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S. E. McNAIR

A BIBLIM
Atenção
T O D A S A S P Á G I N A S QUE ESTÁ F A L T A N D O É PORQUE. N O
D O C U M E N T O O R I G I N A L A P Á G I N A ESTÁ E M B R A N C O !

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sembléias de Deus.

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Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

McNair, S.E.
M146b A Bíblia explicada/S.E. McNair. - 4\ ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicado ia
das Assembléias de Deus , 1983.

1. Bíblia - Critica e interpretação 2. Bíblia - Estudo - Livros-texto I. Titulo

C D D - 220.6
220.07
268.62
CDU-22.01
83-0730 268

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Casa Publicadora das Assembléias de Deus
Caixa Postal 331
20001-970 Rio de Janeiro, RJ, Brasil

1985 - 4 4 Edição (1* Edição C P A D )


1985 - 5* Edição (21 Edição C P A D )
1985 - 6 1 Edição (3* Edição C P A D )
1985 - T Edição (4 i Edição C P A D )
1986 - 8* Edição (5* Edição C P A D )
1987 - 9* Edição (6 1 Edição C P A D )
1990 - 101 Edição ( T Edição C P A D )
1992- I P Edição (8* Edição C P A D )
1993 - 121 Edição (9* Edição C P A D )
1994- 13* Edição (IO 1 Edição C P A D )
= Índice *
y

Introdução .. — ..... .... — 9


Prefácio — i I i............. — -— —
Abreviaturas. 13
Anngo testamento
Genes is
Êxodo .. ..- ; . 37
Cl
Números — — —— - — - 59
Deuteronómio ~ , r- ***
•Josué
Juizes. - . 89
Rute ! " ,1, 1
1 Samuel
2 Samuel - 1 íoü Í J i l d T Ã tu r r j 1 fl ,0Q
1 Reis cii ~ • - " 1 1 » ,iq
2 Reis — • • • • — ••••
LO
1 Crônicas - 141
— 147
Esdras 155
Ncem ias
Ester 163
Jó 167
Salmos 171
Provérbios —
Eclesiastes - —~— 225
• <yv>
Can tares
Os Drofetas 231
1 na ias ã 233

Jeremias —
Lamentações de Jeremias 253
Rzenuiíl 255
Daniel 261
Oséias
Joel
Amos 277
Obadias - 281
.Jonus...................................... 283
Miquéias — — - 287
Naum _ — 289
Ha ba cuque 291

295
'. 297
- — - 301
Novo Testamento
Prefácio
Abreviaturas. — ....... _ 307

333

João 373
Atoa 389
Romanos — — —
I PnWnfina 415
2 Coríntios
GAIatas 431
Efésioe 435
PÍIÍMIIMS 441
445
1 Tessalonicenses
2 Tetwalonic^nm . . 453
1 Timóteo 457
2 Timóteo ... 461
Ti to 465

469
Tiago „ - - 477
481
2 Pedro .. .. 485
1 João

- - 495
ADOcalÍDse Â&7
• . . . . . . . . . . . . .
Introdução
y

o principio não havia o Ve- "Nós seguimos o agrupamento da Vulgata Lati-


lho Testamento. Enoque na, que. por sua vez, se baseia no da Versão grega
"andou com Deus" sem dos Setenta ( L X X ) , nome que lhe vem dos seus [ su-
nenhuma palavra escrita postos] setenta tradutores.
que o guiasse. Abraão de- "Faz-se a divisão, segundo o assunto principal,
pendia de comunicações desta maneira; Lei (cinco livros), História (doze li-
com Deus para conhecimento da vontade di- vros), Poesia (cinco livros), e Profecias (dezessete li-
' Jo6é. no Egito, não podia consolar-se com a lei- vros). Na coleção hebraica vê-se bem que não está
da Bíblia, mas certamente recordava as tradi- claramente fundamentada a divisão. Provavelmente
daquilo que Deus tinha falado com seus ante- obedece esta ao processo seguido no colecionamento
passados, e que ele, José, tantas vezes tinha ouvido dos sagrados escritos, isto é, à história do Cánon.
repetir durante a sua mocidade. marcando trés períodos. A primeira Biblia hebraica
Quando o Salmista escreveu o salmo 119, com foi a 'Lei' - os cinco livros de Moisés, ou o Pentateu-
176 versículos, engrandecendo a Palavra de Deus, tal- co. Mais tarde foi aumentada, e era já a 'Lei e os Pro-
vez não possuísse dessa Palavra mais do que o Pen- fetas'. No decurso dos anos foi reconhecido como
tateuco, e Josué. Juizes e Rute, porque pareço que tendo autoridade divina um derradeiro grupo de li-
nenhum do6 profetas tinha ainda escrito qualquer vros: ficou o Cânon completo: 'a Lei, os Profetas, e os
coisa. Hagiógrafos'.
"Cánon, Os vinte e dois livros das Escrituras
O Velho Testamento desenvolveu-se durante o hebraicas (ou os trinta e nove da nossa versão) cons-
período de uns mil anos pelo aumento de um livro tituem o que se chama o Cánon do Velho Testamen-
sagrado após outro, começando com Gênesis e aca-
to. Diz-se a respeito de cada livro que ele é canònico,
bando em Malaquias.
para o distinguir dos considerados apócrifos.
Diz o Dr. Joseph Angus:
"As Escrituras hebraicas acham-se assim dividi- "Apócrifos. A Vulgata Latina (a Bíblia da Igreja
das: A lei (Torá). O* Profetas (Habbim), Os Escritos Romana), contém em adição aos livros do Cánon
(Kethubhim). Pelos tradutor» gregos (os L X X ) . foi hebraico os seguintes: Históricos: Tobias, Judite, 1
a última parte chamada Os Hagiitgrufos. ou santos Macabeus. 2 Macabeus, e complementos ao livro de
escritos. Ester. Sapiénciais: Sabedoria, Eclasiástico. Proféti-
"Entre os profetas são conaideradoe cm classe se- cos: Baruque. Apêndices ao livro de Daniel: História
parada alguns dos livros históricos. Nota-se que o de Suzana, História de Bel, e Epiaódio do Dragèo.
número de livros é na Bíblia hebraica consideravel- Estas adições... procedem da Versão dos Setenta
mente menor que no nosso Velho Testamento; geral- ( L X X ) . ainda que com algumas diferenças quanto
mente vinte e quatro para trinta e nove. Ê porque é ao número dos livros e sua ordem. Na verdade, os li-
considerado como um só livro cada grupo dos seguin- vros apócrifos constituem um aumento da Vulgata
tes: os dois de Samuel, os dois dos Reis. os dois das Latina sobre o Velho Testamento hebraico."
Crônicas, Esdras e Neemias, os doze profetas meno- O mesmo Dr. Angus diz o seguinte sobre o verda-
res. etc. deiro lugar do Velho Testamento: "Convém agora

9
apreciar devidamente os dois Testamentos. Precisa- nova, é 'obscuridade*. 'carne', 'letra*, 'escravidão*,
mos estudar o Antigo para ver o que Deus fez, e 'os rudimentos do mundo* (G1 4.3). ao passo que no
quem Ele é. Nessa parte das Escrituras acharemos Evangelho há 'luz', 'espírito', 'liberdade* e 'um reino
um protesto solene contra a idolatria, e uma prova celestial*. Importantes princípios de interpretação se
de que ninguém pode ser justificado pelas obras da vêem deste modo sugeridos, não sendo, por isso. de
Lei; e, além disso, uma manifestação gradual da menor importância as particulares obrigações da
vontade divina e do plano da redenção. nossa posição. Requer-se. pois, de nós, cristãos, que
"Por todas estas razões devemos estimar o Antigo nos aperfeiçoemos em tudo, que é da vontade de
Testamento, mas devemos também lembrar de que Deus. Como a nossa dispensação é luz, sejamos sá-
inspirados escritores, comparando-» com o Novo, fa- bios; como é espírito, aejamoa santos; e. como é po-
lam dele era termos de importância transitória. A der, sejamos fortes".
antiga dispensaçào, à parte do seu cumprimento na

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10
sta parte segue mau ou plamente discutida no livro "The Romance of the
menos o mesmo estilo de Hebrew Language", na página 65L
"O Novo Testamento Ex- O leitor pode ter a certeza de que nenhuma
plicado", que publiquei emenda foi feita sem motivo inteiramente satisfató-
primeiro, no ano de 1937. rio. Por isso, não convém desprezar qualquer delas
Isto é, procuro esclarecer meramente por ser estranha ao acostumado.
nela treéios do Velho Testamento que parecem care- Livros referidos com mais freqüências vão apon-
de duplicação; contudo, não recapitulo todas as tados com as respectivas abreviaturas, assim "A"
que o Livro Sagrado contém. Em algumas significa •The Christian's Armoury"; "J", "How to
quando não parece haver a possibilidade Enjoy the Bible": "R", "The Romance of the
de elucidar casos problemáticos, confesso franca- Hebrew Language"; "T", "The Treasury of Scriptu-
mente que o assunto deve ficar sem explicação até re Knowledge".
ser interpretado por alguém mais sábio, ou até o dia Ninguém sabe tudo, e ninguém poderá explicar
em que "conheceremos como somos conhecidos cada parte da Bíblia de modo cabál; por isso o leitor
Isso se dá, por exemplo, com a formação do primeiro não deve estranhar que alguns capítulos sofram um
homem "do pó da terra", e da mulher "da costela tratamento mais resumido que outros.
[ou dos lados] do homem". Precisamente como isto Assim, há expositores que percebem no Cântico
se fez, é mais prudente não tentarmos afirmar. Tam- dos Cânticos alusões misteriosas e proféticas à Igreja
bém como a jumenta de Balado chegou a falar, fran- de Cristo, e que encontram em quase cada versículo
camente, não sabemos; par isto cremos tenha sido algum sentido espiritual Não vamos acompanhar
um milagre de Deus. essa interpretação, porque não é autorizada por ne-
E claro que não pode haver uma explicação satis- nhuma referência do Novo Testamento. Por outro
fatória sem primeiro verificar se a tradução é corre- lado, o N. T. autoriza-nos a perceber alusões a Cristo
ta. No caso do Velho Testamento, não é possível na Rocha ferida (1 Co 10.4), em Melquisedeque (Hb
reimprimir o texto todo. Contudo, vem a ser essen- 7), no Tabernáculo (Hb 9.11), nos Sacrifícios (Hb
cial valermo-nos de todas as correções mais impor- 10.1-8), etc. Ao investigar um sentido parabólico e
tantes das traduções anteriores, e isso temos feito profético, em tais casos, estamos em terreno seguro.
por meio de notas, com os dizeres: "uma tradução O estudante que deseje saber o verdadeiro senti-
mais correta seria...", ou "proposta emenda de tra- do do Velho Testamento precisa consultar freqüen-
dução". temente, se não exclusivamente, a Versão Brasileira
Emendas muitas vezes tém bastante importân- (V.B). Em inúmeros casos a V.B., por ser uma tra-
cia, pois mudam completamente o sentido. Por falta dução mais correta, elucida o sentido, quando Figuei-
de espaço, é impossível justificar cada correção; redo ou Almeida pouco esclarecem. As emendas de
mas, para que os interessados não fiquem sem base tradução que sugerimos são as que nem mesmo a
comprovada, geralmente fazemos referência a algumV.B. tem oferecido.
livro onde a emenda é plenamente discutida. Por Parece inevitável dar maior espaço ás partes do
exemplo, em Josué 24.19, em vez de ler "Não podeis V.T. que mais ocupam o pensamento da maioria dos
servir ao Senhor" damos a tradução provavelmente leitores, e onde se costuma achar mais edificação.
mais correta: "Não cesseis de servir ao Senhor" com Por isso vamos dar mais atenção aos salmos de Davi
a referência R. 65, que significa que a emenda é am- do que às palavras de Elifaz, o temanita; Bildade, o

11
I-

quais Deus mesmo Nnsso esforço será. sempre que possível, colher
' que ara reto" {Jó 42.7). do trecho que estudamos algum ensino de valor prá-
palavras desses trés tico e espiritual, para que nosso estudo do Velho
que nós havemos de Testamento não proporcione um conhecimento das
achar muita edificação nelas. verdades divinas, mas resulte em algum notável re-
Das partes proféticas do V.T.. especialmente forço na nossa vida espiritual.
aquelas ainda não cumpridas, havemos de tratar
com muita prudência, evitando uma interpretação Na confecção desta parte, consultamos os escri-
dogmática quando sabemos que há muita diferença tos dos mais eruditos ao nosso alcance. Várias veses tra-
de pensamento entre os expositores mais eruditos. duzimos as suas próprias palavras, porulo a citação
Por exemplo, consta-nos que há ao menos umas se- entre aspas. Por isso, o leitor não fica limitado ao re-
tenta diferentes interpretações referentes ás "seten- sultado dos estudos de um só. mas aproveita o ensino
ta semanas" de Daniel 9.24-27. Podemos apresentar de muitos. Em alguns casos de mais importância,
sobre eise trecho o parecer de um ou outro expositor, damos os nomes dos autores ou dos livros consulta-
mas sem afirmar que seja o único aceitável. dos.

12
;

Abreviaturas

A - The Christian's Armoury, por W.R. Brad- T - The Treasury of Scripture Knowledge.
ia ugh. Scofield - The Scofield Bible.
Angus - História, Doutrina, etc., por J. Angus. Goodman - Dr. Geo. Goodman, em Notas Diárias,
C -Causes of Corruption, par Burgon & etc.
Miller. Scroggie - Dr. Graham Scroggie, em Notas Diá-
G - The Giver and His Gifts, por Bullinger. rias, etc.
J - How to Enjoy the Bible, por Bullinger. RR. - The Revision Revised, por Burgon.
Lee - The Outline Bible, por Robert Lee. K - The Doctrine of the Prophets, por Kirk-
Grant - The Numerical Bible, por F. W. Grant. patrick.
R - The Romance of the Hebrew Language, GAS - The Book of the Twelve Prophets, por
por Saulez. George Adam Smith.

13
fintiqo Testamento
D I G I T A L I Z A D O POR

R.OLIVEIRA
Gênesis (

ênesis é o livro dos come- " O Gênesis tem cinco divisões principais: (1)
ço®. Recorda não somen- Criação (1.1 - 2.25). (2) Queda e Redenção (3.1 - 4.7).
te o começo do Céu e da (3) As diversas descendências: Caim e Abel ao Dilú-
Terra, mas da vida vege- vio (4.8 - 7.24). (4) O Dilúvio a Babel (8.1 - 11.9). (5)
tal, animal e humana, e A cha- ada de Abraão até a morte de José (11.10 -
todas as instituições e relações humanas; 50.26) . (Scofield).
, fala do novo nascimento: a nova criação,
um estado de caos e ruína, A N Á L I S E DO GÊNESIS
o Gênesis, começa também a progressiva 1. História primitiva (cape. 1 a 11.9)
auto-revelação de Deus, que se completa em Cristo. 1.1. Da Criação á Queda (caps. 1 a 3).
No Gênesis encontramos os três principais nomes da 1.1.1. A Criação, e a semana de trabalho di-
divindade: Elohim, Jeová e Acionai, e também os vino (caps. 1.1 a 2.3).
MU» cinço mais importantes nomes compostos: 1.1.2. O Jardim. • a prova do homem (caps.
1) Jeová-jireh (O Senhor provê); 2.4-26).
2) Jeová-nissi (O Senhor é minha bandeira); 1.1.3. A Serpente. • a queda de Adão e Eva
3) Jeová-shalom (O Senhor é paz); (cap. 3).
4) Jeová-tsidkenu (O Senhor é nossa justiça); 1.2. Da Queda ao Dilúvio (caps. 4 a 8.14).
5) Jeová-shammah (O Senhor está ali) e tudo 1.2.1. Caim e Abel e as suas ofertas (cap.
isso de uma certa ordem que não podia ser alterada
sem haver confusão.

O problema do pecado na vida humana, e a sua


relação com Deus, se encontram no Gênesis na sua
essência. Dos oito grandes pactos que se referem á
vida humana e á redenção divina, quatro deles, o
Edênico, o Adâmico, o Noéico e o Abraámico, estão
neste livro; e estes são os fundamentais, aos quais os
outros quatro: o Mosáico, o Palestiniano. o Davídi-
co e o Novo Pacto, estão relacionados maiormente
como desenvolvimentos.
O Gênesis entra profundamente na estrutura do
Novo Testamento, em que é citado mais de sessenta
vezes, em 17 livros. Em sentido profundo, por isso,
as raízes de toda a revelação subseqüente estão lan-
çadas em Gênesis, e quem quiser compreender a re-
velação divina precisa começar aqui.
A inspiração do Gênesis e seu caráter como reve-
lação são autenticados, tanto pelo testemunho da A M E N S A G E M DO GÊNESIS
história como pelo de Cristo (Mt 19.4-6; 24.37-39;
Mc 10.4-9; Lc 11.49-51: 17.26-29, 32; Jo 1.61; 7.21- *'l. Devemos estudar este livro primeiro histori-
23; 8.44,56). camente. marcando com cuidado as suas maiores e

17
Gênesis _

menores divisões, e os detalhes da história que de- da: fé e vista. A Arca, tipo do meio de salvação e li-
senvolve. O livro se apresenta em 12 seções; a partir bertação na hora do juízo que virá sobre a Terra. Jo-
da segunda, essas seções começam com as palavras: sé, o mais perfeito tipo de Cristo que temoa na
'Estas são as gerações de'. Essas onze sáo as seguin- Bíblia. Estes, e muitos outros podem ser verificados.
tes: 'as gerações': 1) dos céus e da tara (2.4 a cap. Não devemos entretanto dogma ti zar sobre o estudo
4); 2) de Adào (5 a 6.8); 3) de Noé (6.9 a 9.29); 4) dos aqui traçado, nem descobrir fantasias, mas o olho es-
filhos de Noé (9.1 a 11.9): 5) de Sem (11.10-26); 6) de piritual perceberá muito do que fica oculto ao racio-
Tera (11.27 a 25.11); 7) de Ismael (25.12-17); 8) de nalista.
Isaque (25.19 a cap. 35); 9) de Esaú (36.1-8); 10» dos "5. Finalmente, devemos, por certo, descobrir os
filhos de Esaú (36.9-43). e 11) de Jacó (37.2 a 50.26). valores espirituais do livro. Por exemplo, a revelação
" A história é, maiormente. cronológica; mas deve de Deus, o desenvolvimento da graça divina, o pro-
ser observado que o capitulo 11.1-9 precede em tem- gresso do pecado, os vários concertos, a demonstra-
po ao capitulo 10, e recorda as razões da dispersão. ção de fé, as orações do livro, as duas descendências:
"Esta história do Gênesis nào é geral, mas especi- a presença, poder e propósito de Satanás; as visões e
fica. Contém pouco do que desejaríamos saber. Esta sonhos, as manifestações de Jeová, o ministério de
é a história, nào por amor da historicidade, mas anjos, e muitos outros temas. Notemos no Gênesis os
como o veiculo de uma revelação divina. E por isso três grandes períodos da vida de Abraão-o desperta-
que mais de 2000 anos ficam comprimidos dentro mento, a disciplina, e o aperfeiçoamento: os quatro
dos primeiros onze capítulos do livro..enquanto trin- períodos na vida de Jacó: Suplantador. Servo, Santo
ta e nove capítulos sào dedicados ã história de 300 e Vidente. O livro é rico de sugestões espirituais, e
anos. A ênfase divina não é sobre o que é material, cada página dará ao paciente investigador tesouros
mas moral. sem preço" (Scroggie).
"2. Então o Gênesis devo ser estudado profética'
mente. É o livro manancial de toda a profecia. A pri- Capítulo 1
meira e fundamental profecia está no capítulo 3.15;
e nesse único versículo toda a revelação divina está A criação do mundo. "No princípio criou
compreendida em resumo. Podemos estudar as pro- Deus..." A palavra Deus está no plural, e o verbo no
fecias referentes á Terra (8.22): aoa filhos de Noé singular (no hebraico há três números: singular, d uai
(9.35-37); a Abraão (12.1-3; caps. 15,17,18); a Ismael e plural); assim, a natureza de Deus é revelada nas
(17.20); a Isaque (18); a Esaú e .Jacó (25.23); a
primeiras palavras do Gênesis: uma Trindade, po-
Efraim e Manasses (cap. 48). e aos doze filhos de Jacó
(cap. 49). Eetas, e outras profecias são maravilhosas rém um só Deus. Em outros lugares aprendemos que
em si mesmas, e surpreendentes no seu cumprimen- foi o Filho que criou todas as coisas (Jo 1.3; Cl 1.16;
to. Nenhuma peaeoa razoável pode duvidar do fato e Hb 1.2). Foi o Pai que propôs, e o Filho que agiu
da realidade da profecia bíblica se estudar a história pela energia do Espírito. As três pessoas da Trindade
de Israel à luz das predições do Gênesis. são reveladas na obra da criação (Jo 5.17,18).
"3. Além disso, o livro deve ser estudado com re- A terra já criada ( v . l ) chegou a ser "sem forma e
lação ás Dispensações. Isto é, os métodos pelos quais vazia" (v.2), mas não fora criada assim (Is 45.18).
Deus agiu para com os homens em diferentes épocas Há uma semelhança entre a criação do mundo
e sob diferentes circunstâncias devem ser cuidadosa- material e a "nova criação" da alma regenerada: a)
mente notados. Há quatro dispensações no Gênesis: inocência ( w . 1 e27; b) ruína (v. 2a); c) restauração
1) o período da Inocência, durante o qual Deus fez (v.2b); d) iluminação (w.3-5); e) separação (w.6-£);
prova do homem; 2) o da Consciência, quando Ele 0 libertação (w.9,10); g) fruto (vv. 11-13); h) teste-
suportou o homem; 3) o do Governo humano, duran- munho (w.14-19).
te o qual Ele refreou o homem, e 4) o da Promessa.
no qual Ele agiu em favor do homem. Outras dispen- Notemos que a palavra "criou" me encontra ape-
sações seguirão estas no restante da Escritura, e de- nas três vezes neste capítulo ( w . 1,21,27). Alguns
vem ser estudadas mais tarde. têm achado uma diferença entre o que Deus "criou"
"4. Faria muita falta se não estudássemos o Gê- e o que Ele " f e z " . Assim os mares foram feitos de á-
nesis tipicamente, porque está cheio de tipos. O mo- guas já existentes (9,10). O Sol e a Lua foram feitos
tivo de perceber um sentido típico está claro (veja-se 'ou levados a aparecer através das espessas nuvens*,
Gn 5.7 e 1 Co 10.6.11, etc.h e tal estudo traz grande no dia quarto, mas foram criados no dia primeiro
galardão. Entre os tipos mais evidentes do Gênesis, (v.3).
podem-se nomear os seguintes: E possível admitir um mui grande período de
" A criação e reconstrução da terra (1.1 a 2.3), que tempo entre o v. 1 e o v. 2 - um recurso mais aceitá-
tipificam a história do homem, criado perfeito: ar- vel do que entender que os "dias" da criação foram
ruinado; e restaurado. O primeiro Adão é tipo de Je- períodos de milhares de anos, - uma teoria que não
sus Cristo, o último Adão (cap. 2 e R n 5.12-21). O combina com Êxodo 31.17. "Um ato de criação ne-
sacrifício de 3.21, tipo do Cordeiro de Deus, que tira cessariamente será num tempo imediato e definido.
o pecado do mundo. Abel e Sete. tipos da morte e Isto é evidente no caso da criação do homem. Pela
ressurreição de nosso Senhor (cap. 5 e Hb 12.24). Palavra de Deus, ele foi criado à imagem de Deus;
Enoque, tipo da Igreja arrebatada, antes do Dilúvio, desde o seu começo era ele dotado de imagem e se-
que é tipo do dia da tribulação de Jacó (caps. 5 a melhança de Deus, uma semelhança vista na sua
8.14). Noé, tipo de Cristo. Os oito salvos na arca sáo perfeição naquele que era Deus manifesto na carne,
tipo dô Restante de Israel que será salvo através da o Homem Perfeito. Esta semelhança consiste em ter
Tribulação. Caim e Abel. tipos das duas naturezas. vontade livre: poder de agir por si mesmo; de esco-
Ismael c Isaque, tipos das dispensações da Lei, e lher entre o bem e o mal, e de possuir uma personali-
Graça. Abraão e Ló, tipos dos dois princípios da vi- dade e uma responsabilidade moral" (Goodman).,

18
O Dr. Scroggie diz: " A 'imagem" é a substância 2) Subjugar a terra para o proveito humano.
espiritual da alma. e não pode ser perdida. A 'seme- 3) Ter dominio sobre a criação animal.
lhança* é o caráter moral separável da substância, e 4) Comer ervas e frutas.
foi perdida na Queda; assim os filhos de Adão nasce- 5) Zelar o jardim.
ram na sua semelhança e não na de Deus (5.3). Ima- 6) Abster-se de comer da árvore da ciência do
gem e semelhança não sâo para entender material e bem e mal.
sim moralmente". A Penalidade pela desobediência desta última
O luzeiro maior (v. 16) é um tipo de Cristo, o "Sol ordenação era a morte.
da Justiça" (Ml 4-2). Ele tomará este caráter na sua As outras alianças são: a Adámica, (3.15); a com
9egunda vinda. Moralmente, o mundo está agora no Noé (9.1); a com Abraão (15.18) a com Moisés (Êx
estado entre Gênesis 1.3 e 1.16; At 26.18; Ef 6.12; 1 19.25); a da Palestina (Dt 30.3); a com Davi (2 Sm
Pe 2.9): o sol não se vê. mas a luz existe. Cristo é essa 7.16); a Nova Aliança (Hb 8.8) (Scofield).
luz (Jo 1.4,5.9). mas "resplandece nas trevas" sendo
compreendido somente pela fé. Como o "Sol da Jus- Capitulo 2
tiça" Ele anulará todas as trevas. Sob o ponto de vis-
ta da dispensação, a Igreja está no lugar do "luzeiro Deus descansa. Podemos notar com cuidado o
menor", a lua. que reflete a luz do Sol quando este versículo 3: "A hençoou Deus o dia sétimo e o san ti fi-
não é visível. As estrelas (1.16) representam crentes cou. porque nele descansou de toda a obra que fizera
individualmente que sào "lureiroa" (Fp 2.15,16) como Criador", e ver a sua aplicabilidade a um dia
(Scofield). com manhã a tarde (tarde e manhã, segundo a con-
Um tipo é uma ilustração divinamente proposta tagem dos israelitas, visto que com eles o dia come-
de alguma verdade. Pode ser: (.1) uma pessoa (Rm çava às 18 horas do nosso tempo».
5.14); (2) um acontecimento (1 Co 10.11); (3) uma Se o descrente não pode admitir que o universo
coisa (Hb 10.20); (4) uma instituição (Hb 9.11); (5) tenha sido feito por um só Deus todo-poderoso. cabe-
uma cerimônia (1 Co 5.7). Os tipos se encontram lhe enunciar outra explicação para a origem. Encon-
mais freqüentemente no pentateuco. mas podem ser trará apenas duas alternativas: que a criação foi
achados em outras partes da Bíblia. O antitipo ou obra de uma variedade de Beres sobrenaturais, agin-
cumprimento do tipo se encontra geralmente no do em perfeito acordo; ou que se fez a si mesmo. Esta
X . T . (Scofield). última hipótese pode ser resumida na frase: "Do na-
"Seres viventes" (V.B.) ou "Alma vivente" ( A L . ) da. o Ninguém fez tudo"
nos versículos 20,21.24. etc. é, no hebraico, Parece-nos mais razoável admitir, de acordo com
"nephesh". Esta palavra traz o sentido de vida e o ensino da Bíblia, ser o universo a criação de um
consciência diferentes da vida das plantas, que têm Deus infinito em poder, sabedoria e benevolência.
vida inscônsciente. Neste sentido os animais tam- É muito natural qüe a nossa inteligência fique as-
bém têm "alma". sombrada pelo estupendo milagre de Deus criar (ou
A criação do homem (v. 26). O homem foi criado, " r e " criar) o mundo "em seis dias"em tempos muito
e náo evoluído de algum ser inferior durante muitos remotos e sem haver ninguém presente para relatar o
milênios. Isto é expressamente declarado aqui, e a processo da operação. Por isso podemos estudar ou-
declaração é confirmada por Cristo (Mt 19.4; Mc tra operação do poder criador em ponto menor, pre-
10.6). "Existe um vasto espaço, uma divergência, senciada por milhares de testemunhas e reportada
praticamente infinita" (Huxley) "entre o homem por quatro diferentes escritores, um pelo menos tes-
mais baixo e a besta mais alta". " A besta não tem temunha ocular: A multiplicação de cinco pães e
traço algum de consciência de Deus: não tem uma dois peixes em alimentação para mais de cinco mil
natureza religiosa. As investigações cientificas nada pessoas c um milagre do criação instantânea, igual-
têm feito para desfazer essa divergência" {Scofield). mente incompreensível á nossa inteligência. O des-
Com o versículo '28 começa a "Primeira Dispen- crente deve cancelar com provas o milagre recente,
sação". Uma dispensação (El 1.10) é um período de antes de afirmar que não existe um Ser no universo
tempo em que o homem é provado com respeito à capaz de fazer o milagre remoto.
sua obediência e alguma revelação específica da von- A alusào à criação do homem no primeiro capitu-
tade divina. Sete de tais dispensações podem ser dis- lo é geral, referindo-se à raça humana; no segundo,
cernidas. A primeira foi a da Inocência o homem foi fala mais particularmente da formação de Adão "do
colocado num ambiente perfeito, sujeito a uma lei pó da terra" (v.7), e da Eva duma das costelas (la-
simples, e advertido das conseqüências da desobe- dos) de Adão (v.21). E inútil tentar adivinhar como
diência. A mulher caiu pelo orgulho, o homem, deli- Adão foi formado do pó e Eva tirada "dos lados" de-
beradamente (1 Tm 2.14). Deus restaurou as suas le. embora tenha havido muitas engenhosas explica-
criaturas pecaminosas, mas a dispensaçáo da ino- ções oferecidas por vários escritores eruditos. [Al-
cência terminou com o julgamento e expulsão (Gn guns têm achado no profundo sono de Adão. que re-
3.24). Ah outras dispensações são: da Consciência sultou cm ele adquirir uma noiva, um tipo da morte
(Gn 3.23); do Governo humano (Gn 8.20); da pro- de Cristo, pela qual Ele obteve por companheira a
messa (Gn 12.1); da Lei (Êx 19.9); da Graça (Jo sua Igreja.]
1.17); do Reino (Ef 1.10) (Scofield). E neste capitulo que podemos ver o homem num
Nesse versículo 28, temos também a primeira das estado de inocência, num jardim de delicias, com
oito grandes Aliança* da Bíblia, a Edênica, que de- serviços e deveres leves (v. 15) sob o imediato jpver-
termina a vida e a salvação do homem. Esta aliança no e direção do Criador. Do capitulo três em diante,
tem seis elementos. O homem e a mulher no Éden o homem é um ser decaído, e sua mais sublime aspi-
haviam de: ração náo é mais a inocência, mas a santidadde.
1) Encher a terra de uma nova ordem - a huma- Notemos, de passagem, algumas expressões inte-
na. ressantes neste capítulo: O "exército"da terra e céus

19
é, já se vê, sem qualquer alusão militar, mas apenas A tentação começa com uma dúvida sobre o que
no sentido de multidão, imensidade, variedade. Vá- Deus dissera: "Ê assim que Deus disse?" E Eva na
rias vezes na Biblia Deus é referido como o Senhor sua resposta náo tem o cuidado de citar as palavras
dos exércitos, sem qualquer significação militar, mas de Deus corretamente. Acrescenta "nem nele toca-
por ser Ele quem dispõe de uma multidão de seres ás reis" e muda o sentido, pondo "no meio" do jardim
suas ordens. uma das árvores, quando ali Deus pusera outra (2.9),
Vemos que Deus "santificou" o sétimo dia. nâo Devemos ter imenso cuidado em não torcer a Pala-
em qualquer sentido de o purificar de pecado, mas vra de Deus quando a citamos.
no de pôr á parte, distinguir, especializar o dia. E assim, desobedecendo, pecaram, e trocaram
Outras alusões bíblicas á criação sáo as seguin- sua inocência por uma consciência acusadora, sua
tes: ignorância por um conhecimento do bem que tinham
Deus fez oa céus (1 Cr 16.26; Jó 26.13; SI 8.3; desprezado e do mal que não podiam remediar. Ti-
33.6; 96.5; 136.5; Pv 8.27). nham agora seus olhos abertos para descobrir o que
Deus fez a terra (Jó 38.4; Pv 8.28; Is 48.28; At teria sido mais feliz ignorar; e, impelidos por um
17.24; Rm 1.20; Cl 1.16,17; Hb 1.2; 11.3>. sentimento de vergonha, trabalharam (inutilmente)
Deus fez oa céus e a terra (Ex 20.11; 31.17; Ne para cobrir a sua nudez.
9.6; SI 89.11,12; 102.75; 115.15; 121.2; 124.8; 134.3; Notemos que Adão e Eva podiam estar tranqüi-
146.6; Pv 3.19; Is 37.16; 42.5; 44.24; 45.18; 51.13,16; los com os aventais de folhas que fizeram, enquanto
Jr 10.12; 32.17; 51.15; Zc 12.1; At 4.24; 14.15; EÍ3.9; lhes parecia que Deus estava longe, mas em vindo o
2 Pe 3.5; A p 4.11; 10.6; 14.7) Senhor, logo se esconderam, sentindo-se. aos olhos
Em seis dias (Ex 20.11; 31.17). divinos, descobertos e envergonhados.
Fez por sua Pala%Ta (SI 33.9; 148.5; Hb 11.3; 2 Pe
3.5). Deus, porém, lhes fez "túnicas de peles", e assim
ensinou, por uma figura, a necessidade da morte de
"Deus-Jeová" v.4). O sentido primário do nome
uma vítima inocente para que o pecador pudesse fi-
Jeová é " o que exi.. • por si". Literalmente (como em
car coberto e justificado perante Deus. "Sem derra-
Ex 3.14): "Aquela é quem é " por isso, " o eterno
mamento de sangue nào há remissão de pecados ": e
Eu sou".
em folhas de figueira náo há sangue derramado.
É significativo que o primeiro aparecimento do
nome Jeová rui Escritura segue a criação do homem. Notemos no pecado de Eva: a) o concupiscéncia
Foi Deus (Elohimj que disse "façamos o homem à da carne: "boa para se comer", b) a concupiscéncia
nossa imagem '' (1.26); mas quando o homem, como dos olhos: "agradável aos olhos", e c) a soberba da
no segundo capitulo, vai encher a cena. é o Senhor vida: "desejável para dar entendimento". As primei-
Deus (Jeová Elohim) que age. Isto claramente indica ras conseqüências do pecado foram a vergonha, uma
uma especial reiação da divindade, no seu caráter consciência acusadora. o receio, a morte espiritual,
jeóvico. para com o homem: e toda a Escritura con- pois "por um homem entrou o pecado no mundo, e a
firma isto. morte, pelo pecado" (Rm 5.12).
Jeová é evidentemente o nome redentor da divin- Mais uma coisa nos-interessa neste capitulo: que
dade. Quando entrou o pecado no mundo, e a reden- foi Deus quem procurou o pecador, náo o pecador a
ção tornou-se necessária, foi Jeová Elohim quem Deus. E essa atividade divina resultou na chamada,
procurou os pecaminosos (Gn 3.9-13) e os vestiu de na descoberta, na interrogação, na confissão, na sen-
peles (3.21), um lindo tipo de uma justiça fornecida tença. na justiÇcação (as túnicas de peles), e na dis-
por Deus, mediante o sacrifício (Rm 3.21,22). A pri- ciplina: foram expulsos do Eden.
meira distinta revelação de Deus pelo seu nome Jeo- Sobre a sentença contra a serpente, R. Winter-
vá foi com relação à redenção do Egito, do povo esco- botham oferece uma interessante explicação:
lhido (Ex 3.13-17) (Scofield). "Importantes dificuldades aparecem noa (versí-
culos. 14.15:)
Capítulo 3 "1) Dificuldade científica. A serpente hoje não
apresenta nenhum sinal de degradação: sua estrutu-
7>nfaçao e queda Até o fim do capitulo 2 tudo ra é tão admiravolmente adaptada ao seu lugar na
que temos contemplado é "muito bom", mas agora a natureza como a do leão ou a da águia. Nem pode-
cena muda e o mal aparece. O Tentador, com o as- mos dizer que ela come pó: sua comida consiste dos
pecto de uma serpente, tenta a mulher, e ela cai no pequenos animais que são suas presas.
pecado da desobediência, acompanhando-a Adão. "2) Dificuldade moral. Por que foi punida a ser-
Sobre a serpente, lemos no "Christian Armou- pente por uma coisa que não fez? Será que Deus pu-
ry": " É afirmado por Matthew Pool e outros emi- niu a astúcia do Diabo sobre seu inconsciente instru-
nentes comentadores que o artigo definido ora Gêne- mento?
sis 3.1 é enfático, e por isso se refere a uma serpente " A resposta é que estas duas dificuldades neutra-
especial. E no hebraico, 'hennachash:' esta serpente, lizam-se. Se o moralista nos diz que Deus náo podia
ou essa serpente, significando que não era uma ser- ter resolvido punir a serpente por uma coisa que ela
pente qualquer, mas um réptil influído ou personifi- nào fez, o homem de ciência nos assegura que Ele
cado por Satanás. náo fez isso. O verdadeiro peso da sentença recai
"Se a serpente era simplesmente influenciada sobre o verdadeiro ofensor, o Diabo, enquanto a
pelo Maligno ou se era uma positiva materialização mera forma da referida sentença foi acomodada á
dele, não sabemos; não resta dúvida, porém, que Sa- evidente estrutura e natureza da serpente.
tanás foi a causa original da tentação (Ap 12.9 e "Mas se foi o Tentador que pecou, por que Deus
20.2). Ao menos é evidente que a serpente foi possuí- nâo o sentenciou como tentador?
da por Satanás e que chegou a ser identificada com "Resposta: Porque no V.T. há uma notável reser-
ele. e o que Satanás falou por ela. se diz que a ser- va referente à personalidade de Satanás. A razão
pente faíou". disto é evidente: os homens não podiam suportar o

20
Gênesis _

conhecimento do seu grande inimigo espiritual até a ceu as túnicas para Adão e Eva. Tinham ouvido que
vinda do seu Libertador. Se percebermos que náo foi as folhas da figueira costuradas em aventais - embo-
da vontade de Deus nesse tempo revelar a existência ra representassem esforço, trabalho, imaginação -
do Maligno, podemos compreender por que Ele per- para nada serviam, porque nelas náo havia derrama-
mitiu-lhe manter o aspecto da serpente". mento de sangue. E Caim. que trouxe O frUtõ da sua
A Aliança Adámica determina a vida do homem lavoura, devia ter compreendido que isso náo seria
decaído, marcando condições que prevalecerão até a uma oferta que Deus pudesse aceitar.
época do Reino, quando "a própria criatura será li- A narrativa é bem resumida: "e falou Caim com
bertada do cativeiro da corrução para a liberdade da o seu irmão Abel" e em seguida o matou. Ficamos
glória dos filhos de Deus" (Rm 8.21). São os seguin- imaginando se porventura teriam tido uma longa
tes os elementos da Aliança Adámica: discussão; se Abel mostrou-se paciente e cordato, ou
1) A serpente, instrumento de Satanás, amaldi- se, pelo contrário, brigaram. Era a primeira conten-
çoada. da entre irmãos, e desde então quantas têm havido,
2) A primeira promessa de um Redentor (v. 15). resultando em ódios, separações e mortes!
3) A condição da mulher, mudada (v. 16) em três Vemos em Hebreus 11.4 que a oferta "mais exce-
sentidos: a) conceição multiplicada; b) maternidade lente" de Abel foi feita pela fé: pelos atributos que
ligada com sofrimento; c) sujeição ao homem (com- ele via em Deus. De 1 João 3.12 aprendemos que ha-
parar com 1.26,27). A entrada do pecado, que signifi- via bastante diferença na conduta e caráter dos dois
ca desordem, toma necessário o governo, que compe- irmãos, e isto. talvez, durante anos. O versículo 7
te ao homem (1 Co 11.7-9; Ef 5.22-25; 1 T m 2.11-14). pode ser traduzido: "Ese não fizeres bem, uma ofer-
4) A terra amaldiçoada por causa do homem (v. ta pelo pecado jaz á porta " Caim também se podia
17). Ê melhor para um homem caído lutar com uma ter valido de um cordeiro como oferta.
terra difícil, do que viver sem trabalho. Caim faz uma pergunta a Deus no versculo 9.
5) O inevitável cansaço da vida (v. 17). Como é que a responderíamos, se ela nos fosse feita
6) O leve trabalho do Édem (2. 15), mudado para hoje?
serviço laborioso ( w . 18,19). Alguns problemas aparecem neste capitulo: de
7) A morte física (v. 19; Rm 5.12-21), para a mor- quem teve Caim medo quando disse "será que todo
te espiritual, veja-se Gênesis 2.17 e Efésios 2.5 (Sco- aquele que me achar me matará"?
field). Depreendemos do capitulo 4.25 que o assassinio
A Segunda Dispensação: da Consciência (v. 22). de Abel teve lugar um pouco antes do nascimento de
Pela sua desobediência, o homem chegou a ter um Sete, isto é. uns 130 anos depois da criação do ho-
conhecimento pessoal e experimental do bem e do mem. Por isso náo devemos pensar que Caim e Abel
mal - do bem como a obediência, e do mal como a fossem os únicos filhos de Adão e Eva. Lemos que
desobediência ã conhecida vontade de Deus. Me- Adão "gerou filhos e filhas" (5.4) e esses natural-
diante esse conhecimento, a sua consciência acor-
mente tiveram descendência; por isso, quando Abel
dou. Expelido do ívdem. e posto sob a segunda
Aliança, a Adámica, o homem era responsável para morreu, provavelmente havia muito mais gente no
fazer todo o bem que conhecia, abster-se de todo o mundo do que se pensa.
conhecido mal, e aproximar-se de Deus mediante o "E pós o Senhor um sinal em Caim" (4.15). A
sacrifício. O resultado desta segunda prova do ho- tradução de Almeida náo é tão correta como a V.B.:
mem é declarado em Gênesis 6.5, e a dispensação "Deu Jeová um sinal a Caim ". Não havemos de en-
terminou com o julgamento do Dilúvio (Scofield). tender que ele fosse marcado, e sim que Deus. de al-
gum modo, assinalou-lhe a proteção divina.
Proposta emenda de tradução de 3.16: "A mulher Uma pergunta bem freqüente é esta: "Com quem
disse: Um laço tem aumentado a tua tristeza e o teu casou Caim?" A resposta deve ser, por suposto,
gemido. Em tristeza darás á luz filhos. Virar-te-ás ao "com uma das suas irmãs". Casamentos entre pa-
teu marido, e ele te dominará". rentes foram proibidos uns 2500 anos mais tarde ( L v
O dr. K . Bushnell tem investigado cuidadosa- 18.6), mas sabemos que tais uniões, ilícitas para os
mente o sentido verdadeiro deste versículo e afirma israelitas, eram praticadas por outros povos ( L v
que a tradução supra está de acordo com a versão 18.24).
Septuaginta, a Pesita, a Samaritana, a Velha Lati- A palavra "gênesis" quer dizer começos, e nestes
na, a Cóptáca e muitas outras. A palavra "concei- quatro capítulos temos visto o começo do universo,
ção" não está no original hebraico. do mundo, do trabalho, do pecado, da família, das
Proposta emenda de tradução do v. 22: "o ho- cidades, da música, da metalurgia.
mem. que tem estado como nós, tem chegado a co- Propostas emendas de tradução (v.7): "Uma
nhecer o bem mediante o mal" (R. 99). oferta pelo pecado jaz á porta". (V. 15): Isso não; pois
qualquer que matar a Caim. (R. 104). ou: quem ma-
Capítulo 4 tar a Caim será castigado. Ele (Caim) ficará por sete
gerações (A. 63).
Para entendermos a significação das duas ofer-
tas, uma aceita por Deus e a outra reprovada, pode- Capítulo 5
mos subentender que Caim e Abel ouviram muitas
vezes contar a história do primeiro pecado e do pri- Este é o livro das gerações de Adão (v.l). Deve-
meiro sacrifício: a morte do animal cuja pele forne- mos notar não somente os nomes mchiídoe na lista.

Noim do Editor. ARA: "EémmUtmr diooo: Multiplicar* nbficrf» — mmtrimontoo dm tmm grwidm*: mm mtmio de dorom
émrt!J*gêê à mulher-. Multiplicarei os frfrimento. do teu paru»; « U r i . á luz com do-
n a ; toas d i n j n to l m p e i M o para o toa marido • tu estarás aob o sea domínio".

21
Gênesis _

mas os nomes omitidos. Nada se fala de Caim, por- Capítulos 6 a 8


que ele "saiu de diante da face do Senhor" (4.16), e
assim saiu da história do povo de Deus. Abel não é O Dilúvio. Em tempos mais remotos alguns pen-
mencionado, provavelmente porque nâo deixou pos- savam que "os filhos de Deus" em Gênesis 6.2 eram
teridade. Nenhuma mulher é nomeada, embora leia- anjos caídos, mas nenhum comentador moderno de
mos que Adão "gcruu filhos e filhas" • quantos não confiança adota essa idéia, exceto o dr. Bullinger.
sabemos. Lemos em Mateus 22.30 que "na ressurreição nem
Dois nomes prendem a nossa atenção: Enoque, catam nem são dados em casamento; mas serão
um homem de fé (Hb 11.5,6) e Metusala, o mais ido- como os nnjit* de Deu* no céu". A expressão "toma-
so de todos. Deste diz o dr. Goodman: "Seu nome ram para st mulheres "è usada no V. T . somente com
significa 'Quando ele for removido, virá' ü Dilúvio referência ao casamento legitimo: nunca às relações
veio realmente logo depois de sua morte. A sua lon- sexuais ilícitas.
gevidade apareci' como um sinal da misericórdia d» E claro que havia nesse tempo duas raças distin-
vina, dando aos homens tempo de se arrependerem. tas. a descendência de Sete e a de Caim. Os exposi-
O seguinte quadro comparativo mostra que ele fale- tores modernos concordam que "os filhos de Deus"
ceu no ano do Dilúvio: foram a descendência de Sete. e "as filhas dos ho-
Metusala. no nascimento de Lameque tinha 187 mens" a descendência de Caim
anos. Lameque, no nascimento de Noé tinha 182 Se aceitarmos esta interpretação, a lição do inci-
anos. O Dilúvio veio quando Noé tinha 600 anos. dente será que um jugo desigual com os descrentes
Assim vemos que o Dilúvio veio quando Metusa- pode resultar em maior corrução e num castigo divi-
la tinha 969 anos, e nesse mesmo ano ele morreu." no. Logo em seguida. lemos da maldade humana
No caso de Enoque, há muitas coisas que podem multiplicada, até não haver mais remédio, e seguiu-
recompensar-um longo estudo. Podemos, por exem- se um dilúvio destruidor.
plo. estudar seu andar, sua fé (Hb 11.5,6); ma profe- A interpretação do dr. Bullinger. apesar de não
cia (.Jd 14> e sua trasladaçáo s«*r geralmente aceita pelos expositores, porque acar-
Em Gênesis 5.24 lemos apenas que "Deus para st reta problemas físicos incompreensíveis para nós
o tomou ". um dos casos mais extraordinários relata- contudo merece ser estudada. Diz ele:
do com grande economia de palavras. Quando algo " O titulo filhos de Deus é ligado precisamente
semelhante se deu com Elias (2 Ra 2.1-11). foi conta- com a Igreja de Deus, pois, segundo o uso de Paulo, é
do com pormenores Os dois incidentes fazem-nos o título particular dos que sáo uma nova criação em
pensar na ascensão do Senhor -Jesus Cristo ( A t 1.9). Cristo .Jesus. Isto vemos em todas as epístolas às
É interessante notar que Metusala foi contempo- igrejas, especialmente em Romanos 8.
râneo de Adão por uns 240 anos, e o seu filho U m e - "Porém não devemos transportar este uso para o
que dev i.i ter conhecido Adão por mais de 50 anos. Velho Testamento e interpretar no mesmo sentido a
Nào podemos ser muito positivos sobre qualquer expressão 'filhos de Deus' que encontramos ali oito
interpretação da idade dos patriarcas, devido às di vezes, em tíénesis 6.2.5; .fó 1.6.2.1; 38.7; Salmo
ferenças nos antigos manuscrito». As traduções para 29.1; 89.6; e Daniel 3.25 .
o português sào todas feitas dos manuscritos hebrai- "Km todos estes textos a expressão 'filhos de De-
cos. dos quais náo existem exemplares mui antigos. sus' significa anjos.
O manuscrito hebraico mais antigo leva n data de " A explicação destes dois uso» distintos da frase <
830 a.C. com um sentido no V.T. e outro no N.T» com refe-
Os manuscritos samaritanos (somente o Penta- rência a diferentes classes de seres, é a seguinte: que
teuco) apresentam o texto hebraico em letras sama- um 'filho de Deus' se refere a um ser que existe por
ritanas. Datam provável mente do quinto século an- um ato criador de Deus; produzido por Ele em vez de
tes de Cristo. ser produzido pelo homem.
A Versão Grega do V. T.. chamada "dos Setenta" "Os anjos são chamados 'filhos de Deus" porque
(ou L X X ) . foi feita durante os séculos terceiro e se- são uma criacáo separada distinta de todas as ou-
gundo antes de Cristo. Todas as versões diferem nas tras. O primeiro Adão podia ser chamado um 'filho de
idades em Gênesis 5 e 11. Os expositores mais erudi- Deus' no mesmo sentido (Lc 3.38), porque Deus o
tos acham que as genealogias na versão dos L X X são criou. Mas os descendentes de Adão não eram preci-
de mais confiança do que as dos outros manuscritos. samente criação de Deu», porque Adão, 'criadit... na
Ao menos aquela admite haver um "segundo Cai- semelhança de Deus' (Gn 5.1). gerou um filho à sua
nã". filho de Arpachade, em Gênesis 11; isso concor- semelhança (3) Assim que, por sermos filhos do pri-
da com Lucas 3.36. meiro Adão, somos 'filhos dos homens* e nào pode-
mos ser chamados filhos de Deus por geração natu-
Quem deseja investigar o assunto pode estudar ral
"Heptadic Structure of Scripture" por R Mc Cor "Quando, porém, somos 'feitura dele' criados em
mack. Cristo Jesus (Ef 2.10) e 'nova criação' em Cristo (2
Enoque. "trasladado para não ver a morte" (Hb Co 5.17), então. nele. podemos ser chamados 'filhos
11.5) antes do julgamento do Dilúvio, é um tipo dos de l>eus". Então somo» seus filhos pelo ato de rege-
santos que hão de ser trasladados antes dos julga- neração espiritual, porque Ele tem criado em nós
mentos apocalípticos (1 T s 4.13-17). Noé. deixado uma nova natureza, e nos tem dado um espirito de
sobre a terra, mas conservado durante o julgamento adoção, pelo qual clamamos 'Abba'. istoé. 'meu Pai'
do Dilúvio, é um tipo do povo judaico, que será con- (Rm 8.15; Gl 4.6).
servado através dos julgamentos apocalípticos (Jr "Este uso por Paulo da expressão 'filhos de
30.5-9; Ap 12.13-15) e levado, como um povo terres Deus', é. por isso. inteiramente distinto do que en-
tre, para uma nova terra e um novo céu (1*65.17-19; contramos no V.T. Se iaso tivesse sido discernido, e a
66.2U-22; Ap 21.1) (Scofield) presente dispensaçào náo tivesse sido atribuída ao

22
Génesú
passado, ninguém teria pensado que a expressão 'fi- que a sua felicidade foi realmente interrompida por
lhos de Deus' em Gênesis 6.2,4 pudesse ser emprega- aquilo que viu nas suas criaturas, pois Ele é imutá-
da em referência aos 'filhos de Sete!' (J. 144)". vel na sua felicidade como na sua natureza.
Mais adiante, no mesmo livro, numa exposição A linguagem do texto acomoda-se à nossa débil
detalhada de 1 Pedro 3.19, o dr. Bullinger diz o se- compreensão: é como se fala dos homens quando es-
guinte em referência a Gênesis 6.2: tão desapontados nas suas espectações e esforços.
" O propósito de Satanás era frustrar o conselho Quer dar a entender que Deus náo fica como expec-
de Deus predito em Gênesis 3.15." tador indiferente para com as ações humanas".
E resume: A história da salvação de Noé na arca é resumida
"Pelo fato de não ter conhecimento da descen- em Hebreus 11.7 assim: "Peta fé Noé, divinamente
dência pela qual 'a semente da mulher' (Cristo) ha- avisado a respeito das coisas que ainda náo se viam.
via de vir ao mundo, sua primeira tentativa foi de sendo temente a Deus, construiu uma arca para a
corromper e destruir toda a raça humana. Isto ele salvação da sua casa, pela qual condenou o mundo, e
quis fazer conforme a referência de Gênesis 6 e Judas tornou-se herdeiro da justiça que é segundo a fé"
6. 'Os filhos de Deus' eram anjos; 'os anjos que peca- O meio de salvação, a arca. era uma simples e
ram'. Todos os seres que são a imediata criação de clara figura de Cristo: passando pelas éguas da mor-
Deus são chamados seus filhos. Adão era um filho de te, saiu a salvo numa criação - um mundo além do
Deus (Gn 5.1; Lc 3.38). Nós não o somos. Por geração juízo. Os refugiados na arca escaparam da sorte dos
natural somos filhos de Adáo. gerados nâ sua seme- Ímpios- Assim Cristo nos salva pela sua morte e res-
lhança (Gn 6.3). A nova natureza em nós faz-nos 'fi- surreição. se somos achados nele (Fp 3.9); "não há
lhos de Deus' porque isso é a nova criação de Deus nenhuma condenação para os que estão em Cristo
(Rm 8.14-17; 2 Co6.17, Ef2.18). Pela mesma razão, Jesus" (Rm 8.1), e "se alguém está em Cristo é uma
os anjos também são chamados 'filhos de Deus' por- nova criação" (2 Co 5.17).
que são a imediata criação de Deus. No V.T., a frase Notemos como Noé, movido pelo temor, cons-
sempre tem este sentido. Em Gênesis 6 não podem truiu a arca: não esperou para ver o começo do juízo
ser da semente de Sete como geralmente se ensina, antes de a construir. Alguns pensam que jamais ti-
porque são contrastados com 'as filhas dos homens', nha chovido antes (2.5,6). Contudo. Noé obedeceu e
o que demonstra serem de uma natureza diferente. agiu, construindo a arca.
"Sabemos por Gênesis 6 que este grande propósi- O resultado foi salvar a família e condenar o
to satânico quase teve êxito, pois toda a terra estava mundo, que não fez caso do meio da salvação.
corrompida e cheia de violência (Gn 6. 11,12). O incidente do Dilúvio é. sem dúvida, o exemplo
"Toda a raça, exceto a família de Noé, era conta- clássico de juízo divino e. por isso. deve ser aceito
minada com essa geração chamada 'Nefilim*. Noé como o tipo e ensino do Espirito Santo sobre o assun-
era 'tamim Visto é. sem mancha, como a palavra tra- to.
duzida 'perfeito' no versículo 9 significa. Era preciso Lemos que juízo é uma obra estranha de Deus (Is
destruir todos pelo Dilúvio, mas os anjos que peca- '28.21), ou seja. é diferente da obra em que Ele tem
ram são 'reservados em cadeias' {1 Pe 3.19; 2 Pe 2.4 prazer: a misericórdia. O juízo tem cinco aspectos:
Jd 6) para serem julgados num dia ainda futuro". 1) E para a glória de Deus. 2) £ para a inst rução das
O leitor pode agora escolher entre as duas inter- nações (Is 26.9). 3) Ê purificador (Gn 15.16 e Lv
pretações. Pode notar que o dr. Bullinger náo cita 18.25). 4) Ê. conseqüentemente, uma libertação do
Mateus 22.30 nem considera o fato de Gênesis 6.2 re- mal. 5) É profético (Lc 17.26.27) (Goodman).
ferir-se a casamentos legítimos. Tradução aita-nativa (6.1): "E aconteceu que,
como Adáo começasse a multiplicar-se sobre a face
Notemos que. antes de haver um dilúvio, havia a da terra e lhe nascessem filhas... então disse o Se-
pregação da justiça (2 Pe 2.5), a provisão de um meio nhor: o meu fôlego náo ficará sempre em Adão. por-
de salvação, a arca. a paciência divina, esperando que. ele também é carne, porém seus dias serão mais
120 anos antes de mandar o castigo e o fechamento 120 anos (J 374).
da porta da arca. quando não havia mais esperança Citamos o seguinte de "The Bible and Modem
de os iníquos valerem-se do refúgio. A história da Research" par dr. Rendell Short:
Arca é resumida em Hebreus 11.7. "Se fosse razoável interpretar a Bíblia no sentido
Gênesis 6.6 apresenta alguns problemas de or- de ensinar que todo o mundo» como agora o conhece-
dem moral que têm preocupado o pensamento de mos. incluindo a América do Sul. a Antártica, etc. fi-
muitos e que não podem ser facilmente resolvidos. casse submergido de uma vez. e que cada uma das
Linguagem humana aplicada a um ser divino pode 790.000 espécies de animais fosse representada na
ser inadequada para expressar toda a verdade. O arca, que tinha apenas 180 metros de comprimento,
versículo ao menos ensina que Deus náo é indiferen- a dificuldade seria deveras formidável. Ê esse preci-
te para com as ações humanas. samente o tipo de dificuldade que alguns críticos
Aprendemos do capítulo 6 que o homem decaído, gostam de levantar contra a Bíblia. Mas é um ultra-
longe de evoluir para um estado cada vez melhor, de- ge ao uso das palavras argumentar assim. As pala-
genera-se, até Deus resolver destrui-lo da face da ter- vras da Bíblia, como em qualquer outro livro, são em-
ra. Sua degeneração é marcada por inclinação carnal pregadas no sentido que.levaram na ocasião de es-
e sensual (Mt 24.38), uma completa depravaçáo crever, e não no sentido t^ue vieram ú ter hoje. Foi o
(6.5) e impenitência obstinada (1 Pe 3.20). mundo en(ão~con)ieciõo que ficou submergido, e os
Quanto ao versículo 6 o dr. Goodman cita Carlos animais então conhecidos foram conservados em vi-
Simeon: da. Quando Lucas diz que todo o mundo havia de ser
" N ã o havemos de supor que Deus não previu o recenseado (2.1). evidentemente não inclui a Améri-
que ia acontecer, porque presciéncia é essencial á ca do Sul. Nem. quando se nos diz que 'todos os reis
perfeição da sua natureza. Nem havemos de supor da terra procuravam ver o rosto de Salomao' (2 Cr

23
Gênesis _

9.23), náo é para incluir o Japão e a Austrália. Gêne- inocência, o h o m e m fracassou inteiramente, e o jul-
sis 7.19 diz que 'todos os montes que havia debaixo g a m e n t o d o Dilúvio marca o f i m da segunda dispen*
d o céu foram cobertos". Entre os ouvintes de P e d r o saçáo e o c o m e ç o da terceira. A declaração da alian>
no Dio de Pentecoste havia homens ' d e todas as na- ça com N o é sujeita a humanidade a uma prova. Sua
ções d e b a i x o d o céu' ( A t 2.5), e em cada caso é evi- feição distintiva é a instituição, pela primeira vez,
dente que o sentido é 'o mundo então conhecido'. Se do governo humano - o governo d o homem pelo ho-
o m o n t e de Arara te onde a arca descansou é o m e s m o m e m . A função mais alta do governo é tomar a vida
A r a r a t e de hoje. é caso p r o b l e m á t i c o " . humana (9.6). T o d o s os poderes inferiores governa-
N o v . 4 notemos que o " s é t i m o m è s " é o s é t i m o mentais estão incluídos nisto. Segue-se que a tercei-
d o ano: não d o D i l ú v i o ( T ) . ra dispensação é essencialmente a d o governo huma-
N o é esteve na arca um ano inteiro, ou 365 dias. no. O homem é responsável para governar o mundo
pois entrou no dia 17 d o segundo mês. quando tinha de acordo com a vontade de Deus. Essa responsabili-
600 anos. e continuou até o dia 27 d o segundo mês no dade pesou sobre toda a raça: judeu e gentio. até que
ano seguinte ( T ) . o fracasso de Israel sob a Aliança Palestiniana ( D t
A Terceira Dispensaçào começa em 8.20. E a d o caps. 28 a 30.1-10) resultou no j u l g a m e n t o dos cati-
Governo H u m a n o . S o b a consciência, como sob a veiros. quando começaram " o s tempos dos g e n t i o s "

Nota do Editor: A teoria apraMoUdâ pai» autor (inundação local) também encontra dificuldade* j
plieãçáo. São Ln ame roa oo comentaristas que a contestam. Náo podemos cita-los a todos, m u
qufloos trecho* da obra " M e r e c e « a a f c o p o Antigo Testamento?", ãe Gioaoon L. Archer. Jr..
pela Edições Vida Nova - São Paulo fia. 228/30. 233/334:
" N ã o é possível, contudo, sustentar que mesmo uma inundação local seja uma explicação que i difi-
culdades científicas. Gênesis 7.19 declara muito explicitamente que o nível da água cobriu todoe os altos i
havia debaixo do céu. Entendendo-aa que as montanhas em questão fossem meramente as daquela região ( i
pretação que o texto dificilmente comportaria), ao mínimo a água deve ter coberto os picos do Monte Ararate. visto
que a arca foi eocalhar no pioo mais alto (além de 5.000 metro» de altura). A infor tecia inevitável t que o nivH da á-
gua tenha subido até maia do que 5.000 metros acima do atual nível do mar. Isto cria para a teoria do âmbito restrito
do OUúvio dificuldades quase tão graves como aquela* que a teoria procura evitar. Como 4 que o nível
ume do Ararate sam ter suhédo á mesma altura do mundo inteiro? Só durante um surto
i da pororoca, é que a água não conserva um nível igual. Admitir que a Armênia tíveeee: 5.000
i ter havido nenhuma inundação em Auvergne, na França, i propor um milagret
implicada pela maneira tradicional de crer num Dilúvio universal.
da lenda de Mano preservada entre oa hindus (segundo o qual Manu e i
i navio duma inundação de alcance mundial); ou a dç Ffth-he entre os chineses (foi êle o i
té, éòm sua esposa, três filhos e três filhas); ou a de Nu-u entre os havaianos; ou a de Tezpi entre oa i
ou a de Manahoao entre os algonquina? Todas estas concordam em declarar que a raça humana tenha sido inteira-
mente destruída por um grande dilúvio (usualmente descrito como tendo sido de alcance mundial), como resultado do
desgosto divino perante o pecado humano, e que um único homem, com sua família e pouquissii
sobrevivido á catástrofe por meio dum navio, duma balsa ou duma canoa, daigum tipo.
" N á o são todaa as tradições primitives que incluem uma arca como meio de aalvação. Entre certos |
aborígenes das Ilhas Andami. foi um pioo montanhoso multo a Ho que oüweueu o refúgio vital ao único i
Mas fera desta detalhe, aa linhas bãaicae da landa seguem a estrutura básica da narrativa de Gênesis. Os quurai
(tribo da sborlgsoes da Austrália); aa hahétaataa das Ilhas da Fijí. aa nativos da PoUnéeia, Micronéeia. Nova Guiné.
Nova Zelândia. Novas Héfaridas, os aatiteecétticse do Pai* de Galas, ae tribais do Lago Caudie no l
tém suas tradições dum Dilúvio, da destruição universal.

t a narrativa de Gteesis tem sido criticada como sendo não plausível por causa da i
i da arca segundo as dimensões registradas. Mas &a base de um cóvade de 52 cm (podia i
de 4€ cm), a arca teria 183 m de comprimento. 30,5 de largura. 18,3 m de profundidade. Ent
aido a forma duma caixa (arca) - hipóte** altamente piuvátel em viata de teu propósito
i de perto de 102.000 m\ espaço suficiente para 2.000 caminhões de gado (cada um contendo 181
ou 80 a 100 ovelhas). Atualmente, sé existam 200 tipos de animais
i; há 757 espécies entre o tamanho da ovelha e o do rato, e 1.35» menores do que ratos.
ivelmente na capacidade cúbica da Arca.

um Dilúvio locai.
obre um dilávie
objeção a um dilúvio a terra é a quantidade de água para iaao oscal-
volume de água suficiente,
Foz, pois Dests o s seporoçdo entre ao água» debaixo do firmamento e ao
" (ARA).
Parece que todaa aa águaa (antes) se en-
o Armamento, i quantidade de águas (a menor) foi ;

sobre o Armamento parece que não desciam. Gteesis 2.5


tmha feito chover sobre a terra...". o mo versículo 6: "Um subia da terra, « regava toda a
ite da água que estava so6 o Armamento,
pode calcular a quantidade de água que havia
incalculável de água sabre a terra quando pela primeira i todo
" a " a s /anelae de eéa se abriram teriam a libertação das á-
a atração que aa
água ainda a i Dilúvio de caráter geral.

24
Gênesis _

(Lc 21.24), e o domínio do mundo passou definitiva- da de Jafé; assim a história tem confirmado o exato
mente para as mãos dos gentios (Dn 2.36-45; Lc cumprimento dessas declarações (Scofield).
21.24: At 15.14-17). Que Israel, como os gentios. tem
governado para si e nào para Deus é tristemente evi- Capítulo 11
dente. o julgamento da confusáo de línguas terminou
a prova das raças: a doa cativeiros, a de Israel; en- A torre de Babel. Neste capitulo do Gênesis ("co-
quanto a prova dos gentios terminará com o ferimen- meços") encontramos o começo da confederação e do
to da imagem descrita em Daniel 2.34 e o julgamento engrandecimento humano. E Deus desaprovou essa
das nações com o que se vê em Mateus 25.31-46 confederação: impediu o projeto de fazer uma alta
(Scofield). torre e "um nome", confundiu as línguas e espalhou
Proposta emenda de tradução (6.9): "Noé era va- os povos sobre a face da terra. É interessante con-
rão justo e reto em seus tempos. Noé andava com frontar com este começo o desenvolvimento de con-
Deus entre o povo" (J. 375). federações humanas de hoje, e a multiplicidade de
nomes partidários.
Capítulos 9 e 10 A descendência de Sem. Vemos que a posterida-
de abençoada por Deus nem sempre seguiu pela li-
Noé e seus descendentes. Este trecho contém al- nha do primogênito. Arpachade era o terceiro filho
guns pontos que prendem a nossa atenção: a bênção de Sem (10.22) e náo o primogênito.
e promessa de Deus e o pacto que fez com Noé e com No capitulo 5 vemos que a média da idade para o
"toda a alma vwente" (9.16). nascimento de um filho era acima de cen- anos. No
O arco-íris (9.12-17). Alguns pensam que antes capitulo 11. era de 349 anos. E cm todo o livro de Gê-
do Dilúvio nunca houve chuva (Gn 2.6) e por isso o nesis as idades dos patriarcas vão quase sempre di-
aparecimento do arco-íris depois da chuva havia de minuindo.
ser bem notável. Quando Ezequiel viu em visão o Porventura seria h'cito entender que os anos
trono de Deus. viu que tinha "a aparência do arco eram, no principio, mais curtos do que depois? So-
que se vê na nuvem no dia de chuva" (1.28). mente assim poderemos compreender o caso de uni
Lemos neste capítulo acerca da embriaguez de homem esperar uns cem anos antes de nascer-lhe um
Noé (9.21) que nos faz ver que até um homem rica- Hlho.
mente abençoado por Deus pode ser vencido por pe- Proposta emenda de tradução (11.6): "porventu-
cados carnais De passagem notamos o procedimen- ra não haverá retribuição para tudo o que eles inten-
to correto de Sem e Jafé. que. em tempos tão remo- tarem fazer V
tos. tiveram um sentimento moral tão desenvolvido
como o dos mais ilustrados de hoje. Notemos tam- Capitulo 12
bém como a maldição caiu sobre Canaá, o filho mais
moço de Cão. e não sobre Cão mesmo, e que desde A chamada de Abráo. e as promessas que Deus
então os cananitas foram adversários do povo de lhe fez. Neste capítulo podemos estudar:
Deus até que chegou a ser necessário enxotá-los da V- i a) A escolha divina. Deus escolheu Abrão, e isto
terra *<Ja 17.18). importa conhecimento, aprovação, confiança, pre-
Se a Bíblia náo tivesse recordado a embriaguez paração para o fim destinado.
de Noé. o adultério de Davi. e a mentira de Pedro, V â.b b) .0 plano de (mediante o escolhiao de Deus)
poderíamos imaginar que os homens piedosos dos abençoar muitos povos.
tempos antigos eram bem diferentes de nós mesmos, V i c) A chamada divina - uma chamada positiva,
que temos tido os nossos próprios lapsos da aenda da individual, imperativa.
retidão; com esta diferença, porém, os lapsos deles V-5bd) A proteção divina - "amaldiçoarei os que te
ficaram recordados para aviso das gerações futuras, amaldiçoarem ".
e os nossos ficam ocultos. V 3 - A revelação divina - "apareceu o Senhor a
De certos netos de Noé vieram vários povos bíbli- Abrão".
cos: de Lude os lidios; de Assur os assírios; de Elam V1b f) A promessa divina - "d tua descendência darei
os elamitas; de Madai os midianitas; de Javã, os jô- esta terra".
nios; de Tiras os tracianos (T). A chamada é descrita em Atos 7.2.3. e a resposta
A Aliança com Noé (9.1-17). As bases são: em Hebreus 11.8.
1) Confirmação de que o homem seria relaciona- Abrão desce ao Egito (v.10). Isto nos parece um
do á terra, conforme a Aliança adãmica (8.21). desvio da senda da fé. pois ai Abrão perde a sua con-
2) Confirmação da ordem na natureza (8.22). fiança na proteção de Deus e pretendo valer-se de
3) Estabelecimento do governo humano (Gn 9.1- um subterfúgio para evitar o ciúme do rei da terra.
6). Contudo. Deus o protegeu sem que ele esperasse.
4) Garantia de que a terra náo sofreria outro dilú-
vio (Gn 8.21; 9.11). i a) Agiu sem consultar a Deus (v. 10)
5) Declaração de que procederia de Cão uma pos- ib) Escolheu seu destino, confiando na própria in-
teridade inferior e servil (Gn 9.24.25). teligência (v.ltl)
6) Declaração profética de que haveria uma rela- òc) Valeu-se da duplicidade para conseguir seu
ção especial entre Jeová e Sem (Gn 9.26.27). (De fa- propósito (v.13)
to. a revelação divina tem vindo mediante a raça d) Perdeu de vista a perspectiva e o plano da sua
acraítica; e Cristo, segundo a sua natureza humana, vida (rv. 2,12)
procede de Sem). £e) Sua astúcia parecia alcançar bom êxito
7) Declaração profética de que de Jafé procede- (w.14,15)
riam as raças "dilatadas" (Gn 9.27). Governos, ciên- •o f ) Achou-se mais tarde enlaçado na trama que ele
cias. artes, têm provindo, geralmente, de gente vin- mesmo fizera (v.18)

25
tínau

1 g) Foi censurado por um rei pagão, e mandado úlümo propósito divino transpareça (Gn 12.3; Is 2.2-
para sua própria terra ( w . 18-20). 4, etc.)
A Quarta Dispensaçào (Gn 12.1 a Êx 19.8): a da 2) Que a raça humana, doravante chamada gen-
promessa. Ê evidente que para Abráo e seus descen- tia em contraste com Israel, continua sob as alianças
dentes a aliança de Deus com ele fez uma grande di- com Adào e Noé. e que para essa raça (fora de Israel)
ferença. Vieram a ser herdeiros da promessa. A continuam ac dtspcfuaçôca da consciência e do go-
aliança é de graça por nào ter condições. Os descen- verno humano. A história moral do grande mundo
dentes de Abrão teriam apenas de ficar na sua terra gentilico conta-se em Rm 1.21-32, esua responsabili-
para herdar a bênção. No Egito perderam as bên- dade morai em Rm 2.1-16. A consciência nunca jus-
çãos. mas não a aliança. A Dispensaçào da Promessa tifica: ela ou "acusa" ou "desculpa". Onde a Lei é
terminou quando Israel táo facilmente aceitou a Lei conhecida pelos gentios. vem a ser para eles, como
(Ex 19.8). A Graça tinha fornecido um Libertador para Israel, uma muxistraçáo de morte, um meio de
(Moisés), um sacrifício para o culpado, e. por divino "maldiçáo" (Rm 3.19,20; 7.9-10; 2 Co 3.7; G1 3.10).
poder, libertado Israel da escravidão (Êx 19.4), mas Uma responsabilidade inteiramente nova surge
no Sinai trocaram a graça pela Lei. A Dispensaçào quando o judeu ou o gentio conhece o Evangelho (Jo
da Promessa se estende de Gn 12.1 a Êx 19.8. e era 3.18.19,36, 15.22-24; 16.9; 1 Jo 5.9-12) (Scofield).
exclusivamente para os israelitas. Importa distin-
guir entre dispensaçào e aliança. A dispensaçào é um Capítulo 14
modo de experimentar o estado espiritual do povo: a
aliança é eterna, porque é incondicional. A lei não Esta é a primeira vez que lemos de "reis" na
anulou a aliança abraámica (G1 3.15-18), mas era Bíblia, e uma palavra mais adequada na linguagem
uma medida disciplinária "até que viesse a posteri- de hoje seria "chefes". No Brasil, o chefe de uma ci-
dade a quem fora dada a promessa" (G1 3.19-29: 4.1- dade. como a de Sodoma (v.17). é chamado "prefei-
7). A dispensaçào somente, como meio de provar a to".
Israel, terminou com a aceitação da Lei (Scofield). Nesta contenda entre chefes rivais, vemos Ló en-
volvido, visto que era morador de Sodoma. Abrão,
Capitulo 13 morando a parte, foi quem salvou a situação, depen-
dendo da ajuda divina (v. 20).
Separação para Vens. Agora Abráo volta do Egi- Dois reis o encontram na sua volta: o de Sodoma,
to e vira o rosto para a terra prometida. Notemos as e Melquisedeque. Tudo quanto sabemos de Melqui-
três coisas que caracterizam sua vida de peregrino: a sedeque está neste capitulo, no Salmo 110 e em
tenda, o altar, e o poço. Náo lemos nada de um altar Hebreus capítulos 5.6 e 7. Ele é também o primeiro
no Egito. sacerdote mencionado na Bíblia: um sacerdote real,
Mas as riquezas que ele e Ló tinham acumulado e por isso uma figura do Senhor Jesus Cristo. Tam-
no Egito vêm a ser motivo de contenda na terra: re- bém aqui pela primeira vez lemos sobre "o Deus
sultam numa separação. altíssimo".
Abrão, confiante na proteção divina, pode deixar Depois da divina bênção pronunciada por Mel-
a escolha de destino a Ló, e este escolhe segundo as quisedeque, vem a tentação material, por parte do
aparências (v.10) nào, porém, após fervorosa oração. rei de Sodoma: Há um ditado que "cada homem tem
O crente, quando precisa escolher um ponto de o seu preço" mas um homem de Deus como Abrão
morada, deve pensar, náo somente na fertilidade dos nào pode ser comprado, nem quer receber favores de
terrenos, mas também na piedade dos vizinhos. Por- um rei mundano.
ventura haverá uma casa de oração bem perto? " E na volta de Abráo 'da matança doe reis' que a
Notemos que "a senda da fé é a senda da separa- misteriosa figura de Melquisedeque aparece. Ele
ção". Abrão nunca foi plenamente abençoado en- vem ter eom Abráo, traz-lhe pào e vinho, e o aben-
quanto não se separou de Ló (v. 14). Em cada ponto çoa: e Abráo dá-lhe o dízimo de tudo. Tanto se fala
onde Abráo demora vemos a tenda e o altar (v. 18). deste incidente no N . T . que devemos estudá-lo. Va-
Gênesis 11 e 12 marcam uma Importante linha mos notar os seguintes pontos:
divisória nas relações de Deus para com os homens. 1) Por ser ele o primeiro sacerdote mencionado
Até aqui a história tem sido a de toda a raça adámi- na Bíblia, tem sido escolhido pelo Espírito Santo
ca. Náo tem havido nem judeu nem gentio: todos como um tipo de Cristo, um Sacerdote maior que
têm sido um no primeiro Adão. Doravante, no relato Aarào
bíblico, a humanidade é considerada como um vasto 2) Ele era rei e também sacerdote. Rei de Salém
rio, do qual Deus. na chamada de Abrão e na forma- (da paz) e seu nome significa Rei da justiça (Zc
ção de Israel, tem separado um pequeno córrego, 6.12,13; Hb 7.2)
para por ele. afinal, purificar o mesmo grande rio. Is-
rael foi chamado divinamente para testificar a uni- 3) Assim, no Salmo 110.4 está escrito de Cristo:
dade de Deus no meio da prevalecente idolatria uni- 'Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de
versal (Dt 6.4, Is 43.10-12), para ilustrar a bem- Melquisedeque'
8venturança de servir o verdadeiro Deus (Dt 33.26- 4) Nào existe nenhuma mençáo do seu pai ou sua
29): para receber e preservar as divinas revelações máe, do seu nascimento ou morte; por isto, é tomado
(Dt 4.5-8; Rm 3.1-2), e dar ao mundo o Messias (Gn em Hebreus 7.3 como um tipo de Cristo: o sacerdote
3.15; 12.3: 28.13.14; 49.10; 2 Sm 7.16.17; Ia 11.1-5; eterno. Para estudar o assunto mais completamente
Mt 1.1). é preciso ler com cuidado Hebreus capítulos 5-7"
(Goodman).
O leitor da Bíblia deve ter sempre na memória:
1) Que no Velho Testamento as Escrituras têm Capitulo 15
em vista principalmente Israel, o pequeno córrego, e Promessa de uma posteridade. Neste capítulo,
nào o grande rio doe gentios. embora vez após vez o pela primeira vez. a fé é mencionada, e lemos "creu

26
l
Génesú

ele no Senhor, e foi-lhe imputado isso por justiça ". em 12.7 e a terceira em 18.1. Esta vez Ele se revela
Este versículo é referido em Romanos 4.3 e Tiago como o "Deus todo-poderoso" (Êx 6.3) e repete ain-
2.23. Abrão tinha então 85 anos. e nenhum filho. da mais detalhadamente as suas promessas. Os sé-
Mas tinha a promessa de Deus. e creu nessa promes- culos passados não têm visto a semente de Abraão
sa. A sua fé é relatada em Romanos 4.18-22: "O qual. em "perpétua possessão" da terra de Canaã, e pode
em esperança, creu contra a esperança [perspectiva | parecer que a incredulidade de Israel tenha perdido
de que seria feito pai de muitas nações... e não enfra- o gozo da promessa. Em Gálatas 3.16-29 o apóstolo
queceu na fé... e náo duvidou da promessa de Deus dá a entender que o pleno cumprimento de tudo de-
por incredulidade... estando certíssimo de que o que pende de Cristo, a verdadeira "posteridade" de
Ele tinha prometido também era poderoso para o fa- Abraão: "E se sois de Cristo, então sois descendência
zer'. Pena é que no capitulo 16 a sua fé fraquejou de Abraàn. e herdeiras conforme a promessa".
bastante, e ele teve a idéia infeliz de conseguir o pro- Neste capítulo ( w . 9 a 14) Deus estabelece o si-
pósito de Deus mediante um plano carnal seu. que nal da circuncisáo para Abraão e sua posteridade, e
mais tarde teve conseqüências funestas (SI 83.5.6), este rito continua a ser até hoje o distintivo de todo
por causa da descendência de Ismael, que sempre foi israelita. Ê interessante notar que o escravo, com-
inimiga dos israelitas. prado por dinheiro, havia de recebo' o mesmo rito
A promessa divina foi detalhada e explicita. In- (v.12).
cluía a asseveração de Deus ser escudo e galardão. Mas não podemos dizer que o rito teve sempre a
Prometida uma posteridade, e referia-se á escravi- mesma significação. No caso de Abraão podia ser " o
dão de Israel no Egito (v. 13). sinal da sua f é " (Rm 4.11), mas no de Ismael, com 13
Sobre isto o dr. Bullinger dá uma importante anos. ou de Isaque, com 8 dias, náo havia de ter a
emenda de tradução no versículo 13: "será peregrina mesma significação. Não vamos pensar que Isaque
em terra alheia [e será reduzida à escravidão e aflita | fosse "muito crente" com 8 dias de idade!
por quatrocentos anos". A peregrinação começou
com a chamada de Abrão. Capitulo 18
Explicou o motivo da demora no Egito (v.i6). Fa-
lou de toda a extensão das terras que Deus pretendia Aqui a narrativa fica interrompida para relatar o
dar aos israelitas. Contudo nunca tomaram posse de incidente da destruição de Sodoma e de Gomorra e a
tudo "desde o rio do Egito até ao grande rio Eufra- salvação de Lá.
tes" (v. 18). Sabemos por este capitulo que a aparência dos
" A aliança cora Abrão (começada em Gênesis três visitantes celestiais que falaram com Abraão era
12.1-3 e confirmada em 13.14-17; 15.4-5,17,18) tem de homens: "três varões", e dos três um era "o Se-
sete partes distintas: nhor" (v.l). Vemos esta mesma aparência humana
1) 'Farei de ti uma grande nação' (12.2) em um em Josué 5.13 e Marcos 16.5, mas é somente rate úi-
sentido natural e espiritual. timo versículo que acrescenta a aparência de moci-
2) Abençoar-te-ei", em dois sentidos, material- dade. O leitor pode decidir se, porventura, isto lança
mente (13.14,15,17) e espiritualmente (15.6 e Jo qualquer luz sobre o fato de o homem ser criado
8.56) "conforme a imagem e semelhança de Deus" (Gn
3) 'Engrandecerei o teu nome'. Abrão toma-se 1.26). F. bem possível que chegue á conclusão de que
um doe nomes universais. "não". A maioria doe estudiosos concorda em que a
4) 'Tu serás uma bênção' (G1 3.13,17) imagem e semelhança deviam ser entendidas moral
5) 'Abençoarei os que te abençoarem' e não materialmente.
6) 'Amaldiçoarei os que te amaldiçoarem. (Até Os visitantes começam com mais uma comunica-
hoje costuma ir mal a nação que persegue os judeus) ção, referente ao nascimento de Isaque. Esta vez é
7) 'Por meio de ti serão benditas todas as famílias Sara que ri, desconfiada, e depois nega que riu. Con-
da terra'. Esta é a grande promessa evangélica, cum- tudo. não havemos de pensar que ela era totalmente
prida na descendência de Abrão. personificada em descrente, pois lemos em Hebreus 11.11: "Pela fé
Cristo (Jo 8.56-58: G1 3,16)" (Scofield). tam bem a mesma Sara recebeu a virtude de conce-
ber. e deu à luz um filho já fora de idade". Notemos
Capítulo 16 que Deus tinha predito o nome do filho que havia de
nascer: "Isaque , ou "riso". Os dois tinham rido na
Um recurso carnal. Ficamos surpreendidos ao ver sua incredulidade, mais tarde podiam rir da sua cre-
que, pouco tempo depois, Abrão fraqueja na sua fé, dulidade, recordando a pergunta: "Haverá coisa al-
e, persuadido pela esposa, lança mão de outro meio, guma difícil ao Senhor?" (v. 14). Nesta ocasião
sugerido pela sua desconfiança quanto a conseguir as Abraão tinha 99 anos e Sara 89.
promessas de Deus. Toma a serva egípcia da sua
mulher, e por ela tem mu filho Ismael. Nos versículos 17 a 21 parece que ouvimos Deus
E a fé de Abrão vai ser provada durante mais tre- conversando com os dois anjos, e A brado, de pé, Um
ze anos quando não há sinal algum do cumprimento pouco afastado, ouvindo tudo. Os dois anjos haven-
da promessa de Deus. do seguido para Sodoma, Abraão aproxima-se. e faz
Proposta emenda de tradução (v.13): "porque ela a sua célebre intercessão. Estaê a primeira e grande
disse, tenho eu também aqui visto aquele que me oração intercéssória recordada na Bíblia. O dr.
vê?" (R. 48). Scroggie analisa a oração intercessória de Abraão da
seguinte maneira:
Capítulo 17 1) A base da oração é dupla: Primeiro, o reconhe-
cimento de Deus e da liberdade que tinha para falar
Muda-se o nome de Abrão. Ê a segunda vez que com Ele. Segundo, o Concerto de Deus (17.19).
Jeová aparece a Abrão e fala com ele. A primeira foi Abraão tinha sido chamado por Deus a interessar-se

27
com Ele no» seus propositos. referentes no mundo, e mos de um grave lapso na vida espiritual de Abraão.
por isso sente liberdade em falar-lhe. Saindo de Manre. onde vivera uns cinco anos, tal-
2) Características da oração de Abraão. vez. por motivo do escândalo causado pela família
a) Discriminação (24.25) entre os justos e os de Ló. ele se transfere para Gerar, na terra doa filis-
ímpios, e interesse em todos oa dois teus. e ali repete o mesmo subterfúgio que praticara
b) Confiança na justiça de Deus <w.23,25); a gra- no Egito, muitos anos antes. Fala de Sara como sua
ça de Deus (v.24); o poder de Deus (v.25) irmã. sem confessar que ela era sua esposa. E coisa
c) Precisão (vv.28-32). E lembremo-nos que peti- bem triste quando o crente, por motivo de seu mau
ções em termos gerais náo teráo respostas precisas procedimento, chega a ser reprovado pelos descren-
d) Importunidade Seis vezes Abraão pede que te». Notemos neste capítulo que:
Sodoma seja poupada e cada vez reforça seu pedido a) E possível descobrir que o descrente é mais
e) Humildade (v.27). Ele jamais se esquece de consciencioso do que pensamos ( v . l l )
que fala com Deus. b) Deus pode guardar qualquer um do pecado,
3) O êxito da oraçao de Abraão. Náo obteve tudo uma vez que tenha uma consciência sensitiva (v. 6)
que desejava, mas obteve tudo que Sodoma tornou c) Quando o homem de Deus faz uso da astúcia
possível. (Veja-se Jeremias 5.1.) mundana, o resultado só pode ser prejuízo
d) Um simples erro pode tornar-se pecado mor-
Capitulo 19 tal, se uma advertência náo for atendida (v.7)
Salvação de Ló e destruição de Sodoma. Note- e) O crente, uma vez restaurado espiritualmente,
mos que os "varões" do capítulo 18.2 sáo "anjos" em poderá orar pelos seus semelhantes (v.7)
19.1. Ló parece ser táo hospitaleiro como Abraão 0 Pode haver providências preventivas divinas
(v.2). mas os anjos náo querem entraT na sua casa. (v. 18)
Preferem passar a noite na rua. Poderemos imaginar g) Ê possível descobrirmos a piedade onde menos
Deus recusando entrar na casa de algum crente ho- se espera. Evidentemente Abimeleque era um ho-
je? Quais os motivos? Afinal os anjos consentiram e mem temente a Deus.
entraram. Precisamos acreditar que Sara. apesar doa seus
Ló parece ser o tipo do "meio-crente", convenci- noventa anos. era uma mulher bem-apes soada. Evi-
do, mas não convertido. A vida de uma tal pessoa dentemente havia nela qualquer coisa que cativou a
costuma ser uma contenda, uma inutilidade e talvez simpatia do rei Abimeleque.
uma catástrofe Seu testemunho uos genroti ficou Notemos que Deus falou com Abimeleque por so-
nulo (v.I4). nhos, mas a Abraão, face a face.
Sodoma figura o mundo e sua sensualidade. Proposta emenda de tradução (v.16): "eis que
Kgilo simboliza o mundo e sun comodidade ( Ê * sua prata é para comprares um vêu" (R. 67).
16.3).
Babilônia simboliza o mundo e sua grandeza (Js Capitulo 21
7.21; Ap 18.10).
A história de Ló nos ensina que. embora o cristáo Isaque nasce - Ismael ê despedido. Afinal nasce
mundano possa conseguir para si a salvação, pode, Isaque, depois de muitos anos de fé alternada com
contudo, perder a sua família. Filhos e filhas, criados incredulidade da parte dos pais. Em Cálalas 4 o
num meio devasso podem ser corrompidos. A mulher apóstolo encontra um sentido simbólico em cada um
que olha saudosa para as vaídades do mundo, em dos dois filhos. Na alegoria que Paulo percebe na
pouco tempo nâo poderá mais trilhar a senda da sal- história de ambos. Hagar representa o monte Sinai e
vação <v. 26). tudo que a Lei pode produzir, enquanto Isaque é o
Ló não agiu de acordo com o ensino de 2 Corintios fruto da fé. e mostra o que Deus faz para o crente.
6.17. Em Sodoma ele ganhou uma porção de triste-
Vemos que Ismael, o filho "nascido segundo a
zas: 1) Ele foi "atribulado pela vida dissoluta dos vi-
carne" (G1 4.29), persegue o filho da promessa, e é
zinhos" (2 Pe 2.7) 2) Ele foi desprezado por aqueles a
despedido, porque não pode herdar com este. Esses
quem procurou conciliar (v.9) 3) Ele nâo pôde evitar
que nâo sáo das obras da Lei (G1 3.10) náo herdarão
a ruína da família 4) Ele chegou a ser semelhante
as promessas dadas a Abraão, mas sim aqueles que
aos crentes de 1 Corintios 3.15. A graça de D e i s sal-
têm fé em Cristo (G1 3.12-14). Uma religião carnal é
vou Ló. e isso por força, contra a sua vontade (v. 16).
sempre inimiga da religião espiritual.
Quào solene é o aviso de Apocalipse 18.4. "Sai dela
povo meu!..." (Goodman). I Abraão e Abimeleque ( w . 22-34). Abimeleque
Notemos que Abraão, de manhã cedo, no dia era rei de Gerar (20.2). ao sul da Palestina. Abimele-
imediato á notável entrevista com os anjos "foi para que parece ter tido algum conhecimento de Deus
aquele lugar onde estivera diante da face do Se- (20.3,4 embora o temor de Deus náo estivesse na
nhor". Nós também podemos, de vez em quando, sua terra (20.11); e ele aprendera que Abraão era
voltar ao ponto onde temos provado mais evidente- profeta (20.7). Evidentemente observou Abraão bem
mente a presença de Deus: talvez na casa de oração, de perto, pois diz: "Deus é contigo em tudo o que fa-
na reunião da Santa Ceia. E desse lugar solitário zes" (v.22). um testemunho excelente da vida e an-
Abraão viu a fumaça de Sodoma incendiada, e com- dar do patriarca. Isto é ainda mais notável porque
preendeu que nem aempre a intereessáo de um ho- Abimeleque já tivera ocasião de o repreender por ter
mem piedoso pode salvar o iníquo de um merecido mentido (20.9). Assim os dois chegam a um acordo
suplício. sobre o negócio do poço, e fazem uma aliança (Good-
man).
Capítulo 20
Proposta emenda de tradução (v.16): "assentou-
Abraão na terra dos filisteus. Mais uma vez le- se sozinho, afastando-se" (R. 90).

28
Gênesis _

Capítulo 22 nham-se regozijado juntos com o nascimento de Isa-


que e acompanhado seu crescimento. E talvez esse
O altar sobre o monte. Este incidente é talvez o mandado de o sacrificar tivesse ferido o coração de
mais misterioso e sublime na história de Abraão. So- ambos. E agora Sara está morta e Abraão e Isaque
mente após longos anos de preparo espiritual pode- choram. • , »
ria Deus submetê-lo a tal provação da sua fé. com a Para sepultá-la, ele compra um campo por 400 si-
certeza de que havia do sair triunfante. Era sem dú- dos de prata. Esta é a primeira transação comercial,
vida uma experiência penosa á vista do mundo recordada na Bíblia, e os detalhes são muito interes-
cruel. Mas o resultado final havia de ser um notável santes.
engrandecimento da vida espiritual de Abraão, e o Não devemos pensar que os filhos de Hete (v.5,6)
conhecimento, mediante a sua própria experiência ou Efrom (w.10.111 tinham em mente que Abraão
de verdades bem importantes. Notemos os seguintes obtivesse a propriedade sem pagar nada. mas agi-
pontos: ram de acordo com os costumes do tempo, e Abraão
1) A certeza da palavra divina. Para agirmos em bem compreendia (w.7,12). Seu procedimento com-
algum sentido contrário ao sentimento natural, ao bina com a cortesia ensinada em 1 Pedro 3.8.
procedimento comum, aquilo que nossas convicções " E extraordinário pensar que a primeira proprie-
e as dos vizinhos aprovam, precisamos ter uma pala- dade de Abraão na Terra Prometida fosse um sepul-
vra de Deus mui positiva, que não admite dúvidas. cro emprestado". (Scmggie).
2) A falta de explicação. O mandado divino náo Diferenças têm sido notadas entre Gênesis 22.19
trouxe consigo um "porquê", contudo havia um raio e 23; 50.13; Josué 24.32 e Atos 7.15,16. Isto Scofield
de luz nas palavras "a quem amas", revelando que explica pela suposição de que, durante o intervalo de
Deus não estava esquecido da forte afeição natural 80 anos entre a compra por Abraão da sepultura (Gn
de Abraão para com o filho. 23.4-20) e a compra por Jacó (Gn 33.19), os descen-
3) A completa confiança de Abraão nos faz pen- dentes de Hamor (ou "Emor", At 7.15,17) tinham
sar nas palavras de Jó: "Ainda que me mate. nele es- novamente tomado posse do terreno. Jacó, em vez de
perarei" (Jó 13.15). A explicação dada em Hebreus alegar o seu direito á antiga propriedade, comprou o
11.18 é que Abraão "considerou que Deus era pode- terreno outra vez.
roso para até dos mortos o ressuscitar [a Isaque}". Abraão lembrou-se de que já era tempo de o filho
4) O conhecimento de Deus, fruto de longos anos contrair matrimônio. Ele marcou duas condições: a
de experiência da divina proteção e bondade, progre- noiva havia de ser da mesma parentela, e Isaque náo
diu até que. afinal, Abraão podia obedecer cegamen- havia de sair da Terra Prometida em procura da es-
te. posa.
5) A submissão de Isaque à vontade do pai. Um Felizmente Abraão tinha um empregado fiel e
belo tipo da obediência de Cristo até a morte. competente para tratar do negócio.
6) A palavra profética de Abraão. Disse Abraão: Abraão receava que Isaque se casasse com uma
Deus proverãpara si o cordeiro". Também havia um moça de Canaã. ou que voltasse para a terra donde
sentido profético no nome que Abraão deu ao lugar: tinha sido chamado. Ainda hoje, ás vezes, os pais sa-
Jeová-jireh, "o Senhor proverã". João 8.56 permite- bem melhor do que os próprios moço6 que tipo de ca-
Doe pensar que ele tinha alguma vaga previsão do samento será bom para seus filhos. Entre os chineses
"Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". são os pais que escolhem as noivas para seuB filhos, e
7) A lição de substituição. O carneiro "travado parece que todos acham essa maneira mais proveito-
pelas suas pontas num mato", veio a ser o substituto sa.
do moço; e quantos moços desde o tempo de Isaque Notemos, em relação ao empregado Eliézer (Gn
têm dado graças a Deus por Ele ter "fornecido um 15.2), os seguintes pontos:
substituto"! a) Era um homem de. idade, e pessoa de confian-
8) A maneira maravilhosa como que Deus operou ça. Ê bem possível que Abraão não tivesse outro a
em Abraão, uma semelhança a si mesmo. Num dia quem pudesse confiar uma tarefa tão delicada.
futuro Deus havia de ceder seu Filho, em sacrifício b» Era homem prevenido. Levou consigo tudo
pelo pecado. Mas então não haveria outro cordeiro que era necessário para o bom êxito da sua missão.
para tomar o lugar dele: "Nem mesmo a seu próprio c> Era homem piedoso Orou a Deus pelo serviço
Filho poupou, antes o entregou por todos nós" (Rm que havia de fazer.
8.32). d) Era homem cauteloso Pediu um sinal, uma
" A obediência de Abraão era agradável aos olhos coisa que nem sempre é preciso, e que o Deus miseri-
de Deus, por isso o mandamento foi dado. A morte cordioso às vezes fornece.
de Isaque náo teria sido agradável a Deus, visto que e) Era homem eloqüente quando precisava falar
o ato da matança foi impedido". do seu senhor.
Proposta emenda de tradução (v.14): "No monte f ) Fira homem pontual, e não quU perder tempo
o Senhor proverã". 54).
Eliézer é o servo modelo: ele 1) não vai sem ser
mandado (24.2-9). 2) Vai para cmde o mandam
Capítulos 23 e 24
(w.4,10). 3) Não se ocupa com outra coisa. 4) Ora. e
Quando Isaque tinha trinta anos. sua mãe fale- dá graças (w.12.14,26,27). 5) É sábio para persua-
ceu. Foi um dia triste para Abraão. Ele tinha 137 dir: vv.17,18,21). 6) Fala. não de si. mas das riquezas
anos, e tinham viajado juntos desde Ur, e visto Tera do amo, e da herança do filho (22.34-36; At 1.8). 7)
morrer em Harã, e viajado à Terra Santa, e mais tar- Apresenta o caso sem equivocação e requer uma de-
de ao Egito. Tinham conversado juntos sobre a pro- cisão positiva (v.49) (Scofield).
messa de Deus. e cometido certos erros, como no Vamos agora considerar Re beca:
caso de Hagar. sofrendo juntos as conseqüências. Ti- Era uma virgem formosa (v.16): trabalhadeira

29
Gênesis _

(v.19); hospitaleira, corajosa, decidida (v.58); mo- em tranqüilidade e beber sua água em paz. Apesar
desta (v.65). da sua grandeza e riqueza, tais misericórdias lhe são
El iézer enfeita a noiva com as jóias da rasa pater- negadas om Gerar. Isaque. por um processo lento e
na, mesmo antes de ela encetar a viagem. O Espírito penoso, é instruído no sentido de que deve totalmen-
Santo procura enfeitar a Igreja com as lindas rega- te abandonar a terra dos fílisteus". Assim, ele deixa
lias da casa do Pai. antes de ela chegar ali (v.53). Gerar e vem a Berseba, onde o Senhor lhe aparece
Isaque saiu a orar ("meditar" sobre o falecimento novamente, com mais promessas de bênçãos. Isaque
de sua màe-J.199) no campo (v.63), talvez por falta responde renovando as três características de um pe-
do sossego necessário na tenda, e ali mesmo levanta regrino: o altar, a tenda e o poço (Gn 26.25).
os olhos e vê chegando os camelos bem conhecidos.
Na oração solitária podemos ver coisas maravilho- Capítulo 27
sas.
Jacó engana seu pai. Agora, pela primeira vez,
Capítulo 25 Rebeca aparece num caráter menos amável. Ensinar
um filho a ser mentiroso é conduta péssima. Vemos a
Quctura c 3cus filhos. A vida de Abraão eslá mesma coisa hoje quondo o mãe dir à criança que
cheia de surpresas. Contraiu outro matrimônio, e um pássaro vai sair da máquina fotográfica. Note-
teve mais seis filhos - e, possivelmente, alguma filha mos as características do pecado de Jacó:
também. Contudo, "deu tudo que tinha a Isaque" a) Era um pecado contra um pai cego e idoso.
(v.5). Então faleceu com 185 anos de idade.4e b) Foi praticado num momento solene, quando o
Lemos que fsaque habitava junto ao povo Lahai- pai ia dar a sua última bênção.
rói (16.14), que significa "aquele que vive e me vê". c) Referia-se a um assunto sagrado. (Porventura
Um bom posto para morada. Ali nascem Esaú e Jacó a bênção de Deus se obtém mediante engano e frau-
- uma resposta, mais abundantemente dó que ele de?)
pensava, às suas orações. d) Foi tudo planejado deliberadamente: nào foi
A venda da primogenitura (27-34). Esaú repre- uma tentação repentina, aceita sem reflexão.
senta o homem meramente natural (Hb 12.16,17). e) Começou com uma mentira positiva: "Eu sou
Em alguns sentidos era um homem mais nobre do Esaú teu primogênito"
que Jacó, mas ora destituído de fé, c desprezou a pri- f ) Chego»i a «ser uma blasfêmia: " O Senhor teu
mogenitura porque era uma coisa espiritual, com va- Deus a mandou a meu encontro".
lor somente onde havia fé. g) A mentira foi repetida solenemente (v.24).
A primogenitura tinha três elementos: 1) Até o h) Foi confirmada por um beijo (w.26,27); o mes-
estabelecimento do sacerdócio aarônico: o cabeça da mo que Judas fez quando traiu seu Senhor.
família exercia direitos sacerdotais. 2) A família de i) Era um cruel roubo do seu irmão (vv.34).
Abraão tinha a promessa Edênica de "esmagar a ca- De Esaú notamos que era uma pessoa profana
beça da serpente" (Gn 3.15). 3) Esaú. como primogê- (Hb 12.16,17), que fizera pouco caso da primogeni-
nito, estava na linha direta da bênção (Gn 12.3). Se- tura (25.32). Vemos que:
gundo a revelação divina, as grandes promessas mes- 1) Há perdas que não podem ser recuperadas e
siânicas poderiam ter sido realizadas em Esaú. Esta apetites que precisam ser controlados (25.30).
primogenitura, Esaú vendeu por uma passageira 2) O arrependimento pode ser tardio. Esaú não
gratificação carnal. Sem dúvida, a idéia de Jacó, achou lugar para o arrependimento. O que vemos
quanto â primogenitura era, np«Íta rtcasião, carnal c nele é mais remorso do que arrependimento
inadequada, mas seu desejo de a obter mostrou uma 3) Ninguém precisa ficar sem alguma bênção di-
verdadeira fé (Scofield). vina. embora tenha perdido a bênção especial. Al-
guém pode perder a bênção da inocência, mas ainda
Proposta emenda de tradução (v. 32): estou sujei-
assim pode adquirir a bênção da santidade.
to a morrer" (R.49).
Proposta emenda de tradução (v.39): "a tua ha-
Capítulo 26 bitação será longe das gorduras da terra e longe do
orvalho dos céus do alto" (R. 86).

Isaque em Gerar. Abimeleque talvez seja filho Capítulo 28


desse do capitulo 21. Diz "Treasury of Bible
Knowledge": "Ficol. tanto como Abimeleque (rei Visão e voto de Jacó. Em conseqüência das dis-
paterno), bem pode ser o nome de um ofício entre os córdias na família, .Jacó é agora fugitivo, em deman-
fílisteus. pois não é provável serem as mesmas pes- da de um patrão e uma esposa.
soas referidas em Gênesis 21.22,32". Reaparece ou- Então, dormindo no caminho, tem o sonho da es-
tra vez uma desinteligência referente a um poço cada entre a Terra e o Céu, e de Deus falando com
(21.25 e 26.18). Vemos que o filho fez questào de be- ele, fazendo novas e grandiosas promessas. Nesta vi-
ber onde seu pai tinha bebido (2 Cr 34.3). e hoje, às são Jacó aprende:
vezes, dá-se a mesma coisa. a) Que Deus está mais próximo do que ele pensa-
Isaque estava habitando em Gerar, no meio dos va (v.16).
fílisteus que eram inimigos do povo de Deus. Assim b) Que a presença de Deus torna o lugar terrível
diz J.B.Stoney: " O Senhor tem de ensinar a Isaque o (v.17) ou melhor temível. O reconhecimento de estar
pouco proveito de lucro em Gerar. Pode ser enrique- na presença de Deus pode consolar o aflito, conser-
cido, e seu trigo render cem vezes mais (v.12) até ele var o tentado, animar o desalentado, ensinar o igno-
ser engrandecido (v.13), mas qual a vantagem de tu- rante, acalmar o agitado. Podemos nós indagar
do? A posição de um peregrino lhe teria sido mais fe- quanto conhecemos desta realização da presença de
liz, porque, nesse caso, teria podido comer seu pão Deus, e que influência tem sobre nós?

30
Gênesis _

c) Que o Céu está mais perto do que parece. É nhor*. 'Casem-se..., contanto que seja no Senhor' (1
muito natural pensar no Céu como um lugar remoto, Co 7.36,39), é um conselho que é loucura desobede-
e, às vezes» necessitamos uma visào espiritual para cer. *No Senhor' quer dizer, não meramente que os
vê-lo perto. crentes devem casar com outro crente, e sim que
d) Que existe um caminho - Jacó percebeu uma todo o enlace deve ser na vontade de Deus. ordenado
escada entre o Céu e a Terra. Nós pensamos em Cris- e guiado por Ele. Que foi assim no caso de Jacó é evi-
to como sendo esse caminho para o Pai. Evidente- dente pelos fatos seguintes:
mente. a escada tinha contato em baixo e em cima: 1) Jacó atendeu aos conselhos paternos
com a Terra e com o Céu. Anima-nos lembrar que (28.1,2,7), diferente de Esaú, que tomou mulheres
Jesus vivia em intimo contato com os homens, ao das filhas de Canaã (26.34,35). Deus sempre honra
mesmo tempo que se sentia repousado no Céu (Jo aqueles que honram seus pais.
3.13). 2) Deus conduziu Jacó pelo caminho por onde po-
e) Que os anjos ministram entre o Céu e a Terra deria achar o amor sem nenhum sentimento de ver-
(Mt 18.10). Esta verdade é pouco explicada na gonha ou impropriedade.
Bíblia. 3) O amor de Jacó era uma verdadeira devoção:
0 Que o mesmo Deus que protegera seus antepas- serviu sete anos por amor a Raquel.
sados (os de Jacó) havia de ser seu recurso, guardan- 4) Seu amor tornou o serviço leve: pareciam-lhe
do-o nas suas peregrinações, e. mais tarde (depois de poucos os dias. Por este amor natural podemos
20 anos), iria trazê-lo à terra donde saíra. aprender a verdadeira devoção daqueles que conhe-
O voto de Jacó foi baseado nas palavras que ouvi- cem o amor de Cristo. Como no caso de Jacó, o amor
ra na visào. Parece-nos quase como linguagem de nos ensina a considerar-nos mortos para o pecado e
uma permuta. mas talvez Jacó não pensasse assim. vivos, não para nós mesmos, mas para aquele que
No voto de Jacó vemo-lo resolvido a ser raonoteísta. por amor de nós morreu e ressuscitou" (Goodman).
isto é, adorar somente a Jeová e não aos muitos ído- "Jacó em Harã vem a ser uma notável ilustração,
los dos pagáos em redor; a dedicar ura determinado senão um tipo da própria nação que descendeu dele,
lugar a Deus - chamando esse lugar de a "Casa de na sua longa dispersão. Como essa nação, ele estava:
Oração"; a dedicar a Deus a décima parte das suas 1) fora do lugar de bênção (Gn 26.3); 2) sem um altar
colheitas. (Os 3.4,5); 3) ganhou um mau nome (Gn 31.1; Rm
"Betei veio a ser, devido à visão de Jacó ali, um "2.17-24); 4) mas estava sob a proteção de Jeová (Gn
dos lugares significativos das Escrituras. Para o cris- 28.13,14; Rm 11.1,25-30); 5) foi por fim restaurado
tão significa uma realização (embora imperfeita) do (Gn 31.3; 35.1-4; Ez 37.21-23).
conteúdo espiritual da fé. correspondendo à oração " A lição principal é evidente: embora Jacó não
de Paulo em Efésios 1.17-23. seja abandonado, é permitido colher as conseqüên-
" N o sentido dispensacional, o incidente fala de cias do caminho da sua própria escolha" (Scofield).
Israel lançado fora por causa do seu mau procedi- Proposta emenda de tradução (31.24): "que não
mento, mas retendo a promessa de restauração e fales a Jacó primeiro bem e depois mal" (R. 46).
bénçào (Gn 28.15: Dt 30.1-10).. Falando com um ver-
dadeiro israelita , Cristo fala de a visão de Jacó ter Capítulo 32
seu cumprimento no Filho do homem" (Gn 28.12 e
Jo 1,47-51) (Scofield)
Jacó e os anjos. Vemos que Jacó, apesar de ser,
pelo visto, um homem de pouca espiritualidade,
Capítulos 29 a 31
nunca foi abandonado por Deus, mas várias vezes na
Jacó e Labáo. Nestes três capitulos vemos as sua história acidentada teve experiências da inter-
manobras de dois homens astuciosos, cada um dis- venção divina. Em Gênesis 31.3, ao fim dos vinte
posto a enganar o outro, mas Labáo começou primei- anos de desterro. Deus toma a falar com ele, e o
ro. manda voltar à terra dos seus pais. No primeiro
"Acabada a semana desta; então te daremos versículo do cap.32. "encontram-no os anjos de
também a outra" (29.27). " A festa nupcial pública Deus" e no fim do capitulo, um anjo luta com ele.
parece ter sido o método regular de celebrar um ca Notemos que esse anjo é chamado varão (v.28) e
samento, e essa festa durava sete dias. Não teria sido deve ser o anjo do Senhor, a segunda pessoa da Trin-
conveniente interromper as solenidades, estando dade. i.iq :iác . - to o j
presentes todos os homens do lugar t'v.22). É certo Jacó chamou aquele lugar de "Maanaim': "dois
que Jacó não serviu mais sete anos antes de receber bandos", a saber, a comitiva da sua companhia, e o
Raquel" (T). bando celestial: os anjos de Deus.
Dr. Scroggie resume a vida de Jacó em quatro Neste misterioso conflito podemos notar o se-
períodos, em que ele é Usurpador. Servo, Santo e Vi- guinte:
dente. Nestes caracteres ele morou em Berseba, Ha- 1) Jacó encontrava-se a sós com Deus, em intima
rã. Hebrom e Egito e os capitulos que o apresentam realização da sua presença e poder. Quão raras vezes
são 25-28; 29.31; 32-45; 46-50. Os capitulos 29 a 31 temos uma experiência semelhante, mesmo nas nos-
mostram-no no segundo destes quatro caracteres. sas horas de oração íntima!
Hará. onde o patriarca havia de passar vinte anos da 2) Jacó sentiu-se em conflito com Deus, e, por is-
sua vida (28.10: 31.41) significa "seco". Padã-Arã é o so, devia compreender que com ele havia coisas que
distrito e Hará a vila ou ponto da morada de Labão. Deus não aprovava.
"Náo há período mais perigoso na vida de um 3) Jacó quis conhecer mais perto esse que luta-
moço do que o tempo do amor. A triste e patética va com ele, e pertuntou-lhe pelo nome.
ruína de um casamento errado é evidente em todos 4) Jacó sentiu a urgente necessidade da bênção
os lados. Como é bom quando o matrimônio é 'no Se- divina.

31
Gênesis _

5) Jacó prevaleceu quando mais do que nunca para Siquém e ali arma a sua tenda, e levanta um al-
sentiu a própria fraqueza. tar.
A visão dos céus abertos em Betei era a primeira Mas parece que esta vida de peregrinação e pie
grande experiência de Deus na vida de Jacó: a luta dade nào satisfaz a filha, "e saiu Dina... a ver as fi-
com o anjo foi a segunda. O bispo Boyd Carpenter lhas da terra", e disso resultou a sua desgraça e a
escreveu: vingança dos irmãos, Simeão e Levi. Porém os cren-
"Em que posição achamos o estado espiritual de tes se lembram que a "vingança é do Senhor" (Rm
Jacó na ocasião deste segundo incidente sobrenatu- 12.19).
ral da sua vida? Durante o primeiro período ele era Proposta emenda de tradução (34.29): "os seus
simplesmente um homem do mundo. Depois da vi- meninos e as suas mulheres levaram presos, e despo-
são em Betei, era um homem religioso: via-se na sua jaram tudo que havia nas casas" (Our Translated
vida uma influência religiosa. Depois do conflito no Gospels 150).
vau de Jaboque chegou a ser um homem espiritual.
Estava voltando para sua terra, sentindo na alma o
Capítulos 35 e 36
peso do seu pecado sem perdão, sem purificação. Be-
tei era a casa de Deus, onde aprendeu que não podia
pisar um pedaço qualquer da terra sem descobrir Jacó volta a Betei. Deus tudo está vendo, e serve-
que o Governador do mundo estava ali. Aqui temos o se dos infortúnios de Jacó e sua família para o enca-
desenvolvimento de uma verdade mais ampla: a in- minhar novamente a Betei, "a Casa de Deus", onde
tercomunhão e relação pessoal entre a alma do ho- ele tivera sua primeira visáo espiritual. Mais uma
mem e seu Criador. vez ele constrói ali um altar, e este por expressa or-
dem divina. O culto doméstico com toda a família é
"Os que confiam no Deus de Betei e na sua provi- de uma vantagem inestimável. Indo para um lugar
dência preocupam-se com o que Ele dá, mas as aspi- tão sagrado como Betei, Jacó sente a necessidade de
rações do homem espiritual são inteiramente dife- se ver livre de todo o compromisso com a idolatria
rentes. Em Betei Jacó dissera: 'Se Deus for comigo e (35.4); por isso deixa as jóias e os ídolos escondidos
me guardar. Em Jaboque seu primeiro pensamento debaixo de um carvalho em Siquém. E o altar que
era: 'Dá-me, peço-te, a saber teu nome! Ele deseja- faz ali ele chama "El-Beth-El": o Deus da Casa de
va conhecer mais de Deus, e náo receber mais de Deus. Deus. Primeiro ele estivera preocupado com o lugar
Ganhar mais experiência espiritual é o anelo do ho- santo, e chamou-o "Betei". Agora a sua preocupação
mem copiritual. Fazer amizade com Deus por moti- é com a pessoa no lugar.
vo do bem que pode obter é a idéia do homem mera-
mente religioso". "Os deuses estrangeiros que se encontram no
meio de vós" (v.2). O dr. Bullinger explica esta es-
Jacó vem a ser Israel (v. 28). Ambos os nomes sáo tranha alusão assim: "Isto parece dar a idéia, à pri-
aplicados à nação dele descendente. Quando emprega- meira vista, que Jacó e sua família tornaram-se idó-
do caracteristicamente, "Jacó" é o nome da posteri- latras. É verdade que lemos dos "terafins' que Ra-
dade natural de Abraão, Isaque e Jacó, e "Israel" o quel levara quando fugira com Jacó da casa do pai
da posteridade espiritual. (Veja-se Isaías 9.8.) A pa- (31.19), mas isso nâo dá a idéia que eram para serem
lavra foi enviada a Jacó - todo o povo - , mas ela caiu adorados. Provavelmente eram dé ouro e prata, e fo-
sobre Israel: a parte espiritual. ram levados pelo seu valor, em lugar do salário ainda
devido por Labâo e Jacó.
Capítulos 33 e 34 " É difícil acreditar que a idolatria fosse comum
na família de Jacó, como Gênesis 35.2 parece dar a
Esaú e Jacó. Podemos aprender deste incidente entender.
as seguintes lições: " N ã o precisamos ir muito longe para achar a ex-
1) Que gozar de notáveis experiências espirituais plicação. Poucos versículos antes (34.26-29) lemos
nem sempre aprimora o caráter da pessoa. Para isso que os filhos de jacó tinham saqueado a cidade de Si-
é preciso julgar em si as más disposições, confessá- quém e tomado o gado 'e todos os seus bens... e des-
las diante de Deus, e procurar com Ele graça para se pojaram-nos: levaram tudo quanto havia nas casas'.
corrigir. "Aqui, pois, temos a explicação destes estrangei-
2) Que um pecado de há vinte anos pode ainda ros e seus deuses estranhos? Vemos também por que
ter conseqüências hoje. Jacó deu este mandamento não somente á sua casa,
3) Que o melhor remédio para o medo é uma mas a todos quantos estavam com ele".
consciência tranqüila e serena. Uma libação (v.14). Esta é a primeira vez que le-
4) Que o descrente., às vezes, apresenta um proce- mos de uma libação. e entre as várias ofertas de
dimento bastante amável. O crente deve sempre Levítico caps. 1 a 7 -não se fala de libação: Somente
apreciar isto, e dar-lhe o devido valor. É provável que em Números 15.5-7. Era sempre para derramar nun-
cada um de nós conheça alguns descrentes caridosos, ca para beber, e pode ser considerada como um tipo
abnegados, altruístas. de Cristo no sentido de Salmo 22.14 e Isaías 53.12
5) Que embora Jacó chame Esaú cinco vezes de (Scofield).
"meu senhor" isso é linguagem de lisonja. Nascimento de Benjamim (v.18). Chamado Be-
6) Que uma reconciliação malfeita pode náo noni (filho da minha tristeza) pela màe, e Benja-
agüentar a prova do tempo. Pode ser mais prudente mim (filho da minha destra) pelo pai. Era dupla-
uma separação. Acontece, ás vezes, haver irmão6 em mente um tipo de Cristo. Como Benoni. o Sofredor,
Cristo que acham mais prudente viverem distantes por cuja causa uma espada também transpassou a
uns dos outros. Duas famílias de crentes numa só alma de sua mãe (Lc 2.35); como Benjamim, cabeça
casa nem sempre sáo felizes. de uma tribo de guerreiros (Gn 49.27), ligada firme-
Jacó continua em movimento. Faz uma casa mente com a tribo real (Gn 49.8-12; 1 Rs 12.21),
para ai em Suco te (33.17) mas náo fica ali. Segue ele veio a ser o tipo de Cristo vitorioso. E de notar

32
Gênesis _

que Benjamim era especialmente honrado entre os nome de Tamar na genealogia de Mateus capítulo
gentios (Gn 45.22). primeiro - Perez (Fares) foi "nascido em pecado" e
Tflo numerosos são os distintivos de Cristo que Salomão também, mas na providência divina, figu-
necessitam de muitos tipos. José é o tipo mais com- ram na genealogia do Salvador do mundo, porque
pleto, Benjamim representa apenas o Sofredor, que Deus conhece os corações.
ainda há de ter poder sobre a terra (Scofield).
Proposta emenda de tradução (36.24): "Ana, que Capítulos 39 a 41
encontrou os Emins no deserto".
José no Egito. Parece-nos que José nunca teve as
Capítulos 37 e 38 sublimes revelações da imediata presença de Deus
que Jacó experimentou, mas ainda assim mostra
Onde Isaque outrora fora peregrino, Jacó é ha- uma espiritualidade que não vemos no pai. Porven-
bitante ( v . l ) e, na história da Igreja, uma coisa se- tura Jacó legou ao penúltimo filho qualidades que
melhante tem sucedido. No capítulo 35 faleceram ele mesmo não possuía? Preferimos pensar que José
Débora, Raquel e Isaque, e mais uma vez vemos devia seu caráter mais nobre à sua mãe Raquel e que
Esaú e Jacó reunidos, na ocasião do enterro. seus irmãos deviam, cm parte, as eu as más qualida-
Agora Jacó perde o lugar principal da história, e des» (cap. 49) às escravas de quem nasceram.
José vem à frente, e nessa época ele é o único filho de O capitulo 39 pode ser dividido em quatro partes,
Jacó que parece ser realmente piedoso. com os títulos Prosperidade (vv.1-6). Pureza (vv.7-
Jacó nunca tinha ouvido a exortação de Paulo a 12). Perfídia (vv. 13-19) e Prisão (w.20-23).
Timóteo: "nada fazendo por parcialidade", e assim Sabemos que José tinha trinta anos quando saiu
demonstra forte preferência por José, fazendo-lhe da cadeia (41.46), mas não sabemos a sua idade
uma túnica de várias cores. Isso naturalmente au- quando foi encarcerado. Contudo não é de supor que
mentou o ódio dos seus irmãos que não tinham con- seu patrão tivesse entregado à sua mão "tudo que ti-
quistado do pai tal simpatia (cap.49). nha" (v.4) enquanto era ainda moço.
Os sonhos de José e a "má fama" das coisas que E foi "depois destas coisas" que ele foi tentado,
relatou ao pai com respeito aos irmãos contribuíram denunciado e encarcerado quando tinha talvez uns
de algum modo nesse mesmo sentido. Sendo rapaz 25 anos.
de apenas 17 anos, José talvez, tivesse pouca prudên- A resistência e vitória de Joac são mair. notáveis
cia no falar, e assim, quase inconsciente, ia aumen- quando pensamos nas circunstâncias desfavoráveis
tando contra si o aborrecimento dos irmãos. da sua - ida. Encontrava-se longe da familia, oprimi-
No começo do capítulo 37 vemos o jovem José em do, esc avizado, privado da afeição dos seus queri-
todo o conforto do lar paterno, e por fim toma-se es- dos. rodeado de gente incrédula, sujeito aos assaltos
cravo no Egito. Como essa mudança se fez é bem sa- do mundo, da carne e do Diabo (representado por
bido e náo precisamos repetir. uma mulher iníqua).
Ismaelitas ou midianitas. Gênesis 37.25 fala de José venceu porque "o Senhor estava com ele"
ismaelitas; v.28 fala de midianitas e ismaelitas; v.36 (v.3), e ele vivia como na presença de Deus: porque
fala de midianitas, e 39.1 fala de ismaelitas. Afinal, tinha o costume de contar com a aprovação divina
José foi levado ao cativeiro por ismaelitas ou midia- em tudo o que fazia; porque a sua preocupação não
nitas? era principalmente com a gente que o rodeava mas
"Em Juizes 8.24 lemos dos midianitas que Gi- com Deus mesmo; porque ele tinha tido prévias ex-
deão acabara de vencer, que usavam jóias de ouro, periência» de vitória sobre a came antea dc aparecer
'porque eram ismaelitas'. Por isso evidentemente to- esta provação maior. Quando nos sobrevém uma
dos os midianitas eram ismaelitas, mas nem todos os tentação pequena, devemos reconhecer que isso po-
ismaelitas eram midianitas. deria desenvolver em nós o poder de resistir às tenta-
"Para descobrir como isto podia ser, temos de ir ções maiores.
mais longe. A primeira indicação está em Gênesis As conseqüências da vitória de José náo foram so-
16.11,12, onde aprendemos que Ismael era filho de mente por ser ele forte na sua vida espiritual, e por
Abraão pela sua mulher Hagar, enquanto aprende- ser animado a suportar as conseqüências penosas da
mos de Gênesis 25.2 que Midiã e Medã eram filhos acusação falsa, mas também em chegar a ser um
de Abraão pela sua mulher Quetura, Assim Ismael e exemplo e modelo para animar milhares de pessoas
Midiã eram irmãos do mesmo pai e, sem dúvida, ti- tentadas por concupiscências carnais, durante todos
veram a vida associada. Mas em Gn 37 não era preci- os séculos subseqüentes. Desde então até hoje um
so explicar isso, por ser coisa bem conhecida. sem número de homens tem dito: "Se José venceu
devido ã sua comunhão com Dcuo, ou poeso vencer
"Assim é claro que, enquanto a caravana era per- do mesmo modo".
cebida na distância e reconhecida como ismaelita,
uma inspeção mais de perto mostrou que havia nego- Notemos que José sempre se salienta como admi-
ciantes midianitas com a comitiva, conhecidos por nistrador: na casa de Potifar, no cárcere, e no reino
usarem as jóias de ouro, que sabemos, por Jz 8, se- do Egito. Nem todos têm as qualidades necessárias
rem sinal de todos os ismaelitas" (J.288). para isso: inteligência, energia, simpatia, previsão,
Judá e Ta mar. Não precisamos nos deter com as coordenação, etc.
relações ilícitas entre Judá e Tamar. a não ser para A respeito de Davi, Deus disse a Samuel, falando
notar que nesse tempo parece que havia certos de Jessé: "dentre seus filhos me tenho provido de um
princípios morais bem reconhecidos e observados e rei" (1 Sm 16.1). Os magos, indagando com respeito
que então havia mais severidade para a mulher que a Jesus, perguntaram: "Onde está aquele que é nas-
claudicava ante a moralidade do que para o homem. cido rei?" e lemos que Jessé gerou "ao rei Davi".
Ficamos deveras impressionados ao encontrar o Bem pouca gente nasce com qualidade para admi-

33
nistrar. governar, guiar o povo: nem todos nascem numerosas para serem acidentais. Ei-las: Ambos
rei. eram o objeto especial do amor de um pai; ambos
José. que em toda sua história parece ter sido ir- eram odiados pelos irmãos; a superioridade de am-
repreensível, era em muitas coisas semelhante a bos era negada pelos seus irmãos; seus irmãos cons-
Cristo: o amado do pai. o melhor dos irmãos, o mais piraram para os matar; José foi, em intenção e figu-
odiado e rejeitado pelos seus; foi vendido por umas ra. morto por seus irmãos, como foi Cristo; cada um
moedas de prata; sofreu grande tentação sem pecar; chegou a ser uma bénçáo entre os gentios, e ganhou
foi rebaixado e acusado falsamente, mas perdoou até uma noiva dos gentios; como José reconciliou seus ir-
os seus "assassinos" e, em tudo, foi o filho e a espe- mãos consigo e depois os exaltou, assim será com
rança de Israel. Cristo e seu irmáos judeus (Dt 30.1-10; Os 2.14-20;
Podemos resumir o caráter de José assim: Rm 11.1,15,25,26)" (Scofield).
1) Era senhor de si mesmo, capaz (devido à ener- Proposta emenda de tradução (45.26): O coração
gia de sua vida espiritual) de subjugar seus apetites de Jacó não "desmaiou" (Alm.) nem "entorpeceu-
e paixões. se" (V.B). mas ficou dividido" (entre receio e espe-
2) Era h<tmem de fé. e. por isso, na provação da rança). (Veja-se "Our Translated Gospels", 27.)
cadeia, estava sereno e confiado em Deus, sendo, "Como podemos explicar a conduta de José para
apesar dos sofrimentos (SI 105.18), capaz de se ocu- com seus irmãos quando voltaram e trouxeram Ben-
par com os outros. jamim com eles? Estranhamos ainda servir-se ele de
3) Era sábio administrador, e competente para enganos. A provável explicação é: 1) José procurou
aconselhar o rei. Podemos crer que a sua secreta co- descobrir a disposição dos dez irmãos para com Ben-
munhão com Deus na adversidade o tinha capacita- jamim. Ele planejava trazer toda a família para o
do a enfrentar as provações da subseqüente prosperi- Egito, e era necessário descobrir se estavam todos
dade. em harmonia. 2) Ele também quis assegurar-se de
José como tipo de Cristo: que os filhos de Raquel eram agora tão queridos de
1) Ele fez provisão para o povo para uma necessi- Jacó como em tempos passados. Havia tanto de afei-
dade imprevista. Uma provisão suficiente para "to- ção como de sabedoria nestas multiplicadas demo-
das as terras" (41.57). (Porém José não sofreu ao fa- ras, que, à primeira vista, parecem desnecessárias, e
zê-la.) que tanto adiaram o momento da reuniáo.
2) O lugar de destaque que ele ocupava fora de- "Duas coisas eram necessárias aqui: a primeira,
terminado pelo rei (41.41) como o domínio de Cristo que José tivesse oportunidade de observar a conduta
foi determinado pelo Pai (At 5.31). dos outros para com seu irmáo mais novo, que agora
3) A palavra então era: "ide a José! fazei tudo o ocupava o lugar de José nas afeições do pai: a segun-
que José vos disser!" E hoje é: "Vinde a Jesus! Ele é da, que por algum tratamento que ele mesmo rece-
o único « c u r s o " . bera dos irmáos. provasse se podia despertar neles
Podemos acreditar que José, em conseqüência uma viva recordação e uma penitente confissão da
das provações que lhe sobrevieram do desamparo de culpa passada.
todos os seus, sentiu-se mais do que nunca atraído " O trato de José com seus irmãos é, em parte, o
para Deus, seu único recurso; e assim os males con- mesmo de Deus para com os homens. Deus nos vê
tribuíram para o desenvolvimento do seu caráter es- descuidados, mui dispostos a fazer pouco caso dos
piritual. Pode dar-se uma coisa semelhante em nos- velhos pecados: e então; mediante apertos, adversi-
sa própria experiência. dades e dores, Ele traz esses pecados à nossa memó-
ria. e afinal obtém de nós a confissão 'na verdade so-
Capítulos 42 a 45 mos culpados' (42.21). E então, quando a tribulação
tem feito a sua obra, Ele está pronto a confirmar seu
José e seus irmãos. Este é o grande c clássico tre- amor para conosco como foi José para com seus ir-
cho bíblico sobre perdão e reconciliação. Notemos o mãos" (R. C.. Trench).
seguinte: Embora José fale da sua glória (45.9) ele é humil-
1) Não pode haver perdão sem arrependimento. de. Diz "Deus me enviou"; "Deus me fez senhor".
2) Pode ser preciso tempo para conseguir um ar- Desde o princípio ele relacionara a sua vida com
rependimento completo. Deus - com a divina permissão, o divino plano, a di-
3) A presença de pessoas antipáticas pode emba- vina vontade.
raçar a reconciliação (45.1). Virá o dia em que Cristo se tornará conhecido dos
4) O momento próprio para a reconciliação deve seus irmãos, e nesse dia lamentarão, mas depois se
ser discernido por um método de orar. meditar, ob- regozijarão.
servar e agir. Achamos estranho Judá, na V.B. chamar Benja-
5) A emoção nem sempre pode (ou deve) ser re- mim um "menino " quando já era pai de 10 filhos
primida. (46.21). Aqui Almeida explica melhor, dizendo:
6) Manifestação de amor fraternal nem sempre "moço".
vence imediatamente a desconfiança. Note a pala- Proposta emenda de tradução (42.30): "o grande
vra "depois" em Gênesis 45.15. senhor da terra" (R. 56)
7) De grandes males podem resultar maiores bens
Capítulos 46 a 48
(45.5).
8) A mensagem ao pai (45.9) nào se referiu ao pe- Reunião familiar. Jacó então viaja para o Egito, e
cado dos irmãos. O mal passara: o proveito era atual. mais uma vez ouve a voz de Deus (46.2) encorajan-
Na pregação do Evangelho, pouco nos referimos, tal- do-o.
vez, ao pecado dos judeus em crucificar seu Messias. Lendo a genealogia dos filhos de Jacó, descobri-
"Embora a Escritura jamais diga ser José um mos que Benjamim já tinha vários filhos. Nessa oca-
tipo de Cristo, as semelhanças são acentuadamente sião ele podia ter tido uns trinta anos de idade. Sáo

34
67 pessoas (v.26) ou, contando Jacó, José e os dois fi- 'Tutmosis n i vence a Siria e faz de Canaá uma
lhos deste, 70 pessoas (v. 27), que vào ao Egito. Em província egípcia, em março de 1503 a fevereiro de
Ato* 7.14 o número é dado como 75. 1449.
Jacó tinha 130 anos quando se encontrou com Fa- "Amenófis (Khu-en-aten) o *rei herético' procura
raó (47.9) e nessa ocasião José tinha uns 40 anos introduzir reformas religiosas: 1400.
(41.46 e 45.6). Jacó ainda viveu no Egito mais 17 "Queda da dinastia XVIII e levantamento da
anos (47.28) e José mais 70 (50.22). Não sabemos se X I X sob Ramsés I: 1380.
ele continuou a ser Primeiro Ministro do reino, du- "Ramsés II (o Sostris dos gregos), o Faraó da
rante todo esse tempo, mas é pouco provável. opressão, edifica Pi tom 1348.
O Egito nunca foi o lugar para o povo de Deus, e "Seu filho Merneptá II lhe sucede: 1281.
as visitas feitas por Abraão, Isaque e Jacó não foram " O Êxodo teria acontecido no seu reinado ou no
determinadas por Deus. Scofield diz: " Ê importante dos seus sucessores imediatos.
distinguir entre a vontade permissiva e a vontade "Guerra civil; fim da dinastia X I X ; perda das
positiva de Deusr O lugar para os filhos do Concerto províncias asiáticas, etc. O trono é tomado por um
era Canaá e náo o Egito (Gn 26.1-5). Em Gênesis 46 siro: Arioso em 1240.
temos um caso tocante da vontade permissiva de "Jacó abençoa os filhos de José. Vemos que Jacó
Deus. Com a família dc Jacó dividida, c cm parte já quis adotar os dois netos que nasceram a José antes
no Egito, a compaixão de Jeová não proibiu Jacó de de ele, Jacó, chegar ao Egito, contando-os entre seus
seguir para ali. Deus protege o seu povo até mesmo próprios filhos, de maneira que desde então figuram
quando não está no melhor dos lugares que a sua entre 'os filhos de Israel'. A história recorda que José
vontade propõe para ele. Quando Israel escolheu um teve, em tudo, nove filhos. Quando receberam esta
rei; quando voltou de Cades-Barnéia; quando man- bênção do avô os dois moços tinham 17 anos para ci-
dou os espias; no caso de Balaáo, vemos exemplos ma. Podemos entender que os outros filhos de José já
disto. E escusado dizer que a vontade permissiva de tinham nascido, mas não partilharam da bênção en-
Deus nunca se estende às coisas iníquas; e a maior tão pronunciada. Percebemos em Jacó, apesar da
bênção possível sempre está no caminho da sua von- idade avançada e da cegueira, algum discernimento
tade positiva". profético" (48.19).
Examinando Gênesis 46.34 parece haver uma
contradição ou ao menos uma inconseqüência inex- Capítulo 49
plicável sem algum conhecimento da história do
Egito. Declarações proféticas referentes aos filhou He Ja-
Segundo diz Angus, quando Abraão desceu ao có. Rúben. o primogênito, que devia ter sido o exem-
Egito, e mais tarde a sua família, o pais era gover- plo e guia dos outros, é reprovado, devido à sua imo-
nado pelos odiados hicsos, ou "Reis pastores", chefes ralidade. praticada uns 40 anos antes (35.22). Si-
de uma tribo árabe que tinha vencido os governado- meào e Levi ficam reprovados pela sua violência
res egípcios. Pelo espaço de mais de 500 anos (259 (34.25) e sentenciados:. "Eu os espalharei em Israel".
anos, segundo o Treasury) dominaram aqueles reis o No caso de Levi, esta sentença resultou em bênção,
Egito. Compreende-se, pois, a cordial recepção de pois Levi chegou a ser a tribo sacerdotal, repartida
Abraão e, depois, de Jacó na corte dos Faraós, bem em todo o Israel.
como a cessão da terra de Gósen para os israelitas Judá era tribo real. da qual nasceram Davi e Je-
habitarem, sendo os pastores uma abominação para sus Cristo. No versículo 10 parece haver uma vaga
os egípcios, por cujo motivo convinha haver alguma profecia acerca de Cristo: "até que venha Siló e a ele
separação entre os israelitas, pastores de profissão, e se congregarão os povos".
o povo Agípcio. que odiava os pastores.
"A palavra Siló se refere a uma pessoa ou a um
"O novo rei, que não conhecia José" (Êx 1.8) per- lugar? Era todos os demais lugares da Escritura onde
tencia à dinastia que se seguiu à expulsão dos hicsos; se encontra, essa palavra indica o ponto onde o ta-
e provavelmente o Faraó da grande opressão foi Ra- bemaculo foi colocado depois da conquista da terra
messés II da X I X dinastia, o Sostris dos gregos, que prometida; e neste sentido aparece pela primeira vez
mandou edificar cidades de tesouros, cujas ruínas em Josué 18.1. E situada em Efraim, uns trinta quilô-
ainda hoje se vêem. Sendo um povo estrangeiro, cer- metros ao norte de Jerusalém... Siló significa a segu-
tamente o povo israelita, foi inteiramente emprega- rança: quem segura; o salvador" (J. C. Murphy).
do nessas construções. Notemos que um lugar na Bíblia geralmente toma o
Segundo Davis, o Faraó do Êxodo foi Manepta, o nome de uma pessoa. Não havemos de pensar que a
décimo-terceiro filho de Ramesés II. profecia de Jacó aludia à "vinda" do Siló que deu
O "lllustrated Bible Treasury" dá a seguinte cro- seu nome à vila, porém a outro Siló vindouro - o Se-
nologia do Egito: nhor Jesus Cristo - a quem havia de congregar-se o
" A dinastia X I V foi derrotada pelos hicsos ou povo de Deus. Com relação a esta profecia, podemos
pastores, invasores, vindos da Ásia. Houve três di- consultar Apocalipse 5.5.
nastias de Faraós hicsos (com sua capital em Zoan)
Por falta de espaço, não podemos comentar deta-
a última foi contemporânea de uma dinastia nativa
lhadamente as profecias de Jacó referentes a todos
em Thebes. Abraão e José provavelmente vieram ao
os seus filhos, mas, de passagem, devemos notar a
Egito durante o período dos hicsos. A tradição diz
abundância das bênçãos de José. Dele se diz: "Seus
que José era ministro de Apohis II (Aa-Kenen-Ra),
ramos correm sobre o muro", assim repartindo seus
em cujo reinado arrebentou a guerra de independên-
abundantes frutos mais longe do que se havia de es-
cia, chefiada pelos príncipes de Thebes.
perar. Que seja assim também com outros que náo
"Os hicsos foram expelidos e a dinastia XVIII têm o nome de José!
fundada por Ames I com sua capital em Thebes. O
começo do Novo Império foi em 1600 a.C. A referência a Benjamim deve ter sido também

35
Gênesis _

ditada pelo espírito de profecia, e não só pelo senti- Há freqüentes referências e episódios e persona-
mento paternal, que era grande. gens do Gênesis, como:
Propostas emendas de tradução (49.4): "Ferven- Gn 3.4 - Eva enganada pela serpente (2 Co 11.3; 1
te como água ", (v.26) "as bênçãos de teu pai preva- T m 2.14).
leceram sobre as bênçãos dos meus pais". Gn 4.4 - Sacrifício de Abel (Hb 11.4).
Gn 5.24 - Caráter e trasladaçào de Enoque (Hb
Capitulo 50 11.5.6).
Enterro de Jacó na cova que fora comprada aos Gn 14.18-20 - Melquisedeque (Hb 7).
filhos de Hete (49.32). Seu corpo foi embalsamado Gn 19.24-26 - Destruição de Sodoma e de Go-
pelos médicos (mencionados pela primeira vez) egíp- morra (Lc 17.29,32 e 2 Pe 2.6,7).
cios, e foram tantos egípcios ao enterro que o nome Gn 22.9 - O sacrifício de Isaque (Tg 2.21).
dele ficou ligado ao lugar ( v . l l ) . A expressão "foi Gn 25.33 - A venda que Esaú fez do seu direito de
congregado ao seu povo" (49.33) é um dos poucos si- primogenitura (Hb 12.16).
nais no V.T. de haver uma compreensão de uma Gn 47.31 - Jacó adorando, apoiado no seu bordão
existência além da morte. (Hb 11.21).
Morte de José. O caráter exemplar de José conti - Juntai a isto toda a série de referências que fez
nua até o fim dos seus 93 anos no Egito. Vemo-lo nós Estêvão, quando estava sendo julgado (At 7).
seus últimos anos não mais preocupado com deveres
políticos, mas no meio da família, e com a preocupa- A frase "no princípio" (6.1) aparece como uma
ção de que seus ossos nào deviam ficar para sempre profunda significação em João l . l . O homem criado
no Egito. à imagem e semelhança de Deus (5.1 e 9.6) é uma
Este primeiro livro da Bíblia termina com "um verdade reconhecida em 1 Corintios 11.7. Efésios
caixão no Egito " e o apocalipse com "a graça de nos- 4.24, Colossenses 3.10, Tiago 3.9. A santidade do ca-
sos Senhor Jesus ( risto". samento é fortalecida com as palavras de Gênesis
2.24 por Jesus Cristo em Mateus 19.5, e por Paulo e 1
REFERENCIAS NO NOVO T E S T A M E N T O AO Corintios 6.16 e Efésios 5.31. A fé de Abraão (15.5,6)
LIVRO DE GÊNESIS é repetidas vezes mencionada como sendo tipo do ca-
As passagens seguintes são citadas, segundo a ráter cristão (Rm 4.3, G1 3.6 e Tg 2.23). A palavra
fórmula geral, "está escrito", "Jesus disse", etc.: "Paraíso" leva o pensamento ao Jardim do Éden (Gn
Gn 1.27 - Mt 19.4 2.8,9, Ap 2.7 e 22.1,2). A escada de Jacó toma-se
Gn 2.2 - Hb 4.4 como símbolo de notável expressão (Gn 28.12 e Jo
Gn 2.7 - 1 Co 15.45 1.51).
Gn 12.3 - A t 3.25, G1 3.8
Gn 17.7 - G1 3.16,19 Muitas frases no Novo Testamento mostram que
Gn 21.10,12 - G1 4.30, Hb 11.18 o Gênesis era um livro familiar aos escritores inspira-
Gn 22.16.17 - Hb 6.13,14 dos, sendo reputado como divino (Angus).
Gn 25.23 - Rm 9.12

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xodo ("saída") recorda a re- 1.3. Sua tarefa prolongada, e êxito final (cape. 5 a
denção doe descendentes de 12.36).
Abraão da escravidão no ,2. Israel do Egito ao Sinai (caps. 12.37 a 19.2).
Egito, e figura, tipicamen- 2.1. A Lei da Páscoa, e a coluna de fogo (caps.
te, toda a redenção. Ê, por 12.37 a 13).
isso, iín livro que ensina uma libertação que resulta 2.2. Através do mar Vermelho, e oa cânticos
numa nova relação com Deus, expressada por adora- (caps. 14,15).
ção, pómunháo e serviço. Assim, o Êxodo, mediante 2.3. Fornecimento divino para manutenção e go-
a Lei, os sacrifícios e o sacerdócio, vem a ser, nào so- verno (caps. 16 a 19.2).
mente o livro da redenção, mas, tipicamente, o 3. Israel no Sinai (caps. 19.2 a 40).
exemplo das condições em que subsistem quaisquer 3.1. Revelação do concerto (caps. 19.2 a 24).
relações com Deus.
3.2. Estabelecimento do tabemáculo (caps. 25 a
O livro ensina que a redenção é essencial para ha- 27, e 30 a 40).
ver comunhão com um Deus santo, e que mesmo um
povo remido nâo pode ter comunhão com Ele sem ser
constantemente purificado de qualquer contamina- M E N S A G E M DO ÊXODO
ção.
Nunca se poderia considerar este livro lido de-
Em Êxodo, Deus, até então relacionado com o mais nem as suas verdades aplicadas demasiada-
povo de israel somente pelo seu concerto com mente à alma individual. Ele partilha com Levíticc
Abraão, leva esse povo para si nacionalmente, pela da característica de ser, em ensino típico, o livro
redenção, põe-no sob o pacto Mosaico, e habita no mais rico na Bíblia. Náo podemos fazer mais do que
seu meio através da nuvem de glória. A carta aos Gá- apontar resumidamente as suas grandes verdades,
latas explica a relação da Lei ao pacto Abraâmico. que são três. n !

Nos mandamentos, Deus ensinou a Israel as suas


justas exigências. A experiência sob os mandamen- 1. ISRAEL ESCOLHIDO (capa. 1 a 12).
tos convenceu Israel do seu estado pecaminoso; o for-
necimento do sacerdócio e dos sacrifícios (ricos de Isto pode náo ser imediatamente aparente, meu
preciosos tipos de Cristo) proporcionou a um povo se voltarmos a Gênesis 12, veremos como a nação de
culpado um meio de alcançar o perdão, a purifica- Israel foi escolhida e abençoada por Deus na pessoa
ção, a restauração, a comunhão e o culto. de Abraão, e que desde então foi o seu povo particu-
Êxodo tem três divisões principais: 1) Israel no lar, por quem Ele propõe trazer bênçãos ao mundo.
Egito (1-15). 2) Do mar Vermelho ao Sinai (16-18). Contudo, pouco mais de doiB séculos depois, encon-
3) Israel no Sinai (19-40). tramo-la como nação de escravos, sob a vara de Fa-
raó, no Egito.
ANÁLISE DE ÊXODO 1.1. Um Povo esmagado. A mão de faraó estava
contra Israel, e ele promoveu meios para enfraquecer
1. Israel no Egito (cape. 1 a 12.36). e destruir a nação. Expediu um decreto para que to-
1.1. A opressão no Egito (cap. 1). dos os meninos fossem mortos ao nascerem e que os
1.2.0 nascimento, a educação e a chamada israelitas fossem obrigados com rigor a construir ci-
de Moisés (caps. 2 a 4). dades para os tesouros do Egito. Vemos no capítulo 5
txoáo
um aspecto da degradação de Israel. E o decorrer do municação divina a Moisés, seu representante efeti-
tempo não melhorou a sua condição: crueldades vo. São pronunciadas então as dez Palavras que es-
eram seguidas de crueldades. tabelecem os princípios do Governo divino, de apli-
1.2: Um POVO suplicando Por tanta opressão, o cação perpétua maa adaptadas entào às necessida-
povo levantou a sua voz num grande clamor que ale- des daquela Nação. Segue depois o Livro do Concer-
gou de uma vez o seu sofrimento e a sua incapacida- to (caps. 21-24), em que se apresentam leis judiciais,
de; e esse clamor subiu a Deus, e Ele escutou o gemi- morais e cerimoniais, com avisos e promessas. Desta
do deles. maneira o povo é instruído acerca de Deus. e exorta-
Nada pode ser pior do que contentamento com o do a reconhecer a soberania da sua vontade, bem
pecado, ou dúvida quanto à possibilidade de um me- como a obedecer à sua Palavra.
lhoramento. Israel tinha saído desse caso, e havia es- 3.2. Um povo estabelecido. Se a Lei era o padrão
perança no meio do sofrimento. Mas sua libertação da sua vida, o Tabernáculo era o símbolo da sua se-
não era para já. Deus tinha levantado um homem, e gurança - Jeová no meio do seu povo. Instruções mi-
o estava preparando (no palácio e no deserto), para, nuciosas foram dadas a Moisés referentes à sua cons-
na plenitude do tempo, libertar o seu povo. É certo trução; o sacerdócio foi instituído para exercer as
que a vontade de Deus é soberana, mas também é suas funções. Então "uma nuvem cobriu a tenda de
certo que. para efetuar essa vontade, algumas condi- reunião, e a glória do Senhor encheu o tabernáculo".
ções foram estabelecidas. Nem Moisés nem Aarão O antitipo disto, como se vê em Joáo 1.14. é Cristo
estavam ainda prontos para o serviço; muito tinham mesmo, que "se fez carne e habitou [Tabemaculou]
a suportar e a aprender. Golpe após golpe havia de entre nós. cheio de graça e verdade" e cuja glória
cair sobre Faraó; a fé de Moisés havia de ser prova- contemplamos: é na presença do Cristo vivo que seu
da; o cálice da aflição de Israel havia de ser enchido, povo é estabelecido para sempre.
e então o povos chamado havia séculos, seria liberta- Assim, os escolhidos são chamados, e os chama-
do. dos são constituídos: e o povo que outrora era esma-
gado, e clamara na sua miséria, está agora libertado,
2. ISRAEL C H A M A D O (caps. 13 a 19). conduzido, alimentado, ensinado e estabelecido. As-
sim vemos a Eleição de Gênesis consumada na liber-
2.1. Um povo libertado. Os egípcios haviam sido tação do Êxodo (Scroggie).
atormentados pelas pragas, e aparentemente sem re-
sultado: o dia da libertação parecia distante como Há muita diferença entre os estudiosos quanto à
nunca. Mas as trevas, às vezes, parecem mais densas cronologia bíblica, mormente na parte que se refere
antes da aurora; Deus tinha mais uma praga para o aos tempos dos patriarcas e do êxodo. O dr. Scroggie
Egito, a qual havia de ser para Israel uma Páscoa. resume os p&receree quando diz que entre a ida de
Sangue foi derramado e espargido, e o povo tribula- Jacó ao Egito, e o êxodo, havemos de contar nem
do ficou sob o seu abrigo, e somente assim podia ser menos de 134 anos nem mais de 278. Investigar o as-
libertado. Sem a cruz de Cristo não há liberdade do sunto pouco havia de adiantar à nossa vida espiri-
pecado, mas somente escravidão; cada tentativa de tual.
se livrar pelo esforço próprio prova ser inütiL Ê sob a Os "quatrocentos anos"de Atos 7.6 e os 430 de Ê-
cruz de Cristo que precisamos nos colocar para os laços xodo 12.40 podem ser contados desde a chamada de
do pecado serem rompidos, ou o peso da culpa ser le- Abraão, de acordo com Gálatas 3.17.
vantado das nossas almas. Assim, numa só noite, Is-
rael foi libertado da escravidão de séculos, e come- Pode-se dizer o mesmo sobre a investigação da
çou uma vida nova e livre. identidade do Faraó do êxodo. Os eruditos concor-
dam que o Faraó da opressão é um, e o do êxodo ou-
2.2. Um povo conduzido e sustentado. Liberdade tro (2.23). O êxodo pode ser provisoriamente fixado
em Cristo nunca importa em licença: os que Ele re- no ano 1320 a.C. Outras autoridades concordam em
dime, dirige, e assim vemos a coluna de nuvem e o que Ramsés foi o Faraó da opressão.
fogo de Deus guiando e iluminando. Nenhum de nós
duvida da sua necessidade de luz nas trevas, mas todos Capitulos 1 e 2
precisamos aprender que na luz também carecemos
de direção, e que, se andarmos na luz divina, sere- .4 escravatura no Egito. Pouco ou quase nada sa-
mos poupados de muitas das experiências penosas de bemos acerca do período que essa escravatura durou.
Israel. É certo que foi mais de 80 anos, pois começou antes
Havia provisões também para as necessidades do nascimento de Moisés. E durante todo esse tempo
temporais do povo, mediante o maná e a rocha feri- náo tinha aparecido nenhum "capitão de salvação"
da, e prosseguiram a provar que o Cordeiro (12) que para livrar o povo escravizado.
está no meio do Trono os conduziu (13-14) e os ali- Divide-se a vida de Moisés em três períodos de 40
mentou (16-17) como fará novamente quando enxu- anos. N o primeiro, na corte de Faraó, ele aprendeu a
gar toda lágrima dos seus olhos (Ap 7.17). ser alguém, isto é, uma pessoa instruída em toda a
ciência dos egípcios (At 7.22); no segundo, no deserto
3. C O N S T I T U Í D O O POVO DE ISRAEL (caps. 19 de Midiã, ele aprendeu que nada era, até quando
* à «C9)n*v a doe . Deus quis empregá-lo no seu serviço, ele escusou-se
(3.11; 4.10); no terceiro período ele aprendeu que
Esta é uma parte mui importante do livro, que Deus é tudo, e o suficiente para salvar uma nação in-
merece especial atenção. teira.
3.1. Um povo instruído. Deus se revela a Israel no Ao estudar a mocidade de Moisés podemos pen-
Sinai como seu único Governador: seu poder e sua sar em 1) Ambiente. 2) Hereditariedade. 3) Carac-
santidade são manifestos. O povo é avisado a não se terísticas.
aproximar do monte fumegante, mas esperar a co- 1) Ambiente. Sob tal título vamos incluir todas

38
txêdo
as circunstâncias e influências exteriores que o ro- Neste incidente aprendemos a respeito de Deus:
deavam. Notemos, por exemplo: 1) Que nào estava esquecido dos seus pactos com
a) O meio em que nasceu: um estado de escrava- os patriarcas (v.6).
tura; uma opressão política, muito natural à nature- 2) Que Ele tinha visto, ouvido, conhecido e desci-
za humana, que geralmente procura subjugar e re- do.
primir, em vez de proteger e ganhar amizade. (Go- 3) Que ia enviar um salvador para Israel e livrar
verno benévolo é o que consulta em tudo a vontade seu povo da mào dos egípcios.
de Deus: isso Faraó náo fez.) Vemos em Moisés acanham ento, receio, falta de
b) A pobreza em que viviam seus pais: náo pode- confiança em Deus, ignorância dos recursos divinos;
mos pensar em serem eles abastados. tinha língua tarda quando era questão de levar uma
c) A proteção da filha de Faraó, que revela com- mensagem de Deus, apesar de ser ele "poderoso em
paixão, bondade, simpatia, recurso e persistência. A palavras" (At 7.22). E, contudo, parece-nos que não
essa proteção Moisés devia a vida, o sustento, a edu- havia outro tão apto como ele para ser o capitão da
cação, o desenvolvimento físico e intelectual. Mas salvação de Israel.
devia à influência de sua mãe o seu patriotismo e o Moisés, tipo de Cristo, o Libertador (Is 61.1; Lc
seu desenvolvimento espiritual. 4.18; 2 Co 1.10; 1 Ts 1.10). Um libertador divina-
mente escolhido (Êx 3.7-10; Jo 3.16; At 7.25). Rejei-
2) Hereditariedade. Moisés jamais teria sido o li- tado por Israel, ele se volta para os gentios (Êx 2.11-
bertador de Israel se não tivesse sido um filho de Is- 15; At 7.25). Durante sua rejeição ele ganha uma
rael; se não tivesse tido pais piedosos. noiva gentilica (Êx 2.16-21; Mt 12.14-21; 2 Co 11.2;
3) Características do moço Moisés. Nele nota- Ef 5-30-32). Mais tarde ele reaparece como o liberta-
mos. dor de Israel, e é aceito (Êx 4.29-31; At 15.14-17; Rm
a) Patriotismo. Apesar de ter todas as vantagens 11-24-26). Oficialmente, Moisés tipifica Jesus Cristo
do palácio, ele se preocupou com o estado miserável como Profeta (At 3.22,23); Advogado (Êx 32.31-35; 1
dos seus compatriotas. Jo 2.1,2); Intercessor (Êx 17.61; Hb 7.25), e Guia ou
b) Energia. Ele matou o egípcio que feriu o israe- Rei (Dt 33.4,5; Is 55.4; Hb 2.10). Mas, com relação à
lita. Vemos que a sua simpatia não era apenas um Casa de Deus, ele está em Contraste com Cristo:
sentimento, mas expressava-se em atos. Contudo a Moisés era fiel como um servo sobre a casa de outro;
violência resultou, afinal, na sua fuga para longe. Jesus Cristo, como filho, sobre a sua própria Casa
c) Prudência e prevenção. "Olhou para uma e (Hb 3.5,6) (Scofield).
para outra banda" (não olhou para cima) e contudo Neste trecho, vemos Moisés:
essa prevenção não foi suficiente para evitar as con- a) Acanhado, quando devia ter sido confiante.
seqüências do seu ato. b) Informando a Deus o que Ele bem sabia (4.10).
d) Reconciliador (v. 13) malsucedido, porque es- c) Querendo passar o serviço para outros (4.10).
tava comprometido por sua conduta anterior. Quan- (Comparemos com isto Colossenses 4.17.)
tas vezes o servo de Deus sente-se inútil, devido ao d) Convencido, afinal, de que devia obedecer à
seu próprio procedimento passado! chamada divina. Podemos acreditar que, à medida
e) Receoso. Não podendo enfrentar as conseqüên- que ele obedecia, ganhava mais confiança no seu tes-
cias dos seus próprios atos, fugiu. temunho.
f ) Cavalheiroso (2.17). Ele protegeu as filhas de Notemos em toda a entrevista a persistência de
Reuel ou Jetro. Deus; como Ele não abandonou o seu propósito;
como sempre tinha uma solução para cada dificulda-
Capítulos 3 e 4 de, como prometeu ser sua presença um suficiente
recurso.
Deus na sarça ardente. Esta visão de Deus e a en- Ix>go em seguida Moisés e Aarão convocam os an-
trevista com Ele é uma das mais notáveis da Bíblia, ciãos de Israel e pregam o evangelho de uma salva-
antes da encarnaçáo. E verdade que no versículo 2 ção do Egito. O povo ouviu, creu e adorou (4.31).
quem se manifesta é chamado "o anjo do Senhor", O sinal da mão leprosa (4.6,7). " O seio (coração)
mas no versículo 4 é a voz de Deus mesmo que fala significa o que somos; a mão o que fazemos. O que
com Moisés. somos determina, afinal, o que faremos. Isto era um
O dr. Goodman diz da sarça ardente: "Simboli- sinal, de acordo com Lucas 6.43-45). Os dois sinais,
zava a nação na fornalha da aflição, mas não des- da vara e da mão, falam de preparação para o servi-
truída; semelhante a Sadraque, Mesaque e Abedne- ço. Deve ser pura a mão que maneja a vara do poder
divino, e movida por um coração novo" (Scofield).
O simbolismo da sarça ardente tem sido interpre- Este misterioso-incidente da hospedaria (4.24-
tado de uma variedade de maneiras. Sem ser dogmá- 26), para ser compreendido direito, precisa de escla-
tico no assunto, creio perceber nela uma figura da recimento: parece que Moisés tinha explicado à es-
graça divina. O fogo bem-chegado a uma sarça com- posa a lei da circuncisão, mas ela não tinha consenti-
bustível, mas sem a consumir, faz-nos pensar de do que o filho fosse circimcidado. Ao vê-lo, aparente-
como Deus ia chegar-se para um povo pecaminoso, mente, em luta com Deus. ela compreende que devia
Israel; e, em vez de o destruir, ser seu Salvador. ser por isso mesmo. e. num acesso de raiva, circunci-
Se Deus, porém, se revela em graça, continua a da o filho e briga com Moisés. Este, então, segue so-
ser santo, e Moisés precisa aproximar-se descalço, e zinho, e manda a família para o sogro.
com todo o respeito. Ainda hoje é necessário conser-
var na memória estas duas características divinas, e, Capitulo 5 a 11
ao tempo em que nos regozijamos com o conheci-
mento da graça de Deus, reconhecer também que Moisés e Faraó. Moisés tem coragem para exigir
Ele é sempre santo. (v. 1) porque tem conhecimento de Deus; Faraó tem

39
txoáo

coragem para recusar, porque ignora quem é Deus teu rosto", e 11.4, em que Moisés fala outra vez com
Cv.2). Faraó.
Vemos que a primeira entrevista resultou em au- A explicação está provavelmente numa tradução
mento das aflições do povo: um momento penoso mais exata de 11.1: "E o Senhor dissera a Moisés".
para Moisés e Aarâol Antes da entrevista com Faraó, recordada em
Mas Deus não abandona os seus servos, pois faz 10.28,29, Moisés já tinha sido avisado de que 08 pri-
ainda outras comunicações e promessas (6.12-13). mogênitos seriam mortos pelo anjo destruidor, e ele
Assim, apesar das circunstâncias contrárias, os dois náo saiu da presença de Faraó sem dar-lhe esta últi-
continuando seu testemunho. ma advertência. No fim do capitulo 10, Moisés não
Nestes capítulos algumas coisas carecem de ex- sai, porém depois de dar essa última e tremenda ad-
plicação. O capítulo 6.3 "pelo meu nome Jeová não vertência. ele "saiu de Faraó em ardor de ira " (11.8).
lhes fui conhecido", parece não ser para entender ao Proposta emenda de tradução (8.22): "eu separa-
pé da letra. Almeida procura evitar a dificuldade rei milagrosamente a terra" (R. 79).
formando a frase "perfeitamente conhecido".
"Deus era conhecido como Jeová pelos patriarcas Capitulo 12
(Gn 15.7; 22.14; 28.13). Em verdade encontramos o
nome tão cedo como em Gênesis 4.1, por isso o senti- A Páscoa. Na nossa meditação, poderíamos per-
do aparente não pode ser o verdadeiro. Ai está a difi- guntar: a Páscoa seria um evangelho sem uma obra
culdade. Pode ser que Deus não tenha revelado todo expiatória? um perdão de pecados sem qualquer sa-
o poder deste nome na história dos patriarcas" tisfação para com a jutiça ultrajada? um ensino mo-
(Scroggie). (Veja-se também " T h e Christian's Ar- ral sem a inspiração de um supremo sacrifício? a lei
moury", pp.265-269.) de Deus sem a revelação do seu amor?
"Os magos do Egito fizeram também o mesmo Mas na instituição da Páscoa certos fatos são
com os seus encantamentos" (7.11,22; 8.7,18). Tem apontados: o pecado humano; o juízo divino; o valor
havido várias explicações disso, mas não temos en- do sangue; a obediência da fé, etc.
contrado nenhuma que pareça de todo satisfatória. Podémos considerar:
A mágica de hoje em dia nem sempre tem explica- 1) Para os egípcios a noite da Páscoa significava:
ção. a consumação do juízo predito; a recompensa dos pe-
O endurecimento do coração de Faraó. Dez vezes cados cometidos; a revelação da justiça de Deus; a
isto é atribuído a Faraó mesmo (7.13,14,22; inutilidade dos deuses pagãos: a retirada do povo de
8.15,19,32; 9.7.34,35; 13.15) e dez vezes lemos que Deus do seu meio; a destruição do orgulho nacional.
Deus o endureceu (4.22; 7.3; 9.12; 10.1,27; 11.10; 2) Para Israel, a Páscoa importava numa revela-
14.4,8,17). Empregam-se três diferentes palavras ção da base do perdão: eles também eram pecadores
hebraicas. e mereciam o castigo de um Deus santo, mas numa
Theodoret assim explica o caso: " O sol pelo seu certeza da proteção divina, e como um meio de sal-
calor toma a cera mole e o barro duro. endurecendo vação, o sangue era derramado, na apropriação da fé;
um e amolecendo o outro: produzindo pela mesma o sangue espargido dava a certeza (pela Palavra de
ação resultados contrários. Assim, a longanimidade Deus) da isenção do juízo; pelo principio da substi-
de Deus faz bem a alguns e mal a outros: alguns são tuição, ó cordeiro era imolado.
amolecidos e outros endurecidos". 3) Para nós. Cristo crucificado é o cordeiro pascal
A V.B. de Êxodo 9.15,16 remove outra dificulda- (1 Co 5.7) e nós, à semelhança dos israelitas, reco-
de: "Agora eu poderia ter estendido a mão e ferido a nhecemos o juízo que merecemos; compreendemos
ti e ao teu povo com pestilência e tu terias sido corta- que Deus promove a nossa salvação; que o sangue
do da terra; mas deveras para isso te hei mantido em derramado é a base suficiente para o perdão; que
pé, para te mostrar o meu poder e para que o meu esse sangue necessita ser apropriado (espargido)
nome seja anunciado em toda a terra". pela fé; que nossa segurança depende do valor que
"Assim Deus deu a saber a este rei ímpio que foi Deus dá ao sangue de Cristo; que podemos ficar
em conseqüência da divina providência que tanto ele tranqüilos ainda que a justiça de Deus se revele; que
como seu povo não tinham sido destruídos por pra- na Ceia do Senhor, nossa festa espiritual, recorda-
gas anteriores, e que Faraó havia sido conservado mos o preço do nosso resgate.
para ainda maiores manifestações do divino poder, Ao aplicar o ensino deste capitulo à nossa yida
para dar uma plena convicção aos hebreus e egíp- espiritual, podemos indagar: a) qual era o dever do
cios" (The Christian's Armoury). chefe da casa (12.3)? b) por que devia ser o cordeiro
Obediência incompleta. Ê interessante notar as sem mácula? c) em que sentido é Cristo nossa Pás-
propostas que Faraó faz a Moisés para haver uma coa? d) que significa para nós espargir o sangue do
obediência incompleta ao mandado de uma separa- cordeiro?
ção total entre Israel e Egito. O dr. Goodman escreve o seguinte: "Muitos .mal
Primeiro: "Ide, sacrificai a vosso Deus nesta ter- entendem as palavras vendo eu sangue, passarei por
ra": .religião, sem separação (8.25). cima de vós. Isto não significa que Deus fosse o des-
Segundo: "Somente que, indo, não vades lon- truidor, e passasse pela casa espargida de sangue.
ge"; separação, mas não muita (8.28). Exatamente o contrário: Deus era o Salvador. Isto é
Terceiro: "Deixa ir os homens somente, e os fi- evidente pelo versículo 23 'o Senhor...não deixará o
lhos fiquem no Egito" - figura do mundo (10.7). destruidor entrar em vossas casas para vos ferir'.
Quarto: "Fiquem vossas ovelhas e vossas vacas". " N ã o é que Ele 'passa pela porta\ mas como em
O negóçio, o interesse material, não aantificados e Isaías 31.5, 'Como as aues voam, assim o Senhor dos
não sujeitos à vontade de Deus (10.24). Exércitos amparará Jerusalém: Ele a amparará e a
Alguns têm achado uma contradição entre 10.29: livrará, e, passando, a salvará'. A figura é a de um
"Disse Moisés: Bem disseste; eu nunca mais verei o pássaro que voa sobre seu ninho para o defender".

40
txodc

A Páscoa é um tipo de Cristo, nosso Redentor (Êx de regozijo nacional depois de verificar notavelmen-
12.1-28; Jo 1.29; 1 Co 5.6.7; 1 Pe 1.18,19): te a salvação de Deus. N o Egito tinha havido gemi-
1) O cordeiro tinha de ser sem mancha, e para ve- dos, lamentações e orações. Chegou agora o tempo
rificar isto havia de ser guardado quatro dias (Êx de vitória e cânticos de louvor a Deus.
12.5,6). Assim a vida pública de nosso Senhor sob a O cristão pode considerar todos os seus inimigos
observação hostil dos adversários foi a experiência mortos quando ele nào é mais assaltado pela tenta-
que provou a sua santidade (Lc 11.53,54; Jo 8.46; ção. Porém, se o conflito ainda continua, a vitória
18.38). pode ser constante pela graça de Deus e pela salva-
2) O cordeiro, assim provado, havia de ser morto ção que há em Cristo. (Convém consultar V.B. espe-
(Êx 12.6; Jo 12.24; Hb 9.22). cialmente nos versículos 5-7 e 14-Í6.)
3) O sangue havia de ser aplicado (Êx 12.7). Isto Redenção. Resumo: Êxodo é o livro da redenção,
corresponde à fé individual, e nega o universalismo e ensina: 1) que a redenção é toda de Deus (Êx 3.7,8;
(Jo 3.36). Jo 3.16); 2), que a redenção é por uma pessoa (Jo
4) O sangue assim aplicado, por si mesmo, sem 3.16,17); 3) que a redenção é por sangue (Êx
acrescentar nada, constituía uma perfeita proteção 12.13.23,27: 1 Pe 1.18); 4) que a redenção é por poder
do julgamento (Êx 12.13; Hb 10.10,14; 1 Jo 1.7). (Êx 6.6; 13.14; Is 59.20; Rm 8.2).
. 5) A festa tipificava Cristo, o pão da vida, rela- Logo depois do regozijo, chegou a murmuração
cionando-se com a Santa Ceia ( M t 26.26-28; 1 Co (v.24). A provação era real: a necessidade urgente: á-
9.23-26). gua amarga não serve para beber. Oração a Deus
Observar a festa era um dever e um privilégio, era o recurso evidente, mas era vez disso o povo mur-
mas não uma condição de segurança. De fato, a festa murou contra o servo de Deus, Moisés. No lenho da
não foi comida pelos israelitas na noite em que foram cruz de Cristo o crente encontra aquilo que adoça as
guardados do julgamento sobre os primogênitos (Ex amarguras da vida atuai.
12.34-39).
A "grande mistura de gente" (12.38) correspon- Capitulo 16
dendo aos membros não-convertidos nas igrejas, era
um elemento de fraqueza e divisão, então, como ago- Pão do céu. No capítulo anterior os israelitas
ra (Nm 11.4-6): Manifestara-se o poder divino, e murmuravam pela sede; neste, pela fome. Para cada
muitos foram atraídos sem haver qualquer mudança necessidade Deus mostrou ser um recurso suficiente.
nos seus corações. Podemos notar as primeiras etapas da viagem
Proposta emenda de tradução: (v. 40): "Ora a dos israelitas:
vida da peregrinação dos filhos de Israel [que habita- 1) de Ramessés a Sucote (12.37 a 3.19);
uam no Egito] foi de 430 anos" (Bullinger). Nào de- 2) de Sucote a Età (13.20-22);
vemos entender que passaram todos os 430 anos no 3) de Età a Pi-Hairote (14.1-4);
Egito. 4) de Pi-Hairote através do mar Vermelho (14.5
a 15.21);
Capítulos 13 e 14 5) do mar Vermelho a Mara (15.22-26);
6) de Mara a Elim (15.27);
Aprendemos certas lições destes dois capítulos, 7) de Elim ao mar Vermelho (Nm 33.10);
por exemplo: 8) do mar Vermelho a Sim (Êx 16.1);
1) Que Deus reclamou todo filho primogênito em 9) de Sim a Dofcá (Nm 33.12);
Israel como sendo seu (13.2). Um direito que deve tei
10) de Dofcá a Alus (Nm 33.13);
a sua aplicação ainda hoje, e não somente aos israeli-
tas. 11) de Alus a Refidim (Êx 17 e 1);
12) de Refidim ao Sinai (Êx 19.2).
2) Que Deus ensinou a Israel o princípio da subs-
tituição (13.13): O filho primogênito havia de ser A viagem até o Sinai levou uns dois meses
"remido". Esse assunto é mais explicado em Núme- (Scroggie).
ros 18.13-18, e o preço do resgate é marcado em cinco Para entender a significação espiritual do maná
devemos estudar João 6.30-58.
ciclos.
Da parte dos israelitas vemos dependência: espe-
3) Que os pais devem ensinar a seus filhos que
rando do céu a provisão diária; diligência: ao colher
Deus tem direitos sobre a pessoa e a vida de cada
o maná; prontidão: ao sair de madrugada; perseve-
um, e explicar a grande salvação de Deus (para Is-
rança: ao colher diariamente; gratidão, por uma pro-
rael, salvação do Egito; para o cristão, salvação do
visão gratuita; compreensão da bondade de Deus em
pecado).
prover o fornecimento.
4) Que o caminho mais curto pode nào ser o de
mais proveito (13.17). Da parte de Deus vemos longanimidade, no suprir
as necessidades do povo, apesar das suas murmura-
5) Que um povo sem espiritualidade pode mur- ções; recurso inesperado, ao fornecer pão do céu;
murar do capitão da sua salvação (14.11). continuado interesse, no fornecer diariamente; po-
6) Que, às vezes, convém "estar quietos e ver o li- der criador, ao mandar pão do Céu; vontade sobera-
vramento do Senhor" (v.l3), e outras, "marchar" <na: interrompendo o fornecimento aos sábados.
(v.15).
Neste capítulo, nosso principal interesse pode ser
7) Que a nuvem de Deus pode ser escuridão para
o maná, porque simboliza Cristo como o pão do Céu.
alguns e luz para outros (v. 20).
A carne que duas vezes Deus mandou (Êx 16.13 e
8) Que o Senhor é capaz de destruir os inimigos N m 11.31), parece mais um símbolo da sua ira (SI
do seu povo (14.27-31). 78.27-31), em conseqüência das murmura ções do po-
vo.
Capítulo 15
Podemos estudar: 1) O maná fornecido. 2) O ma-
O primeiro cântico da Bíblia. Era um momento ná colhido. 3) O maná interpretado.

41
txodc
1) No maná fornecido, vemos: Prometida (as nossas bênçãos espirituais em Cristo -
a) que Deus sabe das nossas necessidades, e pode Ef 1.3), o inimigo que assalta o cristão é a carne.
supri-las; que Ele ouve as nossas orações; Nesse conflito vemos os vários contribuintes para
b) que Deus sabe não ser possível o deserto deste a vitória: Josué (mencionado pela primeira vez) em
mundo alimentar a nossa vida espiritual: Ele tem contato com o inimigo; Moisés (apoiado por Aaráo e
abundante» bens para encher nossas almas: seu for- Hur) em contato com Deus mediante a oração. Uma
necimento será suficiente, diário, disponível. intercessão continuada consegue a vitória.
c) que o pão do Céu é uma coisa que podemos, no "Então veio Amaleque e pelejou contra Israel"
principio, estranhar (v.15) e que um gosto carnal (v. 8). Às vezes uma só palavra é significativa. Ime-
pode não querer ( N m 21.5). Mas quanto mais nos diatamente depois do milagroso fornecimento de á-
alimentamos de Cristo, mais satisfação achamos ne- gua recordado nos versículos 1-7, "então veio Amale-
le. que".
2) O maná colhido. Para aproveitar bem o maná, Nenhum motivo por esse assalto se dá, senão a ú-
era necessário atender a certas condições: níca palavra "então".
a) era preciso colher cedo: o alimento espiritual Estudando o contexto remoto, compreendemos
deve ser a nossa primeira preocupação cada manhã; que, numa terra de tal natureza, um manancial de á-
b) era preciso colher para o próprio sustento; gua facilmente seria ocasião de contendas, e um be-
c) era preciso colher para a família (para o culto nefício para ser tomado à força.
doméstico); Em Gênesis 21.25 lemos de Abraáo reprovar Abi-
d) era preciso comer todo o colhido. A verdade de meleque por causa de um poço de água que os servos
Deus na cabeça mas náo na vida pode tornar-se desse tinham tomado por violência.
motivo de contenda entre os crentes. O pão do Céu, Em Gênesis 26.19,20 lemos que os servos de Isa-
guardado mas não comido, "criou bichos e cheirava que acharam uma nascente de água, e os pastores de
mal". Gerar contenderam com os pastores de Isaque, di-
e) era preciso não colher no sábado. Em um dia da zendo que a água lhes pertencia.
semana nossa preocupação maior pode ser o dar e Em Êxodo 2.17 lemos que os pastores enxotaram
não o receber. Quem se alimenta com Cristo toda a as filhas de Reuel que vieram tirar água, e que Moi-
semana terá alguma coisa para dar a Deus no do- sés as ajudou.
mingo, em culto e adoração. Em Números 20.19 lemos que Israel propôs (em
3) O maná interpretado. Para entendermos a sig- vão) comprar água, caso atravessasse Edom; e que
nificação simbólica do maná, a comida de Israel no depois se fez a mesma oferta ao rei dos Amorreus.
deserto, devemos compará-lo com o "trigo da terra " Em Juizes 5.11 Débora conta sobre os poços se-
(Js 5.12), que comeram na Palestina. rem cenas de conflitos. Por isso não é de estranhar
O maná estava no deserto, mas não era do deser- que um suprimento milagroso de água em Refidim
to. Era pão " d o céu". Seu sabor não era terrestre. se tornasse imediatamente ocasião de um assalto (J.
Era uma figura de Cristo na sua humilhação aqui no 358).
mundo, o verdadeiro pão do Céu (Jo 6.32>. Amaleque, neto de Esaú (Gn 36.12), que "nasceu
O trigo era "da terra'. Seu sabor era do lugar segundo a carne", (G14.22-29), é progenitor dos ama-
onde se encontrava. Era uma figura de Cristo exalta- lequitas, inimigos constantes de Israel, e é um tipo
do na glória. da carne no crente (G1 4.29). Mas o conflito com
E nós podemos alimentar nossas almas do "ma- Amaleque no capítulo 17 ilustra os recursos do ho-
ná" e do "trigo" também. mem sob o regime da Lei. O homem sob o regime da
Lei podia lutar e orar ( w . 9-12). Sob o Espírito San-
to o crente ganha a vitória sobre a carne (Rm 8.2-4;
Capitulo 17 G1 5.16,17), mas esta vitória é somente quando o
crente anda no Espirito. N o caso de agirmos com in-
A Rocha ferida. Um símbolo de Cristo (1 Co dependência ou em desobediência, "Amaleque" ga-
10.4). Mais uma vez vemos o povo esquecido do po- nha uma fácil vitória ( N m 4.42-45). Como Saul, ten-
der de Deus. e queixoso, e Moisés em oração conse- demos a poupar a carne (1 Sm 15.8,9), esquecendo-
guindo o recurso necessário. A rocha ferida fornece a nos de Romanos 8.8 (Scofield).
água desejada: Cristo ferido satisfaz a nossa sede es-
piritual (Jo 7.37).
" O incidente da rocha ferida simboliza vida me- Capítulo 18
diante o Espírito, por graça.
1) Cristo é a rocha (1 Co 10.4). O sogro de Moisés. Neste capítulo vemos a reu-
2) O povo é de tudo indigno (Ex 17.2rEf 2.1-6). nião de Moisés com sua esposa Zipora, depois de
3) Características da vida, por graça divina: a) uma ausência de uns 15 meses. Aprendemos mais al-
Livre (Jo 4.10; Rm 6.23; Ef 2.8). b) Abundante (SI guma coisa a respeito dela em 2.16-22 e 4.24-26,
105.41; Jo 3.16; Rm 5.20). c ) Perto (Rm 10.8). d) O Neste capitulo temos a chegada, o culto, e o con-
povo só precisara tomar (Is 55.1). A rocha ferida fala do selho de Jetro, particularidades que merecem um es-
derramamento do Espírito como conseqüência da re- tudo detalhado.
denção consumada, e não se ocupa com nossa culpa. Ele chegou com o projeto de reunir sua filha com
E o lado afirmativo de João 3.16. 'Não perecer' fala o marido, desfazendo assim a desinteligência referi-
do sangue que expia, 'mas ter' fala de vida" (Sco- da em 4.24-26, e então ouve acerca da grande salva-
field). ção de Deus consumada no mar Vermelho.
O conflito com Amaleque é o primeiro combate Disso resulta em ele chegar a conhecer o verda-
depois de Israel ter saído do Egito. Quando livre do deiro Deus: "Agora sei que o Senhor é maior que to-
Egito (o mundo), mas não no pleno gozo da Terra dos os deuses" (v. 11) e, em conseqüência disao,

42
1 r
txoào

presta culto de adoração a Deus, mediante holocaus- I a razão fundamental porque "a lei nada fez perfeito"
tos e sacrifícios. (Rm 8.3; Hb 7.18,19). " A aliança com Abraão, e a
Em seguida, lemos do seu conselho - que o pesado Nova Aliança (Gn 15.18 e Hb 8.8-12) ministram sal-
serviço de julgar o povo fosse distribuído entre vários vação e certeza porque impõem somente uma condi-
homens escolhidos e competentes. Sobre isto o dr. ção: a f é " (Scofield).
Scroggie faz as seguintes observações: Nos versículos 3-6 Deus faz lembrar ao povo que
I ) Que os sábios podem não ver uma necessida- Israel tinha sido o objeto da sua espontânea graça:
de evidente aos outros. "Vos levei sobre asas de águias, e vos trouxe a mim ".
2) Que um homem do povo pode muitas vezes A Lei nào é proposta como meio de vida, mas como o
fazer uma contribuição importante para o bem meio para o povo ser "propriedade peculiar", e "po-
comum, como fez Jetro. vo santo". A Lei não foi imposta como regra antes foi
3) Que no serviço de Deus não deve haver mono- proposta ao povo e aceita por ele.
pólio de poder. " A resposta do povo (v. 8) revela pouco conheci-
4) Que convém haver distribuição do trabalho. mento dele mesmo ou de Deus. É possível julgarmos
5) Que ninguém é capaz de fazer tudo. que Deus seja muito fácil de contentar, e nós outros
6) Que mais cedo ou mais tarde cada um de nós muito competentes para conseguir isso" (Scofield).
há de ser substituído e, contudo, a obra de Deus há "Tudo o que Jeová tem falado, faremos" (v. 8).
de prosseguir. Por isso, enquanto vivemos devemos "Aqui começa a quinta dispensaçào, a da Lei. Esta
ensinar os outros a tomarem responsabilidade. dispensaçào se estende do Sinai ao Calvário; do Êxo-
7) Que náo convém trabalhar demais, nem de do à Cruz. A história de Israel no deserto e em Canaã
menos. é uma longa história de violação da Lei. A prova ter-
8) Que devemos reconhecer a necessidade de ou- minou no julgamento dos cativeiros, mas a dispensa-
tras pessoas. çào propriamente terminou na Cruz. Podemos consi-
9) Que sempre existe uma quantidade de poder derar:
nào empregado e uma capacidade oculta. Havia isso 1) O estado do homem ao começo (Êx 19.1-3).
entre os israelitas. 2) Sua responsabilidade (Êx 19.5,6; Rm 10.5).
10) Que ninguém deve tentar fazer mais do que 3) Seu fracasso (2 Rs 17.7-17; At 2.22,23).
pode. 4) O julgamento (2 Rs 17.1-6,20; 25.1-11; Lc
I I ) Que nunca devemos cansar demasiadamente 21.20-24).
a paciência do público (v. 13). As outras seis dispensações são: Inocência (Gn
12) Que, para um cargo de responsabilidade, pre- 1.28); Consciência (Gn 3.23); Governo humano (Gn
cisa-se de capacidade, piedade, integridade e probi- 8.20); Promessa (Gn 12.1); Graça (Jo 1,17); Reino
dade (v. 21). (Ef 1.10)" (Scofield).
13) Que homens entendidos náo devem hesitar Notemos neste capitulo o cuidado que Deus tem
em dar conselhos aos governadores, e que os chefes de desenvolver era Israel uma compreensão da santi-
náo se devem recusar a receber conselhos e aprovei- dade divina. N o Egito tinham-se acostumado com as
tá-los. imundas divindades do paganismo, e agora precisam
Não sabemos por quanto tempo este arranjo con- aprender que Jeová é um Deus santíssimo e temível.
tinuou, mas em Números 11.11-16 vemos Moisés " A Lei foi dada de três maneiras:
queixando-se de estar sobrecarregado e sozinho no Primeiro verbalmente, em Êxodo 20.1-17. Isto
serviço, e então Deus manda escolher 70 anciãos era lei pura, sem nenhuma provisão de sacerdócio ou
para o ajudarem no governo do povo. sacrifício, e foi acompanhado das 'ordenanças' (Ex
21.1 a 23.13) relativas às relações de hebreus com
hebreus; a isto foram acrescentadas (Êx 23.14-19),
Capitulo 19
direções referentes às três festas anuais, e (Êx 23.20-
33) instruções sobre a conquista de Canaã. Estas pa-
Israel chega ao monte Sinai depois de uma via- lavras Moisés comunicou ao povo (Êx 24.3-8). Ime-
gem de quase três meses (v. 1). diatamente, na pessoa dos seus anciãos, foram ad-
N o Sinai Israel aprendeu as seguintes lições: mitidos á presença de Deus (Êx 24.9-11).
1) Mediante os mandamentos, aprendeu a santi-
dade de Deus. Segundo.. Moisés foi então chamado ao monte
2) Mediante seu próprio erro, aprendeu a sua fra- para receber as tábuas de pedra (Êx 24.12-18). A his-
queza e pecaminosidade. tória então se divide. Moisés no monte recebe instru-
3) Mediante a provisão do sacerdócio e do sacrifí- ções referentes ao tabemáculo, ao sacerdócio e aos
cio, aprendeu a bondade de Deus. sacrifícios (Êx caps. 25 a 31). No entanto o povo (Êx
O cristão aprende, mediante a experiência de Ro- 32) chefiado por Aarão, transgride o primeiro man-
manos 7.7-24, o que Israel aprendeu no Sinai. Esta damento. Moisés, voltando, quebra as tábuas escri-
parte de Êxodo deve ser lida conjuntamente com Ro- tas pelo dedo de Deus (Êx 31.18; 32.16-19).
manos 2.19-26; 7.7-24; Gálatas 4.1-3. Terceiro. As segundas tábuas são feitas, e a Lei
Em Gálatas 3.6-25, aprendemos a relação da Lei escrita novamente (por Moisés?) na presença de Jeo-
para com a Aliança Abraámica: 1) a Lei náo pode vá (Ex 34.1,28,29)" (Scofield).
anular esta aliança; 2) foi "acrescentada" para con-
vencer do pecado; 3) servia de pedagogo até a vinda Capítulo 20
de Cristo; 4) era uma disciplina preparatória "até
que viesse a Semente". Os Dez Mandamentos. A aliança mosaica foi
"Se atentamente ouvirdes" (v. 5). Aquilo que, dada a Israel com três divisões, cada uma ligada às
sob a Lei. era condicional, é, sob, o regime da graça, outras, e, conjuntamente, formando a Aliança Mo-
dado livremente ao crente. O " s e " do versículo 5 é a saica. Sáo: os Mandamentos, expressão da vontade
essência da Lei como um método de ação divina, e é de Deus para seu povo (Êx 20.1-26); os Juízos, gover-

43
txoáo
no da vida social de Israel (Êx 21.1 a 24.11), e as Or- O versículo 7 pode ser traduzido: "Não ligarás o
denanças, governando a vida religiosa de Israel (Êx nome do Senhor teu Deus com a perversidade" (R.
24.12 a 31.18). Estes três elementos formam "a Lei" 50).
como essa palavra se emprega no N. T . (Mt 5.17, O Esangelho ensina-nos uma santa intimidade
18). Os mandamentos e ordenanças formaram um só ao falarmos com Deus mas nunca uma familiarida-
sistema religioso. Os mandamentos foram um "mi- de.
nistério de condenação" e de "morte" (2 Co 3.7-9); d) Não matar (v. 13). Este mandamento pode in-
as ordenanças deram ao povo, na pessoa do sumo sa- cluir toda classe de ofensas contra a pessoa do nosso
cerdote, um representante perante Jeová; e, nos sa- semelhante. O assassínio é, geralmente, a consuma-
crifícios. havia uma expiaçáo pelos seus pecados em ção do ódio, e devemos cuidar de nunca permitir o
antecipação da Cruz (Rm 3.25,26; Hb 5.1-3; 9.6-9). começo desse mal, com receio de não poder evitar a
O cristão não está sob a aliança condicional mosaica triste consumação (1 Jo 3.15). Este crime é impossí-
de obras - a Lei, mas sob a Nova Aliança, incondicio- vel onde há amor ao próximo.
nal de graça (Rm 3.21-27; 6.14,15; G1 2.16; 3.10-14, e) Não adulterar. Podemos entender isto como
16-18, 24-26; 4.21-31; Hb 10.11-17). incluindo a proibição de todas as ofensas contra a
Para as outras alianças, veja-se a do Éden (Gn pureza. Ensina-nos o sagrado dever de o povo de
1.28); a com Adão (Gn 3.15); a com Noé (Gn 9.1); a Deus controlar as suas paixões.
com Abraão (Gn 15.18); a Palestina (Dt 30.3); a com Aqui também o mal começa no pensamento, e
Davi (2 Sm 7.16) e a Nova Aliança (Hb 8.8) (Sco- toda a criatura humana pode, com a graça de Deus,
field). controlar seus pensamentos. Podemos ç devemos re-
Ao estudar a Lei de Deus contida nos Dez Man- provar todo pensamento impuro, receando a consu-
damentos, devembs sempre ter em memória o resu- mação em atos impuros.
mo da Lei dado por Cristo: "Amarás ao Senhor teu f ) Não roubar. Porque cada um pode ganhar seu
Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e sustento pelo próprio trabalho, sem dar prejuízo ao
de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimen- seu próximo: porque o amor nos ensina a dar ao nos-
to. e ao teu próximo como a ti mesmo" (Lc 10.27), e so próximo e não a tirar dele; porque o roubo, o furto,
as palavras de Paulo: "o cumprimento da lei é o o jogo d es t roem, em quem os pratica, todos os mais
amor" (Rm 13.10). nobres sentimentos do coração: altruísmo, brio, con-
1) Prefácio. "Eu sou o Senhor teu Deus, que te ti- tentamento, trabalho, fé, paciência.
rei da terra do Egito, da casa de servidão ". Este pre- g) Não dizer falso testemunho. Proíbe todas as
fácio merece ser profundamente ponderado. Revela ofensas contra a verdade. O mentiroso é uma pessoa
que Deus se ocupa com seu povo: que seu interesse é em quem ninguém confia. Os pais podem ensinar a
particular e individual (te tirei); que compreende a verdade pelo preceito, pelo exemplo, pela aprovação,
natureza das nossas provações: que tem recursos su- e pela Escritura.
ficientes para nos valer; que tem propósitos de bên- h) Não cobiçar (v. 17). A cobiça quer para si o
ção a nosso respeito, e tudo isto apesar de nos reco- que pertence ao próximo. Náo é cobiça o menino
nhecer indignos de tamanhos favores. querer chupar bala quando vê outro menino chupan-
Alguém que é protegido por um grau do deste do bala, mas se quer exigir a baia do outro, então é
mundo, naturalmente sente gratidão por isso. No cobiça. A cobiça revela características reprováveis,
caso de ser protegido por Deus mesmo, apesar de como descontentamento, inveja, egoísmo, descon-
toda a indiferença ou frieza individual, a pessoa de- fiança do amor de Deus, descrença da bondade divi-
veria amar o Senhor seu Deus de todo o coração. na, falta de amor ao próximo.
2) Preceitos negativos 3) Preceitos positivos
a) Não ter outro Deus. É perfeitamente com- a) Santificar o sábado. Embora a guarda do sá-
preensível que Deus, disposto a ser o único e sufi- bado fosse um sinal entre Deus e os "filhos de Israel"
ciente recurso sobrenatural do seu povo, proiba um (Êx 31.17), essa parte da lei tem preciosa instrução
apelo a quaisquer outros poderes sobrenaturais. Por para nós cristãos. Ensina-nos:
isso entendemos que o espiritismo é proibido a quem (1) Que trabalhar seis dias em sete é o suficiente.
crê no Deus vivo. (2) Que um descanso semanal é proveitoso física,
Proposta emenda de tradução (v. 3): "Não terás mental e espiritualmente.
outros deuses acrescentados a mim" (R. 89). (3) Que uma preocupação constante com o traba-
b) Não fazer imagem alguma do objeto de nossa lho material pode resultar em prejuízo espiritual.
adoração. É impossível a criatura humana fazer uma (4) Que Deus compreende melhor do que nós
representação superior à sua própria idéia, por isso qual o nosso maior proveito.
é-lhe impossível representar dignamente a divinda- , i (5) Que o povo de Deus. nos seus dias disponí-
de, pois Deus há de ser infinitamente superior ao veis. tende a ocupar-se com serviço espiritual.
nosso mais sublime pensamento. (6) Que o homem precisa trabalhar seis dias para
Os homens que têm feito imagens de seres indig- merecer o descanso no sétimo.
nos, e as têm adorado, têm-se tomado, por isso. de- b) Honrar os pais. Aprendemos que os seres mais
pravados. próximos que devemos amar são os pais, que mere-
c) Náo proferir o nome de Deus levianamente. A cem nosso primeiro respeito. Visto que os filhos não
freqüência com que este pecado se comete pelos des- nascem sabendo: os pais precisam ensinar-lhes tudo.
crentes mostra a necessidade da proibição. Para o filho poder respeitar o pai, este necessita
Vários pensamentos relacionam-se com esta proi- ser respeitável. Se a mãe diz â criança que um passa-
bição: a necessidade de reverência; a conveniência rinho vai sair da máquina fotográfica, a criança não
do asseio; a significação do silêncio (Ec 5.2); o decoro pode respeitar a sua veracidade; se o pai grita com
no canto dos hinos, a modéstia e humildade que con- seus filhos, estes não podem respeitar a sua serenida-
vém na Casa de Oração, etc. de; se ele é preguiçoso, o filho não há de respeitar o

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seu trabalho; se ele dá prejuízo aos vizinhos, o filho A ocupação do momento foi a confirmação da
não respeitará a sua bondade. aliança ou pacto (v. 7). "Há dois tipos de alianças: 1)
A honra devida ao pai inclui obediência, respeito, um concerto mútuo, com condições de parte a parte;
atenção, submissão e, mais tarde, socorro (Mc 7.10- e 2) um concerto de graça, quando todas as promes-
13). sas são de um lado, sem condições. Aqui temos um
caso do primeiro. Em Hebreus 8.10-12, do segundo"
Capítulos 2l e 22 (Goodman).
De 20.22 em diante mencionam-se certas leis da- Capitulo 25
das a Moisés por Jeová. Podemos notar:
a) O cuidado divino para com os servos ou escra- Objetos simbólicos. Daqui até o fim do Êxodo, o
vos - provavelmente pessoas que se tinham vendido povo está acampado em volta do Sinai. Moisés está
para pagar dividas, ou por outros motivos (21.1-11). no monte, onde fica por quarenta dias (24.18) e pare-
b) A lei da pena capital para o assassínio (12-14), ce que Josué está com ele (24.13 e 32.17). Ali, a sós
de acordo com o ensino de Gênesis 9.6. com Deus, Moisés ouve revelações e recebe instru-
c) A lei da restituição (17-36). ções referentes aos objetos do culto simbolizado que
d) A lei do furto (22.1-5). havia de haver em Israel.
e) A lei do aceiro (22.6). Este capitulo fala em ajuntar os materiais neces-
0 A lei do empréstimo (7-15). sários para a construção do tabernáculo, mas é nos
g) A lei da sedução (16). capítulos 26 e 27 que ele é descrito detalhadamente.
E seguem ainda outras leis para o governo da vi- "Compreendemos que o livro de Êxodo tem valor
da social dos israelitas. típico, no que diz respeito às pessoas e acontecimen-
Proposta emenda de tradução (22.2): for achado tos, pelo ensino de 1 Corintios 10.1-11. E no que diz
arrombando uma casa. respeito ao tabernáculo. por Hebreus 9.1-24. Tendo a
certeza de que no tabernáculo tudo era típico, os de-
Capitulo 23 talhes também haviam de ser. Dois avisos sáo neces-
sários: 1) nada pode ser dogmaticamente chamado
Este capítulo ensina como o povo de Israel devia um tipo sem que haja expressa autoridade para isso
agir com diferentes classes de pessoas: o perverso (1); no Novo Testamento, e 2) todos os tipos que carecem
o pobre (3,6); o inimigo (4,5); o inocente e o justo (7); dessa autenticidade devem ser reconhecidos como
o peregrino (9); o filho de uma escrava (12); o anjo do tendo apenas a autoridade de uma analogia. O valor
Senhor (20,23). típico dos materiais e das cores é geralmente inter-
"Não cozerás um cabrito no leite da sua mãe" (v. pretado assim: ouro, divindade manifestada, glória
19). O verdadeiro sentido deste versículo parece ser a divina; prata, redenção (Êx 30.11-16; 38.27); latão
interpretação dada pelo dr. Cudworth, e tirada de (cobre), figura do juízo, como no altar de latão e a
um manuscrito pertencente a um judeu caraita. "E- serpente de cobre (Nm 21.6-9); azul, o que é celes-
ra o costume dos antigos pagáos, depois da colheita tial, em natureza ou origem; púrpura, realeza; escar-
das primícias, tomar um cabrito e fervê-lo no leite da lata, sacrifício" (Scofield).
mãe; e então, como uma espécie de mágica, espargir
o leite sobre as árvores, campos, hortas, etc., pensan-
do que assim haviam de os tomar mais frutíferos. " O tabernáculo havia de ser em todas as suas
Por isso Deus proibiu ao seu povo usar tais ritos ido- partes um tipo de Cristo, que era 'o verdadeiro ta-
latras" (T). bernáculo que o Senhor armou, e não o homem' (Hb
O texto áureo do capítulo bem poderá ser o versí- 8.2). Cristo veio 'por meio do maior e mais perfeito
culo 8: "Não aceitarás peita, pois ela cega aos Que tabernáculo, não feito por mãos de homens' (Hb
têm vista, e perverte as palavras dos justos". 9.11). O corpo sem pecado e santo que Deus lhe pre-
parou era esse mais perfeito tabemáeulo, em que Ele
cumpriu, tudo que o tabemáeulo no deserto simboli-
Capítulo 24 zava" (Goodman).
Uma visão de Deus. Por expresso convite divino, A arca. Uma caixa feita de madeira de acácia
os setenta anciãos, com Moisés, Aarão, Nadabe e (V.B.) e coberta de ouro (v.10) com uma tampa cha-
Abiú, têm uma visão de Deus, e adoram "de longe": mada o propiciatório, ou lugar de encontro de Deus
somente a Moisés é permitido aproximar-se. com o seu povo. Cristo é nosso ."propiciatório " (Rm
Ficamos pensando se estes setenta anciãos se- 3.25 e 1 Jo 2.2), onde podemos encontrar com Deus e
riam os mesmos de Números 11.16, escolhidos para ter comunhão com Ele, e achar misericórdia e graça
tomar parte no governo do povo. Certamente um (Hb 4.16). Nas duas extremidades da tampa, havia
bom preparo para um cargo de responsabilidade se- figuras de querubins, feitas em ouro; e, dentro da ar-
ria ter uma• visão de Deus. ca, segundo diz Hebreus 9.4. um vaso de ouro con-
Moisés sobe ao monte sozinho, e fica ali a espera, tendo maná, a vara de Aarão, e as duas segundas tá-
seis dias, coberto pela nuvem, e no sétimo, ouve e vê buas da Lei. Podemos entender que a Arca era uma
a divina revelação. Havia de sentir-se muito afasta- figura de Cristo, o qual podia dizer como o salmista:
do do povo, muito chegado a Deus, muito impressio- "A tua lei está dentro do meu coração". Ele é o ver-
nado pelas circunstâncias extraordinárias do mo- dadeiro páo do Céu, e exerce um sacerdócio maior do
mento, muito preparado para ouvir a revelação da que o de Aarão (Hb 7.11).
vontade de Deus. O crente ainda hoje pode ter algu- " O pátio continha a Tenda; a Tenda continha o
ma experiência parecida, talvez quando uma gTave Santíssimo; o Santíssimo continha a Arca, a Arca
doença o leva para um período de afastamento do continha a Lei, e a Lei era a vontade revelada de
mundo em redor, e ele se sente mais chegado a Deus Deus, da qual Cristo era a personificação e a expres-
e mais disposto a ouvir a voz divina. são" (Scroggie).

45
txodc

A mesa para os pães (23-30). Os pães havemos de res, que deviam ser derrubadas, serradas, aparelha-
estudar em Levítico 24.5-9. Aqui temos apenas a das para remover tudo o que havia de obstar chegas-
mesa onde eles deviam ser postos. Devemos notar sem a ser tábuas boas e lisas. Depois foram nova-
que enquanto no .Santíssimo - o recinto interior do mente levantadas, colocadas sobre as bases de prata,
tabernáculo - havia somente a arca, no Lugar Santo o metal que simboliza a redenção (Ex 30.12-16; L v
- o recinto exterior - havia a mesa. o castiçal e o altar 5.15), e cada tábua coberta de ouro. Então haviam
de incenso. de ser coordenadas, cada uma no seu devido lugar no
O candeeiro de ouro. (31-40). Assim como nas santuário de Deus, e cada uma ligada com as cinco
moradias humans há comida e luz artificia!. Deus travessas de madeira de acácia coberta de ouro (26-
consentiu em haver as mesmas coisas na casa dele. 30). Podemos fazer uma comparação disto com o
Porém, visto que Deus náo precisava comer o pão, caso dos crentes imprestáveis no seu estado natural
isso era dado aos sacerdotes para seu sustento ( L v para construir a Casa de Deus, mas, derrubados pela
24.9); e a luz do candeeiro, que pode falar de teste- convicçáo do seu pecado, aparelhados pelo ensino da
munho, faz-nos pensar que a luz que brilha no povo Palavra, firmados sobre a redenção que há em Cris-
de Deus para a iluminação do mundo ( M t 5.14) bri- to, revestidos do "ouro", de um caráter irrepreensí-
lha. ao mesmo tempo, perante Deus no seu santuário vel - revestidos de Cristo colocados por Deus mes-
(Rm 1.9; 2 Co 2.15). mo na sua Igreja (1 Co 12.28), ligados uns aos outros,
"Compare-se com Apocalipse 1.12-20 e notem-se e, assim unidos, constituindo um santo templo do
as semelhança» e diferenças. Aqui sete lâmpadas em Senhor (2 Co 6.16).
um só castiçal, simbolizando unidade; ali sete dife- O véu que separava o lugar santo do santíssimo
rentes candeeiros, simbolizando diversidade: uma, (v. 33). Para compreender a significação desse véu
característica da velha dispensação; outra, da nova" devemos consultar Mateus 27.51 e Hebreus 9.3,6-9,
(Scroggie). 10.20.
Quando estive em Roma, em 1905, vi no Arco de " O véu interior é tipo do corpo humano de Cristo
Triunfo, construído pelo imperador T i t o em come- ( M t 26.26; 27.50; Hb 10.20). Este véu. vedando a en-
moração da captura de Jerusalém, uma escultura do trada ao santíssimo, era um símbolo expressivo da
sagrado castiçal dos judeus, tirado então, por supos- verdade que 'pelas obras da Lei nenhuma carne será
to, do templo de herodes, mas, provavelmente, con- justificada' " (Rm 3.20; Hb 9.8). Rasgado por mão
servando o mesmo aspecto do castiçal primitivo do invisível quando Cristo morreu ( M t 27.51), dando
tabernáculo. S.E.M. assim acesso imediato a Deus para os que chegassem
pela fé, significa o fim de todo o legalismo: o cami-
Capitulo 26 nho para Deus ficou aberto. É significante que os sa-
cerdotes devem ter remendado o véu qiiA Deus rasga-
As cortinas (1-14). Há uma interpretação que ra. pois os serviços do templo continuaram por quase
percebe um simbolismo instrutivo e espiritual em to- mais 40 anos. Esse véu remendado é o legalismo re-
dos os pormenores do tabernáculo, seus materiais e provado na carta aos Gálatas (e tem seu equivalente
suas medidas. Neste livro não havemos de acompa- hoje no sabatismo). é a tentativa de colocar o crente
nhar minuciosamente essa interpretação, mas os que sob o regime da Lei (G1 1.6-9). Tudo que anuncia ou-
desejam investigá-la podem consultar " T h e Nume- tra coisa a não ser 'a graça de Deus' é 'outro evange-
rical Bible", por F. W. Grant. A seguir damos algu- lho' e está sob anátema" (Scofield).
ma coisa do que ele escreve sobre as cortinas:
" A s cortinas falam, como seu material mostra, A divisão do santuário pelo véu em lugar santo e
da justiça prática, como faz também o linho fino que lugar santíssimo era característica do judaísmo ( H b
cobre a noiva em Apocalipse 19. 'O linho finíssimo 9.2-8), e para nós tal divisão não existe - o rompi-
são os atos da justiça dos santos' (Ap 19.8,V.B.) e mento do véu tem feito dos dois, um só lugar. Isto
tais vestimentas precisam ser lavadas no sangue de nos mostra de que maneira a Lei, "sendo a sombra
Cristo para serem embranquecidas (Ap 7.14 e 22.14) dos bens vindouros", não era a mesma imagem delas
- u m a clara prova de Que elas (as vestimentas) não (Hb 10.1), um fato cheio de significação, que não dá
são um símbolo de Cristo nossa justiça, que náo ne- motivo para fazermos pouco caso do ensino simbóli-
cessita ser purificado. co do V.T. Pelo contrário, tal significação na Lei está
cheia de sentido. "O caminho para o lugar santíssi-
" M a s náo temos apenas o linho fino: azul, púrpu- mo", para a própria presença de Deus, não podia ser
ra e escarlata entram na combinação. Quase não ne- aberto enquanto a humanidade ainda dependesse da
cessitamos a garantia de Maimonedes, que afirma ser aprovação da Lei: como teria ela se gloriado em si
a primeira destas cores 'a cor do firmamento', para mesma se tivesse sido assim! Por outro lado, para os
reconhecermos aqui o símbolo do celestial. A púrpu- pecadores confessadamente sob a condenação da
ra e a escarlata são cores reais, e bem se podem refe- Lei, a morte de Cristo tem rasgado o véu e espargido
rir à dupla realeza de Cristo, como Rei de Isfoel, 'a raiz sangue sobre o propiciatório. A palavra para nós -
de Jessé é aquele que se levanta para governar os tão diferente do mandado a Israel - é "cheguemo-nos
gentios'. Para isso, o apóstolo cita Isaías em Roma- com um coração sincero em plena certeza da fé" ( H b
nos 15.12. E isto fica ainda mais claro se, como Keil 10.22) (Grant).
diz, e a tradução literal parece confirmar, que o azul,
a púrpura e a escarlata referem-se ás figuras de que- " É necessário distinguir entre o Tabernáculo
rubins que eram bordadas nesUc» cortinas e no véu. (mishkan) e a Tenda (ohet). Km resumo, a constru-
Os querubins simbolizam governo divino, como já ção toda era o tabernáculo, e aquela parte chamada
temos visto, e assim achamos aqui o Rei do reino de o Lugar Santo, era a tenda (27.21). Todo o conjunto
Deus mui claramente declarado..." simbolizava a presença de Deus com seu povo (Jo
As tábuas do tabernáculo (15-30). N e m sempre 1.14) e também o meio de o povo aproximar-se de
haviam sido tábuas. N o estado natural eram árvo- Deus ( H b 9.1-12)" (Scroggie). Mas em 40.19 lemos:

46
txo4c

"Estendeu a tenda por cima do tabernáculo, e pós a No peitoral havia as doze pedras diferentes, cada
coberta da tenda por cima". uma com o nome de uma das tribos. Assim vemos a
Em 39.32 e 40.2 temos as duas palavras juntas: totalidade do povo de Deus levada nos ombros do
"o tabernáculo da tenda da congregação" ("revela- sumo sacerdote - no lugar de poder - e, individual-
ção" V . B ) , mente, cada tribo com uma distinta preciosidade
Precisamos investigar o sentido da palavra atribuída, e levada no peitoral "sobre seu coração"
hebraica "moed" que Almeida traduz congregação. (v. 30) no lugar de afeição.
Figueiredo testemunho. V.B. revelação, e a versão Quanto ao Urim e Tumim, o dr. Scofield diz: " U -
hespanhola de Pratt "reunion" ou "de entrevista". rim e Tumim significam 'luzes e perfeições'. Alguns
O sentido literal da palavra, segundo Dr. Robert entendem que isto é simplesmente um nome coletivo
Young. é um encontro ou um lugar de encontro. pelas pedras no peitoral, de maneira que o efeito total
Parece que o sentido simples é que o tabernáculo das doze pedras é manifestar a 'luz e perfeição' da-
(ou. mais explicitamente, o propiciatório dentro do quele que é o antítipo do antigo sumo sacerdote. Mas
tabernáculo) era o lugar onde Deus havia de se en- isto não combina com Levítico 8.8, que parece mos-
contrar com seu povo - representado por Moisés ou trar evidentemente que *o Urim e Tumim* são acres-
os sacerdotes - e revelar a sua vontade. centados às pedras do peitoral. No seu uso o U. e T .
Aprendemos de 33.7-11 que mesmo antes da eram ligados, de algum modo não claramente expli-
construçáo do tabernáculo havia uma "Tenda de re- cado, com a indagação da vontade divina em certos
velação (encontro)" provisória onde "falava Jeová a casos difíceis (Nm 27.21; Dt 33.8: 1 Sm 28.6; Ed
Moisés frente a frente, como um homem fala ao seu 2.63)".
amigo".
Capitulo 29
Capítulo 27
Ensino sobre a consagração dos sacerdotes. Neste
O altar e o átrio. O israelita piedoso, querendo capitulo temos o ensino, e em Levítico 8.1 vemos
aproximar-se do Senhor para o servir, descobria ime- esse ensino posto em prática.
diatamente que a Casa de Deus estava cercada; e, As divisões deste capítulo podem ser:
para chegar mais perto, havia de entrar pela porta 1-4 - A consagração dos sacerdotes: as ofertas.
do átrio (Jo 10.9). A primeira coisa que ele encontra- 5-7 - Referentes ao sumo sacerdote.
va dentro do átrio era o altar, o tabernáculo, e a pia 8-9 - Referentes aos sacerdotes.
(30.18), que lhe falava de purificação. Então, para 10-25 - Referentes aos sacrifícios.
poder entrar no santuário e tomar parte no serviço 26-37 - A comida dos sacerdotes.
divino, era preciso pertencer ã família sacerdotal 38-46 - O holocausto continuo.
um "novo nascimento". Notemos:
a) O propósito do sacerdócio era servir a Deus: "a
Capitulo 28 fim de que me sirvam no ofício sacerdotal" (v. 1).
Sacerdotes e vestes sacerdotais. A ocupação dos b) Para o serviço ser aceitável, era preciso haver
sacerdotes era servir a Deus (v. 1) e a dos levitas, ser- sacrifício, e o sangue ser aplicado na orelha, no dedo
vir aos sacerdotes (Nm 3.5-9; 9.19). No cristianismo, polegar, e no pé (v. 20) - a obra expiatória de Cristo
toda a igreja local deve ser como um sacerdócio san- aplicada a todas as nossas atividades.
to, a fim de oferecer sacrifícios espirituais (1 Pe 2.5); c) Além da expiação, tinha de haver purificação
e os crentes que têm ministério de proveito e ajudam (v. 4). Com isto podemos ligar João 13.10 e Tito 3.5.
os "sacerdotes" no seu serviço espiritual são compa- d) Os servos de Deus deviam ser revestidos dig-
ráveis aos levitas do Velho Testamento. namente. O aspecto exterior, é evidente, havia de ser
Vemos que os sacerdotes precisavam não somen- o que Deus pudesse aprovar.
te ter parentesco com o sumo sacerdote (Hb 2.11), e) Os sacerdotes eram nutridos com a carne dos
mas haviam de ser revestidos exteriormente com sacrifícios (v. 28). Com isso podemos comparar João
"vestiduras, para glória e formosura". O crente re- 6.54-56.
nascido que é bem "revestido de Cristo" pode me- "Expiação" (v. 33. etc.) A palavra hebraica
lhor oferecer sacrifícios de louvor (Hb 13.15). "kaphar" geralmente traduzida por expiação signifi-
Em Hebreus 5.1-3 temos outro aspecto do serviço ca cobrir. Segundo o ensino bíblico, o sacrifício pres-
sacerdotal. Um sacerdote é "constituído a favor dos crito pela Lei "cobria" o pecado do ofertante e conse-
homens nas coisas pertencentes a Deus", isto é, ele guia o perdão divino. Deus cobriu, ou "deixou de la-
entra na presença de Deus a favor dos outros. do" (Rm 3.25) o pecado, na perspectiva do sacrifício
Aarão, o sumo sacerdote, era uma figura de Cris- de Cristo, porque "não era possível que o sangue de
to, nosso Sumo Sacerdote (Hb 7.26-28). Suas vesti- touros e de bodes tirasse pecados" (Hb 10.4). A pala-
mentas falam-nos da dignidade do seu caráter e sua vra não se encontra no N . T . (Scofield).
obra.
Três objetos nos ocupam neste capitulo: o Efode Capitulo 30
(estola), o Peitoral, o Urim e Tumim. F.W. Grant,
com outros expositores, entende que este último é o O altar do incenso. "Tipo de Cristo nosso inter-
conjunto de pedras preciosas no peitoral, e, visto que cessor (Jo 17.1-26; Hb 7.25) por quem nossas orações
mui pouco se encontra na Bíblia a seu respeito, po- e louvores sobem a Deus (Hb 13.15; Ap 8.3,4). Tipo
demos aceitar a idéia, ao menos provisoriamente. também dos sacrifícios de culto e louvor dos crentes-
O éfode era a parte das vestimentas sacerdotais sacerdotes (Hb 13-15).
que ia sobre os ombros do sumo sacerdote e nele ha- " A descrição do altar do incenso encerra o assun-
via as duas pedras de ônix, cada uma gravada com to da consagração dos sacerdotes, e outro assunto é
os nomes de seis tribos de Israel. introduzido com as palavras: "Disse mais Jeová a

47
txodc
Moisés' (v. 11). Para encontrar estas palavras ante- em seguida é o bezerro de ouro. " S e fosse preciso al-
riormente, teríamos de voltar ao capitulo 25, visto guma coisa para ensinar-nos a incapacidade da Lei
que todo o assunto referente ao tabernáculo é um só para mudar o coração humano, encontramo-la nesta
discurso continuado. Contudo, essas palavras ocor- história do bezerro de ouro. Depois das notáveis ce-
rem seis vezes dentro dos limites de dois capítulos" nas de glória em volta do monte Sinai, era de pensar
( Grant) que o povo tivesse medo de ultrajar os mandamentos
O lavatório (v. 18) tipo de Cristo purificador de e quebrar o solene concerto de sangue em que entra-
toda a contaminação (Jo 13.2-10; Ef 5.25-27). E sig- ra. Mas tal é 'a carne', e a Lei náo podia efetuar a li-
nificante que o sacerdote não podia entrar no san- bertação do homem, por ser 'fraca pela carne' (Rm
tuário depois de servir ao altar de bronze, até ter la- 8.3). Tal é a lição principal que Deus quer ensinar
vado as mãos e os pés. aos homens por essa dispensação da Lei. Há somente
Este capitulo interroga sobre quem pode chegar- um remédio: 'necessário vos é nascer de novo' (Jo
se a Deus em adoração, e a resposta é: 1) os remidos 3.7)" (Goodman).
(11-16); 2) os purificados (17-21); 3) os ungidos (22- O capítulo contém muitos ensinamentos. As tá-
33). buas da Lei foram arrojadas ao chão por Moisés, no
Notemos com respeito ao óleo santo e ao santo in- momento da sua indignação (v. 19). Segue-se uma
censo, que nem um nem outro podia ser empregado vingança sanguinária e os filhos de Levi são os ins-
vulgarmente: foram reservados para fins sagrados trumentos dela (v. 26). N o dia seguinte, Moisés in-
(32,38). Parece-nos quase um sacrilégio cantar as tercede pelo povo (v. 30-32). Ele confessa a extensão
músicas dos hinos com palavras profanas. do pecado: roga o perdão divino: oferece-se como
substituto do povo pecaminoso (32) e, afinal, torna a
Capitulo 31 aceitar a tarefa de chefiar o povo de Deus nas suas
futuras peregrinações (33.1).
Os artífices da obra do tabernáculo. "Deus agora
chama por nome os obreiros humanos que deviam le- Capítulo 33
var adiante seus planos pelo poder do Espírito. Em
Bezaleel, Judá vem à frente na obra do santuário, de Deus retira a sua presença, mas promete mandar
acordo com o sentido do seu nome ('na sombra de um anjo com o povo (v. 2).
Deu3*) e com a profecia de Jacó (Gn 49.9,10). Dá for- Notamos uma diferença no versículo 7: "Ora
nece seu ajudante na pessoa de Aoiiabe. Mas, além Moisés costumava tomar a tenda & armá-la fora do
disso. Deus pôs sabedoria nos corações de todos os arraial" na V.B., e não: "Moisés tomou a tenda"
homens hábeis (v. 6) e os empregou na construção da como em Almeida, que parece dar a entender que o
sua morada. Isto é fácil de interpretar, mas convém costume se originou nessa ocasião, devido ao pecado
compreendermos mais da sua significação!" do povo. Podemos subentender duas palavras na V.
(Grant). B. "Moisés costumava [deste então] tomara tenda".
O sábado, um sinal. Notemos o ensino explícito Em qualquer caso vemos que a presença de Deus não
que "o sábado é um sinal perpétuo entre mim e os fi- havia de estar desde então no meio do povo, "porque és
lhos de Israel" (v. 17). Foi assim que Deus teve por povo de cerviz dura; para que não te consuma eu no
bem fazer diferença entre Israel e os gentios em re- caminho" (v. 3).
dor. Não há nenhuma escritura que diga ter Deus A Tenda referida aqui não era o tabernáculo, que
concedido aos gentios o privilégio desse dia de des- ainda não tinha sido construído. Era alguma Tenda
canso. provisória consagrada, para onde "todo aquele que
Na roça, às vezes, ouve-se tocar uma cometa na buscava a Jeová saía'' (v. 7).
hora do almoço a fim de reunir os empregados para a Moisés pede uma revelação de Deus. Vemos dois
refeição. Um estranho, passando, pode p e r g u n t a r a pedidos: "Mostra-me os teus caminhos" (v. 13). e
significação da cometa, e ser assim informado: "Isso "Mostra-me a tua glória" (v. 18). O primeiro faz-nos
é um sinal entre o patrão e seus empregados. Náo lembrar o Salmo 103.7: "Manifestou os seus cami-
tem nada com outra gente". nhos a Moisés: os seus feitos aos filhos de Israel". Is-
Se o cristão tem o costume de guardar o domingo, rael podia observar " o quê", mas Moisés queria sa-
isso não pode ser porque aos israelitas foi mandado ber "por quê?"
guardar o sábado, nem ele faz isso "porque em seis Quando Moisés pediu para ver a glória de Deus,
dias fez Jeová o Céu e a Terra, e ao sétimo descansou pediu mais do que podia receber. A glória de Deus. a
e achou refrigério": O cristão provavelmente pensa plena revelação de tudo quanto Ele é, nenhum peca-
mais na ressurreição de Cristo do que propriamente dor pode contemplar sem a obra expiatória que tire o
na criação do mundo. seu pecado. Mas Deus misericordiosamente mos-
Israel chegara ao Sinal pelo fim do capítulo 19, e trou-lhe a sua bondade e a sua misericórdia (v. 19) e
ainda permanece ali até o fim do capítulo 31. Todos Moisés teve de se contentar com isso. Séculos de-
esses capítulos se ocupam com as instruções recebi- pois. Moisés e Elias viram a glória de Deus na face
das por Moisés sobre o monte; e, por suposto, foram resplandecente de Jesus Cristo, e falaram sobre a
escritas por ele ali mesmo , para depois serem incor- morte exoiatória que Ele ia táo logo sofrer (2 Pe
poradas no livro de Êxodo. 1.16,17).
Êxodo 33.20 e 23 ensina-nos que as palavras "ca-
Capitulo 32 ra a cara", no versículo 11, náo são para entender ao
pé da letra. São um bem-conhecido hebraísmo que
O bezerro de ouro. Depois de onze capítulos ocu- não significa mais do que "intimamente". Contudo
pados com ensinos referentes ao tabernáculo e seu compreendemos que Moisés gozava de muito mais
serviço, continua a narrativa histórica, e Moisés está intimidade com Deus do que qualquer dos patriarcas
pronto para descer do monte. O que encontra logo anteriores.

48
txodc
A vida eterna que Cristo dá aos seus discípulos é 3) Contudo, como um concerto de obras, era pro-
caracterizada por um conhecimento íntimo do Pai e visória, e ia passar.
do Filho (Jo 17.2). (Veja-se também Joáo 14.21.) " O Homem nunca podia achar descanso na Lei.
Mas, ao momento, Israel nâo devia* saber isso. Por
isso Moisés cobriu seu rosto para que náo descobris-
Capítulo 34 sem o caráter transitório da Lei. Israel ainda procura
descansar na Lei: seu coração ainda está com véu,
A renovação das tábuas, etc. Neste capítulo os como é o de todo pecador que espera ser justificado
versículos 18 a 20. com seu ensino sobre os primogê- pela Lei. Somente quando os homens se voltam para
nitos, repetem o que já lemos em 13.11 a 13, e o ensi- Cristo é que é removido o véu (2 Co 3.16), e descobre-
no de 21 a 26 repete o que temos em 23.12 a 19. Gran- se o fato de que a Lei tem seu cumprimento em Cris-
de parte do ensino deste capítulo é recapitulada em to; que somente nele há liberdade, e que somente em
Deuteronômio 10. contemplar a glória mais excelente manifestada na
O fermento (v. 25). " O emprego desta palavra é sua pessoa podem ser "transformados na mesma
sempre em sentido mau na Escritura". imagem, de glória em glória, como pelo Senhor, o
1) Havia de ser banido na ocasiáo da Páscoa (Êx Espírito' (2 Co 3.18)" (Goodman).
12.15). Proposta emenda de tradução (v. 13): "os seus
2) Nào podia estar em contato com qualquer sa- bosques de idolatria cortarás".
crifício (Êx 34.25; Lv 2.11; 10.12). Aparentemente há uma contradiçáo entre o
3) Ê parecido com as doutrinas corruptas dos fa- versículo 1, onde Deus diz que Ele vai escrever a Lei
riseus e saduceus (Mt 16.6), e de Herodes (Mc 8.15). sobre as novas tábuas, e o versículo 28 onde lemos
4) Foi mandado à igreja de Corinto "purificar-se que Moisés a escreveu. Todos os outros trechos do
do velho fermento" (1 Co 5.7), porque um pouco de V.T. que falam do assunto dizem que Deus escreveu.
fermento leveda toda a massa (v. 6). Talvez a explicação se encontre em 2 Corintios 3.7
5) Ê usado como um símbolo de "malícia e ini- que fala da Lei como "ministério da morte, escrito e
qüidade" (1 Co 5.8). gravado em pedras". Podemos entender que Deus
Em face de tudo isto, como poderá alguém inter- escrevesse nas segundas pedras, e que Moisés gra-
pretar o fermento em sentido totalmente oposto, vasse as palavras mais tarde.
como se fosse uma coisa boa em si e na sua operação
e seus efeitos?
Capítulos 35 a 39
As supostas exceções são:
"1) Levítico 23.9-20: O 'molho-movido' das primí- Estes capítulos descrevem a construção do taber-
cias era sem fermento. Mas no versículo 17 os 'dois náculo. referindo-se às coisas que já temos conside-
pães para serem movidos' oferecidos 50 dias depois, rado: cortinas, tábuas, arca, mesa, castiçal, altares,
deviam ser feitos com fermento. Esta distinção se fez etc. de maneira que náo precisamos tornar a explicá-
porque o 'molho movido' representava Cristo, prímí- las. Notemos a contribuição (35.4-9) dos materiais; o
cias da ressurreição, sem pecado (1 Co 15.23); en- trabalho (35.10), não somente dos dois artífices prin-
quanto os dois pães representavam os que receberam cipais, mas de todo homem hábil, cooperando as
seus dons 50 dias depois (At 2.1-4). e que tinham pe- mulheres também (35.25). E nós ainda podemos
cado e corrução em si. É por isso que o fermento es- contribuir e trabalhar para a construção do templo
tava nos pães, e não no molho. espiritual de Deus!
"2) Amós 4.4,5. Mas aqui o oferecer um sacrifício Em 38.8 "os espelhos das mulheres" não eram,
de ação de graças com fermento é chamado 'multi- nesse tempo, de vidro, mas de cobre polido.
plicação de transgressões'. Lemos em 39.32: "Assim se acabou toda a obra do
"3) Mateus 13.33. A parábola do fermento escon- tabemáeulo da tenda de encontro", mas ainda falta-
dido em três medidas de farinha. Isto é uma das pa- va a ordem divina para armá-lo. Em todo o caso
rábolas do Reino, e por isso, náo tem nada com a Moisés examinou tudo, aprovou a obra, e abençoou
Igreja" (J. 261). o povo (39.43).
O rosto de Moisés resplandece. "Este incidente é
referido em 2 Corintios 3.7,13: "os filhos de Israel
não podiam fitar os olhos no rosto de Moisés em ra- Capítulo 40
zão da glória do seu rosto, a qual se estava desvane-
cendo... Moisés... punha um véu sobre o seu rosto, Deus manda levantar o tabernáculo, e Ele esco-
para que os filhos de Israel não fixassem os olhos no lhe o dia da inauguração exatamente depois de ter
final daquilo que se desvanecia". Para entender isto completado um ano desde a saída do Egito (v. 17).
devemos ler o versículo 33 deste capítulo como está Tudo está posto no seu devido lugar, e o véu dividin-
na V.B. "Tendo Moisés acabado de falar com eles, do o santo do santíssimo (v. 21).
pôs um véu sobre o rosto", pois é evidente que viram É evidente que o conjunto harmonioso de todo o
seu rosto sem véu (35) e não podiam suportar a gló- tabernáculo dependia de cada tábua, cada cortina
ria, e que Moisés cobriu-o depois, nâo meramente estar no seu devido lugar. E é assim com a Casa de
para aliviar os olhos deles, mas para que náo desco- Deus hoje? Um só crente que não esteja no seu lugar
brissem que a glória passava. As lições espirituais junto com os outros, faz falta, e a casa está defeituo-
que devemos colher deste fato sáo: sa.
1) Que a Lei era gloriosa, isto é, cheia de dignida- Afinal "erigiu o átrio ao redor do tabemáeulo e do
de e majestade. altar, e pendurou o anteparo da porta do átrio"
2) Que os homens náo podiam encará-la. A Lei os (v.33). O átrio separava a Casa de Deus do arraial de
condenava: exigia aquilo que, no seu estado decaído, Israel, como a Igreja de Deus hoje deve estar separa-
nâo podiam fazer. da do mundo em redor.

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txodc

A glória do Senhor encheu o tabernáculo, e sem Êx 21.24 Mt 5.38


isso toda a riqueza de ouro. púrpura e linho fino de Êx 22.28 At 23.5
nada valia. " O Tabernáculo. havendo sido construí- Êx 25.40 At 7.44 e Hb 8.5
do de acordo com o modelo divino, foi enchido da di- Êx 32.6 1 Co 10.7
vina glória, mas somente depois de ter sido espargi- Êx 33.19 Rm 9.15
do com sangue precioso (Nm 19.4), e ungido de azei-
te santo (Lv 3.10). Na Dispensação da Graça, so- Passagens referentes a incidentes e pessoas:
mente na Pessoa de um Salvador crucificado e ungi- Êx 6.6 - Libertação do jugo egípcio (At 13.17).
do, pode Deus habitar entre os homens" (Students Êx 19.12.13 - Israel defronte do Sinai (Hb 12.18
Commentary). 20).
" O que a glória divina era para o Tabernáculo e o Êx 26.33 - Construção do Tabernáculo (Hb
Templo, é o Espírito Santo para o "santo templo" 9.2,3).
que é a Igreja, como também para esse "templo" que Êx 30.10 - O sumo sacerdote no lugar santíssimo
é o corpo do crente (1 Co 6.19) (Scofield). (Hb 9.7).
Êx 34.33 - O véu na face de Moisés (2 Co 3.13).
Lede Atos dos Apóstolos (cap. 7), onde Estêvão
REFERÊNCIAS A O ÊXODO NO NOVO TESTA- se refere muitas vezes a narrações do Êxodo.
MENTO Alusões e paralelos: - 33.14; ao nome divino: "Eu
sou" referem-se João 8.58; Apocalipse 1.4,8, 11.17, e
As citações sáo geralmente feitas com esta fór- 16.5. Comparai também 4.19 com Mateus 2.20; 8.19
mula "Está escrito", e também com outras. Os dev com Lucas 11.20, "o dedo de Deus"; 12.40 com Gála-
mandamentos (Êx 20) são citados em Mateus tas 3.17, "quatrocentos e trinta anos"; 19.5,6 com
5.21,27,33, e J5.4.6 e 19.18; Lucas 13.14 e 23.56; Ro- Ti to 2.14, 1 Pedro 2.5,9, e Apocalipse 1.6, 5.10, 20.6;
manos 2.22, e 7.7; 13.9; Efésios 6.2,3; e Tiago 2.11 24.8 com Mateus 26.28, Hebreus 9.19,20; 31.18 com 2
Vede também as seguintes referências: Corintios 3.3; 32.33, "o livro da vida", com Lucas
Êx 3.6 Mt 22.32 e Mc 12.26 10.20; Filipenses 4.3; Hebreus 12.23, Apocalipse 3.5,
Êx 9.16 Rm 9.17 e 22.19.
Êx 12.46 Jo 19.36 Há também várias concordâncias de palavras,
Êx 16.18 2 Co 8.15 como no caso do Gênesis (Angus).
Êx 21.17 Mt 15.4; Mc 7.10

50
levítico

evítico está em relação ao


Êxodo como as Epístolas,
aos Evangelhos. Êxodo
fala da redenção, e põe a
base da purificação, do 3. Conclusão (cap. 26), referente ao Concerto.
do
culto I d serviço de um povo remido. Levítico dá os 4. Apêndice (cap. 27), referente aoe votos.
detalhes do andar, do culto e do serviço desse povo.
todo Deus fala desde o monte, ao qual era proi-
E m ÉXOÍ M E N S A G E M DE LEVÍTICO
bido^ chegar; em Levítico Ele fala desde o taberná-
culo, onde habita no meio do povo, e diz-lhe o que Para entender Levítico devemos entender o que
convém à sua santidade na aproximação desse povo já temos estudado. Em Gênesis temos um povo esco-
a Ele mesmo, para com Ele ter comunhão. lhido de Deus; em Êxodo, um povo libertado por
A palavra-chave de Levítico é "santidade" que Deus: sua vontade revelada na Lei, e sua presença
ocorre 87 vezes. O versículo-chave é 19.2. no tabernáculo. Em Levítico se nos diz como se pode
Levítico tem nove divisões principais: 1) As ofer- aproximar de Deus e o que Ele requer daqueles que
tas (cap. 1 a 6.7). 2) A lei das ofertas (6.8 a 7.38). 3) estão na sua presença. Em outras palavras, temos
Consagração (8.1 a 9.24). 4) Uma transgressão e um em Gênesis, eleição divina; em Êxodo libertação di-
exemplo (10.1-20). 5) Um Deus santo exige um povo vina, e em Levítico culto divino. As lições ensinadas
santo (caps. 11 a 15). 6) Expiação (cap. 16). 7) A con- aqui são duas, e são propostas com tanta clareza e
duta do povo de Deus (caps. 17 e 22). 8) As festas de ênfase que é impossível perder a sua significação.
Jeová (cap. 23). 9) Instruções eavisos (cape. 24 a 27). São estas:
1. O caminho para Deus é somente pelo sacrifício
A N Á L I S E DE LEVÍTICO (caps. 1 a 10).
2. 0 andar com Deus é somente pela santifica-
1. O Caminho para Deus mediante o sacrifício, um ção (caps. 11 a 27).
privilégio (caps. 1 a 10). O primeiro se refere ao privilégio; o segundo, à
A Obra do Filho por nós - Judicial: O que Ele é e prática. Ao considerar o primeiro, devemos nos lem-
faz. brar de que o povo contemplado não é de pecadores se-
1.1. A lei das ofertas - Oblaçáo (capa. 1 a 7): parados de Deus, como as nações em redor, mas é o
holocausto; manjares; pacifica; pecado; seu povo escolhido. Nâo fala dos sacrifícios da reden-
transgressão. ção. Doraue esta foi efetuada pelo sangue espargido
1.2. A lei do sacerdócio - mediação (caps. 8-10). da Páscoa (Êx 12), mas fala de como pode ser manti-
consagração (cap. 8); inauguração (cap. 9); da a relação com Deus para a qual o povo fora leva-
transgressão (cap. 10). do, e constitui uma maravilhosa revelação do que a
2. O Andar com Deus pela santificação. (Prática) morte de Cristo significa para com Deus, e deve signi-
(caps. 11 a 25). ficar para nós. Ê muito importante compreender is-
A Obra do Espírito em nós! Experimental: o que to. No começo da vida cristã, a única idéia que se
havemos de ser e fazer. costuma ter do Calvário é que ali morreu alguém
2.1. A lei da pureza. Separação (caps. 11-16). para salvar as nossas almas da culpa do pecado e pu-
a. O requerimento (caps. 11-15). riflcar-noa dos nosso® pecados; mais tarde, porém,
b. O fornecimento (cap. 16). na nova vida começamos a compreender os muitos e
Xevftico

diversos aspectos desse sacrifício, simbolizados em Cristo levando toda a culpa do pecador. Ambas têm
Levi tico; e somente quando compreendemos bem o caráter de substituição. Por amor de nós. Cristo, no
essa obra da Graça é que entramos na plenitude da holocausto, supre a falta da nossa devoção, e, nas
bênção do Evangelho. Em 1 João 1.5 a 2.1 temos a ofertas pelo pecado e pela transgressão, sofre por
aplicação deste assunto de Levítico. O grande fato é nossas desobediências.
que o homem pecador pode aproximar-se de Deus, 1) O holocausto. O holocausto simboliza Cristo
mas somente da maneira apontada. Para Israel, oferecendo-se sem mácula a Deus (Hb 9.14) no seu
acesso a Deus era possível somente no lugar que Ele desejo de fazer a vontade do Pai, mesmo até a morte.
escolhera e mediante o mediador que Ele apontara, e Tem valor expiatório, porque o crente nem sempre
bem como pelos sacrifícios e ordenanças que Ele de- tem tido esse prazer de fazer a vontade de Deus; tem
terminara. Nem sacerdote nem levita tinha liberda- valor de substituição (v. 4), porque Cristo morreu
de para inventar qualquer outro método de aproxi- em vez do pecador. Mas o pensamento de castigo náo
mação, ou acrescentar detalhe algum à ordem divina é saliente (SI 40.6-8; Fp 2.8; Hb 9.11-14; 10.5-7). As
(Rm 5.1,2; Ef 2.18). expressões principais ( L v 1.3-5) sáo "holocausto",
A segunda parte do livro trata do "andar" de Is- "da sua própria vontade" (Almeida), "aceitação", e
rael (e do nosso) para com Deus, que é baseado sobre "expiação".
nossa relação com Ele. Relacionamento é sempre a Os animais aceitáveis para sacrifícios são cinco:
primeira coisa, comunhão sempre a segunda; e co- 1) O novilho ou boi, simboliza o Servo paciente (1
munhão pelo andar, isto é. peto proceder: "Se andar- Co 9.9,10; Hb 12.2,3), obediente até a morte (Is
mos... temos comunhão" (1 Jo 1.7). (Ver Gênesis 52.13-15; Fp 2.5-8). A oferta neste caráter é como
5.24; Amós 3.3: Efésios 4.1; 5.2,8,15.) A coisa que há substituto, visto que o ofertante não tem sido obe-
de caracterizar-nos, e sem a qual náo podemos andar diente assim.
com Deus de maneira alguma, é a santidade. Entre 2) A ovelha simboliza Cristo submisso, mesmo
os capitulos 11 e 16 a palavra "limpo", ou seu equi- nessa fase da morte sobre a cruz (Is 53.7; At 8.32-35).
valente, ocorre mai de 160 vezes, mostrando clara- 3 ) A cabra simboliza o pecador (Mt 25.33). e
mente onde deve cair a ênfase. Purificaçáo é tanto a quando empregada em sacrifício, simboliza Cristo
condição como a conseqüência de andar com Deus, e "contado com os transgressores" (Is 53.12; Lc 23.33),
um cuidadoso estudo desta parte do livro mostrará que e "feito pecado" e "maldição" (2 Co 5.21; G1 3.13),
a santidade prática deve caracterizar a nossa vida, como substituto do pecador.
sem omitir coisa alguma. (Consultar 1 Coríntios (4 e 5) Rolas ou pombinhos. Símbolos de tristeza
10.31; Colossenses 3.17; 1 Pedro 4.10,11.) Tudo deve e inocência (Is 38.14, 59.11; Mt 23.37; Hb 7.26), asso-
ser marcado com "Santidade ao Senhor". A base e ciados com a pobreza em Levítico 5.7; falam de
motivo de tudo é "Porque eu sou santo". quem por amor de nós se fez pobre (Lc 9.58) e cujo
Mais uma ou duas observações poderão ser úteis: caminho de pobreza começou com o lagar "a forma
1) O equivalente de Levítíco no N . T . é Hebreus. de Deus" e terminou com o sacrifício pelo qual fomos
Esses livros devem ser lidos conjuntamente. enriquecidos (2 Co 8.9; Fp 2.6-8) (Scofield).
2) O capítulo central de Levítico é o 16, que fala
do grande Dia da Expiaçáo. Capitulo 2
3) Com exceção dos capítulos 8-10 e 24.10-12,
Jeová mesmo dá todas as instruções neste livro. As ofertas de suave cheiro. 2) A oferta de manja-
4) Ü livro é um cumprimento de Êxodo 25.22. res. Na oferta de manjares a flor de farinha fala da
5) O livro é referido ao menos 40 vezes no N . T . igualdade do caráter de Cristo; dessa perfeição em
6) Os assuntos que devem receber especial aten- que nenhuma qualidade era excessiva e nenhuma
ção em Levítico são : as ofertas; o sacerdócio; o gran- ausente; o fogo tipifica sua provação pelo sofrimen-
de Dia de Expiaçáo; e a vida santa (Scroggie). to, mesmo até a morte; o incenso, a fragrãncia da sua
As crianças aprendem melhor por meio de coisas vida perante Deus (Ex 30.34-37), a ausência de fer-
e figuras do que por argumentos e razões. Tenho vis- mento: seu caráter como "a Verdade" (Ex 12.15). a
to uma palmatória pendurada num lugar bem á vis- ausência de mel: nele não havia a mera doçura natu-
ta para fazer lembrar às crianças que a desobediên- ral que pode haver onde não existe a graça de Deus; o
cia resulta em dor. Na infância da raça quis Deus en- azeite misturado: Cristo nascido do Espirito (Mt
sinar o seu povo que o pecado importa, não somente 1.18-23); ungido com azeite: Cristo batizado pelo
em dor, mas em morte, e serviu-se dos sacrifícios Espírito (Jo 1.32; 6.27); o forno: os sofrimentos ocul-
como lições objetivas para esse fim. E ao mesmo tos de Cristo ( M t 27.45,46; Hb 2.18); a frigideira:
tempo, por método idêntico, ensinou em figura ou- seus sofrimentos mais evidentes (Mt 27.27-31); o sal:
tras lições espirituais, como substituição, expiaçáo, o sabor da verdade.de Deus - aquilo que impede a
santidade, etc. Quem desejar compreender isto me- ação do fermento (Scofield).
lhor pode ler " A História de um Sacrifício" no livro
"Palestras com os Meninos".
Levítico trata do ritual da Lei. Quem desejar se- Capitulo 3
guir a história de Israel precisa passar de Êxodo a
Números. As ofertas de suave cheiro. 3) As ofertas pacifi-
cas. " A oferta pacífica fala de paz com Deus consu-
Capítulo 1 mada, do homem reconciliado, e da salvação realiza-
da. Por isso, a oferta, em vez de subir a Deus como o
As ofertas de suave cheiro. As ofertas de suave holocausto, ou ser dada ao sacerdote como a oferta de
cheiro são assim chamadas porque tipificam Cristo manjares, fornece, em figura, uma refeição em que
na sua própria perfeição e na sua dedicação à vonta- Deus. o sacerdote e o ofertante se encontram. Por-
de do Pai. As ofertas sem suave cheiro tipificam que. se temos paz com Deus. isso náo pode ser me-

52
levítico
ramente a paz: Deus na obra da salvação satisfaz o "Mostra-nos o versículo, numa figura, a resposta
seu próprio coração, e atrai o nosso a Ele. Assim a à pergunta - Como pode o sacrifício de Cristo chegar
oferta pacifica é também a oferta de louvores, e, a ser eficaz para mim?
mais do que qualquer outra, a expressão da boa von- Aprendemos:
tade do ofertante, sendo também (junto com o holo- "I. A significação do símbolo
causto e a oferta de manjares) um suave cheiro para " D Importava numa confissão de pecado: de ou-
Deus" (Grant). tro modo nào seria preciso uma oferta.
"Acrescenta-se a isto uma confissão do mereci-
mento de castigo, porque a vitima havia de ser mor-
Capitulo 4 ta.
"Havia o abandono de quaisquer outros meios de
As ofertas sem suave cheiro. 1) Sacrifício pelo pe- remover o pecado. As mãos eram vazias, e postas
cado. O sacrifício pelo pecado, embora simbolize sobre a oferta pelo pecado somente.
Cristo, simboliza-o carregando o pecado no lugar do "Podemos fazer isto com Cristo crucificado, pois
pecador, e não. como nas ofertas de suave cheiro, somente pela Cruz foi o pecado removido.
onde Cristo é visto na sua própria perfeição. E a "2) Importava num consentimento com o plano
morte de Cristo como no Salmo 22; Isaías 53; Ma- de substituição.
teus 26.28; I Pedro 2.25 e 3.18. Mas repare como a "Alguns duvidam da justiça e certeza deste mé-
essencial santidade daquele que foi "feito pecado por todo de salvação; aquele que pofém quer ser salvo
nós" (2 Co 5.21) é resguardada. Os sacrifícios pelo não faz isso, pois vê que Deus mesmo é quem sabe
pecado têm aspecto de expiação e substituição ( L v melhor qual o método correto, e, se Ele aceita o subs-
4.12. 29.35). tituto, nós bem podemos aceitá-lo.
"Fora do arraial" (v. 12). (Compare com Êxodo " A substituição grandemente honra a lei de
29.14; Leviticol6.27; Números 19.3; Hebreus 13.10- Deus, e vindica a sua justiça.
13.) Este último t recho é a chave. O arraial era o ju- " N ã o existe outro plano de salvação que enfrente
daísmo - uma religião de formas e cerimônias. "Je- o problema da expiação do pecado. O sentimento de
sus também, para que santificasse o povo pelo seu culpa náo encontra satisfação de outra maneira.
sangue, sofreu fora da porta" (Hb 13.13). - Mas Mas esta traz descanso à consciência mais sensitiva.
como é que isto santifica um povo? - Santifíca quan- "3) Importava numa aceitação da vítima.
do obedecemos a isto: "Saiamos, portanto, a Ele fora "Jesus é o mais natural substituto, porque Ele é o
do acampamento | fora do judaísmo; fora de um segundo Adão, o segundo cabeça da raça. o homem
cristianismo cerimonial; fora de qualquer meio reli- verdadeiro.
gioso que o nega como o sacrifício pelos nossos peca- " É o único exclusivamente competente para ofe-
dos], levando o seu opróbrio" (v. 13). A oferta pelo recer satisfação, por ter uma perfeita humanidade li-
pecado, queimada fora do arraial, tipifica este aspec- gada com sua divindade.
to da morte de Cristo. A Cruz vem a ser um novo al-
"Somente Ele é aceitável a Deus: bem pode ser
tar, um novo lugar, onde, sem terem o mínimo mere-
também aceitável a nós.
cimento em si. os remidos se reúnem, como crentes-
sacerdotes, para oferecerem sacrifícios espirituais "4) Importava numa transferência do pecado
(Hb 13.15; 1 Pe 2.5). mediante a fé.
"Pela imposição das mãos, o pecado era, em figu-
Os corpos dos animais das ofertas pelos pecados ra, tansferido para a vítima.
não eram queimados fora do arraial (como alguns "Era posto ali. para não estar mais sobre o ofer-
têm pensado), por estarem "impregnados do peca- tante.
do", e impróprios para um arraial santo. Pelo con- "5) Importava numa dependência da vitima.
trário, um arraial impuro era um lugar impróprio "Porventura não há um apoio seguro em Jesus
para um sacrifício santo. O corpo morto do nosso Se- para o coração dependente?
nhor não estava impregnado do pecado, embora nele "Considera a natureza do sofrimento e morte
tivessem sido levados os nossos pecados (1 Pe 2.24) pelo que a expiação foi feita, e descansarás nela.
(Scofield). "Considera a dignidade e valor do sacrifício por
Nas "Notas de Sermões" de C.H. Spurgeon en- quem a morte foi sofrida. A glória da pessoa de Cris-
contramos somente um caso sobre Levítico, mas esse to aumenta o valor da sua expiação (Hb 10.5-10).
é tão bom que merece ser traduzido para o V. T. Ex- "Considera que nehum dos santos agora no Céu
plicado: tem tido qualquer outro sacrifício expiatório. 'Jesus
"Levítico 4.29: 'Porá a mão sobre a cabeça da somente' tem sido a esperança de todos os justifica-
oferta do pecado'. dos. 'Ele ofereceu para sempre um só sacrifício' (Hb
"Aqui temos uma figura da maneira pela qual 10.12).
um sacrifício vem a ser eficaz para o ofertante. Ação "Todos os salvos descansam ali somente, por que
idêntica é prescrita nos versículos 4,15,24,33 e em náo tu, e todos os espiritualmente necessitados?
outros lugares; é por isso importante e instrutiva. "DL A simplicidade do símbolo
" O problema com muitas pessoas é como obter " 1 ) Não havia nenhuns ritos antecedentes. Ali
um interesse em Cristo de maneira que sejam salvas está a vitima, e as mãos postas sobre ela: nada mais.
por Ele. Não podemos investigar um assunto de Não acrescentamos a Cristo nem prefácio nem re-
mais importância. trospecto: Ele é o Alfa e o Omega.
" E certo que isto é absolutamente necessário "2) O ofertante vinha em todo seu pecado. Foi
para todos; mas. infelizmente, tem sido negligencia- para ter seu pecado tirado que o ofertante trouxe o
do por muitos. Em vão morreu Cristo se náo há fé ne- sacrifício: nâo porque ele já o tivesse tirado.
le Ê um assunto que necessita ser atendido imedia- rt3) Não trazia nada na sua mão, de merecimento
tamente. ou preço.

53
(Lcvftfco

"4) Náo tinha nada sobre a mão. Nenhum anel nunca poderá apreciar, ou sustentar a sua alma com
de ouro pra indicar riqueza: nenhum símbolo de po- Cristo, o divino holocausto.
der: nenhuma jóia que denunciasse a sua categoria. N o versículo 18 devemos ler "todo o que tocar ne-
O ofertante vinha como homem, e não como sábio, las precisa ser santo " ( T ) . Os utensílios sagrados não
rico ou honrado. podiam ser usados para serviços comuns.
"5) Ele náo demonstraua nenhuma destreza com
a mão. Encostando a mãos sobre a uitima, ele toma- Capitulo 7
va essa como seu representante; não se valia porém
de quaisquer atos cerimoniais. Continua a lei das ofertas. A oferta pela culpa (1-
"6) Nada se fazia à sua mão. A base da sua con- 10). A lei do sacrifício das ofertas pacificas (v. 11).
fiança era o sacrifício, náo as mãos. Queria ter mãos " N a lei das ofertas, a oferta pacífica é tirada do seu
limpas, mas não confiava nesse asseio para seu per- lugar como o terceiro dos sacrifícios de suave cheiro,
dão. e posta à parte, depois de todas as ofertas de cheiro
"Vem, pois, querido ouvinte, santo ou pecador, e suave. A explicação é tão simples como lindo é o fa-
descansa em Jesus. Ele tira o pecado do mundo. to.
Confia-lhe o teu pecado, e esse será para sempre ti- " A o revelar as ofertas. Deus opera de si mesmo
rado. Estende a mão, e aceita a expiaçáo feita sobre em direção ao pecador (Êx 20.24). Vem primeiro o
a cruz pelo teu Redentor". holocausto, porque trata daquilo que satisfaz às afei-
ções divinas, e a oferta pela culpa por último, porque
Sermões como este são como as janelas de uma trata do mais simples aspecto do pecado: o prejuízo
casa; como as ilustrações de um livro. & pena que que dá. Mas o pecador começa necessariamente com
não temos lugar para muitos deles. aquilo que está mais próximo de uma consciência
novamente despertada - o reconhecimento de que,
Capitulo 5 pelo pecado, está em inimizade contra Deus. Por isso
necessita primeiro de paz com Deus. E isto é precisa-
As ofertas sem suave cheiro. 2) O sacrifício pelos mente a ordem no Evangelho. A primeira palavra de
pecados ocultos. Estes sacrifícios consideram mais o Cristo é 'Paz' (Jo 20.19) e depois Ele lhes mostra as
prejuízo do que a culpa do pecado. mãos e o lado. Em 2 Coríntios 5.18-21 vemos primei-
A oferta do pobre (v. 11). E interessante ver aqui ro 'a palavra de reconciliação' (v. 19), por isso as
o caso de alguém incapaz de trazer uma oferta com- ofertas pelo pecado no versículo 21. Tal experiência
pleta, incluindo o derramamento de sangue, e notar troca a ordem da revelação" (Scofield).
que nesse caso Deus podia aceitar "a décima parte "Bolos de pão levedado" (v.13). Um dos raros ca-
de um efa de flor de farinha". Aqui certamente não sos em que o fermento entrava nos sacrifícios. Sco-
temos o pensamento de Deus sobre o que era neces- field explica assim: " O emprego de fermento aqui é
sário para a expiaçáo do pecado, pois não se encon- significativo. Paz com Deus é alguma coisa que o
tra o sangue que faz a expiaçáo; mas vemos o que crente goza junto com Ele. Cristo é nossa paz (Ef
Deus pode aceitar, na sua misericórdia, quando 2.14). Qualquer agradecimento pela paz precisa, an-
o ofertante náo é capaz de trazer outra coisa. tes de tudo, se referir a Ele. N o versículo 12 temos
E Cristo, já se vé, em quem se confia, embora a uma figura disto, por isso náo há fermento. No versí-
alma possa ser táo profúndamente ignorante que culo 13 é o ofertante que agradece a sua participação
nem compreenda que a morte dele era necessária na paz, e assim o fermento significa que, embora te-
para haver expiaçáo. Deus sabe a necessidade, e nha ele paz com Deus mediante a obra de outro, o
Cristo a tem suprido, até para esses dektodo ignoran- mal ainda existe nele. Isto é ilustrado em Amós 4.5,
tes do preço que Ele pagou por isso. Que bem- onde o mal em Israel está perante Deus."
aventurança! Pois é a Cruz que salva, e não a nossa
inteligência a seu respeito! Contudo devemos nos Vemos em 7.22-27 que Deus proibiu comer a gor-
lembrar de que a ignorância da Cruz e uma oposição dura e o sangue dos sacrifícios. Gordura geralmente
a éla são coisas diferentes, embora seja verdade que é interpretada como a "excelência" da vítima, o su-
Pedro, quando primeiro ouviu dela, se opôs ( M t perlativo, e em Cristo há uma excelência que ne-
16.21-23). Aqui precisamos deixar aquele que conhe- nhum crente pode compreender: é para Deus somen-
ce os corações fazer a distinção (Grane). te. O sangue - a parte da vitima que faz expiação -
satisfaz às exigências santas de Deus, e somente Ele
pode apreciar todo o seu valor.
Capítulo 6
Capítulo 8
O sacrifício petos pecados voluntários. Notemos
neste caso que, além de ser preciso trazer um sacrifí- A consagração dos sacerdotes. Na primeira par-
cio a Deus, era necessário também fazer restituição á te deste üvro (caps. 1 a 10) temos: Expiação (caps. 1 a
pessoa ofendida. Isto é uma coisa muitas vezes igno- 7) e Mediação (8 a 10). Primeiro sacrifício, depois sa-
rada ou esquecida pelos crentes! Deus pode perdoar cerdócio. O sacerdote não é para servir a pecadores,
ao crente arrependido que desobedeceu ao mandado mas a santos, isto é, a gente convertida. Cristo não é
"a ninguém devais coisa alguma ", mas ainda assim sacerdote para o mundo, mas somente para a Igreja
ele precisa pagar a dívida, com juros de 20% (v. 5). (Jo 17.9). Assim vemos que o caminho para Deus é
Nos capitulos de 1 a 6.7 temos as características por expiação e mediação, e que Cristo é o sacrifício e
das diferentes ofertas. Com 6.8 seguem as leis dessas o sacerdote. O melhor comentário sobre Levítico é a
ofertas. A lei de uma oferta se ocupa com a maneira Epístola aos Hebreus (Scroggie).
de a oferecer, e diz se tal oferta pode ser comida pe- Os sacerdotes não se consagraram a si mesmos.
los sacerdotes ou se deve ser totalmente queimada. Tudo foi feito por outro. Neste caso, por Moisés,
Para poder comer dos sacrifícios era preciso ser dos agindo por Deus. Os sacerdotes simplesmente apre-
filhos de Aarão (6.18). Quem não é füho de Deus sentaram seus corpos, de acordo com Romanos 12.1.

54
"Vemos duas importantes diferenças no caso do lhes desta legislação importa forçar 1 Corintios 10.1-
sumo sacerdote, que confirmam a idéia de que ele é o 11 e Hebreus 9.23,24, além de tudo, o que é razoável"
tipo de Cristo, nosso Sumo Sacerdote. (Scofield).
"1) Aarão é ungido (v. 12) antes de matar os sa- "A lebre" (v. 6). No hebraico "arnebeth", um
crifícios, mas no caso dos sacerdotes a aplicação do animal desconhecido, que certamente não é lebre.
sangue precede a unção (v. 24). Cristo, o Imaculado,
náo precisava de nenhuma preparação para poder Capítulos 12-fc 15
receber a unção, símbolo do Espírito Santo.
" 2 ) Somente sobre o sumo sacerdote foi derrama- Várias contaminações. Estes capítulos frisam a
do o azeite (v. 12). 'Não lhe dá Deus o Espírito por necessidade de constantes purificações para que o
medida' (Jo 3.34 Al). 'Portanto Deus, o teu Deus, te povo de Deus seja um povo santo, e em condições de
ungiu com óleo de alegria acima dos teus compa- comparecer perante Ele, "tendo os corações purifica-
nheiros' (Hb 1.9)" (Scofield). dos de uma consciência má, e lavados os corpos com
A unção dos sacerdotes (v. 24). " O sentido deste água pura" (Hb 10.22).
versículo é fácil de entender: santificação pelo san- Descobrimos que sempre pode haver contamina-
gue de Cristo é aqui tipificada: do ouvido, para escu- ção mesmo onde nào haja pecado, e que o pensamen-
tar a Palavra de Deus; da mão para servir; e do pé to de Deus é que o necessário progresso de purifica-
para andar nos seus caminhos. Não podemos fazer ção seja empregado quanto antes, para que a comu-
qualquer serviço aceitável, nem podemos viver uma nhão com Ele e com seu povo sofra a menor interrup-
vida aceitável, até que o sangue da expiação nos te- ção possível.
nha consagrado para isto, como salvos e purificados" Com respeito à lepra, Scofield diz: " A lepra é
(Grant). uma figura do pecado: 1) porque existe primeiro no
Notemos .que a carne do sacrifício neste capítulo sangue - na natureza da pessoa; 2) porque se torna
havia de ser cozida e comida, enquanto a do cordeiro manifesta de diferentes maneiras; 3) porque é incu-
pascal havia de ser assada e não cozida (Êx 12.8,9). rável por tratamento humano. O antítipo na sua
Alguns expositores acham significação nesta diferen- aplicação ao povo de Deus é 'o pecado', que requer o
ça. julgarmo-nos a nós mesmos (1 Co 11.31); e 'os peca-
Capitulo 9 dos', que precisam ser confessados e purificados (1
Jo 1.9)".
Os sacerdotes começam o seu ministério. Esse N o 13.13 "a lepra tornou-se branca (cobertura de
dia foi um dia de vários sacrifícios - holocausto, ofer- uma espécie de caspa): o homem é limpo". Dizem
ta pelo pecado, ofertas pacíficas - , mas o ponto cul- que quando tinha esse aspecto não era mais conta-
minante foi o aparecimento da glória divina, prome- giosa ( T ) .
tido no versículo 4 e consumado no versículo 23. Aqui podemos resumir algumas das observações
Uma prolongada preocupação com Deus e seu servi- de Matthew Henry sobre a lepra:
ço pode muito bem resultar numa compreensão " A lepra era mais uma impureza do que uma
maior da sua glória, como se deu então com o povo doença; ao menos foi assim que a Lei a considerou,
de Israel. por isso ocupou os sacerdotes e não os médicos com
Capítulo 10 ela. De Cristo se diz que Ele purificou leprosos e não
que os curou.
O pecado de Nadabe e A biú. Muitos expositores "Era um açoite infligido diretamente pela mão
concordam em ligar este pecado com o "culto volun- de Deus.e por isso havia de ser tratada de acordo
tário" de Colossenses 2.23. No original a palavra gre- com a lei divina. A lepra de Miriam e Geazi e a do rei
ga é "ethelo-threskeia", e o sentido dado pelo dicio- Uzias foram castigo de pecados e, se era geralmente
nário é culto de acordo com a vontade própria. assim, nào é de estranhar que houvesse tanto cuida-
O certo é que Nadabe e Abiú não agiam de acor- do em distingui-la de uma doença comum, para que
do com nenhum mandado divino: não pediram a di- ninguém fosse considerado como sob esse notável si-
reção divina para o seu serviço; não esperaram o im- nal do desagrado divino, a nâo ser os casos completa-
pulso do Espírito Santo. Pelo visto, estavam meio mente verificados.
embriagados, e, por isso, atrevidamente fizeram um "Era uma praga agora desconhecida. O que hoje
serviço ditado pela sua própria imaginação e não en- se chama lepra é uma coisa bem diferente. Parece
sinado pela Palavra de Deus. ter sido um castigo reservado para os pecadores da-
Mesmo hoje, grande parte do serviço prestado a queles tempos.
Deus segue um estilo ditado pela imaginação e von- "Havia outras lesões do corpo mui semelhantes à
tade humanas, e não obedece à direção do Espírito lepra que podiam afligir o doente, mas náo torná-lo
de Deus Co 12.11); porém é motivado por ignorân- imundo no sentido cerimonial.
cia e náo por embriaguez, por isso Deus o contempla " A discriminação do mal competia aos sacerdo-
com longanimidade. tes. Os leprosos eram considerados como açoitados
Capitulo 11 por Deus, por isso seus servos haviam de examinar
os casos.
Comidas permitidas e proibidas. "Os regulamen- " A lepra é uma figura da contaminação da mente
tos referentes à dieta, impostos sobre os israelitas, humana pelo pecado, que é a lepra da alma contami-
devem ser considerados primeiramente no seu as- nando a consciência, e que somente Cristo pode pu-
pecto sanitário. Israel, é preciso lembrar, era uma rificar.
nação na terra sob o governo teocrático (de Deus). " O sacerdote havia de tomar tempo com seu exa-
Necessariamente, a legislação divina se ocupou com me do caso. Sete dias, e mais sete. Os servos de Deus
a vida social e náo apenas com a vida religiosa do po- não devem ser apressados nas suas censuras, nem
vo. Exigir algum sentido simbólico de todos os deta- condenar nada antes do tempo."
Xevfóo

Lepra numa casa (14.34) ou num vestido (14.55) Capítulo 17


sâo casos problemáticos que hoje são (talvez) desco-
nhecidos. A matança dos animais. Em qualquer ocasião
que ee matasse o boi, a ovelha, ou a cabra, era pieci-
Com respeito ao "fluxo da sua carne" (15.2),
so reconhecer a necessidade de expiação antes de co-
Matthew Henry presume que se refere às doenças
mer o animal, assim Deus ordenou que cada refeição
que resultam da imoralidade, e supõe que " é efeito e
fosse em comunhão com o altar: uma festa sobre um
conseqüência da impureza e de uma vida dissoluta,
sacrifício.
enchendo os ossos do homem com os pecados da sua
mocidade". Contudo, não é muito certo que esse seja Proposta emenda de tradução (v. 14): "Porque,
o sentido. enquanto à vida de toda carne, o sangue dela é unido
com a vida dela".
"Alguns têm descoberto nos regulamentos deste
capitulo, concernente a um caso de lepra, elabora- A primeira vista parece que esta proibição de
das provisões para o exercício da disciplina na igreja matar animais a nào ser à porta do tabernáculo se
local. Disso tem resultado bastante orgulho espiri- referisse a toda classe de matanças. Contudo alguns
tual, e crueldade. As instruções explícitas do N . T . comentadores entendem que se refere apenas aos
são para nós a única e suficiente regra de discipli- animais oferecidos em sacrifício.
na". O ensino aqui limita a matança de sacrifícios,
que outrora eram oferecidos nos campos (v. 5), com
Capitulo 16 certas conseqüências de desordem e idolatria, então
veio o lugar determinado por Deus. E esta lei tinha a
Ritual da expiação anual. Este dia de expiação é sua aplicação aos estrangeiros residentes em Israel
referido também no capitulo 23.26-32. <v. 8).
Vemos que Aarão precisa primeiro oferecer sa- "Nenhum de vós comerá sangue" (v. 12). Uma
crifício por si mesmo (v. 11) - um novilho. Depois ele proibição repetida várias vezes (3.17 e 7.26) e pri-
mata um dos bodes que é o sacrifício pelo povo (v. meiro encontrada em Gênesis 9.4. Este parece ser o
15). Os dois bodes ele já os tinha reservado (v. 7) e único preceito do cerimonial judaico que passou
deitado sortes sobre eles para ver qual devia ser sa- para o cristianismo (At 15.29). Notemos que a pena
crificado e qual devia ser o "bode emissário" (v. 8 - pela transgressão era severa (v. 10). O motivo da
Almeida). p r o i ^ á o é. "Porque é o sangue que faz expiação"
Não há motivo suficiente para aceitar a tradução
da V.B. que dá "para Azazel" em vez de bode emis- E o íonpuc derramado da caça sobre o chão, ha-
sário. U ponto é discutido amplamente por F. W. via de ser coberto com terra (v. 13).
Grant. que escreve: "Para o povo há dois bodes, e
aqui também há diversidade, pois servem fins dis-
Capítulo 18
tintos. isto é dado detalhadamente, e carece de algu-
ma explicação.
Casamentos ilícitos, l .niões de parentes, permiti-
"Lançam-se sortes sobre os dois bodes para de-
das no começo da raça humana, são proibidas aqui, e
terminar seu destino. Um é 'para Jeová', o outro 'pa-
a proibição deve ser respeitada ainda hoje. Abun-
ra bode emissário . Neste último caso a Versão Revi-
dam exemplos de males físicos e mentais que resul-
sada, com muitas outras autoridades, põe 'para Aza
tam de tais casamentos ilícitos.
zel', com alternativa na margem 'para mandar em-
bora', que vem a ser quase a mesma coisa como a O versículo 24 lança uma luz funesta sobre o mo-
tradução antiga. Azazel é meramente uma adapta- tivo da destruição das nações de Canaã por manda-
ção da palavra hebraica, cujo sentido e emprego têm do divino. As abominações da imoralidade das na-
sido tão dÍKmt.idna que alguns consideram o caso um ções pagãs tinham chegado a um tal extremo que,
enigma insolúvel. Mas é certo que as duas primeiras afinal, "a medida da iniqüidade dos amorreus estava
letras da palavra significam 'bode', e que é um bode cheia " (Gn 15.16). Por isso Deus advertiu o seu povo:
sobre o qual cai a sorte. O restante da palavra signi- "Não fareis segundo as obras da terra de Canaã" (v.
fica 'ir embora' ou 'partir', e isso é exatamente o que 3). As abominações referidas nos versículos 19 a 30
faz o bode: por que então haver qualquer dúvida não são de todo desconhecidas entre os povos civili-
sobre o sentido?" zados de hoje.
Kiel argumenta, porém, que "as palavras 'uma
sorte para Jeová e uma para Azazel' requerem posi- Capítulo 19
tivamente que Azazel seja tomado no sentido de um
ser oposto a Jeová", mas isto é apenas a afirmação Diversas leis. Embora todas estas leis tenham
dele: ninguém que não tivesse um preconceito havia sido dadas a Israel, elas têm muita instrução para
de perceber tal necessidade. Contudo, uma longa lis- nós. O versículo 16 precisa sempre ser atendido. O
ta de comentadores, judeus e cristãos, declaram ser versículo 19 pode ter uma aplicação maior ou menor
Azarei um nome para Satanas. Com isto Kiel con- hoje, segundo a inteligência espiritual de cada cren-
corda, e também que o bode é enviado a Satanás; a te. É interessante que a proibição do versículo 26
causa não pode esclarecer, pela simples razão de que passou para o cristianismo (At 15.29). Bem poucos
a Escritura nada diz a esse respeito. A verdade é que homens crentes de hoje observam a proibição do
os dois bodes são uma só oferta pelo pecado (v.5) e, versículo 27. Os marinheiros freqüentemente deso-
evidentemente, uma dupla representação de Cristo, bedecem o versículo 28, e. não sendo israelitas, a sua
e o ponto principal é que os pecados pelos quais o consciência não os acusa. Pelo mesmo motivo nào
primeiro morre são levados embora pelo segundo. guardamos o sábado (v. 30). Notemos que o espiritis-
Tudo isto é bastante simples, e não precisa de idéias mo é positivamente proibido.
esquisitas, que somente obscurecem o sentido. As- Proposta emenda de tradução (v. 17): "teu próxi-
sim o bode não é de modo algum enviado a Satanás. mo, e por causa dele não levarás pecado".

56
tevftko

"Não cortarús o cabelo em redondo, nem destrui- ficado por nós, não na infância quando Herodes quis
rás o canto da barba " (v. 27). Matteu- Henry entende matá-lo, mas como homem feito".
que esta, e outras proibições deste capítulo, tém re- 3) Nenhuma vaca com a cria podia ser sacrifica-
ferência aos costumes dos pagãos em redor: "Esses da no mesmo dia (v. 28). Em Deuteronômio 22.6 há
que adoravam os astros, para honrá-los. cortavam uma lei semelhnte com respeito aos pássaros.
seu cabelo para que as cabeças fossem semelhantes 4) A carne do sacrifício havia de ser comida no
ao globo; mas o costume não somente era tolo em si, mesmo dia (29,30). Isto é uma repetição de 7.15 e
mas sendo feito com referência aos deuses falsos, era 19.6,7.
idolátrico".
Não era permitido fazer incisões na carne pelos Capitulo 23
mortos (v. 28) por ser esse também mais um costume
pagão. "Profanar a filha, fazendo-a prostituta" (v. A lei das festas anuais. Os primeiros três versícu-
29). tinha a mesma referência aos-costumes do paga- los não se referem às festas, mas separam os sábados
nismo. Ainda hoje a prostituição faz parte da reli- das festas. Havia sete principais festas religiosas
gião em algumas partes da índia. para serem observadas cada ano:
1) A Páscoa ( w . 4,5). Esta festa é comemorativa,
Capítulo 20 e recorda a redenção, de que toda a bênção depende.
Em figura significa "Cristo, nossa páscoa, sacrifica-
Várias proibições. Notemos a expressão "povo da do por nós" (1 Co 5.7).
terra" neste capítulo, pela única vez em Levítico, 2) A Festa dos Pães Asmos ( w . 6-8). Esta festa
salvo em 4.27. Em Esdras e Neemias a mesma ex- simboliza comunhão com Cristo, o pão sem fermen-
pressão refere-se evidentemente aos cananitas, mas to, na plena bem-aventurança da sua redenção, e
em Ageu 2.4 parece referir-se a Israel. ensina um andar santo. A ordem divina aqui é linda:
A proibição de "dar seus filhos a Moleque", está primeiro, redenção, depois um viver santo. (Veja-se
também em 18.21. Parece ter havido um costume 1 Corintios 5.6-8; 2 Corintios 7.1; Gálatas 5.7-9.)
antigo de oferecer crianças em holocausto a Molo- 3) A Festa das Primícias ( w . 10-14). Esta festa é
que, ou de as "passar pelo fogo " como símbolo de tal um símbolo da ressurreição, primeiro de Cristo, de-
holocausto. Creio que o romanismo no Brasil tem um pois dos que são de Cristo, na sua vindatl Corintios
costume semelhante na noite de S. João. que bem 15.23; 1 Tessalonicenses 4.13-18.
podia ter a sua origem nesse rito pagáo. Deus repro-
vou rigorosamente tal prática (v. 5). 4) Pentecoste, a nova oferta de cereais ( w .
15-22). Desta feita o antitipo é a descida do Espirito
Neste capítulo o espiritismo é proibido outra vez Santo para formar a Igreja. Por isso o fermento está
(v. 6) e a santidade é requerida. Pecados sexuais são presente (v. 17), porque existe o mal dentro da Igreja
reprovados, e casamentos com parentes. ( M t 13.33; At 5.1-10; 15.1). Notemos que agora fala-
Nos últimos versículos a separação do povo de se de pães e não de um molho de espigas soltas. Im-
Deus é insistida, e notamos as palavras "eu vos sepa- porta uma verdadeira união das partículas, forman-
rei dos povos para serdes meus". do um corpo homogêneo. A descida do Espírito San-
to no Pentecoste uniu os discípulos em um só orga-
Capítulos 21 e 22 nismo (1 Co 10.16,17; 12.13,20). Os "pães movidos"
eram oferecidos cinqüenta dias depois de oferecer o
Os sacerdotes. As cinco divisões destes capítulos "molho da oferta movida"(v. 15). Isto é precisamen-
vão marcadas, como nos outros capítulos, pelas pa- te o período entre a ressurreição de Cristo e a forma-
lavras "Disse Jeouá a Moisés". ção da Igreja no Pentecoste pelo batismo com o Espí-
Notamos que o sacerdote com defeito não podia rito Santo (At 2.1-4, 1 Co 12.12,13). Com o molho
exercer seu ministério (21.16-24), embora pudesse não havia fermento, porque em Cristo não existe o
comer do pão do seu Deus (v. 22). Hoje todos os cren- mal.
tes são chamados para serem sacerdotes (Ap 1.6), e
devem oferecer os sacrifícios de louvor (Hb 13.15) e 5> A Festa das Trvmbetas ( w . 23-25). Esta festa
alimentarem as suas almas do pão do Céu, que é tem um valor profético e se refere à futura restaura-
Cristo. ção de Israel. Passa-sé um longo período entre Pen-
otecoste e Trombe Las. correspondendo ao longo perío-
No fim do capítulo 22 há quatro leis concernentes
do ocupado no trabalho penteoostal do Espírito Santo
aos sacrifícios:
na atual dispensação. Consulte-se Isaías 18.3;
1) Não deviam oferecer a Deus um animal com 27.13; 58 (todo o capítulo) e Joel 2.1 a 3.21 com rela-
defeito. Vemos em Malaquias 1.8, 13,14 como Deus ção à festa das trombetas e verificar-se-á que estas
reprovou o povo decadente que lhe ofereceu sacrifí- trombetas, sempre relacionadas com um testemu-
cios defeituosos. nho, referem-se ao ajuntamento e arrependimento
Ê verdade que em nossos sacrifícios de louvor, há de Israel depois de terminar o período pentecostal,
às vezes, muitos defeitos, e o louvor cantado pode ter que é o da Igreja. Esta festa é seguida imediatamen-
defeitos de harmonia, mas o maior defeito de todos te pelo Dia da Expiação.
seria a falta de sinceridade ou uma vaidade, como
quando o crente canta os louvores a Deus em voz 6) O Dia da Expiação (26-32). O dia é o mesmo
muito alta, para chamar atenção para si. descrito em levítico 16, mas aqui a ênfase está sobre
Quem põe na coleta da igreja uma nota rasgada a tristeza e arrependimento de Israel. Em outras pa-
ou suja pode pensar que ofereceu a Deus um sacrifí- lavras, seu valor profético é saliente, e isso antecipa
cio com defeito. o arrependimento de Israel, depois do seu reajunta-
2) Nenhum animal podia ser oferecido em sacrifí- mento sob o concerto palestiniano (Dt 30.1-10), logo
cio antes de ter oito dias de idade (27), nem podia ser antes do segundo advento do Messias e do estabele-
assim comido. Diz Matthew Henry: "Cristo foi sacri- cimento do Reino.

