOLINA-1 implicaciones
fisiológicas y patológicas. Odontoestomatologia. v. 19, n. 30, p. 92-98,
2017.
RANCHOUX, B.; HARVEY, L. D.; AYON, R. J.; BABICHEVA, A.; BONNET,
S.; CHAN, S. Y.; YUAN, J. X. J.; PEREZ, V. J. Endothelial dysfunction in
pulmonary arterial hypertension: an evolving landscape (2017 Grover
Conference Series). Pulmonary Circulation. v. 8, n. 1, p. 1-17, 2017.
ROMANO, S. E.; WAETGE, D.; BRUNO, L. P.; RUFINO R. Protocolo de
diagnóstico e tratamento de hipertensão pulmonar da sociedade do estado
do Rio de Janeiro. Sociedade de Pneumologia Tisiologia do Rio de
Janeiro, 2018.
RUBIN, L. J. Targeting bone morphogenic protein receptor 2 (BMPR2)
signalling to treat pulmonary arterial hypertension. European, Respiratory
Journal. 2017
RYAN, J. J.; ARCHER, S. L. Emerging Concepts in the Molecular Basis of
Pulmonary Arterial Hypertension Part I: Metabolic Plasticity and
Mitochondrial Dynamics in the Pulmonary Circulation and Right Ventricle in
Pulmonary Arterial Hypertension. Circulation. v. 131, n. 19, p. 1692-1702,
2015.
SEVERINO, A. J., Metodologia do trabalho científico. 2 ed – São Paulo.
Cortez, 2017.
SIMONNEAU, G.; et al. Updated Clinical Classification of Pulmonary
Hypertension. Journal of the American College of Cardiology. v. 62, n.
25, p. 34-41, 2013.
SOUBRIER, F.; CHUNG, W. K.; MACHADO, R.; GRUNIG, E.; ALDRED,
M.; GERACI, M.; LOYD, J. E.; ELLIOTT, C. G.; TREMBATH, R. C.;
175
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
NEWMAN, J. H.; HUMBERT, M. Genetics and Genomics of Pulmonary
Arterial Hypertension. Journal of the American College of Cardiology. v.
62, n. 25, p. 13-21, 2013.
TEIXEIRA, B. C.; LOPES, A. L.; MACEDO, R. C. O.; CORREA, C. S.;
RAMOS, T. R.; RIBEIRO, J. L.; OLIVEIRA, A. R. Inflammatory markers,
endothelial function and cardiovascular risk. Jornal Vascular Brasileiro. v.
13, n. 2, p. 108-115, 2014.
VEITH, C.; SCHERMULY, R. T.; BRANDER, R. P.; WEISSMANN, N.
Molecular mechanisms of hypoxia-inducible factor-induced pulmonar
arterial smooth muscle cell alterations in pulmonary hypertension. Journal
of Physiology. v. 594, n. 5, p. 1167-1177, 2016.
VOEKEL, N. F.; ARROYO, J. G. The Role of Vascular Endothelial Growth
Factor in Pulmonary Arterial Hypertension. American Journal of
Respiratory Cell and Molecular Biology. v. 51, n. 4, p. 474-484, 2014.
WANG, G.; KNIGHT, L.; JI, R.; LAWRENCE, P.; KANAAN, U.; LI, L.; DAS,
A.; CUI, B.; ZOU, W.; PENNY, D. J.; FAN, Y. Early onset severe pulmonary
arterial hypertension with ‘two-hit’ digenic mutations in both BMPR2 and
KCNA5 genes. International Journal of Cardiology. v. 177, n. 3, p. 167-
169, 2014.

176
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
CAPÍTULO 9

SINGLE-NUCLEOTIDE POLYMORPHISMS
EM GENES DE REPARO E
SUSCEPTIBILIDADE AO CÂNCER DE
MAMA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Maria Eduarda de Sousa PAULO1
Anderson Felix dos SANTOS2
1
Discente de Graduação em Enfermagem, FACENE; Orientador/ Mestrando em Biologia
Celular e Molecular, UFPB2
andersonfelixsantosafs@gmail.com

RESUMO: O fracasso das funções nos mecanismos de reparo


leva a altas taxas de mutação, redução nos processos de
apoptose e aumento da sobrevida celular, bem como
predisposição à carcinogênese, Por este motivo, nos últimos
anos vários estudos foram conduzidos para investigar a
associação entre SNPs em genes de reparo do DNA e o risco
de câncer de mama em diversas populações. É, portanto,
objetivo deste estudo, identificar em periódicos publicados
Polimorfismos de Nucleotídeo Único em genes de reparo do
DNA relacionados ao câncer de mama. Este estudo consiste
em uma pesquisa bibliográfica desenvolvida, através do método
da Revisão Integrativa. A pesquisa foi composta por artigos
indexados e a busca ocorreu no mês de outubro de 2018, na
base de dados PUBMED utilizando as terminologias em língua
inglesa: “SNP”, “Breast Cancer” e “DNA Repair”, catalogadas
no DESC- Descritores em Ciência da Saúde. Ao observar os
resultados apontados pelos manuscritos analisados, contata-se
que diversos polimorfismos estão associados a um aumento
significativo do risco de desenvolvimento do câncer de mama.
Contudo, há um déficit de estudos epidemiológicos examinando
associações entre polimorfismos em genes de raparo por mal
pareamento (MMR) (a exemplo dos genes MSH1 e MLH2) e
177
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
câncer de mama. Reitera-se ainda a importância de se analisar
a relação entre a presença destes polimorfismos e a associação
destes a capacidade de agressividade da neoplasia.
Palavras-chave: Câncer de mama. Reparo do DNA.
Polimorfismo de Nucleotídeo Único.

INTRODUÇÃO

O câncer consiste em um distúrbio do crescimento


celular maligno que causa progressiva perda da capacidade de
diferenciação celular e atinge uma parcela expressiva da
população mundial, devendo ultrapassar no ano de 2025, o
número de 20 milhões de casos (BRASILEIRO FILHO, 2017;
INCA, 2015).
Segundo dados do INCA, que desde 1995 estabelece
estimativas bieniais, o número de novos casos de câncer entre
os anos de 2018 e 2019 no Brasil devem ultrapassar os 600 mil,
dos quais, aproximadamente 119 mil tratam-se do câncer de
mama (INCA, 2017)
Esta tipo de neoplasia é a segunda mais frequente entre
a população feminina em muitos estados brasileiros e é
causada por uma combinação de fatores genéticos e
ambientais. Embora o mecanismo exato da carcinogênese do
câncer de mama ainda não seja totalmente compreendido,
alguns fatores de risco bem estabelecidos, como menarca
precoce, menopausa tardia, idade do primeiro filho,
nuliparidade e história familiar, já foram descritos. Além disso,
a exposição a fatores ambientais, como radiação ionizante e
substâncias químicas carcinogênicas, também tem sido
relacionada ao aumento dos riscos de câncer de mama por
romper a integridade do DNA (CHAI et al., 2015).

178
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
Esses danos podem ser reparados pelo sistema de
reparo de DNA, que desempenha um papel crítico na proteção
contra mutações, mantendo integridade genômica e prevenção
da carcinogênese. Existem cinco principais vias de reparo de
DNA em mamíferos: reparo de excisão de base (BER), reparo
de excisão de nucleotídeos (NER), reparo de ruptura de fita
dupla, reparo de incompatibilidade (MMR) e reparo de
reticulação interstrand de DNA (reparo de ICL). Até hoje, mais
de 150 genes de reparo de DNA foram descrito em humanos.
Mutações altamente penetrantes em alguns deles causam
síndromes específicas caracterizadas pela aumento da
incidência de tumores, como síndrome de Bloom e xeroderma
pigmentoso, ou representam algumas neoplasias familiares,
incluindo câncer de mama familiar (SHADRINA et al., 2014).
Vários estudos epidemiológicos investigaram o papel
das variantes gênicas de reparo de DNA na etiologia do câncer
de mama, e várias abordagens para a seleção de variantes
genéticas têm sido empregadas (GRUNDY et al., 2016).
Evidências recentes mostram que há provavelmente
outros fatores de fundo genéticos que podem contribuir para o
desenvolvimento do câncer de mama, como polimorfismos no
metabolismo de hormônios esteroides e vias de reparo de DNA
(CONDE et al., 2009; SHADRINA et al., 2014; HSIEH et al.,
2016)
Os SNPs são usados como assinaturas genéticas em
populações para estudar a predisposição a certos traços,
incluindo doenças (KARKI et al., 2015).
Esses polimorfismos contribuem para o fracasso das
funções nos mecanismos de reparo, o que leva a altas taxas de
mutação, redução nos processos de apoptose e aumento da
sobrevida celular, bem como predisposição à carcinogênese
(CONDE et al., 2009). Por este motivo, nos últimos anos, vários
179
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
estudos foram conduzidos para investigar a associação entre
SNPs em genes de reparo do DNA e o risco de câncer de mama
em diversas populações (SHADRINA et al., 2014; HSIEH et al.,
2016).
É, portanto, objetivo deste estudo, identificar em
periódicos publicados Polimorfismos de Nucleotídeo Único em
genes de reparo do DNA relacionados ao câncer de mama.

MATERIAIS E MÉTODO

Este estudo consiste em uma pesquisa bibliográfica


desenvolvida, através do método da Revisão Integrativa. A
Revisão Integrativa é uma metodologia específica de pesquisa
que sumariza um conteúdo ou referencial teórico para melhor
compreensão de uma questão, permitindo uma ampla análise
da literatura. Este método foi desenvolvido de acordo com os
propósitos da Prática Baseada em Evidências (PBE) e tem
como pressuposto um rigoroso processo de síntese da
realidade pesquisada, a partir das seguintes etapas:
estabelecimento da questão de pesquisa; critérios de inclusão
e exclusão; categorização e avaliação dos estudos; análise e
interpretação dos dados e síntese do conhecimento.
Pontanto, para guiar o estudo, definiu-se como questão
norteadora: quais estudos relacionam os SNPs em genes de
reparo do DNA ao câncer de mama?
A pesquisa foi composta por artigos indexados e a busca
ocorreu no mês de outubro de 2018, na base de dados
PUBMED utilizando as terminologias em língua inglesa: “SNP”,
“Breast Cancer” e “DNA Repair”, catalogadas no DESC-
Descritores em Ciência da Saúde.
A pesquisa com os descritores permitiu a localização de
104 artigos. Foram então, aplicados os critérios de inclusão: “full
180
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
text”, “10 years”, “Humans”, “Clinical Trial” and “Review”, que
cederam o refinamento da busca em um total de 69 artigos.
Após a leitura dos trabalhos na íntegra, foram excluídos
36 artigos que não estavam relacionados ao objetivo do estudo,
permanecendo apenas 33 manuscritos. Após aplicado o critério
de exclusão: artigos que não apontam resultado de associação
entre algum SNP e Câncer de mama, restaram 25 manuscritos.

Fluxograma 1: Seleção dos artigos para categorização e


análise.

Fonte: pesquisa direta. 2018

Com o intuito de viabilizar a análise dos artigos que


integraram a revisão, utilizou-se um formulário de coleta de
dados adaptado, contendo informações sobre o ano de

181
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
publicação, título do artigo e SNPs associados ao câncer de
mama conforme resultados apontados no manuscrito.
Os procedimentos de análise dos dados envolveram a
tradução do vernáculo, a leitura e releitura dos artigos e
distribuição dos dados no formulário de coleta, com posterior
análise dos conteúdos e dos pontos de convergência de cada
artigo para definição dos eixos temáticos que levaram a
discussão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a estruturação da presente pesquisa foram


analisados um total de 69 documentos, dos quais somente 25
foram selecionados por condizerem com os critérios pré-
estabelecidos. No quadro (1) pode-se observar os estudos que
indicam a associação de SNPs ao Câncer de mama.

Quadro 1. Manuscritos selecionados no PUBMED, 2008-2018.


Cód Ano Título SNPs/Genes
. Associados ao BC
A1 2013 Assessing SNP- rs1130409/ APEX1
SNP interactions rs2297381/ RPAP1
among DNA repair, rs1799977/ MLH1
modification and rs769412/ MDM2
metabolism related rs1799943/ BRCA2
pathway genes
in breast
cancer susceptibility
A2 2013 Association between rs115160714/TopBP
the c.*229C>T 1
polymorphism of the

182
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
topoisomerase IIβ
binding protein 1
(TopBP1) gene
and breast cancer
A3 2016 Association of rs3813867/CYP2E1
CYP2E1, STK15 and
XRCC1
Polymorphisms with
Risk of Breast
Cancer in Malaysian
Women.
A4 2013 Association of XRCC1 rs1799782/XRCC1
gene polymorphisms
with breast
cancer susceptibility in
Saudi patients.
A5 2009 Associations between 16888927,
single nucleotide rs16888997,
polymorphisms in rs16889040/ RAD21
double-stranded DNA rs1120476/XRCC4
repair pathway genes rs4986763/BRIP1
and familial breast
cancer.
A6 2010 Breast Cancer Risk rs861539/XRCC3
And Common Single
Nucleotide
Polymorphisms In
Homologous
Recombination Dna
Repair Pathway Genes

183
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
Xrcc2, Xrcc3, Nbs1
And Rad51
A7 2013 The C allele of a rs1805414/PARP1
synonymous SNP (rs1
805414, Ala284Ala) in
PARP1 is a risk factor
for susceptibility
to breast cancer in
Saudi patients.
A8 2014 DNA glycosylases rs1466785/NEIL2
involved in base rs3847954/UNG
excision repair may be rs3136811g/POLB
associated rs2072668,
with cancer risk in rs2269112,
BRCA1 and BRCA2 rs2304277/OGG1
mutation carriers.
A9 2014 A DNA repair variant in rs581553,
POLQ (c.-1060A > G) rs581553/POLQ
is associated to
hereditary breast
cancer patients: a
case-control study.
A10 2016 DNA repair variants rs3213282/XRCC1
and breast cancer risk.
A11 2018 Exploring the rs3734091/XRCC4
deleterious SNPs in
XRCC4 gene using
computational
approach and studying
their association
with breast cancer in

184
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
the population of West
India.
A12 2009 Genetic variants of rs2380165/BLM
BLM interact with
RAD51 to
increase breast
cancer susceptibility.
A13 2013 Germline variants of rs878157/PARP2
base rs2072266,
excision repair genes rs2351002,
and breast cancer: A rs2856268/POLG
polymorphism
in DNApolymerase
gamma modifies gene
expression and breast
cancer risk.
A14 2013 Impact of genetic rs1130409/APEX1
polymorphisms in base
excision repair genes
on the risk of breast
cancer in a Korean
population.
A15 2012 The Ku70 -1310C/G KU70 -1310/XRCC6
promoter
polymorphism is
associated with breast
cancer susceptibility in
Chinese Han
population.
A16 2010 Multiplex genotyping of rs2856836/IL1A
1107 SNPs from 232

185
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
candidate genes
identified an
association between
IL1A polymorphism
and breast cancer risk.
A17 2009 A multistage genome- 2q35, 5p12, 5q11.2/
wide association study MAP3K1
in breast 8q24, 10q26/FGFR2,
cancer identifies two 16q12.1/ TOX3
new risk alleles at
1p11.2 and 14q24.1
(RAD51L1).
A18 2016 Polymorphisms in DNA rs25487/XRCC1
repair genes rs1799793/ERCC2
and breast cancer risk
in Russian population:
a case-control study.
A19 2013 Polymorphisms in the rs11615/ ERCC1
ERCC1 and XPF rs6498486/XPF
genes and risk
of breast cancer in a
Chinese population.
A20 2015 Population stratification ARG521LYS/EGRF
effect
on cancer susceptibility
in an admixed
population from
Brazilian Amazon.
A21 2011 A role for XRCC2 gene rs3218408,
polymorphisms rs3218374/XRCC2

186
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
in breast cancer risk
and survival.
A22 2012 Single nucleotide Thr241Met/XRCC3
polymorphism (SNP)
Thr241Met in the
XRCC3 gene
and breast cancer risk
in Polish women.
A23 2015 Single-nucleotide rs487848, rs532411,
polymorphisms rs3218634/POLQ
in DNA bypass
polymerase genes and
association with breast
cancer and breast
cancer subtypes
among African
Americans and Whites.
A24 2012 SNP-SNP interactions rs50872,
between DNA rs10829626/ERCC2
repair genes were rs11078676/ RPA1
associated with breast rs2808668,
cancer risk in a Korean rs1800975/XPA
population. rs2733532/XPC
A25 2009 Statistically significant rs13181/ERCC2
association of the
single nucleotide
polymorphism (SNP)
rs13181 (ERCC2) with
predisposition to
Squamous Cell
Carcinomas of the

187
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
Head and Neck
(SCCHN) and Breast
cancer in the north
Indian population.
Fonte: Pesquisa direta. 2018

Os polimorfismos do tipo SNP são os mais comuns


polimorfismos dentro do genoma humano, eles possuem
variação em apenas uma base no interior de uma sequência de
DNA que pode ser codificante ou não, e ocorrem
aproximadamente uma vez a cada 1.350 pares de base no
genoma humano (ARAUJO et al., 2009)
Pode-se visualizar diversos deles associados a um
aumento significativo do risco de desenvolvimento do câncer de
mama. Contudo, há um déficit de estudos epidemiológicos
examinando associações entre polimorfismos em genes de
raparo por mal pareamento (MMR) (a exemplo dos genes
MSH1 e MLH2) e câncer de mama (MCCULLOUGH et al.,
2013).
Na via de reparo por pareamento desigual as bases mal
pareadas são identificadas e os segmentos de fita simples com
nucleotídeos incorretos são retirados pela ação do sistema de
reparo, que, logo depois consente que a enzima DNA-
polimerase adicione a base correta no espaço formado.
Todavia, caso existam polimorfismos em genes de reparo de
DNA, podem ocorrer diferenças individuais na atividade de
reparo, que podem induzir a carcinogênese.
Estas diferenças podem ser usadas para prever a
susceptibilidade a determinados tipos de câncer, incluindo
câncer de mama uma vez que a análise de SNP têm diversos
usos na genética do câncer, podendo ser usada para localizar
genes causadores de cânceres familiares por análises de
188
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
associação, além de ser utilizada para determinar perda de
heterozigozidade em cânceres humanos (ZHANG, 2011;
ARAUJO et al., 2009).
Por este motivo, é necessário que genes desta via de
reparo sejam analisados mais amplamente, uma vez que há
comprovação de que polimorfismos nestes (rs560246973/
MSH2 e rs565410865/ MLH1) estão associados ao
desenvolvimento de outros tipos de neoplasia (CALIXTO et al.,
2018).
Os genes da família XRCC, bem como da família ERCC
foram citados multiplas vezes como associados ao CM em
diversos artigos (MUTAIRI et al., 2013; SHEL et al., 2009;
SILVA et al., 2010; SING et al., 2018; VIEIRA et al., 2015).
Os genes XRCC1 localizam-se no cromossomo 19
(19q13.2), e codificam uma proteína de andaime crucial que
está intimamente associada com a via de reparo de excisão de
base (BER). A existencia de um polimorfismo nesta poderia
alterar a interação de XRCC1 com outras proteínas de reparo
de DNA dentro da complexo BER, aumentando assim as
chances de danos no DNA, consequentemente, do
desenvolvimento de neoplasias (VIEIRA et al., 2015).
Já os genes ERCC2 (localizados na região
cromossômica 19q13.3; comprimento do gene 18984)
codificam a proteína ERCC2 / Xeroderma pigmentosa Tipo D
(XPD), que é um dos sete grupos de complementação genética
que formam uma Componente essencial da via de Reparo por
Excisão de Nucleotídeos - NER, uma importante via de reparo
de DNA que remove fotoprodutos da radiação UV e adutos
volumosos de um grande número de produtos químicos,
ligações cruzadas e danos oxidativos através da ação de 20
proteínas e vários complexos multiproteicos (MITRA et al.,
2009).
189
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
Obervou-se ainda um risco aumentado de desenvolver
câncer de mama em mulheres que apresentam a mutação no
gene BRCA1 e BRCA2, contudo, o risco absoluto pode variar
de acordo com a mutação especifica e o país de origem. Nas
mulheres em que a mutação é identificada, o risco de
desenvolver o câncer de mama durante a vida esta entre 65 a
85% até os 70 anos (GOMES et al., 2011).
O XPC é um outro importante participante da via NER.
Estudos experimentais mostraram que o XPC se liga à proteína
de reparo de radiação 23B (RAD23B) para formar o complexo
XPC-RAD23B, que está envolvido no reconhecimento de danos
no DNA e no início do reparo via via NER. Polimorfismos no
gene XPC podem alterar a capacidade do NER e afetar a
predisposição genética ao câncer. Muitos estudos
demonstraram que polimorfismos no gene XPC estão
associados ao risco de carcinoma espinocelular esofágico,
adenocarcinoma cardíaco gástrico, carcinoma de células
escamosas da cabeça e pescoço, câncer de mama, carcinoma
de células renais, câncer de bexiga urinária, adenoma colorretal
avançado, carcinoma espinocelular, câncer de pulmão e
adenocarcinoma pancreátiCO (SANKHWAR ET AL., 2016).
Em análise, foi possível ainda vizualisar o deficit de
produções brasileiras inerentes a temática cadastradas no
PUBMED. Apenas uma das publicações abringidas pelos
critérios de inclusão correponde a busca de polimorfismos em
genes de reparo associados ao cancer de mama (CM) na
população brasileira (Amazôia) (VIEIRA et al. 2015).
Essa informação ratifica a necessidade de novos estudos
nesta área envolvendo grupos populacionais brasileiros, de
maneira a analisar com maior detalhamento a relação entre os
fatores regionais somados ao polimorfismo no risco do câncer
de mama.
190
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
Observou-se que cronologicamente as produções tem
um padrão de decaimento, que varia em alguns períodos. Essa
redução impacta sobre o conhecimento atrelado a descoberta
de novos marcadores moleculares do cancer de mama,
entidade nosológica prevalente e considerada um grave
problema de saúde pública.

CONCLUSÕES

Diversos estudos citados na presente revisão reforçam


que as vias de reparo do DNA são indispensáveis a
manutenção do genoma humano. Por esse motivo, é relevante
identificar polimorfismos associados a ela para prever a
suceptibilidade ao desenvolvimento de neoplasias, incluindo o
cancer de mama.
Embora uma vasta quantidade de polimorfismos
identificados tenham sido analisados quanto sua associação ao
risco do desenvolvimento de cancer de mama, é pertinente
ainda explorar genes de vias de reparo até então não
analisadas como os genes MSH1 e MLH2 com vistas a
ampliação do conhecimento na área, de modo a reverter a atual
situação de baixa quantidade de publicações, principalmente no
Brasil.
Reitera-se ainda a importância de se analisar a relação
entre a presença destes polimorfismos e a associação destes a
capacidade de agressividade da neoplasia.
Espera-se então, que este estudo possa servir de
alicerce para o desenvolvimento de novas pesquisas
envolvendo marcadores moleculares do câncer de mama,
especialmente os polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs),
principalmente no território brasileiro.

191
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAUJO, K. L. et al. O papel dos nucleot[ideos de polimorfismos único


(SNPs) PvuII e XbaI e das pequenas repetições em tandem (STRs) (TA)n e
(GT)n do receptor de estrogênio alfa (ESR1) na susceptibilidade do câncer
de mama (BCRA). Revista Brasileira de Cancerologia, v. 55, n. 2, p.
1850192, 2009.
BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo - Patologia Geral. 5ª ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2017.
CALIXTO, P. S. et al. Single-Nucleotide Polymorphisms of the MSH2 and
MLH1 Genes, Potential Molecular Markers for Susceptibility to the
Development of Basal Cell Carcinoma in the Brazilian Population. Pathol.
Oncol. Res. v. 19, 8 páginas, 2017.
CHAI, F. et al. Association Between XRCC3 Thr241Met Polymorphism and
Risk of Breast Cancer: Meta-Analysis of 23 Case-Control Studies. Med Sci
Monit., v. 21, p. 3231–3240, 2015.
CONDE, J. et al. Association of common variants in mismatch repair genes
and breast cancer susceptibility: a multigene study. BCM Cancer, v. 9, n. 1,
p. 1-9, 2009.
GRUNDY, A. et al. DNA repair variants and breast cancer risk. Environ Mol
Mutagen, v. 57, n. 4, p. 269-281, maio, 2016.
GOMES, M. G. C. B. et al. Prevalência da mutação BRCA1 e BRCA2 em
pacientes com câncer de mama em uma população do Rio de Janeiro,
Brasil. Revista Brasileira de Oncologia Clínica, v. 8, n. 27, p. 24-28,
2011.
HSIEH, Y.-C et al. MSH2 rs2303425 Polymorphism is Associated with
Early-Onset Breast Cancer in Taiwan. Ann Surg Oncol., v. 24, n. 2, p. 603-
610, 2016.
KARKI, R. et al. Defining “mutation” and “polymorphism” in the era of
personal genomics. BCM Medical Genomics. v. 8, n. 37, 7 páginas, 2015.
Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da
Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2016:
incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2015.
Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da
Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2018:
Incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2017.
MCCULLOUGH, L. E. et al. Polymorphisms in DNA Repair Genes,
Recreational Physical Activity and Breast Cancer Risk. International
Journal of Cancer, v. 134, n. 3, p. 654-663, 2013.
MITRA, A. K. et al. Statistically significant association of the single
nucleotide polymorphism (SNP) rs13181 (ERCC2) with predisposition to
Squamous Cell Carcinomas of the Head and Neck (SCCHN) and Breast

192
AS BASES MOLECULARES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR (HAP)
cancer in the north Indian population. J Exp Clin Cancer Res., v. 28, n. 1, p.
104, 2009.
MUTAIRI, F. M. A. et al. Association of XRCC1 Gene Polymorphisms with
Breast Cancer Susceptibility in Saudi Patients. Asian Pacific Journal of
Cancer Prevention, v. 14, p. 3809-3813, 2013.
SANKHWAR, M. et al. Polymorphisms in the XPC gene affect urinary
bladder cancer risk: a case-control study, meta-analyses and trial
sequential analyses. Scientific RepoRts, v. 6, p. 2-11, 2016.
SHADRINA, A. S. et al. Polymorphisms in DNA repair genes and breast
cancer risk in Russian population: a case–control study. Clin Exp Med., v.
16, n. 1, p. 21-28, 2014.
SHEL, M. E. Associations between Single Nucleotide Polymorphisms
(SNPs) in Double Strand DNA Repair Pathway Genes and Familial Breast
Cancer. Clin Cancer Res, v. 15, n. 6, p. 2192-2203, 2009.
SING, P. K. et al. Exploring the deleterious SNPs in XRCC4 gene using
computational approach and studying their association with breast cancer in
the population of West India. Gene, v. 655, p. 13-19, 2018.
SILVA, S. N. et al. Breast cancer risk and common single nucleotide
polymorphisms in homologous recombination DNA repair pathway genes
XRCC2, XRCC3, NBS1 and RAD51. Cancer Epidemiol., v. 34, n. 1, p. 85-
92, 2010.
VIEIRA, P. C. M. et al. Population Stratification Effect on Cancer
Susceptibility in an Admixed Population from Brazilian Amazon. Anticancer
Reserarch, v. 34, p. 2009-2014, 2015.
ZHANG, H. et al. Polymorphisms in DNA Repair Gene XRCC1 and Skin
Cancer Risk: A Meta-analysis. Anticancer Research. v. 31, n. 11, p. 3945-
3952, nov., 2011.

193
BIOTECNOLOGIA

194
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
CAPÍTULO 10

PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria


bassiana, ATRAVÉS DA FERMENTAÇÃO
SUBMERSA, UTILIZANDO COMO
SUBSTRATO A VINHAÇA
Tarcísio Tarso Corrêa BONIFÁCIO
Ray Ravilly Alves ARRUDA
José Roberto Dantas de Andrade SANTOS
Maria Isabela Ferreira de ARAÚJO
Adna Cristina Barbosa de SOUSA
1
Mestrando do curso de Biologia Celular e Molecular, UFPB; 2 Professora do curso de
Biotecnologia, UFPB.
tarcisio.bonifacio@gmail.com

RESUMO: Atualmente os avanços biotecnológicos nos


proporcionam diversos produtos produzidos a partir de
microrganismos. Os fungos filamentosos podem ser utilizados
em vários setores industriais, como na produção sucroalcoleira,
onde um de seus principais resíduos é a vinhaça, que por
possuir altas quantidades de macronutrientes pode ser utilizada
como fonte de crescimento. Dessa forma, o objetivo deste
trabalho foi avaliar a capacidade de produção enzimática
através da fermentação em estado submerso utilizando como
substrato a vinhaça através do fungo Beauveria bassiana, para
demonstrar a capacidade deste resíduo como fonte alternativa
para produção enzimática. A metodologia realizou a
caracterização, ainda não descrita na literatura, para
estabelecer a vinhaça como meio de crescimento, e também
desenvolver o método para obtenção do conteúdo enzimático,
verificar a produção e a termoestabilidade das enzimas,
celulolíticas (endoglucanases e exoglucanases), proteolíticas e
amilolíticas produzidas no processo fermentativo ao longo do
cultivo de 240 horas. Os resultados obtidos, apresentaram pico

195
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
de produção de amilases, exoglucanases e endoglucanases as
120 horas, nas temperaturas de 30°, 40° e 70°C
respectivamente, além da sua produção de enzimas
proteolíticas de 56,16 U/mL as 96 horas. No experimento ficou
claro que a vinhaça demonstrou ser um ótimo meio de cultivo
para fungos filamentosos, além de ser promissor para produção
enzimática utilizando a fermentação em estado submerso.
Palavras-chave: Vinhaça. Fungos filamentosos. Enzimas
extracelulares.

INTRODUÇÃO

A biotecnologia se define como a aplicação de um


organismo e ou sistema biológico para obtenção de serviços ou
produtos para o desenvolvimento humano. O avanço da
biotecnologia é responsável por diversos produtos como:
enzimas, álcoois, ácidos orgânicos, dentre outros, muitas vezes
produzidos pelos fungos filamentos (BENNETT, 1998).
Fungos filamentosos são explorados em diversos
setores de pesquisa, como o setor farmacêutico, biotecnológico
e ambiental. Tudo isso graças a sua versatilidade como micro-
organismo e uma alta taxa de produção de metabólitos
(MEYER, 2008). A partir do metabolismo dos fungos
filamentosos, pode-se dispor de diversos compostos naturais
que apresentam atividades biológicas, com aplicabilidade
industrial e de alto valor econômico. O poder poluente da
vinhaça decorre da sua riqueza em matéria orgânica, baixo pH,
elevada corrosividade e altos índices de demanda bioquímica
de oxigênio –DBO (20.000 a 35.000 mg/L), além de elevada
temperatura na saída dos destiladores (de 85° a 90° C); é
considerado altamente nocivo à fauna, flora, microfauna e

196
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
microflora das águas doces, além de afugentar a fauna marinha
que vem à costa brasileira para procriação (Rossetto, 1987).

Visando diminuir o impacto causado por este resíduo,


alguns trabalhos vêm tentando utiliza-lo, de modo que ele não
cause tanto impacto ao ambiente. Geralmente ele é
armazenado ou descartado de forma incorreta, como para
produção de biomassa proteica e lipídica (CAZETTA;
CELLIGOI, 2005), para controle de ervas daninhas
(CHRISTOFFOLETI; BACCHI, 1985), correção e tratamento do
solo (RANZANI et al., 1953)
Dentre os fungos filamentosos, alguns
entomopatogênicos se destacam na produção de enzimas
hidrolíticas como é o caso do Beauveria bassiana. Também são
considerados excelentes agentes de biocontrole de insetos-
praga. Sabe-se que a capacidade de virulência está pautada na
produção de enzimas extracelulares como proteases e
quitinases, e pouco é observado na literatura sobre a sua
utilização para produção dessas e de outras enzimas de
interesse industrial.
A produção enzimática, um nicho em amplo crescimento,
mesmo com toda recessão econômica foram estimados para
mercado de enzimas industriais cerca de US $ 4,61 bilhões em
2016, e é projetado para crescer 5,8 % de 2017 a 2022, dentre
elas as produções mais abrangentes são as de amilases,
celulases e proteases (BCCRESEARCH, 2016).
O presente trabalho teve como objetivo geral analisar o
potencial de utilização da vinhaça como substrato no processo
fermentativo em estado submerso para produção de enzimas
hidrolíticas a partir de fungos filamentosos. E dessa forma
avaliar ações mais especificas como avaliar o crescimento e a

197
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
esporulação do Beauveria bassiana em meio de cultura a base
da vinhaça, avaliar o potencial de produção enzimática através
do processo fermentativo em estado submerso utilizando como
substrato a vinhaça e caracterizar as enzimas hidrolíticas
(celulases, proteases e amilases) produzidas em processos
fermentativos em estado submerso.

MATERIAIS E MÉTODO

LINHAGEM FUNGICA
A linhagem fúngica utilizada foi cedida pela Micoteca
URM da Universidade Federal de Pernambuco-UFPE (Tabela
1).

Tabela 1. Origens das linhagens


Linhagens Beauveria bassiana
Nº do acesso *URM 2915
Substrato/hospedeiro Nezara viridula
Origem geográfica **CENARGEM – PR
Ano do registro 1987
Fonte: Autor, 2018

ORIGEM DO SUBSTRATO
O substrato foi cedido pela Usina São José
Agroindustrial, localizada na cidade de Igarassu-PE. A vinhaça
gerada foi referente à moagem do 2º semestre de 2016. Foi
armazenada em frasco de vidro estéril sobre refrigeração a 4°
C.

198
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
MEIO DE MANUTENÇÃO DAS LINHAGENS
FÚNGICAS
O meio de manutenção utilizado para as linhagens
fúngicas foi o ágar-Sabouraud-dextrose, cuja a composição é:
10 g de peptona de carne, 40 g dextrose, 15 g de ágar e 1000
mL de água destilada. pH 5,6. As amostras foram repicadas em
tubos de ensaio contendo meio ágar-Sabouraud-dextrose, e
mantidas à temperatura ambiente durante 15 dias e em
seguida, guardadas sob refrigeração a 4º C.
CARACTERIZAÇÃO DO SUBSTRATO
pH
Após homogeneização e precipitação dos sólidos,
determinou-se o pH para 4,7 com potenciômetro digital
(mPA210) previamente calibrado com soluções padrões
(Instituto Adolf Lutz, 2005). O pH da vinhaça foi corrigido para
6,5 antes de ser submetida a fermentação.

Determinação de proteínas totais


A determinação das proteínas do extrato enzimático foi
realizada pelo Método de Bradford (GODOY, 2009), que dosa
proteínas solúveis. Adicionou-se em um microtubo 10 μL das
amostras filtradas, diluídas em 790 μL água Milli-Q e 200 μL
reagente de Bradford (experimento realizado em triplicata). As
reações foram incubadas a temperatura ambiente por 5 minutos
e, utilizando o espectrofotômetro, foi realizada a leitura em
comprimento de onda de 595 nm. As absorbâncias foram
calculadas de acordo com a equação obtida da curva padrão de
BSA (Albumina Bovina Sérica).
PRODUÇÃO DE ENZIMAS EXTRACELULARES
(FERMENTAÇÃO SUBMERSA)
Preparo do inóculo

199
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
Para a preparação do inóculo, foi adicionado 20 mL ao
meio contendo 200 mL vinhaça uma quantidade de 1,0 x 108
esporos/mL. Após adição dos esporos, o inoculo foi mantido em
incubadora rotativa (150 rpm, 28º C) por 24 horas de cultivo
para o crescimento da biomassa fúngica.
Produção enzimática em fermentação
Frascos erlenmeyers de 250 e 125 mL contendo 100 mL
e 50 mL respectivamente, de vinhaça com pH ajustado a 6,5
foram devidamente esterilizados em autoclave (121º C, 20
minutos). Após o período de incubação do inoculo, um volume
de 10 % (v/v) do inoculo foi adicionado em cada frasco
erlenmeyer e mantido no shaker a 150 rpm e 28º C para a
produção enzimática. Amostras foram retiradas e centrifugadas
(3500 rpm, 10 minutos) a cada 24 horas, para determinação da
atividade enzimática, quantidade de substrato e de proteína
total.
TESTES ANALÍTICOS
Obtenção do extrato enzimático bruto
Para o processo fermentativo em cultivo submerso, a
obtenção do extrato enzimático bruto foi realizada por filtração
a vácuo para remoção dos filamentos e resíduos da vinhaça.
Os substratos em frasco erlenmeyer de 250 mL e 125 mL foram
filtrados com auxílio da bomba a vácuo (TECNAL - TE-0581),
em funil Buchner, usando papel de filtro qualitativo Whatmann
nº 01 (14 μm) para separar o extrato bruto enzimático.
pH do extrato enzimático bruto
Após a obtenção dos extratos enzimáticos, determinou-
se o pH de todos os dias de fermentação com potenciômetro
digital (mPA210) previamente calibrado com soluções padrões
(INSTITUTO ADOLF LUTZ, 2005).
Atividade proteolítica

200
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
A atividade das proteases foi analisada utilizando como
substrato a azocaseína. Dessa forma, foi adicionado 100 μL do
extrato enzimático bruto a 100 μL do tampão tris 0,1 M pH 9.
Em seguida, foi adicionado 100 μL do substrato (azocaseína 10
mg/mL). A mistura reacional foi incubada a 37° C por 30 minutos
em banho termostatizado (SOLAB -SL-150). A reação foi
interrompida e adicionado 500 μL de ácido tricloacético (TCA)
10 %. Após a centrifugação 10.000 g por 5 minutos, foi
adicionado 200 μL de NaOH 1,8 N ao sobrenadante. A leitura
da amostra foi realizada no comprimento de onda igual a 420
nm. Uma unidade enzimática é definida como a quantidade de
enzima necessária para aumentar a absorbância em 0,01 a 429
nm nas condições de tempo e temperatura de incubação do
teste. O branco foi feito adicionando água destilada no lugar do
sobrenadante (GIONGO, 2006). Foi realizado título de análise
o branco reacional onde não ocorreu incubação ficando 30 min
em bancada.
Determinação da atividade celulolítica
Determinação da atividade da endoglucanese
(CMCase)
Para determinação da atividade da endoglucanase
(CMCase), fez-se uso do protocolo de Ghose (1987apud
ANDRADE, 2016). Em que foi utilizada como substrato uma
solução de carboximetilcelulose sódica a 2 % em tampão citrato
0,05 M, pH 4,8. Em tubos de ensaio, foram adicionados 0,5 do
tampão citrato 0,05 M, pH 4,8, 0,5 mL do substrato e 0,5 mL do
extrato enzimático. A reação de hidrólise foi incubada a 50° C
durante 30 minutos. A glicose liberada foi estimada pela reação
com ácido dinitrosalicílico (DNS). Uma unidade da atividade da
endoglucanase equivale a 1 μmol de glicose liberada por
minuto, como expresso na equação da Figura 1 (ALVA et al.,

201
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
2007). Para comprovação dos resultados, foi realizado um
branco reacional onde não ocorreu incubação das amostras em
banho, sendo realizado apenas o método de DNS.

Figura 1. Equação para Cálculo da atividade de


endoglucanase (CMCase)

Fonte: ALVA. 2007

A expressão pode ser calculada observando que A é a


absorbância da amostra, B é a absorbância do branco de
reação, f é o fator de conversão da curva de calibração (mg/mL),
d é toda diluição realizada na amostra, V é o volume total do
meio de reação (mL), 0,18 é o fator de conversão de miligramas
de μmol de glicose, t é o tempo de reação (min) e Ve é o volume
da enzima no meio de reação (mL).
Foi realizado um teste em branco padrão para as
reações enzimáticas, onde não foi realizado o mesmo
procedimento da reação comum exceto a incubação em banho
maria.
Determinação da atividade da exoglucanase (Fpase)
Para determinação da atividade da exoglucanase
(FPase), foi utilizada a metodologia recomendada por Ghose
(1987apud ANDRADE, 2016), empregando-se como substrato
o papel de filtro Whatman n°1 cortado em tiras de 1,0 x 6 cm.
Cada tubo de ensaio recebeu uma tira de papel. Em seguida,
adicionou-se 1,0 mL de tampão citrato 0,05 M, pH 4,8, e 0,5 mL
do extrato enzimático. A reação enzimática ocorreu a 50° C
durante 1 hora em banho termostatizado (SOLAB -SL-150).

202
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
Por fim, transferiu-se 0,5 mL da mistura reacional para
tubos de ensaio e 2,5 mL do reagente DNS. Os tubos seguiram
para o banho termostatizado a 100° C por 10 minutos. O
resfriamento ocorreu em banho de gelo durante 5 minutos. As
amostras foram acrescidas de água destilada e
homogeneizadas. A leitura foi realizada no comprimento de
onda igual a 540 nm. Uma unidade da atividade da celulase é
definida pela quantidade de enzima que libera 1 μmol de glicose
por minuto (equivalente a 0,18 mg de glicose por minuto) (ALVA
et al., 2007). Foi realizado o branco reacional onde não ocorreu
incubação a 50° C durante 1 hora em banho termostatizado
(SOLAB -SL-150), sendo logo em seguida realizado o método
de DNS. Foi realizado também um ensaio de branco de reação,
as amostras permaneceram em temperatura ambiente, pelo
mesmo período da atividade em banho e foi seguida pelo
método de DNS. O resultado foi obtido através do cálculo a
partir da curva padrão do DNS, e expresso em U/mL como
demonstra a Figura 1.
Atividade amilolítica sacarificante
Foi determinada a atividade amilolítica utilizando como
substrato específico, solução de amido (Método Sacarificante),
submetido ao contato com o extrato enzimático bruto para
promover a hidrólise pela ação das enzimas e quantificada
pelos açúcares redutores produzidos (MILLER, 1959). A partir
do extrato bruto foram feitas as determinações de atividade
amilolítica inoculando 1,0 mL de extrato enzimático em 1,0 mL
de solução de amido 1,0 % em tampão fosfato 0,5 M e pH 7,0.
A mistura foi incubada por 30 minutos a 37º C. Os
açúcares redutores foram determinados pela técnica do ácido
dinitrosalicílico (DNS). A leitura foi feita em 570 nm usando
solução de glicose como padrão (MILLER, 1959). A calibração

203
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
do zero no aparelho foi feita utilizando um teste em branco, em
que 1,0 mL de água destilada substituiu a amostra, seguindo o
mesmo procedimento. Uma unidade de atividade enzimática
corresponde à quantidade de enzima capaz de liberar 1,0 μmol
de glicose por minuto nas condições do método proposto (ALVA
et al., 2007). Em concomitância foi realizado o branco reacional
onde não ocorreu incubação e ficou por 30 min em temperatura
ambiente, sendo logo em seguida realizado o método de DNS.
O resultado foi obtido através do cálculo a partir da curva padrão
do DNS, e expresso em U/mL como demonstra a Firgura 1.
Determinação da temperatura ótima
O efeito da temperatura ótima foi determinado através da
atividade enzimática pelo método DNS (MILLER, 1959). A
temperatura ótima para as enzimas amilolíticas foi determinada
incubando-se 1,0 mL do extrato enzimático em 1,0 mL de
solução de amido 1,0 % em tampão fosfato 0,5 M e pH 7,0; A
FPase e a CMCase, foram submetidas as mesmas condições
da reação padrão previamente descrita. Todas as atividades
foram realizadas incubando as amostras nas temperaturas de
30º, 40º, 50º, 65º e 70º C (CARVALHO et al., 2008). Após a
incubação para determinação indireta enzimática, foi realizado
técnica do ácido dinitrosalicílico (DNS), a leitura foi realizada
nas absorbâncias padrões para cada ensaio. Os resultados
foram obtidos através do cálculo a partir da curva padrão do
DNS, e expresso em U/mL como demonstra a Figura 1.

Termoestabilidade
Na avaliação da termoestabilidade das três enzimas, os
ensaios foram realizados na temperatura onde foi determinada
a maior atividade enzimática. Para isso o extrato enzimático
bruto foi incubado nas temperaturas escolhidas para cada

204
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
enzima, dos três fungos, pelo período de 60 min, onde a cada
10 minutos uma alíquota era tomada e adicionada a outro tubo
para a efetuar da reação padrão para cada enzima, após reação
era realizado o teste padrão do DNS. Os resultados foram
obtidos através do cálculo a partir da curva padrão do DNS, e
expresso em U/mL como demonstra a Figura 1.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

CARACTERIZAÇÃO DA VINHAÇA
A fim de averiguar o potencial da vinhaça como substrato
para produção enzimática, foram quantificados as proteínas
totais solúveis no resíduo e também o teor de açúcares
redutores totais.
Teor de açúcares redutores (ART)
O teor de açúcares redutores totais da vinhaça obteve o
valor de 23,68 g/L. Lima (2012) encontrou um valor de 328 g/L
no caldo de cana-de-açúcar. Este valor reduzido já era
esperado, visto que o resíduo é resultado do processo de
produção sucroalcoleira. A concentração de açúcares na cana-
de-açúcar varia, em geral, dentro da faixa de 13 a 17 % de
acordo com as recomendações da Agência Embrapa de
informação tecnológica (AGEITEC).
Proteínas totais solúveis
O teor de proteínas totais solúveis na vinhaça apresentou
o valor de 0,1911 mg/mL. Uma quantidade significativa de
proteínas já presentes na vinhaça, visto que outros resíduos
como a coroa e a casca do abacaxi apresentam 0,1605 e
0,1129 mg/mL respectivamente (LOPES et al., 2013). As
proteínas presentes podem ser resultado da fermentação, além
das características do substrato (cana-de-açúcar).
FERMENTAÇÃO EM ESTADO SUBMERSO
Durante o período de fermentação não ocorreu
alterações na cor do substrato (marrom escuro), mas foi notado

205
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
um crescimento micelial massivo ao término das 240h, e uma
diminuição não significativa no volume da vinhaça.
pH
Com o pH previamente ajustado para 6,0, ocorreu
variação do meio durante o processo de fermentação entre 5,5
e 9,0 (Figura 2). Indicando que a produção de metabolitos
alterou o pH do meio (DE MORAIS, 1984). Foi visualizada uma
tendência à alcalinização do fermentado ao término das 240
horas.

Figura 2. Valores de pH ao longo de 10 dias de fermentação.


9
Variação do pH

8
7
6
5
4
0 24 48 72 96 120 144 168 192 216 240
Tempo (h)

Fonte: Autor, 2018.

Proteínas totais solúveis do extrato bruto


Durante o período de fermentação as proteínas totais do
extrato variaram notavelmente, demonstrando um perfil de
diminuição e aumento até às 240 horas da fermentação. Após
esse período a tendência foi uma queda brusca como indicado
na Figura 3. Para B. bassiana às 216 horas de fermentação
obteve a maior produção de proteínas totais. Vale destacar B.
bassiana que obteve 57,89% a mais que a quantidade do
extrato não fermentado.

206
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
Figura 3. Variação na quantidade de proteínas totais
solúveis durante a fermentação.

Fonte: Autor, 2018

Atividade Celulolítica
Atividade da endoglucanase (CMCase)
Como demonstrado na Figura 4 o micro-organismo
demonstrou uma produção enzimática bastante contundente e
acima do esperado. Com valores máximos de 14,17 (U/mL) às
120 horas para B. bassiana no tempo de 144 horas de
fermentação. A B. bassiana, apresentou uma melhor atividade
de produção enzimática ultilizando a vinhaça como resíduo do
que nos estudos observados por PAIVA-GUIMARÃES, (2016)
onde foram utilizados resíduos como a semente de acerola,
malte e algaroba (1,15 U/mL, 1,36 U/mL e 2,29 U/mL,
respectivamente).
Figura 4. Cinética de produção de endoglucases na vinhaça
como meio de cultura.

207
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA

Fontes: Autor, 2018


O resultado do comportamento das endoglucanases
produzidas em diferentes temperaturas pode ser observado na
Figura 5. Onde as melhores atividades foram obtidas para o B.
bassiana a 70º C. Para Janssen et al., (1994), a cada aumento
de 10° C na temperatura a atividade enzimática dobra, para
uma reação catalisada por enzimas termófilicas, sendo
resistência a maiores temperaturas uma condição qualitativa
para uma enzima.
Outro parâmetro bastante desejável na função da enzima
é a sua termoestabilidade, ou seja, o quanto uma enzima se
mantém funcional durante um longo período de tempo em sua
temperatura ótima de reação. A Figura 6 mostra o
comportamento de termoestabilidade incubada na melhor
temperatura indicada no experimento anterior para os extratos
enzimáticos da atividade de endoglucanase em função do
tempo de incubação.

Figura 5. Análise da temperatura ótima da CMCase para os


três micro-organismos, na vinhaça como substrato.

208
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA

Fonte: Autor, 2018

Figura 6. Termoestabilidade da atividade das


endoglucanases em função do tempo.

0,6
Atividade da CMCase

0,5
0,4
0,3
U/mL

0,2
0,1
0
0 10 20 30 40 50 60

Tempo (min)
Fonte: Autor, 2018

As enzimas apresentaram uma variação relevante na


sua temperatura ótima sendo as endoglucanases de B.
bassiana com a maior variação de 0,08 U/mL de atividade
enzimática, durante o período de 60 minutos.
Atividade da exoglucanase (FPase)

209
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
A atividade das exoglucanases expressas na Figura 7
apontam que assim como na atividade das endoglucanases, B.
bassiana obteve o maior desempenho na produção enzimática,
com 13,85 U/mL no total de 120 horas de fermentação.
CARVALHO et al. (2012) utilizando a fermentação em estado
sólido em palma doce com o fungo filamentoso Aspergillus
niger, obtiveram uma produção da enzima FPase de 7,03 U/mL.
Já SANTOS et al. (2013) utilizando também A. niger, encontrou
os melhores valores para FPase 7,51 U/g utilizando a farinha
de Cacau. Ambos valores inferiores a todas as atividades
máximas do fungo utilizado neste trabalho.
A temperatura ótima avaliada para exoglucanase de B.
bassiana foi de 40º C. A curva com todos os valores está
expressa na Figura 8. Brito-Cunha et al. (2015) analisou a
influência da temperatura para na atividade de FPase produzida
por S. thermocerradoensis I3 em FS. A maior atividade foi
observada em 45 °C, valor bastante similar ao obtido em B.
bassiana neste estudo.

210
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
Figura 7. Atividade da enzima celulolítica FPase produzida
em vinhaça.

Fonte: Autor, 2018


Figura 8. Temperatura ótima para atividade da FPase

Fonte: Autor, 2018

. Entretanto Oberoi e Vadlani (2010), utilizando os


substratos farelo de trigo e casca de grão de soja, demonstrou
211
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
que estas enzimas atuam também na faixa de temperatura ente
25°~35°C encontrando atividade de celulase total com variação
de 0,28 a 10,55 U/g.

Quanto a termoestabilidade, as exoglucanases


produzidas evidenciou uma variação aparente quando
submetida as previamente determinadas temperaturas ótimas.
B. bassiana variou 0,28 U/mL durante o período de 60 minutos,
conforme indica a Figura 9.

Figura 9. Termoestabilidade para as exoglucanases em


função do tempo.

Fonte: Autor, 2018

Atividade amilolítica sacarificante


Os resultados demonstrados na Figura 10 expressam a
produção de enzimas amilolíticas utilizando como substrato a
vinhaça e apresenta uma produção significativa de 2,46 U/mL
para B. bassiana às 120 horas de fermentação. A produção das
amilases não foi tão expressiva quanto às atividades

212
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
celulolíticas devido a característica do substrato. A matéria
prima que acarreta a vinhaça como resíduo é a cana-de-açúcar,
que não denota de quantidades significativas de amido quando
comparados com a celulose (FIGUEIRA, 2009). Mas ainda sim,
a produção pode ser comparada com a que PAIVA-
GUIMARÃES, (2016) realizou onde houve uma obtenção de
1,33 U/mL em resíduo de malte com o B. bassiana.

Figura 10. Atividade de Produção Amilolítica utilizando


vinhaça como substrato.
Fonte: Autor, 2018

Figura 11. Temperatura ótima para amilase

Fonte: Autor, 2018

A temperatura ótima observada para a melhor atividade


enzimática foi de 30° C. para B. bassiana. Os resultados
observados na Figura 11 não diferem na maior parte da
temperatura ótima encontrada na literatura, como apontam
213
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
Premalatha et al. (2015) e Andrade (2016). A temperatura ótima
onde melhor se obteve resultados de atividade enzimática foi a
30° C.
A amilase produzida pelo fungo demonstrou uma
estabilidade relativa ao longo dos 60 minutos, na temperatura
previamente estabelecida pelo experimento de Temperatura
ótima. A variação para B. bassiana foi de 0,27 U/mL.

Atividade proteolítica
A produção de proteases após fermentação em estado
submerso utilizando vinhaça como substrato contrastou com a
excelente produção enzimática das outras enzimas avaliadas
neste estudo. Alcançando-se 56,16 U/mL para B. bassiana
(Figura 12). No mesmo intervalo de tempo, 96 horas de
fermentação. Os resultados de produção de proteases
avaliados por Contesini (2014) foi variável de entre 43 e 100
U/mL, visto que no estudo o meio utilizado foi LBA
suplementado com diferentes concentrações de nitrogênio. Já
Menezes et al. (2006) observou uma atividade enzimática
proteolítica de 5,78 U/mL após 64 h, utilizando os substratos
resíduo de maracujá e farelo de trigo, com fungo A. niger. No
presente estudo, os resultados foram 5 vezes maior no
resultado mais baixo.

214
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
Figura 12. Produção de enzimas proteolíticas em relação ao
tempo de fermentação.

Fonte: Autor, 2018

CONCLUSÕES

A vinhaça demonstrou excelentes resultados como


substrato para o crescimento do B. bassiana, tanto em estado
submerso, quanto no crescimento em placa com o meio ágar-
vinhaça. A produção enzimática utilizando a vinhaça como
substrato obteve resultados significativos onde o B. bassiana
apresentou atividades superiores ou equivalentes para as
quatro enzimas testadas;
A enzima celulolítica, endoglucanase, apresentou uma
maior produção no período de 120 horas para o B. bassiana,
tendo uma melhor atividade enzimática a 70° C;
Para a enzima celulolíticas exoglucanase o melhor tempo
de produção foi de 120 horas para o fungo B. bassiana. A
temperatura ótima para esta celulase específica foi de 40° C

215
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
para B. bassiana. A atividade amilolítica onde o B. bassiana
apresentou uma ótima atividade no período de 120 horas de
fermentação a uma temperatura ótima para atividade de 30° C;
A atividade proteolítica para B. bassiana foi de 56,16 U/mL,
às 96 horas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVA, S.; ANUPAMA, J.;SALVA, J.; CHIU, Y.Y.; VYSHALI, P.; SHRUTI,
M.; YOGEETHA, B.S.; BHAVYA, D.; PURVI, J.; RUCHI, K.; KUMUDINI,
B.S.; VARALAKSHMI, K.N. Production and characterization of fungal
amylase enzyme isolated from Aspergillus sp. JGI 12 in solid state
culture. Afr. J. Biotechnol. v.6, n.5. p. 576-581. 2007.
ANDRADE, A. S. A.. Estudo da produção de enzimas pectinolíticas e
celulolíticaspor fermentação em estado sólido a partir do bagaço de
cajá. 2016. 47 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado) –
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2016.
BCCRESEARCH, Global Markets for Enzymes in Industrial
Applications. Disponível em: https://www.bccresearch.com/market-
research/biotechnology/enzymes-industrial-applications-report-bio030j.html.
Acesso em: 30-03-2017.
BENNETT, J. W. Mycotechnology: the role of fungi in biotechnology.
Journal of biotechnology, Amsterdam, v. 66, n. 2-3, p. 101-107, Dec. 1998.
BRITO-CUNHA, Carolina C. Q.; GAMA, Aline Rodrigues; JESUINO,
Rosália S. A.; FARIA, Fabrícia P.; BATAUS, Luiz Artur M. Production of
Cellulases from a Novel Thermophilic Streptomyces
thermocerradoensis I3 Using Agricultural Waste Residue as
Substrate. Journal of Agriculture and Environmental Sciences, v.4, p.90-
99, 2015.
CARVALHO, R. V.; CÔRREA, T. L. R.; SILVA, J. C. M; MANSUR, L. R. C.
O; MARTINS, M. L. L. Properties of an amylase from thermophilic
Bacillus sp. Brazilian Journal of Microbiology, v.39, p.102-107, 2008.
CARVALHO.T.; FILHO,G.A.; PACHECO,V.S.C.; FERREIRA,A.N.; ROCHA,
T.J.O.; FRANCO.M. Produção De Enzimas Hidrolíticas Por
Fermentação Em Estado Sólido Da Palma Doce (Nopalea
Coccinellifera) Utilizando Modelos Estatísticos Significativos. Revista
de estudos ambientais v.14, p.48-57, 2012.
CAZETTA, M. L.; CELLIGOI, M. A. P. C.. Use of sugar cane molasses
and vinasse for proteic and lipidic biomass production by yeast and

216
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
bactéria. Semina: Ciências Exatas e Tecnológicas, Londrina, v. 26, n. 2, p.
105-112, jul./dez. 2005.
CONTESINI, FABIANO JARES. PRODUÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E
APLICAÇÃO DE PROTEASES DE Bacillus sp.. Tese de Doutorado.
UNICAMP, p. 207, 2014.
CHRISTOFFOLETI, P.J.; BACCHI, O.O.S. Efeitos da aplicação de
vinhaça sobre a população e controle químico de plantas daninhas na
cultura da cana-de-açucar (Saccharum SPP.). Planta daninha, Viçosa ,
v. 8, n. 1-2, p. 60-70, dez. 1985 .
DE MORAIS, S. M. F. Tolerância alcoólica, atividade fermentativa e
permeabilidade celular em Saccharomyces cerevisiae. São Paulo,
1984. 109p. Dissertação de Mestrado da Universidade de São Paulo.
Figueira, Joelise de Alencar, Determination and characterization on
sugarcane starch and adequacy of the methodology for the residual a-
amylase determination in raw sugar. Dissertação de Mestrado.
UNICAMP. p.105, 2009.
FOGAÇA, M. F.. Cultivo de microalga em meio alternativo enriquecido
com vinhaça para indicativo de potencialidade na produção de
biocombustíveis. In: Eneeamb & fórum latino americano de engenharia e
sustentabilidade, 2016, Brasília. Anais... Brasília: ENEEAMB, 2016.
GHOSE TK. Measurement of cellulase activities. Pure and Applied
Chemistry, v. 59(2), p. 257–268, 1987.
GIONGO, J. L. Caracterização e aplicação de proteases prduzidas por
linhagens de Bacillus sp. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. 96p. 2006.
GODOY, M. G. Produção de lipases microbianas e detoxificação
simultânea de rejeitos agroindustriais. Dissertação de Mestrado.
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Brasil. 116 p.
2009.
INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz:
métodos químicos e físicos para análise de alimentos. 3d. São Paulo,
1985.
JANSSEN, P. H.; MONK, C. R.; MORGAN, H. W. A thermophilic, lipolytic
Bacillus sp., and continuous assay of its p-nitrophenyl-palmitate
esterase activity. FEMS Microbiology Letters, v.120, p.195-200, 1994.
LIMA, B. R.. Processo de clarificação do caldo de cana-de-açúcar
aplicando elétrons acelerados. 2012. 62 F. Dissertação de Mestrado –
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SÃO PAULO (USP) – IPEN, 2012.
LOPES, P. C.; PINTO, E.K.R; MATTAR, M. S.; COSTA, H. B.
Determinação do teor de proteínas totais e da atividade proteolítica de
resíduos agroindustriais do processamento de frutos do abacaxizeiro
(Ananas comosus var. comosus) cv. Pérola,. SCIENTIA PLENA, VOL. 9,
NUM. 7. Vitória, 2013.
217
PRODUÇÃO ENZIMÁTICA POR Beauveria bassiana, ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
MENEZES, G. D. G. de; OLIVEIRA, A. C. P. de; DAMASO, M. C. T.;
OLIVEIRA, M. A. C. L. de; COURI, S. Produção de poligalacturonase
pela linhagem Aspergillus Niger mutante 3t5b8 em fermentação semi-
sólida utilizando como substrato resíduo de maracujá e farelo de
trigo. Revista Universidade Rural. Série Ciências Exatas e da Terra,
Seropédica, v. 25, n. 1, p. 15-27, 2006.
MEYER, V. Genetic engineering of filamentous fungi – Progress,
obstacles and future trends. Biotechnology Advances, 26: 177-85, 2008.
MILLER, G. L. Use of dinitro salicylic acid reagent for determination of
reducing sugar. Anal. Chem., v.31, p.426-429, 1959.
OBEROI, HS; VADLANI PV. Production of a cellulolytic enzyme system
in mixed-culture solid-state fermentation of soybean hulls
supplemented with wheat bran. Process Biochem. v.45, p.120-128, 2010.
PAIVA-GUIMARÃES, A.G. L.. Produção de conídios e enzimas
hidrolíticas por beauveria bassiana (bals) vuillemin (deuteromycotina:
hyphomycetes) em diferentes substratos. 2016. 118 f. Dissertação
(Mestrado) – Universidade Federeal da Paraíba, João Pessoa, 2016.
PREMALATHA, N.; GOPAL, N. O.; JOSE, P. A. ANANDHAM, R.; KWON,
S-W. Optimization of cellulase production by Enhydrobacter sp.
ACCA2 and its application in biomass saccharification. Frontiers in
Microbiology, v. 6, n. 1046, p. 1-11, 2015.
RANZANI, G.. Vinhaça e adubos minerais (I). An. Esc. Super. Agric. Luiz
de Queiroz, 1953, vol.10, p.97-108. ISSN 0071-1276
ROSSETTO, A. J. Utilização agronômica dos subprodutos e resíduos
da indústria açucareira e alcooleira. In: Paranhos, S.B. (ed.). Cana-de-
açúcar: cultivo e utilização. Campinas: Fundação Cargill, 1987, v.2, p.435-
504
SANTOS, T.C. dos et al . Aspergillus niger como produtor de enzimas
celuloliticas a partir farelo de cacau (Theobroma cacao). Arq. Inst. Biol.,
São Paulo , v. 80, n. 1, p. 65-71, Mar. 2013 .

218
PRODUÇÃO DE CELULASES POR FUNGOS FILAMENTOSOS ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
CAPÍTULO 11

PRODUÇÃO DE CELULASES POR FUNGOS


FILAMENTOSOS ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO
COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
Adna Cristina Barbosa de SOUSA 1
Cibele QUEIROZ 2
Tarcísio Tarcio Corrêa BONIFÁCIO 3
Adrielly Silva Albuquerque de ANDRADE 4
Andréa Farias de ALMEIDA 5
1
Professora do Centro de Biotecnologia, UFPB; 2 Graduanda do Curso de Biotecnologia,
UFPB; 3 Bacharel em Biotecnologia, UFPB; 4 Bacharel em Biotecnologia, UFPB;
5
Orientadora/Professora do Centro de Biotecnologia, UFPB.
andreafalm@cbiotec.ufpb.br

RESUMO: A produção sucroalcoleira é crescente devido a


necessidade da produção de combustíveis. Um dos principais
resíduos oriundos desta produção é a vinhaça, que além de ser
altamente poluente, pode provocar danos irreversíveis a água
e ao solo. A vinhaça possui alta quantidade de macronutrientes
que pode ser utilizado como fonte de crescimento de micro-
organismos. Dessa forma, o nosso objetivo foi verificar o
potencial da vinhaça como substrato no processo fermentativo
em estado submerso, para produção de celulases a partir dos
fungos filamentosos Beauveria bassiana, Beauveria brongniartii
e Metarhizium anisopliae. Foi realizada a caracterização da
vinhaça e otimizado o método de extração do conteúdo
enzimático para verificação da produção e da termoestabilidade
das celulases produzidas no processo fermentativo ao longo do
cultivo de 240 horas, na temperatura de 30°C. As
endoglucanases apresentaram uma maior produção às 120
horas para B. bassiana e 144 horas para B. brongniartii e M.
anisopliae. A melhor atividade enzimática foi à 70°C para as
219
PRODUÇÃO DE CELULASES POR FUNGOS FILAMENTOSOS ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
três linhagens. Já para exoglucanases os melhores tempos de
produção foram 96, 120 e 144 horas para B. brongniartii, B.
bassiana e M. anisopliae, respectivamente. As temperaturas
ótimas foram de 30°C para M. anisopliae, 40°C para B.
bassiana e 70°C para B. brongniartii. A vinhaça mostrou
potencial para produção de celulases por meio da fermentação
em estado submerso com fungos filamentosos.
Palavras-chave: Fungos filamentosos. Vinhaça. Enzimas
extracelulares.

INTRODUÇÃO
O processamento da cana-de-açúcar gera uma quantidade
de resíduos, o principal deles é a vinhaça, um efluente que
geralmente é descartado ou usado de forma indevida causando
danos tanto ao solo quanto a água (FOGAÇA et al., 2016).
Devido à crescente preocupação sobre as mudanças
climáticas, o aumento da demanda de energia e previsão de
esgotamento de recursos fósseis, vários estudos têm sido
realizados para reaproveitamentos e reciclagens dos resíduos
em geral. Os micro-organismos podem ser usados como o
veículo até porque participam do processo de decomposição da
matéria orgânica. Neste processo de decomposição, eles
produzem um complexo de enzimas hidrolíticas que degradam
a fração de celulose e hemicelulose da lignocelulose
possibilitando o aproveitamento da celulose e hemicelulose
como fonte de carbono e energia para o seu crescimento (LIMA
et al., 2001).
Os fungos filamentosos são os principais micro-organismos
responsáveis pela decomposição da matéria orgânica e, desta
forma, tem sido amplamente estudados quanto à produção das
mais diversas enzimas, entre elas as celulases (GUPTA, 2003;
ABREU, 2015).

220
PRODUÇÃO DE CELULASES POR FUNGOS FILAMENTOSOS ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
Nos últimos anos, a perspectiva da utilização de
processos fermentativos em estado submerso tem aumentado
para produção de enzimas de interesse industrial. O alto custo
das enzimas celulolíticas é um dos fatores limitantes no
processo de hidrólise enzimática para a sua produção.
Entretanto, o impacto do custo dessas enzimas pode ser
reduzido a partir da seleção de micro-organismos produtores de
celulases, pela utilização de matéria-prima mais barata e
estratégias de fermentação a um custo efetivo, como
fermentação em estado submerso e tecnologias mais eficientes
para as etapas de sacarificação e fermentação (FERRAZ et al.,
2000).
Dentre os fungos filamentosos, alguns
entomopatogênicos se destacam na produção de enzimas
hidrolíticas como é o caso de Metarhizium anisopliae, Beauveria
bassiana e Beauveria brongniartii (BENNETT, 1998).
M. anisopliae, B. bassiana e B. brongniartii também são
considerados excelentes agentes de biocontrole de insetos-
praga (ARRUDA, 2005; ATHAYDE et al., 1999). Sabe-se que a
capacidade de virulência está pautada na produção de enzimas
extracelulares como proteases e quitinases, e pouco é
observado na literatura sobre a sua utilização para produção
dessas e de outras enzimas de interesse industrial. Na
perspectiva de aproveitamento de resíduos agroindustriais com
potencial para crescimento fúngico tem-se desenvolvido
processos biotecnológicos que permitem a utilização dessa
biomassa residual e bruta tanto para a produção de enzimas,
quanto em processo de hidrólise enzimática. Dentre vários
resíduos agroindustriais, destacamos a vinhaça por ser
considerada uma matéria orgânica rica em componentes
químicos que favorecem o desenvolvimento de micro-

221
PRODUÇÃO DE CELULASES POR FUNGOS FILAMENTOSOS ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
organismos. Levando em consideração a importância
biotecnológica das enzimas hidrolíticas extracelulares, o
presente estudo teve como objetivo verificar o potencial da
vinhaça como substrato no processo fermentativo em estado
submerso, para produção de celulases a partir de fungos
entomopatogênicos filamentosos.

MATERIAIS E MÉTODO

Origem das linhagens fúngicas: foram utilizadas três


linhagens de fungos filamentosos descritas na Tabela 01.

Tabela 1 – Origem das três linhagens de fungos filamentosos.


Linhagens Substrato de isolamento/Origem
fúngicas
*•Beauveria Nezara viridula/▪CENARGEM/PR – 1987
bassiana –
Acesso URM
2915
*•Beauveria Solo de sistema agroflorestal/ Abreu e
brongniartii – Lima/PE – 2011
Acesso URM
6504
*•Metarhizium Mahanarva posticata/Usina Serra
anisopliae var. Grande/Maceió/AL – 2005
anisopliae –
Acesso URM
4920

*Linhagem utilizada no controle biológico da cigarrinha da cana-de-açúcar no Norte,


Nordeste e Sudeste. •Linhagens cedidas pela Micoteca URM do Departamento de
Micologia/Universidade Federal de Pernambuco/UFPE. ▪Centro Nacional
Agropecuário de Recursos Genéticos. Fonte: Autor.

222
PRODUÇÃO DE CELULASES POR FUNGOS FILAMENTOSOS ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
Origem da vinhaça: foi cedida pela Usina São José
Agroindustrial, localizada em Igarassu-PE. A vinhaça foi
referente à moagem do 2º semestre de 2016. Foi armazenada
em frasco de vidro estéril sobre refrigeração a 4 °C.

Caracterização da vinhaça

pH: o pH foi corrigido antes de ser submetida a fermentação


para 6,0 com potenciômetro digital (mPA210) previamente
calibrado com soluções padrões (Instituto Adolf Lutz, 2005).

Teor de açúcares redutores (ART): utilizou-se o método DNS


(ácido 3,5-dinitro salicílico) descrito por Santos (2007) e que
está de acordo com o protocolo da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária e Agroindústria Tropical.

Determinação de proteínas totais: foi realizada pelo Método


de Bradford (GODOY, 2009), que dosa proteínas solúveis.

Produção das celulases (fermentação submersa)


Preparo do inóculo: foi adicionada ao meio contendo vinhaça
uma concentração de 1,0 x 108 conídios/mL-1. Em seguida, a
vinhaça foi mantida em incubadora rotativa (150 rpm, 28 ºC) por
24 horas para o crescimento da biomassa fúngica.

Produção enzimática em fermentação: em erlenmeyers de


250 mL contendo 100 mL de vinhaça e pH 6,5 foi inoculado um
volume de 10 % (v/v) do inóculo e mantidos no shaker a 150
rpm e 28 ºC para a produção enzimática. Amostras foram
retiradas e centrifugadas (3500 rpm, 10 minutos) a cada 24
horas, para determinação da atividade enzimática, quantidade
de substrato e de proteína total.

Testes analíticos

223
PRODUÇÃO DE CELULASES POR FUNGOS FILAMENTOSOS ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
Obtenção do extrato enzimático bruto: foi realizada por
filtração a vácuo para remoção dos filamentos fúgicos e
resíduos da vinhaça. A vinhaça foi filtrada com auxílio da bomba
a vácuo (TECNAL – TE – 0581), em funil Buchner, usando papel
de filtro qualitativo Whatmann nº 01 (14 µm) para separar o
extrato bruto enzimático.

pH do extrato enzimático bruto: Após a obtenção dos extratos


enzimáticos, determinou-se o pH de todos os dias de
fermentação com potenciômetro digital (mPA210) previamente
calibrado com soluções padrões (INSTITUTO ADOLF LUTZ,
2005).

Determinação da atividade celulolítica

Determinação da atividade da endoglucanese (CMCase):


usou-se o protocolo de Ghose (1987apud ANDRADE, 2016).

Determinação da atividade da exoglucanase (Fpase): usou-


se a metodologia descrita por Ghose (1987apud ANDRADE,
2016), empregando-se como substrato o papel de filtro
Whatman n°1 cortado em tiras de 1,1 x 6 cm.

Determinação da temperatura ótima: O efeito da temperatura


ótima foi determinado através da atividade enzimática pelo
método DNS (MILLER, 1959).

Termoestabilidade: na avaliação da termoestabilidade da três


enzimas, os ensaios foram realizados na temperatura onde foi
determinada a maior atividade enzimática. Para isso o extrato
enzimático bruto foi incubado nas temperaturas escolhidas para
cada enzima, dos três fungos, pelo período de 60 minutos, onde
a cada 10 minutos uma alíquota foi tirada e adicionada a outro
tubo para a efetuar da reação padrão para cada enzima, após
reação foi realizado o teste padrão do DNS.

224
PRODUÇÃO DE CELULASES POR FUNGOS FILAMENTOSOS ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização da vinhaça: o ART da vinhaça obteve o valor


de 23,68 g/L. Lima (2012) encontrou um valor de 328 g/L no
caldo da cana-de-açúcar. Este valor reduzido já era esperado,
visto que a vinhaça é resultado do processo de produção
sucroalcoleira. A concentração de açúcares na cana-de-açúcar
pode variar, em geral, dentro da faixa de 13 a 17 % de acordo
com as recomendações da Agência Embrapa de Informação
Tecnológica.
O teor de proteínas totais solúveis na vinhaça apresentou
um valor de 0,1911 mg/mL. Uma quantidade significativa de
proteínas já presentes na vinhaça, visto que outros resíduos
como o a coroa e a casca do abacaxi apresentam 0,1605 e
0,1129 mg/mL, respectivamente (LOPES et al., 2013). As
proteínas presentes podem ser resultado da fermentação com
os fungos, além das características naturais da cana-de-açúcar.

Características da fermentação em estado submerso:


durante o período de fermentação não ocorreu alterações na
cor do substrato (marrom escuro), mas o pH variou de 5,5 a 9,0
(Figura 01) indicando que a produção de metabólitos alterou o
pH do meio, sendo B. brongniartii menos susceptível a essas
variações. foi visualizada uma tendência à alcalinização do
fermentado ao término das 240 horas, indicando uma possível
excreção de CO2.

Figura 01. Valores de pH ao longo de 10 dias de fermentação.

225
PRODUÇÃO DE CELULASES POR FUNGOS FILAMENTOSOS ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA

pH durante a fermentação
10

9
Variação do pH

4
0 24 48 72 96 120 144 168 192 216 240
Tempo (h)

Metarhizium anisopliae Beauveria bassiana Beauveria Brongniartii

Fonte: Autor, 2018.

Durante o período de fermentação as proteínas totais do


extrato variaram significativamente, demonstrando um perfil de
diminuição e aumento até às 240 horas da fermentação. Após
esse período, a tendência foi uma queda brusca como indicado
na Figura 02. Para B. bassiana e B. brongniartii às 216 horas
de fermentação obteve a maior produção de proteínas totais.
Vale destacar B. bassiana que obteve 57,89 % a mais que a
quantidade do extrato não fermentado.

Figura 02. Variação na quantidade de proteínas totais solúveis


durante a fermentação.

226
PRODUÇÃO DE CELULASES POR FUNGOS FILAMENTOSOS ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA

Proteínas totaís solúveis do fermentado


0,35

0,3

0,25
mg/mL

0,2

0,15

0,1

0,05

0
24 48 72 96 120 144 168 192 216 240
Tempo (h)

Metarhizium anisopliae Beauveria bassiana Beauveria brongniartii

Fonte: Autor, 2018.

Atividade Celulolítica

Atividade da endoglucanase (CMCase)

Como demonstrado na Figura 03 as três linhagens fúngicas


demonstraram uma produção enzimática bastante contundente
e acima do esperado, com valores máximo de 14,17 (U/mL) às
120 horas para B. bassiana; 12,60 (U/mL) para B. brongniartii
às 144 horas de fermentação e 9,82 (U/mL) para M. anisopliae
também às 144 horas. B. bassiana, B. brongniartii e M.
anisopliae apresentaram uma melhor atividade de produção
enzimática ultilizando a vinhaça como substrato do que nos
estudos analisados por Paiva-Guimarães (2016) onde foram

227
PRODUÇÃO DE CELULASES POR FUNGOS FILAMENTOSOS ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
utilizados semente de acerola, malte e algaroba (1,15 U/mL,
1,36 U/mL e 2,29 U/mL, respectivamente).

Figura 03. Cinética de produção de endoglucases na vinhaça.


Produção de enzimas celulolíticas CMCase

16
14
12
10
U/mL

8
6
4
2
0
24 48 72 96 120 144 168 192 216 240
Horas

Beauveria brongniartii Beauveria Bassiana Metarhizium anisopliae

Fonte: Autor, 2018.

B. brongniartii e M. anisoplie apresentaram uma maior


produção de CMCase do que a produção observada por
Carvalho (2012) no resíduo da palma doce (3,79 U/mL). Já B.
bassiana produziu 15,29 U/mL de CMCase a partir da utilização
do bagaço da cana-de-açúcar, uma das matérias

228
PRODUÇÃO DE CELULASES POR FUNGOS FILAMENTOSOS ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
envolvidas no processo de formação da vinhaça, com o pico de
produção às 240 horas de fermentação (PAIVA-GUIMARÃES,
2016). No presente estudo, o maior pico de produção na
vinhaça foi às 120 horas.
O comportamento das CMCases produzidas em diferentes
temperaturas pode ser observado na Figura 04. Onde as
melhores atividades foram obtidas para B. brongniartii, M.
anisopliae e B. bassiana a 70 ºC. Para Janssen et al. (1994), a
cada aumento de 10 °C na temperatura, a atividade enzimática
dobra, para uma reação catalisada por enzimas termófilicas,
sendo resistência a maiores temperaturas uma condição
qualitativa para uma enzima.
Outro parâmetro bastante desejável na função da enzima é
a termoestabilidade, ou seja, o quanto uma enzima se mantém
funcional durante um longo período de tempo em sua
temperatura ótima de reação. A Figura 05 mostra o
comportamento da termoestabilidade dos extratos enzimáticos
para atividade de CMCase em função do tempo de incubação.
As enzimas apresentaram uma variação muito baixa na
sua temperatura ótima sendo as CMCases de B. brongniartii
com uma maior termoestabilidade pois sua variação de
atividade foi de 0,05 U/mL. Seguido de B. bassiana com a maior
variação de 0,08 U/mL e por último M. anisopliae com maior
variação de 0,13 U/mL de atividade enzimática, durante o
período de 60 minutos.

229
PRODUÇÃO DE CELULASES POR FUNGOS FILAMENTOSOS ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
Figura 04. Análise da temperatura ótima da endoglucanase
para os três fungos, na vinhaça como substrato.
Temperatuta ótima CMCase
7,2
Atividade da CMCase U/mL

6,7
6,2
5,7
5,2
4,7
4,2
3,7
30 35 40 45 50 55 60 65 70
Horas

Metarhizium anisopliae Beauveria bassiana Beauveria brongniartii

Fonte: Autor, 2018.

Figura 05. Termoestabilidade da atividade das endoglucanases


em função do tempo.
Termoestabilidade CMCase
0,6
Atividade da CMCase U/mL

0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
0 10 20 30 40 50 60

Tempo (min)
Metarhizium anisopliae Beauveria bassiana Beauveria brongniartii

Fonte: Autor, 2018.

230
PRODUÇÃO DE CELULASES POR FUNGOS FILAMENTOSOS ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
Atividade da exoglucanase (FPase)

A atividade das FPases expressas na Figura 06 apontam


que assim como na atividade das CMCases, B. bassiana obteve
o maior desempenho na produção enzimática, com 13,85 U/mL
às 120 horas de fermentação. M. anisopliae alcançou o
segundo melhor desempenho na produção das FPases de 9,82
U/mL às 144 horas. Já a cinética de produção enzimática de B.
brongniartii para FPase apresentou um pico de 8,85 U/mL às 96
horas de fermentação.

Figura 06. Atividade das exoglucanases produzida na vinhaça


pelas três linhagens fúngicas.
Produção de enzimas celulolíticas FPase
16

14

12

10
U/mL

0
24 48 72 96 120 144 168 192 216 240
Tempo (h)

Beauveria bassiana Beauveria Brongniartii Metarhizium anisopliae

Fonte: Autor, 2018.

231
PRODUÇÃO DE CELULASES POR FUNGOS FILAMENTOSOS ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
Carvalho et al. (2012) utilizando a fermentação em estado
sólido na palma doce com Aspergillus niger, obtiveram uma
produção da enzima FPase de 7,03 U/mL. Já Santos et al.
(2013) utilizando A. niger, encontrou uma produção de FPase
de 7,51 U/g utilizando a farinha de Cacau. Ambos valores
inferiores à todas as atividades dos três fungos utilizados no
presente trabalho.
A temperatura ótima avaliada para FPase mostrou os
seguintes resultados: 70 ºC para B. brongniartii, 40 ºC para B.
bassiana e 30 ºC para M. anisopliae. A curva está expressa na
Figura 07. Aguiar e Menezes (2015) analisou a influência da
temperatura para na atividade de FPase produzida por S.
thermocerradoensis I3 em FS. A maior atividade foi observada
em 45 °C, valor bastante similar ao obtido em B. bassiana no
presente estudo.

Figura 07. Temperatura ótima para melhor atividade da


exoglucanases.
Temperatura ótima FPase

8
FPase U/mL

4
30 35 40 45 50 55 60 65 70
Temperatura (°C)
Metarhizium anisopliae Beauveria bassiana Beauveria brongniartii

Fonte: Autor, 2018.

232
PRODUÇÃO DE CELULASES POR FUNGOS FILAMENTOSOS ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA

Quanto a termoestabilidade, as FPases produzidas


evidenciou pouca variação quando submetida a suas
determinadas temperaturas ótimas. B. bassiana variou 0,28
U/mL, B. brongniartii 0,25 U/mL e M. anisopliae 0,26 durante o
período de 60 minutos, conforme mostra a Figura 08.

Figura 08. Termoestabilidade para as exoglucanases em


função do tempo.
Termoestabilidade FPase
1,5
1,3
1,1
FPase U/mL

0,9
0,7
0,5
0,3
0,1
-0,1 0 10 20 30 40 50 60
Tempo (min)

Metarhizium anisopliae Beauveria bassiana Beauveria brongniartii

Fonte: Autor, 2018.

CONCLUSÕES

A vinhaça mostrou potencial para produção de celulases


por meio da fermentação em estado submerso com as três
linhagens fúngicas utilizadas neste estudo. Entre as três
linhagens B. bassiana se destacou com os melhores ou

233
PRODUÇÃO DE CELULASES POR FUNGOS FILAMENTOSOS ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
esquivalentes resultados para produção e termoestabilidade de
enzimas celulolíticas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, J. A. S.; ROVIDA, A. F. S.; PAMPHILE, J. A.. Fungos de interesse:


aplicações biotecnológicas. Revista Uningá Review, v.21,n.1,p.55-59,
2015.
AGUIAR, C.; MENEZES, T. J. B. Produção de celulases e xilanase por
aspergillus niger IZ9 usando fermentação submersa sobre bagaço de cana-
de-açúcar. Boletim Centro de Pesquisa de Processamento de
Alimentos, v.18, n.1, p.1125, 2015.
ANDRADE, A. S. A. Estudo da produção de enzimas pectinolíticas e
celulolíticaspor fermentação em estado sólido a partir do bagaço de
cajá. Monografia (Bacharelado). Universidade Federal da Paraíba. 47fl.
João Pessoa - PB, 2016.
ARRUDA, W. Morphological alterations of Metarhizium anisopliae
structures during the penetration events leading to the infection of the cattle
tick Boophilus microplus. Experimental and Applied Acarology, v.37, p.
231-244, 2005.
ATHAYDE, A. C. R.; BARRETO, C. A.; LIMA, E. A. L. A. Efeito de
Metarhizium anisopliae sobre a fase não parasitária de Rhipicephalus
sanguineus do semi-árido Paraibano-PB. In: XI Seminário Brasileiro de
Parasitologia, II Seminário de Parasitologia Veterinária dos Países do
Mercosul e I Simpósio de Controle Integrado de Parasitos de Bovinos,
1999, Salvador-BA. Anais. Salvador Colégio Brasileiro de Parasitologia
Veterinária. p. 95, 1999.
BENNETT, J. W. Mycotechnology: the role of fungi in biotechnology.
Journal of biotechnology, v.66, n.2-3, p.101-107, 1998.
CARVALHO.T.; FILHO,G.A.; PACHECO,V.S.C.; FERREIRA,A.N.; ROCHA,
T.J.O.; FRANCO.M. Produção de enzimas hidrolíticas por fermentação em
estado sólido da palma doce (Nopalea coccinellifera) Utilizando Modelos
Estatísticos Significativos. Revista de estudos ambientais, v.14, p.48-57,
2012.
FERRAZ, J. M. G.; PRADA, L. DE S.; PAIXÃO, M. Certificação
socioambiental do setor sucroalcooleiro. Jaguariuna Embrapa Meio
Ambiente,195fl, 2000.
FOGAÇA, M. F. Cultivo de microalga em meio alternativo enriquecido com
vinhaça para indicativo de potencialidade na produção de biocombustíveis.
In: Eneeamb & fórum latino americano de engenharia e sustentabilidade.
Anais. Brasília: ENEEAMB, 2016.

234
PRODUÇÃO DE CELULASES POR FUNGOS FILAMENTOSOS ATRAVÉS DA
FERMENTAÇÃO SUBMERSA, UTILIZANDO COMO SUBSTRATO A VINHAÇA
GODOY, M. G. Produção de lipases microbianas e detoxificação
simultânea de rejeitos agroindustriais. Dissertação de Mestrado.
Universidade Federal do Rio de Janeiro. 119fl. Rio de Janeiro – RJ, 2009.
GUPTA, R.. Microbial α-amylases: a biotechnological perspective. Process
Biochemistry, v.38, n.11, p.1599-1616, 2003.
JANSSEN, P. H.; MONK, C. R.; MORGAN, H. W. A thermophilic, lipolytic
Bacillus sp., and continuous assay of its p-nitrophenyl-palmitate esterase
activity. FEMS Microbiology Letters, v.120, p.195-200, 1994.
LIMA, B. R. Processo de clarificação do caldo de cana-de-açúcar
aplicando elétrons acelerados. Dissertação de Mestrado. Universidade
Estadual de São Paulo. 62fl. São Paulo – SP, 2012.
LIMA, U.A.; AQUARONE, E.; BORZANI, W.; SCHMIDELL, W.
Biotecnologia Industrial: Processos Fermentativos e Enzimáticos. São
Paulo, 2001.
LOPES, P. C.; PINTO, E.K.R; MATTAR, M. S.; COSTA, H. B.
Determinação do teor de proteínas totais e da atividade proteolítica de
resíduos agroindustriais do processamento de frutos do abacaxizeiro
(Ananas comosus var. comosus) cv. Pérola. Scientia Plena, v.9, n.7, p.72-
91, 2013.
MILLER, G. L. Use of dinitro salicylic acid reagent for determination of
reducing sugar. Anal. Chem., v.31, p.426-429, 1959.
PAIVA-GUIMARÃES, A.G. L. Produção de conídios e enzimas
hidrolíticas por Beauveria bassiana (Bals) Vuillemin
(Deuteromycotina: Hyphomycetes) em diferentes substratos.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal da Paraíba. 112fl. João
Pessoa - PB, 2016.
SANTOS, S. F. M. Estudo da produção de pectinases por fermentação
em estado sólido utilizando pedúnculo de caju como substrato. Tese
de Doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 148fl. Natal –
RN, 2007.

235
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO

CAPÍTULO 12

OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO
KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
Débora Lemos Gadelha de OLIVEIRA 1
Maria Beatriz CALADO 1
Mickael Souza da LUZ 1
Flávia de Oliveira PAULINO 2
1
Graduandos do Bacharelado em Biotecnologia, UFPB;
2
Orientadora/Professora do Centro de Biotecnologia/UFPB.
flavia@cbiotec.ufpb.br

RESUMO: Os probióticos são agentes microbianos vivos que,


em determinadas concentrações, podem contribuir para o
equilíbrio da flora intestinal e dos sistemas imunológico e
cardiovascular. Diversos produtos lácteos são fermentados por
bactérias probióticas, a fim de trazer ao produto final um maior
valor agregado. A categoria de leites fermentados inclui uma
série de produtos, a exemplo do iogurte, da coalhada e do kefir.
Os dois primeiros são os dominantes no mercado de alimentos;
no entanto, o kefir, apesar de suas muitas propriedades
probióticas benéficas, segue sendo pouquíssimo explorado
pela indústria de alimentos brasileira. O kefir é um produto
derivado da fermentação láctica e alcoólica das bactérias dos
gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium. O objetivo desta
revisão é realizar uma discussão acerca da produção e do
consumo do kefir dentro do mercado brasileiro, avaliando suas
características como bebida probiótica. Para isso, foram
selecionados artigos a partir das bases de dados Google
Acadêmico e Pubmed, no período de 2013 a 2018, que
236
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
tratavam do tema proposto. Após a análise dos artigos, ficou
bastante evidente a necessidade de incentivar a inovação e a
comercialização a nível industrial do kefir, tendo em vista a
escassez desse produto no mercado brasileiro e o potencial
probiótico superior do kefir em relação aos demais leites
fermentados já comercializados.
Palavras-chave: Kefir. Alimentos probióticos. Perspectivas.

INTRODUÇÃO

A ingestão de bactérias não nocivas, capazes de


povoar o trato gastrointestinal, é capaz de promover efeitos
positivos sobre a saúde humana. Esses micro-organismos,
conjuntamente denominados de probióticos, agem tanto de
forma sistêmica quanto central, pela produção de determinadas
moléculas e pela competição com bactérias nocivas (WOG,
2017). Os probióticos são agentes microbianos vivos que, em
determinadas concentrações, podem contribuir para o equilíbrio
da flora intestinal e dos sistemas imunológico e cardiovascular
(FAO/WHO, 2002; ANVISA, 2017). Atualmente, em termos
científicos e legais, os gêneros reconhecidos por terem
propriedades probióticas e, consequentemente, possibilidade
de alegação funcional, são os Lactobacillus, Bifidobacterium e
Enterococcus (BENGOA et al., 2018).
Os produtos lácteos são a forma mais comum de adição
de probióticos na alimentação do homem. Eles são amplamente
produzidos desde os primórdios da humanidade, sendo o
iogurte natural, o leite fermentado e o kefir seus principais
representantes. Essas bebidas são produzidas basicamente a
partir da fermentação de micro-organismos sobre uma base

237
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
láctea com adição opcional de outros elementos que podem
conferir sabor e aroma diferenciado.
A indústria de laticínios é, dentro do ramo alimentício, o
setor que mais inova. É também um mercado crescente,
apoiando-se em um novo nicho da sociedade que busca
produtos cada vez mais saudáveis. Desta forma, evidencia-se
a importância da inovação no setor para atender as demandas
do consumidor. Nesse contexto, os produtos lácteos e os
probióticos representam um grande potencial para
investimentos. Mesmo com isso, produtos como o kefir ainda
são pouco explorados pela indústria brasileira.
O kefir é uma bebida láctea fermentada feita a partir da
submersão temporária dos grãos de kefir em leite. Esses são
constituídos por uma matriz polissacarídica (o “kefiran”), por
proteínas e por micro-organismos dos gêneros Lactobacillus e
Bifidobacterium, juntamente com algumas leveduras (ROSA et
al., 2017). Durante o período em que estão submersos no leite,
esses micro-organismos promovem uma fermentação ácido-
láctica e podem produzir proteínas e vitaminas, fato este que,
associado aos efeitos probióticos benéficos do kefir,
caracterizam a bebida como funcional (ARYANA et al., 2017;
BENGOA et al., 2018). Diversos estudos têm relatado efeitos
benéficos do kefir na saúde humana (CHOI et al., 2017; ROSA
et al., 2017). No entanto, o mercado brasileiro de alimentos
processados, que tanto inova, ainda pouco contempla essa
bebida probiótica.
No Brasil, alguns entraves para uma maior difusão do
kefir residem no fato deste produto ainda não ser tão conhecido
e também devido ao seu elevado teor de acidez, não muito
característico ao paladar brasileiro. Dada a preferência e a
disseminação de produtos saborizados e açucarados no país,
238
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
os consumidores normalmente preferem saborear o kefir
acrescendo-o de frutas, açúcar ou mel. Além disso, a recente
crise econômica que afligiu o país diminuiu o consumo de
iogurtes e afins, já que a ingestão de lácteos fermentados, cujo
valor de mercado tende a ser mais alto do que o leite in natura,
relaciona-se à economia e ao poder de compra dos indivíduos
(IRMÃO; COSTA, 2018).
Assim, o objetivo deste trabalho foi levantar dados
sobre o cenário atual da indústria de lácteos no que diz respeito
ao kefir, focando nos benefícios, no padrão de consumo, e no
potencial comercial e inovador dessa bebida, além de ampliar o
conhecimento sobre os probióticos e a importância de sua
ingestão sobre a saúde humana.

MATERIAIS E MÉTODO

Para realizar essa revisão de literatura, buscou-se


evidenciar e discutir o histórico do kefir, os seus benefícios à
saúde e o seu potencial de mercado, utilizando publicações
científicas indexadas nas bases de dados Google Acadêmico e
Pubmed. Como método utilizou-se a seleção de artigos
científicos com base na leitura dos títulos e dos resumos e,
posteriormente, com base no texto e qualidade dos trabalhos
na íntegra. Foram excluídos os artigos que não se adequaram
ao tema e ao intervalo de tempo de interesse, entre os anos de
2013 e 2018. Dentre 108 pesquisas lidas, foram selecionadas
44, sendo seis delas nacionais e 38 internacionais. As palavras
chave utilizadas na busca foram: probióticos, consumo, Brasil,
kefir, fermented dairy, benefits, gut, brain, perspectives,
industries.

