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INTRODUÇÃO

A presente resenha tem por finalidade analisar a obra A Terceira Volta ao Mundo do

Veleiro Três Marias, um livro que foi publicado pela editora Edições Marítimas em Salvador no

ano de 2003, retratando a terceira volta ao mundo do velejador ucrano-baiano Aleixo Belov.

Durante muitos anos o velejador ficou envolvido com as publicações de seus livros que

contavam a história das duas viagens que tivera feito e, ao mesmo tempo, ampliava sua empresa,

a Belov Engenharia, de forma que ele pudesse deixá-la funcionando enquanto estivesse no mar.

Então, após 14 anos de sua segunda volta ao mundo, ele embarca no mesmo barco, o Três

Marias, e resolve iniciar sua terceira viagem. O livro segue o mesmo padrão dos livros que o autor

escrevera anteriormente: retrata as dificuldades e o prazer de se fazer ao mar em solitário, relata

sua paixão pelo mar e pela arte de navegar, além de retratar a beleza de cada lugar que ele visitava

pelo mundo.

Em seu livro, Aleixo aos poucos conta sua história e de sua família. Ele, que nasceu na

Ucrânia, chegou ao Brasil com 6 anos de idade pois sua família fugia das dificuldades vividas na

II GM. Sua história no país começa na Bahia, onde o autor estuda, se forma em engenharia, torna-

se navegador e cria a Belov Engenharia, empresa que presta apoio a XXXII VIGM.

Para compreender a narrativa por diversas vezes é necessário um pequeno conhecimento

prévio sobre a atividade de vela, tendo em vista a riqueza de detalhes sobre a rotina diária a bordo

de um veleiro. Entretanto, no final das 392 páginas que compõem o livro é possível encontrar a

tradução de alguns termos técnicos utilizados pelo autor.

A obra é dividida pelas travessias que o autor realiza. Um aspecto importante é que o autor

detalha e narra com muito mais detalhes sua permanência no mar do que nos portos que visitou.

Sendo assim, a obra foca muito mais nos aspectos diários de sua jornada no mar a bordo de um

veleiro de 36 pés que ele mesmo tinha construído no quintal de casa.

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DESENVOLVIMENTO

A narrativa em primeira pessoa inicia-se com uma chamada do autor sobre a importância

do mar, principalmente para o Brasil, que possui uma imensa propriedade marítima. Além disso,

conta como sua paixão pelo mar começou: através de um óculos de mergulho que tivera ganhado

de presente quando ainda era novo.

Aleixo marcou diversas datas para a partida, no entanto estava muito indeciso quanto ao

que poderia fazer e o que poderia deixar para depois. Finalmente, quando decidiu fazê-la, marcou

uma reportagem com o principal jornal em circulação em Salvador anunciando sua partida para o

mar. Ele partiu do lugar que sempre partiu nas outras viagens: da escada do 2º Distrito Naval, no

dia 23 de setembro de 2000.

Sua primeira pernada, de Salvador a Natal, foi um período de readaptação a vida de bordo.

Segundo o próprio Aleixo, ele estava despreparado e sem forma. Entretanto, após os seis primeiros

dias ele consegue escrever, aquilo que era sua intenção: retratar diariamente a vida de bordo.

Quando chegou ao porto, sentiu uma forte sensação de nostalgia que o acompanha por toda a

viagem, tendo em vista que alguns dos lugares que passaria já eram conhecidos por ele.

Sua jornada de Natal em direção a Tobago inicialmente é marcada por um certo desânimo

pois, após o período de readaptação que tivera passado na primeira pernada, as condições de vento

eram muito ruins. Quando ele chega, já em Sandy Point, o navegador relata a organização da

cidade. Segundo ele, a organização, mesmo sendo uma ilha oceânica, chega a surpreender.

Indo em direção ao Panamá, Aleixo se surpreende com os colombianos, que demostraram

muita seriedade e profissionalismo quando ele necessitou de auxílio-rádio, algo muito diferente do

que tinha ouvido sobre eles e que, segundo o velejador, eram “muito diferentes dos vizinhos

Venezuelanos”.

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Nessa viagem, o que mais ajudava o navegador era um quadro que ele preenchia

diariamente com as possibilidades ou não de chegar no prazo. Seu natal do dia 25 de dezembro de

2000, por exemplo, foi no mar, de Galápagos a caminho das Marquisas. Mas ele já previa isso, na

verdade ele corria contra o tempo para encontrar sua família para as festividades de ano novo. Para

isso, precisava da ajuda do vento.