57
(Levítico

7) A Festa dos Tabemáculos (w.33-44) é (seme- cia da história de Israel, e inclui um período não me-
lhantemente à Ceia do Senhor para a Igreja) tanto nor de 3.500 anos.
memorial como profética - memorial da redenção do (Este capítulo deve ser estudado junto com Deu-
Egito (v. 43): profética Ho descanso milenial de Is teronômio 28.29 e 3U.)
rael depois da sua restauração, quando a festa virá a O versículo parece terminar o livro, por isso al-
ser outra vez um memorial, não somente para Israel guns pensam que o capítulo 27 devia vir antes do 26.
mas para todas as nações (Zc 14.16-21) (Scofield). Outros, que o 27 foi escrito mais tarde.
Capitulo 24 Capítulo 27
Os pães da proposição (vv. 5-9). Notamos que Pessoas e coisas dedicadas. Expositores eruditos
este pão consagrado era para ser comido somente pe- têm achado ensinos profundos neste capítulo - espe-
los sacerdotes (v. 9), mas que em certa ocasião Davi cialmente F.W. Grant - mas não podemos nos demo-
e seus companheiros o comeram (1 Sm 21.6; M t rar numa larga exposição das possíveis interpreta-
12.4), o que nos ensina que, em momentos de neces- ções dele. Uma coisa podemos notar: que cada pes-
sidade maior, o ritual pode ficar suspenso para que "o soa e cada animal e cada campo tem valor aos olhos
ungido de Deus" seja alimentado. de Deus. Cada um tem seu préstimo. Qual é o présti-
rno de cada um de nós no serviço de Deus? Se pensa-
Capítulo 25 mos que valemos apenas "cinco ciclos" quando Deus
nos avalia em cinqüenta, é provável que havemos de
O descanso da terra, e o jubileu. "Este sistema de prestar pouco serviço de valor na sua obra.
sabatismos está cheio de instrução. Significa que N o versículo 30 temos uma declaração bem posi-
todo o tempo pertence a Deus. E a lei do ano sabáti- tiva sobre o dízimo: "Todos os dízimos da terra...
co ensina também que a terra lhe pertence. Durante pertencem a Jeová; santos são a Jeová". Ê uma afir-
esse ano, a terra não era lavrada, o fruto era livre, e a mação que merece ser ponderada, e se os ensinos do
confiança do povo em Deus era provada. Aprende- Velho Testamento foram escritos para nossa instru-
mos de Deuteronômio 31.10-13 que este ano era em- ção (1 Co 10.11), podemos indagar o que devemos
pregado para dar instrução religiosa. Durante os 490 aprender disso.
anos da monarquia esta lei não foi observada, como
devia ter sido 70 vezes. Por isso foram dados ao povo R E F E R Ê N C I A S AO L E V Í T I C O N O N O V O TES-
70 anos de cativeiro (Lv 26.34,35). O ano do Jubileu
(8-55) era um período importante em Israel. Sete ve- TAMENTO
zes sete a noa consumavam todas as estações aponta- A frase característica deste livro é: "santo, por-
das, e traziam alivio e liberdade ao povo. Era 'o ano que Eu [Jeová 1 sou santo" (11.44,45; 19.2; 20.7,26),
aceitável do Senhor' e era uma figura da dispensação repete-se em 1 Pedro 1.16 com a fórmula "Está escri-
do Evangelho. Então, era liberdade da escravatura; to".
agora, liberdade do pecado. Então, perdão de dívi-
das; agora, perdão de pecados. Seguia-se imediata- Também aqui se acha o grande mandamento, em
mente o Dia da Expiação (v. 9) porque o jubileu da 19.18; "Amarás a teu próximo como a ti mesmo", o
alma agora e na eternidade é o resultado da Cruz. qual é citado em Mateus 19.19. e 22.39; Marcos
Todas as estações e cerimônias de Israel têm seu pa- 12.31; Lucas 10.27; Romanos 13.9; Gálatas 5.14, e
ralelo agora em Cristo, que é a consumação de todas Tiago 2.8.
elas (Cl 2.16,17)" (Scroggie). Alusões especiais a sacrifício: a um par de rolas
por motivo de purificação (12.6,8) em Lucas 2.22,24;
ao novilho e ao bode para expiação do pecado
Capítulo 26 (16.18,27) em Hebreus 9.12,13 e 10.4 e 13.11-13; a sa-
crifício de louvor ou de ação de graças (7.12) em
Favor para os fiéis. Este capitulo é maiormente Hebreus 13.15.
profético. Pode ser dividido em cinco partes: intro- Em Levítico 26.11,12 está a grande promessa que
dução (1,2); obediência e bênção (3-13); desobediên- Deus fez aos israelitas de que havia de pôr o seu ta-
cia e castigo (14-39); arrependimento e restauração bernáculo no meio deles. (Comp. Ez 37.27; Jo 1.14; 2
(40-45): e conclusão (46). E a primeira grande profe- Co 6.18; Ap 7.15 e 21.3.)

58
úmeros
y

ste livro deriva sem nome 3. Recuo. Interrupção da viagem (caps. 15 a 19).
do fato de recordar a enu- 3.1. Legislação para o futuro (cap. 15).
meração de Israel. Histo- 3.2. Vindicaçào do sacerdócio (caps. 16 a 18).
ricamente falando, Nú- 3.3. Purificação dos contaminados (cap. 19).
meros continua a história 4. Volta. Continuação da viagem (cape. 20 a 36).
Eodo a deixou, e vem a ser o livro das peregri- 4.1. Renovado progresso do pais (caps. 20 a 21).
deserto de um povo remido, que nào con- 4.2. Ampla perspectiva para o pais (caps. 22 a
entrar na terra por Cades-Barnéia. 25).
Tipicamente, é o livro de serviço e caminhada, e, 4.3. Ricas promessas à nação (caps. 26 a 36).
assim, completa, com os livros precedentes, uma lin-
da ordem moral: Gênesis, o livro da Criação e Que- M E N S A G E M DE NÜMEROS
da; Êxodo, o da Redenção; Levítico, o de Culto e Co-
munhão; Números, o daquilo que deve seguir - Ser- Visto que a análise do livro é bem ampla, resta
viço e Conduta. apenas frisar seu grande aviso, que vem a ser a men-
Ê importante ver que não se deixa nada à vonta- sagem principal - a história da triste rebelião de Is-
de própria. Cada servo foi contado, compreendia seu rael nos capítulos 13.1 a 14.45.
lugar na família, e tinha seu serviço definido. O caso Entendamos os fatos. Um mês depois da constru-
paralelo no N . T . é 1 Corintios 12. ção do tabernáculo, a Coluna guiou Israel para avan-
A segunda liçáo típica é que, provado pelas cir- çar, e avançou mesmo até Cades-Barnéia. Então
cunstâncias do deserto, Israel fracassou inteiramen- chegou a crise. Doze espias foram enviados a ver a
te. Ji.i "wtjnjfrãTTrLiijn terra, e voltaram com seu relatório: dez deles desani-
maram o povo e dois encorajaram-no.
Números tem cinco divisões: 1. A ordem do povo Então rebelou-se o povo de Israel, e olhou para
(1.1 a 10.10). 2. De Sinai a Cades-Barnéia (10.11 a trás, para o Egito, e até quis eleger um capitão e
12.16). 3. Israel em Cades-Barnéia (13.1 a 19.22). 4. voltar. Quando Josué e Calebe protestaram, o povo
As peregrinações no deserto (20.1 a 33.49). 5. Instru- quis apedrejá-los. Isto foi o GRANDE PECADO de
ções finais (33.50 a 36.13) (Scofield). Israel, e trouxe seu terrível castigo. Por isso o Senhor
lhe disse: "Dos homens que, tendo visto a minha gló-
A N Á L I S E DE N Ü M E R O S ria e os prodígios que fiz no Egito e no deserto, e toda-
via me puseram à prova já dez vezes, e náo obedece-
lAparelhamento. Preparação para a viagem (cape. ram à minha voz, nenhum deles verá a terra que com
1 a 9.14). juramento prometi a seus pais, sim, nenhum daque-
1.1. O peregrino como guerreiro (caps. 1 e 2). les que me desprezaram a verá. Tornai-vos amanhã
1.2. O peregrino como obreiro (caps. 3 e 4). e caminhai para o deserto em direção ao mar Verme-
1.3. O peregrino como adorador (caps. 5 a 9.14). lho" (14.22,23,25).
2. Avanço. Desafeiçáo na viagem (caps. 9.15 a 14). Desse ponto voltaram de Cades para o deserto,
2.1. Direção divina no caminho (cape. 9.15 a 10). vaguearam ali 38 anos, fora do círculo da vontade di-
2.2. Descontentamento pecaminoso com o forne- vina, e então morreram (cap. 26.64,65). Ora, é vital
cimento (caps. 11 e 12). distinguir entre as duas viagens: uma dentro da von-
2.3. Descrença fatal das promessas (caps. 13 e tade divina, e outra fora dela. Esta última o Salmis-
14). ta chama a "tentação no deserto" (SI 95.8-11). O po-

.59
vo podia ter, e devia ter, subido à Terra Prometida dire- para dentro, isto é, para Deus: é esta a distinção em
tamente de Cades, mas não quis. Este ato de Israel todos os tempos entre ministério (aos homens) e ser-
aqui era totalmente diferente de qualquer outro ato viço sacerdotal (a Deus). Devemos lembrar que no
na história do Êxodo. Não era uma mera murmura, cristianismo o povo de Deus tem os dois serviços, e
çao pelas asperezas do caminho ou o desagrado da náo apenas alguns do povo, mas todos. 'Vós sois um
comida: era um ato de deliberada rebelião, um ato sacerdócio santo' - é o que se diz de todos os crentes.
de apostasia nacional Em Cades Israel deliberada- Aqui temos a atitude sacerdotal: o rosto para Deus,
mente recusou consentir com os propósitos de Deus. embora os sacrifícios agora não tenham um caráter
Aqui a viagem terminou e a vagueação começou, e expiatório, havendo Cristo se oferecido uma vez para
todos esses anos foram um período de castigo. Quase sempre.
nenhuma recordação resta desse período, mas sem "Por outro lado, o serviço levítico é de Deus e por
dúvida foi uma temporada bem triste. Uma geração Deus, para com os homens; e isto inclui o ministério
inteira marcava passo ã espera da morte. A história da palavra hoje, e de diversas maneiras: não somen-
dos anos é resumida numa lista de lugares, a maior te a pregação pública, pois, por exemplo, quando a
parte deles inteiramente desconhecida hoje. onde o mulher 'sem palavra* ganha o seu marido descrente
acampamento parou por algum tempo. (1 Pe 3.1), mesmo assim é mediante a palavra mani-
festada nos seus efeitos no caráter da mulher, e ela,
Quantas vezes consideramos a murmuração nesse ato, é mais verdadeiramente ministra da pala-
como um pecado pequeno, e somente quando tenta- vra do que alguns pregadores verbosos. Todos os
mos nos corrigir é que descobrimos quanto ela nos crentes são, assim, ministros: embora o sacerdócio já
tem prejudicado, e quão facilmente caímos nova- não seja uma classe especial (mas todos os crentes
mente nela. Notemos a descida de Israel, em Núme- são sacerdotes), assim tampouco é o ministério uma
ros, do descontentamento á concupiscência, despre- classe especial, embora haja diferentes tipos de mi-
zando o Senhor, falando contra seus servos, provo- nistério. Nem tampouco há entre os santos de Deus
cando, desconfiando, tentando a Deus: rebelião, pre- uma classe especial, mais santa pelo seu oficio do
sunção, desânimo. Combatendo a Deus e falando que as outras. Todos são santos, embora seja um lei-
contra Ele, e, afinal, aberta imoralidade e idolatria. go e outro clérigo" (Grant).
Estejamos avisados!
Ser salvo da murmuração é um passo para a per-
feição. (Veja-se Filipenses 2.14.) Se isto parece nega- Capitulo 4
tivo demais, olhemos para 1 Tessalonicenses, para
ver o lado positivo. "Em tudo dai graças" [em tudo Serviços dos filhos de Levi. Três eram os filhos de
- mesmo nas vossas circunstâncias especialmente Levi (3.17): Gérson, Coate e Merari. Esses tinham
penosas, com vrm*fl8 tentações especiais, com vuo- serviços especificados referentes ao tabernáculo, nas
sos fracos nervos e deprimento de espírito - em tudo suas viagens. Coate com os vasos sagrados (v. 15);
dai graças, e ao brado da fé, ao cântico de louvor, o Gérson com as cortinas (w.24,25), e M ara ri com as
inimigo fugirá e a vitória será vossa ] (Scroggie). tábuas e colunas (31,32).
As divisões do capitulo sáo:
Capitulos 1 e 2 O serviço dos Coatitas (1-15).
O ofício de Eleazar, filho de Aaráo (16-20).
A ordem das tribos. Notemos, referente ás comu- O serviço dos Gersonitas (21-28).
nicações que se seguem: a localidade - "no deserto de O serviço dos Meraritas (29-45).
Sinai'; o ponto - "na tenda de encontro"; a ocasião - O número dos levitas (46-49).
"no primeiro dia do segundo mês. no segundo ano" Aprendemos deste capítulo a distribuição do ser-
depois de ter saído do Egito; o sentido - "Tirai a viço da Casa de Deus, como também em Efésios
soma de toda a congregação". Um recenseamento 4.11,12, e não a sua concentração nas mãos de um só
geral de todo o Israel. ministro.
Notemos em 2.33: "os levitas, porém, não foram Proposta emenda de tradução (v. 20): "não en-
contados entre us filhos de Israel" e o número de 12 trarão para ver, nem por um momento, quando
tribos é completado por incluir na lista os dois filhos cobrirem " (R. 42).
de José (1.32-35).
Vemos que foram numerados somente homens
crescidos, de vinte anos para cima, homens compe- Capitulo 5
tentes para a peleja (1.3). Na Igreja de hoje quantos
são homens feitos, e quantos meninos? (Ef 4.14). A purificação do arraial. Depois de promover a
Vemos que os guerreiros numerados foram boa ordem no arraial, Jeová fala a respeito da sua
603.550, aos quais devemos acrescentar outro tanto purificação.
de homens velhos e meninos, fazendo 1.207.100, e N o leproso e no que padece do fluxo achamos, em
outro tanto de mulheres, perfazendo um total de diferentes graus, as manifestações da carne ( v . l ) . A
2.414.200 almas (Christian's Armoury p. 250). contaminação da vida natural pelo pecado facilmen-
te se percebe nestes símbolos que são, de fato. pena-
Capítulo 3 lidades do pecado. Disso não poderia haver nenhu-
ma libertação, nenhum auxílio, se nfio pudessemos
O serviço do tabernáculo. "Números é o livro dos receber uma nova vida, de origem divina, e por isso
levitas, como Levítico é o dos sacerdotes. Estes per- sem mácula.
tencem ao santuário quando estabelecido, e têm seu Contaminação por contato com os mortos é ca-
serviço nele como intercessores e adoradores; aqueles racterística do livro de Números: encontramo-la ou-
cuidam dele exteriormente, e o atendem nas suas tra vez na lei dos nazireus, na Páscoa adiada (9.6-
viagens. Os levitas olham para fora, e os sacerdotes 11), e, principalmente, na lei da novilha vermelha.

60
O contato que contamina, já se vê. tem uma in- to, é um erro. Como salvaguarda, é ineficiente, pois
terpretação espiritual. É esse apego ao mundo que o somente o poder de Deus pode guardar o coração, e,
apóstolo lamenta até nos que professam o cristianis- em nosso serviço devemos estar livres para fazer ou
mo, e que, no seu pleno desenvolvimento, toma-os aer tudo quanto noseo Senhor deseja" (Goodman).
tais "cujo deus é o ventre, e a sua glória assenta no
que é vergonhoso, e só cuidam de coisas terrenas" Capitulo 7
(Fp 3.19). Estes ele chama inimigos da cruz de Cris-
to, porque é por ela (a cruz) que somos crucificados As ofertas dos príncipes. Este é um dos capítulos
para o mundo e o mundo para nós (G1 6.14) -(Grant). mais compridos da Bíblia. Podia ter sido muito resu-
A segunda coisa na purificação do arraial é a res- mido, visto que cada um dos príncipes ofereceu as
tituição (v.7) com mais'2<yf. Deus não está satisfeito mesmas coisas; cada oferta, porém, é relatada sepa-
por ser o prejuízo apenas desfeito; precisa haver uma radamente, como se Deus apreciasse a devoção indi-
compensação para quem sofreu o prejuízo, e nisso vidual do seu povo, e não somente seu serviço coleti-
Deus também é glorificado. Isto simboliza o lado po- vo.
sitivo da vitória no conflito com o mal, e para isto a A ocasião das dádivas era a dedicação do altar (v.
cruz de Cristo é necessária, como se vê no sacrifício 10), uma figura da cruz de Cristo. Séculos depois,
apontado. quando os israelitas voltaram do Cativeiro, a primei-
O terceiro caso (vv. 11-31) não trata de um peca- ra coisa que fizeram foi levantar um altar (Ed 3). A
do provado, mas de uma suspeita de pecado. verdadeira religião começa com o Calvário.
O simbolismo da oferta de "farinha de cevada" Mattheu Henry tem alguns pensamentos inte-
(nào de trigo) tem sido estudado pelos expositores ressantes com respeito às ofertas dos príncipes. Re-
entendidos. F. W. Grant diz: " A farinha de cevada, sumimos o que ele diz:
mais grossa e ordinária do que a de trigo, bem podia No que diz respeito às ofertas dos príncipes, ob-
servir para simbolizar uma vida que, aos olhos de servemos:
Deus. não podia ser de grande valor, embora nào cor- 1) Quando foi. Somente depois de o tabemáculo
rupta como a acusação alegava. Esta, oferecida pela ser levantado (v. 1). Quando tudo ficara pronto com
mão da mulher, podia fazer seu apelo a Deus. A respeito ao tabemáculo e ao acampamento, então
omissão de azeite ou incenso havia de falar de al- começaram com as suas contribuições. Provavel-
guém que chegava com o coração triste, e não no ale- mente no oitavo dia do segundo mês. Notemos que
gre espírito de louvor". os atos necessários devem ser praticados primeiro, e
depois seguem se os ofertas voluntárias.
2) Quem ofereceu: os príncipes de Israel, cabeças
Capitulo 6 das casas dos pais (v. 2). Notemos que os que têm
maior poder ou dignidade devem ir adiante e dar o
A lei do nazireado. O nazireu era uma pessoa se- exemplo aos outros. De quem mais tem. mais se es-
parada inteiramente para Deus. A abstenção de vi- pera.
nho expressava uma dedicação que achava todo o 3) Que ofereceram. Seis carros cobertos, e doze
seu gozo no Senhor (SI 87.7; Fp 3.1-3; 4.4,10). O ca- bois, e estes carros não foram recusados, embora ne-
belo comprido, naturalmente uma desonra para um nhum modelo fora dado sobre o monte. Notemos que
homem (1 Co 11.14), era de uma vez o sinal visível não é de esperar que a divina instituição de ordenan-
da separação do nazireu. e da sua disposição de so- ças desça a todos os detalhes que podem ser resolvi-
frer o opróbrio por amor de Jeová. A figura achou seu dos pela nossa prudência e inteligência.
pleno cumprimento em Jesus, que era "santo, ima- Logo que o tabemáculo é levantado, faz-se esta
culado. separn/in das pecadores" (Hb 7.26); que era provisão para o caso de sua remoção. Embora esteja-
inteiramente dedicado ao Pai (Jo 6.38); que não per- mos bem arraigados no mundo, devemos estar pre-
mitiu que qualquer consideração meramente natural parados para qualquer mudança, conforme a vonta-
nele influísse (Mt 12.46-50) (Scofield). de de Deus, especialmente para a grande mudança
"Neste capitulo não aparece um motivo para al- deste para o outro mundo.
guém tomar esse voto de nazireu. Podia ter sido pe- 4) A disposição da oferta. Os carros e bois foram
nitencial ou devocional. No caso de Samuel e Sansão dados aos levitas para o serviço do transporte do ta-
era sem dúvida para que estivessem sem impedi- bemáculo. Os gersonitas, que tinham uma carga le-
mento no seu trabalho especial. No caso de Paulo era ve, receberam dois carros. Os meraritas. que tinham
provavelmente em reconhecimento de alguma espe- as coisas mais pesadas, receberam quatro carros: e
cial misericórdia que recebera (At 18.18; 21.26). No os coatitas, que levavam as peças mais sagradas, não
caso de Cristo tais coisas foram realizadas, não de receberam carro nenhum, porque haviam de levar
uma maneira cerimonial ou legal, mas espiritual- tudo nos ombros (v. 6). Quando, no tempo de Davi,
mente. Ele reconheceu que Deus o santificara e o en- levaram a arca num carro novo, Deus mostrou seu
viara (Jo 10.36), e por isso santificou-se (Jo 17.19). d e s a g r a d o , "porque não o buscamos segundo a orde-
Isto tomou o lugar do voto de nazireado, e deve ser nança" (1 Cr 15.13).
assim com o crente. O crente também reconhece que As ofertas de valores ( w . 12 a 83) são chamadas
tem sido 'santifiçado pela oferta do corpo de Jesus "dádivas dedicatórias do altar" (v. 84). Notemos:
Cristo, feita uma vez para sempre' (Hb 10.10; 13.12), 1) Os príncipes, os homens graúdos, foram os pri-
e responde a isto por se apresentar a si mesmo, e seu meiros a adiantar a obra de Deus.
corpo como 'um sacrifício vivo' (Rm 6.13; 12.1). En- 2) As ofertas foram de muito valor. Alguns obje-
tão procura andar em santidade de vida, 'renuncian- tos. para serviço permanente: pratos, bacias, colhe-
do a impiedade e as paixões mundanas' ( T t 2.12), 'a- res, etc. Outros para o gasto imediato - farinha, novi-
perfeiçoando a santidade no temor do Senhor' (2 Co lhos, carneiros, etc.
7.1) e dedicando-se ao serviço do Mestre. Qualquer
3) Cada um trouxe sua oferta no seu dia marca-
tentativa de desvendar o futuro por meio de um vo-
do, e assim a cerimônia durou doze dias, incluindo

61
'.ftiuncros.

um ou dois sábados. Era um serviço santo, próprio Os levitas haviam de agir pelo povo. Foram to-
para um dia santo. mados "para fazerem o serviço dos filhos de Israel na
4) Todas as ofertas eram idênticas, demonstran- tenda da reunião" (v. 19). Isto é, náo somente para
do, assim, que cada tribo tinha igual interesse no al- fazerem serviços em vez de Israel, mas também para
tar e igual parte nos sacrifícios oferecidos ali. servirem a Israel em serviços que haviam de redun-
5) Naassom, príncipe de Judá, ofereceu primeiro, dar em honra, segurança e prosperidade da comuni-
porque Deus dera a essa tribo o lugar de honra no dade inteira. Notemos que esses que fazem a obra de
acampamento. Deus fielmente prestam um dos melhores serviços
6) Embora sejam idênticas as ofertas, cada uma é que se pode dar ao público.
relatada individualmente. Temos certeza de que não
há repetições inúteis na Bíblia, e aprendemos deste Capítulo 9
caso como Deus toma sentido na devoção individual
do seu povo, e não somente no culto coletivo. A Páscoa (v. 1-14). A primeira divisão de Núme-
7) Ao fim, o total de tudo é mencionado, para de- ros chega a 10.10, e considera o peregrino corno guer-
clarar que grande soma se faz quando cada um traz a reiro, obreiro e adorador. Ao fim desta divisão há
sua parte. Como o santuário de Deus havia de ser en- três leis: a lei da Páscoa (9.1-14); a lei da Nuvem
riquecido nos nossos dias, se cada crente trouxesse a (9.15-23) e a lei das Trombetas (10.1-10). Estas leis
contribuição que lhe compete na pureza e devoção, são dadas em vista da marcha do Sinai, que havia de
na caridade e serviço! começar em seguida. A lei da Páscoa é dada mui ex-
Depois de tudo isto, Moisés entra na tenda da re- plicitamente: primeiro, o requerimento geral (1-5);
velação e ouve a própria voz de Deus, falando-lhe depois, casos especiais: o contaminado (6-12); o de-
"de cima do propiciatório". Isto é o cumprimento de sobediente (13); e o estrangeiro (14). A primeira Pás-
Êxodo 25.22. A voz de Deus é referida também em Ê- coa foi observada na noite da saída de Israel do Egito
xodo 19.19 e Deuteronômio 5.22, onde é ouvida por (Êx 12), e a última na semana da Paixão de Jesus
toda a assembléia. Cristo.
Todos podem valer-se dela, os nativos e os es-
Capítulo 8 trangeiros (14), mas ninguém tem o direito de mudar
o seu caráter ou modificar as suas exigências. Ao
As lâmpadas e o candeeiro (w,l~4). Devemos no- atravessarmos um mundo como este há contamina-
tar que no versículo 2 as palavras da V.B. "o espaço ções que não podemos evitar, semelhantes à poeira
em frente" não estão no original, nem podemos dis- que pega nos pés dos viajantes, mas acerca desta
cernir qualquer significação espiritual na iluminação contaminação podemos dizer duas coisas: primeiro,
de um espaço. que ela náo precisa privar-nos da cruz de Cristo, e,
Provavelmente devemos ler, como dizem Grant e segundo, que essa contaminação deve sempre en-
outros expositores, "para iluminar o candeeiro". O viar-nos à Cruz (10). Ê excluído somente o homem
candeeiro - um tipo de Cristo - sustenta as lâmpadas que não tem lugar na sua vida para o Calvário (v. 13)
e as lâmpadas realçam a beleza do candeeiro de ouro - (Scroggie).
que as mantém. O apóstolo disse: "que Cristo seja A nuvem ( w . 15-23). Com este trecho leia-se
engrandecido no meu corpo, seja pela morte ou pela 10.1-10. porque os sinais para marchar foram divinos
vida " (Fp 1.20). e humanos, a nuvem e as trombetas. O primeiro fala
A purificação dos levitas. Aqui temos (v. 7) um do Pai nas suas providências, para que sejamos pa-
dos "vários batismos" referidos em Hebreus 9.10. " A cientes e preparados; o segundo, do Espírito nas Es-
água de expiação" é descrita mais detalhadamente crituras, para nossa missão e progresso ( w . 29-34); e
no capitulo 19.8,17. Notemos que não era a água a Arca era Cristo no meio (10.33). Pode-se dizer duas
uma separação suficiente para o serviço deles. Ne- coisas referentes à nossa peregrinação cristã; que o
cessitavam também de vários sacrifícios (v. 8). Náo tempo da nossa espera e caminhada é incerto; e se-
podemos servir a Deus devidamente sem a obra ex- gundo, que a direção infalível de Deus é certa. Deve-
piatória da Cruz. mos estar prontos a parar ou a avançar, e sempre
Os levitas foram aceitos, para o serviço divino, prontos a obedecer (Scroggie).
em lugar de toda a congregação, mas, para isso. era
necessário "os filhos de Israel porem as mãos sobre Capitulo 10
os levitas" (v. 10), identificando-se, assim, com
eles. Além disso, haviam de ser oferecidos diante de As trombetas de prata. Notemos:
Jeová pelo sumo sacerdote. Somente por Cristo po- 1) Seu feitio: de prata, obra batida (não fundi-
deremos oferecer serviço aceitável a Deus. da), e somente duas trombetas. N o tempo de Salo-
Notemos no versículo 19 a descrição do serviço mão lemos de 120 sacerdotes com trombetas (2 Cr
dos levitas. O serviço de qualquer deles podia conti- 5.12).
nuar por 25 anos ( w . 24,25). 2) Quem havia de usá-las: os sacerdotes, filhos de
Os levitas - uma dádiva a Aarão e seus filhos (v. Aarão (v. 8). "Isto significa que os ministros de Deus
19). Diz Mattheu Henry: "São dados a Aarão e seus devem levantar a voz como uma trombeta, para
filhos, mas de maneira que seu serviço seja disponí- mostrar ao povo os seus pecados (Is 58.1) e chamá-lo
vel a todo o Israel. Aarão oferece os levitas a Deus (v. a Cristo (Is 25.13)" (Matthew Henry).
11) e então Deus os devolve a Aarão {19). Notemos 3) Quando haviam de ser usadas: a) para ajuntar
que o que oferecemos a Deus Ele tomará a dar-nos, e a congregação (v. 2); b) para pôr em marcha as tri-
muito para nosso proveito. Nossos corações, nossos bos (v. 5); c) para tocar alarme no dia de batalha (v.
filhos, nossos bens nunca são nossos mais verdadei- 9); d) para solenizar as festas sagradas (v. 10).
ramente e mais vantajosamente do que quando os Os israelitas partem do Sinai ( w . 11-28). O sinal:
oferecemos a Deus". a nuvem levantada (v. 11); a marcha: "á ordem de

62
Jeová" (v.13). Como é bom quando podemos dizer o 2) Ele se queixa demasiadamente de uma peque-
mesmo sobre cada mudança de localidade da nossa na tribulação e se importa demais com um cansaço
parte' passageiro.
O ponto de parada. Saindo do deserto de Sinai, 3) Ele engrandece o seu trabalho, dizendo "pu-
descansaram no deserto de Pará (v. 12). As nossas seste sobre mim a carga de todo este povo" (v. 11).
mudanças aqui no mundo sáo de um deserto para 4) Não reconhece a sua obrigação de fazer tudo
outro, enquanto Cristo nào exercer a soberania uni- quanto possível para desempenhar o serviço que lhe
versal. fora confiado.
Hobabe, cunhado de Moisés. O sogro de Moisés é 5) Ele toma responsabilidade demais sobre si
chamado Reuel aqui em Êxodo 2.18, e Jetro em Êxo- quando diz: "Donde teria eu carne para dar a todo
do 3.1 e capítulo 18. Por isso concluímos que tinha este povo " (v. 13), como se fosse ele o provedor, e não
os dois nomes. Jetro, que visitara Moisés no deserto, Deus.
voltou depois para a sua terra (Êx 18.27), mas parece 6) Ele tem em pouco a graça divina quando diz:
que seu filho Hobabe tinha ficado, e agora vemos "Eu só náo posso levar este povo" (v. 14). Se a tarefa
Moisés convidando-o a servir de guia (v. 31). Contu- tivesse sido muito menor, ele também nào teria podi-
do. parece que esse expediente humano náo era ne- do dar conta dela pelas suas próprias forças, mas se
cessário, porque "a arca da aliança de Jeová ia tivesse Sido muito maior, p«la ajudít divina teria po-
adiante deles... para lhes buscar um lugar de des- dido agüentar com ela.
canso" (v. 33). 7) Pior de tudo, ele quer que Deus o mate. em vez
Em Juizes 4.11 Hobabe é chamado "sogro de de pedir graça divina suficiente para seu trabalho.
Moisés", mas a palavra hebraica tem as duas signifi- Podemos tomar como texto áureo o versisculo 23:
cações: "cunhado" e "sogro". "Porventura é curta a mão de Jeová?" e pensar como
Este capítulo nào diz que Hobabe aceitou o con- a resposta a tal pergunta pode ter sentido para nós
vite de Moisés, mas estudando Juizes 1.16; 4.11 e 1 nos dias da nossa provação.
Samuel 15-6 ficamos sabendo que ele aceitou mes- Com respeito à profecia dos setenta anciãos, no-
mo. tamos uma diferença de tradução no versículo 25. Fi-
Esta é a primeira vez (v. 33) que lemos da "arca gueiredo tem: "e não cessaram de o fazer"; Almeida:
da aliança". "mas depois nunca mais", e V. B. "porém nunca
mais o fizeram". Almeida e V. B. tém aqui a tradu-
Capitulo 11 ção correta. (Vcja-uc R. p. 216.)
Do caso de Eldade e Medade, aprendemos que
Murmurações dos israelitas. Depois de uma pa- pode haver ministério da Palavra náo somente "à
rada de quase um ano no distrito do Sinai (Êx 19 e entrada da tenda de encontro", mas também "no ar-
Nm 10.11) a peregrinação dos israelitas continua. raial".
Queixam-se. Não mais se contentam com o "pão do
céu". Um dos males que havia com Israel era "a
grande mistura de gente" (v. 4) no seu meio. gente Capitulo 12
sem espiritualidade e sem fé. A presença de descren-
tes na igreja promove muitas murmurações. Uma desinteligência de família. Notemos neste
Moisés se desanima, e queixa-se da sua pesada triste incidente: que a contenda foi promovida por
carga. O povo. na sua falta de espiritualidade, pede Miriá, cujo nome figura primeiro; que não sabemos
carne (v. 18) e o comentário do salmista é que Deus se Zípora ainda vivia; que nada se nos diz da "mu-
"deu-lhes o que pediram, mus enviou magreza às lher cusita" se era ppRsna espiritual OU não: que OS
suas almas" (SI 106.15). queixosos mostraram inveja e carnalidade; que Moi-
sés mostrou humildade (v. 3); que Deus o defendeu,
sem aludir ao casamento problemático; que o juízo
Resumimos de Matthew Henry o seguinte: caiu sobre Miriã. a principal ofensora; que o castigo
A culpa dos murmuradores foi que: produziu resultado imediato e suficiente.
1) Engrandeceram as iguarias do Egito (v. 5), Alguns pensam que "a mulher cusita" se refere
como se Deus lhes fizera um grande mal ao tirá-los ao segundo matrimônio que Moisés contraíra; ou-
dali. tros, que é uma alusão a Zípora com um apelativo de
2) Ficaram enjoados da boa provisão que Deus desprezo. Matthew Henry sugere que poderia ter ha-
lhes fizera (v. 6). Era pão do céu. e para mostrar vido alguma desinteligência entre Miriã e Zípora
como era sem razão a queixa do povo, o maná é aqui que motivou a animosidade.
descrito ( w . 7-9). A queixa não é de Moisés ter governado mal, mas
3) Não podiam contentar-se Rpm ter came para de ter governado sozinho, e é expressada com a per-
comer. Troxeram manadas e rebanhos em abundân- gunta: "Ê verdade que Jeová falou só com Moisés?"
cia do Egito, mas por qualquer razão isto nào servia. Notemos:
4) Duvidaram do poder e da bondade de Deus, 1) O juízo divino sobre Miriã. "A nuvem retirou-
dizendo "Quem nos dará carne a comer?" (v.4), se de cima da Tenda", como sinal do desagrado de
como se nào valesse a pena pedir isso a Deus. Deus com os queixosos, e Miriã é ferida de lepra.
5) Comeram com gidodice (v. 33), demonstrando 2) Em seguida Aarão se arrepende e se humilha
assim a sua carnalidade. ( w . 11,12) confessando a sua culpa e pedindo per-
O comportamento de Moisés não foi muito exem- dão.
plar: 3) A intercessào de Moisés por Mirià (v. 13): Ele
1) Ele deu pouco valor à honra que Deus lhe dera, clamou alto porque a nuvem se retirara, e Deus pare-
fazendo-o ilustre instrumento da sua graça na liber- cia estar afastado. Um caso semelhante é quando a
tação do povo. mão paralisada de Jeroboão é restaurada ao pedido

63
•Jfameros

do profeta contra quem ela fora estendida (1 Rs ceios, de desobediência e fracasso. A intercessáo de
13.6). Moisés pelos desobedientes faz-nos pensar naquele
4) O assunto harmonizado: misericórdia e saúde que vive para fazer intercessáo por nós, e assim nos
para Miriã: perdão da parte de Moisés; justiça satis- salva das conseqüências da nossa loucura" (Good-
feita, por Miriã estar excluída do arraial durante man).
sete dias. A presunção da incredulidade ( w . 2 6 - 4 5 ) . Depois
5) O progresso do povo impedido por sete dias (v. de ouvirem a solene sentença de Deus a respeito da
15).Isto podia ser uma admoestaçào para todos os sua incredulidade, os rebeldes repentinamente vol-
que se sentiram culpados, como Miriã, de um espiri- tam a face e se atrevem a desafiar o julgamento pro-
to queixoso. Mostrava também respeito por Miriã. O nunciado: náo haviam de morrer no deserto (como
povo todo esperou por ela. outrora desejaram - v.2) nem voltar ao Egito (como
Embora saibamos que Moisés escreveu o Penta- tinham falado - v.4). Estão resolvidos a entrar na
teuco (Mt 19.7: At 6.14; etc.), alguns pensam que o terra. A sua loucura tem os sinais comuns dos peca-
versículo 3 foi acrescentado mais tarde por um edi- dos presunçosos: a) confessam seu pecado leviana-
tor, como também a narrativa da sua morte em Deu- mente: "Temos pecado" (v. 40); b) seguem, apesar
teronòmio 34. de aviso ao contrário (v. 41): c) marcham sem a Arca
do Concerto (v. 44). O resultado foi uma derrota ig-
Capitulo 13 nominiosa (v. 45).

Os doze espias. Capitulos 13 e 14 recordam "A Capitulo 15


apostasia em Cades-Barnéia". um acontecimento de
imensa importância, por ser uma das três grandes Diversas leis repetidas. Este capitulo interrompe
rebeliões de Israel entre a saída do Egito e a ida para a narrativa histórica com instruções referentes a cer-
a Babilônia - um período de 900 anos. A segunda é tos sacrifícios, instruções para serem observadas
recordada em 1 Samuel 8 e a terceira em 1 Reis 12. "quando entrardes na terra" (v. 2). Com certeza esta
Cades. embora a localidade náo possa ser agora referência à posse da terra nesse momento - precisa-
determinada com exatidão, é um lugar de grande mente quando Israel tinha voltado as costas a ela - é
importância histórica, pois marcou o termo da pri- um evidente encorajamento à fé e uma prova da con-
meira viagem dos israelitas, o começo das suas pere- tinuada graça de Deus para com o povo.
grinações, e o ponto de partida da sua última cami- Para os pecados de ignorância ( w . 27-29), há sa-
nhada. (Leiam-se os versículos 1-3 com Deuteronô- crifício e há perdáo, mas não para um "adversário"
mio 1.20-25.) As duas narrativas dão impressões (Hb 10.27) que peca "afoitamente" (v. 30), diz F. W.
bem diferentes. A verdade parece ser que a idéia de Grant:
mandar espias se originou com o povo, que Moisés "Sem dúvida há certos pecados que vêm entre os
aprovou-a (erradamente) e que então Deus condes- pecados de ignorância, e há os pecados voluntários
cendeu com o desejo do povo, para revelar a perversi- daqueles que, apesar de terem conhecimento da ver-
dade dos seus corações. Leia com cuidado as instru- dade, demonstram ser 'adversários'. Pedro, no palá-
ções de Moisés (17-20). Desde o princípio ao fim lan- cio do sumo sacerdote, ilustra o caso. Quando ele
çam dúvidas sobre a sabedoria, poder e fidelidade de com imprecações negou ter conhecimento do 'ho-
Deus. Toda essa informação Deus já tinha dado (Gn mem', certamente não era a ignorância que falava;
15.18-21; Ex 3.8). Nenhuma investigação humana contudo, náo era também um 'adversário'. Tinha ele
pode tornar mais garantido o que Deus já disse. chegado, por confiança em si mesmo, a um ponto
Os espias foram e voltaram. Concordaram quan- onde as circunstâncias o venceram, e o medo arran-
to ao relatório (27-29) mas discordaram quanto ao cou dele palavras iníquas e covardes, para serem
conselho (Scroggie). mais tarde reprovadas amargamente. Mas adversá-
rio ele náo era: e a graça de Deus agiu para com ele
Capítulo 14 em restauração. Tais pecados não são contemplados
neste trecho de Números 15".
Querem voltar ao Egito. Notemos a diferença en- A punição pela violação do sábado ( w . 32-36).
tre a linguagem da descrença e a linguagem da fé. A Notemos que a Lei náo admite exceções; quem está
descrença diz que é melhor voltar à escravidão do debaixo da lei de Moisés é culpado de um pecado
Egito. A fé diz que "Deus nos introduzirá nesta ter- mortal se esquenta seu café ao lume no dia de sába-
ra" (v. 8). Ainda hoje há pessoas que desconfiam do do.
poder de Deus para satisfazer o seu povo com bên- O crente em Cristo não está debaixo da Lei, mas
çãos espirituais, e voltam aos prazeres mundanos - debaixo da graça (Rm 6.14); mas ele recebe muita
aos pecados pelos quais outrora estavam escraviza- instrução da santa lei que Deus deu a Israel, e no
dos caso de ele andar sob o controle do Espirito Santo, a
Perdoados, mas proibidos de entrar na Terra (vv. exigência justa da Lei se cumpre nele (Rm 8.4).
11-25). "Muitos pecadores acham misericórdia: em
verdade, todos os que se refugiam em Cristo acham- Capitulo 16
na, mas muitos filhos de Deus (pecadores perdoa-
dos) carecem de entrar no pleno gozo das promessas A rebelião de Core. Datãe Abirão. N o capitulo 14
divinas (nossa Terra Prometida') por causa da deso- os israelitas estão em Cades e em 20.1 estão outra
bediência. Como Israel outrora. tentam a Deus (v. vez em Cades, por isso os capitulos 15 a 19 represen-
22) e náo escutam a sua voz, apesar de toda a sua mi- tam 38 anos. Nestes cinco capítulos descobrimos so-
sericórdia. Assim, em vez de uma vida vitoriosa em mente um acontecimento de importância histórica
Canaá, e do gozo da sua herança em Cristo, são obri- (cap. 16), sendo o restante do trecho raaiormente le-
gados a perambular pelo deserto de dúvidas e re- gislativo, e referindo-se ao futuro (15.2). Durante es-

64
frúmeros

ses 38 anos a história de Israel estava paralisada. Is- Capitulo 18


rael tinha desobedecido a Deus, e, em vez de serem
peregrinos sob a sua proteção, tornaram-se viajantes A iniqüidade do santuário (v.l). É difícil sermos
da morte. A parte da nossa vida passada fora da von- mui positivos sobre o sentido desta expressão.
tade de Deus não é recordada no relatório dele. Matthew Henry oferece os seguintes pensamentos:
Este incidente é de bastante importância para "Se o santuário fosse profanado pela intrusão de es-
ser referido no N.T. como "a revolta de Core" (Jd trangeiros ou pessoas imundas, a culpa estaria sobre
11). Coré, um primo de Moisés, parece ter tido ciú- os levitas e sacerdotes, que deviam ter vedado a en-
me de Moisés e Aarão, e conspira com os rubenitas trada de tais pessoas. Embora o pecador que entras-
Datã e Abirão para fazerem uma revolta contra esses se presumidamente mon-esse pela sua iniqüidade,
que Deus tinha apontado como chefes do seu povo. contudo seu sangue seria requerido dos responsáveis.
Podemos dividir este capítulo assim: a) a revolta
(1-15); b) a prova (16-19); c) a separação (20-27); d) "Ou pode ser entendido em termos mais gerais:
o julgamento (28-35). 'Se quaisquer dos deveres ou ofícios do santuário fo-
As pessoas envolvidas na revolta: Os principais: rem negligenciados; se qualquer serviço não for feito
Coré, Datã e Abirão; as suas famílias (v. 27); toda a na ocasião própria ou de acordo com a ordenança; se
congregação (v. 19); os 250 homens (v. 2). qualquer objeto for pedido ou mal colocado na remo-
Qualidades manifestadas: com Coré e seus com- ção do santuário, vós sacerdotes serieis os responsá-
panheiros: inveja, presunção, atrevimento, religiosi- veis.'
dade. "Os próprios sacerdotes levariam 'a iniqüidade
Com Moisés: humildade, piedade e espírito de do sacerdócio', isto é, se negligenciassem qualquer
oração, ira (v. 15), confiança em Deus (v. 16). conci- parte do seu trabalho, ou permitissem qualquer ou-
liação, intercessão ( w . 22,45). tra pessoa intrometer-se e fazer seu trabalho, a culpa
Com Deus: retribuição, justiça (v. 35), misericór- seria deles".
dia (v. 46). Esta é uma explicação que podemos não achar de
Com o povo: insensatez espiritual, murmuração, todo satisfatória.
rebelião, falta de espiritualidade. F. W.Grant oferece uma interpretação mais espi-
No versículo 1 devemos preferir a tradução de Al- ritual e mais diretamente ligada com Cristo:
meida ( T ) . "Aqui vemos um (o nosso Sumo Sacerdote) que é
Os filhos de Coré. A primeira vista, parece que competente para manter seu povo. Por isso vemos a
Coré. Datã e Abirão e suas famílias todos sofreran: o 'iniqüdade do santuário' posta sobre Ele, 'para que
mesmo suplício. Vemos no versículo 27 que os filhos não l jante outra vez indignação sobre os filhos de
de Datã e Abirão estiveram junto com os pais em pé, Israel' (v.5). No serviço de intercessão, a casa de Aa-
e no versículo 32 que "todos os homens que perten- rão pode tomar parte com Aarão - os sacerdotes infe-
ciam a Coré. com toda a sua fazenda" foram traga- riores com o sumo sacerdote, mas sempre lembrando
dos pela terra que abriu a sua boca. que foi a vara do sumo sacerdote que brotou, e que.
Mais adiante, porém, no contexto remoto do afinal, tudo está sob a sua responsabilidade. Assim
capítulo 26.11, lemos "Todavia não morreram os fi- Cristo que morreu por nós leva-nos para a plena e fi-
lhos de Coré". nal salvação, 'no poder de uma vida indissolúvel'
Sem dúvida eles obedeceram ao mandado de ('incorruptível*, Almeida). Ele sempre vive para fa-
Moisés, e fugiram do tabemáculo que os rebeldes ti- zer intercessão por nós; junto com o valor de uma
nham levantado, e assim foram salvos. obra de eficácia infinita, temos uma poderosa mão
Estes "filhos de Coré", assim salvos do suplício, e que nos sustenta - tudo posto no poder de quem é
sendo monumentos da graça de Deus, mais tarde ti- 'Filho sobre a casa de Deus' (Hb 3.6) e, em todo sen-
veram proeminência no serviço do Templo, "o ver- tido, divinamente competente".
dadeiro tabernáculo". sob Davi e Ezequias (Rullin- Deveres, direitos e dízimos. O sustento dos sacer-
ger). dotes vinha dos sacrifícios (8-20) e o dos levitas dos
dízimos (21-32). Mas vemos que os levitas também
eram dizimistas, e desse dizimo deles era dado aos
sacerdotes (v. 28).
Capítulo 17
Aprendemos desta contribuição dos levitas que o
A vara de Aarão floresce. O sumo sacerdote, re- ministério paga seu tributo ao culto de adoração, e
provado pelo povo insensato, é manifestamente do melhor que tem (v. 29). Como é agradável perce-
aprovado por Deus, mediante um sinal milagroso. ber em tudo isto que Cristo deseja e recebe a sua par-
Isto faz-nos pensar em Cristo, nosso Sumo Sacerdo- te do serviço espiritual (Grant).
te, reprovado pelos homens descrentes, mas elevado
por Deus ao supremo lugar (At 4.11). Capítulo 19
Os expositores percebem na vara de Aarão um
tipo de ressurreição - evidência de vida numa vara A novilha vermelha. "Este notável tipo é inter-
seca e aparentemente morta. Cristo nosso Sumo Sa- pretado para nós em Hebreus 9.13. Trata-se do caso
cerdote vive para sempre. de um povo remido ser contaminado por contato
com a morte, isto é, um verdadeiro crente ocupar-se
" O príncipe de cada tribo trouxe uma vara com- novamente com as coisas mortas do seu tempo de in-
pletamente morta: Deus deu vida somente à de Aa- credulidade, e assim pecar, de maneira que a sua
rão. Assim todos os autores das religiões têm morri- consciência fica contaminada. Um filho de Deus pre-
do. e Cristo entre eles, mas somente Cristo ressurgiu cisa guardar sempre uma boa consciência perante
dos mortos, e foi exaltado a ser o Sumo Sacerdote Deus e os homens. Isto devia ser seu "regozijo", o
diante de Deus (Hb 4.14; 5.4-10)" (Scofield). testemunho da sua consciência quanto à sua simpli-

65
cidade e sinceridade perante Cristo (2 Co 1.12). Capitulo 21
Quando a sua consciência novamente o acusa, ele é
como o israelita que tocou no morto e carecia da A serpente levantada ( w . 1-9). " A serpente de
"purificação da carnc" mediante aa cinzas da novi- metal e um tipo de Cristo 'feito pecado por nós' (Jo
lha. 3.14,15; 2 Co 5.20) e levando ao juízo que nós me-
" A novilha foi sacrificada somente uma vez, e as recíamos" (Scofield).
suas cinzas foram guardadas para uso futuro. Assim " O meio de salvação e vida era 'Olhar... e viver'.
Cristo morreu uma vez, para nunca mais morrer. Olhar é a mais simples expressão da fé. Inclui dirigir
Seu sacrifício, 'um sacrifício pelos pecados' (Hb a atenção para Cristo; obsevá-lo; esperar dele; de-
10.10-14), santificou o seu povo uma vez para sem- pender dele. Dava-se vida a quem olhasse. Notemos
pre, e os aperfeiçoou. Se eles se contaminam nova- o cuidado do Espírito Santo no emprego das pala-
mente pelo contato com coisas mortas, nào é neces- vras. Não diz 'foi sarado'ou 'melhorou', mas 'vivia'.
sário que Cristo morra outra vez, nem que sejam re- A vida eterna é dom de Deus" (Goodman).
midos novamente. Uma vez arrependidos, banha-
dos, sâo de todo purificados (Jo 13.10) e necessitam Notemos neste trecho que a murmuraçáo dos is-
apenas da lavagem dos pés. Assim as cinzas da novi- raelitas esta vez foi "por causa do caminho": falta de
lha sào um símbolo do único e perfeito sacrifício. O pão e água, e aborrecimento do maná (v.5). Se por-
'espargir' (v.18) da água com cin7«R simboliza a fé ventura o crente alguma vez checar a t»r fastio do
que aplica ao coração a memória da morte expiató- "pão do Céu", que pensa fazer se quer ficar sem
ria, e que reconhece a sua continuada eficácia. Preci- Cristo: sem a proteção de um grande amigo, sem a
sa-se da 'água da purificação' (v.9), isto é, da Palavra direção de um divino guia. sem o ensino de um sábio
de Deus aplicada ao coração, e da obediência que re- mestre, sem a expiação de uma obra redentora, sem
sulta em renunciar as coisas iníquas" (Goodman). os socorros do seu Sumo Sacerdote, sem a esperança
da Segunda Vinda?
"As cinzas da novilha não eram para quem pecou
atrevidamente, como fez Coré e os que com ele esta- A caminhada e o conflito (vv. 10-35). Os inimigos
vam mas para aqueles que inconscientemente con- ao leste do Jordão eram diferentes dos cananitas ao
traíram alguma contaminação (v. 11). A imundícia oeste. Aqueles eram todos relacionados com Israel:
não é menos imunda quando é inevitável ou incons- eram inimigos que podiam ter sido amigos se não ti-
ciente. Cada um nas suas ocupações diárias tem con- vesse havido desinteligência entre parentes no pas-
tatos que sujam. O meio de purificação para nós se sado. Devemo-nos preparar hoje para o dia de ama-
encontra em Cristo, mas precisa ser apropriado e nhã. Não havemos de pensar que essa gente se tenha
aplicado ( w . 11-12)" (scroggie). oposto a Israel por querer combater contra Deus,
mas sua oposição chegou a ser isso mesmo.
Capítulo 20 Notemos que as vitórias ao leste do Jordão deram
às duas tribos e meia a sua herança futura (32.33).
A rocha novamente ferida. Outra vez a falta de á- Isto era um benefício duvidoso. Ficaram, afinal,
gua e outra vez a murmuraçáo. O povo está cheio de aquém da terra prometida. E nós temos entrado,
queixas, e briga com Moisés. porventura, em todos os benefícios espirituais que
Entre os capítulos 14 e 20, os israelitas têm anda- Deus deseja proporcionar-nos? Ou estamos conten-
do no deserto por 33 anos. Toda uma geração pere- tes em ter "um bilhete para o Céu" e mais nada?
ceu, e agora os filhos chegam ao lugar - Cades - onde
seus pais tinham apostatado. Eles murmuraram Capítulos 22 a 24
como seus pais fizeram, e pelo mesmo motivo (Êx
17): não houvera progresso espiritual. Balaáo, o profeta. Balaão é o tipo do profeta mer-
" E m Horebe. e também em Cades, o Senhor mi- cenário, que procura vender.seu dom. Isto é o cami-
sericordiosamente fez provisão pela necessidade do nho de Balaão (2 Pe 2.15), e caracteriza os ensinado-
povo, dando-lhe água, mas indicou um modo dife- res falsos.
rente. Em Horebe mandou ferir a rocha, mas aqui O erro de Balaão (Jd 11) era que podia enxergar
Ele diz: 'falai à rocha' (v. 8). A palavra hebraica apenas a moralidade natural, e por isso ele calculou
para rocha não é a mesma em ambos os casos, mas que um Deus santo havia forçosamente de amaldi-
em ambos 'a rocha é Cristo' (1 Co 10.4). Em Horebe, çoar um povo rebelde como Israel. Como todos os en-
Cristo ferido; em Cades, Cristo suplicado. A signifi- sinadores falsos, ele ignorava a moralidade mais
cação da diferença vê-se na severidade do castigo sublime de uma expiação vicária, pela qual Deus po-
que seguiu à desobediência de Moisés (v. 12). Cristo dia ser justo e contudo o justificador dos pecadores
não pode ser ferido mais de uma vez; desde então o arrependidos e crentes (Rm 3.26).
recurso que há nele se obtém mediante a oração" A doutrina de Balaáo (Ap 2.14) se refere ao seu
(Scroggie). ensino a Balaque sobre como podia corromper o povo
Evitando contenda entre irmãos ( w . 14-21). ao qual não podia amaldiçoar ( N m 25.1-3 •© 31.16 e
"Embora Esaú fosse homem 'profano', contudo T g 4.4) (Scofield).
Deus o abençoou com a boa terra do monte Seir, ao "Um jumento mudo... refreou a loucura do profe-
sudeste do mar Morto. Para entrar na Palestina, Is- ta" (2 Pe 2.16). " A loucura de Balaão consistia em
rael devia passar por este distrito montanhoso, onde ele perseverar num curso errado depois de ter recebi-
há poucos desfíladeiros. Embora os israelitas apelas- do expressa ordem do Senhor: 'Não irás!., não amal-
sem para o rei de Edom pelo seu 'irmão Israel' (v. 14 diçoar ás!' Tornar a interrogar a Deus depois disto,
- Jacó era irmão gêmeo de Esaú) não somente o pedi- era pedir a resposta que recebeu, que veio a ser. pra-
do foi repelido, mas foram atacados violentamente. ticamente: 'Muito bem: segue o teu próprio cami-
Porém a falta de fraternidade de Edom mais tarde nho, e aprende pela experiência o teu erro'. E contu-
trouxe o juízo sobre a terra, como aprendemos de do Deus marcou uma condição que Balaáo não aten-
Obadias 10.15" (Goodman). deu: 'Se os homens te vierem chamar' (v. 20).

66
ftómems

"Para a fé não há dificuldade em a jumenta falar expiatória que ia para sempre anular o pecado que
com voz humana. Se os homens podem ensinar um séculos antes tinha vedado a sua entrada em Canaã.
papagaio a falar, por que dizer que Deus não pode Deus, que retira seus servos, continua sua obra. e
ensinar uma jumenta a fazer uma coisa parecida?" Josué é apontado para chefiar o povo de Israel e leva-
( Goodman). -lo para a Terra Prometida.
É preciso ler 23.23 na V.B. Em 22.22 devemos Moisés viu a Terra do monte Abarim (Nm 27.12)
traduzir: "A ira de Deus acendeu-se, porque ele esta- ou Pisga (Dt 3.27) ou Nebo (Dt 32.49). Pisga é parte
va resolvido a ir". dos montes de Abarim, dos quais Nebo é o pico mais
O versículo 17 deve ler-se: "uma estrela proce- alto (A. 415).
deu" (R. 118).
Capitulos 28 e 29
Capítulo 25
Várias ofertas. Notemos como Deus instruía seu
O pecado de Peor. Vemos agora o resultado fu- povo durante a sua infância espiritual por meio de
nesto do iníquo conselho de Balaão (Nm 31.16). e Is- símbolos e figuras, por sacrifícios e cerimônias, e
rael seduzido à idolatria e à imoralidade. O zelo e como mais tarde, no Novo Testamento, mudou por
energia de Finéias vingou o mal. e "fes expiação pc completo, c ensinou por parábolas e preceitos.
los filhos de Israel" (v. 13). Não devemos imaginar que Deus tivesse algum
Neste capitulo vemos os moabitas e midianitas prazer em cheirar a carne queimada de um cordeiro,
identificados ( w . 1 e 14,16). mas queria preocupar seu povo continuamente com
a verdade da expiaçáo.
Capitulo 26
Capitulo 30
Segunda numeração das tribos. Podemos compa-
rar esta numeração, feita uns 38 anos depois com Israel debaixo da Lei estava sujeito à lei dos vo-
aquela descrita no capitulo primeiro, e ver que com tos. Israel nunca cumpriu seu voto de perfeita obe-
algumas tribos houve aumento e com outras dimi- diência à lei de Deus (Êx 19.8). No terreno do legalis-
nuição. E ao mesmo tempo podemos pensar se por- mo eles fracassaram - e nós também.
ventura nossa vida espiritual, e nosso desejo pela "Por isso o Senhor, no sermão da montanha,
verdade de Deus. aumentam com o decorrer do tem- proibe tomar o compromisso de um voto: 'Tendes
po. ouvido que foi dito aos antigos: nao juraras falso,
Em forma de tabela as duas listas são as seguin- mas cumprirás para com o Senhor os teus juramen-
tes: tos. Eu, porém, vos digo que absolutamente não ju-
reis' ( M t 5.33,34). Isto é baseado naquela imperfei-
cap. 1 cap. 26 ção humana que a Lei demonstrou ser a sua condi-
ção moral" (Grant).
Rúben 46.500 43.730 (menos)
Simeão 59.300 22/200 (menos)
Gade 45.650 Capitulo 31
40.500 (menos)
Judá 74.600 76.500 (mais)
Issacar 54.400 64.300 (mais) Vitória sobre os midianitas. Vemos que nesta ba-
Zebulon 57.400 60.500 (mais) talha Balaão morre (v. 8), mas não morre da morte
Manassés 32.200 52.700 (mais) que desejara: a de um justo (23.10). Identificando-se
Efraim 40.500 32.500 (menos) com os inimigos do povo de Deus, partilhou da sorte
Benjamim 35.400 15.600 (mais) deles.
Dan 62.700 64.400 (mais) Diz Matthew Henry: "Este trecho (vv. 7-12) fala
Aser 41.500 53.400 (mais) da descida do pequeno exército de Israel (que estava
Nafta li 53.400 45.400 (menos) sob a divina comissão, conduto e comando) sobre o
603.550 601.730 país de Midiã. 'Pelejaram contra Midiã'. Ê bem pro-
vável que primeiro tenham publicado seu manifesto,
mostrando os motivos da guerra e exigindo a entrega
Levi 23.000 dos responsáveis pela grande iniqüidade, pois isso
depois veio a ser lei (Dt '20.10; Jz 20.12,13). Mas os
midianitas, não justificando seus atos e apoiando os
Visto que foram numerados somente 06 homens responsáveis, foram atacados pelos israelitas com
de 20 anos para cima, devemos multiplicar por quatro fogo e espada, e cheios de zelo santo".
para saber aproximadamente o total dos israelitas "Mataram todos os homens" (v. 7), isto é, os ho-
incluindo mulheres, velhos e crianças. mens com quem se encontraram. Sabemos que não
mataram todos oe homens do pais, pois vemos Midiã
Capitulo 27 como um poderoso e formidável inimigo nos dias de
Gideáo.
.4 morte de Moisés predita ( w . 12-14). Vê Moisés "Mataram os reis de Midiã" os mesmos que são
a terra pometida; nela. porém, não entra, devido à chamados anciãos de Midiã (22.4) e príncipes de
sua desobediência. Avista-a de longe, do alto da Seom (Js 13.21).
montanha, e percebe as suas belezas naturais sem "Também mataram Balaão". Há várias conjetu-
ver detalhadamente todas as coisas imundas e a ido- ras sobre o que motivara estar Balaão entre os mi-
latria daquela terra. Muitos séculos depois ele põe dianitas nesse tempo. Pode ser que 06 midianitas,
seu pé na terra, sobre outro monte, e, junto com tendo notícias da marcha de Israel, tivessem manda-
Elias, conversa com o seu Salvador sobre essa morte do buscar Balaão para os ajudar com seus encanta-

67
ffumcros

mentos; ou, se ele nào pudesse agir ofensivamente pecador do juízo vindouro (Êx 21.13; Dt 19.2-13; SI
contra Israel, ao menos agisse defensivamente, invo- 46.1; 142.5; Is 4.6; Rm 8.1,33,34; Fp 3.9; Hb 6.18,19)
cando uma bênção sobre Midiã. Qualquer que fosse (Scofield).
o motivo de ele estar ali, foi uma providência divina O refúgio era para o homicida involuntário, nào
que agiu no caso, e ali a justiça o atingiu. para o assassino. Alguns percebem sentido na signi-
"Matança das mulheres" (v. 17). Ê preciso ficação dos nomes das cidades. Consulte o "Pequeno
lembrar que as mulheres midianitas tinham sido um Dicionário Bíblico".
laço especial para os israelitas. O casamento das herdeiras. Sobre isto Grant co-
menta:
Capítulo 32 "Aqui mais uma vez aparecem as filhas de Selo-
fade (referidas primeiro em 27.1-11) mediante a re-
Duas tribos e meia escolhem a sua sorte aquém presentação dos chefes das famílias de Manassés. A
do Jordão. Diz Matthew Henry: primeira sentença a seu favor tinha garantido que a
"Muita gente procura seu próprio interesse e não herança de seu pai lhes pertencia, mas havia o peri-
o bem geral nem os interesses de Cristo, e assim fica go, no caso de contraírem casamento fora da tribo,
aquém da Canaã celestial. A escolha dessas tribos de que a herança passasse para qualquer outra tribo,
importa: 1) um desprezo da terra prorr^ida; 2) uma e assim toda a estabilidade para posse segundo as
desconfiança do poder de Deus; 3) uma negligência tribos fosse prejudicada. Ordenou-se, por isso, que
dos interesses dos seus irmãos; 4) uma consulta ba- em tal caso a herdeira casasse dentro da tribo e as-
seada nos seus próprios interesses e riquezas. É para sim a herança da tribo seria garantida perpetuamen-
notar-se que estas tribos, as primeiras a serem colo- te. Tudo tinha de ceder à primeira necessidade, isto
cadas, anos depois foram as primeiras a serem desa- é, que a herança determinada por Deus ficasse com a
possadas". tribo que Deus determinara. Nada havia de mudar
isto, nada. Bendito seja Deus, que não há de impedir
"Nós, porém, nos armaremos... diante dos filhos qualquer um dos seus do gozo eterno da herança pre-
de Israel" (v. 17). ' <to nâo quer dizer que todos os ho- parada".
mens foram à guerra. No último censo havia de Rú-
ben 43.730, de Gade 40.500 e de Manasses 52.700, da
qual a metade é 26.350, perfazendo um total de
110.580. Ora Josué 4.13 diz-nos que 40.000 atraves- REFERÊNCIAS AO LIVRO DE N Ü M E R O S N O
saram o Jordão, por isso ficaram 70.580 homens para NOVO T E S T A M E N T O
defender as famílias.
Nm 12.7 - Moisés fiel em toda a sua casa (Hb
Capítulos 33 e 34 3.5,6).
Nm 14.16 - Prostrados no deserto (1 Co 10.5 e Hb
No capítulo 33 temos uma lista dos pontos visita- 3.17).
dos pelos israelitas desde que partiram do Egito "aos Nm 16.5 - "Jeová mostrará quem sáo os seus" (2
quinze dias do primeiro mês" (v. 3) até afinal acam- Tm 2.19).
parem-se "junto ao Jordão... nas planícies de Moa- Nm 17.8 - A vara de Aarão floresce (Hb 9.4).
be" (v. 49). Uma lista comprida que, hoje em dia, Nm 19.1-9 - A respeito da bezerra ruiva (Hb
não parece ter muito interesse ou instrução para nós. 9.13).
Mas não podemos dizer que carece inteiramente de Nm 22.5 - Balaão. filho de Beor ou Bosor (2 Pe
ensino sem investigar o sentido de cada nome recor- 2.15. Jd 11 e Ap 2.14).
dado, e sua possível significação para um povo pere- Nm 24.6 - Como árvore do sàndalo, que o Senhor
grino. plantou (Hb 8.2).
A comparação "como ovelhas que não têm pas-
Capítulos 35 e 36 tor" aparece pela primeira vez em Números 27.17.
Compare-se com 1 Reis 22.17; 2 Crônicas 18.16; Eze-

V
Cidades dos levitas e cidades de refúgio. " A s ci- quiel 34.5; Zacarias 10.2 e no Novo Testamento com
dades de refúgio sáo tipos de Cristo como o abrigo do Mateus 9.36 e Marcos 6.34 (Angus).

68
Deuteronômio

euteronômio trata "Os tradutores para o grego chamaram-no 'Deu-


dos últimos conselhos teronômio*, que significa segunda lei. ou segunda
de Moisés a Israel em edição da lei. não emendada, mas acrescentada para
vista de sua próxima a direção do povo em certos casos não mencionados
entrada na Terra, antes" (Matthew Henry).
das peregrinações de Israel no
a uma geração que nasce-
dá as instruções necessárias para a ANÁLISE DO DEUTERONOMIO
__ , Terra, e contém o pacto pales- 1. Uma revista às peregrinações de Israel e às longa -
tiniano (30.1-9). O Livro respira a inflexibilidade da nimidades de Deus (caps. 1 a 4.40).
Lei. Introdução (cap. 1.1-5).
E importante notar que, enquanto a Terra foi 1.1. De Horebe a Cades (cap. 1.6-46).
dada incondicionalmente a Abraão e à sua semente 1.2. De Cades a Hesbom e Bete-Peor (caps. 2 e 3).
no Pacto Abraâmico (Gn 13.15; 15.7), foi sob o con- 1.3. Exortações à obediência com um aviso (cap.
dicional Pacto Palestiniano que Israel entrou na Terra, 4.1-40).
sob a chefia de Josué. Havendo transgredido com- Nota histórica (cap. 4.41-43).
pletamente as condições desse pacto, a nação foi pri- 2. A repetição e Exposição da I^ei (caps. 4.44 a 26).
meiro dividida (1 Rs 12) e depois banida. (2 Rs 17.1- Introdução (cap. 4.44-49).
18; 24.1-25.11). Mas o concerto incondicional prome- 2.1. Parte 1. A Lei sinaitica (caps. 5 a 11).
te a Israel uma restauração nacional ainda futura 2.1.1. Recitação do Decálogo (cap. 5.1-21).
(Gn 15.18).
2.1.2. Discurso sobre o Decálogo (caps. 5.22
O Deuteronômio tem sete divisões: 1) Resumo da a 11.32).
história de Israel no deserto (1.1 a 3.29). 2) A repeti-
ção da Lei, com avisos e exortações (4.1 a 11.32). 3) 2.2. Parte 2. Leis especiais (caps. 12 a 26).
Instruções, avisos e predições (12.1 a 27.26). 4) As 2.2.1. Concernentes à religião (caps. 12.1 a
profecias finais, resumindo o futuro de Israel até a 16.17).
segunda Vinda de Cristo, e o Pacto Palestiniano 2.2.2. Concernentes ao governo (cape. 16.18
(28.1 a 30.20). 5) últimos conselhos aos sacerdotes, ao 20).
aos levitas e a Josué (cap. 31). 6) O cântico de Moi- 2.2.3. Concernentes á vida privada e soei
sés e suas bénçáos finais (caps. 32 a 33). 7) A morte ai (caps. 21 a 26).
de Moisés (cap. 34) (Scofield). 3. Uma revelação dos futuros propósitos de Deus re-
Este livro é uma repetição de muito da história e ferentes a Israel (caps. 27 a 30).
das leis contidas nos três livros anteriores, e dada ao 3.1. A vista de longe (caps. 27,28).
povo por Moisés pouco antes da sua morte. Não con- 3.2. A vista de perto (caps. 29,30).
tém história nova, a não ser a morte de Moisés, nem 4. Relatório dos últimos acontecimenos da vida de
nenhuma nova revelação a Moisés, por isso não en- Moisés (caps. 31 a 34).
contramos as palavras: "o Senhor falou a Moisés di- 4.1. Quatro solenes avisos (cap. 31.1-29).
zendo", mas as leis dadas anteriormente são repeti- 4.2. O cântico profético de Moisés (caps. 31.30 a
das, comentadas e explicadas, e alguns preceitos 32.44).
acrescentados, com bastantes razões para a obediên- 4.3. Moisés mandado subir o Nebo e morrer (cap.
cia. 32.48-52).

69
(Deuteronômio
4.4. As bênçãos de Moisés sobre as 12 tribos (cap. lhes deu a terra; Deus abençoou a obra das suas
33). mãos: o amor estava detrás de todo o trato de Deus
com Israel Foi o infinito amor de Deus que escolheu
Apêndice (cap. 34). Israel em Gênesis, que o livrou em Êxodo, que o cha-
mou a adorar e a andar dignamente em Números.
A MENSAGEM DO DEUTERONÔMIO Mas então o povo tinha somente os sinais desse
Este é o último livro do Pentateuco, mas não é o amor! Agora o tem declarado. E não é assim em
menos importante. De algum modo, é um resumo de qualquer retrospecto das nossas vidas? Porventura
todo o procedente, e por isso se relaciona com Gêne- náo percebemos que os acontecimentos e experiência
sis, Êxodo e Levítico, como o Evangelho de João se do passado, que em tempos ressentimos, foram o
relaciona com os sinópticos; mas aqui, como em propósito do amor infinito? Que esta lição nos ensine
João, novas feições são acrescentadas que lançam uma completa submissão àquele Deus que é amor!
para trás nova luz sobre toda a história precedente. 2) Os requerimentos do amor
A importância excepcional deste livro é revelada de Aqui temos a Lei dada pela segunda vez. e um
vários modos, um ou dois deles podemos notar: comprido discurso sobre ela, sendo revelada a sua re-
1) A palavra "Ouve" é empregada, para chamar lação com a vida espiritual e prática. Desta sef?unda
atenção, mais de 20 vezes, e a exortação "Lembrai parte, o livro toma seu nome de "Segunda Lei".
vos" umas 15 vezes. Ora, lendo o livro, se vê que a nota predominante
2) Seu conteúdo havia de ser decorado e repetido nele é obediência, e sente-se que o requerimento do
incessantemente durante as gerações de Israel (6.4-9 Amor é isto mesmo: "Sois meus amigos, se fazeis o
e 11.18-21). Ainda mais. esta Lei havia de ser lida que vos mando". "Fazer", neste sentido, ocorre mais
aos ouvidos de todo o povo de sete em sete anos, para de 50 vezes, e, pela referência á história do povo, é
que nunca se esquecessem do que o Senhor tinha di- claro que, quando obedecia, prosperava, mas, quan-
to, e nunca deixassem de observá-la (31.10-13). do desobedecia, decaia. O amor de Deus é firme, e
também eterno; consistente, e também compassivo;
3) Fez-se uma disposição especial para a conser-
justo, e também generoso. Se nós lhe desobedece-
vação deste livro: "Tomai este livro da lei, e ponde-o
mos. náo é a sua ira que nos castiga, mas seu amor; e
ao lado da arca da aliança de Jeová vosso Deus. para
quando pecamos, ofendemos, não somente a divina
que ali esteja por testemunha contra vós" (31.26).
justiça mas o infinito amor. Sendo assim, se não te-
4) A eficácia do seu emprego legítimo contra os mos receio da justiça divina, devemos ter vergonha
poderes das trevas é demonstrada em Mateus 4.1-11. de ofender o seu amor. Não pecar por medo das con-
onde o Senhor u cita três vezes em resposta às tenta- seqüências é, em si. um pecado, mas o não pecar
ções de Satanás, e assim vence o Tentador. O empre- pelo receio de ferir o amor eterno, é conhecer a Deus.
go da mesma palavra e do mesmo modo trará a cada Que esta parte do livro nos ensine os requerimentos
um de nós o mesmo resultado. do amor: a) Na nossa vida espiritual (12.1 a 16.7); b)
5) O livro é citado ao menos 90 vezes no N.T. na nossa vida cívica e nacional (16.18 a cap. 20); c)
"Podemos dizer que a grande mensagem do Deu- na nossa vida privada e social (cap. 21 a cap. 26); e
teronômio é o amor divino. Ê bom notar que o amor então, no nome de Cristo e no poder de Cristo, obe-
de Deus nunca é referido entre Gênesis e Números, deçamos!
mas ocorre pela primeira vez no Deuteronômio, onde
é revelado como o grande segredo de tudo o que Deus 3) .4 revelação do amor
fizera para seu povo durante todos os séculos ante- A primeira parte do Deuteronômio é histórica; a
riores. 'Porque amou a teus pais. escolheu a sua se- segunda legislativa; e a terceira profética. É nesta
mente' (4.37); 'Jeová não vos teve afeição, nem vos que temos a revelaçáo do amor de Deus num grau es-
escolheu, porque éreis mais numerosos que qualquer pecial. Us juízos preditos contra um povo desobe-
povo... mas porque Jeová vos amou' (7.7,8); 'Tão- diente não são decretos arbitrários de um tirano
somente Jeová teve afeição a teus pais para os amar' cruel, mas os fortes avisos de um amor infinito. Se ti-
(10.15). 'Todavia Jeová teu Deus não quis ouvir a vesse obedecido a Deus, Israel nunca tena sido en-
Balaão; porém trocou-te em bênção a maldição, por- vergonhado, mas não quis fazer assim. Ao fim da sua
que te amava' (23.5). Aqui aprendemos com gTata vida, Moisés divisou: a) uma nova geração, pois to-
admiração que Deus ama a seu povo, embora peque- dos os de mais de 20 anos que vieram do Egito, exce-
no em número, e que torna cada maldição em bên- to Josué e Calebe. pereceram: b) uma nova terra, e
ção. Bem pode ser o amor divino a mensagem deste ele agora, pela segunda vez, está na divisa dela,
livro. Mil louvores ao nosso grande Redentor! apreciando as suas possibilidades, mas para os ou-
O tema do Deuteronômio pode ser ligado, em re- tros; c) uma nova vida a ser passada nessa terra: ca-
lação ao passado, presente e futuro de Israel (e indi- sas em vez de tendas; o Templo em vez do Taberná-
retamente a nós mesmos) da seguinte maneira: culo; uma vida permanente em vez de peregrinação;
1) O retrospecto do amor passado (1 a 4). a terra em vez do deserto; o trigo em vez do maná -
2) Oe requerimento» do amor presente (5 a 26). tudo novo e apreciável; d) novos deveres para com
3) A revelação do amor futuro (27 a 34). Deus, e uns para com os outros, que são revelados
Isso geralmente, embora náo exclusivamente, mui detalhadamente nestes últimos capítulos. E em
vem a ser o assunto das três grandes divisões deste li- pouco tempo Moisés havia de dar lugar a: e) um
vro. novo guia. Assim, no capítulo 31 ele entrega a Josué
1) O retrospecto, do amor o encargo, e então se despede do povo.
Na revista que Moisés dá da história do povo, ele Com tanta coisa nova, quão urgente é a necessi-
apresenta o quadro das peregrinações no deserto, os dade de uma nova revelaçáo do divino amor, que en-
reveses e sucessos, e sempre frisa o fato de que o povo contramos neste livro! A vontade de Deus é declara-
devia tudo a Deus: Deus apontou o caminho; Deus da, bem como as conseqüências da obediência e da
aumentou o povo; Deus entregou os inimigos: Deus desobediência. Basta estudar a história subseqüente

70
VeuUronômio

de Israel para verificar a veracidade destas predi- Capítulo 2


çòes. A significação de tudo isto para nós é demasia-
damente evidente para precisar ser discutida, mas Diversas peregrinações. Notemos as diversas ma-
lembremo-nos, ao terminar a leitura do livro, que: neiras por que Israel havia de tratar as diferentes na-
1) Todo o nosso passado tem sido ordenado pelo ções - por um lado Edom, Moabe e Amom, e por ou-
amor de Deus. tro os amorreus. Não havia de molestar o primeiro
2) Esse amor requer uma obediência implícita grupo, mas com os amorreus a ordem era "fazer-lhes
cada dia e cada hora do presente. guerra " (v. 24). Assim para nós também é importan-
3) Esse infinito amor está agindo em prol de todo te discernir com quem havemos de contender, e o que
o nosso futuro (Scroggie). devemos simplesmente tolerar. Tudo isto da história
de Israel é para nosso ensino, pois "estas coisas lhes
Capitulo 1 aconteciam como figuras" (1 Co 10.11).
O conflito começa antes de chegar á Terra ( w .
Moisés reconta a partida de Horebe, etc. Deve- 26-37), e em nossa experiência espiritual pode haver
mos ter bastante cuidado em entender corretamente conflito, talvez coin concupiscências carnais, antes
a expressão várias vezes repetida: "além do Jordão" de começarmos a tomar posse das bênçãos espiri-
(v.l. etc.) O sentido depende do ponto de vista de tuais na "Terra Prometida " ao povo de Deus hoje. É
quem escreve. Quem escreveu o versículo 1 evidente- preciso nunca pensar que a terra da promessa seja
mente estava na Terra, pois fala de estar além do uma figura do Céu. Pode ser mais uma figura dos
•Jordão o deserto, o Arabá. Sufe, etc. por isso quando "lugares celestiais" referidos várias vezes em Efé-
diz "além" quer dizer "ao leste". Mas em 3.25 quan- sios: lugares de conflitos e também de bênçãos espi-
do Moisés diz "Deixa-me passar a ver a boa terra rituais.
como está além d<> Jordão", é claro que por "além"
ele quer dizer "ao oeste" Assim cada vez que encon- Capitulo 3
tramos a expressão precisamos verificar onde está o
escritor, para ver em que direção ele está olhando. Moisés continua relatando as conquistas ao leste
Este capítulo começa com um discurso de Moi- do Jordão, incluindo a do gigantesco rei Ogue de Ba-
sés, e nota o lugar ("além do Jordão, na terra de sá. Depois conta como rogou a Deus para revogar a
Moabe") e o dia ("depois de ter derrotado a Seom "). sentença proibindo-lhe a entrada na Terra Prometi-
Mas notemos que Moisés olha para trás 40 anos da. por causa da sua desobediência ( w . 23-29). Não
quando começa: "Jeová nosso Deus falou-nos em há, porém, arrependimento com Deus, pois Ele nun-
Horebe". pois se refere à ocasião em que Deus dera a ca fala precipitadamente nem pode emendar o que
Lei sobre o monte Sinai. diz. O pedido é recusado, por amor ao povo, que pre-
Sobre Horebe, diz Davis: "Os nomes Horebe e Si- cisa aprender os caminhos de Jeová; mas de Pisga, a
nai aparecem designado em diversos lugares o mes- Moisés é permitido ver a Terra (Grant).
mo monte. Este fato tem sido explicado por vários
modos. Dizem que os dois termos não se referem exa- Capitulo 4
tamente ao mesmo lugar. Horebe é o nome da cordi-
Exortação à obediência. Antes mesmo de entrar
lheira. e Sinai um dos pontos salientes". Outras au-
na Terra, Israel é avisado de como. pela sua desobe-
toridades dão explicações diferentes.
diência, poderia perdê-la mais tarde (vv. 23-26). E
Vemos a grande extensão da Terra dada a Israel
não devemos pensar que Israel era um povo excep-
por Deus: "até o rio Eufrates". mas nunca assim
cionalmente perverso; era antes uma amostra da hu-
possuída por Israel. E nós. porventura, tomamos
manidade. E nós também facilmente perdemos bên-
posse de tudo que é nosso, segundo o plano e promes-
çãos espirituais se consentimos em pecados carnais
sa de Deus? O apóstolo diz: "todas as coisas são vos-
ou mundanos.
aos", e por isso devemos poder tirar algum resultado
e proveito de todas elas (1 Co 3.21). Matthew Henry chama atenção a diversas exor-
tações de Moisés neste capítulo, a saber:
No versículo 19. quando Moisés diz: "chegamos a
1) A uma diligente atenção á Palavra de Deus (v.
Cades-Baméia". refere-se á primeira visita ali. des-
crita em Números 13 e não á segunda, de Números 1).
20.1, uns 39 anos mais tarde. 2) A conservar a divina Lei pura e integral (v.2).
3) A guardar os mandamentos divinos (v.2), e
obedecer-lhes (vv. 5,14), a observá-los (v. 6), e a
Os espias enviados (vv. 22-25). Descobrimos aqui guardar a aliança (v.13).
o que não aparece em N"úmeros, que a missão dos es- 4) A ser muito pontual e cuidadoso na observação
pias foi primeiramente uma sugestão do povo. E ver- da Lei ( w . 9; 15: 29).
dade que Moisés concordou com isso e Deus mesmo 5) A fugir da idolatria ( w . 15,16).
o permitiu, pois em Números são enviados a seu 6) A ensinar a Lei aos seus filhos ( w . 9,10).
mandado. É claro, pois, que não há nada errado na 7) A não esquecer a aliança (v. 23).
idéia, mas podia ter havido erro no motivo do povo. Junto com estas exortações. Moisés acrescenta
A incredulidade deseja, como sabemos, ver bem o oito motivos por que devem elas ser atendidas. Estes
caminho que vai trilhar; quer saber o que vai encon- motivos o leitor poderá procurar por si mesmo.
trar, e informar seus planos. Deus podia consentir is-
so, como mais uma prova de grandeza da terra, sen- Capítulo 5
do o fruto uma prova inegável. Nada há, porém,
mais insensato do que a incredulidade (Grant). A repetição dos Dez Mandamentos. Neste capi-
Proposta emenda de tradução (v. 5): Moisés vo- tulo vemos um motivo diferente de o de Êxodo 20,
luntariamente empreendeu a declarar (R. 79). (v. 6): para a guarda do sábado. Quanto a isto F. W. Grant
Bastante tempo haveis estado. escreve:

71
Deuterononuo
" N a recapitulaçáo da Lei é evidente, como no Escola Dominical. Importa que haja o ensino da ver-
quarto mandamento, especialmente, que Moisés não dade de Deus no seio da família. Dois livros que aju-
se limita a citar textualmente as palavras divinas. A dam os pais neste precioso dever sâo "Palestras com
base da observação do sábado é aqui, nào os seis dias os Meninos", e "Catecismo Rimado".
de formar os céus e a terra, mas a redenção de Israel Comentando os primeiros versículos deste capi-
no Egito (v. 15). Já se vê, um motivo não desfaz o ou- tulo, Matthew Henry diz: Observemos:
tro; e, em verdade, o segundo é um suplemento ne- 1) "Que Moisés ensinou ao povo tão-somente o
cessário ao primeiro". que Deus lhe mandara (v. 1). Assim os servos de
No quinto mandamento, as palavras "como Jeo- Deus hoje devem ensinar às igrejas da mesma forma.
vá teu Deus te ordenou" mostram claramente que 2) "Que o propósito do ensino era que o povo obe-
Moisés não está apenas repetindo. Ele acrescenta decesse - pusesse em prática - os ensinos.
ainda mais, comentando: "para que te vá bem na 3) "Que Moisés procurou dar ao povo uma dispo-
terra que Jeová teu Deus te dá". sição e direção piedosa agora que iam entrar na terra
Moisés torna a recordar ao povo como ficara im- e provar seu conforto, ao mesmo tempo que haviam
pressionado, amedrontado, ao ouvir a voz de Deus. de enfrentar seus perigos.
"Agora pois por que havemos de morrer? Este gran- 4) "Que o temor do Senhor será o mais poderoso
de fogo nos consumirá; se nós tomarmos a ouvir a motivo para a obediência (v.2).
voz de Jeová nosso Deus. morreremos." E nós, na 5) "Que uma herança de religião numa família é
plena bênçáo do Evangelho, devemos dar graças a a herança mais proveitosa.
Deus que temos ouvido a voz divina falando-nos, 6) "Que a religião e a retidão promovem e garan-
com palavras cheias de graça e verdade. tem a prosperidade de qualquer povo (v. 2)".
Como em Êxodo, o Decálogo está em duas tá- Sobre o amor a Deus ensinado no versículo 5, o
buas. A primeira se ocupa com o homem relacionado mesmo comentador diz que havemos de amar: a)
com Deus (6-15) e a segunda com o homem relacio- Como o Senhor, o melhor de todos os seres e o mais
nado com seu semelhante (16-21). excelente em Si. b) Como nosso Deus e nosso Pai - o
Nas leis da primeira tábua nosso pensamento es- melhor dos amigos e o mais beneficente dos benféito-
tá dirigido para quatro coisas: res.
1) A pessoa de Deus (6,7) estabelecendo a verda- Devemos amá-lo com amor sincero, não somente
de do monoteísmo (um Deus) em contraste com o de palavra, mas de coraçào; com um amor forte, com
politeísmo (muitos deuses) ou o panteísmo (que tudo ardor e fervor; com um amor superlativo. mais do
é deus). Israel era distinguido das outras nações pela que qualquer criatura; cora um amor integral, pois
sua crença em um só Deus. que toda a corrente da nossa afeição deve ir na dire-
ção dele. Que o amor de Deus seja derramado em
2) O culto de Deus (8-10). Náo basta que Jeová
nossos corações!
somente seja servido: precisa ser servido de maneira
própria, conforme for indicada. Aqui se frisa a espiri- Aprendamos aqui o que devemos fazer com a Pa-
tualidade de Deus. Ele não há de ser materializado lavra de Deus:
por meio de imagens. 1) Ela deve estar no coraçào (6). Primeiro de tudo
3) O nome de Deus (11). Visto que o nome de aprendamos a amar a Deus (v. 5) e a prezar as suas
Deus representa a sua natureza, qualquer uso irreve- palavras.
rente dele é uma blasfêmia. 2) Ensiná-la aos filhos, de maneira, já se vê, que
4) O descanso de Deus (12-15): "Isto encerra um sejam aceitáveis às suas inteligências pouco desen-
problema que merece a nossa inteligente considera- volvidas.
ção. Podemos dizer com certeza que o último dia da 3) Conversar a respeito dela na família (7) - mas
semana era dia de guarda de todo o israelita" este ensino nem sempre tem sido praticado!
(Scroggie). 4) Conversar sobre ela quando passeando.
Na segunda tábua da Lei o movimento é do exte- 5) Ser ela o nosso último pensamento ao deitar.
rior para o interior, das obras (16-19) às palavras 6) E o mesmo pensamento ao levantar (7).
(20), ao coração (21). 7) Atá-la como "sinal na tua mão" (dá idéia de
O desprezo dos pais é um golpe nos alicerces da que nossas obras devem ser sujeitas à Palavra de
sociedade. Depois seguem-se as proibições do assas- Deus).
sinato. da falta de castidade, e da desonestidade. O 8) Ser ela "como frontais entre teus olhos" (ensi-
progresso da civilização não dispensa tais manda- na que devemos ser guiados por ela).
mentos. 9) Atá-la "nos umbrais da tua casa" o que dá a
Neste capitulo, no último parágrafo, Moisés rela- idéia de que nossa vida caseira deve ser submetida à
ta como foi apontado para ser mediador entre Israel vontade divina.
e Jeová (22.23). Primeiro, Israel fala e Moisés escuta 10) Tê-la "nas tuas portas", para que todos os
(23-27); segundo, Deus fala, e Moisés ouve (28.31), e que passem possam vê-la (Goodman).
então Moisés fala e Israel ouve (32-33). O mesmo que
Moisés fez para Israel, Cristo faz por nós; Ele fala Capítulo 7
por nós a Deus e então fala de Deus a nós (Scroggie). O capítulo começa com o aviso de que não podia
Proposta emenda de tradução (v. 33): "para que haver qualquer comunhão com ídolos ou idolatras
vivais uma vida abundante" (R. 32). ( w . 1,2); nem casamentos com eles ( w . 3,4) - mais
um motivo para o crente evitar o jugo desigual no
Capítulo 6 matrimônio. Haviam de destruir todos os apetrechos
da idolatria passada (v. 5). Seguem promessas da
O fim da Lei é o obediência. Notemos especial- continuada proteção divina no caso da obediência
mente a exortação a ensinar as verdades divinas aos (v. 13) e que Deus seria seu suficiente amparo (v.
filhos (v. 7). Não é suficiente mandar os meninos à 21).

72
Na justa retribuição de Deus, os iníquos canani- Capítulo 10
tas haviam de ser extirpados (v. 2). e assim Israel
veio a ser a vara que Deus empregou para infligir- Matthew Henry nota neste capitulo que havia
lhes o merecido castigo. Não podendo deixar de pen- quatro sinais de Deus ter resolvido a continuar pro-
sar que um dever tão sanguinário havia de precisar tegendo Israel:
ser executado bem solenemente para não resultar em 1) Deu-lhe a sua Lei, por escrito, como prova do
condenação moral para os próprios israelitas. seu continuado favor: As tábuas foram quebradas
A grande lição do capitulo é a separação de tudo porque a Lei fora quebrada, e Deus podia ter quebra-
e de todos que Deus desaprova. Contudo, ao mesmo do seu pacto. Mas quando a sua ira passou, Ele reno-
tempo que nos afastamos da lepra e do leproso, deve- vou as tábuas.
mos nos compadecer da pessoa doente. Temos com- 2) Ele conduziu o povo na direção de Canaá. em-
paixão do pecador, mas reprovamos os seus pecados. bora esse povo pretendesse voltar ao Egito ( w . 6,7).
Levou-o a uma terra de rios de água.
3) Levantou no seu meio um ministério espiri-
Capítulo 8 tual, separando a tribo de Levi para esse fim. talvez
porque Levi tinha sido fiel no incidente do bezerro de
Avisos e exortações. Aprendemos deste capítulo: ouro (Êx 32.29).
1) Que o povo de Deus precisa, de vez em quan- 4) Ele aceitou Moisés como advogado e interces-
do, considerar o passado e lembrar-se "de todo o ca- sor, e assim o constituiu príncipe e guia de Israel (v.
minho pelo qual Jeová teu Deus te há conduzido" (v. II).
2). O versículo 16 ensina-nos. como aprendemos
2) Que o povo de Deus deve perceber nas prova- também de Deuteronômio 30.6; Jeremias 4.4 e Ro-
ções passadas, propósitos divinos de instrução ( w . manos 2.28,29, que a circuncisáo tinha alguma signi-
2.3). ficação espiritual que os cristãos também podem
3) Que o povo de Deus pode discernir a evidência aproveitar, embora eles náo usem rito material idên-
da proteção divina e dos socorros milagrosos no pas- tico aos judeus.
sado: "o teu vestido não te caiu de velho, nem se em- O capítulo termina com uma declaração do cará-
polgou teu pé, por estes quarenta anos" (v. 4). ter e majestade de Deus, à qual podemos acrescentar
4) Que o povo de Deus deve perceber a disciplina ainda outras características mais preciosas, revela-
divina nas experiências da sua peregrinação (v.5). das em Cristo.
5) Que o povo de Deus deve ser encorajado pela
perspectiva de futuras bênçãos (v. 7). Capítulo 11
6) Que o povo de Deus precisa guardar-se do es-
quecimento das providências passadas, e deve obe- As lições do passado precisam ser ponderadas e
decer aos mandamentos divinos (v. 11). aprendidas (vy. 3-7). A obediência é o caminho da
7) Que é possível ao povo de Deus imaginar que prosperidade (v. 9).
poderes próprios têm conquistado as bênçãos que Notemos a expressão "regar com o pé" no versí-
goza ( w . 12-17). culo 10, que no Brasil pode não ser bem entendida.
8) Que é sempre possível o próprio povo de Deus Em Portugal regar as hortas com o pé é freqüente,
ser seduzido a andar atrás de outros deuses (v. 19). como antigamente no Egito. Fazem-se canais na su-
como fazem os descrentes. Ou confiar, por exemplo, perfície da terra, laterais e transversais, e quando a
no dinheiro em vez de confiar em Deus e na sua pro- água está correndo num canal lateral e é preciso des-
teção. viá-la para outro transversal, abre-se o barranco do
canal principal com o pé, para a água poder entrar
no canal transversal. A promessa é que na Terra
Capitulo 9 Santa este trabalho não será preciso, porque as chu-
vas serão suficientes para regar a terra (v. I I ) . No
Moisés lembra aos israelitas as suas murmura- Egito há falta de chuva, e a terra é regada pelo rio
ções e infidelidades. Neste capítulo Israel é encoraja- Nilo mediante os tais canais superficiais. A chuva é
do com a promessa da presença protetora de Deus prometida como prêmio da obediência (v. 14).
(v. 3); é advertido a não imaginar que a posse da ter- Nos versículos 18 a 21 vemos a Palavra de Deus
ra prometida seria o prêmio da sua bondade, mas. decorada, escrita, ensinada aos filhos e obedecida. A
pelo contrário, seria por motivo das maldades dos família que pratica isto hoje é uma família abençoa-
seus primitivos habitantes ( w . 4,5); é reprovado pe- da.
las suas rebeliões passadas (v. 7); é lembrado de "Todo lugar que pisardes será vosso" (v. 24)? Ê
como Deus dera a I^ei em Horebe (versículo 9 em neçessário tomar posse de tudo que Deus nos dá. O
diante); é argüido da sua idolatria passada (v. 16); e homem espiritual sabe lucrar de tudo, mas a maioria
incredulidade (v. 23). somente sabe tomar posse das coisas agradáveis e
O certo é que, apesar de Israel ter sido constante- não lucrar nada dos apertos e provações. Podemos
mente rebelde, Deus continuou a interessar-se pelo ter certeza de que temos "tomado posse" quando pu-
seu povo, e a protegê-lo. dermos dar graças a Deus por tal experiência.
Com certeza Israel muito devia à intercessáo de
Moisés, relatada nos versículos 26-29. E nós pode- Capitulo 12
mos usar este mesmo ministério de intercessáo.
O lugar de culto escolhido por Deus. Vemos neste
"Não é pela tua justiça..." (v. 5). Muitas vezes, capítulo que o lugar central do culto divino em Israel
na história do mundo. Deus tem castigado os iníquos não havia de ser deixado à preferência do povo, mas
pela instrumentalidade de homens tão maus como que Deus mesmo havia de escolher o ponto "para ali
eles. por o seu nome" ( w . 5-18).

73
Hoje o centro da congregação do povo de Deus levita, ao peregrino, ao órfão e á viúva". O cristão
não é mais um ponto geográfico, e muito menos um hoje náo está debaixo de nenhuma Lei do dizimo,
método de governo ou um rito qualquer, mas é "onde mas reconhece que "o dízimo é do Senhor" (Lv
dois ou três estdo congregados em seu nome". Ali 27.30) e por isso contribui com o seu dizimo para o
Cristo está no meio deles. Qualquer grupo cristão trabalho do Senhor, dando-o à igreja a que pertence.
hoje pode bem indagar qual é o vinculo da sua união. F. W. Grant diz: "Este dizimo é uma das leis su-
Sérã, porventura, uma opiniào, ou um parecer sobre plementares do Deuteronômio; um segundo dizimo,
doutrina? Será um acordo sobre o governo da igreja? não o primeiro que pertence somente a Deus. Este
Será um método de batismo? ou um interesse co- era para ser comido junto ao santuário pela pessoa
mum em Cristo? que dizimara seus terrenos, junto com sua família, e
Notemos no versículo 23 a proibição de comer o sem se esquecer do levita. Assim ele vem perante
sangue, a única proibiçáo cerimonial que passou Deus, para reconhecer as suas misericórdias e gozá-
para o cristianismo (At 15.19). las com Deus".
Capitulo 15
Capitulo 13
O ann da remissão. Parece haver na V. B. uma
Falsos profetas. Algum falso profeta poderia, tal- contradição entre o versículo 4 "Contudo não haverá
vez, "mostrar um milagre ou prodígio" (v. 1) mas o entre ti pobre algum" e o versículo 11 "Pois nunca
seu ensino iria desencaminhar o povo de seguir a deixará de haver pobres na terra". Por isso pode ser
Deus. Por isso havia de ser morto. Nós podemos pro- preferível adotar a tradução de Almeida no versículo 4:
var as doutrinas novas pelo seu valor espiritual: se "Somente para que entre ti não haja pobre". F. W.
promovem a espiritualidade ou se afastam os adep- Círant diz: "Deus não quer que haja pobres entre seu
tos do seu contato com Deus. Caso o sabatista tenha p<*vo. embora sempre os haverá".
a sua vida espiritual ressicada e murcha, isto por si Do versículo 12 em diante temos o caso de um is-
só condenaria a doutrina que professa prova que
raelita que se vendera como escravo. Devemos notar
ela afasta de Deus os adeptos da sua doutrina.
a grande diferença entre esse tipo de escravatura e a
Nos versículos 6 a 11 supõe-se o caso da tentação escravatura forçada em séculos passados, quando os
para a idolatria vir mediante um parente chegado, africanos foram roubados das suas famílias e vendi-
como vemos que a tentação de Adão chegou-lhe pela dos; ou a escravatura de hoje. quando milhares, de
própria esposa. povos subjugados, sáo levados das suas terras para
Mesmo assim, o ofensor havia de ser denunciado trabalhar para os seus conquistadores. [Isto foi escri-
aos juizes, e o parente que ele quis seduzir seria o pri- to em 1942. j
meiro a atirar a pedra de condenação contra ele (v. No versículo 17 temos o caso interessante de um
9). Devemos dar a Deus e à sua verdade o supremo escravo que queria servir para sempre, e nesse caso
lugar nas nossas afeições, náo consentindo que a "tomarás uma sovela, e furar-lhe-ás a orelha á porta,
afeição de parentesco nos desencaminhe. Diz e ele ficará teu escravo para sempre". Ainda hoje dá-
Matthew Henrv: "São esses os nossos maiores inimi- se o caso de que alguns servos de Deus não têm am-
gos, os que querem afastar-nos de Deus, e qualquer
bição de serem aposentados. Acham todo seu prazer
cilada que nos alicia para o pecado ameaça nossa
vida espiritual, e precisa ser repelida energicamen- no serviço, como disse o Senhor Jesus, nas palavras
te". do salmista: "Em fazer a tua vontade. Deus meu, eu
me deleito" (SI 40.8). Alguns julgam haver uma refe-
Notemos que a morte do iníquo náo era mera vin- rência a isto nas paiavras "as minhas orelhas furas-
gança, mas um meio de salvação para os outros: te" (SI 40.6) e pensam que ali temos uma alusão a
"Todo o Israel ouvirá e temerá e não se tornará a fa- Deuteronômio 15.17.
zer uma coisa má como esta. no meio de ti" (v. 11).
O certo é que o serviço de Deus é a ocupação mais
Que coisa boa quando nossa vida contribui para o bem-aventurada que uma criatura humana pode ex-
bem dos nossos semelhantes, e quando ninguém há perimentar.
de desejar a nossa morte!
A última hipótese no capitulo ( w . 12 a 18) é de Capitulo 16
uma cidade revoltada contra Deus, e essa cidade ha-
via de ser destruída, depois de o caso ter sido bem in- As três festas. Podemos comparar este capítulo
vestigado (v. 14). Por suposto, a grande maioria dos com Levítico 23, que discrimina sete festas nacionais
habitantes teria adotado a mesma idolatria, e os fiéis em cada ano.
a Deus teriam saído do lugar antes da sua destrui- "Aqui a Páscoa e a festa dos Tabernáculos são es-
ção. Leis tão severas como estas não prevalecem ho- pecialmente marcadas como figurando o começo e
je, porque Deus náo está preocupado em reformar o consumação dos caminhos de Deus para com Israel:
mundo, mas em salvar dele um povo arrependido e a primeira falando da redenção, a base de tudo; a úl-
remido. tima. da reunião de Israel abençoada no reino mile-
nial. Entre elas, em Deuteronômio 16.9-12, vem a
Capitulo 14 festa das semanas - o gozo de um povo remido, ante-
cipando maiores bênçãos vindouras. Vemos o parale-
Animais limpos e imundos. Podemos notar que lo disto em Romanos 5.1,2."
os animais proibidos aos israelitas sob a Lei quase Notemos no versículo 4 que nada do sacrifício po-
todos eram nocivos à saúde; por isso nós, que não es- dia ser guardado até o dia seguinte. Tudo havia de
tamos debaixo da Lei, fazemos bem em atender ás ser comido. Toda a verdade que conhecemos precisa
mesmas proibições. ser apropriada na nossa vida. Saber e náo praticar é
No que diz respeito aos dízimos (v. 22 em diante) um prejuízo.
vèmos aqui que o dízimo era para comer diante do Podemos ligar certos pensamentos com estas três
Senhor, e não, como no capitulo 26.12, para dar "ao festas referidas no capitulo 16.

74
(Deuteronômio
1) Recordação. O propósito da Páscoa era recor- N o caso de haver o pecado mortal de idolatria,
dar anualmente a saída do Egito, uma grande salva- vemos o cuidado de exigir duas ou três testemunhas.
ção de Deus. Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por E mesmo no caso de ofensas menores uma só teste-
nós. e recordamos a sua obra redentora cada vez que munha náo é suficiente para condenar o ofensor.
tomamos a Santa Ceia. Podemc» reconhecer que tais Contudo, à» vezes, o pecador, sendo confrontado
recordações são de sumo proveito espiritual, e que pela única pessoa que presenciou o mal. testifica
seriamos sensivelmente empobrecidos se fôssemos contra si, confessando seu pecado.
privados delas. Em casos difíceis demais para resolver pelos tri-
2) Expiação. O sacrifício do cordeiro pascal havia bunais comuns, o santuário veio a ser o último lugar
de lembrar ao israelita a necessidade de expiação de apelo (v.9) e a voz do sacerdote confirmou a do
pelo pecado, e no vinho de Santa Ceia temos a mes- juiz. E dessa sentença não havia apelação (Grant)
ma lembrança.
A escolha de um rei havia de ser em sujeição à
3) Santificação era sugerida pela ausência de fer- vontade divina (w.14-20). O desejo de ter um rei e
mento. ser semelhante às nações em redor era muito natu-
4) O centro único: "o lugar que Jeová teu Deus ral, porém, não tinha a aprovação divina (1 Sm 8.7)
escolher". Hoje o divino centro para a reunião do embora houvesse de ser permitido, com as condições
povo de Deus é "o meu Nome" ( M t 18.23), onde po- estabelecidas neste capítulo. Vemos a proibição do
dem caber todos os que têm interesse no nome de versículo 17: "Nem multiplicará para si mulheres",
Cristo. e notamos como Salomão era transaléasor deste de-
o) Kegozijo (v. 11). As festas do Senhor eram oca- creto (1 Rs 11.1-4).
siões de santa alegria espiritual. E é assim mesmo
ainda hoje. Capítulo 18
6) Comunhão: O regozijo era de todos: filhos, fi- Herança e direitos de sacerdotes e levitas. Em Is-
lhas. escravos, peregrinos, órfãos, viúvas. Nosso gozo rael Deus contempla com especial interesse as pes-
espiritual na Santa Ceia não tem nada de egoísmo soas cuja preocupação é o serviço divino, e dá instru-
ou isolamento. ções referentes ao seu sustento (v.3). Hoje. no cris-
7) Preocupação com coisas espirituais, com Deus tianismo, todos devem ser sacerdotes (1 Pe 2.9). "As-
e as festas dele, havia de ter uma profunda influên- sim também ordenou o Senhor aos que proclamam o
cia sobre a vida individual de cada israelita. Evangelho, que vivam do Evangelho" (1 Co 9.14).
Nos versículos 18 a 20 vemos o cuidado de Deus Nos versículos 9-14 temos avisos positivos contra
em promover a justiça entre o povo. mandando esta- o espiritismo moderno, que certamente é praticado por
belecer juizes em todas as cidades. Lemos em Roma- pessoas que nunca prestaram atenção a este trecho
nos 13.1: "Não há autoridade que não venha de da Palavra inspirada. O povo de Deus náo deve con-
Deus; e as que têm (tido ordenadas por Deus". sultar os mortos, por ser coisa proibida ( v . l l ) : Não
N o versículo 21 Almeida tem: "Não plantarás ne- há nada na Bíblia que contrarie a idéia comum entre
nhum bosque de árvores (na V.B. diz: 'um Aserá de alguns crentes de que demônios respondem às pes-
qualquer sorte de árvore ) junto ao altar do Senhor soas não-crentes que procuram falar com seus paren-
teu Deus". Tais bosques (ou aserás) eram sempre as- tes falecidos.
sociados com a idolatria, e por isso Deus não quis
Podemos ouvir de casos em que espíritos de fale-
nada semelhante no serviço divino. Um serviço espi-
cidos têm falado ou aparecido a alguém sem serem
ritual náo precisa imitar o estilo de uma religião car-
chamados ou consultados. Por exemplo, Saul con-
nal. Se o romanismo inventou o "reverendo" para
sultou o falecido Samuel (1 Sm 28.8-25). Por isso não
seus ministros, o cristianismo puro não precisa to-
era coisa impossível. Mas ele foi morto na batalha,
mar dele emprestado o mesmo titulo.
por ter feito uma coisa proibida (1 Cr 10.13). E, na
Capítulo 17
nossa opinião, parece ter sido Samuel mesmo que fa-
Vemos no versículo 1 que Deus reprovou qual- lou com Saul. e não um demônio. [Esta é a idéia do
quer sacrifício com defeito, e náo o aceitou. Ainda autor, que respeitamos. Mas abaixo está a Nota do
hoje aleuns podem faw»r qnastSo de não pôr na coleta Editor, que expresaa a interpretação que julgamos
da igreja qualquer nota defeituosa. correta.]
Nota do Editor. Sobre o assunto, transcrevemos o seguinte do livro " S u l e a F e i t k n r a " . d e i - J f . Ortxz. editado pela
CPAD:
"Assim Samuel subiu, mas, apenas na Cala da pitonisa. Até o fim d a teria de faaer o sen jogo, para evitar que
Saul desconfiasse.
" S e a bruxa houvesse acreditado que o 'aparecido' era realmente Samuel, ela é que teria tido medo. pois o profeta
era intransigente no que concernia às feiticeiras.
"'Qm 4 qmo vémt', perguntou Saul. Notemos que ele não via nada. A feiticeira é que via ou diz ver. 'Vejo deuses
que «oòem na terra': 'dou***' (espíritos). Note-se que eram muitos. O pedido foi que viesse um, e vieram muitos. Se,
por uma exceção Deus tivesse deixado sair o espirito de Samuel, permitiria que M i n e m muitos?
"Saul perguntou â feiticeira oomo era a figura do espirito. Ela respondeu: *Vem subindo um homem ancião, e está
envolto numa capa\ £ lógico que sabendo ser Saul o seu consulente, a pitonisa deduziu querer ele falar a Samuel e,
assim, descreveu-lhe a popular figura de Samuel. Apesar de sabermos que os demônios assumem a forma de seres
humanos que morreram, náo se pode afirmar se a pitonisa via realmente uma figura que parecia Samuel ou se ape-
nas que via para contentar SauL 'Saul entendeu, então, que era Samuel', mas Saul nada viu. Elo m firmava ao
que dizia a pitonisa!
"Acreditar que foi realmente o espírito de Samuel que apareceu seria crer no absurdo, isto é, seria acreditar que
Deus se tenha negado a responder a Saul por meios bíblicos: sonho, Urim. profeta para responder-lhe por meio de
uma feiticeira. Deus não pode violar a sua própria Palavra. Se Deus náo lhe respondeu por estes meios legítimos e
bíblicos, muito menos, podia respondo- por um meio abominável e condenável pelo próprio Deus tantas vezes nas Es-
crituras. Se náo respondeu a Saul. através do Espirito Santo, oomo poderia reaponder-lhe através do Diabo?"

75
Dtutiwncinic

O Grande Profeta ( w . 15-19). Aqui temos uma Cristo, o único Refúgio para quem receia as conse-
das notáveis profecias sobre Cristo, a base da espe- qüências dos seus atos.
rança em Israel com respeito ao Messias. Notemos as "Não removerás ns marc<*s do teu próximo" (v.
características do Profeta: 14). Antes de haver terrenos cercados, os marcos ti-
1) "Do meio de ti" - ele havia de nascer na terra nham muita importância para dividir as proprieda-
santa. des.
2) "Dentre teus irmãos" - ele havia de ser israeli- A lei das testemunhas ( w . 15-21). Este é o trecho
ta. principal que estabelece a necessidade de haver mais
3) "Semelhante a mim " - ele havia de ter as ca- de uma testemunha para provar uma culpa.
racterísticas de Moisés: ser um salvador do poder do O homem que maliciosamente trouxesse falso
inimigo; ser um legislador, com ensinos espirituais; testemunho contra seu próximo havia de sofrer o
ser um guia através do deserto; ser um profeta, que mesmo castigo que pretendia trazer sobre o acusado
representasse Deus ao povo. Notemos o mandado: (v.19). Pode parecer duro demais castigar um ho-
"a este ouvirás" (v.15). mem tão severamente por umas palavras faladas, es-
" Ê certo que Cristo é com exclusividade o com- pecialmente quando não resultam mal algum, por
pleto cumprimento desta profecia, e também que isso acrescenta-se no versículo 21: "Não terá piedade
cada profeta levantado por Deus era um cumpri- dele teu olho". Nenhum homem precisa ser mais mi-
mento parcial e incompleto. Nestes capítulos temos sericordioso do que Deus. O benefício dessa severida-
o triplo caráter da autoridade principal em Israel de para o público recompensará abundantemente o
Rei, Sacerdote e Profeta, e de cada um podemos di- castigo aplicado (v.20): os restantes ouvirão e teme-
zer a mesma coisa. Todos olhavam para Cristo, e rão. Tais castigos exemplares avisarão aos demais a
sem Ele qualquer cumprimento seria trivial e insufi- não tentarem semelhantes males, quando virem que
ciente. Mas a linguagem mostra claramente que ou- quem cavou a cova nela caiu (Matthew Henry).
tros anteriores eram contemplados..." (Grant).
O capitulo termina com um aviso contra os falsos Capítulo 20
profetas.
Diz Matthew Henry dos versículos 20-22: As leis acerca da guerra. O assunto aqui é a
guerra, e se divide em trés partes: primeira Israel;
"Vemos primeiro uma advertência aos preten-
depois, seus inimigos: e finalmente a própria terra
dentes proféticos. Quem se apresenta como profeta e onde haviam de estar.
apresenta credenciais de um deus falso, como fize-
"Quanto a Israel, haviam de contar que Deus es-
ram os profetas de Baal, ou uma fingida comissão do tava com eles. Devemos nos lembrar que isto supõe
verdadeiro Deus, será julgado réu de alta traição que eles estavam com Deus. e por isso que a sua saí-
contra a coroa e dignidade do Rei dos reis, e esse trai- da e entrada estavam de acordo com a sua palavra.
dor será condenado á morte (v.20) pela sentença do Então seus inimigos seriam deveras os inimigos de
grande Sinédrio que, no devido tempo, foi estabele- Deus, e a resistência a Israel seria resistência a Deus.
cido em Jerusalém; e por isso nosso Salvador disse Se Israel tivesse guardado o pacto, como isto teria
que 'não convém que um profeta pereça fora de Jeru- sido evidente a todo o mundo, e com que poder irre-
salém' (Lc 13.33). sistível teriam sido revestidos!" (Grant).
"Em segundo lugar vemos a direção dada ao po-
Prx»p<psta emenda de tradução (v. 19): "pois que é
vo, para nào ser iludido por charlatáes. Quais eram a árvore do campo, homem, para que fosse sitiada
os sinais de um verdadeiro profeta? Fica reprovado por ti?"
qualquer ensino repugnante ao sentido comum ou á
luz e à lei da natureza, ou ao sentido claro da Pala- Capitulo 21
vra já revelada, como também qualquer ensino que
dê licença ao pecado ou que tenda a prejudicar a pie-
Filhos desobedientes ( w . 18,21). Vemos neste
dade ou a caridade. - Longe esteja de Deus que Ele
trecho o castigo severo do filho desobediente. E os
se contradiga! A regra dada no versículo 22 refere-se pais, ao mesmo tempo que iam denunciar as culpas
mais particularmente às profecias de ensino proble- do filho, deviam ter sentido a sua própria incompe-
mático, caso em que era possível o profeta apresen- tência de não os haver influído para o bem! "este
tar algum sinal. nosso filho é contumaz e rebelde, não obedece a nos-
"Em último lugar, o povo não havia de ter temor sa voz", mas como foi que chegou a ser depravado
do falso profeta, isto é, de recear as ameaças dele, assim? Que educação espiritual tinha recebido dos
nem havia de desistir de executar sobre ele a senten- pais? Que exemplo de piedade lhe haviam dado?
ça da lei. Esse mandamento de não ter temor do fal- O defunto pendurado (v. 22). Isto não trata de
so profeta, ensina que o profeta verdadeiro devia ser um enforcado, mas de um homem apedrejado, e de-
temido (respeitado)". pois pendurado numa árvore como aviso aos outros
(Nm 25.4.; 2 Sm 4.12).
Capítulo 19

Cidades de refúgio (w.1-13). Notemos que o re- Capitulo 22


curso das cidades de refúgio era para o homicida in-
voluntário e não para o assassino. Diversos pecados cometidos para com mulheres
Aos filhos de Noé fora dito "Se alguém derramar ( w . 13-30). Sobre este trecho diz Matthew Henry:
o sangue do homem, pelo homem será derramado o "Se um homem, por desejar outra mulher, quisesse
seu sangue" (Gn 9.6) e, pelo visto, esse dever cabia ver-se livre da sua esposa, e a difamasse, alegando
ao parente mais próximo. Essas cidades de refúgio que ela nào tinha a virgindade que professava ter
são referidas também em Êxodo 21.13 e Números quando se casou com ele, seria castigado, caso a sua
35.10. Hoje o meio da salvação apontado é recorrer a acusação fosse comprovadamente contestada. Os ex-

76
positpres nào concordam sobre quais podiam ser as 1) Que um homem não se podia divorciar de sua
provas de virgindade da filha que seu pai havia de esposa sem ter encontrado nela "alguma coisa inde-
apresentar, nem é preciso sabermos, porque é de en- cente" (v. 1).
tender que esses para quem era a tal lei. haviam de 2) Que havia de fazer isto. nào verbalmente, mas
entendê-la. Para nós é suficiente saber que este mau por escrito, evitando assim um ato apressado e irre-
marido, que assim pretendia arruinar a reputação da fletido.
sua esposa, havia de ser castigado e multado. 3) Que a tal carta o marido havia de dar na mão
" O segundo caso é de uma mulher, tida por vir- da mulher, e mandá-la embora. Isto alguns enten-
gem. ser desmascarada pelo fat« de náo o ser. Essa dem significar que havia de lhe dar alguma recom-
havia de ser apedrejada à porta do seu pai ( w . pensa material.
20.21). Se o pecado tivesse sido cometido antes de 4) Que depois de ser divorciada, podia contrair
ela ser desp<>sada, o crime não teria sido castigado segundas núpcias (v. 2).
como mortal: ela. porém, tinha de morrer pela des- 5) Que se o segundo marido morresse, ou se di-
lealdade para com esse com quem se casou, sendo vorciasse dela. podia ela casar novamente, mas nào
ela consciente da própria culpa, mas tingindo ser com o primeiro marido ( w . 3,4). Os judeus dizem
mulher casta e modesta. que isto foi para evitar um costume vil e iníquo que
" O terceiro caso é o de adultério <v. 22). e as duas havia entre os egípcios, de permutarem esposas
pessoas haviam de ser apedrejadas. (Matthew Henry).
"Seguem-se os casos quarto (v. 23), quinto (v Alguém pode querer saber como havia de ser o
25) e sexto (v. 28). cada um. um tanto diferente, mas procedimento da mulher no caso de "encontrar algu-
todos merecendo a disciplina competente. Todos es- ma coisa indecente" no marido!
tes exemplos mostram o cuidado que havia, nesses Notemos no versículo 15 o cuidado que havia em
tempos primitivos, de salvaguardar a moralidade do Israel com os empregados, de náo atrasar o paga-
povo de Israel. E certamente estas coisas também mento do seu ordenado, mas "no seu dia lhe darás
são escritas para nossa instrução e governo". seu jornal". Pagar adiantado um serviço empreitado
geralmente dá mau resultado, mas pagar alguma
Capitulo 23 coisa por conta no fim de cada dia de serviço, caso
seja necessário, tira qualquer motivo de queixa da
Pessoas excluídas das assembléias santas (w. parte do empreiteiro pobre.
1.4). Diz Mattheur Henry: "Os expositores náo estão O costume modemíssimo de matar reféns pelos
de acordo sobre o que significa 'não entrar na as- crimes de outros é proibido no versículo 16, onde diz
sembléia do Senhor', o que foi proibido aos edomitas "cada homem será morto pelo seu próprio pecado".
e egípcios até a terceira geração.
Capítulo 25
"Entre os escritores judaicos, a palavra 'bastar-
do' não se aplicava a todas as pessoas nascidas fora
A pena de açoites. Notemos o cuidado para que
do matrimônio, mas aos que nasceram das uniões ilí-
náo houvesse em Israel qualquer castigo excessivo.
citas detalhadas em Levítico 18. Segundo esta regra.
Hoje em dia pode ser preciso atender a isso também.
•Jefté. embora filho de uma prostituta, uma mulher
A boca do boi (v. 4). Há bem pouco na Bíblia
estranha (Jz 11.1.2), contudo náo era bastardo pe-
sobre o cuidado que se deve ter com os animais, e o
rante a lei.
cão, esse fiel amigo do homem, é geralmente referido
"Quanto aos eunucos, embora por esta lei pare- como um símbolo do mal (Jó 30.1; SI 22.16; Mt 7.6;
cessem lançados fora da vinha como árvores secas, Fp 3.2 etc.), provavelmente devido à abundância de
de que se queixaram (Is 56.3), contudo foi-lhes prome- cachorros vagabundos que havia no Oriente. Aqui ao
tido ali (Is 56.4,5) que. se zelassem pelos seus deve- menos vemos ensinada a consideração aos animais,
res para com Deus naquilo que lhes fosse permitido, que é um dos sinais de um povo civilizado. Ê verda-
guardando seus sábados e escolhendo as coisas que de que o apóstolo apropria o ensino em benefício dos
lhe eram agradáveis, a falta de outros privilégios lhe obreiros cristãos (1 Co 9.7-10), mas não havemos de
seria recompensada por bênçãos espirituais'*. entender que os bois devam ficar de todo privados do
Capricho sanitário ( w . 12-14). A proibição de preceito.
imundicie no acampamento tem um motivo bastan- Pesos diversos ( w . 13.14). Não somente foram os
te forte: "porque Jeová teu Deus anda no meio do israelitas proibidos de usar pesos diversos - um gran-
teu acampamento " (v. 14). Se todos os moradores no de com que comprar, e um menor com que vender - ,
interior do Brasil tivessem obedecidos ao ensino des- mas nem ter tais pesos nas suas casas.
te trecho, a opilação náo teria se alastrado tão larga-
mente! Capítulo 26
"Não entregarás... o escravo" (v. 15). Não pode-
mos crer que o israelita havia de agasalhar o escravo- No versículo 5 podemos usar uma tradução
ladrão, ou um que tivesse abandonado o patrão sem emendada: "um aram eu [LaòanJ quis matar meu
razão, mas somente os maltratados, especialmente pai" (R. 100).
das nações vizinhas (T). Este capitulo também mostra quào intimamente
a vida do israelita era ligada com Deus. mediante
Capitulo 24 ofertas, ações de graças, etc. E pode ser a mesma coi-
sa conosco. A verdadeira felicidade consiste em pro-
Divórcio, penhores, ladrões, lepra e pobreza. O var a bênção de Deus em todas as nossas ocupações.
versículo primeiro é a permissão que os fariseus erro- Comentando este capitulo, Matthew Henry diz:
neamente chamaram um preceito ( M t 19.7). Apren- "Quando ura homem ia ao campo ou à vinha no tem-
demos: po dos frutos amadurecerem, havia de marcar o que

77
(Deuteronômio

parecia mais adiantado e pô-lo à parte para as Escutemos: "Encolhe a vida. para que vivas, tu e tua
primicias, fosse trigo, cevada, uvas. figos, romãs, semente.'"
azeitonas, támaras, etc; algum de cada espécie havia Prop<tsta emenda de tradução (29.4): "Porventu-
de ser colocado num cesto, com folhas entre as fru- ra não vos tem dado o Senhor um coração para en-
tas, e apresentado ao Senhor no lugar que escolhes- tender. e olhos para ver, e ouvidos para ouvir até o
se". Desta lei aprendemos: dia de hoje?" (R. 66).
1) a reconhecer a Deus como o doador de tudo que É interessante ver como o apóstolo Paulo, em Ro-
é bom para sustentar ou confortar a nossa vida natu- manos 10.6-9, se refere a Deuteronômio 30.11-14.
ral. e por isso servi-lo e honrá-lo com tais frutos; 2) a Não precisamos pensar que Moisés, ao falar as pala-
negar a nós mesmos. Aquilo que amadurece primeiro vras recordadas em Deuteronômio 30, estava cons-
é o que mais apetecemos: "a minha alma deseja um cientemente apresentando também uma profecia de
figo temporão (Mq 7.1). Quando, pois. Deus ensi- Cristo, como fizera em Deuteronômio 18.15-22. Mas
nou a Israel a reservar tais primicias para Ele, ensi- em Romanos 10, o apóstolo está aplicando a Cristo
nou a preferir honrar o seu nome mais a satisfazer esse trecho da Lei, e ele quer dizer: "Para nós. cris-
aos próprios apetites; 3) a dar a Deus do melhor que tãos. essas palavras do Deuteronômio significam:
t emos, como aqueles que crêem ser Ele o primeiro e Cristo. Cristo, vindo do alto. Cristo, ressuscitado
melhor dos seres. Esses que consagram os dias da dentre os mortos. Cristo, o objeto da fé de todo cren-
suja mocidade. o melhor das suas horas, ao serviço e te". Ou, em resumo, onde Moisés estava vendo so-
honra de Deus. trazem-lhe as primicias: e com tais mente a Lei, o apóstolo vê Cristo, em quem o propó-
ofertas Ele se agrada! "Lembro-me da beneficência sito da Lei é consumado.
da tua mocidade" (Jr 2.2).
Capitulo 31
Capítulos 27 e 28 Moisés nomeia Josué seu sucessor. Primeiramen-
Bênçãos e maldições. Clara e detalhadamente te Moisés anima o povo (v. 6) porque, embora ele
Deus revela a felicidade que acompanha uma vida não o conduzisse ã Terra Prometida, contudo Deus
de obediência, e as tristes conseqüências da desobe- estaria sempre com esse povo (v. 5).
diência à voz divina. Depois ele anima Josué, seu sucessor, que, apesar
Notemos as condições de receber a bênção divi- de ser um general experimentado, havia de sentir a
na: sua dependência de Deus e ser encorajado com Ele.
1) Ouvir atentamente a voz de Jeová (28.1). Sua comissão foi pública, "à vista de todo o Is-
2) Observar e fazer, andando nos caminhos de rael" (v. 7), para que todo o povo tivesse confiança na
Deus (28.9). sua liderança.
3) Não se desviar de nenhuma das suas palavras Moisés assegura a Josué a promessa da presença
(28.14). divina (v. 8). Não convém tentar qualquer empreen-
As características da bênção divina eram: dimento sem a convicção de que Deus estará conos-
1) Uma vida tranqüila e abençoada em qualquer co, fortalecendo-nos. r
parte, na cidade ou no campo (28.3). Capitulo 32
2) Família abundante (28.4).
3) Abundância de bens materiais (28.11). O cântico de Moisés. Traduzimos de "The Nu-
4) Bom êxito nos trabalhos manuais (28.8). merical Bible" uma análise do cântico:
5) Honra entre as nações vizinhas (28.1). w . de 1-4 A fidelidade e a majestade de Deus.
6) Vitoria nas guerras (28.7). 5-7 - A perversidade do seu povo.
De tudo isto aprendemos que a piedade é o me- 8-14 Como Deus estimara seu povo.
lhor amigo da prosperidade. Embora bênçãos mate- 15-18 - A apostasia do povo.
riais não ocupem tanto lugar no ensino do N. T., 19-33 - Como Deus havia de recompensar esta
basta-nos que o Senhor tenha dito que. se buscarmos apostasia.
primeiro o reino de Deus e a sua justiça, todas estas 34-43- A disciplina - e, afinal, a expiação (v. 43).
coisas (materiais e necessárias) nos serão acrescenta- Proposta emenda de tradução (v. 17): "novos
das ( M t 6-33) (Mattheu Henry). deuses que vêm da vizinhança" (R. 223).
Capítulos 29 e 30 Capítulo 33
A aliança confirmada, e diversos regulamentos. Moisés abençoa Israel
Notemos o constante perigo de o povo cair na idola- w . de 1-5 - Deus, o Guia do seu povo.
tria (29.18) e os contínuos avisos contra isso. Que sig- 6-11 - A salvação de Israel é dele.
nifica este ensino para nós hoje? Certamente de es- 12-7 - Seu quinhão é a presença dele.
perarmos em Deus e não em qualquer outro recurso 18-19 - A extensão da bênção aos gentios.
sobrenatural, tal como o espiritismo. Deus é a sufi- 20-25 - Conseqüências do governo de Deus.
ciência do seu povo, por isso não precisamos recorrer 26-29 - A vitória da divina bondade.
aos defuntos, que. aliás, nada podem fazer. Proposta emenda de tradução (v. 25): "De ferro e
Há pessoas ainda hoje que confiam em mascotes, de bronze sejam os teus ferrolhos. Com o decorrer
em imagens de santos, etc., em vez de esperar unica- dos teus dias virá a tranqüilidade" (R. 230).
mente em Deus. No versículo 2 devemos íer: "santos anjos".
Notemos outra vez em 30.6 a circuncisào do cora-
ção. não somente dos pais mas de seus filhos tam- Capítulo 34
bém.
A grande escolha de 30.19 vem a ser proposta ain- .4 morte de Moisés. Moisés faleceu bem velho -
da hoje a cada indivíduo, de uma forma ou de outra. 120 anos mas morreu em todo o seu vigor físico:

78
Tkutennômio

"nào se lhe escureceu a vista, nem se lhe fugiu o vi- Dt 4.24 - "Jeová, um fogo consumidor" (Hb
gor" (v. 7). Para subir a um alto monte com essa ida- 12.29).
de havia de precisar de bastante força física. Dt 6.4.5 - "Ouve. 6 Israel" (Mt 22.37.38: Lc
Morreu na montanha, mas foi sepultado no vale 10.27).
(v. 6) e parece-nos que Deus o sepultou. Dt 10.17 - "Que não faz acepção de pessoas" (At
Já se vê, não havemos de pensar que ele escreves- 10.34: Rm 2.11; G1 2.6; Ef 6.9; Cl 3.25; 1 Pe 1.17).
se o relatório da sua morte, nem que ele mesmo se Dt 18.15 - Um profeta semelhante a Moisés" (At
chamasse "mais humilde do que todos os homens 3/22; 7.37).
que havia sobre a face da terra" (Nm 12.3). "Moisés Dt 30.11 a 14 - "O mandamento não está longe de
escreveu" (Mc 12.19) e por isso "Moisés é lido" (2 Co ti" (Rm 10.6 a 8).
3.15), mas precisamente quando ele escreveu, a Dt 31.6 a 8 - "Não te deixará nem te abandona-
Bíblia nào declara: e não convém sabermos mais que rá" (Js 1.5; Hb 13.5).
a Bíblia. Compare-se também:
Há unia alusão a Moisés em Judas 9: "Mas quan- 4.35 com Mc 12.32.
do Miguel, o arcanjo, discutia com o Diabo, alter- 17.6 a 19.15 com Mt 18.16, 2 Co 13.1, e Hb 10.28.
cando sobre o corpo de Moisés, não ousou fulminar- 21.23 com G1 3.13.
lhe sentença de blasfemo, mas disse: o Senhor te re- 24.1 com Mt 5.31 e 19.7.
preenda!" Tem sido sugerido que Satanás, tendo o 25.4 com 1 Co 9.9 e 1 Tm 5.18.
poder da morte, ressentiu-se que o corpo de Moisés 27.26 com G1 3.10.
fosse levantado, para estar com o Senhor no monte 29.4 com Rm 11.8.
da transfiguração ((ítxidman). 29.18 com Hb 12.15.
30.4 com Mt 24.31.
REFERÊNCIAS AO D E U T E R O N Ô M I O NO 32.31 com Rm 10.19 e 1 Co 10.22.
NOVO T E S T A M E N T O 32.35,36 com Hb 10.30.
São muito numerosas as citações que se fazem 32.43 ( L X X ) com Hb 1.6 e Rm 15.10.
deste livro. As respostas de Jesus ao Tentador no de-
serto são todas daqui tiradas, acompanhando a fór- O número e o caráter destas citações mostram a
mula: "Está escrito". consideração em que este livro era tido por -Jesus
Outras passagens importantes: Cristo e pelos escritores do Novo Testamento (.An-
Dt 13.1 - "Ele te leva como um filho" (At 13.18). gus).

79
fosué

osué recorda a consumação do res- tes. Depois da divina escolha, da libertação, do cul-
gate de Israel do Egito, pois a reden- to, do governo e do amor, vem o divino descanso.
ção tem duas partes: "externa" e Este livro, junto com o Pentateuco (cinco livros),
"interna" (Dt 6.23). A frase-chave forma o Hexateuco (seis livros). Ê inesgotável na sua
do livro é "Moisés, meu servo, é riqueza de ensino, e não podemos fazer mais do que
(Js 1.2). A Lei, da qual Moisés é o represen- abrir i porta da tesouraria. Note-se primeiro que
jamais poderia dar a vitória a um povo peca- Moisés, Aarão, e Miriã todos morreram antes de Is-
(Rm 6.14; 8.24; Hb 7.19). rael atravessar o Jordão; eles representavam a Lei, o
Sacerdócio e a Profecia, que não nos podem introdu-
5m sentido espiritual, "Josué" é o "Efésios" do zir no descanso de Deus, mas que precisam ser cum-
V. T . Os "lugares celestiais" de Efésios para o cris- pridos antes de podermos entrar. Moisés passara, e
tão correspondem à Terra Prometida para Israel - sua exortação a "tomar posse" em Deuteronômio
um lugar de conflito, e, por isso, não um tipo do Céu, vem a ser a realização da posse em Josué. O novo Ca-
mas um lugar de bênção e poder divino (Js 21.43-45; pitão fora apontado por Deus (Njn 27.18; Dt 34.9) e
Ef 1.3). plenamente reconhecido pelo povo (Js 1.16-18). Moi-
A forma de governo continua a ser a teocrática: sés tipificava Cristo libertando-nos da escravatura.
Josué sucedeu a Moisés, sob a direção de De\is. Josué o tipifica introduzindo-nos no descanso.
O livro tem quatro divisões: 1) A conquista (caps. Os livros equivalentes no N. T . são Atos e Efé-
1 a 12). 2) A divisão da herança (caps. 13 a 21). 3) O sios, que devem ser lidos conjuntamente. A palavra
começo de contenda (cap. 22). 4) Ültimos conselhos de exortação que ressoa para nós em todos os capítu-
e morte de Josué (caps. 23 e 24) (Scofield). los é Preparai! - Passai! - Possuí! - e podemos en-
tender o ensino do Livro somente mediante a obe-
A N A L I S E DE JOSUÉ diência.
Há certas feições que se destacam mui evidente-
1. Entrando na Terra (cap. 1 a 5.12). mente aqui, e que devem ser observadas. São a pala-
1.1. Preparação do povo (1 a 3.13). vra, a fé, a coragem, e o descanso, na sua relação
1.2. Passagem do povo (3.14 a 4.24). com a vitória.
1.3. Purificação do povo (5.1-12). 1. A palavra, a base da vitória (1.8; SI 1.2,3; Tg
1.25).
2. Vencendo a Terra (5.13 a 12.24).
2. A fé, a confiança na vitória (1.6; 1 Jo 5.4, etc.).
2.1. A Campanha do Centro (5.13 a 9.27). 3. A coragem, a força para a vitória (1.7,8; At
2.2. A Campanha do Sul (10.1-43). 4.13,29,31).
2.3. A Campanha do Norte (11.1 a 12.24).
4. 0 descanso, o resultado da vitória (21.43-45;
3. Possuindo a Terra (cape. 13 a 24). Hb 4.1-11).
3.1. A divisão da Terra (capa. 13 a 19). Se a Palavra de Deus não é o que diz ser, então
3.2. As cidades dos levitas (caps. 20,21). não podemos nela confiar, e onde não há fé não há
3.3. Últimos atos e palavras de Josué (caps. 22 a coragem, e sem coragem não há vitória, e sem vitória
24) (Scroggie) não há descanso. Tudo depende do lugar e poder que
se atribui à Palavra de Deus no coração e na vida.
A M E N S A G E M DE JOSUÉ Vamos agora nos colocar em algum lugar alto, e
tomar uma vista compreensiva desta boa terra (de
Continua-se aqui a história dos livros preceden- verdade), que se nos descreve em Josué.
A

81
ENTRANDO. VENCENDO. TOMANDO POSSE 1) Havemos de começar reconhecendo o capitão
do exército de Jeová (5.13-15), e prostrando-nos aos
1. E N T R A N D O (caps. 1 a 5). seus pés, porque nós somos de todo incapazes de fa-
zer o que é preciso, mas Ele pode (10.14).
Primeiro precisamos reconhecer que: 2) Devemos reconhecer, por uma inteligente e
a) Há uma terra para nela entrarmos (1.2; 18.3). profunda convicção, que todos os nossos inimigos
b) Recebemos ordem para entrar (1.2). nos estão entregues, antes mesmo de darmos qual-
c) Para todos os que entram, a vitoria é prometi- quer golpe: "Eu vos tenho dado" (6.2; 8.1,2; 10.8,19;
da, sob certas condições (1.5,8,9; 3.10). 11.6). Nada que possamos fazer fará a vitória mais
Convém notar dez condições de entrada: completa, mas o que fazemos poderá anular a vitó-
1) Nosso esforço náo nos levará para a terra da ria.
bem-aventurança, porque o entrar é dádiva de Deus, 3) Outrossim, havemos de vencer os inimigos,
e náo pode ser merecido (1.3.6,11,13.15; 2.14). não de acordo com nossa sabedoria, mas de acordo
2) Tem de ser apropriado individualmente e des- com as instruções do nosso chefe, embora nos pare-
frutado por um ato de fé. Isto. já se vê. não se refere ã çam insuficientes ou loucas (6.1-16; 7.2-5) e, ás ve-
nossa relação com Deus. mas ao nosso andar comEle zes. não exista relação alguma entre o meio e o resul-
(1.3). tado, como no capitulo 6
3) Esta fé precisa ser baseada sobre a vontade re- 4) Quando vencemos, não havemos de tomar a
velada de Deus que se nos dá na sua Palavra, e que glória para nós (6.17-19,24; 7.1). Os despojos perten-
deve ser sempre a regra das nossas vidas (1.8). cem a Deus, náo a nós, e se nós os tomamos, isto re-
4) Esta divina revelaçáo podemos conhecer so- sulta em perda de poder e no desagrado do Senhor.
mente mediante a obediência, e essa obediência 5) Havendo pecado, precisa ser julgado imediata-
deve ser alegre, imediata e completa (1.8; 3.9: Jo mente (7.6-26), senão seremos fracos perante nossos
13.17). inimigos.
5) Cristo, que é o assunto desta revelação, e que é 6) Contra qualquer adversário havemos de reunir
tipificado pela Arca do Concerto, precisa ser seguido todo o nosso esforço espiritual (8.1).
inteiramente, e assim descobriremos que sua presen- 7) Devemos empregar, em nosso conflito espiri-
ça e poder são mais que suficientes (3.3-17; 4.5-18). tual. habilidade santificada (8.3-29).
6) Isto significará que tudo que não é do agrado 8) Cada vitória deve ser a ocasião de um sacrifí-
dele, não somente o pecado positivo, mas toda coisa cio de louvor a Deus (8.30,31).
duvidosa tem de ser abandonada, para perder o seu 9) Precisamos ter todo cuidado de náo fazer qual-
atrativo e poder sobre nós (3.5; Hb 12.1). quer aliança com os nossos inimigos (9.3-27; 10.23-
7) Descendo ao Jordão, o lugar de sepultura, e 28.30,40, etc.)
saindo dali em novidade de vida, temo-nos reconhe- 10) Por toda a vida devemos levantar monumen-
cido como mortos pelo corpo de Cristo e vivos na sua tos de vitória para o louvor e glória de Deus (12.7-
ressurreição, com não somente uma nova vida, mas 24). As coisas que devemos combater são o mau gê-
com um novo poder para novos fins (1.2; 3.8.13,15). nio. os ciúmes, a impaciência, a inveja, o egoísmo, a
8) Esta experiência precisa ser definida, comple- amargura, etc. Os segredos da vitória estão em Sal-
ta. final. É um ato e uma crise - atravessar o Jordão mos 44.1-3; 78.55; Hebreus 11.30.
(3.11.14.16,17; 4.1,3.5,7,8.10.11,12,13,19,22,23; 5.1).
9) O propósito da aventura é o conflito (4.13). As
dificuldades não se acabam no Jordão, mas ali fica- 3. T O M A N D O POSSE (caps. 13 a 24).
mos acima delas, e não somos nem precisamos ser
esmagados por elas. (Veja-se 2 Corintios 10.3-5; Elé- É bom notar a diferença entre "herança" e "pos-
sios 6.10-20.) se". A herança é toda a terra, a livre dádiva de Deus
10) O lugar do nosso primeiro descanso na nora a Israel, e a posse significa precisamente aquilo de
vida é Gilgal. onde os israelitas foram circuncidados que nos apropriamos pela fé. A herança diz "toda a
(Js 5.2-10), isto é, onde toda a contaminação do co- terra vos tenho dado". A posse diz "todo o lugar que
ração e espírito é reprovada. (Veja-se Deuteronômio pisares será vosso" (Dt 11.24). Os limites da herança
10.16; Romanos 2.25-29; Fílipenses 3.3; 2 Corintios de Israel eram indicados pela promessa de Deus; os
da sua posse, pelas conquistas que realizou. Cristo é
7.1.)
para nós, na experiência, aquilo que nossa fé abraça
Estas são as condições marcadas por Deus. e o nele. Notemos aqui também dez fatos:
caminho para a plenitude de bênção. Entremos ou-
sadamente, e por nossa fé podemos meter medo no 1) Nunca nos apropriamos tão completamente
coração do inimigo. que não fique mais nada para conquistar (13.1).
2) Embora toda a terra pertencesse a Israel como
2 V E N C E N D O (caps. 6 a 12). nação, cada tribo tinha seus limites. Participamos
das bênçãos divinas somente de acordo com a nossa
A conquista de Josué é progressiva, como toda a capacidade espiritual. Mas a bênção aumenta a ca-
conquista há de ser, embora algumas batalhas sejam pacidade e a capacidade aumentada lança mão de
muito mais importantes que outras, como, por novas bênçãos.
exemplo, essa de Jerico. Ocupa-se primeiro o vale do 3) Quem "persevera em seguir ao Senhor" tem
Jordão (caps. 6 a 8); depois a Judéia e Samaria para sua posse o lugar alto (14.12,13,14). "Este mon-
(caps. 9 e 10), e finalmente a Galiléia (caps. 11,12), te Hebrom" significa comunhão (Gn 13.18).
vencendo, assim, essas partes da Terra. 4) O nosso "Josué", que nos conduz á terra, dá-
Será bom conhecer algumas das condições e se- nos nosso quinhão nela, e somente Ele pode manter-
gredos da vitória continuada, e mais uma vez damos nos ali (23.4). Notemos os nomes: Jehoshua, Josué.
dez: Oshea, Jesus.

82
Josué

5) Toma-se posse somente mediante a conquista. princípio anunciado abertamente pelo profeta mais
Quem já alcançou deve ajudar os outros a obter. As tarde (Jr 18.7,8), podiam ter escapado da sua sorte
duas tribos e meia haviam de fazer isso (Nm 32; caso se tivessem arrependido e voltado para Deus
Js 1.1-15; cap. 13). Obtemos a bênçáo principalmen- como fez Raabe. Esta história é um evangelho de fa-
te para partilhar com os outros. tos antes que pudesse haver um evangelho de pala-
6) Não é pela subjugação, mas pela expulsão que vras".
a plenitude de bênção é conhecida; e porque Israel Raabe esconde os espias, identificando-se, assim,
não expeliu o inimigo totalmente, náo tomou posse apesar do perigo, com o povo de Deus. Suas obras
inteiramente. justificam-na como uma crente; mostram, pelo seu
7) Na Terra providencia-se para o caso de pecado caráter, que ela possuía fé, e isso é o que Tiago afir-
involuntário. As cidades de refúgio sáo uma figura ma. As obras não a justificam diante de Deus. que é
de Cristo como nossa segurança (cap. 20; SI 19.12- a coisa que Paulo nega absolutamente no caso de
13; 1 Jo 1.7). Abraão (Rm 4.2). A meretriz Raabe não tinha ne-
8) Desinteligências aparecerão entre o povo de nhuma justiça em que confiar, nenhum caráter mo-
Deus na Terra (cap. 22), mas podemos resolvê-las na ral para recomendá-la a Deus, mas tinha a fé de uma
presença do nosso sumo sacerdote - Cristo. pobre pecadora que confia na misericórdia divina.
9) Não estamos isentos de perigo, mesmo na terra
de descanso, como o livro de Juizes demonstra, por
isso devemos "cuidar diligentemente" (23.11). Capítulo 3
10) Deus nunca desaponta os que confiam nele
(21.43-45; 23.14; 24.1-15). A passagem do Jordão. Duas vezes Israel passou
milagrosamente pelas águas: primeiro no mar Ver-
Capitulo 1 melho, quando fugia do poder do inimigo; depois no
Jordão, quando queria tomar posse de novas bên-
Josué escolhido para chefe. Notemos: promessa çãos, apesar dos inimigos na terra. Alguma coisa pa-
(1-5); encorajamento (6,7); instrução (8.9). recida pode dar-se na história espiritual de todo o
As palavras "Depois da morte de Moisés", logo crente. Para ver-se livre do poder do inimigo da sua
no começo, têm um valor típico: Moisés o mediador alma. ele não conta apenas com as próprias forças
da Lei, não podia conduzir o povo à terra prometida. para ganhar a vitória. Conta com o Senhor Jesus
Assim a Lei não pode conduzir-nos às bênçãos do Cristo, o Capitão da sua salvação, e com o poder mi-
Evangelho... Todos os nossos esforços para guardar lagroso de Deus que é capaz de lhe abrir um caminho
os mandamentos de Deus e achar as bênçãos não seguro através das dificuldades insuperáveis. Tam-
bastam: precisamos ser achados "em Cristo", e so- bém para entrar no gozo de todas as suas bênçãos es-
mente nele podemos, pela fé e paciência, herdá-las pirituais, ele conta com Deus para lhe abrir o cami-
(Hb 6.12). nho, e fortalecê-lo para o conflito.
Josué é um tipo do Senhor ressurgido, que leva
seu povo ao pleno gozo de sua salvação. O nome Jo-
sué significa o mesmo que Jesus: "Jeová, um Salva- Capítulo 4
dor" (Scroggie).
A herança fora dada, mas era necessário tomar Os dois memoriais. "As doze pedras tiradas do
posse. Toda a terra do Mediterrâneo ao rio Eufrates -Jordão e erigidas em Gilgal, e as doze pedras deixa-
foi dada a Israel, mas nunca tomaram posse de tudo. das no Jordão para serem cobertas pelas águas sáo
Era preciso haver coragem e resolução para to- memoriais assinalando a distinção entre a morte de
mar posse de tudo quanto fora dado (v. 7). Cristo sob o julgamento divino em lugar do crente
Meditação diária na santa lei de Deus era o se- (SI 42.7. 88.7; Jo 12.31-33). e a perfeita libertação do
gredo da vitória (v.8). crente desse juízo. As pedras no Jordão referem-se.
tipicamente, ao Salmo 22.1-8" (Scofield).
Capítulo 2 " A recordação das misericórdias de Deus é um
assunto da máxima importância para a fé. Perdemos
Fé e obras: Raabe. Raabe é um nome muito hon- o proveito daquilo que esquecemos. As verdades fi-
rado na Bíblia. Ela é referida três vezes no N. T.: em cam sem valor devido ao esquecimento: se lembra-
Hebreus 11.31 como ilustração de uma pessoa salva das, teriam imenso valor nas nossas vidas.
pela fé; em Tiago 2.25 como ilustração da justifica- "Para ajudar a memória. Deus se tem servido de
ção pelas obras; e em Mateus 1.5, na genealogia do três meios:
Senhor Jesus. 1) Erigir memoriais (v. 7). 2) Ensinar os fJhos (v.
A sua fé é manifestada neste capitulo pelo seu te- 6). 3) Relatórios escritos, para serem constantemen-
mor (v. 11); pela sua confissão do verdadeiro Deus te lidos e meditados.
(v. 11) e pelo seu pedido de misericórdia (v. 12), por " A s doze pedras, como a maioria dos memoriais
ela ter recebido os espias amigavelmente (Hb 11.31). dados por Deus, têm um sentido típico. Doze pedras
Mas a fé em Raabe foi uma fé que operou. Note- foram postas no leito do Jordáo no lugar onde parara
mos que o que ela fez não era uma boa obra segundo a arca (v. 9), e doze pedras foram tiradas do Jordáo e
a lei do seu pais. Era contra a lei trair a cidade e aga- levadas para a Terra Prometida. Pela fé, somos asso-
salhar espias. Não era uma obra meritória, mas uma ciados com Cristo, de maneira que "fomos sepulta-
obra de fé, isto é, um ato ditado somente pela fé que dos com ele pelo batismo" (Rm 6.4), mas, como as
ela possuía no meio de salvação indicado para ela e pedras levadas para a Terra, somos ressurgidos com
sua família. Ele. para que andemos em novidade de vida. na se-
Diz F. W. Grant: " A história de Raabe mostra melhança da sua ressurreição (Rm 6.4,5)" (Good-
que até os condenados cananitas, segundo um man).

83
jmi

Capitulo 5 ser proferida, nenhum grito de vitória, até o momen-


to marcado.
A circuncisão dos israelitas (1-9). " A circuncisão 4) O triunfo era da fé, isto é. completa submissão
simboliza o julgamento da carne, a reprovação dela e absoluta confiança no invisível Capitão do exército
como pregada na cruz de Cristo (Gn 17; Fp 3.3; Cl do Senhor.
2.11, etc.)" (Grant). Depois:
"Poder para a mortificação da carne - poder para 1) Toda iniqüidade havia de ser destruída (v. 21).
guardá-la no lugar de morte onde pertence - não 2) A cidade fica sob maldição (v. 26).
pode ser mantido meramente pelo gozo de salvação, 3) Raabe está salva (22).
de libertação do Egito. Ê preciso haver entrada na O versículo 26 é uma profecia, que se cumpriu em
terra, a apropriação de um quinhão celestial, o gozo 1 Reis 16.34" (Goodman).
que fica além desse mundo sujeito á morte, pelo qual
passamos" (Grant). Capitulo 7
"Cessa o maná (v. 12) depois que os israelitas co-
meram do produto da terra". "O maná cessa um dia Israel derrotado, e por quê? As lições deste capi-
depois da Páscoa, e então comem do trigo da terra tulo são:
para onde vieram. Isto também, já se vê. é uma figu- 1) Quando há uma derrota, deve haver uma in-
ra de Cristo, pois Ele é todo o sustento da alma; não vestigação. Isto é necessário na vida individual como
é. porém mais como o pão do Céu, mas Cristo na sua na nacional.
humilhação descido do Céu. A Terra Prometida era 2) A desobediência traz derrota na vida cristã.
um tipo do Céu, e o povo come o produto da terra - 3) Um pecador traz o fracasso ao acampamento
um Cristo celestial. É nosso privilégio conhecé-lo todo (v. 11).
não somente cor. .:' descido para este mundo, mas su- 4) A desobediência precisa ser julgada cabalmen-
bido para onde estava antes. Mas Ele é a mesma te (v. 15).
pessoa bendita qu- as circunstâncias não podem al- 5) O Senhor ajuda na descoberta do mal.
terar. Se Ele fosse uterente agora daquele que temos Vamos agora estudar:
visto revelado ao mundo, não o poderiamos conhe- 1) A investigação (vv. 17,18). Imaginemos a ago-
cer, pois nosso conhecimento dele vem da sua vida nia do homem quando a indagação ia-se aproximan-
terrestre. E isto é o que o maná levado para Canaã - do dele.
'maná escondido' - significa para nós" (Grant). 2) O apelo de Josué (v. 19). Positivo, urgente,
O Capitão do Exército (vv. 14,15). Esta notável simpático.
figura é certamente "o Capitão da nossa salvação". 3) A confissão de Acà (21). Vi, cobicei, tomei, es-
Sem dúvida temos aqui uma das manifestações de condi.
Cristo no Velho Testamento, geralmente com o titu- 4) A inclusão de sua família (24) sugere que toma-
lo "o Anjo do Senhor" aparecendo, a começar com ram parte no furto, e que o pecado que envolve a
Gênesis 16.7 e 21.17 e depois a Abraão, Moisés. Gi- morte de muitos arrasta outros para seu castigo.
deáo, Manoá, Davi (?). Elias e a outros santos do Mas no "Christian 's Armoury" pág. 505 entende-
V.T. se que a família não foi destruída, e o versículo 25 é
"Notemos as características: 1) É um homem (v. traduzido: "Todo o Israel o apedrejou \a Acaj e quei-
13), mas, 2) aceita a adoração devida a Deus (v. 15). maram (os seus òens] e os apedrejaram ", isto é, os
3) Seu ofício é o mesmo atribuído ao Messias - bens que não podiam destruir com fogo. "Levanta-
Guia e Capitão do povo. 4) Ele imediatamente as- ram sobre ele [A cá] um grande montão de pedras",
sume o comando supremo, e diz como a batalha há mas nào sobre sua família.
de ser" (Goodman).
Capitulo 8
É preciso notar que a entrevista com o anjo conti-
nua em 6.2.
A cidade de Ai é tomada e destruída. Sem dúvi-
da. os cananitas gloriavam-se. pensando que haviam
Capítulo 6 ganho uma vitória, porém não foram eles mas o pe-
cado que derrotara Israel. O fracasso de dentro é
"Jericó vencida. O resumo do sentido e a signifi- mais para temer do que um assalto pelo lado de fora.
cação desta vitória encontramos em Hebreus Por isso Deus torna a animar a Josué. O braço do Se-
11.30,31. A ênfase está nas palavras 'pela fé'. Essen- nhor nào estava enfraquecido.
cialmente, é uma lição da vitória da fé. Notemos que Ai nào havia de ser vencida mila-
Considerando o lado negativo. grosamente como Jericó. Os milagres não são para
1) Não foi por sabedoria humana - o plano de as- usa habitual. São sinais para reforçar a fé, mas a ver-
salto parecia uma loucura perante a ciência militar. dadeira fé não precisa de uma repetição de sinais
2) Não foi por uma energia camal. Em verdade o ( Goodman).
desejo de combater havia de ser restringido. Depois da vitória ( w . 24-35). A cidade de Ai foi
3) Nào foi depois de uma longa luta ou sítio. A vi- totalmente destruída e reduzida a ruínas ( w . 26-28).
tória foi dada num momento. A lição para nós é que Deus deseja um completo fim
Pelo lado positivo aprendemos que: ao pecado nas nossas vidas. Nada do mal deve ser
1) A vitória foi dada aos fracos, sem o emprego de poupado. Por isso Cristo morreu, para que destruísse
armas militares. para nós e em nós as obras do Diabo (1 Jo 3.8). De-
2) A arca de Deus, símbolo da sua presença entre pois vemos:
o seu povo, garantiu a vitória. Um altar construído (v. 30). A hora de triunfo
3) A obediência era essencial (v. 10). Durante torna-se a hora de culto. Fizeram uma cópia da Lei,
toda a marcha silenciosa, nenhuma palavra podia de acordo com o ensino de Deuteronômio 11.29. e

84
Josué

27.12,13. "Esta pausa no progresso da vitória é ins- e contudo contém um dispositivo secreto mediante o
trutiva. Serviu para reabilitar o povo no temor de qual posso fazê-lo andar para trás. E quem sabe
Deus e da sua Lei. Nunca devemos permitir que nos- quais sào os poderes naturais ainda não descober-
so conflito ou nosso serviço nos leve a esquecer de tos?" O assunto está largamente estudado no "Con-
Deus e da sua palavra" (Goodman). sultório Espiritual" pág. 78.
O restante do capitulo relata ainda mais vitórias
Capitulo 9 de Josué, até que ele "feriu toda a terra... e a todos os
seus reis" (v. 40).
Cilada dos Gibeonitas. Notemos que eles:
1) Fingem propósitos pacíficos, oferecendo alian-
ça. Aqui havia o perigo de uma desobediência positi- Capitulos 11 e 12
va (Dt 7.4).
2) Fingem submissão: "Nós somos teus servos". Outras vitórias de Josué. Ao ler de tanta matan-
Toda a tirania eclesiástica no mundo começou com a ça de povos e reis, havemos de constantemente nos
oferta de serviço. lembrar que tudo isto foi castigo divino por causa da
3) Fingem piedade: ".suo vindos teus servos por iniqüidade do povo (Gn 15.16; Lv 18.25,28, etc.) E
causa do nome de Jeová teu Deus" (v. 9). Há muitos assim aconteceu que as crianças inocentes sofreram
enganadores hoje que usam a capa de religião. pelos pecados dos pais, como sucede ainda hoje,
" O erro de Israel foi que 'náo pediu conselho á quando, por exemplo, uma criança nasce sifilítica.
boca de Jeiná'. É perigoso agir apressadamente e "Por muito tempo pelejou Josué..." (11.18). Ca-
chegar a uma decisão sem ter tempo para orar e es- lebe tinha 40 anos quando foi espiar a terra e tinha
perar em Deus. George Müller foi consultado por um 85 no fim da guerra. Quase 39 destes anos foram pas-
homem que rçcebera a oferta de um negócio que prn- sados no deserto, e assim ficaram 6 ou 7 para as guer-
metia grandes lucros. 'Preciso dar uma resposta den- ras de Josué ( T ) .
tro de uma hora", disse o homem. O sr. Müller res-
pondeu: "então a resposta é Náo'. Pois aquilo que
náo deixa tempo para a oração não pode estar certo" Capitulo 13
( Gtxtdman).
Os gibeonitas foram condenados, não tanto a ser- Terras ainda não conquistadas. Josué chegou a
viços pesados, mas a serviços humilhantes (23), Em ser velho sem ter tomado posse de tudo quanto Deus
vez de levar armas como homens, haviam de apa- lhe dera. Quando lemos "todas as coisas são vossas,
nhar lenha e carregar água como mulheres. seja Paulo ou Apoio, ou Cefas, ou o mundo, ou a vi-
Apesar de tudo. Deus. depois de muitos anos, do da, ou a morte, ou as corsas presentes, ou as futuras;
mal tirou o bem. Encontramos Ismaias o gibeonita tudo é vosso" (1 Co 3.21). porventura podemos dizer
entre os homens valentes de Davi (1 Cr 12.4), e Me- que temos tomado posse de tudo o que é nosso? A
latias e outros gibeonitas entre os edificadores dos prova de alguém ter tomado posse é que ele dá gra-
muros de Jerusalém nos tempos de Neemias (Ne 3.7; ças a Deus por isso.
7.25) e até um profeta. Azur, de Gibeom (Jr 28.1).

Capitulo 10 Capitulo 14

Gibeom é sitiada. A promessa feita sem oração .4 herança de Calebe. Ele era um dos dois espias
envolve Josué numa mudança de tática. A iniciativa que tiveram ânimo e fé 45 anos antes, e encorajaram
passa das suas mãos. Precisa desviar-se para prote- o povo a avançar e tomar posse da terra. Ele ainda
ger seu aliado. Mas Deus o sustentou, e houve uma está com o mesmo vigor de então (v. 11) e o mesmo
grande vitória. desejo de possuir a terra, apesar de haver ali "ana-
O sol e a lua detidos ( w . 12-15). "Deteve-se o sol quins" e cidades grandes e fortificadas. Com a idade
e pamu a lua". Os sábios têm escrito muito sobre de oitenta e cinco anos a maioria pensa somente em
este milagre, mas não vale a pena citar todas as suas descansar, mas Calebe ainda pensava em conquis-
explicações. Sem dúvida aconteceu um fenômeno tar. Josué deu-lhe Hebrom em herança (v. 13) e al-
extraordinário em resposta ao pedido de Josué. guns pensam que esse nome significa "comunhão
Como sucedeu, quase não vale a pena imaginar, ape- fraternal". Quase não podemos tomar posse de uma
sar de haver muitas idéias engenhosas a seu respeito. coisa melhor do que isso, no fim dos nossos dias.
A maneira mais provável é ter havido um aparente Notemos, no caso de Calebe, que:
afrouxamento no percurso do sol, e o fenômeno com 1) Recorda a promessa de Deus (v. 6) dada em
a lua teria sido mediante uma diminuição da rotação Deuteronômio 1.36.
da terra. Alguns, porém, imaginam que o fenômeno 2) Diz "perseverei em seguir a Jeová" (v. 8) e isso
fosse causado pela passagem de um cometa aquoso não é jactáncia, mas é o que Deus mesmo dissera
entre o sol e a terra, que podia ter refratado a luz so- dele (Dt 1.36).
lar. Mas pouco adianta imaginar possibilidades. Que 3) Ele está forte como nunca (v. 11). Uma ilustra-
houve alguma coisa de extraordinário sabemos, não ção da promessa "os que esperam em Jeová renova-
somente só pelo testemunho do escritor do livro de rão as suas forças; subirão com asas como águias;
Josué, mas até pelo livro que ele cita: O "livro de Ja- correrão e não se cansarão: andarão, e não desfalece-
sar". rão" (Is 40.31).
"Afirmar que o milagre era cientificamente im- 4) A sua coragem não tem diminuído (v. 12).
possível é presumir que compreendemos todos os re- Neste versículo temos a verdadeira linguagem da fé.
cursos da natureza: uma proposição absurda. Meu A linguagem de Paulo era: "Tudo posso naquele que
relógio de algibeira anda sempre no mesmo sentido, me fortalece" (Fp 4.13).

85
Josué

Capítulos 15 a 17 Capítulos 21 e 22

.4 herança de diversas tribos. Vemos que a filha A colocação das tribos restantes. As duas tribos e
de Calebe, Acsa, tinha o mesmo espírito e coragem meia agora voltam para os terrenos que tinham esco-
do pai, e náo se contentou com pouca coisa (15.16- lhido a leste do Jordáo, e em seguida fazem uma coi-
19). Sempre que a V. B. emprega a palavra "Negue- sa que desperta indignação e receio nos corações dos
be" Almeida traduz "o sul". israelitas a oeste do Jordão: "edificaram ali um altar
Nestes capítulos notemos especialmente o que Is- junto ao Jordão, um grandíssimo altar" (v. 10).
rael não conseguiu possuir, para ver se tem algum O resultado imediato disso foi quase uma guerra
sentido para nós. Judá náo pôde expelir os jebuseus civil, embora fosse feito com os melhores motivos.
que habitavam em Jerusalém (15.63) que era justa- Diz Matthew Henry: "Este altar foi designado mui
mente o ponto onde Deus tinha proposto "pôr o seu inocente e honestamente, mas teria sido bom. para
nome" (Dt 1'2). Isto não combina com Juizes 1.8 evitar a aparência do mal, se tivessem consultado os
onde lemos que Judá tomou Jerusalém e queimou-a. oráculos divinos primeiro, ou ao menos avisado seus
Contudo parece ter sido uma conquista incompleta, irmãos com respeito ao propósito, dando-lhes antes
segundo aprendemos de Juizes 1.21 e 2 Samuel 5.6. as mesmas explicações que deram depois. Seu zelo era
Os cananitas não foram expelidos de Gazer (16.10) e louvável, mas não era discreto. Náo era preciso ha-
os filhos de Manasses não puderam expelir os habi- ver pressa em edificar esse altar. Podiam ter tomado
tantes de Megido (17.12). tempo para considerar o caso e pedir conselho. Con-
"Disseram os filhos de José: As montanhas não tudo, quando a sua sinceridade ficou manifesta, não
nos bastam" (17.16); e nós depois de entrarmos no parece que foram censurados. Deus é capaz de tole-
gozo dos lugares elevados da experiência cristã no rar os erros de um zelo honesto".
meio dos crentes reunidos, podemos voltar para casa Entre as lições que o caso pode ter para nós hoje
e para as provações no meio de uma família descren- está a conveniência de agir em comunhão com os
te, e ser vitoriosos ali também? nossos irmãos em tudo que possa comprometer os in-
teresses coletivos. Antes de estabelecer mais uma
Capítulos 18 e 19 igreja local, com a Ceia do Senhor e outros serviços
coletivos, é bom pedir a cooperação e comunhão das
O tabernáculo levantado em Siló. O tabernáculo outras igrejas da vizinhança, para que o novo grupo
não seja argüido mais tarde de ter agido independen-
ficou em Siló desde os dias de Josué até os de Sa-
temente, sem reconhecer que constitui "um corpo"
muel, quando a arca foi para o cativeiro entre os fí- com os outros crentes em redor.
listeus, e nunca mais voltou a Siló.
Mas em Siló a primeira palavra é de censura: "a-
té quando sereis remissos em entrardes a possuir a Capítulo 23
terra ? " (18.3). Porventura nós também merecemos a
mesma censura? Josué, já velho, exorta o povo. Seu discurso tem
três divisões: 1) Retrospecto (1-4). 2) Conselho (5-
10). 3) Aviso (11-16).
Capitulo 20
D Retrospecto. Aqui ele atribui toda a vitória a
Deus. Fala de as promessas terem sido plenamente
As cidades de refúgio. Os fatos referentes a estas
cumpridas (v. 14).
cidades sáo os seguintes:
2) O conselho que ele dá é coragem (v. 6); obe-
1) Deveria haver seis, três de cada lado do Jor-
diência (v. 6); separação (v. 7); e, por último, mas de
dáo.
máxima importância: "uni-vos a Jeová vosso Deus"
2) Eram um refúgio para o homicida, mas náo
(v. 8). (Veja-se Atos 11.23.)
para o assassino.
3) No caso de o golpe ser resultado de ódio e dado 3) O aviso é contra o "voltar e unir-se ao restante
propositadamente, seria considerado como assassi- destas nações" (v. 13). Contra armadilhas, laços,
nato. açoites e espinhos (v. 13), com o perigo de "perecer
desta boa terra" (Goodman).
4) Se o matador era inocente do propósito de ma-
tar, ainda assim havia de ficar na cidade até a morte
do sumo sacerdote. Capitulo 24
5) As cidades eram cercadas de um alto muro,
com portas em cada extremidade, que podiam ser fe- Josué reúne o povo em Siquém e faz outro discur-
chadas para impedir a chegada do vingador. so. Vemos pelos versículos 14,15 que tinha havido
6) A entrada para a cidade havia de ser desempe- muita idolatria entre os israelitas, tanto no Egito
dida, para dar ao homicida toda a oportunidade como no deserto. Há alguma coisa patética no pro-
possível. testo do povo: "Nós, porém, havemos de servir a Jeo-
7) O refugiado arriscaria a vida se saísse da cida- vá" repetido três vezes (18,21 e 24). Sem dúvida
de em qualquer ocasião. eram sinceros.
No procurar o sentido da ordenança das cidades A morte de Josué (v. 29). Morreu de velhice, e
de refúgio é preciso haver prudência. Cristo é mais náo. apesar de ser guerreiro, na batalha. É notável
que uma cidade de refúgio. Ele é o que aquelas cida- que Lutero. nos tempos de tantos martírios (veja-se
des não eram: um refúgio para os culpados. Uma se- "História do Cristianismo"), faleceu tranqüilamente
melhança podemos descobrir: a cidade de refúgio na cama, na sua vila natal. "Israel serviu a Jeová to-
veio a ser a morada do homicida até a morte do sumo dos os dias de Josué". Ê extraordinário o que a devo-
sacerdote. Assim Cristo vem a ser a nossa morada es- ção e o exemplo de um só homem de Deus podem
piritual, e ele nunca mais morrerá (Is 32.2). conseguir.

86
Josué

Vemos também os ossos de José sepultados em AS PRINCIPAIS REFERÊNCIAS AO LIVRO DE


Siquém (v. 32) depois de terem sido levados pelos is- JOSUÉ N O NOVO T E S T A M E N T O :
raelitas em todas as suas peregrinações. Js 1.5 - Hb 13.5
Js 2 - T g 2.25
No versículo 19, em vez de "Não podeis servir ao Js 6.20 - Hb 11.30
Senhor", devemos ler "Não cesseis de servir ao Se- Js 6/23 - Hb 11.31
nhor" (R. 65). Js 14.1,2 - At 13.19
Js 24.32 - At 7.16 e Hb 11.22

87
juizes

ste livro toma seu nome 3.1.Em geral (caps. 3.7 a 16). Doze juizes.
dos treze homens levanta- 3.2.Em particular (cap. 17 a Rute). Três episó-
dos para libertar Israel dios.
durante a decadência e a 3.2.1.Mica e seus deuses (caps. 17 e 18).
desunião que se seguiram 3.2.2.Gibeá e Benjamim (caps. 19 a 21).
à morte le Josué. Mediante estes homens, Jeová 3.2.3.Noemi e Rute. O Livro de Rute.
continue seu governo pessoal de Israel. O versículo-
chave dí condiçâo de Israel é 17.6: "Cada qual fazia MENSAGEM DE JUlZES
o bem é lhe parecia".
Este é um dos mais importantes e um dos mais
Salientam-se dois fatos: o completo fracasso de tristes livros da Bíblia. Aqui achamos a proliferação
Israel e a persistente graça de Jeová. do pecado e a graça divina em constante ação; por
Na escolha dos juizes, são notórias as palavras de isso o pensamento-chave tem de ser "A divina mise-
Zacarias 4.6: "Não por força nem por poder, mas por ricórdia".
meu Espírito, diz Jeová", e as de Paulo em 1 Corin- O livro toma seu nome dos homens que guiaram
tíos 1.26, "não muitos sábios segundo a carne, nem Israel nesse tempo, e são chamados salvadores em
muitos poderosos, nem muitos nobres são chama- alguns lugares (3.9.15). Os juizes começaram real-
dos". mente com Moisés, e sua história estende-se de Jo-
O livro recorda sete apostasias. sete servidões, sué a Samuel, até o estabelecimento da monarquia.
sete nações pagãB e sete livramentos. O paralelo es- Houve três tipos principais de juizes, o juiz-
piritual se encontra na história da igreja professa guerreiro, como Gideão e Sansáo; o juiz-sacerdote,
como Eli; e o juiz-profeta, como Samuel. Os juizes
desde os apóstolos, no aparecimento de seitas e na
foram levantados por Deus para libertar o seu povo
perda da verdade sobre a unidade do corpo (1 Co através de um período de 400 anos (1 Rs 6.1). O livro
12.12,14). de Juizes é uma continuação da história de Josué.
Juizes divide-se em duas partes: Capítulos 1 a 16, Divide-se em três partes:
versículo-chave 2-18. Capítulos 17 a 21, versiculo-
chave 21.26 (Scofield). 1. Retrospectiva (olhando para trás).
2. Perspectiva (olhando para diante).
ANÁLISE DE JUIZES 3. Introspectiva (olhando para dentro).
Na primeira parte revisa-se a história do livro de
1. Retrospectiva: Olhando para trás (Caps. 1 a 2.10). Josué. Na segunda, olhamos para os séculos vindou-
2. Perspectiva: Olhando para diante (Caps. 2.11 a ros, e «temos amostras do seu caráter. O seguimento é
sempre o mesmo:
3 6)
Rebelião: "Os filhos de Israel fizeram mal à vista
2.1.Rebelião (2.11-13,17,19). de Jeová".
2.2.Retribuiçáo (2.14,15). Retribuição: "Acendeu-se a ira de Jeová contra
2.3.Arrependimento (2.18). Israel".
2.4.Descanso (2.16). Arrependimento: "Clamaram a Jeová".
(Nota-se a repetição do mesmo seguimento no Descanso: "Suscitou-lhes um salvador".
restante do Livro.) Esta parte refere-se a doze juizes (se omitirmos
3Jntrospectiva. Um olhar para dentro (Cap. 3.7 a Abimeleque), seis dos quais são apenas mencionados
Rute).

89
por nome - Elorn. Tola, Ajalom, Jair, Abdom, Ebsã e migos para tomar posse de toda a sua herança. Estão
Sangar; e seis cujo trabalho é relatado mais detalha- constantemente sob o domínio dos inimigos que
damente. Deus mandara destruir.
A terceira parte, "Introspectiva", ocupa a maior No castigo de Adôni-Bezeque pelo poder de Israel
porção do livro. Pelo lado humano, nada há senão vemos um notável exemplo de retribuição ( w . 6,7).
anarquia e apostasia; pelo lado divino, se vê ação, Foi levado a Jerusalém, onde morreu, e em seguida a
misericórdia e graça. Já temos encontrado antes a cidade foi tomada e queimada, segundo lemos no
graça libertadora de Deus, mas em Êxodo era liber- versículo 8. Segundo o versículo 21 e Josué 15.63, é
tação da escravatura e aqui é libertação da reinci- possível que a conquista do versículo 8 deva ser en-
dência. á qual há cinqüenta alusões no Livro. A raiz tendida num sentido parcial, incompleto. Josué (cap
do mal com Israel foi não expulsar o inimigo: subju- 10) tinha conquistado outro Adôni-Bezeque ("Se-
gaçáo não era bastante. Assim lemos 1.19-36 de nove nhor de Bezeque") rei de Jerusalém, e o tinha enfor-
nações inimigas que ficaram na terra, apesar das ins- cado. Talvez fosse o pai deste. Parece que a cidadela
truções positivas de Êxodo 23.27-33; 34.11-16; Nú- de Jerusalém só foi conquistada no tempo de Davi.
meros 33.51-56; Deuteronômio cap. 7; 9.1-5; 12.1-3; Os versículos 12 a 15 repetem o que temos lido em
20.16-18; cap. 31; Josué cap. 23. Josué 15.16-19. Ficamos em dúvida se a conquista de
Não é de estranhar que esta falta de obediência Hebrom foi antes da morte de Josué ou depois.
resultasse na retribuição recordada em 2.21 e 3.4. Terras não conquistadas. Nos versículos 21 a 36
Justamente os povos que pouparam haviam de ser temos uma triste lista de terras não conquistadas.
laços, açoites e espinhos para Israel (Js 23.13), para Ainda hoje ouvimos tanta gente que professa conhe-
sua humilhação e ensino. Nós, cristãos, haveremos cer Cristo como o Salvador, o libertador do pecado,
de ser. ou os vencedores ou os servos do pecado (Rm mas costuma dizer: "Tenha paciência, mas isso é
8.16). Notemos que a cena de todo este sofrimento é um vício que não posso largar", por isso podemos ver
a Terra Prometida, e não o Egito ou o deserto: um em Israel, no tempo dos juizes, um espelho que reve-
solene aviso para aqueles que pensam estar livres de la as nossas fraquezas. Quão bom é quando podemos
tentação quando desfrutam das bênçãos divinas. dizer: "Mas graças a Deus que nos dá a vitória, por
Quanto maior nosso conhecimento, quanto mais in- nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Co 15.57).
tenso o nosso zelo, tanto mais terrível nossa queda,
se concordarmos com o pecado. "Quem pensa estar Capítulo 2
em pé. cuide que não caia". É tristemente possível
que aqueles que gozam de uma vocação celestial vi- O anjo do Senhor repreende os israelitas. Depois
vam uma vida bastante terrena, apesar das abun- de ler a história de tanta pusilanimidade por parte
dantes bênçãos do Evangelho. Uma tal vida é sem- de Israel, não é de estranhar que agora ouçamos o
pre caracterizada por duas coisas que constantemen- anjo do Senhor reprovando o povo. Não seria nada
te aparecem neste Livro: condescendência com ini- impossível vermo-nos reprovados também, se não vi-
migo e conflito entre irmãos. Era somente em face de giarmos.
alguma grande calamidade que as tribos resolviam O restante do capítulo ( w . 6 a 23) vem a ser uma
agir de acordo. Todos os departamentos da sua vida espécie de resumo do livro todo, no seguinte sentido:
nacional estavam corrompidos - na esfera religiosa, 1) Enquanto vivia Josué e os anciãos que lhe
na familiar, na pública e na pessoal. Porventura não sobreviveram, as coisas iam bem ( w . 7-10).
se vê tudo isso no atual estado da Igreja de Deus? 2) Depois o povo abandonou a Jeová e serviu a
Sim. vê-se náo somente na sua falta de unidade, mas Baal e a Astarote (v.13).
no seu compromisso com o adversário? 3) Isto resultou em fracasso e derrota, e eles fica-
ram muito desanimados (v. 15).
A senda de restauração poderá ser penosa, mas 4) Contudo Deus levantava libertadores de vez
quando começa o juízo, deve começar com a Casa de em quando, que os salvaram dos seus inimigos, mas
Deus. Sempre que o povo de Israel era vencido, es- sempre por pouco tempo.
cravizado e esmagado pelo inimigo, suplicava a Deus Referente ao culto ao falso deus Baal, Grant diz:
na sua agonia, e era libertado. Essa libertação cor- " 'Baal' significa "marido' ou 'senhor' com a idéia de
responde a uma revivificaçào espiritual nos nossos propriedade. Um pássaro é um 'baal de asas' e um
dias, que precisa ser, como então, a conseqüência di- homem cabeludo 'um baal de cabelo". Não significa,
reta do clamor a Deus daqueles que sentem o poder portanto, um que governa, que é o sentido de 'adon*.
de Satanás operar. Este livro nos é dado para que Nem sempre tem um sentido mau: como 'marido'
ninguém desanime. Há remédio para a reincidência Deus emprega a palavra a respeito de si mesmo.
(Os 14) e há também, quando o arrependimento é 'Teu Criador é teu baal' (Is 54.5); 'embora eu fosse
sincero, perdão e amor divino. Os anos do cativeiro um baal para eles' (Jr 31.32). Contudo, Deus final-
de Israel não são contados no calendário divino da mente repudiou a palavra. Em Oséias Ele diz: 'Na-
sua história, porque os israelitas estavam fora do quele dia me chamarás Ishi, e nunca mais me cha-
círculo da vontade de Deus. Mas náo precisa haver mar ás Ba a li. pois da sua boca tirarei os nomes de
um cativeiro, nem para eles nem para nós (SI 78.55- Baal, e os seus nomes não serão mais mencionados'
64; 106.34-45; 1 Sm 12.6-25; 1 Co 15.33; Tg 4.4; 2 Pe (Os 2.16,17)'*.
2.20,21), pois em Deus há graça para guardar.
Notemos a decadência crescente: "Mas depois
que o juiz era morto, reincidiam e tornavam-se pio-
Capítulo 1 res do que seus pais. seguindo após outros deuses
para os servir e adorar" (2.19).
A vitória incompleta de Israel. O livro de Juizes é
talvez o mais triste na Bíblia. Relata uma história Capítulo 3
bem infeliz; porém com alguns incidentes brilhan-
tes. Relata o fracasso das tribos em subjugar os ini- Otniel, um salvador de Israel. Parece-nos Otniel

90
um vulto simpático. Filho de Quenaz, irmáo mais Inimigos Libertadores
moço de Calebe, tinha ele ilustre parentesco e a re- 1) O rei da Mesopotâmia (3.8) Otniel
cordação das façanhas do tio. Talvez em pequeno 2) Moabitas (3.12) Eúde
ouvira o tio Calebe contar as suas experiências quan- 3) Cananitas (4.2) Débora e Baraque
do explorava a Terra Prometida: tinha visto as suas 4) Midianitas (6.1) Gideão
proezas quando tomava posse da herança, e se tinha 5) Amonitas (10.7) Jefté
embebido do seu espirito guerreiro. 6) Filisteus (13.1) Sansão
Mas sobrevivia aos seus parentes ilustres, e che- O período incluído na história dos Juizes deve ser
garam tempos de desânimo e derrota. Israel, desvia- de uns 400 anos. Em 1 Reis 6.1 o período entre o Êxo-
do do verdadeiro Deus, estava escravizado pelo rei do e a construção do templo é dado como sendo de
da Mesopotâmia, e Otniel dedicou suas forças, sua 480 anos.
energia, sua coragem ao serviço desse povo decaden- Jabim, rei de Canaá, reinava em Hazor. Josué
te; e tudo fez por amor do Deus de Israel. matara outro rei deste nome (Js 11.1) e incendiara a
Tudo isto faz-nos pensar em tempos então futu- cidade, destruindo tudo. Evidentemente o inimigo
ros, quando, no auge da sua prosperidade material, derrotado tinha recuperado o poder, reedificado a ci-
com um povo unido atrás dele, Davi preparou mate- dade, e agora, sob outro rei do mesmo nome, oprimia
rial abundante para que houvesse em Jerusalém Israel por 20 anos.
uma Casa digna do Deus de Israel.
Débora, a profetisa, manda a Baraque uma men-
Mas não achamos em Davi nada parecido com sagem do Senhor, que ele receia executar sem que
Otniel. Antes vemos isso naquela pobre e ignota mu- ela o acompanhe (4.8). Nos dias da opressão, há pou-
lher, que, em tempos ainda mais futuros, havia de ca coragem ou fé. É uma das misérias do pecado que
dedicar tudo quanto tinha, não para construir o pri- os homens se acostumem com sua escravatura, e
meiro templo glorioso, mas, ao menos, para conser- percam a esperança da libertação. Contudo é Bara-
var o último templo em Jerusalém, poucos anos an- que e não Débora que aparece na lista dos heróis da
tes da sua final e completa destruição (Lc 21.1-4).
fé em Hebreus 11.32. Ele, pela fé. "fez-se poderoso
Decadente, sob o controle romano, quase abandona-
do por Deus, esse templo era para ela ainda a "Casa na guerra e pôs em fuga o exército dos estrangeiros".
de Deus" e o objeto de toda a sua solicitude. Jael mata Sísera (4.17-22). "Tem havido muitas
tentativas para justificar o ato de Jael, mas não pre-
Podemos descobrir um paralelo em nossos dias? cisamos fazer isso. Deus propusera que Sísera mor-
No tempo próprio, os apóstolos, r* |11 -v grandes ho- resse, e permitiu que a mulher executasse o juízo de-
mens de Deus, prepararam com imenso entusiasmo, terminado, como muitas vezes tem Ele permitido
os alicerces desse novo Templo que é a Igreja do que ações más cumpram a sua vontade. Não precisa-
Deus vivo, a qual nos seus primeiros dias, estava mos supor que Ele aprovasse, e muito menos que
unida, nova, entusiasmada com as glórias do Evan- louvasse a ação. Débora louva-a no seu cântico
gelho. Mas agora, uma grande parte do cristianismo (5.24), mas não lemos nenhuma palavra da divina
está decadente, dividida em inúmeras seitas, enve- permissão. Judas traiu o Senhor, e assim fora predi-
nenada com doutrinas erradas, muitas vezes numa to na Escritura, como também mãos malvadas cru-
luta fratricida, desviada do caminho da verdade e cificaram o Senhor, e lemos que era 'para fazerem
apostatando da "fé que uma vez foi entregue aos tudo o que a tua mão e o teu conselho predetermina-
santos". ram que se fizesse' (At 4.28), contudo, isso era iní-
Mas, por outro lado, a verdadeira Igreja, que é o quo, e foi severamente castigado.
verdadeiro cristianismo, sem se desviar do Caminho, " A lição de todo o capítulo é uma lição de fé e co-
prossegue seguindo a Cristo e se preparando para a ragem num dia mau, depois de longa escravidão sob
sua breve vinda. Ela pode ser chamada de ".4 igreja cruéis opressores".
do Deus vivo, coluna e firmeza da verdade". Proposta emenda de tradução (5.26): "estendeu
Eúde livra Israel da servidão de Eglom ( w . 12- devagar a sua mão à estaca" (R. 112).
30). Não podemos simpatizar com Eúde. apesar de
ele ter destruído o rei inimigo. Parece-nos um ho-
mem antipático e assassino. Capítulos 6 a 8
Ele era canhoto, e assim conseguiu enganar o rei
de Eglom. Nessa entrevista secreta, a desconfiança A história de Gideão. Três capítulos relatam as
do rei podia se ter desvanecido ao ver o homem com proezas deste homem valente, que libertou Israel dos
a mão direita vazia; mas não olhou para a esquerda, midianitas.
que, de repente, pegou na arma, e o matou. Em tempos de grande angústia e aperto (seme-
De Sangar (v. 31) sabemos bem pouco, salvo sua lhantes à situação de alguns povos hoje) Deus revela
façanha de matar 600 homens com a aguilhada de seu empenho pela salvação de Israel, mandando pri-
um boi. Não sabemos se ele julgou Israel, nem por meiro um profeta (6.8), e depois um anjo (v. 11). O
quanto tempo. serviço do profeta era recordar a Israel a sua desobe-
diência (v. 10); e o do anjo. encorajar Gideão na re-
sistência ao inimigo.
Capitulos 4 e 5 Notemos que o anjo é duas vezes chamado "Jeo-
vá" ( w . 16 e 23) e por isso os expositores entendem
Débora e Baraque. Nas suas "Notas Diárias" de que isso foi mais uma das manifestações de Cristo
1917, Geo. Goodman dá uma lista de seis inimigos nos tempos do Velho Testamento.
que invadiram a terra dos israelitas nos tempos dos Notemos os passos tomados por Gideão no cum-
juizes, e dos libertadores, a saber: primento da comissão divina:

91
D O altar de Baal há de ser derrubado, porque a não desprezar ninguém por motivo de ser seu nas-
Gideâo tem feito um altar a .íeová. e não pode haver cimento humilde ou vergonhoso.
dois: "Não podeis servir a dois senhores". Enxotado de casa pelos irmãos, filhos legítimos
2) Ele tem de enfrentar a ira do mundo (6.30). Os do pai, agregaram-se a ele "homens miseráveis", e
que estão resolvidos a servir a Deus sofrerão perse- saíam com ele como seu chefe. Um homem de cora-
guição. gem e caráter pode, às vezes, inspirar ânimo aos ou-
3) O Espírito do Senhor veio sobre Gideào. Ê so- tros, e guiá-los para grandes empresas.
mente quando o Espirito nos dominar que seremos Alguns expositores dizem que nào é certo ter sido
levados na senda da vitória. a màe de Jefté uma prostituta, pois a palavra pode
4) Logo que o Espírito o anima. Gideão anda co- ser traduzida "hospedeira". É provável ter ela sido
rajosamente, toca a trombeta. e reúne o povo. cananita, visto ser chamada "ishah achereth", mu-
5) O sinal do velo. "Isto ensina duas lições. Pelo lher de outra raça (v. 2) ( T ) .
velo molhado do orvalho, quando tudo em redor fi- Vemos como, na hora da necessidade, os anciãos
cou seco, Gideão aprendeu que ele podia estar cheio de Gileade reconheceram que Jefté tinha qualidade
do Espírito quando todos em redor dele estavam de- para ser "cabeça sobre todos os habitantes de Gilea-
sanimados e secos. A lição que se segue é mais humi- de ". Poucos são os que têm as qualidades de lideran-
lhante: que ele podia estar seco quem to tudo em re- ça. Deus discerniu no moço Davi as qualidades de
dor estava cheio do Espírito. um rei. e enviou Samuel para ungi-lo (1 Sm 16.1). E
Gente demais (7.2). "Para as batalhas do Senhor alguém na igreja local hoje pode ser mais apto do que
precisam-se homens de f é " . Por isso duas provas são qualquer outro para ser o superintendente de Escola
propostas para verificar a qualidade dos voluntários: Dominical ou presidir às reuniões da mocidade.
1) Primeiro coragem. Fé e medo não têm nada em O voto de Jefté ( w . 29-40). Notemos que a pala-
comum: que os medrosos voltem para casa: dois ter- vra traduzida por holocausto no versículo 31 não traz
ços se retiram. necessariamente a idéia de um sacrifício queimado.
2) Depois urgência. Alguns beberam descansada- O sentido literal é " o que sobe", e a "subida" pela
mente (7.5-7) e outros apressadamente, como ho- qual Salomão ia à casa de Jeová (1 Rs 10.5) é escrita
mens ansiosos por prosseguir. E bom ter uma fé que com a mesma palavra.
não receia, e ainda melhor é um espirito agressivo e "Quanto ao voto de Jefté, parece ter havido pres-
urgente. Tal era a fé do apóstolo Paulo (Fp 3.11-14). sa e fracasso nele, mas certamente não há idéia de
A lição da vitória é que um com Deus pode vencer sacrifício humano, como muitos tém imaginado. A
mil sem Ele (Dt 32.30 e Js 23.10). maioria dos comentadores recentes concorda nisto, e
Note-se que, no livro de Juizes, Deus se serve de crê que a filha de Jefté foi simplesmente dedicada a
instrumentos estranhos para conseguir seus propósi- Deus para viver uma vida de solteira, como os versí-
tos. Aqui temos trombetas, cântaros e archotes; em culos 37-39 demonstram. Não há nenhuma palavra
5.26 uma estaca; em 6.37 um velo; em 9.53 uma pe- de morte a seu respeito. As palavras de Jefté ao rei
dra de moinho; em 14.8 o cadáver de um leão e em de Amom mostram que ele conhecia a Lei, e pela Lei
15.16 a queixada de um jumento. tal oferta seria uma abominaçáo (Lv 18.21, etc.) O
É coisa triste ver Gideào, afinal, contribuindo, hebraico permite traduzir o versículo 31: "...será de
talvez inconscientemente, para a idolatria (8.24-27). Jeová, ou eu a oferecerei em holocausto" (Grant).
Proposta emenda de tradução (12.6): "dois mil e
Capítulo 9 quarenta" (J. 365).

O reino de Abimeleque. Há um ditado que diz: Capítulos 13 a 15


"Cada povo tem o governo que merece", e vemos Is-
rael, novamente idolatra, sob o domínio de Abimele- A visão de Manuá. Sobre isto diz dr. Goodman:
que, um homem depravado, com um nome (signifi- "Vamos virar a nossa atenção outra vez para essa
cando "meu pai era rei") semelhante aos nomes dos gloriosa e única figura 'O Anjo de Jeová'. Notemos o
reis dos filisteus. Ê uma história sórdida, que acaba que se diz dele:
tragicamente. O comentário divino é: "Assim Deus 1) Ele é um homem ( w . 6 e 11). Mas nada se diz
fez cair sobre A bimeleque o mal que tinha feito a seu de características extraordinárias, como asas ou au-
pai, tirando a vida a seus setenta irmãos" (v. 56). reóla, como os homens gostam de delinear os anjos
de Deus.
Capitulo 10 2) Ele é também Deus (v. 22). O versículo 16 su-
gere que ao princípio Manuá não reconheceu que foi
Tola e Jair, juizes dos israelitas. Estes dois pare- com Jeová que falara, mas depois (v. 21) descobriu
que não fora com nenhum outro.
cem ter julgado o povo sem haver guerras ou outros
distúrbios. De Jair uma das coisas dignas de menção 3) Ele declara ser seu nome secreto, ou 'admirá-
foi que teve trinta filhos que montavam em trinta ju- vel* (v.18). E a mesma palavra traduzida 'maravi-
mentos. Que recordações haverá do leitor, depois da lhoso' naquela gloriosa profecia messiânica de Isaías
9.6.
sua morte, mais importantes do que isso? Talvez te-
nha tido somente três filhos, mas se os educou na Jacó lutara com esse mesmo ser Maravilhoso (Gn
doutrina e admoestação do Senhor, isso tem impor- 32) 'um homem* (Gn 32.24) e 'Deus' (Gn 32.28,30), e
tância. queria saber o seu nome, mas o pedido foi recusado.
Esse nome não foi revelado até muitos anos meus tar-
Capítulos 11 e 12 de, quando foi anunciado a Maria pelo anjo Gabriel:
'chamarás seu nome JESUS [ Jeová, o So/uodor],
Jefté como juiz de IsraeL Um homem "ilustre em porque ele salvará seu povo dos pecados deles' ( M t
valor, mas filho de uma prostituta", o que nos ensina 1.21). Este é o nome sobre todo nome (Fp 2.9).

92
4) O Anjo 'subiu com a chama de fogo sobre o al- Capitulo 17
tar para o céu' (v. 20). Uma figura do dia quando,
sobre o Calvário, havia de derramar a sua alma na Mica e seus ídolos. Podemos acreditar que temos
morte, e oferecer-se sem mácula a Deus. 'oferta e sa- neste capitulo uma amostra da idolatria que preva-
crifício a Deus em odor de suavidade' (Ef 5.2). leceu em todo o período dos juizes.
"Sansáo, em certos sentidos, é um dos mais notá- A primeira coisa que notamos é que nenhuma das
veis caracteres na Bíblia. E robusto e atrevido, mui- traduções portuguesas conserva o nome primitivo
to abençoado e empregado por Deus. e contudo mau deste homem: Micajehu ("quem é como Jeová?")
e desobediente. Quando lemos a estranha história como deveria ser nos versículos 1 e 4. Encontro-o tra-
que o Espirito de Deus assim nos revela, sentimos duzido corretamente apenas na tradução espanhola
que o Senhor tem muito que nos ensinar por ela. Náo de Pratt, e no "Numerical Bible" de F. W. Grant.
sentimos repugnância pelo homem violento, apesar " O homem adota a religião de sua mãe, e a mudança
das suas notáveis fraquezas, porque reconhecemos é indicada pela abreviação do seu nome. que de Mi-
alguma coisa semelhante em nossos próprios cora- cajehu ("quem é semelhante a Jeová?") vem a ser
ções. Quem quereria a história dos seus próprios Mica, significando provavelmente "quem é curto de
pensamentos secretos escrita para todo o mundo ler? vista?" (Grant). (Pratt dá o sentido de Mica "quem
Tal história do coraçào nào seria muito diferente da como • ?")
de Sansáo. Que Deus pudesse usar um como ele nào Mica, evidentemente, respeitava a Jeová, entre
é nada estranho, porque muitos de nós podemos di- os vários deuses que tinha na sua capelinha (v.5); e
zer: 'Pois Ele porventura náo me tem usado a mim?' ficou todo contente quando pôde contratar um moço
Sansáo se enamora de uma mulher dos fílisteus. e levita como seu capelão particular, pois disse: "Ago-
quer casar com ela. Seus pais protestam. Era coisa ra sei que Jeová me fará bem, visto que tenho um le-
expressamente proibida (Dt 7.3) como também é vita para sacerdote" (v. 13).
proibido o casamento de crente com descrente (2 Co
6.14). Capitulo 18
O enigma de Sansáo (14.14). Uma coisa incom-
preensível para todos os convidados à festa nupcial: Os danitas buscam uma herança. Os seiscentos
"Do comedor saiu comido. danitas cujas proezas são relatadas neste capitulo
E do forte saiu doçura", parecem-nos pouco melhor do que ladrões, e sem
e. contudo, na providência divina, as coisas mais es- mais nem menos roubam a imagem de Mica e subor-
tranhas têm acontecido. Nós sabemos que náo so- nam seu moço sacerdote para que a idolatria que era
mente houve nesses dias passados mel que saiu dum de apenas uma família fosse a religião de uma tribo.
leão morto, de maneira que uma coisa tão repugnan- Seu procedimento iníquo faz-nos recordar a profecia
te como a morte falou de doçura e satisfação, mas sa- de Jacó: "Dá será uma serpente no caminho, uma
bemos também de um caso mais maravilhoso ainda cerasta na vereda, que morde os calcanhares ao ca-
em que a maior doçura da vida espiritual está rela- valo" (Gn 49.17). O moço levita, cujo nome era Jôna-
cionada com o Homem morto sobre a cruz. tas, descendente de Moisés (v. 30). é um exemplo
No capitulo 15 lemos de diversas proezas de San- típico do sacerdote mercenário, que anda atrás de in-
sáo, e também lemos da sua derrota. teresses monetários.
No versículo 30 o nome do antepassado do jovem
Capitulo 16 é dado corretamente na V.B. como sendo Moisés, e
náo Manassés como em Almeida.
Sansáo traído por Dalila (vv. 1-22). Notemos os
passos da sua queda: Capítulos 19 e 20
1) Ele foi para o lugar de tentação e pecado.
2) O inimigo serviu-se da mulher para o aliciar Os homens de Gibeá. Nesta detalhada narrativa
(v. 5). de pecado, cheia de brutalidades e vinganças, pode-
3) O propósito do inimigo está bem explicado (v. mos notar alguns pontos de interesse.
5): mediante o suborno consegue seu propósito. Pelo visto, Jerusalém fora duas vezes retomada
4) Sansáo começa por zombar deles (vv. 7.11.13). das máos dos israelitas, e agora é mais uma vez uma
mas com os inimigos de Deus náo convém brincar, "cidade dos jebuseus" (19.11), tendo tanto os de Ju-
para não se relacionar. dá como os benjamitas perdido seu poder sobre ela.
5) Sansáo fica cansado pela persistência da mu- Náo querendo alojar-se ali, o levita segue para
lher (v. 16). Ele devia ter fugido da tentaçáo e da uma cidade israelita chamada Gibeá. onde encontra
tentadora. mais perversidade e mais perigo do que em Jerusa-
6) Afinal ele peca deliberada mente contra seu lém. Ali sacrifica a concubina para salvar a própria
voto de nazireu (v. 17). vida, e em seguida planeja uma grande vingança
7) Enquanto dorme, o inimigo rouba-lhe as forças contra os iníquos benjamitas.
(Pv 24.30-34; Mt 13.25). Todo o Israel se reúne para castigar o mal, e, coi-
8) Acorda desenganado e fraco, e é vencido pelos sa estranha, nos dois primeiros dias da batalha, sofre
inimigos. pesado castigo. Facilmente ficamos indignados ao
9) Perde a vista, a liberdade e o descanso, mas. ouvir dos pecados alheios, e apressamo-nos a lançar
afinal, prova a restauração do seu poder, pela miseri- a primeira pedra, mas, para esse solene dever, é pre-
córdia de Deus. ciso que nós mesmos estejamos "sem pecado".
O versículo 13 acaba incompleto. A versão dos
L X X completa o versículo com as palavras "e as se- Capítulo 21
guras ao prego na parede, ficarei fraco como qual-
quer outro homem" ( T ) . A ruína deJabes de Gileade. F. VV. Grant comen-

93
Mes

ta este capitulo da seguinte maneira: "Afinal, quan- positivo onde a paciência e a longanimidade teriam
do a espada tem feito seu trabalho ousado, e algu- sido apropriadas; tolerante nas ofensas contra Deus,
mas centenas de moços, privados de tudo que preza- feroz e sem misericórdia no vingar ofensas contra si
ram na vida. ficam sozinhos, o povo desperta para a mesmo; escrupuloso em guardar um juramento lou-
realização do resultado da sua própria obra, como se co; mas procurando evitar as suas conseqüências por
fosse de uma providência inescrutável, e indaga por um jesuitismo que a ninguém enganou. Assim foi o
que terá isso sucedido. 'povo de Deus' de então, e (talvez) a 'cristandade' de
"Acham-se presos pelos seus atos passados, em hoje; e tal terá ela sido em ocasiões passadas. Esqua-
que parecem ter deliberadamente contemplado a ex- drinhemos os nossos corações ao lermos esse relatório
tinção de uma tribo, o que quase conseguiram, e ago- - recordado não sem propósito. Quão solene é a repe-
ra querem atribuir isso á vontade de Deus. -Juraram tição daquilo que tem sido o texto destes últimos
não dar esposa a qualquer benjamita. Mas, em vez capítulos: 'Cada um fazia o que bem lhe parecia".
de apresentar isto com tristeza penitencial perante o (Traduzi a exposição deste último capítulo de
Senhor, pedindo uma libertação da sua loucura, to- "The Numerical Bible" sem a resumir, para que o
mam mais uma vez o negócio nas suas mãos cruéis. leitor possa provar à vontade o sabor do ensino bíbli-
"Os habitantes de Jabes de Gileade não tinha co do erudito F.W.Grant. Em outros lugares tem
mandado auxílio à guerra, e isto Israel tinha denun- sido possível dar apenas um resumo das exposições
ciado, com mais outro juramento atrevido, ser um dele, que, na sua totalidade, encheriam cinco livros
crime digno de morte. Um novo juramento é feito do tamanho deste.)
como meio de escapar do anterior; e despacham uma
expedição contra a infeliz cidade para infligir-lhe o REFERÊNCIAS AO LIVRO DOS JUIZES N O
extermínio, salvo umas quatrocentas moças destina- NOVO T E S T A M E N T O
das a serem esposas dos moços benjamitas.
Juizes 2-16, At 13-20
"Mas isto náo chega, e lançam mão de outro ex- 4, Baraque
pediente. Respeitando o próprio juramento, não de- 6 a 8, Gideáo
vem dar as suas filhas, mas náo tem dúvida em per- 11 e 12, Jefté "j> Hb 11.32
mitir aos moços furtá-las. e. positivamente, propõem 14 a 16, Sansão
uma festa a Jeová como uma boa ocasião para isto!
" T a l se tornou Israel, o povo de Deus. Fraco e in-
deciso quando era preciso fazer o bem; apressado e

94
M e

f-cj

Livro de Rute é eviden- Rute era moabita, pertencente a um povo que se ori-
temente uma narrativa ginou de um ato impuro e indigno relatado na histó-
dos tempos doe juizes ria do Velho Testamento (Gn 19), um povo que foi
(1.1), que olha adiante sempre inimigo ferrenho do povo escolhido, recusan-
para os tempos de Davi do-lhe pão e água quando saiu do Egito, e empregan-
ím, fica entre Juizes e Samuel. Seu do contra ele Balaão filho de Beor (Nm cap. 22 a
iritual claramente liga os dois. 25.3; 31.16; Dt 23.3,4). Foi uma mulher dessa nação
má a escolhida para ser a bisavó de Davi, de cuja
No sentido literal, o livro de Rute nos mostra co- descendência havia de vir o Cristo. O povo escolhido
mo, apesar do fracasso de Israel, a salvação de Deus bem compreendeu que Deus se revelara a ele, mas
podia atingir, até os próprios gentios. náo entendeu porque Deus fez isso; consideravam
As divisões acompanham os capitulos: 1) Rute e seus privilégios como direito exclusivo, privilégios
suas resoluções; 2) Rute e os seus serviços; 3) Rute e que não podiam ser gozados por qualquer outra na-
o seu descanso; 4) Rute e a sua recompensa (Sco- ção. Mas, durante toda a sua história, Deus estava
field). corrigindo esse erro. Mandou Melquisedeque, um
gentio, para o revelar a Abrão como o Deus Altíssimo
(Gn 14). Empregou Raabe, a prostituta gentilica,
A M E N S A G E M DE RUTE para ajudar na destruição de uma fortaleza iníqua,
para depois casar-se com um judeu e ser a mãe de
Este é um dos dois livros da Bíblia que têm por Boaz, que neste livro se casa çom Rute, a gentia.
título nomes de mulheres, e as duas mulheres apre-
sentam notáveis contrastes. Rute é uma gentia. leva- Há outros casos que tornam claros os propósitos
da para o meio de Israel, onde passa toda a sua vida. de Deus para com os gentios séculos antes de o povo
Ester, uma judia levada para o meio dos gentios, on- escolhido ser rejeitado, e o apóstolo Paulo ser envia-
de, com igual fidelidade, desempenha o que lhe é do aos gentios. A graça divina é mais vasta do que
destinado por Deus. costumamos pensar, e algum dia. quando seu povo
Este livro brilha com várias e importantes verda- todo for manifestado, muitas surpresas nos esperam.
des com referência a todos 06 aspectos da nossa vida. Também devemos notar que a história de Rute
Vem ainda com mais aceitação depois de Juizes. aparece no momento em que Israel se afasta do culto
Passar da atmosfera pesada de Juizes para o ar puro a Jeová. Isto vem a ser uma figura da chamada dos
de Rute é como passar de um bairro indigente para gentios para formarem, junto com os israelitas cren-
um à beira-mar. tes. a Igreja de Deus, o Corpo de Cristo. Esta voca-
Mas devemos nos lembrar de que Rute pertence ção lhes veio quando a nação escolhida rejeitou o
ao tempo do6 juizes. Ê semelhante a uma linda flor Messias (At 13.46; 18.6). Então aqueles que estavam
num jardim abandonado, ou a uma luz clara que longe foram trazidos para perto e chegaram a ser co-
aparece na escuridão da noite. Os períodos mais te- herdeiros, e membros da família da fé. Esta história
nebrosos da história nunca têm estado sem alguma em todos os seus detalhes e na sua interpretação ge-
fragráncia, algum raio de esperança, algum córrego ral está muito cheia de ensino espiritual e de auxilio
cristalino, porque Deus nunca se deixa sem testemu- para os que tal ensino procuram mediante a oraçáo.
nho. Seguem aqui alguns pensamentos sobre assuntos
A mensagem principal deste livro parece ser as para estudo:
relações e propósitos de Deus para com os gentios. 1) O assunto da escolha e as suas conseqüências

95
TLute

(1.14). Cada um tem de escolher de vez em quando: da). Não "homem ilustre em riquezas" como na
Ló (Gn 13); Israel (Js 24.13). V.B. Que experiência para Rute descobrir que nesse
2) O assunto da reincidência (caps. 1 e 2). Elime- pais estrangeiro havia um parente poderoso (v. 20).
leque e Noemi não podiam confiar em Deus para o Faz-nos pensar em nosso Redentor, que se aparentou
pão em tempo de fome. Nem podiam Abraão (Gn 12) conosco, tomando parte na nossa condição humana.
nem Isaque (Gn 26). Aqueles que confiaram em Vemos com Boaz:
Deus com respeito ao futuro, não podiam confiar l)Corfesia e piedade. Ele cumprimenta seus em-
nele no presente. Então Noemi lançou a culpa sobre pregados. e com uma saudação piedosa.
Deus (1.20-21), como já Abraão fizera (Gn 12). Um DObservaçâo. I^ogo percebeu a presença da
passo errado, não sendo corrigido imediatamente, moça estrangeira, e indagou a seu respeito.
leva a outro. Foram a Moabe para "peregrinar" 3)Sí'mpaíia. Boaz conversa com ela. convidando-
(1.1), mas ali ficaram morando, e ali três deles mor- a a rabiscar sempre nos seus campos.
reram (1.3-5). (Veja-se Oséias capitulo 14.) 4)Conhecimento. Já tinha ouvido a respeito dela,
3) O assunto da providência (2.3). A vida de Rute por isso estava predisposto a ser-lhe condescendente.
foi transformada pela "sorte", conforme este versí- b)Testemunho. Desde já começa a falar com a
culo. Grandes conseqüências podem resultar de pe- moça moabita com respeito a Jeová (v.12).
quenos incidentes. Uma noite sem sono salvou os ju- 6)Bondade. Convida Rute a comer com ele
deus do Cativeiro (Et 6.1). A espera de um amigo re- (v. 14).
sultou em Atenas ouvir o Evangelho (At 17.16). Coi- 7) Txirgueza. "Deu Boaz ordem aos seusmoços. di-
sas insignificantes podem melhorar ou prejudicar a zendo: Permiti-lhe rabiscar entre as gavelas, e não a
nossa vida. Entregue o crente a Deus as coisas insig- censureis" (v. 15).
nificantes!
4) O assunto de Boaz como tipo de Cristo: como Capítulo 3
senhor da seara (2.2); como provedor de pão (3.15);
como parente redentor (2.20); como doador de des-
canso (3.1); como homem de riqueza (2.1). Rute vai deitar-se aos pés de Boaz. Todo o inci-
5) O assunto do sentido dos nomes. Elimeleque - dente recordado neste capitulo parece bastante es-
"Meu Deus é Rei". Rute - "Satisfeita". Boaz - "For- tranho. segundo os costumes e educação de hoje.
taleza". Malom - "Canção". Quiliom - "Perfeição" Matthew Henry o comenta mui sabiamente, no se-
(Scroggie). guinte sentido: "Rute deitar-se aos pés de Boaz
quando ele estava dormindo tem uma certa aparên-
Capítulo 1 cia de mal; parece uma aproximação do mal, e podia
ter sido uma ocasião para o mal; tudo isso custa-nos
Rute e suas resoluções. Neste capítulo podemos justificar. Muitos expositores consideram isso injus-
estudar: tificável. Não devemos fazer mal para que venha o
1) Uma triste experiência (1-5): fome, desterro, bem. E perigoso ajuntar a faísca à mecha, e 'vede
morte, viuvez. como um pouco de fogo abrasa um grande bosque!'
2) Uma crise repentina (6,7): chegam as notícias (Tg 3.5). Todos concordam em que o caso náo esta-
de que a fome terminara. Noemi resolve repentina- belece um precedente. Mas, nem nossas leis nem
mente voltar para a sua terra. As noras a acompa- nossos tempos são idênticos aos de então, por isso es-
nham. tou disposto a interpretar o incidente de maneira
mais favorável.
3) Uma prova carinhosa (8,9): chegam ao fim da
primeira etapa da viagem, \oemi aconselha as mo- "Sendo Boaz o parente mais chegado, ela, peran-
ças a que voltem para a sua gente. te Deus, e pela tradição, havia de ser a esposa dele.
4) Um acordo aparente (10): as moças respondem Faltava apenas uma cerimônia para completar as
positivamente: ".iremos contigo para o leu povo". núpcias, e Noemi não havia de querer que ela esti-
5) Uma prova positiva (11-13): Noemi não vai ca- vesse com ele senão como esposa. Ela sabia ser Boaz
sar outra vez; israelitas não devem casar com moabi- não somente um homem de idade, mas sóbrio, vir-
tas: poderiam ter um futuro risonho entre a sua pró- tuoso, religioso e temente a Deus. Sabia ser Rute
pria gente. Nesta história já temos visto Felicidade, uma mulher modesta. Ê verdade que os israelitas ti-
Fome. Emigraçáo. Casamento, Viuvez, Desolação, nham sido seduzidos por filhas de Moabe (Nm 25.1),
Esperança e Perplexidade. mas esta moabita não era assim. Noemi nada propôs
6) O ponto de partida (14): Oría compreende senão o que era honesto e honrado, e a sua caridade
tudo o que vai "perder" em seguir a Noemi, e resolve (que 'tudo crê e tudo espera') baniu toda a suspeita
voltar. de que Boaz ou Rute fariam qualquer coisa senão o
7) Uma resolução sublime (15-19). Orfa amava a que era honesto e honrado. Se o que ela aconselhou
Deus, porém amava mais a Moabe. Rute amava a tivesse sido (segundo os costumes de então) indecen-
Moabe. mas a Deus muito mais. Isto é sempre uma te e imodesto, como parece a nós, não podemos acre-
prova para nós também. Onde é que colocamos a ditar que Noemi teria tido tão pouca virtude ou tão
Deus? A linguagem dos versículos 16 e 17 é sublime. pouco juízo de propor, visto que uma imoralidade te-
ria prejudicado o casamento que ela queria para Ru-
8) Uma queixa injusta (19-22): não é direito atri- te, e teria alienado as afeições de um homem sério e
buir a Deus tudo que é amargo na vida. "Noemi'' bom como Boaz. Havemos de pensar, por isso, que a
quer dizer doce; "Mara", amargo (Scroggie). coisa não era indecente então, como nos parece agora.
Capítulo 2 "Noemi enviou sua nora a Boaz para direção. De-
pois de ter feito o seu apelo, Boaz, que «-a mais entendi-
O parente-redentor. Neste capítulo encontramo- do na Lei e nos costumes, havia de dizer-lhe o que con-
nos com Boaz, "homem valente e poderoso" (Almei- vinha fazer".

96
È provável que o leitor concordará que Matthew mulher, e nào convém trazer outra para minha casa;
Henry conseguiu o seu propósito, de "interpretar o isso poderia suscitar contendas, e assim prejudicar a
incidente da maneira mata favorável que pudesse". minha herança"). Boaz aceita a responsabilidade, e
náo somente redime a herança hipotecada, mas
Capitulo 4 toma Rute para sua esposa.
Podemos acreditar que tudo isto é escrito com
A herança resgatada. A obrigaçáo do parente ura sentido típico, para podermos achar na narrativa
mais próximo de, não somente resgatar a proprieda- uma semelhança com o nosso Parente-Redentor, o
de. mas de tomar a viúva do irmáo falecido, é referi- Senhor Jesus Cristo, que se deu para remir-nos de
da em Deuteronômio 22.5-10 e Mateus 2.24. Prova- toda iniqüidade, e purificar para si um povo todo
velmente os terrenos de Elimeleque que ficaram sem seu. zeloso de boas obras (Tt 2.14).
valor durante a fome, foram pesadamente hipoteca- E afinal a moça gentia. a moabita, na providên-
dos, e somente poderiam ser resgatados pelo paga- cia de Deus. vem a ser uma ancestral do rei Davi, e
mento da hipoteca, uma coisa que Noemi náo podia do Salvador do mundo!
fazer.
O parente mais chegado que por Boaz foi intima- RUTE NO NOVO T E S T A M E N T O
do a cumprir a obrigação; julgou-se incapaz. As pa-
lavras "para que náo prejudique a minha própria he-
rança ".significam provavelmente que, para levantar Rute é uma das quatro mulheres mencionadas na
a hipoteca sobre tais terrenos, seria necessário hipo- genealogia do Messias (Mt 1). A seleção destes no-
tecar os terrenos dele. (O Targum dos judeus dá outra mes ilustra em grau notável a soberania e o mistério
interpretaçáo:"jVõó posso redimi-la, porque já tenho da graça divina (Angus).

97
1 Samuel

ate livro apresenta a histó- MENSAGEM DE 1 SAMUEL


ria individual de Samuel,
o último dos juizes. Recor- Que o rei é contemplado desde o começo do livro
da o fracasso moral do sa- é evidente pelo cântico de Ana. O próprio Samuel
cerdócio sob Eli, como unge tanto Saul como Davi. Mas ao mesmo tempo é
também <ádos juizes na iniciativa de Samuel de fa- claro que ele, como profeta, para quem a proposta do
zer o ofício hereditário (1 Sm 8.1). povo de ter um rei nào é outra coisa senão uma espé-
cie de rebelião contra Deus (o que o Todo-poderoso
No s4u ofício profético, Samuel era fiel, e nele co- mesmo reconhece: 1 Sm 8.7), é, de certa maneira,
meça a linha dos profetas-escritores. Doravante, o adverso ao reino. Durante o reinado, os profetas fi-
profeta e nào o sacerdote é notável em Israel. Neste cam de vigilância; não são contrários à monarquia,
livro, a teocracia, exercida mediante os juizes, termi- porque ela tem sido legitimada pela autoridade da-
na (8.7) e a linha dos reis começa com Saul. quele que é ,a fonte de toda autoridade, mas a con-
O livro tem quatro partes: 1) A história de Sa- templam com uma certa prevenção.
muel até a morte de Eli (1.1 a 4.22). 2) Da tomada da Isso não é de estranhar, se, deveras, " o homem
arca até o pedido de haver um rei (5.1 a 8.22). 3) O não permanece em dignidade: antes é semelhante
reinado de Saul até a chamada de Davi (9.1 a 15.35). aos animais que perecem" (SI 49.12). Eles perecem
4) Da chamada de Davi até a morte de Saul (16.1 a porque não têm comunhão com Deus, a quem, devi-
31.13). do à sua natureza pecaminosa, não querem conhe-
cer. O homem não é incapaz de conhecer a Deus, e
nisso está a sua responsabilidade; mas é capaz, infe-
ANÁLISE DE 1 SAMUEL lizmente, de se esquecer de Deus, e, quanto mais for
exaltado, tanto mais fácil será esse esquecimento.
1. Samuel, o profeta-juiz (caps. 1 a 12). Torna-se semelhante aos animais: e nisto vemos a
1.1. Pedido a Deus (cap. 1). propriedade do castigo de Nabucodonosor (Dn 4),
1.2. Dedicado a Deus (cap. 2). que foi obrigado a tomar lugar entre as bestas até
1.3. Chamado por Deus (cap. 3). que fosse humilhado e reconhecesse que "o Altíssimo
1.4. Silencioso perante Deus no tempo de julgar domina nos reinos dos homens".
(caps. 4 a 6). Em Daniel ouvimos a voz do profeta ao monarca,
1.5. Vitorioso por Deus em Ebenezer (cap. 7). e compreendemos o lugar dele: o profeta representa o
1.6. Ungindo Saul, por mandado de Deus (caps. domínio do Altíssimo, com que o domínio humano
8 ja 11). tão freqüentemente contende. Tal é sempre a sua vo-
1.7. Exortando o povo da parte de Deus (cap. 12). cação, e dai o antagonismo de Samuel contra a mo-
2. Saul, o rei humanamente empossado (caps. 13 a narquia em Israel. Ele prevê, e então adverte o povo
31). quanto ao que será o caráter do governo - advertên-
2.1. Seu pecado contra Samuel ( c á ^ . 13 a 15). cia que sabemos ter sido realizada, conforme a histó-
2.2. Seu pecado contra Davi (caps. 16 a 30). ria subseqüente.
2.3. Seu pecado contra si mesmo (cap. 31). Contudo, o governo dos juizes' chegou ao seu fim
E todos esses pecados foram contra Deus (Scrog- com a história dos males que aconselhavam a neces-
gie). sidade de um rei. Os próprios juizes eram apenas li-

99
iSamuei

bertadores, levantados pro%isoriamente por Deus mas, rejeitado por Israel, foi tomar outro trono nas
para remediar a condição de decadência em que o alturas, sabemos ainda: que Ele é descendente de
povo tão freqüentemente caia, e que era a conse- Davi e Senhor de Davi; que nas suas mãos o reino es-
qüência de cada um fazer o que lhe parecia bem (Jz tá seguro; que o tempo de restabelecer o seu reino foi
21.25). Quão poucos podem fazer bom juízo do seu adiado até o cumprimento de outros propósitos; que
próprio caso! O ofício de juiz mostrava a necessidade por este Rei a terra ainda espera, e náo terá a sua
de algum governo mais forte e permanente. plena bem-aventurança até que Ele venha com um
Mas sabemos que a habitação de Deus estava no reinado de poder e justiça (Grant).
meio de Israel, havendo já um sacerdócio organizado
mediante o qual o povo podia ter acesso a Ele, e, me- Capitulo 1
diante o Urim e Tumim, sua voz podia ser ouvida no
meio do seu povo. Contudo, exceto bem cedo na his- Ana em oração pede um filho. Notemos neste
tória dos juizes, e no caso da guerra contra Benja- capítulo:
mim (cap. 20), náo lemos da consulta aos oráculos 1) Os males da poligamia, que, neste caso, se-
divinos durante todo esse período! meou amarguras no meio de uma família.
N o começo do presente livro, voltamos a Silo e ao 2) Uma tentativa de consolação (v. 8).
sacerdócio, mas somente para nos mostrar tudo em 3) Uma oração com promessa (v. 11).
ruínas ali. Os sacerdotes são iníquos, e a oferta do Notemos a expressão "Jeová dos exércitos" (v.
Senhor desprezada. No seu conflito com os fílisteus, 3), empregada agora pela primeira vez é "Jeouá-
o povo serviu-se da Arca, mas quase como instru- Sabaoth". ( N o restante da Bíblia se encontra umas
mento de mágica, o que demonstrava ter perdido de 280 vezes.) Significa "Deus das multidões", e prova-
todo a idéia da santidade divina, trazendo sobre si, velmente se refere às multidões de anjos que vivem á
por isso, uma catástrofe que resultou em ser inter- disposição de Deus.
rompida por longo tempo toda a comunicação com A "casa de Jeová" e o "templo de Jeová" ( w . 7 e
Deus. Silo está abandonado: a arca num lugar e o ta- 9) era o tabernáculo em Silo porque o templo de Sa-
bernáculo em outro, enquanto Samuel, como profeta lomão ainda não tinha sido construído.
do Senhor, oferece sacrifícios em diferentes lugares, O voto de uma mulher casada não tinha força no
reconhecendo, assim, e claramente o fracasso do ri- caso de ser desfeito pelo seu marido (Nm 30.6-8),
tualismo legal. A arca não volta mais ao tabernácu- mas sendo conhecido dele e sem protesto da sua par-
lo, mas é levada por Davi a Siáo, e seu filho Salomão te, então era válido. Por isso lemos (v. 21) de o voto
edifíca ali o templo para a habitação dela. ser de Elcana, porque sem dúvida Ana informou-o
Neste livro tudo está em transição: e o rei apre- desse voto, que foi por ele aprovado.
senta-se como o inaugurador da nova ordem. Assim Ê bom lembrar que Ana vivia sob a Lei. Isto é
a necessidade de haver um rei é firmada, e o assenti- evidente pelo caráter da sua oração. Essa oração pa-
mento divino posto sobre a instituição. recia uma troca de favores com Deus: caso Deus lhe
Ajuntemos a isto a provisão já feita na própria desse um filho, ela prometia dedicá-lo a Ele.
Lei (Dt 17.14-20) para suprir tal necessidade e pedi- Tem-se dito que náo devemos pedir nada ao Se-
do da parte do povo. Contudo, o estilo do pedido e o nhor a não ser a dádiva da sua graça. Jacó prometeu
desejo de ser semelhante às nações marcam o propó- a Deus o dízimo de tudo em troca de ser alimentado,
sito como sendo a vontade humana em descrença. vestido e protegido (Gn 28.20-22) - uma boa troca de
Por ter sido previsto e atendido, de maneira alguma favores. Mas os que conhecem o Deus da graça sa-
prova ser aprovado por Deus. Mas o fato de o pedido bem que não é necessário fazer isso. Náo podemos
ser atendido mostra que continha alguma coisa de enriquecer a Deus pelas nossas dádivas, e Ele náo
acordo com o plano divino, mediante o qual os pro- vende seus favores. Sua palavra é: "Pedi e recebe-
pósitos de Deus seriam consumados. reis, para que o vosso gozo seja completo" (Jo 16.24)
O primeiro rei foi logo posto de lado. Depois Da- (Goodman).
vi, um homem segundo o coração de Deus, é promo- Nestes capítulos, Eli não demonstra muito dis-
vido à soberania, que, sob seu controle.estende-se cernimento ou espiritualidade. Contudo ele acaba
além dos limites da antiga promessa a Israel, e a ele por dizer: "Vai-te em paz; o Deus de Israel te conce-
é prometida a perpetuidade do reino para a sua des- da a petição que lhe fizeste".
cendência, apesar de suas falhas. Podia parecer que
doravante não haveria qualquer interrupção da Capítulo 2
bem-aventurança ligada à presença de um rei.
Mas o livro seguinte mostra, em contraste, um Os filhos de Eli. Os moços eram maus (v. 17) e
quadro inteiramente diferente e oposto. Salomáo, imorais (v. 22). Podemos pensar que ele os teria cria-
em verdade, começa com a construção do templo, do desde pequenos "na doutrina e admoestaçào do
com crescentes glórias; mas, no reinado de seu filho, Senhor"? Ainda hoje os pais, às vezes, merecem cen-
de repente, dez tribos se separam, e, desde então, se- sura pela desobediência dos filhos. A maneira como
gue-se a franca decadência. Finalmente, ambos os Deus disciplina seus filhos, que somos nós, deve en-
tronos são derrubados, e o de Davi, que parecia ser sinar-nos muitas coisas preciosas. Na infância da ra-
tá o estável, nunca mais foi restaurado. A monarquia ça. o povo de Deus estava sob uma lei, e no começo
se acaba com um "Icabõ" mais completo do que o da vida a criança precisa aprender a obedecer sem
anterior (1 Sm 4.21), prolongado agora por mais de demorar e sem questionar. Mais tarde, Deus falou
2500 anos. em escrever a sua lei nos corações do seu povo, e os
Que devemos compreender de tais contradições? pais sensatos fazem isto também: em vez de obrigar
Graças a Deus. como cristáos, a chave está nas nos- os moços com mandamentos, procuram inspirar ne-
sas mãos. Sabemos que Davi e Salomáo eram apenas les ideais nobres e santos, para que a sua boa condu-
ta seja voluntária.
sombras do verdadeiro Rei; sabemos que Ele já veio,

100
1 Samuel

Mas o menino Samuel foi criado num ambiente cessidade de devolver a arca nos impressiona triste-
de piedade. Bem chegado ao tabernáculo de Deus, mente. A presença de Deus entre eles parecia-lhes
acostumado com o serviço divino: e amparado pelos maldição, mas náo precisava ser assim. Para um
cuidados de sua mâe (v. 16), ele se ia desenvolvendo povo arrependido e crente, seja israelita ou gentio, a
física e espiritualmente. presença de Deus poderá ser proteção e felicidade.
Na profecia do homem de Deus, neste capitulo, Os filisteus reconheceram que convinha mandar
notemos o "texto áureo" no versículo 30. com a arca uma oferta pelo pecado (v. 3). Conhe-
Proposta emenda de tradução (v. 25): "por isso o ciam a história das pregas do Egito (v.6), e fizerem fi-
Senhor os queria matar" (R. 60). guras. em ouro ( v . l l ) , dos ratos e tumores que os
afligiam, confessando, assim, que a mão de Deus es-
Capitulo 3 tivera contra eles nos seus sofrimentos, e apelam a
Deus para mostrar-lhes a sua aceitação da oferta,
Viiâo de Samuel. Naqueles dias a palavra de por meio das vacas paridas, e tornar evidente que
Deus era "preciosa" (V.B.) ou "de muita valia" (Al- fora a sua mão que os afligira.
meida), porque náo havia visáo manifesta. Vemos que os israelitas de Bete-Semes náo mos-
O incidente da visáo de Samuel é muito tocante. traram o devido respeito para com a arca. e por te-
Vemos o menino ministrando a Jeová, sem o conhe- rem olhado para dentro dela sofreram um castigo di-
cer (v. 7) e muito preocupado com o sacerdote Eli. vino (19-21).
Corre, pressuroso, para atender à chamada que julga Nào havemos de entender que 50.070 homens
ser dele; volta para a sua cama e deita-se de novo; morreram. Grant diz: " Ê impossível supor que Bete-
outra vez a mesma voz e o mesmo procedimento; afi- Semes tivesse 50.000 habitantes, muito menos 'ho-
nal, recebe instruções claras de Eli: "Se alguém te mens', e o texto hebraico tem sinais de que terá havi-
chamar, dirás: Fala, Senhor, porque teu servo ou- do possivelmente um engano de copista. Josefo e al-
ve". guns manuscritos omitem o número maior e regis-
Mas Samuel náo o faz: responde apenas "Fala, tram 70 homens". O assunto está estudado em
porque o teu servo ouve", omitindo a palavra "Se- "Consultório Espiritual", p.82, onde escrevi: "O dr.
nhor". Isto faz-nos recordar a tradução preferível de Robert Young diz que a palavra hebraica 'aleph*,
1 Corintios 12.3: "Ninguém pode dizer que Jesus é o mil, significa também chefe ou príncipe, e traduz o
Senhor, senão pelo Espirito Santo". versículo: 'Ele mata entre o povo setenta homens,
Vemos que Almeida chama Samuel de um man- cinqüenta homens principais'."
cebo, mas a V.B. é provavelmente mais correta em Bullinger diz: "O hebraico da última cláusula lé-
chamá-lo de um menino. O historiador Josefo diz se: 'Jeová feriu sessenta homens, dois grupos de cin-
que Samuel tinha então uns 12 anos. Em Lucas 2 le- qüenta. e mil', ou seja, 1170 homens" (J. 365).
mos de outro menino de 12 anos no templo conver- No capitulo 7 vemos arrependimento (3,4); vitó-
sando com os homens de idade. ria (5-14), e bom governo (15,17).
Eli insiste em que Samuel lhe diga toda a verda-
de (v.17) e ouve a sua sentença da boca do menino. Capitulo 8
Proposta emenda de tradução (v. 13): "porque
seus filhos maldisseram a Deus, e não os repreen- Os israelitas pedem um rei. E triste ver que Sa-
deu" ( R 73). muel náo foi muito mais feliz na educaçáo dos filhos
do que fora Eli. Os dele também eram maus. e ele,
Capítulo 4 em vez de consultar a vontade de Deus, "constituiu
seus filhos por juizes ".
Israel e os filisteus. Este capitulo revela a supers-
O povo de Israel sente o desejo de ser "como as
tição em que Israel tinha caído, pois o povo imagina-
nações", com a mesma realeza e o mesmo aparato.
va que a arca o havia de salvar do inimigo (v.3). Ain-
Esta ambição de ser semelhante aos pagáoe circun-
da hoje vemos nossos vizinhos igualmente supersti-
jacentes ainda existe hoje: não vemos mulheres cren-
ciosos, e esperando de imagens, cruzes, quadros,
tes com a cara pintada, somente para serem seme-
amuletos ou mascotes o que deviam esperar de Deus.
lhantes às descrentes? E pastores crentes usando o
For isso Deus permitiu que a arca fosse tomada, para
"reverendo" que o romanismo inventou?
que o povo aprendesse a confiar nele e não nela.
Nada adianta ter os símbolos da religião, se nos falta Seis vezes se diz do rei que "ele tomará". Deus ti-
o espírito. É possível ter a forma de piedade e privar- nha dado tudo; o rei tudo havia de tomar.
se do poder dela. A resposta do povo (19-22). Este trecho deve ser
Este é um capítulo cheio de mortes: de Eli. de lido com 10.17-27. Ê um exemplo notável da vontade
própria, que pouco caso faz da vontade de Deus. Mas
seus iníquos filhos, e da mulher de Finéias.
gente estouvada precisa aprender pela experiência
Capítulo 5 (v. 22).

A arca na casa de Dagom. A arca, que servira Capítulo 9


para animar 06 israelitas, estava causando perturba- Saul e as Jumentas. Neste capítulo estudemos:
ção aos filisteus. Foi levada para três pontos diferen- 1) Qualificações. Saul era de boa idade - 30 anos
tes, e em todos veio a ser um símbolo de juízo: o ídolo - e de boa estatura e aparência. Contudo, nada se
não podia ficar em pé perante ela, pois representava diz das suas qualidades espirituais. Era um tipo de
a presença de Deus. homem que havia de ser aceitável ao povo.
Capítulos 6 e 7 2) Providências (3-14). As circunstâncias combi-
nam para que haja um contato entre Samuel e Saul:
A arca devolvida. Que os filisteus sentissem a ne- a perda das jumentas, a necessidade de direçáo, a

101
1 Samuel

lembrança do criado, as moças que saíram para tirar 4) Consola o povo com novas promessas de socor-
água. ro divino (20-25).
3) Revelações. A primeira, do Senhor a Samuel Bedá (v. 11) não é mencionado como juiz de Is-
(15-17), a segunda, por Samuel a Saul (18-27). rael em qualquer outro lugar. A versão dos L X X , a
A revelação a Saul veio gradualmente. Primeiro Siriaca e a Arábica têm, em vez de Bedá, Baraque e
Samuel despertou nele uma grande perspectiva (18- as duas últimas, em vez de Samuel tem Sansào (T).
21); então deu-lhe muita honra na presença do povo
(22-24); depois teve uma longa conversa com ele (25- Capítulo 13
27). Saul percebeu o propósito de Samuel, conser-
vando-se modesto (v.21). Guerra entre israelitas e filistçuç A tradução do
Proposta emenda de tradução (v. 20): "para primeiro versículo é problemática. Grant traduz:
quem é tudo que é desejável em Israel? " "Saul tinha... anos quando chegou a ser rei e reinou
dois anos sobre Israel" e numa nota explica: "Falta
Capítulos 10 e 11 um algarismo neste versículo, e esse não pode ser su-
prido de qualquer fonte conhecida. O outro algaris-
Saul ungido. Podemos estudar: mo é duvidoso. A septuaginta omite o versículo in-
1) Saul e Samuel (1-8). Notemos: teiramente, e parece que tem razão".
a) A conversa (9-27) em que Samuel comunicava O fim do versículo 12 deve ser traduzido: "depois
a palavra de Deus - provavelmente falando dos pri- de hesitar bastante, ofereci holocausto" (R. 81).
vilégios. responsabilidades e deveres de um rei. Há uma dúvida sobre os anos que Saul reinou.
b) .4 unção com azeite (10.1), era a praxe de en- Diz o historiador Josefo que foi 20 anos. Atos 13.21
tão, ao empossar alguém num cargo de autoridade. parece dizer 40. Traduzo a seguinte nota do "Bible
Comparemos isto com Lucas 4.18 - Jesus ungido por Treasury": "Tem sido afirmado com bastante pro-
Deus para evangelizar os pobres. babilidade que os 40 anos deste reinado quase não
c) Notemos os três sinais preditos por Samuel. O podem ser aceitos. Naás rei de Amom estava no tro-
primeiro ensinou que ele estava livre dos cuidados no antes de Saul e viveu dez anos no reinado de Davi
da vida anterior. O segundo (3,4) reconhecia sua (1 Sm 11 e 1 Cr 19.1). Também Jónatas era homem
nova dignidade, e a força que lhe seria concedida maduro e comandava um exército dois anos depois
para a manter. O terceiro (5-8) importava uma ins- de seu pai tomar o trono (1 Sm 13.3). A batalha de
piração divina, mais exaltada do que qualquer expe- Gibeom. onde ambos morreram, dificilmente podia
riência anterior (Scroggie). ter sido 38 anos mais tarde. Ainda mais, Davi tinha
d) Os sacrifícios. Samuel ensina a Saul que seu 30 anos quando Saul morreu (2 Sm 5.4), e, por isso,
ofício de soberano devia ser ligado com submissão a se Saul reinou 40 anos teria nascido no décimo ano
Deus, e ser tal que pudesse merecer a bênção divina. do seu reinado, e sua amizade com Jónatas teria sido
2) Saul com os profetas. Mais uma experiência quase impossível. Os expositores mais recentes, ge-
nova para o filho de Quis. E provável que até então ralmente adotam o período menor - 20 anos".
tivesse ele tido pouca intimidade com gente dedica-
da ao serviço de Deus. Uma experiência análoga po- Neste capitulo, a primeira coisa que Saul fez de-
dia ser de algum estranho ao visitar uma escola pois de tomar o trono foi formar um exército sob o
bíblica. comando dele e de seu filho Jónatas. Logo depois ele
provocou os inimigos tradicionais de Israel, os filis-
Parece que Saul sentiu a influência espiritual do teus. Quando os reis obtém exércitos, são como o me-
meio, e ele também "profetizou". "Profetizar aqui nino que ganha um canivete: logo quer servir-se dele.
não significa predizer, mas cantar fervorosamente os Assim. Jónatas. loucamente, atacou a guarnição de
louvores de Deus (v.5)" (Scroggie). Geba, e Saul ajuntou-se a ele com o seu exército em
3) Saul com seu tio. O fato mais notável aqui pa- Gilgal. Os israelitas acharam-se em apertos, e corre-
rece ser o silêncio de Saul referente ao "negócio do ram para se esconderem. Se não tivessem escolhido
reino". um rei, isto não teria acontecido. Samuel nunca te-
Nem sempre convém contar tudo a todos. O ria procedido de uma maneira tão provocativa. Era o
apóstolo Paulo ouviu palavras inefáveis, que não era começo da loucura de Saul.
licito repetir. Nós podemos ter experiências espiri- Este nào é caso único nas Escrituras, de algum
tuais que não nos é licito relatar nem aos nossos ínti- rei de Israel provocar uma guerra que não podia sus-
mos. A intimidade recente com Samuel e com os fi- tentar. Acabe e Jeosafá fizeram-no para a sua pró-
lhos dos profetas parece ter estabelecido uma reserva pria derrota (1 Rs 22.1-4); Josias igualmente o fez e
na alma de Saul, que seu tio não conseguiu prejudi- perdeu a vida (2 Cr 35.20-24) (Goodman).
car.
"Trinta mil carros" (v. 5) provavelmente deve se
ler "Três mil" (T).
Capítulo 12 Proposta emenda de tradução (13.12): "depois de
hesitar bastante, ofereci holocausto" (R. 81).
Samuel renuncia o seu cargo. Neste capítulo ve-
mos que Samuel: Capítulo 14
1) Sempre tinha procedido corretamente, e com
isto o povo concorda. A vitória de Jónatas. Aqui vemos Jónatas como
2) Alega que Deus sempre tinha protegido e liber- um homem de fé. Notemos como ele manifesta isso:
tado seu povo. Falando dos libertadores, inclui seu 1) "Talvez Jeová opere por nós": a sua preocupa-
próprio nome na lista! (v. 11). ção é com Deus. e o que Ele pode.
3) Demonstra o desagrado divino com o povo, 2) "Nada há que proiba a Jeová de livrar com
mediante uma trovoada quando não era tempo de muitos ou com poucos". Esta é a linguagem da pura
chuva (16-18). fé.

102
I SMÉKJ

3) Ele pede um sinal, para ter certeza de que está cia progressiva. Sente-se atormentado espiritual-
na senda da vontade divina (9.10). mente. O calmante proposto é a música, e o moço
4) Sua corajosa aventura por Deus (v. 13) seguida pastor (19), Davi, é chamado para tocar harpa (23).
pelo «eu triunfo. O atrevido juramento de Saul ( w . Não devemos tomar as palavras lisonjeiras do
24,42) quase arruinou tudo, se náo fora o povo ter um mancebo no versículo 18 em sentido demasiadamen-
pouco mais juízo do que ele (v. 45). te literal. Ao menos dào a entender que Davi era um
moço desenvolvido e robusto, destro no uso das ar-
Capitulo 15 mas; não precisamos pensar que tinha estado em
qualquer batalha, apesar de ele ser chamado guerrei-
Obediência imperfeita. Amaleque, que muitos ro.
expositores consideram um tipo da natureza carnal
do povo de Deus, é condenado á destruição. Saul Capítulo 17
aceita a obrigação de executar a sentença, mas faz
isso apenas em parte. Por isso o profeta Samuel pro- Davi e Golias. Como podemos resumir em meia
nuncia a sua final reprovação (v. 23). página o ensino de um capítulo que tem inspirado
Se quiséssemos escolher um "texto áureo" é pro- tantos sermões? Aprendemos:
vável que havíamos de preferir o versículo 22. 1) Que um homem possante e atrevido pode as-
Devemos emendar a tradução do versículo 32 sustar muita gente (v. 11).
para "Na verdade chegou a amargura da morte" (R. 2) Que Davi ficara pouco tempo como harpista de
49). Saul, e logo voltou a cuidar das ovelhas de seu pai (v.
16).
Capitulo 16 3) Que Davi, apesar de náo ser guerreiro como
seus irmãos, era o mensageiro de seu pai para lhes le-
Davi ungido rei. Notemos a expressão "um rei var alimento (17-21).
entre os seus filhos" (v. 1). Poucos têm as qualidades 4) Que nessa tarefa, Davi mostrou-se obediente,
de rei ou governador, competentes para guiar e entu- pronto ("de manhã cedo"), prevenido (providenciou
siasmar os outros. Alguns meninos nascem "princi- com respeito ao rebanho), corajoso ("chegou às trin-
pe-herdeiro". Jesus "nasceu rei" (Mt 2.2). cheiras"), prudente ("deixou sua carga entregue ao
O rei que Deus escolhe é primeiro piedoso; depois cuidado de uma guarda de bagagem"), indagador
justo, magnânimo, corajoso, compassivo e cuidadoso (26).
do bem-estar dos seus súditos. Podemos descobrir 5) Que o irmão mais velho, de Davi, Eliabe, era
todas estas qualidades em Davi. iracundo, desconfiado, ignorante do coração de Da-
1) A missão de Samuel a Belém. Era missão difí- vi, indigno de ser atendido.
cil. que podia ser interpretada como traição ao go- 6) Que a sua experiência no passado ( w . 34-36)
verno constituído. Samuel mostrou-se receoso (v. 2) encoraja Davi a enfrentar o futuro, confiado em
e o povo do lugar tinha medo dele(v. 4). Deus.
O serviço de Deus pode requerer prudência, sabe- 7) Que não convém pelejar com armas desconhe-
doria, um espírito pacífico que inspire confiança nos cidas (v. 39).
outros. 8) Que o gigante morreu pela mão do adversário
Notemos que Samuel ligou seu serviço político que desprezara.
com um sacrifício a Deus. (Em um dos países da Eu- 9) Que Saul, vendo o seu jovem harpista no cará-
ropa as sessões do parlamento começam com ora- ter de um guerreiro, começou a indagar mais parti-
ção!) É um bom exemplo a seguir. cularmente a respeito do seu parentesco - quis saber
2) Os filhos deJessé examinados. Toda a vida an- quem era o pai de um rapaz tão atrevido (v. 58).
terior dos moço® era a preparação para esse dia de O escritor de " T h e Treasury of Scripture
exame, mas não agüentaram a prova. Tinha Eliabe, Knowledge" diz que a cópia do manuscrito dos L X X
aparentemente, o aspecto de um rei, mas interior- no Vaticano de Roma omite 17.12-31, e 18.1-5, 9-12 e
mente não: seu coração não estava direito com Deus. 17-19. " A justa conclusão é que 16.14-23 tem sido
De quem é que se pode dizer hoje: "o Senhor não tem deslocado, e pertence ao texto entre 18.9 e 10". Este
escolhido a este"? parecer pode remover algumas dificuldades, mas
Podemos acreditar que alguns doe moços eram talvez não todas.
bem-vistos pelos seus companheiros, mas para o ser-
viço de Deus não serviam. Capitulo 18
3) Davi escolhido e apontado. Notemos dele que
de todos os moços era o único que estava trabalhan- Amizade de Jõnatas para com Davi ( w . 1-5). Jô-
do. Era formoso de semblante. Três coisas contri- natas tinha visto, de longe, a proeza de Davi e sua vi-
buem para a beleza do rosto: as feições, que depen- tória sobre o inimigo; o seu medo se dissipara
dem da hereditariedade; a saúde, que depende em (17.24), e tinha tomado a sua parte nos despojos da
parte da pureza da vida que é refletida no semblan- vitória (17.53). Ele vê bem de perto o seu salvador,
te; a expressão: Bons pensamentos dão uma expres- "ruivo, e de gentil aspecto" (17.42), perante o pai (v.
são ao rosto. Não devemos pensar ser sem significa- 57), e agora, acrescenta-se ao brilho da pessoa desse
ção o tratamento a Davi de "formoso de semblante". jovem o encanto da sua voz, quando fala do pai coro
Davi se assemelha a Jesus no fato de que, embora Saul. e então "ligou-se a alma de Jõnatas com a de
desprezado pelos irmãos, veio a ser o ungido de Davi" (18.1) e Jõnatas amou-o como a si mesmo.
Deus. Porventura nós concordamos com Deus em es- Seu primeiro empenho é de engrandecer o seu
timar as pessoas pelo seu valor espiritual? salvador, com os vestidos e armas de um príncipe,
4) Saul atormentado por um espírito maligno que ele considera mais apropriados a Davi do que a
(14-23). Saul parece estarem um estado de decadên- si próprio. (Náo nos esqueçamos, contudo, que Jõna-

103
1 Samuel

ias era já um guerreiro experimentado, e general do 1) Jõnatas sofre um insulto público (v. 30).
exército: 13.2.) 2) Jónatas é reprovado por causa de Davi (v. 30):
Poderemos querer descobrir a idade dos dois, pois "Escolheste o filho de Jessé para vergonha tua, e
é uma idéia comum de que ambos eram moços. O para vergonha de tua mãe".
mais provável, porém, é que Jónatas era bem mais 3) Jõnatas é mandado renegar seu amigo (v. 31).
idoso do que Davi. Se devemos tomar ao pé da letra 4) Jõnatas ousadamente defende o seu amigo (v.
Atos 13.21, então Davi nascera somente depois de 32).
Saul ter reinado dez anos, muito tempo depois de Jó- 5) Ele enfrenta a morte e a vergonha por Davi (v.
natas ser chefe de um exército. Veja-se, porém, sobre 33).
o capítulo 13.) 6) Ele se consola com uma última entrevista com
O restante deste capítulo ocupa-se com a sempre seu amigo (v. 41) (Goodman).
crescente inveja de Saul contra Davi, e suas tentati-
vas de o matar, direta ou indiretamente ( w . 22-29). Capitulo 21
No versículo 25, "cem prepücios de filisteus" (que
era gente incircuncisa) seria prova de que Davi ma- Davi com o sacerdote Alimeleque. Este incidente
tara inimigos e não israelitas ( T ) . é referido nos três evangelhos sinópticos para ilustrar
e reforçar as palavras do Senhor de ser Ele o Senhor
Capitulo 19 do sábado (Lc 6.5). Aqui Davi é Senhor dos pães da
proposição que, embora santos segundo a Lei, eram,
Neste capitulo devido às circunstâncias extraordinárias, em algum
1) Jõnatas intercede por Davi (1-7). A inimizade sentido, comuns.
de Saul aumenta (v. 1). mas, em contraste, a lealda- A conduta de Davi aqui não é muito admirável,
de de Jõnatas se manifesta, quanto a Davi: nem mesmo no incidente seguinte. Ele mente no
a) na prova de amá-lo muito (v. 2); versículo 2, e não sabemos se falou a verdade no
b) em adverti-lo do perigo (v. 2); versículo 5. A coisa mais certa é que estava resolvido
c) na sua prontidão em interceder por ele (v. 3); a obter o pão para si e seus moços.
d) no seu apelo eloqüente ao pai que. no momen- Davi foge para o rei dos filisteus. É impossível
to, produziu algum efeito (v. 7). imaginar um homem de Deus cair num maior abis-
2) Mical engana seu pai e salva Davi (8-17). O ó- mo de vergonha do que temos aqui. O grande cam-
dio de Saul torna a prevalecer, e outra vez tenta ma- peão de Israel precisa fingir-se louco para escapar de
tar Davi (v. 10). "Mical, filha do rei. é uma ilustra- uma situação em que nunca devia ter entrado. Tam-
ção desse amor natural que não resulta de nenhuma bém a nossa própria vida espiritual tem, provavel-
verdadeira comunhão de coração ou comum interes- mente, sofrido alguns abalos, mas com esta diferen-
se e simpatia. Ela gostou de Davi por causa da sua ça: a vergonha de Davi ficou para sempre registrada
bela aparência e náo por sua vida piedosa (18.20). nas páginas inspiradas, enquanto a nossa fica oculta
Mais tarde mostrou que não tinha por ele uma afei- entre nós e Deus.
ção verdadeira (2 Sm 6.16). Salvou-o na hora de pe-
rigo. mas zombou dele no seu triunfo. Mentiu para o Capitulo 22
salvar, e jamais podemos desculpar a mentira"
( Goodman). Davi na caverna Achamos neste capítulo inte-
3) Saul e seus mensageiros profetizam (18-24). ressantes comparações entre Davi e Cristo. O rei un-
"Que terrivei e lamentável a situação de Saul! Em gido. e não coroado encontra-se na rejeição, refugia-
momentos, era impelido ao assassinato por um espi- se na caverna de Adulão. Mesmo assim, ele é o cen-
rito mau (v. 9); depois, despindo-se, ficava sob um tro de atração para uma variedade de pessoas, a sa-
espirito de profecia durante 24 horas. Parece ser um ber:
dos descritos em Hebreus 6.4-6, feito participante do 1) Pessoas que têm parentesco com Ele.
Espirito Santo, provando a boa vontade de Deus e os 2) Todos os oprimidos: "Vinde a mim, todos os
poderes do mundo vindouro, mas ainda com o cora- que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei"
ção endurecido e rebelde. Outrora. escolhido e ungi- ( M t 11.28).
do e tendo outro coração; agora um objeto de escár- 3) Todos os amargurados de espírito, que nenhu-
nio, de maneira que se dizia: 'Está também Saul en- ma satisfação haviam encontrado no mundo, mas
tre os profetas11" (Goodman). que esperavam coisas melhores com Davi.
"E ele se fez chefe sobre eles". Partilharam da
Capítulo 20 sua rejeição, mas submeteram-se à sua soberania.
Seu empenho doravante seria fazer a vontade do seu
Davi e Jónatas. Todo o capítulo se ocupa com os senhor.
dois amigos. Davi, como o ungido do Senhor, é um E com Davi está o profeta Gade, aconselhando e
tipo de Cristo. Na sua rejeição temos um quadro do animando (v. 5). Parece-nos que esta é a primeira
presente estado de coisas: "Deus ungiu a Jesus" (At comunicação divina que Davi jamais recebera. Do-
10.38) e um dia o colocará sobre seu santo monte de ravante ele havia de ser claramente instruído por
Sião (SI 2.5), e dar-lhe-á as extremidades da terra Deus no caminho que devia seguir (23.2).
para a sua possessão. Até chegar esse grande dia, Ele .4 matança dos sacerdotes ( w . 6-19). Um trecho
é desprezado e rejeitado pelos homens, e combatido terrível, demonstrando a impiedade excessiva de
pelo príncipe deste -mundo. Mas nestes dias da sua Saul. Doegue, o instrumento da sua iniqüidade, era
rejeição, há muitos que o amam como á sua própria idumeu, e principal pastor (21.7). Ele é denunciado
alma e estão prontos a sofrer o opróbrio pelo seu no- no Salmo 52.
me; e na nobre defesa que Jõnatas faz de seu amigo O único sacerdote que escapou da terrível matan-
Davi temos uma figura dos tais. ça foi Abiatar ( w . 20-23). Notemos a linguagem de

104
lSomud

Davi para com ele: "Fica comigo, não temas... comi- caverna para dormir. (A tradução da V.B. e Figuei-
go estarás em segurança ". Porventura quem é maior redo torna a façanha de Davi por demais incrível).
que Davi não vos diz a mesma coisa? Quando o ini- Ali ele dorme, e Davi "indo de mansinho, corta a
migo, o príncipe das trevas, procura destruir a nossa orla do seu manto".
vida espiritual, é bem chegado a Cristo que encon- Davi facilmente podia ter-se vingado de Saul.
tramos segurança. matando-o ali mesmo. Seus companheiros incita-
Vemos agora o profeta, o sacerdote, e o rei ungi- ram-no a fazer isso, mas Davi não se aproveitou da
do. reunidos com o mesmo propósito e na mesma oportunidade. Para ele. Saul ainda era "o ungido do
causa. Senhor" (v.6).
Parece que Deus quis dar a Saul mais uma opor-
Capitulo 23 tunidade para o arrependimento, e a ação de Davi
cooperou com esse propósito. Ê muito bom quando
Davi livra Queila (vv 1-14). A característica da fé nossas ações combinam com o que Deus procura fa-
é nada fazer sem consultar ao Senhor (v. 2). Nâo age zer com os corações dos homens.
cegamente, na esperança de que Deus há de intervir. Saul mostra um certo remorso pelo seu péssimo
A fé pergunta, e. tendo a resposta, age sem receio. procedimento, levado a isso: 1) pelo fato de que seu
Assim vemos Davi. passo a passo, consultando a nobre adversário tinha procedido com tanta magna-
Deus. mediante a oração. nimidade (É claro que Davi não o tratara como ele
Tinha consigo uns 600 homens (v. 13), mas por teria tratado Davi); 2) pelo fato de que Deus, eviden-
enquanto eram medrosos (v. 3) e levaram bastante temente. o entregara na mão de Davi; 3) pela certa
tempo para aprender (30.6), como acontece também confirmação do propósito divino de fazer Davi rei.
conosco, mas Davi os treinou com paciência perseve- Ele bem viu que estava lutando contra Deus, e a lou-
rante, e afinal fê-los homens de guerra. cura (mas não o pecado) de fazer isso o impressio-
Davi. o rei rejeitado, vem a ser o salvador dos nou. Não mostra sinais de um verdadeiro arrependi-
oprimidos (v. 5); com o povo, porém, nâo há gratidão mento: a) não pede perdão a Davi pela sua crueldade
querem entregá-lo ao seu adversário (v. 12) (Good- e injusta perseguição. (O verdadeiro arrependimento
man). é descrito em 2 Corintios7.il); b) mesmo no seu ale-
Davi e os zifitas (vv. 15-29). Foram tempos de gado remorso, é egoísta, querendo que Davi jure por
provaçáo para Davi, e o Salmo 54. escrito "quando Jeová náo exterminar a sua descendência (v. 21).
os zifitas" vieram a Saul e disseram: 'Porventura Davi consente, mas nâo confia no homem, e vai para
não se esconde Davi entre nós?', mostra a sua con- um lugar seguro em vez de acompanhar o rei (Good-
fiança em Deus no meio das provações. Nós podemos man). "
ser provados por outras maneiras - porventura a pro- "Davi ganhou uma grande vitória: venceu a
vaçáo descobre em nós também a mesma confiança? Saul. e. ainda mais, venceu-se a si mesmo. Demons-
Porém Davi, no meio de tudo, teve uma consola- trou o habitual domínio sobre a vontade própria, ca-
ção: a continuada amizade de Jônatas (vv. 16-18). racterística de quem anda deveras perante Deus. In-
Com esse amável príncipe notamos somente uma felizmente, só vemos isso depois de um completo fra-
falta: que ele nào acompanhou seu amigo fugitivo casso. que mostra a nossa fraqueza que. como no
nos dias da sua rejeição. Também não se realizou seu caso de Davi. acabara de provar-se tão forte. No seu
pensamento: "Tu reinarás sobre Israel, e eu serei o trato com Nabal (cap. 25) teria sido fácil mostrar a
segundo depois de ti". magnanimidade que no caso de Saul era bem difícil
de revelar" (Grant).
Notamos, incidentemente, que Davi, apesar de
ser fugitivo, escondendo-se nos desertos e cavernas,
levou consigo pena e tinha com que escreveu os lin- Capitulo 25
dos salmos, que eram as suas orações nesses dias de
angústia. Davi e Nabal. É aqui que Davi falha deveras.
Não somente não é magnânimo, mas é terrivelmente
Vemos que Jônatas "o confortou em Deus" (V.B.) severo e injusto. Recusado aquilo a que não tinha ne-
e esse é o melhor conforto. Um verdadeiro amigo, nhum direito legal, e sentindo-se insultado, ele desa-
que sempre dirige nosso pensamento para o recurso ta num acesso de fúria que ameaça Nabal e todos os
divino, é o companheiro de mais valor que podemos seus homens de destruição. Porventura este é o mes-
ter. mo homem que acabamos de admirar pelo seu nobre
Deus permite que uma incursão do inimigo de Is- domínio sobre si e pelo seu altruísmo? Será este o
rael - os filisteus - seja o meio de libertar Davi mais rei-pastor de Israel, o governador no temor de Deus,
uma vez da mão do adversário (v. 27). o homem que sofreu a injustiça humana e foi disci-
plinado na escola da aflição? E o mesmo, sim, mas
Capitulo 24 está mui diferente. Ê Davi. mas não mais sob o con-
trole da presença de Deus. pois, de repente, tudo que
é amável e sublime, tudo que é de Deus. todo fruto
Davi poupa a vida de Saul. Em seguida, depois do seu ensino, parece ter passado. Existe, porventu-
de ter conquistado os filisteus, Saul volta a perseguir ra, um "Saul" dentro de um "Davi", pronto a mos-
Davi. Neste capitulo, o dr. Scroggie nota: (1) A opor- trar-se logo que cesse o controle? É mesmo assim ; e a
tunidade de Davi (1-7), e (2) a magnanimidade de melhor coisa é reconhecê-lo, para que sintamos nos-
Davi (8-15). sa completa dependência de Deus em todas as oca-
O incidente na caverna é dramático. Davi com siões. Náo é como pecadores, mas como santos que
alguns companheiros (não, por suposto, todos os somos exortados a "não ter confiança na carne". A
600) está no interior da caverna, quando Saul lá en- oração é uma necessidade constante; e. esperando no
tra "para cobrir os pés", como Almeida traduz ao pé Senhor, nossa força será renovada. Que lição temos
da letra, permitindo a idéia de que Saul entrara na

105
iSoimid

aqui em Davi! Nenhum "éfode" foi empregado "Davi nem vai a Moabe. mas a Gate, a cidade do
quando os 400 sairam para Carmel na sua funesta gigante que ele vencera pela fé: e onde. também, an-
missão. Mas a advertência divina, que Davi não pro- teriormente. pela sua falta de fé ele tinha falhado tão
curara, veio-lhe (pela misericordiosa graça de Deus) tristemente (21.10). Porém, quanto maior a subida
pela boca de uma mulher (Grant). maior a queda, e uma vez cedendo á descrença, um
A versão dos L X X omite "os inimigos de..." no passo errado envolve outro para o confirmar; a cruel-
versículo 22. dade é acrescentada ao engano, e muitas vidas sáo
No caráter de Nabal não há nada que possamos sacrificadas para conservar a sua própria. Que coisa
admirar, mas Abigail se realça como uma mulher medonha é a incredulidade!
sensata, prudente e ajuizada. E Davi se arrepende, " A exposição encontra as suas dificuldades, mas
mediante as palavras dela, a ponto de dizer: a lição moral é evidente, e é isso que carece ser frisa-
"Deus... me impediu de fazer o mal" (v. 34). Sim, o do. Podemos notar que um homem piedoso, desenca-
impediu por meio da pronta intervenção deia. O que minhado e afastado de Deus. pode ser um mui zeloso
Deus pensou de Nabal podemos compreender do destruidor de males liem evidentes ( w . 8,9) e contu-
versículo 38. do ficar mais afastado de Deus que nunca; até um
zelo aumentado contra os males dos outros pode
Capítulo 26 acompanhar um estado em que se evidencia uma
falta de julgamento próprio" (Grant).
Davi poupa Saul outra vez. Mais uma vez encon-
tramos a traição dos Zifitas (v. 1). Mais outra vez o Capitulo 28
mesmo Saul, cheio de malícia e inimizade, vai com
3.000 homens escolhidos para apanhar um fugitivo. Saul e a pitonisa de Endor. Neste capitulo vemos
Mais uma vez vemos Davi, sagaz, vigilante, corajo- Saul numa situação deveras lastimável. O inimigo
so, enérgico, reverente, paciente e generoso. A lança avança, e Saul está medroso. Sente a necessidade de
de Saul fica. afinal, com quem a merece (v. 8). conselho, de conforto, de direção. Mas Samuel, que
Todo o procedimento de Davi para com Saul era durante tantos anos tinha sido seu mentor e conse-
baseado no fato de Saul ser "o ungido do Senhor", e, lheiro. está morto, e Deus não lhe responde. Nessa
contudo, Davi era também o ungido do Senhor (1 extremidade o rei. impaciente, recorre a um meio de-
Sm 16.13). Mas ele compreendeu que seu tempo ain- sesperado e proibido: o espiritismo.
da não chegara, e que Deus requeria dele a paciência Mas, porventura, não haveria outro alvitre? Não
que espera a hora divinamente marcada. Davi podia poderia ter atendido aos conselhos piedosos dos sa-
ter destruído Saul, mas não quis. Saul queria des- cerdotes? Não devia ter consultado o parecer dos ge-
truir Davi, mas náo pôde. nerais? E o próprio Deus, em face do sincero arre-
Saul confessa ter procedido nesciamente (v. 21). pendimento, e da confissão das iniqüidades passa-
Reconhece a loucura do seu pecado, mas não a sua das, não teria, afinal, atendido á sua oração?
culpabilidade.
Porém a hora da provação descobre, fatalmente,
"Quanto a Davi, a sua retidáo é mais uma vez de- a tendência de toda a vida. O homem que constante-
monstrada, e proclamada aos ouvidos de todo o povo mente domina seu gênio, que reprova em si os come-
pelo seu inimigo persistente. Uma justificação mais ços da ira e amargura, quando chega a maior provo-
completa não teria sido possível, junto com o teste- cação pode responder com mansidão e prudência. O
munho da lança e da bilha de água. E Davi conse- homem que "espera no Senhor" sempre, mesmo
guiu tudo isto mediante a persistência do seu perse- quando náo recebe uma resposta clara às suas ora-
guidor. Como Davi devia ter ficado livre de todo o re- ções, humildemente espera ainda. As pequenas vitó-
ceio quando mais uma vez salvara Saul tão notavel- rias espirituais de todos os dias são necessárias como
mente!" (Grant). uma preparação para o dia da maior provação. Por-
Capítulo 27 que Davi. que já matara um leão e um urso encon-
trados no decorrer do seu trabalho diário, podia, con-
Davi outra vez com Aquis, rei de Gate. Em vista fiado em Deus, enfrentar o gigante.
do passado imediato, é espantoso ver Davi agora
completamente desanimado, e dizendo: "Ora. pere- Saul procura uma pitonisa e a pitonisa invoca a
cerei ainda algum dia pela mão de Saul. Pensamos Samuel - e parece assustada quando Samuel mesmo
imediatamente: "Porventura nós também somos tão responde ã chamada (v. 12). Que fosse Samuel mes-
volúveis, tão descrentes? Para nós também as mise- mo quem "subiu" náo é somente o que a Escritura
ricórdias passadas de Deus significam tão pouco, . diz, mas com isso concordam "-Justino Mártir, Origi-
que olhamos medrosos para o futuro?" nes. S. Agostinho e outros, e a maior parte dos co-
mentadores judáicos"!
E este extraordinário lapso da parte de Davi náo
somente prejudica a sua própria vida espiritual e o As palavras de Samuel sáo pesadas, e não podem
põe no poder do inimigo, para batalhar a favor dos ser outras. "Anos de impenitência terminam com
iníquos, mas envolve no mesmo desvio os 600 com- uma ruína completa. O caráter moral é o elemento
panheiros seus. Um dos pensamentos mais funestos decisivo em determinar nossa condição presente e
do homem que de novo se torna servo do pecado, futura. Precisamos viver agora como queremos con-
com certeza deve ser que ele vai arrastar consigo to- templar nossa vida desde seu fim. Samuel, chamado
dos quantos estáo sob sua influência: filhos, amigos e do SheoL, somente confirma o que dissera a Saul em
admiradores. vida ( w . 16 a 19)" (Scroggie).

Nota do Editor: Sobre Saul e a pitonisa óe Eador, vede a N.E. ao comentário mo capitulo 18 de Deuteronômio. nee
obra. Outroasim, aconselhamos a leitura do livro ali mencionado, pois, em que pesem m argumento* apresentad
pelo autor. nAo ee pode, pelo contexto bíblico, aceitar que tenha «ido o espirito de Samuel que "subiu" para falar co
SauL

106
1 Samuel

Nota: Embora nosso capítulo não diga expressa- 4) O despojo (21-31). Esta parte divide-se em
mente que Samuel foi chamado do Sheol, podemos duas seções. Na primeira, vemos Davi e seus compa-
demorar um pouco para investigar essa palavra, em- nheiros (21-25). Somos provados pelo bom êxito
pregada 65 vezes no V.T. como pelo mau sucesso. Alguns dos 400 julgaram que
Em Almeida é traduzida sepultura 31 vezes, in- os 200 não tinham direito a participar dos despojos,
ferno 31 vezes e sepulcro 3 vezes. Na V.B. (salvo en- porque não tinham ido à frente. São bem chamados
gano) é sempre escrita sheol, sem traduzir. "malvados" (v. 22), e, sem dúvida, foram os mesmos
Não é certo que seja forçoso ligar a idéia de locali- que antes votaram que Davi fosse apedrejado. Os
dade com a palavra sheol (ou seu equivalente no 200 tinham prestado serviço importante e mereciam
N.T., hades). É possível que deva ser entendida algum reconhecimento (v. 24).
como um estado: " o estado de morte". Esse sentido Na segunda seção, vemos Davi e seus amigos (26-
tem cabimento em todos os lugares onde a palavra se 31). Na hora da sua vitória ele se lembra de todos os
encontra. que o tinham protegido quando andava fugitivo.
Porventura tem sido assim conosco? No dia da pros-
Capítulo 29 peridade lembramo-nos dos amigos da nossa adver-
Davi marcha com Aquis contra os israelitas. sidade?
F.W. Grant comenta assim: Davi "se confortou no Senhor seu Deus" (v. 6). É
"Neste capítulo, vemos Davi mais uma vez em assim que fazemos em cada hora da adversidade? O
terrível decadência espiritual. Visto que ele positiva- remédio soberano para todas as provações é recorrer
mente sai para acompanhar o rei filisteu à guerra, os a Deus e contar com a sua proteção.
chefes militares, com mais discernimento do que o
Capitulo 31
nào suspeitoso Aquis, recusam tal cooperação duvi-
dosa. Mui naturalmente não podem acreditar que A morte de Saul e seus filhos. "Há três notas
Davi vá renegar a sua história toda, e pensam que ele principais neste capítulo.
há de reconciliar-se com Saul, traindo seus aliados. 1) Derrota (1-6): derrota completa e final; derro-
"Nisto percebemos que Deus forneceu um meio ta ignominiosa e trágica; derrota do culpado e do
de salvação para Davi do laço em que se ele se envol- inocente; derrota retribuitiva e patética. O juízo
vera, e com que agrado fervoroso havíamos dè espe- sempre chega afinal. A justiça se cumpre. O fim de
rar vê-lo aceitar. Mas nada disso. Ele continua a ser uma vida está de acordo com seu caráter e curso - es-
hipócrita. Alega que, para ele, os israelitas nào são tas são algumas das lições da vida de Saul. Como po-
outra coisa senão 'os inimigos do rei meu senhor' (v. dia ter sido diferente esse fim!
8), contra quem é seu dever e privilégio lutar, e ainda Comparemos dois homens com o nome Saul: um
se atreve a apelar para sua conduta irrepreensível de Gibeá e o outro de Tarso. As suas histórias podem
durante todo o tempo em que tem servido aos filis- ser resumidas em duas palavras - um repeliu o plano
teus - bem sabendo que em tudo isto ele não é outra divino para sua vida. O outro aceitou e cumpriu esse
coisa senão hipócrita. Tal é a conduta de um santo plano.
quando afastado de Deus. Quão fácil é ser endureci- E o inocente sofre com o culpado (v. 2). Essa
do pelo engano do pecado!" grande alma, Jónatas, cai, lutando lealmente ao
lado de seu pai já desamparado de Deus. Todo o Is-
Capítulo 30 rael está envolvido na derrota.
2) Desumanidade (vv. 7-10). Davi sempre recu-
Ziclaque saqueada pelos amalequitas. Podemos sou fazer mal ao "ungido do Senhor", mas os bárba-
dividir este capítulo assim: 1) A descoberta; 2) a per- ros filisteus não hesitaram em desonrar os cadáveres
seguição; 3) o socorro; 4) o despojo. de Saul e seus filhos.
1) A descoberta (1-6). No rumo do pecado se- 3) Gratidão (11-13). É preciso tornar a ler o capi-
guem muitas tribulações. Davi tinha-se aliado com tulo 11. Os homens de -Jabes-Gileade foram os pri-
Aquis, rei de Gate, mas os príncipes dos filisteus não meiros a ser protegidos por Saul, e disso não se es-
consentem que eie os acompanhe, por isso é civil- queceram. pois ele se arriscara por eles. Agora eles se
mente despedido. Mas ao regressar a Ziclaque. seu arriscam por Saul. embora já falecido. "Não há nada
quartel general (27.6), ele faz uma triste descoberta: mais desprezível do que um homem ingrato".
a cidade queimada, e todos os seus habitantes cati- Este livro começa com o nascimento de Samuel e
vos, incluindo duas das suas mulheres. Que fazer? termina com a morte de Saul. Que temos aprendido
Os homens de Davi não tinha outra proposta melhor dele? (Scroggie).
do que apedrejar seu chefe (v. 6). Mas como podia a
morte de Davi resolver o problema? REFERÊNCIAS NO NOVO T E S T A M E N T O AO
2) A perseguição (7-15). Davi tratou a dificuldade LIVRO DE 1 S A M U E L
de outra maneira: foi ter com Deus (6 a 8). Orou. 1 Sm 2.1 - Lc 1.46,47
Perguntou. O Senhor respondeu, e então Davi agiu. 1 Sm 8.5.10.1 - At 13.21
3) O socorro (16-20). A derrota dos amalequitas 1 Sm 13.14 - At 13.22
foi tão completa quanto fora no começo a sua con- 1 Sm 15.22 - Mc 12.33
fiança. Nào tinham pensado em Deus. Davi recupe-
1 Sm 21.6 - Mt 12.3,4; Mc 2.25.26; e Lc 6.3,4 (An-
ra tudo, pela bênção divina. Ele mostra fé, coragem,
energia. gus).