239
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
RESULTADOS E DISCUSSÃO

A passagem do modo de vida caçador-coletor para


agricultor-sedentário gerou uma mudança massiva na
sociedade, economia e fisiologia dos seres humanos. A partir
de então, o homem passou a armazenar alimentos, visando
garantir o seu sustento nutricional, durante períodos de inverno
ou escassez, o que foi fundamental para o seu estabelecimento
(BASCHALI et al., 2017).
Acredita-se que os produtos lácteos tenham sido
incorporados à dieta humana por volta de 10.000 a.C com a
domesticação de animais produtores de leite, como vacas,
ovelhas e cabras (AZNAR et al., 2013). O leite é um alimento
extremamente nutritivo e que desempenhou um papel
fundamental no desenvolvimento da fisiologia humana. No
entanto, os lácteos sofrem rápida deterioração, de forma que a
possibilidade de conservar e armazenar alimentos foi um fator
decisivo para que houvesse a continuidade do hábito de tomar
leite pelos seres humanos, fato que está intimamente ligado à
tecnologia da fermentação (FISBERG; MACHADO, 2015).
No Oriente Médio, por muito tempo, os pastores
transportaram o leite em bolsas feitas a partir do intestino de
pequenos ruminantes. Com isso, foi descoberto que o contato
do leite com os líquidos intestinais presentes na bolsa causava
mudanças sensoriais no produto, preservando-o e permitindo
sua viabilidade por um período maior (FISBERG; MACHADO,
2015). Achados arqueológicos e arqueobotânicos mostram
que, há milhares de anos, as pessoas já fermentavam bebidas
(SÕUKAND et al., 2015; BASCHALI et al., 2017). A
fermentação tradicional tem sido desenvolvida empiricamente
desde a antiguidade como forma de preservação de alimentos
240
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
e de agregar a eles novas características sensoriais tais como
textura, sabor e aroma (GEOFFROY; TESTART, 2015;
SÕUKAND et al., 2015).
A definição de leite fermentado inclui os iogurtes, os
leites cultivados, os leites acidófilos, o kefir, o kumys e a
coalhada (GALLINA, 2015). Assim como o leite in natura,
produtos fermentados lácteos são excelentes fontes de
proteínas, lipídios, carboidratos e compostos bioativos
benéficos (PRADO, 2015). O leite fermentado pode conter
também exopolissacarídeos, a exemplo do “kefiran” do kefir,
que contém agentes antioxidantes, antitumorais,
antimicrobianos e imunomoduladores (PRADO, 2015;
SHAFIRI, 2017; BASCHALI, 2017). Além disso, estudos
mostram que alimentos fermentados tendem a ter maior tempo
de prateleira e melhor proteção contra micro-organismos
contaminantes (JANG et al., 2015; GAMBA et al, 2016)
Por muito tempo, o intestino, foi visto como um órgão
cuja função única seria digerir e absorver nutrientes. No
entanto, pesquisas recentes apontam a diversidade funcional
desse órgão, cuja grande importância agregou a ele a
conotação de “segundo cérebro”. O intestino contém o sistema
nervoso entérico, que compartilha uma série de características
com o cérebro e é capaz de realizar algumas atividades de
maneira independente do controle do sistema de nervoso
central (CHALAZONITIS; RAO, 2018). Além disso, o sistema
nervoso entérico compõe a maior divisão do sistema nervoso
periférico, de modo que a saúde intestinal está diretamente
relacionada à saúde do indivíduo. Alguns desequilíbrios
intestinais estão diretamente relacionados a mudanças de
humor e a uma maior incidência de transtornos psicológicos,
como depressão e ansiedade. Isso se deve principalmente à
241
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
existência de um eixo cérebro-intestino, que consiste em uma
comunicação bidirecional entre os sistemas nervosos central e
entérico, interligando os centros emocionais e cognitivos do
cérebro com as funções intestinais periféricas (CARABOTTI,
2015).
Estudos recentes apontam que o eixo cérebro-intestino
é fortemente influenciado pela microbiota intestinal, que
interage de maneira local (com os enterócitos e com o sistema
nervoso entérico) e sistêmica (com o sistema nervoso central),
por vias neuroendócrinas e metabólicas. Estudos em modelos
animais mostram que a remoção da microbiota intestinal
provoca alterações danosas na expressão de
neurotransmissores e modificações nas funções sensitivas e
motoras do intestino, retardando o esvaziamento gástrico e a
motilidade intestinal por exemplo (CLARKE et al., 2013). Nesse
contexto, a manutenção de uma microbiota intestinal sadia é
fundamental para a homeostase do indivíduo.
A composição da microbiota intestinal pode variar
rapidamente conforme a dieta do indivíduo, de forma que a
ingestão de alimentos probióticos pode ser bastante benéfica
para a saúde intestinal (LAWRENCE, 2014; ELOE-FADROSH,
2015). Nesse mesmo sentido, estudos relatam que os
probióticos são capazes de prevenir e atenuar enfermidades
que acometem o trato gastrointestinal, como a diarreia
infecciosa ou a causada por antibióticos, a doença inflamatória
intestinal, a síndrome do intestino irritável, as infecções por
Helicobacter pylori e a intolerância à lactose (SANCHEZ, 2017).
De acordo com a definição atual dada pela Organização
das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO/ONU),
considera-se “probiótico” o micro-organismo que, quando
administrado em quantidade suficiente, favorece a saúde do
242
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
hospedeiro (HILL, 2014). As bebidas lácteas fermentadas,
quando contêm quantidade viável de micro-organismos
probióticos, como os do gênero Lactobacillus e Bifidobacterium,
enquadram-se na categoria de “alegação de propriedades
funcionais”.
São tidos como “funcionais” os alimentos ou ingredientes
que, além das suas funções nutricionais básicas, proporcionam
uma melhora no organismo de quem os consome regularmente
(DE SOUZA et al, 2018). Um exemplo de alimento probiótico
com possibilidades de alegação funcional é o kefir, cujas
propriedades correlacionam-se a uma melhora no status de
saúde do indivíduo. Atualmente, os alimentos com
microrganismos probióticos e apelo de alegação funcional
constituem um grande nicho de mercado, tendo em vista o
interesse crescente da sociedade por uma alimentação mais
saudável.
No segmento de alimentos processados de origem
animal, a indústria de laticínios é o setor que mais inova no
Brasil, investindo fortemente no processamento de derivados
lácteos com sabores, texturas e aromas inovadores. Contudo,
essa mesma indústria pouco explora ou contempla o kefir, que,
quando comparado a outros lácteos fermentados comumente
vendidos, como o iogurte, possui um potencial probiótico
superior.
O kefir é uma das bebidas fermentadas mais antigas à
base de leite. A palavra “kefir” originou-se da palavra turca
“keyif”, que significa bem-estar, e acredita-se que esse termo foi
usado para descrever a sensação obtida pelo consumo da
bebida (ALTAY, 2013). Pensa-se que a produção e o consumo
do kefir tenham se originado na região do Cáucaso, na região
compreendida entre a Europa oriental e a Ásia ocidental. Essa
243
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
bebida tem sido amplamente consumida há milênios, e estudos
recentes encontraram evidências de que um tipo de queijo de
kefir já era consumido desde a Idade do Bronze (YANG, 2014).
Hoje, o kefir é bastante popular no Japão, Estados Unidos,
Oriente Médio e África (ALTAY, 2013; MARSH, 2014).
O kefir é um produto derivado da fermentação láctica e
alcoólica, viscoso, de sabor ácido, com carbonatação e aroma
natural, normalmente produzido de forma artesanal (AHMED et
al., 2013). A singularidade de tal produto se baseia em sua
complexa cultura “starter”, revestida por uma matriz
polissacarídica e proteica, o “kefiran”, que serve de fonte
nutricional para os micro-organismos que ali estão confinados.
O “kefiran” organiza-se na forma de grãos de kefir, que podem
ser descritos como esferas gelatinosas, pequenas e irregulares,
de coloração esbranquiçada ou levemente amarelada,
responsáveis pela fermentação do leite ou da água com açúcar
(BENGOA et al., 2018). Portanto, os micro-organismos contidos
nos grãos de kefir são fundamentais para a produção e
caracterização da bebida. A microbiota presente é composta
por bactérias e por leveduras, que variam de acordo com a
origem e as condições de armazenamento do grão. A
composição microbiológica segue uma proporção definida, na
qual as maiores concentrações são de micro-organismos
pertencentes a três grupos: bactérias do ácido láctico (BAL),
leveduras e bactérias do ácido acético (ARSLAN; SEHER,
2015). Segundo esses autores, as concentrações para BAL,
leveduras e bactérias do ácido acético são de 108 a 109, 105 a
106 e 105 a 106, respectivamente, sendo todas expressas em
Unidades Formadoras de Colônias (UFC).
O ácido láctico é o ácido orgânico que é produzido em
maior concentração durante o processo fermentativo. Ele é
244
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
importante por agregar características sensoriais ao produto,
como o aroma acidulado, e auxiliar na conservação da bebida,
agindo de forma antagônica aos patógenos relacionados às
infecções intestinais. O ácido acético produzido também
contribui para a acidez percebida ao final da fermentação, bem
como para o aroma e a sensação de leve efervescência. Por
sua vez, as leveduras são responsáveis pela alteração do pH,
produção do álcool e carbonatação, e produzem nutrientes tais
como aminoácidos e vitaminas.
As culturas “starter” responsáveis pela transformação do
leite em um produto fermentado atuam predominantemente
sobre os carboidratos e, embora em uma menor proporção,
degradam também as proteínas e os lipídios da matéria-prima.
Com isso, há uma vasta produção de metabólitos,
principalmente ácidos orgânicos (como o ácido láctico, acético
e propiônico), peptídeos, aminoácidos e vários compostos
voláteis e não voláteis de baixa massa molecular, como cetonas
e ésteres. Outros metabólitos, como compostos
antimicrobianos (como dióxido de carbono e etanol), enzimas
(como a amilase) e vitaminas também são frequentemente
produzidas. Assim, as culturas “starter” aumentam a vida de
prateleira e a segurança alimentar do produto final. Daí a
superioridade dos leites fermentados em comparação com o
leite in natura (BASCHALI et al., 2017).
Segundo Garofalo et al (2015), a composição
microbiológica de diferentes grãos de kefir italiano contém,
majoritariamente, Lactobacillus kefiranofaciens,
correspondente a 98% da população bacteriana. As demais
linhagens dividem-se entre outros tipos de bactérias do ácido
láctico, como Lactobacillus kefiri, Streptococcus thermophilus,
Lactococcus lactis e espécies do gênero Acetobacter. Em
245
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
relação às leveduras, a Dekkera anomala foi a predominante
nos grãos, com uma concentração variando entre 25 e 49%,
seguida da Kazachstania exigua (GAROFALO et al., 2015). Um
estudo realizado com grãos russos identificou Lb. casei, Lb.
kefiri, Lc. lactis (subsp. lactis) e Leuconostoc
pseudomesenteroides no grupo de bactérias. No grupo das
leveduras, foram encontradas Saccharomyces cerevisiae e
Kazachstania unispora (KOTOVA et al., 2016). Em
contrapartida, uma análise com grãos brasileiros mostrou que a
bactéria predominante foi a Lb. kefiranofaciens, seguida pela
Lb. kefiri e Lb. parakefiri. A principal levedura foi a S. cereviseae
(LEITE et al., 2013).
Em relação à legislação brasileira, o Ministério da
Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) discorre sobre o
kefir na legislação para produtos lácteos, através da Instrução
Normativa nº 46/2007 (BRASIL, 2007). De acordo com a
legislação, o kefir se enquadra na categoria de leites
fermentados e é caracterizado oficialmente como “Leite
fermentado, adicionado ou não de outras substâncias
alimentícias, obtido por coagulação e diminuição do pH do
leite, ou leite reconstituído, adicionado ou não de outros
produtos lácteos, cuja fermentação se realiza com cultivos
ácido-lácticos elaborados com grãos de kefir, Lactobacillus
kefir, espécies dos gêneros Leuconostoc, Lactococcus e
Acetobacter, com produção de ácido láctico, etanol e dióxido
de carbono. Os grãos de Kefir são constituídos por leveduras
fermentadoras de lactose (Kluyveromyces marxianus) e
leveduras não fermentadoras de lactose (Saccharomyces
omnisporus e Saccharomyces cerevisae e Saccharomyces
exiguus), Lactobacillus casei, Bifidobaterium sp. e
Streptococcus salivarius subsp thermophilus.”
246
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
Em relação aos efeitos do kefir sobre os sistemas
fisiológicos humanos, muitos estudos tem apontado benefícios
quanto ao seu consumo. Além dos conhecidos efeitos do kefir
sobre a saúde gastrointestinal, estudos mostram que essa
bebida exerce uma série de benefícios sobre outros sistemas
do organismo. Pimenta e colaboradores (2018) apontaram para
os diversos efeitos protetores do kefir sobre as doenças
cardiometabólicas, como a hipertensão, a disfunção endotelial,
a dislipidemia e a resistência à insulina. Os mecanismos de
ação do kefir sobre as doenças cardiometabólicas incluem a
diminuição da geração excessiva de espécies reativas de
oxigênio, a inibição da enzima conversora de angiotensina e o
aumento do perfil de citocinas anti-inflamatórias (ROSA et al.,
2016; SANLI., 2016; TANG, 2018).
Tendo em vista a existência de um eixo cérebro-
intestino, pesquisas apontam também os benefícios do kefir
quanto ao sistema nervoso. Experimentos em modelos animais
mostraram os efeitos protetores do kefir em um contexto de
abstinência de nicotina, reduzindo transtornos cognitivos e
distúrbios de ansiedade típicos, provavelmente devido às
grandes concentrações do aminoácido triptofano presente no
kefir (NOORI, 2014). Ademais, há evidências de que os
probióticos podem amenizar os efeitos da fobia social e da
neurose; contudo, nenhum estudo foi relatado especificamente
com o kefir para confirmação (HILIMIRE, 2015).
Além disso, pesquisas apontam os efeitos do kefir sobre
o sistema imunológico. Carasi e colaboradores (2015)
comprovaram que o Lactobacillus kefiri favorece o aumento de
citocinas anti-inflamatórias, melhorando a resposta imunológica
na mucosa gastrointestinal. Também, achados mostram que o
kefir pode ser usado como uma estratégia para aumentar a
247
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
resistência a patógenos aquáticos e a performance de
crescimento na piscicultura. Isso foi evidenciado em testes com
a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) que, após uma dieta
com 40 g de kefir/Kg do animal, teve sua resposta imune
aumentada (DOAN et al., 2017).
O papel do kefir na prevenção da obesidade também é
bem estabelecido. Em ratos obesos, a administração de kefir
por 12 semanas foi capaz de regular positivamente os genes
relacionados à oxidação de ácidos graxos, bem como resultou
em animais com menor peso corporal e menor expressão de
citocinas pró-inflamatórias (KIM et al., 2017).
O MAPA determina que os micro-organismos específicos
presentes no kefir devem estar viáveis, ativos e abundantes no
produto final durante seu prazo de validade, com a contagem
mínima de 107 UFC/g de bactérias láticas totais, de 104 UFC/g
de leveduras específicas. Portanto, não é permitida a imposição
de tratamentos térmicos sobre o produto. Em relação às
características físico-químicas, é exigido, no mínimo, um teor
de acidez (g de ácido) de 107 e uma quantidade de 104 de
proteínas lácteas (BRASIL, 2007).

Embora a legislação brasileira indique especificações


apenas para o kefir de leite, o kefir de água tem grande
aceitação em outras culturas. Esse produto, por não conter
leite, ganha uma importância fundamental, já que ele pode ser
consumido por nichos alimentares mais específicos, como o
público vegano, os intolerantes à lactose e os alérgicos à
proteína do leite. A produção do kefir de água é semelhante ao
kefir de leite, com exceção da matriz láctea. Para produção da
bebida fermentada a base de água parte-se de uma solução
aquosa com 8% de sacarose, suplementada com frutas frescas

248
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
ou secas, sendo as mais comuns o figo e o limão. A
fermentação do kefir de água dura de 24 a 72 horas, em
temperatura de 30º±ºC.
Apesar da distinção entre os substratos, diversas
características são compartilhadas pelos dois tipos de kefir, a
exemplo da carbonatação, da acidez e das baixas
concentrações de álcool. No kefir de água, ocorre uma
microbiota similar a que já foi descrita anteriormente, com
bactérias ácido-lácticas, bactérias do ácido acético, e leveduras
por grama (STADIE et al., 2013) em proporções aproximadas
de 108, 106 a 108, e 106 a 107, respectivamente.
Em relação ao preparo do kefir de leite, há três métodos
principais para produção da bebida: o tradicional, o russo e o
industrial, conforme ilustra a figura 1.

249
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
Figura 1. Fluxograma de produção do kefir.

Fonte: Elaborada pelos autores, 2018.

O primeiro método para preparação de kefir é o


tradicional, onde uma quantidade não específica de grãos
(normalmente entre 2 e 10% do peso do leite) é inoculada em
leite pasteurizado, que pode ser de diferentes origens animais.
Em seguida, é feita a incubação dos grãos no leite durante um

250
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
período de 21h±3h, em temperatura de 22º±ºC. Após o período
de fermentação, os grãos são peneirados e reutilizados para a
produção de uma nova bebida. O filtrado pode ser consumido
imediatamente, embora normalmente seja estocado à
temperatura de geladeira (6º±2ºC) e consumido frio.
A segunda possibilidade de preparo se dá pelo método
russo, onde uma fermentação em série é feita através de uma
fração de líquido da fermentação anterior (cultura-mãe), sem os
grãos. Isso aumenta a velocidade do processo e por isso
geralmente é aplicado para fins comerciais. Também é possível
obter o kefir através do método industrial, que utiliza linhagens
puras e comerciais para a fermentação do leite e segue
basicamente os mesmos padrões de processamento, como
temperatura e tempo de fermentação.
Esses métodos de produção também podem ser
aplicados para a produção do kefir de água, substituindo o leite
pasteurizado por uma solução de sacarose (em uma
concentração de aproximadamente 100 g/L), e submetendo o
conjunto por um período de fermentação entre 48 e 72 horas,
em temperatura ambiente. Eventualmente, o kefir de água
produzido pode ser suplementado com frutas ou outros aditivos,
para que se atinjam as propriedades sensoriais desejadas.
No Brasil, os padrões de consumo e de comercialização
do kefir ainda não são muito consistentes. Essa situação de
baixa padronização possui um conjunto de causas interligadas,
que precisam ser discutidas conforme a sua complexidade e
relevância. Primeiramente, o país apresenta um consumo per
capita de iogurtes e de bebidas lácteas muito pequeno, quando
comparado a países desenvolvidos da União Europeia e Ásia,
que têm uma ampla tradição de consumir alimentos
fermentados (FISBERG & MACHADO, 2015). Isso ocorre,
251
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
provavelmente, porque o consumo de derivados do leite
relaciona-se com o poder aquisitivo da população, de forma que
os países desenvolvidos (cuja população, de maneira geral,
possui maior poder de compra) tendem a ter uma maior
ingestão de leite e derivados (AQUINO; PHILIPPI, 2002;
SLIMANI et al., 2009).
Um segundo ponto que se correlaciona com o baixo
consumo de kefir é a predileção dos brasileiros por alimentos
mais doces. Isso gera certa estranheza ao paladar do
consumidor em um primeiro contato com o kefir, cujo teor de
acidez é mais elevado que a média do hábito alimentar
brasileiro. As raízes desta inclinação aos doces estão datadas
no século XVI, onde a história do Brasil começou a ser moldada
pelas interações com o povo português. Os portugueses,
habitualmente, fazem um grande consumo de açúcar, o que
acabou por popularizar o sabor doce em nosso território
(RIBEIRO; SOARES, 2015). Além disso, existe uma tendência
de que os níveis de consumo de alimentos mais doces estejam
atrelados a uma baixa renda familiar. Isso ocorre devido ao fato
de que, normalmente, os alimentos processados e ricos em
carboidratos, tais como os biscoitos recheados, são bem mais
baratos e convenientes à grande parcela da população.
Além disso, no Brasil, as famílias com poder aquisitivo
menor tendem a ter baixo nível de escolaridade, o que
corrobora para o desconhecimento do kefir, bem como de
outros produtos probióticos benéficos à saúde (OKOP et al.,
2018). Um maior poder aquisitivo amplia as possibilidades de
consumo e a criticidade em relação ao que se põe na mesa, o
que se reflete na diminuição da quantidade de açúcar
consumida e na ingestão de alimentos mais nutritivos, caros e
variados (MENDES; ZAMBERLAN, 2013).
252
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
Considerando-se o enquadramento do Brasil como país
em desenvolvimento, questões relativas à renda da população
são ponderadas pela indústria durante a tomada de decisões
para o lançamento de um novo produto no mercado. Estes
entraves influenciam na baixíssima disponibilidade do kefir nas
prateleiras, apesar de termos observado o aumento do poder
aquisitivo da população e o hábito ascendente da escolha de
produtos naturais, orgânicos e sem origem animal, o que
demonstra o interesse do consumidor por produtos inovadores
e condizentes com seu estilo de vida (MELLENTIN, 2014).
O consumo de kefir já é uma tendência no mercado
externo. Isso resulta da busca por hábitos mais saudáveis e da
conscientização acerca dos benefícios obtidos pelo consumo
de probióticos. Uma das maiores empresas do segmento é a
Lifeway®, uma companhia americana, presente também na
Grã-Bretanha e no Canadá, que comercializa diversos tipos de
kefir (BEHERA et al, 2017). Dentre as variedades ofertadas pela
empresa, há sabores de kefir veganos, orgânicos, sem gordura,
glúten ou lactose, gregos e tradicionais, que variam também de
acordo com a proporção de culturas probióticas presentes.
Também, é bastante notória a empresa Envolve®, cujos
produtos são muito consumidos nos Estados Unidos, apesar de
o seu leque de produtos ser bastante reduzido
comparativamente à concorrente, a Lifeway®. Na Oceania, a
Wallaby Organic® disponibiliza de um vasto portifólio de leites
fermentados para atender aos consumidores, o que a fez
conhecida muito além da Austrália.
A Danone®, multinacional bastante conhecida pelos
brasileiros, opera com a fabricação de kefir na Rússia desde
2001. No Brasil, o kefir normalmente é tratado como sendo um
produto apenas de fabricação caseira. No entanto, já existe
253
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
uma tímida produção de kefir por microempresas, que
comercializam o produto localmente e com uma variedade
reduzida de tipos e sabores. As empresas certificadas, que
vendem a bebida a nível nacional, são a Biologicus®,com sede
em Recife e especializada na produção de kefir de água, e a
Keiff®, marca carioca que comercializa kefir de leite.
Dentro do segmento de comercialização, existe a
possibilidade de inovação de alimentos derivados do kefir,
sejam de base láctea ou não. Grupos de pesquisa no Brasil e
no mundo já desenvolvem produtos à base do kefir, a exemplo
da Universidade Federal de Alfenas, que desenvolveu uma
cerveja artesanal fermentada unicamente com os grãos de kefir,
sendo classificada como “Speciality beer” pelo BJCP (Beer
Judge Certification Program). Essa cerveja apresentou
capacidade anti-inflamatória e antiulcerogênica e obteve
concentração alcoólica de 4% e um pH entre 4,3 e 4,4
(RODRIGUES, 2016).
Um outro exemplo de inovação no segmento foi o
desenvolvimento de um sorvete probiótico, produzido a partir do
concentrado proteico do soro fermentado com kefir. Esse
sorvete obteve um índice de aceitabilidade global de 73,55% e
capacidade de inibir a Escherichia coli em concentrações de 108
UFC/mL (SAITO et al., 2013). Criou-se, também, uma gelatina
acrescida do fermentado de kefir de água e açúcar mascavo,
obtendo um produto ácido e com boa aceitação sensorial,
superior ao grupo controle de gelatina convencional (SANTOS;
BASSO, 2016).
No setor de lácteos, acadêmicos de Biotecnologia no
Paraná, produziram um queijo cremoso à base de kefir com
baixo teor de gorduras e pH de aproximadamente 5,5, o que é
favorável do ponto de vista de conservação do produto. O queijo
254
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
obteve um índice de aceitabilidade de 88,9%, superior aos 70%
mínimos para considerar um alimento como “aceito
sensorialmente”, demonstrando a possibilidade de
empreendimentos nessa área (MATTANA et al., 2016).
Tendo em vista que o mercado brasileiro pouco explora
a comercialização do kefir e seus derivados, e que esse produto
é extremamente rico em sabor, nutrientes e probióticos, o futuro
mostra-se bastante aberto e promissor quanto ao investimento
na sua comercialização pelas empresas de alimentos
brasileiras.

CONCLUSÕES

Diante do que foi exposto, fica bastante evidente a


necessidade de incentivar a inovação e a comercialização do
kefir a nível industrial. A introdução de novos produtos
fermentados, incluindo o kefir, segue uma tendência mundial de
saúde e amplia a possibilidade de escolha do consumidor, que
visa alimentos saudáveis, saborosos e com preço acessível.
Além disso, o kefir, comparativamente a outros leites
fermentados já amplamente comercializados, possui um
potencial probiótico superior. Dessa forma, a implementação do
kefir e seus derivados, dentro do mercado de alimentos
brasileiro, vai muito além da obtenção de lucro, podendo ser um
meio simples e eficaz de promoção de saúde e popularização
de novos alimentos funcionais para diversas faixas etárias e
classes sociais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AHMED, Zaheer et al. Kefir and health: a contemporary


perspective. Critical reviews in food science and nutrition, v. 53, n. 5, p.
422-434, 2013.
255
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
ALTAY, Filiz et al. A review on traditional Turkish fermented non-alcoholic
beverages: microbiota, fermentation process and quality
characteristics. International Journal of Food Microbiology, v. 167, n. 1,
p. 44-56, 2013.
AQUINO, Rita de Cássia de; PHILIPPI, Sonia Tucunduva. Consumo infantil
de alimentos industrializados e renda familiar na cidade de São Paulo.
Revista de Saúde Pública, v. 36, p. 655-660, 2002.
BASCHALI, Aristea et al. Traditional low-alcoholic and non-alcoholic
fermented beverages consumed in European countries: a neglected food
group. Nutrition research reviews, v. 30, n. 1, p. 1-24, 2017.
BENGOA, Ana A. et al. Kefir microorganisms: their role in grain assembly
and health properties of fermented milk. Journal of applied microbiology,
2018.ARSLAN, Seher. A review: chemical, microbiological and nutritional
characteristics of kefir. CyTA-Journal of Food, v. 13, n. 3, p. 340-345,
2015.
BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento-MAPA.
Instrução Normativa n° 46, de 23 de outubro de 2007, que adota o
Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Leites
Fermentados. DOU, 2007.
BEHERA, Sunil K. et al. Kefir and Koumiss. Fermented Foods, Part II:
Technological Interventions, 2017.
CARABOTTI, Marilia et al. The gut-brain axis: interactions between enteric
microbiota, central and enteric nervous systems. Annals of
gastroenterology: quarterly publication of the Hellenic Society of
Gastroenterology, v. 28, n. 2, p. 203, 2015.
CARASI, Paula et al. Impact of kefir derived Lactobacillus kefiri on the
mucosal immune response and gut microbiota. Journal of immunology
research, v. 2015, 2015.
CHALAZONITIS, Alcmène; RAO, Meenakshi. Enteric nervous system
manifestations of neurodegenerative disease. Brain research, 2018.
CLARKE, Gerard et al. The microbiome-gut-brain axis during early life
regulates the hippocampal serotonergic system in a sex-dependent
manner. Molecular psychiatry, v. 18, n. 6, p. 666, 2013.
DAVID, Lawrence A. et al. Diet rapidly and reproducibly alters the human
gut microbiome. Nature, v. 505, n. 7484, p. 559, 2014.
DE SOUZA, Guilherme Silva Freire et al. Alimentos Funcionais no Manejo
de Diabetes Mellitus. International Journal of Nutrology, v. 11, n. S 01, p.
Trab80, 2018.
ELOE-FADROSH, Emiley A. et al. Functional dynamics of the gut
microbiome in elderly people during probiotic consumption. MBio, v. 6, n. 2,
p. e00231-15, 2015.

256
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
FISBERG, Mauro; MACHADO, Rachel. History of yogurt and current
patterns of consumption. Nutrition reviews, v. 73, n. suppl_1, p. 4-7, 2015.
GALLINA, Darlila Aparecida et al. Caracterização de leites fermentados com
e sem adição de probióticos e prebióticos e avaliação da viabilidade de
bactérias láticas e probióticas durante a vida-de-prateleira. Journal of
health sciences, v. 13, n. 4, 2015.
GAMBA, Raúl Ricardo et al. Antifungal effect of kefir fermented milk and
shelf life improvement of corn arepas. International journal of food
microbiology, v. 235, p. 85-92, 2016.
GAROFALO, Cristiana et al. Bacteria and yeast microbiota in milk kefir
grains from different Italian regions. Food microbiology, v. 49, p. 123-133,
2015.
HILIMIRE, Matthew R.; DEVYLDER, Jordan E.; FORESTELL, Catherine A.
Fermented foods, neuroticism, and social anxiety: An interaction
model. Psychiatry research, v. 228, n. 2, p. 203-208, 2015.
JANG, Ja-Young et al. Extending the shelf life of kimchi with Lactococcus
lactis strain as a starter culture. Food Science and Biotechnology, v. 24,
n. 3, p. 1049-1053, 2015.
KIM, Dong-Hyeon et al. Kefir alleviates obesity and hepatic steatosis in
high-fat diet-fed mice by modulation of gut microbiota and mycobiota:
targeted and untargeted community analysis with correlation of
biomarkers. The Journal of nutritional biochemistry, v. 44, p. 35-43,
2017.
KOTOVA, I. B.; CHERDYNTSEVA, T. A.; NETRUSOV, A. I. Russian Kefir
Grains Microbial Composition and Its Changes during Production Process.
In: Advances in Microbiology, Infectious Diseases and Public Health.
Springer, Cham. p. 93-121, 2016.
LEITE, A. M. O. et al. Microbiological and chemical characteristics of
Brazilian kefir during fermentation and storage processes. Journal of dairy
science, v. 96, n. 7, p. 4149-4159, 2013.
MARSH, Alan J. et al. Fermented beverages with health-promoting
potential: past and future perspectives. Trends in Food Science &
Technology, v. 38, n. 2, p. 113-124, 2014.
MARSHALL, Elaine et al. Traditional fermented food and beverages for
improved livelihoods. 2011.
MATANNA, Paula et al. DESENVOLVIMENTO DE QUEIJO CREMOSO
COM KEFIR: ANÁLISES SENSORIAIS E FÍSICO-QUÍMICAS. REVISTA
ELETRÔNICA BIOCIÊNCIAS BIOTECNOLOGIA E SAÚDE, v. 9, n. 18, p.
60-69, 2016.
MELLENTIN, Julian; HEASMAN, Michael. The functional foods
revolution: healthy people, healthy profits. Routledge, 2014.

257
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
MENDES, Patrícia Miranda; ZAMBERLAN, Elida Caroline. Análise do
consumo alimentar determinado pela aquisição domiciliar no Brasil doi:
http://dx. doi. org/10.5892/ruvrv. 2013.111. 336345. Revista da
Universidade Vale do Rio Verde, v. 11, n. 1, p. 336-345, 2013.
MORENO, LA Aznar et al. Scientific evidence about the role of yogurt and
other fermented milks in the healthy diet for the Spanish
population. Nutricion hospitalaria, v. 28, n. 6, p. 2039-2089, 2013.
MUEHLHOFF, Ellen et al. Milk and dairy products in human nutrition.
Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), 2013.
NASERIBAFROUEI, Ali et al. Correlation between the human fecal
microbiota and depression. Neurogastroenterology & Motility, v. 26, n. 8,
p. 1155-1162, 2014.
NOORI, Negin et al. Kefir protective effects against nicotine cessation-
induced anxiety and cognition impairments in rats. Advanced biomedical
research, v. 3, 2014.
OKOP, K. J. et al. Sugar-sweetened beverage intake and relative weight
gain among South African adults living in resource-poor communities:
longitudinal data from the STOP-SA study. International Journal of
Obesity, p. 1, 2018.
PEREIRA, Paula C. Milk nutritional composition and its role in human
health. Nutrition, v. 30, n. 6, p. 619-627, 2014.
PIMENTA, Fabio S. et al. Mechanisms of Action of Kefir in Chronic
Cardiovascular and Metabolic Diseases. Cellular Physiology and
Biochemistry, v. 48, n. 5, p. 1901-1914, 2018.
PRADO, Maria R. et al. Milk kefir: composition, microbial cultures, biological
activities, and related products. Frontiers in microbiology, v. 6, p. 1177,
2015.
RIBEIRO, Cilene Gomes; SOARES, Carmen (Ed.). Odisseia de sabores
da Lusofonia. Imprensa da Universidade de Coimbra/Coimbra University
Press, 2015.
RODRIGUES, Kamila Leite et al. Propriedades anti-inflamatória e
antiulcerogênica de uma cerveja fermentada unicamente por grãos de
quefir. Universidade Federal de Alfenas, 2016.
ROSA, Damiana D. et al. Kefir reduces insulin resistance and inflammatory
cytokine expression in an animal model of metabolic syndrome. Food &
function, v. 7, n. 8, p. 3390-3401, 2016.
SAITO, PAULO T.; SAKANAKA, CLÁUDIO TAKEO UENO.
Desenvolvimento de sorvete à base de concentrado protéico de soro
fermentado com kefir. 2013.
SÁNCHEZ, Borja et al. Probiotics, gut microbiota, and their influence on
host health and disease. Molecular nutrition & food research, v. 61, n. 1,
p. 1600240, 2017. HILL, C.; GUARNER, F.; REID, G.; GIBSON, G. R. et al.

258
OS BENEFÍCIOS E PERSPECTIVAS DO KEFIR DENTRO DO MERCADO DE
ALIMENTOS BRASILEIRO
Expert consensus document: The International Scientific Association for
Probiotics and Prebiotics consensus statement on the scope and
appropriate use of the term probiotic. Nat. Rev. Gastroenterol. Hepatol.
11, 506–514, 2014.
ŞANLI, Tuba et al. Influence of adjunct cultures on angiotensin‐converting
enzyme (ACE)‐inhibitory activity, organic acid content and peptide profile of
kefir. International Journal of Dairy Technology, v. 71, n. 1, p. 131-139,
2018.
SANTOS, Marcélli Raymundo; BASSO, Cristiana. Análise físico-química e
sensorial de gelatina à base de quefir. Disciplinarum Scientia| Saúde, v.
14, n. 1, p. 93-100, 2016.
SHARIFI, Mohammadreza et al. Kefir: a powerful probiotics with anticancer
properties. Medical Oncology, v. 34, n. 11, p. 183, 2017.
SLIMANI, N. et al. Contribution of highly industrially processed foods to the
nutrient intakes and patterns of middle-aged populations in the European
Prospective Investigation into Cancer and Nutrition study. European
journal of clinical nutrition, v. 63, n. S4, p. S206, 2009.
SÕUKAND, Renata et al. An ethnobotanical perspective on traditional
fermented plant foods and beverages in Eastern Europe. Journal of
Ethnopharmacology, v. 170, p. 284-296, 2015.
STADIE, Jasmin et al. Metabolic activity and symbiotic interactions of lactic
acid bacteria and yeasts isolated from water kefir. Food microbiology, v.
35, n. 2, p. 92-98, 2013.
TANG, Wei et al. Probiotic properties and cellular antioxidant activity of
Lactobacillus plantarum MA2 isolated from Tibetan kefir grains. Probiotics
and antimicrobial proteins, v. 10, n. 3, p. 523-533, 2018.
VAN DOAN, Hien et al. The effects of dietary kefir and low molecular weight
sodium alginate on serum immune parameters, resistance against
Streptococcus agalactiae and growth performance in Nile tilapia
(Oreochromis niloticus). Fish & shellfish immunology, v. 62, p. 139-146,
2017.
YANG, Yimin et al. Proteomics evidence for kefir dairy in Early Bronze Age
China. Journal of Archaeological Science, v. 45, p. 178-186, 2014.

259
MELHORAMENTO GENÉTICO DA Agave CONTRIBUI NA ATIVIDADE
INSETICIDA CONTRA O Aedes aegypti?
CAPÍTULO 13

MELHORAMENTO GENÉTICO DA Agave


CONTRIBUI NA ATIVIDADE INSETICIDA
CONTRA O Aedes aegypti?
Rafaela COSTA 1
Fabíola NUNES 2
1
Graduanda do curso de Biotecnologia, UFPB; 2 Orientadora/Professora do CBiotec/UFPB.
rafaelabcosta@hotmail.com

RESUMO: O mosquito Aedes Aegypti é considerado vetor de


diversas arboviroses, dentre elas a dengue, a febre amarela,
o zika vírus, e o vírus da febre chikungunya. O controle desse
vetor, com produtos biológicos ou químicos, ainda é a principal
forma de conter a contaminação, sendo os inseticidas uma
importante ferramenta nos programas de manejo integrado. O
objetivo do presente trabalho foi comparar a atividade inseticida
da Agave sisalana com a Agave híbrida 11648 contra o
mosquito Aedes aegypti. Como método foi utilizado diferentes
concentrações do extrato liofilizado das duas plantas por meio
de dois protocolos de exposição, contato tarsal e contato
corporal, sendo avaliadas contra o controle positivo e negativo
no período de 24 horas e 48 horas. Os resultados mostram que
a planta melhorada geneticamente possui maior atividade
inseticida que a Agave sisalana.
Palavras-chave: Bioinseticida. Dengue. Mosquito. Sisal.

INTRODUÇÃO

260
MELHORAMENTO GENÉTICO DA Agave CONTRIBUI NA ATIVIDADE
INSETICIDA CONTRA O Aedes aegypti?

O mosquito Aedes aegypti (Linnaeus, 1762) pertence à


família dos Culicidae (Knight e Stone, 1977), oriundo do Velho
Mundo, provavelmente da região etiópica, mas descrito no Egito
(Consoli e Oliveira, 1994). Admite-se que sua propagação pelo
mundo começou entre os séculos XVII ao XIX, através das
embarcações mercantes (Kyle e Harry 2008) e no Brasil,
introduzida, provavelmente, durante o tráfego negreiro (Consoli
e Oliveira, 1994).
O Aedes aegypti é vetor de arboviroses, tais como:
dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3, DENV-4), febre amarela
urbana (FAU), febre Chikungunya e zika. Tal parâmetro é de
alarde público devido ao fato de abranger as síndromes
congênitas associadas às infecções dessas, como a
microcefalia e Síndrome de Guillain-Barré, assolada pelo vírus
zika. Estas doenças são transmitidas através da picada do
mosquito fêmea, que pode se alimentar várias vezes em um
ciclo gonotrófico, que é o período que vai de uma ovoposição a
outra (Farjana e Tuno, 2013). Todavia, há outro meio de
transmissão, chamado de vertical ou transovariana, que ocorre
quando parte da prole de uma fêmea infectada nasce com o
vírus, devido à invasão deste em todas as partes do corpo do
mosquito (Consoli e Oliveira, 1994).
No Brasil, segundo o Boletim Epidemiológico (Secretaria
De Vigilância Em Saúde; Ministério Da Saúde, 2018), foram
registrados 1.483.623 casos prováveis de dengue em 2016 e
251.711 casos prováveis de dengue em 2017, doença esta que
assola o país com os maiores registros referente ao vetor. Em
paralelo, em 2016 foram registrados 216.207 casos prováveis
de febre pelo vírus zika, e em 2017 17.594 casos suspeitos.
Esta parcela de acontecimentos associados com os registros

261
MELHORAMENTO GENÉTICO DA Agave CONTRIBUI NA ATIVIDADE
INSETICIDA CONTRA O Aedes aegypti?
gerais das consequências causadas pelo Aedes aegypti
refletem em custos de R$ 2,3 bilhões em 2016 do Produto
Interno Bruto (Teich, Arinelli e Fahham, 2017). Hoje há diversas
linhas de pesquisas que buscam combater a doença na
população por meio do combate do vírus ou vetor. Entretanto,
apesar do desenvolvimento das vacinas e medicações que
propiciariam uma inativação da patogenicidade do vírus nos
humanos, é necessário, em paralelo, a ascensão de tecnologias
que impeçam incialmente o transporte deste na sociedade, por
meio do combate ao vetor.
Em decorrência do crescimento desordenado das
grandes cidades, a falta de estrutura das moradias, a
precariedade no fornecimento de água e o destino inadequado
do lixo, tornam cada vez mais difíceis o controle do Aedes
aegypti. Outros fatores complicam o controle deste vetor, como
o aumento no trânsito de pessoas e cargas entre países, além
das mudanças climáticas, provocadas pelo aquecimento global.
(Coelho, 2008). Visto isto, existe a necessidade de buscar e
aprimorar novos métodos para o controle do vetor, para que
haja uma redução da propagação do vírus na população e, em
paralelo, uma diminuição dos gastos públicos referentes às
ditas consequências.
Diversas estratégias têm sido desenvolvidas como
alternativas para o controle do A. aegypti, utilizando-se
diferentes mecanismos de ação, tais como medidas sociais,
monitoramento seletivo da infestação, dispersão de inseticidas,
novos agentes de controle químico e biológico e procedimentos
moleculares para controle populacional dos mosquitos,
inclusive considerando-se combinações entre técnicas. Uma
das principais estratégias para o controle do A. aegypti consiste
na aplicação de um produto larvicida nos depósitos de água

262
MELHORAMENTO GENÉTICO DA Agave CONTRIBUI NA ATIVIDADE
INSETICIDA CONTRA O Aedes aegypti?
contendo formas imaturas de mosquitos, que não possam ser
eliminados mecanicamente. Os larvicidas mais utilizados no
tratamento focal são temephós, Bacillus turinghiensis
israelensis (BTI) e o metoprene. Esses três inseticidas são
aprovados pela Organização Mundial da Saúde para uso em
água de consumo humano, por suas características de
inocuidade para os mamíferos em geral e para o homem.
Apesar de amplamente difundidos e utilizados, são
considerados potencialmente perigosos para os trabalhadores
que manipulam esses produtos frequentemente (Brasil, 2001).
Além dos problemas relacionados à toxicidade, o surgimento da
resistência por parte do A. aegypti aos inseticidas químicos
mais utilizados tem sido reportada por diversos autores (Luna,
2004; Braga, 2007; Horta, 2011).
Como uma alternativa de controle químico que muitas
vezes se torna tóxico ao meio ambiente e ao homem, alguns
compostos naturais, como óleos essenciais de plantas, têm sido
investigados para serem utilizados como insetisidas (Zara, et al.
2016).
A utilização de plantas e seus derivados, como extratos ou
óleos essenciais, vêm se tornando ferramenta fundamental em
estudos que envolvem o controle biológico de insetos vetores
de doenças, como o Aedes aegypti (Furtado, Lima, Neto,
Bezerra, & Silva, 2005; Thongwat, L, & R., 2014; Nunes,
Guimarães, Lacerd, Sandra, & Braga, 2014). Visto que, o
manejo de inseticidas químicos comercializados, utilizados de
forma excessiva e inadequada, trazem malefícios à sociedade
e ao meio ambiente possibilitando, assim, o questionamento da
sua utilização.
A alta taxa de contaminação dos componente bióticos e
abióticos, como as plantas, solo, água e organismos não alvos

263
MELHORAMENTO GENÉTICO DA Agave CONTRIBUI NA ATIVIDADE
INSETICIDA CONTRA O Aedes aegypti?
dos inseticidas, afetam o equilibro ambiental (Mataqueiro,
2002). Logo, o baixo custo de produção, a rápida degradação
do produto orgânico no ambiente, a menor exposição do
mesmo aos organismos não alvos e um curto período de tempo
para o desenvolvimento de resistência, possibilitam,
subsequentemente, o desenvolvimento de bioinseticidas
idealizados como fundamentais para o combate de vetores de
doenças (Buss & Park-Brown, 2002).
O Brasil possui um alto potencial de recursos naturais para
o desenvolvimento de inseticidas a partir da sua flora. Neste
contexto, destaca-se a cultura da Agave sisalana, conhecida
popularmente como sisal (Santos et al, 2011). A Agave é uma
planta pertencente à classe das monocotiledôneas, série
liliflórea, família Agavaceae, subfamília Agavoidea (Silva &
Beltrão, 1999). O cultivo da Agave ocupa uma extensa área de
solos pobres na região semiárida dos estados da Bahia,
Paraíba e Rio Grande do Norte, em áreas com escassa ou
nenhuma alternativa para exploração de outras culturas (Santos
et al, 2011).
Os principais produtos oriundos da cultura da Agave são
os fios biodegradáveis utilizados em artesanato, no
enfardamento de forragens, cordas de várias utilidades,
torcidos, terminais e cordéis. Essa planta também é utilizado na
produção de estofos, pasta para indústria de celulose, produção
de tequila, tapetes decorativos, biofertilizantes, ração animal,
adubo orgânico e sacarias. As fibras podem ser utilizadas
também na indústria automobilística, substituindo a fibra de
vidro (Silveira, 2009).
Apenas 3 a 5% do peso das folhas de sisal são
aproveitados, o restante, chamado de resíduo de
desfibramento, constituído em média por 15% de mucilagem ou

264
MELHORAMENTO GENÉTICO DA Agave CONTRIBUI NA ATIVIDADE
INSETICIDA CONTRA O Aedes aegypti?
polpa, 1% de bucha (fibras curtas) e 81% de suco ou seiva
clorofilada, são desprezados (Harrison, 1984). Neste contexto,
uma alternativa economicamente sustentável para o pequeno
produtor de sisal é o aproveitamento dos subprodutos do
desfibramento, que representa mais de 90% da produção,
podendo-se agregar valor econômico à cultura sisaleira e
promovendo a inclusão social das comunidades que subsistem
dessa cultura. O aproveitamento dos resíduos da Agave poderá
diversificar os setores farmacêutico e agropecuário, pois no
resíduo encontram-se saponinas, que apresentam atividades
anti-inflamatória, antibacteriana e antiparasitária (Francis et al.,
2002; Nogueira et al., 2014).
A Embrapa-Algodão em Campina Grande vem
trabalhando no melhoramento genético da Agave, com o
objetivo de tornar a planta resistente a pragas da agricultura,
onde a partir de cruzamentos obteve linhagens desse gênero,
uma delas é a 11648. Essa linhagem é resultado do cruzamento
entre a Agave angustifolia e a Agave amaniensis. Nunes et al.
(2013) descreveu a atividade larvicida da Agave sisalana contra
o mosquito A. aegypti. Sendo assim, o objetivo desse estudo foi
comparar a atividade inseticida do extrato liofilizado da Agave
sisalana e da Agave híbrida 11648 contra o mosquito Aedes
aegypti adulto.

265
MELHORAMENTO GENÉTICO DA Agave CONTRIBUI NA ATIVIDADE
INSETICIDA CONTRA O Aedes aegypti?
MATERIAIS E MÉTODO

Substâncias-teste:

Extrato liofilizado da Agave híbrida 11648 e da A. sisalana.

Os extratos liofilizados foram fornecidos pela Embrapa


Algodão de Campina Grande. Os extratos brutos são obtidos
por meio de moagem das folhas da A. sisalana e da A. híbrida
em moinho manual até a completa extração da seiva clorofilada.
Em seguida, os extratos são coados e acondicionados em
recipientes de vidro, ao abrigo da luz e congelado.
Posteriormente foi submetido à pressão negativa para retirada
da água e obtendo assim os extratos liofilizados (Figura 1). Para
os bioensaios, os extratos liofilizados foram reconstituídos em
água destilada antes do início dos experimentos. Foi elaborada
uma solução-mãe com concentração de 100mg/mL e a partir
desta, foram diluídas as concentrações a serem testadas.
Foram testadas as concentrações de 5, 10 e 20mg/mL da
Agave híbrida 11648 e da Agave sisalana as concentrações de
5, 10, 20 e 40mg/mL para o protocolo tarsal, e para o protocolo
corporal foram testadas as concentrações de 5 e 10mg/mL da
híbrida e de 1.25, 2.5, 5, 7.5 e 10 mg/mL da Agave sisalana.

266
MELHORAMENTO GENÉTICO DA Agave CONTRIBUI NA ATIVIDADE
INSETICIDA CONTRA O Aedes aegypti?
Figura 1 – Extrato liofilizado de Agave sisalana.

Fonte: acervo do LAPAVET.

Obtenção dos mosquitos

Os mosquitos adultos testados foram obtidos a partir dos


ovos dos mosquitos já mantidos no Laboratório de
Biotecnologia aplicada a Parasitas e Vetores (LAPAVET) da
UFPB. Para a obtenção dos ovos, os mosquitos do laboratório
foram alimentados 3 (três) vezes por semana com a utilização
do camundongo swiss, Mus musculus (Linnaeus, 1758),
aprovado pelo CEUA/UFPB com o número de protocolo
029/2017.

Ensaio de atividade adulticida

A atividade adulticida foi avaliada através de testes de


contato corporal e tarsal (Lucena, 2011). Para o teste de contato
corporal os mosquitos foram anestesiados pelo frio e
receberam, individualmente, 100 microlitros da solução nas
concentrações teste de Agave híbrida e Agave sisalana. Após
o contato com a substância teste os mosquitos foram colados
267
MELHORAMENTO GENÉTICO DA Agave CONTRIBUI NA ATIVIDADE
INSETICIDA CONTRA O Aedes aegypti?
num copo descartável telado e observados por 48 horas para
verificar a mortalidade. Para o teste de contato tarsal a solução
nas concentrações de teste do extrato liofilizado de Agave
híbrida e Agave sisalana foi embebida em um algodão e
passada por toda a parede do copo telado, simulando a
aplicação intradomiciliar de inseticida em paredes. Os
mosquitos foram mantidos nos copos e observados por 48
horas. Os ensaios foram realizados em ambiente com
temperatura de 28 °C + 1 °C, com umidade relativa de 60 % +
10 e fotoperíodo de 12 horas de claro e escuro. Em ambos os
testes foram utilizados 15 mosquitos e os ensaios foram
realizados em triplicata. No controle positivo os mosquitos
foram expostos ao inseticida comercial Baygon® Multi Insetos
(Praletrina 0.102%, D-Fenotrina 0.125%) e no controle negativo
os mosquitos foram expostos apenas à água destilada.

Análise estatística

As análises estatísticas da mortalidade foram


determinadas para cada bioensaio com o auxílio do programa
GraphPad Prism versão 5.0 para Windows (GraphPad
Software, San Diego, CA).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O presente estudo demonstra que o extrato liofilizado de


Agave híbrida 11648 possui atividade adulticida frente ao
mosquito Ae. aegypti, sendo seu efeito mais potente comparado
aos resultados do contato com a Agave sisalana. Os resultados
obtidos neste trabalho corroboram com resultados encontrados
por Nunes et al. (2013) com a Agave sisalana, em que foi

268
MELHORAMENTO GENÉTICO DA Agave CONTRIBUI NA ATIVIDADE
INSETICIDA CONTRA O Aedes aegypti?
observado que essa espécie tem atividade larvicida contra o
vetor.

Protocolo de contato tarsal

Após vinte e quatro horas de exposição a Agave híbrida


11648, não houve mortalidade dos mosquitos expostos a
concentração de 5mg/mL. Porém, para as concentrações de
10mg/mL e 20mg/mL houve uma mortalidade considerável,
sendo respectivamente 22,2% e 28,8%. Houve diferença
estatística em relação ao controle negativo, mas não entre as
concentrações de 10 e 20 mg/mL (Figura 2).
Figura 2 - Atividade adulticida (contato tarsal) da Agave
híbrida 11648 após 24h.

Entretando após 48 horas de contato tarsal (Figura 3), na


concentração de 5mg/mL houve mortalidade de 26,6% e 51,1%
para os mosquitos expostos a concentração de 10mg/mL. Já
para a concentração de 20mg/mL foram 66,66%, sendo valores
mais expressivos comparando a mortalidade observada
269
MELHORAMENTO GENÉTICO DA Agave CONTRIBUI NA ATIVIDADE
INSETICIDA CONTRA O Aedes aegypti?
anteriormente no período de 24 horas. No controle negativo
(CN) após quarenta e oito horas houve 7,4% de mortalidade, já
no controle positivo (CP) atingiu o total dos mosquitos expostos
ao inseticida comercial.
Figura 3 - Atividade adulticida (contato tarsal) da
Agave híbrida após 48h.

Já os testes de contato tarsal com o extrato da Agave


sisalana, os resultados obtidos foram expressivos apenas após
48 horas de contato e correlacionados percentualmente a uma
respectiva taxa de mortalidade. Observando os resutados nas
colunas da Figura 4, verificou-se que a concentração de
5mg/mL corresponde a uma taxa 4,4% do número total de
mosquitos expostos a concentração; 10mg/mL a uma taxa de
17,7%; 20mg/mL a uma taxa de 40%; 40 mg/mL a uma taxa de
60%; Controle positivo (CP) uma taxa de 95,5% e controle
negativo (CN) a uma taxa de 3,6%.

270
MELHORAMENTO GENÉTICO DA Agave CONTRIBUI NA ATIVIDADE
INSETICIDA CONTRA O Aedes aegypti?
FiguraAtividade
4 - Atividade adulticida
adulticida (contato(contato
tarsal) datarsal) da
Agave
Agave sisalanaapós
sisalana após 48 h
48h.
15

*
10
M orte s (n)

*
5
*

5,
0 ,0 ,0 ,0 C
P N
10 20 40 C
Concentração mg/mL

Protocolo de contato corporal

Com a exposição de contato corporal ao extrato


liofilizado da Agave híbrida 11648 os números foram mais
expressivos, em vinte e quatro horas após o contato corporal a
mortalidade na concentração de 5mg/mL foi de 53,33% e na
concentração de 10mg/mL foi de 68,86%. Os valores
observados na concentração de 10mg/mL (Figura 5), foram
muito superiores ao dobro dessa concentração (20mg/mL) em
quarenta e oito horas do contato tarsal, por esta razão não
foram realizadas as análises do contato corporal em
concentrações superiores. Após quarenta e oito horas do
contato corporal com a substância em concentrações de
5mg/mL e 10mg/mL tiveram cerca de 91,13% e 95,53%
respectivamente.

271
MELHORAMENTO GENÉTICO DA Agave CONTRIBUI NA ATIVIDADE
INSETICIDA CONTRA O Aedes aegypti?
Figura 5 - Atividade adulticida da Agave híbrida
(contato corporal) após 24h.

Os valores para as concentrações de Agave híbrida


observados após 48 horas nesse protocolo estão muito
próximos do controle positivo onde a mortalidade foi de 100%.
No controle negativo não houve mortalidade. A relação da
mortalidade entre as concentrações está evidenciada na Figura
6. Por ter uma ação direta com este protocolo, uma
concentração menor obteve uma mortalidade superior ao dobro
da concentração no contato tarsal por ser um protocolo de ação
indireta.
Os resultados obtidos com os mosquitos expostos a Agave
sisalana após 48 horas de contato (Figura 7), verificou-se que
a concentração de 1,25mg/mL corresponde a uma taxa 6,6 %
do número total de mosquitos submetidos na concentração;
2,5mg/mL a uma taxa de 16,6%; 5mg/mL a uma taxa de 46,6%;
7,5mg/ml a uma taxa de 76,6mg/mL e 10mg/mL uma taxa de
100%; CP a uma taxa de 100% e o controle negativo (CN) a
uma taxa de 3,3%.

272
MELHORAMENTO GENÉTICO DA Agave CONTRIBUI NA ATIVIDADE
INSETICIDA CONTRA O Aedes aegypti?
Figura 5 - Atividade adulticida da Agave híbrida (contato
corporal) após 48 h.

Figura 6 - Atividade adulticida da Agave sisalana (contato


A tiv id a d e a d u ltic id a d a A . s is a la n a
corporal)
a p ó s 4 8 h (após
c o n t a t48
o c oh.
r p o r a l)

10 *

*
8
M o r ta lid a d e (n )

6 *

*
2

0
5

,0
,5

,0

,5

N
,2

C
0
2

C
1

C o n c e n tr a ç ã o m g /m L

273
MELHORAMENTO GENÉTICO DA Agave CONTRIBUI NA ATIVIDADE
INSETICIDA CONTRA O Aedes aegypti?
CONCLUSÕES

O presente trabalho trouxe uma perspectiva de que a


Agave tem efeito inseticida contra a forma alada do mosquito
Aedes aegypti, em que a Agave híbrida 11648 demonstrou
mortalidade expressiva e em menor tempo que a Agave
sisalana. Estes resultados apresentam um avanço na
tecnologia e desenvolvimento dos inseticidas baseados em
produtos naturais, pois possibilita o aumento do
reconhecimento e a valorização cultural do respectivo produto,
além de promover a diminuição do impacto ambiental, antes
acometido pelos produtos químicos comercializados. O avanço
e a continuação dos estudos que correlacionam o sisal notório,
devido aos resultados apresentados, objetivando o
melhoramento do potencial bioinseticida apresentado.
Portanto por meio dos dados encontrados e analisados
podemos considerar que o extrato da Agave 11648 (híbrida) e
da Agave sisalana são bioinseticidas contra o mosquito Aedes
aegypti e não necessitam de altas concentrações para obter o
efeito letal contra o inseto; podem ser alvos de estudos de
repelência e toxidade, potencialmente rentável por ser o extrato
um subproduto da produção sisaleira e geralmente ser
desperdiçado. Faz-se necessário mais estudos nessa área por
ser o Ae. aegypti um vetor de várias doenças emergentes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Dengue. Instruções para pessoal de


combate ao vetor: manual de normas técnicas. 3. ed.Brasília: Ministério da
Saúde/Fundação Nacional de Saúde, 2001.
BRASIL. Ministério da Saúde. Informe Epidemiológico nº 09/2016 –
Semana Epidemiológica 02/2016 (10/01/2016 A 16/01/2016)

274
MELHORAMENTO GENÉTICO DA Agave CONTRIBUI NA ATIVIDADE
INSETICIDA CONTRA O Aedes aegypti?
Monitoramento dos casos de microcefalia no Brasil. Disponível em:
<http://www.saude.mt.gov.br/upload/noticia/1/arquivo/171016135648-SES-
MT-A-informe-epidemiologico-cievs-mt---monitoramento-dos-casos-de-
microcefalia-e-alteracoes-do-snc-n-37-se-40-2016.pdf> Acesso em 10 de
junho de 2018.
BRAGA, I.A.; VALLE, D. Aedes aegypti: inseticidas, mecanismos de ação e
resistência. Epidemiol. Serv. Saúde, v.16, n.4, p. 279-293, 2007.
Buss, E. A., & Park-Brown, S. G. (2002). Natural Products for Insect Pest
Management1. University of Florida/IFAS.
COELHO, G. E. (Epidemiol. Serv. Saúde v.17 n.3 Brasília set. 2008 de
Setembro de 2008). Dengue: desafios atuais. Epidemiologia e Serviços de
Saúde , 17(Epidemiol. Serv. Saúde v.17 n.3 Brasília set. 2008).
CONSOLI, R. A., & OLIVEIRA, R. L. (1994). Principais Mosquitos de
Importância Sanitária no Brasil. Rio de Janeiro: FIOCRUZ.
FARJANA, T., & TUNO, N. (Julho de 2013). Multiple blood feeding and
host-seeking behavior in Aedes aegypti and Aedes albopictus (Diptera:
Culicidae). J Med ntomolog, 50(4), 838-846.
FRANCIS, G.; KEREM, Z.; MAKKAR, H.P.; BECKER, K. The biological
action of saponins in animal systems: a review. Bristish. J. of Nutrition., v.
88, n. 6, p. 587-605, 2002.
FURTADO, R. F., LIMA, M. G., NETO, M. A., BEZERRA, J. N., & SILVA, M.
G. (Setembro-Outubro de 2005). Atividade Larvicida de Óleos Essenciais
Contra Aedes aegypti. Neotropical Entomology , 24(5), 843-847.
HARRISON, D.G. Subprodutos del sisal como alimentos para los
ruminantes. Rev. Mund. Zootec., v. 49, p.25-31, 1984.
HORTA, M.A.P.; CASTRO, F.I.; ROSA, C.S.; DANIEL, M.C.; MELO, A.L.
Resistance of Aedes aegypti (L.) (Diptera: Culicidae) to Temephos in Brazil:
A Revision and New Data for Minas Gerais State. BioAssay, v. 6, n.7, 2011.
LUCENA, I.V.; TRINDADE, F.T.T.; CALDERON, L.A.; STABELI,
R.G.;SILVA, A.A. Atividade adulticida do veneno de Rhinella marina
(Anura:Bufonidae) sobre Anopheles darlingi (Diptera:Culicidae). Anais
eletrônicos. Rondônia, RO, 2011. Revista Fiocruz Rondônia, v.1, n.1, 2013.
LUNA, J.D.; MARTINS, M.F.; ANJOS, A.F.; KUWABARA, E.F.; NAVARRO-
SILVA, M.A. Susceptibilidade de Aedes aegypti aos inseticidas temephos e
cipermetrina, Brasil. Ver saúde pública, v. 38, n. 6, p. 842-3, 2004.
Knight, K. L., & Stone, A. (1977). A catalog of the mosquitoes in the world
(2ª ed.). Entomological Society o America.
Mataqueiro, M. I. (2002). TOXICIDADE AGUDA E SUBAGUDA DO
INSETICIDA METHYL PARATHION NO PACU (Piaractus mesopotamicus
HOLMBERG, 1887). Dissertação de Mestrado, UNIVERSIDADE
ESTADUAL PAULISTA, Jaboticabal.

275
MELHORAMENTO GENÉTICO DA Agave CONTRIBUI NA ATIVIDADE
INSETICIDA CONTRA O Aedes aegypti?
NOGUEIRA, M.S.; BRAGA, V.A.; NUNES, F.C. In Vivo antihelminthic
activity of Agave Sisalana liquid waste in sheeps. Bothalia journal Vol 44,
No. 2; Feb 2014.
NUNES, F.C. Estudo da atividade larvicida da Agave sisalana contra Aedes
aegypti. Dissertação de Doutorado em Biotecnologia – RENORBIO/UFPB.
João Pessoa, 2013. Nunes, F., Guimarães, L., Lacerd, D., S. M., & Braga,
V. (Novembro de 2014). Larvicidal activity of Agave sisalana against Aedes
aegypti mosquito, the dengue vector. BMC Proceedings, 9(4), 10-14.
SANTOS, R.D.; PEREIRA, L.G.R.; NEVES, A.L.A.; BRANDÃO, L.G.N.;
ARAÚJO, G.G.L.; ARAGÃO, A.S.L.; BRANDÃO, W.N.; SOUZA, R.A.;
OLIVEIRA, G.F. Consumo e desempenho produtivo de ovinos alimentados
com dietas que continham coprodutos do desfibramento do sisal. Arquivo
Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 63, n. 6, 2011.
Secretaria de Vigilância em Saúde; Ministério da Saúde. (Março de 2018).
Boletim Epidemiológico. 49, 13.
SILVA, O.R.R.F.; BELTRÃO, N.E. M. O agronegócio do sisal no Brasil.
Brasília: Embrapa – SPI, Campina Grande - CNPA, 1999, 205p.
SILVEIRA, R.X.; CHAGAS, A.C.S.; BOTURA, M.B.; BATATINHA, M.B.;
KATIKI, L.M.; BEVILAQUA, C.M.L.; BRANCO, A.; MACHADO, E.A.A.;
BORGES, S.L.; ORNELASALMEIDA, M.A. Influência do resíduo líquido do
sisal (Agave sisalana, Perrine) sobre a alimentação larvar e motilidade de
adultos, in vitro, de nematóides gastrintestinais de pequenos ruminantes.
Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 29, p.165-169, 2009.
Teich, V., Arinelli, R., & Fahham, L. (Dezembro de 2017). Aedes aegypti e
sociedade: o impacto econômico das arboviroses no Brasil. Jornal
Brasileiro de Economia da Saúde, 9, 267-276.
Thongwat, D., L, T. G., & R., C. (Novembro de 2014). LARVICIDAL
ACTIVITY OF PERESKIA BLEO (KUNTH) DC. (CACTACEAE) FRUIT
ENDOCARP CRUDE AND FRACTIONATED EXTRACTS AGAINST
AEDES AEGYPTI (L.) (DIPTERA: CULICIDAE). Southeast Asian J Trop
Med Public Health, 45(6), 1292-300.
VASCONCELOS, Pedro Fernando da Costa. Doença pelo vírus Zika: um
novo problema emergente nas Américas? Rev Pan-Amaz Saude,
Ananindeua , v. 6, n. 2, jun. 2015.
WHO. World Health Organization. Dengue hemorrhagic fever. Diagnosis,
treatment, prevention and control; pp. 12–23. Geneva: WHO; 1997.
ZARA, Ana Laura de Sene Amâncio, et al. Estratégias de controle do
Aedes aegypti: uma revisão. Epidemiologia e Serviços de Saúde [online].
2016, v. 25, n. 2 [Acessado 22 Julho 2018], pp. 391-404. Disponível em:
<https://doi.org/10.5123/S1679-49742016000200017>. Acesso em 10 de
junho de 2018.

276
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA MARESINA 1, UM MEDIADOR LIPÍDICO
DERIVADO DO ÁCIDO GRAXO POLIINSATURADO DO ÔMEGA 3, NO
PROCESSO INFLAMATÓRIO.
CAPÍTULO 14

PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA
MARESINA 1, UM MEDIADOR LIPÍDICO
DERIVADO DO ÁCIDO GRAXO
POLIINSATURADO DO ÔMEGA 3, NO
PROCESSO INFLAMATÓRIO.
Thiago de Souza Lopes ARAUJO 4
Esley da Silva SANTOS 1
Andreza Ketly da Silva ARAUJO 2
Higinalice da Silva PEREIRA 3
Letícia de Sousa CHAVES 3,5
1
Graduando do curso de Biomedicina, UFPI; 2 Graduando do curso de Ciências Biológicas,
UFPI ; 3Pós-graduando do Programa de Mestrado em Biotecnologia, UFPI; 4Pós-graduando
do Programa de Doutorado em Biotecnologia (RENORBIO), UFPI; 5 Orientadora/Biomédica-
UFPI.
leticiabiomed17@hotmail.com

RESUMO: Os ácidos graxos poli-insaturados do ômega 3


presentes principalmente em peixes e que quando consumidos
são metabolizados endogenamente a partir dos macrófagos em
ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosahexanoenóico
(DHA) no qual produzirão os mediadores lipídicos pro-solventes
bioativo (SPMs), dentre eles a maresina 1 (MaR1). A MaR1 tem
demonstrado ser capaz de reduzir os níveis de citocinas pró-
inflamatória, mostrando assim possuir atividade anti-
inflamatória, analgésica e pró-resolutiva. Diante dos efeitos
benéficos da MaR1, faz se necessário a busca de patentes
visando futuramente o desenvolvimento de novas alternativas
terapêuticas associadas à inflamação. Nesta prospecção
objetivou realizar um levantamento a respeito dos depósitos de
patentes nos bancos de dados WIPO, EPO, INPI e USPTO,
respectivamente, utilizando como palavras-chave “maresin 1” e

277
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA MARESINA 1, UM MEDIADOR LIPÍDICO
DERIVADO DO ÁCIDO GRAXO POLIINSATURADO DO ÔMEGA 3, NO
PROCESSO INFLAMATÓRIO.
maresin 1 and inflammation”. Observou-se que a WIPO
apresentou-se com 123 depósitos de patentes, sendo uma das
maiores detentoras destas, logo atrás a USPTO com apenas 7.
Com relação ao país, o EUA possui o maior número de patentes
com 57 nas duas bases, WIPO e USPTO. Quando analisada
sobre a classificação nas duas bases, observou-se que
estavam mais associadas a CIP A61 ligada a ciência médica ou
veterinária. Observou-se que nos últimos anos houve um
aumento no número de depósitos com relação sua atividade
anti-inflamatória, mostrando assim que futuramente possam
auxiliar no desenvolvimento de novas alternativas terapêuticas
para diversas doenças inflamatórias.
Palavras-Chave: Inflamação. Patentes. Ômega 3

INTRODUÇÃO

Os ácidos graxos poliinsaturados do ômega 3,


conhecidos também como ácido α-linolênico, presente
principalmente em animais marinhos como o atum, sardinha,
bacalhau e arenque, apresenta 18 carbonos e três duplas
ligações. Este por sua vez é convertido endogenamente em
ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosahexanoenóico
(DHA), onde estes apresentam um papel importante no
metabolismo corporal (BENTO et al, 2011). Os mediadores
lipídicos pró-solventes bioativos (SPMs) derivados do EPA e
DHA, como as resolvinas, protectinas e maresinas,
desempenham um papel ativo na resolução da inflamação e
têm sido apontados como potenciais agentes farmacológicos
para doenças inflamatórias agudas e crônicas (SERHAM et al,
2012).
Uma dieta rica em ácidos graxos poliinsaturados tem
demonstrado um aumento da expectativa de vida, benefícios ao

278
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA MARESINA 1, UM MEDIADOR LIPÍDICO
DERIVADO DO ÁCIDO GRAXO POLIINSATURADO DO ÔMEGA 3, NO
PROCESSO INFLAMATÓRIO.
sistema cardiovascular, e posteriormente um estudo mostrou
que pacientes com dieta rica em óleo de peixe apresentou uma
melhora clínica na colite ulcerativa (ASLAN, 1992). Um estudo
mostrou que os peixes da costa brasileira, dentre eles o atum,
bonito, olho de boi e file mostrava níveis elevados de DHA
superiores aos teores de EPA. Porém os níveis de EPA foram
superiores no file de bonito e atum, já a sardinha e o bonito
apresentaram os níveis de altos de DHA e EPA em filés, sendo
esta uma ótima fonte de ácidos, principalmente a sardinha por
possuir uma fácil acessibilidade e baixo custo (VISENTAINER
et al., 2000).
A maresina 1 (mediadores de macrófagos na resolução
da inflamação - MaR1) é uma classe recém-descoberta de
mediadores lipídicos sintetizados por macrófagos utilizando o
ácido docosahexanoenóico que é convertido através de reação
de 14-lipoxigenação em intermediários 14S-HpDHA,
culminando com a produção do ácido 7,14-dihidroxidocosa
4Z,8,10,12,16Z,19Z-hexaenóico, tem apresentado atividade
anti-inflamatória, analgésica e pró-resolutiva (DALLI, 2012;
MARCON et al., 2013).
A MaR-1 apresenta na literatura diversos efeitos anti-
inflamatórios em várias doenças, portanto um estudo avaliou
sua atividade na inflamação da pele induzida por imiquimod,
onde sugeriram pelos resultados que essa molécula pode ser
um novo agente terapêutico para a psoríase e outras doenças
inflamatórias cutâneas mediadas pela IL-17 (SAITO-SASAKI et
al., 2018)
Com relação às propriedades farmacológicas, a MaR1 se
mostra uma forte candidata na ação antinociceptiva, sendo
recentemente identificada como mediador pró-resolução, sendo

279
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA MARESINA 1, UM MEDIADOR LIPÍDICO
DERIVADO DO ÁCIDO GRAXO POLIINSATURADO DO ÔMEGA 3, NO
PROCESSO INFLAMATÓRIO.
capaz de reduzir a dor crônica em modelo de cor neuropática
com a ligadura do nervo espinhal em ratos (SNL), regulando a
liberação de citocinas pró-inflamatórias e atividades gliais (GAO
et al., 2018). De acordo com os achados na literatura das
diversas propriedades da MaR-1, um estudo objetivou
investigar e descrever os efeitos e mecanismos dessa molécula
na sobrevida e inflamação de células do ligamento periodontal
humano, onde observaram efeitos benéficos da MaR1 aliviando
a inflamação celular, po meio da ativação da autofagia
dependente da via glicogênio sintase-quinase-3β / β-catenina
(DU, LI e LIU, 2018).
A MaR1 foi capaz de reverter a autofagia nos
hepatócitos, reduzir os níveis de triglicerídeos, além de
promover a ativação da AMPK por fosforilação em
camundongos obesos induzidos por dieta (LAIGLESIA et al.,
2018), além disso foi eficaz em reduzir os níveis de citocinas
pró-inflamatórias IL-6, IL-8, TNF-α e IL-1β. Em modelo
experimental de colite a MaR1 foi capaz de reduzir a lesão no
cólon, inibir a expressão de mediadores inflamatórios e reduzir
a ativação do NF-kB, além de promover o aumento de
macrófagos M2 associados à homeostase da inflamação
(DALLI, 2012) e inibir o receptor TRPV1, expresso em
neurônios sensoriais primários e que desempenham um papel
importante na mediação da dor térmica e hiperalgesia ao calor
após a lesão (SERHAN et al, 2012).
Tendo em vista os efeitos benéficos da MaR1 em
doenças inflamatórias, bem como seu papel na redução de
citocinas pró-inflamatórias, atividade analgésica e pró-
resolutiva o objetivo deste trabalho foi realizar um resgate
bibliográfico acerca de documentos de patentes depositadas a

280
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA MARESINA 1, UM MEDIADOR LIPÍDICO
DERIVADO DO ÁCIDO GRAXO POLIINSATURADO DO ÔMEGA 3, NO
PROCESSO INFLAMATÓRIO.
respeito de tecnologias desenvolvidas com a molécula em
questão nos principais bancos de depósito, a afim de analisar o
estado da arte sobre o assunto e nortear os estudos a serem
feitos, com o intuito de auxiliar no desenvolvimento de novas
alternativas terapêuticas de grande relevância para a ciência e
indústria farmacêutica.

METODOLOGIA

Esta pesquisa foi realizada por meio de um levantamento


de dados tecnológicos a partir do pedido de depósitos de
patentes nos bancos de dados: European Patent Office (EPO),
World Intellectual Property Organization (WIPO), USPTO
(United States Patent and Trademark Office), e o banco de
dados nacional, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial
(INPI). O levantamento foi realizado em novembro de 2018,
investigando todos os documentos de patentes disponíveis para
consulta até a data de realização do trabalho (20/11/2018).
As pesquisas foram realizadas utilizando como palavras-
chave o termo “maresin 1 and inflammation” e “maresin 1” em
todas as bases citadas, afim de avaliar o avanço tecnológico
levando em consideração o ano, o país e a classificação
internacional de patentes (CIP).

281
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA MARESINA 1, UM MEDIADOR LIPÍDICO
DERIVADO DO ÁCIDO GRAXO POLIINSATURADO DO ÔMEGA 3, NO
PROCESSO INFLAMATÓRIO.
Figura 01. Fluxograma explicando a execução da pesquisa do
trabalho. WIPO – World Intellectual Property Organization, EPO –
European Patent Office, INPI – Instituto Nacional da Propriedade Industrial,
USTPO – United States Patent and Trademark Office.

Fonte: Autoria própria, 2018.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base nos bancos de dados pesquisados,


encontramos vários trabalhos relacionados com suas atividades
terapêuticas, com o uso do ácido eicosapentaenoico, ácidos
graxos ômega do 3, 17-HDHA E 18-HEPE atuando de forma
efetiva em tratamentos de doenças inflamatórias, neuronais,
obtendo ação antinociceptiva, bem como prevenção da
reincidiva de problemas gastrointestinais. Além disso, seu uso
tópico em tratamento de inflamações na pele, atuando também
no melhoramento de doenças imunes e neurodegenerativas.
282
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA MARESINA 1, UM MEDIADOR LIPÍDICO
DERIVADO DO ÁCIDO GRAXO POLIINSATURADO DO ÔMEGA 3, NO
PROCESSO INFLAMATÓRIO.
Observou-se também a utilização dessa molécula como
uma forte alternativa em diversas atividades farmacológicas
como em tratamentos ou prevenções de distúrbios
inflamatórios, avaliando a administração da mesma em
quantidades terapeuticamente eficazes, como um mimético
resolvina na linha de composições e métodos para resolução
da inflamação. Observou-se também dentre suas atividades, a
utilização do ácido eicosapentaenóico de forma de ácido graxo
livre altamente purificada (EPA-FFA) para diminuir os níveis de
calprotectina fecal, reduzindo o risco de recaída clínica em
pacientes com colite ulcerativa.
Os resultados que foram obtidos nesta prospecção
tecnológica estão relacionados aos depósitos de patentes,
considerando o país, ano e Classificação Internacional de
Patentes (CIP). A partir das bases de dados utilizando as
palavras-chaves foram encontrados os seguintes resultados
(Figura 2), totalizando 327 depósitos de patentes de 2008 a
2018. Sendo a WIPO uma das maiores detentoras de patentes
com 311, logo atrás a USPTO com 7, EPO com 2 e INPI sem
nenhum depósito. Quando analisada apenas “maresin 1 and
inflammation” como foco do trabalho, foi detectado apenas 123
patentes.

283
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA MARESINA 1, UM MEDIADOR LIPÍDICO
DERIVADO DO ÁCIDO GRAXO POLIINSATURADO DO ÔMEGA 3, NO
PROCESSO INFLAMATÓRIO.
Figura 2. – Bases de dados consultadas e quantidades de
depósitos de patentes encontradas.

200

150
maresin 1
100
maresin 1 and
50 inflammation

0
WIPO EPO INPI USPTO

Fonte: Autoria própria, 2018.

Figura 3. – Resultados encontrados na busca por "maresin 1"


e "maresin 1 and inflammation" na base de patentes WIPO,
quanto aos países de depósitos das patentes.

60
50
40
30
20
10 WIPO
0

Fonte: Autoria própria, 2018.

Com base nos dados da WIPO, os Estados Unidos e o


PCT, Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes,

284
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA MARESINA 1, UM MEDIADOR LIPÍDICO
DERIVADO DO ÁCIDO GRAXO POLIINSATURADO DO ÔMEGA 3, NO
PROCESSO INFLAMATÓRIO.
apresentaram sendo um dos maiores detentores de patentes,
sendo 52 e 46, respectivamente, com depósitos a partir de 2010
até 2018 (Figura 3). O EUA apresentou maior número em
decorrência de ser um país bem desenvolvido e devido os altos
níveis de investimento em pesquisa diferente dos demais
países. Além disso, vale destacar os pedidos de depósito de
patentes do Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes
(PCT) (Figura 3), o qual simplifica e reduz o custo inicial nos
procedimentos de pedidos de patente nos países membros.

Figura 4. Resultados obtidos quanto aos anos de depósitos de


patentes no banco de dados da WIPO.

30
25
20
15
N° de Pubicações
10
5
0
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018

Fonte: Autoria própria, 2018.

A figura 4 mostra o número de patentes depositadas em


cada ano no banco de dados da WIPO desde 2010 a 2018.
Mostrando que houve um aumento do número de patentes
depositadas desde o ano de 2014, sendo o ano de 2016 e 2018
com 26 depósitos cada, caracterizando-os como os anos com
o maior número de patentes.
285
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA MARESINA 1, UM MEDIADOR LIPÍDICO
DERIVADO DO ÁCIDO GRAXO POLIINSATURADO DO ÔMEGA 3, NO
PROCESSO INFLAMATÓRIO.
Quando analisada a Classificação Internacional de
Patentes (CIP), observou-se que a maioria dos depósitos eram
classificados como A61 (saúde, resguardo de vidas, ciência
médica ou veterinária e higiene), sendo de ciência médica ou
veterinária. Contudo, a A61K representa 41%, sendo relativo a
preparações para fins médicos, odontológicos ou para uso
doméstico, já a A61P apresentou 18%, associado à atividade
terapêutica de preparações medicinais. A C07C possui 9%,
usado atribuídos a compostos acíclicos ou carboxílicos (Figura
5).
Figura 5. Resultados do CIP para a busca de “maresin 1 and
inflammation” no WIPO.
120

100

80

60
CIP
40

20

0
A61K
A61P

A23L
C07C

A23K
C12N
A61Q
G01N

C07K
C07D

Fonte: Autoria própria, 2018.

É importante ressalvar que o somatório dos números de


pedidos de depósitos apontados na Figura 5 é maior que o total
inicial indicado na busca realizada na base de dados. Isto se
deve ao processo de registro, já que é comum que alguns

286
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA MARESINA 1, UM MEDIADOR LIPÍDICO
DERIVADO DO ÁCIDO GRAXO POLIINSATURADO DO ÔMEGA 3, NO
PROCESSO INFLAMATÓRIO.
documentos de patentes sejam enquadrados em classificações
diversas, apontando, assim, diferentes aplicações da tecnologia
a ser protegida em diferentes áreas.
Com relação aos dados dos depositores foi observado
que o maior número de publicação na base de dados
internacional WIPO era pertencente ao Charles N. Sherman (A),
contendo 40% dos depósitos no total (Figura 6). Sendo assim
esse gráfico mostra que os níveis de depósito estão associados
mais a pessoas físicas do que empresas.

Figura 6. Resultados obtidos quanto à pesquisa pelos


inventores de patentes na base de dados WIPO. (A) Charles N.
Sherman, (B) Bruce A. Freeman, (C) Donald F. Collins, (D) Fernando Moreno
Egea, (E) Francisco J. Schopfer, (F) Nadine A. Pernodet, (G) Rong Yang,
(H) Sidney L. Weiss.

A
9% B
9%
40% C
9%
D
9%
E
8% F
8% 8%
G

Fonte: Autoria própria, 2018.

A análise dos principais requerentes de depósitos


observou que um dos maiores solicitantes para o depósito de

287
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA MARESINA 1, UM MEDIADOR LIPÍDICO
DERIVADO DO ÁCIDO GRAXO POLIINSATURADO DO ÔMEGA 3, NO
PROCESSO INFLAMATÓRIO.
patentes foi o Hospital de Brighan e Mulheres, Inc., com 35%
(Figura 7).

Figura 7. Resultados obtidos a partir da busca dos requerentes


na base de dados internacional WIPO. (A) Hospital de Brighan
e Mulheres, INC, (B) ELC Management LCC, (C) Ocular
Technologies Sarl, (D) Solutex na LCC, (E) Universidade da
Califórnia, (F) Teknonologian Tutkimuskeskus VTT.

6% A
14% B
35%
C
14% D
E
10%
21% F

Fonte: Autoria própria, 2018.

Na base de dados da USPTO foram encontrados apenas


7 depósitos de patentes referente a busca por maresin 1 e
maresin 1 and inflammation, sendo os Estados Unidos detentor
de todas estas, mais uma vez reforçando a ideia de que os EUA
representa um país com alto grau de investimento em pesquisa.
Observou-se que, na base de dados americana USPTO,
com relação aos anos de depósitos, o ano de 2017 foi o ano
com maior numero de depósitos, diferente da base de dados
internacional WIPO, que apresentou um aumento nos depósitos
nos anos de 2016 e 2018 (Figura 8).

288
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA MARESINA 1, UM MEDIADOR LIPÍDICO
DERIVADO DO ÁCIDO GRAXO POLIINSATURADO DO ÔMEGA 3, NO
PROCESSO INFLAMATÓRIO.
Figura 8. Resultados da busca dos depósitos durante os anos
realizados na base da USPTO.

0
2015 2016 2017 2018

Fonte: Autoria própria, 2018.

Quando pesquisados sobre a classificação na base de


dados do USPTO foi observado que todas as 7 patentes
apresentavam classificação A61K, e que a C07C e C07D se
apresentava em 5 delas, sendo atribuídos a compostos
acíclicos ou carboxílicos e composto heterocíclico,
respectivamente (Figura 9).

289
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA MARESINA 1, UM MEDIADOR LIPÍDICO
DERIVADO DO ÁCIDO GRAXO POLIINSATURADO DO ÔMEGA 3, NO
PROCESSO INFLAMATÓRIO.
Figura 9. Resultados obtidos a partir da busca pela
classificação no banco de dados da USPTO.

4
CIP
2

0
A61K C07C A61Q A23K Y02P C07D

Fonte: Autoria própria, 2018.

Com relação às publicações da base de dados europeia


EPO, foi encontrado apenas 2 publicações quando pesquisadas
sobre “maresin 1” e nenhuma para “maresin 1 and
inflammation” não encontrou nenhum depósito. Já na base de
dados brasileira INPI não foi encontrada nenhum resultado para
nenhum depósito quanto às palavras-chave pesquisadas
(Tabela 1),

290
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA MARESINA 1, UM MEDIADOR LIPÍDICO
DERIVADO DO ÁCIDO GRAXO POLIINSATURADO DO ÔMEGA 3, NO
PROCESSO INFLAMATÓRIO.
Tabela 1. Resultados obtidos nas bases de dados EPO e INPI.

BASES maresin 1 maresin 1 and inflammation

EPO 2 0

INPI 0 0

Fonte: Autoria própria, 2018.

CONCLUSÃO

A prospecção tecnológica realizada mostrou que existe


um número de patentes relativamente bom relacionada às
palavras-chave “maresin 1 and inflammation”, sendo estas
associadas principalmente a sua ação anti-inflamatória,
podendo ser capaz de reduzir os níveis de diversos mediadores
inflamatórios e auxiliar na resolução de diversas doenças.
Isso afirma que nos últimos anos houve um aumento no
número de depósitos de patentes e que os países mais
desenvolvidos são os maiores detentores destas, mostrando
assim que estes possuem um maior apoio e incentivo financeiro
na pesquisa científica e tecnológica. Por meio da análise dos
dados apresentados, nota-se domínio dos Estados Unidos em
relação aos pedidos de patentes referentes ao termo “maresin”,
no qual apresentam diversas áreas temáticas, com destaque
para formulações farmacêuticas com finalidade terapêutica,
produtos alimentícios e aplicações industriais na área
cosmética.

291
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA MARESINA 1, UM MEDIADOR LIPÍDICO
DERIVADO DO ÁCIDO GRAXO POLIINSATURADO DO ÔMEGA 3, NO
PROCESSO INFLAMATÓRIO.
Com base nas patentes pesquisadas e em seus níveis
de CIP mostra que elas estão mais associadas à ciência médica
ou veterinária, e a área química, mostrando que sua aplicação
pode ajudar futuramente no desenvolvimento de terapias que
possam reverter ou diminuir o processo inflamatório em
diversas doenças.
É importante salientar que o Brasil não possui pedidos
de depósito de patentes referente aos termos utilizados. Talvez
esse panorama se deva ao fato de que as universidades
brasileiras, que ainda continuam sendo os principais centros de
pesquisa e inovação em todo o mundo, estão limitadas ao
princípio da publicação, seguindo o lema "publish or perish”
(“publicar ou perecer”), bastante comum nas universidades
norte americana e bastante difundida em todo o mundo, que
tem como foco principal gerar conhecimento científico e formar
recursos humanos qualificados para a sociedade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASLAN, A., TRIADAFILOPOULOS, G. Fish oil fatty acid supplementation in


active ulcerative colitis: a double-blind, placebo-controlled, crossover study.
American Journal of Gastroenterology, v. 87 n. 4, p. 432-437, 1992.
BENTO, A. F., CLAUDINO R. F., DUTRA, R. C., MARCON R., CALIXTO, J.
B. Omega-3 fatty acid-derived mediators 17(R)-hydroxy docosahexaenoic
acid, aspirin-triggered resolvin D1 and resolvin D2 prevent experimental
colitis in mice. The Journal of Immunology, v. 187, n. 4, p 1957-1969,
2014.
DALLI J, SERHAN C. N. Specific lipid mediator signatures of human
phagocytes: microparticles stimulate macrophage efferocytosis and pro-
resolving mediators. Blood, v. 120, n.15, p. 60–72, 2012.
DU, Li; LI, Yucheng; LIU, Weifeng. Maresin 1 regulates autophagy and
inflammation in human periodontal ligament cells through glycogen
synthase kinase–3β/β-catenin pathway under inflammatory conditions.
Archives of oral biology, v. 87, p. 242-247, 2018.

292
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA MARESINA 1, UM MEDIADOR LIPÍDICO
DERIVADO DO ÁCIDO GRAXO POLIINSATURADO DO ÔMEGA 3, NO
PROCESSO INFLAMATÓRIO.
GAO, J. et al. Pro-resolving mediator maresin 1 ameliorates pain
hypersensitivity in a rat spinal nerve ligation model of neuropathic pain.
Journal of pain research, v. 11, p. 1511, 2018.
LAIGLESIA, L. M., LORENTE-CEBRIÁN, S., MARTÍNEZ-FERNÁNDEZ, L.,
SÁINZ, N., PRIETO-HONTORIA, P. L., BURRELL, M. A., MORENO-
ALIAGA, M. J.. Maresin 1 mitigates liver steatosis in ob/ob and diet-induced
obese mice. International Journal of Obesity, v. 42, n. 3, p. 572, 2018.
MARCON, R., BENTO, A. F., DUTRA, R. C., BICCA, M. A., LEITE, D. F.,
CALIXTO, J. B. Maresin 1, a proresolving lipid mediator derived from
omega-3 polyunsaturated fatty acids, exerts protective actions in murine
models of colitis. The Journal of Immunology, v 191, n. 10, p. 4288–4298,
2013.
OLIVEIRA FILHO, R. S. et al. Financing of the scientific publication and
protection of the scientific knowledge. Acta Cirurgica Brasileira, v. 20, p.
35-39, 2015
SAITO-SASAKI, NATSUKO et al. Maresin-1 suppresses imiquimod-induced
skin inflammation by regulating IL-23 receptor expression. Scientific
reports, v. 8, n. 1, p. 5522, 2018.
SERHAN, C. N., DALLI, J., KARAMNOV, S., CHOI, A., PARK, C. K., XU, Z.
Z., PETASIS, N. A. Macrophage proresolving mediator maresin 1
stimulates tissue regeneration and controls pain. The FASEB Journal, v.
26, n. 4, p. 1755-1765, 2012.
VISENTAINER, J. V., CARVALHO, P. D. O., IKEGAKI, M., PARK, Y. K.
Concentração de ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido
docosahexaenóico (DHA) em peixes marinhos da costa brasileira. Ciência
e Tecnologia de Alimentos, v. 20, n.1, p. 90-93, 2000.

293
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DO ACETURATO DE DIMINAZENO, UM
ATIVADOR DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA II, FRENTE A
DISTÚRBIOS DIARREICOS
CAPÍTULO 15

PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DO
ACETURATO DE DIMINAZENO, UM
ATIVADOR DA ENZIMA CONVERSORA DE
ANGIOTENSINA II, FRENTE A DISTÚRBIOS
DIARREICOS
Lucas Arruda MOITA 1
Naylla Veras de Moraes OLIVEIRA 1
Esley da Silva SANTOS 2
Bruna da Silva SOUZA 3
Luan Kelves Miranda de SOUZA 1,4
1
Pós Graduando do do programa de mestrado em Biotecnologia , UFPI; 2 Graduando do
curso de biomedicina, UFPI, Pós-graduando do Programa de Mestrado em Biotecnologia,
UFPI; 3 Pós-graduandos do Programa de Doutorado em Biotecnologia (RENORBIO), UFPI; 4
Orientador/Professor do Curso de Medicina IESVAP.
lucasarrudamoita@gmail.com

RESUMO: A diarreaia que é uma doença gastrointestinal que


tem como principal característica uma rápida passagem do
conteúdo gástrico através do intestino, o que leva o indivíduo a
à perda de água e eletrólitos e consequente desidratação. A
reposição de líquido mais comum é o uso da solução oral de
reidratação (SRO) e uso de loperamida, entretanto seu uso
pode causar um quadro grave de bacteremia seguido de sepse
e até mesmo óbito. Atualmente, não existe tratamento
farmacológico eficaz para diarreia, por isso a importância da
busca de alternativas terapêuticas para o tratamento dessa
doença. Com isso o objetivo dessa prospecção foi realizar uma
pesquisa sobre as atividades biológicas já descritas do
Aceturato de Diminazeno com especial enfoque para agentes
294
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DO ACETURATO DE DIMINAZENO, UM
ATIVADOR DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA II, FRENTE A
DISTÚRBIOS DIARREICOS
antidiarreicos. A prospecção realizada através de pesquisas de
depósitos de patentes nas bases USPTO, EPO, WIPO e INPI,
com o uso de palavras- chave e operadores boleanos. Dessa
forma, verificou-se nas bases de dados internacionais de
patentes o número de documentos referentes ao uso do
Aceturato de Diminazeno em diversas áreas temáticas, com
destaque para indústria farmacêutica porém com número
relativamente baixo de documentos no que se refere à
descrição de eventual ação antidiarreica do Aceturato de
Diminazeno, o que reforça o caráter inovador das pesquisas
que envolvem o uso desse composto enquanto agente
antidiarreico.

Palavras-chave: Aceturaro de Diminazeno. Diarreia


Desordens Gastrintestinais .

INTRODUÇÃO

Há mais de 60 anos, o Aceturato de Diminazeno (DIME)


é utilizado como tratamento da tripanossomíase animal. A
droga foi introduzida pela primeira vez no mercado como um
tripanossomicida e babesicida para o gado. Por causa do seu
índice terapêutico elevado e baixa incidência de resistência em
comparação com outros compostos, tornou-se o agente
terapêutico mais comumente utilizado para a tripanossomíase
no gado. Sua composição química é formada basicamente por
uma diamidina aromática com duas porções aminofenil ligados
por uma ponte de triazeno (PEREGRINE; MAMMAN, 1993)
Recentemente, vários estudos têm demonstrado que o
Diminazeno é responsável por interferir em vários processos

295
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DO ACETURATO DE DIMINAZENO, UM
ATIVADOR DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA II, FRENTE A
DISTÚRBIOS DIARREICOS
fisiológicos no organismo de roedores. A utilização desse
composto está atrelada a possível ativação da Enzima
Conversora de Angiotensina II (ECA II). A ECA II metaboliza a
Angiotensina II (Ang II) em um metabólito denominado Ang-(1-
7) regulando assim, alguns efeitos deletérios da via Ang II/ AT1.
(VELKOSKA et al., 2015)
Pesquisas recentes demonstraram que a administração
do Aceturato de Diminazeno previne crises crônicas de
hipertensão pulmonar em modelos experimentais (SHENOY et
al, 2013). Além disso, o DIME também demonstrou possuir
efeitos protetores em diferentes condições fisiológicas,
incluindo acidente vascular cerebral isquêmico, glaucoma
(KURIAKOSE; UZONNA, 2014) e úlcera gástrica (SOUZA et al,
2016).
Dessa forma, considerando os efeitos moduladores do
Dime já descritos na literatura e focalizando seu possível
potencial protetor do trato-gastrintestinal, tem-se o seu uso
enquanto agente antidiarreico, porém ainda pendente de
confirmação científica. Neste sentido, estudos que busquem
afirmar tal propriedade antidiarreica do referido composto
estariam contribuindo para o campo da ciência em geral e da
saúde pública, considerando que a diarreia, por muitas
décadas, tem sido reconhecida como uma das principais
causas de morte, especialmente entre as populações
socioeconomicamente desfavorecidas em países em
desenvolvimento (GUTIERREZ et al, 2008).
Entre as manifestações clínicas mais frequentes
relacionadas com doenças gastrointestinais está a diarreia, (XU
et al, 2013). Que é uma doença gastrointestinal que tem como
principal característica uma rápida passagem do conteúdo

296
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DO ACETURATO DE DIMINAZENO, UM
ATIVADOR DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA II, FRENTE A
DISTÚRBIOS DIARREICOS
gástrico através do intestino, gerando assim um aumento no
número de evacuações, três ou mais vezes por dia, bem como
aumento da fluidez das fezes, tendo eventualmente a presença
de sangue e muco, além de ser acompanhada pelo aumento da
secreção e diminuição da absorção de fluido intestinal, o que
leva o indivíduo a à perda de água e eletrólitos e consequente
desidratação (DAS et al., 2018) Muitos fatores podem ser
relacionados com o aparecimento da diarreia, incluindo agentes
infecciosos, toxinas, distúrbios funcionais intestinais, má
absorção de nutrientes, doenças inflamatórias intestinais e
medicamentos (RIDDLE et al., 2017)
Dentre as mais severas diarreias são as diarreias
secretórias que podem levar o paciente a óbito ( BRANDT et al.,
2017). Dentre elas estão as que são causadas pelo
Vibriocholerae cepas O1 e O1.39 e pela Escherichia coli
enterotoxigênica (ETEC), na qual se observa extensa perda de
líquidos, com mínima ou nula formação de massa fecal, sendo
denominada como “água de arroz” (KANUNGO et al., 2010;
BENNETT; DOLIN; BLASER, 2015). A cólera, causada pela
bactéria Vibrio cholerae, representa ainda é uma das maiores
causas de morbidade e mortalidade nas regiões tropicais (DI
JOHN et al., 2017). A toxina da cólera parece funcionar
estimulando a secreção transepitelial de cloro pelas células da
cripta, aumentando desse modo, a secreção de fluido por seu
efeito osmótico (Yamasaki et al., 2017.). Dados recentes da
OMS mostram que globalmente, a incidência de cólera vem
aumentando, fazendo com que esta continue sendo um grave
problema de saúde pública entre populações de países em
desenvolvimento. Em 2012, 49% dos casos que foram

297
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DO ACETURATO DE DIMINAZENO, UM
ATIVADOR DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA II, FRENTE A
DISTÚRBIOS DIARREICOS
relatados ocorreram nas Américas, maior parte no Haiti
(DAVIES et al., 2017).
Na fisiopatologia da coléra os canais de cloreto serão
fosforilados que estão na membrana celular, ativando-os e
mantendo persistente a liberação de íons cloreto para o lúmen
intestinal, ao mesmo tempo em que a célula também passa a
liberar H2O, já que existe a ineficiência das bombas de efluxo
em captar sódio para manter o equilíbrio osmótico no meio
intracelular, fazendo com que um portador da doenças perca
em média 2 litros de líquidos por dia (BASU;
MUKHOPADHYAY, 2014).
A desidratação é comum muito nos casos de diarreia,
visto que a reposição de líquidos é uma das poucas alternativas
terapêuticas e de baixo custo para os afetados. A reposição de
líquido mais comum é o uso da solução oral de reidratação
(SRO), que é preparada com água filtrada e sais minerais e
glicose, para efeito rápido sobre líquidos e eletrólitos perdidos
(CARMO et al., 2012). Contudo, a reposição de líquidos não é
considerada um medicamento, visto que não atua por nenhuma
via farmacológica conhecida, servindo apenas como agente
paliativo.
A terapia apropriada utilizada na gestão clínicada diarreia
inclui reidratação oral e terapia Os antibióticos que são
utilizados como antidiarreico podem, por vezes, provocar
efeitos adversos e vários micro-organismos tendem a
desenvolver resistência a eles. (BENNETT et al., 2015). O
medicamento mais utilizado para diarreias de causas
desconhecidasé a loperamida, que é um agonista opióide que
atua por meio da redução do peristaltismo e consequentemente
redução do trânsito intestinal, aumentando a permanência das

298
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DO ACETURATO DE DIMINAZENO, UM
ATIVADOR DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA II, FRENTE A
DISTÚRBIOS DIARREICOS
fezes no interior do intestino, influenciando diretamente na
absorção de fluidos. Entretanto em pacientes que apresentam
quadro diarréico causado por micro-organismos, a permanência
destes no trato gastrointestinal pode causar um quadro grave
de bacteremia seguido de sepse e até mesmo óbito (MIKI et al.,
2017).
Atualmente, não existe tratamento farmacológico eficaz
para diarreia e o tratamento disponível não é específico, tendo
apenas ação paliativa à redução do desconforto, desidratação
e inconveniência causada pelas evacuações frequentes .Por
isso a busca por alternativas terapêuticas que possam ser
capazes de sanar as doenças diarreicas e principalmente com
menores efeitos colaterais, haja visto a inespecificidade da
terapêutica atual.
Nesse sentido a realização de prospecção tecnológica,
que patentes que mostrem as propriedades já descritas do
composto Aceturato de Diminazeno, com um especial enfoque
na sua atividade antidiarreica, representam uma ferramenta
bastante útil, já que se constituem como meios sistemáticos de
disponibilização de informações científicas que assumem um
importante papel de informação de base para orientação no
desenvolvimento de novas tecnologias, visando uma melhor
qualidade de produtos, de serviços e de vida (MACHADO et al,
2014).
Nesse contexto, o referido estudo objetiva-se realizar
uma pesquisa sobre as atividades biológicas já descritas do
Aceturato de Diminazeno com especial enfoque para eventuais
aplicações destas substâncias enquanto agentes antidiarreicos,
realizando uma busca nos pedidos de patente em nível nacional
e internacional.

299
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DO ACETURATO DE DIMINAZENO, UM
ATIVADOR DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA II, FRENTE A
DISTÚRBIOS DIARREICOS
MATERIAIS E MÉTODO

O referido estudo foi realizado tendo como base um


levantamento de pedidos de patentes depositados nos
principais bancos de dados: european patent office (epo), world
intellectual property organization (wipo), united states patent
and trademark office (uspto) e no banco de dados do instituto
nacional de propriedade industrial (inpi) do brasil. O
levantamento foi realizado em novembro de 2018, sendo
investigados todos os documentos de patentes disponíveis
para consulta até a data de realização da referida pesquisa
(10/11/2018 ). As pesquisas foram realizadas utilizando como
palavras- chave o termo aceturato de diminazeno sozinho ou
combinado com o termo diarreia (tabela 1), juntamente com o
operador boleano “and”, eventualmente associando-se os
termos com o uso de aspas ou parênteses. Foram considerados
válidos os documentos que apresentassem esses termos no
resumo e/ou título.

Tabela 1- Base de dados consultadas e palavras-chave usadas


nas bases de patentes

300
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DO ACETURATO DE DIMINAZENO, UM
ATIVADOR DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA II, FRENTE A
DISTÚRBIOS DIARREICOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos na presente prospecção
tecnológica referem-se a todos os depósitos de patentes
efetuados sobre o tema em questão, considerando-se,
quanto aos depósitos de patentes, o país e o ano de
depósito como também a Classificação Internacional de
Patentes (CIP).
A busca na base de dados USPTO detectou 27
resultados de documentos de patentes abrangendo o
termo “Diminazene Aceturate” e 21729 documentos
associados ao termo “diarreia”. (Figura 1)

Figura 1. Resultados obtidos para a busca pelo termo


“Diminazene Aceturate” na base de patentes USPTO
quanto aos anos de ocorrência dos depósitos dos
pedidos de patente.

Fonte: autoria própria


Podemos observar pelo resultado obtido nessa
base de dados que referido composto é bem antigo,
usado desde a década de 80, e a maioria das patentes
301
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DO ACETURATO DE DIMINAZENO, UM
ATIVADOR DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA II, FRENTE A
DISTÚRBIOS DIARREICOS
refere-se a sua atividade antiparasitária somente nos
últimos anos vem sendo observada uma mudança nos
padrões das patentes que agora abragem também
composições com formulações anti-inflamatorias
analgésicas e anticancerígenas.
No entanto, quando foi realizado a associação
dos dois termos a busca não retornou resultados. O que
reforça a inovação tecnológica no uso desse compostos
para tratamento de tal enfermidade. Quando observado
a nação de origem das patentes associados ao termo
“Diminazene Aceturate”, verificou-se que os Estados
Unidos é o maior detentor com 17 pedidos de depósito,
seguido do Reino Unido com dois, além de um pedido
de depósito no Japão, Alemanha, Itália e Israel (Figura
2). Analisando a distribuição de patentes na base de
dados, verificou-se um aumento no número de
depósitos a partir do ano de 2009, demonstrando um
avanço nos estudos e nos investimentos em pesquisa
com relação a esse material nos últimos anos.

302
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DO ACETURATO DE DIMINAZENO, UM
ATIVADOR DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA II, FRENTE A
DISTÚRBIOS DIARREICOS
Figura 2– Resultados obtidos para a busca pelo termo
“Diminazene Aceturate” na base USPTO, quanto aos
países de depósito dos pedidos em função das
quantidades de patentes.

Fonte: autoria própria


Na base de dados EPO foram encontradas 10 documentos de
patentes para o termo “Diminazene Aceturate”. Na busca por
pedidos de depósito de patentes envolvendo o termo por país,
foi possível observar que China totalizou 90% dos pedidos de
depósitos realizados, seguidos do Japão e França. Além disso,
foram significativos os pedidos de depósito de patentes do
Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes (PCT) (Figura
3), o qual simplifica e reduz o custo inicial nos procedimentos
de pedidos de patente nos países membros. A busca para os
termos Diminazene Aceturate e diarrhea não retornou
resultados.

303
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DO ACETURATO DE DIMINAZENO, UM
ATIVADOR DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA II, FRENTE A
DISTÚRBIOS DIARREICOS
Figura 3 - Resultados obtidos para a busca pelo termo
“Diminazene Aceturate” na base EPO, quanto aos
países de depósito dos pedidos em função das
quantidades de patentes.