Pego por um desânimo e cansaço, ele recupera sua autoestima após uma melhora

considerável das condições do tempo. Depois de muito esforço, chega à Taiohae, na Polinésia

Francesa, na tarde do dia 29/12/2000. Houveram muitas comemorações, reencontros e até mesmo

um pequeno passeio com a família para uma ilha próxima. Ao desembarcar sua família para o

Brasil, depois de mais de 1 mês em terra, Aleixo se prepara para o próximo desafio: chegar ao

Hawaii.

Sua trajetória em direção ao Hawaii foi marcada por muitos desafios, entre eles destacam-

se alguns problemas no mastro do veleiro, que poderia deixá-lo sem a luz de navegação e sem

VHF no meio do Oceano Pacífico. Além disso, Aleixo percebeu que não possuía as cartas do

pacífico norte. A única coisa que possuía era uma carta geral de todo oceano pacífico que estava

desatualizada e com muitos obstáculos não demarcados. Mas o velejador não se abate e mostra

mais uma vez a habilidade de um navegador que já tinha dado duas voltas ao mundo.

Ao chegar no Hawaii, Aleixo resolve os diversos problemas que possuía no Três Marias

com a ajuda de sua esposa Lygia, além de passear bastante pela ilha enquanto eram realizados os

reparos. Nota-se que ser engenheiro era imprescindível para que o autor realizasse essa viagem,

pois os reparos e as viagens de sua família para encontrá-lo despendiam grande quantia de

dinheiro.

A pernada do Hawaii em direção à Austrália talvez tenha sido o maior desafio do autor até

aquele momento. Foram 47 dias no mar marcados por muitas variações nas condições de tempo,

além de um novo problema: o leme de vento da embarcação havia quebrado. Esse componente é
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muito importante, segundo o próprio navegador “ é, para um navegador solitário, o juízo do barco”,

pois permite que o navegador não guarneça o leme de mão do veleiro o tempo inteiro. Ele então

improvisa um reparo e deixa o leme de vento de forma que pudesse suportar até sua chegada.

Nesse trecho do livro, Aleixo retrata com muita emoção sua infância no Brasil. Seu pai era

agricultor e trabalhava em uma fazenda na Bahia, sempre buscando um futuro melhor para Aleixo

e sua irmã. O navegador destaca que seu instinto desbravador e aventureiro era herdado do pai e

que sua mãe vinha do Leste Europeu mas nunca tinha esquecido as raízes. Fato este comprovado

pelo fato de ela só falar russo dentro de casa e nunca sair. Já sua irmã Olga especializou-se em

línguas estrangeiras e morou em vários lugares do mundo.

Sua passagem pela Austrália é curta, um pouco conturbada pelos problemas de imigração

que o velejador encontrou e também é marcada pelo encontro com seu amigo Juracy, com quem

passaria a navegar até chegar em Bali.

Um aspecto importante da obra é que o autor, mesmo em solitário pelo mar, sempre sentia

falta de sua esposa e de seus 5 filhos, de um forma que ele planejava a viagem e as travessias nas

datas que pudesse encontrá-los, principalmente nos períodos de férias. Em Bali não foi diferente:

segundo o próprio autor, ele só tinha 18 dias para aproveitar sua família, sendo assim não escreveu

enquanto estava lá.

Retornando a escrita quando estava navegando para Mauritius, um conjunto de ilhas

próximo a Madagascar, Aleixo encontra-se num estado de melancolia. A travessia é muito mais

marcada pelo fato do autor expor a saudade da família, o problema que tivera com alguns amigos

velejadores e sua briga com Lygia do que reportar detalhadamente sua rotina diária de bordo.

Nesse trecho ele também conta como foi impactante voltar a Bali e como a cidade estava diferente

de quando ele tinha ido 20 anos antes. A maneira como ele descreve exprime um pouco de

decepção. Mas sua maior angústia era o fato de ter suspendido de Bali brigado com sua esposa e

o quanto isso o chateava.


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Sua angústia terminou com a chegada a Mauritius, onde Aleixo encontra sua esposa e

juntos navegariam até a próxima ilha, Reunion. Lá, diferentemente dos lugares que tinha passado

até o momento, o navegador passa a descrever mais detalhadamente o que conhecia, por exemplo,

como foi conhecer o Vulcão Fornasse, que era ativo e que tinha entrado em atividade dois meses

antes. Após isso, desembarca sua esposa de volta para Salvador e se prepara para chegar a África.