107
I
2 Samuel

orno o "primeiro de Sa- A M E N S A G E M DE 2 S A M U E L


muel" o livro recorda a
falha do homem, em Morto Saul, Davi, que tinha sido ungido secreta-
Eli, em Saul e até em mente na sua mocidade em Belém, é agora ungido
Samuel, assim o "se- publicamente em Hebrom para reinar sobre a Casa
gundo de Samuel" descreve a restauração da ordem de Judá, por enquanto, pois dez das tribos estão re-
pela entrénização do rei segundo o coração de Deus, voltadas sob Abner e Isbosete. Isto continuou por
a saber Davi. sete anos e meio; então uma briga entre Abner e o rei
Es te livro também recorda o estabelecimento do resultou no desmoronamento da rebelião e em Davi
centro pólítico de Israel em Jerusalém (2 Sm 5.2-6), ser convidado a reinar sobre todo o Israel, e ser ungi-
e seu centro religioso em Sião (2 Sm 5.7; 6.1-17). do pela terceira vez. Por mais 33 anos ele ocupa o
Quando tudo está assim ordenado, Jeová estabelece trono de Israel. Devemos notar duas coisas:
a grande Aliança Davidica (7.8-17), segundo a qual 1. A política interna de Davi Isto pode ser resu-
se desenvolve toda a verdade referente ao reino. Da- mido em uma palavra: Centralização de poder e cul-
vi, nas suas últimas palavras (23.1-7), descreve o rei- to. Até então tinha havido muitos e diversos centros
no milenial que virá no cumprimento dos tempos. de culto, mas Davi percebeu que a estabilização do
O livro « t á dividido em quatro partes: 1. Da reino dependia, no futuro, de haver, não somente
morte de Saul à unçáo de Davi sobre Judá em um lugar único para culto, mas de um só centro de
Hebrom (1.1-2.7). 2. Da unçáo em Hebrom ao esta- governo.
belecimento de Davi sobre o Israel unido (2.8 a 5.5). 2. A política externa de Davi. Isto pode ser resu-
3. Da conquista de Jerusalém á rebelião de Absaláo mido na exterminação de todos os adversários. Ve-
(5.6 a 14.33). 4. Da rebelião de Absaláo è compra do mos isto no capítulo 8, onde lemos das suas vitórias
terreno para o templo (15.1 a 24.25). sobre a Síria, Moabe. Amaleque, Zobá e a Filistia.
Aqui náo lemos de nenhuma derrota; enquanto a
casa de Saul tornou-se cada vez mais fraca, a de
Davi tornou-se cada vez mais forte. O segredo do seu
A N Á L I S E DE 2 SAMUEL Jbom êxito foi a sua dependência de Deus em tudo.
O pecado de Davi (caps. 11a 18). Sua decadência
1. Davi rei sobre Judá em Hebrom (cape. 1 a 4) - sete começou em 11.1: quando o exército saiu para a
anos e meio. guerra, ele ficou em casa. Tal preguiça resultou nes-
1.1. Lamento sobre Saul (cap. 1). se pecado que era uma terrível mancha sobre seu ca-
1.2. Revolta de Abner (cap. 2). ráter nobre: o mais notável fracasso de uma grande
1.3. Volta e morte de Abner (cap. 3). carreira.
1.4. Morte de Isbosete (cap. 4). Notemos: a) Seu grande pecado. Começa com a
2. Davi rei de Judá e Israel em Jerusalém (cape. 5 a preguiça e a concupiscéncia dos olhos, e culmina no
24) - trinta e três anos. assassinio de um homem inocente, b) Seu pesado
2.1. O trono de Davi (caps. 5 a 7). castigo. Primeiro: a reprovação do seu pecado pelo
2.2. As conquistas de Davi (caps. 8 a 10). profeta Na tá; a morte do menino; o pecado e morte
2.3. O pecado e sofrimento de Davi (cape. 11 a de Amnon; o desterro e rebelião de Absalão; o des-
18). tronamento de Davi, etc. c) Seu sincero arrependi-
2.4. A restauração de Davi (caps. 19 a 24). mento. (Vemos isto no Salmo 51.) Davi náo perdera

109
2 Scmud

a salvação, mas o gozo da salvação. Ele reconhece adversidade, iam ser companheiras no reino. Parece
que fizera mal tanto a Urias como a Betseba. mas so- que ainda nào tinha filhos. O primeiro nasceu em
mente contra Deus tinha pecado. (Entendemos as- Hebrom (3.2). c) A honra que recebeu dos filhos de
sim, apesar da nota do bispo Horsley ao Salmo 51.) -Judá ungiram-no rei sobre Judá - não sobre todo
A restauração de Davi (2 Sm 19 a 1 Rs 2.11). Davi Israel. Nós podemos reconhecer o domínio de Cristo
volta ao trono. Seu primeiro ato é perdoar um dos sobre nós mesmos, e deixar para um dia futuro ser
culpados (19.22,23). Os fiéis são premiados, os inimi- Ele reconhecido Rei por todos, d) A mensagem res-
gos derrotados. Não estava sem dificuldades nesses peitosa que ele mandou aos homens de Jabes-Gi
dias derradeiros, mas também não estava sem Deus leade, Davi continua a honrar a memória do seu pre-
(Scroggie). decessor. Saul, demonstrando que nâo era usurpa-
dor.
O U T R A A N Á L I S E Ê: Revolta de Abner e Isbosete (8-17). Uma rivali-
dade entre dois soberanos: um feito rei por Deus e o
1. Os triunfos do rei (caps. 1 a 10). outro por Abner. Um encontro entre duas forças ar-
Rei em Hebrom sobre Judá madas - nào. ao que parece, dois exércitos inteiros,
Rei em Jerusalém sobre todo Israel visto que as baixas foram poucas ( w . 30,31).
2. A s tributações do rei (caps. 11 a 20). Nesta batalha. Abner era agressor: a localidade
Seu pecado do conflito foi Gibeom (v. 13). A luta começou com
Seu castigo uma peleja proposta por Abner entre doze moços de
Sua restauração cada lado - talvez uma espécie de combate a estilo
3. Os tempos do rei (caps. 21 a 24). dos gladiadores romanos, em tempos mais recentes.
A fome Mais tarde a batalha tornou-se geral, e Abner foi
Os cânticos» derrotado
Os heróis
O censo Asael persegue Abner ( w . 18-28). E uma cena
impressionante: o moço ligeiro e atrevido, ambicioso
Capítulo 1 de fazer presa do general inimigo; Abner, mais pos-
sante. avisando-o do seu perigo em persegui-lo. e
A mentira do amaleouita. Este amalequita pare- aconselhando-o a contentar-se com uma presa me-
ce ter sido um vagabundo que depois da batalha pro- nor. O moço, estouvado. não atendendo o aviso, mor-
curava despojos, e casualmente encontrou o corpo re pelo seu atrevimento. A lição para nós pode ser
morto de Saul. Apanhou sua coroa e bracelete e le- que precisamos distinguir entre o serviço que é preci-
vou-os a Davi, esperando ser recompensado. Depois so fazer, e a pessoa competente para fazé-lo. Às ve-
lembrou-se de enfeitar o seu relatório, contando que zes, um moço crente pensa na necessidade de evan-
ele mesmo matara Saul, que sabemos ser mentira gelizar um homem idoso, e somente consegue ofen-
pela descrição em 1 Samuel 31.1-6. dê-lo. devido à sua falta de perícia no serviço.
Mas a mentira custou-lhe a vida. pois Davi, em Os dois generais. -Joabe e Abner desafiaram-se:
vez de o premiar, mandou matá-lo. porque, segundo nem um nem outro era homem piedoso, e ambos,
a sua própria afirmação, "estendeu a mão para ma- mais tarde, cada um por sua vez, morreram de morte
tar o ungido de Jeová". violenta.
O cântico do arco (17-27). Assim chamado prova-
velmente por motivo da referência ao arco de Jôna- Capítulos 3 e 4
tas no versículo 22. E uma canção fúnebre incluida
numa coleção de cânticos heróicos chamada " O Li- Abner faz aliança com Davi (7-21). Abner brigou
vro de Jaser" ou " o Reto'*, uma espécie de antologia com seu amo Isbosete porque não quis ser admoesta-
nacional. É referido aqui e em Josué 10.13. do (v. 8). Ainda hoje há muitos que não toleram uma
Matthew Henry nota que o poema revela ser Da- admoestação. Pensam que assim mostram brio, mas
vi: antes provam seu egoísmo e falta de humildade.
1) Um homem de espirito excelente, em quatro Por isso. Abner abandona seu senhor e vai a Da-
coisas: a) É generoso para com o seu declarado ini- vi, com quem está seu maior inimigo. Joabe. A con-
migo Saul. b) Ê grato para com o seu declarado ami- seqüência é imediata: ele é assassinado por Joabe
go Jônatas. c) Está muito preocupado com a honra um pouco mais tarde (27-30). Disso resulta um es-
de -Jeová, não querendo que os filhos dos íncircunci- friamento entre Davi e seu general, Joabe.
sos triunfem sobre o povo de Deus. d) Está muito de- O capitulo 4 conta o assassinio de Isbosete e a
sejoso do bem do povo - sente que a glória de Israel morte judicial dos assassinos (12). Em tudo isto Davi
tem sido ferida (v. 19). mostrou um espirito reto e justiceiro, e provou a todo
2) Um homem sábio e santo, de uma imaginação o Israel ser um soberano que havia de governar o
refinada. N ã o deseja que o ocorrido seja publicado: povo com retidão. O crente hoje, que não é rei, pode
"Não o noticieis em Gate". Amaldiçoa as monta- ser patrão, e pode merecer a estima dos empregados
nhas de Gilboa, onde sucedeu a desgraça (21), etc. pelo seu procedimento correto em todas as circuns-
tâncias.
Capítulo 2
Capitulo 5
Davi é aclamado rei de Judá (1-7). Notemos: a) A
direção que ele procurou de Deus, e obteve. Embora Davi, rei sobre todo o Israel. "Esta é a terceira
seu caminho parecesse evidente, contudo consulta a vez que Davi é ungido rei. Primeiro em 1 Samuel
direção e a vontade divina, b ) Seu cuidado com a 16.13; depois em 2 Samuel 2.4, e afinal aqui, em 5.3.
família (v. 2). As mulheres, suas companheiras na Apesar de toda a malícia de Saul, o propósito e a

110
1 Samuel

promessa de Deus se cumprem, e Davi é o rei do que, se Jeová era Deus, o gado havia de lhe obedecer
povo eleito, o primeiro dessa linha real da qual o pró- sem qualquer direção humana, e até contra seus pró-
prio Senhor Jesus será a grande consumação. Ele se- prios instintos. Mas os israelitas, ao entregarem a
rá o Príncipe da Casa de Davi. o Leão da Tribo de arca ao carro, querem que Uzá e Aío guiem o gado.
Judá. a Raiz e Semente de Davi" (Goodman). Não têm confiança no seu próprio expediente e já es-
A soberania de Davi é baseada em três coisas: tão entregues á obra perigosa de contar com os pró-
DO direito de parentesco: "Eis-nos aqui, somos prios recursos no caso de aparecer qualquer dificul-
teus ossos e a tua carne", dizem as tribos de Israel. dade. Nada mais então tinham aprendido durante
Assim o crente pode regozijar-se em Cristo: "somos todos os anos em que a arca estivera na casa de Abi-
membros do seu corpo, da sua carne e dos seus os- nadabe!
sos" (Ef 5.30). Quem podia ser mais próprio para rei-
nar sobre nós do que esse que foi feito "semelhante "Contudo a coisa vai bem no princípio. Há rego-
aos seus irmãos?" «Hb 2.17). zijos e abundantes demonstrações de lealdade da
2) O direito de redenção. Foi Davi que, mesmo parte do povo, até que, chegando ao lugar prepara-
nos tempos de Saul. livrara o povo dos seus inimigos, do, os bois tropeçam e Uzá estende a mão e segura a
os filisteus. E nosso "Davi" tem o mesmo direito de arca. Uzá significa 'força', mas ele não se havia me-
reinar sobre nós. pois Ele lutou por nós, e, no Calvá- dido na presença de Deus, nem aprendido a verda-
rio. ganhou a vitória sobre o pecado, a morte e o In- deira fonte da força. Seu ato revela o que a arca sig-
ferno. nifica para ele - o ato de uma alma ignorante de
3) O direito de uma designação divina: "Jeová te Deus e de si mesmo. E ele é ferido, e o eirado prepa-
disse... tu serás príncipe sobre Israel". Ê assim com o rado vem a ser Perez-L"zá, 'o quebramento da força'.
Senhor Jesus. Lemos: "Ungi o meu Rei sobre o meu " E estranho que no serviço do santuário Davi fos-
santo monte de Sião" (SI 2.6). se tão ignorante; mas casos semelhantes abundam
Nos versículos 13-16 vemo-lo, semelhante aos reis entre nós hoje. O fato de ser bem-intencionada mui-
gentios em redor, "tomando para si concubinas e tas vezes impede a pessoa de procurar indagar a von-
mulheres de Jerusaléme tendo uma porção de fi- tade do Senhor, ou de verificar tudo pela sua Pala-
lhos. Em algumas coisas podemos pensar de Davi vra. Se a coisa proposta for boa em si, por que tanto
como um tipo de Cristo, e em outras ele é bem dife- escrúpulo quanto a modos e métodos? Quão pouco
rente. A vida do crente é a Bíblia do seu vizinho des- compreendemos a falta de reverência que jaz sob
crente, na qual esse lê todos os dias. Bom é quando uma aparência de devoção honesta, onde presume-se
representamos nosso Salvador fielmente, pois nossa que a sabedoria humana é suficiente para tomar
conduta é a revelação única de Deus que muitos dos uma resolução sem consultar a Deus, ou a força hu-
nossos vizinhos jamais terão. mana suficiente para operar a sua vontade! Quantas
vezes nossos 'Uzás' são feridos, justamente quando
O restante deste capítulo se ocupa com mais vitó- imaginamos que nosso serviço deve ser bem aceitá-
rias de Davi sobre os jebuseus e os filisteus. vel a Deus!
Capítulo 6 " E m seguida vem a reação de toda esta confiança
vã. 'Davi teve medo de Jeová naquele dia, e disse:
Davi traz a arca para Perez-Uzá. O comentário Como virá a mim a arca de Jeová?' Assim passamos
de F. W. Grant sobre este capítulo é muito instruti- de um extremo a outro, e de acordo com a medida da
vo, e merece ser cuidadosamente ponderado. Diz ele: nossa primeira confiança, vem a ser a profundeza do
"Davi, embora quisesse ser um servo fiel, comete um nosso desespero. Onde esperamos encontrar as pro-
grande erro que acarreta conseqüências graves. E vas de uma benigna aceitação e aprovação de Deus,
bastante estranho que. num assunto como este, ele temos, por vezes, achado os sinais do seu desagrado.
não indague nada de Deus nem se lembre da direção "Mas, como temos visto, o caso é simples. Como
dada na Lei referente ao transporte da arca e vasos podia Deus aceitar o completo abandono da sua pa-
sagrados. Ainda mais estranho é que. de todas as lavra e a adoção dos meios dos filisteus. quando Ele
pessoas apartadas para o serviço do santuário, não tinha revelado a sua vontade? E isto feito bem publi-
tenha havido nenhum sacerdote ou levita para ad- camente. e por todo o povo".
vertir o bem-intencionado rei sobre o modo prescrito
de conduzir a arca. Muito já tinham sofrido os filis- Muito ainda escreve F. W. Gran t sobre o mesmo
teus devido à desonra feita á arca. Muito sofreram os ponto, mas nosso espaço não permite traduzir mais.
homens de Bete-Semes. Contudo o expediente dos
filisteus - o carro de vacas - para descobrirem, da Davi traz a arca para Jerusalém (12-23). Neste
melhor maneira que sabiam, se deveras foi a mão de trecho podemos estudar 1) Obede-Edom; 2) Davi; 3)
Jeová que os ferira: esse é o modo que Davi adota Mical
para levar a arca a Sião! 1) Obede-Edom. Receber a arca de Deus na sua
casa era uma experiência inesperada. Dias antes ele
" É verdade que Deus permitira aos filisteus não teria sonhado em tal coisa. Isso significa receber
aprender a sua lição desse modo, e isso talvez fosse o Cristo no coração. Para alguns, é uma experiência
motivo de Davi adotar o mesmo meio, mas essa imi- gloriosa e abençoada. Para outros é uma experiência
tação não tinha desculpa. Deus falara sobre o assun- ainda a ser realizada.
to e a ignorância do que Ele determinara mostrava Podemos crer que Obede-Edom recebeu a area
descuido, ou esquecimento culpável. Como podia reverente, humilde, esperançosamente, crendo que
Deus neste frisante exemplo, perante os olhos da na- nisso ele fazia a vontade de Deus.
ção inteira, estabelecer um precedente para os tem- Receber a arca de Deus na sua casa era uma ex-
pos futuros, e fazer pouco caso da sua própria honra? periência passageira. A arca não ficaria ali para sem-
" E vão atrás dos filisteus, como todos os imitado- pre. Era necessário aproveitar bem as semanas, por-
res costumam fazer. Os filisteus tinham pensado que no ano seguinte não haveria oportunidade.

111
2 5cmud

A hora no monte da transfiguração passou. A vi- "Mas isto náo quer dizer que o zelo e o fervor não
são que Paulo teve do Paraíso era passageira (2 Co são aceitáveis a Deus: certamente são. Por isto Deus
12.2); depois seguiram dias comuns, cheios de inci- prossegue, ao mesmo tempo que recusa a proposta
dentes ordinários. Nós podemos, ás vezes, experi- de Davi. em lhe assegurar o que há de fazer para ele:
mentar momentos de exaltação espiritual, períodos 'Também Jeová te diz que Ele mesmo te fará uma
de mais íntima comunhão com Deus. e recordá-los casa' (v. 11).
depois com gratidão. A nossa natureza náo pode su- " U m filho lhe será levantado em que o reino será
portar um excesso de incidentes sublimes, como nos- estabelecido, e que cumprirá o desejo que agora está
so paladar não pode suportar um excesso de açúcar no coração de Davi, e seu trono será estabelecido
no café. para sempre.
2) Davi, neste trecho, parece-nos ser um homem "Salomão está primeiro em vista nesta promessa,
piedoso, desejoso, sobretudo, de ter bem perto dele como sabemos; mas Cristo é o único filho de Davi em
sempre o símbolo da presença de Deus. Somos as- que a profecia pode ser plenamente cumprida. O fi-
sim. porventura, também desejosos de sentir Deus lho que está perto é apenas uma sombra do Filho
bem perto, mesmo nas nossas horas mais íntimas? maior mais ao longe; e a casa feita por mãos é apenas
Davi era um homem instruído, e compreendia uma antecipação da gloriosa Casa contra a qual as
que náo podia aproximar-se de Deus sem o devido portas do Inferno náo poderão prevalecer. Assim ve-
sacrifício (v. 13). mos como a instabilidade da descendência mera-
Davi era um homem entusiasta, que não se pou- mente humana náo pode invalidar a palavra que
pava em demonstrar o seu fervor religioso. tem saído da boca de Jeová" (F.W.Grant).
Davi era um homem generoso, que fez uma festa
para o povo ao mesmo tempo que adorava a Deus. Capítulo 8
3) A47caí é o tipo de uma pessoa carnal, que des-
prezava porque não compreendia um entusiasmo es- As vitórias de Davi. Este capítulo está cheio de
piritual. Evidentemente, era indigna de ser esposa conflitos, batalhas e vitórias. Em verdade, Davi era
de Davi, porque ela náo podia compreender seu culto "homem de guerra", como seu filho Salomão era
a Deus; porque náo era submissa, como deve ser uma "príncipe da paz".
esposa; porque usava um exagero malicioso e menti- A expressão no primeiro versículo: "as rédeas da
roso em descrever a cena que presenciara (v. 20); não metrópole" (V.B.) é problemática. Diz Grant: "Isto
podemos pensar que Davi tenha feito qualquer coisa náo pode significar que Davi tirou o domínio dos fi-
indecente com o uso do vestuário de sacerdote. (Ve- listeus sobre Israel, pois isso com certeza já findara
ja-se Levítico 16.4.) havia muito. Por isso parece-nos referir-se ao gover-
no interno do pais, uma cidade (Gate 1 Cr 18.1) que
A conseqüência para Mical desta crítica carnal tem domínio sobre o resto".
de um ato religioso foi perder a intimidade com Davi Ê provável que devemos ler o versículo 3: "quan-
que, como esposa, havia de esperar (v. 33). do ele [ Davi] foi estender o seu poder até o rio f Eu-
Devemos recear que, em conseqüência de senti- frates]". Parece-nos que Davi tinha um propósito
dos carnais em assuntos espirituais, percamos nossa deliberado de tomar posse das terras até o limite da
intimidade com Cristo. promessa a Abraão em Gênesis 15.
Capitulo 7 Os "escudos de ouro" dos servos (náo soldados)
de Hadadezer eram provavelmente escudos usados
Davi deseja edificar o templo. "Davi está no seu no palácio desse rei em ocasiões de grande gala.
trono e em paz; tem descanso de todo6 os seus inimi- Nos versículos 10 e 11 vemos o ouro, a prata e o
gos em redor. Mora na sua casa de cedro, e julga ser bronze que Jorão trouxe a Davi consagrados a Jeová.
uma coisa sem cabimento que a arca de Jeová esteja Os valores que nós recebemos podemos semelhante-
numa tenda. mente consagrar a Deus.
"Aqui vemos imediatamente como o coração do Temos mais satisfação em ler que Davi "admi-
homem pode estar direito perante Deus, e seus pen- nistrava o juízo e a justiça a todo o seu povo" (v. 15)
samentos errados. Davi revela seu desejo a Natá, que do que em todas as suas vitórias. Os servos de Deus
primeiro aprova seu propósito, dizendo: 'Vai, faze ainda hoje precisam combater o erro e ganhar vitória
tudo o que tens no teu coração. porque Jeová está sobre ensinos falsos, mas o melhor mesmo é empre-
contigo'. garem as suas energias no ensino da verdade.
"Mas a Palavra de Deus é uma coisa mui diferen- Proposta emenda de tradução: "Davi subjugou a
te dos melhores pensamentos das melhores pessoas, metrópole dos filisteus" (8.1) (R. 56).
e logo Natã tem muitas palavras mui diferentes pos-
Capítulo 9
tas na sua boca por Deus. Aqui também Deus mos-
tra a Davi que seu pensamento é errado, pelo fato de Davi e Mefibosete. " N a hora da sua prosperida-
não ser baseado em qualquer prévia intimaçáo da de. Davi náo se esqueceu do amor de Jõnatas na sua
vontade divina. Porventura um homem pode pensar adversidade, e por amor dele quis mostrar benevo-
por Deus? Podemos antecipar a sua mente? É im- lência a qualquer remanescente da família de Saul.
possível: tudo que o espírito mais fervoroso pode fa- Recomendaram-lhe então Mefibosete, o príncipe co-
zer é obedecer-lhe. Por isso Davi há de ser errado, xo. que vivia da outra banda do Jordão, numa cida-
como qualquer outro que pretenda acrescentar algu- de de Manassés chamada Lo-Debar. que significa
ma coisa á perfeita Palavra de Deus. 'lugar sem pastor", 'terreno deserto'.
"Assim Deus diz: 'Em todos os lugares em que te- "Por isso Davi manda buscá-lo para mostrar-lhe
nho peregrinado com todos os filhos de Israel, falei 'a bondade de Deus', restaurando-lhe os terrenos de
jamais palavra a alguma das suas tribos... por que Saul e deixando-o comer continuamente à mesa do
não me tendes edificado uma casa de cedro?' rei. Tudo isto não somente mostra a generosidade do

112
2Samiu\

coração de Davi, mas pode ser empregado como uma náo podia ter procedido com a dignidade de esposa
ilustração do Evangelho: de um homem valente? Não podia ter gritado por so-
1) O triste caso do pecador. Como Mefibosete. ele corro? (Dt 22.24).
tem caido e é coxo, assim incapaz de andar nos ca-
minhos de Deus. Ainda mais, está bem longe, numa Capítulo 12
terra deserta.
2) A graça do rei. Está no seu coração mostrar Natã repreende Davi. Logo a seguir, Deus. que
bondade (Ef 2.4-7; Tt 3.4). Manda procurar o aleija- tudo vê. manda o profeta Natã repreender o rei cri-
do. leva-o junto a si, e outorga paz ao seu coração. minoso. Sobre isto o dr. Goodman diz:
3) O motivo da graça não se encontra no objeto 1) "Deus não faz acepção de pessoas. Os reis não
dela. Mefibosete confessou que era 'um cdo morto' podem pecar e fugir às conseqüências mais do que
(veja-se Mateus 15.27), e a salvação não é de mereci- quaisquer outras pessoas. Podem estar acima das
mento nem de obras, mas é a dádiva de Deus por leis humanas, mas náo das divinas.
amor de Cristo. 2) " O homem mais santo é capaz de cair no peca-
4) O enriquecimento e dignidade (9.11). Como do mais terrível. Nossos corações sáo todos seme-
acontece conosco. Mefibosete tomou a receber tudo lhantes, e. a náo ser pela graça de Deus, capazes das
que seu pai perdera, e ainda mais. foi colocado à ações mais vis. Somente na medida que aprende-
mesa do rei como um dos príncipes. Assim nós tam- mos a andar no Espirito poderemos cessar de obede-
bém temos sido 'abençoados... com todas as bênçãos cer às concupiscências da carne (G1 5.16).
espirituais nos lugares celestiais em Cristo (Ef 1.3) e 3) "Nenhum pecado está escondido aos olhos de
somos feitos filhos de Deus' (Jo 1.12)" (Goodman). Deus. O que Davi fez desagradou a Deus. Seus olhos
Neste capítulo aparece pela primeira vez Ziba, o santos tudo vêem.
servo de Mefibosete. Mais tarde ele torna a aparecer 4) "Os homens condenam nos outros o que des-
em circunstâncias mais funestas. culpam em si. Davi sentenciou-se à morte (v. 5),
pensando que era crime de outro que estava julgan-
Capítulos 10 e 11 do. 'O homem... morrerá' disse ele. 'Tu és o homem!'
disse Natã.
Vitória material e derrota moral. O capitulo 10. 5) " O pecado, embora perdoado, é disciplinado.
relatando palavra por palavra o que temos em 1 Crô- Natã foi instruído a dizer-lhe: 'Jeová fez passar o teu
nicas 19, descreve as vitórias de Davi sobre Amom pecado; não morrerás', mas diz também: 'não se
e Síria. No capítulo 11 temos seu tenrível pecado de apartará jamais a espada da tua casa*. Deus tem em
adultério. Aqui mais uma vez descobrimos (porque vista áo somente a salvação do pecador, mas tam-
náo é novidade) que um sincero homem de Deus bém a disciplina da 'família da fé'. O pecador per-
pode cair no pecado no caso de não andar bem che- doado precisa ser o santo disciplinado".
gado a Deus, e por consentir nos desejos da carne. Um rei, dispondo de muitos recursos e extensos
Ao mesmo tempo que reprovamos o adultério de poderes. precisa refrear-se voluntariamente de cer-
Davi, devemos nos lembrar de que, quando Jesus se tos excessos de que a maioria é resguardada por cir-
referiu ao mesmo pecado, chamou a atenção, não cunstâncias inevitáveis. Por isso, a Lei em Deutero-
para a conduta mas para o coração (Mt 5.28). Assim nômio 17.17 diz que o rei "não multiplicará para si
quem tem o coração mais puro do que o de Davi pode mulheres, para que não $e desvie o seu coração; nem
ser o primeiro a lançar pedra contra a reputação de- multiplicará muito para si a prata e o ouro". Davi, e
le. ainda mais Salomão, desobedeceram este mandado
Estudando este pecado de Davi, Matthew Henry e se entregaram a muitos excessos carnais que gente
nota: mais humilde e pobre não podia praticar. E, contu-
"A ocasião do pecado: Descuido do dever. Quan- do. Davi escreveu muitos salmos piedosos e espiri-
do devia ter estado com o exército no campo, ele es- tuais, e a Salomão são atribuídos ao menos três li-
tava descansando na cama. Preguiça. 'Dormindo a vros da literatura sagrada de Israel!
sesta' em vez de ocupações ativas. Um olhar descon- Porventura não nos ensina este trecho da Escri-
trolado, quando devia ter orado: 'Desvia meus olhos tura que, embora haja com alguém coisas reprová-
de verem a vaidade' (SI 119.37). veis ou mesmo vergonhosas, isto náo quer dizer que
"Os passos do pecado. Viu, e desejou. Indagou não haja nele valores apreciáveis. Contudo, temos
quem era. Mandou chamá-la, talvez com o pensa- conhecido casos era que todo o ensino passado e sub-
mento de uma mera conversa inocente. Pecou, por- seqüente de um servo de Deus tem sido banido da
que o começo do pecado é uma descida fácil. aprovação e apreciação dos seus irmãos, devido tão-
"O agravamento do pecado. Já era de uma certa somente, a um lapso espiritual, mais tarde reprova-
idade: alguns pensam que de uns 50 anos. Tinha mu- do com arrependimento e lágrimas.
lheres e concubinas (12.8). Urias, a quem ofendeu, Com respeito ao primeiro filho de Batseba, que
era um dos seus valentes. Batseba era uma mulher morreu porque Jeová o feriu (15), vemos que Davi:
de boa reputação. Davi era um rei. com o dever de 1) Compreendeu como o pecador devia proceder
exercer a justiça, e dar um bom exemplo." perante o Deus ofendido. Humilhou-se na confissão,
Um pecado resulta em outro. Ao adultério acres- vergonha, e julgamento do seu pecado (v. 16).
centa-se o assassínio do valente e fiel marido de Bat- 2) Orou pela criança (v. 16) com lágrimas e je-
seba. Que fracasso moral na história de um dos mais jum. Não procurou ver a compaixão divina, por emo-
amáveis caracteres da Bíblia! ção.
Alguns podem pensar que a própria Batseba não 3) Quando a criança faleceu, Davi aceitou a von-
era de todo sem culpa. Porventura não podia achar tade de Deus, e cessou de orar (vv. 19.20). Os servos
lugar mais privado para banhar-se senão imediata- esperavam alguma demonstração de pesar e emoção,
mente em frente ao palácio? Na entrevista com o rei, mas, apesar de tudo, Davi era um homem de fé, e

• 113
iSflmud

conformou-se com a vontade divina: As suas pala- da. Tal desculpa de pecado podia trazer somente de-
vras no versículo 23 são sensatas e tocantes. sastre, e o filho malvado logo começa a conspirar
contra seu pai.
Capitulo 13 A graça somente pode reinar pela justiça. E so-
mente na base da satisfação feita sobre a cruz de
Amnon, Tamar e Absalão. "Entre os capítulos 13 Cristo que o santo Deus pode reconciliar o pecador a
a 20 podemos descobrir sete ou oito conseqüências si mesmo, e dar-lhe o beijo do perdão (Goodman).
do pecado de Davi. A primeira foi o incesto de Am-
non; a segunda, o assassinio de Amnon; a terceira foi Capítulo 15
a fuga de Absalão. É mais fácil promover o mal nos
outros do que o bem, e um mau exemplo anima as A bsalão se revolta, e Davi foge. Notemos no pro-
tendências más naqueles que nos rodeiam. Um filho cedimento de Absalão:
de Davi imita o pai na imoralidade, outro no assassi- 1) Uma demonstração de grandeza. Os príncipes
nato. Ê uma perpétua dor moral alguém ver seus fei- orientais costumavam ter servos que corriam adian-
tos reproduzidos nos seus filhos (Scroggie). te dos seus carros. Dois ou quatro, Absalão tinha cin-
" O castigo para Davi nasce no seio da própria qüenta.
família. O mal não controlado no seu próprio caráter 2) A presunção de emprego público (v. 2). Presu-
reflete-se nas paixões dos seus filhos, em que o poder mia fazer-se juiz, sentado á porta da cidade.
da hereditariedade se mostra tão evidente. 3) Fingimento de pena por náo haver oficiais
"Nem podemos duvidar de que a influência do apontados pelo rei.
pecado do pai tinha, com um indivíduo como Am- 4) Adulaçáo e lisonja. Em vez de aceitar a reve-
non. agindo sem o freio do arrependimento paterno. rência devida a um filho do rei, ele levantava o que o
Amnon havia de ver que seu pai pecara, aparente- saudava e o beijava (v. 5).
mente sem sofrer, ele não podia discernir que os pró- 5) Piedade fingida (v. 8). Alegou ter feito um voto
prios vícios do filho haviam de ser o açoite dos peca- a Deus. e assim enganou o rei.
dos do pai. Há uma cegueira inevitável que pertence 6) Astúcia (v. 11). Muitos ficaram envolvidos na
àqueles que rejeitam a sabedoria divina. Tinha tudo revolta sem perceberem seu verdadeiro caráter
isso operado para tornar Amnon um déspota cruel, (Goodman).
sensual - um espectro que bem podia assustar o pai
Hebrom é uma cidade a uns 30 quilômetros ao sul
de um tal filho, visto que ele tinha contribuído tanto
de Jerusalém, e foi ali que Absalão levantou o estan-
para fazer de Amnon o que era" (Grant).
darte de revolta (v. 9). Era tão perto da capital que
teria sido perigoso Davi ficar em Jerusalém sem dis-
Capitulo 14 por de um exército suficiente para se defender.
O dia da sua calamidade foi o dia de provar a
A mulher sábia (1-24). Técoa, sete quilômetros lealdade dos seus amigos e servos. A lealdade de Itai
ao sul de Belém, é tida como sendo a vila de Amós, o é especialmente notável (19,23). Ele era de Gate, ca-
profeta (Am 1.1). pital da Filistia, e por isso podia bem ter sido um ini-
Uma "mulher sábia " era a que desfrutava a fama migo de Davi, e nisso é um tanto parecido com al-
de poder resolver questões difíceis; em alguma coisa guns dos convertidos de hoje.
semelhante a uma feiticeira, porém, sem a má fama A arca devolvida a Jerusalém (25-29). As razões
desta. Uma destas mulheres sábias salvou a cidade por que Davi resolveu mandar a arca para Jerusalém
de Abel quando Joabe a sitiou na sua perseguição de foram provavelmente:
Seba (2 Sm 20.16-22). 1) Porque não quis expô-la aos perigos do campo
Joabe empregou esta mulher para interceder com de batalha. Ele podia ter-se lembrado do que lhe
Davi a favor de Absalão. Serviu-se ele de um caso su- aconteceu na terra dos filisteus.
posto, como Natá fizera. Ela mostrou tanta sabedo- 2) Ele náo tinha nenhuma reverência supersticio-
ria e empregou palavras tão persuasivas, que duran- sa para o símbolo em si. Contava com a presença do
te os séculos têm servido como textos para sermões Senhor consigo.
evangélicos: 3) Ele havia de preferir pensar na arca como des-
1) A necessidade humana: "Morremos, e somos cansada na tenda que fizera para ela (6.17) e nào le-
como a água derramada sobre a terra" (v. 14). vá-la aos campos de batalha.
2) O Evangelho: "Deus... cogita meios, para que 4) Ele estava esperançoso de que Deus o havia de
o banido não fique desterrado da sua presença". restaurar ao trono em Jerusalém (v. 25).
Para receber os "meios", nós olhamos para o Calvá- 5) Permaneceu submisso à vontade de Deus em
rio. qualquer caso (v. 26). Assim, na adversidade, agiu
Absalão restaurado (28-33). Notamos a diferença como homem de fé. Contudo náo havemos de justifi-
entre ele e o pródigo (Lc 15.20). Nessa parábola, o car todas as suas ações. Espionagem e falsidade (34-
Senhor frisa o verdadeiro arrependimento do Olho 37) sáo armas mundanas, náo recomendáveis ao ho-
pródigo, e a sua confissão de pecado. Mas de Absalão mem de Deus. Porventura um homem de fé e cora-
não ouvimos nenhuma palavra de arrependimento. gem como Davi náo podia ter contado com Deus
Pelo contrário, ele pediu justiça: "se houver em mim para o libertar sem tais expedientes? Deus náo o ha-
culpa, que me tire a vida" (v. 32). Era um pecador via de desamparar, e "do Senhor é a batalha"
querendo justificar-se, e náo podia ter falado since- ( Goodman).
ramente, pois sabia que era culpado, e condenado
pela lei de Deus. Seu apelo era uma mentira senti- Capitulo 16
mental que esperava poder tocar o coração de Davi,
e nisso teve bom êxito. Atitudes reveladoras. O centro de interesse é Da-
Mas a retidão era ultrajada e a justiça despreza- vi, e os homens ficam divididos de acordo com as

114
2Samuá
suas relações para com ele. De um lado Itai, Zado- gem. Um incidente mui insignificante pode ter con-
que, Abiatar, Aimáas, Jónatas e Usai. e do outro seqüências bem graves.
Absalão, Aquitófel, Ziba e Simei. Como então Davi 3) A lealdade de "um certo homem" (10,12,13).
era o ponto de divisão, assim é Cristo hoje. Podemos Ele respeitava a palavra do rei (12).
notar: 4) A crueldade de Joabe (14). Este feroz sobrinho
1) A avareza de Ziba (1-4). Na esperança de obter de Davi muitas vezes manchou suas màos com san-
bens e poder, Ziba pregou a Davi uma grande menti- gue. Matara Abner e Amasa, "dois homens mais jus-
ra com respeito a Mefibosete, e o filho de Jónatas fi- tos do que ele" (1 Rs 2.32). e. afinal, ele mesmo havia
cou sob a sombra dessa mentira por todo o tempo em de morrer pela espada.
que Davi permaneceu fora de Jerusalém. Davi devia É patético ouvir Davi chorando sobre seu filho re-
ter esperado ouvir o outro lado (v. 4). Lembremo-nos belde. Ê provável que seu lamento tenha sido em
de quç sempre existe o outro lado. parte devido á própria culpa no caso:
2) Os insultos de Simei (6-8). Leiam-se os Salmos 1) Davi tinha desposado a filha do rei Gesur
3,4,69 e 109, que descrevem os acontecimentos deste (3.3), uma mulher pagá. Este casamento profano
triste dia. Se Deus permite ao seu povo sofrer assim, teve as suas conseqüências tristes.
isso não diminui o pecado de Simei. 2) Ele sabia que esta rebelião era parte do castigo
3) O zelo de Abisai (9). Nós todos reconhecemos pelo seu próprio pecado (12.11).
que isto foi despertado naturalmente, embora erra-
damente manifestado e devidamente reprovado. O 3) Talvez recordasse seu erro em tornar a receber
zelo de um cristão nunca deve ser vindicativo. a Absalão não arrependido pelo assassinio do seu ir-
mão. Davi devia ter atendido à justiça da matéria.
4) A paciência de Davi (10-13). Durante este tris-
Graça com desprezo da justiça não opera o verdadei-
te período, o rei aprendeu algumas das grandes li-
ro arrependimento.
ções da sua vida. Apesar de o caminho ser áspero,
sempre há lugares de refrigério (v. 14) - (.Scroggie). Ao fim do versículo 22 devemos ler. com V.B.
"pois não receberás recompensa pelas novas".
Capitulo 17
Capitulo 19
Husai derrota o conselho de Aquitófel. O conse-
lho acertado de Aquitófel, primeiro aprovado, é de- Joabe e Davi. " A história de Joabe está cheia de
pois rejeitado peia oposição de Husai. Seu discurso, instruções. Ele ocupou um lugar de destaque; disse e
bem adaptado ao homem com quem fala, opera fez coisas boas, e era homem de muitas habilidades e
sobre os receios e a vaidade de Absalão. Nada mais poder, mas fracassou, e não é mencionado entre os
sensato do que a sua recomendação, uma vez admi- valentes de Davi. Capacidade não é tudo: precisa
tido aquilo que o novo rei aceita sem questão: que a haver graça também. Duas coisas podemos dizer do
vontade de todo o povo o colocara onde ele está. seu discurso a Davi (5.7):
Aquitófel sabe melhor, por isso o seu desespero Primeiro. Está cheio de severo bom senso e con-
quando o conselho de Husai é preferido ao seu. selho acertado. Havia uma crise em Israel que de-
Quando os mensageiros saem, não sem perigo, a le- mandava habilidade política. Era necessário que
var as not ícias a Davi, Aquitófel volta a casa, coloca- Davi dominasse seu pesar pessoal e mostrasse seu
a em ordem, e se enforca (v. 23): éo primeiro suicídio cuidado pela nação.
da Bíblia. Segundo, era áspero e rude. Afinal de contas,
Joabe falava com um rei, e ainda mais, mostrava-se
"Que Davi escapou mediante o serviço de Husai. indiferente ao pranto de Davi. Contudo o discurso
é verdade, mas não sabemos quanto ele teria perdido produziu bom resultado.
de experiência da mão salvadora de Deus. Quão fa-
cilmente nós também nos privamos, semelhante- O rei esperou para ser convidado a voltar (11.12).
mente, de gloriosas visões do poder divino! Quanto Porventura não há outro Rei que espera haver um
mais nos enriquecemos em expedientes, tanto mais povo disposto e ansioso pela sua volta? "Por que en-
empobrecemos as nossas vidas espiritualmente!" tão sois vós os últimos em fazer voltar o rei? " (Scrog-
(Grant) gie).
No versículo 23, em vez de "pós em ordem a sua Mefibosete encontra-se com Davi (24-30). O
casa", devemos ler "fez seu testamento" (R. 52). modo como Davi o trata é o de um homem que não
No versículo 25 "Jetra israelita " provavelmente pode deixar de reconhecer seu erro anterior, sem, po-
deve ser "ismaelita" de acordo com a versão dos rém. ter vontade de admitir a injustiça do seu pró-
L X X e 1 Crônicas 2.17. prio procedimento. Enganado pelo seu servo e obri-
gado à inação pela sua incapacidade. Mefibosete
evidentemente lastimava a ausência do seu benfei-
Capítulo 18 tor e amigo. Davi compromete-se com a sua cons-
ciência e a sua promessa a Ziba, mostrando por sua
A morte de Absalão. Neste capítulo podemos no- irritação falta de sossego e serenidade. O filho de Jó-
tar: natas manifesta o mesmo espirito do pai, numa afei-
1) O amável empenho de Davi pelo seu filho re- ção que não pode ser comprada e não pode ser dimi-
belde (v. 5). Como Deus não quer, Davi também nào nuída pela mudança do procedimento do seu prote-
queria a morte do pecador (embora fosse preciso lu- tor. "Fique ele muito embora com tudo, uma vez que
tar contra ele), e sim que fosse levado ao arrependi- o rei meu Senhor já voltou em paz à sua casa" (30)
mento e reconciliação. (Grant).
2) O incidente que resultou na morte de Absalão Admiramos a atitude e a conduta de Barzilai, um
(9): sua cabeça presa num carvalho. Possivelmente velho de respeito e recursos, "um homem muito ri-
sua cabeleira abundante (14.26) prendeu-o à rama- co", que antes quer servir do que ser servido.

115
1 Samuel

Barziiai, que nada quis para si, mandou o seu fi- tians Armoury (p. 406) oferece a sugestão que ela.
lho acompanhar Davi, e parece bem possível que não tendo filhos próprios, criou os filhos de Merabe;
Davi lhe tenha dado a velha casa paterna em Belém, e. por isso. segundo o uso judaico, foram chamados
chamada em Jeremias 41.17 "Gerate-Quimá" (hos- seus. De semelhante modo se diz de Moisés, quando
pedaria de Quimá, na versão espanhola de Pratt) adotado pela filha de Faraó, que veio a ser filho dela
que muito bem poderia ser a pousada onde o Senhor (Êx 2.10).
Jesus nasceu: aquele que é maior que Davi nasceu,
assim, no mesmo lugar onde o menino Davi nascera
séculos antes. Capítulo 22

Capitulo 20 Cântico de Davi. Este cântico é quase uma exata


repetição do salmo 18. As divisões podem ser como
A sediçáo de Seba. Não chegara o rei a Jerusalém segue:
antes que aparecesse a sombra daquilo que. uma ge- 1) Libertação produz louvor (1-7). Davi, estando
ração mais tarde, havia de resultar na independên- em perigo (5,6), recorre à oração (7); é-lhe outorgada
cia de Israel. a divina proteção (2,3) e ele levanta a sua voz em
A contenda entre Israel e Judá rebentou na pró- louvor (v.4). Porventura Deus é para nós o que foi
pria presença do rei. e Seba. filho de Bicri, benjami- para Davi - Rocha, Fortaleza, Libertador, Escudo,
Força, Torre, Refúgio, Salvador? (2,3).
ta, chefia uma nova revolta contra Davi. Os homens
de Israel, reunidos para honrar a Davi. seguem-no. e 2) Uma Revelação do Libertador (8-16). Todos os
a faísca de rebelião ameaça desenvolver-se em laba- recursos da poesia são empregados sem descrever as
reda. O rei chama Amasa para reunir Judá em perse- maravilhas da libertação divina e a grandeza do di-
guição de Seba. mas ele é moroso quando tudo de- vino Libertador.
pende de rapidez. Por isso Davi confia a Abisai a ta- 3) Davi relata o que Deus fez para ele (17-20).
refa de perseguir a Seba com a sua tropa. Os homens Havia muitos inimigos, mas Deus veio em seu socor-
de Joabe acompanham os outros, com Joabe á sua ro.
frente. O assassinio de Amasa restaura Joabe ao seu 4) Davi fala da sua justiça (21-35). Náo é de su-
antigo lugar à cabeça das tropas, onde seu bom êxito por que ele se julgue sem pecado. Apenas afirma a
na captura de Seba o retém. Tanto político e corajo- sua sinceridade, integridade e fidelidade em contras-
so como pouco escrupuloso, a figura de Joabe domi- te com as calúnias dos inimigos. Diz: "Não me apar-
na toda a última parte do reinado de Davi (Grant). tei impiamente do meu Deus" (22 Alm.)
5) Davi declara os princípios do divirto procedi-
mento (26-28). Ê sempre importante saber, não so-
Capitulo 21 'i mente como Deus faz, mas porque Ele faz.
6) Davi relata o que tem sido capacitado a fazer,
Fome em Israel. Davi consultou ao Senhor por sendo Deus o que é (29-32). Nosso comentário é:
motivo da fome, e recebeu a resposta surpreendente "Tudo posso, por Cristo que me fortalece".
"Há sangue sobre Saul e sobre sua casa, porque ma- 7) Louvor a Deus, por causa dos inimigos final-
tou os gibeonitas" (v. 1). mente subjugados. Devemos notar que o ânimo ma-
Foi um castigo atrasado, que não é o único referi- nifestado no V.T. não deve ser julgado pelo padrão
do na Bíblia, mas podemos notar como a própria Na- do N.T. A revelação e a experiência são progressivas,
tureza costuma agir de semelhante maneira. Quan- e sentimentos que podemos reconhecer como inevi-
tos homens na sua velhice sofrem dores e mágoas em táveis numa dispensação anterior são sem cabimen-
conseqüência de imoralidades praticadas na sua mo- to nesta presente dispensação. Comparemos o versí-
cidade? Podemos ter a certeza de que "o que o ho- culo 41 com Lucas 23.34. Nós náo podemos nos glo-
mem semeia isto ceifará", mas se a colheita será riar no infortúnio dos outros, por maus que sejam.
imediata ou não. no tempo presente ou na eternida-
de. nem sempre podemos dizer. Sabemos que essa Parece claro que este. e outros salmos têm um
fome foi "nos dias de Davi", mas náo sabemos preci- sentido profético. A Escritura afirma por toda parte
samente quando. que, afinal, os inimigos do Senhor serão destruídos.
Pode haver a aplicação pessoal, e os "inimigos" po-
Sem dúvida Davi fez bem em consultar a Deus dem representar para nós pecados e adversários espi-
sobre a causa do mal; mas, porventura, fez igual- rituais (Scroggie).
mente bem em consultar os gibeonitas sobre a cura?
Não havia, então, nenhuma lei em Israel para um tal
caso? Ou não podia ter pedido instruções a Deus Capitulo 23
sobre o procedimento adequado?
Mas, longe de procurar o parecer divino, Davi fez As últimas palavras de Davi (1-7). Notemos a
uma promessa incondicional aos gibeonitas: "O que descrição tríplice de Davi: 1) o homem que foi exal-
vós disserdes, isso vos farei" (v.4), e ouvindo a sua tado: 2) o ungido do Deus de Jaco (náo "de Israel");
exigência que sete filhos de Saul fossem enforcados, 3) o suave salmista de Israel (palavras, por suposto,
ele responde "EAX os darei". Nada de consultar nova- do editor e náo de Davi).
mente a vontade de Deus, e, em verdade, isso náo Notemos também, com cuidado, que Davi sen-
era preciso para recusar o pedido sanguinário. Já es- tiu-se inspirado por Deus ("o Espirito de Jeová fala
tava escrito no código de Israel "Nao se farão morrer por mim e a sua palavra está na minha língua", v.
os pais pelos filhos, nem os filhos pelos pais; cada ho- 2).
mem será morto pelo seu próprio pecado" (Dt 24.16). Podemos pôr estas palavras de Davi na mesma
Lemos em 2 Samuel 6.23 que Mical náo tinha fi- classe das dos profetas quando disseram "A palavra
lhos e em 2 Samuel 21.8 que tinha cinco. O Chris- de Jeová veio a mim, dizendo" (Jr 1.4, etc.)

116
Aqui, ao menos, temos a afirmação de "inspira- Capítulo 24
ção verbal" mui positiva, referindo-se aos sete versí-
culos que estamos estudando. A numeração do povo. Este último capitulo do li-
É quando Davi se torna simplesmente uma voz vro é um anticlimax. Que diferença entre 22.7 e capí-
(como o Batista), que fala de Outro, pelo qual toda a tulo 24!
doçura e melodia e caráter divino se manifestam. O dr. Goodman comenta assim:
Davi nos recorda aqui da sua origem humilde e da "Uma praga como esta, que destruiu 70.000 pes-
graça que o levantou. Ele é o ungido do Deus de Ja- soas, não é coisa rara entre as nações. (A epidemia
có. Aquele cuja glória é fazer da matéria mais humil- "espanhola" de 1918/19 matou muito mais do que is-
de um vaso para seu louvor. Assim, como o ungido to!) A coisa notável neste caso é que o motivo da ca-
de Deus, ele é mais o "suave salmista" de Israel de lamidade se revela, quando isso geralmente tem de
que o seu rei. E assim nossos corações o apreciam. ser adivinhado.
Que é o rei comparado com o salmista?" (Grant)
1) Originou-se em que "Tornou-se a acendera ira
O versículo 5 deve ser traduzido, provavelmente: a dizer [a JoabeJ: 'Numera a Israel eJudá'. Isto pa-
"Não é, em verdade, a minha casa assim com Deus? do reinado de Davi, a nação tinha caído numa deca-
Pois ele tem feito comigo um concerto eterno, orde- dência moral, e provocado a ira de Deus.
nado em todas as coisas e seguro. Ora, este concerto 2) Ao Diabo foi permitido incitar Davi a levantar
é toda a minha salvação e todo o meu desejo, pois o censo de Israel e Judá (1 Cr 21.1). Ele pôde fazer
não fará ele prosperar a minha casa?" isto somente pela permissão de Deus; por isso lemos
Os valentes de Davi (8-39). Há alguma dificulda- aqui que o pensamento veio de Deus, e em 1 Crôni-
de em determinar os nomes dos valentes de Davi cas que veio de Satanás. Satanás, por vezes, é o ins-
pelo presente relatório comparado com o de 1 Crôni- trumento de Deus em juízo. (Veja-se Jó 1 e 2; 1 Crô-
cas 11. Podemos entender que os primeiros três eram nicas 5.5; 1 Timóteo 1.20.) No Consultório Espiritual
a) Josebe-Basebete, o taquemonita, que enfrentou escrevi: " N o livro Christians Armoury temos a se-
800 (em 1 Crônicas 11.11 é 300) sozinho. As palavras guinte explicação: 'Uma tradução preferível de 2 Sa-
"este era Adino o esnita", sáo provavelmente uma muel 24.1 seria: outra vez a ira do Senhor se acendeu
tradução errada, e talvez deva-se ler "ele levantou a contra Israel, porque alguém moveu Davi contra eles
sua lança" (Goodman); b) Eleazar, filho de Dodó; e a dizer [o Joabe): 'Numera a Israel e Judá'. Isto pa-
c) Sama, cujo nome não está em 1 Crônicas 11 (tal- rece ser a verdadeira versão" (Consultório p. 77).
vez por erro de um copista). Ele defendeu um pedaço 3) O pecado de Davi tomou-se a ocasião da visi-
de terra cheio de lentilhas. tação (10-12). Foi um pecado de orgulho, de desobe-
Estes trés praticaram outra façanha notável diência, pois a Lei proibia numerar o povo sem que
quando, para matar a sede de Davi, buscaram água fosse pago um preço de redenção para cada homem
do poço em Belém, um ato atrevido, inspirado pelo (Êx 30.12). Foi pecado de blasfêmia, porque despre-
seu amor ao chefe. Impressiona-nos a abnegação e zou a expiação necessária; foi pecado contra a luz,
piedade de Davi, que recusou tomar a água que cus- porque Joabe já tinha protestado contra ele.
tou tão caro, e a derramou perante o Senhor. Uma consciência acusadora desperta-se, em se-
Com respeito a estes valentes, o dr. Scroggie no- guida, porém tarde demais. "O coração de Davi o
ta: acusou " e ele confessou o seu pecado e pediu perdão.
1) As notabilidades referidas, na sua maioria, gen Notemos que:
te obscura (24 a 29), eram valores diversos mencio- a) Foi o Senhor que mandou parar o anjo destrui-
nados (8 a 12; 13 a 23; 24 a 39). Tudo isto dá-se com dor (16).
os discípulos de Cristo hoje, e nos deve animar. b) Trouxe Davi ao verdadeiro arrependimento
2) As qualidades notadas. Coragem (8); lealdade (17).
(9.10); firmeza (11,12), e sacrifício (13 a 17). Que va- c) Ofereceram-se holocaustos e ofertas pacificas
lor teria a vida se lhes faltassem estas qualidades? (25) sobre o altar erigido na eira de Araúna, o jebu-
seu. Davi havia-se descuidado deste dever, quan-
3) Os inimigos encontrados. Eram numerosos, do fez o recenseamento, e a praga era o castigo pro-
variados, gigantescos. Nossos problemas espirituais metido pela negligência. (Veja-se Êxodo 30.12, "pa-
são complexos; nossas provações náo são monótonas. ra que não haja entre eles praga alguma por ocasião
4) As armas empregadas. Então náo era o tempo do alistamento".) O profeta Gade teve de adverti-lo
de canhões e trincheiras. Empregando lança e espa- a que não fizesse pouco caso do pecado, pela segunda
da, tiveram de lutar corpo a corpo com o inimigo. vez, na negligência, da expiação, mediante a qual
Confiados em Deus, fizeram uso dos recursos à sua esse pecado podia ser desfeito (v. 18).
disposição. Porventura fazemos nós o mesmo? d) A eira de Araúna sobre o monte Moriá, no qual
Abraão oferecera Isaque (Gn 22.2), e conhecida de-
5) O fim obtido. O reino ficou estabelecido pela
pois como área do templo, chegou a ser o lugar predi-
sua ação unida e individual; pelas suas empresas to em Deuteronômio 12.11,14. Foi ali que Salomão
particulares e públicas; pela sua completa devoção edificou seu templo (2 Cr 3.1) e ainda é o lugar santo,
ao rei. Ê somente assim que o reinado de Cristo pode o desejo de Israel, o único lugar onde é permissível
ser estabelecido. oferecer sacrifícios, embora esteja atualmente pisa-
6) O prêmio da fidelidade. Quando Davi chegou do pelos gentios, de acordo com a palavra do Senhor
ao trono, não se esqueceu dos seus amigos. Nem se em Lucas 21.24.
esquecerá Cristo dos seus.
A resolução de Davi "Não oferecerei ao Senhor
7) Os nomes omitidos. O galardão será para os holocaustos que não me custem nada" (v. 24) merece
leais e verdadeiros; não para os egoístas. a nossa imitação.
1 Samuel

Analisando o recenseamento aqui e em 1 Crôni- REFERÊNCIAS NO NOVO T E S T A M E N T O A O


cas. diz o dr Scofield: " A força militar total de Israel • LIVRO DE 2 SAMUEL
era 1.100.000 e de Judá 500.000. O número de ho-
mens em serviço ativo era, de Israel 800.000 e de Ju- 2 Sm 7.12,13 At 2.30, e 13.36
dá 470.000". 7.14 Hb 1.5
12-24 Mt 1.6 (Angus).

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1

Mi

118
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rimeiro Reis recorda a 4.6. O regozijo do rei e do povo (8.52-66; 2 Cr 7.1-
morte de Davi, o reina- 10).
do de Salomão, a edifi- 4.7. A consagração do templo (9.1-9; 2 Cr 6.11-22).
cação do templo, a divi- 4.8. As possessões do rei <9.10-28; 2 Cr cap. 8).
são do reino sob Reo- 4.9. A visita da rainha de Sabá (cap. 10; 2 Cr cap.
e a história dos dois reinos até o rei- 9).
nado sobre Judá e Acazias sobre Samaria. 5. O pecado e a queda de Salomão (cap. 11).
Inclui ministério de Elias, 5.1. O declínio do rei (11.1-13).
sete partes: 1. Da rebelião de Adonias 5.2. A divisão do reino (11.14-43).
a morte Davi (1.1 a 2.11). 2. Da ascensão de Salo-
mão à dedicação do templo (2.12 a 8.66). 3. Da con- O REI S A L O M Ã O
firmação da aliança davidica até a morte de Salo-
mão (9.1 a 11.43). 4. Da divisão do reino à morte de
Jeroboão e Reoboào (16.1 a 14.31). 5. Os reinados até "Abraão era 'o amigo de Deus' e Davi 'o homem
a ascensão de Acabe (15.1 a 16.28). 6. Da ascensão de segundo o coração de Deus', mas Salomão não andou
Acabe até a sua morte (16.29 a 22.40). 7. Do reinado nos caminhos deles. Sua história tem algumas boas
de Josafá á ascensão de Jorão sobre Judá e Asa sobre notas; sua primeira humildade, sua sensata escolha
Samaria (22.41-54) - (Scofield). de sabedoria, a construção do templo e sua notável
oração à dedicação. Mas, salvo isso, que mais há
ANALISE DE 1 REIS CAPS. 1 a 11 e 2 CRÔNICAS 1 para seu crédito? Era homem de muita habilidade:
botânico, zoólogo, arquiteto, poeta e filósofo moral;
a9
contudo, era um homem que carecia de energia e ca-
1. Salomão apontado como rei (cap. 1 a 2.9). ráter.
1.1. A usurpação de Adonias (1.1-31). "Moisés tinha avisado que os futuros reis de Is-
1.2. A ordenação de Salomão (1.32-53). rael não deveriam multiplicar para si riquezas, cava-
1.3. As instruções a Salomáo (2.1-9). los nem mulheres (Dt 17.14-20), mas Salomão fez
2. O estabelecimento de Salomão como rei (caps. tudo isto, e 'as mulheres estrangeiras o fizeram catr
2.10-46). no pecado' (Ne 13.26) de sensualidade e idolatria.
2.1. A matança dos seus inimigos (10-46). Ele tomou para si 700 mulheres, e algumas delas
3. A sabedoria e riqueza de Salomão (caps. 3 e 4). dentre as próprias nações contra quem Israel tinha
3.1. A revelação a Salomão (3; 2 Cr 1.7-13). sido advertido (1 Rs 11.1,2).
3.2. A reputação de Salomão (cap. 4). "Disto resultou a .introdução de falsos cultoa,
4. O templo, e a casa de Salomão (caps. 5 a 10). pelo que o juízo de Deus foi pronunciado contra ele.
4.1. A preparação para o templo (cap. 5;2 Cr cap. "Se qualquer homem pudesse ter ficado satisfei-
2).
4.2. A construção do templo (cap. 6 e 7; 2 Cr cap. 3 to por haver adquirido tudo quanto queria, esse ho-
mem teria sido Salomáo; contudo, ele escreveu (no
a &.1). Eclesiastes) que tudo debaixo do sol é vaidade e ve-
4.3. A dedicação do templo (8.1-21; 2 Cr cap. 5.2- xame de espirito. Em Salomão vemos o egoísmo no
14) 4.4. A súplica do rei (8.22-53; 2 Cr cap. 6.12-42). seu pleno desenvolvimento, com o resultado de fas-
4.5. A bênção do rei (8.54-61; 2 Cr cap. 6.1-11). tio e aborrecimento" (Scroggie).

119
1 'Reis
Capítulo 1 Capitulo 3
Velhice de Davi e revolta de Adonias (1-31). Re- Salomão pede sabedoria. Começa o capitulo com
cordamos a sentença contra Davi em 2 Samuel Salomão entrando em jugo desigual com uma des-
12.10: "Agora da tua casa não se apartará jamais a crente, mas ao mesmo tempo lemos que ele "amava
espada". De seu» Olhos, Amnom fora assassinado a Jeová" (v. 3).
por Absalão. e Absalão morto na batalha contra seu Deus queria abençoá-lo, mas deixou a ele a esco-
pai; e agora outro filho, Adonias, procura lançar mão lha. Se nós estivéssemos no mesmo caso, que bênção
do trono do pai, e morre assassinado (2.24,25). havíamos de escolher? A coisa que o fiel servo de
O caráter desenfreado de Adonias compreende-se Deus mais aprecia é poder melhor desempenhar o
do versículo 6: "Nunca o seu pai o contrariou, dizen- serviço que lhe compete. Por isso Salomão pediu um
do: Por que fizeste isto?" Os filhos criados sem disci- coraçào dócil e inteligente.
plina, como Adonias (e talvez seu irmão Absalão?), E ele recebeu mais do que pediu, pois Deus gosta
chegam a ser homens malcriadas. de dar abundantemente. Quando, porém, Deus lhe
Estranhamos ver o sacerdote Abiatar tomando deu riquezas, ele devia ter usado um pouco da sabe-
parte nesta revolta mais do que Joabe. doria que Deus lhe dera para saber como empre-
Mas o profeta Natã é fiel, e toma as providências gá-las.
necessárias (11-14), e Davi, compreendendo bem a "Mulheres prostitutas" (v. 16). A palavra zanoth
urgência da situação, manda ungir Salomão como traduzida aqui "prostitutas" é traduzida pelo targu-
rei. Ele, Davi, é bastante sensato para náo tentar go- mista (o melhor juiz nestes casos), "donas de pensão
vernar quando lhe faltam as forças para isso. Note- ou taberna", como em Josué 2.1 e Juizes 11.1. Se as
mos que Davi tinha uma especial afeição por Salo- mulheres tivessem sido prostitutas, náo é provável
mão e dedicoü-lhe dois dos seus salmos - 72 e 127. Ê que tivessem ousado comparecer perante o rei.
provável que ele tenha reconhecido que em Salomão
a promessa de 2 Samuel 7.12,13 havia de ser cumpri- Capítulo 4
da.
Prosperidade do reinado de Salomão. Três coisas
O fracasso da trama de Adonias (41-53). O dr. distinguem este reinado - uma figura do reino mile-
Goodman nota as seguintes lições: nial:
1) Como fica fraco o amotinador quando abando- 1) Aumento e prosperidade (v. 20). A expressão
nado pelos companheiros. "como a areia que está à beira do mar" faz-nos pen-
2) Quão facilmente homens maus abandonam sar em Gênesis 22.17. Em prosperidade material, a
uma causa desacreditada. naçào nunca passou além deste período.
3) Quão terrível era a notícia: "O rei Davi, nosso 2) "Paz por todo o derredor" (v. 24). Significa
senhor, constituiu rei a Salomão". que as nações vizinhas estavam em sujeição.
4) As pontas do altar para onde Adonias fugiu 3) Segurança. "Cada qual... debaixo da sua vi-
não lhe deram segurança.
deira e debaixo da sua figueira" (v. 25).
5) O novo rei agiu com misericórdia: Adonias náo
Quanto a Salomão mesmo, ele foi abençoado
tinha desculpa nem defesa: era culpado, e, por isso, com:
sua única esperança era a misericórdia.
1) Sabedoria, entendimento e targueza de cora-
6) A condição que Salomão marcou (52) era se-
ção. Contudo vemos no versículo 26 mais um despre-
melhante á palavra: "Há perdão contigo, para que
zo da lei de Deus, na multiplicação de cavalos (Dt
sejas temido" (SI 130.4). A graça nâo pode ser me-
17.16). Se Salomão mesmo escrevesse para si uma
nosprezada. Quando existe o propósito de abando-
cópia da Lei, como fora mandado (Dt 17.18), ele ha-
nar o pecado é que se oferece o perdão.
via de saber que era desobediente.
2) Habilidade literária e poética. Alguns dos seus
Capítulo 2
provérbios e palavras sábias têm sido conserv ados no
livro de Provérbios.
Davi dá conselhos a Salomão, e morre. Neste
3) Amor pela história natural (v. 33). Ele estudou
capítulo quatro homens morrem: Davi. de velhice; e
botânica e a biologia. Se a alma de Salomão tivesse
os outros três pelas suas iniqiiidades.
prosperado como seu reino terrestre, ele náo teria re-
O conselho que Davi dá a Salomão sobre seu pró- sumido a sua experiência nas palavras amargas de
prio procedimento é sensato e necessário. Aconse- Eclesiastes 2.17: "assim aborreci a vida" (Good-
lhou energia, coragem e piedade espiritual. Ensinou- man).
lhe a obediência à lei de Deus e referiu-se á promessa
condicional do Salmo 132.12.
Capítulos 5 a 7
Refere-se a última parte da advertência ao reto
juízo que havia de apanhar três homens iníquos. E
A construção do templo. "Segundo os cálculos de
triste quando as últimas horas de um servo de Deus
Anstey, os alicerces do templo foram postos no ano
precisam ser ocupadas com retribuições. Contrasta-
950 a.C. ou 3039 anos depois da criação de Adáo. A
mos com isto a mensagem de Paulo a Timóteo: "Mas
construção levou sete anos e meio". Salomão cons-
o fim desta admoestaçáo é o amor" (1 Tm 1.5).
truiu-o de pedra, e em silêncio.
O Christian 's Armoury, p. 394, prova ser necessá-
O templo foi construído 480 anos depois do Êxo-
rio uma emenda na tradução do versículo 9: "Náo o
do (v. 61), e destruído por Nabucodonosor (2 Rs 25)
tenhas por inocente |porque tu és um homem sábio e
430 anos mais tarde. Na volta do Cativeiro sob Ee-
saberás o que hás de fazer com eleJ. Não farás, po-
dras e Neemias, foi construído outro templo, que foi
rém, que as suas cãs desçam com sangue á sepultu-
aumentado e embelezado por Herodes. Este era o
ra ". Simei foi morto mais tarde (v. 46) por uma nova
templo do tempo de nosso Senhor: foi destruído por
desobediência.
T i to em 70 a.C.

120
me»

0 tabemáculo fora construído segundo o plano 6) O dia de batalha (44,45).


mostrado a Moisés no monte Sinai, e o templo se- 7) O cativeiro (46-48).
gundo a planta dada por Davi a Salomão (1 Cr O templo havia de ser para Israel o que o trono da
28.11,12): "Foi por um escrito da sua mão, disse Da- graça é para nós: o lugar donde recebemos misericór-
vi, que Jeová me revelou tudo isso, todas as obras do dia e graça (Hb 4.16).
modelo" (1 Cr 28.19). Assim, tanto o tabemáculo Quando Jonas estava nas entranhas do grande
como o templo tiveram Deus por seu arquiteto. Ne- peixe, ele orou: "todavia eu tornarei a olhar para o
nhum outro edifício no mundo tem semelhante dig- teu santo templo" (Jn 3.4).
nidade. "Vinte dois mil bois e cento e vinte mil ovelhas
Ambos tinham o mesmo estilo: um pátio exterior sacrificadas" (8.63). "Não havemos de entender que
onde estava o altar de bronze e o lavatório; um san- todos foram sacrificados no mesmo dia ou no mesmo
tuário, dividido em lugar santo e lugar santíssimo, e, altar, mas durante todos os 14 dias". É provável que
neste último, a arca com o propiciatório, formando, a carne tenha servido para o sustento da multidão
assim, em figura, o trono de Deus. Como o tabemá- reunida.
culo, o templo havia de ser a morada de Deus no
meio de Israel (6.13). Capitulo 9
1 Reis 7.14 dá a mãe de Hiráo como da tribo de
Naftali, e 2 Crônicas 2.14 como "mulher das filhas Deus adverte Salomão. "Apareceu-lhe segunda
de Dá". Quatrocentos anos antes (Jz 18.1-29), os da- vez, como lhe tinha aparecido em Gibeom" (v. 2).
nitas tinham tomado posse de um vale nos limites de Notemos:
Naftali, e mudado o nome da cidade de Laís para 1) A resposta a oração. A casa ficou consagrada.
Dâ. Assim a mulher era de Dã e também de Naftali Era de pensar que uma tal honra como ter o nome de
(A. 393). Jeová ligado para sempre ao templo que fizera, teria
"As duas colunas de bronze" (7.15) com a altura resguardado Salomão da idolatria.
de 18 cúbitos, ou, em Crônicas, de 35 cúbitos. "The- 2) A promessa referente ao reino (v. 5). "Estabe-
millius explica esta diferença por observar que o cú- lecerei o trono do teu reino sobre Israel para sem-
bito comum era a metade do cúbito do santuário" pre". Se Salomão tivesse tido bastante interesse em
(T.237). estabelecer a sua dinastia, não teria deixado a seu fi-
lho tão mau exemplo (1 Rs 12.4).
Capítulo 8 3) O aviso solene. N o caso de haver desobediên-
cia e idolatria: a) Israel havia de ser desterrado; b) o
A dedicação do templo (1-11). " O templo estava templo havia de ser "lançado longe da presença de
no Monte Moriá, enquanto Sião, a cidade de Davi, Deus" (v. 7); c) Israel havia de ser um provérbio e
ocupava o sítio da velha cidadela jebusita, de manei- motejo de todos os povos. Tem-se verificado isto por
ra que não era longe para levar a arca da cidade de toda a parte para onde os judeus têm sido dispersos.
Davi ao templo" (v. 1).
Neste capítulo vemos que "Oferecia Salomão
A arca do concerto, que foi levada nos ombros dos três vezes cada ano holocausto e ofertas pacíficas
coatitas, continha somente as tábuas de pedra (v. 9). sobre o altar que edificara a Jeová", por isso ainda
Em Hebreus 9.4 lemos que antigamente continha não tinha caído na idolatria - ou estava misturando
também o vaso de maná e a vara de Aarão (Êx 16.33; o culto de Deus com o culto dos ídolos!
Nm 17.10).
Salomão fala ao povo (12-21). Estranhamos as
suas primeiras palavras, "Jeová disse que habitaria Capítulo 10
na escuridão". Não há nenhuma escritura nesse sen-
tido; e não concorda com 1 Timóteo 6.16. A explica- A rainha de Sabá visita Salomão (1-13). Aqui te-
ção é, provavelmente, que Salomão se referiu ao mos uma linda figura do Evangelho de Cristo, aquele
santíssimo, onde não havia luz. A arca estava na es* que é maior do que Salomão,
curidão, exceto pela glória divina e luminosa. "Duas coisas impressionaram a rainha: a sabedo-
Oração dedicatória (22-63). A oração mais longa ria de Salomão e a sua prosperidade, reveladas no
da Bíblia, e uma das mais notáveis. Salomão esten- magnífico templo, e no aspecto dos seus ministros e
deu as mãos para o Céu (v. 22) e orou de joelhos (v. servos.
54). A sua oração: a) engrandece a Deus como quem "Ela trouxe questões difíceis, mas ele respondeu
guarda a sua aliança (v. 23); b) relembra a sua pro- a tudo. Ela ouvira um boato da grandeza de Salo-
messa a Davi: "não te faltará diante de mim um su- mão e veio verificar a verdade. Ao descobri-la, não
cessor" (v. 25); c) reconhece que nenhum edifício é tinha mais orgulho de si como uma grande rainha (v.
suficiente para conter Deus (v. 27). 5), pois descobriu que o boato estava 50% aquém da
" A oração é dividida em sete seções, cada uma realidade:
considerando um caso de necessidade que podia 1) "Ela faz uma confissão: 'Eu não dei crédito ás
acontecer em Israel; repete-se sete vezes a sentença: palavras até que vim' (7).
"Ouve no céu, lugar da tua habitação; e, quando ou- 2) "Ela declara serem felizes as pessoas que esta-
vires, perdoa". vam perante o rei e ouvem a sabedoria dele (v. 8).
Os casos contemplados são: 3) "Ela bendiz o Deus de Israel por dar um tal rei
1) Um juramento entre duas partes (31,32). ao povo (v. 9).
2) Uma derrota do exército (33,34). 4) "Ela abre seus tesouros e dá abundantes pre-
3) Tempos de seca (35,36). sentes ao rei. Parece que ela abriu o caminho para
4) Fome e peste (37-40). Salomão negociar com a índia, pois o território dela
5) Um estrangeiro que invoca o nome do Senhor não era longe de Ofir, o porto pelo qual o comércio da
(41-43). índia chegava ao Oeste (v. 11).

121
1 M s

5) "Ela recebeu de Salomão tudo o que desejava tivo desejo de servir a Jeová tinha sido vencido pelo
e ainda mais (v. 13), pois um rei tão grande não ha- desejo de agradar as suas mulheres pagãs. Seus últi-
via de ficar-lhe devendo. mos anos são caracterizados por decadência moral, e
"Tudo isto gostamos de transferir em figura a idolatria. Nem tampouco ouvimos do seu arrependi-
Cristo. Ele é maior que Salomão, e seu suprimento mento no final da vida. Alguns pensam que ele es-
real excede ao de Salomão em toda a sua glória. creveu Eclesiastes no fim da vida, mas é difícil acre-
Muitos pecadores, ouvindo a fama de Cristo, como ditar que um idolatra idoso tivesse escrito semelhan-
de um Salvador grande e misericordioso, têm vindo te livro religioso.
ter com Ele, e verificado que a notícia é verdadeira, e O lar de Salomão era afligido pela praga da poli-
confessam que não acreditavam antes de vir, mas já gamia. e seu reinado com a praga do despotismo, por
descobriram que 'nem a metade se lhes disse', por- isso a sua prosperidade era oca e falsa. As alturas sáo
que a sua graça ultrapassa a sua fama. Felizes deve- lugares perigosos. Quanto maiores nossos privilégios,
ras sáo os seus servos!" (Goodman).
mais pesadas as nossas responsabilidades.
Riquezas de Salomão (14-28). Este relatório, que
revela a magnificência da corte de Salomão, e a pros- Jeroboão e Atas, o servo e o profeta. Salomão viu
peridade a que Israel atingiu nos seus dias, descorti- que Jeroboão "era um moço laborioso", mas não
na, em parte, a causa da sua queda. teve o cuidado de verificar o seu caráter, o que era
mais importante do que seu serviço.
Em todo o relatório, nada se diz da sua vida reli-
giosa. Prosperidade material não promove cresci- Jeroboão é referido muitas vezes na Bíblia com
mento espiritual. Salomão ocupa um bom lugar na um apelativo terrível: "Jeroboão, o filho de Nebat,
história sagrada, mas náo tem lugar em Hebreus 11. A que fez pecar a Israel". A sua influência sobre o povo
sua história é triste, e na perspectiva dos séculos ele que chegou a governar era péssima. Cada um hoje
é pouco mais do que uma sombra. tem alguma influência, ao menos sobre a sua própria
"Desejo chamar a atenção da mocidade para o família.
versículo 17 ligado com 14.26. Salomão fez 300 escu-
dos de ouro, e todos eles foram levados mais tarde Mas Deus. às vezes, emprega os homens maus
por Sisaque, rei do Egito. Reobão, filho de Salomão, para castigar os seus servos desobedientes: e esta vez
substituiu-os por escudos de latáo (14.27). Há mui- serve-se de Jeroboão, advertindo-o disto pela boca
tos escudos de ouro que são a nossa herança, que de- do profeta Aías. E até lhe faz uma promessa da pro-
vemos guardar com todo o cuidado:, teção divina, no caso de ele ser obediente à santa lei
1) " O escudo da simplicidade, singeleza, e can- de Deus (v. 38).
dura. Quando uma pessoa se torna vaidosa e orgu- A morte de Salomão (41-42). Salomão morre com
lhosa. ou está mais preocupada com o que traja do a idade de 58 a 59 anos, havendo reinado 40 anos
que com o que é, então tal pessoa perde o seu escudo sobre Israel. Nada se diz sobre seu possível arrepen-
de ouro e obtém um de latáo. dimento da imoralidade e idolatria dos seus últimos
2) " O escudo da verdade. O dr. Arnold de Rugby, anos.
o célebre professor, considerou a veracidade como a
base de toda a verdadeira hombridade. Confiou ab- De passagem, podemos notar a alusão aos livros
solutamente na palavra dos seus alunos, e os rapazes (por suposto, apócrifos ou não inspirados) conheci-
disseram: 'Seria uma vergonha pregar uma mentira dos nesses tempos primitivos. Um é mencionado no
a Arnold, porque ele sempre acredita na nossa pala- versículo 41, "o Livro dos atos de Salomão", e mais
vra'. É melhor ser verídico do que habilidoso. três em 1 Crônicas 29.29; a História do vidente Sa-
3) " O escudo da pureza. Este é muito fácil de se muel, a História do profeta Natã e a História do vi-
perder: pensamentos impuros, palavras impuras, qua- dente Gade. O livro de Jaser é referido em Josué
dros impuros contaminam. Que sejamos asseados 10.13 e 2 Sm 1.18.
em corpo e mente! Somente os puros de coração ve-
rão a Deus. A seguir, damos a Análise do restante dos livros
Pensem também dos escudos da honra, da reve- dos Reis, traduzida do escrito do dr. Scroggie. A es-
rência, do amor. Mas como podemos guardar os nos- pecial importância desta Análise é que apresenta os
sos escudos? Leiam-se Gênesis 15.1 e Provérbios diversos profetas nos seus lugares cronológicos e refe-
30.5. Cristo é o grande Escudo, capaz de guardar to- ridos aos diferentes reis em cujo reinado profetiza-
dos os nossos, se contamos com E l e " (Scroggie). ram.
O reino de Judá, é o reino do Sul (S). O de Israel é
Capítulo 11 o do Norte ( N ) .
Alianças fatais (1-13). "O seu coração não era Reoboáo e Jeroboão antes da separação (1 Reis
perfeito para com Jeová seu Deus" (v. 4). Seu primi- 12.1-19; 2 Cr 10).

ANÁLISE DE 1 REIS cap. 12 a 2 REIS cap. 25. E de 2 CRÔNICAS cap. 10 a 36:


Rei Reino Caráter Referência

Reoboão Sul Mau 1 Rs 12.20-24; 14.21-31; 2 Cr 11 e 12


Jeroboão Norte Mau 1 Rs 12.25 a 14.20
Abião Sul Mau 1 Rs 15.1-8;2 Cr 13 a 14.1
Asa Sul Bom 1 Rs 15.9-24; 2 Cr 14.1 a cap. 16
Nadabe Norte Mau 1 Rs 15.25-28
Baasa Norte Mau 1 Rs 15.28 a 16.7
Ela Norte Mau 1 Rs 16.8-10

122
1 'Reis

Zinri Norte Mau 1 Rs 16.10-20


Onri Norte Mau 1 Rs 16.21-28
Acabe Norte Mau 1 Rs 16.29 a 22.40
Ministério de Elias 1 Rs 17 a 2 Rs 2
Josafá Sul Bom 1 Rs 22.2-33,41-50; 2 Cr 17 a 21.1
Acazias Norte Mau 1 Rs 22.51 a 2 Rs 1.18
Ministério de Eliseu 2 Rs 2 a 13
Joráo Norte Mau 2 Rs 1.17 a 9.26
Jeorão Sul Mau 2 Rs 8.16-24; 2 Cr 21.1-20
Acazias Sul Mau 2 Rs 8.25-9.29; 2 Cr 22.1-9
Jeú Norte Mau 2 Rs 9 a 10.36
Atália Sul Má 2 Rs 11; 2 Cr 22.10 a 23.21
Joás Sul Bom 2 Rs 12; 2 Cr 24
Ministério de Joel 2 Rs 12 a 17
Joacaz Norte Mau 2 Rs 13.1-9
Jeoás Norte Mau 2 Rs 13.10-25
Ministério de Jonas 2 Rs 13 a 14
Amazias Sul Bom 2 Rs 14.1-20; 2 Cr 25
Jeroboão II Norte Mau 2 Rs 14.23-29
Ministério de Amós 2 Rs 14.21 a 15.7
Aza rias (ou Uzias) Sul Bom 2 Rs 14.21,22,15.1-7; 2 Cr 26
Zacarias Norte Mau 2 Rs 15.8-12
Salum Norte Mau 2 Rs 15.13-16
Menaém Norte Mau 2 Rs 15.17-22
Ministério de Oséias 2 Rs 14.23 a 29
Pecaia Norte Mau 2 Rs 15.23-26
Peca Norte Mau 2 Rs 15.27-31
Jotâo Sul Bom 2 Rs 15.32-38; 2 Cr 27
Ministério de Isaías 2 Rs 15 a 20; 2 Cr 26 a 32
Acaz Sul Mau 2 Rs 16; 2 Cr 28; Is 7 a 12
Oséias Norte Mau 2 Rs 17
(último rei do reino de Israel)
Ministério de Miquéias 2 Rs 15.32 a cap. 20; 2 Cr 27 a 32
Bzequias Sul Bom 2 Rs 18 a 20; 2 Cr 29 a 32; Is 36 a 3
Manassés Sul Mau 2 Rs 21.1-18; 2 Cr 33.1-20.
Ministério de Naum 2 Rs 21 a 24-7; 2 Cr 33 a $6.8
Amom Sul Mau 2 Rs 21.19-26; 2 Cr 33.21-25
Josias Sul Bom 2 Rs 22 a 23.30; 2 Cr 34 e 35
Ministério de Sofonias 2 Rs 22 a 24.7; 2 Cr 34 a 36.21
Joacaz Sul Mau 2 Rs 23.31-34; 2 Cr 36.1-4
Joaquim Sul Mau 2 Rs 23.34 a 24.6; 2 Cr 36.5-8.
Ministério de Habacuque 2 Rs 23.31 a 24.16; 2 Cr 36.1-10
Ministério de Daniel 2 Rs 23.35 a 25.30; 2 Cr 36.5-23
Joaquim Sul Mau 2 Rs 24.8-16; Cr 36.8-10
Zedequias Sul Mau 2 Rs 24.17 a 25.21; 2 Cr 36.11-21; Jr
52.1-30
Ministério de Ezequiel 2 Rs 24.17 a 25.30; 2 Cr 36.11 (574 a.C.)
Ministério de Obadias, Lamentações 'f? \ f " 2 Rs 25.22-26; 2 Cr 36.17-21

Gedalias governador, ^ T» — -- 2 Rs 25.22-26


Joaquim restaurado 2 Rs 25.27-30; Jr 52.31-34

M E N S A G E M DO REINO DIVIDIDO denúncia de Obadias da exaltação de Edom sobre a


queda de Jerusalém, à mensagem de Jonas e Nínive,
1 Rs 12 a 2 Reis 2õ; 2 Crônicas 10 a 36 uns 200 anos antes. Não é de est ranhar, por isso, que
a maioria tenha uma idéia mui vaga da história do
Para a maioria dos leitores da Bíblia, o período V. T . Proponho-me aqui a mostrar, resumidamente,
que agora vamos estudar é o mais difícil de entender. o curso deste período para que seja lido e estudado
Quando, porém, entendido, é talvez o de maior pro- inteligentemente.
veito. A ordem dos livros do V. T., nas nossas Temos visto que o reino unido foi governado por
Bíblias, náo é cronológica, e isso explica a dificulda- três reis, Saul, Davi e Salomão, durante um período
de que surge aqui. Costumamos ler a Bíblia seguida- de 120 anos. Depois o reino foi dividido, como o pro-
mente; e sem dificuldade passamos do livro de Es- feta dissera, por causa do pecado de Israel. As duas
ter ao de Jó, que viveu uns 1.000 anos mais cedo. partes foram;
Passamos do fim do Cativeiro, em Daniel, aos últi- 1) O Reino do Norte (Israel) com seu centro, pri-
mos dias do reino de Israel em Oséias. Passamos da meiro em Siquém, e depois em Samaria. Era com-

123
lHeis
posto de dez das doze tribos e foi governado por 19 este trecho em quatro partes: 1) O rogo (2-4). 2) A re-
reis, dividido em nove dinastias. Estas tribos foram solução (6-11). 3) A resposta (12-15). 4) A revolução
afinal levadas ao cativeiro para a Assíria, por Salma- (16-20).
nezer, e nunca mais voltaram. Reoboão herdou um reino no auge da prosperida-
2) O Reino do Sul (Judá), com seu centro em Je- de, e dentro de poucos dias, pela sua irresolução, or-
rusalém. composto de duas das doze tribos foi gover- gulho, estupidez e insoléncia o desorganizou. Note-
nado por 19 reis e uma rainha, todos da mesma di- mos o seu desprezo pela experiência (6-8); o seu re-
nastia. Estas tribos foram levadas ao cativeiro por curso à loucura (9-11); a sua jactáncia (14); o seu
Nabucodonosor, para a Babilônia, mas depois um abuso de poder (14); e, mais notável ainda, a sua fal-
grande número dos seus componentes voltou. ta de oração a Deus (Scroggie).
Ê de imensa importância compreender aqui Dez tribos rebelam-se (16-19). A glória mundana
como os profetas foram distribuídos nesta história e de Salomão somente se obteve á custa da opressão.
a qual dos reinos suas profecias se referiam. Para Fez pesado o jugo do povo. Isso exatamente Samuel
descobrir isto, vamos dividir os profetas em três clas- predissera (1 Sm 8.11-18). O povo das dez tribos pro-
ses (esses cujas profecias aparecem em livros ) como cura alivio na rebelião, mas isso resultou somente se
segue: acharem em pior situação, sob um rei mais iníquo.
1) Profetas antes do Cativeiro: O reino dividido (21-33). O reino unido, que con-
a) Em Israel: Jonas. Amós, Oséias, Miquéias. tinuara por 120 anos, está terminado. A capital do
b) Em Judá: Joel, Isaías, Miquéias, Naum, reino do Sul era Jerusalém e a do Norte, primeiro Si-
Sofonias, Habacuque e Jeremias. quém (v. 25), e depois Samaria. O reino do Norte
2) Profetas durante o Cativeiro: (chamado o de Israel) teve 19 reis, todos maus; e o do
Obadias, Ezequiel, Daniel. Sul (chamado o de Judá) teve 19 reis e uma rainha,
3) Profetas depois do Cativeiro: alguns dos quais foram bons.
Ageu, Zacarias, Malaquias. Notemos duas coisas: 1) A tentativa de Reoboão
Ocupa-se o estudo presente com a primeira clas- de remediar o mal que fizera (21-24), da qual logo
se, e havemos de indagar em qual reinado cada um teve de desistir, porque Jeová lhe disse pela voz do
profetizou, pois isso é a chave da própria profecia e profeta Semaías: "Isso veio da minha parte" (v. 24).
lança uma nova luz sobre as circunstâncias que a 2) Jeroboão reconhece o poder da religião na vida
motivaram. do povo. Os que não têm Deus precisarão de deuses
Na maioria dos casos, esta investigação histórica (v. 28). Há duas coisas que podemos observar no pro-
pode ser feita por examinar os começos da mesma cedimento de Jeroboão: ensinou o povo que era "de-
profecia, mas em alguns casos isso não pode ser defi- mais " ir a Jerusalém para o culto divino, e fez o culto
nitivamente resolvido. falso parecido com o culto verdadeiro.
Durante os reinados dos dez primeiros reis de Is-
rael, isto é, de Jeroboão a Jeú, e dos nove primeiros Capítulo 13
reis de Judá, de Reoboão a Amazias, não houve ne-
nhum profeta que deixasse um livro escrito. Mas, Enquanto Jeroboão está oferecendo sacrifícios
durante esse período, houve muitos outros profetas aos bezerros de ouro que fizera èm Betei, vem um
sem livros, a saber: Aias, Semaías, Azarias, Jeú, Ha- profeta de Deus (cujo nome não sabemos) e denun-
nani, Elias, Eliseu, Micaías e Jaaziel. cia o altar idolátrico.
Os dez dos 16 profetas com livros, que floresce- Jeroboão estende a mão para o prender, e em se-
ram antes do Cativeiro, devem ser lidos juntamente guida a sua mão fica paralisada e o altar da idolatria
com a história dos reis em cujos reinados profetiza- é milagrosamente fendido.
ram. Imediatamente Jeroboão deseja a cura, e roga ao
Sem dúvida, o relatório duplo dado em Reis e profeta: "Consegue o favor de Jeová teu Deus, e ora
Crônicas, tem confundido alguns leitores; torna-se, por mim ". Mas ele não ora por si mesmo nem reco-
porém, simples se nos lembramos de certos fatos: nhece Jeová como seu próprio Deus!
a) A história dos dois reinos é dada simultanea- Em seguida o profeta anônimo recebe dois convi-
mente desde I Rs 12 a 2 Rs 17, o capítulo em que Is- tes para jantar: um do rei, que recusa, e outro de
rael é levado cativo. "um velho profeta", que aceita, apesar de ter sido
b) A história de Judá continua por si só de 2 Reis proibido por Deus de comer em Betei.
18 a 25. O velho profeta ganhou seu hóspede mediante
c) A história de Israel è omitida em Crônicas. uma mentira - por que não sabemos - e assim conse-
d) O grande período desde a morte de Salomão ao guiu a desobediência e a morte de um colega.
cativeiro de Judá está recordado de três pontos de A lição do incidente é que devemos obedecer á
vista distintos: Palavra de Deus ao pé da letra; que uma aparência
1) O ponto de vista Real nos livros dos Reis. de espiritualidade pode ser enganosa; que o compa-
2) O ponto de vista Sacerdotal nos livros de Crô- nheiro da nossa desobediência pode ser o primeiro a
nicas. nos denunciar (v. 21).
3) O ponto de vista Profético nos livros dos Pro- Notemos que o primeiro não é chamado profeta
fetas. mas "um homem de Deus" (v. 1). Pode bem ser que
Estes três aspectos da história são independen- nunca tivesse estudado na "escola de profetas". E
tes, mas todos necessários para um completo enten- provável que tivesse considerado o "vçlho profeta"
dimento do período. do versículo 11 como seu superior eclesiástico, e, por
isso, obedecesse mais facilmente.
Capítulo 12 As palavras "que o tinha feito voltar", no versí-
culo 20, devem ser provavelmente "a quem tinha fei-
Reoboão segue maus conselhos (1-15). Divide-se to voltar", como no versículo 23. Não havemos de

124
1 'Reis

entender que Deus dera a sua revelação ao falso pro- 6) Suas tributações. Guerras constantes com
feta, mas falara diretamente ao "homem de Deus". Baasa; e, no fim da vida, a gota nos pés, talvez por
Isto é comprovado pelo versículo 26 "a palavra que conseqüência de sempre ter comido bem.
Deus lhe falou". Nadabe reina sobre Israel (25-32). No começo do
reinado de Asa sobre Judá. Jeroboáo ainda reinava
sobre Israel. Sucederam-lhe Nadabe, Baasa, Ela,
Capítulo 14 Zinri. Tibni e Onri, todos no meio de contendas e tri-
butações e todos durante o longo reinado de Asa
Jeroboão é sentenciado profeticamente pela boca sobre Judá.
de Aias (1-19). A doença de um filho predileto é a
ocasião de Jeroboáo mais uma vez reconhecer que No reinado de Baasa, toda a família de Jeroboáo
somente com o Deus verdadeiro pode haver recurso. é exterminada, náo porque Baasa reprovasse os pe-
Porém ele era homem iníquo, e por isso apenas podia cados desse, mas pela sua própria ambição e malí-
ouvir tristes notícias de um Deus santo. Notemos os cia.
passos: a criança adoece; Jeroboão se lembra do ve- Proposta emenda de tradução (v. 13): "para que
lho profeta que uns 20 anos antes lhe tinha prometi- nào fosse rainha-mãe".
do o reino; manda a mulher, disfarçada, indagar do
profeta; ouve o aviso: náo somente a criança morre- Capitulo 16
rá, mas Deus há de castigar o rei iníquo.
Neste trecho Deus se chama "o Deus de Israel" -Jeú. o profeta. Precisamos distinguir entre Jeú o
(v. 7); lembra a Jeroboáo como o tinha elevado de profeta, neste capitulo, e Jeú o príncipe, filho de Jo-
um lugar humilde para ser rei sobre Israel (v. 7); safá, em 2 Reis 9.
acusa-o de impiedade e apostasia (v. 9); prediz a A profecia de Jeü é mais precisamente contra a
completa ruína de Jeroboáo (10-11); a morte imedia- posteridade de Baasa, e nào contra a sua pessoa, em-
ta da criança (12); e o estabelecimento de outra di- bora Baasa fosse um homem bem iníquo (13). Baasa
nastia para reinar sobre Israel (uma profecia cum- "dormiu com seus p>ais" (6) em paz, mas as suas ini-
prida em Baasa de Issacar, que conspirou contra Na- qüidades prejudicaram a sua descendência. Seu fi-
dabe. filho de Jeroboáo, e matou-o com toda a sua lho Ela sucedeu-lhe (8) e, depois de dois anos, foi as-
família); prediz juízos sobre o povo, por conformar- sassinado por seu servo Zinri (9), numa ocasião em
se com a idolatria introduzida por Jeroboáo (15). que o rei estava embriagado.
A mulher de Jeroboão nada tem a dizer contra a Zinri reinou apenas sete dias (15) e então o povo
sentença do Senhor. levantou-se contra ele e fez Onri rei. Onri, pratican-
do o mal de acordo com o exemplo dos seus antepas-
sados, reinou 12 anos. os primeiros seis em Tirza (23)
Capítulo 15 e os outros seis em Samaria, que assim chegou a ser a
capital da nação de Israel. Ali ele morreu e foi sepul-
Abião imita a impiedade de seu pai Reobodo. Em tado, e ali seu filho Acabe começou o seu reinado, e
2 Crônicas 13 ele tem um aspecto melhor, pois ali se reinou 22 anos (v. 29).
relata a sua guerra com Jeroboáo e sua vitória. Ali, ele Onri, Tibni e Acabe, três reis de Israel, e todos
é chamado Abias. "meu pai é Jeová", porque ali não homens maus. Cada filho excedeu seu pai na perver-
se fala da sua iniqüidade, mas aqui, onde lemos das sidade. A infelicidade de Acabe foi ter casado com
suas perversidades. "Jah", o nome de Deus, lhe é ti- uma mulher pagã, chamada Jezabel, uma das mais
rado, e ele é chamado Abião. iníquas mulheres de todo o Velho Testamento.
Sentindo-se orgulhoso e seguro pela sua grande
vitória sobre Jeroboáo (2 Cr 13.21), Deus o tirou para
dar lugar ao seu filho Asa, que seria um homem me- Capitulo 17
lhor (Matthew Henry).
Proposta emenda de tradução (v. 6): Leia-se O profeta Elias. De repente aparece em cena esse
Abião em vez de Reoboáo (T. 245). No versículo 17 grande homem de Deus, Elias, o tesbita (provavel-
leia-se fortificou Ramá em vez de edificou Rama. mente natural de uma cidade chamada Tisbe - Da-
O bom reinado de Asa (9-24). Podemos conside- vis).
rar neste reinado: Elias e Eliseu sáo os dois grandes profetas que
1) Sua duração: 41 anos (v. 10). Entre os reis de operaram milagres em nome de Jeová. Aparecem no
Judá houve bons e maus: mas os bons geralmente tempo da decadência de Israel, como um testemu-
reinaram mais anos do que os maus. Comprimento nho para Deus nesses tempos maus.
de dias é o galardão da sabedoria (Pv 3.16). A história de Elias compõe-se de onze incidentes
2) Seu bom caráter (v. 11). Ele tomou sentido no principais, três dos quais estáo neste capítulo.
procedimento de Davi e imitou-o. 1) O profeta em Carite onde ele é milagrosamente
3) Sua ação em reprimir o mal e promover o sustentado pela providência divina. "Algumas pes-
bem. Combateu a imoralidade (12); reprimiu a idola- soas de grande promessa e poder pouco tem conse-
tria (12); purificou a própria família (13); restabele- guido. porque nunca se esconderam em suficiente re-
ceu o que era bom (15). tiro (v. 3). Lembremo-nos de Moisés e seus quarenta
4) Seu procedimento político era sensato (23). anos no deserto; de Paulo e os três anos na Arábia; e,
Edificou cidades e impediu a construção de uma for- mais maravilhoso de tudo. de Jesus e seus primeiros
taleza perigosa (22). 30 anos na obscuridade. Carite significa 'separado'.
5) Seus erros. Baniu a idolatria, mas deixou os Você tem estado ali? Se não, isso pode explicar o seu
"lugares altos" (14). Trouxe á casa de Deus as coisas pouco êxito. Quando Elias chegou a Carite, Deus
dedicadas, porém mais tarde entregou-as a Benada- providenciou o seu sustento de maneira estranha
de, para comprar sua cooperação contra Baasa (18). (5,6)" (Scroggie).

125
ISeú
A teoria de alguns, de que os "corvos" que sus- mo tempo que não hesita em tomar ainda mais difí-
tentaram Elias eram "negociantes", ou habitantes ceis as condições em que Jeová vai vencer (33-35).
de uma vila nos arredores, é rejeitada pelos comen-
tadores mais eruditos ( T . 247). Capítulo 19
2) A viúva de Sarepta (8-24). Notemos que;
a) Deus guia os passos do seu servo: primeiro ao Elias e Jezabel (1-8). Notemos neste trecho:
córrego Carite, depois á casa de uma pobre viúva (9). 1) O motivo do ódio de Jezabel: Elias tinha des-
b) Ele manda seus provedores: "ordenei aos cor- truído os falsos sacerdotes, e isso preocupava mais a
vos" (V. 4) e "ordenei ali a uma mulher viúva " (v. 9). mulher iníqua do que a bênção da chuva fornecida
c) Seus caminhos são vários. Uma vez serve-se milagrosamente (18.45).
dos corvos; outra de um vaso de farinha e um vaso de 2) A ameaça da rainha de matar o profeta na
azeite. A incredulidade poderá perguntar: "Porven- primeira ocasião possível (v. 2). Parece que ela, e
tura pode Deus preparar uma mesa no deserto?" (SI não Acabe, realmente governava o país.
78.19), ou "Ainda que Jeová fizesse janelas no céu, 3) A fuga de Elias, o seu desânimo: "Eu não sou
poderia isso suceder?" (2 Rs 7.2), mas a fé está des- melhor do que meus pais". Parece que ele estava um
cansada na verdade de que Deus tem seus provedo- tanto preocupado consigo mesmo, e náo com o poder
res em toda a parte. de Deus e sua obra.
d) Ele, às vezes, muda os seus métodos. A fé pode 4) As consolações de Deus, e forças renovadas
ver o córrego secar; confia, porém, em que haverá (compare-se 2 Crônicas 1.4): comida, bebida, confor-
um vaso de azeite em seguida (Goodman). to, proteção, encorajamento (6-8).
3) O menino doente. Ainda que seja uma expe- Elias no monte Horebe (9-21). Elias tinha viaja-
riência penosa, devemos apreciar qualquer sucesso do para o Sul. e chegara a Horebe, o distrito monta-
que desperte em nós o reconhecimento do pecado nhoso no centro do qual estava o monte Sinai, onde
(18); que nos leve à oração fervorosa (20); que ofere- Israel recebera a Lei.
ça a Deus uma oportunidade para revelar seu poder Aqui continua a sua queixa. Gloria-se ele no seu
e glória (22) ou que nos leve a uma confiança mais zelo por Deus; fala contra Israel em vez de interceder
perfeita (24). pela nação, e alega ser ele de resto o único homem
Aprendemos muito da oração de Elias: era inter- piedoso. Tudo isto é inverdade.
cessória: a favor de outro; era solitária, e ninguém Vamos considerar:
poderá orar eficazmente em público se não ora muito 1) Elias dentro da caverna.
em particular: era positiva, e muitas vezes Deus nos 2) Elias na entrada da caverna.
pergunta: "Que queres?"; era fervorosa; custou ao 3) Elias volta ao serviço profético.
profeta alguma coisa. Quanto custam as nossas ora- 4) Aplicação. •
ções? Era eficaz: leiam os Tiago 5.17,18. 1) Elias na caverna, onde dorme, e em sonhos
Podemos aprender deste incidente como ganhar sente-se na presença de Deus. (Nós, entrando em
crianças para Cristo. "Estendeu-se sobre o menino nosso quarto e fechando a porta, podemos também
três vezes". Para ganhar as crianças havemos de nos estar a sós com Deus.) Algumas coisas próprias à ca-
chegar a elas: havemos de ser pacientes e persisten- verna ou ao quarto: descanso; isolamento; reflexão:
tes com elas e, já se vê. a oração há de ser acompa- contato com o mundo invisível em visões de terremo-
nhada de tudo içso (Scroggie). tos. ventos e da voz do Senhor.
2) Elias na entrada da caverna, obediente à pala-
Capitulo 18 vra divina. Agora ele ouve repetida a mesma voz que
ouvira (provavelmente) em sonhos, e responde de
Elias encontra-se com Obadias. (1-15). "Obadias maneira idêntica. Notemos:
é um homem de quem podemos desejar saber mais. a) que Elias se preocupa com o serviço feito;
Ele vivia no reinado de Acabe e Jezabel, nos tempos b) que pensa ser só ele fiel ao Senhor;
de grande apostasia. c) que Deus o ocupa com novos serviços futuros;
"Ainda mais, vivia na capital e até no palácio; e d) que Deus pode tratar de mais 7.000 fiéis.
estava ali, não como criado, e sim como governador 3) Elias volta ao serviço profético, depois de ter
(3). Contudo era servo de Deus! Quem, depois disto, aprendido a:
pode dizer que lhe é impossível ter uma vida cristã a) não se prender ao passado;
no meio onde vive? Os lírios podem florescer na la- b) não pensar que só ele é fiel;
ma: Moisés na corte do Egito; Daniel na corte da Ba- c) buscar aquele que deve continuar o serviço
bilônia; Joana na corte de He rodes; santos sem nome profético (16).
na corte de César (Fp 4.22); e Obadias na corte de 4) Aplicação. Nós não somos profetas, mas deve-
Acabe. Mas ele tivera um bom começo (12). Esta mos ter algum préstimo espiritual. Qual seria? Que
história relata um conflito entre fidelidade e o receio sabe o leitor do desânimo, isolamento, visão do "in-
(3,9,16), um conflito em que todos nós estamos em- visível"? (Hb 11.27). Em que seria Elias semelhante
penhados. Qual dos dois prevalecerá?" (Scroggie). ao Senhor Jesus, e em que era diferente?
Elias e os profetas de Baal (20-40). Este é um in- Proposta emenda de tradução (v. 20): "Vai, mas
cidente dramático e impressionante. Um só homem sem falta volta, pois vês que grandes coisas te tenho
de Deus enfrenta uma multidão de idolatras, e os feito" (R. 62).
vence completamente. Elias propõe uma prova (21)
e o povo aceita (24). Capítulo 20
Podemos notar a diferença entre a conduta dos
adoradores de Baal e a de Elias. Com eles: fanatis- Jactáncia de Benadade (1-15). Ficamos admira-
mo, histeria, esforço físico; com ele: serenidade, con- dos de que Deus prestasse qualquer atenção a um
fiança. desprezo dos recursos dos idolatras, ao mes- homem tão depravado como Acabe (16.30), porém

126
1 'Reis

Deus é misericordioso até para os que nada mere- opressão operando, e resultando na retribuição divi-
cem. na sobre todos os malfeitores.
Acabe não podia esperar uma intervenção divina, " O mesmo princípio ainda opera e pode ser ob-
nem a pediu, assim esta misericordiosa intervenção servado na história do presente como do passado. O
foi imerecida e não rogada. mesmo Deus vinga o oprimido e exerce o juízo no de-
Sentindo-se em transes apertados, Acabe escuta vido tempo sobre o opressor.
o profeta (13), e, com a sua própria vida em perigo, " N o século X V n i , a Prússia, a Rússia e a Áustria
atende e obedece (14). uniram-se para depor o rei da Polônia e dividir a sua
O rei é semelhante nisto a muita gente que não terra entre eles. Foi talvez o maior crime político da
tem interesse algum na igreja nem nos servos de história moderna, e abalou a consciência da Europa.
Deus, que despreza a Bíblia e persiste no pecado. Po- No mesmo território roubado, as mesmas três nações
rém. quando a morte chega, lembram-se de Deus. lutaram na Primeira Guerra Mundial e, literalmen-
Benadade não tinha nenhum motivo para atacar te, molharam a terra com seu sangue, enquanto o
Israel, e não podia queixar-se das conseqüências. monarca de cada uma foi lançado fora do seu trono.
Acabe nunca fora tão vil como quando mandou sua Foi uma repetição da história da vinha de Nabote."
primeira resposta a Benadade (v. 4); mas depois me- Notemos do rei Acabe:
lhorou (9,11). 1) Sua avareza. Está escrito "Não cobiçarás" e a
Benadade humilhado (16.30). Sua segunda der- cobiça é idolatria (Cl 3.5), visto que nela o coração
rota (26-30). Notemos o contraste; o rei da Síria, almeja algo mais do que a aprovação de Deus. E isso
confiando na sua sabedoria mundana, e o rei de Is- é egoísmo.
rael, dirigido pela Palavra de Deus, proferida pelo 2) Seu mau gênio. "Tendo-se deitado na sua ca-
profeta (22,28). Notemos o raciocínio dos sírios: ma. voltou o rosto e não quis comer".
1) Tinham errado na escolha do campo de bata- 3) Sua submissão à mulher iníqua. Aquilo que ele
lha. No futuro iam pelejar na planície, porque "seus não tinha coragem de fazer, deixa que faça essa pa-
deuses [de Israel] são deuses das montanhas"; uma gâ.
tola superstição. 4) Seu ardente desejo: ir tomar posse da mal-
2) Não tinham empregado capitães competentes. adquirida vinha.
Geralmente é erro escolher um rei como general. 5) Sua confissão rebelde: "Achaste-me, ó meu
3) Seu exército havia de ser ao menos igual ao da inimigo?" E coisa ruim, quando um homem tem de
primeira vez. Mas o que não reconheciam era que "a confessar que Deus é seu inimigo.
vitória é do Senhor".
Capítulo 22
Israel é advertido por Deus com antecedência (v.
22) e Deus promete vingar seu nome contra a asser- Aliança entre Acabe e Josafá. Um profeta verda-
ção de que Ele era somente Deus das montanhas e deiro entTe os profetas falsos.
não da planície. "Estes capítulos relatam três conflitos entre Is-
Cair o muro de Afeque sobre 27.000 pessoas é rael e a Síria (20.1-21; 20.22-30; 22.1-40). Os primei-
atribuído por alguns comentadores a um terremoto. ros dois eram defensivos, e Israel venceu. O terceiro
No Consultório Espiritual oferece-se outra tradução: era ofensivo, e Israel perdeu.
"o muro caiu sobre vinte e sete homens principais "Aqui vemos Josafá aliado com Acabe (v. 4). Se
que restavam" (p. 82). tivesse sido ajuizado, jamais teria feito tal coisa.
Vitória anulada (31-43). Apesar de toda a bonda- Mas o pecado cega a vista. Ramote havia sido toma-
de de Deus a Acabe, o coração deste era ainda como da de Israel pela Síria, e os israelitas não se tinham
pedra: a misericórdia não o levou ao arrependimen- importado de a reaver (20.34).
to, como este trecho prova. "Embora estivesse Josafá numa posição falsa,
O pecado do rei era grande. Durante todas essas contudo ele sugere a Acabe que. antes de entrar na
experiências, ocupando provavelmente vários anos, luta, consultem a vontade de Deus (v. 5). Acabe con-
ele não ofereceu nenhuma oração a Deus, não ex- corda com isto, na aparência, mas chama 400 profe-
pressou nenhuma gratidão pelo livramento recebido, tas que, bem sabe, hão de dizer o que ele quer ouvir.
não confessou que Jeová era Deus, não mostrou ne- " O que os 400 profetas careciam era honestidade,
nhuma tristeza pelos seus muitos pecados, e. delibe- coragem, conhecimento, e lealdade à vontade de
radamente, desprezou a maior oportunidade da sua Deus. Mas estas qualidades só Mica possuía.
vida. "Instigado por Josafá, Acabe manda buscar a
Há uma caridade que convém a todos, e outra Mica da cadeia. Este fala primeiro ironicamente,
que importa numa traição. Desta úttima Acabe era mas em linguagem problemática: 'Jeová [oj entre-
culpado. Chamou o inimigo de Deus e dele de "ir- gará nas mãos do rei'. A palavra *o* não está no origi-
mão". e levou-o para a sua casa (32.34). Isso não era nal. Entregar o que? e em mão de quem?
ocasião de mostrar generosidade, e Acabe não tinha " A voz, atitude e olhar de Mica convencem Aca-
o direito de atirar de si a presa que Deus lhe dera. be de que o profeta está zombando dele. (Veja-se
Nunca faça aliança com seus inimigos (34); quer 18.27.)
dizer, com seus pecados, com a tentação, com a car- "Então o profeta fala claramente (17) e deixa
ne, o mundo, ou o Diabo. transparecer esse Trono e esse Concilio que vem
Um profeta do Senhor frisa a lição do incidente atrás dos sucessos da história (19-23, e Jó 1.6; 2.1).
por meio de uma parábola em ação (35-42). Que coisa misteriosa e solene é que o Iníquo tenha
acesso ao Divino; que possa propor o mal e obter li-
Capitulo 21 cença para agir (22)! E que coisa terrível é que os que
professam ser o povo de Deus e seus profetas oossam
A vinha de Nabote. "Aqui vemos a avareza e a ser agentes do Diabo!

127
1-Heis

"Josafá, por guardar silêncio, estava consentindo do a palavra que Jeová proferira" (v. 38). Seu fim
em tudo" (Scroggie). trágico fora predito três vezes (20.42; 21.19; 22.17-
A morte de A cabe"(29-40). Acabe pensa, por meio 28) e chegou a hora do cumprimento. A justiça, afi-
de um fingimento, safar-se do perigo de entrar na nal, atinge o iníquo.
batalha como rei. A ordem do inimigo ê fazer guerra A vida de Josafá termina abruptamente, quase
somente a ele; e, disfarçado, pensa ficar ileso. Mas, no meio de uma conversa (49,50); e "em seu lugar


por acaso, uma flecha o atinge, e ele recebe uma feri- reinou seu filho Joráo".
da mortal, "e os cães lamberam-lhe o sangue, segun-

128
ste livro continua a histó- lógica dos reis do reino dividido, traduzida do livro
ria dos dois reinos até o Ilustrated Bible Treasury.
Cativeiro. Inclui a trasla-
daçâo de Elias. Durante Desde já é preciso prevenir o leitor de que o as-
este período, Amós e sunte é muito complexo, e, às vezes, é quase im-
"etizaram em Israel, e Obadias, Joel, possível pôr em perfeita ordem. A confusão é aumen-
iquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, e Je- tada mais ainda pela existência de diferentes reis do
Judá. mesmo ou quase do mesmo nome, e a confusão da or-
tografia, pela qual um ou outro com o nome de Jorão
de-se Segundo Reis em sete partes: 1. Último
ou Jeorão, aparece como rei, tanto de Israel como de
ministério e trasladação de Elias (1.1 e 2.11). 2. O
Judá.
ministério de Eliseu, desde a trasladação de Elias à
unção de Jeú (2.12 a 9.10). 3. O reinado de Jeú sobre Na tabela, a priméira coluna dá o ano antes de
Israel (9.11 a 10.36). 4. Os reinados de Atália e Joáa Cristo, segundo a cronologia recebida (do dr.
sobre Judá (11.1 a 12.21). 5. Os reinados de Joacaz e Ussher?). A segunda coluna dá uma cronologia revis-
Joás sobre Israel e o último ministério de Eliseu ta de acordo com os mais recentes estudos. A última
(13.1-25). 6. Da morte de Eliseu ao cativeiro de Israel coluna ( K ) dá o ano a.C. de acordo com o parecer do
(14.1 a 17.41). 7. Da ascensão de Ezequias ao cativei- sábio expositor Dr. Adolfo Kamphansen.
ro de Judá (18.1 a 25.30) (Scofield).
Embora nem todos tenham interesse em estudos Imediatamente, depois do nome do rei, segue, en-
cronológicos, vamos incluir aqui uma Tabela Crono- tre parênteses, os anos do seu reinado.

O REINO DIVIDIDO
Rec. Rev. Judá Israel
975 940 Reoboão (17 anos) Jeroboão (22 anos) 937
971 936 ano 5 - Sisaque invade. 920
957 923 Abião (3 anos) ano 18 de Jeroboáo 917
955 920 Asa (41 anos) ano 29 de Jeroboáo

O paralelo mostra que havemos de contar os 3 anos de Abião como dois anos com-
pletos. Haverá semelhantes casos mais adiante na tabela.
954 918 ano 2 de Asa Nadabe (2 anos) 915
953 916 ano 3 de Asa Baasa (24 anos). Fim da
dinastia de Jeroboáo 914
946 910 ano 10 (ou 13) de Asa. Invasão de Zerá o
etíope.
"No trigésimo-sexto ano do reinado de Asa" Baasa declarou guerra contra Judá
(2 Cr 16.1-13). Mas nessa época Baasa tinha sido morto havia dez anos. Por isso leia-
mos "vigésimo-sexto".

129
lHãs

R®c. Rev. Judá Israel


930 893 ano 26 Ela (2 anos)
929 Zinri (7 dias)
929 892 ano 27 Unri (12 antM)

"Os doze anos de (Jnn incluem 4 anos de conflito com Tibni. Onri foi estabeleci-
do sobre o reino de Israel no trieésimo-primeiro ano de Asa (1 Rs 16.23).

918 880 ano 38 de Asa Acabe (22 anos) Elias


9IV
Uma inscrição de Salmanasar II recorda uma vitória em Qarqar no sexto ano de
%eu reinado (a.C. 864) sobre doze reis aliado*, um dos quais parece ter sido "Acabe
35 V5 de Israel' e outro Benadade (II) da Sina"
914 878 Josafá (25 anos) ano 4

Aliança dos reis contra Benadade II da Síria. Acabe morto cm Ramote de Gilea-
de.
898 858 ano 17 Acazias (2 anos)
857 Revolta de Mesa, rei de Moabe. após a
morte dc Acabe.
896 856 ano 18 Jorão (12 anos)
Trasladarão de Elias.
ElUeu. o profeta
Jeorâo, regente Ano 2. Guerra com Moabe. Josafá alia-
do com Jorãu. Sitio de Samana por
Benadade II. rei da Síria.
892 853 Jeorão, rei <8 anofO ano 5
£ provável que Jeorão (de Judá) tenha chegado a ser recente 2 ou 3 anos antes da
morte de seu pai. Josafá. Jorão começou a reinar sobre Israel no segundo ano de Jeo-
rão (de Judá) (2 R* 1.17) pode ser um erro dr copista
885 844 Acazias (1 ano) chamado Joacaz (2 Cr ano 12
21.17).
Os dois reis. Acazias e Jorão. foram mortos ao mesmo tempo.
Fim da dinastia de Onri.
884 843 Atdlia (7 Jeú (28 nnos)
Tributário da Assíria.
878 838 Joás (40 anos)
Joás tinha sido escondido 6 anos (2 Rs
11.3). por isso os 7 anos de Atdlia foram
realmente 6L Vitórias da Síria sob Hazael.
856 816 ano 23 Joacaz (17 anos)
839 799 ano 37 Jeoás (16 anos)

Segundo o cálculo de Joás de Judá, a ascensão de Jeoás foi 14 anos depois da dc


Joacaz. Provavelmente os dois reis de Israel remaram juntamente por uns 3 anos.
839 Amazias (29 anos) ano 2

Eliseu morre após um ministério de


uns 60 anos. Guerra entre Israel e Síria
Vitória sobre Edom. (Benadade III).

Israel e Judá em guerra; Jerusalém despojada por Jeoás.


825 784 ano 15. Jeroboão II (41 anos)
profeta Joel (ou mais tarde). profeta Oséias.
810 770 Amazias morto; Azarias, ou Uzias reina ano 27
(52 anos).
Amazias sobreviveu a Jeoás 15 anos (2 Rs 14.17). Ma* Amazias morreu no ano 27
do reinado de Jeroboão II. Segue, por isso. que Jeroboão tinha reinado conjuntamen-

130
IMs

Rec. ev. Judá Israel


te com Jeoàs por 12 anos.
Uzias reinou 52 anos, incluindo regências
ao começo e fim do seu reinado.
752 Jotão, regente
773 741 ano 38 (de Uzias) Zacarias (6 meses)
772 741 ano 39 Salum (2 meses). Fim da
dinastia de Jeú.
772 740 Menaém (10 anos ou 3 anos?)
Invasão por pul, rei da Assíria (Tigla-
te-Pilneser 111). Israel feito tributário.

Os monumentos de Tiglate-Pilneser os nomes de Azarias e Joacaz (Uzias e


Acaz), de Judá, e de Oséias, de Israel. Tanto Uzias como Menaém aparecem nos mo-
numentos como tributários a Tiglate-Pilneser.

761 737 ano 50 Pecaia (2 anos)


759 736 ano 52 Peca (20 anos)
758 736 Jotão, rei (reina ao todo 16 anos) ano 2
Acaz (16 anos - ou 7 ou 8?) ano 17

Síria (sob Rezim) e Peca fazem uma confederação contra Judá. Acaz manda bus-
car auxílio de Tiglate-Pilneser. Damasco tomada pelo rei da Assíria (a.C. 732) a
quem Acaz paga tributo.
730 729 ano 12 (ou 5?) Oséias (9 anos)
Peca foi morto por Oséias, que reinou no seu lugar (2 Rs 15.30). Isto "no vigésimo
arw de Jotão" é geralmente interpretado como sendo o quarto ano de Acaz, visto que
Jotão reinou apenas 16 anos. Como fazer esta data corresponder com o ano 12 de
Acaz é uma dificuldade, geralmente resolvida por supor um intervalo de anarquia
entre o assassínio de Peca e a ascensão do assassino - contra o evidente sentido do
texto. A chave parece estar em alguma interpretação diferente de "o vigésimo ano de
Jotão", ou em considerar a frase como uma corrução de copista.
Profetas Isaías e Miquéias

726 727 Ezequias (29 anos) ano 3


Ezequias tinha 25 anos da sua ascen- Invasão por Salmanasar IV. Oséias fei-
são, mas seu pai Acaz parece ter morrido to tributário.
com 36 anos (2 Rs 16.2). Provavelmente o Tentativa de aliança com o Egito (rei
manuscrito Vaticano LXX é correto, dan- So ou Sabaco).
do a Acaz 41 anos quando morreu. Nova invasão, Samaria sitiada 3 anos.
Israel conquistada por Sargom, sucessor
de Salmanasar.

721 122 ano 6

à C MONARQUIA DE JUDÁ
Rçç,
Ezequias (continuação).
712 Invasão da Palestina e Egito por Sargom. Doença e restabelecimento de Ezequias. Em-
baixada de Merodaque-Baiadã da Babilônia.
704 Acesso de Senaqueribe filho de Sargom ao trono da Assíria.
701 Senaqueribe invade Judá. Vrilas e cidades tomadas. Jerusalém ameaçada. Destruição
do exército Assírio.
Esta invasão é dada como sendo no ano 14 de Ezequias (2 Rs 18.13; Is 36.1). Afas Sena-
queribe não subiu ao trono até a.C. 705 e sua expedição á Palestina foi 3 anos mais tarde.
Por isso havemos de ler 24 por 14, ou entender que a alusão é a prévia invasão de Sargom
(711). misturada por algum copista com a de Senaqueribe. O relatório da doença de Eze-
quias deve preceder ao da invasão de Senaqueribe. (Veja-se Isaias 38.6.)
697 Manassés (55 anos)
681 Assassínio de Senaqueribe, acesso de Esar-Hadom.
Manassés tributário a Esar-Hadom: levado cativo á Babilônia. Seu arrependimento e

131
2 2ds

A.C. MONARQUIA DE JUDÁ


Rec.
restauração. Tributário a Assurbanipal (Sardanapalus). Esar-Hadom manda colonizar a
terra de Israel.
668 Destruição de No-amon. o Thebes do Egito, pelos assírios.
642 Amon (2 anos) 640
640 Josias (31 anos) 638
626 Nabópolassar vice-rei em Babilônia. Descoberta do Livro da Lei (Deuteronômio) no
Templo. Revivificaçáo nacional da religião.
609 Faraó-Neco tenta invadir a Assíria. Josias. tentando obstar sua passagem através da
Palestina, é morto em Megido.
Profetas Jeremias, Sofonias e Naum.
608 Joacaz (3 meses). Capturado por Faraó e enviado ao Egito. 608
608 Joaquim (11 anos) 607
606 Nabucodonosor captura Ninive para seu pai Nabopolassar e a sujeita à Babilônia. Ela
ataca o reino de Judá e o torna tributário.
Começo do cativeiro de 70 anos.
Profeta Habacuque.
605 Nabucodonosor rei da Babilônia. Grande batalha em Carquemis. em que o poder do
Egito é derrubado 597
597 Jcconias, Comas ou Jeoiaquim (3 meses) 596
Jerusalém tomada pelos caldeus. Jeconias exilado para a Babilônia.
597 Zedequias ou Matanias, vassalo da Babilônia (11 anos).
Jeremias continua a profetizar - seu ministério durou desde 622 a 586.
590 Ezequiel profetiza na Babilônia - seu ministério desde 595 a 594.
587 Sitio de Jerusalém pelos caldeus. 686
Jerusalém tomada e destruída. Zedequias um cativo na Babilônia.
Profeta Obadias.
Fim da monarquia judaica.

Capítulo 1
Acazias em conflito com Elias. O rei, querendo trada na vida celestial (2 Pe 1.11). Também os que
consultar um deus falso, recebe pela boca de Elias estiverem vivos na vinda do Senhor nunca morrerão.
uma mensagem do Deus verdadeiro, e fica zangado Como Elias, eles serão arrebatados ao Céu (Jo 8.51;
com isso. 11.26; 1 Ts 4.15-17).
Manda soldados para prenderem o profeta, e dois A escolha (v. 9). Eliseu. em ver H*» pedir que fosse
dos grupos morrpm por uma intcrpoeíção milagrosa. feito herdeiro dos bens materiais de Elias, pede "u-
O terceiro capitão, com seu grupo de 50, humilha-se ma porção dobrada do seu espirito ". Ele tanto apre-
e pede misericórdia, uma coisa que os anteriores não ciava o poder, o caráter e a espiritualidade do seu
fizeram. Só então é que aparece um anjo de Deus e mestre, que quis ser como ele, e ainda mais. Que coi-
manda o profeta descer do monte e ir com os solda- sa importante é quando os filhos admiram tanto o
dos. Depois de reconhecerem com ele poderes sobre- caráter de seus pais, que desejam imitá-los em tudo
naturais, com certeza o trataram com mais respeito (e ainda mais) depois de os pais falecidos!
e consideração. Então Elias vai e dá seu recado ao rei A condição (v. 10). "Se me vires quando de ti for
pessoalmente. "Assim morreu o rei conforme a pala- arrebatado, assim se te fará". Eliseu necessitava de
vra de Jeová que Elias tinha pronunciado". Alguma visão espiritual para receber a bênção desejada. Po-
coisa há incompreensível nas palavras: "Jorão come- deria ele ver os carros e os cavalos de fogo quando
çou a reinar no seu lugar no ano segundo de Jeorão, chegassem? Seu criado não podia (6.17). A visão di-
filho de Josafá" (2 Rs 1.17 A l ) . Os expositores calcu- vina é dada somente pela fé.
lam que foi no ano 18 de Josafá. O espírito de Elias repousou sobre Eliseu (13-22).
Em seguida Eliseu recebeu poder para operar um
Capitulo 2 milagre (v. 14), e os filhos dos profetas reconheceram
que o espírito de Elias estava aubre ele.
O arrvbuiamento de Elias. Se tivéssemos obriga- Zombando do profeta (23-25). Almeida diz que
ção de verificar por que Deus levou Enoque e Elias foram "rapazes pequenos" que zombaram do profe-
para si, sem verem a morte, poderia ser difícil des- ta, e V.B. fala de "rapazes". Outra tradução diz
cobrir na sua vida e personalidade motivo suficiente. "moços", e a versão espanhola de Pratt tem "mozue-
Mas se alguém nos disser que Deus o fez porque quis, los ". Em qualquer caso podemos entender ter havido
não poderemos dizer que isso não era razão suficien- algum defeito na educação dos jovens que nunca
te. E os dois chegaram assim a apresentar uma figu- aprenderam a reverência. Uma criança malcriada é
ra das multidões de remidos que, em um dia ainda uma criatura desagradável a todos.
futuro, subirão ao encontro do Senhor nos ares. Porém neste incidente Eliseu não conquista a
Foi bom que Deus não respondeu á súplica de nossa admiração, nem parece muito semelhante À-
Elias (1 Rs 19.4) no sentido de que morresse. Deus ti- queie que "sendo injuriado, não injuriava, mas en-
nha uma coisa melhor no seu plano! tregava-se àquele que julga justamente" (1 Pe 2.23).
O carro de fogo e o redemoinho pelo qual Elias Contudo, pode ser que Eliseu se tenha considera-
subiu podem ensinar-nos que há uma abundante en- do como um militar ofendido, que deve reagir, não

132
2 TUis

tanto por motivos pessoais, mas para manter a dig- ção. (Notemos a mobília do quarto: cama, mesa, ca-
nidade do seu ofício. deira e candeeiro. Pouca, mas suficiente. Se tivesse
N o Treasury o caso tem um aspecto ainda mais acrescentado um lavatório, teria sido quase de-
grave: "Os moçoe profano», tendo ouvido do arreba. mais.);
lamento de Elias sem o acreditar, com blasfêmias c) A sunamita está contente. Quando chamada e
mandam que Eliseu o siga. O venerável profeta, por interrogada sobre seus desejos, ela responde serena-
um impulso divino, pronuncia-lhes uma maldição mente e com dignidade: "Eu habito no meio do meu
em nome do Senhor". povo". Podemos acreditar que ela era uma boa vizi-
nha e bem estimada, e sabia ter muitas amigas em
Capitulo 3 redor.
Quando ela se retira, o servo Geazi fala com Eli-
Uma campanha desastrosa (1-12). O rei de Judá seu de uma falta evidente para com essa mulher
fez mal em aliar-se com o iníquo rei de Israel, e não bondosa e seu velho marido: ela não tem filhos. Eli-
falou a verdade quando disse: "Como tu és, sou eu, o seu chama-a novamente, e faz-lhe uma intimação
meu povo como o teu povo" (v. 7). Há uma diferença profética que lhe parece mentira: "Daqui a um ano
radical entre o servo de Deus e o homem ímpio. abraçarás um filho".
Notemos que nenhum dos três reis tinha procura- Podemos entender que ela contou ao marido a es-
do a direção de Deus, e somente um grande aperto tranha promessa, e ele, sendo bom israelita,
relembrou a Josafá a omissão. Então concordam em lembrou-se imediatamente de Abraão e Sara.
buscá-la. Notemos de passagem que o pai náo era tão velho
O conselho de Eliseu (13-20), e em seguida des- que, uns anos mais tarde, náo pudesse sair com os
cobrem que ele nâo quer prestar atenção alguma a ceifeiros. A criança, quando caiu doente, parece ter
qualquer deles, a não ser a Josafá (v. 14). sido acometida de insolação.
Contudo, Eliseu pôde revelar que Deus era um O espaço disponível não nos permite entrar deta-
recurso suficiente nesse momento de necessidade por lhadamente nos pormenores desta tocante história,
falta de água: e também fala de vitória sobre o ini- que, sem dúvida, recompensará um estudo minucio-
migo. so da parte do leitor.
"Trazei-me um tangedor". O profeta quis sere- Diz o dr. Scroggie: "Para promover a vida espiri-
nar seu espirito com a música antes de profetizar tual entre as crianças, que devemos fazer? Precisa
" N á o precisamos entender que Eliseu mandou prati- haver oraçáo (33) e oraçáo não somente pela criança
car as brutalidades referidas nos versículos 19 e 25, e sim com a criança. Este contato espiritual é de im-
mas antes que ele predisse a maneira selvagem em portância vital. Mas muitos que têm tal contato não
que a campanha seria conduzida. A guerra é sempre têm êxito, porque náo adaptam sabiamente os meios
odiosa, mas quando praticada com barbaridade é ao fim proposto; por isso, a terceira coisa é adapta-
duplamente má, pois "as misericórdias dos perver- ção. O versículo 34 certamente nos ensina a falar a
sos sáo cruéis" (Pv 12.10) (Goodman). linguagem da criança, ver pelos seus olhos, e entrar
nos seus recreios: nosso contato precisa ser adaptado
Capítulo 4 á sua boca e olhos e mãos. A isto haverá logo uma
resposta: 'e voltou calor d carne do menino'.
Eliseu aumenta o azeite da viúva de um profeta "Então precisa haver perseverança e paciência
(1-7). O trecho ocupa-se com uma viúva, pobre, en- (35); não se podem forçar resultados divinos. E, afi-
dividada, e ameaçada por um credor sem misericór- nal, é necessário reconhecer os primeiros e mais fra-
dia. cos sinais de vida espiritual: o menino apenas espir-
Náo é pecado ser pobre, mas é pena dever. Por- rou, mas isso mostrou a restauração da vida".
ventura não teria podido recorrer a Deus antes disso Morte na panela (38-41) e pão suficiente (42-44).
e náo depois? " U m incidente fala de um prejuízo evitado; o outro
Em todo caso foi uma feliz lembrança apresentar de uma provisão divina. Do primeiro aprendemos:
a sua necessidade ao homem de Deus, e isso teve como é fácil sermos enganados pelas aparências; que
uma recompensa abundante. as melhores intenções podem ter conseqüências fu-
Mas a provisão milagrosa lhe vem mediante o nestas; que um pouco de veneno pode estragar muita
que ela já tem: um vaso de azeite. Nós podemos nem comida. Aprendemos mais: quão simplesmente os
ter isso, e, contudo, podemos ter conosco alguma coi- profetas viviam (38), e também que podemos pagar
sa que Deus é capaz de abençoar abundantemente. bem caro por uma ignorância indesculpável.
.4 sunamita e seu filho (8-37). Notemos com ela: " D o segundo incidente aprendemos: que coisa
a) recurso que deseja repartir com o homem de linda é a generosidade (42); que coisa ruim é espírito
Deus; ela é hospitaleira, e faz questão de empregar cobiçoso (43); que coisa maravilhosa é a providência
seus recursos materiais com o servo de Jeová. Ainda divina (43,44). Um caso fala de corrigir o mal: outro,
hoje há tais pessoas, e seus serviços podem ser apre- de suprir o bem".
ciados pelos homens, e abençoados por Deus; Naturalmente este último incidente faz-nos pen-
b) a sunamita era inteligente: ela percebe que o sar na alimentação milagrosa de 4.000 e de 5.000 ho-
homem de Deus necessita de um cômodo à parte: mens, recordadas nos evangelhos.
um retiro onde pudesse estar a sós com Deus e, por
isso, fez-lhe "um pequeno quarto sobre o muro". Capítulo 5
Ainda hoje há crentes que fazem questão de poder
acomodar os servos de Deus que viajam, e fornecer- NaanuS é curudu da lepra. Na expoeiçáo deste
lhes um quarto particular. Outros há que acham capítulo não podemos fazer melhor do que copiar a
difícil arranjar isso nas suas casas; fazem um quarto lição que escrevemos para 19 de janeiro de 1941:
| para um pregador itinerante, junto á Casa de Ora- Título do estudo: " A Salvação de Deus".

133
2 Seis
A mensagem: "Deus pode purificar aquele que é sesse um caso hipotético, e pedisse permissão para
o mais contaminado pelo pecado". freqüentar um lugar de culto não de acordo com a
Divisões do assunto: sua nova fé, no caso do seu senhor pedir. Mui longe,
1) Introdução. porém, de Naamã pensar que poderia jamais tomar
2) A salvação de Deus necessitada. parte na idolatria futuramente,. ele pede perdão ao
3) A salvação de Deus proclamada. homem de Deus, porque reconhece a idolatria no
4) A salvação de Deus recebida. passado; o versículo deve ser lido: "Nisto perdoe
5) A salvação de Deus recompensada. Jeová o teu servo; quando meu amo entrou [não 'en-
6) Aplicação trar'] na casa de Rimom para ali adorar, e se encos-
1) Introdução. Na introdução costumamos tomar tou na minha mão, e eu me prostrei na casa de Ri-
uma vista geral do assunto, e ligá-lo com a^ coisas mom, perdoe Jeová que me prostrei Indo 'quando
conhecidas desta vida presente. ali me prostrar,] na casa de Rimom" (R. 118).
Trata-se da cura de um homem morfético, e, nes-
ta doença, como em todas as outras, o principal inte- Capítulo 6
resse estava na cura. Devemos dar graças que, para
os males espirituais, há salvação, e que ela vem de O ferro de um machado bóia (1-7). " O aumento
Deus. de estudantes de teologia é um sinal de revivificaçáo
2) A salvação de Deus necessitada. Por que Naa- religiosa (v. l ) , Eles propõem melhorar a casa e mos-
mã precisava da salvação de Deus? Era porque não tram disposição para o trabalho. Os moços eram
podia achá-la nos homens: a lepra era considerada bem disciplinados: pediram permissão do mestre, e
uma doença incurável. mostraram indústria. 'Cada um de nós uma viga'
Naamã tinha muitas vantagens (cinco delas são ninguém havia de ser preguiçoso. Teria sido um dia
referidas no versículo I), porém era leproso. E seu mau para os moços se tivessem ido ao bosque sem
mal pesava-lhe mais dó que todas as vantagens. Eliseu".
Como é consigo? Também tem vantagens (quais Mas apareceram dificuldades. Um dos moços
sáo? - saúde, mocidade, inteligência, forças, amigos, perdeu o poder de trabalhar - caiu o ferro do seu ma-
conselheiros, etc.), mas é pecador: e, porque não chado. Alguns com quem tem acontecido o mesmo,
pode expiar seus pecados, precisa da salvação de tém continuado a trabalhar com o cabo!
Deus. "Onde caiu?" Ele lhe mostrou o lugar (v. 7).
3) A salvação de Deus proclamada. Quem anun- Deve-se reconhecer onde se perdeu o poder, e como.
ciou a salvação foi uma pequena criada. Como ela E para reavé-lo, a confissão precisa ser explicita. Se
sabia? Por ter ouvido? por ter experiência própria do mostrarmos a Cristo o lugar, o perdido será achado
poder do profeta? por alguma amiga ter sido curada? (6,7).
A mensagem que ela deu foi positiva, porém não Eliseu adivinha os conselhos do rei da Síria (8-
foi bem compreendida. Ela apontou "o homem de 23). A presença de Deus no meio do seu povo é um
Deus", mas Naamã foi apresentar-se ao rei. Há oca- fato geralmente ignorado pelos seus inimigos. Israel
siões em que um homem de Deus vale mais do que o foi protegido por Deus, não por causa de Jeorão, mas
chefe de uma nação. de Eliseu. Uma nação pode devermais do que pensa
4) A salvação de Deus recebida. Naamã procura à presença da Igreja de Deus na pátria.
a salvação do seu mal, mas erra muito: O moço de Eliseu estava cheio de medo ao ver as
Erra quanto ao preço - levou dinheiro. hostes do inimigo, por isso Eliseu orou: "Jeová, abre
Erra quanto à pessoa - vai ao rei em vez de ir ao seus olhos para que veja!" e então o moço percebeu
homem de Deus. "o monte cheio de cavalos e carros de fogo ao redor
Erra quanto ao espirito - vai com orgulho em vez de Eliseu" (v. 17).
de ir humildemente. O desfecho deste incidente (20-23) é mais agradá-
Erra quanto ao lugar - seu orgulho nacional o faz vel do que o da maioria dos conflitos relatados nos li-
preferir os rios Abana e Farfar ao Jordão. (Ele não vros dôs Reis. O inimigo é vencido pela bondade! O
sabe que com o rio Jordão há associações sagradas: a sentido do versículo 23 é problemático.
arca de Deus estivera ali, e os pés dos sacerdotes.) Samaria cercada (24-33). Não sabemos quanto
Porém, afinai, foi persuadido a receber a bênção tempo passara até Benadade novamente atacar Is-
da maneira apontada. rael. e sitiar Samaria. A fome na cidade acarreta
5) A salvação de Deus recompensada. Naamã de- uma variedade de aflições e dificuldades (27-31). É o
sejava recompensar a bênção recebida; um desejo homem de Deus que tem palavras de conforto e espe-
natural e correto ("Que darei ao Senhor por todos os rança para o rei e o povo; e, contudo, o único remédio
benefícios que me tem feito?"), mas nesse momento para a situação desesperada que o rei pode imaginar
náo podia ser. Ele precisava compreender que a gra- foi matar o profeta! (v. 31).
ça divina é gratuita, e que o homem de Deus não era
levado pelo próprio interesse. Capítulo 7
6) Aplicação. Devemos procurar a salvação de
Deus humildemente: náo andar atrás da nossa pró- O fim da fome. Neste capitulo encontramos: Des-
pria opinião ("Eis que eu dizia comigo"); evitar o çrença, quando o profeta falou de uma salvação ime-
orgulho que pode obstar-nos de receber a bênção: diata. Deserção da parte dos quatro leprosos que
escutar os bons conselhos dos mais humildes: ir a pouco podiam esperar em Israel, e para quem os sí-
Cristo e não a outro nosso preferido. E é necessário rios pouco mais contrários podiam ser. Pânico da
fazer isso agora. parte dos sirios, perturbados por um milagroso es-
" 2 Reis 5.18 tem um sentido mui diferente, quan- trondo de carros e cavalos (v. 6). Egoísmo, quando os
do os tempos dos verbos recebem seu verdadeiro va- leprosos, beberam e roubaram para si, sem se
lor. E citado muitas vezes como se Naamã propu- lembrarem dos seus patrícios famintos.

134
ITUis

Afinal resolvem dar parte do ocorrido, náo por ser cos, e sofrem toda a vida. e morrem, pelo pecado dos
seu dever, mas pelo receio de algum mal maior poder seus pais!
acontecer-lhes (v. 9). Se um homem não foge do pecado pelo amor de
O castigo da descrença do versículo 2 nâo tarda Deus ou por amor da sua própria vida, poderia fugir
(v. 17). dele ao menos por amor dos seus filhos ainda náo
nascidos!
Capítulo 8 Jeú mata os servos de Baal. " O entusiasmo de
Jeú exemplifica um erro comum: ele era incansável
A sunamita volta para a sua terra (v. 6). De novo em executar julgamento sobre os outros, mas não se
encontramos duas pessoas conhecidas: a sunamita e julgou a si mesmo. Gloriou-se na destruição das ima-
Geazi. o ex-servo de Eliseu. que falava com o rei de gens de Baal mas persistiu no culto dos bezerros de
Israel. Por suposto, Geazi já estava curado de sua le- ouro em Betei e Dá. Parece até que Jeú gostava da
pra. pois não havemos de imaginar um morfético vi- sua missão de juiz, e podia jactar-se do seu "zelo
sitando um rei. pelo Senhor". Afinal o julgamento que ele executou
Outrora, a sunamita não sentia a necessidade de sobre os outros, caiu "sobre ele mesmo (v. 32)".
alguém falar a seu favor com o rei (4.13), mas agora
precisa de proteção real, e a obtém (v. 6). Capitulo 11
Hazael mata Benadade (7-15). Neste trecho no-
tamos algumas coisas estranhas. Primeiro. Eliseu Atália, a mulher iníqua. Este capítulo ocupa-se
longe da pátria, pois está em Damasco. Segundo, o outra vez com o reino de Judá. cujo povo Atália se
rei pagáo, Benadade, querendo consultar um profeta fez rainha, depois de matar todos os que pudessem
de Deus com respeito à sua enfermidade. Terceiro, a disputar a sua soberania - exceto o menino Joás, que
maldade de Hazael predita, e sua inimizade contra ficou escondido no templo por 6 anos.
Israel antecipada. Atália era filha de Acabe, rei de Israel, e de Jeza-
Contudo, não é certo que Hazael matasse Bena- bel; e igualava a sua mãe em perversidade.
dade. O Dr. Geddes e outros entendem que o " e l e " Depois de reinar sete anos, ela provou a verdade
que tomou o pano molhado foi Benadade. que em- da palavra que "todos os que tomam a espada mor-
rerão d espada" (Mt 26.52). Ela teve a morte violen-
pregou essa compressa fria como meio de curativo e
ta que tão bem merecia.
que este tratamento impediu a transpiração normal
e ocasionou a sua morte (T. 259). Joás, o menino-rei (4-20). O vulto mais notável
neste capítulo é o sumo sacerdote Joiada, que apre-
N o versículo 8 devemos preferir Almeida e não
senta o menino real ao povo e promove a sua coroa-
V.B. mas no versículo 11 devemos preferir V.B. e náo çâo.
Almeida.
Joás foi um rei próspero e bom durante toda a
vida de Joiada, e muito devia ã direção desse homem
Capítulo 9
de Deus.
Jeú ungido rei sobre IsraeL Notamos a expressão Notemos a coroação: o "testemunho" dado; a
no primeiro versículo "filhos dos profetas", que tam- "unçáo", e a "aliança" (17). Foi um bom começo,
prometendo um próspero reinado.
bém encontramos em 2.3. Parece que náo é para se
entender ao pé da letra, isto é, que os pais de todos os
moços eram profetas, e que os rapazes eram o que Capítulo 12
hoje se chama "seminaristas" ou estudantes para o
ministério. O reinado de Joás sobre Judá. Nestes capítulos, à
Elias tinha sido dirigido por Deus no monte Ho- V.B. chama o rei às vezes de Joás e outras de Jeoás.
rebe a ungir Jeú rei sobre Israel (1 Rs 19.16). Não há Almeida o chama de Joás.
recordaçáo de ele ter feito isto, mas agora Eliseu Em 13.9, a V.B. fala do filho de Jeoás, que o suce-
manda um dos jovens profetas fazer esse serviço, que deu no trono de Israel, como tendo também o nome
o moço fez em seguida de uma maneira dramática e de Joás, mas no versículo seguinte o chama de Jeoás,
impressionante (5.10). e nos versículos 12 e 13 torna a chamá-lo de Joás: De
É preciso notar que Joráo tinha acabado de lutar maneira que o leitor descuidado pode bem ficar con-
contra Hazael em Ramote de Gileade, onde ficara fe- fuso entre os dois reis, quase contemporâneos, ura de
rido; tinha ido a Jezreel para se tratar das feridas Judá e outro de Israel, e ambos chamados de Joás,
(8.23.29), e ali Acazias de Judá estava com ele de vi- ou Jeoás.
sita. Por amor da uniformidade, vamos continuar a
O dia da vingança tinha chegado, e lemos da chamar este rei de Joás, e notar como ele começou
morte violenta de Jorão (v. 24) e Acazias (v. 27) e Je- bem o seu reinado, e que o terminou muito mal,
zabel (33). como lemos em 2 Crônicas 24.
Proposta emenda de tradução; no versículo 8 ler, Ele passou seus anos mais impressionáveis no
como em V.B.: "tanto o escravo como o livre em Is- Templo, sob a influência de Joiada, e quando come-
rael". çou a reinar teve o apoio de um povo unido e entu-
siasmado. Ainda mais, teve zelo religioso, e mandou
Capítulo 10 consertar as partes dilapidadas do templo.
Mas ele era um homem fraco, carecendo de inde-
Jeú extermina a casa de Acabei 1-14). É um capi- pendência de juízo, firmeza de vontade e lealdade ás
tulo de sangue. O3 setenta rapazes morreram pela suas obrigações. E tudo isto porque seu coraçáo não
culpa do seu pai Acabe. Parece duro, mas ainda hoje era reto para com Deus. Notemos: a) O bom começo:
sucede a mesma coisa: quantos filhos nascem sifiliti- sua submissão ao sacerdote de Deus e seu zelo pela

135
2 Heis

Casa de Jeová, b) Sua rápida apostasia (2 Cr 24.17- dez anos, e não teve morte violenta. Seguiram-no
19), sua capitulação aos iníquos príncipes e sua rejei- Pecaia e Peca. todos estes durante o longo reino de
ção dos profetas de Deus. c) Seu fim trágico: derrota- Azarias (Uzias) rei de Judá.
do pelos sirios, e afinal assassinado pelos seus servos. Nos dias de Peca, começou o cativeiro de Israel: o
Algumas pessoas andara bem enquanto sob a in- rei da Assíria conquistou uma porção de cidades e le-
fluência de uma personalidade piedosa, que parece vou os habitantes para a Assíria (v. 29).
quase como seu anjo de guarda. Jotão, rei de Judá, apesar de ser um bom rei, so-
freu alguma disciplina de Deus quando "naqueles
Capitulo 13 dias começou Jeová a enviar contra Judá e Rezim,
rei da Síria, e a Peca filho de Remalias, rei de Israel"
Doença e morte de Eliseu (15-25). Vemos Eliseu (v. 37). O começo foi nos dias de Jotào, mas. segundo
preocupado até o fim com o bem-estar de Israel, e Isaias 7, a invasão foi nos dias do filho dele, Acaz.
dando conselhos ao rei Jeoás.
Eliseu morre e é sepultado, e acontece uma coisa Capítulo 16
estranha: quando puseram um cadáver na sepultura
dele, o defunto tornou a viver! Isto faz-nos pensar Acaz reina sobre Judá, mas ele não foi um bom
que o serviço de um homem bom pode não acabar rei: "Nào fez o que era reto aos olhos de Jeová seu
com a morte dele. Fica ainda com valor o exemplo Deus, como Davi seu pai" (v. 2). De quantos reis e
que deixou e talvez os livros que tenha escrito. Mes- governadores hoje podemos dizer que fazem isso?
mo que ele não torne a viver, vivifica os outros. Pen- Durante um certo período, tinha havido paz e
samos também como nossa vida espiritual começou aliança entre Israel e Judá, mas agora mais uma vez
quando pela fé tivemos contato com Cristo na sua contendem. Então Acaz se lembra de pedir aliança
morte expiatória. com os assírios contra Israel, e tomou a prata e ouro
consagrados, para pagar ao rei Tiglate-Pilneser, que
Capítulo 14 em seguida invade a Síria, sitia Damasco, e mata
Rezim, o rei siro.
Amazias, rei de Judá. N o primeiro versículo te- O altar de Damasco (10-19). Então Acaz, visitan-
mos dois reis com o nome de Joás, um sobre Israel e do Damasco, fica bem impressionado com um altar
outro sobre Judá. O rei Amazias procede bém, não, pagão que vê ali, e manda fazer outro igual em Jeru-
porém, muito bem, como fizera Davi. Notemos, de salém. Vemos assim que a sua conduta vai de mal a
passagem, como toda a recordação de Davi agora é pior. O caso é descrito mais detalhadamente em Crô-
boa. Seus feios pecados, sua falta de fé, suas cruelda- nicas.
des, tudo foi esquecido, e a história sagrada recorda
apenas o que houve de valor no seu reinado. Afinal ele morre, e seu filho Ezequias reina.
"Ele procedeu em tudo como seu pai Joás tinha
feito" (v.3), de maneira que se limitou ao extremo do Capítulo 17
seu progenitor e em nada melhorou. Oséias, último rei de Israel. Este rei acaba seus
Pelo versículo 5 aprendemos que a retribuição se- dias num cárcere na Assíria (v. 4) e o povo de Israel
guirá o crime, mas que não há de haver vingança passa para o cativeiro em "Haia, e nas cidades dos
contra os inocentes. medos" (v. 5).
Há somente duas fábulas na Bíblia, esta no versí- Os motivos deste cativeiro:
culo 9 e a de Juizes 9.7-15. Disto podemos aprender 1) A prática secreta do paganismo (8,9). O desvio
que a fábula pode ser um meio importante de ensino, costuma começar secretamente, e mais tarde resulta
correção ou aviso. em apostasia aberta.
No fim do capitulo ( w . 23-29), vemos outro Jero- 2) Endureceram a sua cerviz (v. 14). Eram peca-
boão reinando sobre Israel, e a perversidade dele é dores obstinados.
semelhante à do infame Jeroboão, filho de Nebate 3) "Seguiram a vaidade" (v. 15); não sabemos
(24). Ele reinou 41 anos - um dos reinados mais com- precisamente em que sentido, mas devemos reco-
pridos de todos. nhecer que ainda hoje há bastante "vaidade" em re-
dor, com que Deus é desonrado.
Capitulo 15 4) Fizeram imagens dos deuses falsos (16) e assim
praticaram a idolatria.
Azarias, rei de Judá. Começou bem moço: com 5) Fizeram seus filhos passar pelo fogo (17). Não
apenas 16 anos, e depois do assassínio do seu pai sabemos precisamente o que era este rito; porém não
(14.19). Felizmente ele seguiu o bom exemplo do pai precisamos pensar que queimassem seus filhos vivos.
- possivelmente por ter sido criado por sua mãe Je- Talvez fosse alguma coisa parecida com o uso dos ro-
colia. manistas, de passar as crianças pelas fogueiras na
Em 2 Crônicas 26, este rei é chamado Uzias, e a noite de S. João.
origem da sua lepra é explicada. Isto havemos de es- 6) Praticaram o espiritismo (v. 17):
tudar mais adiante. O Livro de Crônicas dedica-lhe Judá ficou contaminado com o mesmo mal (v.
um capítulo inteiro, e aqui tudo é resumido em sete 19); contudo, Judá continuou por mais 133 anos, e
versículos. então foi para o cativeiro na Babilônia.
Zacarias, rei de Israel (8-12), em apenas 6 meses Origem dos "samaritanos". (Veja-se João 4.9 -
teve tempo para mostrar que era tão ruim como o w . 24-41.)
pior dos reis de Israel. Foi morto por Salum, e o as- "Temos interesse nestes samaritanos por causa
sassino reinou no seu lugar. do contato de nosso Senhor com eles séculos depois,
Este reinou somente um mês antes de ser morto e por causa da bênção que receberam quando Filipe
por Menaém, que conseguiu sobreviver sua vitima foi á sua cidade e pregou-lhes o Evangelho (At 8.5).

136
2 Heis

"Recordemos como os judeus desprezavam e re- Ezequias ao restante de Israel para tomar parte na
cusavam amizade com eles. Neste trecho, lemos celebração da Páscoa. Nada disto se relata em Reis.
como esse povo começou. Ezequias, o bom rei de Ju- "Porém Reis conta o que não iemos em outra par-
dá, teve compaixão de Israel na sua aflição e man- te: a sua infeliz tentativa de entrar num acordo com
dou-lhe missionários, convidando o restante que es- o rei da Assíria, mediante o pagamento em dinheiro.
capara da mão do rei da Assíria a vir a Jerusalém e Mas a tentativa fracassou, e Ezequias preparou-se
servir ao Deus de seus antepassados. Sua mensagem para resistir."
é recordada em 2 Crônicas 30.6-9. Proposta emenda de tradução (v. 17): "E o rei da
"Embora alguns tenham zombado do convite, Assíria mandou Tartã e Rabsaris; e Rabsaké, de La-
contudo 'alguns de Aser, de Manassés e de Zebulom' quis, ao rei Ezequias, com um grande exército".
(2 Cr 30.11) e outros de Efraim e Issacar, 'uma mul-
tidão de povo' (v. 18), com os levitas, uniram-se com Capitulo 19
Judá. (Veja-se também 2 Crônicas 15.9.) Isto, com
os que voltaram mais tarde do cativeiro com Judá, Ezequias faz seu apelo a Deus. Notemos as carac-
resultou em uma reunião das doze tribos. (Veja-se terísticas da sua oração:
Esdras 7.13; Neemias 11.20; Atos 2.36.) 1) Ele engrandeceu a Deus: "Tu, só tu, és o Deus
de toda a terra".
"Mas os que não aceitaram o convite, junto com 2) Ele implorou a Deus: "Inclina, ó Deus, os teus
as famílias que o rei da Assíria transportou para Sa- ouvidos ".
maria de Babilônia e outros lugares (2 Rs 17.24), for- 3) Ele reconheceu a verdade, que outras nações
maram a raça mais tarde chamada os samaritanos. tinham sido destruídas, porque seus deuses eram
"Desta raça sobreviviam em 1933 uns 200 em fabricados de pau e pedra.
Nablus (antigamente Siquém). Possuíam o célebre 4) Ele desejou a glória de Deus: "para que todos
'Pentateuco Samaritano', um doa manuscritos mais os reinos da terra saibam que tu, só tu, és Deus Jeo-
antigos da lei de Moisés. vá" (19).
" A dificuldade que encontraram com os leões na Isaías conforta Ezequias (20-34). O grande profe-
terra despovoada (v. 26), porque 'não temeram a ta é o mensageiro de Deus para trazer a consolação
Jeová', resultou em pedirem um sacerdote israelita divina ao rei. Termina a sua profecia com as pala-
para os instruir acerca do 'Deus da terra', que o rei vras: "o rei da Assíria não chegará a esta cidade,
assírio entendeu ser Jeová. Este homem procurou nem atirará aqui uma seta" (v. 32).
ensinar-lhes como deviam temer a Jeová (v. 28)"
(Goodman). A derrota do inimigo foi mediante um milagre de
Deus (v. 35). Hoje não vemos tais milagres. E pode
O resumo da religião dos samaritanos é dado no ser que as nações de boje não mereçam vê-los.
versículo 33: "Eles temiam a Jeová e serviam os seus
deuses", mas o escritor segue dizendo: "Até o dia de Capítulo 20
hoje seguem os antigos costumes; não temem a Jeo-
vá nem fazem segundo os próprios estatutos e orde- Doença de Ezequias. O reinado de Ezequias du-
nanças dele, ou segundo a lei e mandamento que rou 29 anos (18.2). Sua vida foi prolongada por 15
Jeová deu aos filhos de Jacó". Por isso não é de es- anos depois da sua doença, e assim essa doença foi
tranhar que os judeus ortodoxos nos dias de Cristo no décimo-quarto ano do seu reinado. A invasão de
náo queriam amizade com os samaritanos. Sennaqueribe começou no mesmo ano (18.13). O
versículo 6 parece sugerir que a doença do rei come-
Capítulo 18 çou durante o sítio. E possível que tenha resultado
dos apertos da guerra.
Reinado de Ezequias sobre Judá. Ezequias foi O uso de um remédio (v. 7) para o curar anima-
um bom rei, e possivelmente devia muito á sua mãe nos também a esperar a resposta às nossas orações
Abi, filha de Zacarias e neta de Joiada. Lemos dele mediante o sensato emprego dos meios ao nosso al-
que: cance. Quando pedimos em oração a cura. podemos
1) "Fez o que era reto aos olhos de Jeová", se- pedir ao mesmo tempo que Deus aponte o remédio,
guindo o ilustre exemplo de Davi. como fez no caso de Ezequias ÍGoodman).
2) Ele não era supersticioso: destruiu a serpente Não vemos a necessidade de ter pedido um sinal
de cobre que tinha sido venerada pelos israelitas por (8). Era de pensar que a palavra de Jeová teria sido
uns mil anos. bastante para o rei, sem qualquer confirmação visí-
3) Ele "confiou em Jeová", "apegou-se a Jeová" vel. O oficial em Joào 4.50 fez melhor: ele acreditou
e guardou os mandamentos. na palavra que Jesus falara.
4) Ele prosperou, mas nem por isso ficou sem pro- A embaixada do rei da Babilônia (12-21). Todo
vações. este capítulo 20 é resumido em 2 ou 3 versículos em 2
Sennaqueribe invade Judá (13-36). A história da Crônicas 32, onde aprendemos que a demonstração
libertação de Ezequias do rei da Assíria é dada três das suas riquezas que Ezequias fez à embaixada ba-
vezes na Bíblia: aqui, em 2 Crônicas 32 e em Isaías bilônica, era resultado do orgulho, do qual o rei de-
36 e 37. pois se arrependeu (2 Cr 32.26).
" O reinado de Ezequias é relatado brevemente
em 2 Reis, mas muito mais em detalhes em 2 Crôni- Capitulo 21
cas. onde temos pormenores da grande revivificação
espiritual que houve no seu tempo, começando com Manassés reina sobre Judá. Começou a reinar
o primeiro mês do seu reinado, quando ele abriu as ainda criança de 12 anos e reinou 55 anos, e foi um
portas da Casa do Senhor (2 Cr 29.3). Três longos rei mau. Notemos que os 15 anos que Ezequias ga-
capítulos contam esta revivificação, e o convite de nhou com tantas lágrimas, não deram resultado

137
2 'Reis

muito satisfatório. Obteve um filho herdeiro, que em tempos passados outros reis reformadores ha-
veio a ser um mau rei, e caiu no pecado da ostenta- viam feito.
ção, e foi por isso denunciado pelo profeta (20.16-18). 2) Destruiu a imagem que estava no templo e a
As perversidade» de Manassés foram inúmeras: desfez em pó (6).
1) Ele tornou a edificar os altos - lugares de culto 3) Legislou contra a imoralidade (v. 7). Notemos
idolátrico. que essa imoralidade estava aninhada na Casa do
2) Ele levantou altares a Baal (v. 3) e até pós uma Senhor. Até hoje a tendência do paganismo é asso-
imagem dele no próprio templo de Deus acrescen- ciar a imoralidade com a religião.
tando o sacrilégio á idolatria (v. 7). 4) Acabou com os lugares altos de idolatria. Infe-
3) Ele fez passar seu filho pelo fogo (v. 6), por su- lizmente. a moralidade e a religião não podem ser
posto, um tanto mais tarde, depois de ser homem. impostas por lei, e a tendência do povo era pecami-
4) Ele se entregou ao espiritismo (v. 6) coisa sem- nosa. por isso o juízo divino estava apenas adiado.
pre proibida na Bíblia. A celebração da Páscoa (21-23). Esta grande Pás-
5) Ele derramou muito sangue inocente, mos- coa foi celebrada quando Josias tinha reinado 18
trando ser de todo malvado e perverso (v. 16). Por anos e tinha 26 de idade. Há cinco páscoas celebra-
isso disse Deus: "Limparei a Jerusalém como quem das na Escritura: A instituição (Ex 12); a celebração
limpa a escudela. a limpa e a vira sobre a sua face" no deserto (Nm 9 1-14: 30.15-22); a do Joeias (2 Cr
(v. 13). 35.1-19); a de Esdras (6.19-22), e, por último, a em
que estava presente nosso Senhor ( M t 26.19).
O relatório deste reinado em 2 Crônicas 33 conta
algumas coisas melhores de Manassés: seu cativeiro, A morte de Josias (28-30). Ele se envolveu numa
seu arrependimento, sua restauração ao reino e sua guerra sem ser preciso, e sofreu as conseqüências.
tentativa de endireitar a situação ali. Por isso ele é Lemos que Jeremias lamentou a morte de Josias (2
um notável exemplo da abundante graça divina para Cr 35.25). Porventura as palavras de Jeremias 6.1 fo-
com o atrevido pecador. ram escritas nessa ocasiáo?
"Era uma coisa o rei voltar e humildemente ree- Joacaz reina sobre Judá, por somente três meses,
dificar o altar de Jeová e mandar que o povo servisse mas teve bastante tempo para mostrar a sua perver-
o Senhor Deus de Israel (2 Cr 33.16), mas era outra sidade "conforme tudo que haviam feito seus pais"
coisa induzir o povo a fazer isso. Não era coisa tão fá- (v. 32).
cil corrigir a idolatria do povo". O rei do Egito prendeu-o, e pôs no seu trono seu
Amom, que o sucedeu, reinou só dois anos, e mor- irmão mais velho, Eliaquim (mudando seu nome
reu assassinado, c fizeram seu filho Josias rei. para Joaquim) que reinou 11 tinue eui Jerusalém, e
foi tão mau como os outros.
Capítulo 22
Capítulo 24
Josias, o último rei bom de Judá. Com oito anos a
criança começou seu reinado; com 16 começou a bus- Aparece Nabucodonosor. De Eliaquim escreve
car o Senhor Deus de Davi (2 Cr 34); com 20 come- Jeremias: Não o lamentarão, dizendo: Ah! meu ir-
çou a abolir a idolatria; com 26 começou a restaurar mão! nem Ah! irmã! não o lamentarão, dizendo: Ah!
o templo. senhor' nem: Ah! sua glória! Com a sepultura de um
jumento será ele sepultado, sendo arrastado e lança-
"Enquanto estavam limpando o templo, Hil- do fora das portas de Jerusalém" (Jr 22.18,19).
quias achou o 'Livro da Lei' (8), que se havia perdi- Segue a reinar Joaquim, filho de Joaquim, com
do, talvez por 60 anos. Esse livro era o Pentateuco, 18 anos de idade, e reina apenas 3 meses. Em Crôni-
do qual existiam poucos exemplares. Durante os cas fala-se dele como tendo 8 e não 18 anos, mas isto
maus reinados de Manassés e Amom. o sagrado livro é provavelmente um erro de copista. Um menino de
não foi consultado. Hilquias o achou e deu-o a Safá, 8 anos náo teria podido fazer em três meses tanto
que o levou ao rei (9), e ele, ao ver seu conteúdo, fi- mal "conforme tudo o que seu pai fizera" (v. 9). Je-
cou compungido com tristeza e receio (10,11), e vi- remias fala dele com desprezo assim: "Acaso este ho-
rou-se para seus amigos espirituais, um grupo piedo- mem [Jeconias] é algum vaso desprezado e quebra-
so, para obter conselho. Jeremias náo é mencionado do?... Assim diz Jeová: Escreve que este homem não
aqui, mas certamente foi ele o mais influente de to- terá filhos... pois nenhum da sua linguagem prospe-
dos. (Compara-se versículo 3 com Jeremias 1.2.) rará, sentado sobre o trono de Davi" (Jr 22.28,30), e
Juntos consultaram Hulda, a profetisa (14), que res- "ainda que Jeconias, filho de Joaquim, rei de Judá,
pondeu que a ira de Jeová estava acesa e não se apa- fosse o anel do selo na minha mão direita, contudo
garia (15-17), e que o juízo seria adiado por causa da dali te arrancaria" (Jr 22.24).
humildade do rei (18-20). A sugestão de que esta
descoberta foi 'uma fraude piedosa' não tem proba- Ele foi levado prisioneiro para a Babilônia e pas-
bilidade alguma. Reformas religiosas náo se efetuam sou 37 anos no cativeiro (2 Rs 25.27), até que afinal
por meio de embuste, nem triunfo» espirituais por Evil-Merodaque teve compaixão dele (25.27-30).
enganos" (Scroggie). Podemos também notar que te- Keinado de Zedequias (18-20). Este tio de Joa-
ria sido bastante difícil compor todo o Pentateuco quim é posto no trono de Judá por Nabucodonosor
durante os dias em que fizeram a limpeza do templo. (v. 17) e reina 11 anos, fazendo mal, como de costu-
me. Afinal ele se rebelou contra o rei da Babilônia (v.
20).
Capitulo 23
Capitulo 25
A última revivificaçào espiritual em Jerusalém.
Josias agiu prontamente. Notemos o que ele fez: Jerusalém sitiada e tomada. Ezequiel tinha esta-
1) Destruiu o culto de Baal mais uma vez, como do doze anos no cativeiro, quando as notícias lhe

138
Heis 2

chegaram: "Está ferida a cidade" (Ez 33.21). PRINCIPAIS REFERÊNCIAS N O N O V O T E S T A -


Podemos imaginar o susto que as palavras trou- M E N T O AOS LIVROS DOS REIS
xeram ao saber que Jerusalém fora deetruida, incen-
diada, arrazada - o lugar que fora "o gozo de toda a
terra", a "cidade do grande rei", o centro onde Deus
pusera o seu nome! 1 Rs 2.10 At 2.29 e 13.36
Jeremias podia escrever: "Como está sentada so- 1 Rs 10.1 Lc 11.31
litária a cidade que estava cheia de povo! Tornou-se 1 Rs 17.1-9 Lc 4.25,26
viúva a que era grande entre as nações" (Lm 1.1). 1 Rs 17.22 Hb 11.35
Este capítulo marca o fim da monarquia judaica 1 Rs 18.42 Tg 5.17,18
e o começo do "tempo dos gentios", em que vivemos, 1 Rs 19.10-18 Rm 11.3,4 e T g 5.17,18
e cujo programa está descrito nas profecias de Da- 2 Rs 1.10 Lc 9.54
niel. 2 Rs 4.34 Hb 11.35
O capítulo termina com um ato de misericórdia 2 Rs 5.14 Lc 4.27
da parte do rei da Babilônia (27-30). 2 Rs 24.15 Mt 1.12 e At 7.43

» u

139
1 Crônicas

s dois livros de Crôni- 9) O comentário ao livro dos Rei» (2 Cr 24.27).


cas (como os dois de 10) Os atos de Uzias. de Isaias. o filho de Amó» (2
Reis) sáo um só livro C r 28.22).
no cánon judaico. 11)A visào de lsafas. o profeta, filho de Amos <2
Juntos cobrem o Cr 32.32).
período deade a morte de Saul até os cativeiros. Fo- 12) As palavras dos videntes (2 Cr 33.19)" (An-
ram escritos provavelmente durante o cativeiro ba- gus).
bilónico, o se distinguem dos dois livros de Reis por
maior preocupação com Judá, e pela omissão de Capítulos 1 a 9
muitos detalhes. A bem-aventurança do povo terres-
tre de Deus durante a monarquia davidica é prova- As genealogia* de Crônica*. Seria possível ocupar
velmente a principal significação destes livros. muitas páginas com uma análise critica destas ge-
Primeiro Crônicas está dividido em trés partes: 1. nealogia». que podia ter bastante interesne para o es-
Genealogias oficiais (1.1 a 9.44). 2. Da morte de Saul tudante de história ou o critico da literatura sagra-
à ascensão de Davi (10.1 a 12.40). 3. Da ascensão de da.
Davi á sua morte (13.1 a 29.30). Nosso propósito, porém, no presente volume é
" O fato de que as Crônicas são uma compilação mais a edificação, do que a verificação de fatos histó-
de documentos antigos que certamente foram obra ricos; por iaso havemos de nos limitar a poucas ob-
dos profetas, evidentemente »e deduz dos próprios li- servações.
vros. Esses documentos são. segundo parece, muitas O nosso proveito espiritual náo depende de po-
vezes citados literalmente (vede 2 Crônica» 5.9 e dermos verificar se um dos filhos de Lotá tinha o
8.8). sendo o fim do compilador estabelecer uma re- nome de Hemâ (Gn 36.22) ou Homá (lCr 1.39) ou se
lação entre os documentos e a sua própria narrativa, o nome do filho de Sobal era Haroé (1 Cr 2.52) ou
e não modificá-los. Além disso muitas passagens são Reaia» (1 Cr 4.2). Contudo é interessante saber que
idênticas, ou quase idênticas, a outras nos mesmos estes dois nomes tém a mesma significação ( T . 276).
anais. Das genealogia» diz o dr. Angu*. " A s tábuas ge-
Os documentos a que se faz referência ou que fo- nealógicas de Crônicas, embora para nós tenham in-
ram citados são: teresse relativo, eram altamente importantes entre
1) O livro dos reis de Judá e de Israel (2 Cr 16.11; os judeus, que, em virtude de promessas proféticas,
25.26 e 28.26). Que na citação deste livro náo se com- se tornavam extremamente observadores destas par-
preendem os livros canônicos dos Reis. é evidente ticularidades. Estas tábuas apresentam a sagrada li-
pelas alusões feitas a acontecimentos que nestes náo nha. por meio da qual foi transmitida a promessa,
se acham registrados. durante quase 3.500 anos. fato que de si mesmo não
2) A história de Samuel, o vidente (1 Cr 29.29). tem exemplo na história da humanidade. A de Zoro-
3) A história de Natâ. o profeta(l Cr 29.29). babel foi certamente feita até o tempo de Alexandre
4) A história de Gade. o vidente (1 Cr 29.29). (1 Cr 3.19-24), por um escritor posterior".
5) A profecia de Aías, o silonita (2 Cr 9.29). Mattheu• Henry tem o seguinte comentário no
6) A visão de Ido, o vidente (2 Cr 9.29). começo do capítulo oito: "Quanto às dificuldades
7) A história de Semaías. o profeta (2 Cr 12.15). que ocorrem nesta e nas precedentes genealogias,
8) A história de Jeú, o filho de Hanani (2 Cr náo precisamos ficar perturbados. Suponho que Es
20.34). dras tomou-as como estavam nos livros deu Rei* de

141
1 Crônicas

• Israel e Judá (1 Cr 9.1), conforme foram entregues que duas delas tivessem sido destruídas quando o li-
pelas tribos, cada uma observando o método que vro de Crônicas foi escrito.
achava melhor. Assim alguns ascendem e outros des- 7.6. Filhos de Benjamim. Aqui sáo três. Em Gê-
cendem; algumas tem números marcados, e outras, nesis sáo dez e em Números cinco. Devemos entender
lugares; algumas têm observações históricas acres- que alguns chamados filhos eram netos dele ( T . 280).
centadas, e outras nào; algumas são compridas, ou- 7.14. " O texto deste versículo é quase incom-
tras curtas; algumas concordam com outras genealo- preensível. Provavelmente deve-se ler: 'Os filhos de
gias, outras não concordam; algumas, por suposto, Manassés foram Asriel, filho da concubina sira, e
foram rasgadas, corrigidas, borradas, e outras mais Maquir pai de Gileade, filho da sua esposa. Maquir
legíveis foram aproveitadas. As de Dá e Rúben esta- tomou para sua mulher e Maacal, irmã de Hupim e
vam de todo perdidas". Este homem santo escreveu Supim m (T. 280).
como foi movido pelo Espírito Santo; mas não havia N o meio destes capítulos tão cheios de nomes
necessidade de (milagrosamente) consertar os rela- difíceis, encontramos a jóia brilhante que chamamos
tórios que recebera, ou tanto deles quanto precisava "A oração de Jabes" (4.9,10). Notemos:
para o fim proposto, que era a direção dos cativos na 1) O seu começo, que foi triste; por isso sua mãe o
sua volta, para poderem morar o mais perto que pu- chamou Jabes, ou "que causa dor".
dessem da sua própria família. 2) O seu caráter: "mais ilustre do que seus ir-
Refere-se tudo isto às genealogias em geral. Em mãos". Era um dos fidalgos de Deus: as pessoas
particular, podemos acrescentar as seguintes notas Deus tem por graúdas, não devido aos seus conheci-
avulsas: mentos, proezas, riquezas, influência, etc., mas por
1.7. Quitim, etc. Os nomes que acabam em " i m " causa da sua piedade.
não são de pessoas, mas de povos (T. 275). 3) A sua oração, dirigida "ao Deus de Israel", ao
2.16. Davi. Parece, dos trechos paralelos em Sa- Deus dos séculos passados, que sempre tinha sido o
muel, que Jessé tinha oito filhos, dos quais Davi era recurso do seu povo. como era do seu ilustre antepas-
o último. Mas um podia ter morrido antes de Davi sado Jacó.
vir ao trono (ou antes de a família ser registrada ofi- Ele sentiu necessidade de orar a Deus. Sentiu
cialmente). confiança em orar a Deus. Sentiu prazer em orar a
3.1. Daniel, chamado Quileabe em 2 Samuel 3.3. Deus. Sentiu esperança em orar a Deus.
N o Targum se diz que ele tinha dois nomes. 4) O que Jabes pediu em oração: Quatro coisas:
3.6. Elisama e Elifelete, e outros dois com os a) A divina bênção: a certeza da divina proteção;
mesmos nomes no versículo 8. E possível que os pri- o conforto do divino controle; a consolação do divino
meiros dois tenham morrido na infância e Davi te- socorro; o gozo do divino interesse.
nha querido perpetuar seus nomes. No Brasil, um b) Engrandecimento: Que "estendas os meus ter-
crente meu conhecido deu ao primogênito o nome do mos". Porventura nós também pedimos " M A I S " ? -
pai, e quando o menino faleceu com poucos meses, mais preocupação com Deus e seus interesses? mais
chamou o segundo pelo mesmo nome. poder no seu serviço? mais interesse pela sua Pala-
" O único nome famoso que temos entre o® des- vra? mais oportunidades para fazer a sua vontade?
cendentes de Davi nesta lista é o de Zorobabel, cha-
c) O desejo de que a mão de Deus estivesse com
mado em outro lugar o filho de Salatiel, mas aqui
ele: reconheceu a própria fraqueza; quis conhecer
seu neto (3.17-19), o que é freqüente na Bíblia. Bel- mais do poder divino; quis ser guiado, guardado, ins-
sazar é chamado filho de Nabucodonosor, mas era truído, protegido.
seu neto. Salatiel é chamado filho de Jeconias por
ter sido adotado por ele, e porque, como alguns pen- d) O desejo de ser preservado do mal Jabes reco-
nheceu a presença do mal em si e em redor dele; re-
sam, o sucedeu na dignidade a que foi restaurado por
conheceu que não era capaz de resguardar-se a si
Evil-Merodaque (2 Rs 25.27-30). A não ser assim, Je-
mesmo; reconheceu que em Deus havia todo o bem,
conias não tinha filhos (Jr 22.30). Ele era 'o anel de
e que o mal não poderia prevalecer na presença de
selo arrancado da máo direita de Deus' (Jr 22.24), e
Deus.
Zorobabel foi ponto no seu lugar; e por isso Deus lhe
5) O resultado da sua oração. Deus concedeu-lhe
disse (Ag 2.23): "Far-te-ei como um selo'. A posteri-
o que tinha pedido. Pela graça divina ele prosperou
dade de Zorobabel não leva aqui os mesmos nomes material e espiritualmente. Provou a bem-
que tem nas genealogias de Mateus e Lucas, mas es- aventurança de uma vida controlada por Deus em
sas foram sem dúvida copiadas dos registros públi- todos os seus pormenores.
cos que os sacerdotes tinham de todas as famílias de
Desde os primeiros tempos Deus tem escutado as
Judá, especialmente de Davi" (Matthew Henry).
orações dos piedosos, e seu ouvido ainda não está pe-
3.16. Zedequias. "Visto que os filhos de Jeconias sado.
são enumerados no versículo 17 e Zedequias nunca é
chamado filho de Jeconias, mas filho de Josias, é de Capítulo 10
entender que filho aqui quer dizer sucessor. Era seu
tio" ( T . 277).
A tragédia de Saul. As lições que aprendemos da
3.22. Seis filhos de Semaías, mas a lista dá so- vida de Saul são:
mente cinco. Podemos entender que o pai está in- 1) Que uma vida errada será, mais cedo ou mais
cluído na contagem. tarde, julgada (v. 13).
4.17. Erza parece ser a pessoa chamada Asareel 2) Que embora o julgamento venha pelos ho-
no versículo 16 ( T . 277). mens, é do Senhor (4,14).
6.28 é preciso corrigir de acordo com V.B. 3) Que o pecado de um importa no sofrimento de
6.60. "Treze cidades". Somente onze sáo enume- muitos (v. 6).
radas, mas no livro de Josué há mais duas: Judá e 4) Que um bom princípio náo garante um bom
Gibeom. Nenhuma das listas dá as treze. E possível fim da vida.

142
1 Crônicas

5) Que é fácil ter uma forma de piedade sem o po- 3) O homem nào deve ser atrevido perante Deus.
der de Deus (v. 4). Saul era um homem circuncida- A ação irrefletida de Uzá talvez revelasse uma falta
do, e desprezava os povos incircuncisos. de reverência e apreciação da divina dignidade. O
6) Que embora os inocentes possam ter parte na fato é que náo sabemos precisamente como ele esco-
calamidade que segue o pecado, não têm parte na rou a arca, nem o seu aspecto e atitude em fazê-lo.
culpa. Isto deu-se com Jônatas. Daquilo que parece um desastre pode sair o bem!
7) Que grandes poderes podem ser fatalmente Davi e o povo aprenderam a reverência; e Obede-
mal-empregados. Edom recebeu uma grande bênçáo.
8) Que uma nobre vocação pode nunca ser reali-
zada. Capítulos 14 e 15
9) Que está o espiritismo tão longe da espirituali-
dade como o Inferno está longe do Céu (13,14). lavando a arca para Jerusalém. A lição desta se-
10) Que devemos recordar por muito tempo a gunda tentativa de levar a arca para Jerusalém é re-
bondade que os outros nos mostram, e fazer todo o consideração. A primeira vez Davi náo foi bem-
possível para provar a nossa gratidão (11,12) (Scrog- sucedido, e podia ter abandonado seu propósito com
gie). bastante prejuízo para si e para o povo.
Mas ele reconsidera o caso, indaga em que errara
Capítulo 11 a primeira vez, e afinal faz tudo de acordo com a
vontade de Deus.
Davi e seus valentes. O primeiro era Jasobedo o Notemos:
hacmonita (chamado taquemonita em 2 Samuel 1) Um lugar preparado (v. 1). Quem deseja rece-
23.8), onde as palavras "o mesmo era Adino o ezni- ber Cristo no seu coraçào deve cuidar que haja um
ta" devem ser traduzidas, provavelmente, "ele le- lugar disponível para Ele, um lugar desocupado de
vantou a sua lança". tudo que náo esteja em harmonia com a sua presen-
Segundo, Eleazar, filho de Dodó. ça.
Terceiro, Sama, de quem lemos em 2 Samuel 2) Cuidadosa atenção á Palavra de Deus. Os sa-
23.11,12. Seu nome desapareceu de 1 Crônicas 11.13, cerdotes sáo chamados e preparados para seu legíti-
por isso temos que ir buscá-lo em 2 Samuel. mo serviço (v. 11).
Ê provável que devemos ler o versículo 15 assim: 3) Muita atenção à "ordenança divina" (v. 13).
"Estes trés dos trinta chefes... " E o versículo 20: "A- Quando Deus tem determinado como qualquer coisa
bisai. irmão de Joabe, era chefe [ do segundo grupo] • deve ser feita, devemos seguir o método estabeleci-
de três". Depois dele vem Benaia (v. 22). O terceiro do. Quando Deus não tem determinado o processo de
deste grupo nào é nomeado. qualquer rito, nào devemos nos preocupar demasia-
Havia também o grupo de trinta valentes, e entre damente com o método.
eles Asael e Urias hetita (v. 41). 4) "Deus ajudou os levitas " (26). Quando temos a
Hoje quais são os valentes que empreendem certeza de que estamos de acordo com a Palavra di-
grandes aventuras por amor de quem é maior de que vina, podemos ter experiência da ajuda de Deus.
Davi? 5) Havia louvor e regozijo com o serviço. Fazer a
obra de Deus alegra o coraçào, e podemos cantar os
Capitulo 12 seus louvores quando trabalhamos de acordo com a
sua vontade.
Os que vieram a Davi. Neste capítulo há três lis- 6) Houve quem viu tudo isto com desprezo. Mi-
tas: a primeira em 1-15; a segunda em 16-22; a ter- cal, filha de Saul, julgou haver uma falta de dignida-
ceira em 23-40. Alguns dos homens chegaram a Davi de da parte do rei quando Davi dançou perante a ar-
quando ele era fugitivo; outros quando fora reconhe- ca. Ainda hoje uma pessoa carnal náo aprecia um
cido rei. culto espiritual.
E nosso privilégio sermos associados com Cristo
na sua rejeição, para depois termos parte com Ele na Capítulo 16
sua exaltação (2 T m 2.12).
Quem costuma ler a versão de Almeida precisa Um salmo em ação de graças (7-36). Este salmo é
corrigir o versículo 14 pela V.B. - "o que era menor, semelhante a três outros, que nào levam o nome de
valia por cem homens, e o maior por mil". Davi. A primeira parte (8-22), é parecida com o Sal-
mo 105.1-15; a segunda (23-33), é semelhante ao Sal-
Capitulo 13 mo 96.1-13; a terceira (34-36), encontra-se no Salmo
106.1,47,48.
A Arca em casa de Obede-Edom. Ekta solene his- '.'Este salmo pode ser tomado como um modelo
tória ensina várias lições importantes: dos hinos sagrados, visto que se ocupa com:
1) Boas intenções não bastam. Davi quis fazer 1) " O poder e a bondade de Deus (8,9,12).
bem esta vez, como numa ocasião subseqüente (2 Cr 2) "Sua relação conosco e com o mundo todo
6.8). Mas precisa haver obediência. (13,14).
2) Grande cerimônia não é aceitável a Deus, no 3) "Ações de graças em memória da sua bondade
caso de náo ser "segundo a devida ordem". Ainda e misericórdia (8,9).
hoje um grande ritual, ou procissões magníficas, nâo 4) " O gozo e a comunhào com Ele (10,11), e mui-
sendo de acordo com a Palavra divina, nada valem, to mais" (Scroggie).
porque "Deus é espirito, e os que o adoram precisam A arca da aliança (37-43). "Devemos entender
adorá-lo em espírito e em verdade". Lemos em 2 Sa- que o antigo serviço do tabemáeulo está agora divi-
muel que nada menos de 30.000 pessoas tomaram dido. A arca foi levada a Sião (1 Cr 11.5), enquanto o
parte nesta grandiosa ocasião. altar de cobre e provavelmente os vasos sagrados fi-

143
1 Crônicas

caram no lugar alto de Gibeom A safe e os cantores lavras dele eram um exagero. Ele tomou toda a culpa
(1 Cr 6.31-39: 15.16-19; 16.5; 25.6) ficaram diante da sobre si.
arca' (1 Cr 16.37), enquanto os sacerdotes ministra- 3) A angústia de Davi (9-13). Escolher, enti* três
vam 'diante do tabernáculo* (1 Cr 16.39). Tudo isto males, o mais aceitável. Era todo caao achamos a sua
importava na confusão do serviço. Com a construção escolha acertada e o "porquê" dela (v. 13) tem toda a
do templo, a divina ordem parece ter sido restaura- razão de ser.
d a " (Scofield)
Vemos que o resultado final de toda esta discipli-
na foi uma maior compreensão das misericórdias di-
Capítulo 17 vinas e um aumento do culto espiritual.
Davi levanta um altar a Jeová (18-30). Seria
Davi deseja edificar o templo (1-15). As divisões muito bom se a conseqüência das disciplinas que so-
deste trecho podem ser: fremos da mão de Deus fosse sempre um desenvolvi-
1) Um bom propósito (1,2). Se tivesse sido egoís mento maior da nossa vida espiritual.
ta. Davi podia ter pensado em edificar para si um Davi comprou de Orná "a eira e os bois" por 50
grande palácio, mas seu desejo mais ardente era siclos de prata (2 Sm 24.24) ou "o lugar" por 600 si-
construir a Casa de Deus: "Não entrarei na tenda da cios de ouro (1 Cr 21.25). A quantia marcada em
minha casa .. até que eu ache um lugar para Jeová, Crônicas dá a idéia de ter Davi resolvido adquirir
um tabernàculo para o Poderoso de Jacó" (SI 132 3- muito maior parcela de terra para a construção futu-
5). ra do templo.
2) O propósito frustrado (3-6): "Tu náo edificará*
casa para Eu habitar". Sem dúvida, um desaponta-
mento para Davi. mas ele havia de compreender a Capítulo 22
razão da palavra divina. Alguns são chamados para
guerrear, outros para edificar: poucos para ambos os Este capítulo pode ser dividido assim:
trabalhos. Trabalhando para o futuro (1-5,14-16). Davi, em-
3) Certeza do favor divino (7-10), Esta certeza é bora não lhe fosse permitido construir o templo, fez
dada A pessoa (7.8); ao povo <9.10); e A posteridade muitos preparativo* para ele. Primeiro comprou o
(10). alto do monte. Foi ali que Abraão tinha posto Isaque
4) Pai e filho (11-14). A alusão aqui é dupla, pri- sobre o altar: ali foram edificados os templos de Sa-
meiro a Salomão e depois a Cristo. "Seu trono paro lomão, de Zorobabel e de Herodes. Presentemente
sempre" não se realizou era Salomão, mas terá seu estã ali a mesquita de Omar. Para a obra projetada.
cumprimento em Cristo <Lc 1,31-33). Davi ajuntou uma imensa quantidade de material e
No restante do capítulo, ouvimos Davi em oração dinheiro.
referente á casa dele mesmo, que Deus prometera es Recusas divinas justificadas (6-10). Davi chama
tabelecer. Isto também pode ter a sua completa rea- o jovem príncipe Salomão e explica-lhe seus projetos
lização em Cristo, o descendente de Davi referentes ao templo, e por que Deus mandara adiar
o serviço. A vontade de um crente pode ir além da
Capítulos 18 a 20 sua capacidade. Todos temos de agir dentro de cer-
tos limites.
Davi vence seus inimigos. O capitulo 17 conta a Condições de prosperidade (11-13). Toda a pros-
piedade e a oração de Davi. e agora lemoe da sua peridade é condicional. Deveos procurar todos oe
prosperidade e das suas vitórias. meios de ser úteis: as oportunidades, o espirito de fé
Primeiro ele suhjugn os filisteus, que por tanto e devoção, a energia e boa vontade, as dons intelec-
tempo tinham afligido Israel; depois vence o« moabi- tuais. etc.
ta*. (18.2) e o rei de Zobá (v. 3). Em seguida derrota
os siros (v. 6) e os edomítas (v. 13). Mais tarde, os Uma chamada d ação (17-19). Devemos reconhe-
amonitas (20.1). e. então, outra vez vence os filisteus cer e usar a oportunidade presente: "Levanta-te, e
(20.4). mete mãos d obra" (16) (Scroggie).

Capítulos 23 a 28
Capitulo 21
Davi faz Salomão rei. O capitulo 23 começa com
Davi numera o povo. O leitor deve consultar a ex- uma alusão ao fato de que Davi na sua velhice "coru-
plicação dada sobre este incidente em 2 Samuel 24. tituiu a seu filho Salomão rei"; depois segue com vá-
Podemos ter toda a certeza de que esta proposta rios detalhes dos cargos e ofícios em Israel, em todos
de numerar o povo veio de Satanás, como lemos no os capítulos até o 27. No capítulo 28. recomeça com o
versículo 1, mas precisamente por que isso era tão re- mesmo assunto: as instruções a Salomão.
preensivel e contra a vontade de Deus. náo é declara-
do. Do versículo 2 a 8 Davi entrega a Salomão oe mo-
delos e a» plantas do Templo. A linguagem do versí-
As divisões do trecho podem ser: culo 19 é bem notável: "Foi por um escrito da sua
1) O pecado de Davi. Que tal numeração era pe- mão. disse Davi. que Jeová me revelou tudo isto, to-
cado. Davi mesmo reconheceu imediatamente de- das as obras do modelo". Ele é tão positivo de ter re-
pois, por isso nós não precisamos ter quaisquer dúvi- cebido a planta do templo diretamente de Deus.
das sobre o assunto. E notável que Joabe. que náo como foi Moisés no que diz respeito A planta do ta-
era nada espiritual, tão positivamente protestou bernáculo.
contra o alistamento.
Ê provável que Davi tenha julgado Salomão mui-
2) A confissão de Davi (7.8). "Cometi um grande to moço (18 anos), para levar adiante a grandiosa
pecado em fazer isso". Ele com certeza sabia isso obra do templo, por isso o exortou: "Èsforça-te e tem
melhor do que nós e não precisamos supor que as pa- bom ânimo, e mete mãos d obra" (v. 20).

144
1 Crônicas

Capítulo 29 Davi termina orando pelo povo e pelo jovem Sa-


lomáo.
As ofertas para a construção do templo (1-9). " S e Morte de Davi (26-30). Davi começou a reinar
todo o povo de Deu» fosae tão zeloso para a constru- com 30 anos e reinou 40 anos. antes de entregar o rei-
ção da casa espiritual de que lemo» em Bfésio» no a Salomáo. Náo se nos diz quantas anos mais ele
2.21.22 (o "santo templo no Senhor", e "uma habita- viveu, ou se faleceu em seguida, mas "morreu numa
ção de Deus pelo Espírito"), e a de 1 Pedro 2.5: (a boa velhice, cheio de dias. de bens e de honra" (28).
casa espiritual feita de pedras vivas); como foi Davi O dr. Scroggie faz a seguinte comparação entre
no que se referia ao templo material, com quanta ra- Davi e Salomáo: "Ambos reinaram sobre Israel; am-
pidez seriam acrescentadas as pedras vivas! Note- bos escreveram literatura imortal. Mas eram mais
mos o zelo de Davi neste assunto: diferentes do que semelhantes. Davi foi elevado de
uma posição humilde; Salomáo começou com um
1) Ele reconheceu a dignidade do templo, pois resplendor real. Davi lutou para ganhar o trono; Sa-
chamou-o um "palácio" (v. 1). lomáo vivia pacificamente em majestade imperial-
2) Preparou com todas as forças (v. 2) e empregou Davi era culpado de pecados passageiros, mas Salo-
material legítimo, sem procurar substitutos. máo entrou numa continuada decadência. Sabedo-
3) Pôs seu coraçáo no serviço: "pus meu afeto na ria divina se vê nos escritos de Davi. e sabedoria hu-
casa de meu Deus" (3). mana nos de Salomáo. Davi era um homem segundo
o coraçáo de Deus, mas Salomáo náo o era. Seremos
4) Deu um bom exemplo, contribuindo liberal-
julgados afinal, náo por nossos atos isolados, mas por
mente (3). todo o complexo e tendências da» nossas vidas.
5) Pediu consagração voluntária (5).

145
2 Crônicas

ste livro contjnua a histó- que foi firmado: é o monte Moriá. onde o pecado ti-
ria começada em Primeiro nha aido severamente reprovado (1 Cr 21.15-17), e
Crônicas. Compreende onde uma oferta de substituição tinha aido oferecida
dezoito divisões, de acor- (Gn 22). O templo de Deus que nós conhecemos está
do com os reinados, desde edificado sobre Cristo e seu sacrifício (Mt 16.18) e
Salomáo tá cm cativeiros; recorda a divisáo do reino "outro fundamento ninguém pode pôr".
de Saio o sob Jeroboão e Reoboào, e é caracteriza - " O templo havia de ser construído de pedras es-
do por a crescente apostasia, melhorada parcial- colhidas, e a construção feita por operários escolhi-
mente as reformas sob Asa (14-16); Josafá (16- dos. Membros descrentes de igrejas, e ministros sem
17); Joás (24); Ezequias (29-32), e Josia» (34-35). Po- piedade, são uma abominaçáo ao Senhor Nós somos
rém o estado religioso do povo é descrito em Isaias 1 tanto os obreiros como a obra, mas Deus é o Arquite-
a 5 (Scofield). to e o Morador do templo. A obra de Deus deve ser
feita pelo povo de Deus e pelo modo que Deus deter-
mina" (Scroggie).
Capitulo 1
"Segundo a primitiva medida" (v.3). Supõe-se,
Salomão começa a reinar. O capítulo fala primei- com muita probabilidade, que a primitiva medida
ro do sacrifício (1-6) e depois da visão (7-13). As duas significa o cúbito empregado no tempo de Moisés,
coisas são vitalmente relacionadas. Quero nunca distinto do de Babilônia que os israelitas emprega-
chega ao altar náo será digno do trono. vam depois do cativeiro. Visto que estes livros foram
Nessa ocasião, a Arca e o Altar estavam separa- escritos depois do cativeiro, era necessário para o es-
dos (v.4,5). mas assim náo deve ser: náo podemos se- critor fa/.er esta observaçáo, para que ninguém pen-
parar de Cristo a cruz, e ainda ter a salvação. sasse que se referia ao cúbito babilônico, que media
A Salomão foi-lhe permitido pedir. Foi uma oca- um palmo e um sexto menos que o cúbito de Moisés"
sião de momento, e ele a aproveitou bem. <T).
"Altura do pórtico: 120 cúbito*" (v.4). Visto que
Capitulo 2 a altura do templo era apenas de 30 cúbitos, 120 cú-
bitos parece ser demais para o pórtico. As versões
Salomão faz preparativos para a construção do siriaca. arábica e dos L X X no códex Alexandria dáo
templo. Notemos como ele sem demora começa a fa- "vinte" (T).
zer o que Davi propusera. Ele conta com a coopera-
ção de muitos: de Hirão. rei de Tiro (v.3), de um ho- Capitulo 4
mem perito chamado Hirio-Abi, e de milhares de
outros que haviam de ajudar com o carregamento de ü altar, e o mar de bronze (1-6). Há alguma dúvi
materiais, etc. da quanto à palavra traduzida "bois" no versículo 3;
Notemos que era preciso também empregar 3.600 se náo deve ser "botões". "Dez bois em cada cúbito"
fiscais "para fazerem trabalhar o povo" (v.18). parece demais, e o versículo 16 fala de haver, ao to-
do. doze bois O assunto é estudado no Treasury.
Capítulo 3 p.297.
"Am portas... eram de ouro" (v. 22). Provavelmen-
A construção do templo. Notemos o terreno em te. como em 1 Reis 7.80. "as dobradiças dat portas

147
2 Crôniau

O è 'mar" podia conter 3.000 batos quando com- rá (14). Notemos que a responsabilidade é individual
pletamente cheio, ou 2.000 (1 Rs 7.26) como geral- (17) e coletiva (19.20) (Scroggie)
mente se enchia.
Parece-nos incrível que um homem como Salo-
mão. possuidor de tão notável revelação de Deus, ou-
Capítulo 5 vindo advertências táo solenes, dele apostatasse tão
completamente. Porventura podemos acreditar que
A Arca levada para o santuário do templo. Tinha semelhante coisa acontece hoje?
a Arca estado na tenda, mas agora é levada para o
templo; e a Arca era uma figura de Cristo. Antiga- Capitulo 8
mente ela ocupava o lugar principal no templo,
como Cristo deve ocupar o principal lugar na Igreja.
Serviços religiosos (12-18). Primeiro Salomão
Então náo havia nada na Arca senão as duas tá- teve o cuidado de remover sua mulher pagá da cida-
buas de pedra da Lei (v.10). Estas existiam por 490 de santa para a casa que lhe edificara; e então cuida
anos. Onde estava o maná e a vara? (Hb 9.4). E per- de promover os necessários serviços religiosos. Náo
feitamente verdadeiro dizer de Cristo que a lei de vamos pensar que ele mesmo oferecesse oa sacrifícios
Deus estava no seu coração (SI 40.8), • ae queremos sobre o altar, como mais tarde fez Uziaa (2 Cr 26.16-
ser semelhantes a Ele. ela deve estar também em 20), e sim que se serviu dos sacerdotes devidamente
nosso coração (Hb 10.16). apontados (14).
EBte trecho fala do começo do culto no templo, e
vemos que era caracterizado por obediência, sacrifí- Capítulas 9
cio, reverência, gozo e glória. Porventura tudo isto
entra em nosso culto também?
A rainha de Sabá. A história da rainha de Sabá é
Ê um grande dia na história de qualquer alma instrutiva no seguinte sentido:
quando dá a Cristo seu devido lugar. Tal ato é sem- 1) Ela ouviu a fama de Salomão (v. 1). Quem é
pre caracterizado por preparaçáu (2,3) e consumação que nunca ouviu a fama de Cristo? - E divulgada por
(11-14). Sacrifício e louvor estão relacionados: todo o mundo.
"Quando começou o holocausto, começou também o 2) Ela não acreditou (6) Parecia-lhe um exagero
cântico de Jeová" (29.27); e há pouco louvor na vida ou uma mentira.
de muitos porque há pouco sacrifício (Scroggie).
3) Ela resolveu ir ver para crer (6). Há bastante
evidência da verdade da salvação de Deus em Cristo
Capitulo 6 para persuadir qualquer um a indagar por ai, e dei-
xá-lo sem desculpa se ele se descuida de tão grande
Oração dedicatória de Salomão. Notemos as suas salvação, e continua nos seus pecado*.
atitudes: primeiro, com as costas viradas para o po- 4) Ela resolveu provar Salomão por enigmas. O
vo. ele se dirige a Deus (1,2). Depois ele se vira outra Senhor convida cada um a trazer-lhe seus problemas
vez. e abençoa o povo (v. 3). Então, na oração princi- espirituais e todas as suas dificuldades
pal (v. 12). com as mãos estendidas, ele m conserva
5) Ela ficou abundantemente satisfeita, e des-
em pé por uns momentos. Ajoelha-se afinal (13) e, cobriu que Salomão excedeu toda a fama que ela ou-
ainda com as mãos estendidas, ora. Diz-se que esta é vira (6).
a primeira vez na Bíblia que alguém ora de joelhos.
Visto que Salomão estava sobre uma plataforma ti) Ela relata o que mais lhe agradou (3,4): A sa-
com três cúbitos de altura, havia de ser bem visível bedoria (1 Co 1.24); a casa que ele edificara (Eí
2.22); a comida da sua mesa (1 Co 10.16) (Good
ao povo. man).
Na primeira parte desta oração há quatro peti- O resto do capitulo relata sobre toda a magnifi-
ções: pela rasa de Davi (16); pelo templo (18); por cência de Salomão, mas contém pouco que satisfaça
ele mesmo (19); e por todos os que futuramente ha- o coração. Afinal, ele morreu e deixou tudo. Pouco
veriam de pedir (21).
ou quase nada se diz aqui da sua idolatria ou da sua
Depois deste profundo começo, a oração continua sensualidade. Durante os 40 anos do seu reinado, ele
com sete pedidos distintos (22,23; 24,25; 26 27 28- fez pouco ou quase nada que possamos imitar.
31; 32,33; 34,36; 36-39).
Na conclusão, Salomão roga a Deus ouvir (30); Capítulo 10
levantar-se, abençoar (41); e lembrar-se (42).
Reoboão reina Eate capitulo descreve como o rei-
Capítulo 7 no unido chegou a ser dividido. Leia-se 1 Reis 11.26
40 para ver como isto sucedeu.
Deus aparece a Salomão pela segunda vez (11- Reoboão era filho de um pai possuidor de conhe-
22). Depois desta ocasião de revivificação espiritual, cimento de Deus, de mãe pagá. Ele herdou o reino e
durante as vigílias da noite. Deus aparece outra vez a riqueza do pai, mas náo a sua sabedoria. Tinha o
a Salomão e faz-lhe promessas, maa condicionais. direito, mas não a capacidade de reinar. Eate capítu-
A visão segue à obediência; oa que agradam a lo revela o despotismo de Salomão (v. 4), e mostra
Deus o verão e o ouvirão. A manifestação teve tr^s que grande parte da sua glória era apenas dourada e
propósitos: a) asseverar a Salomão que a sua oração náo de ouro maciço.
fora ouvida, b) assegurar-lhe que, se ele e o povo fos- O pedido de "todo o Israel" era moderado e ra-
sem fiéis. Deus seria o protetor; c) declarar que, no zoável, pois havia motivo aceitável de queixa (3,4), e
caso de ser infiel, haveria a devida retribuição. o rei consultar seus conselheiros era sensato e bom,
Os olhos, oa ouvidos e o coração de Deus estão mas seu procedimento imediato revela loucura in-
pcrpetuamente atentos ao seu povo (15,16). Se nós desculpável. Ele meamo estava no meio da vida (1
nos arrependermos, Ele nos perdoará e nos abençoa- Ra 14.21), e consultou homens mais idosos, e mais

148
iCrônUés

novo» do que ele (6,8); e. em vez de tomar o melhor "moço e medroso" (apesar dos seus 41 anos: 1 Rs
conselho, tomou o pior (7-11), 14.21) e. por iaao. incapaz de resistir á revolta.
Também havemos de considerar Jeroboáo. Note- Abias, com 400.000 homens e Deus, derrota Jero-
mos seu nascimento humilde, sua coragem, sua pro- boão que estava com uma consciência acusa do ra
moçáo, sua traição, sua fuga. sua volta e propósito O relatório do reinado de Abias em 1 Reis 15.1-8
ultenor < 1 Rh 11.26-40). Foi uma hora critica quando relata muito da sua perversidade nada da sua vitó-
Reoboâo e Jeroboáo se enfrentaram (3). Israel se re- ria. Nesse capítulo devemos ler. no versículo 6. "A-
voltou contra Judá, mas sabemos que esta loucura bias" e nâo "Reoboâo".
humana cumpriu um propósito divino (Scroggie).
Capítulo 14
Capitulo 11
O bom reinado de Asa, Ele reinou por 41 anos
Deu* pn>ibe uma guerra civil em Israel. "Volte sobre Judá. A sua história é relatada em 1 Reis 15.8-
cada um para sua casa, porque isto prttcede de mim " 54, em 17 versículos, mas aqui ocupa 48 (cap. 14 a
(v. 4). Assim evitou-se uma contenda entre irmáos e 16). Ele foi um dos melhores reis de Judá. O capitulo
os dois reinos continuaram separados. divide-se em duas partes: Paz e Guerra.
Contudo vemos que a influência espiritual cha- 1) Paz (1-8). Durante dez anoso rei tratou de des-
mava para Jerusalém. Os levitas todos concorreram truir o mal e construir o bem. Foi um período carac-
para ali (13), e outros homens piedosos também (16). terizado por petição, paz e prosperidade (v. 7).
Jeroboáo quis remediar o caso fazendo sacerdotes de 2) Guerra (9-15). Notemos: o invasor (9); a ação
todas as classes do p<»vo (1 Rs 12.31 e 13.33). do rei e do povo de Judá (10,11); o que Deus fez (12-
A família de Reoboâo (18-23). Entre outras mu- 15).
lheres. ele casqu-ae com "Abigail, filha de Eliabe", o Onde há dependência de Deus. haverá vitória
irmão mais velho de Davi. mas, visto que mais de 80 sobre 06 inimigos.
anos passaram desde que Davi. com a idade de 30.
começara a reinar, devemos entender que a moça era Capítulo 15
neta de Eliabe, e náo filha. E freqüente na Escritura
um neto ser chamado filho. Um pacto solene. Podemos notar:
No que diz respeito à moralidade, Reoboâo nâo 1) A ocasião Um momento de vitória: oa etíopes
foi muito melhor do que seu pai, mas nesses tempos derrotados; o povo de Judá ganhara muitos despoja*.
primitivos, parece que era usual aos reis o terem Foi justamente nesse momento glorioso que necessi-
muitas mulheres e concubinas. tavam escutar a voz de DeuB.
2) A mensagem profética:
Capitulo 12 a) Originou-ae numa inspiração do Espirito de
Deus talvez durante uma hora de oração.
A invasão de Sisaqur. Notemos o avanço, o efei- b) Foi dada ao rei e a todo o seu exército.
to, o resultado. c) Referiu-se ao passado. (Nós devemos estudar o
O avanço (1-4). Considere o homem, o exército, o passado para aprender dele.)
progresso, e, especialmente, a mão divina atrás da d) Citou a ocasião de uma angustiosa oração e a
ação humana (2b). resposta favorável (v. 4).
O efeito (5-8). Há primeiro uma palavra de aviso e) Terminou com uma exortação ao esforço, e
(5) e então uma palavra de misericórdia (7.8). Entre prometeu uma recompensa.
estas há penitência e confissão da parte do rei e seus 3) O que o rei fez:
príncipes (6). As ações de Deus são muitas vezes de- a) Tirou as abominaçôes que impediam o culto
terminadas pelas nossas. Ele náo pode fazer o que divino. Que abominaçôes temos tirado da nossa vi-
quer, porque nós náo fazemos o que devemos. A mi- da?
sericórdia se mostra somente aos contritos. b) Renovou o altar. Há qualquer coisa na nossa
O resultado (9-12). O serviço a Deusé substituído vida espiritual que carece de ser "renovada"?
por servidão aos homens, para que todos aprendam c) Ajuntou o povo de Israel e Judá o quanto pôde.
que é melhor a submissão ao Senhor do que ao estra- Procuramos nós reunir, ou dividir o povo de Deus?
nho (8). 4) O que o povo fez:
O rei procura agora manter as aparências, substi- a) Dirigiu-se a Jerusalém - o centro divinamente
tuindo ouro por latão (10,11): conformou-se com apontado para todo o Israel. Qual é o centro hoje?
(Mt 18.20).
uma coisa inferior.
"Ainda se acharam coisas boas em Judá" (12). b) Ofereceu dos seus lucros ao Senhor (v. 11).
Havia algumas jóias na areia. Havia alguma virtude c) Entrou no concerto de buscar o Senhor, de se
no meio de tanto vício. O mundo nâo pode perecer submeter em tudo á vontade divina.
enquanto a Igreja está nele (Scroggie). Que coisas podemos achar neste capítulo como
um espelho que nos reflita? Que coisas nos parecem
um aviso para nós nos endireitarmos?
Capitulo 13
Capitulo 16
O reinado de A bias sobre Judá. Começa agora a
guerra entre Judá e Israel, pois nem um nem outro Últimos anos de Asa. "As primeiras palavras des-
atende mais à Palavra de Deus que a proibira (11.4). te capitulo apresentam uma dificuldade, visto que
Abias faz um discurso em que pretende explicar o ê- aprendemos de 1 Reis 15.28 e 16.8 que Baasa. rei de
xito da revolta doa "homens sem valia, filhos de Be- Israel, subiu ao trono no terceiro ano de Asa e reinou
liai" (7) pelo simples fato de que seu pai era então 24 anos.

149
2 Cr&nküs
'"Há duas explicações possíveis. Uma. que « um "Mica então relata uma visáo que recebera, que
erro de copista. O historiador Jateio põe a guerra nos leva atrás dos acontecimentos e permite-nos por
com Baasa no ano 26 de Asa, o que elimina a dificul- um momento ver os modos divinos de agir (18-22).
dade. Outra explicação é que 'o trigésimo sexto ano Aprendemos aqui: que Deus opera por meio de agen-
de Asa' significa o trigésimo sexto ano desde a divi- tes secundários, que podem ser maus ou bons; que
são do reino. Alguém traduz: 'No décimo sexto ano'. Ele. às vezes, permite serem enganados os que o de-
"Asa, corno muitos outros, parece ter degenera- sejam ser, que uma retribuição justa apanha oe que
do nos seus últimos anos: persistem no pecado. Muito de misterioso necessa-
1) "Na sua fé (1-6). A confiança em Deus que Asa riamente se encontra numa revelação como esta.
mostrara quando venceu os etiopes não aparece mas ao menos torna claro que, na execução da von-
quando Baasa invade a terra. Serviu-se do expedien- tade divina, multidões de inteligências angélicas es-
te de pedir a cooperação de um rei pagâo. Ele ga- tão empregadas, e aprendemos de outras escrituras
nhou a vitória, mas perdeu muito na dignidade e no que tanto maus espíritos como bons agem com res-
testemunho. peito a este mundo e seus habitantes (Jó 1 e 2; Dn
2) "No seu gênio (7-10). Caiu na prática de cruel- 10).
dade: 'oprimiu a algun» do povo'. Encarcerar um "Grande era a coragem do profeta e surpreenden-
profeta de Deus por lhe ter falado a verdade era uma
te o seu oráculo; notemos agora a recompensa que ele
grande tirania.
recebeu (23-27). A malícia e a insolência caracteri-
3) "Na sua saúde (12). Buscar os médicos prova- zam o que Zedequias fez. Mica foi á cadeia, mas
velmente quer dizer servir-se dos encantos e magia Acabe foi ao sepulcro.
dos charlatáes do seu tempo. Contudo, teve um "Como saiu. afinal? Acabe perdeu, Benadade ga-
grande enterro (14): tinha reinado bem, e era queri- nhou, Josafá escapou (28-34)" (Scroggie).
do do povo" (Goodman).

Capitulo 17
Capítulo 19
Josafá reina. A primeira coisa que lemos dele é
que "fortificou-se contra Israel", o que nos faz pen- O profeta Jeú repreende Josafá (1-3). Jeú em ou-
sar como, às vezes, os crentes contendem uns com os tra ocasião tinha repreendido o rei Baasa de Isrsel, e
outros, em vez de combater o inimigo comum. agora traz uma palavra de reprovação ao rei Joeafá,
Em todo o caso, mais tarde, fez ainda pior do que de Judá: "Deves tu «ocorrer oc iníquos e amar os que
guerrear contra Israel: aliou-se a ele (cap. 18). aborrecem o Jeovát" E. pelo visto, o rei náo reagiu
Josafá é louvado porque: contra a repreensão.
1) "Andou pelos primeiros caminhos de Davi", No restante do capítulo, Josafá se ocupa com re-
seu pai (3), isto é, antes de Davi cometer seu maior formas administrativas no seu reino.
pecado.
2) "Andou noa mandamentos de Deus", e evitou
as obras de Israel (4). Capitulo 20
3) "Foi alentado seu coraçáo ftrad esp.) nos ca-
minhos do Senhor" (6). Lemos de Davi que ele se Josafá pede auxílio divino contra Moabe e
confortou em Jeová seu Deus (1 Sm 30.6). E um bom Amom. Neste capitulo há sete pontos não referidos
costume. no correspondente trecho de 1 Reis. Eles são:
4) "Tirou de Judá os altos e os bosques" (v. 6). 1) Perigo (1-5). Há sempre inimigos em redor:
Consultando 20.33 e 1 Reis 22.44, concluímos que ao amonitas e moabitas.
mente tirou os altos de Baal. Os altos dedicados a 2) Prece (6-12). O recurso do crente é sempre a
Jeová, embora proibidos, eram menos ofensivos, e oração a Deus.
por isso ficaram ainda. 3)PromeMêa (13-17). Essa vez a mensagem divina
5) "Procurou educar o povo na lei de Deus, me- veio pela boca de Jaaziel: "Náo tenhais medo nem
diante um sistema e método de instrução (9). vos assusteis por causa desta grande multidáo " (15).
4) Louvor (18-21). Qualquer um pode cantar de-
Capitulo 18 pois de uma vitória, mas somente a fé pode cantar
antes.
Josafá faz aliança com Acabe. "Este capitulo é 5) Punição (22-24), que sobreveio a esse» inimi-
uma revelação de caráter. Temos aqui. Josafá en gos.
trando em decadência. Acabe, sutilmente perverso. 6) Posse (2) para os vencedores, que apanharam
Mica. corajoso e verdadeiro; e Zedequias, cínico e os despojos.
cruel. 402 homens maus; dois bons, mas um deles 7) Paz (26-30) em conseqüência da vitória.
decaindo. A bitola por que todos eles são medidos é Proposta emenda de tradução no versículo 25 em
Jeová. vez de "fazenda e cadáveres em abundância" leia-se
"Temos notado a coragem de Mica (9-13); vamos "fazenda e vestidos" (T).
agora considerar o oráculo que ele pronunciou Notemos que, embora o rei seja bom e piedoso,
(14.22). Que ele falou ironicamente é evidente pela nem sempre o povo acompanha a sua piedade: "náo
maneira por que o rei respondeu (14.15). Sem dúvi- tinha ainda o povo disposto o seu coração para o
da, as palavras foram acompanhadas de um gesto, e Deus de seus pais" (v. 33).
olhar que a página impressa náo pode reproduzir. Afinal de tudo, mais uma vez Josafá tropeça, e
Apertado por Acabe, o profeta dá-lhe um aviso figu- faz aliança com o iníquo filho do ainda maiB perverso
rado (Nm 27.17; 2 Cr 18.16), que predizia a morte de Acabe (35); e mais outro profeta denuncia a aliança
Acabe, e ele assim o entendeu (17). funesta.

150
2 írõnicãs

Capitulo 21 trasse no templo, mas somente os sacerdotes e 06 le-


vitas (6,7).
Jeorão reuia sobre Judá. Matthew Henry nota: 5) Um homem de grandes resoluções. Havendo
que Jeoráo fora tratado com muita indulgência pelo empreendido o negócio, levou-o ao fim. Arriscou a
pai. e que. contudo, seus irmáos eram mais dignos do sua cabeça, mas numa boa causa.
que ele (v. 13); que ele tratou seus irmãos com bar- No restante do capitulo vemos:
baridade. matando todos eles; que. como rei, ele era 1) O povo satisfeito: "Todo o povo da terra se re-
corrupto e iníquo; que ele abandonou a Deus, e en- gozijava e tocava trombetas" (v. 13).
tregou-se à idolatria; que, contudo. Deu» o tratou 2) Atdlia morta (v. 16). Ela. que era uma gTande
com uma certa brandura, por amor de Davi (7). traidora, clamava "Traição!", mas ninguém a
O profeta Elias, pouco antas da sua trasladaçáo. apoiava.
escreveu uma carta admoestando o rei e avisando-o 3) Uma aliança ratificada (v. 16), no sentido de
de que as suas perversidade» resultariam em doença serem o povo de Jeová.
e morte. Lemos dele que "morreu sem deixar de si 4) Baal destruído (v. 17) Era preciso manter náo
saudades" (v. 20). O mesmo pode acontecer com al- somente os direitos do rei mas oe direito* de Deus.
guém hoje, no caso de viver sempre e somente para si 5) O serviço do templo restaurado (18,19). Tinha
mesmo. isto sido negligenciado durante os reinados anteno-
Uma emenda de tradução perece necessária no res.
v.2. Josafá era rei de Judá e náo de Israel. Parece ser 6) O governo civil restabelecido (v. 20). Levaram
erro de copista nos manuscritos hebraicas E "Judá" o rei ao seu palácio e colocaram-no sobre o trono do
nas versões arábica. L X X e vulgata (T). reino.

Capitulo 22 Capitulo 24

Acazias reina um ano sobre Judá. Ele era o filho Joás começo bem. "Este capítulo pode ter três
ma is moço de Jeorão. e o único sobrevivente (21.17). divisões: 1) um começo esperançoso (1-16); 2) uma
E chamado Jeoás (21.17) e Azarias (22.6). Em 2 Reis rápida apostasia (17-22); 3) um fim trágico (23-27).
8.25 ele é chamado Acazias. 1) Um começo esperançoso. Notemos:
A idade de Acazias é dada no versículo 2 como 42 a) "Sua áeferência ao sacerdote de Jeovd En-
anos, mas isso é evidentemente errado, porque faz quanto Joiada vivia. Joás fana o bem (v. 2); o sacer-
ter ele mais dois anos do que seu pai, que começou a dote escolheu-lhe as mulheres (3); ajuntaram di-
reinar com 32 anoe e reinou 8 anos Devemos ler nheiro para o conserto do templo (11); as ofertas reli-
"vinte e dois anos", como em 2 Reis 8.26. giosas foram restabelecidas (14).
Depois de reinar um ano "andando nos caminhos b) "Seu zelo pela Casa de Deus. Nesse tempo o
da casa de Acabe" (3). vai visitar seu tio Jorão, rei de estado do templo era uma indicação do estado do po-
Isrsel, e é morto por Jeú, filho de Ninsi (não Jeú, o vo. Onde a perversidade reina, o santuário cai em
profeta, filho de Hanani). ruínas (7), mas quando a retidão está no trono, os
O pecado de Jeorão, pai de Acazias, em matar to- reparos começam (4).
dos seus irmãos encontra a sua retribuição quando 2) "A rápida apostasia. A bondade de Joás era
todos oe seus filhos, exceto Azarias. sáo mortos pelos derivada principalmente de outro mais forte do que
árabes (v. 1), e todos os filhos de Azarias. menos um ele. Ele brilhou com uma luz emprestada. Quando
(Josias), são mortos pela iniqua rainha Atália (v. carecia da influência de Joiada, ele capitulou aos
10). Assim, embora a casa real de Davi sofresse, de- príncipes perversos ((17,18). Quem antes era refor-
vido às suas iniqüidade», não podia ser exterminada, mador vem a ser renegado. Quem parecia ser apósto-
porque era o propósito de Deus que dessa linhagem lo, mostrou-se apóstata. O segundo pecado de Joás
real viesse o Cristo. foi sua rejeição dos profetas de Deus (19-22). Muito
As diferenças entre as narrativas da morte de do trabalho dos profetas antigos era o protesto.
Acazias em 2 Reis 9.27-29 e 2 Crônicas 22.9 são expli- Eram protestantes não somente em nome mas em
cadas no livro Treasury. pg. 308, mas o trecho não verdade, o sofreram por isso (20,21). Que ingratidão
tem grande importância para merecer a tradução. abominável da parte de Joáa! (v. 22).
3) "O fim trágico Joás, com um grande exército,
é castigado por poucos sírios, e, afinal, assassinado
Capitulo 23 pelos próprios servos. Onde não há piedade não pode
haver prosperidade" (Scroggie).
Reinado de Joás sobre Judá. Matthew Henry fala Proposta emenda de tradução (v. 22): "O Senhor
do sacerdote Joiada como sendo: o verá e o vingará".
1) Um homem de grande paciência. Ele esperou
seis anos. com o menino real guardado e escondido, Capítulo 25
até chegar o momento oportuno.
2) Um homem de grande influência. Os capitães. Reina Amazias filho de Joás sobre Judá. Ele tem
levitaB e principais homens de Jerusalém, responde- bom procedimento mas "náo com um coração perfei-
ram á sua chamada. to". por isso erra de vez em quando, e precisa ser cor-
3) Um homem de grande fé Ele tinha confiança rigido.
que o herdeiro havia de reinar, por ser esee o propósi- Ele empreende uma campanha contra os eoomi-
to divino. tas, mas cai no erro de alugar o auxilio de Iarael. Um
4) Um homem de grande religiosidade. Fez quee- profeta protesta, e, felizmente, ele atende, apesar de
tão de ligar a proclamação do menino-rei com o tem- ter pena do* 100 talentos de prata que ia perder na
plo. Porém deu ordem para que nenhum do povo en- transação.

151
IftWm

Deus lhe deu a vitória; mas náo o mandou massa- Capitulo 28


crar os prisioneiros (v. 12). Esss brutalidade foi dele
mesmo.
Acar. um rei moço e mau. Com este capitulo
Porém Amazias ganhou mais do que uma vitória: deve ler-se Isaías 7 a 12. Podemoa ler uma lista dos
ganhou alguns ídolos pagáos e começou a adorá-los, pecados deste rei nos versículos 1-4 deste capitulo.
apesar de esses ídolos náo terem podido livrar os edo- Nem Síria nem Israel pensavam em fazer a von-
mitas da máo do próprio Amazias. tade de Deus; mas fizeram-na. porque seu triunfo
Depois disto Amazias tomou conselho (17), mas sobre Judá era um castigo divino.
náo de Deus; e mandou desafiar Joás rei de Israel " O incidente recordado nos versículos 8-15 é ex-
Batalhou com ele, sendo vencido e feito prisioneiro
traordinário. ft raro a vitória promover a virtude,
(23).
conquista nem sempre resulta em consideração; nem
O leitor incauto pode ficar confuso entre oa diver- teria sido assim aqui, se nào fora a coragem e fideli-
sos reis de nomes semelhantes. Entre Joás o filho de dade de um profeta (9). Quem jamais ouviu de
Joacaz filho de Jeú, rei de Israel (17), e Amazias, rei •200.000 cativos serem libertados, vestidos, alimenta-
de Judá, filho de Joás, filho de Joacaz - todos de Ju-
dos e devolvidos á sua terra!" (Scroggie).
dá (23).
Acaz em franca decadência. Torna-se idólatra
Amazias vive ainda mais 15 anos, e entáo é assas (22-27) e morre sem ser assassinado. Nào o sepultam
sinado (v. 27). no sepulcro dos reis "de Israel", ou, como nós tería-
mos dito, "de Judá".

Capítulo 26 Capítulos 29 e 30
Próspero remado de Uzias. Ele se valeu dos bons Reinado de Ezequias. " O propósito de Crônicas
conselhos do profeta Zacarias, e "buscou o Senhor"; não é relatar a política exterior de Judá. mas exibir
e entáo prosperou. os aspectos morais e religioso» da sua história inte-
Eate profeta Zacarias náo é o mesmo desse nome rior. De acordo com este plano. 2 Reis 18,1-6 aqui
referido no capítulo 24.20 nem o filho de Ido, o profe- ocupa t rés capitulo* (29-31); enquanto o capitulo 32
ta que escreveu o penúltimo livro do V.T. Eate nào é de 2 Crônicas ocupa três capitule* em 2 Reis 18 7 a
mencionado em qualquer outra parte do V.T. O rei 20.21.
Uzias é chamado Azarias em 2 Reis 15.1. A sua pros- "Judá teve somente quatro reis realmente bons
peridade foi vista da seguinte maneira: entre todos oa 19, e Ezequias foi um deles. Entregou-
1) Na derrota dos filisteus e árabes (6,7) e na su- se energicamente á obra de reforma, e começou com
jeição doe amomtas (8): todos eles inimigos antigos. o templo (29.3-19).
2) Na fortificaçdo de Jerusalém, na construção de "Notemos a ordem no capítulo 29: Expiação,
torres no deserto. com a oferta pelo pecado (21): Dedicação, com o ho-
3) No coração de diversos poços - uma coisa mui- locausto (27): Comunhão, com a oferta pacífica (31).
to boa numa terra sedenta Esta è a ordem rnoral, e náo pode ser invertida. Não
4) JVo aumento da agricultura. Se ele tivesse con- pode haver comunhão com Deus onde náo há aceita-
tinuado com tais coisas, em que fora ajudado por ção, e não pode haver aceitação onde náo há propi-
Deus (15), tudo teria ido bem. Porém, ficou orgulho- ciaçào.
so- "elevou-se o seu coração" (16) e transgrediu a lei
"A musica entra no programa: Quando começa-
de Deus. Ele teimou em exercer o oficio sacerdote!, ram os holocausto*, começaram também os cânti-
uma coisa proibida na Lei (Nm 16.40; 18.7); foi cas- cos" (29.27).
tigado com a lepra maligna, e foi obrigado a ceder o
Preparação para uma Páscoa nacional (30.1-17).
governo ao seu filho Jotáo como regente. Ele reinou
O convite era para todo o Israel (30.1). Houve uma
mais tempo do que qualquer outro rei de Israel ou
grande limpeza moral e religiosa de Jerusalém
Judá. exceto Manassés (55 anos), pois reinou 52
(30.14). A festa realizada foi tão satisfatória que o
anos
povo resolveu continuar por mais sete dias (23). Ha-
via canções de santa alegria (21), confissão de peca-
Capitulo 27 dos (22), e ofertas generosas (24).
Jotão reina bem sobre Judá, mas - uma nota tris- Capítulo 31
te - "o povo ainda se corrompia" (2).
"Três profetas profetizaram neste reinado - Abolição da idolatria (v. 1). Depois desta grande
Isaías. Miquéias e Oaéias. Todos revelam o estado revivificação espiritual, o povo foi por toda a parte
decadente e imoral do país, confirmando o fato de fazendo uma limpeza geral da idolatria.
que 'o povo ainda se corrompia'.
"Assim fez Ezequias em todo o Judá. Fez o que
"Contudo Jotáo se tornou poderoso 'porque orde- era bom. reto e fiel perante Jeová, seu Deus, em toda
nou seus caminhos perante Jeová' (v.9). a obra que começou no serviço da casa de Deus. e
"Ele era um grande construtor; fez cidades e cas- atentou na Lei e nos mandamentos, para buscar o
telos. Podia ter sido melhor se tivesse cuidado de seu Deus; tudo o que fez ele o fez de todo o seu cora-
corrigir a corrupção do povo: os altos ná<? foram re-
ção, e foi bem-sucedido" ( w . 20.21).
movidos e o povo ainda sacrificava neles (2 Rs
15.35). Capítulo 32
"Seu reinado náo foi sem perturbações, pois le-
moe que Rezim. rei da Síria, e Peca, rei de Israel, co- Senaqueribe invade Judá (1-23). A história aqui
meçaram a vir contra Judá (2 Rs 15.37) mas não há
é abreviada, a fim de apresentar Ezequias num as-
pormenores" (Goodman).
pecto mais favorável do que em 2 Reis e Isaías. Pou-

152
1 Crônicas
co se diz da sua falta de fé, da coragem e da fidelida- Essa limpeza levou uns seis anos (8), e então Jo-
de para com aa coisas sagradas do templo. sias começou a construir (8-13). Foi ai que fizeram
Mas Exéquias tomou as providências possíveis uma descoberta importante: Livro da Lei de Jeová.
para a proteção da cidade. Fez um aqueduto secreto Provavelmente o original do Pentateuco ou de Deu-
na rocha para abastecer Jerusalém e ao mesmo tem- teronômio. que teria a idade de uns oitocentos e cin-
po privar o inimigo das águas (v. 4). Este aqueduto qüenta anos.
foi descoberto pelo dr. Schick em 1880. Hulda a profetisa consultada (22-28). Podemos
Ezequias tomou conselho com os príncipes (v. 3), entender que o profeta Jeremias náo estava em Jeru-
reconhecendo a necessidade de muitos conselheiros. salém no momento, por isso recorreram á profetisa.
Arrumou as defesas da cidade (6) e animou a fé do Ela fala do reino (23-25) e do rei (26-28).
povo (7). Josias agiu. 1) Fez um grande ajuntamento, e
O resultado final foi uma grande libertaçAo, me- leu o livro aos ouvidas do povo (30). 2) Fez uma
diante o poder de Deus. Tanto o rei como o profeta aliança entre o povo e Deus (31). 3) Destruiu os ído-
Isaías oraram a Deus, e Ele mandou um anjo exter- los (33).
minar o inimigo (21).
A doença e morte de Exéquias (24-32). A doença Capítulo 35
e restauração de Ezequias, referidas com brevidade
aqui. são relatadas detalhadamente em 2 Reis 20.1- A última Páscoa antes do cativeiro. Josias tinha
11 e Isaías 38.1-22. então 26 anos, havendo reinado 18 anos. Tudo foi fei-
Ele errou no caso dos embaixadores do rei da Ba- to de acordo com a divina ordem: sacerdotes e levi-
bilônia (v. 31) como muitos outros homens bons têm tas nos seus respectivos serviço*. Os cantores esta-
errado. Em todo o caso ele se humilhou (26), e por vam nos seus lugares (15), "Não se celebrou uma fes-
isso a ira divina não caiu sobre a nação durante a sua ta em Israel semelhante a esta desde os dias do pro-
vida. Assim também proporcionou ao povo algum feta Samuel" (18).
tempo para arrependimento. Então houve um período de paz e prosperidade
Terminou a vida com honra, e teve um grande durante 13 anos, e, afinal, Josias comete o grande
enterro "na parte de cima dos sepulcros de Davi" erro de envolver-se nas contendas dos outros, e per-
(33). deu a vida. E "Jeremias fez uma lamentação sobre
Josias".
Capitulo 33
Capítulo 36
O reinado de Manassés. Mais outro menino-rei. e
o reinado mais comprido de todos, é o dele. "Fez o Final do reino de Judá. Houve quatro reis depois
mal á vista de Jeová". Nos versículos 1-10 temos de Josias: dois de seus filhos. Joacaz e Joaquim e
uma longa lista das suas perversidades. que conclui dois de seus netos, Joaquim e Zedequias. Nos dias
com as palavras referentes ao rei e ao povo: "fizeram deste último rei veio o juízo. O templo foi queimado,
o mal ainda mais do que as nações que Jeová des- o muro de Jerusalém derrubado, os palácios destruí-
truiu diante dos filhos de Israel" (9). dos pelo fogo.
Por isso Deus permitiu que ele fosse levado cativo O mau procedimento do rei Zedequias é patente:
á Babilônia (11), onde se arrependeu das suas mal- quebrou aeu juramento a Nabucodonosor (13); endu-
dades, e fez oração a Deus. Foi-lhe permitido voltar receu seu coração contra Deus (13); deixou os sacer-
a Jerusalém, e continuou a reinar sobre Judá. dotes fazerem coisas abomináveis (13). Assim se
Se Ezequias tivesse morrido na ocasião da sua cumpriu a profecia de Levítico 26.33-35: "Espalhar-
grande doença. Manassés nunca teria nascido, e a vos-ei por entre as nações, e desembainharei a espa-
história de Judá teria sido, talvez um tanto diferen- da e vos perseguirei; a vossa terra será assolada, e as
te. vossas cidades se tornarão em solidão. Então a terra
Amom reina (21-25), felizmente, por apenas dois gozará seus sábados, todos os dias da sua assolação,
anos, pois ele foi outro rei iníquo, mas com esta dife- e estareis na terra dos vossos inimigos; nesse tempo
rença: que não se arrependeu das suas perversidades descansará a terra, e gozará os seus sábados".
(23). Ele morreu assassinado pelos seus próprios ser-
vos.
Data e autoria de Crônicas. Diz o dr. W. H Ben-
Capitulo 34 nett em "The Books of Chronicles":
"Uma comparação de Crônicas com Esdras •
Reinado de Josias. Sendo criança de oito anos Neemias mostra que os três originalmente formaram
quando chegou ao trono, podemos crer que devia um só livro. Estão escritos no mesmo estilo de
muito á piedosa educação de sua mãe Jedida. E pro- hebraico recente; citam os documentos antigos do
vável que ela lhe tenha falado muito do seu ilustre mesmo modo; mostram o mesmo espírito eclesiásti-
antepassado Davi, e lhe tenha lido alguns dos seus co; e sua ordem eclesiástica e doutrina descansam
salmos piedosos, de maneira que o menino tivesse fi- sobre o Pentateuco completo e especialmente sobre o
cado entusiasmado com a história; e quando tinha código sacerdotal...
16 anos "começou a buscar o Deus de Davi, seu pai ", "Esdras e Neemias formam uma continuação
acreditando que seria muito bom se esse Deus fosse evidente de Crônicas, que termina no meio de um
seu protetor. parágrafo que devia introduzir a história da volta do
Com 20 anos ele cuidou, não somente do bem- cativeiro; Esdras repete o parágrafo e dá a sua con-
estar da sua própria vida espiritual, mas das obriga clusão. Semelhantemente o registro dos sumo sacer-
ções da sua elevada posição. Ele "começou a expur dotes é começado em 1 Crônicas 6.4-15 e completado
gar Judá. Jerusalém dos altos e dos bosaues " (v. 3). em Neemias 12.10,11.

153
ICHtáfs

" O conflito macabeu revolucionou o sistema na- PRINCIPAIS REFERÊNCIAS N O N O V O T E S T A -


cional e eclesiástico que Crônicas sempre reconhece M E N T O AOS LIVROS DE CRÔNICAS
como prevalecente; e o silêncio do autor quanto a
easa revolução é uma prova conclusiva de que ele es- 1 Crônicas 2.5,9; Mt 1.3,4 e Lc 3.32
creveu antes dela. 1 Crônicas 3.10-16; Mt 1.7-12
" N á o existe nenhuma evidência com respeito ao 1 Crônicas 29.9; 2 Co 9.7
autor, mas seu vivo interesse nos levitas e no serviço 1 Crônicas 29.11; I Tm 1.17
musical do templo, com sua orquestra e coro, torna 2 Crônicas 18.16; Mt 9.36
muito provável que ele tenha aido um Ievita e cantor 2 Crônicas 24.20,21; Mt 23.35 e Lc 11.51
ou músico do templo".

154
sdras, o primeiro doe li- Capítulo 1
vros depois do Cativeiro
(Esdraa, Neemiaa, Ester, "Ciro convida os judeus a voltarem para Jerusa-
Ageu, Zacarias e Mala- lém. Para entender o* livro* de Eadras, e Neemias
recorda a volta á convém saber as datas dos reis persas referido* neles.
•eto de Ciro, de um "Ciro chegou a ser rei da Babilônia em 536 a.C. e
que pôs os alicerces do templo (536 morreu em 528 a.C. Dario chegou a ser rei em 521
a.C. e reinou 36 anos, morrendo em 485 a.C. Artaxer-
xes (chamado Longimanus. porque tinha uma das
tarde, em 458 a.C., Esdraa seguiu e resta- mãos mais comprida do que a outra), começou a rei-
Lei e o ritual. Mas a maior parte do povo, e nar em 465 a.C. e morreu, ou em derembro de 425 ou
muitos doe príncipes, ficaram ainda na Babilônia e janeiro de 424.
na Assíria, onde prosperavam. Estes livros depois do "O* 70 anos de cativeiro, preditos por Jeremias
Cativeiro ocupam-se com esse fraco restante dos que (25.11,12; 29.10) tinham decorrido seu curso. Isaías
tinham o coração voltado para oe interesses divinos. tinha escrito de Ciro, que ele chama o 'pastor' de
" O livro está dividido em duas partes: 1. Do de- Deus (44.28) e 'ungido'de Deus (45.1) 'dizendo tam-
creto de Ciro á dedicação do templo restaurado (1.1 bém a Jerusalém: Sé edificada; e ao templo: Funda-
a 6.22). 2. O ministério de Eadras 7.1 a 10.44" (Sco- te
fitld). "Assim Ciro recorda que o Senhor Deus do Céu o
tinha incumbido de lhe edificar uma casa em Jeru-
ANÁLISE DE ESDRAS salém. lato foi no primeiro ano do seu reinado (536
a.C.)
1. Volta do Cativeiro sob Zorobabel (caps. 1 a 6). "Esdras mesmo não foi a Jerusalém até o sétimo
1.1. A restauração dos judeus (cap*. 1 e 2). ano de Artaxerxe* (Ed 7.7,8). isto é. 78 ano* depois
1.1.1. O decreto de Ciro (cap. I). do decreto de Ciro e 57 depois do* incidentes recor-
1.1.2. A volta dos cativo* (caps.2) dados em Esdras capitulo* 1 a 6.
1.2. A oposição à obra (cap*. 3 e 4). "Neemias não saiu até o vigésimo ano de Arta-
1.2.1. O* sacrifícios renovado*, e oe alicerces xerxe*. isto é. 445 a.C. (Ne 2.1). 91 ano* depoia do
do templo posto* (cap. 3). decreto de Ciro. (O Neemias de Eedraa 2.2 náo é o
1.2.2. O* aamaritano* resistem,e o trabalho mesmo homem.)
pára (cap. 4). "Daniel ainda vivia no terceiro ano de Ciro (Dn
1.3. A dedicação do templo (capa. 5 e 6). 10.1) mas era então um homem muito velho, e não
1.3.1. A indagação de Tatenai, e o decreto de saiu da Babilônia" (Goodman).
Dario (cap. 5).
1.3.2.0 templo completado]e a Páscoa (cap. Capítulo* 2 e 3
6).
2. A volta do Cativeiro sob Esdras (cape. 7 a 10). Os alicerces do templo. "No* livro* da Restaura-
2.1. A proclamação de Artaxerxes (cap. 7). ção de Judá, há seis nome* notáveis para se lembrar.
2.2. A libertação do* judeus (cap. 8). São, segundo Goodman:
2.3. A intercessão de Eadras (cap. 9). 1) Zorobabel (Ed 3.2; 4.2; 5.2) que era o príncipe
2.4. A reforma do povo (cap. 10) - (Scroggie). herdeiro de Judá. embora nunca sentara sobre o tro-

155
laén»

no de Devi. Ele veio com oe primeiro® 42.360 exila- 520 a.C. ou 16 anos depois do decreto de Ciro. Então,
dos, e oe 7.337 s e r v o » (Ne 7.66.67) que voltaram da encorajados pelos dois profetas, recomeçam o traba-
Babilônia (536 a.C.). Era governador, e é um dos lho.
dois ungidos de Zacarias 4.11.14. Os antigos adversários náo agem mais, mas o go-
2) Jesua, ou Josué, como se chama em Zacarias vernador Tatenai, havendo investigado o assunto,
3.1, que era o outro ungido, era o sumo sacerdote. escreve uma carta sensata ao rei Dario. na qual cita
3) Zacarias, filho de Ido, é o grande profeta da a resposta dos anciãos de Israel, concluindo por pe-
Restauração de Judá, cujas maravilhosas visões sáo dir ao rei dissesse qual a sua vontade na matéria (v.
recordadas no livro que leva seu nome. Ele e Ageu 17).
animaram o povo a edificar o templo, apesar da opo- O dr. Kirkpatrick explica que o Sesbazar do
sição (6.14). versículo 14 é Zorobabel. Quem escreveu o livro não
4) Ageu, o profeta companheiro de Zacarias, cu- havia de chamar um estrangeiro "príncipe de Judá"
jas palavras estão no livro que leva seu nome. (1.8).
5) Esdras, também um descendente de Aaráo
(7.1,5). Ele veio com um grupo no sétimo ano de Ar- Capítulo 6
taxerxes, rei da Pérsia (459 a.C.), depois de o templo
estar pronto (6.15; 7.1). O rei Dario confirma a ordem de edificar o tem-
6) Neemias, chamado o tirnata. Significa o gover- plo. Visto que o rei deu uma resposta favorável, a
nador. Ele tomou o lugar de Zorobabel. que também obra foi adiante, e a Casa ficou terminada em 515
era chamado o tirsata ou governador Ele chegou com a.C.. no terceiro dia do més de adar, no sexto ano do
mais um grupo. 12 anos depois de Eadraa, e edificou rei Dario. O próximo més era o mês da Páscoa, sendo
a cidade e muro de Jerusalém 445-432 a.C. primeiro més do novo ano (19). Por isao a festa da
Neste capítulo vemos os primeiros chegados do Páscoa seguiu logo depois da dedicação do Templo.
cativeiro. Edificam o altar, compreendendo o valor A oferta de 100 novilhos, 200 carneiros e 400 cor-
do sangue na expiação. e então guardam a festa dos deiros era muito modesta comparada com a de Salo-
tabernáculo®, a última grande festa do ano judaico mão. quando ae ofereceram 22.000 novilhos e 120.000
(Lv 23.34) e põem oe alicerces do templo. Cantaram carneiros (2 Cr 7.5).
as palavras que Jeremias prometera seriam cantadas
na volta do Cativeiro (Jr 33.11).
Capitulo 7
Capitulo 4
Esdras vai a Jerusalém. Devemos reconhecer um
Os adversários. O povo da terra procurou impedir intervalo de 58 anos entre oa capítulos 6 e 7.
a obra de trás maneiras: 1) procurando promover Dario está morto, e Artaxerxes (Longimanus) rei-
uma união fingida (v. 3); 2) por **enfraquecer as na na Pérsia. Ê o sétimo ano do seu reinado, 458
mãos do povo de Judá" (v. 4), isto é, por impedir os a.C., e Esdras obtém licença de ir a Jerusalém.
necessários fornecimentos; 3) por acusações dirigi- Ele, como Neemiaa, pediu licença de ir a Jerusa-
das a Aasuero e Dario. A primeira era a mais sutil e a lém. mas sendo sacerdote seu primeiro interesse foi o
mais perigosa (Scofield). Templo de Deus. Neemias foi para restaurar a cida-
"Duas cartas históricas são incorporadas neste de e edificar os muros.
capitulo nos versículos 6-16 e 17-23. Alguns comen- Notemos que o rei providenciou para aa despesas
tadores consideram os versículos 6-23, como um lon- da missão (21.22); ele exonerou os sacerdotes de tri-
go parêntese, e ligam o versículo 5 com o versículo butos (24). Mandou Esdras apontar magistrados e
24. juizes (25), e por tudo Esdras dá graças a Deus
" A interpretação que havemos de escolher de- (27,28).
pende de como entendemos oe versículos 6 e 7. Se
Assuero é o célebre Xerxes, e se Artaxerxes é Longi-
manus. então oe versículos 6-23 sáo parentéticos. Capitulo 8
Mas se Assuero é Cambises e Artaxerxes é Gaumata,
então o capítulo segue a ordem cronológica. A viagem a Jerusalém (21-36). Esdras enfrentou
"Este capitulo ilustra a atitude dos servos de a viagem com oração, fé e coragem. Ele tinha decla-
Deus ao patrocínio oferecido pelo mundo. O bom ser- rado ao rei a sua confiança em Deus, e por isso teve
viço para Deus não poderá continuar por muito tem- vergonha de pedir uma escolta. Jejuou e fez oração a
po sem oposição. Mas a oposição vem por diversas Deus, e teve certeza de que Deus ouvira a sua peti-
formas. Às vezes, como aqui, vem mediante ajuda ção (33).
oferecida (1,2). Estas pessoas, chamadas 'o* adver- A grande viagem que durou para Esdras quatro
sários de Judá (1). ofereceram seu auxilio, dizendo meses, podia-se fazer hoje por ônibus em poucas ho-
terem a mesma fé (2), mas seu verdadeiro propósito ras.
era corromper o povo e f a x » parar a obra" (Scrog-
gie) Capítulos 9 e 10
Depois a oposição muda de caráter. Os inimigos
escrevem cartas para envenenar a mente do rei. E O jugo desigual. Casamentos com os pagãos fo-
por meio de mentiras conseguem seu fim: "A obra da ram expressamente proibidos na Lei (Dt 7.3.4), mas
casa de Deus... foi interrompida" (v. 24). havia sempre a tendência á transgressão. E ainda
hoje há, de vez em quando, casamentos de crentes
Capítulo 5 com descrentes, de vivos em Cristo com mortos em
pecado.
Oa profetas Ageu e Zacarias animam o povo. A ( Como é do conhecimento geral, aa Assembléias
obra cessou até o segundo ano de Dario, isto é, até de Deus náo aceitam o casamento misto.]

156
Eadra* lastima o mal. e em oração eonfe Mas náo conseguiu o seu propósito sem oposição.
como ee fosse dele mesmo (6). Houve certos homens que "se opuseram a uso" (v.
Porém Esdras náo somente lastima o mal, mas 15).
trata de corrigi-lo. Obrigou os malfeitores a renun- Entre os transgressores havia até alguns filho* de
ciar ás suas mulheres estrangeiras (10.11). Jesua (v. 18). um dos chefes dos regressado* (2.2).

157
iVeemias

a torre anoe depois de Ea- não parece mais ser governador, e o povo tem volta-
dra» chegar a Jerusalém. do para seus antigos pecadoa. A narrativa de Nee-
Neemiaa lavou para ali miaa tem eatas circunstâncias para seu fundo.
um grupo de companhei- Podemos resumir o assunto deste livro nas pala-
e restaurou oa muros e vras: Os obreiros de Deus e a sua obra. e com este
a autoridade civil. Eate livro recorda oa aconteci- pensamento podemos considerar cinco pontos prin-
mentos./Tem oito diviafle*: 1. A viagem a Jerusalém cipais:
(1.1 a 2j20). 2. A construção do muro (3.1 a 6.19). 3.
O censo (7.1-73). 4. A revivificação (8.1 a 11.36). 5. O 1)A obra a ser feita. O estado dos judeus e de Je-
censo dos sacerdotes e levitas (12.1-26). 6. A dedica- rusalém, reportado por Hananí (um irmão de Nee-
ção do muro (12.27-43). 7. A restauração do culto do mias), era deveras deplorável, e esta condição havia
templo (12.44-47). 8. A restauração da ordem legal de ser explicada, ou pela derrota por Nabucodonoaor
(13.1-31). ou como conseqüência de algum assalto recente. In-
felizmente. porém, não havia perspectiva de êxito.
" O estado moral desses tempos é descrito pelo Zorobabel. Jesua, Ageu, Zacarias e Eadras. todos ti-
profeta Malaquias" (Scofield). nham estado ali e dado bom serviço, porém tinha ha-
vido pouco progresso, e o povo estava desanimado e
ANÁLISE DE NEEMIAS quase desesperado.
A obra de Deus é sempre construtiva, e não se sa-
1. A Construção do muro (capa. 1 a 7). tisfaz com a ruína; mas, ás vezes, a situação parece
1.1. Preparação para a obra (capa. 1 a 2). mesmo desesperadora.
1.2. Distribuição da obra (cap. 3).
1.3. Oposição á obra (4 a 6.14). 2)0 homem para a tarefa. No vigésimo ano de
Artaxerxea, um homem chamado Neemiaa era co-
1.4. Acabamento da obra (6.15 a 7.3).
pei ro do rei no palácio de Suaâ. Era um judeu nasci-
1.6. Registro do povo (7.4-73).
do no cativeiro, e jamais vira a Terra Santa; contu-
2. A consagracáo do povo (caps. 8 a 10).
do, estava cheio de solicitude pelo bem-estar dos ju-
2.1. A leitura no livro da lei (cap .8).
deus que haviam regressado. Recebe de Hananí um
2.2. A confissão pública do povo (cap.9).
relatório da situação de Jerusalém que o enche de
2.3. Assinante* e termos da aliança (cap.10).
tristeza. Ele leva o assunto a Deus em confissão e sú-
8. A confirmação do concerto (capa. 11 a 13).
plica. Então resolve pedir permissão ao rei para ir á
3.1. A coleção de importantes listas (cap. 11 a sua pátria e empreender a tarefa de reconstruir Jeru-
12.26). salém: uma permissão que obtém com toda a facili-
3.2. A dedicação do muro da cidade (12.27 a 13.3). dade.
3.3. A correção de abusos (13.4-31) (Scroggie).
Deus sempre tem obreiros para a sua obra: quan-
do chega a hora da necessidade, o homem necessário
M E N S A G E M DE NEEMIAS aparece. Homens tais foram Moisés, Gideão, Sa-
muel, oa profetas, etc.
A história do livro começa em 446 a.C., noventa 3)Métodos e meios empregados. São quatro: 1)
anos depois da volta de Zorobabel, setenta anos de- Inspeção (2.11-16). Depois de ter descansado três
pois da reconstrução do Templo, • doze anos depois dias, após a sua fati{ante viagem, levantou-se * foi
da volta de Eadras. de noite aoa muros da cidade para fazer uma inspe-
O progresso da obra tinha sido impedido. Eadras ção. 2) Exortação (2.17,18). Embora no começo Nee-

169
féttmiüs

raias agisse sozinho, não se propunha a fazer isso hoje se fax em caminhão em menos ds três dias) sle
sempre. Reúne as autoridades, explica a situação, descansa um pouco e então faz a sua inspeção do
fax a sua proposta, e alega um motivo animador. muro (11-16).
Disto devemos aprender que a cooperação no serviço Neemias encontra três dificuldades: muito entu-
divino é indispensável, e deve ser conseguida por to- lho de msterisl; pouco entusiasmo da parte dos
dos os meios legítimos. 3) Organização do trabalho patrícios: bastante oposição dos psgáos.
O capitulo 3 é uma maravilha de método e ordem. 4) Contudo, apesar de todaa as dificuldades, a gran-
Distribuição do trabalho (cap. 3). Na lista aqui apre- de obra de reconstruir o muro completou-se em 52
sentada vemos que homens e famílias foram deter- dias (6.15).
minados para seu lugar e serviços nos muros.
4) As dificuldades encontradas. Estas eram de Capitulo 3
duas categorias: oposição de fora, e desânimo de
dentro. Os cooperadores. Um capitulo todo ocupado com
5)Os segredos do êxito. Ao fim de 52 dias. o muro os nomes dos que cooperaram na obra. e as localida-
estava concluído, e depois foi dedicado (cap. 12), des em que prestaram seu serviço.
mas o trabalho ainda náo findara. Havia necessida- Quando pensamos quão pouco estes nomes de
des morais tanto como materiais, e agora Esdras rea- gente desconhecida significam para nós hoje. pode-
parece, e ocupa importante lugar na revivificação do mos acrescentar á nossa meditação dois pensamen-
povo. Lê-se a Lei ao povo congregado, a festa dos ta- tos: o que significava para cada um desses homens
bemáculos é celebrada, e então dedicam mais outro ter seu nome e serviço registrado na história sagrada,
meio-dia á leitura da Lei e á oraçáo. Isto resulta e o que significava para Deus passar em revista o ser-
numa aliança que é firmada com 84 assinaturas, sen- viço individual de cada um dos seus servos. Enten-
do as condições relatadas no capitulo 10. demos que Deus mesmo fez questão, nâo somente de
O livro trata do período entre o vigésimo e o trigé- conhecer e avaliar o esforço de cada um, mas de re-
simo segundo ano de Artaxerxes (Longimanus), os cordar o serviço de maneira que depois de mais de
anos 444 e 432 a.C. A data do escrito é aproximada- dois milênios ainda nâo está de todo esquecido.
mente 431 ou 430 a.C.
"Este livro de Neemias tem três partes princi- Capítulo 4
pais: 1. A construção do muro (caps. 1 a 7). 2. A con-
sagração do povo (caps. 8 a 10). 3. A confirmação do A malícia do inimigo. "Esta malícia manifesta-se
concerto (caps. 11 a 13). Contém precioso ensino (Goodman):
quanto á obra de Deus e os obrei ros". 1) Por zombaria e escárnio (2.19). O trabalho e o
esforço pareciam ao* inimigos pequenos e desprezí-
veis - quase ridículos.
Capitulo 1
2) Por ira provocada pela inveja (1).
3) Por ironia (3). 'Se uma raposa for saltar o seu
Piedade num palácio. Este capitulo tem duas muro de pedras, derrubá-lo-á*.
partes: o patriotismo de Neemias e a oração de Nee- 4) Por uma conspiração e assalto (8,11): espera-
mias. A prosperidade dele não o tornou indiferente á vam uma oportunidade para assaltar os judeus, iso-
adversidade do seu povo. Se tivesse sido egoísta, nâo lados uns dos outros, em diferentes partes do muro.
se teria importado com os judeus que haviam volta- 5) Por mandar judeus seus vizinhos desanimar os
do. edificadores (12). Dez vezes vieram estes para dizer
O segundo parágrafo dá a sua oração (5-11). Ele que o inimigo chegava.
era homem de oraçáo e de ação. Vemo-lo em oração Neemias combateu isto de quatro maneiras:
nos seguintes lugares: 1.4; 2.4; 4.9; 6.14. Ele apren- a) Pela oração 'Porém oramos ao nosso Deus'
dera o segredo de "orar sem cessar", isto é, de ter co- (9).
munhão com Deus com respeito aos fatos no momen- b) Pela vigilância: 'Pusemos guardas contra eles
to de acontecerem. de dia e de noite' (9).
Na sua oração vemos adoração (5). confissão c) Par encorajar o povo. dizendo aos magistrados
(6,7), argumento (8-10), e petição (11). {A Oraçáo e anciãos: 'Lembrai-vos do Senhor, que é grande e
Dominica) segue a mesma ordem.) Notemos que ele terrível' (14).
se identifica com o povo, quando faz confissão de pe- d) Por mandar que pele/assem pelos seus queri-
cados. dos (14).
'"Com o outra segurava a sua arma' (v. 17). Pro-
Capítulo 2 vavelmente isto náo é para entender ao pé da letra, e
sim que cada homem era tanto soldado como obrei-
O rei dá licença. "Três meses tinham-se passado ro" (T).
desde que Neemias ouvira do seu irmão qual a triste
situação doa seus patrícios em Jerusalém. Sem dúvi- Capítulo 5
da, ele tinha persistido em oração durante esse
período. Tinha certamente praticado a paciência". Os pobres murmuram contra os ricos. A queixa
Quando chegou o supremo momento, Neemias dos judeus tinha fundamento, porque eram bastante
falou primeiro, nâo a Artaxerxes, mas a Deus (4). Ti- afligidos por condições que tinham tristes conse-
nha ele antecipado esse momento, e pensado bem qüências As condições ruins ersm principalmente
sobre o que havia de pedir: "Eu lhe apontei um pra- três: s) (alta de casas, que resultou sm pobreza; b)
zo" (6). escassez de víveres. que resultou em dividas, e c) im-
Logo que ele chega a Jerusalém, a oposição come- postos que resultaram em escravatura (1-5). Todas
ça (10). Depois de uma viagem de três meses (que as tentativas do inimigo por fora fracassaram, mas a

160
tirania dos principais judeus operou a ruína por den- 3) O fruto de ouvir a Palavra foi a obediência
tro. Onde se faz bom trabalho para Deus dificulda- (17) Depois de aprender a vontade de Deus com res-
des surgirão, mas o mal de dentro é mais perigoso do peito á festa dos tabemáculos, o povo logo tratou de
que a oposição de fora. Uma falta de unidade e har- pór em prática o ensino Em conseqüência, "houve
monia entre o povo de Deus é fatal para o serviço mui grande alegria ".
progressivo. A leitura da Palavra continuou diariamente (18).
"Neemias tratou energicamente da situação. Co- "Não tinham feito assim., desde os dias de Jo-
meçou por ficar zangado (v. 6). Porventura é bom fi- sué" (v. 17). "Isto não quer dizer que a festa dos ta-
car zangado17 Paulo disse: 'irai-vos, e não pequeis'. bemáculos não tinha sido observada de qualquer
Às vezes, é mau náo ficar irado. Então ele 'consultou maneira (2 Cr 8.13; Ed 3.4). e sim que o povo não a
consigo' (v. 7). Depois 'repreendeu os nobres e ma- tinha observado devidamente" (Scofield).
gistrados '.
"Nem sempre o mal se conserta tão rapidamente Capitulo 9
como neste capítulo. A firmeza e prontidão de Nee-
mias são dignas de reparo. Um homem bem pode ser Oração dos levitas. "Quando em 8.9-12 os chefes
positivo, quando sabe que tem razão" (Scroggie). exortaram o povo a reprimir a sua tristeza e a regozi-
jar-se, isso era para estar de acordo com a festa dos
Capítulos 6 e 7 tabemáculos que iam celebrar, mas náo era para ba-
(Js inimigos conspiram. Notemos o seu procedi- nir o espirito de arrependimento que o comovia. Ago-
mento: ra que a festa acabara, o espirito de arrependimento
1) Convidam para uma conferência (2). um con- volta, e segue-se um jejum.
vite repetido quatro vezes. Com alguns podemos "Segue-se a oração dos levitas. que tem três divi-
conferenciar s consultar. Com os iníquos, nem con- sões: Adoração (5.6). Recordação (7-31). Petição (32-
versar. 38).
2) Escrevem uma carta aberta (6), cheia de calú- " N a parte mais comprida, a Recordação, dois
nias. e referem as palavras de 'Gusmu' (AL) que V.B. pensamentos prevalecem: a bondade de Deus e os
faz o mesmo que Gesem (v. 1). Mandar uma carta pecados do povo. Depois do relatório impressionante
aberta era um insulto a uma pessoa da qualidade de no* versículos 7-15, segue um 'porém' no versículo 16
Neemias. No Oriente as cartas para os governadores • uma confissão da perversidade de Israel. Em segui-
deveriam ir em bolsa de seda. e lacradas. da, no versículo 17, vemos outra mudança de pensa-
3) Uma sugestão de traição e maus desígnios: mento com as palavras: 'Mas tu és um Deus pronto
"queres ser um rei" (6». E muito fácil imputar moti- para rrdoar
vos maus, mas é muito difícil prová-las. "Mais adiante (26), lemos 'Não obstante', e no
4) Uma tentativa de intimidação (9-13) e isso por versículo 27 'Portanto...' No versículo 30 'Toda-
empregar falsos profetas e a profetisa Noadias (14). via...' E em 31 'Não obstante...' Os próprios juízos
A relação dos que primeiro vieram a Jerusalém de Deus sáo misericórdias, com o propósito de salvar
(7.5-69). Notemos que Neemias recebeu uma direção seu povo do* seus pecados."
imediata de Deus para fazer esse relatório (7.5). Tais "No pnmeiro dia deste mês era a festa das trom-
listas de nomes tém um interesse muito positivo betas; no décimo, o dia da expiação; no décimo quar-
para as pessoas nomeadas. E nós aprendemos a con- to começou a festa dos tabemáculos, que durou sete
veniência de fazer tudo "com decência e ordem ". dias; no vigésimo terceiro dia. separaram-se das suas
mulheres ilegítimas, e no vigésimo-quarto tiveram
Capítulo 8 uma ocasião solene de jejum, confissão, e leitura da
lei" ( T ) .
Esdras lê a Ln diante do povo. Este capitulo é o
grande clássico sobre a leitura da Bíblia. Sabemos Capítulos 10 a 12
que "a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de
Deus ", de maneira que ouvir a Palavra de Deus é o Os nomes dos que selaram a aliança, etc. Estes
começo de toda a vida espiritual. E isso traz seu fru- nomes recordados com tanto cuidado nos livros sa-
to em santidade de vida, por isso o Senhor Jesus grados parecem ter pouca significação para nó* hoje.
orou: "Santifica-os na verdade" (Jo 17.17). salvo que noa fazem pensar que Deus faz questão de
Consideremos, pois: 1) a maneira de ler; 2) o re- anotar certos nomes no seu livro; e isso. ao menos
sultado de ler: 3) o fruto de ouvir a Palavra de Deus. para as pessoas registradas, bem pode ter algum in-
1) A maneira de ler. Esdras reuniu "todos os que teresse.
podiam ouvir com entendimento" (2). Ele primeiro Quando encontramos na Bíblia algum trecho que
guiou-os em oração, e todo o povo disse "Amém" (v. nos parece ter pouco valor imediato, devemos reco-
V o. nhecer que para algumas pessoas em algum tempo a
sua importância podia ter sido bastante evidente.
Então leu "distintamente" (8), de maneira que
todos pudessem ouvir bem. A boa e clara leitura da Na farmácia encontramos uma grande variedade de
Palavra ainda hoje traz muito proveito. remédios, mas possivelmente apenas dois ou três de-
Ele "deu o sentido" para que não somente ouvis- les servem para o no**o uso agora.
sem. mas compreendessem também.
Ele leu "de modo que entendessem a leitura " (8). Capitulo 13
Podemos crer que ele explicou as palavras difíceis.
2) O resultado da leitura foi tristeza e vergonha, e Abusos corrigidos. Depois de 12 ano* como gover-
convicção de pecado, mas Esdras e Neemias ordena- nador de Jerusalém (444-432 a.C.), Neemias. para
ram ao povo que não chorasse, mas que se regozijas- cumprir a sua palavra, voltou a Susã e. segundo pa-
rece, foi outra vei a Jerusalém no ano seguinte (6).

161
Afaemiu

Nn sua volta. ele achou que a aliança, táo solene-


mente ratificada, havia aido transgredida, e imedia- 4) Profanação do sábado (15-32). Na aliança do
tamente tratou de corrigir oe abusos. Cinco destes capitulo 10, um doe compromissos foi a guarda do
abusos aparecem neste capítulo: sábado, mas agora vemos o povo fazendo precisa-
mente o que prometeu náo faxer (v. 16). Hoje. embo-
1) A/ionço» ilícitas (1-3). Um perigo para a igreja ra o crente náo esteja sob qualquer lei, ele deve resol-
ainda hoje é a fraternidade com o mundo descrente, ver consigo (e com Deus) se há de considerar um dia
e o jugo desigual no matrimônio.
mais santo do que os outros (Rm 14 5). para nele de
2) Profanação do templo (4-9). Hoje náo existe dicar-se ao serviço do Senhor.
mais o templo em Jerusalém, mas é possível ao cren-
te profanar outro templo de Deus, que é seu próprio oov5lCa?a^e/í£os COm pafíás ~ o jugo desigual (23-
corpo (1 Co 3.16,17; 6.19). A 9 U I d l z Neemias; "E contendi com eles e os
3) Sustento do ministério descuidado (10-14). E amaldiçoei, e espanquei alguns deles, e lhes arran-
ainda hoje oa que dáo todo o seu tempo ao serviço do quei os cabelos" - certamente um meio enérgico de
Evangelho necessitam ser sustentados coro "o dizi- exortar e corrigir os malfeitores. E alguns hoje ensi-
mo do trigo, do pinho e do azeite" (v. 12). nam que nem as crianças travessas devem ser espan-
cadas!

_«L I

162
í A

significação deste livro é " N a mensagem de Esdras temos notado que os


que ele testifica do cuidado capítulos 6 e 7 estão separados por um intervalo de
sccroto de Deu» fcohre Is- quase 60 anos, de 51fi a 458 a.C. Mas este intervalo
ael na &ua dispersão. O náo fica inteiramente em branco. O rei Assuero, do
nome de Deus náo aparece livro de Ester, era o filho de Dario e o pai do Artaxer-
nem um [vez nele, mas em nenhum outro livro é a xes de Efcdras 7.1 Ele é o Xerxes da história secular e
sua léncia mais evidente. Um mero punhado reinou de 486 a 465 a.C. Assim, o seu reinado cai no
de jude voltara a .Jerusalém A maioria do povo intervalo acima referido, e o lugar do livro de Ester é
preferi [a vida fácil e lucrativa sob o dominio persa. entre Esdra* 6 e 7 A cena da narrativa é Susã. capi-
Ma» DeiV náo abandonou o seu povo. O que Ele faz tal da Pérsia, e o período incluído náo é mais de dez
aqui por Judá com certeza faz para todo o seu p o v o . ou doze anos. Embora o livro tenha sido escrito, pro-
O livro está dividido em sete partes. 1. A história de vavelmente. cerca do ano 425 (Sayce). o autor é des-
Vasti (1.1-22). 2. Ester feita rainha (2.1-23). 3. A conhecido.
conspiração de Hamâ (3.1-15). 4. A coragem de Es- " O caráter do livro é mais pérsico do que semíti-
er traz a libertação (4.1 a 7.10). 5. A vingança (8.1 a co: dão-se por menores referentes ao império persa e
9.16). 6. A festa de Purim (917-32). 7. Epílogo (10.1- ao procedimento pérsico na corte. O rei persa é refe-
3)" (Scofield). rido cerca de 30 vezes, e muitos costume* pérsicos
sáo explicados.
ANÁLISE DE ESTER "As principais personagens no livro são: Assuero,
Vasti, Ester, Hamã e Mardoqueu.
" O livro ensina duas grandes liçóes: A inescrutá-
1. O perigo dos judeus dispersos (caps 1 a 5). vel providência de Deus. sendo o versiculo-chave
1.1. Vasti destronada (cap. 1). 4.14; e na retribuição dos iniquoa o versiculo-chave é
1.2. Ester en ironizada (cap. 2). 7.10.
1.3. Decreto de Hamá (cap. 3). "Deus está aqui em mistério e náo em manifesta-
1.4. Tristeza de Mardoqueu (cap. 4). ção. Seus feitos sáo evidentes, ma» Ele fica oculto.
1.5. Disposição do rei (cap 5). Contudo, tem sido observado que a* quatro letras Y
H V H, que no hebraico representam Jeová, ocorrem
2. A salvação dos judeus dispersos (caps. 6 a 10).
na narrativa quatro vezes em forma acróstica (1.20;
2.1. Exaltação de Mardoqueu (6.1-13). 5.4,13; 7.7) uma coisa que náo podia ser por acaso, e
2.2. Execução de Hamá (6.14 a 7.10). que demonstra a divina providência (Scroggie).
2.3. O inimigo exterminado (8 a 9.16).
Mardoqueu é chamado "o judeu", e os judeus são
2.4. O estabelecimento da festa (9.17-32).
sempre referidos na terceira pessoa, nunca na pri-
2.5. Preeminência de Mardoqueu (cap. 10).
meira. Náo há no livro nenhuma referência á Pales-
tina, a Jerusalém, ao Templo, á Lei, nem a Deus
A M E N S A G E M DE ESTER
Estes fatos diferenciam-no de todos os outros, e lhe
dão um interesse especial.
"Oa livros de Ezequiel. Daniel a Ester tèm em co-
Pelo que foi dito, é muito difícil pensar que o de»
mum que todos foram escritos com relação ao Cati- conhecido autor de Ester fosse um israelita, e é inútil
veiro. mas diferem em que os dois primeiros foram tentar saber o nome dele. Seu livro é essencialmente
escritos durante os 70 anos, mas o último depois da histórico, * parece carecer de qualquer pensamento
volta sob Zorobabel.

163
TLurr

religioso Os judeus na bora da sua maior angústia


jejuam, lamentam e choram, mas. As vezes ná» cipante de toda a abundância e fartura que havia na
oram a Deus. fortaleza de Susá (1.2).
Mas se toda a história profana contém para a Bem sabemos que não há nada que mais comba-
nossa instrução importantes lições da providência ta a verdadeira espiritualidade do que uma vida de
divina, muito mais este pedaço da história sagrada opulêncis e fartura Teria sido muito fácil ficar Ester
vamos estudar este livro minuciosamente corrompida pelo meio em que vivia, negar seu paren-
visto que poderemos aproveitar melhor o espaço dis- tesco e entregar-se a uma vida inútil e vaidosa.
ponível fazendo estudos mais detalhados dos livros 2) Ester e suas responsabilidades Descobrimos
lidos com mais freqüência. Aa lições do livro de Ester com ela o que se dá conosco também: que suas res-
são bem evidentes e não necessitam ser frisadas. ponsabilidades nasceram dos seus privilégios. Se náo
tivesse vivido no palácio, em intimidade com o rei
nao teria sido chamada para esse serviço honroso a
Capítulo 1
favor da sua nação.
O banquete de Assuero "Prideaux tem provado E nós, que náo somos nem reis nem rainhas de-
satisfatoriamente que Assuero era o Artaxerxes Ixm- vemos também pensar nos privilégios que gozamos
gimanus dos gregos, de acordo com a L X X e o histo- e indagar quais as responsabilidades que vão ligadas
riador Josefo" ( T ) . % €168.
O capitulo fala de três banquetes. O primeiro aos No caso de sermos ricos, será nosso dever socorrer
príncipes, o segundo ao povo e o terceiro às mulhe- os necessitados; no caso de sermos instruídos, de en-
res. sinar os ignorantes; no caso de gozarmos aa bênçãos
"Vastí porém recusou-se a vir" (v. 12). "Esta re- ao hvangelho. de anunciar as boas-novas aoa que
cusa da rainha a expor-se a um grupo de homens ainda as desconhecem.
embriagados era muito louvável e de acordo com a 3) Ester e sua resolução, expressada na lingua-
da "ua
gem do versículo 16: "Irei ter com ele... e perecendo
® • modéstia do seu sexo" pereço".
( I ) . Contudo, o rei, sendo déspota, priva-a da sua
posição e, depois de consultar os sábios (13) mas Ela reconheceu o perigo do passo que contempla-
não as senhoras, resolve que essa desobediência poe- va: procurar a presença do rei. confessar a sua nacio-
sivelmente louvável era um crime, capaz de dar mau nalidade e implorar indulto para seu povo Sabia
exemplo ás demais mulheres do reino. que seu atrevimento podia ter conseqüénciaa fatais
mas, ainda assim, aventurou-se.
Capitulo 2 Ela foi animada a assim fazer pelo seu primo
Mardoqueu. e nós muitas vezes somos ajudados no
Assuero casa com Ester Em seguida o rei trata enfrentar uma situaçáo perigosa pela exortação de
de remediar a desagradável situaçáo criada pela de- um amigo, ou irmão na fé.
posição de Vastí. N o versículo 1 o rei "lembrou-se de Uma circunstância que. sem dúvida, influía
V 'asti , mas em que sentido? Que ele lhe tinha man- sobre ela era o fato de que mais ninguém podia fazer
dado uma ordem inconveniente? Que ele a tinha de- tal serviço. Conosco, ás vezes, dá-se o mesmo caso
posto injustamente? Que ela estava com a razão e ele guando compreendemos que mais ninguém pode
nao. Nao sabemos, mas o conselho doe servos foi agir no caso tão vantajosamente como nós. é prová-
pessiino. e. contudo, "pareceu bem ao rei" (4). vel (>odermos reconhecer que Deus nos chama para
Mardoqueu ouve de uma conspiração contra a isso mesmo.
vida do rei (21); ele a conta a Ester; ela diz ao rei- o Devemos acreditar que foi um serviço de amor
caso é investigado e os culpadoslmortos. e o inciden- que ela fez. Que amava sinceramente seu povo, e re-
te rica escrito nas crônicas reais. gozijou-se com o pensamento de que chegara uma
ocasião em que podia valer-lhe.
Capítulo 3 Contudo, sentia a sua própria incapacidade, e
pediu a cooperação de todos os judeus em Susá para
Mardoqueu recusa prestar homenagem a Hamá a ajudarem com jejum (e oração*») a fim de promover
Notemos neste capitulo a exaltação e poder de Ha- o bom êxito da sua intercessáo.
má (1); a submissão a ele dos servos do rei (2)- Mar-
doqueu recusa submeter-se (2-4); Hamá é avisado E nóe porventura também reconhecemos a nossa
disso, e projeta uma grande vingança (6-7); Hamá incapacidade, e contamos constantemente com as
faz seu apelo ao rei e sua proposta fica aceita (8-11)- orações dos nossos irmãne?
a resolução é publicada (12-15).
Nesses tempos - e ainda hoje - podemos ver oe Capitulo 5
iníquos em alta posição; e em tais casos precisamos
depender de Deus para saber como agir de acordo Ester convida o rei para um banquete. Notemos
com a sua vontade e para a sua glória. 1) Ester toma um passo arriscado, e alcança bom
êxito < 1 -4). Havendo estado na pmença de Deus ela
agora se atreve a enfrentar a presença do rei
Capitulo 4
2) O primeiro banquete (5-8). Os convidados o
.4 consternação dos judeus rei e o ministro. Que acontece? Nada. Apenas um
Podemos dividir o assunto em três partes- a) Es- convite para o próximo dia. Vemos que Ester é mais
tere seus privilégios; Ester e suas responsabilidades; prudente do que apressada.
e fcster e sua resolução. 3) O orgulho de Hamá ferido (9-13). O orgulho es-
1) Ester e seus privilégios EU aparece nesta nar- tá nos versículos 9-12 e a ferida no versículo 13. Ha-
rativs como uma moça altamente favorecida, prote- ma tinha tudo quanto desejava, menos uma coisa
gida pelo soberano, instalada no palácio real. parti- Uma solução iníqua (14), instigada por uma
mulher má.

164
Iutr

Capitulo 6 *ido estabelecida, a iniqüidade castigada, a bondade


recompensada e a coragem coroada. Na corte persa,
O rei lê an crrínica« Notemos neste capitulo inci- a rainha é judia e o primeiro ministro um judeu,
dente* triviais e as suas conseqüência* importante*. lembremo-nos de Moisés na corte do Egito e Daniel
Mardoqueu carecendo de uma recompensa: a forca na de Babilônia.
construída por Hamá: o rei náo podendo dormir; Mas a tarefa de Ester ainda náo está completa.
meio «onolento. escuta ler na* crônicas oficiai*, toma Ela continua a interceder pela sua nação, e obtém
«entido num incidente em que Mardnqueu figura e um decreto favorável. Um meio de libertação é in-
resolve recompensá-lo. ventado (7-14). " E a louca necessidade de uma louca
lei" 18). O versículo 9 é o versículo mais comprido da
Capitulo 7 Biblia.
Intercessân r retribuição Percelwmo* que chega- Capítulos 9 e 10
ra o momento psicológico; a demora de 24 hora* em
fazer a sua petição mostra que Ester estava sendo Os judeus matam seus inimigos. "Este capitulo
guiada por Deus. " O rei e Hamá estão á mesa com náo acrescenta glória á história do» judeus. As rea-
ela. A**uero está intrigado; Hamá receoso e Ester re- ções são sempre perigosas, e em tais circunstâncias
solvida. Que eloqüência, afinal, na sua petição!" como estas tendem a perpetuar os mesmos pecados
(3.4). contra os quais reagem. A história dos judeus duran-
Na compreensão de Assuero. num momento todo te <mi últimos doi» milênios tem sido uma história de
o curso da história ficou iluminado quando Ester dis- ódio. Ódio contra eles. resultando em perseguição
se: "O hnmem. o opressor e a inimigo é ente mau Ha- em muitos países até o dia de hoje. ódio deles contra
m à " (6.7). E p rei não demora. Cristo e os cristãos, de maneira que o próprio filho ou
esposa é banido logo que confessa Cristo como Se-
Capitulo 8 nhor. Oxalá que pudessem aprender ainda a lei de
Um edito em favor doa judeus " A justiça tem Cristo, que é uma lei de amor!"
y

livro de Jó tem a for- 2. A intervenção de Eliú (caps. 32 a 37)


ma de um poema dra- Introdução (cap. 32)
mático. É provavel- 2.1. Seu discurso a Jó (cap. 33).
mente o mais velho 2.2. Seu discurso aos três amigos (cap. 34).
dos livros da Bíblia e 2.3. Seu discurso a Jó e aos amigos (cap. 35).
foi talvez < ;rito antes da Lei. Teria sido impossível, 2.4. Seu discurso justificando a Deus (caps. 36 e
numa disc ião incluindo todo o assunto do pecado, 37).
do governi providencial de Deus e das relações dos 3. A resposta de Jeová (caps. 38 a 42.6)
homens eifm Ele, evitar qualquer referência á Lei se
a Lei fossí conhecida. Jó é uma pessoa autêntica (Ez
14.20: T á >.11) e os acontecimentos são históricos. O
livro lançk uma luz notável sobre a largueza filosófi-
ca e a cultura intelectual do tempo dos patriarcas. O
O Epílogo (cap. 42.7-17). Jó além dos seus so-
frimentos.