Fonte: autoria própria

A busca na base de dados WIPO, no que se refere aos


documentos de patentes já depositados envolvendo o tema em
questão, retornou 186 resultados envolvendo o termo
“Diminazene Aceturate”. Deve-se observar, contudo, que tais
resultados referem-se, em sua grande maioria, à proteção de
métodos analíticos, bem como sua utilização como fármaco
trinapossomicida em animais de grande porte. Esses pedidos
foram registrados, em maior número na China (40,01%) e nos
Estados Unidos (30,28%) a partir do ano de 1980, sendo
predominantemente segundo as seguintes categorias da CIP:
A61 (saúde, resguardo de vidas, ciência médica ou veterinária

304
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DO ACETURATO DE DIMINAZENO, UM
ATIVADOR DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA II, FRENTE A
DISTÚRBIOS DIARREICOS
e higiene). No entanto, vale a pena ressaltar que a associação
dos termos “Diminazene Aceturate” e “diarrhea” não retornaram
resultados (Figura 4).
Figura 4 - Resultados obtidos para a busca pelo termo
“Diminazene Aceturate” na base WIPO, quanto aos países de
depósito dos pedidos em função das quantidades de patentes.

Fonte: autoria própria.

A busca realizada na base de patentes nacionais do INPI


apresentou como resultado um total de 122 depósitos para o
termo “diarreia”, nos quais tinham como objetivo a proteção de
formulações para novos fármacos, preparações de vacinas,
além de outras aplicações farmacológicas. Nessa busca, ainda
é possível salientar que não foram encontrados depósitos de
patentes quando utilizado o termo “Aceturato de Diminazeno”.
A busca realizada para a combinação dos termos “Aceturato de
Diminazeno” e “diarreia” não retornou nenhum resultado.
Com relação ao tipo de depositor, podemos constatar
que que as empresas, pelo fato do Diminazeno já ser um

305
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DO ACETURATO DE DIMINAZENO, UM
ATIVADOR DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA II, FRENTE A
DISTÚRBIOS DIARREICOS
medicamento comercializado possuiem o maior número de
depósitos de patentes do medicamento, logo em seguida estão
os inventores individuais e com menor número de depósitos de
patentes estão as universidades, Desse resultados o que ficou
bem evidenciado é que área farmacêutica tem investido
bastante nessa área, que é uma área promissora e lucrativa e
que pelo crescente numero de depósitos por universidades tem
aumento também a pesquisa desse medicamento.

Empresas Universidade Inventor Individual

Fonte: autoria própria.

CONCLUSÕES

Com base na análise dos dados apresentados, nota-se


domínio dos Estados Unidos e China em relação aos pedidos
de patentes referentes ao uso do Aceturato de Diminazeno em
diversas áreas temáticas, com destaque para indústria
farmacêutica. Tais dados representam o avanço tecnológico
alcançado na última década. No entanto, os termos associados
nas buscas por patentes exibiram resultados escassos, o que

306
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DO ACETURATO DE DIMINAZENO, UM
ATIVADOR DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA II, FRENTE A
DISTÚRBIOS DIARREICOS
reforça o caráter inovador das pesquisas que envolvem o uso
do Aceturato de Diminazeno enquanto agente antidiarreico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BASU, I.; MUKHOPADHYAY, C. Insights into binding of cholera toxin to


GM1 containing membrane. Langmuir, v. 30, n. 50, p. 15244-15252, 2014.
DAVIES, Hannah G.; BOWMAN, Conor; LUBY, Stephen P. Cholera–
management and prevention. Journal of Infection, v. 74, p. S66-S73,
2017.
BENNETT, J.E.; DOLIN, R.; BLASER, M.J. Mandell, Douglas, and
Bennett's Principles and Practice of Infectious Diseases. 8ª ed.
Philadelphia: Elsevier Saunders, 2015. p. 1238-1246.
BRANDT, Lawrence J. Fecal microbiota therapy with a focus on
Clostridium difficile infection. Psychosomatic medicine, v. 79, n. 8,
p. 868-873, 2017.
CARMO, L. F. et al. Concentração de Sódio e Glicose em soro de
Reidratação Oral preparados por agentes comunitários de saúde. Ciência
& Saúde Coletiva, v. 17, n. 2, p. 445-452, 2012.
CLARKE, L.L.; GRUBB, B.R.; GABRIEL, S.E.; SMITHIES, O.;KOLLER,
B.H.; BOUCHER, R.C. Defective epithlial chloride transport in a gene
targeted mouse model of cystic fibrosis. Science, v. 257, p. 1125-1128,
1992.
DI JOHN, D. Tratamiento farmacológico de la diarrea aguda. ARS
MEDICA Revista de Ciencias Médicas, v. 17, n. 2, p. 59-64, 2017.
GUTIERREZ, R. M. P.; MITCHELL, S.; SOLIS, R.V. Psidium guajava: A
review of its traditional uses, phytochemistry and pharmacology. Journal of
Ethnopharmacology, v. 117, p. 1–27, 2008.
KAISER, L.; SURAWICZ, C. M. Infectious causes of chronic diarrhea. Best
Practice & Research Clinical Gastroenterology, v. 26, p. 563–571, 2012.
KURIAKOSE, S.; UZONNA, J. E. Diminazene aceturate (Berenil), a new
use for an old compound? Internatio Immunopharmacol, v. 21, p. 342-5,
2014.
MACHADO, K. C. et al. Uso de marcadores moleculares na depressão:
prospecção tecnológica. Revista GEINTEC, v.4, n.3, p. 1008-16, 2014.
MIKI, T.; et al. The bactericidal lectin RegIIIβ prolongs gut colonization and
enteropathy in the streptomycin mouse model for Salmonella diarrhea. Cell
host & microbe, v. 21, n. 2, p. 195-207, 2017.
MOORE, S. R.; LIMA, N. L.; SOARES, A. M.; ORÌA, R. B.; PINKERTON, R.
C.; BARRETT, L. J. Prolonged episodes of acute diarrhea reduce growth

307
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DO ACETURATO DE DIMINAZENO, UM
ATIVADOR DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA II, FRENTE A
DISTÚRBIOS DIARREICOS
and increase risk of persistent diarrhea in children. Gastroenterology, v.
139, p. 1156–1164, 2010.
PATEL, K.; THILLAINAYAGAM, A. V. Diarrhoea. Medicine, v. 37, p. 23-
27, 2011.
PEREGRINE, A. S.; MAMMAN, M. Pharmacology of diminazene: a review.
Acta Trop Sep, v. 54, p. 185-203, 1993.
RIDDLE, Mark S. et al. Guidelines for the prevention and treatment
of travelers’ diarrhea: a graded expert panel report. Journal of travel
medicine, v. 24, n. suppl_1, p. S63-S80, 2017.
SHENOY, V.; et al. Diminazene attenuates pulmonary hypertension and
improves angiogenic progenitor cell functions in experimental models. Am J
Respir Crit[ Care Med, v. 187, p. 648–657, 2013.
SOUZA, L. K. M.; et al. Diminazene aceturate, an angiotensin-converting
enzyme II activator, prevents gastric mucosal damage in mice: Role of the
angiotensin-(1–7)/ Mas receptor axis. Bioch Pharmacol, v. 112, p. 50-59,
2016.
World Health Organization. Geneva: Prevention and control of cholera
outbreaks: WHO policy and recommendations, p. 90-115, 2014.
XU, Q.; SHEN, Z.; WANG, Y.; GUO, S.; LI, F.; WANG, Y.; ZHOU, C. Anti-
diarrhoeal and anti-microbial activity of Flos populi (male inflorescence of
Populus tomentosa Carrière) aqueous extracts. Journal of
Ethnopharmacology, v. 148, p. 640–646, 2013.
YAMASAKI, Eiki et al. Detection of Cholera Toxin by an
Immunochromatographic Test Strip. In: Microbial Toxins. Humana Press,
New York, NY, 2017. p. 1-7.

308
POLISSACARÍDEOS EXTRAIDOS DE ALGAS MARINHAS DO NORDESTE
BRASILEIRO INIBEM A LIGAÇÃO DA TOXINA DE Vibrio cholerae AO RECEPTOR
GM1 IN VITRO
CAPÍTULO 16

POLISSACARÍDEOS EXTRAIDOS DE
ALGAS MARINHAS DO NORDESTE
BRASILEIRO INIBEM A LIGAÇÃO DA
TOXINA DE Vibrio cholerae AO RECEPTOR
GM1 IN VITRO
Esley da Silva SANTOS 1
Gabriella PACHECO 2
Ana Patrícia de OLIVEIRA 3
Nayara Alves de SOUSA 3
Thiago de Souza Lopes ARAÚJO3,4
1
Graduando do curso de Biomedicina, UFPI; 2 Pós-graduando do Programa de Mestrado em
Biotecnologia, UFPI; 3 Pós-graduandos do Programa de Doutorado em Biotecnologia
(RENORBIO), UFPI; 4 Orientador/Professor do Curso de Ciências Biológicas/UFPI.
araujotsl@gmail.com.br

RESUMO: As algas marinhas são fonte de diversos compostos


biologicamente ativos com potencial ação terapêutica, como os
polissacarídeos sulfatados (PLS), os quais são reconhecidos
por apresentarem um grande número de atividades biológicas.
Considerando que a diarreia secretora é a manifestação clínica
mais frequente relacionada com a doença da cólera e que
atualmente não existe um tratamento específico destinado a
esse problema clínico, o objetivo do presente estudo foi avaliar
o potencial do PLS extraído de algas marinhas encontradas no
litoral do nordeste, Hypnea nigrescens e Ochtodes
secundiramea, como possíveis agentes anti-adesivos do
receptor GM1 em ensaios in vitro. Para tal, inicialmente os
polissacarídeos sulfatados (PLS) foram extraídas por digestão
proteolítica e a capacidade de ligação dos PLS ao receptor GM1
309
POLISSACARÍDEOS EXTRAIDOS DE ALGAS MARINHAS DO NORDESTE
BRASILEIRO INIBEM A LIGAÇÃO DA TOXINA DE Vibrio cholerae AO RECEPTOR
GM1 IN VITRO
foi analisada através da técnica de ELISA. Os resultados
mostraram que a incubação prévia dos receptores GM1 com os
PLS reduziram significativamente a detecção de toxina da
cólera por ELISA, sugerindo uma possível interação
provavelmente por causa de monômeros de D-galactose
presentes na estrutura química dos PLS. Em conclusão, os
resultados sugerem que o PLS extraído a partir das algas
marinhas H. nigrescens e O. secundiramea possuem um
notavel efeito inibitório contra a ligação da toxina da cólera com
o receptor GM1 in vitro, podendo ser utilizadas futuramente
como ferramentas importantes no tratamento sintomatológico
da cólera.
Palavras-chave: Cólera. Polissacarídeos. Toxinas
Bacterianas.

INTRODUÇÃO

A cólera é uma doença infecciosa intestinal causada pela


bactéria Vibrio cholerae, caracterizada por uma severa diarreia
secretora, dor abdominal, vômito e câimbras nas pernas
resultando em desidratação e podendo levar o individuo a morte
(MANDAL; MANDAL; PAL, 2011; MOORE et al., 2014). A cólera
é uma doença presente no mundo inteiro e que acomete
milhares de pessoas sendo aproximadamente 1,7 bilhões de
casos e 580.000 mortes de crianças com menos de 5 anos de
idade em países em desenvolvimento (GRIGGS et al., 2016).
Dados da OMS mostram que globalmente, a incidência
de cólera vem aumentando desde 2005, com surtos que afetam
vários continentes. A cólera continua a constituir um grave
problema de saúde pública entre populações de países em
desenvolvimento que não têm acesso a recursos hídricos e
310
POLISSACARÍDEOS EXTRAIDOS DE ALGAS MARINHAS DO NORDESTE
BRASILEIRO INIBEM A LIGAÇÃO DA TOXINA DE Vibrio cholerae AO RECEPTOR
GM1 IN VITRO
saneamento básico. Em 2013, 129.064 casos de cólera foram
notificados à OMS, com 47% ocorrendo nas Américas, maior
parte no Haiti, enquanto que entre 2001 e 2009, 93 a 98% do
total de casos em todo o mundo foram relatados na África
(WHO, 2015).
O tratamento dos sintomas relativos à infecção colérica
é não específico e limitado, onde a terapêutica recomendada é
a ingestão de solução de reidratação oral (SRO), uma vez que
a glicose promove o aumento da absorção do Na+ e água no
fluido intestinal, prevenindo a desidratação (CHENG et al.,
2016). Diante disso, faz-se necessário a busca por novas
terapias visando à redução das manifestações clínicas e o
número de mortes causadas pela doença. De acordo com
conhecimentos obtidos ao longo dos anos sobre a fisiopatologia
da infecção colérica, a ligação da enterotoxina produzida pelo
agente ao receptor gangliosídeo específico, o GM1, que está
presente de forma abundante na borda ciliada das células
epiteliais jejunais é crucial para o desenvolvimento das
manifestações clínicas, e o bloqueio deste receptor seria um
possível alvo para o desenvolvimento de novas abordagens
terapêuticas (RIVERA et al., 2013).
As algas marinhas apresentam diversos compostos
ativos que possuem ação terapêutica, dentre estes estão os
polissacarídeos sulfatados (PLS) no qual consistem os maiores
componentes da matriz extracelular das algas. Estes
apresentam em sua composição polímeros complexos e
heterogêneos que possuem unidades repetidas de
monossacarídeos associados a radicais sulfatos e podem ser
relevantes em aplicações farmacêuticas (JIAO et al., 2011),
além de diversas atividades biológicas, tais como: anti-

311
POLISSACARÍDEOS EXTRAIDOS DE ALGAS MARINHAS DO NORDESTE
BRASILEIRO INIBEM A LIGAÇÃO DA TOXINA DE Vibrio cholerae AO RECEPTOR
GM1 IN VITRO
inflamatório, anti-nociceptiva (DELGADO et al., 2013), antiviral
(BOUHLAL et al., 2011), antioxidante (BARAHONA et al.,
2011), imunoestimulatória (ZHA et al., 2015), antitumoral
(SHAO; CHEN; SUN, 2013) e gastroprotetora (SILVA et al.,
2012).
As algas vermelhas Hypnea nigrescens e Ochtodes
secundiramea, pertencentes ao gênero Hypnea e Ochtodes,
respectivamente, são distribuídas por todo o litoral brasileiro,
possuindo em sua composição polissacarídeos sulfatados
(PLS) de importância econômica e científica (RODRIGUES et
al., 2011; MACHADO, 2013). Com base na importância
econômica e científica dos gêneros, tem-se buscado muito a
pesquisa por novas moléculas para o tratamento de diversas
doenças.
A Hypnea nigrescens, que com relação aos testes
moleculares e morfológicos é uma variação morfológica da
Hypnea musciformes (GUIMARÃES, 2011) é encontrada ao
longo de toda a costa brasileira, possui coloração verde, negro-
esverdeada ou vinácea e de aproximadamente 2,5-8 cm de
altura, além disso, possui características fundamentais para sua
identificação sendo facilmente reconhecida em seu habitat
pelos ramos que se assemelharem as cerdas de um pincel,
presença de ramos maiores inseridos no centro do tufo,
ausência de ramificação na região basal e disposição dos
tetrasporângios (JESUS; SCHNADELBACH; NUNES, 2014). O
PLS extraído da Hypnea nigrescens, é formado galactanas
sulfatadas podendo ser classificadas como ágar ou
carragenana, que compartilham uma estrutura básica de cadeia
linear com resíduos repetidos de (→3)-β-galactopiranose
ligados a (→4)-α-D-galactopiranose, muita vezes ocorrendo a

312
POLISSACARÍDEOS EXTRAIDOS DE ALGAS MARINHAS DO NORDESTE
BRASILEIRO INIBEM A LIGAÇÃO DA TOXINA DE Vibrio cholerae AO RECEPTOR
GM1 IN VITRO
unidade D com forma 3,6-anidro-a-D-galactopiranose, sendo
assim nomeado de κ-carragenana (YANG et al., 2009;
RECALDE et al., 2016).
A alga vermelha Ochtodes secundiramea é encontrada
principalmente no litoral do nordeste brasileiro, do Maranhão à
Bahia, podendo se estender até o litoral do Espirito Santo (ES)
(ALGAEBASE, 2018). São encontradas principalmente em
corpos recifais, possui cerca de 30 cm de comprimento, de
consistência carnosa e ramos cilíndricos ramificados de 1 mm
de diâmetro de maneira dicotômica ou irregular, com
crescimento por duas células apicais, além disso possui como
característica marcante a iridescência azulada ou arroxeada
(SILVA, 2010). A O. secundiramea é capaz de sintetizar
compostos monoterpenos halogenados e terpenos cíclicos e
oxigenados com atividade antifúngica (MACHADO, 2014). No
entanto, não foi encontrado relatos na literatura sobre a
composição dos polissacarídeos sulfatados da O.
secundiramea.
Sendo assim, levando em consideração a persistência
de casos de cólera no mundo, principalmente em países em
desenvolvimento, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o
potencial do PLS de algas marinhas encontradas no litoral do
Nordeste brasileiro como possíveis agentes anti-adesivos do
receptor GM1 in vitro, podendo futuramente auxiliar no
desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas contra a
sintomatologia da cólera.

313
POLISSACARÍDEOS EXTRAIDOS DE ALGAS MARINHAS DO NORDESTE
BRASILEIRO INIBEM A LIGAÇÃO DA TOXINA DE Vibrio cholerae AO RECEPTOR
GM1 IN VITRO
MATERIAIS E MÉTODO

Coleta e Processamento das Algas Marinhas Hypnea


nigrescens e Ochtodes secundiramea.
As algas marinhas Hypnea nigrescens e Ochtodes
secundiramea foram coletadas junto ao substrato arenoso na
região de mesolitoral, na praia de Flecheiras, município de
Trairí, Ceará. Após a coleta, espécies foram depositadas no
Herbário Ficológico de Ciências do Mar da Universidade
Federal do Ceará (UFC). As amostras foram cuidadosamente
lavadas com água destilada, sendo retirados sal e epífitas, e os
exemplares coletados foram estocados a -20°C para posterior
utilização.

Extração dos Polissacarídeos por Digestão com Papaína


(Enzimática)

Os polissacarídeos carragenanas sulfatados (PLS)


foram extraídas por digestão proteolítica (FARIAS et al., 2000).
A alga seca (5 g) foi suspensa em 250 ml de tampão acetato de
sódio 0,1 M (pH 6,0), contendo 510 mg de papaína, ácido
etilenodiamino tetra-acético (EDTA) 5 mM e cisteína 5 mM, e a
seguir, foram incubados durante 2 horas, a 60 °C.
Posteriormente, o material foi filtrado em malha fina e
centrifugado (2700 rpm; 25 min; 4 °C). Os polissacarídeos
presentes no sobrenadante do material centrifugado foram
precipitados com 16 ml de solução de cloreto de cetilpiridínio
(CPC) 10%. Logo após a precipitação, o material foi novamente
centrifugado (2700 rpm; 25 min; 4 °C), os polissacarídeos (k-
carragenana) foram lavados com 250 ml de solução de CPC

314
POLISSACARÍDEOS EXTRAIDOS DE ALGAS MARINHAS DO NORDESTE
BRASILEIRO INIBEM A LIGAÇÃO DA TOXINA DE Vibrio cholerae AO RECEPTOR
GM1 IN VITRO
0,05% e depois dissolvidos em 175 ml de solução NaCl 2 M e
etanol absoluto (100:15, v/v). Os polissacarídeos de tal mistura
foram precipitados com 300 ml de etanol absoluto. Após 24 h,
a 4°C, o precipitado foi recolhido por centrifugação (2700 rpm;
25 min; 4 °C), e lavado duas vezes com 250 ml de etanol 80%
e etanol absoluto, seguindo-se secagem por fluxo de ar quente
(60 ºC).

Drogas e Reagentes

A toxina da cólera (TxC) e o monossialogangliosídeo-


GM1 foram adquiridos junto a Sigma Chemical Company (St.
Louis, MO, USA). Todas as drogas foram dissolvidas em
solução tampão fosfato-salina (PBS) ou solução salina. Todos
os outros produtos químicos e reagentes eram de grau analítico
e obtidos a partir de fornecedores comerciais padrão.

ELISA-GM1

A capacidade de ligação dos polissacarídeos (PLS) ao


receptor GM1 foi analisada através da técnica de ELISA (GM1-
ganglioside enzyme-linked immunosorbent assay/GM1-ELISA)
como descrita e validada anteriormente por Saha e
colaboradores (2013). Uma solução (2 µg/ml) de
monosialogangliosídeo-GM1 obtido a partir de cérebro bovino
(100 µl em PBS, Sigma-Aldrich, St. Louis, USA) foi adicionada
a microplacas de 96 poços (Global Plast, China) e incubadas
overnight a temperatura ambiente. Os locais de ligação extras
foram bloqueados pela adição de 200 µl de BSA (1% p/v
dissolvido em PBS, Albumina Sérica Bovina, Sigma-Aldrich, St.

315
POLISSACARÍDEOS EXTRAIDOS DE ALGAS MARINHAS DO NORDESTE
BRASILEIRO INIBEM A LIGAÇÃO DA TOXINA DE Vibrio cholerae AO RECEPTOR
GM1 IN VITRO
Louis, USA), e incubado durante 30 min a 37 °C. Após cada
passo, as placas foram lavadas três vezes com PBS contendo
0,05% v/v de Tween 20 (etapa de lavagem). Amostras contendo
a TxC (100 ng/ml, Sigma-Aldrich, St. Louis,USA), com e sem
diferentes concentrações de PLS (1 a 500 µg/ml) foram diluídas
em série, adicionadas às placas de microtitulação e incubadas
à temperatura ambiente durante 2 h. Após a etapa de lavagem,
100 µl do anticorpo apropriado, diluído 1:2000 em PBS foi
adicionado. Para o GM1-ELISA, os anticorpos utilizados foram
o anticorpo anti-toxina da cólera produzido em coelho (Sigma-
Aldrich, St. Louis, USA), seguido de um anticorpo anti-
imunoglobulina G de coelho produzido em cabra conjugada à
uma peroxidase (GE Healthcare, Amersham Place, UK). As
placas foram então incubadas durante 1h à temperatura
ambiente, lavadas e incubadas com uma solução fresca de 3,
30, 5, 50-tetrametilbenzidina (TMB) (Sigma-Aldrich, St. Louis,
USA) durante 15 min à temperatura ambiente. A intensidade de
cor foi medida a 492 nm num leitor de ELISA (BioRad). Cada
experimento foi realizado em triplicata e validado contra uma
curva padrão de concentrações conhecidas de TxC (100 a 1,56
ng/ml) que foi utilizada para estimar a quantidade de TxC nos
poços. O controle negativo consistia de poços sem GM1
adsorvido.

Dados e Análise Estatística

Os dados referentes aos ensaios in vitro representam a


média ±EPM de três experimentos independentes realizados
em triplicata em dias diferentes. Os testes estatísticos foram
realizados no software Graphpad Prism (versão 6.0). A

316
POLISSACARÍDEOS EXTRAIDOS DE ALGAS MARINHAS DO NORDESTE
BRASILEIRO INIBEM A LIGAÇÃO DA TOXINA DE Vibrio cholerae AO RECEPTOR
GM1 IN VITRO
significância estatística das diferenças entre os grupos foi
determinada por análise unidirecional da variância (ANOVA)
seguida do teste de Student-Newman-Keuls.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inibição da ligação da TxC ao GM1-ELISA usando o PLS de H.


nigrescens e O. secundiramea in vitro

Para examinar a possibilidade do PLS de H. nigrescens


e O. secundiramea impedirem a ligação TxC-GM1, que poderia
ser devido à interação dos PLS com a TxC ou com o receptor
GM1, o teste de ELISA foi realizado inicialmente com a
incubação dos receptores GM1 com os PLS, em seguida os
poços foram lavados, e só então a TxC foi adicionada (100
ng/ml).
Os resultados mostraram que a incubação prévia dos
receptores GM1 com o PLS de H. nigrescens e O.
secundiramea (100 µg/ml) reduziram significativamente a
detecção de TxC por ELISA, o que sugere que os PLS
interagem com os receptores GM1 (Figura 1A e 1B, coluna b,
respectivamente). Este resultado foi confirmado pela
observação de que os níveis de TxC diminuíram conforme o
aumento das concentrações do PLS nos poços (1-500 µg/mL)
(Figura 1A e 1B, colunas d a i).
A TxC é uma proteína dimérica, composta por uma
subunidade A associada a cinco subunidades B. A subunidade
A é composta por dois polipeptídeos, A1 e A2, onde a
subunidade A1 contém a atividade tóxica. As subunidade B se
ligam firmemente a um receptor gangliosídeo específico, o

317
POLISSACARÍDEOS EXTRAIDOS DE ALGAS MARINHAS DO NORDESTE
BRASILEIRO INIBEM A LIGAÇÃO DA TOXINA DE Vibrio cholerae AO RECEPTOR
GM1 IN VITRO
GM1. Este está presente de forma abundante na borda ciliada
das células epiteliais (POPOFF e POULAIN, 2010). Após a
ligação do pentâmero B ao receptor GM1, a toxina é
internalizada nas células intestinais, via endocitose mediada
pelo próprio receptor GM1 (LU et al., 2005). TxC segue por
transporte retrógrado do complexo de golgi até o retículo
endoplasmático, onde TxCA é clivada, e o componente A1 é
secretado no citoplasma e induz uma cascata de sinalização,
enquanto que a subunidade A2 e a subunidade B permanecem
no retículo endoplasmático. A1 promove a ativação da AC e por
conseguinte são produzidas quantidades cada vez maiores de
AMPc nas células epiteliais intestinais, promovendo a abertura
do canal de Cl- na membrana celular, o que resulta no grande
efluxo desse íons no lúmen intestinal. Além disso, água, Na+,
K+, HCO3- e outros eletrólitos são perdidos devido ao gradiente
osmótico e elétrico causado pela perda de Cl- (Figura 2)
(MANDAL; MANDAL; PAL, 2011). O volume secretado excede
o capacidade de absorção normal do intestino e dessa forma,
ocorre a severa diarreia com desidratação, que é característica
da cólera.
Como a ligação da Txc ao GM1 é o primeiro passo na
diarreia induzida da cólera, ela é um alvo atraente para o
desenvolvimento de drogas para o tratamento e a profilaxia da
cólera (BECKER; WIDJAJA-GREEFKES; VAN WIKSELAAR,
2010). Agentes anti-adesivos, ou análogos do receptor GM1,
demonstraram ser eficazes num certo número de estudos e
oferecem uma alternativa promissora para estratégias de
tratamento convencionais. Estudos demonstram que os
receptores gangliosídeos possuem alta afinidade de ligação a
carboidratos, uma vez que a TC pode assumir a forma de um

318
POLISSACARÍDEOS EXTRAIDOS DE ALGAS MARINHAS DO NORDESTE
BRASILEIRO INIBEM A LIGAÇÃO DA TOXINA DE Vibrio cholerae AO RECEPTOR
GM1 IN VITRO
glicomimético, ligando-se a uma multiplicidade de receptores
gangliosídeos sobre o epitélio do hospedeiro, com uma maior
afinidade para GM1 (SINCLAIR et al, 2009). Exemplo disso é
o desenvolvimento de antagonistas do receptor GM1, a partir
de derivados da galactose, como o protótipo m-nitrofenil
galactosídeo (MNPG) que atua com alta afinidade na ligação
aos resíduos de ceramida do receptor GM1, impedindo a
ligação de TxC (SAHA et al, 2013; SINCLAIR et al., 2009;
SINCLAIR et al., 2008).
Como a ligação da Txc ao GM1 é o primeiro passo na
diarreia induzida da cólera, ela é um alvo atraente para o
desenvolvimento de drogas para o tratamento e a profilaxia da
cólera (BECKER; WIDJAJA-GREEFKES; VAN WIKSELAAR,
2010). Agentes anti-adesivos, ou análogos do receptor GM1,
demonstraram ser eficazes num certo número de estudos e
oferecem uma alternativa promissora para estratégias de
tratamento convencionais. Estudos demonstram que os
receptores gangliosídeos possuem alta afinidade de ligação a
carboidratos, uma vez que a TC pode assumir a forma de um
glicomimético, ligando-se a uma multiplicidade de receptores
gangliosídeos sobre o epitélio do hospedeiro, com uma maior
afinidade para GM1 (SINCLAIR et al, 2009). Exemplo disso é
o desenvolvimento de antagonistas do receptor GM1, a partir
de derivados da galactose, como o protótipo m-nitrofenil
galactosídeo (MNPG) que atua com alta afinidade na ligação
aos resíduos de ceramida do receptor GM1, impedindo a
ligação de TxC (SAHA et al, 2013; SINCLAIR et al., 2009;
SINCLAIR et al., 2008).

319
POLISSACARÍDEOS EXTRAIDOS DE ALGAS MARINHAS DO NORDESTE
BRASILEIRO INIBEM A LIGAÇÃO DA TOXINA DE Vibrio cholerae AO RECEPTOR
GM1 IN VITRO
Figura 1. Efeito do PLS de H. nigrescens (A) e O. secundiramea
(B) na ligação TxC - receptor GM1

Notas: TxC (100 ng) foi incubada sozinha (coluna c) ou com 1, 10, 50, 100,
300, ou 500 μg/ml de PLS de H. nigrescens (A) e O. secundiramea (B)
(colunas d a i, respectivamente), e a quantidade de TxC foi estimada por
GM1-ELISA. Poços revestidos com GM1 foram pré-incubadas com os PLS
(100 µg/ml), em seguida lavados e só então 100 ng de TxC foi adicionada
aos poços, sendo a quantidade de TxC estimada por ELISA (coluna b). Os
valores obtidos para 100 ng de TxC foram tomados como 100% de ligação.
Os dados apresentados são a média ± EPM de três experimentos

320
POLISSACARÍDEOS EXTRAIDOS DE ALGAS MARINHAS DO NORDESTE
BRASILEIRO INIBEM A LIGAÇÃO DA TOXINA DE Vibrio cholerae AO RECEPTOR
GM1 IN VITRO
independentes em triplicata realizados sobre as mesmas condições. * P
<0,001 vs. Coluna c. Fonte: Dados da pesquisa (2018)

Figura 2. Esquema do mecanismo de ação da toxina da cólera


(TxC) nos enterócitos.

Fonte: Adaptado de Popoff e Poulain (2010)

Com base nesses achados, investigamos se os PLS


estudados interferem na ligação da toxina ao GM1. Nossos
resultados mostraram que a pré-incubação do receptor GM1
com ambos dos PLS de H. nigrescens e O. secundiramea
321
POLISSACARÍDEOS EXTRAIDOS DE ALGAS MARINHAS DO NORDESTE
BRASILEIRO INIBEM A LIGAÇÃO DA TOXINA DE Vibrio cholerae AO RECEPTOR
GM1 IN VITRO
reduziram significativamente a ligação da TxC. De acordo com
a caracterização química de polissacarídeos sulfatados
extraídos de algas do gênero Hypnea, seus constituintes
básicos são monômeros de D-galactose sulfatados (YANG et
al., 2009; RECALDE et al., 2016). Assim, é possível que a
interação entre os monômeros de D-galactose presentes em no
PLS de H. nigrescens e GM1 bloqueiem o sítio de ligação à
toxina, validando este polissacarídeo como um possível
antagonista competitivo dos receptores GM1, fato este que
possivelmente pode ser extrapolado para o PLS de O.
secundiramea, porém como não foram encontrados relatos na
literatura sobre a composição dos polissacarídeos sulfatados da
O. secundiramea, a realização de estudos de caracterização
química deste polissacarídeo são necessários para uma futura
investição do efeito deste PLS na ligação com o receptor GM1.
Além disso, quando a TxC e os PLS foram adicionados
concomitantemente ao GM1, a ligação de GM1-TxC diminuiu
na maior parte das concentrações testadas, sugerindo
interação também entre polissacarídeos e toxina. Juntos, esses
resultados corroboram os obtidos por Costa e colaboradores
(2016) e Sousa e colaboradores (2016) que sugerem que os
polissacarídeos sulfatados extraídos das algas Gracilaria
caudata e Hypnea musciformis, respectivamente, podem
interagir tanto com GM1 como com TxC. Portanto, a influência
direta do PLS de H. nigrescens e O. secundiramea na
fisiopatologia da cólera podem oferecer uma promissora
estratégia de controle para a doença.

322
POLISSACARÍDEOS EXTRAIDOS DE ALGAS MARINHAS DO NORDESTE
BRASILEIRO INIBEM A LIGAÇÃO DA TOXINA DE Vibrio cholerae AO RECEPTOR
GM1 IN VITRO
CONCLUSÕES

Os resultados obtidos sugerem que o PLS extraído a


partir das algas marinhas Hypnea nigrescens e Ochtodes
secundiramea possuem um significativo efeito inibitório contra
a ligação da toxina da cólera com o receptor GM1 in vitro
podendo ser utilizadas futuramente como ferramentas
importantes na elaboração de novas substâncias com grande
potencial antidiarreico contra a cólera, uma vez que estudos
que investigam o efeitos desses compostos extraídos de algas
marinhas em modelos experimentais que mimetizam a diarreia
secretora da cólera ainda são escassos. Assim, essas
investigações proporcionam grandes expectativas para futuros
estudos farmacológicos mais aprofundados, na perspectiva de
um melhor entendimento de suas formas de ação e acerca de
sua toxicidade, podendo revelar substâncias naturais
encontradas no litoral nordestino com grande aplicabilidade
biotecnológica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALGAEBASE. Ochtodes secundiramea ( Montagne ) M. Howe. Disponível


em http://www.algaebase.org/search/species/detail/?species_id=5538
; acessado em 16 de novembro de 2018.
BARAHONA, T., CHANDÍA, N. P., ENCINAS, M. V., MATSUHIRO, B., &
ZÚÑIGA, E. A. Antioxidant capacity of sulfated polysaccharides from
seaweeds. A kinetic approach. Food Hydrocolloid, v. 25, n. 3, p. 529-535,
2011.
BECKER; P.M.; WIDJAJA-GREEFKES; H.C.; VAN WIKSELAAR, P.G.
Inhibition of binding of the AB5-type enterotoxins LT-I and cholera toxin to
ganglioside GM1 by galactose-rich dietary components, Foodborne
Pathog. Dis. v. 7, p. 225–233, 2010.
BOUHLAL, R. et al. Antiviral activities of sulfated polysaccharides isolated
from Sphaerococcus coronopifolius (Rhodophytha, Gigartinales) and

323
POLISSACARÍDEOS EXTRAIDOS DE ALGAS MARINHAS DO NORDESTE
BRASILEIRO INIBEM A LIGAÇÃO DA TOXINA DE Vibrio cholerae AO RECEPTOR
GM1 IN VITRO
Boergeseniella thyoides (Rhodophyta, Ceramiales). Marine Drugs, v. 9, n.
7, p. 1187-1209, 2011.
CHENG, S. X. Calcium-sensing receptor: A new target for therapy of
diarrhea. World Journal of Gastroenterology, v. 22, n. 9, p. 2711–2724,
2016.
COSTA, D. S. et al. Sulfated polysaccharide isolated from the seaweed
gracilaria caudata exerts an antidiarrhoeal effect in rodents, Basic &
clinical pharmacology & toxicology. Toxicol. v. 118, p. 440–448, 2016.
DELGADO, N. G. et al. Anti-inflammatory and antinociceptive activities of
methanolic extract from red seaweed Dichotomaria obtusata. Brazilian
Journal of Pharmaceutical Sciences, v. 49, n. 1, p. 65-74, 2013.
FARIAS, W. R.; VALENTE, A. P.; PEREIRA, M. S.; MOURÃO, P. A.
Structure and anticoagulant activity of sulfated galactans. Isolation of a
unique sulfated galactan from the red alga Botryocladia occidentalis and
comparison of its anticoagulant action with that of sulfated galactans from
invertebrates. The Journal of Biological Chemistryv, v. 275 p. 29299-
29307, 2000.
GRIGGS, D. W. et al. Pharmacologic Comparison of Clinical Neutral
Endopeptidase Inhibitors in a Rat Model of Acute Secretory Diarrhea.
Journal of Pharmacology and Experimental Therapeutics, v. 357, n. 2,
p. 423–431, 2016.
GUIMARÃES, N. R. Diversidade do gênero Hypnea (Gigartinales,
Rhodophyta) do Estado de São Paulo baseada em marcadores
moleculares e morfologia. 2011. Dissertação (Mestrado em Ciências) -
Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, São Paulo.
JESUS, P. B.; SCHNADELBACH, A. S.; NUNES, J. M. C. O gênero
Hypnea (Cystocloniaceae, Rhodophyta) no litoral do estado da Bahia,
Brasil. Sitientibus série Ciências Biológicas, v.13 p.1-21. 2014.
JIAO, G.; YU, G.; ZHANG, J.; EWART, H. S. Chemical structures and
bioactivities of sulfated polysaccharides from marine algae. Marine Drugs,
v. 9, p. 196-223, 2011.
LU, L.; KHAN, S.; LENCER, W.; WALKER, W. A. Endocytosis of cholera
toxin by human enterocytes is developmentally regulated. American journal
of physiology. Gastrointestinal and liver physiology, v. 289, p. 332-341,
2005.
MACHADO L. P. Determinação dos metabólitos com atividade antifúngica
e cultivo em biorreatores para obtenção de bioativos de Ochtodes
secundiramea e de linhagens pigmentares de Hypnea
musciformis(Rhodophyta). 2014. Tese de Doutorado - Instituto de Botânica
da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, São Paulo.
MANDAL, S.; MANDAL, M. D.; PAL, N. K. Cholera: a great global concern.
Asian Pacific Journal of Tropical Medicine, v. 4, p. 573 – 580, 2011.

324
POLISSACARÍDEOS EXTRAIDOS DE ALGAS MARINHAS DO NORDESTE
BRASILEIRO INIBEM A LIGAÇÃO DA TOXINA DE Vibrio cholerae AO RECEPTOR
GM1 IN VITRO
MOORE, S.; THOMSON, N.; MUTREJA, A.; PIARROUX, R. Widespread
epidemic cholera caused by a restricted subset of Vibrio cholerae clones.
Clinical Microbiology and Infection, v. 20, p. 373-379, 2014.
POPOFF, M. R.; POLAIN, B. Bacterial Toins and the Nervous System:
Neurotoxins and Multipotential Toxins Interacting with Neuronal Cells.
Toxins, v. 2, p. 683-737, 2010.
RECALDE, M. P.; CANELÓN, D. J.; COMPAGNONE, R. S.;
MATULEWICZ, M. C.; CEREZO, A. S. CIANCIA, M. Carrageenan and
agaran structures from the red seaweed Gymnogongrus tenuis.
Carbohydrate Polymers, v. 136, p. 1370–1378, 2016.
RIVERA, F. P., MEDINA, A. M., BEZADA, S., VALENCIA, R., BERNAL, M.,
MEZA, R., OCHOA, T. J. Bovine lactoferrin decreases cholera-toxin-
induced intestinal fluid accumulation in mice by ganglioside
interaction. PloS one, 8(4), e59253, 2013.
RODRIGUES, J.A.G. et al. Isolamento, fracionamento e avaliação
toxicológica in vivo de polissacarídeos sulftados de Hypnea musciformis.
Ciência Rural, v.41, n. 7 p. 1-7, 2011.
SAHA, P.; DAS, B.; CHAUDHURI, K. Role of 6-Gingerol in Reduction of
Cholera Toxin Activity In Vitro and In Vivo Antimicrobial agents and
chemotherapy, v. 57, p. 4373-4380, 2013.
SHAO, P.; CHEN, X.; SUN, P. In vitro antioxidant and antitumor activities of
different sulfated polysaccharides isolated from three algae. International
Journal of Biological Macromolecules, v. 62, p. 155-161, 2013.
SILVA, I.B. Algas marinhas bentônicas dos recifes e ambientes adjacentes
de Maracajaú, APA dos Recifes de Corais, RN, Brasil. 2010. (Tese de
Doutorado) - Instituto de Botânica da Secretaria de Estado do Meio
Ambiente , São Paulo.
SILVA, R. O. et al. A sulfated-polysaccharide fraction from seaweed
Gracilaria birdiae prevents naproxen-induced gastrointestinal damage in
rats. Marine Drugs, v. 10, p. 2618-2633, 2012.
SINCLAIR, H. R.; SLEGTE, J.; GIBSON, G. R.; RASTALL, R. A.
Galactooligosaccharides (GOS) Inhibit Vibrio cholerae Toxin Binding to Its
GM1 Receptor Journal of agricultural and food chemistry., v. 57, p.
3113–3119, 2009.
SINCLAIR, H. R. et al. A. Sialyloligosaccharides inhibit cholera toxin binding
to the GM1 receptor. Carbohydrate research., v. 343, p. 2589–2594,
2008.
SOUSA, N. A. et al. The efficacy of a sulphated polysaccharide fraction
from Hypnea musciformis against diarrhea in rodents. International
journal of biological macromolecules, v. 86, p. 865-875, 2016.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Geneva: Prevention and control of
cholera outbreaks: WHO policy and recommendations, p. 90-115, 2015.

325
POLISSACARÍDEOS EXTRAIDOS DE ALGAS MARINHAS DO NORDESTE
BRASILEIRO INIBEM A LIGAÇÃO DA TOXINA DE Vibrio cholerae AO RECEPTOR
GM1 IN VITRO
YANG, B.; YU, G.; ZHAO, X.; JIAO, G.; REN, S.; CHAI, W. Mechanism of
mild acid hydrolysis of galactan polysaccharides with highly ordered
disaccharide repeats leading to a complete series of exclusively odd-
numbered oligosaccharides. The FEBS Journal, v. 276, p. 2125–2137,
2009.
ZHA, X. Q.; LU, C. Q.; CUI, S. H.; PAN, L. H.; ZHANG, H. L.; WANG, J. H.;
LUO, J. P. Structural identification and immunostimulating activity of a
Laminaria japonica polysaccharide. International Journal of Biological
Macromolecules, v. 78, p. 429–438, 2015.

326
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE
RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA
CAPÍTULO 17

PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E
TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS
DE RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA
Nayara Alves de SOUSA 1
Luan Kelves Miranda de SOUZA 1
Emanuelle Morais CARVALHO 2
Esley da Silva SANTOS 3
Thiago de Souza Lopes ARAÚJO 1,4
1
Doutoranda em Biotecnologia, UFPI; 2 Graduanda em Odontologia, UESPI; 3 Graduando em
Biomedicina, UFPI; 4 Orientador/Professor da UFPI.
nayaraalvesdesousa2@gmail.com

RESUMO: Muitos peptídeos relacionados estruturalmente com


a bombesina foram descobertos a partir da pele de anfíbios, e
denominados como fazendo parte da “família bombesina”. Nos
estudos referentes à bioprospecção tecnológica, pesquisas que
mostrem as propriedades já descritas de peptídeos similares a
bombesina, oriundos da secreção cutânea de anfíbios,
representam uma ferramenta bastante útil. Assim, constituem-
se como meios sistemáticos de disponibilização de informações
científicas, que assumem um importante papel de informação
de base para orientação no desenvolvimento de novas
tecnologias, para obtenção de novas biomoléculas, além de
permitir uma variação sistemática da estrutura, necessária para
o desenvolvimento de peptídeos de uso terapêutico. Nesta
prospecção, objetivou-se realizar um estudo sobre as
pesquisas já desenvolvidas e patenteadas para peptídeos
extraídos de rãs, especialmente peptídeos análogos a
bombesina. Para isso, foram obtidas informações sobre
documentos de patentes nas bases de dados PubMed, Web of
ScienceTM e Scopus e Scielo, bem como sobre patentes nas
bases USPTO, EPO, WIPO e INPI, com o uso de palavras-
327
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE
RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA
chave, em conjunto com símbolos de truncatura e operadores
boleanos específicos, sempre utilizados no campo de busca
relativo ao resumo dos trabalhos. Desse modo, verificou-se que
nas bases de dados não há expressivos pedidos de depósito de
patentes envolvendo a temática em análise. Isso demonstra
que há grandes oportunidades de pesquisa envolvendo
peptídeos extraídos de rãs, especialmente análogos a
bombesina.
Palavras-chave: Peptídeo. Rã. Bombesina.

INTRODUÇÃO

As toxinas naturais advindas de animais, bactérias,


fungos ou plantas permitiram aos cientistas entender
fenômenos complexos ligados a biologia celular e molecular e
a eletrofisiologia, possibilitando que algumas estruturas
biológicas fossem identificadas, isoladas e clonadas tais como
enzimas, receptores e canais iônicos, favorecendo a indústria
farmacêutica na produção de drogas mais eficazes e de maior
seletividade no tratamento de doenças complexas (RONG et
al., 2018).
Dentre os vertebrados, os anfíbios da ordem Anura,
representam um verdadeiro laboratório de bioquímica, tendo
em vista as toxinas que produzem. Nas células que revestem
as paredes de glândulas granulares existentes na pele desses
animais é produzida uma variedade de princípios ativos que
envolvem moléculas alifáticas, aromáticas e heterocíclicas,
além de uma diversificada gama de esteróides, alcalóides,
aminas biogênicas, derivados guanidínicos, proteínas e
peptídeos bioativos, os quais são liberados mediante estímulos
adequados (BRUNETTI et al., 2018).

328
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE
RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA
De particular importância, as famílias de peptídeos são
bem estudadas e são agrupadas especialmente de acordo com
sua estrutura primária e/ou espectro de atividade biológica.
Além disso, o estudo de tais peptídeos encontrados em altas
concentrações em anfíbios pode contribuir para a identificação
e a determinação de atividades de análogos encontrados em
mamíferos (CARRIERI et al., 2017).
A bombesina é um peptídeo composto por 14
aminoácidos, inicialmente isolado da pele da rã Bombina
bombina, em 1971. Este peptídeo está ativo também em
mamíferos e seus efeitos farmacológicos se estendem entre
vários aspectos fisiológicos: ação hipertensiva, efeitos sobre a
contração uterina, cólon ou íleo, ação estimuladora da secreção
de gastrina, efeito hiperglicemiante ou aumento da secreção de
insulina. Muitos outros peptídeos relacionados estruturalmente
com a bombesina foram descobertos a partir da pele de
anfíbios, e denominados como fazendo parte da “família
bombesina” (TSAI et al., 2015). Mais de trinta peptídeos
relacionados a bombesina foram identificados da pele de
anfíbios (YAN et al., 2012).
O primeiro análogo mamífero da bombesina, nomeado
peptídeo liberador de gastrina, em inglês gastrin-releasing
peptide (GRP) pela sua potente atividade liberadora de
gastrina, foi caracterizado quimicamente a partir do tecido
gástrico de suínos. Este peptídeo é composto por 27
aminoácidos e sintetizado a partir de 148 aminoácidos
precursores, no núcleo neuronal. Ele tem em comum com a
bombesina nove de dez aminoácidos C-terminais. Também em
suínos, porém na medula espinhal, foi identificado outro
peptídeo similar, denominado Neuromedina B (NMB), com
potente ação estimuladora da musculatura lisa. Essa família de

329
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE
RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA
peptídeos (BLP – Bombesin-like peptides) afetam a proliferação
e diferenciação celular, assim como vias neuroendócrinas
(ROESLER et al., 2006).
Até o momento, foram reconhecidos 3 classes de
receptores para peptídeos bombesina-símiles em mamíferos:
uma de 384 aminoácidos, que tem preferência pelo GRP, uma
de 390 aminoácidos, que tem preferência pela NMB, e uma de
399 aminoácidos, denominado receptor órfão, chamado de
bombesinreceptor-subtype-3 (BRS-3) ou receptor BB3, que tem
47-52% de homologia com GRP e NMB (MOODY et al., 2018).
O GRP e a neuromedina B mostraram ter efeitos
similares àqueles descritos para a bombesina, diferindo na
potência relativa em função do efeito estudado. Assim,
apresentam um largo espectro de atividades biológicas e
farmacológicas, podendo atuar na termo e glicorregulação, na
regulação do comportamento e na regulação de secreções
endócrinas e exócrinas. Além disso, em alguns modelos de
culturas de células, esses peptídeos bombesina-similes
parecem funcionar como fatores de crescimento autócrinos.
Vários estudos estão sendo feitos a fim de testar se o uso de
antagonistas destes peptídeos poderia ter aplicação clínica no
tratamento de tumores como o carcinoma pulmonar de células
pequenas. O GRP e seu receptor são expressos em células de
diversas regiões do corpo humano, incluindo as do sistema
digestório, nervoso central e periférico, pâncreas, útero, bexiga,
musculatura lisa do trato digestivo e são expressos de forma
aberrante em células tumorais, atuando como um fator de
crescimento tumoral (CORNELIO et al., 2007).
Diante disso, estudos que mostrem o conhecimento
científico e tecnológico já descrito sobre os efeitos de peptídeos
extraídos de rãs, bem como análogos a bombesina, constituem

330
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE
RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA
uma ferramenta de grande utilidade, uma vez que representam
meios sistemáticos de informação capazes de influenciar a
indústria, a economia ou a sociedade. Assim, este trabalho tem
por objetivo realizar um estudo sobre as pesquisas já
desenvolvidas e patenteadas para peptídeos extraídos de rãs,
com ênfase em análogos da bombesina.

MATERIAIS E MÉTODO

Para a produção deste estudo, foi realizada uma


prospecção de artigos científicos publicados nas bases
PubMed, Web of ScienceTM, Scopus e Scielo. Além disso, foi
realizada prospepecção tecnológica a partir da análise de
pedidos de depósitos de patentes dispostos nos bancos de
dados internacionais USPTO (United States Patent and
Trademark Office), EPO (European Patent Office), WIPO
(World Intellectual Property Organization) e INPI (Instituto
Nacional de Propriedade Industrial).
As pesquisas coletas nas bases de dados de artigos
científicos e patentes foram realizadas em maio de 2018, sem
definição de prazo para busca, sendo conduzida de forma a
abranger todos os trabalhos e documentos de patentes
disponíveis para consulta até o presente momento. Para o
levantamento da pesquisa utilizou-se como palavras-chave os
termos descritivos: peptide, frog, analog e bombesin. Tais
palavras-chaves foram utilizadas em conjunto com símbolos de
truncatura como asterisco e aspas e os operadores booleanos
como and no campo de pesquisa “resumo”. A combinação
desses termos foi escolhida por fornecer um quantitativo de
documentos de patentes e artigos científicos adequados e
satisfatórios para o objetivo do trabalho.

331
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE
RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados da prospecção tecnológica apresentados


fazem referência, a todos os artigos científicos já publicados e
todos os depósitos de documentos de patentes realizados
sobre a pesquisa proposta. Assim, quanto aos artigos
científicos, considerou-se a abordagem temática da publicação,
e em relação as patentes foi analisado o ano, país de depósito
e a Classificação Internacional de Patentes (CIP), com
resultados alcançados como demonstrado na tabela 1.

Tabela 1. Resultados obtidos em consultas em bases de dados


de artigos científicos e patentes.

Base de Dados Peptide and frog Bombesin and analog

PubMed 15.791 204


Web of ScienceTM 616 272
Scopus 2.133 718
Scielo 4 2
USPTO 2 11
EPO 59 22
WIPO 15.894 42
INPI - -
Fonte: autoria própria (28/05/2018).

No primeiro momento, a consulta à base de dados


PubMed retornou 15.791 trabalhos publicados envolvendo os
termos ‘peptídeo’ e ‘rã’. As publicações são relacionadas a
descoberta de novos peptídeos extraídos a partir da secreção
cutânea de anfíbios (rãs), como biomoléculas, destancando-se

332
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE
RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA
a descoberta de ação hepatoprotetora, neuroprotetora, contra o
câncer, anti-inflamatória e principalmente atividade
antimicrobiana (LONG et al., 2018; RONCEVIC et al., 2018;
MENIF et al., ZENG et al., 2018; SIANO et al., 2018).
A busca envolvendo os termos associados ‘bombesina’
e ‘análogo’ na mesma base de dados, revelou a existência de
204 trabalhos publicados. Nas descrições, destaca-se
principalmente a menção de peptídeos análogos a bombesina,
como o peptídeo liberador de gastrina (MARSOUVANIDIS et
al., 2013). Além disso, há destaque para os eventos
moleculares desencadeados pela ativação de receptores de
bombesina em diferentes tipos de malignidades, os quais estão
sendo explorados recentemente, e novas pistas foram
fornecidas para uma melhor compreensão dos papéis
biológicos da expressão anormal de receptores de bombesina
em tumores (HEIDARI et al., 2015).
Na base de dados Web of ScienceTM foram apontados
616 registros de artigos científicos publicados envolvendo os
termos ‘peptídeo’ e ‘rã’. As publicações referem-se
majoritariamente, ao reporte de caracterização e investigação
de atividades biológicas como ação antimicrobiana e
anticâncer, aplicáveis, na maioria das publicações, como
alternativa terapêutica (YUAN et al., 2018; LEBER et al., 2018).
Há ainda a descrição do uso de peptídeos para cicatrização de
feridas cutâneas (WU et al., 2018). Na busca associada dos
termos ‘bombesina’ e ‘análogo’ foram encontrados na base de
dados Web of ScienceTM 272 registros. Vale destacar
pesquisas recentes direcionadas a preparação de composição
farmacêutica para o tratamento de condições inflamatórias e
imunes, em particular sepse, dano agudo de pulmão, e artrite
reumatóide assim como para o tratamento de distúrbios do

333
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE
RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA
cérebro (GAJJAR et al., 2017). Além disso, os pesquisadores
constataram a inibição de células de câncer cerebral cultivadas
em laboratório, usando moléculas sintéticas similares à
bombesina (GUO et al.,2015).
Os resultados retornados para a pesquisa de artigos
científicos realizada na base Scopus indicaram 2.133 trabalhos
para ‘peptídeo’ e ‘rã’ e 718 pesquisas para a busca associada
por ‘bombesina’ e ‘análogo’. Percebe-se novamente a busca
pelas atividades biológicas já citadas para a pesquisa na base
de dados Web of ScienceTM. Além disso, é importante ressaltar
pesquisas que descatam a atividade miotrópica de peptideos
relacionados a bombesina apresentando efeitos de
contratilidade no músculo liso do estômago (YAN et al., 2012).
Na base de dados Scielo, os registros retornados
apontam situação bastante semelhante à observada na base de
dados Web of ScienceTM, PubMed e Scopus tendo sido
retornados 4 resultados para a busca associada ‘peptídeo’ e ‘rã’
e 2 resultados para a busca por ‘bombesina’ e ‘análogo’. No que
se refere aos artigos científicos que envolvam a associação de
termos ‘peptídeo’ e ‘rã’, percebe-se, novamente, a ocorrência
de descrições sobre a atividade biológica, principalmente
antimicrobiana e caracterização dos novos peptídeos. As
publicações científicas nesta base de dados envolvendo a
busca associada dos termos ‘bombesina’ e ‘análogo’ apontou
mais uma vez investigação contra o câncer, ou seja, a busca de
um peptídeo análogo a bombesina contra o câncer de próstada
e também artigo de revisão sobre o tema enfatizando a
regulação da secreção adeno-hipofisária.
Em relação aos documentos de patentes relacionados ,
a busca a partir dos dados coletados na base de dados
americana USPTO, os registros retornados apontam 2

334
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE
RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA
resultados envolvendo a associação de termos ‘peptídeo’ e ‘rã’,
datados de 1994 e 1998. Estados Unidos e China são os
detentores de tais documentos de patentes. Os resultados
fazem referência a proteção de processo para isolar, identificar
e utilizar um novo peptídeo biologicamente ativo com ação
natriurética, além da proteção de peptídeos com potente
atividade antagonista e agonista em receptores de
melanocortina. Ambos documentos estão inseridos na
Classificação Internacional de Patentes (CIP) C07K relativa a
peptídeos. Devido a baixa proporção de resultados, dados
gráficos não foram apresentados.
A busca na mesma base de dados, registrou 11
documentos para a busca dos termos combinados ‘bombesina’
e ‘análogo’. A pesquisa no USPTO procedeu-se verificando a
evolução anual de depósitos de patentes, onde a produtividade
em inovação envolvendo a temática em análise concentra-se a
partir do ano de 1992 até 2015, como mostra na figura 1.
Contudo, na última década houve um baixo número de pedidos
de depósito, pois nesse período apenas 1 pedido de patente foi
realizado, enquanto que 92% do total dos resultados ocorreu de
1992 a 2006. A queda nos registros de patentes na última
década pode está diretamente relacionada com a crise
financeira mundial, a qual ocasionou uma queda de 3,6% nos
registros de patentes no mundo.

Figura 1. Resultados registrados para a busca pela


combinação de palavras-chaves ‘bombesina e análogo’ na base
de patentes USPTO, quanto aos períodos ou anos de
ocorrência dos depósitos dos pedidos de patente.

335
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE
RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA

3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
1992 1993 1995 1998 1999 2000 2001 2006 2015
F

Fonte: autoria própria (28/05/2018).

Além disso, no que se refere aos países de depósito,


percebe-se que os Estados Unidos (77%) são o país com maior
número de pedidos de depósito de patentes envolvendo os
termos em questão, seguidos de Japão, Canadá e Alemanha.
Assim, fica evidente o potencial tecnológico dos Estado Unidos
em proteção e no uso de peptídeos extraídos de rã para
pesquisas tecnológicas.
Os resultados retornados para os termos ‘bombesina’ e
‘análogo’ apontam descrições envolvendo potenciais atividades
farmacológicas de peptídeos extraídos de rã, análogos a
336
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE
RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA
bombesina que apresentam as mesmas funcionalidades no
combate ao câncer ou que podem ser úteis como fármacos
atuando como agonistas dos receptores de bombesina. Além
disso, apontou um método que pode ser aplicado à fertilização
in vitro ou inseminação artificial, utilizando um peptídeo análogo
a bombesina. Em relação a CIP, 54,54% das patentes
classificaram-se na área A61K (preparações para finalidades
médicas, odontológicas ou higiênicas) e 45,45% na área C07K.
Na base de patentes europeia EPO, quando se utilizou
as palavras-chaves combinadas ‘peptideo’ e ‘rã’ pode-se
encontrar um total de 59 documentos de patentes. A pesquisa
procedeu-se no sentido de verificar a evolução anual de
depósitos de patentes (figura 2). Assim, verificou-se um
aumento do número de depósitos a partir do ano de 2005. O
ano de 2007 deteve o maior número de patentes (15%), seguido
pelo ano de 2012 (8%). Além disso, de 2007 a 2017 somam-se
40 pedidos de depósito de patentes ao EPO, o que corresponde
a 68% do total de documentos de patentes, demonstrando que
nos últimos anos houve um aumento na produtividade em
inovação envolvendo peptídeos extraídos de rã.

Figura 2. Resultados registrados para a busca pela


combinação de palavras-chaves ‘peptideo’ e ‘rã’ na base de
patentes EPO, quanto aos períodos de depósitos de patente.

337
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE
RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA

9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
1975 1990 1998 2001 2005 2007 2009 2012 2014 2016

Fonte: autoria própria (28/05/2018)

Quando analisada a Classificação Internacional de


Patentes (CIP), a maior proporção (80%) de registros dentre
todas as demais classes foi incluída nas categorias de
classificação C07 e A61, o que faz referência à área química e
a ciência médica, respectivamente. Além disso, 6% das
patentes estão inseridas na classe C12, relativa a bioquímica,
conforme visto na figura 3.

Figura 3. Resultados registrados para a busca pela associação


de termos ‘peptideo’ e ‘rã’ na base de patentes EPO, quanto à
CIP.

338
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE
RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA

30

25

20

15

10

0
C07 A61 C12 A23 A01 A21 C40

Fonte: autoria própria (28/05/2018)

Na base de dados europeia EPO, a busca pelo termo


associado ‘bombesina’ e ‘análogo’ retornou 22 registros de
patentes, com evolução anual a partir de 1989 até 2017. A
classificação internacional mais citada foi a A61 (ciência
médica) seguida pela C07 (química orgânica), perfazendo um
total de 78% e 22% respectivamente, mostrando que peptídeos
análogos a bombesina vêm sendo estudados com a perspectiva
de gerar produtos com potencial terapêutico.
Na base mundial WIPO, a busca pela associação entre
‘peptídeo’ e ‘rã’ retornou 15.894 resultados. O maior número de
produção de tecnologia protegida por patente envolvendo o
termo ‘peptídeo’ e ‘rã’ foi depositado nos EUA, por meio do
Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes (PCT), no
Canadá, no Escritório Europeu de Patentes (EPO) e na
Austrália, representando 98% do total de depósitos disponíveis
nesta base de dados (figura 4).

339
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE
RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA
Figura 4. Resultados retornados para a busca pela associação
de termos ‘peptídeo’ e ‘rã’ na base de patentes WIPO, quanto
aos países de depósito dos pedidos de patente.

8000
6000
4000
2000
0

Fonte: autoria própria (20/05/2018).

Na Figura 5, nota-se que os registros de patentes


envolvendo a associação ‘peptídeo’ e ‘rã’ iniciaram a partir do
ano de 2007, de forma que o ano de 2011 foi o mais produtivo
em relação aos pedidos de depósito, embora a partir desta data
tenha havido um decréscimo no número de patentes.

Figura 5. Resultados retornados para a busca pela associação


de termos ‘peptídeo’ e ‘rã’ na base de patentes WIPO, quanto a
evolução anual de depósitos de pedidos de patentes.

340
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE
RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA

900
800
700
600
500
400
300
200
100
0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fonte: autoria própria (20/05/2018).

No que se refere a CIP (figura 6), nota-se que a maior


parte dos pedidos de depósito de patente foram incluídos nas
seguintes categorias de classificação: A61K, C07 e C12N
(micro-organismos ou enzimas; suas composições;
propagação, conservação, ou manutenção de micro-
organismos; engenharia genética ou de mutações; e meios de
cultura).

341
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE
RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA
A busca na mesma base de dados pelos depósitos de
pedidos de patentes envolvendo os termos associados
‘bombesina’ e ‘análogo’ retornou 42 resultados. Desses, os
Estados Unidos é o país com maior detenção de tecnologias,
apresentando 16 resultados, seguidos da Austrália, Canadá,
PCT e EPO. Os documentos de patentes encontram-se
depositados em maior proporção nas classes da CIP A61K,
C07C, C07D e C07K, relativas, respectivamente a preparações
para finalidades médicas, odontológicas ou higiênicas (com a
maior proporção de registros em relação as demais
classificações); compostos acíclicos ou carbocíclicos;
compostos heterocíclicos; e peptídeos, respectivamente. A
evolução anual concentrou-se partir do ano de 2007 até o ano
de 2014, ou seja, não houve registros nos quatro últimos anos

Figura 6. Resultados retornados para a busca pela associação


de termos ‘peptídeo’ e ‘rã’ na base de patentes WIPO, quanto à
CIP.

10000

8000

6000

4000

2000

0
A61K C07K C12N G01N C12Q A61P C12P C07H A01K C07D

342
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE
RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA

Fonte: autoria própria (20/05/2018).


A busca pela associação dos termos ‘peptideo’ e ‘sapo’
e ‘análogo’ e ‘bombesina’, realizada na base de patentes
nacional do INPI não retornou resultados para o campo resumo.
Isto mostra que apesar do Brasil possuir a maior diversidade
genética do planeta, há pouco investimento nacional em
inovação, pesquisa e desenvolvimento de tecnologias.

CONCLUSÕES

Os resultados expostos neste trabalho apontam que,


embora a produção científica em artigos envolvendo a temática
em análise seja abundante, pouco tem sido aplicado no
desenvolvimento de tecnologias, já que o número de pedidos
de depósitos de patentes é consideravelmente menor em
relação ao número de publicações científicas. Assim, mostra-se
relevante a pesquisa visando à descrição da atividade biológica
de peptídeos extraídos de rãs, especialmente peptídeos
análogos a bombesina, tendo em vista o fato de não haver
expressivos pedidos de depósito de patentes envolvendo a
temática em análise.
Vale destacar que o Brasil não possui nenhum pedido de
depósito referente a esses termos, isso reflete a ausência de
investimento nacional em pesquisas, inovação e

343
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE
RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA
desenvolvimento de tecnologias, tendo em vista que o Brasil é
considerado o país com maior biodiversidade do planeta. Diante
disso, faz-se necessário incentivar a inovação e a tecnologia
que estão em execução no país com o objetivo de melhor
interligar a academia, com as indústrias de um modo geral,
tornando o Brasil um país mais competitivo do ponto de vista
mercadológico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRUNETTI, A. E.; MARANI, M. M.; SOLDI, R. A.; MENDONÇA, J. N.;


FAIVOVICH, J.; CABRERA, G. M.; LOPES, N. P. Cleavage of Peptides
from Amphibian Skin Revealed by Combining Analysis of Gland Secretion
and in Situ MALDI Imaging Mass Spectrometry. American Chemical
Society. v. 3, p. 5426-5434, 20178.
CARRIERE, A.; LACIVITA, E.; BELVISO, B. D.; CALIANDRO, R.;
MASTRORILLI, P.; GALLO V.; NISO, M., LEOPOLDO, M. Structural
Determinants in the Binding of BB2 Receptor Ligands: In Silico, X-Ray and
NMR Studies in PD176252 Analogues. Current Topics in Medicinal
Chemistry. v. 17, p. 1599 – 1610, 2017
CORNELIO, D.; ROESLER, R.; SCHWARTSMANN, G. Gastrin-releasing
peptide receptor as a molecular target in experimental anticancer therapy.
Ann Oncol. v.18, p. 1457-1466, 2007.
GAJJAR, S.; PATEL, B. M. Neuromedin: An insight into its types, receptors
and therapeutic opportunities. Institute of Pharmacy, Nirma University,
Ahmedabad, India, 2017.
GUO, M.; QU, X.; QIN, X. Bombesin-like peptides and their receptors:
recent findings in pharmacology and physiology. Curr Opin Endocrinol
Diabetes and Obesity. v. 22. p. 3–8, 2015.
HEIDARI, Z.; SALOUTI, M.; SARIRI, R. Breast cancer photothermal
therapy based on gold nanorods targeted by covalently-coupled bombesin
peptide. Nanotechnology. v. 26, 2015.
LEBER, R.; PACHLER, KABELKA, I.; VACHA, R.; LOHNER, K. PABST, G.
Synergism of Antimicrobial Frog Peptides Couples to Membrane Intrinsic
Curvature Strain. Biophysical Journal. v. 114, p. 1945-1954, 2018.
LONG, Q.; LI, L.; WANG, H.; LI, M.; WANG, L.; ZHOU, M.; SU, SU, Q.;
CHEN, T.; WU, Y. Novel peptide dermaseptin‐PS1 exhibits anticâncer
activityvia induction of intrinsic apoptosis signalling. Journal of Cellular and
Molecular Medicin. p. 1-13, 2018.

344
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE
RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA
MARSOUVANIDIS, P. J.; MAINA, T.; SALLEGGER, W.; KRENNING, E. P.;
JONG, M.; NOCK, B. A. Tumor diagnosis with new 111In-radioligands
based on truncated human gastrin releasing peptide sequences: synthesis
and preclinical comparison. Journal of Medicinal Chemistry. v. 56, p.
579–8587, 2013.
MENIF, E. E.; OFFRET, C.; LABRIE, S.; BEAULIEU, L. Identification of
Peptides Implicated in Antibacterial Activity of Snow Crab Hepatopancreas
Hydrolysates by a Bioassay-Guided Fractionation Approach Combined with
Mass Spectrometry. Probiotics Antimicrob Proteins. p. 1-11, 2018.
MOODY, T. W.; ALVAREZ, I. R.; JENSEN, R. T. Neuropeptide G Protein-
Coupled Receptors as Oncotargets. Frontiers in Endocrinology. v. 9. 2018.
Pingbianensis. Biochimie. v. 94, p. 1718 -1723, 2012.
ROESLER, R.; HENRIQUES, J. A. Schwartsmann G. Gastrin-releasing
peptide receptor as a molecular target for psychiatric and neurological
disorders. CNS Neurol Disord Drug Targets. v. 5, p. 197- 204, 2006.
RONCEVIC, T.; GERDOL, M.; SPAZZALI, F.; FLORIAN, F.; MEKINIC, S.;
TOSSI, A.; PALLAVICINI, A. Parallel identification of novel antimicrobial
peptide sequences from multiple anuran species by targeted DNA
sequencing. BMC Genomics. v. 19, p. 827, 2018.
RONG, M.; LIU, J.; LIAO, Q.; LIN, Z.; WEN, B.; REN, Y.; LAI, R. The
defensive system of tree frog skin identifed by peptidomics and RNA
sequencing analysis. Amino Acids. v. , p. 2018.
SIANO, A.; HUMPOLA, M. V.; OLIVEIRA, E.; ALBERICIO, F.;
SIMONETTA, A. C.; LAJMANOVICH, R.; TONARELLI, G. G. Leptodactylus
latrans Amphibian Skin Secretions as a Novel Source for the Isolation of
Antibacterial Peptides. Molecules. v. 23, p. 2943. 2018.
TSAI, C. C.; CHANG, L. C.; LINS, K. J.; TEY, S. L.; SU, Y. T.; LIU, W. L.;
TSAI, T. R.; HUANG, S. C. Mechanism of bombesin-induced tonic
contraction of the porcine lower esophageal sphincter. Scientific Reports.
v. 5, p. 15879-89, 2015.
WU, J., YANG, J.; WANG, X.; WEI, L.; MI, K.; SHEN, Y.; LIU, T.; YANG, H.;
UM, L. A frog cathelicidin peptide effectively promotes cutaneous wound
healing in mice. Biochemical Journal. 2018.
YAN, H.; WEI, L.; HE, X.; LIU, H.; YANG, S.; LAI, R.; RAO, D. A novel
myotropic peptide from the skin secretions of the tree frog, Polypedates
YUAN, J.; YOU, X.; NI, G.; WANG, T.; CAVEZZA, S.; XUAN, P.; LIU, X.
Iodine-125 labeled Australian frog tree host-defense peptides caerin 1.1
and 1.9 better inhibit human breast I25 cancer cells growth than the
unlabeled peptides. I-caerin 1.9 may betterbe used for the treatment of
breast câncer. Hellenic Journal of Nuclear Medicine. v. 21, p. 115-120 ,
2018.
ZENG, B.; CHAI, J.; DENG, Z.; YE, T.; CHEN, W.; LI, D.; CHEN, X.; CHEN,
M.; XU, X. Functional characterization of A Novel Lipopolysaccharide-
345
PROSPECÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA: PEPTÍDEOS EXTRAÍDOS DE
RÃS ANÁLOGOS A BOMBESINA
binding Antimicrobial and Anti-inflammatory Peptide in vitro and in vivo. J
Med Chem. 2018.

346
A SÍNTESE VERDE DE NANOPARTÍCULAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA
CAPÍTULO 18

A SÍNTESE VERDE DE NANOPARTÍCULAS:


UMA REVISÃO DE LITERATURA

Lisleia Brito LIMA 1,6


Janyere Alexandrino de SOUSA 2,6
Vitorugo dos Santos ROCHA 1,6
Saul Barbosa de OLIVEIRA 4,5,6
Isabela de Souza BRAÚNA 3,4,5,6,7,8
1
Graduando (a) do curso de bacharelado em Fisioterapia, UFPI; 2 Graduando (a) do curso
de bacharelado em biomedicina, UFPI; 3 Professora de estágio UNINASSAU polo Parnaíba; 4
Graduado (a) em bacharelado em fisioterapia pela UFPI; 5 Aluno (a) do programa de pós-
graduação em ciências biomédicas; 6 Membro do laboratório de Morfologia e Fisiologia
Muscular, LaMFiM – UFPI; 7 Aluna da pós-graduação em Fisioterapia Dermatofuncional e
Cosmetologia, INSPIRAR 8 Orientadora .

RESUMO: Nanotecnologia significa qualquer tecnologia que


envolva materiais nanométricos, as chamadas nanopartículas,
provenientes de vários materiais. Nos últimos anos elas tem
sido amplamente exploradas devido suas diversas aplicações
em vários setores. Com isso, fez-se necessário métodos de
sintetização e redução desses nanomateriais altamente
reativos e instáveis. No entanto, os processos normalmente
empregados, são na sua maioria, poluentes tóxicos tanto para
o meio ambiente quanto para a saúde humana, além de
necessitarem de um alto valor financeiro. Portanto, fez-se
necessária a busca por outras técnicas que lidam com produtos
químicos, atóxicos, biodegradáveis e de baixo custo
denominadas como síntese verde. Sendo assim, o presente
estudo buscou apresentar informações com o intuito de
contribuir para a divugação dessas técinas inovadoras. De
forma que foram analizados e comparados 21 artigos que
envolveram a síntese verde de nanopartículas metálicas (de
preferência de Prata e Ouro), e que os mesmos estudos
também analizassem as propriedades antimicrobianas desses
347
A SÍNTESE VERDE DE NANOPARTÍCULAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA
nanomateriais. À vista disso, observou-se que esses
biopolímeros possuem a capacidade de agirem como redutores
e estabilizadores dessas nanopartículas além de comprovarem
que as mesmas possuem propriedades antibactericida,
antifúngica e até mesmo anticancerígena, capacidades essas
que foram ampliadas com o uso desses biopolímeros. Por
possuírem um baixo gasto de energia, serem uma matéria
prima renovável e de baixo custo, esses recursos comprovaram
sua viabilidade.
Palavras-chave: Síntese verde. Nanopartículas. Biopolímeros.

INTRODUÇÃO

Nanotecnologia significa qualquer tecnologia em


nanoescala com aplicações que englobam a produção e
aplicação de materiais de unidade submétrica, tanto na
nanoeletrônica, quanto na saúde, indústrias, energia, setor
alimentício, e outros. Para isso são utilizadas as
nanopartículas, que correspondem a um agregado de átomos
ligados, entre 1 e 100 nm e de alta instabilidade e reatividade.
(BURSHAN, 2016)
Esses nanomateriais são amplamente utilizados devido
suas propriedades de grande área e volume, (CASANOVA,
2010) que os permitem aptidão para diversas aplicações como
sensores, catalizadores, agentes anticancerígenos,
antimicrobianos e antifúngicos e outros. (JOSÉ, et al., 2015)
Sua síntese é feita por diversos meios, sejam químicos,
físicos ou biológicos (CHAUDHRY,et al., 2018). Algumas das
técnicas utilizadas são a “top down” e a “bottom-up”. A primeira,
constitui-se da eliminação da matéria macroestruturada, por
meio de nanolitografia ou da moagem de alta energia até que
estas moléculas alcancem o tamanho nanométrico. A segunda,
promove a comunicação entre os átomos e possibilita o maior
348
A SÍNTESE VERDE DE NANOPARTÍCULAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA
manejo dessas estruturas, sendo assim, a mais utilizada.
(SILVA, et al., 2013).
Também há métodos que envolvem a redução de sais
metálicos em um solvente na presença de um agente redutor
ou estabilizador (SANTIN, et al., 2016). Esses líquidos na
maioria dos casos são tóxicos, que durante o procedimento
produzem remanescentes danosos tanto para a saúde quanto
para o meio ambiente, além de ocasionar uma alta utilização de
energia. (SILVA, et al., 2013). A estabilização desse
componente é crucial pois evita a aglomeração dessas
partículas, e promove um maior domínio sobre suas
propriedades. (SANTIN, et al., 2016). É nesse componente que
surgem possíveis recursos sustentáveis por meio da síntese
verde.
Síntese verde é a intitulação das rotas que lidam com
produtos químicos, na maioria atóxicos, biodegradáveis e de
baixo custo usados na síntese de nanomateriais e dispondo de
origem ou iniciador biológico, completo ou de parte. (SILVA, et
al., 2013)
Alguns exemplos já utilizados são: produtos animais e
vegetais, algas, fungos, bactérias, e outros descendetes de
processamento agropecuários, (SILVA, et al., 2013) também
conhecidos como biopolímeros e polímeros biocompatíveis que
agem como estabilizante ou redutor (SANTIN, et al., 2016)
O baixo gasto de energia, junto à reação conduzida à
pressão e a temperatura ambiente por meio de uma matéria
prima renovável e economicamente viável são atrativos dessa
área. (LUGÂO; MORSELLI, 2018). Portanto, o presente estudo
objetiva analisar e comparar diversos métodos de biopolímeros
e polímeros biocompatíveis utilizados na síntese de
nanopartículas e disponíveis na literatura, na concepção de
colaborar em novos estudos a cerca desse tema.
349
A SÍNTESE VERDE DE NANOPARTÍCULAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA

MATERIAIS E MÉTODO

Para a promoção desta revisão de literatura, foi realizada


uma investigação por artigos científicos nas bases de dados
PubMed, Periódicos CAPES e Scielo sendo aplicados os
termos em inglês “green synthesis”, “golde and silver” e
“nanoparticles” e em português “síntese verde”, “ouro e prata” e
“nanopartículas”.
No PubMed foram encontrados 151 artigos em um
primeiro momento, quando a busca foi filtrada para os últimos
5 anos o número caiu para 115, e depois, para o ano de 2016
até o momento em que essa revisão foi feita, esse número caiu
para 83. Após passar pelos critérios de exclusão, 15 artigos
dessa plataforma foram selecionados.
No Scielo, na opção método foi inserida “Google
Acadêmico” e na opção onde, Brasil, com os termos em inglês.
No geral foram encontrados 178 artigos, e quando a busca foi
filtrada para o ano de 2018, 31 artigos restaram. No entanto,
nenhum destes foi selecionado devido os critérios de exclusão.
O processo foi refeito com as palavras-chaves em português, e
foram encontrados 231 artigos. Destes, 4 foram selecionados.
E no Periódicos CAPES, foram filtrados 11 artigos dos quais 2
foram selecionados. Desta forma, 21 artigos foram utilizados
nesta revisão.
Os critérios de inclusão foram artigos publicados até no
máximo nos últimos 2 anos e que abrangessem pesquisas que
relacionassem a síntese verde das nanopartículas com o teste
de alguma propriedade desses nanomateriais (antibactericida,
antifúngica, anticancerígena) , ou seja, a utilização das
mesmas na promoção da saúde humana. Enquanto os critérios
de exclusão foram aqueles artigos publicados antes do ano de
350
A SÍNTESE VERDE DE NANOPARTÍCULAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA
2016 e com estudos focados na avaliação biológica que
envolvessem os aspectos e caracterização das nanopartículas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A nanotecnologia refere-se a tecnologia em nanoescala,


ou seja, a síntese de materiais entre 1 a 100nm, (VIJAYAN,
JOSEPH, MATHEW, 2017) e é uma área que cada vez mais
tem despertado o interesse da comunidade científica, o que
expande os investimentos e portanto as pesquisas nesse
âmbito. (SANTIN, et al., 2016).
Na indústria de cerâmicas, por exemplo, esse material
colabora à melhor repartição das combinações, que culminam
numa qualidade superior do produto (SOARES, et al., 2013).
Suas aplicações entretanto, envolvem muito mais. Tanto na
indústria quanto da saúde, energia, setor alimentício, e outros.
(BURSHAN, 2016)
As averiguações na elaboração de nanopartículas
coloidais têm sido amplamente impulsionadas devido sua vasta
aplicabilidade na formação de compostos cada vez mais
tecnológicos. (SANTIN, et al., 2016). Isso dá-se pelas suas
propriedades de ampla área e volume que permitem uma maior
superfície de contato (CASANOVA, 2010)
Elas também receberam destaque no setor médico, já
que apresentaram a capacidade de agir como intermediárias
que transportam drogas para seus pontos específicos para
estas atuarem em células cancerígenas, por exemplo. Além de
sua alta compatibilidade e adaptabilidade a sistemas
biológicos.( NAVARRO, et al., 2018)
Há também aquelas com semicondutividade, utilizadas
em aplicações que envolvam eletromagnetismo, energia solar

351
A SÍNTESE VERDE DE NANOPARTÍCULAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA
(ARYA, et al., 2018) ou mesmo como sensores, catalizadores.
(JOSÉ, et al. 2015) Além é claro das suas propriedades
antifúngicas, antibacterianas e anti-inflamatórias que elas
apresentam. (BAJAJ, et al., 2017; EDUARDO, 2015;
SHERBINY, SHIBINY, SALIH, 2016)
A alta utilização das nanopartículas de Prata e Ouro
deve-se ao fato de elas terem diversas propriedades. A
interação do campo eletromagnético da luz recebida por esses
materiais, leva à oscilação em fase de condução de seus
elétrons. É essa oscilação a origem do plasma de superfície
localizado. Ademais, possuem outras características que as
tornam muito utilizadas, como o tamanho que assumem,
a forma e o meio envolvente. (GOPINATH, et al., 2016)
No entanto, as nanopartículas também apresentam seus
pontos negativos: alta complexidade de geração, elevado custo
de produção e um dos principais problemas, liberam
componentes tóxicos durante seu processo de sintetização
(SOARES, et al., 2013).
Com o advento da industrialização no século XIX, houve
um significativo aumento das fábricas e com isso a poluição
ambiental como a liberação de substâncias tóxicas na água e
no ar. À exemplo, há os corantes orgânicos que são produtos
químicos sintéticos que transmitem cor ao se ligarem a um
material. Eles são usados nas indústrias têxteis e de papeis,
em suas colorações. Por não serem biodregradáveis, ao
atingirem os rios, causam um grande estrago nas águas e à
faúna local, somado ao fato de que processos de tratamento
dessas águas são mais caros, pois requerem altas tecnologias.
Dessa forma, é possível a noção do quanto esses materiais
são conflitantes. (BONIGALA, et al., 2018)
Há diversos modos de sintetizá-las, seja por meios
químicos, físicos ou biológicos. (CHAUDHRY, et al., 2018) Na
352
A SÍNTESE VERDE DE NANOPARTÍCULAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA
redução da prata, à exemplo, utilizam-se técncas que envolvam
eletroquímica, irradiação e fotoquímica. Na irradiação UV há a
produção de substâncias perigosas tanto a saúde humana
quanto ao meio ambiente (SHERBINY, SHIBINY, SALIH, 2016)
e elas não são as únicas.
As técnicas de top down e a bottom-up que utilizam a
nanolitografia e comunicação entre os átomos também findam
como poluentes. (SILVA, et al., 2013), assim como as que
envolvem a redução de sais metálicos em um solvente na
presença de um agente redutor ou estabilizador. Este último,
tem sido bastante estudado devido seu papel crucial nesse
processo. (SANTIN, et al., 2016) São esses líquidos que na
maior parte dos casos são tóxicos e originam componentes
nocivos para a saúde humana e ao meio ambiente. (SILVA, et
al., 2013).
Outro fator que tem crescido ao longo do anos, é a
preocupação com o desempenho catalítico no acoplamento da
reação. Geralmente, espécies de nanomateriais metálicos
apresentam alta atividade catalítica, tornando sua redução
rápida sobre condições de ativação dos alcinos estimulada com
ouso de catalizadores. Esses no entanto,em muitos casos
contaminam o material metálico, causando uma adversidade no
desenvolvimento farmacêutico, já que tais vestígios podem
levar efeitos indesejados à sistemas biológicos. (SOENGAS, et
al., 2018)
Ao longo do tempo, devido o uso excessivo dos
antibióticos, os microbianos desenvolveram resistência a eles
e a outras drogas. (BAJAJ, et al., 2017) Pesquisas feitas em
2014 mostravam que mais de meio milhão de pessoas
morrem por ano devido a resistência de antimicrobianos.
Portanto, em um mundo considerado pós-antibiótico, há o
crescente interesse na utilização de extratos naturais com o
353
A SÍNTESE VERDE DE NANOPARTÍCULAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA
intuito de combatê-los de maneira mais eficaz. (SHERBINY,
SHIBINY, SALIH, 2016)
Com o objetivo de superar esse empecilho, as
nanopartículas têm sido exploradas na indústria farmacêutica,
tornando-se enssêncial no combate a esses antimicrobianos.
Sendo assim, cada vez vais surgem estudos sobre suas
propriedades antifúngicas, antibactericidas, entre outras para
investigar seu real pontencial nesse ramo. (BAJAJ, et al., 2017)
Tendo em vista a importância do solvente em evitar a
união dessas moléculas, incluem-se neste ponto, a busca por
possíveis recursos sustentáveis conhecidos como síntese
verde, que visam suprir essa necessidade de forma amigável
ao meio ambiente, sendo de baixo custo, com mínima ou
nenhuma poluição, além de serem atóxicos e manterem as
propriedades característica dessas moléculas. (SANTIN, et al.,
2016)
A síntese verde é como designamos o conjunto de várias
rotas que tratam de produtos químicos, sendo na maioria dos
casos atóxicos, biodegradáveis e de baixo custo e que são
utilizados na composição de nanomateriais de origem ou
iniciados por componentes biológicos. (SILVA,et al., 2013)
No geral, esse método verde considera três pontos
como suas características: a) Eficiente solvente durante a
reação, b) Ambientalmente benéficos e c) Utilização de
material atóxico.Além disso, os estudos recentes tem relatado
que, ademais a otenção de nano partículas, esses
compostos têm ampliado ou combinado suas propriedades,
aumentando assim a eficiência de ação das nanopartículas.
(NAVARRO, et al., 2018)
A busca por materiais biodegradáveis compreende
também o reaproveitamento de elementos que seriam
descartáveis e consequentemente aumentariam a poluição
354
A SÍNTESE VERDE DE NANOPARTÍCULAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA
(SOARES, et al., 2013) tanto do ar quanto da água, que por fim
culminariam em um desequilíbrio ecológico. (BONIGALA, et al.,
2018)
Alguns exemplos, incluem produtos de animais, de
vegetais, algas, fungos e bactérias e até descendentes de
processamentos agropecuários. São eles os famosos
biopolímeros e polímeros biocompatíveis que agem como
redutores nesse processo tão complexo que é a síntese dessas
partículas. (SANTIN, et al., 2016)
Para serem utilizados, esses compostos são
transformados em extratos. À exemplo do uso de uma planta,
raiz, folha, broto, casca e fruto são empregados. Todos passam
por um processo para enfim virarem estratos, pois estes são
livres de substâncias tóxicas. As plantas, assim como outros
componentes citados, concedem agentes redutores
indispensáveis à síntese e estabilização das nanopartículas.
(CHAUDHRY, et al., 2018)
À exemplo das algas, elas contém uma grande
capacidade de agir como agente redutor de sais metálicos.
(ARYA, et al., 2018) Elas possuem elevada capacidade de
absorção de metais, tem disponibilidade imediata e estruturas
macroscópicas, além de algumas espécies possuírem
capacidade antioxidante. Seu extrato aquoso contém
metabólicos secundários como polissacarídeos, proteínas,
taninos e esteroides que (MMOLA, et al. , 2016) agem como
moléculas bioativas. (ARYA, et al., 2018)
Outra solução são as biomoléculas como proteínas e
DNA que podem ser usados como reagentes, moldes e
agentes de encapsulamento na síntese de nanomateriais.
Nanopartículas sintetizadas são bioconjugadas à peptídeos,
proteínas ou DNA que as confere propriedades bioativas

355
A SÍNTESE VERDE DE NANOPARTÍCULAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA
adicionais. Entretanto, pesquisas utilizando proteínas de
bactérias ainda são raramente feitas.(LI, et al, 2018)
Na tabela 1 foram correlacionados os estudos de
diversos autores que favoreceram à essa revisão.

Tabela 1. Comparação entre variados estudos sobre


síntese verde de nanos e suas respectivas ações.

AUTORE EXTRAT NANO CONCLU AÇÃO


S O PRODUZ SÃO DAS
UTILIZAD IDA NANOS
O
ACEITUN Planta da Prata Biossíinte Não
O, V. C. et medicinal se viável relatou
al. oriental
chamada
Hasuo
AMENEIR Biosurfact Metálicas Biossíinte Não
O, M. P. et ante se viável mosotrou
al. Extraído ação
do Milho anticancerí
gena
ARYA, A. Algas Prata e Biossíinte Atividade
et al. verdes cobre se viável antimicrobi
Botryococ ana
cus bruni
e sua
atividade
antimicrob
iana

356
A SÍNTESE VERDE DE NANOPARTÍCULAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA
BAJAJ, M . Dipepitíde Nano- Biossíinte Atividade
extratos o híbridas se viável antimicrobi
protéicos catiônico de ana e
de estabiliza ouro/prat antifúngica
Deinococc do a
us et al.
BONIGAL
A, B. et al.

BONIGAL Stemona Prata e Biossíinte Atividade


A, B. et al. tuberosa ouro se viável antibacteri
ana

GOPINAT Extrato de Prata e Biossíinte Degradaçã


H, K. et al folhas ouro se viável o de
superbas produtos
(Gloriosa) tóxicos
KSHIRSA Oléos Prata Biossíinte Não
GAR, A. et comestíve se viável relatou
al. is
LI, J. et al. Extratos Prata e Biossínte Atividade
protéicos ouro se viável antibacteri
de ana e
Deinococc antibiofilme
us
LOPES, L. dois Prata e Biossíinte Não
C. S.et al. extratos ouro se viável relatou
aquosos
de S.
incisifoliu
m

357
A SÍNTESE VERDE DE NANOPARTÍCULAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA
preparado
s de
maneira
diferente
LUGÂO, Extrato de Prata Biossíinte Não
A. B.; acerola se viável relatou
MORSELL
I, G. R.
MMOLA, Extratos Prata e Biossíinte Não
M. et al. Aquosos ouro se viável relatou
de
Sargassu
m
incisifoliu
m
NAVARR Aquoso Prata Biossíinte Não
O, M. del de se viável relatou
C. S. et al. Annona
muricata e
funcionali
zado com
5-
Fluoroura
cil
PATIL, M. Extrato Prata e Biossíinte Atividade
P.; KIM, planta ouro se viável antileishma
G.do. medicinal nial
popular I.
tinctoria

358
A SÍNTESE VERDE DE NANOPARTÍCULAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA
SANTIN, Povilho Prata Biossíinte Atividade
J. G. B. et azedo se viável antimicrobi
al. ana
potente
SILVA, L. Extrato de Híbridas Biossíinte Não
P. et al. poli (£ - se viável relatou
caprolacto
na) /
curcumina
/ folha de
uva
SOENGA líquidos Prata Biossíinte Atividade
S, R. et al. iônicos se viável antibacteri
em sílica ana
propargila
mina
VIJAYAN, O extrato Prata e Biossíinte Efeito
R.; de folhas ouro se viável citotóxico e
JOSEPH, de bactericida
S.; Indigofera
MATHEW, tinctoria
B., 2017
VIJAYAN, Extrato de Prata e Biossíinte Atividade
R.; folhas de ouro se viável antimicrobi
JOSEPH, Bauhinia ana e
S.; purpurea antioxidant
MATHEW, e
B., 2018

CONCLUSÕES

359
A SÍNTESE VERDE DE NANOPARTÍCULAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Após os estudos susoditos infere-se que a síntese
verde de nanopartículas de ouro e prata por biopolímeros é
altamente viável, pois apresenta componentes redutores e
estabilizantes tão eficazes quanto os químicos comumente
utilizados.
Por meio dessa análise corroborou-se que estes
métodos contribuem para uma biossíntese sustentável que é
menos poluente, de baixo custo e tão eficiente quanto os
métodos convencionais, proporcionando assim uma interação
amigável entre produção e meio ambiente.
Também foi notória que na maioria dos casos, essas
nanopartículas demonstraram alguma propriedade antifúngica,
antibactericida e até mesmo iniciaram-se estudos sobre suas
propriedades anticancerígenas. Contudo, faz-se necessário
novos estudos para comprovação de suas reais propriedades.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABIMBOLA, A.A. et al. Dataset on the evaluation of antimicrobial activity


and optical properties of green synthesized silver and its allied bimetallic
nanoparticles. Elsevier, 2018
ACEITUNO, V. C. et al. Pleuropterus multiflorus (Hasuo) mediated
straightforward eco-friendly synthesis of silver, gold, nanoparticles and
evaluation of their anti-cancer activity on A549 lung câncer cell line,
Science Direct, 2017
AMENEIRO, M. P. et al. Biogenic synthesis of metal nanoparticles using a
biosurfactant extracted from corn and their antimicrobial properties. MDPI,
2017
ARYA, A. et al. Biogenic synthesis of copper and silver nanooparticles
using green alga Botryococcus braunii anda its antimicrobial activity,
Hindawi, 2018
BAJAJ, M. et al. Stabilized cationic dipeptide capped gold/silver
nanohybrids: Towards enhanced antibacterial and antifungal afficacy,
Colloids anda surfaces B: Biointerfaces, 2017
BONIGALA, B. et al. Green synthesis of silver and gold nanoparticles using
Stemona tuberosa Lour and screening for theyr catalytic activity in the

360
A SÍNTESE VERDE DE NANOPARTÍCULAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA
degradation of toxic chemicals, Environmental Science and Pollution
Research, 2018
BURSHAN. Introduction to nanotechnology. Springer Handbook of
Nanotechnology. 3 ed. Editora: Burshan, 2006
CASANOVA, M.C.R. Síntese, caracterização e estudo da estabilidade de
nanopartículas metálicas estabilizadas com polieletrólitos e tióis. Teses
USP, 2010
CHAUDHRY, N. et al. Bio-inspired nanomaterials in agriculture and food:
Current status, foreseen applications and challenges. Microbial
Pathogenesis, 2018
GOPINATH, K. et al. Green synthesis of silver, gold and silver/gold
bimetallic nanoparticles using the Gloriosa superba leaf extract and their
antibacterial and antibiofilm activities. Microbial Pathogenesis, 2016
GUO, D. et al. Hydrothermal One-Step Synthesis of Highly-Dispersed M-
Phase VO2 Nanocrystals and Application to Flexible Thermochromic Film.
Applied Materials & Interfaces, 2018
JOSÉ, E. et al. Brief communication antifungal activity of silver
nanoparticles obtained by green synthesis. Instiruto de Medicina, Vol. 57.
Pp.165-167, 2015
KSHIRSAGAR, A. et al. Green Synthesis of Silver Nano-Particles by Use of
Edible Oil. American Scientific Publishers, 2018
LI, J. et al. Biosynthesis of Au, Ag and Au-Ag bimetallic nanoparticles using
protein extracts of Deinococcus radiodurans and evaluation of their
cytotoxicity. Dove press, 2018
LOPES, L. C. S.et al. Silver and gold nanoparticles from tannic acid:
synthesis, characterization and evaluation of antileishmanial and cytotoxic
activities. AABC Journal, 2017
LUGÂO, A. B.; MORSELLI, G. R. Síntese de nanopartículas de prata
utilizando extrato de acerola. Disponível em:
http://repositorio.ipen.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/28385/234
80.pdf?sequence=1&isAllowed=y Acesso em: 18 de novembro de 2018
MMOLA, M. et al. Enhanced antimicrobial and anticâncer activity of silver
and gold nanoparticles synthesised using Sargassum incisifolium aqueous
extracts. MDPI, 2016
NAVARRO, M. del C. S. et al. Cytotoxic and bactericidal effect of silver
nanoparticles obteined by green synthesis method using annona muricata
aqueous extract and funcionalized with 5-fluorouracil, Hindawi, 2018
PATIL, M. P.; KIM, G.do. Eco-friendly approach for nanoparticles synthesis
and mechanism behind antibacterial activityy of silver and anticâncer
activity of gold nanoparticles, Microbiol Biotechnol, 2016
QUADROS, C. C. de et al. Nanopartículas de Au em líquido iônico
suportadas em filmes biopolimétricos: uma aula prática para investigação
da atividade antimicrobiana. Química nova, vol. 39, No. 8, 1015-1018,
2016
361
A SÍNTESE VERDE DE NANOPARTÍCULAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA
SANTIN, J. G. B. et al. Síntese verde de nanopartículas de prata com
povilho azedo. Metallum, RN, Brasil, 2016
SHANKAR, T. et al. Green synthesis of silver nanoparticles using capsicum
frutescence and its intensified activity aganst E. Coli. Resource-Efficient
Techonologies. Vol. 3, pp. 303-308, 2017
SHERBINY, I. M.; SHIBINY, A. el.; SALIH, E. Photo-induced green
synthesis and antimicrobial efficacy of poly (£-
caprolactone)/curcumin/grape leaf extract-silver hybrid nanooparticles.
Journal of Photochemistry £ Photobiology, Vol. 160, pp. 355-363, 2016
SILVA, L. P. et al. Nanotecnologia verde para síntese de nanopartículas
metálicas. 4 ed. São Paulo: Editora Edgard Blücher Ltda.
SOARES V. K. S., et al. Produção de nanopartículas de Al2O3 utilizando
água de coco madura. Scielo, 2013
SOENGAS, R. et al. Immobilized gold nanoparticles prepared from gold
(III)- containing ionic liquids on sílica: Application to the sustainable
synthesis of propargylamines, MDPI, 2018
VIJAYAN, R.; JOSEPH, S.; MATHEW, B. Indigofera tinctoria leaf extract
mediated green synthesis of silver and gold nanoparticles and assessment
of their anticâncer, antimicrobial, antioxidante and ctalytic proprties. Taylor
& Francis Journal, 2017
VLJAYAN, R.; JOSEPH, S; MATHEW, B. Anticancer, antimicrobial,
antioxidante, and catalytic activities of green-synthesized silver and gold
nanoparticles using Bauhinia purpúrea leaf extract. Bloprocess and
blosystems engineering, 2018
YANG, X. et al. Ultrasensitive nucleic acid detection using confocal laser
scanning microscope with high crystalline silver dendrites, Chemical
Communications, 2010

362
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
CAPÍTULO 19

MAPEAMENTO CIENTÍFICO E
TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM
17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
Andreza Ketly da Silva ARAÚJO 1
Gabriella PACHECO 2
Ana Patrícia de OLIVEIRA 3
Francisca Beatriz de Melo SOUSA 3
Thiago de Souza Lopes ARAÚJO 3,4
1
Graduanda do curso de Ciências Biológicas/ UFPI; 2 Mestranda em Biotecnologia/ UFPI;
3
Doutorando (a) em Biotecnologia-RENORBIO/UFPI; 4 Orientador/Professor do curso de
Ciências Biológicas/UFPI.
dezaketly@hotmail.com

RESUMO: Probióticos são microrganismos vivos que causam


benefícios à saúde, quando ingeridos de forma correta, e são
amplamente utilizados na terapêutica do trato gastrointestinal
(TGI). Algumas bactérias têm demonstrado atividade protetora
no TGI, principalmente as do gênero Lactobacillus, porém ainda
existem poucos estudos e aplicação prática de probióticos em
gastropatias. Lactobacillus reuteri DSM 17938 é uma bactéria
pertencente a este gênero e apresenta muitas atividades
benéficas ao TGI. Assim, este trabalho objetivou-se em fazer
uma prospecção científica e tecnológica sobre a aplicabilidade
terapêutica do uso deste probiótico em desordens do TGI, a
partir da busca de artigos no mês de junho de 2018 nas bases
de dados PubMed, Web of ScienceTM, Scopus e Scielo, e por
patentes nas bases United States Patent and Trademark Office,
European Patent Office, World Intellectual Property
Organization e no Banco de dados do Instituto Nacional de
363
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
Propriedade Industrial, utilizando descritores relacionados a
probióticos ou Lactobacillus reuteri DSM 17938 e sua ação no
TGI, empregando o operador boleano AND. A busca nas bases
por “Lactobacillus reuteri DSM 17938 AND Gastrointestinal”
retornou muitos artigos, porém poucas patentes foram
encontradas sobre a aplicabilidade do probiótico no TGI. Dessa
forma, vê-se a importância de um maior investimento
tecnológico relacionado a utilização de
L. reuteri em desordens gastrointestinais, visto o seu grande
potencial demonstrado pela literatura.

Palavras-chave: Bactérias ácido-láticas. Lactobacillus reuteri.