Sua travessia para a África foi marcada por muitas variações na direção do vento e pela

falta deste, além de muitas variações no barômetro. Em diversos momentos fica claro que Aleixo

não sabia muito o que fazer, até o momento que ele então passa a utilizar o motor. Seu maior

desafio era contornar o cone sul do continente africano, que segundo o navegador, era o “trecho

mais preocupante de toda a viagem”. Contornar o cone sul da África significava um desafio, tendo

em vista que por ocasião de temporais, os ventos de SO poderiam se encontrar com a Corrente das

Agulhas e formar ondas de até 20m. Mas, graças à ajuda de um amigo conhecido e de um senhor

que prestava auxílio aos veleiros para realizar o contorno, Aleixo consegue fazê-la sem qualquer

problema.

Chegando a Cape Town, na África do Sul, mais uma vez nota-se uma diferença na forma

como o autor desenvolve a história: ele foca em descrever mais detalhadamente sua estada na

África do que a travessia feita anteriormente. Ao encontrar sua família, eles partem para uma

aventura pelo interior da África, passando por diversos safaris e parques, percorrendo mais de

3.000 km de carro. Ao retornar para a marina onde o barco ficara, Aleixo se prepara para sua

última pernada: Cape Town – Salvador.

A partir desse momento, toda a calmaria que vivia no mar e a falta de saudade que sentia

de terra, como o próprio autor descrevera, se transforma. Após sua empresa, a Belov Engenharia,

fechar o maior contrato da história de sua existência, o navegador é tomado por uma inquietude e

pressa para chegar ao Brasil. A final de contas, tratava-se de um contrato para atender ao Programa

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Nacional Contra o Apagão. Sendo assim, sua travessia pelo Atlântico é marcada pela tentativa do

engenheiro de criar planos e pensar em estratégias para o novo trabalho.

Chegando ao Brasil, finalizando sua jornada de quase 1 ano e meio pelo mundo, Aleixo

deixa claro que mesmo depois de três voltas ao mundo ainda não se sente satisfeito, que construiria

um barco maior e que talvez fizesse outra viagem. Além disso, o navegador incita a todos que

tenham sonhos e que lutem por eles, pois esse é o combustível para se fazer ao mar. Segundo o

autor, “O sonho é o princípio de tudo. E quem não sonha, vai ver que já morreu e nem sabe.”

CONCLUSÃO

Sendo assim, podemos concluir que a obra apresentada por Aleixo Belov é de grande valia

para aqueles que se fazem ao mar. Nota-se desde os primeiros capítulos uma visão do mar diferente

do que se está acostumado: todas as dificuldades e desafios que a vida no mar propicia também

podem significar uma autorrealização. Navegar para o autor era mais do que um hobby, era um

prazer, uma sensação de liberdade.

Vale lembrar que da narrativa podemos extrair diversos conhecimentos técnicos, para

aqueles que praticam vela e principalmente, para aqueles que se fazem ao mar. O navegador não

contava com previsão do tempo quando estava no mar, por exemplo, e suas atitudes e percepções

do mar provinham unicamente de sua experiência. Variações no barômetro e na direção do vento

também significavam uma mudança nas condições do mar, fato percebido pelo navegador e que

na maioria das vezes era confirmado pelo próprio tempo. Sendo assim, mesmo que atualmente

tenhamos muitos recursos tecnológicos para a navegação, nota-se que ter experiência é de suma

importância.

É importante ressaltar que mesmo no mar, Aleixo em nenhum momento deixa de ser

vigilante, mesmo navegando sozinho e estando cansado por diversas vezes. Percorreu quase

30.000 milhas sem nenhum incidente ou situação que pudesse lhe trazer perigo. Fez diversas

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entradas e saídas de porto com segurança e, o que mais o destacou, foi seu respeito pelo mar.

Respeitava as vontades da natureza e em nenhum momento forçava manobras arriscadas.

Por último, destaca-se a tentativa do autor em demonstrar que o mar é propriedade de todos.

Aleixo deixa bem claro em muitos momentos que estar no mar significava vencer barreiras,

ultrapassar fronteiras. Segundo ele, qualquer um poderia fazer o que ele estava fazendo, é

necessário apenas esforço, vontade e como muito destacou na obra, de sonhos. Sendo assim, é

notório o convite do autor para que todos tenham sonhos e que lutem para realizá-los.

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