A M E N S A G E M DÇ JO
I
tema é: Por que sofrem os piedosos?
Jó tem sete divisões: 1. Prólogo (1.1 a 2.8). 2. Jó e Jó, que significa "o perseguido" (ou talvez " o pe-
sua mulher (2.9,10). 3. Jó e seus três amigos ** ~ nitente"), é pessoa histórica, como aprendemos de
31.40). 4. Jó e Eliú (32.1 a 37.24). 5. Jeová Ezequiel 14.14,30 e Tiago 5.11, e morava era Uz, ao
a 41.34). 6. Resposta final de norte da Arábia deserta.
(42.7-17) - (Scofield). Era um patriarca gentio, a quem Deus se revela-
ra, e que por isso era um adorador de Jeová. Se
Abraão foi chamado " o Amigo de Deus", Jó é decla-
A N A L I S E DE JO rado, perante as hostes do Céu, o servo de Deus sobre
a terra.
O prólogo (caps. 1 a 3), Jó e seus sofrimentos. O livro que leva seu nome é um dos mais antigos
O Poema (caps. 4 a 42.6). da Bíblia, e há forte motivo para acreditar que Jó vi-
1. .4 discussão dos amigos (caps. 4 a 31) veu entre os tempos de Abraão e Moisés. Era um ho-
1.1. Primeiro ciclo (caps. 4 a 14). mem de excepcional piedade, foi acometido de infor-
Elifaz fala (caps. 4 e 5) - Jó responde (caps. 6 e 7). túnios excepcionais, queixou-se das providências de
Bildade fala (cap. 8) - Jó responde (caps. 9 e 10). Deus e recusou ser confortado ou acalmado pelos ar-
Sofar fala (cap. 11) - Jó responde (caps. 12 a 14). gumentos dos amigos, mas nunca abandonou de
1.2. Segundo ciclo (caps. 15 a 21). todo sua fé, e foi afinal restaurado á sua antiga pros-
Elifaz fala (cap. 15) - Jó responde (caps. 16 e 17). peridade.
Bildade fala (cap. 18) - Jó responde (cap. 19). " O assunto do livro tem sido dado como "O
Sofar fala (cap. 20) - Jó responde (cap. 21). problema do sofrimento, A relação entre o sofrimen-
1.3. Terceiro ciclo (caps. 22 a 31). to e o pecado, ou Quais são as leis do governo moral
Elifaz fala (cap. 22) - Jó responde (caps. 23 e 24). de Deus no mundo? Tudo isto é discutido de vários
Bildade fala (cap. 25) - Jó responde (caps. 26.1 a pontos de vista; e, mediante a discussão, somos leva-
27.10). dos a uma compreensão mais sábia destes perpétuos
Sofar fala (27.11 a 28.28) - Jó responde (caps. 29 a mistérios; mas o livro termina sem que o problema
31). tenha sido resolvido" (Scroggie).

167
Capítulo 1 Em 13.15 devemos notar á diferença entre Almei-
da e a V.B. Esta tem "Eis que me mata: não espera-
Jó na prosperidade e na adversidade. Deus mes- rei" de acordo com a revisão norte-americana da
mo testifica que ele era um homem piedoso e reto Bíblia. Qual tem razão?
(8), por isso compreendemos que as suas tribulações
Em 15.16, entende-se: "Que bebe a iniqüidade
não foram por causa das suas iniqüidades, embora
como o sedento bebe água".
ele mesmo tivesse admitido que não era perfeito
(9.2). E ele não sabia por que fora permitido que so- Em 19.24 notamos o desejo de Jó de que as suas
fresse tanto. Entre outras, foram provações de Jó: palavras fossem gravadas na rocha para nunca fica-
rem no esquecimento, e coisa maravilhosa - ainda
1) Os sabeus roubaram-lhe o gado (v. 15). hoje sáo lidas por milhares, e recordadas para sem-
2) O fogo de Deus (?) destruiu as ovelhas (v. 16). pre na página inspirada!
3) Os caldeus deram sobre os camelos (17). ''Sei que o meu redentor vive" (19.25). " O que Jó
4) Uma tempestade de vento derrubou a casa do queria dizer era que tinha certeza de haver quem o
filho mais velho durante uma festa da família, e ma- havia de vingar. Um 'geol* ou parente, ou vingador,
tou todos os filhos (18). cujo dever seria manter a sua causa. Nisto ele ante-
De tudo isto aprendemos que Satanás, quando cipou a Cristo, embora não o pudesse ter nomeado.
Deus o permite, pode empregar as forças da nature- O Espírito de Deus falou pelos seus lábios palavras
za. que nunca têm cessado de consolar corações
O procedimento de Jó foi correto, apesar de ta- quebrantados" (Goodman).
manhas provações: Em 26.3.4, podemos notar a ironia da alusão às
a) Ele se humilhou, rasgando seu manto, raspan- palavras de Bildade no capítulo 25.
do a cabeça e caindo sobre seu rosto (20). N o capítulo 29 temos um lindo quadro de um
b) Adorou a Deus, e disse "Bendito seja o nome santo do Velho Testamento:
de Jeová!" (21). 1) Ele gozava da proteção divina (2-5). Deus o
c) Confessou que tudo o que possuía lhe fora dado guardava. O segredo do Senhor está com os que o te-
por Deus (21). mem.
d) Admitiu que Deus tem o direito de retirar o 2) Tinha prosperidade material (5,6). As crianças
que é seu (21). (Vemos aqui que a sua fé era submis- o rodeavam e havia abundância no seu lar.
sa à vontade divina.)
3) Era respeitado como magistrado, sentado na
porta da cidade (7). Os moços o honravam e até os
Capitulo 2 velhos levantavam-se-lhe com respeito.
4) Era conhecido pela sua benevolência (11-16).
Sofrimentos físicos e morais. Mais três provações
Ajudava o pobre; protegia as viúvas; socorria os ce-
caem sobre Jó neste capítulo e os seguintes:
gos e coxos.
1) Sofrimentos no seu corpo. "Toca-lhe nos ossos
5) Com toda a sua benevolência exerceu o juízo
e na carne, e renunciará à tua face", disse Satanás a
(14-17). Os malvados sentiam o peso da sua mão. A
Deus (v. 5).
justiça e a retidão eram para ele como manto e dia-
2) O fracasso espiritual da sua esposa (10). dema (14) (Goodman).
3) Os amigos, que vêm para consolá-lo, acabam
Contudo, parece-nos que Jó era um tanto exage-
por acusá-lo.
rado na preocupação com sua própria bondade.
Eüfaz era temanita. Seu nome é o mesmo que o
Em 30.29 preferimos a tradução: "Sou obrigado a
de um filho de Esaú (Gn 36.4), cujo próprio filho era
uivar como o chacal" (R. 55).
chamado Temã (Gn 36.11). Elifaz era evidentemen-
te um descendente do "profano" Esaú. Capítulos 32 a 37
Bildade era suíta. Suá, era um filho de Abraão e
de sua mulher Quetura (Gn 25.1,2). Eliú repreende a Jó e aos seus três amigos. Eliú
Sofar, o naamatita, não aparece em outro lugar era buzita, provavelmente um descendente de Buz,
das Escrituras, sobrinho de Abraão (Gn 22.21).
O versículo 9 pode ser traduzido, em vez de "a- "Sua intervenção na controvérsia tem um caráter
maldiçoa a Deus, e morre", por "humilha-te perante especial. Pensa que tanto Jó como os amigos dele es-
Deus, porque estás a morrer" R. 25. tão errados, e mostra-se mui zeloso pela justiça e
honra de Deus. Pensa que Jó não tinha suficiente-
mente justificado a Deus. e censura os três amigos
Capítulos 3 a 31
por condenarem a Jó embora náo pudessem respon-
Não vamos acompanhar detalhadamente as der-lhe. Eliú não é condenado com os outros três
queixas de Jó e as recriminações dos seus amigos (?). (42.7), por isso podemos entender que as suas con-
Aceitamos a avaliação inspirada que pronunci- clusões eram justas".
ou o pouco valor dos discursos acusadores (42.7), Capítulos 38 a 41
e, por isso mesmo, náo nos vamos deter em exami-
ná-los minuciosamente. Acrescentamos algumas Deus responde a Jó. Toda esta resposta pode ser
notas soltas referentes a estes capítulos: ligada com Romanos 1.18-21, onde o apóstolo insiste
Em 9.33 notemos a célebre queixa de Jó "Não há que Deus é revelado na natureza. Evidentemente Jó
entre nós árbitro, para pôr a mão sobre ambos" e percebeu isto de algum modo especial, depois de
contrastemo-la com 1 Timóteo 2.5: "Há um só me- Deus ter-lhe falado "do meio de um redemoinho",
diador entre Deus e os homens". pois em 42.5 ele confessa: "Eu tinha ouvido de ti
Em 12.3 em vez de "Eu não vos sou inferior", po- com os ouvidos, mas agora te vêem os meus olhos"; e
demos ler, mais de acordo com o hebraico: "Não te- essa percepção de Deus resultou no mais profundo
nho caído mais baixo do que vós" ( T ) . arrependimento e humilhação.

168
" E de suprema importância notar que a voz vin- to, nunca pode ensinar injustiça ou falta de miseri-
da do redemoinho náo lança um único raio de luz córdia da parte de Deus;
sobre o mistério dos sofrimentos. Quem fala nào 2) a não se exaltar contra Deus; embora cônscio
atende às acusações dos amigos nem à defesa de Jó. da sua própria integridade e da sua fé em Deus, Jó
Ele nào levanta o véu que cai sobre as portas da mor- precisa lembrar que nenhuma carne pode gloriar-se
te, nem promete que os enigmas do presente serão perante Deus;
resolvidos e seus males recompensados numa vida 3) a não insistir em que Deus explique tudo; onde
futura. Deveras, ela quase não se refere ao problema nào podemos compreender, podemos confiar.
que Jó e seus amigos tinham debatido tão calorosa- Afinal Jó é abençoado com o dobro de tudo quan-
mente" (Strahan). to antes possuía, exceto filhos. Desses, apenas outro
"Jó é colocado face a face com a imensidade da tanto. Podemos terminar nosso estudo deste livro
natureza: o infinito fenômeno do complexo universo, com o comentário inspirado: "Tendes ouvido da pa-
os milagres contínuos que passam diariamente pe- ciência de Jó. e tendes visto o fim do Senhor; que o
rante seus olhos. Ouve perguntas irônicas, cada uma Senhor é cheio de ternura e compaixão" (Tg 5.11).
das quais admite apenas uma resposta humilhante. O dr. Scofield chega a uma conclusão um pouco
E instruído em que o homem não é o centro do uni- diferente: " O problema do qual o livro de Jó é uma
verso, mas uma parte insignificante da criação, um profunda discussão, encontra afinal a sua solução.
átomo no vasto esquema total, e que a obra de Deus Levado para a presença de Deus, Jó fica revelado a si
é demasiadamente imensa no seu plano e execução mesmo. Ele nào era hipócrita. Mas piedoso, possui-
para a mente humana compreendé-la. Preocupado dor de uma fé que todas as suas aflições náo pude-
com os enigmas da sua própria vida, ele precisa reco- ram abalar; mas estava preocupado com a própria
nhecer que há mistérios igualmente insolúveis no justiça, e carecia de humildade. O capitulo 29 de-
grande mundo em redor. Se a natureza é inescrutá- monstra isto. Mas na presença de Deus ele antecipa,
vel, nào deve ele pensar que a Providência estará por assim dizer, a experiência de Paulo (Fp 3.4-9), e
igualmente além da sua investigação? É convidado a o problema fica resolvido. 'Os piedosos sáo afligidos
deixar as suas sombrias preocupações pessoais e ler para que cheguem a um conhecimento de si mesmos,
novamente a mensagem da natureza, e receber na e ao julgamento de si'. Tais aflições náo sáo penais,
majestade da criação uma liçào de humildade; no mas curativas e purificadoras. O livro de Jó fornece
eterno fato da beleza do mundo, uma renovada pro- uma ilustração sublime da verdade de 1 Coríntios
va da glória e bondade de Deus. 11.31,32 e Hebreus 12.7-11. Melhor do que tudo, tal
" O problema do pecado não ficou resolvido, por- conhecimento de si mesmo é o primeiro passo para
que nós náo somos capazes de receber uma tal reve- maior fruto" (Jó 42.7-17; Jo 15.2).
lação. O mais profundo fato na história humana é
também seu mais profundo mistério - a cruz de Cris- REFERENCIAS A O LIVRO DE JO NO N O V O
to. Mas ali náo precisamos entender para crer. Pelo TESTAMENTO
contrário, entendemos precisamente à medida que
cremos" ('Scroggie). Há no Novo Testamento apenas uma citação
explícita do livro de Jó, e é em 1 Coríntios 3.19, sob a
Capitulo 42 fórmula "está escrito" tirado do capitulo 5.13. Com-
pare-se também Filipenses 1.19 com Jó 13.16. Em
O final da provação. Aqui termina o poema, com Tiago 5.11 há uma referência à paciência de Jó. A
o homem humilhado e Deus exaltado: "Eu nada sou. frase "o dia da ira" (Rm 2.5), embora primeiramente
Deus é tudo". Que aprendeu Jó? Aprendeu: ocorra em Jó, pode ter sido citada pelo apóstolo len-
1) a não desconfiar da sabedoria e do amor de do as palavras de Sofonias 1.15-18, ou nelas pensan-
Deus: qualquer que seja a significação do sofrimen- do.

\/>

169
Salmos

V '1

yx7//

W
s grandes temas dos vo). 2) Autoria (Hc 3.1). 3) Dedicação (Gn 16.14). 4)
salmos são Jeová, Propósito em vista. Quando a preposição se emprega
Cristo, a Lei, a Cria- diversas vezes em um título, pode ser usada cada vez
ção, o futuro de Is- em um sentido diferente. No salmo 4 foi traduzida
rael, e os exercícios por para e de; no salmo 18 por de e ao; em Isaías 5.1
no sofrimento, gozo ou perplexidade de um coração por para e no tocante.
renovado. À s promessas dos salmos têm caráter ju- Dos 150 salmos há somente 34 sem título: 4 no
daico, próprio para um povo sob a Lei, contudo têm primeiro livro, 2 no segundo, 10 no quarto e 18 no
também a sua verificação na experiência cristã, por- quinto. Os títulos dos outros salmos podem ser divi-
que revejam a mente de Deus. e os sentimentos do didos em cinco classes, da seguinte maneira:
seu coração com respeito aos que mourejam na per- 1) Títulos que indicam seu caráter. Destes há on-
plexidade, aflição ou abatimento. ze: 43 salmos com o título, um salmo; 5, uma oraçáo;
"Os salmos imprecatórios (esses que denunciam 1, um louvor; 6, "Michtam"; 12, "Maschil"; 1,
os inimigos) sáo o clamor dos oprimidos em Israel "Shiggaion"; 8, um salmo, um cântico; 5, um cânti-
implorando a justiça - um apelo apropriado ao direi- co, um salmo; 15, um cântico de degraus; 1, um sal-
to do povo terrestre de Deus, e baseado nas promes- mo de ações de graças; 1, "Maschil", um cântico.
sas da Aliança Abraámica (Gn 15.18), mas um apelo 2) Títulos que indicam sua alusão histórica. Des-
impróprio para a Igreja, um povo celeste, que toma tes há 14, a saber, os salmos 3, 7, 18, 30, 34, 51, 52,
seu lugar com um Cristo rejeitado e crucificado (Lc 54, 56, 57, 59. 60. 63 e 142.
9.52-55). 3) Títulos apontando o autor. Estes são ditribuí-
dos da seguinte maneira: a Asafe, 12 salmos; a Davi
"Os salmos estão divididos em cinco livros, e 73; a Etá 1; a Hemá 1; aos filhos de Coré 10; a Moi-
cada um termina com uma doxologia: 1. Salmos 1 a sés 1; a Salomão 2; a anônimos 50 salmos.
41. 2. Salmos 42 a 72. 3. Salmos 73 a 89. 4. Salmos 90 A interpretação destes títulos tem sido difícil, e
a 106. 5. Salmos 107 a 150" (Scofield). há muita diversidade de pareceres a seu respeito.
4) Títulos indicando objetos ou ocasiões. Destes
T Í T U L O S DOS SALMOS há, para o Sábado, salmo 92; de ações de graças, sal-
mo 100; para trazer á lembrança, 38 e 70; para ensi-
Copiamos o seguinte trecho importante do Dicio- nar, 60; do aflito 102; e os salmos de louvor.
nário da Bíblia de Da vis: A palavra "selá" que ocorre 71 vezes no saltério, e
" A preposição lamed ocorre constantemente nos significa levantar, indica uma pausa para o descan-
títulos dos salmos, traduzida por ao na frase ao can- so, ou para ênfase.
tor-mor e por de em expressões como estas: Salmo
de Davi (Salmo 3), 'MÍchtam' de Davi (SI 16 V.B.), INTERPRETAÇÃO DOS SALMOS
Salmo dos filhos de Coré (Salmo 47), e para, Canção
para o Dia de sábado" (Salmo 92 V.B.) Uma boa compreensão dos princípios da inter-
A força desta preposição varia muito na língua pretação poupar-nos-á de muitas dúvidas e livrar-
hebraica. O intérprete deve ter em mente que os nos-á dos erros que se praticam com os salmos, como
títulos prefixados aos poemas têm quatro sentidos também com outras partes das Escrituras.
muito importantes, como seja: 1) Posse, pertencente A Bíblia deve ser lida sob, ao menos, três distin-
a alguém (Salmo 2, representado pelo caso possessi- tos pontos de vista, nenhum dos quais é completo em

171
Salmos.

si: e cada um, sozinho, é capaz de ser mal-entendido. zem pouco caso de contexto, e quase náo atendem ao
Estes três sáo, o histórico, o profético e o espiritual. texto, mas aplicam a si mesmos tudo o que querem:
1) O aspecto histórico. Deve ser nosso primeiro isto náo é usar a Escritura, mas abusar dela.
dever descobrir, se for possível, por quem o salmo foi Há, porém, um estilo de estudo espiritual que
escrito, quando, e em que circunstâncias, e estudá-lo náo somente é licito, mas absolutamente indispensá-
sob esse ponto. Tal estudo pode ser maravilhosa- vel, e nenhuma parte da Bíblia é mais própria para
mente proveitoso, e servir para aumentar nosso co- ele do que os salmos. Visto que os salmos compõem -
nhecimento da Bíblia notavelmente. se maiormente de orações e louvores, eles podem tor-
Por exemplo, tomemos o salmo 3. O título diz- nar-se a nossa linguagem em toda classe de circuns-
nos que foi escrito por Davi. que foi escrito durante tâncias e experiências.
seu reinado, que foi escrito quando ele fugia de Absa- É evidente quão proveitoso será este tríplice mé-
láo. Por isso consultamos 2 Samuel 15 a 18, e lemos a todo de interpretar os salmos e remover dificuldades,
história procurando cuidadosamente pensamentos que de outra maneira seriam insuperáveis. Várias
que ligam a história e o salmo. vezes tem-se notado que muitos dos salmos revelam
Lemos na história que aumentou o povo aderente um espírito bastante diferente do cristianismo, e
de Absaláo contra Davi (2 Sm 15.12), e que, pelo que, conseqüentemente, náo podem ser a linguagem
conselho de Husai, todo o Israel reuniu-se para o do cristão. A esta classe pertencem os salmos impre-
perseguir (2 Sm 17.11). Esta noticia é levada a Da- catórios tais como o 35,69 e 109. Ora, nós sabemos
vi, que a incorpora neste salmo: que o tratamento de Deus para com o homem na ve-
"Como se multiplicam os meus adversários! lha Dispensação é diferente daquele que vemos no
Muitos são os que se levantam contra mim!" Novo Testamento; assim mesmo náo admitimos que
Simei amaldiçoou a Davi e lançou-lhe era rosto alguns salmos expressem crueldade e vingança para
seu pecado, dizendo-lhe que o Senhor o tinha aban- com os inimigos, mas, estudados historicamente,
donado (2 Sm 16.8); e Davi sabia que merecia tudo eles se referem às nações abomináveis que rodeavam
isso, porém a sua confiança estava em Deus. Este in- Israel; estudados profeticamente, referem-se á der-
cidente é referido no salmo nas palavras: rota dos inimigos do Messias num século vindouro;
e, estudados espiritualmente, referem-se ao mal inti-
"Muitos são os que dizem de mim: mo e em redor, que precisa ser resistido e vencido.
Não há em Deus salvação para ele.
Tu, porém. Jeová, és um escudo ao redor de mim, Outrossim, salmos como o 16,22,24,40, náo po-
A minha glória, e o que levanta a minha cabeça."
dem achar suficiente explicação histórica dentro dos
Ainda mais. aprendemos deste salmo o que náo
limites do período do V.T. mas logo que empregamos
lemos na história, que, no meio de tamanha tribula-
çáo, a sua confiança em Deus era tão grande, que de a chave profética", abre-se a porta e vemos que apon-
noite podia dormir tranqüilamente (v. 5). tam para Cristo (Scroggie).
2) O aspecto profético. Os fatos históricos da PRIMEIRO LIVRO DOS S A L M O S <1 a 41)
Bíblia nunca esgotam o sentido todo, mas simples-
mente fornecem uma base para estudos mais profun-
Salmo 1
dos. Por isso, depois de verificar o sentido histórico,
devemos descobrir se o salmo tem algum sentido
profético. Em alguns casos náo descobrimos ne- Contraste entre justos e ímpios. Os primeiros
nhum, mas o saltério geralmente tem muito valor dois salmos (anônimos) fornecem uma introdução
profético. Por exemplo, devemos tomar o salmo 72. para todo o saltério. o hinário dos hebreus.
Vemos que: a) foi escrito por Salomão; b) logo antes Que os justos são abençoados e os iníquos maldi-
ou depois da morte de Davi; c) e que é um salmo es- tos é o assunto deste salmo. A descrição do homem
crito com a convicção de que. visto Deus o ter coloca- piedoso é primeiro negativa, depois positiva. Ele re-
do sobre o trono, Ele o há de manter e abençoar ali. cusa ter relações com o ímpio, qualquer que seja o
Mas o salmo significa muito mais do que isto. caráter da sua impiedade. Três palavras descrevem
Uma referência a 2 Samuel 7.12-16 mostrará que Sa- a gente a quem o piedoso é adverso: "iníquos", "pe-
lomão era um tipo do prometido Messias, e que o cadores". "escarnecedores". Mas devemos reconhe-
concerto feito com Davi não havia de ser realizado cer que cada descrente nem sempre cabe necessaria-
no seu filho, mas naquele que ia ser a esperança dos mente dentro de um desses títulos. Há descrentes
séculos. Com esta chave, os fatos sáo iluminados (pessoas que, por falta de ensino, ignoram o Evange-
com uma nova luz. Salomáo tipifica o Messias; seu lho de Jesus Cristo) que sáo sinceros, retos, escrupu-
reinado reflete a idade milenial quando o Messias losos; e o crente, cultivando uma certa intimidade
reinará; seu templo fala do templo predito por Eze- com eles, poderá ajudá-los na sua vida espiritual.
quiel (40); sua riqueza e glória, da abundância e da A figura do piedoso "qual árvore plantada junto
plenitude do século vindouro; e seu reinado pacífico ás correntes de águas" é repetida em Jeremias
simboliza o tempo quando náo haverá mais guerra 17.7,8, e é muito linda, porque explica a fonte da fer-
(Is 2.1-4). tilidade espiritual: as raízes escondidas, recebendo
Agora estudemos o Salmo 72 e veremos que, em- ocultamente o sustento que vai aparecer abertamen-
bora a sua primitiva aplicação seja a Salomáo, sua te em abundante fruto na árvore.
aplicação final e completa é a Cristo, durante o reino O homem piedoso, neste salmo, medita dia e noi-
milenial. te na lei de Deus. Hoje ele tem outro assunto, ainda
3) O aspecto espiritual. Isto se refere a tal tipo de mais glorioso, em que meditar: o Evangelho da graça
estudo que tem por único objetivo satisfazer as ne- de Deus!
cessidades do coraçáo. Há muitos que náo se ocupam Saulez diz que o versículo 1 pode ser traduzido:
com outro tipo de estudo, e que se sentem indiferen- "Como é honesto o homem que não anda segundo o
tes ao estudo da história ou da profecia. Alguns fa- conselho dos iníquos!" (R. 225).

-172
Salmos.

Salmo 2 Na segunda estrpfe, Davi se ampara em Deus:


seu escudo e protetor, sua glória e amparo. Ele recor-
O primeiro salmo messiânico. Este salmo está re à oraçào, e tem experiência de que Deus responde.
cheio de Cristo. E muito citado no N . T . como refe- Na terceira estrofe (5.6) ele fala de si mesmo.
rindo-se ao Senhor Jesus (At 4.25,26; 13.33; Hb 1.5; Deita-se e dorme tranqüilamente, confiado em
5.5). Deus; acorda com o sentimento do socorro divino, e
Divide-se assim: Nos versículos 1-5 fala o salmis- sem medo dos muitos adversários.
ta; no versículo 6 fala Dêus; nós versículos 7-9 O Se- Na quarta (7.8) ele ora novamente, e- antecipa a
nhor Jesus fala, e nos versículos 10-12 Deus fala ou- completa vitória que Deus lhe dará. E sua confiança
tra vez. é que Deus será nào somente um recurso para ele,
Este salmo tem quatro estrofes, e a cada uma po- mas o abençoador de todo o povo (8).
demos dar um titulo distintivo, assim: Na nossa experiência pode não haver muitos ad-
1) A rebelião universal (1-4). Notemos a comoção versários humanos, se temos boas relações com os
das nações, a trama dos povos, a insurreição dos reis, nossos vizinhos, mas pelo lado espiritual podemos
a conspiração dos príncipes, e tudo contra "o ungido reconhecer que somos rodeados por tendências e ten-
do Senhor". tações que ameaçam a nossa vida cristã, e que, para
2) .4 indignação divina (4-6). Notemos aqui o «ermos vencedores, nosso recurso está em Deus.
desdém de Deus (4), seu desagrado (5), e seu decreto
de que Cristo seja o Rei (6). Salmo 4
3) A grande declaração (7-9): de ser o Messias Fi-
lho de Deus, de que seu domínio será universal; de Ao deitar-se. " S e l á " no fim do salmo 3 liga-o com
que seu governo será vitorioso; de que Ele dominará o 4, porque a palavra significa p<irar um pouco, antes
por conquista (9), não se pode referir às vitórias do de seguir.
Evangelho, que não são comparáveis a quebrar os Neste salmo, como no 3, há quatro estrofes de
vasos do oleiro em pedaços. dois versículos, com " S e l á " no fim, exceto na tercei-
4) A exortação solene (10-12): fazei-vos pruden- ra.
tes; deixai-vos instruir; servi com temor; beijai (em Na primeira, Davi clama a Deus (1) e se queixa
submissão) o Filho, e refugiai-vos nele. dos adversários (2). Notemos a expressáo: "Deus da
A expressão "Tu és meu filho; Eu hoje te gerei" minha justiça". Isto significa que é a Deus que toda
merece cuidadoso estudo, tendo em mente a idéia a minha justiça se refere, como deveras há de ser,
bíblica de um filho, como o representante e a expres- para que seja justiça verdadeira (Grant).
são do seu pai.
Adão foi criado para ser neste mundo "filho de Na segunda estrofe, preferimos a tradução de Al-
Deus" (Lc 3.38) e representar dignamente o caráter meida: "o Senhor separou para si aquele que lhe é
do seu divino progenitor. Mas falhou e caiu, e, em querido", em vez de "distingue aquele que é piedo-
vez de apresentar o aspecto do divino Pai, teve a so" Vemos aqui mais uma vez que a santificação
aparência de um homem pecaminoso. importa náo somente "separação d e " mas "separa-
E Deus esperou quatro mil anos até poder dizer, ção para".
afinal, de outro: "Tu és meu filho; Eu hoje te gerei". No versículo 4 preferimos a V.B. "Tremei, e não
Diz o dr. Scroggie que a "geração " aqui não se re- pequeis", em vez do "Perturbai-vos" de Almeida.
fere à encarnaçào, mas à ressurreição (At 13.33) e "Consultai no leito com o vosso coração" pode dar a
isto está de acordo com a tradução (errada) de Al- idéia de meditação e revista íntima das experiências
meida de Atos 13.32 que fala em "ressuscitando a Je- do dia findo sem a distração dos companheiros das
sus". obras ocupadas.
Mas a t radução mais correta está na V.B. "susci- "Este salmo é evidentemente mais avançado do
tando a Jesus", já se vê, na encarnaçào. O que o pri- que o anterior. N o terceiro, Deus é um escudo; no
meiro Adão devia ter sido, o último Adão chegou a quarto, Ele é o quinhão. Ali é o que Ele faz por mim;
ser, em toda a sua vida terrestre. Por isso náo pode- aqui o que Ele é para mim" (Grant).
mos adotar a interpretação do dr. Scroggie. Algumas pessoas são pessimistas de natureza, e
sempre dizem: "Quem nos mostrará o bem?" A luz
Salmo 3 do rosto do Senhor dissipa o pessimismo. Para al-
guns a sua alegria depende da abundância dos bens
Oração de um pai aflito. Este é o primeiro salmo materiais (7), mas o crente conhece um gozo espiri-
de Davi, dado no saltério. e foi escrito "quando fugia tual que resulta da sua intimidade com Deus. E ele
de seu filho Absalão". O salmo 3 é um hino de ma- desfruta não somente gozo. mas paz também (v. 8).
nhã (5), e o salmo 4 um hino da tarde (8). Ambos fa- • "Neginote". no titulo do salmo 4, é um instru-
lam da fé do ungido de Deus, quando o reino foi mento de música; parece claro que as instruções mu-
ameaçado, náo de fora mas de dentro. sicais aparecendo agora como títulos dos salmos
Este salmo tem quatro estrofes, terminando cada 4,6,54,55,61,67 e 76 pertenciam antigamente aos sal-
uma com "Selá", exceto a terceira. mos precedentes (Scofield).
O dr. Bullinger prova que a palavra " S e l á " signi-
fica não somente uma pausa, mas constitui uma li- Salmo 5
gação entre duas partes do salmo.
Na primeira estrofe (1,2), Davi está preocupado Pensamentos ao acordar. O quarto é o salmo de
com os "muitos" (mas não todos em Israel) que são uma noite tranqüila, o quinto, o louvor pela manhã.
adversários, hostis, maldizentes e mentirosos. Pior Davi é o escritor, e a alusão ao "santo templo" náo o
de tudo é a dúvida que os tais lançam sobre seu re- desmente, visto que o tabemáculo foi algumas vezes
curso espiritual (2). assim chamado (1 Sm 1.9; 3.3).

-173
Salmos.

Este salmo é um notável exemplo do paralelismo Salmo 8


que se encontra várias vezes no V.T., mas especial-
mente nos livros poéticos. Em seguida exemplifica- O salmo do astrônomo. Este salmo é citado larga-
mos o fato: mente em Hebreus 2.6-8, e de maneira bem notável.
1) A alma devota (vv. 1-3). No original propósito e plano divino, ao homem foi
2) Os iníquos (4-6). dado domínio sobre todas as obras da mão de Deus.
a.) Individual (7). Seu destino era mais sublime do que o dos anjos, em-
b) Individual (8). bora, por um pouco, ele foi feito inferior a eles. Mas o
3) Os iníquos (9,10). homem caiu, e "não vemos ainda todas as coisas su-
4) A alma devota (11,12). jeitas a ele" (Hb 2.8). Em verdade o homem chegou
Os estudiosos podem descobrir a mesma constru- a ser um escravo, e até adorador daquilo que ele de-
ção paralela em outros salmos. via ter dominado (Rm 1.23-25).
N o versículo 7 dirige-se o salmista em pensamen- Mas vemos Jesus feito por um pouco inferior aos
to ao tabernáculo. e primeiro se ocupa com adoração anjos para morrer pelos homens, agora coroado com
(v. 7). Depois ele pede direção (8), e então procura a glória e honra. Os propósitos divinos não podem ser
verdadeira alegria (11). Termina com a certeza da derrotados; e em Cristo o homem se vê com toda a
proteção divina (v. 12). dignidade e a honra do plano original.
"Para entender corretamente a resposta à per-
"Neilote". no titulo do salmo 5. não é um instru- gunta 'Que é o homem?', precisamos virar os nossos
mento de música, mas significa herança e indica o olhos para Cristo, o Filho do homem; e, ao contem-
caráter do salmo (Scofield). plá-lo, podemos exclamar com o salmista: 'Jeová,
Senhor nosso, quão majestoso é o teu nome em toda
Salmo 6 a terra!' E o nome sobre todo o nome: o Senhor Jesus
Cristo" {Goodman).
Tributação e triunfo. Este é o primeiro dos sete "Gitite, no título do salmo 8, significa lagar e
salmos penitenciais: os outros são 32,38,51.102,130 e por isso juízo" (Scofield).
143.
A ocasião e circunstâncias do salmo não podem Salmo 9
ser determinadas, mas o certo é que Davi tinha pas-
sado por uma doença que ameaçava ser fatal, e que Os justos e os iníquos. Este e o salmo 10 vão jun-
ele considerava como uma prova de desagrado de tos, ligados evidentemente pela semelhança do seu
Deus. e serviu como ocasião de regozijo aos seus ini- assunto, pela palavra "Selá", ao fim do 9, e pelo fato
migos. de ter um caráter acróstico (alfabético) no estilo do
Mas ele fez o que cada cristão deve fazer na tri- Salmo 119. Ambos tratam do antigo problema, os
bulaçáo: orou a Deus. e sua oração foi respondida. justos e os iníquos, mas o salmo 9 considera os iní-
Por isso o assunto do salmo é "Da aflição, mediante quos pelo lado de fora de Israel, e o salmo 10 pelo
a oração, ao triunfo". lado de dentro.
Os versículos 1-7 apresentam a aflição; e 8-10 o Para aplicar o ensino aos nossos tempos, have-
triunfo. mos de pensar, por um lado. nos inimigos de Cristo e
da sua Igreja no mundo, e pelo outro lado pelo mal
que pode haver dentro da Igreja.
Salmo 7 O conflito entre o bem e o mal continua sempre, e
para que o povo de Deus não caia no desespero, ha-
Davi se defende. O acusador era Cuse, benjamita vemos de crer firmemente o que este salmo declara,
(V.B.), de quem náo sabem<»> mais nada. salvo que, a saber, que Deus é soberano e que Ele por fim há de
pertencente á mesma tribo que Saul, é mais com- derrotar os seus inimigos.
preensível ser ele adversário. "Notemos ao começo do salmo as palavras: Lou-
Divide-se o salmo em sete part*>s: Urgente neces- varei. cantarei, alegrar-me-ei e exultarei, e também
sidade e apelo do salmista (2.2). Acusações falsas re- sustentaste. assentaste, repreendeste e apagaste"
futadas (3-5). A intervenção do Senhor rogada como ( Goodman).
Juiz-guerreiro está à espera do iníquo (11-13). Mas a Vemos que o versículo 17 fala do destino dos iní-
perversidade trará o seu próprio castigo (i4-l6). quos e das nações que se esquecem de Deus. mas
Acaba com uma doxologia (17). náo diz nada aqui quanto à sorte dos indivíduos
Davi declara a sua inocência das acusações profe- bem-intencionados e talvez conscienciosos, mas ig-
ridas por Cuse; não diz se ele está sem pecado. norantes do Evangelho.
Devemos aprender deste salmo que o povo de
Deus é muitas vezes caluniado, e que acusações fal- Com respeito às nações esquecidas de Deus, é in-
sas são custosas de suportar; que o melhor recurso é teressante notar que. em tempos de perigo nacional,
levar a Deus o caso; que mais cedo ou mais tarde Ele alguns chefes de governo costumam marcar, de vez
defenderá o inocente; que a lei de retribuição opera em quando, um dia de oração nacional; e outros che-
exatamente (15,16); e que, apesar da tribulação, de- fes não fazem isso. Ainda existem até hoje nações
vemos cantar (17). que costumam abrir seu parlamento com oração a
Deus. Seria interessante indagar se as nações lança-
Proposta emenda de tradução nos versículos das no Seol (no esquecimento da morte) usavam este
11,12: "Deus é um juiz justo; ele não sente indigna- costume.
ção todos os dias. Se o homem não se virar da sua "Mute-Láben", no titulo, no salmo 9, significa
ira, Deus afiará a sua espada", etc. e versículo 15: morte de um filho, e não é um instrumento de músi-
"Caiu na cova enquanto a estava cavando" (R. 113). ca (Scofield).

-174
Salmos.

Salmo 10 neste salmo. Os iníquos dizem: "Com a nossa língua


prevaleceremos: os beiços são nossos: quem é o Se-
Oração para que os ímpios sejam derribados. nhor sobre nós?" Três sentenças, e três erros. A
Acreditamos que este salmo seja de Davi, visto que língua dos iníquos nunca prevalecerá; seus beiços
vai ligado ao precedente, que leva o nome dele no não são deles para fazerem com eles o que querem; e
titulo. cada um tem um Senhor - no caso desses maldizen-
Podemos fazer uma lista de todas as pessoas refe- tes, suas línguas envenenadas são seus senhores,
ridas no salmo; e vemos que ele inclui o iníquo, o hu- porque "quem peca é o escravo do pecado".
milde, o desamparado, o pobre, o aflito, o órfão, o O saimista diz: "Salva, Jeová". Ele considera seu
malvado e "o homem que é da terra". Mas a maior tempo como de bastante hipocrisia, infidelidade e
preocupação do saimista é com o iníquo, e a esse traição; atrás dos lábios lisonjeiros há corações enga-
atribui arrogância, jactáncia. ignorância de Deus, nosos; em nenhuma parte há constância e fidelida-
maldição e engano, injúria e iniqüidade, desprezo de de. Mas um tal pensamento não é absolutamente
Deus e ignorância de uma vingança vindoura. verdade; há verdadeiros amigos mesmo nos tempos
A construção alfabética, começada no salmo 9, mais desesperados. Onde prevalece a hipocrisia, po-
continua neste, com uma interrupção desde o versí- demos encontrar também os de coraçào singelo e ho-
culo 2 até o 11, isto é, a parte que, em vez de ser diri- nesto.
gida a Deus, descreve o ímpio. Jeová fala: "Levantar-me-ei; porei em segurança
Depois de tanta preocupação com a iniqüidade, o quem por ela suspira" (v.5 V.B.). "Quando Deus se
perigo e o pecado, o salmo termina com uma nota de levanta por um homem, a vitória é certa. Quando
confiança espiritual: "Tu. Jeová, tens ouvido o anelo Ele se levanta contra um homem, a batalha está per-
dos humildes; Tu preparas o seu coração", etc. dida" (Scroggie).
O versículo 6 pode ser traduzido: As palavras de
Salmo 11 Jeová são palavras puras como prata purificada
numa fornalha, palavras de terra, purificadas sete
Jeová, um refúgio e uma defesa. Mais uma vez vezes (J. 227).
Davi denuncia "os iníquos" que tanto preocupam
seu pensamento e sua pena. e volta-se para Jeová, Salmo 13
em quem encontra a sua única e suficiente satisfa-
ção. Do gemer ao cantar. Divide-se este salmo em três
F. W. Grant acha cinco divisões neste salmo: estâncias de dois versículos cada uma. Na primeira
1) Jeová, o refúgio e sustento da alma (1). há expostulaçâo produzida por ansiedade; na segun-
2) Os elementos contrários: a) perigo pessoal; b) da, desejo expressado em oração; na terceira, exulta-
confusão ética (2,3). çáo que vem de fé.
3) Jeová, no santuário celestial (4). Na primeira estância nota-se "Até quando" qua-
4) A provação (õ). tro vezes. Na segunda, nota-se "para que não" (ou
5) A recompensa (6): frutos da justiça; frutos da seu equivalente) três vezes. Na terceira, notam-se as
comunhão (7). repetidas alusões ao saimista e seu Salvador.
Diz Matthew Henry: "Dizem-nos que a árvore O salmo começa numa rota de tristeza e confian-
castigada pelo vento, lança as suas raízes ainda mais ça, mas termina com regozijo e fé em Deus. Vemos
fundo na terra. A tentativa dos inimigos de Davi de pelos seus salmos que Davi muitas vezes tinha mo-
abalar a sua confiança em Deus leva-o a agarrar-se mentos de abatimento e desânimo, mas ele bem sa-
mais positivamente aos seus princípios, e a revê-los, bia para onde se dirigir em tais ocasiões.
o que ele faz abundantemente para a sua própria sa- As pessoas referidas no salmo são Davi, Jeová e o
tisfação, e a derrota de todas as tentações à incredu- inimigo. Mas náo havia mais ninguém? Desejáva-
lidade, Aquilo que assaltara a sua fé, e que assalta a mos ter ouvido de alguns amigos simpáticos cujo
fé de muitos, foi a prosperidade dos iníquos nos seus amor fraternal tivesse contribuído alguma coisa para
maus caminhos. Por isso era possível, de vez em diminuir a tristeza com que o salmo começa. Se nós,
quando, surgir um pensamento como: parece ser porventura, temos alguns companheiros crentes que
inútil servir ao Senhor!" nos consolam, podemos dar graças a Deus por isso.
Mas, para corrigir tais pensamentos, havemos de
considerar: Salmo 14
1) Que há um Deus, um Deus nos céus.
2) Que este Deus governa o mundo. O que diz o insensato. Este salmo é repetido, com
3) Que este Deus conhece perfeitamente o verda- o número 53, mas ali tem um título um tanto dife-
deiro caráter de todo homem. rente. Diz F. W. Grant: " E m ambos os salmos o divi-
4) Que, se Deus aflige os bons. é para seu bem. O no nome encontra-se sete vezes, mas no 14 quatro ve-
Senhor prova os filhos dos homens para seu proveito. zes é Jeová, enquanto no 53 em cada caso é Elohim
5) Que, embora perseguidores e opressores pros- (Deus)".
perem e prevaleçam por um pouco, estão já sob a ira O leitor atencioso há de notar uma diferença en-
de Deus e futuramente por ela perecerão. tre a V.B., que no v. 1 tem "Não há Deus", e Almei-
6) Que, embora pessoas boas e honestas sejam da, que tem " N ã o há Deus", mostrando assim que a
oprimidas. Deus as reconhece, e as favorece, e, no palavra "há" não está no original. A pessoa mais in-
tempo próprio, julgará seus opressores. sensata somente precisa levantar os olhos para saber
que há um Deus, pois "Os céus proclamam a glória
Salmo 12 de Deus, e o firmam ento anuncia as obras das suas
mãos" (19.1). Mas o versículo 1 pode também ser
Palavras divinas, e humanas. Três vozes falam traduzido " N ã o quero a Deus", pois isso expressa a

-175
Salmos.

conduta de qualquer pessoa, por instruída que seja, 4) Nos santos tinha uma formosa herança, como
que tenha a insensatez de querer ser "senhor da sua lemos em Efésios 1.18.
própria vontade", e de náo submeter-se ao senhorio 5) Viu sua carne repousar segura (9). Embora en-
divino. frentando, pela vontade do Pai, a morte. Ele alimen-
E a conseqüência imediata de tal recusa de Deus tava a certeza do versículo seguinte.
é a corrupção moral desse descrente (v. 1). 6) Viu a sua alma não ficar no Hades (no estado
E preciso cuidado e prudência ao interpretar este de morte).
salmo, para não tomar as suas palavras em sentido E preciso lembrar de que este salmo é de Davi, e
absoluto, como se dissesse que nunca tem havido e por isso, em algum sentido, há uma verdadeira ex-
nunca haverá quem "buscasse a Deus". Basta recor- pressão do que ele sentia. Contudo podemos admitir
dar-nos do jovem rei Josias (2 Cr 34.3) para verificar que. ás vezes, Davi foi, pelo Espirito, levado a em-
que esse náo é o sentido. Mas Davi está preocupado pregar linguagem mais elevada do que a sua própria
com os insensatos, corruptos e abomináveis, e diz experiência podia ditar.
dos tais que eles não têm entendimento nem buscam Proposta emenda de tradução (v. 2): "A minha
a Deus. Náo vamos pensar que, quando Deus "deter- bondade" [ou o meu bem] vem de ti" (Lamsa).
minou os limites da habitação dos homens, para que O versículo 3 pode ser traduzido: "Quanto aos
buscassem ao Senhor" (At 17.26,27). esse propósito santos que estão na terra, são eles os ilustres em que
divino ficasse sem resultado algum. Felizmente pode está todo o meu prazer".
haver entre todos os povos, náo somente os que bus- "Michtam", no título do salmo 19, significa ora-
cam ao Senhor, mas os que também "buscam glória, ção ou meditação. (Vejam-se também os salmos
honra e incorrupção" (Rm 2.7), e por isso mesmo al- 56,57,58,59,60.)
cançam o que não buscaram: a "vida eterna" - a
vida dos séculos, que consiste num conhecimento Salmo 17
mais intimo de Deus (Jo 17.2).
Uma oração de Davi. Este é um dos cinco chama-
Salmo 15 dos "Salmos de oração". O aaimista está em tribula-
çáo, e por isso recorre a Deus. Outros, mesmo em
O verdadeiro cidadão dos céus. " N o salmo 14 o tempos de paz e prosperidade, gostam de ligar os
assunto é o homem natural; neste é o homem espiri- passos de cada dia com a divina proteçáo. Uma coisa
tual (1 Co 2.14; 3.1). E para o senhor da casa dizer a é certa em todos os salmos de Davi: a sua constante
quem ele estende a hospitalidade da sua casa (v. 1). preocupação com Deus. Porventura dá-se isso conos-
A qualidade fundamental é retidáo. Esta exigência é co também?
mais ética do que religiosa, mas a religião é o terreno Davi muitas vezes protesta a sua inocência e reti-
em que a ética floresce. O caráter de Deus determina dão. Não havemos de pensar que por isso ele se jul-
o caráter do seu adorador. Esse que vem a ser o con- gasse perfeito, mas que não tinha as culpas de que os
vidado de Deus precisa submeter ao domínio da von- inimigos o acusavam.
tade divina seus pés, suas mãos, seu coração (2), sua Davi. como guerreiro, dividiu as pessoas em duas
língua e ouvidos (3) e seus olhos (4). classes: os amigos e os inimigos. Nós poderemos que-
"Os deveres impostos são sociais e negativos, rer ouvir alguma coisa de uma terceira e muito maior
mas tais deveres tão simples fazem parte do caráter classe: os indiferentes, que não fazem imposição po-
cristão. Os convidados de Deus não serão caluniado- sitiva a Deus e seu povo, mas vivem preocupados
res (3), nem lisonjeadores (4), nem louvarão os iní- com os interesses próprios, e que de vez em quando
quos ricos (4) nem oprimirão o inocente pobre (5). A se lembram de Deus - quando o seu interesse assim
justiça é a única coisa estável no imiverso" (Scrog- requer.
gie). Talvez haja uma alusão aos tais no versículo 14,
Gostamos da tradução de Almeida do versículo 3: quando Davi fala "dos homens mundanos, cujo qui-
"nem aceita nenhuma afronta contra seu próximo nhão está nesta vida".
O crente piedoso recusa acreditar nas calúnias do Proposta emenda de tradução (v. 3): "Nada tem
maldizente contra seus irmãos. saído da minha boca que esteja de acordo com as
obras enganosas dos homens", (v. 14); "Dos mortos
Salmo 16 que morrem pela tua mão. 6 Jeová, e do morto no se-
pulcro, divide as suas posses entre os vivos, enche
O homem piedoso. No salmo 15 procura-se um seu ventre com tais bens: assim que seus filhos fi-
homem piedoso, digno de habitar com Deus no seu quem satisfeitos e tenham um quinhão de resto para
santo nome. Neste salmo encontra-se tal homem e seus filhos" (Lamsa).
escutamos a sua linguagem. Mas o homem piedoso
por excelência é Cristo, e este salmo é messiânico - Salmo 18
um dos salmos que têm uma direta aplicação ao Se-
nhor Jesus. E, assim, citado mais de uma vez no Um cântico de vitória. "Este salmo é recordado
N.T. duas vezes na Bíblia, aqui, e em 2 Samuel 23. Prova-
Semelhante ao homem piedoso neste salmo, o velmente este é o modelo primitivo, que mais tarde
Senhor Jesus: foi revisto por Davi, quando o mandou ao cantor-
1) Andou por fé em seu Pai, e por isso podia dizer, mor.
"em ti confio". Podemos dividi-lo em cinco partes: Introdução,
2) Náo tinha outro bem além dele, visto que sem- 1-3. Conclusão, 46-50. A parte central. 20-31, fala da
pre se regozijou em fazer a vontade do Pai. relaçáó da obra de Deus a favor do homem com a ati-
3) Achou seu prazer nos santos da terra, os espiri- tude do homem para com Deus. Em cada lado desta
tualmente ilustres. parte central está uma recordação de livramento,

-176
Salmos.

descrita, por ura lado, na linguagem da piedosa ima- tanto para termos bom êxito no trabalho como Davi
ginação (4-19) e pelo outro, na linguagem da grata necessitou dele nas suas batalhas contra o inimigo.
experiência (32-45). Seu lugar cronológico é junto a 2 O salmo 20 antecipa uma batalha e o 21 dá gra-
Samuel 8 (Scroggie). ças pela vitória. N o 20 o povo fala primeiro (1-5) e
O salmista diz do Senhor que ele ama, que Ele é então o rei (6-9). No 21 o rei fala primeiro (1-7) e am-
sua força, rocha, fortaleza, libertador, refúgio, escu- bos têm um caráter messiânico. O povo espera auxí-
do, salvação. lio de " S i á ò " (2), mas o rei o espera do Céu (6).
Emprega linguagem poética e figurada quando Há especial ênfase sobre "o Nome". Ocorre três
diz de Deus: "Ele abaixou os céus e desceu, tendo vezes: o Nome do Deus de Jacó - graça (1); o Nome
debaixo dos pés densa escuridão. Montou um queru- de nosso Deus - a aliança (3); o Nome do Senhor nos-
bim e voou; sim. voou velozmente sobre as asas do so Deus - confiança (7). O nome. já se vê. refere-se ao
vento" (9,10). Mas o principal interesse para nós é poder, caráter e autoridade de Deus.
que Davi achou Deus um recurso bem presente, po-
deroso. suficiente em todas as suas provações; e esse Salmo 22
Deus é o nosso Deus.
Somente no versículo 16 Davi começa a falar de O salmo da cruz. Este maravilhoso salmo é notá-
si mesmo, e de como Deus o protegera. De si mesmo vel pela luz indireta que profeticamente lança sobre
afirma: "Fui perfeito para com ele. e me guardei da os sofrimentos de Cristo na cruz. E, contudo, é um
iniqüidade, por isso Jeová retribuiu-me segundo a salmo de Davi. e deve refletir, em algum sentido, as
minha retidão, segundo a pureza das minhas mãos experiências dele.
aos seus olhos" (23,24): e confessa que deve toda a E por isso está cheio de instrução para nós, pois
sua justiça a Deus (32-36). revela como um homem espiritual poderá manifes-
Que pode cada um de nós testificar da salvação tar o espirito de Cristo no meio das suas provações, e
de Deus? - Ser ele a rocha em que nossa fé se firma em conseqüência delas. Davi. aflito, abatido, perse-
confíadamente? Ser Ele a fortaleza e reforço do nos- guido, reagiu de maneira tal que a linguagem dele
so testemunho espiritual? Ser Ele nosso libertador sob a provação, séculos depois, teve cabimento na
dos vícios e pecados ocultos? Ser Ele nosso refúgio boca do Salvador!
nos tempos angustiosos? Ser Ele nosso escudo e sal- Pode ser difícil para nós discriminar aquilo neste
vação do pecado que assalta a nossa vida espiritual? salmo que se refere a Davi individualmente, e o que
tem sua aplicação somente a Cristo (como por exem-
Salmo 19 plo, "traspassaram-me as mãos e os pés"). Quando,
poré* . Davi se sentiu desamparado de dia e de noi-
As duas grandes testemunhas de Deus. Os céus e te, e ontrastamos com isso o fato de que as trevas ao
a terra sáo a primeira grande testemunha de Deus, e meio-dia durante a crucificaçáo duraram apenas
a segunda é a revelação dele dada nas Escrituras. três horas, aprendemos disso que, na experiência de
Comparando as duas, vemos algumas semelhan- Davi, levou mais tempo para ele poder chegar ao
ças notáveis: 1) Cada uma é testemunha silenciosa, ponto de expressar-se na linguagem de Cristo, ou an-
e, contudo, fala e ensina. 21 Cada uma é universal no tes, de empregar palavras que. muito mais tarde, ti-
seu testemunho. Ninguém pode dizer de qualquer veram cabimento na boca de Jesus.
delas que não encontra nelas mensagem para si. 3)
Cada uma é um tabemáculo para o sol, pois assim Quando, porém, Davi escreveu "Repartem entre
como o sol da natureza ilumina e governa a primeira, si os meus vestidos, e deitam sortes sobre a minha
assim o Senhor Jesus Cristo, o Sol da Justiça, é o vestidura". não podemos acreditar que isso tivesse
centro e glória da Palavra de Deus. 4) Nada se pode qualquer paralelo na sua própria experiência. Sem
esconder de qualquer das duas. pois como é o calor dúvida Davi falou profeticamente.
do sol também é a graça divina, que se estende a to- " E provável que o Senhor tenha recitado sobre a
dos. 5) Cada uma traz seu próprio testemunho. O sol cruz, nào somente o versículo 1, mas o salmo inteiro"
é evidentemente a obra de Deus, e igualmente a lei (Scroggie).
de Deus contém as evidências da sua origem divina. Ao fim da primeira parte deste salmo (1-21), há,
Da lei de Jeová se diz que restaura a alma (7), repentinamente, um silêncio. Sob revê m a morte.
como mais nenhum outro livro ensina. Dá sabedoria Depois, também repentinamente, há um brado de
aos simplices (7). e toma às vezes, o crente indouto vitória: realizara-se a ressurreição. A oração é trans-
mais inteligente espiritualmente do que os ilustra- formada em louvor. A voz é a mesma, mas a toada é
dos deste mundo. Alegra o coração (8) e dá um gozo diferente. Não é mais a cruz mas o trono que se avis-
que o descrente ignora. Opera pureza do coração ta.
(8,9). Os homens são purificados pela lavagem de á- "Notemos as etapas do seu triunfo, como Ele pre-
gua pela Palavra. Recompensa a quem lhe obedece vê as conseqüências do trabalho da sua alma: 1) O
(1). Ninguém jamais se arrependeu de ter obedecido testemunho aos seus irmãos (22). 2) N o meio da con-
ã lei de Deus, isto é, ao conjunto da sua vontade. gregação (22 e Jo 17.26 e Hb 2.12). 3) Depois á gran-
de congregação, à igreja universal, composta de to-
Salmos 20 e 21 dos os crentes, por quem Ele orou em João 17.20. 4)
Afinal, aos confins da terra (27), que ouvirão as
Antes da batalha e depois da batalha. Uma das boas-novas, e estabelecido o Reino, Ele 'dominará
lições mais evidentes dos salmos de Davi é a de ligar sobre as nações' (28)".
todas as nossas ocupações habituais com Deus. A Numa tradução da versão Pesita o versículo 1 lê-
ocupação de Davi era, freqüentemente, a guerra, e a se: "Deus meu, Deus meu, porque me deixas [ainda J
nossa pode muito bem ser o trabalho. Mas podemos viver? (Lamsa).
acreditar que nós havemos de necessitar de Deus Proposta emenda de tradução do versículo 29:

-177
Salmos.

"Aquele que nào conservou viva a sua própria al- Este salmo parece antecipar a ascensão de Cristo
ma"; versículo 22: "O meu louvor será de ti". e sua volta às moradas eternas do Pai. Parece haver
Outra tradução do versículo 29: "Todos os famin- o pensamento de uma dupla, ou repetida volta. A
tos na terra comerão e adorarão perante Jeová; todos primeira entrada é de um glorioso vencedor, podero-
os enterrados se ajoelharão perante Ele: minha vida so na batalha contra o inimigo, e forte contra os po-
vive perante Ele" (Lamsa). deres do mal, que entra sozinho, e é saudado como
"Aijelete-Has-Saarveado da madrugada, é um "Jeová".
titulo e náo um instrumento de música (Scofield). A segunda vez Ele não entra sozinho, pois é sau-
dado como "Jeová dos exércitos" (multidões).
Salmo 23

O salmo do bom pastor. Este tem sido chamado Salmo 25


"A Pérola dos Salmos", por ser o mais lindo hino ja-
mais cantado. O homem temente a Deus. Neste salmo vemos
Ê geralmente entendido que a figura do Pastor e Davi tão triste ao recordar "os pecados da sua moci-
a Ovelha é mantida do princípio ao fim do salmo, dade" e a sua "grande iniqüidade" que quase nào se
mas pode ser que essa figura se estenda somente até lembra dos seus inimigos.
o versículo 3a. e que em 3b e 4 seja o Guia e o Via- Descobrimos algumas características do homem
jante. e em 5,6 o Hospedeiro e o Hóspede. Isto havia temente a Deus:
de frisar as três grandes verdades de provisão, dire- 1 ) Ê dócil (12) e desejoso de aprender de Deus.
ção e comunhão, e assim havia também um certo 2) Prospera espiritualmente (12).
progresso do pensamento: as ovelhas sáo uma pos- 3) Tem discernimento espiritual (14). Tem com-
sessão; os viajantes avançam e os hóspedes já chega- preensão do segredo do Senhor.
ram. 4) E protegido por Deus (15).
5) E reto, e confiado em Deus (21). Contudo, em
N o V.T. o nome Jeová tem sete qualificativos es-
alguma ocasião, ele poderá sentir-se '*desamparado
peciais, e todos eles podem ser discernidos neste sal-
e aflito" (1).
mo. Vemos considerá-los:
Este é outro salmo alfabético, semelhante ao 119,
Jeová-Rophi, o Senhor é o meu Pastor (1).
e cada linha começa com uma letra do alfabeto
Jeová-Shalom. o Senhor é minha paz (2, com hebraico.
Juizes 6.24). Davi manifesta receio de Deus lembrar-se dos
Jeová-Ropheka, o Senhor é minha saúde (3, com "pecados da sua mocidade" (v. 7), mas, indubitavel-
Êxodo 15.26). mente, os seus pecados mais graves foram depois de
Jeová-Tsidkenu, o Senhor é minha justiça (3, ser homem. Como moço, parece-nos singularmente
com Jeremias 23.6). irrepreensível, mas e sempre possível que a sua cons-
Jeová-Shammah, o Senhor é meu companheiro ciência o acusasse de algumas coisas iníquas, mesmo
(4, com Ezequiel 48.35). dos seus primeiros anos. Ele não nos diz aqui quais
Jeová-Nissi, o Senhor é minha vitória (5, com E- foram esses pecados, por isso é inútil adivinhar. Fe-
xodo 17.15). liz o moço que não tem nenhuma recordação triste
Jeová-Jireh. o Senhor é minha provisão (6. com . ou vergonhosa! faz-nos pensar no mocinho Jesus,
Gênesis 22.14). com seus doze anos de idade. puro. sereno, alerta, in-
Como é individualístico este salmo! Dezessete teligente, interrogando aos doutores no Templo, e
vezes o salmista fala de si mesmo, e treze vezes do respondendo com uma franqueza admirável às per-
Senhor. Cristo sendo quem é, náo havemos de care- guntas deles.
cer de Descanso (2a), Refrigério (2b), Direção (3b),
Companhia (4), Conforto (4). Sustento (5a), Gozo
(5b); de qualquer coisa: "meu cálix transborda" (5)
nesta vida (6b), ou na eternidade (6b). Salmo 26
"Com este salmo milhares têm vivido, e na fé A integridade de Davi. No começo do salmo,
dele milhares têm morrido. Que mais podemos que- Davi diz: "Tenho andado na minha integridade"; e
rer do que o Cristo aqui revelado?" (Scroggie). no fim: "andarei na minha integridade". Por isso.
Ê interessante notar as localidades referidas: podemos ter a certeza de que ele tinha uma boa
pastos verdejantes; água de descanso; veredas de consciência, ao menos quando escreveu este salmo.
justiça; o vale da sombra da morte; a casa de Jeová.
No salmo 22 encontramos Cristo na sua morte ex- N o versículo 3 vemo-lo muito preocupado com
piatória; no 23 encontramo-lo em vida, além da mor- Deus: "pois a tua benignidade está diante de meus
te, como o Bom Pastor. Esta é sempre a ordem divi- olhos"; quem está pensando em Deus está resguar-
na: ninguém o conhece como seu Pastor que não o dado do pecado.
conheça como seu Salvador. Admiramos a figura no versículo 6: "Em inocên-
cia lavei as minhas mãos". Naturalmente viu que
Salmo 24 precisavam ser lavadas, e achou um meio purifica-
dor: a inocência; melhor (espiritualmente falando)
O cântico da ascensão. Nos três salmos, 22, 23 e do que a água do córrego. Porventura ainda hoje
24, Cristo é reconhecido no seu ministério a favor dos quem sente seu espirito contaminado pelas coisas
remidos no passado, no presente e no futuro. Na sua sórdidas e vis em redor, poderá encontrar um meio
morte sobre a cruz Ele é o substituto (22); na pere- purificador na convivência com uma criancinha ino-
grinação, Ele é o Pastor (23), e no trono Ele é o Sal- cente?
vador (24). Os três salmos chamam nossa atenção Embora escrito por Davi, podemos crer que este
para a Cruz. o Cajado e a Coroa (Goodman). salmo tenha a sua mais completa aplicação a Cristo.

-178
Salmos.

Salmo 27 Diz Matthew Henry: "Neste salmo temos a exi-


gência da homenagem dos 'filhos dos poderosos' (Al-
Fé e temor Neste salmo vemos Davi. embora meida): que respeitem a grandeza e o poder de Deus.
bastante ocupado com os inimigos, ainda mais preo- Davi interpreta cada trovão como uma chamada a si
cupado com Deus. e achando nele toda a sua satisfa- e aos outros príncipes da terra para renderem glória
ção. O lugar de todo seu desejo é o tabemáeulo de a Jeová. 'Tributai' três vezes repetido, como se ti-
Jeová, onde quer oferecer sacrifícios de júbilo e can- vessem sido negligentes em fazer isso.
tar louvores (v. 6). "Esta exigência de homenagem pode ser conside-
Jeová é sua luz, salvação e fortaleza (v. 1), e isso rada como dirigida aos graúdos do seu próprio reino,
acaba com o receio. De quais temores, de quais aos príncipes das tribos, ou. outrossim. aos reis vizi-
vícios e pecados, temos nós provado a salvação de nhos e tributários, que Davi tinha dominado, e agora
Deus? quer levar para uma submissão a Deus. As cabeças
Nós, como Davi. precisamos pedir a divina graça coroadas devem curvar-se perante o Rei dos reis. O
(7), a aprovação (8-10), a direção ( l i ) e a proteção que aqui se diz aos poderosos é a mensagem para to-
(12). Nós, como ele. necessitamos ver "a bondade de dos: Adorei a Deus' Isto é o resumo do evangelho
Jeová' em tempos quando os jornais nos contam eterno (Ap 14.6,7)."
tanto da perversidade dos homens.
Contemplar a formosura do Senhor era o desejo Salmo 30
de Davi (6) e certamente é o nosso desejo também.
Essa formosura é percebida na natureza. por todos Ação de graças pela libertação da morte. O titulo
os que tém seus olhos abertos para discerni-la. E re- deste salmo é um tanto incompreensível. Primeiro,
velada no Evangelho da sua graça - um Evangelho porque não sabemos a que "casa" se refere, a náo ser
tão simples na sua aceitação, tão profundo no seu al- que fosse à casa que Davi fez para a sua própria mo-
cance, tão infinitamente formoso na sua pureza, rada (2 Sm 5.11): e. em segundo lugar, porque não
amor e graça, que enriquece, enobrece, embeleza a fala de casa alguma desde o princípio até o fim. mas,
vida de todos quantos O abraçam. muito pelo contrário, ocupa-se exclusivamente com
Mas a formosura de Deus é manifestada em toda a gratidão pessoal de Davi ao ficar convalescente de
a sua majestade na pessoa de Cristo Esse que era a uma doença, ou de ferimentos recebidos em batalha
expressa imagem do Pai e a refulgència da sua gló- (9).
ria, e que estava "cheio de graça e verdade". Nele
Tudo isto faz-me recordar de uma teoria interes-
toda a plenitude da divindade habitava corporal-
sante que li há muitos anos, em que algum expositor
mente.
quis provar que os títulos dos salmos pertenciam,
Vejamos as coisas formosas com que Davi com- nào ao salmo que segue, mas ao que precede! Porém
para seu Deus. Ele é luz, é fortaleza, é um refúgio, é ao titulo "dedicação da casa" nào parece muito apli-
um Pai para os desamparados (17) e um libertador cável nem ao 29 nem ao 30.
dos inimigos (12) (Goodman).
O dr. Scroggie nota quatro divisões deste salmo:
1) Louvor (1-5), primeiro como um solo (1-3) e
Salmo 28 depois um coro (4.5). O saimista louva ao Senhor por
alguma grande salvação. Nós podemos fazer o mes-
Oração respondida. Este salmo tem quatro divi- mo, e convidar os outros a louvá-lo também.
sões:
2) Confissão (6.7). O saimista tinha errado. O fa-
1) Invocação (1,2). Este é o prelúdio da oração,
vor divino tinha resultado em ele se esquecer da sua
invocando a divina aceitação dela. O saimista acre-
dependência: por isso Jeová ocultara o seu rosto, e
dita que, se Deus não o escutar, tudo está perdido.
Davi ficara entristecido.
2) Súplica (3-5). O assunto trata dos iníquos,
com quem Davi não quer ser "arrastado". Na sua sú- 3) Súplica (8-10). Davi diz que clamou ao Senhor
plica, pede retribuição. O desejo do cristão é que os (8) e conta o que lhe disse (9,10).
iníquos sejam convertidos. 4) Testemunho (11,12). Aqui, como nos versícu-
3) Exultação (6,7). O saimista agora se regozija los 1-3. o saimista relata o que Deus fizera por ele.
em Deus. achando nele a sua força e escudo. O dr. Goodman nota que a dedicação de uma
4) Intercessão (8.9). Pelo povo de Israel, ele pede casa é uma boa ocasião de reunir os amigos e irmáos
salvação, bênção, cuidado pastoril e exaltação. e
Referindo-se á segunda divisão, o dr. Goodman a) recordar misericórdias passadas (1-3) e dar
diz: "Reconhecemos que Davi (que nào era natural- graças porque temos vida e saúde suficientes para
mente vingativo: i Sm 24.6; 25.33; 26.11) fala pelo louvar a Deus;
Espirito no seu zelo de ver os malfeitores extermina- b) reunir os crentes para cantar e dar graças, ao
dos da terra, e a justiça outorgada aos penitentes". recordar as bondades de Deus (4);
c) notar incertezas da vida, para que seu caráter
Salmo 29 passageiro náo seja esquecido;
d) implorar graça e proteção para o futuro: "Ou-
A voz de Jeová na trovoada. Podemos desejar um ve Jeová, e compadece-te de mim: sé tu. Senhor,
discernimento espiritual capaz de ouvir a voz de meu ajudador.'" (10).
Deus na tempestade, que compreende como toda a Proposta emenda de tradução (v. 5): "o seu favor
criação fala de -Jeová. O relâmpago está no versículo dura a vida inteira".
7. E precioso pensar que Deus pode abençoar seu
povo com paz - apesar das trovoadas da vida. Salmo 31
Fala-se da "voz de Jeová" sete vezes neste salmo.
Vemos que "Jeová presidiu como rei no Dilúvio", e Queixa e louvor. Neste salmo Davi manifesta
não foi inundado por ele. uma variedade de emoções, mas desde o principio ao

-179
Salmos.

fim a sua confiança está em Deus, de quem vem toda está sem dolo, isto é, não tem nada oculto: tudo está
a sua esperança também. O salmo é dividido por manifesto e confessado.
Scroggie em: Havendo começado com esta bem-aventurança,
D Rogos e razões (1-4). O apelo da alma necessi- o salmista segue com a narrativa, e relata como en-
tada tem sido o mesmo em todos os tempos: "Livra- trou nas bênçãos do Evangelho. Convicto e oprimi-
me! defende-me! salva-me! guia-me!" e a base da do, ele confessara o seu pecado, sua culpa e sua deso-
súplica é sempre o que Deus é, e o que Ele tem feito bediência (5), e então, dirigindo-se a Deus pela pri-
em tempos passados, meira vez, acrescenta "e tu perdoaste".
2) Lembrança e antecipação (5-8). O salmista Nos versículos 8,9 Deus responde com a promessa
olha para trás e para diante. Pensa no que Deus tem de instrução e direção. Frisa o fato de que, no que diz
feito no passado, e isso anima-o a esperar pelo futu- respeito à direção divina, precisa haver entendimen-
ro. to da nossa parte. A direção não é uma coisa cega
3) Sofrimento e tristeza (9-13). O salmista come- como a de freio e cabresto, mas a revelação e a razão
ça com os efeitos da sua tribulação sobre si mesmo têm de andar juntas, porque ambas são dadas para o
(9,10), depois fala das conseqüências para as pessoas nosso governo. Qualquer coisa extravagante não é de
em redor (11,12) e finalmente apresenta perante Deus. nem qualquer coisa que envolve a perda do
Deus o assunto todo (13). domínio sobre si mesmo, porque o fruto do Espirito é
4) Salvação e perdição (14-18). Nas mãos de "temperança ". Por isso as extravagâncias não são do
Deus Davi sente-se a salvo, e não mais receia as Espirito de Deus. Pertencem àqueles que não têm
mãos do inimigo. Ele não será envergonhado, porque entendimento.
confia em Deus. mas envergonhados serão os inimi- Propostas emendas de tradução (v. 3): "Enquan-
gos (17). to estou em meditação, meus ossos envelhecem pela
5) Triunfo v louvor (19-24). O versículo 19 ensina- minha tristeza excessiva em todo o dia" (R. 65) ou
nos que sempre há mais recurso em Deus do que nós "Porque sofri em silêncio todo o dia, meus ossos en-
podemos pedir, rnas que é somente para aqueles que velheceram durante meu sono" (Lamsa).
confiam e temen:
F. W. Grant divide o salmo assim: Salmo 33
1) Jeová o rochedo da fé (1-3). Deus e a criação (1-9). Diz o dr. Scroggie que es-
a) na justiça: b) para libertação; c) por amor do te salmo é mui diferente do precedente. Aquele é
seu nome. autobiográfico, este é impessoal; aquele está cheio
2) Relação dependente (4-6). de emoção, este é calmo e contemplativo; aquele tra-
a) de Deus, como fortaleza; b) mediante a reden- ta de Deus e da alma, este do poder criador de Deus e
ção; c) mediante o caráter individual. do seu governo providencial. A ligação entre os dois
3) Realização (7,8). está na repetição de 32.11 em 33.1.
a) Deus sabe: b) Deus livra. Podemos usar as seguintes divisões: Introdução
4) A aprovação (9-13). (1-3). Deus e a criação (4-9). Deus e a história (10-
a) um apelo pela graça; b) o desânimo; c) um 19). Conclusão (20-22).
opróbrio; d) no esquecimento; e) terror por todos os 1) A introdução (1-3). Aqui temos uma chamada
lados. para louvar a Deus; isto é possível mediante a justiça
5) Na tua mão (14-18). pessoal. A chamada vem a ser enfática mediante a
a) confiança era Deus; b) livra-me (15); c) faze repetição: exultai, dai graças, cantai louvores, tocai
brilhar o teu rosto (16); d) nào seja eu envergonhado bem e com júbilo.
(17); e) emudeçam os lábios mentirosos (18). 2) Deus e a criação (4-9). Aqui é poder divino que
6) A vitória (19-24). deve inspirar temor como na terceira parte é a sua
a) a fidelidade de Deus; b) em conservar os seus sabedoria que deve levar-nos à confiança.
(20); c) em cercar os seus (21); d) experiência (22); e) A Palavra de Deus e a sua obra vão intimamente
recompensa e conservação (23); f ) o espirito de vitó- relacionadas (v. 4) como devem serem nossos pensa-
ria (24). mentos, pois não há nenhuma falta de harmonia en-
tre a revelação e a verdadeira ciência.
Salmo 32 3) Deus e a História (10-19). Aqui vemos a provi-
dência divina, como na seção anterior vimos o poder
.4 bem-aventurança do perdão. Este é um dos divino. Lendo com cuidado, vemos que 10-15 trata
sete salmos penitenciais; os outros sáo 6,28,51, das nações e 16-19 trata das almas. Em 10,11
102,130,143. chama-se a atenção para as nações que se rebelam
Este salmo é citado em Romanos 4.6-8 da seguin- contra Deus, em 12-15 da nação que escolhe o ser-
te maneira: Davi declara bem-aventurado o homem viço de Deus, referindo-se primeiramente a Israel.
a quem Deus atribui justiça sem obras, dizendo: 4) A conclusão (20-22) deste grande salmo é que a
"Bem-aventurados..." Por isso temos aqui um salmo confiança em Deus é sempre recompensada.
sobre a justificação pela fé. O dr. Goodman vê neste salmo: 1) o caráter de
Primeiro vemos a quadruplicada bênção do Deus (5); 2) a criação de Deus (6-9); 3) o conselho de
Evangelho: 1) Transgressões perdoadas, porque os Deus (11); 4) a constância de Deus, porque seu con-
pecados, o fruto da árvore chamada pecado, podem selho "persiste para sempre" (LL).
ser perdoados. 2) O pecado (a árvore) coberto. O pe-
cado que produziu as transgressões precisa ser cober- Salmo 34
to, isto é, expiado, pelo precioso sangue de Cristo. 3)
Iniqüidade não imputada. O pecador perdoado, e Jeová um provedor e libertador. Mais uma vez o
justificado, mediante o sangue derramado (Rm 5.9), título do salmo provoca uma variedade de pensa-
está onde nenhuma acusação o pode atingir. 4) Ele mentos. E entendido que esse titulo se refere ao inci-

-180
Salmos.

dente de 1 Samuel 21.10-15, quando Davi fingiu-se 3) O caso do santo é apresentado (11-18).
doido para escapar de Aquis, rei de Gate, com quem 4) O pecado que requer o castigo (19-23).
se tinha refugiado num momento de grande abati- 5) O juízo que é pedido (24-28).
mento espiritual. Todo o incidente é vergonhoso, e
Davi nunca pareceu mais descrente e desprezível do Salmo 36
que nessa ocasião. Mas em seguida ele escreve um
lindo salmo, cheio da mais sublime confiança em Contraste. Este salmo fala do pecador, do Salva-
Deus! Deveras, a vida espiritual do povo de Deus es- dor e do santo. Três pensamentos marcam as suas
tá cheia de surpresas! Nem foi essa a última ocasião divisões. Na primeira estrofe (1-4) vemos a iniqüida-
em que se refugiou Davi com os filisteus em vez de de do perverso; na segunda (5-8), a benignidade de
refugiar-se com Deus, pois em 1 Samuel 27 vemo-lo Deus; e na terceira (9-12) a confiança do crente.
outra vez com seus 600 guerreiros, recorrendo ao Pensemos primeiro na divina revelação do ho-
mesmo Aquis, e fingindo ser amigo dos filisteus e ini- mem a si mesmo (1-4). Aqui se nos diz o que o iníquo
migo do povo de Deus. pensa e sente. Ele é caracterizado por terríveis fatos
Este salmo tem sido dividido em "Uma canção" negativos e Deus por grandes ações positivas. Pode-
(1-10) e "Um sermão" (11-22). mos fazer ou deixar de fazer, mas o que não fazemos
Podemos notar um certo desenvolvimento no sal- pode demonstrar nosso caráter tão certamente como
mo. Primeiro, Davi bendiz a Jeová; depois "os hu- o que fazemos. Mas desta escuridão o salmista volve
mildes" ouvem-no; afinal ele sente a necessidade de os seus olhos para contemplar a Deus revelando-se
auxilio nos seus louvores, e pede: "Engrandecei co- ao homem (5-8). A fidelidade, a justiça e o juízo do
migo a Jeová". Senhor estão cercados pela sua benignidade (5-7).
A explicação de tudo isto está no versículo 4: "Depois o salmista segue a contemplar a dedica-
"Busquei a Jeová, e ele me respondeu, e de todos os ção do homem, de si mesmo a Deus (9-12). O desejo
meus temores me livrou". de Davi é declarado, primeiro positivamente (10), e
Com respeito ao Sermão (11-22) podemos notar: então negativamente (11). A melhor maneira de fu-
o assunto proposto (11); a introdução (12); o desen- gir do mal é ir atrás do bem. Quem faz isso pode sen-
volvimento (13-20); a conclusão (21,22). tir certeza do triunfo final dos justos e da derrota dos
Algumas pessoas querem divorciar a religião da malfeitores (12)" (Scroggie).
moralidade, mas neste salmo náo encontram apoio Proposta emenda de tradução (v. 1): "O injusto
(11-14). A língua, os lábios, 06 pés, as mãos, os olhos concebe iniqüidade dentro do seu coração, porque
e todo o ser devem estar submissos ao temor do Se- não há o temor de Deus diante dos seus olhos" (Lam-
nhor. sa).
Vemos que a experiência de Davi chegou a ter
uma maravilhosa consumação em Cristo (v. 20; Jo Salmo 37
19.36).
As Escrituras sempre ensinam que o castigo do A prosperidade dos pecadores acaba (1-20). Algu-
pecado se encontra nele mesmo: "A malícia matará mas exortações neste salmo merecem a nossa espe-
o iníquo" (21). Mas o resgate da alma é a obra de di- cial atenção:
vina misericórdia e poder. 1) "Não te indignes" (Almeida) repetido três ve-
Proposta emendas de tradução (v. 7): "A multi- zes: "por causa dos malfeitores" (v. 1): "por causa
dão dos anjos do Senhor", e versículo 12: "Onde está daquele que prospera" (v. 7); "para fazer o mal" (v.
o homem que não deseja a vida, e muitos dias para 8) ou "isso só leva á prática do mal" (V.B.).
que veja os bons dias vindouros?" (Lamsa). 2) "Confia no Senhor... segue a fidelidade" (3).
3) "Deleita-te no Senhor" (4).
Salmo 35 4) "Entrega o teu caminho ao Senhor" (5).
5) "Descansa no Senhor e espera nele" (7).
Davi pede que Deus o livre de seus inimigos. Diz Os passos de um homem bom (21-40). "Nota o
F. W. Grant: "Este salmo dá-nos aquilo de que o Se- homem perfeito" (37). Ninguém é absolutamente
nhor fala em Lucas 10.1-8 - o clamor dos eleitos de perfeito (Tg 3.2), nem inteiramente bom, mas há
Deus, sofrendo, desde os tempos de Abel, à mão do uma perfeição e bondade que Deus reconhece e apro-
perseguidor, à espera do juízo ainda para ser derra- va nos seus filhos. Os perfeitos de coração sáo esses
mado. Muitas vezes é um clamor sem voz, e muitas cujos motivos sáo sinceros e cuja atitude para com
outras é uma súplica como no caso de Estêvão: 'Se- Deus é verdadeira e real (ou "honesto e bom", como
nhor, náo lhes imputes este pecado!' Terá a sua ple- o Senhor falou em Lucas 8.15). Os bons sáo esses em
na expressáo na boca do Restante judaico nos últi- quem o fruto do Espirito que é "bondade" claramen-
mos dias. Então a longanimidade de Deus estará te se vê. Notemos este homem sincero e piedoso, e
quase esgotada, e a oração será de acordo com o pro- vejamos o andar dele:
pósito divino. 1) Ele pode cair (24), mas nunca é derrubado per-
"Neste salmo tal oração é um apelo completo e manentemente. Pode cair sete vezes, mas levanta-se
formal, ao qual Deus anui. Demonstra como o julga- sempre (Pv 24.16), como se deu com Pedro, mas o
mento divino está de acordo com tudo quanto é justo iníquo cai para sua própria destruição, como suce-
e verdadeiro no conflito desigual entre o bem e o mal deu com Judas.
num mundo decaído, e para os melhores interesses 2) Sempre se compadece, e empresta (26). E um
do próprio mundo, para destruir tudo que o prejudi- desses de quem o Senhor falou, quando disse "Bem-
ca (Ap 11.18)". aventurados os misericordiosos".
As divisões que Grant faz, sáo: 3) Sua boca fala de sabedoria (30), porque "a lei
, 1) Apelo ao poder divino (1-6). do seu Deus está no seu coraçáo" (31).
2) Pleito contra o inimigo (7-10). 4) Seu fim será a paz (37).

-181
Salmos.
"A luz e o conforto que este salmo fornece sáo A maioria dos comentadores considera todo o salmo
muito menos que as bem-aventuranças do Novo referindo-se ao nosso Senhor, e não somente os versí-
Testamento, em que são reveladas as bênçãos da tri- culos citados em Hebreus. Não há dificuldade nisto,
butação, a espiritualidade da vida e a eterna herança pois sabemos que o Espírito Santo falou de Davi (Hb
dos santos mediante a cruz de Cristo. Contudo, para 3.7; 4.7), como ele mesmo confessou: 'O Espírito do
o ponto até onde tinha chegado o povo hebreu, as Senhor falou por mim, e sua palavra esteve na mi-
promessas deste salmo satisfazem. A revelação divi- nha língua' (2 Sm 23.2)".
na é progressiva" (Scroggie). Na primeira parte do salmo (1-10), há louvor por
uma salvação passada; nos versículos 1-5 o salmista
fala da bondade de Deus, e em 6-10 da sua própria
Salmo 38 gratidão. Sua paciente espera fora recompensada.
Em vez da cova, a rocha: em vez de perigo, seguran-
O crente provado pelo pecado que descobre em si. ça.
O pecado no crente é uma coisa muito diferente do As alusões aos sacrifícios no versículo 6 bem po-
que no descrente. Este faz pouco caso do seu mal, dem ter relação com Samuel 15.22,23. A religião é
procura justificar-se, finge que é irrepreensível. maior que o ritual, e a conformidade à vontade divi-
Aquele confessa-o e lastima-o. Por motivo do próprio na é mais importante do que as cerimônias. O Se-
pecado, o descrente se afasta cada vez mais de Deus, nhor pede, nào uma oblação, mas a obediência.
mas o crente, quando a sua consciência o acusa, cor- Depois, as nuvens voltam, e o salmista faz oração
re para o Todo-poderoso como seu único Salvador. por uma salvação presente (11-17). Como isto com-
Ao lermos os salmos de Davi é preciso lembrar bina com a nossa experiência! Alternam triunfo e
que jamais ouvira da "salvação que há em Cristo Je- trabalho; gozo e tristeza seguem-se um ao outro. A
sus". Por isso ele não podia encarar o problema do bondade de Deus para conosco bem pode ser o moti-
pecado do ponto de vista cristão. vo de pedirmos bondade no presente (11).
Este salmo revela que Davi tinha uma consciên- F. W. Grant diz que o versículo 7 deve ser traduzi-
cia sensitiva, uma compreensão da ira de Deus con- do "Eis que tenho vindo".
tra o pecado, uma confiança na divina misericórdia, O versículo 12 diz "Cercaram-me males inumerá-
experiência das conseqüências físicas do pecado, es- veis. As minhas iniqüidades me alcançaram, e não
perança em Deus (15), confiança em que a oração é posso ver; são mais que os cabelos da minha cabeça,
atendida, um desejo de seguir o bem (20), o reconhe- e o meu coração me desamparou" e não podemos es-
cimento de que somente com Deus há salvação (22). tranhar que muitos expositores tenham dificuldade
O que ele não tinha era o conhecimento de uma em atribuir tal linguagem (profeticamente) a Cristo.
obra expiatória, a compreensão da justificação pela Contudo. F. W. Grant o faz, nos seguintes termos:
fé, a inspiração do Divino exemplo, uma experiência "Ei-lo, então, na cova da destruição, onde inúmeros
de que a graça de Deus salva o crente do pecado. males o apertam, e isso como a justa ira de Deus con-
tra pecados ilimitados. Ele está sofrendo por aquilo
Salmo 39 que, como compreende, projeta-se sobre Ele como
uma sombra medonha, seu peso apertando-o, até
Confiança na provação. O dr. Scroggie dá as se- que seu coração desfalece; e náo pode levantar os
guintes divisões deste salmo: olhos. Estas iniqüidades Ele confessa como suas,
1) Resolução de guardar silêncio (1-3). Davi re- embora ainda possa apelar, não somente para a bon-
solve não expressar a sua queixa, ao menos, quando dade de Deus, mas para a sua verdade, para o livrar.
está na presença de um inimigo que náo há de sim- Podemos entender isto somente de quem leva peca-
patizar com ele. Consegue por algum tempo, mas o dos alheios".
mal aumenta com o silêncio. Afinal ele fala. Os verbos no versículo 13 estão no imperativo,
2) a brevidade da vida (4-6). Uma existência frá- porque Davi está pedindo. N o versículo 14 estão no
gil, curta e "totalmente vaidade". Davi aqui parece futuro, porque ele está profetizando. Por isso deve-
bastante desanimado. mos ler: "Serão a uma envergonhados...", etc. ( T ) .
3) O conforto da esperança (7-9). Justamente
porque a esperança do salmista não morrera, sua Salmo 41
tristeza acalmou. Há sempre esperança para aquele
que espera em Deus. Triunfo sobre tributação. "Para o fundo histórico
4) Um grito pedindo alívio para a dor (10-13), deste salmo, leia-se 2 Samuel 11 a 16 e Salmos 32 e
Deus não podia deixar de ouvir e responder ao grito 51. Devemos fazer mais uma suposição para comple-
do versículo 12. Infelizmente o salmista não tinha o tar o quadro, a saber, que, como conseqüência do seu
conforto de uma revelaçáo da imortalidade (13). grande pecado, e sua tristeza igualmente grande,
Jedutum.no titulo do salmo 39, era um levita, Davi caíra gravemente doente.
mestre de coro. Vejam-se 1 Crônicas 9.16; "Os salmos 38 a 41 pertencem ao tempo da rebe-
16.30,41,42; 25.1,3,6; 2 Crônicas 5.12; 35.15; Nee- lião de Absalão. Nos primeiros deste grupo, Davi se
mias 11.17; Salmos 39.62,77. Jedutum era chamado queixa da deserção dos amigos, mas aqui, da sua
também Etá. traição (v. 9).
" O salmo tem quatro estrofes. A primeira (1-3)
Salmo 40 fala de bênção para o abençoador. A verdade frisada
aqui é qe há uma correspondência entre nossos tra-
"Parte deste salmo é citada em Hebreus 10.5, tos com os homens, e o trato de Deus conosco.
com as palavras: 'Por isso entrando no mundo diz:... * " A s estrofes 2 e 3 (4-6 e 7-9) são muito queixosas.
e então seguem os versículos 6-8. Temos certeza, por A cena na segunda é o quarto do doente, e na tercei-
isso, que vemos aqui o Senhor Jesus falando ao Pai. ra, os conselhos dos inimigos. Em uma se expressa a

-182
SJIImac
JWUimR

condolência; na outra, a conspiração é praticada. Os vezes, têm proveitos que valem mais que os bons su-
inimigos de Davi. enquanto fingem ter pena da sua cessos.
doença, regozijam-se na esperança do seu falecimen- Hoje em dia, o povo de Deus, em diferentes par-
to. tes do mundo, sofre terríveis perseguições, náo pelos
" A estrofe quatro (10-12) diz-nos que ele se vol- seus próprios pecados, mas porque o mal campeia
tou a Deus e cobrou ânimo. Tão certo está do favor desenfreado. Necessita o mundo, como o autor deste
de Deus que conta a sua salvação já consumada salmo, recorrer a Deus em oração.
(11,12). Proposta emenda de tradução (v. 19): "Porque nos
" A doxologia final (3) pertence a todos os salmos tens humilhado a segunda vez. e nos coberto com a
neste primeiro livro" (Scroggie). sombra da morte" (Lamsa).
SEGUNDO LIVRO DE SALMOS (42 a 72»
Salmo 45
Salmos 42 e 43
Medicina para a alma aflita. A palavra "Mas- Um cântico celebrando as bodas do rei. "Sosa-
quil" no titulo significa dando instrução. No versícu- nim". no titulo, se refere a um instrumento de músi-
lo 1 há uma comparação que pode não ser evidente a ca de seis cordas (T). "Que este salmo é messiânico
todos: "Como a corça suspira pelas correntes das á- tem sido reconhecido por todos. Os judeus têm sido
guas. assim a minha alma suspira por ti, ó Deus". os primeiros a reconhecê-lo. No Targum lêem no
Na Palestina, em certos lugares desertos, a água versículo 2: 'Tu és mais formoso do que os filhos dos
era encanada de uma grande distância em manilhas homens, ó rei Messias."'
de barro. A corça (um veado pequeno), percebe que a O Messias é apresentado como o noivo celestial
água está correndo dentro do encanamento e, seden- (1-8) e a noiva é chamada para deixar seu lar e povo
ta, corre ao longo das manilhas. suspirando pela á- para unir-se a Ele (9-17).
gua refrescante. Com o mesmo ardente desejo o sai- Do Noivo lemos que Ele é Rei - o mesmo referido
mista anela de Deus. no salmo 2 - e caracterizado por formosura, graça,
Estes dois salmos vão juntos e ficam relacionados valor, majestade e prosperidade.
pela oração "Espera em Deus, porque ainda lhe da- A noiva é chamada para ser inteiramente do seu
rei graças, a ele que é a salvação do meu rosto e Deus Senhor (10), esqueçendo-se do seu povo e parentes-
meu", repetida em 42.5. 11 e 43.5. (42.11 deve ser co. Embora formosa em si. ela é revestida esplendi-
corrigido para concordar com o versículo 5, segundo damente pelo Rei seu noivo (13,14).
as versões dos L X X . Siríaca e Vulgata.) Aqui temos uma linda figura de Cristo e a sua
Este desejo de Deus, que a alma tem desejo de Igreja.
conhecé-lo mais intimamente, tem sido o anelo das Diz o dr. Scofield: "Este grande salmo, junto com
pessoas piedosas em todos os tempos. Foi esta bên- o 46 e o 47, evidentemente olha adiante para o ad-
ção que Cristo quis dar aos que nele crêem quando vento em glória (a segunda vinda). A referência a ele
lhes fala da "vida eterna" ("vida dos séculos") (v. em Hebreus 1.8,9 não é uma alusão apenas à unção
3), que Ele explicou ser o conhecimento do Pai e do como um acontecimento (Mt 3.16,17) e sim ao per-
Filho (Jo 17.3), isto é, ter intimidade com o Pai e manente estado real. (Veja-se Isaías 11.1,3.)
com o Filho. "As divisões são: 1) a suprema formosura do Rei
Mas em todos os tempos tem havido gente incré- (1,2); 2) a vinda do Rei em glória ( w . 3-5; Ap 19.11-
dula que não acredita poder haver contato espiritual 21); 3) a divindade do Rei. e o caráter do seu reinado
entre Deus e os homens, e que diz "onde está o teu (vv. 6,8; Hb 1.8,9; Is 11.1-5); 4) associada com Ele no
Deus?" (v. 3). governo terrestre, apresenta-se a rainha (vv. 9-13), e
Nestes dois salmos, o saimista anônimo passa por nessa relação o Rei nâo é chamado Eloim. mas Ado-
vários estados de ânimo, uma vez elevado, outra vez nai, o nome da deidade como marido; 5) as compa-
abatido. Mas sempre seu pensamento e sua oração nheiras virgens da rainha, que parecem ser o Restan-
voltam-se para Deus. que é a sua fortaleza e toda a te israelita (Rm 11.5; Ap 14.1-4), aparecem em
sua esperança. Seu ânimo oscila entre lágrimas e seguida (vv. 14,15); e 6) o salmo termina com uma
louvores, entre perturbações e procissões, entre os alusão à fama mundial do Rei (vv. 16,17)".
abismos e o altar de Deus.
Salmo 46
Salmo 44
A prova da experiência. "Os salmos 46,47 e 48 são
Favores antigos e males presentes. A ocasião des- relacionados. Formam uma trilogia de louvor em que
te salmo foi alguma derrota que Israel tinha sofrido alguma notável salvação de Jerusalé, das mãos dos
por um inimigo estrangeiro (9-16), mas quem teria
seus inimigos é celebrada". Não podemos dizer com
sido o inimigo e quando se ferira a batalha, é incerto.
Que o salmo pertença aos tempos dos Macabeus nào certeza qual foi a ocasião. Poderia ser a invasão de
é provável. Judá por Senaqueribe, nos tempos de Ezequias, mas
é um salmo aplicável a qualquer tempo de tribula-
Este salmo está dividido em cinco partes, que po- ção.
dem ser resumidas assim: louvor (1-3); esperança (4-
8); desapontamento (9-16); inocência (17-22); e ora- Divide-se o salmo em três partes, cada uma ter-
çáo (23-26). minando com as palavras "O Deus de Jacó é nosso
A derrota que a nação tinha sofrido (9-16) não era alto reúgio " e a palavra "Selá". E verdade que as pa-
por motivo do seu pecado (17,18). Nem todas as nos- lavras não se encontram no fim da primeira divisão
sas tribulações (ou doenças) são conseqüências de (1-3), mas os expositores entendem que devem ser
pecados. Podem ser necessárias como disciplina e, às supridas.

183
Salmos.

Que confiança vemos nas palavras: "Náo temere- somente se dirige aos povos de Israel, mas aos de
mos ainda que... ainda que...!"fc o paralelo no V.T. todo o mundo, de todas as classes.
das palavras de Paulo em Romanos 8.31-39. Quem 2) Promete a sua própria atenção: Inclinarei o
inspira esta confiança? Ê Deus: refúgio, fortaleza, meu ouvido a uma parábola (4).
auxilio. 3) Promete tomar o assunto tão claro e tocante
quanto possível: "Ao som da harpa declararei o meu
Salmo 47 enigma" (4).
4) Começa por aplicar o ensino a si mesmo (5).
Um grande Rei sobre toda a terra. Este é o segun- Embora este salmo, naturalmente, nada revele
do da trilogia de salmos que falam da soberania de do Evangelho da graça de Deus, encontramos nele
Jeová (46 a 48). Todos são salmos dos filhos de Coré. algumas palavras que no Novo Testamento têm um
Todos se referem provavelmente à mesma ocasião, e sentido abundante e precioso.
todos têm um caráter histórico e profético. Vemos, O pensamento de "redenção" aparece no versícu-
nos três, referências ao Messias, a Israel e aos gen- lo 7, e isso faz-nos lembrar que rico sentido essa pa-
tios. O Messias será "o rei de toda a terra " (7); todos, lavra tem no Evangelho.
de todas as nações, hão de ser seus súditos (8,9a), e A palavra "resgate" também. E o resgate que nós
Israel será o meio de conseguir isto (4). conhecemos é o precioso sangue de Cristo.
Ê provável que o versículo 9 deve ser: "Os prínci-
pes dos pouos estão reunidos juntos com o povo do No versículo 8 aparece a palavra "remissão" -
Deus de Abraão". (Veja-se Gênesis 12.2.) uma palavra tão cheia de sentido no N.T.
O "viver perpetuamente" do versículo 9 náo tem
nada, já se vê, com a "vida eterna" ou "vida dos sé-
Salmo 48 culos" do N.T., porque não diz mais do que negar a
possibilidade de o homem viver perpetuamente
A beleza e glória de Sião. Estes três salmos (46 a sobre a terra e "não ver a cova".
48) provavelmente celebram a salvação de Jerusa- Quando o salmista diz que "Deus remirá a minha
lém do exército de Senaqueribe; e assim têm muito alma do poder do Seol", pensamos quanto mais sen-
em comum com a recordação desse acontecimento tido a palavra tem para os que conhecem "a reden-
em outros lugares. (Veja-se Isaías 33.) ção que há em Cristo Jesus".
Os três salmos chamam Deus de " o Grande Quando ele diz que "os homens te louvam, en-
Deus", e aqui Jerusalém é a cidade dele, com o tem- quanto fazes o bem a ti mesmo" (18). pensamos que
plo no meio. Esta cidade e seu templo Deus tem li- Deus antes louvará a quem faz bem aos seus seme-
bertado maravilhosamente (3-8). Notemos nestes lhantes.
versículos a chegada e a retirada dos assírios. No res- Propostas emendas de tradução (v. 11): "Seus
tante do salmo o povo libertado reflete sobre a salva- sepulcros serão as únicas moradas para sempre, e
ção. Ê no templo de Deus que chegam a compreen- suas habitações por todas as suas gerações; seus se-
der a grandeza da sua bondade (73.17). Durante o pulcros inscritos serão sua única lembrança sobre a
sítio de Jerusalém, o povo tinha estado apertado terra (v. 13): Este seu caminho é a sua loucura no
dentro da cidade, mas agora pode girar livremente; e fim, malucos, pastarão como gado" (Lamsa).
prezam mais do que nunca aquilo que tinham quase
perdido (12,13).
Salmo 50
" O último versículo é uma profissão de fé. Nem
todos os que dizem 'este Deus' podem dizer também Deus, o Juiz dos justos e dos ímpios. "Este é o ú-
'nosso Deus'. Podeis vós? O que Ele tem sido para nico salmo de Asafe no segundo livro, e é bem notá-
nós, por um momento, pode ser por mil anos. Quem vel. Seu propósito é didático, a sua forma dramática,
salva também guia (14). Necessitamos não somente e é igual aos melhores ensinos dos profetas, anteci-
a libertação, mas a direção. Porventura a cidade da pando a plenitude do Novo Concerto. E uma visão
vossa alma tem sofrido assalto? Haveis estado em de juízo, em que Deus é o autor e o juiz.
aperturas e prisões? Na vossa extremidade haveis " O salmo tem quatro partes: introdução (1-6);
chamado a Deus? E não o haveis louvado? Não ha- conclusão (22-33); e entre elas duas divisões, a pri-
veis resolvido ser dele, e viver para Ele doravante?" meira repreendendo o formalismo (7-15), e a segun-
da repreendendo a hipocrisia (16-21).
Salmo 49 " A introdução fala da chegada do juiz (1-3) e en-
tão a abertura do tribunal (4-6).
Valores materiais e espirituais. Diz F.W. Grant: "Os primeiros a. serem acusados são os formalis-
•'Este último salmo da série é um inspirado 'salmo da tas (7-15). Primeiro Deus anuncia o seu direito de
vida' , completado como somente uma revelação po- julgá-los (7); então seus feitos sáo reconhecidos (8);
dia completa-lo, por um relance de vista para o que depois, em linguagem irônica, sáo argúidos (9-13);
está além. Assim fica demonstrada a loucura de con- finalmente são instruídos como deviam proceder
siderar esta vida como sendo toda, em vez de apenas (14,15). Aqui se diz que Deus náo é contrário aos sa-
uma parte da existência humana, e, apesar dos fatos crifícios, mas não quer que sejam um substituto do
incontestáveis, viver como se não houvesse a morte e culto espiritual ou da lealdade do coraçáo.
o tempo fosse uma eternidade. "Neste solene tribunal. Deus é o Juiz, os céus e a
"Devemo-nos lembrar, contudo, de que o ponto de terra sáo os espectadores e Israel o acusado. A nação
vista é o de Israel, e que nem uma ressurreição nem é acusada de dois pecados, por um lado o formalismo
um quinhão celestial aparece no salmo". (7-15). por outro, a hipocrisia (16-21). O primeiro é
\fatthew Henry diz do salmista que: uma violação da primeira tábua da Lei; a última, da
1) Ele requer a atenção dos seus leitores (1) e não segunda tábua.

-184
Salmos.

" A conclusão resume o ensino de todo o salmo a rejeição do titulo hebraico, não é tão certo, e é peri-
(22,23)" (Scroggie). goso adotar um principio que torne uma dificuldade
de interpretação motivo para emendar o texto da Es-
critura. Outros, aceitando o salmo como sendo real-
Salmo 51 mente de Davi, têm preferido entender os últimos
dois versículos como um acréscimo mais recente.
Um exemplo do arrependimento segundo Deus. Que valor têm tais especulações com respeito a auto-
"Afinal temos mais um salmo de Davi, o primeiro do res anônimos? E verdade que não há a mesma certe-
segundo livro, e a ocasião está claramente exposta no za referente aos títulos dos salmos que há quanto ao
titulo. Ê o quarto e mais notável dos sete salmos pe- seu conteúdo, e certamente a L X X tem muitas dife-
nitenciais. renças mas, no caso deste salmo, concorda com o
Este salmo é uma lição da tristeza segundo Deus. hebraico. Contudo, temos geralmente verificado que
que leva ao arrependimento. Tem todos os sete si- os títulos hebraicos recomendam-se pela sua confor-
nais do verdadeiro arrependimento referido em 2 midade, e que têm, às vezes, uma significação espe-
Coríntios 7.11: cial, como, por exemplo, no do salmo 22. E verdade
1) E um apelo para a misericórdia (1). Somente que há dificuldade aqui em ver uma relação entre o
os culpados pedem misericórdia: Davi confessa-se pecado de Davi com Bate-Seba e uma aplicação pro-
culpado. Náo aparece nenhuma palavra de descul- fética a Israel nos últimos dias. Nem nos parece po-
pa. Somente a graça pode ser seu recurso. der haver algum sentido típico nesta medonha man-
2) A primeira necessidade reconhecida é a da pu- cha sobre a história do rei. Mas pode haver relações
rificação, tanto da culpa como da contaminação do de outra natureza; e não parece haver dificuldade
seu pecado: "Apaga as minhas transgressões/" (1) quanto aos detalhes da história, embora uma culpa
"Lava-me!" (2); "Expurga-me!" (7). Ele se reconhe- de sangue seja o único pecado especificado".
ce como inteiramente contaminado: um leproso mo- Uma explicação do versículo 4 é que o adultério
ralmente perante Deus. de Davi fora uma ofensa contra seus semelhantes, e
3) Segue-se a humilhação diante do Senhor, e a um pecado contra Deus.
confissão, não somente dos pecados, mas do pecado
em que fora concebido (5). Já se vê. nào havemos de Salmo 52
entender que o versículo 5 contenha qualquer libelo
contra o caráter da màe de Davi, mas simplesmente Davi prediz a ruína do ímpio, e confia em Deus.
esclarece, em termos gerais, a pecabilidade da raça Um salmo quase todo ocupado com a perversidade
humana. do ímpio, e que, ao fim, olha para Deus e dá graças
4) Ele compreende a necessidade de uma nova pela bondade que se encontra nele.
criação (10). Reconhece que podia ter sido lançado Diz F. W. Grant: " A alusão no titulo à história de
fora, se o Santo Espírito de Deus lhe tivesse sido ti- Davi é, como a do salmo 51, difícil de compreender.
rado. Contudo não havemos de a rejeitar por isso, confir-
5) Davi anela por uma restauração do gozo da mado como é pela L X X . Doeg, o edomita, é, sem dú-
salvação (12); pois, embora Deus nunca retire seu vida, um fraco representante do grande inimigo de
Espírito daqueles que são verdadeiramente seus, po- Deus e dos homens nos tempos finais, mas há evi-
dem perder o seu gozo, o seu poder e o seu testemu- dentes feições de semelhança.
nho. " O salmo se divide em duas partes, em contraste
6) Ele reconhece que sacrifícios cerimoniais pelo uma com a outra. Os primeiros sete versículos são o
pecado não têm valor, enquanto náo houver um espí- desafio do inimigo poderoso; e os dois últimos dão-
rito quebrantado; então podem ser a expressão de nos o homem de fé e seu quinhão da parte de Deus. O
gratidão e louvor (17,19). homem que empregara seu pouco poder em persegui-
7) Em tudo náo há nenhuma nota de desespero. ção dos santos é contrastado com 'EL', o poderoso
Isto distingue o verdadeiro arrependimento da tris- Deus, cujo atributo é misericórdia, e benignidade
teza do mundo que opera a morte. A fé triunfa, e que dura para sempre".
acredita que o pecador ainda será uma bênção para
os outros (13). Salmo 53
Diz F. W. Grant: " O salmo 51 é um enigma espiri-
tual. O bispo Horsley, há quase um século, correta- A loucura e impiedade do insensato. Diz F.W.
mente discerniu ser ele 'a confissão penitencial dos Grant: " O título é estranho e significante. E prefixa-
judeus convertidos*. Ele acrescenta: 'O assunto des- do a dois salmos, o 53 e o 88: 'ao cantor-mor - adap-
te salmo não pode ter nenhuma referência ao titulo tado a Maalate', significa provavelmente que era
hebraico que lhe é prefixado, porque Davi, culpado para cantar de maneira triste. ,
de adultério e assassinato, nunca podia ter dito que " O salmo 53 é maiormente uma repetição do 14, e
somente contra Deus pecara e porque a oração para como tal tem provocado criticas. Em ambos o divino
a reedificação dos muros de Jerusalém náo teria tido nome acha-se sete vezes, mas no anterior é Jeová
cabimento nos dias de Davi. A aplicação do salmo a quatro vezes enquanto neste Eloim (Deus) é empre-
Israel, arrependido e restaurado, é evidente. Consi- gado cada vez. Isto, já se vê, está de acordo com o ca-
dero este salmo 51 como uma espécie de oração peni- ráter geral do segundo livro de salmos. Em cada sal-
tencial, designado e preparado pela infinita sabedo- mo a sétupla afirmação de Deus, na presença da
ria para o uso de Israel penitente e crente nos perigo- multidão dos ímpios, tem certàmente significação.
sos tempos dos últimos dias"'. Como no salmo 14, os homens em geral, e não so-
F.W. Grant continua: "Enquanto podemos acei- mente os israelitas, negam a Deus...
tar esta interpretação profética, visto que concorda Mas em todo o tempo, enquanto os homens ne-
com todo o caráter e escopo do livro, o lado negativo, gam a Deus, Ele se ocupa com os homens. Paciente-

-185
Salmos.

mente busca, para descobrir se há quem o entenda Este salmo pode ser chamado: " O remédio pelo
ou o procure. Evidentemente, Deus não é indiferente receio". Que grande lugar o receio tem na maioria
às suas criaturas, nem as julga em massa, porém das vidas! Abraão foi o primeiro a quem Deus disse
com cuidadosa discriminação. "não temas" (Gn 15.1), e isso Deus tem dito a mui-
Proposta emenda de tradução (v. 4): "Esta gente tos desde então, até que afinal o ouvimos dizer a
não mais reconhece o mal; comeram meu pouo" João em Apocalipse 1.17. Nós todos sabemos quan-
(Lamsa). tas vezes essas palavras estavam nos lábios do Se-
nhor Jesus - por exemplo Mateus 10.25-31. Os santos
mais nobres têm confessado seus receios. O grande
Salmo 54 apóstolo disse: "por todos os lados sofremos tribula-
ção; combates fora, sustos dentro" (2 Co 7.5).
Deus se manifesta de acordo com o seu Nome.
"Embora curto, divide-se este salmo em duas partes. Davi tinha motivos para ter medo, porque ele es-
A primeira dá o clamor do sofredor a Deus, e a invo- creveu este salmo quando perseguido por Saul, "co-
cação do seu poder. A salvação será de acordo com a mo uma perdiz nos montes" (1 Sm 26.20). Refugiou-
justiça divina, isto é, de acordo com o que Deus é. se com os filisteus em Gate, mal escapando com a vi-
Isto presume uma medida de justiça legal da parte da. por fingir-se doido.
do salmista. Neste salmo temos as bases da confiança no amor
A segunda parte antecipa, pela fé, o auxilio im- divino que lança fora o temor:
plorado. Deus mesmo é o ajudador, "o Senhor é "1) A confiança em Deus (3): 'No dia em que eu
quem me sustenta a uida" (4). O resultado é então temer, porei minha confiança em ti'.
previsto, como sempre em tais premissas: "Ele retri- "2) A Palavra de Deus (4): 'Louvarei a sua pala-
buirá o mal aos meus inimigos" e "os meus olhos vra... não temerei'. Uma falta de confiança em Deus
vêem a ruína'dos meus inimigos". explica a maioria dos nossos temores e dúvidas. Re-
correr às páginas das Escrituras é geralmente o sufi-
ciente para acalmar os nossos temores.
Salmo 55 "3) A simpatia de DêUs. Ele conta as nossas lá-
grimas. Assim a inevitável nota de louvor e oração
Atribulado pela traição. A provável ocasião do termina o salmo" (Goodman).
salmo é a rebelião de Absalão (2 Sm 15 a 18) e nesse
caso o traidor dos versiculce 12 a 14 será Aitofel. Salmo 57
Devemos reconhecer que a primeira parte do
titulo do salmo 56, Jonate-Elém-Recoquim (signifi- Paz no perigo. Descobrimos que muitos dos sal-
cando a pomba silenciosa daqueles que estão longe) mos de Davi foram inspirados pelos perigos em que
pertence, quase com certeza, ao fim do 55 e concorda ele se encontrava. Se em vez de ser guerreiro, tivesse
com os versículos 6-8. continuado a ser um pastor, porventura teria tido
O salmo é companheiro do 41, com o qual deve provações tão notáveis e experiências de Deus tão
ser lido. Encontramos nele emoções misturada: tri- sublimes?
butação, nos versículos 1-8; indignação, nos versícu- Este salmo pertence aos tempos de perseguição
los 9-15; confiança, em 16-23. Na primeira parte, de Saul: mas se descrevem as experiências na caver-
Davi pensa de si mesmo; na segunda, dos seus inimi- na de Aduláo (1 Sm 22), ou na de Engedi (1 Sm 24),
gos; na terceira, de Deus. Na primeira parte o sal- não sabemos.
mista, na sua tribulação, apela para Deus (1-3), des- Este salmo é muito parecido com o precedente,
creve a perseguição (3-5) e expressa seu desejo por como é fácil ver. O versículo 10 se encontra no 36.5; o
salvação e descanso (6-8). versículo 1 é refletido no 36.7 e os versículos 7.11 são
Na segunda parte ele fala de opressão e engano repetidos no 108.1-5.
na cidade, e pede a destruição dos seus inimigos (9- A estrutura do salmo é simples. Há duas estrofes,
11,15). Então ele aponta um. outrora amigo, agora cada uma terminando com "Sé exaltado, ó Deus,
inimigo (12-14). acima dos céus!"
Na terceira parte o salmista tem certeza de que Em seu conteúdo, o salmo gira em torno de dois
Deus responderá à sua oração (16-19). Mais uma vez fatos sempre presentes na mente de Davi: o fato da
fala do amigo falso (20/21) e conclui com palavras de existência de inimigos e o fato da existência de Deus,
exortação (22) e certeza (23). mas seu medo dos primeiros é mais que contrabalan-
Proposta emenda de tradução (v.14): "costumá- çado pela sua fé no segundo.
vamos ir à casa de Deus juntos" (R. 113). Os dois atributos de Deus com que Davi contava
nas suas tribulações eram: sua misericórdia (3) e sua
Salmo 56 verdade (10). Essas vêm do Céu à Terra (3) e alcan-
çam da Terra o Céu (10).
A fidelidade de Deus é a fortaleza do seu povo. O " E um salmo da tarde; e quem se deita confiando
leitor precisa lembrar que no original hebraico náo (4). levanta-se cantando. Não é que a aurora o acor-
há pontuação alguma, e o tradutor nem sempre acer- de, mas ele acorda a aurora" (8) (Scroggie).
ta com o sentido exato e a pontuação necessária.
No versículo 11, deve haver uma interrogação no
fim, como na V.B., e não um ponto final como em Salmo 58
Almeida. No versículo 13 nem V.B. nem Almeida
têm a melhor pontuação. Devemos ler: "Livraste mi- Davi reprova os ímpios. Referente a este salmo,
nha alma da mortç; não tens também livrado os diz F. W. Grant: "Temos agora a manifestação de
meus pés da queda, para que eu ande diante de Deus Deus em juízo, quando a justiça nas mãos dos ho-
na luz da vida?" mens tem fracassado".

-186
Salmos.

Os primeiros dois versículos mostram-nos a cau- de Davi, significado por 'atirar seu sapato sobre ele'
sa desta manifestação. A justiça está silenciosa na (Rt 4.7). Dominará sobre a Filistia" (8).
terra. Por isso Deus mesmo precisa levantar-se em Mas a guerra ainda não terminou: resta uma ci-
juízo. O engano tem tomado o lugar da retidão nos dade forte, talvez Rabá dos Amonitas. Edom ainda
corações, e a violência prevalece onde deve haver náo está subjugado (9). Davi sente a necessidade de
justiça. aliados, de auxílio. Ele olha para Deus, mas sente
Depois manifesta-se a inveterada hostilidade dos que, em algum sentido, Deus o tem rejeitado. Contu-
iníquos a tudo quanto é bom. Sáo alienados de Deus do, reconhece que não pode contar com outro recurso
desde o nascimento, e vivem na mentira. melhor.
O juízo de Deus é invocado (v. 6), e o saimista Deste salmo diz Geo. Goodman: " E difícil resol-
prevê o julgamento que pediu. O exército inimigo es- ver exatamente o tempo a que o titulo se refere. Tan-
coa como águas e desaparece "como a lesma que se to Davi como Joabe estavam batalhando com os ini-
derrete e se vai". migos; Davi com Arã-naarim e Arã-zobá, que signifi-
Proposta emenda de tradução: segundo uma ver- cam 'Síria dos dois rios' e 'Síria de Zobá\ e Joabe
são aramaica o versículo 8 traduz-se: "Como a cera com os edomitas".
se derrete e pinga perante o fogo, sejam destruídos: O conflito de Davi com os siros é referido em 2
fogo tem caído do céu e não perceberam; a luz da Samuel 10.6,8,16, mas as condições aqui não combi-
verdade foi dada. e não entenderam". (Lamsa). nam muito bem com o caso ali. Parece-nos que o sal-
mo foi escrito depois de uma derrota não recordada
Salmo 59 na história, em que as tropas de Davi foram vencidas
(1): "Fizeste passar o teu povo por um duro transe;
Davi pede libertação dos inimigos. A primeira se- deste-nos a beber o vinho de aturdimento" (3).
ção (1-5) dá a causa, ou a ocasião imediata do juízo O verdadeiro caráter de um homem vè-se na ad-
implorado sobre os iníquos. Inimigos levantam-se versidade e na hora da derrota. A fé tem então a sua
contra o saimista: homens violentos, homens de san- oportunidade, e Davi, o homem de fé em Deus, canta
gue; e ele apresenta o seu caso a Jeová, declarando a seu salmo de confiança na hora de desmaio e derro-
sua inculpabilidade. ta. O salmo ilustra a fé triunfando sobre o fracasso.
Então uma breve seção (6-8) descreve os partidos
opostos: de um lado os inimigos, como um bando de Salmo 61
cães; do outro. Deus, que despreza o atrevimento dos
inimigos. Davi confia em Deus como seu refúgio. "Podemos
O salmo, depois de muitas preocupações com as presumir que este salmo foi escrito por Davi durante
perversidades humanas, termina com uma canção o tempo da fuga de Absalão, porém quando nova-
de louvores a Deus. mente olhava para Jerusalém, havendo seus exérci-
tos vencido os rebeldes no bosque de Efraim" (2 Sm
18).
Salmo 60 Davi está desanimado e sente-se longe de Deus.
Ele clama "desdea extremidade da terra", sentindo-
Lamentações e súplica. "Este salmo fala da dis- se longe do santuário de Deus, que para ele é o centro
ciplina de Deus para com o seu povo e da renovada do universo. Seu coração está desanimado. Por isso
proteção dele depois da disciplina ter feito sua obra. mesmo ele ora. Deus lhe tem sido um abrigo e refú-
Ele contempla Israel restaurado, semelhante ao Is- gio em tempos passados. Por isso mesmo pede: "Le-
rael nos tempos de Deuteronômio, prestes a entrar va-me para cima de uma rocha que me é inacessível"
na sua herança na terra, 'dividir Siquém e medir o (2). Isto será acompanhado por uma restauração ao
vale de Sucote' (7). Isto mostra como estes salmos "tabernáculo", isto é, ao privilégio do culto.
vão, profeticamente, além da sua ocasião imediata. Os últimos quatro versículos testificam a respos-
'Dividir Siquém ' supõe uma nova ocupação da terra ta à oração de Davi e a sua restauração à confiança e
tal que não podia ser associada com a guerra siro- ao louvor: "Tu. ó Deus, ouviste..." (v. 5). Assim res-
edomita, referida no titulo. taurado, o saimista afirma a sua resolução de cum-
" N o segundo versículo temos a figura de um ter- prir seus votos diariamente (8).
remoto que fendeu a terra e de cujos efeitos a terra
ainda estremece" (F.W.G.). Salmo 62
Matthew Henry diz do versículo 6 em diante:
"Davi aqui regozija-se na esperança e ora com es- A confiança que triunfa. Este salmo, como o 61,
perança. Tais sáo os triunfos dos santos, regozijan- quase certamente pertence ao período da rebelião de
do-se, não tanto pelo que possuem mas pelo que têm Absalão. A alusão aos falsos amigos bem expressa a
em perspectiva. experiência de Davi nesse tempo.
"Regozija-se Davi aqui por duas coisas: O pensamento principal em todo o salmo é o de
"1) O aperfeiçoamento do seu reino. Havendo confiança, uma confiança que aumenta de estrofe
Deus falado na sua santidade que Davi seria rei, ele em estrofe:
não duvida de que o reino todo é seu, como se esti- 1) Confiança e adversidade (1-4). Davi se consi-
vesse já de posse dele... Efraim lhe fornecerá solda- dera como uma parede pendida, um muro prestes a
dos, Judá juizes para seus tribunais, etc. cair, contra o qual seus falsos amigos se atiram para
"2) Regozija-se também na perspectiva da con- o derrubar (3). Mas enxerga em Deus sua Rocha e
quista das nações em redor que o tinham perturba- Salvação e Alta Torre (2) em quem confiará.
do, ameaçando a segurança do seu trono. Moabe se- 2) Na segunda estrofe eleva-se Davi em espírito á
ria escravizado e ser-lhe-ia dado o serviço mais hu- confiança com segurança (5-8). Notemos que os
milde (2 Sm 8.2). Edom seria tomado para ser posse versículos 5 e 6 repetem 1,2 com três pequenas dife-

-187
Salmos.

renças: a) em 1,2 ele declara que espera em Deus, A iniqüidade gosta de companhia, e a presença
mas, em 5,6, ele exorta a si mesmo a fazê-lo; b) a sal- de uma multidão favorece os pecados atrevidos. A
vação do versículo 2 vem a ser uma expectação em malvadez é naturalmente covarde e gosta de parti-
5,6; e, ainda mais notável, c) enquanto em 1,2 ele es- lhar a sua responsabilidade com os outros, enquanto
tá certo de que não seria grandemente abalado, em 6 a fé caminha sozinha, mesmo no meio da multidão.
está certo de que não será abalado de modo algum.
Por isso, em 7,8 em vez de referir-se aos falsos ami- Salmo 65
gos como em 3,4, ocupa-se com os louvores de Deus,
e exorta o povo a ter parte no seu gozo. Davi louva a Deus e dá-lhe graças. Eis te salmo é
Isto leva-o ainda mais alto: ele tem: notável porque náo contém quase nenhuma alusão
3) Confiança e realidade. Em um prato da balan- aos iníquos, inimigos ou malvados. Toda a sua preo-
ça está Deus, e no outro todos os homens, mas estes cupação é com a bondade de Deus, e a bem-
não pesam tanto como um sopro: "Juntos são mais aventurança daqueles que "habitam nos seus á-
leves do que a vaidade". As riquezas, bem ou mal trios ".
adquiridas, são mal empregadas se se confia nelas Diz F. W Grant: " A primeira seção é muito sim-
(10). Em conclusão, Deus é revelado como Poder, ples. 'A ti, ó Deus, espera o louvor em Sião' (v. 4,Al.)
Bondade e Justiça (11.12). O louvor de Deus por toda a terra (como fala o versí-
culo 2), espera em Sião. A bênção milenial, como
Salmo 63 bem sabemos, tem seu começo e centro ali. Enquan-
to Jerusalém é pisada e desolada, a terra nào pode
Um cântico de salvação. Diz o dr. Scroggie: "Cri- entrar no seu descanso. Sião é o descanso de Deus
sóstomo diz que foi decretado e ordenado pelos pa- para sempre (SI 132.14), e nào pode haver descanso
dres apostólicos que nenhum dia passasse sem este senão quando Ele descansar; o principio é sempre
salmo ser cantado publicamente. E isso não é de es- verdadeiro, qualquer que seja a aplicação que o
tranhar! Como o salmo antecedente, este pertence, apóstolo faz em Hebreus 4.5-11 de entrarmos no des-
quase com certeza, ao tempo da rebelião de Absalão. canso de Deus".
Os principais fatos sáo: o escritor é um rei (11); ele
está longe de casa, numa terra sedenta (1); anela es- Este salmo trata das divinas manifestações da
tar de volta e chegado ao santuário (2); inimigos pro- gTaça e da providência. A s estrofes parecem ser 1-4,
curam a sua vida (9); ele está confiado que seráo der- 5-8, 9-13.
rotados (9,10); e ele mesmo regozija-se em Deus Primeiro, Deus ouve e responde à oração, silen-
(7)". ciosa ou vocal (1,2). Mas há um grande empecilho; o
O salmo divide-se em três estrofes, começando pecado se interpõe entre nós e Deus (3a). "Iniqüida-
cada uma com "Minh'alma" (1,5,8). O assunto é des prevalecem contra mim ". A resposta é imediata:
sempre satisfação, por isso podemos considerar: Deus é um Deus perdoador (3b,4).
1) A necessidade da satisfação (1-4). No momen- Na terceira estrofe temos o mais perfeito cântico
to, o salmista não pode chegar ao santuário que ama, da colheita jamais escrito. Notemos a repetição de
por isso, no deserto, se alimenta com a recordação "Tu", insistindo na imediata ação de Deus em todos
daquele que ali. no santuário, contemplava (2). Nos- os processos naturais.
sa visão do alto da montanha deve ser nosso conforto
no vale. Pouco importa que o deserto seja seco e tris- Salmo 66
te, se temos a certeza de que Deus está conosco.
2) A esperança da satisfação (5-7). Primeiro era: Vinde e vede. Este salmo é dividido em cinco se-
"A minha alma tem sede", mas agora é: "Será sacia- ções, cada uma separada da anterior pela palavra
da a minha alma". A recordação do que Deus tem "Selá", exceto que falta depois da terceira (12). O
sido no passado (7a.) ajuda-o a formar a sua resolu- autor e a ocasião sáo desconhecidos, mas a mensa-
ção com respeito ao futuro (7b.). Sua boca não será gem e aplicação do salmo são evidentes e universais.
empregada da maneira que os inimigos empregam as A primeira parte é para cantar no coro (1-12) e a
deles (5,11). Davi tem achado uma boa ocupação segunda como solo (13-20).
para as horas noturnas sem sono (6).
3) O caminho da satisfação (8-11). Isto é, por "se- "Estrofe 1. O Deus de todos (1-4). Começa e aca-
guir de perto" (8), e nisto podemos contar com o am- ba com 'toda a terra". Deus é grande e glorioso, e to-
paro divino (8). O crente pode sempre se regozijar dos se submeterão a Ele. embora a submissão possa
em Deus. ser fingida (3). Isto indica os tempos do Milênio.
"Estrofe 2. O Deus de Israel (5-7). Seus feitos
Salmo 64 terríveis ainda sáo o tema (3,5), mas agora sáo para a
libertação do seu povo. Para ilustrar o tema, o sal-
Os malfeitores denunciados. Mais uma vez ve- mista escolhe as duas notáveis expressões do poder
mos Davi muito preocupado com os iníquos, e mais de Deus a favor do seu povo, a passagem do mar Ver-
uma véz, no fim do salmo, ele deixa de os contem- melho e do Jordão (6).
plar para achar toda a sua satisfação em Deus. F. W. "Estrofe 3. O Deus de Israel é o Deus para todos
Grant acha duvidoso podermos encontrar (profetica- (8-12). Esta nota soa no versículo 8: 'Bendizei, ó po-
mente) Cristo neste salmo. " A simples expressão 'o vos, ao nosso Deus!'
,-eto' (v. 4 A l ) ou 'o íntegro' (v. 4 V.B.) emprega-se "Estrofe 4. A resolução da alma (13-15). O sal-
aqui em sentido indefinido demais para provar uma mista prometeu (e agora vai fazer). Quando estava
alusão messiânica, e o caráter da oração é baixo de- em tribulação, disse que faria: agora ele fará.
mais para ser atribuída a Ele. Mas o mundo que é "Estrofe 5. O testemunho da alma (16-20). *Vin-
contra seu povo é contra Ele, e a causa desse povo é de, ouvi...' quem tem recebido grandes bênçãos não
sua". pode deixar de publicá-las1' (W.G.S.)

-188
Salmos.

Salmo 67 guindo-ô (24) com cânticos (25) de louvor (26), sendo


mencionado quatro das tribos especialmente (26).
"Venha o Teu reino ". Este salmo tem um caráter "Estrofe 7. A prece da procissão (28-31). Aqui a
milenar. A graça de Deus corTe por Israel como um fé e a esperança alternam: fé em petição, esperança
canal para abençoar as nações, sendo Israel o vivo da resposta. Assim é que podemos ler fé (28), espe-
exemplo dela perante os olhos de todos. rança (29). fé (30). esperança (31).
"Isto podemos ver nos dois primeiros versículos. "Estrofe 8. Uma chamada a todos os reinos (32-
'Compadeça-se Deus de nós e nos abençoe, e sobre 35). Começa com 'Cantai ao Senhor' (32), e acaba
nós faça resplandecer o seu rosto. Para que seja, na com 'Bendito seja Deus' (35); e a exortação é basea-
terra, conhecido o seu caminho, e em todas as nações da sobre a declaração que Jeová é o Deus de Israel e
a sua salvação'. Segue então a predicação de louvor há de ser o Deus de toda a terra, e reconhecido por
de toda a terra: 'Dêem-te graças, ó Deus, OS pouos; todos os povos.
dêem-te graças os povos todos'. Então se segue o as- " O salmo todo é um hino de triunfo: respira exul-
sunto do seu louvor" (F.W.G.). tação. Nele ouvimos o grito de guerra que se toma
"Este pequeno salmo é uma jóia literária e espiri- numa canção de vitória. O Senhor é o vencedor e seu
tual. Tanto a sua estrutura particular e sua profun- povo, os coroados".
da espiritualidade hão de muito impressionar o lei- Propostas emendas de tradução (v.l): "Deus se
tor atento. Os versículos L e 2 são uma introdução; 6 levanta: seus inimigos começam a ser dissipados"
e 7 são uma conclusão; e 3-5 são o centro em volta do (R. 116) - (v. 18): "Subiste ao alto, levaste embora
qual o trono está edificado, começando (3) e termi- os cativos: abençoaste os homens com dons; mas os
nando (5) com o mesmo estribilho. um estribilho que rebeldes não habitarão perante Deus" (Lamsa).
encerra a mensagem central do salmo, porque sendo
Deus o juiz e governador dos povos, eles devem rego- Salmo 69
zijar-se por isso (4).
" O caráter missionário do salmo aparece no ensino Os sofrimentos de Davi prefiguram os do Mes-
de que, quem tem conhecimento de Deus, deve fazê-lo sias. "O salmo 69 é mais freqüentemente referido no
conhecido (1,2.6.7). O salmista pede para Israel a divi- N . T . do que qualquer outro, exceto o 22; e sempre
na bênção para que tome conhecida a sua salvação en- como tendo seu cumprimento em relação ao Senhor
tre todas as nações (2)" (W.G.S.). Jesus, ou nos frutos e conseqüências da sua rejeição.
" D o versículo 4 compreendemos que o salmo é " N a primeira seção (1-6). temos a identificação
milenar. Antecipa o grande dia quando 'o povo' (isto de Cristo com o seu povo que necessariamente fica
é, Israel) não mais será espalhado e oprimido nem envolvida com o sofrimento vicário. Ele é ouvido na
'as nações' gemerão sob a tirania das guerras. Então sua aflição, como as águas penetram na sua alma.
os caminhos de Deus serão conhecidos e compreendi- Ele se atola no profundo lamaçal e fica submergido
dos; sua salvação gozada por todas as nações. A bên- na correnteza. O apelo àquele que podia salvá-lo da
ção de Deus sobre elas resultará em a terra produzir morte, referido na epístola aos Hebreus, é acentua-
o seu fruto (6). uma coisa que várias vezes vemos do no que segue, e então lemos dos inúmeros inimi-
predita nos profetas, por exemplo, em Isaias 55.12. gos, enquanto Ele está pagando a divida dos outros
( 4 ) " (Grant).
Nesse dia cumprir-se-á Romanos 8.21" (Goodman).
O autor deste salmo é desconhecido. F. W. Grant, e vários expositores, entendem que o
salmo todo se refere profeticamente a Cristo, apesar
Salmo 68 de a linguagem, às vezes, parecer bastante estranha
na boca dele. Outros consideram-no como uma ex-
O grande vencedor. Neste salmo aproveitamos a pressão dos exercícios espirituais do salmista e só in-
exposição dada pelo dr. Scroggie: diretamente aplicável a Cristo. Em face das diferen-
" A o estudar este salmo enfrentamos duas dificul- ças de parecer entre os sábios, convém sermos antes
dades: os limites do nosso espaço e as obscuridades prudentes do que positivos na nossa interpretação
do texto. Por isso o tratamento precisa ser muito re- dos versículos mais difíceis.
sumido. A denúncia dos inimigos ( w . 22-28) pode não ser
" O salmo tem duas divisões principais: 1-18, e denúncia, mas profecia: Segundo a "Treasury of
19-35. A ocasião é desconhecida, mas o principal as- Scripture Knowledge", em vez dooptativa: "Torne-
sunto é 'A vitória de Deus'. se-lhes a mesa..." podemos ler no futuro: "Tornar-
"Estrofe 7. A marcha vitoriosa de Deus (1-6). se-lhes-ã a mesa...", e assim por diante.
"Estrofe 2. A vida de Israel no deserto (7-10). Uma coisa ao menos é certa: a grande diferença
Aqui resume-se o livro de Números, com os pecados entre a linguagem de Davi e a de Cristo quando dis-
de Israel omitidos. se: "Pai. perdoa-lhes. porque não sabem o que fa-
"Estrofe 3. As vitórias com as quais conquista- zem".
ram a Terra (11-14). Aqui observamos o tumulto da Propostas emendas de tradução: No versículo 27,
batalha, e as muitas vozes dos combatentes. em vez de "Ajunta-lhes iniqüidade sobre iniqüida-
"Estrofe 4. A desejável sorte de Sião (15-18). A de", F.W.G. diz que podemos traduzir: "Imputa-
batalha ganha, os vencedores entram em Sião e no lhes iniqüidade de acordo com a sua iniqüidade". No
seu santuário (16-17) para permanecerem ali. versículo 20 podemos ler: "0 tu, sara meu coração
"Estrofe 5. As grandes alternativas (19-23). Aqui quebrantado e pensa-o; esperei por alguém", etc.
temos dois quadros contrastados, um que apresenta (Lamsa).
Deus, e o outro o povo.
"Estrofe 6. O cântico dos salvos (24,25). Nos Salmo 70
versículos 15-18 temos visto a marcha do Vencedor
para o santuário; agora vemos seu povo redimido se- Contrastes. " O salmo 70 é, com poucas diferen-

-189
Salmos.
ças, idêntico aos últimos cinco versículos do salmo nos essa vara disciplinária para Israel no próprio
40, o salmo do holocausto. Este salmo é para trazer à santuário.
lembrança, e por isto a repetição é muito mais im- Este salmo, como o 37 e o 49, trata do problema
portante do que as conseqüências tão inclusivas e de reconciliar o governo moral de Deus com os fatos
permanentes, que uma tal recordação como esta náo observados. Como pode um Deus todo-poderoso ser
é de estranhar" (Grant). bom e, contudo, permitir a prosperidade dos ímpios,
enquanto os justos ficam sem recompensa? Quem já
Salmo 71 sentiu o peso deste problema deve estudar este sal-
mo.
Oração de um ancião, para que Deus o liberte. As divisões são: Introdução (1,2). Parte I (3-14).
Este salmo é um salmo de ressurreição. Israel se vê, Parte II (15-26). Conclusão (27,28). Cada uma destas
em antecipação, renovando a sua mocidade. O sal- partes tem três estâncias de quatro versículos.
mo é quase todo uma oração, a qual por fim se torna Introdução (1,2). Aqui há evidência de que a fé
em alegre certeza e louvor. teve um conflito e ganhou a vitória. O conflito está
As divisões que F. W. Grant marca neste salmo no versículo 2 e a vitória no versículo 1.
são: Parte I (3-14).
1) Jeová, a perpétua suficiência do seu povo (1- Estância 1 (3-6). A continuada prosperidade dos
5). ímpios. Duas evidências sáo apontadas: sua saúde
2) Israel, a testemunha de Deus no seu conflito física e sua aparente isenção de calamidades. O efei-
(6-11). to sobre o salmista é que ele os inveja (3).
3) Israel aproxima-se de Deus (12-15). Estância 2 (7-10). A insolência dos iníquos. Blas-
4) O lugar de bênção (16-18). femam de Deus que está no Céu e caluniam os ho-
5) Israel com Deus (19-21). mens na terra (9). Atraem para si uma multidão de
6) Canção de vitória (22-24). parasitas que os seguem por amor ao lucro (10).
Salmo 72 Estância 3 (11-14). O cepticismo dos ímpios. Di-
zem: "Como sabe Deus?" "Acaso há conhecimento
O reinado do rei justo. "Este é um dos mais evi- no Altíssimo? '' Porque Deus não os visita imediata-
dentes salmos messiânicos. Há cinco estrofes, e uma mente com juízos, calculam que Ele náo sabe ou não
doxologia que termina o segundo dos cinco livros dos se importa. Por outro lado o piedoso salmista é ator-
salmos. Cada estrofe frisa uma característica do rei- mentado (13,14). Que valor, então, tem a virtude?
nado. Parte II (15-26). Estância 4 (15-18). A visão do
"1) Sua justiça (1-4). Notemos a repetição das fim. Notemos bem o que se diz aqui. Conta as suas
palavras: juízos, justiça, retidão, eqüidade, etc.; certezas aos outros e guarda as suas dúvidas consigo
também a referência à paz, tantas vezes associada (15). Há problema que a inteligência não pode resol-
na Bíblia com a justiça. ver (16), mas que a comunhão com Deus resolverá,
"2) Sua perpetuidade (5-7). Notemos as frases ao menos suficientemente para haver um pacífico
*enquanto existir o sol', 'enquanto durar a lua', 'por consentimento (17). Na presença de Deus. percebe-
todas as gerações'. Notemos a beleza das figuras: mos que os iníquos estão num declive escorregadíço,
'Seja ele como a chuva que desce sobre o prado, e não nós (2,18). Consideremos o fim deles (17).
como chuveiros que regam a terra'. Estância 5 (19-22). Deus justificado. Segundo o
"3) Sua universalidade (8-11). A vista do salmis- pensamento dos iníquos. Deus parecia ter estado em
ta é necessariamente restrita, mas no versículo 8 ele sonho, mas Ele acordou e se levantou, e "despreza a
olha para leste e para oeste, no 9, para o sul, e no 10, imagem deles" (20). Isto leva o salmista a perceber
para oeste e sul; e no 11, seu conhecimento de luga- que as suas dúvidas tiveram origem, não era qual-
res distantes estando esgotado, ele diz: 'Sirvam-no quer defeito na providência divina, mas na sua pró-
todas as nações'. pria ignorância (21,22). E sempre assim.
"4) Sua humanidade (12-15). Aqui vemos mais a Estância 6 (23-26). A vitória da fé. Das nuvens da
ternura do rei do que seu poder. Ele cuida dos neces- dúvida a alma agora sai para o clarão de uma alegre
sitados, aflitos, fracos, oprimidos. Não é a autorida- certeza. Esta estância é como o ouro puro. Enquanto
de que torna alguém um benfeitor; é a beneficência os iníquos passam para o esquecimento, a alma cren-
que apoia a autoridade. Cristo derramou seu sangue te continua, pois Deus a tem tomado pela mão direi-
para nós, porque nosso sangue era precioso aos seus ta (23).
olhos (14).
"5) Sua felicidade (16,17). Aqui temos um qua- A conclusão (27,28) é que a distância de Deus im-
dro de abundância e bem-estar. porta na morte, e • sua presença na vida eterna.
" 6 ) Doxologia (18-20). O Reino Vindouro será (Scroggie).
tudo o que se diz aqui, e ainda mais. 'Encha-se de
sua glória a terra toda' (19)" (Scroggie). Salmo 74

TERCEIRO LIVRO DOS SALMOS (73 A 89) O mistério da inação de Deus. Há três orações
neste salmo (1-3; 10,11; 18-23). Entre a primeira ora-
Salmo 73 ção e a segunda há uma estância sobre A profanação
do nome de Deus no presente (4-9), e entre a segunda
A santidade de Deus no seu trato com os homens. e terceira há uma estância sobre A revelação do po-
Este, o primeiro salmo do terceiro livro, mostra, der de Deus no passado (12-17).
como é costume, o caráter geral do livro todo. Fala A primeira e terceira orações constituem uma in-
dos sofrimentos dos justos em contraste com a pros- vocação de Deus para que se lembre (2,18); e a ora-
peridade dos iníquos. O segundo salmo (74) mostra- ção centrai pergunta: "Até quando?" e "Por quê?"

-190
Sdmos

1) A primeira oração (1-3). O salmista recorda a Este salmo tem quatro estrofes de três versículos
Deus a relação divina com Israel. São suas ovelhas; cada uma. As duas primeiras descrevem o ato de sal-
Ele as adquiriu e remiu. O coração aflito é muito iló- vação e as outras, as conseqüências.
gico; aqui temos uma oração pedindo socorro, e con- 1) A revelação de Deus como libertador, em Sião
tudo o intercessor diz que o povo é rejeitado "para (1-3). A cena deste ato é apontada pelas palavras em
sempre", e que a ruína é perpétua. Judá. em Israel, em Salém. em Sião. Deus está com
2) A profanação do nome de Deus no presente (4- o seu povo, no seu meio, de maneira que, quando os
9). O sentido de toda esta estância é que a ação do inimigos assaltam a verdadeira Igreja, desafiam a
inimigo é um insulto a Deus. Porventura há outros Jeová a manifestar a sua força.
inimigos hoje que obram o mal nos nossos lugares de 2) A completa derrota do inimigo (4-6). Quão
reunião0 breve e vivida é esta descrição! Chegaram em multi-
3) A oração central (10,11). A linguagem aqui é dões, com carros e cavalos: agora estão deitados
muito ousada. O salmista pede a Deus que tire a sua como dormindo.
mão do seio e destrua o inimigo. Quando o coração 3) A ira de Deus e o temor da terra (7-9). Aqui ve-
está desesperado, pode ser ousado, pois ousadia nem mos resultado da vitória. No seu grande feito, com-
sempre é irreverência. binam-se ira e misericórdia. Deus destruiu os agres-
4) A revelação do poder de Deus no passado (12- sores e salvou os aflitos. Quando os céus falam, a ter-
19). O apelo contra a inação de Deus é baseado sobre ra estremece.
a sua ação no passado. E bom em tempos de tribula- 4) O Deus de juízo será louvado (10-12). Israel
ção lembrar de quanto sabemos dos feitos maravi- adorará; as nações trarão presentes e os príncipes
lhosos de Deus no passado. As ações de Deus aqui iníquos serão quebrantados.
em duas categorias, na história (17-15) e na criação
(16,17). Salmo 77
5) A última oração 118-23). O salmista acaba
como principiou, por pedir a Deus que se lembre. Consolação por lembrança. O salmo refere-se a
Lembrar-se de quê? Do ultraje do inimigo, da aflição alguma grande humilhação nacional. Quando o sal-
"da alma da tua rola", da aliança com o seu povo, e mista escreveu, tinha caído o golpe: Israel estava no
do desejo dos aflitos para o louvarem (Scroggie). exílio. Evidentemente, não é nenhuma aflição pes-
Proposta emenda de tradução (v. 5): "Tu sabes soal que oprime o seu espírito, mas a aparente rejei-
isto como o exaltado sentado nas alturas derruba- ção de Israel por Deus.
ram as portas com machados como teriam derruba- Porém na luz da história passada de Israel é ensi-
do as árvores da floresta" (Lamsa). nado que essa rejeição não pode ser permanente.
" E evidente que o autor deste salmo nào pode ser O salmo tem duas divisões principais. Um suspi-
o Asafe dos tempos de Davi. pois esse nào podia ter ro (1-9) e Um cântico (10-20). Na primeira há tribu-
escrito 'Deitaram fogo ao teu santuário; profanaram, laçào; na segunda, triunfo. Cada uma destas princi-
derrubando-o até o chão"' (Book by Book, 157). pais divisões divide-se em três estrofes.
Em 1-3 vemos o salmista procurando conforto na
Salmo 75 oração, sem o achar.
Em 4-6 ele considera a história passada do seu
Julgamento divino na história humana. "Uma povo, visto que não pode dormir (4).
comparação deste salmo com os 46,47,48.76 e Isaías
Em 7-9 faz seis perguntas, que, para aqueles que
10.32,33; 18.4.5, e outros trechos, leva a entender que
a ocasião do salmo foi a milagrosa salvação de Jeru- nunca têm sentido a sua perplexidade, podem pare-
salém do exército de Senaqueribe e o sentido é cla- cer irreverentes. Estas perguntas são "as ansiosas in-
ro: 'Que Deus é soberano no seu mundo', sendo isto terrogações de um homem aflito, que anela por veri-
demonstrado pelo fato que Ele salva o justo e pune o ficar que Deus é o mesmo como sempre, mas está
iníquo. perturbado pelo triste contraste entre Agora e En-
táo" (Maclaren).
"Mas, perguntais: 'Faz isto deveras?' Aqui termina o Suspiro, e com a palavra "Selá",
" E a resposta é: Faz, sim, quando chega o tempo
que nos manda meditar, começa o cântico, e
marcado (2). As duas grandes verdades do versículo
2 são: um tempo marcado e julgamento com eqüida- Em 10-12 o salmista chega à conclusão de que a
de. resposta às suas perguntas deve ser procurada na re-
velação de Deus na história, e (13-15) especialmente
"Nos versículos 5-8 temos o povo repetindo as pa-
na sua redenção de Israel do Egito. Os dois cativeiros
lavras de Deus e comentando-as, lembrando ao iní-
quo que Deus é o Juiz (7) e dispõe de tudo como devem ser comparados: o do Egito e o de Babilônia.
quer. O Deus do primeiro era o mesmo Deus do segundo.
Na sexta estrofe muda o ritmo (16-20). Os versí-
" N o versículo 9 o salmista ocupa-se novamente culos 16-23 devem ser lidos juntamente com Haba-
com o louvor. A expressão 'o Deus deJacó é equiva-
cuque capítulo 3.
lente à 'Deus de toda a graça'. Esse que transformou
o suplantador Jacó em Israel, o príncipe com Deus".
Salmo 78
Salmo 76 O passado fala. "Este é um dos doze salmos de
Um Deus para ser temido. "Neginote" (no título, Asafe e um dos 13 que têm o título "Masquil" ou ins-
Almeida) indica um instrumento musical cuja natu- trução.
reza não é conhecida. Outros salmos com o mesmo " A data é incerta. Alguns pensam que foi escrito
título são 6,54,56,61 e 67. Deve ser um instrumento durante o reinado de Davi. ou cedo no de Salomão,
de tom cheio e ressonante, pois o salmo é solene, com porque a história não vai além dos tempos de Davi
uma nota de triunfo. (70-72). Outros pensam que foi escrito depois da di-

191
Salmos.

visão do reino, por causa das referências a Efraim e vida. os instrumentos da Providência. Este foi tam-
Silo (9,67). Outros põem-no nos tempos de Ezequias bém o problema de Habacuque (cap. 1). Contudo, o
e Isaias. que convém é atendermos ao nosso lado do assunto,
" O propósito está indicado na introdução, a sa- e deixar o outro com Deus.
ber, ensinar no presente as lições do passado. E o pri- Pensemos nas pessoas que têm estado "muito
meiro dos salmos históricos (outros sáo 105, 106, abatidat." f8): Jó, Davi, Jeremias, e nós mesmos.
135), e é o mais comprido de todos eles. Mas no alto há um Deus, o recurso dos abatidos.
" A ordem é mais lógica do que cronológica, e de- Na terceira estância as duas idéias ainda se en-
pois da introdução tem duas partes principais (9-41, trelaçam, embora a ênfase seja diferente. O salmista
e 42-72). A primeira trata da história de Israel no ora para que os pecados sejam remidos (9) e, pede
Egito e no Deserto, e a segunda, da sua história no vingança sobre os inimigos; o motivo é a honra do
Egito, no Deserto e na Terra de Canaã. nome de Deus (10,12). O povo está sofrendo náo so-
"As palavras 'Todavia' (17), 'A/as' (38). e 'Contu- mente pelos pecados dos pais, mas por pecados pró-
do' (56) marcam os começos de importantes divi- prios.
sões.
" N a introdução (1-8), é declarado não somente
que o passado contém lições para o presente (1-4), Salmo 80
mas que é da vontade de Deus que estas lições sejam
ensinadas continuamente (5-8). Pedindo a salvação de calamidades. Sobre o au-
" O esboço da história começa com o versículo 12 tor destes salmos, nào é certo que seja o Asafe de 1
e se refere resumidamente às pragas, que sáo deta- Crônicas 6.39, que parece ter sido o mestre do coro
lhadas nos versículos 43-51. nos dias de Davi, em tempos de engrandecimento e
" O período dos Juizes abrange desde a morte de prosperidade de Israel. Vemos em Neemias 11.22
Josué até Saul ser feito rei, isto é de Juizes 1.1 a 1 que havia filhos de Asafe, cantores, e é bem possível
Samuel 7.17, um período de mais de 300 anos. Isto é que um deles tenha levado o nome do seu antepassa-
coberto neste salmo nos versículos 56-66, que falam do. "De" Asafe, podia ter sido traduzido "para" Asafe,
da infidelidade e idolatria de Israel (56-58); da indig- ou talvez "para o hinário de Asafe". Somente assim po-
nação de Deus (59); da captura da arca pelos filis- demos entender expressões como "4s nações entra-
teus (60-61J e da matança de tantos jovens, de ma- ram na tua herança; profanaram o teu santo templo
neira que náo havia maridos para muitas das moças. [que ainda não fora construído nos tempos de Da-
O versículo 64 provavelmente se refere a Hofni e Fi- vi|; reduziram Jerusalém a ruínas".
néias i.l Sm 4.11) e outros. Deste salmo diz o dr. Scroggie:
"Os versículos 9-66 pertencem ao período da teo- "Parece ter sido escrito depois da deportação de
cracia, mas 67-72 ao da monarquia. Aqui vemos a es- Israel para a Assíria, e por um poeta de Judá, antes
colha pelo Senhor de Sião (67-69) e de Davi (70-72). de, ou durante o exílio babilônico. A primeira parte
Outra vez há uma referência a Efraim (67,9-11) e a (1-3) é uma oração pela restauração do antigo favor
rejeiçáo de Silo. no território de Efraim, para preferir de Deus. Notemos especialmente os nomes José,
Sião, em Judá. Para isto leia-se 2 Samuel capítulos 5 Efraim, Benjamim e Manassés.
e 6. "Na segunda parte (4-7) o escritor apela ao Se-
" E de notar que não há nenhuma referência a nhor por eles (Israel) e nós (Judá). O versículo 4 tem
Saul: quem Deus escolheu foi Davi; Saul era o esco- linguagem mui forte: 'Até quando te mostrarás in-
lhido do povo. De pastorear ovelhas Davi foi chama- dignado contra o coração do teu povo?' Que sejamos
do a liderar uma nação (71,72)". receosos da ira do Deus de amor!
"Divide-se a terça parte (7-19) em três, apresen-
Salmo 79 tando Israel (e a alma do crente) em prosperidade
(7-11), adversidade (12,13), e restauração (14-19).
Esperança no desespero. Este é um dos doze sal- " A figura da videira é empregada, e desenvolvida
mos de Asafe e é companheiro do 74. que deve ser com lindos detalhes. Refere-se em seguida ao Êxodo,
lido juntamente. à conquista dos cananeus, ao crescimento dos israe-
Houve três períodos semelhantes à condição das litas e sua expansão do Mediterrâneo ao Eufrates (8-
coisas aqui descritas: a) a invasão de Sisaque; b) a 11). E então, em surpreendente contraste, a sua der-
conquista babilõnica; c) as vitórias de Antíoco Epí- rota e ruína por Deus. pelos homens e pelas bestas
fanes. O segundo dos três é mais provável, por isso (12,13).
com estes dois salmos devemos ler 2 Reis 25 e La- "Então desde a prosperidade, através da adversi-
mentações. dade, o salmista olha para a restauração (14-19). Ele
E evidente que este salmo não podia ter sido es- três ve2es pede a Deus para converter Israel (3.7,19)
crito pelo Asafe dos tempos de Davi, pois ele não te- e aqui (15) pede a Deus voltar-se a si mesmo. Voltan-
ria dito, "profanaram o teu santo templo, reduziram do o Senhor, converte-nos, e quando nos converte-
Jerusalém a ruínas" (v. 1). mos, o Senhor volta. Notemos como Deus é engran-
Há neste salmo três estrofes de quatro versículos, decido: "óDeus'(3); 'Deus dos exércitos' (7); 'Jeová,
e um epílogo de um versículo. Nos versículos 1-4 des- Deus dos exércitos' (19). Porventura Deus significa
creve-se a lamentável situação. Tudo que é mais mais para nós dia após dia?"
caro a Israel lhe é tirado: desolação e ruína abundam
por todos os lados. Em tal caso. o recurso é a oração, Salmo 81
e é isso que o salmista faz. Nesta oração encontra-
mos dois pensamentos: que Jacó está sendo castiga- A bondade de Deus e a teimosia de Israel. Este
do pelos seus pecados (5,8), e que os pagãos devem salmo tem duas partes principais: A chamada para
ser punidos por esse castigo, embora fossem, sem dú- uma das festas (1-5). e a voz de Deus (6-16). Pode-

-192
Salmos.

mos comparar o versículo 1 com Efésios 5.19. O As divisões do salmo são:


versículo 3 evidentemente alude a Levítico 23.24. 1) As nações em rebelião contra Deus (1-4).
A última frase do versículo.5 é problemática, mas 2) A aliança dos inimigos de Israel (5-8).
importante. De várias interpretações, talvez a mais 3) Essa confederação é semelhante aos assaltos
aceitável seja que o salmista repentinamente muda contra Israel nos dias de Gideão (9-12).
de assunto para dizer: "A linguagem de quem náo 4) A oração: "Faze-os como um turbilhão de pó"
conheço, estou ouvindo", e o que segue (6-16) recor- (13-15).
da o que ele ouviu. Isso havia de requerer um ponto 5) O salmista pede: "Cobre-lhes o rosto de confu-
final depois de "Egito" no versículo 5. são, de sorte que busquem o teu nome" (16-18).
No discurso de Deus (6.16) há duas partes. Na
primeira (8-10), proclama-se o decreto para a eman- Salmo 84
cipação de Israel (6.7) e o princípio fundamental da
aliança que Deus fez com ele no Sinai (8-10). Anelos satisfeitos. Está este salmo dividido em
A segunda parte do discurso de Deus (11-16) rela- três partes que sáo assinaladas pela repetição da pa-
ta o que Israel fez, e não devia ter feito (11.12), e o lavra "Selá". Nestas estrofes podemos discernir um
que Deus podia e queria ter feito por ele, mas não progresso. Na primeira (1-4), te mos "A ambição da
fez, por causa do seu pecado (13-17). Notemos que alma", pois Deus e a sua casa é o tema. Na segunda
nenhuma sorte pior pode sobre vir a um homem do (5-8), vemos "A aproximação da alma", e na terceira
que ser admitido a fazer o que quer (12); e, na segun- (9-12), "A chegada da alma" é celebrada.
da parte, notemos que Deus quer dar-nos vitória A segunda estrofe começa na nota em que acaba
(4,15) e abundância (16). a primeira, e a estrofe três continua a oração come-
çada no fim da segunda estrofe.
Salmo 82 Na estrofe primeira. Deus e a sua casa estão inti-
mamente relacionados, e o salmista pensa em achá-
Deus julga entre os juizes. "No meio dos deuses lo por Ele estar ali.
julga ele" (v. 1). O Senhor mesmo define para nós o O que sáo seus ninhos para as andorinhas. Deus é
sentido da palavra traduzida "deuses" no seu co- para os homens, e o salmista conta achar a Deus no
mentário do versículo 6 como sendo "aqueles a quem altar (3).
foi dirigida a palavra de Deus" (Jo 10.35) - isto é, Na segunda estrofe, o peregrino está no caminho,
aqueles que foram constituídos para o representarem e o caminho está no seu coração (5). Longe de desa-
- os juizes em Israel. Eram assim identificados com nimar ou desfalecer, ele "aumenta a força na via-
aquele a quem representavam e eram responsáveis gem' 7).
pela maneira de o interpretarem de modo mais sole- Notamos que este salmo não diz palavra alguma
ne, tanto na sua justiça como no seu amor aos ho- de iníquos ou malvados ou inimigos. Há apenas uma
mens, e no seu caráter. alusão passageira às "tendas de perversidade" (v.
Isto é a base do seu apelo aos juizes, e primeiro 10).
naquilo que é fundamental no juízo: há de ser juízo Diz C.H. Spurgeon: "Este sagrado poema é um
reto. Isso tem de ser até na manifestação do amor. dos mais escolhidos da coleção; tem um valor espe-
Por isso o primeiro apelo é: "Até quando julgareis in- cial que permite chamá-lo A pérola dos salmos \ Se
justamente e tereis respeito às pessoas dos perver- o 23 é o mais popular, o 103 o mais alegre, o 119 o
sos?". mais profundamente experimental, o 51 o mais tris-
Mas, uma vez que tudo fosse consertado, deviam te, este é o mais doce dos salmos da Paz".
manifestar a Deus também na salvação, no seu cui- Quando o salmista diz no versículo 10: "Vale
dado referente aos pobres, fracos e órfãos. Ainda as- mais um dia em teus átrios do que mil", isto quer di-
sim há de ser com justiça: isso não podia ser violado zer do que mil dias em outro lugar.
nem por compaixão ao pobre. Havia um mandamen- Sobre os dois pássaros que encontram abrigo nos
to especial a este respeito (Ex 23.3). Mas a sua átrios de Deus, tem sido notado que o pardal (Almei-
pobreza devia tornar a pessoa o objeto de especial e da) é o mais insignificante, o pássaro de menos valor
terno interesse: "Livrai o fraco e o necessitado; sal- (dois por um ceitil), e a andorinha o pássaro de me-
vai-o da mào dos perversos" (Grant). nos sossego, mas ambos sentem-se bem-vindos na
Porém os juizes fracassam; e como homens hão Casa de Deus e junto aos seus altares.
de morrer e como qualquer dos príncipes sucumbir.
O único soberano remédio é Deus levantar-se e jul- Salmo 85
gar a terra (8).
Oração para que Deus tenha misericórdia da pá-
tria. " O salmo reflete os sentimentos de Judá logo
Salmo 83 após a volta do cativeiro babilónico, e com ele de-
vem-se ler Ageu e o princípio de Zacarias. O povo es-
Vitória sobre o assalto final do mal. "Israel sendo perara muito em conseqüência da sua restauração á
retificado interiormente, a tempestade pode bramir terra, mas as duras realidades da empresa fizeram
contra ele, mas não há mais qualquer âmago podre desvanecer os encantos. Bem poucos tinham volta-
para que a árvore caia. Contudo ele importa achar, do, e chegaram a uma cena de desolação e não pouca
como efetivamente achará, seu recurso em Deus. oposição. Isto explica as repentinas mudanças de
" O salmo 83 conclui a série com uma grande con- emoção no salmo".
federação de nações atirando-se contra o escudo de Diz F. W. Grant: " A concordância da primeira se-
Israel, somente para serem lançados na ruína; e Jeo- çáo (1-3) com o que segue tem sido uma dificuldade
vá é assim dado a conhecer em toda a terra na supre- para muitos. Como pode o salmista dizer 'Fizeste
macia do seu poder". cessar toda a tua indignação' (3), e então quase ime-

-193
Salmos.

di atam ente 'Retira de sobre nós a tua ira'? Podería- têm cabimento em todos os tempos e em todos os lu-
mos escapar da dificuldade por ler 'Tinha feito ces- gares.
sar' em vez de 'Fizeste', mas creio que isso nào é a "Este é o único salmo no terceiro livro cora o
verdadeira explicação. Nem se explica aqui por um nome de Davi. Ê chamado uma oração. Notemos:
estilo que não é raro nos salmos - que os primeiros "1) A oração é um mosaico de fragmentos de ou-
versículos relatam a bênção toda e os que seguem tros salmos e escrit uras. Uns vinte outros salmos têm
contam os passos tomados para chegar ai. Creio que. contribuído para seus versos, e há pensamentos de
provavelmente, a explicação seja que o saimista roga Êxodo, Deuteronômio. Isaías e Jeremias. Disto po-
que a bênção recebida seja permanente, recordando demos aprender que a virtude e valor das orações
como no passado, tempos de restauração e refrigério nào consistem na sua originalidade, uma vez que sáo
tinham vez após vez passado, para serem sucedidos a expressão do coração que as oferece. E, ainda mais,
por aflições. Ele pede agora que não seja mais assim: aprendemos o valor de um conhecimento das Escri-
que a ira se desvaneça para sempre e a benignidade turas que permite orarmos na própria linguagem
permaneça". bíblica. Embora seja um conjunto de citações, o sal-
"Restabelece-nos. Deus da nossa salvação" (4). mo tem uma individualidade toda sua. um senti-
Judá não foi totalmente restabelecido à sua terra de mento e paixão que o isentam da artificialidade.
uma vez. mas pouco a pouco. "2) .4 oração está cheia do Senhor Três títulos
divinos estão empregados, e podemos tomar sentido
Matthew Henry comenta o fim do salmo apresen- em o que são. onde ocorrem e quantas vezes. Há
tando os seguintes pontos: Deus (Eloim). cinco vezes; Senhor (Jeová) quatro
1) O auxílio está perto. "Em verdade sua salva- vezes; e Senhor (Adonai) sete vezes. O titulo Adonai
ção está perto", perto de nós, mais perto do que pen- expressa o reconhecimento de pertencer a Deus e es-
samos; logo será gozada ao chegar o tempo determi- tar sob seu imediato controle e proteção.
nado. "3) A oração é intensamente pessoal. O escritor
2) A honra garantida. "Para que habite a glória se refere a si trinta e cinco vezes, por isso a oração é
em nossa terra " <9). Isto é, para que tenhamos o cul- súplica e náo intercessão.
to divino estabelecido entre nós, pois isso é a glória "4) A oração contém duas notáveis declarações:
de uma terra. a) O grande trecho messiânico nos versículos 8-10,
3) Virtudes encontradas e abraçadas. "Encon- que falam da natureza incomparável de Deus e da
tram-se a graça e a verdade; beijaram-se a justiça e homenagem universal que um dia ser-lhe-á rendida.
paz" (10). Isto pode entender-se como sendo uma re- b) A petição singular do versículo 11. "Une o meu co-
forma do povo e do governo local; ou a volta do favor ração no temor do teu nome' " (Scroggie).
divino, e a sua continuação; ou a harmonia dos atri-
butos divinos no Messias, dele que é nossa salvação e Salmo 87
nossa glória.
4) Abundância de tudo quanto é desejável: "Jeo- A glória de Sião. Na versão dos L X X deste sal-
vá dará o que ê bom" (12), Tudo o que Ele vê ser mo, O versículo 5 lê-se: "Um homem dirá: Sião é a
bom para nós; todo o bem que vem da bondade divi- minha mãe. e um homem nasceu ali. e o Altíssimo
na; e quando misericórdia, verdade e justiça têm mesmo o fundou". Embora isto náo concorde com o
uma influência soberana sobre os corações e as vidas texto hebraico, é provável que dê ao sentido do versí-
dos homens, todo o bem pode ser esperado. culo, a idéia parecida com Gálatas 4.26: "Jerusalém
5) Uma segura direção pelo caminho (13). que é lá de cima é livre, a qual é nossa mãe".
O salmo é a linguagem daqueles que se gloriam
Salmo 86 no fato de que são de Sião. Expressa a dignidade do
cidadão da cidade do grande Rei. Outros podiam
Um salmo de súplica e confiança. No hinário de gloriar-se do Egito, Babilônia. Filistia ou Etiópia,
Israel (o Livro dos Salmos), vemos as mesmas carac- mas o saimista diz que Sião seria a sua glória:
terísticas dos hinários modernos, em que alguns sal- 1) Porque é a cidade escolhida por Deus.
mos sáo individuais (como este 86), e outros coleti- 2) Porque o Senhor a ama (2). È o lugar onde resi-
vos, como o 85. Davi parecia favorecer especialmente de a sua honra.
as composições poéticas na primeira pessoa, seme- 3) Porque Ele tem falado coisas gloriosas de Sião.
lhante a muitos poetas modernos, que expressam em 4) Porque ali se ouve música sacra (7).
linda linguagem suas penas e pesares. seus anelos e 5) Porque ali estão todas as suas fontes de gozo
ambições, em hinos que, mais tarde, aparecem nos (7).
hinários usados nas igrejas evangélicas. Assim con- " O que Sião terrestre era para o povo escolhido,
gregações inteiras sáo convidadas a cantar: tal-é para nós a Jerusalém celestial, o monte Sião a
"O Deus, ó Deus, ao menos que temos chegado (Hb 12.22-24). E ali que está as-
Atenta ao meu tormento! sentado o nosso Rei, coroado de glória e honra. Dali
Já quase sem alento são todas as nossas fontes refrigerantes. E bom para
Me sinto desmaiar": o homem poder dizer: 'Nasci ali', e cujo novo nasci-
Isso. sem dúvida, expressou a queixa do poeta em mento o Senhor atesta, dizendo: 'Este homem nas-
algum momento de profundo desânimo, embora te- ceu ali' (4) quando Ele vem alistar seu povo (6)"
nha bem pouca aplicação à igreja local que o canta (Goodman).
tão harmoniosamente.
A lição para nós. de tais salmos e tais hinos, é que Salmo 88
devemos discernir entre os lamentos individuais,
que têm todo cabimento em certos casos excepcio- O saimista suplica a Deus que o livre da morte.
nais. e os louvores coletivos da Igreja de Deus, que Deste salmo diz F.W. Grant: " O titulo do salmo 88 é

-194
Salmos.

peculiar, e as suas duas partes podem parecer con- "Cristo é o final ('semente de Davi', 36), e seu rei-
traditórias: Hemà. o ezraita seria da tribo de Judá, e no será permanente como o sol e a lua. Este é o reino
não coraíta. Havia, contudo, um levita com o nome predito no salmo 87. Deus é fiel; a sua vontade há de
de Hemã; e alguns entendem que este é a mesma triunfar finalmente, mas o nós triunfarmos depende
pessoa, achando-se por casamento entre os homens de como nos relacionarmos com essa vontade".
de Judá. Por outro lado, tem sido sugerido que, en- Proposta emenda de tradução (v. 47): "Lembra-
quanto realmente é a obra de um judeu, o salmo fora me desde quando fui criado, pois não criaste todos os
escrito 'para os filhos de Corá'. como se pode ler no homens em vão" (Lxxmsa).
título. Este argumento mostra que nào convém rejei-
tar nem uma parte do tílulo de um livro inspirado
sem bastante evidência: e que podemos aceitá-lo QUARTO LIVRO DOS SALMOS (90 a 106)
como está. e indagar o possível sentido".
"Maalate Leanote" signfica doença por humi-
Salmo 90
lhação. um titulo mui sugestivo e apropriado. Tam-
bém é, com seu companheiro (89). um "Masquil",
ou instrução pertencente a série de salmos com esse A eternidade de Deus e a transitividade do ho-
titulo, começando com o 32. Hemã era um dos notá- mem. "Este salmo está dividido em três partes:
veis sábios de Israel, quase comparado com Salomão "1) A eternidade de Deus (1-6). Ele tem sido a
(1 Rs 4.31), e seu nome. significando fiel pode indi- 'morada' dos crentes em todos os tempos (1), e o que
car-nos que a sabedoria e fidelidade concordam em Ele tem sido resulta do que Ele é em si, desde a eter-
pôr seu "amém" às palavras de Deus. nidade (2). A rápida sucessão das gerações humanas
"Há apenas 18 versículos neste salmo, mas quan- (3) contrasta com a eternidade dele (4).
ta miséria encérram! Não é que Deus seja ignorado,
"2) A transitiv idade do homem (7-12), com espe-
porque é para Ele que o salmista derrama a sua quei-
cial referência a Israel. Notemos aqui o emprego de
xa. Quem clama, clama àquele em cujas màos con-
nós, nos, nosso. A fragilidade do homem é frisada na
fessa que está, e que é o Deus da sua salvação.
estrofe anterior (5,6), mas aqui a causa dela domina
" O salmo termina sem alivio. A experiência do o argumento; essa causa é o pecado.
escritor é uma monotonia de aflição. Desde a moci-
dade não tem experimentado outra coisa - uma mor- " 3 ) A oração do homem frágil ao Deus eterno (13-
te em vida, um pesadelo de terrores tal é a miséria 17). E uma oração pedindo a restauração do favor di-
sem esperança do homem sem um Mediador". vino ao seu povo. O salmo expressa os pensamentos
Diz C.H. Spurgeon: "Se podemos entender ser o mais profundos dos homens piedosos. 'Ensina a mor-
autor deste salmo o homem referido em 1 Reis 4.31 talidade do homem em palavras imortais'".
como o irmào de Etã e um dos cinco filhos de Será (1 Certas expressões não sào para tomar ao pé da le-
Cr 2.6) o filho de Judá, e por isso chamado 'o ezrai- tra. ou aplicar a todas as pessoas em todos os tem-
ta': se esse era o homem, era célebre pela sua sabe- pos. Por exemplo, as palavras do versículo 9: "Todos
doria e, estando no Egito durante a opressão de Fa- os nossos dias se passam na tua ira ". devem ter um
raó, isso pode explicar a tristeza do seu salmo, e o es- sentido bastante restrito. Talvez sejam a linguagem
tilo antiquado de muitas das suas expressões, mais de Israel, quando condenado a vaguear 38 anos, por
de acordo com os tempos de Jó do que com os de Da- causa dos seus pecados. Certamente náo teriam ca-
vi. bimento na boca de Davi. quando escreveu: "Unica-
"Havia, porém, um Hemà nos dias de Davi, que mente a bondade e a misericórdia me seguirão todos
era um dos três principais cantores (1 Cr 15.19), e os dias da minha vida", ou na do apóstolo Paulo
ninguém pode provar que não foi ele o autor deste quando escreveu: "o amor de Deus tem sido derra-
salmo". mado em nossos corações pelo Espírito Santo". Seria
O seguinte comentário é de "Neale" e "Littleda- uma coisa bem triste se nossa teologia fosse limitada
ã concepção de Deus revelada nos salmos, antes que
le" citado em Treasury of Davi: "Este salmo é o ú-
a luz do Evangelho de Jesus Cristo tivesse transfor-
nico que expressa tristeza sem alivio e depressão sem mado toda a perspectiva dos homens piedosos (2 Tm
esperança. O mais triste dos outros, e até o livro das 1.10).
Lamentações, admitem alguma variedade de nota,
algum indicio de esperança; aqui tudo sáo trevas até O último versículo do salmo é muito precioso, es-
o fim". Um escritor recente declara que este salmo pecialmente para quem trabalha com as mãos. Que
foi provavelmente escrito por um morfético. nosso serviço pode ser aprovado, abençoado e esta-
belecido por Deus é uma coisa bastante apreciável
para uma pessoa piedosa.
Salmo 89

As promessas da aliança davídica. "Este salmo Salmo 91


tem três temas principais: as bênçãos da aliança fei-
ta com Davi (1-37); a aparente falha da aliança (38-
45), a expostulaçáo cora Deus. terminando, todavia, O esconderijo da fé. "Há um lugar secreto onde a
com 'Bendito seja o Senhor para sempre. Amém e fé se regozija em esconder-se: é no esconderijo do
Amém' (46-52). E assim termina o terceiro livro. A Altíssimo. Leva-nos o pensamento outra vez à Pás-
constante referência à aliança (3,28,34) revela a ver- coa, ao dia quando o sangue do cordeiro foi espargido
dadeira esperança de Israel. Era o povo do concerto. sobre a porta e Deus disse: 'Quando eu vir o sangue,
Tinha uma relação com Deus que nenhuma outra passarei por vós' (Ex 12.13). Náo 'passar e ir embo-
nação gozava. Para um relatório da aliança, leia-se 2 ra mas sombrear-vos como o pássaro cobre o ninho
Samuel capitulo 7. com as asas. (Veja-se versículo 4 do salmo.) A mes-

-195
ma palavra encontra-se em Isaias 31.5: 'Como aves lavra de Deus. Por ser plantado na casa de Deus é
quando adejam, assim Jeová dos exércitos protegerá um membro da família da fé e um adorador nos á-
Jerusalém, protegendo e livrando, passando e pon- trios de nosso Deus. Na velhice ainda dará frutos
do-a a salvo"'. (14).
Há quatro figuras empregadas do lugar secreto:
Salmo 93
1) E um refúgio e fortaleza (2) onde os inimigos
da alma não podem prejudicar. Como Dotá nos dias
Uma meditação sobre Deus. "Três salmos come-
de Eliseu. foi rodeado e guardado por um exército
çam com as palavras 'O Senhor reina' (93,97.99).
angélico (11,12; 2 Rs 6.17).
Um fala da sua dignidade: 'O Senhor reina; está ves-
2) E um ninho onde os passarinhos estão protegi- tido de majestade", outro fala do gozo do mundo re-
dos pelo pássaro-máe. Isto faz-nos pensar nas pala- dimido sobre o qual reinará, e o último fala do estre-
vras de nosso Senhor em Mateus 23.37. mecimento dos povos sobre os quais Ele executará
3) E um arsenal, onde a verdade é pavês e escudo juízo (99.1,4)". Por isso podemos considerar estes
(4). Somente os que permanecem em Cristo sabem salmos como antecipando o reino milenial do Senhor
manejar a espada do Espírito e o escudo da fé. Jesus. Notemos:
1) A proclamação real: "Jeová reina". Lemos trés
4) E um lar (9). a tenda de Deus (10). Assim
coisas dele:
como o trabalhador cansado volta para casa para ali
a) está vestido de majestade; b) está cingindo de
achar amor. descanso e conforto, assim o crente vol-
força; c) tem estabelecido o mundo.
ta ao seu esconderijo, dizendo: "Volta, d alma mi-
2) O trono estável. Outrora um trono de juízo,
nha, ao teu descanso!"
agora um trono de graça, o propiciatório donde esse
Quatro coisas sáo prometidas àqueles que encon- que é desde a eternidade a administra as melhores
tram seu refugi.» no Senhor. promessas do novo concerto.
a) Nenhum m :l lhes sucederá. A tribulaçáo não 3) As nações turbulentas, " A s correntes" é uma
será um mal. no .aso de ser enfrentada com fé. frase muitas vezes aplicada às nações rebeldes, os
povos inquietos e desenfreadas. Esses estão descritos
b) Os anjos os servirão (11). Esses servos minis- no salmo 2, que é mui semelhante a este.
trantes ainda prestam o seu serviço.
4) Jeová, o poderoso: As nações podem ser poten-
c) Graça protetora (12) de maneira que muitos tes, mas há quem seja mais poderoso. Ele subjugará
perigos ocultos sáo desfeitos. os povos sob seu domínio.
d) Fortaleza (13) para pisar o leão e a cobra. 5) A santidade que convém. Devemos reconhecer
"Que este salmo se referia ao Messias, Satanás que a santidade convém à casa de Jeová. Em vista
certamente sabia, quando ele citou a Jesus os versí- de tudo que nos é revelado - "quepessoas vos convém
culos 11 e 12, com o comentário: 'Se és o Filho de ser, em santo trato e piedade!" (2 Pe 3.11).
Deus, lança-te daqui abaixo' (Lc 4.9). E toda a cons-
trução do (terceiro) livro prova a mesma coisa" Salmo 94
(Grant).
Apelo ao Juiz de toda a terra. N o momento que
escrevo estas linhas (19.42), toda a Europa, e espe-
Salmo 92 cialmente o antigo povo de Deus, geme sob a pesada
máo do opressor. Bem podemos entender que os po-
vos oprimidos clamem ao Deus de vingança, rogando
Canção para o dia de sábado. Segundo diz o Tal- a sua proteção. Bem se podem queixar: "Esmiga-
mude, este salmo era cantado pela manhã aos sába- Iham o teu povo, Jeová, e afligem a tua herança. Ma-
dos. quando a libaçào era derramada sobre o primei- tam a viúva e o estrangeiro, e assassinam o órfão. Di-
ro dos dois cordeiros dos sacrifícios ( N m 28.9). Va- zem eles: Jeová não vê, nem o considera o Deus de
mos notar sua características: Jacó".
1) Engrandece o louvor (1). Que boa coisa é: a) Nós mesmos, nos nossos tempos de desânimo,
render graças; b) cantar louvores; c) manifestar a podemos ouvir as perguntas do salmista:
benignidade e a fidelidade divina. O Pai procura 1) Vós. insensatos, quando haveis de ser sábios?
adoradores (Jo 4.23). (8) Porventura o pecado e a injustiça prosperarão no
2) Regozija-se na obra de Deus: "Alegraste-me, fim!
Jeová, pelos teus feitos" (4). Certamente o cristão 2) Quem plantou o ouvido, nào ouvirá? (9). O sal-
vira seus olhos para o Calvário, quando canta isto. mista acha ridículo que o Criador, que capacitou os
3) Alegra-se nos pensamentos de Deus (5). Al- homens para ouvir, seja Ele mesmo surdo.
guns deles são "profundíssimos", mas os santos não 3) Quem formou os olhos, não verá? (9). Vê, sim,
somente se regozijam nos feitos de Deus, mas nas pa- e vê mais do que nós; e a seu tempo agirá.
lavras que expressam seus pensamentos. Os estúpi- 4) Quem instrui as nações, não corrigirá? (10). A
dos e néscios gostam somente de coisas terrestres, retribuição cai, afinal, sobre as nações decadentes e
mas eles sáo "destruídos para sempre" (6,7). opressoras.
4) Antecipa a bênção de Deus sobre seu povo. " E - 5) O que dá ao homem o conhecimento, não sabe-
xaltaste o meu poder" (10). "Estou ungido de óleo rá? (10.A1). Sim. Ele tudo sabe, e julgará os segredos
fresco" faz-nos pensar na renovação do Espírito San- dos homens (Rm 2.16).
to, com que cada crente tem sido ungido (2 Co A segunda parte do salmo (12-23) fala do homem
1,21/22). feliz ou abençoado. A frase "feliz é o homem" encon-
5) Tem felizes perspectivas (12-15). Comparamos tra-se também em 1.1; 32.1,2; 34.8; 65.4; 84.5,12;
isto com o salmo 1. Tem o justo as suas raízes na Pa- 112.1. Consultando todos esses trechos, podemos
Salmos.

aprender em que consistem a verdadeira bem- Salmo 96


aventurança e felicidade. Neste salmo, a felicidade
está em ser ensinado por Deus. Esse ensino é me- "Um cântico novo" e, incidentemente, um cânti-
diante a disciplina em obediência. Muitos recusam co muito preocupado com Deus e nada com os iní-
ser ensinados assim, mas os que se submetem acham quos. de quem temos lido bastante em salmos ante-
descanso e proteção (13,14). E aos tais que Deus faz riores.
as perguntas do versículo 16. E uma pergunta seme- "Este salmo é incorporado nesse que Davi entre-
lhante a essa que foi feita a Isaías, depois de lhe ter gou nas máos de Asafe e seus irmãos quando a arca
sido ensinado o seu próprio estado pecaminoso e a foi levada a Jerusalém, como se relata em 1 Crônicas
graça perdoadora de Deus (Is 6.5-8): "Quem enviarei 15. Esse salmo mais comprido em 1 Crônicas 16.8-36
eu, e quem irá por nós?" e Isaías. humilhado e purifi- contém quase todo este mais curto. Examinando os
cado, podia responder: "Eis-me aqui: envia-me a versículos 8-19 e 23-32 de 1 Crônicas 16 veremos que
mim". acompanham bem de perto as palavras deste salmo.
Isto dá-nos uma chave para sabermos a ocasião em
O salmista termina com um testemunho pessoal que foi escrito.
(17-23):
" A primeira tentativa de Davi de levar a arca a
1) Foi a "benignidade" de Deus que o susteve Jerusalém tinha terminado numa calamidade, pois
(17-23). Uzá foi morto por ter tocado nela. Isso não teria
2) Foram as consolações divinas que alegraram a acontecido se tivessem carregado a arca de maneira
sua alma (19) nas suas muitas solicitudes. conveniente sobre os ombros dos filhos de Corá (Nm
3) Foi o Senhor que se fez seu refúgio, alta torre e 3.30. 31; 1 Cr 15.15). "A glória devida ao seu nome"
rocha (22). Se Deus não tivesse sido seu auxilio, a (8) não tinha sido tributada com o temor que a oca-
sua alma teria "entrado na morada do silêncio" (17), sião requeria (9).
mas, havendo provado a Deus no dia da adversida- "Para este cântico novo. quatro temas estão su-
de, ele podia pronunciar agora: "bem-aventurado". geridos, todos antigos, mas todos novos pela fé: a)
Bendizei o seu nome. b) Proclamai a sua salvação, c)
Salmo 95 Anunciai a sua glória, d) Declarai as suas maravi-
lhas.
Uma chamada á adoração. Este salmo não leva "Quatro coisas distinguem o nosso Deus, segundo
título, mas no N.T. se nos diz que foi escrito por diz o versículo 6 - Honra, Majestade, Força e Formo-
Davi (Hb 4.7) e inspirado pelo Espírito Santo (Hb sura. O salmista ocupa-se muito com a formosura de
3.7). Seu assunto é adoração e advertência. Ê citado Deus: "Adorai ao Senhor na beleza da sua santida-
em Hebreus 4 como ensinando que há um descanso de" (9 Al.) Davi muitas vezes cantou da beleza do
espiritual para o povo de Deus, que náo foi realizado Senhor. Ele muito desejava vê-la (SI 27.4). Moisés
quando Josué levou Israel para a Terra Prometida. orou: "Seja sobre nós a graça do Senhor nosso Deus"
Deus tinha em vista não somente um descanso ter- (SI 90.17). Zacarias exclamou: "Quão grande é a sua
restre numa pátria terrestre, mas um sabatismo es- formosura!" (9.17).
piritual numa pátria celestial (Hb 4.9 e 11.6) para 1) A adoração a Deus deve ser formosa, não tanto
seu povo. Entramos neste descanso:
com a formosura de ricos vestidos, bandas de música
1) Somente pela fé (Hb 4.2). Nós que cremos, en- e procissões, mas com a beleza de santidade, vidas e
tramos nele: descanso de condenação, descanso de bocas que sejam para Deus expressão de Cristo.
pecado, descanso de cuidados, descanso em Cristo. 2 ) A adoração é acompanhada pelo temor (9).
Isto é, pelo piedoso receio de melindrá-lo.
2) Quando cessamos das nossas próprias obras
3) A adoração é ura testemunho (10); "Dizei en-
(Hb 4.10). porque é a graça, e não as obras, que nos
tre as nações: Jeová é Rei" (10). Onde? Não num lu-
dá paz com Deus. e a paz "de Deus" que há em Cris-
gar remoto, mas nos corações e vidas.
to.
4) A adoração é acompanhada por um aviso de
Este salmo chama-nos para adoração: "cante- juízo vindouro (10). Primeiro o julgamento do seu
mos" (1); "adoremos e prostremo-nos" (6). povo (a Igreja), no Tribunal de Cristo (Rm 14.10; 2
Co 5.10). Então de toda a terra (v. 13) perante o
Notemos os avisos contra o endurecimento do co- Grande Trono Branco (Ap 20.11).
raçáo. Os sinais de um coração que está endurecendo 5) A adoração é acompanhada de gozo santo (11).
sáo:
a) Não ouvir a voz de Deus (7), por negligenciar Salmo 97
a Bíblia, não atender à consciência, ou ser indiferen-
te. A Majestade do reinado de Jeová. Este salmo é
b) Por tentar a Deus (9). Provocação e tentação profético, e antecipa o reino milenar do Senhor Jesus
sugerem-se por essas palavras "Meribá" e "Massá", sobre a terra. Mas esse tempo feliz é antecipado nos
que nos referem a Êxodo 17.1-7 e Números 20.13, as corações de todos os que se submetem ao senhorio de
duas ocasiões em que o povo murmurou pela água e Cristo agora, e por isso apreciamos esta maravilhosa
disse que Deus o tinha levado ao deserto para morrer descrição do reinado de Jeová, porque nos ajuda a
de sede. Esse insulto era tentar a Deus, convidando- entender a dignidade, a santidade e o poder daquele
o a castigar o povo. que conhecemos como Salvador.
c) Errar no coração (10). Corações inconstantes Divide-se o salmo em quatro partes, contendo
estão referidos aqui. sempre procurando alguma coi- cada uma três versículos. Podem ser distinguidos as-
sa diferente do conhecimento de Deus. sim:
Proposta emenda de tradução (v. 10): "Quarenta 1) A proclamação real (1-3). Jeová é Rei: Três
anos estive de vez em quando desgostoso" (R. 113). coisas marcam esse reinado: mistério, nuvens, e es-

-197
Salmos.
curidâo. Quem pode entender os seus caminhos? gada. Ele será "excelso sobre todos os povos", e seu
J U Í Z O retos são as bases do seu tremo. Um fogo que nome será "grande e tremendo" (3).
abrasa está ao redor dos adversários (Hb 12.29). Ne- 2) Ele executará o juízo e a justiça, que Ele ama.
nhum mal pode suportar a sua presença. Estabelecerá a eqüidade.
2) A declaração da justiça e a manifestação da 3) A santidade será uma característica desses
glória (4.6). Estes versículos estão no tempo passa- tempos (5,9). Ninguém poderá queixar-se de opres-
do; podem olhar para o Sinai, no sentido histórico, e, são ou injustiça Há muitas descrições bíblicas desse
profeticamente antecipar a exibição de poder que tempo glorioso. (Veja-se Isaías 11.1-16; 12.1-6). Não
acompanhará o reinado milenar, quando Ele for ma- haverá motivo para descontentamento ou rebelião,
nifestado como "Senhor de toda a terra" (5). contudo:
3» A confusão dos idolatras (7-9). As nações que 4) Terminará numa rebelião final da parte da-
rodeavam Israel eram inteiramente entregues ã ado- queles que têm rendido uma obediência fingida,
ração de deuses falsos, cujo culto era um laço cons- quando Satanás vai ficar solto ao fim dos mil anos, e
tante para o povo israelita. pela última vez opor-se à autoridade de Cristo (Ap
4) Conselho sensato para os santos (10-12). Em 19.11-21; 20.7-10). Então esse que hoje perdoa em
todos os tempos Deus tem tido um povo santo. A es- graça, tomará vingança, e removerá do seu reino
ses as lindas palavras dos últimos três versiculos são tudo quanto ofende. Tudo o que nào pode ser abala-
dirigidas. Que odiemos o mal, como se nos ensina em do ficará (Hb 12.18). O salmo 100 é uma canção de
Romanos 12.9. O verdadeiro arrependimento é de louvor que bem poderá ser cantada nesse dia.
não somente renunciar o pecado mas aborrecé-lo.
Regozijemo-nos na luz "semeada para o justo" (11). Salmo 100
pois a fé que é dada por Deus não somente procura a
santidade, mas ama-a. O louvor final. "O salmo 100 termina esta série
(que começou com o Salmo 90) com um cântico de
Salmo 98 pleno louvor. Há pouca necessidade de interpreta-
ção. Jeová está agora em cada boca, nào há mais o
Novos louvores. "Divide-se este salmo em três se- receio supersticioso dos homens que têm medo de
ções. É uma chamada a cantar um cântico novo, di- pronunciar seu nome: agora clamam bem alto e com
rigida a Israel (1-3); às nações dos gentios (4-6); a gozo esse nome. Jeová é deveras o Deus manifesto. O
toda a criação (7-9). salmo termina com a recordação dos caminhos de
Um cântico novo significa um novo cântico de Jeová, que sào o assunto dos louvores em todo o sal-
louvores; não, talvez, novo nas suas palavras, mas mo: 'Pois Jeová é bom: a sua benignidade dura para
motivado pela renovada ação do Espírito de Deus sempre"' (Grant).
em nós.
1) Primeiro a casa de Israel (as doze tribos) é cha- Salmo 101
mada para cantar um cântico novo, pelas seguintes O Rei e o reino. A série de salmos precedentes
razões: a) As coisas maravilhosas do passado. A his- fala do Rei celestial: e, neste, o rei terrestre (Davi),
tória do povo escolhido é típica e milagrosa; tem sido sentindo que é vice-rei de Deus, declara que fará seu
o livro de instrução para todos os tempos, b) A vitó- reino uma cópia do de Deus. Quase com certeza a
ria do seu santo braço. Isto antecipa a vitória do Cal- ocasião histórica foi a vinda de Davi ao trono, depois
vário; e é seguida por c) a proclamação da salvação da morte de Saul (2 Sm 2). O salmo tem duas partes.
de Deus a todas as nações (2) de maneira que todos Na primeira vemos o Rei em particular (1-4). Na se-
os fins da terra vejam essa salvação (3). gunda, o Rei em público (5-8).
2) Então toda a terra é chamada para tomar par- Na primeira parte ele declara seu propósito com
te no louvor (4). Deve haver um grande conjunto de respeito ao seu coraçào e casa; e na segunda, com
louvores: harpas e trombetas e buzinas tomando respeito ao palácio e à cidade. Ele começa onde nós
parte na adoraçáo. todos devemos começar: com seu próprio coração.
Esta constante chamada aos gentios para toma- Um homem não pode ser maior do que o estado do
rem parte nos louvores daquele que é o Senhor de seu coração. Um "coração perfeito" (2) há de banir-
toda a terra é uma suficiente resposta â idéia de que um "coração perverso" (4).
o Jeová do V.T. era apenas o Deus de uma tribo "Depois do coração, a casa. Davi resolveu que um
semítica. coração perfeito havia de ser refletido numa casa ho-
3) Então toda a criação é chamada para partici- nesta. Havendo olhado para seu coração e sua casa,
par na canção (7), porque, embora toda a criação te- o rei dirige a sua atenção para o palácio e a cidade; e
nha sido sujeita à vaidade, nâo o foi voluntariamente diz em um versículo (6) o que será a sua atitude para
e sim com a esperança (Rm 8,20) de um dia glorioso com os bons, e em três (5,7,8) a sua atitude para com
quando os gemidos e dores acabarão para sempre, e o os maus. Ele escolherá os bons para serem seus com-
mundo será libertado da escravatura da corrução. O panheiros (6a) e para seu serviço (6b), mas não vai
salmo antecipa o grande dia da vinda do Senhor (9) e tolerar os maus.
chama as águas e os montes a unirem suas vozes no " N o princípio do seu reinado expurgará seu rei-
gozo universal. no, mas o fará também 'de manhã em manhã', por-
que o mal costuma aparecer novamente. Isso foi uma
Salmo 99 resolução nobre; bom teria sido se tivesse sempre
agido de acordo com a sua primeira resolução. Aque-
Um salmo milenar. As características do reino le que inspira nos nossos corações bons desejos e pro
milenar serão: pósitos é competente para efetuar a sua realização,
1) Jeová reinará, e será grande em Sião (1,2). Is-
rael será o centro do seu governo sobre a terra subju- I
mas nós havemos de cooperar com Ele persistente-
mente".

-198
Salmos.

Salmo 102 Salmo 104

Conforto em antecipação. Este salmo reúne os O tributo da natureza a Jeová. Este é um incom-
mais diversos sentimentos: desânimo e desespero, parável Hino da Criação. O Salmo 103 ocupa-se com
confiança em Deus e esperança, suspiros e louvores; a alma, mas este com o universo.
e termina com palavras que em Hebreus 1.10-12 têm A contemplação de qualquer deles deve levar-nos
a sua aplicação a Cristo. Em verdade F.W. Grant a "bendizer ao Senhor".
considera o salmo messiânico desde o princípio ao Este cântico é baseado sobre a história da Cria-
fim, mas nem todos os expositores podem concordar ção em Gênesis. Os versículos 1-4 combinam com
com isto. Gênesis 1.3-8, o primeiro e segundo dias; os versícu-
Sem dúvida, o salmista está passando por expe- los 5-9 com Gênesis 1.9,10, a primeira parte do ter-
riências de aguda angústia, mui diferentes da vida ceiro dia; os versículos 10-18, com Gênesis 1.11-13, a
serena ou trivial da maioria dos nossos vizinhos. É segunda parte do terceiro dia; os versículos 19-30
que, nestes tempos (escrevo em 1942), muitos povos com Gênesis 1.14-31. o quarto, quinto e sexto dias; os
gemem sob duras e terríveis provações, e para eles versículos 31-35 com Gênesis 2.1-3, o sétimo dia de
tal linguagem de angústia náo parecerá um exagero. descanso e unidade.
Que o salmo tenha sentido profético é sugerido Notemos com cuidado as alusões a luz, água, nu-
pelo versículo 28: "Ficará isto registrado para a gera- vens, vento, fogo, terra, trovão, vales, montes, asnos
ção vindoura: e um povo que há de ser criado louvará monteses. aves, relva, erva, vinho, azeite, pão, ce-
a Jeová. dros. cegonhas, cabras, coelhos: é o olho de um poeta
Hebreus 1.10-12 ensina-nos que os últimos versí- que contempla as obras de Deus.
culos do salmo têm referência a Cristo, desde 24b a Um tal salmo náo é para ser analisado minucio-
27. Se tinham alguma aplicação ao salmista, não sa- samente, mas podemos dizer que a idéia de luz pre-
bemos, como também náo sabemos se convém apli- domina em 1-4; água em 5-13; alimento em 14,15;
car tais versículos, como 10 a 23, a Cristo. proteção em 16-18.
"Este salmo tem sido atribuído a Daniel, a Jere- Nos versículos 19-30 é esboçada poeticamente a
mias. a Neemias, ou a algum dos outros profetas que história do quarto ao sexto dias de Gênesis 1.14-31.
floresceram durante o Cativeiro. O autor da Epístola Os dias dos hebreus começam à tarde, por isso o sal-
aos Hebreus aplicou os versículos 25-27 a nosso Se- mista fala primeiro da luz e não do sol; comparem-se
nhor, e à perpetuidade do seu Reino" (Adam Clar- a tarde e a manhã de Gênesis 1.
ke). Havendo terminado seu quadro da terra, o sal-
No versículo 7 a palavra que Almeida traduz mista esboça agora as águas reunidas, que ele chama
"pardal" e V.B. "passarinho" deve ser "tordo", um " o mar" (25,26), que descreve como visto da praia.
pássaro conhecido no Oriente, que tem o costume de Podemos observar a grande expansão das águas,
pousar e ficar sozinho nos telhados das casas (The pensando nos seres que nelas vivem, e nos navios que
Biblical Treasury). andam sobre elas. Em 27-30 todas as criaturas, ra-
cionais e irracionais, são igualmente dependentes de
Salmo 103 Deus. Os versículos ensinam-nos que a conservação é
tanto uma obra de Deus como a criação. Aprende-
Louvor universal. O salmo começa e acaba com mos que Deus pode ter um olhar severo tanto como
bênção. No primeiro e último versículos, o salmista sereno (32), e que em toda a sua linda criação ainda
exorta a sua própria alma a bendizer a Jeová há uma nota discordante (lemos no versículo 35 de
(1,2,22). Também comida "seus anjos", "todas as "pecadores"), mas Jeová triunfa finalmente (31-35)
suas hostes'*, "vós ministros seus" e "todas as suas - (Scroggie).
obras" (20-22) a fazerem o mesmo.
Notemos os seis benefícios referidos no salmo:
perdão; saúde; redenção; coroação; satisfação (5); Salmo 105
justiça (6).
Revelação na história. "Os salmos 105 e 106 for-
N o versículo 7 devemos distinguir entre "os ca-
mam um par ao qual podemos dar o título geral de
minhos" de Deus que somente Moisés podia com-
"Deus e Israel". A diferença entre eles é que o 105
preender, e os "feitos" que todo o povo podia obser-
fala de como Deus tratou Israel, e o 106 de como Is-
var. rael tratou a Deus. A graça dele brilha mais sobre o
Este é um bom salmo com que terminar o ano. fundo escuro da desgraça de Israel. N o 105 o céu é
Olhando para trás, quantos dos nossos receios nunca azul como o amor divino, mas no 106 é negro como o
se realizaram? Quantas dúvidas se dissiparam? pecado humano.
Quantas fraquezas e ofensas encontraram perdão e
O salmo 105 segue sistematicamente a história de
restauração?
Israel, como Deus primeiramente a propôs e depois
Olhando adiante, regozijemo-nos em que "a be-
efetuou.
nignidade do Senhor é desde a eternidade a eterni-
Vemos primeiro os patriarcas em Canaã (7-15);
dade sobre os que o temem " (17), os que "guardam a
depois a família no Egito (16-38); então a nação no
sua aliança" e "se lembram dos seus preceitos para deserto (39-41); e afinal o reino na terra (42-45).
os cumprirem" (18). Assim conhecemos o segredo de
Um esboço do salmo é o seguinte:
um feliz Ano-novo. Se resolvermos andar "no temor
1) Introdução. Uma exortação ao louvor (1-6).
do Senhor" havemos de provar " o conforto do Espi-
2) Os patriarcas e o concerto (7-15).
rito Santo" (At 9.31).
3) A história de José (16-22).
Contudo, não havemos de nos esquecer que "nos-
4) A opressão no Egito (23-25).
sos dias são como a relva", a qual "passando por ela
5) As pragas sobre o Egito (26-36).
o vento, desaparece" (15,16).

-199
SflJ/nos

6) Livramento da escravidão (37,38). 3) Os estultos, aflitos por causa dos seus pecados
7) A peregrinação no deserto (39-41). (17-22).
8) Conclusão. Uma revelação do propósito divino 4) Os marinheiros em alto-mar (23-31).
(42-45). Podemos nos deter um pouco com estes que " f a -
Com respeito à peregrinação no deserto, é digno zem tráfego nas grandes águas ' e ali vêem "as obras
de reparo que o salmista relata somente os inciden- de Jeová", enquanto os que navegam sempre em em-
tes mais notáveis da proteção de Deus sobre seu povo barcações costeiras não têm tamanhas experiências.
durante esse período, sem qualquer alusão aos peca- Na nossa vida espiritual "o tráfego nas grandes á-
dos e fracassos que mancharam esses quarenta anos. guas" pode ser os dias de provação e aperto, mas po-
Para esses, havemos de consultar o próximo salmo. demos contar que, quando a tempestade parece mais
Aqui o tema é a bondade de Deus refletida nos seus medonha, pode bem ser a ocasião de ver "as obras de
atos a favor de Israel. Israel continua dependente Jeová" de um modo ignorado pelos crentes sem pro-
dele por proteção, direção e conservação (39-41). Por vações.
que náó se refere ao mar Vermelho?
Notemos o que Deus fez, e porque o fez (42-45). Salmo 108

Salmo 106 Dois salmos combinados "Notemos que temos


aqui dois fragmentos de salmos davídicos reunidos.
Disciplina divina. "Este salmo do quarto livro Os versículos 1-5 vêm de 57.7-11, e os versículo® 6-13,
dá-nos a história de Israel de outro ponto de vista - de 60.5-12. Um ponto final deve, por isso, dividir as
seu procedimento pecaminoso perante Deus, que re- duas partes do salmo. A primeira parte (1-5) ocupa-
sultou na longa disciplina que ainda continua. Esta se com louvor, a segunda com vitória (6-13).
disciplina, com toda a sua tristeza, ainda é motivada N o primeiro versículo. Almeida traduz "Prepara-
pelo amor de Deus, e o revela soberano sobre o mal e do está o meu coração" e a V.B. "O meu coração está
agindo em graça para com seu povo. Este salmo é resoluto". Ybung, na sua Concordância, dá o sentido
uma confissão do pecado de Israel e seu final apelo à da palavra hebraica " k u n " como sendo preparado,
graça divina pela salvação, prestes a ser revelada. O estabelecido, firmado. Pratt na sua versão espanhola
salmo começa e acaba com expressão de louvor. tem "Mi corazon está fijado". Podemos provavel-
" A primeira seção louva a Deus como a fonte de mente aceitar o pensamento de "firmado", no senti-
todo o bem, manifestado numa benignidade que do de que Davi se sentiu baseado positivamente nas
dura para sempre. Seus feitos sáo indizíveis, e por verdades divinas, sem ser vacilante ou à mercê de
todos eles Deus deve ser louvado". todo o vento de doutrina.
C.H. Spurgeon faz as seguintes divisões deste C.H. Spurgeon comenta o versículo 9, "sobre Fi-
salmo: listia jubilarei": "Davi havia feito assim na sua mo-
1) A introdução, em que louvor e oração estão en- cidade, e está certo de que o fará novamente. Lemos
trelaçados (1-5). que 'Davi bateu os filisteus e os subjugou' (2 Sm 8.1)
2) Em confissão o salmista admite os pecados no como tinha batido Edom e o ocupara coro suas tro-
Egito e o mar Vermelho (6-12). pas. Os inimigos que nós combatemos na nossa mo-
3) As concupíscência» no deserto (13-15). cidade ainda vivem, e teremos mais encontros com
4) A inveja contra Moisés e Aarão (16-18). eles antes de morrermos, mas, bendito seja Deus,
5) Adorando o bezerro de ouro (19-23). não os receamos, pois esperamos triunfar sobre eles
6) Desprezando a Terra Prometida (24-27). como anteriormente".
7) A iniqüidade de Baal-Peor (28-30). Sobre o versículo 11. diz C.H.S: " E uma fé
8) As águas de Meribá (31-33). magnífica que pode contar com Deus mesmo quando
9) Pecados de Israel na Terra, e conseqüente cas- Ele parece ter-nos desamparado. Alguns apenas con-
tigo (33-44). fiam nele quando tudo vai bem; e, contudo, Davi
10) Compaixão divina para Israel no seu abati- conta com Ele quando Israel parece estar sob uma
mento (44-46). nuvem, com o rosto do Senhor escondido. Oh! se
11) Oração final e doxologia (47-48). houvesse mais desta fé viva! O desamparo náo conti-
Proposta emenda de tradução (v. 15): "Deu-lhes nuará por muito tempo e a nossa fé gloriosamente
o que pediram, e diminuiu seu número pela morte" confia em Deus".
(R. 50).
Salmo 109
Q U I N T O L I V R O DOS S A L M O S (107 a 150)
Davi roga a Deus o castigo dos adversários. Este
Salmo 107
salmo tem perturbado bastante os comentadores,
Oração e salvação. Este lindo salmo é notável devido ás terríveis imprecações que nele abundam.
pela repetição de certas frases: "Clamaram a Jeová" Traduzimos o seguinte de C.H. Spurgeon:
(6,13,19,28) e "Dêem graças a Jeová pela sua benig- "Ao cantor-mor. Este salmo era para cantar, e
nidade. e pelas suas maravilhas para com os filhos cantar no serviço do templo! Mas não é fácil imagi-
doe homens" (8,15,21,31). narmo-nos cantando tais terríveis imprecações. Nós
A sua mais notável lição é que náo há pecado ou mesmos, em todo o caso. sob a influência do Evange-
provação ou calamidade que náo sejam atendidos lho, achamos bastante dificuldade-em infundir um
pelo ouvido divino; ou uma oração que não seja cor- sentido evangélico no salmo, ou um sentido compatí-
respondida com salvação divina. vel com o espírito cristão; e, por isso, pensamos que
O salmista refere-se a quatro casos: os israelitas teriam tido dificuldade em cantar numa
1) Os que andam no deserto (4-9). linguagem tão forte, sem sentir um espirito de vin-
2) Os rebeldes encarcerados (10-16). gança; e incitação de um tal espírito nunca poderia

'200
Salmos.

ter sido o propósito do culto divino em qualquer olhos. Os apóstolos também referiram-no a Cristo -
período, sob a Lei ou sob o Evangelho. Logo no co- Pedro no dia de Pentecoste (At 2.34), e Paulo quan-
meço, o titulo mostra que o salmo tem algum sentido do escreveu sobre a ressurreição ( l Co 15.25). Na
próprio para os homens de Deus na sua comunhão Epístola aos Hebreus é citado muitas vezes (1.13;
com o trono do Altíssimo. Mas qual é esse sentido? 5.6; 6/20; 7.17,21)".
Eis um problema de não pouca dificuldade, e que so- O Senhor serviu-se do salmo para ensinar:
mente um espírito bem humilde poderá discernir. 1) Sua divindade: "Jeová disse ao meu Senhor"
" E chamado 'um salmo de Davi'. Por isso não re- (1), mostrando que Davi reconheceu o Messias como
presenta o delírio de um misantropo malicioso, ou as sendo seu Senhor, embora segundo a carne fosse seu
maldições de um espirito vingativo. Davi não quis filho. Isto é confirmado pelas palavras do Senhor a
ferir o homem que procurou tirar a sua vida, e ele João em Apocalipse 22.16: "Eu sou a raiz e a geração
freqüentemente perdoou àqueles que o maltrataram; de Davi", aquele de quem Davi obteve vida, e que
por isso as palavras não podem ser lidas em qualquer era, como homem, fruto dos seus lombos.
sentido vingativo ou malicioso, porque tal seria es- 2) Seu governo (2). Ele reinará até que todos os
tranho ao caráter do filho de -Jessé. As frases impre- inimigos estejam debaixo dos seus pés (1 Co 15.25) e
catórias neste salmo foram escritas por um que, com a justiça esteja estabelecida na terra.
toda a sua coragem na batalha, era um homem apre- 3) Seu sacerdócio eterno. Não como o sacerdócio
ciador da música, e dotado de um terno coração, e levítico sujeito à morte e enfermidade (Hb 7.23).
foram escritas para serem dirigidas a Deus em can- 4) Seu oficio como Juiz de toda a terra. Porque
ção, não podendo por isso ser meramente maldição. Deus tem entregado todo o juízo ao Filho (Jo 5.22).
"Refere-se este salmo a .Judas (v. 8), porque as- "Ele quebrantará a cabeça" do Anticristo (v. 6).
sim Pedro o citou; mas atribuir as suas amargas de- Diz C.H.Spurgeon: " O assunto é 'O Sacerdote-
núncias a nosiso Senhor na hora dos seus sofrimentos Rei"\ Nenhum dos reis de Israel acumulou esses
é mais do que ousamos fazer. Não estão de acordo dois ofícios, embora alguns tentassem fazê-lo. O Sa-
com o caráter do silencioso Cordeiro de Deus, que cerdote-Rei referido aqui é o Senhor de Davi, uma
náo abriu a sua boca. quando levado ao matadouro. pessoa misteriosa, tipificada por Melquisedeque e
Pode ter uma aparência de piedade fazer isso, mas esperada pelos judeus, como o seu Messias. O salmo
esperamos que seja a nossa piedade que nos impeça descreve a instalação do Sacerdote real, seus segui-
de fazê«lo". dores, suas batalhas e suas vitórias. O centro do sal-
Contudo, expositores muito instruídos têm feito mo é o versículo 4: e assim pode ser dividido em: intro-
assim, incluindo o erudito F. W. Grant, que escre- dução (l-3);o pensamento central (4); versículos suple-
ve: " A aplicação pelo apóstolo do oitavo versículo a mentares (5-7).
Judas, e a relação deste com o salmo seguinte, mos- Deve ser lícito perceber uma alusão às viagens
tram-nos que é a voz do Príncipe dos sofredores que terrestres do Senhor Jesus no versículo 7: "Pelo ca-
se ouve, embora bem possa não ser somente dele, minho dessedentar-se-á no ribeiro". O menino que
mas identificado com esse clamor que se encontra vive na casa dos pais náo bebe de ribeiros, nem tam-
em toda a história, desde os tempos de Abel. Nem é pouco o carpinteiro que trabalha numa oficina. Mas
isso contrário a essa graça que manava dos seus lá- quem anda de aldeia em aldeia muitas vezes não
bios, enquanto havia ainda esperança (de arrependi- tem remédio senão saciar a sua sede nalgum córrego.
mento), uma graça que Ele sempre declarou ter seus Nas minhas muitas viagens no interior do Brasil, te-
limites, e que, sendo recusada, aumentaria a conde- nho me lembrado diversas vezes deste salmo, ao
nação dos homens". apear do cavalo para beber de algum ribeiro à beira
Há um pequeno ponto que pode prender a aten- do caminho.
ção do leitor escrupuloso. Os versículos 1-5 falam
sempre no plural, "eles"', terminando com as impor- Salmo 111
tantes e significativas palavras: "o amor que lhes te-
nho", apesar de todo o dolo, mentira, ódio e maldade Deus é louvado por amor da sua bondade. Os sal-
que estes adversários manifestam. mos 111, 112 e 113 começam com a palavra "Ale-
Mas nos versículos 6 até 19 náo se fala mais de luia " ou "Louvai a Jeová", uma palavra que aparen-
"eles", e sim de " e l e " : e se podemos entender que temente indica uso litúrgico. O salmos 111 e 112 têm
falta apenas uma palavra no começo do versículo 6, outros aspectos em comum. Ambos seguem exata-
todo o sentido do salmo fica transformado. mente o mesmo modelo; cada um tem 22 linhas de
Então havíamos de ler: "dizem: coloca sobre ele três palavras; a ordem alfabética é seguida exata-
£Dai>i] um homem perverso, etc.". mente; os primeiros oito versículos de cada um con-
Esta interpretação é apoiada pelo dr. Bullinger, sistem de duas linhas, e os últimos dois versículos,
que escreve: "Provavelmente o salmo 109 admite ou- de três linhas; e os dois salmos correspondem no seu
tra explicação, pondo os versículos 6-19 entre parên- sentido. O 111 trata do Senhor Justo, e o 112 do Ho-
teses, o v. 20 será a explicação: '£sta é a obra dos mem Justo. O tema do salmo se refere às obras de
meus adversários, do Senhor, daqueles que falam Deus por Israel, e por isso temos a palavra "obras"
mal contra a minha alma' (contra mim). Os versícu- quatro vezes. Estas obras são, como quem as faz,
los 6-19 serão então o mal que os inimigos de Davi fa- eternas, e, por isso. temos seis vezes as palavras
lam contra ele". "sempre", "para sempre".

Salmo 110
Salmo 112
Jeová dá domínio ao rei. Deste salmo diz o dr.
Goodman: " O fato de que nosso Senhor citou este O homem justo. O salmo 111 diz-nos: "E perfeito
salmo ( M t 22.44) dá-lhe muito valor aos nossos o vosso Pai que está nos céus", e o 112: "Sede vós

-201
Saímos

pois perfeitos " ( M t 5.48). Em todo o salmo prevalece pelo sangue, foi libertada da escravidão pelo poder
a idéia de que o homem justo é, em algum sentido, divino. O saimista recorda isto, e relata algumas das
parecido com Deus. e isto é comprovado várias vezes glórias da ocasião.
pela repetição das mesmas expressões, referentes a
Deus e ao homem. Lembremo-nos de que a história de Israel era mi-
Nos versículos 2-4 e 6-8. o homem temente a lagrosa e típica. Nào é meramente história, mas pa-
Deus é abençoado; nos 4,5 e 9 ele é feito uma bênção. rábola também. Mediante esse povo eleito, Deus re-
Vamos notar: solveu ensinar a todas as gerações futuras seu meio
de salvação. Assim, no êxodo vemos o símbolo de ou-
1) Como ele é nbençoado: com filhos piedosos (2),
tro êxodo maior, seguindo outra Páscoa também
com a verdadeira riqueza (3), com perpétua justiça
maior. Esse era o êxodo discutido pelo Senhor com
(4), com luz nas trevas (5). Ainda mais, ele será
Moisés e Elias no monte da transfiguração: um êxo-
lembrado depois de ter partiáo (6), e seu coraçào se-
do, uma saída do domínio do príncipe deste mundo,
rá firme e ele, corajoso em todas as circunstâncias
em conseqüência de Cristo, nossa Páscoa, ter sido
(7). Vemos então:
sacrificado por nós.
2) Como ele é feito uma bênção. Notemos que
tem as mesmas características que distinguem seu Ao lermos o salmo, as palavras "quando Israel
Senhor. Em outras palavras, ele se torna parecido saiu do Egito " podem significar para nós: "quando
com Cristo: "é benigno, misericordioso e justo" (4). - fomos remidos pela morte de Cristo e libertados da
Como poderia ser mais bem-aventurado do que ser escravidão do pecado e de Satanás". Seguindo o êxo-
semelhante ao Senhor? - "Como ele é, somos nós do lemos que:
neste mundo". Ele se compadece e empresta (5); ele 1) "Judá tornou-se-lhe o santuário", isto é. um
distribui liberalmente e dá ao necessitado (9). Acha- povo santo no qual Deus pudesse habitar, e como tal
mos este versículo citado em 2 Corintios 9.9, onde o veio a ser seu povo: "uma morada de Deus pelo Espí-
apóstolo anima os crentes a darem abundantemente. rito".
2) "Israel o seu domínio". Um povo submisso ao
governo divino, para ser testemunhas dele: um povo
Salmo 113 eleito, para mostrar as excelências de quem nos cha-
mou para a sua maravilhosa luz.
A glória do nome de Jeová. Sobre isso diz 3) A nação era poderosa, perante a qual o mar fu-
F. W. Grant: "Aqui temos pela terceira vez 'Louvai a giu e o Jordão abriu caminho: nenhum obstáculo po-
Jeová' por ser Ele, segundo o testemunho do profeta, dia impedi-la.
o único Deus sobre toda a terra. Exortara-se todos os 4) Um povo sustentado milagrosamente, para
servos de Jeová a louvá-lo, para assim mostrarem
quem a rocha se converteu em lago de água, e o seixo
que sua obediência nasce da adoração: este é o único
em fonte de água (Goodman).
serviço que tem valor para Ele. E a resposta alegre é
'Bendito seja o nome de Jeová desde agora e para
sempre'. Vê-se também uma plena adoração 'desde Salmo 115
o nascimento do sol até o seu acaso'.
"Bem pode ser assim, pois toda a cena desta ado- .4 glória do Senhor e a vaidade dos ídolos. Prova-
ração é a sua criação: 'Excelso é Jeová acima de to- velmente este salmo foi composto para o serviço do
das as nações, e a sua glória acima dos céus'. Ele é segundo templo, depois do cativeiro babilônico. O
incomparável! Tem seu trono nas alturas, mas se in- que se diz dos ídolos importa uma prévia familiari-
clina para ver o que vai... sobre a terra (6). Isto nos dade com tais coisas, e também indica um período
leva para o versículo seguinte, no qual vemos quão tal, como depois do cativeiro, quando Israel nào
fundo vai esse interesse, e quão maravilhosos são os mais desejava servir aos deuses das nações.
seus resultados. As possíveis divisões do salmo são:
" D o monturo, Ele ergue o necessitado, para fazê- Para a congregação cantar, versículos 1-8.
lo sentar-se entre os príncipes. Isto é uma repetição Para alguém cantar solo: versículos 9a. 10a. 11a.
das palavras de Ana (1 Sm 2.8) e parece que o caso Para o coro cantar, versículos 9b. 10b. 11b.
dela está na mente do saimista quando diz: 'Faz que Para o sacerdote cantar, versículos 12-15.
a mulher estéril viva em casa. corno jubilosa mãe de Para a congregação cantar, versículos 16-18.
filhos'. A canção da Virgem Maria, no começo do Cantando assim, o salmo seria bem notável e im-
Novo Testamento, faz-nos recordar que um nasci- pressionante.
mento, impossível a não ser que Deus se abaixasse O povo está de volta da Babilônia; sáo, porém,
ao nível do homem, ocupa para nós o lugar de todos poucos e pobres, escarnecidos pelos inimigos. Por
os outros. E por ele tem chegado, para cada recipien- isso invocam o nome do Senhor (1.2). A oraçáo é
te da divina graça, a promessa e poder de uma res- sempre o refúgio e o conforto do cristão em tempos
surreição pela qual aqueles mais degradados do que de tribulação.
os que se sentam num monturo sáo erguidos a um lu- Nos versículos 3-8 misturam-se confiança e des-
gar mais elevado que o dos príncipes!" prezo: confiança em Deus e desprezo pelos deuses (4-
7). N o mesmo sentido, leiam-se Salmo 135.15-18 e
Salmo 114 Isaías 44.9-30. A idolatria é pior do que a loucura: é
um prejuízo (8). O propósito e efeito da adoração é
Instrução referente ao êxodo. O êxodo do Egito assimilação; se quereis ser semelhantes a Cristo, ha-
era celebrado cada ano na festa da Páscoa. Para os veis de adorá-lo.
israelitas, era o começo de tudo. Nascida na escrava- Nota-se em 9-11 a tríplice exortação e em 12,13 a
tura, a nação recebeu nesse dia a sua liberdade, e co- tríplice bênção. Os que confiam são sempre bem-
meçou a sua vida nacional. Remida do destruidor aventurados (Scroggie).

202
Sflímos

Salmo 116 " O salmo é litúrgico, como a sua construção mos-


tra, e consiste em duas partes. Os versículos (1-16)
Resoluções santas. São cinco: eram cantados em procissão ao aproximar-se do
1) "Invocá-lo-ei enquanto viver" (2,13,17). Isso é Santuário, e os 17-29 eram cantados, sem dúvida,
a resolução de ter uma vida caracterizada pela ora- em parte, fora, e em parte, dentro do templo. As es-
ção. Um dos valores é que quem a pratica não anda tâncias na primeira parte são 1-4; 5-7; 8,9; 10-14;
sozinho. A oração habitual resulta em constante 15.16.
amizade com Deus. "Devemos entender que este é um salmo proces-
2) "Andarei na presença de Jeová" (v. 9). A ora- sional, composto para a Festa dos Tabernáculos,
ção G uma conduta piedosa geralmente vão juntas. mais OU menos pelo ano de 444 a.C. e que alguns
Andar na presença de Deus importa proceder de um versículos sáo para vozes individuais, e outros para
modo que mereça a sua aprovação. todo o povo".
3) "Tomarei o cálice da salvação" (13). "Que da- No versículo 19, Israel personificado procura en-
rei ao Senhor?" trada no templo. N o versículo 20 declara-se a condi-
- Tomarei. A melhor coisa que podemos dar a ção para entrar: a porta é do Senhor, somente o justo
Deus é receber dele. pois Ele se alegra em abençoar- pode entrar por ela. No versículo 21, o justo, haven-
nos. do entrado, dá graças, e nos versículos 22 e 23, con-
4) "Pagarei a Jeová os meus votos" (14,18). Votos templando a formosura do templo; note-se que a pe-
feitos segundo a carne não tèm valor, mas uma reso- dra rejeitada pelos edificadores ocupa o principal lu-
lução espiritual (2 Co 1.17) é outra coisa. gar. Israel, há 19 séculos, rejeitou o Messias, mas no
5) "Oferecer-te-ei sacrifícios de ação de graças" futuro, arrependido, reconhecerá o lugar que Deus
(17). Sigamos este exemplo e ofereçamos sacrifícios lhe tem dado. Uma religiosidade ainda o rejeita, mas
de louvor a Deus continuamente ( H b 13.15). Ele tem chegado a ser "a cabeça da esquina" em mi-
" N ã o sabemos quem escreveu o salmo, mas. evi- lhares de vidas.
dentemente, o autor tinha profundas experiências Preferimos as palavras "a cabeça da esquina"
espirituais. Encontramos neste salmo: 1) tributação como em Almeida, e não "a principal do ângulo"
(3,6,8,10,11,15,16); 2) oração (1,2,4); 3) ajuda como na V.B. Em Mateus 21.42, etc., onde este sal-
(1,2,6,7,8,12); 4) gratidão (1,7,12,17); 5) reconheci- mo é citado, a tradução ao pé da letra é também ca-
mento (14,18,19); 6) resolução (2,9,13.14,17,18)". beça da esquina. Em qualquer templo antigo, santo
O versículo 15, que diz: "Preciosa é aos olhos de ou profano, havia milhares de pedras semelhantes,
Jeová a morte dos seus santos", tem sido explicado retangulares, cilíndricas, etc., mas no ponto princi-
pelos expositores de diversas maneiras: "Quando se pal e culminante, na "cabeça da esquina", onde os
diz que a sua morte é preciosa, isso quer dizer que é dois lados do frontáo se encontravam no ponto mais
avaliada por tão alto preço por Deus que não há de elevado de tudo, era necessário uma pedra única de
concedê-la facilmente a quem o deseja". formato singular e especial, para rematar todo o
edifício, ocupando o supremo lugar.
Salmo 117 Não havemos de procurar "a cabeça da esquina"
ao nível do chão, mas no ponto mais elevado de todo
Salmo de louvor. O menor de todos os salmos, e, o edifício. Se Cristo pertence ao fundamento do
contudo, citado pelo apóstolo Paulo (Rm 15.11). Diz Templo de Deus, Ele é também "a Cabeça da esqui-
C.H.Spurgeon: "Este salmo, que é mui pequeno na na".
letra, é muito grande no espirito, pois arrebentando
todos os limites de raça e nacionalidade, ele chama a Salmo 119
todas as nações para louvarem ao Senhor.
"Provavelmente foi usado freqüentemente como Numa versão alemã, este salmo tem o titulo
um breve hino, apropriado para quase todas as oca- '"O A.B.C. dourado do cristão, referindo-se ao louvor,
siões, e especialmente quando o tempo disponível amor, e uso da Palavra de Deus" (Franz Delitzsch,
era pouco". citado por C.H.Spurgeon).
E curto, mas doce. O mesmo divino Espirito que Este salmo alfabético se refere em todos os versí-
dilata seu assunto até 176 versículos do salmo 119, culos (exceto 90 e 122) à Palavra de Deus. C.H.
resume seu sentido aqui em dois, e contudo a mesma Spurgeon pensa que seu autor não referido tenha
infinita plenitude está presente e perceptível. sido Davi.
O assunto é "O Rei Universal". Podemos consi- O espaço disponível não nos permite examinar
derar: 1) o mesmo Deus sobre todos; 2) o mesmo cul- cada versículo minuciosamente, mas traduzimos al-
to de todos; 3) o mesmo motivo (a benignidade e ver- gumas notas de expositores de reconhecida compe-
dade de Deu3) em todos. tência, que podem servir ao leitor na sua apreciação
deste mais longo salmo do Saltério.
Salmo 118 Referindo-se ao tamanho do salmo, diz Spur-
geon: " N ã o somente é comprido, mas é igualmente
Louvor no templo. O dr. Scroggie diz deste sal- excelente em largueza de pensamento, em profundi-
mo: "Os salmos 113-118 formam um grupo distinto dade de sentido e em altura de fervor".
no Saltério, conhecido como o 'Hallel', uma palavra Embora todo o salmo se ocupe com a Palavra de
signifícando iouüor. Estes salmos eram cantados nas Deus, emprega uma variedade de termos, todos dig-
luas novas e nas festas judaicas. 'Hallel-u-jah 1 (em nos de consideração. F.W.Gránt resume-os em gru-
português 'Aleluia') significa Louvai a Jeová. Este pos de dois, assim: "Palavra, dito; caminho, vereda;
salmo é o último do grupo. Provavelmente foi canta- testemunhos, juízos; preceitos, estatutos; manda-
do pela primeira vez na Festa dos Tabernáculos re- mentos, L e i " . Há 22 seções, de acordo com as 22 le-
cordada em Neemias 8.14-18. tras do alfabeto hebraico.

'203
Salmos.

Destas seçòes Grant classifica as primeiras 21 em saltério". e todos têm o titulo problemático: "Cânti-
três grupos de sete. assim: co a<AV degraus".
1) Primeiro grupo: condições individuais. E impossível determinar o sentido deste titulo,
2) Segundo grupo: circunstâncias exteriores. nem é preciso para nossa edificação espiritual. A va-
3) Terceiro grupo: relações com o santuário. riedade de teorias a este respeito é espantosa, mas
Christopher Wordsworth (citado por C.H.Spur- todas elas têm uma feição em comum: são por de-
geon) analisa o salmo assim: mais duvidosas e problemáticas. Em "The Treasury
Alefe A bem-aventurança de andar no caminho of David". C.H.Spurgeon cita uma dúzia de teorias,
da Palavra de Deus. completamente diferentes, e outros expositores au-
Bete. Essa Palavra é declarada ser a salvaguarda mentam o número. Onde tudo é incerto o expositor
contra o pecado para a mocidade. prudente não afirmará nada.
Guimel. Contém uma piedosa resoluçáo de ape- Diz C.H.Spurgeon: " O grande expositor carmeli-
gar-se á Palavra, apesar do escárnio do mundo. ta, Miguel Ayguan. afirma que os quinze salmos fo-
Dálete expressa anelos pela consolação da Pala- ram divididos pelos judeus em três grupos de cinco,
vra de Deus para reforçar as boas resoluções. com orações entrepostas, e que cada um dos três gru-
Hê declara um ardente desejo por graça para obe- pos mostra um avanço na vida espiritual: os princi-
decer à Palavra, piantes, os progressistas e os perfeitos, ou, de outra
Vau expressa firme confiança e intenso regozijo maneira, que tratavam de expurgaçáo. iluminação e
na Palavra de Deus, e um ardente desejo de vê-la união. Assim podemos notar que nos salmos 120 a
realizada. 124 há constante referência à tribulaçáo e perigo; em
Zaine descreve o bendito conforto derivado da 125 a 129 à confiança em Deus: em 130 a 134 à comu-
Palavra em dias maus. nhão com Ele na sua casa. E Genebradus, um co-
Hete expressa o gozo inspirado pelo reconheci- mentador mais recente, define os quinze degraus de
mento de que Deus é a sua porção, e por comunhão subir do vale do choro à presença de Deus como sen-
coro aqueles que amam a Palavra. do, 1) aflição, 2) olhando para Deus. 3) gozo em co-
Tete descreve os benditos efeitos da aflição, em munhão, 4) invocação. 5) agradecimento. 6) confian-
afastar a alma do mundo e levá-la para mais perto ça, 7) paciente espera por livramento, 8) favor divi-
de Deus. no, 9) temor de Deus, 10) martírio, 11) ódio ao peca-
Jode representa o exemplo da resignação e pieda- do, 12) humildade. 13) desejo pela vinda de Cristo,
de dos fiéis, especialmente em aflição. 14) concordância e caridade. 15) continuada bênção
Café é uma expressão de intenso desejo pela vin- de Deus.
da do reino de Deus e a sujeição de todas as coisas a Entre as muitas suposições referentes aos "de-
Ele, segundo a promessa da sua Palavra. graus", podemos notar a de Lutero: que fossem de-
Lámede declara que a Palavra de Deus é eterna, graus de uma escada donde os sacerdotes recitavam
imutável, infinita na perfeição: e por isso em os salmos; de Davi Kinchi: que houvesse quinze de-
Meme assevera-se que a Palavra de Deus é o úni- graus pelos quais os sacerdotes subiam ao templo; de
co tesouro da verdadeira sabedoria, e em Jebb: que "não há vestígio na história nem em qual-
Num que é o único farol nas trevas e tempestades quer tradição autêntica concernente a alguma esca-
deste mundo. daria, que deve a sua existência unicamente às supo-
Sámeque diz que todas as tentativas dos descren- sições dos rabinos"; de James Anderson: que "mais
tes para destruir a fé nessa Palavra são odiosas e uma objeção a esta suposição rabínica é que Davi,
mortíferas, e destruirão aqueles que as fazem. cujo nome está no titulo de alguns dos salmos, vivia
Aim contém uma oração por firmeza e integrida- nos tempos do tabernáculo, que não tinha degraus";
de de coração e da mente no meio de toda a incredu- de Robert Nisbet e outros: que " a alusão é à subida
lidade e impiedade de um mundo sem Deus. das tribos para Jerusalém para as festas religiosas";
Pê contém a convicção de que a Palavra de Deus Christopher Wordsut>rth: que "se referem à subida
traz seu próprio conforto e iuz àqueles que fervorosa- da Babilônia para Jerusalém nos tempos de Esdras e
mente imploram tais bênçãos. Neemias"; de Genesius: que "a alusão a degraus re-
Tsadé diz que mesmo a alma jovem pode estar fere-se à construção dos 15 salmos, uma espécie de
firme e forte se tem fé na pureza, verdade e justiça marcha"; de William Key: que "a construção rítmi-
da lei de Deus, e, por isso ca destes salmos - em que uma linha descansa sobre
a antecedente como uma escada - é um acompanha-
Cofe é uma fervorosa oração pela graça da fé, es-
mento exterior adequado à construção interior dos
pecialmente como está expressada em
salmos"; do dr. Scroggie: que "se refere aos 15 de-
Rexe, em tempos de aflição, desolação e perse-
graus no relógio de sol de Ezequias".
guição, como
Chim acrescenta pelos poderosos deste mundo; e " N o salmo 120. o salmista sofre de duaa coisas,
mesmo então há paz. gozo e exultaçáo para os que que lhe ocasionam muita dor: a perversidade dos ou-
amam a Palavra de Deus. Por isso o salmo conclui tros, e um sentimento de isolamento.
em 1) Desamor (1-4). Isto é freqüente demais, e o seu
Tau com uma fervorosa petição pelos-dons de en- usual instrumento é a língua. Dos versículos 1 e 2
tendimento, ajuda e graça de Deus, para a alma que aprendemos o que Deus tem feito ( I ) e o que Ele pode
confessa a própria fraqueza e descansa nele para seu fazer (2). Oração respondida deve levar-nos a orar
apoio. mais. Dos versículos 3 e 4 podemos aprender que as
conseqüências penais da mentira assemelham-se ao
delito que vingar. Há uma tal coisa como a retribui-
Salmo 120 ção.
2) Isolamento (5-7). As circunstâncias do salmis-
Os salmos 120 a 134 "constituem um pequeno ta deram-lhe um sentimento de isolaçào. Ê pena

-204
Salmos.

quando quem ama a paz tem de viver com os conten- Salmo 124
ciosos" (Scroggie).
" O salmo 120 é quase todo tribulação. A coisa Só Deus pode livrar seu povo. " A origem históri-
mais esperançosa é o que vem no começo, que 'na ca deste salmo é a invasão da Palestina pelos assírios
minha tribulação clamei a Jeová e ele me respon- (2 Cr 32) e a salvação aqui celebrada emprega as
deu'. Isto o salmista reconhece, embora o grande li- mesmas palavras de Senaqueribe gTavadas no bem-
vramento que procura não se tenha realizado". conhecido cilindro de Taylor: 'Ezequias de Judá...
fechei como um passáro engaiolado em Jerusalém'.
Salmo 121 Veja-se o versículo 7. O salmo tem duas partes, a pri-
meira fala de perigo (1-5) e a segunda de livramento
Deus é o fiel guarda do seu povo. Podemos dizer (6-8). Não pode haver livramento onde não há peri-
que todo o salmo se ocupa com a proteção divina, e go, e se não reconhecemos o perigo não procuraremos
todo o salmo é uma resposta á pergunta do primeiro o livramento".
versículo. Podemos refletir no triste caso do descren- "Notemos as figuras empregadas pelo salmista:
te, que não pode dizer "meu socorro vem de Jeová". as águas impetuosas (4,5), a fera (6), o laço do passa-
Diz C.H.Spurgeon: "Eiste salmo está alguns passos rinheiro ( 7 ) " (Scroggie).
adiante do anterior, porque fala da paz da casa de
Deus e do cuidado protetor do Senhor, enquanto Salmo 1*25
todo o salmo 120 lastima a falta de paz na casa do Jeová em volta do seu povo. "Este salmo tam-
homem bom. e o ser exposto aos assaltos de línguas bém reflete a situaçáo. como em 2 Crônicas 32, e a
maldizentes. Naquele, seus olhos miram em redor palavra para 'confiar' no versículo 1 é a mesma en-
com angústia; neste, olham para cima com esperan- contrada em 2 Crônicas 32.10. As duas partes sáo liga-
ça. E canção do soldado como também do viajante". das pelo versículo 3. Antes, em 1 e 2, aprendemos
que o povo de Deus está seguro porque está rodeado
Salmo 122 por Jeová. Depois, nos versículos 4 e 5 achamos ora-
ção que chega à predição: se formos retos de coraçáo
Que a paz de Jerusalém continue. " N o 120 havia seremos abençoados (4). Se nos desviarmos para ca-
tribulação: no 121, confiança; e agora no 122, bên- minhos tortuosos teremos a sorte dos ímpios (5). O
ção. TaJ é freqüentemente a ordem na nossa experi- versículo 3 ensina que ninguém será provado além
ência. Este é o primeiro dos quatro salmos de Davi das suas forças para resistir (1 Co 10.13)".
neste grupo, e reflete o grande amor dos hebreus por
Jerusalém e pelo templo. Salmo 126
Este salmo fala de alegria e agradecimento pelo
privilégio de subir a Jerusalém, a cidade santa, e ao A graça e a fidelidade de Deus. "Este salmo é ge-
templo, a Casa de Deus. Uma santa antecipação (2) ralmente reconhecido como celebrando a volta do
é misturada com uma chamada a orar pela paz de cativeiro babilônico. • mas a história náo recorda
Jerusalém celestial a que temos vindo (G1 4.26; Hb nada da admiração das nações em redor (2), nem
12.22), onde Deus tem posto seu Rei sobre seu santo que depois da volta houvesse fome na terra (4-6).
monte de Sião (SI 2.6), o centro de todas as nossas " M a s ambas estas circunstâncias encontram-se
bênçãos espirituais, o lugar da reunião da as- na narrativa do incidente de Ezequias-Senaqueribe;
sembléia geral e igreja dos primogênitos que são re- fome (2 Cr 32.11; Is 37.30.31) e admiração dos gen-
gistrados nos céus (Hb 12.23). tios (2 Cr 32.22,23). Por isso podemos considerar isto
"Nossos privilégios são maiores do que os do povo como a base histórica do salmo, e concluir que foi es-
terrestre, congregado na sua metrópole e centro de crito por Ezequias. Tem duas partes: louvor por um
culto. Nossos corações devem regozijar-se em: a) su- bom começo (1-3) e oração por um feliz cumprimen-
bir à Casa de Jeová; b) dar graças ao nome do Se- to (4-6). As duas coisas estão intimamente relaciona-
nhor; c) orar pela paz e prosperidade da Igreja de das. Nas horas de triunfo, tendemos a esquecer que a
Deus; d) gozar a comunhão dos santos - 'meus ir- tribulaçáo não está longe. Se a perspectiva da tribu-
mãos e amigos': e) buscar o bem deles ( 9 ) " . lação tende a sombrear o triunfo, devemos resolver
que o triunfo há de iluminar a tribulação. Progresso
Salmo 123 (1-3) deve ser seguido por paciência (4-6). Semeia a
semente e conta com a ceifa" (Scroggie).
Deus. nossa única suficiência. "Com este salmo
começa o segundo grupo de três. Há duas notas prin- Salmo 127
cipais: 1) paciente submissão (1.2) e então fervorosa
súplica (3,4). Das alturas dà alegre devoção do salmo Dependência de Deus. O assunto é "o Senhor na
anterior o salmista desce para enfrentar as realida- vida doméstica e cívica ". Tem duas partes, mas este
des da vida num mundo tal como este. O povo de é o assunto de cada uma. Primeiro temos o lar e a ci-
Deus está sendo escarnecido pelos 'descuidadosos' dade, e se nos diz que não podem ser edificados segu-
(V.B.) ou dos 'que estão à sua vontade' (Almeida), ramente pelas mãos de ansioso cuidado. Notemos a
mas não profere nenhuma palavra de queixa. Os pie- repetição de "em vão". Há duas maneiras de agir:
dosos ficarão tão chegados a Cristo, que a menor in- uma, um afanoso esforço, confiado no próprio poder; T
dicação da sua vontade será observada e obedecida a outra, de paciente trabalho, confiado em Deus. So-
(2). Mas a confiança e resignação não se acabam mente esta última é bem-aventurada.
com o natural recuo do desprezo e zombaria; e por Na segunda parte temos a família e o concilio (3-
isso precisamos orar (3,4) e. assim fazendo, os sober- 5). Uma família abençoada por Deus vale muito na
bos deste mundo ficarão sem importância na presen- vida de uma cidade. A cidade e nação nunca sáo
ça daquele que habita nos céus (4,1)". maiores do que a integridade da sua vida familiar.

-205
SflJmw

Proibir o matrimônio é um sinal de apostasia (1 aparelhamento cortadas (4). d) Os inimigos de Israel


Tm 4.3). Em tempos de perseguição e perigo, o esta- como erva que murcha sobre os telhados (5-7). e) As
do de solteiro tem sido às vezes necessário (1 Co saudações dos ceifeíros e os que passam (8)".
7.26); mas "Seja honrado o matrimônio por todos" Nota: Na V.B. há um curioso erro tipográfico no
(Hb 13.4), e o lar onde pai. mãe e filhos andam no te- versículo 4. "costas"deve ser "cordas", como em Al-
mor de Deus e no amor de Cristo é a mais amável de meida. Ou. possivelmente, o erro fosse do tradutor
todas as muitas bênçãos do nosso bendito Deus. Mas da V.B. e nào do tipógrafo. visto que Fig. tem "çervi-
os salmos avisam quando animam: a) O lar piedoso z es".
deve ser edificado pelo Senhor (1). Matrimônio, para Mattheu- Henry comenta o versículo 4 assim: " O
ser bem-sucedido, deve ser "no Senhor" (1 Co 7.39), poder do inimigo está quebrantado. Deus 'cortou ss
e é preciso contar com Ele para o proteger, para que cordas dos ímpios', cortou seus tirantes e assim im-
o inimigo não entre, b) Filhos (127.3) e netos (128.6) pediu que puxassem os arados; cortou seus açoites, e
devem ser considerados como herança e galardão di- impediu sua perseguição; cortou seus laços de união
retamente do Senhor, e, sendo bem educados, serão que os ligavam aos inimigos; cortou os laços de cati-
uma bênção para os pais e uma fortaleza para a na- veiro que prendiam o povo do Senhor. Deus tem
ção. muitas maneiras de impedir os homens malvados de
fazer seus males" Assim AI II. nos oferece urna va-
Salmo 128 riedade de interpretações da frase "ele cortou as cor-
das dos ímpios", mas nào quer obrigar-nos a aceitar
A sorte do homem que teme a Jeová. "Temos todas elas.
aqui o quinhão de quem teme a Jeová, mas corn pou- C.H.Spurgeon. citando Hermann Venema, diz:
ca referência às bênçãos mais elevadas do que as da " N a palavra hebraica traduzida 'cordas' há uma
natureza. Parece com a vida patriarcal restaurada, e alusão aos arreios dos bois. A palavra significa cor-
transferida para Jerusalém e Sião. Apresenta a feli- das grossas entrelaçadas".
cidade do homem obediente. Ele goza dos frutos do
seu labor: não precisa cedê-los a outro. Mulher e fi- Salmo 130
lhos enfeitam a casa, e nada se fala de inimigos em
redor. N o versículo 5 a bênção vem de Jeová, de Esperança no amor perdoador de Jeová. "Quào
Sião; e Jerusalém prospera. grandes sào as profundezas de pecado, vergonha e
Notemos o ensino do versículo 2: o homem con- miséria em que os homens podem cair é compreendi-
templado neste salmo trabalha, e, porque trabalha, do somente por aqueles que têm mergulhado nisso.
tem apetite; a sua felicidade é que trabalha para si e Aos tais este salmo vem como uma verdadeira luz do
sua família, e não é escravo de ou trem. O trabalho Céu. Há esperança, e boa esperança, até para os pio-
manual é honroso, é contemplado e abençoado por res.
Deus, desenvolve toda a natureza física do homem, Aprendemos aqui que quem invoca o nome do
de modo que o trabalhador tem mais vida, mais ape- Senhor será salvo, mas isto depende de certos gran-
tite, mais satisfação, melhor sono, e mais valor do des princípios que achamos marcados neste salmo:
que o homem ocioso. 1) A confissão do pecado. O pecado nunca é des-
Neste quadro ideal vemos o homem com seu ser- culpado, por lastimoso que seja o caso. Nunca pode
viço no campo, e sua mulher trabalhando "no inte- subsistir na presença de um Deus santo: 'Se obserca-
rior da casa". A Bíblia não apresenta o quadro da res, Jeová, iniqüidade, quem, Senhor, poderá sub-
mulher trabalhando na roça. sistir?' Em nós mesmos não há esperança.
Os filhos "a roda da tua mesa " nas horas das re- 2) O reconhecimento da graça divina. 'Mas conti-
feições é um modelo para ser imitado nas famílias go está o perdão', um fato glorioso, que tem sido es-
mais humildes. Uma parte principal da educação crito com letras de luz sobre a cruz do Calvário. Dali
dos meninos é dada ao redor da mesa de jantar. se proclama a boa nova: 'Contigo está o perdáo'.
O sentido deste salmo é bem diferente do de 1 3) Um arrependimento piedoso- 'A fim de que se-
Corintios 7.8, "Digo aos solteiros e às viúvas que lhes jas reverenciado'. A graça divina nunca apenas per-
é bom se permanecerem assim como também eu". doa: também muda o coraçào. Uma reverência pie-
dosa segue a graça do perdào.
Salmo 129 4) A necessidade de esperar o tempo de Deus. O
alivio nem sempre vem ao momento. A disciplina
Israel em provações "Os versículos 1 a 4 tratara pode requerer a demora, para que nâo haja levianda-
de angustiosa aflição; 5 a 8 de salvação para Sião. os de. Mas a demora náo deve impedir a esperança.
versículos 1 a 4 olham para trás: os versículos 5 a 8 5) A bem-aventurança final. 'Redenção de todas
olham adiante. Na primeira estância há memória, as iniqüidades' (8). A graça nào oferece meia
na segunda, esperança. Este salmo combina perfei- salvaçào. 'O Sangue purifica de todo pecado'"
tamente com as circunstâncias da invasão de Sena- ( Goodman).
queribe e seus resultados. Isto vem a ser ainda mais E o dr. Scroggie diz: "Este é evidentemente um
provável pelo emprego da figura no versículo 6 da salmo de subidas (degraus). Sobe resolutamente do
'erva', com a qual podemos comparar 2 Reis 19.26 e abismo da penitência às alturas da esperança".
Isaías 37.27. Tem quatro estâncias de dois versículos cada
"Notemos esforço e fracasso do inimigo alterna- uma. Estas podem ser agrupadas em duas partes de
dos: esforço em 1,2a, e 3, fracasso em 2b, 4. quatro versículos. Na primeira (1-4) se nos diz que o
"Estudemos as figuras deste salmo: a) Israel na saimista orou, e o que orou. O começo da verdadeira
sua mocidade no Egito e saindo do Egito (1,2). b) Is- religiáo pessoal é um reconhecimento do pecado pes-
rael. já na Terra, as costas lavradas pelos seus inimi- soal. Quem nunca clama das profundezas de um re-
gos (3). c) Israel como um boi. com as cordas do seu conhecimento do pecado, jamais cantará nas alturas

'206
Salmos.

do reconhecimento do pecado perdoado: mas se cla- mento do moço. e acrescenta: "Eis que ouvimos falar
mamos das profundezas, pelo clamor sairemos das dele em Efrata; encontramo-la no campo de Jaar".
profundezas. Na sua mocidade, no campo com as ovelhas, os pen-
Na segunda destas divisões (5-8). o salmista rela- samentos de Davi não eram nos divertimentos pró-
ta primeiro o eleito do perdão sobre seu espirito prios aos rapazes, mas em Deus e no lugar do futuro
(5.6): resulta em ele preocupar-se mais com Deus. templo.
Entáo relata a ação ã qual a sua experiência o levou
(7,8): fez dele um evangelista, e ele deseja agora que
todo o seu povo tenha parte no perdão e na esperan- Salmo 133
ça.
A excelência da união fraternal. "Este salmo é
uma expressão de santo gozo ocasionado pela reu-
Salmo 131 nião de Israel como uma só família nas grandes fes-
tas anuais. Pode também haver uma alusão a certos
Virtude e valor da humildade Temos aqui mais anteriores ciúmes e invejas na família de Davi, que
outro cântico de degraus de Davi. C H Spurgevn es- pareciam ter sido transformadas em concordância e
creve deste salmo: " É tanto de Davi como referente afeição, quando Davi assumiu o trono de todo o Is-
a Davi: ele é o autor e o assunto, e muitos incidentes rael (Joseph Addison Alexander).
da sua vida podem ilustrá-lo. Comparando todos os Esta harmonia fraternal pode ser realizada na
salmos a jóias, podemos assemelhar esta a uma péro- família, na nação, na igreja e no mundo, uma vez
la. Como havia de adornar o pescoço da paciência! É que as condições essenciais sejam observadas. Para
um df>s mais curtos salmos para ler, mas um dos irmãos poderem habitar juntos harmoniosamente é
mais compridos para aprender. Fala de uma criança, preciso haver:
mas contém a experiência de um homem em Cristo. 1) Altruísmo e consideração uns pelos outros.
Humildade e mansidão vêem-se aqui ligadas com 2) Tolerância das convicções ou escrúpulos dos
um coração santificado. uma vontade submissa à outros.
vontade de Deus e uma esperança que conta somen- 3) Simpatia para com as aspirações e interesses
te com o Senhor. Bem-aventurado o homem que po- dos outros.
de. sem mentir, empregar estas palavras, pois ele 41 Acordo em querer promover os interesses da
tem o aspecto do seu Senhor que disse: 'Sou manso e família.
humilde de coração'. 5) Laço de parentesco natural, ou espiritual.
"Este salmo está à frente de qualquer dos salmos 6) Amor comum aos pais. ou, no caso da irman-
de degraus, precedentes, pois a humildade é uma dade cristã, o mesmo amor e obediência a Deus.
das mais altas virtudes da vida espiritual. Há tam- 7) Amor fraternal, por todos pertencerem á mes-
bém degraus neste salmo de degraus. E uma escada ma família.
curta se contarmos as palavras, mas chega a uma
grande altura, de uma profunda humildade a uma
Salmo 134
firme confiança. Le Hlonc pensa que esta é a canção
dos israelitas que voltaram de Babilônia com cora-
«Vo santuário. Diz F VV. Grant: " O último dos
ções cont ritos, destituídos dos seus ídolos. Em todo o
salmos de degraus mostra nos Israel no santuário,
caso. depois de qualquer cativeiro espiritual, que
não impedindo a noite a continuação do louvor, o
seja ele a expressão dos nossos corações".
louvor de um povo dependente, rico com a bênção de
Jeová, seu Deus.
Salmo 132 "Aqui se vé a obra do verdadeiro Melquisedeque.
aquele que. como homem, conduz seu po\o num lou-
Sião e o Hei. Pelo estilo, este salmo parece ter vor em que Ele toma a parte principal; enquanto,
sido escrito por (ou citado por?) Salomão, pois os como Deus e representante de Deus, Ele pode pro-
versículos 8-12 acompanham de perto as suas pala- nunciar e introduzir a bênção. Isto é, Emanuel e
vras na dedicação do templo (2 Cr 65.41.42): "Le- Melquisedeque na mesma pessoa. Tudo está na sua
tanta-te, -Jeová, entra no lugar do teu repouso, tu. e mão, pois Ele é o Pai da Eternidade, o Obreiro e Sus-
a arca do tua fortaleza", etc tentador da nova criaçáo. Aqui a última 'subida' é
" M a i s adiante o salmo se torna messiânico, ante- plenamente alcançada."
cipando um dia mais importante e uma Sião mais Diz C. H. Spurgeon: "Os peregrinos voltam para
nobre: onde 0 Cristo - Meu Ungido - administrará a caga, e cantam o último cântico no seu saltério.
justiça em graça e verdade (SI 2.6; Hb 12.22). 1) sa- Saem cedo pela manhã, antes de o dia ter começado,
tisfação (v.15); 2) salvação (v.16); 3) os santos porque para muitos a jornada será longa. Enquanto
jubilosos (16). As palavras finais, "Sobre ele flores- a noite ainda não acaba, estão andando. Apenas es-
cerá a sua coma", antecipam a visão de Apocalipse tão fora das portas, vêem os guardas sobre o muro
19.11. 12 (Goodman). do templo, e as luzes brilhando das janelas em redor
Tenho procurado em vão descobrir para que a do santuário. Comovidos pelo espetáculo, cantam
V.B. e Almeida (depois de revista) põem "da arca" uma despedida aos serventes regulares do sagrado
no versículo 6. Não o encontro em qualquer outra edifício. A sua exortação ao partirem anima os sacer-
tradução, e me parece destruir uma interpretação dotes a pronunciarem do recinto sagrado uma bên-
muito linda que pode ser permissível. O autor do ção sobre eles: Haveis pedido que nós vos abençoás-
Salmo põe na boca de Davi esta santa preocupação semos. agora rogamos a Deus que Ele vos abençoe'.
com Jeová e o lugar do seu tabemáculo. Segue a di- " O salmo ensina-nos a orar por esses que conti-
zer onde foi que tal idéia primeiro ocupou o pensa- nuamente ministram perante o Senhor, e convida a

-207
Salmos.

tais ministros a pronunciarem bênçãos sobre o povo Na maravilha da santificação (1 T s 5.23,24).


que ora". Na maravilha do triunfo universal (1 Co 15.25)
(C.A.D.)
Salmo 135
Salmo 137
A supremacia de Deus. " H á dois grupos de sal-
mos de 'Hallel' ou louvor. Os salmos 113-118 consti- Tristeza dos exilados na Babilônia. Matthew
tuem 'o Hallel' egípcio, parte do qual foi cantada por Henry• nota quatro coisas neste salmo que os cativos
nosso Senhor e seus discípulos ( M t 26.30). Os salmos na Babilônia não podiam fazer:
120-136 constituem o 'Grande Hallel', cantado infre- Náo podiam regozijar-se (1,2).
qüentemente. Provavelmente este grupo era no co- N ã o podiam entreter os seus opressores (3,4).
meço um hinário separado - um Saltério dentro do Nào podiam olvidar Jerusalém (5,6).
Sal té rio. Não podiam esquecer-se da malvadez de Edom e
"Este salmo é um mosaico, com posto de uma va- de Babilônia (7,8.9).
riedade de trechos bíblicos. Comparemos o versículo Em todo este salmo os cativos não mencionam
1 com 134.1; o versículo 3 com 147.1; o versículo 6, seus próprios pecados. Não há confissão. O salmo
15-20 com 115.3-11; o versículo 7 com Jeremias demonstra a desolação daqueles que estão longe do
10.13; os versículos 8-12 com 136.10-22; e o versículo lugar da manifestação de Jeová, e a sua oração é so-
14 com Deuteronômio 32.36. Bendita a alma tão mente pela destruição dos seus inimigos, que tinham
cheia da Palavra de Deus, que, em louvor e orações, arrazado seus lares. Empregam uma linguagem que
as próprias palavras bíblicas saltam dos lábios. Há o cristão naturalmente recusa.
uma originalidade em combinações: o maior exem-
plo disto é o Apocalipse..
" O salmo tem cinco partes. Introdução (1-4). Salmo 138
Deus na natureza (5-7). Deus na história (8-14). O
Deus dos deuses (15-18). Conclusão (19-21). Ação de graças a Deus. "Este é o primeiro de uma
" O salmo começa e acaba com uma chamada à série de oito salmos 138 a 145, provavelmente os últi-
oração, e no meio declara que ocasião há para isso. mos compostos por Davi, e uma espécie de comentá-
Não devemos desligar Deus do universo. Céu, terra, rio sobre a grande promessa messiânica em 2 Samuel
mar, vapores, relâmpagos, chuva, ventos - tudo está 7".
sob seu controle. Assim o salmista diz: 'Conheço que
Podemos reconhecer três divisões neste salmo:
o Senhor é grande(5) (Scroggie).
1) Adoração (1-3). Davi louva ao Senhor porque
"acima de todo o seu nome tem magnificado a sua
Salmo 136 palavra" (v. 2).
(Nota: F. W.Grant traduz este versículo diferen-
Deus ê louvado pelas suas obras. Este salmo foi te: "Tu tens magnificado as tuas palavras de acordo
composto provavelmente por Davi e dado aos levitas com todo o teu nome".)
para cantar diariamente { 1 Cr 16.41). Seu filho Salo- " N o seu engrandecimento de Deus, Davi fala de
mão seguiu seu exemplo e fez uso dele cantando-o na um coração tão comovido, que não se lembra de di-
dedicação do templo (2 Cr 7.3-6), como Josafá pare- zer a quem dirige os seus louvores".
ce ter feito quando foi guerrear contra seus inimigos 2) Antecipação (4-6). Como ele agora adora a
(2 Cr 20.21) (John Gill). Deus, futuramente todos os reis o farão. Isto é decla-
O salmista canta que Deus deve ser louvado: rado também nos salmos 72 e 89, mas neste salmo a
Pelo que Ele é (1-3). adoração é voluntária. Que dia maravilhoso quando
Pele que pode fazer (v. 4). este mundo ouvir a canção dos soberanos.
Pele que tem feito na criação (5-9). 3) Segurança (7,8). Davi tem confiança de que o
Pele que fez em remir Israel da escravatura (1#- que Deus tem começado, completará. Combinam-se
15). convicção e petição. O salmista conta com a benigni-
Pele que fez nas suas previdências para cem Is- dade de Deus ao qual faz seu apelo. Quando ele diz:
rael (16-22). "Não abandones as obras das tuas mãos", ele tem
Per sua graça era tempts de calamidade (23/24). certeza de que nunca será abandonado (Scroggie).
Pele que tem feito ae mundo em geral (26).
Por recordar que Ele é o Deus do Céu (26) (An-
drew A . Bonar). Salmo 139
"Quando, no tempo do imperador Constantino,
Atanásio foi assaltado de noite na sua igreja de Ale- Deus sempre presente. Este salmo fala-nos, em
xandria por Svrians e suas tropas, e muitos foram linguagem poética e figurativa, da onisciéncia (1-6);
mortos ou feridos, o bispo de Alexandria ficou senta- da onipresença (7-12), e da onipotência (13-16) de
do na sua cadeira, e mandou o diácono começar este Deus. .lá se vê, não havemos de tomar as suas ex-
salmo, e o povo respondia altemadamente: 'Porque pressões ao pé da letra, e afirmar que a Bíblia ensina
a sua benignidade dura para sempre'" (Christopher que Deus efetá no Inferno (v.8). Estes divinos atribu-
Wordsworth). tos contêm infinita consolação para os crentes, e
"Ao único que faz grandes maravilhas" (v.4). uma significação terrível para os iníquos. O descren-
Deus é único: te estremece ao pensar que Deus conhece o íntimo do
Na maravilha da criação (Gn 1). seu coração, mas o crente diz: "Sonda-me, ó Deus. e
Na maravilha da redenção (Is 63.5) conhece o meu coração: prova-me e conhece os meus
pensamentos; vê se há em mim algum caminho de
Na maravilha da providência (SI 104.27,28).

-208
Salmos.

perversidade". È parecido com o homem que consul- aceitos como 'um excelente óleo. que a minha cabeça
ta o médico, e conta com ele para descobrir quais- náo rejeitará' (5).
quer começos de mal ou moléstia no seu corpo. "Quando um homem não aceita a admoestaçáo,
Notemos no versículo 1 que a V.B. omite " m e " isto pode ser em parte a culpa dos pais. Não o ensi-
antes de "conheces" porque a palavra nào está no naram em criança a reconhecer seus erros e a ser hu-
original. O sentido é provavelmente, 'conheces tudo milde e obediente, por isso. depois de grande, ele se
a meu respeito". "A palavra traduzida 'sondas' teve revolta contra toda correção. 'O que ama a correção
primitivamente o valor de "cavar', e se aplica à pro- ama o conhecimento, mas o que aborrece a repreen-
cura de jóias preciosas, minando". são é um bruto' (Pv 12-1).
Depois de uma prolongada e santa preocupação " 3 ) Que olhe sempre para o Senhor, e confie nele
com Deus, o salmista deixa seu olhar descansar por (8-10) para ser guardado das armadilhas".
um momento sobre os "homens sanguinários" (v. 19) Nota: " N ã o podemos explicar os versículos 6 e
e os denuncia. "Quem ama a Deus aborrecerá o pe- 7". diz o rev. W . H . Sauloz em The Romance of the
cado". Onde há vigor de devoção, haverá ódio ao Hebreu Language: " H á certos trechos que até hoje
mal. O salmista termina pedindo a Deus para fazer confundem nossos mais instruídos expositores, tais
(23,24) o que Ele pedira no começo (1). como Salmo 141.5-7 e Zacarias 6.11-13".
Diz o dr. Scrttggie: "Para o expositor, este salmo
Salmo 140 está cheio de dificuldades, algumas delas aparente-
mente insuperáveis, pelo fato de que o texto parece
A suficiência de Jeová. Este salmo, diferente do ter sido danificado, porque a ocasião do salmo é des-
anterior, começa com o perverso, continua com
conhecida... Náo me atrevo a entender 5b-7 que é se-
Deus, e conclui com os justos e retos.
melhante a uma torrente correndo entre rochedos".
"Este poema evidentemente, está em cinco es- E C.H. Spurgeon: " O sentido deste salmo é às vezes
tâncias, as primeiras três marcadas por 'Selá' e a tão profundo que se torna por demais obscuro", E
quarta terminando no versículo 11. Nas três primei-
Grant: "Quando ã interpretação, há algumas difi-
ras estâncias o salmista descreve seus inimigos e seu
culdades peculiares, que todos os expositores têm re-
procedimento por duas figuras, e roga ser livrado,
conhecido". E o bispo George Home: "Deste versícu-
primeiro das suas línguas (3) e também das suas
mãos (4). Depois a queixa dá lugar à confiança: o lo 6. como está na nossa tradução, não sei que possa
salmista se esquece dos homens por lembrar-se de dizer".
Deus (6,7). embora logo em seguida esteja pensando Ê sempre possível que. nos tempos mais remotos.
em ambos (8). tivesF havido primitivamente algum descuido em
copiar os manuscritos da poesia sacra hebraica, mas
" A próxima estância é imprecatória (9-11) e não
é sabido que mais tarde havia um escrúpulo extraor-
no espírito do cristianismo: consideremos, porém,
dinário em reproduzir o texto, ainda que fosse evi-
que o escritor não vivia na dispensação cristã. Anti-
dentemente errado. Disto há alguns exemplos inte-
gamente quase não se distinguia entre o pecador e os
seus pecados, mas desde a Cruz faz-se esta discrimi- ressantes: em Gênesis 32.30,31 um lugar é chamado
nação. Os cristãos devem amar os seus inimigos en- Peniel e também Penuel. por suposto, devido a al-
quanto aborrecem as suas perversidades. gum lapso do copista; mas esse lapso nunca foi corri-
gido até hoje. " T ã o fiéis eram esses escribas em co-
" N a última estância (12,13) o espírito do salmis- piar o texto exatamente como o acharam, palavra
ta muda. A preocupação com Deus descobre e me-
por palavra e letra por letra, que quando chegavam a
lhor então podemos dizer: 'eu sei' (12) e 'de certo'
um evidente erro da parte do escritor anterior, sen-
(13). Os iníquos passam (11), mas os justos perma-
tiam uma obrigação de repetir o erro da cópia. Isto
necem (13). Devemos procurar as alturas, e, de lá de
cima. contemplar os iníquos" (Scroggie). parece quase incrível no nosso modo moderno de
pensar, mas qualquer um pode abrir uma Bíblia
hebraica e verificar. Em certos trechos há letras im-
Salmo 141 pressas invertidas, e coisa curiosa é que nenhum es-
critor nem impressor quis endireitá-las.
Pedindo paciência quando provocado. " A dificul- Podemos entender que o trecho neste salmo (5b a
dade em entender este salmo vem de não sabermos 7) seja um dos tais casos.
as circunstâncias em que foi escrito. Davi tinha sido Lamsa, ao menos dá um sentido compreensível
evidentemente atacado por inimigos que náo somen- aos versículos 6,7: "Que óleo do iníquo não unja a
te falaram contra ele como juizes falsos (6), procu- minha cabeça, visto que a minha oração tem sido
rando condená-lo (5). mas lhe armaram laços e re- contra seus males. Quando seus juizes estão impedi-
des, em que esperavam que caísse (9,10). Embora dos por mão forte, ouvirão as minhas palavras; por-
não possamos saber as condições em que o salmista que são doces".
compôs este salmo, podemos achar nele encoraja-
mento para os que se encontram num caso seme- Salmo 14*2
lhante. O servo de Deus pode aprender dele como en-
frentar a calamidade e como portar-se quando calu-
niado ou atacado violentamente. Cântico de uma alma solitária. "Quando ele es-
" 1 ) Que clame ao Senhor para guardar seus lá- tava na caverna" (titulo). Diz Spurgeon: "Dava esta-
bios da recriminação e seu coração de praticar o mal va num dos seus muitos esconderijos: ou Engedi. ou
(1-4). Adulão. ou alguma outra caverna onde podia refu-
" 2 ) Que aceite a repreensão sincera (5): 'Fiéis são giar-se de Saul e seus "cachorros policiais". As ca-
as feridas feitas pelo que ama' (Pv 27.6). Bons conse- vernas servem bem como lugares de oração. Se Davi
lhos, ainda que sejam críticas e correções, devem ser tivesse orado tanto no palácio como fez na caverna.

-209
Salmos.

podia nunca ter caído no pecado que lhe trouxe tan- "Este salmo é muito parecido com o último cân-
ta aflição nos seus últimos dias". tico de Davi em 2 Samuel 2.22 e com o salmo 18.
Neste salmo temos o último "Masquil" ou salmo Aqui temos uma visáo de Cristo regozijando-se - de
de instrução - uma boa conclusão da série, porque pois da sua paixão - ressuscitado em glória, e ascen
nos deixa com Deus. o único refúgio e descanso da al- dido em triunfo, intercedendo por nós à destra de
ma, depois de ter falhado o homem, nào somente no Deus" (Christopher Wordsuforth).
poder mas na vontade de ajudar. O salmo é mui cur- "Este salmo é governado pelos números dez e se-
to e simples: inteiramente uma oração, mas termi- te. Dez versículos completam a primeira parte do
nando com confidente certeza. salmo, que contém duas divisões. A primeira con-
" O saimista declara enfaticamente que é a Jeová tém, nos versículos 1 e 2, dez atributos de Deus, res-
que faz seu apelo; perante Ele profere a sua queixa, pectivamente. três e sete, estando os sete subdividi-
como se não houvesse outro recurso. Pode apelar dos em quatro e três. Semelhantemente contém dez
confiadamente a quem o tem conhecido intimamen- pedidos a Deus nos versículos 5-7, divididos precisa-
te. e em circunstâncias de profunda tribulação. mente como os atributos. A esta significação do nú-
"Entre os homens, ele nào achou auxilio; nin- mero dez há uma alusão evidente no versículo 9. Na
guém quis reconhecé-lo. Refúgio não tinha a não ser segunda parte, pedem-se sete bênçãos, quatro nos
em Jeová: mas ninguém se importou com ele. Uma versículos 12,13 e três no versículo 14. O todo contém
situação terrível, se Deus não tivesse sido seu escon- á parte da conclusão, sete estrofes, cada uma de dois
derijo! E se Ele não o fosse, se todos os demais tives- versículos" (E. W Hengstenberg).
sem acudido para o valer, quão insuficiente teria "Que adestra as minhas mãos para a batalha e os
sido tudo!" (Grant). meus dedos para a guerra" (v. 1). Lembremo-nos de
que na sua mocidade as mãos de Davi manejavam o
Salmo 143 cajado de pastor e seus dedos as cordas da harpa.
Nem foi ele depois formado em qualquer escola mili-
Auxílio do Céu. Lutero chamou os salmos 32, 51, tar. Se mais tarde chegou a ser um destemido guer-
130 e 143 de os Salmos Paulinos porque ensinam que reiro, isto ele atribui ao ensino de Deus mesmo.
o perdão de pecados é outorgado ao crente sem a Lei Nós podemos precisar, de vez em quando, prestar
e sem as obras. serviços desacostumados. Talvez pregar o Evangelho
" O apelo deste salmo é baseado na fidelidade, na (a uma ou mais pessoas) sem ter cursado algum se
justiça e na bondade de Deus (1,8,11.12) e não sobre minário. Mesmo assim, podemos provar em Deus
qualquer merecimento humano. Tem duas partes, nosso suficiente recurso.
cada uma divisívè) em duas: "Estende lá do alto a tua mão" (7). " N o hebraico
1) .4 queixa do saimista (1-6): a) seu perigo (1-3); 'as tuas mãos' - todo o poder, pois preciso de todo o
b) seus sentimentos (4-6). teu recurso" (John Trapp).
2) A petição do saimista (7-12): a) pedindo livra- " N o versículo 12 a reminiscência ou imitação do
mento (7-9); b) pedindo esclarecimento (10-12). salmo 18 ces?a repentinamente, e segue-se uma série
Do começo ao fim do salmo, Davi se confessa o de expressões originais, peculiares e sem dúvida an
servo de Deus (2 a 12). tigas. Na suposição de que o título tem razão em
Ele havia sido derrotado pelo inimigo (2) - uma chamar Davi o autor, isto é muito natural. E qual-
situação imprópria para um servo de Deus, mas nào quer outra presunção é inexplicável, salvo na suposi-
infreqüente. Tais experiências Spurgeon chama ção de que isto seja um fragmento de uma composi-
'desmaios'. Davi quase perdeu a sua vida em um ção mais antiga: um modo de raciocinar pelo qual
destes desmaios, mas foi salvo pelo seu sobrinho qualquer coisa podia ser provada ou desaprovada"
Abisai (2 Sm 21.15-17). Neste salmo ele experimenta (Joseph Addison Alexander).
espiritualmente o que então sofreu fisicamente. Proposta emenda de tradução: no versículo 13
Como foi que teve bom êxito aqui? muda-se "ruas" (Almeida) para "campos" (V.B.).
1) Fez seu apelo á fidelidade e justiça de Deus A figura no versículo 12 "nossas filhas como pe
(1). dras angulares, lavradas como as do palácio", náo o
2) Pediu a graça divina (2). Assim antecipou as muito compreensível. Grant tem "nossas filhas
palavras de Romanos 3.19,20 e reconheceu que por como colunas de canto, esculpidas como as de um
graça somos salvos mediante a fé. palácio". Daniel Cresswell diz: " O s antigos gasta
3) Meditou sobre as obras de Deus (5). Nào sabe- vam muito capricho na ornamentação dos cantos
mos em quais obras de Deus Davi meditou, mas o dos seus palácios. E de notar que os gregos usavam
crente nos seus momentos de desmaio fará bem em pi lastras chamadas Caratides (lavradas segundo a
meditar sobre a obra do Calvário. figura de uma mulher com vestido comprido) para
4) Refugiou-se em Deus. o Deus a quem tinha suportar o entablamento dos seus edifícios". Embo-
ofendido, pois o filho de Deus nunca necessita mais ra alguns comentadores queiram colocar as filhas
de Deus do que quando tem pecado contra Ele, e nos alicerces da casa para sustentá-la. é mais prová-
nunca é tal socorro mais disponível (10,11). vel que devemos entender a figura como tendo o va
lor de enfeite.

Salmo 144 Lamsa traduz o versículo 7: "da mão do ímpio"e


o versículo 12: "que nossas filhas sejam como noives
ricamente adornadas no estilo de templos".
Ação de graças pela proteção de Deus. "Depois
de seis salmos de oraçáo triste na aflição, temos ago- Salmo 145
ra um de louvor e ação de graças pela graciosa res-
posta às súplicas. E também um salmo de interces- A bondade, grandeza e providência de Deus. "Os
sào. seis últimos salmos todos se ocupam com louvor e

-210
Salmos.

adoração. Nenhuma oração se encontra neles (pois N o Brasil, onde muitos nunca viram a neve, pode
oração se ocupa com as nossas necessidades) nem se- ser necessário explicar o versículo 16 ("Ele dá a neve
quer ações de graças (porque isso havia de nos ocu- como lã"), que a neve, caindo nos países frios em vez
par com as nossas bênçãos). Estes salmos ocupam-se de chuva, tem a aparência de flocos de lá ou algodão
exclusivamente com Deus mesmo. Louvam-no por caindo do céu.
aquilo que é. e falam da sua glória. "Ele arroja o seu gelo em migalhas" (v. 17) refe-
Isto é o verdadeiro culto: "Exaltar-te-ei, Deus re-se, naturalmente, a uma chuva de pedras ou gra-
meu, ó Rei". O culto é o transbordo de adoração e nizo.
amor. Assim o salmista exulta em tudo que Deus é
na sua gloriosa pessoa.
1) Grande é Jeová (3), tão grande que a sua gran- Salmo 148
deza é insondável; glorioso em majestade, maravi-
lhoso em suas obras, notável na sua bondade (6). Toda a criação deve louvar ao Senhor. Este sal-
2) Benigno e misericordioso é Jeová (8). Tardio mo começa e acaba com "Aleluia", e entre elas pri-
em irar-se, e de grande clemência. meiro o Céu (1-6) e depois a Teira (7-13) são chama-
3) Bom é Jeová (9): sustenta; levanta (14); satis- dos a louvar ao Senhor, e o versículo 14 é a chave de
faz (16). tudo.
4) Justo é Jeová (17): Benignidade sem justiça é Diz C.H.Spurgeon: "Parece quase impossível ex-
fraqueza, mas a justiça e santidade de Deus estabe- por este salmo detalhadamente, porque um poema
lecem o coração que confia nele. vivo não pode ser analisado versículo por versículo.
5) Perto está o Senhor de todos os que o invocam Ê uma canção da natureza e da graça divina. Como
(18); mais perto do que o amigo intimo. um relâmpago brilha através do espaço e envolve os
çéus e a terra num vestimento de glória, assim a ado-
Salmo 146 ração do Senhor neste salmo ilumina todo o univer-
so, e o faz brilhar com louvor radiante. A canção co-
O verdadeiro objeto de confiança. Os últimos cin- meça nos céus, desce às profundezas, e entáo sobe
co salmos sáo de "Aleluia". Com essa nota, o 146 co- novamente, até que as pessoas chegadas a Jeová to-
meça e acaba; o 147 começa; o 148 começa e acaba; o mam parte na canção. Para a sua exposição, a prin-
149 acaba, e o 150 começa e acaba. Este último gru- cipal necessidade é um coração ardendo com reve-
po é um Pentateuco de Louvor, e o salmo 145 é uma rente amor ao Senhor, que é sobre tudo o que é ben-
boa introdução ao grupo. dito para sempre".
"Aqui o salmista louva a Deus, não tanto pelo Podemos reconhecer a diversidade de interesses
que é, como no salmo anterior, mas pelo que faz. entre "reis da terra, príncipes, juizes, mancebos,
Conta nove coisas: Ele guarda a verdade; faz justiça; donzelas, velho6 e crianças; e contudo podemos acre-
dá pão aos famintos; solta os encarcerados; abre os ditar que todos eles têm uma coisa em comum: todos
olhos aos cegos; levanta os abatidos; preserva os pe- têm motivo de "louvar a Jeová". E quanto mais
regrinos; ampara o órfão e a viúva; transtorna o ca- "chegado a E l e " (v. 14) for o povo, mais motivo tem
minho dos perversos". de louvá-lo.

Salmo 147
Salmo 149
A nação favorecida. "Ele não tem procedido as-
sim com [owfraj nação alguma" (20), por isso Is- Os fiéis louvam o seu Deus com cânticos. Louvor
rael é chamado para louvar ao Senhor, sendo ele o na boca (l-6a) e uma espada na mão (6b-9). Isto su-
objeto de tamanha e especial graça. gere que o louvor precisa ser acompanhado da justi-
" E possível que este salmo tenha sido composto ça. Onde o pecado reina, o louvor cessará. O gozo do
para a Festa de Dedicação dos muros de Jerusalém, crente somente pode nascer de um coração puro. i
celebrada por Neemias ( N e 12.27-43). Combinam-se " O sentimento dos versículos 6-9 náo é do Novo
neste salmo a especial bondade de Deus a Israel com Testamento, mas a moralidade deste salmo não deve
a sua beneficência manifestada na natureza e seu go- ser medida pela medida cristã. Náo mais sáo nossas
verno moral do mundo. armas carnais (2 Co 10.4). A grande verdade que este
salmo ensina é que, embora o pecador sofra, o santo
" O salmo tem três partes (1-6; 7-11; 12-20), e
canta" (Scroggie).
cada uma com mais uma chamada de louvor.
"Este salmo celebra o Deus de Israel: o que Ele "Nos seus leitos cantam de júbilo" (v.5). Os in- |
tem feito; o que faz, e o que pode fazer" (Andrew Bo- válidos e doentes também podem louvar a Deus,
nar). mas não as pessoas dormindo nas suas camas.

Quando lemos no versículo 10 que Deus "não se Salmo 150


compraz na força do cavalo, nem se deleita nas per-
nas dos homens", devemos entender que isso era a A nota final. O louvor de Deus pode ser, segundo
maneira poética de o salmista dizer que Deus não é Goodman:
um rei mundano, que acha a sua satisfação na sua 1) N o santuário (1) ou lugar santo. Isto sugere
cavalaria ou na sua infantaria (R,54). que devemos reunir-nos com o povo de Deus para o
Alguém pode querer saber o pensamento do sal- serviço coletivo.
mista quando diz: "A sua palavra corre mui veloz- 2) N o firmamento, obra do seu poder. Que os
mente". Não podemos responder à pergunta. Para céus ecoem com os nossos cânticos de louvor!
nós pode ter algum sentido em relação ao trabalho 3) Pelos seus poderosos atos - lembremo-nos de
das Sociedades Bíblicas. tudo quanto Deus tem feito!