Doenças digestivas.

INTRODUÇÃO

Os probióticos, descritos inicialmente como


microrganismos promotores de fatores de crescimento,
atualmente são definidos como microrganismos vivos que
causam benefícios à saúde do hospedeiro, quando ingeridos
em quantidades adequadas (HILL et al., 2014). Além de
modular a microbiota e inibir o crescimento de outros
microrganismos patógenos, os probióticos desempenham
efeito modulador sob o sistema imune, o que garante possíveis
usos para fins clínicos (LI et al., 2016; SÁNCHEZ et al., 2017;
KEMGANG et al., 2014). Dentre os microrganismos benéficos
ao corpo humano, principalmente no trato digestivo, destacam-
se os gêneros Bifidobacterium e Lactobacillus, que também são
amplamente estudados e empregados em produtos
alimentícios e terapêuticos (WANG et al., 2014; SAEZ-LARA et
al., 2015; VALDÉS-VARELA et al., 2016).

364
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
A World Gastroenterology Organization (WGO) descreve
diversos fins clínicos nos quais os probióticos podem ser
empregados, como na prevenção de câncer colorretal,
tratamento e prevenção de diarreia, erradicação de
Helicobacter pylori, prevenção e tratamento de encefalopatias
hepáticas, doença inflamatória intestinal (DII), síndrome do
intestino irritável (SII), cólica, má absorção de lactose,
enterocolite necrosante, doença hepática gordurosa não
alcóolica e prevenção de infecções sistêmicas (WGO, 2017).
Tratando-se de doenças do TGI, vale ressaltar que
somente no ano de 2017 ocorreram 1.102.937 internações no
Brasil, para ambos os sexos, de pacientes diagnosticados com
doenças do aparelho digestivo (BRASIL, 2018). Tal dado
evidencia a importância de investigar novas alternativas
terapêuticas para substituir ou somar às já existentes, em busca
da melhoria da assistência de saúde prestada. Em especial,
uma alternativa que cada vez mais vem sendo utilizada são os
probióticos, que apresentam grande potencial terapêutico para
a prevenção e tratamento de diferentes afecções do TGI, com
poucos efeitos adversos.
Nos últimos anos, Lactobacillus reuteri (uma bactéria
bacilar gram-positiva e heterofermentativa presente no TGI, no
trato urogenital e no leite materno de humanos) vem ganhando
destaque por seus efeitos gastrointestinais (THOMAS et al.,
2016). Na mucosa gástrica, L. reuteri pode apresentar ação
bactericida e bacteriostática contra H. pylori, contribuindo para
a redução da incidência de úlcera gástrica, tal ação está ligada
à sua capacidade de sobreviver em meios de pH ácido e à
presença de reuterina e reutereciclina, que são compostos

365
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
hidrossolúveis que inferem atividade antimicrobiana (EMARA et
al., 2015).
A estirpe L. reuteri DSM 17938, já bastante utilizada na
prática clínica, é derivada da estirpe L. reuteri ATCC 55730,
apresentando atividades vantajosas à saúde (ROSANDER et
al., 2008; EGERVÄRN et al., 2007). Possui ação contra cólica
infantil (CHAU et al., 2015), na prevenção de diarreia em
crianças (URBAŃSKA et al., 2016) e redução de constipação
crônica (RIEZZO et al., 2018), por exemplo.
Tais evidências indicam seu potencial uso na prática
clínica, com mínimos efeitos colaterais e grande aceitabilidade
no mercado. Com isso, o objetivo do presente estudo é realizar
uma prospecção científica e tecnológica a respeito do potencial
da atividade de L. reuteri DSM 17938 na terapêutica de
distúrbios do trato gastrointestinal.

MATERIAIS E MÉTODO

Para a realização deste estudo foi realizado um


levantamento de artigos e patentes para analisar aplicabilidade
da utilização de L. reuteri DSM 17938 em desordens do TGI.
Para isso, foi realizada uma busca por artigos para o
embasamento científico da temática nas bases de dados
PubMed, Web of ScienceTM, Scopus e Scielo, e por patentes,
para avaliar a aplicabilidade deste probiótico em afecções
gástricas e intestinais nas bases United States Patent and
Trademark Office (USPTO), European Patent Office (EPO),
World Intellectual Property Organization (WIPO) e no Banco de
dados do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). O

366
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
rastreio dos artigos foi realizado em junho de 2018 nas bases
acima citadas, referentes aos últimos 5 anos.
As buscas foram realizadas utilizando descritores
relacionados à temática, juntamente com o operador boleano
“and” em todas as bases, e utilizando o uso de aspas (“ “),
quando necessário; refinando a busca dos termos no título e/ou
resumo dos artigos e patentes, nas respectivas bases. As
palavras-chaves que foram associadas para o mapeamento
foram: “Probiotic and gastrointestinal”; “Lactobacillus reuteri
DSM 17938”; e “Lactobacillus reuteri DSM 17938 AND
gastrointestinal”.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Prospecção científica

Na busca da avaliação da aplicabilidade da bactéria L.


reuteri DSM 17938 em desordens do sistema digestório, fez-se
um levantamento sobre o embasamento científico de sua
utilização no TGI. Como visto na Tabela 1, existem muitos
estudos sobre a relação de probióticos e o trato gastrointestinal,
porém existem poucos relacionando o uso destes na proteção
gástrica.
A maioria dos estudos trata dos efeitos benéficos da
utilização destes microrganismos no trato gastrointestinal.
Vários trabalhos demonstram que os probióticos medeiam
estes efeitos por meio de diferentes mecanismos, como a
modulação da microbiota intestinal, sintetizando e potenciando
a biodisponibilidade de nutrientes, podendo ser aplicados
principalmente no tratamento e prevenção de infecções e

367
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
doenças do TGI (WANG et al., 2015; DOLPADY et al., 2016;
URDACI et al., 2016; HAILESELASSIE et al., 2016; NAGPAL et
al., 2016).

Tabela 1- Número de artigos científicos por palavra-chave nas


bases de dados
WEB OF
PUBMED SCOPUS SCIELO
SCIENCE
Probiotic AND
1702 6582 2993 34
gastrointestinal
Lactobacillus reuteri
119 131 188 2
DSM 17938
Lactobacillus reuteri
DSM 17938 AND 13 26 60 2
gastrointestinal

Em especial, as bactérias do gênero Lactobacillus


podem estabelecer relações simbióticas com o hospedeiro,
estimulando o sistema imune, e produzindo antimicrobianos ou
peróxido de hidrogênio, que podem eliminar patógenos
gástricos e intestinais (HAILESELASSIE et al., 2016; COMAN
et al., 2014; LANGA et al., 2018; DORE et al., 2016).
L. reuteri, encontrado no TGI de humanos, bem como no
leite de mama e no trato urogenital de humanos apresenta
resistência a enzimas proteolíticas e é viável em uma ampla
faixa de pH, com capacidade de produzir compostos
hidrossolúveis, como a reuterina e reutereciclina, que
apresentam atividade antimicrobiana de amplo espectro, além
de produzir compostos orgânicos que regulam as respostas
imunológicas do hospedeiro (TALARICO et al., 1988; GÄNZLE
et al., 2000; THOMAS et al., 2016).
368
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
A cepa de L. reuteri DSM 17938 é derivada da estirpe
L. reuteri ATCC 55730 (ROSANDER et al., 2008), e tem sido
aplicada principalmente em crianças, sendo bem tolerada,
promovendo benefícios à saúde intestinal e reduzindo a
colonização por patógenos (SAVINO et al., 2015).
Este probiótico apresenta eficácia na terapêutica de
muitas desordens do TGI, como detalhado na Tabela 2. Foram
selecionados para a análise da aplicabilidade terapêutica de
L. reuteri artigos experimentais publicados nos últimos 5 anos,
quando administrado de forma isolada, sem a combinação com
outros medicamentos ou probióticos.
Muitos estudos clínicos validam a eficácia de L. reuteri
DSM 17938 no tratamento da diarreia aguda e associada a
antibioticoterapia em crianças (DINLEYICI; VANDENPLAS,
2014; KOŁODZIEJ; SZAJEWSKA, 2017; PERNICA et al.,
2017), redução da constipação crônica (RIEZZO et al., 2018), e
no tratamento de gastroenterites (SZAJEWSKA et al.,
2014; SZYMAŃSKI; SZAJEWSKA, 2017). A maioria dos
estudos clínicos avaliam a eficácia do probiótico na dor em
crianças e recém-nascidos, onde este é eficaz na diminuição da
cólica infantil e dor abdominal funcional (SAVINO et al., 2014;
CHAU et al., 2015; MI et al., 2015; SAVINO et al., 2015;
WEIZMAN; ABU-ABED; BINSZTOK, 2016; MARAGKOUDAKI
et al., 2017; JADREŠIN et al., 2017; FATHEREE et al., 2017),

Tabela 2- Estudos experimentais selecionados sobre o uso de


Lactobacillus reuteri DSM 17938 em desordens do trato
gastrointestinal, publicados no período de 2014 a 2018.

Tipo de Desordem
Referência Resultados
estudo do TGI

369
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
Sung et al., 2014
Savino et al., 2014 L. reuteri DSM 17938 não
Estudo clínico
Chau et al., 2015 foi eficaz no tratamento da
de caso- Cólica
Mi et al., 2015 cólica infantil e tempo de
controle infantil
Savino et al., 2015 choro em crianças e
Fatheree et al.,
randomizado
recém-nascidos
2017
Estudo clínico L. reuteri DSM 17938
de caso- Enterocolite preveniu a enterocolite
Oncel et al. 2014
controle necrozante necrozante em recém-
randomizado nascidos
Estudo pré- L. reuteri DSM 17938
clínico em preveniu a enterocolite
Enterocolite
Liu et al. 2014 camundongos necrozante por meio da
necrozante
C57BL/6J modulação de células T
neonatos efetoras e T reguladoras
Dinleyici; L. reuteri DSM 17938
Estudo clínico Diarreia
Vandenplas, 2014 reduziu a diarreia aguda
randomizado aguda
Pernica et al. 2017 em crianças
Estudo clínico
L. reuteri DSM 17938 não
Urbańska et al., de caso- Diarreia
foi eficaz na prevenção da
2016 controle nosocomial
diarreia nosocomial
randomizado
Estudo clínico
Diarreia
Kołodziej; de caso- Protocolo de um ensaio
associada a
Szajewska, 2017 controle clínico que será realizado
antibióticos
randomizado
Estudo clínico L. reuteri DSM 17938
Francavilla et al., Infecção por
de caso- inibe o crescimento de H.
2014 Helicobacter
controle pylori e é eficaz no
Dore et al., 2016 pylori
randomizado tratamento da infecção

L. reuteri DSM 17938 atua


Estudo pré-
como antinociceptivo
Perez-Burgos et clínico em
Dor visceral visceral por meio do
al., 2015 camundongos
antagonismo do receptor
swiss
TRPV1
Weizman; Abu-
Estudo clínico Dor L. reuteri DSM 17938
abed; Binsztok,
de caso- abdominal reduziu significantemente
2016

370
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
Maragkoudaki et controle funcional a intensidade da dor
al., 2017 randomizado infantil abdominal
Jadrešin et al.,
2017
Estudo clínico L. reuteri DSM 17938 foi
Szymański; Szajew de caso- Gastroenterit eficaz no tratamento da
ska, 2017 controle e aguda gastroenterite aguda em
randomizado crianças
Estudo pré- L. reuteri DSM 17938
clínico em Enterocolite previne a enterocolite por
Hoang et al., 2018
camundongos necrozante um mecanismo mediado
C57BL/6J pelo receptor TLR2
Estudo clínico
L. reuteri DSM 17938 se
de caso- Constipação
Riezzo et al., 2018 mostrou benéfico nos
controle funcional
sintomas da constipação
randomizado

O seu efeito na redução da cólica infantil é o que mais


tem sido ressaltado na literatura, e hoje sabe-se que este deve-
se a inibição do receptor Receptor de Potencial Transitório do
tipo Vanilóide 1 (TRPV1), presente no sistema nervoso entérico
(PEREZ-BURGOZ et al., 2015). Além disso, já é demonstrado
o efeito terapêutico de L. reuteri na terapêutica da enterocolite
necrozante em recém-nascidos (ONCEL et al., 2014). Estudos
experimentais mostram que este efeito protetor intestinal deve-
se principalmente devido a estimulação do sistema imune, por
meio da modulação das células dendríticas, células T efetoras
e reguladoras, e também através da modulação de
receptores tipo Toll 2 e 4 (TRL2/TRL4) e NF-KB, reduzindo a
inflamação (HAILESELASSIE et al., 2016; LIU et al., 2014;
SAVINO et al., 2017; HOANG et al., 2018).
Com relação à suas ações na mucosa gástrica, o uso de
8
10 Unidades Formadoras de Colônia (UFC) de L. reuteri DSM
17938 apresentou alta taxa de erradicação da bactéria H. pylori

371
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
na mucosa gástrica, comprovando sua atuação no estômago
(FRANCAVILLA et al., 2014; DORE et al., 2016). Além disso, foi
demonstrado recentemente que o uso de whey parcialmente
hidrolisado, suplementada com o probiótico em questão, está
relacionado com a redução da regurgitação infantil, bem como
o aumento do esvaziamento gástrico (INDRIO et al., 2017).

Prospecção Tecnológica

A seguinte prospecção tecnológica foi feita a partir da


busca de patentes nas bases WIPO, USPTO, EPO, e na base
brasileira INPI, através de palavras chaves que relacionavam a
utilização de L. reuteri DSM 17938 em desordens do TGI, como
demonstrado na Tabela 3.
Quando buscou-se na base WIPO por patentes
utilizando os descritores “Probiotic AND gastrointestinal”, a
pesquisa retornou 934 propriedades registradas (Tabela 3)
sobre a utilização de probióticos no TGI, o que corresponde
com a literatura, pois estes são bastante utilizados na
terapêutica e prevenção de desordens gastrointestinais.

Tabela 3- Número de patentes por palavras-chave nas bases.

WIPO EPO USPTO INPI


Probiotic AND gastrointestinal 934 710 62 4
Lactobacillus reuteri DSM 17938 21 7 23 0
Lactobacillus reuteri DSM 17938 1 1 0 0
AND gastrointestinal

372
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
De acordo com os resultados obtidos na busca de
patentes, viu-se que as patentes referentes a “probióticos e
proteção gástrica” são, na maioria, referentes a meios de
veiculação para proteção dos agentes probióticos do ambiente
gástrico, utilizando polissacarídeos e encapsulação com
nanopartículas com substâncias que conferem proteção contra
o ambiente gástrico (US20150190439; US20120288483;
US20100074994; US20050266069). Não existindo
propriedades gastroprotetoras de probióticos protegidas,
apesar da literatura relatar que muitos conferirem este efeito na
mucosa gástrica (ACARTURK et al., 2014; KHODER et al.,
2016; SUO et al., 2016; KWON et al., 2017).
Na base WIPO, utilizando o descritor Lactobacillus
reuteri DSM 17938, foram encontradas 21 propriedades
protegidas, como visto na Tabela 3. A Rússsia foi o país que
mais depositou patentes sobre a estirpe de L. reuteri descrita,
com 11 patentes, como mostrado na Figura 1. O Brasil
apresenta uma patente relacionada ao uso de L. reuteri DSM
17938 para o desenvolvimento do sistema nervoso entérico
(BR112014015823).

373
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
Figura 1 - Resultados obtidos para a busca pelo termo
“Lactobacillus reuteri DSM 17938” na base WIPO, quanto aos
anos de ocorrência dos depósitos dos pedidos de patente.

Com relação a Classificação Internacional de Patentes


(CIP), viu-se que a maioria das patentes registradas estão
classificadas com A61, relacionada a área de Ciência Médica
ou Veterinária, especificamente a CIP A61K (24 patentes), que
são preparações para finalidades médicas, odontológicas ou
higiênicas (dispositivos ou métodos especialmente adaptados
para dar aos produtos farmacêuticos formas físicas
determinadas ou para sua administração). Observa-se ainda,
conforme a Figura 2, que os números de CIP ultrapassam os
valores de patentes encontrados na base, pois uma patente
pode ser classificada em diferentes CIP’s.

374
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
Figura 2 - Resultados obtidos para a busca pelo termo
“Lactobacillus reuteri DSM 17938” na base de patentes WIPO
quanto a CIP dos depósitos de pedidos de patente.

C12R

A23C

A61P

C12N

A23L

A61K

0 5 10 15 20 25

Ainda observa-se que a empresa Biogaia® (Suécia) é a


principal requerente destas patentes registradas, visto que ela
comercializa L. reuteri DSM 17838 com o nome comercial
Lactobacillus reuteri Protectis, tendo assim grande interesse em
proteger a aplicabilidade da estirpe para fins comerciais.
Com os dados obtidos na WIPO, também observou-se
que o ano de 2013 e 2014 houve um maior número de depósito
relacionados ao L. reuteri, como observado na figura 3. Foram
encontradas patentes sobre L. reuteri DSM 17938 relacionadas
a sua utilização no desenvolvimento do sistema nervoso
entérico e função cognitiva de mamíferos jovens
(BR112014015823; IN5351/DELNP/2014), e fazendo parte de
uma composição probiótica para diminuir desordens do sono
(RU0002517616).

375
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
Figura 3 - Resultados obtidos para a busca pelo termo
“Lactobacillus reuteri DSM 17938” na base de patentes WIPO
quanto ao ano dos depósitos de pedidos de patente.

12

10

0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Utilizando os termos “Lactobacillus reuteri DSM 17838


AND gastrointestinal”, encontrou-se uma patente
(RU0002495927) relatando a proteção de uma preparação
simbiótica N-acetil-lactosamina com uma estirpe de
Lactobacillus (L. rhamnosus ATCC 53103, L. rhamnosus
CGMCC 1,3724, L. reuteri ATCC 55730 e L. reuteri DSM 17938)
para prevenção ou tratamento de infecções patogênicas do
trato gastrointestinal e das vias aéreas superiores. Encontrou-
se ainda uma patente (US20140072543) relacionada a uma
composição com bactérias probióticas capazes de restaurar a
barreira do estômago perdido durante o tratamento
farmacológico da hiperacidade gástrica.

376
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
Na busca da base de patentes europeia EPO, encontrou-
se duas patentes relacionadas a uma modulação de
L. reuteri na mucosa gástrica, uma relacionada ao uso de uma
composição probiótica para o tratamento da Doença do Refluxo
Gastrointestinal (RU2501549), e um método para ajudar na
digestão em pacientes com dispepsia (CN104585598). Ainda
na base EPO, encontraram-se as mesmas patentes da WIPO
utilizando somente o termo “Lactobacillus reuteri DSM 17838”.
Com relação aos países que mais depositaram patentes
nesta base, a África do Sul, Rússia e Nova Zelândia
depositaram duas patentes, enquanto os outros depositaram
somente uma, como visto na Figura 4.

Figura 4 - Resultados obtidos para a busca pelo termo


“Lactobacillus reuteri DSM 17938” na base de patentes EPO
quanto ao país dos depósitos de pedidos de patente.

Quanto a análise anual de depósitos, observa-se que há

1,5

0,5

0
África do Hong Kong Rússia Taiwan Nova
Sul Zelândia

um aumento do número de patentes com o passar dos anos,


como visto na Figura 5. Porém, não houve depósitos após o ano

377
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
de 2011, apesar do presente estudo mostrar que existe um
grande número de publicações científicas no período de 2014 a
2018.

Figura 5 - Resultados obtidos para a busca pelo termo


“Lactobacillus reuteri DSM 17938” na base de patentes EPO
quanto ao ano dos depósitos de pedidos de patente.

Com relação a classificação internacional de patentes,


nesta base observou-se uma maioria das propriedades
registradas na CIP A23L (Figura 6), relacionada a Alimentos ou

0
2006 2008 2011

produtos alimentícios, seu preparo ou tratamento, modificação


das qualidades nutritivas ou sua conservação. Como visto na
revisão acima, probióticos como L. reuteri, são comumente
utilizados como aditivos alimentares, condicionando
conservação ao preparado alimentar (DE PRISCO et al., 2015;
MALMO; LA STORIA; MAURIELLO, 2013).

378
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
Figura 6 - Resultados obtidos para a busca pelo termo
“Lactobacillus reuteri DSM 17938” na base de patentes EPO
quanto a CIP dos depósitos de pedidos de patente.

Com relação a base USPTO, as patentes encontradas


foram praticamente as mesmas encontradas nas demais bases,
desta forma não foi foram feitos gráficos relacionados a esta

C12N

A61K

A23L

0 1 2 3 4 5

base.
Um menor número de patentes foi encontrado utilizando
os termos “Probiotic AND gastrointestinal”, que retornou 62
propriedades, quando comparado ao achado nas outras bases.
Utilizando a palavra-chave “Lactobacillus reuteri DSM 17938”,
encontrou-se 23 resultados, um deles se destaca por
apresentar a patente relacionada ao uso desta estirpe na cólica
infantil (US 20070280913), sendo requerida pela Biogaia,
empresa que a comercializa, visto que o referido probiótico é
amplamente utilizado na clínica para a diminuição da cólica
infantil causada por gastroenterites e dor abdominal funcional
(SAVINO et al., 2014; CHAU et al., 2015; MI et al., 2015;

379
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
SAVINO et al., 2015; WEIZMAN; ABU-ABED; BINSZTOK,
2016; MARAGKOUDAKI et al., 2017; JADREŠIN et al., 2017;
FATHEREE et al., 2017).
Já na base brasileira, INPI, foram somente encontrados
quatro resultados (BR 11 2016 031000 4; BR 10 2015 016223
5; BR 10 2013 032164 8; BR 10 2012 011033 4), utilizando
como palavras-chave “Probiótico E Gastrointestinal”, que são
relacionadas a formulações alimentícias contendo probióticos.
Ainda observa-se que nenhuma dessas bases retornou
patentes relacionadas a aplicação de probióticos na proteção
gástrica, apesar do grande potencial gastroprotetor
demonstrado pela literatura (ACARTURK et al., 2014; KHODER
et al., 2016; SUO et al., 2016; KWON et al., 2017). A literatura
também mostra que L. reuteri DSM 17938 apresenta efeitos no
estômago, porém até o momento da pesquisa, há uma ausência
de evidências da aplicabilidade deste probiótico em injúrias
gástricas.

CONCLUSÕES

A partir da análise dos artigos científicos, viu-se que


Lactobacillus reuteri DSM 17938 apresenta um grande
aplicabilidade em desordens do trato gastrointestinal, sendo
utilizado para a prevenção e tratamento da cólica infantil,
diarreia, regurgitação, enterocolite necrozante, constipação e
gastroenterites. No entanto, o potencial para atividade
gastroprotetora precisa ser melhor explorado, visto que outros
probióticos apresentam efeito protetor da mucosa gástrica
contra diferentes tipos de agentes lesivos.

380
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
No que se refere a aplicabilidades e formulações
protegidas, existem poucas patentes relacionadas a utilização
desse probiótico em desordens do trato gastrointestinal, apesar
de sua eficácia e aplicabilidade clínica já serem demonstradas
na literatura para a prevenção e tratamento de diversas
afecções digestivas. Além disso, observou-se que não existem
ainda patentes relacionadas com a atividade gastroprotetora
desse e de outros probióticos, apesar da literatura apresentar
indícios de seu potencial terapêutico em gastropatias.
Desta forma, vê-se a importância de um maior
investimento na aplicação tecnológica de Lactobacillus reuteri
DSM 17938 na terapêutica de desordens gástricas e intestinais,
visto que este vem sendo utilizado com grande segurança
clínica e poucos efeitos colaterais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACARTURK, G. et al. The protective effects of kefir in aspirin induced


gastric muco-sal damage: an experimental study. Acta Medica
Mediterr., v. 30, n. 4, p. 875-879, 2014.
BRASIL. Ministério da saúde. Sistema de informações hospitalares do
SUS (SIH/SUS). Acesso em 22 de novembro de 2018.
CHAU, K. et al. Probiotics for infantile colic: a randomized, double-blind,
placebo-controlled trial investigating Lactobacillus reuteri DSM 17938. J
pediat, v. 166, n. 1, p. 74-78, 2015.
COMAN, M. M. et al. In vitro evaluation of antimicrobial activity of
Lactobacillus rhamnosus IMC 501®, Lactobacillus paracasei IMC 502® and
SYNBIO® against pathogens. J appl microbiol, v. 117, n. 2, p. 518-527,
2014.
DE PRISCO, A.; MARESCA, D.; ONGENG, D.; MAURIELLO, G. .
Microencapsulation by vibrating technology of the probiotic strain
Lactobacillus reuteri DSM 17938 to enhance its survival in foods and in
gastrointestinal environment. LWT-Food Science and Technology, v. 61,
n. 2, p. 452-462, 2015.

381
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
DINLEYICI, E.C.; VANDENPLAS, Y. Lactobacillus reuteri DSM 17938
effectively reduces the duration of acute diarrhoea in hospitalised
children. Acta Paediatr., v. 103, n. 7, p. 300-305, 2014.
DOLPADY, J. et al. Oral Probiotic VSL# 3 prevents autoimmune diabetes
by modulating microbiota and promoting indoleamine 2, 3-dioxygenase-
enriched tolerogenic intestinal environment. J diabetes res, v. 2016, p. 1-
12, 2016.
DORE, M. P. et al. Inclusion of Lactobacillus Reuteri in the Treatment of
Helicobacter pylori in Sardinian Patients: A Case Report Series. Medicine,
v. 95, n. 15, 2016.
EGERVÄRN, M.M. et al. 2007. Antibiotic susceptibility profiles of
Lactobacillus reuteri and Lactobacillus fermentum. J Food Protec, v. 70, n.
2, p. 412-418, 2007.
EMARA, M. H et al. Emerging role of probiotics in the management of
Helicobacter pylori infection: histopathologic perspectives. Helicobacter. v.
21, p. 3-10, 2015.
FATHEREE, N.Y. et al. Lactobacillus reuteri for infants with colic: a double-
blind, placebo-controlled, randomized clinical trial. J. pediatr., v. 191, p.
170-178, 2017.
FRANCAVILLA, R. et al. Lactobacillus reuteri strain combination in
Helicobacter pylori infection: a randomized, double-blind, placebo-controlled
study. J. clin. Gastroenterol., v. 48, n. 5, p. 407-413, 2014.
GÄNZLE, M. G. et al. Characterization of reutericyclin produced by
Lactobacillus reuteri LTH2584. App environmen microbiol, v. 66, n. 10, p.
4325-4333, 2000.
HAILESELASSIE, Y. et al. Postbiotic Modulation of retinoic acid imprinted
Mucosal-like Dendritic cells by Probiotic Lactobacillus reuteri 17938 In Vitro.
Front immunol, v. 7, p. 1-11, 2016.
HILL, C. et al. Expert consensus document. The International Scientific
Association for Probiotics and Prebiotics consensus statement on the scope
and appropriate use of the term probiotic. Nature Ver. Gastroenterol.
Hepatol., v. 11, n. 8, p. 506- 514, 2014.
HOANG, T. K. et al. 1054-Toll-Like Receptor 2 Plays a Key Role in
Protection Against Severe Necrotizing Enterocolitis by Lactobacillus Reuteri
Dsm 17938. Gastroenterology, v. 154, n. 6, S-199, 2018.
INDRIO, F. et al. Effect of a Partially Hydrolysed Whey Infant Formula
Supplemented with Starch and Lactobacillus reuteri DSM 17938 on
Regurgitation and Gastric Motility. Nutrients, v. 9, n. 11, p. 1181, 2017.
JADREŠIN, O. et al. Lactobacillus reuteri dsm 17938 in the treatment of
functional abdominal pain in children: Rct study. J. Pediatr. Gastroenterol.
Nutr., v. 64, n. 6, p. 925-929, 2017.

382
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
KEMGANG, T. S. et al. Cross‐talk between probiotic lactobacilli and host
immune system. J. App. Microbiol.., v. 117, n. 2, p. 303-319, 2014.
KHODER, G. et al. Potential role of probiotics in the management of gastric
ulcer (Review). Exper Therap Med, v. 12, n. 1, p. 3-17, 2016.
KOŁODZIEJ, M.; SZAJEWSKA, H. Lactobacillus reuteri DSM 17938 in the
prevention of antibiotic-associated diarrhoea in children: protocol of a
randomised controlled trial. BMJ open, v. 7, n. 1, p. e013928, 2017.
KWON, E. K. et al. Lactobacillus plantarum LC27 and Bifidobacterium
longum LC67 simultaneously alleviate ethanol-induced gastritis and hepatic
injury in mice. J. Funct.Foods, v. 38, p. 389-398, 2017.
LANGA, S. et al. Protective effect of reuterin-producing Lactobacillus
reuteri against Listeria monocytogenes and Escherichia coli O157: H7 in
semi-hard cheese. Food Control, v. 84, p. 284-289, 2018.
LI, J. et al. Probiotics modulated gut microbiota suppresses hepatocellular
carcinoma growth in mice. Proc. Natl. Acad. Sci., v. 113, n. 9, p. 1306-
1315, 2016.
LIU, Y. et al. Lactobacillus reuteri DSM 17938 differentially modulates
effector memory T cells and Foxp3+ regulatory T cells in a mouse model of
necrotizing enterocolitis. American J Physiol Gastrointestinal Liver
Physiol, v. 307, n. 2, p. G177-G186, 2014.
MALMO, C.; LA STORIA, A.; MAURIELLO, G.. Microencapsulation of
Lactobacillus reuteri DSM 17938 cells coated in alginate beads with
chitosan by spray drying to use as a probiotic cell in a chocolate
soufflé. Food and Bioprocess Technology, v. 6, n. 3, p. 795-805, 2013.
MARAGKOUDAKI, M. et al. Lactobacillus reuteri DSM 17938 and a placebo
both significantly reduced symptoms in children with functional abdominal
pain. Acta Paediatr., v. 106, n. 11, p. 1857-1862, 2017.
MI, G.L. et al. Effectiveness of Lactobacillus reuteri in infantile colic and
colicky induced maternal depression: a prospective single blind randomized
trial. Antonie Van Leeuwenhoek, v. 107, n. 6, p. 1547-1553, 2015.
NAGPAL, R. et al. Gut microbiota in health and disease: an overview
focused on metabolic inflammation. Benef microb, v. 7, n. 2, p. 181-194,
2016.
ONCEL, M. Y. et al. Lactobacillus reuteri for the prevention of necrotising
enterocolitis in very low birthweight infants: a randomised controlled
trial. Arch. Dis. Child Fetal Neonatal Ed., v. 99, n. 2, p. 110-115, 2014.
PEREZ‐BURGOS, A. et al. The TRPV1 channel in rodents is a major target
for antinociceptive effect of the probiotic Lactobacillus reuteri DSM 17938. J
Physiol, v. 593, n. 17, p. 3943-3957, 2015.
PERNICA, J. M. et al. Rapid enteric testing to permit targeted antimicrobial
therapy, with and without Lactobacillus reuteri probiotics, for paediatric

383
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
acute diarrhoeal disease in Botswana: A pilot, randomized, factorial,
controlled trial. PloS one, v. 12, n. 10, p. e0185177, 2017.
RIEZZO, G. et al. Randomised double blind placebo controlled trial on
Lactobacillus reuteri DSM 17938: improvement in symptoms and bowel
habit in functional constipation. Beneficial microbes, v. 9, n.1, p. 51-60,
2018.
ROSANDER, A.; CONNOLLY, E.; ROOS, S. Removal of antibiotic
resistance gene-carrying plasmids from Lactobacillus reuteri ATCC 55730
and characterization of the resulting daughter strain, L. reuteri DSM 17938.
App environm microbiol, v. 74, n. 19, p. 6032-6040, 2008.
SAEZ-LARA, M. J. et al. The role of probiotic lactic acid bacteria and
bifidobacteria in the prevention and treatment of inflammatory bowel
disease and other related diseases: a systematic review of randomized
human clinical trials. BioMed res. Int., v. 2015, p. 1-15, 2015.
SÁNCHEZ, B. et al. Probiotics, gut microbiota, and their influence on host
health and disease. Mol. Nutr. Food Res., v. 61, n.1, p. 1-15, 2017.
SAVINO, F. et al. Preventive effects of oral probiotic on infantile colic: a
prospective, randomised, blinded, controlled trial using Lactobacillus reuteri
DSM 17938. Beneficial microbes, v. 6, n. 3, p. 245-251, 2014.
SAVINO, F. et al. Probiotics and gut health in infants: A preliminary case–
control observational study about early treatment with Lactobacillus reuteri
DSM 17938. Clin. Chim Acta, v. 451, p. 82-87, 2015.
SAVINO, F. et al. Probiotics for infantile colic: a randomized, double-blind,
placebo-controlled trial investigating Lactobacillus reuteri DSM 17938. J
pediat, v. 166, n. 1, p. 74-78, 2015.
SAVINO, F. et al. Regulatory T cells and Toll-like receptor 2 and 4 mRNA
expression in infants with colic treated with Lactobacillus reuteri
DSM17938. Beneficial microbes, p. 1-10, 2017.
SUNG, V. et al. Treating infant colic with the probiotic Lactobacillus reuteri:
double blind, placebo controlled randomised trial. Bmj, v. 348, p. 1-11,
2014.
SUO, H. et al. Lactobacillus fermentum Suo attenuates HCl/Ethanol
induced gastric injury in mice through its antioxidant effects. Nutrients, v. 8,
n. 3, p. 155, 2016.
SZAJEWSKA, H. et al. Meta-analysis: Lactobacillus reuteri strain DSM
17938 (and the original strain ATCC 55730) for treating acute
gastroenteritis in children. Benef microb, v. 5, n. 3, p. 285-293, 2014.
SZYMAŃSKI, H.; SZAJEWSKA, H. Efficacy of Lactobacillus Reuteri DSM
17938 for the Treatment of Acute Gastroenteritis in Children: Protocol of a
Randomized Controlled Trial. JMIR res. protocols, v. 6, n. 8, 2017.

384
MAPEAMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DA APLICABILIDADE DO
PROBIÓTICO Lactobacillus reuteri DSM 17938 EM DESORDENS DO TRATO
GASTROINTESTINAL
TALARICO T.L. et al. Production and Isolation of Reuterin, a Growth
Inhibitor Produced by Lactobacillus reuteri. Antimicro agents chemother,
v. 32, n. 12, p. 1854-1858, 1988.
THOMAS, C. M. et al. FolC2‐mediated folate metabolism contributes to
suppression of inflammation by probiotic Lactobacillus reuteri. Microbiol
Open, v. 5, n. 5, p. 802-818, 2016.
URBAŃSKA, M. et al. Effectiveness of Lactobacillus reuteri DSM 17938 for
the Prevention of Nosocomial Diarrhea in Children. Pediatr. Infect. Dis.
J., v. 35, n.2, p. 142-145, 2016.
URDACI, M.C. et al. Tu2027 Probiotic Bacillus subtilis attenuate
inflammation in a rat model of arthritis through modulation of intestinal
microbiota. Gastroenterol, v. 150, n. 4, p. S1009, 2016.
VALDÉS-VARELA, L. et al. Screening of bifidobacteria and lactobacilli able
to antagonize the cytotoxic effect of Clostridium difficile upon intestinal
epithelial HT29 monolayer. Front. Microbiol., v. 7, p. 1-15, 2016.
WANG, H. et al. Are there any different effects of Bifidobacterium,
Lactobacillus and Streptococcus on intestinal sensation, barrier function
and intestinal immunity in PI-IBS mouse model?. PLoS One, v. 9, n. 3, p.
e90153, 2014.
WANG, J. et al. Modulation of gut microbiota during probiotic-mediated
attenuation of metabolic syndrome in high fat diet-fed mice. The ISME
journal, v. 9, n. 1, p. 1-15, 2015.
WEIZMAN, Z.; ABU-ABED, J.; BINSZTOK, M. Lactobacillus reuteri DSM
17938 for the management of functional abdominal pain in childhood: a
randomized, double-blind, placebo-controlled trial. J. pediatr., v. 174, p.
160-164, 2016.
WGO – WORLD GASTROENTEROLOGY ORGANIZATION. Probióticos e
prebióticos. 2017. Disponível em:
http://www.worldgastroenterology.org/guidelines /global-
guidelines/probiotics-and-prebiotics/probiotics-and-prebiotics-portuguese#.
Acesso em: 28 de junho de 2018.

385
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
CAPÍTULO 20

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL
ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA
PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.

Khetyma Moreira FONSECA1


Kerolayne de Melo NOGUEIRA1
Higinalice da Silva PEREIRA1
Isabela Ribeiro de Sá Guimarães NOLÊTO2
Francisca Beatriz De Melo SOUSA3
1Mestrandas em biotecnologia-RENORBIO/UFPI;2Mestranda em Farmacologia
/UFPI;3Doutoranda em biotecnologia-RENORBIO/UFPI.
Khetyma_mf@hotmail.com

RESUMO:A mucosite oral é o efeito colateral na terapia


antineoplásica. Há diversos fármacos que atuam combatendo
tal efeito. A L-cisteína, possui várias propriedades
farmacológicas como: efeito gastroprotetor, antinflamatório.
Tendo em vista isso, objetivo desta prospecção cientifica e
tecnológica foi investigar o potencial antioxidante da L-cisteína
na mucosite oral ,a partir da busca de artigos nas bases de
dados PubMed, Web of ScienceTM, Scopus e Scielo, e por
patentes nas bases United States Patent and Trademark Office
(USPTO), European Patent Office (EPO), World Intellectual
Property Organization (WIPO) e no Banco de dados do Instituto
Nacional de Propriedade Industrial (INPI), referentes aos
últimos 5 anos, utilizando palavras-chaves :“L-cystiene”,

386
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
“Mucositis”, “Antioxidants” e os três termos de maneira
associada “L-cystiene” and “Mucositis” and “Antioxidants”
utilizando operador boleano AND. Como esperado, a busca por
L-cystiene and Antioxidants retornou muitos resultados na base
de dados Pubmed, assim como foram encontradas algumas
patentes. Entretanto, quando buscou-se por L-cystiene and
Antioxidants and Mucositis não foram encontrados nenhuma
patente. Apesar de na literatura descrever a ação antioxidante
da L-cisteína, efeitogastroprotetor, antinflamatório diminuindo a
expressão de COX2 e citocinas em vários modelos de
inflamação. Observou-se que não há estudos que visem sua
ação no modelo de mucosite oral. Assim, vê-se a importância
da pesquisa e aplicabilidade da L-cisteína como terapêutica na
mucosite oral.
Palavras-chave :L-cisteína, mucosite oral,antioxidante.

INTRODUÇÃO

Dentro da terapia oncológica a diversas estratégias


medicamentosas que visam inibir o crescimento anárquico das
células neoplásicas. Dentre os quimioterápicos utilizados nesta
terapêutica, destaca-se o 5-FU, que pertence à classe dos
antimetabolitos e atua principalmente nas células com alta
proliferação celular, neste caso, no epitélio do trato digestório
(SILVEIRA et al.,2012;GUERREIRO; SWENSON,2014).
A mucosite oral é um dos efeitos colaterais mais
observado no tratamento à base de quimioterápicos para
diversas neoplasias (TAKANO et al.,2015; GOODMAN et
al.,2017; ZOU; WANG; ZHANG,2017), sendo detalhado na
literatura, em quatro fases (inflamatória/vascular, epitelial,

387
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
ulcerativa/microbiológica e cicatrizadora) (ARAUJO et al.,2015;
SHIMAMURA et al.,2018; RIBEIRO et al.,2017). Onde a fase
ulcerativa é o período mais crítico (ARAUJOet al.,2014;
RIBEIRO et al.,2015), desencadeada pela quimioterapia, que
leva a geração de espécies reativas de oxigênio (ROS), que por
sua vez, ativa várias vias de sinalização na submucosa e
epitélio do trato digestório (YOSHINO et al.,2013).
Alguns autores sugeriram que as ROS são sintetizadas
nas células lesionadas, pela via da Ciclooxigenase e Oxido
Nítrico (NOS), através Ciclooxigenase-2 (COX2), (LOGAN et
al.,2007; SILVA et al.,2017) e produção do Oxido Nítrico
Induzido (iNOs), respectivamente, (BASTOS et al.,2015)
desenvolvendo o quadro de mucosite oral (LOGAN et al.,2007;
MARCUSSEN et al.,2017). Sendo a assim, importante a
investigação dos mediadores inflamatórios e de prováveis
substâncias que sejam capazes de inibir, tais mediadores, no
desenvolvimento do quadro de mucosite oral.
Neste contexto, a Cisteína é um aminoácido
semiessencial e está presente principalmente na forma
de L- cistina no espaço extracelular. Com a ajuda de um sistema
de transporte, a L- cistina extracelular atravessa a membrana
plasmática e é reduzida a l-cisteína dentro das células pela
tiorredoxina e pela glutationa reduzida (GSH). A L-
cisteína intracelular desempenha um papel importante na
homeostase celular como um precursor para a síntese proteica
e para a produção de GSH, sulfeto de hidrogênio (H 2 S) e
taurina (YIN et al.,2016).
Vários aminoácidos, como a L-cisteína e L-arginina,
modulam varias vias de sinalização em in vitro e in vivo como
aminoácidos essenciais, além de seus papéis como

388
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
componentes de peptídeos / proteínas (SILVA et al., 2014;
LEBEAUX et al.,2015; WANG; CHENG; ZHU,2015). Por
exemplo, a L-arginina é conhecida por regular a expressão
gênica e a sinalização intracelular da enzima precursora na
sintese de oxido nitrico em modelos de lesão inflamatória,
tendo ação antinflamatória ,antioxidante e cicatricial assim
como, a L-Cisteína ( KANIKA; KHAN; JENA,2015).
Este aminoacido é classificado como semiessencial pois,
participa principalmente no metabolismo proteico (SALMAN et
al.,2013).No entanto, ha estudos que relatam suas
propriedades não nutricionais, dentre eles , seu efeito
gastroprotetor(LEE et al.,2013; KANIKARLA et al.,2014). Por
meio da reação da transulfatação reversa da L-cisteína
liberando o Sulfeto de hidrogênio (H2S), potente antioxidante
(KABIL; BANERJEE,2010; POWELL; DILLON;
MATSON,2017).
Sua ação antioxidante, se dá por meio da redução dos
níveis de MDA, nitrito/nitrato e aumentando os níveis de GSH
no tecido pancreático no modelo de diabetes por exemplo
(SALMAN et al,.2013). Diminuindo a expressão de genes e
proteínas pró apoptóticos dentre eles, a caspase-3 e Citocromo
C nas mitocôndrias (CHOUDHARY; AL-HARBI;
ALMASAN,2015). Ativando a sinalização de AKT (Proteina
Kinase Transportadora) responsavel pela proliferação celular e
diminuição de estresse oxidativo(TANIGUCHI et al., 2011).
Ha estudos que descrevem que a L-cisteína regula
diretamente a sintese , função ,ligação e transporte de enxofre
em proteinas .De modo indireto regula também as respostas
celulares quanto aos niveis de glutationa e formação sulfeto de
hidrogênio (H2S) (INGENBLEEK e KIMURA, 2013). Servindo de

389
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
substrato para duas enzimas piridoxal 5-fosfato dependente
:cistationa ᵞ– lyase (CSE) e cistationa ᵝ-sintetase (CBS)
(MOORE etal.,2003).Onde a a CSE e CBS são enzimas
importantes para o metabolismo dos aminoácidos contendo o
enxofre bem como para produção de H2S que possui algumas
ações fisiológicas como as respostas imunes e
inflamatórias(FIORUCCI et al.,2016).Os doadores de H2S são
capazes de reduzir a inflamação por redução da expressão de
um numero de citocinas pró-inflamatórias, como TNF-α,IL-
1β,IL-8 e o interferon- ᵞ (FIORUCCI et al.,2016).Tais evidencias
indicam seu potencial uso na pratica clinica e indicam seu
possivel potencial antioxidante e protetor em modelos de lesão
inflamatória.Sendo assim, o objetivo do presente estudo é
realizar uma prospecção cientifica e tecnologica a respeito do
potencial antioxidante e protetor na mucosite.

MATERIAIS E MÉTODO

Para a realização deste estudo foi realizado um


levantamento de artigos e patentes para investigar o potencial
uso da L-cisteína como agente antioxidante no modelo de
mucosite oral. Para isso, foi realizada uma busca por artigos
para a fundamentação cientifica da temática nas bases de
dados PubMed,Web of Science TM,Scopus, Scielo e por
patentes para avaliar a aplicabilidade deste aminoácido
semiessencial na mucosite oral nas bases United States Patent
and Trademark Office (USPTO), European Patent Office
(EPO),Word Intellectual Property Organization (WIPO) e no
Banco de dados do Instituto Nacional de Propriedade Industrial

390
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
(INPI).O rastreio dos dados foi realizado em outubro de 2018
nas bases supracitadas referentes ao últimos 5 anos.
As buscas foram realizadas utilizando os descritores
relacionados a temática utilizando as palavras-chave
associados aos descritores boleanos “and”: de modo conjunto
“L-cystiene” ou” L-cisteina”, “Mucositis” ou” mucosite oral”,
“Antioxidants” ou “antioxidante” e associando os três termos: “L-
cystiene” and “Mucositis” and “Antioxidants” /” L- cisteina” e”
mucosite oral” e “antioxidante”. Onde os termos em inglês foram
utilizados para as bases internacionais, já os termos em
português foramutilizados para a busca na base nacional,
sendo considerados válidos e selecionados os documentos que
apresentassem esses termos no título e/ou resumo. Vale
ressaltar que a pesquisa teve como enfoque a ação
antioxidante deste composto. Os dados foram analisados e
plotados utilizando o Excel®.
O fluxograma abaixo esquematiza as palavras-chaves
utilizadas neste artigo (Figura 1).

Figura 1.Combinação das palavras-chaves* para busca de


artigos e patentes relacionadas a avaliação da ação
antioxidante da L-cisteína.
L-cystiene Mucositis

AND

Antioxidants

*As palavras-chaves foram pesquisadas em português nas bases Scielo e


INPI.Fonte: Autoria própria ,2018.
391
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

PROSPECÇÃO CIENTIFICA

Na busca da avaliação do potencial antioxidante da L-


cisteína, fez-se um levantamento sobre o embasamento
cientifico de sua utilização como potente agente antioxidante na
mucosite oral. Como visto na tabela 1, existem muitos artigos
sobre a relação da L-cisteína e o seu potencial antioxidante,
porém não existe estudos relacionando o uso deste na proteção
da mucosite oral.

Tabela 1-Número de artigos científicos por palavra-chave nas


bases de dados.

Fonte: Própria autora , 2018.


PUBMED SCOPUS WEB OF SCIELO
SCIENCE
L-cystiene 0 0 0 0
AND Oral
Mucositis
L-cystiene 1855 0 0 7
AND
Antioxidants
L-cystiene 0 0 0 0
AND Oral
Mucositis AND
Antioxidants

Pois, a mucosite é um processo inflamatório que pode


envolver as células epiteliais da cavidade oral e do trato
392
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
gastrointestinal (LALLA et al., 2014). Tal condição é
caracterizada pela quebra da barreira mucosa, resultante do
dano ao DNA nas celulas com alto turnover, como as células da
cavidade oral e gastrointestinal, decorrente da toxicidade
celular (SEBILLE et al., 2015; ARAUJO et al., 2015).
Esta toxicidade, que afeta o trato gastrintestinal é comum
na terapia antineoplásica. A lesão da boca, mucosite oral (MO),
está entre um dos efeitos colaterais mais estudados da terapia
do câncer. As ulcerações associadas à MO resultam em dor
significativa, que afeta a capacidade do paciente de comer,
impactando negativamente na qualidade de vida e reduzindo a
tolerabilidade do tratamento do câncer (BARKOKEBAS et al.,
2015).
A mucosite pode, portanto, ter um efeito profundamente
negativo sobre o estado nutricional, ingestão oral de alimentos
e medicamentos e manutenção da saúde bucal em
pacientes. Clinicamente, a manifestação da MO afeta o epitélio
de modo contínuo, onde, em sua forma branda, apresenta-se
como lesões atróficas eritematosas e, em sua forma grave,
como lesões ulcerativas que penetram a submucosa (LAHEIJ;
DE SOET, 2014). Assim como na mucosite intestinal causando
atrofia das vilosidades, dificultando a absorção de nutrientes
necessários para o funcionamento normal do corpo associado
aos quadros de êmese e diarreia (KARBELKAR et al., 2016).
Além disso, a perca da integridade do epitélio oral e
gastrointestinal aumenta a predisposição a infecções por
bactérias e agentes infecciosos para sistema circulatório
(MENDONÇA et al., 2015). Desse modo, com essa perda da
histoarquitetura do trato gastrointestinal propicia a invasão de
cepas bacterianas que estimulam a liberação de citocinas pró

393
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
inflamatórias, como TNF-α, IL-1β e IL-6, que ativam
indiretamente genes pró-apoptóticos, sobretudo NFκB, que
amplificam os danos já instaurados (VILA, SONIS 2015;
MORAIS et al., 2015). Sendo alvo de muitos estudos que
visem a supressão deste efeito colateral.
Visando a terapia antinflamatória,os aminoácidos são as
unidades básicas da composição de uma proteína. Em
humanos saudáveis, há nove aminoácidos que são
considerados essenciais (triptofano, valina, fenilalanina,
treonina, lisina, isoleucina, leucina, histidina e metionina), uma
vez que não podem ser sintetizados endogenamente e,
portanto, devem ser ingeridos por meio da dieta. Existem ainda
os aminoácidos essenciais ocasionais, o que significa que são
produzidos por organismos saudáveis, mas em determinadas
situações, nosso corpo pode não produzi-los. São eles:
cisteína, glicina, prolina e tirosina. (JUNIOR, 2013; ROGERO
et al., 2008).
A Cisteína é um aminoácido semiessencial e está
presente principalmente na forma de L- cistina no espaço
extracelular. Com a ajuda de um sistema de transporte,
a L- cistina extracelular atravessa a membrana plasmática e é
reduzida a L-cisteína dentro das células pela tiorredoxina e
pela glutationa reduzida (GSH). A L-
cisteína intracelular desempenha um papel importante na
homeostase celular como um precursor para a síntese proteica
e para a produção de GSH, sulfeto de hidrogênio (H 2 S) e
taurina (YIN et al., 2016).
Na maioria dos estudos pesquisados, observou-se a
utilização deste aminoácido semiessencial em diversos
modelos de inflamação e pesquisas in vitro. Diversos estudos

394
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
mostram que a l-cisteína atua em algumas vias como substrato
na produção do sulfeto de hidrogênio (POWELL; DILLON;
MATSON,2017).
Ha estudos que descrevem que a L-cisteína regula
diretamente a sintese , função ,ligação e transporte de enxofre
em proteinas .De modo indireto regula também as respostas
celulares quanto aos niveis de glutationa e formação sulfeto de
hidrogênio (H2S) (INGENBLEEK e KIMURA, 2013). Além disso,
o H2S está envolvido em inúmeras funções fisiológicas, como a
resposta imune, inflamatória, percepção e mediação da dor,
sendo produzido em muitos tecidos de mamíferos (POWELL;
DILLON; MATSON,2017). Os principais compostos doadores
de enxofre nos tecidos são a metionina, taurina e cisteína nas
células de mamíferos (VICENTE et al.,2016; AVILA,2012).
Nessas celulas, a produção endógena de H2S é
realizada principalmente por meio da reação de transulfatação
reversa na L-cisteína que é catalisada, por duas enzimas
dependentes do co-fator piridoxal-5’-fosfato (Vitamina B6)
(PLP): cistationina β-sintase (CBS) e cistationina γ-liase (CSE).
Alternativamente, a L-cisteína pode ser convertida em 3-
mercaptopiruvato pela enzima cisteína amino-transferase
(CAT), e em seguida, em H2S através da enzima 3
mercaptopiruvato sulfurtransferase (3-MST) (DUNN et al.,
2016).
No modelo de ulcera gástrica denotou que o H2S inibe a
atividade da enzima mieloperoxidase promovendo uma
redução dos efeitos citotóxicos nos grânulos azurofílicos dos
neutrófilos (PÁLINKÁS et al., 2015). Ele também pode atenuar
a inflamação gástrica induzida por AINES diminuindo, a
secreção de ácido gástrico, a redução no fluxo sanguíneo, e

395
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
aumento da adesão de leucócitos ao endotélio vascular na
microcirculação na fase inicial desse processo inflamatório
(WALLACE;ZHU, 2015).
Além disso, o H2S promoveu a apoptose de neutrófilos e
aumentou a fagocitose de bactérias por macrófagos, fatores
fundamentais na resolução do processo inflamatório (ZHAO et
al.,2017; DUFTON et al., 2012). Sua ação antinflamatória é
decorrente da dow-regulation de citocinas pró-inflamatórias,
como (TNF-α), interleucina-1β (IL-1, IL-8 e o interferon-γ
(FIORUCCI et al., 2007). E a inibição da expressão de citocinas
pró-inflamatórias se dá pela inibição do gene que codifica o fator
nuclear NFĸB (CHEN; LIU, 2016; SEN et al., 2012). Além de
inibir também os genes para COX-1 e COX-2 tendo ação
gastroprotetora devido as suas propriedades antioxidantes, por
meio da expressão da proteína antioxidante GPx-1 e do
restabelecimento microcirculação em neurônios aferentes em
modelo de isquemia gástrica (MAGIEROWSKI et al.,2017).
Entretanto, sabe-se que os mecanismos e vias de
sinalização do H2S, como alvo a ação antinflamatória, ainda não
estão completamente compreendidos. Mas já foram descritos
alguns mecanismos, dentre eles, a ação seletiva do H 2S no
canal de KATP, ativação dos canais de cálcio do tipo T,
envolvidos nos estímulos nociceptivos viscerais e hiperalgesia
somática em camundongos, por meio da estimulação dos
receptores TRPV1 e TRPA1, sendo primordiais nas
investigações nos processos inflamatórios (SCHICHO et al.,
2006; MATSUNAMI et al., 2011; SZABÓ et al., 2011;
MIYAMOTO et al., 2011; GUO; CHENG; ZHU 2013).
Em outro modelo de lesão inflamatória, induzida por LPS
(Escherichia coli) em porcinos, investigou-se a ação da L-

396
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
cisteína na via de sinalização NF-κB (p65) e fator nuclear
eritróide 2 (Nrf2). Constatando sua ação antinflamatória nos
segmentos de jejuno íleo, atuando na diminuição da transcrição
de NF-κB e (Nrf2) que desencadearam a down-regulation de
TNF-α, IL-6 e IL-8, aumentando os níveis de CAT, SOD,GSH
(SONG et al.,2014).
Já em pesquisas in vitro, viu-se que a L-cisteína atua na
via AMPK / PPARγ. Diminuindo a produção intracelular de
EROS, aumentando os níveis PIP3 (Fosfatidilinositol-3,4,5),
regulando positivamente a fosforilação de AMPK e a expressão
de PPARγ (Receptor ativado por proliferadores de Peroxissoma
Gama), reduzindo a fosforilação de NFkB, secreção de TNF-
α,IL-8,IL-1β,durante o processo inflamatório (MANNA e JAIN,
2013; SALVADÓ et al.,2014) .
Noutro estudo in vitro, descreveu a relação da
superexpressão de CSE com a diminuição da geração do fator
de necrose tumoral-α (TNF-α) e proteínas como a molécula de
adesão intercelular-1 (ICAM-1), durante a peroxidação das
lipoproteínas de baixa densidade em macrófagos, levando ao
bloqueio da sinalização JNK / NF-kB na via CSE/H2S, alvo
terapêutico para muitas doenças (WANG et al.,2015).
No estudo experimental, com modelo de lesão gástrica
por etanol, realizado por Medeiros e seus pesquisadores
(2013), observaram também este aumento da expressão de
CSE, como mecanismo de defesa contra o dano gástrico por
etanol, por meio da imunohistoquimica.
Dessa forma, vê-se que a L-cisteína apresenta grande
potencial antioxidante e antinflamatório por ser o substrato que
aumento os níveis de sulfeto de hidrogênio que que é um
potente agente antinflamatório. Tendo em vista que, a L-

397
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
cisteína é um aminoácido semiessencial com grande potencial
antioxidante e antinflamatório sendo considerado um fármaco
em potencial no estudo da mucosite oral. Porém como visto na
tabela 1, não há estudos que visem a atividade protetora da L-
cisteína no modelo de mucosite oral.

Prospecção Tecnológica

A seguinte prospecção tecnológica foi feita a partir da busca de


patentes nas bases WIPO(Word Intellectual Property
Organization),USPTO (United States Patent na Trademark
Office),EPO (European Patent Office),e na base brasileira INPI
(Instituto Nacional da Propriedade Intelectual).
Inicialmente, quando buscou-se na base EPO por
patentes utilizando os descritores “L-cystein and antioxidants”,
a pesquisa retornou 270 propriedades registradas (tabela 2)
sobre a utilização da L-cisteína como potencial antioxidante, o
que corresponde com a literatura, pois este aminoácido
semiessencial tem ação antioxidante em diversos modelos
inflamatórios, dentre eles, o modelo de hiperlipidemia, diabetes
e colite por exemplo (HILDEBRANDT et al.,2015;
MCGAVIGAN et al.,2015; MAGIEROWSKI et al.,2017).

398
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
Tabela 2.Número de patentes por palavras-chaves.

WIPO EPO USPTO INPI


L-cystein and antioxidants 121 270 44 0

L-cystein and oral 0 0 0 0


Mucositis
L-cystein and oral 0 0 0 0
Mucositis and antioxidants

Fonte: Própria autora, 2018.

De acordo com os resultados obtidos na busca de


patentes, viu-se que as patentes referentes a “L-cystein and
antioxidants” são referentes a meios de veiculação e sua forma
conjugada com outros compostos químicos, como excipiente
farmacêutico, lipossomas, emulsões, soluções e estabilizante
que conferem sua ação antioxidante e
antinflamatória(EP13.05.2015;EP18062014;CN19.08.2009;W
O28.02.2008;EP02.01.2004;MX22.04.2003;CN12.02.2003;EP
18.02.2002;KR 26.10.2002;WO 19.09.2002;AU
25.10.2001;WO 09.08.2001;CA 09.08.2001;EP 02.12.1992;DE
19.03.1992;DE 04.06.1987).Não existindo propriedade
antinflamatória e antioxidante para a mucosite oral.
Dando continuidade a pesquisa,quando utilizou-se as
palavras “L-cystiene” ou” L-cisteina”, “Mucositis” ou” mucosite
oral”, “Antioxidants” ou “antioxidante”, de maneira isolada,
foram encontradas 96.475 patentes no total nos bancos de
dados INPI, USPTO e EPO sendo que, o número de patentes
encontradas com as palavras-chaves “Antioxidants” ou
“antioxidante” foi prevalente com 86.885 na base de dados

399
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
Americanos(USPTO) conforme a figura. 1.Entretanto, quando
utilizado os três termos de maneira associada “L-cystiene” and
“Mucositis” and “Antioxidants” /” L-cisteina” e” mucosite oral” e
“antioxidante”, não foram encontrados nenhum resultado.
Na base WIPO, utilizando os descritores “L-cystiene” and
“Antioxidants” foram encontrados 121 propriedades protegidas
,como visto na tabela 2.O Brasil foi o pais que mais depositou
patentes como totalizando 78 patentes depositadas como
mostrado na figura 1.Abaixo do Brasil está Portugal com
deposito de 21 patentes para desenvolvimento de suplementos
alimentares.
Figura 2.Resultados obtidos para busca pelo termo “L-
cystiene”and “Antioxidants” na base de patentes WIPO quanto
aos países que depositaram patentes ao longo dos anos.

100

80

60

40

20

0
India Russia Brasil Portugal

Fonte: Própria autora ,2018.

Com relação a classificação Internacional de Patentes


(CIP), viu-se que a maioria das patentes registradas estão
classificadas com A61, relacionada a área de Ciência Médica
ou Veterinária, especificamente a CIP A61K (51 patentes), que

400
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
são preparações para finalidades medicas, odontológicas ou
higiênicas (dispositivos ou métodos especialmente adaptados
para dar aos produtos farmacêuticos formas físicas
determinadas ou para administração).
Figura 3.Resultados obtidos para a busca pelo termo “L-
cystiene” and “Antioxidants” na base de patentes WIPO quanto
a CIP dos depósitos de pedidos de patente.

A61K
A23L
C12N
A61P
A23C

0 10 20 30 40 50 60

Fonte: Própria autora ,2018.

Além disso, quando enfatizou-se a ação antioxidante da


L-cisteína, foram encontradas apenas 25 patentes na USPTO
protegidas , no entanto, foi observado este aminoácido na sua
forma conjugada mais estável, cisteína-L cloridrato, menos
instável e menos propensa a oxidação , e com ação
gastroprotetora para mucosite intestinal(NATARAJAN;
ABRAHAM, 2016).Outra forma encontrada foi a hidrocloreto de
L-cisteína monohidratado que é empregado na agricultura no
uso de pesticidas se ligando a grupos tióis diminuindo o risco
de hepatoxicidade dos trabalhadores rurais. Além desta, a
forma química sulfóxido de S- (1,2-diclorovinil) -

401
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
L- cisteína (DCVCS) com ação nefrotóxica (BARSHTEYN, N;
ELFARRA,2007).
Figura 4.Número de patentes depositadas nos bancos de
dados INPI, EPO e USPTO por palavras-chave.

Fonte: Autoria própria (2018).

Na base WIPO, utilizando o descritor “L-cystein and


antioxidants”, foram encontradas 121 propriedades protegidas,
como visto na tabela 2. Onde a L-cisteína é utilizada de modo
conjugado para formulação de vários fármacos que visam inibir
a transcrição de genes pro-inflamatório por liberaram o sulfeto
de hidrogênio que tem ação antinflamatória (CHEN; LIU, 2016;
SEN et al., 2012).
Avaliou-se também a evolução anual de depósito de
patente no banco de dados da USPTO, utilizando os descritores
“L-cystein and antioxidants” com o objetivo de verificar o ano em
que houve mais depósito de patentes, nos últimos 24
anos.Como é observado na figura.4, no ano de 1995 foi
registrado a primeira patente que visam a estabilização de
proteínas e no ano de 2018 obteve o maior número de depósito
de patentes.Onde na primeira patente estava relacionada a
402
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
utilização da L-cisteína com tioéteres especiais como
antioxidante para peptídeos eproteínas visando sua ação
antioxidante.
Quando pesquisou-se na base Brasileira, INPI, utilizando
os descritores associados “l-cisteína “and ‘antioxidantes” e
também a associação dos três termos “l-cisteína “ and
‘antioxidantes” and “mucosite oral” não foi achado nenhuma
patente .Assim ,também nenhuma das bases retornou
resultado quando se fez associação desses descritores
,mostrando a ausência de propriedade relacionadas ap seu uso
como terapêutica antinflamatória na mucosite oral.

Figura 5 – Evolução anual de pedidos de depósitos de patentes


na base United States Patent and Trademark Office.

Fonte: Autoria própria (2018).

Anos antes (1985) foi depositado uma patente com fins


medicinais, quando a L-cisteína foi inserida num material
transportador, visando sua ação redox no sistema fisiológico
compreendendo preferencialmente os seguintes compostos:
selenometionina, acetato de DL-alfa-tocoferol, ácido ascórbico
(vitamina C), beta-caroteno (provitamina A), tiamina HCl
403
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
(vitamina B1), riboflavina (vitamina B2), piridoxina HCl (vitamina
B6), nicotinamida, glutationa (gama-glutamilcisteinilglicina) e L-
cisteína. O produto age sobre os radicais livres sendo portanto,
usado para prevenir e eliminar os distúrbios degenerativos. No
ano de 2017 a L-cisteina foi utilizada na sua forma mais estável
N-acetil- L – cisteína na criopreservação na fertilização in vitro
(Lundberg et al.,2017).
Além de ser utilizado como ação gastroprotetora,
vinculado a um probiótico, promovendo a proliferação de
bactérias benéficas nos intestinos e inibe a proliferação de
bactérias entéricas nos intestinos para melhorar a flora
intestinal e aumenta o efeito dos probióticos. Também, por ter
na sua composição o grupo tiol que age melhorando o
movimento intestinal e reduz as doenças relacionadas com o
intestino (BAINDARA et al.,2017).
Sendo utilizado também os derivados da Cisteína neste
caso, da L-cisteína no tratamento de feridas por meio do
bloqueio da expressão de proteínas genicas que aumentam o
processo de estresse oxidativo (BAINDARA et al.,2017).
No tratamento de uma úlcera crónica, tal como uma
úlcera diabética, r meio do uso do gel a base de L-cisteína que
libera sulfeto hidrogênio localmente na úlcera com ação
cicatricial por aumentar a expressão Metaloproteinases I e II e
diminuir a expressão de NFKβ (AVANTAGGIATO et al.,2014).
Na mesma base de dados, foi visto(vide figura 6) a
distribuição de patentes depositadas por tipo de depositante e
pode-se observar que, o deposito de patentes por empresas
privadas foi maior (80%) seguido por Inventor individual (12%).
e Universidade (8%).

404
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
Figura 6. Distribuição de patentes depositadas na base United
States Patent and Trademark Office por tipo de depositante.

Fonte: Autoria própria (2018).

Por conseguinte visando a distribuição de patentes


depositadas e dos seus inventores. Notou-se que a um
aumento expressivo na investigação deste aminoácido
semiessencial por empresas privadas, na tentativa de gerar
mais lucros futuramente para indústria farmacêutica. E um
percentual menos expressivo de investigação deste composto
por Universidades, talvez isso, seja pelo gasto oneroso na
formulação deste composto, na conjugação do mesmo com
novas substancias químicas, na rota de liberação entre outros
percalços encontrados dentro da pesquisa cientifica.

405
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
CONCLUSÃO
No estudo realizado pôde-se constatar que o
patenteamento da l-cisteína e sua ação antioxidante não é
recente tendo seu primeiro depósito de patente em 1993,
entretanto, houve um aumento significativo no deposito de
patentes no ano de 2018 quando comparado com os anos
anteriores. Entretanto, vê-se que há um grande número de
estudos científicos sobre a ação antioxidante da L-cisteína.
Embora, não sendo estudado o seu potencial
antioxidante e antinflamatório no modelo de mucosite oral.
Sendo assim alvo de estudos pois, o composto apresenta
grande potencial e que precisa ser explorado, visando à
inovação tecnológica, no que concerne a tecnologias para
preparações voltadas para a saúde, a sua grande diversidade
de utilizações médicas e farmacêuticas.

REFERENCIAS

ARAÚJO, C.V et al.Alanyl-glutamine attenuates 5-fluorouracil-induced


intestinal mucositis in apolipoprotein E-deficient mice. Brazilian Journal of
Medical and Biological Research, v. 48, n. 6, p. 493-501, 2015.
AVANTAGGIATO, A. et al. Fibroblasts behavior after N-acetylcysteine and
amino acids exposure: Extracellular matrix gene expression. Rejuvenation
research, v. 17, n. 3, p. 285-290, 2014.
BARSHTEYN, N; ELFARRA, A. A. Formation of three N-acetyl-L-cysteine
monoadducts and one diadduct by the reaction of S-(1, 2-dichlorovinyl)-L-
cysteine sulfoxide with N-acetyl-L-cysteine at physiological conditions:
chemical mechanisms and toxicological implications. Chemical research
in toxicology, v. 20, n. 10, p. 1563-1569, 2007.
BAINDARA, P. et al. Cysteine-rich low molecular weight antimicrobial
peptides from Brevibacillus and related genera for biotechnological

406
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
applications. World Journal of Microbiolgy and Biotechnology, v. 33, n.
6, p. 124, 2017.

BASTOS, M.J.F et al. A novel model of megavoltage radiation-induced oral


mucositis in hamsters: Role of inflammatory cytokines and nitric
oxide. International journal of radiation biology, v. 91, n. 6, p. 500-509,
2015.
CHOUDHARY, G. S.; AL-HARBI, S; ALMASAN, A. Caspase-3 activation is
a critical determinant of genotoxic stress-induced apoptosis. In: Apoptosis
and Cancer. Humana Press, New York, NY, 2015. p. 1-9.
DUNN, W. R. et al. Effects of hydrogen sulphide in smooth muscle.
Pharmacology and Therapeutics, v. 158, p. 101-13, 2016.
FIORUCCI, S. et al. Enhanced activity of a hydrogen sulphide-releasing
derivative of mesalamine (ATB-429) in a mouse model of colitis, British
Journal of Pharmacology, v. 150, n. 8, p. 996–1002, 2016.
GOODMAN, Karyn A. et al. Capecitabine With Mitomycin Reduces Acute
Hematologic Toxicity and Treatment Delays in Patients Undergoing
Definitive Chemoradiation Using Intensity Modulated Radiation Therapy for
Anal Cancer. International Journal of Radiation Oncology• Biology•
Physics, v. 98, n. 5, p. 1087-1095, 2017.
GUERREIRO, M. D.; SWENSON, K. K. Herpes simplex vírus-related oral
mucositis in patients with lymphoma. Onc Nurs Forum, v. 41, n. 3, p. 327-
330, 2014.
HILDEBRANDT, W.et al. Oral N-acetylcysteine reduces plasma
homocysteine concentrations regardless of lipid or smoking status, 2. The
American journal of clinical nutrition, v. 102, n. 5, p. 1014-1024, 2015.
INGENBLEEK, Y; KIMURA, H. Nutritional essentiality of sulfur in health and
disease. Nutrition reviews, v. 71, n. 7, p. 413-432, 2013.
KANIKA, G; KHAN, S; JENA, G. Sodium butyrate ameliorates L‐arginine‐
induced pancreatitis and associated fibrosis in wistar rat: role of
inflammation and nitrosative stress. Journal of biochemical and
molecular toxicology, v. 29, n. 8, p. 349-359, 2015.
KANIKARLA-MARIE, P; JAIN, S. K. L-Cysteine supplementation reduces
high-glucose and ketone-induced adhesion of monocytes to endothelial
cells by inhibiting ROS. Molecular and cellular biochemistry, v. 391, n. 1-
2, p. 251-256, 2014.
LEBEAUX, D et al. In vitro activity of gentamicin, vancomycin or amikacin
combined with EDTA or l-arginine as lock therapy against a wide spectrum
of biofilm-forming clinical strains isolated from catheter-related
infections. Journal of Antimicrobial Chemotherapy, v. 70, n. 6, p. 1704-
1712, 2015.

407
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
LEE, S. et al. Dietary L-cysteine improves the antioxidative potential and
lipid metabolism in rats fed a normal diet. Bioscience, biotechnology, and
biochemistry, v. 77, n. 7, p. 1430-1434, 2013.
LOGAN, R. M. et al. Nuclear factor-κB (NF-κB) and cyclooxygenase-2
(COX-2) expression in the oral mucosa following cancer
chemotherapy. Oral oncology, v. 43, n. 4, p. 395-401, 2007.
Lundberg, T. et al. N-acetil-L-cisteína para uso na fertilização in
vitro . Patente dos EUA n. 9,585,854, 7 mar. 2017.
MAGIEROWSKI, M et al. Exogenous and endogenous hydrogen sulfide
protects gastric mucosa against the formation and time-dependent
development of ischemia/reperfusion-induced acute lesions progressing
into deeper ulcerations. Molecules, v. 22, n. 2, p. 295, 2017.
MARCUSSEN, M. et al. A systematic review of molecular responses to
cancer therapy in normal human mucosa. Oral surgery, oral medicine,
oral pathology and oral radiology, v. 124, n. 4, p. 355-366, 2017.

MATSUNAMI, M.; KIRISHI, S.; OKUI, T.; KAWABATA, A. Chelating luminal


zinc mimics hydrogen sulfide-evoked colonic pain in mice: possible
involvement of T-type calcium channels. Neuroscience, v. 181, p. 257–64,
2011.
MCGAVIGAN, Anne K. et al. L-cysteine suppresses ghrelin and reduces
appetite in rodents and humans. International Journal of Obesity, v. 39,
n. 3, p. 447, 2015.
MEDEIROS, J. V.; SOARES, P. M.; BRITO, G. A. C.; SOUZA, M. H.
Immunohistochemical approach reveals localization of cystathionine-γ-lyase
and cystathionine-β-synthetase in ethanol-induced gastric mucosa damage
in mice. Arquivos De Gastroenterologia, v. 50, n. 2, p. 157–160, 2013.
MOORE, P.K.; BHATIA, M; MOOCHHALA, S. Hydrogen sulfide: from the
smell of the past to the mediator of the future?. Trends in
pharmacological sciences, v. 24, n. 12, p. 609-611, 2003.
NATARAJAN, K; ABRAHAM, P. Methotrexate administration induces
differential and selective protein tyrosine nitration and cysteine nitrosylation
in the subcellular organelles of the small intestinal mucosa of
rats. Chemico-biological interactions, v. 251, p. 45-59, 2016.
PÁLINKÁS, Z. et al. Interactions of hydrogen sulfide with myeloperoxidase.
British Journal of Pharmacology, v. 172, n. 6, p. 1516–1532, 2015.
POWELL, C. R.; DILLON, K. M.; MATSON, J. B. A Review of Hydrogen
Sulfide (H2S) Donors: Chemistry and Potential Therapeutic
Applications. Biochemical pharmacology, 2017.
RIBEIRO, I. L. A. et al. Factors associated with lip and oral cavity
cancer. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 18, p. 618-629, 2015.

408
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
RIBEIRO, S. Ba et al. Efeito protetor da dexametasona na mucosite oral
induzida por 5-FU em hamsters. PloS one , v. 12, n. 10, p. e0186511,
2017.
SALMAN, Z. K. et al. The combined effect of metformin and L-cysteine on
inflammation, oxidative stress and insulin resistance in streptozotocin-
induced type 2 diabetes in rats. European journal of pharmacology, v.
714, n. 1-3, p. 448-455, 2013.
SHIMAMURA, Y. et al. A Mouse Model for Oral Mucositis Induced by
Cancer Chemotherapy. Anticancer research, v. 38, n. 1, p. 307-312, 2018.
SILVA, G et al. Influence of L-arginine during bovine in vitro fertilization.
2014
SILVEIRA, V. R. S. Polimorfismos nos genes interleucina10, NOS2A e
ESR2 em portadores de periodontite crônica e agressiva. 2015. 98p.
Tese. Programa de Pós-graduação em Odontologia, Universidade Federal
do Ceará, Fortaleza, 2012.
SONG, Y-H.; SUN, H.; ZHANG, A-H.; YAN, G-L. et al. Plant-derived natural
products as leads to anti-cancer drugs. Journal of Medicinal Plant and
Herbal Therapy Research, v. 2, p. 6-15, 2014.
SZABÓ, G.; VERES, G.; RADOVITS, T.; GERO, D.; MÓDIS, K.; MIESEL-
GRÖSCHEL, C.; HORKAY, F.; KARCK, M.; SZABÓ, C. Cardioprotective
effects of hydrogen sulfide. Nitric Oxide, v. 25, n. 2, p. 201–210, 2011.
TAKANO, Hideyuki et al. O γ-tocotrienol previne a produção de espécies de
oxigênio reativo induzidas por 5-FU em queratinócitos orais humanos
através da estabilização da ativação induzida por 5-FU de Nrf2. Revista
internacional de oncologia , v. 46, n. 4, p. 1453-1460, 2015.
TANIGUCHI S, KANG L, KIMURA T, NIKI . 2011. Hydrogen sulphide
protects mouse pancreatic β-cells from cell death induced by oxidative
stress, but not by endoplasmic reticulum stress. Br J Pharmacol 162:1171-
1178.
WANG, W.; CHENG, J.; ZHU, Y. The JNK signaling pathway is a novel
molecular target for S-propargyl-L-cysteine, a naturally-occurring garlic
derivatives: link to its anticancer activity in pancreatic cancer in vitro and in
vivo. Current cancer drug targets, v. 15, n. 7, p. 613-623, 2015.
WANG, W.; CHENG, J.; ZHU, Y. The JNK signaling pathway is a novel
molecular target for S-propargyl-L-cysteine, a naturally-occurring garlic
derivatives: link to its anticancer activity in pancreatic cancer in vitro and in
vivo. Current cancer drug targets, v. 15, n. 7, p. 613-623, 2015.
YIN, J. et al. l‐Cysteine metabolism and its nutritional
implications. Molecular nutrition & food research, v. 60, n. 1, p. 134-146,
2016.

409
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE DA L-CISTEÍNA, UM
AMINOACIDO SEMI-ESSENCIAL :UMA PROSPECÇÃO CIENTIFICA E
TECNOLÓGICA.
YOSHINO, F. et al. Alteration of the redox state with reactive oxygen
species for 5-fluorouracil-induced oral mucositis in hamsters. PLoS One, v.
8, n. 12, p. e82834, 2013.
ZOU, Xiang-cai; WANG, Qi-wen; ZHANG, Ji-min. comparison of 5–fu-
based and Capecitabine-based Neoadjuvant Chemoradiotherapy in
Patients With Rectal Cancer: A Meta-analysis. Clinical colorectal cancer,
v. 16, n. 3, p. e123-e139, 2.
LAHEIJ, A. M; DE SOET, J. J. Can the oral microflora affect oral ulcerative
mucositis?. Current opinion in supportive and palliative care, v. 8, n. 2,
p. 180-187, 2014.
MENDONÇA, R. M. H de et al. Oral mucositis in pediatric acute
lymphoblastic leukemia patients: Evaluation of microbiological and
hematological factors. Pediatric hematology and oncology, v. 32, n. 5, p.
322-330, 2015.
VILLA, A.; SONIS, S. T. Mucositis: patobiologia e manejo. Opinião atual
em oncologia, v. 27, n. 3, p. 159-164, 2015.

410
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
CAPÍTULO 21

ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS
PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO USO DA
GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium
occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA
Ana Patrícia de OLIVEIRA 1
Gabriella PACHECO 2
Esley da Silva SANTOS 3
Francisca Beatriz de Melo SOUSA 1
Thiago de Souza Lopes ARAÚJO 1,4
1
Doutorando (a) em Biotecnologia-RENORBIO/UFPI; 2 Mestranda em Biotecnologia/ UFPI; 3
Graduando do curso de Biomedicina/ UFPI; 4 Orientador/Professor do curso de Ciências
Biológicas/UFPI.
apatriciabiomed@gmail.com

RESUMO: Probióticos são microrganismos vivos que, quando


administrados em quantidades adequadas, conferem
benefícios à saúde do hospedeiro. Técnicas de encapsulação
são uma alternativa promissora para melhorar a entrega e a
sobrevivência destes agentes, e muitos materiais vêm sendo
utilizados como encapsulantes. Neste contexto, a Goma do
Cajueiro (GC) aparece como potencial candidata, por suas
favoráveis características químicas. Assim, o objetivo do estudo
foi realizar uma prospecção tecnológica sobre a encapsulação
de probióticos, utilizando a GC como material de parede,
através de um levantamento de patentes nas bases USPTO,
EPO, WIPO e INPI, e de artigos científicos nas bases PubMed,
Web of ScienceTM, Scopus e Scielo. Verificou-se nas bases de
dados internacionais de patente poucos documentos referentes

411
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
à temática, e não foram encontrados documentos sobre a
utilização da GC como agente encapsulante de células
probióticas, reforçando o caráter inovador das pesquisas que
envolvem o seu uso nesta tecnologia. Desta forma, vê-se a
necessidade de um maior incentivo a aplicação biotecnológica
da goma do cajueiro, visto o grande potencial deste polímero,
necessitando de um maior investimento em estudos na área,
pois o emprego dessa técnica poderia surgir como nova
alternativa terapêutica, gerando um aumento do número de
depósito de patentes, que seria de grande importância para o
desenvolvimento tecnológico do país.
Palavras-chave: Encapsulação. Probióticos. Anacardiaceae.

INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)


probióticos são definidos como “microorganismos vivos, que
quando ingeridos ou aplicados localmente em quantidades
adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro”,
devido a isso vem sendo incorporados em uma ampla
variedade de alimentos, suplementos e produtos farmacêuticos
(FAO/WHO, 2002; YEUNG et al., 2016, HILL et al., 2014). Os
seus efeitos benéficos incluem equilíbrio da microbiota
intestinal, inibição da infecção por patógenos, redução do
colesterol sanguíneo, redução do risco de câncer de cólon e
doença de Crohn, além de se mostrarem eficazes no tratamento
de várias disfunções da barreira intestinal (WANG et al., 2014;
RODRÍGUEZ-NOGALES et al., 2018; KULLISAAR et al., 2016).
No entanto, para que qualquer probiótico possa exercer
sua função é necessário que, após sua ingestão, eles atinjam o
intestino ainda vivos e em quantidades suficientes (pelo menos
106-107 unidades formadoras de colônia (UFC) (HILL et al.,
412
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
2014). Sendo assim, devem passar de forma segura através do
trato gastrointestinal e, em seguida, aderir e colonizar o canal
intestinal, porém, a exposição à ácidos gástricos e sais biliares
pode diminuir sua viabilidade (SERVIN; COCONNIER, 2003).
Dessa forma, técnicas de encapsulação de microrganismos
probióticos vem sendo utilizadas nos últimos anos para
melhorar sua entrega e sobrevivência em condições adversas
(SINGH et al., 2017; KIM et al., 2017; BEPEYEVA et al., 2017).
Muitos materiais vêm sendo estudados para aplicação
como agente encapsulante (PATHAKOTI; MANUBOLU;
HWANG, 2017; OMWENGA et al., 2018; SAXENA et al., 2017;
GHASEMI et al., 2018) e o uso de biopolímeros para tal fim tem
apresentado um forte estímulo (PAULA et al., 2017; SAXENA
et al., 2017). Entre as inúmeras matrizes, as gomas aparecem,
nesse cenário, como potenciais candidatas por suas favoráveis
características químicas, solubilidade e processos de
isolamento e purificação (RIBEIRO et al., 2016).
Nesse contexto, a Goma do Cajueiro (GC) oferece uma
importante aplicabilidade como material de parede na síntese
de microcápsulas. A GC é um heteropolissacarídeo ácido
complexo de cadeia ramificada e de baixa viscosidade presente
no exsudato do cajueiro (Anacardium occidentele, família
Anacardiaceae.), árvore nativa no nordeste brasileiro que
apresenta destaque por suas inúmeras aplicações nas áreas
industriais e de conhecimento científico e biotecnológico
(OLIVEIRA et al., 2014; ARAÚJO et al., 2015; BUENO et al.,
2017; KIM et al., 2018).
No contexto da prospecção tecnológica, trabalhos que
mostrem o conhecimento já descrito em determinada área,
representam uma ferramenta muito útil, já que, artigos

413
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
científicos e patentes compõem-se como meios sistemáticos de
disponibilização de informações. Por esquematizar diversas
vertentes do desenvolvimento científico e tecnológico os
estudos de prospecção se tornaram uma fonte de informação
altamente consultada por diversos setores relacionados à
inovação (MACHADO et al., 2014).
Dessa forma, este trabalho objetivou realizar um estudo
de prospecção tecnológica e científica sobre a encapsulação de
microrganismos probióticos, com especial enfoque para a
eventual aplicação da GC enquanto material de parede,
realizando uma busca nos pedidos de patente e artigos
científicos em nível nacional e internacional.

MATERIAIS E MÉTODO

Esta pesquisa foi realizada tendo por base um


levantamento de pedidos de patentes depositados nos
principais bancos de dados: United States Patent and
Trademark Office (USPTO), European Patent Office (EPO),
World Intellectual Property Organization (WIPO) e no Banco de
dados do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) do
Brasil. Além disso, foram selecionados artigos científicos
publicados nas bases de periódicos PubMed, Web of
ScienceTM, Scopus e Scielo. O levantamento foi realizado em
novembro de 2018, sendo investigados todos os documentos
de patentes e artigos científicos disponíveis para consulta até a
data de realização da referida pesquisa (15/11/2018).
As pesquisas foram realizadas utilizando como palavras-
chave os termos “encapsulação e probiótico” combinados ou
não com o termo “goma do cajueiro”, juntamente com o

414
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
operador boleano “and” em todas as bases, eventualmente
associando-se os termos com o uso de aspas (“ “). Tendo em
vista a necessidade de realização de uma busca mais ampla,
tais palavras-chave e operador boleano foram sempre utilizados
no campo de busca relativo ao resumo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos no presente estudo de prospecção


tecnológica referem-se a todos os depósitos de patentes
efetuados e a todos os artigos científicos publicados sobre o
tema em questão (Tabela 1), considerando-se, quanto aos
depósitos de patentes, o país e o ano de depósito, como
também a Classificação Internacional de Patentes (CIP), e,
quanto aos artigos científicos, à abordagem temática da
publicação.

Tabela 1 – Número de patentes e artigos científicos por


palavras-chave.
Encapsulação AND Encapsulação AND Probiótico
Probiótico* AND Goma do cajueiro*

USPTO 7 0

EPO 23 0

WIPO 157 0

INPI 0 0

PubMed 153 0
Web of
541 0
ScienceTM

415
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
Scopus 340 0

Scielo 1 0
*Para as bases de dados internacionais foram utilizados as palavra-chave
em inglês (Encapsulation AND Probiotic; Encapsulation AND Probiotic AND
Cashew gum). Fonte: Autoria própria, 2018.

A busca na base de dados USPTO detectou sete


resultados abrangendo os termos associados “encapsulação e
probiótico”. Tais documentos referem-se a formulações
contendo probióticos encapsulados, utilizados principalmente
para terapia de aves e mamíferos com doenças infecciosas,
demostrando as vantagens desta tecnologia na preservação da
vida destes microrganismos durante a passagem através do
estômago, permitindo a sua liberação no intestino, utilizando
como material de parede polímeros sintéticos como alginato de
sódio, de potássio, de magnésio e de cálcio, conforme trazem
os documentos US 20060193842 e US 20040175389. Quando
observado a nação de origem das patentes, verificou-se que os
Estados Unidos detêm todos os pedidos de depósito neste
banco de dados. Analisando a distribuição das patentes na
base de dados, verificou-se que estas se concentram entre os
anos de 2006 e 2013, conforme é descrito na Figura 1.

416
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
Figura 1 – Resultados obtidos para a busca pelo termo
“encapsulação e probiótico” na base de patentes USPTO
quanto aos períodos ou anos de ocorrência dos depósitos dos
pedidos de patente.
Fonte: Autoria Própria, 2018

1,5

0,5

0
2006 2007 2011 2013

Na base de dados EPO foram encontrados 23


documentos de patentes para os termos associados
“encapsulação e probiótico”, relacionados, em grade maioria, à
proteção de sistemas e processos de encapsulação
empregados para aumentar a taxa de sobrevivência das células
probióticas durante o armazenamento e administração oral.
Na busca por pedidos de depósito de patentes por país,
foi possível observar que os Estados Unidos (EUA) e a Rússia
totalizam quase a metade dos pedidos de depósitos realizados
(43,48%), seguidos pelo Tratado de Cooperação em Matéria de
Patentes (PCT), o qual simplifica e reduz o custo inicial nos
procedimentos de pedidos de patente nos países membros, e
por Nova Zelândia e Índia (Figura 2).
Em relação à distribuição anual dos pedidos de depósito
de patente para os termos associados “encapsulação e
probiótico” na base EPO (Figura 3), nota-se um longo período,
417
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
de 1993 a 2006, onde não foi feito nenhum depósito novo a
respeito do tema. A partir de 2006 até o ano de 2018, houve a
maior concentração dos pedidos de depósitos na EPO,
totalizando um total de 23 documentos envolvendo o referente
termo, o que corresponde cerca de 90% do total de pedidos
realizados, com o ano de 2015 apresentando o maior número
de pedidos. Tais dados representam uma evolução recente em
relação às tecnologias inovadoras envolvendo a encapsulação
de microrganismos probióticos.

Figura 2 - Resultados obtidos para a busca pelo termo


“encapsulação e probiótico” na base de patentes EPO, quanto
aos países de depósito dos pedidos de patente.
*PCT - Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes.
Fonte: Autoria Própria, 2018.

6
5
4
3
2
1
0

418
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
Figura 3 - Resultados obtidos para a busca pelo termo
“encapsulação e probiótico” na base de patentes EPO, quanto
aos períodos ou anos de ocorrência dos depósitos dos pedidos
de patente.
Fonte: Autoria Própria, 2018

6
5
4
3
2
1
0

Quando aplicado os termos associados: “encapsulação


e probiótico e goma do cajueiro” não foram obtidos resultados.
É importante salientar também que foram encontradas poucas
inovações com os termos citados anteriormente, e estas estão
concentradas predominantemente no ano de 2015 (Figura 3).
Dessa forma, nota-se que existem registros de patentes
envolvendo os termos “encapsulação e probiótico”, mas
nenhum resultado com o termo “goma do cajueiro” associado,
mostrando que este material ainda é pouco explorado no âmbito
da inovação, principalmente no que diz respeito a processos de
encapsulação de probióticos utilizando a GC como material de
parede.
A busca na base de dados de patentes WIPO retornou
157 resultados envolvendo os termos associados

419
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
“encapsulação e probiótico”. Tais pedidos foram registrados,
em maior número nos Estados Unidos (21,66%), no Tratado de
Cooperação em Matéria de Patentes (PCT) (14,65%) (Figura 4),
a partir do ano de 2008 (Figura 5). Nota-se que a distribuição
dos documentos quanto ao ano de depósito se mostrou
relativamente homogênea, com os anos de 2016 e 2018
possuindo o maior número de depósitos (Figura 5). Isso ressalta
o maior interesse biotecnológico da encapsulação de
probióticos nos últimos anos.

Figura 4 - Resultados obtidos para a busca pelo termo


“encapsulação e probiótico” na base de patentes WIPO, quanto
aos países de depósito dos pedidos de patente.
PCT - Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes; *Escritório Europeu
de Patentes.
Fonte: Autoria Própria, 2018

40
35
30
25
20
15
10
5
0
CANADÁ

MÉXICO
SINGAPURA
RÚSSIA
ÍNDIA

MALÁSIA
EUA

CHINA

ESPANHA

JAPÃO
AUSTRÁLIA
R. DA CORÉIA

FILIPINAS
PORTUGAL
REINO UNIDO
DINAMARCA
EEP*
PCT

420
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
Figura 5 - Resultados obtidos para a busca pelo termo
“encapsulação e probiótico” na base de patentes WIPO, quanto
aos períodos ou anos de ocorrência dos depósitos dos pedidos
de patente.
Fonte: Autoria Própria, 2018

20

15

10

Dentre os documentos encontrados na referida base de


dados, destacam-se aqueles aplicados: na área médica, com a
proteção de metodologias de encapsulação de microrganismos
probióticos utilizando como material de parede polímeros
sintéticos (alginatos) e naturais (goma de xantana, quitosana e
gelatina), usados como terapias alternativas contra doenças
infecciosas, e como adjuvantes para estimular respostas
imunes celulares e humorais; e na área da indústria de
alimentos, referindo em sua maioria a produtos contendo
micropartículas de bactérias probióticas envoltas em uma
matriz polimérica, a fim de proteger estes microrganismos
durante o processamento dos mesmos, seu armazenamento, e
passagem através do trato gastrointestinal.

421
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
Quanto a patentes relacionadas à aplicação da GC
utilizado na tecnologia de encapsulação de probióticos, não se
obteve resultados, demonstrando a ausência de registros de
inovação referente ao uso deste polissacarídeo como material
de parede na tecnologia abordada.
A busca realizada na base de dados de patentes
nacionais do INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial)
não retornou nenhum resultado para os termos associados
“encapsulação e probiótico”, assim como para a associação dos
três termos: “encapsulação e probiótico e goma do cajueiro”,
evidenciando a inexistência de tecnologias inovadoras no país
sobre o tema em questão.
Quanto à Classificação Internacional de Patentes (CIP)
(Figura 6) nas bases USPTO, EPO e WIPO, constatou-se que
os documentos encontrados foram incluídos
predominantemente nas categorias: A61, A23 e C12, relativas
respectivamente, à ciência médica e veterinária, ou higiene;
alimentos ou gêneros alimentícios e seu tratamento; compostos
orgânicos e sua preparação química, seguido pelas categorias:
B01 (processos ou aparelhos físicos ou químicos em geral);
C07 (química orgânica); A01 (agricultura, silvicultura e
pecuária); e B82 (nanotecnologia).
No que se refere aos artigos científicos já publicados
sobre a temática, a consulta à base de dados PubMed revelou
a existência de 153 trabalhos publicados entre os anos de 2000
e 2018 envolvendo os termos associados “encapsulação e
probiótico”. Tais artigos reportam a ensaios de encapsulação de
bactérias probióticas de interesse clínico voltados
principalmente para a área alimentícia, utilizando matrizes
poliméricas (celulose, resinas vegetais, quitosana, alginato,

422
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
pectina, etc.) para síntese de micropartículas resistentes as
condições gastrointestinais e capazes de aumentar a sua
biodisponibilidade (YEUNG et al., 2016; LI et al., 2016; HUANG
et al., 2015; SCHOINA et al., 2015).

Figura 6 - Resultados obtidos para a busca pelo termo


“encapsulação e probiótico” nas bases de patentes USPTO,
EPO e WIPO quanto à CIP.

A61

A23

C12

B01

C07

A01

B82

0 50 100 150 200


Fonte: Autoria Própria, 2018

No que se refere à busca pelos termos “encapsulação e


probiótico e goma do cajueiro”, nenhum resultado foi retornado,
mostrando que este polissacarídeo natural se mostra
inexplorado quando ao seu potencial como agente
encapsulante de células probióticas.
A goma obtida no Brasil a partir do exsudato de cajueiros
nativos é composta de β-D-galactose (72-73%), α-D-glicose
(11-14%), arabinose (4,6-5%), ramnose (3,2-4%) e ácido
glicurônico (4,7-6,3%). Possui três tipos de unidades galactanas
423
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
dentro do núcleo, ligados por C-1 e C-3; C-1 e C-6 e C-1, C-3 e
C-6. A glicose está presente como uma cadeia lateral podendo
ter até cinco unidades de comprimento (SILVA et al., 2009),
características que a caracterizam como um potencial material
para utilização na tecnologia de encapsulação de células
probióticas. De fato estudos vêm demostrando que
polissacarídeos obtidos de resinas naturais, como por exemplo,
da espécie vegetal Pistacia terebinthus, também pertencente à
família Anacardiaceae, possuem grande potencial para
imobilização de células probióticas (SCHOINA et al., 2015),
principalmente para incorporação em produtos alimentícios de
origem láctea. Tal observação sugere que a GC possui grande
potencial na referida tecnologia, oferecendo também
vantagens, por ser um material de baixa toxicidade e baixo
custo, plasticidade e grande disponibilidade no Nordeste, sendo
o exsudato, do qual se extrai a goma, um material subutilizado.
Na consulta à base de dados Web of Science TM com o
uso dos descritores “encapsulação e probiótico” foram
encontrados 541 registros de artigos científicos. Tais trabalhos
foram publicados a partir do ano 2000 até a presente data da
pesquisa. Em resumo, tais publicações referem-se,
majoritariamente, ao reporte de técnicas/melhoramento de
encapsulação de probióticos aplicadas a tecnologia de
alimentos e a ensaios de sobrevivência em condições
gastrointestinais simuladas (GANDOMI et al., 2016; GOMEZ-
MASCARAQUE et al., 2016; CHEOW et al., 2016). Destes
trabalhos, apenas 16 faziam referência ao uso de
polissacarídeos naturais como material de parede na síntese de
micropartículas probióticas, predominantemente sobre a
encapsulação de cepas de bactérias lácticas (LAB).

424
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
Quando pesquisado os termos “encapsulação e
probiótico” na base de dados SCOPUS, a busca apresentou
340 documentos entre os anos 2000 e 2018, sendo que o ano
de 2018 apresentou maior número de publicações (Figura 7).

Figura 7 - Resultados obtidos para a busca pelo termo


“encapsulação e probiótico” na base de busca SCOPUS,
quanto aos períodos ou anos de ocorrência dos artigos
científicos.
Fonte: Autoria Própria, 2018

Tais trabalhos científicos foram desenvolvidos, em maior


2000
2003
2006
2009
2012
2015
2018
0 10 20 30 40 50 60

número nos Estados Unidos, seguido pelo Canadá, Austrália,


Índia e Irã. Seis dos trabalhos retornados são de origem
brasileira, onde tais publicações referem-se a: desenvolvimento
e caracterização de microcápsulas de alginato, contendo uma
espécie probiótica, produzidos por emulsificação/gelificação
interna, seguido por liofilização (HOLKEM et al., 2016);
microencapsulação utilizando como material de parede soro do
leite, prebióticos (PINTO et al., 2015) e soro de leite desnatado
(MACIEL et al., 2014); co-encapsulamento com inulina ou
polidextrose em micropartículas lipídicas sólidas (OCURO et al.,
2013); desenvolvimento de esferas probióticas semelhante a
425
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
ovos de peixe (GUIMARÃES et al., 2013); e avaliação do
potencial efeito probiótico e de encapsulamento sobre a
sobrevivência de uma espécie isolada a partir da papaia
(TODOROV et al., 2012). Para os termos “encapsulação e
probiótico” as grandes áreas abordadas estão descritas na
figura 8.
Quando buscado os descritores “encapsulação e
probiótico” em conjunto, a pesquisa no banco de dados Scielo
resultou em um artigo publicado no ano de 2013, sendo de
origem nacional, englobando a área de tecnologia de alimentos,
onde este se destina a avaliar a eficiência de materiais
encapsulantes naturais (mucilagens de inhame, taro, linhaça e
quiabo) e comerciais (Ágar-Ágar, Alginato de Sódio, Goma
Arábica e Iota-Carragena) na liberação controlada de probiótico
encapsulado (LAURENTI e GARCIA, 2013).
Assim como nos bancos de dados de patentes, para os
bancos de dados de trabalhos científicos pesquisados foi
possível notar a inexistência de estudos que façam correlação
entre encapsulação, probiótico e goma do cajueiro.

426
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
Figura 8 - Resultados obtidos (em %) para a busca pelo
termo “encapsulação e probiótico” na base de busca SCOPUS,
quanto à área de concentração dos artigos científicos.
Fonte: Autoria Própria, 2018

Multidisciplinar
Ciência dos Materiais
Veterinária
Enfermagem
Farmacol., Toxicol. e Farm.
Medicina
Engenharia
Química
Imunologia e Microbiologia
Engenharia química
Bioqui., Gen. e Bio.Molecular
Ciências Agrárias e Biológicas
0 50 100 150 200 250

A partir desses dados, mostra-se a importância científica


e o pioneirismo que as pesquisas envolvendo a goma do
cajueiro em tecnologias de encapsulação podem trazer para
comunidade científica, não só nas pesquisas para
desenvolvimento de probióticos encapsulados resistentes as
condições do trato gastrintestinal, mas também as suas ações
benéficas em organismos vivos.

CONCLUSÕES

A análise dos dados demonstra domínio dos Estados


Unidos em relação aos pedidos de patentes referentes à
tecnologia de encapsulação de probióticos em diversas áreas

427
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
temáticas, com destaque para indústria alimentícia. Em relação
aos artigos científicos, observou-se que o enfoque dos estudos
envolvendo encapsulação de microrganismos probióticos está
principalmente ligado ao desenvolvimento de técnicas capazes
de proporcionar maior resistência e disponibilidade a estes
organismos, com vistas para aplicações na indústria alimentícia
e farmacêutica.
No entanto, de acordo com a busca nos bancos de dados
a goma do cajueiro ainda aparece inexplorada para utilização
como agente encapsulante de células probióticas. o que reforça
o caráter inovador das pesquisas que envolvem o uso deste
polissacarídeo enquanto agente encapsulante de células
probióticas.
Tendo em vista as inúmeras vantagens descritas sobre
a encapsulação de células probióticas e dos benefícios da
utilização de polímeros naturais advindos de plantas
amplamente distribuídas no Brasil, como a Goma do Cajueiro,
espera-se que pesquisadores possam associar essas
tecnologias, pois é perceptível o seu grande potencial
biotecnológico. Além disso, percebe-se a necessidade de um
maior investimento científico em estudos na área, uma vez que
a utilização dessa técnica poderia também surgir como nova
alternativa terapêutica, e gerar um crescimento no registro de
patentes, o que contribuirá para o desenvolvimento tecnológico
do país.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, T.S.L. et al. Antidiarrheal activity of cashew GUM, a complex


heteropolysaccharide extracted from exudate of Anacardium occidentale L.
in rodents. J. Ethnopharmacol., v. 174, p. 299-307, 2015.

428
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
BEPEYEVA, A. et al. Encapsulation of Lactobacillus casei into calcium
pectinate‐chitosan beads for enteric delivery. J. food sci., v. 82, n. 12, p.
2954-2959, 2017.
BUENO, D.P. et al. Chemical characterization and pharmacological
assessment of cashew gum extract (Anacardium occidentale L.),
polysaccharide free. J. Ethnopharmacol., 2017.
CHEOW, W. S.; KIEW, T. Y; HADINOTO, K. Effects of adding resistant and
waxy starches on cell density and survival of encapsulated biofilm of
Lactobacillus rhamnosus GG probiotics. LWT-Food Sci. Technol. v. 69. P.
497-505, 2016.
FAO/WHO. Food and Agricultural Organization of the United Nations and
World Health Organization. Joint FAO/WHO working group report on
drafting guidelines for the evaluation of probiotics in food. Ontario,
Canadá, 2002.
GANDOMI, H. et al. Effect of chitosan-alginate encapsulation with inulin on
survival of Lactobacillus rhamnosus GG during apple juice storage and
under simulated gastrointestinal conditions. LWT-Food Sci. Technol., v.
69, p. 365-371, 2016.
GHASEMI, S. et al. Nanoencapsulation of d-limonene within nanocarriers
produced by pectin-whey protein complexes. Food Hydrocolloids, v. 77, p.
152-162, 2018.
GOMEZ-MASCARAQUE, L.G. et al. Optimization of electrospraying
conditions for the microencapsulation of probiotics and evaluation of their
resistance during storage and in-vitro digestion. LWT-Food Sci. Technol.
v. 69, p. 438-446, 2016.
GUIMARÃES, R. R.; VENDRAMINI, A. L. D. A.; SANTOS, A. C. D.; LEITE,
S. G. F.; MIGUEL, M. A .L. Development of probiotic beads similar to fish
eggs. J. Funct. Foods, v. 5, p. 968-973, 2013.
HILL, C. et al. Expert consensus document. The International Scientific
Association for Probiotics and Prebiotics consensus statement on the scope
and appropriate use of the term probiotic. Nature Ver. Gastroenterol.
Hepatol., v. 11, n. 8, p. 506- 514, 2014.
HOLKEM, A. T.; RADDATZ, G. C.; NUNES, G. L.; CICHOSKI, A. J.;
JACOB-LOPES, E.; FERREIRA GROSSO, C. R.; DE MENEZES, C. R.
Development and characterization of alginate microcapsules containing
Bifidobacterium BB-12 produced by emulsification/internal gelation followed
by freeze drying. Food. Sci. Technol., v. 71, p. 302-308, 2016.
HUANG, H. Y; TANG, Y. J.; KING, V. A; CHOU, J. W.; TSEN, J. H.
Properties of Lactobacillus reuteri chitosan-calcium-alginate encapsulation
under simulated gastrointestinal conditions. Int Microbiol. v. 18, p. 61-9,
2015.

429
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
KIM, J.U. et al. Encapsulation of probiotic Lactobacillus acidophilus by ionic
gelation with electrostatic extrusion for enhancement of survival under
simulated gastric conditions and during refrigerated storage. Int. J. food sci.
Technol., v. 52, n. 2, p. 519-530, 2017.
KIM, S. et al. Solubilization of cashew gum from Anacardium occidentale in
aqueous medium. Carbohydr. Polym., v. 199, p. 205-209, 2018.
KULLISAAR, T. et al. The use of probiotic L. fermentum ME-3 containing
Reg’Activ Cholesterol supplement for 4 weeks has a positive influence on
blood lipoprotein profiles and inflammatory cytokines: an open-label
preliminary study. Nutr. j., v. 15, n. 1, p. 93, 2016.
LAURENTI, E.; GARCIA, S.; Efficiency of natural and commercial
encapsulating materials in controlled release of encapsulated probiotics.
Braz. J. Food Technol., v.16, p. 107-115, 2013.
LI, R. et al. Preserving viability of Lactobacillus rhamnosus GG in vitro and
in vivo by a new encapsulation system. J. contr. release, v. 230, p. 79-87,
2016.
MACHADO, K.C.; MACHADO, K.C.; ARARUNA JÚNIOR, A.A.; FREITAS,
R.M. Uso de marcadores moleculares na depressão: prospecção
tecnológica. Revista GEINTEC, v.4, n.3, p.1008-1016, 2014.
MACIEL, G. M.; CHAVES, K. S.; GROSSO, C. R. F.; GIGANTE, M. L.
Microencapsulation of Lactobacillus acidophilus La-5 by spray-drying using
sweet whey and skim milk as encapsulating materials. J. Dairy Sci., v. 97,
p. 1991-1998, 2014.
OKURO, P. K. et al. Co-encapsulation of Lactobacillus acidophilus with
inulin or polydextrose in solid lipid microparticles provides protection and
improves stability. Food Res. Int., v. 53, n. 1, p. 96-103, 2013.
OLIVEIRA, E. F.; DE PAULA, H. C.B., DE PAULA, R. C.M. Alginate/cashew
gum nanoparticles for essential oil encapsulation. Colloids Surf. B., v. 113,
p. 146– 151, 2014.
OMWENGA, E. O. et al. Chitosan nanoencapsulation of flavonoids
enhances their quorum sensing and biofilm formation inhibitory activities
against an E. coli Top 10 biosensor. Coll. Surf. B: Biointerf., v. 164, p.
125-133, 2018.
PATHAKOTI, K.; MANUBOLU, M.; HWANG, H.M. Nanostructures: Current
uses and future applications in food science. J. food drug anal., v. 25, n. 2,
p. 245-253, 2017.
PAULA, H.C.B. et al. Matrix effect on the spray drying nanoencapsulation of
lippia sidoides essential oil in chitosan-native gum blends. Planta medica,
v. 83, n. 5, p. 392-397, 2017.
PINTO, S. S. et al. Influence of microencapsulation with sweet whey and
prebiotics on the survival of Bifidobacterium-BB-12 under simulated

430
ENCAPSULAÇÃO DE MICRORGANISMOS PROBIÓTICOS COM ÊNFASE NO
USO DA GOMA DO CAJUEIRO (Anacardium occidentale) COMO MATERIAL DE
PAREDE: UMA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA
gastrointestinal conditions and heat treatments. LWT-Food Sci. Technol.,
v. 64, p. 1004-1009, 2015.
RIBEIRO, A. J. et al. Gums’ based delivery systems: Review on cashew
gum and its derivatives. Carbohydr. Polym., v. 147, p. 188-200, 2016.
RODRÍGUEZ-NOGALES, A. et al. Intestinal anti-inflammatory effect of the
probiotic Saccharomyces boulardii in DSS-induced colitis in mice: Impact
on microRNAs expression and gut microbiota composition. J. nutr.
Biochem., v. 61, p. 129-139, 2018.
SAXENA, A. et al. Biopolymer matrix for nano-encapsulation of urease–A
model protein and its application in urea detection. J. Coll. Interf. Sci., v.
490, p. 452-461, 2017.
SCHOINA, V.; TERPOU, A.; ANGELIKA-IOANNA, G.; KOUTINAS,
A., KANELLAKI , M.; BOSNEA, L. Use of Pistacia terebinthus resin as
immobilization support for Lactobacillus caseii cells and application in
selected dairy products. J. Food Sci. Technol., v. 52, p.5700-8, 2015.
SERVIN, A. L.; COCONNIER, M. H. Adhesion of probiotic strains to the
intestinal mucosa and interaction with pathogens. Best. Pract. Res. Clin.
Gastroenterol., v. 17, p. 741-754, 2003.
SILVA, D. A. et al. Synthesis and characterization of cashew gum/acrylic
acid nanoparticles. Mat. Sci. Eng. C., v. 29, p. 437–441, 2009.
SINGH, P. et al. Development of carboxymethyl cellulose-chitosan hybrid
micro-and macroparticles for encapsulation of probiotic
bacteria. Carbohydr. Polym., v. 175, p. 87-95, 2017.
TODOROV, S. D.; LEBLANC, J. G.; FRANCO, B. D. G. M. Evaluation of
the probiotic potential and effect of encapsulation on survival for
Lactobacillus plantarum ST16Pa isolated from papaya. World J. Microb.
Biot. v. 28, p. 973-984, 2012.
WANG, H. et al. Are there any different effects of Bifidobacterium,
Lactobacillus and Streptococcus on intestinal sensation, barrier function
and intestinal immunity in PI-IBS mouse model?. PLoS One, v. 9, n. 3, p.
e90153, 2014.
YEUNG, T. W. et al. Microencapsulation in Alginate and Chitosan Microgels
to Enhance Viability of Bifidobacterium longum for Oral Delivery. Front.
Microbiol., v. 19, p. 494-500, 2016.

431
POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO ASSOCIADO A RESOLUÇÃO DE DISTÚRBIOS
GÁSTRICOS
CAPÍTULO 22

POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
ASSOCIADO A RESOLUÇÃO DE
DISTÚRBIOS GÁSTRICOS
Kerolayne de Melo NOGUEIRA 1
Isabela Ribeiro de Sá Guimarães NOLETO 2
Andreza Ketly da Silva ARAÚJO 3
Nayara Alves de SOUSA 4
Luan Kelves Miranda de SOUZA 5
1
Pós-gradruando do Programa de Mestrado em Biotecnologia – UFPI; 1 ; 2 Pós-granduando
do Programa de Mestrado em Farmacologia – UFPI; 3 Graduando do Curso de Ciências
Biológicas – UFPI; 4 Pós-graduando do Programa de Doutorado da Rede Nordeste de
Biotecnologia – RENORBIO/UFPI; 5 Docente do curso de Medicina da Faculdade de Ciências
Humanas, Exatas e da Saúde do Piauí/ Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba –
FAHESP/IESVAP;
e-mail: keerolayne@hotmail.com

RESUMO: O sistema digestório é de fundamental importância


para a homeostase do organismo humano. O estômago
apresenta algumas camadas teciduais na sua constituição que
são acometidas por processos inflamatórios como a gastrite.
Dessa forma, os distúrbios gástricos constituem uma das
principais desordens associadas ao sistema digestório afetando
milhões de pessoas em todo o mundo. Por conta disso, é
necessário que exista uma farmacoterapêutica eficaz para
minimizar esses distúrbios gástricos. Nesse contexto, a
biotecnologia vem ganhando força contribuindo com boas
pesquisas e com novas rotas e mecanismos que possam então
auxiliar na resolução de distúrbios gástricos. Um dos eixos
pesquisados é a descoberta de novos mecanismos de ação que
possam diminuir a liberação de ácido clorídrico ou que possam
aumentar as propriedades protetoras do estômago. Nesse
sentido, um sistema vem ganhando força como novo alvo
farmacológico, o sistema Renina-Angiotensina-Aldosterora,

432
POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO ASSOCIADO A RESOLUÇÃO DE DISTÚRBIOS
GÁSTRICOS
além dos gasotransmissores tem sido alvo de estudos para
garantir uma melhor manutenção e proteção da mucosa
gástrica. Os resultados expostos neste trabalho evidenciam
que, embora seja pequeno número de artigos com a busca dos
termos associados relacionados ao potencial biotecnológico
associado a resolução de distúrbios gástricos com a pesquisa
de gasotransmissores e estudo na via da Angiotensina II, é uma
área bastante promissora que precisa ser explorada para o
descoberta de novos alvos farmacológicos que podem ser
utilizado no tratamento de distúrbios gástricos.

Palavras-chave: Úlcera gástrica, biotecnologia, Angiotenina II.


Gasotransmissores.

INTRODUÇÃO

O sistema digestório é de fundamental importância para


a homeostase do organismo humano. É ao longo desse trato
que se tem processos fundamentais para a nutrição dos
indivíduos, cita-se por exemplo, o processo de mastigação,
deglutição, digestão, absorção e eliminação de substâncias.
(WILLET; MILLS, 2016)
Esse sistema é composto anatomicamente por vários
órgãos como a boca, esôfago, estômago, intestino delgado e
grosso, além dos órgãos anexos ao trato gastrointestinal (TGI)
como as glândulas salivares, fígado e o pâncreas, que auxiliam
liberando secreções para o seu bom funcionamento. Pode-se
inferir que todos esses processos são controlados pelo sistema
nervoso e hormonal (CHOI et al, 2014, CHOI et al, 2016).
Dentre esses órgãos um que ganha destaque é o
estômago, principalmente pela a facilidade de realizar a quebra

433
POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO ASSOCIADO A RESOLUÇÃO DE DISTÚRBIOS
GÁSTRICOS
de moléculas grandes em moléculas menores para que elas
possam ser absorvidas pelo o organismo (CHOI et al, 2014).
Nesse contexto, pode-se mencionar que a digestão,
conjunto de transformações químicas e físicas que os alimentos
orgânicos sofrem a nível gástrico, é de fundamental importância
para que os compostos se tornem mais hidrossolúveis e
absorvíveis. Dessa forma, tem como uma de suas principais
funções a manutenção do suprimento hidroeletrolítico e
nutricional (PERLOT; PENNINGER, 2013)
Vale a pena ressaltar que, as funções associadas ao
sistema digestório necessitam de propriedades inerentes a
musculatura lisa intestinal, ações reflexas associadas aos
neurônios intrínsecos intestinais e do Sistema Nervoso Central
(SNC), além de efeitos parácrinos de mediadores químicos e
hormonais. Entretanto, as principais atribuições promovidas
pelo o estômago são realizadas de forma autônoma,
predominantemente mediadas pelo o Sistema Nervoso Entérico
(SNE) (SCHUBERT, 2016).
O SNE contém por volta de 100 milhões de neurônios,
iniciando na região esofágica e se estende até as porções finais
do cólon, controlando os movimentos e as secreções
gastrintestinais. É composto também pelo plexo mioentérico ou
plexo de Auerbach, plexo externo situado entre as camadas
musculares longitudinais e circulares, e pelo plexo de Meissner
ou submucoso, plexo interno localizado na submucosa,
constituindo a inervação intrínseca do órgão (TRIPATHI et al,
2015).
Esse plexo de Auerbach está associado a parte de
motilidade, como o peristaltismo, enquanto que o plexo
submucoso está envolvido na regulação da liberação de
secreções, além de garantir o bom funcionamento da

434
POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO ASSOCIADO A RESOLUÇÃO DE DISTÚRBIOS
GÁSTRICOS
microcirculação sanguínea. Com isso, a presença de células
nervosas associadas com ambos os plexos podem receber
estímulos parassimpáticos. Dessa forma, a comunicação
neuronal possibilita a realização das funções motoras e
secretoras ao longo do TGI (PERLOT; PENNINGER, 2013;
TAKEUCHI, 2014; TAKEUCHI, 2016).
Além disso, a divisão anatômica do estômago permite
que esse órgão possa desenvolver bem as funções atribuídas
a digestão alimentar cita-se, por exemplo, a presença de uma
região denominada de fundo gástrico, localizado na porção
superior do órgão tangente a junção esogástrica, a parte do
corpo gástrico, em uma posição mais mediana, e a parte do
antro, na base inferior do órgão e próxima a primeira porção do
intestino delgado, o duodeno (CHOI et al, 2014; WALDUM;
KLEVELAND; FOSSMARK, 2015)
Nesse contexto, vale a pena ressaltar que o estômago
apresenta algumas camadas teciduais na sua constituição, são
elas: camada mucosa, submucosa, muscular circular e
longitudinal, bem como a serosa. São justamente essas áreas
que são acometidas por processos inflamatórios como a
gastrite ou até mesmo a presença de úlceras pépticas, Tais
acometimentos são considerados como os principais distúrbios
gástricos, sejam eles provocados por disfunções endógenas na
liberação de ácido gástrico ou até mesmo causados por
agentes exógenos (WILLET; MILLS, 2016; CHOI et al, 2016).
Para que o corpo consiga manter a proteção desse órgão
contra agentes lesivos, são necessárias a presença de algumas
barreiras constitutivas a fim de garantir a homeostase no
indivíduo. Nesse sentido, pode-se mencionar a presença de
uma camada rica em muco, bicarbonato e fosfolipídios que
servem como a primeira barreira de proteção, a presença de

435
POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO ASSOCIADO A RESOLUÇÃO DE DISTÚRBIOS
GÁSTRICOS
imunoglobulinas (Ig´s) protetoras de mucosa como a IgA,
sistema antioxidante para evitar danos oxidativos provenientes
de Espécies Reativas de Oxigênio (ERO´s), prostaglandinas
(PG´s) como a PGE2 que são de fundamental importância para
a manutenção da mucosa gástrica, além da presença do fluxo
sanguíneo, importante para nutrição e reepitelização celular
(SALIN; MCCORD, 1975 ; SINHA; SIL, 2015; SCHUBERT,
2015; SCHUBERT, 2016).
No entanto, quando se tem um desequilíbrio entre fatores
protetores e agressores, tendendo para os agentes lesivos,
pode-se ter a presença de algumas patologias a nível gástrico.
O que pode acabar afetando diretamente a qualidade de vida
de um determinado indivíduo (QIN.; LOU; RYDHOLM, 2017).
Dessa forma, os distúrbios gástricos constituem uma das
principais desordens associadas ao sistema digestório afetando
milhões de pessoas em todo o mundo. Além disso, tem sido
descrito como uma das principais causas de morbidade e
mortalidade na população adulta (WHO, 2014).
Nesse sentido, a úlcera gástrica ganha destaque, sendo
considerada uma das principais comorbidades que podem
afetar o trato gastrointestinal. Essa lesão no tecido gástrico
pode ser conceituada como um processo inflamatório que tem
origem na mucosa gástrica e que se estende a outras camadas
como a submucosa e a serosa. AL BATRAN et al, 2013;
KWIECIEN et al, 2014; YO et al, 2014).
Ao longo das últimas décadas muitos estudos relataram
avanços associados a fisiopatologia da úlcera gástrica, no
entanto sua etiopatogenia ainda não está completamente
elucidada. O que se tem relatado é que essa doença possui
causa multifatorial e que pode ser proporcionada, por exemplo,
pela infecção causada por alguns microrganismos, em especial,

436
POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO ASSOCIADO A RESOLUÇÃO DE DISTÚRBIOS
GÁSTRICOS
pela bactéria Helicobacter pylori, por descontroles endógenos
na liberação de ácido clorídrico bem como de pepsiongênio,
que é convertido em pepsina na presença de meio ácido, além
de alterações na motilidade ao longo do TGI e também o
tabagismo e alcoolismo (ZHAO et al, 2015; CHOI et al, 2016;
SHEEBA et al, 2016).
Por conta disso, é necessário que exista uma
farmacoterapêutica eficaz para minimizar esses distúrbios
gástricos. Os medicamentos mais utilizados de forma
contemporânea para sanar tais problemas são os Inibidores da
Bomba de Prótons (IBP´s), antagonistas de receptores de
Histamanina, ou a utilização de fármacos paliativos como o
sulcralfato, bismuto e anti-ácidos. (SHEEBA et al, 2017).
O mais utilizado desses medicamentos é o Omeprazol,
um IBP clássico que se tornou ao longo das últimas décadas
um dos fármacos mais vendidos em todo o mundo. Esse tipo de
medicamento atua diminuindo a secreção de ácido gástrico
para o meio, e, por meio da inibição de uma bomba
carreadadora de íons, a bomba de prótons. No entanto, alguns
efeitos colaterais tem sido atribiuídos ao uso desse
medicamento, e, por conta disso, muitos estudos buscam novos
alvos farmacológicos para solucionar os problemas gástricos
(GOULD et al, 2016)
Nesse contexto, a biotecnologia vem ganhando força
contribuindo com boas pesquisas e com novas rotas e
mecanismos que possam então auxiliar na resolução de
distúrbios gástricos. O potencial biotecnológico presente no
nosso país, bem como a junção da biotecnologia com a
farmacologia vem auxiliando bastante as pesquisas voltadas
para a área gástrica.

437
POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO ASSOCIADO A RESOLUÇÃO DE DISTÚRBIOS
GÁSTRICOS
Um dos eixos pesquisados é a descoberta de novos
mecanismos de ação que possam diminuir a liberação de ácido
clorídrico ou que possam aumentar as propriedades protetoras
do estômago. Nesse sentido, um sistema conhecido
principalmente por sua importância a nível cardíaco e renal,
vem ganhando força como novo alvo farmacológico, o sistema
Renina-Angiotensina-Aldosterora (PERLOT; PENNINGER,
2013).
Na verdade, uma variação desse sistema chamada de
eixo Angiotensian II (AngII) sendo convertida em metabólitos
ativos como a Ang (1-7) ligando-se a receptores específicos
como o receptor MAS, é que vem sendo utilizadas como base
para a formulação desses novos mecanismos de defesa
gástrica (GONSALEZ et al, 2017)
Além disso, a partir de potenciais biotecnológicos e
farmacológicos, os gasotransmissores como Monóxido de
Carboco (CO), Óxido Nítrico (NO) e Sulfeto de Hidrogênio (H2S)
também tem sido alvo de estudos para garantir uma melhor
manutenção e proteção da mucosa gástrica (LUCETTI, et al ,
2017).
Com isso, o presente trabalho tem como objetivo relatar
e descrever alguns dos principais potenciais biotecnológicos
que podem ser utilizados para resolução de distúrbios gástricos.
MATERIAIS E MÉTODO

Para a elaboração do presente estudo foi realizada uma


revisão sistemática da literatura. Esta é utilizada para a
compreensão aprofundada de um fenômeno, com base em
estudos anteriores. Enquanto método de pesquisa possibilita
aos pesquisadores alcançarem resultados de estudos
desenvolvidos e analisados cientificamente para aplicação

438
POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO ASSOCIADO A RESOLUÇÃO DE DISTÚRBIOS
GÁSTRICOS
prática nos serviços de saúde, em todos os níveis de atenção
(MENDES; SILVEIRA; GALVAO, 2008).
Dessa forma, para a confecção da referida pesquisa
foram determinadas as seguintes etapas metodológicas:
 Elaboração da pergunta norteadora;
 Busca ou amostragem na literatura;
 Coleta de dados;
 Análise crítica dos estudos incluídos;
 Discussão dos resultados;
 Elaboração do capítulo.
Assim sendo, foi elaborada a seguinte questão
norteadora para o estudo: “Quais os métodos e pesquisas
biotecnológicas que podem servir como base para resolução de
distúrbios gástricos?”.
Para responder o questionamento inicial, e para
confecção do referencial teórico foram utilizados artigos
científicos presentes nas seguintes bases de dados: Medical
Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE);
National Center for Biotechnology Information (NCBI); Literatura
Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs);
Scientific Electronic Library Online (SciELO); Periódicos da
Capes, dentre outras fontes relevantes, como livros,
dissertações e teses que traziam o tema pesquisado.
Com isso, foram utilizados como critérios de inclusão:
artigos, periódicos, dissertações e teses como veículo; com um
limite de tempo de publicações de 2000 a 2018 nos idiomas
português e inglês, além de artigos mais antigos que serviram
como base para os estudos relacionados ao tema. Contudo, a
seleção dos artigos foi realizada através da busca dos
descritores: “Biotecnologia”, “Úlcera péptica”, “Angiotensina II”,

439
POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO ASSOCIADO A RESOLUÇÃO DE DISTÚRBIOS
GÁSTRICOS
“Gasotransmissores”, pesquisados de forma individual e
associados utilizando o operador booleano and. Vale a pena
ressaltar que os mesmos descritores foram pesquisados no
idioma inglês “Biotechnology”, “Peptic ulcer”, “Angiotensin II” e
“Gas Transmitters” . O quadro que ilustra essa pesquisa está
presente abaixo (Tabela 1).

Base de Dados Descritores


MEDLINE Biotechnology, Peptic ulcer,
Angiotensin II, Gas
Transmitters
NCBI Biotechnology, Peptic ulcer,
Angiotensin II, Gas
Transmitters
Lilacs Biotecnologia, Úlcera
péptica, Angiotensina II,
Gasotransmissores
SciELO Biotecnologia, Úlcera
péptica, Angiotensina II,
Gasotransmissores

Na sequência, foi realizada a leitura dos resumos dos


artigos, para saber se o dado obtido na pesquisa apresentava
alguma correlação com a revisão proposta. Em seguida, o
material escolhido foi lido minuciosamente, visando organizar
os dados contidos nos artigos nos tópicos do capítulo em
questão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

440
POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO ASSOCIADO A RESOLUÇÃO DE DISTÚRBIOS
GÁSTRICOS
A úlcera gástrica geralmente é definida como uma
solução de continuidade que vai desde a mucosa do trato
digestivo, pode se estender até a camada submucosa,
passando ainda pela muscular ou atuando mais
profundamente. De forma histológica pode-se apresentar por
duas grandes estruturas: a margem da lesão ou úlcera (formada
por tecido adjacente chamado de componente epitelial) além
detecido de granulação na base da úlcera (chamado de
componente tecidual conectivo), formado conjunto de
fibroblastos e macrófagos, sendo esse, o local em que ocorre
uma elevada proliferação de células endoteliais e formação de
microvasos (TARNAWSKI, 2005).
Apesar do grade volume de pesquisas e grandes
avanços no conhecimento da doença ulcerosa gástrica, a sua
etiopatogenia ainda não é totamente elucidada. É uma doença
bastante comum do sistema gastrointestinal e sua patogênese
pode ser tida como multifatorial, que pode incluir tanto infecções
por Helicobacter pylori, além de aumento da concentração de
ácido gástrico sob a mucosa do estômago, de
pepsina,diferenças na motilidade gastroduodenal, bem como
hábitos de vida como o tabagismo e elevado consumo de
bebidas alcoólicas (SOUZA et al, 2016) (Figura 3).
No estômago, tais ulcerações geralmente se apresentam
no antro (60%) e na junção do antro com o corpo, na pequena
curvatura (25%). Como já explicidato, na úlcera gástrica, as
lesões ocorrem pela conhunta de ação do ácido clorídrico
(HCL) sobre a mucosa, resultando em um desequilíbrio entre os
fatores agressores e os mecanismos de defesa da mucosa
gástrica. Tais lesões podem aparecer e piorar muito pelo o
estresse, bem como consumo excessivo de álcool, tabagismo,

441
POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO ASSOCIADO A RESOLUÇÃO DE DISTÚRBIOS
GÁSTRICOS
uso de AINES e pela presença de H. pylori no TGI (ZHAO et
al, 2015; CHOI et al, 2016; SHEEBA et al, 2016).
Os resultados obtidos no presente estudo de revisão
bibliográfica referem-se a todos os artigos científicos
relacionados ao potencial biotecnológico na resolução de
problemas gastrointestinais publicados sobre o tema em
questão recuperados por meio das de busca utilizadas (
conforme termos da metodologia), que fossem relacionados
com a pesquisa em questão.
Pode-se observar pela busca dos termos biotecnologia
nos últimos 10 anos teve um aumento exponencial em relação
ao relação ao ano de 2008 (Figura 1) com 1560 artigos
publicados relacionados a grande área de Biotecnologia, já no
ano de 2018 3530 trabalhos foram publicados com relação a
biotecnologia e potencial biotecnológico. Já na base de dados
scielos alguns dos termos pesquisados não retornaram
resultados, mas como na base de dados NCBI foi grande o
volume de resultados quanto ao termos de biotecnologia, Para
os termos ulcera petica em inglês a pesquisa retornou 246
resultados, e em português 96. Já para Angiotensina II em
inglês 324 resultados e português 240. Para o termo
gasotransmissor apenas 5 resultados foram encontrados, e
quando associados os termos a pesquisa não retornou
resultados. Com esses resultados podemos observar que ainda
é escassa a pesquisa associada com uso de gasotransmissores
e baseados no estudo da via de Angiotenina II (Figura 1).
A busca dos termos “Biotecnologia”, “Úlcera péptica”,
“Angiotensina II”, “Gasotransmissores”, pesquisados de forma
individual e associados na base de dados NCBI, podemos
observar que como na outra base de dados o termo
biotecnologia isolado retorna um grande volume de trabalhos

442
POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO ASSOCIADO A RESOLUÇÃO DE DISTÚRBIOS
GÁSTRICOS
cerca de 250.000 mil publicações (Figura 2). Já para o termo
isolado de “Úlcera péptica” apenas 5.446 trabalhos foram
retornados nessa busca já para o termo gasotransmissores já
obtivemos um volume maior de trabalhos com 47.345
resultados. Para o termo “Angiotensina II” a pesquisa retornou
18. 478 pesquisas mas a não exixtem trabalhos na área de
gastroproteção, com apenas um trabalho experimental
estudando a via da ECA II, Ang 1-7 receptor Mas na lesão
gástrica induzida por etanol em camundongos (SOUZA et al,
2016).
A partir disso, podem ser realizados muitos estudos para
a elucidação, com isso têm sido realizados a procura de
compostos que possam atuar na ativação da via ECA II/ Ang 1-
7/ MAS, possibilando a descoberta de novos alvos
farmacológicos que garantam gastropoteção.
Já a busca de termos associados já mostrou que vem
sim, sendo realizados estudos voltados para biotecnologia e
tratamento de úlceras pépticas, mas o que ficou muito evidente
nos gráficos foi que vem se destacando o estudo de
gasotransmissores com elevado potencial biotecnológico, e
vem crescendo o interesse nos estudos da via da Angiotensina
II (Figura 2).
A pesquisa dos termos isolados, na base de dados
medline para o termo “biotecnologia” foram retornados 29.876
resultados, já para o termo “ úlcera péptica” foi cerca de 27.458
resultados, por outro lado a pesquisa do termo “Angiotensina II”
retornou grande numero de pesquisas com 84.678 artigos
publicados, por outro lado a busca de termo “gasotransmissor”
apenas 118 resultados. Asssociação dos termos não retornou
resultados avaliado.

443
POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO ASSOCIADO A RESOLUÇÃO DE DISTÚRBIOS
GÁSTRICOS
Quando realizada a busca na base de dados Bireme, o
volume de resultados é menor para os todos os termos
associados, para pesquisa de biotecnologia 1125 artigos foram
encontrados, na busca de pesquisas com úlcera péptica, foram
encontrados 1348 , a busca de pesquisas com Angiotenina II
retornou 1345 resultados, por outro lado para o termo
gasotransmissor apenas 5 resultados foram encontrados, e
quando associados os termos a pesquina não retornou
resultados.

444
POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO ASSOCIADO A RESOLUÇÃO DE DISTÚRBIOS
GÁSTRICOS
Figura 1. Resultados da busca do termo biotecnologia na NCBI
nos últimos 10 anos e busca dos termos isolados na base de
dados brasileira Scielo.

445
POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO ASSOCIADO A RESOLUÇÃO DE DISTÚRBIOS
GÁSTRICOS
Figura 2. Resultados da busca do termo “Biotecnologia”,
“Úlcera péptica”, “Angiotensina II”, “Gasotransmissores”,
pesquisados de forma individual e associados na base de
dados NCBI NCBI nos últimos 10 anos.

CONCLUSÕES

Os resultados expostos neste trabalho evidenciam que, embora


o número de artigos com a busca dos termos associados
relacionados ao potencial biotecnológico associado a resolução
de distúrbios gástricos com a pesquisa de gasotransmissores e
estudo na via da Angiotensina II, é uma área bastante
promissora que precisa ser explorada para o descoberta de

446
POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO ASSOCIADO A RESOLUÇÃO DE DISTÚRBIOS
GÁSTRICOS
novos alvos farmacológicos que podem ser utilizado no
tratamento de distúrbios gástricos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

WILLET, S.G.; MILLS, J. C. Stomach organ and cell lineage differentiation:


from embryogenesis to adult homeostasis. CMGH, v. 2, n. 5, p. 546-559,
2016.
CHOI E., et al. Cell lineage distribution atlas of the human stomach reveals
heterogeneous gland populations in the gastric antrum. Gut, v. 63, p. 1711–
1720, 2014.
CHOI, Y. J. et al. Gastroprotective effects of PMK-S005 against ethanol-
induced acute gastric damage in rats. Gut Liver, v. 10, p. 348-355, 2016.
WALDUM, H.L.; KLEVELAND, P.M.; FOSSMARK, R. Upper
gastrointestinal physiology and diseases. Scand J Gastroenterol v. 50,
p.649–656, 2015.
SCHUBERT, M.L. Functional anatomy and physiology of gastric secretion.
Curr Opin Gastroenterol, v. 31, p. 479-485, 2015. SCHUBERT, M.L. Gastric
acid secretion. Cur opin gastroenterol, v. 32, n. 6, p. 452-460, 2016.
TRIPATHI S., et al. The gastrin and cholecystokinin receptors mediated
signaling network: a scaffold for data analysis and new hypotheses on
regulatory mechanisms. BMC Syst Biol., v. 9, p. 40, 2015.
PERLOT, T.; PENNINGER, J. M. ACE2 e From the renineangiotensin
system to gut microbiota and malnutrition. Microbes Infect, v. 15, p. 866-
73, 2013. TAKEUCHI, K. Gastric cytoprotection by prostaglandin E2 and
prostacyclin: relationship to EP1 and IP receptors. J Physiol Pharmacol, v.
65, n. 1, p. 3-14, 2014.
TAKEUCHI, K.; ENDOH, T., HAYASHI, S., AIHARA, T. Activation of
Muscarinic Acetylcholine Receptor Subtype 4 Is Essential for Cholinergic
Stimulation of Gastric Acid Secretion: Relation to D Cell/Somatostatin.
Front pharmacol, v.7, 2016.
SOUZA, L. K. M. et al. Diminazene aceturate, an angiotensin-converting
enzyme II activator, prevents gastric mucosal damage in mice: Role of the
angiotensin-(1–7)/Mas receptor axis. Biochem pharmacol, v.112, p. 50-59,
2016.
SINHA, K.; SIL, P. C. Targeting oxidative stress and inflammation in
NSAIDs induced gastropathy: A plausible therapeutic approach. Inflam Cell
Signal, v. 2, n. 2, 2015.
SCHUBERT, M.L. Functional anatomy and physiology of gastric secretion.
Curr Opin Gastroenterol, v. 31, p. 479-485, 2015.

447
POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO ASSOCIADO A RESOLUÇÃO DE DISTÚRBIOS
GÁSTRICOS
SCHUBERT, M.L. Gastric acid secretion. Cur opin gastroenterol, v. 32, n.
6, p. 452-460, 2016.
SALIN, M. L.; MCCORD, J. M. Free radicals and inflammation. Protection of
phagocytosine leukocytes by superoxide dismutase. J Clin Invest, v. 56, n.
5, p. 1319, 1975.
QIN, X.; LOU, W; RYDHOLM, H. The Prevention of Upper Gastrointestinal
Bleeding in Seriously Ill Chinese Patients: A Randomised, Double-Blind
Study Evaluating Esomeprazole vs Cimetidine. Gastroenterol, v. 152, n. 5,
p. S886- S887, 2017.
LUCETTI, L. T. et al. Nitric oxide and hydrogen sulfide interact when
modulating gastric physiological functions in rodents. Dig dis sci, v. 62, n.
1, p. 93-104, 2017.
YU, Chuan et al. Gastroprotective effect of taurine zinc solid dispersions
against absolute ethanol-induced gastric lesions is mediated by
enhancement of antioxidant activity and endogenous PGE2 production and
attenuation of NO production. European journal of pharmacology, v. 740,
p. 329-336, 2014.
WHO. Global Status Report on Alcohol and Health-2014 ed. Geneva: World
Health Organization; 2014. Disponível em: www.
who.int/substance_abuse/publications/global_alcohol_report/en/. Acessado
em agosto de 2016.
AL BATRAN, R. et al. In vivo antioxidant and antiulcer activity of Parkia
speciosa ethanolic leaf extract against ethanol-induced gastric ulcer in rats.
PloS one, v. 8, n. 5, p. e64751, 2013.
SHEEBA, M. S. et al. Comparative evaluation of the efficacy of
Cardiospermum halicacabum Linn. on Indomethacin, Pylorus ligation and
Helicobacter pylori induced gastric ulcer in rats. Ann Phytomed., v. 5, n. 1,
p. 63-72, 2016.
ZHAO, Z.; GONG, S.; WANG, S.; MA, C. Effect and mechanism of
evodiamine against ethanol-induced gastric ulcer in mice by suppressing
Rho/NF-кB pathway. Internat immunopharmacol, v. 28, n. 1, p. 588-595,
2015.
CHEN, Tong et al. Protective effect of trillin against ethanol-induced acute
gastric lesions in an animal model. RSC Advances, v. 6, n. 24, p. 20081-
20088, 2016.
GOULD, E. et al. A prospective, placebo‐controlled pilot evaluation of the
effect of omeprazole on serum calcium, magnesium, cobalamin, gastrin
concentrations, and bone in cats. Journal of veterinary internal
medicine, v. 30, n. 3, p. 779-786, 2016.
GONSALEZ, Sabrina Ribeiro et al. Inappropriate activity of local renin-
angiotensin-aldosterone system during high salt intake: impact on the
cardio-renal axis. Brazilian Journal of Nephrology, n. AHEAD, 2018.

448
POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO ASSOCIADO A RESOLUÇÃO DE DISTÚRBIOS
GÁSTRICOS
PERLOT, T.; PENNINGER, J. M. ACE2 e From the renineangiotensin
system to gut microbiota and malnutrition. Microbes Infect, v. 15, p. 866-
73, 2013.

449
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DO
ACÍDO VANÍLICO, COM ÊNFASE EM SEU DERIVADO SEMISSINTÉTICO
VANILATO DE ISOPROPILA.
CAPÍTULO 23

PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DO
ACÍDO VANÍLICO, COM ÊNFASE EM SEU
DERIVADO SEMISSINTÉTICO VANILATO
DE ISOPROPILA.
Luan Kelves Miranda de SOUZA 1
Kerolayne de Melo NOGUEIRA 2
Khetyma Moreira FONSECA 2
Isabela Ribeiro de Sá Guimarães NOLETO 3
Nayara Alves de SOUSA 3,4
1
Pós-graduandos do Programa de Doutorado em Biotecnologia (RENORBIO), UFPI 2 Pós
Graduando do do programa de mestrado em Biotecnologia , UFPI; 3 Pós-graduando do
Programa de Mestrado em Farmacologia, UFPI; 4 Orientadora.
keerolayne@hotmaill.com.br

RESUMO:. Inflamação é a resposta do corpo à estímulos


nocivos tais como: infecções, traumas, ou lesões. A cascata
inflamatória pode levar ao desenvolvimento de inúmeras
doenças, e a intervenção fármaco-terapêutica atual consiste no
uso de corticosteroides e de anti-inflamatórios não-esteróides.
Entretanto, a utilização destes está associada a vários efeitos
secundários graves, por isso é necessária a busca por novas
alternativas que possam minimizar esse efeito. Nesta
prospecção, objetivou-se realizar um estudo sobre atividades
biológicas já descritas para o ácido vanílico, com especial
destaque para o seu derivado semissintético vanilato de
isopropila enquanto agente anti-inflamatório. Para isso, foram
obtidas informações sobre documentos de patentes nas bases

450
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DO
ACÍDO VANÍLICO, COM ÊNFASE EM SEU DERIVADO SEMISSINTÉTICO
VANILATO DE ISOPROPILA.
INPI, USPTO e EPO, com o uso das palavras-chave: ácido
vanílico, agentes anti-inflamatórios, vanilato de isopropila,
sempre utilizados no campo de busca relativo ao resumo dos
trabalhos. Como resultados obtidos no presente estudo
prospecção tecnológica verificou-se que nas bases de dados
internacionais de patente os documentos referentes à temática
eram muito escassos e algumas tinham um maior número de
patentes, sobre o ácido vanílico, poucas referem-se a sua
atividade anti-inflamatória, e não foram encontrados
documentos sobre a utilização do vanilato de isopropila como
agente anti-inflamatório, reforçando o caráter inovador das
pesquisas que envolvem o seu uso nesta tecnologia.
Palavras-chave: Ácido vanilico. Vanilato de isopropila.
Inflamação.

INTRODUÇÃO

Inflamação é a resposta do corpo à lesão tecidual e


ocorre como uma resposta defensiva, que induz profundas
adaptações fisiológicas desencadeadas numa tentativa de
limitar os danos no tecido e remover o agente patogênico. Tais
mecanismos envolvem uma série complexa de eventos,
incluindo a dilatação de arteríolas, vênulas e capilares com
aumento da permeabilidade vascular, exsudação de fluidos,
incluindo as proteínas do plasma e a migração de leucócitos
para o sítio inflamatório. Tal resposta inflamatória pode ser
desencadeada por diversos estí mulos, tais como: de origem
endógena (tecidos em necrose, estadiamento tumoral),
exógena oriunda de infecções causadas por microrganismos,
por traumas (contuso ou penetrante), agentes físicos
(queimaduras ou congelamento) e químicos como radiação e
451
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DO
ACÍDO VANÍLICO, COM ÊNFASE EM SEU DERIVADO SEMISSINTÉTICO
VANILATO DE ISOPROPILA.
substâncias químicas ambientais (GABAY; KUSHNER, 1999;
LALRINZUALI; VABEIRYUREILAI; JAGETIA, 2016).
Embora a inflamação seja um mecanismo de defesa, é a
cronificação desse processo que leva aos efeitos deletérios no
organismo devido principalmente a ação de mediadores
envolvidos nessa reação podendo assim perpetuar-se e
agravar muitas doenças (HEADLAND; NORLING, 2015;
KUMAR; CHAN; COUSSENS, 2016). Nesse contexto, doenças
caracterizadas pela cronificação do processo inflamatório estão
diretamente relacionadas com a elevação dos casos de morbi-
mortalidade principalmente em indivíduos idosos. A cascata
inflamatória pode levar ao desenvolvimento de doenças como:
artrite reumatoide, aterosclerose, alzheimer, neoplasia, asma,
psoríase, esclerose múltipla, gastroenterites, doenças
autoimunes e diabetes (PERKINS et al., 2015 ; WHO, 2017).
Apesar do processo inflamatório ser indispensável para
a homeostase do indivíduo os efeitos deletérios causados por
essa resposta exigem, em determinados casos, a intervenção
farmacoteurapêutica. Os fármacos geralmente prescritos e que
são capazes de interferir neste processo reacional do
organismo são: glicocorticóides ou anti-inflamatórios
esteroidais (AIEs) e os anti-inflamatórios não esteroidais
(AINEs) (Figura 5). Os AINes atuam interferindo com a síntese
das prostaglandinas através da inibição inespecífica da síntese
da COX-1 e/ou COX-2. Entretanto, a utilização destes está
associada a vários efeitos secundários graves. Embora
eficazes, o uso contínuo de AINEs está associado a um
conjunto de efeitos colaterais, principalmente a toxicidade
gastrointestinal (HORADAGODA et al., 1999; PERKINS et al,
2015).

452
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DO
ACÍDO VANÍLICO, COM ÊNFASE EM SEU DERIVADO SEMISSINTÉTICO
VANILATO DE ISOPROPILA.
A lesão gástrica causada por AINEs tem sido geralmente
associada com a inibição não específica de isoformas da
cicloxigenase (COX), bloqueando assim a produção de
substâncias endógenas responsáveis pela reepitelização
gástrica como, por exemplo, a inibição de prostaglandinas
(PGs), em especial a PGE2 (KAWAHARA et al., GUNTER,
2017).
Diante disso é de suma importância a busca por
alternativas terapêuticas, que possuam uma boa atividade anti-
inflamatória sem causar os efeitos deletérios do atuais
fármacos. Nesse sentindo, produtos naturais são uma fonte
importante para a investigação destinada a descoberta de
novas substâncias com atividades farmacológicas para possível
desenvolvimento de fármacos. Nos últimos anos esses
compostos naturais têm guiado o desenvolvimento da química
orgânica levando a avanços em metodologias sintéticas,
possibilitando a síntese de compostos com estruturas químicas
análogas aos produtos naturais. Ao final do processo esses
compostos semissintéticos podem ser patenteados, mesmo
quando a sua estrutura original já tenha sido previamente
descrita (NEWMAN, 2008; .CRAGG; NEWMAN 2013; DAVID;
WOLFENDER, 2015 NEWMAN et al., 2016).
Dentre os produtos naturais os compostos fenólicos vêm
se desacando nas pesquisas científicas, pois eles têm
demonstrado efeitos plurifarmacológicos como: bactericida,
antiviral, antialérgico, antitrombótico, anticarcinogênico,
hepatoprotetor, vasodilatador e anti-inflamatório (BUTLER ;
ROBERTSON; COOPER, 2014; KOEBERLE; OLIVER, 2014;
NEWMAN et al., 2016; RODRIGUES et al., 2016. CAMPOS,
2015).

453
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DO
ACÍDO VANÍLICO, COM ÊNFASE EM SEU DERIVADO SEMISSINTÉTICO
VANILATO DE ISOPROPILA.
Entre estes compostos fénolicos, vem se destacando o
ácido vanílico onde estudos experimentais forneceram
evidências de sua eficácia em doenças cardiovasculares,
gastrointestinais e doenças do fígado. Além disso ele possui
atividade anti-inflamaória mediante a inibição da síntese de
inúmeros mediadores que se elevam durante os processos
inflamatórios além de poder atuar diretamente na peroxidação
lipídica (SEVGI, TEPE, SARIKURKCU, 2015; CALIXTO-
CAMPOS et al., 2015; DIANAT et al., 2016; VINOTHIYA E
ASHOKKUMAR, 2017).
Nesta prospecção, objetivou-se realizar um estudo sobre
atividades biológicas já descritas para o ácido vanílico, com
especial destaque para o seu derivado semissintético vanilato
de isopropila enquanto agente anti-inflamatório. Para isso,
foram obtidas informações sobre documentos de patentes nas
bases INPI, USPTO e EPO, com o uso das palavras-chave:
ácido vanílico, agentes anti-inflamatórios, vanilato de isopropila,
sempre utilizados no campo de busca relativo ao resumo dos
trabalhos.

MATERIAIS E MÉTODO

Esta pesquisa foi realizada tendo por base um levantamento de


pedidos de patentes depositados nos principais bancos de
dados: United States Patent and Trademark Office (USPTO),
European Patent Office (EPO), World Intellectual Property
Organization (WIPO) e no Banco de dados do Instituto Nacional
de Propriedade Industrial (INPI) do Brasil. O levantamento foi
realizado em novembro de 2018, sendo investigados todos os
documentos de patentes disponíveis para consulta até a data

454
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DO
ACÍDO VANÍLICO, COM ÊNFASE EM SEU DERIVADO SEMISSINTÉTICO
VANILATO DE ISOPROPILA.
de realização da referida pesquisa (10/11/2017). As pesquisas
foram realizadas utilizando como palavras-chave os termos
“ácido vanílico”, “Agentes anti-inflamatórios” combinados ou
não e “Vanilato de isopropila”, em português e inglês
juntamente com o operador boleano “and” em todas as bases,
eventualmente associando-se os termos com o uso de aspas (“
“). Tendo em vista a necessidade de realização de uma busca
mais ampla, tais palavras-chave e operador boleano foram
sempre utilizados no campo de busca relativo ao resumo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos no presente estudo de prospecção


tecnológica referem-se a todos os depósitos de patentes
efetuados e publicados sobre o tema em questão recuperados
por meio das de busca utilizadas (Figura 1), considerando-se,
quanto aos depósitos de patentes, o país e o ano de depósito,
como também a Classificação Internacional de Patentes (CIP).
Com relação a classificação internacional cerca de
45,03% das patentes estavam depositadas no código A61 área
de preparação para finalidades médicas e preparações de
compostos com atividades especificas ou preparações
medicinais e 54,97% das patentes estavam depositadas na
área de agricultura com códigos C7,C8, C12 que abragem a
área da agricultura e formulações químicas especificas.
Os resultados da prospecção tecnológica apresentados
referem-se, conforme já mencionado, aos documentos de
patentes já depositados envolvendo a temática em análise, nas
bases de dados do EPO, INPI, USPTO e WIPO
respectivamente. Na base de patentes nacional do INPI (figura

455
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DO
ACÍDO VANÍLICO, COM ÊNFASE EM SEU DERIVADO SEMISSINTÉTICO
VANILATO DE ISOPROPILA.
1) foram encontrados apenas 3 patentes depositadas em
relação a palavra-chave ácido vanílico envolvendo composição
de biocida depositada no ano de 2016, a fabricação de um
produto reacional oxidado depositada em 2015 e a fabricação
de um co-cristal e seu uso para tratamento de complicações
trombóticas depositada em 2012 mas nenhuma patente
relacionada a atividade biológica do ácido vanílico, por outro
lado a busca pelo termo vanilato de isopropila não retornou
resultados.
A busca de patente no INPI com o descritor ‘Agente anti-
inflamatório’ retornou 23 resultados que podem ser observados
na figura 2 que em suma descrevem, composições
farmacêuticas de combinações de fármacos e alguns novas
drogas anti-inflamatórias de derivados naturais como
polissarídeos, métodos alternativos para tratamento da
inflamação. Por outro lado, a busca pelo descritor ‘ vanilato de
isopropila’ não retornou resultados.

456
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DO
ACÍDO VANÍLICO, COM ÊNFASE EM SEU DERIVADO SEMISSINTÉTICO
VANILATO DE ISOPROPILA.
Figure 1. Resultados obtidos para a busca pelo termo ‘Vanillic
acid’ ‘Anti-Inflammatory Agent’ e ‘Vanillic acid and inflammation’
nas três bases de patentes USPTO, EPO, INPI e WIPO quanto
ao número de depósitos dos pedidos de patente.

300

250

200
USPTO
150 EPO
100 INPI
WIPO
50

0
Vanillic acid Anti-Inflammatory Vanillic acid and
Agent inflammation

Fonte: Autoria própria.


A base de patentes americana do USPTO retornou 25
resultados para as patentes relacionadas a palavra-chave ácido
vanílico (figura 3), no entanto, a maioria estão relacionadas
com processo de síntese, ou métodos de preparação e
produção do ácido vanílico apenas alguns mencionam a
atividade biológica do ácido vanílico, como bactericida,
antifúngico usado na produção de co-cristais para inibição
plaquetária, e uma patente para combinação de moléculas para
tratamento de câncer, mas a busca pelo termo vanilato de
isopropila não retornou resultados.

457
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DO
ACÍDO VANÍLICO, COM ÊNFASE EM SEU DERIVADO SEMISSINTÉTICO
VANILATO DE ISOPROPILA.
Figure 2. Resultados obtidos para a busca pelo termo ‘Anti-
Inflammatory Agent’ na base de patentes INPI quanto aos anos
de ocorrência dos depósitos dos pedidos de patente.

Fonte: Autoria própria.

Na base de dados do EPO foram encontradas 164


patentes depositadas para a palavra-chave ácido vanílico como
mostra a figura 4, das quais apenas 5 relacionadas ao seu uso
na inflamação que descrevem o uso no tratamento de doenças
alérgicas, na produção de cápsulas para tratar uretrite,
produção de novos agentes quimioterápicos para o tratamento
de câncer, analise de efeito analgésico de um planta chinesa na
qual o ácido vanílico é um dos constituintes e produção de
inibidores de TNf-α . Entretanto, em sua maioria a busca
corresponde a métodos de produção, extração e preparação de
extratos que contém o ácido vanílico, assim como na outra base
de dados tem-se algumas patentes para atividade bacterida e
antifúngica. Contudo, quando realizada a busca de patentes

458
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DO
ACÍDO VANÍLICO, COM ÊNFASE EM SEU DERIVADO SEMISSINTÉTICO
VANILATO DE ISOPROPILA.
usando os termos vanilato de isopropila a pesquisa não
retornou resultados.

Figura 3. Resultados obtidos para a busca pelo termo ‘vanillic


acid’ na base de patentes USPTO e INPI quanto aos anos de
ocorrência dos depósitos dos pedidos de patente.

4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
2018 2015
2013 2010
2003 2001
1999 1997
1994

Fonte: Autoria própria


A busca pela palavra-chave ‘Anti-inflammatory agent ’ no
banco de dados USPTO retornou 170 resultados (Figura 5). A
maioria dos resultados estão relacionados à proteção de
formulações relacionadas ao desenvolvimento de anti-
inflamatórios não esteoridais, bem como novas formulações de
alguns que já existem no mercado, outras patentes descrevem
o uso associado de anti-inflamatórios para tratamento de outras
doenças, ou patentes de produção de novos fármacos, ou de
fármacos derivados de produtos naturais como a quercetina
que também é um composto fenólico derivado assim como o

459
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DO
ACÍDO VANÍLICO, COM ÊNFASE EM SEU DERIVADO SEMISSINTÉTICO
VANILATO DE ISOPROPILA.
ácido vanílico. No entanto, nenhum resultado foi retornado por
esta base após a busca pela associação ‘Isopropyl vanillate ad
inflammation’.

Figura 4. Resultados obtidos para a busca pelo termo ‘vanillic


acid’ na base de patentes EPO quanto aos anos de ocorrência
dos depósitos dos pedidos de patente.
15

10

0
2014
2011
2008
2002
1990
1996
1988
1965

1951

1949

1931

A busca pela palavra-chave ‘AntiInflammatory agent’


retornou 169 resultados (Figura 6). A maioria dos resultados
estão relacionados à proteção de formulações relacionadas ao
desenvolvimento de anti-inflamatórios não esteoridais, bem
como novas formulações de alguns que já existem no mercado,
outras patentes descrevem o uso associado de anti-
inflamatórios para tratamento de outras doenças, ou patentes
de produção de novos fármacos, ou de fármacos derivados de
produtos naturais como a quercetina que também é um
composto fenólico derivado assim como o ácido vanílico. No
entanto, nenhum resultado foi retornado por esta base após a
busca pela associação ‘Isopropyl vanillate and inflammation ’.
460
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DO
ACÍDO VANÍLICO, COM ÊNFASE EM SEU DERIVADO SEMISSINTÉTICO
VANILATO DE ISOPROPILA.
Figura 5. Resultados obtidos para a busca pelo termo ‘Anti-
Inflammatory Agent’ na base de patentes USPTO quanto aos
anos de ocorrência dos depósitos dos pedidos de patente.

0
2018
2016
2014
2012
2010
2007
2004
2002
2000
1998
1996
1994
1990
1988
1984
1978
Fonte: Autoria própria. 1976

Na figura 7 pode ser verificar que as empresas detêm o


maior número de depósitos de patentes, ficando em segundo
lugar os inventores individuais e por ultimo as universidades,
mostrando que essa área é bastante visada pelas indústrias e
bastante lucrativa do ponto de vista comercial.
Portanto, visto os resultados expostos até aqui, vê-se o
grande potencial biotecnológico no possível uso do derivado
semissintético do ácido vanílico, como um anti-inflamatório visto
que já se tem muitos estudos com seu análogo natural, pode-
se ainda deenvolver a petente do produto em questão desse
estudo, para que futuramente possa ser usado por alguma
indústria farmacêutica.

461
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DO
ACÍDO VANÍLICO, COM ÊNFASE EM SEU DERIVADO SEMISSINTÉTICO
VANILATO DE ISOPROPILA.
Figura 6. Resultados obtidos para a busca pelo termo ‘Anti-
Inflammatory Agent’ na base de patentes EPO quanto aos anos
de ocorrência dos depósitos dos pedidos de patente.

20

15

10

0
2015
2013
2011
2009
2007
2005
2002
2000
1998
1996
1994
1992
1990
Fonte: Autoria própria. 1970

Figura 7: Distribuição dos documentos de patentes


relacionados por tipo de depositante.

Empresas
Universidade
Inventor Individual

Fonte: Autoria própria.

462
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DO
ACÍDO VANÍLICO, COM ÊNFASE EM SEU DERIVADO SEMISSINTÉTICO
VANILATO DE ISOPROPILA.
CONCLUSÕES

Os resultados expostos neste trabalho apontam que,


embora o número de patentes depositadas envolvendo sejam
um número relativamente pequeno, com algumas centenas de
depósitos, pouco tem sido aplicado no desenvolvimento de
novas drogas anti-inflmatórias, já que o número de pedidos de
depósitos de patentes envolvendo a sua associação ao
tratamento de inflamação seja escasso, e inexistente quanto a
procura por patentes envolvendo o seu derivado semissintético,
o vanilato de isopropila.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMBRIZ-PÉREZ, D. L. et al."Phenolic compounds: Natural alternative in


inflammation treatment. A Review." Cogent Food & Agriculture 2, no. 1
(2016): 1131412.
LALRINZUALI, K.; VABEIRYUREILAI, M.; JAGETIA, G. C. Investigation of
the Anti-Inflammatory and Analgesic Activities of Ethanol Extract of Stem
Bark of Sonapatha Oroxylum indicum In Vivo. Int J Inflam, v. 2016, p.1-8,
2016.
PERKINS, J.R. et al. Cornejo-García, Unravelling adverse reactions to
NSAIDs using systems biology, Trends Pharmacol Sci. v. 3, p. 35-36, 2015.
World Health Organization. (2017). Noncommunicable diseases: progress
monitor 2017.
KOEBERLE, Andreas; WERZ, Oliver. Multi-target approach for natural
products in inflammation. Drug Discovery Today, v. 19, n. 12, p. 1871-1882,
2014.
TILI, E; MICHAILLE, J. Promiscuous effects of some phenolic natural
products on inflammation at least in part arise from their ability to modulate
the expression of global regulators, namely microRNAs. Molecules, v. 21, n.
9, p. 1263, 2016.
GABAY, C.; KUSHNER, I. Acute-phase proteins and other systemic
responses to inflammation. New Engl j of medic, v. 340, n. 6, p. 448-454,
1999.

463
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DO
ACÍDO VANÍLICO, COM ÊNFASE EM SEU DERIVADO SEMISSINTÉTICO
VANILATO DE ISOPROPILA.
KUMAR, S.;CHAN, C. J.; COUSSENS, L. M. Inflammation and cancer.In
Immunity to Pathogens and Tumors. Elsevier Inc, p. 406-415, 2016.
PERKINS, J.R. et al. Cornejo-García, Unravelling adverse reactions to
NSAIDs using systems biology, Trends Pharmacol Sci. v. 3, p 35-36, 2015.
GUNTER, B. R. et al. Non‐steroidal anti‐inflammatory drug‐induced
cardiovascular adverse events: a meta‐analysis. J of clin pharm and therap,
v. 42, n. 1, p. 27-38, 2017.
NEWMAN, DAVID J., AND GORDON M. CRAGG. "Natural products as
sources of new drugs from 1981 to 2014." Journal of natural products 79,
no. 3 (2016): 629-661.
RODRIGUES, T. et al. Counting on natural products for drug design. Nature
chemistry, v. 8, n. 6, p. 531, 2016.
BUTLER, M. S.; ROBERTSON, A. A; COOPER, Matthew A. Natural
product and natural product derived drugs in clinical trials. Natural product
reports, v. 31, n. 11, p. 1612-1661, 2014.
KOEBERLE, A.;OLIVER, W. "Multi-target approach for natural products in
inflammation." Drug Discovery Today19, no. 12 (2014): 1871-1882.
CALIXTO-CAMPOS, C. et al. Vanillic acid inhibits inflammatory pain by
inhibiting neutrophil recruitment, oxidative stress, cytokine production, and
NFκB activation in mice. J of nat prod, v. 78, n. 8, p. 1799-1808, 2015.
SEVGI, K.; TEPE, B.; SARIKURKCU, C. Antioxidant and DNA damage
protection potentials of selected phenolic acids. Food and Chem Toxic, v.
77, p. 12-21, 2015.
DIANAT, M. et al. Disturbance effects of PM 10 on iNOS and eNOS mRNA
expression levels and antioxidant activity induced by ischemia–reperfusion
injury in isolated rat heart: protective role of vanillic acid. Environ Scienc
and Pol Resear, v. 23, n. 6, p. 5154-5165, 2016.
DAVID, B.; WOLFENDER, J.; DIAS, D. A. The pharmaceutical industry and
natural products: historical status and new trends. Phytch reviews, v. 14, n.
2, p. 299-315, 2015.
VINOTHIYA, K; ASHOKKUMAR, N. Modulatory effect of vanillic acid on
antioxidant status in high fat diet-induced changes in diabetic hypertensive
rats. Biomedicine & Pharmacotherapy, v. 87, p. 640-652, 2017.
KILLEEN, M. J. et al. NF-κβ signaling and chronic inflammatory diseases:
exploring the potential of natural products to drive new therapeutic
opportunities. Drug discovery today, v. 19, n. 4, p. 373-378, 2014.
HEADLAND, S.E.; NORLING, L. V. The resolution of inflammation:
Principles and challenges. In: Sem in immun. Academic Press, v, 2015 n. 1,
p. 149-160, 2015.
HORADAGODA, N. U. et al. Acute phase proteins in cattle: discrimination
between acute and chronic inflammation. The Vet Rec, v. 144, n. 16, p.
437-441, 1999.
464
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DO
ACÍDO VANÍLICO, COM ÊNFASE EM SEU DERIVADO SEMISSINTÉTICO
VANILATO DE ISOPROPILA.
KAWAHARA, K. et al. Prostaglandin E 2-induced inflammation: Relevance
of prostaglandin E receptors. Bioch et Bioph Acta (BBA)-Mol and Cell Biol
of Lip, v. 1851, n. 4, p. 414-421, 2015.
CRAGG, G. M.; NEWMAN, D. J. Natural products: a continuing source of
novel drug leads. Biochim et Bioph Acta (BBA)-Gen Subj, v. 1830, n. 6, p.
3670-3695, 2013.
NEWMAN, D.J. Natural products as leads to potential drugs: an old process
or the new hope for drug discovery?. J. Med. Chem, v. 51, n. 9, p. 2589-
2599, 2008.
WOLFENDER, Jean-Luc et al. Current approaches and challenges for the
metabolite profiling of complex natural extracts. Journal of Chromatography
A, v. 1382, p. 136-164, 2015.

465
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DE NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS COMO
VEÍCULO DRUG DELIVERY
CAPÍTULO 24

PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DE
NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS COMO
VEÍCULO DRUG DELIVERY

Gabriella PACHECO¹
Higinalice da Silva PEREIRA1
André Luis Fernandes LOPES²
Khetyma Moreira FONSECA¹
Leiz Maria Costa VÉRAS³
1
Pós- graduando do programa de mestrado em Biotecnologia, UFPI; ²Graduando do curso de
Biomedicina, UFPI; ³Orientadora/ Integrante do núcleo de pesquisa em biodiversidade e
biotecnologia (BIOTEC)

RESUMO: A nanotecnologia farmacêutica é uma área voltada


para o desenvolvimento, caracterização e aplicação de
sistemas terapêuticos nanoestruturados com o intuito de
melhorar a cinética e biodistribuição da droga. No entanto para
que um sistema exerça baixa toxicidade é necessário que o
biomaterial utilizado em sua formulação seja o mais
biocompatível possível, nesse sentido as nanopartículas
poliméricas têm recebido destaque. Haja vista, objetivou-se
realizar uma busca de anterioridades, em banco de patentes
nacionais e internacionais acerca da produção de
nanopartículas utilizadas como veículo drug delivery. A
prospecção tecnológica foi realizada a partir da busca de
patentes através dos bancos de dados:Instituto Nacional da
Propriedade Industrial, Patent and Trademark Office e
European Patent Office. Os dados resultantes das buscas
foram tabulados e analisados, foram recuperados 633
documentos, os quais, após a análise e retirada das duplicadas
resultaram em um número de 582 patentes. Dentre os países
466
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DE NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS COMO
VEÍCULO DRUG DELIVERY
com mais depósitos está os EUA. O Brasil apresentou uma
quantidade considerável de patentes e isso mostra o interesse
do país por esse tipo de tecnologia e que pode proporcionar
pesquisa e consequentemente surgimento de novas
tecnologias que possam complementar ou otimizar as que já
existem.
PALAVRAS-CHAVE: Nanotecnologia; Matriz polimérica;
Sistemas de liberação de medicamentos.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas inúmeras mudanças vêm


ocorrendo e fazem com que o ser humano passe a
experimentar diferentes reações, principalmente o crescimento
do número de tecnologia surgindo no mercado. Os estudos de
prospecção tecnológica servem de instrumento para auxiliar no
processo de tomada de decisões, uma vez que essa ferramenta
possibilita que se trace visões possíveis para fazer as melhores
escolhas no futuro. Além disso, a prospecção tecnológica
envolve o mapeamento do desenvolvimento científico e
tecnológico que pode contribuir com a indústria, economia e
sociedade, proporcionando a otimização da gestão dos
recursos humanos, evitando desperdícios materiais, tempo e
financeiros (CRUZ, 2016).
A nanociência pode ser conceituada como o estudo dos
princípios fundamentais de átomos, moléculas e estruturas em
escala nanométrica (TOMIOTTO-PELLISSIER et al., 2017). A
nanotecnologia refere-se à aplicação tecnológica de objetos
que tenham ao menos uma de suas dimensões físicas medindo
entre 0,1 e 100 nanômetros, e a nanotecnologia farmacêutica é
a área das ciências farmacêuticas envolvida no
desenvolvimento, caracterização e aplicação de sistemas

467
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DE NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS COMO
VEÍCULO DRUG DELIVERY
terapêuticos em escala nanométrica ou micrométrica
(BIZERRA; SILVA, 2016).
A nanotecnologia tem despertado muita atenção no meio
científico e industrial nas últimas décadas em decorrência do
nível de impacto que os materiais nanoestruturados podem
causar nas mais diversas áreas (MEIRA; SILVA; LEAL FILHO,
2015). Existe uma tendência crescente de publicações
científicas descrevendo os benefícios da nanotecnologia no
tratamento terapêutico, uma vez que sistemas
nanoestruturados buscam direcionar e controlar a liberação de
fármacos. Proporcionam melhora da cinética e biodistribuição
da droga e podendo ainda atuar como dispositivo carreador de
fármacos, proteínas, genes e vacinas (BIZERRA; SILVA, 2016).
Nanopartículas poliméricas são sistemas carreadores
que podem variar entre 10-1000 nm de diâmetro, e dependendo
da sua composição e organização estrutural, diferenciam-se em
nanocápsulas e nanoesferas. As nanocápsulas contêm um
núcleo oleoso cercado por uma membrana polimérica, onde o
composto bioativo pode estar adsorvido à membrana polimérica
e/ou dissolvido no núcleo oleoso. As nanoesferas, que não
apresentam óleo em sua composição, são formadas por uma
matriz polimérica, onde o fármaco pode ficar retido ou adsorvido
(CODEVILLA et al., 2015)
O controle da liberação de fármacos em sítios de ação
específicos tem sido uma área de intensa pesquisa nos últimos
anos, principalmente através da utilização de vetores capazes
de permitir a otimização da velocidade de cedência e do regime
de dosagem das substâncias. Dentre os vetores, incluem-se as
micropartículas e os sistemas coloidais (lipossomas e
nanopartículas). As nanopartículas, constituídas por polímeros
biodegradáveis, têm atraído maior atenção dos pesquisadores

468
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DE NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS COMO
VEÍCULO DRUG DELIVERY
em relação aos lipossomas (SCHAFFAZICK et al., 2003), A
vantagem das nanopartículas poliméricas em relação aos
lipossomos, além do menor custo dos polímeros em relação aos
fosfolipídios, é a sua maior estabilidade e durabilidade, o que
pode facilitar a estocagem à temperatura ambiente e aumentar
o tempo de prateleira do medicamento (ROSSI-BERGMANN,
2008).
A eficácia de um sistema em exercer atividade biológica
com baixa toxicidade não depende somente do tipo de sistema
envolvido, mas também do biomaterial empregado em seu
preparo (ZORZIA et al., 2018). Nesse sentido as nanopartículas
poliméricas destacam-se devido à sua excelente
biocompatibilidade e biodegradabilidade, além de serem não
tóxicas e não imunogênicas (VIEIRA; GAMARRA 2016).
A utilização de nanopartículas poliméricas como um
veículo para transporte de fármacos representa uma via para a
terapia de várias doenças, tais como câncer, cardiovasculares,
infecções bacterianas, inflamatórias, do sistema nervoso central
(SBALQUEIRO et al., 2018).
Dentro deste contexto, o presente trabalho objetivou-se
realizar uma busca de anterioridades, em bancos de patentes
nacionais e internacionais, acerca da produção de
nanopartículas poliméricas utilizadas como veículos de drug
delivery com potencial terapêutico, e, principalmente, examinar
como o Brasil se insere no cenário global.

469
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DE NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS COMO
VEÍCULO DRUG DELIVERY
METODOLOGIA

A prospecção tecnológica foi realizada a partir da busca


de patentes através dos bancos de: Instituto Nacional da
Propriedade Industrial (INPI); European Patent Office (EPO) e
United States Patent and Trademark Office (USPTO), nos
meses de outubro e novembro de 2018, sendo investigados
todos os documentos de patentes disponíveis para consulta
referentes a essa pesquisa.
Foram escolhidas palavras-chave que pudessem ajudar
a refinar a pesquisa, utilizando de forma combinada. Para isto
foram utilizados os seguintes termos: “NANOPARTICLES”
“POLYMER”,” DRUG DELIVERY”, “NANOPARTÍCULAS
POLIMÉRICAS”, ”ENTREGA DE FÁRMACOS” em todas as
bases, selecionando patentes que apresentavam a palavra nos
títulos ou resumos. Foram excluídas desta análise as patentes
repetidas (Figura 1).
Os dados resultantes das buscas foram analisando de
acordo as variáveis: ano de depósito, depositante, país e
classificação internacional de patentes e posteriormente
tabulados no programa Excel® e apresentados na forma de
gráficos.

470
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DE NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS COMO
VEÍCULO DRUG DELIVERY
Figura 1. Fluxograma da realização da pesquisa

OUT/NOV
BANCO 2018

INPI USPTO/EPO

Nanopartículas Nanoparticles
poliméricas and polymer

Nanoparticles
Entrega de
and drug
Fármacos
delivery

CONTEN RESULT
DO AS ADOS
INCLU EXCL
ÍDOS UÍDO
S
Fonte: Autoria própria, 2018

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Fazendo uma análise do número de patentes


encontradas nas bases de dados europeia (EPO), brasileira
(INPI) e norte americana (USPTO) relacionada às palavras-
chave do trabalho, foram recuperados 633 documentos, os
471
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DE NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS COMO
VEÍCULO DRUG DELIVERY
quais, após a análise e retirada das duplicadas resultaram em
um número de 582 patentes, dentro do escopo definido no
estudo (Tabela 1). Constatou-se que as bases internacionais
apresentaram o maior número de patentes em relação a
brasileira.
De acordo Tomioka (2010) têm sido grandes as
dificuldades para examinar todos os pedidos nesta área, devido
o alto grau de interdisciplinaridade, isto ocorre também em
outros países como EUA, Japão e nos países da União
Européia

Tabela 1. Número de depósito de patentes por bases de dados


analisadas
Palavra-chave EPO INPI USPTO
Nanopartícles 90 - 354
and polymer
Nanopartícles 79 24
and drug
delivery
Nanopartículas 27
poliméricas
Entrega de 8
fármacos
TOTAL 169 35 378 582
Fonte: Dados da pesquisa, 2018

No trabalho de Segala e Gregori (2017) que faz uma


análise sobre o sistema patentário brasileiro, o Brasil se
enquadra no grupo dos países adaptadores de tecnologias,

472
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DE NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS COMO
VEÍCULO DRUG DELIVERY
onde é possível verificar também a comparação com países
onde há uma priorização da ciência e tecnologia entre os
principais investimentos públicos e privados nesses países.
Exemplificando a comparação o Brasil aos Estados Unidos,
referindo que, enquanto estes investiam no final do século
passado uma média de 2,8% do PIB em pesquisa científica, o
Brasil investia 0,8% apenas.
No Brasil, assim como em muitas áreas, a
nanotecnologia dá seus primeiros passos como ramo do
conhecimento. Existe o Programa Nacional de Nanotecnologia
implementado pelo Governo Federal, que fornece bolsas de
estudos para estudantes de doutorado (ROSA, 2016). Além
disso, uma iniciativa que contribuiu decisivamente para uma
maior consistência ao complexo brasileiro de nanotecnologia foi
a criação do programa "Institutos Nacionais de Ciência e
Tecnologia (INCT)", pela Portaria MCT Nº 429, de 17 de julho
de 2008, que passou a ocupar uma posição estratégica no
Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) (
PLENTZ; FAZZIO, 2013).
Esse campo de estudo é considerado capaz de ajudar a
solucionar diversos problemas nos setores industrial e
econômico. Na área da saúde, há perspectivas de avanços
significativos no diagnóstico de doenças e produção de
medicamentos mais eficazes e seguros (ALENCAR et al.,
2017).
Analisando o gráfico referente ao ano de depósito de
patente (Figura 2) é possível perceber que ocorreram mais
depósitos a partir de 2008 assim como na base de dados
brasileira, demonstrando que o Brasil mesmo que de forma
lenta tem acompanhando o que está acontecendo no cenário
global.

473
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DE NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS COMO
VEÍCULO DRUG DELIVERY

Figura 2. Número de patentes por ano de depósito

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Verifica-se ainda que a primeira patente sobre síntese


de nanopartículas poliméricas foi depositada em 1988 e com
tendência crescente sendo, portanto, uma tecnologia
emergente. É necessário também considerar que algumas
patentes depositadas poderão ainda está no período de sigilo
de 18 meses.
A classificação CPI é um sistema de classificação das
patentes por símbolo de acordo com as diferentes áreas
tecnológicas a que pertencem. O material nanoestruturado
polimérico pode ter inúmeras aplicações, através da utilização
da Classificação Internacional de Patentes (CIP) foi possível
identificar a tendência de utilização desse biomaterial (Figura
3).
Figura 3. Número de patentes depositados, de acordo CIP na
base de dados EPO (a), USPTO (b), INPI (c).

474
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DE NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS COMO
VEÍCULO DRUG DELIVERY

Dentre as aplicações o código A61K, que se refere a


preparações com finalidades médicas-farmacêuticas, mostrou-
se como principal objetivo das nanoformulações em todas as

475
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DE NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS COMO
VEÍCULO DRUG DELIVERY
bases analisadas. Algumas destas patentes estão descritas a
seguir:

Tabela 2. Exemplificação de patentes encontradas no estudo


POLYMERIC DRUG Refere-se composições inéditas
CONJUGATES WITH TETHER compreendendo porções
GROUPS FOR CONTROLLED poliméricas covalentemente
DRUG DELIVERY ligadas a agentes terapêuticos, em
que o agente terapêutico é ligado à
porção polimérica através de um
cordão. Ao selecionar a partir de
uma variedade de grupos de
ligação e ligantes de
direcionamento, os polímeros
apresentam métodos para entrega
controlada dos agentes
terapêuticos
BIO-REDUCIBLE SELF- Refere-se a copolímeros líquidos
ASSEMBLED LIQUID cristalinos anfifílicos
CRYSTALLINE BLOCK biodegradáveis que podem
COPOLYMER FOR DRUG facilmente se auto-montar em
DELIVERY nanopartículas em soluções
aquosas e também permitir a
encapsulação de moléculas
hidrofóbicas farmaceuticamente
ativas.
NANOPARTICLES OF POLYMER Refere-se a um sistema de
AND LIPID MIXTURE CORE FOR distribuição de fármaco alvo
TARGETED DRUG DELIVERY compreendendo nanopartículas
tendo um núcleo composto de um
ou mais polímero em que as
nanopartículas com uma
quantidade terapeuticamente
eficaz de um fármaco

476
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DE NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS COMO
VEÍCULO DRUG DELIVERY
anticancerígeno ou anti-retroviral
ou farmaceuticamente aceitáveis.
NANOPARTICLE-BASED Um novo material polimérico para
TUMOR-TARGETED DRUG regeneração ou tratamento de
DELIVERY tecido biológico com um sistema de
administração de fármaco com
agentes terapêuticos e / ou
moléculas bioativas para reduzir a
infecção e a reação inflamatória no
local da ferida e maximizar a
regeneração tecidual e cicatrização
de feridas.
Fonte: Dados da pesquisa, 2018

Com os dados obtidos foi possível fazer uma análise do


perfil dos depositantes nas bases de dados (Figura 4).
Constatou-se que em países desenvolvidos há um grande
interesse da iniciativa privado em proteger sua propriedade
intelectual, em função do numero de patentes depositadas
(Figura 5). Dentre as empresas, há marcas de renome no
mercado farmacêutico. O mesmo não foi observado no Brasil,
pois as maiorias das pesquisas encontram-se nas
universidades que se encontra em desconversa com os
investidores, levando assim a ausência de transformar a
pesquisa em um produto de mercado, no entanto os esforços
para mudar esta realidade estão sendo feitos.

477
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DE NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS COMO
VEÍCULO DRUG DELIVERY
Figura 4. Percentual de depositante nas bases de dados EPO
(a), USPTo (b), INPI (c).

a a

b
b

c
c

Fonte: Dados da pesquisa, 2018

478
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DE NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS COMO
VEÍCULO DRUG DELIVERY
Figura 5. Número de patentes por países depositantes

Fonte: Dados da pesquisa, 2018

O país que mais tem patentes depositadas é o Estados


Unidos, seguido do Canadá, de acordo os resultados
encontrados na pesquisa em todas as bases de dados. Não
foram encontradas patentes brasileiras em bases de dados
internacionais, todas se referem as encontradas no INPI.
De acordo com o estudo, o Brasil tem uma pequena
participação no cenário internacional de nanotecnologia,

479
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DE NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS COMO
VEÍCULO DRUG DELIVERY
exemplificado pelo número de depósitos de patentes. Além
disso, é importante salientar que além da destinação de poucos
recursos para a área C&T&I, no Brasil o custo de uma patente
gerada é elevado, enquanto que em países com grandes
quantidades de patentes patentes é rotina de longo prazo a
pesquisa no campo de aplicação industrial e em atividades de
P&D,isto culmina em orientações estruturadas e economia de
escala, além da eficiente gestão dos recursos .
Países desenvolvidos estão cada vez mais em busca de
formulações que sejam mais cômodas ao paciente e que
facilitem a adesão terapêutica, além de reduzir problemas com
a biodisponibilidade/reações adversas. Há também um
aumento de investimentos na área de nanotecnologia aplicada
a novas formas farmacêutica e que auxiliam no
desenvolvimento da terapia farmacológica. No Brasil a
expansão e estruturação das universidades brasileiras assim
como a criação de programas de pós-graduação stricto senso
e o lançamento de editais de financiamento para a produção
científica e tecnológica na área de fármacos e medicamentos
vem abrindo portas para as pesquisas (FIGUEIREDO et al.,
2013).
O Brasil, apesar de ter uma grande reserva de
biodiversidade que poderia gerar invenções e serem
transformadas em patentes, não decola neste sentido, parte
desta deficiência pode ser atribuída ao baixo nível educacional
da população, recursos financeiros escassos para P&D, falta de
clareza na gestão de políticas públicas em P&D e falta de uso
de técnica de prospecção ou de observatório em bases
patentárias (TOMIOKA; LOURENÇO; FACÓ, 2010).

480
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DE NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS COMO
VEÍCULO DRUG DELIVERY
CONCLUSÃO

A partir da prospecção tecnológica realizada foi possível


observar o aumento nos depósitos de patentes com
nanopartículas poliméricas e desenvolvimento de sistemas drug
delivery, sugerindo uma tecnologia em ascensão.
Dentre os países com mais depósitos está os EUA. O
Brasil apresentou uma quantidade considerável de patentes e
isso mostra o interesse do país por esse tipo de tecnologia e
que pode proporcionar pesquisa e consequentemente
surgimento de novas tecnologias que possam complementar ou
otimizar as que já existem.
A prospecção tecnológica é uma importante ferramenta
para a gestão de ciência e tecnologia, onde é possível observar
o panorama geral dos depósitos de patentes e sua progressão
ao longo dos anos. Através dos resultados obtidos é perceptível
a participação do Brasil como importante depositante de
patentes, no entanto se faz necessário o dialogo entre
universidades e empresas, para que, de fato, a patente possa
virar um produto a serviço da população.

REFERÊNCAS BIBLIOGRÁFICAS

ALENCAR, S, M, M et al. Análise da produção científica brasileira sobre


nanotecnologia e saúde. Revista Eletrônica de Comunicação,
Informação & Inovação em Saúde, v. 11, n. 1, 2017.
BIZERRA, A; SILVA, V. Sistemas de liberação controlada: Mecanismos e
aplicações. Revista Saúde e Meio Ambiente, v. 3, n. 2, p. 1-12, 2016.
CANFAROTTA, F; WHITCOMBE, l J.; PILETSKY, S, A. Polymeric
nanoparticles for optical sensing. Biotechnology advances, v. 31, n. 8, p.
1585-1599, 2013.
CODEVILLA, C, F et al. Nanoestruturas contendo compostos bioativos
extraídos de plantas. Ciência e Natura, v. 37, n. 5, 2015.

481
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DE NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS COMO
VEÍCULO DRUG DELIVERY
CRUZ, C, A, B. Inovação tecnológica: um mapeamento de patentes sobre
o uso da nanotecnologia em diagnósticos e tratamentos médicos.
2016. Dissertação (Pós-Graduação em Ciência da Propriedade Intelectual)
- Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE, 2016.
FIGUEIREDO, K, Al et al. Microemulsões como sistemas de liberação de
fármacos para a via transdérmica: uma prospecção tecnológica. Revista
GEINTEC- Gestão, Inovação e Tecnologias, v. 3, n. 4, p. 036-046, 2013.
MEIRA, M; SILVA, C Lago; LEAL FILHO. Prospecção tecnológica de
patentes para o desenvolvimento de nanocompósitos de matriz
polimérica. Cadernos de Prospecção, v. 8, n. 1, p. 48, 2015.
PLENTZ; FAZZIO, A. Considerações sobre o Programa Brasileiro de
Nanotecnologia. Ciência e Cultura, v. 65, n. 3, p. 23-27, 2013.
ROSA, Bruna da Silva. Analisando termos da nanotecnologia em inglês e
português: o caso de nanoparticles e drug delivery. Univerdade Federal do
Rio Grande do Sul2016.
ROSSI-BERGMANN, B. A nanotecnologia: da saúde para além do
determinismo tecnológico. Ciência e Cultura, v. 60, n. 2, p. 54-57, 2008.
SBALQUEIRO, G et al. Uso da nanotecnologia para o desenvolvimento de
fármacos. Revista Saúde e Desenvolvimento, v. 12, n. 10, p. 242-252,
2018.
SCHAFFAZICK, S, R et al. Caracterização e estabilidade físico-química de
sistemas poliméricos nanoparticulados para administração de
fármacos. Química nova. São Paulo. Vol. 26, n. 5 (2003), p. 726-737,
2003.
SEGALA, M, M; GREGORI, I, C, S. Os reflexos da proteção internacional
da propriedade intelectual para o desenvolvimento interno: uma análise
sobre o sistema patentário brasileiro e a transferência de
tecnologia. Revista de Direito Internacional, v. 14, n. 2, 2017.
TOMIOTTO-PELLISSIER, F. et al. Nanotechnology as a potential
therapeutic alternative for schistosomiasis. Acta tropica, v. 174, p. 64-71,
2017.
TOMIOKA, J; LOURENÇO, S R; FACÓ, J F. Patentes em nanotecnologia:
prospecção tecnológica para tomada de decisão. Rev. Ingepro. Inov.
Gest. Prod, v. 2, n. 10, p. 1-12, 2010.
VIEIRA, D, B; GAMARRA, L F. Avanços na utilização de nanocarreadores
no tratamento e no diagnóstico de câncer. Einstein. v. 14,n. 1,2016.
ZORZIA, G, K. et al. Biomateriais para formulações de base
nanotecnológica visando terapia genética ocular. Química Nova, v. 40, n.
1, p. 74-84, 2018.VIEIRA; GAMARRA. 2016

482
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO
CAPÍTULO 25

MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES


COMERCIAIS: UMA REVISÃO
Maria Helena Juvito da COSTA 1
Andressa Coimbra PEREIRA 2
Roberta Conceição Ribeiro VARANDAS 3
Patricia de Moura ALMEIDA 4
1
Graduanda do curso de Engenharia Química, UFPB; 2 Graduanda do curso de
Biotecnologia, UFPB; 3 Orientadora/ Pós-graduanda em Ciência e Tecnologia de Alimentos,
UFPB; 4 Graduanda em Ciências Biológicas, UFPB.
helenajuvito@gmail.com.br

RESUMO: Microalgas são organismos fotossintéticos que


utilizam da luz como catalisador para síntese de componentes
presentes na célula. O potencial biotecnológico das microalgas
vem se destacando nos últimos anos em virtude destes
organismos apresentarem inúmeras substâncias que são por
eles sintetizadas e que possuem aplicação em diversos setores
industriais desde produções mais simples como suplementação
alimentar, nutrição humana e animal (rações) destacando-se
Chlorella, Spirulina e Dunaliella como as espécies de
microalgas que dominam o mercado; e produtos com maior
valor agregado como biocombustíveis, cosméticos e fármacos.
Além disso, as microalgas apresentam caráter remediador
atuando no processo de tratamento de efluentes de origem
agrícola e industrial que servem como meio de desenvolvimento
da microalga. O mercado ainda se comporta em fase de
desenvolvimento para grande parte dessas aplicações.
Entretanto a enorme biodiversidade de microalgas aliada aos
desenvolvimentos de pesquisas em biotecnologia e engenharia
genética tornam esses organismos como um dos mais
promissores para criação de novos produtos e aplicações.
Portanto, o objetivo deste trabalho foi reunir informações que
permitissem destacar a relevância das microalgas bem como

483
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO
sua aplicação comercial e desenvolvimento de produtos. A
revisão bibliográfica foi conduzida a partir buscas de artigos
científicos nas bases de dados do Science Direct e Scientific
Electronic Library Online (SciELO) acessados através do portal
de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES), palavras-chave “microalgae”,
“applications of microalgae”, “microalgae from food” e “potential
of microalgae”. As microalgas são organismos que apresentam
um potencial para aplicação industrial. O desenvolvimento de
pesquisas vem sendo conduzido para a busca de espécies
capazes de sintetizar compostos de interesse para determinada
atividade. Aliado a isto, estudos também estão sendo
desenvolvidos para o aperfeiçoamento dos sistemas de
produção em escala comercial com a finalidade de ampliar e
viabilizar o cultivo de microalgas.
Palavras-chave: Biodiversidade. Substâncias. Biotecnologia.

INTRODUÇÃO

As microalgas são organismos heterogêneos,


microscópicos, unicelulares, coloridos que com auxílio da luz
como catalisador sintetizam os componentes de interesse
presentes na célula e possuem a vantagem de crescer
rapidamente em diversos ambientes, como em água doce,
águas marinhas e águas residuais. Filogeneticamente, podem
ser eucarióticos ou procarióticos e se encontram presentes em
todos os ecossistemas terrestres. As células procarióticas
(cianobactérias) não possuem organelas ligadas à membrana e
são mais parecidos com bactérias do que com algas. Já as
células eucarióticas, que compreendem muitos tipos diferentes
de algas comuns. As microalgas são organismos microscópicos
fotossintetizantes, encontrados em todos ambientes aquáticos
(águas doces, marinhas e residuais), unicelulares e de estrutura

484
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO
celular eucariota ou procariota. (MORENO-GARCIA et al.,
2017).
As microalgas possuem enormes vantagens para a
produção de alimentos em relação à agricultura, pois podem ser
cultivadas em larga escala em locais que não servem mais para
plantação, não dependem de uma estação do ano específica
para começo e termino do cultivo, além da quantidade de
metabólitos superar o de muitas plantas utilizadas para a
alimentação. (ORTENZIO et al., 2015).
As vantagens estão relacionadas ao fato das microalgas
serem micro-organismos autotróficos, ou seja, são capazes de
utilizar a energia luminosa para produzir metabólitos para a sua
sobrevivência, pois ao realizarem a fotossíntese, esses seres
se desenvolvem e metabolizam compostos bioquímicos
(proteína, carboidrato, lipídeo) com variadas aplicações além da
área alimentícia, como, em biocombustíveis, cosméticos,
farmacêutica. (BRASIL, 2016). Os metabólitos por elas
produzidos podem sofrem algum tipo de estresse dos nutrientes
do meio, do pH, da temperatura e levar aumento dessa
produção através do desvio de alguma rota metabólica.
(KAREMORE, 2013).
Estes organismos, ao utilizar CO2 como fonte de carbono
e outros nutrientes disponíveis em excesso como nitrogênio e
fósforo, são capazes de produzir uma quantidade maior de
biomassa que as plantas terrestres por unidade de área devido
à sua alta eficiência fotossintética e produzem cerca de 50% do
oxigênio atmosférico. Em virtude disto, algumas algas atuam
como organismos sequestradores de CO2 (fixam
aproximadamente 183 toneladas de CO2 para produzir 100
toneladas de biomassa) e remediadores de resíduos ricos em
nutrientes (RIZWAN et al., 2018), (TAELMAN et al., 2013),
(UDAIYAPPAN et al., 2017).
485
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO
As microalgas são capazes de metabolizar uma gama de
componentes de interesse com aplicações em diferentes
setores industriais como biocombustíveis, cosméticos,
aquicultura, ração animal, aditivos alimentares, diferentes tipos
de antioxidantes, ômegas, carotenoides, polímeros enzimáticos
e corantes. Também podem produzir compostos usados na
indústria farmacêutica, bioativos com alto valor agregado como
ácidos acetílicos, ágar, B-caroteno, vitamina B e luteína
(RIZWAN et al., 2018).
Em virtude disto, o objetivo deste trabalho consiste em
realizar uma revisão na literatura das principais aplicações
biotecnológicas e comerciais de microalgas.

MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho de revisão bibliográfica foi realizado através


de buscas de artigos científicos nas bases de dados do Science
Direct e Scientific Electronic Library Online (SciELO) acessados
através do portal de periódicos da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
utilizando o navegador Firefox UFPB.
As palavras-chave utilizadas foram: “microalgae”,
“applications of microalgae”, “microalgae from food” e “potential
of microalgae”.
Os dados das buscas foram fragmentados em tópicos
que sucedem esta revisão.

486
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Cultivo de microalgas

As microalgas apresentam perfis diferentes mediante as


condições de cultivo a qual ela é submetida. Sabe-se que esses
microrganismos podem crescer nos mais variados meios como
águas doces e marinhas, águas residuais agrícolas, industriais
e municipais; todos demandam de componentes com
características químicas e físicas diferentes para o
desenvolvimento das espécies em estudo. O desempenho das
microalgas é indicado pela biomassa obtida, teor de
carboidratos, lipídios e proteínas, peso das células secas e
produtividade (CHEAH et al., 2016).
Em geral, o monitoramento de variáveis como
temperatura, luminosidade, pH, aeração, quantidade de
nutrientes no meio permite avaliar a influência que estes
possuem no crescimento e na produtividade das microalgas. A
diversificação nas condições de cultivo permite ampliar e
determinar a importância que cada variável possui para o
cultivo.
Os meios de cultivo sintéticos são constituídos por
nutrientes que atendem às necessidades das espécies
assemelhando-se às condições naturais.
Nitrogênio e fosfato são dois importantes
macronutrientes para o crescimento e metabolismo das células
de microalgas. O nitrogênio é um componente essencial na
formação de proteínas, ácidos nucleicos e pigmentos
fotossintetizantes (clorofilas e ficobilinas). Este elemento
encontra-se disposto em diferentes configurações: nitrato (NO3-
), nitrito (NO2-), amônia (NH3) e íon amônio (NH4+)
(JANKOWSKA; SAHU; OLESKOWICZ-POPIEL, 2016). Sua
487
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO
disponibilidade no meio influencia a atividade metabólica do
organismo. Quando suas concentrações são elevadas, verifica-
se um aumento nas concentrações de proteínas e clorofila nas
células. O fosfato relaciona-se a processos que envolvem
trocas energéticas nas células de ATP, açúcares fosfatados,
ácidos nucleicos e fosfoenzimas. O fósforo assume a função de
transferir energia e constituir moléculas estruturais. A restrição
desse nutriente implica em um acúmulo de lipídeos e
astaxantina (JUNEJA et al., 2013).
O carbono é o nutriente necessário em maiores
concentrações no cultivo uma vez que é o elemento essencial
para fotossíntese e constituição de todas as substâncias
orgânicas sintetizadas pelas células (proteínas, lipídeos,
carboidratos, ácidos nucleicos, vitaminas, etc.). O carbono pode
ser utilizado na forma de CO2, carbonato ou bicarbonato para
crescimento autotrófico e forma de acetato ou glicose para
crescimento heterotrófico.
O pH do meio é influenciado pelas proporções entre as
formas de carbono dissolvidas no mesmo, em que o
crescimento de microalgas é propiciado pelo consumo de CO 2
dissolvido no meio aumentando o pH do sistema, que ao atingir
níveis muitos elevados torna-se tóxico para muitas espécies
(OLIVEIRA, 2013).O crescimento máximo da microalga se
encontra no pH próximo do neutro, no entanto, o pH ideal para
o desenvolvimento da cultura é o inicial em que a alga está
adaptada para crescer (JUNEJA et al., 2013). Contudo, o ajuste
do pH no meio também irá depender da espécie que irá crescer,
visto que algumas espécies se adaptam em meio de pH ácido,
bem como espécies que se desenvolvem melhor em meio
alcalino.
Outra variável que exerce forte influência para o
crescimento microalga afetando a taxa metabólica dos
488
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO
organismos é a temperatura. Esta deve ser mantida de acordo
com a necessidade de cada espécie e a finalidade do cultivo
(WANG et al., 2016). Os valores ideais de temperatura se
encontram entre 15 e 26 °C. Valores mais elevados podem inibir
a atividade metabólica e reduzir a solubilidade de componentes
gasosos, isto é CO2, no meio de cultura. Por outro lado, valores
baixos de temperatura diminuem a cinética das atividades
metabólicas. Entretanto, existem algumas microalgas que
podem crescer em temperaturas fora da faixa ideal (PIRES et
al., 2017). A temperatura tem papel fundamental na fotoinibição,
que é conhecida por proporcionar alterações na taxa de
crescimento das microalgas (JUNEJA et al., 2013). Em cultivos
feitos em laboratório a temperatura é mantida constante, isto
viabiliza o desenvolvimento e garante uma maior
reprodutibilidade das espécies. Já em grandes sistemas a
dificuldade encontra-se em manter a temperatura constante no
processo
A luz é um elemento imprescindível para o crescimento
celular, já que os organismos a utilizam para a fotossíntese e
assim converter dióxido de carbono em compostos orgânicos,
em especial açúcares (JUNEJA et al., 2013).
A aeração permite a homogeneização do sistema
promovendo a movimentação das células em suspensão,
estabilidade do pH e controle da temperatura e exposição da
célula à luz. Em cultivos de grande escala recomenda-se a
injeção de CO2 para facilitar a fotossíntese.

Crescimento de microalgas

As curvas de crescimento, mostrada na Figura 1 é


utilizada como critério avaliativo do comportamento de

489
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO
microalgas ao longo do cultivo e pode ser identificada de acordo
com as suas respectivas fases de crescimento:
1 – Fase de adaptação (fase lag): constitui-se da fase de
adaptação das células e ocorre após o inóculo das células;
2 – Fase exponencial: o crescimento dá-se de maneira
acelerada, em que sua taxa torna-se maior e aproximadamente
constante por um curto período (alguns dias), chegando ao seu
valor máximo;
3 – Fase de redução do crescimento: ocorre o
decréscimo relativo da taxa de crescimento ocasionado pela
diminuição de nutrientes dissolvidos no meio e pelos efeitos de
limitação da energia luminosa (autosombreamento);
4 – Fase estacionária: o cultivo apresenta rendimento
final máximo. A velocidade de crescimento diminui e iguala-se
à taxa de morte;
5 – Fase de declínio: é ocasionada pelo esgotamento dos
nutrientes e efeitos de autosombreamento; a taxa de
crescimento é negativa uma vez que poucas células ainda
podem crescer (HAKALIN, 2014);
O crescimento das espécies de microalgas atende à uma
série de fatores, tendo como principais destaques: o volume
operacional do sistema, o qual inclui as fases líquida e gasosa;
área iluminada total, que indica o quanto de luz o sistema
recebe; área ocupada pelo sistema; e, concentração de
nutrientes presente no meio. Para que ocorra o
desenvolvimento da cultura é necessário a implantação de um
sistema de cultivo que atenda às necessidades essenciais
desses microrganismos. Em virtude disso, as microalgas
podem ser cultivadas em dois tipos de sistemas: abertos ou
fechados, em relação a atmosfera (ANYANWU et al., 2018).

490
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO
Figura 1. Representação da taxa de crescimento de algas em
cultura (linha sólida) e a concentração de nutrientes (linha
tracejada) em função de um período de tempo.

Fonte: Mata; Martins; Caetano, (2010).

Sistemas de cultivo de microalgas

Os sistemas de cultivo são diferenciados inicialmente


pela troca direta ou não de gases com a atmosfera.

Sistemas abertos
Sistemas abertos geralmente são mais baratos e
possuem custos operacionais e de manutenção mais baixos,
mas apresentam uma série de problemas quanto a
contaminação devido à exposição com a atmosfera, baixa
produtividade que está relacionada à aeração, carência de CO2
e intensidade luminosa e controle da temperatura. A
suscetibilidade à contaminação neste tipo de sistema de cultivo
é superior comparado ao sistema fechado, logo, recomenda-se

491
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO
uma manutenção da cultura mantendo-a em condições ótimas
para possibilitar o crescimento das células em taxas superiores.
Tanques abertos à atmosfera são comumente utilizados no
tratamento de efluentes, produção de energia ou na produção
de biomassa destinada à alimentação animal. À medida que a
biomassa microalgal adquire valor agregado, por exemplo, na
produção de pigmentos ou determinado bioativo, a cultura
adquire maior exigência quanto a sua pureza e para isto requer-
se uma verificação das condições de cultivo mais elevada em
sistemas abertos (ACIÉN et al., 2012) (JANKOWSKA; SAHU;
OLESKOWICZ-POPIEL, 2016). Os sistemas abertos são
classificados em duas configurações: i) tipo raceway; ii) lagoa.