-211
SflJmw

4) Conforme a abundância da sua grandeza.


mem é mentiroso", do Salmo 116.11, sugeriu ao a-
5) Ao som da trombeta - que haja um testemu-
nho alto e claro! postolo o que se lê em Romanos 3.4. E o mesmo se
pode dizer das palavras do Salmo 118.18, "o Senhor
6) Com saltério e com harpa - também com uma me castigou mas náo me entregou à morte" (vede 2
toada mais suave.
Corintios 6.9); das do Salmo 119.32. "o coraçáo lar-
7) Com adufe e com dança - abandonando-nos go (vede 2 Corintios 6.11); e das do Salmo 125 5
num gozo santo.
Paz sobre Israel" (vede Gálatas 6.16). O apelo "tem
8) Com instrumentos de corda e com flautas - um compaixão de nós" do Salmo 123.3, ocorre em mui-
coro de harmonia e louvor.
tos lugares do Novo Testamento; e a frase "novo
9) Com cimbaios sonoros - acompanhando os ou- cântico", do Salmo 144.9, pode-se ver também em
tros instrumentos.
Apoca ipse 5.9. E verdade que alguns destes lugares
10) Com címbaloe retumbantes - acrescentando paralelos podem sé-lo por mera coincidência, mas o
uma nota alegre.
numero deles parece mostrar quanto era estimada
Nesta explicação dos salmos, consegui, em parte dos autores inspirados a leitura dos salmos.
o meu propósito de proporcionar aos leitores brasilei-
Há também muitas citações declaradas sob a fór-
ros alguma ooísa do rico ensino dos grandes exposito-
mula geral "está escrito". Aquela série de passagens
res do Saltério, matéria até agora nunca traduzida
em Romanos 3.10-18. fazendo conhecer a maldade
para a língua portuguesa.
da humanidade, é. na sua maior parte, tirada dos
Mas a dificuldade tem sido fazer a escolha (entre Salmos. (Vede Salmo 14.1-3. etc.) "A sua linha se es-
tamanha abundância de matéria» de tudo quanto tende por toda a parte" (SI 19.4), se lê com uma pe-
seja mais interessante e mais edificante. O livro de quena modificação (som em vez de linha) em Roma-
F.W. Grant sobre os Salmos tem mais de 500 pági- nos 10.18, referindo-se o apóstolo á difusáo da pala-
nas. Os sete volumes de C.H.Spurgeon tém milhares vra do Evangelho.
de paginas. Os escritos de Graham Scroggie e Geo
Goodman abundam em ensinos preciosos e práticos Outros exemplos se apresentam ainda, seirundo
Angus:
e dessa abundância tem sido possível colher somente
uma pequena parte. SI 8.2, "meninos e criancinhas de peito" ( M t 21.16).
SI 24.1, " a terra e a sua plenitude" (1 Co
O Saltério é o hinário de Israel, e durante os tem
10.26,26.29).
pos histórico® tem nutrido a piedade do povo de
Deus em todas as circunstâncias e condições da vida SI 32.1,2, "transgressão perdoada" (Rm 4.6-8).
Nos salmos, os tristes tém encontrado consolação os SI 34.12-16, "condições de vida próspera" (1 Pe 3.10-
desanimados, coragem; os contritos, perdão; os pie
dosos, um tema digno de seus louvores mas nin- SI 37.11, "os mansos herdarão a terra" (Mt 5.5).
guém tem encontrado neles o Evangelho de Jesus SI 44.22, "somos entregues á morte cada dia" (Rm
Cristo, nem essa intimidade espiritual com o Pai e o 8.36).
hilho que no Novo Testamento é chamada "a vida SI 51.4-6, "Deus justificado perante os homens" (Rm
3.4).
eterna '. Por isso devemos recear que uma piedade
nutrida exclusivamente nos salmos possa carecer SI 78.2, • abrirei a minha boca em parábolas" ( M t
das feições essencialmente cristãs que devem carac- 13.35).
terizar aqueles que tém achado a sua maior bénçáo SI 82.6, "eu disse: sois deuses" (Jo 10.34).
em Cristo. SI 86.9,10. "todas as nações virão e adorarão" (Ap
15.4).
SI 89.20, "achei a Davi, meu servo" (At 13.22).
R E F E R E N C I A S N O N O V O T E S T A M E N T O AOS SI 90.4, "mil anos como o dia de ontem" (2 Pe 3.8).
SI 91.11,12, "sobre a proteção dos anjos" ( M t 4 6*
SALMOS mal aplicada por Satanás).
SI 94.11, " o Senhor conhece os pensamentos dos ho-
Os escritores do Novo Testamento mostram que mens" (1 Co 3.20).
estavam familiarizados com os salmos, náo só por-
que os citam diretamente, mas também porque em- SI 95.7, "se ouvirdes hoje a sua voz" (Hb 3.7 e 4.7).
pregam freqüentemente a sua fraseologia Eis os se- SI 102.26,27, "Criador da terra e dos céus" ( H b 1.10-
guintes exemplos: A-W.
SI 104.4, "anjos e ministros de Deus" (Hb 1.7>.
Em Efésios 4.26 as palavras "irai-vos, mas não SI 109.8, "que outro tome o seu bispado" (At 1 20)
pequeis" são tiradas do Salmo 4.4, segundo a versão SI 112.9, "os bens de Deus" (2 Co 9.9).
dos L X X , pois que o original hebraico diz: "Perma- SI 116.10. "cri, por isso falei" (2 Co 4.13).
necei em temor c não pequeis". No Salmo 34.8 a fra- SI 117.1, "sobre o louvor de todas as nações" (Rm
se 'provai e vede" vem citada em 1 Pedro 2.3 E do 15.11).
Salmo 39.1 as palavras "um freio na boca"aparecem
SI 118.6, " o Senhor está comigo" (Hb 13 6)
também em Tiago 1.26. A "força de salvação" dos
SL 118.25.26. "Hosana" (Mt 21.9,15). '
Salmos 18.2 e 132.17 é uma figura que se encontra no
cântico de Zacarias (Lc 1.69). Aquele pensamento do " P e r a n t « D®"» não há justo" (Rm 3.20 e
(jI 2.16).
Salmo 46.4 "a cidade de Deus", reaparece em muitas
passagens bem conhecidas no Novo Testamento. I- Diversas passagens dos salmos referem-se dum
gualmente aqui se lêem as frases "o livro dos vivos" modo especial a Cristo, isto é. á sua pessoa, aos seus
do salmo 62.28; "o tabernáculo de Deus entre os ho- sofrimentos e ao seu reino. Essas passagens sáo de
mens". do Salmo 78.60; e "lança a tua carga sobre o duas espécies: Uns salmos, oe que encerram estes
òenhor . Salmo 55.22 e 1 Pedro 5.7. A frase do Sal- textos, são distintamente messiânicos, proféticos no
mo 107.9 "encheu-se de bondade a alma faminta" é mais alto sentido; outros referem-se a personagem e
reproduzida em Lucas 1.58. Esta idéia "todo o ho- a acontecimento® do tempo em que foram publica-
dos. personagens e acontecimentos esses, que prefi-

'212
Salmos.

guravam Cristo e a sua redenção, e cuja significação SI 31.5: Jesus entrega o seu espírito a Deus (Lc
profunda os próprios autores inspirados desconhe- 23.46).
ciam. (Veja-se 1 Pedro 1.11,12.) SI 35.19: odiado sem causa (Jo 15.25).
SI 40.6: encamaçào, obediência e sacrifício ( H b
SI 2. Salmo messiânico: prediz as conquistas e a so- 10.5-10).
berania do Filho de Deus, sendo citadas muitas SI 41.9: o traidor entre os seus amigos (.Jo 13.18).
vezes as palavras proféticas no Novo Testamento, SI 45.6, Salmo messiânico: o trono eterno do Filho
em Atos 4.25, e 13.53. Hebreus 1.5 e 5.5, Apocalip- (Hb 1.8,9).
se 2.26.27. 12.5. Na primeira dessas passagens a SI 68.18: a sua descida e a sua ascensão (Ef 4.8).
profecia é atribuída pelos apóstolos a Davi. SI 69.9: zelo pela casa de seu Pai (Jo 2.17).
SI 8.5,7: o homem, como senhor da criação, é um SI 69.21-25: Cristo e os seus inimigos ( M t 23.37,38;
ideal que tem a sua única realização em Cristo 27.14,48; Rm 11.9,10).
( H b 2.5-9). SI 110, Salmo messiânico: atribuído pelo próprio
Cristo a Davi; Cristo o Conquistador, o Rei-
SI 16. A este salmo, sobre a ressurreição do Santo, sacerdote ( M t 22.43 e seg., At 2.34, 1 Co 15.25, Hb
referem-se Pedro em Atos 2.27 e Paulo em 13.35. 1.13, e 5.6. e 7.17).
SI 22.7.8.18: a vítima inocente ( M t 27.35,39-48). SI 118.22,23: a pedra que os edificadores rejeitaram
SI 22.22: tetemunho do Salvador para com a sua ( M t 21.42, etc., e Ef 2.20).
própria obra ( H b 2.11,12). SI 132.11: o herdeiro no trono de Davi (At 2.30).

-213
dProvérbios

sta m l f c A " de provérbios 'Us olhos que zombam do pai, ou desprezam a


é a sabedoria divina apli- obediência da mãe,
cada ás condições terres- corvos do ribeiro os arrancarão, e os pintáos da á-
tres do »V*> de IVUK. guia os comerão'.
Que provérbios loram "Todas as formas ac descobrem no corpo do livro
colecionados por Salomão é confirmado ( 1 1 . Ec (caps. 10 a 22.16). A antitética prevalece nos capítu-
12.9L O-^capitulos 25 a 29 loram reunidos nos tem- los 10 a 15 e a sintética e a sinônima nos capítulos 16
pos de Ezequias (25.1). Os capitulo» 30 e 31 o foram a 22.16".
|H»r Agijr e Lemuel (ou a mãe de lemuel). Os provérbios biblicos têm sido chamados "as
" O livro está dividido em seis partes: 11 Ao* fi- lei» do Céu para a vida na Terra", e como isto é ver-
lho). 11 u 7). 2) O louvor da sabedoria ( 8 , 9 1 . A Imi dadeiro pode ser provado por claaaificá-loa • reduzir
cura do pecado (|l> * 19). 4i Advertências e instru- cada grupo aos seus fatos essenciais.
ções »2l) a 29). -r») As palavras de Agur (30). 61 As pa- Alguns dos assuntos tratados são orgulho, amiza-
ivra* do rei Lemuel (31)" (Sco/teldj. de, inveja, ira, disciplina, pobreza, preguiça, intem-
pe rança. riqueza, generosidade, estultícia, sabedo-
A M E N S A G E M DE P R O V É R B I O S ria, piedade, embriaguez, pureza, contenda, mentira
e gula. Üeve-Be fazer uma lista alfabética destes e
A mensagem é assim apresentada por Scroggie: outros assuntos e notar o que se diz de cada ura para
" N ã o se pode dizer que este livro se nos apresenta tirar o maior proveito da leitura do livro.
com qualquer unidade de mensagem, sendo tão frag-
mentado no seu estilo Seu escopo e poder »e des- Capitulo 1
cobrem maiormente no estudo das suas partes sepa-
radas. Nos» provérbios, grandes princípios estão in- Na maior parte, o ensino dos Provérbios é tão cla-
corporados numa forma compacta e impressiva. que, ro, positivo e evidente que não necessita de expbca-
'cumo uma turquês, segura a verdade entre as extre- ção. Por isso nosso trabalho será mais resumido, e
midades opostas da antítese*. pode ocupar-se com algumas considerações em cada
" O s provérbios hebraicos, como a poesia hebrai- capitulo que nascem dos bons conselhos que o livro
ca. têm uma eM rutura toda sua. que é preciso discer- dá, e que não sejam evidentes e superficiais. Em vez
nir para bem entender a sua significação. Essa estru- de colher as belas flores da verdade que abundam na
tura, como o bispo Luu.th tem demonstrado, é paru- superfície da Palavra, podemos obedecer ao ensino
:vh»tica, e pode ser dividida em três classes: de Provérbios 2.4 e minar sob a superfície, à procura
a) Paralelismo sinônimo, em que as palavras e li- de "tesouros escondidos".
nhas correspondem, como por exemplo, em 18.15: Assim, não noa vamos deter com o sentido tão
'O coração do inteligente adquire conhecimento, evidente em Provérbios 1.8, que o filho deve "ouvira
e o ouvido dos sábios busca a ciência'. instrução de seu pai, e não abandonar o ensino de
b ) Paralelismo antitêtico, em que as palavras e sua mãe", mas vamos olhar com bastante atenção
linhas estão contrastadas, como em 27.6: para uma coisa que esse versículo apenas sugere: que
'Fieis são as feridas feitas pelo que ama. MAS os pais devem instruir seus filhos espiritualmente.
os beijos do que aborrece sáo enganosos'. Embora o versículo náo diga isto, é evidentemen-
c) Paralelismo sintético, em que a forma de vá- te compreensível, e bem pode ser coisa muito neces-
rias proposições é semelhante, como em 30.17: sária de ser frisada.

'215
'Provérbios

Entre todos os pais crentes, quantos há que sa- 3) Terás "conhecimento e entendimento" (6), os
bem dar instruções espirituais aos filhos? dois ingredientes da verdadeira sabedoria.
O bom pai zela pelo corpo de seu filbo. e cuida 4) Serás "guardado" (7.8) dos assaltos espiri-
que seja bem alimentado e exercitado, para que seja tuais, como por um escudo.
conservado com saúde, vigor e asseio. Ele zela pela 5) "Entenderás a justiça, o juízo e a eqüidade"
mente de seu filho, para que seja instruída com tudo (9), ou, em outras palavras, serás um homem discre-
o que é necessário para um bom desenvolvimento in- to e entendido, como foram José, Davi e DanieL
telectual. E. além disso, zela pelo espírito do filho, e 6) "A ciência agradará a tua alma" (10). Todo o
procura guiar os seus pensamentos para o conheci- conhecimento de valor custa adquirir-se. mas depois
mento de Deus. dá prazer. Assim é com a piedade, a divina sabedo-
Para poder dar instrução espiritual, os pais preci- ria. O crente experimentado anda no caminho da
sam de simpatia, sabedoria, paciência, amor, discer- santidade com satisfação e prazer.
nimento, inteligência. Devem saber como revestir as 7) Serás guardado "das sendas da morte" (18),
coisas espirituais de um certo encanto que as torne do "caminho do Seol" (7.27), que os convidados da
atrativas a crianças. As crianças gostam de cantar "mulher estranha" tomam, para nunca mais volta-
hinos, por isso pode sempre haver algum hino, esco- rem (19).
lhido por elas mesmas, no culto doméstico. Mas náo
basta apenas cantar o hino - duas ou três palavras Capitulo 3
simpáticas, sobre o sentido de alguma frase no hino,
podem estimular um bem importante sentimento es- O segredo de uma vida bem sucedida. Continua m
piritual. instrução à mocidade. "Longura de dias. epaz", sáo
A criança será ensinada pela máe a fazer oração a recompensa da sabedoria. Indicações úteis para o
logo que saiba falar, e, pouco a pouco, guiada a com- moço que deseja uma vida abençoada:
preender a preciosidade de poder falar com Deus. 1) Atender á Palavra de Deus (1). "Minha instru-
Quando atingir a idade de fazer oração sozinha, será ção", "meus mandamentos", devem ser a base de
guiada nisso, e encorajada a apresentar a Deus as todo o procedimento sábio. Quem é governado pela
suas dificuldades ou desejos. Palavra de Deus mostra a verdadeira sabedoris.
Ser-lhe-á permitido ir à reunião da igreja cada 2) "A benignidade e a verdade " náo devem ser
domingo, no caso de ter sido bem-comportada du- esquecidas (3). Estas qualidades sáo perfeitamente
rante a semana. Assim, desde pequena aprenderá equilibradas no caráter de Deus, porque Deus é luz,
que freqüentar os cultos é um privilégio e náo um in- e Deus é amor.
cômodo. 3) "A confiança no Senhor deve tomar o lugar da
Cuidado para não fazer um castigo das coisas de confiança em si (5). Às vezes um homem é seu pró-
Deus, mandando a criança decorar um capitulo da prio maior inimigo e seu próprio pior conselheiro.
Bíblia por ter sido desobediente. Tal coisa seria se- 4) "Honra a Jeová com tua fazenda" (9). A con-
melhante ao uso do padre, que manda o penitente tribuição é o caminha para a prosperidade (10).
rezar seis padre-nossos como castigo. Devemos ensi- 5) Lembra-te de que o pai castiga cada filho para
nar às crianças bem cedo que falar com Deus é um seu proveito (11). Este trecho é citado e explicado
privilégio, e não uma penitência. em Hebreus 12.5-13. A expressão "o filho no qual se
Nos versículos 20-23, a sabedoria admoesta os es- deleita' (12). garante que a correção será branda e
túpidos e, em linguagem altamente poética, zomba eficaz.
da calamidade deles. As vezes um pouco de zomba- Graças para o» humildes (19-35). Neste trecho
ria fornece o estimulante que o estudante preguiçoso somos instruídos por uma porção de proibições. De-
necessita. Mas a sabedoria que aqui exorta os loucos vemos:
é uma sabedoria espiritual, e que procura salvá-los 1) NÃO deixar que a sabedoria e a discrição se
da loucura do pecado. Para nós a sabedoria que hoje apartem de nós (21). E fácil a qualquer um perder o
clama nas praças pode ser a pregação do Evangelho seu caráter: basta um pouco de loucura, e o prejuízo
ao ar livre. O crente confessa que Cristo é a sabedo- permanece por muito tempo.
ria espiritual (1 Co 1.30». 2) N A O ser medroso (25). Que o Senhor seja a
nossa confiança! O medo influi muito, especialmen-
Capitulo 2 te com os velhos (Ec 12.5).
3) NÃO adiar o fazer bem (27). Boas intenções
A procura da sabedoria. Embora a sabedoria cla- náo bastam. £ preciso agir.
me aos simples (1.20-22), prometendo derramar seu 4) NÁO maquinar o mal (29). Nosso próximo
espirito sobre todos os que querem ouvir (1.24), con- deve poder contar com a nossa simpatia e não com
tudo, ela, por sua vez. precisa ser procurada. O ouvi- nossos maus feitos.
do deve ser inclinado e o coração aplicado (v. 2); 5) N A O contender í 30). Brigar é um pecado mui
deve-se buscar a sabedoria como a prata e os tesou- comum, e é geralmente sem desculpa.
ros escondidos. 6) N À O ter inveja do homem violento (31). O
perverso é abominação ao Senhor.
Segundo Goodman as recompensas de procurar e
achar a sabedoria são sétuplas: Capitulo 4
1) "Entendcrás o temor de Jeová" (5). Os primei-
ros discípulos andaram "no temor do Senhor e no Sabedoria, a coisa principal (v. 7). Parece que
conforto do Espirito Santo" ( A t 9.31). aqui temos um pedaço do ensino de Davi ao seu filho
2) "Acharás o conhecimento de Deus" (5). Co- Salomão (v. 4). Gostaríamos de ouvir qual o ensino
nhecer a Deus revelado em Cristo é a ambição do espiritual que cada pai crente dá aos seus meninos.
crente. Entre outras coisas. Davi disse ao menino Salomão:

216
'Provérbios

"A sabedoria é a coita principal. portanto adquire a nos moços os ideais de pureza e santidade. Certa-
sabedoria!" mente o contraste evidente entre a prostituta de ros-
A sabedoria consiste no bom uso dos conheci- to pintado e as irmãs enfeitadas com a graça de uma
mentos. Por isso eia exalta um homem, traz-lhe hon- vida casta, há de impressionar bastante qualquer
ra (8) e é uma grinalda de graça para a sua cabeça moço sensato.
(9): "ser sábio para a salvação" (2 T m 3.15). Isto
chama-se também ser "sábio em Cristo" (1 Co 4.10). Capitulo 8
Em Tiago 3.17 lemos da sabedoria lá do alto: pura,
pacifica, moderada, reconciliavel, misericordiosa, .4 excelência da sabedoria Este é o grande capi-
etc. tulo da Sabedoria, que antes de acabar parece quase
Os netos de Davi. que primeiro ouviram este en- identificar a Sabedoria com Cristo. Notemos alguma
sino (v. 1), antes de tudo ser escrito no livro de Pro- coisa que a Sabedoria faz:
vérbios. deviam ter tirado bastante proveito. Con- 1) Clama e convida O sábio náo tem a sabedoria
tudo, o neto que nó» conhecemos melhor - Keoboáo somente para si. Ele se preocupa com os outros. Re-
parece ter prestado pouca atenção ao ensino. conhece que tem uma mensagem para todos que ca-
Neste capitulo, a vida espiritual apresenta-se recem de sabedoria. Consegue fazer-se ouvir. Testifi-
como uma carreira no caminho da sabedoria (11). ca "junto a<> caminho", onde a multidão passa.
pelas "veredas da retidão", onde o filho é exortado a 2) Dirige-se aos simples. estúpidos, loucos. Tem
andar. Ali ele anda e corre, com o cuidado de náo se uma mensagem boa. urgente, necessária para eles.
desviar pelas "veredas do perverso". Tem bastante amor por eles para querer ganhar a
Porventura é Davi que fala do versículo 20 em sua atenção.
diante? N á o nos parece. Mas se é Salomão, podemos 3) Fala coisas reta* e verdadeiras (6,7). Nào usa
refletir que seus filhos talvez prestassem mais aten- enganos, sutilezas, enredos, mas traz uma mensa-
ção ao exemplo dele do que ás suas palavras. E pode gem clara e urgente.
dar-se hoje a mesma coisa com o leitor. 4) Vale mais do que a prata (10). Fazer estudo in-
teressante considerando a sabedoria como a verda-
Capitulo 5 deira riqueza.
5) Tem companheints (11.12): mora junto com a
Reprovando a prostituição. Neste capítulo, o pai prudência, o conhecimento e a discrição.
aconselha o filho sobre a castidade: um ensino que 6) Capacita (quem a tem» a governar os outros,
muitos pais crentes nunca têm dado com sabedoria e como rei. príncipe, patrão, etc.
simpatia a seus filhos moços. e. por isso, têm descui- 7) Tem valor reciproco: "Eu amo aos que me
dado de um dos seus mais sagrados deveres. Para tal amam" (17).
conselho ser útil aos filhos, precisa haver, da parte Desde 8.22 em diante a Sabedoria personificada é
do pai, inteligência, simpatia, espiritualidade, dis- muito parecida com Cristo. Uma diferença que nota-
cernimento. conhecimento do assunto, franqueza e mos é que era 8.30 a Sabedoria está junto cora o
sabedoria em referir á sua própria experiência • uma Criador, mas no N.T. Cristo mesmo é Criador (Jo
vida exemplar que conquista a admiração e respeito 1.3).
dos filhos. Quando o pai se sente inteiramente in-
competente para aconselhar o» filhos a este respeito, Capitulo 9
ele pode, em último recurso, recorrer a alguns livros
que dão ensinos sensatos sobre o assunto. No começo deste capitulo, a Sabedoria faz um
banquete: tem um sentimento social, e quer dar pra-
Capítulo* 6 e 7 zer e satisfação a outros.
O capitulo fala também do escamecedor e per-
O fiador. o preguiçoso, e a "mulher má". Lemos verso. e, no fim. da "mulher louca". Quem é estúpi-
em Provérbios 11.15: "aquele que teme ficar por fia- do e desprovido de entendimento escuta o convite da
dor, está seguro". Devemos entender que ser fiador é prostituta.
uma coisa proibida na Palavra: e, no caso de parecer
absolutamente necessário (como, por exemplo, Capítulo 10
quando um amigo não pode alugar uma casa sem ter
fiador), devemos pôr á parte a importância da fiança Virtudes e vícios. Desde o capítulo 10 ao 19 a pa-
e náo mexer nela por motivo algum. Nem pode o lavra "mas" é freqüente; quer dizer, o ensino é por
crente honrado ser fiador de uma quantia cuja perda meio de contrastes. Isto é o "Paralelismo antitético".
viria a prejudicar a sua própria família. Estes também sáo chamados provérbios de Salo-
O preguiçoso é reprovado por ser uma pessoa sem mão. Lemos em Eclesiastes 12.9 que o pregador
sabedoria, sem a inteligência de um inseto (6), mais "meditou, esquadrmivju e pôs em ordem muitos pro-
amigo de dormir do que de trabalhar, e que breve- vérbios ", e entendemos que alguns deles estão nesses
mente chegará à indigência. Do versículo 12 ao 19 o capítulos.
moço é advertido contra o 'homem vil", que tem pra- Geo. Goodman faz uma porção de perguntas
zer no pecado. sobre os primeiros catorze versículos deste capítulo,
Mais uma vez o filho é aconselhado contra a pros- assim:
tituta, e podemos notar que o primeiro apelo é à ins- Que alegra um pai? Que causa tristeza à mie?
trução e exemplo dos pais. (1).
E certo que a vida santa e nobre dos pais terá De que a justiça livra o homem? (2).
uma poderosa influência sobre seus filhos. Até pode- Que acontece àquele que tem a mão reraissa? (4).
mos ir mais adiante, e acreditar que a serena pieda- Qual é o filho que faz envergonhar? (5).
de das próprias irmãs terá algum valor em conservar Que é que cobre a boca dos perversos? (6).

217
Qual a diferença entre a memória do justo e a do v.4 o matrimônio pode ser para o bem ou para o
perverso? (7). mal: um marido pode ter uma coroa que não compe-
Que acontecerá aos sensatos de lábios? (8). te ao solteiro - ou. pelo contrário, pode sofrer intimas
Quem anda seguro? (9). amarguras que seus semelhantes náo percebem.
Que resulta de piscar os olhos? (10). v. 10: o justo cuida bem do seu cavalo ou cachor-
Com que é semelhante a boca do justo? (1). ro: o mau trato dos animais é uma perversidade.
Que é que excita contendas? (12). Há muita coisa neste capitulo sobre a boca hu-
Que é que a caridade cobre? (12). mana nos versículos 6.14,17,18,19,22,23,25.
Para quem é a vara? (13).
Os sábios enteaouram o qué? (14). Capitulo 13
A boca do insensato está perto de qué? (14).
"O filho sábio ouve a instrução de seu pai" (1),
A segunda metade do capítulo é rica em outros
mas se o pai se descuida de instruí-lo, ele náo pode
ensinos sensatos referente» à boca.
ouvir nada. e em pouco tempo chegará a ser ura filho
sem instrução.
Capitulo 11
O v 3 ensina que o falar muito não convém. Diz
Diversas pessoas. Entre as muitas pessoas referi- Matthew Henry: " U m a guarda nos lábios é uma
das neste capitulo podemos notar: guarda na alma: quem é cauteloso - quem pensa
O justo, em quem Deus tem muito prazer, porque duas vezes antes de falar uma vez - isto é. se tem
Cristo era justo, e seus discípulo» desejam ser seme- pensado o mal. põe a má o na boca para náo dizé-lo,
lhantes a Ele (1 Jo 3.2) Este justo é libertado da an- que refreia a sua boca. esse guarda-se de culpas e
gústia (8): deseja somente o bem (23); reverdecerá tristezas".
como a folhagem (28); seu fruto é a árvore da vida, e O v 7 dá-nos ocasião para estudar em que consis-
ele ganha almas (30). te a verdadeira riqueza e a pobreza.
O iníquo é contrastado com ele. Esse "cai pela O v. 10 afirma que quem é humilde não vai con-
sua perversidade" (5): é apanhado nos seus desejos tender com ninguém.
(6); morrendo, perece a sua expectativa (7); quando O v. 11 pode ter porventura alguma aplicação aos
ele perece, há júbilo (10); "ganha paga ilusiva" (18); prêmios da loteria?
é uma a bom inação ao Senhor (20); não escapará ao A que " p a l a v r a " se refere o versículo 13?
castigo (21); e somente pode esperar a indignação O v. 15 diz que "o caminho dos prevaricadores é
(23). escabroso".
O hipócrita, que com a sua boca destrói o seu vi- O c. 18 faz-nos lembrar mais uma vez do valor da
zinho (9). correção.
O mexeriqueiro. que revela os segredos dos outros Do v. 20, diz Matthew Henry: " O s que desejam
<13). ser bons. devem associar-se com os bons. o que é
Depois vem algumas pessoas mais nobres: uma evidência de que querem ser bons (o caráter do
A mulher graciosa, que retém a honra (16). homem é conhecido pela companhia que ele tem): e
O homem benigno, que faz bem à própria alma isso será um meio de os tomar bons. de lhes mostrar
(17). o caminho, e encorajá-los nele".
A alma liberal, que prospera (25); enquanto ele O v. 24 "Aquele que poupa a vara, aborrece a seu
rega os outros. Deus o rega também, e o povo o aben- filho". Uma criança náo corrigida chega a ser um
çoa (26). aborrecimento para os pais, e, mais tarde, será um
O que ganha almas, é sábio (30). Finalmente po- homem malcriado. Mas a " v a r a " nem sempre preci-
demos contemplar: sa ser de pau. ou couro. O castigo que Deus costuma
O fiador (15). esse que assume a responsabilidade empregar com os filhos desobedientes é a falta de co-
dos outros, como fez nosso Senhor. E Ele sofreu por munhão, mas para isso ser eficaz a comunhão com os
isso. pais precisa ser uma coisa bastante apreciável.
" E m 1 Pedro 4.18. temos Provérbios 11.31 citado
de acordo com a versão grega dos L X X " (Scroggie). Capitulo 14
Porventura devemos incluir a tradução dos L X X en-
tre "a escritura dada por inspiração divina"? Aprendemos do versículo 1 que a prosperidade do
lar depende de a mulher ser sábia. N o caso de ela aer
Capítulo 12 insensata ou vaidosa, a harmonia doméstica será
destruída.
Os provérbios que se seguem merecem ser atendi- "Pela força do boi hd abundância" (4), e não so-
dos, mas náo precisam ser explicados, pois o seu sen- mente podemos valer-nos da força dos bois, mas de
tido é evidente. Contudo podemos notar os seguintes outros recursos naturais que estejam à nossa disposi-
ensinos: ção: força de água. força elétrica, etc. O homem sen-
o . l : podemos conhecer o caráter de uma pessoa, sato aprende a economizar as suas forças próprias, e
por ver como reage á correção. Há gente que náo aluga o auxíüo de que necessita.
pode ser admoestada Fica logo ofendida. É claro "O cscarnecedor busca a sabedoria e não a acha "
que tais pessoas pouco podem aprender, porque náo (6). Nada podemos aprender sem um espirito de
querem ser instruídas. Mas ninguém nasce sabendo discípulo. Muitos interrogaram a Jesus, mas sem o
tudo, por isso nós todos precisamos ser ensinados ou verdadeiro desejo de aprender, por isso "não acha-
corrigidos em alguma coisa, material ou moral. ram nada".
v.3: a perversidade não dá permanência ao mal- Quem quiser aprender de Deus precisa de um
feitor, nem á sua vida física, nem â sua boa fama, espirito dócil.
nem à sua família, nem à sua memória. "O rico tem muitos amigos" (20). ou, ao menos.

'218
'Provérbios

muitos que parecem ser amigos por amor do seu di- um famoso provérbio evangélico. Declara como a ini-
nheiro. "O pobre é odiado pelo seu vizinho", mas qüidade se purga, e como os homens podem desviar-
não se o vizinho é simpático, prestativo, serviçal, se do mal.
grato por qualquer auxilio oferecido sem ser pedido. O homem náo pode purgar seu próprio pecado;
".4 estultícia dos loucos não passa de estultícia" náo pode apagar a sua própria culpa. Isso só pode ser
(24). Isso é indiscutível, a não ser que passe a ser feito por aquele que se regozija na misericórdia. Mas
uma coisa criminosa. N o versículo 17 lemos que essa misericórdia há de ser de acordo com a verdade
"quem se encoleriza facilmente fará loucuras", e no e a justiça. Isto foi demonstrado na Cruz. Ali a mise-
29 "quem é tardio em irar-se é grande em entendi- ricórdia e a verdade se encontraram, e a justiça e a
mento". O procedimento mais acertado é o de orar paz se beijaram (SI 85 10).
antes de falar ( N e 2.4).
Entáo. 3endo expurgado e reconciliado, o pecador
"O justo, ainda morrendo, tem esperança" (32), afasta-se do mal (2 T m 2.19). Ele faz isto "no temor
mas havemos de consultar o N . T . para saber qual é a do Senhor", como os primeiros discípulos andaram
esperança do justificado em Cristo. no temor do Senhor e no conforto do Espirito Santo
(At 9.31).
Capitulo 15 O Rei (10-16). Podemos entender que é o Rei di-
vino. o Senhor, que está em mira aqui.
Algumas coisas boas: a) Uma sentença divina está noe seus lábios, e
1) Uma resposta branda. Gente irada sempre fala justiça nos seus juízos (10).
alto. Um homem que sempre dava uma resposta b) Seu trono se estabelece por justiça (12) e os lá-
branda quando provocado, foi interpelado sobre bios justos são o seu prazer (13).
como conseguia fazer isso. Ele respondeu: "Amigo, c) Sua ira é terrível, como mensageiro da morte
nunca permito que ninguém me faça levantar a (14).
voz". O amor de Deus derramado no coraçáo nos ha- d) Seu favor é vida (15), e sua clemência é como a
bilitará a fazer isso. Palavras brandas são como o chuva seródia (Goodman).
bálsamo numa ferida.
2) A língua suave (4) é comparada com uma ár- Nota: Na V. B. há um deplorável erro tipográfico
vore de vida. Será porque as folhas da árvore da vida neste versículo 15: "o seu furor" em vez de "o seu fa-
são para sarar as nações? Certamente palavras sua- vor".
ves são curativas e sadias. Coisas Boas (17.33). A sabedoria é melhor do que
3) A oração dos retos (8), é agradável a Jeová. o ouro (16); por isso se nos apresentam as várias for-
Como isto deve encorajar os que oram sinceramente! mas da sabedoria, para que aprendamos o melhor
4) O coraçáo alegre (13) torna contente o rosto. caminho.
Uma tal pessoa acha motivo de louvor em cada pro- A humildade é melhor do que a soberba (29).
vidência divina, e regozija-se na salvação de Deus e A estrada dos retos (17) é o desviar-se do mal. da
nas riquezas de sua graça. sabedoria e do espirito altivo (18).
5) O pouco com o temor do Senhor (16). O con- A doçura dos lábios (21) deve caracterizar aque-
tentamento serena o espirito (Fp 4.11). les que andam nas estradas do Itei, pois "palavras
Alguns avisos (18-33): agradáveis são como favos de mel " (24). Elas vêm do
a) O homem irascível (18); seu mau gênio excita coração do sábio que "instrui a sua boca, e põe o sa-
rixas; ele perturba a si mesmo e está sempre atribu- bor nos seus lábios" (23).
lado. Um caminho que parece direito, mas acaba na
b) O preguiçoso (19) descuida dos seus deveres. e morte (25). Cuidado com ele. Os que fazem naufrá-
encontra no seu caminho uma sebe de espinhos. gio das suas vidas estão assim enganados. Cada des-
c) O homem insensato (20) despreza a sua màe. crente tem uma boca cheia de argumentos; cada pe-
As máes costumam ter mais sabedoria do que os fi- cador tem cem desculpas. O caminho lhes parece di-
lhos estouvados. reito porque se esquecem de olhar para o espelho di-
d) O homem ganancioso (27) perturba a sua pró- vino para ver a verdade. Eles "fecham os olhos"
pria casa. quando escolhem loucamente seu caminho (30).
e) Aquele que rejeita a correção (32), despreza a Uma coroa de glória são as cãs. quando achadas
sua própria alma, pois quem náo quer ser avisado so- no caminho da justiça. Ê preciso muitos anos para
frerá as conseqüências. produzir um piedoso veterano espiritual.

Capítulo 16 Capitulo 17

"Embora a maioria destes capitulos tenha um Algumas semelhanças notáveis. "Ura bocado de
cara ter de miscelánia. uma leitura cuidadosa pode p&o seco, com tranqüilidade" (1), é melhor do que
revelar o pensamento dominante no trecho. Aqui, uma casa cheia de festins, com rixas. O cristão per-
nos versículos 1-9, lemos muito acerca de "Jeová e a tence àqueles "que estão quietos sobre a terra" (SI
sua graça", e em 10-16 o assunto é "o Rei". 35.20 ». Procura viver em paz com todos, e ora no sen-
Notemos o interesse pessoal de Jeová no bem- tido que tenha "uma vida sossegada e tranqüila (1
estar e bênção do seu povo. segundo Goodman T m 2.2). Sua comida náo lhe é tão importante como
a) Em preparar seus corações (1), pesar seus espí- o descanso de coraçáo que gozam esses que cessam
ritos (2) e estabelecer os pensamentos dos que lhe da contenda.
entregam seus caminhos (3). M a s Ele é contra os iní- O crisol para a prata e o forno para o ouro (3) sáo
quos e orgulhosos. A declaração é que o tal "certa- figuras que nos ajudam a entender os caminhos de
mente náo ficará impune" (5). Deus quando Ele prova os corações do seu povo. E a
b) No Evangelho que lhe prega. O versículo 6 é I vi de ira precisa ser podada para dor mais fruto.

219
Uma ursa roubada dos filhos é um objeto desa- te. por isso náo podemos ter certeza do sentido da se-
gradável de encontrar, c o m o é também "o insensato gunda parte do versículo.
quando está louco", ou. talvez, embriagado. "Não te O exemplo da preguiça dado no versículo 24 é.
associes com o homem iracundo" (22.24): e, quanto provavelmente, o limite.
ao tolo. "nào respondas ao louco" (26-4). porque
quanto menos tratar com ele. melhor. Capítulo 20
"Justificar o perverso" (15) o homem bom não o
pode fazer. Se Deus "justifica o ímpio" (Rm 4.5). Algumas pessoas desgraçadas. O bêbado (1).
isso pode ser somente por uma obra expiatória, Ninguém jamais resolveu ser um bêbado, mas mi-
quando o pecador está arrependido e é crente em lhares têm sido enganados pela bebida. Para mais
Cristo 'Goodman). ensino sobre o assunto, consulte-se 23.29-35.
"O coração alegre é um bom remédio" (22) e O preguiçoso (4.13). Deste o livro de Provérbios
substitui vantajosamente uma variedade de inje- fala dezessete vezes, por isso é evidente que o Espiri-
to Santo considera muito este perigo da mocidade. e
ções. Mas convém que a alegria tenha uma origem
de gente mais idosa. Ele é reprovado por covardia
espiritual, para produzir melhor efeito.
(21.25; 26.13); por negligenciar as oportunidades
(12.27): e deveres (20,4): por desperdício (18.9); por
Capítulo 18 indolência (6.6.9); por imaginar-se sábio (26.16).
O homem que se mete em rixas (3). Sobre isto a
Contrastes e comparações. Nào achamos muito Bíblia tem muitos avisos. Em Deuteronômio 2.5 Is-
compreensível o versículo na V. B.: "Quem vive iso- rael é avisado de náo mexer com os filhos de Esaú, ou
lado busca o que deseja". Almeida tem: "Busca seu com os filhos de Amom (19). O caso mais triste é
próprio desejo aquele que se separa". Enquanto o quando o bom rei Josias perdeu a vida por mexer
crente deve viver separado do pecado e do mundo, com o rei do Egito (2 Cr 35.20). O rei Amazias tomou
náo deve separar-se dos seus irmãos em Cristo por prejuízo de igual maneira (2 Rs 14.10). Há outros
causa de diferença de compreensão da verdade. avisos em Provérbios sobre o mesmo assunto, em
Para o justo, "o nome do Senhor é uma torre for- 20.19, 17.14. 26.17.
te" (10). mas para o rico seus bens são "a sua cidade O versículo 27 parece ter sentido bastante oculto.
forte " (11). Certamente Deus é um refúgio melhor do "A glória dos mancebos é a sua força" (29), espe-
que o dinheiro. cialmente quando é bem empregada em serviços
"Antes da ruína, eleva-se o coração do homem " honrosos.
(12). Isto pode dar-se tanto com as nações como com
os indivíduos. Os ditadores que oprimem os povos Capitulo 21
costumam ser orgulhosos.
"O espirito do homem o sustentará na enfermi- 'Todo o caminho do homem parece direito aos
dade" (14). Bastante coragem e confiança em Deus seus olhos, mas Jeová pesa os corações" (2). Deve-
podem conservar sereno na doença o espírito do mos entender que Deus toma sentido nos motivos
crente. das ações.
"O coração do inteligente adquire conhecimen- O versículo 3 ensina que Deus não tem prazer no
to" (15) por toda a vida, ate morrer. Mas a pessoa ritualismo.
sem inteligência diz que náo pode fazer uma coisa O versículo 4. em Almeida, tem: "eaté a lavoura
porque nunca a tem feito. dos ímpios é pecado". A V.B. e algumas outras tra-
"Quem acha uma espttsa, acha o bem " (2), no duções têm: "esta lâmpada dos perversos é pecado",
caso de ela ser boa esposa, e ele digno dela. Este o que é muito diferente, e pouco inteligível. Quando
versículo não contradiz 1 Coríntios 7.27: "Estás des- os tradutores estão em apuros, os expositores não po-
ligado de mulheri não procures mulher", porque é dem ser positivos- Concordemos, pois, que o sentido
possível achar sem procurar. é problemático.
"O pobre fala com súplicas, mas o rico responde O versículo 14 ensina que o suborno, embora nào
com asperezas' (23), especialmente no caso de ser seja próprio dos crentes, tem utilidade mundana.
malcriado. Notemos o mesmo pensamento repetido nos
" H á um amigo que é mais chegado do que um ir- versículos 9 e 19. E licito o pregador repetir o seu ser-
mão" (24). E Salomão dar-lhe-ia o mesmo nome que mão mais de uma vez.
nós? "O sacrifício que os perversos oferecem é abomi-
naçào" ( v . 27), e Deus nem quer que cantem hinos,
Capitulo 19 se seu coração náo concorda com as palavras. Mas
que havemos de pensar do moço que freqüenta a
Mais sabedoria. A precipitação (2) convém evitar casa de oração somente para namorar uma moça?
no falar, no agir. no resolver e, especialmente, no
irar-se. Capitulo 22
"As riquezas multiplicam muito os amigos" (4),
ou ao menos os que se apresentam como amigos - das Verdadeiros valores. Geo. Goodman tem boas pa-
riquezas. "Todos são 'amigos'de quem espalha dádi- lavras explicando o v.6 : "Educa a criança no cami-
vas" ( 6 ) . t u nho em que deve andar e ainda quando velho nào se
"O filho insensato é a calamidade do pai" (13), desviará dele". O sentido do hebraico é "de acordo
especialmente quando o pai reconhece que teve cul- com a sua índole isto é. uma educação adaptada ao
pa pelo fato de não ter criado seu filho na admoesta- caráter individual. A educação deve ser guiar, náo
çáo do Senhor. forçar. Até a correção precisa ser de tal forma que a
Cada tradutor verte o versículo 18 diferentemen- criança a reconheça como justa, merecida e náo ex-

'220
'Provérbios

cessiva. A "admoestaçào do Senhor" precisa ser "O justo cai sete vezes, e se torna a levantar"
adaptada à compreensão da mente da criança. (16). A característica do crente náo é que ele náo cai
As palavras dos sábios (17-29). Este trecho des- no mai. porém que jamais fica em terra. mas. arre-
creve o valor da verdade de Deus: ' as palavras do sá- pendido e confiado em Deus. se levanta.
bio ". "Não te metas com os que gostam de mudanças"
lj A verdade ê suave (18). A vida é serena, quan- (21). e contudo há crentes que mudam de emprego
do governada pela Palavra de Deus. Somente quan- quase todos os meses. A persistência e a permanên-
do a fé tem entrado no seu descanso em Cristo e a cia são qualidades apreciáveis.
sua palavra, é que se entra em paz e satisfação. O valor da sabedoria e do conhecimento. "Estas
2) A verdade tem cabimento nos lábios (18). qualidades devem andar juntas, porque o conheci-
Quando a verdadeira sabedoria enche o coração, re- mento sem a sabedoria ensoberbece a pessoa, en-
velar-se-á por uma conversação agradável. quanto a sabedoria sem o conhecimento fracassa
3) Dá confiança em Jeová < 19). O estudo da Pala- pela ignorância do caso. O homem inteligente estu-
vra de Deus aumenta a nossa confiança nele, pois "a da. e assim aumenta a sua força (5). As duas coisas
fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus". unidas:
4, A verdade revela coisas excelentes (20). Nin- /) Edificam a casa sobre bom fundamento (3). A
guém jamais esgotou os tesouros da Palavra de Deus. casa pode ser o caráter, como em Mateus 7.24,25, a
5) A verdade dá certeza (21). As Escrituras sáo a casa sobre a rocha, e 1 Timóteo 6.19 "um fundamen-
verdade de Deus. e a certeza vem por abraçar as ver- to sólido paro o futuro".
dades nelas reveladas. 2) Enchem as câmaras de riquezas preciosas (4).
6) A verdade capacita uma pessoa para ensinar A mente vem a ser um armazém de tesouros de
os outros (21). " A fim de que em resposta refiras pa- idéias nobres e bons propósitos - pensamentos do
lavras de verdade aos que te enviarem". O conheci- santo e verdadeiro.
mento da verdade abre os lábios: "Cri, por isso fa- 3) Aumentam a força (5). Um homem sábio é for-
lei Lábios mudos muitas vezes resultam de um co- te. física, mental e espiritualmente, pois a sabedoria
raçào ignorante. e o conhecimento promovem essas três partes.
Em verdade, "a sabedoria é melhor do que a for-
Capitulo 23 ça" (Ec 9.16), como aprendemos da parábola do sá-
bio homem pobre que livrou uma cidade (Ec 9.15).
Vários preceitos e diversas admoestações. "Põe 4) São doces como o mel (13,14) pois seu galardão
uma faca d tua garganta" (2). E claro que isso nâo é náo falha".
para ser entendido ao pé da letra, mas seria pena se
toda a sua linguagem poética e enérgica fosse tradu- Capitulo 25
zida em fria prosa.
"Sem dúvida, as riquezas fazem para si asas, Algumas comparações excelentes. Aprendemos
como a águia que voa para o céu " (õ), com a diferen- do versículo 1 que o livro de Provérbios, como nós o
ça. porém, de que as riquezas ficam iníaiivelmente conhecemos, levou muitos anos para chegar á sua
na terra, e muito preocupam oa herdeiros. forma atual. "Os homens de Ezúquias" teriam feito
seu acréscimo dos seguintes capítulos uns 200 anos
Salomão fala outra vez da criança e da vara, e
depois de Salomão. Nào sabemos quando as Pala-
promete: "Se a fustigares com a vara, não há de
vras de Agur (cap. 30) e da mãe do rei Lemuel (cap.
morrer" (13). Mas para aplicar bem a disciplina, o
31) foram agregadas à coleção. Quando os homens de
pai crente necessita dum espirito muito sereno e
Ezequias colecionaram mais estes provérbios de Sa-
bem chegado a Deus. pois se castigar a criança com
lomão. e escreveram o versículo 24 deste capitulo,
raiva, pode morrer o amor que esaa tem por seu pai.
porventura náo notaram que esse já se encontrava
"Filho meu, dá-me o teu coração" (26), mas o co-
mais atrás, em 21.9?
ração náo se ganha por uma ordem. O pai que obtém
o coração dos seus filhos é esse que consegue chegar Este capítulo é rico em notáveis figuras e com-
bem perto deles, entrando nas suas alegrias e triste- parações. Por exemplo:
zas. seus divertimentos e deveres. e que conquista a "Maçãs de ouro em cestos de prata" (11). Tais
admiração dos pequenos pelo seu caráter varonil e sáo as palavras escolhidas, sabiamente apresenta-
cristão. das. Algum expositor tem pensado que a figura é da
O fim do capitulo tem palavras fortes contra a laranjeira, que apresenta suas "laranjas douradas"
mulher estranha e contra o vinho. ao mesmo tempo que as flores - a 'prata".
"Um pendente de ouro" (12i é comparável ao
sábio repreensor" para o ouvido obediente. Admoes-
Capítulo 24 taçào é uma coisa difícil, mas vale seu peso em ouro.
quando ouvida e aceita como deve ser.
"Se enfraqueces no dia da adversidade, mingua- "O frescor da neve no tempo da ceifa" (14).
da é a tua força" (10). E na provação que conhece- Como é uma bebida gelada ao cansado ceifeiro. tal é
mos o valor das pessoas. As tribulações desenvolvem o fiel mensageiro. Ele refresca a alma do seu patrão.
a resistência, a coragem, o recurso, a dependência, a "Nuvens e vento sem chuva" (14). Falatório sem
esperança de Deus. a experiência da proteção divina, verdade: pregador eloqüente sem assunto digno.
a vitória sobre o mal. "A língua suave que quebranta os ossos" (15). A
"São retribuirá ele a cada um segundo as suas bondade persistente, e as palavras suaves prevale-
obras?" (12). Esta e uma escritura que tem sentido cem afinal, e acabam com a oposição. (Veja-se 15.1.)
em todos os tempos, e tem aplicação a todas as pes- "Malho, espada e frecha aguda" (18) sáo as figu-
soas. Podemos considerar em que medida o fato pode ras da falsa testemunha, do maldizente, do mexeri-
ser modificado pelo Evangelho de Deus. queiro.

221
Trouerbios

"Dente quebrado e pé desconjuntado" (19) figu- Capitulo 28


ram a confiança errada numa pessoa indigna.
"Vinagre sobre salitre" (20) é semelhança de Vários provérbios antitéticos. "Muitos dos pro-
quem canta ao coração triste: vérbios que lemas hoje são bem conhecidos e muito
Em Almeida "O vento Norte afugenta a chuva" repetidos. Outros têm um sentido mais profundo.
(23) e na V. B. "traz a chuva", por isso nào podemos Por exemplo:
interpretar confíadamente esta figura. Em todo o ca- "Os que deixam a lei, louvam aos perversos" {4).
so. o "rosto irado" é o que o "caluniador" deve espe- Um dos sinais da reincidência é que, havendo aban-
rar. donado a verdade, o culpado acha mais agradável a
"Uma cidade derribada çue não tem muros"(28) companhia dos mundanos e profanos. Ele dirá que
é uma comparação importante para o homem que gasta mais deles do que dos cristãos.
não controla seu gênio. Náo é senhor de si, e qual- "Os homens maus não entendem o que é justo,
quer mal pode invadir seu espírito. mas os que buscam a Jeová entendem tudo" (5). O
pecado cega a vista e escurece a inteligência. A ver-
Capitulo 26 dade é oculta ao homem mau. "Como podeis crer",
perguntou o Senhor, "recebendo honra uns dos ou-
Mais comparações. "A vara é para as costas dos tros. e não buscando a honra que vem só de Deus?"
tolos" (3), mas deve ser aplicada por um sábio, e O apóstolo diz-nos que "o deus deste século cegou o
pode não ser uma vara de pau mas de repreensão. entendimento dos incrédulos" (2 Co 4.4).
Não respondas ao louco... (4) Responde ao lou- Mas os que buscam a Jeová entendem tudo. Isto
co... (5). é uma antecipação de 1 João 2.20 onde lemos: "Vós
" N á o devemos responder quando ele é incorrigi- tendes a unção do Santo, e sabeis tudo" e "a sua un-
vel, ou quando está inflamado com paixão, vinho, çáo vos ensina todas as coisas" (27).
etc., ou quando não é necessário, ou quando não é Quem desvia o seu ouvido para não ouvir a Lei.
provável ser bom para ele. Mas devemos responder até a sua oração é coisa abominável (9). Para que a
quando ele é capaz de receber bem. ou quando é ne- oração seja aceita, o coração precisa ser obediente.
cessário para a glória de Deus, ou é nosso dever, ou Náo é que sejamos ouvidos por nosso merecimento,
para o bem dos outros" (Matthew Pool). mas é preciso sermos sinceros. Um homem desobe-
Certas diferenças de tradução deixam o expositor diente ora pedindo que Deus lhe faça a vontade; o
em dúvidas. O versículo 10 em Almeida diz uma coi- obediente deseja saber fazer a vontade de Deus. " A s -
sa e na V.B. outra, mas ao menos ambos concordam sim, a oração do justo é do seu agrado".
em desaprovar o tolo. E o versículo 12 fala de um que
é pior que o tolo. Capitulo 29
O versículo 15 repete o 19.24.
Bons e ruins. Podemos fazer uma lista dos dois. e
O versículo 19 ensina a não mentir por brincadei- estudar o que se diz de ambos:
ra. De gente boa temos aqui - os justos, o homem que
ama a sabedoria, o rei justo, os sábios, o rei que julga
Capitulo 27 fielmente, o humilde de espírito.
Na lista de gente ruim temos: o que. sendo mui-
O valor da amizade. " U m homem sem amigos é
tas vezes repreendido, endurece a sua cerviz, o per-
um ser solitário e infeliz." O homem foi feito para vi-
ver em comunhão, e o verdadeiro crente reconhece verso, o que freqüenta a companhia de prostitutas, o
que somos chamados para a comunhão cora o melhor amigo de peitas, o homem que lisonjeia, os sanguino-
de todos os amigos (1 Co 1.9) e com todos os amigos lentos, o tolo. o opressor, o servo que não se emenda,
dele. o homem precipitado no falar (que é pior que o tolo:
v. 20), o homem irascivel. o furioso, o sócio do la-
Notemos o que se diz sobre isto:
drão.
"Fiéis são as feridas de um amigo" (6). Isto é ver-
N o versículo 24 da V.B. há evidentemente um
dadeiro no caso do Senhor Jesus, nosso amigo. Ele
começa por ferir-nos cora o sentimento do nosso pe- erro tipográfico: "Ouve-o sol juramento". Natural-
cado, para que nos sare com o bálsamo da sua graça. mente deve ser "sob juramento".
Náo convém ficar ofendido com as palavras de quem Em mil casos o V.T. da V.B. é preferível a Almei-
aponta nossos erros ou indica nossos perigos. Escute- da, mas náo no versículo 4: "O amigo de impostos a
mos silenciosamente cada fiel admoestação, e pon- transtorna". Pode haver alguém que seja amigo de
deremo-la secretamente. impostos? Almeida é mais compreensível com "pei-
tas".
"Não abandones o teu amigo, ou o amigo do teu
pai" (10). Os verdadeiros amigos sáo escassos. A me-
dida que 06 anos passam, são cada vez mais difíceis Capitulo 30
de ganhar. Por isso essas amizades primeiras, pro- As palavras de Agur. Sabemos bem pouco do au-
movidas por um sábio pai. devem ser conservadas. tor deste capítulo, nem que seu nome era Agur. pois
Náo confiar no amigo que nos bendiz com alta a palavra significa ajuntador, e pode ser que este fi-
voz (14). Ele é superficial demais para ser de con lho de um tal Jaque seja chamado aqui apenas de o
fiança, ressonante demais para ser sincero. Mais tar- colecionador dos provérbios que o capitulo contém.
de ele provará um incômodo, e talvez uma maldição. Em todo o caso. Agur fez um discurso a uma au-
"O ferro com o ferro se aguça, assim 0 homem diência de dois. e, por suposto, ura deles tomou
aguça o rosto do seu amigo " (17). Aprendemos mais apontamentos ou decorou as suas palavras, de ma-
em conversa sobre a Palavra do que por qualquer ou- neira que temos assim um capitulo bem coordenado
tro meio. Esta troca de impressões é proveitosa em e inteligível, que em todos os tempos tem interessa-
tudo, e sabemos que é agradável a Deus ( M l 3.16). do bastante os expositores.

'222
Hi_ii.il/
rTVVvreWi '*-

O que Agur diz de si mesmo: "sou mais estúpido mas Slattheu- Henry pensa que pode ser outro nome
do que qualquer homem ". nào nos prepara para ou- para Salomão (que também tinha o nome de Jedid-
vir palavras de sabedoria espiritual, mas talvez de- já: 2 Sm 12.25). E a mãe de Salomão era Bate-Seba.
vamos entender que ele se descreve com uma humil-
Preferimos outra suposição de Matthew Henry.
dade oriental. Creio que isso ainda é o costume na
que Lemuel podia ser o príncipe de algum pais vizi-
China, onde as pessoas cultas se referem a si mesmas nho, casado com uma israelita.
em termos os mais íntimos - mas naturalmente nào
haviam de consentir em que outros os tratassem com Em todo o caso. os conselhos da mãe de Lemuel
os mesmos termos eram bons e~ sensatos. advertindo-o contra a impure-
Notamos especialmente neste capitulo o « cinco za, a embriaguez e a injustiça no seu governo. Nota-
grupos de quatro coisas: coisas "nunca satisfeitas" mos que ela nada aconselha referente ao cultivo da
<15,16); as quatro coisas "maravilhosas demais" vida espiritual ou de viver na dependência da graça
(18,19); quatro coisas que a terra náo pode suportar divina.
(21-23); coisas pequenas e sábias (24-28); coisas que A mulher virtuosa (10-31). Em todos os tempos
andam com elegância (29-31). os expositores tém admirado as características da
Metido no meio, encontramos uma tremenda mulher virtuosa, tão lindamente delineados neste
maldição sobre "os olhos de quem zomba de seu pai" trecho. Somente no fim do trecho se nos permite es-
(17). perar que ela seja temente a Deus (30). Se ela, entre
as suas muitas preocupações, teve tempo para criar
Capitulo 31 seus filhos "na doutrina e admoestaçáo do Senhor".
nào sabemos.
Os conseUios que a mãe do rei Lemuel deu a seu
filho. Não sabemos nada ao certo deste rei Lemuel,

'223
CEcíesiastes

ste é o livro do homem 2.2.1. O mundo testifica da vaidade das coisas


'debaixo do sol' e seu ra- (cap. 3).
ciocínio acerca da vida é 2.2.2. A sociedade testifica da vaidade das coisas
o melhor que o homem (cap. 4).
pode fazer, com o conhe- 2. 3. O indivíduo testifica da vaidade das coisas
cimento |le que há um Deus santo, e que Ele trará (caps. 5 e 6).
tudo a j/izo. As frases-chaves sáo: 'debaixo do sol'. 2.2.4. Todo o sistema humano testifica da vaida-
'perceba. 'disse no meu coração'. A inspiração recor- de das coisas (cap. 7 a 9.16).
da consta mente os pensamentos, mas as conclusões 3. Aplicado (9.17 a 12.7).
e raciocínios sáo humanos. Que essas conclusões tém Conclusão (12. 8-14).
razáo em declarar que é ''vaidade* dedicar a vida ás
coisas terrestres, é certamente a verdade; mas a M E N S A G E M DE ECLES1ASTES
'conclusão final do discurso' (12.13) é legal, é o me-
lhor que o homem sem uma redenção pode fazer, e " O rei Salomáo tinha oportunidades nunca igua-
náo antecipa o Evangelho. ladas de beber o cálice de alegria, sabedoria, riqueza
" O Eclesiastes está dividido em cinco partes: 1. e prazer, mas ele escreve com ênfase:
Tema (1.1-3). 2. Tema provado (1.4 a 3.22). 3. Tema
desenvolvido á luz do sofrimento, hipocrisias, incer-
" V A I D A D E DE V A I D A D E S : T U D O Ê V A I D A D E "
tezas, pobrezas e riquezas humanas (4.1 a 10.20). 4.
A melhor coisa possível ao homem natural, a parte
"Que pode fazer, então, o homem que vem após o
de Deus (11.1 a 12.12). 5. A melhor coisa possível ao
rei? Porventura será possível ao coração achar o lu-
homem sob á Lei (12.13.14)" (Scofield).
gar de descanso e satisfação debaixo do sol? A res-
A N A L I S E DE ECLESIASTES posta de Salomáo é um náo enfático. Este homem
reinou sobre todos os reinos desde o Eufrates ao Me-
Introdução 1.1
diterrâneo, mas náo tinha descanso; tinha 40.000 es-
trebarias de cavalos e 12.000 cavaleiros, mas nada
O ARGUMENTO
lhe trouxe a paz; tinha sabedoria e ciência acima de
todos os SPUS antepassados: era poeta, botânico, zoó-
1. Enunciado (1.2-11).
logo. e historiador, mas carecia do bem principal;
Que por toda a parte há uma monotonia enfado-
sua mesa sobejava em iguarias, mas seu coraçáo ti-
nha. e que todo o trabalho é sem proveito. nha fome; rendeu-se ao encanto da sociedade das
2. Provado (1.12 a 9.16). mulheres, somente para descobrir que seu encanto
2.1. Pela experiência do rei (1.12 e 2.26).
era um laço e que tudo era vaidade, e que o homem
2.1.1. A procura do conhecimento é em váo(l.
náo tem proveito de todo o seu labor debaixo do sol.
12-15).
Um tal veredito deve ser final. Contudo, três mil
2.1.2. A procura da sabedoria é em váo (1.16-
anon mais tarde, os homens ainda procuram as mes-
18). \ mas satisfações, e com o mesmo resultado. E tudo é
2.1.3. A procurado prazer é em vão (2.1-3).
2.1.4.A procura das riquezas é em váo (2.4- debalde. porque o coraçáo foi feito para Deus, e ne-
nhum objeto menor pode enchê-lo. A alma foi feita
26).
2.2. Pela observaçáo do rei (31 a 9.16). para o outro lado do sol. e nada debaixo do sol pode

225
Idaiãsus

satisfazé-la. A experiência e a observação devem le- sent ido de "duração". E certo que a "idéia da eterni
var-nos ã mesma conclusão do rei. que somente no dade" está na teologia dos homens, mas porventura
temor de Deus e na obedií noa à sua vontade revela- está deveras na sua compreensão? Antes a "eterni-
da há descanso de coração. F.:a é a imutável Realida- dade' é uma coisa de que o homem nào pode formar
de. o inabalável Centro, a eterna Sabedoria, a ines- idéia alguma: é-lhe inconcebível. E. contudo, a pala-
gotável Riqueza, e a fina! Satisfação" (Scroggie). vra parece ter seu cabimento com referência a Deus.
pois nào podemos entender um tempo quando Deus
não era ou quando não será.
Capitulo 1 Se nós quisermos dar um aspecto mais cristão ao
versículo 12, poderemos lê-lo: "Nada é melhor do
Tudo é vaidade "Eclesiastes é uma discussão do as- que rrgozijar-se (em Cristo e a sua salvaçào| e fazer o
sunto: "A Vida sem Deus', e procede primeiro por dc- bem durante a vida".
clara cão. então ilustração e finalmente aplicação
Precisamente o que o escritor quis dizer com o
"'Paschal diz: 'Salomáo e Jõ tinham o mais versículo 15. náo é muito evidente. Com certeza
completo conhecimento da miséria humana, e am- quando diz: "Aquilo que é. já foi ". nào quer incluir
bos nos deram a mais completa descrição dela: um nisto o rádio, o avião ou uma guerra que envolve o
era o mais próspero e o outro o mais provado dos ho- inundo inteiro. Talvez a explicação se encontre no
mens; um sabia pela experiência a vaidade d « » pra- versículo 16.
zeres, o outro, a realidade das aflições' " . Podemos entender melhor o versículo 19. para-
O capítulo tem duas partes. A primeira trata da fraseando um pouco: "Como morre um. assim morre
idéia materialista da vida (1-11). Deste ponto de vis- tHitro |fisicamente falando, porque|: todos têm o
ta, a vida nào oferece nenhum motivo inspirador (1- mesma fôlego, e o homem náo tem vantagem sobre
3). é por demais monótona (4-10). e acaba no com- os brutos [tanto um como outro come, bebe e respira
pleto esquecimento (11). para poder viver). Todos (no que se refere ao corpo]
Os versículos restantes tratam da sabedoria filo- vão para um lugar [a saber, debaixo do chão)". Mas
sófica e dos fatos da experiência (12-18), e aqui o es- no versículo seguinte parece perceber mais alguma
critor declara que tanto a ciência (12-15) como a sa- coisa: "Quem sabe se o espírito dos filhos dos ho
bedoria (16-18) são enfado e tristeza. mens sabe para cima. e o espirito dos brutos desce
para baixo, fxira a terra?" E em 12.7 ele responde á
Que pregador pessimista! Felizmente o cristão
sua própria pergunta: "O pó volta para a terra como
pode encarar a vida com as suas oportunidades e ex-
era. e o espírito volta para Deus que o deu". E em
periências, suas provações e bênçãos, com muito
Números 16.22 Deus é chamado o "Deus dos espíri-
mais satisfação, e até dizer que se trloria nas tributa-
tos de toda a carne", e nào somente dos crentes.
ções, porque a tributação produz paciência (que con-
ta com Deus), e a paciência a experiência (das inter-
venções de uma providência divina), e a experiência
a esperança (que no futuro, como n«> passado. Deus Capitulo 4
-•«•rá um suficiente recurso», e a esperança não enver-
gonha (como se o crente tivesse confiado em vão. ()s males e as tribulações da cida. Podemos com
pois. ainda que a intervenção divina demore), o vantagem contrastar o pessimismo de Salomão, o
amor de Deus já tem sido derramado em nossos cora- homem mais sábio e rico do seu tempo, com a satis-
ções pelo Espírito Santo. fação do mais humilde crente que na sua simplicida-
de vive cada dia confiado na graça divina, e "em
tudo dá graças", porque conta haver algum lucro es-
Capítulo 2 piritual. mesmo no meio de prejuízos materiais.
No versículo 8 ele lastima a triste sorte do soltei
Prazeres e riquezas náo produzem a felicidade.
ro, mas o apóstolo Paulo, solteiro, velho e encarcera-
Nos capítulos I e 2 o rei fala pela experiência, e em
do. quando escrevia da cadeia aos crentes filipenses,
3.1 a 9.16 por observação. Na primeira parte declara
em cada capitulo fala em regozijar-se. E também es-
que a procura da ciência (1.12-18). do prazer (2.1-3).
creve: "O que é solteiro cuida das coisas do Senhor,
das riquezas (2.4-11). e dos bens da vida em geral é
de como agradar ao Senhor" (1 Co 7.32).
tudo em vão. Note-se o que e!e diz de cada um. O co-
ração pede uma satisfação: onde e como poder achá- "Melhor são dois do que um " (v.9), especialmen-
la? Como muitos. Salomão procurou-a primeiro em te quando há entre eles simpatia, tolerância, apre-
prazeres sensuais '1-3). Depois na procura das rique- ciação mútua, altruísmo, cooperação e identidade de
zas. É pena que ele não soubesse que a mais comple- interesses.
ta satisfação se encontra em "buscar primeiro o rei- Notemos a grande diferença entre o versículo 15
no de Deus. e a sua justiça' Quem procura em tudo em Almeida e na V.B.
fazer a vontade de Deus pode provar um continuo
contentamen to.
Capitulo 5

Capítulo 3 Vários conselhos práticos. Aqui encontramos al


guns conselhos bons sobre o procedimento na casa de
Tempo próprio para tudo Ao ler este capítulo, fi- oração. Convém "guardar o pé", andar prudente
camos intricados com o versículo 11. que, segundo mente, com respeito e reverência. Convém "chegar
Almeida, reza: "também pôs o mundo no coração para ouvir", porque Deus pode falar-nos mediante o
deles", e na V.B. "também pôs no coração deles a sentido de algum hino, ou pelo ministério que Ele dá
idéia da eternidade para a edificação da sua igreja. Nào abrir a boca pre-
A palavra hebraica " o l a m " é traduzida de vinte cipitadamente. lembrando que na casa de oração
diferentes maneiras no V.T.. e geralmente com o fala-se "diante de Deus"

'226
IciesiütUs

"Sejam poucas as tuas palavras", porque Deus procurado é bom.".4 esperança prolongada faz adoe-
não se agrada com a loquacidade humana. cer o ci-ração, mas o desejo cumprido é árvore dc
Notamos uma expressão entranha no versículo 6: vida (Pv 13.12).
"na presença do anjo". Matthew Henry pensa que 7) A paciência é melhor do que a arrogância, por-
isso pode referir-se ao sacerdote, como sendo o men- que obtém mais resultado: porque desenvolve boas
sageiro. ou anjo de Deus. Ou possivelmente " o anjo qualidades espirituais: porque agrada mais os vizi-
da guarda". Ou até a Cristo " o Anjo da Aliança" ( M l nhos; porque tem a «provação de Deus.
3.1). As diversas traduções do versículo 14 deixam o
leitor em completa confusão. Almeida tem em 14b:
Capítulo 6 '"para que o homem nada ache que tenha de üir de-
pois dele" A V.B. tem: "a fim de que o homem não
Gozando os bens que Deus dá Aqui lemos do descubra coisa alguma que há de vir depois dc si"
"homem a quem Deus dá riquezas" e, contudo, não Figueiredo: "sem que o homem ache contra ele justi-
tem capacidade de gozar da abundância que recebe. ficadas queixas" A versão espanhola de Pratt ao
Km verdade há bein poucos "a quem Deus dá rique- menos dá um sentido compreensível e espiritual: "A
:as" geralmente o rico se enriquece pelo seu muito fim de que o homem náo ache. fora de Deus, nada"
esforço, e, ãs vezes, por oprimir o pobre; então ele Isto pode significar que, tanto no dia de prosperida-
não está na classe daqueles a quem "Deus dá rique- de como na adversidade, podemos achar em Deus a
zas ". Um moço rico é uma raridade (salvo por heran- nossa maior satisfação.
ça) porque o moço ainda não teve tempo de traba- Os versículos 25-29 tratam de coisas que o prega
lhar e ganhar dinheiro. A riqueza mais legítima de dor achou, coisas procuradas e náo procuradas. Que
todas é o resultado do próprio esforço, e com o decor- tipo de homem ele procurou náo está muito claro,
rer dos anos alguns podem adquiri-la. mas ao menos achou um em mil, mas procurando
"Todo o trabalho do homem é para a sua boca, c entre as mulheres, nem isso encontrou. E. contudo,
contudo náo se satisfaz o seu apetite ". Isto é. embora não está muito claro o que procurava.
satisfaça o apetite em cada refeição, mais tarde tor-
na a ter fome. Capítulo 8
"Quem pode declarar ao homem o que há de ser
depois dele debaixo do sol?" Contudo, a voz do pro- Valores morais. Neste capítulo temos três assun-
feta. às vezes, prediz o futuro, pois disse que da des- tos:
cendência de Davi haveria de surgir o Messias. 1) O dever dos súditos (1-5). As potestades exis-
tentes sáo ordenadas por Deus. Isto quer dizer que
Capítulo 7 Deus tem determinado haver governo neste mundo.
Quem exercita o poder pode ser de Deus ou pode não
Sete coisas melhores. 0 predador, neste capitulo, ser. Por isso S atitude do crente é a submissão ao go-
procura um remédio para pecados, tristezas e per- verno civil.
plexidades da humanidade: 2) O destino dos tiranos (6 8). No governo de
1) i'm bom nome. que é melhor do que o ungüen- Deus vemos uma severa consistência, que deve nos
to precioso. Uma mulher muito perfumada nem impressionar. Há motivo atrás de toda a providência
sempre tem um caráter nobre. Os vizinhos geral- que o homem sábio há de discernir (6).
mente sabem o valor que urna pessoa tem. Um bom 3) A demitra da justiça (9-13). A justiça permane-
nome custa muito a ganhar, mas pode-se perder ce, embora as piores iniqüidades prevaleçam (9-10).
num momento. e embora alguns, confiados por causa da demora, pe-
2) O dia da morte é melhor do que o dia do nasci- quem (11). Mas. afinal, chegará uma justa retribui-
mento. Mas visto que a pessoa náo pode morrer sem ção a todos (12.13). Então a iniqüidade será julgada
ter nascido, precisa conformar-se com o menor bem e a justiça vindicada (Scrttggie).
para gozar do melhor. Mas se a sabedoria "debaixo
do sol" não pode encarar a vida com mais satisfação Capítulo 9
do que isto. é claro que necessita ouvir um Evange-
lho que transforme tanto a vida como a morte, de Pensamenttts pessimistas. O versículo 2 parece
maneira que. para o cristáo. "o viver ê Cristo e o ser o gemido de um pessimista crônico: "Todas cs
morrer é ganho". coisas sucedem igualmente a todos". Sim. com cer-
3) A casa de luto é melhor do que a casa de fes- teza. todos podem apanhar a mesma infecçáo conta-
tim. Porque na casa de luto o crente pode provar, de giosa, mas a atitude e reação de cada um pode ser
maneira toda especial, "as consolações de Cristo". bem diferente.
enquanto na casa de festim pode esquecer-se de O versículo 5 certamente éconhecimento "debai-
Deus. e cair no pecado, ou embriagar-se. xo do s<tl": "os mortos não sabem coisa alguma, nem
4) Melhor ê a mágoa do que o riso. porque a tris- tampouco têm. dai em diante, recompensa". Com
teza do rosto torna melhor o coraçáo. As provações isso podemos contrastar o "partir e estar com Cris-
da vida podem ter muito valor para o homem espiri- to" do apóstolo Paulo.
tual, porque nelas é que experimenta as consolações Nas versículos 14,15 temos o incidente da cidade
de Cristo, e é capacitado a consolar os outros (2 Co pequena e o pobre sábio que a livrou. Ele sabia como
1.6). fazê-lo. e mais ninguém sabia, e ninguém cria que
.5) A repreensá<t è melhor do que a canção, no ele soubesse, por isso o desprezaram e não o atende-
caso de a canção ser dos tolos. "Fira-me o justo, isto ram (16). Mas ele sabia como livrar, e livrou a cida-
será uma mercê; repreenda-me. isto será como óleo de. A força da pequena guarniçáo (inteiramente in-
sobre a minha cabeça" (SI 141.5). suficiente) não era necessária: a sabedoria era me-
lhor do que o armamento (18). e há sempre alguns
6yOfim è melhondoque o princípio,quando o fim

227
IdfWflfífy

que querem escutar o homem sábio, pois "a sabedo- Capítulos 11 e 12


ria é justificada pelos seus filhos".
"Podemos aplicar tudo isto a Cristo: pobre (2 Co Façamos o que é bom no tempo oportuno, "tran-
8.9); sábio (1 Co 1.24): homem (Fp 2.7); desprezado çar pão sobre as águas" é geralmente entendido
i Is 53.3): Ele libertou a cidade da Alma humana do como uma referência à maneira de semear o trigo no
príncipe deste mundo ( H b 2.14.15). Estejamos nós Egito, lançando a semente sobre as águas do Rio
entre aqueles que ouvem as suas palavras no silêncio Nilo em inundação, pois destarte semeia-se automa-
dos nossos corações" (Scrafítie). ticamente com o escoamento das águas, e assim dá o
pão.
O mancebo é exortado a regozijar-se e andar pelo
Capitulo 10 caminho do seu coração lembrando-se, porém, de
que Deus afinal há de julgar nosso procedimento.
A loucura é causa de muitas desgraças. N o versí-
O capitulo 12 pinta um quadro da velhice. " A
culo 2 preferimos a tradução de Almeida: "O coração alegoria fala de nosso espirito, alma. sentidos, e pro-
do sábio está á sua mão direita" porque a V.B. nos vações (2); de membros enfraquecidos, dentes caria-
dá a entender que está ao lado direito, o que não é a dos. e vista curta (3); pouco sono. e voz enfraquecida
verdade. Diz Matthew Henry: " O coração do sábio N ) ; cabelo branco, e fraqueza geral (5): e entáo com
está à sua mão direita, de maneira que trata dos seus uma figura notável, descreve a dissolução final (6).
negócios com presteza, põe mãos ã obra. e faz tudo corpo e alma. cada um tomando o seu destino (7).
bem feito". Também no versículo 4 preferimos Al- Nesta descrição há alguma coisa ao mesmo tempo
meida: "o tolo... diz a todos que é tolo" N o versículo triste e sublime, pois. embora o homem exterior pe-
4 a V.B. tem "A submissão aplaca grandes ofensas". reça. o homem interior pode e deve ser renovado dia -
Notemos o versículo 16: "Ai de ti. 6 terra, quando riamente, de maneira que quando o corpo finalmen-
o teu rei é criança" e apliquemo-lo aos nossos tem- te falece, o espírito possa gloriosamente triunfar. E
pos. e digamos: " A i da igreja local que põe neófitos lembremo-nos disto: a renovação espiritual nào é do
no governo!" corpo, mas por meio do corpo" (Scroggie).

228
Cantares

m nenhuma parte da Es- Cena 1. (cap. 2.8-17): A Sulamita e o pastor.


critura a mente sem espi- Cena 2. (cap. 3.1-5): A Sulamita sonha com o
ritualidade pisa terreno pastor.
táo misterioso e incom-
A T O III (.cap. 3.6 a 4.7)
preensível como neste li-
vro. N o itanto, os mais piedosos tém achado nele (Jerusalém)
uma fon M gozo espiritual. Que o amor do divino Cena 1. (cap. 3.6-11): A entrada de Salomão em
Marido s lisse todas as analogias da relação matri Jerusalém.
monial.-i rece mal somente às mentes táo deprava Cena 2. (cap. 4.1-7): A Sulamita e Salomào. Diá-
das, que o desejo marital em si parece-lhes pròfanó logo.
" A interpretação é dupla: Primeiro: o livro é a ex
pressão do coração de -Jeová para com Israel, a espo A T O IV (Cap. 4.8 a 5.7)
sa terrestre (Os 2.1-23. etc.), atualmente repudiada (Ao norte da Palestina)
mas para ser restaurada; contudo, náo é a nação in Cena 1. (cap. 4.8 a 5.1): A Sulamita e o pastor
teira, mas um restante (Is 10.21, etc.), o Israel espiri (outra vez).
tual dentro de Israel (Rm 9.6-8). A segunda e mais Cena 2. (cap.5.2-7): A Sulamita sonha cora o pas-
ampla interpretação é que apresenta Cristo, o Filho, tor (outra vez).
« sua noiva celestial, a Igreja (2 Co 11.1-4, etc.)
A T O V (cap. 5.8 a 8.3)
"Neste sentido, o livro tem seis divisões: 1. A noi- (Ao norte da Palestina)
va contemplada em tranqüila comunhão com o Noi- Cena 1. (cap. 5.8 a 6.3): A Sulamita e as senhoras
vo (1.1 a 2.7). 2. Um lapso, e restauraçáo (2.8 a 3.5). da corte.
3. Gozo de comunhão (3.6 a 5.1). 4. Separação de in- Cena 2. (cap. 6.4 a 8.4): A Sulamita e Salomào.
teresse - a noiva satisfeita, o Noivo trabalhando Diálogo.
para os outros (5.2-7). 5. A noiva procurando e teste-
munhando (5.6 a 6.3). 6. Comunhão ininterrupta A T O VI (cap. 8.5-14)
(6.4 a 8.14)" (Scofield). (No lar do pastor)
Cena 1. (cap. 8.5-7): A Sulamita e o pastor.
Cena 2. (cap. 8.8-14): A cena final.
A N A L I S E DE C Â N T I C O S
A T O I (cap.1.2 a 2.7)
I N T E R P R E T A Ç Ã O DE C Â N T I C O

(Ao norte da Palestina) E quando chegamos a esta parte do nosso estudo


Cena 1. (cap. 1.2-8): A Sulamita e as senhoras da que surgem dificuldades. Uma grande variedade de
corte. interpretações tem sido atribuída a este livro, das
Cena 2. (cap. 1.9 a 2.7): A Sulamita e Salomào. quais vamos mencionar apoias as mais importantes:
Diálogo. 1) Que foi escrito para celebrar o casamento de
Salomào com a filha de Faraó.
A T O II (cap. 2.8 a 3.5) 2) Que é a história poética de como Salomão na-
morou e ganhou uma linda moça do Líbano, e do seu
(Ao norte da Palestina) amor correspondido.

'229
Cflntm

3) Que apresenta a mútua afeição de um moço e menio de religião natural ou de piedosa devoção,
uma moça humilde, apesar da tentativa de Salomão nem se nos apresenta como uma visão, ou com sinais
de atrair o coração da moça para si. de ser uma revelação divina. Parece mais difícil do
que qualquer outra parte da Escritura de transfor-
4) Que é uma coleção de vários poemas indepen- mar em "cheiro de vida para a vida' e os que vâo a
dentes. tratando de amor. ele com mentes carnais e afeições corruptas podem
5) Que não ê histórico mas alegórico, delineando achá-lo "um cheiro de morte para a morte" E uma
a ) A história de Israel desde A b r a i s ao Mes- flor da qual distilã veneno; e. por isso. os doutos ju-
sias. daicos aconselharam os jovens a não lè-Io antes de
terem trinta anos de idade, receando que o abuso da-
bt A Jibertação de Israel do Egito, suas pere-
quilo que é mais puro e sagrado incendiasse com fogo
grinações no deserto, e sua entrada em Canaã.
do Céu as concupiscéncias carnais - fogo que devia
c> A união de -Jeová com Israel,
arder somente sobre o altar
dt A união de Cristo com a Igreja,
e) A vida amorosa da alma com o Senhor. "Devemos confessar, porém, de outra feita, que,
Destas várias interpretações, cremos que o Cánti com o auxilio de muitos fiéis guias, este livro parece
co é histórico e alegórico; que há três pessoas eviden- um brilhante raio de luz celestial, admiravelmente
tes em tudo. e não duas. e que a aplicação espiritual adequado a excitar piedosas e devotas afeições na al-
de mais proveito é essa que considera o rei como o ma ; atrair os desejos para Deus, aumentar o gozo ne-
Mundo, o pastor como Cristo, e Sulamita como a al le. e melhorar o conhecimento a seu respeito. E uma
ma. A completa dedic ação da alma a Cristo, apesar alegoria, cuja letra mata aqueles que ficam com ela
de todas as atrações do mundo, é certamente ensina- somente, mas que viviflea o espirito (Jo 6.63; 2 Co
da em toda a Biblia. e o Senhor, repetidas vezes, en- 3.61. E uma paráboln que toma mais difíceis as coi-
sinou que querfi pretende segui-lo deveras deve estar sas divinas àqueles que nào as amara, porém as tor-
disposta a abandonar todos os outros. na mais claras e comprensíveis aos outros ( M t
13.14.16). Os cristãos experimentados encontram
O versículo-chave encontra-se em 3.6.7 (Scrog-
aqui o paralelo diis suas próprias experiências, e
gie). para eles v inteligível, enquanto quem nada tem da
Diz .Mattheu Henry "Devemos confessar que. se vida espirituai nào entende nem aprecia o livro".
alguém perguntasse àquele que raras vezes lé este li-
vro, se entendia seu sentido, ele responderia, nas pa- Em resumo, se uma figura da natureza como a de
lavras do eunuco: "Como podarei entender, se al- uma galinha proteger seus pintos debaixo das asas,
guém nào mo explicarJ" pode ensinar-nos preciosas lições do poder protetor
" O s livros bíblicos de história e profecia sáo mui de Cristo, este poema de amor humano pode sugerir
semelhantes uns aos outros, mas este cântico de Sa- e, em algum sentido, iluminar um amor inteiramen-
lomão é mui diferente dos cânticos de seu pai Davi. te espiritual.
O nome de Deus não está nele < veja-se porém 8.6 em Deixamos com o leitor estes pareceres de alguns
Almeida e na Versão Atualizada - A R A ) ; nunca é ci- dos expositores de mais confiança, sem tentar expli-
tado no V. T . ; não achamos nele qualquer pensa car capitulo por capitulo o Cântico dos Cânticos.

'230
evemoa banir do nosso Infelizmente, a ordem em que encontramos os li-
pensamento a idéia po- vro» nas nossas Biblias nào é a ordem cronológica em
pular de que o principal que profetizaram; por isso vamos adotar o método do
serviço do profeta era dr. Scroggie. dando um número a cada profeta em
predizer. É verdade que ordem cronológica, a saber: 1) Joel; 2) Jonas; 3)
vários p tas falaram de coisas futuras, mas isso Amós; 4) Oséias; 5) Isaias; 6) Miquéias; 7) Naum; 8)
náo foi a a mensagem principal. Diz o dr. George Sofonias; 9) Jeremias; 10) Habacuque; 11) Daniel;
Adam S ith: 12) Ezequiel; 13) Obadias e Lamentações; 14) Ageu;
"No comum, o nome 'profeta' tem degenera- 15) Zacarias; 16) Malaquias.
do para $ sentido de 'um que prediz o futuro'. Ê o de-
ver de cada estudante de profecia livrar-se desse sen- É claro que. para entender qualquer profeta, é
tido. N o grego, 'profeta" nào significa 'quem fala an- preciso tomar muito sentido no tempo em que vivia,
teriormente', mas 'quem fala por. ou em lugar de ou- e discernir se ele tinha uma mensagem de valor para
tro'. seus contemporâneos, ou se a sua profecia tinha refe-
rências apenas a sucessos no distante porvir. Mui
" E neste sentido que havemos de pensar nos pro- freqüentemente, as circunstâncias nacionais em que
feta» do V.T. falaram por Deus. Sendo participante o profeta ministrava fornecem a chave para enten-
dos conselhos de Deus. o profeta vem a ser portador dermos a sua profecia.
ou pregador da palavra divina. A predição do futuro
é somente uma parte, e muitas vezes parte subordi- Em alguns casos, o lugar cronológico de um pro-
nada e acidental, de um oficio cuja função era decla- feta é problemático, como por exemplo no de Joel,
rar o caráter e a vontade de Deus". mas vamos acompanhar aqui a cronologia aceita
pela maioria dos expositores de confiança.
N o V . T . encontramos profetas que nada escreve-
ram, como Elias. Eliseu. etc.; outros que falaram e Como tenho feito em outras partes deste livro,
escreveram (ou, ao menos, cujas palavras foram es- consulto sobre os livros proféticos os melhores expo-
critas por outros) e, talvez, algum que escrevesse sitores ao meu alcance e traduzo as próprias pala-
sem falar. vras deles quando náo convém resumir o sentido do
A correta divisão dos profetas é em profetas ante- ensino. Para a ordem de cada estudo, tenho geral-
riores aos cativeiros, a saber, em Judá: Jeremias (es- mente seguido o dr. A.F. Kirkpatrick, no seu livro
tendendo seu ministério até o cativeiro); Joel. Mi- "The Doctrine of the Prophets".
quéiaa. Naum. Habacuque, Sofonias Em Israel- Por vários motivos, resolvi nem sempre seguir o
Oséias. Amos, Jonas. Profetas durante os cativeiros. método de estudar cada capítulo separadamente,
a saber, Ezequiel, Daniel, e Obadias, todos de Judá. preferindo tomar um apanhado mais geral do ensino
mas profetizando para toda a nação. Profetas de- de cada profeta, podendo, assim, em menos espaço,
pois do cativeiro (todos de Judá): Ageu. Zacarias e oferecer um resumo mais vantajoso e inteligível sem
Vlalaquias. cansar demasiadamente a atenção do leitor.

'231
Isaías

saias, com razão, i considerado o prin- 3, Pronunciando julgamentos e livramentos (caps.


cipal dos profetas que escreveram. Ele 24 a 35).
tem o testemunho mais compreensivo, 3.1. Um quadro de juízo universal (cap. 24).
e é notavelmente o profeta da reden- 3.2. O Livro dos quatro cânticos (caps. 25 a 27).
ção. Em nenhuma outra parte da Pala- 3.3. O Livro dos seis ais (23 a 28).
ita sob a Lei temos uma tão clara vista da 3.4. O futuro das nações contrastado com o de Is-
divina. A Igreja do N . T . não aparece (Ef 3.3- rael (34 e 35).
mas o Messias na sua Pessoa e sofrimento, e a Divisão 2 (Caps. 36 a 39). História:
dos gentios por Ele, sáo plenamente eviden- Palavra-chave: Confiscação. Perspectiva: Assíria
e Babilônia.
A parte do seu testemunho aos seus próprios tem- Acontecimentos na vida de Ezequias:
pos, que inclui advertências de juízos vindouros 1. Olhando para trás - Assíria (caps. 36,37).
sobre as grandes nações daqueles dias, as mensagens 2. Olhando adiante - Babilônia (cap*. 38,39).
predicativas de Isaías incluem sete grandes temas: 1. Trechos paralelos (2 Rs 18 a 20; 2 Cr 28 a 32).
Israel no exílio, e o juízo divino sobre os seus opresso- Divisão 3 (Caps. 40 a 66). Messiânica:
res. 2. A volta da Babilônia. 3. A manifestação do Palavra-chave: Consolação. Perspectiva: Babilô-
Messias em humilhação (por exemplo, capitulo 53). nia.
4. A bênção dos gentios. 5. A manifestação do Mes- 1. A libertação (caps. 40 a 48).
sias em juízo ("o dia da vingança do nosso Deus"). 6. Deus e os deuses: Israel comparado com o paga-
O reinado do Renovo de Davi no porvir. 7. Novos nismo.
céus e nova terra. 2. O libertador (caps. 49 a 57).
"Isaias tem duas divisões principais: 1. Olhando Os sofrimentos e a glória do Servo de Jeová.
para os cativeiros (1.1 a'39.8). Versículos-chaves. 3. Os libertados (caps. 58 a 66).
1.1,2. 2. Olhando além dos cativeiros (40.1 a 66.24). Os fiéis e os infiéis comparados, e seus respectivos
Versículos-chaves. 40.1,2. Estas principais divisões destinos.
têm as suas subdivisões" (Scofield).
ALGUNS PONTOS
A N A L I S E DE ISAlAS
" D a vida pessoal de Isaías. pouco sabemos. Co-
nhecemos que recebeu a chamada profética no últi-
Divisão 1 (Caps. 1 a 34). Profética. mo ano do reinado.de Uzias (6.1). Ele era casado
Palavra-chave: Condenação. Perspectiva: Assíria (8.3) e há alusões a dois filhos, talvez a três; um cha-
1. Profecias concernentes a Judá e Israel (caps. 1 a mado Sear-Jasube (7.3) e o outro Maer-Salal-Hás-
12). Baz (8.1-4). .
1.1. A grande acusação, predizendo o juízo (1 a 5). A cena do serviço profético parece ter sido princi-
1.2. A chamada e comissão do profeta (cap. 6). palmente. se não exclusivamente, Jerusalém, e, pela
1.3. Um período de restauração prometido (7 a posição que ele tinha na corte dos reis Acaz e Eze-
17). quias, supõe-se que era de sangue real.
2. Predicações contra nações estrangeiras (caps. 13 a Exatamente por quanto tempo profetizou, náo se
23). sabe, mas foi provavelmente entre 50 e 60 anos. Uma
O livro das dez sentenças. tradição judaica diz que ele foi martirizado pelo rei

'233
Tsãias

Manasses, sendo serrado ao meio. e que isto é aludi- serv iço dos profetas náo somente declarar, mas pre
do em Hebreus 11.37. dizer. E por isso que Isaías, no poder do Espirito,
Isaías é bem chamado de o Profeta Evangélico, predisse acontecimentos com uma antecedência de
por ser seu ministério cheio do Evangelho para os úl- 170 anos, o que náo é nada de extraordinário para os
timos dias do seu povo. Isto é refletido não somente que aceitam o sobrenatural, b ) O livro alega ser. na
no seu próprio nome. que significa "Salvação de Jeo- sua introdução, conforme Isaías C 1.1). c) Em João
vá". mas no de seu filho Sear-Jasube: "Um restante 12.38-41 o apóstolo faz duas citações do livro, uma
voltará" da primeira parte e outra da última (caps. 6.9.10 e
53.1). e atribui atnbas a Isaías; por isso o profeta ou
A S P R O F E C I A S DE ISAlAS escreveu as duas ou náo escreveu nenhuma das par-
Segundo Scroggie, as profecias tèm três aspectos tes do livro" (Scroggie)
diferentes, e referem-se a Israel, às Nações e ao Mes- Sir Robert Anderson apresenta outro argumento
sias. O primeiro e terceiro, continua Scroggie, acha- no mesmo sentido: " O autor das primeiras profecias
mos em todo o livro, mas o primeiro é mais evidente no livro essas denunciações da religião do povo -
nos capítulos 1 a 12. 14 a 35, e o terceiro nos capítu- bem podia ter sido odiado e perseguido, e é com-
los 40 a 66. preensível que até seu nome fosse apagado dos regis-
1) N o que concerne a Israel, somos ensinados: tros populares. Mas estes últimos 27 capitulos sáo
que, por motivos dos seus pecados, a nação havia de totalmente únicos, não somente pelo seu nunca igua-
ser levada ao cativeiro; que havia de passar por um lado brilho e poder, mas porque são palavras tão
período de desolação e angústia; que um restante do consoladoras como nunca antes ou depois foram ou-
povo seria afinal salvo e teria parte no gozo e liberda- vidas em Israel. Um profeta levantado nos tenebro-
de do reino do Messias, que havia de ser estabelecido sos dia» do Cativeiro para dar uma tal mensagem de
sobre a terra, com seu centro em Jerusalém: que esse esperança e gozo, teria-se tornado imortal. Teria
reino seria universal; e. finalmente, que a glória e sido o ídolo de toda a nação, a pessoa mais famosa e
grandeza dele ultrapassaria qualquer coisa conheci- popular do seu tempo. Mas se havemos de aceitar a
da anteriormente. As passagens sáo numerosas de- teoria dos críticos, ele apareceu e se desvaneceu
mais para especificar, e o período referido é o futuro como uma nuvem, sem deixar nem uma tradição do
Período Messiânico. seu nome, da sua personalidade, ou da sua carreira.
E isto (Seja lembrado!) nos tempos do Cativeiro ou
2) As prediçôcs contra Babilônia. Assíria. Filis- depois, isto é, nos tempos históricos".
tia, Moabe, Síria. Egito, Dumá, Arábia e Tiro têm
sido maiormente cumpridas, mas há aspectos destas O dr. Kirkpatrick é de opinião diferente:
profecias que ainda esperam neu cumprimento du- " S e a grande profecia da glorificaçáo e redençáo
rante o período que virá depois desta presente dis- de Israel tivesse aparecido como um documento in-
pensaçào cristã. Todas as nações sáo consideradas dependente e anônimo, ém vez de estar Incluído no
por Deus como "a gota de um balde" (40.15), mas
livro de Isaía.s (caps. 40 a 66). nunca teria havido
Deus dispõe dessa gota.
qualquer dúvida sobre a data em que fora escrito. A
3) Quando chegamos às profecias messiânicas, evidência interna teria íixado a sua data positiva-
encontramo-nos em águas profundas e ricas, e ne- mente como sendo perto do fim docativeiro na Babi-
nhuma parte da Sagrada Escritura é mais abundan- lônia.
te nisto do que Isaías. O Messias é repetidamente
prometido e predito: em 4.2 como o Renovo, e Fruto "Israel está no exilio. Jeová entregará o seu povo
da Terra; em 7.14 como o Emanuel, nascido da vir- aos inimigos. Estào soirendo pelos seus pecados.
gem; em 9.6 como Maravilhoso Conselheiro. Deus T ê m sido provados na fornalha da afliçào. Jerusalém
Forte, Pai da Eternidade, e Príncipe da Paz; em 11.1 tem bebido as fezes do cálix da ira de Jeová. A filha
como "um Rebento do tronco de -Jessé"; em 28.16 de Siào está prostrada no pó, e as cadeias do cativei-
como a Pedra preciosa da esquina; em 32.1.2 como o ro estão no seu pescoço. A cidade-màe de Siào está
Rei que reinará em justiça e como o homem que será no exílio sem seus filhos, andando vagabunda. Seus
escudo e abrigo da tempestade; em 42.1 como o Elei- filhos estão espalhados A esposa de Jeová está di
to Servo de Deus: em 42.6,7 como o Redentor de Is- vorciada dele e seus filhos vendidos como escravos
rael e como uma Luz para iluminar os gentios; e em pelas suas iniqüidades (42.22-25; 48.10; 49.21; 50.1;
61.1 vemos o ungido Mensageiro de Deus. enviado a 51.17; 52.2,3, etc.)
pregar, sarar e libertar. "Jerusalém está em ruínas, as cidades de Judá
Neste livro, os sofrimentos do Messias são mais abandonadas, a terra desolada, o templo um montão
claramente preditos do que em qualquer outra parte de cinzas. A situação é resumida nas palavras paté
do V.T.. especialmente nos capítulos 50,52,53. " O s ticas: As tuas cidades santas tornaram-se deserto:
sofrimentos e exaltação de Cristo são daramente de- Sido está feita cm deserto; Jerusalém uma desola-
clarados como se o profeta tivesse estado ao pé da ção. A nossa santa e gloriosa casa. em que nossos
cruz, e visto Cristo em Ressurreição" (Delitzsch) pais te louvaram, está queimada a fogo: e todas as
Tudo isto é. de fato. uma revelação, e podia ser co- nossas coisas deleitávei> estão consumidas' (Is
nhecido somente com o Espírito de Deus comunican- 64.10.11).
do ao seu servo escolhido. "Babilônia é a cena do cativeiro de Israel. Babi-
lônia é a opressora que retém os filhos de Sião em es-
O AUTOR cravatura. Babilônia tem sido o agente em executar
o juízo de Jeová, e ela tem feito a sua tarefa com um
" H á mais de um século, o fato de Isaías ter sido o prazer malicioso (43.14; 47.6,7; 48.14).
autor da última parte do livro (caps. 40 a 66) tem " M a s a salvação está perto. A escravatura de Je-
sido debatido. Creio firmemente que ele escreveu o rusalém está cumprida; satisfação tem sido feita
livro todo. e. entre outras, por três razões: a) Era o pela sua iniqüidade. O decreto tem sido promulgado

'234
Ttaw

para o seu perdão, para que seja redimida e restaura desligada dos acontecimentos dos tempos do autor.
da <40.1.2: 41.27: 43.1: 44.21-24: 52.7. etc.) Parece-nos mais fácil entender que, em circunstân-
" O libertador está a caminho Ciro está na sua cias desconhecidas, esta profecia foi incluída na co-
plena carreira de conquista: Babilônia está condena- leção que leva o nome de Isaías. embora escrita um
da. O orgulhoso opressor está no ponto de ser humi- século e meio mais tarde, do que pensar que consti-
lhado Seus próprios deuses irào ao cativeiro. Em tui uma exceção tão surpreendente aos princípios
cumprimento das profecias, os cativo* serão liberta que geralmente governam as mensagens proféticas*'.
dos; serão enviados a reedificar -Jerusalém e a restau- O seguinte breve extrato do "Bible Treasury"
rar o templo. Jeová levará seu povo antigo através do pode ter alguma relação com o assunto. Ê de um es-
deserto num segundo êxodo; que. como Jeremias crito do dr. Willi.% J Beecher-
predisse (16.14.15). ultrapassará as glórias do pri " D e v e m o s distinguir entre trés coisas diferentes:
meiro. A viúva desolada será consolada. Os espalha- as profecias faladas, as profecias escritas, e as profe-
dos filhos de Sião serão reunidos Seus perseguidores cias colecionadas: e devemos distinguir entre fatos
lhe renderão homenagem. Gloriosa será a revelação certos e outros menos certos.
da glória de Jeová. Jerusalém será o centro de um
" N i n g u é m duvida que Isaias. o filho de Amos, foi
culto universal. Israel cumprirá a sua missão e unirá
o principal que proferiu estas profecias, e ninguém
todas as nações numa submissáo voluntária a Jeová
duvida que o livro de Isaias que agora temos é o mes-
<13.14 : 40.3.4.9: 43 5: 43.19: 44.26: 45.1.13: 46.1:
mo mencionado no N . T . como já antigo. A sua auto-
48.14; 51.9; 54.1; 60.1: 60 14: 65.18.19).
ridade divina descansa sobre estes fatos indubitá-
" A íocalidade do escritor náo pode ser outra se veis. e é independente de questões sobre o problema
náo Babilônia O profeta fala na presença de um pa- se isaias mesmo escreveu e colecionou as profecias,
ganismo dominante A idolatria o rodeia; ele tem ob- ou se foi feito por outro durante a vida dele. ou de-
servado os idólatras levando seus deuses impotentes pois".
em procissão: tem visto as tais deidades fabricadas, Convém também lembrar que Isaías profetizou
e erguidas nos templos (40.18; 41.29; 44.9: 45.20; durante 40 ou 50 anos. Se imaginamos que ele se sen-
46.1.6). T u d o isto naturalmente aponta a Babilônia, tasse e escrevesse seu livro sem grande perda de tem-
e. quando achamos o profeta em íntimo contato e po. gastando uma hora com cada capitulo, podia ter
simpatia com os exilados ali: quando observamos escrito tudo em 5 ou 6 dias. Ou. escrevendo um capi-
quão evidentemente ele conhece as suas circunstân- tulo por dia. em pouco mais de dois meses. E então,
cias. seu caráter, seus pecados, suas esperanças, seus que é do restante do seu ministério 0 Ninguém se
receios, a impressão é confirmada: e. quando nota- lembrou de tomar apontamentos dos seus discursos
mos como se liga o profeta com os exilados em con- edificantes durante uns 40 ou 50 anos? E muito mais
fissão, ações de graças e súplicas, quase não pode- razoável entender que as suas profecias foram pro-
mos duvidar de que ele estava no meio deles (42.24: nunciadas ocasionalmente, durante uma porção de
59.9-12; 63.7.16; 64.1). anos, e escritas oportunamente por ele ou por algum
"Segue que se esta profecia (caps. 40-66) foi es- discípulo seu, e. afinal, colecionadas no livro que co-
crita nos últimos dez anos do Cativeiro por um profe- nhecemos - possivelmente na companhia de outras
ta entre os exilados na Babilônia, seu autor não po- profecias igualmente inspirada*, e dignas de serem
dia ter sido Isaías o filho de Amos. o contemporâneo incluídas no mesmo volume sagrado.
de Ezequias. O exílio na Babilônia náo é predito; é Mas se. como é de esperar, temos no " l i v r o de
descrito como uma realidade (comparemos com isto Isaias" o ministério de toda a vida do profeta, cole-
as profecias em que Jeremias prediz e restauração do cionado por ele por algum discípulo seu. nem a inspi-
exílio babilônico. para ver a força deste argumento. ração nem a mensagem das suas palavras proféticas
Em Jeremias, o ExíKo i predito, náo experimentado. depende de terem sido colecionadas em ordem cro-
(Veja-se Jeremias capítulos 31 a 33.) A ascensão de nológica. Geralmente um escritor escreve o prefácio
Ciro náo é predita; ele já está avançando em triunfo depois de completar o seu livro, e poderemos bem
de ponto era ponto. O que é predito é o livramento acreditar que o capitulo 6 recorda o começo do mi-
dos exilados e sua restauração na Palestina. nistério profético de Isaias e que os capítulos anterio-
" O r a , mesmo que pudéssemos imaginar Isaías res podiam ter sido escritos anos mais tarde, recor-
transferido em espírito para um século futuro, e em dando os ensinos mais maduros do profeta.
espírito tomando seu lugar no meio das tribulações O estudante atencioso pode notar a diferença en-
que via haveriam de suceder, uma tal hipótese não tre os lugares onde Isaías fala na primeira pessoa,
parece de acordo com o estilo e costume de uma re como no capítulo 6, e onde ele é referido na terceira
velação divina. Constantemente temos tido ocasião pessoa, como em 7.3. Pode também pensar se os
de observar a origem circunstancial da profecia, que capítulos 36 a 39 são copiados de 2 Reis 18 a 20, ou
ensino de um profeta após outro era próprio para vicç-versa. ou se ambos foram copiados de escritos
servir ás necessidades do seu tempo, e ver como sur- mais antigos.
gia dessas necessidades. Aqui. pelo contrário, havía- O dr. Angus, no seu livro "História, Doutrina e
mos de ter o exemplo do uma profecia inteiramente interpretação da Bíblia" págs 520 a 533. tem uma

Notm do Editor. Num Urro de comentário báblico como M U . náo podemos, moitas vezes. deixar de registrar idéia»
com as quais náo concordamos, como se dá no caso da existência de um déutero Isaias. 8e o estudante não está incluí-
do em 1 Coríntios 3.2, d e pode várias opiniões para conhecer, e ficar capacitado e argumentar, desde que
tais opiniões sejam sinceras.
A nosso ver. no se tanto, o que decide é o Novo Testamento. E o Novo Testamento ratifica a fé rabimea num único
Isaias, conforme o comentário de Scrn^gU.
Também são de peeo para a aceitação de nosso ponto de vista, os argumentos apresentados por 8ir Robert Ander-
•on. s pelo dr. G.C.M. Ikmgiaa (todos citados), e outros multo fartamente conhecidos.

235
moderada e sensata apreciação do problema dos povo. intensamente interessado em tudo que dizia
"dois Uaías". respeito ao bem-estar deles, olhava também sobre os
A nossa conclusão pode ser que quem encontra no povos em redor, marcava seus movimentos e predis-
"livro de Isaias" a coleção das profecias de um só ho- se o seu destino. Olhou para um porvir em que Israel,
mem. como também quem entende que a coleção purificado pelo fogo do juízo, havia de realizar a sua
contém profecias de algum douto discípulo dele, os vocação, e ser o centro donde o reconhecimento espi-
dois tém muitos argumentos a seu favor. ritual seria para iluminar as nações do mundo.
O dr. G.Ç.Af. Douglas, no seu livro sobre Isaias. -4 vocação de Isaias. " A chave para a boa com-
dedica 116 páginas à demonstração de que o livro preensão do ministério de Isaias encontra-se no rela-
todo é de um e o mesmo autor. O dr. K.D.M Spence tório da sua chamada ao serviço profético, contado
no livro "Book by Book " concorda com ele. no capitulo seis. Ele teve uma visão de Deus revela-
A crise. Os dias de Isaias foram tempos de crise do em glória, e o resultado foi o reconhecimento da
na história de Israel. A-última metade do século oita própria impureza e da do seu povo Então ele recebe
vo a.C. havia de ver a derrota do Reino do Norte (Is- uma purificação divina, e. ouvindo que Deus precisa
rael). Era desesperadamente corrupto, e os profetas de urn mensageiro, sente-se encorajado a se oferecer
Amós e Oséias tinham pronunciado a sua sentença. para a tarefa.
O juízo era inevitável. "Essa visão deu caráter a todo o futuro ministério
Mas porventura Jerusalém havia de partilhar da de Isaias. A majestade, a santidade, a glória de Deus
triste sorte de Samaria? Como poderia escapar do são os temas que enchem e subjugam o seu espírito.
conflito entre a Assíria, vindo do Leste, e o Egito vin- "Parece evidente que esta visão era a primeira
do do Sul. cada qual querendo subjugar a Asia oci- chamada de Isaias ao seu ministério profético, e náo,
dental? como alguns tém pensado, uma segunda chamada.
Nesses tempos de crise. Isaias era o mensageiro Por que. então, se encontra a narrativa onde está. e
de Deus para denunciar oe juízos e a salvação de nào, como era de esperar, no começo do livro? A res-
Deus. Vamos observar seu modo de agir. posta mais provável é que era originalmente prefixa-
O método. Isaias não era nenhum recluso, viven- da a uma coleção de profecias pertencentes ao reina-
do à parte dos homens comuns. Residia na capital. do de Acaz. publicada separadamente, e retida nes-
Ali, no centro da vida nacional, exerceu o seu minis- sa posição quando as várias coleções subordinadas
tério. Quase todos os seus discursos sáo dirigidos ao foram reunidas" (Kirkpatrick)
povo de Jerusalém, ou a indivíduos nela residentes. Teologia de Isaias "Isaias é o mais notável de to-
Sua própria família fazia parte da sua mensagem. dos os profetas. Parece quase uma presunção tentar
Sua mulher era profetisa (8.3). Dois de seus filhos, escolher quaisquer elementos especiais e distintivos
como os de Oséias, tinham nomes significativos. do seu ensino. Mas mesmo Isaias teve suas carac-
Sear-Jasube: "um restante voltará" (7.3). (Nào vol- terísticas distintivas. Cada profeta é teólogo. Seu en-
tar do cativeiro, mas voltar a -Jeová, como lemos em sino descansa sobre esse aspecto do caráter divino
10.20-22.) O outro. Maer-Salal-Hás-Baz: "Aprrssan- que tem sido especialmente impresso sobre seu espi-
do-se ao despojo, apressurou-se à presa" (Almeida rito. Isaias era um teólogo proeminente. A visão em
8.1), significa a próxima queda de Samaria e Damas- que recebeu sua vocação foi uma revelação da glória
co. Assim Isaias podia dizer. no6 dias mais tenebro- de Jeová, exigindo os supremos atributos de majes-
sos, "Eis que eu e os filhos que Jeová me tem dado tnde e santidade. Uma profunda impressão desses
são para sinais e portentos em Israel da parte de Jeo- atributos dominava seu espirito, e isto formou a sua
vá dos exércitos, que habita no monte de Sião" visão das relações de Jeová com Israel, e do procedi-
(8.18). mento de Israel perante Jeová, e deu a inspiração e a
idéia predominante do seu ensino.
Podemos entender que Isaias reuniu em redor de
si um bando de fiéis discípulos que entesouraram as Notamos, repetidas vezes em Isaias. a referência
suas palavras na memória, e guardaram as profecias a Jeová como "o Santo de Israel".
que tinha escrito - um livro selado para a multidão "Mais tarde no seu ministério, a doutrina de
descrente (8.16; 29.11). Deus como o Santo de Israel veio a ser ainda mais sa-
Uma vez vemo-lo tomando uma tábua e escre- liente no seu ensino. Naquela crise, quando a políti-
vendo nela algum aviso enigmático, para chamar a ca dos estadistas mundanos em Jerusalém ameaçou
atenção dos transeuntes (8.1; 30.7). Em outra oca- envolver Judá numa aliança com o Egito, levando-o,
sião vemo-lo atravessando as ruas de Jerusalém, assim, á ruína que veio sobre Samaria. Isaias sem
descalço e nu, um quadro vivo dos cativos do Egito e hesitação aconselhou os seus patrícios a confiarem
da Etiópia que seriam levados pelo vitorioso rei Sar- no Santo de Israel. Se ficassem quietos e obedeces-
gào (20.2). sem à mensagem e se conformassem com a vontade
Ele evidentemente ocupou uma posição de auto- divina, então, no seu tempo Ele seria misericordioso
ridade singular em Jerusalém. Era o destemido criti- e os livraria da opressão do tirano assírio.
co do covarde Acaz; o conselheiro do bem- Mas o povo era descrente; o espirito mundano
intencionado. mas vacilante Ezequias. Quando pre- prevalecia. "Assim disse o Senhor Jeová, o Santo de
cisava de uma testemunha durante seu serviço pro- Israel: voltando [da vossa política mundanaj e des-
fético, podia ele chamar a principal autoridade ecle- cansando, sereis salvos: no sossego e na confiança es-
siástica da cidade (8.2). tará a vossa força. Vós não quisestes" (30.15).
" A variedade das suas atividades é notável. Não Zombaram do profeta e seus companheiros, repe-
somente era um reformador social e religioso, um tindo a 3ua célebre frase: "Fazei que o Santo de Is-
pregador de justiça e piedade, mas um estadista pre- rael desapareça diante de nós" (30.11), e, em vez de
cavido. Ele observava os movimentos políticos do procurar o Santo de Israel, mandaram seus embai-
dia, nacionais e estrangeiros. Apreciou-os do ponto xadores pedir auxílio ao Egito, e puseram sua con-
de vista divino. Mas embora assim vivesse entre seu fiança nos carros e nos cavaleiros (13.1).

'236
"Calmamente Isaias continua a proclamar a sua nome quádruplo deste Príncipe declara a sua natu-
dupla mensagem de juízo e libertação. 'Assim diz o reza maravilhosa, e proclama ser Ele. de maneira ex-
Sartro de Israel. Porque rejeitais esta palavra la sa- traordinária e misteriosa, o representante de Jeová.
ber. a exortação profética de confiar em Jeová), e Seu advento é ainda futuro, mas é certo: "O zelo de
confiais na opressão (que era preciso empregar para Jeová do*i exército cumprirá isto" (9.7).
extorquir meios para comprar a ajuda do Egito) e Em outra profecia (11.1. etc.», descreve-se o cará-
perversidade [a saber, a política de intrigas secretas j ter deste Rei e seu governo. O espirito de Jeová em
e sobre elas vos estribais; portanto esta iniqüidade toda a sua plenitude descansará sobre Ele. A paz do
MM será como uma brecha que. prestes a cair. forma Paraíso será restaurada ã natureza (11.1-9).
barriga num alto muro. cuja queda vem de repente, Sidtt inviolável. "Outra série de profecias se refe-
num momento' (30.12.13). Contudo Jeová protegerá re a Sião como sede do Reino de Deus. Nos dias em
Jerusalém, como o pássaro-máe. adejando sobre seu que Sião era ameaçada de destruição. Isaías asseve-
ninho para proteger seus filhotes, "protegendo e li- ra a sua permanência. Políticos mundanos trama-
vrando, paxsandf» e pondo a salvo" como outrora ram uma aliança com o Egito: uma política sem fé. e
adejou sobre as casas dos israelitas, ao mesmo tempo fatal. Em contraste com essa política esta a pedra
que destruiu os egípcios (31.5)" fKirkpatrick). provada, a pedra de esquina que Jeová pôs era Sião.
Profecia* messiânicas. " A pregação de Isaías re- A linguagem é figurativa dos sólidos e custosos ali-
feriu-se ao presente. Achou a sua ocasião e objetivos cerces do templo. Qual é essa pedra de fundamento
na necessidade e circunstâncias dos seus dias. Porém seguro? Náo a cidade, nem o templo, nem a casa de
ela constantemente ia além do atual e do imediato Davi. mas o piano divino do qual o templo é o símbo-
até o futuro do propósito divino... O estabelecimento lo. Jeová pôs os alicerces do seu reino em Sião. mas o
do reino futuro é ligado com a vinda de um Liberta- edifício precisa ser ievantado com a linha do julga-
dor. um rei que será da casa de Davi. Sua metrópole mento e da justiça. A fé é a condição para uma segu-
sera Sião, purificada e regenerada pelo juízo". rança tranqüila no meio do perigo (28.16. etc.)
Junto aos seus primeiros discursos. Isaías põe "Esta profecia é repetida no Salmo 118.22: A pe-
uma breve profecia (2.2-4) tirada de Miquéias (ou de dra que os edificadores rejeitaram tem-se tornado a
outro profeta mais antigo), em que o destino futuro principal da esquina'. Tem seu cumprimento em
de Sião é descrito. Isto serve como base de uma cha- Cristo, como a incorporação pessoal do propósito di-
mada ao arrependimento. vino. o fundamento do reino de Deus na igreja ( M t
A grandeza desta profecia vé-se quando é relacio- 21.42; At 4.11; Rm 9.33; 1 Pe 2.6)" (Kirkpatrick).
nada com as circunstâncias do momento. Quando a As nações. Segue-se uma série de profecias acer-
religião e a moralidade estavam decadentes: quando ca das nações, maiormente ameaças de juízo. Contu-
Israel, em vez de converter as nações ao culto a Jeo- do o propósito afirmado em (2.2 e 11.10) transparece
vá, era pervertido pelas suas superstições: quando as em vários trechos.
nações, em vez de vir render homenagem ao Deus de Mas a profecia atinge o seu auge quando Isaías
Jacó. ameaçavam esmagar totalmente seu povo - em antecipa a reconciliação desses inimigos invetera-
um tal momento inauspicioso. Isaías repete com au- dos. o Egito e a Assíria, com Israel e um com o outro,
toridade a profecia que prediz a supremacia espiri- sendo Israel a vítima de ambos - o vínculo que os
tual de Sião. e o estabelecimento da paz universal. une. "Será conhecido Jeová pelo Egito, e os egípcios
Ê possível haver uma alusão messiânica no capí- conhecerão a Jeová naquele dia. Eles servirão com
tulo 4.2: "Naquele dia o renovo de Jeová se tornará sacrifícios e ofertas, farão votos a Jeová e os cumpri-
em beleza e glória, e o fruto do terra em orgulho e rào... Naquele dia haverá estrada do Egito para a
adorno para os de Israel que tiverem escapado ". Assíria. Entrará o assírio no Egito e o egípcio na
O Tarjtum dos judeus tem as palavras parafra- Assíria: e os egípcios servirão com os assírios. Na-
seadas afcsim: "Naquele dia tterá o Messias de Jeová quele dia Hera Israel o terceiro com o Egito e com a
formoso e glorioso". Assíria, uma bênção no meio da terra, etc." (19.21-
A promessa do Emanuel. "I\irtanto o Senhor 24).
mesmo vos dará [a vós, casa de Davi. e rei Acazl um "Estas nações representam as nações do mundo;
sinal: eis que uma donzela conceberá e dará á luz um a sua reconciliação representa a incorporação dos
filho, e pôr-lhe-á o nome de Emanuel. Ele comerá seus mais ferrenhos inimigos do reino de Deus. Esta
manteiga e mel. quando souber rejeitar o mal e esco- predição nunca poderá ser cumprida literalmente
lher o bem. Pt tis antes que o menino saiba rejeitar o nelas, porque deixaram de existir mas sera realizada
mal e escolher o bem. será desolada a terra, ante cu- naquela grande paz mundial (no Milênio) que é a es-
jos dttis reis tu (Acaz|, tremes de medo" (7.14-16). perança de todos os povoe".
Sabemos de Mateus 1.21-25 que o completo e fi- Cumprimento das profecias. " A s profecias de
nal cumprimento desta estranha profecia deu-se Isaías receberam um notável, embora incompleto,
com o nascimento de Cristo. Contudo havemos de cumprimento durante a própria vida dele. O juízo
entender que. em algum sentido, houve cumprimen- caiu sobre Judá. A aliança entre a Síria e Israel fra-
to parcial e suficiente nos dias de Acaz para servir- cassou. A Assíria provou ser o maior perigo, mas não
lhe de "sinal" e provar a veracidade do profeta. podia tomar um passo além do que Deus permitia.
Nascimento e reinado do Príncipe da Paz (9.1-7). Quando ela ameaçou a existência do seu povo, o Se-
" A casa de Davi era representada por um príncipe nhor desse povo interveio, como Isaías tinha confia -
infiel e apóstata na pessoa de Acaz. Seus inimigos damente predito. A libertação de Jerusalém do po-
tramaram a destruição dela. Teria parecido debalde der de Senaqueribe foi a mais evidente atestaçáo da
esperar a libertação da parte de Acaz. mas. com a in- sua comissão divina. IBSO demonstrou que o Santo de
domável coragem da inspiração. Isaías proclama que Israel estava no meio de seu povo. Náo tinha de in-
é ainda o propósito de Deus restabelecer seu reino de troduzir o porvir que ele esperava. Parece ter anteci-
paz e justiça por meio de um descendente de Davi. O pado brevemente o advento do Rei perfeito e a rege-

'237
neração do povo, talvez durante a sua própria vida. Jacó e restaurar os que de Israel têm sido preserva-
O propósito divino lhe foi revelado, mas o tempo e a dos' (v. 6).
maneira do cumprimento desse propósito não lhe fo- "Assim o Servo é ao mesmo tempo identificado
ram revelados Ele os avistou de longe, táo clara- com Israel e distinto dele...
mente que lhe pareciam proximos. " M a i s uma vez no capitulo 50 o Servo fala. des-
" E isso não deve surpreender-nos. Se os discípu- crevendo a sua vocação divina, sua experiência de
los de Cristo, no momento critico, quando Ele ia dei- oposição e perseguição, e sua certeza de triunfo de
xá-los. foram advertidos de que náo lhes competia força divina (50.4-9)
saber os tempos ou as épocas (At 1.7), náo é de estra- "Assim, passo a passo somos levados para esse
nhar que esse conhecimento fosse vedado aos profe- trecho sagrado em que culmina o ensino do profeta
tas do V.T. Eles 'inquiriram e indagaram... quando e concernente ao Servo de Jeová. Presume-se ter acon-
que tempo esse que o Espírito de Cristo que estava tecido a volta da Babilônia (52.7-12). Então mais
neles indicava', e foi-lhes revelado, algumas vezes uma vez o discurso profético volta para o Servo, mas
pelo curso dos acontecimentos interpretado por esse enquanto antes Ele mesmo falava, agora é Jeová
Espírito. outTas vezes, sem dúvida, pelo ensino desse quem fala. e descreve o resultado da sua obra. Seu
mesmo Espirito, que as suas profecias náo foram sucesso e exaltação estarão de acordo com a sua hu-
para eles. mas para uma futura geraçào (1 Pe 1.10, milhação. despertando a admiração de nações e reis.
etc.) que ficam mudos de atônitos que estão (52.13-15).
"Toda profecia é condicional, e a realização das " M a s a surpresa nào era somente para as nações.
promessas pronunciadas por Isaías dependia da ati- Kalaruio em nume dos seus compatriotas, o profeta
tude do povo. Mas nem a poderosa salvação que ex- lamenta a incredulidade geral com que fora recebi-
perimentaram podia despertar-lhes o arrependimen do...
to e a fé. O resultado era inevitável. A profundeza da " O que tenha sido a idéia precisa que o retrato
queda de Judá era igual à altura da graça divina, ã do Servo de Jeová, sofredor e triunfante. apresenta-
qual tinha sido elevado. Dentro de poucos anos após va ao profeta e aos seus contemporâneos, é impossí-
a derrota de Senaqueribe, Ezequias foi sucedido por vel adivinharmos, mas nào podemos duvidar de que
Manassés, cujos crimes atrozes selaram a desgraça foi proposto pelo Espírito a apontar para Cristo. So-
do reino de Judá (2 Rs 24.4)" (Kirkpatrick). mente nele recebe a sua completa explicação.
Os capítulos 40 e 66 sáo chamados por alguns ex- "Para nós é natural considerar esta grande profe
positores "O livro da consolação". Ainda que concor- cia. e toda a série de profecias, à luz do seu cumpri-
damos que esta parte também fosse escrita (ou fala- mento em Cristo. Ê fácil fazer isto. mas em fazê-lo
da) por Isaías. devemos tomar sentido nas suas ca- perdemos alguma coisa dos métodos pelos quais
racterísticas especiais. Até o fim do capítulo 39 o Deus ensinou seu povo em tempos pasjn»dosf.rcvivifi-
nome de Isaías é mencionado 16 vezes. De 40 a 66. cou e fortaleceu a sua fé. Mais uma vez devemos ob-
nem uma só vez. Este fato é suficiente em si para servar que esta exposição da chamada, obra e vitória
desfazer a idéia de que seja a obra de algum impos- do servo do Senhor era uma verdade para seu próprio
tor. fingindo ser o grande profeta, pois em tal caso tempo. Nessa crise da história de Israel oe que ti-
ele havia de mencionar o nome de Isaias ao menos nham ouvidos para ouvir precisavam ser ensinados
uma vez. sobre qual era a vocação da sua nação, qual o propo-
O livro parece ser dividido em três partes pela re- s t o por que tinha sido criada e conservada táo mara-
petição das palavras: "Para os ímpios não há paz. vilhosamente. Precisavam saber que. apesar do fra-
diz Jeová" no fim dos capítulos 48 o 57. casso de Israel, o propósito divino havia de ser rigo-
O Servo de Jeová é o tema desenvolvido neste li- rosamente consumado.
vro. Primeiro o servo é Israel (41.8-16), porém, mais " M a i s do que eles podiam ter esperado, já se
adiante, o titulo Servo é aplicável ao Messias (42.1- cumpriu, e nesse cumprimento está a garantia para
7). nós de que os propósitos de Deus caminham para
Depois vemos a cegueira e a surdez do servo (Is- uma consumação maior e mais gloriosa do que pode-
rael) (42.18. etc.), e a sua reabilitação (43.8: 44.1. mos imaginar" (Kirkpatrick).
etc.; 48.6).
" A t é aqui é claramente a nação de Israel que é o Este esboço do ensino principal de Isaías é muito
Servo de Jeová. Israel é o povo que Ele tem escolhido incompleto, mas náo podemos fazê-lo mais extensivo
para cumprir seus propósitos para o mundo, e apesar porque queremos dar algumas páginas a uns breves
do seu completo fracasso fica sendo o Servo de Jeo- apontamentos sobre cada capitulo. Aproveitamos
vá... Mas apesar desse fracasso e dessa humilhação para isso maiormente os estudos do dr. Goodman e
de Israel, o verdadeiro Servo de Jeová está oculto na C.I. Scoficld nesta parte. *
nação. N o começo da segunda divisão da profecia
Ele fala. dirigindo-se às nações, e descrevendo a sua Capitulo 1
vocação e obra. sua aparente falha atual, e seu final
êxito: 'Ouvi-me, ilhas, e escutai, povos de longe. Jeo- l 'ma nação pecaminosa reprovada (1-17). Nesse
vá chamou-me desde o ventre, desde as entranhas de trecho achamos: a) Uma descrição da miséria causa-
minha mãe fez menção do meu nome; fez a minha da pelo afastamento de Deus da parte de Israel (1-9).
boca como espada aguda, na sombra da sua máo me b) Uma reprovação dos sacrifícios e festas, por terem
escondeu (49.1-6). há muito perdido a sua significação (10-15). c) Uma
" A primeira vista, pode-se supor que o profeta chamada ao arrependimento e uma promessa de mi-
mesmo é quem fala. Mas não é assim, O Servo de sericórdia (16-17).
Jeová ainda está identificado com Israel (v.3). Mas Notemos que. náo sendo atendida a correção,
em que sentido? Pois o primeiro ser\-iço do Servo é opera apenas a tristeza. A disciplina é eficaz somen-
para com Israel mesmo: 'Para suscitar as tribos de te com aqueles que são "exercitados por ela ". A lou-

'238
cura de uma religiosidade sem espiritualidade é 1» O ai d,> cobiç<i>v (v. 8). cujo castigo será deso-
ofensiva a Deus e inútil aos homens. lação (9).
Deus arrazoa com os homens (18-31). Deus convi- 2) O ai do bêbado (v. 11), cujo castigo é chegar a
da o seu povo para discutir o caso com Ele. E sugere ser insensível ás obras de Deus (12).
trés assuntos para consideração: 3) O ai do escamecedor iníquo (v. 18), sobre
1) Ele está disposto a perdoar-lhe os seus mais quem vem um juizo repentino (19).
flagrantes pecados. 4) O ai dos imorais (v. 20), que ao mal chamam
2) Se quiserem e obedecerem, comerão o bem da bem e ao bem mal. pois a sua vida toda será trans-
terra. formada .
5). O ai dos que se tém por sábios quando náo o
3) Se recusarem e forem rebeldes, o juízo seguirá. são (v. 21).
6) O ai dos poderosos - não somente na indulgên-
Capitulo 2
cia da carne, mas na sua conduta toda são perversos
Propósitos de graça para Jerusalém. Neste capi- (•V. 22.23). Sobre eles vem o juizo divino (24).
tulo há trés assuntos:
1) Bênção para Sião nos últimos dias (1-5). Capitulo 6
2) Severo juízo no Dia do Senhor (6-22).
3) Um refúgio para os piedosos (v. 10). . Uma visão de Cristo: Em Joáo 12.41 esta visão de
Isaias é referida assim: "isto disse Isaias porque viu
Capítulos 3 e 4 a glória dele e dele falou", dizendo estas palavras de-
pois de ter citado Isaias 6.10.
Juízo sobre Jerusalém Jeová põe-se de pé para Scofield tem a seguinte nota sobre os serafins:
pleitear, e apresenta-se para julgar os povos (3.13). '"Os serafins sáo. muitas vezes, contrastados com os
Em 3.16-2fc o profeta comenta o adorno das "fi- querubins. Estes expressam a santidade divina, que
lhas de Sido" Ê possível que ele. se visitasse hoje ensina ao pecador que esse pode chegar a Deus so-
certas igrejas, tivesse alguma coisa a dizer quanto á mente por meio de um sacrifício que vindique a jus-
pintura e aos enfeites das mulheres cristãs. tiça divina; enquanto os serafins ensinam como ver-
N o versículo 2 do capitulo 4 há uma referência ao dade que o santo carece de ser purificado antes de
Renovo, que Scofield comenta como segue: " O Reno- poder servir. Gênesis 3.22-24 ilustra o primeiro, e
vo é um nome de Cristo, e é empregado de quatro Isaias 6.2-8 o segundo. Os querubins talvez tenham
maneiras: 1) O Renovo de Jeová (Is 4.2), isto é. Cris- mais relação com o altar, e os serafins com o lavató-
to como Emanuel (7.14», para ser plenamente mani- rio".
festado a Israel restaurado e convertido depois de
sua volta em divina glória ( M t 25.31). 2) O Renovo O versículo 13 deve ser lido na V.B.
de Davi (Is 11.1; Jr 23.5: 33.15». istoé. o Messias, 'da
semente de Davi segundo a carne' (Rm 1.3), revelado Capitulo 7
na sua glória terrestre como o Rei dos reis e Senhor A confederação de Rezim e Peca (1-9). N o versí-
dos senhores. 3) 0 servo de Jeová, o Renovo (Zc 3.8), culo 2 temos as trés potências: *'A casa de Davi", a
o Messias em humilhação e obediência até a morte, saber. Judá. com seu rei Acaz; "a Síria", uma nação
de acordo com Isaias 52.13.15; 53.1-12; Filipenses pagá vizinha; e " E f r a i m " . ou Israel, istoé. as dez tri-
2.5-8. 4) 'O Homem cujo nome é Renovo' (Zc bos que constituíam o reino do Norte. Acaz tem
6.12.13). isto é. seu carater como Filho do homem, o medo dessa confederação Siro-israelense, mas Isaias
'último Adão', o "segundo homem* (1 Co 15.45-47). é enviado por Deus para reanimá-Io.
reinando como Sacerdote-Rei sobre a terTa. no domí-
nio dado ao pnmeiro Adão e por ele perdido. Mateus A promessa do Emanuel (10-16). Sobre esta cé-
é o Evangelho do Renovo de Davi; Marcos, do servo lebre profecia da virgem e seu Filho, diz Scofield: " A
de Jeová, o Renovo: Lucas, do 'Homem cujo nome é profecia nào é dirigida ao descrente Acaz. mas a toda
o Renovo* ; João. do 'Renovo de Jeová"*. a casa de Davi. Por isso a objeção que um aconteci-
mento tão distante náo podia ser um sinal para Acaz
é infantil. Era uma profecia continuada dirigida à
Capítulo 5 família davidica. e explica o imediato consentimen-
to de Maria (Lc 1.38)".
A vinda de Jeová (1-7). Náo podemos deixar de
notar a semelhança com a figura empregada pelo Se- Contudo, a maioria dos expositores entende que
nhor em Joáo 15. Israel havendo falhado. Cristo se a profecia tinha necessariamente algum sentido e
declara como a Videira verdadeira. Os seus. os ver- aplicação aos ouvintes, e maiormente porque o
dadeiros crentes, são as varas. Permanecendo nele. período em que havia de ser (parcialmente?) cum-
dão muito fruto, para a glória de Deus prida foi marcado de modo tão positivo ( w . 15,16).
Ainda havemos de considerar a profecia profunda e
A pergunta no versículo 4: "Que havia ainda a fa- misteriosa, e talvez distinguir entre seu cumprimen-
zer d minha vinha, que eu não lhe tenha feitot" faz to e sua aplicação.
nos pensar na pergunta e resposta do Senhor da vi-
O versículo 14 pode ser traduzido: "Eis que a
nha na parábola em Lucas 20.13 - "Que farrU En-
donzela conceberá" <K. 189).
viarei meu filho".
"Uvas bravas" sáo as obras da carne, contrasta- Capitulo 8
das com os frutos Ck> Espirito. "Obras morfos", com
uma aparência de prosperidade, como na Igreja de Uma exortação espiritual (13-15). " A Jeová dos
Laodicéia. exércitos, a ele santiftcai; seja ele o vosso temor, seja
Seis ais (8-30). Estes sáo: ele o vosso pavor". A expressão "a ele santificai"

'239
pode necessitar alguma explicação. Devemos nacionais, mas sempre a retribuição cai sobre elas
lembrar o sentido primitivo de santificar - "separar. mais tarde. (Veja-se Gênesis 15.13.14: Deuteronômio
pôr d parte". Deus deve ter ura lugar especial reser- 30.5-7; Isaias 14.1.2; Joel 3.1-8; Miquéias 5.7-9; Ma-
vado nos nossos corações, sendo neste sentido "san- teus 25.31-40.)
tificado" por nós. "Naquele dia" (v. 20): muitas vezes equivalente
Devem os vivos consultar os mortos? (19-22). a "o dia do Senhor" (Is 2.10-22; A p 19.11-21). " A
Este importante trecho resolve positiva mente para o profecia aqui passa do geral ao particular, dos cum-
cristão o problema se ele deve consultar os mortos ou primentos históricos de julgamentos sobre a Assíria
o Deus vivo. "Acaso náo consultará o povo ao seu à destruição de todo o poderio gentilico na vinda glo-
Deus? acaso a favor dos vivos consultará os mortos?" riosa de Cristo" (Scofield),
(Se pudessem ser consultados.] Podemos concluir " A ordem dôS acontecimentos em Isaias capítu-
disto que Deus náo ouve a oração de quem pretende los 10 e 11 é digna de nota. Isaias 10 dá a aflição do
consultar os mortos. E havemos de pensar que os de- Restante da Palestina durante a grande tributação
funtos possam nos comunicar o que Deus nos diz (SI 2.5: A p 7.14) e a aproximação e destruição das
pela sua Palavra, sua providência ou pela direção do hostes gentílicas sob a Besta (I>n 7.8; Ap 19.20).
seu Espirito? Notemos que a Bíblia diz que consul- Isaias 11 segue imediatamente com seu glorioso qua-
tar os mortos é uma coisa proibida. dro da idade milenar. Exatamente a mesma ordem
Notemos certas diferenças de tradução: no versí- se encontra em Apocalipse 19 e 20. (Veja-se também
culo 1 o "grande volume" de Almeida é "grande ta- Zacarias 12.8; Lucas 1.31; 1 Coríntios 15.28.)
boinha" na V.B. "Em estilo de homem " (AI.), deve "Que nada disto aconteceu na primeira vinda de
ser "em estilo comum" (R. 24). Cristo é evidente por uma comparação da história do
tempo de Cristo com esta e outras profecias parale-
Capítulo 9
las. Longe de reunir os dispersos de Israel e estabele-
Uma gloriosa profecia sobre Cristo (1-7). Esta cer paz sobre a terra, sua crucificaçáo foi seguida
profecia é citada em Mateus 4.14-16 com referência pela destruição de Jerusalém, e a dispersão dos ju-
a Cristo. Não há maior profecia do V . T . da vinda do deus da Palestina entre as nações" (Scofield)
Messias do que este versículo 6. Vamos comentá-lo:
"Um menino nascido". Aqui temos a sua perfeita Capitulo 11
humanidade. Convinha ser Ele feito em tudo seme-
lhante aos seus irmãos, por isso Ele tomou parte em O reino milenar. Este capitulo é um quadro pro-
carne e sangue. fético da glória do reino futuro. Isto é o reino p.ocla-
"Um filho dado". Aqui aprendemos a sua eterna mado por João Batista corno já estando "perto". Foi
deidade: "Deus deu seu unigênito Filho". rejeitado então, mas será estabelecido quando o Fi-
"O principadosobre seus ombros". É necessário lho de Davi voltar em glória (Lc 1.31.32; At
que Ele reine, até que ponha todos os seus inimigos 15.15.16).
debaixo dos seus pés (1 Co 15.25). "Quando Cristo estabelecer o seu reino milenar
Seu nome: "Maravilhoso, Conselheiro". " T a m - na terra, as seguintes bênçãos serão experimentadas:
bém isto procede de Jeová dos Exércitos, que é ma- 1) Ele tirará do seu reino tudo que ofende: ferirá
ravilhoso em conselho, e grande em sabedoria" (T? 06 iníquos "com a vara da sua boca M (4). Isto é. con-
28.29). vencer-lhes ã das suas impiedades. (Veja-se Judas
"Deus poderoso". Ele náo é outro senáo "Deus 15.)
manifestado em carne" (1 T m 3.16). Ele é "«obre to- 2) A justiça prevalecerá universalmente (5.9). A
das as coisas Deus bendito para sempre" (Rm 9.5). terra estará cheia do conhecimento do Senhor, como
"Príncipe da paz" Esse que é nossa paz. e que as águas cobrem o mar.
um dia estabelecerá paz na terra (v.7). 3) O Senhor mesmo será um estandarte para o
"Pai da eternidade". Ele podia dizer: "Eu e meu povo (10), o centro de congregação náo será somente
Pai somos um" (Jo 10.30) e "quem me vé a mim. vê o para os piedosos de Israel, mas também para os gen-
Pai" (Jo 14.9). tios.
Proposta emenda de tradução: " N o nome dado 4) Os animais náo mais serão bravos, mas habita-
ao Menino. 'Maravilhoso, Conselheiro, etc.' a vírgu- rão juntos em paz (6,7).
la depois de 'Maravilhoso' é omitida em algumas
traduções. Mas a acentuação do original hebraico, Capítulo 12
além de mostrar que cada nome deve ser enfático,
indica também que deve ser isolado" (Romance of Um cântico de salvação. Neste pequeno capitulo
Hcbrew Language, p. 102). temos:
j l ) Perdão. "A túa ira se aplacou " (1). Para saber
Capitulo 10 como isto pode ser. havemos de olhar para o Calvá-
rio.
Ameaças contra IsraeL Notemos a frase: "Com 2) Salvação. O perdão do pecado é seguido pela
tudo isso não se aplacou a sua ira. mas a sua mão libertação do pecado. A culpa sendo expiada, o po-
ainda está estendida " (em juízo). Esta sentença no der do pecado é quebrado.
versículo 4 encontra-se também em 5.25 e 9.12,17,21. 3) Fornecimento da graça (3). As "fontes da sal-
" A mão de Jeová ninda está estendida contra Israel vação" podem representar para nós a graça suficien-
porque seu castigo náo tem resultado em arrependi- te que se encontra em Cristo.
mento" (Scofield). 4) Louvor e testemunho (4-6). Aqui temos uma
N o versículo 12 encontramos um método cons- quádrupla exortação: a dar graças; a invocar o Nome
tante no divino governo da terra. As nações é permi- (isto é. a orar); a fazer notórios os seus feitos; a de-
tido afligir Israel como castigo pelos seus pecados clarar que exaltado é o seu nome.

'240
Capitulo 13 amplo, à catástrofe final do atual sistema mundial
(Dn 2.44.45; Ap 16.14; 19.17). As Escrituras náo se
A queda da Babilônia. " N ã o é simplesmente a ci- referem a qualquer outra catástrofe universal.
dade de Babilônia que está em vista aqui. como o
contexto imediato mostra. £ importante notar a sig- Capitulo 15
nificação do nome quando empregado simbolica-
mente. "Babilônia" é forma grega. No hebraico do Oráculo concernente a Moabe. "Esta sentença
V.T. a paiavra é simplesmente Babel, cujo sentido é contra Moabe teve um cumprimento parcial na in-
"confusáo", e, neste sentido, a palavra é empregada vasão de Senaqueribe em 704 a.C.. três anos depois
simbolicamente. da profecia (Is 16.14), mas as palavras têm um esco-
" N o s profetas, quando não se refere ã cidade, a po que inclui a catástrofe final. Isaias 16.1-5. que é
alusão é ao estado dc confusão em que tem caído uma continuação desta "sentença", mostra o'taber-
toda a ordem social do mundo sob o domínio dos náculo de Davi' estabelecido depois da destruição da
gentios. Isaías 13.4 dá a visão, do ponto de vista di vi 'Besta* e seus exércitos". (Consultem-se Isaias 10.28-
no. da confusão de potestades gentílicas em conflito. 34 e 11.1-10; Atos 15.14-17; Apocalipse 19.17-21 e
A ordem divina está em Isaías 11. 20.1-4.)
" E m Isaías vemos a Babilônia política, literal-
mente, no que diz respeito à cidade então existente. Capitulo 16
• figuradamente com referência aos tempos dos gen-
tios. As mulheres de Moabe antecipam o reino davídi-
" N o Apocalipse, tanto a Babilônia política, como co (1-5). Lamentam o orgulho de Moabe (6-12). Um
a religiosa aparecem, e as duas estão sob o domínio primeiro cumprimento da profecia prometida, den-
da Besta. A Babilônia religiosa é destruída pela Ba- tro de três anos (13.14).
bilônia política ( A p 19.19-21). "Enviai os cordeiros" ( v . l ) pode referir-se ao tri-
"Que a cidade de Babilônia não será reedificada buto que em algum tempo Moabe consentiu em pa-
é claro de Isaías 13.19-22; Jeremias 51.24-26. 62-64. gar a Israel (2 Sm 8.2).
Pela Babilônia política queremos dizer o sistema Os pecados de Moabe: arrogância, soberba, in-
mundial gentílico" (Scofield). dignação. jactáncia (6). Pecados que, em certas cir-
Ijang diz que esta profecia da destruição da Ba- cunstâncias. prevalecem ainda hoje.
bilônia não foi cumprida quando Ciro a venceu em
539 a.C. porque náo danificou a cidade e matou so- Capítulos 17 a 24
mente os amigos e defensores de Belsazar. dando
seus palácios aos seus generais. Em 478 a.C.. Xerxes, Nestes capítulos vemos várias nações "sentencia-
voltando da Grécia, saqueou o grande templo de Bel. das" por uma variedade de pecados, e podemos pen-
Em 331 a.C., Alexandre aproximou-se da cidade, e sar o que o ensino de tudo isto tem para nós hoje?
achou-a tão poderosa e florescente que quis trazer Podemos por exemplo, aprender:
contra ela todas as suas tropas. Nas guerras subse- Que Deus se ocupa coro os povos e toma sentido
qüentes, a Babilônia sofreu muito dos generais de do seu caráter, procedimento, oportunidades, obe
Alexandre, e mais tarde caiu sob o poder de Seleuco. diéncia à sua Palavra, etc.
Lang considera a completa destruição da Babilônia Que a sentença divina é contra uma nação que
(reedificada) como ainda futura. corresponde ao caráter político, geral, e social desse
povo.
Capítulo 14 Que forçosamente há de haver em cada nação in-
divíduos que náo mereçam a mesma sentença divi-
O reino estabelecido. As divisões deste capitulo na, por serem piedosos, e tais pessoas certamente
são: não sofrerão a mesma desaprovação divina, ainda
1) Israel restaurado e exaltado (1-6). que tenham de sofrer a merecida reprovação nacio-
2) Regozijo no reino (7,8). nal. Hoje. por exemplo, há nações que sofrem por se-
3) A "Besta" no Inferno (9-11). (Veja-se Daniel rem "agressoras". e os indivíduos nelas que náo são
7.8; Apocalipse 19.20.) agressores sofrem junto com seus chefes ss conse-
4) Satanás. o verdadeiro p r í n c i p e deste mundo e qüências de tais agressões.
organizador da "Babilônia" (Is 13.1). é denunciado
Aprendemos que pode haver uma reprovação di-
mediante seu instrumento, a "Besta" (12-17).
vina contra alguma nação pecadora, mas pode haver
5) Julgamento da Babilônia e da Assíria (18-27). uma aprovação de Deus por alguns indivíduos que
6) A sentença da Palestina: piores opressores do nela vivem piedosamente.
que Acaz chegarão (28-32).
Os versículos 12-14 evidentemente se referem a De todas as nações referidas nestes capítulos, as
Satanás. que, como príncipe do sistema mundial, é o únicas que ainda existem sáo o Egito, e o povo de Is-
dominador oculto dos sucessivos poderes universais, rael.
Tiro, Babilônia, Medo-Pérsia. Grécia. Roma, etc. Em todas estas profecias há muitas alusões e re-
(Ez 28.12-14). "Estrela radiante, filho da alva" nio ferências ás circunstâncias de então, que para DÓS
pode ser outro senão ele. Este tremendo trecho mar- hoje são meio incompreensíveis, e que náo vamos
ca o começo do pecado no universo. Quando Lücâfer tentar explicar, para não cair em alguma interpreta-
disse "Quero", o pecado começou. ção errada. Nos profetas há muitas predições, sen-
"Este é o propósito que se formou sobre toda a tenças. avisos que devem ter tido muito sentido para
terra" (26). Esta universalidade é significativa e ca- os povos de então, e que hoje têm menos aplicação.
racteriza todo o trecho como referente, não apenas a Na farmácia há uma grande variedade de drogas,
um juízo perto da Assíria, mas em um sentido mais mas nenhum indivíduo pode utilizar todas elas.

'241
Capitulo 25 curado destrui-lo. precisa ser feito impotente. Então
Israel será reunido de todas as terras onde tem esta-
"l 'm banquete para tudt** os poros " Os olhos do do disperso (v.13).
profeta estão ainda sobre a gloria milenar do seu po- Esse ajuntamento nào será como na saída do Egi-
vo. "Naquele dia" (9) e "note monte" í 10) ele con- to: uma grande multidão de uma vez. mas "sereis
templa incomparáveis bênçãos. Outra vez devemos colhidos um pttr um" (v.12).
nos lembrar que esu» bênção antecipada para Israel é Alguns pensam que a grande trombeta do versí-
nossa ern atualidade como crentes em Cristo. E esta culo 13 tem referência à de Mateus 24.31.
verdade que dá aos escritos deste profeta evangélico
>eu valor para boje. de maneira que podemos lé-lo« Capitulo 28
com proveito e prazer.
1) "Um banquete de coisas gordurosas para todos Um firme fundamento, ou um refúgio de menti-
'ts povos" t6). Esta figura é aproveitada pelo Senhor ras (15.16). O assunto continua a ser "naquele dia",
Jesus na parábola das bodas do filho do rei ( Mt 22.2- e tudo em notável contraste com o estado atual.
l l ) o nessa da grande ceia <Lc 14.16-24). Em cada "Naquele dia Jeová dos exércitos servirá de coroa de
caso Deus é quem faz a festa "salvação em Cristo) e glória e de diadema de formosura para o restante do
em ambos a porta está aberta para todo o povo. seu povo" (5). Isto é. o restante piedoso será salvo.
2) " A morte tragada na vitoria" (8). Isto realizou- Que feliz perspectiva, e quáo triste seu estado atual
se para o crente em Cristo quando Jesus ressurgiu e em comparação (8)!
levou cativo o cativeiro (Jo 8.51: 11.25.26). Pela mor- O versículo 9 é satírico; é a observação irônica da-
te Ele destruiu aqueie que possuía o poder da morte, queles que ouvem a mensagem dos sacerdotes e pro-
isto é. o Diabo, e livrou aqueles que por medo da fetas embriagados do versículo 7.
morte estavam sujeitos á servidão ( H b 2.14.15). O sentido dos versículos 10 a 13 não é muito cla-
ro. A explicação do dr. Goodman è esta: "Com quem
Capítulo 26 é que o profeta pensa que está falando? Há gente que
precisa ser tratada como criança: 'preceito sobre pre-
Um cântico para "aquele dia". Outra vez o profe- ceito, linha sobre linha' (9,10)? A isto o profeta res-
ta canta sobre "aquele dia''. e podemos cantar com ponde: '£ assim mesmo; Deus ensiná-las-á pouco a
ele. sabendo que. para nos. aquele dia já chegou em pouco a sua vergonha e culpa, até que vão e caiam
Cristo. para trás, e fiquem quebrantados, enlaçados e pre-
1) Nós também podemos dizer que "temos uma sos'. O versículo 11 é citado em 1 Corintios 14.21.
cidade forte1' (1) cujos muros sáo salvação e cujas mostrando que o profeta estava anunciando um
portaa. louvor. A "Jerusalém que é de cima" (G1 principio moral, aplicável a todos os tempos. O dom
4.26), c-in que os justos entram, isto e. os que Deus de línguas nas igrejas primitivas era um sinal contra
tem justificado. os descrentes, como foram as palavras do profeta
2) Conhecemos essa " p e r f e i t a paz" daqueles que para os escarnecedores do seu tempo. Eles tinham
confiam cm Jeová (3). A paz de Deus. que excede feito uma aliança com a morte, um pacto com Seol
todo o entendimento (Rm 5.1: Fp 4.7). (15). como toda a falsa religião vem a ser".
3) No Senhor Jeová temos uma rocha sempitema
(4). Por isso. posso tudo em Crisío que me fortalece. Capitulo 29
4) O teu nome e o teu memorial siio a saudade da
nossa alma (8). Isto raz nos pensar na Ceia do Se- A queda de Jerusalém predita. Este capítulo
nhor - a nossa santa recordação. anuncia a destruição de Jerusalém. A palavra ".4
5) Reconhecemos nos juízos que há na terra a voz ricC que é entendida significar Leão de Deus, possi-
de Deus chamando os povos para aprenderem justi- velmente se refere à bandeira da tribo de Judá. cujo
ça. É verdade que muitos recebem a graça de Deus orgulho havia de ser abatido ao pó pela queda e des-
em vão e não querem ver a majestade de Jeová (10), truição da sua capital e do glorioso templo - um
mas alguns se arrependerão e viverão. acontecimento que se deu 120 anos depois (2 Rs 25.1-
6) Confessamos Cristo como Senhor (13). Outros 10).
senhores outrora nos dominaram orgulho» vontade Este capítulo fala do castigo das nações que trou-
própria, pecado - mas «gora " p o r ti só nos lembra- xeram a ruína (5-8). então as causas que levaram o
mos do teu nome" (13). "Se confessares Jesus como Senhor a castigar seu povo (13-17), e depois fala de
Senhor... serás salvo" (Rm 10.9). restauração e bênção (18-24).
7) Compreendemos a operação de Deus (12). que Entre os motivos do castigo notemos:
Ele opera em nós o querer e o fazer o seu bom agrado, 1) Religião sem vida - aproximando-se de Deus
de maneira que podemos dizer com Isaías: "Tu és o com os lábios enquanto o coração está longe (13).
que fizeste para nós todas as nossas obras" (Good- 2) Doutrina humana em vez de verdade de Deus
man). (13). " O temor que de mim têm, é mandamento de
homens que lhes têm ensinado". O Senhor refere-se
Capitulo 27 à mesma coisa em Mateus 16.9. E o apóstolo era Co-
lossenses 2.18-23.
Israel restaurado. " N a destruição do Leviatá te- 3) inversão de valores (16): " o oleiro reputado
mos uma antecipação de Apocalipse 20.1.2: " V í um como o barro e a obra repudiando seu feitor".
anjo descendo do céu. tendo a chave do abismo e
uma grande cadeia na mão. Ele se apoderou do dra- Capítulos 30 e 31
gão, antiga serpente. do diabo e Satanás, e o amar-
rou por mil anos". Antes de começar a glória milenar Auxílio do Egito. Estes doia capítulos tratam do
de Israel, o inimigo, que durante os séculos tem pro- mesmo assunto: uma forte tendência que havia nes-

'242
ses tempos difíceis a recorrer a alguma aliança com o multidão feroz cuja língua ninguém entende (19).
Egito como sendo o recurso mais sensato. Sua "formosura' é tanto a dignidade do seu ofício real
Mas esse recurso, humanamente ajuizado, não como a glória da sua Pessoa e caráter.
fez caso de Deus. do seu poder, da sua vontade, da " 2 ) Sião. a cidade das nossas solenidades, habita-
sua Palavra, do conselho dos seus profetas. E ainda ção quieta, tabernáculo que não será removido - e
hoje o melhor procedimento nem sempre é esse que Jeová ali no meio.
parece mais sensato, humanamente falando. Em vez "3) O perfeito Legislador e Juiz. Até agora o mun-
de fazer alguma aliança mundana, pode ser melhor do nunca viu um governo perfeito Todas as formas
"ficar quieto e ver a salvação dc Dcuk". de governo têm sido experimentadas, mas nenhuma
A ierra de Israel, situada entre a Assina ao norte tem dado plena liberdade e governo justo em perfei-
e o Egito ao sul. estava em constante perigo de inva- to equilíbrio. Isto realizar-se-á somente quando Cris-
são por essas nações. Olhando para o mapa. pode- to reinar".
mos ver que Israel estava no meio do caminho entre "Jesus à Terra voltará com grande majestade,
as duas nações pagãs. Por isso. freqüentemente, era E neste mundo tomará suprema potestade.
o campo de batalha entre elas. Saudai o Rei celestial, que toma aqui poder real!
Quando atacado pela Assíria, o povo de Israel Saudai o imperial Senhor! - Jesus. Rei Santo.
costumava recorrer ao Egito para auxiliá-lo - uma Salvador'
política tola. porque somente convidava as nações Jesus justiça e paz dará o proteção ao povo;
beligerantes a devastarem o país. Israel havia de so- O seu reinado amor trará ao mundo feito novo.
frer. qualquer que fosse o vencedor, e nesses tempos Dominará de mar a mar e até os fins da terra.
o conquistador mostrava pouco respeito por trata- Felicidades nos vem d a r náo haverá mais guerra.
dos. ou pelos povos pequenos que devia socorrer (3). Compadecer-se-á Jesus dos tristes e dos pobres;
Proposta emenda de tradução: fim do versículo Florescerão na sua luz os juBtos como nobres.
19: "te terã respondido" (R. 112). Qual chuva, bênçãos descerão aos povos refres-
cando,
Capitulo 32 E reis e príncipes virão curvar-se sob seu man-
do."
Um homem, o esconderijo. O grande Rei. Note- Hinos e Cânticos 430
mos que Cristo precisa ser conhecido como Salvador
(esconderijo da tempestade do juizo) antes que seja Capítulos 34 e 35
conhecido c m o Rei da nossa vida.
Onde Ele rege. a vida será transformada (3-8). Os Estes dois capítulos apresentam um grande con-
olhos espirituais não mais serão ofuscados, os ouvi- traste. O titulo do 34 na V.B. é " A indignação de
dos escutarão, o coração entenderá, os lábios falarão Deus contra as nações" e o do 35 " A futura felicidade
claramente. de Sião". Quando lemos assim de povos inteiros de-
O precioso fruto do Espirito se vê (16-20): o de- votados à destruição ficamos pensativos, e queremos
serto torna-se frutífero: a obra da justiça é paz, sos- saber se eram povos muito mais iníquos do que os
sego e confiança para sempre. que conhecemos hoje. £ verdade que ainda hoje ve-
N o meio deste capitulo encontramos um aviso ás mos nações inteiras destruídas ou escravizadas, mas
"mulheres indolentes". Tempos de provação vinham náo podemos dizer que isso se faz pela vontade de
sobre a terra, e náo era tempo para indolência ou Deus.
vaidade. O profeta prevê o dia quando essas mulhe- Mas se o capítulo 34 é todo tenebroso, o capítulo
res estariam nuas ou vestidas de saco. Os dias em 35 é todo glorioso. Diz o "Student's Commentary"
que nós vivemos (escrevo em 1942) são também dias que "as maravilhas materiais desta profecia simboli-
de provação, e ninguém deve ser indolente ou pre- zam as maravilhas espirituais efetuadas pelo novo
guiçoso ou vaidoBo. Acontece ainda hoje que " o palá- nascimento , \
cio será abandonado; a cidade populosa ficará deser- Notemos:
taNações inteiras gemem sob a mão do opressor, e 1) A glória do Senhor no ermo florescente (1,2). A
muitos povoa clamam pela "obra da justiça", que é excelência do nosso Deus é revelada na transforma-
paz (17). ção do deserto num jardim de rosas. "Todos nós so-
mos transformados de glória em glória na mesma
Capítulo 33 imagem, como pelo Espírito do Senhor" (2 Co 3.18).
Nossos corações desertos vêm a ser como um jardim
"Olha para Sião" (20). "Muito® crêem que este do Paraíso para o prazer do nosso Deus.
capitulo tem a sua primeira aplicação a Senaqueri- 2) Passam os dias das nossas enfermidades (3-7);
be. que é o 'violador da aliança' do versículo 8. e cuja não mais mãos fracas, corações débeis, olhos cegos,
destruição (10-20) é relatada nos capítulos 36.37. ouvidos surdos, lábios mudos, mas "mananciais de
"Outros vêem na profecia o An ti cristo predito, o água" espiritual (7). (Compare-se João 7.38.)
último grande inimigo de Israel, que. nos últimos 3) O caminho da santidade (8). Náo há formosu-
dias. procurará fazer o que tantos outros têm tenta- ra de vida sem a santidade. A santidade é saúde e
do: conseguir o extermínio do povo eleito de Deus. beleza espiritual. Ê a vida de fé (10); é uma senda de
Aprendemos de 2 Tessalonicenses 2.8 que ele será gozo e alegria (Goodman).
consumido 'pelo assopro da sua boca. v aniquilado
pelo esplendor da sua vinda'. Este quadro escuro for- Capítulos 36 a 39
ma o fundo para as coisas gloriosas recordadas neste
capítulo. Notemos: Senaquerlbe morre; Ezequias curado. Estuda-
" 1 ) 0 Rei na sua formosura 17) que é a figura mos estes capítulos quando lemos 2 Reis capítulos 18
principal. Nunca mais será a terra invadida por uma a '20. Na doença de Ezequias notemos -

'243
hãiüi

1) O aviso (cap. 38.1). O rei estava muito doente, citações de Isaias 53 e 6 são ambas atribuídas a
prestes a morrer. Ele é aconselhado a "ordenar a sua Isaias" (Scofield).
casa" e preparar-se para o porvir. Mais cedo ou mais Devemos atender a uma expressão no versículo 2
tarde cada um precisa ouvir semelhante aviso. que pode facilmente ser mal-entendida: "Jerusa-
2) A oração ( w . 2,3). Por que chorou e orou o rei? lém... já recebeu em dobro da mão de Jeová por to-
Estava morrendo com a idade de 39 anos, ç não ti- do* 0.5 seus pecados". Diz-se que no Oriente, nesses
nha filho para herdar o trono. A falta de posteridade tempos, no caso de haver qualquer compromisso re-
era considerada como sinal do desagrado divino. cordado num documento, era o costume rasgar o pa-
Ezequias alega que tinha vivido com retidão. Náo pel ao meio. ficando a metade com o credor e a outra
diz que está sem pecado, mas que tem conservado parte com o devedor. N o ato da quitação, era costu-
uma boa consciência (At 23.1). me o credor entregar ao devedor a metade, chamada
3) A resposta ( w . 4-6). Devemos concluir que se o " o dobro", que estava em seu poder, dando assim o
rei não tivesse orado, teria morrido. Deus concedeu- caso por liquidado. Assim é que o profeta declara a
lhe mais do que pediu ( v . 6). Jerusalém que já tem recebido " o dobro" em sinal da
4) O sinal ( w . 7,8). (Compare-se 2 Rs 20.8-11.) A plena liquidação de todos os seus pecados.
sombra voltou dez graus sobre o relógio, que enten- O cristão percebe no versículo 3 uma evidente
demos ter sido feito milagrosamente (Scroggie). alusão a Joáo Batista: a voz que clama no deserto. O
Ezequias tropeça (cap. 39). Neste incidente dos motivo da preparação referida é que "a glória [do
embaixadores da Babilônia, Ezequias tropeçou. O Evangelho! do Senhor se manifestará" (5).
que parecia ser uma coisa muito natural e licita veio O versículo 11 faz-nos pensar de Cristo como o
a ser uma desonra ao nome de Deus. Vamos exami- Bom Pastor.
nar o incidente: Podemos chamar os versículos 12-31 "o Trecho
1) Porventura o ouro. a prata e mais valores eram Interrogatu o" devido às muitas perguntas que con-
seu verdadeiro "tesouro"? Não eram. Seu verdadeiro têm.
tesouro era o nome de Jeová. Por que náo testificou
Ezequiafi de Jeová como seu soberano recurso? Capitulo 41
2) Porventura seu reino estava em tal estado que
pudesse gloriar-se nele? Nào escava: pelas profecias Jeová suscita um Libertador (1-7). A alusão, no
de Isaias sabemos que estava cheio de idolatria e versículo 2, parece ser a Ciro, cuja* vitórias e rápido
imoralidades. Mostrar o ouro e prata e ocultar o pe- aumento em poder sáo atribuídos á providência de
cado e vergonha nào era a parte de uma testemunha Deus. Os versículos 5-7 descrevem o efeito sobre as
Hei. nações do surgimento da Pérsia. Animaram uns aos
3) Porventura a sua "casa de armas" era uma outros, e fizeram novos ídolos (v. 7). N o versículo 8 o
coisa de jactar-se? Nào foram as armas que o salva- profeta dirige-se a Israel. Visto que foi seu Deus
ram do poder de Senaqueribe. Por que gloriar-se ne- quem levantou a Ciro, devem esperar dele o bem e
las. e assim desonrar a Deus, que tinha sido a sua nào o mal i vv. 8-20). Os versículos 21-24 são um de-
salvação? safio aos ídolos em quem as nações confiavam.
4) Porventura c*ta exibição de orgulho era direito Tu Israel, servo m*u" (v. 8). "Três servos de
num servo de Deus? A vanglória competia aos reis Jeová são referidos em Isaias: 1) Davi em 37.35: 2) a
pagãos, mas o povo de Deus devia gloriar-se em Jeo- nação de Israel, em 41.8-16: 43.1-10; 44.1-8; 45.4;
vá, sabendo que não são as riquezas que fazem o ho- 48.20; 3) o Messias em 42.1-12; 49 (o capítulo inteiro),
mem. mas o caráter e a piedade. Contudo, a mansi- mas notemos especialmente os versículos 5-7 onde o
dão com que Ezequias recebeu a admoestação do Servo. Cristo, restaurado 'trilhará os montes'
profeta (8) è um precioso exemplo (Goodman). (41.15)" (Scofield).
Notemos neste capítulo: a) A certeza do auxílio,
Parte II do Livro OLHANDO ALÉM lançando fora o receio. Repete-se várias vezes "náo
DOS C A T I V E I R O S temas" com repetidas promessas de auxilio (8-14).
b) A promessa de triunfo (15-17). c) A satisfação e
Capítulo 40 engrandecimento dos "pobres e necessitados " (17)
como podemos ver nos versículos 18 e 19.
A nova mensagem do profeta. Os primeiros dois
versículos fornecem a chave da segunda parte da Capitulo 42
profecia de Isaias. O grande tema desta seção é Jesus
Cristo nos seus sofrimentos, e glória que haverá no Cristo, o Servo de Jeová " E m Isaías temos uma
reino davidico. Visto que Israel há de ser reajuntado, dupla profecia do vindouro Servo de Jeová. Ele é re-
convertido, e feito o centro da nova ordem social, presentado como fraco, desprezado, rejeitado e mor-
quando o reino for estabelecido, esta parte de Isaias to, e também como o poderoso vencedor, tomando
contêm notáveis profecias desses acontecimentos. A vingança das nações e restaurando Israel (40.10;
plena vista dos sofrimentos redentivos de Cristo (co- 63.1-4). A primeira ciasse de trechos refere-se ao pri-
mo no capitulo 53) leva a voz profética para o caráter meiro advento, e tem sido cumprida; a outra, ao se-
evangelistico tão evidente nesta parte de Isaias gundo. ainda por cumprir.
45.22,23; 55.1-3. '"Para a luz dosgentios' (v. 6). Os profetas ligam
" A mudança de estilo, que tem sido tão comenta- os gentios com Cristo de uma maneira tríplice: 1)
da. náo é mais notável do que a mudança de tema. como Luz, Ele traz salvação aos gentios ( L c 2.32; At
Um profeta que era também patriota náo havia de 13.47.48); 2) como raiz deJessé'. Ele regerá os gen-
escrever dos pecados e próximo cativeiro do seu povo tios no seu reino (Is 11.10; Rm 15.12). Ele salva os
cora a mesma exultaçáo com que depois descreve a gentios, que é a característica do tempo presente
3ua redenção, bênção e poder. Em João 12.37-43. as (Rm 11.17-24; Ef 2.11.12). Ele reina sobre os gentios

244
Istfat

durante o Milênio; 3) gentios crentes juntos com ju- "Ele edificará a minha cidade e deixará ir livres os
deus. crente» constituem 'a Igreja que é o seu corpo'' meus exilados, nem por preço e nem por presentes".
(Ef 1.23). Veja se também Efésios 3.6 (Scofield). Mas Israel havia de ser salvo, não somente com
"Muita confusão e dificuldade tèm sido introdu- uma salvação atual do cativeiro na Babilônia, mas
zidas na interpretação dente trecho por não reconhe- "com uma salvação eterna" (17). Também é uma
cer que o povo no versiculo 6 não denota Israel" ( K . salvação não somente para Israel mas para "todos os
388). confins da terra" (22), e todos os povos são chama-
Notemos que oe versículos 1-3 são citados a res- dos para olharem para esse que é "Deus justo e Sal-
peito de Cristo em Mateus 12.17-21. vador" (21). Nele todos acharão justiça e força (24).
O dr. Kirkpatrick atribui os versículos 18,19 ao Isto antecipa o ensino de Romanos 3.25.26 que
Servo Israel e não ao Servo Cristo. fala de Cristo como o Propiciatório. por quem. pela
fé no seu sangue, o pecador poderá ser justificado
Capítulo 43 gratuitamente. Deus é justo e justificador de quem
tem fé em Cristo - é Deus e Salvador.
Jeová, o único Salvador. " E m muitos destes tre-
chos é difícil dizer quem é que fala, mas aqui, no Capítulos 46 e 47
versiculo 3 temos Um que se declara "Jeová teu
Deus, o santo de Israel". Sem dúvida, esta é a lin- A queda dos ídolos da Babilônia " B e l " (senhor)
guagem do Messias, o Divino Senhor e Salvador. £ a e " N e b o " (anunciador) eram nomes de dois dos ído-
Ele que as nações devem a sua criação e redenção. los da Babilônia. Destes dois ídolos diz o profeta que
Uma coisa nova (v. 19). O "Students' Commen- "abaixam-se", sendo carregados pelos animais em
tary " explica oa versículos 19-21 assim: " O argumen- vez de serem levados sobre os ombros dos homens.
to é que. como Israel fora o instrumento escolhido Seguem (46.3-13) promessas ncas para Israel.
por Deus para a destruição dos egípcios e assírios, as- Notemos o versiculo 4: " o que eu gerei, famòem car
sim Israel serã no futuro o instrumento de Deus, es- reguei, e levarei, e livrarei" E Deus é o mesmo hoje.
colhido para demonstrar sua maior glóna na salvação No versículo 8 Deus invoca a lembrança do seu povo.
dos egípcios e assírios. Isto será a coisa nova. Em No capitulo 47 a "filha da Babilônia" é senten-
comparação, as coisas anteriores são tanto menos no- ciada. e dela diz Jeová: "Eu me agastei contra o meu
táveis que podem ser esquecidas (18); mas, em fa- pttvo, prttfanei a minha herança, e entreguei-os nas
lando desta nova honra que será posta sobre o povo tuas mãos; tu não usaste de misericórdia com eles,
eleito (2). o profeta, no nome de Deus, queixa-se de sobre os velhos fizeste muito pesado o teu jugo"
que .Jacó não tem chamado pelo Senhor nem tem (47.6)
trazido as ofertas. Em verdade 'me tens feito servir
com os teus pecados, me tens cansado com as tuas Capitulos 48 e 49
iniqüidades'" (v. 24).
Israel admoestado. O profeta toma a falar de Is-
Capitulo 44 rael. Diz que tem sido refinado na fornalha da afli-
ção (10). Notemos nestes capítulos: a) O imutável
A pnimessa do Espirito (v. 3) Este derramamen- amor de Deus para com seu povo. e a sua compaixão
to do Espirito Mjbre a nação é freqüentemente pro- em todas as suas aflições, b) A loucura dos desvios
metido nos profetas (Ez 36.27; 37.14; 39.29; J1 2.28; de Israel (48.8) e a sua infidelidade. c) O propósito
Zc 4.6). Cumprir-se-á então a promessa de que a na- dos procedimentos divinos; não para destruir, mas
ção será renascida um dia, quando Israel virar-se-á para refinar e abençoar.
para o Senhor e será salvo. Depois vinha um tempo aceitável, um dia de sal-
vação (49.8). O capitulo 49 termina com sublimes
Depois o profeta fala outra vez da loucura da ido- promessas de engrandecimento e bênção. E Israel es-
latria. Demonstra a sua insensatez, sua vaidade, e pera ainda essa consumação.
seu trabalho inútil. Somente depois de a nação vol-
tar do Cativeiro foi que se curou deveras da idolatria. Capítulo 50
Referindo-se A alusão a Ciro no versiculo 28, Sco-
field recorda que o rei Jos ias foi mencionado por seu O obediente Servo de Jeová. "Este capitulo,
nome 300 anos antes de nascer (1 Rs 13.2). Os expo como o 53 e o salmo 22, é profundamente messiânico.
sitores que pensam que o» capítulos 40 a 66 foram es- Nele. como no salmo, o Senhor, o Servo de Jeová,
critos por um discípulo e admirador de Isaias, e não fala na primeira pessoa. Km ambos vemos os seus
por ele mesmo, entendem que Ciro já tinha em- pensamentos íntimos e ouvimo-lo contar as suas ex-
preendido sua carreira de conquista quando se escre- periências aqui no mundo.
veu a profecia. "Primeiro Ele argtii seu p o v o As suas misérias
resultaram das suas transgressões. Ele já os tinha re-
Capitulo 45 pudiado (1); quando, porém, viu as misérias deles,
veio salvá-los".
Ciro é comissionado para libertar os exilados. Diz Esta profecia <4-9) deve ser lida conjuntamente
o dr. Goodman: "Ciro era um neto da rainha Ester, com o trecho em Filipenses 2.6-1L, que descreve o
sendo filho da sua filha Mondane. Ele é chamado o mesmo acontecimento: como Cristo "aniquilou-se a
><wfor"de Deus (44-28) e seu "ungido" (1) e outra si mesmo, e tomou a forma de servo, etc." Notemos
vez seu "servo". Estes títulos lhe sáo dados, não por também que:
causa do seu caráter, pois ele ignorava a Deus (5), e é 1) Ele tomou o lugar de quem é instruído (4),
chamado "uma ave de rapina" (46.11). mas porque cada manhã escutando a voz do Pai. Ele mesmo dis-
Deus o destinou para a obra da restauração de Israel. se: "a minha doutrina não é minha, mas daquele que

245
me enviou" (Jo 7.16). E "falo como o Pai me ensi- ministério benéfico ( M t 8.16,17), e depois "levou
nou" (Jo 8.28). seus pecados no seu corpo sobre o madeiro" (1 Pe
2) Foi sempre obediente, embora o caminho da 2.24) Ele foi ferido, esmagado, aflito para que seu
obediência o tivesse levado á vergonha e persegui- povo pudesse ser sarado (5). Naquela solene hora do
ção, como lemos nos Evangelhos. Calvário, Deus pôs sobre Ele a iniqüidade de Israel,
3> Deus o vindicou. levantando-o dentre os mor- recebendo dele o pagamento da conta toda. Permitiu
to". Tal é o grande mistério da piedade; Deus foi ma- aos homens crucificá-lo, e fez da sua alma uma ofer-
nifestado na carne, e justificado no Espirito (1 T m ta pelo pecado (10).
3.16). Então, o triunfo, mas somente depois da mor
te, porque "se um grão de trigo cair na terra e náo
Capitulo 51 morrer, fica só; mas se morrer dá muito fruto" (Jo
12.24). Assim Ele verá o fruto do trabalho da sua
A salvação de Israel. Para fortalecer o coração do alma (11).
povo, Deus:
1) Ensina-lhe a não temer o homem (7), uma Capítulos 54 a 56
criatura passageira (12), que será consumida pela
traça e polo bicho (8). O Evangelho antecipado. As primeiras palavras
2) Relembra-lhe as façanhas divinas, como Ele do capitulo 55 fazem-nos lembrar as de nosso Senhor
feriu a Kaabe (Egito) e secou o mar. fazendo um ca- no grande dia da Festa dos Tabemáculos: "Se al-
minho para seu povo (9,10,15). guém tem sede, venha a mim. e beba" (Jo 7.37). O
3) Náo quer que esqueçam ter sido Ele quem "es- Evangelho faz o seu apelo a um mundo sedendo. No-
tendeu os céus e fundou a terra " (13). Com tais argu- temos os seguintes pontos.
mentos. Ele procura consolar seus corações, dizendo 1) E um evangelho de graça: tudo é oferecido "sem
lhes que "os resgatados do Senhor voltarão, e com dinheiro e sem preço" (1).
júbilo virão para Sião, e alegria sempiterna descan-
sará sobre as suas cabeças. Eles alcançarão goto e 2) E um evangelho de fé (3) e náo de obras. "Ou-
alegria, e a tristeza e o gemido fugirão" (11). vi, e a vossa alma viverá" A fé vem pelo ouvir, e o
ouvir pela palavra de Deus.
Capítulo 52 3) E o evangelho de Cristo (4). Deus o tem dado
como Príncipe e Comandante do povo, para ser o
Sião é animada a sair do exílio. Neste capitulo o Capitão da sua salvação. Os que o procuram,
profeta antecipa o dia referido em 2 Corintios 3.15,16 acham; e todos os que o invocam (6) recebem miseri-
e Romanos 11.26,27, o dia quando Israel contempla- córdia e perddo (7).
rá aquele que feriu, o Servo Sofredor que foi levado 4) £ um evangelho de gozo (12). Quem o recebe
como cordeiro ao matadouro. sai jantando, como o eunuco da Etiópia (At 8.39).
E o profeta, vendo tudo isto pelo Espirito, invoca
5) E um evangelho frutífero (13). " E m lugar do
Israel a sacudir-se do pó e a levantar-se e ouvir a pa espinheiro nascerá o cipreste e em lugar da urtiga
lavra: "Teu Deus reina" (v. 7). nascerá a murta". As obras da carne cedem lugar ao
O» últimos trés versículos pertencem ao capitulo fruto do Espirito.
53. Reaparece o Servo de Jeová "exaltado e elevado e
mui sublime", assustando muitos, e "borrifando" V emos no capitulo 56 promessas especiais para os
muitas nações (15). (Compare-se Ezequiel 35.25.) eunucos e estrangeiros que servissem o Deus dc Ia
Proposta emenda de tradução (v. 4): "o assírio'' rael e guardassem o sábado de Israel Deus havia de
em vez de "a Assíria" (J. 350). os contemplar com seu especial favor. "Dar-lhe-ei na
minha casa ... um memorial e um nome melhor do
Capitulo 53 que o de filhos e filhas, dar lhes-ei um nome sempi-
terno. que não se apagará". Isto faz-nos recordar
O Cordeiro de Deus. Sobre este capitulo escreve o (Mateus 19.12,29).
dr. Goodman: "Podemos dividir esta profecia em
cinco seções: Capítulos 57 e 58
1) O Servo de Jeová apresentado (52.13-15).
2) Seu andar terrestre (53.1-3). Náv há paz para m iníquos (27.21). O» livros dos
3) Seus sofnmentos como substituto (4-6). profetas tém este aspecto em comum: nào contém
4) Sua morte e enterro (7-9). ensino consecutivo, mas têm aparência de serem pa-
5) Seu triunfo (10-12). lavras pn>féticas proferidas em diferentes ocasiões e
" O capitulo é citado coin respeito ao Senhor nada rnais tarde reunidas num só rolo, muitas vezes sem
menos que seis vezes no N . T . ( M t 8-17: M c 15.28; Jo considerações cronológicas. Isto é especialmente no-
12.38; A t 8.32; 2 Co 5.21; l Pe 2.22-25) Além disso, tável no caso de Jeremias e também, em menos me-
vemos o Senhor aplicando-o a si mesmo em Lucas dida. no de Isaias.
22.37: "Importa que em mim se cumpra aquilo que Voltamos das gloriosas profecias evangélicas dos
está escrito: E ele foi contado com os transgressores; capítulos 53 e 55 para o que muitas vezes são chama-
porque o que de mim se refere está se cumprindo". das "sentenças", denunciando ira mais do que mise-
" O Senhor e apresentado aqui como raiz que sai ricórdia. Assim este capítulo termina com as pala-
da terra seca. Eie nào é desejado do seu povo; veio a vras: "JVáo há paz para os iníquos, diz o meu Deus ".
eles, mas náo o receberam nem perceberam a beleza Os iníquos sáo comparados ao mar agitado (v.20).
de sua vida perfeita e palavras de graça. Ele era um Contudo o mesmo capitulo contém um evangelho
"varão de dores", e esconderam dele o rosto. Mas le- de paz: "Paz, paz ao que está longe e ao que está per-
vou as soas enfermidade» e dores na sua simpatia e to, diz Jeová" (19).

'246
Tutíãt

Capítulos 59 e 60 mência os remiu, os tomou e os levou em todos os


dias da antigüidade".
O Redentor virá a Sido (59.20). O argumento do Achamos bastante estranha a queixa do versículo
profeta parece ser que o povo era indiferente religio- 17: "Por que, Jeová, nos fazes errar dos teus cami-
samente. e por isso "Jeová,., viu que não havia varão nhos. e endureces nosso coração para te nào temer-
e maravilhou-se por nào haver quem intercedesse", mos f"
mas embora os homens fossem indiferentes. Deus in-
teressou-se por eles. e "o seu próprio braço lhe trouxe Capítulos 64 e 65
a salvação, e a sua própria justiça o susteve" (16).
Ele mesmo saiu contra o inimigo. Sua própria justi- Calamidade, e clamor a Deus " A descrição dada
ça o susteve. e seu zelo conseguiu a salvação. nos versículos 10.11 do capitulo 64 combina com o
Assim o Messias, o Redentor, chegará a Siào, e o estado das coisas na ocasiáo da destruição da cidade
povo deixará a injustiça, como lemos em Romanos e templo de Jerusalém por Nabucodonosor (uns 150
11.26,27: "De Sião virá o Libertador, e desviará de anos depois dos tempos de Isaías). na ocasião do ca-
Jacó as impiedades". tiveiro de Judá (2 Cr 36.19).
N o capitulo 60 notemos: "Porventura o profeta está prevendo tudo isto
1) Enquanto as trevas cobrem o povo da terra. nas suas visões do futuro? Depois de ter falado coisas
Siào será um centro de luz (v.2). táo gloriosas de Sião, porventura ele se ocupa em
2) Siào será um centro de congregação para os descrever a aflição que precisa vir sobre a nação an-
gentios (3). para os reis, e multidões de pessoas de tes de a bênção poder chegar? Esse que vê "o fim
todas as categorias. desde o princípio" e relata as coisas antes de aconte-
3) A » portas da cidade santa estarão abertas dia e cerem (46.10; 48.5). pôde inspirar seu profeta e ver e
noite (11). devido à abundância da riqueza que che- recordar tudo adiantadamente.
gará. "Esta terrível calamidade leva Isaías a clamar:
4) As nações insubmissas serão destruídas (12). "Oxalá fenderas tu os céus. v desceras" (v. 1), um
" T a l é o maravilhoso quadro da Jerusalém terres- rogo que teve a sua resposta quando o Senhor veio do
tre no dia da sua restauração, que podemos compa • Pai e. feito carne, habitou entre nós.
rá-lo com a glória de Jerusalém celestial, o monte " O capitulo 64 termina com uma pergunta e o 65
Siào para o qual temos vindo em Cristo, quando des- começa com a resposta. O povo julga Deus indiferen-
cerá do Céu. adereçada como uma esposa ataviada te ao seu apelo, mas Deus responde: "Estendi as mi-
para seu marido (Ap 21.2), tendo a glória de Deus, nhas máos o dia todo a um povo rebelde, que anda
como se descreve nos versículos 10-22 deste capítulo por um caminho que não é bom, após os seus pensa-
60. Muitoa crêem que nesae dia haverá comunicação mentos" (2). Isto faz-nos pensar na mensagem a
entre as cidades terrestre e a celestial" (Goodman). igreja de Laodicéia: " E i s que estou à porta, e bato"
(Ap 3.20). Depois o Senhor argúi a nação pela sua hi-
Capítulos 61 e 62 pocrisia e iniqüidade.
Bênçãos milenares (65 17-25). "Este trecho, em-
.4 salvação proclamada. O capitulo 61 é notável bora fale de 'céu» novos e terra nova', contempla
por ser o citado pelo Senhor na sinagoga de Nazaré, tudo do ponto de vista da esperança de IsraeL E Je-
com a diferença de que aqui a profecia está comple- rusalém que há de ser o centro e gozo do povo de
ta. com a solene terminação: "e o dia da vingança do Deus (18.19). As características do período milenar
nosso Deus". sáo:
Este capítulo termina com um trecho de regozijo 1) Wão mais choro ou voz de lamento (19). Pou-
em Jeová, "porque me vestiu dos vestidos da salva- cas cidades têm tido uma história dc tanta aflição
ção, me cobriu do manto da justiça, como um noivo como Jerusalém, mas isso cessará de uma vez.
que se adorna com uma grinalda, e como a noiva que 2) Vida prolongada. Não haverá mais mortes pre-
se enfeita com as suas jóias" (v. 10). maturas. pois " o menino morrerá de cem anos" (20).
O assunto do capitulo 62 é " A glória de Sião e o 3) Segurança e prosperidade na terra (21-23). Ca-
teu novo nome". A cidade "Desamparada" será cha- sas construídas e vinhas plantadas, e o povo nunca
mada " H e f z i b a " - meu regozijo está nela, e a terra mais será roubado dos seus mantimentos pelos ini
Desolada. "Beulá". ou Casada. E o Senhor havia de migos.
regozijar-se sobre ela como o noivo se regozija na noi- 4) O Senhor perto para ouvir as orações (24). Isto
va (5). é um sinal de prosperidade espiritual (Jo 15.7).
5) A natureza não mais sob maldição: "O lobo e o
Capitulo 63 cordeiro se apascentarão juntos, e o leão comerá pa-
lha como o boi" (25). Iremos que " o pó será a comida
Antecipando o dia da vingança. A linguagem da serpente" e podemos desejar saber se isto é para
aqui é tão semelhante á de Apocalipse 19.11-21 que entender literal ou figurativamente.
havemos de entender que se refere à mesma ocasião.
" A restauração de Israel requer vingança sobre as Capítulo 66
nações opressoras, de maneira que o profeta prediz
furor', e em seguida se ocupa com as benignidades A visáo final. Neste capitulo, como em todo o li-
de Jeová para com o povo rebelde de Israel (8,9), vro de Isaías, há muitas alusões e advertências que
que. embora tivesse contristado o Espírito Santo, pouco podemos compreender. É certo que neste
ainda era lembrado por Deus". capitulo Deus está reprovando algumas práticas reli-
Podemos notar a singular formosura do versículo giosas sem espiritualidade, e que Ele aponta o tipo
9 "Em toda a angústia deles, foi ele angustiado, e o de adorador que pode aprovar: "Para esse homem
anjo da sua face os salvou; no seu amor e na sua cle- olharei, isto é, para aquele que é pobre, e dum espíri-

247
liAÚU

to contnto e que treme da minha palavra" (v. 2). E P A R T E II


os tais são referidos outra vez no versículo 5 com
mais o fato de que serão odiados por causa da sua fi- 40.3-5: a voz que clama no deserto ( M t 3.3 e luga-
delidade a Deus. res paralelos;.
"'A profecia termina com a realização das espe 40.6-8: murchando a glória e permanecendo a
ranças nacionais de Israel - o estabelecimento de Je- verdade ( T g 1.10.11, e 1 Pe 1.24.25).
rusalém como a metrópole do mundo durante o rei- 40.13: "Quem conheceu o espirito do Senhor?"
nado milenar de Cristo. Vem o dia quando a voz de (Rm 11.34. 1 Co 2.16).
Jeová se ouvirá do templo (6) e a nação será renasci- 41.4: o primeiro e o último ( A p 1.8.11.17 e 2.8. e
da (8), e a paz será estendida como um rio <12). 21.6. e 22.13).
Todos os povos e línguas se ajuntaráo em Jerusa- 42.1-4: o Servo de -Jeová ( M t 12.17-21).
lém (18). e verão a divina glória descansando sobre a 45.23: "diante de mim se dobrará todo joelho"
cidade santa, e a glória das nações chegará ali como (Rm 14.11 e Fp 2.10.11).
uma torrente que transborda (12). 49.6: "luz para os gentios" (Lc 2.32 e At 13.47).
Mas o livro termina com uma palavra terrível de 49.8: " o tempo aceitável" (2 Co 6.2).
julgamento. Os Transgressores serão destruídos, e 49.10: "nunca terão fome nem s e d e " ( A p
ver-se-áo os seus cadáveres. 7.16.17).
52.7: (vede Naum 1.15) "suaves sobre os montes
PRINCIPAIS CITAÇÕES E ALUSÕES N O NOVO os pés dos..." (Rm 10.15).
TESTAMENTO
53: Os sofrimentos do Servo de Jeová. Ele salva
do pecado e da aflição. Este capitulo acha-se todo re-
PARTE I produzido no N.T., sempre aplicado a Cristo. Com-
parem-se: o versículo 4 com Mateus 8.17: os versícu-
I.9: " U m remanescente". ( L X X "geração", "se- los 5 e 6 com 1 Pedro 2.24.25: os versículos 7 e 8 com
mente"). Assim em Romanos 9.29. Atos 8.32,33; o versículo 9 com 1 Pedro 2.22; o versí-
6.1-3: " A sua glória": Vede João 12.41 e Apoca- culo 12 com Marcos 15.28. Lucas 22.37, Hebreus
lipse 4.2.6.8. 9.28.
6.9.10: o coração duro que náo aceita o ensino de 54.1: "canta alegremente, ó estéril" (G1 4.27).
Deus ( M t 13.13-15. Jo 12 39-44. At 28.25-27). 54.13: "os teus tilhos serão ensinados pelo Se-
7.14: a passagem sobre Emanuel (Mt 1.21-23). nhor" <Jo 6.45).
8.12.13: "Santificai ao Senhor dos exércitos" (1 55.3: "as firmes benefícéncias de D a v i " (At
Pe 3.14.15). 13.34).
8.14: a pedra do tropeço (Rm 9.32,33). 55.10: "semente ao semeador e pão ao que come"
8.17.18: " o s filhos que me deu o Senhor" ( H b (2 Co 9.10).
2.13). 56.7: "casa de oração para todo o povo" ( M t
9.1.2: "luz para o povo que andava em trevas" 21.13 e lugares paralelas).
( M t 4.14-16). 57.19: "paz ao que está longe'' ( L X X "aos q u e " )
10.22.23: "um resto do povo se converterá" (Rm (Ef 2.17).
9.27.28).
I I . 4 : **a vara da sua boca e o sopro dos seus lá- 59.17: "couraça de justiça e elmo de salvação"
bios" (2 T s 2.8). (Ef 6.14.17 e 1 T s 6.8).
11.10: " a raiz de Jessé" í"Ievantar-se-á para go- 59/20,21: " o libertador de Sião" (Rm 11.26,27).
vernar" < L X X ) (Rm 15.12). 60.3.10.11: as nações e a cidade celestial ( A p
21.9: " a caída é Babilônia" (Ap 14.8 e 18.2). 21.24-26).
22.22: " a chave da casa de D a v i " ( A p 3.7). 61.1,2: boas-novas aos pacíficos (Lc 4.17-19).
25.8: "morte devorada na vitória" ( L X X ) (1 Co 63.3: pisando o lagar ( A p 19.13,15).
15.54). 64.4: os mistérios do amor divino (1 Co 2.9).
28.11,12: "com outra língua" (citado como da 65.1,2: "achado pelas que não me procuraram"
L e i " ) (1 Co 14.21). (Rm 10.20,21).
28.16: " a pedra principal colocada em Sião" (Rm 65.17: "novos céus e uma nova terra" (2 P e 3.13 e
9.33 e 1 Pe 2.4-6). A p 21.1).
29.10: " u m espirito de sonolència" (Rm 11.8). 66.1,2: trono, escabelo e santuário ( M t 5.34,35 e
29.13: serviço de lábios, estando o coração longe A t 7.48-50).
( M t 15.7-9 e M c 7.6.7). 66.24: bicho que náo morre e fogo que não se apa-
29.14: a sabedoria dos sábios perecerá (1 Co ga ( M c 9.44).
1.19). A todas estas passagens poderiam-se acrescentar
29.16 e 45.9: a criatura provocando o seu Criador muitas expressões que têm a sua origem nos escritos
(Rm 9.20). do profeta Isaías. E por isso estudar Isaias no Novo
34.4,10: o juízo vindouro ( A p 6.13,14). Testamento é um dos estudos bíblicos mais interes-

V
35.3: mãos fracas e joelhos trem entes ( H b 12.12). santes e proveitosos (An^us).

248
Jeremias

e remi as começou o seu ministério 1.1.2. Capítulos 7 a 9: segundo movimento.


no ano 13 de Josias, uns 60 anos Acusações, ameaças, tristezas do profeta.
depois da morte de Isaias. Sofo- 1.1.3. Capítulos 10 a 12; terceiro movimento.
nias e Ha b a cuque eram contem- Idolatria, desobediência, traição, tristeza de Deus
porâneos do seu primeiro ministé- com o seu povo.
>aniei do seu último. Depois da morte de Josias, 1.2. Profecias durante o reinado de Joaquim.
10 de Judá apressou-se ao seu fim. pelo cativeiro 1.2.1. Urdem (capítulos 26; 46 a 49.33: 25;
ilónico. Jeremias ficou na terra ministrando ao
36.1-8; 45; 36.9-32; 14 a 20; 35; 22 a 23; 13).
>re restante (2 Rs 24.14) até que desceram ao Egi-
1.2.2. Substância Jeremias prediz julgamento
to. para onde ele os seguiu, e onde morreu, bem cedo.
contra a nação de Judá; reprova os falsos profetas;
Jeremias, profetizando antes do. e durante o exilio
de Judá. liga os profetas anteriores ao Exílio, com prediz a invasáo babilônica; sofre pela sua mensa-
Ezequiel e Daniel, que sáo os profetas do Exílio. gem.
1.3. Profecias no reinado de Zedequias.
A visão de Jeremias inclui: o cativeiro babilôni- 1.3.1. Ordem (Capitulos 24; 27 a 29; 49.34 a
— - volta depois de 70 anos: a dispersão de Israel 51; 21; 34; 37; 38; 39.15-18; 32; 33; 30; 31; 39.1-14)
as nações; a reunião final; o Milênio; o dia do 1.3.2. Substância. Grande predição contra a
dos poderes gentilicos, e o ensino sobre o Babilônia; encarceramento de Jeremias; profecias
da restauração; Jerusalém tomada, a sorte de Jere-
Jeremias tem seis divisões principais: 1. Desde a mias.
chamada do profeta até a sua mensagem aos primei- 2. Profecias depois da queda de Jerusalém.
ros cativos ( l a 29.32). 2. Profecias e acontecimentos 2.1. O Restante na Judéia (capítulos 40 a 43.3).
2.2. O Restante no Egito (capítulos 43.4 a 44).
Conclusão. Capitulo 52. .Suplemento Histórico
(Scroggie).
-»—~ « . . v profeta do
Egito (43.1 a 44.30). 6. Profecias misceUneas (46.1
a 52.34) (Scofield). OS T E M P O S D E JEREMIAS

A N A L I S E DE JEREMIAS Predecessores e contemporâneos. Para bem en-


tender esta ou qualquer outra obra. precisamos ter
Coordenado cronologicamente conhecimento das suas circunstâncias. Isaias tinha
falecido há uns 70 anos, e o bom rei Ezequias fora su-
Introdução. Capitulo 1. Chamada e comissão do cedido pelo seu malvado filho Manassés. e durante
profeta. 40 anos do reino dele náo se ouvira nenhuma voz pro-
fética. Então se levantou Naum, e profetizou duran-
1. Profecias anteriores à queda de Jerusalém. te o último decênio do remado de Manassés. no tem-
1.1. Profecias durante o reinado de Josias. po de Amon e por uns oito anos do reinado de Josias.
1.1.1. Capítulos 2 a 6: primeiro movimento. Foi justamente quando o ministério dele cessou, que
O pecado de Judá, uma chamada ao arrependimen- Sofonias e Jeremias começaram a profetizar, para
to, predição de juízo. serem seguidos 15 anos mais tarde por Habacuque, e

'249
JtrrmUi

depois de outros 5 anos por Daniel, e dez anos depois veio a ele", e então quis desculpar-se da árdua tarefa
por Ezequiel. Em outras palavras. Jeremias profeti- (1-6).
zou por mais de 40 anos. durante os reinados de Jo- Notemos logo ao começo a sua timidez natural, e
sias, Jeoacaz. Joaquim (!•). Joaquim (2*) e Zede- sua relutância para enfrentar o serviço proposto. As
quias (cap. 1.2,3). Ele foi para o rei Josias o que mesmas características reaparecem mais tarde,
Isaias tinha sido para Ezequias. quando elç quis fugir para algum lugar solitário (9.2;
A situaçàu. Manassés tinha deixado a Josias uma 20.9). Jeremias náo era o homem que uma escolha
medonha herança de iniqüidade, mas ele a enfrentou humana teria preferido para uma missão tào difícil:
no poder de Deus. e seu reinado foi notável pela re mas Deus escolhe os fracos para seus instrumentos,
forma religiosa. Cinco anos depois da chamada de para que o poder com que Ele os reveste seja eviden-
Jeremias, acharam o livro da Lei, no templo; a leitu- temente todo seu.
ra desse livro resultou em confissão de pecado e na Sua missão. Podemos reconhecer no caráter de
destruição da idolatria e do6 sacerdotes idolatras. In- Jeremias uma especial aptidão para a sua missão.
felizmente, Josias foi, sem mandamento divino, ba- Aquele coraçáo terno e simpático melhor podia sen-
talhar com Neco, rei do Egito, e foi morto na batalha tir e expressar a inefável tristeza divina sobre o povo
de Megido. Com ele morreu a esperança de Judá. culpado, esse amor eterno que nunca era mais forte
Ele foi seguido por Joacaz, que reinou somente três do que no momento quando parecia transformado
meses. Então veio Joaquim ao trono, e com ele os em ira e vingança.
dias de loucura e idolatria voltaram. A reforma de A missão de Jeremias concernia náo somente a
Josias tinha vindo tarde demais: era uma obra su- Israel, mas ás "nações"; ele era o expositor do plano
perficial e por isso apenas provisória; o pecado era divino naquele século de convulsão e movimento.
um cancro, minando o próprio coraçáo do povo. Foi Seu serv iço havia de ser "arrancar e demolir, para
"escrito com um ponteiro de ferro e com a ponta de derrubar e destruir", mas também "para edificar e
um diamante" (17.1). plantar' (1.10). Em outras palavras, para anunciar
A tendência da nação. O passado devia ter sido a remoção da ordem existente, para dar lugar a ou-
suficiente para ensinar ao povo a sua loucura em es- tra.
quecer-se de Deu», mas nâo aprenderam a liçáo, e Modos de agir. Podemos contemplá-lo no seu ser-
assim, multiplicando as iniqüidades de seus pais. viço, dando a sua mensagem nos lugares públicos,
nada lhes restava senáoo juízo. Jeremias foi levanta- nos átrios, do templo, no palácio real, nas portas da
do para um tempo como esse, e enfrentou a situação. cidade, nos dias de festa ou jejum, quando o povo da
Quando compreendemos o que isso significa pode- roça tinha vindo á cidade para o culto (7.2; 17 19;
mos melhor entender a sua mensagem. 19.14; 22.1; 26.2; 35.2; 36.5.10). Vemo-lo empregan
A seguir, damos um resumo da exposição do dr. do um simbolismo que necessitava uma laboriosa
A.F. Kirkpatrick sobre Jeremias: viagem (13.1-7); deduzindo uma liçáo de aviso ao ver
" H á um interesse trágico na vida e nos tempos de o oleiro trabalhando com a sua roda (18.1. etc.), le-
Jeremias. As circunstâncias do século, a pessoa do vando um grupo dos anciãos para o vale de Hinom e
profeta, o caráter da mensagem, tudo concorre para quebrando ali um vaso de barro para ilustrar quão
demandar o nosso simpático estudo. Quem pode ler facilmente Jerusalém podia ser destruída •, 19.1, etc.)
com indiferença, mesmo depois de vinte e cinco sé- Ele toma os recabitas e prova a sua lealdade ao pre-
culos, da agonia de uma nação, sendo, como era, essa ceito do pai, para contrastá-la com o desprezo de Is-
nação o povo escolhido por Deus! Quem pode deixar rael para com a lei de Deus (35.1, etc.) No último
de ser comovido pela história do longo martírio do sitio de Jerusalém, ele prova a sua confiança no
profeta, terminado, possivelmente, pelo martírio da cumprimento das suas profecias de uma restauração
morte? Essa história, com as suas confusões da fra- final, por exercer seu direito, como parente mais pró-
queza humana, e seu nunca igualado testemunho da ximo, de resgatar um campo em Anatote. onde. tal-
realidade do poder dado por Deus chamam a nossa vez. os caldeus estivessem nessç momento acampa-
atenção. Quem pode ponderar sem temor o recorda- dos (3.2.6, etc.)
ção da humana dureza e iniqüidade, insensível tanto
Seus sofrimentos. O ministério de Jeremias foi
aos rogos do amor como às denúncias da ira? Quem
um prolongado martírio. Náo somente era na sua na-
pode observar sem admiração e reverência o irresistí-
tureza um peso que bem podia ter esmagado o espiri-
vel avanço do propósito divino, apesar da oposição
to mais forte; náo somente ele teve de se colocar sozi-
da vontade humana, tirando vida da morte, e for-
nho contra a nação; mas era o objeto de amarga per-
mando uma nova ordem da dissolução da velha?
seguição; a sua própria vida estava em perigo. Seus
O Livro. O Livro de Jeremias é uma combinação vizinhos em Anatote procuravam matá-lo (11.18.
de história, biografia e profecia, que noa leva ao á- etc.) Sua própria família o perseguia (12.6). O sacer
mago do século, e delineia o caráter do profeta mais dote. que era o principal oficial, pô-lo no tronco por
evidentemente do que qualquer outro livro profético. profanar (como ele pensava) o átrio do templo com
O profeta e a sua chamada Seu livro é maior- as suas profecias de males (29.1, etc.) Os profetas po-
mente uma autobiografia - um volume de "confis- pulares sempre se opuseram a ele. tanto em Jerusa-
sões" pessoais, pelo qual aprendemos a conhecê-lo. lém como na Rabilônia (23.9, etc., 28.1.29.8), procu-
tanto na sua fraqueza, como na sua força, e a simpa- rando com as suas mentiras lisonjeiras neutralizar a
tizar com ele no seu longo e árduo ministério. Era sa- sua mensagem.
cerdote. e sua morada era em Anatote, uma aldeia u Durante o sitio de Jerusalém, ele foi lançado na
quatro quilômetros ao nordeste de Jerusalém. Seu cadeia, acusado de tentar desertar e ir aos caldeus
ministério ativo era exercido maiormente em Jerusa- (37.14. etc.) Foi arrastado para o Egito pelos homens
lém, mas continuou a morar em Anatote (11.21; que o tinham consultado e que náo tinham fé nem
12.6; 32.7). coragem para Seguir seu conselho (43.1-7). Final-
Era apenas um moço quando "a palavra de Jeová mente. se a tradição diz a verdade, ele foi apedrejado

'250
em Daphne. no Egito, pelo povo irado, impaciente ser uma figura daquele que sofreu tantas coisas dos
com as suas denúncias da idolatria. anciãos e principais sacerdotes e escribas quando fez
Suas queixas e denuncias. Gostaríamos de pensar á nação a última oferta da misericórdia divina para
que ele tivesse sofrido toda esta perseguição com com um povo rebelde, antes que esse povo fosse es-
mansidão, paciência e perdão. £ muito natural que palhado numa dispersão comparada cora a qual o
ele lastime a sua sorte, e ate amaldiçoe o dia do seu exílio de setenta anos podia parecer de poucos dias.
nascimento (15.10, etc.. 20.14, etc.) A fé de muitos A mensagem de Jeremias, Era maiormente uma
cristãos tem falhado, e, em momentos de desânimo, mensagem de arrependimento e de aviso de juízo
eles têm desejado nunca ter nascido. Quando ele du- vindouro. Como Amós e Oséias. ele baseou seu ensi-
vida da justiça do governo divino (12.1. etc.), ou no sobre a relação de Jeová a Israel. Jeová tinha es-
mesmo se queixa de ter sido enganado (20.7), pode- colhido Israel e feito aliança com ele; tinha-o trazido
mos simpatizar com o desespero e o abatimento hu- do Egito e conduzido através do deserto. Tinha con-
mano que, por um momento, perde seu contato com tinuado a instrui-lo peio ministério dos seus profetas
Deus. e desmaia exausto e desesperado. (2.1. etc., 6. etc.. 7.25). Como Oséias. Jeremias em-
Mas ficamos atônitos, e até horrorizados ao ouvir prega as figuras de matrimônio e filiação para des-
as suas maldições dos inimigos, e a sua apaixonada crever a intimidade da relação de Israel a Jeová, e os
invocação da vingança divina contra eles (11.20, deveres implicados nessa relação. " L e m b r o - m e da
etc., 15.15, etc., 17.18; 18.19, etc., 20.11, etc.) Estas 'beneficência da tua mocidade, do amor dos teus des-
imprecações atingem um terrível auge no capítulo posórios: de como me seguis te no deserto, numa ter-
18.19, etc. ra que nào estava semeada " (2.2). "Tornei-me pai de
"Atende-me. Jeová, e ouve a voz dos que plei- Israel, e Efraim ê o meu primogênito" (31.9).
teiam comigo lmelhor 'da minha queixa'\^Acaso se Os pecados de Israel. Mas Israel tinha abandona-
tornará mal por bem? porque cavaram uma cova do a Jeová e escolhido outros deuses, e dessa falsa
para minha alma. Lembra-te de como me apresentei crença tinha resultado uma profunda degeneraçáo
diante de ti para falar a favor deles, e para apartar moral. "Dois males fez o meu povo: deixaram-me a
deles o furor Portanto, entrega seus filhos à fome, e mim. fonte de águas vivas, e cavaram para si cister-
põe-nos no poder da espada; fiquem as tua» mu lhe nas mtas, que nàu retém as águas eu te plantei
res sem filhos e viúvas, sejam seus homens mortos de como uma vide escolhida, toda semente de verdade:
morte e os seus membros feridos á espada na peleja. como pois te tornaste para mim uma planta degene-
etc., etc." rada de vide estranha ?" (2.13,21).
Porém sejamos justos para com Jeremias. A pro- Outros pecados em Israel eram idolatria (1.16:
vocação era tremenda. Seus maiores esforços a favor 7.16. etc.. 8.2,19; 11.13; 32.29. etc., 44.2, etc., etc.);
dos seus patrícios foram recompensados com ciladas descrença (5.12); iniqüidades (5.2.26-28; 6.6.13;
contra a sua vida. ou apelos veementes pela sua mor- 7.5,6; 9.2; 3.8; 13.27; 34.8, etc.); materialismo (7.21,
te. Não havemos de julgá-lo pelo modelo do Evange- etc.); confiança própria <8.8, etc.. 18.18) dureza de
lho. Ele manifesta o espirito de Elias e Eliseu e nào o coração (8.6).
de Cristo. Era o espirito de Zacarias, cujas palavras Mudança de estilo. A princípio há uma nota de
ao morrer foram: " Veja-o Jeová, e o retribua" (2 Cr esperança na mensagem de Jeremias. A reforma ain-
24.22), e não o de Estêvão: "Senhor. náo lhes impu- da é possível. O exílio ainda pode ser evitado (4.3;
tes este pecado!" ( A t 7.60). Podemos admitir que al- 6.8). "Emendai os vossos caminhos e vossos feitos, e
gum ressentimento pessoal se misturava com estas vos farei habitar neste lugar" (7.3). Este é o sentido
imprecações, mas tinham um sentido ainda mais das profecias que pertencem ao reinado de Josias
profundo. Foram, se bem que de um modo imperfei- (caps. 2 a 6), embora nestes também de vez em
to, a expressão de um desejo do triunfo completo da quando apareça um reconhecimento da gravidade do
retidáo, da manifestação da justiça divina no mun- caso. Talvez o profeta visse a superôcialidade da re-
do. Devemos reconhecer quão profundamente o pro- forma; talvez também o ensino fosse colorido pelo
feta sentiu que a sua causa era a causa de Deus, e estado das coisas durante o reinado de Joaquim ( l 9 ) .
seus inimigos os inimigos de Deus. Que a honra do quando as profecias foram escritas.
Altíssimo requeria que vindicasse e defendesse seu Nas profecias dos primeiros anos de Joaquim, es-
servo, e derrubasse seus inimigos. Nesses tempos a perança e desespero alternam. Ainda se faz a oferta
idéia de uma futura retribuição ou recompensa das de perdáo. mas a impressão deixada pelos discursos
males do mundo não foi bem compreendida, e ho- deste período é que o profeta está inteiramente con-
mens piedosos esperavam ver os justos juízos de vencido de que as condições de perdão nunca seriam
Deus manifestos nesta vida presente. aceitas. O povo pronuncia a sua própria sentença.
Outro lado do seu caráter Náo devemos esquecer Quando Jeová pleiteou com eles: "Convertei-vos
o outro lado do caráter de Jeremias: a terna simpatia cada um do seu mau caminho, e emendai os vossos
da sua natureza, a profunda tristeza com que ele via caminhos e os vossos feitosa resposta deles, em
sua pátria correndo loucamente para a ruína (4.19, obras, se náo em palavras, foi: "Não há esperança,
etc., 8.18, etc.), a fé com que creu e obedeceu e agiu porque havemos de andar após os nossos projetos, e
mesmo quando não compreendia (32.17, etc), confia- havemos de fazer cada um conforme a obstinação do
do no caráter de Deus, revelado e provado na longa seu mau caminho" (18.12).
história da sua proteção ao seu povo. O juízo vem a ser inevitável. Do quinto ano de
Jeremias um tipo de Cristo. Apesar do espírito Joaquim (1 # ) em diante, a sentença é Lavrada. Jere-
contrário ao de Cristo que ele demonstrava quando mias é proibido de interceder mais pelo povo (7.16;
denunciava seus inimigos, tem-se discernido em Je- 11.14; 14.11; 15.1). Porventura poderia haver um avi-
remias um tipo de Cristo. O sofredor solitário, difa- so mais terrível do que o seguinte: "Nào rogues por
mado e perseguido pelos chefes religiosos do pais, em este povo, nào levantes por ele clamor nem oração
tempos quando ele caminhava para a ruína, vem a nào me importunes: porque te não escutarei" (7.16)?

'251
JcTcmiüs,

Esperança no porvir. No agonia de morte da sua A Nova Aliança tem sido estabelecida na disper-
nação. .Jeremias predisse uma ressurreição para no- são espiritual do Evangelho, numa lei escrita pelo
vidade de vida. As promessas estão colecionadas no Espirito nos corações dos homens; e. na nova revela-
"Livro da Cansoiaçáu" «caps. 30 a 35). uma série de ção. os meios de perdão e purificação têm sido forne-
profecias que ele foi especialmente instruído a escre- cidos e declarados aos homens. Na Encamação.
ver como recordação do propósito divino. Estas pro- Deus veio habitar entre os homens de maneira muito
fecias incluem os seguintes pensamentos: A imorre- mais intima do que Jeremias podia ter antecipado.
dourabilidade de Israel <30.11; 4.27; 5.10.18; 10.24». Tudo. e mais do que tudo do essencial espírito do
A volta do Exílio (16.14.15; 3.12. etc.. 30.10; 31.20). justo Renovo cumpre-se em Cristo, o verdadeiro her-
ü rei messiânico <23.5,6. etc.) deiro da linhagem de Davi. Nele fica demonstrado o
O destino das nações. -leremias tem uma mensa- profundo sentido do nome de Deus com incessante
gem para as nações tanto como para Israel. Ele fala intercessão. Para Ele todas as nações sáo congrega-
de um livro de profecias contra as nações, alguma das. e sua Igreja, que é o seu corpo, a plenitude da-
parte do qual está incorporada no existente Livro de quele que enche tudo, é a atual testemunha ao mun-
Jeremias <25.13). Sua mensagem ás naçóes. como a do iinfelizmente com muitos defeitos e fracassos!)
Israel, era maiormente uma mensagem de juízo da verdade que Ele revelou: " 0 Senhor é a nossa jus-
(25.29; 12.14. etc.. 25.31; 46.10; 47.6: 48.10). Mas a tiça".
mensagem tem palavras de esperança também
(48.47: 49.6.39; 3.17; 16.19; 33.9». R E F E R Ê N C I A S A -JEREMIAS N O N O V O T E S -
Cumprimento das profecias de Jeremias. Se per- TAMENTO
guntarmos como as profecias de Jeremias têm sido
cumpridas, podemos primeiramente apontar para a Comparem-se 7.11 com Mateus 21.13: "covil de
restauração dps judeus á sun própria terra depois do ladrões"; 9.24 com l Corintios 1.31: "gloriando-se no
Cativeiro. E se esse fraco bando de exilados volta- Senhor"; 10.7 com Apocalipse 15.4; 11.10 com 1 Tes-
dos. que dificilmente durante os séculos se manteve salonicenses 2.4; 17.10 com Apocalipse 2.23; 22.5
em face dos vizinhtts inimigos, parece uma insignifi- com Mateus 23.38; 25.10 com Apocalipse 18.22,23;
cante realização dos brilhantes quadros de prosperi- 31.15 com Mateus 2.17.18; 51.7-9 com Apocalipse
dade. Que diremos? De um lado a incredulidade hu- 14.8; 17.2.4; 18.3.5; 51.45 com Apocalipse 18.4;
mana impedia o desenvolvimento do propósito divi- 51.63,64 com Apocalipse 18.21. A designação 'orien-
no, de maneira que Deus não podia (digamo-lo com te*, aplicada ao Messias ( L c 1.78) é de Jeremias 23.5,
reverência) cumprir toda « « u « urnitnd*. Toda a pr<» «egundo a veraão dou L X X ; no hebraico c " r a m o " .
fecia é condicional, como Jeremias mesmo repetidas (Vede Zacarias 3.8 e 6.12.)
vezes afirma Do outro lado. não é assim que Paulo A mais notável das aplicações que o Novo Testa-
ensina que náo devemos presumir que propósitos mento faz do texto de Jeremias é a de 31.31-34, a
de Deus referentes a Israel já tenham recebido um qual vemos em Hebreus 3.8-13 e 10.15-17. O profeta
completo cumprimento? Não podemos dizer dogma descreve o Novo pacto em termos tais que tornam a
ricamente como. quando ou onde. mas ainda espera- passagem uma verdadeira antecipação do Evange-
mos a consolação de Israe: ( R m 11.25. etc.) lho: e talvez a frase "novo pacto", na instituição da
Mas se nos parece que falta alguma coisa no Ceia do Senhor, tenha sido sugerida pelas palavras
cumprimento das promessas da restauração de Is- do profeta. E deste modo é Jeremias colocado ao
rael. é muito diferente com essas outras bem carac- lado de isaías como ' u m profeta evangélico" (An-
terísticas profecias de Jeremias. Rus)

-V

'252
lamentações de Jeremias
Y

tocante significação des- no ano 586 a.C. Ainda se lé nas sinagogas dos judeus
te livro encontra-se no no dia 9 de Ab (Julho), o aniversário da destrui-
fato de que é uma reve- ção de Jerusalém. Consiste de cinco poemas, todos
lação do amor e da tris- tratando do mesmo assunto: a derrota de Sião. Em
teza de Jeová para com o resumir seu ensino, três coisas se destacam: a condi-
vo que Ele castiga - uma tristeza produzi- ção de Siào, a causa disso, e a sua consolação.
irito de Deus no coraçáo de Jeremias (Jr
23.36-38; Rm 9.1-5). 1) A condição de Sião è delineada na mais vivida
litulos indicam as divisões: cinco lamenta- linguagem. A cidade é referida como uma viúva tris-
te e solitária: outrora honrada, agora desprezada; ela
chora durante a noite, e pela manhã as lágrimas ain-
da estão nas suas faces. Judá é cativo, e seu descanso
A N Á L I S E DE L A M E N T A Ç Õ E S
e gozo fugiram (1.1-6). Há fome na cidade; as crian-
ças choram, desmaiam e morrem (2.11.12,20-22). A
1 A condição de miséria em Sião (cap. 1).
glória de Sião passou (4.1-5).
1.1. Descrição profética (1-11).
1.2. Reflexão profética (12-22). 2) A causa dessa condição. Este triste estado é
2. A causa da derrota de Sião (cap. 2). atribuído ao pecado do povo (1.5,8,18; 3.39,42; 5.16).
2.1. O que o Senhor operou contra ela (1-10). Jeremias tinha argüido os falsos profetas e sacerdo-
2.2. Porque o Senhor operou contra ela (11-22). tes iníquos, mas o povo tinha andado atrás deles. e.
3. O propósito da afliçãr• de Sião (cap. 3). por isso. veio a sua derrota (2.14; 4.13).
3.1. Calamidade e consolação (1-39). 3) A consolação. Grande deveras é o Deus que,
3.2. Confissão e confiança (40-66>. em condições táo extremadas, pode encher o coração
4. Sido recorda dias passados (cap. 4). de conforto, e apontar os olhos que choram para a luz
4.1 Contraste entre passado e presente (1-15). da aurora. A consolação dada a Sião na sua aflição é
4.2. Caráter e destino dos seus inimigos (16-22). tríplice: 1) O Senhor os ensina e os purifica por meio
5. Sido apela para Deus (cap. 5). dessa aflição (3.22-39). 2) Quando sua obra estiver
5.1. Seu caso declarado (1-18). completa, e voltarem penitentes a Ele. Deus os liber-
5.2. Sua causa defendida (19-22). tará. e náo mais permitirá o Cativeiro (4.22a; 5.21).
3) Finalmente Ele castigará seus inimigos, e fará
A M E N S A G E M DE L A M E N T A Ç Õ E S com eles o que eles tém feito com os outros (1.21,22;
4.21.22).
Este livro é atribuído por antiga tradição a Jere-
mias. e foi escrito logo depois da queda de Jerusalém

'253
X zequiel

zequiel foi levado à Babi- 1.3.3. O pecndo dos príncipes, e a esperança


lônia na segunda depor- dos penitentes (cap 11).
tação de Judá. enquanto 1.4. A absoluta certeza do juízo (caps. 12 a 19).
Daniel o foi na primeira. 1.4.1. Os cativeiros preditos, e os chefes re-
Ezequiel, como o aposto preendidos (caps. 12 a 14).
Io João, profetizou fora da Terra, mas a profecia do6 1.4-2. Judá. infrutífero e descrente, denuncia-
três segue o método de símbolo e visão, nzequiel era do (caps. 15.16).
diferente dos profetas anteriores ao Exiüo, cujo mi- 1.4.3. A derrota merecida, descrita e lamenta-
nistériqf foi geralmente dirigido ou a Judá ou a Israel. da (caps. 17 a 19).
Ezequièl é a voz de Deus para "toda a casa de Is- 1.5. O caráter de Judá. a causa do juízo (caps. 20 a
rael". 24).
Em termos gerais, o propósito do seu ministério é 1.5.1. A bondade de Jeová e a culpa de Judá
conservar perante a geração nascida no exílio a (20.1-44).
lembrança do mal causado pelos pecados nacionais 1.5.2. A espada de Jeová desembainhada
que tinham rebaixado Israel (por exemplo, 14.23); e (20.45 a cap. 21).
manter a fé dos exilados pelas predições de uma res- 1.5.3. Os pecados de Jerusalém. Israel e Judá
tauração nacional sob a monarquia davidica. (cap. 22).
Divide-se Ezequiel em sete grandes profecias, in- 1.5.4. A degradação das filhas (cap. 23).
dicadas pela expréssáo "a mão do Senhor estava 1.5.5. Última parábola e sinai (cap. 24).
sobre mim" (1.3; 3.14,22; 8.1; 33.22; 37.1). As divi- 2. A visitação das nações (caps. 25 a 32)
sões menores são introduzidas pelas frases: "a pala- Predições durante o sítio de Jerusalém. Dois anos,
vra do Senhor veio a mim" (Scofield). 588-586 a.C.
2.1. Contra Amom (25.1-7).
A N Á L I S E DE E Z E Q U I E L 2.2. Contra Moabe (25.8-11).
2.3. Contra Bdotn (25.12-14).
1. Denúncia de Judá (caps. 1 a 24) 2.4. Contra a Filistia (25.15-17).
Predições antes do sítio de Jerusalém. 4 anos e 2.5. Contra Tiro (26 a 28.19).
meio. 592-588 a.C. 2.6. Contra Sidom (28.20-26).
1.1. Chamada e comissão do profeta (caps. 1 a 3). 2.7. Sete predições contra o Egito (29 a 32).
1.1.1. A visão (cap. 1). 3. A restauração de Israel (caps. 33 a 48)
1.1.2. A voz (caps. 2 e 3). Predições depois do sitio de Jerusalém. Catorze
1_2. Prr,feeias de julgamento vindouro (caps. 4 a anos, 586-572 a.C.
7). 3.1. Predições da Nova Vida que estava para ser
1.2.1. Apresentadas simbolicamente (caps. 4 e dada (caps. 33 a 39).
5). 3.1.1. O atalaia e os pastores (caps. 33.34).
1.2.2. Faladas claramente (caps. 6 e 7). 3.1.2. Restauração moral e material de Israel
1.3. A necessidade moral do juízo (caps. 8 a 11). (caps. 35 a 37).
1.3.1. Culpa e castigo de Judá (capa. 8 e 9). 3.1.3. Julgamentos contra Gogue e Magogue
1.3.2. A visão dos querubins (cap. 10). (caps. 38 e 39).

'255
-IVtquúi
3.2. Descrições da Nova Ordem (cap® 40 a 48). remias pregou por anos antes de escrever as suas pro-
3.2.1. A vi sáo do tetnplo (40 a 43.9). fecias; mas agora, devido à mudança das circunstân-
3.2.2. O povo e o templo (43.10 a 46). cias. o profeta teve de ser autor É significante que
3.2.3. A terra e o templo (47 e 48) (Scroggie). "o rolo de um lii<ro " foi-lhe dado como o símbolo da
sua comissão (2.9. etc.)
A M E N S A G E M DE E Z B Q Í H E L As profecias de Ezequiel trazem sinais de longa
meditação e cuidadosa elaboração. Originalmente,
Devemos o seguinte resumo da mensagem de podia ter falado a substância delas ao seu pequeno
Ezequiel ao dr. Kirkpatrick: grupo de ouvintes, pois ele nos diz como. em tempos,
era o costume do povo chegar e escutá-lo (33.31. etc.)
Os ouvintes se queixaram de que ele fala por parábo-
Onze anos antes da sua destruição final em 586 las (20.49), mas as profecias eram para a Judéia.
a.C.. Jerusalém foi vencida por Nabucodonosor. e tanto como para a Babilônia, e o profeta dá cuidado-
desnudada de todos os seus melhores e mais nobres sa atenção á sua forma literária antes de as escrever.
habitantes. Juntamente com o jovem rei Joaquim Demora-se sobre seu assunto, e desenvolve os pen-
(2v) e a rainha-mãe Neústa. o conquistador levou samentos. em contraste com as breves palavras dos
para a Babilônia "todos os príncipes e todos os ilus- profetas anteriores.
tres em valor, dez mil cativos, e todos os artífices e
ferreiros; ninguém ficou sendo os mais pobres dentre As suas visões. Visões, alegorias, parábolas e
o povo da terra" (2 Rs 24.14). ações simbólicas sáo características do ensino de
Ezequiel. Podem corresponder ao temperamento do
Ezequiel. o filho de Buzi, foi apontado por Deus profeta, que tinha uma imaginação apurada. Deus
para ser o centro da vida religiosa e a esperança dos faz uso dos dons naturais dos seus servos. Esses dons
seus patrícios na terra do seu exilio. e seguiu para a formam, em alguma medida, o estilo em que as co-
Babilônia logo depois. Eie fixou residência em Tel- municações sáo divulgadas. Mas não há motivo para
Abibe. sobre o rio Chebar. Era casado (24.18) e tinha considerar as visões de Ezequiel como apenas a for-
casa própria (3.24; 8.1; 12.3; 14.1; 20.1». onde era ma com que ele quis revestir a sua mensagem. Em
consultado pelos anciãos e outros do povo. mas não várias ocasiões lemos que "a mão dc Jeová esteve
sabemos quase nada dos detalhes da sua vida. exceto sobre ele ";em outras palavras.ele estava em sujeição
o súbito falecimento da sua mulher (24.18). a uma dominante influência divina, e caia numa es-
Ê provável que tenha sido treinado nos deveres pécie de êxtase profética. Tal foi o caso quando teve
do oficio sacerdotal antes de ter sido exilado da Ju- a visão da glória de Jeová, que era o prelúdio da sua
déia; mas é duvidoso que foi chamado a exercer seu vocação (1.3: 3.14.22). Foi assim assim quando teve
ofício no serviço do templo. Se é lícito entender o a visão das iniqüidades e vergonhas cometidas no
"trigésimo ano" de 1.1 com referência á sua idade, próprio Templo, por causa das quais os habitantes
então teria tido 25 anos quando foi para o Exilio, e de Jerusalém foram ban:dos da presença de Jeová
provavelmente não teria servido no templo. Mas não (8.1. etc.) Foi assim outra vez quando ele teve a vi-
se sabe a que se refere esse trigésimo ano. são dos ossos secos vivificados pela inspiração do so-
Cinco anos depois de chegar na Babilônia (1.2), pro de Deus. para assim ensinar aos desanimados is-
veio-lhe a chamada ao ministério profético (592 raelitas que a vida podia ser restaurada até dos frag-
a.C.) e desde então, por mais de vinte anos. ele foi o mentos ressícados de Israel (37.1, etc.) Foi assim
centro espiritual da comunidade dos exilados. Sua mats uma vez quando ele viu o quadro glorioso do
última profecia com data foi no ano 27 do Exilio santuário restaurado, onde Jeová poderia outra vez
(29.17). habitar no meio de um povo purificado (40.1).
Mesmo entre os exilados, o castigo náo tinha
dado fruto em arrependimento e reforma. Alguns Mas enquanto cremos que estas visões foram real
continuaram com as suas antigas idolatrias, que per- e sobrenaturalmente presentes ao entendimento do
sistiram em considerar compatíveis com uma lealda- profeta, admitimos que é passível terem sido elabo-
de nominal a Jeová (14,1» etc.. 20.1, etc.); outros ofe- radas nos seus detalhes enquanto ele meditou sobre
receram uma resistência obstinoda aos ensinos mo- elas antes de as escrever. Sem dúvida os detalhes do
rais do profeta (2.3, etc., 8.5, etc., 11); outros queixa- quadro tinham todos significação para ele, embora
vam-se de que tinham sido abandonados pelo seu nós não possamos interpretá-los com certeza.
Deus, nào por pecados próprios mas pelos pecados Alegoria e parábola. Ezequiel detem-se, não so-
dos seus antepassados (18.2,25; 33.10.17,20). A tare- mente em predizer o futuro, mas em descrever o pas-
fa de Ezequiel tornou-se mais difícil pela presença sado e o presente. Israel é uma criança abandonada,
de falsos profetas que animaram as esperanças do infiel ao preservador que a fez sua esposa (16.1. etc.);
povo com a promessa de uma rápida restauração (Jr é qual uma leoa. que cria a sua prole somente para
29.8. etc.) Mas embora a principio sua mensagem ser a presa do caçador (19.1, etc.); é um cedro notá-
fosse talvez desprezada e, possivelmente, elo mesmo vel (17.3); a vinha, destinada á destruição (19.10,
perseguido, chegou a ser considerado e reconhecido etc.. 15.1, etc., 17.6). Nabucodonosor é comparado a
como o profeta da comunidade em que vivia; veio a uma grande águia, o rei do Egito a outra (17.3.7), o
ser costume consultá-lo, e mesmo esses que não ten- Egito a um enorme crocodilo (32.2. etc.) Algumas
cionavam obedecer às suas exortações iam escutar os vezes.como no capitulo 17. a parábola é bastante de-
seus discursos (33.30. etc.) talhada. e depois explicada.
Divina autoridade. Nào é de estranhar que o pro-
Assim Ezequiel ocupou uma posição inteiramen-
feta. longe da terra de Jeová, e profetizando em con-
te nova. como o profeta de Jeová num pais estrangei-
dições novas no meio do paganismo, frisasse a sua
ro. longe do antigo centro de vida e culto nacionais.
divina comissáo: A freqüência com que repete a au-
Seu método. Até então tinha sido o principal mé- toridade da sua mensagem nào é uma repetição inú-
todo do ministério profét ico, o discurso público. Je- til de uma fórmula sem sentido, mas uma lembrança

256
I jequiH

animadora para seus ouvintes que mesmo nos dias sobre Jerusalém. De vez em quando um raio de luz pe-
do seu castigo Jeová nào cessara de cuidar do seu po- netra as trevas, mas o profeta precisa derrubar antes de
vo. A fórmula "Assim diz o Senhor Jeová" repete-se edificar; precisa destruir as esperanças falsas antes de
umas 117 vezes. apresentar esperanças verdadeiras.
F.zequiel comparado com Jeremias. Nada ilustra
tão bem a posição ocupada por Ezequiel como uma Na última divisão, ele olha para o futuro. O pior
comparação dele com Jeremias, seu contemporâneo. já aconteceu: Jerusalém e o templo estão em cinza?;
Provavelmente eram conhecidos: por certo Ezequiel o povo no exílio. T ã o confiadamente como predissera
conhecia o ensino e os escritos de Jeremias. Durante a ruína da cidade e a dispersão do povo, ele agora
a sua mocidade. Jeremias teria sido uma das mais prediz a restauração do povo à sua própria terra e a
notáveis pessoas em Jerusalém. Ele e Ezequiel eram reedificaçào do templo e da cidade.
ambos sacerdotes, mas em todo o mais apresentam O julgamento das nações que ocupam a divisão
um notável contraste. Jeremias trabalhava em plena do meio constitui a transição da primeira à última.
vista da agonia mortal da cidade e nação, observan- O juízo principiou na casa de Deus. e porventura
do cada etapa da dissolução que náo podia impedir deve poupar as nações? Delas o malicioso triunfo era
nem adiar; foi tido por traidor da sua pátria, despre- um insulto ao próprio Jeová; elas precisam dar lugar
zado e perseguido pelas autoridades civis, militares e ao seu reino e reconhecer a sua soberania.
religiosas da cidade. A Ezequiel no seu exílio foi ao Ezequiel e seus contemporâneos. Não é difícil ver
menos poupada a amargura de ver de dia em dia a a importância do ministério de Ezequiel para seus
loucura e o pecado que encheram a medida de culpa próprias tempos nos sucessivo» períodos do seu trs
de Jerusalém, embora soubesse deles por informação balho. Seu ministério contemplava toda a nação. As
e os denunciasse ao longe. Os exilados entre os quais vezes é difícil saber se ele está com os exilados na
ele habitava abstiveram-se de qualquer perseguição, Babilônia, ou com o povo que ainda ficara era Jeru-
e até honraram-no como o profeta de Jeová. salém.
Jeremias, na presença de um culto corrupto e Enquanto a cidade permanecia, os exilados, náo
dum templo contaminado, precisava denunciar a ve- menos que os restantes em Jerusalém, nutriam espe-
lha ordem e declarar a necessidade da sua destrui- ranças ilusórias, que era preciso destruir positiva-
ção. Ezequiel. numa terra estrangeira, podia predi- mente. As esperanças dos exilados eram mantidas
zer a restauração do templo numa forma nova e puri- por falsos profetas, que prometiam uma volta em
ficada. breve. Ezequiel e Jeremias concordaram em declarar
Jeremias era o homem de ação: Ezequiel de ra- ilusórias tais esperanças (Jr 29; Ez 13). Enganados
ciocínio e reflexão. O livro de Jeremias respira uma por s- nelhantes ensinos falsos, os habitantes de Je-
intensa personalidade. Sentimos que o conhecemos, rusal.m persuadiram-se numa confortável seguran-
e simpatizamos com o seu martírio em vida. Eze- ça de que não havia nada que recear dos caldeus (Jr
quiel é para nós pouco mais do que um nome. Não o 28). Havia um partido na Judéia que desprezava os
conhecemos, nem o seu ambiente: não sentimos a exilados, duvidando do seu direito de partilhar nos
pulsação da sua vida pessoal mediante as suas pala- privilégios nacionais, e jactando-se da sua própria
vras. Seu serviço era levado adiante numa calma se- posição superior (Ez 11.15).
rena. nào no meio de provações quase além do poder Sob tais circunstâncias, as profecias, na primeira
humano para suportar. divisão do livro, têm. maiormente, um caráter triste
O livro de Ezequiel Este livro é o relatório dele e ameaçador... Ezequiel destruía esperanças falsas,
do seu próprio trabalho profético. Embora seja quase mas depois nutria esperanças verdadeiras, de uma
certo que o livro de Jeremias foi colecionado gradual- futura restauração.
mente. e somente tomou a forma atual depois da sua O Porvir. A visão do futuro de Ezequiel ocupa-se
morte, o livro de Ezequiel tem sinais de um cuidado- quase inteiramente com Israel. Ele não fala, como
so plano e redação, e parece que nos vem diretamen- Isaias e Miquéias, de as nações peregrinarem a Jeru-
te do próprio profeta. Ele sempre fala na primeira salém para receberem instrução, nem descreve os
pessoa: seu nome é mencionado apenas duas vezes opressores de Sião chegando para render homena-
<1.3 e 24.24). gem ao Deus de Israel. Suas visões do porvir das na-
O livro tem três divisões evidentes, correspon- ções são maiormente de juízos.
dendo a três períodos do ministério do profeta: Características fundamentais do ensino de Eze-
1) Capítulos 1 a 24 contém as profecias de quatro quiel Eis os assuntos que ele frisa com mais freqüên-
anos e meio. desde a chamada do profeta no quinto cia: a glória de Jeová (1.28; 43.2-5; 44.4),-o nome de
ano do seu exílio <592 a.C.) no começo do sítio de Je- Jeová <20.9,14.22; 36.22); a santidade de Jeová
rusalém no nono ano <588 a.C.). (36.23; 20.41; 28.25: 39.27); a responsabilidade indi-
2) A última divisão do livro (caps. 33 a 48) con- vidual (18.20); a importância do lado material e ceri-
tém as profecias proferidas desde o tempo quando o monial da religião.
mensageiro que escapara da derrota de Jerusalém O cumprimento. Talvez não seja necessário in-
chegou (33.21) até o vigésimo quinto ano do seu exí- vestigar em que sentido Ezequiel esperava futura-
lio. quase no fim do seu ministério. mente um cumprimento literal das suas profecias ou
3) Estas duas divisões estão separadas por uma se ele as considerava uma incorporação de idéias es-
coleção de profecias concernentes às nações (caps. 25 pirituais. Mas em menos de meio século após o fim
a 32), proferidas em parte nos intervalos quando ele do seu ministério, houve ura começo do cumprimen-
náo tinha nenhuma mensagem para Judá. enquanto to. Israelitas foram restaurados á sua terra, o templo
o sítio continuava. reedifícado, e o culto de Jeová restabelecido.
Na primeira destas divisões o profeta considera o Mas tudo isso era apenas o começo de um cum-
presente. Por símbolo, figura e discurso, ele frisa a ine- primento. Aquelas promessas de purificar o povo, re-
vitável certeza e necessidade moral do juízo que paira nová-lo espiritualmente, e perdoá-lo apontam para a

'257
encarnaçáo do Messias com a missão de expiar os pe- arroga para si honras divinas, de maneira que o
cados, e para a dispensaçào do Espirito que agora co- príncipe de Tiro prefigura a 'Besta' de Daniel 7.8 e
nhecemos. Apocalipse 19.20" (Scofield).
"O nome da cidade será: Jeová está ali" (48.35); "Náo servirão mais de presa aos pagãos " (34.28).
assim as últimas palavras da profecia resumem o " O trecho todo (23-30) refere-se a uma restauração
cumprimento do propósito divino para Israel tia per- ainda futura, pois o restante que voltou depois doe
feita realização da aliança entre Jeová e seu povo. Q 70 anos, e a sua posteridade, ficaram continuada-
apóstolo João, na ilha de Patmos, teve a visão de mente sob o jugo gentílico até que. em 70 d.C.. foram
Ezequiel expandida com uma maior glória, e ouviu finalmente enxotados da sua terra numa dispersão
"uma grande voz vinda do trono, dizendo: Eis. o ta- que ainda continua" (Scofield).
bernáculo de Deus está com os homens, c ele habita- A visão dos ossos secos (37.1-28). "Havendo
rá com eles: eles serão o seu povo e Deus mesmo esta- anunciado no capitulo 36.24-38 a restauração de Is-
rá com eles" ( A p 21.3). rael. Jeová agora dá em visão e símbolo o método
de a conseguir. O versículo 11 fornece a chave. Os
DIVERSAS N O T A S SOBRE EZEQUIEL 'ossos' sáo toda a casa de Israel que será então viven
te, e as 'sepulturas' (12) sáo as nações onde se encon-
"Filho do homem " (2.1, etc.) Esta frase é empre- tram. A ordem de procedimento é a seguinte: 1) A
gada pelo Senhor Jesus a respeito de si mesmo 79 ve- saida do povo ( v . 12). 2) A entrada do povo (v. 12). 3)
zes, e é empregada 91 vezes por Jeová na sua fala A sua conversão (v. 13). 4) A plenitude do Espirito
com Ezequiel. N o caso de nosso Senhor, o sentido é (v. 14). Os dois pedaços de madeira figuram Judá e
claro: é o seu nome genérico como o Homem repre- Israel: unidos, formam uma aó nação (19-21). Segue
sentativo no sentido de 1 Corintios 15.45-47. (Outros então a afirmação do propósito divino, e o versículo
expositores consideram como se referindo a Daniel 28 ensina que Jeová será conhecido aos gentios de
7.13.) O mesmo pensamento, ultrapassando o mero maneira especial. Isto é, também a ordem em Atos
judaísmo, e incluído na frase quando aplicada a Eze- 15.16. 17. e os dois trechos claramente indicam o
quiel. Israel estava esquecido da sua missão (Gn tempo da conversão dos gentios. (Veja-se também
18.18; Ez 5.5-8). Agora, no cativeiro deles. Jeová não Isaías 11.10.)" (Scofield.)
abandonará o seu povo. pois está cuidando dos exila- Profecia contra Gogue (38.1-39.16): Esta profecia
dos. uma pequena pnrte da raça pela qual Ele se in- é difícil de interpretar. Náo podemos concordar com
teressa. Por isso a palavra "homem é enfática (Sco- Scofield quando ele diz que " a alusão é aos poderes
field). do Norte da Europa, chefiados pela Rússia... a refe-
Profanações do templo (8.5-18). "O sentido com- rência a Meseque e Tubal (Moscou e Tobolsk) é um
binado das quatro visões da profanação do templo, evidente sinal de identificação".
vem a ser idolatria cm todo o templo, até o santíssi- N à o nos parece porque Tobolsk é uma remota ci-
mo ( w . 17.11), as mulheres entregues a cultos se- dade na Sibéria, sem nenhuma importância política,
xuais 114) e adoração de objetos naturais ( 1 6 ) " (Sco- e nos tempos bíblicos provavelmente nem era aldeia.
field) " T a m m u z " é no grego a divindade Adonis, Sobre " M e s e q u e " diz o dicionário de Davis: " N o m e
que a tradição dizia que morria cada ano (e essa de um povo descendente de Jafé (Gn 10.2) que nego-
morte era lamentada pelas mulheres) para tomar a ciava em escravos e em vasos de metal, nos merca-
viver no ano seguinte. Era o símbolo da fecundidade. dos de Tiro (Ez 27.13). Era aliado de Tubal e aliado
"A alma que pecar, essa morrerá" (18.4.20). " A ou sujeito a Gogue. príncipe deMeseque e Tubal (Ez
palavra 'ncphesh'. traduzida alma significa aqui 32.26; 38.2,3; 39.1). Os nomes de Meseque e Tubal
pessoa, indu iduo. N ã o tc-m nenhuma alusão à 'per- encontram-se associados nas inscrições assírias
dição da alma", como alguns têm pensado" como se acham na Bíblia. Nos dias de Tíglate-
(C F Hogg). Pileser. 1120 a.C., e nos dias de Salmanazar (859-
Proposta emenda de tradução (21.21): "Porque o 825). a terra de Museu, que é Meseque, era situada
rei da Babilônia parou na encruzilhada, no principio nas montanhas ao norte da Assíria e nos limites de
dos dois caminhas, para fazer adivinhações: ele mis- Tabal, que é Tubal. a oeste. Heródoto denomina as
turou suas flechas" (R. 54). Adivinhação por meio de duas raças Moscói e Tibarenói como estabelecidas a
flechas era um costume antigo. S. Jerônimo diz que sudeste do mar Negro. Os moscóis habitavam entre
o modo de proceder era escrever nas flechas os nomes as cabeceiras do Fágis e do Círus".
das cidades contra as quais iam guerrear, e então, Sobre a expressão "Nas ilhas" em 49.6, diz Geo-
misturando-se numa aljava. tiravam-nas como sor- Lang: " A palavra 'ilhas' encontra-se 38 vezes e pare-
tes, e a cidade cujo nome estava na primeira seta a ce referir-se aos países que margeiam o Mediterrâ-
sair era a primeira a ser atacada (R. 45). neo".
N o capitulo 27.6 leia-se, como na V.B. "Fizeram As ofertas (43.19-27). "Sem dúvida estas ofertas
os teus remos de carvalhos de Bazà; fizeram os teus teriam um caráter retrospectivo, olhando para trás.
bancos de marfim... " para a Cruz, pois as ofertas sob a antiga dispensaçào
O rei de Tiro (28.12-15). "Aqui. como em Isaías eram prospectivas, e olhavam adiante, para a Cruz.
14.12. a linguagem vai além do rei de Tiro para refe- Em nenhum caso tém os sacrifícios de animais o po-
rir-se a Satanás. inspirador e oculto dominador de der de expiar os pecados (Rm 3.25; Hb 10.4)" (Sco-
toda a pompa e soberba como a de Tiro. Outros casos field).
de palavras dirigidas indiretamente a Satanás en-
contram-se em Gênesis 3.14.15; Mateus 16.23. O es- CITAÇÕES DE EZEQUIEL N O NOVO T E S T A -
tado de Satanás antes de cair descreve-se aqui; a sua MENTO
queda em Isaías 14.12-14. Há mais. porém. A visão
não é de Satanás na sua própria pessoa, mas de Sa- As palavras "quem ouvir, que ouça" (3.27) talvez
tanás expressando-se mediante um rei terrestre que tenham sido a origem da frase como se acha em Ma-

'258
Tjrçuid

teus 11.15, Marcos 7.16. Lucas 14.35, Apocalipse um só pastor" (Jo 10.16) pode ter sido derivada de
13.9, etc. O solene aviso de que o julgamento deve Ezequiel 37.24. Mas o maior número de citações de
principiar pela casa de Deus (1 Pe 4.17) tem a sua Ezequiel acha-se no Apocalipse.
origem em Ezequiel 9.6. A frase " u m só rebanho e
Comparem-se: 1.5,6,10,18 com Ap 4.6.8
1.23 com Ap 4.3
2.9.10 com Ap 5.1
3.1.3 com Ap 10.8-10
6.11 com Ap 6.8
26.13 com Ap 18.22
37.10 com Ap 11.11
28.2 com Ap 20.8
39.7.18.20 com Ap 19.17,18
40.1.2,3.5 com Ap 21.10,15.16
caps. 47 e 48 com Ap caps. 21 e 22

Estes textos paralelos formam um estudo imensamente instrutivo.

V -

259
Daniel

aniel. como Ezequiel. 1.1.4. A visão da árvore, e seu sentido (cap.


era um cativo judaico 4).
na Babilônia. Ele era de 1.2. O reinado de Belsazar (cap. 5).
descendência real (1.3). 1.2.1. A festa e a escrita (1-6).
Devido á sua classe e 1.2.2. Interpretação e cumprimento (7-31).
:ia, foi educado para servir no palácio, 1.3. O reinado de Dario (cap. 6).
fera contaminada de uma corte oriental, 1.3.1. A elevação de Daniel o põe em perigo
uma vida de singular piedade e testemunho de vida (1-15).
Sua longa vida estendeu-se desde os tem- 1.3.2. Salvação de Daniel pelo seu Deus <16
•"abucodonosor aos de Ciro. Foi contemporâ- 28).
neo de Jeremias. Ezequiel (14.20); Josué, o sumo sa-
2. Profético (caps. 7 a 12).
cerdote da restauração: Esdras. e Zorobabel.
2.1. O reinado de Belsazar (caps. 7 e 8).
O livro de Daniel é a introdução indispensável à 2.1.1. A visão dos quatro animais e seu senti-
profecia ck> N.T., cujos temas são a apostasia na igre- do (cap. 7).
ja, a manifestação do homem do pecado, a Grande 2.1.2. A visão dos dois animais e seu sentido
Tribulação, a volta do Senhor, as ressurreições e juí- (cap. 8).
zos. Estes, exceto o primeiro, são os temas de Daniel 2.2. O reinado de Dario (cap. 9).
também. 2.2.1. A oração de Daniel (1-19).
Mas Daniel é notavelmente o profeta dos "tem- 2.2.2. A revelação de Gabriel (20-27).
pos dos gentios" (Lc 21.24, etc.) A sua visão abrange 2.3. O reinado de Ciro (caps. 10-12).
todo o curso do governo gentílico até seu fira catas- 2.3.1. A visão perto do rio Hideque! (cap. 10).
trófico e o estabelecimento do reino messiânico. 2.3.2. Profecias concernentes á Pérsia e á
Daniel tem quatro divisões principais: 1. Intro- Grécia (11.1-33).
dução. A história pessoal de Daniel desde a conquis- 2.3.3. Profeciu» concernentes aos tempos do
ta de Jerusalém, no segundo ano de Nabucodonosor fim (11.34 a 12.3).
(1.1-21). 2. As visões de Nabucodonosor e seus resul- 2.3.4. Daniel e a palavra final (cap. 12.4-13).
tados (2.1 a 4.37). 3. A história pessoal de Daniel sob
Belsazar e Dario (5.1 a 6.28). 4. As visões de Daniel A MENSAGEM DE DANIEL
(7.1 a 12.13).
Ê impossível dar um estudo adequado das profe
A N A L I S E DE D A N I E L cias de Daniel nas poucas páginas disponíveis. En-
contramos um resumo breve no seguinte, que tradu-
Histórico (caps. 1 a 6). zimos do "Bible Correspondence Course" do dr.
1.1. O reinado de Nabucodonosor (caps. 1 a 4). Graham Scroggie Os pontos principais são:
1.1.1. A comida real, e os judeus fiéis (cap. 1. O sonho de Nabucodonosor (cap. 2).
1). 2. A visão dos quatro animais (cap. 7)
1.1.2. A visão da imagem, «seu wmtido (cap. 3. A vUáo do§ doifl animais (cap. 8).
2). 4. A revelação dos setenta setes (cap. 9).
1.1.3. O deus de ouro, e os fiéis judeus (cap. 5. A revelação da escritura da verdade (caps. 10a
26). 12).

261
M d

1 O S O N H O DE N A B U C O D O N O S O R (cap. 2) Os quatro animais correspondem às quatro par-


tes da imagem que Nabucodonosor viu, mas no caso
O rei viu a imagem de um homem com cabeça de do quarto animal dá-se-nos apenas o começo e o fim
ouro, peito e braços de prata. etc. (31-33). Sobre os da sua história, isto é, o tempo quando o poder roma-
pés desta imagem caiu uma pedra que a quebrou em no vence a Grécia e se estabelece na terra, como
pedaços, e então a pedra tornou-se uma montanha também "o tempo do fim" quando esse império ro-
que encheu toda a terra (34.35). Náo precisamos adi- mano é administrado por dez reis, e é julgado e des-
vinhar o que isto significa, porque Daniel, instruído truído pelo grande Rei.
por Deus. diz-nos mui claramente. A cabeça de ouro
representa o império babilônico (38), e a prata, bron- O período representado pelas pernas na visão de
ze e ferro que seguem são os três impérios que se- Nabucodonosor não aparece na visão de Daniel do
guem o da Babilônia (39,40), isto é, os impérios quarto animal, isto é, não há referência ao tempo en-
medo-persa, e grego e romano, os quais sáo referidos tre a divisão do império romano nos seus dois ramos,
mais particularmente depois. de Oeste e Leste, e o período quando Jeová resume
as suas relações com os judeus, ao fim do período
A propriedade de uma imagem de um homem re- atual. Se Daniel tivesse entendido esta omissão no
presentar estes impérios é evidente. O império duplo meio de 7.7, a ocasião da sua perplexidade teria sido
medo-persa é representado pelos dois braços, e a sua removida. O "chifre pequeno é o último monarca
unidade pelo peito; e o império romano, que come- dos gentios, que, com muita magnificência, comple-
çou como uma unidade mas depois foi dividido, é re- tará a longa lista que começou com Nabucodonosor
presentado peia parte inferior do corpo dividindo-se muitos séculos antes.
em duas pernas. Estas correspondências encontrar -
se-âo outra vez nas outras visões. O julgamento que terminará seu domínio para
sempre corresponde ã queda da pedra sobre os pés
A pedra que destrói esta imagem por cair sobre da imagem de Nabucodonosor. Assim, as duas visões
seus pés é declarada ser um reino que Deus estabele- tém referência ao mesmo período, visto primeiro do
cerá e que permanecerá para sempre; e justamente lado humano, onde tem o aspecto de uma bela ima-
como Nabucodonosor representou o reino do qual era gem. e então do lado divino, onde parece como bes-
a cabeça, assim esta Pedra, que é Cristo, representa tas feras.
esse divino e indestrutível reino que será estabeleci-
do depois de todos os outros terem passado. 3. A VISÃO DOS DOIS A N I M A I S (cap. 8)
A imagem, então, representa um período de tem-
po que em Lucas 21.24 é chamado "os tempos dos Tendo em mente os dois quadros primeiros, náo
gentios". Este período começou com a soberania de será difícil entender a segunda visáo de Daniel. Dois
Nabucodonosor. e terminará com a vinda do grande dos animais reaparecem, mas esta ver como um car-
Rei; e todos os séculos do meio - já sáo 24 - têm cará- neiro e um bode, em vez de urso e leopardo. Que é as-
ter gentilico, embora já passassem sete séculos de- sim mesmo fica claro pela interpretação dada pelo
pois de Nabucodonosor, quando a nação de Israel foi anjo. que declara ser o carneiro a Medo-Pérsia e o
dispersada. Por meio desta imagem Deus declarou bode a Grécia (20,21). istoé. o segundo e terceiro im-
ao rei as coisas que haviam de acontecer nos últimos périos da visáo anterior. Os dois chifres do carneiro
dias, e disse que o sonho era certo e a interpretação são as duas partes do império, a Média e a Pérsia,
correta. porém a mais notável é a Pérsia, correspondendo a
7.5a; e as três direções em que dava marradas (4)
Olhemos agora para a segunda revelação. correspondem ás três costelas de 7.5, que represen-
tam a Líbia, a Babilônia e o Egito.
2. A V1SAO DOS Q U A T R O A N I M A I S (cap. 2)
O bode que vem do Oriente é o exército grego re-
N o primeiro « n o do rei Belsazar, Daniel teve um presentando esse império, e o "chifre insigne" é Ale-
sonho que ele escreveu junto com a interpretação; xandre, o Grande. Segue o que o bode faz ao carneiro
era o seguinte: Quatro ventos do céu lutavam sobre o (5-7): O chifre insigne é quebrado, e outros quatro
grande mar, e disso saíram quatro animais diferen- nascem no seu lugar; isto é. Alexandre morre e seu
tes uns dos outros. O primeiro semelhante a um leão, domínio é dividido entre quatro dos seus generais,
o segundo a um urso, o terceiro a um Leopardo, e o conforme relata a história profana.
quarto cuja aparência não se descreve. Em procurar É muito importante notar agora que, desde o
entender esta visão temos, como no caso anterior, versiculo 9, a visão passa para "o tempo do fim"
várias indicações úteis, por isso devemos primeiro (17,19,23.28) e corresponde ao grande intervalo da
descobrir a quem ou o que estes animais represen- visáo dos quatro animais (7.7). O chifre pequeno
tam, e depois examinar os detalhes a seu respeito, desta segunda profecia (8.9-14) corresponde ao chi-
assim como os fatos que agora sáo históricos. fre pequeno da revelação anterior (7.8.23-25) e se
Os quatro animais sáo quatro reis que haviam de trata do Anticristo de 2 Tessalonicenses 2 e Apoca-
se levantar da terra (7.17), mas não sáo revelados os lipse 13.1-10. Outra vez Daniel deixou de perceber o
seus nomes nem onde reinavam; nem era isso preci- intervalo no quadro profético: desmaiou, ficou doen-
so, pois já fora feito na revelação anterior dada a Na- te, e entregou-se à oração <8.27, cap. 9).
bucodonosor. Por isso, o leão representa Nabucodo-
nosor e o império babilõnico; o urso representa Ciro e 4. A R E V E L A Ç Ã O DOS S E T E N T A SETES (cap.
o império medo-persa; o leo pardo representa Ale- 9)
xandre e o império grego; o quarto animal, que era
diverso dos outros, representa o quarto reino (23), Outra vez é preciso ser breve, mas claro. Daniel
que sabemos aer o romano. estava preocupado com a profecia de Jeremias dos

•éa, máitmóo pais C P A D - i m ,

262
Dcmd
setenta anos (Dn 9.2.20) e o anjo Gabriel (21) lhe en- rei poderoso deste versículo é o chifre insigne visto
sinava que os acontecimentos preditos nas visões por Daniel no bode no capitulo 8. Alexandre o Gran-
precedentes referem-se a um período de muito mais de (335 a.C.)
tempo (24-27). Cada sete é uma semana de anos. lis- "Quando se levantar, o seu reino será quebrado, e
tes grupos de sete estão divididos em trés partes de- se repartirá para os quatro ventos do céu. porém náo
siguais assim: sete anos, ou 49 anos: sessenta é dois para a sua posteridade, nem segundo o seu domínio
setes, ou 434 anos, e um sete. ou 7 anos. O periodo com que reinou: porque o seu reino será arrancado,
começou com o mandamento de reedificar Jerusalém até para outros fora destes" ( v . 4).
• 25). esse decreto foi expedido no vigésimo ano de Alexandre morreu com pouca idade. O chifre
Artaxerxes Longimanus. 445 a.C. (Tregelles, Neu- ilustre foi quebrado. Seu império foi dividido em
i<rn e Anstey dão o ano como sendo 454 a.C. Sir Ro- quatro partes (quatro ventos) depois da batalha de
bert Andersort concorda com Scroggie em preferir o Ipsus, 301 a.C., a sua posteridade não recebeu o rei-
ano 445.) Desde essa data ao remate do V . T . ( ? ) era no. e sim seus quatro generais: Ptolomeu. Lisima-
um periodo de 49 anos. primeira das trés divisões; chus. Seleucus Nicatore Cassander. Nenhum destes
desde essa data até a rejeição de Cristo (Jo 19.14-16; chegou à glória do domínio de Alexandre.
d.C.32) estendia-se um periodo de 434 anos, comple- "O rei do Sul será forte como também um dos
tando a segunda divisão, restando apenas sete anos seus príncipes, este será mais forte do que ele e terá o
para completar os 70. domínio; o domínio grande será o seu domínio" ( v .
Ora, precisamente como. na segunda e terceira 5>.
visões, havia um grande intervalo de tempo de que A profecia não segue com a Asia e a Grécia, mas a
nada se diz (7.7; 8.8.9), assim também aqui. Esqua- Síria e o Egito entram na cena. porque o rei do Nor-
drinhemos os fatos. Depois de sessenta e dois setes, o te. da Síria; e o rei do Sul, do Egito, haviam de ter
Messias havia de ser cortado; isso cumpriu-se na contato com os judeus. A Terra Santa ficou envolvi-
cruz; e mais: "o povo do príncipe que há de vir des- da com ambos. O rei do Sul era Ptolomeu Lagus. U m
truirá a cidade e o santuário" Isto cumpriu-se na dos seus príncipes era Seleucus Nicator. Ele exerceu
destruição de Jerusalém pelo imperador romano Ti- um grande domínio que se estendeu ao rio tndus.
to. que terminou o período em que Deus se ocupou
"Ao cabo dos anos eles se aliarão um ao outro, e a
especialmente com o povo escolhido. Segue então o
filha do rei do sul virá ao rei do norte para ajustar
intervalo, e o anjo passa para " o f i m " que será inau-
um acordo. Ela. porém, não reterá a força do seu
gurado por uma desolação (26b). O príncipe que há
braço, nem subsistirá ele, nem o seu braço. Mas será
de fazer uma aliança com os judeus (27) é o chifre
ela entregue e bem assim os que a trouxeram, e o que
pequeno de 7.8 e 8.9. isto é, o Anticristo.
a gerou, e o que a fortaleceu nesses tempos" (v. 6).
Finalmente consideremos:
Aqui temos outro intervalo. Este versículo leva-
5. A R E V E L A Ç Ã O D A E S C R I T U R A DA V E R D A - nos até 250 a.C. Os dois que fazem aliança sáo reis
DE (caps. 11 a 12.4) do Norte (a divisão síria do império grego) e do Sul
(Egito). Esta aliança foi efetuada pelo casamento da
A primeira parte deste capitulo é dedicada a uma filha do rei do Sul, a princesa egípcia Berenice, filha
prediçáo dos acontecimentos na Pérsia e na Grécia de Ptolomeu II, com Antíoco Theos, o rei do Norte. A
(2) e tão literalmente foram cumpridas estas profe- combinação foi que Antíoco havia de se divorciar da
cias que Porfírio podia explicar este fato somente sua esposa e fazer qualquer filho de Berenice herdei-
pela suposição de que as profecias fossem escritas ro do reino. Este convênio acabou num desastre.
depois dos acontecimentos. A última parte do capi- Quando Ptolomeu morreu, Antíoco Theos, em 247
tulo 11, como nas três visões precedentes, passa para a.C., chamou a sua esposa anterior: Berenice e seu
"o tempo do fim ", e relata mais uma vez que o Anti- filho foram envenenados, e o filho da primeira espo-
cristo fará quando tomar o poder. Ê duvidoso era que sa, Calinicus, foi posto no trono como Seleucus II.
ponto este 'tempo do fim' começa, mas parece ser "Mas de um rebento das raízes delas um se le-
nos versículos 29,34 ou 36. Ali os fatos principais são vantará no seu lugar, e virá ao exército, e entrará na
o levantamento, queda e ruína do rei mau, e a glorio- fortaleza do rei do norte, e procederá contra eles. e
sa ressurreição dos justos (Scroggie). prevalecerá" ( v . 7).
O cumprimento das profecias do capítulo 11.2-35 F,ste rebento das suas raízes (de Berenice, que ti-
é dado detalhadamente por A.C. Gabelein no seu li- nha sido assassinada) era «eu irmão Ptolomeu Euer-
vro sobre o profeta Daniel. A seguir, damos a profe- getes, que vingou a morte dela. Ele conquistou a
cia em letras grifadas e o cumprimento em letra co- Siria. Agiu contra Seleucus II. rei do Norte e matou
mum. a esposa de Antíoco Theos que envenenara Berenice.
"Eis que se levantarão trés reis na Pérsia, e o Ele tomou posse da fortaleza, o porto de Antioquia.
quarto será mais rico do que todos eles. Depois que "Também os deuses deles, juntamente com as
se tiver tornado forte por meio das suas riquezas, suas imagens fundidas e com os seus vasos preciosos
concitará todos contra o rei da Grécia" (v.2). de prata e de ouro. ele os levará cativos para o
Veja-se Esdras 4.5-24. Os trés reis foram Assuero, Egito: por alguns anos deixará em pai o rei do Nor-
Artaxerxes e Dario. conhecidos na história secular te" (v. 8).
como Cambises, Pseudo Smerdis, e Dario Histapais Ptolomeu Euergetes fez exatamente como disse a
(náo Dario, o Medo). O quarto é Xerxes. que, como profecia. Ele voltou com 40.000 talentos de prata, e
nos conta a história, era imensamente rico. A inva- 2.500 ídolos e vasoa idolatras. Muitos destes, Cambi-
são da Grécia aconteceu em 480 a.C. ses tinha levado para a Pérsia.
"Levantar-se-á um rei poderoso, que reinará com "Este [rei do Norte| entrará no reino do rei do
grande domínio e fará o que lhe aprouver" (v. 3). Sul, mas voltará para a sua terra" (v. 9).
Os sucessores de Xerxes não são conhecidos. O Em 240 a.C. Seleucus Calinicus, o rei do Norte,

263
Vond

invadiu o Egito, mas voltou derrotado. Sua frota pe- tra filha de Antioco foi d esposa da por Ptolomeu. Por
receu numa tempestade. que se chama Cleópatra "filha de mulheres"? Por-
"Seus filhos farão guerra, e congregarão uma que era muito nova e estava sob a proteção de sua
multidão de grandes forças que avançará, inundará mãe e da avó. O tratado ficou em nada.
e passará para adiante; eles voltarão, e farão guerra, "Depois virará o seu rosto paru as ilhas, e tomará
até chegarem á fortaleza dele" (v. 10). muitas; mas um príncipe fará cessar o opróbno" (v.
Os filhos de Seleucus Calinicus eram Seleucus III 18).
e Antioco, o Grande. Seleucus (Ceraunos) ITI come- Alguns anos mais tarde Antioco conquistou algu-
çou uma guerra contra as províncias do Egito na A- mas ilhas na costa da Asia Menor. O príncipe (lite-
sia Menor. Nào foi bem-sucedido. O outro niho ralmente "capitão") é Scipio Asiáticus. Antioco
Antioco. invadiu o Egito e passou adiante, porque trouxera opróbrio sobre os romanos pelas suas ações,
Ptolomeu Filopáter nào lhe fez oposição. Em 218 e ele foi derrotado. Deu-se esta derrota em Magné-
a.C. Antioco continuou a guerra e tomou a fortaleza sia. em 190 a.C.
de Gaza. "Então voltará o seu rosto para as fortalezas de
"O rei do Sul será movido de cólera, sairá e pele- sua terra, mas tropeçará e cairá, e náo será achado"
jará contra ele, a saber, contra o rei da Norte: este (v. 19).
porá em campo uma grande multidão, e a multidão Antioco voltou á sua própria terra. Chegou a um
será entregue nas mãos daquele" (v. 11). fim triste, quando quis roubar o templo de Belus em
Em 217 a.C. Ptolomeu animou-se e atacou Antio- Elimais.
co, o Grande, com um imenso exército, e o derrotou. "Depois dele se levantará um que fará a um exa-
A multidão foi entregue nas mãos de Ptolomeu Filo- tor passar pela glória do reino; porém dentro de pou-
páter. cos dias será ele destruído, náo em ira nem em bata-
"A multidão será levada, e o coração dele será lhas" (v. 20).
exaltado; ele derrubará miríades, porém não preva- Isto se refere a Seleuco Filopáter. 187-176 a.C.
lecerá" ív. 12). (Literalmente "ea multidão levanta- Ele era conhecido como um exator de impostos. Ti-
rá, a sua coragem aumentará".) nha má fama entre os judeus devido às suas exações.
O povo do Egito levantou-se. e o fraco Ptolomeu Um cobrador seu. chamado Heliodoro. o envenenou,
tomou-se corajoso. Refere-se aqui outra vez à sua vi- e assim ele foi morto "nem em ira nem em batalha".
tória. Foi ganha em Rafia. Ele podia ter-se valido da
"Em seu lugar se levantará um homem desprezí-
vitória, mas não a aproveitou, e entregou-se a uma
vel, a quem eles não haviam dado a honra do reino,
vida de l u x ú r i a .
mas virá em tempo de segurança, e com lisonja obte-
"O rei do Norte voltará, e porá em campo uma rá o reino" (v. 21).
multidão maior do que a primeira: e marchará ao Este homem desprezível não é outro senão Antio-
cabo dos tempos, a saber, dos anos. com um grande co Epífanes. Ele náo tinha nenhum direito à digni-
exército e com muito material" (v. 13). dade real. por ser apenas um filho menor de Antioco,
Uns 14 anos depois, em 203 a.C.. Antioco a juntou o Grande. Obteve entretanto a coroa por astúcia e
um exército maior, e voltou contra o Egito. Ptolo- por lisonjas. Ele é o chifre pequeno do capitulo 8.
meu Filopáter tinha morrido, e deixado um filho
criança Ptolomeu Epifánio. "Com os braços de uma inundação serão varridos
" Naqueles tempos se levantarão muitos contra o diante dele. e serão quebrantados, como também o
rei do Sul; também os violentos dentre seu povo se príncipe da aliança" (v. 22).
levantarão para estabelecer a visão, porém eles cai- Ele teve êxito em derrotar seus inimigos. O
rão" (v. 14). príncipe da aliança pode ser seu sobrinho Ptolomeu
Também no Egito havia muitos rebeldes. Havia Filometor. Ele venceu também os generais de Filo-
também como lemos em Josefo. judeus malvados metor.
que ajudaram a Antioco. Estes "violentos dentre seu "Depois de feita com ele a aliança, usará de enga-
povo" estabeleceram a visão. Cooperaram com a no; pois subirá, e se tornará forte, com pouca gente"
profecia. (v. 23). p m
"Assim virá o rei do Norte, levantará um terra- Fingiu amizade com o jovem Ptolomeu, mas agiu
pleno e tomará uma cidade bem fortificada; o$ bra- enganosamente. Para evitar suspeitas, invadiu o
ços do Sul náo resistirão, nem o seu povo escolhido, Egito com uma pequena força, mas conquistou-o até
nem haverá força para resistir" (v. 15). Mênfis.
Tudo isto se cumpriu nas lutas que se seguiram. "Em tempo de segurança virá sobre os lugares
"O que, porém, vier contra ele, fará o que lhe mais férteis da província; e fará o que nunca fizeram
aprouver. e não haverá quem lhe possa resistir; esta- seus pais, nem os pois dos seus pais: espalhará entre
rá na terra gloriosa, e na sua mão haverá destruição" eles a presa, os despojos e os bens; formará os seus
(16). desígnios contra os lugares fortes por algum tempo"
A invasão da terra gloriosa por Antioco seguiu. (v. 24).
Ele subjugou toda a terra. Era também bem dispos- Tomou posse dos lugares férteis no Egito sob pre-
to para com os judeus porque tomaram parte com texto de paz. Tomou Pelusium e sitiou 06 lugares for-
Antioco, o Grande, contra Ptolomeu Epifánio. tificados Naucratis e Alexandria.
"Resolverá vir com a potência de todo o seu rei- "Despertará o seu poder e a sua coragem contra o
no, e entrará num acordo com ele; dar-Uxe-á a filha rei do Sul com um grande exército; o rei do Sul sairá
de mulheres para ele a corromper. Porém ela náo d batalha com um exército em extremo grande e po-
subsistirá, nem será para ele" (v. 17). deroso, porém não subsistirá, porque formarão
Isto nos traz aos anos 208-205 a.C. Antioco quis desígnios contra ele" (v. 25).
ganhar posse do Egito, fizeram um convênio. Neste Este rei do Sul é Ptolomeu Fiscon, que foi feito
tratado entre Antíooo e Ptolomeu Epifánio, Cleópa- rei depois de Filometor ter caído na mão de Antioco.

264
Daniel

Ele tinha um grande exército, mas náo teve êxito rem sábios entre o povo, ensinarão a muitos; contu-
porque havia traiçáo no seu próprio arraial. do. por muitos dia* cairão pela espada, pelo fogo.
"Os que comerem o pão dele, o destruirão; o seu pelo cativeiro e pelo despojo Ora quando caírem, se-
exército inundará, e muitos cairão mortos" (v. 26). rão ajudados com pequeno st/corro; mas muitos com
Houve mais feitos militares de Antioco em que lisonjas se ajuntardo a eles. Alguns dos que são sá-
ele foi bem-sucedido. bios cairãu, para os acrisolar, purificar e embranque-
"Quanto a ambos estes reis, terão intenção de fa- cer até o tempo do fim, mais ainda será para o tempo
zerem o mal, e, sentados à mesa. falarão mentiras. determinado" (vv 32-35).
Porém isto náo prosperará, porque ainda virá o fim Estes versicul«>s descrevem a situação do povo ju-
no tempo determinado" (v. 27). daico. Havia duas classes. Os que agiram impiamen-
Os dois reis sáo Antioco Epífanes e seu associado te contra a aliança, os apóstatas; e aqueles com o co-
Filometor. Fizeram uma aliança contra Ptolomeu nhecimento de Deus. um restante fiel. Os apóstatas
Evergeta EL, chamado também Fiscon. Mas menti- tomaram o lado do inimigo, e o povo com o conheci-
ram uns aos outros, e nâo conseguiram nada nos seus mento de Deus era forte. Tem isto referência aos
planos. nobres Macabeus. Havia também sofrimento e per-
"Então voltará para sua terra com muitos bens; o seguição.
seu coração será posto contra a santa aliança, fará e Até este versículo, tudo tem sido cumprido. Com
o que lhe aprouver e voltará para suo terra" (v. isto G. I*ang nào concorda, mas diz: "Seguimos Tre-
28). gelles em considerar o versículo 5 em diante como re-
Em 168 a.C. ele (Antioco) voltou da sua expedi- ferindo-se a tempos ainda vindouros". Mas Daniel
ção com grandes riquezas. Então marchou através havia de receber alguma revelação referente 'aos úl-
da Judéia e praticou atrocidades. Ele ouviu um boa- timos dias' (10.14). Entende-se que do versículo 36
to de que o povo judaico dissera que ele morreria. N o em diante o assunto é ainda futuro, e combina com
primeiro e segundo livros dos Macabeus lemos das as profecias do Apocalipse. Mas nosso espaço dis-
suas atrocidades. Então ele se retirou para Antio- ponível não permite prolongar mais este estudo de
quia. Daniel capitulo 11. Traduzimos apenas mais um tre-
cho do livro de A. C. Gabelein: "Desejamos apontar
"Ao tempo determinado voltará, e entrará no um erro em que alguns têm caído. No versículo 31 le-
Sul: porém não sucederá na última como na primei- mos da 'abominação que assola' Nosso Senhor, no
ra ocasião" (v. 29). discurso em Mateus 24.15. disse: 'Quando pois vir-
O mesmo fez mais outra tentativa contra o Sul, des a abominação de desolação, predita pelo profeta
mas nâo teve tanto êxito. Daniel, estabelecida no lugar santo (quem lê. enten-
"Virão contra ele naus de Quitim, portanto será da)'. Alguns crêem que quando nosso Senhor falou
contrariado, e voltará. Indignar-se-á contra a santa estas palavras referiu-se a Daniel 11.31. e que é isso a
aliança, e fará o que lhe aprouver: até tornará a vir. e abominação de desolação. Náo é assim. A 'abomina-
atenderá aos que abandonarem a santa aliança" ção que assola' do versículo 31 é passada, e aconte-
(30). ceu nos dias das atrocidades cometidas por Antioco
As naus de Quitim sáo a frota romana. Quando Epífanes. A abominação de desolação a que o nosso
Antioco estava a pouca distância de Alexandria, ou- Senhor se refere é mencionada no capítulo 12.11. e
viu que navios tinham chegado, e foi cumprimentá- diz respeito a uma abominação estabelecida pelo
los. Entregaram-lhe cartas do Senado Romano, nas Anticristo no meado da 'última semana"'.
quais era mandado, sob pena do desagrado do povo
romano, terminar a guerra com os seus sobrinhos. G. ÍMng considera ridículo uplicar o trecho 11.36-
Antioco disse que "iria consultar seus amigos"; en- 39. não a uma pessoa mas a um sistema religioso,
tão Pompílio. um dos legados, com a sua vara fez um como o papismo. £ impossível dizer de um sistema
circulo na areia em volta de Antioco, e disse que nào que "rido terá respeito aos deuses dos seus pais" (v
havia de sair de tal círculo sem dar resposta. Sentin- 37).
do-se derrotado, voltou à Judéia, onde praticou mais Apesar de termos dado tantas páginas ao capitu-
perversidades. Judeus apóstatas associaram-se com lo 11, nosso estudo das profecias de Daniel é muito
ele. incompleto. O leitor estudioso pode precisar consul-
"Estarão braços do lado dele, e profanarão o san- tar alguns dos livros que tratam exclusivamente do
tuário, a saber, a fortaleza, e tirarão o holocausto profeta Daniel.
perpétuo, e estabelecerão a abominação que assola" Vamos acrescentar alguns pensamentos muito
(v. 31). resumidos sobre os diversos capítulos do livro de Da-
Isto nos traz ao auge dos horrores sob Antioco niel.
Epífanes. Uma prévia alusão ao mesmo assunto en-
contra-se no capitulo 8.9-12. Ele mandou Apolónio Capitulo 1
com mais de 20.000 homens para destruir Jerusalém.
Houve multidões de mortos, e mulheres e crianças Um moço simpático. Vemos que o rapaz Daniel
foram levadas cativas. Ele fez um decreto pelo qual conquistou a simpatia da gente com quem lidava (v.
todo o povo havia de conformar-se com a idolatria da 9). e que era também muito amado' por D e t » (9_23:
Grécia. Um grego iníquo foi enviado a sustentar esse 10.11,19). Os expositores calculam que ele (e seus
decreto. Todos os sacrifícios cessaram, e o ritualismo companheiros?) tinha uns 15 ou 18 anos quando fot
judaico dado por Deus terminou. O templo foi conta- escolhido para a vida palaciana. Embora os moços
minado com carne de porco6, e dedicado ao deus Jú- fossem entregues aos cuidados do "príncipe dos .eu-
piter Olímpio. Assim cumpriu-se a profecia. nucos" náo precisamos entender que eles fossem eu-
"Com lisonjas perverterá os que procedem impia- nucos também.
mente contra a aliança: mas o povo que conhecer a Os pontos para estudo neste capitulo sáo:
seu Deus se tornará forte, e fará proezas. Os que fo- l ) O cativeiro (1.2). 2) A ordem real (3-5), apon-

265
DomW
tando sete características nos moços que haviam de estão entre aquele capitulo e este. Durante esse tem-
ser escolhidos, exigindo qualidades sociais, físicas e po N a b u c o d o n o s o r tinha m o r r i d o , e E v i l -
intelectuais. 3) Nomes mudados (6.7): nomes com Merodaque. Nergal-Charezer. Laborosoarchod e Na-
significação divina mudados para nomes com signi- bnnidon tinham sucedido no trono. Belsazar era o fi-
ficação idolatra. Para O sentido dos nomes, consulte- lho deste último, e era governador da Babilônia du-
se o "Pequeno Dicionário Bíblico". 4) Uma resolução rante o reinado do seu pai. Isto explica a palavra
nobre (8-10). Os moços foram provados pela tenta- "rcrccim" no versiculo 7.
ção. mas mostraram uma nobre devoção aos seus Belsazar era um moço dissoluto: até Xenofonte o
princípios religiosos. 5) Um estranho pedidrtl 11-13). pronuncia um homem " í m p i o " Neste capitulo note
Para embelezar a face náo há nada melhor do que mos:
uma alimentação simples. 6) Uma experiência bem-
sucedida (14-16). O valor da dieta escolhida náo foi A festa real 1-4) realizada por descuido (o inimi-
somente físico mas espiritual. 7) Conseqüências ex- go estava à porta), com muita magnificência, com
celentes (17-21). Os moços não somente comeram muita gente nobre, tinha: impropriedades (a presen
com abstinência, mas estudaram com diligência ça de mulheres», intemperança (bebiam muito vi-
(17). Combinaram o melhor da graça espiritual com nho), sacrilégio (usavam os vasos sagrados), profani-
o mais alto da ciência terrestre. dade (desafiavam ao Deus todo-poderoso), idolatria
(louvavam os deuses falsos).
A escrita mística (5-9). Notemos: quando apare-
Capitulo 2 ceu. como apareceu, onde apareceu, a forma que to-
me »u. o terror que ocasionou, a perplexidade que
Sonho de um rei. O dr. Scroggie calcula que neste criou.
capitulo Daniel está com 22 anos. Notemos aqui: 1) A intervenção da rainha (10-12). Notemos algu-
A confiança de Daniel em Deus (16). 2) O recurso da mas coisas: Primeiro, que ela era a rainha-máe. e.
oração. 3) O segredo revelado. 4) Deus louvado e sem dúvida, uma filha de Nabucodonosor (Sgrog-
agradecido. gir). Segundo, ela não estava na festa, e provavel-
O sonho foi comentado na "Mensagem". mente a desaprovava. Terceiro, a sua compostura no
meio desse povo embriagado. Quarto, a sua
Capitulo 3 lembrança de Daniel. Quinto, a sua sugestão para
que procurassem o auxilio dele.
Fidelidade provada pr>r fogo Notemos: 1) O O apelo do rei (13-16). O estadista idoso é levado
mandado real (1-7). Que representava esta imagem ã presença do rei. E provável que ele tivesse então 87
de ouro? Há três possíveis respostas: pode ter sido: anos.
a) uma imagem de Nabucodonosor mesmo, presu-
mindo que o rei era bastante orgulhoso: b) uma ima- A resposta do profeta (17-24). Primeiro Daniel
gem de alguma divindade babilônica, e. nesse caso. expressa seu desprezo de uma recompensa por ura
Nabucodonosor teria renunciado à sua opinião da tal serviço e de uma tal fonte (17). Depois ele recorda
grandeza do Deus de Daniel; isto explicaria a anteci- a história de Nabucodonosor (18-21). Tudo isso
pação de oposição (6) e a ira do rei (13). Explicaria acontecera uns 40 anos antes, mas Daniel jamais ti-
também a recusa dos moços de adorar uma imagem, nha esquecido. Afinal ele acusa o rei babilônico dos
por ser isso proibido pela lei de Moisés. 2) O povo seus pecados (22-24), do seu orgulho, sacrilégio e
acusa o* judeus (8-12). 3) As alternativas (13-15). Há profanidade, e então pronuncia:
ocasiões em que é preciso escolher entre duas alter- O decreto fatal (25-28). Notemos: a) os dias do rei
nativas: entre experiências e lealdade. 4) Os intran- e do reino são numerados; b) o rei tem sido pesado, e
sigentes (16-18). A resposta dos três moços é positiva achado era falta: c) o reino é dividido, e dado aos me-
e sem equívoco. Quando era preciso submeter-se ã dos e persas.
fornalha do rei para conservar o favor de Deus, não A cena final (29-31). Daniel é promovido (29). A
hesitaram. Confiaram no poder e na vontade de sentença contra o rei é executada (30). Sua retribui-
Deus para os libertar, "mas se ndo..." podiam mor- ção foi rápida; sua calamidade repentina; seu desti-
rer pelas suas convicções religiosas. 5) A fornalha de no selado.
fogo (19-23). O rei cumpre a sua ameaça mas náo
consegue o seu propósito. Deus estava com os moços Capitulo 6
no fogo.
Coração de leão em covas de leões. Data 537 a.C.
Capitulo 4 Idade 88. Diz o dr. Scroggie: "Havemos de sentir um
novo interesse nesse livro de Daniel ao lê-lo na sua
A tragédia de uma árvore. As divisões sáo: 1) A ordem cronológica. Depois do capitulo 4 vem o 7, os
introdução (1-3). 2) O sonho (4-18). 3) A interpreta- quatro animais. Então, no 8, os dois animais. N o 5, a
ção (19-27). 4) O cumprimento (28-36). 5) A conclu- festa de Belsazar. No 9. a oração de Daniel. Depois o
são (37). 6, que vamos estudar. Finalmente os capitulos
10.11.12. Consideremos:
O rei faz uma declaração cora as seguintes carac-
terísticas: E universal (1). E voluntária (2a.). É ex- O oficio e influência de Daniel sobre Dario (1-3).
perimental (2b.). È sublime (3). Que linguagem no- Com a idade de 88 anos, ele é tirado da sua obscuri-
tável para sair da boca de um rei paga o! dade e "constituído sobre o reino" (1). Ele era um
bom estadista como também um bom homem. Pare-
ce ter sido vigoroso, tanto física como espiritualmen-
Capítulo 5
te.
A festa e a escrita. Data 538 a.C. Se 575 a.C. é A cilada dos prefeitos para eliminar seu rival (4-
data correta para o capitulo 4. então mais de 30 anos 9).