Sistemas Fechados
São sistemas de cultivo constituídos por fotobiorreatores
de material transparente, como plásticos (acrílico) e vidro que
permitem a incidência de luz, e que apresentam diferentes
configurações geométricas sendo as mais recorrentes as que
possuem formato tubular ou cilíndrico, com disposição vertical
ou horizontal; e fotobiorreatores de placas planas como é
ilustrado na Figura 2.
Os fotobiorreatores apresentam inúmeras vantagens
quando comparados à sistemas abertos, são elas: controle da
temperatura em que se encontra o cultivo, podendo ser
adicionados sistemas de troca de calor como serpentinas ou
trocadores de calor; sistemas de injeção de ar e controle de
trocas gasosas entre o cultivo e o ar atmosférico; redução de
problemas atenuados por contaminação da cultura como o
surgimento de outros microrganismos; elevadas taxas de
produtividade e área de ocupação muito baixa (GHASEMI et al.,
2012; ZAMALLOA; BOON; VERSTRAETE, 2012)

492
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO

Figura 2. Representação dos principais sistemas fechados para


cultivo de microalgas.

Fonte: PEREIRA, 2014.

O sistema de aeração permite a movimentação das


células no interior do cultivo e consequentemente uma redução
nos efeitos de autosombreamento proporcionando um maior
rendimento da cultura. A adição de pequenas bolhas no cultivo
promove a dissolução de CO2 e oxigenação do meio de cultura;
a demanda desses elementos influencia diretamente no cultivo.
A presença de CO2 em grande excesso pode ocasionar uma
acidificação do meio de cultura, já altas demandas de O2 origina
danos fotooxidativos e causam um comprometimento na
produtividade do cultivo. Outro fator de relevância primordial é
a incidência luminosa que é função da posição e o do ângulo
em que os feixes de luz atravessam o reator e assim promove
diferentes taxas fotossintéticas em um único cultivo (HAKALIN,
2014).
Os principais parâmetros físicos em um sistema de
cultivo são: volume operacional do sistema, o qual inclui as

493
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO
fases: líquida e gasosa; área iluminada total, que indica o
quanto de luz o sistema recebe; área ocupada pelo sistema.

Aplicações comerciais de microalgas

As microalgas podem produzir lipídeos, proteínas e


carboidratos. As aplicações mais simples de microalgas
constituem-se do seu uso na alimentação humana e de animais.
Outras aplicações são: biocombustíveis, a extração de
substâncias de importância farmacêutica, pigmentos utilizados
como corantes de alimentos, cosméticos, etc (OLIVEIRA,
2013), (JANKOWSKA, 2016). Atualmente, os estudos estão
voltados para a aplicação dos diversos bioprodutos, que são
resultantes das microalgas como pigmentos, ácidos graxos,
vitaminas, carotenoides e outros compostos bioativos
(GULDHE et al., 2017).

Biocombustíveis

Um dos maiores interesses consiste na utilização desses


microrganismos para produção de biocombustíveis, isto se dá
devido à grande capacidade desses seres em produzir e
acumular energia em suas células e consequentemente
apresentam em uma alta porcentagem de lipídeos, cerca de 30
a 50% do seu peso total (CHEW et al., 2017). A estrutura
simples e o suprimento conveniente de nutrientes faz com que
as microalgas possuam teoricamente 12,6% maior eficiência
fotossintética quando comparadas com plantas terrestres (SU
et al.,2017). A composição bioquímica de microalgas cultivadas
sob condições normais, que é, sem limitação de nutrientes,
abrange principalmente proteínas (30-50%), carboidratos (20–
40%) e lipídios (8–15%) (BERTUCCO, 2016).
494
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO
As condições de cultivo influenciam na disposição de
lipídeos presentes na microalga, como por exemplo, em um
meio deficiente de nitrogênio ocorre um aumento no
armazenamento lipídico e diminuição no teor de proteína. Outro
mecanismo abordado consiste em simular condições de
estresse na microalga manipulando além da fonte de nitrogênio
e carbono outros fatores determinantes no cultivo (temperatura,
pH, salinidade, luminosidade) (SAJJADI et al., 2018).
Biocombustíveis de 3ª geração podem ser originados de
biomassa cultivada para este propósito e que não tenha
nenhuma competição com a produção de alimentos, como por
exemplo as microalgas que podem ser cultivadas com impacto
mínimo ao meio ambiente em águas residuais e salinas. Os
rendimentos são de 10 a 100 vezes mais de combustível por
unidade de área do que os biocombustíveis de 1ª e 2ª geração.
Isto dá-se principalmente devido ao seu crescimento rápido
(MOTA e MONTEIRO, 2013); (BERTUCCO, 2016). Os
biocombustíveis derivados de microalgas se apresentam
atualmente como um dos campos líder das pesquisas mundiais
que podem trazer enormes benefícios para os seres humanos
e principalmente para o meio ambiente. (CALIXTO, 2016).
Apesar das inúmeras vantagens relacionadas à
produção de biodiesel usando microalgas, a viabilidade
econômica para produção em larga escala desse insumo ainda
está sendo investigado, uma vez que enfrenta uma série de
obstáculos técnicos, como processos complexos, exigência de
altos custos de produção e entrada de energia (KADDIR et al.,
2017).
Além da produção de biodiesel, microalgas e
cianobactérias são consideradas matéria-prima de interesse
para a produção de bioetanol. O conteúdo de óleo e
carboidratos em microalgas podem ser aumentados sob
495
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO
condições de estresse, proporcionando uma diminuição do
conteúdo de proteína e com isto poderia ser aplicado para
cultivar biomassa de microalgas visando a produção de
carboidratos, elevando o seu uso para a produção de bioetanol,
que atualmente é o mais amplamente biocombustível usado no
mundo (BERTUCCO,2016).

Captura de CO2

A temperatura da terra aumentou em 0,85 °C de 1880 a


2012, dos quais 0,6 °C ocorreu nos últimos 30 anos
(GOEPPERT et al. , 2012). Prevê-se ainda que no cenário
global a temperatura aumente para 5,8 °C até 2100 (DE SILVA
et al., 2015). Essa crescente mudança no perfil climático do
planeta adverte para os atenuantes causados pela emissão de
gases de efeito estufa provenientes principalmente de
atividades humanas e de usinas de energia (RAZZAK et al.,
2017).
O dióxido de carbono (CO2) é um gás de efeito estufa
liberado de fontes naturais e produzido como resultado do
processo de industrialização e atividade humana. Existem,
portanto, em maior evidência duas estratégias para a mitigação
desse componente: reações químicas e mitigação biológica. A
primeira abordagem apresenta certa desvantagem, uma vez
que atende a processos que demandam elevado consumo de
energia e reagentes, além de problemas de descarte dos
resíduos convertidos ao longo do processo. Em contrapartida,
o método de captura de CO2 por via biológica tornou-se uma
alternativa atraente (Tabela 1). O dióxido de carbono através da
fotossíntese é convertido em matéria orgânica utilizando luz
solar como fonte de energia (RAZZAK et al., 2017).

496
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO
Tabela 1. Fixação de CO2 por diferentes microalgas
Taxa de fixação de CO2
Microalga
(g/m³/h)
Chlorogleopsis sp. 0,8 – 1,9
Chlorella vulgaris 80 – 260
Euglena gracilis 3,1
Porphyridium sp. 3 – 18
Spirulina platensis 38,3 – 60
Fonte: Maity et al., 2014.

Química fina e compostos bioativos

Uma diversidade de espécies de microalgas foi


identificada com várias propriedades bioquímicas e fisiológicas.
O potencial das microalgas como novas fontes de produtos
químicos valiosos e outros produtos ampliam os esforços no
desenvolvimento de pesquisas no setor (BOROWITZKA, 2013).
Estes organismos produzem vários componentes
bioquímicos importantes que são usados como matéria-prima
para alimentos, combustíveis, produtos cosméticos, pigmentos,
no processo de extração de moléculas de alto valor, isótopos
bioquímicos estáveis, e para a síntese de agentes
antimicrobianos, antivirais, antibacterianos e drogas anticâncer.
As espécies de microalgas são capazes de produzir diferentes
tipos de antioxidantes, carotenóides, polímeros enzimáticos,
lipídios, naturais corante, ácido graxo poliinsaturado, peptídeo,
toxina e esteróis.Também podem produzir vários compostos
que podem ser utilizados na indústria farmacêutica e pigmentos
naturais. Muitos compostos antioxidantes (por exemplo,
astaxantina, β-caroteno, dimetilsulfonopropionato,

497
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO
micosporinas e alguns outros carotenóides) são produzidos por
microalgas. Esses compostos antioxidantes têm a capacidade
de proteger do estresse oxidativo (RIZWANN et al., 2018).

Remediação

Aproximadamente 71% da superfície da terra é coberta


por água. No entanto, o cenário atual evidencia rios e costas
poluídos devido à potencialização de atividades humanas e
industriais. A redução de espécies antropogênicas insumos de
nutrientes (práticas agrícolas, águas residuais urbanas e
indústrias) nos ecossistemas aquáticos é necessário para
proteger o abastecimento de água potável e reduzir a
eutrofização (PIRES et al., 2017). O tratamento adequado
desses efluentes precisa ser intensivo encorajado a reduzir os
contaminantes a níveis aceitáveis com qualidade
microbiológica e química recomendada antes de ser
descarregada para corpos de água. Atualmente, a inserção de
processos de tratamento que utilizam microalgas na remoção
de nutrientes inorgânicos, contaminantes orgânicos e metais
pesados, associados à produção de biomassa de vários tipos
de águas residuais, tem sido amplamente estudado e é
considerado um método viável para economizar grande
quantidade de nutrientes e água necessários para o cultivo de
microalgas (KADIR et al., 2018); (PIRES et al.,2013).
Existem vários trabalhos que exploraram o crescimento
de microalgas águas residuais, tais como águas residuais
cruas, tratadas e lixiviação de aterro onde a biomassa foi
produzida a partir de espécies de microalgas ou de consórcios
de microalgas e bactérias. Espécies como Chlorella,
Scenedesmus, Desmodesmus, Oscillatoria, Arthrospira,
Spirulina, Nannochloris, Botryococcus, Phormidium, e
498
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO
Nannochloropsis foram demonstrados ter o potencial de
remoção de altas concentrações de nitrogênio, fósforo e íons
metálicos. Além disso, as células microalgas têm o potencial
de ser utilizados para remoção de metais pesados devido à sua
capacidade de acumular Hg, Cd, Zn, Au, Ag, Co, Mn, Cs, Ni,
Fe, Cu e Cr nas suas células. Portanto, o uso direto de águas
residuais traz consigo uma vantagem econômica adicional por
meio de compensações de custo de tratamento de águas
residuais (Moreno - Garcia et al., 2017)

Nutrição e saúde humana

Microalgas são capazes de incrementar a o conteúdo


nutricional de alimentos convencionais, sua biomassa oferece
uma melhor qualidade de proteína do que os legumes, arroz,
trigo e proteína animal, como leite e carne. (Tabela 2). O
consumo humano de biomassa de microalgas é restrito a
poucas espécies devido aos regulamentos rígidos de
segurança alimentar, fatores comerciais, demanda de mercado
e preparação específica. Chlorella, Spirulina e Dunaliella são as
espécies de microalgas que dominam o mercado. O teor de
proteína na Spirulina é de 55-70% do total biomassa seca,
demonstrando o alto valor nutricional que essas microalgas
possuem (RIZWANN et al., 2018).

Tabela 2. Composição de diferentes fontes de alimentos e


microalgas, expressas em porcentagem de matéria seca.
Fonte Proteína Carboidratos Lipídeos
Spirulina platensis 63 15 11
Arthrospira maxima 60-71 13-16 6-7
Chlorella 51-58 12-17 2
pyreinodosa

499
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO
Dunaliella salina 57 32 6
Scenedesmus 50-56 10-17 12-14
obliquus
Haematococcus 48 27 15
pluvialis
Fermento de 39 38 1
padeiro
Carne 43 1 34
Leite 26 38 28
Arroz 8 77 2
Soja 37 30 20
Fonte: Adaptado Lourenço, 2006.

CONCLUSÕES

As microalgas são organismos que revelam-se com um


potencial para aplicação industrial, sendo em alguns países
uma atividade comercial estabelecida apresentando-se como
uma prática consolidada. No Brasil, entretanto, as microalgas
são empregadas principalmente em atividades de nutrição
humana e animal.
O crescente interesse pelo desenvolvimento de
tecnologias limpas e sustentáveis, na obtenção de produtos
para o consumo humano, demanda uma série de pesquisas
voltadas para busca de espécies capazes de sintetizar os
compostos de interesse para determinada atividade,
apresentando como grande desafio tornar possível
potencializar síntese destes seja através das condições e
sistemas de cultivo, melhoramento genético, etc.
Existe também a necessidade de pesquisas visando o
desenvolvimento e aperfeiçoamento dos sistemas de produção
em escala comercial, a fim de tornar comercialmente viáveis

500
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO
alguns dos sistemas conhecidos em vista que são sistemas que
apresentam alta eficiência porém alto custo para ser
implementado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACIÉN,F.G; FERNÁNDEZ, J.M, MAGÁN, J.J, MOLINA, E .Production cost


of a real microalgae production plant and strategies to reduce it.
Biotechnol Adv, v.30, n.6,p.1344–1353, nov – dez, 2012.
ANYANWU, R.C; RODRIGUEZ, C.; DURRANT, A.; OLABI, A. G.
Microalgae Cultivation Technologies, 2018.
BERTUCCO, C.E.F.S.A. Bioethanol from microalga and cyanobacteria: A
review and technological outlook. Process Biochemistry. Accepted
Manuscript. 2015.
BLANKEN, W.; POSTMA, P.R; WINTER, L; WIJFFELS, R. H, JANSSEN,
M. Predicting mircroalgae growth. Algal Research, v. 14, p. 28-38, 2016.
BOROWTIZKA, M.A. High- value products from microalgae – their
development and commercialisation. 8th Asia-Pacific Conference on
Algal Biotechnology, Adelaide, Australia, 2012.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº.
278/2005. Obriga a utilização de critérios para enquadramento de
“Novos Ingredientes”. Brasília, DF: ANVISA, 2016.
CALIXTO, C.D. Potencial de microalgas regionais cultivadas em meios
alternativos para produção de biodiesel. João Pessoa. UFPB, 2016.
115p. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Química,
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2016.
CHE, R.; HUANG, L.; XU, J-W; ZHAO, P.; LI, T.; MA, H.; YU, X. Effect of
fulvic acid induction on the physiology, metabolismo, and lipi biosynthesis-
related gene transcription pf Monoraphidium sp. FXY-10. Bioresource
Technology, v.227,p.324-334, 2017.
CHEAH, W.Y; LING, T.C; SHOW, P.L; JUAN, J.C; CHANG, J-S; LEE, D-J.
Cultivation in wastewaters for energy: A microalgae platform. Applied
Energy, v. 179, p.609-625,2016.
CHEW, K. W.; YAP, J. Y.; SHOW, P.L.; SUAN, N. H.; JUAN, J. C.; LING, T.
C.; LEE, D-J.; CHANG, J-S. Microalgae biorefinery: high value products
perspectives. Bioresource Technology, 2017.
DE SILVA GPD, RANJITH PG, PERERA MSA. Geochemical aspects of
CO2 sequestration in deep saline aquifers: a review. Fuel, v.155, n.1, p.28–
43, 2015.
GHASEMI, Y. et al. Microalgae biofuel potentials (Review). Applied
Biochemistry and Microbiology, v. 48, n. 2, p. 126–144, 2012.

501
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO
GOEPPERT A., CZAUN M, SURYA PRAKASH GK, OLAH GA. Air as the
renewable carbon source of the future: an overview of CO2 capture from
the atmosphere. Energy Environ Sci,v.5, n. 78, p.33–53,2012.
GULDHE, A.; ANSARI, F.A.; SINGH, P.; BUX, F. Heterotrophic cultivation
of microalgae using aquaculture wastewater: A biorefinery concept for
biomass production and nutrient remediation. Ecological Engineering, v.
99, p. 47-53, 2017.
HAKALIN, N. L. S. Otimização das condições de cultivo da microalgas
Scenedesmus sp. para a produção de biodiesel. Brasília. UNB, 2014. Tese
(Doutorado0 – Programa de pós-graduação em Biologia Molecular,
Universidade de Brasília, 2014.
JANKOWSKA, E.; SAHU, A. K.; OLESKOWICZ-POPIEL, P. Biogas from
microalgae: Review on microalgae’s cultivation, harvesting and
pretreatment for anaerobic digestion. Renewable and Sustainable Energy
Reviews, p. 0–1, 2016.
JUNEJA, A.; CEBALLOS, R.M.; MURTHY, G.S. Effects of environmental
factors and nutrient availability on the biochemical composition of algae for
biofuels production: a review. Energies, v. 6, n. 9, p. 4607-4638, 2013.
KADIR, W. N. A.; LAM, M. K.; UEMURA, Y.; LIM, J.W. Harvesting and pre-
treatment of microalgae cultivated in wastewater for biodiesel production: A
review. Energy Conversion and Management, v.171, p. 1416-1429, 2018.
MATA, T. M.; MARTINS, A. A.; CAETANO, N. S. Microalgae for biodiesel
production and other applications: A review. Renewable and Sustainable
Energy Reviews, Portugal, v.14, p.217-232, 2010.
MAITY, J. P.; BUNDSCHUH, V.; CHEN, C.; BHATTACHARYA, P.
Microalgae for third generation biofuel production, mitigation of greenhouse
gas emissions and wastewater treatment: Present and future perspectives:
A mini review. Energy, p.1-10, 2014.
MORENO-GARCIA, L.; ADJALLÉ, K.; BARNABÉ, S.; RAGHAVAN, G.S.V.
Microalgae biomass production for a biorefinery system: Recent advances
and the way towards sustainability. Renewable and Sustainable Energy
Reviews, v.76, p. 493-506, 2017.
MOTA, C.J.A.; MONTEIRO, R.S. Química e sustentabilidade: novas
fronteiras em biocombustíveis. Quim. Nova, v.36, n.10, p.1483-1490, 2013.
OLIVEIRA, A.C. Produção de biomassa de microalgas scenedesmus
sp. em efluente de bovinocultura biodigerido.2013. 82 p. Dissertação
(mestrado em Engenharia e ciências de Materiais) PIPE, Setor de
Tecnologia, Universidade Federal do Paraná, 2013.
ORTENZIO, Y. T.; AMARAL, G. G; ALMEIDA, S. S.; OLIVEIRA, E. C. A. M.
Cultivo de microalgas utilizando resíduos agroindustriais para a
produção de bicombustíveis perspectivas e desafios. 2015.
Bioenergia em Revista: Diálogos, v. 5, n. 1, p.20-25.

502
MICROALGAS, PRODUTOS E APLICAÇÕES COMERCIAIS: UMA REVISÃO
PIRES, J. C.M.; ALVIM-FERRAZ, M. C.M; MARTINS, F.G; SIMÕES, M.
Wastewater treatment to enhance the economic viability of microalgae
culture. Environ Sci Pollut Res, 2013.
PIRES, J. C.M.; ALVIM-FERRAZ, M. C.M; MARTINS, F.G. Photobioreactor
design for microalgae production through computational fluid dynamics: A
review. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 79, p. 248-254,
2017.
RAZZAK, S. A.; ALI, S. S. M.; HOSSAIN, M. M.; DELASA, H. Biological
CO2 fixation with production of microalgae in wastewater – A review.
Renewable ans Sustainable Energy Reviews, v. 76, p. 379 – 390, 2017.
RIZWAN, M.; MUJTABA, G.; MEMON, S. A.; LEE, K.; RASHID, N.
Exploring the potential of microalgae for new biotechonology applications
and beyond: A review. Renewable and Sustainable Energy Reviews,
v.92, p. 394-404, 2018.
SAJJADI, B.; CHEN, W-C; AZIZ, A.; RAMAN, A.; IBRAHIM, S. Microalgae
lipid and biomass for biofuel production: A comprehensive review on lipid
enhancement strategies and their effects on fatty acid composition.
Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 97, p. 200-232, 2018.
SU,Y.; SONG, K.; ZHANG, P.; SU, Y.; CHENG, J.; CHEN, X. Progresso of
microalgae biofuel’s commercialization. Renewable and Sustainable Energy
Reviews, v.74, p. 402-411, 2017.
TAELMAN, S.E.; DE MEESTER, S.; MICHIELS, M.; DEWULF, J. The
environmental sustainability of microalgae as feed for aquaculture: A life
cycle perspective. Bioresource Technology, v.150, p. 513-522, 2013.
UDAIYAPPAN, A. F. M.; HASAN, H. A.; TAKRIFF, M. S.; ABDULLAH, S. R.
S. A review of the potentials, challenges and current status of microalgae
biomass applications in industrial wastewater treatment. Journal of Water
Process Engineering, v. 20, p.8-21, 2017.
WANG, Y. et al. Chemically enhanced lipid production from microalgae
under low suboptimal temperature. Algal Research, v. 16, p. 20–27, 2016.
ZAMALLOA, C.; BOON, N.; VERSTRAETE, W. Anaerobic digestibility of
Scenedesmus 64 obliquus and Phaeodactylum tricornutum under
mesophilic and thermophilic conditions. Applied Energy, v. 92, p. 733–738,
2012.

503
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
CAPÍTULO 26

O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE
MANGANÊS-PORFIRINAS

Nícolas Albuquerque BARRETO1


Andrezza Miná BARBOSA2
José Ferreira Sarmento NETO3
Júlio Santos REBOUÇAS4
Enéas Ricardo de Morais GOMES5
1
Graduando do curso de Farmácia, UFPB; 2 Doutora em Biotecnologia pela Rede Nordeste de
Biotecnologia (RENORBIO), UFPB; 3 Doutorando em Química, UFPB; 4 Professor do
DQ/UFPB; 5 Orientador/Professor do CBIOTEC/UFPB.
nickalbbar@gmail.com

RESUMO: O estresse oxidativo é uma condição de


desequilíbrio redox que está relacionada a várias doenças,
como distúrbios de isquemia/reperfusão, distúrbios do sistema
nervoso central, doenças cardiovasculares, câncer e diabetes.
Devido a isso, agentes redox terapêuticos naturais e sintéticos
têm sido amplamente estudados. A superóxido dismutase
(SOD) é a primeira linha de defesa contra o estresse oxidativo
sob condições fisiológicas e patológicas, por isso é necessário
o design de agentes terapêuticos destinados a mimetizar a
atividade da SOD. As Mn-porfirinas (MnPs) sintéticas são uma
das classes desenvolvidas originalmente desenvolvidas como
mímicos SOD. As propriedades termodinâmicas e eletrostáticas
apresentadas pelas MnPs sintéticas permitem que elas atuem
dismutando o superóxido, o radical peroxinitrito, dentre outras
espécies reativas de oxigênio (ROS). Para melhor avaliar o
potencial terapêutico e a vantagem de um sobre o outro tipo de
composto, são necessários estudos comparativos nos modelos
celular e/ou animal. Foi feita uma revisão abrangente de
estudos feitos nos últimos cinco anos envolvendo as Mn-
porfirinas diante de indução de patologias como câncer,
504
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
doenças neurodegenerativas, cardiovasvulares, diabetes,
dentre outros. Foi observado que as MnPs ao modularem as
ROS, acabam controlando vias de sinalização envolvidas na
proliferação celular, produção de citocinas inflamatórias,
proteção de sinapses e neural, etc. As MnPs podem diminuir
tanto os eventos oxidativos primários como os secundários.
PALAVRAS-CHAVE: Manganês-porfirina. ROS. Estresse
oxidativo

INTRODUÇÃO

Os radicais livres e espécies oxidantes têm sido


associados, nas ultimas três décadas com o início e a
progressão de diversas doenças, e/ou seus estágios
fisiopatológicos. A perturbação da homeostase redox do
organismo pode acontecer por várias causas, dentre as quais
podem-se destacar: alteração da função mitocondrial, uma
ativação intensa da NADPH oxidase, indução da sintase de
óxido nítrico desacoplada (NOS), etc. (BATINIĆ-HARBELE;
REBOUÇAS; SPASOJEVIĆ, 2016).
As mitocôndrias, são organelas centrais, importantes
para o metabolismo e respiração celular. Elas são mais
conhecidas pelos seus envolvimentos e processos metabólicos,
como a fosforilação oxidativa e produção de ATP, porém
diversas outras vias de sinalização metabólicas também estão
atreladas às mitocôndrias, tais como a β-oxidação de lipídeos,
o metabolismo de aminoácidos, o ciclo de Krebs, a síntese do
grupo heme e o ciclo da ureia. Tendo esse grande número de
funções, a mitocôndria, quando comprometida, pode estar
associada ou resultar em diversos quadros patológicos como
diabetes, desordens neurológicas, problemas cardiovasculares

505
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
e câncer (BATINIĆ-HARBELE; REBOUÇAS; SPASOJEVIĆ,
2016).
O estresse oxidativo ocorre quando há um desesquilíbrio
redox no organismo (BARBOSA et al, 2010; TOVMASYAN et
al., 2014). Tanto em humanos quanto em modelos
experimentais, o acúmulo de espécies reativas de oxigênio
(ROS) pode culmina em lesões, que são consequências de
danos sofridos diretamente no DNA, proteínas e lipídeos. Esse
tipo de lesão está relacionada com o envelhecimento prematuro
e o desenvolvimento de diversas patologias (NAGY et al, 2012;
TOVMASYAN et al., 2014)
Em nosso organismo, existe uma rede complexa de
defesa através da produção de metabólitos e enzimas que
controlam as concentrações de espécies reativas de oxigênio
(ROS, do inglês “reactive oxygen species”). Estas espécies
reativas não têm efeito exclusivamente deletérios, mas, em
concentrações apropriadas, desempenham papeis fisiológicos.
Em muitos tecidos, as espécies reativas de oxigênio/nitrogênio
(ROS/RNS) são frequentemente geradas nas mitocôndrias ou
por processos enzimáticos (mitocondriais ou não), como,
NADPH oxidase ou NOS, e são mantidas sob rígido controle
homeostático. Logo as funções antioxidantes do nosso
organismo existem, não para eliminar totalmente esses
compostos oxidantes, mas sim para mantê-los em uma
quantidade mínima fisiologicamente relevante. Dentre as
enzimas que regulam a concentração e a natureza das
espécies reativas, encontram-se a de compostos oxidativos,
encontram-se a Superóxido Dismutase (SOD), a catalase (CAT)
e a glutationa peroxidase (GPx) (CARILLON, 2013). A SOD
desempenha sua atividade biológica antioxidante, através da
conversão (dismutação ou disproporcionamento) do ânion
radical superóxido (O2•–) em peróxido de hidrogênio (H2O2) e
506
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
oxigênio (O2), prevenindo vários quadros patológicos (BATINIĆ-
HARBELE; REBOUÇAS; SPASOJEVIĆ, 2010). Nos mamíferos
a SOD possui três isoformas: a SOD1 (Cu,ZnSOD), presente
no citosplasma, a SOD2 (MnSOD) que se encontra distribuída
na matrix mitoncodrial e a SOD3 (Cu,ZnSOD extracelular),
localizada em fluidos extracelulares como a linfa, fluido sinovial
e o plasma (WATANABE, 2014).
O câncer é a segunda maior causa de morte no mundo
e foi responsável por 9,6 milhões de mortes em 2018. Fatores
relacionados ao estilo de vida, tais como alto índice de massa
corporal, o baixo consumo de frutas e vegetais, a falta de
atividade física, o uso de álcool e o tabagismo. Todos os fatores
citados, causam condições de estresse nas
células/tecidos/órgãos, que geralmente estão associados ao
chamado estresse oxidativo. (SILVA; JASIULIONIS, 2014;
OPAS/OMS, 2018).
As doenças cardiovasculares (DCVS) são as principais
causas de morte através do mundo, sendo assim consideradas
um problema de saúde pública. As DCVs apresentam como
fatores de risco, os mesmos apresentados para o câncer, o que
também leva a condição de estresse oxidativo nos miócitos
cardíacos (SILVA; JASIULIONIS, 2014; WHO, 2017). No Brasil,
as doenças cardiovasculares são responsáveis por
aproximadamente 20% de todas as mortes em pessoas acima
dos 30 anos, em média, isso corresponde a aproximadamente
195 mil mortes por ano (BORGES, 2015).
As doenças neurodegenerativas são um grupo de
doenças caracterizado pela perda progressiva de células
neuronais funcionais. O estresse oxidativo tem sido sugerido
como um dos principais agentes desencadeadores dessas
desordens. No mal de Alzheimer, o acúmulo de proteínas, como
as placas amiloides extracelulares (Aβ), parece estar envolvido
507
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
no aumento de ROS no sistema nervoso central. Esse aumento
de ROS leva a uma série de eventos que culmina na oxidação
de componentes proteicos do DNA/RNA, levando à indução de
problemas funcionais na célula. Além disso o aumento de ROS
também induz o aumento da deposição das Aβ, fazendo a
célula entrar em um ciclo fisiopatológico (DASURI et al, 2013;
KIM et al, 2015). O mal de Parkinson é a segunda doença
neurodenerativa mais comum na população, no qual podem
estar envolvidos fatores genéticos, danos oxidativos, elevados
níveis de ferro, dentre outros. A formação dos corpos de Lewy
é o resultado do agregado proteico anormal característico de
algumas doenças neurodegenerativas e atribuído à destruição
oxidativa (PICHLER et al, 2013).
O diabetes é uma doença crônica caracterizada pelo alto
nível de glicose no sangue. Desde 1980, o número de
diabéticos ao redor do mundo quadruplicou, atingindo o valor
de 422 milhões de pessoas portadoras da doença. Assim como
no câncer e nas DCVs, como citado anteriormente, os fatores
de risco do diabetes (alto índice de massa corporal, baixo índice
de exercícios físicos) também produzem estresse oxidativo
(PITTOCO et al, 2013; WHO, 2018). No diabetes, estudos
demonstraram que a produção de ROS mitocondrial em
excesso está, de alguma forma, envolvida nas complicações
causadas pela doença. Alguns trabalhos sugerem que altos
valores de glicose, acabam por desencadear cascatas
enzimáticas mitocondriais, ativando a NADPH oxidase, a NOS
e estimulando a Xantina oxidase. Todas essas enzimas são
envolvidas na produção de ROS.
Levando em consideração as adversidades causadas
pela presença do estresse oxidativo, o interesse no
desenvolvimento de compostos que mimetizem o efeito da
SOD, cresceu bastante nos últimos anos. As porfirinas são
508
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
compostos formados por quatro anéis pirrólicos unidos nas
posições α-pirrólicas por átomos de carbono sp2, formando um
sistema altamente conjugado, que pode acomodar, via
coordenação aos quatro átomos de nitrogênio centrais, um íon
metálico, resultando em um composto de coordenação
denominado metaloporfirina. Elas estão presentes nos mais
diversos grupos de organismos e apresentam alto potencial de
uso em vários campos (CALVETE; GOMES; MOURA, 2009). A
natureza por si só, tratou de desenvolver metaloporfirinas
presentes nas mais variadas moléculas e sistemas do corpo,
como o grupo heme da hemoglobina, mioglobina, catalase,
NOS e alguns citocromos (por exemplo, cit.c e P450) e as
ciclooxigenases (COX). A enorme diversidade estrutural e
eletrônica das porfirinas e dos seus respectivos complexos
metálicos tem contribuído significativamente para várias
aplicações em medicina e biologia (BATINIĆ-HABERLE et al.,
2010; TOVMASYAN et al., 2014; BENOV, 2012; CALZAVARA-
PINTON, et al., 2012; MOURAVIEV, et al., 2012) e em muitas
outras áreas.
Os compostos à base de Mn-porfirinas sintéticas (MnP)
têm sido amplamente reconhecidos como potentes agentes
terapêuticos redox-ativos, sendo capazes de modular
ROS/RNS em vários modelos animais de estresse oxidativo. As
MnP, por exemplo, são capazes de converter eficientemente o
superóxido em peróxido de hidrogênio e oxigênio molecular
(segundo a reação: 2O2•−+ 2H+ → H2O2 + O2), conferindo a este
composto uma atividade de mímico de SOD (AITKEN, 2013;
SARMENTO-NETO, 2016). A inserção de grupos receptores de
elétrons às Mn-porfirinas permite a modulação do potencial de
redução das Mn-porfirinas (MnPs) para valores próximos
àqueles das enzimas SOD (+300 mV vs. NHE), contribuindo
para o design de mímicos potentes de SOD. A alquilação dos
509
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
grupos piridilas das 2-N-piridilporfirinas no potencial de redução
perto do ótimo. O aumento da lipofilia facilita a eficácia, pois
esta eficácia está associada a uma maior concentração
intracelular do agente redox terapêutico (BATINIĆ-HARBELE et
al., 2010; 2011; AITKEN, 2013; SARMENTO-NETO, 2016).
Dentre as porfirinas mais estudadas, destacam-se a
Mn(III)meso-tetraquis (N-etilpiridinio-2-il)porfirina, MnTE-2-
PyP5+ e a Mn(III) meso-tetraquis(N-n-butoxietilpiridinio-2-
il)porfirina, MnTnBuOE-2-PyP5+,que estão atualmente em
estudos clínicos de fase I/II no Canadá e EUA Estas MnPs têm
apresentado bons resultados em modelos animais de doenças
associadas ao estresse oxidativo e baixa toxicidade
sistêmica/efeitos colaterais (GAD et al., 2013; BATINIĆ-
HARBELE; REBOUÇAS; SPASOJEVIĆ, 2016).
Considerando a importância do dano oxidativo no
surgimento de diversas patologias, assim como o potencial
redox das metaloporfirinas, especialmente as MnP, compilamos
e descrevemos os efeitos das Mn-porfirinas em diversos
quadros patológicos.
O objetivo desse trabalho é reunir informações acerca da
realidade dos estudos sobre as Mn-porfirinas e a importância
desse conhecimento no contexto atual, sobretudo diante dos
índices de doenças que envolvem o estresse oxidativo.

MATERIAIS E MÉTODOS

No presente estudo foi realizada uma revisão


bibliográfica, em bancos de dados eletrônicos, acerca das
metaloporfirinas e seu potencial terapêutico, publicados entre
os anos 2013 e 2018.
Para obtenção das amostras foram utilizados critérios de
inclusão e exclusão. Para os critérios de inclusão: foram
510
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
levados em conta os estudos encontrados em bases de dados
como PubMed, NCBI, Google Acadêmico, ScienceDirect e
Portal de Periódicos CAPES. Todos os artigos selecionados
estavam disponíveis na forma de texto completo e online.
Foram utilizados artigos que descrevem potencial terapêutico
de metaloporfirinas em diversas situações patológicas e
ensaios farmacocinéticos publicados entre 2013 e 2018. Já os
critérios de exclusão foram: não estar alocado entre o intervalo
de tempo selecionado, não se tratar de Mn-porfirinas.
Inicialmente foi feita a leitura explanatória, cujo o intuito
era observar os títulos e os resumos dos estudos encontrados,
para avaliar a possibilidade destes estarem nos critérios de
inclusão. Em um segundo momento, os estudos selecionados
foram acessados para a leitura aprofundada do conteúdo
presente nos mesmos, visando selecionar dados importantes
para o registro das informações.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram selecionados um total de 25 artigos, no qual as


mais diversas propriedades terapêuticas e estudos
farmacocinéticos com MnPs foram observadas. (Fig.1)

511
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
Figura 1. Artigos por base de dados

Fonte: O Autor (2018)

O câncer foi a patologia que mais obteve destaque nos


estudos envolvendo as Mn-porfirinas, não só como terapia
contra o câncer propriamente dita, mas também como métodos
adjuvantes para quimioterapia e radioterapia, os quais também
são destacados aqui.
É conhecido o fato de que a produção de excessiva ROS
pode afetar diretamente o equilíbrio redox e contribuir
efetivamente para a formação e/ou progressão de câncer. As
espécies ROS apesar de desempenharem papeis fisiológicos
de grande importância, até mesmo influenciando eventos como:
adesão celular, apoptose e resposta imune, e agirem como
mensageiros secundários durante os processos de sinalização
redox, podem, quando em uma situação de desequilíbrio,
contribuir significativamente para o aumento de probabilidade
de desenvolvimento de câncer e/ou metástase (BATINIĆ-
HARBELE; REBOUÇAS; SPASOJEVIĆ, 2016).
Muitos estudos mostram que a MnSOD, presente na
matriz mitocondrial, apresenta sua expressão diminuída em
quadros de câncer/tumores, isso limita, a capacidade da célula
de eliminar ROS e manter o equilíbrio redox. A perda desse

512
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
equilíbrio leva ao acumulo e à anormalidade em diversas
atividades mitocondriais (WATANABE, 2014; BATINIĆ-
HARBELE; REBOUÇAS; SPASOJEVIĆ, 2016; KIM et al, 2017).
Tendo em vista o importante papel de ROS no
desenvolvimente de quadros patológicos de câncer, os artigos
aqui complilados e revisados, mostram como a atividade das
Mn-porfirinas foi utilizada alternativa terapêutica experimental.
Em um estudo desenvolvido por Evans et al (2013), foi
relatada a capacidade das MnPs MnTE-2-PyP5+ e MnTnBuOE-
2-PyP5+, quando administradas em associação com o ácido
ascórbico (Vitamina C), de agirem como potentes agentes pró-
oxidantes em células resistentes à apoptose em quadros de
câncer de mama inflamatório.
As MnPs, como moduladores redox, podem atuar tanto
como antioxidantes catalíticos como pró-oxidantes oxidantes ou
redutores, dependendo do estado de oxidação do íon metálico
e da natureza do substrato ou espécie reativa (BATINIĆ-
HARBELE; REBOUÇAS; SPASOJEVIĆ, 2016). Ainda no
estudo de Evans et al (2013), foi identificado que a MnTnBuOE-
2-PyP5+ se saiu melhor, no quesito estabilidade, em relação a
MnTE-2-PyP5+, sendo capaz de induzir uma melhor
citotoxicidade. Isso se dá pelo fato de que a MnTnBuOE-2-
PyP5+ é mais lipofílica e mais biodisponível. A combinação da
MnP e ácido ascórbico culmina em um acúmulo de superóxido
e derivados de peróxido de hidrogênio na mitocôndria o que
levou à formação de um poro na membrana, que permitem o
extravasamento de moléculas mitocondriais e, por fim, a
apoptose celular (HANDY; LOSCALZO, 2012). Isso sugere uma
morte celular independente de caspases. Então, o estudo de
Evans et al (2013), dispõe de uma base molecular para uma
nova estrégia de tratamento para câncer. A MnTE-2-PyP5+ e da
MnTnBuOE-2-PyP5+ (FIG 2) tem o potencial de influenciar vias
513
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
de sinalização redox, atingindo grupos tiol de algumas
proteínas, como o fator nuclear κβ (NF-κβ). O NF-κβ é um dos
fatores de transcrição ativados durante o câncer e está
envolvido no crescimento e desenvolvimento de tumores, assim
como na resistência à quimioterapia (TAFANI, 2013;
TOVMASYAN et al, 2016).

Figura 2. Estrutura base das porfirinas.

Fonte: SARMENTO-NETO (2018)

Mesmo as MnPs não se acumulando diferencialmente no


tecido normal ou tumoral, o acúmulo de MnTE-2-PyP5+
aconteceu nos tecidos onde os níveis de ROS estavam
elevados, Outro ponto levantado nesse estudo é que a MnTE-
2-PyP5+ quando associada com ácido ascórbico, tem atividade
antitumoral pró-oxidante que foi medida através da produção de
glutationa na forma oxidada, GSSG (LU, 2013) Esses achados
corroboram com os achados de Evans et al (2013).
Outro trabalho, que tira proveito da atividade pró-
oxidante das MnPs é o de Jaramillo et al (2015), onde é relatado
o uso de MnTE-2-PyP5+ como um agente adjuvante no
tratamento de linfoma. Como mencionado anteriormente, as

514
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
células cancerígenas naturalmente possuem um nível alto de
ROS, sendo esse aumentado quando o tratamento
quimioterápico de linfoma é conduzido. Com isso em mente, a
MnTE-2-PyP5+ foi utilizada combinada de glicocorticoides, que
induzem um aumento ROS. No estudo feito por Zhu et al
(2016), foram encontrados resultados que corroboram com os
outros apresentados nesta revisão. Neste, o autor e
colaboradores constaram que o a MnTE-2-PyP5+ pode ser
usada como um agente pró-oxidante, que leva à oxidação de
proteínas, modulando a sinalização redox envolvida na
proliferação das células cancerígenas.
Outro ponto a ser levantado é a capacidade
radioprotetora de tecidos exercida pelas MnP. Nos estudos
feitos por Batnić-Harbele et al. (2018), foi constatado que as
MnPs foram capazes de aumentar a sobrevida de tecido normal
submetidos à radioterapia. Outra constatação feita por esse
estudo, foi que o grau de estresse oxidativo é o que direciona o
resultado final do tratamento. Archambeau et al. (2013) em seus
estudos, relatam a utilização da MnTE-2-PyP5+ com a função
radioprotetora em tecidos submetidos à radioterapia,
especialmente no caso de proctite. A MnTE-2-PyP5+ foi utilizada
tanto antes da irradiação quanto após a irradiação, tendo efeitos
mais relevantes quando a MnP foi aplicada previamente,
produzindo proteção do tecido normal contra ROS. Esses
também servem como uma base molecular para uma estratégia
terapêutica onde a MnTE-2-PyP5+ pode ser utilizada como
adjuvante radioprotetora.
Outro estudo relacionado à radioproteção foi relatado por
Gauter-Fleckenstein et al, (2013), que mostrou a eficiência
radioprotetora da MnTnHex-2-PyP5+. Assim como a
MnTnBuOE-2-PyP5+, a MnTnHex-2-PyP5+, apresenta uma
maior lipofilia que a MnTE-2-PyP5+, sendo mais biodisponível e
515
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
melhor internalizada nas células. Nesse estudo, ratos Fischer
foram irradiados na região do hemitórax direito e foram tratados
com administração de MnP durante duas semanas atráves de
bombas osmóticas subcutâneas. A MnTnHex-2-PyP5+ foi capaz
de diminuir significativamente os danos funcionais e
histopatológicos induzidos por radiação. Além disso a MnP
diminuiu o estresse oxidativo diretamente, através da
supressão da 8-hidroxi-2’-deoxiguanosina (8-OhdG), que é um
marcador para estresse oxidativo e carcinogênese (WU; NI,
2015). Houve também a diminuição do estresse oxidativo
indiretamente. Além dos resultados obtidos, os estudos de
Gauter-Fleckenstein et al (2013) também trazem o relato de que
seus estudos corroboram os resultados previamente obtidos
utilizado a MnTE-2-PyP5+.
Outro órgão que parece produzir uma boa resposta
mediante atividade de MnP é o coração. O remodelamento
patológico do miocárdio tem um papel protagonista em
síndromes que envolvem a falha do coração. As modificações
de proteínas responsáveis pelo cálcio intracelular são as mais
relevantes.Na despolarização da membrana, o cardiomiócito se
desloca brevemente em direção ao seu centro e há abertura
poros, que permitem a passagem de íons. Esses poros são
canais para Ca2+ do tipo L (LTCC). Com influxo de Ca2+ para
interior da célula, ocorre a chamada liberação de Cálcio
induzida por Cálcio. Esses íons ligam-se à troponina permitindo
que haja o deslizamento entre filamentos finos e grossos -
actina e miosina respectivamente. Além da despolarização de
membrana o Ca2+ intracelular também regula a atividade
mitocondrial, autofagia, apoptose e o estresse oxidativo
(ZHANG, 2017).
Muitos estudos indicam que a proteína quinase II
dependente de Ca2+/ calmodulina (CaMKII) tem um papel
516
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
majoritário durante o acoplamento excitação. A expressão e
ativação elevada da CaMKII, parece estar presente em diversas
doenças cardíacas (ZHANG, 2017). Já foi demonstrado que
CaMKII, pode ser ativada por meio oxidação de alguns de seus
componentes. A ativação crônica da CaMKII pode levar a
diversas disfunções cardíacas como a homeostase anormal do
Ca2+ no cardiomiócito, problemas isquemia/reperfusão, falhas
no coração e arritimias (LUCZAK; ANDERSON, 2014).
De acordo com Sovari et al (2016) um dos mecanismos
propostos para arritimias causadas por ROS é de que haja um
prolongamento do potencial de ação e aumento de Ca2+
intracelular, desencadeando episódios arrítimicos.
No estudo feito por Barbosa (2018), a MnTE-2-PyP5+ foi
utilizada para tanto para o tratamento como para a prevenção
de episódios arrítmicos. Nesse estudo foi relatado que a MnTE-
2-PyP5+ foi capaz de reduzir os níveis intracelulares de Ca2+ e a
liberação anômala de Ca2+ pelo RS. Ainda relatado por Barbosa
(2018), foi a atividade cardioprotetora da MnTE-2-PyP5+. Outra
atividade relatada foi a cardioprotetora devio a preservação da
atividade muscular.. Esse relato mostra como a MnTE-2-PyP5+
pode ser usado como uma terapia alternativa para arritimias.
(DAN et al, 2018)
Em estudos feitos por Watanabe et al (2014), animais
knockouts para SOD2 apresentaram cardiomiopatia. Os
estudos de Koyama et al (2013) apresentaram resultados que
corroboram com os achados de Watanabe et al (2014). O
estudo de Koyama, fez o uso de MnP para avaliar o progresso
mediante a falta de SOD2 nos animais. As Mn-porfirinas
utilizadas foram a MnTBAP3–, a MnM2Py2P3+ e a MnTM-4-
PyP5+. A MnTBAP3– melhorou a função cardíaca e contratilidade
do coração. A MnM2Py2P3+ e a MnTM-4-PyP5+ foram capazes

517
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
de exercer uma atividade melhor contra a cardiomiopatia,
melhorando a função cardíaca.

Figura 2. Porfirinas utilizadas no estudo de Koyama et al


(2013)

Fonte: SARMENTO-NETO (2018)

Nos estudos Anselmo et al (2018), é relatada a relação


entre quadros de problemas valvares no coração e o tratamento
com MnTnBuOE-2-PyP5+ e MnTE-2-PyP5+. ROS contribuem
para o remodelamento da válvula aórtica através da
modificação nas células intersticiais valvares (VICs), onde estas
passam por um processo de calcificação. As respostas
promovidas pelas ações das ROS nas VICs estão ligadas ao
envelhecimento e o desenvolvimento de doenças valvares. No
estudo a MnTnBuOE-2-PyP5+, quando utilizada para tratar
camundongos foi capaz de prevenir a transdiferenciação em
fenotipos osteogênicos. Essa prevenção, levou à diminuição no
aumento da válvula aórtica e o cessamento da calcificação
valvar. Em contraste com a MnTnBuOE-2-PyP5+, outra porfirina
a, MnTE-2-PyP5+, promoveu um remodelamento apenas nas
periferias da válvula.

518
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
O tratamento de desordens do sistema nervoso central
pode ser apreciado, por exemplo, nos estudos de inibição de
tolerância à morfina. A administração crônica de morfina induz
a nitração de proteínas e enzimas via formação de peroxinitrito
(ONOO−), dentre as quais a MnSOD, e induz transcrição de
genes que levam à internalização dos receptores opioides. A
administração concomitante de morfina e Mn-porfirina resultou
em inibição do estabelecimento de tolerância e a necessidade
de aumento das doses de morfina. É importante reassaltar que
as Mn-porfirinas em si não apresentam ação analgésica, porém
a modulação redox de espécies reativas como o ONOO− acaba
minimizando a internalização dos repectores opioides neste
modelo (BATINIĆ-HABERLE, 2009).
Em um estudo feito desenvolvido por Little et al (2013),
a MnTE-2-PyP5+ e a MnTnHex-2-PyP5+ foram utilizadas num
estudo de tolerância analgésica. Nesse estudo foi observado
que a administração de ambas MnPs, com mais enfoque a
MnTnHex-2-PyP5+ devido a sua lipofilia, foram capases de
combater efeitos antinociceptivos. Outro resultado observado
foi a diminuição da nitração da MnSOD nas células da medula
espinhal. Essa inativação acontecia devido a interação entre o
ONOO- e MnSOD, o que favorecia a hiperalgesia e tolerância
analgesicos opioides.
Outra aplicação, feita por Sidlauskaite et al (2018a) foi o
teste de MnPs na supressão de atividade neural. Em seus
estudos, foi sugerido que a própria atividade neural regula a
chamada supressão de sinapse. Quanto mais ativa for a
sinapse, mais protegida ela está, enquanto a falta ou pouca
atividade da sinapse leva a sua supressão. ROS são propostas
como moduladores dessa atividade, pelo fato de que a própria
atividade neuronal, produz, divergentemente, ROS. Então, em
seus estudos é proposto que as ROS produzidas nas
519
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
mitocôndrias, funcionam como um “vigias” endógenos da
atividade sináptica
Utilizando a -bungarotoxina (-BTX) foi feita a
inativação sináptica do receptor nicontínico de acetilcolina da
junção neuromuscular. As MnPs testadas foram a MnTE-2-
PyP5+, MnTnBuOE-2-PyP5+ e MnTBAP3-. Em seus resultados,
Sidlauskaite et al (2018) constataram que a MnTBAP3- foi
incapaz de restaurar o defict motor causado pela -BTX.
MnTnBuOE-2-PyP5 e MnTE-2-PyP5+ apresentaram resultados
mais proeminentes, com esta última sendo capaz de restaurar
o deficit induzido pelo modelo experimental.
No trabalho elaborado por Celic et al (2014) foram
utlizados MnTnHex-2-PyP5+ e MnTBAP3- como agentes redox
em problemas de reperfusão/isquemia na medula espinhal. Foi
constatado nos resultados que animais com lesão na medula,
tratados com MnTnHex-2-PyP5+ e MnTBAP3- apresentaram
uma melhora, quando comparados com os grupos não tratados.
A hiperglicemia é uma das causas majoritárias de
estresse oxidativo no diabetes e um dos fatores que contribuem
para o aparecimento de complicações da doença. O aumento
na produção de superóxido induzido pela hiperglicemia é um
dos gatilhos fundamentais para complicações do diabetes, logo,
estudos como o desenvolvido por Ali et al (2013) sugerem que
o tratamento com MnPs pode previnir ou atrasar o
aparecimento dessas complicações. Nesse estudo foi
observado que a administração tardia de MnP parece prejudicar
o diabetes. A MnP utilizada, MnTM-2-PyP5+ pareceu não afetar
a hiperglicemia induzida em modelo animal. Outro marcador
que pareceu não ter sido afetado na presenças das MnPs foi a
GSH, que em caso de estresse oxidativo é convertida para sua
forma oxidada GSSG. .

520
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
Coudriet et al (2017), relata que MnP diminui a produção
do ânion superóxido e protegeu as células β pancreaticas, além
de, não causar toxicidade. As análises dos fígados dos animais
mostrram que animais tratados a MnP a esteatose hepática foi
muito pequena. Como consequência da diminuição da gordura
hepática de fatores inflmatórios que levam a resitência a
insulina, o tratamento com MnP mostrou uma sensibilização do
receptor de insulina. Em conclusão, pôde-se observar que a
administração da MnTE-2-PyP5+ levou a uma melhora no
quadro de diabetes e isso pode ser um direcionamento para o
uso dessa MnP como adjuvante tanto no tratamento da
diabetes tipo II quanto da doença hepática gordurosa não-
alcoólica.
Foi relatado por Delmastro-greenwood et al (2013) que a
MnTE-2-PyP5+ poderia agir como um regulador autoimune da
células β pancreáticas. Essa modelução poderia acontencer
devido o envolvimente de muitos efetores que são influenciados
pela sinalização redox, tais como: fator induzido por hipóxia
(HIF-1), fator nuclear κβ, AP-1 e SP-1.
No estudo feito por Bellot et al (2018) foi relatado o uso
da aplicação tópica de a MnTE-2-PyP5+ em feridas quando
comparada com terapia/associada de pressão negativa. Em
seus resultados, foi relatado que a utilização de MnP afetou
positivamente o resultado do tratamento de feridas crônicas. O
tempo foi contabilizado nesse estupo e a análise desse
parâmetro demonstrou que o grupo tratado com MnTE-2-PyP5
teve o fechamento da ferida acontecendo até 2 dias mais cedo
do que no grupo não tratado. Em suma, os resultados
encontrados por Bellot et al (2018) sugeremo o potencial
terapêutico da conjugação do tratamento com MnTE-2-PyP5+
associado a terapia por pressão negativa. (MARQUES et al,
2014; KURAHASHI; FUJI, 2015).
521
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
Os estudos farmacocinéticos são de grande importância
para compreender como drogas se distribuem através do nosso
corpo. Weitner et al (2013) relatou em seus estudos a
biodisponibilidade oral da MnTE-2-PyP5+ e da MnTnHex-2-
PyP5+.Para comparação o estudo foi feito através da
administração de MnTE-2-PyP5+ e MnTnHex-2-PyP5+ pelas vias
intravenosa, intraperitonial e por gavagem oral.
O rabalho Weitner et al (2013) constatram que ambas
MnPs são farmacocineticamente viáveis através de
administração oral.
Nos estudos feitos por Aitken et al (2013) foram utilizadas
MnTE-2-PyP5+ e MnTnHex-2-PyP5+ visando atividade
farmacológica intracelular..Foi constatadoo que o sinal
identificado como MnTE-2-PyP5+ por SRIXE estava sobreposto
diretamente com sinal identificado como o núcleo da célula,
enquanto o sinal identificado como MnTnHex-2-PyP5+
encontrava-se disperso pelo espaço extranuclear. Essa
distribuição de MnPs poderria explicar o motivo pelo qual
MnTE-2-PyP5+ é capaz de prevenir a formação de 8-OhdG,
enquanto a MnTnHex-2-PyP5+ não. MnTnHex-2-PyP5+ se
mostrou mais efetiva quanda utilizada como um pró-oxidante.
Gad et al (2013) constataram após um conjunto completo
de estudos, que MnTE-2-PyP não possuia órgão-alvo
específico, os sinais clínicos observados foram transitórios e a
dose de início deveria ser 10mg/Kg.
Li et al (2013) descrevem em seus estudos o perfil
farmacocinético do Cloreto de Mn(III) meso-tetraquis(3-(2-(2-
metoxi)-etoxi)etoxi)fenilporfirina (HSJ-0017) com o objetivo
avaliar sua distribuição e excreção.
CONCLUSÕES

522
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
Diante das informações aqui abordadas, é notável que o
estudo das Manganês-porfirinas está cada dia alcançando
novos patamares. A busca por terapias alternativas se faz
necessária para a melhora ou substituição de sistemas
terapêuticos que estão carentes de medicamentos que não
causem efeitos adversos extremos. Com este trabalho, após a
avaliação de estudos públicados, foram identificadas diversas
patologias, e descritos o seu envolvimento com as espécies
reativas de oxigênio e como o tratamento dessas doenças com
MnPs poderia levar há uma melhora sobre a condição
fisiopatológica delas. Foi visto que as MnPs não só são
administrados esperando uma atividade antioxidante, mas
também uma atividade pró-oxidante depende do estado do
metal em seu interior. Pudemos constatar que as MnPs não só
interagem com ROS, mas como também modulam vias de
sinalização envolvidas na proliferação celular, produção de
citocinas inflamatórias, no controle de sinapses, na
neuroproteção e ativida autoimunogênica e etc.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AITKEN, Jade B. et al. Intracellular targeting and pharmacological activity of


the superoxide dismutase mimics MnTE-2-PyP5+ and MnTnHex-2-PyP5+
regulated by their porphyrin ring substituents. Inorganic chemistry, v. 52,
n. 8, p. 4121-4123, 2013.
ALI, Dana K. et al. Late administration of Mn porphyrin-based SOD mimic
enhances diabetic complications. Redox biology, v. 1, n. 1, p. 457-466,
2013
ANSELMO, Wanda et al. Porphyrin‐Based SOD Mimic MnTnBu OE‐2‐
PyP5+ Inhibits Mechanisms of Aortic Valve Remodeling in Human and
Murine Models of Aortic Valve Sclerosis. Journal of the American Heart
Association, v. 7, n. 20, p. e007861, 2018.
ARCHAMBEAU, John O. et al. Superoxide dismutase mimic, MnTE-2-
PyP5+ ameliorates acute and chronic proctitis following focal proton
irradiation of the rat rectum. Redox biology, v. 1, n. 1, p. 599-607, 2013.

523
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
BANVILLE, D. L.; MARZILLI, L. G.; WILSONM, W. D. Comparison of the
effects of cationic porphyrins on DNA properties: influence of GC content of
native and synthetic polymers. Biopolymers. Biochemical Biophysical
Research. Communications 113, 148–154, 1983.
BARBOSA, KIRIAQUE BARRA FERREIRA et al. Estresse oxidativo&58;
conceito,implicações e fatores modulatórios Oxidative stress&58; concept,
implications and modulating factors. Revista de Nutrição, v. 23, n. 4, p.
629-643, 2010.
BARBOSA, A.M. Processo para proteção cardíaca por meio de uso de
porfirina MnTE-2-PyP5+. 2018. Tese (Doutorando em Biotecnologia ) –
Centro de Biotecnologia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa.
BATINIĆ-HABERLE, INES; REBOUÇAS, JÚLIO S.; SPASOJEVIĆ, IVAN.
Superoxide dismutase mimics: chemistry, pharmacology, and therapeutic
potential. Antioxidants & redox signaling, v. 13, n. 6, p. 877-918, 2010.
BATINIĆ-HABERLE, Ines; REBOUÇAS, Júlio S.; SPASOJEVIĆ, Ivan
(Ed.). Redox-Active Therapeutics. Springer, 2016
BATINIC-HABERLE, Ines; TOVMASYAN, Artak; SPASOJEVIC, Ivan. Mn
porphyrin-based redox-active drugs–Differential effects as cancer
therapeutics and protectors of normal tissue against oxidative
injury. Antioxidants and Redox Signaling, n. ja, 2018.
BELLOT, Gregory Lucien et al. MnSOD is implicated in accelerated wound
healing upon Negative Pressure Wound Therapy (NPWT): A case in point
for MnSOD mimetics as adjuvants for wound management. Redox
biology, 2018
BORGES, Juliana Pereira; LESSA, Marcos Adriano. Mechanisms involved
in exercise-induced cardioprotection: a systematic review. Arquivos
brasileiros de cardiologia, v. 105, n. 1, p. 71-81, 2015.
CALVETE, MÁRIO JOSÉ F.; GOMES, ANA TERESA P.C; MOURA, NUNO
M.M. Clorinas em Terapia Fotodinâmica–Síntese e aplicações. Revista
virtual de química, v. 1, n. 2, p. 92-103, 2009
CARILLON, Julie et al. Superoxide dismutase administration, a potential
therapy against oxidative stress related diseases: several routes of
supplementation and proposal of an original mechanism of
action. Pharmaceutical research, v. 30, n. 11, p. 2718-2728, 2013
CELIC, T. et al. Mn porphyrin-based SOD mimic, MnTnHex-2-PyP5+, and
non-SOD mimic, MnTBAP3−, suppressed rat spinal cord
ischemia/reperfusion injury via NF-κB pathways. Free radical research, v.
48, n. 12, p. 1426-1442, 2014.
CISNEROS, VANESSA ALEJANDRA ESPINOZA; TORO, MARÍA
DANIELA CARPIO; GARATE, JUAN FELIPE VINTIMILLA. Arritmias
Cardíacas en Corazón Estructuralmente Sano Diagnosticadas por
Monitoreo Holter Electrocardiográfico y la Correlación Clínica en Pacientes
Ambulatorios. Revista Médica HJCA, v. 9, n. 3, p.270-274, 2018.

524
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
COUDRIET, Gina M. et al. Treatment with a Catalytic Superoxide
Dismutase (SOD) Mimetic Improves Liver Steatosis, Insulin Sensitivity, and
Inflammation in Obesity-Induced Type 2 Diabetes. Antioxidants, v. 6, n. 4,
p. 85, 2017
DAN, GHEORGHE-ANDREI et al. Antiarrhythmic drugs–clinical use and
clinical decision making: a consensus document from the European Heart
Rhythm Association (EHRA) and European Society of Cardiology (ESC)
Working Group on Cardiovascular Pharmacology, endorsed by the Heart
Rhythm Society (HRS), Asia-Pacific Heart Rhythm Society (APHRS) and
International Society of Cardiovascular Pharmacotherapy (ISCP). EP
Europace, p. 1-42, 2018.
DASURI, Kalavathi; ZHANG, Le; KELLER, Jeffrey N. Oxidative stress,
neurodegeneration, and the balance of protein degradation and protein
synthesis. Free Radical Biology and Medicine, v. 62, p. 170-185, 2013.
KIM, Geon Ha et al. The role of oxidative stress in neurodegenerative
diseases. Experimental neurobiology, v. 24, n. 4, p. 325-340, 2015.
DELMASTRO-GREENWOOD, Meghan M. et al. Mn porphyrin regulation of
aerobic glycolysis: implications on the activation of diabetogenic immune
cells. Antioxidants & redox signaling, v. 19, n. 16, p. 1902-1915, 2013.
EVANS, Myron et al. Manganese porphyrins in combination with ascorbate
act as pro-oxidants and mediate caspase-independent cancer cell death.
2013. (G.A)
FIEL, R. J.; MUNSON, B. R. Binding of meso-tetra(4-N-methylpyridyl)
porphine to DNA Nucleic Acid Research 11, 2835–2842, 1980.
FORD, K.; FOX, K. R.; NEIDLE, S.; WARING, M. J. DNA sequence
preferences for an intercalating porphyrin compound revealed by
footprinting Nucleic Acid Research 15, 2221–2234, 1987.
GAD, Shayne C. et al. A nonclinical safety assessment of MnTE-2-PyP, a
manganese porphyrin. International journal of toxicology, v. 32, n. 4, p.
274-287, 2013
GAUTER-FLECKENSTEIN, Benjamin et al. Robust rat pulmonary
radioprotection by a lipophilic Mn N-alkylpyridylporphyrin, MnTnHex-2-
PyP5+. Redox biology, v. 2, p. 400-410, 2014.
GONANO, Luis Alberto; PETROFF, Martín Vila. Subcellular mechanisms
underlying digitalis-induced arrhythmias: role of calcium/calmodulin-
dependent kinase II (CaMKII) in the transition from an inotropic to an
arrhythmogenic effect. Heart, Lung and Circulation, v. 23, n. 12, p. 1118-
1124, 2014.
HANDY, Diane E.; LOSCALZO, Joseph. Redox regulation of mitochondrial
function. Antioxidants & redox signaling, v. 16, n. 11, p. 1323-1367,
2012.
JARAMILLO, Melba C. et al. MnTE-2-PyP5+ acts as a pro-oxidant to inhibit
electron transport chain proteins, modulate bioenergetics and enhance the

525
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
response to chemotherapy in lymphoma cells. Free radical biology &
medicine, v. 83, p. 89, 2015.
JARAMILLO, Melba C. et al. Manganese Porphyrin, MnTE-2-PyP5+,
Enhances Chemotherapeutic Response in Hematological
Malignancies. Free Radical Biology and Medicine, v. 100, p. S123, 2016.
KIM, Yeon et al. Insights into the Dichotomous Regulation of SOD2 in
Cancer. Antioxidants, v. 6, n. 4, p. 86, 2017.
KOYAMA, Hirofumi et al. Antioxidants improve the phenotypes of dilated
cardiomyopathy and muscle fatigue in mitochondrial superoxide dismutase-
deficient mice. Molecules, v. 18, n. 2, p. 1383-1393, 2013.
KURAHASHI, Toshihiro; FUJII, Junichi. Roles of antioxidative enzymes in
wound healing. Journal of Developmental Biology, v. 3, n. 2, p. 57-70,
2015.
LANDSTROM, Andrew P.; DOBREV, Dobromir; WEHRENS, Xander HT.
Calcium signaling and cardiac arrhythmias. Circulation research, v. 120,
n. 12, p. 1969-1993, 2017.
LEU, David et al. CNS bioavailability and radiation protection of normal
hippocampal neurogenesis by a lipophilic Mn porphyrin-based superoxide
dismutase mimic, MnTnBuOE-2-PyP5+. Redox biology, v. 12, p. 864-871,
2017.
LI, Bao-qiu et al. Pharmacokinetics, tissue distribution and excretion of
manganese (III) meso-tetra [3-(2-(2-methoxy)-ethoxy) ethoxy] phenyl
porphyrin chloride, a novel superoxide dismutase mimic, in Wistar
rats. European journal of drug metabolism and pharmacokinetics, v.
38, n. 4, p. 245-253, 2013.
LITTLE, Joshua W. et al. Spinal mitochondrial-derived peroxynitrite
enhances neuroimmune activation during morphine hyperalgesia and
antinociceptive tolerance. PAIN®, v. 154, n. 7, p. 978-986, 2013
LU, Shelly C. Glutathione synthesis. Biochimica et Biophysica Acta
(BBA)-General Subjects, v. 1830, n. 5, p. 3143-3153, 2013.
LUCZAK, Elizabeth D.; ANDERSON, Mark E. CaMKII oxidative activation
and the pathogenesis of cardiac disease. Journal of molecular and
cellular cardiology, v. 73, p. 112-116, 2014.
MARQUES, Antonio Dean Barbosa et al. A terapia por pressão negativa no
tratamento de feridas: uma revisão sistemática da literatura. Revista
Interdisciplinar, v. 6, n. 4, p. 182-187, 2014.
NAGY, Edit et al. Increased transcript level of poly (ADP-ribose)
polymerase (PARP-1) in human tricuspid compared with bicuspid aortic
valves correlates with the stenosis severity. Biochemical and biophysical
research communications, v. 420, n. 3, p. 671-675, 2012.
NATTEL, Stanley. Allele-Specific Gene Silencing: Another Step in the
Inexorable Advance of Gene Therapy for Cardiac Arrhythmia Management.
2017

526
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
OPAS/OMS – Organização Pan-Americana da saúde/Organização Mundial
De Saúde. Folha informativa – Câncer. Disponível em:
https://www.paho.org/bra.../index.php?option=com_content&view=article&id
=5588:folha-informativa-cancer&Itemid=839 Acesso em: 21/11/2018.
PITOCCO, Dario et al. Oxidative stress in diabetes: implications for
vascular and other complications. International journal of molecular
sciences, v. 14, n. 11, p. 21525-21550, 2013.
SARMENTO-NETO, José Ferreira. Síntese de complexos de Mn (III) à
base de porfirinas tricatiônicas do tipo A3B (A= 2-N-metilpiridinio; B =
3-metoxi-4-hidroxifenilou 3,4-dimetoxifenil) como potenciais mímicos
das enzimas superóxido dismutase(SOD). 2016. 108 p. Dissertação
(Mestrado em Química Inorgânica) - UniversidadeFederal da Paraíba, João
Pessoa.
SENTAGNE, C.; MEUNIER, B.; PAILLOUS, N. DNA cleavage
photoinduced by new water-soluble zinc porphyrins linked to 9-
methoxyellipticine J. Photochemistry Photobiology, 16, 47–59, 1992.
SIDLAUSKAITE, Eva et al. Mitochondrial ROS cause motor deficits induced
by synaptic inactivity: Implications for synapse pruning. Redox biology, v.
16, p. 344-351, 2018.
SIDLAUSKAITE, Eva et al. ROS regulate developmental and pathological
denervation in vivo. Free Radical Biology and Medicine, v. 120, p. S30-
S31, 2018.
TIVE significantly enhanced with redox-active compounds that cycle with
ascorbate. Antioxidants & redox signaling, 2018.
SILVA, Camila Tainah da; JASIULIONIS, Miriam Galvonas. Relação entre
estresse oxidativo, alterações epigenéticas e câncer. Ciência e Cultura, v.
66, n. 1, p. 38-42, 2014.
SOVARI, Ali A. et al. Role of oxidative stress in ventricular arrhythmias.
In: Ventricular Arrhythmia: From Principles to Patients. Nova Science
Publishers, Inc., 2013.
SOVARI, Ali A. Cellular and molecular mechanisms of arrhythmia by
oxidative stress. Cardiology research and practice, v. 2016, 2016.
TAFANI, Marco et al. Modulators of HIF1α and NFkB in cancer treatment: is
it a rational approach for controlling malignant progression. Frontiers in
pharmacology, v. 4, p. 13, 2013.
TOVMASYAN, Artak et al. Anticancer therapeutic potential of Mn
porphyrin/ascorbate system. Free Radical Biology and Medicine, v. 89, p.
1231-1247, 2015.
TOVMASYAN, Artak et al. Redox proteomics of 4T1 breast cancer cell after
treatment with MnTE-2-PyP5+/ascorbate system. Free Radical Biology
and Medicine, v. 100, p. S112-S113, 2016.
VALAVANIDIS, Athanasios; VLACHOGIANNI, Thomais; FIOTAKIS,
Constantinos. 8-hydroxy-2′-deoxyguanosine (8-OHdG): a critical biomarker

527
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DE MANGANÊS-PORFIRINAS
of oxidative stress and carcinogenesis. Journal of environmental science
and health Part C, v. 27, n. 2, p. 120-139, 2009.
WATANABE, Kenji et al. Superoxide dismutase 1 loss disturbs intracellular
redox signaling, resulting in global age-related pathological
changes. BioMed research international, v. 2014, 2014.
WEITNER, Tin et al. Comprehensive pharmacokinetic studies and oral
bioavailability of two Mn porphyrin-based SOD mimics, MnTE-2-PyP5+ and
MnTnHex-2-PyP5+. Free Radical Biology and Medicine, v. 58, p. 73-80,
2013.
WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO. Centro de mídia:
Cardiovascular diseases (CVDs). ;Disponível em:
<http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs317/en/>. Acesso em 7 de
nov. 2018.
WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO. Diabetes; Disponível em: <
https://www.who.int/diabetes/en//>. Acesso em 21 de nov. 2018.
ZHANG, Peiying. CaMKII: The molecular villain that aggravates
cardiovascular disease. Experimental and therapeutic medicine, v. 13, n.
3, p. 815-820, 2017.
ZHU, Yuxiang et al. The Mechanism of MnTE-2-PyP Functioning Differently
in Cancer Cells and Normal Cells. Free Radical Biology and Medicine, v.
100, p. S134, 2016.

528
O POTENCIAL DA ESPÉCIE Streptomyces hydroscopicus NA PRODUÇÃO DE
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS BIOATIVOS
CAPÍTULO 27

O POTENCIAL DA ESPÉCIE Streptomyces


hydroscopicus NA PRODUÇÃO DE
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS BIOATIVOS
Jackelly Felipe de OLIVEIRA 1
Ana Karolyne Gonçalves dos SANTOS 1
Leonor Alves de Oliveira da SILVA 2
1
Graduanda do Curso de Biotecnologia, UFPB;
2
Orientadora/Professora do CCEN/UFPB.
jackellyfo33@gmail.com

RESUMO: Os metabólitos secundários oriundos dos


microrganismos são compostos de grande interesse industrial,
farmacêutico e agronômico. Produzidos na fase germinativa
que antecede a fase de esporulação dos microrganismos,
essas substâncias bioativas estão envolvidas em funções
ecológicas. Os metabólitos secundários podem ser utilizados
para crescimento ou exercem outras funções como a inibição
de outros microrganismos, bem como compostos com
propriedades antioxidantes. Dentre os microrganismos mais
estudados quanto à produção dessas substâncias estão as
actinobactérias. Este trabalho tem por objetivo produzir em
biorreator metabólitos secundários utilizando uma fermentação
submersa em meio MPE e utilizar acetato de etila para extrair
da biomassa de Streptomyces hygroscopicus. Inicialmente a
atividade antioxidante do extrato acetato de etila foi realizada
pelo método ABTS detectando uma inibição do radical ABTS de
29,15%. Ao realizar a atividade antioxidante do extrato através
do método de DPPH, obtivemos os seguintes valores de IC50 de
0,565 ± 0,028 mg/mL. Em ensaios da atividade antimicrobiana

529
O POTENCIAL DA ESPÉCIE Streptomyces hydroscopicus NA PRODUÇÃO DE
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS BIOATIVOS
por difusão em poço, o extrato apresentou inibição apenas nos
microrganismos B. subtilis e S. aureus, com halos de inibição
correspondentes a 22,9 ± 0,08 e 21,7 ± 0,05. No presente
trabalho foram realizados testes para detectar a presença de
classes química de compostos. Concluiu-se que os extratos
possuem expressiva atividade antioxidante e antimicrobiana
apresentando resultados positivos para alcalóides.
Palavras-chave: Actinobacteria. Antioxidante. Antimicrobiano.

INTRODUÇÃO

Os organismos vivos necessitam de vários aparatos


essenciais para sua sobrevivência, dentre elas estão a
produção de energia, fagocitose, regulação do crescimento
celular, imunidade, entre outros mecanismos fazendo parte
desse processo a geração de radicais livres (HALLIWELL;
GUTTERIDGE, 2015). Os radicais livres são tidos como
compostos químicos caracterizados por possuírem elétrons
desemparelhados em seus orbitais, o que explica sua alta
reatividade, isto é, capacidade de reagir com outras moléculas
com o propósito que obter sua estabilidade (LUSHCHAK,
2014). A presença de radicais livres em altas quantidades é
uma problemática para a integridade da homeostase dos
organismos. Assim, segundo Lushchak (2014), os organismos
além de inevitavelmente produzir radicais livres devem possuir
mecanismos para reduzir seus efeitos deletérios, os chamados
compostos antioxidantes.
Os antioxidantes são substâncias que são capazes de
inibir ou atrasar as taxas de oxidação. Atualmente são divididos
em dois tipos, os enzimáticos (composto pelas enzimas
produzidas no organismo) e os não enzimáticos, fazendo parte

530
O POTENCIAL DA ESPÉCIE Streptomyces hydroscopicus NA PRODUÇÃO DE
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS BIOATIVOS
do segundo grupo as substâncias que geralmente pertencem
ao metabolismo secundário, a exemplo temos os flavonóides,
licopenos e bilirrubina. Essas substâncias podem agir
diretamente, neutralizando a ação dos radicais livres e espécies
não-radicais, ou indiretamente, participando dos sistemas
enzimáticos com tal capacidade (MOSCA; SANCHES;
COMUNE, 2017).
Os antioxidantes são substâncias capazes de neutralizar
um radical livre, doando o elétron que eles precisam. Os
radicais livres, são átomos ou moléculas que contém um ou
mais elétrons não pareados, por este motivo os radicais livres
atacam as outras moléculas, roubando ou cedendo elétrons
para se tornarem estáveis, podendo reduzir os seus elétrons
(oxidar) (MOSCA; SANCHES; COMUNE, 2017). Os radicais
livres são liberados durante o metabolismo humano, e também
são produzidos por poluentes ambientais (atmosférico,
aquático, solo), radiação (ultravioleta, gama, hertziana), entre
outros. Podem estar relacionados ao consumo ou uso de
toxinas como álcool, tabaco e drogas ou devido a nutrição
inadequada, exposição a fertilizantes ou pesticidas. Também
inclui o metabolismo de alguns produtos químicos e alto
estresse físico ou psíquico (CORONADO et al., 2015).
A existência de um desequilíbrio no organismo, com um
excesso de radicais livres e/ou deficiência do sistema protetor
em remover essas espécies reativas, é conhecida como
estresse oxidativo e pode conduzir à oxidação das estruturas
biológicas desempenhando um papel fundamental na formação
e desenvolvimento de doenças crônicas, como câncer, artrite
reumatóide, doenças cardiovasculares e autoimunes ou mesmo
envelhecimento (GOODARZI et al., 2008).

531
O POTENCIAL DA ESPÉCIE Streptomyces hydroscopicus NA PRODUÇÃO DE
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS BIOATIVOS
Neste contexto, os compostos antioxidantes vêm sendo
amplamente utilizados no tratamento e prevenção de diferentes
doenças e também podem ser empregados em diversas áreas
como na indústria de alimentos, cosméticos, ou até mesmo na
indústria farmacêutica (DOMÍNGUEZ et al., 2018; FALOWO et
al., 2016). Desse modo, a prospecção de novos compostos com
essa atividade é um campo de crescente pesquisas, tendo em
vista a ampla demanda. Microrganismos, por sua vez, tornam-
se evidentes devido a capacidade de produção de várias
moléculas de interesse biotecnológico, como exemplo, as
substâncias com atividade antioxidante.
Dentre os microrganismos bastantes estudados quanto
à produção de metabólitos secundários bioativos estão os
actinomicetos também chamados de actinobactérias, são
definidos como um táxon na subdivisão das bactérias gram-
positivas, que apresentam um grande conteúdo de guanina e
citosina em seus ácidos desoxirribonucléicos (DNA), e a
capacidade de formar hifas em algum estágio de seu
desenvolvimento (HWANG et al., 2014). Esses microrganismos
estão presentes em uma ampla variedade de ambientes
naturais como solo, atmosfera, rios, lagos, ambientes marinhos
e em habitats com características ecológicas específicas como
depósitos de lixo, água residuárias, regiões vulcânicas, lagos
salinos, fontes termais, entre outros (RAO; RAO 2013).
As actinobactérias, se destacam pela alta capacidade de
produção e excreção de moléculas bioativas, destacando-se a
espécie Streptomyces sp. Essa tem sido reconhecido como um
produtor de metabólitos bioativos com um grande espectro de
utilidades bem como antibióticos, enzimas e compostos
antioxidantes (TAN et al., 2015; KUMAR; DURAIPANDIYANB;
IGNACIMUTHUAL, 2014). Grande parte desses metabólitos

532
O POTENCIAL DA ESPÉCIE Streptomyces hydroscopicus NA PRODUÇÃO DE
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS BIOATIVOS
bioativos, são metabólitos secundários tendo base na sua
biossíntese na formação os quais se originam dos metabólitos
simples do metabolismo anfibólico (BILYK; LUZHETSKYY,
2016).
Os Streptomyces possuem um único cromossomo linear,
com cerca de 8 a 10 Mb dependendo da espécie, altos índices
de Guanina-Citosina no DNA e plasmídeos que podem ser
circulares ou lineares (HWANG et al., 2014). Outra
característica do genoma desse gênero é a presença de grupos
de genes que codificam enzimas biossintéticas responsáveis
pela síntese de metabólitos secundários, com uma grande
variedade de estruturas químicas, incluindo policetídeos,
lactâmicos, peptídeos não-ribossomais e terpenos (NETT;
IKEDA; MOORE, 2009).
O ciclo de vida desse gênero é iniciado com a
germinação do esporo, quando este se encontra em condições
favoráveis de temperatura e nutrientes, formando um filamento
germinativo que cresce, dando origem a hifa vegetativa, não
septada, que se ramifica formando os micélios vegetativos. Em
resposta a diminuição de nutrientes ou outra condição limitante,
ocorre o crescimento de micélios aéreos (esporóforos) que
quebram a tensão superficial, escapando do ambiente aquoso
onde se encontram os micélios vegetativos. Esses esporóforos
germinativos se diferenciam formando septos, originando as
cadeias de esporos, chamados conídios, com a liberação de
esporos fecha um ciclo de crescimento (HWANG et al., 2014).
A produção de metabólitos secundários por
Streptomyces se dá na fase germinativa, quando ocorre o
processo de esporulação, isso ocorre em condições limitantes
de nutrientes ou sob outras situações de estresse ambiental
(HWANG et al., 2014). Os metabólitos são secretados com o

533
O POTENCIAL DA ESPÉCIE Streptomyces hydroscopicus NA PRODUÇÃO DE
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS BIOATIVOS
objetivo de inibir a proliferação de outros microrganismos, no
meio pobre, aumentando a chance de germinação de seus
esporos e consequentemente sua sobrevivência (MADIGAN;
MARTINKO; PARKER, 2004).
Antibiótico na sua definição mais utilizada é tido como
substância sintética ou natural que tem como capacidade a
inibição do crescimento ou mesmo destruição dos
microrganismos. Os antibióticos naturais são produzidos por
microrganismos durante o metabolismo secundário, podendo
ter mecanismos de ação diferentes em relação à origem da
linhagem de microrganismo utilizada para sua produção.
Bactérias multirresistentes estão tendo um crescimento
alarmante e a falta de antimicrobianos para combater esses
organismos patogênicos continua sendo a maior reivindicação
na comunidade científica (MANIKPRABHU; LI, 2015).
Tendo em vista isso, as bactérias, através de pressões
bióticas, podem produzir diversos tipos de antibiótico e muitos
deles já são amplamente utilizados na indústria, veterinária e
agricultura como estreptomicina, cloranfenicol, eritromicina,
canamicina, novobiocina, vancomicina, nistatina e anfotericina
B (SILVA-LACERDA et al., 2013). Dentro do filo de bactérias o
gênero Streptomyces ganha destaque devido a produtividade
alta das maiorias das substâncias com propriedade antibióticas
conhecidos Streptomyces sp., onde 80% dos antibióticos
produzidos por este gênero, são comercializados e utilizados na
saúde humana e animal e na agricultura (ROSA et al., 2013).
Podendo, assim, ser estudadas na produção de novos
compostos antimicrobianos.
A Caatinga é um bioma brasileiro que possui uma área
com cerca de 844.453 quilômetros quadrados, e seu
ecossistema é restrito ao Brasil, o que implica a dizer que

534
O POTENCIAL DA ESPÉCIE Streptomyces hydroscopicus NA PRODUÇÃO DE
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS BIOATIVOS
nenhuma outra região do mundo possui tal patrimônio biológico
(MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2017). Entretanto, apesar
de ser rica em biodiversidade, há poucos estudos que buscam
a prospecção de biomoléculas nessa região que possuem
propriedades de interesse como o caso de moléculas com
capacidade antioxidante principalmente aquelas produzidas por
microrganismos (MELO et al., 2015).
Dessa forma o presente trabalho têm por objetivo
analisar a presença da atividade antioxidante do extrato em
acetato de etila oriundo do microrganismo Streptomyces
hygroscopicus isolado da Caatinga, além de estudar os efeitos
desse extrato contra bactérias patogênicas afirmado, assim,
sua propriedade antimicrobiana.

MATERIAIS E MÉTODO

Obtenção do extrato acetato de etila

A actinobactéria S. hygroscopicus utilizada neste estudo


está depositada na Coleção de Microrganismos do
Departamento de Antibióticos do Centro de Biociências da
Universidade Federal de Pernambuco. A fermentação
destinada a produção dos metabólitos secundários foi realizada
em condições otimizadas por trabalhos previamente descritos
por Borba (2016). Para o processo, a S. hygroscopicus foi
semeada em placas de petri contendo meio de cultura ISP2
ágar e mantida em estufa por 7 dias à 37°C, em seguida 30
discos (9 mm) foram inoculados em meio líquido ISP2 para
obtenção do pré-inóculo da fermentação. A fermentação para
obtenção do extrato foi realizada em biorreator New Brunswick
Scientific BIOFLO 110 (capacidade de 4L) utilizando 3L de meio

535
O POTENCIAL DA ESPÉCIE Streptomyces hydroscopicus NA PRODUÇÃO DE
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS BIOATIVOS
líquido MPE, onde o 300 mL de pré-inóculo foi adicionado,
tendo o objetivo o crescimento da actinobactéria e produção do
metabólito secundário bioativo. O biorreator possui controle de
temperatura, está mantida a 37ºC e agitação mecânica de 200
rpm. O arrefecimento foi realizado pela injeção de ar
comprimido, controlado no parâmetro: nível de O 2 (1/1) (v/v). O
pH inicial foi em torno de 7,2. Após as 96 h de incubação o
produto da fermentação em meio MPE foi centrifugado a 10000
rpm por 7 min, com a finalidade de separar a biomassa do
sobrenadante. Então na biomassa foi adicionado acetato de
etila na proporção de 1:1 biomassa/solvente e mantidos sob
agitação 120 rpm durante 30 min. A mistura foi posteriormente
centrifugada a 10000 rpm por 7 min e posteriormente o solvente
orgânico presente no sobrenadante foi evaporado no
rotaevaporador a uma velocidade de 50 rpm, a uma
temperatura de 40°C e submetidos às avaliações seguintes.

Testes da atividade antioxidante: método ABTS e DPPH

Para obtenção da atividade antioxidante do extrato


acetato de etila obtido da biomassa de S. hygroscopicus, foi
utilizado o método do radical livre ABTS (2,2’-azinobis-(3-
etilbenzotiazoline-6-ácido sulfônico). O radical ABTS+• foi
preparado a partir da reação de 5 mL da solução estoque de
ABTS 7 mM com 88 µL da solução de persulfato de potássio
140 mM. Mantido a mistura no escuro, à temperatura ambiente,
por 16 horas. Em seguida, diluiu-se 1 mL desta mistura em
álcool etílico PA (Vetec) até obter uma absorbância de 0,70 nm
± 0,05 nm a 734 nm, a qual foi preparada e usada no dia da
análise. 30 µL do extrato foi adicionado a 3,0 mL da solução de

536
O POTENCIAL DA ESPÉCIE Streptomyces hydroscopicus NA PRODUÇÃO DE
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS BIOATIVOS
ABTS+•. Após 6 minutos, foi realizada a leitura em 734 nm. A
porcentagem de sequestro do radical ABTS+• foi calculada.
Para o método DPPH, a partir do extrato oleoso obtido
no biorreator, foi retirado 69 mg e homogeneizado com auxílio
de um vortex com 900µL de etanol e 100µL de DMSO. Dessa
solução, separou 500 µL sendo realizada uma diluição seriada
nas concentrações de 10mg/mL a 0,312mg/mL. Após esse
processo, 40 µL de cada amostra diluída foi adicionada em
placas de 96 poços, iniciado em ordem decrescente de diluição.
Sendo adicionado 200µL de um radical livre estável orgânico
com a nomenclatura de 2,2-difenil-1-picrilhidrazilo (DPPH) a
0,02mM em cada poços com as amostras diluídas e incubado
no escuro por 30 minutos. Após esse tempo as amostras foram
lidas no leitor de microplaca à 517 nm. Para analisar a
capacidade que a amostra teve de sequestrar o radical DPPH,
utilizou a seguinte equação:

A controle − A amostra X 100


Atividade antioxidante (%) = A controle

Na qual A controle é a absorbância da solução do DPPH sem a


amostra e A amostra é amostra com o DPPH.

Avaliação da atividade antimicrobiana

A avaliação da atividade antimicrobiana foi inicialmente


realizada frente aos microrganismos Bacillus subtillis
(UFPEDA86), Staphylococcus aureus (UFPEDA02), Candida
khruzi (UFPEDA1002), Klebsiella pneumoniae (UFPE396),
Pseudomonas aeruginosa (UFPEDA416), E. coli, todos
provenientes da Coleção de Microorganismos do Departamento

537
O POTENCIAL DA ESPÉCIE Streptomyces hydroscopicus NA PRODUÇÃO DE
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS BIOATIVOS
de Antibióticos da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPEDA).
Os testes foram realizados da técnica Cup-plate, (SILVA
et al., 2013), as bactérias foram cultivadas em meio nutriente
ágar e a levedura foi cultivada em meio ágar Sabouraud. 100
µL do extrato acetato de etila obtido da biomassa de S.
hygroscopicus foi inoculado em um poço de 9 mm de diâmetro
nas placas de ágar semeadas com o respectivo organismo
teste. A inibição do crescimento foi examinada após 24 h de
incubação a 37 °C. A atividade antimicrobiana foi estimada pela
medida do diâmetro da zona inibitória.

Análise qualitativa de detecção de flavonóides e alcalóides

Análise preliminar da presença de flavonoides e


alcaloides presentes no extrato acetato de etila da biomassa de
S. hygroscopicus foi realizada através de reações químicas que
resultam no desenvolvimento de coloração e/ou precipitado,
característico para cada classe de substâncias (MOREIRA,
1979).
Para análise da presença de flavonoides utilizou a
metodologia de Silva e seus colaboradores (2013). Para isso,
foram pesados 10,36 mg do extrato oleoso em um béquer
adicionados o extrato e 5mL de metanol, além disso, foram
inseridos no meio 1 mL de HCl e 1 cm de fita de magnésio
totalizando 43 mg, sendo assim esperando 15 minutos até o
surgimento de coloração rosada como indicativo da presença
de flavonóides.
Para detectar a presença de alcalóides foi baseado no
teste de revelador Dragendoff (WAGNER; BLADT, 1996). Foi
pesado 1g de extrato em um tubo de ensaio, neste mesmo tubo

538
O POTENCIAL DA ESPÉCIE Streptomyces hydroscopicus NA PRODUÇÃO DE
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS BIOATIVOS
foi adicionado 10 mL de H2SO4 1%, consecutivamente a mistura
foi aquecida em banho-maria a 100º C durante 2 minutos e
filtrada logo após. Alíquota do filtrado foi colocada em outro tubo
de ensaio e em seguida foi gotejado o reagente de Dragendorff.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base na metodologia utilizada no presente trabalho,


apresentado na Figura 1, a actinobactéria S. hygroscopicus
isolada do solo da caatinga e fermentada em biorreator
produziu uma biomassa a qual separada do líquido fermentado
e extraída com acetato de etila para se obter o extrato acetato
de etila apresentou substâncias com atividades antioxidantes e
antimicrobianas.
Na literatura existem uma variedade de testes in vitro
para avaliar a atividade antioxidante, no presente trabalho
utilizou-se de duas metodologias distintas. Avaliou a
capacidade do extrato acetato de etila em reduzir captura dos
radicais de ABTS (2,2azinobis(3-etilbenzotiazolina-6-ácido-
sulfônico)), a concentração de 1,485 mg/mL do extrato
apresentou uma inibição do radical ABTS de 29,15%. Ao
realizar a atividade antioxidante do extrato através do método
de DPPH, obtivemos os seguintes valores de IC50 de 0,565 ±
0,028 mg/mL estes dados estão apresentados na Figura 2.
Figura 1. Fluxograma para obtenção do extrato acetato de
etila da biomassa de S. hygroscopicus.

539
O POTENCIAL DA ESPÉCIE Streptomyces hydroscopicus NA PRODUÇÃO DE
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS BIOATIVOS

Fonte: autoria própria.

Figura 2. Reta padrão de percentual de inibição de DPPH do


extrato acetato de etila de S. hygroscopicus

Fonte: autoria própria.

A atividade antioxidante de metabólitos secundários


produzidos pelo gênero Streptomyces pode apresentar grandes
variações. Manivasagan e colaboradores (2013),

540
O POTENCIAL DA ESPÉCIE Streptomyces hydroscopicus NA PRODUÇÃO DE
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS BIOATIVOS
demonstraram que uma protease produzida por Streptomyces
sp. obteve IC50 de 78±0,28 mg/mL. Ser e seus colaboradores
(2016), em um estudo sobre atividade antioxidante de uma nova
espécie de Streptomyces sp. mostrou que extrato metabólicos
em concentração de 2 mg/mL apresentaram porcentagem de
inibição de 27,24 ± 1,91%.
Após produção em meio líquido MPE e extração com
solvente orgânico do metabólito foi obtido o extrato acetato de
etila, ao qual realizou-se os ensaios de atividade antimicrobiana
por difusão em poço frente aos microrganismos teste, estes
resultados estão apresentados na Figura 3. No presente estudo
o extrato apresentou inibição apenas dos microrganismos B.
subtilis e S. aureus, com halos de inibição correspondentes a
22,9 ± 0,08 e 21,7 ± 0,05, respectivamente corroborando com
os resultados obtidos por Borba (2016). É de extrema
relevância, estudos de compostos com atividade microbiana
contra Staphylococcus aureus, tendo em vista que esse é um
dos patogênicos mais alarmantes devido ao aumento de
linhagens multirresistentes (FOSTER, 2017).

541
O POTENCIAL DA ESPÉCIE Streptomyces hydroscopicus NA PRODUÇÃO DE
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS BIOATIVOS
Figura 3. Atividade antimicrobiana por difusão em poço do
extrato acetato de etila de S. hygroscopicus.

Fonte: Autoria própria.

Os resultados apresentados no presente estudo se


mostraram compatíveis aos resultados obtidos por Rathod e
seus colaboradores (2018), na qual um extrato de Streptomyces
sp isolada, teve uma boa atividade antimicrobiana contra
Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus, e Bacillus
subtilis. Trabalhos recentes mostraram que dependendo do
local do isolamento da linhagem, compostos com atividade
antimicrobiana são elucidados a demonstrar ação para
diferentes espectros de microrganismos (KIRAN et al., 2015;
KRISHNAN; MANI, 2017). Essa característica de variação de
metabólitos pode ser explicada por questão de pressão seletiva,
na qual os organismos desenvolvem formas de obter vantagens
de competição além de serem influenciados por questões
edafoclimáticas
Diferentes classes de compostos químicos do
metabolismo secundário são encontradas em extratos
provindos de culturas de Streptomyces sp. como demonstrado
por Jaivel e colaboradores (2014), ao realizar o teste qualitativo

542
O POTENCIAL DA ESPÉCIE Streptomyces hydroscopicus NA PRODUÇÃO DE
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS BIOATIVOS
para flavonóides e alcalóides no extrato acetato de etila de S.
hygroscopicus, os resultados foram positivos para o teste de
alcalóides e negativo para flavonoides. Sabe-se que as
variedades de alcalóides são produzidas por vários organismos,
incluindo bactérias, fungos e plantas, como metabólitos
secundários que exibem bioatividades úteis. Os alcalóides
foram originalmente definidas como compostos orgânicos de
origem vegetal que possuem bioatividades fortes e exibem
basicidade que é atribuído a presença de nitrogênio
(KISHIMOTO et al., 2016).

CONCLUSÕES

O extrato acetato de etila obtido da biomassa de


Streptomyces hygroscopicus, apresentou atividade
antioxidante capaz de reduzir os radicais 2,2-azinobis-(3-
etilbenzotiazoline-6-ácido sulfônico e 2,2-difenil-1-
picrilhidrazilo, apresentando atividade antimicrobiana capaz de
inibir as bactéria Staphylococcus aureus e Bacillus subtilis o
extrato bioativo em teste qualitativo mostrou-se positivo para a
classe de metabólitos secundários de alcalóides. Constituindo
um extrato bastante promissor para trabalhos futuros de
purificação e identificação dos compostos bioativos,
caracterizando-o como um extrato potencialmente aplicável na
indústria biotecnológica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS

BRASIL, MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Biomas: Caatinga.


Disponível em: http://www.mma.gov.br/biomas/caatinga. Acessado em: 15
out, 2018.

543
O POTENCIAL DA ESPÉCIE Streptomyces hydroscopicus NA PRODUÇÃO DE
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS BIOATIVOS
BILYK, O.; LUZHETSKYY, A. Metabolic engineering of natural product
biosynthesis in actinobacteria. Curr Opin Biotechnol. v. 42. n. 1. p.98-107,
2016.
BORBA, C. B. A. Avaliação de metabólito Secundário de Streptomyces
sp., sua atividade antimicrobiana e citotoxicidade; identificação
morfológica e molecular da actinobactéria. 2016. Dissertação (Mestrado
em Ciências Biológicas). Programa de Pós-Graduação em Ciências
Biológicas. Universidade Federal de Pernambuco. Recife, PE. 2016.
CORONADO, M. H. et al. Antioxidantes: perspectiva actual para la salud
humana. Rev Chil Nutr. v. 42. n. 2. Jun, 2015.
DOMÍNGUEZ, R. et al. Active packaging films with natural antioxidants to
be used in meat industry: A review. Food Research International. v. 113.
p. 93-101. Nov, 2018.
FALOWO, A. B. et al. Actividades antioxidantes de extractos de hoja de
Moringa oleifera L. y Bidens pilosa L. y sus efectos en la estabilidad
oxidativa de ternera cruda picada durante el almacenamiento en frío.
Journal of Food. v. 15. n. 2. Set, 2016.
FOSTER, T.J. Antibiotic resistance in Staphylococcus aureus. Current
status and future prospects. FEMS Microbiology Reviews. v. 41, n.3. p.
430–449. Mai, 2017.
GOODARZI, S. et al. Review on Antioxidants and Their Health Effects.
Journal of Nutrition and Food Security. v. 3. n.2. p. 106-112, Jan, 2018.
HALLIWELL, B. GUTTERIDGE, J. M. C. Free radicals in biology and
medicine. Orford University Press, 5 ª ed, 2015.
HWANG, K.S. et al. Systems biology and biotechnology of Streptomyces
species for the production of secondary metabolites. Biotechnology
Advances. v. 32. n. 2. p. 255-268. Mar-Abr, 2014.
JAIVEL, N. et al. Natural occurrence of organofluorine and other
constituents from Streptomyces sp. TC1. J Nat Prod. v. 77, n. 1, p. 2-8.
Jan, 2014.
KIRAN, T. et al. Production, extraction and characterization of antimicrobial
metabolites from Streptomyces sp. GZ024 isolated from Karachi soil.
Pelagia Research Library Advances in Applied Science Research. v. 6.
n. 1. p.38-44, Nov, 2015.
KISHIMOTO, S. et al. Evaluation of Biosynthetic Pathway and Engineered
Biosynthesis of Alkaloids. Molecules. v. 21. n.8. p. 1078. Ago, 2016.
KRISHNAN, K.; MANI, A. Structural Elucidation and Identification of 2-
Hydroxy Benzoic Acid: An Antibacterial and Cytotoxic Compound from
Streptomyces sp. VITHM1 Isolated from Marine Sediment Sample of
Alappuzha Beach, Kerala, India. Arab J Sci Eng. v. 43, n.7. p. 3339–3348.
Nov, 2017.
KUMAR, P.S.; DURAIPANDIYANB, V.; IGNACIMUTHUAL, S. Isolation,
screening and partial purification of antimicrobial antibiotics from soil
544
O POTENCIAL DA ESPÉCIE Streptomyces hydroscopicus NA PRODUÇÃO DE
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS BIOATIVOS
Streptomyces sp. SCA 7. The Kaohsiung Journal of Medical Sciences.
v.30. n.9. p.435-446. Set, 2014.
LUSHCHAK, V.L. Free radicals, reactive oxygen species, oxidative stress
and its classification. Chemico-Biological interactions v. 224. n.1. p.164-
175. Dez, 2014.
MADIGAN, M.T.; MARTINKO, J. M.; PARKER, J. Brock: Biologia de los
microrganismos. 10 ed. Pearson: Prentice Hall. p. 1011. Jan, 2004.
MANIKPRABHU, D.; LI, W.J. Antimicrobial agents from actinomycetes
Chemistry and applications. Antimicrobials Synthetic and Natural
Compounds, v.1. n.1. p. 99–116. Jan, 2015.
MANIVASAGAN, P.; VENKATESAN, J.; SIVAKUMAR, K. K. S. Production,
Characterization and Antioxidant Potential of Protease from Streptomyces
sp. MAB18 Using Poultry Wastes. BioMed Research International. p.1-
13. Jul, 2013 .
MELO, I.S. et al. Biodiversidade e bioprospecção de microrganismos da
caatinga. EMBRAPA Meio Ambiente. Mar, 2015.
MOREIRA, E.A. Marcha sistemática de análise em fitoquímica. Tribuna
farmacêutica, v.47, n.1, p.1-19, 1979.
MOSCA, S.S.; SANCHES, R.A.; COMUNE, A.C.A. Importância dos
antioxidantes na neutralização dos radicais livres: uma revisão. Revista
Saúde em Foco, 9ª ed, 2017.
NETT, M.; IKEDA, H.; MOORE, B. S. Genomic basis for natural product
biosynthetic diversity in the actinomycetes. Natural Product Reports. v.
26. n.1. p. 1362-1384, 2009.
RAO, K.V.R.; RAO, T.R. Molecular characterization and its antioxidant
activity of a newly isolated Streptomyces coelicoflavus BC 01 from
mangrove soil. Journal of Young Pharmacists. v. 5. n. 4. p. 121-126. Dez,
2013.
RATHOD, B.B. et al. Novel actinomycin group compound from newly
isolated Streptomyces sp. RAB12: isolation, characterization, and
evaluation of antimicrobial potential. Applied Microbiology and
Biotechnology. v. 102. n. 3. p.1241–1250. Fev, 2018.
ROSA, P. et al. Streptomyces lunalinharesii strain 235 shows the potential
to inhibit bacteria involved in biocorrosion processes. Biomed Res Int.
Jan, 2013.
SER, H. et al. Streptomyces antioxidans sp. Nov. A novel Mangrove Soil
Actinobacterium with Antioxidative and Neuroprotective Potentials.
Frontiers in Microbiology, v.7, p.1-1. Jun, 2016.
SILVA-LACERDA, G.R. et al. Antimicrobial potential of actinobacteria
isolated from the rhizosphere of the Caatinga biome plant Caesalpinia
pyramidalis Tul. Genetics and Molecular Research. v.1. n. 1. p.1-12.
Ago, 2013.

545
O POTENCIAL DA ESPÉCIE Streptomyces hydroscopicus NA PRODUÇÃO DE
METABÓLITOS SECUNDÁRIOS BIOATIVOS
SILVA, et al. Caracterização físico-química e análises por
espectrofotometria e cromatografia de Peperomia pellucida L. (H. B. K.).
Rev. Bras. Pl. Med, v.15, n.4, p.717-726. Set, 2013.
TAN, L.T. et al. Investigation of Antioxidative and Anticancer Potentials of
Streptomyces sp. MUM256 Isolated from Malaysia Mangrove Soil. Front.
Microbiol, v.6, p.1316. Nov, 2015.
WAGNER, H.; BLADT, S. Plant Drug Analysis: A Thin Layer
Chromatography Atlas. 2ª ed, editora springer, 1996.

546
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO
CAPÍTULO 28

EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO


NA MUCOSITE INTESTINAL INDUZIDA POR
ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA
VIA DOS RECEPTORES TLR’S, UMA
REVISÃO
Naylla Veras de Moraes Oliveira1,5
Bruna da Silva Souza2,5
Lucas Arruda Moita3,5
André Luis Fernandes Lopes4,6
Kerolayne de Melo Nogueira3,5,7
1
Pós Graduanda em Biomedicina Estétca-NEPUGA, Fortaleza, Ceará; 2Pós-Graduanda no
Programa de Doutorado em Biotecnologia (RENORBIO), UFPI; 3Pós-Graduando no Programa
de Mestrado emBiotecnologia, UFPI; 4, 5Graduando do curso de Biomedicina, UFPI; 2 Pós-
graduando do Programa de Mestrado em Biotecnologia, UFPI; 3, 5Pós-graduanda do Programa
de Mestrado em Biotecnologia, UFPI;
7
Orientador, UFPI.
5
Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular de Microrganismos e Plantas (BIOMIC),
UFPI.
6
Laboratório de Farmacologia da Inflamação e Desordens Gastrointestinais (LAFIDG), UFPI.
keerolayne@hotmail.com.br

RESUMO: O câncer tem como principal característica o


desenvolvimento de células com perda de função celular. O
tratamento com antineoplásicos é responsável por causar o
quadro de mucosite. Os receptores da família dos Toll-Like
(TLR’s) estão intimamente associados ao dano celular, são
associados a moléculas endógenas que são liberadas nos
processos de morte celular ou necrose, reconhecem também
padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs).
Estudos revelam que os TRL’s podem está envolvido com
diversos quadros de inflmação intestinal. O ácido caféico é um
composto fenólico que pode está associado aos receptores
TRL’s. O estudo visa verificar a possível ação do ácido caféico
547
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO
na mucosite intestinal, através da via dos TRL’s. Foi realizado
um levantamento no período 2008 a 2018, utilizando os bancos
de dados Bireme, Medline, PubMed e Scielo, para a pesquisa,
utilizou-se os descritores “ácido caféico, mucosite intestinal,
Toll-Like”, em inglês. Encontrou-se diversos estudos
relacionados ao acido caféico, mas poucos ou nenhum voltado
para a utilização da molécula em modelos de mucosite
intestinal, a busca associada a receptores Toll-like retornou
poucos resultados, mostrando a escassez nos estudos
associados. Em vista disso, seria válido a realização de mais
estudos experimentais que buscassem a associação do ácido
caféico com os TLR’s,a fim de combater o quadro de mucosite
intestinal, sendo um possível fármaco para tratar a patologia,
futuramente.
Palavras-chave: ácido caféico. Mucosite intestinal. Receptores
Toll-Like.

INTRODUÇÃO

O câncer é doença que tem como principal característica


o desenvolvimento de células com perda da estrutura
fisiológica. Isso se deve principalmente à proliferação celular
descontrolada, perda de função celular, poder de invasão e
capacidade de disseminação para outras partes do corpo
(WINAWER et al, 1997).
Apesar de o câncer ser conhecido a muitos séculos
somente nas últimas décadas ele vem se tornando um
problema de saúde pública mundial. A Organização Mundial da
Saúde (OMS) estima que em 2030 tenha-se aproximadamente
27 milhões de casos novos de câncer no mundo, com uma
expectativa de cerca 17 milhões de mortes e 75 milhões de
pessoas, com essa neoplasia. Ainda de acordo com a OMS, o

548
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO
maior efeito desse aumento vai incidir em países de baixa e
média renda (WHO, 2013). A estimativa para o Brasil, para os
anos de 2016 e 2017 é por volta de 600 mil casos novos de
câncer (INCA, 2015).
O tratamento do câncer é baseado em características
próprias, como o tipo, tamanho do tumor, estágio, a partir disso
é feita a abordagem terapêutica, quimioterapia, radioterapia,
bioterapia ou imunoterapia são exemplos de processos
adotados. Apesar das opções existentes a quimioterapia
antineoplásica tem sido ainda uma terapia de indicação
primordialmente escolhida para o tratamento do câncer. Ela
pode ter o papel adjuvante ou neoadjuvante, dependendo do
objetivo e do tipo de neoplasia. (TAN et al, 2008).
Drogas antineoplásicas são agentes citotóxicos que
possuem como principal alvo células com intensa e rápida
proliferação, padrão das células tumorais, levando a indução de
morte celular. Por outro lado, como diversos outros tecidos do
corpo também apresentam uma rápida proliferação celular,
fisiologicamente, anesse processo de indução da morte celular
células normais acabam também sendo destruídas pela ação
dos antineoplásicos, gerando, como efeito adverso, dor,
ulcerações e outras sequelas que afetam significativamente a
morbimortalidade em pacientes submetidos a tratamentos
antitumorais (BRUNE et al, 2016).
Com relação aos efeitos deletérios sobre a mucosa
gastrointestinal que são ocasionados por drogas
antineoplásicas tem-se a mucosite do trato alimenta. É uma
condição que se caracteriza por uma profunda degradação e
ulceração progressiva do tecido protetor da mucosa oral e/ou do
trato gastrointestinal (GI), essa patologia se dá maneira

549
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO
localizada ou global, podendo acometer todo o epitélio de
revestimento da mucosa oral até o ânus. Nesse sentido, a
mucosite intestinal é a síndrome resultante de profundas
alterações morfológicas e fisiológicas ocorridas na mucosa do
intestino delgado em razão da utilização de drogas
antineoplásicas, além disso os pacientes apresentam diarreia
como mais um dos efeitos colaterais associado a essa droga
(WARDILL; BOWEN; GIBSON, 2012).
Na fisiopatologia da mucosite intestinal após a exposição
ao agente antineoplásico ocorre o dano às células da mucosa
intestinal, esse estresse no organismo leva a produção de
espécies reativas de oxigênio (EROs), bem como ativação de
fatores de transcrição que vão levar a exacerbação do processo
inflamatório. Com a amplificação deste processo tem-se o início
de algumas cascatas inflamatórias. Principalmente devido a
ativação do fator nuclear kappa B (NF-κB) que desempenha um
papel efetor (DUNCAN; GRANT, 2003)
Os receptores Toll-like (TLRs) atuam como receptores de
reconhecimento padrão (PRR) presentes em ínumeras células
como macrófagos, células dendríticas, neutrófilos e
monócitos/macrófagos. Geralmente reconhecem padrões
moleculares associados ao dano (DAMPs), moléculas
endógenas que são liberadas nos processos de morte celular
ou necrose, reconhecem também padrões moleculares
associados a patógenos (PAMPs) (KRYSKO et al, 2012).
Estudos tem demostrado que o TLR2 e TLR4 podem estar
envolvidos no controle da homeostase intestinal bem como
envolvidos do desenvolvimento de doenças inflamatórias
intestinais. Evidências recentes têm destacado o envolvimento

550
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO
de TLR2, TLR4 e TLR9 em mucosite induzida por
quimioterápicos (KACZMAREK et al, 2013).
Já é bem descrito na literatura os efeitos de compostos
fenólicos tais como: propriedades anti-inflamatórias e efeitos
benéficos em doenças associadas ao envelhecimento, como
as doenças cardiovasculares e neurodegenerativas e alguns
tipos de câncer. (GARCIA-MEDIAVILLA et al, 2007). ácido
cafeico é um composto fenólico encontrado em produtos
naturais, como a própolis. Vários efeitos já foram relatados
sobre a inflamação e câncer. Esses estudos sugerem que o
ácido cafeico é capaz de suprimir a ativação de de TLR4 bem
como NFkβ,(Wang et al., 2009) e que esse efeito é mediado
pela ligação da proteina MD2.(KIM et al, 2013) Além disso
outro estudo também mostrou que ele é efetivo ao inibe a
expressão de TLR2 e produção de citocinas (BUFALO et al,
2014).
Portanto o objetivo do presente estudo é verificar as
ações anti-inflamatórias e protetoras do acido caféico contra
mucosite intestinal induzida por antineoplásicos com base no
seu efeito inibitório em receptores TLR4 e TLR2.

MATERIAIS E MÉTODO

O presente estudo trata de uma revisão sistemática, a


fim de mostrar as produções cientificas publicadas nos últimos
anos, bem como as ideia mais relevantes sobre o tema. Para
isso foi realizada uma pesquisa em algumas das principais
bases de dados e periódicos mundiais, estabelecendo critérios
para a escolha dos estudos publicados.

551
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO
Para melhor utilização de dados, foram adotados
critérios que estabeleceram melhor aprofundamento dos
estudos apresentados pelas bases de dados.

Critérios de exclusão e inclusão

Para a exclusão dos estudos foram adotados os


seguintes métodos: intervalo de publicação de 10 anos, entre
os anos de 2008 e 2018 para os bancos de dados PubMed
(Public Medline or Publisher MedlineI) e Bireme (Centro Latino-
Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde)
e apenas no ano de 2019 para o banco Science Direct; foram
selecionados os artigos acadêmicos que abordavam em seus
abstracts os termos “caffeic acid, caffeic acid and inflammation,
caffeic acid and intestinal mucositis, caffeic acid and Toll-Like”;
foram escolhidos estudos que tinham abordagens apenas no
modelo animal e testes in vitro, além disso, estudos duplicados
também foram excluídos.
De forma simplificada, a figura 1 demonstra o fluxograma
utilizado para o delineamento deste estudo de revisão literária.

552
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO
Figura 1. Fluxograma com a descrição da principal metodologia
realizada.

Fonte: Autoria própria, 2018.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa retornou diversos estudos que abordavam


apenas o acido caféico (caffeic acid) como modelo de pesquisa,
isso foi possível observar na maioria dos bancos de dados
pesquisados (PubMed: 1019; Bireme: 1066; Science Direct:
206), todavia o retorno para os descritores de acido aféico
associado a inflamação (159, 207, 27, respectivamente), Toll-
Like (13, 30, 1, respectivamente) e mucosite intestinal (0, 0 e 4,
respectivamente)foram bem menores (Figura 2).

553
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO

Figura 2. Gráfico da distribuição de artigos encontrados nas


bases de dados.

Fonte: Autoria própria, 2018

Não foram obsevrados resultados válidos para os


descritores na base do Medline. Já a base Science Direct
apresentou números bem reduzidos para a pesquisa de acido
caféico associado aos outros descritores, porém, quando a
pesquisa foi restringida apenas para o ano de 2019, ou seja,
estudos que estão em fases de publicação, o resultado
aumentou, portanto, apenas esse banco de dados, foi adotado
esse outro intervalo (Figura 2). Esse fato se torna bastante
atrativo em termos científicos, uma vez que mostra interesse
para modelos pouco explorados, e que são promissores em
diversos modelos.

554
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO
Ácido Cafeico

Os produtos naturais e seus derivados são muito


utilizados para o tratamento de muitas doenças, e apesar da
concorrência de outros métodos de descoberta de
medicamentos, os produtos naturais ainda fornecem uma
parcela de novos candidatos a drogas remédios importantes
representando uma fonte importante de novos fármacos,
especialmente anticancerígenos, anti-hipertensivos, anti-
infecciosos, imunossupressores (LAHLOU, 2013).
A literatura é bem repleta e apresenta diversos efeitos
de compostos fenólicos tais como: propriedades anti-
inflamatórias e efeitos benéficos em doenças associadas ao
envelhecimento, como as doenças cardiovasculares,
neurodegenerativas e alguns tipos de câncer. Além de atuar no
estresse oxidativo, seu efeito de proteção pode estar associado
à modelação de vias de sinalização intracelular, bem como à
inibição de enzimas que estão associadas com o processo
inflamatório, estas são ativadas durante a inflamação e são
fundamentais para a sobrevivência celular (HALLIWELL;
GUTTERIDGE, 2007).
Os compostos naturais ganham ainda mais destaque no
mundo científico por atuarem em diversas vias e apresentarem
atividade citotóxica para o ser humano muito baixa. Os
compostos fenólicos são um exemplo desta vasta categoria de
moléculas obtidas da natureza que são precursores para
fármacos usado pela indústria farmacêutica.
Os ácidos fenólicos, derivados dos compostos fenólicos
são encontrados na sua maioria em frutas e legumes, e
apresentam muitas funções fisiológicas e farmacológicas, no

555
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO
qual vem se destacando o ácido caféico, conhecido como o
componente bioativo da própolis, estudos já demonstram que
ele possui diversas atividades biológicas, dentre elas a antiviral,
antitumoral, anti-inflamatório, antioxidante, neuroprotetora,
antiaterosclerótica, bem como modulação de NFKβ.
O ácido caféico atua em moléculas e proteínas
envolvidas na inflmação, inibindo a produção de citocinas (IL-
12, IL-10,IFN-γ e IL-5), provavelmente devido a uma ação
inibitória de vias de sinalização de NF-κβ e Akt. Ele impediu
ativação de TLR-4 e suprimiu a liberação de mediadores e a
ativação do NF-kβ, o que indicasua potencial atividade anti-
inflamatória (ALI et al., 2018; YIĞIT et al., 2017 AGILAN et al.,
2016). Além disso Kim (2012) viu que Supressão do Toll-like e
ativação do receptor 4 por do ácido caféico é mediado por
interferência da ligação de LPS ao MD2, em outro estudo
também mostrou que ele regula negativamente TLR-2
(BUFALO, et al., 2014).

Receptores TLR’s

Estudos evidenciam o envolvimento da via dos TLR’s,


sobretudo o TRLR 4 e TLR5 em doenças de caráter
inflamatório, incluindo doença de Crohn (DC), síndrome do
intestino irritável (SCI) e colite ulcerativa, doença inflamatória
intestinal (LOPETUSO et al., 2017; CHAO NIU et al., 2018;
MOLNÁR et al.,2012), câncer de cólon. Outros trabalhos
apontam para um possível amumento na expressão de RNA
mensageiro de TLR2 e TLR4 na mucosa do cólon de pacientes
com síndrome do intestino irritável (IBS), em comparação com
controles saudáveis (Belmonte et al., 2012). Além dissso

556
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO
mostrou que na mucosite causada por irinotecano está
relacionada aos TLR4 TLR9 e TLR2. Este últimos atuando via
proteínas do tipo adaptadoras (WONG et al, 2015).

Mucosite intestinal

O quadro de mucosite, oral ou intestinal, causado por


drogas antineoplásicas é um importante efeito colateral da
terapia do câncer (RIBEIRO et al., 2016). Quase metade dos
pacientes em quimioterapia antineoplásica apresentam algum
grau de mucosite, (ANDREW; RUBENSTEIN et al. 2004),
podendo modificar a intensidade, duração e eficácia do
tratamento em muitos casos, chegando até suspensão do
mesmo (SCULLY; SONIS; DIZ, 2006). Outro dado importante
sobre mucosite, é quando se associa irradiação à quimioterapia
em altas doses, em pessoas transplantadas com células tronco
hematopoiéticas, a prevalência de mucosite pode chegar a
quase 100% dos pacientes, afetando mais de dois milhões de
pessoas no mundo a cada ano (SPEZZIA, 2016).
Na última década, houve progresso significativo no
entendimento dos mecanismos da mucosite, que compreende
cinco fases sobrepostas e, em cada fase, várias vias de
sinalização são recrutadas e ativadas (MINAMISAKO, 2015).
Uma das principais vias é a do NF-κB e a sinalização do
receptor do tipo toll like (TLR) mostrado na figura 3. Após a
administração do irinotecano (antineoplásico), podendo ser
direcionadas pelos inibidores farmacológicos. Estudos
anteriores mostraram que a ativação de NF-κB, (Figura 3) com
produção de citocinas pró-inflamatórias (Logan et al., 2008),
indução da apoptose (Bowen et al., 2012), com inflamação e

557
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO
consequente perda da integridade da barreira mucosa (Al-
Dasooqi et al., 2011a) estão entre os principais agentes
causadores da mucosite induzida por irinotecano.

Figura3: Esquema da fisiopatologia (a) da mucosite intestinal,


mostrando seus estágios; (b) ativação geral da via dos TRL’s;
(c) ativação especifica da via de TLR 1 e 2.

Fonte: Adaptado de Sonis (2004), Kim et al (2018), e


modificado por Autores, 2018.

A tabela 1 mostra algumas opções de estudos que pode-


se encontrar nos bancos de dados pesquisados, quando
consultado de acordo comos descritores mencionados neste
estudo. O ácido caféico, como já citado anteriormente, possui
diversas aplicações biológicas, nas nossas pesquisas, sua
aplicabilidade foi em grande maioria nos protocolos de
inflamação, além de sinalizaçãode vias importantes, expressão
gênica, e produtos do processo inflamatório, e molécula atuante
558
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO
de sinergismo antifungico (AKIMBO et al., 2018; KUMAR,
BANSAL, 2018; SUN, LIAU, RAN, 2018; AKGUN, OZTURK,
ARTAS, EROL, 2018).
Há também alguns exemplos de estudos realizados com
o modelo de mucosite induzida por antineoplásicos, sobretudo
o 5-Fluoracil (5-FU) ou o Cloridrato de Irinotecano (CPT-11),
pois ambos são os mais utilizados na pratica clinica, porém
pouco relacionada com o ácido caféico.
Quanto aos receptores da família dos TLR’s, os estudos
apontam diversas utilização, mas sua principal características é
o envolvimento também nos processos inflamatórios, estando
diretamente ligado com citocinas pró-inflamatorias, bem como
reconhecedor de detritos celulares gerados a partir da morte
celular, e coadjuvante de vias como a PI3K/AKT relacionada
com autofagia (LIU et al.,2018).

559
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO
Tabela 1. Alguns estudos publicados sobre acido caféico, acido
caféico e receptores Toll-Like e mucosite intestinal, seus
respectivos modelos experimentais.
Autor/ano de Modelo Experimental
Publicação
GAD, A. M. 2018 Efeito do ácido caféico na Nefrotoxidade
induzida por Valproato de sódio em
ratos. Investigação de vias de caspases,
NF-kB, peroxidação lipídica e sistema
antioxidante.
LE, T. et al., 2018 Efeito de compostos fenólicos, dentre
eles o ácido caféico, nas propriedas
físicas e antioxidantes de um gel feito a
partir de cascas de árvore.
LIU, G. L., HAN. N. Modelo de câncer de ovário em cultura
Z., LIU, S. S. 2018 de célula. Efeito do ácido caféico através
da via de NF-kB, p65 .
CHEN, L. et al., Injuria no pulmão causada por LPS
2018 (lipopolissacarídeo). Atividade protetora
do ácido caféico via o complexo
TRLR4/MD2. Avaliação de parâmetros
inflamatórios, citocinas e MPO
(mieloperoxidase)
CHOI, J. H. et al., Modelo de sepse em camundongos. O
2017 derivado do ácido caféico (acido caféico
ciclohexilamina) atua por via dos TRL’s
e proteína kinase IkB reduzindo a
letalidade da sepse.

560
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO
SOUZA, B. R., Úlceras por pressão. Efeito do ácido
SANTOS, J. S., caféico na reeptelização, e envolvimento
COSTA, A. M. nas vias de NF-kB, NOS, COX-2 e na
A. 2018 expressão gênica do Fator Nuclear
eritroide (NRF2).
CHANG, H. et al., Modelo câncer de mama em culturas de
2017 células, interação do ácido caféico,
derivado do própolis, com o receptor
TRL4, vericação das vias de apoptose e
autofagia, em testes in vitro
CHEN, X. X. et al., Modelo de mucosite Intestinal induzida
2018 por 5-Fluoracil (5-FU). Avaliação de um
fenol na melhora do quadro de mucosite,
e possível mecanismo de
quimiotoxidade em células
cancerígenas do câncer de colorretal e
indução da apoptose.
FAKIHA, K. et al., Modelo de mucosite instestinal induzida
2018 por Cloridrato de Irinotecano (CPT-11),
tratada com amitripilina, diminuinação
dos efeitos diarreicos em ratos
Dekanski, D. et al, Toxicidade aguda em camundongos,
2018 efeitos do ácido caféico encapsulado em
nanoparticulas de Dióxido de Titânio.
Fonte: Autoria própria, 2018.

CONCLUSÃO

Revisões literárias possuem importância muito grande


no meio cientifico, uma vez que esse modelo de trabalho,

561
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO
condensa várias estudos sobre um tema específico, e acaba
reunindo informações intrínsecas, de forma rápida e prática.
A terapêutica de várias doenças que afetam a população
brasileira e mundial, é baseada em diversos fármacos que são
conhecidos de forma ampla. Porém a utilização de alguns
medicamentos se torna dificultada, visto que, existe alguns
efeitos colaterais que acabam interferindo no tratamento de
diversas patologias. Assim, vem sendo cada vez mais
necessário a busca por alternativas advindas de produtos
naturais, pois apresentam efeitos menos tóxicosao organismo.
O tratamento para o câncer com a quimioterapia
antineoplásica é dispendioso e, a mucosite advinda desse
processo é um dos principais problemas no tocante da
terapêutica da naeoplasia.
Como foi observado, o acido caféico possui muitas
aplicabilidades, sobretudo na inflamação, consequentemente,
estaria apto a ser utilizado no modelo de mucosite intestinal,
uma vez que o quadro é desencadeado por um processo
inflamatório, porém ainda não estudos publicados
relacionando-os. Além disso as pesquisas demonstraram que o
acido caféico tem como uma das suas vias de ação, a dos
receptores TLR’s, e como exemplificado neste trabalho, os
receptores participam diretamente do processo inflamatório,
consequentemente, expressos e ativados na mucosite
intestinal.
Portanto vê-se no ácido caféico uma nova fonte de
estudos que possam comprovar sua ação na mucosite intestinal
pelas vias dos TLR’s, apesar de poucos estudos publicados
com essa temática, as novas pesquisas acabam gerando uma
pesperctiva de que esse possa desenvolver um fármaco para o

562
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO
tratamento efetivo da mucosite intestinal causada pelo
tratamento de quimioterapia antineoplásica, a partir desse e
outros compostos fenólicos, que por ventura tenham atividade
não testada.
Estudos como esses promovem a intensificação de
propostas e modelos que visem a melhora do tratamento ou
prognóstico de várias doenças, no câncer, os efeitos
indesejados da terapia antineoplásica não iriam interferir no
tratamento da neoplasia, ele não seria interrompido e
consequentemente o sucesso da terapêutica poderia ser mais
eficaz.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGILAN, B. et al. Caffeic Acid Inhibits Chronic UVB‐Induced Cellular


Proliferation Through JAK‐STAT 3 Signaling in Mouse
Skin. Photochemistry and photobiology, v. 92, n. 3, p. 467-474, 2016.
AKGUN, B. et al. Effects of Intrathecal Caffeic Acid Phenethyl Ester (CAPE)
on IL-6 and TNF-α Levels and Local Inflammatory Responses in Spinal
Cord Injuries. Turk Neurosurg, p. 1, 2017.
AKINBO, David Bolaji et al. Phytochemical and anti-inflammatory activities
of aqueous leaf extract of Indian borage (oregano) on rats induced with
inflammation. Cancer Biomarkers, n. Preprint, p. 1-9, 2018.
AL-DASOOQI, N. et al. Emerging evidence on the pathobiology of
mucositis. Supportive care in cancer, v. 21, n. 7, p. 2075-2083, 2013.
ALI, S. et al. Protective aptitude of Periploca hydaspidis Falc against CCl 4
induced hepatotoxicity in experimental rats. Biomedicine &
Pharmacotherapy, v. 105, p. 1117-1132, 2018.
ANDREW ROYLE, J.; RUBENSTEIN, Dustin R. The role of species
abundance in determining breeding origins of migratory birds with stable
isotopes. Ecological Applications, v. 14, n. 6, p. 1780-1788, 2004.
BELMONTE, L. et al. Role of toll like receptors in irritable bowel syndrome:
differential mucosal immune activation according to the disease
subtype. PLoS One, v. 7, n. 8, p. e42777, 2012.

563
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO
BOWEN, J. et al. Expression of TLRs in the rat intestine following
chemotherapy for cancer. Brain, Behavior, and Immunity, v. 26, p. S27,
2012.
BRUNE, K. et al. Multifocal neoplastic precursor lesions associated with
lobular atrophy of the pancreas in patients having a strong family history of
pancreatic cancer. The American journal of surgical pathology, v. 30, n.
9, p. 1067, 2006.
BUFALO, M. C. et al. The immunomodulatory effect of propolis on
receptors expression, cytokine production and fungicidal activity of human
monocytes. Journal of Pharmacy and Pharmacology, v. 66, n. 10, p.
1497-1504, 2014.
CHANG, H. et al. Ethanol extract of propolis and its constituent caffeic acid
phenethyl ester inhibit breast cancer cells proliferation in inflammatory
microenvironment by inhibiting TLR4 signal pathway and inducing
apoptosis and autophagy. BMC complementary and alternative
medicine, v. 17, n. 1, p. 471, 2017.
CHAO NIU, G. et al. Mesenchymal stem cell transplantation improves
chronic colitis-associated complications through inhibiting the activity of toll-
like receptor-4 in mice. BMC gastroenterology, v. 18, n. 1, p. 127, 2018.
CHEN, L. et al. Discovery of caffeic acid phenethyl ester derivatives as
novel myeloid differentiation protein 2 inhibitors for treatment of acute lung
injury. European journal of medicinal chemistry, v. 143, p. 361-375,
2018.
CHEN, X. X. et al. Ellagitannins from Pomegranate Ameliorates 5-
Fluorouracil-Induced Intestinal Mucositis in Rats while Enhancing Its
Chemotoxicity against HT-29 Colorectal Cancer Cells through Intrinsic
Apoptosis Induction. Journal of agricultural and food chemistry, v. 66, n.
27, p. 7054-7064, 2018.
CHOI, J. H. et al. Caffeic Acid Cyclohexylamide Rescues Lethal
Inflammation in Septic Mice through Inhibition of IκB Kinase in Innate
Immune Process. Scientific Reports, v. 7, p. 41180, 2017.
DEKANSKI, D. et al. Acute toxicity study in mice of orally administrated
TiO2 nanoparticles functionalized with caffeic acid. Food and Chemical
Toxicology, v. 115, p. 42-48, 2018.
DEKANSKI, Dragana et al. Acute toxicity study in mice of orally
administrated TiO2 nanoparticles functionalized with caffeic acid. Food and
Chemical Toxicology, v. 115, p. 42-48, 2018.
DUNCAN, M.; GRANT, G. Oral and intestinal mucositis—causes and
possible treatments. Alimentary pharmacology & therapeutics, v. 18, n.
9, p. 853-874, 2003.
FAKIHA, K. et al. Amitriptyline prevents CPT-11-induced early-onset
diarrhea and colonic apoptosis without reducing overall gastrointestinal

564
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO
damage in a rat model of mucositis. Supportive Care in Cancer, p. 1-8,
2018.
GAD, A. M. Study on the influence of caffeic acid against sodium valproate–
induced nephrotoxicity in rats. Journal of biochemical and molecular
toxicology, v. 32, n. 8, p. e22175, 2018.
GARCÍA-MEDIAVILLA, V. et al. The anti-inflammatory flavones quercetin
and kaempferol cause inhibition of inducible nitric oxide synthase,
cyclooxygenase-2 and reactive C-protein, and down-regulation of the
nuclear factor kappaB pathway in Chang Liver cells. European journal of
pharmacology, v. 557, n. 2-3, p. 221-229, 2007.
HALLIWELL, B. Biochemistry of oxidative stress. 2007.
INCA. Incidência de câncer no Brasil. Instituto Nacional de Câncer José
Alencar Gomes da Silva, Rio de Janeiro: INCA, 122 p, 2015.
KACZMAREK, A.; VANDENABEELE, P.; KRYSKO, D. V. Necroptosis: the
release of damage-associated molecular patterns and its physiological
relevance. Immunity, v. 38, n. 2, p. 209-223, 2013.
KIM, J. et al. Phloretin as a Potent Natural TLR2/1 Inhibitor Suppresses
TLR2-Induced Inflammation. Nutrients, v. 10, n. 7, p. 868, 2018.
KIM, S. Y. et al. Suppression of Toll‐like receptor 4 activation by caffeic acid
phenethyl ester is mediated by interference of LPS binding to MD2. British
journal of pharmacology, v. 168, n. 8, p. 1933-1945, 2013.
KRYSKO, Dmitri V. et al. Immunogenic cell death and DAMPs in cancer
therapy. Nature Reviews Cancer, v. 12, n. 12, p. 860, 2012.
KUMAR, M.; BANSAL, N. Caffeic acid phenethyl ester rescued
streptozotocin-induced memory loss through PI3-kinase dependent
pathway. Biomedicine & Pharmacotherapy, v. 101, p. 162-173, 2018.
LAHLOU, M. The success of natural products in drug
discovery. Pharmacol Pharm, v. 4, n. 3A, p. 17-31, 2013.
LE, T. et al. Influence of Various Phenolic Compounds on Properties of
Gelatin Film Prepared from Horse Mackerel Trachurus japonicus
Scales. Journal of food science, 2018.
LIU, G. L.; HAN, N. Z.; LIU, S. S. Caffeic acid phenethyl ester inhibits the
progression of ovarian cancer by regulating NF-κB signaling. Biomedicine
& Pharmacotherapy, v. 99, p. 825-831, 2018.
LIU, Y. D. et al. Toll-like receptor 2 stimulation promotes colorectal cancer
cell growth via PI3K/Akt and NF-κB signaling pathways. International
immunopharmacology, v. 59, p. 375-383, 2018.
LOGAN, R M. et al. Characterisation of mucosal changes in the alimentary
tract following administration of irinotecan: implications for the pathobiology
of mucositis. Cancer chemotherapy and pharmacology, v. 62, n. 1, p. 33-
41, 2008.

565
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO
LOPETUSO, L. R. et al. Epithelial-specific Toll-like receptor (TLR) 5
activation mediates barrier dysfunction in experimental ileitis. Inflammatory
bowel diseases, v. 23, n. 3, p. 392-403, 2017.
MINAMISAKO, M. o et al. Estudo comparativo de diferentes protocolos de
laser terapia na ação analgésica e no reparo da mucosite oral radio
induzida associada ou não à quimioterapia. 2015.
MOLNÁR, K. et al. The role of intestinal alkaline phosphatase in pediatric
inflammatory bowel and celiac diseases. Orvosi hetilap, v. 153, n. 35, p.
1389-1395, 2012.
RIBEIRO, R. A. et al. Irinotecan-and 5-fluorouracil-induced intestinal
mucositis: insights into pathogenesis and therapeutic perspectives. Cancer
Chemother Pharmacol, v. 78, p. 881-93, 2016.
SCULLY, C.; SONIS, S.; DIZ, P. D. Oral mucositis. Oral diseases, v. 12, n.
3, p. 229-241, 2006.
SONIS, S. T. The pathobiology of mucositis. Nature Reviews Cancer, v. 4,
n. 4, p. 277, 2004.
SOUZA, R. B.; DOS SANTOS, J. S.; COSTA, M. A. A. Caffeic acid
phenethyl ester promotes wound healing of mice pressure ulcers affecting
NF-κB and NOS2 and NRF2 expression. Life sciences, 2018.
SPEZZIA, S. Mucosite oral. Journal of Oral Investigations, v. 4, n. 1, p.
14-18, 2016.
SUN, L.; LIAO, K.; HANG, C. Caffeic acid phenethyl ester synergistically
enhances the antifungal activity of fluconazole against resistant Candida
albicans. Phytomedicine, v. 40, p. 55-58, 2018.
TAN, D. S. P. et al. Triple negative breast cancer: molecular profiling and
prognostic impact in adjuvant anthracycline-treated patients. Breast cancer
research and treatment, v. 111, n. 1, p. 27-44, 2008.
WANG, G. F. et al. Anti-hepatitis B virus activity of chlorogenic acid, quinic
acid and caffeic acid in vivo and in vitro. Antiviral research, v. 83, n. 2, p.
186-190, 2009.
WARDILL, H. R.; BOWEN, J. M.; GIBSON, R. J. Chemotherapy-induced
gut toxicity: are alterations to intestinal tight junctions pivotal?. Cancer
chemotherapy and pharmacology, v. 70, n. 5, p. 627-635, 2012.
WINAWER, S. J. et al. Colorectal cancer screening: clinical guidelines and
rationale. Gastroenterology, v. 112, n. 2, p. 594-642, 1997.
WONG, D. V. T et al. The adaptor protein Myd88 is a key signaling
molecule in the pathogenesis of irinotecan-induced intestinal
mucositis. PloS one, v. 10, n. 10, p. e0139985, 2015.
WORLD HEALTH ORGANIZATION et al. WHO guidelines for screening
and treatment of precancerous lesions for cervical cancer prevention:
supplemental material: GRADE evidence-to-recommendation tables and
evidence profiles for each recommendation. 2013.

566
EFEITO PROTETOR DO ÁCIDO CAFÉICO NA MUCOSITE INTESTINAL
INDUZIDA POR ANTINEOPLASICOS: ENVOLVIMENTOS DA VIA DOS
RECEPTORES TLR’S, UMA REVISÃO
YIĞIT, U. et al. Is caffeic acid phenethyl ester more protective than
doxycycline in experimental periodontitis?. Archives of oral biology, v. 81,
p. 61-68, 2017.

567
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS
COM LPS
CAPÍTULO 29

ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA
MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS COM LPS
Deyse Cristina Madruga CARVALHO1
Luiz Henrique Agra CAVALCANTE-SILVA2
Éssia de Almeida LIMA1
Luís Eduardo Menezes QUINTAS3
Sandra RODRIGUES-MASCARENHAS4
1
Doutoranda do Programa Multicêntrico de Pós-graduação em Ciências Fisiológicas, UFPB;
2
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Produtos naturais e Sintéticos, UFPB;
3
Coorientador/Professor do Instituto de Ciências Biomédicas/UFRJ;
4
Orientadora/Professora do Centro de Biotecnologia/UFPB.
deysecmc@gmail.com

RESUMO: Os esteroides cardiotônicos são conhecidos por


serem capazes de inibir a Na+/K+-ATPase e desempenhar
várias atividades biológicas, incluindo atividade anti-
inflamatória. Ainda não há relatos na literatura sobre o papel da
marinobufagina, um esteroide cardiotônico endógeno, no
processo inflamatório. Dessa forma, o objetivo desse trabalho
foi avaliar o efeito anti-inflamatório da marinobufagina em
modelo de cultura de macrófagos peritoneais estimulados com
lipopolissacarídeo (LPS) in vitro. Para isso, os macrófagos
isolados da cavidade peritoneal de camundongos foram
cultivados em placas 96 poços e foram tratados com a
marinobufagina (10, 100 e 1000 nM), na presença ou ausência
de LPS por um período de 24 horas. Em seguida, foi realizada
a análise da citotoxicidade pelo método do MTT e os
sobrenadantes foram recolhidos para determinação do óxido
nítrico (NO) pelo método de Griess e quantificação das citocinas
(IL-6 e TNF-α) por ELISA. Observou-se que as diferentes

568
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS
COM LPS
concentrações da marinobufagina não interferiram na
viabilidade dos macrófagos peritoneais. Além disso, o LPS foi
capaz de aumentar os níveis de NO e das citocinas pró-
inflamatórias avaliadas. Por outro lado, tratamento com a
marinobufagina foi capaz de reduzir a produção desses
mediadores inflamatórios nos macrófagos estimulados com o
LPS. Portanto, a partir da análise dos resultados, pode-se
sugerir que a marinobufagina possui papel anti-inflamatório in
vitro.
Palavras-chave: Esteroides cardiotônicos. Imunomodulação.
Inflamação.

INTRODUÇÃO

A marinobufagina é uma substância que faz parte do


grupo dos esteroides cardiotônicos, tradicionalmente
conhecidos como digitálicos. Esses compostos apresentam a
capacidade de se ligar e inibir a Na+/K+-ATPase e por esse
mecanismo, aumentar o inotropismo cardíaco (FONTANA,
2013). Além disso, vários trabalhos vem relatando que esses
esteroides desempenham várias atividades biológicas, como a
atividade anti-tumoral, anti-proliferativa e anti-inflamatória
(CHOU et al., 2018; GALVÃO et al., 2017; LEITE et al., 2015;
LIMA, 2016; MACHADO et al., 2018).
Posteriormente descrita como uma substância endógena
presente em mamíferos (BAGROV et al., 1998), a
marinobufagina é um esteroide originalmente isolado do veneno
do sapo Bufo marinus (atualmente denominado Rhinella
marina) (BAGROV, 1995). Assim como outros esteroides
cardiotônicos, a marinobufagina foi encontrada em tecidos,
como no cérebro e glândulas suprarrenais e em fluidos

569
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS
COM LPS
corporais, como no plasma, urina e no líquido cefalorraquidiano
(FEDOROVA et al., 2002).
Os esteroides cardiotônicos endógenos, como a
marinobufagina e a ouabaína, podem ser identificados no
plasma humano em concentrações de picomolares a
nanomolares e pelo fato de serem sintetizados pela adrenal e
hipotálamo e por estarem envolvidos na fisiologia do organismo,
como substâncias natriuréticas e vasoconstrictoras, são
consideradas hormônios esteroidais (BAGROV; SHAPIRO;
FEDOROVA, 2009; SCHONER et al., 2003).
A secreção da marinobufagina e da ouabaína são
estimuladas pelo aumento da concentração plasmática de
sódio, volume extracelular, angiotensina II e hormônio
adrenocorticotrófico. Diversas evidências demonstram que as
secreções desses dois esteroides podem se alterar de acordo
com o estado fisiológico ou patológico em que se encontra o
organismo, uma vez que foram encontrados níveis aumentados
de marinobufagina e ouabaína em pacientes hipertensos,
pacientes com insuficiência cardíaca e em mulheres grávidas
(FEDOROVA et al., 2005; PACZULA; WIECEK; PIECHA, 2016;
SCHONER et al., 2003). Adicionalmente, estudos sugerem que
os esteroides cardiotônicos desempenham atividade
imunomoduladora (LEE et al., 2018; LEITE et al., 2015). Dessa
forma, essas substâncias têm sido bastante estudadas por suas
capacidades em interferir em mecanismos regulatórios da
homeostasia do organismo.
O sistema imunológico é constituído por uma rede de
órgãos, células e moléculas que são capazes de manter ou
reestabelecer a homeostasia do organismo. Esse sistema,
entre várias outras funções, desempenha um papel

570
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS
COM LPS
fundamental no reconhecimento rápido e eliminação de
microrganismos patogênicos por diferentes processos, como a
indução da inflamação (BRODIN; DAVIS, 2017; COTA;
MIDWINTER, 2015). A inflamação é definida como uma
resposta fisiológica que pode ser desencadeada, dentre outros
estímulos, por padrões moleculares associados a patógenos
(PAMPs) ou danos (DAMPs) (CAVALCANTE-SILVA et al.,
2017; MEDZHITOV, 2008). Além disso, o processo inflamatório
pode também ser compreendido como uma resposta de
adaptação ao mal funcionamento de tecidos ou desequilíbrio
homeostático. Portanto, a inflamação é uma resposta
imunológica reconhecida como um processo benéfico, capaz de
estabelecer a homeostasia do organismo. No entanto, quando
o processo inflamatório está desregulado, pode tornar-se
prejudicial e contribuir para o desenvolvimento de diversas
doenças, tais como, artrite reumatoide, asma, câncer,
hipertensão, obesidade, entre outras (COX; WEST; CRIPPS,
2015; DIAKOS et al., 2014; GALVÃO et al., 2017; MCMASTER
et al., 2015).
Durante o processo inflamatório, vários mediadores são
liberados desencadeando sinais mediados por várias
substâncias, como o óxido nítrico (NO). O NO é um gás solúvel
produzido por diversos tipos celulares, tais como, células do
sistema imunológico, células endoteliais e neurais, entre outras.
Esse gás é sintetizado pela ação da sintase do óxido nítrico
(NOS), na qual catalisa a reação de oxidação de um dos
nitrogênios do aminoácido L-arginina, convertendo-o em L-
citrulina e óxido nítrico (RATH et al., 2014; TRIPATHI, 2007).
Está descrito na literatura que existem três isoformas da NOS:
a neuronal (nNOS), a endotelial (eNOS) e a induzível (iNOS), e

571
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS
COM LPS
é essa última que está envolvida nas respostas imunológicas
(MARLETTA, 1994; MONCADA; PALMER; HIGGS, 1991). O
NO produzido por macrófagos ativados, é liberado em grandes
quantidades e desenvolve uma reação inflamatória por levar a
um aumento na síntese de mediadores pró-inflamatórios, como
as citocinas (LOK et al., 2016).
Citocinas são substâncias pleiotrópicas e fontes solúveis
de sinais reguladores, sendo produzidas por células do sistema
imunológico e outros tipos celulares. Essas proteínas regulam
o início, a manutenção e o término das reações inflamatórias
pela modulação das células do sistema imunológico (ABBAS;
LICHTMAN; PILLAI, 2015). Dessa forma, são determinantes no
processo de migração celular e para os efeitos sistêmicos
durante uma inflamação aguda. Entre as citocinas envolvidas
em processos inflamatórios, destacam-se a interleucina 6 (IL-6)
e o fator de necrose tumoral α (TNF-α) (LACY; STOW, 2011).
O nível sistêmico da IL-6 está relacionado com a
gravidade de doenças, tais como, obesidade, diabetes e vários
tipos de câncer (DMITRIEVA et al., 2016). Assim, essa citocina
está envolvida em vários processos inflamatórios e desenvolve
suas ações ao interagir com um receptor presente na
membrana (IL-6Ra) que está ligado a via de sinalização JAK-
STAT. Essa via de sinalização ativada, por sua vez, regula a
expressão de genes responsáveis pela proliferação celular,
angiogênese e apoptose (WANG et al., 2013).
O TNF-α desenvolve importante papel no processo
inflamatório, pois está envolvido na indução da expressão
endotelial de moléculas de adesão ICAM-1 e VCAM-1; ativação
de neutrófilos e macrófagos, aumento da permeabilidade
vascular, além de atuar como um fator de crescimento para

572
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS
COM LPS
fibroblastos e angiogênese (SHERWOOD; TOLIVER-KINSKY,
2004). Além disso, o TNF-α é capaz de ativar a via das
proteínas quinases ativadas por mitógeno (MAPK),
representada pelas vias da ERK1/2, ERK5, JNK e p38. Essas
proteínas, por sua vez, são capazes de ativar fatores de
transcrição, como exemplo o NF-kB, que regulam a transcrição
de genes inflamatórios (KALLIOLIAS; IVASHKIV, 2016;
NENNIG; SCHANK, 2017).
Nosso grupo vem demonstrando a capacidade da
ouabaína em atuar como uma substância anti-inflamatória
(CAVALCANTE-SILVA et al., 2017); por reduzir migração de
células para o sítio inflamado sob vários estímulos, como
zimosan (LEITE et al., 2015), concanavalina A (DE
VASCONCELOS et al., 2011) e Leishmania amazonensis
(JACOB et al., 2013); inibir citocinas pró-inflamatórias, como IL-
1β e TNF-α; reduzir a atividade da MAPK p38 e do fator de
transcrição NF-kB (RODRIGUES-MASCARENHAS et al., 2008,
2009 e 2014) e modular negativamente o processo inflamatório
pulmonar, pela redução na migração eosinofílica, citocinas do
perfil Th2 e atenuação da produção de muco nos bronquíolos
(GALVÃO et al., 2017). Enquanto a ouabaína possui vários
estudos sobre seu efeito na inflamação, ainda não há relatos na
literatura sobre o papel da marinobufagina nesse aspecto.
Nesse contexto, o objetivo desse trabalho foi analisar o efeito
da marinobufagina em culturas de macrófagos peritoneais
estimuladas com LPS, através da análise da viabilidade celular,
NO e citocinas inflamatórias.

MATERIAIS E MÉTODOS

573
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS
COM LPS
Animais

Para a realização deste trabalho, os protocolos


experimentais foram aprovados pela Comissão de Ética no Uso
de Animais (CEUA/UFPB) com o registro número 125/2016. Na
realização dos experimentos foram utilizados camundongos
Swiss albino fêmeas com peso corporal entre 25 e 35g. Os
animais foram fornecidos pelo biotério Prof. Thomas George da
Universidade Federal da Paraíba e mantidos com livre acesso
a água e a uma dieta controlada a base de ração do tipo pellets
em uma sala com temperatura entre 24 ± 1 °C e ciclos
claro/escuro de 12 horas.

Obtenção e preparação da marinobufagina

A marinobufagina foi purificada a partir do veneno dos


sapos Rhinella schneideri (sapo cururú) no Instituto de Ciências
Biomédicas (ICB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). O extrato bruto foi obtido de 360 espécimes (sapo
cururu) capturados em Brasília, Distrito Federal, e Bacabal,
Maranhão (licença IBAMA/RAN nº. 097/06 - Processo
02010.000832/04-74).
Após o procedimento de purificação, o composto isolado
(marinobufagina) foi submetido as análises por infravermelho e
ressonância magnética nuclear (AMARAL, 2011). Na
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a amostra foi
solubilizada em dimetilsulfóxido (DMSO) em uma concentração
de 5 mg/mL e armazenada no freezer (-20 ºC).

Cultura de macrófagos

574
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS
COM LPS

Para realização dos experimentos foram utilizados


macrófagos peritoneais de camundongos Swiss albino. Para
isso, os animais foram estimulados previamente com uma
injeção intraperitoneal de 2 mL de tioglicolato (Sigma-Aldrich) a
4%. Quatro dias após o procedimento, os animais foram
eutanasiados por deslocamento cervical e a cavidade peritoneal
lavada com 5 mL de meio PBS (salina tamponada com fosfato)
gelado. A suspensão de células obtida a partir da lavagem
peritoneal foi, em seguida, centrifugada a 1500 rpm durante 5
minutos a 4 °C. O sobrenadante, posteriormente, rejeitado e o
pellet ressuspenso em 2 mL de meio RPMI-1640 completo
(Gibco) (estreptomicina: 10 mg/mL, penicilina: 6 mg/ml, e
canamicina: 2 mg/mL), suplementado com 10% de soro fetal de
bovino (SFB) (Gibco). A viabilidade celular foi determinada
utilizando o corante Azul de Tripan com o auxílio de uma
câmara de Neubauer.
As células peritoneais foram semeadas em placas de 96
poços a uma concentração de 4×105 células/poço em um
volume final de 200 μL e incubados overnight (18 h) com meio
de cultura suplementado com SFB em estufa de CO2 (atmosfera
de 5% de CO2 a 37°C). Em seguida, as células não aderentes
foram removidas por aspiração e as células remanescentes
foram estimuladas com lipopolissacarídeo (LPS) na
concentração de 1 μg/mL e tratadas com diferentes
concentrações da marinobufagina (10, 100 e 1.000 nM). Após
24 horas de cultura, as células foram utilizadas para o teste de
viabilidade celular e o sobrenadante foi recolhido para
quantificação dos níveis de NO e citocinas.

575
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS
COM LPS
Análise da viabilidade celular

A viabilidade celular foi determinada através do método


de MTT (brometo de 3-metil-[4-5dimetiltiazol-2-il]-2,5
difeniltetrazólio) descrito por Mosmann (1983). Esse método é
baseado na capacidade das enzimas mitocondriais
(desidrogenases) de células viáveis transformar o sal de
tetrazólio (MTT), de cor amarela, no seu derivado formazan azul
(cor violeta). Dessa maneira, quanto maior a intensidade da cor
violeta, mais células metabolizaram o MTT em cristais de
formazan e assim, maior a viabilidade celular. Sendo assim,
após coleta do sobrenadante, foi adicionado à placa 90 μL de
meio RPMI e 10 μL de MTT a 5 mg/mL e a mesma foi incubada
por 4 h em estufa de CO2. Após isso, o sobrenadante foi
removido e adicionado 100 μL de DMSO para dissolver os
cristais de formazan formados. A viabilidade celular foi
quantificada pela medida da densidade óptica no comprimento
de onda de 570 nm, determinada por um leitor de placas.

Determinação dos níveis de óxido nítrico (NO)

A produção de NO foi quantificada, in vitro, pela dosagem


do seu produto de degradação mais estável, o nitrito, pelo
método colorimétrico indireto conhecido como Reação de
Griess. O reagente de Griess é constituído por 0,1%
naftiletilenodiamino e 1% sulfonamina p-aminobenzeno em
ácido orto-fosfórico 5%. Para esse ensaio foram adicionados 50
μL de reagente de Griess a 50 μL dos sobrenadantes obtidos
da cultura com macrófagos peritoneais murinos deixando reagir

576
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS
COM LPS
durante 10 minutos à temperatura ambiente. A absorbância de
540 nm foi determinada utilizando um leitor de placas.

Ensaio imunoenzimático para dosagem de citocinas

As citocinas IL-6 e TNF-α presentes no sobrenadante da


cultura de macrófagos peritoneais foram quantificadas pelo
método do ELISA sanduíche (BIOSCIENCE, Inc. Science
Center Drive, San Diego, CA-USA). Nesse método, o anticorpo
para um antígeno específico, chamado de anticorpo de
captura é, inicialmente, adsorvido no poço da placa de 96
poços. Após isso, a amostra com o antígeno (sobrenadante da
cultura) é adicionada e se liga a esse anticorpo. Logo após, é
adicionado outro anticorpo específico para o antígeno,
chamado anticorpo de detecção e em seguida, é adicionada a
enzima, que irá reagir com o substrato adicionado, gerando
cor. A intensidade da coloração é proporcional à quantidade de
antígeno presente. A absorbância de 450 nm foi determinada
utilizando um leitor de microplacas.

Análise estatística

Todos os dados foram expressos como media ± e.p.m e


analisados pelo software GraphPad Prism 7.0 usando análise
de variância one-way (ANOVA) seguida pelo pós-teste de
Tukey. Os resultados foram considerados estatisticamente
significantes quando p < 0,05.

RESULTADOS

577
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS
COM LPS
Citotoxicidade da marinobufagina em macrófagos
peritoneais

Como mostrado na figura 1, os macrófagos peritoneais


tratados com a marinobufagina, na ausência ou presença de
LPS, não demonstraram alteração da viabilidade celular nas
diferentes concentrações da substância (10, 100 e 1000 nM),
quando comparados ao grupo controle (meio de cultura).

Figura 1. Efeito da marinobufagina na viabilidade de


macrófagos peritoneais

O gráfico representa a densidade óptica de absorbância do


formazan de acordo com os diferentes grupos de tratamento. Os dados
numéricos foram apresentados em média ± e.p.m. de dois experimentos
em triplicata.

578
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS
COM LPS
Produção de óxido nítrico na cultura de macrófagos
peritoneais

De acordo com os nossos dados, foi observado que os


macrófagos peritoneais estimulados com o LPS (1 μg/mL)
foram ativados, pois aumentaram a produção de NO em
comparação com o grupo controle, demonstrando a
funcionalidade do modelo. O tratamento com a marinobufagina
nas concentrações de 10, 100 e 1000 nM foram capazes de
reduzir 32%, 30% e 31% os níveis desse mediador em relação
ao grupo LPS, respectivamente. Além disso, o tratamento
apenas com a substância, na ausência do LPS, não alterou os
níveis da produção basal do NO, em comparação ao grupo
controle (Figura 2).

Figura 2. Efeito da marinobufagina nos níveis de NO em


macrófagos peritoneais com o estímulo do LPS
O gráfico representa as concentrações de nitrito de acordo com os grupos

de tratamento. Os dados numéricos foram apresentados em média ± e.p.m.


de dois experimentos em triplicata. # p<0,05 significativo em relação ao
grupo controle. * p<0,05 significativo em relação ao grupo LPS.

579
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS
COM LPS

Níveis de citocinas pró-inflamatórias na cultura de


macrófagos

Os macrófagos estimulados com LPS apresentaram


aumento significativo das citocinas pró-inflamatórias IL-6 e
TNF-α, em comparação com o grupo controle. Em relação a IL-
6, o tratamento com a marinobufagina nas concentrações de
10, 100 e 1000 nM foi capaz de reduzir em 42%, 30% e 33% os
níveis dessa citocina em comparação ao grupo LPS,
respectivamente (Figura 3a). Em relação ao TNF-α, o
tratamento com a marinobufagina apenas na menor
concentração (10 nM) foi capaz de reduzir em 28% os níveis
dessa citocina, quando comparada ao grupo LPS. As outras
concentrações da marinobufagina (100 e 1000 nM) não
interferiram na produção do TNF-α no sobrenadante de
macrófagos estimulados (Figura 3b). Além disso, o tratamento
apenas com a substância, na ausência do LPS, não alterou os
níveis da produção basal dessas citocinas (IL-6 e TNF-α), em
comparação ao grupo controle.

580
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS
COM LPS
Figura 3. Efeito da marinobufagina sobre os níveis das
citocinas pró-inflamatórias

A . b.

Os dados numéricos foram apresentados em média ± e.p.m. de


dois experimentos em triplicata. # p<0,05 significativo em relação ao grupo
controle. * p<0,05 significativo em relação ao grupo LPS.

DISCUSSÃO

O presente trabalho avaliou o efeito imunomodulador do


esteroide cardiotônico marinobufagina, através da cultura de
macrófagos peritoneiais estimulados com LPS e análise da
citotoxicidade celular, NO e citocinas pró-inflamatórias.
Inicialmente, os macrófagos peritoneais foram utilizados
para a análise da citotoxidade da marinobufagina. Nosso
resultado demonstrou que o tratamento desse esteroide com o

581
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS
COM LPS
estímulo do LPS ou não, foi capaz de manter as células viáveis
em todas as concentrações testadas (Figura 1). Esse resultado
corrobora nossos dados com a ouabaína, no qual esse digitálico
também não altera a viabilidade dos macrófagos (LEITE, 2015).
Vários estudos demonstram que esteroides cardiotônicos em
altas concentrações são capazes de induzir apoptose via
inibição da Na+/K+-ATPase. No entanto, é descrito que em
baixas concentrações (nanomolar), esses esteroides, por sua
vez, induzem proteção contra a apoptose (DE REZENDE
CORREA et al., 2005; FONTANA et al., 2013). Desta forma,
neste trabalho, os efeitos da marinobufagina parecem ser
independentes de morte celular, visto que esse digitálico não
demonstrou efeito citotóxico nas concentrações estudadas.
O LPS é uma endotoxina liberada por bactérias Gram-
negativas. Esse componente está presente na parede celular
dessas bactérias e é reconhecido pelo receptor do tipo toll 4
(TLR4) na superfície celular dos macrófagos. Esta interação
LPS-TLR4, resulta na ativação de uma sinalização intracelular
através principalmente da proteína MyD88. Essa molécula, leva
a ativação da via das proteínas quinases ativadas por mitógeno
(MAPKs) e translocação de fatores de transcrição, os quais
induzem a expressão de vários mediadores como, o NO e
citocinas pró-inflamatórias (XIAOLONG et al., 2014).
Nosso resultado evidenciou que o estímulo do LPS
induziu aumento da liberação de NO em macrófagos
peritoneais. Por sua vez, o tratamento com a marinobufagina
em todas as concentrações, foi capaz de reduzir a produção
desse mediador nos macrófagos estimulados por LPS (Figura
2). Esse resultado, demonstra que a marinobufagina possui
capacidade em modular os níveis de NO in vitro.

582
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS
COM LPS
Diferentemente, a ouabaína nesse modelo não foi capaz de
alterar a produção desse mediador (LEITE, 2012).
O NO e as demais espécies reativas de nitrogênio e
oxigênio, possuem papel fisiológico importante para o
hospedeiro. Esses mediadores estão associados à capacidade
antimicrobiana dos leucócitos a participam diretamente do
processo inflamatório pois, estão envolvidos em dano
celular/tecidual e ativação de diversas vias inflamatórias (FARO
et al., 2014). Dessa forma, a redução do NO pela
marinobufagina é uma evidência da capacidade dessa
substância em modular negativamente o processo inflamatório.
Além do NO, nossos resultados demonstraram que a
estimulação com o LPS foi capaz de aumentar os níveis de IL-
6 e TNF-α. O tratamento da marinobufagina foi capaz de reduzir
a IL-6 (em todas concentrações) e o TNF-α (apenas na
concentração de 10 nM) (Figura 3). Isso possivelmente está
relacionado a sinalização celular ocasionada pela ligação da
marinobufagenina a Na+/K+-ATPase em concentrações
endógenas. Dessa forma, esse resultado demonstra que a
marinobufagina é capaz de modular as citocinas pró-
inflamatórias (IL-6 e TNF-α) in vitro. Esse efeito pode estar
relacionado com a capacidade desse esteroide em atenuar a
atividade da MAPK ERK 1/2, descrita em glioma (LAN et al.,
2018). Adicionalmente, nossos resultados com a oubaína em
modelo in vivo de lesão pulmonar aguda (LPA), demonstra que
esse esteroide também possui capacidade em reduzir essas
duas citocinas (SILVA, 2016).
As citocinas pró-inflamatórias atuam no processo
inflamatório, garantindo que as reações ocorram e que o
estímulo seja eliminado. No entanto, a produção exarcerbada

583
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS
COM LPS
desses mediadores causam ações adversas ao organismo e
assim, o controle na liberação desses elementos é fundamental
para a homeostasia corporal (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI,
2015). Nesse contexto, a redução das citocinas IL-6 e TNF-α
pela marinobufagina demonstra que há evidências de que essa
substância exerça papel imunomodulador.

CONCLUSÃO

Diante da análise dos resultados, pode-se sugerir que


a marinobufagina apresenta potencial anti-inflamatório em
modelo in vitro, pois essa substância demonstrou habilidade em
modular negativamente os níveis de óxido nítrico e citocinas
pró-inflamatórias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABBAS, A. K.; LICHTMAN, H, PILLAI, S. Imunologia Celular e Molecular.


8ª edição. Editora Elsevier, 2015.
AMARALl, L. S. Avaliação do efeito de bufadienolídeos em novas vias
de sinalização intracelular mediadas pela Na+/K+-ATPase.
2011. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
Farmacologia e Química Medicinal, UFRJ, 2011.
BAGROV, A. Y. et al. Effects of two endogenous Na+,K+-ATPase
inhibitors, marinobufagenin and ouabain, on isolated rat aorta. European
Journal of Pharmacology, v. 274, n. 1–3, p. 151–158, 1995.
BAGROV, A. Y. et al. Characterization of a urinary bufadienolide Na+,K+-
ATPase inhibitor in patients after acute myocardial infarction.
Hypertension, v. 31, n. 5, p. 1097-103, 1998.
BAGROV, A. Y.; SHAPIRO, J. I.; FEDOROVA, O. V. Endogenous
cardiotonic steroids: physiology, pharmacology, and novel therapeutic
targets. Pharmacological reviews, v. 61, n. 1, p. 9–38, 2009.
BRODIN, P.; DAVIS, M. M. Human immune system variationNature
Reviews Immunology, 2017.
COTA, A. M.; MIDWINTER, M. J. The immune system. Anaesthesia and
Intensive Care Medicine, 2015.
584
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS
COM LPS
CAVALCANTE-SILVA, L. H. A. et al. Much More than a Cardiotonic Steroid:
Modulation of Inflammation by Ouabain. Frontiers in Physiology, v. 8, n.
10, p. 1–8, 2017.
CHOU, W. H. et al. Ouabain Induces Apoptotic Cell Death Through
Caspase- and Mitochondria-dependent Pathways in
Human Osteosarcoma U-2 OS Cells. Anticancer Research, v.38, n. 1,
p.169-178, 2018.
COX, A. J.; WEST, N. P.; CRIPPS, A. W. Obesity, inflammation, and the
gut microbiota.The Lancet Diabetes and Endocrinology, 2015.
DE REZENDE CORREA, G. et al. Ouabain induces na increase of retinal
ganglion cell survival in vitro: the involvement of protein kinase C. Brain
Research, v. 1049, n. 1, p. 89-94, 2005.
DE VASCONCELOS, D. I. et al. Anti-inflammatory and antinociceptive
activity of ouabain in mice. Mediators of Inflammation, v. 2011, p. 1-11,
2011.
DIAKOS, C. I. et al. Cancer-related inflammation and treatment
effectiveness.The Lancet Oncology, 2014.
DMITRIEVA, O. S. et al. Interleukins 1 and 6 as Main Mediators of
Inflammation and Cancer. Biochemistry. Biokhimii︠a︡, v. 81, n. 2, p. 80–90,
2016.
FARO, M. L. et al. Hydrogen sulfide and nitric oxide interactions in
inflammationNitric Oxide, Biology and Chemistry, v. 41, p. 38-47, 2014.
FEDOROVA, O. V et al. Marinobufagenin, an Endogenous α-1 Sodium
Pump Ligand, in Hypertensive Dahl Salt-Sensitive Rats. Hypertension, v.
37, n. 2, p. 462–466, 2001.
FEDOROVA, O. V. et al. Endogenous ligand of α1 sodium pump,
marinobufagenin, is a novel mediator of sodium chloride-dependent
hypertension. Circulation, v. 105, n. 9, p. 1122–1127, 2002.
FEDOROVA, O. V et al. Brain ouabain stimulates peripheral
marinobufagenin via angiotensin II signalling in NaCl-loaded Dahl-S rats.
Journal of hypertension, v. 23, n. 8, p. 1515–23, 2005.
FONTANA, J. M. et al. Calcium oscillations triggered by cardiotonic
steroids. The Federation of European Biochemical Societies, v. 280, n. 21,
n. 5450-5455, 2013.
GALVÃO, J. G. F. M. et al. Ouabain attenuates ovalbumin-induced airway
inflammation. Inflammation Research, v. 66, n. 12, p. 1117–1130, 2017.
JACOB, P. L. et al. Immunomodulatory activity of ouabain in Leishmania
leishmania amazonensis-infected Swiss mice. Parasitology Research,
v. 112, n. 3, p. 1313-1321, 2013.
KALLIOLIAS, G. D.; IVASHKIV, L. B. TNF biology, pathogenic mechanisms
and emerging therapeutic strategies. Nature Reviews Rheumatology,
2016.

585
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS
COM LPS
LACY, P.; STOW, J. L. Cytokine release from innate immune cells:
association with diverse membrane trafficking pathways. Blood, v. 118, n.
1, p. 9-18, 2011.
LAN, Y. L. et al. Marinobufagenin inhibits glioma growth through sodium
pump α1 subunit and ERK signaling-mediated mitochondrial apoptotic
pathway. Cancer Medicine, 2018.
LEE, J. et al. Digoxin ameliorates autoimmune arthritis via suppression of
Th17 differentiation. International Immunopharmacology, 2015.
LEITE, J. A. Atividade imunomoduladora da ouabaína no processo
inflamatório agudo. 2012. 131 f. Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos.
Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, 2012. il.
LEITE, J. A. et al. Ouabain Modulates Zymosan-Induced Peritonitis in Mice.
Mediators of Inflammation, v. 2015, p. 1-12, 2015.
LIMA, D. J. B. Estudo da atividade anticâncer da marinobufagenina,
um bufadienolídeo extraído de anfíbios da espécie Rhinella marina.
2016. 92 f. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em
Farmacologia. Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2016.
LOK, H. C. et al. A nitric oxide storage and transport system that protects
activated macrophages from endogenous nitric oxide cytotoxicity. Journal
of Biological Chemistry, 2016.
MACHADO, K.D.C. et al. Marinobufagin, a molecule from poisonous frogs,
causes biochemical, morphological and cell cycle changes in human
neoplasms and vegetal cells. Toxicology letters, v.15, n. 285, p. 121-131,
2018.
MARLETTA, M.A. Nitric oxide synthase: aspects concerning structure and
catalysis. Cell, v. 78, p. 927-930, 1994.
MCMASTER, W. G. et al. Inflammation, Immunity, and Hypertensive
End-Organ DamageCirculation Research, 2015.
MEDZHITOV, R. Origin and physiological roles of inflammation. Nature, v.
454, n. 7203, p. 428-35, 2008.
MONCADA S.; PALMER R. M.; HIGGS E. A. Nitric oxide: physiology,
pathophysiology and pharmacology. Pharmacological Reviews, v. 43, n.
2, p. 109-42, 1991.
NENNIG, S. E.; SCHANK, J. R. The role of NFkB in drug addiction: Beyond
inflammation. Alcohol and Alcoholism, 2017.
PACZULA, A.; WIĘCEK, A.; PIECHA, G. The role of endogenous
cardiotonic steroids in pathogenesis of cardiovascular and renal
complications of arterial hypertension. Postepy Higieny i Medycyny
Doswiadczalnej, v. 70, p. 243–250, 2016.
RATH, M. et al. Metabolism via arginase or nitric oxide synthase: Two

586
ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA MARINOBUFAGINA EM MACRÓFAGOS
PERITONEAIS ESTIMULADOS
COM LPS
competing arginine pathways in macrophages. Frontiers in Immunology,
2014.
RODRIGUES-MASCARENHAS, S. et al. Ouabain inhibits p38 activation in
thymocytes. Cell Biology International, v. 32, n. 10, p. 1323-1328, 2008.
RODRIGUES-MASCARENHAS, S. et al. Modulation of the immune system
by ouabain. Annals of the New York Academy of Sciences, v. 1153, n.1,
p. 153-163, 2009.
RODRIGUES-MASCARENHAS, S. et al. Eff ect of ouabain on NFκB and p-
38 activation in macrophages: a new biotechnological application. BMC
Proceedings, v. 8, n. 4, p. 1-2, 2014.
SCHONER, W. et al. Ouabain as a mammalian hormone. Annals of the
New York Academy of Science, v. 986, n.1, p. 678-84, 2003.
SHERWOOD, E. R.; TOLIVER-KINSKY, T. Mechanisms of the
inflammatory response. Best Practice and Research Clinical
Anaesthesiology, v. 18, n. 3, p. 385-405, 2004.
SILVA, J. S. F. Efeito anti-inflamatório da ouabaína em modelo
murinho de lesão pulmonar aguda induzida por LPS. 2016. 103 f.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em produtos
naturais e sintéticos bioativos. Universidade Federal da Paraíba, João
Pessoa, 2016.
TRIPATHI, P. Nitric oxide and immune response. Indian Journal of
Biochemistry and Biophysics. 2007.
XIAOLONG, X. et al. Punicalagin inhibits inflammation in LPS-induced
RAW264.7 macrophages via the suppression of TLR4-mediated MAPKs
and NF-κB activation. Inflammation, v. 37, n. 3, p. 956–965, 2014.
WANG, Y. et al. STAT3 activation in response to IL-6 is prolonged by the
binding of IL-6 receptor to EGF receptor. Proceedings of the National
Academy of Sciences, v. 110, n. 42, p. 16975–16980, 2013.

587
ESTUDO DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA EM AMOSTRAS DE MAÇÃ E
GOIABA POR MEIO DA SECAGEM SOLAR
CAPÍTULO 30

ESTUDO DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA


EM AMOSTRAS DE MAÇÃ E GOIABA POR
MEIO DA SECAGEM SOLAR
Wennia Gomes Moreira1
Katiane Araujo do Bomfim1
Bruna Rocha da Silva1
Amanda Fernandes Dantas1
Jocielys Jovelino Rodrigues2,3
1
Graduandas do curso de Engenharia Ambiental, UFCG; 2 Professor da UATA/ UFCG;
3
Orientador/Professor da UATA /UFCG.
jocielysr@gmail.com

RESUMO: Atualmente as frutas desempenham um papel


fundamental na saúde humana, por serem ricas em nutrientes,
vitaminas e minerais, saudáveis e saborosas, sua procura vem
aumentando cada vez mais. A secagem é uma técnica utilizada
para a remoção da água e outros líquidos contidos no alimento,
podendo alterar as características sensórias e seu valor
nutricional, no entanto preservando a qualidade do mesmo. O
processo está relacionado no geral à temperatura, tempo de
secagem e dimensão do alimento, assim como teor de umidade
e encolhimento do produto. Com a desidratação alguns
nutrientes são perdidos, por exemplo, as vitaminas devido o
tratamento térmico, Em contrapartida o alimento apresenta o
aumento da vida útil, fácil transporte e comercialização, pois o
alimento seco é leve e compacto e permanecem inteiros por
longos períodos. A partir do exposto o objetivo do presente
trabalho foi analisar o processo de secagem em amostras de
maçã e goiaba com geometria cilíndrica e plana através da
transferência de massa. O processo de secagem solar foi
realizado em um protótipo de secador solar de exposição direta
com coletor solar acoplado. O processo de secagem solar
588
ESTUDO DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA EM AMOSTRAS DE MAÇÃ E
GOIABA POR MEIO DA SECAGEM SOLAR
apresentou excelentes resultados, pois o secador solar permitiu
aumentar a temperatura interna da câmara de secagem. As
amostras com geometria cúbica atingiram a umidade de
equilíbrio mais rapidamente.
Palavras-chave: Secagem. Maça. Goiaba.

Introdução

A maçã é um fruto da árvore do gênero Pyrus Malus, de


pele fina e impermeável, comercializada como fruta fresca,
sabor agridoce, ácido ou farináceo, dependendo da espécie, e
de polpa homogênea. Um fruto com elevado teor de água que
sofre alterações bioquímicas durante o amadurecimento. A
mesma é capaz de ser desidratada, pois apresenta boa textura,
alto teor de açúcares e está pronta para o consumo. Por possuir
alto teor de potássio e por produzir boas quantidades de fibras,
é indicada para a prevenção de doenças cardíacas e para
dietas alimentares (QUEIROGA, 2012; SHISHIR; CHEN, 2017;
LI; CHEN, 2017).
A maçã é originária da Ásia Central, precisamente na
região do Sul do Cáucaso, uma das frutas mais antigas da
humanidade, sendo encontradas sementes fossilizadas que
mostram a existência deste fruto no período da pré-história. Em
termos de composição, além da água a maçã apresenta
carboidratos, estando o açúcar presente em maior quantidade
a 5% frutose, 2,6% glicose e 1,7% sacarose, também possui
minerais e vitaminas, como a vitamina C, altamente perecível,
por isso devem ser refrigeradas ou processadas o mais rápido
possível para diminuir as perdas (QUEIROGA, 2012).
A goiaba (Psidium guajava) está entre as frutíferas mais
cultivadas da América latina que abrange os comércios internos
e externos. São frutos baciformes, de formado ovoide, que

589
ESTUDO DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA EM AMOSTRAS DE MAÇÃ E
GOIABA POR MEIO DA SECAGEM SOLAR
apresenta casca fina, lisa, de cor esverdeada quando imaturas,
e amareladas quando maduras, sua polpa é frágil de cor
vermelha ou branca de acordo com sua variante, de sabor
característico, apresentando inúmeras sementes pequenas,
firmes, de cor amarelada (HAIDA, 2015; OLIVEIRA; SILVA,
2004; OSORIO; CARRIAZO, 2011).
Em geral, o fruto apresenta uma vida de prateleira curta,
um dos motivos principais é a perda da firmeza, que influencia
na redução da qualidade de comercialização. O fruto é bastante
apreciado por apresentar cor, sabor e aroma marcante, sendo
consumido na forma in natura e processado A goiaba tem
grande importância no ponto de vista nutricional e possui ampla
aplicação na indústria, na forma de polpa processada, doces,
geleias, gelatinas, entre outros (BITTENCOURT, 2011;
FRABETTI; DURIGON; LAURINDO, 2018).
A goiaba é da família Myrtaceae. Esta é composta por
mais de 100 gêneros abrangendo um total de 3800 espécies de
arbustos e árvores de coloração esverdeada que ao decorrer
do ano podem atingir 6 m de altura. É uma baga, de polpa
carnosa, sabor doce-acidulada e levemente aromático,
internamente apresenta um mesocarpo de textura firme e 4 a 5
lóculos, cheios por uma massa de consistência pastosa, onde
contém numerosas sementes pequenas e muito duras. Devido
a suas propriedades nutritivas, sensoriais e funcionais possui
uma boa aceitação no mercado. Em geral é indicada para
qualquer tipo de dieta, sendo contraindicado para pessoas com
aparelho digestivo delicado ou que possuem problemas
intestinais (ABREU et al., 2012). Seu consumo se dá tanto in
natura como na forma processada. Por ser um fruto perecível
faz-se necessário a busca por meios de conservação através
de processamento de modo a aumentar sua vida útil.

590
ESTUDO DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA EM AMOSTRAS DE MAÇÃ E
GOIABA POR MEIO DA SECAGEM SOLAR
A vida de prateleira de um produto para a sua
comercialização é de suma importância, para que não ocorra
perda de qualidade, assim é necessário a aplicação de métodos
de conservação. A escolha para aplicação do método é
fundamental, pois o tipo de processamento aplicado poderá
afetar a qualidade do produto. A secagem realizada em frutas,
é mais empregada e eficaz, mostrando eficiência no aumento
da vida de prateleira, permanecendo características inalteradas
como o sabor e redução de volume, propiciando sua
disponibilidade nos mercados para seu consumo (KEK; CHIN;
YUSOF, 2013).
A secagem em alimentos consiste em um processo de
conservação que permite a obtenção de produtos de baixo teor
de umidade de água. Tal conhecimento possibilita prolongar a
vida útil de produto, recomendado para pequenas e médias
agroindústrias, podendo ser aplicada em regiões de clima
quente, com alta taxa de radiação solar (DEFRAEYER; RADU,
2018; DEFRAEYER, 2017).
A secagem natural, por ser a mais convencional e de
baixo custo, favorece o desenvolvimento de pequenos e médios
produtores. O manuseio do equipamento é simples e além dele,
é necessário somente o uso de bandejas para a desidratação e
sistemas protetoras contra insetos. Na desidratação de frutas,
o açúcar natural se concentra com a retirada da água,
conseguindo um sabor e cor acentuado, as frutas com pouco
açúcar apresentam produtos descorados, menos doces e
poucos saborosos, já as frutas muito maduras resultam em
produtos de cor escura por causa da produção de pigmentos
(melanoidinas) com a exposição do ar quente de secagem
(REZAUL; CHEN, 2017).

591
ESTUDO DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA EM AMOSTRAS DE MAÇÃ E
GOIABA POR MEIO DA SECAGEM SOLAR
Em geral, antes do processo de desidratação é
realizado o branqueamento. Este processo consiste em um pré-
tratamento para minimizar o número de microrganismos
contaminantes que estão nas superfícies dos alimentos,
contribuindo com o processo de conservação (WILKINS;
BRUSEY; GAURA, 2018; PEZYBYL et al., 2018;
DEHGHNNYA; HOSSEINLAR; HESHMATI, 2018; FONTENA
et al., 2018).
O estudo do coeficiente de difusão na secagem de frutas
é realizado através das Leis de Fick para transferência de
massa e da equação da continuidade. Transferência de massa
é um fenômeno ocasionado pela diferença de concentração,
maior para menor, de um determinado soluto em certo meio
(INCROPERA et al.; 2008).
A equação da continuidade mássica de um soluto A,
surge do balanço material, a qual flui através das fronteiras de
um elemento de volume eleito no meio contínuo e daquela taxa
que varia no interior desse volume de controle. Realizando-se
um balanço de massa em todas as direções do volume de
controle tem-se:

n A, x x  n A, x
x  x
yz   n A, y y  n A, y xz 

y  y 

n A, z z  n A, z
z  z
xy 
 A
r A''' xyz  xyz
t
O termo rAxyz corresponde à taxa de produção de
massa de A por reação química no interior do elemento de
volume, onde rA é a taxa de produção de A por unidade de
tempo e de volume devido à reação química. O sobrescrito (‘’’)

592
ESTUDO DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA EM AMOSTRAS DE MAÇÃ E
GOIABA POR MEIO DA SECAGEM SOLAR
indica que a reação química ocorre em todos os pontos no
interior do volume de controle (CREMASCO, 2008).
Utilizando a definição de derivada parcial e simplificando
os termos comuns, obtém-se a equação da continuidade
mássica de um soluto A:
 A  n A, x n A, y n A, z  ' ''  A
      rA 
 
t  x y z  t
 n A, x n A, y n A, z 
 
 x  y  z   rA
' ''
 
 A 
   n A  rA'''
t

Esta é a equação da continuidade mássica para o


componente A e representa a variação da concentração
mássica, A, fruto do movimento de A e da sua produção ou
consumo (CREMASCO, 2008).
A equação da continuidade mássica para uma espécie B
é escrita, por analogia, à que foi desenvolvida para a espécie A.
Pela adição das duas equações, pode-se escrever para uma
mistura binária (A+B):

 A  B  
    n A    n B  rA'''  rB'''
t t
Da lei de conservação da massa, rA+rB = 0. Da definição
de propriedades de mistura, sabe-se que a concentração
mássica da solução, , é a soma das concentrações mássicas
dos seus componentes, o que é válido também para o fluxo

593
ESTUDO DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA EM AMOSTRAS DE MAÇÃ E
GOIABA POR MEIO DA SECAGEM SOLAR
mássico, que é escrito como o produto v. Assim, a equação da
continuidade mássica assume a forma:
 
n  0
t
 
   v   0
t
A equação obtida descreve a variação da concentração
mássica da solução referenciada a eixos fixos como
consequência da variação do vetor velocidade mássica
(CREMASCO, 2008; INCROPERA et al.; 2008).
A Segunda Lei de Fick descreve os processos difusivos
em estado não estacionário, Crank (1975) propôs um ajuste
experimental, considerando a razão de umidade para placas
planas:

onde: Xt = umidade em um determinado tempo Xo = umidade


inicial (kg/kg ms); Xe = umidade no equilíbrio (kg/kg ms); Def =
difusividade efetiva (m2 /s); L = meia espessura (m); t = tempo
de processo.
E para a geometria cilíndrica, Brooker (1992) apresenta
a solução analítica:

594
ESTUDO DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA EM AMOSTRAS DE MAÇÃ E
GOIABA POR MEIO DA SECAGEM SOLAR
em que r= raio equivalente (m). (CREMASCO, 2008).

MATERIAL E MÉTODO

As maças e goiabas foram adquiridas em comércio


local da região de Pombal-PB. Os experimentos foram
conduzidos no Laboratório de Operações Unitárias e
Fenômenos de Transporte (LOUFT) da Unidade Acadêmica de
Tecnologia de Alimentos, do Centro de Ciências e Tecnologia
Agroalimentar da Universidade Federal de Campina Grande,
Campus Pombal, Paraíba.
O processo de secagem solar conduziu-se em um
protótipo de secador solar de exposição direta com coletor solar
acoplado.
As frutas foram submetidas a lavagem e posteriormente
a sanitização com 100ppm de cloro ativo por 15 minutos.
Transcorrido o tempo, as amostras de maças foram cortadas
em fatias circulares, com um raio de 2,5 cm, e retangulares, com
comprimento de 2,0 cm. As amostras de goiabas foram
submetidas a cortes nas geometrias, retangular e circular, nas
dimensões 2 cm X 1 cm para a geometria retangular, e de 1 cm
de espessura para a geometria circular. As amostras foram
submetidas a um tratamento térmico, sendo realizado um
branqueamento por 15 segundos em temperatura próxima dos
100 °C para inibir reações enzimáticas.
Em seguida pesaram-se os cestos vazios para tarar a
balança, e pesaram-se as amostras de goiaba e maçã.
Colocou-se o material no interior do secador solar, e a cada
hora verificava-se a temperatura da câmara de secagem e os
cestos eram recolhidos para verificar a perda de massa. A

595
ESTUDO DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA EM AMOSTRAS DE MAÇÃ E
GOIABA POR MEIO DA SECAGEM SOLAR
secagem terminou ao ser constatado, na pesagem das
amostras, massa constante em três pesagens.
A partir dos resultados da massa de sólido úmido obtidos
nos tempos pré-determinados ao longo da corrida de secagem,
determinou-se o teor de umidade das amostras pelas equações
abaixo:
𝑚𝑠𝑢 −𝑚𝑠𝑠
𝑋𝑏𝑠 = 𝑚𝑠𝑠
Onde: msu é a massa em base úmida e mss é a massa em base
seca.
Nas Figuras 1 e 2 estão apresentados os perfis dos
cortes realizados nas amostras de frutas.

Figura 1 - Perfil dos cortes retangulares e circulares das


amostras de goiaba antes da secagem.

Figura 2 - Perfil dos cortes retangulares e circulares das


amostras de maçã antes da secagem.

596
ESTUDO DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA EM AMOSTRAS DE MAÇÃ E
GOIABA POR MEIO DA SECAGEM SOLAR

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nas Figuras 3 e 4 estão apresentados os resultados da


relação entre os valores do teor de água (base seca)
experimental em função do tempo para a secagem das
amostras de goiaba e maçã em geometria cilíndrica e cúbica,
respectivamente.

597
ESTUDO DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA EM AMOSTRAS DE MAÇÃ E
GOIABA POR MEIO DA SECAGEM SOLAR
Figura 3 - Curva de secagem para as amostras de goiaba em
geometria cilíndrica e cúbica.

598
ESTUDO DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA EM AMOSTRAS DE MAÇÃ E
GOIABA POR MEIO DA SECAGEM SOLAR
Figura 4 - Curva de secagem para as amostras de maçã em
geometria cilíndrica e cúbica.

Observa-se que a geometria cúbica proporcionou maior


velocidade de secagem pela transferência de massa,
significando que perdeu água mais rapidamente em relação à
geometria cilíndrica. Diante disso, o corte em cubos apresenta
maior difusividade efetiva.
A Segunda Lei de Fick descreve os processos difusivos
em estado não estacionário, De acordo com Crank (1975) o
ajuste experimental, considerando a razão de umidade para
placas planas apresenta a solução analítica:

599
ESTUDO DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA EM AMOSTRAS DE MAÇÃ E
GOIABA POR MEIO DA SECAGEM SOLAR

onde: Xt = umidade em um determinado tempo Xo = umidade


inicial (kg/kg ms); Xe = umidade no equilíbrio (kg/kg ms); Def =
difusividade efetiva (m2 /s); L = meia espessura (m); t = tempo
de processo.
E para a geometria cilíndrica, Brooker (1992) apresenta
o modelo:

em que r= raio equivalente (m).


Com base nessas equações foi possível verificar a
difusividade para cada tipo de geometria estudada. Para a
goiaba a geometria cilíndrica apresentou difusividade de
0,001653 m2 /s e a cúbica de 0,61 m2 /s. Os resultados obtidos
com a maça mostram valores de difusividade de 0,001500 m2
/s e a cúbica de 0,60 m2 /s.
As amostras de corte circular para goiaba, obtiveram um
tempo maior para atingir o seu peso constante, com tempo de
duração 57% a mais que a geometria retangular. Isso
possivelmente esta entrelaçado ao fato que, a área de
superficial da amostra e a corrente de ar quente, são fatores
que determinam a rapidez do processo de secagem. A
evaporação da umidade do alimento é motivada por diversos
fatores intrínsecos e extrínsecos.
Com relação à curva de secagem, a retirada da
umidade acontece devido à movimentação da água, decorrente
de uma diferença de pressão de vapor d’água, entre a

600
ESTUDO DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA EM AMOSTRAS DE MAÇÃ E
GOIABA POR MEIO DA SECAGEM SOLAR
superfície do produto e o ar quente que circula (SILVA;
AFONSO; DONZELLES, 2000; CASTRO; MAYORGA;
MORENO, 2018; DANTAS et al.; 2018; DATTOLA et al.; 2019;
SHASHIREKHA et al., 2008). Nas primeiras horas, acontece
uma rápida redução do teor de água, caracterizado pela saída
da água livre, presente nas camadas superficiais. A partir da
segunda hora para a geometria cúbica e da terceira hora para
a cilíndrica, o processo tornou-se mais lento, possivelmente
devido à maior dificuldade de perda da água do interior de
ambas as amostras. Quando as curvas atingem a estabilidade,
significa que alcançaram a umidade de equilíbrio para as
condições do sistema de temperatura e umidade do ar isso
pode ser verificado nas Figuras 5 e 6.

Figura 5 - Variações da temperatura da camada, ao longo do


tempo para a as amostras de goiaba.

601
ESTUDO DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA EM AMOSTRAS DE MAÇÃ E
GOIABA POR MEIO DA SECAGEM SOLAR
Figura 6 - Variações da temperatura da camada, ao longo do
tempo para as amostras de maça.

CONCLUSÕES

De maneira geral, com base nos resultados


alcançados, conclui-se que as amostras de maça e goiaba
apresentaram comportamento similar no processo de secagem,
vale salientar que as amostras que apresentavam a geometria
cúbica atingiram a umidade de equilíbrio mais rapidamente.
O processo de secagem solar apresentou elevada
eficiência, pois o equipamento apresenta grande capacidade de
absorver e aumentar a temperatura interna da câmara de
secagem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

602
ESTUDO DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA EM AMOSTRAS DE MAÇÃ E
GOIABA POR MEIO DA SECAGEM SOLAR

ABREU, J. R.; SANTOS, C. D.; ABREU, C. M. P.; CASTRO, E. M.


Histochemistry and morphoanatomy study on guava fruit during ripening.
Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 32, p.179-186, 2012.
BITTENCOURT, C. L. M. Influência da geometria e da temperatura na
cinética de secagem de tomate (Lycopersicum esculentum) Influence of
temperature and geometry in the drying kineticof tomato (Lycopersicum
esculentum). Revista, Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 31, p. 1, 2011.
CASTRO, A. M.; MAYORGA, E. Y.; MORENO, F. L. Mathematical
modelling of convective drying of fruits: A review. Journal of Food
Engineering, v. 223, p. 152-167, 2018.
CRANK, John. The Mathematics of Diffusion: Ed. Oxford, Bristol,1975.
CREMASCO, M. A. Fundamentos de transferência de massa. Editora
Unicamp, São Paulo, 2008.
DANTAS, D.; PASQUALI, M. A.; MATA, M. C.; DUARTE, M. E.; LISBOA,
H. M. Influence of spray drying conditions on the properties of avocado
powder drink. Food Chemistry, v. 266, p. 284-291, 2018.
DATTOLA, A.; SORTINO, G.; VONELLA, V.; ZAPPIA, R.; GULLO, G. Effect
of fruit-set time on the quality performance of Anona cherimola Mill. fruit in
south italy. Scientia Horticulturae, v. 246, p. 272-278, 2019.
DEFRAEYER, T.; RADU, A. Insights in convective drying of fruit by
coupled modeling of fruit drying, deformation, quality evolution and
convective exchange with the airflow. Applied Thermal Engineering, v. 129,
p. 1026-1038, 2018.
DEFRAEYER, T. Impact of size and shape of fresh-cut fruit on the drying
time and fruit quality. Journal of Food Engineering, v. 210. p. 35-41, 2017.
DEHGHNNYA, J.; HOSSEINLAR, S.; HESHMATI, M. K. Multi-stage
continuous and intermittent microwave drying of quince fruit coupled with
osmotic dehydration and low temperature hot air drying. Innovative Food
Science & Emerging Technologies, v. 45, p. 132-151, 2018.
FONTENA, E. J.; PASTENES, C.; GERGICHEVICH, M. G.; FRANCK, N.
Effect of source/sink ratio on leaf and fruit traits of blueberry fruiting canes
in the field. Scientia Horticulturae, v. 241, p. 51-56, 2018.
FRABETTI, A. C. C.; DURIGON, A.; LAURINDO, J. B. Effect of process
variables on the drying of guava pulp by cast-tape drying. LWT, v. 96, p.
620-628, 2018.
HAIDA, K. S. Compostos Fenólicos e Atividade Antioxidante de Goiaba
(Psidium guajava L.) Fresca e Congelada. Revista Fitos Eletrônica, v. 9, p.
37-44, 2015.
INCROPERA, F. P.; DEWITT, D. P.; BERGMAN, T. L.; LAVINE, A.
Fundamentos de transferência de calor e de massa. Editora LTC, Rio de
Janeiro, 2008.

603
ESTUDO DA TRANSFERÊNCIA DE MASSA EM AMOSTRAS DE MAÇÃ E
GOIABA POR MEIO DA SECAGEM SOLAR
KEK, S. P.; CHIN, N. L.; YUSOF, Y. A. Direct and indirect power ultrasound
assisted preosmotic treatments in convective drying os guava slices. Food
and Bioproducts Processing, v. 91, p. 495-506, 2013.
LI, J.; CHEN, J. Citrus Fruit-Cracking: Causes and Occurrence. Horticultural
Plant Journal, v. 3, p. 255-260, 2017.
OLIVEIRA, J. A. S. O.; SILVA, C. D. P. S. LAB Fit Ajuste de Curvas: um
software em português para tratamento de dados experimentais. Revista
Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v.26, p.419-29, 2004.
OSORIO, C.; CARRIAZO, J. G. Thermal and structural study of guava
(Psidium guajava L.) powder obtained b two dehydration methods. Química
Nova, v.34, p.636-640, 2011.
PEZYBYL, K.; GAWALEK, J.; KOSZELA K.; WAWRZYANIAK J.; GIERZ, L.
Artificial neural networks and electron microscopy to evaluate the quality of
fruit and vegetable spray-dried powders. Case study: Strawberry powder.
Computers and Electronics in Agriculture, v. 155, p. 314-323, 2018.
QUEIROGA, P. V. D. M. Estudo da reidratação do feijão Verde
(Vignaunguiculata L. Walp) desidratação por micro-ondas com e sem pré-
tratamento osmótico. Tese (doutorado). Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Natal, 2012.
REZAUL, M.; CHEN, W. Trends of spray drying: A critical review on drying
of fruit and vegetable juices. Trends in Food Science & Technology, v. 65,
p. 49-67, 2017.
SHASHIREKHA, M. N.; BASKARAN, R.; RAO, L. J.; VIJAYALAKSHMI, M.
R.; SOMASUNDARAM, R. Influence of processing conditions on flavour
compounds of custard apple (Annona squamosa L.). Food Science and
Technology, v. 41, p. 236 -243, 2008.
SILVA, J. S.; AFONSO, A. D. L.; DONZELLES, S.M.L. Secagem e
armazenagem de produtos agrícolas. Aprenda Fácil, v.1, p.107-138, 2000.
SHISHIR, M. R. I,; CHEN, W. Trends of spray drying: A critical review
on drying of fruit and vegetable juices. Trends in Food Science &
Technology, v. 65, p. 49-67, 2017.
WILKINS, R.; BRUSEY, J.; GAURA, E. Modelling uncontrolled solar drying
of mango waste. Journal of Food Engineering, v. 237, p. 44-51, 2018.

604
ESTUDOS PARA A PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS E MÉTODOS A
PARTIR DO BETA CARIOFILENO SÃO PROMISSORES? UMA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA
CAPÍTULO 31

ESTUDOS PARA A PRODUÇÃO E


UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS E MÉTODOS A
PARTIR DO BETA CARIOFILENO SÃO
PROMISSORES? UMA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA
André Luis Fernandes LOPES 1
Ana Patrícia de OLIVEIRA 2
Higinalice da Silva PEREIRA 3
Letícia de Sousa CHAVES 4
Gabriella PACHECO 3,5
1
Graduando do curso de Biomedicina, UFPI; 2 Pós- graduanda do programa de doutorado em
Biotecnologia,RENORBIO/UFPI;³ Pós- graduando do programa de mestrado em
Biotecnologia, UFPI; 4 Pós- graduando do programa de mestrado em Ciências Biomédicas,
UFPI; 5 Orientadora/ Integrante do Laboratório de Farmacologia da Inflamação e Desordens
Gastro Intestinais UFPI.
gabrielapachec@gmail.com.br

RESUMO: Os produtos naturais há séculos vêm sendo


utilizados como agentes terapêuticos. Dentre eles, podem ser
citados os terpenos, microcomponentes encontrados em óleos
essenciais de vários vegetais. O β-cariofileno é um
sesquiterpeno bi-ciclico, não-tóxico, de origem vegetal que
apresenta atividades antinflamatória, anticancerígina e anti
oxidante. Reconhecendo sua importância biotecnológica, o
objetivo deste trabalho foi realizar uma prospecção tecnológica
de pedidos de patentes depositados nos bancos de dados
USPTO, WIPO, EPO e INPI sobre a utilização do β-cariofileno.
O levantamento foi realizado em setembro de 2018, sendo
investigados todos os documentos de patentes disponíveis para
consulta até a data de realização pesquisa. Pode-se observar
que há um número relativamente promissor de patentes acerca

605
ESTUDOS PARA A PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS E MÉTODOS A
PARTIR DO BETA CARIOFILENO SÃO PROMISSORES? UMA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA
do β-cariofileno, principalmente na União Europeia. Os dados
encontrados sugerem que o desenvolvimento de estudos e
produtos a partir da utilização do beta cariofileno tem crescido
e que quem possuir interesse em trabalhar com esse produto
deve focar na área relacionada a necessidades humanas,
principalmente na produção de inseticidas, cosméticos e
fármacos. Os resultados demonstraram que os estudos para a
produção de produtos a partir do β-cariofileno, são promissores
dependendo da área da produção.

Palavras-chave: Sesquiterpenos. Produtos Naturais. Patentes.

INTRODUÇÃO

Produtos naturais têm sido, a cada dia, mais amplamente


utilizados para a obtenção de agentes terapêuticos para as
mais diversas patologias (OLIVEIRA et al., 2018; NARANG;
JIRAUNGKOORSKUL, 2016; MZID et al., 2017; EL-HAWARY
et al., 2016). Entre o ano de 1981 a 2014 já foram publicados
pelo menos 1328 artigos referentes a utilização de produtos
naturais para o tratamento de aproximadamente 70 doenças
distintas (NEWMAN, CRAGG, 2016).
Dentre esses produtos podemos citar os sesquiterpenos,
como o β-cariofileno ou cariofileno, um sesquiterpeno bi-ciclico,
não-tóxico, comumente ingerido com alimentos vegetais,
encontrado nos óleos essenciais de especiarias, como canela,
orégano e pimenta preta, e em vários vegetais, como Cannabis
sativa e Copaifera spp. Sua utilização é comum em cosméticos
e como aditivo alimentar (DE LA CRUZ et al, 2013;
KATSUYAMA et al., 2013; FARZAEI et al., 2015; SANTOS et
al., 2018). Estudos já demostraram, por exemplo, a sua

606
ESTUDOS PARA A PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS E MÉTODOS A
PARTIR DO BETA CARIOFILENO SÃO PROMISSORES? UMA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA
atividade apoptótica, anti cancerígena, anti-inflamatória, na
atenuação do estresse oxidativo e antimicrobiana (ABBAS et
al., 2013; KIM et al., 2014; YANG et al., 2017; OJHA et al., 2016;
BINA et al., 2018; DA SILVA et al., 2016)
A prospecção tecnológica pode ser definida como um
meio sistemático de mapear desenvolvimentos científicos e
tecnológicos futuros capazes de influenciar de forma
significativa uma indústria, a economia ou a sociedade como
um todo (KUPFER; TIGRE, 2004).
Diante disso, e tendo em vista as diversas atividades
farmacológicas já encontradas a partir da utilização do Beta-
Cariofileno, este trabalho teve como objetivo realizar uma
prospecção tecnológica a fim de verificar a quantidade de
patentes já depositadas referentes ao Beta-Cariofileno, bem
como analisar se a produção de estudos e produtos a partir
desse composto é considerado um mercado promissor para a
indústria farmacológica.

MATERIAIS E MÉTODO

Esta pesquisa foi realizada tendo por base um


levantamento de pedidos de patentes depositados nos bancos
de dados: United States Patent and Trademark Office (USPTO),
European Patent Office (EPO), World Intellectual Property
Organization (WIPO) e no Banco de dados do Instituto Nacional
de Propriedade Industrial (INPI) do Brasil.
O levantamento foi realizado em novembro de 2018,
sendo investigados todos os documentos de patentes
disponíveis para consulta até a data de realização da referida
pesquisa (21/11/2018). As pesquisas foram realizadas

607
ESTUDOS PARA A PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS E MÉTODOS A
PARTIR DO BETA CARIOFILENO SÃO PROMISSORES? UMA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA
utilizando como palavras-chave os termos “Beta Cariofileno” e
“Beta caryophyllene” em todas as bases, selecionando patentes
que apresentavam a palavra nos títulos ou resumos, como
detalhado no fluxograma presente na Figura 1.
Foram excluídas desta análise as patentes repetidas. Os
dados foram analisados também quanto ao ano de pedido de
depósito, país, Classificação Internacional de Patentes (CIP) e
atividade farmacológica, e plotados utilizando o software
Excel®.

Figura 1. Fluxograma metodológico.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na primeira análise realizada foi relacionada a


quantidade de patentes depositadas em cada base de dados a
608
ESTUDOS PARA A PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS E MÉTODOS A
PARTIR DO BETA CARIOFILENO SÃO PROMISSORES? UMA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA
partir dos descritores. Inicialmente, quando se utilizou o termo
“Beta Cariofileno” na base de dados INPI foram encontrados
quatro depósitos de patente, dentre os quais apenas uma
patente apresentava o descritor no título. Na base de dados
USPTO, foram encontradas 13 patentes depositadas com o
descritor “Beta Caryophyllene”, onde apenas uma apresentava
o descritor no título. Na base EPO, o número subiu para 81
patentes depositas, sendo 12 patentes com o descritor no título.
Já na base de dados WIPO, foram encontradas 77 patentes,
onde 15 se utilizaram do termo Beta Caryophyllene no título
(Tabela 1).
Sendo assim, podemos observar que a base de dados
EPO apresenta 46% das patentes depositadas em relação as
bases de dados pesquisadas, enquanto a WIPO apresenta
44%. Juntas, essas bases de dados apresentam 90% das
patentes depositadas sobre o tema. Enquanto que as bases de
dados USPTO e INPI apresentam apenas 10% das patentes,
demonstrando uma diferença exorbitante em relação a
preferência de base de dados pelos depositores de patentes.
Não foi encontrada nenhuma patente na base de dados INPI
com a utilização do descritor em inglês, bem como não foram
encontradas patentes nas demais bases de dados a partir da
utilização do descritor em português.