266
Md
A acusação contra Daniel, e o castigo declarado Daniel 2; o urso e o leopardo de Daniel 7. isto é, os
(10-15). reinos históricos da Medo-Pérsia e Macedõnia. Nos
Uma noite crítica para Daniel e Dario (16-18). tempos desta visão (Dn 8.1), a primeira monarquia
Daniel libertado dos ledes (19-24). estava chegando ao seu fim. Belsazar era o último rei
A proclamação de Dario, referente ao Deus de dessa monarquia.
Daniel (25-27). Podemos comparar este trecho com o M 0 chifre pequeno dé Daniel 8.9 refere-se a
seu semelhante em 3.28,29. Daniel não viveu em vão Antioco Epifanes. 175 a.C.. que profanou o templo e
se trouxe a Deus um rei caldeu e um rei medo. Mas perseguiu terrivelmente os judeus.
fez muito mais do que isso. Ele é uma das grandes " E l e não deve ser confundido com o 'chifre pe-
personagens da história humana. queno' de Daniel 7 que ainda há de vir e que domina-
rá o mundo durante a Grande Tribulaçáo. Mas
Capítulos 7 e 8 Antioco é um notável tipo da Besta, o terrível 'chifre
pequeno' dos últimos dias. Os versículos 24.25 vôo
As visões de Daniel. Devemos as seguintes expo- além de Antioco e evidentemente referem-se ao 'chi-
sições ao dr. Scofield: fre pequeno' de Daniel 7. Tanto Antioco como a Bes-
" O grande mar no versículo 2 refere-se aos povos ta estão nos versículos 24,25, mas especialmente a
em geral, à massa da humanidade sem organização. Besta
" A s divisões do capítulo 7 são: "Que o 'chifre pequeno' de Daniel 7 não pode ser
Versículo 4: O império mundial de Nabucodono- o chifre pequeno de 8.9-13,23 é evidente. O primeiro
sor (2.37,38). aparece entre os dez chifres em que o quarto reino
Versículo 5: O império mundial medo-persa (romano) será dividido: o chifre pequeno do capítulo
(2.39; 8.20). 8 sai de um doe quatro reinos em que o terceiro impé-
Versículo 6: O império mundial grego sob Ale- rio (o grego) foi dividido (8.22), e nos 'últimos tem-
xandre (2.39; 8.21-22; 10.20; 11.2-4). pos' dos quatro reinos (22.23). Isto foi historicamente
Versículo 7: O império mundial romano ( w . verdadeiro no caso de Antioco Epifanes. Os dois sáo
23,24; 2.40-43). semelhantes no seu ódio aos judeus e a Deus e na
Versículo 8: Os dez reis (v. 24) e o chifre pequeno profanação do templo". (Compare-se 7.25, a Besta
( w . 24-26). com 8.10-12, Antioco.)
Versículos 9-12: A visão da vinda do Filho do ho- Sobre a expressão "um tempo, e tempos e meta-
mem na glória ( M t 24.27-30; 25.31-34; A p 19.11-21). de de um tempo "(7.25), diz G. H. Pember que o sen-
Versículos 13,14: A cena no Céu antes da vinda tido é certamente "um ano, dois anos e metade de
do Filho do homem. um ano". " M a s por que", diz Pember. "se diz "um
Versículo® 15-18: A interpretação da visão doe tempo, dois tempos e meio tempo' em vez de três
animais. tempos e meio? Aparentemente não tem razão, pois
" A visão em 7.8 é do fim do império mundial segundo o modo judaico de calcular, três anos juntos
gentflico. O império romano primitivo (o reino de precisariam o acréscimo de um mês, de maneira que
ferro de Daniel 2.33-35, 40.44; 7.7) terá dez chifres o período seria 1290 em vez de 1260 dias. Mas refe-
(isto é, reis, A p 17.12), correspondendo aos dez de- rindo-se a um dos anos separadamente evita-se este
dos dos pés da imagem. Enquanto Daniel considera resultado". Isto é confirmado em Apocalipse 11.2,3
esta visão dos dez reis, surge entre eles um 'chifre pe- (diz Geo. Lang) quando a cidade santa (Jerusalém)
queno ' (rei) que subjuga três dos dez reis tão comple- será pisada pelas nações pelo mesmo período de 42
tamente que a identidade separada dos seus reinos meses.
está destruída. Restam sete dos dez reis, e o 'chifre De 8.10-14 diz o dr. Scofield. "Este trecho é con-
pequeno'. Ele é o 'príncipe que há de vir' de Daniel fessadamente o mais difícil nos profetas, uma difi-
9.26,27; o 'rei' de Daniel 11.36-45; a 'abominação' de culdade que é aumentada pelo atual estado do texto.
Daniel 12.11 e Mateus 24.15; o 'homem do pecado' Historicamente foi cumprido em e por Antioco Epi-
de 2 Tessalonicenses 2.3-9. e a 'Besta' de Apocalipse fanes. mas num sentido mais profundo ele apenas
13.4-8. antecipa a terrível blasfêmia do 'chifre pequeno' de
"Daniel 7.13,14 é idêntico a Apocalipse 5.1-6 e Daniel 7.8,24,25; 9.27; 11.36-45 e 12.11. Em Daniel
vem antes do cumprimento de Daniel 2.34,35. Em 8.10-14 as ações de ambos os 'chifres pequenos' com-
Daniel 7.13,14 e Apocalipse 5.1-7 vemos a investidu- binam".
ra do Filho do homem e de Davi com a autoridade
real, enquanto Daniel 2.34,35 descreve o golpe ( A p Capitulo 9
17.14, etc.) que destrói o poder mundial gentilico,
preparando assim, o caminho para o estabelecimen- Um estadista em oração. O assunto deste capítu-
to do reino do céu. Daniel 2.34,35 e Apocalipse 19.19- lo é a oração do profeta (1-19). Está dividida em in-
21 referem-se ao mesmo acontecimento. trodução (1-3). e a oração propriamente (4-19). A
" A visão das monarquias de Nabucodonosor (Dn resposta do anjo (20-27). dividido em introdução (20-
2) inclui a mesma ordem histórica da visão dos ani- 23), e a resposta propriamente (24-27). A grande pro-
mais de Daniel, porém com esta diferença: Nabuco- fecia doe setenta "setes" tem sido considerada na
donosor viu o imponente esplendor exterior dos Mensagem.
'tempos dos gentios' (Lc 21.24; A p 16.14), enquanto
Daniel viu o verdadeiro caráter do império mundial Capítulo 10
gentilico, guerreiro, e agressor, estabelecido e manti-
do pela força. Ê notável que os emblemas hebraicos Conflitos em lugares celestiais. Data 533 a.C.
das nações são em regra feras ou aves de rapina. Idade de Daniel 92. Os capítulos de 10 a 12 formam
" O capítulo 8 dá detalhes do segundo e terceiro um. todo que pode ser chamado "A escritura da ver-
impérios mundiais: os reinos de prata e bronze de dade- (10.21). A introdução está em 10 a 11.1. Uma

267
Domei

aproximação ao assunto esta em 11.2-35. e a princi- mundial gentilico, e termina com a Pedra que enche
pal revelação em 11.36 a 12.13. toda a terra.
Podemos notar a ocasião, tempo, maneira, lugar 2) O capítulo 7 pnncipia perto do final da ima-
e duração desta experiência. Daniel era muito velho; gem do capitulo 2 e termina com o reino dado ao Fi-
sob o decreto de Ciro uns 40.000 judeus tinham vol- lho do homem e aos santos.
tado à sua terra, ma» seu progresso e êxito havia sido 3) O capitulo 8 mostra a ligação do último impe
bastante acanhado. Dois anos depois dessa volta. rador com o começo do império grego, t termina por
Daniel teve esta visão. ele ser quebrantado pelo Príncipe dos príncipes.
Diz o dr. Scroggie- Este é um capitulo misterioso, 4) O capitulo 9 principia com o decreto de reedifi-
mas algumas coisas são claras, por exemplo. car Jerusalém e termina com os juízos sobre o Anti-
1) Que atrãs da história humana há inteligências cristo e Israel.
sobrenaturais, boas e más, em conflito (12,13,20). 5) O capitulo 11 principia novamente com os
2) Que príncipes angélicos maus têm enorme for- tempos da Pérsia e da Grécia, segue até o levanta-
ça e poder (13). mento do Anticristo e leva a mente ( v . 25) ao 'tempo
3) Que a oração tem uma parte importante neste do fim' da tributação de Israel. Então volta para
conflito angelical (121 acrescentar alguns detalhes referentes á carreira do
4i Que as lutas nos céus sáo em prol do povo de Perseguidor, e. no versículo 45. chega ao mesmo ter-
Deus sobre a terra (14). mo: o fim dele.
O Céu está interessado na terra, e os anjos inte- 6) Veremos que no capitulo 12 a visão ainda volta
ressados nos homens. um pouco, mas novamente termina com o triunfo fi-
nal dos justos, na primeira ressurreição.
Capitulo 11 Tudo isto nos ajuda na interpretação da profecia
subseqüente do Apocalipse. Ali vemos que:
Este capitulo foi estudado nas páginas anterio- a) A introdução guia a nossa mente para a vinda
res. do Senhor nas nuvens de glória ( A p 1.7).
b) As cartas às sete igrejas levam o quadro, náo
Capítulo 12 até uma vinda de Cristo antes dos últimos dias, mas
até os vencedores nas igrejas estarem sentados com
Os tempos do fim. Ao concluir a sua maravilhosa Cristo no seu trono, isto é. ao começo do reino ( A p
profecia, Daniel confessa que náo podia entender caps. 2 e 3).
tudo (3). E se ele náo podia, muito menos nós. Os c) Os sete se/os passam além da tribulaçáo (com-
tempos referidos no» versículos 11,12 ficam em mis- pare-se Apocalipse 6.12-14 com Mateus 24.29) até
tério até recebermos a chave. essa mesma intervenção pública do Senhor ( A p 8.1).
depois de a multidão que saiu da Grande Tributação
Mas algumas coisas ficam claras, por exemplo:
ter sido levada ao mundo celestial (7.14).
1) Que haverá para "os filhos do povo" um tempo
de tribulaçáo tal como nunca houve. d) As Trombetas terminara com o reino do mun-
2) Que isto será seguido pela salvação do piedoso do tornando-se reino de Deus (11.15).
Restante, judeu e) O capítulo 12 começa com o nascimento do 'fi-
3) Que haverá uma ressurreição, para a vida ou lho" que há de reger as nações (v. 5) isto é, os mesmos
para a "vergonha e confusão sempiierna". vencedores nas igrejas (veja-se 2.26,27) e então Sa-
tanás é lançado do céu, e começara os dias do fim.
4) Que haverá recompensa para os sábios, e para
com o aparecimento da Besta perseguidora (cap.
o» que convertera muitos para a justiça (Goodman).
13). Esta série de capítulos termina com a destruição
" H á quinze alusões no livro de Daniel ao 'tempo
desta besta (14.19,20; 19.15).
da fim', cinco delas neste capitulo. Esse tempo do
f ) O capítulo 15 começa no período da última
fim é a setuagésima semana de 9.27. com especial re-
trombeta (11.19) e o capitulo 16 termina com a bata-
ferência á segunda metade dela, que. no Apocalipse,
lha do Armagedom e a destruição da cidade de Babi-
é chamada 'a Grande Tributação". A localização das
lônia. 0 capítulo 11.39 do Apocalipse é uma espécie
tribulaçôes é a Palestina: as vítimas são os judeus; a
de resumo ou titulo para os capítulos 15 e 16. Os
duração é de três anos e meio; o instigador é o Anti-
capítulos 12-14 são um parêntese.
cristo; o termo será na segunda vinda de Cristo, no
estabelecimento do seu reino milenar" (Scroggie). g) O capítulo 17 figura a extinção do cristianismo
bastardo antes que a Besta reine suprema. O capitu-
Apesar de já termos dedicado bastante espaço a
lo 18 detalha a mesma destruição da sua cidade, a
Daniel, vejamos um resumo do importante estudo no
Babilônia, ao fira da sua carreira.
livro de Geo. ÍAing em "The Histories and Prophe-
cies of Daniel": h) O capítulo 19 a 20.6 outra vez levara a cena até
a destruição da Besta e os santos tomarem o reino.
Tem sido notado que as visões neste livro seguem Cada parte desta série principia num ponto dife-
o estilo comum das escrituras proféticas, de ligar rente, atravessa partes do mesmo periodo, dá infor-
cada visão com a antecedente e depois passar até o mações diferentes e suplementares, e termina no
fim desta época. Mas outra feição é importante. mesmo grande clímax.
Cada visão termina no mesmo ponto: a destruição "Muitos dos que dormem no pó da terra acorda-
do império mundial e o estabelecimento do reino de rão. uns para a vida eterna, e outros para a vergonha
Deus. porém, cada uma, sucessivamente, começa e confusão sempiterna " (Dn 12.2). Apocalipse 20.1-6
por voltar a algum ponto anterior, atravessando par- mostra claramente que haverá uma ressurreição (a
te do terreno da visão precedente, apresentando no- primeira) antes do reino mitenar e outra depois do
vas feições, mas, finalmente, chegando ao mesmo Milênio. Na primeira, somente crentes têm parte, e
termo. Assim: destes crentes: 1) Os que forem julgados dignos de se
1) O capítulo 2 principia com o começo do poder sentarem sobre tronoe e exercer juizo, isto é, os ven-

'268
Vaniei

cedorw. (Veja-se Apocalipse 2.16-28; 3.21: "Ao ven- (Pember). e assim *o entendimento (do livro| au-
cedor, fá-lo-ei sentar-se comigo no meu trono".) 2) mentará"*.
Os que em qualquer tempo da Grande Tribulaçáo Que este processo de investigação, e esse resulta-
sofrerem a morte por amor de Cristo; e especialmen- do. que havia de ser nos tempos do fim. tem-se veri-
te os que desafiaram a Besta e nâo a adoraram ( A p ficado durante os últimos cem anos. é certo. E tal in-
20.4). "Esta é a primeira ressurreição. Bem- vestigação é agora legitima, porque Cristo tem, por
aventurado e santo ê o que tem parte na primeira assim dizer, quebrado o selo desta profecia quando
ressurreição" (Então se mostra explicitamente que disse concernente à "abominaçào" mencionada aqui
"os outros mortos não viveram até que fossem cum- "quem lê, entenda' ( M l 24.15).
pridos os mil anos.)
Isto precisa governar a nossa interpretação deste T E X T O S PARALELOS AO LIVRO DE D A N I E L
trecho em Daniel, que por isso não pode significar NO APOCALIPSE
que aquele* que w»frem "confusão srmpiterna" res-
surgirão ao mesmo tempo com os bem-aventurados e Dn 2.44 (o reino de Deus): A p 11.15. e 12.10.
santos que acordam para a "vida eterna". Dn 5.4,23 (descrição da idolatria): Ap 9.20.
Visto que esta visão toda refere-se a Israel pri- Dn 7.9 (os tronos): A p 20.4.
meiro e diretamente, a conclusão é certa que piedo- Dn 7.9 (o Ancião de dias): A p 1.8.
sos israelitas salvos pela graça terão parte na primei- Dn 7.10 (milhares de milhares que o serviam): A p
ra ressurreição. 5.11.
Dn 7.13 (o advento final): A p 1.7 e 14.14.
Propostas emendas dr tradução. Sobre 12.2, Tre- Dn 7.22 (o juízo dado aos santos): Ap 20.4.
gelles diz que a palavra traduzida 'uns', "outros", Dn 7.25 e 12.7 ( " u m tempo e tempos", etc.): A p
nunca tem ta] sentido em qualquer outra parte da 12.14.
Bíblia. O versículo deve ser traduzido: "E muitos Dn 8.10 (queda de estrelas): A p 12.4.
dos que dormem no pó da terra acordar-se-ão: estes Dn 8.26 e 12.4 (visáo para ser selada): A p 10.4;
para a vida eterna, mas aquelex |o restante que nào 22.10.
se acorda nessa ocasião | para a vergonha e confusão Dn 10.5,6 (o homem. 7.9): A p 2.18 e 19.12.
sem pi terna " Dn 10.13.21 (Miguel, um dos primeiros prínci-
De 12.4 diz luing: " A s profecias de Daniel ha- pes): A p 12.7.
viam de ser "seladas", istoé. ficar num livro fechado, Dn 12.1 (a grande tribulação): A p 7.14.
pouco entendido, até os tempos do fim; mas então, Dn 12.1 (o livro da vida): Ap 17.8. e 20.15, e
como dizem as traduções, 'muitos correrão àe uma 21.27.
parte para outra parte'. uma idéia sem relação ao as- Dn 12.7 (o juramento angélico): A p 10.5.6.
sunto. nào havendo nenhuma referência à visáo. e Comparem-se também a forma da bênção, que
que tem dado origem à idéia de que o anjo apontava vem em 4.1. com 1 Pedro 1.2 e 2 Pedro 1.2 e Judas 2;
trens de ferro, automóveis e aviões, que haviam de a referência a 6.22 que se acha em Hebreus 11.33. e
originar o louco excesso moderno de trânsito. O ver- especialmente a "abominação que assola" era 12.11,
dadeiro sentido do original é. porém: 'muitos lerào o com a citação de Jesus Cristo em Mateus 24.15. Uma
livro' (Variorum); 'muitos investigarão diligente- das fontes a que Jesus foi buscar o seu escolhido
mente' (Darley); "muitos lerào e revistarão o livro' titulo de "Filho do homem " é com toda a probabili-
(Pierson); 'muitos o investigarão radicalmente* dade Daniel 7.13 (Angus).

289
Oséias

elo versículo 1 desta pro- conduta. Que a narrativa é histórica náo precisamos
fecia. descobrimos seu lu- duvidar, porque náo há motivo para considerar uma
gar na história dos reis. parábola aquilo que a Escritura narra como um fato.
Oséias falou ao reino do Considerando, pois. esta divisão como histórica,
Norte ( I n?l) durante o período quando Uzia. Jotáo, devemos primeiro notar os nomes dos três filhos de
Acaz e E juias reinavam sobre o Sul (Judá). Por Oséias: JezreeL Lo-Ruama e Lo-A mi. Estes foram
isto parec que ele profetizou durante 70 ou 80 anos - sinais ao povo. como também o foram os filhos de
um perioi mais comprido do que qualquer outro Isaias mais tarde.
profeta. \ A conduta da mulher e as suas conseqüências sáo
A prol ia divide-se naturalmente em duas par- relatadas detalhadamente no capítulo 2. Primeiro se
tes. a primeira (caps. 1 a 3) com caráter pessoal, e a declara a sua vergonhosa infidelidade (2-5); então a
segunda (caps. 4 a 14) com caráter nacional; e há sua perplexidade e confusão (6-13): depois a sua dis-
aqui também, como sempre. o valor espiritual da ciplina no exílio (14-18); e finalmente o seu arrepen-
Palavra divina. dimento e restauração (19-23). N o capítulo seguinte
o amor e a sabedoria de Oséias manifestam-se na
A N Á L I S E DE OSÉIAS compra de sua mulher desviada no mercado de es-
cravos. e no seu cuidado com ela durante muitos
Divisão 1 (caps. 1 a 3) Pessoal dias. sem conceder-lhe a intimidade de uma esposa.
A mulher infiel e seu marido fieL
1. Os filhos, ou Sinais (caps. 1 a 2.1). A INTERPRETAÇÃO NACIONAL
2. A mulher, ou Reincidência (cap. 2.2-23).
3. O marido, ou Livramento (cap. 3).
Isto se encontra no restante do livro. O que Gô-
Divisão 2 (caps. 4 a 14) Nacional
O povo infiel e seu Deus fiel mer era para Oséias. foi Israel para com Jeová; e o
1. A transgressão de Israel (caps. 4 a 8). que o profeta era para a sua esposa Deus tinha sido
para com o seu povo.
b) Anarquia. Esta parte do livro é difícil de analisar, mas os
três grandes fatos da narrativa anterior reaparecem
2. A visitação sobre Israel (caps. 9 a 11.11).
nesta divisão, onde transgressão, visitação e restau-
a) Egito.
ração sáo frisadas.
b ) Assíria
Foi a sorte de Oséias, Isaías e Miquéias. minis-
3. A restauração de Israel (caps. 11.12 a 14).
xarem durante a parte mais tenebrosa da história do
a) Retrospecto.
reino do Norte. Oséias presenciou a queda de ao me-
b ) Prospecto.
nos quatro dinastias, com os respectivos reis vindo
A M E N S A G E M D E OSÉIAS ao trono por cima dos cadáveres dos que tinham sido
assassinado. Todo o reino era um despotismo mili-
Várias vezes, como aqui. a mensagem de Jeová tar. o povo era completamente corrupto moral e poli-
foi apresentada ao seu povo de uma maneira alegóri- ticamente. e os sacerdotes davam mau exemplo.
ca. Oséias é mandado tomar como esposa uma mu- Enxerga-se mais adiante uma glória vencendo as
lher que provou depois ser inteiramente infiel, e que trevas; o som de música ouve-se, e a fragránaa das
aofreu em grande medida as conseqüências da sua flores enche o ambiente. Ê a aurora da independén-

'271
Oséias

cia. O povo arrependido tem sido perdoado e sarado; lineados por Amós. e ainda mais horrorosos. Desde o
tem voltado dos seus maus caminhos, e o Senhor mais alto ao mais baixo a nação é representada como
tem abandonado a sua ira, e os tem amado franca- sendo totalmente corrupta (7.1. etc.; 4.1,2; 6.8; 10.4;
mente < cap. 14). Esta parte da profecia ainda espera 11.12; 8.1).
seu cumprimento, mas a promessa se cumprirá nesse Oséias era natural do reino do Norte. e. como
dia quando os dispersos de Judá se congregarão dos Amós, profetizou a Israel, com apenas algumas pala-
quatro cantos da terra (Is 11.12). vras dirigidas a Judá. Mas enquanto Amós era es-
trangeiro. enviado a Israel em missão especial.
APLICAÇÃO ESPIRITUAL Oséias era natural, pelos laços de um simpático pa-
triotismo, ligado com a nação cuja ruína predisse.
Ele tem sido chamado o Jeremias do reino do Norte,
De um lado. Deus, e do outro a natureza huma-
e não nos surpreende achar no livro de Jeremias nu-
na. não mudam. e. conseqüentemente, toda a Bíblia
merosas alusões a Oséias, demonstrando assim que
tem a sua aplicação ás condições prevalecentes em
as suas profecias constituíam um estudo predileto de
todas as épocas. As dispensações dividem os tempos,
Jeremias.
mas Deus não está dividido; nem é a criatura huma-
na de um tipo no período do Reino e de outro tipo no Vida doméstica de Oséias. "A história pessoal do
período da Igreja. Por isso a revelação nas Escrituras profeta fornece a chave-mestra do seu ensino. A
de pecado, justiça, santidade, e amor tem a mesma amorosa fidelidade de Jeová para com Israel e a in-
aplicação hoje como no caso de Israel em tempos grata infidelidade do povo para com Jeová são as
passados. Sendo assim, devemos descobrir qual a idéias que permeiam e dão unidade ao livro todo. A
mensagem divina para nós mediante o livro de sua história doméstica é relatada nas seguintes pala-
Oséias. vras: 'Quando Jeová falou ao princípio com Oséias.
disse Jeová a Oséias: Vai, toma uma mulher dc pros-
1) A vergonha do pecado. Não é possível ler mui-
tituições e filhos de prostituições: porque a terra se
to neste livro sem ficar oprimido com o reconheci-
prostituiu, apartando-se de Jeová. Foi-se pois, e to-
mento do terrível caráter de um afastamento de
mou Gõmer, filha de Diblaim. ela concebeu, e deu á
Deus. Ê pior do que uma esposa ser infiel, quando
luz um filho', etc. (1.2.3).
uma alma redimida volta ás costas á divina Aliança
do Amor para buscar satisfação no mundo. Mas, in- "Todos os expositores se tém ocupado bastante
felizmente. quão freqüente é isso! com o aparente problema moral sugerido pela lin-
2) A s conseqüências da reincidência. Um tal cur- guagem destes dois versículos, mas todos concordam
so sempre tem as suas conseqüências dolorosas. A em entender que quando Oséias tomou a Gõmer
justiça divina não cessa de operar na esfera da re- para sua esposa, ela ainda não era depravada, e ele
denção; pelo contrário, ai é que essa justiça é mais verdadeiramente a amava. Visto que profetizou du-
evidente. rante ao menos 50 anos. é licito entendermos que os
3) O amor de Deus. Como em Deuteronômio. o dois versículos citados relatam como todo o triste in-
motivo dado aqui para a fidelidade para com Deus e cidente lhe aparecia em retrospecto, e que lhe suce-
a justiça na vida. náo é o receio das conseqüências do deu muitos anos mais tarde. Podemos, talvez, para-
pecado, mas a divina compaixão e o constante amor frasear os versículos assim: 'DLs$e Jeová a Oséias:
de Deus. Isto é mais desenvolvido no capítulo 11, visto que tu estás pensando no matrimônio, toma
onde o amor divino tem uma sextupla expressão. De- uma mulher |que bem mais tarde a experiência pro-
claram-se depois as conseqüências da rebelião, e. vara ser] de prostituições, etc.'
contemplando-as. descobre-se a compaixão de Deus, "Ainda mais, podemos notar que não é ele que re-
e ele diz: ''Como poderei deixar-te, Kfraim? como lata o caso. embora possamos entender que o tivesse
poderei livrar-te. Israel t" Pecar na presença de amor relatado várias vezes aos ouvintes das suas profecias.
como este é, de todo o pecado, o mais criminoso. Como, porém, o relatório vem no 'livro de Oséias' pa-
4) As condições da restauração. Estas, segundo o rece ser contado ou escrito por outra pessoa: talvez
capitulo 14.2, sáo duas: arrependimento e confissão. por quem colecionou e editou as suas profecias uns
O pecado oculta o rosto do Pai (5.15) e somente cinqüenta anos mais tarde, depois de todas terem
quando o pecado é removido podemos entrar em co- sido faladas e recordadas pelas pessoas piedosas que
munhão com Ele. A sua promessa a Israel será certa as ouviram.
para nós também: "Amá-los-ei voluntariamente, " O certo é que as penosas experiências da sua
porque a minha ira está apartada deles" (14.4). vida doméstica serviram para tomar Oséias um ins-
O dr. Kirkpatrick considera que os capitulos 1 a 3 trumento bem preparado para declarar a fidelidade
foram escritos durante o reinado de Jeroboão II. e os de Deus e a infidelidade de Israel.
capítulos 4 a 14 depois da sua morte. "Ainda hoje pode haver o caso de um crente pie-
As páginas de Oséias lançam uma luz sinistra doso ter tido aflição moral e espiritual na sua vida
sobre a condição de Israel durante os dez ou quinze doméstica, e ter tudo sofrido em comunhão com
anos que se seguiram á morte de Jeroboão II. Os ma- Deus e aceito como fazendo parte de uma disciplina
les que o profeta Amós tinha condenado aumenta- espiritual. Isso pode resultar em uma maior prepara-
ram. Na primeira divisão da profecia (caps. 1 a 3) a ção para o seu serviço cristão.
nação ainda tem alguma prosperidade exterior. Mas " T a l é, resumidamente, a substância da primeira
tem praticamente abandonado a Jeová. Atribui a divisão do livro de Oséias; e sentimos em quase cada
sua prosperidade aos deuses falsos que adora. linha como a sua triste experiência própria tinha
A segunda divisão do livro, que pertence ao perío- gravado no íntimo da sua alma a hediondez da infi-
do ullerior do ministério de Oséias. apresenta uma delidade de Israel para com Jeová. Sentimos como
série de quadros de condição social, moral e religiosa ele viu que o seu invencível amor para com a iníqua
de Israel durante os dez ou quinze anos depois da Gõmer. e seu ardente desejo de reaver o amor dela
morte de Jeroboão, não menos trágicos do que os de- eram uma fraca figura do imenso amor de Deus para

272
Oséüu

com Israel, e o seu invencível desejo de ganhar nova- Mais uma vez Oséias toma um passo adiante de
mente a fidelidade de Israel para si. E com Jeová de- Amós na sua profecia do futuro rei. Amós tinha fala-
sejo é propósito, e propósito importa conseguimento, do da reunião de Israel em conexão com a casa de
ainda que isso possa ser adiado por muito tempo Davi. Oséias prediz que os filhos de Israel "tornarão
pela loucura e dureza humanas" (Kirkpatrick). e buscarão a Jeová, seu Deus. e a Davi seu rei" (3.5).
Na segunda divisão do livro (caps. 4 a 14) náo há Isto é a primeira alusão ao governador ideal cuja vin-
nenhuma alusão direta ás circunstâncias da vida do da havemos de ver vaticinada por Miquéias e Isaias.
profeta. Mas os mesmos pensamentos fundamentais Pois "Davi" há de importar náo somente um prínci-
do amor de Jeová continuam a ser o assunto de toda pe da linhagem de Davi. mas um segundo Davi: um
a série de discursos. que corresponde a Davi em ser um homem segundo o
A Aliança. Uma aliança existe entre Jeová e Is- coração de Deu^, e que, como se depreende da posi-
rael. Jeová é o Deus de Israel. Israel é o povo de Jeo- ção que ele ocupa, é o verdadeiro representante de
vá. Mas Israel tem transgredido a aliança: "Eles. Jeová.
como Adão. transgrediram a aliança; ali se houve- Cumprimento. "Porventura as profecias de
ram aleivosamcnte contra mim (6.7). Põe a trombe- Oséias têm sido cumpridas 0 Náo nos parece que ul-
ta á tua boca. Ele vem como águia contra a casa de trapassem qualquer cumprimento que possamos
Jeová; porque transgrediram a minha aliança, e vio- apontar? Devemos lembrar de que toda a profecia é
laram a minha lei" (8.1). A intimidade e ternura condicional. Ela expressa o propósito de Deus, que é
desta aliança entre Jeová e Israel sáo expressadas, misteriosamente condicionado e limitado pela lou-
como antes, pela figura do matrimônio. Emprega-se, cura e obstinação dos homens. Ainda assim, em
porém, outra figura para ressaltar outros aspectos do espirito, se náo na letra, têm sido e estão sendo cum-
cuidado protetor de Jeová, e da obediência que Israel pridas. Israel foi para o Exílio. A nação morreu, mas
lhe devia. Urael é o filho de Jeová: "Quando Israel tornou a viver. O Israel da restauração era considera-
era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu fi- do como representando toda a nação. Depois de vol-
lho" (11.1, são palavras que recordam Êxodo 4.22, tar da Babilônia nunca mais abandonou a Jeová
etc.) Deus tinha constantemente treinado seu filho para servir a deuses estranhos.
por uma disciplina amorosa: Eu ensinava a Efraim a
andar; levava-o nos meus braços lou "tomei-o pelos " O segundo Davi compareceu em Cristo, e as
seus braços' Al.] porém não conheceram que eu os bênçãos prometidas têm sido outorgadas mediante
curava" (11.3). Ele de maneira que inteiramente ultrapassa tudo o
que Oséias podia ter antecipado. O amor de Jeová
Oséias silencioso concernente às nações. A men- para com a humanidade tem sido manifestado pelo
sagem de Oséias é limitada ao povo escolhido. Ele seu d m inefável. O ideal de um Filho tem sido reali-
nada diz acerca do destino das nações. Amós tinha zado em Cristo, que consumou a vocação de Israel.
falado recentemente de Jeová como soberano univer- (A referência a Oséias 11.1. em Mateus 2.15; importa
sal. julgando as nações tanto como seu próprio povo. em que Israel é um tipo de Cristo.) A ressurreição de
Israel restaurado e reunido havia de dominar as na- Israel (Oséias 6.2), é um tipo da ressurreição de Cris-
ções Os contemporâneos de Oséias (Miquéias e to. Mas podemos ver como a cegueira e obstinação
Isaías) falavam de Sião como o centro do culto das de Israel têm impedido a completa realização da
nações, donde a lei de Jeová sairia para todo o mun- profecia, e ainda esperamos o tempo quando, nas pa-
do. Mas náo precisamos pensar que Oséias náo se in- lavras de Paulo, "todo Israel será salvo".
teressasse no destino das nações. Sua preocupação
era com Israel. Seu intenso amor pelo seu povo le-
vou-o a concentrar a sua atenção sobre Israel. Proposta emenda de tradução. Capitulo 5.2 - Diz
Gearge Adam Smith: " O original desta linha é im-
O ensino de Oséias é mais profundo. E l e ganha possível traduzir, e tem originado uma imensidade
em profundidade o que perde em largueza. Se o ensi- de versões. A mais satisfatória é a de Wellhausen:
no de Amós é mais lato. o de Oséias é mais profundo. "E uma cova fizeste profunda em Sitim. mas eu sou
Não é que um rivalize com o outro; cada um desem- a repreensão de todos vós" (G.A.S. 278). Capitulo
penha seu próprio papel. Náo podemos deixar de no- 11.2: "Mas quanto mais [os profetas] os chamavam,
tar que Oséias vai mais fundo, e se ocupa náo somen- tanto mais se afastavam".
te com ações, mas com os motivos e fontes das ações.
O amor de Deus é um pensamento que náo apare-
ce em Amós. E evidente em Oséias (3.1; 11.1,4; C I T A Ç Õ E S DE OSÉIAS N O N O V O
14.4). Amós contempla a nação purificada pelos juí- TESTAMENTO
zos. Oséias vê igualmente que os pecadores háo de
ser destruídos, porém, ainda mais. põe na boca do O Filho de Jeová chamado do Egito (11.1; Mt
povo confissões e orações que apontam a mudança 2.15). Rejeição e restauração (1.10 e 2.23; Rm 9.25 e
radical que é necessária (5.15; 6.1, etc., 14.1, etc.) 26; e 1 Pe 2.10). A grande declaração: "misericórdia
Enquanto (como Amós) ele descreve o porvir como e não sacrifício" (6.6; M t 9.13; 12.7); e a promessa da
um tempo de restauração, prosperidade e fertilida- destruição da morte (13.14; 1 Co 15.55.56). (Ver
de. isso não é o supremo alvo das suas aspirações, também as referências que implicam familiaridade
mas antes a perfeita comunhão de vida e amor entre com a linguagem do profeta, em Mateus 20.19 e lu-
Deus e seu povo. em que o propósito divino será com- gares paralelos; 6.2; Lucas 21.22 - 9.7 - Lucas 23.30
pletamente realizado. e Apocalipse 6.16 • 10.8.)

'273
oe!, um profeta de Judá. provavel- 3. Fertilização da terra (outra vez) 3.2-17 (Scrog-
mente exerceu o seu ministério du- gie).
rante o reinado de JoáB (2 Cr 22 a
24). Na sua mocidade podia ter co- MENSAGEM DE JOEL
nhecido Elias, e certamente foi um
íporáneo de Eliseu. A praga de gafanhotos, Vamos agora estudar o primeiro dos dezesseis li-
que #ra o símbolo do castigo divino, deu ocasião para vros proféticos. Não sabemos nada do profeta senão
descortinar o vindouro "dia do Senhor" (Is 2.10, o que está escrito no capitulo 1.1, mas o sentido do
etcJ nos seus dois aspectos: de julgamento sobre os seu nome: "Jeová éDeus", serve para resumir o ensi-
tios. e de bênçãos para Israel. no do livro. A esfera do seu ministério é igualmente
Joel tem três partes principais: 1. A praga de ga- obscura: concorda-se. geralmente, que tenha sido
fanhotos (1.1-20). 2. O dia do Senhor (2.1 a 3.8). 3. Judá, e provavelmente Jerusalém. Também não sa-
Retrospecto do dia do Senhor, e plena bem- bemos quando ele profetizou, mas é certo que havia
aventurança do Reino (3.9-21) (Scofield). de ser ou muito cedo ou muito tarde, visto que nada
se diz de Assíria ou Babilônia, deixando-nos concluir
A A N A L I S E DE JOEL que devia ser antes do poder da primeira ou depois
da derrota da última.
Parte 1 (caps. 1 a 2.17) " A mensagem do livro para nós. como para os
Histórico - Desolação primeiros leitores, é que o pecado sempre traz a de-
Divisão 1 (cap. 1). O fato da desolação solação: e a retidão sempre traz uma bênção. Talvez
1. A situação (2-12). Gafanhotos. náo estejais conscientes dos anos desperdiçados da
2. A exortação (13,14). Uma chamada ao arre- vossa vida. da sequidio e aridez da vida espiritual. O
pendimento. gafanhoto e a lagarta talvez tenham consumido mui-
3. A súplica (15-20). O clamor da oração. tos dos vossos dias. e vosso coração está triste. Mas,
Divisão 2 (cap. 2.1-17). A causa da desolação. graças a Deus, sempre há um remédio: Arrependi-
1. A situação (1-11). Gafanhotos (outra vez). mento, confissão, renúncia e então uma completa
2. A exortação (12-17a). Outra chamada ao arre- restauração a favor, e fart ura" (Scroggie)
pendimento. '*Todo o quadro delineado em Joel é do fim do
presente periodo, do "tempo dos gentios" (Lc 21.24),
3. A súplica (17b). Outro clamor da oração.
da batalha de Armagedom ( A p 16.14; 19.11-21); da
Parte 2 (caps. 2.18 a 3.21) restauração de Israel (Rm 11.26, etc.) e das bem-
Profético Ubertamento aven tu ranças do Reino. E notável que Joel, vindo
Divisão 1 (cap. 2.18-27). Promessa de bênção pre- logo ao começo da profecia escrita (836 a.C.) dá a
sente. mais completa vista da consumação de toda a profe-
1. Restauração de Judá (18,19). cia escrita.
2. Visitação sobre os inimigos (20). A ordem dos acontecimentos é:
3. Fertilização da terra (21-27). 1) A invasão da Palestina do Norte pelos poderes
Divisão 2 (caps. 2.28 a 3.21 >. Promessa de futura gentílicos sob a Besta e o Falso Profeta (J1 2.1-10;
bênção. 'Armagedom'. A p 16.14. etc.)
1. Restauração de Judá (outra vez) 2.28 a 3.1. 2) O exército de Deus. e a destruição dos invaso-
2. Visitação sobre os inimigos (outra vez) 3.2-17. res <J1 2.11; A p 19.11-21).

'275
3) O arrependimento de Judá na terra (J1 2.12- te introduziu a nova dispensaçào para a qual Joel
17; Dt 30.1-10. etc.) apontara, e na qual as suas palavras receberiam um
4) A resposta de Jeová <J1 2.18-27). sempre crescente cumprimento. Em Atos "toda a
5) O derramamento do Espirito nos últimos dias carne" é estendida para incluir tanto gentios como
de Israel <J1 2.28.29). judeus. E aquilo que Joel atribui a -Jeová, o apóstolo
6) A volta do Senhor em glória e o estabelecimen- atribui ao ascendido Senhor (At 2.33).
to do reino (J1 2.30-32; A t 15.15-17) mediante a res- Limitações da profecia de Joel
tauração de Israel e o julgamento das naçòes (J1 3.2- a) A salvação das nações. Para Joel, o grande
16). contraste é entre Israel e as nações. Israel será salvo e
7) Plena e permanente bénçáo no reino (J1 3.17- glorificado. As nações seráo julgadas. O contraste
21; Zc 14.1-12; Mt 25.32. etc) ( S e m e i e ) . entre os justos e ímpios, entre o povo escolhido, e a
Devemos os seguintes apontamentos ao dr. Kirk- esperança de salvaçáo para. ao menos, um restante
patrick: entre as nações pagàs, fica por fora do círculo do en-
Joel era natural de Judá. Morava em Jerusalém sino de Joel.
ou perto. Ele fala repetidas vezes de Siào b) Joel náo prediz o Messias. O autor do livra-
(2.1,16.17.21) e dos filhos de Siáo (2.23); de Judá e mento é Jeová mesmo. N á o há prediçáo de Ensina-
Jerusalém (2.32; 3.1.16.17.18.20); e dos filhos de Ju- dor ou Libertador ou Rei que seja seu representante
dá e Jerusalém (3.6.8.19); de maneira que nào deixa terrestre. Ele mesmo julga as nações. Jeová mesmo
dúvida alguma sobre este ponto. Ele era familiariza- reside em Sião.
do com o templo e seus serviços (1.9.13.14.16; c) Ensino ético. Joel tem sido acusado de uma
2.14,17; 3.18). Quando emprega o nome de Israel é falta de ensino ético. O elemento moral na sua profe-
como o nome da aliança do povo escolhido e nào com cia tem sido declarado como subordinado ao desejo
referência ao rçino do Norte, ao qual nào faz nenhu- de um triunfo nacional sobre os pagãos. Essa crítica
ma alusào. parece sem fundamento. Joel insiste, na linguagem
Relação da profecia às circunstâncias do tempo. mais forte, quanto ao arrependimento profundo e
O ensino do profeta nasce das necessidades e cir- sincero. A praga dos gafanhotos é contemplada como
cunstâncias do seu próprio tempo. A seca e a praga uma divina chamada a voltar a Jeová... Essa volta a
de gafanhotos eram uma visitação atual. Era táo Jeová resume o dever do seu povo, que se extraviara
terrível que parecia como se o grande dia de Jeová, o dele. A promessa do derramamento do Espírito reco-
dia do juízo, estivesse bem perto. Mas a mensagem nhece a necessidade humana da infusão de uma vida
de Joel aos seus patrícios é que o arrependimento po- sobrenatural, e a sua capacidade para ser elevada
derá evitar o juízo. Eles se arrependem, e o profeta é acima da sua natureza.
comissionado a anunciar a remoção da praga. Mas Conclusão. Assim vemos em Joel que quando Is-
nào devem imaginar que, porque fica adiado, o dia rael estava prestes a entrar em contato com as gran-
de Jeová nunca virá. Virá. com bênção e juízo. O des potências do mundo antigo, e espíritos fracos po-
exército de gafanhotos que invadiu a Judéia é ape- diam recear pela continuada existência do povo de
nas um tipo do exército das nações que se reunirá Deus, o profeta foi inspirado a predizer confiada -
contra -Jeová e seu povo. A destruição dos gafanhotos mente o resultado final do conflito entre o povo de
é um tipo do derramamento do Espírito de Deus nos Deus e as potências do mundo. Ainda que seja bas-
últimos dias. etc. tante demorado, o dia de Jeová, virá. quando Ele
triunfará finalmente sobre todo o inimigo. Mesmo
O derramamento do Espirito de Jeová (2.28,29). que seu próprio povo seja obstinado, o propósito di-
Embora a expressão "sobre toda a carne" pareça dar vino será cumprido afinal: "Jeová habita em Sião".
um sentido universal a esta profecia, o contexto e ex-
plicação "vossos filho> e vossas filhas" mostram que REFERÊNCIAS A JOEL N O NOVO
seu sentido primitivo r limitado a Israel. N o entan- TESTAMENTO
to. as palavras admitem o sentido mais amplo que
lhes foi dado no Pentecoste. O profeta prediz a reali- Pedro, no dia de Pentecoste, cita a prediçáo de
zação do desejo de Moisés: "Quem dera que todo o Joel, concernente aos "últimos dias" (2.28-32), como
povo de Jeová fosse profeta.'" ( N m 11.29). realizada na descida do Espírito Santo ( A t 2.17-21).
A promessa do derramamento do Espírito foi As palavras com que essa profecia termina sáo cita-
cumprida no dia de Pentecoste (At 2.14. etc.) A pro- das pelo apóstolo Paulo (Rm 10.13). Do gafanhoto,
fecia nào se referiu unicamente ao dom pentecostal. como símbolo dum exército destruidor (caps. 1 e 2),
nem foi esgotada por ele. Mas o milagre de Pentecos- se faz menção em Apocalipse 9.7-9).

'276
\
Amós

mós. um judeu, mas profe- 3.1. O gafanhoto que consome. Oração e resposta
tizando para o reino do (7.1-3).
Norte (Israel. 1.1; 7.14.15), 3.2. O fogo que devora. Oraçáo e resposta (7.1-3).
exerceu o seu ministério 3.3. O prumo que prova. Nenhuma oração nem
durante o reinado de Jero- resposta (7.7-9).
76-763 a.C.) Jeroboão era um rei compe- Narrativa histórica (7.10-17).
idólatra, que levantou o reino ao zênite do 3.4. O cesto de frutos. Julgamento: sua consuma-
sr. Nada parecia mais improvável do que o ção. causa e caráter (cap. 8).
íento das ameaças de Amós, mas, dentro de
3.5. O Senhor junto ao altar (cap. 9.1-10).
reino foi totalmente destruído. A visão de
Amós. contudo, é mais lata do que a do reino do Nor- Epílogo (9.11-15) A restauração final de Israei.
te e inclui 'toda a casa de Jacó'.
"Amós tem quatro divisões: 1. Julgamentos sobre A M E N S A G E M DE A M Ó S
as cidades em volta da Palestina (1.1a 2.3). 2. Julga-
mentos sobre Judá e Israel (2.4-16). 3. A controvérsia A visão dos gafanhotos (7.1-3) provavelmente se
de Jeová com 'toda a família' de Jacó (3.1 a 9.10). 4. refere ã invasão de Pul, em 2 Reis 15.19: o fogo devo-
A glória futura do reino davidico (9.11-15)" (Sco- rador. ao assalto de Tigiate-Pileser (2 Rs 15.29 as-
field). saltos que não tiveram êxito, devido às orações de
Amós: a terceira visão, a do prumo, sem duvida refe-
re-se á derrota final sob Selmana/.ar. recordada em 2
A N A L I S E DE A M Ó S Reis 17.3-6. da qual não havia salvação. Cumpriu-se
assim a Palavra de Deus contra Israel. Como frutos
Prólogo (1.1). O profeta, e o tempo do seu minis- de verão (cap. 8) estavam prontos para o juízo, e pelo
tério. juizo foram apanhados, porque ninguém pode esca-
1. Declaração de pecado, e julgamento contra oito par do poder da divina presença (9.1-6). Hásomente
nações (1.2 a 2.16) 1-5. Amom (1.13). um apelo no livro, e somente uma promessa. O apelo
1.1. Damasco (1.3). 1.6. Moabe (2.1). está no centro do livro ( cap. 5): "Buscai o Senhor".
1.2. Gaza (1.6). 1.7. Judá (2.4). repetido cinco vezes, e a promessa, como em Oséias.
1.3. Tiro (1.9). 1.8. Israel (2.6). •hiel e Isaias. está no fim do livro, e fala da última
1.4. Edom (1.11). restauração para o pobre, obstinado, e pecaminoso
2. Exposição do pecado e julgamento de Israel (caps. Israel. Que mar de tribulaçáo os pecados de Israel
3 a 6) produziram e tudo tão contrário aos propósitos e á
Discurso 1 (cap. 3). O profeta é apontado para vontade de Deus para com seu povo!
anunciar o juizo. E. que é de nós mesmos? O propósito de Deus
Discurso 2 (cap. 4). A rejeição dos repetidos avisos para nós inclui um coraçáo purificado, e uma vonta-
é motivo para esperar o julgamento. de submissa, um caráter santo, uma vida vitoriosa, e
Discurso 3 (caps. 5 e 6). Se tivessem buscado ao ilimitado poder e bênção no serviço. Porventura será
Senhor, o "Dia do Senhor" não lhes teria sobrevin- isso o que provamos, ou será contaminação diária,
do. mas agora a Assíria trará o juizo. vontade própria, derrota constante, esforço e fracas
3. Visões do pecado e julgamento de Israel (caps. 7 a so no serviço? Que Deus nos perdoe, restaure e con-
9.10) serve para assim poupar-nos da experiência de Israel

'277
Amós

em exílio e disciplina! A mensagem de Amós fala divina, Amós deixou os rebanhos e os sicômoros em
muito de Deus. da responsabilidade humana, da cer- Técoa e foi a Betei. Ali. na sombra do palácio real e
teza do julgamento do pecado, e essas verdades, pre- do santuário, entregou ele publicamente a sua men-
gadas há 3.700 anos a Israel, tém a mesma importân- sagem. (E possível que tenha seguido até Samaria.
cia hoje: 44quem tem ouvidos para ouvir, ouça!" Os discursos nos capítulos! 3 a 7 parecem mais apro-
Podemos notar algumas diferenças no estilo dos priados a Samaria do que a Betei.) (Vejam-se capí-
capitulos. Por exemplo, no capítulo 1.1.2 lemos: " A s tulos 3.9; 4 1; 6.1.)
palavras de Amós... ele disse: Jeová rugirã..." etc., Quanto deste livro foi pronunciado em discursos,
como se as palavras dele fossem reportadas por ou- não sabemos. Sem dúvida, a substância da profecia
tro; e em 7.1 "Isto me mostrou o Senhor", como se contra Israel foi declarada. O clímax foi atingido
ele mesmo reporta. quando Amós predisse a destruição dos santuários
Já se vê, as palavras proféticas têm o mesmo va- de Israel, a queda da casa de Jeroboão e o cativeiro do
lor quando escritas pelo profeta ou escritas por al- povo. Amazias, o sacerdote em Betei, reagiu, e man-
guns dos seus ouvintes, mas o caso é que no N . T . vá- dou aviso a Jeroboão. acusando Amós de traição.
rias vezes lemos citações das palavras que algum Ê provável Amós ter então voltado a Técoa e ali
profeta "falou", mas (salvo erro) nem uma vez do escrito as suas profecias. Ao menos dois anos teriam
que um profeta "escreveu". ( O que Moisés escreveu passado antes de o livro estar completo (111).
é referido três vezes no N . T . ) O que Jeová requer. O que Jeová requeria de Is-
Depreendemos de Amós 1.1 que esse capítulo foi rael era pouco e claro. "Buscai o bem e não o mal...
escrito ao menos dois anos depois de ser proferido, Aborrecei o mal e amai o bem. e estabelecei na porta
isto é, "dois anos antes do terremoto". Diz o dr. o juízo" (5.14.15). "Desça o juízo como águas, e a
Kirkpatrick: " A memória desse terremoto continuou justiça como uma torrente poderosa" (24). Requeri-
por muito tempo conservada, talvez, pelos seus efei- mentos poucos e simples, mas difíceis, porque vão
tos visíveis (Zc 14.5) e isso determina a data da pro- contra o inerente egoísmo do coração humano, e exi-
fecia de Amós no capitulo 1, exceto que n i o temos gem nada menos do que o contrario do procedimento
uma completa certeza de quando se deu o terremoto. de costume.
Mas diz o historiador Josefo que ocorreu no momen- A restauração. Juntamente com a predição do
to quando o rei Uzias tentou ímpia mente forçar a juízo, encontramos a promessa da restauração. Em-
sua entrada no templo, para queimar incenso. Ele bora o rei pecaminoso tenha de ser destruído, a casa
ameaçou de morte os sacerdotes que tentaram impe- de Jacó náo será aniquilada. Somente os pecadores
di-lo, mas nesse momento um grande terremoto aba- atrevidos, que não acreditam na possibilidade de um
lou o chão. o templo abriu-se. e uma luz brilhante juizo. perecerão (9.8-10). A o final, a terra será aben-
fulminou dele e feriu a cara do rei, de maneira que çoada com uma abundante fertilidade (9.11-15).
ele ficou leproso; enquanto em frente á cidade, no lu- Amós e o porvir. A escatologia de Amós é muito
gar chamado Eroge, a metade da montanha ao oeste simples. O quadro do porvir de Israel que ele pinta é.
desmoronou, e. rolando até a montanha ao leste, ali como o de Joel, de uma felicidade puramente mate-
parou, de maneira que as passagens e os jardim do rial. Os pecadores serão destruídos no juízo que vem
rei ficaram seriamente danificados." (9.10). Amós não lança nenhuma luz sobre o proble-
Estado interno de Israel. "Sob o inteligente go- ma de como o pecado pode ser expiado e erradicado.
verno de Jeroboão II. Israel gozava de uma grande O profeta nada prediz de um Messias em pessoa,
prosperidade aparente, mas nas páginas de Amós mas é de notar que ele liga a esperança do futuro á
vemos o que ele discerniu sob o esplendor político do casa de Davi (9.11).
reinado de Jeroboão U. O luxo dos ricos era evidente. Lições permanentes do livro " O livro de Amós
Eles tinham as suas residências de verão e inverno ensina, com clareza e força, lições de valor perma-
(3.15), ricamente mobiladas (3.13; 6.4), onde festeja- nente, como seja: que a retidão entre homem e ho-
vam e bebiam excessivamente (6.4-6). Mas tal ri- mem é uma das bases divinas da sociedade; que o
queza foi obtida por meios que Amós chama franca- privilégio importa em responsabilidade e que a falta
mente violência e roubo (3.10); por oprimir os pobres de reconhecer a responsabilidade certamente trará o
(2.6-8); por negócios desonestos (8.5-6); e as mulhe- castigo; que nações e, por analogia, os indivíduos,
res mostravam-se tão cruéis e duras como os homens precisam viver de acordo com a luz e conhecimento
(4.1)." que lhes têm sido outorgados; que o culto mais ela-
O suborno era freqüente (5.7.12); a imoralidade borado é somente um insulto a Deus quando ofereci-
florescia (2.7); os negociantes eram desonestos (8.4, do por aqueles que náo querem conformar a sua von-
etc.); os nobres mostravam uma completa indiferen- tade e conduta com as exigências divinas. Estas sáo
ça para com a ruína moral da sua pátria (6.6). verdades elementares e eternas" (Kirkpatrick).
As ordenanças exteriores do culto divino eram ze- Proposta emenda de tradução (2.7): "Que pisam
losamente observadas (5.21; 4.4, etc.; 8.3,5,10). no pó a cabeça do fraco" (G.A.S. 278).
História pessoal de Amós. Ele morava em Técoa.
a 16 quilômetros ao sul de Jerusalém. Não era profe- REFERÊNCIAS A AMOS NO NOVO TESTA-
ta por nascimento ou educação "nem filho de profe- MENTO
ta", 7.14. isto é, náo freqüentara uma escola de pro-
fetas. O fato de que ele seguiu o rebanho torna claro O livro é citado por Estêvão no seu discurso pe-
que náo era um dos ricos nobres, mas um lavrador rante o Sinédrio e por Tiago no concilio de Jerusalém
como Eliseu. que cultivava seus próprios terrenos ou (At 7.42,43 e 15.16 a 18). Na primeira citação merece
que tinha algum emprego campestre ainda mais hu- notar-se a extensão dada a frase "para alem de Da-
milde. As suas profecias abundam em alusões à vida masco", dizendo-se "para além da Babilônia". E na
ao ar livre (4.13; 5.8; 9.5.6. etc.) última, "o resto dos homens", está segundo a versão
Sua missão a Betei (cap. 7). Ouvindo a chamada dos LXX. pois o hebraico diz "o remanescente de

'278
Edom": é que as palavras homens e Edom em Há também uma notável coincidência entre 3.7 e
hebraico são semelhantes nas suas consoantes. Seja Apocalipse 10.7, pois em ambas as passagens se de-
qual for a tradução preferida, é admirável o testemu- clara a revelação do mistério de Deus aos profetas
nho do profeta quanto À universalidade do Evange-
lho.

'279
Obadias

ste é um doe mais curtos 2.2. As possessões de Israel (19,20).


livro» proféticos, mas náo 2.3. O estabelecimento de Israel (21).
é por isso de pouca signi-
ficação. Náo sabemos A M E N S A G E M DE OBADIAS
nada do profeta a náo ser
o que e significa: "Servo de Deus". O pri- Primeiro de tudo prediz-se um juízo do qual
meiro culo da profecia diz-nos que é referente a Edom náo poderá escapar. Construir a sua fortaleza
Edom, sabemos ser o povo descendente de Esaú, entre os altos rochedos, e pôr seu ninho entre as es-
irmào d acó. A desinteligência entre estes dois ir- trelas, náo dará salvaçáo (vv. 1-6). Seus amigos tor-
m â i » n ca foi eliminada; e, quando cada um de- nar-se-áo traidores e dar-lhe-áo uma ferida mortal
senvolvei -se numa naçáo, essa desavença tornou-se (7) e a sua ciência e fortaleza serão de todo insufi-
mais pronunciada até que, como vemos nesta profe- cientes (8.9). A sétupla ofensa de Edom é contada,
cia, o ódio de Edom por Judá manifestou-se em cada vez, com aumento do mal: olhou para a tribula-
aberta exultaçáo pela ruína deste, e é respondida por ção de Judã, regozijou-se nela, e até riu-se Depois
Deus com uma sentença de julgamento final. entrou na» portas e lançou mão dos bens. e. como se
Náo pode haver dúvida de que o acontecimento isso náo fosse bastante, colocou-se na encruzilhada
que ocasionou esta profecia foi a derrota de Judá por entre Jerusalém e Jericó para exterminar os que es-
Nabucodonosor em 586 a.C. (Veja Lamentações capavam e entregar os que ficavam (vv. 12-14).
4.21,22 e Salmo 137.7.) Por tudo isto Edom será visitado com justiça re-
O livro tem quatro partes: 1. A humilhaçáo de tribuidora. Como tem feito, ser-lhe-á feito também.
Edom (1-9). 2. O pecado principal de Edom (10-14). Mas Judá será libertado (17-21): um restante voltará
3. A futura visitação de Edom no dia de Jeová e possuirá Sião novamente (15,16) e nesse dia Edom
(15,16; Is 34, e 63.1-6). 4. A incluaáo de Edom no fu- será como res tolho a a casa de Esaú será extinguida
turo reino (17-21; Nm 24.17-19) (Scofield). (17,18). A terra pertencerá novamente ao povo de Is-
rael (19.20) e ali Jeová estabelecerá o seu reino e Is-
A N A L I S E D E OBADIAS rael habitará em felicidade (21). Estas predições
cumpriram-se, sem dúvida, no que diz respeito a
1. A sentença de Edom (1-16) Edom no tempo dos Macabeus, mas algumas das
1.1. A certeza da derrota (1-9). promessas feitas a Israel esperam seu cumprimento
1.2. O motivo da derrota (10-14). no dia quando o Senhor mesmo reinará sobre todo o
1.3. O caráter da derrota (15,16). reino em glória milenar.
2. O livramento de Israel (17-21) N ã o há referência alguma a esta pequena profe-
2.1. O triunfo de Israel1 (17,18). cia no Novo Testamento.

'281
caráter histórico do 3.3. O milagre-lição (5-8).
homem Jonas é afir- 3.4. A reprovação divina (9-11) - (Scroggie).
mado por Jesus Cristo Devemos a seguinte explicação ao dr. George
( M t 12.39-41). como Goodman: "Dos doze profetas menores, Jonas é o ú-
também a sua conser- nico livro que é todo narrativa, sem nenhuma men-
vação foi um "sinal" sagem profética. Por isso o dr. George Adam Smith
ou tipo de interro e ressurreição do nosso Senhor. chega à conclusão de que é uma alegoria. Contudo
Ambos os a t o s sáo milagrosos, e ambos igualmente parece mais prudente, de acordo com as referências
acreditável. Em 2 Reis 14.25 há referência ao cum- a ele no N . T . , aceitá-lo como histórico."
primento ae uma profecia de Jonas. O homem Jonas
era um jupeu intolerante, indisposto a testificar a Capítulo 1
uma cidade dos gentios. e irado quando Deus a pou-
pou. Tipicamente, ele simboliza a naçáo de Israel Jonas foge de Deus. Neste capítulo vemos o pro-
fora da sua terra; um incômodo para os gentios, mas feta fugindo da presença do Senhor. Fora enviado a
testemunhando a eles; lançado fora por eles, mas uma cidade estrangeira, mas, evidentemente, náo
milagrosamente conservado. Na sua futura tribula- queria ser missionário. Por iaeo quis fugir do dever e
çáo, vemos Israel clamando a Jeová-Salvador e do seu Deus. Mas esqueceu-se da palavra do Salmo
achando salvação, e tornando-se missionário aos 139.7-10. Esqueceu-se de que Deus tem os mares na
gentios ( Z c 8.7-23). Jonas é um tipo de Cristo levan- sua máo(Ia 40.12).
tado da morte e levando a salvação aos gentios (Sco-
Deus tinha propósitos de bênçãos para Ntnive e
field.).
também para Jonas e por isto disciplinou seu servo
fugitivo.
A N A L I S E DE J O N A S
Esta é a principal lição da história : O servo de
1.A comissão divina (caps. 1 a 3.2). Deus não tem licença de escolher seu serviço. Precisa
1.1. A primeira chamada (1.1,2). ir aonde é enviado. Somente em um lugar ele pode
1.2. A fuga (1.3). ser útil. e isso é, no caminho da vontade de Deus.
1.3. A tempestade (1.4-14).
1.4. O castigo (1.15-17). Capítulo 2
1.5. A oração (2.1-10).
1.6. A segunda chamada (3.1.2). Oração de Jonas. e a sua salvação. Aqui temos
três lições:
2. Conseqüências felizes (cap. 3.3-10) 1) Os servos de Deus não podem prosperar na de-
2.1. A mensagem do profeta (4). sobediência. Jonas foi levado a grandes apuros pela
2.2. Seu efeito imediato (5,6). sua loucura, mas, sendo profeta, falou (por inspira-
2.3. O edito real (7,8). ção» verdades para os servos desobedientes em todos
2.4. A esperança dos pagãos (9). os tempos. Seu caso parecia desesperado, mas ele fez
2.5. O juízo evitado (10). a coisa melhor: Clamou ao Senhor (2), olhou para o
3. A queixa do profeta (cap. 4) templo de Deus (4: veja-se 2 Crônicas 6.37-
3.1. A queixa de Jonas (1-3). 39). Lembrou-se do Senhor (7). Condenou-se • si
3.2. Jeová responde (4). mesmo (8). Voltou à obediência (9). Confessou que

'283
Jomu

somente Deus podia salvá-lo: "Do Senhor vem a sal- bem o ficarmos zangados por aquilo que Deus faz?
vação" (9). O incidente da "palma-cristi" servia para ensi-
2) Nào permite Deus que os seus servos pereçam nar ao profeta a loucura e o egoísmo da sua atitude.
na sua loucura. A t é podem ser restaurados no serviço Ele podia lastimar a falta da "palma-cristi" porque
que tém desonrado. desfrutou da sua sombra, mas estava bem disposto a
3) O Senhor escolheu esta história como uma fi- ver uma grande cidade varrida com a destruição.
gura da sua ressurreição ( M t 12.39-41; Lc 11.30-32). Lemos no livro de Jonas de quatro coisas que
Ele, como Jonas, desceu "ao ventre do Hades" e foi 'Deus preparou". Um grande vento (1.4). Um gran-
trazido dali pelo poder de Deus. Assim como Jonas, de peixe (1.17). Uma "palma-cristi" (4.6). Um bicho
ressurgido (por assim dizer), pregou aos homens de (4.7).
Nínive. assim Cristo na ressurreição prega a paz. A palavra "palma-cristi'* significa mamona. Fi-
gueiredo traduz por "hera" e Almeida por "abobo-
Capitulo 3 reira". Podemos entender que o crescimento da
planta foi milagroso.
(Js homens de Nínive se arrependem "Nínive,
essa grande cidade" foi fundada por Assur (Gn JONAS E O GRANDE PEIXE
10.11», um descendente de Cão, um dos três filhos de
Noé. Estava situada nas margens do rio Tigre. Uma E digno de reparo que a Bíblia não diz que Jonas
descrição da cidade por Senaqueribe, recordando a foi engolido por uma baleia: a palavra "ketos" tra-
sua expedição a Tarsus, na Cilicia» foi encontrada duzida por Figueiredo "baleia", significa um "gran-
num cilindro de barro. Ele aumentou a cidade, cer- de peixe" que. segundo o livro de Jonas, Deus tinha
cando-a com um muro de 30 metros de altura, com preparado.
quinze portas.- L'm dos lados tinha o comprimento de Este assunto é discutido minuciosamente por W.
uns quatro quilômetros. Era deveras uma grande ci- R Bradlaugh em "The Christian'» Armoury", pág.
dade 433, do qual traduzimos o seguinte:
O resultado da pregação de Jonas foi que: "Os "O Canis carcharus. um tubarão ou cão do mar. é
homens de Nínive creram em [ou 'a") Deus". Isto foi conhecido por freqüentador dos mares por onde um
deveras "o ouvir da fé" que sempre obtém a bênção navio tem de passar, viajando de Jope a qualquer
divina (Rm 16.26; G1 3.2,5). porto espanhol. Segundo todos os livros modernos de
1) Proclamou-se um jejum (5,7) com humilhação zoologia, um carcharus tem o comprimento normal
e saco, e isso desde o maior ao menor. O jejum im- de 10 metros, quando adulto.
porta uma pausa para meditação e oração. " O célebre naturalista francês Lace pede diz que
2) O rei deu o exemplo (6). Coberto de saco e sen- o cão do mar pode engolir animais muito maiores
tado nas cinzas, ele mandou que todos clamassem a que um homem sem os mutilar. As suas próprias pa-
Deus. banindo toda violência e maldade. lavras no 'Histoires des Poissons' sáo as seguintes:
3) Ele esperava misericórdia (9). Embora igno- 'Os cães do mar tém uma queixada inferior com qua-
rante do verdadeiro caráter de Deus, que se regozija se dois metros de extensão semicircular, o que nos
na misericórdia, ele tinha luz suficiente para presu- deixa compreender como podem engolir animais in-
mir que podia ser assim: "Quem sabe se voltará teiros tão grandes como eles mesmos'.
Deus e se arrependerá... para que não pereçamos?" " E bem conhecido de todos os zoólogos que a vo-
O Senhor Jesus louvou os homens de Nínive por racidade dos cães do mar, e mesmo de toda a família
isso e advertiu os pecadores do seu tempo de que es- dos tubarões, é tal que nunca mastigam o seu ali-
ses homens de Nínive se levantariam para os conde- mento, mas engolem tudo sem mastigar. Blumen-
nar, visto que» com maior luz, tinham eles (os peca- bach, o eminente zoólogo alemão, no seu 'Manual
dores do tempo de Jesus) recusado crer em Deus. de História Natural', como autoridade científica,
Que será de nós, com mais luz ainda? afirma que se tém apanhado cães do mar com o peso
de cinco toneladas, e que já foi encontrado até um
Capítulo 4 cavalo inteiro no estômago de um cão do mar.
" O naturalista Muller confirma essa afirmação
Jonas queixa-se da misericórdia de Deus. Pode- de Blumenbach, e descreve um tubarão encontrado
mos comparar Jonas com o filho mais velho na pará- na ilha Margarida que tinha engolido um grande ca-
bola do pródigo (Lc 15.28), que estava zangado, e valo sem o mutilar!
não quis tomar parte na festa. Quão diferente do seu " O distinto ictiólogo, Gunter. fala de um destes
Mestre é. muitas vezes, o servo! Jonas não se quei- tubarões em que se encontrou inteira uma vaca-
xou da misericórdia de Deus para com ele. ao salvá- marinha do tamanho de um boi.
lo do peixe. Há uma coisa patética numa tal exibição "Outro naturalista. M. Brunich igualmente au-
de mesquinhez. Ele sabia que Deus era "um Deus toridade cientifica, assevera que foi capturado no
clemente e misericordioso, tardio em irar-se e de Mediterrâneo um tubarão, perto de Marselha, em
grande beneficência" (2), porém ele, pobre criatura, que havia dois atuns com o peso de quinhentos qui-
náo podia concordar com Deus nisso. Queria ver a logramas, e, além deles, um homem completamente
grande cidade incendiada. Ficou zangado, e, quando vestido, sem a sua roupa ser rasgada.
os homens oram com ira, as suas orações são loucas, " E evidente por isso. que na suposição de que
fi bom que tais orações nem sempre sejam respondi- esta espécie de tubarão seja o 'grande peixe' mencio-
das. Jonas, evidentemente, náo queria morrer, ou nado na narrativa, náo existe nenhuma impossibili-
não teria clamado tão alto do ventre do peixe para dade física em ele ter engolido Jonas. Ê interessante
Deus o salvar, mas ele mostrou um espírito desarra- notar que Plínio (50 d.C.) escreveu a respeito do es-
zoado que bem podia ter provocado a ira do Senhor. queleto de um monstro marítimo com o comprimen-
"Fica bem a tua ira?" (4.9). Porventura jamais fica to de 13 metros, cujas costelas eram mais altas do

'284
que as do elefante da tndia. O esqueleto, acrescenta ao caso de um marinheiro ser engolido por uma ba-
ele. foi trazido de Jope, uma cidade da Judéia. e ex- leia e depois achado vivo dentro do corpo morto des-
posto em Roma por M. Scaurus (de 'Science Sif- se animal. O caso foi traduzido do "Cotton Factory
tings', Nov. 6. 1897)". Times". 2 de agosto de 1891, e publicado no Boletim
Mas para mostrar que náo é impossível mesmo Evangélico de Novembro de 1934.
uma baleia engolir um homem, podemos nos referir

'285
Miquéias

iquéias. um contem- Contrastes entre Miquéias e Isaias. Contemporâ-


porâneo de Isaias, neo com Isaías em Jerusalém, floresceu Miquéias. o
profetizou durante morasita. Os dois profetas apresentam um notável
os reinado* de Jotáo, contraste na sua origem, treinamento e esfera de ser-
Acaz e Ezequias, reis viço. Eles sáo evidentes exemplos da variedade dos
de Judá. le Pecaia, Peca e Oséias. reis de Israel (2 instrumentos que Deus escolhe para comunicar a
Rs 15. 17.1-6). Ele foi profeta em Judá (Jr sua mensagem e cumprir os seus propósitos. Contu-
26.17-19) o livro chamado pelo seu nome ocu- do. notáveis como sáo as suas diferenças, a sua uni-
pa-se íente com Samaria, capital do reino de dade de propósito e ensino não é menos notável. Isso
Israel testemunha a identidade da fonte donde receberam
O livro de Miquéias divide-se em trés partes, a sua inspiração.
cada uma começando com a palavra "Ouvi* Isaias, ainda que não precisamente aparentado
com a família real, evidentemente pertencia ás clas-
A N Á L I S E DE M I Q U É I A S ses superiores. Foi conselheiro e amigo de reis. ínti-
mo de sacerdotes e nobres e bem familiarizado com
1. O povo chamado para atender (caps. 1 e 2) os vários partidos de estadistas em Judá. Era natu-
"Ouvi, todos os povos"(1.2). ral de Jerusalém; sua morada era na cidade, e estava
1.1. Uma declaração do juízo que vem chegando em íntimo contato com a vida nacional que tinha seu
(1.2-16). centro ali.
1.2. Uma repetição dos motivos do juízo (2.1-11). Miquéias era um simples camponês, de parentes-
1.3. Uma promessa de bênçáo além do juízo co obscuro, de uma aldeia pouco conhecida. Ele é co-
(2.12.13). nhecido como o Morasita. ou natural de Moresete-
2. Os chefes chamados a atender (caps 3 a 5) Gate (1.14), uma aldeia em Judá a uns 38 quilôme
"Ouvi. cabeças de Jacó" (3.1) troa de Jerusalém.
2.1. O pecado dos chefes, e as « « s e q ü ê n c i a s Miquéias, como a sua profecia demonstra, estava
(cap. 3) em íntimo contato e simpatia com a classe dos lavra-
2.2. Uma promessa de restauração e bênção (4.1- dores cuja opressão ele descreve tão graficamente
8). (2.1. etc.), uma classe à qual ele provavelmente, como
2.3. Tribulação de Israel, e futuro triunfo (4.9 a Amós, pertencia. Seu amor ao lar e vizinhança é evi-
5.15). dente na sua descrição do juízo iminente (1.10, etc.)
3. O» montes chamados a atender (caps 6 e 7) Ele prevê o inimigo atravessando a planície, toman-
"Ouvi, montes" (6.2) do uma aldeia após outra. Cada nome bem conheci-
3.1. O Senhor argúi seu povo (6.1-9). do parece conter um sinal de destruição, ou uma
3.2. Acusação e sentença do povo (6.10-16). chamada ao luto, ou uma ironia cruel.
3.3. Esperança do povo, e resposta de Deus (cap.
7) (Scroggie). A o camponês, os pecados da nação pareciam con-
centrados nas capitais (1.5); Samaria e Jerusalém
estão apontadas para uma inevitável destruição.
M E N S A G E M DE M I Q U É I A S
Miquéias não era político C O T I O Isaías. Ele nunca
se refere ao apelo à Assíria pelo auxílio, o qual Isaías
Devemos estes apontamentos ao dr. Kirkpatrick. descreve como clímax de incredulidade, nem às in-

'287
Miquéias

trigas para uma aliança com o Egito que Isaias de- As idéias principais da profecia sáo a regeneração
nuncia como igualmente imprópria da fé e inútil. de Israel mediante o juízo; o estabelecimento do rei-
Com todas as diferenças entre si quanto à ori- no de Jeová sob o rei ideal da linhagem de Davi; a
gem, educação e ambiente. Miquéias e Isaias estão evangelizaçáo das nações mediante esse reino. O
em acordo fundamental sobre as admoestações e ins- profeta da corte e o profeta do povo estão em acordo
truções para a atualidade e nas sua» esperanças para fundamental. Miquéias, em verdade, prediz a des
o futuro. Mas mesmo neste acordo fundamental, o truiçáo de Jerusalém, enquanto Isaias, exceto em
simples camponês tem uma mensagem distintiva, e uma só passagem (32.13,14), prediz a sua conserva-
tanto na sua representação do caráter e exigências ção. O juízo que havia de cair ficou adiado. Miquéias
de Deus, como na sua prediçáo do futuro desenvolvi- vai além de Isaias em predizer o nascimento do Mes-
mento do reino de Deus. ele suplementa seu ilustre sias em Belém.
contemporâneo. Contraste entre idéias populares e proféticas. A
A reforma sob Ezequias. Por uma advertência de idéia popular da religião que Jeová quer encontra-se
especial interesse no livro de Jeremias (26.17, etc.), em 6.6,7: "Com que me apresentarei diante de Jeo-
aprendemos que a reforma no reinado de Ezequias vá. e me prostrarei perante o Deus excelso? apresen-
foi devida á pregação de Miquéias. tar-me-ei perante ele com holocaustos. com bezerros
O procedimento de Miquéias era provavelmente tfe um ano'' Agradar-se-á Jeová de milhares de car-
semelhante ao de Jeremias. Podemos imaginá-lo neiros ou com miriades de rios de azeite? darei o meu
aparecendo nos átrios do templo em alguma ocasião primogênito pela minha transgressão o fruto do meu
pública de jejum ou festa, e ali. na presença do rei. corpo pelo pecado da minha alma?"
sacerdotes e povo. dando a sua mensagem... Quem falava, evidentemente, representava a
Sua mensagem de juízo. A mensagem de Mi- idéia popular dos fatos essenciais da religião. Consi-
quéias é primeiramente de juízo. A transgressão de derava Jeová como as outras nações consideravam
Jacó e os pecados da casa de Israel foram o motivo de seus deuses, como um déspota que precisava ser apa-
Jeová sair em julgamento. Samaria e Jerusalém são ziguado com ofertas materiais, grandes ç custosas.
como a personificação da culpa do povo (1.5; 3.12). Em evidente contraste é a resposta do profeta: "Ele
Sobre elas deve cair o castigo. te há mostrado, ó homem, o que é bom; e o que Jeová
As causas dos castigos. A previsão de juízo imi- requer de ti. senão que procedas com justiça, e ames
nente é seguida por uma exposição das suas causas. a misericórdia, e andes humilde com o teu Deus?"
Ofensas contra as leis fundamentais da moralidade (6.8).
social, transgressão dos princípios elementares da Proposta de emendas de tradução: Em 2.8 leia-
justiça e misericórdia, foram o que principalmente se: "Haveis vos tornado inimigo do meu povo: um
provocaram a ira de Jeová. homem se levanta contra quem está em paz com ele:
Entre os males denunciados, figura a formação tirais a capa de quem passa, sem querer contenda"
de grandes propriedades pelos nobres ricos. Isaias ti- (Kirkpatrick).
nha denunciado isto em termos gerais (Ia 5.8). mas
Em 2.10: "Levantai-vos e ide-vos embora, pois
Miquéias mostra-nos o processo em operação (2.1.2).
este não é o vosso lugar de descanso; por causa da
Os juizes estão dispostos a favorecer um vizinho po-
imundícia sereis destruídos, com destruição enor-
deroso (7.3).
me" ( K ) .
Profecias de restauração Além doe tempos de di-
ficuldade, dispersão e humilhação, brilha a esperan- REFERÊNCIAS A MIQUÉIAS N O NOVO TESTA-
ça de restauração, reunião e glorificaçáo. Israel vai MENTO
ser espalhado, mas Jeová mais uma vez há de reunir
o seu rebanho; e embora, como Isaias tinha profeti- O nascimento, em Belém, do Messias ( M t 2.6).
zado. somente um Restante volte, esse representará Esta passagem (5-2) é especialmente notável por ter
a nação toda (2.13). O ideal da teocracia será realiza- sido citada pelos sacerdotes e escribas de Jerusalém,
do: "Jeová reinará sobre eles no monte de Sião" como profecia concernente ao Messias, e por todos
(4.7). Um príncipe da casa de Davi governará sobre aceita. (Compare-se João 7.42.) Há também admirá-
Israel reunido. Ele é enviado como o representante veis reproduções da linguagem do profeta (7.6) em
de Deus, e vem de Belém, o antigo lar de Davi, e náo Mateus 10.35,36, Marcos 13.12. e Lucas 12.53, e do
de Jerusalém, a sede do seu reino. capitulo 7.20 em Lucas 1.72.73.

'288
aum profetizou durante o teria mais nada a temer, porque os mensageiros,
reinado de Ezequias. prova- atravessando as montanhas da Judéia, proclama-
velmente uns 150 anos de- riam a derrota do assírio.
fpois de -lonas. Ele tinha so- Jurio sobre Nínive descrito. Seria difícil ultra-
mente um assunto a des- passa este capitulo em poder gráfico e imaginação
Ninive. Segundo Dioduros Siculos. a cida- vivida. Primeiro descreve-se a aproximação dos as-
festruida quase um sécui ) mais tarde, precisa- saltantes. e a cidade é exortada a olhar para as suas
'como vem aqui articulado. A profecia é conti- defesas e preparar-se para o assalto. Os babilônicos e
e o tema moral é a santidade de Jeová, que há medos cercam a cidade; seus escudos são vermelhos,
de visitar o pecado com juízo (Scofield). suas capas escarlates. o aço das espadas e as rodas
dos seus carros brilham como fogo quando correm
Nota: pelas ruas como relâmpagos. O rei da Assíria vira-se
O dr. Scroggie considera que Naum profetizou para seus valentes mas vê que eles estão fugindo.
entre 663-606 a.C. durante os reinados de Manassés Ainda mais, os açudes ao norte da cidade têm des-
e Josias. moronado e as águas do Tigre inundam a cidade.
Faz-se uma tentativa de reanimar o povo, mas é de-
ANALISE d e n a u m balde; os invasores entram, e começam a pilhagem,
1.A destruição de Nínive declarada (cap. I ) e o lugar que havia sido como a morada de leões fica
1.1. O caráter e poder do Senhor (1-6). destruído para sempre. O capítulo seguinte conta o
1.2. A destruição de Nínive, e a paz de Judá (7- "porquê" disto.
15). Juízo sobre Nínive defendido. Era uma cidade de
2. A destruição de Nínive descrita (cap. 2) sangue, cheia de mentiras e rapina. As crueldades
2.1. Sítio e captura da cidade (1-8). dos reis da Assíria têm sido contadas pelos historia-
2.2. O saque da cidade (9-13). dores. Era uma cidade cheia de iniqüidade*. Por
3. A destruição de Nínive defendida (cap. 3) mais de cinco séculos Nínive tinha dominado as for-
3.1. Por causa do seu pecado sera derrotada (1-7). tunas da Ásia ocidental, e tinha movido vários dos
3.2. Sua grande riqueza e poder não a salvará (8- profetas a denunciarem as suas iniqüidades.
19) (Scroggie). Durante séculos, o local em que Nínive estava
M E N S A G E M DE N A U M edificada tem sido um árido deserto; por séculos, a
sua localização foi duvidosa. Deus tinha dito "farei a
Juízo sobre Nínive declarado. Esta declaração é tua sepultura" (1.14). e Ele a cavou funda e larga, e
baseada sobre o caráter justo de Jeová. Ele é bom. e atirou a cidade nela, para náo mais ser vista, salvo
uma fortaleza no dia de tribulação para os que con- quando as "enxadas" do arqueólogo a descobriram.
fiam nele, mas. embora "tardio em irar-se" (1.3), O dr. Kirkpatrick considera que o profeta Naum
Ele não é incapaz de irar-se. O iníquo náo será absol- residia em Nínive quando escreveu a sua profecia.
vido, nem o transgressor desculpado. Deus é o gover- Todas as suas alusões a Judá sáo favoráveis. Ele
nador mora) do mundo, e vingará a rebelião dos ho- nada diz sobre aa iniqüidades do antigo povo de
mens e das.nações. Deus.
O rei assírio tinha planejado o mal contra -Jeová, " A gTande lição ética de Naum é que o caráter de
mas sua capital seria destruída; Jeová poria termo a Deus o torna não somente 'tardio em irar-se' e 'um
ele. Judá. que tinha sido afligido pela Assíria, náo refúgio para os que confiam nele', mas também um

'289
fiaum

que 'de maneira alguma terá por inocente o culpado' REFERÊNCIA A N A U M NO NOVO
(1.3). Ele pode ser justo, e 'justificador de quem crê TESTAMENTO
em Cristo' (Rm 3.26), mas somente porque a sua
As palavras de Naum (1.15): "Eis sobre os mon-
santa lei tem sido vindicada na Cruz" (Scofield).
tes os pés do que traz as boas-novas, do que anuncia
Proposta emenda de tradução. Em 2.7 Almeida
a paz' sáo quase como as que se acham em Isaias
tem: "E Husabe está descoberta: será levada cati-
52.7. Dum destes profetas, ou talvez na lembrança
va". A V.B. tem: "Está decretada: está ela despida,
de ambos, sáo elas citadas por S. Paulo em Romanos
levada cativa". Kirkpatrick diz que é possível que
10.15.
Husabe signifique "a rainha", mas o sentido é por
demais problemático.

'290
Habacuque

provável que Habacuque isso alguns anoe deviam ter passado desde que Na-
tenha profetizado nos úl- bopolassar fundara o império caldeu em Babilânia
timos anos de Josias. Do (625 a.C.) Mas parece impossível supor que o qua-
profeta mesmo nada sa- dro sombrio delineado por Habacuque em 1.2-4 pode
bemos. O caráter de Jeo- representar a condição de Judá durante o reinado de
ílado em termos da mais elevada espiritua- Josias. Aponta decididamente para o reinado de
lidade. lmente Habacuque entre os profetas mos- Joaquim, cujo luxo egoístico e exações opressivas
lais empenhado em que a santidade de Jeo- contrastaram com a conduta reta e administração
vindicada do que Israel escapasse do casti- justa de seu pai (Jr 22.13-17).
/endo nas véspera» do Cativeiro. Habacu-
que era a testemunha de Deu», de si mesmo, em con- A N A U S E DE H A B A C U Q U E
traste com a idolatria e o panteísmo.
O livro está dividido em cinco partes. 1. Habacu- 1. A primeira oração e resposta (1.1-11)
que perplexo em vista dos pecados de Israel e o silên- 1.1. Acusação contra Judá (1-4).
cio de Deus (1.1-4). Historicamente isto era o tempo 1.2. A invasão do» caldeus (5-11).
da longanimidade de Deu» por causa do arrependi- 2. A segunda oração e resposta (1.12 a 2.29)
mento de Josias (2 Rs 22.18-20). 2. A resposta de Jeo- 2.1. A oração (1.12 a 2.1).
vá à perplexidade do profeta (1.5-11). 3. O profeta, 2.1.1.0 repto (1.12-14).
com essa resposta, pronuncia o testemunho de Jeová 2.1.2.0 argumento (1.15,16).
(1.12-17), mas ele esperará outras respostas (2.1). 4. 2.1.3.A conclusão (1.17 a 2.1.).
Ao profeta esperançoso vem a resposta da " v i s ã o " 2.2. A resposta (2.2-20).
(2.20). 5. Tudo termina com um sublime salmo do 2.2.1. O princípio da justiça anunciado ao
Reino (cap. 3). profeta (2-4).
N a sua inteireza, o livro de Habacuque levanta a 2.2.2. O principio da justiça aplicado aos cal-
questão da harmonia do caráter de Deus em vista da deus (5-20).
permissão do mal. e responde a essa questão. O pro-
3. A terceira oração e resposta (cap. 3)
feta pensava que a santidade de Deus havia de proi-
bi-lo de continuar em relações com Israel pecamino- 3.1. Clamor pela vivificaçáo (1-2).
so. A resposta de Jeová anuncia uma invasão dos 3.2. A visão de Jeová (3-15).
caldeus (1.6) e uma dispersão de Israel (2.5). Mas 3.3. O efeito sobre o profeta (16-19) (Scroggie).
Jeová não é somente ira; Ele "Deleita-se na miseri-
córdia" ( M q 7.18), e introduz nas suas respostas ao
profeta perplexo as grandes promessas de 1.5;
2.3,14,20. .
Nota: Scroggie e Kirkpatrick concordam em que possível que, como Isaias, ele tenha escrito o oráculo
Habacuque profetizou no reinado de Joaquim (1») e em tábuas (2.2) e o exposto publicamente, explican-
náo de Josias. Diz o último: " A evidência interna do sua mensagem enigmática aos interessado». Mas
torna quase certo que Habacuque escreveu no reina- todo o seu livro parece ser o fruto de reflexão religio-
do de Joaquim (609-597 a.C.) Os caldeus já estavam sa; apresenta as indagações da sua própria alma com
na sua plena carreira de conquista. A terrível reputa- Deus, e recorda a resposta que o Espírito de Deus lhe
ção deles tinha chegado a Jerusalém (1.5. etc.) Por ensinou para seu conforto e o de almas provadas em

'291
Hãbccuqut

todos os tempos. Essas indagações eram provavel- tábuas "para que se possa ler correntemente", ou
mente distribuídas por bastante tempo. N ã o é de "para que quem ler fuja". Os pontos principais da
pensar que a luz lhe tenha vindo repentinamente. O visão são os seguintes:
livro parece ser mais o resultado de um prolongado 1) Há um "tempo determinada" (3). Isto é. Deus
exercício espiritual. está desenvolvendo os seus propósitos. Por isso é pre-
O IÀvro. O começo é uma ousada expostulaçâo ciso esperar, porque os planos divinos náo serão con-
com Jeová. Habacuque contempla com consterna- sumados imediatamente. A nação precisa ser disci-
ção o reinado da desobediência em volta dele, em Ju- plinada. e o agressor por sua vez há de ser julgado
dá. Por muito tempo tem rogado a Deus que interve- pelo seu orgulho (4), sua arrogância (5), sua violên-
nha. mas nenhuma resposta tem vindo. Afinal vem a cia (8); visto que nada disso era da vontade divina
resposta da boca de Deus mesmo (1.5-11). Mesmo (13), mas provinha da sua sangrenta crueldade.
agora Ele está levantando oe caldeus para serem os 2) O piedoso Restante havia de escapar (4). A sua
instrumentos dos seus juízos. Nunca igualado e fé o salvaria. A sua confiança em Deus nào seria cm
incrível é o desenvolvimento dessa nação. Ê feroz e vão. mas no meio da calamidade Ele o salvaria, por-
desassossegada, e marcha através da terra numa que creu e ficou fiel. E assim com o crente hoje; é por
carreira de conquista. Contudo - e aqui há um raio isto que o apóstolo pode aplicar o texto como faz. No
de conforto embora ela considere a sua própria for- meio de um mundo sob o juízo - um juízo mais terrí-
ça como divina, passará como a tempestade que ela vel do que a ameaçada invasão dos caldeus o cren-
parece ser. e perecerá, sem ser jamais vista. te em Cristo será salvo, o pecador justificado viverá
Devemos os seguintes apontamentos ao dr. Geor- pela sua fé.
ge Goodman: 3) Haverá uma grande consumação (14). Todos
os profetas esperavam o dia do Senhor, quando "a
Capítulo 1 terra se encherá da glória de Jeová, como as águas
cobrem o mar".
Profecia da invasão dos caldeus. Esta invasão
deu-se sob Nabucodonosor, rei da Babilônia, o cal- Capítulo 3 V
deu ( E d 5.12).
A profecia de Habacuque é notável pelo número A fé triunfante no dia da tribulação. O profeta,
de vezes que é citada no N . T . e o grande uso feito nas tendo ouvido o discurso de Jeová, teve medo. Ele
epístolas pau li nas das palavras: "O justo viverá pela orou por uma revivifícação, e que na ira vindoura
sua fé" (2.4). Deus se lembrasse da misericórdia (1.2).
A calamidade da queda do pais perante os cal- Nos versículos que seguem (3-16), o profeta tem
deus é alegada ser tal que "não haueis de acreditar em mente aquilo que acontecerá na consumação dos
embora vos seja contada" (1.5), e o apóstolo cita as séculos.
palavras como tendo aplicação àqueles oue rejeitam 1) A manifestação de glória (3) e poder (4). "Da
o Evangelho ( A t 13.40.41). sua mão saem raios".significa poder para agir.
Os primeiros versículos descrevem o estado insu- 2) O julgamento dos noções (6-8). "Ele pára t
bõfdinádõ dá terra (4) e o signifícante silêncio de mede a terra' - proporciona o juizo de acordo.
Deus (2), assim ameaçando juizo. Segue então a 3) A salvação do povo (8,13). Como em Apocalip-
ameaça: "Eis que suscito os caldeus, essa nação fe- se 6.2 e 19.11, o Senhor cavalga sobre cavalos e em
roz e apressada... terrível e espantosa" (6-7), que ha- carros de salvação.
viam de arrasar a cidade. Lemos primeiro deste país 4) Sinais no céu. de que o Senhor Jesus falou em
dos caldeus como sendo lugar da morada de Abraão Mateus 24.29, quando pela segunda vez. "o sol e a
antes de o Deus da glória aparecer-lhe e chamá-lo de lua param" ( 1 1 ) .
"Ur dos caldeus" (Gn 11.31). Tudo isto é descrito com uma licença poética tal
Apesar de tudo, o profeta sabe que aos caldeus que podemos apanhar apenas uma idéia geral do
não será permitido destruir totalmente o povo eleito, sentido. Nos últimos versículos temos a clara lin-
que, apesar dos seus pecados, é mais justo do que oa guagem da fé.
seus conquistadores (13). Proposta emenda de tradução: ao fim de 2.2:
"para que quem leia, fuja".
Capitulo 2
REFERÊNCIAS A HABACUQUE N O NOVO TES-
O justo viverá pela fé. Visto que este versículo (4) TAMENTO
é citado nada menos de três vezes nas epístolas, e
vem a ser a base do ensino do apóstolo sobre a justifi- Aiém da profunda declaração era 2.4 (veja Roma-
cação. convém olharmos bem de perto para o contex- nos 1.17; Gálatas 3.11; Hebreus 10.38} duas frases
to. deste profeta são também empregadas com signifi-
O profeta, havendo predito a invasão babilónica, cação. evangélica; o aviso de 1.5 que Paulo cita em
agora se põe como atalaia, na fortaleza, para ver que Antioquia ( A t 13.40,41) e a certa, embora demorada,
outra palavra vem do Senhor (1). A mensagem toma visão (2.3; Hb 10.37). Há também semelhança entre
a forma de uma visão (3) que ele há de escrever em 2.11 e Lucas 19.40; e entre 3.18 e Lucas 1.47 (Angus).

'292
Sofonias

ste profeta, ura contem- A M E N S A G E M DE S O F O N I A S


porâneo de Jeremias,
exerceu seu ministério Devemos a seguinte exposição ao dr. Kirkpa-
durante o reinado de Jo- trick:
sias. Era uma temporada Contraste entre Sofonias e Naum. Os dois per-
içâo (2 Rs 22), mas o Cativeiro aproxima- tenciam ao mesmo tempo. Profetizaram, provavel-
jfonias aponta o estado moral que o tornou mente, dentro de poucos anos um do outro. Mas So-
L apesar da revivifícação superficial sob Jo- fonias está em aparente contraste com Naum. En-
.11-13). quanto Naum anunciou o julgamento de Ninive e
O livro de Sofonia» está dividido em quatro par- viu nesse julgamento a perspectiva da libertaçào de
tes: 1. A próxima invasáo de Nabucodonosor - uma Judá de uma tirania cruel, Sofonias proclamou a rá-
figura do dia de Jeová (1.1 a 2.3). 2. Predições de jul- pida aproximação de um juizo universal e viu que a
gamentos sobre certos povos (2.4-15). 3. O estado sua primeira severidade devia cair sobre Jerusalém.
moral de Israel que resultaria no Cativeiro (3.1-7). Naum considerou o julgamento de Ninive como uma
4. O julgamento das nações seguido por bênção no justa retribuição pelos seus crimes. Sofonias consi-
reino messiânico (3.8-20) (Scofield). derou o julgamento de Judá e das nações, não so-
mente ou maiormente como ura castigo merecido,
mas como o meio da purificação de Judá e a conver-
A N Á L I S E DE S O F O N I A S são das nações. Assim. Sofonias vai além de Naum
em largueza de vista e em discernimento do último
L Declaração geral dos julgamentos a cair sobre o curso do divino propósito.
mundo, e sobre Judá especialmente (cap. 1) Cremos que Naum profetizou na Assíria, longe
1.1. Predição de juízos vindouros ( w . 1-6). da Judéia e do conhecimento do estado das coisas
1.2. Definição do juizo ( w . 7-13). ali; assim, ele podia concentrar seu pensamento
1.3. Descrição do dia do juizo ( w . 14-18). sobre os sofrimentos de Judá mais do que sobre o
castigo que merecia.
2. Declaração particular dos julgamentos a cair Sofonias, evidentemente, morava em Jerusalém.
sobre o mundo, e sobre Judá. especialmente (capa. 2 Parece ter pertencido á família real. Em qualquer
a 3.7). caso. tinha abundante oportunidade de observar os
2.1 Exortação a buscar ao Senhor antes de cair o crimes da alta sociedade.
julgamento (cap. 2.1-3).
2.2. Proclamaçáo de julgamento contra as nações A condição de Judá. Em verdade, a condição de
(cap. 2.4-15). Jerusalém requeria o juízo. Tanto na religião como
2.3. Repetição do julgamento contra as nações na moralidade prevalecia uma medonha corrup-
(cap. 3.1-7). ção... As cruéis perseguições do principio do reinado
de Manassés tinham cessado, e o verdadeiro culto de
3. Promessas de restauração e continuada felicidade Jeová era tolerado. Mas isso era tudo. Incenso era
para Judá e o mundo (eap. 3.8-20). queimado a Baal em Jerusalém. Sacerdotes idola-
3.1. Execução da ira de Jeová (v. 8). tras eram mantidos. A adoração do Sol, da Lua e das
3.2. Estabelecimento do restante fiel ( w . 9-13). estrelas nos telhados das casas era um costume do
3.3. Exaltação de Jeová e seu povo ( w . 14-20). povo.

'293
Por isso, o decreto de juízo havia sido promulga- quão distante esse cumprimento seria. Foi dado a es-
do; o dia da graça passara como restolho perante o tes antigos profetas voar acima das nuvens terrestres
vento, e o dia da ira de Jeová estava para chegar que obscurecem a vista humana a ver os propósitos
sobre a cidade (2.2). de Deus erguendo-se majestosamente à abóbada ce-
N a sua concepção do juizo iminente, vemos a lar- leste da sua soberania justa, como montanhas altas
gueza da visáo de Sofonias. o juízo que ele previa era contra o céu azulano. mas náo lhes foi dado enxergar
um juizo universal. Seria como um segundo dilúvio de uma vez quantos obstáculos haviam de ser venci-
consumindo tudo sobre a face da terra (1.2). O gran- dos, e quantos desapontamentos sofridos antes que a
de dia de Jeová estava próximo. "Esse dia é dia de desejada consumaçáo pudesse ser atingida.
indignação, dia de tribulação e angústia, dia de alvo- Esses profetas de juízos ainda ensinam a grande
roço e assolação, dia de trevas e escuridão, dia de nu- lição de que Deus é Rei; e que, apesar de tudo que os
vens e negrume. dia de trombeta e alarido" homens pensem ao contrário, Ele sempre julga o
(1.1,15.16). mundo. Força e violência sáo passageiras; verdade e
A tempestade do juízo fere Jerusalém primeiro. justiça permanecem. Assíria e Babilônia desapare-
Náo há possibilidade de escapar, nenhuma redenção ceram; Egito, Macedónia e Roma vivem sem expres-
há para os que têm pecado contra Jeová (1.8). Até os são. mas essa pequena nação de Israel, batida e es-
justos se salvam com dificuldade. "Pode ser que se- magada no conflito e contenda dos grandes impérios
jais escondidos no dia da ira de Jeová" é a única es- mundiais, dispersada e castigada pelos seus peca-
perança que ele oferece até aos "mansos da terra que dos, surgiu com uma nova vida para o cumprimento
tém posto por obra o seu juízo" (2.23). da profecia. Dela foi que saiu aquela maravilha que
De Jerusalém a tempestade segue ao Oeste até a os principados e potestades celestiais admiram a
Filistia, e ao Leste até Moabe e Amom; atinge a Igreja Cristã, a qual, no nome do seu Mestre, sai
Etiópia ao extremo do Sul. e Nínive ao distante Nor- vencedora.
te. N ã o há exceções: "o meu intento é congregar as Na medida que olhamos para trás. a cada suces-
nações, para que reúnam os reinos, a fim de derra- sivo grande dia do Senhor em épocas passadas, a fé
mar sobre eles a minha indignação, todo o furor da obtém força, e olhamos adiante com paciência e sem
minha ira; pois toda a terra será devorada pelo fogo receios para esse dia maior do que todos, quando "o
do meu zelo" (3.8). Filho do homem enviará os seus anjos, e eles ajunta-
O cumprimento. O juizo imediato, com que Sofo- ráo do seu reino tudo o que serve de tropeço e os que
nias ameaçou Jerusalém, foi evitado. Mas a sua pro- praticam a iniqüidade... e os justos brilharão como o
fecia começou a ser cumprida nos desastres que sol no reino do seu pai" ( M t 13.41,43).
sobrevieram às nações vizinhas. Foi cumprida ainda
mais naquelas grandes convulsões das nações do REFERÊNCIAS A SOFONIAS NO NOVO TES-
Oriente que se seguiram pouco mais tarde. Foi cum- TAMENTO
prida para Judá no Cativeiro e destruição da nação
culpada. Todos estes foram passos avançando para o A frase "o dia da ira" (fonte do poema medieval
grande final, elementos contribuindo para a plenitu- Uies Irae), 1.15.18, é característica deste profeta, e
de doe tempos, prelúdios do estabelecimento do divi- acha-se repetida em Romanos 2.3 e Apocalipse 6.17.
no reino universal. Ê também do profeta (3.8) a metáfora do "derrama-
Em parte, as palavras de Sofonias ainda esperam mento da indignação divina" que no Novo Testa-
o seu cumprimento, e náo lhe fazemos nenhuma in- mento aparece refletida na imagem das taças da ira
justiça se dizemos que ele nào podia ter antecipado de Deus ( A p 16.1).

'294
Meu

geu foi profeta para o os sacerdotes, desde o sacerdote Josué à destruição


restante de Judá res- do templo etn 70 d.C
taurado à sua terra de- Com relação à história do Cativeiro, as divisões
pois dos 70 anm do Ca- são: 1) preexílica; 2) exilica; 3) pós-exílica.
tiveiro. As circunstán- Com relação aos impérios que dominaram sobre
cias estão etalhadas em Esdras e Neemias. A tarefa Israel, os períodos são: 1) assírio; 2) o babilônio; 3) o
de Ageu. acarias o Malaquias era a de animar, re- medo-persa. Assim podemos ver o período exato dos
provar e struir esse Restante. O tema de Ageu é o ministérios de Ageu. Zacarias e Malaquias. Todos
templo incompleto, e ?ua missão a de admoestar e três serviram no terceiro período, e. dos três. Ageu
encorajar os edificadores. foi o primeiro.
As divisões do livro sáo marcadas pela fórmula: Ageu é três vezes chamado "o profeta" e uma vez
"veio a palavra de Jeová", como segue: i . O aconte- "o mensageiro do Senhor De outro modo é desco-
cimento que motivou a profecia (1.1,3). 2. O desa- nhecido; profetizou no ano 520 a.C. Sem dúvida ele
grado divino pela interrupção da obra (1.3-15). 3. Os nasceu no cativeiro, e acompanhou Zorobabel na
templos o de Salomão, o da restauração e o do Mi- volta a pátria. Os alicerces do templo foram postos,
lênio (2.1-9). 4. Impureza e castigo (2.10-19). 5. A vi- mas o trabalho ficara parado por 15 anos, devido á
tória final (2.20-23). (Veja Zacarias 14.1-3: Apoca- oposição. O povo ia-se acostumando a estar sem
lipse 19.17-20) templo, e se essa disposição tivesse continuado, a
nação teria cessado de existir. Para uma crise como
esta Ageu foi levantado. Seu ministério durou quatro
A N Á L I S E DE A G E U meses, durante os quais ele deu quatro mensagens.
1.A palavra de reprxtvação (cap. 1) A primeira mensagem Sexto mês. primeiro dia
1.1. O templo do Senhor está incompleto ( w . 1-6). (cap 1.2-11). Nesta ele reprova o povo pela sua ne-
1.2. A aflição do povo explicada (7-11). gligência em construir o templo. Sem dúvida o povo
1.3. O testemunho do profeta ouvido (12-15). contentou-se com o pensamento *\Vat> é o tempo...
2. A palavra de animação (cap. 2.1-9). de se edificar o templo de Jeová" (2), mas isso era
uma desculpa vã. porque edificaram as suas próprias
2.1. O desânimo do povo (1-3)
i, e estavam bem acomodados nelas (4). O pro-
2.2. A promessa do Senhor (4.5).
2.3. A glória do templo (6-9). feta exorta-os: "Considera: os vossos caminhos",
3. A palavra de Bênção (cap. 2.10-19) uma exortação repetida cinco vezes neste livro. Ele
3.1. O caráter contagioso do mal (10-13). também aponta as tributações que sofreram devido á
3.2. A impureza do povo (14-17). sua indiferença aos direitos de Jeová (9). Esta men-
3.3. A certeza da bênção (18,19). sagem teve efeito, pois a reedifícaçáo começou vinte
e um dias mais tarde (12-15).
4. A palavra da promessa (cap. 2-20-23) (Scroggie).
A segunda mensagem. Sétimo mês. dia vinte e
um (cap. 2.1-9). Em pouco tempo o primeiro entu-
A M E N S A G E M DE AGEU siasmo passou, e um desânimo tomou posse do povo.
Ageu combate isto com uma palavra de animação
A história de Israel divide-se em três grandes é- que resume toda a história do templo sob a expressão
pocas: 1) Israel sob os juizes, de Moisés a Samuel: 2) "esta casa" (9). Ele fala da magnificência do templo
Israel sob os reis, de Saul a Zedequias; 3) Israel sob de Salomáo (3a.), da necessidade do templo de Zoro-

'295
A%eu

babei (3b-5), e da excelência do templo messiânico tes. aplicando-nos cada vez mais d obra do Senhor,
no Milênio (6-9), e. assim, anima o povo e seus che- sabendo que o nosso trabalho nào é vão no Senhor"
fes a "esforçarem-se e trabalhar" (2.4), porque Jeová (1 Co 15.58).
estava com eles. Proposta emenda de tradução: Em 2.7 é preciso
A terceira mensagem. Nono mês. dia vinte e qua- ler como na V.B.: "as coisas preciosas de todas as
tro (cap. 2.10-19). Por meio de duas perguntas dirigi- nações virão " e não como em almeida: "virá o dese-
das aos sacerdotes, e das duas respostas recebidas, jado de todas as nações". Diz Kirkpatrick: " o verbo
ele prova que o pecado, e náo a santidade, é difusivo 'virão' está no plural, e a palavra traduzida 'deseja-
e contagioso (11-13). e aplica esta verdade ao povo, do' significa 'coisas desejáveis' ou 'tesouros escolhi-
provando que, enquanto a Casa de Jeová fica incom- dos' como em 1 Samuel 9.20, como, por exemplo, a
pleta e o culto desanimado, tudo é contaminado e prata e o ouro referidos no versículo 8 como pertencen-
do a Jeová, e por isso à sua disposição para o adorno
imundo (14 17). Segue com urna graciosa promessa
do templo. Este tributo das nações é a expressão ex-
de bênçáo para ser dada desde esse dia (18-19).
terior do seu reconhecimento de Jeová, e por isso o
.4 quarta mensagem. Nono mês, dia vinte e qua- trecho bem pode ser tomado como tendo uma alusão
tro (cap. 2.20-23). Esta é uma mensagem pessoal a messiânica, embora náo p o s s a significar uma alusão
Zorobabel. que era o cabeça civil da comunidade res- ao próprio Messias".
taurada e o representante da linhagem de Davi. A
sentença pronunciada contra seu avô Joaquim (2 ) Podemos achar uma certa dificuldade em combi-
(Jr 22.24» é agora resogada. e a palavra de promessa nar o versículo 9 do capítulo 2 com o versículo 3. Diz
dada: que quando os tronos de todos os reinos forem o dr. Scofield: " E m algum sentido todos os templos,
derrubados, Zorobabel permanecerá no segredo do isto é, o de Salomão, o de Esdras. o de Herodes e o
Senhor. Nào podemos duvidar que o filho de Sealtiel que será usado pelos judeus descrentes sob a aliança
tivesse alguma experiência de acordo com estas pro- com a Besta (Dn 9.27; Mt 24.15; 2 T s 2.3.4) e ainda o
messas. mas seu sentido leva-nos mais adiante, ao futuro templo milenar de Ezequiel (Ez caps. 40 a 47)
tempo quando, sob o Messias, toda a rebelião será são tratados como uma só "casa': a Casa de Jeová,
dominada, e Cristo há de administrar o Reino de seu
visto que todos professaram ser isso. Assim Cristo
purificou o templo dos seus dias. embora construído
Pai.
por um usurpador idumeu para agradar oe judeus
A principal liçáo deste livro é, para nós. fazer o
( M t 21.12.13)".
trabalho que está ao nosso alcance hoje. com fé e
perseverança, apesar das dificuldades. "Esforçai-vos
e trabalhai" é a mensagem, sem pensar que a REFERÊNCIA A AGEU NO NOVO
oposição é prova de que o tempo do Senhor ainda TESTAMENTO
náo chegou, pois esperarmos até que o Diabo dê
seu consentimento, nada conseguiremos. Faz-se no Novo Testamento apenas uma citação
Nosso fundamento está posto (1 Co 3.11; Ef 2.19- de Ageu: é a de 2.6 "hão de tremer os céus", em
22) e resta edificar s»>bre ele, sendo "firmes, constan- Hebreus 12.26.27.

296
Zacarias

acarias. como Ageu. era profe- 2.1.3. A rejeição do Pastor (cap. 11).
ta do Restante que voltou do 2.2. Julgamento e Redenção (caps. 12 a 14).
Cativeiro depois dos 70 anos. 2.2.1. Antecipação messiânica (caps. 12 a
Há muita linguagem simbóli- 13.6).
ca em Zacarias, mas estes tre- 2.2.2. Método messiânico (13.7 a 14.15).
sào facilmente interpretados à luz de 2.2.3. Triunfo messiânico (14.16-21).
i da profecia que se refere aos mesmos as-
Os grandes trechos messiânicos sáo, quando M E N S A G E M DE ZACARIAS
irados com outras profecias do reino, perfeita-
inteligiveis. Ambos os adventos de Cristo es- Zacarias, que significa um que é lembrado por
tão nas profecias de Zacarias. (Compare Zacarias 9.9 Jeová, foi contemporâneo de Ageu, e mais moço que
com Mateus 21.1-11 e Zacarias 14.3,4.) Mais do que ele (2.4). Quinze anos antes desta data (535 a.C.), sob
Ageu ou Malaquias, Zacarias revela os pensamentos a direçáo de Zorobabel e Josué, os alicerces do tem-
de Deus concernentes aos poderes gentüicos em re- plo tinham sido postos (Ed 3), mas o trabalho pa-
dor do Restante restaurado. Deus lhes deu o seu po- rara. cm parte devido á preguiça dos judeus, e em
der (Dn 2.37-40) e pedir-lhes-á contas, sendo o ponto parte à oposição oferecida pelos samaritanos e outros
principal, como sempre, seu tratamento com Israel. (Ed 4).
O livro de Zacarias tem três divisões principais; Ageu tinha profetizado no sexto, sétimo e nono
1. Visões simbólicas na luz da esperança messiânica meses do segundo ano de Dario; Zacarias começou
(caps. 1 a 6). 2. A missão da Babilônia (caps. 7 e 8). no oitavo más do mesmo ano (1.1), e continuou pro-
3. O Messias rejeitado, e depois com poder (caps. 9 a vavelmente por alguns anos (7.1).
14).
A profecia cai naturalmente em duas partes,
cada uma divisivel em duas seções principais. Zaca-
A N Á L I S E DE Z A C A R I A S
rias começa por advertir oa judeus contra o desagra-
1. O povo escolhido e o templo «caps. 1 a 8) dar a Deus, como seus pais tinham feito, asseguran-
do-lhes que a palavra divina nunca passará, e que o
1.1. As visões do vidente (caps. 1 a 6):
castigo há de seguir o pecado. Depois ele lhes conta
1.1.1. Uma palavra de aviso (1.1-6).
uma série de visões que teve de noite, visões de Deus
1.1.2. Uma série de visões < 1.7 a 6.8).
destinadas a revelar a sua vontade e propósito para
1.1.3. Um ato simbólico (6.9-15).
os judeus, tanto nesse tempo como no porvir.
1.2. Jejuns e festas (caps. 7 e 8):
1.2.1. Uma indagação urgente concernente 1) Os cavaleiros angélicos (1.6-17). Estes são os
aos jejuns (7.1-3). mensageiros de Jeová que andam pela terra, e con-
1.2.2. Uma resposta quádrupla falando de fes- templam todas as nações descansadas, enquanto Ju-
tas (7.4 a cap. 8). dá está aflito e Jerusalém em ruínas; mas em respos-
2. O rei messiânico e o reine» (caps. 9 a 14) ta á pergunta do anjo: "Até quando?" Jeová diz que
2.1. A restauração final de Judá e Israel (caps. 9 a o templo será reedificado, e que Ele voltará a Judá.
11). 2) Quatro chifres e quatro ferreiros (1.18-21). O»
2.1.1. A destruição do inimigo (9.1-8). chifres sáo os impérios que têm p e r s e g u i d o e espa-
2.1.2. A restauração do povo (9.9 a cap. 10). lhado o povo escolhido, mas hão de ser derrubados por

'297
Zacariai

poderes representados por ferreiros, que o Senhor há A primeira mensagem (caps. 9 a 11). O profeta
de levantar para pôr termo ao poder dos gentios. segue a falar da restauração de Judá e Israel, e rapi-
3) O homem com o cordel de medir (cap. 2). Na damente descreve o curso dos acontecimentos. As
perspectiva de a cidade ser reedificada, um homem nações rebeldes serão derrotadas e a terra, desse
sai para marcar seus limites, mas ele recebe instru- modo preparada para Israel (9.1-8); o Messias entra-
ção que seu trabalho será inútil porque a Nova Jeru- rá na cidade real em triunfo (9-10); o povo será vito-
salém não precisará de muros, nem terá limites mar- rioso sobre seus inimigos (11-17); estas bênçãos hão
cados: há de estender-se em redor, e Jeová mesmo de ser esperadas de Jeová e náo dos ídolos (10.1,2);
será seu protetor em redor e sua glória no meio. Ba- maus governadores hão de ser depostos (3-4); o povo
seado nesta promessa, faz-se um apelo aos cativos disperso será congregado, e Israel unido habitará na
ainda na Babilônia para voltarem. O Senhor revela sua própria terra, protegido e abençoado por Jeová
ainda mais que 'nesse dia' muitas nações serão liga- (5.12).
das a Jeová e serão seu povo. Mas antes que isso possa acontecer, a mão de
4) Josué, o sumo sacerdote (cap. 3). Neste capí- Deus será pesada sobre Israel por causa dos seus pe-
tulo Josué representa o povo judaico. Ele está em pé cados. O profeta personifica o Bom Pastor que ali-
perante o anjo do Senhor, e Satanás está ali também mentará seu rebanho, e que será deposto e vendido
para o acusar de imundicia. Mas Jeová, que tem pelo preço de um mero escravo. Então ele quebra as
apanhado seu servo da Babilônia como um tiçáo ti- suas duas varas, para indicar a dissolução de Israel e
rado do fogo. náo vai desampará-lo agora; assim ele é Judá. O profeta é então mandado proceder como um
purificado, vestido e coroado, e posto em pé perante pastor cruel, como símbolo de que Jeová levantará
o Senhor e promete-se uma temporada de felicidade os reis, para destruir o povo que o recusara (cap. 11).
para Israel sob seu Messias, o Renovo. Em 9.5, trocando as vogais. lê-se "pastor" em vez de
" p r ó x i m o " ( K . 459).
5) O castiçal e as oliveiras (cap. 4). O castiçal re-
presenta Israel restaurado, e as oliveiras os dois A segunda mensagem (caps. 12 a 14). A última
grandes elementos na sua vida nacional, a Realeza e seção do livro esboça o mesmo grande periodo apre-
Sacerdócio, refletidos, respectivamente, por Zoroba- sentado nos capítulos 9 a I I , mas de um ponto de
bel e Josué; e o azeite simboliza o Espírito Santo, por vista um pouco diferente, e com outros detalhes. As
meio de quem somente pode ser feita e mantida a nações que se reunirão contra Jerusalém serão total-
obra de reconstrução. mente derrotadas (12.1-9). O povo de Deus contem-
6) O rolo volante (cap. 5.1-4). Istoé para mostrar plará aquele que feriu, e isoladamente fará confissão
que uma maldição cairá sobre o povo se continuar no (10-14). que será seguida por uma purificação nacio-
pecado, e dois pecados representativos são mencio- nal (13.1-6). Mas é revelado aqui» como na sentença
nados, o roubo ou pecado contra o semelhante; e o prévia, que, antes de acontecer tudo isto, Israel há
juramento falso, ou pecado contra o nome de Deus. de passar por dias tenebrosos. Em conseqüência da
7) O efa e a mulher (cap. 5.5-11). A mulher é a sua rejeição do Messias (7), grande tribulação virá
personificação da perversidade, que era escondida sobre Israel (13.8 a 14.2). mas o Senhor náo o esque-
entre as ocupações comuns do povo, como a mulher cerá; cedo Ele virá ç o livrará (3-11). Os inimigos se-
estava no efa; mas esta perversidade náo ficaria com rão visitados em juízo (12-15). e os restantes das na-
eles, por isso foi transportada à Babilônia, o lugar ções serão sujeitados (16-19), e Israel unido entrará
típico da injustiça e profanidade, e provavelmente a num periodo de felicidade nacional caracterizada
fonte da corrupção de Israel, e ali ficou. pela frase "SAXT/DADE A JEOVÁ".
8) Os quatro carros e cavalas (cap. 6.1-8). Estes Pode haver pouca dúvida de que estas predições
sáo os poderes que Jeová levantará para disciplinar tenham referências, quase exclusivamente, ao fim
as nações, especialmente a Babilônia que havia tra- da idade gentflica, isto é. ao "dia de Jeová", e para
tado o povo de Deus tão cruelmente. São instrumen- uma perfeita compreensão de todos os detalhes, as
tos do divino juízo. profecias anteriores precisam ser estudadas. Em
todo o caso. este notável livro de Zacarias contém
Aqui terminam as visões, e segue-se imediata-
profunda verdade espiritual, de grande alcance.
mente um ato simbólico a coroação de Josué, o sa-
cerdote, - designado para mostrar que o prometido Devemos os seguintes apontamentos ao dr. Kirk-
Renovo exercerá o duplo ofício de Sacerdote e Rei. patrich. sobre a
quando Ele voltar a Terra para estabelecer seu Reino Esperança Messiânica. De importância igual ao
Milenar. seu serviço prático em conseguir a restauração do
templo, era o trabalho de Ageu e Zacarias em levar
N o quarto ano de Dnrio uma delegação fora man- adiante a tocha da esperança messiânica sob as con-
dada a Jerusalém para indagar ue certos jejuns de- dições modificadas do seu tempo. O reino tinha pas-
viam ser observados, jejuns instituídos para a triste sado. O representante da casa de Davi era apenas
derrota dos judeus, e que haviam sido observados um governador provincial apontado por uma potes-
durante os 70 anos do Cativeiro (Jr 39.2; 52.6.7.12- tade estrangeira, sem nenhuma estabilidade de ofí-
14; 41.1-3). A este inquérito o profeta dá uma respos- cio. Ainda assim mais uma vez a esperança de Israel
ta quádrupla. é dirigida à casa de Davi; Zorobabel é distinguido
a) Deviam descobrir seu motivo em jejuar. e se pelo sublime titulo de Servo de Jeová, o alvo da sua
lembrarem dos anos passados (7.4-7). escolha e proteção (Ag 2.23); ele é revestido de uma
b) Jeová requer retidáo interior mais do que ceri- importância muito além da sua conseqüência pes-
mônias ocas (7.8-14). soal e individual, como sendo o tipo de alguém ainda
c) O Senhor ia restaurar ao seu povo isso que per- por vir.
dera (8.1-17). Junto com Zorobabel. o representante da linha
d ) Os jejuns iam ser transformados em festas, davídica, está o sumo sacerdote como o representan-
com gozo e alegria (8.18-23). te espiritual do povo. Ele e seus companheiros cons-

298
lücariêi

tituem um sinal. São o penhor de que Jeová cumpri- acontecimentos de Zacarias 14 sucedeu na primeira
rá seu propósito de apresentar (mais tarde) seu servo, vinda de Cristo, embora Ele estivesse muito relacio-
o Renovo (Zc 3.8, etc.) Com esta promessa do rei nado com o monte das Oliveiras".
messiânico vai ligada a promessa da conclusão do O dr. Uuudman diz de 13.1-9 o seguinte: "Os pro-
templo e a renovação da iniqüidade da terra. A pe- fetas maus terão vergonha das suas visões e serào re-
dra misteriosa posta perante .Josué parece ser a pe- jeitados até pelos seus pais (v. 3). Evitarão o uso dos
dra mais aita do templo (4.7). Ê o alvo do especial v««tid<»s ásperos e fingirão que náo são profetas, di-
cuidado de Jeová. zendo: Wno sou profeta: seu lavrador da terra' (5).
Com respeito aos "dois ungidos" (4.14 V.B.) ou Quando interrogados: 'Que são estas feridas entre
"dais filhas de óleo" (Almeida», diz o dr Kirhpa teus braços?" (6». darão alguma desculpa mentirosa
trick: " A expressão fílhius de óleo' náo é equivalente tal como: 'São as com que fui ferido na casa dos
a 4 ungido' e a descrição 'que assistem junto ao Se- meus amigos'. Os idolatras tinham o costume de se
nhor de toda a terra' teria aplicaçáo mais natural- ferirem com facas (I Rs 18.28). Essas feridas, em que
mente a seres celestiais (veja-se 3.7) do que a Josué e se costumavam gloriar, eram a evidência do seu zelo
Zorobabel. O sentido da visão é representar, me- frenético pelo seu deus. Nesse dia terão vergonha
diante o fornecimento perpétuo de óleo ás lâmpadas, disso, e darão respostas evasivas quando interroga-
o infalível fornecimento do poder de Jeová a Israel; o dos.
anjo que interpreta evita dar um sentido humano "Contudo: nós gostamos de pensar de outras
aos ramos de oliveira, e tenciona sugerir pelos 'filhos mãos feridas, e perguntar: 'Que são estas feridas nas
de óleo que estão diante do Senhor de toda a terra' a tuas mãos, ó Senhor?' sabemos que a resposta é "Fe-
idéia de misteriosos ministrantes da graça divina a ridas por amor de vós"*.
Israel".
Vários expositores têm atribuído os capitulos 9 a
Propostas emendas de tradução: A expressão em 11 e 12 a 14 a outro autor ou autores, antes do Cati-
9.13 "contra teus filhos, o Grécia " p o d e náo perten veiro ou depois do Cativeiro. Nosso espaço não nos
cer ao original, segundo as investigações do dr. Kirk- permite estudar o problema, que é amplamente dis-
patrick. Sobre 11.13 diz Kirkpatrick: " P o r mandato cutido pelo dr. Kirkpatrick no seu livro "The Doctri-
divino, Zacarias arroja as trinta moedas de prata no ne of the prophets".
tesouro do templo, dando a entender de maneira
mais pública que a oferta fora oferecida não tanto a
REFERÊNCIAS A ZACARIAS NO NOVO T E S T A -
ele, como ao seu Senhor Jeová. Templo que é apoia-
do pela visào siriaca, dá um sentido inteligível. N ã o MENTO
se pode entender a versão: 'Arroja-as ao oleiro...'"
( K . 468). Zc 1.8 - Ap 6.2,4.5.8.
Zc 3.2 - Jd 9.
Diz o mesmo que o capitulo 14.5 seria melhor tra- Zc 3.9 - A p 5.6.
duzido: "E o vale dos meus montes será entupido... Zc 8.16 - Ef 4.25.
sim, será entupido como foi entupido pelo terremoto
nos dias de Uzias rei de Judá". Zc 9.9 - (a entrada do rei em Jerusalém) Mt 21.5
Sobre os versículos 4 e 5 diz o dr. Scofield: "O e Jo 12.14.15.
versiculo 5 dá a entender que o monte das Oliveiras Zc 11.13 - (as trinta moedas de prata), Mt
'ser fendido' é resultado de um terremoto, ç isto é 27.9,10.
confirmado por Isaias 29.6 e Apocalipse 16.18. Em Zc 12.10 - (olhando para aquele a quem trespas-
ambos estes trechos o contexto, como em Zacarias saram), Jo 19.37 e Ap 1.7.
14.1-3, associa o terremoto com a invasão gentilica Zc 13.9 - (o Pastor ferido), M t 26.31 e Mc 14.27.
sob a besta (Dn 9.26: A p 19.19). Nenhum dos outros Zc 14.11 - (não haverá mais maldição), Ap 22.3.

'299
#ialaquias

alaquias ('meu men- M E N S A G E M DE M A L A Q U I A S


sageiro'), o último
doa profetas ao Res- Esta ê a última das profecias do Velho Testa-
tante restaurado de- mento e podíamos ter desejado que tiveaae apresen-
pois doe 70 anoa do tado um eatado de coisas mais feliz. Nada sabemos
Cativeiro provavelmente no tempo de do escritor do livro (nem sequer seu nome, pois "meu
confusão a ausência de Neemias ( N e 12.6). mensageiro" dificilmente pode ser um nome, a não
O sua mensagem é o amor de Jeová, oa ser que seja uma abreviação de "Malachiah", o
.acerdotea e do povo, e o dia do Senhor, mensageiro de Jeová), mas podemos deduzir do livro
como Zacarias, vê oa dois advento», e qual o seu espirito: o tempo requeria um homem for-
prediz precursores ( M l 3.1 e 4.5,6). Na sua intei- te e corajoso, e tal era Malaquias.
reza, Malaquias dá o julgamento moral de Deus O libelo que Malaquias traz contra o povo é quá-
•obre o Restante restaurado pela sua graça sob Ea- druplo no seu caráter:
dras e Neemias. Ele tinha estabelecido a sus essa
entre elea, maa o culto era formal e insincero. 1) Libelo religioso O povo estava todo desviado,
O livro tem quatro divisões naturais: 1. O amor devido á degeneraçáo doa sacerdotes. Oséias tinha
de Deus para com Israel (1.1-5). 2. Os pecados doa dito: "O sacerdote será como o povo" (Os 4.9), mas
sacerdotes repreendidos (1.6 a 2.9). 3. Os pecados do aqui é o contrário, para a completa confusão da tribo
povo repreendidos (2.10 a 3.18). 4. O dis do Senhor de Levi.
(4.1-6) (Scofield). 2) Libelo moral Abundavam a feitiçaria, o adul-
tério, a perjúria. a opressão e a fraude (3.5) e contra
tais coisas Jeová se opunha. Mas o povo tinha dito:
ANÁLISE DE MALAQUIAS
"Todo o que faz o mal é bom aos olhos de Jeová, e
nestes tais ele se deleita; ou onde está o Deus do juí-
1. O declínio religioso (1 a 2.9) zo?" (2.17). O profeta entáo lhes diz claramente que
1.1. Expressão do amor de Deus para com Israel o Deus de juízo virá e Lança-los-á no cadinho de puri-
(1.1-5). ficação.
1.2. Expoatulaçáo com oa sacerdotes pelaa suas
ofensas (1.6-14). 3) Libelo social- Uma das causaa de pecado e cor-
1.3. Execração dos sacerdotes pela sua indiferen- rução na história de Israel tinha sido seu comprome-
ça (2.1-9). timento com oa estrangeiros em redor. Elea tinham
sido separados das nações como uma testemunha do
2. Degradação social (2.10-16) verdadeiro Deus no meio da idolatria prevalecente: e
Condenação dos sacerdotes e povo, para conservar a sua pureza era preciso casarem-se
a. por casamento com estrangeiros; somente com suas patrícias, pois a introdução de
b. por divórcios cruéis. mulheres estranhas resultaria em cultos estranhos.
3. Desvio moral (2.17 a 4.7) 4) Libelo material. As ofertas para a manutenção
3.1. A vinda do Senhor em juízo (2.17 a 3.6). dos sacerdotes tinham cessado: oa dízimos náo ersm
3.2. Libelo contra o povo (3.7-12). levados ao tesouro de Jeová, e a pobreza resultou
3.3. Contraste entre oa justos e os iníquos (3.13 a disso. Por conseqüência, visto que desonraram s
4.6) (Scroggie). Deus nas coisas materiais, sofreram materialmente.

'301
Malcquias

Contudo havia um restante fiel, como sempre, e cado pelo sacrifício de si mesmo", mas a vinda para
esses tinham comunhão uns com os outros (3.16) e seu povo antigo eleito, com juízos que somente os
Deus lhes deu ricas promessas piedosos poderão suportar.
O primeiro livro do V.T. termina com um "cai-
xão no E g i t o " e o último com uma "maldição", mas
o N . T . tem um fim melhor, e a sua última nota fala REFERÊNCIAS A MALAQUIAS NO N O V O TES-
de graça divina. TAMENTO
" O estilo do livro de Malaquias é incomum. T e m
sido chamado "didático-dialético". isto é. uma asse- 1.2 - A escolha de Israel, de preferência a Edom,
veração seguida por uma possível objeção, e então serve para ilust.ar a eleição divina (Rm 9.13).
uma refutaçáo disso. Há oito exemplos, a objeção co- O "mensageiro de Deus" (3.1) e "Elias, o profe-
meçando em cada caso com "Em que...?" Encon- t a " (4.5.6), são identificados com João Batista ( M t
tram-se em 1.2,6.7; 2.17; 3.7.8,13.14. O último come- I I 10-14 e 17.11; Mc 1.2: e 9.11,12. e Lc 1.17.76 e
ça: "Que proveito temos...?" 7.27).
A oinda do Messias (3.1), o Mensageiro do Con- E em Maiaquias 1.7 que a frase "a mesa do Se-
certo. Essa vinda havia de ser preparada por outro nhor" é pela primeira vez usada. (Compare com 1
mensageiro, que reconhecemos ser João Batista, vis- Corintios 10.21.)
to que este trecho (4.5) i citado dele quatro vezes nos A bela imagem do nascimento do Sol da Justiça
Evangelhos ( M t 11.14; 17.11; M c 9.11-13; Lc 1.17). tem o seu lugar paralelo nas palavras de Lucas 1.78:
Como é usual nos profetas, a vinda do Senhor é refe- "lá do alto nos visitou o sol oriental". (Compare com
rida. nào a sua primeira vinda para "purificar o pe- João 1.4 e 8.12 e 9.5 e 12.46 >

U3

'302
flovo Testamento
Prefácio

'j começar uma explica- tor precisará ter a sua Bíblia aberta para poder
ção do Novo Testamento acompanhar as explicações.
tive de reconhecer que náo Desta vez, como no "Velho Testamento Explica-
sou o primeiro a encetar a do", geralmente traduzi as Introduções do dr. C.I.
tarefa. Durante ob séculos Scofield e as Análises do dr. Graham ScroRgie. Con-
passados muitos exposito- sultei também " T h e Numericai B i b l e " de
res eruditos têm contribuí- F.W.Gant, e outros expositores de confiança, a fim
e até em nossos dias alguns mestres de pó> ao alcance do leitor o ensino de alguns dos
têm escrito sobre o mesmo assunto, mais eruditos dos ensinadores bíblicos cujas obras
não me atrevi a tentar um trabalho origi- ainda náo foram traduzidas para o português
nal semifazer caso da contribuição de outros. Con-
sultei os escritos de Bullinger. Gray, Scofield. Scroii- São repetidas as propostas emendas de tradução
gie. Goodman. Thompson e outros, e quando me pa- que apareceram na primeira edição, fazendo referência
receu conveniente, traduzi as próprias palavras deles quase sempre aos livros em que o motivo da emenda
citando seus nomes. é amplamente discutido. Rejeitar qualquer proposta
O pntptisito deste livro é apanhar o ensino princi- emenda de tradução sem primeiro investigar as suas
pal dos capitulonotar os pensamentos sugeridos razões seria uma imperdoável leviandade, tendo-se
por um estudo cuidadoso, e apontar as lições que po- em conta a importância do assunto. Mas é preciso
demos apriweitar. Mas foi preciso atender ao espaço notar que quem aceita o texto grego de Nestle como
disponível e evitar fazer um livro grande demais. Por infalível náo poderá compreender a maioria das cor-
isso as explicações sdo resumidas, e ainda resta algu- reções que os mais eruditos mestres têm aprovado.
ma coisa por dizer.
Se o espaço tivesse permitido, muitas outras
Náo quis fazer um estudo meramente intelec- emendas de tradução poderiam ter sido feitas. Al-
tual. mas antes colher as verdades que mais influem meida poderia ser muitíssimas vezes corrigida de
em nossa vida espiritual e que reforçam nosso ânimo acordo com a V.B. A Versáo Brasileira pode também
para seguir com paciência a carreira cristã. ser corrigida por Almeida, certamente em todos os
Contudo, não podia totalmente fugir de encarar lugares onde A Imeida tem letra itálica e a V. B. náo
os vários problemas textuais ou críticos que chamam tem. Isto é especialmente importante em Hebreus
a atenção do leitor estudioso. Estes têm sido trata- 8.8.
dos resumidamente.
Fiz o possível para explicar os versículos que ás O próprio leitor pode fazer algumas emendas. Por
vezes são mal compreendidos, ou. no caso de o exemplo: substituir por bispo, "superintendente";
problema parecer insolúvel, confesso minha incapa- por diácono, "servo"; por igreja, "congregação": mas
cidade para resolvê-lo. Há alguns aspectos da verda- nem sempre (veja Lc 11.38) por batizar, "imergir".
de que talvez nunca poderemos elucidar completa- Convém saber que 09 tradutores da V.B omitiram
mente até "conhecermos como somos conhecidos" (1 centenas de vezes a palavra grega "kai", e. mas em
Co 14.12). Almeida essa palavra sempre se encontra no seu de-
Para esta segunda edição, o "Novo Testamento vido lugar. Nenhum dos tradutores até agora (1946)
Explicado" foi escrito inteiramente de novo. com a tem respeitado a freqüente omissão do artigo defini-
exposiçáo muito ampliada e aproveitando tudo do antes de "espírito santo", e por isso eles várias ve-
quanto era mais essencial na primeira edição. zes confundem o divino Doador com seus dons. Este
Para dar lugar a tanta —J /„' T assunto é amplamente discutido na "Biblioteca
rio omitir o texto da Escritura, de maneira que o lei- Evangélica", Livro 2, págs. 57-64.

305
O leitor ndo precisa assustar-se com as imperfei- ção, é imperfeita, Felizmente nenhuma doutrina
ções existentes nas conhecidas traduções da Bíblia, fundamental do cristianismo ficou gravemente pre-
pois qualquer obra humana, como seja uma tradu- judicada pelos erros dos tradutores.

306
Abreviaturas

- The Christian'8 Armoury. por W.R Bra- J How to Enjoy the Bible, por Bullinger.
dlaugh. K The Doctrine of the Prophets. por Kirk-
Al. - Versão de Almeida. patrick.
Angus - História. Doutrina, etc., por J. Angus Lee The Outline Bible. por Robert Lee
CH - Life and Epistles of St. Paul, por Cony- O Our Transi a ted Gospels, por C.C. Tor-
beare & Houson. rey.
- Causes of Corruption, por Burgon & R The Romance of the Hebrew Language,
MiUer. por Saulez.
Fig. - Versão de Figueiredo. RR. The Revision Revised. por Burgon.
G - The Giver and His Gifts, por Bullinger Scofield The Scofield Bible. por dr. C.I. Scofield.
GAS - The Book of the Twelve PropheU, por Srroggie Dr. Graham Scroggie. em Notas Diárias,
Ceorge Adam Smith. etc.
Goodman-Dr. Geo. Gôõdman, em .Votas Diária», T The Treasury of Smpture Knowledge.
etc. V.B. Versáo Brasileira.
Grant - The Numerical Bible, por F. W. Grant.

307
(Mateus

escritor do primeiro d) os mistérios do reino (13.1-52); e) o ministério do


evangelho no nosso Rei rejeitado (13.53 a 23.39); f ) a promessa do Rei de
Novo Testamento foi voltar em poder e glória (24.1 a 25.46).
Mateus, chamado 2. O sacrifício e ressurreição de Jesus Cristo, Fi-
também de Levi. um lho de Abraão (26.1 s 28.8).
que aceitara o cargo de cobrador 3. O Senhor em ressurreição, ministrando aos
o opressor romano, tornando-se, por seus (28.9-20) (Scofield).
dos odiados "publicanos" " O livro foi primeiramente escrito em hebraico
A data Evangelho de Mateus tem sido muito ou aramaico, visando especialmente aos judeus, por
discutida, não há motivo convincente para se isso o V.T. é citado muitas vezes".
duvidar da tradicional de 75 d.C. Mateus retrata Cristo como Rei. A palavra reino
Tema. O escopo e propósito deste Evangelho vão encontra-se 55 vezes, reino dos céus 32 vezes, e Filho
indicados no primeiro versículo: é o "livro da geração de Davi 7 vezes.
de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de A brado". Esta O Evangelho do reino pregado por Cristo e seus
declaração liga-o imediatamente com duas das mais discípulos (4 23; 10.7) não é idêntico ao Evangelho
importantes alianças do V.T.: a aliança davídica de pregado hoje. Aquele era a boa noticia de que Deus
soberania e a aliança abraámica da promessa (2 Sm estava para estabelecer sobre a terra um reino políti-
7.8-16; Hb 11.17-19). co e espiritual, governado por Jesus, como o Filho de
Mas a característica predominante de Cristo em Davi. Este se ocupa com o domínio espiritual de
Mateus é a do Rei prometido, o Renovo de Davi (Jr Cristo. O Evangelho do reino foi pregado até a rejei-
23.5; 33.15). Mateus registra: a genealogia de Cristo, ção e crucificação de Cristo, e será pregado nova-
seu nascimento em Belém, a cidade de Davi. de mente durante a Grande Tribulaçáo (24.14) e antes
acordo com Miquéias 5.2; o ministério do seu precur- da Segunda Vinda de Cristo como Rei. "As boas-
sor, segundo Malaquias 3.1; o ministério do Rei; sua novas que pregamos hoje são concernentes A salva-
rejeição por Israel, e as suas prediçôes de uma segun- ção por Cristo, e a chamada de um povo seu. Isto é o
da vinda em poder e grande glória. Evangelho da graça de Deus" (Lee).
Somente depois de ter apresentado Cristo como Mateus, Marcos, e Lucas são chamados os evan-
Rei é que Mateus volta á aliança anterior, relatando gelhos "sinóticos" (da palavra latina "Synopticos"
a morte expiatória do Filho de Abraão (Mt 26-28). "que tem forms de sinopse; resumido". Cândido de
Figueiredo), porque narram a vida de Jesus de modo
Essas considerações determinaram o propósito e
mais ou menos idêntico, e apresentam uma vista ge-
a estrutura de Mateus, que é, em primeiro lugar, o
ral dos incidentes mais notáveis. João, porque trata
Evangelho para Israel, e. extensivamente, pela mor-
do assunto com outro propósito e sob um outro pris-
te expiatória de Cristo, um Evangelho para todo o
ma, não é um dos evangelhos "sinóticoa". O título
mundo.
"sinótico" foi primeiro empregado por Griesbach (F
O livro divide-se em trés partes principais: W. Grant).
1. A manifestação de Jesus Cristo, Filho de Davi.
a Israel, e a sua rejeição (1.1a 25.46). As subdivisões A N A L I S E DE M A T E U S
desta parte são: a) a genealogia oficial do Rei, e seu
nascimento (1.1-25); b) a infância e obscurídade do 1. A preparação do Rei (caps. 1 a 4.16).
Rei (2.1-23); c) o reino que se aproxima (3.1 a 12.50); 1.1. A descendência do Rei (1.1-17).

309
'Matou

1.2. O advento do Rei (1.18 a 2.23). (Veja-se. porém, a nota explicativa de Lucas 3.23-
1.3. O embaixador do Rei (3.1-12). 38.)
1.4. A progressão do Rei (3.13 a 4 16». O nascimento de Jesus Cristo (18-25). Podemos
2. O programa do Rei (4.17 a 16.20). notar os seguintes fatos: a conceição milagrosa; o
2.1. O começo do Reino (4.17-25). propósito de José; a declaração do anjo; o* dois no-
2.2. O manifesto do Reino (caps. 5 a 7). me» do Filho; a obediência e a continência de Joaé.
2.3. Os sinais do Reino (eaps. 8 e 9). Aprendemos: que Deus tem poder para realizar
2.4. Os mensageiros e mensagens do Reino (caps. uma encarnaçào milagrosa; que uma resolução hu-
10 e 11) mana pode ser corrigida por uma revelação divina;
2.5. Os princípios do Reino (cap. 12). que uma profecia foi cumprida; que temos aqui o
2.6. Os mistérios do Remo (13.1-52). exemplo de um casal submisso à Palavra de Deus.
2.7. A ofensa do Reino (13.53 a 16.20). O versículo 23 refere-se a Isaias 7.14. Sobre este
3. A paixão do Rei (16.21 a cap. 28). versículo escrevemos no Velho Testamento Explica-
3.1. A revelação do Rei (16.21 a 17.27). do: "Sabemos de Mateus 1.21-25 que o completo e fi-
3.2. A doutrina do Rei (caps. 18 a 20). nal cumprimento desta estranha profecia deu-se
3.3. A rejeição do Rei (caps 21 a 22». com o nascimento de Cristo. Contudo, havemos de
3.4. A acusação do Rei (cap. 23). entender que. em algum sentido, houve um cumpri-
3.5. As predições do Rei (caps. 24 e 25). mento parcial e suficiente nos dias de Acaz para ser-
3.6. Os sofrimentos do Rei «caps. 26 e 27). vir-lhe de 'sinal' e provar a veracidade do profeta".
3.7. A vitória do Rei (cap. 28) - (Scrttggie).
Capítulo 2
A M E N S A G E M DE MATEUS
.4 visita dos magos (1-12). Não sabemos se eram
O propósito deste Evangelho é mostrar que Je- três. nem se eram reis. mas vemos que eram sábios e
sus. a quem os judeus crucificaram, era o Messias vieram do Oriente, guiados por uma estrela, tendo
predito, por isso abundam as referências ao V.T. em tido a revelação referente a um menino que havia de
número superior a oitenta, havendo mais de quaren- "nascer rei". Geralmente quem vai ser rei nasce
ta citações verbais. príncipe herdeiro.
A frase "que fosse cumprido"ocorre nove vezes, o Notemos• a perturbação • a oposição de Herodes,
mais nove vezes se encontram "cumprir" ou "cum- o Grande, que já estava reinando havia 40 anos na
prido". Judéia; a informação dos sacerdotes e escribas, ins-
Jesus nasceu de uma virgem, como foi predito truídos na verdade, mas indiferentes á sua aplica-
por Isaia» (Mt 1.23), nasceu em Belém, de acordo ção; a astúcia do rei; a homenagem doe magos e sua
com a profecia de Miquéias (Mt 2.5,6); desceu ao obediência ã ordem divina.
Egito, de acordo com Oséias (Mt 2.15): morou em Jesus não está mais na manjedoura da estala-
Nazaré, cumprindo a esperança (Mt 2.23). Deixou gem. mas em casa (v 11); e alguns entendem que já
Nazaré e foi morar em Cafamaum. para cumprir a tinha um ano de idade, e que Maria, depois de pas-
profecia (Mt 4.13-16); e Ele veio, não para destruir a sar 12 meses em Nazaré, estava de visita em Belém
Lei. mas para cumpri-la (Mt 5.17.18). Quando cura- pela segunda vez (v. 16).
va, fazia-o de acordo com a profecia (Mt 8.16,17), e F W. Grant observa que no versículo 6 os sacer-
seus discursos eram o cumprimento das Escrituras dotes e escribas não citam Miquéias 5.2 textualmen-
(13.10-15). te. pois trocam a palavra "reinar" por "pastorear".
A sua entrada em Jerusalém, a denúncia, a cap- Ele pensa que isso pode ser para reprovar o rei Hero-
tura no Jardim, a sua morte e a maneira pela qual se des. que estava muito longe de ser um pastor para
realizou, a sua voz na cruz, o seu enterro e a sua res- seu povo. Porém pode também ter sido para não
surreição, todos estes fatos se deram de acordo com pensar que qualquer outro reinasse em Israel senão
as Escrituras, para que fossem cumpridas. ele.
No monte da Transfiguração, o Pai testificou Aprendemos deste trecho: que neste mundo um
dele por citações tiradas das três partes das Sagra- poder maligno costuma opor-se ao Sumo Bem; que
das Escrituras: a Lei. os Profetas, e os Salmos, e. um governador iníquo pode ter receio de uma crian-
mediante essas mesmas Escrituras, Jesus derrotou o ça santa nascida "rei": que Jesus é digno da nossa
Diabo no deserto. adoração e nossas dádivas; que convém mais obede-
Tão intimamente estão ligados a vida e ministé- cer a Deus que a homens.
rio de Jesus à revelação do V.T. que para entender a A fuga para o Egito e a matança dos inocentes
Cristo é necessário conhecer as Escrituras do V.T.. e (13-18). Nestes dois capítulos um anjo do Senhor (A-
para entender essas mesmas Escrituras é preciso co- RA) fala três vezes a José - mas sempre em sonhos.
nhecer a Cristo. E desta verdade Mateus é o exposi- Na segunda vez (v.13) mandou-lhe fugir para o Egito
tor. "até que eu te diga "; assim mais uma profecia cum-
priu-se (Os 11.1).
Capítulo 1 Lendo em Oséias. o trecho parece, á primeira vis-
ta. não ter nenhuma referência ao Messias, mas
A genealogia de Cristo (1-17). Lemos aqui da des- quando examinamos a literatura judaica verificamos
cendência de Jesus desde Abraão; em Lucas, da sua que Êxodo 4.23. sobre o qual Oséias é baseado, "era
ascendência até Adão. Há algumas diferenças nos aplicado pela antiga sinagoga ao Messias" (E-
nomes citados nas duas genealogias. mas não pode- dersheim citado por Ingram).
mos reproduzir aqui todas as explicações que temos Herodes. irritado, manda matar os inocentes, e,
lido a respeito. A mais comum é que em Mateus te- inconscientemente, cumpre outra profecia (Jr
mos a genealogia de José. e em Lucas a de Maria. 31.15).

310
MãUm
Raquel, mulher predileta de Jacó, é aqui a figura João Batista, não podendo sugerir uma pessoa
de Israel. Alguns entendem que havia uma localida- em nome de quem batizasse o povo, apontou para o
de perto de Belém chamada Rama. arrependimento como centro espiritual dos piedosos,
Edersheim calcula que o número de meninos e falou de ou trem. que usaria outro batismo, não de
mortos por ordem de Herodes em Belém e arredores água. mas com o Espirito Santo e com fogo. Os cren-
poderia ser de uns 20. Um número relativamente pe- tes (o trigo), seriam batizados com o Espirito, e os
queno. em vista do grande número de assassinatos descrentes, a palha «futuramente), no fogo.
que esse rei mandou cometer durante seu longo rei- O embaixador do Rei{ 1-12). Leia o que Jesus dis-
nado. E na própria família mandou matar Hircano. se de Joáo Batista no capítulo 11.7-15. considerando
avô de sua mulher Mariana, depois a própria Maria- neste trecho: 1) G homem (1-4), notando com cuida-
na, seus dois filhos Alexandre e Aristóbulo, e, apenas do suas características. 2) Suo missão (5,6) que era
cinco dias antes do seu próprio falecimento, a seu fi- bastante limitada. Ele é chamado o "batista" por-
lho primogênito Antipater, e outros (Ingram). que seu trabalho era batizar. Paulo náo podia ser
Aprendemos deste trecho a escutar a voz divina, chamado o batista porque disse: "Cristo enviou-me,
que pode falar pela Sagrada Escritura ou pela voz do náo para batizar, mas para evangelizar" (1 Co 1.17).
pregador. Notemos que desde esses tempos muitos O batismo de Joáo náo era o batismo cristão (em
inocentes tém sofrido. Um ódio cego contra Cristo nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo), mas do
tem motivado muitas perseguições. arrependimento, a fim de "preparar o caminho do
"Será chamado nazareno" (v. 23). Estas palavras Senhor". 3) A sua mensagem (7-12). De acordo com
náo foram escritas por nenhum dos profetas, mas po- a dispensaçáo que ele representava, a mensagem não
diam ter sido ditas por algum deles. era de conforto, mas de aviso. Notemos as palavras
"Temos visto que foi dito pelos profetas que Cris- empregadas: víboras, ira. machado, fogo. palha,
to, durante seu ministério terreno, teria um nome de queimar. Estas não são palavras evangélicas, mas a
desprezo e opróbrio, e Mateus resume estas profecias Lei era uma preparação necessária ao Evangelho.
nas palavras figuradas mas corretas, será chamado Antes de poder haver conversão precisa haver con-
nazareno" (Neil). vicção (Scroggie).
Contudo pode ser preferível a emenda de tradu- Capitulo 4
ção "será chamado Renovo" (Zc 6.12), a palavra
hebraica "nezer". renovo, vara. sugerindo nazareno O conflito entre Cristo e Satanás (1-11). O dr.
Scroggie estuda este trecho assim:
Capitulo 3 1) Os combatentes no conflito: Jesus e o Diabo.
Sendo Jesus uma pessoa, não é razoável dizer que o
João Batista prega o arrependimento (1-12). Diabo é uma mera influência. E certo que o Diabo é
"João Batista é a única pessoa do N.T., exceto nossc uma pessoa.
Senhor, cuja obra foi predita no V.T. Em Isaías 40.3 2) O tempo do conflito. "Entào". Quando? De-
ele é a 'voz do que clama no deserto: preparai o ca- pois do batismo, da descida do Espirito, da voz do
minho do Senhor'. Em Malaquias 4.5 fala-se dele: Céu. Mas antes de Jesus entrar no seu ministério
'Eis que eu vos envio o profeta Elias, antes que ve- público.
nha o dia grande e terrível do Senhor'. O Senhor diz- 3) O propósito do conflito. Por.parte de Satanás.
nos em Mateus 11.14 que isto se refere a Joáo" tentar; pelo lado de Deus, provar. De um lado, uma
(Goodman). provação para derrotar Jesus: do outro lado, a prova-
Aqui Joáo Batista aparece de repente. Em Lucas ção para comprová-lo. Cada tentação é uma prova-
1 lemos a sua história anterior. Nos versículos 1-6 de ção, mas nem toda provação é uma tentação.
nosso capitulo temos um resumo do seu aspecto, ser- 4) A cena do conflito: L'm deserto. Lembremo-
viço e êxito. nos de que a primeira tentação se deu num jardim.
Comendo gafanhotos (v. 4). " O erudito e verda- Não há nenhuma circunstância em que nào possa-
deiro escritor Burckhard assim fala deste assunto: mos ser tentados. Não é mudança de lugar que ne-
"Todos os árabes habitando as vilas de Nejd e Hed- cessitamos para ganhar a vitória, mas mudança de
jaz comem gafanhotos. Tenho visto em Medina e coração. Adão caiu no jardim; Jesus prevaleceu no
Tayf lojas onde se vendem gafanhotos por medida. deserto.
No Egito, na Núbia, são comidos apenas pelos mais 5) A determinação do conflito. Jesus foi "condu-
pobres. Os árabes, para preparar os gafanhotos como zido pelo Espirito". Marcos diz que foi "impelido
alimento, põem-nos vivos a ferver em água em que pelo Espírito".
há bastante sal. Depois de alguns minutos tiram-nos 6) A duração do conflito Por 39 dias Jesus foi
e secam-nos ao sol. Então são tiradas as cabeças, acometido de perseguições diabólicas, mas o conflito
pernas e asas. Os corpos quando bem seco6 são pos- principal foi no quadragésimo dia. O que fazemos
tos em sacos. As vezes comem-se em manteiga" (The durante os 39 dias determinará nossa vitória ou der-
Land and the Book). (Veja-se Levítico 11.22.) rota no último e grande dia da prova.
O reino dos céus (v. 2) refere-se ao reino terrestre 7) O plano do conflito (Hb 4.15). A primeira ten-
prometido a Israel no V.T. sob o domínio do Mes- tação referia-se ao apetite; a segunda á ventura; a
sias. E o governo dos céus sobre a terra (Dn 2.44; Mt terceira à ambição.
6.10). Quando Israel rejeitou « u Rei, esse reino foi 8) O êxito do conflito. Jesus venceu! Os nossos
adiado até a sua volta gloriosa. Os crentes provam próprios conflitos com o mal resultam em vitórias?
desde já as bénçêos espirituais do governo de Cristo. derretas? ou indecisões?
"Fariseus, saduceus. escribas". (Veja-se no Pe- Podemos estudar este trecho de outra maneira,
queno Dicionário Bíblico.) usando as divisões:
Diz-se que o batismo com água (v.6,l3,etc.) era 1) O preparo para a tentação.
um rito usado pelos judeus quando faziam prosélitos 2) O poder contra a tentação.
dentre os gentios. 3) O proveito da tentação.

311
MãUiu

1) O preparo para a tentação começa: a) por não Características daqueles que podem ser súditos
negligenciar nenhum dever, mas "cumprir toda a do reino: Humildade (3), simpatia (4). mansidão (5),
justiça": b) por escutar a voz de Deus e pensar no retidão (6). misericórdia (7), pureza (8), tranqüilida-
bom prazer dele; c) por submeter-se á direção do de (9). lealdade (10-12). Estas não são qualidades
Espírito Santo; d) por um tal afastamento do mundo que os homens teriam escolhido.
que Deus seja o nosso único recurso. A palavra "bem-aventurado" repete-se nove ve-
2) O poder contra a tentação adquiri-se: a) pelo zes. Não quer dizer precisamente "feliz", mas antes
reforço espiritual que vem do conhecimento do amor útil. prestável. bem-sucedido na vida espiritual.
de Deus (3.17); b) pela dedicação que quer agradar Podemos tomar estas "bem-aventuranças" como
ao Pai antes de tudo; c) pela dependência que consi- quadro do progresso espiritual de uma alma:
dera o único e suficiente recurso; d) pelo conheci- Versículo 3 - O humilde de espirito ( V B ) talvez
mento da Palavra, e sujeição a ela: e) pelo desprezo nem sempre fosse assim antes de ter conhecimento
das riquezas e honras mundanas sem Deus. de Cristo, mas, tendo-se comparado com Ele, perdeu
seu orgulho próprio, reconheceu seu pecado, e arre-
3) O proveito da tentação pode ser: a) em uma pendeu-se.
compreensão mais viva da nossa dependência; b) em
Versículo 4 - Vai maiB além: chora o mal, e então
maior conhecimento do socorro divino; c) em maior
experimenta as consolações do Evangelho de Cristo.
confiança para enfrentar conflitos futuros.
Versículo 5 - Vemo-lo depois revestido de Cristo,
Cada um deve pensar: como costuma ser tenta- e "manso e humilde de coração". Cresce em graça e
do; por que tem sido vencido; como pode ser vence- no conhecimento de Deus.
dor.
Versículo 6 - Progride ainda na vida espiritual.
Aprendemos deste trecho: que depois de uma ex- Aprecia os valores verdadeiros: ambiciona, não pra-
periência espiritual (3.16), segue-se uma tentação zeres. riquezas, comodidades, mas justiça na sua
carnal; que as mais fortes tentações nos assaltam própria vida e em redor de si.
quando estamos sozinhos; que nem sempre ê o Diabo
que nos tenta (Tg 1.14); que a Palavra de Deus é o Versículo 7 - Ainda mais: pratica o bem, é mise-
nosso recurso; que não devemos pedir milagres des- ricordioso, é altruísta como era Cristo.
necessários: que o inimigo pode citar a Escritura; Versículo 8 - No íntimo da sua vida. ele é puro
que depois do Diabo vêm os anjos. em desejo, pensamentos e palavras.
Versículo 9 - Além disso, é ativo em promover a
Jesus inicia o seu ministério (12-25). No estudo
harmonia entre seus semelhantes, não olhando ape-
deste trecho podemos considerar:
nas os interesses próprios, mas cuidando dos interes-
1) O caráter do ministério de Jesus. Ele: a) prega- ses de Deus.
va o arrependimento, a fim de levar o povo a odiar o
mal; b) pregava o reino (veja-se Romanos 14.17), Versículo 10 - E mesmo quando mal-entendido,
para que o povo encontrasse o bem, submetendo-se perseguido pelos maus. ele não deixa de ser bem-
ao domínio divino; c) curava, para demonstrar o po- aventurado; e se a perseguição chegar ao ext remo e
der de Deus e a sua compaixão pelos sofrimentos hu- ele for morto, conta que o resultado será uma "me-
manos. lhor ressurreição" (Hb 11.35), a qual será a consu-
2) Os companheiros do ministério. Escolhendo mação da sua bem-aventurança.
companheiros. Jesus ensinou: a) que não é ideal tra- " O Rei anunciou a proximidade do seu reino, e
balhar sozinho; b) que o obreiro deve pensar em en- agora pronuncia as suas leis. Estas têm dupla aplica-
sinar outros obreiros; c) que convém aprender prati- ção: futuramente: depois do reino estabelecido; e
camente; d) que Deus prefere chamar gente ocupa- agora, de algum modo, ao cristão da atualidade"
da, e não os ociosos; e) que para servir a Jesus pode (Gray).
ser necessário deixar alguma coisa; 0 que a obediên- Antes de enunciar os preceitos do reino, «Jesus
cia á chamada divina deve ser imediata (v. 22). aponta os que poderão gozar do seu governo. "Bem-
3) As conseqüências do ministério: a) luz, para aventurado" não é o mesmo que "feliz", como o
quem estava nas trevas e na sombra da morte; b) versículo 4 nos mostra. Significa ser enriquecido por
saúde, para os doentes; c) serviço, para os discípulos Deus. e esse enriquecimento é no caráter, não nas
(v. 19). possessões. Ê " o que sou", e não " o que tenho", que
Perguntas: Que significa para nós o ministério de me torna verdadeiramente enriquecido ou bem-
Jesus? Porventura obtivemos dele nova saúde espiri- aventurado (Goodman).
tual? Temos ouvido a sua chamada ao serviço? O
Os pobres de espírito são os que, em vez de
que temos deixado para o seguir?
quando o " e u " é ofendido, ocupam-se mais coro a
honra do Rei. Os que choram, os que lamentam, não
Capítulo 5 tanto os prejuízos pessoais, mas a perversidade que
há no mundo. Os mansos, os que. em vez de se ofen-
O sermão da montanha: o manifesto do Rei (1- derem. sabem responder brandamente. Os que
16), no qual se nos diz quem são os súditos do reino, amam a justiça e a praticam são os que praticam a
quais as suas verdades fundamentais, e como se en- misericórdia em obras de caridade. Os puros, os que
tra nele. (Lucas também registra este sermão, mas podem esperar mais clara compreensão de Deus. Os
dos 107 versículos citados por Mateus ele menciona pacificadores, os que sabem acalmar as contendas.
apenas 30.) Os perseguidos e injuriados por amor de Cristo, são
Os súditos do reino, seu caráter e sua influência os que nada têm aqui, mas esperam um futuro galar-
(3-16). Caráter e influência são intimamente ligados, dão.
pois a influência não pode ser melhor do que seu ca- Vemos nos versículos 13-16 que os crentes são se-
ráter. O que somos é sempre mais importante do que melhantes ao "sal", á "luz", e a uma "cidade". O sal
o que fazemos. conserva da corrupção, e a luz descobre e manifesta;

312
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uma cidade é um centro de cooperação, harmonia, e Capítulo 6


governo, e, colocada sobre um monte, é bem visível.
Sal que perde seu valor. "Um negociante de Si- Avisos contra a hipocrisia (1-18). no que diz res-
dom, havendo obtido do governo o monopólio do sal. peito a:
trouxe uma quantidade imensa dos pântanos de 1) Esmolas (1-4): aqui a coisa principal é o moti-
Chipre, e alugou sessenta e cinco casas na aldeia de vo. que pode ser egoísta, mas deve ser espiritual.
June para armazenar o sal. Estas casas não tinham 2) Oração (5-15). que pode ser motivada pela os-
soalhos. e em poucos anos o sal depositado no chão tentação (5.6). e por repetições vãs (7.8).
perdeu seu sabor. Vi uma grande quantidade atirada A oração modelo, que podemos chamar "Oração
à rua e pisada pelos homens. Semelhantes armazéns dos Discípulos" (porque Jesus lhes ensinou), é uma
são comuns na Palestina desde tempos remotos" oração perfeita, visto que contém: adoração, confis-
(The Land and the Booh). são. petição, intercessão. ações de graças (9-13).
Cristo e o Velho Testamento (17-30). Ele veio dar 3) Jejum (16-18). Sobre o jejum podemos consul-
cumprimento e atualidade às sombras e às figuras do tar Isaías 58.3-7.
V.T. Também veio para dar uma interpretação mais Diz o dr. Goiniman: "Jejuar é negar-se a si mes-
espiritual aos preceitos da Lei. como vemos, por mo para a glória de Deus ou para a disciplina do pró-
exemplo, no versículo 28. prio coração. Não é uma observância religiosa ou
Versículo 20. A nossa justiça deve exceder a dos uma demonstração de piedade".
escribas e fariseus no seguinte: Avista contra o materialismo (19-34). Aqui temos
1) Não sendo somente uma pratica exterior, mas quatro:
nascendo do coração. 1) Contra a acumulação de bens materiais (19-
2) Não sendo para obter honra dos homens, mas 21), com desprezo de valores espirituais.
para servir a Deus. 2) Contra a falta de sinceridade (22,23). Singele-
3) Não sendo limitada por nossos gostos, mas za de propósito é luz; duplicidade é trevas; sinceri-
obedecendo toda a vontade de Deus. dade é saúde: insinceridade é doença.
4) Não sendo apena» ocasional, mas sim hábito, 3) Contra um coração dividido (24).
regra da nossa vida (Goodman;. 4) Contra a ansiedade (25-34). com respeito a
Nos versículos 21,22. "réu de juízo" refere-se a duas coisas comuns, alimento e vestuário.
um tribunal inferior em cada cidade, de 23 Os versículos 25-34 ensinam confiança na prote-
membros, que punia os criminosos por estrangulaçáo ção do Pai. • contemplam o homem cuja primeira
ou decapitaçáo. "Réu do smédrio" refere-se ao tribu- ocupação é "o reino de Deus e a sua justiça". Aos
nal superior de 72 anciãos, que aplicava a pena de tais Jesus declara que suas necessidades materiais
apedrejamento. serão supridas. A maneira, Ele não a explica.
Ê preciso não "espiritualizar" o versículo 25, fa- O versículo 28 deve ser traduzido, provavelmen-
zendo o "adversário" uma figura de Deus! E mais te: "Considerai os lírios do campo: não cardam nem
prudente tomar as palavras ao pé da letra, com a sua fiam ".
evidente aplicação às experiências desta vida.
Os versículos 29.30 empregam a linguagem enér- Capitulo 7
gica do Oriente, que, como é evidente, não se deve
entender ao pé da letra, porque todos compreendem Não julgueis (1-6). O que aqui é reprovado não é
que o culpado não é o olho ou a mão, mas o coração o discernimento sensato e necessário, mas uma incli-
perverso que desejou tal pecado. nação para a censura, que é condenada por dois mo-
A base das boas relações sociais (27-48). Neste tivos: porque prejudica o próprio caráter (1.2) e im-
trecho certos males são reprovados: adultério (27- pede-nos de servirmos aos outros (3-5). A ilustração
30); divórcio (31,32); imprecaçôes (33-37); represá- do argueiro e a trave é penetrante e humorística.
lias (38-42); ódio (43-48). Pretender que não possa haver ministério que remo-
O trecho contém também ensino sobre a conduta va os argueiros. é um erro. O que o Senhor diz é que
cristã, e descreve: quem tiver trave no próprio olho não pode ver clara-
mente para tirar o argueiro do olho de outro. Quando
1) O caráter da conduta do crente - é submisso julgamos pequenas as nossas próprias culpas é certo
(39); é bondoso (40); é altruísta (40); é prestável. e que havemos de pensar que as dos outros são grandes
empresta, embora evite tomar emprestado, para (Scroggie).
nada dever a ninguém (Rm 13.8); é beneficente, não
somente aos bons mas também aos maus. e diz bem Nossas "pérolas", no versículo 6. podem ser as
até aos maldizentes; é dado á oração, pedindo pelos preciosas verdades que somente os crentes têm capa-
amigos e inimigos, desejando a sua felicidade espiri- cidade para apreciar. Por exemplo, o parentesco es-
tual. piritual que une a família de Deus. Mas temos ouvi-
do alguém, conversando com descrentes, falar-lhes
2) O padrão da vida do crente é "como faz tam- do "irmão Fulano". Para o mundo esse Fulano nâo é
bém o vosso Pai" (v. 45). "irmão", mas um cidadão.
3) A recompensa da conduta do crente será prin- Oração (7-12). Notemos quanto se trata deste as-
cipalmente em ter a aprovação de Deus; também sunto no sermão. A oração deve ser sincera, confia-
sentirá a íntima satisfação em ter procedido bem - a da, definida, perseverante.
aprovação da própria consciência, e, ainda mais, Caráter e destino (15-23). O manifesto do Rei
pode ver o fruto imediato na apreciação que seus vi-
(caps. 5 a 7) fala de três coisas, a última das quais se
zinhos hão de manifestar.
considera neste trecho. Elas são: os súditos do reino
Sobre a recompensa, devemos estudar com cui- (5.1-16); a doutrina do reino (5.17 a 7.6); o caminho
dado Lucas 6.35,38. Ê sempre verdade que "com a para o Reino (7.7-29). Sob este último título temos
medida com que medirdes, também uos medirão". direçõe* (7-14) e avisou (15-29).

313
Aprendemos dos versículos 15-20 que devemos d) Um homem que reconhecia as limitações dos
conhecer os "profetas' pelos "frutos" do seu ensino e médicos.
exemplo. Quando qualquer ensino novo produz dis- e) Um homem acostumado a acreditar em pode-
córdias entre os crentes, aniquila a espiritualidade res sobrenaturais.
dos adeptos, diminui o amor e a caridade, promove Este homem, havia muito ou pouco tempo, ouvi-
discussões e contendas, podemos saber que quem o ra falar de Jesus. Soubera das curas maravilhosas
traz é "falso pnjfeta " que Ele fazia. Talvez tivesse ouvido alguma coisa
A prova do verdadeiro servo de Deus ê que ele faz dos seus ensinos. Podia tê-lo visto e ficado impressio-
a vontade do Pai (v. 21). O Senhor gostava de ensi- nado pelo seu aspecto benévolo.
nar por contrastes; o sermão termina com três: cami- 2) Quando estava com Jesus o centurião:
nho largo e caminho estreito; árvore boa e árvore a) Mostrou-se respeitoso: rogou-lhe.
ruim; fundamento de rocha e fundamento de areia. b) Mostrou-se humilde: disse: "náo sou digno".
Os dois alicerces (24-29). O ensino de Jesus é c) Mostrou-se confiado: pediu uma cura imedia-
para ser posto em prática. Quem basear seu caráter ta.
sobre as verdades do Salvador, suportará as tempes- d) Mostrou-se contente com pouco: pediu apenas
tades e as provações. "uma palavra" da boca de Jesus, porque tinha fé
Podemos notar que a palavra grega traduzida que seria suficiente.
"combater" no versículo 25 não é a mesma do versí- e) Mostrou-se obediente. Quando Jesus lhe disse
culo 27. Contudo, o dicionário não faz muita diferen- "Vai, e como creste te seja feito", ele foi. e achou o
ça no sentido dessas palavras servo curado.
Jesus "ensinava como tendo autoridade, e náo f ) Mostrou-se piedoso: amava a Israel e fizera
como os escribas" (v. 29). Os homens necessitam uma sinagoga para os judeus seus vizinhos (Lc 7.5).
comprovar as suas afirmações, citando documentos Notemos que os judeus disseram "ele é digno" e ele
ou autoridades competentes. Jesus podia afirmar mesmo disse "náo sou digno".
sem necessidade de comprovantes. Vemos que Lucas conta o caso diferentemente;
diz que o centurião. em vez de ir ter com Jesus, man-
Capítulo 8 dou alguns anciãos dos judeus com o recado. Depois
ele mandou uns amigos, dizendo: "Senhor, náo te in-
Lepra, paralisia e febre (1-17). Podemos notar comodes, porque não sou digno de que entres debai-
que, até o capitulo 8 de Mateus, não lemos de ne- xo do meu telhado" (Lc 7.6).
nhum milagre de Cristo, e então temos sete. um após Podemos acreditar que ambas as narrativas di-
outro, nos capítulos 8 e 9. zem a verdade. Que depois de mandar os anciãos e
Depois das leis do reino (caps. 5 a 7) temos aqui amigos o homem mesmo foi ter com Jesus.
as credenciais do rei em obras milagrosas. 3) Depois de estar com Jesus:
Neste capítulo e até o 9.8. encontramos um grupo a) O centurião achou saúde e satisfação, em lugar
de curas milagn»sas que servem para ilustrar mila- de sofrimento e enfermidade.
gres semelhantes no mundo espiritual. Vemos que o b) O centurião valeu-se novamente dos serviços
pecado contamina (1-4), incapacita (5-13), perturba do bem-estimado empregado.
(14-17), endemoninha (28-34), etc. c) O centurião teve preciosas recordações da en-
Notemos que o contato com Cristo importava. trevista com Jesus sua simpatia e interesse; sua voz
2ntáo, como ainda hoje importa, em bênção para to- carinhosa; seu sereno poder: sua palavra autorizada;
dos. seu olhar benigno; seu discernimento e apreciação
A dúvida do leproso curado (v. 2) era referente à da fé e tudo isto ele teria perdido se não tivesse mu-
.-ontade de Cristo. Em Marcos 9.22, a dúvida é do dado de propósito e ido pessoalmente ter com Jesus.
seu poder. d) 0 centuriáo tem servido de exemplo e inspira-
" A oferta do leproso curado está determinada em ção a milhares através dos séculos, que têm imitado
Levítico 14. Abrangia um ritual elaborado. Tinha, a sua fé. que têm recorrido a Jesus para achar a sal-
como se observa, um sentido típico. Acompanhando vação desejada.
até o templo este leproso favorecido por Cristo, e ob- A sogra de Pedro (14-17) é um exemplo do lema
servando a cerimônia, aprendemos como o pecado "salvo para servir".
pode ser expiado, o pecador santirícado e recebido Praquezas humanas (18-34). Os versículos 18-22
entre o povo de Deus" (Goodman). ensinam-nos que o caminho de serviço pode ser o ca-
O testemunho do homem curado devia estar de minho de sacrifício.
acordo com a lei de Deus e náo com u vontade pró-
Seguir a Cristo importa ter fé: isto é, ter tanta
pria (v. 4).
confiança nele que desejamos partilhar da sua sorte,
O centurião crente (5-13) e com Ele ficamos contentes, quaisquer que sejam as
1) Antes de estar com Cristo podemos acreditar conseqüências.
que o centurião era:
a) Um homem disciplinado. Tinha chegado ao Neste trecho descobrimos:
grau de capitão no exército romano depois de alguns 1) Decisão apressada: "Mestre, onde quer que fo-
anos de disciplina militar. Estava acostumado com a res. eu te seguirei" (v. 19). Quando a pessoa está
ordem, pontualidade, obediência, prontidão, vigi- emocionada, a carne apressa-se a agir. A boa semen-
lância, e a convivência com companheiros igualmen- te é recebida com gozo mas, náo tendo raiz, murcha.
te habilitados. Por isso o Senhor adverte o discípulo apressado nc
b) Um homem acostumado a mandar e ser obe- versículo 20.
decido. 2) Obediência adiada. Aqui temos um caso dife-
c) Um homem caridoso, ao menos para com os rente: "Permite-me que primeiramente..." Para o
empregados. cristão. Cristo deve ser o primeiro de tudo.
"Mateus

3) Pouca fé. É uma coisa estranha que a "grande deitado, inútil, ele se levanta e anda. c) A mudança
f é " se encontra num gentio (v. 10) e a "pouca f é " nos na sua vida impressionou os vizinhos.
discípulos na companhia do Senhor (v. 26). Pouca fé A vocação de Mateus (9-13) ensina: que Jesus
liga-se com grande medo. chama a quem conhece (Rm 8.29,30); que a chama
4) Obsessão diabólica Aqui vemos o pecado na da de Jesus pode resultar em mudança de emprego;
sua expressão mais terrível. Os endemoninhados, que uma pessoa chamada por Jesus pode querer "fa-
um perigo para os outros e uma tortura para si mes- zer-lhe um grande banquete" (Lç 4,29); que Mateus
mo» (v. 28). era um dos doentes que necessitava de médico.
Notemos que Mateus fala de dois endemoninha- "Misericórdia quero e náo sacrifício" (13). O Se-
dos. Marcos e Lucas de um. Também em 20.30 há nhor cita duas vezes Oséias 6.6; aqui com referência
dois cegos, e nos outros evangelhos um. E de enten- a Ele comer com publicanos e pecadores (v. 13), e em
der que Marcos e Lucas se referem em cada caso Mateus 12.7, quando os fariseus se queixaram que os
apenas ao mais destacado. discípulos violavam o sábado ao comerem espigas.
Neste capitulo encontramos a frase "Filho do ho- O que Deus. em Oséias. pede de seu povo náo é
mem" que Jesus emprega a seu próprio respeito sacrifício e oferta queimada, mas misericórdia e o co-
umas 80 vezes. Não devemos pensar que isso signifi- nhecimento de Deus. E a mesma verdade que Sa-
que "filho de um homem", porque Jesus não o era. muel ensinou ao rei Saul: "Obedecer é melhor do
Provavelmente é uma alusão a Daniel 7.13, e tam- que sacrifício, e o atender do que a gordura de ove-
bém quer frisar o fato de que Jesus participou da lhas".
verdadeira humanidade. Jesus nunca falou de si Porém Jesus, nos dois trechos, dá às palavras
como "filho de Israel". uma conotação diferente; ambas as vezes emprega-
Parece certo que a localidade deste milagre foi as com o seguinte sentido: "Eu, o Senhor, desejo
Gergesa, como diz Mateus e não Gadara, como tra- mostrar-vos misericórdia, e náo exigir sacrifícios"
duzido em Marcos e Lucas. O nome do lugar hoje é (Goodman).
Kersa ou Gersa. O assunto é plenamente discutido Sobre o jejum (14-17). Este trecho dá-nos a idéia
no "The Land and the Book" p. 371. de que jejuar é semelhante a "estar de iuto" por um
Salvador, um esposo, tirado deste mundo por uma
Capítulo 9 morte violenta.
O novo ensino do Evangelho náo veio para re-
O para lírico de Cafamaum (1-8). Tem-se dito mendar o velho judaísmo (v.16).
com razão: "Se a vossa religião náo é suficiente para .4 filha de Jairo e a mulher com fluxo de sangue
vos impedir de pecar, por que pensar que é suficiente (18-26). Este caso é relatado mais detalhadamente
para salvar a vossa alma de perecer?" Ê essa a lição por Marcos e Lucas. Eles contam que o nome do pai
que podemos aprender do incidente do homem pa- da criança era Jairo. que a menina tinha 12 anos e
ralítico. Aquele que perdoa os pecados é o mesmo que Jesus mandou que lhe dessem de comer.
que nos manda andar em novidade de vida (v. 6). Se A cura desta mulher vem no meio da história da
não ando direito, por que pensar que meus pecados filha de Jairo. Marcos e Lucas também relatam a
estão perdoados? A reconciliação pelo sangue vem sua cura.
sempre acompanhada da regeneração (pelo poder di- Estas curas seguem o trecho sobre o jejum. Delas
vino). Em palavras simples: o pecador perdoado aprendemos coisas preciosas: que Jesus atende à
sempre anda em novidade de vidia (Goodman). chamada da fé: que Ele corresponde à confiança do
A cura do paralítico ensina duas lições: que a fé necessitado (v. 21); que a simpatia acompanha o seu
dos amigos pode cooperar na salvação de alguém, poder (22) que Jesus, às vezes, exige fé da parte de
trazendo-o a Jesus, e que o perdão dos pecados tem quem Ele vai curar (28) e outras vezes náo (8.28-32).
intima relação com a cura do corpo (Tg 5.15). Dois cegos e um mudo curados (27-34). Notemos
Os construtores de casas podem estranhar o fato a expressáo "Seja-vos feito segundo a vossa fé" (v.
de se ter feito, rapidamente, um buraco no telhado 29). Toda bênção é segundo a medida da fé (Rm
suficiente para baixar uma cama com um doente. O 12.6). Se trouxermos um copo pequeno ao oceano da
caso não é explicado, porque não tem interesse espi- graça, será cheio. Se trouxermos um maior, não ha-
ritual. Não é impossível que um dos quatro amigos verá falta. Deus náo é limitado. Nós o limitamos,
tenha sido pedreiro, e. sabendo que o telhado estava trazendo a nossa pequena vasilha. Porventura cre-
em obras de renovação nesse dia. tenha podido fazer mos que Ele pode? (28). Cremos que pode mais do
um grande buraco com rapidez. (Consulte-se tam- que pedimos ou pensamos? (Goodman)
bém a explicação de Marcos 2.1-12.) .4 seara e os ceifeiros (35-38). Notemos que a sea-
Na Escola Dominical estudamos o incidente as- ra: a) só vem depois da sementeira; o evangelista
sim: lida com gente em cujos corações o Espírito Santo já
1) Os amigos do paralítico. Notemos que: a) mui- tem operado. (Como...? Jó 33.14-22); b) é uma obra
tas vezes alguém (ou alguns) se empenha em le- grande, que necessita de grandes recursos espirituais
var-nos a Jesus; b) os amigos eram persistentes, e e materiais, de grande entusiasmo, abnegação, pa-
venceram as dificuldades (Mc 2.4). ciência; c) é um serviço que deve ocupar as nossas
2) O passado do paralítico: a) Sua doença era re- orações (v. 38).
sultado dos seus pecados, b) Ele necessitava de per-
dão quanto ao passado antes de obter saúde para o Capitulo 10
presente, c) Jesus (e somente Ele) podia e pode per-
doar. Os discípulos, os ceifeiros: a) Seu preparo: "orde-
3) A cura do paralítico: a) Seu contato com Jesus nou aos doze que estivessem com Ele. para que os
deu-lhe uma nova saúde, b) O mandado de Jesus mandasse a pregar" (Mc 3.14). b) Seu poder resultou
deu-lhe uma nova direção na vida: em vez de ficar do seu contato imediato com Cristo, c) Sua mensa-

315
"Mateus

gem: o reino de Deus <Rm 14.17). di Seu serviço: cu- vida nessas condições, mas o Senhor a considera "a-
ras milagrosas (podem ser comparadas com as curas chada".
milagrosas de hoje), e) Seu prêmio (v. 32). Propostas emendas de tradução: No versículo 10
Notemos que agora é que se fala pela primeira em vez de "alfttrges" ler "soco de mendigo" (J. 237).
vez de apóstolos, ou "enviados" (v. 2), cujo ministé-
rio seria o de anunciar, somente a Israel, que o reino Capitulo 11
estava próximo. Os poderes referidos nos versículos 1
e 8 acompanhavam esta pregação do reino. Os "dig- João Batista (1-19). Um ministério que termina
nos" (v. 11) eram os que esperavam o Messias pro- encontra um ministério que começa (1-3). O recado
metido. O Evangelho da graça de Deus é pregado ho- de João Batista revela certa decepção. O reino não se
je. nào aos dignos, mas a todos (Gray). manifestou tal qual ele esperava.
A expressão "nem alforges para o caminho" (v. Jesus aponta alguns dos benefícios mais eviden-
10) refere-se ao costume dos religiosos ambulantes tes do seu próprio ministério (4-6) e depois (7-19) dá
de então de ievarem ura saco para receber os donati- testemunho da nobreza espiritual do profeta que ja-
vos dos fiéis. Não importa em uma proibição ao zia na mas morra de Herodes.
evangelista hoje de levar a sua mala ou capoteira Notemos algumas das características que tornam
contendo a muda de roupa. João Batista um grande profeta:
Podemos notar os seguintes pontos referentes aos a) Seu caráter intransigente.
doze apóstolos: b) Seu oficio exaltado; mais que profeta: um pre-
9.38 - Seu preparo: oração. cursor de Cristo.
10.1 - Seu fornecimento: poderes sobrenaturais. c) Seu alto privilégio: o de ver os céus abertos
2-4 - Sua companhia: dois a dois. sobre Jesus.
5-6 - Seu objetivo: a casa de Israel. d) Sua maravilhosa mensagem em chamar uma
7-8 Seu ierviço: pregar, orar. purificar, expul- nação ao arrependimento, e apontar o Messias.
sar. tudo gratuitamente. e) Seu paciente sofrimento às mãos de Herodes.
9-15 - Seu sustento, fornecido pelos "dignos". f ) Sua morte de mártir.
16-25 - Seus pcrijiof açoites e prisões, "Contudo, quem é menor no reino, é maior do
26-27 - Seu testemunho: público, corajoso, de que ele. Quem. mediante o renascimento, entra na
acordo cora o que ouviram de Jesus. nova criação é maior que o melhor doe anteriores, as-
28-32 - Sua proteção: os cuidados do Pai. sim como nenhum membro do reino animal é com-
33-39 - Seu conflito: às vezes com os próprios pa- parável a outro da raça humana" (Goodman).
rentes. Alguém pode pedir ainda mais explicação do
40-42 - O galardão de quem recebe um discípulo versículo 11, "aquele que é o menor do reino dos céus
de Cristo é amplo, é de acordo, e é garantido pelo é maior do que ele."
próprio Deus. Traduzimos o seguinte: " N o que diz respeito aos
Os expositores concordam em entender que é privilégios, o menor crente nesta dispensaçáo é
Deus que pode destruir no Inferno a alma e o corpo maior que o chefe da dispensaçáo anterior. A dife-
Cv. 28). rença é determinada pela distância entre o Evange-
Uma exigência estupenda (v. 37>. "Ninguém que lho e a Lei" (Scroggie.)
não fosse Deus teria o direito de fazer tamanha exi- Podemos fazer uma relação dos pontos de supe-
gência. Colocar-se acima de pai. mãe. filho, filha, rioridade do cristão de hoje ao maior dos profetas da
na» nossas afeições, seria absurdo se partisse de um velha dispensaçáo. Ele descansa numa obra redento-
mero homem. Que o Senhor Jesus faz tal exigência é ra consumada; conhece a Deus como Pai bondoso,
uma prova da sua divindade, porque somente Deus revelado em Cristo; no seu serviço tem parte no jugo
pode colocar-se acima de pai ou mãe nas nossas afei- de Cristo: tem a esperança de um glorioso porvir na
ções. Que se fizesse tal exigência é um fato extraordi companhia do seu Salvador, etc.
nário, porém mais extraordinário ainda é que todo
cristão a considera razoável e justa, e que milhares a "Pode haver duas interpretações do versículo 12,
tém obedecido. uma exterior e outra interior. Na primeira, os inimi-
gos de Jesus e -João são os 'violentos' que violenta-
Mas há compensações: mente rejeitam o reino; na segunda, os 'violentos'
a) Perder a vida por amor de Cristo é achá-la são aqueles que apesar de oposição, se esforçam para
(39). entrar nele" (Gray).
b) Receber a Cristo é receber o Pai (40). Mas o dr. Bullinger prefere a tradução: "Desde os
c) Há galardão futuro pelo menor ato de serviço dias de João Batista o reino de Deus se impõe [ao po-
de amor (42) (Goodman) vo 1 e os enérgicos lançam mão dele".
A palavra traduzida "vida" (v. 39) é a que sem- Notemos o testemunho que Jesus dá de João Ba-
pre se emprega para "alma". A alma é a própria pes- tista:
soa. O homem é uma alma (Gn 2.7; 1 Co 15.45). Ele
"a) Mais que profeta. Fala dele como "Meu men-
tem um corpo, pelo qual está em contato com seus
semelhantes, e um espirito, pelo qual se relaciona sageiro". um precursor para anunciar a sua vinda.
com Deus. "b) Não era uma cana abalada pelo vento; não
Perder a alma (vida), como em Mateus 16.25. é era nenhum volúvel, e sim um espírito forte.
perder-se a si mesmo; falhar no propósito para o qual "c) O maior dos que têm nascido de mulher, por
a vida nos foi dada, sendo lançado fora como inútil. isso o maior dos homens, a não ser, talvez, Adão, o ú-
"Achar a vida" (39) é viver para si mesmo e assim nico que não nasceu de mulher.
perder a verdadeira "vida". "Perder a vida" por "d) Elias. Isto é, nele se cumpriu a profecia de
amor de Jesus é negar-se a si mesmo, gastando a Malaquias 4.5, como está confirmado em Lucas
vida toda por Ele. 0 mundo considera perdida uma 1.17" (Goodman).

316
"Mateus

Soberania divina e responsabilidade humana pessoa divina importa mais do que uma ordenança
(20-30). Do equilíbrio destas duas coisas depende a (v.8).
balança da verdade. O ensino de nosso Senhor con- Em que sentido é Cristo Senhor do Sábado? -
serva perfeitamente este equilíbrio. Cada alma remi- 1) Porque Ele o criou; 2) Porque Ele podia abolir o
da di a glória a Deus. Cada alma perdida sabe que é sétimo dia de obrigação legal para dar lugar ao pri-
responsável por sua escolha pecaminosa. meiro dia, de guarda voluntária, caracterizado pelo
Somos convidados a vir a Jesus para três fins: gozo e culto que resultam da sua ressurreição (Good-
a) Para descansar, o que importa em descanso da man).
consciência, da culpa do pecado: descanso da mente, A mão mirrada (9-21). Notemos: que Jesus que-
do receio de castigo; descanso da vontade, do domí- ria obrigar os adversários a fazer uma apreciação
nio e tirania do pecado; descanso do coração no amor mais espiritual da lei do Sábado; que. antes de obter
de Cristo. a salvação de Deus. talvez seja necessário expor o
b) Para tomar seu jugo. isto é, submeter-nos em mal (v. 13); que aqui temos o motivo por que Jesus
obediência à sua disciplina. A liberdade, temo-la so- proibiu publicar as suas obras milagrosas (v. 16-20);
mente na submissão. que Cristo havia de ser a esperança, não 90 de Israel
c) Para aprender dele, pois em salvar-nos o Se- mas de todo o mundo (v. 21).
nhor propõe santificar-nos. Nossa tríplice bem- [Sobre o pecado imperdoável (32) consulte a ex-
aventurança está em achar descanso nele, prestar- plicação de Marcos 3.28-30.]
lhe obediência e ser conforme à sua semelhança " A blasfêmia contra o Espírito Santo é essa per-
(Goodman). versa e obstinada recusa do seu testemunho a Cristo
Deste capítulo aprendemos que podem acontecer como Senhor e Salvador, que nasce de um coração
coisas que desanimam o servo de Deus (v. 3), mas mau, expressando a sua inimizade contra Cristo em
Jesus convida a tomar sentido do seu poder, e espe- palavras que difamam o bendito Filho de Deus"
rar ( w . 4-6). Que Ele pode discernir grandeza apesar ( Goodman).
de haver um aspecto humilde (v. 11). Que Ele repro- " A misericórdia não mais podia ser mostrada
va o espírito queixoso ( w . 16-19). Que trabalhar com onde o poder do Espírito de Deus tinha sido manifes-
Ele é uma ocupação "suave e leve". tado, mas atribuído a Satanás. Esta blasfêmia era
O grande convite do Evangelho é um tríplice ape- mais do que uma incredulidade ignorante: era uma
lo: "Vinde a mim; tomai meu jugo; aprendei de aberta e consciente oposição a Deus e a tudo que é de
mim". Abrange toda a extensão da vida cristá: sal- Deus. Uma palavra falada contra o Filho do homem
vação - serviço - santificaçáo. podia ser perdoada; o lugar humilde que Ele tomara
Proposta emenda de tradução (v. 23 - V.B.). Pre- podia ocultar a sua glória dos olhos dos homens car-
ferir Almeida: "E tu, Cafarnaum, que te ergues até nais; mas havia aqui aquilo que precisava ser reco-
aos céus" (R. 54). nhecido e que não podia ser ocultado. O ódio mani-
festado por pessoas esclarecidas não podia ser per-
doado. Os judeus esperavam misericórdia mais am-
Capítulo 12 pla na época vindoura - no dia do Messias - do que
na então presente época da Lei; mas esse seu pecado
Cristo e o sábado (1.8). F. W. Grant, na exposi- não podia ser perdoado, nem nesta época nem na
ção deste trecho, chama atenção para o caráter da lei vindoura" (Grant).
do sábado nos dez mandamentos. Um dia de descan-
so depois de seis dias laboriosos era concedido a Is- Os frutos revelam a árvore (33-37). Jesus, mais
rael como privilégio: o sinal da aliança entre Israel e que ninguém, podia submeter-se a essa prova, como
Jeová (Êx 31.17). Náo era baseado nos eternos também podia reprovar os fariseus, porque o fruto
princípios da moralidade como os outros manda- que produziam revelava a perversidade de seus cora-
mentos; seu caráter era mais cerimonial que moral, e ções.
o privilégio do descanso semanal poderia perder-se, O sinal de-tonas (36-42) Jesus aponta trés teste-
caso fosse violada a aliança. O Senhor "expõe toda a munhas: Jonns, os ninivitas. e a rainha de Sabá. que
condição do povo perante Deus. mostrando que devi- presenciaram o poder e graça de Deus e creram.
do á sua descrença nele, o Senhor do sábado, os ju-
deus, rejeitando-o, perderam o direito ao sábado." A casa desocupada (43-45). O ensino dos versícu-
los 39 a 45 é dirigido a "uma geração má e adúltera ".
Davi. o rei ungido, mas rejeitado, tinha necessi-
Sobre a palavra "geração" F. W. Grant diz: "Gera-
dade de pão. e a aliança, com seus privilégios e ceri-
ção na Escritura muitas vezes se emprega com uma
mônias, estava suspensa, devido ã rejeição do ungido
aplicação moral mais do que um sentido cronológico
do Senhor. Por isso o pão consagrado era. num senti-
- uma sucessão de pessoas com as mesmas carac-
do. comum. Quanto mais quando o an ti tipo de Davi
terísticas morais (veja Salmo 12.7). Sem dúvida é
estava no mundo, mas rejeitado, e eles estavam ocu-
este o sentido aqui.
pados com a santidade do dia de descanso que Deus
lhes tinha dado! Como podia o sábado permanecer " N a parábola da casa desocupada, trata-se de
para aqueles que rejeitaram o Senhor do sábado? uma pessoa que já está desiludida do inimigo das al-
Não convém introduzir em nosso estudo do sába- mas. mas que ainda não se chegou a Deus; afastou
do judaico pensamentos referentes á guarda pela aquele, porém náo acolheu este. Na nossa revolta
igreja cristã do primeiro dia da semana, tão clara- contra o erro. se não dermos entrada à verdade, é
mente ensinada em outros lugares do N.T. certo que o erro voltará reforçado" (Scroggie).
Deste incidente aprendemos: que sempre exis- A família de Jesus (46-50). O Senhor foi rejeitado
tem pessoas dispostas a criticar as ações dos discípu- até pela própria família (Mc 3.21). Por isso Ele não
lo» de Cristo; que o» incidente» do V.T. podem ter atende è chamada, mas fala de uma nova parrotela
valor para a nossa instrução na atualidade; que uma espiritual (Gnxy).

317
Prvposta emenda de tradução. No versículo 40. como, por exemplo, o grande mistério da piedade (1
ler "grande peixe" como na V.B. e não "baleia" Tm 3.16); mas a fé regozija-se no fato revelado, sem
como em Almeida. compreender como pode ser (Mt 11.25). Quem são
esses " v ó s " que ouvem a revelação? Certamente são
Capítulo 13 aqueles que o buscam ( M t 7.8; Rm 2.7), e o temem
(SI 25.14). e que querem fazer a sua vontade (Jo
Comentário de Scofield: 7.17). Ele não lança as suas pérolas aos porcos.
Podemos discernir neste capitulo um novo come- 2) Porque "aos que têm. darse-d" (12). Esta lei
ço. Jesus, rejeitado por Israel (Jo 1.11), e tido por natural encontra-se também no mundo espiritual. O
desvairado pela própria família ( M t 12.46; Mc 3.21), forte, aumenta as forças; o sábio, sabedoria; o rico, a
toma o caráter de um semeador que. não encontran- riqueza, enquanto os outros, por falta de uso e
do os frutos que procura, semeia, e espera uma co- exercício, perdem o que têm. Assim, quem ouve e ob-
lheita futura. No fim do capitulo 12 Jesus está den- serva a Palavra de Deus. cresce, enquanto o pregui-
tro da casa; no começo do 13 (mas no mesmo dia) já çoso deseja e nada tem. Ele é preguiçoso demais para
saiu e chegou à beira-mar. No versículo 36 Ele volta quebrar a casca (a parábola) e por isso não alcança a
para casa. noz (a verdade).
Jesus apresenta sete parábolas: quatro á multi- 3) "Para que vendo, não vejam, e ouvindo, não
dão. publicamente, na praia, e três aos discípulos, ejitendam " (13-16). O Senhor aqui cita Isaías 6.9.10.
particularmente, em casa. Todas apresentam aspec- O profeta foi mandado declarar uma cegueira judi-
tos do reino; quatro têm aspecto exterior e as outras cial sobre a geração pecaminosa do seu tempo. As-
três um aspecto mais íntimo. sim o Senhor adverte a geração má do seu tempo
As duas primeiras têm a particularidade de se- que, devido â dureza dos seus corações. Deus lhes ce-
rem explicadas pelo próprio Jesus. Por isso não exis- gará Of olhos.
te dúvida quanto à sua interpretação. Comentário de Scroggie:
Parábola do semeador (1-9). Notemos: Parábola do trigo e joio (24-30 e 36-43). Na pri-
a) Sementeira abundante, sem economias; até meira parábola a semente era de uma só espécie,
mesmo no caminho cai alguma semente. mas havia diferença nas condições do terreno. Agora
b) Terreno de uma só qualidade - não devemos o campo - o mundo - é um só. mas há mistura de se-
imaginar diferentes terras no mesmo campo, mas mentes.
terreno em diferentes condições: terra pisada pelo A boa semente não é, aqui. a palavra do Evange-
muito trânsito; terra rasa e escassa, devido ao lagedo lho. mas o que o Evangelho produz: "os filhos do rei-
de pedra que lhe fica por baixo; terra previamente no" (v.38). Estes estão semeados entre os homens, e
ocupada, com espinhos, etc.; terra boa. preparada Satanás semeia justamente o "joio".
para a semente: capinada, arada, regada. O ensino é que não podemos tirar o joio do mun-
c) A semente é sempre a "palavra do reino" e do, embora as muitas perseguições religiosas do pas-
hoje é o Evangelho da graça de Deus. O dr. Camp- sado tentassem fazê-lo. Mas na igreja pode haver
bell Morgan, e, mais recentemente. Alexandre Fra- uma disciplina purificada.
zer. têm chamado a atenção para o caso que "a boa Desta parábola aprendemos que, quando Cristo
semente são os filhos do reino": pessoas, não as ver- age, Satanás opera também: que um dos seus modos
dades do Evangelho. Pensam que isto deve-se enten- prediletos de agir é pela imitação; que ele opera
der na parábola do Semeador tanto como na do trigo ocultamente, e nós devemos agir cautelosamente
e joio. Que fruto tem esta sementeira produzida em (29); que no fim tudo será acertado.
nós? O evangelista é hoje o semeador, semeando al- Comentário de Gray: -—»
guma coisa de Deus revelado em Cristo, e esperando
ver os frutos: alguma coisa do caráter de Cristo nos Parábolas da mostarda e do fermento (31-35). A
seus ouvintes. figura da semente de mostarda ensina o rápido e
Recentemente um expositor notou que em Ma- anormal crescimento da cristandade. As aves do céu
teus a "semente" é a palavra grega "sperma", ou se- simbolizam descrentes de diversas classes que. por
mente humana, e a interpretação se encontra no motivos de interesse, abraçam o cristianismo e
versículo 38, "a boa semente são os filhos do reino". acham abrigo nos seus ramos. (Compare Daniel
Em Lucas 8 a "semente" é a palavra grega "sporos". 4.20,22 e Apocalipse 18.2.)
ou semente vegetal, e a interpretação está no versí- " O fermento representa um principio de corrup-
culo 11, "a semente é a palavra de Deus". ção, operando sutilmente. A figura do fermento é
Ensinando por parábolas (10-17). A linguagem é empregada sempre com sentido ruim (Gn 19.3; Mt
figurada, ocultando o sentido aos indiferentes e ilus- 16.11.12; Mc 8.15; 1 Co 5.6-8, etc.) O ensino da pará-
trando-o para os sinceros. bola é que o Evangelho será misturado com ensino
Um mistério (segredo, v . l l ) é uma verdade ou- falsp, que aumentará até o f i m " .
trora escondida mas agora divinamente revelada. "A mais pequena de todas as sementes" (v. 32).
Comentário de Goodman: "Tomadas ao pé da letra, estas palavras podem pa-
O reino dos céus é esse reino que há de ser estabe- recer erradas, pois há muitas sementes menores que
lecido na terra. a mostarda, algumas, como as dos fetos, tão peque-
O Senhor Jesus alega trés motivos por que Ele fa- nas que só podem ser vistas através do microscópio!
lou em parábolas. Mas nosso Salvador falava como galileu aos campo-
1) "Porque a vós é dado conhecer os mistérios do neses da Galiléia, e suas palavras, conforme todos os
reino dos céus, mas a eles não lhes é dado" (11). Um seus ouvintes entenderiam, contém a figura de elipse
mistério é um segredo de Deus que não pode ser co- ou omissão, significando simplesmente 'que é a me-
nhecido a não ser mediante uma revelação. Mesmo nor de todas as sementes' (usadas por vós na agricul-
quando revelado é muitas vezes incompreensível tura)" (Netl).

318
~MãUus

Parábolas do tesouro escondido, da pérola e da 4) Era licencioso. Excitado pela dança da entea-
rede (44-58). Estas foram ditas aos discípulos em ca- da. e provavelmente embriagado, ele cumpriu a sua
sa, e dão um aspecto mais intimo, menos evidente, promessa temerária.
do reino. O campo é o mundo (v.38) que o homem 5) Era louco. Prometer sem saber o que seria pe-
(Cristo) comprou com seu sangue (2 Pe 2.1). dido. era colocar-se á mercê de uma mulher vingati-
A pérola simboliza a Igreja, que o negociante va e má.
(Cristo) comprou (Ef 5.25-33). " U m hino diz Achei 6) Mostrou-se triste, mas fraco. Náo é que tivesse
a pérola de grande preço*, querendo dizer Cristo, pena de João Batista, pois queria matá-lo (5), mas
mas isso náo pode ser a significação, a náo ser que a ficou triste porque ia incorrer na ira do povo por seu
salvação seja pelas obras. Que significam, pois, estas ato abominável. Tais são as misérias dos iníquos.
duas parábolas? Suponhamos que o tesouro dá o as- 'Melhor é o mancebo pobre e sábio do que o rei velho
pecto plural e a pérola o aspecto singular da mesma e insensato, que se não deixa admoestar' (Ec 4.13)"
coisa, representando um. os cristãos e outra, a Igreja, (Goodman).
e sendo Cristo em ambos os casos. Certamente Ele A primeira multiplicação de pães (13-21). Jesus
sacrificou tudo por amor da Igreja. Ele comprou o retira-se para um lugar deserto, por ter sido Ele re-
mundo para possuir a Igreja; o preço foi seu sangue. jeitado. e morto o seu precursor. Mas não podia es-
Esta interpretação apresenta menor número de difi- conder-se, e o povo o seguia. Notemos:
culdades" (Scroggie).
Os discípulos acharam necessário despedir a
" A rede não é o Evangelho, mas é uma figura do multidão. Jesus tinha um recurso melhor. Como ha-
que acontecerá no fim, depois do arrebatamento da vemos de agir hoje?
Igreja" (Gabelein). Os pães e peixes, por Ele abençoados (v. 19). bas-
Propostas emendas de tradução. No versículo 32 taram para suprir a necessidade.
leia-se "é maior que as hortaliças" No versículo 36 O que os discípulos receberam dele, puderam re-
"tendo despedido" como em A. e náo "tendo deixa- partir com o povo.
do" como na V.B. (R. 195). Nos versículos 39 e 40 ler Diz F. W Grant: " O s discípulos têm apenas cin-
"fim da época" em vez de "fim do mundo". co pães e dois peixes! Que evidente quadro de nós
mesmos, com nossos recursos diminutos! Por que co-
Capítulo 14 locar uma provisão tão íntima na sua mão para ser-
vir a tanta gente? Mas Jesus náo despreza a oferta,
Até aqui temos visto, cm nosso estudo de Ma- não a recusa, para agir sem ela. Se fosse a realização
teus, o Messias chegado, o reino proclamado, suas de um milagre o que Ele tinha em vista, seria natu-
leis promulgadas, mas o Rei praticamente rejeitado ral que a desprezasse, mas. pelo contrário, Ele prefe-
pela nação. Do capitulo 13 em diante Jesus náo fala re tomar mais singelo o milagre a deixar de lado a
mais da aproximação do reino, mas em sete parábo- pessoa que quer idcnt;ficar-se consigo e empregar-se
las revela o que há de suceder entre as nações na au- no seu serviço. Esta precisa verificar que o pouco que
sência do Rei. tem é suficiente, uma vez que a bênção divina a
acompanha - e assim também será conosco.
A morte de Joáo Batista (1-12). " O nome Hero-
des está coberto de sangue. Herodes. 'o Grande', ma- " M a s os discípulos devem levar-lhe esse pouco,
tara os inocentes. Herodes Agripa matou Tiago, ir- para depois receberem dele Então Jesus manda o
mão de João, e aqui Herodes Antipas mata João Ba- povo descansar sobre a relva. Ele dá descanso pri-
tista" (Scroggie). meiro, e depois sustento. Então abençoa o pão, e o
Este trecho revela-nos os despotismos dos tempos parte, e toma a entregá-lo aos discípulos, para que
antigos. eles o distribuam todo - e há mais que suficiente
para toda a multidão. Como é bom saber que nessa
Considerações de Goodman: insignificante provisão há o suficiente para cada um
"Segundo o historiador Josefo. a morte de João dentre o povo ali. e mais do que suficiente. No fim há
Batista deu-se no castelo de Machaerus, na Peréia, e mais do que no princípio, Ê iseo que acontece cona-
ele nos relata também que Herodes foi banido pelo tantemente com os bens espirituais - abundante dis-
imperador Caio à cidade de Lyon (na França) e de- tribuição. e, contudo, aumento... Cada partícula da
pois levado à Espanha, onde morreu na miséria. verdade que possuímos leva consigo uma responsa-
bilidade correspondente, um privilégio proporcional,
"Sua primeira esposa era filha de Aretas, rei de e oportunidade para aumento".
Damasco, mencionado em 2 Corintios 11.32. Hero-
dias era esposa de seu irmão (por parte de pai) Filipe Jesus anda por cima do mar (22-36). Notemos a
(náo o Filipe de Lucas 3.1). Ela era filha de Aristó- diferença entre este incidente marítimo e o do capí-
bulo, o filho que Herodes matou, e por isso era sobri- tulo 8.23-27. Ali Jesus estava presente, dormindo, e
nha de ambos os seus maridos" (Elicott). As más os discípulos sozinhos no barco. O incidente de Pe-
qualidades no caráter de Herodes aparecem neste dro andando sobre as ondas é registrado só por Ma-
trecho: teus.
1) Era supersticioso. Pensava que Jesus podia ser Temos aqui uma figura do "andar por fé em
João Batista ressuscitado. Como muitas vezes acon- Cristo". Notemos que isso:
tece, o assassino tinha receio da sua vítima. 1) Ê impossível á carne.
2) Deve ser em obediência á Palavra de Deus.
2) Era vingativo e crueL Joáo Batista somente 3) Necessita-se de coragem para fazer a aventura
apontara aquilo que Herodes bem sabia ser verda- da fé.
deiro e vergonhoso. 4) A fé náo se preocupa com as condições e cir-
3) Era covarde, como geralmente são os cruéis. cunstâncias.
Tinha medo da multidão, como temia o reapareci- 5) O que a fé começa, deve continuar. Pedro fa-
mento de Joio Batista. lhou nisto, embora tivesse começado bem.

319
"Mateus
A fé não é apenas um ato, mas uma atitude de mente endemoninhada" (22). Não é de se esperar
toda a vida. que alguma menina esteja hoje nesse caso, mas ve-
"A quarta vigüia da noite". Os judeus dividiam a mos, infelizmente, moças e moços dominados por
noite em quatro vigílias: das 6 ás 9: das 9 às 12; das vícios, vaidades, e desejos carnais, e. ás vezes, in-
12 ás 3, das 3 ás 6 da manhá. Por isso era provavel- fluenciados demasiadamente pelos servos de Sata-
mente de madrugada quando Jesus foi visto pelos nás. que procuram arrastá-los para o pecado e a per-
discípulos. dição.
"Em verdade este vulto sobre a água não é dis- A lição principal do incidente parece ser que
cernido senão pela fé; até 06 discípulos podem pen- Cristo, afinal, corresponderá á fé. ainda que Ele pa-
sar que é um fantasma, e recear em vez de serem reça por algum tempo não fazer caso. Podemos con-
atraídos. Notemos que é á alma que é dirigido o con- siderar os motivos por que os homens se chegam a
vite que a voz faz: 'Vem!' Não fala a mais ninguém. Cristo: Curiosidade? admiração? doenças? tenta-
Nem fala senão com aprovação, embora o convidado ções? necessidades de parentes? Neste incidente te-
provasse completamente a fraqueza da sua própria mos:
resposta ao convite... Mas ele não é censurado pela 1) Uma grande necessidade: Descobrimos: a) um
sua ousadia. Os outros discípulos podem té-lo feito, caso terrível: uma moça sujeita a um espírito malig-
mas o Senhor apenas diz: 'Por que duvidaste?' E cer- no. mas. não nos parece ser sem o consentimento de-
tamente essa dúvida é tão insensata como desastro- la. A carne está em todos nós, mas há quem fran-
sa. Por um momento, ao menos, Pedro tinha prova- queia a entrada a espíritos malignos. Na China tem-
do o poder de Cristo; tinha realmente andado sobre a se verificado repetidas vezes que um acesso de cólera
água, e por que haviam os ventos fortes de enchê-lo deixa a porta aberta para a entrada de um espírito
agora de receios? O poder não era seu, e ele podia mau. Quem se mete com o espiritismo está sujeito ao
contar com o poder do Mestre, tanto nas ondas pro- poder dos espíritos malignos; b) um caso sem remé-
celosas como na calma. Mas quando o olhar se des- dio por quaisquer meios conhecidos; c) um mal que
via de Cristo, torna-se impossível a resolução acerta- afligia a mãe e toda a família. Sem dúvida a necessi-
da. Pedro duvida. e começa a afundar, mas quando dade era grande.
clama, uma forte mão se lhe estende, e ele é susten- 2) Uma grande esperança: a) A mulher ouvira de
tado. Não è a embarcação que o socorre, nem é ele ti- Jesus e seus milagres, b) Dirigiu-se a Ele inconve-
rado do caminho, senão sustentado nele. Bom é nientemente, porque ela nada tinha com "o filho de
lembrarmo-nos de que assim a graça de Cristo pode Davi", e parece que quis fingir-se israelita, c) Ela
ainda hoje valer-nos em nossos fracassos" (Grant). persistiu, porque não tinha outra esperança, mas
O versículo 36 ensina-nos que o mais leve contato mudou sua maneira de tratar o Senhor.
com Cristo importa em bênção. 3) Uma grande fé manifestada: a) na humilde
confissão da sua necessidade; b) na sua súplica fer-
Capitulo 15 vorosa: c) na sua perseverança. Jesus quis experi-
mentar a sua fé. porque sabia que ela resistiria à pro-
Jesus repreende escribas e fariseus (1-20). ' " A va.
tradição dos anciãos' (v. 2) significa a lei oral, que os A segunda multiplicação de pães (29-39). Neste
judeus acreditavam ter sido transmitida verbalmen- trecho vemos Jesus: a) curando os doentes; b) ali-
te desde os tempos de Moisés. Foi, afinal, escrita por mentando a multidão; c) ensinando o povo.
Judas, o Santo, em um livro chamado Mishneh, e Para a explicação da segunda multiplicação de
para explicar esse livro escreveram-se as duas Gema- pães consulte sobre Marcos 8.1-10.
ras ou Talmudes, chamadas a de Jerusalém e a de Os cestos do versículo 37 eram maiores do que as
Babilônia" (Treasury). alcofas de 14-20.
A queixa não era de que os discípulos faltassem Proposta emenda de tradução. O versículo 8 deve
com o asseio, mas que não observaram uma tradição ser: "Este povo chega para mim com a boca e honra-
dos anciãos, e não praticaram a purificação cerimo- me com os lábios, mas o seu coração está longe de
nial (Mc 7.1-4). mim" (C. 136).
Jesus, longe de apoiar as tradições, reprovou-as.
Notemos que, às vezes, na Escritura, "honrar" Capitulo 16
significa "fornecer mantimentos, etc." (1 T m
5.17,18). A tradição que invalidava o mandamento O fermento dos fariseus (1-12). " O sinal do profe-
de Deus. ensinava a um filho que ele, alegando que ta Jonas (v. 4) significa a ressurreição de Cristo (Mt
os mantimentos eram dedicados a Deus e que por 12.39.40).
isso não podiam servir para sustento de seus velhos "Em Marcos o aviso (v. 6) abrange também os
pais, ficava isento da sua obrigação. herodianos. As três classes representam princípios
" N ã o devemos entender que a declaração da pa- do mal: Fariseus - d formalismo; saduceus - raciona-
lavra votiva 'Corbã'. embora significando 'um dom', lis mo; herodianos - secularismo. Essas seitas não
ou 'dado a Deus', necessariamente dedicasse o obje- existem mais, porém ainda há o que elas representa-
to ao Templo. O sentido podia ser, e geralmente era. ram. A tragédia é que estes males têm invadido as
que o objeto era para ser considerado como 'Corbã', igrejas, e têm substituído a realidade, fé e adoração"
isto é, em relação às pessoas interessadas, esse objeto (Scroggie).
devia ser tido como se fosse 'Corbã'. posto sobre o al- A confissão de Pedro (13-23). A ignorância do
tar, e por isso fora do seu alcance. Embora o nome povo com respeito ao Senhor Jesus, revelada nestes
fosse o mesmo, havia duas espécies de voto: uma versículos, existe ainda hoje.
consagração a Deus, e uma obrigação pessoal; este Muito tem sido escrito referente às palavras
último era o mais freqüente" (Grant). "sobre esta pedra edificarei a minha igreja". Um dos
A mulher cananéia (21-28). A descrição da filha melhores ensinos está no livro "Problema Religioso"
da mulher cananéia é deveras triste: "miseravel- de E. C. Pereira.

320
"Mateus

Entendemos que a "pedra" era a confissão de Pe- dro. significava também para os outros discípulos
dro: "Cristo, o Filho do Deus vivo", a verdade funda- (18.18)".
mental da Igreja (1 Co 3.11). É erro pensar que o versículo 19 ensina que tudo
Versículo 18. Muitos podem ter notado que as pa- quanto uma igreja local determina é aprovado no
lavras "Tu és Pedro"(sobre as quais tem havido tan- Céu! Quem aprova um mal, tem a mesma culpa que
ta controvérsia) parecem nào ter referência ao assun- o malfeitor, mas Deus nunca aprovou uma decisão
to em publicação na língua inglesa, com as iniciais errada. Uma igreja local pode, por exemplo, resolver
W. A. F.i "Todas as evidências tendem a provar que excomungar todos os crentes que não têm uma certa
as palavras de Jesus náo eram 'su ei Petros' (tu és compreensão sobre o batismo, mas náo vamos pen-
Pedro) mas 'su eipas' (tu falas te a verdade), uma sar que por isso os tais excluídos ficam reprovados no
forma de expressão empregada várias vezes pelo Se- Céu.
nhor ( M t 26.64. etc.) A Vulgata latina tem 'Tu és Pe-
As condições do discipulado apontados nos versí-
dro', mas sabemos que essa foi uma tradução por S.
culos 24-27 merecem séria atenção - renunciar; to-
Jerônimo encomendada pelo então bispo de Roma.
mar; seguir.
Mas Jerônimo nos seus escritos particulares empre-
ga as palavras gregas 'su eipas' (tu disseste) e o gran- A expressão "tome sobre si a sua cruz " (v. 24) ou
de S. Agostinho (d.C. 295) dá o equivalente em la- "tome cada dia a sua cruz" (Lc 9.23) náo parece tão
tim: "Tu dexiste' (tu disseste), que concorda muito estranha e incompreensível a nós que nos gloriamos
melhor com o contexto". na cruz de Cristo (G1 6.14), como deve ter soado aos
ouvidos dos discípulos de Jesus, que nada sabiam da
"Eu te darei as chaves do reino dos céus" (v. 19). morte violenta que Ele havia de sofrer, e que conhe-
A interpretação comum é bem apresentada pelo dr. ciam a crucificaçáo somente como o suplício dos cri-
Goodman: " A s chaves dadas a Pedro representam a minosos e escravos rebeldes. O dr. C. C. Torrey suge-
essencial honra que lhe foi concedida: a de ser o pri- re que devemos ler "jugo" em vez de cruz, pois o jugo
meiro a anunciar o Evangelho aos judeus (no Pente- era feito em forma de cruz e. por isso, uma palavra
coste) e aos gentios (na casa de Cornélio), tendo sido eqüivalia a outra. Assim pelo menos obtém-se um
o Espírito Santo dado do Céu em cada uma dessas sentido compreensível, de o verdadeiro discípulo de
ocasiões. Pedro mesmo descreve seu privilégio as- Cristo, em cada dia da sua vida, tomar o serviço que
sim: 'Deus me elegeu dentre vós, para que os gentios lhe toca e fazé-lo na companhia do seu Senhor (Mt
ouvissem da minha boca a palavra do Evangelho, e 11.29).
cressem' (At 15.7). Assim ele anunciou o perdão de
pecados a todos os que crêem. Deus confirmou do Assim entendido, "o seu jugo " seria o mesmo que
Céu o perdão que todos os seus servos podem decla- "o mr t jugo" de Mateus 11.29, e o discípulo teria a
rar sobre a terra (v. 19; 18.18; Jo 20.23)". convi ^ão de náo ter nunca que trabalhar sozinho,
nem ir adiante ou ficar atrás do seu Mestre.
F W. Grant interpreta o versículo diferentemen- A nota completa do dr. Torrey è assim: " A frase
te: " Ê comum salientar o lugar notável de Pedro no 'tomar a sua cruz e seguir-me' ocorre cinco vezes nos
dia de Pentecoste, abrindo o Reino aos judeus, e de- evangelhos sinóticos ( M t 10.38; 16.24; Mc 8.34; Lc
pois, na pessoa de Cornélio. aos gentios. Mas pode- 9.23 e 14.27). Ê geralmente precedida pelas palavras
mos admitir que ele ocupava um lugar eminente, en- 'negue-se a si mesmo'. A primeira vez. em Marcos, a
quanto negamos que fosse um lugar exclusivo. E de exortação é dirigida náo meramente a discípulos,
fato náo podemos excluir os outros discípulos no dia mas ao povo. como também no trecho paralelo em
de Pentecoste; nem no caso de Cornélio podemos Lucas, onde o advérbio "diariamente" é acrescenta-
concordar que esse fosse o único uso das chaves com do. Muitos têm observado que o que podíamos espe-
relação aos gentios. nem admitir que fosse necessária rar ler aqui não é cruz mas jugo. tomando a exorta-
outra chave diferente daquela que abrira o reino aos ção compreensível aos ouvintes. A palavra (aramai-
judeus. Um só ato não havia de esgotar o uso da cha- ca) é certamente "zoif \ que nós conhecemos somen-
ve, nem seriam duas chaves para abrir a porta duas te com o sentido de "cruz". Quando, porém, se nota
vezes. que o jugo dos animais que puxam o arado tem pre-
"Podemos entender que a porta, uma vez aberta, cisamente a forma de cruz. uma vara com outra
assim permaneceu para nunca mais precisar de cha- transversal na extremidade, parece quase certo que
ve? Pelo contrário, creio que se pode demonstrar na linguagem popular da Galiléia a palavra signifi-
concludentemente que a administração do reino, cava também "jugo".
simbolizada por estas chaves, ainda não terminou:
não findou num ato inicia] de autoridade. Os ho-
mens ainda recebem o reino e são recebidos no reino; Capítulo 17
e se as chaves falam de admissão ao reino, e o reino é
a esfera do discipulado, então a chave é de fato so- "A transfiguração (1-13) é relatada nos três evan-
mente autoridade para discipular. gelhos sinóticos com poucas diferenças. Ê somente
Mateus que tem as palavras "o seu rosto resplande-
"Ora, há chaves, e náo simplesmente uma chave; ceu como o sol", e o versículo 6 deste capítulo.
e se nosso pensamento é acertado, isto significa uma
dupla maneira de admitir. A primeira é a que o Se- "Para os discípulos esta foi uma oportunidade
nhor chama 'a chave da ciência', a qual ele diz que precisa para ver seu amigo e Mestre glorioso e res-
os doutores da lei tiravam do povo (Lc 11.52). Seme- plandecente, ainda que falasse da hora que se apro-
lhantemente Ele denuncia os fariseus por fecharem o ximava. de seu ultraje e crucificaçáo (Lc 9.31).
reino do céu aos homens: 'Nem vós entrais, nem dei- "Notemos a maravilhosa reunião de pessoas:
xais entrar aos que estão entrando' (Mt 23.13). Deus Pai. Cristo. Moisés. Elias. Pedro. Tiago. João:
"Pedro náo recebeu as chaves da Igreja, mas do sete pessoas. O eterno Pai; o Redentor do mundo; o
reino. Uma chave é sinal de autoridade (Is 22.22), e o representante da Lei; o representante dos profetas; o
que esse poder de ligar e desligar significava para Pe- núcleo da Igreja cristã. Duas personagens da velha

321
MâUus

dispensaçáo; três da nova. unia de todas as dispen- Propostas emendas de tradução (v. 11): "Porven-
sa ções, e Deus sobre todos!" (Scroggie). tura Elias há de vir e restaurar tudo? Digo-vos que
O "alto monte" era provavelmente Hermom e Elias já veio " (O. 56). Versículo 9 leia-se: "dentre os
náo Tabor (Scroggie). mortos**. Versículo 20 leia-se: "Por causa da vossa
Para mais explicações sobre a transfiguração, incredulidade" (R. 140).
veja o comentário de Marcos 9 e Lucas 9.
"Elias virá primeiro" ( v . l l ) . "Em Malaquias 3.1 Capitulo 18
e 4.5 há duas profecias distintas. A primeira se cum-
priu na pessoa de Joáo Batista, que veio no espirito e Entrando no reino (1-10). Vemos quanto o ensino
poder de Elias (Lc 1.17); a segunda se cumprirá an- de Jesus acentuava a necessidade de preparo espiri-
tes de o Senhor voltar em glória, e sem dúvida depois tual para se gozar as bênçãos do reino. Ele ilustra
do arrebatamento da Igreja" (Gray). seu ensino por meio de um menino posto entre os
A experiência sublime sobre a montanha era pas- discípulos. Aprendemos: que um discípulo pode ca-
sageira. Náo podemos suportar por longo tempo uma recer de conversão; que a entrada no reino depende
suprema exaltação. Desceram ao vale. onde acha- de um estado espiritual competente; que humildade
ram: como a de uma criança é necessária; que "receber"
O jovem lunático (14-23). Quem usa a Versão uma criança, por amor de Jesus. é. ainda hoje, seme-
Brasileira verá que nela o doente é chamado um "e- lhante a receber Cristo mesmo; que "ofender" uma
pilético". mas o fato é que o pai. que nada entendia criança, prejudicando a sua vida espiritual, é um
de ciência médica do século X X , disse "meu filho é grande pecado; que "desprezar" as crianças é ato in-
lunático", atribuindo (na sua simplicidade) o mal á sensato. pois elas são representadas perante o Pai
influência da lua. por seus "anjos de guarda".
Aprendemos do versículo 18 que o mal não era A verdade ensinada é que uma criança, por sua
causado pela lua. nem pela epilepsia, mas por um condição natural de fraqueza, etc., é uma parábola
espírito maligno, como pode acontecer ainda hoje, da atitude que um pecador deve tomar perante Deus
principalmente a algum adepto do espiritismo em quando se converte. Vejam a parábola da criança: 1)
todas as suas formas. E importante. 2) É humilde. 3) É objeto de benevo-
"Os nove discípulos nada podiam fazer em prol lência. 4) Vive pela fé. 5) Cresce, e aprende a falar.
do rapaz aflito ou do pai entristecido. O miasma do Diz T. Gasquoine:
baixio entrara nas suas almas. Os discípulos que- Os versículos 8 e 9 ilustram a verdade que a letra
riam saber por que fracassaram, e Jesus lhes esclare- mata. mas o espírito vivifica. Evidentemente, o ensi-
ceu o motivo (19-21). 'Um grão de mostarda' é referi- no náo é para se tomar ao pé da letra, porque o mal
do aqui por ser uma coisa diminuta. Uma fé pequena não está na mão ou no olhos, mas no coração perver-
pode fazer coisas grandes, mas naturalmente, uma so.
fé maior pode conseguir ainda mais. Remover mon- Deus e as criancinhas (11-14). "Consideremos o
tanhas era uma expressão proverbial para vencer amor de Deus para com as criancinhas. É
obstáculos que parecem intransponíveis. A fé forta- 1) Amor de todo altruísta.
lecida pela oração e pelo sacrifício tudo pode vencer" 2) Amor de quem tem prazer nelas.
(Scroggie). 3) Amor de compaixão para com elas.
"Mas isto pressupõe que estamos na senda da 4) Amor de esperança nas suas possibilidades in-
vontade divina, pois na verdade, a fé náo pode ser finitas.
exercida em outras circunstâncias. E a figura da ü pecado de um irmão (15-22). Ê impossível exa-
montanha fala claramente do desaparecimento dos gerar a importância do ensino do versículo 15. mas
maiores obstáculos em tal senda. No caminho da quantas vezes é desprezado! Uma pessoa se queixa
vontade ou da indulgência própria seria debalde es- de um irmão a outro, ou chega mesmo a acusá-lo pe-
perar semelhantes vitórias" (Grant). rante a igreja, em vez de ir ter com ele!
Jesus paga o tributo (24-27). A palavra "didrnc-
mas" quer dizer "duas dracmas". Um estáter valia 4 Porém uma advertência é necessária: antes de "ir
dracmas, por isso era a quantia justa "por mim epor ter com ele" é preciso uma preparação espiritual su-
ri". ficiente para poder "ganhar teu irmão".
Somente em último recurso pode ser necessário
"Pedro disse que sim (v. 25) sem refletir. A con- levar o caso á igreja.
tribuição era para o templo em Jerusalém, e Jesus, Alguns manuscritos antigos náo têm as palavras
como Senhor do templo, não devia pagar o tributo. "contra ti" no versículo 15.
Como 'Filho' de Deus (v. 26). devia estar livre da "Quando a disciplina da igreja é exercida com
obrigação. Isso seria bem compreensível para Pedro, cuidado e simpatia ( w . 18-20), as decisões da irman-
que logo antes o confessara Filho de Deus (Mt dade cristã são aprovadas por Deus o serão 'ligadas
16.16). Porém muitas vezes convém fazer uma coisa no céu', mas a direção divina precisa ser procurada
sem ser obrigado, 'para que os náo escandalizemos*. mediante a oração (19,20)" (Scroggie).
"Estas palavras dão-nos um exemplo da graça "A igreja tem autoridade para agir... mas autori-
que concede um ponto sem importância, para não dade para agir não garante a ação. Se a ação não está
ofender. O Senhor nunca ofendeu a ninguém sem ne- de acordo com a vontade de Deus, náo será abonada
cessidade. Ele não era como esses que lutam até a por Ele. Deus náo havia de atribuir pecado sobre al-
morte (ou, ainda pior, até dividir a igreja) sobre as- guém que náo pecara, nem desligá-lo. Fazer isso se-
suntos sem importância prática. 'Aos fracos fiz-me ria chamar ao bem mal e ao mal bem. e pôr a igreja
como fraco, para ganhar os fracos' (1 Co 9.22). Mui- acima do seu Senhor" (Grani).
tas vezes podemos pela graça fazer concessões sem Acordo em oração (19,20). Esta promessa espe-
transigir, e assim evitar contendas" (Goodman). cial para os que concordam em oração merece cuida-

322
Mauus

doso estudo. Não devemos esperar que todos os fre- sublime: como união feita pelo propósito e vontade
qüentadores da reunião de oração necessariamente de Deus. Em tais casos - união de clientes, realizada
"concordem". Para haver esse acordo deve haver o em plena submissão á vontade de Deus - nem em so-
mesmo ardente desejo, a mesma compreensão da ne- nhos deve alguém pensar em desfazé-la.
cessidade, o mesmo propósito de cooperar com Deus Depois, perante a insistência dos fariseus, Ele
em promover o resultado pedido, a mesma experiên- admite o divórcio ser lícito, quando o que se manifes-
cia de respostas ãs orações passadas, a mesma espe- ta não é a vontade de Deus mas a perversidade hu-
rança de uma resposta no presente, o mesmo desejo mana; e quase dá a entender que nem todos podem
de banir da vida própria qualquer coisa que impeça contemplar o matrimônio pelo prisma sublime que
a bênção divina. Ele apontou (v. 11).
Esta necessidade de acordo, para dois ou mais Depois fala de três classes de eunucos (pessoas
poderem orar juntos, deve impedir o grupo de fazer impotentes para a procriaçáo). E evidente que a ter-
quaisquer orações extravagantes ou ridículas. pois ceira classe se ontende espiritual e não fisicamente.
seria difícil dois ou mais concordarem em fazer uma Jesus recebe e abençoa meninos (13-15). Estes
petição insensata, na plena persuasão que pediram versículos preciosos justificam a Escola Dominical,
de acordo com a vontade divina. que não é referida diretamente na Bíblia.
O versículo 20 afirma um fato mas náo contém O moço rico (16-30). Náo sabemos em que senti-
uma promessa. Nisto é bem diferente de Mateus do o moço empregou as palavras aramaicas que Ma-
28.20: "Eis que estou convosco todos os dias até a teus traduz, no versículo 16, "zoem aionion", ou vida
consumação dos séculos ", ou a promessa ainda mais eterna. Literalmente vida da época (mileniar)".
maravilhosa de João 14.23: "Se alguém me ama, Imaginamos que o moço náo tinha nenhuma
guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e vi- idéia de viver para sempre nem tampouco de atingir
remos para ele, e faremos nele morada". uma extraordinária longevidade, mas podemos acre-
A parábola do credor incorri passivo (23-35). O dr. ditar que tivesse ouvido Jesus, ou um dos discípulos,
Graham Scroggie apresenta o seguinte estudo: falar dessa vida mais abundante (espiritualmente
1) Como o rei tratou seu servo. Aprendemos desta falando), e sentiu o desejo de entrar numa vida mais
parábola: avantajada do que a existência mesquinha e trivial
que via em redor de si.
a) Que Deus faz contas com os homens, não so-
mente depois da morte, mas aqui e agora (v. 23). Vemos em João 5.39 que os judeus se preocupa-
b) Que todos os homens lhe devem uma dívida vam bastante com "a vida da época" vindoura. Com
incalculável, e que náo podem de maneira alguma isto concorda a resposta de Jesus: "Se queres entrar
pagá-la (v. 24,25). na vida..." A porta de entrada nessa vida mais abun-
c) Que é necessário a divida ser paga. se náo pelo dante. pensavam os israelitas piedosos, que fosse a
devedor, então por outro (v. 25). obediência á santa lei divina (mas, na verdade era
d) Que o servo acusado náo apelou contra a sen- pela fé, porque pela lei ninguém foi salvo].
tença. mas apenns pediu prazo para pagar - coisa Isto é a parte que se referia á entrada na vida,
que evidentemente náo podia fazer tão cedo (v. 25). mas o gozo dela na sua- plenitude havia de ser estrei-
e) Que o Senhor misericordioso libertou-o e per- tamente ligado com o próprio Senhor Jesus, median-
doou-lhe (v. 27). No nosso caso podemos conhecer a te a intimidade de uma fé continüa (Jo 3.16) e um
base deste perdáo: a satisfação oferecida pela obra andar na companhia dela (v. 21), depois de se ter de-
redentora. sembaraçado de qualquer empecilho, que, no caso
2) Como o servo tratou seu companheiro. Note- do moço, eram as suas riquezas.
mos 06 seguintes pontos: Esta é a primeira vez que lemo6 de "vida eterna"
a) Que é possível receber a graça de Deus em vão nos evangelhos. Devemos preferir o sentido de "vida
(2 Co 6.1), sem que ela produza em nós uma corres- da época (vindoura)", que dá a idéia de uma vida
pondente bondade em nosso trato com os semelhan- sobremaneira excelente, no futuro.
tes. No versículo 17 o dr. Torrey traduz: " O bom é
b) Que é muito fácil fazer maior questão das pe- um". Quem é esse "um" entende-se melhor de Mar-
quenas ofensas dos outros contra nós mesmos, do cos 10.18 e Lucas 18.19 (O. 20).
que das nossas grandes ofensas contra Deus. Jesus quis corrigir a maneira de pensar e falar do
c) Que é característico da natureza carnal ser exi- moço. O titulo "Bom Mestre" tinha tom de lisonja.
gente, intolerante, incompassivo. Sem falar da vida etema, Jesus explica que a manei-
3) Que devemos aprender da parábola: ra de entrar na vida é submeter-se á lei de Deus. isto
a) A náo sermos intransigentes, visto que deve- é, guardar inteiramente essa Lei (mas ninguém ja-
mos tudo ã graça divina. mais conseguiu isso]. Então deu a entender que de-
b) A ver na dificuldade do nosso semelhante uma pois de se desembaraçar das suas riquezas o moço
oportunidade para sermos magnânimos. poderia provar uma vida mais sublime, mais aben-
c) A sermos "imitadores de Deus", não somente çoada, seguindo-o. Consulte-se também a explicação
na sua graça perdoadora. mas também na sua pa- do mesmo incidente em Marcos 10.
ciência. longaniroidade, simpatia e tolerância.
No versículo 24 temos, provavelmente, um exem-
Proposta emenda de tradução. Ponha-se no texto
plo da figura de retórica chamada hipérbole (exage-
o versículo 11. omitido pela V.B. (R. 92): "Porque o
Filho do homem veio salvar o que havia perecido". ro), empregada várias vezes na Bíblia (18.8.9; 19.12.
etc.) Também pode ser, como alguns entendem, que
Capítulo 19 o fundo de uma agulha era o nome de uma portinho-
la na porta da cidade, onde um camelo (animal bem
Acerca do divórcio (1-12). Notemos que Jesus maior que o cavalo) só passava depois que lhe tiras-
considera o matrimônio no seu aspecto mais nobre e sem toda a carga.

323
~Mãteus

Propostas emendas de tradução da V.B. Ao versí- parece insensato. Ninguém deve querer outro lugar
culo 9 acrescentem-se as palavras "E o que se casar senão aquele que pode ocupar com mais vantagem,
com a repudiada, comete adultério" (C. 39). No para melhor servir os interesses do seu Senhor.
versículo 17 leia-se: "Por que me chamas bom?' Alguns pedem a Deus licença para ocupar um
(R.139). púlpito, quando a sua competência é antes para
evangelizar um indivíduo.
Capitulo 20 É certo que mais respeitados na igreja são os que
mais servem (v. 26).
Parábola dos trabalhadores (1-16). Aqui temos Notemos com cuidado que o Senhor Jesus definiu
mais uma figura do reino. Notemos que o reino dos o caráter da sua própria morte; náo era martírio,
céus é referido cerca de 40 vezes em Mateus, mas nem exemplo de resignação, mas um resgate (v. 28) -
nunca nos outros evangelhos. Mateus fala do reino o preço pago por nossa redenção.
de Deus somente 4 vezes. Lucas fala 30 vezes do rei- " A mãe dos filhos de Zebedeu mostra-nos como
no de Deus e nunca do reino dos céus. os nossos parentes naturais precisam ser vigiados:
A expressão "reino de Deus" geralmente tem um não devemos consentir que se imiscuam nas coisas
valor mais intimo e espiritual que o reino dos céus de Deus. Vemos no caso do Senhor Jesus como Ele
(Rm 14.17). O reino dos céus significa muitas vezes a recusou qualquer controle desta natureza" (Grant).
esfera onde a autoridade celestial é reconhecida (Dn A lição principal do trecho pode ser expressa na
4.26).
seguinte sentença: "Desce, se queres subir; sofre, se
queres gozar: morre, se queres viver; perde, se queres
O assunto deste trecho é recompensa, porém ganhar".
aprendemos que Deus. sendo soberano. Às vezes dá
uma recompensa melhor que a justiça requer. Podemos notar:
E preciso ligar esta parábola com o fim do capitu- 1) A pretKupaçáo de Jesus Ele andava rodeado
lo 19 e a pergunta de Pedro: "Que teremos?" A res- da multidão, mas chamou á parte os doze para dizer-
posta é: " O que é teu! (20.14). mas. visto que o Se- lhe as coisas tremendas que o esperavam. A sombra
nhor é bondoso, podes receber mais do que mereces- dâ cruz estava sobre seu espirito. Ele predisse: a)
te". uma dupla traição: seria traído por ura discípulo aos
sacerdotes e escribas. e por estes aos gentios; b) que
Muitos chamados, porque o convite do Evange- seria escarnecido, açoitado, crucificado: c) que res-
lho é universal, a todos. Poucos escolhidos, porque suscitaria. *
relativamente poucos confessam ter as cinco carac-
terísticas dos escolhidos de Deus (1 Co 1.27.28). 2) A preocupação de Tiago e João com seu lugar
"Neste trecho duas espécies de recompensas dis- no reino: a) Era inoportuna: náo estavam em comu-
tinguem-se: de justiça (1-8) e de graça (9-15). A nar- nhão com o espirito de Cristo. Este pensava na cruz.
rativa ilustra o sentido das palavras com que começa eles na glória do reino, b) Era insensata: pensavam
e termina (19.30 e 20.16). Com os primeiros traba- que os lugares no reino seriam dado> por mero capri-
lhadores havia um contrato; com os outros náo ha- cho do soberano aos seus favoritos. Devemos enten-
via. Na ocasiào do pagamento todos recebem o mes- der que, no Reino de Deus. cada um ocupa o lugar
mo dinheiro, e os primeiros queixam-se. Os que bar- que lhe compete. Em uma fábrica, alguém náo deve
ganham no serviço de Cristo náo devem esperar mais querer ser contador, se a sua competência é para ou-
do que ajustam. Devemos entrar no seu serviço pelo tro serviço, c) Era ignorante: disseram "podemos",
amor e náo pelo lucro, sabendo que Ele nos dará o mostrando uma ignorância ou leviandade em res-
que é justo. A surpresa final deve ser, náo que alguns ponder sem refletir.
recebam táo pouco, mas de alguém receber tanto. 3) Jesus ensina aos dois: a) que grandes prova-
Nós somos incapazes de julgar o merecimento dos ções precedem grandes honras; b) que eles seriam
outros, porque a habilidade, as oportunidades, e provados, mas nem por isso deviam pensar em ga-
muitas outras circunstâncias tém de ser avaliadas, e nhar os primeiros lugares; c) que o Pai se interessa
somente Deus pode fazer isso. Podemos contar com em nós, e determina o lugar que nos compete no seu
seu amor por uma recompensa surpreendente e ime- serviço e Reino.
recida. Ele nunca será menos que justo, e muitas ve- 4) Jesus ensina: a) que entre o povo de Deus
zes ultrapassará o merecido. "Primeiro'* e "último" quem mais serve é o maior; b) que Ele mesmo é nos-
ao fim do dia podemos deixar ao seu infalível cuida- so exemplo. Frisemos bem o versículo 28, conside-
do e inerrante sabedoria" (Scroggie). rando nele uma verdade negativa e duas positivas.
" A resposta do proprietário a um dos murmura- Dos dois cegos de Jerico (29-34). um Bartimeu
dores recorda-lhes as condições que determinaram o (Mc 10.46). e o outro, provavelmente, alguém menos
resultado do que eles agora táo loucamente se quei- conhecido. Este milagre é um dos prediletos dos
xam. Náo podem dizer que náo receberam a quantia evangelistas. No Guia do Pregador o assunto é estu-
do contrato. Receberam o que era justo. A graça, náo dado em trés partes: 1) O que o cego fez; 2) O que a
a pediram nem a esperavam. Por que. então, quei- multidão fez; c) O que Cristo fez.
xar-se daqueles aos quais a graça se mostrou? Proposta emenda de tradução. Leia-se o versícu-
lo 22 como em Almeida e não como a V.B. (T. 209).
"Para estes era uma recompensa bondosa, e não
somente da justiça. E porventura o doador náo tinha Capítulo 21
o direito de ser bondoso? O que mereço há de ser me-
dido pelo que sou; o que a graça dá somente pode ser A entrada triunfal em Jerusalém (1-11). Parece
medido pelo que Deus é'? (Grant). que temos aqui um cumprimento de Malaquias 3.1.
Ambição mundana é o assunto deste parágrafo Foi uma daquelas raras ocasiões em que Jesus per-
(17.28). Tiago e João (segundo Marcos), ou a mãe mitiu ao povo expressar seu entusiasmo de maneira
deles (segundo Mateus), fazem um pedido que nos natural. Podemos acreditar que durante o reino mi-

324
"Mateus

lenar haverá em muitos lugares tais manifestações até reprovar algumas das próprias resoluções, de um
de entusiasmo popular. completo arrependimento, a confissão dos próprios
Chegamos á Semana da Paixão. E o domingo. A erros.
entrada triunfal é para cumprir as profecias de Isaias O segundo parecia estar pronto, submisso, obe-
62.11 e Zacarias 9.9, mas é somente Mateus que re- diente ás ordens do pai. mas afinal, revelou-se egoís-
corda o episódio. ta, desobedsente. volúvel, preguiçoso, preocupado
Joào 12.18 explica o motivo desta manifestação com seus próprios interesses.
de entusiasmo popular. Era por saberem do notável Não sabemos que influências tenham levado o
milagre da ressurreição de Lázaro. moço desobediente a mudar de parecer. Sabendo a
E preciso consultar Marcos 11.15-18 e Lucas vontade do pai e refletindo sobre ela. sua natural
19.45-48 para saber tudo o que aconteceu nesse dia e preguiça foi corrigida. Ele pode ter refletido sobre a
no imediato. Temos de combinar Lucas 19.40 com urgência do caso. observando o estado de abandono
Mateus 21.16 para ler toda a resposta de Jesus á cen- da vinha; sobretudo, ele pode ter refletido na bonda-
sura dos fariseus. de e sabedoria do pai, que náo daria uma ordem des-
Referente á entrada triunfal, notemos: a) que a necessária.
entrada foi o propósito de Jesus; b) que foi o cumpri- Felizmente ele teve oportunidade de mudar de
mento de uma profecia; c) que a multidão o aclama- plano. Alguns arrependem-se tarde demaiB, quando
va, como hoje muitos o aprovam sem obedecer-lhe náo há mais tempo para remediar a sua desobediên-
em tudo; d) que a sua chegada alvoroçou toda a ci- cia.
dade (quando Jesus entra no coração. Ele revolucio- A parábola das lavradores maus (33-46). Diz o dr.
na a vida inteira); e) que o chamaram de "o profe- Scrt>ggie: " O sentido desta parábola é táo claro que
ta". um mensageiro de Deus ao seu povo. Ê assim aqueles contra quem foi dita bem entenderam seu
que o conhecemos? alcance. O proprietário é Deus; a vinha é Israel: o
A purificação do templo (12-17). Parece que Ma- povo escolhido, cercado pela Lei. deveria ser frutífe-
teus põe a (segunda) purificação do templo no mes- ro. mas está cheio de homens de interesse próprio (os
mo dia da "entrada triunfal", e Marcos no dia ime- lavradores ladrões). Os lavradores são os chefes reli-
diato (segunda-feira) depois de passar a noite em giosos; os servos são os profetas; o filho é Cristo. A
Betánia. Em todo o caso parece que Jesus dormiu parábola é uma história de Israel em miniatura".
em Betánia. distante uns três quilômetros de Jerusa- Notemos o empenho do proprietário pelo fruto da
lém (em casa de Lázaro?), várias noites durante a sua vinha: seu cuidado em cercá-la; a entrega da vi-
última semana da sua vida. nha aos lavradores: a responsabilidade destes; o
Notemos que esta segunda purificação é referida egoísmo, a perversidade, e a crueldade deles; seu
por Mateus, Marcos e Lucas. A primeira somente pouco respeito pelo "filho": seu erro crasso de pensar
por João (2.13-17). que o crime que iam praticar resultaria em lucro
A figueira seca (18-22). Este é o único milagre de para eles. Notemos que. desde o versículo 23, Jesus
juízo que Jesus operou. " A figueira é uma das três está falando com os príncipes dos sacerdotes e com
árvores que nas Escrituras servem como símbolo de os fariseus (v. 45). Proposta emendas dc tradução.
Israel, a nação eleita, sendo as outras a videira e a No versículo 43 "povo" em vez de "nação" (0.20).
oliveira. A videira, cultivada com tanto cuidado, ti- No versículo 8 leia-se "muitíssima gente", eomo em
nha dado uvas bravas (Is 5.1-4). A oliveira tinha sido Almeida, e nrto "a maior parte da multidão" como
infrutífera e seus ramos foram quebrados (Rm na V. B. (R. 146). No versículo 42 leia-se "cabeça do
11.17). A figueira não tinha nada senão folhas, ou fi- ângulo" como em Almeida e nào "pedra angular'
gos maus (Jr 24.8). apesar de ser grande exterior- como na V.B.
mente, não tinha frutos para Deus. Assim foi dada
uma lição prática da sorte de Israel.
Capitulo 22
" A promessa aqui (vv. 21,22) tem aplicação mui-
ta extensiva, e seria um erro limitá-la. salvo como o A parábola das bodas (1-14). Lucas, quando rela-
Senhor mesmo faz. Nada se nega à fé; mas não é li- ta os acontecimentos da última semana antes da
mitar, o insistir que a fé seja verdadeira" (Grant). cruz, omite as parábolas dos dois filhos e das bodas.
O batismo de João (23-27). (Veja-se em Marcos Contudo ele dá outra semelhante (Lc 14.16-24) que
11.27-33 e Lucas 20.1-8.) parece ter sido contada em ocasião anterior.
A parábola dos dois filhos (28-32). Notemos a se- A parábola das bodas ensina que Israel recusaria
melhança dos filhos. Tiveram os mesmos pais. o o Evangelho e que os gentios seriam chamados. Aqui
mesmo ensino, a mesma criação, o mesmo serviço, e, quem convida é um rei. Em Lucas é "um certo ho-
afinal, a mesma ordem. mem ".
Para evitar confusão precisamos notar que Al- " A primeira parte da parábola (1-10) é contra o
meida e Figueiredo dão como sendo o primeiro quem indiferentismo; a segunda parte contra a irreverên-
disse "Náo quero" e a V. B. diz que foi o segundo que cia. A primeira fala da exclusão do judeu descrente;
recusou trabalhar. Esta diferença vem dos mais an- a segunda, da rejeição de um gentio que figurava
tigos manuscritos. Podemos seguir a ordem de Al- como crente. E fatal recusar a mensagem do Evange-
meida e Figueiredo, e entender que foi o primeiro lho. mas é igualmente fatal tomar lugar de crente e
que mostrou má vontade e falta de respeito pela von- náo obedecer ao Evangelho. Na verdadeira Igreja de
tade do pai, mas que, afinal, se arrependeu e obede- Deus todos têm o manto da justiça; mas na cristan-
ceu. Disso aprendemos o perigo das respostas irrefle- dade. em toda a esfera da profissão cristã, muitos
tidas. da transigência com as próprias inclinações, náo o têm" (Scroggie).
da tendência de fugir dos serviços árduos. Mas "Muitos são chamados pelo Evangelho, e fazem
aprendemos também o valor da reflexão, de julgar e uma certa profissão, mas 'poucos são escolhidos' no

325
"Mateus

sentido de realmente aceitar a Cristo e revestir-se Proposta emenda de tradução. Devemos ler no
com sua justiça" (Gray). versículo 43, como na V.B. - "Davi, pelo Espirito,
"Tem sido alegado que nào existia o costume de lhe chama Senhor" (G. 47).
dar vestes nupciais aos convidados às bodas, mas al-
gumas escrituras apoiam o pensamento de que. às Capítulo 23
vezes, se fazia assim. José apresentou mudas de rou-
pa a seus irmãos (Gn 45.22). Sansão, no seu casa- Este longo discurso, em que Jesus censura os es-
mento. deu aos trinta companheiros mudas de roupa cribas e fariseus, não se encontra completo nos ou-
(Jz 14.12), e Geazi pediu a Naamã mudas de roupa tros evangelhos.
para os moços que alegou terem visitado seu amo (2 Os sinais do fariseu (1-12). A sua hipocrisia (1-4)
Rs 5.22). Chegar ao sacrifício do Senhor 'de vestidu- e a sua ostentação (5-12). Devemos distinguir entre
ra estranha' era motivo de castigo (Sf 1.8). Porven- seu caráter e seu oficio. Jesus mandou respeitar o ofi-
tura teria sido um dos "bons" que assim se atreveu? cio e ensino, mas não a conduta dos fariseus - isto é,
Os trapos imundo da nossa própria justiça não ser- se aceitamos a tradução comum dos versículos 2 e 3.
vem para substituir a justiça que Isaías cantou: 'Re-
A tradução mais exata dos versículos 2 e 3 seria:
gozijar-me-ei muito no Senhor, e minha alma se ale-
"Os escribas e fariseus se assentaram na cadeira de
gra no meu Deus, porque me vestiu de vestidos de
Moisés, e vós observais e praticais tudo que man-
salvação, me cobriu com o manto da justiça' (Ia
dam; mas não deveis praticar as obras deles"
61.60)" (Goodman).
(Bullinger).
A questão do tributo (15-22). Continuam as ten- Aprendemos deste trecho:
tativas para confundir Jesus com os argumentos de- 1) A não dizer sem fazer (v. 3). Conhecer a verda-
les, e agora os herodianos (gente da política) entram de é bom; pregá-la é um privilégio, mas que vale se
no assunto. Pedem astuciosamente uma resposta náo a praticamos?
"Sim" ou "Nào". mas há muitas perguntas que nào 2) A não mandar os outros fazer o que nós nào
podem ser respondidas assim. praticamos (v. 4). Alguns livros sobre oração e pieda-
A ressurreição dos morto* (23-33). Os herodianos de exigem tanto, que chegamos a duvidar se seus au-
ficaram confundidos, e chegam os saduceus. mas tores fazem tudo isso.
não têm melhor êxito. 3) .4 não trabalhar para sermos louvados (v. 5).
" O Senhor primeiro responde à pergunta dos sa- 4) A não desejar honra dos homens (6-12). Não
duceus, e então reprova a incredulidade que a inspi- há nada mais fatal. Nosso Senhor muitas vezes refe-
rou. A pergunta Ele a responde com uma simples riu-se a isso: "Como podeis crer. se recebei9 honra
afirmação, na qual contradiz a incrédula teoria deles uns dos outros?" (Jo 5.44).
- de que não há anjos (At 23.8). Foi suficiente con- 5) Que devemos amar, servir e fazer o bem, sem
frontar o argumento baseado na ignorância com seu outro motivo a náo ser o empenho para que os ho-
perfeito conhecimento. Anjos havia, e os santos res- mens sejam ajudados e abençoados, e Deus servido.
suscitados seriam semelhantes a eles, sem casar nem (Goodman).
dar em casamento. Os saduceus náo compreendiam Os ais dos hipócritas (13-39). Notemos os peca-
o poder de Deus. e náo imaginavam outra coisa se- dos destes fariseus hipócritas:
não uma reprodução das condições terrestres. A sua 1) Fechavam aos homens o reino dos céus: nào
perplexidade era o fruto das suas imaginações car- entravam, nem deixavam que os outros entrassem
nais" (Grant). (v. 13). Contudo tinham a certeza de que as suas
Duas perguntas: "Qual?" e "Quem?" (34-46). doutrinas, que tiveram esse resultado, eram corre-
Uma. feita por um doutor da Lei; a outra, por Cristo tas.
mesmo. A pergunta do doutor feria uma questão 2) Tinham zelo em fazer prosélitos (v. 15), mas
muito discutida pelos fariseus. Eles reconheciam 365 seus prosélitos náo eram melhores do que eles.
proibições e 248 mandamentos na Lei, e natural- 3) Diziam-se guias, mas levavam os outros para a
mente alguns mandamentos deviam ser mais impor- cova (Lc 6.39).
tantes do que outros. Qual seria o mais importante 4) Eram escrupulosos em pequenas observáncias,
de todos? mas falhavam no juízo, na misericórdia e na fé (v.
Era uma pergunta insensata, mas o Senhor va- 23).
leu-se dela para dar um ensino precioso. Ele diz: 1) 5) Eram limpos exteriormente, mas impuros em
Que a lei de Deus é uma e indivisível, e pode ser re- pensamentos e desejos (v. 27).
sumida numa palavra: amor, primeiro a Deus e de- 6) Professavam grande respeito pelos mártires do
pois ao próximo. Ofender a lei do amor é transgredir passado, mas nào atendiam ás verdades que eles en-
tudo. Isto trouxe consigo outra lição: 2) Que a lei náo sinaram, e perseguiam os atuais campeões dessas
pode ser cumprida por quem tem coração mau. "To- verdades (Goodman).
do o coração" é aquilo que o homem caído nunca da- O dr. Scroggie chama a atenção para os oito "ais"
rá nem a Deus nem ao próximo. Isto leva a uma ter- que Jesus pronuncia sobre os fariseus: O Senhor re-
ceira liçáo, que se encontra na pergunta que o Se- prova no primeiro uma perversa obstrução; no se-
nhor faz. 3) Que a graça necessária para cumprir a gundo; uma capacidade cruel (14); no terceiro, um
Lei se encontra somente em Cristo, que é, ao mesmo zelo fanático (15). no quarto, uma discriminação ca-
tempo, filho de Davi e Senhor de Davi. suística (16-22); no quinto, uma escrupulosidade
"Que pensais vós de Cristo?" Esta é a grande frívola (23,24); no sexto, uma devoção superficial
pergunta. Da resposta que lhe dermos depende o (25,26); no sétimo, uma religiosidade pecaminosa
nosso eterno destino. O homem não é justificado (27.28); no oitavo, uma reverência fingida (29-33), o
pela Lei, nem salvo por um credo correto (Good- tipo de reverência que zela os túmulos dos profetas
man). falecidos enquanto quer matar os profetas vivos.

326
"Mateus
"O sangue de Zacarias, filho de Baraquias" (v. " O propósito da profecia é o de: 1) Assegurar nos-
35). A passagem correspondente em Lucas 11.51 não sos corações, de maneira que. quando os aconteci-
tem as palavras "filho de Baraquias". e 2 Crônicas mentos sucedem, náo sejamos sobressaitados; 2)
24.20 dá como "filho de Joiada", o Zacarias que foi confirmar nossa fé. verificando que assim fora predi-
morto assim. Alguns pensam que as palavras "filho to: 3) preparar-nos para os acontecimentos.
de Baraquias" foram escritas primeiro na margem "Tua vinda no versículo 3 (V.B.) é a vinda referi-
de Mateus, e mais tarde acrescentadas ao texto. da era 23.39.
O lamento sobre Jerusalém (37-39). Lucas regis- "O fim predito (4-14). O Senhor primeiro lança
tra as mesmas palavras, mas em outra conexão (Lc um longo olhar até o fim (6-14). Então começa outra
13.34). vez com mais particularidade (15-28) e prediz o des-
Consideremos as palavras "Quis eu... vós náo tino de Israel. As guerras e distúrbios que haviam de
quisestes". seguir imediatamente não eram o fim (6). Poucos
Na figura. Jesus oferece colocar-se a si mesmo anos depois, em 70 d.C. estas guerras começaram, e
entre Jerusalém e o perigo que a ameaça. terminaram com a destruição do templo e da cidade,
Uma casa sem Cristo é uma casa desolada. e a dispersão dos judeus. As palavras do versículo 2
Resumimos o seguinte de um estudo de C. Staf- foram cumpridas literalmente, pois o imperador
ford: Aqui Cristo se nos apresenta como abrigo. Ê Tito mandou seus homens escavar os alicerces da ci-
este o pensamento central do versículo 37, e somos dade toda. como também do templo, e mais tarde
convidados a estudá-lo humilde e reverentemente: Teréncio Rufo lavrou o lugar. Assim cumpriu-se lite-
1) O primeiro pensamento sugerido por este ralmente Miquéias 3.12" (Goodmanj
símbolo é a idéia de perigo. Havia então o perigo A grande tributação (15-26). Este trecho é geral-
político dos romanos, mas o perigo principal de Is- mente reconhecido como se referindo ao período fi-
rael era espiritual. O mesmo perigo é de todos, em nal. que. segundo o parecer de muitos expositores de
todos os tempos, aos que têm transgredido a lei divi- confiança, seguirá a vinda de Cristo para arrebatar a
na e não tém aceitado o Salvador. sua Igreja. Primeira fase da segunda vinda.
2) O símbolo de um abrigo é apresentado de ma- "A abominação de desolação (v. 15) é menciona-
neira a realçar a glória de quem é ali revelado. Ê da quatro vezes em Daniel: Em 8.13 como a trans-
uma proteção divina que é oferecida. As asas da oni- gressão assoladora; em 9.27 como asa das abomina-
potência são estendidas para a nossa defesa. £ sufi- ções: em 11.31 como abominação desoladora, e em
ciente para abrigar um mundo arrependido. 12.11 como abominação desoladora. Estudando es-
3) Este símbolo de um abrigo ilustra no mais alto tas quatro passagens, vemos que se referem á profa-
grau a terna condescendência de Cristo. Faz isto nação do santuário (o Templo), á cessação dos sa-
pela sua simplicidade familiar e sua ternura inefá- crifícios, e ao estabelecimento de uma abominação
vel. (ura ídolo?) no lugar de sacrifício" (Goodman).
4) Ê a figura de alguém que interpõe a sua pró- Dez anos depois da morte de Cristo, o imperador
pria vida para abrigar-nos do perigo. Uma rocha romano Caligula decretou que a sua estátua fosse co-
pode abrigar o viajante do calor do sol; um escudo locada no Templo em Jerusalém para ser reverencia-
abriga o soldado no dia da batalha. Cristo é o abrigo da. Profecia de dupla realização: ocorreu antes da
das almas crentes nele, somente pelo fato de interpor destruiçáo de Jerusalém em 70 d.C. e ocorrerá no se-
a sua vida entre eles e o perigo. gundo período da grande tribulaçáo.
5) Notemos os fins conseguidos pelo fato de refu- .4 volta do Rei em glória (27-31). Segunda fase da
giar-se o pecador em Cristo. O resultado imediato é a segunda vinda julgamento das nações. Notemos as
segurança, mas esse é o primeiro passo para a pieda- seguintes circunstâncias. A volta será:
de e o serviço espiritual.
6) A figura é delineada de maneira tal que mostra a) evidente como um relâmpago (v. 27).
que o homem é responsável na matéria da sua salva- b) acompanhada de juízos (v. 30).
ção. c) com um sinal do céu (v. 30).
Proposta emenda de tradução. Deve ficar no tex- d) lamentável para os descrentes (v. 30).
to o versículo 14, omitido pela V. B. (C. 38). No e) junto com os anjos (v. 31).
versículo 38 leia-se: "Eis que a vossa casa será aban- f ) uma ocasião do ajuntamento dos escolhidos (v.
donada por vós" (0.20). 31).
O cadáver e as águias (v. 28). E difícil ser positivo
Capítulo 24 sobre a interpretação das palavras aqui e em Lucas
17.37. Uma explicação é que significam a destruiçáo
Destruição do templo (1-3). Seu cumprimento foi - repentina, útil e necessária - dos inimigos do reino.
Da mesma maneira que os urubus descem dos céus
ás mãos do imperador Ti to, no ano 70 d.C.
para imediatamente removerem tudo que é morto e
A tríplice pergunta: corrupto, assim também os anjos de Deus na segun-
1) Quando serão estas coisas (a destruição do da fase da segunda vinda separarão os maus e cor-
templo, etc.)? ruptos - os espiritualmente mortos - dos "escolhi-
2) Que sinal haverá da tua vinda (parousia: pre- dos" (21) que tém vida em Cristo (Mt 13.40-50).
sença)? Contudo, náo deixa de ser um dos versículos mais
3) Que sinal haverá do fim da época? problemáticos do N.T.
Nota: A expressão grega "sunteleias tou aionos",
traduzido por Almeida e V.B. "fim do mundo", sig- Diz F. W. Grant: "Onde estivesse o cadáver (a
nifica cumprimento do período, ou época, ou tempo, corrupção), as águias haviam de descobri-lo: o juízo
como em Figueiredo. Importa uma consumação fi- seria completo na sua obra. Não haveria mais espe-
nal. rança de longanimidade. O juízo era agora o único

327
MãltUS

remédio. A vara do pastor havia de ferir e destruir os Outra explicação do trecho é a seguinte: "Se os
destruidores do rebanho e da terra". tradutores tivessem traduzido "haute genea" ESSA
"Aprendemos no versículo 29 que os versículos geração, como se traduzem as mesmas palavras em
15-28 relatam aquele período conhecido como a Hebreus 3.10. tudo teria ficado claro, e tudo de acor-
Grande Tribulaçào. à qual hô freqüente alusão nos do com a índole da língua grega, vista que "houtos".
escritos do V.T., nos Salmos e no Apocalipse. Os es- "haute". "houto" costumam referir-se ao assunto
tudantes da profecia conhecem-no como a segunda em discussão: no presente caso. a geração que vê es-
metade da septuagésima semana de Daniel. Deve- tes sinais. Isto é, que os sinais e a consumação da
mos distinguir entre a Grande Tribulaçào e a Des- vinda, tudo caberia dentro de uma só geração"
truição de Jerusalém em 70 d.C. A referência a esta (Prophecy VoL XVJ11, Ne 8, pég. 15).
última não está em Mateus, mas em Lucas 21.12-24. Há outra interpretação desta profecia de Mateus
O período da Tribulaçào é relacionado imediata- 24 e Marcos 13.26 e Lucas 21. baseada na repetição
mente com o povo judaico, a Palestina, e o apareci- da palavra vós até o versículo 28 em contraste com
mento do Anticnsto; mas todo o mundo é afetado. eles em Marcos 13.26. A conclusão dessa interpreta-
Devemos ligar o versículo com Daniel 12.11" (Scrog- ção é que "as profecias em Mateus 24 até o versículo
gie). 28; em Marcos 13 até o versículo 23; e em Lucas 21
A volta do Senhttr (32-51). O assunto de 24.23 a até o versículo 24. cumpriram-se enquanto alguns
25.46 é a segunda vinda de Cristo, e chama-se a dos apóstolos ainda viviam".
atenção para a maneira (23-28), a ocasião (29-51) e o "Ninguém pode duvidar que Lucas se refere ex-
efeito da sua vinda (cap. 25). {Trata-se da segunda plicitamente a Jerusalém, e devia acontecer dentro
fase da vinda de Cristo, no fim do segundo período de 40 anos; e devemos lembrar que os três evangelis-
da Grande Tribulaçào, mas algumas dessas profe- tas registram o mesmo discurso, e por isso no mesmo
cias e períodos se referem também à primeira fase da contexto, que a história recorda, que a igreja em Je-
segunda vinda - o arrebatamento da Igreja. | rusalém assim interpretou a profecia, e obedecendo
"Aqui estudamos a ocasião. Será no fim da Gran- o mandato do Senhor para que saisse da cidade, sal-
de Tribulaçào, e. efetivamente, terminará esse vou-se da destruição de Jerusalém" (Roberts, "The
período de aflição. O aparecimento do Rei será Olivet Prophecy ").
acompanhado por certos sinais que não deixarão Se alguém nos disser que. afinal, Jesus não deu
ninguém em dúvida sobre o que vai acontecer (29). A uma resposta clara e positiva à pergunta: "Declara-
volta do Senhor (segunda fase) terá efeitos opostos nos QUANDO sucederão estas coisas" (3), responde-
«obre inimigos (30) e amigos (31); triste/a e alegria, remos que isso Cristo náo podia revelar, visto ter Ele
gemidos e adorações, medos e delicias. Ele náo virá declarado não saber o dia nem a hora (36).
afinal como veio da primeira vez, em fraqueza e hu- "Levado" nos versículos 39.40e 41. Muitos expo-
mildade. mas com poder e glória. sitores, inclusive Scroggie, Grant, Darby, Kelly, etc.
"Primeiro se ilustra a certeza da vinda (32-35). entendem que em cada um destes versículos o senti-
Táo certamente como as árvores brotando anunciam do é "levado para o juízo" e "deixado para ter parte
a vinda da primavera, assim estes sinais (29) anun- no Milênio".
ciarão a vinda do Rei. Jesus diz que somente o Pai Contudo, no versículo 39, a palavra traduzida
sabe a hora deste grande acontecimento (36), mas "levar" é "airo", e nos versículos 40, 41 é "paralam-
quando vier, o mundo será tomado de surpresa (37- bano". Esta última palavra é empregada em Mateus
39) como nos dias do Dilúvio. Esse dia será um dia 1.20,24; 26.37, onde é traduzida "receber" (Mc 4.36;
de separação (40.41). Palavras solenes: 'levado ou 5.40, e muitos outros lugares). Diz B. W. Newton:
deixado" (Scroggie). [Esta profecia também se apli- "Uma consulta dos últimos versículos de Lucas capí-
ca á primeira fase da segunda vinda - o arrebata- tulo 17 mostra a relação das palavras 'um será leva-
mento.] do' com o levar os santos por Cristo". Assim há entre
os expositores diferença de interpretação de Mateus
"Não passara esta geração (v. 34). " A palavra
24.40,41. [A expressão "um será levado e outro dei-
grega "genea" significa raça. espécie, família, etc. £
xado" também se aplica ao arrebatamento.]
certo que a palavra se emprega neste sentido aqui.
porque nenhuma "destas coisas", a saber, a prega- Servos bons (45-47) e servos maus (48-51). O ser-
ção do Evangelho do reino em todo o mundo, a volta vo fiel e diligente será premiado; o servo mau será
de Cristo em visível glória, o ajuntamento dos esco- castigado. Quando um servo de Deus, em vez de
lhidos, aconteceu na destruição de Jerusalém por prosseguir oom seu trabalho, começa a "espancar os
Ti to em 70 d.C. A promessa é, portanto, que a gera- seus conservos", depreciando-os, ele está em franca
ção - a nação ou família de Israel - será conservada decadência.
até o fim" (Scofield). Propostas emendas de tradução. Corrigir a V.B.
lendo "grande voz de trombeta" (v. 31, C. 179). Do
Um escritor oferece a seguinte paráfrase: "Esta versículo 36 devemos omitir "nem o Filho" que per-
geração de homens vivos atualmente náo passará até tence a Marcos 13.32 mas nào aqui (C. 169).
cumprir-se tudo referente a Jerusalém, e esta gera-
ção - a nação de Israel - náo passará até cumprir-se Capitulo 25
o restante da profecia". .4 parábola das dez virgens (1-13). O sermão pro-
Contudo, nos 41 lugares onde a palavra grega fético é interrompido por parábolas desde 24.32 até
"genea" se encontra na Bíblia, o sentido é sempre 25.31, e as destes capítulos ensinam outra vez a ne-
"geração" e não "nação". Há um ensino que a pala- cessidade de vigilância (1-13) e fidelidade (14-30).
vra grega " a n " importa dúvida ou possibilidade: As virgens representam cristãos professos, dos
Young traduz "esta geração pode não passar". Diz- quais cinco são renascidos. Devemos notar os pontos
se que a volta foi adiada quando os judeus definiti- de semelhança que havia antes do grito da meia-
vamente rejeitaram o Evangelho. noite e os pontos de diferença depois desse brado.

328
No nosso estudo desta parábola podemos consi- A ocasião do juízo é a vinda gloriosa de Cristo
derar: cora seus anjos. Segunda fase da segunda vinda, logo
1) O propósito das virgens que foi o de se encon- antes de ser estabelecido o Milênio.
trarem com o esposo - sem dúvida ura bom propósi- O lugar: provavelmente, a Palestina.
to. Quais são os propósitos que mais preocupam o Os julgados: as nações vivas.
pensamento humano? Alguns aspiram a, mais cedo O assunto do juízo é a maneira pela qual as na-
ou mais tarde, encontrarem-se com Cristo. ções têm tratado os "irmãos de Cristo".
2) A prudência das virgens. Notemos que havia O resultado é separação, galardão ou condena-
aparente semelhança exterior entre elas, mas funda- ção.
mental diferença intima. Cinco prudentes: cinco O versículo 40 merece a nossa detida considera-
loucas. ção. e deve influir em todo o nosso serviço.
3) O preparo das virgens para se encontrarem O versículo 45 mostra que há castigo por pecados
com o esposo era, então, azeite nas lâmpadas: talvez de omissão.
uma figura do Espirito Santo. Qual é o preparo de O expositor prudente evitará aplicar o ensino
que nós necessitamos? deste juízo a outras pessoas ou outros pecados não
4) A paciência das virgens. Houve uma demora referidos no trecho.
inesperada, como também parece acontecer com a " O Filho do homem vem na sua glória, e todos os
segunda vinda de Cristo; e essa demora serviu para santos anjos com Ele. e senta-se no trono da sua gló-
revelar a prudência das virgens. O decorrer dos anos ria (v. 31). Todas as nações estão reunidas perante
descobre, em nós, o quê? Ele. As palavras são "panta ta ethne", que muitas
5) O prêmio das virgens prudentes foi o de entra- vezes são traduzidas num sentido geral e não com re-
rem no gozo do noivo. Há galardão para o crente em ferência às nações individualmente (G1 3.8; 2 Tm
Cristo, pois gozara futuramente a companhia do seu 4.17). Por isso náo convém insistir que temos aqui o
Senhor. julgamento de nações e náo de indivíduos. Talvez
6) O prejuízo das virgens loucas foi a perda de seja mais prudente tomar a parábola como ensinan-
toda essa alegria. O remorso por bênção perdidas do o princípio geral em que o julgamento se baseará,
pode bem ser um dos principais castigos do impeni- para que assim 06 nossos corações sejam exercitados
tente. por ela. Nem devemos insistir demasiadamente
7) A lição da parábola ê: '""Vigiai, porque náo sa- sobre as palavras "este meus irmãos" aplicando-as
beis o dia nem a hora". Efeitos desta vigilância: a) exclusivamente aos judeus. As palavras de 10.40-42
guarda-nos de demasiada preocupação com interes- permitem-nos dar á expressão uma aplicação mais
ses atuais; b) preserva do desânimo que poderia re- extensiva" (Goodman).
sultar das provações do momento; c) inspira-nos Este trecho não contém qualquer alusão aos cren-
com grande esperança para o porvir; d) preocupa- tes no Evangelho da graça de Deus. As nações aqui
nos com o Cristo, não como sofredor, mas como Rei são julgadas, não por sua fé ou descrença numa obra
vindouro. redentora, mas segundo as suas próprias obras. Por
A parábola dos talentos (14-30) ensina-nos a isso o trecho pouco serve ao evangelista na sua apre-
aproveitar bem o tempo até a vinda de Cristo. O ver- sentação do Evangelho da graça de Deus.
dadeiro crente náo pode Her servo mau ou negligente. Nota
O talento era um dinheiro da antigüidade que, As anotações entre colchetes ( ( ] ) no comentário
segundo o dicionário de Davis, valia 29.374,50 dóla- aos capítulos 24 e 25 permitiu-se o Editor inseri-las.
res, sendo de ouro, ou, de prata, valendo este
1.950.00 (em 1942). Capitulo 26
Em figura, os talentos representam as oportuni-
dades da vida. Nós podemos ter pouco dinheiro cora Conspirando (1-5). "Esta é a quarta vez que Je-
que servir nosso Senhor, mas temos força, tempo, sus prediz a sua morte. Chega a marcar o dia, que foi
oportunidades, etc. justamente o contrário do plano dos inimigos: 'Não
durante a festa'.
"Esta parábola doe talentos deve ser comparada "Durante seu ministério, Jesus referiu-se 25 ve-
e contrastada com a das minas em Lucas 19. Ambas zes à sua morte" (Scroggie).
falam da ida. da ausência, da volta, e cm ambas a
O jantar em Betánia (6-13). Aqui devemos ler.
ênfase é sobre o que se faz durante a ausência.
provavelmente, "Siraão, negociante de louças", e
" A cada um destes servos é dado segundo a sua náo " o leproso" (O. 93).
capacidade (14,15); os servos são então contrastados Esta ocasião, tão tocante e intima, patenteou o
(16-18); depois vêm a volta, a prestação de contas, o amor dos seus amigos ao mesmo tempo que o ódio
prêmio dos diligentes, e reprovação do indolente (19- dos adversários chegava ao seu auge.
30)" (Scroggie). João ensina-nos que a mulher era Maria, a irmã
"Não é a quantia que nos é dada que determina a de Lázaro, e nos deixa imaginar que Simáo era o pai
recompensa, mas a fidelidade no seu emprego. O ser- dela, talvez um dos que Cristo curara (Gray).
vo que recebera cinco talentos ganhou outros cinco, O que se gasta com Jesus náo é "desperdício".
mas o que recebera dois também dobrou o capital re- Aprendemos de João que foi Judas quem falou em
cebido, e merece a mesma aprovação; e havia de ser desperdício.
uma satisfação para o senhor achar um dós seus Jesus atribuiu a Maria mais inteligência do que
pronto a servir tanto na condição humilde como na aos outros referente à morte. Ela não foi ao sepulcro
mais elevada" (Grant). para em balsa mar um corpo incorruptível, mas pres-
(J fim do sermão. O juízo das nações vivas (31- tou seu serviço precioso antecipadamente.
46). Náo se deve confundir este juízo com o dos mor- "Aqui está uma profecia que tem sido cumprida
tos em Apocalipse 20.11-15. tão literalmente que ninguém o pode negar (v. 13). E

329
hoje, na China, na índia, na África, na América, Vemos que. nesse momento de suprema prova-
fala-se deste incidente constantemente. Nossa fami- ção. o que mais importava a Jesus era a vontade de
liaridade com o fato tende a diminuir a nossa admi- Deus. E assim conosco?
ração. Deveras havia um profeta ali! Por que havia Entre as trés orações. Jesus voltou duas vezes aos
de ser divulgado em toda parte o que a mulher fize- discípulos. Ele sentia o valor e a necessidade da sim-
ra? Porque o Senhor aprecia mais do que tudo a de- patia humana. A primeira vez Ele acordou a Pedro e
dicaçáo dos nossos corações ã sua pessoa?" falou com ele, talvez lembrado de que Pedro necessi-
"Este trecho apresenta contrastes notáveis. Uma tava do reforço espiritual que vem do "velar com Je-
mulher, um homem; um amigo, um inimigo; dando sus". A segunda vez parece que não acordou nenhum
alguma coisa, recebendo alguma coisa; devoção, en- deles. A terceira achou-os meio acordados, e disse
gano; sacrifício, egoísmo, um vaso de ungüento. trin- que podiam dormir (se podemos aceitar a tradução
ta moedas; abençoado, amaldiçoado" (Scroggie). "Dormi agora" e náo a emenda "Dormis agora?");
O preço da traição (14-16). "Devemos ler: 'ajus- era tarde para velarem.
taram com ele trinta moedas' (R. 149). Judas é bem "Como é profundo o mistério das duas vontades
diferente da mulher que quis gastar com Jesus. Ele de Jesus: a humana e a divina! Aqui a sua vontade
quis e obteve as 30 moedas de prata, e tomou-se o humana é submissa ao Pai (v. 39). Ele recuaria da
primeiro entre dezenas de milhares que tem abando- cruz. mas aceitou-a. O que tinha soberana e eterna
nado a Cristo por amor de lucro material" (Good- importância para Jesus era a vontade de Deus"
man). (Scroggie).
A última páscoa transformada em a Santa Ceia Jesus é preso (47-56). Confrontando as diferentes
(17-30). Jesus tomou os elementos da páscoa e deu- narrativas da traição de Judas e a prisão de Jesus,
lhes uma nova significação. A páscoa tinha serv ido notamos que só era Mateus Jesus chama Judas de
seu propósito, porque o Cordeiro que o sacrifício sim- "amigo". Somente Joáo diz que foi Pedro que feriu
bolizava ia ser morto no dia seguinte. Por isso foi ins- com a espada, e dá o nome do servo: Malco. Somente
tituída uma nova festa, apresentando a verdade fun- Lucas (o médico) recorda que Jesus sarou a ferida.
damental do cristianismo, como a Páscoa tinha Somente João tem a pergunta "Náo beberei eu o cá-
apresentado a do judaísmo" (Weston). lice que o Pai me deu V
O que preocupava o pensamento de Jesus era a A palavra que Jesus emprega (hetairos), traduzi-
traição. A pergunta de cada um, "porventura sou eu, da "amigo" (v. 30), não é a mesma de Joáo 15.14 (fi-
Senhort" é melhor do que suspeitar do próximo. los) mas significa companheiro, colega, e nunca con-
Entende-se que entre a festa pascoal (20-25) e a tém a idéia de amizade (veja-se 11.16: 20.13; 22.12)
Ceia do Senhor (26-30), Judas tinha saido (Jo 13.30). (Scroggie).
" O hino que cantaram eram os salmos 115 a 118" A perversidade de Judas, depois de desfrutar por
(Scroggie). trés anos a intimidade com Jesus, revela a profunde-
Entre os versículos 20 a 21 leia-se Joáo 13.1-20; e za a que a natureza humana pode rebaixar-se!
depois do versículo 25 leia-se João 14.1 a 17.26. Jesus foi provado de toda maneira: a contradição
"Em Lucas e 1 Corintios, e náo nos dois primei- dos pecadores, a fraqueza dos discípulos, e a malig-
ros evangelhos, é que o caráter memorial da Ceia é nidade de Satanás. mas conservou sereno e confiado
afirmado, e isto é de importância decisiva para a sua seu espirito.
interpretação. "Fazei isto", diz o Senhor, "em me- Doze legiões (v. 53). "Uma legião de soldados,
mória de mim " (Lc 22.19). Aqui se afirma o propósi- nos tempos de Jesus, era composta de 6.200soldados
to preciso do pão e do cálice. de infantaria e 300 de cavalaria. Doze legiões, por-
"Ora, lembrança é daquilo ou de quem náo está tanto. seriam 78.000 homens" (Treasury).
presente. Ainda mais, é de alguma coisa passada. O Jesus perante os juizes religiosos (57-68). "Houve
comentário do apóstolo é tão claro quanto possível: seis fases do processo de Jesus, sendo trés eclesiásti-
'Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes cas e trés civis: 1) Perante Anás (Jo 18.12-24). 2) Pe-
este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ve- rante Caifás (57-68). 3) Perante o Sinédrio (27.1,2).
nha' (1 Co 11.26). Claramente a morte do Senhor 4) Perante Pila tos (27.11-14). 5) Perante Herodes
náo é uma coisa presente mas passada. 'A morte não (Lc 23.8-11). 6) Perante Pila tos outra vez (27.15-26)"
mais terá domínio sobre Ele'. E um Senhor morto (Scroggie). Este trecho em Mateus refere-se à segun-
que recordamos, mas um Senhor vivo que adora- da fase.
mos" (Grant). Devemos notar que as testemunhas falsas cita-
Pedro é avisado (31-35). Vemos Pedro (como al- ram erradamente as palavras de Jesus (versículo 61
guns de nós) entusiasmado, confiado em si. não com- comparado com João 2.19). Ao citar a Escritura de-
preendendo a própria fraqueza. Ele está t i o confiado vemos ter o cuidado de não mudar nem uma pala*
que até contradiz o próprio Mestre! vra.
Notemos em Pedro: dedicação ao seu Mestre; ig- Notemos que Jesus náo se defendeu, mas quando
norância da grandeza da provação que chegava; con- era preciso testemunhar a verdade, falou (v. 64).
fiança na própria coragem; uma atitude de superio- Jesus afirmou quatro verdades: 1) Que era o Cris-
ridade sobre os outros. to. 2) Que era o Filho de Deus. 3) Que havia de sen-
Jesus em Getsémane (36-46). "Não devemos su- tar-se à direita da majestade divina. 4) Que viria
por que o cálice aqui seja o mero receio da dor física "sobre as nuvens do céu" (v. 64).
ou da morte... O cálice devia ser o ato de Ele fazer a Pedro nega a Jesus (69-75). O Senhor lhe tinha
sua alma uma oferta pelo pecado (Is 53.10), incluin- dito: "Quando te corwerteres, conforta a teus ir-
do o desamparo de Deus (SI 22.1); o valor da sua pe- mãos" (Lc 22.32). Ele era já regenerado, mas a refe-
tição é que testemunha a necessidade da expiaçáo rida conversão aconteceu no Pentecoste, sete sema-
pelo pecado" (Gray). nas mais tarde. Náo há maior necessidade hoje do

330
MÃUUÍ

que esta: que todos os crentes sejam realmente con- Jesus perante Pilatos (11-31). Cristo é a grande
vertidos: voltados a encarar sempre seu Salvador. "pedra de toque" do universo. Em contato com Ele
O versículo 70 deve ser "Mão conheço este de todos se revelam. Os chefes religiosos do judaísmo
quem falais" (0.20). descobriram seu ódio pelo Sumo Bem: Pilatos des-
cobriu sua fraqueza e indecisão, a sua incapacidade
de exercer a justiça; o povo revela sua preferência
Capitulo 27 por um malfeitor; a esposa de Pilatos revela uma
justa apreciação da inocência de Jesus; os soldados
O suicídio de Judas (1-10). "Comparando Ma- revelam seu indiferentismo e crueldade. E nós, que
teus com Atos i.16-19, parece que, depois de Judas mostramos? admiração? gratidão? obediência?
se enforcar, seu corpo caiu. A citação atribuída a Je- Lucas 23.2 ensina-nos as três acusações dos ju-
remias é bem parecida com Zacarias 11.12,13. Isto deus contra Jesus perante Pilatos: 1) pervertendo a
tem sido explicado pelo fato de que o volume dos li- nossa nação; 2) proibindo dar tributo a César: 3) di-
vros proféticos era geralmente conhecido pelo nome zendo-se Rei.
do primeiro, e no cãnon judaico o primeiro era Jere- "Aqui relatam-se a quarta e a sexta fases do pro-
mias. Outra explicação é que o nome do profeta foi cesso de Jesus; seu primeiro e segundo compareci-
acrescentado (erradamente) por alguns copistas do mento perante Pilatos. Entgre os versículos 14 e 15
manuscrito original, pois vários manuscritos omitem vem a quinta fase, o com pareci mento perante Hero-
•Jeremias' depois da palavra profeta" (Treasury). des (Lc 23.8-18). No relatório do primeiro compare-
Ainda outra explicação devemos ao dr. Bullinger: cimento perante Pilatos (11-14) a coisa mais notável
" A profecia foi primeiro falada por Jeremias e depois é o seu silêncio. Ele respondeu ao governador que
escrita por Zacarias". agia judicialmente, mas náo aos sumos sacerdotes e
O que vemos em Judas é antes remorso do que anciãos cujo procedimento todo era ilegal. Há oca-
um verdadeiro arrependimento. Um homem total- siões quando a única resposta consoante cora a dig-
mente endurecido nem remorso teria sentido. Ofen- nidade e honra é o silêncio. Falar com certa gente é
der um seu semelhante menos santo e menos amá- rebaixar-se (Scroggie;.
vel, não teria ocasionado comoção tão profunda. Barrabás ou Cristo? (20-26). Barrabás tem o sen-
N o caso de Judas vemos o perigo de uma familia- tido 'filho do pai'. (Jo 8.44), assassino desde o princí-
ridade com o que é espiritual e divino, sem haver pio; e o outro, "Filho de Deus". Que contraste entre
constante exercício espiritual. Acontece o mesmo este notável preso chamado Barrabás. que tinha fei-
hoje. Facilmente se costuma cantar hinos sublimes to insurreição e cometido homicídio (Mc 15.7), e o
sem prestar atenção ao seu sentido. O pregador repe- Santo de Deus - esse homem justo - cora quem a
te tantas vezes o Evangelho que não se sente mais mulher de Pilatos sonhara (v. 19)! O povo teve de es-
comovido por ele. O crente afirma que "tem a vida colher entre os dois. um para ser solto e outro para
eterna" sem sentir o verdadeiro significado de ex- ser morto. A mesma escolha é nossa hoje!
pressão tão sublime. A crucificaçáo (32-56). Notemos a extrema bar-
"Claramente é a agonia do remorso que vemos baridade desses tempos em que a crucificaçáo era
em Judas, e não o arrependimento verdadeiro. Ele um suplício freqüente, especialmente com castigo de
náo pôde ficar com o dinheiro que ganhara, o qual, escravos. "Os cidadãos romanos eram isentos desta
mesmo no parecer dos sacerdotes, estava manchado pena. em virtude de leis especiais" (Davis).
de sangue. Até mesmo aos ouvidos deles Judas grita O incidente de Siraáo, o cireneu (ou "lavrador",
a confissão do seu pecado em ter traído sangue ino- O. 129) é relatado por três dos evangelistas, mas
cente: não grita sangue santo ou justo, e ainda me- omitido por João.
nos o Santo e o Justo. A glória do Filho de Deus náo o
preocupa. Nada de chegar-se àquele em cuja compa- " A cruz de Cristo é o ponto central de toda a his-
nhia por tanto tempo tinha andado - náo havia ne- tória: o universo gira em torno dessa cruz. Esta tra-
nhum reconhecimento de qualquer recurso a que pu- gédia é o maior dos trunfos; este fracasso, o maior
desse recorrer. Enfim, náo há nada de fé. e por isso dos sucessos. Destas trevas tem vindo eterna luz: Je-
nada de arrependimento. Ele atira as moedas no sus foi desamparado para que nós fôssemos ampara-
santuário - a parte do templo reservada para os sa- dos; Ele foi ferido para que nos fôssemos sarados. Se
cerdotes - 'e foi-se enforcar'. Em tudo isto vemos o Ele se tivesse salvado, não teria podido salvar-nos.
contrário da fé. Quantas vezes ele teria visto as obras Se tivesse fugido da cruz, nós para lá teríamos de ir.
milagrosas que testificaram que 'o Filho do homem Se Ele nâo tivesse morrido na cruz. Barrabás teria
tem poder sobre a terra para perdoar os pecados', morrido nela" (Scroggie).
mas parece não se lembrar de nada disso, ou não Ê preciso notar que o titulo na cruz (37) escrito
pode acreditar na divina misericórdia para consigo, e em três línguas diferentes (e mais completamente
por isso se atira na ruína irrevogável" (Grant). em uma do que nas outras) contém a acusação de ter
desafiado a autoridade romana.
"Que carreira e que fim! Alguns maus homens
tornam-se bons, e alguns bons tornam-se maus, mas Jesus nunca falou era ser desamparado pelo Pai.
aqui um homem mau permanece mau até o fim. A mas sendo "feito pecado" por nós, sentiu-se abando-
sua confissão e remorso não importam em arrependi- nado por Deus (46).
mento no sentido evangélico. O arrependimento de E quem dirá o agrado que. como Pai, achou
pedro resultou em santificaçáo: o remorso de Judas, Em Ti, Teu Deus. quando Ele a Ti desamparou?
em suicídio. Judas não somente vendeu seu Mestre, O véu rasgado logo após a consumação da obra
mas a si mesmo. Que preço tem a sua alma. leitor? expiatória, náo era obra humana, pois os homens o
Alguns vendem a alma por dinheiro facilmente ad- teriam rasgado de baixo para cima; nem foi propria-
quirido, outros pelos prazeres do mundo, mas Judas mente para nós podermos entrar, mas sim para Deus
nada lucrou" (Scroggie). poder sair era bênção para a humanidade (v. 51).

331
1
MÊUUI

O estranho incidente narrado nos versículos 52,53 zer isto, fora proibida (Jo 20.17). O motivo disto tem
relatado somente por Mateus. Diz o dr. Goodman: sido muito discutido. A seguinte explicação parece
"Este acontecimento deu-se depois da ressurreição, razoável: a intenção de Maria era segurá-lo para que
mas é ligado com a morte do Senhor, sendo a liçáo. náo se retirasse mais, como Jacó quis segurar o anjo
evidentemente, que somente na base do sangue der- (Gn 32.26): como a mulher samaritana recusou dei-
ramado podem os santos sair do sepulcro". xar Eliseu, abraçando-lhe os pés (2 Rs 4.27). Veja-se
Não podemos afirmar que o capitão romano e os também Cantares 3.4. A resposta do Senhor signifi-
soldados foram convertidos nesse momento tremen- cava então: 'Não me detenhas com demonstrações
do, mas foram convidados (como o carcereiro de Fili- de afeição. Ainda náo ascendi'".
pos antes de ser crente) e, espantados, disseram que Jesus aparece aos discípulos na Galiléia (11-20).
Jesus era "Filho de Deus" (v. 54). "Parece ter havido dez manifestações antes da as-
E as mulheres, de longe, presenciavam tudo! ( w . censão do Filho de Deus. sendo cinco no dia da res-
55,56). surreição e cinco depois. A dos versículos 8-10 era a
A sepultura de Jesus (57-66) também correspon- segunda no dia da ressurreição, sendo a primeira a
dia com a voz profética (Is 53.9, V.B.). Vemos amor e Maria Madalena (Jo 20.14-18)" (Scroggie).
ódio em atividades com respeito ao corpo de Jesus. No versículo 17 devemos ler 'E quando o viram
Devemos notar que a guarda foi posta pelos chefes adoraram-no, embora duvidosos dos seus sentidos"
religiosos e náo por Pilatos. (O. 26).
A grande comissão de evangelizar o mundo (16-
Capitulo 28 10). Todo o poder; todas as nações; todas as coisas;
todos os tempos. Notemos:
A ressurreição (1-10). No versículo 1 devemos ler 1) Sua autoridade: total, universal, única, sufi-
"E depois do sábado, antes da alva do primeiro dia ciente.
da semana" (O. 21). 2) Seu mandato: positivo, explicito, urgente, in- •
A narrativa de Mateus é a única que diz que o clusivo.
anjo do Senhor tirou a pedra do sepulcro e sentou-se 3) Seu batismo, matriculando discípulos de todas
sobre ela. O "evangelho do Rei" recorda este humil- as nações. A palavra "ensinai" (v. 19, Alm.) é
de serviço de um dos mensageiros celestiais. "matheteusate" (discipular ou matricular) e no
Notemos as palavras "Vinde"; "Vede"; "Ide": versículo 20 é "didascontes" (instruir). Depois de ser
"Dizei". As palavras do anjo inspiraram alegria, mas matriculado pelo batismo, o discípulo precisa ser
as de Jesus, adoração (9). E depois: "Não temais; instruído.
ide anunciar". 4) Seu ensino dos discípulos arrolados - todas as
Este trecho muito nos revela com respeito aos an- coisas que Eu vos tenho mandado.
jos. Eles têm corpo mas passam livremente entre o 5) Sua presença, em todos os lugares e em todos
Céu e a Terra (2). Este anjo trajava roupas; era res- os tempos. Notemos que a frase "sunteleias tou aiô-
plandecente. e despertou temor nos que o viram nos", traduzida na V.B. "fim do mundo" significa,
(3,4). Falou, presumivelmente, em aramaico, pois ao pé da letra, "fim da época". Em nenhuma parte
foi entendido. O que os guardas fizeram, ele ordenou da Bíblia fala-se do "fim do mundo". (Assim enten-
às mulheres que não fizessem (4,5). Conhecia a Jesus de o autor.)
e sabia por que as mulheres tinham vindo (5). Sabia Aprendemos deste trecho: que a chamada ao ser-
que Jesus predisse a sua ressurreição; sabia que Ele viço vem a quem está no caminho da obediência
ressurgiria; disse isso ás mulheres e mandou que exa- (16); que a visão do Cristo ressurreto leva á adoração
minassem o lugar (6). Chama Jesus de " o Senhor". (17); que a nossa confiança para o serviço deve estar
"Maria Madalena já tinha corrido para dar as no poder de Cristo e náo em nós; que o alvo do Evan-
boas noticias aos discípulos antes que Jesus se en- gelho é todo o mundo (19); que devemos ensinar toda
contrasse com as outras mulheres, por isso ela náo a verdade de Deus; que o crente pode contar com a
estava com elas. Tiveram o ensejo de abraçar-lhe os continua presença do seu Salvador.
pés (v. 9), enquanto Maria Madalena, querendo fa-

332
arcos, chamado tam- ANALISE DE MARCOS
bém João, era filho de
uma das Marias do INTRODUÇÃO (1.1-13).
N.T. a sobrinho de a) A proclamaçáo (1-8).
Barnabé. Era associa- b) A preparação de Jesus (9-13).
do com os é mencionado nos escritos de 1. O Servo divino na Galiléia (1.14 a 9.50).
Paulo e (At 12.12,25; 13.13; 15.37.39; Cl 1.1. Jesus luta com os agentes e as atividades do
4.10; 2 4.11; Fm 24). mal (1.14 a 3.6).
A datti de Marcos tem sido calculada entre 57 a 1.2. Jesus separa 06 crentes dos descrentes (3.7 a
63 d.C. 6.6).
Tema. O escopo e propósito do livro sáo evidentes 1.3. Jesus opera milagres entre o povo (6.7 a
pelo seu conteúdo. Nele Jesus é visto como o podero- 8.26).
so obreiro, mais do que como ensinador. Ê o Evange- - 1.4. Jesus instrui seus discípulos em vista da
lho do Servo de Jeová, o "Renovo" (Zc 3.8); como Cruz (8.27 a 9.50).
Mateus, é o Evangelho do "Renovo... de Davi" (Jr 2. O Servo divino, da Galiléia a Jerusalém (cap.
33.15). 10.1-52).
A qualidade de servo no Filho manifesto em car- 2.1. O ministério na Peréia (1-31).
ne é sempre evidente. O versiculo-chave é 10.45. A 2.2. Cltima viagem a Jerusalém (32-52).
palavra característica é "imediatamente", expressão 3. O Servo divino em Jerusalém (11.1 a 15.47).
adequada para um servo. Não há genealogia, pois 3.1. Domingo (11.1-11). A entrada triunfal na ci-
quem cuidaria de apresentar a genealogia de um ser- dade.
vo? O caráter distintivo do Cristo em Marcos é aque- 3-2. Segunda-feira (11.12-19). A figueira amaldi-
le que Paulo apresenta em Filipenses 2.5-8. çoada e o templo purificado.
Mas este humilde Servo, que abandonou a forma 3.3. Terça-feira (11.20 a 13.37). A final controvér-
de Deus (Fp 2.6) e foi achado na forma de homem, sia e a grande prediçáo.
era. contudo, " o Deus poderoso" (Is 9.6), como o pró- 3.4. Quarta-feira (14.1-11). A conspiração e pacto
prio Marcos declara (1.1), e por essa razão obras po- para prender Jesus.
derosas acompanharam seu ministério, comprovan- 3.5. Quinta-feira (14.12-52). A páscoa, o Getsé-
do-o. Como convém a um evangelho de serviço. Mar- mane e a traição.
cos destaca mais as ações do que as palavras. 3.6. Sexta-feira (14.53 a 15.47). A condenação • a
O melhor preparo do coração para o estudo de crucificaçáo.
Marcos é a leitura (com oração) de Isaías 42.1-21; CONCLUSÃO (16.1-20).
50.4-11; 52.13 a 53.12; Zacarias 3.8; Filipenses 2.5-8. a) A ressurreição de Jesus (1-9).
Marcos tem cinco divisões principais: 1. A* mani- b) A manifestação de Jesus (9-20) - (Scroggie).
festação do Filho-Servo (1.1-11). 2. O Filho-Servo
provado (1.12,13). 3. O Filho-Servo agindo (1.14 a A MENSAGEM DE MARCOS
13.37). 4. O Filho-Servo obediente até a morte (14.1
a 15.47). 5. O ministério do Filho-Servo em ressurrei- Jesus Cristo se nos apresenta no Evangelho de
ção, exaltado e com toda a autoridade (16.1-20) Marcos como o Servo humilde, fazendo a vontade do
(Scofield). Pai. As primeiras palavras ensinam-nos que as qua-

333
Marcos

lidades de servo e filho sào inseparáveis. Nào é me- 14.51.52. Ele parece ter relatado principalmente o
diante o serviço que nos tornamos filhos, mas pela que ouviu Pedro. Justiniano Mártir (100-165 d.C.)
adoçáo de filhos que chegamos a ser servos (Ml 3.17; cita o seu evangelho sob o titulo 'Recordações de Pe-
M t 21.28; Mc 1.1). dro'. e Irineu (130-202 d.C.) diz que ele era discípulo
e intérprete de Pedro, e escreveu o que este pregara"
Uma revista do conteúdo deste Evangelho mos- (Gtutdman).
tra que todo o seu pensamento difere do de Mateus.
Ali se estabeleceu o trono; e o Rei, sentado sobre ele,
pronunciou seus decretos e dominou s£Us súditos; Capitulo 1
aqui se vê o Servo ungido andando entre os homens,
passando de um lugar a outro, descansando mas in-
cansável, cumprindo seu ministério. A narrativa de Joáo Batista (1-8). O ministério de João Batista é
Marcos é rápida, enérgica, realista, pitoresca, dra- referido aqui mais resumidamente do que nos outros
mática e caracterizada por transições repentinas. evangelhos.
As omissões sáo muitas e significativas, visando Notemos que a preparação do caminho do Se-
salientar Jesus como o Servo. Por exemplo, em Mar- nhor era espiritual e náo material: corações arrepen-
cos o titulo "Senhor" nunca é empregado pelos discí- didos. onde Cristo podia entrar com bênção. Havia
pulos, e ocorre apenas 17 vezes neste Evangelho, muito poder espiritual com a pregação, porque sem
comparado com 72 vezes em Mateus. 101 em Lucas, isso ninguém confessa seus pecados. Joáo testificou
a 108 em João. (Compare-se Mateus 8.2 com Marcos de Jesus: há muita pregação que náo faz isso.
1.40; Mateus 26.22 com Marcos 14.19; Mateus 8.25 Há uma diferença entre o batismo de Joáo, que
com Marcos 4.38.) ero o "de arrependimento", e o batismo cristão "no
Ainda mais, notamos que aqui náo há nenhuma nome do Pai, e do Filho, e do Espirito Santo". Joáo.
referência à preexistência de Cristo, como em João; náo podendo apontar uma Pessoa para ser o centro
nenhuma genealogia nem nascimento milagroso: ne- da congregação do povo piedoso (Gn 49.10). levantou
nhuma adoraçáo dos magos; nenhum sermão da o estandarte do arrependimento.
montanha; nenhuma denúncia da naçáo ou juízo das Batismo e tentação (9-13). A tentação é resumida
nações; nenhuma sentença contra -Jerusalém. Estes em dois versículos, mas Marcos acrescenta uma cir-
e outros pontos semelhantes náo teriam cabimento cunstância: "estava com as feras". Mateus coloca o
na descrição do Servo humilde, e por isso omitem-se. serviço dos anjos depois da tentação.
Mas o aspecto refletido aqui náo é somente negativo, Foi o Espirito de Deus que levou Jesus para a
é positivo também. Assim a atenção é chamada para tentação, porque Ele havia de sair vitorioso. Jesus
as ações, as palavras para o aspecto de Cristo, como ensinou seus discípulos a orar. "não nos indiuas à
convém ao perfeito Servo. tentação", porque eles eram fracos e faliveis. e de-
Em Marcos chama-se especial atenção aos retiros viam recear toda classe de tentação.
de Jesus. Ele retirou-se a um lugar solitário, depois Pregando o reino (14-20). Neste trecho notemos o
das primeiras curas (1.35); a lugares desertos, depois seguinte: que a pregação de Jesus começou logo de-
da purificaçáo do leproso (1.45); ao lago, depois de pois de Joáo ter sido encarcerado - o trabalho nào
ter curado o homem que tinha a mão ressicada (3.7); precisa parar com a falta de um obreiro; que o Evan-
ás aldeias, depois da sua rejeição em Nazaré (6.6); a gelho anunciado era "do reino de Deus" - o domínio
um lugar deserto, depois do assassinio de João Batis- divino da vida humana é a maior das bem-
ta (6.30-32); aos arredores de Tiro e Sidom, depois aventuranças; que para entrar nas bênçãos deste go-
da oposição dos fariseus (7.24); à vizinhança de Ce- verno era preciso haver arrependimento e fé; que Je-
saréia de Filipos, depois da cura de um cego (8.27); sus necessitava de cooperadores na grande tarefa da
ao monte Hermom. após a primeira declaração aber- pregação; que os discípulos chamados deixaram, uns
ta da sua paixão (9.2); a Betánia. depois da entrada as redes (o interesse material), e outros o pai (os la-
triunfal (11.11), e outra vez depois da purificaçáo do ços de afeição natural); que para ser pescador de ho-
templo (11.19), e ainda mais uma vez após o discurso mens é preciso "ir após Ele".
sobre as coisas do fim (14.3). O parágrafo adicional
9obre a ascençáo é como que a história da sua última O trecho começa com a missão e mensagem de
retirada (16.19). Jesus. Notemos as quatro partes da sua pregação: 1.
O tempo cumprido (Dn 2.44; 9.25; G1 4.4). 2. O reino
E evidente o sentido disto. Quem muito serve, está próximo. 3. Arrependimento. 4. Fé no Evange-
precisa estar muito com Deus, e os períodos para re- lho.
tiro e descanso espiritual serão mais freqüentes e Os quatros discípulos chamados eram pescado-
mais necessários ã medida que nosso serviço se torne res, ocupados, obedientes, prósperos. Deixaram re-
mais verdadeiramente sacrificial: somente á medida des, pais. tudo: mas ganharam muito mais homens
que permanecermos no esconderijo do Altíssimo po- para Cristo!
deremos ter um coração tranqüilo, preparado para o "Omite-se aqui a primeira pregação em Nazaré
serviço. (Lc 4) que. sendo rejeitada, resultou em Jesus deixar
Mas junto a esta lição aprendemos outra, talvez essa cidade e morar em Cafamaum, " o aldeia da
mais difícil de entender, a saber, que devemos estar consolação", que, por algum tempo, correspondeu ao
à disposição dos outros, e que nossos próprios retiros nome" (Grant).
precisam ficar sujeitos ás necessidades dos homenB. Trés curas milagrosas (21-45). "Os milagres de
Na vida do verdadeiro Servo isto é muito evidente cura têm trés valores: comprovam a vocação divina
(Scroggie). de Jesus: revelam o coraçáo de Deus em sua compai-
" N ã o sabemos se Marcos viu ou ouviu, pessoal- xão pelos homens: são parábolas no mundo físico de
mente. alguma vez o Senhor, embora alguns têm sua graça e poder na esfera espiritual" (Goodman).
pensado que ele se descreve a si mesmo no capitulo Estas três curas, com a do paralítico do capitulo

334
Marcos

2. ilustram quatro efeitos do pecado: permite a açào para isto tinha de haver uma obra expiatória; para
de Satanás: causa inquietação: contamina: torna a aquilo, uma manifestação do poder divino.
pessoa inútil para o serviço de Deus 6) Saúde restaurada era uma prova de pecado
Notemos que havia uma oposição permanente perdoado (10).
entre Cristo e os demônios. Ele os expelia, às vezes, O homem curado, "tomando logo o leito, saiu". O
sem ser rogado (25». Estes quatro milagres revelam a dr. Scroggie pergunta a seus leitores: "Vosso leito es-
autoridade (27), simpatia (31). compaixão (41). e tá debaixo das costas, ou carregado no ombro?"
poder (2.10) de Cristo. Levi (Mateus) é chamado (13-17). Ficamos a
Os dois capítulos descrevem uma viagem circu- imaginar se Mateus seria irmão de Tiago, outro " f i -
lar. saindo de Cafamaum. pregando por toda a Gali- lho de Alfeu" (3.18», e qual dos dois teria falado ao
léia (39). e voltando a Cafarnaum. outro a respeito do Mestre.
" A prova da realidade de um homem e a revela- Vemos o poder da palavra de Jesus; disse apenas
ção do seu caráter vêem-se no que ele faz quando é "Segue-me", e foi transformado toda uma vida.
popular (33). como reage às aclamações da multi- Quais as palavras de Jesus que mais nos tém impres-
dão. Que fez Jesus? (35) A única coisa segura a fazer sionado?
é retirar-se da turba ao trono, da pregação á oração. A primeira coisa que Levi quis fazer foi apresen-
Ninguém que não passa muito tempo com Deus po- tar Jesus aos seus amigos, e lembrou-se de fazé-lo
derá prevalecer muito tempo com os homens. Entre por meio de um jantar. Alguém pode fazer hoje coisa
os versículos 39 e 40 vem o Sermão da Montanha semelhante?
( M t 5 a 7), uma amostra da pregação referida em 38 O jejum (18-22). Hoje. perante o mundo, jejua-
e 39" (Scroggie). mos (abstendo-nos de certos gozos lícitos) porque
O leprttao (41-45). O leitor deve notar quanto o le- Cristo está ausente. Reunidos com os crentes, regozi-
proso fez e disse e tudo que Jesus fez e disse. ja mo-nos porque Cristo está "no meio".
Os versículos 21.22 ensinam que Cristo não pro-
Capitulo 2 pôs remendar o velho judaísmo nem pór o "novo vi-
nho" do Evangelho dentro dos antigos ritos e cerimô-
nias. Elo trouxe um novo ensino, uma nova procla-
O paralitico (1-12). Depois de uma viagem de
maçáo - as boas-novas de que a graça de Deus pode
evangelizaçào. Jesus está de volta em Cafarnaum. e
agora manifestar-se em bênçãos para todos os que.
"logo se ajuntaram tantos que nem ainda nos lugares
arrependidos, crêem em Cristo.
junto à porta cabiam ".
Notemos: que o paralitico não podia ir procurar a Diz o dr. Scroggie: " A verdade é que o judaísmo e
cura: que a bênção que recebeu foi devida ao empe- o cristianismo: a Lei e o Evangelho; o legalismo e a
nho de quatro amigos; que ao menos um desses sabia liberdade espiritual, são incompatíveis. O novo ma-
como poderia abrir um buraco no telhado da casa: terial do Evangelho náo deve ser empregado para re-
que Jesus apontava a origem da doença, o pecado; mendar o velho vestido da Lei; nem devemos pôr o
que Ele tinha poder de perdoar; que Ele lia os cora- novo vinho do cristianismo nos velhos odres do ju-
ções; que o "leito" do doente era provavelmente uma daísmo. (Leia-se Gálatas 4.5 e especialmente 5.1.) Ê
espécie de esteira; que os assistentes ficaram impres- dê lamentar que muitos cristãos vivem na velha dis-
sionados com o milagre. pensaçáo de tempos e estações: 'não toques, não pro-
ves. não manuseies" - confessando a Cristo, seguem
Sobre a construção das casas em Cafamaum, e a Moisés. O cristianismo nunca havia de ser um ju-
como se podia baixar um doente pelo telhado, pode- daísmo remendado. Este fato é a condenaçáo do ri-
mos consultar "The Land and the Boock", pág. 358. A tualismo".
descrição é muito longa para se traduzir aqui, mas. Jesus. Senhor do sábado (23-28). Cristo viu o
em resumo, podemos entender o seguinte: os telha- povo muito apegado ao ritualismo. por isso ensinou
dos das casas eram muito baixos: os caibros tinham que ritos, cerimônias e dias de guarda náo consti-
uma distância de um metro de um ao outro; trans- tuem uma lei de ferro. Em seu serviço podemos tra-
versalmente aos caibros colocavam-se ramos cober- balhar até num dia de guarda, como também aten-
tos de um reboço e barro para proteger tudo do tem- der a uma necessidade do nosso corpo (25).
po. Não é difícil remover uma parte dessa coberta,
mas a maior dificuldade da narrativa é pensar no in- A essência do parágrafo está no versículo 27 - O
cômodo que a poeira havia de causar ás pessoas den- sábado era uma bênção, não uma carga; o sábado
tro da casa. Não precisamos supor que os quatro era para o homem e não o homem para o sábado.
amigos baixassem o doente até o chão sem auxílio al- Conforme 1 Samuel 21. o nome do sumo sacerdo-
gum do povo lá dentro. te era Aquimeleque e náo Abiathar (v. 8). Esta dife-
Várias coisas interessam-nos neste milagre de cu- rença tem sido explicada de diversas maneiras pelos
ra. Por exemplo: expositores. O livro de Treasury diz que Abiathar era
1) Como Jesus tratou primeiro da origem da filho de Aquimeleque e que provavelmente pai e fi-
doença: o pecado do homem. lho levaram os dois nomes, que parece ser certo de 2
Samuel 8.17 e 1 Crônicas 18.16, onde Aquimeleque é
2) Como Ele podia e quis perdoar os pecados que
evidentemente chamado Abiathar enquanto
causaram o mal, e em fazé-lo demonstrou ser Deus
Abiathar é chamado Aquimeleque.
(v. 7).
3) A oposição dos escribas assentados ali, e ao
Capítulo 3
mesmo tempo o discernimento deles que o perdão de
pecados é prerrogativa de Deus.
4) Como Jesus percebeu os pensamentos íntimos Outra vez o capitulo divide-se em quatro partes,
deles (8). que podemos resumir em quatro palavras: milagres,
5) Porque era mais fácil curar do que perdoa^: escolha, blasfêmia e família.

335
~SíãTCO$

Uma cura e muitas curas (1-12). Aprendemos: ma, e nào o próprio crime. Foi porque os escribas fi-
que mesmo na casa de oração pode haver alguém im- zeram isto que Cristo apontou o perigo em que esta-
prestável para qualquer serviço; que esse tal, em vam (v. 30). O pecado eterno é a atitude de quem.
contato com o Salvador, pode ser habilitado; que fa- propositadamente, e em desafio á luz e ao conheci-
zer bem é licito em qualquer ocasião; que corações mento. rejeita, e nào somente rejeita mas persiste
endurecidos se encontram numa sinagoga; que o em rejeitar os esforços do Espírito Santo e a graça de
mal, às vezes, tem de ser exposto para ser curado (5) Deus oferecida no Evangelho. Tal estado, paro quem
que um espirito imundo pode saber muitas coisas. nele permanece sem arrependimento, exclui o per-
" A necessidade humana é manifestada mais evi- dão, porque é o pecado para a morte referida em 1
dentemente no incidente do homem que tinha a mão João 5.16. Isto expressa o que Cristo ensinou em João
mirrada. Os judeus queriam restringir, pela sua in- 3.18: "Esta é a condenação, que a luz veio ao mundo
terpretação da lei do sábado, as manifestações do e os homens amaram mais as trevas do que a luz,
poder divino em prol das misérias de que o mundo porque as suas obras eram más". Pecar contra a luz é
estava cheio. Então a Lei era para náo fazer o bem? uma coisa solene e fatal; continuar nessa carreira é
para deixar a morte prevalecer, ou para conservar a perecer finalmente. Em qualquer tempo em que haja
vida? Os fariseus ficaram obstinadamente silencio- um desejo verdadeiro de andar direito e um anelo
sos. Então Jesus ficou indignado pela dureza dos pela paz com Deus. há a resposta da graça. "Há per-
seus corações, e invocou o poder divino para testifi- dão contigo, para que sejas temido", porque o san-
car contra eles pela cura do homem. Os inimigos de gue de Jesus Cristo purifica de todo o pecado; so-
Jesus ficam confundidos, mas não convencidos, e mente nào há esperança quando aquele sangue é cal-
essa inimizade uniu fariseus com herodianos para o cado debaixo dos pés, em desrespeito ao Espirito da
destruírem" (Grant). graça (Hb 10.29).
A escolha dos doze (13-18). Aqui temos preciosas "Pode alguém hoje cometer o pecado imperdoá
indicações do "preparo para o ministério", a saber: vel? Isto ao menos é certo: quem pensa tê-lo cometi-
ouvir a chamada de Deus e obedecer a ela; estar jun- do certamente náo o fez, porque quem o tiver feito
to dele num lugar retirado; sentir-se mandado por não tem semelhante receio" (Scroggie).
Ele a pregar; receber do próprio Jesus todo o poder Um parentesco espiritual (31-35). No versículo 32
para o serviço. devemos ler: "Porque a multidão estava assentada
Na lista dos nomes é só Marcos que diz serem ao redor dele" (O. 5).
. Joáo e Tiago apelidados "Boanerges", e Marcos nào Os irmãos e a mãe de Jesus nào manifestam com-
põe o nome de André junto com seu irmão Pedro. preensão alguma do seu ministério, e querem cha-
"Jesus escolhe doze apóstolos, para comunhão: má-lo para fora. Por isso o Filho de Deus aponta um
'para que estivessem com Ele', para serviço: e os parentesco mais sublime e espiritual, com "qualquer
mandasse a pregar' (14). Isso é sempre a ordem divi- que fizer a vontade de Deus".
na. Nada adianta sair a pregar se náo se tem estado "Jesus não veio para destruir as relações terre-
primeiro com Deus. Primeiro solidão, depois serviço; nas. mas para resguardá-las. Veio também para
primeiro aparelhamento, depois empreendimento; mostrar que as relações espirituais são soberanas.
primeiro comunhão, então comissão; primeiro pre- Parentesco natural é passageiro, mas parentesco es-
paração, então pregação. Devemos tomar o tempo piritual é eterno. Jesus não despreza sua máe. mas
necessário para nos aprontar para o trabalho; tam- põe em primeiro lugar o seu Pai" (Bengel).
bém aprender a servir junto com outros. Imaginemos Quando o natural e o espiritual rivalizam-se no
os Doze em treinamento por. provavelmente, dois nosso coração e na nossa vida. é fatal ceder ao natu-
anos! Cristo náo quer trabalhar sem nós outros: por ral. (Leia-se Lucas 9.59-62 e 14.26.) Ê duro ser mal-
que, então, tentar servir sem Ele?" entendido pelos parentes, mas a lealdade a Cristo
A blasfêmia dos escribas (20-30). Este trecho re- pode tornar isso inevitável (Jo 7.5).
vela várias contrariedades, começando com os pró-
prios parentes de Jesus (21). A contradição aqui atri- Capitulo 4
buída aos escribas é referida aos fariseus em Mateus
e a alguns era Lucas. A parábola do semeador (1-20). Para alguns
A melhor explicação que temos encontrado da pensamentos referentes a esta parábola, consulte-se
blasfêmia contra o Espírito Santo foi dada por G. o comentário de Mateus 13. Marcos acrescenta no
Goodman. "Ê culpado de um pecado eterno" è como versículo 7 as palavras "e não deu fruto".
a V.B. traduz este solene versículo 29. Que significa Note-se que na Bíblia "as aves do céu" quase
isto? Como muitos tém sido perturbados e mesmo sempre tém um mau significado.
alarmados seriamente por esta expressão do Senhor, Qual é a sementeira que Deus tem semeado na
pensemos a seu respeito: 1) Não é ela para perturbar vossa alma, e qual o fruto?
a consciência impressionável, pois ter uma consciên- Notemos que o semeador é um: Deus (ou seus
cia sensível é estar na condição espiritual diametral- servos); a semente é uma: a palavra que declara
mente oposta. O blasfemo aqui referido é uma pes- Deus revelado em Cristo; mas há um adversário -
soa cuja consciência está cauterizada como que por Satanás (ou seus servos) que tira (de que modo?) a
um ferro em brasa. 2) Não se refere a alguém cair em palavra semeada no coração.
tentação, a um simples pecado ou pecados; é mais Muitas vezes no seu ministério o Senhor Jesus re-
uma atitude de espirito do que um ato. 3) Não signi- petiu as palavras "Quem tem ouvidos para ouvir,
fica uma simples palavra irrefletida ou descuidada, ouça" (v. 9). Esta parábola pode ser chamada a dos
embora blasfema, porque blasfêmias e pecados se- ouvintes que nào ouviram. O Filho de Deus é o Se-
melhantes podem ser perdoados (v. 28). 4) Não sig- meador. a semente é a Palavra, que. semelhante á
nifica meramente atribuir a obra de Cristo ao poder semente, tem vida em si, e, quando as condições são
de Satanás. como no caso citado. Esse era um sinto- favoráveis, nasce e produz fruto.

336
"SÍÚTCOl

Notemos três pontos na parábola: 1) As coisas "Acordam-no, e á sua repreensão a tormenta aca-
que impedem o ouvir. Eistas sào o caminho (desleixo ba. mas porventura eles não perderam alguma coi-
e indiferença), o pedregulho (a mente sem propósito sa?
e perseverança), os espinhos (o amor dos prazeres e
outros deleites). Tais ouvintes nunca realmente ou-
vem. A verdade náo pode fazer nada com eles. No Capitulo 5
primeiro caso. as aves consomem a semente; no se-
gundo. o sol queima-a; no terceiro, os espinhos sufo- O endemoninhado gadareno (1-20). Thompson
cam-na. 2) O coração que realmente ouve. é chama- em The Land and the Book. entende que Mateus
do honesto e bom (Lc 8.15). Os tais ouvem a palavra, aponta, como sendo o lugar onde este incidente se
isto é, com o ouvido de fé. recebem-na (20). 3) Os re- deu. a aldeia de Chersa ou Gergesa. á beira do lago.
sultados sáo diversos, em proporçáo à realidade do A província dos gadarenos (habitantes de Gada-
ouvir; alguns trinta, outros sessenta e ainda outros ra) ao leste do mar da Galiléia. era fora da Terra
cem por um. Esse fruto náo é produzido de uma só Santa e sob o domínio dos gentios. Aprendemos des-
vez. mas representa o costume de uma vida inteira. te milagre de cura:
Bem aconselhou-nos o Senhor: "Atendei ao que ou-
1) Que espíritos imundos são capazes de dominar
via " (v. 24. V . B . ) e "vede pois como ouvis" (Lc 8.18),
um ser humano. O espiritismo pode oferecer-nos
pois nem toda pregação é boa semente, e há diversas
hoje alguns exemplos de semelhante obsessáo.
espécies de ouvintes (Goodman).
2) Que uma pessoa sob tal maléfico domínio tor-
A parábola da candeia (21-25). Náo se encontra na-se incompatível para a sociedade de gente civili-
em Mateus, mas aqui e em Lucas somente. Ensina zada.
que, tendo sido iluminados pela verdade de Deus, 3) Que tal pessoa fica sem sossego, sem paz: peri-
somos responsáveis por difundir essa luz entre os gosa. indomável.
nossos semelhantes. O alqueire representa os cuida- 4) Que na presença de Jesus o homem se sentiu
dos e interesses materiais da vida: cama. os confor- atraído e repelido. Atraído, talvez, pela graça e com-
tos. Devemos cuidar que nosso testemunho náo seja paixão do Salvador, e repelido pela santidade que re-
impedido por um ou outro (Gray). provava a sua impureza.
A semente que cresceu ocultamente (26.29). O De Jesus notamos:
homem (26) náo é Cristo, pois nem tudo que se diz 1) Que. na presença dos poderes diabólicos, sen-
dele é aplicável ao Senhor. Este não dorme nem do reprovado por eles. reprovou imediatamente esses
acorda: e Ele "sabe como" (27). Aplica-se. porém, ao espín >s imundos.
servo de Deus que sai levando a preciosa semente. 2/ .^ue a sua presença inspira respeito, até dos
A semente é lançada na terra. Os que desejam perdidos.
ceifar precisam semear primeiro (SI 126.6). 3) Que Ele exigiu uma ampla confissão do nome e
O semeador náo pode fazer mais do que isto. Ele estado do possesso (v. 9).
dorme de noite e acorda de dia. e náo se aflige pelo 4) Que. sendo rogado a retirar-se. foi-se imedia-
resultado da sua sementeira. tamente.
A semente nasce sem ele saber como. Quem po- 5) Que recusou levar consigo o homem curado,
derá explicar o mistério da maneira pela qual a ver- porque este devia primeiro testemunhar aos seus (v.
dade de Deus opera na mente dos homens? 20).
A obra da fé passa por determinadas etapas. Náo O dr. Scroggie dá as seguintes divisões:
esperamos fruto maduro no recém-nascido. Primeiro 1) Uma criatura miserável (1-5).
a erva - o primeiro amor, o zelo do principiante, os 2) Um Salvador poderoso (6-10).
desejos por bens espirituais - . depois a espiga - o vi- 3) Um pânico entre porcos (11-13).
gor da juventude espiritual (1 Jo2.14). Afinal, o grão 4) Uma grande sensação (14-17).
cheio - o cristão desenvolvido, a graça madura, a 5) Um servo obediente (18-20).
plena experiência (Goodman). Notemos os quatro pedidos: do endemoninhado
"Esta parábola fala do progresso, manifestação e (v. 10); dos demônios (v. 12); dos gadarenos (v. 17);
consumação da vida divina na alma. Uma vez lança- do homem curado (v. 18).
da na terra, a semente está fora do campo de ação do "Temos um quadro do homem curado, 'assenta-
semeador. Ele se foi embora, mas entram em cena do. vestido e em perfeito juízo'. Passaram o desas-
influências que operam até que o fruto apareça por sossego. a veemência, a paixão. A vergonha da sua
ocasião da ceifa" (Scroggie). nudez está coberta, ele tornou em si mesmo e tem
Esta é uma das parábolas que achamos somente juízo perfeito. Porventura pode haver um juízo per-
em Marcos. A outra se encontra era 13.34. feito sem que se venha a Cristo?
Dormindo numa tempestade (30-41). Deste inci- "Mas o mundo é um mundo caída e Satanás o
dente aprendemos algumas lições preciosas referen- seu príncipe. Aqui vemos como isto chega a ser. Es-
tes ao Senhor Jesus: ses que rogam a Cristo que se vá. verão o Diabo ficar.
1) Seu exemplo de tranqüilidade e paz. O Senhor nos explicou como uma casa varrida e
2) Seu cuidado dos discípulos assustados. adornada comida a uma visita dessa natureza. Ro-
3) Seu encorajamento, visando estimular a fé. gam a Cristo, cortes mente, que se vá. pois é possível
" O incidente é também uma parábola. Ainda é alguém rejeitar ao Senhor com bons modos; e Ele vai
noite. e está tempestuoso; a Igreja e o crente ainda mesmo.
são afligidos pelo mar proceloso do mundo. O divino "Mas o homem libertado tem outros pensamen-
Mestre está conosco, embora, ás vezes, julguemos tos. A graça divina tem operado no seu coração, e a
que Ele dorme. Ele ainda transforma grandes tem- libertação de que ele tem sido objeto é uma grande
pestades em bonanças, e ainda repreende a nossa in- realidade. Roga permissão para ficar com Jesus, mas
credulidade" (Scroggie). o Senhor tem outros propósitos a seu respeito: 'Vai

337
fdarcêt

para a tua cana. para teus parentes, e anuncia-lhes aplicável: 'Nec Deus intersit. nisi dignus vindice no-
quão grandes coisas o Senhor te fez. e como teve mi- dus inciderit*. (Quando o poder milagroso de Deus é
sericórdia de ti'. Assim o pecador salvo é feito teste- necessário, que seja procurado; quando nào é preci-
munha da salvação que recebeu no mundo onde so. que se empreguem os meios comuns.) Agir de ou-
Cristo tem sido rejeitado. 'E ele foi, e começou a tro modo seria tentar a Deus" (Treasury).
publicar em Decápolis quão grandes coisas Jesus lhe Podemos notar os mesmos doze anos da doença
fizera'" (Grant). da mulher e da vida da criança. Por doze anos a mu-
A mulher com fluxo de sangue (21-34). Notemos lher ficando cada vez mais fraca; por doze anos a
dela: os anos do seu padecimento; os esforços inúteis menina cada vez mais robusta, até que lhe sobreveio
para conseguir uma cura (Lucas, o médico, refere Umâ dòênça repentina. Então, no momento de extre-
que ela g a s t a r a com os médicos, mas nào conta que ma necessidade, as duas encontraram seu recurso
ela padecera com eles): o esgotamento dos seus re- suficiente e completo em Cristo.
cursos: o desenvolvimento da sua moléstia (v. 26); o Na Bíblia há somente sete casos de serem ressus-
evangelho que ouviu (v. 27); o esforço que fez; o cará- citados mortos, e três desses são de crianças. Elias
ter da sua fé (v. 28); a rapidez da sua cura; seu susto levantou o filho da viúva de Sarcpta (1 Rs 17.19-24);
(v. 33). Eüseu, o filho da mulher sunamita (2 Rs 4.34-37). A
Para entender "a orla do seu vestido"consulte-se maneira de ressuscitar a criança em cada caso é ins-
Numero» 15.38. trutiva. Elias estendeu-se trés vezes sobre o menino
Segundo Le vi tico 15.19. o contato com a mulher e pós a boca sobre a boca dele. os seus olhos sobre os
imunda contamina: mas Jesus ao invés de ser conta- olhos dele. as suas mãos sobre as mãos dele. e cur-
minado pelo mal. curou-a. vou-se sobre ele. transmitindo-lhe calor à carne.
O dr. Scroggie marca as seguintes divisões: sua Quão diferente o procedimento do Senhor Jesus!
necessidade (v. 25); seus desapontamentos (v. 26); "Tomando a mão da menina, disse-lhe Talitha cu-
sua esperança (v. 27); seu esforço (v. 27): seu contato mi". Ele era mais poderoso do que a morte. Mas em
com Cristo (v. 28); sua recompensa (v. 29); seu medo ambos os casos houve contato.
(v. 33); sua confiança <v 33); sua confissão (v. 33);
sua salvação (v. 34). Capitulo 6
Notemos a diferença entre a mulher e Jairo. Este
um homem, aquela uma mulher; este interessudo na Um profeta sem honra (1-6). Jesus volta a Naza-
necessidade de outrem, aquela na própria necessida- ré, onde fora criado, e onde. com certeza, assistira
de; este abastado, aquela pobre: este veio aberta- sempre ao serviço da sinagoga. Mas agora Ele come-
mente. aquela secretamente; este pediu a bênção, ça a ensinar ali (v. 2) e dá ensinos preciosas, que ve-
aquela tentou furtá-la. Mas ambos obtiveram seu mos mais detalhados em Lucas 4.18-22.
desejo porque Cristo era a sua única esperança. Mas os ouvintes estranham que um * carpinteiro
A filha de Jairo (35-43). Entre as lições que este "se tenha tomado pregador", e alguns, em lugar de
incidente ensina, notemos: a) que uma interrupção atender ao ensino, criticavam o ensinador.
podè ser uma prova de fé. Visto que a menina estava Notemos as cinco perguntas ( w . 2,3). Há tam-
nas últimas, a demora com a mulher doente deve ter bém uma incredulidade que resulta de familiaridade
afligido bastante o pai da criança; b) que Jesus, ao ( w . 3.6); a própria família é. ás vezes, quem menos
receber a noticia do falecimento da criança, apres- aprecia; Jesus, rejeitado na cidade, percorre as al-
sou-se a reanimar o pai: "São temas! crésomente'": deias.
c) que o Salvador corresponde à medida da fé do in- Os irmãos de Jesus (v. 3). Se estes "irmãos" (Mt
divíduo: quem cré que um mero contato trará saúde, 12.46; Gl 1.19) eram ou nào filhos de Maria é um
prova que assim é (v. 28); quem sente a necessidade ponto muito debatido. Podemos entender que a lin-
da presença do Salvador na sua casa (v. 23) terá guagem favorece a idéia, e que não é necessário atri-
Cristo ali consigo; quem conta que uma palavra de buir a Maria uma completa esterilidade depois do
Jesus será suficiente (Mt 8.8). prova que até isto nascimento do seu primeiro filho.
basta.
O romanismo. querendo honrar a virgem, ensina
A palavra "a menina não esta morta. mas dor- que o casal não tinha filhos, mas. segundo o ensino
me" não quer dizer que ela não tinha realmente fale- do V.T., isso. em Israel, nào era tido por honroso (Gn
cido, pois Lucas 8.53 dã a certeza disso. Mas para 25.21; 29.31; Dt 33J24; SI 127.3,4; Lc 1.7).
Jesus - e para o crente - a morte é parecida com um Podemos contrastar os poucos enfermos curados
•ono. do qual a voz divina acorda o que dorme (At do versículo 5 com os muitos curados do versículo 13.
7.60; 1 T « 4.13.14). Os doze enviados (7-13). Em 3.14 Jesus chama os
As palavras "talítha eximi" são da língua aramai- doze para estarem com Ele. sendo, assim, prepara-
ca. dos para se tornarem seus mensageiros. Ele agora
Depois de a palavra do Senhor Jesus ter dado envia-os a dois e dois. Consideremos algumas vanta-
vida à menina, era mister o cuidado dos pais em ali- gens desta associação em serviço: a) Se um tropeçar,
mentar essa vida (v. 43). " A s palavras provam que a o outro poderá apoiá-lo. b) Podem combinar em ora-
menina tinha agora perfeita saúde, a ponto de ter ção e assim melhor discernir qual seja a vontade do
apetite. Embora recebesse vida por um poder ex- Senhor, c) O testemunho de cada um é reforçado
traordinário, devia ser alimentada por meios co- pelo outro, d) Podem encorajar e admoestar um ao
muns. O conselho de um pagão sobre outro assunto é outro, e) Podem trocar impressões da Palavra de
• " O p e r á r i o " ou « a t e . "co«etrutor" parece-no. dar melhor o sentido do m o que " c a r p i . i e i r o " . A palavra Uktan
u t e M a m i t n em outra parte do N . T . , mas Paulo se chama archi-tekíon (donde vem a palavra arquiteto) « a 1 Ce

338
Mano*

Deus. f ) Podem estimular um ao outro ao amor e âs culdades! b) Jesus serve-se sempre dos meios dis-
boas obras (Hb 10/24). poníveis (v. 38). c) Em todo o serviço do Mestre ha-
Mas por serem dois, precisam: de longanimida- via método (39,40): 'Fazei tudo com decência e or-
de, tolerância, paciência, aptidão para apreciar o dem d) Jesus pediu a bênção divina sobre a refeição
ponto de vista do outro; da humanidade que não in- (41). Notemos que Ele tomou o alimento, levantou
sista rm própria vontade, do amor fraternal que con- os olhos, deu graças, quebrou o pão e o distribuiu. Ê
sidera o bem do seu irmão. possível que umas 20.000 pessoas tenham sido ali-
Notemos que "trés a trés" não traz as mesmas mentadas milagrosamente nessa ocasião**.
vantagens de dois a dois. Pelo contrário. Às vezes Jesus anda sobre o mar (45-52). Tanto o capitulo
acarreta grandes inconvenientes. 4 como o capitulo 6 relatam um incidente marítimo:
Embora "dois a dois" seja o ideal para o serviço os discípulos embarcados, e uma tempestade no pe-
cristão, é preciso, muitas vezes, devido ás circuns- queno mar da Galiléia. (Veja-se o mapa).
tâncias contrárias, empreender um serviço isolado, Na primeira vez Jesus estava com eles na barca,
ou continuar sozinho quando desaparece o compa- e na segunda, estavam sozinhos, e Ele. no alto, oran-
nheiro. do.
"Para todo o programa da missão dos doze. con- O primeiro incidente pode representar os tempos
sulte-se Mateus 10.5-42. notando: a esfera da sua passados; o segundo, o período atual. Jesus agora es-
missão: o tema da sua pregação; as suas credenciais; tá no alto, intercedendo, mas a fé do verdadeiro
seu aparelhamento; a sua maneira de chegar ás ca- discípulo considera-o sempre presente, e superior às
sas. e o seu procedimento nas casas e nas vilas". ondas da tributação.
No versículo 8 leia-se: "nem saco para esmolas" "Este incidente é história, parábola e profecia.
(J. 237) e "nem bordão", e no versículo 9: "nem al- Nosso Senhor lá no alto, orando por nós. vê como são
parcas" (O. 143). contrários os ventos, e, na vigília que termina a noi-
.4 morte de João Batista (14-29). Podemos notar te, Ele virá a nós. e nos levará à praia. Renovado
em toda a história a influência maléfica de mulheres pela sua oração na montanha. Jesus volta ao seu tra-
iníquas. "Sob a sua influência os reis têm-se tomado balho na planície (53-56) e os que o tocam são sara-
ignóbeis, e déspotas; benignos têm-se tomado mons- dos".
tros e assassinos". Notemos o empenho de Jesus em servir às neces-
Uma das lições principais deste incidente é a ini- sidades físicas do povo ( w . 53-56). Notemos tam-
qüidade de fazer uma promessa sem a condição es- bém como todos os necessitados se sentiam atraídos
sencial: "se Deus quiser". a Ele. e em seguida provaram que "Cristo salva".
O crente é um "servo de Jesus Cristo" (1 Co 7.22)
e o escravo não dispõe de nada. nem de si mesmo Capitulo 7
(cm casamento, por exemplo) sem consultar a von-
tade do seu Senhor. O mandamento de Deus e as tradições dos ho-
No versículo 14 leia-se: "por isto estas maravi- mens (1-23). Aprendemos deste trecho: que o cristia-
lhas são feitas por ele" (O. 98). No versículo 20 "e nismo é uma religião espiritual e não formal; que a
guardava [em memória] muitas coisas que ouvira verdadeira contaminação é do mal que sai do cora-
dele. e de boamente o ouvia" (O. 155). ção, não do alimento que entra pela boca.
No versículo 27. em vez de "executtir" (como em Ê fácil haver uma religiosidade exterior que faz
Alm.) leia-se "soldado da sua guarda" (como na muita questão de ritos e cerimônias, da distribuição
V.B.) do cálice do Senhor em um ou mais copos, da atitude
"Herodes sabia mais do que quis fazer (v. 20) e do corpo em oração, mas que não se preocupa com o
nisto era semelhante a muitos outros. É uma tragé- estado do coração.
dia ter idéias nobres e costumes baixos; sublimes Podemos ter quase a certeza de que. na medida
pensamentos e hábitos degradantes. Porventura a em que alguém se preocupa com coisas materiais,
sua vida é uma unidade sublime ou uma patética deixa de apreciar os valores espirituais. Alguns che-
contradição?" (Scroggle). gam â ponto de excomungar os crente» mais espiri-
.4 primeira multiplicação dos pães (30-44). Uma tuais. uma vez que estes não usam os mesmos ritos e
lição deste trecho é a necessidade de descanso e tran- cerimônias.
qüilidade. Jesus (v. 31) considerou esta necessidade, Podemos considerar quatro pontos:
e providenciou. Contudo, parece que o descanso foi 1) Qual foi a tradição dos anciãos.
logo interrompido (v. 33). 2) Qual foi o costume dos discípulos.
Outra lição é que o pouco pode ter muito valor, 3) Como os fariseus comentaram o caso.
com a bênção de Deus. Que alimento espiritual te- 4) C o m o Jesus vindicou seus discípulos
mos nós que podemos repartir com nossos semelhan- (Matthew Henry).
tes? Notemos como grande parte da religião dos fari-
Supõe-se geralmente que o versículo 44 significa seus consistia em censurar os outros. Vieram de Je-
"em cem filas, com cinqüenta pessoas em cada rusalém. uma viagem de muitas léguas, não para
uma". Isto combina com Lucas9.14,15. Assim a con- aprender mas para criticar.
tagem seria fácil, e 50 X 100 dá 5.000. A explicação dos versículos 1-4 mostra que Mar-
"Notemos alguns pontos neste milagre: a) O cos não escreveu para os judeus, que já sabiam seus
versículo 36 mostra a simpatia dos discípulos e tam- próprios costumes.
bém a sua falta de fé. Eles sentiam a necessidade do "Que seja um corbã" (uma oferta dedicada a
povo, mas nunca pensaram em supri-la; e quando Deus. v. 11), assim permitindo a um filho mau ale-
Jesus propôs-lhes que fizessem, perceberam somente gar que seus bens eram dedicados a Deus, e por isso
dificuldades (37). Quão facilmente levantamos difi- não disponíveis para sustentar seus velhos pais.

339
Marcos

O fim do versículo 19 tem sido muito discutido nou ao doente que o benefício suplicado havia de vir
pelos instruídos. Alguns preferem a tradução como dos céus.
na V.B "isto disse, purificando todos os alimentos", "E ordenou-lhes que a ninguém o dissessem " (v.
mas náo é certo que deve ser traduzido assim. As pa- 36). Por quê? Quando nada. Jesus nào ambicionava
lavras "Isto disse" náo estão no grego. publicidade; mas as maravilhas que fez nào podiam
" O Senhor explica que o processo de comer, ain- ser escondidas: "Quanto mais lho proibia, tanto
da que sem a cerimônia de lavar as mãos. á qual os mais o divulgava"
fariseus davam tanta importância, náo contamina o
homem. Embora algumas partículas de impureza Capitulo 8
fossem ingeridas, tudo seria purgado na ordem natu-
ral. e o homem nào ficaria pior" (Goodman). A segunda multiplicação de pães (1-9). Podemos
"Marcos salienta mais do que Mateus a escrupu- notar que a primeira é narrada por todos os quatro
losidade religiosa que se preocupa com o exterior, as evangelistas; a segunda só por Mateus e Marcos.
lavagens, cerimoniais de mãos. copos, vasilhas, lei- Marcos acrescenta as palavras "alguns deles vieram
tos uma coisa enfadonha e sem proveito espiritual. de longe" (v. 3).
Deus, pela pena de Isaias (29.13). havia caracteriza- "Note-se. entre outras coisas: que Jesus quis ocu-
do isso como mero extern a lis mo sem coração. Man- par seus discípulos com as necessidades materiais do
damentos humanos pretendendo autoridade divina povo; que Ele sentia 'compaixão' pelo multidão fo-
- uma coisa tão essencialmente oca que o Senhor a mintn; que seus discípulos pouco tinham aprendido
denuncia como hipocrisia" (Grant) pelo milagre anterior, embora fosse no mesmo lugar
e as mesmas condições; que Jesus nos deu o exemplo
A mulher canunéui (24-30). Tiro era uma cidade de dar graças antes de comer (o apóstolo Paulo fez a
de gentios, e a mulher era estrangeira. Neste inci- mesma coisa, na presença de descrentes - At 27.35);
dente consideremos: que o alimento era suficiente para todos comerem
1) A menina sujeita a um poder diabólico, sofren- bem (v. 8).
do um mal que os médicos nào sabiam curar: figura "Decápolis era a região que ficava ao sul e sudes-
de moças de hoje que nào se submetem à vontade de te do lago de Tiberiades. e continha as dez cidades
Deus. que deram o nome ao distrito (Decápolis significa
2) A mãe da menina, provavelmente viúva, em- dez cidades)"
penhada pelo bem da filha, e persuadida a recorrer a "Depois de alimentados os 5000. levantaram-se
Cristo. doze cestos de pedaços, e depois dos 4000, sete ces-
3) O Salvador da menina, aparentemente indife- tos. A palavra traduzida 'cestos* não é a mesma. Os
rente ao mal. parecendo menos misericordioso que os 4000 deixaram sete 'spuridas' e os 5000 doze 'Kofi-
discípulos, mas querendo desenvolver a fé da mulher non'. Estes eram cestos de mão. aqueles (os sete)
e instruí-la a contar plenamente com a sua miseri- grandes balaios suficientes para conter um homem.
córdia. Paulo foi arriado pelo muro em um deles (At 9.25)".
4) A cura da menina. Vemo-la agora, em vez de Duas vezes Jesus alimentou a multidão, e ambas
aflita, tranqüila: em lugar de exaltada e irritada, as vezes em circunstâncias semelhantes e da mesma
cheia de gratidão; em vez de sentir o poder do malig- maneira. Em ambas as narrativas há gente com fo-
no na sua vida, experimenta o poder e a graça de me, um lugar deserto, discípulos perplexos, manti-
Cristo. mentos escassos, a ordem de sentar-se. ações de gra-
A cura do surdo e gago (31-37). Ê relatada so- ças. festa, sobra, e despedida. O contraste é entre
mente por Marcos. Podemos achar nos benefícios um dia e três dias, 5000 e 4000. cinco pàes e dois pei-
que Cristo trouxe ao corpo dos doentes figuras das xes. e sete pães e alguns peixes, doze cestos e sete ba-
bênçãos que Ele quer trazer ao nosso espirito. Quem laios.
é espiritualmente surdo ou gago? Quem escuta bem "Quão pouco progresso os discípulos tinham feito
a voz de Deus e fala claramente dele? no entendimento! As poderosas intervenções dos
tempos passados fogem-lhes à memória. Cada nova
Notemos neste milagre: a localidade. Decápolis dificuldade parece-lhes invencível; cada nova neces-
("dez cidades") fora da Terra Santa, entre os gen- sidade os leva a supor que as maravilhas da graça di-
tios; o empenho dos amigos que trouxeram o surdo a vina se esgotaram (Trench). Porventura somos tam-
Cristo; o pedido dos amigos; o silêncio do doente; bém assim? ou nossa passada experiência de Deus
numa semelhança com a cura do cego em 8.23, Jesus ajuda-nos a enfrentar novas situações com coragem e
usa um processo em vez de simples palavras. confiança? Posso acreditar que Cristo tenha visto
nestes dois milagres uma figura da sua iminente pai-
Jesus toma o homem à parte da multidão: a preo-
xão. Ele era o páo partido para satisfazer a fome do
cupação com a gente em redor pode. às vezes, impe-
mundo. O leitor já tomou parte na Festa?" (Scrog-
dir o recebimento da bênção divina.
gie).
Não nos esqueçamos de que Jesus levantou os
olhos ao Céu. como que confessando que o ato de mi- Pedindo sinais. As partes de Dalmanuta (10-21).
sericórdia que ia praticar era de acordo com a vonta- Supõe-se que Dalmanuta era uma vila a leste do mar
de divina. Ele suspirou, pensando, talvez, nos mi- da Galiléia e perto de Magdala.
lhares que nào procurariam a sua graça - ou talvez Devemos comparar este trecho com Mateus 16.1-
sabendo que o homem podia deixar de usar da me- 4 para saber que Jesus se referia aos sinais dos tem-
lhor maneira a bênção recebida. pos em resposta ao pedido malicioso dos fariseus.
O fermento dos fariseus e de Herodes (15). Há
O que Jesus fez devia ter explicado ao doente males progressivos que permeiam tudo em redor. Por
(que não podia ouvir) o sentido da sua oração silen- isso Jesus emprega a figura do fermento: um princí-
ciosa. com os olhos levantados ao Céu. Assim ensi- pio ativo que, em pouco tempo, leve d a toda a massa.

340
Marcos

O fermento dos fariseus era a hipocrisia: uma re- 1) A confissão. Antes de ouvirmos a confissão de
ligiosidade exterior e inútil. O dos herodiano» era o Pedro vamos notar alguns pareceres errados referen-
mundarúsmo; a política. O dos saduceus (Mi 16.6). a tes a Cristo, pareceres que lhe atribuem algum bem.
incredulidade e material inmo Todos os três são ma- mas náo acertam com a verdade.
les que se alastram, corrompendo a massa t«»da. Que dizem hoje de Cristo? Um homem bom.
Neste pequeno discurso com os discípul<»> Jesus exemplo perfeito, mártir inocente, mas a verdade é
faz-lhes dez perguntas e obtém duas respostas. outra: Ele é o Salvador único e divino. A confissão de
A cura de um cego de Betsaida (22-26). Existe Pedro importava em:
uma dúvida sobre se a Betsaida da Bíblia é a mesma a) cumprimento de profecia (Dt 18.15. etc.);
Betsaida-Júlias ao norte do mar da Galiléia. ou ou- b) propósito divino (Cristo significa ungido);
tro lugar do mesmo nome a leste (perto desse lago), c) verdade reservada (v. 30);
de Corazim e Cafarnaum (Mt 11.21.23; Jo 12.21). d) esperança do mundo.
Este milagre é narrado só por Marcos. Ê uma das 2) A repreensão Pedro que repreende, é repreen-
poucas curas demoradas que Jesus fez. O primeiro dido. Notemos em Pedro:
contato do homem com Cristo não teve um resultado a) pouca prudência;
completo. Conosco pode dar-se coisa semelhante. b) falta de discernimento;
Devemos notar o empenho, a simpatia e o traba- c) coragem mal-empregada;
lho de Jesus com este cego. tom ando-o pela mão e le- d) falta de respeito.
vando-o fora da aldeia. Tantas vezes Ele curava com 3) A advertência de Jesus aos discípulos ensina-
uma palavra, mas agora se ocupa com um serviço lhes:
prolongado. a) o que é necessário para seguir a Cristo;
Podemos entender que Deus dispõe de tempo b) que o amor de Deus deve ser o supremo moti-
para atender às nossas necessidades. vo;
"Vemos Cristo acomodando o 'posso' do seu po- c) que perder a vida pode ser lucro, e ganhar o
der à debilidade da fé do cego... Foi curado lenta- mundo, prejuízo:
mente porque creu lentamente. A sua fé era condi- d) que o homem pode "resgatar" a sua alma
ção da sua cura. e a medida deRsa fé determinava a (psyché: vida ou alma);
medida da sua restauração" (Maclaren). e) que envergonhar-se agora de Cristo terá conse-
"Aqui estão narrados sete atos do Senhor. 1) To- qüências tristes no porvir.
mou o cego pela mão. isso para levá-lo fora da aldeia. Levando a própria cruz (34-38). Para entender-
Podemos aprender disto que. para sermos verdadei- mos o ensino de Jesus a este respeito devemos notar
ramente iluminados, devemos submeter-nos a ser que esse ensino segue a prediçáo da sua morte. E
guiados. Por seu Espirito. Cristo nos guiará em toda como se dissesse: "Este mundo náo somente me ma-
a verdade. 2) Levou-o fora da vila. como se tivesse tará a mim, mas vós também náo deveis esperar ou-
dito "sai do meio deles, c apartai-vos. e não toqueis tra sorte, se fordes fiéis em seguir meu exemplo e en-
coisa imunda" (2 Co 6.17). A separação é necessária sino". (Veja-se porém sobre Mateus 16.24-28.)
para que haja gozo espiritual. 3) Cuspiu nos seus "Segar-se a si mesmo" Quando Pedro negou seu
olhos. Tem havido várias explicações disto. Talvez Senhor, ele disse: "Náo conheço esse homem".
fosse "como processo medicinal, não eficaz em »i. Quem puder falar assim a seu próprio respeito sabe o
mas feito eficaz por energia divina" (Weiss). Vemos que significa negar-se a si mesmo. Ê muito natural
o emprego do cuspe em Marcos 7.33 e João 9.6. 4) pensar: " O que. então, será de mim?" É muito espi-
Impôs-lhe as mãos. um símbolo de comunhão e co- ritual pensar: "Como servirá isso à vontade do meu
municação de saúde e poder, aqui um ato de com- Senhor?"
paixão di\~ina. 5) Perguntou se via alguma coisa,
mas o homem enxergava mal ainda. 6) Impôs-lhe as Notemos que a palavra grega psychè nos versícu-
md<ts outra vez. 7) Mandou-o levantar os olhos" los 35-37. traduzida por Almeida duas vezes " v i d a " e
(Goodman). duas vezes "alma", é sempre "vida" na V.B.
Devemos pensar o que significa "perder" a nossa
No versículo 26 leia-se " N ã o entres na aldeia vida. Uma vida perdida é uma vida não aproveitada
nem o digas a ninguém na aldeia" (C. C. 273). com vantagem. Uma vida preocupada com vícios,
A confissão de Pedro (27-33). Já consideramos prazeres, interesses materiais, e glórias humanas, é
este incidente no nosso estudo de Mateus 16. Obser- perdida.
vamos Jesus ocupado em despertar a compreensão Contudo, o mundo julga "perdida" (35) uma
dos discípulos a respeito dele mesmo. Para um judeu vida dedicada a Deus.
piedoso o reconhecimento de Jesus como o Messias O Senhor Jesus considera o caso de alguém ga-
prometido era de suma importância. Alguém pode nhar " o mundo todo" - ter infinito lucro material - e
interrogar a qualquer um de nós hoje sobre o que Je- contudo náo ter uma vida abundante, transbordan-
sus significa para nós, e como responderíamos? Este do da bênção divina.
incidente é relatado mais detalhadamente em Ma- A mais real satisfação na vida não está em adqui-
teus 16.13-23. rir, mas em criar. e. contudo, vemos a maioria empe-
Jesu» prediz a sua morte (31). Para os discípulos nhada em adquirir - um empenho que nunca satis-
isto parecia tão incompreensível que Pedro o re- faz.
preendeu. Devemos notar que Jesus faz a prediçáo
da sua morte depois de convencer os discípulos da Não é possível reaver uma vida perdida (v. 37).
divindade dele. Se tivessem conservado na sua me-
mória essa sublime verdade, não teriam ficado tão Capítulo 9
desanimados pela sua morte. .4 transfiguração (2-13). Visto termos considera-
Neste trecho temos: 1) A confissão. 2) A repreen- do este sublime incidente em nosso estudo de Ma-
são. 3) A advertência. teus 17, podemos agora ocupar-nos com algumas

341
Marcos

perguntas: Por que subir um monte? Por que Jesus "Que é grandeza? E coisa mui diversa de orgu-
levou os trés? Por que não todos? Que aprendemos lho. egoísmo, ostentação. Consiste em ser nobre, e a
do fato da transfiguração? Qual o assunto da conver- nobreza inclui algumas qualidades raras, como seja
sa dos dois com Jesus? Acha parecida a proposta de a humanidade, a abnegação, o sacrifício, a conside-
Pedro com o ideal monástico? De quem falou a voz ração dos outros. Se queremos ver uma lista das qua-
que se ouviu da nuvem? Quem ocupou a visão dos lidades da verdadeira grandeza, podemos encontrá-
discípulos no versículo 8? la nas bem-aventuranças ( M t 5.1-12), ou nos frutos
Notemos: que no versículo 10 os discípulos estra- do Espirito (Gl 5.22); e o retrato completo de um
nharam a frase "ressurreição dentre os mortos". Eles grande homem encontra-se em 1 Corintios 13.1-8.
criam numa ressurreição geral doe mortos no último Incidentemente, é um retrato de Cristo" (Good-
dia. mas alguém ressurgiu " d e entre" os mortos man).
(V.B.) era para eles uma idéia nova. Esta discussão sobre "quem era o maior" mostra
Quanto à alusão a Elias (v. 11) veja-se sobre Ma- que Pedro não era reconhecido como tal.
teus 17.11. Distintivos de um cristão (38-50): humildnde de
Referentemente a este trecho, o dr. Goodman es- criança; o espirito de tolerância para com alguns que
creve: " O Senhor, que até aqui fora visto e conhecido "não nos seguem"; o empenho de remover escânda-
pelos seus discípulos 'na forma de Servo*, agora tem los e tropeços; o propósito de reprovar em si tudo que
por bem dar a três deles uma manifestação da sua ofende. A pessoa piedosa é exigente consigo e tole-
inerente glória como Filho de Deus, revelando-se rante para com os outros.
como Deus, tanto quanto era possível fazê-lo aos Evitemos uma falsa ambição (33-37).
olhos humanos. Evitemos uma intolerância carnal (38-41).
" O objetivo foi. sem dúvida: 1) Ensinar-lhes por Evitemos um exemplo pernicioso (42-50).
visão ocular quem era Jesus - Deus manifesto em " N o vale de Geena ( w . 42,43). ao sul de Jerusa-
carne. 2) Encorajá-los diante da perspectiva da sua lém, havia fogo continuamente, dia e noite, para
crucificaçáo e morte. 3) Antecipar a glória que mais destruir o lixo e a imundícia da Cidade. Por isso nos-
tarde seria revelada no seu reino. 4) Receber do Céu so Senhor fala do lugar 'onde seu bicho não morre'
o atestado divino '£sre é meu Filho amado: a Ele ou- nos montes de corrupção à espera de serem queima-
vi'. 5) Estabelecer nas mentes dos discípulos a sua dos, e do 'fogo que nunca se apaga' nas fornalhas
preeminéncia sobre Moisés (a Lei) e Elias (os profe- perpetuamente acesas para os consumir" (Neil).
tas)". "Cada um será salgado com fogo" (v. 49) deve-
Que tremendo acontecimento: os três discípulos mos assim entender, à luz de 1 Corintios 3.13-15.
acharam-se. de repente, na presença dos dois maio- Toda a obra será provada e sua realidade verificada
res vultos na história de Israel! Para eles, Jesus era o como por fogo refinador. Nada de falso, de espúrio,
companheiro e Mestre, sempre presente, mas Moisés subsistirá perante aquele cujos olhos são como cha-
e Elias eram eminências, santos respeitados durante ma de fogo! *'E cada sacrifício salgado com sal faz-
séculos. Ê provável que somente mais tarde tenham nos pensar do 'sal do concerto' que se misturava com
compreendido ser Jesus ainda maior do que os pa- todo sacrifício levítico (Lv 2.13). O sal tipifica a ver-
triarcas e profetas, porque era o homem - Deus. dade e sinceridade que devem caracterizar todo o
nosso trato para com Deus" (Goodman).
No fim do versículo 12 leia-se: "Ele deve padecer N o fim do versículo 50 leia-se "Tende sal em vós
muito e ser aviltado". (O. 56). mesmos, e passai isso a outros" (O. 11).
O poder da fé e da oração (14-32). Notemos no
presente caso: que mesmo num adolescente pode Capitulo 10
manifestar-se um espirito maligno; que os discípulos
sem a experiência sublime da montanha careciam de O divórcio (1-12). Notamos neste trecho a dife-
poder para atender à necessidade do vale; que o pai rença entre o ideal e aquilo que efetivamente se dá.
fez muito bem em levar a Jesus o menino acometido; O ideal é que todo matrimônio seja "o que Deus
que o Salvador percebia a prevalecente falta de fé; ajuntou ". O que acontece é que. muitas vezes, nem
que Jesus interrogou o pai sobre o caso, e assim ma- uma parte nem outra, ao contratar o matrimônio,
nifestou o seu interesse: que o pai achava possível faz caso da vontade de Deus. A legislação mosaica
haver falta de poder em Cristo, mas este ensinou-lhe considerava o efetivo. A lei de Cristo considera o
que uma falta de fé era o defeito do pai; que, afinal, o ideal.
pai ganhou ânimo para confiar em Jesus, embora
confessando a sua pouca fé: que Jesus, tendo curado Notemos que o casado deixa seus pais: não conti-
o menino, tomou-o pela mão. como fizera com o cego nua morando com eles.
de 8.23; que alguns serviços importantes precisam de Jesus e os meninos (13-16). Os evangelhos falam
uma importante dedicação a Deus em oração. muito de crianças. Também têm alguma coisa a di-
zer dos moços. Impressiona-nos ver os discípulos tão
O maior no reino (33-37). Mateus 18 e Lucas 9 fora de comunhão com o Mestre. Dar-se-á a mesma
também trata deste incidente. Lucas, muito resumi- coisa hoje conosco?
damente. Devemos sempre desejar estar em comu- "Receber o reino como menino" pode significar
nhão com o Senhor; pensar nas coisas que o preocu- ser humilde, dependente, confiado, submisso, espe-
pam; mas aqui vemos Jesus pensando na cruz, e os rançoso.
discípulos no reino. Pensamos que as mães haviam de dizer que o
Receber, servir um menino no nome de Cristo, é Profeta de Nazaré, que tomou as crianças nos bra-
igual a receber a Ele mesmo e a quem o enviou. ços, era "muito simpático".
Também ofender ou prejudicar uma criança é ofen- F W. Grant comenta que a bênção foi maior do
der a Cristo? que se esperava: pediram-lhe que "tocasse" os meni-

342
nos. e Ele. "tomandn-tm nos seus braços. e impondo- 3) O que o moço carecia: experiência de que é
lhes as mãos. os abençoou ". mais bem-aventurado dar do que receber: experiên-
ü mttço rico (17-31). Notemos as diferenças nos cia de uma vida em que Deus é o único recurso do
relatórios deste incidente em Mateus. Marcos e Lu- seu povo a "vida dos séculos" |a vida eterna|; ex-
cas. Mateus relata que foi um moço que veio ter com periência de intimidade com Jesus, sem a qual a
Jesus, a fim de interrogá-lo sobre a vida "eterna". vida mais sublime não pode ser conhecida; experiên-
Marcos frisa mais a sua urgência e humildade: ele cia de sofrimento pnr amor do Evangelho, que pode
corre e se ajoelha: mas Marcas nem ao menos faz desenvolver no crente maior apreciação de uma vida
menção de que era moço. Lucas nota a dignidade de de santidade e anmr fraternal.
quem assim se dirigiu a Jesus, e o chama "um certo 4) (> ensino que Jesus ligou ao incidente: a) Que a
principe" riqueza material costuma servir de embaraço á vida
Jesus atende aos moços, anima os humildes e res- espiritual, b) Que tudo é possível para Deus. c) Que
ponde acertadamente aos príncipes. há um galardão futun» para quem segue a Cristo, e
O missionário Stanley Jones. da índia, relata que uma recompensa atual em cêntuplo (v. 30) para
uma noite, bem tarde, foi procurado por dois rapazes quem "deixa" alguma coisa por amor de Cristo.
hindus, mal-vestidos e sujos, que o interrogaram a E evidente pelo versículo 30 que neste discurso
respeito do cristianismo. Apesar de cansado e com Jesus está pensando no aspecto futuro da "vida eter-
sono, deu-lhes uma longa explicação. Voltaram na na". Devemos entender que seu aspecto presente é
noite seguinte, asseados e ricamente trajados, pedin- igualmente importante '1 Jo 1.1-4).
do desculpa por terem-no enganado na noite ante- Consulte-se também Mateus 19 sobre o mesmo
rior, mas dizendo que queriam verificar se ele dis- incidente.
pensaria a mesma atenção a rapazes pobres como A cruz e a coroa (32-45). Devemos notar esta últi-
aos ricos. ma subida a Jerusalém Jesus vai adiante, preocupa-
Pensemos no versículo 21 "Jesus, olhando para do. e o povo seguindo, maravilhado e atemorizado.
ele. o amou". Podemos estudar os olhares de Jesus, e Então, talvez parando um pouco. Jesus revela os
também ponderar por que amou esse moço. Seria pensamentos que o preocupam: traição, condenação,
por alguma coisa que discerniu nele. ou por alguma escárnio, açoites, morte e ressurreição.
possibilidade que lhe atribuía^ E no meio desses pensamentos solenes vem o pe-
Mui dedicadamente Jesus instrui o moço a ser dido egoísta de Tiago e João!
prudente na escolha das suas palavras: "Bom Mes- Pedem como dádiva o que somente pode ser con-
tre" (como "prezado irmão") era um modo de falar, cedido como galardão. Será que se julgavam compe-
talvez sem muita significação. Jesus adverte o moço tentes para preencher o lugar?
de que bondade absoluta é uma qualidade essencial- Nós, ás vezes, pedimos mais do que podemos re-
mente divina. ceber.
No nosso estudo deste incidente podemos consi- No versículo 32 leia-se: "E ele estava comovido, e
derar: seguiam-no atemorizados" (O. 151).
1) O que o moço tinha. Do precioso versículo 45 aprendemos o espirito de
2) O que o moço desejava. Cristo, e o espirito que deve caracterizar todos os
3) O que o moço carecia. seus.
4) O ensino que Jesus ligou ao incidente. Bartimeu. o cego <46-52). Lucas também relata a
1) O que o moço tinha. Riqueza, bom caráter, co- milagrosa cura dele (sem mencionar seu nome), e
nhecimento da Lei. desejo de aprender, aspiração Mateus fala dele e de um seu companheiro (talvez
por uma vida melhor e mais abundante, humildade, menos conhecido) que também recebeu a vista.
interesse em Jesus. A cegueira vem de três maneiras:
Mas evidentemente: não estava satisfeito. Ele a) Alguns nascem cegos (Jo cap. 9).
aspirava a uma vida melhor. E bem triste quando b) Alguns tém sido cegado» (2 Co 4.4).
uma pessoa acha tudo quanto destíja nas coisas agra- c) Alguns se cegam a si mesmos (Mt 13.15)
dáveis deste mundo. (Goodman).
2) O que o moço desejava. Devemos entender que Vemos no doente: aflição, indigência. desejo, fé.
seu desejo não era a perpetuidade da mesma vida apelo, persistência, obediência, confissão, salvação.
que gozava naquela ocasião, nem de chegar a uma Na multidão vemos: indiferença, intolerância,
extrema velhice. incredulidade, falta de cortesia.
O moço começava a perceber a existência de uma Em Jesus encontramos: atenção, interesse, com-
vida de vantagens espirituais, maiores que a sua ri- paixão, simpatia e poder divino.
queza podia comprar, e a acreditar que Jesus pos- Jesus disse ao homem curado: "Vai. a tua fé te
suía o segredo dela. salvou", e o homem viu e o seguiu. Acontece assim
E Ele de fato o tinha, pois descreve essa vida em conosco?
João 17.3 como: " o conhecimento do Pai e do Filho",
ou, como podemos dizer, "uma vida de intimidade Capitulo 11
com Deus. a vida eterna".
Jesus apontou-lhe os mandamentos que se refe- A entrada triunfal em Jerusalém è referida por
rem mais precisamente á vida prática, e descobriu todos os quatro evangelistas. Ê somente Marcos que
que o moço estava na persuasão de que tinha guar- fala de o jumentinho estar "preso fora da porta entre
dado todos! dois caminhos."
No versículo 21 Jesus é mais explicito, e ensina- "Este pormenor. que parece insignificante, aju-
lhe a desembaraçar-se das suas riquezas, beneficiar da-nos a concordar que, deste capitulo em diante.
os pobres, e andar na companhia do Salvador que o Marcos presenciava os acontecimentos. "Uma parte
Senhor quis dar ao seu povo. muito grande do evangelho de Marcos é dedicada â
Manos

narrativa da Paixão. Ao registrar o ministério de três Perdoar (Ef 4.32). A fé recebe graça, e manifesta gra-
anos. Marcos dedica a terça parte da sua narrativa ça. Senão, é uma fé falsa. Um cristão professo que
aos acontecimentos de uma semana... O contraste náo perdoa é mais outro exemplo de uma figueira
entre a brevidade do relatório dos acontecimentos sem frutos" (Goodman)
anteriores e os detalhados pormenores da Semana _Çom que autoridade? (27-33). Notemos neste tre-
Santa é notável. Entende-se. porém, se aceitamos a cho: a continuada inimizade dos chefes religiosos;
tradição antiga, que para esta parte o escritor podia que eles reconheceram ter Jesus agido com autorida-
servir-se da sua própria observação". de na purificação do templo; que a pergunta dos sa-
cerdotes não merecia uma resposta direta; que Jesus
"Por que relata ele o incidente do 'certo moço' - respondeu com outra pergunta; quis tocar-lhes na
isso é. um jovem que ele podia ter mencionado pelo consciência.
nome - que fugiu nu do jardim de Getsémane? Em
si. parece náo ter importância, mas sua narrativa se Os chefes religiosos julgaram que Jesus, náo sen-
torna inteligível se. como a tradição afirma, era ele do da ciasse deles, não tinha direito de agir. Vemos
mesmo o moço referido" (Deane). um espírito parecido até nos discípulos no capitulo
9.38, e pode dar-se uma coisa semelhante conosco.
O leitor dos evangelhos muitas vezes contempla o
Senhor enfrentando seus inimigos, repelindo inimi- "Santidade, justiça e misericórdia podem arder
zades. expondo hipocrisias; outras vezes o vé fazen- com um brilho extraordinário, inspirando um ensino
do obras milagrosas de benevolência; uma vez o con- sublime, operando milagres de beneficência, mas
templa. na solidão de um alto monte, em comunhão para tais chefes religiosos isso náo era nada; antes
com os santos e o Pai. Neste trecho, entretanto, queriam ver um atestado da sinagoga, conferindo ao
vemo-lo, em ocasião única, alvo do entusiasmo po- seu possuidor os direitos de autoridade" (Bemier).
pular. A história teria ficado prejudicada se tivesse
faltado isto. Porventura será o incidente uma figura Capitulo 12
de futuras demonstrações durante o Milênio?
(Js lavradores malvados (1-9). Ainda é terça-feira
"A figueira seca (12-14) pode muito bem repre-
da Semana Santa. Nosso Senhor tem feito calar os
sentar a nação de Israel: a) na sua situação destaca-
fariseus, escribas e anciãos (11.27-33), e agora diz
da - vista de longe: b» no seu aspecto prometedor -
uma parábola contra eles: até duas parábolas.
tendo folhas; c) na sua falta de fruto - nada senão fo-
lhas; d) na sua completa reprovação, profetizada " A naçáo judaica é comparada a três árvores: á
neste incidente, e realizada no ano 70 d.C., quando vinha (Is 5.1-7; SI 80.8-16), á oliveira, e à figueira.
Jerusalém foi destruída" (Scroggie) Antigamente a naçáo era como uma vinha frutífera,
depois uma figueira estéril, e mais tarde será uma
"Jesus bem podia procurar fruto dessa árvore, oliveira florescente" (Scroggie).
embora um tanto antes do tempo, por motivo da
abundância das folhas. Os figos muitas vezes vém Podemos notar o seguinte:
junto com as folhas, ou mesmo antes delas" 1) Ensinos desta parábola.
(Thompson). 2) Sua significação para Israel.
3) Sua significação para nóa.
" O fruto é a essência da vida eriatá. 'Nisto é glori- 1) Alguns ensinos desta parábola são:
ficado meu Pai que deis muito fruto'. Os frutos dese- a) Que Deus prepara as circunstâncias do seu po-
jados são: vo. de maneira tal que esse possa dar fruto. Notemos
1) Frutos dignos de arrependimento (Mt 3.8). que o homem plantou, cercou, fundou e edificou an-
2) Frutos numa vida convertida (Mc 4.8). tes de arrendar a vinha.
3) Frutos para santificação (Rm 6.22). b) Que Ele conta com algum resultado que lhe
4) Frutos em boas obras (Cl 1.10)" (Goodman). seja aceitável.
A segunda purificação do Templo (15-18). Neste
incidente, como no primeiro (Jo 2.13-25). des- c) Que Ele espera haver da parte dos lavradores
cobrem-se no Senhor Jesus: indignação, energia, po- um reconhecimento de responsabilidade, e um esfor-
der. força moral, domínio sobre o mal. amor pela ço adequado no serviço.
santidade da casa de Deus, ódio pela ladroeira reli- d) Que há uma tendência da natureza humana
giosa. e um procedimento que. incidentemente, pecaminosa para: 1) tomar para seu próprio gozo
cumpriu uma palavra profética (SI 69.9). aquilo que pertence ao dono; 2) perseguir os que vêm
lembrar do dever; 3) pensar que por meios violentos
E em nós, quantas destas qualidades se manifes-
pode-se tomar posse e fazer próprio aquilo que é ape-
tam?
nas arrendado.
Fé e oração (19-26). "Vemos aqui a linguagem fi-
gurada de Jesus na ilustração que Ele usa da monta- e) Que. afinal, haverá um castigo para os malva-
nha e o mar. Deixando a figura material, "não há dos.
dúvida de que uma verdadeira fé em Deus remove f ) Que outros entrarão na posse da herança viola-
todo obstáculo e toda a dificuldade do caminho de da.
uma vida piedosa e obediente. Não é questão de ex- 2) Sua significação para Israel foi reconhecida, ao
menos em parte: "Entendiam que contra eles dizia
travagâncias ou de sinais e maravilhas, mas o cum-
esta parábola".
primento dos desejos que um homem tem quando ele
anda com Deus. As condições são: a) Que não duvide Notemos:
no seu coração (23). A confiança em Deus é estável. a) Que a vinha tinha gozado de privilégios e pro-
Compreende a sua vontade e deseja somente a von- teção especial - plantada em uma terra que manava
tade divina. Procura a glória de Deus e não o agrado leite e mel. cercada de providências divinas, instruí-
próprio, b) Uma fé em que aquilo que diz se fará: isto da e admoestada por profetas.
é. ele crê piamente que a vontade de Deus se fará. Ê b) Que Israel não deu fruto aceitável a Deus.
somente isto que deseja, e sabe que assim será. c) c) Que Israel perseguiu os profetas.

344
d) Que, por isso, Israel está sob a reprovação de A censura dos escribas (38-40) - tão resumida
Deus. aqui, ocupa todo um capitulo em Mateus (23). Mar-
3) Sua significação para nós é: cos relata poucas das palavras, mas sào pesadas.
a) Que Deus nos tem cercado de cuidados, privi- A oferta da viúva (41-44): a) Quem deu? uma
légios. oportunidades, e responsabilidades, a fim de viúva, e pobre, b) O que deu? duas moedas, poden-
darmos fruto para a sua glória. do. como é evidente, ter guardado uma ou ambas
b) Que Ele manda seus servos exortar-nos a esse para si. c) Onde deu? no templo de Deus. d) Para
respeito. que a dádiva? para o sustento do culto divino, e) O
c) Que é possível maltratarmos os servos do Se- espirito da dádiva - um espírito de verdadeira pieda-
nhor. ou, talvez, apenas desprezarmos as suas men- de e devoção. 0 O reconhecimento da dádiva - Jesus
sagens. viu. avaliou, aprovou e louvou o que foi dado. g) As
d) Que os privilégios e as oportunidades que não lições da dádiva - que o valor do dom depende dos
se aproveitam podem ser dados a outros. recursos do ofertante; que a aflição náo precisa im-
A segunda parábola (10-12) é de uma pedra re- pedir a liberalidade; que podemos aprender uns dos
provada pelos edificadores. Qual é o lugar que da- outros a generosidade; que devemos dar como se fos-
mos a Cristo na construção da nossa vida. nosso ca- se perante os olhos do Mestre (Martin).
ráter?
Vemos nessas duas parábolas as qualidades notá- Capítulo 13
veis que Jesus assume: 1) coloca-se em plano supe-
rior aos profetas; 2) alega ser o único e amado Filho O sermão profético o principio áe dores (1-13).
do Pai; 3) diz-se o herdeiro: 4) refere-se como a pedra Visto que este sermão é repetido em Mateus e par-
que os edificadores rejeitaram (SI 118.22). cialmente em Lucas, náo devemos repetir as mesmas
Acerca do tributo (13-17). Aparecem agora os he- explicações. Contudo podemos acrescentar alguns
rodianos e fariseus contra Cristo, e empregam astú- pensamentos adicionais.
cia, julgando poderem comprometê-lo, qualquer que Apenas dois pequenos trechos, registrados por
seja a sua resposta. Marcos, nào estão nos outros evangelhos: "mas olhai
Pedem uma resposta sim ou náo. mas há muitas por vós mesmos " (v. 9): e "importa que o Evangelho
perguntas que não podem ser respondidas sabiamen- se pregue primeiro entre todas as gentes". "Quando
te por uma única palavra. pois vos conduzirem para vos entregarem" ( w .
Notemos que os inimigos de Jesus, querendo apa- 10.11).
nhá-lo, testemunharam quatro coisas verdadeiras a Continua ainda a ser terça-feira da Semana San-
seu respeito: a) que era verdadeiro; b) que náo tinha ta. Jesus sai do templo e nunca mais volta lá.
medo dos homens; c) que náo olhava a aparência dos No começo deste discurso, o Senhor prediz: a) a
homens; d) que ensinava o caminho de Deus. destruição do templo; b) que seguirão guerras: c) que
A resposta de Jesus é notável por sua brevidade, o povo de Deus será odiado; d) que nada há de impe-
compreensão, justiça e sabedoria. Todos os homens dir o progresso do Evangelho.
devem alguma coisa à sociedade e ao que representa
ordem social. Temos deveres cívicos e religiosos, e "Dois julgamentos sào referidos aqui, um mais
nào nos devemos esquivar daqueles sob pretexto des- próximo e outro mais remoto. Um refere-se á des-
tes. a não ser que sejam evidentemente incompatí- truição de Jerusalém, uns quarenta anos mais tarde,
veis (Rm 13 - Scroggie,). em 70 d.C. e o outro ao fim do período. Estes dois sào
claramente distinguidos em Lucas, o de 70 d.C. en-
Os saduceus e a ressurreição (18-27). Um após contra-se em Lucas 21.12-24. < Notem-se as palavras
outro, os inimigos de Jesus se apresentam. Agora é a 'antes de todas estas coisas', 12 e 'até', 24. e o aconte-
vez dos saduceus. querendo negar a ressurreição. cimento do fim em 21.5-11 e 25-36.) A distinçáo en-
Jesus os acusa positivamente de "ignorância: tre estes julgamentos é muito importante" (Scrog-
"nào sabeis as Escrituras": e irreligião: "nem o po- gie).
der de Deus".
Na sua resposta. Jesus ensina grandes verdades: A Grande THbulaçãa (14-23). Para entender "A
que há outra vida; que haverá uma ressurreição do abominação de desolação" veja-se Mateus 24.15. Po-
corpo; que as relações sociais da terra não persistirão demos notar o seguinte:
no mundo que vem; que existem os seres denomina- As coisas nào melhoram com o decorrer dos tem-
dos anjos: que esses não vivem socialmente como pos, antes as trevas ficam mais espessas e as tributa-
nós; que Abraão. Isaque e Jacó ainda vivem para ções aumentam.
Deus. Estes saduceus ignoravam tanto a verdade di- A pregação do Evangelho náo resulta na conver-
vina como o poder divino (Scroggie). são do mundo. E publicado como testemunho, para
O primeiro [principal) dos mandamentos (28- o recolhimento dos. escolhidos. O triunfo de Cristo
34). Afinal um escriba (um fariseu, doutor da Lei), náo se dá mediante um processo gradual, mas pela
vendo os fariseus emudecidos, quer experimentar o sua segunda vinda, primeiro para buscar seus remi-
Mestre, e pergunta qual o primeiro de todos os man- dos. e depois em poder e glória após grandes tribula-
damentos. ções e solenes juízos.
Jesus é paciente com todos, sinceros ou insince- A vinda do Filho do homem (24-37). "Que a vin-
ros, e discerne valores espirituais mesmo onde pare- da do Senhor se aproxima é evidenciado por sete
ce haver insinceridade. Ele diz que o escriba não está grandes sinais: a) um mundo perturbado (8); b) Is-
longe do reino, talvez porque: a) ele começava a pen- rael disperso (18); c) um cristianismo apóstata (22);
sar seriamente na religião; b) já dava mais valor ao d) um paganismo evangelizado (10): e) uma igreja
espírito do que à letra; c) desejava agir de acordo esperançosa (29); 0 uma criação gemendo (Rm
com a luz recebida; d) era moral, circunspecto e puro 8.22); g) um novo desejo pela santidade (1 Jo 3.3)"
(Davidson). (Goodman).

345
~Siarcos

Podemos notar que as palavras "nem o Filho" do Notemos no versículo 24 a expressão "o sangue
versículo 32 não se encontram em Mateus nem em do Novo Testamento" ou Novo Pacto. A Bíblia é di-
Lucas. vidida em duas partes: o Velho Concerto ou Aliança,
O versículo 32 tem sido muito discutido pelos e o Novo; mas em toda a Escritura Sagrada podemos
eruditos, e alguns comentaristas abalizados não gos- descobrir oito alianças ou pactos entre Deus e os ho-
tam de tomá-lo ao pé da letra, receando que contra- mens. sendo as condições marcadas por Ele. a saber:
diga a doutrina da onisciência de Deu*. Mas a este 1> A aliança do Eden (Gn 1 26-29) para o homem
respeito pergunta C. H Lang; "Porventura podem** na inocência
acreditar que as afirmações divinas se expressam em 2) A aliança com Adão (Gn 3.14-19) para o ho-
linguagem cujo sentido literal contenha um erro fun- mem caído, com promessa do Redentor.
damental? Parece-nos que a afirmação de que Deus 3» A aliança com Noé (Gn 9.li estabelecendo o
não pode livrar a sua memória de tal ou tal informa- principio do governo humano.
ção. presume que nossa inteligência finita tem uma 4) A aliança com Abraão (Gn 15.18), que inicia a
compreensão mais completa dos processos e possibi- nação de Israel e confirma a promessa da redenção.
lidades da operação interior da Mente Infinita do 51 O concerto mosaico (Ex 19.25). que coloca a
que é de fato o caso. A consciência como capacidade todos debaixo de condenação, "porque todos peca-
é eternamente essencial ã divindade, mas porventu- ram '*.
ra é o recordar de cada fato separado também essen 6í O concerto com Israel na Terra.
ciai? Será Deus menos divino por poder honrar o 7» O concerto davidico (2 Sm 7.8-17) estabelecen-
sangue de Jesus, seu Filho, a ponto de banir para do a perpetuidade da família de Davi, cumprido em
sempre da sua memória certos fatos do passado: por Cristo (Mt 1.1; Lc 1-31-33; Rm 1.3).
exemplo, os meus pecados?"
8) O No\ o Concerto baseado no sacrifício de Cris-
Quando lemos que o menino Jesus crescia em sa- to. que assegura a eterna bem-aventurança. sob o
bedoria. porventura devemos entender que Ele não concerto abraámico (G1 3.13-29) de todos em Cristo
precisava freqüentar a escola porque desde a nascen- (Scofield).
ça sabia mais do que os professores? "Impressiona-nos o reconhecimento do essencial
Em Marcos o sermão profético conclui com uma que a brevidade de Marcos acentua. Ao contar-nos a
exortação a trabalhar, orar e vigiar, e isso tem apli- história dessa tarde memorável. Lucas ocupa 24
cação não só aos discípulos mas a nós também (v. versículos e João cinco capítulos, porém Marcos con-
37). centra tudo em nove versículos (17-25). Ele se limita
aos dois fatos principais: a declaração da traição, e a
Capítulo 14 instituição da Ceia. Parece-nos. pela narrativa de
João. que entre os dois acontecimentos Judas saiu.
Este capitulo corresponde a Mateus 26. Entende- de maneira que não estava presente na Ceia" (Scrog-
se que a quarta-feira da Semana Santa foi passada gie).
tranqüilamente em Betánia. e é referida nos versícu- Pedro é avisado (27-31). Este trecho é quase idên-
los 1-11. tico a Mateus 26.31-35. Marcos apenas apresenta as
O vaso de ungüento (3-9). Aprendemos de João palavras "que hoje", que o galo cantou "duas vezes"
12.1-9 que quem ungiu o Senhor foi Maria, irmã de e que Pedro respondeu "veementemente".
Lázaro, e que o queixoso do versículo 4 era Judas. Notemos a diferença entre Judas que traiu e Pe-
Deste tocante incidente aprendemos: a* que alguns, dro que negou Judas, um homem iníquo, motivado
ao menos, não somente admiravam as obras maravi- pelo sórdido desejo de lucro. Pedro, confiado em si.
lhosas de Jesus, mas sentiam um ardente desejo de ignorando a própria fraqueza, em um acesso de
servi-lo; b) que em serv ir seu Senhor. Maria não fez "cautela" mundana, acha mais prudente negar.
questão de preço; c) que alguns acham que dinheiro
gasto com o Senhor é mal-era pregado; d) que Jesus Somente quem tem gozado de certa intimidade
discerniu o motivo de Maria, apreciou a sua devo- pode "trair".
ção, e fez questão de justificar publicamente seu ato; Jesus em Getsémane (32-42). Marcos pouco
• ) que é lícito socorrer os pobres sempre que se quei- acrescenta ao que temos lido em Mateus, salvo no
ra; f ) que Mana fez o possível: " f e z o que podia"; g) versículo 36: "Pai, todas as coisas te são possíveis", e
que Jesus atribuiu uma significação profética ao ato no versículo 41 a palavra "apexei" traduzida basta.
de Maria; h) que seu ato devia ser relatado em todo o mas que, referindo-se a Judas, provavelmente signi-
mundo. fica ele já aceitou o dinheiro.
Simão, o leproso (v. 3). No aramaico as palavras Descobrimos no Senhor Jesus: o desejo da com-
para "leproso" e "negociante de louça" têm as mes- panhia humana (tão insuficiente e inadequada!); a
mas consoantes, e provavelmente devemos ler aqui angústia provocada pela perspectiva de ser "feito pe-
"negociante de louça" (O. 96). cado". com o conseqüente desamparo de Deus; a im-
O preço da traição (10.11). Vemos um contraste periosa necessidade de oração; uma completa sub-
enorme entre Judas e Maria Ele. querendo ganhar missão á vontade divina; uma compreensão da fra-
dinheiro á custa de Jesus, ela querendo gastar com queza dos discípulos: o desejo de repetir a sua oração
seu amado Senhor. Qual destas características é a (v. 39); um perfeito conhecimento do que ia aconte-
nossa? cer.
A última Páscoa e a Santa Ceia (12-26). Agora é a Notemos aqui. no que diz respeito a Cristo:
quinta-feira da Semana Santa. Há cinco passagens Seu isolamento (35). Primeiro o deixou os oito:
que relatam a Santa Ceia: Mateus. Marcos. Lucas. 1 depois os três. Toda a verdadeira grandeza é solitá-
Corintios capitulo 10 e capítulo 11. Convém verificar ria, e toda a profunda tristeza é também solitária.
o que se diz em cada passagem a respeito a) do pão, e Mesmo no meio da multidão. Cristo teria sido isola-
b) do cálice. do. mas nunca tão solitário como debaixo das olivei-

346
Marcos

ras do jardim. E todo» os que o seguem de perto terào Notamos a interrogação direta do sumo sacerdo-
de experimentar a solidão. te: "Es tu o Cristo, o Filho do Deus bendito?"e a res-
Sua submissão (36). "Não seja o que eu quero, posta igualmente positiva. Estranhamos o endureci-
mas o que tu queres" Não havemos de pensar que mento espiritual que chama a confissão da verdade
aqui havia duas vontades, pois a vontade de Jesus de blasfêmia.
era sempre fazer a vontade do Pai. mas por estas pa- Pedro nega a Jesus (66-72). A queda de Pedro nào
lavras somos levados a entrar na esfera dos seus mo- foi repentina. Vemo-lo primeiro dormindo em vez de
tivos. Ele não se sacrificaria por ser sua própria von- orar; depois lutando em vez de submeter-se; então
tade assim fazer, mas porque era a vontade do Pai. seguindo de longe; mais tarde sentado com os inimi-
Seu desapontamento (37-41). "São pudestes vi- gos em vez de estar ao lado do seu Senhor; procuran-
giar... uma hora?'' As palavras foram dirigidas a Pe- do a própria comodidade - aquecendo-se - em um
dro. mas tinham a sua aplicação aos três. As pala- momento crítico: finalmente negando seu Senhor em
vras que seguem podem ser uma interrogação: "Que- vez de o confessar.
reis dormir agora e descansar?" (41). Nessa hora fu- No fim do versículo 70 devemos acrescentar as
nesta Jesus desejava simpatia, a simpatia dos que palavras "a tua fala é semelhante" (C.C. 119).
vigiam, mas não a obteve. Contudo vemos:
A sua consideração (3B) (dos discipulos). "Reco- Capítulo 15
nheceu o cansaço deles. 'Ele conhece a nossa estru-
tura: lembra-se de que somo» pó' (SI 103.14)" Jesus perante Pilatos (1-20). Pilatos faz cinco
(Scroggie). perguntas: l ) Es tu o Rei dos judeus? 2) Nada res-
Neste versículo devemos ler "para que nào fa- pondes? 3) Quereis que vos solte o Rei dos judeus? 4)
lheis na provação" (0.56). Que quereis. pois, que faça daquele a quem chamais
Jesus é preso (43-52). Marcos, caractensticamen- Reis dos judeus? 5) Pois que mal fez?
te, acrescenta a palavra "logo" no versículo 43, e só "Pilatos era. sem dúvida, um homem de capaci-
ele viu os escríbas junto com os sacerdotes e anciãos. dade. mas perante a suprema prova, que lhe deu
No resto, o relatório dele é muito semelhante aos dos uma suprema oportunidade, fracassou. Viu o verda-
outros evangelistas. deiro caminho, mas o abandonou; sabia o que fazer
Vemos Pedro lutando (47). fugindo (50). e se- mas não o fez. Mostrou-se indeciso; quis agradar a
guindo (54), mas "de longe", o que é sempre perigo- todos, fazer bem e mal ao mesmo tempo, e. nesta
so. tentativa, quem devia ter julgado, ficou condenado"
Os fatos são: a) a chegada de Judas e seus com- (Scroggie).
panheiros; b) a traição; c) a prisão de Jesus; d) a Vemos neste trecho a escolha do povo: Barrabás e
fuga dos discipulos. nào Cristo. Às vezes um grande criminoso consegue
Notemos: que Judas se vendeu de corpo e alma cativar a imaginação popular e. em vez de exigir que
aos inimigos de Jesus; que os adversários vieram seja justiçado, o povo quer ver solto o ladrão! Mas
com muita gente e bem armados; que o beijo de Ju- estranhamos deveras a perversidade que preferiu um
das foi o cúmulo da hipocrisia: que a mal-pensada criminoso a um Salvador!
defesa com a espada agravou seriamente a situação; "Marcos diz que 'vestiam-no de púrpura' (v.17)
que a pessoa mais calma e serena foi Jesus: que Ele enquanto Mateus fala de 'uma capa de escarlata':
percebeu em tudo o cumprimento das profecias; que mas. como Lang explica, a capa militar escarlata foi
o» discipulos. tendo dormido em vez de orar. não pu- empregada para representar a manta imperial, e por
deram enfrentar a situação - fugiram. isso é chamada em sentido simbólico, púrpura"
E geralmente entendido que o moço que, acorda- (Gray).
do pelo alvoroço, tinha saído da cama c da casa en- Somente em Marcos lemos as palavras "e cuspi-
volvido apenas em um lençol, e. sendo agarrado, fu- ram nele. e, postos de joelhos, o adoraram " (v. 19);
giu sem seu lençol, era o próprio Marcos. os gentios. assim, em escárnio, renderam a homena-
"Quando nos aventuramos na senda da fé sem gem que Israel devia ter prestado sinceramente.
termos, verdadeiramente, fé para esse caminho, é A crucificação (21-41). Marcos fala mais detalha-
provável fugirmos nus e envergonhados" (Darby). damente do que os outros evangelistas a respeito de
Siraào, o cirineu. " H á milhões hoje que dariam tudo
F. W Grant vè um possível sentido alegórico no que têm. e a própria vida, pelo privilégio de fazer o
incidente do moço envolto num "sindon": um lençol que Simáo fez obrigado. Não podemos agora levar a
ou mortalha (Mt 27.59. etc.) Como os soldados fica- cruz de Cristo, mas devemos resolutamente levar a
ram apenas com o lençol (porque a pessoa escapou), nossa própria cruz (Mt 16.24)" (Scroggie).
assim sacerdotes e povo, Herodes e Pilatos. ficaram
com os lençóis que foram abandonados no sepulcro. Inconscientemente, os inimigos proferem uma
enquanto a Pessoa não ficou ali. " E isto pode ser grande verdade: "Salvou os outros, e não pode sal-
uma parábola para todos os seus seguidores, para var-se a si mesmo" (v. 31).
quem. deveras, o corpo, qual envoltório, é semelhan- "Também os que com Ele estavam crucificados,
te a uma mortalha, na qual habita uma vida que a o injuriaram " (v. 32) mas, um pouco mais tarde, um
morte não pode tocar". deles mostrou-se arrependido (Lc 23.40.41).
Tal conversão repentina, presumida mas nunca
Jesus perante o Sinédrio (53-65). Este tribunal declarada, parece estranha. Bullinger (J. 345-348)
religioso, composto de todos os principais dos sacer- ocupa quase três páginas com a prova de que havia
dotes. os anciãos e os escribas, formava um conjunto quatro crucificados com Cristo, dois malfeitores, que
temível. Querendo dar ao processo um aspecto legal, foram levados junto com Ele (Lucas), e depois dois
"buscavam algum testemunho contra Jesus", mas ladrões (Mateus e Marcos) que chegaram mais tar-
nada conseguiram senão testemunhas falsas que não de, depois da distribuição dos vestidos: "ENTÃO fo-
combinavam entre si. ram crucificados com Ele dois salteadores" (Mt

347
Marcos

27.38, V.B.). Este parecer merece ser investigado Capitulo 16


cuidadosamente antes de rejeitado. Nosso espaço
náo permite apresentar todas as provas. A ressurreição (1-8). Embora Marcos relate mui-
E confirmado por uma tradução ao pé da letra de to resumidamente a ressurreição, ele narra alguns
Joáo 19.18. "com ele outros, dois deste lado e dois fatos que os outros omitem: o propósito das três mu-
daquele". lheres de embalsamarem o corpo (v. 1); a conversa
O nome Gólgota é o único aplicado pelos evange- referente á pedra (v. 3,4); a visão do mancebo senta-
listas ao lugar da crucificaçAo. A palavra Calvário do no sepulçro, á direita (v. 5); as palavras " e Pedro"
nunca se lê no original. Vem da versão latina. no versículo 7; as mulheres "possuídas de temor e as-
Três horas sáo mencionadas: terceira, sexta, no- sombro" (v. 8), em Mateus é "temor e grande ale-
na: isto é. 9 horas, meio-dia e 15 horas do nosso horá- gria"; e "nada diziam a ninguém, porque temiam"
(v. 8) enquanto Mateus tem "correram a anunciá-lo
rio.
aos seus discípulos".
Muitos fatos narrados neste trecho merecem nos-
sa reverente meditação: o do cirineu; a crucificaçào; (Alguns entendem ter havido duas visitas das
a distribuição dos vestidos; "a acusação"; a "blasfê- mulheres.)
mia" dos que passavam; a palavra "salva-te a ti Marcos 16.9 salienta que Jesus apareceu primei-
mesmo"; as trevas; a queixa de desamparo; o vinho ro a Maria Madalena "da qual tinha expulsado sete
(v. 23) e o vinagre (v. 36); o falecimento. Em cada demônios" (Lc 8.2).
um destes atos o leitor estudioso achará muito em
que pensar. O trecho 9-20 deste capítulo [apesar de comentá-
rios em contrário), é citado por escritores dos séculos
ü véu rasgado (v. 38). O véu fazia separação en- segundo e terceiro isso é uma prova de que a Igreja o
tre o lugar santo e o lugar santíssimo do templo (Hb aceitou.
9.3). Muitos pensam que a significação do véu rasga-
do é para Deus sair e abençoar, em virtude da obra Um sepulçro (v. 3,4) nesses tempos era. muitas
consumada, e o crente poder entrar confiadamente vezes, um túnel curto escavado no barranco de pe-
como adorador redimido ( H b 10.19-22). dra. um tanto parecido com as minas para água que,
Rasgado de alto a baixo em sinal de ser ato divi- às vezes, se fazem no Brasil. Era costume tapar a en-
no. pois os homens o teriam rasgado de baixo para trada com uma grande pedra redonda, muito maior
cima. que uma pedra de moinho, e táo pesada, que uma
O centurião (v. 39), sobressaltado, e presencian- mulher nào podia removê-la.
do sinais sobrenaturais, chegou a exclamar: "Verda- Nào podemos adivinhar quem era o "mancebo"
deiramente este homem era Filho de um Deus". Náo do versículo 5. por isso náo vale a pena imaginar
podemos entretanto basear-nos nesta declaração sobre o fato. Muitos entendem que era um anjo. e.
para afirmar que ele era uni crente, um convertido. nesse caso, é uma interessante indicação do aspecto
Era muito natural que ele atribuísse esse fato mara- dos anjos.
vilhoso a alguma divindade.
Vemos no versículo 40 as mulheres olhando de A grande comissão.(5-20) apresentada aqui é um
longe, mas antes estiveram bem próximo a cruz (Jo pouco diferente de Mateus. E mais expressamente
19.25). uma comissão para evangelizar toda a criatura. Não
A sepultura de Jesus (42-47). Combinando tudo se diz qual o assunto deste Evangelho, mas nós en-
que se diz nos quatro evangelhos a respeito de José tendemos que é Cristo, a única esperança de toda
de Arimatéia, sabemos que ele era rico, senador hon- criatura.
rado, homem bom e justo, discípulo secreto e medro- Uma tradução literal do versículo 16 seria "o [in-
so. sem compromisso na sentença iníqua do Siné- divíduo] crente e batizado será salvo, e o descrente
drio, e. afinal, corajoso para pedir o corpo e sepultá- será condenado". A linguagem ajuda-nos a perceber
lo. o grande alcance da palavra "salvar" na Bíblia,
"Simáo levou a cruz de Cristo, e José levou seu abrangendo o presente e o porvir. Ninguém nos dirá
corpo. Nada disso foi feito pelos apóstolos, mas por que um mero rito. praticado uma vez, contribuirá
pessoas anteriormente desconhecidas. Haverá, por- para a nossa eterna salvação do pecado, mas presen-
ventura. inúmeros crentes, desconhecidos ainda, que temente o crente que vive de acordo com o significa-
seriam capazes de arriscar tudo por Cristo? Haverá do do seu batismo prova que, em alguns sentidos,
crentes notáveis que fugiriam com os doze? Vossa esse batismo que o associou a Cristo e seu povo, sal-
lealdade a Cristo prova vosso valor, e vossa lealdade va-o de muitas coisas neste mundo que náo são de
é provada em dias e horas de crise". Deus (1 Pe 3.21).

348
Xucas

ucas, segundo Eusébio. era 2.1. Serviço em vista da Cruz (4.14 a 9.50). Na Ga-
natural de Antioquia. na liléia.
Síria. Era gentio. talvez gre- 2.1.1. Seu começo: a declaração de que Jesus é
go. Era homem educado, o Cristo (4.14-44).
médico. Ê mencionado pri- 2.1.2. Seus cursos: a declaração contestada e
fmo sendo companheiro de Paulo em Atos condenada (5.1 a 6.11).
2.1.3. Sua consumação: a declaração conside-
para leitores gregos - primeiramente a rada e certificada (6.12 a 8.56).
' intimo, Teófilo. Por ser companheiro de Pau- 2.1.4. Sua conclusão: a declaração confessada
i que ele incorporou neste evangelho a substân- e confirmada (9.1-50).
cia do ensino do grande apóstolo. 2.2. Serviço a caminho da Cruz (9.51 a 19.27). Na
O livro é próprio para os gregos, cujo ideal de perfei- Judéia e Peréia
ção era diferente do conoeito romano. Enquanto os ro- 2.2.1. Jesus define os princípios do seu reino
manos entenderam que sua missão era governar, os gre- (9.51 a 13.21).
gos sentiam que a sua era a de educar, elevar e aperfei- 2.2.2. Jesus descreve os súditos do seu reino
çoar o homem. O ideal do romano (para quem Marcos (13.22 a 17.10).
escreveu) era a glória militar, a autoridade governa-
2.2.3. Jesus declara a vinda do seu reino (17.11
mental; o dos gregos, a sabedoria e a formosura.
a 19.27).
O retrato que Lucas apresenta de Cristo é o do Ho- 3. A expiação e ascensão do Filho do homem (19.28 a
mem Perfeito - Esse que ultrapassa o mais elevado cap 24)
ideal dos gregos. Embora fale da divindade de Cristo, a 3.1. O grande conflito (19.28 a cap. 23).
ênfase está mais na perfeição da sua humanidade 3.1.1. A aproximação (19.28 a 22.38).
(Lee).
3.1.2. O conflito (22.39 a 23.43).
A N Á L I S E DE LUCAS 3.1.3. O resultado (23.44-56).
3.2. A grande conquista (24.1-48).
Prefácio (1.1-4) 3.2.1. Sepulcro aberto (24.1-12).
1. Anunciação e advento do Filho do homem (1.5 a 3.2.2. Escrituras abertas (24.13-35).
4.13) 3.2.3. Entendimentos abertos (24.36-48).
1.1. Predição: Joéo e Jesus virão (1.5-56). 3.3. A gloriosa coroa (24.49-53).
1.2. Realização: João e Jesus presentes (1.57 a 3.3.1. A promessa do Profeta (24.49; Dt 18.15-
2.7). 19).
1.3. Preparação: Jesus, maior do que João (2.8 a 3.3.2. A bênção do Sacerdote (24.50; Hb 5.1).
4.13). 3.3.3. A glória do Rei (24.51-53; 2 Sm 7.8-16)
1.3.1 Reconhecido e adorado por anjos e ho- (Scroggie).
mens (2.8-38).
1.3.2. Adiantado para serviço e anunciado
como perto (2.39 a 3.20). A M E N S A G E M DE LUCAS
1.3.3. Atestado por Deus e atacado pelo Diabo
(3.21 a 4.13). Lucas dá-nos " o semblante de um homem", e em
2. Declarações e atividades do Filho do homem (4.14 nenhum dos outros evangelhos sinóticos somos leva-
a 19.27). dos tão perto de Deus. ou nos é Ele revelado tão cla-

349
ItíCãS

ramente. (Veja-se. por exemplo, o capitulo quinze.) O amor divino em seu coração leva-o a fazer o que
Isto se liga necessariamente ao aspecto da obra de pode para estabelecer na fé uma pessoa em quem se
Cristo exemplificado na "ultima pacifica", o fruto interessa, e o resultado é uma obra que a igreja toda
da expiaçáo, apresentada nos evangelhos anteriores. tem reconhecido como sendo de Deus e para todos.
Desapareceu a nuvem que ocultava o rosto divino. " É um lindo exemplo de quão naturalmente o
O semblante de um homem vai mais longe, po- Espirito de Deus opera, ou pode operar, naquilo que
rém. porque a humanidade é aquilo que Deus assu- nos chamamos inspiração. O instrumento que ele
miu. náo somente para consumar a nossa redenção, emprega náo é mera pena na mão de outro, mas um
ma» para ser eternamente a Cabeça da humanidade homem agindo livremente - pois 'onde está o Espiri-
na nova criação. Todas as benditas conseqüências to do Senhor. ai há liberdade' - como se escrevesse
ainda não se manifestaram, mas aqui vemos a Pes- somente do seu próprio coração e da sua própria in-
soa que reconhece o seu povo e age para com ele em teligência. O escritor faz uso de todos os meios ao seu
toda a humana simpatia e afeição desta relação inti- alcance, e os emprega diligentemente. Náo estra-
ma. Sua humildade é provada em toda a realidade nhamos descobrir na obra o caráter doobreiro; aque-
de fraqueza e dependência, no seu nascimento e in- le que preparou o instrumento, por que náo há de
empregá-lo de acordo com a qualidade daquilo que
fância. crescendo em sabedoria e estatura, constante
Ele preparou*1 Por que pór de parte a mente que Ele
em oração; no meio de tudo vemo-lo perfeito na obe- forneceu ou as afeições do coraçáo que Ele deu? Esse
diência. uma coisa nunca antes vista sobre a terra - que alimentou a multidão com os pães e peixes já
de maneira que o bom prazer de Deus nos homens, fornecidos, por que havia de pór á parte aquilo que o
do qual os anjos falaram, é justificado e necessitado. leio e o capricho do discípulo tinha "diligentemente
Aqui Deus e os homens se encontram, com bem- investigado"? (Grant).
avent urança para os homens, a qual enche o coração
e a vida com louvor responsivo. Nascimento de Joào Batista predito (5-25). "Das
Até mesmo da cruz. como a vemos aqui. foi-se a 24 turmas de sacerdotes que serviam no templo, a oi-
suprema agonia. Não há nenhum clamor de abando- tava era de Abias (1 Cr 24.10); e Zacarias, sendo des-
no: "Meu Deu*" muda-se em "Pai" Ele intercede sa turma, estava no seu serviço quando o anjo lhe
pelos inimigos; fala de paz ao ladrão moribundo ao apareceu" (Gottdman).
seu lado. Em todo o livro a salvação é uma coisa O anjo Gabriel aparece quatro vezes na Bíblia (v.
cumprida: graça, paz, remissão de pecados procla- 9): 1 Em Daniel 8.16 ele explica a visão do bode. 2)
mam-se em todas as páginas (Grant), Em Daniel 9.21 dá ao profeta entendimento da visão
"Para uma expressa alusão a Lucas como sendo o das 70 semanas 3) Em Lucas 1.11 anuncia o nasci-
autor deste evangelho temos de esperar até os tem- mento de João Batista. 4) No versículo 26 é enviado
pos de Irineu e o Fragmento Muratório no fim do se- ã virgem Maria para predizer o nascimento de Cris-
gundo século" (Book by Book). Mas há muitos moti- to.
vos para acreditarmos ter sido ele o autor. Teófilo. o Notemos a descrença de Zacarias e o castigo de
recebedor da carta, era provavelmente um oficial mudez com que Deu» o marcou, nem. contudo, des-
público, pois o titulo "excelentíssimo" náo se aplica- viar-se do seu propósito.
va a outras pessoas. Lucas neste capítulo cita muitas coisas que não
Capitulo 1 se lêem nos outros evangelhos: 1) Visita do anjo a
Zacarias. 2) Visita do anjo a Maria. 3) Visita de Ma-
O prefácio (1-4). Visto ser este o único evangelho ria a Isabel. 4) Profecia de Zacarias. 5) Detalhes do
com prefácio, vamos considerar um pouco essa par- nascimento. 6) Apresentação no templo. 7) Jesus na
te. Vemos: a) que Lucas sabia de várias pessoas que festa da Páscoa.
tentaram coordenar em uma só narrativa os inciden- Podemos estudar este trecho da seguinte manei-
tes e ensinos que hoje achamos colecionados no Novo ra:
Testamento, mas náo sabemos se ele incluía Mateus 1) Oração e incredulidade de Zacarias. Seu pedi-
e Marcos nesse número; b) que a tradição dos fatos e do de um filho era justo, visto que os filhos sáo he-
palavras tinha sido transmitida diretamente das tes- rança do Senhor (SI 127.3); era piedoso, porque era
temunhas oculares; c) que Lucas tinha tido o cuida- um desejo que podia apresentar a Deus em oração; o
do de investigar tudo minuciosamente desde o come- pedido era repetido, pelo visto, durante muitos anos:
ço; "d) que ele escreveu para informar um amigo foi desatendido por todo esse tempo; mas, afinal,
seu. por nome Teófilo; e) que este Teófilo tinha já al- respondido muito mais abundantemente do que Za-
guma instrução nas verdades do cristianismo. carias pensara. Havia pedido um filho, mas nunca
sonhara em pedir que esse filho fosse "grande diante
Podemos acreditar que uma providência divina do Senhor" (v. 15).
conservou até nossos dias os quatro evangelhos que
temo6 hoje. e permitiu o desaparecimento de muitas 2) Profecia e sentença do anjo Gabriel. Predições
outras narrações que se tornaram inúteis ou supér- sobre João Batista:
fluas. a) Haveria alegria cora seu nascimento (v. 14).
"Lucas não alega qualquer autorização do Se- b) Seria grande diante do Senhor (v. 15).
nhor para escrever seu evangelho. Ele percebe uma c) Seria nazireu. náo bebendo vinho (v. 15).
falta que é competente para suprir, e supre-a. Nem d) Seria cheio do Espirito Santo desde nascença
pensa ou fala em escrever para a Igreja toda. ou para (v. 15).
suprir uma necessidade geral. Escreve para Teófíio. e) Havia de converter a muitos (v. 16).

* A palavra grega " a n o t h e n " , À* VSZM, •igniflea do comaço • outras do alto ( M t 27.51). Aqui. via to que • verbo " i n -
v e s t i g a r " é ativo, parece aeceeaário aceitar o sentido como sendo do começo, de acordo oom todos oe tradutores. O co-
mes tador B e i j e i diz: "'anotfcen', de cima (subindo), isto ê, desde o começo dá a entender que Lucas quis fornecer os
pormenores que Marcos e m i t i r a " .

350
XtUQS

O Teria o espírito e poder de Elias (v. 17). O cântico de Zacarias (67-80). Este cântico divi-
g) Havia de converter os corações dos pais aos fi- de-se em duas partes: versículos 68-75 - um louvor a
lhos (v. 17). Isto pode significar converter o exclusi- Deus; 76-79 - uma profecia dirigida a João. Algumas
vismo dos judeus num zelo pela conversão dos gen- verdades referidas são: uma redenção divina; uma
tios. que sáo várias vezes chamados "filhos" (Is salvação poderosa; liberdade dos inimigos (nossos
60.4,9. etc.) pecados 0 ); uma manifestação de misericórdia; um
h) Converteria os rebeldes a prudência dos justos perpétuo serviço livre, em justiça e santidade; o ofi-
(v. 17). cio do Batiyta; um conhecimento de salvação; uma
i) Havia de preparar um povo bem disposto ao luz para guiar nossos pés.
Senhor (v. 17). Podemos estudar a expressão (v. 78) traduzida
A sentença de Gabriel sobre Zacarias foi que este por Almeida "O Oriente do alto nos visitou", na
havia de ficar mudo por muito tempo. Mas quando V B. "nos visitará a aurora lá do alto", e por Figuei-
ele recuperou a voz, a primeira coisa que fez foi lou- redo "lá do alto nos visitou este sol no oriente".
var a Deus. A figura é do nascer do sol, que dissipa as trevas
3) Significação do incidente para nós: da noite e torna tudo radiante com o brilho de um
a) O nascimento de um filho pode ser assunto de novo dia; uma figura expressiva da chegada do Sal»
muita oração secreta entre casados. vador ao mundo, ou a um coração.
b) A resposta a tal oração pode ser muito mais
abundante do que se espera. Capitulo 2
c) A visita de um anjo de Deus pode verificar-se
durante o nosso serviço na Casa de Oração. O nascimento de Jesus. Os dois primeiros versí-
d) O crente piedoso nào precisa ter medo ao sen- culos determinam a data do nascimento de Cristo.
tir-se na presença de Deus (v. 13). Cirénio foi duas vezes governador da Síria, e enten-
e) Resposta demorada nem sempre é resposta ne- de-se que foi no seu primeiro período que se fez o
gativa. alistamento. Isto põe o nascimento 4 anos antes da
f ) Nosso prazer espiritual pode resultar em agra- data tradicional, ou seja, em 4 a.C. O catedrático
do para os outros. \foulton diz que a data ainda mais provável é 8 a.C.
g) A conversão importa numa mudança radical O imperador romano César Augusto é o primeiro
h) Deus procura instrumentos escolhidos e piedo- dos Césares mencionados no N.T. Eles sáo quatro.
sos para efetuar seus propósitos. Os nomes e datas dos Césares que reinaram durante
Anúncio do nascimento de Jesus (26-38). Neste o período do N.T. são:
trecho descobrimos: uma visão inesperada (v. 27); Augusto, vivo quando Jesus nasceu - 27 a.C.
uma saudação abençoada (v. 28); um sobressalto na- Tibério, referido em Lucas 3.1 - 14 d.C.
tural (v. 29); uma animação angélica (v. 30); uma Calígula. nào mencionado na Bíblia - 37 d.C.
promessa misteriosa (v. 31); uma profecia extraordi- Cláudio, referido em Atos 11.28 - 41 d.C.
nária (v. 32.33): uma dúvida natural (v. 34); uma ex- Nero, perante quem Paulo compareceu - 54 d.C.
plicação suficiente (v. 35-37); uma submissão piedo* (Goodman).
sa (v. 35). Os pastores de Belém (8-20) de repente acharam-
A visita de Isabel (39-45) era muito natural, de- se rodeados da "Glória do Senhor". Esta glória visí-
pois da revelação do versículo 36. Da sua prima ouve vel tinha uma marasilhosa história. Apareceu pri-
Maria as palavras: "Bem-aventurada a que creu. meiro quando Israel foi remido do Egito (Ex 16.10).
pois hão de cumprir-se as coisas que da parte do Se- Descansava sobre o propiciatório no Tabernáculo, e,
nhor lhe foram ditas" nos dias de Salomão, enchia o templo. Por último foi
vista por Ezequiel, saindo da Cidade Santa e des-
O cântico de Mana (46-56) é o transbordo do seu cansando por um pouoo sobre o monte das Oliveiras,
espirito em adoração e louvor a Deus. Preocupada e então subindo (Ez 11.23,24) para nào ser mais vista
com a maravilhosa obra de Deus. ela nem ao menos até depois de 600 anos Aparece-nos mais uma vez
se lembra da possível (e muito natural) desconfiança para anunciar a vinda do Salvador.
de José (Mt 1.19), nem das conversas da vizinhança. Notemos nestes capítulos as várias visitas de an-
Neste cântico notemos: 1) gozo em Deu3 e reco- jos As palavras do anjo neste trecho tiram o medo,
nhecimento da sua graça; 2) compreensão da bem- dão alegres noticias, anunciam o nascimento, apon-
aventurança de ser o instrumento para conseguir a tam o "sinal".
vontade divina; 3) reconhecimento do poder, miseri- No fim do versículo II leia-se "que é o único un-
córdia e benignidade de Deus; 4) cumprimento de gido do Senhor" (O. 27).
profecias. Os pastores perceberam a visão, temeram, escu-
Vemos que Maria se ausentou da sua prima logo taram as palavras, agiram de acordo, sem serem
antes de nascer Joào Batista. mandados, não perderam tempo, verificaram o fato,
O nascimento de João Batista (57-66). A alegria testificaram a visão, impressionaram seus ouvintes,
profetizada no versículo 14 é cumprida em parte no e voltaram ao seu trabalho glorificando a Deus. Re-
versículo 58. Notemos: que nem sempre convém se- sumindo. podemos dizer que os pastores viram, ouvi-
guir um costume (v. 59) sem consultar a vontade de ram. foram e contaram. Temos feito o mesmo?
Deus; que Deus. às vezes, escolhe o nome de uma A circuncisão e apresentação de Jesus (21-24) fo-
pessoa; que Israel quis obedecer o mandado do anjo ram feitas em obediência á Lei. Parece ter sido um
no versículo 13; que empregou a sua voz no louvor de costume judaico dar o nome ao menino na ocasião da
Deus; que o povo achou no ocorrido assunto para sua circuncisão (Lc 1.59; 2.21). A redenção do primo-
muitos pensamentos. gênito obedecia á lei de Êxodo 13.13. A purificação
N o fim do versículo 66 leia-se "está com Ele" (O. da mãe obedecia a Levi tico 12.1-6. Vemos, pela sua
36). oferta de um par de rolas, que o casal era pobre.

351
iMOU

Simeáo e Ana (25-38). Vemos um homem idoso, O propósito da pregação era aplanar os cami-
justo, temente a Deus vigilante, iluminado (v. 25). nhos. preparar o caminho do Senhor, para que Ele
instruído, esperançoso (v. 26), guiado (v. 27), satis- pudesse chegar até o coração dos homens; e também
feito (v. 28-32) e profeta (v. 33-35). Este cântico, o permitir a todos verem "a salvação de Deus".
"Nunc dimittis", vai além do "Magnificat" e do O estilo da pregação era argüir os ouvintes aspe-
"Benedictus", pois revela que a salvação chegara ramente sobre seus pecados, e também aconselhar
para todos (v. 32) (Scroggie). um procedimento digno e correto.
Notemos que Simeáo considera Jesus a própria O tempo da pregação foi dezoito anos depois da
salvação de Deus e náo apenas quem nos traz a sal- Páscoa referida no capitulo anterior.
vação. Quanto mais chegados a Jesus, tanto mais a Algumas interrogações (10-20). Vemos o povo tão
salvação de Deus será uma realidade na nossa expe- impressionado que chegou a julgar ser João Batista o
riência. Cristo (v. 15).
É interessante ver estas duas pessoas, Simeáo e O resultado da pregação: todas as classes de ou-
Ana. ambos de idade avançada, conservadas até po- vintes ficaram impressionadas. - povo. publicanos.
derem. afinal, ver "a salvação de Deus" e testificar soldados.
aos que esperavam a redenção em Israel. E foi na .4 glória da pregação. João testificou de Cristo (v.
casa de oração que constantemente freqüentavam, 26). Cada pregador deve pensar antes de começar:
que isso se realizou. "Que vou testificar hoje de Cristo?" e cada crente
O menino Jesus (39-52). "Nosso Senhor náo se que não é pregador deve responder a essa mesma
nos apresenta na sua meninice como o menino Sa- pergunta.
muel. permanecendo sempre no templo, longe da A genealogia (23-38). A seguinte explicação é
vida comum dos homens, mas vemo-lo em grande dada por Scofield: "Em Mateus onde, sem dúvida,
humildade, seguindo o curso comum da vida. como temos a genealogia de José. diz-se. no capítulo 1.16.
outras erianças. em sujeição à autoridade paterna" que Joaé era filho de Jacó. Em que sentido, então,
(Williams). podia ser. como diz Lucas, 'filho de Heli'? Não podia
Alguém talvez deseje saber como o menino Jesus por geração natural ser filho de Jacó e também de
havia de crescer em graça para com Deus. Podemos Heli.
entender que em cada momento da sua mocidade "Mas em Lucas não se diz que Heli gerou a José.
Ele era perfeitamente agradável ao Pai. mas na in- e assim a explicação mais natural é que José era gen-
fância sua esfera era limitadíssima: apenas a intimi- ro (ou neto) de Heli. que era. como ele, descendente
dade da família. Com a passagem dos anos, seus de Davi. A conclusão é, por isso, inevitável que em
contatos com a vizinhança aumentavam; ia mais Lucas temos a genealogia de Maria, e José chegou a
longe, e encontrava outras pessoas, e em cada nova ser um 'filho' de Heli porque casou com uma filha
relação com os homens em redor, podemos acreditar dele".
que seu procedimento ministrou novo agrado ao Pai. Outros, porém, igualmente instruídos, náo con-
Vemos no menino Jesus as seguintes característi- cordam que seja a genealogia de Maria. Grant con-
cas: corda com Scofield.
a) Respeito pelos anciãos, e atenção a eles. Ouvir
a instrução é a verdadeira sabedoria da mocidade Capitulo 4
(Pv 1.7,8).
b) Um espirito de indagação - fez-lhes perguntas. A tentação de Jesus (1-13). Vemos uma diferença
A Lei reconhecia que as crianças normais haviam de na ordem das tentações. Lucas fala da tentação ao
perguntar (Ex 12.26; 13.14; Dt 6.20; Js 4.6). corpo (2-4), alma (5-8). e espirito (9-12), que parece
ser a ordem moral. A ordem histórica talvez seja a de
c) Respondendo ás perguntas (47). E havia inteli-
Mateus: corpo, espírito, alma.
gência nas suas respostas.
Só loucas tem os palavras "cheio do Espírito San-
d) Habitual obediência á autoridade dos pais.
to" (v. 1); "que te guardem" (v. 10); "num momento
Nosso Senhor reconheceu que honra, amor e obe-
de tempo" (v. 5) e quase todo o versículo 6. e "por al-
diência sáo devidos aos pais.
gum tempo" no versículo 13.
e) Prazer nas coisas santas (46). Ele foi achado no
"Aqui se faz o apelo, como a Eva no Éden. ao 'de-
templo, o maravilhoso e lindo santuário. Havendo
sejo da carne, ao desejo dos olhos e ã soberba da vi-
sido criado no temor de Deus. havia de reverenciar
da' (1 Jo 2.16). Quando chegamos ao coração das coi-
as coisas sagradas.
sas achamos que os males fundamentais são egoís-
f ) O desejo de agradar a Deus, o ocupar-se com os
mo, transigência e preocupação; e o Diabo fez seu
negócios do Pai.
apelo a Jesus, no deserto, a todos esses três males. E
g) Crescimento: em espírito (favor para com
em cada apelo tentou derrubar a vida de confiança
Deus); na mente (sabedoria) no corpo (estatura) -
em Deus. o Pai, para destruir, primeiro, a simplici-
(Goodman).
dade da confiança; segundo, a estabilidade da con-
Capitulo 3 fiança, e terceiro, a pureza da confiança.
"Nota-se que todas estas tentações tém um as-
A pregação de Joáo Batista (1-9). Notemos o cui- pecto relifioao. que as torna mais sutis. Náo somos
dado em verificar a data da primeira mensagem pro- iludidos quando encontramos um leão no caminho,
fética depois de um intervalo de uns 400 anos. E mas quando vemos uma luz somos atraídos (2 Co
Joáo era porta-voz dessa mensagem: "Arrependei- 11.14).
vos!" "Em Lucas o apelo é primeiro ao apetite, o se-
O lugar da pregação foi às margens do rio Jordão, gundo à ambição, e terceiro á aventura. A primeira
mas parece que vieram ouvintes de bem longe para tentaçáo visava a uma necessidade pessoal; a segun-
escutar o novo profeta. da. ao mundo inteiro; a terceira, á nação judaica.

352
Zucêt

"Como foi que Cristo venceu? Ele venceu por ter Também há de notar que a razão da raiva do
o coração submisso à vontade de Deus e. nos lábios, povo (v. 28) foi que Jesus mostrou como os gentios
a Palavra de Deus. Somente assim podemos nÓ6 alcançariam as bênçãos que Israel desprezara.
também vencer" (Scroggie). Não podendo refutar as palavras, os ouvintes tra-
" A verdadeira vida do homem não é a vida sus- taram de perseguir o pregador. Ainda hoje alguns
tentada pelo pão, mas a sustentada pela Palavra de discutem com pedras, confessando, assim, que não
Deus. Obediência, dependência, e comunhão são as podem apresentar razões.
suas características. Contra quem assim andar, to- A cura de um endemoninhado (33-36) é relatada
dos os esforços do inimigo serão impotentes" por Marcos e Lucas quase nas mesmas palavras. Al-
(Grant). guns entendem que Lucas tinha consigo o livro de
Marcos, copiando várias trechos e acrescentando ou-
A tentação de Jesus traz muitos ensinos para nós.
tros. mas esta teoria não está provada, e não explica
mas a lição principal é que uma constante preocupa-
a o missão por Lucas de muito que está em Marcos,
ção com a vontade e a Palavra de Deus nos salvará
especialmente em Marcos 4.45 até 8.26.
na hora de tentação.
Devemos notar: que a tentação é freqüente; que A possessão por espíritos imundos era comum
ninguém a pode evitar completamente: que muitas nos tempos do N.T. Hoje é um mal mais conhecido
vezes a tentação nos sobrevém por algum descuido nos meios espiritas do que no mundo em geral. Se-
ou alguma culpa nossa. A criança que cheirar os bo- cundo o ensino da Bíblia, há um só Diabo, mas mui-
los que a mãe mandou-a comprar, será tentada a co- tos demônios - espíritos malignos. Este demônio
mê-los. imundo: 1) reconheceu o Senhor: 2) confessou a di-
vindade de Jesus; 3) sabia que Ele seria Juiz 4) cla-
Podemos considerar: 1) o tentador; 2) a tentação; mou. não para pedir misericórdia, mas para ser dei-
3) o recurso dos filhos de Deus. xado: 5) sendo repreendido, lançou sua vitima no
1) O tentador. Sabemos que em nós mesmos exis- meio do povo f Goodman).
te a concupiscéncia. essa tendência para o mal. mas A sogra de Pedro (37-44). "Aprendemos que Pe-
fora de nós há um tentador - Satanás. ou algum ser- dro era casado e que sua sogra (provavelmente) mo-
vo seu. De nosso trecho aprendemos que o tentador: rava com ele. Ela estava com febre tifo - é isso que
a) observa-nos. conhece-nos (em parte), e quer pre- Lucas, o médico, quer dizer por uma 'grande febre' -
judicar-nos; b) procura servir-se dos nossos apetites e Jesus curou-a imediatamente. As doenças, e tam-
para nosso prejuízo: c) faz seu apelo com astúcia - bém os demônios, tinham de obedecer-lhe. Isto é de-
até mesmo citando a Escritura. mons' ado no próximo parágrafo (40.41). Havia sido
2) A tentação pode vir mediante os desejos da um d..« de muita ocupação, e depois de um breve re-
carne, os desejos dos olhos ou a soberba da vida. pouso. Jesus foi para um lugar tranqüilo a fim de
A proposta do tentador foi que Jesus se valesse orar (42-44. compare-se com Marcos 1.35-39), O
dos seus poderes sem consultar a vontade de Deus. maior argumento para a oração é que Jesus orou.
ou que ele contasse com a proteção divina mesmo fa- Mas Ele nunca ficou sozinho por muito tempo, e
zendo a sua vontade própria. Nunca devemos pedir nunca se queixou das interrupções. O seu poder não
de Deus um milagre desnecessário. dependia de atos de devoção, mas de uma atitude da
3) O recurso dos filhos de Deus. Jesus é nosso alma" (Scroggie).
exemplo na hora da tentação. Aprendemos dele que: "Neste trecho vemos Jesus como sendo: o vence-
a) a Palavra de Deus nos instrui, e nos guarda do
dor de demônios (33-37); o adversário da doença
mal; b) devemos julgar que a energia espiritual (pra-
zer na Palavra de Deus) nos guardará quando um (39); o curador de enfermidades (40,41), e o missio-
desejo natural nos tentar, pois muitos têm sido der- nário divino (42.43)." E ainda hoje Ele é o mesmo
rotados até pela sede; c) um propósito singelo, que para nós?
procura glória para Deus e não para si. é uma prote-
ção contra o pecado. Capitulo 5
Jesus prega na sinagoga de Nazaré (14-32). Este .4 pesca maravilhosa (1-11). Notemos o interesse
discurso não é o primeiro sermão de Jesus (v. 15), de Jesus em conhecer a vida diária dos discípulos.
mas pode bem ser seu primeiro discurso público em Há duas verdades diferentes, mas igualmente pre-
Nazaré. "Entre os versículos 13 e 14. Lucas omite ciosas: que Deus se interessa em toda a nossa vida. e
um período de 14 meses relatado em João 1.39 a que Ele nos convida a nos interessarmos no progresso
5.47". do seu reino.
Tomando este como um sermão modelo, pode- O dr. Scroggie faz as seguintes divisões: o man-
mos estudar o pregador, o discurso, e o efeito nos ou- dato estranho (v. 4); a obediência imediata (v. 5); o
vintes (Scroggie). resultado surpreendente (v. 6.7). Notemos a seguir:
No Pregador, notamos seu preparo (4.1-13), seu a conseqüente confissão do pecado (v. 8); a com-
recurso (v. 14), seu costume (v. 16). sua escolha do preensão da personalidade de Cristo ( w . 8,9); a cha-
trecho (v. 17). sua atitude (v. 16), sua cortesia (v. mada ao serviço ( w . 10,11).
22), e sua coragem e prudência (v. 30). No discurso No versículo 8 Pedro fez uma oração ignorante,
descobrimos que era bíblico, oportuno, adequado, que não foi respondida. Foi o reconhecimento da pre-
evangelistico, pessoal. sença divina, revelada pelo milagre, que impressio-
O efeito nos ouvintes foi primeiro agradável (v. nou Pedro e o levou ao reconhecimento da sua condi-
22) e depois, quando ouviram a aplicação, tornou-se ção. Aproxima-se de Jesus ao mesmo tempo em que
o meio de descobrir a hostilidade deles a Jesus. pede que Jesus se ausente dele: a consciência e o co-
O leitor estudioso terá o cuidado de verificar, em ração lutam nele. mas ele não foge. Como fugir de
Isaías 61.1,2, a parte não lida da profecia, e pensar quem vencera o mar e o seu coração também?"
porque Jesus "cerrou o livro". (Grant).

353
Xucai

A cura de um leproso (12-16) é relatada pelos três Observemos os pontos notáveis no caso do parali-
evangelistas. Lucas, o médico, observa que o doente tico:
estava cheio de lepra, e que "prostrou-se sobre o ros- a) Interesse e simpatia dos amigos. Tinham al-
to". (Alguém já orou tanto, para ser purificado da le- gum conhecimento da graça e poder de Jesus, e trou-
pra do pecado, quanto o leproso rogou pela sua cu- xeram seu amigo doente, vencendo todos os obstácu-
ra?) los.
Notemos a confiança e a dúvida do leproso. b) O estado do doente: inutilizado, fraco, depen-
N o fato de Jesus tocar o inorfético. descobrimos dente, desanimado, com a consciência acusando-o
compaixão, simpatia, pureza, poder - e em tudo. do pecado carnal que causara sua enfermidade.
Deus revelado. c) A atitude dos escribas e fariseus, mostrando
N o caso do leproso, vamos notar: insensibilidade espiritual, e indiferença ao estado do
a) Seu estado: imundo, enfraquecido, sem espe- doente, e a temeridade de acusar o grande Profeta.
rança de cura, contaminado, isolado - e vemos todos d) Em Jesus vemos: discernimento, que percebeu
estes males desfeitos por seu contato com Jesus. Por- a origem do mal - o pecado; poder "sobre a terra " d e
ventura tem havido coisa semelhante em nossa ex- perdoar: isto significa, talvez, poder de remover aqui
periência? as conseqüências do pecado, em contraste com o po-
b) Sua oportunidade: Jesus ia passando, mas o der de conceder perdão eterno, que ganhou pela sua
homem náo hesitou: agiu imediata e energicamente. morte expiatória; autoridade para ordenar uma cura
c) Sua atitude: prostrado sobre o rosto, demons- completa, e determinar os passos futuros do homem
trando, assim, o seu profundo abatimento e seu reco- salvo.
nhecimento da dignidade de Jesus. Notemos que nada se diz da fé do paralitico. nem
^ d) Sua dúvida: desconfiou da boa vontade de Je- de palavra alguma que tenha falado.
sus. Assim é o pensamento dos nossos vizinhos que Sobre o buraco aberto no telhado, consulte-se a
recorrem à virgem e aos santos porque desconfiam exposição de Marcos capitulo 2.
da boa vontade do Salvador. (Contrastar isto com o O resultado final: "Todos ficaram maravilhados,
"se tu podes fazer alguma coisa" de Marcos 9.22.) e glorificaram a Deus". Que maravilhas espirituais
e) Seu pedido purificação. E isso o que nós te- temos nós presenciado, pelas quais glorificamos a
mos pedido ao Salvador 0 Deus?
f) Sua cura: imediata, completa, permanente. A uocaçdo de Levi (27-32) é relatada nos três
Uma revelação do poder, da bondade e da misericór- evangelhos sinóticos. mas em Marcos ele é chamado
dia de Cristo. "Levi. de Alfeu " - filho ou talvez irmão. Mateus dei-
g) A ordem que recebeu: para náo fazer unia coi- xa de mencionar, talvez por modéstia, o grande ban-
sa, e para fa/.er outra (Mt 8.4). quete que fez. Só Lucas diz que ele "deixou tudo" (v.
h) Sua desobediência (Mc 1.45): uma desobe- 28).
diência muito natural, considerando-se todas as cir- Notemos as duas perguntas dos fariseus:
cunstâncias; uma desobediência com conseqüência 1) " P o r que corneis e bebeis com publicanos e pe-
imprevistas e inconvenientes (Mc 1.45): uma deso- cadores?" (v. 39).
bediência que teria evitado se sempre tivesse tido o 2) " P o r que jejuam os discípulos de João?" (v.
costume de obedecer á voz divina. 33).
Havendo achado tudo isto no leproso, que des- Referente á primeira, devemos compreender que
cobrimos no Senhor Jesus? Descobrimos: aproxima- um servo perfeito tem um perfeito contato com Deus
ção. interesse, simpatia, atenção, boa vontade, po- e com os homens. Devemos saber se é assim conosco:
der. revelação do amor de Deus. respeito pela lei de se tal é o nosso desejo. Muitos crentes fervorosos des-
Moisés, o desejo de solidão, a dependência que ora. cuidam-se de cultivar ura contato social e santo com
Temos visto Jesus ultimamente em quatro locali- seus semelhantes.
dades diferentes: Nazaré (4.16-30); Cafarnaum (31- Em estudar esta festa podemos considerar:
44); Genesaré (5.1-11); "uma certa cidade" (12.13). 1) Seu motivo. Vemos que o regozijo de Levi foi:
Notemos que mais uma vez .Jesus procura um lu- por se ter encontrado com Jesus; por ter ouvido a sua
gar deserto para ali orar. Hoje em dia essa medida chamada: por ter provado a bem-aventurança da
talvez seja mais necessária que nunca, quando há o sua companhia.
rádio em casa, ou na do vizinho, roubando todo o Por isso resolveu fazer uma festa a Jesus. O moti-
sossego e tranqüilidade. vo. pois, foi a satisfação que achara em Cristo.
Há anos um moço crente, morador na roça. con- 2) Seu caráter Levi não se regozijou sozinho.
vidou* me para ir com ele dar um passeio. Levou-me Sentiu desejo de que outros participassem da sua
para um campo retirado e alto, onde. em lugar meio alegria. Quis levar seus vizinhos para uma convivên-
oculto, vi uma tosca construção elevada um tanto cia com Cristo num momento de abundância e satis-
acima do chão, com uma vara horizontal da altura fação. Pode haver hoje alguma coisa semelhante a is-
de um metro. " A s vezes venho aqui sozinho para to?
orar", disse ele. Parece que ali achava mais sossego 3) Seu propósito foi, provavelmente, que alguns
do que em casa. Hoje ele é um homem casado. Por- dos convidados provassem a influência da presença
ventura ainda goza de semelhante retiro, a sós com de Jesus, mas notamos que o meio que empregou foi
Deus? uma festa. Poderia sem dúvida tê-los convidado
Um paralitico é curado (17-26). Este caso é con- para ouvirem um sermão, mas julgou haver mais
tado pelos três evangelistas, com diferenças bem pe- probabilidade de êxito através de uma festa.
quenas, mas é só Lucas que diz que o curado foi para 4) Seu resultado foi que alguns dos convidados,
sua casa "glorificando a Deus; e que os assistentes talvez pela primeira vez, sentiram-se na presença de
"ficaram cheios de temor". Jesus, e notaram: que Ele náo era nenhum solitário;

354
1um
que a sua presença náo ofuscava a alegria e sim a au- Capitulo 6
mentava; que Ele comia e bebia com serenidade e
moderação, apreciando devidamente os bons propó- -Jesus e o sábado (1-5). No primeiro versículo
sitos do hospedeiro. E antes de se retirarem ouviram achamos (em Almeida) a extraordinária expressào
algumas palavras preciosas sobre a sua missão de "sábado segundo-primeiro", da qual nunca encon-
chamar os pecadores ao arrependimento. trei uma explicação que satisfizesse. A Versão Brasi-
5) Seu sentido para nós pode ser: que alegria es- leira. de acordo com alguns manuscritos antigos, evi-
piritual se encontra na presença de Jesus; que nào ta a dificuldade omitindo a expressão Na passagem
devemos ser egoístas, mas convidar os nossos amigos correspondente em Mateus, a palavra ("deuteropro-
para se regozijarem com Cristo; que devemos mos- to") não se encontra.
trar* lhes que alegria, satisfação, abundância, e pra- Evidentemente, o ensino principal do trecho é
zer se encontram onde Cristo está; que quem tudo que "o Filho do homem é Senhor do sábado", tendo
deixa para seguir a Jesus náo é indiferente aos praze- o direito de dispor desse dia (e de todos os dias) como
res lícitos dos seus semelhantes; que. embora para Ele entende.
nós os doces náo têm a primeira importância, pode- O zelo dos fariseus nào era pela Lei de Deus, mas
mos simpatizar com esses que acham muita satisfa- das suas próprias tradições. Tinham tornado o dia
ção neles. Por isso os pais brincam com seus filhos, de descanso em um dia cheio de preceitos e exigên-
náo porque eles próprios gostam de brincadeiras, cias absurdas. Jesus deliberadamente pisou-as, e es-
mas porque sabem apreciar os prazeres dos peque- tabeleceu o princípio que "é licito fazer bem no sá-
nos. bado" (v. 9).
Sobre o jejum, podemos notar: que tristeza e luto A mão mirrada (6-11). Lendo em Mateus e Mar-
tém seu cabimento em certas ocasiões, e que, quan- cos, pensamos que este milagre foi no mesmo sábado
do reconhecemos que nosso Senhor é rejeitado e au- "segundo-primeiro", mas Lucas diz que foi em "ou-
sente deste mundo, nos sentimos tristes, mas na fes- tro sábado" (v. 6). Só Lucas tem as palavras "Le-
ta da Santa Ceia reconhecemos pela fé a sua presen- vanta-te" (v. 8), e "uma coisa vos hei de perguntar"
ça. e regozijamo-nos. (v. 9), e "ficaram cheios de furor" (v. 11).
Veja-se também a exposição de Mateus 9.14-17. Jesus ensina aqui duas coisas: a) Que Ele é o Se-
A expressão em Mateus 9.15: "Podem porventura nhor do sábado, assim afirmando a sua divindade,
andar tristes os filhos das bodas?" ajuda-nos a com- como se dissesse: "Lembrai-vos de que fui Eu - Jeo-
preender o valor espiritual do jejum no cristianismo. ud - quem lc» deu o mandamento", b) Que Jesus
Tristeza é incompatível com a presença do Senhor, queria que o sábado fosse observado no mesmo espí-
mas perante o mundo o crente, às vezes, abstém-se rito que Ele mostrou, certamente nào em preguiça e
de certos gozos lícitos, devido á ausência do Senhor. ociosidade, mas em fazer bem e salvar os homens.
Podemos transferir o mesmo espírito para o Dia do
Viajei uma vez para a Europa, e a bordo houve Senhor e procurar agradar a Deus pela maneira
um baile. No dia seguinte um passageiro observou: como o empregamos" (Goodman).
- Nào vi o senhor no baile ontem à noite.
- N à o fui. Podemos distinguir entre o sábado dos judeus e o
- Por que não? domingo dos cristãos da seguinte maneira:
- Estou de luto. 1) Característica do sábado:
- Ah! compreendo! Naturalmente achou incon- a) Um dia de descanso, mas não expressamente
veniente. por isso. assistir ao baile. Foi algum paren- um dia de culto religioso.
te? b) Um dia de guarda para Israel por mandamen-
- Nào. Estou de luto, não por algum parente, to divino.
mas porque meu Salvador foi assassinado aqui neste c) O fim de uma semana de trabalhos.
mundo. Por isso. perante o mundo que ainda não o d) Um sinal dado a Israel (Ex 31.13-17).
reconhece como seu Senhor, estou de luto. 2) Características do domingo:
A parábola do "novo" e do "velho" (36-39). " A a) Um dia de serviço espiritual, que os crentes em
nova vida que Cristo dá não cabe no velho judaísmo. todos os tempos e lugares têm reservado para o culto
Novo vinho deve ser posto em odres (vasilhas feitas divino.
de couro) novos; um remendo de pano novo nào com- b) Um dia de descanso voluntário, assinalado
bina com vestido velho. O cristianismo não é o ju- desde os primeiros tempos do cristianismo pela pre-
daísmo remendado, mas vida e liberdade. E uma sença do Senhor no meio do aeu povo reunido (Jo
nova criação que necessita de novas condições. Pau-
lo repreendia os gálatas que queriam voltar aos "ru- 20.19 e 26).
dimentos fracos e pobres" (G1 4.9), vivendo como es- c) Um dia em que se comemora Cristo ressurgido
cravos e náo como filhos, voltando á escravidão de o sua obra redentora.
formalidades e cerimônias e ordenanças depois de d) O começo dè uma nova semana. O israelita
terem gozado de liberdade em Cristo (G1 5.1). Novi- trabalhava seis dias para poder descansar no sétimo.
dade de vida necessita de liberdade para desenvol- O cristão descansa em Cristo para poder especial-
ver-se. Sendo presa, ela romperá os velhos odres" mente trabalhar no domingo na obra de Deus.
(Goodman). 3) Pensamentos diversos:
"Os odres velhos das instituições judaicas nào a) Sem ser mandado, o israelita aproveitava bem
podiam conter o espirito livre e expansivo do novo a folga dos serv iços materiais para freqüentar a sina-
concerto, que já se ia manifestando, mas a oposição goga (Lc 4.16: At 17.2, etc.).
que surgiu mostrava que a Lei é mais ao gosto do ho- b) O sábado foi feito para o homem. Quem mais
mem natural: quem estava bebendo o vinho velho trabalha durante a semana, mais aprecia o descanso
não havia de desejar imediatamente o novo" de um dia em sete.
(Grant), c) Ao israelita foi mandado guardar o sábado;

355
Zucas

nào há nenhum mandamento ou referência no N.T. aquela atitude da alma em que há a convicção de
que ensine ao cristão guardá-lo. que reside em Cristo o poder salvador de Deus; e que
d) No N.T. vemos os judeus muitas vezes reuni- nào há limites àquilo que Ele pode fazer .
dos nas sinagogas no sábado, e os cristãos quatro ve- Ê notável que este piedoso soldado romano tinha
zes reunidos no Domingo (Jo 20.19.26; At 2.1 e 20.7). mais fé do que os israelitas (v. 9).
A escolha dos doze (12-16). Em Lucas vemos No versículo 3 é correto ler "enviou os anciãos".
Cristo sete vezes em oraçáo; só Lucas relata que Je- mas no versículo 6 deve ser "encarregou ... uns ami-
sus passou uma noite em oraçáo antes de escolher os gos". indo ele. por suposto, com esses (J. 342).
doze discípulos. E bom orar em todas as ocasiões, Muitos tèm notado o contraste no incidente do fi-
mas é necessário orar antes de tomar um passo im- lho da viúva (11-17). 0 Senhor da vida. com seus
portante - como, por exemplo, o matrimônio. discípulos, encontra uma desolada viúva junto com
Jesus chamou os doze de apóstolos porque iam seus amigos lamentando o poder da morte.
ser seus '"enviados". Consideramos hoje serviço Em Cristo notamos sua compaixão e seu poder. A
apostólico esse que se aventura a levar, como pionei- intima compaixão de Jesus levou-o a operar um
ro. o Evangelho a lugares difíceis ou distantes. grande milagre sem ser rogado.
O sermão da montanha (17-49). "Muitos têm Às vezes nos falta o ânimo para pedir uma inter-
procurado identificar este Sermáo 'num lugar plano' venção divina que nos parece impossível, e, contudo.
com o Sermão do Monte (Mt ca ps. 5 a 7). 'Num lu- Deus responde aos nossos desejos quando não ousa-
gar plano' seria melhor traduzido 'num lugar baixo', mos pedir.
e por isso sugerem que significa planalto, isto é, um
O resultado do encontro é que a vida vence a
lugar plano em cima do monte. Entretanto outros
morte, a alegria a tristeza. E logo o filho é restaurado
gostam de pensar que o Senhor repetiu aquele gra-
à sua mãe.
cioso e admirável sermão em diversas ocasiões, e
com variações para diferentes auditórios. O homem João Batista e Jesus (18-35). João parece abalado
bom tira do bom t«»souro do seu coração coisas novas na sua fé, nào por falta de sinais de Jesus ser o Cria-
e velhas (Mt 13.52)" (Goodman). to, mas por circunstâncias que se sucederam. Na sua
resposta. Jesus não se refere ao fato de João estar na
" O sermão está dividido em três partes: 1) Uma cadeia, mas fala das bênçãos que milhares provaram
descrição das pessoas a quem é dirigido (20-26). 2) A pelo contato dele com o Salvador.
proclamação dos princípios fundamentais da Nova Podemos acreditar que João se sentia um pouco
Sociedade (27-45). 3) Uma declaração do julgamento desanimado, porque na sua própria pessoa não esta-
a que os membros do novo reino de Deus devem sub- va provando as bênçãos do reino de Deus.
meter-se (46-49). As pessoas que Jesus chamou Ele
ensinou. Ele nào pode ensinar-nos antes de chamar- Ê sempre fácil julgarmos o valor dos aconteci-
nos, mas é possível receber a sua vida e rejeitar-lhe a mentos pelo seu efeito sobre nós mesmos. Quem tem
luz" (Scroggie). dor de dentes lembra-se de que o mundo está cheio
de aflições, mas quem ganhou o prêmio grande na lo-
Os quatro "ais" nào aparecem em Mateus. Refe- teria acha que tudo vai muito bem. Quem prega
rem-se ao» ricos, predicado que. em si, nào é pecado, anos inteiros sem ver resultado começa a duvidar de
mas quando a riqueza impede de buscarem a Deus. que o Evangelho de Cristo seja o poder de Deus para
passa a ser um pecado. a salvação.
Notemos no versículo 31 a célebre "lei áurea". O remédio em qualquer dos casos é olhar para
"Evidentemente, tudo que se ensina no versículo mais longe, em vez de basear as nossas conclusões
36-38 pode ser mal-entendido. Há ocasiões em que: o em premissas por demais acanhadas.
ser misericordioso resultaria em injustiça; o não jul- Na sua resposta à indagação. Jesus convida João
gar seria pecado; o perdoar seria um erro; o dar seria a esquecer-se das suas penosas circunstâncias e
causar prejuízo. Quase toda a verdade é relativa e olhar para mais longe, vendo muita gente abençoada
não absoluta. Este trecho deve ser considerado com pelo poder divino revelado em Cristo.
referência aos seus limites, e também ao seu alcan-
ce" (Scroggie). Em relação a este incidente, podemos considerar
os seguintes pensamentos:
O versículo 40 deve ser: "o discípulo não é supe- 1) Que João, embora abatido, não havia de consi-
rior ao seu mestre: mas convém que seja como seu derar-se abandonado, porque ainda tinha discípulos
mestre" (O. 85). ao seu alcance (v. 19).
Muitas vezes nós nos revelamos por nossa atitude 2) Que, no momento do seu maior desânimo, ele
perante os erros dos outros (41-42). fez a coisa mais acertada: pôs-se em contato com
Aprendemos de 1 Corintios 12.3 que "Ninguém Cristo - e, sem dúvida, o desânimo desapareceu.
pode dizer que Jesus é o Senhor senão pelo Espírito 3) Que ele dirigiu a sua pergunta ao próprio Jesus
Santo" e, em contraste com isso, lemos em Lucas e a mais ninguém, porque, decerto, não tinha outro a
6.46: "Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fa- quem se dirigir. E nós, nas nossas horas de tentação,
zeis o que eu digo?" Mas, embora haja contraste, porventura teremos outro Salvador mais digno da
nào há aqui nenhuma contradição. nossa confiança a quem possamos recorrer?
4) Que os discípulos de João haviam de se repor-
Capítulo 7 tar não somente a verdades faladas, mas ao poder do
Evangelho de Cristo visto e comprovado.
Um servo doente e um filho defunto (1-17). Le-
mos de vários centuriões (capitães do exército roma- 5) Que com Cristo há também bênçãos espiri-
no) no N.T., tendo geralmente boas referências tuais para diversas classes de necessitados:
(Lc 7.2; 23.47; At 10.22; 22.26; 27.43). O que noa im- a) "Cegos" vêem valores que outrora ignoravam
pressiona aqui é o que impressionou o Senhor: a fé do por completo.
centuriào. Mas o que é fé? Alguém tem dito que fé é b) "Coxos", homens que nunca tiveram um an-

356
1Itfftl

dar perfeito, agora andam no bom caminho da von- "de todas as cidades", e que a semente "foi pisada".
tade de Deus. que "nào havia umidade " em vez de ser porque "náo
c) "Leprosos" imundos conhecem uma abençoa- tinha raiz".
da purificação pelo poder da graça de Cristo. Em Mateus, os que dão fruto ouvem e entendem;
d) "Surdos " ouvem as verdades de Deus e os can- em Marcos ouvem e recebem; em Lucas ouvem e
tos de louvor dos remidos. guardam. Para haver fruto em nossa vida como re-
e) Gente sem vida espiritual, morta em delitos e sultado da Palavra de Deus em nossas almas, é pre-
pecados, sente o poder de uma nova vida; a vida ciso que seja entendida, recebida e guardada.
eterna, que começa aqui e nunca termina. A parábola da candeia (16-18) é relatada por
f ) Os pobres ouvem falar era riquezas espirituais, Marcos mas náo por Mateus.
comparadas com as quais o ouro nada vale. As palavras "nào há coisa oculta que náo haja de
g) Há uma especial bem-aventurança para os que manifestar-se" nào se referem á manifestação do pe-
náo duvidam ser Jesus o Cristo de Deus (v. 23). cado no dia do juízo, mas à manifestação da verdade
O testemunho de Jesus com respeito a Joáo nada difundida como luz. Isto dá sentido à palavra "pois"
diz do seu desânimo ou desconfiança. Jesus testifica no versículo 18. Se temos luz. devemos mostrá-la, e
dele: se náo a mostramos, ela será extinguida.
a) Não era nenhuma cana abalada pelo vento. Tempestade e pânico (22-25). Os três evangelhos
b) Náo era pessoa acostumada com o luxo. sinóticos contam o incidente. Mateus é o mais resu-
c) Era profeta, e mais que profeta: era o "anjo" mido; Lucas o mais amplo.
(mensageiro) de Deus para preparar o caminho do Uma liçào do incidente é que Cristo nunca ficava
Senhor. perturbado; na tempestade dormia serenamente.
d) Que era o maior da velha dispensaçáo - mas o E instrutivo ver como, no momento de perigo, os
menor no Reino goza maiores vantagens. Ser "ami- discípulos, unânimes, recorreram a Jesus. Milhares
gos" (Jo 15.14) e "irmãos" (Mt 28.10) de Cristo é desde então têm feito o mesmo. E nós?
maior coisa do que ser um grande profeta. O endemoninhado gadarerut (26-39). Este caso é
Pode-se também consultar a explicação de Ma- contado pelos três evangelhos sinóticos. mas mais re-
teus capitulo 11. sumidamente por Mateus.
A mulher pecadora (36-50). Cada evangelista re- E só Lucas que tem "pmstrouse diante dele" (v.
lata o caso de uma mulher que ungiu os pés de Jesus, 28) e quase todo o versículo 29, e "porque estavam
mas o caso que Lucas conta não é o mesmo que os possuídos de grande temor" (v. 37).
outros. Mateus. Marcos e Joáo contam o caso de Ma- Aprendemos aqui lições sobre a oração:
ria, e a localidade é Betánia. Lucas fala de uma mu- Há três que rogam: os demônios, o doente e o po-
lher pecadora sem mencionar-lhe o nome. e a locali- vo.
dade é Naim. Uma circunstância curiosa é que em Os demônios obtêm seu pedido (v. 32) e perdem
ambos os casos o dono da casa se chamava Simáo. seu desejo (v. 31). O doente não obtém seu pedido
O dr. Scroggie nota as seguintes características (37), mas obtém seu desejo (38,39). O povo obtém
da mulher anônima: 1) Seu reconhecimento de cut- seu pedido e seu desejo (37). Queriam viver sem
pa. 2) Seu exercício de fé - ela. que necessitava alivio Cristo, e Ele se retirou!
para sua consciência, cria que podia alcançá-lo em Acontece que, ás vezes, é uma tragédia quando
Jesus. 3) Sua certeza de perdão - náo foram as lágri- certas orações sào respondidas e uma bênção quando
mas que lavaram os seus pecados, mas o amor de nào recebem resposta.
Cristo. 4) Sua experiência de purificação - coisa que Podemos notar a legião de demônios como figura
sempre acompanha o perdão. 5) Seu sentimento de da multidão de pecados, pois um pecado sempre
amor. que necessariamente acompanha aquela expe- gera outros: quem rouba, depois mente, e então jura
riência. 6) Sua expressão de gratidão - ela deu seu para reforçar a mentira.
precioso ungüento. 7) Sua necessidade de serviço - Vemos no endemoninhado desespero, miséria e
ela precisava fazer algo para quem lhe fizera tudo! 8) vergonha. As vezes é pelo poder do Maligno que uma
Sua herança de paz - Jesus lhe disse: "Vai-te em pessoa descobre a sua miséria.
paz" e foi nessa esfera que, desde então, viveu. Notemos que o Senhor Jesus: domina os demô-
Nosso amor é a prova, mas náo o motivo do nosso nios (v. 28); requer do homem uma confissão do seu
perdão (v. 47). estado (v. 30); manda sair o espirito imundo (v. 29);
Este versículo deve ser traduzido: "Ela... muito revela o gozo destruidor do pecado (32.33); muda o
amará" (O. 98). coraçào do pecador e manda testificar à sua farailia
(Goodman).
^ Capítulo 8 A filha de Jairo. e a mulher com fluxo de sangue
(40-56). Estes dois casos são relatados pelos três
Vemos que a parábola do semeador é relatada evangelhos sinóticos na mesma ordem e quase nas
neste capítulo e narrada em capítulos bem diverso* mesma» palavras. Só Lucas dá a idade da menina.
em Mateus, Marcos e Lucas, a saber, nos capítulos Ele, sendo médico, náo diz. como Marcos, que a mu-
13. 4 e 8. Ê geralmente entendido que Mateus segue lher sofrerá muito dos médicos, mas apenas que gas-
a ordem histórica e Lucas um agrupamento de as- tara com eles. Também é só Lucas que tem o versí-
suntos mais ou menos relacionados pelo sentido que culo 46.
tém. Com respeito à filha de Jairo, é só Lucas que tem
Assim podemos entender, com Mateus, que o in- a expressão: "o seu espírito voltou" no versículo 55.
cidente da família de Jesus (Lc 8.19-21) se deu antes Aprendemos do incidente: que nos momentos de
da parábola do semeador; essa parábola do semea- maior aperto há recurso em Cristo; que a pessoa,
dor (5-15) é quase idêntica á versáo dada em Ma- quando muito comovida, ora prostrada; que Jesus,
teus, exceto que Lucas menciona ter o povo vindo mesmo sendo nosso último recurso, é sempre um re-

357
Xucas

curso suficiente (43,44), que o mais ligeiro contato Os versículos 23-27 falam da cruz de cada um.
com Ele importa em bénçáo; que o Senhor espera trecho relatado também, em linguagem quase idên-
uma confissão de benefício recebido; que Ele fala aos tica, pelos três, mas Lucas acrescenta as palavras
salvos palavras de animação e paz (48); que no mo- "cada dia " (v. 23). Para o sentido, veja-se o comen-
mento extremo Ele nào permite o desespero (50); tário de Mateus e Marcos.
que nem todos os discípulos podem presenciar suas Este trecho ensina a base e condição para ser
obras de poder (51); que a pessoa que recebe novida- discípulo de Cristo: uma dedicação absoluta ao Sal-
de de vida precisa ser alimentada. vador. " A vida cristã é uma divina anomalia: para
ganhar, devemos perder: para ter, devemos dar:
Capitulo 9 para viver, devemos morrer."
A missão dos doze (1-6). De Mateus 9.36-38 fica- No fim do versículo 25 leia-se "e perder a sua vi-
mos sabendo a ocasião desta missão, e aprendemos a dat" (O. 31).
orar pelos missionários. Depois os discípulos iam Entendemos que o versículo 27 se refere á transfi-
descobrir que eles mesmos seriam a resposta á guração.
oração. A transfiguração (28-36) já temos considerado em
Os três evangelistas relatam o caso. mas em Ma- Mateus e Marcos. Só Lucas (como em todas as oca-
teus há muitos detalhes que os outros não apresen- siões de importância) diz que Jesus subiu ao monte
tam. para orar. É uma coisa preciosa quando, náo somen-
Notemos o preparo de um missionário: a chama- te o quarto particular e a casa de oração são santifi-
da de Cristo, a obediência à sua vontade, o poder que cados pela oração, mas também lugares mais afasta-
Ele dá. dos que visitamos em nossos passeios.
Notemos o serviço da sua missão: pregar e curar, Conheci um grupo de rapazes crentes, aprendizes
e atender às necessidades espirituais e materiais do numa fábrica, que, nas horas vagas, passeavam jun-
povo. tos. e geralmente, em algum ponto retirado, oravam
Notemos o sustento dos enviados e a hospitalida- de joelhos. Uma vez estavam orando â beira do ca-
de dos "dignos" (ver Mateus 10). minha quando um homem que passava pediu que
Notemos a diferença entre sua mensagem e a orassem por ele.
nossa. Seu assunto - e bem importante era o reino. Notemos o contraste entre a cena na montanha e
Nós podemos ir mais adiante e falar de uma expia- a no vale. A vida é assim mesmo. Há momentos de
çâo consumada; de um perdão pelo sangue da cruz; exaltação espiritual e momentos de provação ou an-
de um Salvador à destra de Deus; de uma vida glo- gústia.
riosa no porvir. " A visão, ao que parece, tinha por objetivo forta-
Devemos perceber que os poderes sobrenaturais lecer a fé dos discípulos em vista do próximo fato da
conferidos eram para fazer bem aos outros. Não para morte de Jesus às mãos iníquas. Eles se lembraram
prover o seu próprio sustento. de três coisas: 1) que Moisés e Elias falaram de sua
" N ã o devemos aplicar estas instruções de um morte; 2) que o Pai testificou da sua dignidade; 3)
modo demasiado literal ao serviço missionário de ho- que a glória brilhava dele. Desde então Jesus falou
je. senão havemos de limitar nossa pregação ás ove- mais claramente que Ele devia morrer antes de en-
lhas perdidas da casa de Israel (Mt 10.5,6), embora trar na sua glória".
saibamos que a comissão atual é para "ir em todo o O rapaz endemoninhado (37-42). Os três evange-
mundo e pregar o Evangelho a toda criatura" (Mt listas contam o caso mas só Lucas diz que o rapaz
•28.19; Mc 16.15). era filho único Se pudéssemos saber alguma coisa
Sobre a primeira multiplicação de pães (10-17) já de origem do mal?' Porventura o pai tinha consenti-
temos comentado em Mateus e Marcos. É só Lucas do em haver "sessões espíritas" em sua casa? Tinha
que fala expressamente da localidade, "um lugar de- criado seu filho "na admoestação do Senhor"? Ti-
serto de uma cidade chamada Betsaida" (v. 10). nha-o corrigido de qualquer manifestação de peca-
(Sobre a localidade exata, consulte-se "The Land do? (Na China onde parece haver ainda hoje seme-
and the Book", p. 372.) lhantes casos de possessão demoníaca, tem-se nota-
É só Lucas que acrescenta "falava-lhes do reino do que um espirito maligno muitas vezes entra du-
de Deus. e sarava os que necessitavam de cura" (v. rante um acesso de raiva.) Porventura o pai tinha
11). ganhado a confiança do menino por uma constante
No versículo 10 devemos ler: "do distrito de Bet- simpatia com ele nos pequenos interesses da sua in-
saida" (O. 85). fância? Náo sabemos, mas náo devemos supor que
Aprendemos três liçóes: que Cristo se interessa alguém fique por obra do acaso sob um poder malig-
por nossas necessidades materiais; que quem assim no.
cuida do nosso corpo pode também satisfazer nosso Era um caso melindroso, desesperador, mas Je-
espirito; que Cristo mesmo é o pão que teve de ser sus era suficiente, e mais uma vez sua presença, seu
partido para suprir a necessidade dó mundo. poder, importaram em bênção, saúde, felicidade.
.4 confissão de Pedro (18-27) é também relatada O maior no reino (43-50) e o caso do menino no
por Mateus e Marcos, mas é só Lucas que diz ter es- meio C"junto a si". Lucas) é referido também por
tado Ele sozinho, orando (v. 18). Mateus e Marcos. Jesus quer ensinar, por meio de
Aprendemos: que o povo estava preocupado com uma criança, que muitas vezes o menor é o maior (v.
Jesus, e pensando a seu respeito; que 09 discípulos 48).
tinham ouvido os diferentes pareceres: que eles (ou O espirito de um crisfao (51-62) é o espírito de
ao menos Pedro) já tinham acertado com a verdade; graça e verdade, amor e luz, justiça e paz em perfeito
que náo convém anunciar tudo quanto sabemos; equilíbrio. 1) O espirito de graça (v. 50). 2) O espirito
que. apesar da realidade do fato glorioso de ser Ele o de verdade (11.23). Este em aparente contraste com
Messias. Jesus ia sofrer uma morte violenta o outro, é realmente seu complemento. O primeiro

358
IMOLS

exclui toda a intolerância; o segundo, toda a condes-


cendência para com o erro. 3) O espírito de tolerân- No caso do moço. é ele que pergunta com respeito
cia (v. 54). 4) O espirito de altruísmo e sacrifício (v. aos mandamentos, e Jesus que repete alguns deles.
58) (Goodman). Com o doutor, Jesus lhe pergunta como ele lê na Lei.
e o doutor dá um resumo, reduzindo todos os manda-
Devemos ler no versículo 51: "E aconteceu que. mentos ao amor. Jesus usou este mesmo resumo em
completando-se os dias para ele subir [a Jerusalém |. Mateus 22.37,38 e Marcos 12.30,31. Podemos notar
manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém " (O, que a Lei do sábado (que pertence à lei cerimonial e
32). náo à moral) nào é repetida em nenhuma das listas.
" S e queremos viver pelas obras, devemos guar-
Capitulo 10 dar a Lei. cujo resumo é o perfeito amor a Deus e ao
próximo. Notemos as palavras coração, alma, força,
A missão dos setenta (1-12). Este capitulo todo é entendimento, e a palavra 'todo' quatro vezes repeti-
dado somente por Lucas. Aprendemos: a) a conve- da: 'Fazei isso, e vi verás'. Mas visto que ninguém
niência e vantagem de companheiros de serv iço; b) a tem feito assim, nem pode fazê-lo. ninguém deve es-
necessidade de oração pelos obreiros; c) os perigos do perar a vida eterna por esse meio (isto é. pelo fazer).
serviço; d) que o servo de Deus nào deve levar um 'Ele, porém, querendo justificar-se' (v. 29). Nesse
saco para angariar contribuições (v. 4): e) que o ponto há muitos semelhantes ao doutor da Lei. di-
evangelista deve ser um mensageiro de paz (v. 5); f ) zendo: Quem é meu próximo7'
que ele náo deve querer ser festejado (v. 8). " O viajante era judeu, como também o eram o
No versículo 4 leia-se: "e a ninguém ligai-vos sacerdote e o levita, que deviam té-lo socorrido (Lv
pelo caminho" (O. 98). 19.18). O fato é que nào eles. mas um estrangeiro,
"Tem-se notado o contraste entre a missão dos um odiado samaritano, socorreu o homem aflito. A
doze (9.1-10) e a dos setenta: idéia bíblica de vizinho ultrapassa todos os limites
a) O segundo incidente é relatado somente por de consangüinidade, espaço, religião e caráter. Co-
Lucas, que escreveu para os gentios; o dos doze está nhecemos o nosso próximo pela sua necessidade, e
em todos os evangelhos sinóticos. assim *o próximo* é extensivo a toda a raça humana"
b) A missão dos setenta foi em Samaria (9.52), (Scroggie)
uma região onde os doze foram proibidos de ir (Mt O Senhor Jesus esboça o retrato de um verdadei-
10.5). ro "próximo" no Bom Samaritano, e, incidentemen-
c) Os setenta foram enviados 'a todas as cidades te, nisso se representa a si mesmo. |
e lugares aonde Ele havia de ir' (v. 1). mas os doze Maria e Marta «38-42). Aprendemos de João 11.1
foram somente ás ovelhas perdidas da casa de Israel. que a aldeia visitada era Betãnia, e que Lázaro tam-
Tem sido sugerido que isto indica que, enquanto a bém morava ali.
primeira missão era aos judeus (às doze tribos), a Compreendemos deste incidente: a) que basta
missão dos setenta antecipava a abertura da porta um pouco para suprir as necessidades do corpo: b)
da fé a todas as nações (os judeus calculavam que que serviço nunca deve tomar o lugar de adoração; c )
havia setenta nações). que adoração nunca impede o serviço necessário.
d) Os setenta saíram seis meses depois dos doze, Porém, a palavra "mas" no versículo 42 deve ser
no tempo da festa dos Tabemáculas - o tipo da evan- entendida no sentido de "contudo" e náo de "ape-
gelização dos gentios: enquanto os doze saíram apro- nas" ou "somente"
ximadamente no tempo da Páscoa" (Goodman). " O ensino essencial deste incidente é que o servi-
Jesus pronuncia julgamento sobre cidades (13- ço nunca deve substituir a adoração, e que a adora-
24). Vemos que a responsabilidade é proporcional à ção nunca impede o serviço necessário. Somente à
luz e ao privilégio recebidos. luz destas verdades podemos entender o versículo
Saíanàs cair do céu (v. 18). Jesus percebeu a fi- 42. Náo temos aqui um caso de ação contra contem-
nal derrota de Satanás quando setenta dos seus ser- plação. Maria tinha sido ativa, mas sabia quando e
vos provaram que a graça divina lhes dava poder onde ficar sentada" (Scroggie).
sobre os demônios. "Marta recebera o Senhor na sua casa. e. certa-
" E m antecipação. Jesus vê Satanás cair como re- mente. no seu coração. Se ela está ocupada, está
lâmpago da sua posição exaltada; mais tarde Ele ocupada era servi-lo, mas mesmo assim não deixa de
diz-nos que esse será julgado (Jo 16.11) e lançado estar atarefada com muito serviço. Ainda mais. ela
fora (Jo 12.31). Jesus fora manifestado precisamente está preocupada e irritada. Maria sua irmã está sen-
para destruir as obras do Diabo (1 Jo 3.8)" (Good- tada sossegadamente aos pés de Jesus, ouvindo a sua
man). divina palavra, e Marta censura o Senhor por permi-
No versículo 21 temos uma pequena oração de tir isso quando ela tanto precisa da ajuda da irmá.
Jesus; e no versículo 22 Ele outra vez instrui os discí- Mas o Senhor assevera que Maria escolheu a boa
pulos. parte, que i a única coisa essencial, e isso nào lhe se-
Quase todos os manuscritos antigos concordam rá tirado" (Grant).
com a V.B. em traduzir o versículo 21: "Naquela
hora exultou Jesus no Espírito Santo", mas F. W. Capitulo 11
Grant observa que a expressão "parece estranha".
O doutor da Lei e o bom samaritano (25-37). De- A oração dominical (1-4). Notemos que desta vez
vemos notar que quase nada do que lemos em Lucas náo é a mesma de Mateus 6.9-13. Em Mateus a ora-
9.51 a 18.14 se encontra nos outros evangelhos. ção é dada durante o sermão da montanha; aqui é
Notemos que o doutor fez a sua pergunta tentan- dada particularmente aos discípulos, e omite-se
do Jesus, mas não a fez seriamente, como o moço de "porque teu é o reino. * o poder, e a glória, para sem-
Mateus 10. que fez a mesma pergunta. pre. Amém".

359
!uc*t

As diferenças devem ensinar-nos que a oração do- A interpretação dos versículos 24-26. Pode ser
minical não é um formulário dado aos discipulos que se refiram a Israel curado da idolatria, mas não
para constante repetição mecânica, e as semelhan- crente em Cristo; a sua aplicação pode ser a qual-
ças ensinam-nos que na oração devemos "buscar pri- quer povo cristão, salvo de muitos vícios, mas não
meiro o reino de Deus e a sua justiça" e depois plenamente abastecido da graça espiritual.
lembrar-nos das nossas necessidades. A parte deste capitulo (do versículo 24 a 36), é
Que náo era formulário para os discipulos usarem muito parecida com Mateus 12 e Marcos 3; e o fim
sempre sem modificação aprendemos de Joáo 16- (37-54). com Mateus 23
23,24. onde Jesus ensina que desde então (depois da Os versículos 27,28 ensinam-nos quem é mais
sua ascensão) as nossas orações devem ser feitas em bem-aventurado que a bem-aventurada Maria, máe
seu nome. de Jesus. Assim este capítulo fala do valente e do
Neste capítulo Jesus ensina a orar a) pelo seu mais valente, da bem-aventurada e do mais bem-
exemplo; b) por uma oração modelo; c) por uma pa- aventurado.
rábola (5-8): d) por uma promessa (9.10); e) por uma O sinal de Jonas (29-32). Aprendemos deste tre-
ilustração (U-13) - (Goodman). cho: o valor de estudos históricos, que podem ilumi-
Da parábola do amigo importuno (5-13) aprende- nar o presente; que pedir um sinal é, ás vezes, sinto-
mos mais alguma coisa referente à oração: a) Depen- ma de incredulidade; que facilmente deixamos de
de de amizade - de haver boas relações entre quem compreender a importância de uma pessoa que está
pede e quem dá. b) É ocasionada por uma necessida- junto de nós; que o arrependimento de um pode sa-
de. talvez imprevista, mas sempre além dos nossos lientar a condenação de outro.
poderes - quando podemos náo pedimos, c) Expres- .4 candeia da vida (33-36): o olho simples. (Con-
sa um desejo tão ardente, que a pessoa persiste. Não sulte a explicação de Mateus 6.22.)
podemos dizer que Deus precisa ser muito rogado, Notemos a expressão "nào tendo em trevas parte
embora a continuação na oração pode ser necessária alguma " (v. 36). Porventura existe em nossa vida al-
para podermos receber a bènçáo. Alguém, por exem- gum recanto onde não queiramos que penetre a luz
plo. no sentido do versículo 13. ora "Santifica-me. divina 0 É essa a parte "em írt?L as"que marca o limi-
Senhor", e podemos crer que. às vezes, a resposta se- te na nossa dedicação, e um dia será capaz de nos
ja: " E essa a bênção que almejo dar-te. mas não o trair.
posso fazer enquanto tu náo a desejares com mais
empenho", d) Sc um homem que tem pouca vontade O Senhor censura os fariseus (37-54). "Este tre-
de nos responder o faz pela nossa importunidade. cho. que faz lembrar Mateus 23.13-35, refere-se a
muito mais Deus. que tem toda a vontade de dar nos uma ocasião diferente. Podemos ver isto dos versícu-
abundantemente tudo que convém (2 Co 9.8). e> Que los 37-41" (Gray). Aqui Jesus está jantando com um
a resposta é certa à oração sincera, mas nem sempre fariseu. O que o homem estranhou (v. 38) náo foi
será precisamente idêntica ao pedido. Quem pede qualquer falta de asseio. mas que Jesus náo usava a
paciência pode receber tribulaçào, porque a tribula- purificaçáo cerimonial dos judeus (Jo 2.6) antes de
çào produx a paciência (Rm 5.3). comer. A palavra traduzida por "lavar" é "batizar".
Jesus é acusado (14-23). Mais uma vez o Senhor O mesmo que proferiu as bem-aventuranças de
serve-se das acusações malignas dos adversários Mateus 5 pronuncia os "ais" de Lucas 11. São seis, e
como pretexto para oferecer ensinos importantes. sào: contra a religiosidade sem piedade (v. 42); con-
Notemos que Ele leu os pensamentos dos assisten- tra o orgulho (v. 43); contra a hipocrisia (v. 44); con-
tes. Neste trecho, Satanás é "forte" e Jesus " o mais tra a opressão (v. 46); contra a falta de realidade (v.
forte". 47), e contra a ignorância e a obstrução (v. 52).
Devemos aprender: do versículo 15 a nào censu- O versículo 41 é difícil de entender na forma em
rar o serviço dos outros, e náo atribuir ao inimigo que está nas nossas traduções. Um tradutor oferece:
obras que podem ser de Deus; do versículo 18. que "Louco! o que fez o exterior, nào fez também o inte-
Satanás sempre age de acordo com a sua natureza rior das coisas? Melhor purificar o interior, e entào
perversa; do versículo 20. que uma operação do po- nada vos será imundo" (Moffat). Veja-se também O.
der de Deus é sinal da proximidade do reino; do 101.
versículo 22, que o inimigo é semelhante a um ho- No fim do versículo 48 devemos ler: "Porque eles
mem valente, e o Salvador a um mais valente: e do os mataram, e vós sois filhos deles" (O. 99).
versículo 23. que a neutralidade e a indiferença sào A sabedoria de Deus (v. 49) Godet pensa que isto
inadmissíveis com respeito a Cristo. se refere ao livro de Provérbios, e que é citação de
A parábola do espirito imundo (24-26). Aqui ve- uma paráfrase de provérbios 1.29-31, em que profe-
mos o espírito saído (expulso, talvez, por novo entu- tas e apóstolos são os agentes do Espírito de Deus, e
siasmo ou acesso de piedade). Mais tarde volta ao a perseguição deles é o desprezo da mensagem de
que chama minha casa e a acha, infelizmente: a) va- Deus.
zia (Mt 12.44) - não entrou um Senhor divino nem
tomou posse um "mais forte": a casa permanece O Zacarias referido no versículo 51 é provavel-
desocupada, o entusiasmo passou, o esforço esmore- mente o de 2 Crônicas 24.20-22. A diferença de pa-
ceu. b) Mas a casa está varrida: foi purificada - ve- rentesco (Mt 23.35) náo precisa causar dificuldade,
lhos costumes abandonados: agora tudo é decente: visto que "filho de" na Escritura é equivalente a
varrida, mais vazia, c) Também adornada: novas "descendente de", e às vezes significa neto ou
idéias, novos planos: o novo fornecimento de vida bisneto.
apresentando um bom aspecto, uma verdadeira A interpretação deste versículo 52 refere-se aos
transformação, mas está vazia: Cristo nào está pre- doutores da lei de então. A sua aplicação hoje pode
sente como Senhor e Mestre. Por isso o espirito mau ser aos que privam o povo da "Chave da ciência", a
volta com outros sete piores que ele (Goodman) Bíblia Sagrada.

360
TMCÜS

Capítulo 12 Desde que este ensino foi dado, milhares têm pro-
vado que realmente acontece assim.
A primeira parte deste capitulo (1-12) é muito "Vendei o que tendes, e dai esmolas" (v. 33) é
parecida com Mateus 10; fermento, quando empre- uma palavra que poucos comentadores têm explica-
gado como figura (v. 1), sempre significa uma coisa do. Matthew Henry diz: "Para não deixar de socor-
ruim. rer os verdadeiramente necessitados, devemos ven-
"Apregoado sobre os telhados". No Oriente os te- der o que nos é supérfluo - tudo que não é necessário
lhados eram planos e neles havia lugares próprios para o sustento da nossa família - e dar aos pobres.
para descansar, dormir, tomar o ar e até conversar Vendei o que tendes no caso de se verificar que serve
com os vizinhos ou fazer proclamaçóes. de impedimento no serviço a Cristo. Nào o vendais
Esse que devemos temer (v. 5) é Deus (segundo para entesourar no banco ou para ganhar maií pelo
os melhores comendadores), ou o Senhor Jesus, que é juro do dinheiro, mas para dar esmolas, pois o que é
o Juiz (Jo 5.22; At 17.31). Devemos primeiro ter te- dado por caridade, e acertada mente, tem o melhor
mor do seu poder, e depois confiar no seu cuidado e juro e a melhor garantia".
misericórdia. O servo vigilante (35-48). Temos um trecho resu-
A blasfêmia contra o Espirito Santo (v. 10), como mido, parecido com este, em Mateus 24.45-51. Evi-
já temos visto, é a última palavra de quem rejeita dentemente, o assunto aqui é a segunda vinda com
definitivamente a salvação de Deus. (Consulte-se relação aos servos de Cristo. Aprendemos: que a ati-
sobre Marcos 3.28-30.) tude do crente deve ser de serviço, testemunho e vi-
O ensino dado aos discípulos conduzidos perante gilância í w . 35,36); que para os tais há uma especial
os magistrados não deve ser aplicado aos pregadores bem-aventurança agora e um especial favor depois:
perante seus ouvintes, embora estes também possam os fiéis servos de Deus serão servidos pelo seu Se-
contar com a graça do Espirito Santo (v. 12). nhor! (v. 37); que a vinda se dará "à hora que não
A parábola do rico louco (13-21) ensina-nos: que imaginais"; que os servos precisam de sustento -
Jesus nào quis ocupar-se demasiadamente com os material e espiritual - e que o Senhor nos convida a
interesses materiais dos seus ouvintes; que a " v i d a " considerar quem, como mordomo ou despenseiro,
de alguém pouco tem com a abundância dos seus pode prestar tal serviço. Talvez seja o diretor de al-
bens; que a riqueza material pode ser perdida em gum Instituto Bíblico; que é possível alguém que fi-
uma noite, mas que a verdadeira riqueza é o que te- gura como servo de Deus ser mau. descrente da vin-
mos junto a Deus. da do Senhor, e opressor dos seus conservas. Esse te-
rá, afinal, a sua parte com os infiéis.
O valor de uma vida não consiste naquilo que al-
guém tem mas naquilo que esse alguém é. O versículo 48 é muito importante por ensinar
A loucura do homem rico consistia em duas coi- que o castigo dos iníquos será de acordo com a culpa
sas: presumir que ia viver muitos anos, e que comer, de cada um, e com o seu conhecimento da vontade
beber e folgar constituíam "viver". de Deus. Mas esta diferença de castigos não aparece
Com este ricaço vemos: em Mateus 25.41 nem em Apocalipse 21.9, que, por
a) O amor ao dinheiro. O rico mostrou-se agarra- isso, se tornam mais difíceis de compreender. (Veja-
do ao seu dinheiro. se a explicação de Mateus 25.)
b) Falta de dependência. Ele "arrazoava entre Fogo e dissensào ( w . 49-59). Vemos que Cristo é
si" em vez de pedir a direção de Deus em oração. a pedra de toque para a humanidade, e durante os
c) Um plano inútil. Resolveu construir mais ce- séculos os homens de bem têm-se submetido ao seu
leiros na mesma noite em que ia morrer! domínio, enquanto os maus têm reagido.
d) Uma esperança vá. Sonhava em gozar seus " O fogo de que o Senhor fala (v. 49) era esse que
bens durante muitos anos. mas enganou-se. seguiu o batismo que Ele havia de consumar, isto é.
e) Uma economia errada. "Ajuntou para si" bens a sua morte expiatória (v. 50). O fogo era também o
materiais, mas nào tinha nenhuma riqueza "para dom do Espirito Santo, que veio. como aprendemos
com Deus". de Atos 2.3, como línguas de fogo. Este fogo pente-
Solicitude pela vida (22-34). Este trecho é muito costal. o fogo do divino amor que o Espirito Santo
parecido com Mateus 6.25-34, salvo que o ensino re- acende nos corações de todos os crentes (Stter), tem,
ferente ao "tesouro" está aqui no fim do trecho e em nào somente um poder purificador, separador. vivifi-
Mateus está no começo. Devemos, porventura, en- cador. mas também um efeito condenatório e discri-
tender que Jesus repetia seus discursos em diversas ininador que o leva a um conflito com os poderes das
ocasiões e lugares, como nós fazemos? trevas, do mundo e de um século mau" (Goodman).
Duas vezes neste trecho somos convidados a O fim do versículo 49 deve ser "e como desejo que
"considerar", primeiro "os corvos" (v. 24) depois "os fosse já aceso.'" (O. 31).
lírios". E em Hebreus 12.3 somos convidados a con- Três vezes no Evangelho do João lemos que havia
siderar aquele que deu este conselho. dissensào por causa de Jesus (7.43; 9.16 e 10.19).
Muitos sábios tiveram a sua fé fortalecida e o seu Notemos como Jesus fala de mais um batismo
amor aumentado quando "consideraram" as obras que Ele ia receber: uma iniciação em uma nova ex-
de Deus (SI 8.3). periência - sofrimentos expiatórios. O mesmo é refe-
Este trecho ensina-nos os verdadeiros valores da rido em Marcos 10.38, e Jesus pergunta a Tiago e
vida, que. afinal, nào são materiais, mas espirituais. João se poderão participar do mesmo batismo. Um
O versículo 27 provavelmente deve ser traduzido: ensino recente quer provar que este é o "um só batis-
"Considerai os lírios, como nào cardam nem fiam; mo" de Efésios 4.5, mas essa idéia parece-nos sem
contudo vos digo..." fundamento.
Aprendemos do versículo 31 que. no caso de cui- Vemos que os versículos 58. 59 são muito pareci-
darmos dos interesses do reino de Deus, podemos dos com Mateus 5.25,26. Desde o versículo 54 são as
contar com Deus para cuidar dos nossos interesses. palavras dirigidas á multidão, que no versículo 56

361
lutas

Jesus chama "hipócritas". O ensino sensato que Em Jesus vemos observação, interesse, compai-
aconselha um acordo com o adversário antes que xão, contato (pós as mãos sobre ela), e cura.
este nos entregue ao magistrado tem levado alguns a Sendo argüido pelo seu feito misericordioso, Ele
pensar que perante Deus também convém ajustar as mostrou discernimento da hipocrisia do adversário,
contas sem demora. uma compreensão sã da significação do sábado, um
conhecimento do que "convinha" em semelhante ca-
Capitulo 13 so. Qual é a nossa atitude para com o sábado e o pri-
meiro dia da semana*7 Como foi que os primitivos
Severidade e misericórdia (1-5). O versículo 1 re- crentes se ocupavam no primeiro dia da semana?
fere-se provavelmente aos seguidores de Judas Galo- Veja-se Lucas 24.1,13.33 a 36; -Joáo 20.19.26; Atos
nites. que se opôs ao pagamento do tributo a César e 20.7; 1 Coríntios 16.2.
á submissão ao governo romano. Um grupo destes No príncipe da sinagoga vemos insensibilidade
galileus tinha vindo a Jerusalém para uma das gran- espiritual, indignação descabida, conselho errado,
des festas, e quando apresentavam as suas ofertas no hipocrisia religiosa, e, afinal, vergonha (v. 17).
Templo. Pilatos mandou uma companhia de solda- Notemos a diferença entre os adversários e o povo
dos que os matou, e misturou seu sangue com o dos no versículo 17.
sacrifícios. Alguns julgavam que esses galileus paga- Mt";tarda e fermento (18-21). O dr. Scroggie diz:
ram bem pelos seus pecados, mas Jesus ensina que "Nosso Senhor não hesitou em repetir suas mensa-
nem sempre o sofrimento é uma prova de culpa. Ou- gens. pois isso valia a pena Estas duas parábolas fa-
tros, que náo tém sofrido nenhuma calamidade, pe- zem parte do discurso que Ele pronunciou perto do
recerão afinal, se não se arrependerem (Mattheu mar da Galiléia (Mt 13) e agora Ele o repete na Pe
Henry). réia". Notemos que a mostarda apresenta o aspecto
A lição principal deste trecho é a necessidade exterior do Reino, e o fermento o interior.
universal de arrependimento para com Deus, como o Notemos também que Mateus diz "reino dos
apóstolo pregou em Atenas: "Deus... anuncia agora céus", e Lucas "reino de Deus": e que " é " semelhan-
a todos os homens... que se arrependam " (At 17.30). te. e não "será" semelhante, como em Mateus 25.1.
Há uma coisa em que o Senhor insistiu em todas as Não devemos entender que a mostarda seja a
suas pregações: todos são igualmente pecadores pe- mais pequena de todas as sementes no mundo, mas é
rante Ele. e todos necessitam do arrependimento, que a menor que o lavrador costuma semear: e que a
pois do contrário perecerão. Isto ouve-se pouco na "árvore", depois de crescida, era inaior que as outras
pregação moderna, e, conseqüentemente, há pouca hortaliças no seu terreno (Thomson).
convicção de pecado e temor do Senhor. Este arre- A porta estreita (22-30). Parece que a pergunta
pendimento é descrito como segue: do versículo 23 foi motivada por curiosidade - talvez
a) E arrependimento para com Deus (At 20.21), e de alguém que se interessava pela estatística. Jesus
deve ser seguido pela " f é para com nosso Senhor Je- imediatamente a transforma em assunto de urgência
sus Cristo". pessoal, porém se dirige não somente a quem fez a
b) E arrependimento "para a salvação" (2 Co pergunta, mas a outros também. Aprendemos: que,
7.10), pois o verdadeiro julgamento próprio e tristeza para entrar na posse de todo o bem que pode haver
piedosa tém em vista o achar a salvação naquele em para nós em Cristo, é preciso um propósito de ener-
quem somente se encontra. gia; que muitos, futuramente, terão o desejo quando
c) E "arrependimento para a vida" (At 11.18), essas bênçãos não mais serào oferecidas; que o ter
porque onde o "não quero" se muda em "quero" o comido - talvez até da Santa Ceia - e ter escutado o
coração está preparado para receber o dom de Deus, ensino de Jesus náo garante uma bênção; que os que
que é a vida eterna. "praticam a iniqüidade" devem esperar ficar bem
d) E arrependimento "do qual ninguém se arre- longe de Deus no porvir; e que. pelo contrário, mui-
pende" (2 Co 7.10), isto é, mudança permanente tos de lugares remotos entrarão no gozo do reino.
concedida por aquele que Deus exaltou com sua des- U lamento sobre Jerusalém (31-35) é um dos tre-
tra para ser "Príncipe e Salvador, para dar arrepen- chos mais eloqüentes e mais tocantes dos evange-
dimento" (Goodman). lhos. Notemos as palavras "quis eu" e "não quises-
Na parábola da figueira (6-9), temos evidente- te". As palavras "a vossa casa" dão-nos a entender
mente uma figura de Israel, que foi por trés aaos ob- que Cristo náo mais a reconhecia como casa de Deus
jeto da cultura espiritual de Cristo. Aprendemos que (35).
Deus é paciente, e cultiva, ainda que a esperança de O fim do versículo 32 deve ser "e no terceiro dia
fruto seja pouca. serei entregue" (0.20).
Curando no sábado (10-17). Nos evangelhos há Leia-se no versículo 35: "A vossa casa será aban-
sete milagres de cura no sábado, dos quais Lucas re- donada por vós" (O. 20).
corda cinco (4.31-37; 4.38,39; 6.6-11; 14.1-6 e este).
Na queixa do príncipe da sinagoga vemos uma reli- Capitulo 14
giosidade acanhada e exigente quanto á observância
de preceitos e cerimônias, mas sem apreciação da Um hidrópico curado (1-6). Outra vez aparece a
graça de Deus, que dera o sábado aos homens como questão de ser licito curar no sábado. O silêncio dos
alivio e náo como pesada carga. fariseus (v. 4) revelava a sua inimizade. No versículo
Na mulher paralítica vemos necessidade, sofri- 4 não queriam falar, e no versículo 6 não podiam.
mento prolongado, acanhamento (ela não pediu a Um ensino de humildade (7-14) A chave do ensi-
cura), aproximação (ao menos ela chegou perto de no é o versículo 11. Todo o trecho de 1 a 24 trata de
Jesus, semelhante a alguns descrentes que freqüen- festas. Temos ensino para os convidados (7-11) e
tam a casa de oração). E vemos que ela afinal "glori- para os hospedeiros (v. 14). A palavra recompensar.
ficava a Deus". no versículo 14. merece nossa atenção.

362
TMCÜS

" A expressão 'a ressurreição dos justos' dá a en- riseu confiava que podia; o publicano tinha certeza
tender uma ressurreição especial, distinta da ressur- que não podia.
reição geral. Esta distinção é desenvolvida nas Epís- "Depois uma conclusão é sugerida. O homem não
tolas. " tem em si recurso para o trabalho interior ou a guer-
A parábola da grande ceia (15-24) faz-nos pensar ra exterior. Isto é o primeiro fato. O segundo é que
em Mateus 22.1-4, porém ali é um rei que faz a ceia. todo o recurso está em Cristo, que é o Mestre Cons-
mas aqui "um certo homem", pai de família. trutor e o poderoso Conquistador.
Notemos aqui: a ceia preparada, o primeiro con- "Segue-se a aplicação (33-35): que em tudo Ele
vite. as desculpas, o segundo convite (v 21), o tercei- seja o primeiro" (Scroggie).
ro ( v. 23) e a casa cheia. Entendemos que representa No versículo 26 em vez de "a sua própria vida"
Israel convidado em primeiro lugar, e depois os gen- leia-se "a si mesmo" (O. 77).
tios.
Vemos que as desculpas se referiam a coisas mui- Capitulo 15
to licitas: compras, casamentos, etc. Há um ditado
que "o bom é inimigo do melhor". A preocupação do Este capitulo contém três parábolas de três per-
leitor será com coisas boas ou com a coisa melhor de didos: a ovelha perdida, a moeda perdida, e o filho
tudo: "o reino de Deus e sua justiça "> perdido
Também fala de três regozijos: do pastor, da mu-
O ensino da parábola é que a hospitalidade divi- lher e do pai.
na é grande (16). a provisão divina é abundante (16).
o convite divino é extensivo (16,21.23), a misericór- Aprendemos uma liçào de valores - a ovelha,
dia divina é persistente (17.21,23), o propósito divino uma criatura sem inteligência, valia mais do que
é certo (23), a oportunidade oferecida é limitada imaginava; a moeda, um objeto sem vida. tinha im-
(24), e a ira divina é terrível (21) - (Scroggie). portância aos olhos da sua possuidora; o filho, que
desprezara o pai. descobriu que era amado sem me-
Notemos 'os seguintes pensamentos: recer.
1) Foi Deus quem deu a festa. Ele é representado
pelo "certo homem" que fez a grande ceia. Por que esta parábola está dividida em três par-
2) Ele proclama uma obra realizada. Ele prepa- tes? Está assim dividida porque nào podia ser uma
rou a festa. Ele nos reconciliou a si mesmo pela cruz só, ou mesmo duas, e apresentar toda a verdade. Ve-
de Cristo. remos isto estudando a condição, a experiência e a
redenção do perdido.
3) O convite está baseado no fato de que tudo es-
tá preparado: "Vinde, que já tudo está preparado" 11.4 condição do perdido. Aprendemos: da ovelha.
que todos estamos perdidos por nossa própria ação;
4) £ somente a loucura dos homens que os priva da moeda, que somos sem vida espiritual por nature-
de gozar a salvação e a vida, Todos começaram a za, e que. por natureza, somos "mortos em delitos e
desculpar-se. A inimizade do coração natural contra pecadt•> "; do filho, que estamos perdidos por esco-
Deus é um fato terrível. lha
5) Contudo, alguns tomam parte na festa: Os
pobres (que náo podem pagá-la); os aleijados (que 2) A experiência do perdido. Na primeira história
náo podem trabalhar por ela); os coxos (que não po- pensamos na miséria do perdido: na segunda, na sua
dem andar para ela); e os cegou (que náo podem vé- insensibilidade; na terceira, no seu remorso.
la) (Goodman). 3) O resgate do perdido. Mais um motivo para ser
a parábola dividida era três partes, é para revelar a
Três semelhanças da vida cristã (25-35) ocupam Trindade. Na primeira parte o Filho redime; na se-
nossa atenção neste trecho: 1) é semelhante à cons- gunda. o Espírito, opera e restaura; na terceira, o Pai
trução de uma torre; 2) é semelhante a uma guerra: recebe (Scroggie).
3) é semelhante ao sal. Por isso os cristãos devem ser O pregador do Evangelho deve notar o que falta
um testemunho, devem combater o mal. devem con- nesta parábola do "perdido e achado". Nada se diz
servar da corrução a massa. (Consulte-se a nota •*>bre a base do perdão: o sangue derramado; uma
sobre Mateus 5.13.) obra redentora consumada; a justiça divina satisfei-
"Condições do discipulado. Este grande assunto ta.
é desenvolvido aqui por meio de declaração, aplica- Devemos estudar não somente o caso do filho
ção e ilustração. Olhemos primeiro para a declara- pródigo, mas também o do filho mais velho ( w . 11-
ção (26.27). Duas condições do discipulado são afir- 22). Vemos: que ele. apesar de estar sempre cm casa
madas: a alma precisa deixar (26) e seguir (27), e com o pai, era. moralmente, mais afastado do que o
deixar para seguir, pois não se segue verdadeiramen- moço fugitivo; que náo tinha coração para apreciar a
te a Cristo onde não houver disposição e propósito graça que espera, anela, recebe, e abençoa o pródigo,
para, se for preciso, abandonar tudo o mais. e se regozija com a sua volta: que queria gozar com
"Disto temos uma dupla ilustração (28-32). Pri- seus amigos e náo com seu pai; que estava demasia-
meiro a torre nào acabada; segundo a guerra náu tra- damente preocupado com uma bondade própria:
vada. Estas ilustrações apresentam os dois aspectos que nada tinha do amor que tudo espera - até mes-
da vida dos discipulos: interior e exterior: particular mo a restauração de um pródigo perdido; que o pai,
e pública; construção e luta. embora magoado pela sua indiferença. tratou-O com
"Supõe-se um caso. Na primeira parábola nota- muita bondade.
se o bom começo, o trágico fracasso, a fulminante O dr. Guthrie usa as seguintes divisões:
censura; na segunda, o enérgico desafio, o repentino 1) A conduta do pródigo.
colapso, e a vergonhosa transigência. 2) A mudança de pensamento do pródigo.
"Então propõe-se um curso a seguir. Primeiro 3) A miséria do pródigo: perecendo de fome.
pensar no custo do edificar ou batalhar, e então dizer 4) A crença do pródigo: que cora meu pai havia
se pode mesmo começar a construir ou a lutar O fa- abundância, até para os criados.

363
TMCÜS

5) A resolução do pródigo. seu senhor, mas fé-Io no próprio interesse. (Van Oos-
N o pai. notamos: terzee imagina que a diferença cancelada fosse um
1) Como recebeu seu filho. acréscimo que o próprio mordomo havia exigido, e
2) Como tratou o pródigo. que. com o cancelamento, ele acertou as respectivas
contas entre os devedores e o demo, ganhando ainda
3) Como se regozijou com a volta do pródigo. a gratidão daqueles. Conclui que era o excesso que
exigira, que dispensou, e assim ele ajustou as contas
Capitulo 16 com o patrão, ao mesmo tempo que ganhou crédito
O mordomo infiel (1-13) tem sido a mais discuti- com os devedores. Mas isto introduz muito que é su-
da de todas as personagens das parábolas. Para posição; e náo parece que ele esperava endireitar a
orientar a nossa interpretação, devemos notar o se- conta.) A sabedoria com que ele tirou partido daqui-
guinte: lo que tinha nas mãos. é evidente".
Ele náo foi louvado por Deus, mas pelo seu pa- E triste ler que os fariseus avarentos zombaram
trão. Mostrou-se prudente e prevenido com respeito deste ensino precioso, em vez de o praticarem ( w .
ao porvir. Nesse particular é que ele serve de lição ás 14-18). E hoje muitos que náo são fariseus ocupam-
pessoas mais honestas. se com curiosas especulações referentes ao mordomo
O dr. Bullinger oferece uma tradução diferente infiel, em vez de obedecerem aos quatro ensinos evi-
do versículo 9: "E eu. porventura, digo-vos: Fazei dentes (apontado* pelo dr. Goodman) que os mais
amigos pelas riquezas da injustiça, para que, quando simpiices podem entender.
necessitardes [ou "quando elas acabarem "1 vos rece- Podemos perceber a figura de elipse: "Todo ho-
bam nos tabemáculos eternos?" [ N ã o ! ] (J. 56. O. 56, mem [que tenha propósito e energia espirituais] for-
T. 285). ceja por entrar nele" (v.16).
O dr. Scroggie diz: " M u i t o podemos aprender O rico e Lázaro (19-31). Esta narrativa náo é de-
com os homens deste mundo. As realidades do peca- clarada uma parábola, a é interessante ter sido men-
dor são bem positivas: cama. alimento, dinheiro; cionado o nome do pobre mendigo, o que náo era de
crendo em tais coisas, ele vive para elas. Será que o se esperar no caso de uma parábola.
crente crê no que é eterno como o descrente crê nas Visto que a palavra grega " k a i " tem dois senti-
coisas presentes? Este mordomo cuidou do seu futu- dos: e e também, tem-se sugerido uma tradução al-
ro. Tinha sido infiel, e preparou-se para o que ia ternativa do versículo 22: "morreu também o rico, e
acontecer. E a nós tém sido confiadas maiores rique- foi sepultado também no Hades". Mas. ainda assim,
zas por um maior Senhor. Não teremos de dar con- embora ambos estivessem no Hades (o lugar, ou tal-
tas? Bênção futura pode resultar do bom emprego vez o estado, dos mortos) havia uma diferença, uma
das oportunidades atuais (v. 9). Há pequenas provas distância, e um "grande abismo" entre os dois.
de grandes princípios (vv. 10-12). Nossa fidelidade " N o rico descobrimos certos defeitos de caráter
em coisas pequenas revela nosso caráter, e a fidelida- que podem explicar seu destino final. Era egoísta,
de é filha da lealdade (v. 13)". gastou a sua riqueza consigo. Era guloso, o devemos
O dr. Goodman escreve: "Nosso Senhor condena entender que por isso- era moralmente degenerado.
o mordomo como injusto (v. 8), mas note-se este en- Era vaidoso, o que demonstrava pelo vestuário. Era
sino: se um homem injusto emprega dinheiro para (talvez) sem compaixào para com os pobres e neces-
providenciar o futuro, muito mais devem os filhos da sitados. mas devemos notar que não era criminoso".
luz ser igualmente prevenidos. Porventura os maus
devem ser mais prudentes do que os bons? Entre outras coisas, o trecho ensina a importân-
cia de atender ao ensino de "Moisés e os profetas",
"Neste principio o Senhor apresenta quatro li-
isto é. às Sagradas Escrituras.
ções: 1) Fazer amigos por meio das riquezas da injus-
tiça (o dinheiro); fazer bem com elas; ganhar com " O s gozos do Céu são espirituais, e ali náo há
elas gratidão e amor. Algum dia, na vossa necessida- prazeres para os que náo tém o temor de Deus ou o
de. aqueles que assim foram ser\*idos vos receberão desejo de obedecer; e por isso aquele que, por uma
em "tabemáculos eternos", isto é, no seu permanen- longa vida de egoísmo e de esquecimento de Deus.
te amor e gratidão. 2) A fidelidade no mínimo resul- tem endurecido a sua alma, com isso tem posto um
taria na fidelidade em tudo. 3) No caso de nào ser- grande abismo entre si mesmo e o C é u " (Goodman).
mos fiéis no uso do dinheiro que chamamos nosso, "Estou atormentado nesta chama" (v.24). " Ê do
como poderemos esperar que Deus nos dê as riquezas tormento da sua alma que ele se queixa, portanto,
verdadeiras (v. 11)? O dinheiro é o nível mais baixo trata-se de um fogo que arde na alma. Tal fogo é a
da riqueza; o mais elevado é o caráter: ser encarrega- ira de Deus. sofrida por uma consciência acusadora,
do do Evangelho; ser designado despenseiro da mul- um coração que se condena. Para o oorpo nada há
tiforme graça de Deus (1 Co 4.1; 1 Pe4.10). Deus es- mais terrível do que ser atormentado pelo fogo: por
colhe seus despenseiros da maior riqueza de entrv isso as miséria» das' almas iníquas condenadas são
aqueles que o servem fielmente. 4) Nào podemos ser- representadas por essa figura" (Matthew Henry).
vir a dois senhores".
Talvez haja interesse para o leitor saber da recen-
A palavra grega "mammonns" traduzida A/o- te teoria que. quando Jesus disse esta parábola aos
mom (v. 13), é o nome de uma divindade siríaca, seus inimigos, os fariseus (a quem era inútil ensinar
deus das riquezas. verdades divinas porque nào queriam obedecer a
Diz F. W. Grant: "O mordomo chama os devedo- ela» - Jo 7.17). Ele falou ironicamente, levando á sua
res do seu senhor para verificar a situação de cada legitima conclusão os ensinos deles sobre o "seio de
um, e cancela uma parte da divida de cada um. coisa Abraão", e a doutrina que quem era infeliz neste
que, como Edersheim observa, estava no seu direito, mundo naturalmente havia de ser recompensado fu-
embora o tenha feito por um motivo injusto. Podia turamente no outro. Jesus então desenvolve esta
ter feito isso por misericórdia e até no interesse do doutrina, dizendo que, nesse caso. quem era a hasta -

364
IMCÜS

do neste mundo (como eram os avarentos fariseus) Os dez ilustram a obediência da fé. que age de
devia sofrer a privação de todo o bem no porvir. acordo com a Palavra de Deus antes de receber a
Essa teoria acha-se apresentada num tratado de bênção.
32 páginas, que náo temos espaço para traduzir, mas " N a purificação destes dez homens temos algu-
ela tem probabilidade suficiente para nos ensinar a mas lições excelentes:
sermos prudentes em aceitar idéias religiosas que 1) "pararam de longe" (12). Seu triste estado o
náo tém base bíblica senão nesta parábola. Por exigia: a Lei o ordenava (Lv 13. 45.46). Teriam sido.
exemplo: que Jesus chamou o Céu de " o seio de talvez, apedrejados se tivessem procurado misturar-
Abraão": que os ricos, mesmo que nào sejam ímpios, se com o povo. Nisto vemos uma figura do nosso es-
iráo para o Inferno; que os pobres, mesmo que náo tado natural: somos imundos e estávamos longe (Ef
sejam piedosos, irão para o Céu; que a sorte de cada 2.13).
um no porvir será o contrário da sua condição aqui.
Tudo isto pode ser deduzido da parábola, se have- 2) "levantaram a voz. dizendo. Jesus. Mestre,
mos de tomá-la como ensino direto; mas não. se for tem misericórdia de nós" (13). Invocaram o nome do
tomada como ironia, semelhante á parábola de Jotão Senhor, e a Bíblia nos diz que quem assim fizer "será
em Juizes 9.8-15. salvo" (Rm 10.13).
3) O Senhor respeitou a Lei. Não somente Ele
Capitulo 17 mesmo a guardou, mas. mandou os leprosos cumpri-
rem-na (v.14). Ele mostrou que não viera para a des-
Conduta crista (1-10). O versículo 2 ensina a nos- truir (Mt 5.17). mas para a fazer gloriosa (Is 42.21).
sa responsabilidade para cora os companheiras - po- 4) Foi pela obediência da fé que os leprosos foram
demos ajudá-los. ou ser-lhes ocasião de tropeço. Es- sarados. "Indo eles. ficaram limpos". Aqui temos
pecialmente devemos ter cuidado de náo prejudicar uma grande lição. "Pela graça sois salvos, mediante
espiritualmente "estes pequenos". a fé". Logo que haja fé. a bênção segue-a.
Os versículos 3.4 nos recordam Mateus 18.15-20. 5) Nem todos os curados sentiram gratidão ou
e o versículo 6 faz lembrar Mateus 17.20. voltaram para agradecer! Muitos que se dizem cris-
Há trés coisas no versículo 3 que devemos prati- tãos nào freqüentam as casas de oração para dar gra-
car: 1) tomar sentido de nós mesmos - examinar nos- ças a Deus.
so espirito e procedimento; 2) admoestar o irmão pe- 6) "este estrangeiro é o titulo que o Senhor dá ao
caminoso; 3) perdoar ao irmão arrependido. samaritano. Ê verdade: Ele estava "sem Cristo, se-
Sobre o aumento da fé ( w . 5.6) o Senhor ensina: parado da comunidade de Israel, estranho aos con-
que a fé se desenvolve pelo crescimento interior, nào certos da promessa" (Ef 2.12). Outrora éramos assim
por crescimento exterior; que a mínima fé em Deus e também, mas agora, em Cristo, pelo seu sangue che-
na sua Palavra pode operar maravilhas. Notemos, gamos perto.
porém, que a fé necessita de base: precisa poder ale- 7) "a tua fé te salvou". Isto foi dito somente ao
gar uma convicção fundada na palavra e vontade de que voltou, pois ele tinha a fé genuína que traz a sal-
Deus. vação. Os outros tinham uma fé que ficou satisfeita
"A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de só com a cura do corpo" (Goodman).
Deus". Devemos desconfiar de qualquer " f é " que te- A vinda do reino (20-37). Os que fazem a pergun-
nha outra origem. ta do versículo 20 são fariseus, mas a respeito é diri-
Fé como grão de mostarda. Que há na semente da gida aos discípulos (v. 22).
mostarda que ilustra a fé? Podemos observar: Notemos que este trecho 6 parecido com Mateus
a) Há vida. A semente não é como grão de areia, é 24.36-44.
uma partícula viva. A fé precisa ser viva. "Quem estiver no telhado e as suas alfaias (bens)
b) Há poder. O pequenino rebento rompe a terra, em casa. nàtt desça a tomá-las" (v.31). O telhado
tomando-se em árvore (Mt 13.32). Assim a fé. embo- plano era servido geralmente por uma escada exte-
ra pequena, pode desenvolver-se a ponto de poder rior. e quem fugia apressadamente do telhado nào
atirar uma montanha no mar (Mt 17.20). (Leia-se teria tempo para entrar em casa.
Hebreus 11 acerca dos heróis da fé.) Nada é impossí- Sobre o versículo 37. diz Scroggie: " O cadáver é
vel à fé. a humanidade destituída da vida de Deus. e as á-
c) Pode crescer. A fé é a confiança em Deus que guias (urubus) representam o juízo divino". (Con-
leva o homem a descansar na sua Palavra. EMUI con- sulte-se sobre Mateus 24.28.) " O juízo final fe tam-
fiança cresce pela experiência. bém a primeira fase da segunda vinda de Cristo J. se-
d) A fé é humilde (pequena). A fé lança mão do rá tão discriminador como repentino: um homem ti-
poder de Deus. e nada faz por poder próprio. Por isso rado da cama e sua companheira deixada; uma mu-
confessa: "Somos servos inúteis, porque fizemos so- lher tirada do moinho e outra deixada. Perguntam.
mente o que devíamos fazer". 'Onde?' e Ele responde que onde estiver o corpo, aí
Outra lição deste trecho refere-se ao serviço ( w . se ajuntarão as águias. Onde estiver a corrupção, ali
7-10). " O propósito de Cristo náo é ensinar com que o juízo que há de purificar a terra a descobrirá"
espírito Deus trata seus servos, mas ensinar com que (Grant).
espírito devemos servir a Deus". Não há virtude ex-
traordinária cm cumprir o dever (v. 10). Capitulo 18
Os dez leprosos curados (11-19). Este incidente Duas parábolas referentes á oração (1-14). A pri-
ensina-nos que náo é só receber a bênção de Cristo; meira ensina a náo desfalecer; a segunda a nào fin-
tendo recebido, convém, ao menos, dar graças a gir. A primeira pede vingança, a segunda misericór-
Deus. É de notar-se que o homem grato era um des- dia.
prezado samaritano. (Para saber a origem dos sama- O fim do versículo 7 tem sido traduzido diversa-
ritanos, consulte-se 2 Reis 17.24-41.) mente; uns entendem que "eles" são os "escolhi-

365
IÂICÜS

dos", e outros que sào os seus inimigos. De acordo Contudo, parece mais provável que tenha havido
com o primeiro modo de entender, a V. B tem "em- somente um. e náo podemos saber ao certo se foi an-
bora " seja demorado em defendê-los". tes ou depois da entrada em Jericó.
Outro tradutor dá: "E Deus não fará justiça aos " A s três palavras ditas ao cego podem ensinar-
seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite - nos três lições:
a ele que é tão longánimo?" 1) "Que queres que te faça?" Deus primeiro faz
O que esta Escritura afirma, e que a experiência seu apelo á vontade. Os que não querem, náo rece-
confirma, é que deve haver persistência na oração; bem.
náo que seja difícil conseguir que Deus atenda, mas, 2) "Vê" - uma palavra de poder. A fé que pode
provavelmente, porque nem sempre podemos rece- receber algo de Deus é uma fé que salva.
ber dignamente a resposta desejada. 3) "A tua fé te salvou". Isto repete o que é fre-
No caso do publicano, vemos um pecador justifi- qüentemente ensinado na Escritura: que Deus honra
cado (v. 14). Notemos os seguintes pontos: 1) £ a a fe porque a fé honra a Deus.
justificação de um pecador. 2) E uma justificação Notemos no cego: o seu estado deplorável (v. 35);
pela graça, pois o homem não merecia a misericórdia a sua esperança nascente ( w . 36.37); a sua com-
que pediu. 3) E uma justificação por sangue (Rm preensão da necessidade (vv. 38,39); a sua simples fé
5.9), porque ele estava no templo, vendo o sacrifício (v. 40); a sua petição positiva (41,42); a sua cura ins-
do cordeiro, à tarde, e rogou: "O Deus. sé propicio tantânea <v. 43); o seu testemunho público (v. 13)
(hilastheti"| a mim. pecador" 4) Era uma justtftca- (Scroggie).
ção pela fé (Rm 5.1), porque nenhuma obra justifi- Somente Lucas tem as palavras "glorificando a
cou alguém. O publicano C T e u . e foi-se em paz para Deus" (v. 43).
casa (Scroggie).
Jesus e os meninos (15-17). Do versículo 15 até o Capitulo 19
fim do capitulo- Lucas acompanha de perto a narra-
tiva de Mateus e Marcos. Zaqueu. o publicano (1-10). Este trecho, um dos
Ê só Lucas que tem as palavras no versículo 16. prediletos dos pregadores, tem sido explicado de
"chamando para si os meninos", mas a narrativa muitas maneiras. No Guia do Pregador tenho três
mais completa está em Marcos 10.13-16. estudos sobre ele.
O moço rico (18-30). Para a explicação deste tre- Entre uma grande variedade de exposições do
cho, consulte-se sobre Marcos 10. trecho que tenho por vários autores, há a seguinte
A chave do ensino de Jesus ao moço está nas pa por esse "príncipe de pregadores". C. H. Spurgeon:
lavras: "Vem e segue-me" É somente seguindo a Je- Zaqueu era um homem: a) exercia um cargo des-
sus que podemos conhecer praticamente a verdadei- prezível um cobrador de impostos; b) mal visto pe-
ra vida. a "vida eterna", em comunhão com os pro- las pessoas de boa fama; c) rico, e sua riqueza era
pósitos divinos. E. em certos casos, será preciso de- suspeita de ter sido mal adquirida: d) excêntrico -
sembaraçar-se de algum empecilho. No caso deste ou náo teria trepado na árvore; e) bem longe de ser
moço, o empecilho era seu apego aos bens materiais. uma pessoa de consideração.
Os três evangelhos sinóticos contam o incidente, A esse veio Jesus; e Ele pode vir a nós, embora se-
mas somente Lucas tem as palavras: "E vendo Jesus jamos semelhantemente desprezados por muitos, e
que ele ficara triste" (v. 24). Podemos contrastar por isto dispostos a pensar que Ele nos desprezará
com este caso o de um certo doutor da Lei em Lucas também.
10.25. 1) Consideremos a necessidade que o Salvador
A este incidente segue a parábola dos trabalha- sentiu de visitar a casa de Zaqueu
dores, contada somente por Mateus. Ele sentiu urgente necessidade de: a) um pecador
Jesus anuncia a sua paixão (31-34). Disto o rela- que aceitasse a sua misericórdia; b) uma pessoa que
tório mais detalhado é o de Marcos. A segunda parte ilustrasse a soberania da sua escolha: c) um caráter
do versículo está só em Lucas, como também a refe- cuja conversão engrandeceria sua graça; d) um hos-
rência a ser Jesus "cuspido e açoitado" ( w . 31-33). pedeiro que o recebesse com cordialidade; e) um
mas somente Mateus fala de crucificaçã< caso que divulgasse a grandeza do seu Evangelho
Notemos a significação das palavras "será entre- ( w . 9,10).
gue aos gentios" (v. 32): assim Israel havia de mani- Havia necessidade de servir: "Hoje me convém
festar a sua pouca apreciação do Messias prometido! pousar na tua casa "; necessidade de beneficência em
Jesus fez referência oitenta e duas vezes a si mes que outros receberiam bênção por meio de Zaqueu.
mo como " o Filho do homem". A expressão ocorre 2) Indaguemos se semelhantes necessidades exis-
apenas três vezes no restante do N.T. (At 7.55,56; tem em nosso caso.
Ap 1.13; 14.14). Podemos verificar isto. respondendo às seguintes
" A expressão encontra-se também no V.T. espe- perguntas, sugeridas pelo procedimento de Zaqueu:
cialmente nos livros de Daniel e Ezequiel. ambos os a) Queremos nós recebê-lo hoje? Zaqueu apres-
profetas sendo tratados como 'filho do homem' (Dn sou-se.
8.17, e em Ezequiel noventa vezes)" (Goodman) b) Recebê-lo-emos cordialmente*' Zaqueu o rece-
O cego de Jericó (35-43). Alguns entendem que beu com gosto.
houve dois milagres quase idênticos, um á entrada c) Recebê-lo-emos apesar da crítica dos outros?
de Jericó (Lucas) e outro á saída (Marcos). "Estes Os assistentes murmuravam.
dois milagre», relatados separadamente por Lucas e d) Reeebé-lo-eraoi Como Senhor? Zaqueu disse
Marcos, são combinados por Mateus" (Mimpriss). "Eis. Senhor".

* A palavra ffre*a " k a l " . «oralmente traduzida também, não parece ter o sentido da " e m b o r a " .

366
IMCÚS

e ) Recebê-lo-emos para pôr nossos bens à sua dis- nho. e não um cavalo - animal de guerra - para sua
posição? ( v . 18). montaria.
3) Entendamos bem o que essa necessidade im- 2) Seus discípulos, na falta de arreios, tiveram a
porta.' Se o Senhor Jesus vem para ficar em nossa ca- feliz lembrança de ceder cada um seu vestido para
sa. a) precisamos preparar-nos para enfrentar a opo- forrar o lombo do animal. E nós. que temos gastado
sição da família; b) precisamos acabar com tudo que com Jesus?
náo lhe agrada; c ) precisamos deixar de admitir 3) Havia já uma multidão de discipulos (v. 37) e
quem entristeça nosso hóspede celestial; d ) precisa- náo somente os doze apóstolos.
mos permitir-lhe governar nossa casa sempre e intei- 4) Havia, como sempre, pessoas que criticavam
ramente; e ) precisamos permitir-lhe servir-se de nós esta manifestação de entusiasmo.
como instrumentos para o progresso do seu reino. 5) Jesus recusou-se a repreender o regozijo dos
Por que náo receber o Senhor hoje? discipulos.
N ã o há nenhuma razão contrária: há muitos mo- 6) Longe de se regozijar, afligiu-se ao pensar na
tivos a favor. Ouçamos. atentos, a sua palavra: "Ho- sorte de Jerusalém e seus filhos.
je me cítnvém pousar na tua casa". O versículo 42 deve ser "Oxalá que tu conheces-
F. W Grant aprecia Zaqueu por outro prisma: ses também..." ( O . 31).
" O nome significa 'puro* ou 'limpo', como as suas A profecia dos versículos 43,44 foi cumprida 40
palavras o mostram ser. Devemos entendê-las, cer- anos mais tarde, quando T i t o destruiu Jerusalém.
tamente. náo como aquilo que ia fazer, mas como a .4 segunda purificação do templo (45-48) é relata-
resposta à acusação murmurada contra ele. e que da, coro pouca diferença, pelos evangelhos sinóticos.
comprometia a Cristo também por ter ido pousar em Só Lucas tem as palavras "e todos os dias ensinava
casa de um homem pecador. ' U m pecador*. Zaqueu no templo" (v. 47).
podia dizer: 'eis que eu dou aos pobres metade dos N o versículo 46 há uma alusão a 1 saias 56.7 e a
meus bens. e se nalguma coisa tenho defraudado al- Jeremias 7.11.
guém por acusação falsa (grego) - uma coisa que po- N o s versículos 47,48 notemos as diferentes pes-
dia acontecer inadvertidamente - o restituo quadru- soas referidas: a) Jesus ensinando publicamente no
plicado*. Ele fala daquilo que faz habitualmente, templo até o fim; b) sacerdotes e escribas. cheios de
não de uma nova resolução. ódio religioso, querendo matá-lo; c ) o povo "suspen-
" C o n t u d o Zaqueu náo é mero fariseu sob capa de so quando o ouvia" (Fíg.); d ) e nós. escutamos e obe-
publicano. Bem podia haver nele algo de farisaismo, decemos ao ensino do Salvador?
pois isso pertence à nossa natureza caída: e as pala-
vras de nosso Senhor, meigas e t ernas como são. po- Capítulo 20
dem corrigir tal tendência, embora Ele não tivesse & O batismo de João (1-8). Este trecho é dado com
falado assim a um verdadeiro fariseu. Para Ele um pouca diferença pelos três evangelhos sinóticos. So-
•filho de Abraão' devia significar um filho da fé (Jo mente Lucas emprega a palavra "sobrevieram".
8.39). e nesse dia a salvação tinha vindo àquela casa. quando fala na chegada doe principais sacerdote»,
quando o objèto dfl fé foi nela recebido. Assim a sal- como se as suas interrogações fossem uma espécie de
vação veio a Zaqueu. náo mediante a pureza de vida assalto. É terça-feira da semana da paixão.
que ele podia alegar, mas por aquele que ele procura
A pergunta "com que autoridadef" refere-se,
ra, e que o tinha procurado primeiro, pois 'o Filho do
provavelmente, à purificação do templo.
homem veio buscar e salvar o que se havia perdido'.
Os sacerdotes tinham-se em conta de ensinadores
e um dos tais era Zaqueu"
autorizados, e queriam combater esse "pregador sem
A parábola das dez minas (11-27). Esta é muito ordenação". Hoje pode-se dar uma coisa semelhan-
parecida com a dos dez talentos em Mateus 25, mas te.
com a diferença de que em Mateus os servos recebem (Ts lavradores maus (9-18). Esta parábola é con-
cinco, dois ou um talentos, e em Lucas cada um re- tada pelos três evangelistas quase em palavras idên-
cebe uma mina. Aprendemos desta parábola: 1) que ticas. É só Lucas que fala de sacerdotes e escribas (v.
os inimigos de Deus recusaram o senhorio de Cristo, 19).
e odiaram-no; 2) que pode haver quem tome lugar de Os servos eram os profetas enviados, de vez em
servo, porém sem trabalhar: 3) que alguns prestam quando, a Israel rebelde. Notemos como o Senhor
mais serviço do que outros: 4) que a fidelidade nos aqui afirma ser Ele o Filho de Deus ( w . 13-15). Os
pequenos serviços de agora resultará no privilégio de versículos 14 e 15 cumpriram-se três dias depois.
maiores responsabilidades futuramente. A pedra reprovada. N o começo da época atual.
N o caso cio servo maligna, notamos: l ) que era Israel caiu sobre a pedra. Cristo, e foi quebrado. N o
covarde, como ele mesmo disse (v. 21); 2) que igno- fim desta época a pedra - Cristo - cairá sobre o poder
rava o caráter do seu senhor, chamando-o "homem dos gentios e os esmagará (Dn 2.44) - (Scroggie).
rigoroso"; 3) que era preguiçoso; 4) que ficou sem o Tributo para César (19-26). Mateus põe aqui a
que tinha (24) - (Goodman). para bola das bodas ( M t 22.1-14), e depois os três
N o versículo 20 leia-se: "E veio o último, dizen- evangelistas relatam a interrogação sobre o tributo.
do" ( O . 134). Somente Lucas explica o verdadeiro motivo da cila-
A entrada triunfal em Jerusalém (24-44) é relata- da doe inimigos: para "entregá-lo ã jurisdição e po-
da pelos quatro evangelistas, porém mais resumida- der do presidente".
mente por João. Ê somente Lucas que recorda a res- "Jesus não ensina aqui que não se pode servir a
posta doe dois discipulos ao dono do jumento: "O Se- Deus quando se serve ao Estado, nem que seja im-
nhor o há de mister" (v. 34). e os versículos 39 a 44. possível servir-se o Estado quando se serve a Deus.
Notemos: Ele náo ensina que o sagrado e o secular são incom-
1) Jesus escolheu, por humildade, um jumenti- patíveis. Nossos deveres cristãos e civis náo devem

367
Xjpffg

chocar-se; temos obrigações perante a lei divina e deram da sua abundância, mas retiveram muito, en-
perante a lei humana" (Scroggie) quanto ela contribuiu com tudo o que tinha para o
A questão da ressurreição (27-40). Este trecho es- seu sustento" (Grant).
tá em todos os evangelhos sinóticos em linguagem " C o m o é que Jesus estima o valor das dádivas?
quase idêntica. Algumas partes dos versículos Certamente nào pela sua quantia, mas antes:
35.36.39.40, só temos em Lucas. 1) Pelo espirito com que a dádiva é feita. Deve-
Aprendemos aqui: 1) que há uma vida futura mos dar: a) secretamente ( M t 6.3.4); b) voluntaria-
pela ressurreição; 2) que nem todos serão dignos de mente (1 T m 6.18), porque o que se der contra a von-
desfrutá-la (35); 3) que na vida além náo há casa- tade será dado por algum motivo errado; c ) alegre-
mento nem morte: 4) que os ressurgidos sáo iguais mente (2 C o 9.7); d ) liberalmente ( R m 12.8).
aos anjos, sendo filhos de Deus. (Consulte-se tam- 2) Pela proporção que a dádiva representa em re-
bém Mateus 22.23-33.) lação às possibilidades do ofertante. O que seria ver-
Notemos que a Escritura nunca diz que os iní- dadeiro sacrifício para um. pode ser uma ninharia
quos vivem no mundo além. Existir é uma coisa; vi- para outro.
ver è outra. 3) Pela sabedoria e amor manifestados pela dádi-
Notemos que no versículo 35 devemos ler "ressur- va. Muita da nossa beneficência é prejudicial. Devia
reição de entre os mortos". haver bastante oraçáo sobre como devemos oferecer
A s verdades que o Senhor trouxe á luz na sua res- nossas dádivas. Dar todos os nossos bens aos
posta sáo as seguintes: pobres, sem haver amor. nada vale (1 Co 13.3).
1) Todos os mortos vivem para Deus (38). Em ne- O sermão profético (5-36). apresentado mais por
nhuma parte das Escrituras se fala da morte como extenso em Mateus 24. contém alguns por menores
sendo uma cessação de existência. "Aos homens está narrados somente em Lucas. como. por exemplo: os
ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o sinais no céu do versículo 11; a "boca e sabedoria"
juizo" ( H b 9.27). Há um " d e p o i s " em cada caso. do versículo 15; "náo perecerá nem um cabelo da
2) Abraão, Isaque e Jacó todos morreram, mas vossa cabeça" ( w . 18,19); Jerusalém cercada de
Deus ainda se chama seu Deus (37). e Ele náo é Deus exércitos no versículo 20; os dias de vingança do
dos mortos, mas dos vivos. versículo 22. e o importante versículo 24.
3) N a ressurreição nào há casamento (35-36). " N o s versículos 5-11 e 25-36 temos um resumo de
4) Os que alcançam o mundo vindouro, isto é, os Mateus 24. falando da segunda vinda de Cristo, mas
regenerados, os únicos que podem herdá-lo (1 C o nos versículos 12-24 temos uma profecia da destrui-
15.50) por fé em Cristo, sáo iguais aos anjos (36) na ção de Jerusalém, que se cumpriu em 70 d.C. Note-
sua condição bem-aventurada. mos o começo do trecho: 'Antes de todas estas coisas'
Jesus interroga seus adversários (41-47). Vemos (v. 12)".
em Mateus que Jesus dirigiu a sua pergunta aos fari- "Na vossa paciência possui as vossas almas" ( v .
seus, começando com "Que pensais vós de Cristo?" 19) significa: Se nestas provações fordes pacientes,
O argumento é: Como podia Davi falar do Mes- ficareis calmos, e senhores de vossos corações.
sias como sendo ao mesmo tempo seu filho e seu Se- "Ponha sua mão sobre o meu coração", disse um
nhor? Podia somente porque esse "filho de D a v i " era crente perseguido ao seu juiz injusto, " e depois sobre
também o Filho de Deus. o seu, e diga-me qual bate mais depressa". Mesmo
em tais circunstâncias, é verdade que "Tu conserva•
Capitulo 21 rás em paz aquele cuja mente está firme em ti" (Is
26.3).
A oferta da viúva (1-4) náo é narrada por Mateus, "Jerusalém cercada de exércitos"(v. 20) havia de
mas só por Marcos e Lucas, e por Marcos com um ser o sinal que sua desolação estava próxima, e que
pouco mais de detalhes. deviam fugir para as montanhas. Em Mateus 24.15 e
O nome da viúva pobre não está registrado na Marcos 13.14 isto é referido como sendo "a abomina-
terra, mas sem dúvida está escrito no Céu. Sua fama çáo da desolação".
tem sido ecoada através do mundo, e seu exemplo Entre o primeiro sitio de Jerusalém por Cestio
tem trazido mais ao tesouro do que qualquer rico ja- em 66 d.C., do assalto final por T i t o em 70. os cris-
mais deu. Ela deu mais do que pensava nesse dia. tãos, reconhecendo o cumprimento das Palavras do
pois deu um exemplo, e em verdade deu " m a i s do Senhor, obedeceram ao aviso e fugiram para o terre-
que todos" ( v . 3). Este incidente tocante e simples no montanhoso de Pela. Assim salvaram-se dos hor-
tem-se tornado o maior exemplo da contribuição. rores do sítio e da destruição final da cidade (Good-
Colhamos as lições principais: man).
a ) O valor de nossas ofertas não é contado pela "Outra particularidade de Lucas se vê neste dis-
quantia. curso do monte das Oliveiras ( M t 24.2). Os versícu-
b) A o dar, o motivo e não o material: é o que mais los 20 e 22 nào sáo dados por Mateus ou Marcos.
importa. T o d a esta seção em Lucas 20-24 refere-se ao cerco de
c ) A viúva podia ter achado uma desculpa para Jerusalém por T i t o em 70 d.C., mas esse sitio pode
não dar. mas ela nào procurava desculpa. ser uma figura de outro no fim deste período, do qual
d ) Dádivas pequenas nào são desprezíveis. lemos no V . T .
e ) Nossas dádivas podem ganhar a aprovação do " N e s t e cerco final a cidade náo será tomada, mas
Mestre (Goodman). libertada pela vinda de Cristo ( A p 19.11-21). As refe-
"Jesus conta de modo diferente dos homens em rências em Mateus e Marcos são a esse último sitio e
geral, considerando não tanto a importância contri- não ao anterior, como em Lucas. Em Lucas o sinal é
buída mas a soma retida. Ela nada guardou para si; Jerusalém cercada de exército (v. 20), mas nos ou-
portanto, de acordo com o seu conceito de Cristo, tros evangelhos é a abominaçáo no lugar santo (2 T s
aquela viúva dera mais do que todos. Pois os outros 2.4). Nào há nenhuma contradição dos evangelistas.

368
lUCãS

pois vemos que havia perguntas com respeito ao co- "Os que têm autoridade sobre eles são chamados
meço e ao fim da tribulaçào de Jerusalém" (Gray). benfeitores" (v. 25). " E por este mesmo titulo de
"Os tempos dos genttos" (v. 24» começaram com 'benfeitor* Ceuergetes') que um dos Ptolomeus é co-
o cativeiro de Judá sob Nabucodonosor (2 Cr 36.11- nhecido na história, e era muitas vezes aplicado aos
21), e desde entáo Jerusalém tem estado sob o domí- imperadores romanos. Semelhante lisonja nào havia
nio gentilico (Scofield). de prevalecer entre os discipulos de Cristo, mas o
A segunda vinda de Cristo (25-36). Alguns enten- maior devia ser como o menor, e o principal tomar o
dem que os "sinais" no sol. estrelas, etc. represen- lugar de servo" (Grant).
tam perturbações de governos. Podemos notar que na Igreja de Deus. quem pres-
" C o m o no primeiro advento havia duas profecias ta maiB serviço é estimado como grande.
diferentes, uma dizendo que Cristo viria a Belém A o que parece, Pedro é avisado (31-34) trés Vétét:
( M q 5.2). e outra a Sião (Zc 9.9). e ambas se verifica- a primeira, durante a ceia (Jo 13-36-38); a segunda,
ram. embora com intervalo de 33 anos. assim a se- também durante a ceia (Lc 22.31-34); a terceira, no
gundo vinda pttde ser dividida em duas fases, pri- caminho para o Getsémane ( M c 14.30).
meiro para seu povo (l T s 4.16) e depois com seu Deste incidente devemos aprender: que o inimigo
povo (2 T s 1.10)" (Scmggie). procura sempre enfraquecer nossa fidelidade ao
Mestre: que Cristo intercede por nós: que um crente
Capítulo 22 pode nào ser "convertido"; que depois de restaurado
p«>de confortar seus irmãos (2 Co 1.14): que é fre-
Preparando a ceia pascal (1-13). Chegamos outra qüente o crente confiar em si mesmo e negar seu Se-
vez à última Páscoa e à Santa Ceia. e notamos como nhor.
o Senhor Jesus transformou a velha festa tradicio- " S e tivesse aceitado o aviso. Pedro teria podido
nal. dando-lhe uma significação inteiramente nova e escapar, nào sem aprender a sua lição, mas apren-
cristã. dendo-a dos lábios do Senhor. Que havia de negá-lo
"Segundo todos os esboços da semana da Paixão, três vezes antes de cantar o galo, podia ter sido acei-
a quarta-feira é considerada um dia de retiro do qual to por Pedro de tal maneira como uma revelação da
não há nada registrado, o que faz presumir que a sua fraqueza e seu perigo que o teria salvado da que-
crucificaçáo se tenha verificado na sexta-feira. Isto da. Mas nào o fez; resistiu á meiga voz que o teria
tem sido discutido, sendo possível que fosse quinta- abrigado do mal. e assim a profecia se cumpriu.
feira o dia da crucificaçáo, caso este em que o proble- Mesmo então ficou para ele (quando o orgulho e a
ma dos 'três dias e três noites" no sepulçro ficaria re- força ->ram derrubados), o conforto da exortação
solvido. 'quai. .o te converteres. confirma teus irmãos""
" P o r uma comparação dos quatro evangelhos, (Grant).
fica evidente que Jesus e seus discipulos não obser- As duas espadas (35-38). Esta passagem da Es-
varam a Páscoa ao mesmo tempo que os judeus, mas critura é reconhecida como sendo das mais difíceis
vinte e quatro horas mais cedo" (Scroggie). de interpretar. O dr. Goodman acha provável haver
Algumas palavras principais do trecho (14-23) aqui a figura de "metonimia". pela qual coisas espi-
a) Recordação. "Fazei isto em memória de rituais sáo representadas por materiais. Assim as pa-
m i m ! " (v. 19). lavras seriam lidas: "Depois da minha partida sereis
b) Comunhão (1 Co 10.16). Confessamos nosso como o homem que tem de vender seu vestido e com-
interesse comum na morte expiatória. prar uma espada".
c ) Discernimento ( l Co 11.29). porque a fé enxer- Diz outro expositor: " A palavra do Senhor refe-
ga a realidade através da figura, e sob a figura o co- rente á compra de uma espada náo é para tomar ao
ração aprecia o fato. pé da letra, ou Ele nào teria dito que duas bastavam.
d) Unidade do corpo (1 Co 10.17): " N ó s . sendo Parece que Ele quis contrastar a primeira viagem
muitos, somos um". missionária com as condições diferentes no futuro.
e ) Testemunho (1 Co 11.26). para que todo o Nada lhes faltara; tudo tinha ido bem, mas agora
mundo saiba a base em que descansa a nossa lé. devem esperar o conflito. Ao mesmo tempo a con-
0 Antecipação - até que Ele venha (Goodman). fiança deles seria nele somente".
"Duas festas uniram-se nesta celebração. Nesse Nossa espada náo é arma carnal (2 Co 10.4). mas
cenáculo deu-se um acontecimento notável: A festa a Palavra de Deus. que precisamos possuir a qual-
pascal foi solenemente encerrada (16-18). e a Santa quer custo (v. 36).
Ceia instituída com igual solenidade (19.20). Sobre E somente Lucas que fala da espada.
essa mesa terminou um período e começou outro: Jesus em Getsémane (39-46). "Nosso Senhor te-
Cristo era o cumprimento de uma ordenança e a con- ria saído para o monte das Oliveiras na última hora
sumação da outra" (Scroggie). da segunda vigília da noite, ou seja, em nosso horá-
O maior será como o menor (24-30). Este trecho é rio. entre 11 horas e meia noite. Faltavam dois dias
um tanto parecido com Mateus 20 e Marcos 10. mas para a lua cheia" (Greswell).
somente se encontra em Lucas. Mateus e Marcos dão o nome de Getsémane. Lu-
Vemos os discipulos contendendo logo depois da cas fala apenas de um lugar. Joáo menciona o jar-
Ceia do Senhor! Aprendemos: que nos momentos dim
mais solenes a carne tende a manifestar-se: que o Só Lucas precisa a distância, "cerca de um tiro
reino de Deus não é semelhante a um governo mun- de pedra", e fala do anjo, e do suor como gotas de
dano, mas é contrastado com ele; que a verdadeira sangue.
grandeza no reino é servir, como Cristo mostrou pelo Podemos indicar os seguintes pontos para medi-
seu exemplo; que Jesus apreciou a companhia dos tação neste trecho: a oração, a submissão, o cálice, o
discipulos nas suas provações; que os apóstolos futu- anjo, a agonia.
ramente julgarão as doze tribos de Israel. " A palavra traduzida 'agonia' náo tem precisa-

369'
lüfflf

mente seu sentido moderno. Significa: um conflito A "roupa resplandecente" que Herodes mandou
violento, como em Filipenses 1.30; Colossenses 2.1; vestir em «Jesus era. provavelmente branca, a cor dos
contenda (1 T s 2.2); combate ( 2 T m 4.7); corrida hebreus. A palavra grega é " l a m p r a n " , que significa
( H b 12.1). Nosso Senhor estava lutando com as po- brilhante, e aparece em Apocalipse 15.6 e 19.8. Mais
testades das trevas, e ficou em angústia, como quem tarde, os soldados vestiram-no de um manto de púr-
contempla um objeto de horror: o horror de entrar a pura, a cor imperial de Roma (Jo 19.2,5).
sua alma imaculada em COT tato com o p e c a d o " Ele é rei dos judeus e rei universal, por isso am-
(Goodman). bas as cores tinham cabimento.
"Como gotas de sangue " ( v . 44). As palavras dáo Notamos que o Senhor respondeu a Pilatos. mas
a entender que não era literalmente sangue, mas que não disse palavra alguma a Herodes. Herodes e Pila-
o suor era tinto de vermelho e parecia sangue. " T e m tos. antes inimigos, concordaram em menosprezar
sido geralmente entendido que o suor na testa de Je- Jesus ( v . 12).
sus se tornou semelhante a sangue, um fenômeno E m todo este incidente, percebemos a fraqueza
chamado na medicina antiga 'haimatodes hidros': moral de Pilatos, entregando à morte um homem
suor sanguinário" ("International Bible Encyclope- que ele mesmo reconhecia ser inocente.
dia"). As filhas de Jerusalém (26-32). Tem-se notado
Jesus épreso (47-53). Neste trecho notamos a hi- que não lemos de nenhuma mulher que fosse inimiga
pocrisia de Judas; o discernimento do Senhor; a au- de Jesus. Vemos um contraste notável entre os ho-
dácia de Pedro (v. 50); o poder milagroso para sarar; mens gritando "Crucifica-o", e as mulheres lamen-
e a " h o r a " dos inimigos. tando e batendo nos peitos.
Pedro nega a Jesus (54-62). Devemos achar em Jesus repara, e tem palavras de aviso para elas. Ê
perigo quando nossa situação é diversa da de nosso seu discurso final. "Esse que tinha enxugado muitas
Senhor. Pedro, comodamente sentado, esquentava- lágrimas, agora manda chorar. Ele prediz os sofri-
se na companhia dos inimigos de Jesus. E caiu (v. mentos que viriam sobre Israel no ano 70 d.C., du-
55). rante muitos séculos seguintes e na Grande Tribula-
Quantas vezes a mentira nasce do medo (v. 57)! çáo. Se os romanos assim tratam a mim, inocente e
N o versículo 60 devemos ler: "E Pedro disse: O santo ( o madeiro verde), qual será a sorte deles, os
homem de que falas, não conheço". culpados e falsos ( o s e c o ) ? " (Scroggie).
Jesus apenas olhou para Pedro - e náo precisava F W. Grant comenta de modo um tanto diverso
fazer mais? E nós podemos fazer admoestaçáo silen- as duas árvores: " N o meio de uma geração, o fogo de
ciosas? H á muitos anos falava eu de um projeto a cuja ira pode arder desta maneira na árvore verde e
uma irmã de idade, muito piedosa. Ela nada disse. frutífera, que seria a sorte desses que eram seme-
Por isso mesmo fiquei pensarivo; examinei nova- lhantes á lenha seca - combustível próprio para o fo-
mente o projeto sobre que a havia consultado e aban- go? N ã o é a ira divina de que Ele fala (embora a ira
donei-o. divina bem podia entregá-los a isso), mas é o que
Jesus perante o Sinédrio (63-71). Os quatro evan- eles haviam de infligir uns aos outros. Os sofrimen-
gelistas falam do caso. mas Lucas parece notar espe- tos desses encerrados na cidade sitiada são o assunto
cialmente a zombaria e crueldade dos homens. Ve- da conhecida história dos judeus".
mos que Jesus testifica claramente a verdade de ser O versículo tem sido parafraseado assim: " S e fa-
Ele o Cristo, e os chefes religiosos denunciam seu zem estas coisas em mim, frutífero e sempre verde,
testemunho como blasfêmia. imortal porque divino, que farão a vós, sem fruto, e
" O chamado 'julgamento' de Jesus processou-se privados de toda justiça v i t a l ? " (Theophylact).
em seis partes: três eclesiásticas e três civis. T u d o se N o versículo 32 " o u t r o s " é, no grego, "heteros",
realizou entre uma e sete horas da manhã da sexta- náo " a l l o s " , e significa outros diferentes e náo outros
feira" (Scroggie). semelhantes.
A crucificaçáo (33-48). Somente Lucas relata as
Capitulo 23
tocantes palavras: "Pai. perdoa-lhes, porque não sa-
Perante Pilatos e Herodes (1-25). Notemos a ex- bem o que fazem". N ó s devemos aprender a ter o
cessiva malvadez da acusação mentirosa no versícu- mesmo espirito para com os que nos maltratam.
lo 2. Contudo. Pilatos náo se deixa impressionar, Notemos que o malfeitor arrependido:
mas diz: "Não acho culpa alguma neste homem". a ) T e m e u a Deus. e reprovou o companheiro de
As acusações contra Jesus foram: a) que perver- infortúnio.
tia o povo pelo seu ensino; b ) que proibia dar tributo b ) Confessou a justiça do seu castigo.
a César, o que era pura mentira; c ) que dizia que era c ) Reconheceu que Jesus náo tinha culpa.
rei, o que era verdade, porém seu reino não era mate- d ) T r a t a Cristo como Senhor; comparando o titu-
rial e sim espiritual; d) que era malfeitor (Jo 18,30), lo aqui cora 1 Coríntios 12.3, achamos notável essa
mas Ele "andou fazendo o bem ". e ) que alegara ser confissão.
Filho de Deus (Jo 19.7) o que. se não fora verdade, e ) Crê nele como rei, que há de entrar no seu rei-
teria sido uma blasfêmia. no: fé admirável:
Jesus não negou que era Rei. Sua resposta é dada 0 Pede por si mesmo, e prova a verdade da pala-
mais detalhadamente em João 18.33-38, e, depois de vra: " Q u e m invocar o nome do Senhor será s a l v o "
ouvi-la, Pilatos confessou que não achava culpa ne- (Scroggie).
le. " D a s sete palavras proferidas da cruz. este evan-
Pilatos julgou com razão que nada disso justifica- gelho menciona três. nenhuma das quais é encontra-
va condenar Jesus a uma morte cruel como era a da da em outra parte. João dá mais três; Mateus e M a r -
crucificaçáo (v. 14), e, ouvindo que Ele era da Gali- cos relatam a sétima. As três primeiras são palavras
léia, da jurisdição de Herodes, e que Herodes estava que demonstram preocupação pelos outros. As três
em Jerusalém, mandou-o a Herodes. que seguem Be referem ao seu santo sacrifício, profe-

370
Xuou

ridas durante as trevas sobrenaturais que perdura- des. e percebe o nosso amor junto com a nossa des-
ram até a hora nona. Destas, a terceira repete as es- crença (21).
tranhas palavras do Salmo 22.1. A última palavra, 5) Ê bom falar de Cristo com desconhecidos pelo
no versículo 46, é 'Pai, nas tuas mãos entrego o meu caminho (19).
espírito'. Notamos que o Senhor mais uma vez em- 6) Precisamos mais do que o testemunho dos ou-
prega a palavra 'Pai*. O fato de que aqui clamou es- tros: havemos de ver Cristo por nós mesmos (24).
tas últimas palavras 'com grande voz' mostra que 7) Ninguém pode viver por muito tempo sob uma
não morreu extenuado, mas voluntariamente rendeu mera recordação.
seu espirito, como ensina Joáo 10.18. 8) Precisamos de uma experiência atual e vital
" O véu do templo rasgado ensina em figura que o com Cristo. - .
caminho para o santuário foi aberto pelo sangue de Os dois discípulos tinham falado de Cristo; agora
-Jesus ( H b 9.8; 10.20). Ele fala. e a sua certeza responde á tristeza deles. O
"Diz-ae-nos que o véu é 'a sua carne'. Foi nesse relato das palavraB do Senhor é muito resumido,
corpo que Deus lhe preparou ( H b 10.5), que Ele le- mas devia ter-lhes falado por muito tempo (27). Ca-
vou nossos pecados; e o véu rasgado significa a remo- minharam junto* cerca de nove quilômetros.
ção para sempre daquilo que impedia o pecador de Quais seriam os trechos que Ele explicou? Quase
aproximar-se de Deus" (Goodman) com certeza Gênesis 3.15: 22.8; Êxodo 12; Levitico
A sepultura de Jesus (49-56). Sobre este trecho o Jtí; Números 21.9; Deuteronômio 18.15-18; Isaías
leitor pode consultar o que está escrito em Mateus e 7.14; 9.6; 50.6; capítulo 53; Miquéias 5.2; Zacarias
Marcos. 9.9; 12.10; 13.7; M i l a q u i a s 3.1; 4.2; Salmos 16,22,23
O versículo 54 deve ser: "E era o dia da prepara- e 24, e outros. Que estudo bíblico dado a uma con-
çdo, e a noite entre sexta-feira e sábado" (0.35), gregação de dois?
De repente o hóspede se torna hospedeiro. T o m a
Capitulo 24 o pão deles e dá-lhos (30) Aqueles que o receberam
receberam-no dele. Os dois abrem-lhe a sua casa. e
A ressurreição (1-12). As mulheres vêem ( • ou-
Ele lhes abre os olhos (31).
v e m ) "dois varões com vestidos resplandecentes" (v.
4), o que no versículo 23 é chamado "uma visão de Uma coisa boa náo é para ser retida egoistica-
anjos". N a ascensáo, dois anjos (o* mesmos?) apare- mente. Vào em seguida contá-la ao* outros (33). Vol-
cem novamente. tam a Jerusalém, somente para achar que o* onze es-
tavam cheios de gozo, porque Pedro também vira o
Vemos oe seres celestiais profundamente preocu-
Senhor (34).
pados com os acontecimentos do domingo da ressur-
reição, enquanto oe grandes do mundo permaneciam N o versículo 32 devemos ler: "Porventura não era
em completa, indiferença. tapado o nosso entendimento quando pelo Caminho
nos falava f" (O. 105).
Acaso sucede hoje alguma coisa semelhante?
Jesus entre os orne (36-53). Que domingo cheio
Neste trecho vemos: as mulheres perplexas, ate-
de experiências? Vemos, afinal, que á tarde do do-
morizadas. ( v . 8). e convictas; oe apóstolo* franca-
mingo da ressurreiçáo (Jo 20.9). Jesus se manifestou
mente incrédulos, mas Pedro disposto a investigar, e
no meio d o « onze congregados no seu nome. Enten-
admirado com o que viu no sepulcro.
demos que não apareceu mais até o domingo seguin-
Os dois discípulos no caminho de Emaús (13-35).
te (Jo 20.26). Que devemos aprender do fato de ter-
Para um estudo sobre este incidente, pode-se consul-
se o Senhor manifestado duas vezes no meio do*
tar o "Guia do Pregador", 1* ano.
crentes reunidos no primeiro dia da semana?
Notemos: 1) o que os dois discípulcw disseram a
Jesus; 2) o que Jesus lhes disse; 3) o que disseram O dr. A.T. Robertson entende haver trés manifes-
um ao outro; 4) o que disseram aos apóstolo*. tações referidas neste trecho do capitulo 24. Uma no
Vemos o conflito de emoções nas suas almas: de- dia da ressurreição (36-43); outra, bem mais tarde,
voção (v. 19); corações quebrantado* (v. 20); espe- em Jerusalém (44-49), e a terceira depois de 40 dias
ranças desmoronadas (21); esperança renovada (21- no monte das Oliveiras (50-53) - (Scroggie).
23); admiração (22); uma convicção incompleta Notemos o que Jesus fez conforme narrado neste
(24); e tudo isto manifestaram a um desconhecido! trecho:
(Scroggie). 1) Apresentou-se no meio dos discípulos, tão per-
to que podiam tocá-lo.
"Presume-se geralmente que o* dois discípulos
2) Mandou-os apalpá-lo e verificar que era Ele
eram homens, mas talvez fossem marido e mulher.
mesmo e nào um fantasma.
Sabemos que um era homem chamado Cleofas, e a
3) Mostrou-lhes as mãos, pés e lado (40, Joáo
outra pessoa pode ter sido a sua esposa. Conversa-
20.20). permitindo-lhes examinar as cicatrizes das
vam sobre os acontecimento* recentes em Jerusalém
feridas recebidas no Calvário. Convidou T o m é a in-
e estavam trist**. Jesus se aproximou e andou com
vestigar as feridas para que a sua mente desconfiada
eles, e nào o reconheceram.
fosse convertida.
Notemos:
4) Comeu perante eles (43) peixe e favo de mel.
1) Sc falarmos de Cristo. Ele chegará perto (v.
provando assim, ser realmente homem.
15).
2) Ele nunca está longe quando o coração do seu 5) Teve longa conversa com eles, reproduzindo
povo está triste (17). em parte as exposições dadas no caminho de Emaús.
3) Ele muitas vezes está ao D O M O lado sem que o 6) Subiu ao Céu na presença de todo* eles, depois
reconheçamos (16). de ordenar-lhes que evangelizassem "todas as na-
4) Ele escuta pacientemente as noa&as dificulda- ções" (47).