Tabela 1. Resultados obtidos para a busca pelo termo “Beta-


caryophyllene” e “Beta cariofileno” nas bases de dados INPI,
USPTO, EPO e WIPO, quanto ao número de patentes
depositadas em cada base de dado.

609
ESTUDOS PARA A PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS E MÉTODOS A
PARTIR DO BETA CARIOFILENO SÃO PROMISSORES? UMA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA

BETA BETA
CARIOFILENO CARYOPHYLLENE
BASE DE Título/ Title/
Título Title
DADOS Resumo Abstract
INPI 1 4 0 0
EPO 0 0 13 81
WIPO 0 0 15 77
USPTO 0 0 1 13
TOTAL 4 171

A fim de verificar uma melhor distribuição das patentes,


foi realizada uma análise dos Países onde foram depositads os
pedidos de patentes presentes na base de dados EPO (Figura
2). Observou-se que a China depositou 51,85% das patentes
nessa base e 42% das patentes, se levado em consideração as
quatro bases de dados utilizadas no estudo. Se levado em
consideração as bases WIPO,EPO e USPTO, os Estados
Unidos depositaram 22,4% das patentes em relação ao número
total de patentes encontradas, ficando atrás apenas da China.
A pesquisa demonstrou que o Brasil detém apenas
4,08% das patentes depositadas em relação ao número total,
superando apenas Taiwan e Reino Unido, quando comparado
a quantidade de depósitos. Os dados das patentes Brasileiras
não foram demonstradas em gráfico, uma vez que só foram
encontradas patentes depositas pelo Brasil na base de dados
INPI, havendo uma ausência de patentes brasileiras nas
demais bases de dados. Esses dados demonstram o quanto é
importante os pesquisadores e empresas brasileiras se
interessarem mais pelo depósito de patentes sobre o tema.
610
ESTUDOS PARA A PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS E MÉTODOS A
PARTIR DO BETA CARIOFILENO SÃO PROMISSORES? UMA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA

Figura 2. Resultados obtidos para a busca pelo termo “Beta-


caryophyllene” na base de patentes EPO, quanto aos países de
depósito dos pedidos de patente

Legenda: (WIPO) Organização Mundial da Propriedade Intelectual, do inglês


World Intellectual Property Organization.

Em relação a base de dados WIPO, assim como nas


bases de dados EPO e USPTO, a China foi o país que mais
realizou depósito de patentes em relação ao total depositado;
em segundo lugar os Estados Unidos e a Coréia, não havendo
muita diferença em relação aos países de depósito de patentes
nas três bases de dados (Figura 3). Confirmando o interesse
dos países considerados de primeiro mundo, no depósito de
patentes sobre o Beta Cariofileno. Essa análise pode servir de
incentivo, para que países emergentes, como o Brasil,

611
ESTUDOS PARA A PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS E MÉTODOS A
PARTIR DO BETA CARIOFILENO SÃO PROMISSORES? UMA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA
comecem a se interessar pela produção de produtos e estudos
sobre o tema.

Figura 3. Resultados obtidos para a busca pelo termo “Beta-


caryophyllene” na base de patentes WIPO, quanto aos países
de depósito dos pedidos de patente

Legenda: (PCT) Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes, do inglês


Patent Cooperation Treaty; gerenciado pela WIPO.

Esses dados demonstram que está ocorrendo um maior


número de depósitos relacionados ao Beta Cariofileno na
Europa e Estados Unidos em relação ao Brasil e demais países
emergentes. Isso pode ser levado em consideração para que
haja um maior interesse dos pesquisadores brasileiros para a
realização de estudos que possam gerar produtos nessa área.
A continuação das análises de patentes na base de
dados EPO demonstrou um crescimento do número de
depósitos de 1959 até o ano de 2015, tendo o seu maior
612
ESTUDOS PARA A PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS E MÉTODOS A
PARTIR DO BETA CARIOFILENO SÃO PROMISSORES? UMA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA
aumento entre os anos de 2014 e 2015. No entanto, ocorreu um
decréscimo desse número no ano de 2016 e 2017(Figura 4).

Figura 4. Resultados obtidos para a busca pelo termo “Beta


caryophyllene” na base de patentes EPO, quanto aos períodos
ou anos de ocorrência dos depósitos dos pedidos de patente.

Na USPTO, as patentes foram depositadas entre os anos


de 1995 a 2018, a média foi de uma patente por ano, tendo
alguns anos sem depósito de patentes sobre o beta cariofileno
e o ano de 1999 com depósito de duas patentes.
No INPI, a partir do descritor utilizado, duas patentes
foram depositadas no ano de 2013 e uma patente no ano de
2016 (dados não mostrados), enfatizando que as poucas
patentes depositadas nessa base datam dos últimos cinco
anos, o que pode sugerir um surgimento “recente” do interesse
no Beta cariofileno no Brasil.

613
ESTUDOS PARA A PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS E MÉTODOS A
PARTIR DO BETA CARIOFILENO SÃO PROMISSORES? UMA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA
Figura 5. Resultados obtidos para a busca pelo termo “Beta
caryophyllene” na base de patentes WIPO, quanto aos períodos
ou anos de ocorrência dos depósitos dos pedidos de patente.

Na base de dados WIPO, os depósitos de patente


ocorreram durante os últimos 10 anos. A média até 2014 foi de
3,5 patentes por anos, enquanto de 2014 a 2018 essa média
subiu para 9,5 patentes por ano, demonstrando um aumento de
interesse pelo Beta Cariofileno nos últimos quatro anos,
resultado um pouco similar ao encontrado nas demais bases de
dados (Figura 5).
Além da distribuição anual e por país, foi realizada uma
verificação da origem do depósito de patentes, quanto ao tipo
de depositor. Ou seja, se a patente foi depositada por uma
universidade, empresa ou pessoa física. Foi possível observar
que o maior número de depósitos sobre patentes relacionadas

614
ESTUDOS PARA A PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS E MÉTODOS A
PARTIR DO BETA CARIOFILENO SÃO PROMISSORES? UMA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA
ao beta cariofileno foi depositada por empresas e, além disso,
que essas empresas na sua maioria (40,4%) depositaram
apenas uma patente sobre o assunto (Figura 6).

Figura 6.Resultados obtidos para a busca pelo termo “Beta


caryophyllene” e “Beta cariofileno” nas bases de patentes
USPTO, EPO , INPI e WIPO quanto ao seu depositor

Em segundo lugar, temos as pessoas físicas (18,0%)


seguido das universidades (15,9%). As duas empresas que
mais depositaram patentes foi a Cotton INC e a Shiseido CO
LTD, cada qual com qual patentes. A média da quantidade de
patentes pelas outras empresas foi de duas patentes (Figura 6).
A fim de melhorar o entendimento sobre esse panorama,
analisamos as patentes depositadas pelas duas empresas com
maior número de patentes. Verificamos que as patentes
depositadas pela empresa Cotton, tanto na USPTO quanto
EPO e WIPO, estão relacionadas à produção de produtos
inseticidas, sendo a empresa uma produtora de algodão. Já as
615
ESTUDOS PARA A PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS E MÉTODOS A
PARTIR DO BETA CARIOFILENO SÃO PROMISSORES? UMA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA
patentes da empresa Shiseido estavam relacionadas à
alteração da expressão gênica, sendo a empresa do ramo
cosmético e de perfurmaria.
Ao se observar o CIP das patentes depositadas,
verificou-se um maior número de patentes com CIP A01, e A061
(Figura 7). A sessão A está relacionada a necessidades
humanas, onde A01 se refere a agricultura; silvicultura;
pecuária; caça; captura em armadilhas e pesca, bem como
produtos alimentícios e tabaco e a sessão A061 se refere a
Ciências Médicas, Veterinária e Higiene. Esses dados estão de
acordo com a produção da Cotton e Shiseido, respectivamente,
demonstrando o motivo do interesse das empresas em
patentear ideias sobre o beta-cariofileno nessas áreas, uma vez
que parece promissor, levando em consideração o maior
número de patentes nessas sessões.
Ainda levando em consideração o grande número de
patentes depositadas na sessão A61, verificou-se que quase
30% do número total de patentes depositadas nas três bases
de dados são referentes a produção de medicamentos e
produtos relacionados ao tratamento de doenças. E que os 70%
restantes, em sua maioria, se dividem entre produção de
produtos inseticidas e cosméticos/perfumes.

Figura 7. Resultados obtidos para a busca pelo termo “Beta


caryophyllene” nas bases de patentes USPTO, EPO , INPI e
WIPO quanto à CIP.

616
ESTUDOS PARA A PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS E MÉTODOS A
PARTIR DO BETA CARIOFILENO SÃO PROMISSORES? UMA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA

Explorando ainda mais as patentes depositadas que se


relacionavam a produtos para tratamento de doenças, pode-se
observar que a sua maioria estava relacionada a modificação
da expressão gênica, levando ao tratamento por exemplo de
síndromes metabólicas, inflamações e infecções microbianas
(Tabela 2).
No entanto, os depósitos de patentes não se limitam
apenas a se tratar dessas doenças, estando relacionadas ao
tratamento de mais 14 patologias, como infecções virais,
transtornos psíquicos, linfomas, tumores e desejo sexual. Esses
dados, juntamente com os dados anteriores, demonstram que
os estudos na área da saúde, relacionado ao tratamento das
mais diversas doenças, a partir da utilização do beta cariofileno,
podem ser considerados promissores.

617
ESTUDOS PARA A PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS E MÉTODOS A
PARTIR DO BETA CARIOFILENO SÃO PROMISSORES? UMA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA

Tabela 2. Resultados obtidos para a busca pelo termo “Beta


caryophyllene” e “Beta cariofileno” nas bases de patentes
USPTO, EPO e INPI quanto as patentes relacionadas ao
tratamento de doenças.

Tratamento da doença Porcentagem de patente


Antimicrobiano 15%
Antiinflamatório 15%
Expressão gênica 11%
Dor 7%
Tumor 7%
Fraqueza muscular 4%
Síndrome metabólica 4%
Anorexia 4%
Antialérgico 4%
Antiansiolítico 4%
Antipsicótico 4%
Broncodilatação 4%
Linfoma 4%
Desejo sexual 4%
Doença Periodontal 4%
Doença viral 4%
Esquizofrenia 4%

CONCLUSÕES

618
ESTUDOS PARA A PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS E MÉTODOS A
PARTIR DO BETA CARIOFILENO SÃO PROMISSORES? UMA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA
A partir da prospecção tecnológica realizada na bases de
dados podemos observar que há um número relativamente
promissor de patentes acerca do Beta cariofileno,
principalmente na União Europeia, com uma maior ênfase pelos
países desenvolvidos. Essa diferença pode servir de sugestão
para que países emergentes comecem a se interessar pela
produção de produtos a partir do elemento pesquisado, o que
pode vir a gerar renda extra para o país.
Além disso, os dados encontrados sugerem que o
desenvolvimento nessa área tem crescido e que quem possuir
interesse em trabalhar com esse produto deve focar na área
relacionada à necessidades humanas, principalmente na
produção de inseticidas, cosméticos e fármacos.
A pesquisa demonstra que os estudos relacionados ao
tratamento de doença são considerados promissores e devem
continuar ocorrendo. Há um grande número de empresas
detentoras de apenas uma patente e um pequeno número de
empresas detentora de mais de uma patente. Diante disso,
empresas que visem crescimento na área de desenvolvimento
de fármacos devem aumentar o número de pesquisas sobre o
tema, a fim de reduzir a desigualdade em relação ao número de
detenção de patentes sobre o Beta Cariofileno, uma vez que
caso o produto chegue ao mercado farmacêutico vai gerar
renda para as empresas que investiram estudos no produto e
que o patentearam.
A prospecção e análise de dados foi considerada
satisfatória, uma vez que possibilitou a visualização do histórico
e panorama atual sobre o tema pesquisado, demonstrando a
importância de estudos de prospecção que devem ser

619
ESTUDOS PARA A PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS E MÉTODOS A
PARTIR DO BETA CARIOFILENO SÃO PROMISSORES? UMA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA
realizados, por exemplo, antes do início de pesquisas científicas
e desenvolvimento de produtos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABBAS, M.A.; et al. Disi β-Caryophyllene causes regression of endometrial
implants in a rat model of endometriosis without affecting fertility. Eur. J.
Pharmacol., v.702, n. 2013, p. 12-19, 2013.
BINA, F.; et al. Plant-derived medicines for treatment of endometriosis: A
comprehensive review of molecular mechanisms. Pharmacol. Res., v.6,
n.139, p.76-90, 2018.
CRUZ, M.N.; et al. Chemical composition and biological activities of soldiers
of the Brazilian termite species, Nasutitermes macrocephalus (Isoptera:
Natutitermitinae). Nat. Prod. Comm., v.8, n.1, p.69-74, 2013.
EL-HAWARY, S.S.; et al. Anti-arthritic activity of 11-O-(4'-O-methyl galloyl)-
bergenin and Crassula capitella extract in rats. J. Pharm.
Pharmacol., v.68, n.6, p. 834-844, 2016.
FARZAEI, M.H.; et al. The role of dietary polyphenols in the management
of inflammatory bowel disease. Curr. Pharm. Biotechnol., v.16, n.196–
210, 2015.
KATSUYAMA, S.; et al. Involvement of peripheral cannabinoid and opioid
receptors in beta-caryophyllene-induced antinociception. Eur. J. Pain.,
v.17, n.5, p.664-675. 2013.
KIM, C.; et al. Beta-Caryophyllene oxide potentiates TNFalpha-induced
apoptosis and inhibits invasion through down-modulation of NF-kappaB-
regulated gene products. Apoptosis, v.19, n.4, p. 708-718, 2014.
KUPFER, D.; TIGRE, P. Prospecção tecnológica. In: CARUSO, L. A.;
TIGRE, P. B. (Orgs.). Modelo SENAI de prospecção: documento
metodológico. Montevideo: OIT/CINTERFOR, 2004. cap. 2.
MZID, M.; et al. Antioxidant and antimicrobial activities of ethanol and
aqueous extracts from Urtica urens. Pharmaceut. Biol., v.55, p. 775-781,
2017.
NARANG, N.; JIRAUNGKOORSKUL, W. Anticancer activity of key lime,
Citrus aurantifolia Phcog. Rev., v.10, n.20, pp. 118-122,2016.
NEWMAN, D.J.; CRAGG, G.M. Natural products as sources of new drugs
from 1981 to 2014. J. Nat. prod., v.79, n.3, p. 629-661, 2016
OJHA, S.; et al. Beta-Caryophyllene, a phytocannabinoid attenuates
oxidative stress, neuroinflammation, glial activation, and salvages
dopaminergic neurons in a rat model of Parkinson disease. Mol. Cell.
Biochem., v.418, p. 59-70, 2016.

620
ESTUDOS PARA A PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS E MÉTODOS A
PARTIR DO BETA CARIOFILENO SÃO PROMISSORES? UMA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA
OLIVEIRA, G.A.L; et al. Preventive effect of bergenin against the
development of TNBS-induced acute colitis in rats is associated with
inflammatory mediators inhibition and NLRP3/ASC inflammasome signaling
pathways. Chem. Biol. Interact., v.23; p.25-33, 2018.
SANTOS, N.A.; et al. The cannabinoid beta-caryophyllene (BCP) induces
neuritogenesis in PC12 cells by a cannabinoid-receptor-independent
mechanism. Chem. Biol. Interact.., v.5, n.261, p.86-95, 2017.
SILVA, J.K.R.; et al. Antioxidant, Antimicrobial, and Cytotoxic Properties of
Aniba parviflora Essential Oils from the Amazon. Nat. Prod. Commun.,
v.11, n.7, p. 1025-1028, 2016.
YANG, M.; et al. Neuroprotective effect of beta-caryophyllene on cerebral
ischemia-reperfusion injury via regulation of Necroptotic Neuronal Death
and inflammation: in vivo and in vitro. Front. Neurosci., v.11, p. 583, 2017.

621
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
CAPÍTULO 32

PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T


CONSERVADOS DA RNA POLIMERASE
RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS
CHIKUNGUNYA E MAYARO
Andrei Félix MENDES 1
Waldecir Oliveira de ARAÚJO JÚNIOR 1
Joelma Rodrigues de SOUZA 2
1
Graduandos do curso de Biotecnologia, UFPB; 2 Orientadora/Professora do DFP/UFPB.
Andreifelixm@gmail.com

RESUMO: Chikungunya vírus (CHIKV) e Mayaro vírus (MAYV)


são Alphavirus, que se apresentam clincamente como febre,
poliartralgia e erupções cutâneas. Vacinas baseadas em
epitopos são promissoras, por apresentarem segurança, baixa
toxicidade, fácil produção, baixo custo, especificidade,
estabilidade e sustentabilidade. O genoma viral é um RNA que
codifica proteínas estruturais e não estruturais, envolvidas com
a replicação. O presente trabalho tem por objetivo realizar a
predição in silico de epítopos ligantes de alelos MHC-I da
proteína RNA polimerase dependente de RNA (nsP4) de MAYV
e CHIKV isolados no Brasil identificando regiões conservadas
entre esses vírus. As sequências de MAYV - KT754168.1 - e
CHIKV- KU940225.1- da nsP4 foram obtidas do NCBI e
submetidas para a predição de epítopos aos alelos de HLA de
classe I, no Immune Epitope Database (IEDB).Posteriormente,
os epítopos foram submetidos a analises partir da ferramenta
online de predição de imunogenicidade do IEDB. Foram
encontrados um total de 22 e 21 epítopos nas proteínas do

622
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
MAYV e CHIKV respectivamente, com os epítopos
FLARNYPTV128-136 HLPTGTRFK415-423 KSGMFLTLF429-437
RRLNAVLLP332-340 ITDEYDAYL141-149 ELVRRLNAV328-337
conservados em ambas as proteínas, ligando-se aos alelos
HLA-A*03:01 HLA-A*02:01 HLA-A*03:01 HLA-B*58:01 HLA-
B*27:05 HLA-B*08:01 e HLA-A*01:01 respectivamente. Os
epítopos conservados podem favorecer o desenvolvimento de
uma futura vacina contra CHIKV e MAYV baseada na
construção de epítopos múltiplos que possam ser reconhecidos
pela maioria dos alelos HLA da população mundial.
Palavras-chave: Chikungunya vírus. Mayaro vírus. Predição de
epítopos.

INTRODUÇÃO

Os arbovírus são um grupo de vírus caracterizados por


infectarem artrópodes vetores hematófagos e possuírem ciclos
replicativos exógenos ao hospedeiro intermediário. Existem
aproximadamente 545 espécies de arbovírus, dentre as quais,
150 estão relacionadas com às infecções provocadas em seres
humanos, cujo a maioria pode ser zoonótica. Ademais,
apresentam uma ampla distribuição geográfica ao redor do
mundo e no Brasil destacam-se por apresentarem facilidade de
disseminação devido à geografia do território e as condições
climáticas, além da grande quantidade de zonas florestais, as
quais ocupam mais de 1/3 do território nacional, possuindo
grande diversidade de espécies suscetíveis a sua transmissão
(DE FIGUEIREDO; FIGUEIREDO, 2014; GIOVANNI DE-
SIMONE, 2014; LOPES; NOZAWA; LINHARES, 2014).
Dentre os arbovírus, o chikungunya vírus (CHIKV) e
mayaro vírus (MAYV), ambos da família Togaviridae

623
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
pertencentes ao gênero Alphavirus, destacam-se devido aos
surtos recorrentes no território brasileiro (ESPOSITO;
FONSECA, 2017; NUNES et al., 2015). A infecção pelo CHIKV
foi registrada pela primeira vez em 1952 nas áreas de fronteira
Tanzânia-Moçambique (GANESAN; DUAN; REID, 2017). No
entanto, o vírus ganhou notoriedade durante o seu enorme
surto nas ilhas do Oceano Índico e na Ásia entre 2005 e 2011.
Além do mais, surtos foram registrados na Itália em 2006 e na
França em 2010 chegando posteriormente nas Ilhas do Caribe
em 2013 e assolando as Américas em 2014 (HASAN et al.,
2015). Por conseguinte, o MAYV foi isolado pela primeira vez
em 1954 em Trinidad em amostras de sangue de cinco
trabalhadores rurais, os quais apresentavam quadro febril. Em
1955, o vírus foi isolado no Brasil ocorrendo surtos na região
amazônica entre 1955 a 2011 onde é considerado endêmico.
Além disso, foram registrados outros casos da doença além da
região amazônica como o datado de 1987 em Goiás e 2000 em
São Paulo (ACOSTA-AMPUDIA et al., 2018; DE OLIVEIRA
MOTA et al., 2015; GIOVANNI DE-SIMONE, 2014; HALSEY et
al., 2013).
O CHIKV, por sua vez, é transmitido pelos mosquitos
Aedes aegypti e Aedes albopictus, sendo causador da febre
chikungunya, caracterizada por ser uma doença infecciosa com
características reemergentes cujo os sintomas são: febre,
poliartralgia, náuseas, dor muscular e erupções cutâneas
(CAGLIOTI et al., 2013; DE BRITO et al., 2016; MEJÍA; LÓPEZ-
VÉLEZ, 2018; WHO, 2017). Todavia, linhagens virais podem
está associadas com atipias. Lyra et al. (2016) em seu estudo
relatou o potencial de transmissão congênita a partir do relato
de dois casos após o surto de chikungunya em Salvador.
Outrossim, Cunha et al. (2017) em seu estudo mostrou que

624
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
linhagens virais isolados no Rio de Janeiro apresentavam
mutações em suas proteínas conferindo ao vírus uma maior
aptidão para infectar diferentes hospedeiros. Por outro lado, o
MAYV é o causador da febre do mayaro cujo os sintomas são
similares aos da febre chikungunya, tais como: febre, erupções
cutâneas e dores nas articulações (MACKAY; ARDEN, 2016;
SLEGERS et al., 2014; THEILACKER et al., 2013). Esse vírus
é transmitido por mosquitos do gênero Haemagogus, e em
experimentos laboratoriais, pelo Ae. aegypti, determinando uma
replicação viral produtiva tanto in vitro quanto in vivo. Dessa
forma, a transmissão deste vírus ganha notoriedade visto que o
Ae. aegypti é um vetor importante para muitos arbovírus, sendo
portanto, um dos maiores problemas de saúde pública em
muitos países, incluindo o Brasil (GIOVANNI DE-SIMONE,
2014; LONG et al., 2011).
O ciclo replicativo dos Alphavirus inicia-se com a ligação
ao receptor na superficie celular. Após a adsorção, a partícula
é endocitada mediante vesículas recobertas por clatrinas. Ao
ser internalizada, ocorre a liberação do nucleocapsídeo no
citoplasma. Uma vez no citoplasma, o RNA genômico 49S, bem
como um 26S é traduzido em proteínas não estruturais. Essas
permitem o processamento de RNA em mRNA subgenômico
que serve como modelo para a transcrição das proteínas
estruturais virais. Durante a tradução da proteína do capsídeo
(C), uma clivagem proteolítica local é exposta, resultando na
liberação de um peptídeo sinal que promove sua translocação
para o retículo endoplasmático. O envelope glicoprotéico é
então sintetizado, glicosilado no complexo de Golgi e
transferido para a membrana plasmática. Posteriormente, as
proteínas do capsídeo sofrem automontagem com o RNA
genômico 49S que estão associados com a membrana

625
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
plasmática, levando ao brotamento das novas partículas virais
por meio de vesículas exocíticas (ACOSTA-AMPUDIA et al.,
2018; GIOVANNI DE-SIMONE, 2014; J. JOSE, A TAYLOR,
2017; VANCINI; HERNANDEZ; BROWN, 2015; YAP et al.,
2017).
Por sua vez, o genoma viral desses Alphavirus são
formados por uma cadeia de RNA simples, de sentido positivo
e com aproximadamente 12 Kb de comprimento (KUMAR et al.,
2015; ROUGERON et al., 2015). Além do RNA genômico, o
RNA subgenômico que codifica as proteínas estruturais
também é gerado, ambos contendo um cap 5’ e uma cauda poli-
A (RUPP et al., 2015). A sequência de codificação consiste em
dois grandes quadros de leitura aberta (ORFs): o N-terminal
que codifica a poliproteína não-estrutural e a C-terminal que
codifica a poliproteína estrutural (GIOVANNI DE-SIMONE,
2014; RASHAD; MAHALINGAM; KELLER, 2014). As proteínas
nsP1, nsP2, nsP3 e nsP4 são as não estruturais e tanto elas
quanto seus intermediários de clivagem estão envolvidos na
replicação do RNA viral (RUPP et al., 2015). Já as proteínas C,
E3, E2, 6K, E1 são as estruturais e tanto elas quanto seus
intermediários de clivagem são necessários para a
encapsulação viral e brotamento (GIOVANNI DE-SIMONE,
2014). Dentro desse contexto, a proteína nsP1 possui
aproximadamente 60 kDa e desempenha tanto atividade de
guanina-7-metiltransferase como de guanilil transferase, ambas
sendo responsáveis pela adição do cap 5’ em novos
sintetizados oriundos de RNA genômicos e subgenômicos
(GIOVANNI DE-SIMONE, 2014; RUPP et al., 2015). A proteína
nsP2 tem aproximadamente 90 kDa e atua como uma RNA
trifosfatase / nucleosídeo trifosfatase, assim como, helicase na
metade N-terminal, enquanto sua metade C-terminal codifica a

626
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
protease cisteína viral necessária para o processamento da
poliproteína não estrutural (RUPP et al., 2015). A nsP3 tem
aproximadamente 60 kDa e apresenta atividade de ligação ao
RNA (RASHAD; MAHALINGAM; KELLER, 2014). A proteína
nsP4 é a proteína mais conservada entre os Alphavirus, possui
aproximadamente 70 kDa e 610 aminoácidos de comprimento,
atuando como uma RNA polimerase dependente de RNA
contendo um domínio C-terminal com um motivo catalítico GDD
e um domínio N-terminal específico de Alphavírus, crucial para
a replicação viral e interação com outras proteínas no complexo
de replicação (PIETILÄ; HELLSTRÖM; AHOLA, 2017; RUPP et
al., 2015). Do ponto de vista estrutural, a proteína C é
responsável pela montagem do capsídeo (GIOVANNI DE-
SIMONE, 2014). Já o papel da proteína estrutural E3 apresenta
ser indefinida, e segundo a literatura a mesma parece variar
entre as diferentes espécies englobadas no gênero Alphavirus.
As glicoproteínas E1 e E2 do envelope são proteínas
transmembranas do tipo 1 responsáveis pelo reconhecimento
de receptores celulares e entrada do vírus na célula hospedeira
por fusão de membranas (BYRD; KIELIAN, 2017; DE
FIGUEIREDO; FIGUEIREDO, 2014; FIELDS; KIELIAN, 2013).
A proteína 6K é descrita como uma proteína estrutural envolvida
no processamento viral, brotamento de partículas virais e
permeabilização celular (GIOVANNI DE-SIMONE, 2014).
O tratamento para as infecções provocadas pelo CHIKV
e MAYV é totalmente sintomático. Quando medicamento, pode
ser usadoanalgésicos, anti-inflamatórios não esteroidais,
corticosteroides e opioides dependendo da fase clínica da
doença (BRASIL, 2017; ESPOSITO; FONSECA, 2017).
Quando não farmacológico, têm-se a fisioterapia, a crioterapia,
a confecções de órteses e o apoio psicológico (BRASIL, 2017).

627
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
Assim, vasta a complexidade das fases clínicas e a
possibilidade de cronicidade com dificuldade de manejo clínico,
uma alternativa para redução dos casos de infecção é o
desenvolvimento de vacinas, visto que a vacinação está entre
os melhores tratamentos médicos já desenvolvidos,
promovendo a imunização da população nas zonas de risco. A
vacinação clássica usando organismos inteiros promove uma
imunidade duradoura frente aos patógenos, no entanto, elas
não estão isentas de desvantagens e apesar dos avanços na
área, ela pode desencandear uma resposta autoimune além de
respostas alérgicas devido aos insumos para sua produção
(SKWARCZYNSKI; TOTH, 2016).
Vacinas que integram imunogenética com bioinformática
apresentam-se como uma estratégia inovadora frente à
imunização. Avanços na bioinformática associados aos
conhecimentos pré-estipulados sobre vacinação levaram ao
desenvolvimento de vacinas eficazes contra tumores e outras
doenças parasitárias (WAHEED et al., 2017). Dessa forma, a
utilização da abordagem in-silico para a determinação de
antígenos está ganhando importância devido aos avanços nas
pesquisas em sequenciamento de proteínas, human leukocyte
antigen (HLA) e bancos de dados de sequenciamento de
patógenos (ALONSO-PADILLA; LAFUENTE; RECHE, 2017;
PATRONOV; DOYTCHINOVA, 2013).
Nesse contexto, as vacinas baseadas em epitopos têm
se mostrado promissoras, por apresentarem segurança no uso,
possuírem menos efeitos colaterais que vacinas convencionais,
possuírem baixos custos de produção, ser facilmente
produzidas e não dispor do patógeno completo, além de
apresentar uma melhor especificidade, estabilidade e
sustentabilidade (GOTTLIEB; BEN-YEDIDIA, 2014;

628
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
PATRONOV; DOYTCHINOVA, 2013; SETTE; FIKES, 2003;
WAHEED et al., 2017).
Não obstante, as moléculas de HLA (MHC de classe I)
tem importante função na imunidade adptativa, sendo de
grande importância no clearance de infecções virais, visto que
apresentam peptídeos imunogênicos, podendo esses serem
derivados do processamento de proteínas virais, culminando
assim na ativação de linfócitos T citotóxicos, e com isso,
eliminando células infectadas por vírus (ROCK; REITS;
NEEFJES, 2016; WIECZOREK et al., 2017).
Tendo em vista a patogenicidade e os problemas de
saúde causados pelo CHIKV e MAYV, há uma necessidade de
intensificação dos estudos em busca de uma vacina baseada
em epítopos que possa conduzir uma resposta eficaz e que
apresente menos riscos ao indivíduo exposto. Sendo assim, o
presente trabalho tem como objetivos: realizar a predição in
silico de epítopos ligantes de alelos MHC de classeI que foram
preditos como imunogênicos da proteína RNA polimerase
dependente de RNA (nsP4) e que se apresentam conservados
entre os vírus Mayaro e Chikungunya.

MATERIAIS E MÉTODO

Obtenção das sequências de RNA polimerase dependente


de RNA do chikungunya vírus e Mayaro vírus

As sequências da nsP4 foram obtidas a partir dos


genomas completos do MAYV e CHIKV isolados no Brasil,
disponíveis no site do National Center for Biotechnology
Information (NCBI), sob nº acesso KT754168.1 e KU940225.1
respetivamente.

629
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO

Predição de epítopos ligantes de HLA de classe I

Para a predição de epítopos derivados das proteínas


nsP4 e suas respectivas afinidades de ligação aos alelos, foi
utilizada a ferramenta de predição de epítopos do Immune
Epitope Database (IEDB) (http://tools.iedb.org/mhci/), a qual
analisa, dentro de uma dada sequência protêica, quais serão os
peptídeos formados a partir de sua degradação via
proteassoma e determina a capacidade de tais peptídeos de se
ligar a uma molécula de HLA de classe I específica por meio de
scores.
Nesse aspecto, foi analisada a afinidade de ligação dos
peptídeos aos alelos HLA-A*01:01, HLA-A*02:01, HLA-
A*03:01, HLA-A*24:02, HLA-B*08:01, HLA-B*27:02, HLA-
B*27:05, HLA-B*44:02, HLA-B*44:03, HLA-B*58:01, HLA-
B*58:02, HLA-B*07:02, determinada a partir do algoritmo
Consensus (ann/smm) e considerando o percentil cutoff ≤ 2,19,
onde valores iguais ou inferiores a 2,19 representam epítopos
de boa ligação aos alelos de HLA de classe I (KIM et al., 2012).
Dessa forma, os peptídeos preditos que possuíram
comprimento de 9 aminoácidos e apresentaram score ≤ 0,5
foram selecionados para o estudo.

Predição de imunogenicidade de epítopos ligantes de HLA


de classe I

Os epítopos da proteína nsP4 do CHIKV e MAYV que


apresentaram score ≤ 0,5 foram submetidos a analises partir da
ferramenta online de predição de imunogenicidade do IEDB
(disponível em: http://tools.iedb.org/immunogenicity/) utilizando

630
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
a configuração default do algoritmo. Nesse contexto, essa
ferramenta analisa as propriedades dos aminoácidos, bem
como suas posições dentro do peptídeo para prever a
imunogenicidade de um complexo MHC-peptídeo (pMHC),
resultando em um score. Dessa forma, quanto maior o valor do
score, mais imunogênico determinado peptídeo será,
apresentando assim maiores probabilidades de elicitar
respostas imunes (CALIS et al., 2013).

Predição de estrutura tridimensional de epítopos


conservados da proteína RNA polimerase dependente de
RNA

A estrutura tridimensional dos epítopos preditos


conservado entre os dois vírus foi determinada por meio da
ferramenta online PEPstr (disponível em:
http://osddlinux.osdd.net/raghava/pepstrmod/index.php). O
PEPstr é uma ferramenta que prediz a estrutura terciária de
sequências peptídicas com comprimento variando entre 7 e 25
resíduos baseado no método de predição de estrutura
secundária via PSIPRED e informações de voltas β preditas
pelo Beta Turns Tool (SINGH et al., 2015).
As estruturas tridimensionais obtidas foram então
visualizadas usando o programa QuteMol (disponível em:
http://qutemol.sourceforge.net/).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Predição de epítopos da proteína nsP4 de MAYV e CHIKV e


identificação de epítopos conservados

631
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO

Foram identificados um total de 22 peptideos, com 9


resíduos, da proteína nsP4 do MAYV, com valores de rank
percentil inferior ou igual a 0,5 (Tabela 1). Destes, destacaram-
se os peptídeos AETAKAHTY90-98, ATDANRSRY56-64,
HTYHVRYAK96-104 e SEIEVALAS566-574, por apresentarem os
menores ranks percentis, de 0,11, 0,11, 0,12 e 1,13
respectivamente, sendo caracterizados como excelentes
ligadores.
Não obstante, quando realizamos a predição da proteína
nsP4 do CHIKV, foram identificados um total de 21 epítopos
com 9 resíduos que apresentaram percentil inferior a 0,5
(Tabela 2). Entre estes, descataram-se os epítopos
SETSKVPTY90-98, YLMSETSKV87-95, TLDSAVFNV217-225 e
KFACNQEYW 230-238, os quais apresentaram os menores
percentis dentre todos os epítopos da proteína nsp4 do CHIKV,
e portanto, preditos como bons ligadores.

632
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
Tabela 1. Epítopos da proteína nsP4 do MAYV e seus
respectivos alelos ligantes.
Epítopo Posição Alelo Método Percentil
AETAKAHTY 90-98 HLA-B*44:02 e Consensus 0,11 e 0,11
HLA-B*44:03 (ann/smm)
ATDANRSRY 56-64 HLA-A*01:01 Consensus 0,11
(ann/smm)
HTYHVRYAK 96-104 HLA-A*03:01 Consensus 0,12
(ann/smm)
IEVALASRY 566-574 HLA-B*44:02 Consensus 0,13
(ann/smm)
SEIEVALAS 564-572 HLA-B*44:03 Consensus 0,18
(ann/smm)
RLSSATIAV 114-122 HLA-A*02:01 Consensus 0,2
(ann/comblib_sidney2
008/smm)
TLDSAVYNV 217-225 HLA-A*02:01 Consensus 0,2
(ann/comblib_sidney2
008/smm)
FLTLFINTV 433-441 HLA-A*02:01 Consensus 0,2
(ann/comblib_sidney2
008/smm)
KPRYSVPVM 104-112 HLA-B*07:02 Consensus 0,2
(ann/comblib_sidney2
008/smm)
YPKHHAYHM 172-180 HLA-B*08:01 Consensus 0,2
(ann/comblib_sidney2
008/smm)
KYACNNEYW 230-238 HLA-A*24:02 Consensus 0,25
(ann/smm)
FLARNYPTV 128-136 HLA-A*02:01 Consensus 0,3
(ann/comblib_sidney2
008/smm)
HLPTGTRFK 415-423 HLA-A*03:01 Consensus 0,36
(ann/smm)
KSGMFLTLF 429-437 HLA-B*58:01 Consensus 0,4
(ann/comblib_sidney2
008/smm)
RRLNAVLLP 332-340 HLA-B*27:05 Consensus 0,4
(ann/comblib_sidney2
008/smm)
ELVRRLNAV 329-337 HLA-B*08:01 Consensus 0,4
(ann/comblib_sidney2
008/smm)

633
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
ITDEYDAYL 141-149 HLA-A*01:01 Consensus 0,42
(ann/smm)
HSMKNFSAL 591-599 HLA-B*07:02 e Consensus 0,46 e 0,5
HLA-B*08:01 (ann/comblib_sidney2
008/smm)
RRALYDEVK 547-555 HLA-B*27:05 Consensus 0,46
(ann/comblib_sidney2
008/smm)
QEVPMDRFI 279-287 HLA-B*44:03 Consensus 0,47
(ann/smm)
LMADRCATW 478-486 HLA-B*58:01 Consensus 0,5
(ann/comblib_sidney2
008/smm)
VLLPNIHTL 337-235 HLA-A*02:01 Consensus 0,5
(ann/comblib_sidney2
008/smm)
Fonte: Dados da pesquisa.

Interessantemente, os peptídeos AETAKAHTY90-98 e


SETSKVPTY90-98, que seapresentaram como melhores ligantes
dentre os peptídeos de MAYV e CHIKV respectivamente,
mostraram-se ambos como ligantes do alelo HLA-B*44:02.
Ambos os peptídeos possuíram resíduos idênticos nas
posições 2 enquanto que apresentaram resíduos de alanina e
valina, ambos aminoácidos de cadeia hidrofóbica, na posição
na 6, além de se encontrarem na mesma posição dentro
proteína. Dessa forma, infere-se que peptídeos possuidores de
tais aminoácidos nessas dadas posições possuam uma grande
afinidade com o alelo HLA-B*44:02, corroborando com os
resultados de Sidney e colaboradores (2008).

634
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
Tabela 2. Epítopos da proteína nsP4 do CHIKV e seus
respectivos alelos ligantes.
Epítopo Posição Alelo Método Percentil
SETSKVPTY 90-98 HLA-B*44:02 Consensus 0,15
(ann/smm)
YLMSETSKV 87-95 HLA-A*02:01 Consensus 0,2
(ann/comblib_sid
ney2008/smm)
TLDSAVFNV 217-225 HLA-A*02:01 Consensus 0,2
(ann/comblib_sid
ney2008/smm)
KFACNQEYW 230-238 HLA-B*58:01 Consensus 0,2
(ann/comblib_sid
ney2008/smm)
AVFNVECFK 221-229 HLA-A*03:01 Consensus 0,21
(ann/smm)
LEKAVYSRY 566-574 HLA-B*44:02 Consensus 0,23
(ann/smm)
FLARNYPTV 128-136 HLA-A*02:01 Consensus 0,3
(ann/comblib_sid
ney2008/smm)
IRWQRTGLI 555-563 HLA-B*27:05 Consensus 0,3
(ann/comblib_sid
ney2008/smm)
LMAARCATW 478-486 HLA-B*58:01 Consensus 0,3
(ann/comblib_sid
ney2008/smm)
YPKQHAYHA 172-180 HLA-B*08:01 Consensus 0,3
(ann/comblib_sid
ney2008/smm)
IIDAVVSLK 493-501 HLA-A*03:01 Consensus 0,32
(ann/smm)
EEVHEEKCY 28-36 HLA-B*44:03 Consensus 0,35
(ann/smm)
HLPTGTRFK 415-423 HLA-A*03:01 Consensus 0,36
(ann/smm)
RRLNAVLLP 332-340 HLA-B*27:05 Consensus 0,4
(ann/comblib_sid
ney2008/smm)
KSGMFLTLF 429-437 HLA-B*58:01 Consensus 0,4
(ann/comblib_sid
ney2008/smm)
ELVRRLNAV 329-337 HLA-B*08:01 Consensus 0,4
(ann/comblib_sid
ney2008/smm)

635
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
ITDEYDAYL 141-149 HLA-A*01:01 Consensus 0,42
(ann/smm)
TQMRELPTL 210-218 HLA-A*02:06 Consensus 0,43
(ann/smm)
TWMNMEVKI 485-483 HLA-A*24:02 Consensus 0,44
(ann/smm)
APYFCGGFI 502-510 HLA-B*07:02 Consensus 0,5
(ann/comblib_sid
ney2008/smm)
RRALADEVI 547-555 HLA-B*27:05 Consensus 0,5
(ann/comblib_sid
ney2008/smm)
Fonte: Dados da pesquisa.

Não obstante, observou-se que nenhum dos epítopos


preditos constavam no banco de dados IEDB, além de diferirem
dos epítopos preditos em trabalhos anteriores (KORI; SAJJAN;
MADAGI, 2015; WAHEED et al., 2017). Sendo assim, tal fato
indica que todos os epítopos da nsP4 aqui descritos, até o
presente momento, são inéditos.
Adicionalemnte, observou-se que 6 epítopos mostraram-
se totalmente conservados entre as duas espécies de vírus
trambem encontrando-se na mesma posição dentro da
proteína, são eles: FLARNYPTV128-136, HLPTGTRFK415-423,
KSGMFLTLF429-437, RRLNAVLLP332-440, ELVRRLNAV329-337,
ITDEYDAYL141-149 (Figura 1), ligando-se aos alelos HLA-
A*02:01, HLA-A*03:01 HLA-B*58:01 HLA-B*27:05 HLA-
B*08:01 e HLA-A*01:01. Por outro lado, os epítopos
TLDSAVYNV217-225 e TLDSAVFNV217-225 diferiram apenas por
um resíduo na sétima posição, contudo, tais resíduos de tirosina
e valina possuem características em comum, ambos sendo de
cadeia hidrofóbica, o que pode sugerir que pertencam ao
mesmo supertipo de HLA (SETTE et al., 2008).

636
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
Figura 1. Estrutura tridimensional dos epítopos conservados.

Fonte: Dados da pesquisa.

Imunogenicidade dos epítopos de CHIKV e MAYV

As células T reconhecem peptídeos apresentados via


moléculas de MHC, sendo ativados e elicitando respostas
imunes. Nesse contexto, uma grande quantidade de estudos
vêm demonstrando que certos peptídeos possuem
propriedades que conferem aos mesmos maiores ou menores
capacidades de induzir uma resposta imune, conferindo a eles,
desta forma, diferentes imunogenicidades (CALIS et al., 2013).
Nesse contexto, observou-se que dos 22 epítopos
preditos da proteína nsP4 do MAYV, 13 deles apresentaram
scores positivos como resultado dos estudos de
imunogenicidade de classe I (Tabela 3), indicando assim que
637
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
estes possuem alta probabilidade de elicitar uma resposta
imune. Dentre estes, destacaram-se os peptídeos
FLTLFINTV433-441, SEIEVALAS564-572 e HLPTGTRFK415-423 por
possuírem os melhores scores, sendo estes de 0,257, 0,234 e
0,217 respectivamente, sendo os peptídeos da proteína nsP4
do MAYV com maior probabilidade de elicitar respostar imunes.
Por outro lado, 9 dos 22 epítopos apresentaram scores
negativos, indicando assim que os mesmos possuem uma
baixa probabilidade de se ligarem aos HLAS e assim, não
elicitam respostar imunes.
Tabela 3. Imunogenicidade dos epítopos de MAYV.
Peptídeo Posição Score
FLTLFINTV 433-441 0.25794
SEIEVALAS 564-572 0.23448
HLPTGTRFK 415-423 0.21708
ITDEYDAYL 141-149 0.15609
VLLPNIHTL 337-235 0.1542
HTYHVRYAK 96-104 0.14001
RRALYDEVK 547-555 0.12744
ELVRRLNAV 329-337 0.12284
LMADRCATW 478-486 0.09037
FLARNYPTV 128-136 0.06832
RRLNAVLLP 332-340 0.05101
YPKHHAYHM 172-180 0.04666
KYACNNEYW 230-238 0.0284
RLSSATIAV 114-122 -0.01035
ATDANRSRY 56-64 -0.02039
IEVALASRY 566-574 -0.03058
QEVPMDRFI 279-287 -0.0358
KSGMFLTLF 429-437 -0.03586
AETAKAHTY 90-98 -0.07122
TLDSAVYNV 217-225 -0.08921
KPRYSVPVM 104-112 -0.0944
HSMKNFSAL 591-599 -0.28686
Fonte: Dados da pesquisa.
Adicionalmente, constatou-se que dos 21 epítopos
preditos na proteína nsP4 do CHIKV, 13 apresentaram scores
638
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
positivos (Tabela 4) indicando que os mesmos possuem grande
probabilidade de elicitar uma resposta imunológica. Dentre
esses peptídeos, destacam-se HLPTGTRFK415-423
APYFCGGFI502-508 AVFNVECFK221-229 com maior
afinidadesendo, portanto os peptídeos com maiores
probabilidades de elicitar respostas imunes dentre todos os
epitopos da proteína nsP4 do CHIKV.
Em contraste, 8 dos 21 peptídeos apresentaram scores
negativos, indicando que os mesmos possuem uma baixa
probabilidade de elicitar respostar imunes.

Tabela 4. Imunogenicidade dos epítopos de CHIKV.


Peptídeo Posição Score
HLPTGTRFK 415-423 0.21708
APYFCGGFI 502-510 0.193
AVFNVECFK 221-229 0.18884
RRALADEVI 547-555 0.16914
ITDEYDAYL 141-149 0.15609
ELVRRLNAV 329-337 0.12284
LMAARCATW 478-486 0.10742
TQMRELPTL 210-218 0.09546
FLARNYPTV 128-136 0.06832
IRWQRTGLI 555-563 0.0644
RRLNAVLLP 332-340 0.05101
EEVHEEKCY 28-36 0.0242
TLDSAVFNV 217-225 0.01271
IIDAVVSLK 493-501 -0.02047
KSGMFLTLF 429-437 -0.03586
KFACNQEYW 230-238 -0.07455
YPKQHAYHA 172-180 -0.10245
LEKAVYSRY 566-574 -0.10329
TWMNMEVKI 485-483 -0.23142
SETSKVPTY 90-98 -0.31169
YLMSETSKV 87-95 -0.35505
Fonte: Dados da pesquisa.
O peptídeo HLPTGTRFK415-423, o qual se manteve
conservado entre o CHIKV e MAYV também estava dentre os
639
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
epitopos com alta probabilidade de elicitar respostas imunes,
indicando assim que através dele, há grande possibilidade de
reconhecimento cruzado pelo sistema imune, gerando
respostas imunes compartilhadas.

CONCLUSÕES

Devido à alta conservação dos epítopos observados no


presente estudo, sugerimos que os dados obtidos possam
favorecer o desenvolvimento de uma futura vacina contra
CHIKV e MAYV baseada na construção de epítopos múltiplos
que possam ser reconhecidos pela maioria dos alelos HLA da
população mundial. Desta forma, ensaios bioquímicos que
avaliem a afinidade de ligação de cada peptídeo predito para
cada alelo, bem como que correlacionem a afinidade de ligação
de cada peptídeo para cada alelo com o perfil de positividade
para cada alelo na população, ou seja, a frequencia de
pacientes com resposta positiva para o alelo em questão dentro
da população estudada, podem validar os peptídeos preditos
neste ensaio e contribuir para o entendimento das respostas
imune protetora ou patogênica, visando a construção de uma
vacina baseada em epítopos múltiplos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACOSTA-AMPUDIA, Y. et al. Mayaro: an emerging viral threat? Emerging


Microbes and Infections, v. 7, n. 1, p. 1–11, 2018.
ALONSO-PADILLA, J.; LAFUENTE, E. M.; RECHE, P. A. Computer-Aided
Design of an Epitope-Based Vaccine against Epstein-Barr Virus. Journal of
Immunology Research, v. 2017, 2017.
BRASIL. Chikungunya: Manejo Clínico. 2. ed. Brasília: Ministério da
saúde, 2017. v. 2
BYRD, E. A.; KIELIAN, M. An Alphavirus E2 Membrane-Proximal Domain

640
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
Promotes Envelope Protein Lateral Interactions and Virus Budding. v. 8, n.
6, p. 1–13, 2017.
CAGLIOTI, C. et al. Chikungunya virus infection: an overview. NEW
MICROBIOLOGICA, v. 36, p. 211–227, 2013.
CALIS, J. J. A. et al. Properties of MHC Class I Presented Peptides That
Enhance Immunogenicity. PLoS Computational Biology, v. 9, n. 10, 2013.
CUNHA, M. S. et al. Autochthonous Transmission of East/Central/South
African Genotype Chikungunya Virus, Brazil. Emerging Infectious
Diseases, v. 23, n. 10, p. 1737–1739, 2017.
DE BRITO, C. A. A. et al. Pharmacologic management of pain in patients
with Chikungunya: A guideline. Revista da Sociedade Brasileira de
Medicina Tropical, v. 49, n. 6, p. 668–679, 2016.
DE FIGUEIREDO, M. L. G.; FIGUEIREDO, L. T. M. Emerging alphaviruses
in the americas: Chikungunya and mayaro. Revista da Sociedade
Brasileira de Medicina Tropical, v. 47, n. 6, p. 677–683, 2014.
DE OLIVEIRA MOTA, M. T. et al. Mayaro virus: A neglected arbovirus of
the Americas. Future Virology, v. 10, n. 9, p. 1109–1122, 2015.
ESPOSITO, D. L. A.; FONSECA, B. A. L. DA. Will Mayaro virus be
responsible for the next outbreak of an arthropod-borne virus in Brazil?
Brazilian Journal of Infectious Diseases, v. 21, n. 5, p. 540–544, 2017.
FIELDS, W.; KIELIAN, M. A Key Interaction between the Alphavirus
Envelope Proteins Responsible for Initial Dimer Dissociation during Fusion.
Journal of Virology, v. 87, n. 7, p. 3774–3781, 2013.
GANESAN, V. K.; DUAN, B.; REID, S. P. Chikungunya virus:
Pathophysiology, mechanism, and modeling. Viruses, v. 9, n. 12, p. 1–14,
2017.
GIOVANNI DE-SIMONE, S. Mayaro Virus Disease. Journal of Human
Virology & Retrovirology, v. 1, n. 3, p. 1–11, 2014.
GOTTLIEB, T.; BEN-YEDIDIA, T. Epitope-based approaches to a universal
influenza vaccine. Journal of Autoimmunity, v. 54, p. 15–20, 2014.
HALSEY, E. S. et al. Mayaro virus infection, Amazon Basin region, Peru,
2010-2013. Emerging Infectious Diseases, v. 19, n. 11, p. 1839–1842,
2013.
HASAN, M. A. et al. A comprehensive immunoinformatics and target site
study revealed the corner-stone toward Chikungunya virus treatment.
Molecular Immunology, v. 65, n. 1, p. 189–204, 2015.
J. JOSE, A TAYLOR, R. K. Spatial and Temporal Analysis of Alphavirus
Replication and Assembly in Mammalian and Mosquito Cells. mBio, v. 8, n.
1, p. 1–16, 2017.
KIM, Y. et al. Immune Epitope Database and Analysis Resource.
Encyclopedia of Immunobiology, v. 40, n. Web Server issue, p. W525–
W530, 2012.
KORI, P.; SAJJAN, S. S.; MADAGI, S. B. In silico prediction of epitopes for
641
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
Chikungunya viral strains. Journal of Pharmaceutical Investigation, v.
45, n. 6, p. 579–591, 2015.
KUMAR, S. et al. Development of novel antibodies against non-structural
proteins nsP1, nsP3 and nsP4 of chikungunya virus: potential use in basic
research. Archives of Virology, v. 160, n. 11, p. 2749–2761, 2015.
LONG, K. C. et al. Experimental transmission of Mayaro virus by Aedes
aegypti. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 85, n.
4, p. 750–757, 2011.
LOPES, N.; NOZAWA, C.; LINHARES, R. E. C. Características gerais e
epidemiologia dos arbovírus emergentes no Brasil. Revista Pan-
Amazônica de Saúde, v. 5, n. 3, p. 55–64, 2014.
LYRA, P. et al. Erratum: Congenital Chikungunya Virus Infection after an
Outbreak in Salvador, Bahia, Brazil. American Journal of Perinatology
Reports, v. 06, n. 03, p. e324–e324, 2016.
MACKAY, I. M.; ARDEN, K. E. Mayaro virus: a forest virus primed for a trip
to the city? Microbes and Infection, v. 18, n. 12, p. 724–734, 2016.
MEJÍA, C.-R.; LÓPEZ-VÉLEZ, R. Tropical Arthritogenic Alphaviruses.
Reumatología Clínica (English Edition), v. 14, n. 2, p. 97–105, 2018.
NUNES, M. R. T. et al. Emergence and potential for spread of Chikungunya
virus in Brazil. BMC Medicine, v. 13, n. 1, 2015.
PATRONOV, A.; DOYTCHINOVA, I. T-cell epitope vaccine design by
immunoinformatics. Open biology, v. 3, n. 1, p. 120139, 2013.
PIETILÄ, M. K.; HELLSTRÖM, K.; AHOLA, T. Alphavirus polymerase and
RNA replication. Virus Research, v. 234, p. 44–57, 2017.
RASHAD, A. A.; MAHALINGAM, S.; KELLER, P. A. Chikungunya virus:
Emerging targets and new opportunities for medicinal chemistry. Journal of
Medicinal Chemistry, v. 57, n. 4, p. 1147–1166, 2014.
ROCK, K. L.; REITS, E.; NEEFJES, J. Present Yourself! By MHC Class I
and MHC Class II Molecules. Trends in Immunology, v. 37, n. 11, p. 724–
737, 2016.
ROUGERON, V. et al. Chikungunya, a paradigm of neglected tropical
disease that emerged to be a new health global risk. Journal of Clinical
Virology, v. 64, p. 144–152, 2015.
RUPP, J. C. et al. Alphavirus RNA synthesis and non-structural protein
functions. Journal of General Virology, v. 96, n. 9, p. 2483–2500, 2015.
SETTE, A.; FIKES, J. Epitope-based vaccines: An update on epitope
identification, vaccine design and delivery. Current Opinion in
Immunology, v. 15, n. 4, p. 461–470, 2003.
SIDNEY, J. et al. HLA class I supertypes: A revised and updated
classification. BMC Immunology, v. 9, p. 1–15, 2008.
SINGH, S. et al. PEPstrMOD: Structure prediction of peptides containing
natural, non-natural and modified residues. Biology Direct, v. 10, n. 1, p.
1–19, 2015.
642
PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DE CÉLULAS T CONSERVADOS DA RNA
POLIMERASE RNA DEPENDENTE DOS VÍRUS CHIKUNGUNYA E MAYARO
SKWARCZYNSKI, M.; TOTH, I. Peptide-based synthetic vaccines.
Chemical Science, v. 7, n. 2, p. 842–854, 2016.
SLEGERS, C. A. D. et al. Persisting arthralgia due to Mayaro virus infection
in a traveler from Brazil: Is there a risk for attendants to the 2014 FIFA
World Cup? Journal of Clinical Virology, v. 60, n. 3, p. 317–319, 2014.
THEILACKER, C. et al. Prolonged polyarthralgia in a German traveller with
Mayaro virus infection without inflammatory correlates. BMC Infectious
Diseases, v. 13, n. 1, p. 2011–2014, 2013.
VANCINI, R.; HERNANDEZ, R.; BROWN, D. Alphavirus entry into host
cells. 1. ed. [s.l.] Elsevier Inc., 2015. v. 129
WAHEED, Y. et al. Prediction of promiscuous T cell epitopes in RNA
dependent RNA polymerase of Chikungunya virus. Asian Pacific Journal
of Tropical Medicine, v. 10, n. 8, p. 760–764, 2017.
WHO. Chikungunya: Fact sheets. Disponível em:
<http://www.who.int/en/news-room/fact-sheets/detail/chikungunya>. Acesso
em: 2 nov. 2018.
WIECZOREK, M. et al. Major histocompatibility complex (MHC) class I and
MHC class II proteins: Conformational plasticity in antigen presentation.
Frontiers in Immunology, v. 8, n. MAR, p. 1–16, 2017.
YAP, M. L. et al. Structural studies of Chikungunya virus maturation.
Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 114, n. 52, p.
13703–13707, 2017.

643
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
CAPÍTULO 33

PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E
PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
Renata Lira de ASSIS 1
Hércules Gonçalves de Almeida MEDEIROS 1
Brena Heloiza Gonçalves ARAÚJO 1
Clara Soeiro MAAS 1
Flávia de Oliveira PAULINO 2
1
Graduandos do curso de Biotecnologia, UFPB;
2
Orientadora/Professora do CBiotec/UFPB.
renata_lira_assis@hotmail.com

RESUMO: Os probióticos estão presentes nos hábitos


alimentares há muito tempo, principalmente na Ásia. Seu
consumo de forma contínuarefletem na melhoria da qualidade
de vida e na longevidade da população. Encontrados em
lácteos fermentados, os probióticos apresentam o potencial de
regular a microbiota intestinal, que por consequência atua
positivamente na interação bidirecional entre o intestino e o
sistema nervoso. O objetivo deste trabalho foi revisar os
diversos benefícios dos probióticos como alimento funcional,os
aspectos legais e de produção, e o seu consumo no Brasil e no
mundo. Para a metodologia, ao pesquisa foi embasada em
dados consultados na literatura, publicados a partir de 2013,
nas plataformas NCBI, Google Scholar e SciELO. Também
foram realizadas pesquisas no acervo de instituições
governamentais sobre legislação. Verificou-se que os
probióticos possuem grandes benefícios como antidiarreicos,
hipocolesterolêmicos, promotores de melhora na motilidade
intestinal e controladores de infecções. Além disso, diante da
crescente demanda, faz-se necessário a introdução desses
microrganismos em matrizes tanto lácteas como não lácteas,
visandoatender os mais diversos públicos.Sendo assim, tendo
em vista o aumento de produtos funcionais lançados e o
644
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
crescimento desse mercado em todo o mundo, investimentos
no desenvolvimento desse setor alimentício no país se fazem
necessários. O estreitamento de relação entre universidades e
empresas/indústrias poderiam trazer benefícios tecnológicos,
econômicos, de súde e sociais para diversas populações.
Palavras-chave: Bactérias lácteas. Alimento funcional. Saúde.

INTRODUÇÃO

A relação entre saúde humana e alimentação é antiga, e


muito se conhece sobre alimentos como promotores de saúde
e bem-estar. Observa-se que reflexos nos índices de qualidade
de vida, doenças e longevidade da populaçãotem relação direta
com o hábito alimentar da população (MORAES; COLLA,
2006).
A partir do século XX, o mundo passou por um processo
chamado "transição nutricional", caracterizado por excesso de
doenças crônicas não transmissíveis, obesidade e também
subnutrição. Esse processo foi favorecido por questões
econômicas, sociais e demográficas, que ao atingirem hábitos
alimentares das pessoas, afetam os perfis de saúde da
população. Fatores como novos hábitos e comportamentos
alimentares, baixa escolaridade e renda, alterações no
ambiente familiar e mudanças de rotina afetam os hábitos
alimentares. Dessa forma, discussões que relacionam alimento
e saúde voltam a ser frequentes (VAZ; BENNEMANN, 2018).
Atualmente, observa-se o empenho nas pesquisas em
desenvolvimento de novos alimentos de propriedades mais
nutritivas e que possuam um apelo de promoção da saúde. Os
probióticos participam desse mercado crescente, sendo os
alimentos funcionais de destaque no setor. Por definição,
probióticos são microrganismos vivos que, quando

645
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
administrados em quantidades adequadas, confere um
benefício à saúde do indivíduo (BRASIL, 2018).
A pesquisa com probióticos cresceu exponencialmente
durante as duas últimas décadas.. Pode-se observar, por
exemplo, o fato de que, durante o período de 1980-2000, 180
artigos com os termos “probiotics Lactobacilli” foram
depositados, em comparação com 5700 artigos na mesma área
que foram publicados entre 2000–2014 na base PubMed.
Tantos estudos e pesquisas envolvendo a temática
demonstram a relevância do tema (PANDEY; NAIK; VAKIL,
2015).
Os produtos de perfil probiótico e prebiótico fomentam
um mercado crescente no mundo. A partir de 2000, o
crescimento de depósitos de patentes em probióticos foi
significativo, sendo o maior no ano de 2011. A relevância do
tema também é mostrada por haver cada vez mais
comprovação científica na área, espalhados em periódicos
nacionais e internacionais. McFarland (2015) aponta uma
explosão no número de publicações em Probióticos na base
PubMed, constanto num período de 14 anos, mais de 12 mil
publicações na área. Nesse sentido, o Brasil tem acompanhado
o desenvolvimento científico e tecnológico na área e é
considerado o segundo país da América Latina que mais realiza
solicitação de depósitos de patentes envolvendo prebióticos e
probióticos (PIRES et al., 2015).
A relação do homem com microrganismos é antiga e
global, desde que utilizava os mesmos em processos
fermentativos a fim da produção de alimentos, aplicando-os em
lácteos, vegetais, pães, carnes e bebidas, como vinho, cerveja
e vinagre, por exemplo. Com isso, os povos antigos
observavam que, ao realizarem processos fermentativos em
alimentos, a vida útil dos mesmos era prolongada e os mesmos
646
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
adquiriam novas características sensoriais desejáveis, sem
ainda saber dos benefícios à saúde (GOGINENI et al., 2013).
Em muitas civilizações, os microrganismos, até então
desconhecidos, participavam da fermentação do leite, por
exemplo. “The vedic hymns” da Índia, com cerca de 2.000 a.C.,
indica que os hindus bebiam leite fermentado desde os tempos
pré-históricos. Entre 2000 e 3000 a.C., muitas etnias possuíam
registros de leite fermentado, queijo e manteiga sendo
comumente consumidos (GOGINENI et al., 2013).
Hipocrates (Grécia) e Plinius (Roma), importantes
personalidades para a época, ressaltaram o leite fermentado
como um potencial remédio para desordens intestinais.
Hippocrates ainda declarou “Faça do seu alimento o seu
remédio”, frase que reverbera até hoje com seu significado
(GOGINENI et al., 2013).
Em 1899 Henry Tissier apontou as bifidobactérias como
componentes da microbiota intestinal do ser humano em seus
estudos, e passou a recomendar tal espécie para combater a
diarreia infantil. Em 1908, Metchnikoff recebeu o Prêmio Nobel
por suas contribuições na área de imunologia, advindas de
estudos envolvendo ingestão de microrganismos. Em sua obra,
trazia substâncias que alterariam favoravelmente a microbiota
intestinal. A partir de estudos como esse, observou-se a
importância do intestino no bem-estar e saúde do ser humano,
sendo posteriormente reconhecido mais do que um órgão
responsável apenas por funções digestivas (OZEN; DINLEYICI,
2015).
Diante dessa mudança de paradigma de que o intestino
é responsável apenas pela digestão, sabe-se hoje que esse
órgão possui uma grande rede de neurônios que estão
interligados (os sensoriais, os motores e os interneurônios).
Eles controlam diversas funções do órgão, como motilidade,
647
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
absorção, digestão, excreção, secreção e defesa,
caracterizando o sistema nervoso entérico (SNE), e por isso,
também é conhecido como “segundo cérebro”. Além disso, sua
função pode ser afetada ou modulada por sinais de neurônios
externos vindos do sistema nervoso central e, da mesma forma,
o SNE também pode afetar locais fora da periferia através das
vias vagal, espinhal, pélvica e simpática (CHESNÉ; CARDOSO;
VEIGA-FERNANDES, 2018).
Alguns estudos mostram que alterações do microbioma
podem ocasionar doenças mentais como transtorno do
espectro autista, depressão, ansiedade e esquizofrenia e
resposta exacerbada ao estresse, evidenciando assim a
importância desse órgão (ZORZO, 2017).
Além disso, grandes evidências sugerem que a
microbiota intestinal influencia fortemente nas interações
bidirecionais entre o intestino e o sistema nervoso. Devido a
essa interação, esse órgão regula a química do cérebro e
influencia os sistemas neuroendócrinos que se relacionam à
resposta ao estresse, ansiedade e função da memória
(CARABOTTI et al., 2015).
Ademais, muitos desses efeitos são provavelmente
específicos para determinadas linhagens, como o Lactobacillus
rhamnosus e o Bifidobacterium longum, indicando portanto, um
papel potencial dessas linhagens probióticas específicas como
uma estratégia auxiliar para desordens neurológicas
(CARABOTTI et al., 2015).
Nessa mesma linha de pesquisa, Collins, Kassam e
Bercik (2013) mostraram, através de alguns experimentos, a
relação entre a microbiota intestinal e o sistema nervoso central.
Para isso, realizaram transplantes da microbiota fecal entre
camundongos e foram observadas alterações químicas e
comportamentais no cérebro dos animais, ressaltando-se a
648
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
importância da integridade e normalidade do microbioma. Além
disso, os autores também sugeriram a possibilidade de que
esse tipo de transplante se torne um tratamento alternativo
contra doenças que atingem o sistema nervoso.
Dentre os alimentos que regulam de forma benéfica o
intetsino estão os que possuem alegações funcionais. Nestes,
incluem-se os probióticos. Em 2002, a FAO/OMS formulou
diretrizes sobre a avaliação de probióticos em alimentos, dada
a demanda por pesquisa e consumo deste tipo de produto no
mundo (PANDEY; NAIK; VAKIL, 2015).
Considerando-se o exposto, foi objetivo deste trabalho
realizar uma revisão de literatura sobre probióticos e sua
correlação com questões de saúde, abordando definições,
requisitos, aspectos legais, aspectos de produção, benefícios e
tendências de consumo.

MATERIAIS E MÉTODO

Este capítulo constitui-se de uma revisão sobre


probióticos e suas demais relações envolvendo saúde,
benefícios, consumo, aspectos legais e aspectos de produção.
Para isso foi realizada uma seleção da literatura cujos trabalhos
foram publicados no período entre 2013 e 2018. Considerou-se
como critério de inclusão na pesquisa bibliográfica artigos que
apresentassem obrigatoriamente conteúdo relacionado com o
tema central.
Os descritores utilizados na literatura especializada
foram: alimentos funcionais, probióticos, histórico dos alimentos
funcionais, legislação, consumo, benefícios dos probióticos,
tendências de pesquisa com probióticos e biotecnologia de
alimentos. Os descritores foram utilizados nos idiomas
português e inglês. Foram obtidos e analisados 72 trabalhos.
649
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
Após a leitura dos artigos e, admitindo-se como critério de
exclusão o caráter científico mal estabelecido ou pouco
fundamentado, foram selecionados e utilizados 36 trabalhos,
sendo 22 internacionais e 14 nacionais.
As consultas a livros e periódicos indexados utilizados
nesta revisão bibliográfica foram obtidos nas bases do NCBI,
Google Scholar e SciELO, além de pesquisa no acervo digital
de instituições governamentais, acerca de assunto legais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diversos países e alianças no mundo desenvolvem


pesquisas relevantes e são pioneiros quando trata-se de
alimentos funcionais, como é o caso do Japão, Canadá,
Estados Unidose a União Europeia. Estes países classificam o
alimento funcional como aquele que, além de nutrir a
população, oferece também benefícios para a saúde do
consumidor. No entanto, apenas o Japão possui a expressão
“alimento funcional” definida por lei. Além disso, de acordo com
o Departamento de Saúde japonês, esses alimentos recebem
um selo de certificação, garantindo aos indivíduos
consumidores um determinado benefício para a saúde
(COSTA; ROSA, 2016). Nesse país, os alimentos funcionais
pertencem à categoria formal chamada de “Foods for Specific
Health Uses”, também conhecidos como FOSHU. Para se
enquadrar nessa categoria, os alimentos funcionais japoneses
devem possuir eficácia em estudos clínicos, segurança em
estudos clínicos e não clínicos e determinação dos
componentes ativos e efetivos. Além disso, é necessário um
requerimento com evidências científicas que confirmem a
ligação médica ou nutricional, a dose sugerida do alimento, a
sua segurança e as descrições das qualidades físicas e
650
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
químicas do mesmo (MARTIROSYAN; SINGH, 2015).
No Brasil, a legislação não reconhece o termo “alimentos
funcionais”, mas menciona o termo alegação funcional através
da Resolução nº 19, de 30 de Abril de 1999 (BRASIL, 1999).
Nesta legislação, o Ministério da Saúde adverte que, para
alegar um produto com propriedade funcional, o nutriente ou
não nutriente deve ter um papel metabólico ou fisiológico no
crescimento, desenvolvimento, manutenção e outras funções
comuns do organismo humano. Em relação ao registro de um
produto com alegação de propriedade funcional pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a resolução exige
alguns elementos como, por exemplo, a comprovação de uso
pela população de forma tradicional sem gerar danos à saúde
e a necessidade de ter evidências abrangentes na literatura
científica (BRASIL, 1999). Além disso, os alimentos com
propriedades funcionais devem ser consumidos na alimentação
cotidiana e, para que tragam os devidos benefícios, devem ser
ingeridos de forma regular (KALIL, 2016).
Muitas vezes, o alimento funcional pode ser entendido de
forma equivocada como nutracêutico, termo criado em 1989 por
Stephen Defelice. O pesquisador definiu o termo nutracêutico
como qualquer substância que é um alimento ou está contida
em um e que, além de nutrir, fornece benefícios para a saúde,
inclusive prevenção e tratamento de doenças (GULATI;
ANAND; RAY, 2016). Além disso, os nutracêuticos podem se
apresentar em formulações farmacêuticas como cápsulas, por
exemplo. Já os alimentos funcionais devem ter
obrigatoriamente apresentação de alimento in natura (GOMES;
MAGNUS; SOUZA, 2017).
Os nutrientes e não nutrientes que, de acordo com a
ANVISA têm propriedade funcional, estão listados na tabela 1
com suas respectivas alegações. No entanto, é necessário que
651
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
o consumo seja associado a uma alimentação balanceada e a
hábitos saudáveis (BRASIL, 2016).

Tabela 1. Lista de nutrientes e não nutrientes com suas respectivas


alegações funcionais.
Nutriente ou não
Alegação funcional
nutriente

Ácidos graxos Auxiliam na manutenção de níveis saudáveis de


ômega 3 (EPA e triglicerídeos
DHA)

Carotenóides Ação antioxidante que protege as células contra os


radicais livres

Fibras Auxiliam o funcionamento do intestino. Algumas


contribuem para a redução do colesterol, outras
alimentares para o equilíbrio da flora intestinal e para a redução
da absorção de gordura

Polióis Alguns não produzem ácidos que danificam os


dentes

Probióticos Contribui para o equilíbrio da flora intestinal

Proteína de soja Pode ajudar a reduzir o colesterol

EPA= ácido graxo eicosapentaenoico, DHA= ácido graxo docosaenóico.


Fonte: BRASIL, 2016.

Dentre esses itens, uma classe que se destaca é a dos


probióticos que, de acordo com a Resolução nº 2 de 7 de
Janeiro de 2002, são microrganismos (MOs) vivos que
possuem a capacidade de melhorar o equilíbrio da microbiota
intestinal, gerando efeitos que beneficiam a saúde do indivíduo
(BRASIL, 2002).
Os probióticos também são definidos como
microorganismos vivos que, se ingeridos em concentrações
adequadas, conferem benefícios à saúde do consumidor,
652
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
podendo constituir-se de leveduras ou bactérias. Esses
microganismos estão presentes em diversos alimentos,
principalmente os lácteos fermentados que são nutritivos e
podem apresentar tais microrganismos vivos (GILLE et al.,
2013).
O termo probiótico advém do latim “pro” e do grego
“bios”, e significa literalmente "para a vida". Foi usado pela
primeira vez em 1953 por Kollath , se referindo a suplementos
orgânicos e inorgânicos que se acreditava ter a capacidade de
restaurar a saúde de pacientes desnutridos (GOGINENI et al.,
2013). A Food and Agriculture Organization (FAO), Fundação
das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura e a World
Health Organization (WHO), Organização Mundial da Saúde,
explanam, conjuntamente, diretrizes para avaliação eficaz de
probióticos adicionados em alimentos para alegações de saúde
e benefícios. As diretrizes da FAO/OMS sobre probióticos
poderiam ser adotadas internacionalmente para avaliar
probióticos em alimentos que poderiam resultar na
fundamentação de alegações de saúde. Estes organismos
incluem identificação da linhagem e depósito da mesma em
coleção internacional. As diretrizes também requerem
biossegurança a partir de estudos in vitro, em animais e em
seres humanos, sob os parâmetros duplo-cego, randomizado e
placebo. Ainda há a exigência de caracterização funcional das
linhagens a partir de testes in vitro e em animais (PANDEY;
NAIK; VAKIL, 2015).
De acordo com estas diretrizes internacionais, o
alimento probiótico deve conter em sua rotulagem: gênero,
espécie e linhagem utlizados, o número mínimo de
microrganismos viáveis no final da vida de prateleira, detalhes
de condições de armazenamento adequado e as formas de
contato com a empresa (BRASIL, 2018).
653
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
Vários mecanismos estão associados aos efeitos
benéficos dos probióticos, como produção de substâncias
inibitórias por exemplo H2O2, bacteriocinas, ácidos orgânicos, e
outros; bloqueio de sítios de adesão para bactérias patogênicas
no intestino; concorrência com as bactérias patogênicas por
nutrientes; degradação de toxinas, bem como o bloqueio dos
receptores de toxina; modulação de respostas imunes (por meio
de estimulação de citocinas e imunoglobulinas) (PANDEY;
NAIK; VAKIL, 2015).
No Brasil, a ANVISA estabelece alguns requisitos para
comprovação da segurança e dos benefícios à saúde dos
probióticos para uso em alimentos na resolução da diretoria
colegiada, a RDC Nº 241, de 26 de julho de 2018. Na seção I
do Art. 4, fica estabelecido que o uso de probióticos em
alimentos requer a comprovação da sua segurança e benefícios
a saúde, e que tal comprovação deve seguir a um protocolo de
petição de avaliação de segurança e eficácia (BRASIL, 2018).
A resolução em questão (BRASIL, 2018), abrange os
microrganismos potenciais probióticos e os alimentos
adicionados desses microrganismos. A legislação também
aborda, no Capítulo II, Seção II, Art.7 que, as linhagens das
espécies a serem reconhecidas como probióticos devem ser
descritas com o nome da espécie, linhagem, origem da mesma
e depósito da linhagem em coleção internacionalmente aceita.
A mesma deve apresentar um nível de biossegurança
comprovada, histórico de uso seguro, ausência de fatores de
virulência e metabólitos tóxicos, ausência de resistência a
antibióticos e susceptibilidade a pelo menos dois (Seção 3, Art.
8). Quanto à origem do microrganismo, o mesmo pode ser
isolado da microbiota humana ou de alimentos, mas caso não
seja, são necessários testes envolvendo mutagenicidade e
genotoxicidade, toxicidade aguda, subcrônica e a longo prazo
654
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
(Seção 3, Art.9) Há também a necessidade de haver
comprovação de seus benefícios, podendo ter caráter geral e
específico, considerando-se a totalidade e o nível das
evidências (BRASIL, 2018).
Por requisição, o microrganismo deve sobreviver ao trato
gastrintestinal humano a partir de estudos em população, testes
in vitro, considerando-se a concentração mínima prevista. Em
caso de associação de duas ou mais espécies desses
microrganismos a serem avaliados, há a necessidade de testes
dos mesmos isolados e em conjunto para assegurar que o
benefício seja proporcionado (Seção 3, Art. 12, 13,14 e 15). O
restante da resolução ainda estabelece ainda mais diretrizes
burocráticas relacionadas ao tema (BRASIL, 2018).
Para ser considerado probiótico, a quantidade mínima
viável de Unidades Formadoras de Colônias (UFC) deve estar
compreendida entre 108 a 109 UFC, coforme a recomendação
diária do produto. Alguns valores menores que esses podem
ser aceitos se a empresa do produto comprovar a eficácia do
probiótico. A documentação necessária para comprovação de
que o produto é eficiente são: um laudo que indique que há
quantidade mínima viável do MO até o prazo final da validade,
e um teste de resistência desses MO aos sais biliares e à acidez
estomacal (BRASIL).
Para a legislação brasileira, são considerados
probióticos os MOs pertencentes aos gêneros Lactobacillus,
Bifidobacterium e Enterococcus, conforme listado na Tabela 2
(BRASIL).

Tabela 2. Microrganismos considerados probióticos pela ANVISA.

Microrganismos probióticos Formato

655
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
Lactobacillus acidophilus Bacilo
Lactobacillus casei shirota Bacilo
Lactobacillus casei variedade rhamnosus Bacilo
Lactobacillus casei variedade defensis Bacilo
Lactobacillus paracasei Bacilo
Lactococcus lactis Coco
Bifidobacterium bifidum Bacilo
Bifidobacterium animallis (incluindo a Bacilo
subespécie B. lactis)
Bifidobacterium longum Bacilo
Enterococcus faecium Coco
Fonte: BRASIL.

Alguns dos microrganismos probióticos mais comumente


utilizados são linhagens de Lactobacillus rhamnosus, L. reuteri,
algumas linhagens de L. casei, L. acidophilus, bifidobactérias e
Bacillus coagulans, Escherichia coli estirpe Nissle 1917, certos
enterococos e Saccharomyces boulardii. Esses probióticos são
adicionados aos alimentos, especialmente em produtos lácteos
fermentados, sendo esses adicionados individualmente ou em
associações. As pesquisas na área avançam, prospectando
outras espécies candidatas a serem consideradas probióticas
(PANDEY; NAIK; VAKIL, 2015).
Alguns benefícios dos probióticos são relatados com
resultados concisos, provenientes de estudos como a
prevenção e redução de agravos ou doenças. Nesse sentido,
quadros como a diarreia causada por rotavírus e por uso de
656
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
antibióticos, pode ser tratada pela ingestão de estirpes
probióticas, especialmente de Lactobacilli. Algumas culturas de
bactérias, presentes em iogurte principalmente, são conhecidas
por promoverem a digestão da lactose, pois as mesmas
possuem a enzima B-galactosidase, possibilitando a digestão
desse açúcar em indivíduos intolerantes a ele (VASUDHA;
MISHRA, 2013).
Algumas cepas, como Lactobacillus casei subesp.
shirota e Bifidobacterium longum BB536 estão relacionadas a
estudos clínicos no aumento da frequência da evacuação e
melhoria na maciez das fezes. Tais estudos comprovaram o
efeito que o ácido láctico promove na motilidade intestinal
(VASUDHA; MISHRA, 2013).
Na década de 1970, foram evidenciados por Mann e
Spoerry os efeitos redutores dos níveis séricos de colesterol
pelo consumo de leites fermentados no povo Maasai. Com
esses resultados, foram sugeridos que tais efeitos eram
proporcionados graças à inibição da síntese de colesterol do
acetato, um precursor da acetil-coenzima A. Após tal estudo,
que relatou o efeito redutor de colesterol trazido pelo leite
fermentado por uma linhagem de Lactobacillus, outros estudos
foram realizados a fim de averiguar os efeitos
hipocolesterolêmicos de bactérias do ácido láctico,
particularmente das linhagens de L. bulgaricus, L. reuteri e
Bacillus coagulans. Outros resultados provenientes de
pesquisas com consumo de probióticos demonstram resultados
similares, como reduções da lipoproteína de baixa densidade
(LDL) e do colesterol total.. Outros estudos descobriram
aumentos na lipoproteína de alta densidade (HDL), redução da
pressão arterial sistólica (PAS), aumento da atividade
antioxidante e influência na regulação da leptina (GANDHI;
DAS; HAZRA, 2013).
657
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
Estudos em humanos com leite fermentado por L.
acidophilus L1 demonstraram uma redução no colesterol sérico.
Além disso, o consumo de iogurte desnatado contendo
Bifidobacterium longum BL1 em um ensaio envolvendo 32
hipercolesterolêmicos resultou em declínio significativo nos
triglicerídeos e colesterol LDL. Tantos efeitos significativos
podem ocorrer devido a alguns fatores, como diminuição da
hidroxil-metil-glutaril-Coenzima-A redutase no fígado;
conversão significativa de colesterol em ácidos biliares;
incorporação do colesterol nas membranas celulares dos
probióticos durante o crescimento; desconjugação enzimática
dos ácidos biliares pelo probióticos. Ao serem desconjugados,
tais moléculas são absorvidas pelo intestino, levando à sua
eliminação nas fezes e, assim, reduzindo o colesterol sérico.
Tornam-se necessários testes in vivo a fim de comprovar tais
alegações fundamentadas em estudos in vitro (THUSHARA el
al. 2013).
Além disso, ainda sobre os efeitos desses
microrganismos, estudos sugerem que soluções probióticas
fontes de Lactobacilli, fornecidas por via oral ou intravaginal,
podem fornecer um tratamento para ajudar a controlar
infecções urogenitais em mulheres. Ademais, um estudo de
caso-controle com 139 mulheres com infecção aguda do trato
urinário revelou que o consumo de leite fermentado contendo
bactérias probióticas foi associado com a diminuição do risco
de recorrência de infecção do trato urinário (VASUDHA;
MISHRA, 2013).
A associação de probióticos com outros tipos de
problemas a fim de trazer melhorias precisam de mais estudos
para comprovação, porém, síndrome do intestino irritável,
enterocolite necrosante, alergia e dermatite atópica
(VANDENPLAS; GUYS; DAUBE, 2015), diabetes, sobrepeso,
658
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
hipertensão (THUSHARA et al, 2013) possuem evidências de
serem melhoradas em algum grau pelo uso de probióticos. No
entanto, são necessários estudos mais aprofundados para
alegações concisas.
É sabido que os produtos lácteos são os principais meios
para a introdução de culturas probióticas. Isso se deve, por
exemplo, devido à facilidade de não ser necessário alterar os
processos de produção nem a tecnologia utilizada. Além desses
fatores, muitas pessoas já se mostram acostumadas ou
dispostas a consumir esses microrganismos nesse tipo de
produto (PIMENTEL et al., 2015). No entanto, há necessidade
da incorporação dessas culturas em outros tipos de matrizes
alimentares (BEVILACQUA, 2013). Tal estratégia seria
importante por dois principais motivos: aumentar as opções de
probióticos no mercado e atender outros públicos, como os
intorelantes à lactose, os alérgicos à proteína do leite, os
estritamente vegetarianos, as pessoas com hipercolesterolemia
e as que não apreciam os derivados lácteos (PIMENTEL et al.,
2015).
Pesquisas envolvendo a aplicação de culturas
probióticas em diferentes matrizes alimentares podem se
caracterizar como um grande desafio no que tange à viabilidade
dos probióticos e manutenção do seu potencial benéfico, cujo
sucesso vai depender do número final de células viáveis que
modificam beneficamente a microbiota intestinal do hospedeiro
(SHORI, 2016). Ao avaliar a eficácia da incorporação dos MOs
em diferentes matrizes alimentares, deve ser considerado, além
da segurança, a compatibilidade do produto com o MO e a
manutenção da sua viabilidade através do processamento de
alimentos, embalagem e condições de armazenamento
(KECHAGIA, 2013).

659
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
Alguns estudos abordam exemplos de possíveis
matrizes não lácteas como meios de incorporação de culturas
probióticas, como biscoitos e salsichas. Além desses alimentos,
outros já foram testados e apresentaram resultados
promissores, como sucos de frutas e vegetais, frutas pouco
processadas, vegetais crus e fermentados, cereais,
alcachofras, salada de frutas e azeitonas através de tecnologias
como microencapsulação, impregnação a vácuo e imobilização
(MARTINS et al., 2013, 2016; VANDENPLAS; HUYS; DAUBE,
2015).
No entanto, mais estudos devem ser realizados para
testar outros ingredientes e analisar outros tipos de meio que
não tenham sido utilizados pela indústria, para assim atender
mais públicos-alvo (WEDAJO, 2015). Para isso, estudos
voltados para a identificação de bactérias probióticas que
aumentaram sua tolerância ao estresse também tem
despertado o interesse de pesquisadores, tendo em vista seus
potenciais de sobrevivência durante a produção,
processamento e armazenamento de produtos alimentares, o
que também pode acarretar no oferecimento de novos
microrganismos funcionais para o uso na indústria de alimentos
e farmacêutica (GANDHI, 2016; FOLIGNÉ, 2013).
Considerando-se os avanços em pesquisa no país,
principalmente nas duas últimas décadas, o Brasil ainda
permanece carente de inovação tecnológica. Um baixo baixo
número de depósitos de patentes refletem numa posição de
menor destaque no que se refere a gerar produtos novos e
assim se distanciar da dependência de tecnologia e inovação
estrangeira, já bem consolidada. Ademais, existe uma escassa
quantidade de contratos de transferência de tecnologia geridos
pelas Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT) (NUNES,
2014). Isso pode ser notado pela quantidade de patentes no
660
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
setor alimentício registradas no país que, segundo o Instituto
Nacional de Propriedade Industrial (INPI), representa apenas
22,45% das patentes depositadas. Nesses casos, as maiores
depositantes são constituídas por empresas, as quais
contribuíram com 77,55% dos pedidos, enquanto 16,33% dos
depósitos foram efetuados por universidades. No setor
alimentício, rdestaca-se a Nestlé® S.A. como uma das maiores
depositantes (SANTOS, 2014a).
A fim de melhorar esse quadro, e aproximar cada vez
mais as empresas das ICTs, foi regulamentada a Lei da
Inovação, que facilita a cooperação entre esses dois setores e
assim culmina em uma ampliação das capacidades
tecnológicas e agregação de valores, aumentando a produção
científica no país (SANTOS, 2014b).
É possível notar que o principal impasse do
desenvolvimento tecnológico e inovação, principalmente do
setor alimentício, se dá pelo baixo investimento e
reconhecimento nacional, problemática essa encontrada em
toda a América Latina. Isso pode ser confirmado a partir das
diferenças significativas de valores movimentados no ano de
2013 que, foi de US$ 264 bilhões, na qual a América Latina
representa apenas 17% do mercado de alimentos e bebidas
funcionais, movimentando valor próximo a US$ 45 bilhões,
sendo que o Brasil é responsável por US$ 14,6 bilhões desse
total (SANTOS, 2014a).
A principal explicação para essa discrepância de
inovação no setor alimentício, comparado a outros países
é,sem dúvida, a grande carência de pesquisadores atuando no
setor industrial, gerando incompatibilidade entre o número de
profissionais qualificados e os que realmente atuam no
mercado (SANTOS, 2014b). Tal fato remete à dificuldade de
acolhimento e escassez de vagas do mercado para
661
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
profissionais extremamente qualificados no país, ficando esses
retidos em instituições de ensino e vinculados aos perfis
acadêmicos.

CONCLUSÕES

É notório o crescimento na demanda por alimentos


funcionais no mundo, especialmente pelos probióticos. A
biotecnologia de alimentos aplicada à indústria, é responsável
pelo desenvolvimento de tais produtos funcionais, é
indispensável para a elaboração de produtos alternativos
exclusivos e contribui para a concepção e aplicação de
processos inovadores. Os avanços nesta área fornecem
soluções quanto à estabilidade e viabilidade probiótica, e
alternativas para sua associação em novas matrizes
alimentares, buscando atender as demandas do consumidor.
Sendo assim, baseado nas discussões anteriores, é é
imprescindível reconhecer a importância do consumo de
probióticos e os benefícios gerados por eles. Maiores
investimentos e estímulos à pesquisa e inovação nesse setor
representaria vantagens econômicas e tecnológicas.
Consequentemente, ações que estimulam a inovação e a
parceria entre os setores acadêmico e privado são importantes
e podem propulsionar o desenvolvimento de produtos benéficos
direcionados às demandas do consumidor moderno, ávido por
saúde e bem estar. A aproximação e estreitamento de relações
entre as esferas acadêmica e industrial, especialmente
relacionadas à biotecnologia de alimentos, com vistas ao
estudo e desenvolvimento de alimentos probióticos, podem
impulsionar o setor e colocar o Brasil em posição de destaque
e conforto tecnológico em relação aos seus concorrentes
comerciais.
662
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEVILACQUA, A. et al. Suitability of Bifidobacterium spp. and Lactobacillus


plantarum as probiotics intended for fruit juices containing citrus
extracts. Journal of food science, v. 78, n. 11, p. M1764-M1771, 2013.
BIGLIARDI, B.; GALATI, F. Innovation trends in the food industry: The case
of functional foods. Trends in Food Science & Technology, v. 31, n. 2, p.
118-129, 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA). Alegações de propriedade funcional aprovadas. 2016.
Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/>. Acesso em: 13 Novembro
2018.
______. Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA). Probióticos. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/>.
Acesso em: 14 de Setembro de 2018.
______. Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA). Resolução da Diretoria Colegiada nº 19, de 30 de Abril de 1999.
Aprova o Regulamento Técnico de procedimentos para registro de alimento
com alegação de propriedades funcionais e ou de saúde em sua
rotulagem. Diário Oficial da União; Poder Executivo, de 03 de maio de
1999.
______. Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA). Resolução da Diretoria Colegiada nº 02, de 7 de Janeiro de
2002. Aprova o Regulamento Técnico de Substâncias Bioativas e
Probióticos Isolados com Alegação de Propriedades Funcional e ou de
Saúde. Diário Oficial da União, Poder Executivo, de 09 de janeiro de
2002.
______. Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA). Resolução da Diretoria Colegiada RDC n° 241, de 26 de julho
de 2018. Dispõe sobre os requisitos para comprovação da segurança e dos
benefícios à saúde dos probióticos para uso em alimentos. Diário Oficial
da União, de 27 de Julho de 2018.
CARABOTTI, M. et al. The gut-brain axis: interactions between enteric
microbiota, central and enteric nervous systems. Annals of
gastroenterology: quarterly publication of the Hellenic Society of
Gastroenterology, v. 28, n. 2, p. 203, 2015.
CHESNÉ, J.; CARDOSO, V.; VEIGA-FERNANDES, H. Neuro-immune
regulation of mucosal physiology. Mucosal immunology, p. 1, 2018.
COLLINS, S. M.; KASSAM, Z.; BERCIK, P. The adoptive transfer of
behavioral phenotype via the intestinal microbiota: experimental evidence
and clinical implications. Current opinion in microbiology, v. 16, n. 3, p.
240-245, 2013.

663
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
COSTA, N. M. B.; ROSA, C. D. O. B. Alimentos funcionais: componentes
bioativos e efeitos fisiológicos. 2ª ed., Editora Rubio, Rio de Janeiro, 2016.
FOLIGNE, B.; DANIEL, C.; POT, B. Probiotics from research to market: the
possibilities, risks and challenges. Current opinion in microbiology, v. 16,
n. 3, p. 284-292, 2013.
GOGINENI, V. K. et al. Probiotics: history and evolution. Journal of
Ancient Diseases & Preventive Remedies, 2013.
GOMES, A. S.; MAGNUS, K.; SOUZA, A. H. Riscos e benefícios do uso de
nutracêuticos para a promoção da saúde. Revista Saúde e
Desenvolvimento, v.11, n.9, p. 57-75, 2017.
GULATI, K; ANAND, R; RAY, A. Nutraceuticals as adaptogens: The Role in
health and Disease. In: GUPTA, R.C. Nutraceuticals: Efficacy, Safety and
Toxicity. Elsevier, 2016, 193-205.
HAZRA, Tanmay; GANDHI, Kamal; DAS, Anamika. Nutritive Value and
Health Benefit of Fermented Milks. Research & Reviews: Journal of
Dairy Science and Technology, v. 2, n. 3, p. 25-28, 2018.
KALIL, I. Alimentos funcionais: substâncias auxiliam na proteção
contra doenças. IFF/Fiocruz. 2016. Disponível em:
<https://portal.fiocruz.br/noticia/alimentos-funcionais-substancias-auxiliam-
na-protecao-contra-doencas>. Acesso em: 14 Setembro 2018.
MCFARLAND, L. V. From yaks to yogurt: the history, development, and
current use of probiotics. Clinical Infectious Diseases, v. 60, n. suppl_2,
p. S85-S90, 2015.
MARTINS, E. M. F. et al. Fruit salad as a new vehicle for probiotic
bacteria. Food Science and Technology, Campinas, v. 36, n. 3, p. 540-
548, 2016.
MARTINS, E. M. F. et al. Products of vegetable origin: A new alternative for
the consumption of probiotic bacteria. Food Research International, v. 51,
n. 2, p. 764-770, 2013.
MARTIROSYAN, D. M.; SINGH, J. A new definition of functional food by
FFC: what makes a new definition unique?. Functional foods in health
and disease, v. 5, n. 6, p. 209-223, 2015.
MORAES, F.P.; COLLA, L. M. Alimentos funcionais e nutracêuticos:
definições, legislação e benefícios à saúde. Revista eletrônica de
farmácia, v. 3, n. 2, p. 109-122, 2006.
NUNES, G. S. Política Brasileira de CT&I: Avanços e Entraves. In:
SANTOS, F. L. (Org.). Desenvolvimento e Perspectivas da Propriedade
Intelectual no Brasil. Cruz das Almas: EDUFRB, 2014. p. 19 – 40.
OZEN, M.; DINLEYICI, E.C. The history of probiotics: the untold story.
Beneficial microbes, v. 6, n. 2, p. 159-165, 2015.
PANDEY, K. R.; NAIK, S. R.; VAKIL, B. V. Probiotics, prebiotics and
synbiotics-a review. Journal of food science and technology, v. 52, n.
12, p. 7577-7587, 2015.

664
PROBIÓTICOS: ATUALIDADES E PERSPECTIVAS NO BRASIL E NO MUNDO
PIMENTEL, T. C. et al. Probiotic viability, physicochemical characteristics
and acceptability during refrigerated storage of clarified apple juice
supplemented with Lactobacillus paracasei ssp. paracasei and
oligofructose in different package type. LWT-Food science and
Technology, v. 63, n. 1, p. 415-422, 2015.
PIRES, E. A. et al. Perfil dos documentos de patente referentes a
tecnologias e produtos probióticos, prebióticos e simbióticos na América
Latina. Cadernos de Prospecção, v. 8, n. 1, p. 142, 2015.
SANTOS, F. L. et al. Análise das patentes de tecnologias relacionadas aos
probióticos, prebióticos e simbióticos no Brasil/Analysis of technology
patents related to probiotics, prebiotics and symbiotic in Brazil. Brazilian
Journal of Food Technology, v. 17, n. 3, p. 252, 2014.
SANTOS, F. L. O Papel das ICT no Desenvolvimento Tecnológico do
Brasil. In: SANTOS, F. L. (Org.). Desenvolvimento e Perspectivas da
Propriedade Intelectual no Brasil. Cruz das Almas: EDUFRB, 2014. p.
233-254.
SHORI, A. B. Influence of food matrix on the viability of probiotic bacteria: A
review based on dairy and non-dairy beverages. Food Bioscience, v. 13,
p. 1-8, 2016.
THUSHARA, R. M. et al. Cardiovascular benefits of probiotics: a review of
experimental and clinical studies. Food & function, v. 7, n. 2, p. 632-642,
2016.
VANDENPLAS, Y.; HUYS, G.; DAUBE, G. Probiotics: an update. Jornal de
Pediatria, v. 91, n. 1, p. 6-21, 2015.
VASUDHA, S.; MISHRA, H. N. Non dairy probiotic beverages.
International Food Research Journal, v. 20, n. 1, 2013.
VAZ, D. S. S.; BENNEMANN, R. M. Comportamento alimentar e hábito
alimentar: uma revisão. Revista Uningá Review, v. 20, n. 1, 2018.
WEDAJO, B. Lactic acid bacteria: benefits, selection criteria and probiotic
potential in fermented food. J Prob Health, v. 3, n. 2, 2015.
ZORZO, R. A. Impacto do microbioma intestinal no Eixo Cérebro-
Intestino. International Journal of Nutrology, v. 10, n. 1, p. 298-305,
2017.

665
RISCOS OCUPACIONAIS ENFRENTADOS PELOS TRABALHADORES NO
ÂMBITO HOSPITALAR: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA.

666
CINASAMA 2018
CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE E MEIO
AMBIENTE: Os impactos da poluição na saúde e meio
ambiente

O CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE


MEIO AMBIENTE está destinado a estudantes e
profissionais da área saúde, educação, meio ambiente
e áreas afins e tem como objetivo de proporcionar, por
meio de um conjunto de palestras e apresentações de
trabalhos, subsídios para que os participantes tenham
acesso às novas exigências do mercado e da
educação no contexto atual. E ao mesmo tempo,
reiterar o intuito Educacional, Biológico e Ambiental de
inserir todos que formam a Comunidade Acadêmica
para uma Educação sócio-ambiental para a Vida.
A interdisciplinaridade dos temas abordados
atingem todos os profissionais das mais diversas
áreas.
Foram abordados diversos temas durante o
evento, entre eles: Valorização de resíduos
agroindustriais através de processos biotecnológicos
para reduzir o seu impacto no meio ambiente, o
processo de industrialização e seus impactos no meio
ambiente urbano, Impactos Na Saúde Humana
Provocados Por Substâncias Sintéticas Utilizadas Em
Procedimentos Estéticos: Os riscos do uso do silicone
industrial, do Formol e coloração capilar, O papel da
biotecnologia na redução dos riscos à saúde
provocados pelos contaminantes ambientais
provenientes de salões de beleza, Resíduos
667
contaminantes e infecciosos: impactos na saúde e no
meio ambiente Resíduos de Medicamentos
domiciliares - um grande paradigma na Saúde
Ambiental, Resíduos de diálise - um problema de
saúde pública , Biossegurança: impactos na saúde e
no meio ambiente, A influência dos Poluentes
ambientais nas desordens metabólicas, endócrinas e
alteraçoes epigenéticas: obesidade, distúrbios
endócrinos e alimentares e diminuição dos níveis de
testosterona, A influência dos Poluentes ambientais
nas alterações epigenéticas e intervenção nutricional
na modulação do epigenoma, Os efeitos do lixo
eletrônico na saúde humana e meio ambiente,
Ambiente construído e sua influência na saúde e
Genômica nutricional conceitos e aplicabilidade
Diante da grandiosa contribuição dos artigos
aprovados, os livros frutos desse Evento: Os livros
“SAÚDE interativa 1, 2, 3 e 4”; Biotecnologia interativa;
Odontologia interativa, Farmácia interativa, Meio
ambiente: uma visão interativa 1 e 2, e Nutrição
interativa 1 e 2” contribuirão para o conhecimento dos
alunos nas mais diversas áreas da Ciência.

668
Este livro foi publicado em 2019
IMEA
Intituto Medeiros de Educação Avançada
Av Senador Ruy Carneiro, 115 ANDAR: 1; CXPST: 072;
Joao Pessoa - PB
58032-100

669

Você também pode gostar