371

Nota: a página 372 está em Branco no documento original, segui a página 373
João

oâo era filho de um mestre pesca 1.1. A vinda anunciada (1.19 a 2.11).
dor, que tinha empregados ( M c 1.1.1. O testemunho do Batista (1.19-34).
1.20), e de Salomé. uma das mulhe- 1.1.2. O testemunho dos discipulos (1.35-51).
res que ministravam ao Senhor com 1.1.3. O testemunho da natureza (2.1-11).
seus bens (Lc 8.3). Disto, e do fato 1.2. A vida reconhecida (2.12 a 4.54).
própria casa em Jerusalém (Jo 19.27), é 1.2.1. Na Judéia - o Mestre em Israel (2.12 a
k e que tinha posses que lhe proporcionavam 3.36).
J conforto. 1.2.2. Em Samaria - a mulher adúltera (4.1-
seu livro i o último dos livros inspirados escri- 42).
i n i 50 anos depois da ascensão); é de todos os 1.2.3. Na Galiléia - o príncipe (4.43-45).
evangelhos o mais profundo. T e m sido chamado " o 1.3. A vida combatida (capa. 5 a 12).
âmago de Cristo", porque revela o próprio coraçáo de 1.3.1. A controvérsia despertada (5.1-18).
Jesus, e é o âmago também do Eterno. 1.3.2. A controvérsia desenvolvida (5.19 a cap.
Propósito. Segundo testemunhas muito antigas, 10).
foi escrito e publicado em Efeso, a pedido do apósto- 1.3.2.1. A vida desprezada (capa. 5 e 6).
lo André e dos bispos asiáticos, a fim de combater 1.3.2.2. A vida recusada (cape. 7 a 9).
certos erros então correntes sobre a divindade de 1.3.2.3. O amor ultrajado (cap. 10).
Cristo. 1.3.3. A controvérsia concluída (caps. 11 e 12).
A chave do livro é a palavra crer. Neste Evange- 2. A revelação do Filho como luz. aos discípulos
lho, Jesus se nos apresenta como aquele em quem (caps. 13 a 17).
devemos crer; e nas Epístolas de Joáo como aquele a 2.1. A Luz lhes é apresentada (13.1-30).
quem devemos amar; e no seu Apocalipse, como 2J2. A Luz lhes é comunicada (13.31 a cap. 16).
aquele que devemos esperar. Mas crer em quê? N a 2.3. Intercessáo pela luz que neles há (cap. 17).
divindade do Homem Cristo Jesus. (Veja-se capitulo 3. A revelação aos discípulos e ao mundo do Filho
20 31.) como amor (caps. 18-20).
Peculiaridades. 1) O uso da palavra " j u d e u " , que
3.1. A provaçáo do amor divino (caps. 18 a 19.16).
se encontra uma vez em Mateus, duas em Lucas,
mas em J o i o sessenta vezes. 2) Relata apenas oito 3.2. A tragédia do amor divino (19.17-42).
milagres, cada um provando o poder da palavra de 3.3. A vitória do amor divino (cap. 20).
Cristo. Epílogo (cap. 21) o Porvir (Scroggie).
Retrato. O retrato de Jesus que temos neste
Evangelho é do "Unigènito do P a i " . Joáo mostra o . A M E N S A G E M DE JOÃO
que era que convencia homens e mulheres de todas
as classes de que Jesus era Deus. Serve-se de mate- Pode-se dizer que os evangelhos constituem o co-
rial novo, até entáo reservado por Deus (Lee). raçáo da Bíblia, e o de Joáo é o coraçáo dos evange-
A N A L I S E DE JOÃO lhos; é o Santo dos Santos no T e m p l o da Verdade.
Quase tudo aqui é novo: somente Joáo nos dá o pri-
Exórdio (1.1-18) o Passado. meiro ano do ministério de noaao Senhor (caps. 2 a
Vida (1-5). Luz (6-14). Amor (15-18). 4); somente ele relata os grandes discursos sobre o
1. A revelação ao mundo do Filho como Vida (1.19 a novo nascimento, a Água Viva, o Páo da Vida, o
12.50). Bom Pastor, a Luz do Mundo, junto com a maravi-

373'
Joio
lhosa exposição dos propósitos de Cristo na última O escritor aqui trata primeiro do que o Filho era.
Ceia (caps. 13 a 16). Somente oito milagres são nar- e depois do que veio a ser: Ele era: a ) o Verbo ou ex-
rados por João, seis dos quais não se encontram nos pressão de Deus; b) estava com Deus e Ele mesmo
outros evangelhos. era Deus; c ) Criador de todas as coisas. Ele tornou-
M a s náo é somente o que se diz que é significati- se: a) %-erdadeiro homem ( v . 14), e, em todo o seu an-
vo; o que não se diz igualmente o é. Aqui não há ge- dar; b ) a L u z dos homens: c ) aquele que estabelece
nealogia. nem nascimento, nem mocidade, nem parentesco espiritual com Deus (v. 12).
crescimento, nem batismo, nem tentação, nem Get- N à o devemos pensar do versículo 9 que todos os
sémane; tudo condiz com o mesmo propósito: provar homens recebem iluminação de Cristo, mas que a
que Jesus é Deus. "Estas coisas foram escritas para luz que Ele traz é para todos.
que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e Este trecho declara várias verdades profundas
para que. crendo, tenhais vida em seu nome" que merecem nossa demorada meditação.
(20.31). O livro todo é um testemunho desta verda- a) A identificação do Verbo com Deus e, contudo,
de, e " t e s t e m u n h o " é uma das palavras-chaves do li- a possibilidade de discriminar entre o Verbo e Deus.
vro. de tal maneira que se podia dizer que o Verbo estava
Porém isto não é tudo. U m cuidadoso estudo do com Deus ao mesmo tempo que era Deus.
exórdio deste Evangelho (1.1-18) fornece-nos uma b ) Que a obra da criação é atribuída ao Verbo, ao
análise simples mas completa do seu conteúdo espi- Filho. Hebreus 1.2 e 11.3, que parece dizer a mesma
ritual. coisa, fala de o Filho fazer "tous aionas" ou os sécu-
Aqui primeiro o Filho é revelado como a Vida los, uma expressão problemática cujo sentido é difí-
Eterna, "no princípio" (náo "desde o principio" cil determinar.
como em 1 Joáo 1.1) com Deus: é Eie o verdadeiro c ) Em algum sentido profundo, que nós não po-
Deus. e o Criador de toda a vida, desde os serafins demos analisar, "nele estava a v i d a " . E nossa expe-
até os vermes (1-5). Então Ele é revelado como a Luz riência confirma que, quanto mais nos aproximamos
eterna, a luz aos homens, que brilha nas trevas, da de Cristo, tanto mais provamos uma vida espiritual
qual João ( o Batista) veio dar testemunho, porém abundante.
náo foi compreendido (6-13). Finalmente Ele é reve- d ) A vida revelada em Cristo era luz para todos os
lado como o Amor Eterno, feito came, e habitando homens, como também a vida de Cristo em nós será
entre os homens, cheio de graça e verdade, e dando luz para nossos vizinhos.
aos homens da sua plenitude (14-18). e ) A s trevas ( o mundo descrente), náo podiam
Esta tríplice revelação encontra-se na substância compreender Cristo nem compreendem os que hoje
do livro inteiro, e parece ser a chave da sua estrutu- se parecem com Ele. E outras lições igualmente pro-
ra. Falando em termos gerais, é Cristo como Vida fundas que o leitor poderá notar por si mesmo.
que é manifesto ao mundo em 1.19 a capítulo 12; é Uma tradução mais literal do versículo 14 sugere
Cristo como Luz que é apresentado aos discípulos preciosos pensamentos: "Discernimos a sua glória:
nos capítulos 13 a 17; e é Cristo como Amor que é re- glória como a de um único filho com seu pai". Foi
velado a crentes e descrentes na Cruz, no sepulçro e isso que impressionou o jovem Joáo, de tal modo que
na ressurreição, nos capítulos 18 a 21. uns 60 ou mais anos depois ele ainda recorda a pro-
M a s esta análise distribuitiva não é exclusiva; funda impressão.
em cada divisão podemos discernir a Vida, a Luz e o " N o s versículos 1-5 temos a divina revelação da
Amor. Palavra, e em 6-13, a histórica manifestação da pa-
È impossível sobreestimar a importância desta lavra. Aquele que era desde toda a eternidade foi
profunda revelação, que é o verdadeiro coração da manifestado a sfcu tempo. A Luz foi revelada (6-9),
Verdade. A divina natureza, obra. método, comu- rejeitada (10.11). e recebida (12,13). Cada um tem
nhão, misericórdia e graça resumem-se nisto, que o de fazer alguma coisa com a Luz. Aquele que fez o
Filho é Vida. Luz e Amor. e cada bênção, presente mundo estava no mundo, mas este náo o conheceu.
ou em perspectiva, está abrangida por esta verdade e V e i o para o seu povo (os judeus), mas náo o conhece-
dela nasce. E cada pecado é uma ofensa contra Cris- ram. A Vida já veio, mas o mundo continuou morto:
to em um destes aspectos (Scroggie). a Luz chegou, mas o mundo permanece nas trevas"
(Scroggie).
Capítulo 1
Os versículos 12,13 devem ser: "Aos que crêem no
nome daquele que não nasceu do sangue, nem da
O verbo se fez carne (1-14). Encontramos assunto
vontade..." ( O . 152).
para meditação até mesmo nos termos que João em-
prega. Que quer dizer " o princípio"? N ó s geralmente O testemunho de João Batista (15-34). Que João
o entendemos como "desde a eternidade", embora ai testificou de Jesus é afirmado várias vezes no capitu-
náo diga isso. lo: nos versículos 7,-15,19,32,34. Notemos algumas
O versículo 2 deve ser "Quando ele estava no das verdades que João afirmou: a) que Jesus era a
principio com Deus, todas as coisas..." (0.6). luz dos homens: b ) que o que veio depois de Joáo, era
antes dele; c ) que ele mesmo não era o Cristo: d ) que
A palavra " o V e r b o " (grego " l o g o s " ) , empregada era apenas uma voz; e) que Jesus era infinitamente
só por Joáo como um titulo de Cristo, merece demo- mais digno de que ele (v. 27); f ) que Jesus era o Cor-
rada consideração. Podia ter sido traduzida " p a l a - deiro de Deus; g ) que o Espirito desceu sobre Jesus;
vra 7 ". mas nesse caso, teria sido preciso falar de " e - h) que Ele era o Filho de Deus.
l a " , por isso os tradutores preferiram empregar o vo-
cábulo " V e r b o " . Devemos distinguir entre as palavras do Batista
As nossas palavras são a maneira de nos expres- e os comentários do apóstolo. Por exemplo, os versí-
sarmos, por isso. Cristo, como a "Palavra de Deus", culos 16-19 parecem ser palavras apostólicas e não
expressa o que é a verdadeira vida. do Batista.

374
— Joiõ
Fizeram três perguntas a João Batista: "Quem és E um estudo interessante considerar: 1) o caráter
tu?" ( v . 19); " Q u e dizes de ti mesmo?" ( v . 22); "Por de Natanael: 2) o amigo de Natanael: 3) a dúvida de
que batizas?" (v. 25). Perguntas que se referem à sua Natanael: 4) a experiência de Natanael; 5) a pers-
pessoa, ao seu testemunho, e á sua obra. pectiva de Natanael.
O versículo 17 merece especial atenção porque O versículo 51 tem sido interpretado de diversas
mostra a diferença entre o Velho Testamento e o N o - maneiras, alguns vêem nele uma alusão à escada de
vo. O V . T . é caracterizado pela lei de Moisés. O N . T . Jacó ( G n 28.12). Preferimos entender uma referência
pelo Evangelho que revela graça e verdade divinas, ao ministério dos anjos para com o Senhor Jesus que,
que vieram por Jesus Cristo. Podemos ponderar: em algum sentido (talvez espiritualmente) Natanael
" Q u e significa para nós que a graça e a verdade de havia de sentir.
Deus têm vindo a este mundo por Cristo?" " C o m o é
que esta graça se expressa?" " Q u e é que esta verda- Capitulo 2
de r e v e l a ? "
N o versículo 18 devemos ler: "que estava no seio ,4s bodas em Caná (1-12) Neste capitulo lemos
do Pai" ( O . 117). do primeiro sinal milagroso que Jesus fez, e por isso
"Betánia além do Jordão" (v.28). " E m b o r a a não acreditamos nos milagres pueris que a tradição
maior parte dos manuscritos tenha •Betánia'. náo se relata da sua meninice. Seus sinais manifestavam a
conhece hoje a localização de qualquer Betánia além sua glória e fortaleciam a fé dos discípulos ( v . 11).
do Jordão. Em nove manuscritos - náo dos mais an- Os sinais de Jesus eram atos de bênção, conferin-
tigos - lê-se " b e t h a b a r a " . que pode ser um lugar cha- do saúde, ou dando alimento; eram parábolas de sal-
mado hoje Abaral a 26 K m de Kerf-Kenna e 75 km vação, ilustrando preciosas verdades; eram revela•
de B e t á n i a " (Pequeno Dicionário Bíblico). çôes da vontade de Deus. pois quando Jesus curava
"Tirar o pecado dtt mundo" (v. 29). Essa frase um doente fazia esse beneficio pela vontade do Pai.
aponta Cristo-como o Salvador para todos e náo so- " H á três palavras traduzidas por milagres no
mente para Israel. É necessário, porém, que cada N . T . A primeira 'dunamis' significa simplesmente
pessoa se valha, pela fé. da expiaçáo consumada. manifestação de poder, obra poderosa; a segunda
'semeion' significa um sinal, e a terceira 'teros' quer
dizer maravilha. Neste Evangelho a palavra traduzi-
A PRIMEIRA VISITA A JUDElA
da milagre é sempre "semeion". A primeira palavra
nunca se emprega em João, e a terceira somente em
Os primeiros discípulos (35-51 >. É uma das ca- 4 .48" (Goodman).
racterísticas do quarto evangelho que se ocupa
T r ê s lições simples sáo evidentes nesta parábola
maiormente com o ministério de Jesus na Judéia,
em ação: Jesus veio suprir abundantemente o gozo
enquanto os outros se ocupam mais com o ministério
de vida que escoa, fornecendo um gozo melhor do
na Galiléia. Em Mateus, depois da narrativa do ba-
que o mundo dá; Eie agiu em obediência à vontade
tismo, quase náo há mais alusão às visitas de Jesus à
do pai, e não atendeu á observação de sua mãe; a
Judéia até o capitulo 19. que foi a sua última visita
bem-aventurança da obediência que encheu as ta-
(Cray),
lhas e distribuiu o vinho.
" N o t e m o s com cuidado os dois 'Eis' de João nes- Muitas pessoas que se dizem "devotas da virgem
t e capítulo. O primeiro (v. 29) conv:da-nos a consi- M a r i a " tém sido convidadas a obedecer ao mandato
derar o Senhor Jesus como quem faz a grande obra dela no versículo 5.
expiatória; o segundo (v 36), a meditar no seu andar
Notemos que "as purificações dos judeus " eram
e exemplo. E nesta ordem que devemos recebê-lo,
provavelmente por aspersão. como hoje os romanis-
pois a reconciliação deve sempre preceder à salvação
tas fazem com a "água b e n t a " . T e m o s outro caso se-
«Rm 5.10). Ele tem de tirar da consciência e do cora-
melhante em Marcos 7.4.
ção humano a carga da culpa, antes de ensinar-nos a
andar como Ele andou" (Goodman). Parece-nos que Maria nesse período já é viúva, e
com seus filhos reside em Cafarnaum e náo mais em
Algumas liçóes que aprendemos deste trecho são: Nazaré.
1) O verdadeiro ministério não atrai os ouvintes Há diversos ensinamentos neste incidente:
ao pregador, mas a Cristo (v. 37). 1) Convidar Jesus e seus discípulos para as bodas
2) Jesus se ocupa com quem o segue. é o melhor começo possível para a vida de um casal.
3) Ele convida a alma interessada a novas expe- 2) Ê importante reconhecer Jesus presente em to-
riências da sua companhia ( v . 39). das as circunstâncias da vida conjugai.
4) Quem conhece Jesus leva outros a Ele. Haven- 3) N ã o devemos contar com a presença de Jesus
do dúvida de que alguém é ou não crente, repare se sem a companhia dos seus discípulos ( v . 2).
ele procura falar de Cristo aos outros. Ê uma prova 4) A mãe de Jesus recorreu a Ele quando faltou o
infalível! vinho.
5) -Jesus nos conhece por nome. individualmente 5) Jesus, já no começo do seu ministério público,
( w . 42,47) contava com a direção do Pai mediante a comunhão
6) Jesus sabe quem é sincero ( v . 47). direta, e não por sugestão humana ( v . 4).
De Natanael podemos notar: a) que ele aprende- 6) " O mandado de M a r i a " (tão ignorado por
ra das Escrituras que o Messias viria; b) que era cau- muitos que a adoram) tem sentido e aplicação ainda
teloso: o Messias havia de concordar com a profecia; hoje: "Fazei tudo o que Ele vos disser!" O que Ele
c ) que era sem dolo (não sem pecado): era sincero, disser pela palavra inspirada; pelo seu ministério no
reverente, entusiasmado; d ) que era suscetível de ser poder do Espirito; em resposta á vossa oração.
convencido pela verdade; e ) que, uma vez convenci- 7) A casa em que Jesus se encontrava era de uma
do. não hesitava em agir; f ) que recebeu uma revela- família religiosa, cuidadosa da purificação cerimo-
ção mais ampla ( v . 51) - (Goodman). nial ( v . 6).

375
Toão
8) Onde há zelo há pureza. Jesus pode transfor- c ) Jesus, preocupado já com a sua morte expiató-
mar a purificação em gozo. ria. olhava ainda além. para a ressurreição.
9) O gozo que Jesus fornece é melhor e mais d) A memória das palavras do Mestre fortalecia a
abundante do que a nossa provisão. fé dos discipulos (v. 22).
10) A nós é lícito, quando olhamos para -Jesus, es- Que males havemos lançado fora do templo de
perar o melhor no fim. Deus'' Quais são as manifestações de simonia em
11) Este primeiro milagre manifestava a " g l ó r i a " nossos dias? Alguém diz a nosso respeito que o zelo
sobreexcelente de Jesus. A glória da sua descendên- pela ca^a de Deus nos consome?
cia que toma parte em nossos gozos e festejos; a gló-
ria do seu poder; a glória da sua paciência, que espe- Capítulo 3
ra 30 anos sem fazer milagres, até o momento deter-
minado pelo Pai: a glória da sua simpatia, que toma .4 conversa com Nicodemos (1.21). N o original o
parte conosco nos nossos prazeres lícitos, e conta co- versículo 1 começa: "Mas havia...", ligando-se assim
nosco para entrarmos no seu gozo; a glória da sua au- com o capitulo '2 e apresentando Nicodemos como
toridade. que obteve uma obediência cega da parte um homem em quem Jesus podia depositar alguma
dos serventes. confiança.
. Uma comparação de João 3.24 com Mateus 4.12
A S E G U N D A VISITA A JUDEIA mostra-nos que esta entrevista se deu antes do ser-
mão da montanha. Ê. portanto, o primeiro discurso
A primeira purificação do templo (13-25). A se- do Senhor Jesus que temos em registro.
gunda. cerca de três anos mais tarde, é relatada nos Este é o trecho principal sobre o novo nascimen-
três evangelhos sinóticos. to. Do novo nascimento Jesus afirma: a) que é indis-
Nos versículos 14.15 a palavra grega para templo pensável; b) que é " d e c i m a " (v. 3); que a palavra
é "hieron": todo o conjunto do edifício sagrado, com grega "anothen", traduzida no versículo 3 "de no-
os pátios e entradas. Nos versículos 19-21 é " n ã o s " , o vo". è traduzida no versículo 31 "de cima", como
recinto mais interno do conjunto (Westcott) também em 19.11 e Tiago 1.17 e 3.17; c ) que é " d o
"O zelo da tua casa me comeu" quer dizer: "es- Espirito": d ) que é inescrutável. como o movimento
tou consumido pelo zelo da tua casa". do vento; e) que forma contraste com o nascimento
Evidentemente, a lição deste trecho é que evite- natural da carne (Goodman).
mos a comercialização das coisas sagradas. Note- O simbolismo de nascer da égua e do espirito tem
mos, por exemplo, como o apóstolo fugia de qualquer sido muito discutido, sem haver um acordo entre os
aparência de estar tirando lucro de sua evangeliza- expositores. Neil entende que significa "água espiri-
ção. tual", mas isso nào combina com o versículo 6 onde a
Vemos nos versículos 23.24 uma crença mera- água náo é mais mencionada. Outros têm ensinado
mente intelectual, em que Jesus náo cria (a mesma que é nascer do batismo, porém a idéia de um rito
palavra). Uma fé verdadeira transforma a vida toda. exterior produzir um novo ser espiritual é repugnan-
A o considerar este trecho podemos estudar: te a todo o ensino do N . T . Ainda outros ensinam que
1) O incidente. nascer da água significava o mesmo que da carne.
a) Jesus indignado. As vezes a ira tem cabimento Porém afirmar solenemente que é necessário ter um
( E f 4.26). Que provoca a nossa indignação? Uma nascimento natural para ver o reino, parece absurdo,
ofensa contra o nosso amor próprio, ou uma ofensa visto que. sem nascer, a pessoa nào existe.
contra "nosso P a i " ? Consultando as outras passagens que descrevem
b> Jesus ensinando pela ação. N e m sempre é su- o novo nascimento ( T g 1.18 e 1 Pe 1.23), vemos que a
ficiente uma queixa. Às vezes um pai ou um profes- geração de um novo ser espiritual é atribuída á Pala-
sor precisa castigar o mal. vra de Deus. aplicada, sem dúvida, á consciência e
c ) Jesus preocupado com a pureza da Casa do ao coraçáo pelo Espirito de Deus.
Pai. Isso nos preocupa também a nós? E isto condiz com a experiência. A única coisa
d ) Jesus mostrando autoridade moral. Nós, se que tem produzido novidade de vida em seres huma-
procedêssemos da mesma maneira, poderíamos ape- nos é a revelação de Deus em Cristo, operando efi-
nas promover contenda, mas Jesus tinha autoridade cazmente pelo Espírito Santo, [por meio da Palavra
moral suficiente para efetuar seu protesto enérgico. de Deus).
2) A significação do incidente: A frase "que está no céu" no versículo 13 tem
a) Um templo de Deus (2 C o 6.16) deve ser purifi- causado dificuldade. Alguns manuscritos não têm as
cado com propósito, indignação, e energia. palavras, por isso a V.B. omite-as. Porém é provável
b) O comercialismo em coisas sagradas é um pe- que devam permanecer. Sobre isto, consulte-se o li-
cado. mas a venda de Bíblias ou hinários que não vro. "Causes of Corruption". p. 223.
traz lucro ilícito ao vendedor, não é pecado. Neil. no livro "Strange Figures", mostra que o
c ) Devemos ter zelo pela casa de Deus. original grego pode ser traduzido "que estava no
d ) Interesses baixos e sórdidos ás vezes encon- céu " Contudo parece ser preferível manter as pala-
tram uma indignação santa. vras como em Almeida: " q u e está no céu", pois per-
e ) Se nós repelíssemos o pecado no templo de mitem-nos entender melhor o que a comunhão com o
Deus. que é nosso corpo, esse pecado fugiria de nós. Pai era para Jesus, e pode ser para nós.
3) A profecia. Jesus prediz a sua ressurreição, A Bíblia náo abona a idéia popular de que o Céu
dando a uma pergunta insensata uma resposta enig- é um lugar muito distante, mas dá-nos a idéia de que
mática. Lições que aprendemos: o Céu é a imediata presença de Deus (2 Co 12.2); e,
a ) N e m toda a pergunta merece resposta direta. embora fosse para Paulo uma experiência extraordi-
b ) Uma resposta indireta pode encerrar ensino nária achar-se, em espirito no Céu. ouvindo palavras
profundo. inefáveis, podemos acreditar que para Jesus uma se-

376
Joio

melhante experiência era freqüente ou até constan- E devemos notar que a fé nào é mera crença em cer-
te. tos fatos, mas uma atitude da alma, abraçada com o
Outra versão traduz o versículo assim: "Nin- Salvador, de quem espera tudo.
guém tem ascendido ao Céu senão ele que desceu do
Céu, o Filho do homem cuja morada é. o Céu " (Chris- Capitulo 4
tian's Armoury, pág. 215).
O pregador pode basear-se neste trecho para seu Jesus e a samaritana (1-13). " O começo do capi-
discurso sobre o novo nascimento, e dividir seu estu- tulo quase dá a entender que, devido ao que os fari-
do assim: seus tinham ouvido, Jesus, ao retirar-se da Judéia,
1) Necessidade do novo nascimento. não batizava mais. " O batismo de preparação era
2) Processo do novo nascimento. serviço de um arauto, não de um rei. O batismo cris-
3) Resultado® do novo nascimento. tão pressupõe a morte e a ressurreição de Cristo"
Ou pode fazer aqui um estudo sobre Nicodemos. (Scroggie).
usando as divisões: Jí-Podemos ver na entrevista com a samaritana um
.y- 1) Nicodemos indaga; 2) Nicodemos duvida; 3) exemplo de como o Senhor Jesus ganhava uma al-
£7 Nicodemos aprende. N a revista " L i ç õ e s " , de 17 de ma. Notemos os seguintes pontos:(g) Era um serviço
M a i o de 1942, encontrará o leitor o desenvolvimento individual e particular. Ê melhor, ás vezes, evangeli-
cj deste estudo. zar um do que mil.Qã) Foi feito por quem estava can-
W. Grant comenta a semelhança e o contraste sado. Nós, muitas vezes, quando cansados, abando-
entre o nome Nicodemos ("conquistador do p o v o " ) e namos o serviço, (g) Ele pediu quando quis dar. e as-
S Nicolau ("conquistador do povo de Deus"), donde sim despertou os melhores sentimentos no coração
'i v e m a palavra "nicolaitas" em Apocalipse 2. Os " n i - da mulher: interesse, simpatia, generosidade, prote-
£ 1 colaitas", semelhantes ao clero romano, dominavam ção 4 ) Ele provocou a curiosidade, instruiu a igno-
o " l a o s " (leigos), o povo de Deus na igreja. Deus tem rância. revelou uma possível bem-aventurança ( v .
! um " l a o s " , mas não um " d e m o s " (donde vem a pa- 10).-ç) Ele tocou na consciência, referindo-se ao paa-
- lavra democracia). sado.J3Ele satisfez o desejo.de saber e revelou o que é
" H á bons motivos para pensar que a conversação culto aceitável a Deus. g) Ele declarou que era o
entre Jesus e Nicodemos termina com o versículo 15. Cristo.
e que os versículos 16-21 sáo as reflexões do evange- A samaritana desconfia (14-30). Podemos consi-
lista. A expressão 'Filho unigênito' nunca vemos derar algumas perguntas que o incidente sugere:
usada cm outro lugar por Jesus a seu respeito; 'crer 1) Qual é o dom de Deus? Há trés notáveis dons
no nome', 'praticar a verdade', e os tempos dos ver- referidos no N . T . - a) O Senhor Jesus mesmo (Jo
bos 'amaram' e 'eram' no versículo 19, apontam a 3.16). b ) A vida eterna ( R m 6.23). c ) O Espirito San-
mesma conclusão" (Scroggie). to (1 Jo 3.24).
Se adotamos este parecer, então as sublimes e so- 2) Qual é a água viva? A figura de água nunca se
lenes verdades referidas nestes versículos, em lugar aplica a Cristo. Ele é chamado o Pão da Vida. mas
de fazerem parte de uma conversa particular, apre- nunlca a água da vida. Eie dá a água (v. 10). A água é
sentam o ensino apostólico formulado cerca de 50 reservada na Escritura como figura do Espírito San-
anos mais tarde.-Joào. olhando para trás, através dos to (Jo 7.37-39).
anos. apresenta a solene conclusão que a experiên- 3) Qual é a fonte de água que salta para a vida
cia ensinara: "A condenação é esta: que a luz veio ao eterna? Sem dúvida é a operação do Espirito no pró-
mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a prio crente: a) em novos desejos para uma vida mais
luz. porque as suas obras eram más" (v.19). espiritual; b ) no derramamento do amor de Deus no
O testemunhe> final de João Batista (22-36). Al- nosso coração: c ) na intima satisfação dos nossos
guém pode pensar que o versículo 22 ensina que Je- mais puros anelos (Goodman).
sus batizava, mas o capítulo 4.2 explica que quem A lição principal do trecho parece ser que a ver-
batizava eram os discípulos. dadeira adoração, embora expressada materialmen-
A questão com um judeu acerca da purificação te, é espiritual. vsRtotf
( v . 25) podia ter sido sobre o relativo valor do batis- * Podemos notar que neste trecho a palavra "ado-
mo de João e de Jesus. Mas -João não aceita uma po- rar" (empregada dez vezes) tem um sentido geral de
sição de rivalidade. Ele é apenas o "amigo do espo- "servir a Deus". Muitos se preocupam com o lugar
so" e alegra-se com a voz do esposo. do culto, outros com o processo do culto, mas o es-
O versículo 30 expressa o espírito de todo o verda- sencial é o espírito do culto. Podemos considerar:
deiro servo de Cristo. 1) O preparo de um adorador. O homem natural
Provavelmente devemos entender que de 32 a 36 náo está em condições d e servir a Deus aceitavel-
temos um comentário do apóstolo. mente. Há condições para servir a Deus:
N o fim do versículo 34. devemos preferir a V.B. - ® Uma entrevista com o Salvador. (Este é o em-
"porque ele não dá o espírito por medida". penho e serviço do evangelista: conseguir que seu ou-
Podemos considerar a significação do tempo vinte venha a achar-se na presença de Cristo.)
presente no versículo 36: "Aquele que crê... tem..." ( b ) Sentir confiança e liberdade em se abrir com
Muitas vezes pensamos que aquele que creu terá. Jesus.
mas é a fé atual que goza a vida abençoada agora. { c ) Uma consciência despertada para julgar todo o
Devemos em oração procurar compreender o sen- seu passado na presença do Senhor.
tido da profunda palavra " c r e r " (ter f é ) , e pensar d j Descobrir que é conhecido, mas náo condena-
que quem crê agora tem a vida agora; quem crê mui- do pelo Salvador.
to, tem muito. Quem crê hora após hora desfruta 2) Q objetivo de um adorador: ver o Pai, revelado
dessa vida de intimidade com Deus hora após hora. em Cristo. Jesus é digno de adoração porqueíjá) Ele

377
JOi.
se manifesta em graça para com os mais indignos: b ) O sermão que seguiu o sinal (16-47). N o s ouvintes
Ele sabe suprir a nossa mais urgente necessidade es- os judeus - vemos: uma insensibilidade espiritual.
piritual Ele náo somente perdoa, mas protege. apesar de presenciarem aquela manifestação do be-
3) As condições para adorar: "em espirito e ver- néfico poder de Deus; uma hostilidade mortal que
d a d e " , necessitando, para isso, de: ã ) exercício espi- queria matar o Benfeitor: um apego às particulari-
ritual, mas náo de uma exibição intelectual ou de dades dos preceitos religiosos, sem qualquer com-
uma despesa material com vestimentas, incenso, preensão do espirito desses preceitos.
música, etc.;^>) conhecimento e apreciação da "ver-
N o discurso de Jesus podemos notar os seguintes
d a d e " do Evangelho, tão positivo, tão profundo, que pontos: a sua perfeita sujeição ao Pai e dependência
transborda em louvor e adoração. dele para poder fazer as obras de misericórdia ( w . 19
4) O serviço de um adorador: testemunhar do seu e 30); que afirmou ser Eie mesmo o dador de vida
Salvador, ainda que isto importe em confissão de ( v v . 21,24), e o juiz ( v . 27); as quatro testemunhas: o
que Ele sabe " t u d o quanto tenho f e i t o " . Pai ( w . 3 7 , 3 8 ) . as Escrituras (w.39-44). as obras
A ceifa e os ceifeiros (31-42). Aprendemos deste (v.36), e Moisés ( w . 45-47).
trecho: que evangelizar essa mulher era fazer a von-
tade de Deus ( v . 34); que em tal serviço há satisfação Sem dúvida devemos ver uma significação bem
e sustento, comparável ao que se deriva do alimento profunda no versículo 17. O descanso de Deus era
material; que a ceifa pode estar mais próxima do que numa obra completa, perfeita, irrepreensível. Mas
pensamos; que há galardão por todo o serviço fiel; entrara o pecado, transtornando tudo. e agora num
que quem principia um trabalho nem sempre o aca- mundo cheio de pecado e sofrimento, o Pai e o Filho
ba; que o crer por informação de outros não é tão po- também operam incessantemente.
sitivo como crer por experiência própria. Convém meditar outra vez no tempo presente do
A cura de um rapaz (43-54). Vemos: o empenho versículo 24: "Quem ouve . ecrê... tem " Muitas ve-
do pai em querer apresentar o filho a -Jesus; a sua as- zes os pregadores nos dão a entender que "quem ou-
sistência, sem discussão; a sua fé, quando compreen- viu... e creu... terá... " Que significa o tempo presen-
deu que Jesus o curaria mesmo sem " d e s c e r " ; a sua te na experiência espiritual do leitor? Veja-se sobre
experiência, de acordo com a sua fé, na salvação de 3.32-36.
Deus; a sua convicção, e a de toda a família, em con- Podemos entender o versículo 25 em sentido ma-
seqüência do milagre. terial e físico, e também em sentido espiritual e
atual.
Capítulo 5 Dos versículos 28-47, podemos tirar diversas li-
ções:
A T E R C E I R A VISITA A JUDÊIA a ) Haverá duas ressurreições, uma para vida, ou-
tra para juízo (v. 29). Outras escrituras que falam do
Cura de um paralitico (1-15). Notemos neste pa- assunto sáo l Coríntios 15.42; Filipenses 3.11; Apo-
ra li tico: o longo período da sua doença: 38 anos; que calipse 20.5.6.
seu mal resultou do seu pecado (v.14); que ele estava
já sem esperança de cura; o poder da palavra de b ) Ê importante afirmação d o versículo 30. N a
Cristo ( v . 8 ) ; a responsabilidade da fé: " n ã o peques encarnação, o Filho de Deus fez-se realmente depen-
dente do P a i . como deve ser toda criatura humana.
mais'*
Muitos manuscritos omitem o versículo 4. c ) E importante a alusão ã vida eterna (v. 39),
1) Pensamos do doente: ( a ) que durante 38 anos que os judeus investigavam nos escritos dos profetas,
ele tinha nutrido uma esperança vá: o bem que espe- e que Jesus afirmou ser inerente a Ele mesmo.
rava do poço. nunca o b t e v e ^ ) que sem dúvida vivia d ) U m dos principais impedimentos da fé (v. 44)
sofrendo: inútil, decepcionado, triste, mas sempre é a preocupação com as honras humanas.
nutrindo uma fraca esperança;(c) que (como milha- Proposta emenda de tradução (v. 34): "Eu náo
res hoje) nunca sonhava em poder obter algum be- recebo testemunho do homem; mas digo o que vós
neficio imediato de Cristo; \3) que na presença de recebereis". E no versículo 44: "E náo buscando a
Cristo descobriu novas forças físicas - podia agora honra que vem do unigênito Filho de Deus?"
obedecer, andar, e até mesmo carregar a sua cama:
(ê) que sua obediência a Cristo resultou em algum Capítulo 6
conflito com os v i z i n h o s : ^ que, no começo, com-
preendia mais a salvação do que o Salvador, mas de- A multiplicação de pães (1-14). Este milagre é re-
pois testificou de quem o curara. gistrado pelos quatro evangelistas. T5 somente João
2) Pensamos de Cristo: a) que toda necessidade que se refere ao rapaz que tinha os pães e os peixes
humana faz um apelo ao seu coração; b) que, vendo que serviram como base do milagre.
o paralitico, quis servi-lo; c ) que achou necessário Ainda hoje, às vezes, um rapaz tem alguma coisa
verificar primeiro se o homem desejava provar seu de que o Senhor precisa, e que não se encontra com
poder; d ) que tinha poder de conceder saúde física (e os adultos. Por exemplo: Deus quer um companheiro
também espiritual) imediata, completa, permanen- para algum jovem crente, e somente um rapaz pode
te. e exuberante; e ) que quis ensinar ao homem que ser esse companheiro. Deus quer um exemplo da
sua doença era resultado do seu pecado, e encami- vida cristã no colégio, e precisa de um rapaz para is-
nhá-lo na senda da santidade. so. Deus precisa de alguém para alegrar um lar cris-
3) Pensamos acerca doe vizinhos: a ) na sua indi- tão, e procura uma criança para esse serviço.
ferença diante da necessidade do homem; b ) na sua Dos oito milagres que Joáo relata, este se encon-
cegueira a revelação da graça de Deus; c ) na sua ig- tra nos outros três evangelhos, e mais um (5.15-21)
norância da pessoa, do poder, do caráter, e do amor em Mateus e Marcos. Os outros seis sáo relatados so-
de Cristo. mente por João. Faça-se uma lista deles.

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Joio
Quase um ano de ministério houve entre João 5 e expiatória.) Será que significa tomar a Santa Ceia?
6. Então Jesus estava em Jerusalém: agora está na Náo. náo pode significar isso, porque nenhum rito
Galiléia. Esta é a única parte do ministério na Gali- nos pode dar vida eterna. Contudo a Ceia é outra fi-
léia que é relatada por João. gura da mesma verdade: o crente pode alimentar a
Esta narrativa revela a compaixão de Cristo, e sua vida espiritual com Cristo, pela fé.
não somente o seu poder. Mostra também que Ele O versículo 56 dá-nos a idéia de uma intima asso-
nào descuidou das necessidades do corpo (Scroggie). ciação espiritual com Cristo, tal que se chama per-
Andando sobre a água (15-21). A situação parece manecer nele e Ele em nós.
simbólica: noite tenebrosa: grande tempestade, e Je- O versículo 57 dá-nos mais um pensamento pre-
sus. no alto. intercedendo ( M t 14.23): viagem longa e cioso: viver por Jesus, sendo Ele o sustento das nos
perigosa, e. de repente, a vinda do Senhor - e a bo- sas almas. Podemos também viver com Ele. desfru-
nança surge. tando sempre da sua companhia, e viver para Ele.
N o v e vezes, em João, Jesus disse "Sou eu" Vale servindo sempre á sua vontade.
a pena fazer uma lista dessas ocasiões. Um duro discurso explicado (60-71). Jesus ensina
Jesus é o pão da vida (22-59). A chave deste tre- que suas palavras devem ser compreendidas em sen-
cho é o versículo 35. O versículo 29 náo quer dizer tido espiritual. Foi assim com o ensino do novo nas-
que a fé é uma "boa obra", mas que nosso primeiro cimento no capitulo 3, com a água viva no capitulo
dever perante Deus é crer no Senhor Jesus, que Ele 4, com a vida que Ele dá no capítulo 5. e com a comi-
enviou (Goodman). da do capítulo 6.
Trés vezes os judeus murmuram contra as pala Os versículos 60-63 ocupam-se com a pouca com-
vraa de Cristo. Os trés assuntos era que tropeçaram preensão dos discípulos. Acham " d u r o " o ensino por-
são os alicerces da nossa fé: 1) a encarnação (v. 41); que o tomam ao pé da letra. Em vez de explicar o en-
2) a expiação (v. 51); 3) a ressurreição (v. 62). sino do pão, Jesus deu o ensino ainda mais estranho:
O versículo 47 ensina-nos mais uma vez, pelo em- acerca da ascensão.
prego do tempo presente, que a fé de agora é o que A carne para nada aproveita (v. 63) pode signifi-
nos faz gozar da vida de Deus. Não é porque alguém car que comer de seu corpo material não lhes daria a
creu, que terá; mas é quem cré que tem. vida espiritual a que Ele se referia. O leitor precisa
Pensemos no que significa " c r e r " e quais as ca- ter cuidado em discriminar os vários sentidos em que
racterísticas da vida que o crente goza. Por que ela se se emprega a palavra " c a r n e " . Às vezes é o corpo hu-
chama " v i d a eterna"? mano; outras, a natureza pecaminosa que tende
sempre à carnalidade.
Devido à murmuração dos judeus (41-59), Jesus
prossegue com seus ensinos preciosos sobre " a ali- Do versículo 65 aprendemos que por instinto na-
tural ninguém recorre a Cristo para receber vida.
mentação espiritual", que é Ele mesmo.
mas que o Pai aponta Cristo pela Palavra, pelo Espi-
O Senhor destaca a verdade de que Ele é o ali-
rito, pelas suas providências, e assim consegue que
mento do seu povo, por meio de: a) afirmação direta
os homens, dispostos naturalmente a recorrer a re-
(v. 47); b ) um tipo, o maná ( w . 48-51); c ) linguagem cursos e expedientes humanos, venham a Cristo para
figurada: precisavam comer a sua carne e beber o receberem vida espiritual dele.
seu sangue - isto é, apropriarem-se, pela fé, da eficá-
cia da sua morte expiatória (53,56); d ) uma analogia Os versículos 66-69 ensinam que muitos nào po-
maravilhosa (57). Como Ele mesmo vivia aqui pela dem acompanhar ensinos espirituais, e voltam para
trás. A retirada desses foi ocasião para Pedro fazer a
fé em seu Pai, assim os seus viverão pela fé nele -
sua notável confissão de Jesus como o Cristo. Que
nào somente comendo ("phagein", v.53) para rece-
significa " o Cristo"?
ber a vida, mas comendo ("Lrogein", v.56) para sus-
tentar a vida.
Em tudo isto devemos notar que náo há nenhu- Capítulo 7
ma alusão direta à Ceia do Senhor, embora seja claro
que por meio dessa Santa Ceia, pela fé, nossas almas A Q U A R T A E Ú L T I M A VISITA A JUDEIA
se alimentam dele. Limitar o sentido, porém, a esse
rito suscita grandes dificuldades. Será que somente Podemos dividir este capitulo em trés partes: an-
os que tomam a Ceia podem ter vida nele? Não po- tes da Festa (1-13): durante a Festa (14-36); no fim
deremos alimentar-nos com o Pão da Vida a não ser da Festa (37-52) (Scroggie).
em tais ocasiões? Êevidentemente inviável assim li- Antes da Festa (1-13). Notemos: porque Jesus
mitar o sentido (Goodman). nào podia continuar a ensinar os judeus (v. 1); a di-
Os versículos 48,51 ensinam-nos acerca do "pão versidade de pareceres a seu respeito (11-13); Jesus
vivo". Investiguemos o seguinte: Por que Jesus em- nào apreciado pelos seus irmãos (v. 5). Pensemos: os
pregou a figura de pão? (Pão: é um alimento de to- irmãos eram mais moços do que Ele, e não sentiam a
dos os dias; de que nunca nos enfastiamos; sustenta influência do exemplo incomparável de seu irmão
sem prejudicar o organismo; combina bem com os mais velho, ou eram filhos mais velhos de um matri-
outros alimentos.) mônio anterior, que ligavam pouca importância ao
Devemos ler era Êkodo 16 acerca do maná, o pão "pequeno"?
do Céu. e em Josué 5.11.12 acerca do "trigo da ter- Durante a Festa (14-36). Notemos a discussão de
ra". Em que sentido sào ambos figuras de Cristo? Jesus: a) Com os judeus (14-24), que achavam im-
Qual a diferença? possível ser Jesus um ensinador competente, não
Os versículos 51-56 empregam a figura da "car- sendo Ele formado em qualquer dos seus seminários;
n e " do Salvador. E m que sentido podemos comer b) com o povo: é triste quando pessoas, afirmando
sua carne e beber seu sangue? (Êprovável que signi- seus conhecimentos, apenas patenteiam sua igno-'
fique apropriarmo-nos pela fé, do valor da sua morte ráncia (v. 27). Diz Scroggie: " l e m b r a r a m - s e de Na-

379
Joio
zaré mas esqueceram-se de Belém. O que esqueces claraçáo das conseqüências da incredulidade. Ter-
pode roubar-te a C h a t o " ; c ) com os servidores, que, mina com um grande afluxo de discípulos ( v . 30).
vindo prendé-lo, apenas aprenderam que Ele ia reti- A segunda parte (31-58) apresenta uma análise
rar-se ( w . 33 e 34). Ficaram muito impressionados do caráter essencial e as conseqüências de uma cren-
com as palavras de Jesus. ça egoísta e de um judaísmo falso. Finaliza com o
Na fim da Festa (37-52). A chave do capitulo 6 é primeiro assalto com violência contra o Senhor (v.
" p ã o " e do capitulo 7 •"água". N o versículo 39 temo6 59) (Scroggie).
a explicação do evangelista, confirmada pela expe- Podemos colher alguns pensamentos importan-
riência de cerca de 60 anos. tes.
Os versículos 37.38 falam de ter sede. vir, beber, a) Pela fé no Salvador é que alguém pode evitar a
repartir. Nossa experiência coincide com essa se- triste sorte de morrer nos seus pecados ( v . 24).
qüência? b ) A mensagem que Jesus deu ao mundo era a
O dr. Bullinger oferece outra tradução destes mensagem do Pai (vv. 26-28).
versículos: ".Se alguém tem sede. que venha a mim. c ) E possível falar da liberdade e ainda ser escra-
e beba; quem crê em mim, como a Escritura diz Jde v o do pecado £ w . 31-36).
mim |. dele manartvi rios de água ". Não é quem bebe d ) Filho, no sentido bíblico, é alguém que apre-
que se toma em fonte; quem bebe é o recebedor. mas senta o aspecto de seu pai ( v v . 39-44). (Compare-se
não o doador. Mateus 5.45.)
"Dissensào por causa dele" ( v . 43). Desde então Podemos ver como neste trecho Cristo revela a
até agora as pessoas são classificadas, espiritual- verdade a respeito: a ) de si mesmo (25.28.29); b ) do
mente. segundo a sua apreciação de Cristo. Os mora- Pai (26,27/29); c ) do discipulado (31); d ) do pecado
listas apreciam o seu perfeito exemplo; os sentimen- (34); e ) da liberdade (36); 0 dos filhos de Abraão
talistas falam dos sofrimentos dele: os intelectuais (39); g ) do Diabo (44).
notam seus ensinos sublimes: os cristãos adoram a T a m b é m podemos considerar as seguintes per-
Deus revelado em Cristo. guntas: Que verdades de valor espiritual podemos
Nicodemos ( v . 51) fala com cautela em favor de saber sem Cristo? Que aprendemos de Deus através
Jesus, mas não faz uma declaração aberta da sua fé. da natureza? ( R m 1). Que sabemos do Pai que Cristo
nos revelou*' Entre todos os crentes, quais são discí-
.Capítulo 8 pulos?
Jesus argúindo os adversários (45-50). Egrande a
perversidade dos homens maus: na aparência de re-
A mulher adúltera (1-11). Aprendemos algumas
ligiosos, na sua ação de combater o precioso ensino
lições importantes do incidente:
do Salvador. Vemos que é possível, quando falta es-
a) Jesus não tinha pressa de censurar a transgres-
piritualidade. atribuir a ensino sublime uma origem
sora.
diabólica ( v v . 48,52).
b ) Para julgar os outros é preciso estar sem peca- Cristo e a morte (51-59). Aprendemos aqui que
do. Aprendemos de 1 Pedro 4. 1 que quando o pecado alguém pode morrer fisicamente e nunca "vera mor-
náo significa para nce prazer, mas sofrimento - no te" no sentido espiritual da separação de Deus ( v .
corpo ou no espírito - temos " c e s s a d o " dele. e então 51). U m servo de Deus disse certa vez: "Se cortas-
podemos tratar do pecado de outros. sem a minha cabeça, não interromperiam meu go-
c ) Os mais culpados são os primeiros a fugir da zo": seu gozo era espiritual!
presença do juiz. O versículo 56 ensina-rios que a f é enxerga longe!
d ) S ó Jesus pode dizer com justiça "Náo te con- Notemos o sublime "Eu sou" do versículo 58.
deno", porque somente com Ele há expiaçáo. Ê provável que a tradução do versículo 56 deva
e ) A exortação: "Náo peques mais precisa ser ser: "Abraão rogou para ver o meu dia" (O. 144).
atendida
Jesus se diz "a luz do mundo" (12-20) e ligamos Capítulo 9
isto com o que precede: a luz revelara o pecado ocul-
to dos acusadores; a luz manifestara o perdão divino; A cura do cego de nascença (1-38). Vemos que os
a luz iluminara a senda da santidade (v. 11). discípulos (como também fizeram os amigos de Jó)
O que Jesus afirma aqui sobre o testemunho de si caíram no erro muito comum de atribuir toda doen-
mesmo mostra que devemos entender 5.31 em senti- ça ao pecado, e assim de expressarem, na sua per-
do reservado. Ali parece que Ele quer dizer que seus gunta, um contra-senso.
ouvintes deviam atender às outras quatro testemu- Quando temos a certeza de que nossa doença não
nhas a seu respeito, e náo querer que Ele afirmasse é por motivo de pecado, podemos esperar que algu-
qualquer coisa referente à sua Pessoa: " E l e não quis ma obra de Deus se manifeste a seu respeito.
dizer que náo dava nenhum testemunho de si, mas Notemos algumas coisas que eram necessárias
que não o dava por si só: tinha a confirmação do P a i " para que o cego fosse curady:
(Goodman).
a ) A presença, o interesse, o contato e o poder do
Aprendemos do versículo 19 que Jesus é a perfei- Salvador, y , 5
ta e completa revelação do Pai. N o porvir não vamos b ) A submissão e obediência do cego.
descobrir nenhuma característica divina que Jesus c ) A lavagem com a^água do poçq_apontado.V. \
não tenha revelado. d ) A boa vontade do Pai ( v . 4).
Vários discursos instrutivos (21-44). Resumindo Notemos também algumas conseqüências da cu-
os discursos contidos neste trecho, o dr. Westcott diz ra: Nova visão - o homem percebe agora mil coisas
que consistem de duas partes. A primeira ( v v . 21-30) que sempre o cercaram mas que outrora não podia
contém a apresentação do único objeto da fé e a de- discernir. E, sobretudo, ele viu seu Salvador! Nova

380
João
alegria em sentir-se liberto do pesadelo de inferiori- Notemos que um curral é um cercado - por leis e
dade que outrora o acabrunhava. Novo serviço: pode ordenanças - para que as ovelhas náo fujam, ao pas-
agir e trabalhar como os que vêem. Nçyo testemu- so que o rebanho é composto de um grupo de ovelhas
nhtf d o poderdeJesus. Novo sofrimento, ao ser per- que não querem fugir, porque têm como centro o
seguido pelos inimigos do seu Salvador. Bom Pastor.
Podemos também estudar: Vemos neste trecho as características do verda-
1) O que lemos de Cristo. deiro pastor: 1) N à o é mercenário. 2) Ele mesmo é o
2) O que lemos d o cego. Salvador das ovelhas. 3) Ele dá sua vida por elas.
3) O que iemos dos fariseus. Notemos, referente à sua morte: que era voluntá-
^ 1) Pt Cristo lemos: a ) que viu o cego e compade- ria ( v . 18); que se realizava em obediência ao Pai (v.
ceu-se dele;1b) que sabia a origem e a razão do seu 18); que era agradável a Deus (v. 17) - (Goodman).
mal;Jc) que resolveu náo perder a oportunidade ( v . N o versículo 8 evidentemente devemos subenten-
4); d ) que empregou um meio estranho de curar£e) der palavras não exprt-ssas: "Todos quantos vieram
que ensinou o cego a fazer alguma c o i s a í ) f ) que pro- antes de mim (com pretensões de ser o Messias] sáo
curou o homem abandonado (2 T m 4.16,17) e o ins- ladrões e salteadores". Sabemos, pelo historiador Jo-
36truiu; g ) que admoestou os fariseus. »'- : ^ ( seio, que havia naquele tempo vários falsos Cristos.
Qo cego lemos: a) que obedeceu à ordem de (Veja-se também Atos 5.36,37).
que se lavassç no t a n q u e ; ^ ) que admitiu seu estado Cristo, a porta das ovelhas (v. 9). N o versículo 7
de cegueira:" c ) que testificou d o seu Salvador ( w . Jesus se declara Pastor das ovelhas (veja-se "Our
11.17); d ) que confessou que não sabia ( w . 12 e 25> e Translated Gospels". p. 108), mas aqui muda de fi-
que sabia ( w . 25,31.33); e ) que descreveu o milagre gura e se chama a porta pela qual as ovelhas podem
( v . 15); 0 que fez algumas perguntas ( w . 27.36); g ) entrar ( E l e nào diz para um curral), mas para um lu-
que sofreu perseguição: h) que creu e adorou ( v . 38). gar de salvação, de liberdade (entrará e sairá) e far-
3) Dos fariseus lemos: a) que indagaram a respei- tará.
to do milagre (v. 15); b) que reprovaram a Jesus (v. Mais uma vez vemos um conjunto de pessoas, as
16); c ) que chamaram os pais do cego ( w . 18,22); d ) ovelhas de Cristo, não agora cercadas por um curral,
que mentiram (v. 24); e ) que injuriaram o homem ( v . mas reunidas em torno de um Centro. Deuteronómio
28) e o perseguiram ( v . 34): 0 que perguntaram se 12.11 fala de um lugar onde havia de ser localizado o
eles mesmos eram cegos (40). culto de Jeová, e todo o Israel havia de chegar para
O dr. Scroggie faz sete divisões deste capitulo: esse lugar santo. O N . T . fala de uma Pessoa, e de
Beneficência (1-7). Surpresa (8.9). Investigação (10- discípulos congregados em seu nome - as ovelhas em
23). Confissão (24-33). Perseguição (34). Revelação torno do Bom Pastor.
(35-38). Condenação (39 a 10.21). Convém tomar sentido numa proposta emenda
Alguns pensamentos ligam se com o trecho 18- de tradução dos versículos 14, 15, devido a ter a pala-
41: a prudência dos pais, não querendo comprome- vra grega " k a i " dois sentidos, significando tanto e
ter-se para com os fariseus. M a s a prudência em cer- como também Assim devemos ler: "Eu sou o bom
tos casos pode ser excessiva. pastor e conheço as minhas ovelhas, e delas sou co-
"Uma coisa sei"(v. 25). Convém haver um teste- nhecido, como o Pai me conhece a mim e eu conheço
munho positivo de fatos sabidos. o Pai. E dou a minha vida pelas ovelhas".
O ódio dos fariseus (v. 28); o discurso do cego cu- Isto quer dizer a mesma compreensão, intimida-
rado ( w . 30-33). de. confiança e simpatia que existem entre o Pai e o
Vemos que uma pessoa, mesmo excomungada Filho pode haver entre o Bom Pastor e suas "ove-
pelos chefes religiosos, pode estar com o Senhor Je- lhas".
sus (v. 35). A Festa da Dedicação (22-42). Esta festa celebra-
Ver ou náo ver (39-41). " O Senhor, que não viera va-se durante uma semana, em dezembro. Fora ins-
ao mundo para julgá-lo, mas para o salvar, pode, tituída por Judas Macabeus em 165 a.C. para come-
pela sua presença nele. trazer-Ihe juízo. O resultado morar a purificação do templo (Scroggie).
espiritual é que os conscientemente cegos - os que Notemos referente ás ovelhas de Cristo que: 1)
por isso procuram a luz chegam a ver, enquanto os ouvem a sua voz; 2) Cristo as conhece; 3) seguem-no;
que alegam que vêem - os que possuem apenas a sa- 4) gozam da vida eterna.
bedoria deste mundo - ficam cegos. Os fariseus per- "Eu e o Pai somos um " A palavra " u m " é neu-
guntam qual a sua classificação com os cegos ou os tra. Náo significa, por isso, uma pessoa, pois isso re-
videntes? O Senhor responde que eles mesmos se queria o masculino. Sabemos que na divindade há
têm classificado, dizendo * V e m o s S e tivessem sido trés Pessoas mas um só Deus. " U m " significa uma
cegos, o seu pecado não teria permanecido" (Grant). substância com o Pai. Assim náo devemos confundir
as Pessoas ou dividir a substância (Goodman).
Capítulo 10 Neste trecho o Senhor Jesus declara definitiva-
mente que Ele é o Messias, mas também afirma que
Jesus, o Bom Pastor (1-21). Notemos as creden- o pecado impede a fé (v. 26).
ciais do verdadeiro pastor. 1) Ele entra no curral, Notemos a expressào: " A s obras de meu Pai". Os
isto é, a nação judaica, o povo eleito; 2) Ele entra milagres de beneficência eram obras do Pai, por se-
pela porta - por submissão à Lei, à circuncisão, o rem feitas em dependência do poder do Alto, por ex-
selo do velho concerto: 3) o porteiro, o Espirito San- pressarem o desejo do Pai em fazer bem aos homens;
to. abre-lhe a porta operando por João Batista: 4) por provarem que o Filho era a revelação do caráter e
Ele chama por nome as suas ovelhas, porque em Is- coração do Pai.
rael havia um restante piedoso para ouvir a sua voz; Vemos como os judeus queriam discutir com pe-
5) Ele tira as ovelhas para fora do curral do judaís- dradas. Quem não tem argumentos para apresentar
mo. costuma apresentar pedras.

381
Joiê

Capitulo 11 Aprendemos de Lucas 7.46 que náo era nada ex-


traordinário ungir a cabeça de uma visita, e em Joáo
" E n t r e Joào 10 e 11 vem Lucas 11.1 a 17.10. e os 13 e Lucas 7.44 lemos da lavagem dos pés. Essas pe-
acontecimentos narrados em Joáo 11 vêm entre os quenas atenções pessoais variam de acordo com os
versículos 10 e 11 He Lucas 17. A ressurreição de Lá- tempos e lugares. N o Brasil o uso é apenas tomar o
zaro ê o sétimo milagre registrado por Joào. A con- chapéu da visita, dar-lhe uma cadeira, e antes que se
trovérsia que foi começada em 5.1-18. e continuada retire oferecer-lhe café. N o interior é costume trazer-
em 5.19 a 10.42. é concluída nos capítulos l i e 12; e lhe á noite uma bacia com água para lavar os pés. N o
nesta conclusão vemos o amor que simpatiza (11.1- Japão emprestam chinelas ás visitas, a fim de que
37). a vida que salva (11.18 a 12.11) e a luz que brilha estas deixem o calçado enlameado fora da porta. [ O
(12.12-50). O capítulo 11 tem quatro partes princi- autor escreveu em 1942.)
pais. todas relacionadas com o milagre: sua ocasião Ê preciso não confundir este serviço de Maria de
(1-16). sua aproximação (17-32), seu cumprimento Betània com outro semelhante, feito muito antes em
(33-44). suas conseqüências (45-57)" (Scroggie). Naim por uma mulher pecadora cm casa de outro Si-
Jesus e Lázaro (1-18). O capitulo divide-se natu- mào. e relatado em Lucas 7
ralmente em três partes: a introdução (1-16): o sinal N o versículo 7 devemos ler provavelmente: "Por-
(17-45); as conseqüências (46-57). ventura para o dia da minha sepultura deve ela
Notemos algumas lições no começo do capitulo: guardar istu?" ( O . 61).
1) oração náo respondida (v. 3) nem sempre indica Ê somente Joáo que diz: que "encheu-se a casa
indiferença: 2 ) d e m o r a ( v . 6) náo importa falta de da cheiro do ungüento"; que a queixa de desperdício
simpatia; 3) o que nós chamamos calamidade, mui- foi de Judas: e que "para o dia da minha sepultura,
tas vezes é para a glória de Deus; o bem resulta do guardava isto".
mal. quando há verdadeira fé: 4) a fé é fortalecida
por seu exercício nos dias sombrios ( v . 15); 5) a cora- Notemos: 1) o testemunho silencioso de uma
gem tem sua oportunidade nos dias tristes ou perigo- nova vida em Lázaro; 2) serviço, em M a r t a ; 3) culto
sos ( v . 16) - (Goodman). e adoração, em Maria.
N o versículo I I devemos ler: "Por causa dele.
A s duas irmãs (19-37). Maria e Marta, fornecem- mais e mais criam em Jesus" ( O . 39).
nos um estudo. Devemos consultar Lucas 10.38-42
A entrada triunfal (12-19) é narrada pelos quatro
para completar o quadro, e ainda mais João 12.1-12.
evangelistas, mas é somente Joáo que menciona a
Vemos quão intimamente a vida e a ressurreição profecia de Zacarias 9.9. e diz que o movimento do
são identificadas com a pessoa do Salvador ( v . 25). povo foi por ter ouvido da ressurreição de Lázaro.
Marta parece sentir que a conversação estava Notemos: que a manifestação popular pode ser
passando além da sua compreensão, e achou melhor muito superficial; que é mais fácil dar a Jesus o titu-
chamar M a r i a para ajudá-la a responder convenien- lo de rei. do que submeter o coração ao seu senhorio;
temente. que Jesus náo reprova uma homenagem, embora sai-
A ressurreição de Lázaro (38-45). O milagre foi ba seu pouco valor; que até mesmo os discípulos nem
notável, por ser a ressurreição de um defunto de qua- sempre percebem o cumprimento de uma profecia;
tro dias! que um fariseu perverso pode ficar aborrecido ao ver
Nesta ocasião vemos: Jesus comovido (33) na O mundo ir após Cristo.
presença da morte; Jesus simpatizando ( v . 35) e
chorando com os que choram; Jesus pedindo que ti- O desejo dos gregas (20-36). Diz F W Grant: " O s
rem a pedra, porque Ele náo faz milagrosamente o gregos aqui não são judeus-helenistas, mas gentios,
que nós podemos fazer; Jesus orando e dando graças, embora adoradores do verdadeiro Deus revelado a Is-
na certeza de que o Pai o ouvia; Jesus mandando o rael". Eram prosélitos de entre os gregos. Ê d e notar
defunto sair do sepulcro; Jesus instruindo os amigos que vieram adorar no dia da festa, por isso náo eram
a libertarem o ressuscitado, como ainda hoje nos meros gentios pagáos.
manda libertar dos antigos embaraços mundanos as Queriam uma entrevista particular com Jesus, e
pessoas que dele receberam novidade de vida. podemos notar que ainda hoje há pessoas que dese-
Uma conspiração iníqua (46-57). Encontramos jam entrar em relações mais íntimas com Ele. Por
neste trecho: 1) Um reconhecimento notável: "Este quê?
homem faz muitos sinais", mas isso devia ter sido Vemos que Jesus se mostrou muito preocupado
motivo de investigarem cuidadosamente o mereci- com a morte que se lhe aproximava, de maneira que
mento de quem fazia. 2) Um receio fingido ( v . 48i, nada mais ouvimos sobre a entrevista com os gregos.
sem base. e ridículo. 3) Uma proposta iníqua, de sa- Notemos a afirmação principal do trecho: "É
crificar uma vida inocente para evitar uma compli- chegada a hora em que o Filho do homem há de ser
cação política. glorificado" (v. 23), e a preocupação de Jesus náo era
tanto com o fato e o processo da sua morte, mas com
Podemos estudar aqui diversas personalidades:
a consumação final. ( H á pessoas t i o preocupadas
crentes (45); portadores de noticias (46); conselhei-
com o ato de morrer, que pouco pensam no final.)
ros (47); Caifás (49.50).
Entendemos que:
Capitulo 12 1) Esta glorifícação somente podia ser mediante
a morte (v. 24).
Maria unge os pés de Jesus (1-11). Mateus e Mar- 2) Somente assim podia o celeiro de Deus ficar
cos também relataram este incidente. Relatam que a cheio de muito fruto (v. 24).
mulher ungiu a cabeça de Jesus, e nào falam dos pés; 3) Somente assim podia a honra de Deus ser rei-
Joáo nota que os pés foram ungidos, e náo fala da ca- vindicada, e o pecado expiado.
beça. Ê preciso combinar as duas narrativas para ter 4) Somente assim Ele podia ensinar aos homens
o incidente completo. o verdadeiro segredo da vida ( w . 25,26).

382
Joio

5) Somente assim podia ser rompido o poder de 1) O fim proposto: " p a r t e c o m i g o " . Os discípulos
Satanás ( v . 31). já conheciam Jesus como o " E m a n u e l " , Deus conos-
6) Somente assim podi.s Cristo atrair todos a si co. mas Ele quer que aprendam uma verdade ainda
( v . 32). mais preciosa: ".Vós com Ele" na intimidade da co-
7) Somente assim podia haver para nós a luz da munhão celestial.
vida (v. 35) - (Goodman). 2) O serviço necessário era de purificação e náo
C o m o versículo 25 o leitor estudioso pode come- de expiaçáo. Necessário porque Jesus ia para outra
çar a sua investigação das três palavras gregas tra- esfera e queria que os seus fossem preparados para
duzidas por vida: " p s y c h é " - vida animal; "bios" - estar naquele novo ambiente.
vida material, bens. etc., e " z o e " - geralmente vida 3) O adtquado para semelhante serviço è a hu-
abundante, espiritual. " Q u e m ama a sua " p s y c h é " mildade que nasce do amor; o espírito que tem seu
perdê-la-á. e quem neste mundo aborrece a sua prazer em servir e que náo poupa esforço: o espirito
" p s y c h é " guardá-la-á para a " z o e " eterna. Sempre que persiste até conseguir.
que a Escritura fala da " v i d a eterna" é " z o e " . Ou podemos fazer as seguintes divisões:
Devemos provavelmente ler no versículo 34: "Co- 1) As circunstâncias do ato. O ato foi praticado
mo dizes tu que convém que o Filho do homem vá em vista da sua partida: foi a expressão do amor que
embora'' Quem é esse Filho do homem?" i.O. 45). fazia questão de remover tudo quanto impedisse a
A Palavra escrita é como a palavra de Jesus (37- mais completa intimidade com o Salvador glorifica-
50). Isaías 6.9.10 é citado aqui pcr João. e em M a - do. O ato foi feito " d u r a n t e " a ceia pascal (não no
teus 13.14.15. Marcos 4.12 e Lucas 8.10 pelo Senhor fim dela), estando Judas ainda presente, antes de
Jesus. Em Atos 28.26,27 ó citado por Paulo. sua retirada e da instituição da Ceia do Senhor.
O sentido parece ser que náo podiam crer porque 2) A significação da lavagem dos pés é: que nosso
náo queriam crer; e pode também incluir o sentido trânsito pelo mundo inevitavelmente nos contami-
de que quando o coração náo deseja a verdade de na; que um crente, já " b a n h a d o " (v. 10) com a lava-
Deus. a inteligência náo consegue percebé-la. Certa- gem de regeneração ( T t 3.5). necessita a freqüente
mente náo ensina que Deus proíba alguns de serem lavagem de água pela Palavra; que o próprio Cristo
crentes, pois Ele quer que todos os homens se salvem se empenha neste serviço.
e venham ao conhecimento da verdade (1 T m 2.4). 3) A repetição do ato compele a nós (14.17). Po-
Aprendemos deste trecho: que um sinal nem demos e devemos lavar espiritualmente os pés uns
sempre produz fé (37); que então, como agora, havia aos outros (14). Para isso é necessário que tenhamos:
crentes medrosos ( v . 42); que Jesus era a perfeita re- a ) A água da Palavra ( E f 5.26).
velação do Pai ( v . 45); que os problemas espirituais b ) A bacia que contém a água. N á o é suficiente
se esclarecem na presença de Cristo (v. 46); que a haver a verdade na Bíblia: importa que esteja tam-
verdadeira " v i d a " é conhecida no caminho da obe- bém em nosso coração, disponível para o serviço.
diência (v. 50) c ) A toalha que conforta e consola depois da puri-
ficação. Com Jesus a toalha estava em evidência an-
Capítulo 13 tes que Ele começasse o serviço.
4) O valor deste incidente para nós (12-20). Deve-
Jesus lava os pés aos discipulits (1-11). Aqui te- mos estudar constantemente para ver como pode-
mos um bom exemplo da importância de se observar mos prestar igual serviço aos nossos irmãos. Pode-
o contexto para entendermos a significação de um mos lavar os pés uns dos outros pela exortação, apli-
trecho da Escritura. cando as verdades da Palavra á vida diária do cren-
O contexto, no caso deste ato da lavagem dos pés. te.
é o que lemos nos versículos 1-3. Aii aprendemos que A palavra que Jesus dirigiu a Pedro: "O que eu
Jesus praticou o ato: (1) em vista da sua partida faço, não o sabes tu agora" (v. 7). demonstra que a
para o Pai; (2) como prova do seu amor; (3) no pleno lavagem dos pés tinha um sentido profundamente
reconhecimento de todo o seu poder divino; (4) no espiritual, que só mais tarde Pedro havia de com-
cumprimento da sua missão. preender.
Assim o ato se reveste de significação muito mais Jesus prediz que Judas o há de trair (21-30). Este
profunda do que um simples exemplo de humildade. fato é referido por todos os quatro evangelistas; por
A chave está no versículo 8 nas palavras "parte Mateus e Marcos quase nas mesmas palavras. N o
comigo" Durante os t rês anos do seu ministério. Je- versículo 27 Satanás é mencionado pela única vez
sus tinha tido parte com seus discípulos em todas as neste evangelho. Entendemos que Judas não tomou
circunstâncias humildes da sua vida diária: comeu, parte na Ceia, e alguns depreendem do versículo 29
viajou, e dormiu com eles Agora a cena vai mudar. que nem participou da festa pascal.
Ele se retira para a casa do Pai. Para os discípulos
O novo mandamento (31-35) ensina o amor fra-
terem comunhão com Ele no palácio celestial, é ne-
ternal entre os crentes. Este amor deve ser o distinti-
cessário "outro asseio", espiritualmente falando, e.
vo dos crentes em todos os tempos e em todo6 os lu-
mais particularmente, purificação da contaminação
gares. E consolidado pelo fato de terem todos o mes-
inevitável que resulta do trânsito pelo mundo. A fi-
mo Salvador, o mesmo interesse, o mesmo recurso, o
gura é de uma contaminação incidental: náo do pe-
mesmo serviço ( o de promover os interesses do rei-
cado, que é purificação com sangue e não com água
no), o mesmo Espírito, o mesmo destino. Cuidemos
(1 Jo 1.7).
que este amor para com a irmandade cristã não seja
N o versículo 10 devemos ler "aquele que tomou trocado por um amor ao partido, um amor á nossa
banho". Conferir T i t o 3.5. igreja, um amor egoísta ou interesseiro.
Podemos dividir nosso estudo deste precioso inci- Pedro é avisado (36-38). Devemos aprender: a
dente de diversas maneiras. Por exemplo: não confiar era nós mesmos; que é possível um discí-

383
pulo fervoroso negar seu Senhor; que Deus sabe levar 0 fim do versículo 31 deve ser: "Levantar-me-et e
os seus ao arrependimento, até por meio do cantar de irei embora" ( O . 135).
um galo!
Capitulo 15
Capitulo 14
Cristo, a videira (1-9). "Aprendemosde 14.31 que
O Pai revelado no Filho (1-15). O ensino deste Cristo e seus discipulos saindo do Cenáculo, prova-
trecho é importante, porque a vista ia dar lugar à fé. velmente passaram pelo templo, e a videira de ouro
Assim Jesus ensina aos discipulos que. da mesma sobre as portas sugeriu esta grande lição de união vi-
maneira que Deus havia sido o objetivo da fé deles. tal do crente com seu Senhor. Devemos distinguir
Eie futuramente o havia de ser também (v. 1). entre o viticultor, a videira, e as varas... Havemos de
A significação das "muitas moradas pode ser de entender mal esta parábola se não reconhecermos
acordo com Hebreus 12.22/23. que parece mostrar que abrange a todos os que fazem uma profissão do
haver nos céus vários grupos de abençoados, mas que cristianismo, como também acontece com a parábo
um lugar especial está reservado para a Igreja de ln das virgens. Somente assim podemos entender o
Cristo. versículo 6 " (Scroggie).
O versículo 6 tem sido traduzido "Eu sou o cami- Israel era a vinha que Deus trouxera do Egito (Sl
nho verdadeiro e vivo", segundo a figura grega 80.8-16), mas que não deu fruto (Is 5.2). Agora Cristo
" h e n d í a d i s " . que. para reforçar uma afírmaçáo, em- se apresenta como a videira. e ensina que, para ha-
prega substantivos em lugar de adjetivos ( N e t l ) . ver fruto aceitável a Deus. devemos permanecer em
Cristo é a entrada para o caminho; Ele é o pró- intima relação com Ele.
prio caminho, e é também o término do caminho. Este capitulo divide-se em três partes. Dos versi•
Neste trecho temos o precioso ensino de que, em culos 1-8 a chave é a palavra permanecer; de 9-17 é
Cristo, o Pai é revelado, e que quem conhece a graça, amor; de 18-27 é aborrecer (Goodman).
a compaixão, o amor e a santidade do Filho conhece "Fruto" náo é, necessariamente, almas converti-
também o caráter do Pai. das por nosso testemunho. E a natureza e valor da
"Vir ao Pai" (v. 6) nào quer dizer ir ao Céu depois videira manifesto nas varas. É Cristo visto naqueles
desta vida. mas entrar em relações com Deus como que permanecem em comunhão com Ele.
Pai agora. A figura da videira e das varas não pode exempli-
Devemos ler no versículo?: "Se vós meconheceis ficar toda a verdade de Deus. Por exemplo, nào pode
a mim. também conheceis a meu Pai" (O. 45). exemplificar a restauração de um crente desviado.
Notemos nos versículos 13,14 o que significa pe- Para isso precisamos recorrer a outra figura: a do
dir em nome de Jesus: é pedir qualquer coisa que te- Pastor e a ovelha extraviada.
mos a certeza de ser do agrado dele, "para que o Pai A videira é a figura natural da dependência, pois
seja glorifiçado no Filho". depende permanentemente dos cuidados do viticul-
A promessa do Consolador (16-31). Notemos no tor.
versículo 16 as trés pessoas da Trindade: Pai. Filho e Cristo e seus amigos (9-17). Notemos neste tre-
Espirito Santo. Sem hesitação e sem dúvida, Jesus cho: o caráter do amor de Cristo para com seus ami-
se coloca como integrante da divindade. gos: a condição para continuarem no seu amor; que a
Notemos os três títulos do Espírito: Consolador obediência resulta em gozo; que o amor de Cristo é o
( v . 16.26); Espirito de Verdade (v. 17) e Espirito modelo para o nosso amor fraternal: que Cristo quer
Santo (v. 26). Que significa para nós cada um destes ter-nos mais como amigos do que servos; que a prova
títulos? dessa amizade é que Eie nos revela seus planos e pro-
" A s palavras com que o Senhor se refere ao Espi - pósitos: que, atendidas determinadas condições ( w .
rito neste último discurso são geralmente aceitas 7.16), as nossas orações serão ouvidas.
como base da nossa confiança na inspiração do N o v o N o versículo 16 devemos ler "para que vades e
Testamento: 1) 'Ele vos fará lembrar tudo quanto deis cada vez mais fruto" (O. 40).
ÍXJS tenho dito', cumpriu-se na fiel recordação dos A igreja no mundo (18-27). As divisões sào: 1-11 -
quatro evangelhos. 2) 'Ele vos ensinará todas as coi- os discípulos e Cristo; 12-17 - os discípulos e seus
sas' (14.26); 'vos guiará em toda a verdade' (16.13). companheiros: 18-27 - os discipulos e o mundo.
Isto justifica nossa confiança no ensino das epístolas. Aprendemos deste trecho que nào devemos espe-
3) Ele vos anunciará as coutas que háo de vir' rar melhor tratamento por parte do mundo do que
(16.13). Isto refere-se às profecias do Apocalipse" Cristo recebeu. Parece-nos estranho que haja tanto
(Goodman). ódio para com aqueles que representam Cristo neste
T ã o perto da cruz, Jesus podia falar de glória, mundo. Como se explica? É ó d i o sem causa (v. 25),
paz e gozo. N o meio da confusão. Ele estava calmo. que existe porque o Coração natural é inimizade con-
Na hora em que o ódio humano chegava ao seu auge, tra Deus ( w . 23.24) e porque palavras santas conde-
Ele descansava no amor do Pai. nam o pecado do mundo ( w . 22-24); é por causa do
E nós. porventura, vivemos sob a influência do nome de Cristo" (v. 21) e pelo desconhecimento de
que vemos em Deus? ou do que vemos nos homens? Deus por parte do mundo.
Devemos ler nos versículos 17.19: "Vós o conhe-
cereis, pois ficará convosco e em vós.. Ainda um Capítulo 16
pouco e o mundo não me verá mais, mas vós me ve-
rei*" ( O . 49). O Espirito no mundo e na igreja (1-15). Vemos
Uma tradução ao pé da letra do versículo 27 se- neste trecho algumas características do mundo reli-
ria: " . . . não como o mundo dá, eu vos dou". Não há gioso. Persegue e mata os discípulos de Cristo, e ima-
nada no original que diga que o mundo nos dê paz. gina que assim serve a Deus! Para nào cairmos no

384'
Joio
mesmo erro, precisamos tomar conhecimento do Pai O versículo 23 ensina-nos que agora toda oração
e do Filho (v. 3). deve ser feita em nome de Cristo - isto é, de acordo
O versículo 4 mostra o caráter especial do ensino com a sua vontade e para sua glória.
destes capítulos, tendo em vista a partida de Cristo. " O Senhor fala novamente da sua partida, em
N o versículo 5 devemos ler: "Nenhum de vós termos que as suas palavras prévias esclarecem. Ele
deve perguntar me Para onde vais?" (O. 50). ia realmente para o Pai. e contudo, pelu vinda do
N o versículo 7 temos mais ensinos importantes Espirito, havia de estar outra vez com eles, pois.
referentes ao Espirito Santo. N o versículo8 devemos como dissera, nesse dia haviam de compreender,
ler. que Ele argãirá o mundo do pecado, da justiça, e como nunca antes, que Ele estava no Pai. e eles nele.
do juízo. e Ele neles. Mas as suas palavras apenas demons-
Percebemos que esta argüiçáo do mundo é inti- tram que eles estão preocupados com a misteriosa
mamente ligada, pelo Espirito Santo, com o teste tristeza da sua partida - a partida de quem viera ao
munho de Cristo. O Espirito Santo procura preocu- mundo para trazer a esperada bem-^venturança. e
par o homem com Cristo em toda a sua perfeição e que ia embora, com esse fim. aparentemente, ainda
santidade, e. na presença de Cristo, o coração since sem realizar, deixando-os decepcionados! A tristeza
ro reconhece-se pecador ( L c 5.8). Se o homem conti- do momento era-lhes demasiadamente pesada para
nua descrente, seu pecado fica; mas se crê no Salva- que compreendessem devidamente a esperança fu
dor. resulta-lhe salvação. lura. A tristeza lhes era real; a esperança, para eles,
O Espirito testifica também da justiça, compro- era problemática" (Grani)
vada pelo fato de Cristo voltar ao Pai. depois de con-
sumada a obra redentora. E do juízo passado, nào Capitulo 17
futuro - em que o príncipe do mundo, Satanás. é jul
gado e aniquilado ( H b 2.14) por Cristo. Depois de ter falado tanto com os discipulos. Je-
Este trecho ocupa-nos com o Espirito Santo sus termina com esta incomparável oração ao Pai.
como Ensinador. e Ele serve-se, como instrumentos Ê um grande privilégio ser-nos permitido ouvir as
e porta-vozes do seu ensino, de crentes submissos á grandes almas em oração; contudo, nào devemos
sua influência. Ele ensina o mundo e a Igreja. imitar-lhes a linguagem sem partilhar do seu espiri-
Seu testemunho ao mundo é referido por Jesus to.
em Joáo 16-8-11 em três partes: pecado, justiça e juí- Notemos os pensamentos principais desta oração
zo. Na nossa compreensão destes versículos precisa- única: revelação (1-5); conservação (6-16); santifica-
mos subentender certos fatos para melhor entender ção (1--19): unificação (20-23); glorificação (24.26).
seu sentido O Espírito convencerá (argüirá) o mun- N nossa meditação sobre a oração deste capitu-
do: lo. podemos estudar:
a ) "do pecado", porque os mundanos sáo geral- 1) Cristo orando por si.
mente como o doente que nào percebe a gravidade 2) Cristo orando pelos discipulos.
do seu mal. Muitas vezes é preciso convencê-lo da 3) Cristo orando pela Igreja em todo o tempo.
sua doença para que ele sinta a necessidade do médi- 1) Cristo ora por st (1-5). Notemos em primeiro
co. O mundo necessita ser argüido do pecado porque lugar que Ele olha além da Cruz. como que vendo a
nào compreende a sua gravidade; está habituado grande obra redentora já consumada (v.4). Notemo>
com ele e nào aspira à santidade; nào se lembra que também que esta oração foi feita na presença dos
pode haver castigo futuro discipulos e para sua instrução (como também no
b) "da justiça", que dá a todos, desde o próprio capitulo 11.42). Nào devemos pensar que o versículo
Deus. o que lhes é devido. A ascensão de Jesus á casa 3 se destinasse a prestar informações ao Pai. mas sim
do Pai foi, por assim dizer, a consumação da justiça; aos discipulos.
foi o que lhe era devido em virtude da sua vida ima- Nesta parte da oraçào Cristo pede para ser "glo-
culada, da glória do Pai reivindicada, da expiação rificado" outra vez na presença do Pai. por ter glori-
consumada. ficado o Pai aqui na presença dos homens.
c ) "do juízo" Parece-nos que aqui o Senhor Je- 2) Ora pelos discipulos (6-19). Cristo declara: a )
sus está contemplando a plena consumação da obra ter-lhes manifestado o " n o m e " do Pai. dando-lhes as
redentora da qual o Espirito Santo testificará, o que "palavras" do Pai; b) estarem eles ainda no mundo
inclui o julgamento do "príncipe deste mundo", Sa- e. por isso, necessitados da proteção divina; c ) não
tanás. serem eles do mundo, sendo, em conseqüência, odia-
O Espirito ensina a igreja por intermédio daque- dos pelo mundo, mas, mesmo assim, enviados ao
les a quem dá dons espirituais, fazendo lembrar "tu- mundo.
do quanto vos tenho dito" e aplicar essas verdades à E pede que sejam guardados ( v . l i ) em unidade;
vida atual. Ele também "anuncia as coisas que hão ' libertados do mal (v. 15): santificados (v. 17) na ver-
de vir" (João 16.13). Ele sempre glorifica a Jesus, e dade.
assim podemos reconhecer o ensino que é no poder Devemos entender a palavra santificar no versí-
do Espírito de Deus (v. 14). culo 19 no sentido de con.sagrar ou dedicar.
Palavras finais (16.33). O versículo 20 descreve 3) Orando pela Igreja em todo o tempo (20-26).
em linguagem viva os efeitos da morte e ressurreição Cristo declara ter dado aos seus a glória que Deus lhe
de Cristo sobre os discipulos: tristeza, choro, lamen- deu, e em seguida explica que a " g l ó r i a " que Ele ti
tação, logo transformados em gozo permanente (v. nha neste mundo era "Tu em mim", e que a glória
22). E nós também nos regozijamos porque Cristo vi- que é nossa é "Cristo em nós" (v. 23); declara: ser
ve? Notemos como, durante esta última semana, tão sua vontade ter os seus eternamente com Ele; que o
cheia de motivos de tristeza. Jesus falou mais em mundo náo o descobrira; que fizera conhecer o nome
"gozo". de Deus aos seus.

385
Joio
Ele pede pelos seus que " s e j a m u m " , para que ção: violência ilegal e afrontosa da parte de um cria-
este testemunho unido convença o mundo, e que os do bastante atrevido (v. 22); precaução hipócrita.
seus estejam com Ele. mandando maniatar Jesus ( w 12,24).
Sobre os versículos 21-23 diz F. W. Grant: " E s t a Em -Jesus vçmos; submissão, prudência (calan-
é a unidade na vida prática, unidade de coraçáo e do-se com respeito aos discípulos); sabedoria em exi-
mente, tal como subsiste entre o Pai e o Filho: uni- gir testemunhas; paciência quando insultado.
dade que o mundo pode ver. de maneira a ser por ela Perante Pilatos (28-40). Nesta altura João dá
levado á fé. Claro que o mundo inteiro não crerá. mais detalhes do que os outros evangelistas. Note-
mas em todos os tempos homens do mundo tém sido mos as duas perguntas: "Fs tu rei?" e "Que ê a ver-
influenciados por essa unidade. Náo fala aqui na dade?"
Igreja, que não se encontra em João, embora, sem Jesus confessou que era rei. mas náo deste mun-
dúvida, cada brecha na unidade da Igreja começou do. Ele náo tratou de instruir Pilatos referentemente
como uma brecha na vida prática. A vida adquire à verdade ( E l e mesmo era a verdade) porque Pilatos
seu caráter da verdade aprendida, e a expressão náo tinha desejo de obedecer á verdade.
" u m em nós" mostra que se refere a uma vida de co-
A escolha do versículo 40 era entre um roubador e
munhão com o Pai e o Filho. Que testemunho glorio-
um Redentor.
so! Que testemunho àquele que pode operar em gen-
te como nós somos!"
Capitulo 19

Capitulo 18 Eis aqui o vosso rei! (1-16). A conduta de Pilatos


parece-nos cada vez mais repreensivel. Submete o
Jesus preso em Getsémane (1-11). Comparando preso, contra quem nenhuma acusação prevalecera,
este com os outros evangelhos, notamos o quanto a cruel tortura com açoites, e logo em seguida admi-
João omite de tudo que se passou no jardim. Aqui te "náo achi» nele crime algum ". N e l e vemos o cú-
nada lemos do desejo do Salvador pela companhia mulo da infâmia de um déspota que não tem o senso
dos discípulos, nem da agonia, nem da oração, nem de responsabilidade da posição que ocupa. Contudo,
da reprovação dos sonolentos. mas vemos a majesta- podemos entender que Pilatos esperava contentar os
de do Filho de Deus. perante quem os inimigos re- judeus por esta exibição de crueldade contra um pre-
cuam e caem. Faz-nos lembrar as palavras proféti- so inocente. Ele começou com uma condescendência
cas do Salmo 27.2: " Q u a n d o os malvados, meus ad- às exigências dos judeus, em vez de agir com justiça
versáriu* e inimigos, investiram contra mim. para e imparcialidade, e. afinal, foi levado ao extremo ( v .
comerem as minhas carnes, tropeçaram e caíram". 16).
Pedro, corajoso e atirado, porém errado como
quase sempre, pretende defender a Cristo com a es- Devemos ler o versículo 11 como Fig. e V.B. -
pada. Desde então, quantas vezes homens entusias- "Por isso aquele que me entregou " - o sumo sacerdo-
mados pela verdade tém tomado a espada para de- te: todo o Sinédrio - tem maior culpa, porque se ser-
fender o cristianismo! Outras religiões, notavelmen- viu do braço secular - a potestade superior ordenada
te o maometismo. tém progredido pela espada. M a s por Deus ( R m 13.1) para conseguir seu fim iníquo.
o verdadeiro cristianismo tem vencido pela abnega- E m tempos mais recentes, presenciamos um cri-
ção, pelo sofrimento e pelo altruísmo. me análogo quando a " S a n t a " ( ? ) Inquisição entre-
gava suas vítimas ao "braço secular" para serem
Notemos os acontecimentos deste trecho: Jesus
queimadas, servindo-se, assim, de uma instituição
apresenta-se aos inimigos (v 5): revela sua majesta-
divina, o governo civil, para consumar um pecado re-
de ( v . 6); cuida dos seus <v. 8); repara o erro de Pedro
ligioso.
( v . 11; Lc 22.51); submete-se á vontade do Pai; en-
trega-se aos homens malvados. Notemos como a loucura do povo chegou ao auge
Jesus perante o sumo sacerdote (12-27). N o versi da vileza ao asseverar: "Não temos outro rei senão
culo 12 lemos de três classes de gente: a coorfe - a César", abraçando assim o domínio estrangeiro que
tropa de soldados romanos: o tribuno - oficial ou o avassalava.
magistrado; e os servos dos judeus, isto é. dos sacer- A crucifixão (17-37). Aqui também João relata
dotes (v. 3). algumas coisas que os outros omitem. Em vez de fa-
As três partes do processo eclesiástico foram: pe- lar de Si mão levar a cruz. diz: "e levando Ele às cos-
rante Anás (v. 13), perante Caifás (v. 24), e perante o tas a sua cruz", o que nos leva a entender que so-
Sinédrio ( M t 26.59 63 e M c 14.55-61). Esta última mente depois chamaram Simão.
náo é referida por João. João fala muito mais detalhadamente que os ou-
tros sobre a repartição dos vestidos. Os versículos 25-
"Anás. o filho de Sete. foi nomeado sumo sacer-
27. e 31.37 são só de João.
dote por Quirinio em 7 d.C. e deposto em 15 ou 23.
Das palavras do Senhor proferidas na cruz, João
Perdeu o cargo, mas não o poder, pois cinco de seus
.não menciona nenhuma daquelas que os outros
filhos exerceram o cargo de sumo sacerdote, como
evangelistas relatam. Mas acrescenta mais três: a
também seu genro Caifás" (Peq. Dic. Bíb.)
Maria - "Eis o teu filho"e a João - "Eis a(tua mãe";
A maior parte deste trecho ocupa-se com Pedro. e - "Tenho sede". - "Está consumado".
Vemos nele um complexo de coragem e de covardia.
Bullinger traduz o versículo 16 assim: "Quando o
Pedro começou a cair quando escolheu a companhia
crucificaram, e com ele outros dois de cada lado. e
dos mundanos, em vez de colocar-se abertamente ao
Jesus no meio" (J. 347).
lado de Cristo.
Notemos as escrituras cumpridas neste capitulo,
Nos adversários de Jesus vemos: insensibilidade e referidas nos versículos 24, 28, 36. 37.
espiritual - resultado, talvez, de um longo período de N o versículo 35 devemos ler: "e sei que é verda-
declínio; astúcia maliciosa - interrogando acerca dos de" ( O . 50).
discípulos, a firo de os envolver na meama condena- A sepultura (38-42). João diz que José era discí-

386
Joio

pulo "oculto " Nicodemos aparece de novo. para em- trecho, o nome que se repete é o de T o m é . Percebe-
balsamar o corpo daquele que lhe falara da "vida mos logo a diferença entre estas manifestações á co-
r terna"! letividade reunida em dois domingos sucessivos, e as
" A história de Nicodemos resume-se em três fra- outras manifestações particulares. Faz-nos pensar
ses: desejo de Cristo (3.1-21); defesa de Cristo (7.45- em Mateus 18.20, pois aqui também vemos Jesus
52); dedicação a Cristo (19.39)" (Scroggie). "no meio".
Das dez manifestações do Senhor ressurreto aos
Capitulo 20
seus discípulos, cinco foram no domingo da ressur-
A ressurreição (1-10). Este trecho trata principal- reição. Destas cinco, este capitulo recorda a primei-
mente de Pedro e João, e o que segue trata mais de ra. a Maria (vv. 14-18), e a última, aos discípulos
Maria Madalena. reunidos (19-23). Entre estas estão as manifestações
O fato (á primeira vista insignificante) de João a certas mulheres ( M t 28.8-10). a Pedro ( L c 24.34). e
ter corrido mais do que Pedro, fala eloqüentemente aos dois de caminho para Emaús ( L c 24.13.31) -
da comoção espiritual de ambos. Que tinha aconte- (Scroggie).
cido no sepulcro? N e m um momento queriam perder E escusado investigar a maneira pela qual nosso
para verificarem. Parecia-lhes que agora começa- Senhor entrou na sala com portas fechadas (v. 19).
vam a entender aquela» estranhas palavra» de Mar- A manifestação de Cristo no meio dos crentes
cos 8.31: "Depois de três dias ressuscitarei..." reunidos pode ser bem mais importante do que a i
João foi o mais ligeiro. Pedro o mais atirado, pois manifestações individuais. T o m é perdeu muito por
entrou no sepulcro e viu os lençóis e o pano da cabe- não estar com os outros crentes reunidos nesse do-
ça dispostos como antes, faltando somente o corpo mingo.
que haviam envolvido. Êassim que os mais instrui A primeira "Paz seja convosco" bem pode ser a
dos têm interpretado a linguagem dos versículos 6 e saudação de costume, mas a repetição dessas pala
7. vras ( v . 21) permite-nos dar-lhes uma significação
T i n h a m visto o suficiente para produzir-lhes im- mais profunda.
pressão profunda, e voltaram à casa para pondera- Assim notamos que o Senhor: a ) saudou com paz
rem o caso. os discípulos; b) enviou-os, como o Pai o enviara; c )
Jesus aparece a Maria Madalena (11-18). Entre- conferiu-lhes poder espiritual; d ) deu-lhes autorida-
tanto. Maria ficou ali. e. chorando, olhou novamente de para perdoar e reter pecados.
para o sepulcro. Então viu os dois anjos sentados. A autoridade aqui concedida, de perdoar peca-
Ainda hoje é assim; uns percebem o material - len- dos. náo é absoluta, mas declarativa, como o sumo
çóis; e outros o espiritual os anjos. sacerdote no V T . declarava alguém limpo da lepra
Podemos reconstituir a cena: os anjos acham des- Ê Deus, que purifica da lepra e perdoa os peca-
cabidas essas lágrimas na manhã da ressurreição. dos. mas em qualquer dos casos o fato podia ser de-
Maria explica, e esta diz "meu Senhor", e não " o Se- clarado por seus representantes (Gray).
nhor", como no versículo 2. • Devemos notar que o versículo 31 é a chave do
E em seguida ela volta-se para trás. Por quê? Evangelho de S. João.
T a l v e z tenha ouvido uma pisada nas folhas secas,
ou. mais provável ainda, percebe um aspecto de re- Capitulo 21
conhecimento e prazer no semblante dos anjos, e
vira-se para ver o que enxergavam atrás dela. Junto ao mar da Galiléia (1-25). A cena muda de
Mas com lágrimas nos olhos apenas vê um vulto Jerusalém para o mar da Galiléia. e ali Jesus se ma-
que pode bem ser o do hortelão. e novamente vira-se nifesta a oito discípulos que estavam na pesca. Foi
para os anjos. em obediência às palavras de Jesus que voltaram à
Atwim, com as costas voltadas para Jesus, ela Galiléia ( M t 26.32; 28.7,10).
fala ao hortelão: "Senhor, se tu o levaste, dize-me O dr. Scroggie divide esté capítulo assim:
onde o puseste. e eu o levarei". N e m um nome men- O Senhor ressuscitado cuida dos discípulos reu-
ciona; Ele era tudo para eia. nidos (1-14). dando-lhes: a) uma liçáo: b) uma refei-
"Maria'" Essa voz é inconfundível. Volta-se defi- ção.
nitivamente dos anjos para Jesus, e responde com O Senhor ressuscitado cuida individualmente
uma só palavra: "Rabboni!" isto ê. "Mestre!" dos discípulos (15-23) - a ) de Pedro (15-19); b) de
Comparemos "Não me toques" (v. 17) com o Joáo (20-23).
versículo '27 e Mateus 28.9 e vemos que os fatos va- Conclusão (24/25).
riam. tratando-se de outras pessoas e em outras cir- A narrativa aqui nos exorta ao menos a quatro
cunstâncias. coisas, carecendo das quais somos individual e cole-
Ê difícil interpretar este versículo 17. O dr. Ryle tivamente ineficientes.
oferece uma paráfrase: " N ã o vou subir já ao lugar Estas coisas são: a ) confiança (1-14); b) amor
onde está meu Pai. N á o subirei senão daqui a 40 (15-17); c ) coragem (18,19); d ) paciência (20-23).
dias. Resta pois muito tempo para que me toquem. "A terceira vez" ( v . 14) refere-se às manifesta-
Ouve-me e me fala! Não gastes estes momentos tào ções aos grupos de discípulos, e náo inclui as mani-
preciosos em demonstrar-me teu afeto, mas levanta - festações aos indivíduos ou a dois deles.
te. sem perda de tempo, e vai dizer aos irmãos que Parece que os dois últimos versículos náo foram
Eu ressuscitei". escritos por João. Notemos as palavras "nós" e
Jesus aparece aos onze (19-31). Neste terceiro "seu" (Scroggie).

387
titulo " A t o s dos Após- Centro - Jerusalém
tolos" náo é muito 1.1. Formação da Igreja (1.12 a 2.4).
bem aplicado, porque 1.2. Testemunho da Igreja (2.5 a cap. 3).
o livro se ocupa ape- 1.3. Oposição á Igreja (cap. 4 a 5.10).
nas com dois deles, 1.4. Prosperidade da Igreja (5.11-42).
Pedro e Era conhecido em tempos antigos 1.5. Administração da Igreja (6.1-6).
como " O do Espírito Santo" e "O Evan- 1.6. Perseguição da Igreja (6.7 a 8.4).
gelhos . mas seu titulo mais acertado
é "At< ressurgido e glorificado". O capi- 2. O período transicional do testemunho da Igreja
tulo 1.1 a mensagem do livro. Os evangelhos (8.5 a 12)
sua vida no
Espírito (Lee).
Centro - Antioqma
Escritor. Em Atos dos Apóstolos Lucas continua
o relatório do Cristianismo começado no Evangelho 2.1. Filipe prepara um testemunho mais amplo
que traz o seu nome. N o "primeiro tratado"ele rela- (8.5-40).
ta o que Jesus "começou não só a fazer mas a ensi- 2.2. Paulo prepara um testemunho mais amplo
nar": em Atos dtstreve o que Joüé cvntinuvu a íuzêr (9.1-31).
e ensinar pelo seu Espírito. 2.3. Pedro prepara um testemunho mais amplo
Data. O livro dos Atos termina com a narrativa (9.32 a 10.48).
do primeiro ministério de Paulo em Roma. em 65 2.4. Os apóstolos preparam um testemunho mais
d.C. e parece ter sido escrito nesses tempos. amplo (cap. 11).
Tema. Este livro relata a ascensão e a promessa 2.5. A Igreja prepara um testemunho mais amplo
da volta do Senhor Jesus, a descida do Espírito San- (cap. 12).
to no Pentecoste. o uso das "chaves" por Pedro, 3 . 0 período gentilico do testemunho da Igreja
abrindo o reino (considerado como a esfera de profis- (cap. 13 a 28)
sAo como em Mateus 13) aos judeus no Pentecoste, e
aos gentios na casa de Cornéiio. Relata ainda o co-
meço da Igreja cristã, e a conversão e ministério de Centro - Roma
Paulo. 3.1. Atividade incansável de Paulo (cap. 13 a 21.16)
O Espírito Santo enche a cena. Como nos evange-
lhos. a presença do Filho, revelando e exaltando o 3.1.1. Sua primeira viagem missionária (cap.
Pai. é o fato principal, assim a presença do Espirito 13 a 15.35).
Santo, exaltando e revelando o Filho, é o grande fato 3.1.2. Sua segunda viagem missionária (cap.
de Atos (Scofield). 15.36 a 18.22).
3.1.3. Sua terceira viagem missionária (cap.
A N A L I S E DE A T O S 18.23 a 21.16).
3.2. Prisão frutífera de Paulo (cap. 21.17 a 28).
Introdução (1.1-11) 3.2.1. Era Jerusalém (21.17 a 23.22).
l . O período hebraico do testemunho da Igreja 3.2.2. Em Cesaréia (23.23 a 26.32).
pregando a Cristo (1.12 a 8.4) 3.2.3. Em Roma (caps. 27 e 28) - (Scroggie).

389'
Atot

A M E N S A G E M DO U V R O DOS A T O S O versículo 18 dá-nos a idéia de que a corda com


que Judas se enforcou partiu-se depois de ele estar
Qual é o escopo deste livro, que liga os evangelhos morto, precipitando-o no cháo.
com as epístolas? T e m - s e dito que é: " a origem e Notemos neste trecho: a ) a inspiração das Escri-
progresso do cristianismo desde a capital do judaís- turas - Davi falou pelo Espirito Santo, b ) O fato da
mo até a capital do paganismo": e também: " o s profecia - Davi falou concernente a Judas com mil
atos do Salvador glorificado formando e treinando a anos de antecedência c ) A queda por transgressão.
sua Igreja". Este último está mais de acordo com o provando que os iníquos não podem ser servos de
que o próprio livro afirma de si mesmo. Deus. d ) A escolha feita por sorte. O Velho Testa-
N o Evangelho de Lucas temos a narrativa daqui- mento refere-se a este meio de decidir as questões
lo que Jesus fez, Ele próprio, e, em Atos, do que fez ( P v 16.33; 18.18). Depois da descida do Espírito San-
por intermédio de outras pessoas. Cristo, mais do t'> nunca mais lemos de lançarem sortes, e ) A esco-
que a Igreja, é o assunto, porque é Ele o autor, a auto- lha de Matias. que náo foi feita pedindo-se a aprova-
ridade da obra, enquanto a Igreja é apenas o instru- ção de Deus (v. 24). Acharam dois que estavam nas
mento. Isto compreendido, muitas dificuldades dei- condições indicadas: "que conviveram conosco todo
xarão de existir, tais como: por que os discursos são o tempo" (v. 21) e, por meio de sortes, foi escolhido
resumidos: por que viagens longas são referidas em Matias e náo José (Goodman).
poucas palavras: por que faltam detalhes de grandes O parecer do dr. Campbell Morgan sobre este tre-
períodos de serviço em certos centros; e por que o li- cho é diferente, mas merece atenção:
vro termina não inopinadamente. " E s t e s homens não entenderam. A m a v a m o Se-
O sentido do livro náo é tanto biográfico ou histó- nhor, eram leais a Ele. amavam-se uns aos outros,
rico, mas espiritual, e seu propósito dominante é re- amavam as Escrituras e tinham chegado a uma nova
latar o que o Senhor ressurreto fez por muitos servos apreciação delas, mas ainda nào estavam prepara-
em muitos lugares e em beneficio de muita gente, dos para seu trabalho, porque náo tinham percebido
pelo seu Espírito. Isso demonstrado, o propósito do o que seria... Ignoravam absolutamente o próximo
livro estava realizado, e a pena foi posta ao lado. N á o passo no programa de Deus, e nunca o entenderam
há nenhuma conclusão formal do livro, que fica antes do Pentecoste e da interpretação pelo Espirito
aberto e incompleto, porque a grande obra começada de todas as coisas que Jesus tinha dito.
náo terminou com a prisão de Paulo. Ainda conti- " N o t e m o s a sua conseqüente incapacidade de
nua, e durante todos os tempos o Cristo glorificado executar a comissão divina. Jesus lhes tinha dito que
nunca tem cessado de operar por meio dos seus remi- seriam testemunhas Mas aqui estão no Cenáculo de
dos (Scroggie). comum acordo; continuando em oração: alegres no
seu companheirismo; constantes na sua lealdade,
Capítulo 1 mas incapazes de testemunhar. N á o podiam dar tes-
temunho de Jesus a não ser depois de Pentecoste.
A ascensão (1-14). Notemos neste trecho; a) A s " E outra vez - este é um ponto de interpretação
provas infalíveis da ressurreição, dadas, náo em uma bastante debatido - temos aqui uma revelação da
só ocasião a uma pessoa, mas durante um período de ineficácia deles na organização. Creio que a eleição
40 dias a uma variedade de testemunhas, b ) A pro-
de Matias foi um erro. A idéia deles, que era necessá-
messa do Espírito; o batismo com o Espírito Santo é
rio haver mais uma testemunha da ressurreição, era
referido sete vezes no N . T . - quatro pelos lábios de
errada. Disseram que a testemunha devia ter estado
Joáo Batista; depois em Atos 1.5 e 11.16. e afinal em
1 C o 12.13. Notemos de passagem que em Atos 2.33 o com eles desde o batismo de João. Pensavam que
batismo com o Espirito é chamado um "derrama- uma testemunha devia ter visto Jesus antes da sua
mento". e em 11.15 diz-se que o Espírito "caiu ascensão. A verdade, porém, é que o testemunho
sobre" os ouvintes, c ) A ascensão ao Céu. A s expres- mais eficaz era o fato de ter visto Jesus depois da res-
sões empregadas sào: "elevado" ( v . 9 e Lc 24.51); surreição, como quando Ele se manifestou a Paulo
"recebido acima no céu" ( M c 16.19); "penetrou nos de Tarso no caminho de Damasco. Assim, a base da
céus" ( H b 4.14); "entrou no mesmo céu" ( H b 9.24); escolha deles era errada. T a m b é m seu método de es-
e "está à destra de Deus" (1 Pe 3.22). colha foi errado. O método de lançar sortes nào mais
era necessário. Assim parece-nos que a nomeação de
A mensagem dos dois varões vestidos de branco é Matias foi errada. Ele era um bom homem, mas nào
muito importante: dizem que o Senhor voltará do o homem para esse lugar. Ele náo aparece mais na
Céu. e que será "esse mesmo Jesus " que há de voltar
história; e quando chegarmos à glória final da cidade
"assim como para o Céu o vistes ir", corporalmente,
de Deus, veremos doze fundamentos e neles os no-
nas nuvens, visível aos olhos naturais - não apenas
mes dos doze apóstolos ( A p 21.14). Ora. nào vejo
em algum sentido espiritual á hora da morte (Good-
man). base para omitir o nome de Paulo do número dos do-
ze, pois creio ser ele o homem que Deus nomeou para
Notemos ainda, no versículo 13 a lista completa preencher o lugar".
dos onze apóstolos, todos reunidos no " C e n á c u l o " . É Outros entendem que a alusão aos " d o z e " em
a última vez que a màe de Jesus é referida. Vemos
Atos 6.2 toma inadmissível esta explicaçáo.
que. afinal, seus irmãos agora figuram entre os cren-
tes. Capitulo 2
Judas e Ma tias (15-26). Nos versículos 16.17, Pe-
dro explica aos 120 discípulos reunidos que a traição A descida do Espírito Santo (1-13). Quatro vezes
de Judas havia sido prevista por Davi (SI 69.25 e no N . T . achamos os crentes reunidoe no domingo (Jo
109.8). 20.19,26; A t 2.1 - cinqüenta dias depois do sábado
Os versículos 18.19 parecem ser uma explicaçáo da Páscoa - e Atos 20.7); e na terceira vez realizou-se
acrescentada pelo escritor Lucas. a prometida descida do Espirito Santo. Os discípu-

390
At*
los eram já cristãos, mas agora sáo constituídos em Para ele a comunhão fraternal é uma preciosa reali-
"um corpo" (1 C o 12.13) - a Igreja cristã. dade.
A palavra grega " P e n t e c o s t e " quer dizer cm- c ) Perseverança. Perseveravam na doutrina
qüenta, porque esta festa era celebrada 50 dias de- apostólica, na comunhão fraternal, no partir do pão
pois da Páscoa. Ê muito provável, por isso, que a e nas orações. Por quantos anos tem perseverado o
descida do Espirito se tenha dado no domingo, es- leitor?
tando os discipulos reunidos nesse dia, segundo seu d ) O temor de Deus na presença de muitos sinais
costume. feitos pelos apóstolos.
Sobre este notável acontecimento, notemos: e) Comunidade de bens. ou, pelo menos, o co-
a ) Foi predito pelo próprio Jesus (1.8). mum uso dos bens que possuíam, isto tem sido reali-
b ) Era sobrenatural e evidentemente de origem zado até em nossos tempos entre dois ou três irmãos
divina. que se têm sentido intimamente ligados pelo amor
c ) Foi ouvido (v. 2) e visto ( v . 3). fraternal. T e n t a r fazer a mesma coisa onde nào exis-
d ) Foi controlado em tudo pelo Espirito de Deus te bastante amor e confiança, seria um desastre.
( v . 4). Aqui podemos notar a importância de não trans-
e ) Foi um sinal de que o poder de Deus estava formar um caso em uma regra.
com a igreja nascente. 0 Distribuição aos necessitados.
0 Foi uma revelação aos demais das "grandezas g ) O mesmo "ânimo" (nào a mesma opinião) en-
de Deus" ( v . 11). tre todos, e um fraternal acordo nas reuniões de lou-
Pedro explica o acontecimento (14-36). Devemos vor.
notar as palavras de Pedro: "Isto é o que foi dito", e Vemos as características da igreja de entAo: fir-
nào: " c u m p r i u - s e o que foi dito". O pleno cumpri- meza na fé, comunhão, oração, caridade, goro, paz,
mento da profecia será em outra ocasião, ainda futu- influência e bom êxito. Façamos a nó» mesmos a se-
ra. guinte pergunta: " O que estou fazendo para tornar a
Neste discurso notemos: a ) o tema: Jesus de Na- igreja de hoje semelhante à igreja de e n t ã o ? " (Scrog-
zaré. Senhor e Cristo; b ) a autoridade: tudo que Pe- gie).
dro diz é baseado nas Escrituras; c ) o fato de que
Cristo morreu e ressuscitou; d ) a aplicação: todos
confessam Jesus como Senhor e Cristo ( v . 36). Capitulo 3
N a apologia de Pedro notamos:
O coxo é curado (1-10). O dr. Scroggie divide este
a) a sua ocasião - a critica de alguns ouvintes
trecho assim: 1) As circunstâncias - dois apóstolos,
mundanos ( v . 13); b) que começou com uma nega-
de temperamento muito diverso um do outro, de ca-
ção, alegando que era absurdo dizer que os crentes
minho para a casa de oração, ás três horas da tarde.
estivessem embriagados tão cedo no dia; c ) que se
2) O caso - U m homem de seus 40 anos. coxo, mendi-
referiu a uma profecia, mas sem dizer que fora cum-
gando: pedindo esmola quando necessitava saúde.
prida: d ) que continha uma palavra preciosa sobre
Ele exemplifica a incapacidade do homem natural
" s a l v a ç ã o " (v. 21).
de andar com Deus. 3) A cura - o apóstolo olhou para
Que significa "invocar o nome do Senhor"? Sig- o homem e mandou-o olhar para ele. Assim desper-
nifica, ao menos: a) perceber alguma coisa do seu tou a sua atenção. Falou-lhe: " O que eu tenho, isso
poder salvador; b ) sentir necessidade da salvação; te dou ". Há poder no N o m e ! 4) As conseqüências - o
c ) confiar no Senhor, como Salvador presente, homem curado cheio de regozijo; o povo pasmado e
acessível, cheio de boa vontade, suficiente. assombrado.
O dr. Goodman, falando deste primeiro sermão
Com respeito ao coxo, podemos notar: a ) que pro-
evangélico, diz que ele: a) começa com uma chama-
vavelmente estivera ali há bastante tempo; muitas
da para ouvir - v. 22; b ) anuncia Cristo, começando
vezes tinha visto Jesus passar, mas nunca lhe pedira
com as palavras havia pouco escritas na cruz: "Jesus
a cura; b) que ele agora pede uma esmola de dinheiro,
de Nazaré"; c ) refere-se á sua morte e ressurreição;
obtendo uma dádiva de saúde; c ) recebeu, por graça
d ) reconhece a culpa humana, e também "o determi-
divina, o poder de andar bem, e imediatamente faz
nado conselho e presciéncia de Deus"; e ) demonstra
uso dos seus novos poderes. entrando na Casa de
que os fatos foram preditos nas Escrituras.
Oração: d ) em conseqüência da graça recebida, ve-
As primeiras conversões (37-47). Vemos neste mos o homem com nova saúde, nova alegria, nova
trecho que a primeira coisa é arrepender-se: uma direçáo, nova. companhia, novo louvor.
mudança radical de pensamento e atitude para com
A mensagem do milagre (11-26). Ê o terceiro dis-
Deus. Este arrependimento produz "frutos dignos".
curso de Pedro. O primeiro: 1.15-22; o segundo: 2.14-
Segue-se o batismo e uma aberta confissão de fé 36; o terceiro: 3.12-26.
em Cristo. Vemos como Pedro fala do nome de Jesus (v. 16);
Arrependimento e fé sáo seguidos de duas bên- esse nome nos ocupa com a Pessoa a quem pertence
çãos: a remissão dos pecados ( A t 10.43) e o dom do com o caráter de quem é referido, e com o poder e a
Espirito Santo. Os pecados sáo perdoados mediante caridade do Senhor. Empregar o nome de Cristo as-
o valor do sangue, para que andemos em novidade de sim importa invocar o poder de Cristo (Goodman).
vida no poder do Espirito (Goodman). Notemos que no versículo 26 devemos ler "levan-
Este trecho dá-nos um precioso exemplo da con- tando" (como no versículo 22) e não "ressuscitan-
vivência cristã. Notemos: do".
a) Recepção da Palavra. A vida cristã começa ai.
A Palavra que nos revela o amor e a graça de Deus é Capítulo 4
recebida, apreciada e divulgada.
b ) Reunião (41,44). O verdadeiro crente costuma Pedro e João perante o Sinédrio (1-12). Vemos
procurar a companhia dos seus irmãos em Cristo. agora o começo do conflito e da perseguição aos cris-

391
Am

tàos, conflito esse que tem perdurado, ora mais in- Vemos a barbaridade daqueles tempos, em que
tensamente, ora menos, até hoje. Prisões, mais do cruelmente açoitaram os dois apóstolos sem ter podi-
que palácios, têm sido santifícadas pelas orações dos do provar qualquer delito contra eles.
crentes. " O s amigos de Jó argumentaram como Gamaliel,
As primeiras conseqüências (13-23) da pregação e foram reprovados pelo sofredor por falarem enga-
do Evangelho: a ) oe pregadores presos; b ) as au- nosamente (Jó 13.7), pois ele tem visto os iníquos
toridades religiosas opõem-se; c ) as testemunhas passar seus dias na prosperidade (Jó 21.13). O prega-
cheias do Espirito Santo; d ) a verdade proclamada; dor tinha visto o mesmo e o relato entre as vaidades
e ) as Escrituras citadas; f ) a salvação anunciada no das coisas terrestres ( E c 8.14). Habacuque fez uma
nome de Cristo; g ) muitos crêem. queixa semelhante ( H b 1.13), e Jeová respondeu-lhe
Uma reunião apostólica para oração (24-37). Ve- que o justo viverá pela fé ( 2 . 4 ) " (Grant).
mos: a) que estavam unânimes em levantar a voz a
Deus em oração - não em discutir o incidente peran- Capítulo 6
te o Sinédrio; b ) glorificaram a Deus como o inspira-
dor das Escrituras; c ) acharam seu contentamento na A instituição dos diãconos (1-7). Estranhamos
Palavra de Deus: d) pediram ousadia para testemu- um pouco a situação revelada nestes versículos. Pa-
nhar. e sinais confinnatórios. rece ser conseqüência de terem tantos dos discípulos
vendido seus bens e entregado o dinheiro á igreja.
A resposta á oraçáo foi notável: a ) o lugar abala-
Agora contam com a igreja para sustentar as viúvas
do (31); b ) unanimidade (32); c ) poder e graça (33);
que deviam ser protegidas peles seus parentes.
d ) liberalidade (32.34) (Goodman).
Acaso teria relação com a mesma circunstância o
Podemos notar que o ideal referido no versículo
fato de haver tantos crentes pobres em Jerusalém
32 de comunidade de bens era comunidade de uao e
( R m 15.26), que foi preciso socorrê-los mediante co-
não de posse. A medida em que uma coisa semelhan-
letas no estrangeiro?
te pode realizar-se hoje depende do grau de confian-
ça mútua que exista entre oe crentes. (Veja-se sobre N o versículo 1 devemos preferir a tradução da
2.44.) V . B . "helenistas" e não "gregos". Entendemos que
se trata, náo de gentios, mas de israelitas moradores
Vemos ainda mais: a venda de propriedades e a no estrangeiro, nessa ocasião, presentes em Jerusa-
distribuição apostólica do produto (34-37). lém, e dispostos a abraçar o novo ensino.
" I s t o não quer dizer que todos vendiam tudo que N o t e m o s as qualidades necessárias até para pres-
tinham, mas que a necessidade do momento foi su- tar um serviço humilde na igreja: cheio: 1) do Espiri-
prida dessa maneira: mediante a venda de proprie- to Santo; 2) da sabedoria; 3) graça ( V . B . 8); 4) f é ; 5)
dades" (Grant). poder. Porventura temos todas essas qualidades?
Uma das lições do incidente pode ser que quem
Capítulo 5 tem dons de ensino espiritual nem sempre deve preo-
cupar-se com a administração dos fundos da igreja.
O juízo começa pela casa de Deus (1-16; 1 P e Esta é a primeira.vez que lemos na Palavra de
4.17). O assunto de juízo na casa de Deus merece um uma "reunião de negócios" da igreja.
cuidadoso estudo. Podemos notar os seguintes pon- É interessante notar que todos os " d i á c o n o s " ti-
tos: a ) o juíro do mundo será no fim deste " D i a de nham nomes gregos, havendo assim mais uma ga-
graça'* ( A t 17.31; 2 C o 5.10); b) o juízo do povo de rantia de que as viúvas gregas nào seriam despreza-
Deus em disciplina, castigo e correção começa nesta das.
vida (1 Co 11.32) para que náo pereçamos com o
O primeiro mártir (8-15). Este esboço do caráter
mundo; c ) se nos julgássemos a nós mesmos, náo
de Estêvão é cheio de interesse. Vemos nele qualida-
seríamos julgados (11.31); d ) este julgamento, ás ve-
des preciosas: fé, poder, sabedoria, espiritualidade, e
zes. toma a forma de doença (1 C o 11.30; T g 5 . 1 5 ) ; e )
um aspecto como de um anjo. Contudo, nada disso
o juízo será consumado no Tribunal de Cristo (2 C o
impressionava os inimigos, que fizeram seu apelo á
5.10).
cobiça e ao fanatismo do povo. E ainda hoje aconte-
O pecado de Ananias e Safira foi chocante porque cem coisas semelhantes.
era: a ) premeditado; b) disfarçado com hipocrisia; c ) A sinagoga dos libertinos (9). " É preferível a tra-
acompanhado de mentira (Goodman). dução da V.B. 'libertos', referido-se. talvez, a judeus
Libertação milagrosa (17-28). . E m certas oca- levados cativos a Roma por Pompeu em 63 a.C. e cu-
siões, o crente, perseguido em uma cidade, deve fu- jos filhos, libertados, voltaram a Jerusalém e ali fun-
gir para outra ( M t 10.23); em outras Deus revela ser daram uma sinagoga" (Pequeno Dicionário Bíblico).
sua vontade que volte a apresentar-se perante os "Mudar os costumes que Moisés nos deu " (v. 14).
mesmos inimigos para tomar a dizer-lhes "todas as Essa foi a principal acusação contra Estêvão. N a d a
palavras desta vida'' ( v . 20). há que mais escandalize a maior parte das pessoas
Notemos a expressão "esta vida"-náo uma nova do que uma proposta de mudança religiosa. Muitos
lei, uma nova religião, mas uma nova vida de que chegam a reprovar o Evangelho ainda hoje porque
Cristo é o motivo, poder e alvo. lhes parece diferente daquilo a que estão acostuma-
dos.
Pedro e os príncipes dos sacerdotes (29-42). Aqui
temos o quarto discurso de Pedro, em que ele mais Capítulo 7
uma vez testifica de Cristo.
Notemos: a ) o que o Sinédrio disse ao apóstolo; Estêvão fala de Abraão. Jacó. José. etc. (1-19).
b) o que o apóstolo disse ao Sinédrio; c ) o que Gama- As acusações contra Estêvão eram duas: 1) blasfê-
liei aconselhou. O conselho de Gamaliel mostra pru- mias contra Moisés e Deus; e 2) a afirmação de que
dência humana, mas nenhum zelo pela verdade. "este Jesus" havia de destruir o templo e a Lei.

392
M

Na sua defesa, ele: a) reconta a história nacional; Falando de Estêvão e do moço Saulo, diz F. W.
b) diz que esta história demonstrava a disciplina di- Grant: " A q u i evidentemente temos uma previsão
vina; c ) afirma a constante perversidade do povo. daquilo que ia acontecer. Somente na linguagem de
Podemos aprender algumas lições deste trecho, Saulo. o perseguidor, que logo chegou a ser Paulo, o
por exemplo: que o passado contém lições para o pre- apóstolo, podemos achar uma expressão adequada
sente; que a nossa educação espiritual seria incom- da interpretação espiritual dos últimos momentos do
pleta sem o Velho Testamento; que a voz de Deus moribundo Estêvão. Saulo havia de ver, pela mara-
pode mandar-nos sair de nosso lugar e família: que a vilhosa graça de Deus, aquilo que Estêvão percebeu
senda da fé é uma peregrinação; que o povo de Deus e de que testificou na hora da sua morte. Saulo tinha
pode ser oprimido pelo mundo. visto aquele poder transformador da giória de Cristo,
do qual ele fala. Em algum sentido, Paulo dá uma
" N o versículo 16 há uma bem conhecida dificul- idéia de Estêvão revivendo. A vida de Paulo parece
dade relacionada com o que se diz aqui do enterro de ser o reflexo da impressão que recebeu por ocasião da
Jacó e seus filhos. A retificação mais simples é omitir morte do mártir. Certamente temos aqui a antecipa-
a palavra 'Abraão' do texto aqui. que então seria ção daquele 'Evangelho da glória de Cristo' (2 C o
'que ele comprara', referindo-se a Jacó e 'eles foram 4.4). que era, num sentido especial, o Evangelho de
transportados para Siquém' havia de referir-se so- Paulo".
mente aos filhos de Jacó, um dos quais, como sabe-
mos, era José. e a tradição judaica diz que os outros Capitulo 8
filhos também o foram. A omissão da palavra
Abraão encontra apoio na seguinte circunstância: Saulo, Filipe e Simão (1-8). " O Evangelho des-
que um manuscrito uncial (escrito em letra maiús- cobre o verdadeiro caráter dos homens. Temos neste
cula) antigo e de boa autoridade, apresenta nesta al- capítulo uma tríplice ilustração desta verdade. Em
tura um acréscimo que dá uma forte presunção de Saulo. revela animosidade e ódio; em Filipe, amor e
que 'Abraão' seja um acréscimo" (Grant). desejo pelo bem dos samaritanos, outrora inimigos;
Bullinger traduz o versículo 16 assim: "E foram em Simão, avareza e a ambição do poder" (Good-
transportados para Siquém. e postos na sepultura, man)
ele [Jacó], naquela que Abraão comprara por certa Notemos as conseqüências da primeira persegui-
soma de dinheiro, e eles nessa que foi comprada aos ção: espalhou os crentes, e assim resultou em propa-
filhos de He mor, cm Siquém " (J. 349). E no versícu- gação do Evangelho: separou os genuínos dos mera-
lo 18: "se levantou um rei de outra família " (J. 350). mente interessados; despertou os corações dos ver-
Estêvão fala de Moisés (20-40), provando que dadeiros crentes; fortaleceu esses crentes no seu tes-
esse foi recusado por Israel (v. 35). e que o mesmo temunho do Evangelho.
Moisés falara de Cristo (v. 37), que os adversários Este náo é Filipe, o apóstolo, mas o " d i á c o n o "
também rejeitaram. (6.5) e evangelista (21.8).
"Um profeta como eu" (v. 37). Semelhante a Sobre o versículo 4 diz o dr. Maclaren:
Moisés em que ambos tinham um preparo especial e 1) Notemos o impulso espontâneo a que estes ho-
uma vocação divina; ambos fundaram uma dispen- mens obedeceram. Regozijando-se em um grande
saçáo; exerciam uma nova força espiritual; eram en- Salvador e amigo, e vendo em redor os que necessita-
sinadores religiosos; possuíam autoridade divina; fo- vam dele, pregam-lhe a Cristo. Este impulso resulta:
ram rejeitados por sua geração. Mas o Messias é a) de um interesse pessoal em Cristo, de uma ex-
maior do que Moisés (Scroggie). periência da sua graça salvadora; b) de uma compai-
Estêvão fala da apostasia de Israel (41-53). ar- xão por aqueles que carecem de bênção espiritual; c )
güindo o povo de desobediência, de idolatria, de hi- de uma lealdade a Cristo, querendo obedecer ao seu
procrisia religiosa, e referindo-se ao castigo divino. mandato e proclamar a sua fama.
Fala do afastamento dos israelitas de Deus, preven- 2) Notemos a obrigação universal de todos os
do que serão abandonados às suas próprias concupis- crentes de anunciarem a Cristo. Estes homens não
céncias (v. 42 comparado com Romanos 1.24.26) e eram formados; não tinham salário: evangelizavam
desterrados da sua pátria. espontaneamente.
Contudo, não se incomodaram muito, coro esta 3) Notemos a simplicidade da mensagem que
repreensão, porém quando Estêvão parecia despre- proclamavam, falando pela experiência própria.
zar o templo, o aspecto dos adversários mudou. Anunciavam a Cristo como Salvador e Senhor.
Houve murmuraçáo, e talvez gritaria. Assim é 4) Notemos o poderoso ajudador que cooperava
que se explica a mudança repentina do estilo do dis- com eles: "a mão do Senhor estava com eles". Enos-
curso nos versículos 51-53. so serviço, por mais humilde que seja. terá bom êxito
Estêvão é assassinado (54-60). E no meio desta com a sua bênção.
gritaria infernal, Estêvão náo mais encara os inimi-
gos. Com os olhos levantados ele vê a glória de Deus, Simão, o embusteiro (9-25). N o caso deste ho-
e Jesus em pé (compare-se com Colossenses 3.1 - mem vemos como é possível alguém ser " c r e n t e "
Cristo sentado) como estivesse ainda disposto a vol- porque percebe que o Evangelho é a verdade (veja-se
tar. "Mas os seus cidadãos aborreciam-no. e manda- Jo 2.23), porém, sem ser convertido pelo poder dessa
ram após ele embaixadores [como Estêvão] dizendo: verdade na própria vida.
Não queremos que este reine sobre nós" ( L c 19.14). Com respeito a este trecho fazer as seguintes con-
Vemos que o mártir, nas suas últimas palavras siderações:
( v . 60), mostrou o mesmo espírito do seu Senhor ( L c 1) Que Simão. o Mago, creu (v. 13) alguma coisa,
23.34). Compare-se a última oração de Sansão em mas, pelo visto, náo era renascido. Contudo foi bati-
Juizes 16.28. zado e incluído no rol dos discípulos.

393
jttü
2) Que ele pensava ser o cristianismo mais uma municação do Céu. T u d o isso redundou em ter Saulo
forma de magia, e que pudesse obter por dinheiro o aberto os olhos e os ouvidos, prostrado-se e obedeci-
conhecimento dos seus mistérios. do. e de ter sido obediente à visão celestial (26.19).
3) Que Pedro discerniu estar Simáo M a g o ainda O efeito foi: inteligência iluminada, coraçáo con-
no caminho da perdição (v. 20), e o denunciou como trito, vida transformada, serviço inspirado, testemu-
quem não tinha parte nem sorte em Cristo. nho positivo, união à fraternidade, e morte de már-
4) Que um tal " c r e n t e " , professo, batizado, mas tir.
perdido, pode arrepender-se e orar a Deus. imploran- Em Ananias vemos um homem atento, informa-
do perdão. do. e por isso duvidoso, obediente, simpático e fra-
5) Que Deus toma conhecimento dos pensamen- terno.
tos do coraçáo (v. 22; 1 Sm 16.7). Conseqüências da conversão (19.31): a) associa-
6) Que podemos interceder pelos iniquos arre- ção com os crentes (v. 19): o novo convertido procura
pendidos. a companhia dos seus irmãos na fé: b ) testemunho
Em que se parece o nosso leitor com Simão, o público: da abundância do coraçáo a boca fala; c ) es-
Mago? e em que é diferente dele? forço e argumento que resultam da convicção; d )
Filipe e o eunuco (26-40). Dos sete que foram es- perseguição por parte dos inimigos; e ) ousadia, até o
colhidos para servir ás mesas (6.5), um foi martiriza- ponto de pôr em perigo a vida (v. 29).
do logo. e outro transformado em evangelista. T a m - Podemos considerar Saulo como perseguidor,
bém a necessidade de servir às mesas desapareceu prosélito e pregador.
com a dispersão da igreja (8.1). Como perseguidor: a ) agia de acordo com instru-
Agora vemos Filipe, chamado pelo Senhor, dei- ções recebidas; b) era sincero: "entendia que devia
xar um centro movimentado onde está experimen- fazer toda a oposição ao nome de Jesus, o Nazareno"
tando grandes bênçãos, para ir a um lugar deserto, a (26.9); c ) era intransigente - déu seu voto pela morte
fim de evang^lizar um único homem. N o eunuco ve- dos cristãos (26.10); d ) era cruel - "obrigava-os a
mos: a) um homem que não está satisfeito apesar de blasfemar" (26.11); e ) era persistente - "perseguia-
gozar posição, poder e posses: b) um pesquisador, di- os até nas cidades estrangeiras" (26.11).
ligente, capaz de aprender, e, finalmente, c ) um ho- Como prosélito do cristianismo:
mem convertido, crente, confessando, regozijando-se 1. A causa da sua conversão: a) uma visão de
(Scroggie). Cristo giorificado; b) uma audição da voz divina: c )
Podemos pensar que este etiope, vindo da Abissí- uma convicção da própria culpa; d ) uma compreen-
nia, era de descendência israelita, e que fizera a pe- sáo de que Cristo se identifica com o seu povo perse-
regrinação a .Jerusalém a fim de satisfazer os seus guido.
anseios espirituais. 2. Os efeitos: a ) submissão à vontade divina
Chegou tarde para ver Cristo em came. mas náo (22.10); b) compreensão da fraternidade cristã
para ouvir o Evangelho. (22.13); c ) conhecimento do plano de Deus (22.14);
Notemos que Filipe era homem obediente, aten- d ) orientação nova para o serviço futuro (22.15); e )
to. submisso ao Espírito, cortês, instruído na Pala- comunhão com os crentes (9.19); 0 confissão pública
vra (Goodman). do seu Salvador (9.20).
N o versículo 33 a palavra para vida è " z o é " , náo Como pregador, Paulo falou por experiência pró-
" p s y c h ê " . (Veja-se a nota sobre Joào 12.25.) Assim pria, não apenas repetindo verdades lidas num livro.
entendemos que a "vida tirada da terra " nào se refe- Testificou daquilo que recebera de Cristo. Seu as-
re á vida física de Jesus, mas àquela vida espiritual sunto era uma Pessoa conhecida, amada, obedecida:
em comunhão com o Pai. que fora manifestada aos náo apenas uma doutrina nova, ou um novo meio de
discipulos (1 Jo 1.2). salvação. Afirmou ser Jesus " o Filho de Deus", isto
Notemos que o versículo 37 nào se encontra em é. a expressão da natureza do Pai, o consumador dos
muitos manuscritos, nem na V . B . Contudo, o versí- propósitos do Pai.
culo nào apresenta nenhum pensamento errôneo. O efeito da sua pregação surpreendia os ouvin-
A palavra "eunuco" geralmente significa homem tes (v. 21), que notavam a transformação do perse-
castrado, mas pode ter também o simples sentido de guidor em pregador. Os adversários ficaram confun-
oficial do palácio real. didos ( v . 22).
Enéias curado, Tabita ressuscitada (32-43). Ve-
Capitulo 9 mos que os apóstolos, como seu Mestre, acharam era
cada caso de necessidade uma oportunidade para
A conversão de Saulo (1-18) é relatada três vezes serviço. Enéias é curado sem pedir a cura.
em Atos: aqui, em 22.1-16, e em 26.6-19. As palavras N o caso de Tabita, notamos o empenho dos ami-
"Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões " e "e- gos, a convicção de que o homem de Deus era o re-
le [remendo e atônito disse: Senhor, que queres que curso na hora da necessidade, e a lamentação que.
faça?" nào se encontram aqui nos antigos manuscri- afinal, não tinha cabimento na presença do poder de
tos gregos, mas somente no capítulo 26. Deus.
Comparando 9.7 com 22.9 entendemos que os Pedro quis ver-se livre das pessoas que náo conta-
companheiros ouviram a voz do Céu, mas não a ou- vam com o poder divino; sente-se dependente da
viram para entender. Vemos freqüentemente na graça que vem pela oração e ordena confiadamente:
Bíblia que ouvir significa atender ou entender (Mt "Tabita. levanta-te!"
13.18; 18.17; M c 4.33, etc.).
Notemos algumas características da conversão Capítulo 10
de Saulo, a mais notável que a Escritura relata: foi
repentina e completa; resultou de uma visão de Cris- Duas revelações (1-16). Uma a Comélio, outra a
to, de uma manifestação da graça divina, de uma co- Pedro. Este capitulo é notável porque relata a aber-

• 394
Atos

tura da porta do Evangelho aos gentios (15-7). Em O Evangelho pregado aos gentios em Antioquia
Cornélio, um oficial do exército romano, descobri- (19-30). Devemos distinguir entre esta Antioquia.
mos piedade, reverência, influência, liberalidade, capital da Síria, e a terceira cidade do Império Ro-
oração, receptividade e obediência (Scroggie). mano, e Antioquia da Pisidia ( A t 13.14; 14.19,21; 2
Pedro estava em oração ao meio-dia quando rece- T m 3.11), que é também chamada Cesaréia (Peque-
beu a revelação. Ê coisa difícil transformar idéias e no Dicionário Bíblico).
costumes religiosos, e. apesar da visão milagrosa. Notemos neste trecho: 1) Como o Evangelho se
Pedro mostra-se disposto a desobedecer à voz divina. difundiu, em conseqüência de uma perseguição (v.
E na verdade é prudente desconfiar de qualquer re- 19). 2) Como as igrejas se formaram: os crentes no
velação que pareça contradizer um mandamento ex- Senhor Jesus sentiram a necessidade da convivên-
presso da Palavra de Deus (Dt 14.4-20). cia. 3) Como as igrejas se animaram mutuamente: a
Pedro fez bem em meditar a respeito da visão. de Jerusalém enviando obreiros a Antioquia. 4)
Com a chegada dos servos de Cornélio ele encontrou Como foram estabelecidas pelo ministério de diver-
a interpretação. sos servos de Deus.
Notemos a localidade: Cesaréia, uma cidade im- Em Barnabé vemos bondade, espiritualidade, fé.
portante no cristianismo, nào somente porque ali as alegria no bem, serviço de exortação, capacidade
portas do Evangelho foram abertas aos gentios. mas para guiar o serviço de outros (v. 25).
porque nesse mesmo lugar Paulo esteve preso por Aqui encontramos mais um dos títulos dados às
dois anos. Em Cesaréia nasceu o historiador Eusé- pessoas que receberam Cristo como seu Senhor: cris-
bio; nessa cidade Origenes estudou, e escreveu seus tãos. Outros nomes bíblicos são crentes, irmãos, san-
comentários (Thomson). tos, remidos, salvos, povo de Deus. Podemos notar
Até este capitulo o Evangelho tinha sido pregado que tais nomes bíblicos tendem a unir os crentes em
somente a judeus e samaritanos. Fazia, talvez, uns uma só família, porque são nomes comuns a todos os
onze anos desde o Pentecoste (Goodman). remidos, enquanto os nomes não bíblicos dividem os
Pedro visita Cornélio (17-33). A expressão "Deus crentes, porque náo são comuns a todos.
náo faz acepção de pessoas" ocorre onze vezes na O fim do capítulo dá-nos um ensino importante
Bíblia. E uma das verdades mais claras da revela- sobre contribuição: sua ocasião, sua proporção, sua
ção. T a n t o Cornélio como Pedro tiveram de apren- condução.
dé-la. Pedro nào devia pensar ser Cornélio imundo N o versículo 28 devemos ler "fome em toda a ter-
pelo fato de ser gentio; Cornélio não devia adorar a ra" (O. 82).
Pedro por ser este um servo de Deus (Goodman).
Devemos pensar muito nas palavras "Deus mos- Capitulo 12
trou-me que a nenhum homem chame comum e
Pedro na prisão (1-11). Notemos as pessoas refe-
imundo" (v.28). Só pensamos com acerto em nosso ridas neste capitulo: Herodes Agripa. neto de Hero-
semelhante quando nele pensamos como Deus pen- des, o Grande, homem capaz de perseguir os humil-
sa. des apóstolos de Jesus: Tiago, que morre pela sua fé;
O primeiro sermão aos gentios (34-48). Podemos Pedro, que pela fé é salvo da prisão (alguns pela fé)
dividir o discurso em quatro partes: a ) os fatos histó- escaparam do fio da espada; outros pela fé morrem
ricos referentes a Cristo; b ) as evidências desses fa- ao fio da espada - (Hb 11.34. 37);'Maria e seu filho,
tos; c ) a proclamação dos fatos; d) o resultado. João Marcos: a menina Rode e outras pessoas em
Na nossa meditação deste trecho, podemos consi- oração; e o nnjo que livrou Pedro da prisão.
derar: o que Pedro reconheceu (v. 34); o que agrada a
Notemos a diferença entre a porta de ferro (v. 10)
Deus (v. 35); qual a palavra que Ele enviou (v. 36);
e a porta do pátio (v. 13). Era necessário um milagre
onde essa palavra foi primeiro anunciada, e até onde
para abrir a primeira, e Deus pelo seu anjo operou o
se espalhou (v. 37); duas coisas que Jesus de Nazaré milagre; a segunda podia ser aberta do lado de den-
andou fazendo: seu preparo espiritual e sobrenatural tro por uma menina, e por isso ai nào foi preciso
(v. 38). Deus operar nenhum milagre.
Seguiram-se as mesmas manifestações que se ve-
Vemos o mesmo princípio cm outros casos: que
rificaram no dia de Pentecoste - línguas, louvores,
Deus não opera milagres desnecessários. Há doenças
batismo.
graves que Deus, às vezes, cura milagrosamente, e
N o versículo 47 podemos notar a expressão "im-
há doenças triviais em que precisamos servir-nos da
pedir água".
nossa experiência ou da dos nossos semelhantes, a
Capitulo 11 saber, da ciência médica [embora Deus possa curar
qualquer doença quando, coro fé, lhe suplicamos].
Apologia de Pedro (1-18). Notemos neste trecho: Orações respondidas (12-17). Notemos com res-
a ) que então, como hoje, comumente acontecia al- peito a esta reunião de oraçáo: a localidade - a casa
guém ser argüido por ter feito o bem. quando esse da mãe de Marcos, provavelmente uma viúva abas-
bem transgredia alguma regra eclesiástica (v. 3); b) tada; o acordo - muitas pessoas oravam juntas; a
que Pedro se defendeu, contando os fatos, sem argu- persistência e a fé - tinha, orado assim, provavel-
mentar sobre eles; c ) que ele se lembrou das últimas mente, por Tiago, mas sem resultado: agora tomam
palavras do Senhor Jesus (1.5); d ) que achou que se- n orar; resposta e incredulidade - náo esperavam ser
ria "estorvar a Deus", o não reconhecer como irmãos atendidos tão prontamente; testemunho da graça
na f é estes gentios convertidos. salvadora de Deus por parte de Pedro.
Vemos que assim os apóstolos e demais crentes Devemos distinguir entre o T i a g o do versículo 2 e
em Jerusalém fizeram a grande descoberta: o Evan- o do versículo 17. Este último era provavelmente o
gelho não era somente para Israel, mas também para irmão do Senhor, o mesmo que fala em Atos 15.13-
os gentios (v. 17). 21.

395
A n

O dr. Goodman apresenta as seguintes divisões da chamada; servindo ao Senhor, orando e jejuando,
deste trecho: aqueles homens tinham o espirito preparado para
1) O mistério da perseguição. ouvirem a voz divina; b ) o caráter da chamada: se-
2) O mistério da providência divina. parar dois do seu número, ainda que assim ficassem
3) O mistério da oração. privados de um ministério proveitoso; c ) o propósito
4) O mistério do ministério angélico. da chamada a obra de Deus, náo em um determi-
1) O mistério da perseguição sugere os seguintes nado lugar, mas em qualquer parte; d ) as incompati-
pensamentos: bilidades da chamada; evidentemente, o egoísmo, a
a ) Os iníquos tendem a odiar os bons. vontade própria, a falta de energia espintual ou a
b ) O abuso do poder é uma tendência natural do não-cooperaçáo seriam coisas incompatíveis com a
homem sem Deus: chamada divina.
c ) A perseguição comprova o ensino biblico T de 2) A consagração áos servos de Deus. Seu proces-
que os que v i v e m piamente a sofrerão (2 T m 3.12). so era a imposição das mãos dos conservas, e a ora-
2) O mistério da providência divina. Mistério ção. o que significava: a ) comunhão fraternal no ser-
quer dizer segredo. E é um segredo ignorado pelo viço; b ) identificação com os servos enviados: c ) coo-
mundo, que Deus cuida dos seus. peração material e espiritual.
V e m o s que a providência de Deus: T o d o servo de Deus deve contar com o apoio mo-
a ) Cuida dos humildes. fazendo caso d e um pes- ral e espiritual da igreja local que melhor o conhece.
cador na cadeia. 3) O trabalho seguiu sem demora. E m seguida
b ) Não encontra impedimento nos propósitos iní- viajaram. N o t e m o s que ainda hoje, quem mais viaja,
quos dos malvados (4.6). geralmente pode fazer mais no sentido de evangeli-
c ) Age. apesar de todas as circunstâncias contrá- zar.
rias - dois soldados, duas cadeias, portas de ferro, Foi um trabalho ein que apareceram oportunida-
etc. des. oposições, e experiências do poder do Evange-
3) O mistério da oração é o meio para conhecer- lho.
mos a Deus pela experiência: Necessitava energia, propósito, dedicação a
a ) Ensina-nos a dependência do amor e poder di- Deus. simpatia para com os homens, reprovação do
vinos. mal iv. 10), confiança no poder de Deus ( v . I I ) .
b ) Ensina-nos que circunstâncias contrárias não O primeiro discurso de Paulo (13-41). A retirada
impedem os propósitos divinos. de João Marcos sugere muitos pensamentos, e pro-
c ) Ensina-nos a importância da persistência, da duziu mais tarde conseqüências desagradáveis. Pau-
unanimidade, do propósito, e da fé em nossas ora- lo e Barnabé tinham saído de uma Antioquia e agora
ções. chegam a outra - a da Pisidia. Ali, na sinagoga. Pau-
N o presente caso notamos: os crentes que oravam lo prega Seu discurso divide-se em trés partes: 1)
náo contavam com uma resposta tão imediata e tão U m breve resumo da história de Israel. 2) Salvação
completa. em Cristo ( v . 26). 3) Perdão e justificação pela fé em
4) O mistério do ministério angélico é raramente Cristo.
evidente. É pouco referido na Escritura ( M t 18.10). Notemos: que as bênçãos divinas recebidas no
E uma prova de que Deus pode socorrer-nos indire- passado constituem motivo para se esperarem bên-
tamente. çãos presentes e futuras; que Deus tem levantado di-
U m meio que o Senhor com um ente emprega para versos libertadores; que Ele. afinal, levantou a Je-
valer-nos é o auxílio prestado por outro crente. U m a sus, como Salvador; que João Batista preparou o ca-
intervenção angélica visível é extraordinária, mas os minho para Cristo pela pregação do arrependimen-
anjos ministram a n o s » ) favor ( H b 1.14). to: que as profecias se cumpriram na condenação de
O perseguidor perece (18.25). N e s t e trecho note- Jesus.
mos o contraste entre os humildes crentes orando e
Efeitos do discurso (42-52): os gentios desejaram
se regozijando pela salvação de Deus. e o rei orgulho-
ouvir a mesma mensagem; houve várias conversões;
so, fazendo imponente espetáculo da sua grandeza, e
alguns judeus blasfemaram: Paulo volta definitiva-
perecendo afinal miseravelmente pelo juízo divino.
mente para os gentios (v. 46); houve perseguição.
P o d e m o s aprender do versículo 22 a não receber
louvores imerecidos, pois isso náo é uma glória a
C a p i t u l o 14
Deus.
Paulo entre os pagáos (1-18). Vemos quatro gru-
Capitulo 13 pos neste trecho: a ) judeus e gentios crentes; b ) ju-
A chamada para a eoangelização mundial (1-12). deus e gentios descrentes; c ) dois partidos na cidade
Aprendemos deste trecho: a ) que há diversidade de (v. 4); d ) judeus, gentios e principais organizados
dons na igreja; b ) que a revelação da vontade divina para um m o t i m contra Paulo (v. 5 ) .
veio em horas de j e j u m : c ) que o Espírito Santo pode Era Listra (6-20) estudemos as pessoas pagáos,
revelar a sua vontade; d ) que a igreja pode identifi- apóstolos e o coxo. A q u i , pela primeira vez. os após-
car-se com o serviço individual; e ) que os primeiros tolos trabalham entre pagáos. Notemos seu procedi-
serviços foram limitados a Israel (v. 5, etc.). mento: a ) rasgam seus vestidos, manifestando triste-
Vemos t a m b é m que o procónsul - um oficial ro- za pela ignorância que levava o povo a exaltá-los; b )
mano - quis muito ouvir o Evangelho, e que o feiti- a f i r m a m que náo têm nenhuma superioridade: c )
ceiro, procurando impedir, foi ferido com cegueira. aproveitam a oportunidade, fazendo seu apelo ao
N e s t e trecho podemos considerar: I ) a chamada; povo (Goodman).
2) a consagração; 3) o trabalho. 1) Por que os adversários perseguiram-nos? Tal-
1) Na chamada. Notemos: a) as circunstâncias vez foi pelos seguintes motivos:

396'
Atos
a ) Porque desconfiavam de novidades: essa des- déia": circuncisào e obed-.ència a todo o ritualismo
confiança é um sentimento religioso mal orientado. mosaico.
E lamentável quando nosso "zelo de Deus" é sem en- Esse ensino causou tamanha perturhação entre
tendimento da verdade ( R m 10.2). mas ainda hoje o- crentes em Antioquia que mandaram Paulo e Bar-
vemos muitas vezes os perseguidores influenciados nabé tratar do assunto com os anciãos em Jerusa-
por sinceros motivos religiosos. lém. T o d a a epístola aos Gálatas foi escrita para
b) Por perversidade Nem sempre o perseguidor é combater esse mesmo erro.
sincero e temente a Deus. Alguns procuram qualquer Pedro fala, primeiro (7-11). recordando que foi
ocasião para dar lugar á sua própria maldade. ele quem abriu a porta do Evangelho aos gentios.
c) Por motivos políticos, receando que um novo Afirma: a) que Deus lhes dera igualmente o Espirito
ensino espiritual resulte em algum prejuízo mate Santo: b ) que Deus não fizera diferença, mas purifi-
rial. cara os corações dos gentios também, pela sua fé em
d ) Por interesses financeiros ( A t 19.27). Ainda Cristo; c) que o ritualismo da Lei seria um jugo insu-
hoje podemos, às vezes, perceber e^-^e motivo inspi- portável para esses novos crentes; d ) que a salvação
rado as o posições religiosas. pela graça do Senhor Jesus Cristo é tanto para gen-
2) Por que Paulo persistiu? tios como judeus.
a) Por comprcendfr que fazia o vontade dc Deu- Tiago fala <13-21) em sejciiidu, mostrando que a
e que podia contar com sua proteçáo. bênção para os gentios havia sido assunto de profe-
b ) Por ter provado na sua própria experiência a cia. Referia-se provavelmente a Amós 9.11.12 e a ou-
bênção divina, e querer partilhá-ia com seus seme- tras profecias.
lhantes. N á o devemos tomar os versículos 20 e 29 como
c ) Por compreender alguma cojsa da bênção uni contendo tudo que os gentios devem aprender, pois
versai que o Evangelho de Deus oferece. nas várias epístolas é-lhes ministrada grande soma
d ) Pela recordaçáo dos resultados passados e a de ensinos preciosos. Mas esses dois versículos repe-
esperança de resultados futuros. tem certas proibições da economia mosaica que de-
e ) Pela convicção de que as |>erseguições do mo- viam ser aproveitadas no cristianismo. E notamos
mento eram passageiras, mas permanentes os pro- que a guarda do sábado náo figura entre essas "coi-
veitos futuros sas necessárias"
3 ) Resultados para n<i- hoje: A questão principal referia-se a um rito, a circun-
Se o apóstolo nào tivesse persistindo na sua ousa- cisào, mas com certos compromissos inerentes - su-
da confissão. nã<> teríamos herdado seus escritos ins- jeição à lei cerimonial mosaica, que Pedro chamou
pirados; náo teríamos podido valer-nos do «eu exem- de "jugo insuportável" ( v . 10).
plo animador; não teríam<»s compreendido todo o po- Notemos:
der da graça divina. a) que é muito freqüente as pessoas entusiasma-
Porque Paulo persistiu, milhares de fiéis servos rem-se por um rito (prática religiosa) e serem exigen-
de Deus tém sido e n c o r a j a d a a continuar, apesar tes para que esse rito seja observado do mesmo modo
das oposições. que eles mesmos o praticam; b ) que nenhum rito em
Porque ele persistiu, muitos têm compreendido si tem valor espiritual; o valor está no seu significa-
melhor os recursos que há em Deus. para auxiliá-los do; c ) que, embora hoje em dia os crentes nào con-
nas provações. tendam sobre a circuncisào. facilmente há divergên-
cias sobre a» duas ordenanças do cristianismo, o ba-
Porque ele persistiu, nações inteiras têm ouvido
tismo e a Ceia do Senhor: d ) que onde reina o amor
as boas-novas de salvação, e a Igreja de Deus tem pe-
fraternal, qualquer divergência não resultará em
netrado nas terras mais remotas.
contenda: e ) que a discussão sobre divergências ten-
Porque ele persistiu, tem havido muito regozijo de a acabar quando os servos de Deus começam a
no Céu por pecadores que aceitaram a Cristo, sendo contar "quão grandes sinais e prodígios Deus havia
salvos. feito por meio deles" ( v . 12).
Termina a primeira viagem (19-28). Vemos quão
facilmente o entusiasmo popular é seguido de perse O que pareceu bem a toda a igreja em Jerusalém
guição insensata. Devemos sempre desconfiar dos (22-24). Notemos que a primeira investigação foi fei-
louvores exagerados: freqüentemente dão lugar mais ta pelos apóstolos e anciãos ( v . 6). mas a mensagem
tarde ao ódio. escrita foi enviada em nome de toda a igreja ( v . 23).
Notemos o procedimento dos apóstolos: a) confir- A separação entre Pauloe Barnabé (33-41). Deste
mando o ânimo deles: b ) exortando-os a permanecer triste incidente aprendemos várias lições: a) Sem
na fé; c ) ensinando-lhes que tinham de sofrer pela acordo espiritual náo pode haver cooperação no ser-
sua fé; d ) constituindo anciãos em cada igreja, e) en- viço de Deus. b ) Um único obreiro de pouca projeção
comendando-os ao Senhor. Podemos confrontar o pode servir de empecilho a dois grandes servos de
versículo 26 com Gálatas 1.16 e pensar quais os servi- Deus. c ) U m laço de parentesco (Marcos era sobri-
ços que nós outros temos cumprido. nho de Barnabé) pode influir desastrosamente numa
Diz F. W. Grant: " N o caso das assembléias aqui. decisão, d ) U m afastamento entre irmáo6 nem sem-
os apóstolos escolheram anciãos para elas; por isso
pre se conserta, e) Faltando um companheiro. Deus
entendemos que elas mesmas não tinham condições
pode fornecer outro.
espirituais para fazê-lo.
Notemos os seguintes pensamentos:
a) O projeto de revisitar os irmãos foi de Paulo e
Capítulo 15 nào de Barnabé. Por isso ele parecia ter mais direito
de escolher o companheiro.
Os gentios. e a lei de Moisés (1-32). O versículo 5 b ) O caso complicava-se porque ambos tinham
diz claramente qual a exigência de "alguns da Ju- razão. Era razoável que Barnabé quisesse perdoar

397
Atos

seu sobrinho, mas também era razoável que Paulo cantando louvores a Deus; que percebeu a impressão
nào quisesse um companheiro inconstante. das orações e hinos sobre os outros presos.
c) Podemos acreditar que teriam evitado a sepa Notemos que foi a um homem sacudido por terre-
raçào: se tivessem orado juntos, apresentando since- moto e com medo da morte que Paulo apontou o
ramente o problema a Deus para que Ele o resolves- meio da salvação. Foi, talvez, por i«au> que Paulo nào
se; se tivessem esperado até conseguir um acordo; se se referiu ao arrependimento. O evangelista de hoje
tivessem feito sentir a Joáo Marcos o peso da sua res- prega, muitas vezes, a pessoas em nada abaladas, e
ponsabilidade no serviço divino, para o qual ele po- raras vezes ouve o grito: "Que me é necessário fazer
deria ser ou um auxilio ou um empecilho. para me salvar?".
d ) Vemos que Paulo e Silas tiveram a comunhão M a s no carcereiro notamos: reconhecimento do
de seus irmàos na projetada viagem, ao passo que perigo, uma tendência ao suicídio, desejo ardente,
Barnabé e Marcos, ao que parece, partiram sem esse disposição para agir. e humildade (pelo fato de rogar
apoio. E o nome de Barnabé náo se encontra mais na prostrado). A um homem nestas condições é que o
história sagrada. apóstolo anuncia o Ev angelho, nos termos mais sim-
ples.
Capítulo 16 N a resposta apostólica notamos: a ) que ele fala
Direção divina (1-10) . Este trecho traz-nos muita com autoridade: nào admite dúvidas ou desconfian-
instrução sobre o assunto da direção divina dos nos- ças nem diz " t a l v e z " ; b ) que a salvação é pela fé:
sos passos no serviço de Deus. Aprendemos que: 1) confiança em uma Pessoa - náo pela aceitação de
Precisa haver um coraçáo obediente e submisso, dis- um credo nem por seguir uma "nova l e i " ; c ) que o
posto a ir ou a ficar, segundo a vontade divina. 2) meio é o mais simples possível: crer no Senhor Jesus
Muitas V M M há portas fechadas que mostram onde Cristo: não por ohras nem por merecimento: d ) que o
Deus não quer que vamos. 3) Pode haver indicações resultado assegurado é: "serás salvo!" e que o meio de
da parte do Senhor que os sábios hão de ponderar. salvação é Cristo e a palavra de salvação é a sua pro-
Aqui houve uma visão. 4) O homem de coração e es- messa; e ) que a responsabilidade é pessoal: " t u " - os
piritualidade "concluirá" com acerto qual a vontade homens não sáo salvos em grupos; 0 que a bênção
de Deus (Goodman). não é limitada: "tu. e a tua casa" (Goodman).
Notemos no versículo 10 a palavra "procura- Podemos notar que o original fala apenas da fé do
mos". na primeira pessoa do plural, que marca o carcereiro e do regozijo dele. embora explique que se
ponto onde Lucas começou a fazer parte da comitiva regozijou " e m f a m í l i a " ( " p a n o i k i a " ) ; náo se fechou
do apóstolo. no quarto para se regozijar sozinho.
Lucas encontra-se na sua companhia em Atos Alguns expositores têm achado problemática a
16.10-17; 20.5 até 21.8; 27.1 até 28.16. pergunta do carcereiro: que quis ele dizer com a pa-
Os primeiros convertidos na Europa (11-18). N à o lavra " s a l v o " ? Estaria preocupado com o perigo de
podendo achar uma casa de oração. Paulo. Silas e ser morto por nào ter guardado bem os presos? Ou
Lucas váo a um lugar de oração à beira do rio. e con- devemos entender que escolheu um momento de pe-
versam com algumas mulheres sobre o Evangelho. rigo mortal para investigar um problema espiritual?
Em Lídia vemos um coraçáo preparado e um Em todo caso parece-nos que foi assim que Paulo o
espirito atento; piedade c dependência; fidelidade entendeu, valendo-se da ocasião para pregar-lhe o
ao Senhor e hospitalidade aos seus servos. Evangelho e a todos da sua casa.
Na moca espirita vemos um comércio ilícito, um
testemunho inaceitável, uma persistência inconve- Capitulo 17
niente. uma obediência aos padrões iníquos, e. final-
mente. pelo poder de Deus. salvação dos poder es Paulo visita Tessalônica e Beréia (1-14). Note-
malignos. mos as grandes proposições da pregação do apóstolo
Deste fato resulta a primeira perseguição por em Tessalônica: convinha que o Crtsfo padecesse, e
parte dos gentios. que ressuscitasse dos mortos. Afirmou ainda: que Je-
"O caminho da salvação" (liberdade, v. 17). Es- sus era o Cristo de quem os profetas falaram.
creveu O. Q. Sellers: "Estou convencido de que é Em seguida levanta-se uma perseguição, e os
erro tornar aqui a palavra salvação no sentido teoló- apóstolos fogem para Beréia. distante cerca de 90
gico. Pois assim fazendo, as palavras importam uma quilômetros.
verdade lisonjeira. Ora. ainda que Paulo nào quises- Notemos com cuidado a nobre característica dos
se a adulaçáo de um demônio, tal louvor náo havia ouvintes em Beréia examinando cada dia nas Escri-
de impedir a obra. Mas as palavras náo eram lison- turas para verificarem as verdades anunciadas.
jeiras. Significam antes uma acusação falsa de que " D i s t o aprendemos: a) que a verdade náo deve
Paulo e Silas eram culpados de atos sediciosos. e de ser aceita sob autoridade de nenhum homem; b ) que
que ensinavam aos judeus um meio de libertação do cada um deve por si mesmo examinar as Escrituras;
jugo romano". c ) que o Espirito Santo é dado a cada um para o ilu-
A conversão do carcereiro (19-40). Os servos de minar (Goodman).
Deus, em quaisquer circunstâncias, prosseguem em Vemos que a perseguição não tardou, e mais uma
dar seu testemunho. A beira do rio. em casa de vez contribuiu para a extensão do evangelismo, pois
Lídia, nas ruas da cidade e na cadeia, falam de Cris- Paulo seguiu para Atenas, a metrópole intelectual
to como Salvador. do mundo de então.
Podemos sentir algumas coisas referentes ao car- Paulo em Atenas (15-34). O apóstolo, como era
cereiro. que náo sáo expressamente declaradas no & u costume, começou por discursar nas sinagogas e
capitulo: que ele ouvira os apóstolos testemunhando praças, mas dentro de pouco tempo levaram-no ao
de uma salvação em Cristo; à qual ligara pouca im Areópago, centro de discussões, onde ele pronunciou
portáncia; que ficou impressionado ao ouvir presos seu mais célebre discurso.

398
Atos

" A p ó s uma introdução breve, mas prudente. 2) O progresso è variado. A mensagem de Paulo
Paulo apresenta um dos maiores discursos do seu era mais positiva do que nunca (1 Co 2.2), mas evi-
ministério. Aqui temos o resumo: Deus e o universo dentemente ele se sentiu oprimido e constrangido
(24.25): a) ou falo», b ) o ensino. Deus e a raça (26- em espirito (5; 1 Co 2.3). Jesus, ás vetes, scntia-se
29): a) a sua relação à raça coletivamente (26.27); b ) oprimido. O leitor encontra nisto algum conforto?
a sua relação à raça individualmente (27.28): c) ensi- Paulo volta dos judeus aos gentios. e a casa de oraçáo
nos que resultam destas verdades (29). Deus e os sé- dos cristàos era junto á sinagoga (6,7). Alguns doe ju-
culos (30,31): a) sua relação aos séculos passados deus saíram de uma casa e entraram na outra (8).
(30a): b ) sua relação ao século presente (30b. 31). 3) O resultado é resumido. Quando Paulo estava
"Alguns escarneceram; outros adiaram o assunto desammado. o Senhor veio ter com ele e o encorajou
para outra ocasião, mas alguns creram ( 3 2 ) " (Scrog- (9.10). Durante esses 18 meses. Paulo escreveu 1
gie) Tessalonicenses em 52 d.C., e 2 Tessalonicenses em
53. N o que segue (12-17) notemos as relações do lega-
No versículo 22, em vez de "um tanto supersti- lismo (12.13); do seculansmo (14.16): e do paganis-
cioso". deve-se ler "bastante religioso"; e no versícu- mo (17). ao Evangelho (Scroggie).
lo 30. em vez de "Deus dissimulando", leia-se:
"Deus passando por alto". Paulo em Efeso (18-23). Desde o Leste até ao
Ooete Paulo tinha estabelecido uma cadeia de igre-
Os poetas a quem Paulo se referiu ( v . 28) eram jas nas cidades principais, excetuando a província
Cleanthus e Aratus, que o apóstolo habilmente in- da Asia. da qual era Êfeso a metrópole. Por que des-
cluiu no seu argumento contra 06 patrícios deles, prezara a Asia? A explicação está em 16.6. Agora, na
cuja proclamada filosofia ele chama de "ignorância " viagem de regresso para a Síria, ele preenche a falta.
( v . 30) - (Grxxy). Sobre a natureza do voto que Paulo tomara, pouco
sabemos. Atos é o único livro d o N . T . em que lemos
"Há de julgar o mundo" ( v . 31). " É do julgamen- de votos (18.18; 21.23), que se relacionam mais com
to (governo) dos vivos, náo dos mortos, que o apósto- o judaísmo do que com o cristianismo. Votos e pro-
lo fala. evidentemente com a intenção de anunciar a messas representam muitas vezes o preço que a pes-
vinda do Senhor e a inauguração do seu reino. Da soa oferece a Deus para obter dele a satisfação da
salvação ainda náo tem falado, porque seus ouvintes própria vontade. O cristianismo ensina-nos em tudo
sáo filósofos e náo pessoas convictas e cansadas. Po- a preferir a vontade de Deus.
rém da necessidade do mundo, e do meio de satisfa-
zé-la. podiam querer ouvir, embora ignorassem a pró- Apoio, o judeu erudito (24-28). Um homem notá-
pria necessidade; e seus corações poderiam ser co- vel. Vemos as suas qualidades: eloqüente (erudito),
movidos ao ouvir de um reinado de justiça em lugar poderoso nas Escrituras, instruído no caminho do
do despotismo dos Césares sob o qual estavam opri- Senhor, fervoroso em espirito, diligente, ousado, de-
midos. Mas já ouviram o suficiente para que a sim- sejoso de aprender mais.
ples menção da ressurreição acabasse de esgotar a Vemos as suas limitações: conhecia somente o
sua paciência. Alguns zombam; outros cortesmente batismo de Joáo: o ministério de arrependimento.
adiam o assunto para outra ocasião: nào acham o en- Vemos as conseqüências do seu serviço: proveito
sino importante para despertar a sua hostilidade. para oe crentes e convicção para os judeus.
Nada se podia esperar de ouvintes como estes, e
Paulo os deixa. N á o temos notícia de resultados tão Capitulo 19
parcos em outro lugar, mas para os sábios do mundo
a sabedoria de Deus parece loucura" (Grant/.
Paulo passa dois (19-10) ou trés (20.31) anos em
Êfeso (1-21). Apesar de haver sido anteriormente
C a p i t u l o 18 proibido pelo Espirito de anunciar a palavra na Asia
(16,6). está agora o apóstolo com residência estabele-
cida na capital dessa província, e a sua pregaçáo é
Paulo em Corinto (1-17). A segunda viagem mis- abençoada "de tal maneira, que todos os que habita-
sionária aproxima-se do seu término. Paulo ainda vam na Ásia ouviram a palavra "
está na capital da Acáia. Corinto, cidade comercial,
de uma devassidáo abismai. Por isso Corinto era Primeiro notamos o caso dos doze "discípulos"
uma esfera modelo para trabalhos missionários, de João. Por que "cerca de doze homens'7 (19.7
onde a adaptação do Evangelho a todas as classes so- V.B.). Algum leitor quer entender que um ou dois
ciais podia ser experimentada, e onde também a re- eram moços, e por isso o escritor nào os quis contar
lação dos princípios cristãos a todos oe aspectos da como homens.
vida podia ser demonstrada. Podemos imaginar que chegaram a Êfeso na
companhia de Apoio, e participaram do seu limitado
Ali Paulo permaneceu durante dezoito meses (v. conhecimento da verdade.
11) nos anos de 52-54 d.C. Estudando seu trabalho
Quando Paulo lhes impôs as máos (v. 6), veio
naquela cidade, devemos notar: 1) seu com eco (1-4):
2) seu progresso (5 8); e 3) seu resultado (9-17). sobre eles o Espírito Santo, e então manifestaram-se
neles dois dos dons; línguas e profecia.
1) O começo é impressionante. Passar de Atenas E um estudo interessante considerar-se quem
a Corinto era sair de um grande centro intelectual fala no versículo 5: se é Paulo ou Lucas, o escritor. O
para um grande centro comercial. Paulo chega sozi- dr. Bullinger entende que é Paulo, que quis explicar
nho. faz dois amigos e trabalha com eles fazendo aos doze discípulos o pleno alcance do batismo de
tendas, empregando os sábados na evangelizaçáo. Joáo: que importava ser batizado no nome do Se-
Passava certa necessidade material nesse tempo (2 nhor Jesus, que não se limitava meramente ao arre-
Co 11.9). pendimento ( v . 4). Pergunta aquele comentarista se

399
At<*

devemos ver aqui um rebatismo, que seria o único metros por terra ou 33 por mar (Scroggie), mas o dis-
rebatismo em toda a Bíblia.* curso que ouviram serviu-lhes de plena compensa-
Em Atos 8.16,17 vemos um caso parecido, em que ção.
o dom do Espirito Santo segue. náo ao batismo, mas N o versículo 22 preferimos a tradução da V.B.
è imposiçáo das máos - e em 10.47 um caso diferen- "constrangido no meu espirito".
te. era que o Espírito foi recebido antes do batismo. " N e s t e discurso Paulo fala do seu serviço, tema e
Neste trecho vemos Paulo na sinagoga de Éfeso e sofrimento: a) seu serviço era constante, em todas as
na escola de Tirano, ainda operando alguns milagres ocasiões, 'em tempo e fora do tempo'. Era humilde e
de curas. afeiçoado - com muitas lágrimas - e penoso, pelas ci-
Sabemos que ele nem sempre curava os doentes ladas dos judeus. Era fiel - anunciando tudo que fos-
milagrosamente (2 T m 4.20). pois ás vezes a doença se útil. Era público e particular ( v . 20); b ) seu tema
é correção divina. era. objetivamente, o Evangelho da graça de Deus
N o versículo 18 notamos como a confissão de pe- ( v . 24). e. subjetivamente, 'arrependimento para
cados acompanha uma poderosa operação do Espiri- com Deus e fé no Senhor Jesus Cristo'; c ) seu sofri-
to de Deus. Hoje em dia. onde o poder de Deus é pou- mento, que antecipava, era prisões e tribulações"
co manifesto, a confissão é quase desconhecida. (Goodman).
Fanutixmu e uUemsstr (21-41). Paulo achava seu Notemos no versículo 35 uma beui-aventurança
serviço em Éfeso terminado, e propôs visitar Jerusa- pronunciada pelo Senhor Jesus e náo relatada nos
lém, indo, porém, primeiro em direçáo contrária evangelhos.
pela Macedónia e Acáia Mas era preciso ainda so- Podemos também estudar este discurso da se-
frer em Efeso alguma perseguição movida pelo fana- guinte maneira:
tismo e interesse. 1) O que Paulo diz de si mesmo.
Nesta perseguição vemos como a idolatria fez de- 2) O que Paulo diz da mensagem.
generar até mesmo homens inteligentes, fomentando 3) O que Paulo diz da igreja.
suas paixões mais ignóbeis e tornando-os em feras. 4) O que Paulo diz dos anciãos.
Alguns discutem com pedras. Estes, em vez de argu- 1) Paulo diz de si mesmo que sua atuação passa-
mentar. empregam a vociferaçáo, gritanao durante da começou com seu comportamento ( v . 18): foi hu-
duas horas: " G r a n d e é a Diana dos efésios". milde. com lágrimas, sem interesse material ( v . 33);
O escrivão da cidade mostrou-se mais sensato e foi individual ( v . 31). com provações dos judeus ( v .
conseguiu acalmar o povo 19) e completa (v. 20). foi pública e particular: fala-
Paulo propôs em (seu) espírito ( v . 21). Esta é va expressamente do arrependimento e da fé (v. 21).
uma expressão hebraica que significa resolver firme- e incluía "todo o conselho de Deus" ( v . 27).
mente. N o capitulo 20.22 tem o mesmo sentido Sua atuação futura deveria ser corajosa: seria
(Bullinger). perseguido (v. 23). mas daria testemunho do Evan-
gelho da graça.
Capítulo 20 2) Paulo diz da sua mensagem que é " ú t i l " ( v .
Paulo visita a Macedónia e volta a Tróade. na Á- 20); que é dirigida a judeus e gregos; que exortava ao
sia (1-16). Nesta viagem, em vista do seu propósito arrependimento e á fé ( v . 21); que declarava "a graça
de visitar a Grécia, escreveu 2 Coríntios. Então visi- de Deus"; que era "poderosa para edificar" ( v . 32).
tou Corinto ( v . 2). ficou ali três meses, e escreveu Os leitores podem considerar se o Evangelho tem
Gálatas e Romanos. Ê agora o ano 58 d.C. e ele náo para si todos estes valores.
podendo efetuar seu primeiro pensamento, volta 3) Paulo diz da igreja: que é o rebanho de Deus;
pela Macedónia e atravessa o mar de Nápoles a que deve ser apascentado por quem o Espírito Santo
Tróade ( w . 2.6). constitui bispos (superintendentes): que tinha sido
É o domingo ( v . 7). Reunião da Ceia; um longo remida com sangue ( v . 28); que do seu meio se levan-
discurso; muita gente; muitas luzes: pouca ventila- tariam homens perversos.
ção; um moço sonolento, apesar de (por absoluta fal- 4) Paulo diz dos anciãos que devem olhar primei-
ta de assentos) estar pessimamente acomodado ro para si mesmos e depois para o rebanho; que de-
numa janela; um desastre; pronto socorro; o partir vem vigiar, e lembrar o exemplo apostólico; que a
do pão; o moço vivo e seus pais consolados. Palavra de Deus seria sua suficiência; que deviam
Visto que alguns tém querido provar que esta seguir o exemplo de trabalho que ele deixara; que
reunião da Ceia se realizou num sábado, podemos lembrassem as palavras do Senhor Jesus (náo men-
notar com cuidado que neste capitulo mencionam-se cionadas nos evangelhos) "Mais bem-aventurada
apenas dois dias: o primeiro dia da semana (v. 6) e o coisa é..."
dia seguinte ( v . 15). Em um ou outro desses dias rea-
lizou-se o partir do pão, mas náo encontramos pala- Capítulo 21
vra alguma do dia anterior ao domingo.
Paulo e at anciãos de Efeso (17-38). Para os efé Subindo a -Jerusalém (1-14). O versículo 4 deste
sios chegarem a Mileto, precisavam viajar 110 quilô- capítulo leva alguns a acreditar em que Paulo não

* Nota do Editor: Em que peoe a erudição do autor, não podemos aceitar o ato de Paulo em Efeso como um rebatismo.
ds vez que o batismo de João Batista • o batismo cristão sào ordenanças distintas.
O primeiro foi ordenado por João e pertencia à Dispensaçáo da Leá: ara uma cerimônia judaica de purificação,
asada também para receber prosétitos. a qual foi praticada pelo Batista, por seus discípulos e até mesmo pelos discí-
pulos de Jesus. para receber os que se mostraram arrependidos dos seus pecados.
O segundo - o batismo cristão - foi ordenado por Jesus, depois de sua ressurreição, isto é, jã aa Dispensarão da
Graça, á qual pertence, e durará até a vinda de Cristo para arrebatar a sua Igreja.
O batismo cristão representa, principalmente, a morte do batizando para o mundo (ao imergir), e a sua ressurrei-
ção para Deus - o nosso nascimento (so emergir).

400
Atos

devia ter ido a Jerusalém. A maioria dos comenta do- Deus. e antecipa o Evangelho. T i a g o e os anciãos es-
res, porém, entende que foi Deus quem o mandou peravam que Paulo, levando aqueles homens ao
para lá (18.21; 20.16,22). templo para cumprir o seu voto. evitaria a má com-
Diz F W. Grant: " O aviso dado é duplo. Primeiro preensão pela prova do seu respeito para com o servi-
o apóstolo é proibido, clara e positivamente, de ir a ço do t e m p l o " (Goodman).
Jerusalém; depois sáo apresentadas as conseqüên- A cidade em tumulto (27-40). O plano fracassou.
cias que. se assim fizer, lhe sobrevirão. Sendo Paulo Foi justamente a presença de Paulo e outros no tem-
o homem que era. o simples conhecimento das con- plo que deu origem ao tumulto.
seqüências talvez náo fosse suficiente para servir-lhe " O resultado foi que Paulo ficou preso por cinco
de aviso, mas vindo esse conhecimento após a proibi- anos, 58 a 63 a.C., primeiro em Jerusalém (21.37 a
ção taxativa, reforçou-a de modo inequívoco. Porém 23.22). depois em Cesaréia (23.23 a 26.32), e final-
nem assim Paulo toma conhecimento: está como que mente em Roma (caps. 27 e 28).
de olhos vendados pela paixão que possui pela salva-
" V e m o s Paulo calmo, corajoso, enérgico, cortês,
ção de Israel ( R m 9.1-4). Dominado por essa paixão,
razoável. O tribuno era um homem sensato. Note-
ficou incapacitado de reconhecer qualquer empeci-
mos o púlpito (v. 40). a congregação (v. 36), as cir-
lho á realização do seu plano. Disposto como estava
cunstâncias (v. 35). o pregador (v, 40)" (Scroggie).
a sacrificar-se até o último extremo, não acreditava
que Deus o proibisse de agir de acordo com o que, Podemos também estudar o incidente assim: 1) a
para ele. era o fruto do Espírito de Cristo no seu co- ocasião do motim; 2) a atitude da multidão; 3) o pro-
ração". cedimento do tribuno.
1) A ocasião do motim foi quando Paulo, persua-
A viagem do apóstolo foi pela costa sudoeste da dido por irmãos legalistas, comprometeu-se de novo
Ásia Menor. A ilha de Coos tem cerca de 32 quilôme- com o serviço do templo e os " v o t o s " do judaísmo
tros de comprimento. Havia ali uma cidade grande e ( w . 20-27).
um templo pagào. Rodes é uma maior, que fica a 70 Alguns pensamentos ligam-se com isto, por
quilômetros mais para o sul. Pátara era a capital da exemplo:
Lisia, no continente. A Fenícia ficava ao sul da Síria a) Precisamos cuidado quanto aos lugares que
onde se situavam os portos de Tiro e Ptolomaida. Os freqüentamos, ainda que os nossos motivos sejam
viajantes tocaram na grande ilha de Chipre. Pafos fi- bons. O crente que, por qualquer motivo, vai á mis-
cava no extremo Leste dessa ilha. Em Tiro o grupo sa. pode ver a sua ação mal interpretada. Igualmen-
descansou sete dias (Goodman). te se for ao cinema.
N ã o podemos dizer de que modo as quatro filhas b) Precisamos cuidado quanto à companhia que
de Filipe "profetizavam" (v. 9). mas também não procu imos. Esses quatro varões com seus votos ju-
precisamos imaginar que o faziam em desobediência daico» comprometeram o apóstolo, que tantas vezes
às Escrituras, como 1 Coríntios 14.34 e 1 T i m ó t e o tinha testemunhado contra o legalismo.
2.11-15. Podem ter profetizado em casa. na família, O companheiro que nos compromete pode nào ter
e não na igreja. tomado nenhum voto, mas por outros motivos pode
Uma concessão em face de circunstâncias anor- ser companheiro inconveniente.
mais (15-26). Havia então em Jerusalém dois grupos c ) Precisamos cuidado quanto aos compromissos
de crentes: 1) crentes israelitas zelosos da Lei (v. 20), que assumimos. O nosso caso talvez seja diferente do
e 2) crentes gentios que. pelo julgamento dado em de Paulo; pode nào ser ura compromisso religioso
15.23-29, haviam ficado isentos da circuncisáo e da (talvez apenas o de ser fiador de alguém), mas pode
Lei (v. 25). Qual dos dois tinha razão? A resposta en- acarretar desastre em nossa vida espiritual.
contra-se em Romanos 14.2-23, a saber: a ) Ê indife- 2) Na atitude da multidão hostil, vemos ódio,
rente o uso de costumes cerimoniais, uma vez que mentira e violência - características que muitas ve-
não se confie nele para a salvação. O que náo é da fé zes acompanham o erro. mas de que o Evangelho
é pecado, mas tudo que é da fé agxada a Deus. O Se- nunca precisa servir-se.
nhor aceita tudo que é feito com ações de graças "pa-
Toda a perseguição foi baseada numa suposição:
ra E l e " , b) Mas não devemos julgar uns aos outros
pensavam que Paulo tivesse levado Trófimo ao tem-
em tais coisas. Cada um tem liberdade para servir
pio.
seu Senhor ( R m 14.13). c ) Temos liberdade para
E hoje quantas vezes, mesmo entre crentes, uma
considerar uns aos outros e acomodar-nos a fraque-
inimizade é baseada em alguma suposição errada!
zas de nossos irmãos ( R m 14.1), quando nenhum
Devemos ter cuidado de nunca pensar mal. mas ha-
principio divino é comprometido. Assim Paulo de-
bitualmente atribuir os melhores motivos aos outros,
clara em 1 Coríntios 9.20.
e ser pacientes em esperar a explicação dos casos
" S e m dúvida foi por isso que Tiago e os anciãos problemáticos.
propuseram o plano do versículo 26, para evitar; 1) 3) N o tribuno vemos prontidão, prudência, in-
falta de compreensão da atitude de Paulo perante a vestigação. condescendência. Parece-nos que o ro-
Lei, e, 2) em conseqüência, um motim. A atitude de mano pagào procedeu melhor do que os judeus reli-
Paulo para com a Lei náo era a de querer que fosse giosos.
abandonada, mas que fosse compreendida (v. 21).
Ele ensinava: a) que a Lei apontava para Cristo, e Capitulo 22
que 'Cristo é o fim da Lei para a justiça de todo
aquele que crê' ( R m 10.4); que a justiça, embora à Paulo se defende perante o povo (1-21). O discur-
parte da I>ei (por ser somente em Cristo), fora teste- so divide-se em três partes: ele fala do período:
munhada pela Lei ( R m 3.21); e b) que a Lei era boa 1) Antes da conversão (1-5). Aqui o apóstolo pro-
se alguém dela usasse legitimamente (1 T m 1.8), isto cura ganhar a simpatia dos seus ouvintes, relatando
é, não descansando nela como meio de salvação, mas seu nascimento, instrução escolar, obediência à Lei e
regozijando-se nela porque ensina s glória moral de zelo religioso.

401
JÜOS.

2) A sua com ersao (6-16) em que se refere á vi- Então o Senhor estava satisfeito com Paulç? Isto náo
são, À voz, às trevas, A cura, á confissão e ao batismo. prova que Paulo tenha procedido bem em tudo, mas
Ananias apresenta quatro pensamentos referen- mostra que seu coraçáo era reto para com D e u s "
tes à chamada divina (14,15): a) que conheças a sua (Scroggie).
vontade: b) e que vejas aquele Justo; c) e ouças a voz Termina sua prisão em Jerusalém (12-22). Paulo,
da sua boca; d ) hás de ser sua testemunha. Sem os sem dúvida, sentiu-se reanimado pela visão do Se-
três primeiros nào pode haver o último. nhor (v. 11). T e m o s outro incidente análogo em 2 T i -
3) Depois da conversão (17-21). Aqui Paulo justi- móteo 4.17.
fica a sua missão aos gentios, como em 6.16 tinha Neste trecho podemos notar diversas coisas:
justificado a sua fé em Cristo. conspiração inimiga (v. 12); conjuração atrevida (v.
Notemos o efeito da palavra " g e n t i o s " (21) sobre 13); cilada diabólica (v. 15): um sobrinho corajoso
o auditório israelita: uma explosão imediata de fana- (v. 16); um oficial atencioso (v. 19); uma resolução
tismo religioso. enérgica (v. 23).
N o versículo 16 é preferível ler "receber o batis- N o tribuno Cláudio Lísias vemos as seguintes ca-
mo" como na V.B. e não " b a t i z a - t e " como em Al- racterísticas: prontidão (21.32); prudência (33); ex-
meida. periência de motins judaicos (38); bondade (40);
Paulo amarrado, mas nào açoitado (22-30). N o espirito de investigação (22.24); justiça (27,28); con-
versículo 24 vemos o modo primitivo que era costu- descendência (23.19); cautela (22); respeito aos seus
me empregar para investigar a verdade. Mas Paulo superiores (26-30).
insistiu no seu direito como cidadão romano, e o tri- Começa a prisão em Cesaréia (23-35). Paulo viaja
buno nào teve mais coragem para açoitá-lo. para Cesaréia quase como rei, a cavalo, escoltado
Às vezes é necessário acomodar nossa linguagem por uma comitiva de 470 soldados. Era viagem de
* compreensão dos ouvintes. Escrevendo aos crentes uns cem quilômetros.
em Filipos, Paulo podia dizer-se cidadão dos céus Paulo tinha visto Jerusalém pela última vez. Co-
( F p 3.20), mas falar disso ao tribuno seria incom- meçaram agora suas longas prisões, mas. mesmo
preensível e inútil. preso, ele continua testificando do Evangelho, e pa-
Há anos, em Lisboa, um crente sem recursos que- rece que nunca perde sua serenidade espiritual. N a
ria entrar num hospital do governo. carta aos Filipenses. escrita na cadeia, fala em cada
" P a r a isso você necessita um atestado de pobre- capitulo do seu gozo, e exorta os filipenses a se rego-
z a " , disse um irmão. zijarem.
" A h ! mas isso náo pode ser. porque nós crentes
somos ricos (2 Co 8.9)". observou outro. Capítulo 24
" S i m . mas o mundo náo entende a nossa rique-
z a " , disse um terceiro. Paulo perante Félix: a acusação (1-9). Os judeus
Capitulo 23 alugaram um orador romano para acusar seu cotnpa- .
triota perante esse tribunal estrangeiro.
Paulo se defende perante o Sinédrio (1-11). Paulo N o discurso de Tertulo notamos lisonja e menti-
se defende perante quatro diferentes classes de gen- ra. A acusação continha quatro alegações mentirosas
te: perante o povo (cap. 22); perante o Sinédrio (cap. quando dizia que Paulo era: 1) " u m a peste" (uma
23); perante os governadores romanos (caps. 24 a afirmação contra o seu caráter); 2) promotor de sedi-
26), e finalmente perante César (2 T m 4.16). ções; 3) chefe da seita dos Nazarenos; 4) profanador
Alguns têm achado certo progresso espiritual na do templo.
sua maneira de se defender. A defesa (10-21). Paulo demonstra como eram
" H á poucos trechos da Escritura que apresentam absurdas as acusações, pois ele tinha estado poucos
tantas dificuldades como este. Paulo fez bem em fa- dias em Jerusalém e náo tinha sublevado o povo nem
lar como falou no versículo 3? Como era que não sa- discutido, mas apenas adorado.
bia que o sumo sacerdote presidia o conselho? Se fez Porém seu principal interesse não é o de defen-
bem em falar como no versículo 3, por que pediu des- der-se, mas testemunhar da verdade. E m muitos
culpa (v. 5)? Ele fez bem em classificar-se como fari- pontos este discurso se parece com sua defesa em 2
seu, uma vez que. espiritualmente, já se achava Timóteo 4.16-18.
muito afastado desse partido? Em qualquer caso. " N e s t a defesa de Paulo vemos: cortesia, mas nào
que tinha "a esperança e a ressurreição dos mortos" lisonja; razão, e não malícia; respeito, e náo despre-
com sua acusação? zo; argumento, mas náo abuso. A defesa de Paulo é
"Deus te ferirá". " C i n c o anos mais tarde Deus fe- conveniente pela sua correção, coerência e calma. A
riu notavelmente a Ananias. Tendo sido incendiada parte negativa está em 11-13; a positiva em 14-21"
a sua casa durante o motim promovido por um filho (Scroggie).
seu, foi preso e levado ao palácio real; donde, haven- O resultado (22-27). Notemos a respeito de Félix:
do debalde procurado esçonder-8*, foi retirado e 1) que era bem instruído acerca do Caminho, talvez
morto" (Treasury). porque sua mulher Drusila * era judia; 2) que quis
"Várias suposições podem resolver a dificuldade evitar uma decisão, semelhante a Pilatos, porque era
do versículo 5. Historicamente, o cargo do sumo sa- difícil agradar a todos os partidos; 3) esperava subor-
cerdote estava vago no momento, e Ananias, um no, como era de costume; 4) escutou o testemunho
sumo sacerdote deposto, exercia-o interinamente. de Paulo ao Evangelho; 5) estremeceu, mas náo che-
" A s últimas três perguntas, e todas elas. pode- gou a uma decisão. Esperava uma ocasião mais con-
mos considerar á luz do versículo 11. 'Tem ânimo'. veniente - que nunca chegou.

0 " D n u i l â era irmá de A*rips d* quem lemos no capitulo 25. • filha do Horodos que matou T l o « o (cap. 12). Náo era

eepoeo lecltima do FAUx. pois abandonara soa marido poro viver oom aquele" (Gray).

402'
Atos

Capitulo 25 Capitulo 27

Paulo perante Festo (1-12). Um apôs outro os go- Tempestade no mar (1-17). Estes capítulos 27 e
vernadores romanos julgaram o apóstolo. Nenhum 28 referem-se aos anos 60-63 d.C.
deles percebe a importância da ocasião nem aprovei- A s viagens marítimas naqueles tempos remotos
ta a oportunidade para receber o Evangelho de Deus. eram muito mais perigosas do que agora. N á o havia
E nós. porventura, somos mais sensatos do que eles. bússola, nem cartas marítimas, nem vapores, mas
aproveitando bem todas as nossas oportunidades 0 apenas p e q u e m » navios impelidos á vela ou a remos.
A defesa de Paulo desta vez é resumida em um só Paz no meio da tempestade (18-29). Paulo podia
versículo, o 8. Ele afirma não ter ofendido a Lei. nem ficar tranqüilo porque tinha a Palavra de Deus refe-
o templo, nem o governo romano. Depois faz seu cé- rente ao *eu destino (24). Em momentos de grande
lebre apelo ao tribunal de César (v. 11) que é confir- provaçào. a realidade da nossa fé é verificada, e a fé
mado pelo seu juiz. real conserva a tranqüilidade da alma. N à o é prová-
Ouvimos o apó.-'.ilo dizer confiada mente: "São vel alguém, por exemplo, testemunhar de um suici-
fiz agravo algum dos judeus, como tu muito bem se- da que era homem de fé.
bes" Como é bom ter sempre uma boa consciência! E vemos que a provação era grande (v. 20). nào
Paulo perante A gripa (13-27). "Berenice era irmã havendo mais esperanças de salvação.
de Festo. Ela tinha abandonado seu primeiro marido Neste trecho vemos que o homem de Deus pode,
para casar com Agripa. o filho do Herodes de quem às vezes, animar todos os seus companheiros.
lemos no capitulo 12. o assassino de Tiago e perse- O naufrágio (30-44) " A presença de um homem
guidor de Pedro. Herodes era rei da Galiléia. O im- de fé. que conhecia Deus e confiava nele. resultou na
perador N e r o estendera seu reino para incluir essa salvação da totalidade da tripulação e dos passagei-
região. Assim vemos que Agripa estava visitando seu ros 276 almas Deus tinha dado todos a Paulo (v.
cunhado Festo por ocasião da. posse deste como go 24). e foi *eu ámmo. coragem e fé que os salvou.
vernador" (Goodman). " S e a tripulação tivesse escapado no batei, certa-
Percebemos quão pouca imp<*rtáncia Festo liga mente teriam todos perecido (31). Foi a voz de Paulo
va ao Evangelho nas palavras, "questões de sua su- que os deteve. Sem a tripulação ninguém teria acha-
perstição. e de um certo Jesus, defunto, que Paulo do uma enseada própria para o desembarque, nem
afirmava viver". E hoje ainda há alguns que nào li- tena podido guiar o navio para ela. Foi Paulo que os
gam importância a isso! animou a tomar alimento e assim recobrar coragem e
Notemos que esse último processo foi o mais im- forças, e finalmente foi Paulo que ganhou o coração
portante de todos, havendo reunião formal de tribu- do centuriào de maneira que os presos não perece-
nos. varões principais, governadores e reis ram (v 43). Contudo Paulo nunca interveio no ma-
nejo da embarcação, nem assumiu um comando he-
Capitulo 26 róico. Ele era como o pobre homem sábio que pela
sua sabedoria salvou a cidade ( E c 9.15)" (Good-
man).
Paulo perante Agripa (continua. 1-18). Neste tre-
cho não aparecem os acusadores, mas a Paulo é per-
mitido defender-se. Ele relata a história da sua vida. Capítulo 28
como fariseu, e como pregador do Evangelho.
Paulo em Mehta (1-10). Náo devemos entender
Seu testemunho principal é do fato da ressurrei- mal a palavra nos versículos 2 e 4 traduzida por Al-
ção de Cristo. Durante seu argumento ele afirma o meida "bárbaros". E melhor, como no V.B. "indíge-
seguinte: 1) que ele mesmo tinha sido muito contrá- nas" ou "estrangeiros" Melita ( M a l t a ) era então
rio à "nova l e i " (v. 9); 2) que a vinda do Messias era uma ilha próspera e civilizada, com edifícios públi-
a esperança de Israel (6,7); 3) que a ressurreição nào cos importantes
deve ser uma coisa incrível; 4) que ele mesmo tinha
visto Jesus ressurgido, elevado, na glória de Deus. " N o espaço de poucas horas Paulo teve uma va-
riedade de experiências: sofreu naufrágio e foi salvo;
E esta a terceira vez que a conversão do apóstolo ficou destituído e foi abastecido; foi mordido de
é relatada, e o único lugar em que devemos ler as pa- cobra e conservado com saúde: foi tomado por assas-
lavras: "Dura coisa te é recalcitrar". etc. ( v . 14). sino e adorado como deus" (Simeon). Quem vive na
Paulo evangeliza seus juizes (19-32), Notemos no presença de Deus conserva a serenidade em meio da
versículo 18 a grande comissão dada ao apóstolo, e diversidade das circunstâncias.
tudo que ela continha. Vemos no6 versículos 20 e 21: Notamos que os pagáos eram caridosos, supersti-
a) a esfera de sua evangelizaçáo. b) as pessoas que ciosos (v. 4), e inconstantes (v. 6).
evangelizava, c ) o ensino que lhes deu. d ) a persegui-
A cura (v. 8) foi feita pelo homem de Deus, e Lu-
ção que sofreu.
cas o médico, relata o caso.
Nos versículos 22.23 aprendemos mais verdades: Durante os trê* meses passados na ilha, podemos
a) o segredo da sua continuação; b ) o alcance do seu acreditar que Paulo teve muitas ocasiões para falar
testemunho: c) a base profética dos fatos que procla- do Evangelho.
mava. e d ) que o Cristo havia de padecer, ressurgir, Rumo a Roma (11-31). Afinal a viagem é reinicia-
iluminar a Israel e aos gentios. da, e prossegue sem novidade. Vemos que. então,
Vemos depois a reação do6 juizes descrentes. Fes- como agora, era costume dar nomes aos navios. Cas-
to julga que tudo é loucura; Agripa. ao que parece, tor e Pollux eram dois irmãos gêmeos da mitologia,
fica um tanto impressionado; porém pode ser que te- filhos de Júpiter e Leda: segundo a crença da época,
nham sido irônicas as suas palavras "com pouco me protegiam os marinheiros (Pequeno Dicionário
persuades a fazer-me cristão" (v. 28. V . B . ) . Bíblico)

403
Ato*
Notemos a fraternidade cristã que Paulo encon- " A comitiva chegara a Roma no ano 61 d.C., ten-
tra pelo caminho. Passa sete dias com os crentes em do Paulo ficado ali dois anos. Em 62 escreveu as
Putcolos; outros irmãos o encontram em T r é s Ven- epístolas: aos Efésios. aos Colossenses, a Filemom. e
das. e em Roma ele tem uma casa particular, onde o aos Filipenees. E m 63 foi solto e ficou livre até 67.
visitam muitos crentes. Durante esse período, visitou diversos lugares na Á-
Parece que os acusadores em Jerusalém se ti- sia Menor e na Macedónia. e afinal chegou à Espa-
nham esquecido de Paulo, nada tendo escrito a seu nha. Em 68. foi preso novamente em Roma. onde es-
respeito aos judeus de Roma. creveu 1 T i m ó t e o e T í t o em 66-67, e 2 T i m ó t e o em
" E m b o r a Lucas não estenda a sua narrativa 68: neste último ano. depois de dois processos, foi
além deste primeiro encarceramento em Roma. dá a morto o resultado do seu apelo a César" (Scroggie)
entender que durou dois anos ( v . 30). Há motivo Estranhamos um pouco que nào haja aqui ne-
para crer que Paulo tenha sido absolvido por Nero (2 nhuma alusão à igreja à qual trés anos antes Paulo
T m 4.17) e tenha podido realizar a sua projetada vi- tinha dirigido sua célebre Epístola, nem a qualquer
sita à Espanha ( R m 15.24.28). Clemente, discípulo dos crentes a que ele mandara saudações. Quais de-
de Paulo ( F p 4.3). escreveu que este tinha pregado o les devemos contar entre as visitas do versículo 30?
Evangelho no Oriente e no Ocidente, e que tinha N o fim do capítulo vemos que a maioria dos ju-
'instruído o mundo inteiro em justiça*, tendo chega- deus rejeitou o Evangelho, e que. apesar de todos os
do á 'extremidade do Oeste* - que somente pode sig- embaraços e cadeias. Paulo conseguiu evangelizar
nificar a Espanha" (Goodman). com ousadia e "sem impedimento algum".

404
Romanos
f - — —

sta epístola foi escrita por Romanos ensina os verdades que se referem ao
Paulo para os cristãos em crente na sua vida individual - perdão, justificação,
Roma no mês de fevereiro etc. - e nada ensina da igreja.
de 58 d.C.. em Corinto, na Coríntios ensina as verdades que se referem aos
casa d e um a b a s t a d o crentes reunidos na igreja - fraternidade, ministério,
Gaio (16.23). Paulo teve como escre- culto, etc. Precisamos primeiro aprender o que é in-
vente (16.22). A carta foi levada a Roma pela dividual, para depois apreciar o que é coletivo. Por
viuva ia ali tratar de seus negócios parti- isso podemos liem começar com Romanos.
culares " A Epístola aos Romanos pode ser dividida em
tem sido sempre considerada a obra- três partes: 1) A ruína universal pelo pecado da raça
prima do apóstolo Paulo, tanto pelo seu valor inte- humana, e o remédio da Redenção (caps. 1 a 8). 2) A
lectual como teológico, e «w> homens mais eminentes revelação do Evangelho uos judeus (caps. 9 e 11). 3)
a tém apreciado sobremaneira Diz-se que Crisósto- A vida cristã que se vê nos que abraçam o Evangelho
mo ou\*ia a leitura dela uma vez p"r semana: Cole (caps. 12 a 16)*' (Goodman)
ridge a considerou "o livro mais profundo jamais es-
crito'. Calvino disse que ela 'abria as portas a todos ANÁLISE DE ROMANOS
os tesouros das Escrituras'; Lutero a chamou 'o prin-
cipal livro do N . T . e o Evangelho mais puro'; e M e - Saudação (1.1-7).
lancton, f>ara a compreender melhor, copiou-a duas Introdução (1.8-15).
vezes com seu próprio punho. Godet a intitulou 'a Propósito (1.16.17).
catedral da fé cristã"' (Lee). Parte I Doutrinária (1.18 a 8.39).
Em cada epistola devemos verificar se foi escrita A justiça de Deus com referência aos pecados e ao
a pessoas conhecidas ou desconhecidas, e notar a di- pecado.
ferença de tratamento em cada caso. Gálatas foi es- 1. T e m a : Condenação (cap. 1.18 a 3.20).
crita a crentes bem conhecidos, e por isso o apóstolo a) Os gentios sob condenação (1.18-32).
apela para sua autoridade espiritual. Romanos, a b) Os judeus sob condenação (2.1 a 3.8).
desconhecidos, e o apóstolo nào usa de autoridade c ) O mundo sob condenação (3.9-20).
alguma, mas sim de argumentos bíblicos e razões ló- 2. T e m a : Justificação (cap. 3.21 a 5.11).
gicas. a) A base da justificação: a graça de Deus
Embora fosse uma carta dirigida a romanos - (3.21-26).
gentios vemos que entre os crentes em Roma ha- b) O meio da justificação: nossa fé (3.27 a
via. evidentemente, um grande numero de judeus 4.25).
convertidos. Por isso o apóstolo constantemente re- c ) Os efeitos da justificação: amor e vida (5.1-
fere-se aos fatos do V . T . 11).
Podemos resumir o sentido da Epístola em uma Suplementar (5.12-21).
frase, dizendo que trata da doutrina do Evangelho Condenação e justificação referidas às suas ori-
Muita gente usa medicina sem ter nenhum co- gens históricas cm Adão e em Cristo.
nhecimento da ciência médica, e também muita 3. T e m a : Santificaçào (cap. 6.1 a 8.11).
gente espera salvação em Cristo sem ter estudado a a) O principio da santidade (6.1-11).
doutrina do Evangelho. Para tais pessoas. Romanos Morte e ressurreição com Cristo.
é uma iluminação. b ) A prática da santidade (6.12 a 7.6).

405'
Ttomanas

O reconhecimento das novas relações e o 2. A solução do problema dispensacional.


abandono delas. 3. A solução do problema prático" (Scroggie)
c ) O impedimento à santidade (7.7-25).
A atividade interior do pecado e do egoísmo. Capitulo 1
d ) O poder da santidade (8.1.11).
O domínio ininterrupto do Espirito de Deus. Introdução (1-17) Começa com a salvação \ 1 -7i:
prossegue com açõ«*> de graças (8-12). e conclui com
4. T e m a : Glorificaçdo (8.12-30). a apresentação do tema da epístola «13-17».
a) A evidência da glória vindoura <12-17).
A saudação afirma três coisas acerca do escritor
b) A expectaçào da glória vindoura (18.27).
da carta • v. II. IX» Evangelho, diz que fora prometi-
c ) A certeza da glória vindoura (28-30)
do |H-I>r< profeta- .«firma que seu assunto c o Pilho.
Suplementar (8.21-39).
JesUs Cri-lo. n«»>-» Senhor; revela que Je>us é da se
" D a condenação ã glorificaçào". celebrado nuina mente de Davi. provado ser Filho de Deus. e dador
canção triunfante. da "graça e apostolado" de Paulo.
Parte II Dispensacional (caps. 9 a 11). Sobre o versículo 4 Wilfrid Isaacs tem a seguinte
A justiça de Deus em relação ã vocação de Israel. nota: Anastosis' não jx>de reterir-se á ressurrei-
1. A eleição de Israel (9.1-29). ção dentre os mortos por parte de Cristo, embora iss«>
2. A rejeição de Israel (9.30 a 10.21). jiossa ser incluído na idéia treral de ressurreição'
3. A conversão de Israel (11.1-32). A|>esarda ausência da preposição " e k " . o sentido
Doxologia (11.33-36). parece »er "por < sua» ressurreição (de entre» os mor-
Parte III. Prática (caps. 12 a 16). tos".
A justiça de Deus em relação à vida diária. Dos destinatários da cana declara: 1 sua locali-
1. Exortações práticas (caps. 12 e 13). dade: 2» que eram amados de Deus: 3» que eram
"santos !»•>» uma vo» acão divina: 4» que podiam re-
a) Concernente a deveres espirituais, sociais e ceber "graça e paz" do próprio Deus.
civis (12.1 a 13.7) Neste trecho podemos n««tar <>s seguintes |X»ntos:
Segredo e motivo (13.8-14). li Que a fé cristã (• unia oliediéncia tv. 5'.
b ) Concernente ao exercício do amor cristão e 2i Que o crente écoi-s di r.ulo uin "s»nto" istoe:
da liberdade cristã (14.1 23). uma pessoa separada para Deus.
Segredo e motivo (15.1-13). 3» Que ele pode prmi«a) recel»er "graça" e
2. Explicações pessoais (15.14 a 16.24). "'paz de Deus
Doxologia (16.25-27) - (Scroggie) 4) Que o apóstolo, pensando nos romanos, pri-
meiro deu graças; depois orou por eles. ( E nós faze-
mos assim 0 )
A M E N S A G E M DE R O M A N O S
õ) Que. a seu próprio res|K-ito. Paulo falou: 'sou
Nosso espaço não in-rmite traduzir toda a 'Meu devedor"; 'estou vooto'; "oi© me envergonhe'
sagem" que o dr Scrttggf e?%creveu Damos apenas <» O versículo 17 merece cuidadosa atenção |K-la
começo, que diz: maneira qur descreve o Evangelho.
O que está escrito aqui n.t© significa que "Deus
" D e p o i s de uma breve, mas significativa saúda age com justiça", pois náo há. no original, o artigo
ção e introdução, anuncia-se a proposição principal: " a " ante» «lc "justiça" : mas di/ que é revelada no
que. no Evangelho, que c pnra todo* m homens, a Evangelho para •• crente, uma justiça que vem de
justiça de Deus é revelada O desenvolvimento deste Deus. em contraste com a I^ei. que exigia uma justi-
tema esta em três partes: a primeira, doutrinária. ça que vem da parte do homem para Deus. O que a
em que a justiça divina vê em relação aos pecados Lei exige .i graça fornece.
e ao pecailt». em segunda. di*pcrt*acional. em que Esta just iça que vem de Deus náo nos \ em |*>r .ii
essa justiça é vista com relação à chamada de Israel: guin esforço humano, por uma cuidadosa observação
e a terceira, prática, em que a justiça é contemplada de leis e cerimônias, ou por qualquer bondade que
em relação á sida prática. Assim apresentam se três nos seja inerente, mas resulta, na vida do crente. da
problemas: a) Como pode Deus ser justo, e justificar sua f é <v 17). Esta é uma fé que nào olha para deu
o pecador? b) Como pode Deus ser justo, e rejeitar tro, para descobrir justiça própria, mas que olh.;
seu povo antigo? c) Como e em que medida pode a para Cristo e vê nele uma redenção que responde
justiça de Deus influir nas experiências da vida diá- pelo passado, uma graça constante que santifica o
ria? Estas >áo as três coisas que devem prender a presente, e um poder que garante o porvir.
nossa atenção. .4 ira de Deus (18-32). Em seguida o apóstolo con-
I A solução do problema doutrinário. sidera a ira de Deus que é eternamente contra tudo
Nesta parte da Epístola, quatro grande» verda- que prejudica o bem-estar espiritual da sua criação.
des se apresentam detalhadamente verdades que A ira divina reprova o mal. como o médico combate
constituem as bases do cristianismo, e sobre as quais a doença, como um pai reprova qualquer conduta
toda a genuína experiência cristã deve descansar: que é nociva ao caráter de seu filho.
Este trecho trata do testemunho que a natureza
a) A verdade concernente á condenação.
dá ao ( r-.ador. e deve ser estudado junto com o Sal-
b ) A verdade concernente á justificação.
mo 19.
c ) A verdade concernente a santificaçào.
Às vezes se diz: " A vida do crente è a Bíblia do
d ) A verdade concernente à glorificaçào.
descrente", e. pelo ensino deste trecho, podemos di-
Segue-se então:

•Sanday £ Htdlam o b e e r v a m que • " g r a ç a " era • costumeira saudação dos grego*, e " p a z " , a doe j u d e u s : p o r isso
traduzem o versículo 7 " J e s u s , Messias dos judeus e o Senhor dos cristãos".

406
Homanos

zer que a natureza é a Bíblia do pagáo. Cada um de tantemente este irritante obstáculo ao progresso do
les - o descrente e o pagáo pela sua própria Bíblia, Evangelho - o judeu, que julga ter tudo que precisa
deve aprender que existe um Criador, infinitamente para a salvação na observação formal do ritualismo
superior aos homens, e capaz de Jazer tudo que nos da lei mosaica, sendo, por isso. refratário a qualquer
rodeia e que os homens não podem fazer. Devem novo ensino.
aprender também que. por isso. Rle e digno de ser " A intensidade desse interesse é ainda maior
gloriíicado como Deus e de receber açôe» de graças; e para o estudante que compreende ter o pregador do
que seu "eterno poder" e "diuindadQ'' são ev identes Evangelho hoje o mesmo obstáculo com o "judaís-
pela* suas obras. mo' que tem ressurgido (ou, antes, nunca morreu) e
Porém o apóstolo afirma que o pagáo nào apren- que hoje floresce qual planta nociva, no ritualismo
deu a lição. Por isso sofreu a reprovação de Deus. a das seitas judaizantes e na noção da "regeneração
sua ira. manifestada, principalmente, peio fato de ter pelo batismo", que ensina serem o sinal (batismo) e
Deus entregado os homens (24.26.28) ao pleno desen- a graça (purificação espiritual» inseparáveis" ( I
volvimento das sua concupiscências naturais saaes)
Ainda hoje. e entre gente civilizada, vemos que a
pessoa destituída de qualquer sentimento de respon- Capitulo 3
sabilidade para com Deus. tende a obedecer aos ins-
tintos das suas paixões. Este trecho é uma espécie de parênteses em que o
Os últimos versículos do capitulo apresentam um apóstolo considera as vantagens de Israel ( w . 1.8).
quadro \errivel da depravacão d<« pagáos que *e re- Ele discursa sobre a incredulidade de Israel e a fide-
cusavam a obedecer ã pouca luz que tinham, a da lidade de Deus: entre a mentira dos homens e a ver-
natureza. dade de Deus; entre a injustiça humana e a justiça
divina; e entende que, por meio do contraste, as qua-
lidades divinas sáo realçadas.
Capitulo 2
.4 conclusão dn argumento (9-20). Aqui o apósto-
0 homem inteligente (1-16). N o capitulo 1 o lo continua o argumento de 2.17-29 e afirma que os
apóstolo considerou o caso do pagáo com a luz da na- israelitas (eie se inclui > longe de serem mais excelen-
tureza Agora ele considera o do filósofo, o do homem tes que os gentios, são ainda mais culpados. E. as-
inteligente, que " j u l g a " pela luz da ciência, argüin- sim. havendo no capitulo 1 tapado a boca do pagào,
do-o de ter praticado as mesmas iniqüidades que e no capitulo 2 a do filósofo, agora faz silenciar o ju-
aquele deu. "para que toda boca esteja fechada, e todo o
E tein sido sempre assim. O homem instruído, mundo seja condenável diante de Deus ". Paulo con-
ilustrado, não é mais moral, mais humilde, mais te- clui com a observação de que a Lei nunca pode justi-
mente a Deu* do que o pagáo ignorante. Ele juhea e ficar o pecador.
bem sabe. mas pratica os mesmos males. Não devemos entender que este trecho seja um
O apóstolo acusa o filósofo pecador de desprezo, retrato completo de cada indivíduo no mundo. E ex-
ignorância, tmpenitência e falta de arrependimento, pressamente limitado àqueles 'debaixo da lei" (v_
e o ameaça com o juízo divino, com a ira de Deus e 19). e é citado para provar que Israel, apesar do seu
com o castigo que as suas obras merecem. alto privilégio de possuir "<»s oráculos de Deus", era
Os versículos 6-11 ensinam-nos como Deus consi- capaz de praticar as maiores infâmias.
dera aqueles que amam o bem. e como Ele propõe, A justificação pela fè (21-31). Este trecho merece
mediante o Evangelho, levá-los para a vida eterna. A o inais cuidadoso estudo. Contêm toda a doutrina
história de Cornélu» ilustra o caso. fundamental do Evangelho. Quando o mundo está
O versículo 7 tem sido traduzido: "A rida eterna com a boca fechada, condenável I mas não condena-
aos que, com perseverança em fazer bem. pnx uram do) perante Deus. então é que Deus revela uma justi-
glória e honra incorruptíveis" ( C H. 5(12). e o versí- ça divina para os homens, visto que ficou provado
culo 12: "Todo* os que. sem o conhecimento da lei. que <«s homens nào têm uma justiça humana com
pecaram, sem o castigo da lei pere< eróo' iC. H. Õ03). que se apresentarem perante Deus. Desta justiça que
Notemos nos versículos 12-16 como a consciência não é oferecida notamos:
natural de quem nunca ouviu m m a I.ei nem o 1) E inteiramente gratuita, náo sendo paga por
Evangelho pode acusá-lo ou exonerá-lo por sua con- nós com merecimento, promessas, esforços ou qual-
duta. quer outra coisa.
Os judeus são inescusáveis (17-29). O argumento 2) E pela redenção que há em Cristo Jesus. Nào é
do apóstolo aqui é que o judeu, com a luz da revela- apenas um indulto. N ã o é revelação da antiga divi-
ção. se mostrara ainda mais perverso que o pagáo da. mas baseia-se na plena liquidação dessa divida.
com a luz da natureza, e o filósofo com a luz da ciên- 3) E pela té no valor do sangue derramado ( v v .
cia. Este mesmo argumento ele continua no capitulo 22,25); fé que reconhece uma necessidade urgente,
3.9-20. compreende a expiaçào consumada, e aceita uma
Então afirma que é muito possível o judeu ser ar- oferta soberana.
güido e condenado pelo gentio (2.27). 4) A fé permite a Deus ser justo em justificar o
Notemos, de passagem, a pouca importância que crente, visto que o pecado náo é tolerado, mas expur-
o apóstolo atribui ao rito da circuncisão quando a gado.
vida náo condiz com a sua significação. Podemos en- 5) E uma justiça que exclui toda a nossa jactán-
tender que ele diria o mesmo do rito do batismo? cia. por ser inteiramente de Deus e do seu Cristo.
"Esta constante referência á circuncisão. tào te- Alguns versículos merecem explicaçáo inais par-
diosa ao leitor superficial, tem um interesse agudo ticular:
para o estudioso que tiver bastante imaginação para "Todos, ficaram aquém da glória de Deus " ( v .
colocar-se no lugar do apóstolo, confrontando cons-. 23). A criatura humana foi feita para glorificar seu

407
Romanas

Criador em tudo: mas todos, até os mais santos, fi- Podemos ler no fim do versículo 16: "o qual é pai
cam aquém desse sublime ideal. de todos nó% Ijudeus e gentios|" (C.H 508).
"Dfw propôs a Cn$to como propiciaçdo, ou pro-
piciatóm (v. 25). O propiciatório era a tampa da Capítulo 5
arca do concerto, e o lugar de encontro entre um
Deus santo e um povo pecador e propenso ao pecado Justificação e paz (1-11). Os primeiros dois versi
( E x 25.22), porque ali fora espargido o "sangue que culos marcam três passos da experiência cristã: a )
faz expiaçáo". justificação pela fé em Cristo, e. conseqüentemente,
N o propósito de Deus. Cristo é o verdadeiro pro- paz com Deus: b ) acesso, ou liberdade de entrada no
piciatório. do qual a tampa da arca era apenas a gozo do favor de Deus. onde o crente tem o privilégio
sombra. de permanecer; c ) regozijo na esperança da futura
ü versículo 30 ensina que a única justificação manifestação da glória de Deus. quando toda a gló-
para judeu ou gentio há de ser pela mesma fé na obra ria dos homens tiver passado.
redentora de Cristo. Sobre estas indiziveis bênçãos seria possível en-
Este versículo tem sido traduzido: " P o i s Deus é tender-nos longamente, mas o capitulo contém tan-
um só [para todos os homens, que justifica pela fé a tas outras belezas que devemos ir mais adiante.
circuncisão: e por meio da fé. a incircuncisão" (C.H. " O regozijo dos versículos 1 e 2 vem do olhar para
507). cima e contemplar as maravilhas de Deus na Reden
ção. Mas nos versículos 3-10 o apóstolo olha em redor
Capitulo 4 e acha mais um motivo de regozijo nas tribulações
desta vida presente, porque nelas também vê a máo
Abraão e Davi (1-12). T e n d o afirmado no capitu- e a misericórdia de Deus.
lo 3.21-31 a doutrina da justificação pela fé, o após- 0 versículo 5 é especialmente notável porque ne-
tolo apresenta agora exemplos dela: Abraão antes da le. pela primeira vez em Romanos, é mencionado o
Lei. e Davi depois da I*ei. Espirito Santo, como também "o amor de Deus"
O título de Deus no versículo 5, "aquele que jus- Podemos dizer que uma das provas de ter alguém o
tifica o impio" merece cuidadoso estudo. É somente Espirito Santo é um profundo reconhecimento d o
o Evangelho que explica como isto se pode dar: me- amor divino.
diante uma obra redentora que expia o |>ecado. Neste capitulo convém notar as frases: "e náo so-
E fé. nesse versículo, não é mera crença de uma mente isto" (duas vezes) e "muito mais" (cinco ve-
verdade, mas é "crer naquele" Deus-Salvador que zes).
propôs e consumou a obra da salvação. Este trecho apresenta uma lista completa de
Para tal pessoa, "sua fé lhe é imputada como jus- bênçãos espirituais: justificação; paz: acesso; firme-
tiça". porque a única coisa justa e reta que um peca- za; esperança; salvação; reconciliação Podemos
dor pode fazer é confessar que em si não há mereci- considerar o que cada uma significa para nós.
mento. mas que espera tudo pelo merecimento ao Fi- " A q u i no versículo 11 termina a primeira divisão
lho de Deus da Epístola. Vemos» que seu grande assunto é a justi-
.4 pntmessa dada a Abraão (13-25). que havia de ça de Deus na justificação dos ímpios pela fé em
ser herdeiro do mundo (v. 13). é o assunto deste tre- Cristo, e mediante seu sangue derramado pelos pe-
cho. liemos que essa promessa era firme, por ser da cadores. Quase náo trata da posição do crente, a náo
graça e mediante a fé (v. 21). E o apóstolo acha tudo ser quando se refere á sua isenção da ira vindoura.
isto aplicável a nós. "que cremos naquele que dos Aqui não se trata de sua natureza como nascido de
mortos ressuscitou a Jesus como Senhor". Adão. mas simplesmente dos seus pecados. Ainda
Notemos o ensino do versículo 15 que a Lei. tra não temos lido nada da carne ou do velho homem:
tando-se de criaturas pecaminosas com tendência á nada da vida em Cristo; nada dos fatos ou frutos do
insujeiçáo, "opera a ira". Há uma forte tendência Espirito no crente. T u d o isto fica para ser considera-
humana para praticar qualquer coisa que seja proi- do na segunda parte da Epístola, que se ocupa com
bida. nosso lugar em Cristo, e dos r e s u l t a d o desta gloriosa
verdade e das bênçãos que traz ao crente" (Grant).
Conta-se que um homem excêntrico ofereceu, a Por Adão. pecado e morte (12-14). Desde 3.12 a
um casal novo. casa e comida grátis, com a única 5.11 o assunto é justificação pela fé. e as bênçãos que
condição de não levantarem a tampa de um prato resultam dela. Desde 5.12 a 8.13 o assunto é santifi-
que eslava no centro da mesa de jantar. cação, e o remédio que o Evangelho oferece pelo pe-
Viveram assim folgadamente por alguns dias, até cado.
que. afinal, começaram a se perturbar com a proibi- Por Cristt». justiça e vida (15.21). Neste trecho,
ção. Pensaram consigo: "I>evantar a tampa e olhar é alguns pontos merecem atenção. Os versículos 13-17
fácil, e ninguém saberá". Venceram a curiosidade formam um parêntese: o argumento salta do versícu-
por mais um dia. mas então levantaram a tampa. lo 12 ao 18.
U m camondongo escapoliu de debaixo da tampa, As primeiras frases nos versículos 15 e 16 devem
e desapareceu. E o casal saiu da casa por ter achado ser interrogativas. O argumento é que a redenção
difícil guardar uma só lei. deve ter tanto alcance quanto a queda, ou mais ain-
"Onde não há lei. não há transgressão". Nesse da.
caso, pode haver pecado (5.13). mas esse pecado náo Notemos mais alguns pontos: a morte atinge a
pode ser chamado transgressão. todos, náo porque Adão pecou, mas porque todos pe-
" E m b o r a a fé nào seja obra meritória. é fator po- caram (v. 12).
deroso. É uma forte persuasão de que Deus é fiel: é Entendemos do versículo 13 que o pecado não é
uma convicçáo de ser Ele capaz e desejoso de fazer o atribuído como transgressão onde não há lei. A mor-
que tem d i t o " ( v . 21.) te reinou ( v . 14) desde A d ã o e Moisés porque os ho-

408
Homtnai

mens eram pecadores, embora não fossem transgres- N o t e m « » no versículo 14 como o apóstolo consi-
sores de uma lei divina. (Veja-se Oséias 6.7.) dera uma apreciação da graça de Deus como meio
N á o devemos entender do versículo 19 que a obe- efetivo pura combater «» domínio do pecado.
diência de Cristo seja atribuída a nós. £ impossível Vemos no versículo 15 o N . T . contrastado com o
haver substituição na obediência, embora haja subs- V T . Toda a nação de Israel estava debaixo da I>ei
tituição na pena da desobediência. Cristo foi "obe- como norma da sua vida. e como base para poder
diente até a mortr". e. por isso. somos justificados. merecer a bênção divina.
N o cristianismo estamos "debaixo da •{raça" e
Capitulo 6 Deus n»>s abençoa, não por achar bondade em nós.
mas por achar toda a satisfação em Cristo, em quem
O assunto de Romanos até 5.11 é justificação dos somos aceit«>s
pecados De 5.12 a 6.13 é libertação do pecado. Pode- Os versículo* 16-18 referem-se à apresentação dos
mos dizer que os pecados são os frutos, e o pecado a nossos membros a Deus. para seu serviço, como ou-
árvore que os produz tro meio de sermos libertados do pecado. Esta apre-
Scofield divide o capitulo: sentação referida também no capítulo 12.1 - deve
1.10 Libertação pela união com Cristo na sua ser feita solenemente no começo da nossa carreira
morte e ressurreição. cristã, e rccordaiia diária e continuamente durante
11-13 - Libertação por contar-se a vida antiga n*da a vida
como inorta. e por submeter a vida nova a Deus. O versículo 19 pode começar: " F a h • a linguagem
14-7 6 Libertação por não estar debaixt da I-ei. da nossa rida comum, devido à fraqueza da vossa
mas sujeito ao governo do Espírito Santo. carne" <C. H. 512).
O leitor estudioso talvez deseje entender melhor,
no versículo 3. a expressão traduzida: "batizados em Capítulo 7
Cristo", semelhante a 1 Coríntios 10.2: "batizados
em Moixés ". Lihcrtaçãri d" pecado mediante o domínio do
Kspfrito (1-6). O argumento aqui nào é muito fácil
Em ambos os casos a preposição grega é " e i s " ,
de compreender, porque o apóstolo parece identifi-
significando, geralmente, para dentro, a. com a idéia
car o pecado com a I.ei que o condena, e considera o
de movimento. Assim podemos melhor traduzir " a
crente, náo mais debaixo da Lei como sua regra de
Cristo", " a Moisés", ou. parafraseando, "todos
vida. mas unido a Cristo e. por isso. liberto do peca-
quantos fomos bar izados para nos unira Cristo, Co-
j do.
mi»® batizados. para n«u unir à sua incute".
N o batismo, na nuvem, e no mar. os israelitas fo Notemos aqui que o ensino sabatista. de não es-
ram identificados com Moisés, o Capitão da sua sal- tarmos debaixo de uma lei cerimonial, é refutado
vação; semelhantemente, a pessoa que recebe o ba- pelo sentido da Lei dado no versículo 7: "nào cobiça-
tismo cristão é matriculada como discípulo de Cris- ra" '. Este mandamento certamente não é preceito
to. para ser este o Capitão da sua salvação. cerimonial, mas moral Em Gálatas, a outra epístola
que afirma que o crente nào está debaixo da Lei. o
Livre do pecado (1-10). Notemos neste trecho as sentido é o mesmo, pois lemos: "s*> a justiça provém
três coisas que " s a b e m o s " : 1) que nosso batismo a da lei. segue-se qu*• Cristo morreu debalde' E nin-
Cristo no» identificou com Ele. de maneira que a sua guém nos dirá que a justiça vem mediante cerimô-
morte figura como a nossa; 2) que nosso " h o m e m t e- nias.
lho" o que éramos como descrentes foi com Ele O crente nào é santi ficado pela l^e: (7-14). Este
crucificado; 3) que não temos mais nada com o peca trecho ensina-nos que a Lei. apesar de ser "santa, e
do (9.10). Como Cristo, havendo morrido, não tem justa, e boa' não pode santificar uma criatura peca-
mais preocupação com o pecado (nem para enfrenta minosa Pelo contrário, der.cobre ainda mais clara-
Io, sofrê-lo ou expiá-lo mais). ftóe. também temos o mente a sua perversidade. Por isso, argumenta o
direito e privilégio de considerar o pecado como coisa apóstolo, necessitamos de um Salvador.
passada na nossa experiência. Referente ao versículo 14 "eu sou carnal", tem
N o versículo 1 o apóstolo considera um possível havido muita controvérsia entre teólogos sobre se
ensino errado: que a abundância da graça divina Paulo descreve ou náo o seu próprio estado. Pelo vis-
pode ser alegada pelos perversos como desculpa para to em 6.17, seus leitores estão libertos do pecado; e
continuarem no |>ecado! Com vários argumentos. em 8.4, Paulo se inclui no número dos que náo an-
Paulo reprova energicamente semelhante idéia iní- dam segundo a carne mas segundo o espírito.
qua. Contudo, náo devemos ler "eu era antigamente"
' No versículo 7 notemos que quem morreu "está onde Paulo escreve "eu sou", mas antes procurar
justificado do pecado" (não dos pecados). Ninguém compreender por que ele emprega o tempo presente,
pode argüir um cadáver de ter maus desejos ou um assrm tomando o caso vivido e atual.
coração depravado. Creio que a dificuldade desaparece quando su-
Fruitt para santi fie ação (41-23). As duas coisas bentendemos a palavra " C r i s t o " no meio do argu-
que devemos "considerar no versículo 11 merecem mento: "mas t-u [sem Cristo] sou carnal", e o tempo
ser ponderadas separadamente, e depois na sua rela- presente revela o que o apóstolo sentia no momento
ção uma a outra, pois não podemos efetivamente de escrever, e sempre, que. em si. nada era senáo
considerar-nos "mortos a<> pecado"«uma coisa nega- uma criatura carnal e pecaminosa, salva na medida
tiva) sem considerar-nos "vivos para Deus" (uma que nele operava a graça de Cristo.
coisa positiva e continuai. Do versículo 5 até o 19 o escritor emprega 19 ve-
Nos versículos 12.13 temos dois elementos nega- zes as palavras " e u " , " m i t n " . mas " C r i s t o " nem
tivos e dois positivos de inuita importância na santi- uma só vez. Quando, no versículo 25, ele olha para
ficação da vida Cristo, pode dar graças a Deus e vê a vitória.

409
"Romanoí

O conflito de duas naturezas debaixo da Lei (15- mos considerar como mortos os desejos carnais
25). O apóstolo continua seu argumento relatando o (6.6.11) e consentir que se manifestem somente as
conflito entre o carnal e o espiritual, que sempre energia* do Espírito de IVus. A l ^ u o » vêem na última
pode travar-se no intimo de quein admira o bem mas parte do versículo 11 uma promessa de abundante
não encontra em si o poder de conseguir fazê-lo. Esse saúde.
conflito termina quando a pessoa se sente na presen- O versículo 13 fala em linguagem bem com-
ça de Cristo ( v . 2f>): e é sempre assim: não podemos preensível. apontando o caminho da vida abundante
pecar quando estamns gozando a comunhão com que o Evangelho traz.
nosso Salvador. O ministério do Espirito (14-27). Com o versículo
Podemos estudar as ' leis" referidas neste capitu- 14. o apóstolo começa a considerar o pleno resultado
lo: no versículo 16 a lei dos mandamentos divinos: no do Evangelho, e contempla o crente, em primeiro lu-
versículo 21 "esta lei" ou principio mau que "o mal gar. como filho e herdeiro.
esta comigo" apesar de querer o bem: no versículo 22 Os versiculos 18-25 contemplam a criação toda ii-
"a lei de Deus" - o controle da divina vontade, a "lei berta do sofrimento e do pecado, na gloriosa consu-
d" meu entendimento", c "a lei dn pecado ou pro- mação da esperança d o crente.
pensão para o mal que "está nos meus membros": no Notemos que no versículo 19 a palavra " c r i a t u r a "
versículo 25 ternos de novo a lei rie Deus <> a lei d<> pe- (em A l m e i d a ) deve ser "criuçdn" (como na V . B . ) .
cado. dando-nos a entender que no M i l ê n i o os seres irra-
Parece evidente que a preocupação do apóstolo cionais náo mais se atacarão mutuamente (Is 11.7 e
ne>te capitulo é com o corpo ( v . 24) e os pecados car 65.25). pois esses seres oprimidos esperam um tempo
n.iis N ã o -e refere a pecados da alma. tais como a futuro: o tempo da manifestação dos crentes como fi-
vaidade, a inveja, a cobiça, etc. lhos de Deus. (Veja-se também 1 -João 3.2.)
0 versículo 25 tem sido traduzido: "Assim que eu A expressão problemática "em esperança fomrts
em mim mesmo |isto é. sem a graça de Deus|. embo- salvos" (v.24), provavelmente significa "fomos sal-
ra com o entendimento sirva à lei de Deus com a vos com uma perspectiva", isto é. a perspectiva da
carne estt»u sujeito á lei do pecado" ( C . H. 515). redenção do corpo, referida no versículo 23.
Os versículos 26. 27, falando da obra intercessó-
Capitulo 8 ria do Espirito Santo, merecem ser mais meditados
do que explicados. Podemos notar algumas carac-
.4 nova lei do Espirito liberta do pecado e ensina terísticas desta misteriosa íntercessão: a ) é baseada
n jusfien (1 -4 i É provável que a V.B. tenha razão em iiumu compreensão perfeita das necessidades de
omitir a segunda parte do versículo 1. dada por Al- cada caso; b ) é motivada por nossa ignorância: c ) é
meida Em todo caso não deixa de ser verdade que os inaudível. e quaisquer gemidos nossos nào sáo os ge-
que estão em Cristo Jesus nào andam segundo a car- midos do Espírito; d ) é segundo a vontade de Deus. e
ne. é sempre ouvida por Deus.
N o versículo 2 devemos lembrar que no original Os infalíveis propósitos de Deus pelo Evangelho
não havia pontuação, que só foi feita muito depois (28-34) Vários pensamentos chamam a nossa aten-
dos primeiros séculos do cristianismo. Assim, para ção neste trecho. Os dois títulos dos crentes no versí-
entendermos este versículo, devemos pontuá-lo dife- culo 28: o propósito da predestinação em Cristo, se-
rentemente: " P o r q u e a lei do Espirito Ique é| de gundo o versículo 29. Notemos que Cristo quer fazer-
vida-em-Cnsto-Jesus. livrou-me da lei do pecado e nos seus irmãos por "fazer-nos conforme à sua ima-
da morte" gem " - náo que Ele se tenha feito nosso irmão quan-
N o s capítulos 7 e 8 devemos atender às diversas do tomou "a semelhança da carne do pecado" ( v . 3).
" l e i s " referidas: " ã l e i " dada a Moisés sobre o monte Foi somente em ressurreição que Ele falou pela pri-
santo; " à lei do p e c a d o " ; "n lei da morte", " á lei do meira vez de "meus irmãos" (.Jo 20.17). Vemos tam-
Espirito"; " a lei de Deus", etc. Comparando todas bém que.fjpara Deus. o futuro é tão real quanto o pas-
elas descobrimos que. segundo o ensino desta epísto- sado.^e Ele pode dizer que " g l o r i f i c o u " esse crente
la. lei é "norma, ou ordem a que alguém obedece" que já justificou, ainda que a consumação final ain-
Assim, a lei do jjecado quer dizer a submissão ao da nào se tenha realizado.
domínio do pecado; a lei do Espirito é a submissão Vemos que todos os tradutores fazem interroga ti-
ao domínio do Espirito, etc. va a segunda parte do versículo 35 e deviam ter feito
Que era impossível à Lei? A Lei era impossível o mesmo com as segundas partes dos 33 e 34, pois a
obter a justiça que ela exigia (v. 3). Mas essa justiça construção do original é a mesma.
se consegue, no crente, náo pela exigência de um có- A segurança do crente em Cnsto (35,39). O capi-
digo, mas pelo domínio do Espirito Santo sobre to- tulo que começa com "nenhuma condenação " termi-
dos os desejos da sua alma. na com "nenhuma separação" E notemos que a coi-
Conflito do Espírito com a carne (5-13). Devemos sa certificada e garantida é o amor dc Cristo, de que
entender o sentido em que o apóstolo emprega a ex o crente pode ter plena certeza, apesar de todas as
pregado "na carne" e "rui Espírito". Podemos tomá- circunstâncias contrárias ou ameaçadoras.
lo como "dominados pela carne" ou "dominados
pelo Espirito". Capitulo 9
O versículo 9 dá-nos muito que pensar. "Se al-
guém náo tem o Espirito de Cristo, esse tal nào é de- Deus e Israel (1-13). Neste trecho notamos:
le". Podemos com proveito fazer uma lista das ca- a) .4 solicitude apostólica por Israel (1-3) era sen-
racterísticas do Espírito de Cristo, e pensar quais de- timento constante: era confirmada pelo testemunho
las se vêem em nós. da sua consciência; era tào intensa que ele. em al-
Podemos estudar juntos os versículos 10 e 11, que gum momento de extrema devoção, quisera, como
parecem ensinar-nos que. devido ao pecado, deve- Moisés ( E x 32.32 .. sacrificar seu próprio bem-estar

410
ÜOfflftJUM

espiritual, se assim pudesse servir à sua nação - isto v e r t e r " as Escrituras do V . T para expressar verda-
é. se devemos aceitar as traduções mais conhecidas. des do N . T .
b) O sétuplo privilégio de Israel (4,5) merece ser N o versículo 9 devemos preferir a tradução da
ponderado detalhadamente. A glória referida no V . B . - " S e confessares com a tua boca a Jesus como
versículo 4 pode ser a divina glória que outrora en- Senhor" Devemos atender para as duas condições
chera o templo, em Jerusalém. apontadas aqui para provarmos, na nossa própria
c ) Nem todos ns que são de Israel tão israelitas experiência, que a salvação do pecado é uma realida-
(6,7) e assim nem todos os que tomam o nome de de: a firme convicção de que Cristo é o Salvador eivo
" c r e n t e " sáo de Cristo. Neste trecho o apóstolo co- hoje. porque Deus o ressuscitou dos mortos, e uma
meça a referir-se à soberania de Deus. manifestada completa submissão ao seu senhorio - confessando
ao determinar (porque assim teve por b e m ) que "o alegremente que Ele é o Senhor da nossa vontade, de
menor servirá o maior". nossa vida inteira. Quem se submete assim constan-
F. W. Grant nota que a "adoção" ( v . 4) de Israel temente ao domínio de Jesus em tudo. provará cons-
náo era a mesma coisa que a adoção cristã, pela qual tantemente que Cristo salva do pecado.
somos chamados filhos de Deus, o qual podia dizer; N o versículo 10 encontramos duas verdades
"sou Pai para Israel" e "do Egito chame: meu filho". igualmente importantes: justificação e salvação, e
mas essa adoção era como a de uma família terres- vemos que a nossa justificação perante Deus depen-
tre. trazendo privilégios e bênçãos terrestres. de da nossa fé na obra expiatória, e nossa salvação
É evidente que as promessas do versículo 4 sáo as do pecado e do vicio depende da nossa confissão do
do Velho Testamento. senhorio de Cristo em toda a nossa vida
A misericórdia de Deus é exercida de acordo com O versículo 13 acrescenta mais um pensamento:
sua soberana vontade (14-24) e Ele náo pode ser ar- o valor da oração - "Todo aquele que invocar o nome
güido de injustiça quando faz misericórdia. Podemos do Senhor será salvo".
dar infinitas graças a Deus porque é da sua vontade Os versículos 14.15 demonstram a importância
divina e absoluta usar dc misericórdia e compaixão da evangelização. Quais entre nós têm pes formosos?
para com milhares que nada merecem. Israel não pode alegar íalta de oportunidade (16-
Um aspecto da benevolência de Deus é a mani 21). Este trecho ensina: a) a persistência de Deus em
festaçáo da sua ira contra os mais evidentes exem- evanjielizar um povo rebelde: b) a grande extensão
plos de iniqüidade, o que ensina aos homens lições da ohra evange li/.adora: "até os confins do mundo";
necessárias e urgentes. Um bom pai náo deixa de c ) que Deus quis abençoar os gentios; d ) e quis por
castigar os filhos pelo mal que praticam. isso provocar a Israel a desejar as mesmas bênçãos:
O versículo 14 tem sido traduzido: "Que diremos e ) que Deus é capaz de revelar-se a quem nào tem
pois? que há injustiça da fwte de Deus [em ter re- buscado; f ) que um povo muito favorecido pode mos-
provado a semente de Abraão De maneira nenhu- trar-se desobediente e contradizente.
ma" ( C . H . 520).
A voz dos profetas (25-33) A voz profética predi- Capítulo 11
zia a cegueira de Israel e a misericórdia divina para
com os gentios. Aprendemos: a ) que até iníquos sáo O Israel espiritual acha salvação (1-6). Este tre-
tratados misericordiosa mente (22-24): b) que Deus cho fala do " r e s t o " ou "restante" em Israel, que é, no
decurso da história, um Israel espiritual no meio do
predissera aos judeus que havia de incluir os gentios
Israel nacional. N o tempo de Elias, sete mil não ti-
entre seu povo (24-26); c) que somente um restante
nham dobrado seus joelhos a Baal (1 Rs 19.18). N o
de Israel, o povo escolhido, seria salvo; d ) que isso
tempo de Isaías. havia "alguns do resto" por cuja
havia de ser porque a nação rejeitou seu Messias causa Deus ainda não quis destruir a nação (Is 1.9).
(33), e procurava justificar-se a si mesma (Good- Durante o Cativeiro, o restante consistia em hebreus
man). cumo Ezequiel. Daniel. Sadraque. Mesaque, Abede-
Capítulo 10 neffo. Ester e Mardoqueu. N o fim dos 70 anos do ca-
tiveiro na Babilônia, foi o restante que voltou ã pá-
tria com Esdras e Neemias. N o N . T . , João Batista.
Israel é responsável pela sua rejeição (1-15). Nes-
Ana e os que esperavam a redenção em Jerusalém
te trecho devem preocupar-nos os seguintes pensa-
( L c 2.38) eram o restante. Durante o tempo da Igreja
mentos:
o restante é composto de judeus crentes ( R m 11.4.5).
a) O empenho do apóstolo pelo bem espiritual do Mas o principal interesse do "restante" é profético.
seu povo. Durante a Grande Tribulação. um restante de todo o
b ) O acordo entre o desejo do seu coração e a sua Israel se converterá a Jesus como Messias, e serão
oração a Deus (v. 1). Quantas vezes os homens têm suas testemunhas depois do arrebatamento da Igreja
desejos que náo podem exprimir em orações! E ( A p 7-3-8). Alguns deles serão martirizados ( A p 6.9-
quantas vezes as orações náo expressam ardentes de- 11). alguns viverão no reino milenar ( Z c 12.6 a 13.9).
sejos! Muitos dos Salmos expressam, profeticamente. os
c ) A possibilidade de haver zelo sem conhecimen- gozos e tristezas do •"restante" durante a tribulação
to. Isto se dá freqüentemente com as pessoas que náo (Scofield).
estudam as Escrituras.
d ) H á um contraste oferecido no versículo 3 entre Israel nacional por castigo fica cego (7-12). O dr.
o antigo sistema do V . T . - "estabelecera sua própria Goodman nota os seguintes pontos: a ) Há presente-
justiça" e o sistema do N . T . "submeter-se a uma mente urna escolha divina (v. 5). uma semente pie-
justiça divina " disponível mediante uma obra expia- dosa que cré e se salva, b ) Esta eleição é puramente
tória. da graça divina A s boas obras nada têm de ver com
Nos versículos 6-8 vemos um exemplo interessan ela (v. 6); é Deus que. na sua soberania, usa de mise-
te da maneira pela qual o apóstolo costumava "con- ricórdia. c ) Isso foi predito na Escritura, citando

411
HffllUMOS

[saias 6.9 e 29.10 e também Salmo 69.22.23. d ) O oração), hospitalidade, etc. Podemos pensar se estas
desv io de Israel nào era final, mas resultaria em bên- virtudes aparecem em nós.
ção para gentios (v. I I ) e ) A sua plenitude trará Vemos o crente agora nas suas relações com os cie
ainda maiores bênçãos à* nações. quando Israel for fora: com o mundo em redor t w . 17.21»: vemos que o
salvo rotno nação. crente rtão é vingativo; que e honesto, e pacificador,
A parábola da oliveira (13-25). Deste trecho chegando a tratar bem aos que querem ser seus ini-
aprendemos as seguintes lições: a) A raiz ê santa, migos
isto é. os patriarcas, os antepassad<*. que primeiro N o versículo 19 Almeida tem "mas dai lugar á ira
ouviram a chamada de Deus. b ) Alguns dos ramo» dr Deus " mostrando que " d e Deus" não está no ori-
foram quebrados ( v . 17) p«»r causa da sua increduli- ginal A V B. acrescenta as mesmas palavras mas
dade: nós permanecem<»s pela fé. e somente os que sem o grito, deixando o leitor pensar que estáo no ori-
crêem são verdadeiros ramiw dessa boa oliveira ( v . ginal E contudo o acréscimo pode alterar o sentido:
20). C) l '»i zanihujciro natural foi vn.xcrtado nu h*m é possível que devamos ler " d a i lugar a ira do adt vr
oliveira. a saber, pecadores de entre <»s genti«»s foram si/r»/. "(.) acréscimo das palavras 'de Deus' dá a en
contados como povo de Deus. d) Se «»s ramos natu- tender que devemos esperar a vingança divina. Mas
rais caíram pela sua incredulidade, assim pode acon- isso nào se coaduna com o espirito cristão, que nào
tecer coni os ramos do zambujeiro. e> Se os gentios deseja vingança alguma, nem a sua pmpria nem a de
receberem a graça de Deus ein vão. Deus é capaz de Deus. O pensamento simples e natural é o de sub-
reenxertar os ramos naturais, e Israel restaurado se- missão. do espinto que leva a voltar a outra face ao
rá futuramente o povo de Deus (Gi->dman). adversário" fS. Ridout).

Israel ainda será salvo com<> naçáo <26-:*6l Virá Capitulo 13


seu Libertador e desviara de Jacó as impiedades. e
Israel será uma nação salva. Os versículos 33-36 me- Submissão á autoridade (1-7). Vemos que a idéia
recem ser ponderados com oração. Podemos conto m- de governo no mundo é de Deus N à o é a vontade
tá-Ios com o trecho parecido em 8.35-39. Notemos dele que haja anarquia ou desordem. Quem tem o
que a ocasião desta sublime apostrofe é a verdade poder talvez seja um usurpador, mas figura como
afirmada no versículo 32 - "Deus me errou todo* de- servo de Deus e será responsável perante Ele pelo
baixo da desobediência, para com todo* usar de mi- uso que fizer do poder. N o versículo 3 vemos o ideal
sericórdia. divino do magistrado - que seja ministro de Deus
para administrar a justiça.
Capitulo 12
Os versículos 8-14 tratam do amor ao próximo, a
Consagração e seriico (1-8). Devemos notar uma vigilância e a pureza Aqui lemos da divida para com
completa mudança de assunto neste capitulo. Até os crentes, como em 1.14 lemos da dívida para com
aqui tudo tem sido doutrinário: daqui em diante, os descrentes
t u d o é prático. Os capítulos 1 a 11 tratam da verdade Notemos no versículo 11 que a salvação ali é con-
cristã, e 12 a 16. da vida cnstá. Kesta deve ser »em- Kiderada como bénçáo futura. Em outros lugares é
pre o resultado daquela. passada ( T t 3.5) ou presente ( R m 5.10).
Notemos com cuidado a exortação dos v e r s í c u l o N o versículo 12 preferimos a tradução da V . B . -
1 e 2. sem n<» esquecerm<w* da pequena palavra "A noite vai adiantada".
"pois" que liga esta exortação com o capitulo ante- A significação da palavra "revesti-vos" no versí-
rior. Km vista da misericórdia e compaixão de l>eus, culo 14 e que o crente deve apresentar exteriormente
que acaba de relatar, o apóstolo faz seu grande apelo o aspecto de Cristo. O tim deste versículo é melhor
por um "sacrifício eivo' do corpo do crente, em pre- na Versão Tnnitária: "Xáo façais provisão carnal
gado sempre em atividades segundo a vontade de pelos apetites'
Deus.
Vemos aqui o caráter do "culto inteligente do Capitulo 14
crente; não apenas em louvores ou no canto de hinos,
mas na consagração a Deus de todos os poderes d«» Tolerância para com os fracos na fé (1-12). Ve-
seu corpo. A palavra para culto é a mesma que é tra- mos que devemos recebê-los e não rejeitá-los - ao
duzida serviço no capitulo 1.9. mesmo tempo que evitamos contender com eles.
A tradução do versículo3 é preferível na V.B. vis- Notemos que o apóstolo não resolve os casos
to que em Almeida é um tanto incompreensível. problemáticos que menciona: questões de comidas,
Aprendemos deste versículo que a medida do crente guarda de dias santos, etc., mas afirma que quem
nào é a do seu conhecimento, nem a da sua inteligén tem escrüpulo em tais casos o tem "parn o Senhor" -
cia, nem a do seu sentimento, mas a da sua fé. que é nào para seu proprio agrado, como no versículo 21.
a medida da sua visão do invisível Hb 11.27). Assim aprendemos a não julgar os outros naquilo
Embora a IgTeja não seja mencionada antes do que fazem "para o Senhor", mas a julgar a nós mes-
capitulo 16. vemos que os versículos 4 8 se referem mos em qualquer coisa que. sendo apenas de nosso
ao préstimo de cada crente para a coletividade crin agrado, sirva de escândalo para nosso irmão.
tá. O versículo 8 anuncia lindamente o alvo da vida
O espírito santificado (9-21). Os versículos 9-16 ou da morte do crente - ele vive ou morre "para o Se-
ensinam ao cristão como deve tratar os de dentro: nhor". Poderá a nossa vida descrever-se assim?
seus irmãos na fé Ensinam preciosas virtude* cris- Notemos no versículo 10 que náo devemos julgar
tãs: amor náo fingido; ódio ao mal: afeição fraternal; nosso irmão em qualquer coisa que ele faça "para o
humildade em ceder honra aos outros: energia e fer- Senhor", embora seja do nosso dever julgar retamen
vo-; regozijo, paciência, dependência (mediante a te as questões entre irmãos (1 Co 5.12 a 6.1-9).

412'
"Romanos

Devemos distinguir entre as coisas que o crente esperam certos proveitos de diferentes " s a n t o s " -
faz para si. como comer carne. etc. ( R m 13.21). e as Sto Antônio, para coisas perdidas; Santa Bárbara,
coisas que faz "para o Senhor", como dedicar ao ser- quando troveja, etc. O cristão crê em um só Deus -
viço de Deus um dia especial (v. 6). um só recurso sobrenatural - e seu Pai no Céu é o
O que o crente faz para si. pode deixar de fazer Deus de todos os recursos que a mente necessita.
em atenção à consciência de um irmão. O que faz Quando, no versículo 8. o apóstolo diz que Cristo
para o Senhor ninguém deve pedir que. para com- foi "ministnj da circuncisão". ele provavelmente fa-
prazer a outros, ele deixe de fazer. lou no mesmo sentido em que Nicodemo6 falou
Mas devemos ter paciência para com o procedi- quando chamou Jesus de "Mestre em Israel". Cristo
mento dos outros: a ) quando entendem que obede- veio como verdadeiro israelita "para confirmar as
cem ao ensino bíblico: b ) quando ignoram o ensino promessas feitas aos pais".
bíblico; mas neste caso faremos o possível para os "Recebei-vos uns aos outros, como também Cris-
instruir; assim se alguém nào entende como nós a to nos recebeu, para glória de Deus" (v. 7). O Senhor
verdade do batismo, náo vamos excomungá-lo por nos recebeu tal e qual estávamos. Por isso todos os
isso. mas esclarecé-lo sobre o que ensina a Bíblia Sa- crentes devem ser recebidos, qualquer que seja seu
grada; c» quiando usam uma prática que não acha- conhecimento da verdade. Devem ser recebidos mes-
mos na Bíblia, mas que não é contra qualquer pre- mo que sejam crianças espirituais ( M t 18.5) ou que
ceito das Escrituras; assim náo vamos condenar a sejam aleijados ( H b 12.13). O insistir num certo grau
Escola Dominical ou uma reuniáo de mocidade, ape- de compreensão da verdade nào é como Cristo proce-
nas por não serem mencionadas na Bíblia. de. T o d o s os que Ele tem recebido devem ser bem-
O Tribunal de Cristo é referido neste capitulo (v. vindos, náo para contendas sobre pontos duvidosos
10) para reforçar o argumento de que náo devemos (14.1), mas para a glória de Deus.
julgar ou desprezar um irmão que entende que faz O apóstolo fala do seu ministério (14-21) e come-
"para o Senhor" aquilo que faz. N o caso de ele prati- ça com algumas apreciações do progresso espiritual
car um ato para agradar a carne, pode ser julgado dos seus leitores. N à o nos esqueçamos de que ele ain-
pela igreja por isso. mas esse caso náo está em vista da nào tinha visto os crentes em Roma. mas tinha
aqui. ouvido boas noticias a seu respeito.
Podemos considerar algumas características do
Liberdade e caridade (13-23) devem caracterizar ministério do apóstolo: era dirigido especialmente
o povo de Deus. Consideração mútua. paz. e coisas aos gentios: apresentava Cristo, e oferecia Cristo aos
que edificam. são as características mais evidentes gentios e ao mesmo tempo oferecia os gentios conver-
dos crentes em Cristo. tidos a Deus - uma oferta santíficada pelo Espírito e
Vemos no versículo 17 uma descrição importante por isso aceitável; era acompanhado por sinais
do reino de Deus segundo os seus valores espirituais. sobrenaturais; abrangia uma grande extensáo de ter-
Ê fundado na justiça, mediante uma obra expiató- ritório: desde Jerusalém até o Ilirieo; era serviço de
ria. e por isso o crente ama e usa a justiça; a conse- pioneiro e não serviço realizado nos lugares onde
qüência dessa justiça (perante Deus e os homens) é a Cristo já tinha sido pregado.
paz. e o distintivo do cristão é a alegria do Espirito
A proposta viagem do apóstolo à Itália (22-33).
Santo - uma alegria que vem pelo Espirito de Deus e
Náo podemos deixar de contrastar as esperanças ex-
não pelos gozos carnais.
pressas neste trecho com as experiências da realiza-
Aprendemos do versículo 23 que tudo que não é ção relatadas nos últimos capítulos de Atos. Paulo
de fé. que náo temos aprendido com Deus mediante visitou Roma em verdade, mas não de caminho para
a sua Palavra, ou pela oraçáo. é pecado. a Espanha, porém preso. Contudo, não devemos du-
vidar de que. afinal, ele esteve ali em Roma "com a
Capitulo 15 plenitude da bênção do Evangelho de Cristo", ape-
sar de preso.
Cristo altruísta (1-13). Este trecho ensina-nos Parece que Paulo teve algum pressentimento da
que Cristo é modelo da conduta cristã. Notemos as hostilidade de inimigos na Judéia, pois ele pede as
palavras: "Não agradar a nós meamos... agradar ao orações dos crentes em Roma a esse respeito.
seu próximoComo podemos agradar ao nosso pró- Se, apesar disso, ele chegou entre os romanos
ximo? Alguém se lembrou que. fazendo a barba dia- "com alegria" ( v . 32). deve ter sido uma alegria in-
riamente. agradava mais a seu próximo do que se an- teiramente espiritual, pois, materialmente, ele so-
dasse entre seus semelhantes com a barba por fazer. freu bastante em Roma.
Outro quis sempre retribuir qualquer grosseria do vi-
zinho com um ato de bondade, e náo ficava contente Capítulo 16
enquanto não efetuava tal pagamento. Como é que o
leitor procura agradar seu próximo? As saudações do apóstolo aos crentes seus conhe-
Do versículo 4 aprendemos o valor e a importân- cidos em Roma (1-16). A individualidade e particu-
cia do Velho Testamento, que "tudo" escrito para o laridade destas saudações nos instrui. O apóstolo
governo de Israel pode ter ensino para nós. Que deve- (como seu divino Mestre) apreciava cada compa-
mos aprender, por exemplo, da lei do dizimo, dada a nheiro crente individualmente, e quis mandar uma
Israel? palavra a cada um dos conhecidos. Com cada nome
Ponhamos sentido nas expressões "Deus de pa- ele liga um pensamento, geralmente referente ao ser-
ciência e consolação" ( v . 5). e "Deus de esperança" viço ou testemunho da pessoa. Vemos que a sua
( v . 13). "Deus de amor e de paz " ( 2 C o 13.11). Os pa- preocupação com cada um se relacionava com seu
gáos criam em diversas divindades: o deus da fertili- valor espiritual. E assim que nós também aprecia-
dade. o deus da guerra, etc., como ainda hoje alguns mos nossos irmãos?

413
Podemos comparar estas saudações com as conti- gesto de cortesia adquire celebridade universal e per-
das em 1 Corintios 16.19; Colossenses 4 e 2 T i m ó t e o pétua. Algum serviço insignificante que façamos
4. etc. pode ter um valor mais permanente do que pensa-
N o s versículos 17-20, o apóstolo avisa contra cer- mos.
tos maus obreiros que promovem dissensôes. causam O apóstolo, depois de olhar em redor para oe
escândalos, e enganam os simples com lisonjas. (udo companheiros, talvez com a pergunta: " M a i s al-
fazendo por motivos de interesse baixo. g u é m ? " levanta os olhos a Deus e termina a sua car-
Crentes na companhia do apóstolo que saúdam ta incomparável com ações de graças ao Todo-
os romantts (21-27). Entre estes nomes também ve- poderoso.
mos que cada um tem qualificativo apreciável. So- Quase nas suas últimas palavras refere-se ao
mente Quarto é apenas "um irmão". Será que Paulo " m i s t é r i o " ou "segredo" que tanto preocupava seu
nào podia dizer mais nada a seu favor? Tércio. o es- pensamento, e que explica mais claramente na carta
crevente, põe seu nome na lista, e por este pequeno aos Efésios.

414'
1 Corintios

Provavelmente 59 1. Concernente às divisões na igreja (1.10 a 4.21).


d.C., no fim dos três 1.1. O fato das divisões (1.10-12).
anos que Paulo passou 1.2. O mal das divisões (1.13 a 4.5).
em Éfeso ( A t 20.31; 1 1.3. A causa das divisões (4.6-21).
Co 16.5-8). 2. Concernente ás desordens na igreja (caps. 5 e 6).
de vários assuntos, mas todos po- 2.1. Com referência à disciplina (cap. 5).
o titulo " C o n d u t a cristã. " Atê 2.2. Com referência ao litígio (6.1-11).
mesmo a verdade concemen- 2.3. Com referência á pureza (6.12-20).
com o mesmo tema (1 3. Concernente ás dificuldades na igreja (cap. 7 a
um pedido de es- 14).
ao matrimônio e a comi- 3.1. O caso do casamento e celibato (cap. 7).
(7.1 e 8.1-12); mas o apósto- 3.2. O caso da carne sacrificada aos Ídolos (cap. 8
lo estava ainda mais preocupado por noticias que ou- • 11.1).
vira de divisões e contendas, e de um incesto (5.1).
3.3. O caso do culto cristão (cap. 11.2-34).
As facções na igreja não eram devidas a heresias 3.4. O caso dos dons espirituais (caps. 12 a 14).
mas à camalidade dos corintios e à sua admiração 4. Concernente às doutrinas na igreja (cap. 15).
da "sabedoria" grega e da eloqüência. O apóstolo re- Conclusão (cap. 16) - (Scroggie).
prova o espirito partidário. As desordens menores
eram devidas à vaidade e a um desejo pueril pelas A M E N S A G E M DE 1 CORÍNTIOS
línguas e dons milagrosos, mais do que pelo ensino
sólido (1 C o 14.1-28). Paulo defende seu apostolado
Achando difícil resumir as muitas páginas do dr.
porque envolve a autoridade da doutrina que fora re-
Scroggie sobre a mensagem desta Epístola, resolve-
velada por seu intermédio (Scofield).
mos copiar o seguinte trecho do dr. Angus:
As divisões da Epístola são duas: assuntos que " E m nenhuma epístola se manifesta o próprio
Paulo ouvira; assuntos que os corintios tinham escri- caráter de Paulo de modo mais brilhante do que nes-
to. ta. A asserção da sua autoridade apostólica é bela-
Introdução (1.1-9). mente feita com humildade e piedosa desconfiança
Assuntos ouvidos: Desordens na igreja (1.10 a de si mesmo (2.3 e 9.16,27). Ele emprega com dili-
4.21). gência os meios da influência, reconheceodo-se sem-
Irregularidades sociais (caps. 5 pre inteiramente dependente de Deus (3.6-9 e 15.10).
a 6.8). Ele-combina a fidelidade com o mais alto grau de
Assuntos escritos: Irregularidades sociais (6.9 a ternura (3.2 e 4.14); e. quaisquer que sejam seus
cap. 10). dons, a todos eles prefere o amor (12.31). Nisto ele
Desordens na igreja (caps. 11 a serve de exemplo, não somente para os ministros,
16). mas para todos os cristãos.
Conclusão: 16.5-24 (Lee). " A s epístolas aos Corintios são particularmente
instrutivas pelo fato de harmonizarem do modo mais
ANALISE DE 1 CORÍNTIOS admirável a linguagem de um espírito nobre e liberal
com doutrinas de humilhação. Elas alimentam aa
Introdução (1.1-9). mais altas esperanças humanas, e dizem-nos qual é

415'
I Corintios.

a única maneira de se realizarem. Oferecem também era libertar-nos de todo o mal e abençoar-nos na casa
às igrejas de todos os tempos, pela discussão dos do Pai.
mais variados assuntos, as grandes lições de unidade F. W. Grant chama atenção para o fato de que
• caridade". este tfécho todo é uma discussão da sabedoria em
contraste com a loucura Os gregos intelectuais nas
Capítulo 1 suas discussões cientificas "buscavam sabedoria".
chamando-se filósofos - amadores da sabedoria -
Saudação e ação de graças (1-9). E um estudo mas a verdadeira sabedoria é de Deus. e revela justi-
importante comparar as saudações em todas as epís- ça. santificação e redenção.
tolas. e notar as diferenças entre as que sáo dirigidas
a indivíduos e aquelas que visam às igrejas. Vemos Capitulo 2
que. no endereço da carta, o apóstolo nào se dirige
aos paulistas, apologistas, etc., mas "à Igreja de Paulo não usava sabedoria humana na sua prega-
Deus", como também um soberano de hoje. no seu ção (1-16). Alguns têm notado, nas cartas de Paulo,
discurso do trono, não fala particularmente aos vá- seu costume de preocupar-se com uma palavra, e
rios partidos políticos, mas ao "meu parlamento". nestes dois capítulos vemo-lo preocupado com a pa-
Porventura nosso interesse também é a Igreja de lavra "sabedoria", contrastando, neste trecho, a sa-
Deus - toda e!a - em nossa localidade? bedoria humana com a sabedoria espiritual.
O versículo 2 ensina-nos que a carta contemplava Notemos a diferença entre seus sentimentos no
um círculo maior do que a igreja local: "Todos os que versículo 3 e seu serviço "em demonstração do IZspí-
em todo lugar invocam o nome..." rito e de poder" no versículo 4. Ê bom quando o pre-
Devemos perceber uma alusão à Segunda Vinda gador de hoje tem uma experiência semelhante.
do versículo 7? O ideal mais espiritual do servo de Deus é ocupar
- O sectarismo na igreja (10-17). Neste trecho ve- seus ouvintes com Cristo e náo com ele mesmo.
mos o prejuízo que resulta da preocupação com che- Notemos ainda, no versículo 2: "nada me propus
fes e mestres na igreja. Quase sempre resulta em di- saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucifi-
visões. cado' A ciência de Paulo, nesse grande centro de
•O remédio é a ocupação com as preciosas verda- ilustração humana, Corinto, era "Jesus Cristo cruci-
des que todos os crentes tém em comum ( v . 10), evi- ficado". O assunto da sua pregação, como diz no
tando. assim, contendas (v. 11). divisões e heresias capítulo 15. incluía a ressurreição.
A tendência, quando alguém afirma que é "de Pau- Notemos a relação entre o versículo 3 e o versícu-
lo", é para desprezar outro, que é "de Apoio", lo 4. Quem começa a sua pregação no versículo 3 será
Quais são os pregadores hoje que podem dizer: capaz de terminar no versículo 4. -
"Cristo enviou-me, não para batizar, mas para evan- Aprendemos dos versículos 9-16 que a sabedoria
gelizar"? espiritual vem mediante revelação divina.
Podemos perceber uma diferença, mediante a Podemos com proveito fazer uma lista bastante
tradução da V.B., entre a família (oikos) de Estefa- extensa de "coisas que Deus preparou para os que o
nos em 1.16 e a " c a s a " (oikia) dele em 16.15. Diz amam " e que o Espirito nos revela: o valor da pala-
F.W. Grant numa nota: " A casa de Estefanos. de vra perdão para a consciência atribulada; a doçura
que lemos ao fim da epístola, que 4se dedicaram ao da palavra amado para o coração desolado; a riqueza
serviço dos santos", parece referir-se aos criados, sen- da bênção divina para o pobre necessitado; o gozo e a
do a palavra diferente: 'oikia' e não 'oikos'. 'Os da proteção que resultam da adoção de filhos, e a frater-
casa de César' ('oikia', Fp 4 22) nào se refere aos fi- nidade que o Espirito nos revela por termos o mesmo
lhos dele; pois em todos os casos onde importa os fi- parentesco espiritual com o povo de Deus no mundo
lhos, a palavra é 'oikos'". inteiro.
A mensagem divina na palavra do Evangelho Bullinger traduz o versículo 10: "Mas Deus nos
< 18-25). A cruz de Cristo descobre três classes de pes- revelou o mistério pelo seu Espirito" ( F . 120); e o
soas: os judeus, que querem sinais, para os quais a versículo 13, ao fim. "declarando as coisas espirx
Cruz era tropeço; os gregos, que amavam a sabedoria tuais aos homens espirituais" (F. 121).
dos seus filósofos, para quem a Cruz era loucura; os
Notemos nos versículos 12 e 13 como conhecer
cristãos, para quem a Cruz era poder e sabedoria. A tudo quanto Deus nos tem dado. e falar disso aos
sabedoria de Deus é loucura aos olhos do mundo, e a nossos semelhantes.
sabedoria do mundo é loucura aos olhos de Deus.
. O versículo 15 ensina-nos que o crente não é com-
O método divino para a divulgação do Evangelho preendido pelo mundo. Alguém disse que ninguém
(26-31). Vemos que Deus emprega coisas e pessoas pode conhecer os motivos do crente sem conhecer
que parecem sem importância e impotentes, para di- seu Senhor.
vulgar as boas-novas e exemplificar nas suas pró-
prias vidas que "Cristo salva". "Nós temos a mente de Cristo " ( v . 16) parece sig-
Devemos meditar cora atenção nas quatro coisas nificar que temos aprendido a encarar tudo como Ele
ligadas ao nome de Cristo no versículo 30. Ele é nos- o encara, e apreciar as coisas segundo seu valor espi-
sa sabedoria, porque, geralmente, qualquer proble- ritual.
ma espiritual fica resolvido quando ponderado na Neste trecho podemos estudar:
presença de Cristo e com o desejo de promover os in- 1) Dois homens: o natural e o espiritual.
teresses do seu reino. Ele é nossa justiça, porque fez 2) Duas sabedorias a dos homens deste mundo
a obra redentora mediante a qual podemos-ser justi- (vv. 5.6), e a sabedoria de Deus em mistério - uma
ficados. Ê nossa santificação, porque enquanto an- coisa oculta da ciência humana.
damos com Ele estamos guardados do pecado. Ê 3) Dois espíritos: o espírito do homem e o Espíri-
nossa redenção, porque a consumação da sua obra to de Deus.

416
I Corintios.
4) Duas "coisas": as coisas do homem e as coisas possuir o mundo. N o primeiro caso o mundo é nosso
profundas de Deus ( w . 10,11). senhor, no outro, é nosso servo" (Grant).
5) Duas palavras: palavras persuasivas de sabe-
Capitulo 4
doria humana (v. 4). e "palavras ensinadas pelo
Espírito" ( v . 13). Os apóstolos como servos de Deus (1-8) e por isso
responsáveis perante o seu Senhor.
Capitulo 3 Neste capitulo vemos: a) um apelo (1-5); b) uma
Diferentes tipos de homens (1-9). N o capitulo 2 admoestaçào (6-13); c ) um aviso (14-21).
temos lido de homens espirituais e homens naturais. "Aqueles que ministram a Palavra náo sáo fontes
Aqui lemos de homens carnais. Estes sào cristãos, da verdade, mas canais: pertencem à igreja: ela náo
mas sáo criancinhas. A sua infância espiritual tem pertence a eles (3.21 -23). Sáo. por isso. despenseiros
duas características: náo podem receber o alimento de Deus, e náo precisam ser louvados pelos homens,
sólido da verdade, e. como acontece com as crianças, porque Cristo mesmo os julgará (1-5). Cada homem
brigam sobre assuntos sem importância. é julgado de quatro maneiras: a ) pelos seus amigos.
O versículo 6 ensina-nos a diversidade de servi- julgado por vós; b) pelo mundo, 'algum juízo huma-
ços. sendo o dever de alguns a plantação e de outros no'; c ) por ele mesmo, 'a mim mesmo'; d) 'pelo Se-
a rega. mas nem um nem outro consegue coisa algu- nhor' (3,4). Somente o último destes juízos é perfei-
ma sem Deus, que dá o crescimento. tamente verdadeiro. Nossos amigos podem ter de
nós um conceito exagerado: o mundo pode julgar-nos
O edifício da Igreja (10-23). Neste trecho o após-
mal; podemos errar para melhor ou para pior em
tolo ocupa-se com a Igreja no seu aspecto como um
nosso próprio juízo, mas o Senhor sabe. e somente o
edifício. Podemos recordar diversas figuras da Igre-
que Ele pensa tem valor real. Quando o Senhor vol-
ja: um corpo: uma noiva; um templo.
tar, 'cada um receberá de Deus o louvor' que mere-
" U m a das grandes verdades da nossa fé é que a ce" (Scroggie).
salvação não é. pelas obras, mas pela fé em Cristo so-
mente. Em outras palavras, o principio de toda a Os apóstolos como exemplo de humildade e pa-
verdadeira vida cristã é a recepção de Cristo como ciência (9-17). Neste impressionante trecho. Paulo
Senhor e Salvador contrasta a sua vida ativa, acidentada, cheia de pro-
" S e m o fundamento náo pode haver nenhuma vações e perseguições, sem qualquer recompensa
verdadeira edificação. Mas embora não sejamos sal- material, com a vida cômoda e tranqüila dos corin-
vos pelas obras, somos "criados em Cristo Jesus para tios. E ainda hoje há alguns que tém desprezado as
as boas obras" (Ef 2.9,10), e estas obras sáo contem- comod--lades do século para se entregarem a um su-
pladas aqui como construção sobre o fundamento premo ^forço contra todas as circunstâncias antagô-
(14). nicas. para propagar as boas-novas de Deus onde
"Obras boas ou más sáo consideradas aqui como e!as sáo ainda desconhecidas.
material bom ou inferior. Ouro. prata, pedras precio Podemos perguntar a nós mesmos: " E m que sou
sas representam bom material, visto que resistirão parecido com os apóstolos?"; " E m que sou parecido
ao fogo; enquanto madeira, feno, palha, que o fogo com os corintios?"
destrói, figuram má construção, doutrina errada, O versiculo 15 ensina-nos o que é um verdadeiro
trabalho sem valor. " O fogo provará qual seja a obra pai espiritual. Quantos filhos espirituais tem o lei-
de cada u m " . O fogo pode simbolizar a perscrutação tor?
do Senhor, cujos olhos são como chama de fogo. pe- Autoridade apostólica (18-21). Este pequeno tre-
rante o Tribunal de Cristo, onde todos, os crentes cho mostra-nos o reverso da medalha. O mesmo
comparecerão e serão manifestos (Rra 14.10; 2 Co apóstolo que confessa a sua pobreza, provações e hu-
5.10). mildade, afirma bem claro a sua autoridade apostó-
" A q u i náo há ensino de um purgatório, pois. lica. "O reino de Deus não consiste em palavras, mas
como alguns tém dito. estes versículos refutam tal cm poder".
doutrina. Este fogo dura apenas um dia: é futuro, A alusão no versiculo 18 apresenta mais uma pro-
não presente; é destrutivo, nào purificador; destrói va da camalidade que havia entre os corintios. e
doutrinas, náo pessoas; causa perda e náo lucro" mostra a intenção do apóstolo, de reprovar positiva-
(Speaker's Commentary). mente os "inchados".
"Esta prova de doutrina e obra pelo fogo não afe- " T e r m i n a aqui a primeira divisão da epístola,
ta a salvação do crente; ainda que suas obras sejam cujo assunto foi Divisões na igreja. O fato da divisáo
destruídas, ele será salvo como pelo fogo ( 1 5 ) " - (1.10-12); o mal da divisão (1.13 a cap. 4.5); a causa
(Goodman). da divisáo (4.6-21)" (Scroggie).
A expressáo "tudo é vosso" no versículo 22 mere- Capitulo 5
ce a nossa meditação. Foi o que Deus dissera a Israel
referente à terra prometida ( D t 11.24), mas Israel Imoralidade repreendida (1-13). Este capitulo
nunca tomou posse de tudo. E nós? até que ponto traz ensino precioso sobre a atitude da igreja perante
possuímos e desfrutamos tudo que " P a u l o " e " P e - pecados escandalosos. Notemos com cuidado o pro-
d r o " devem significar para nós? Para nós. quanto cedimento ensinado.
vale a " v i d a " ? e a " m o r t e " ? Primeiro, um espírito contristado. Com qualquer
" N o propósito divino, Paulo e Cefas, ambos per- outro espirito é impossível tratar devidamente de
tenciam a eles: eram igualmente instrumentos de um caso de pecado. O ensino de Jesus em Joáo 8.7 é
bênção; por que. então, contrastar um com o outro que quem está "sem pecado" deve ser o primeiro a
como se fossem antagônicos nos seus propósitos e in- disciplinar o mal. Mas que significa isso? Em 1 Pe-
teresses? A t é mesmo o mundo, embora nào lhes per- dro 4.1 lemos: "aquele que padeceu na carne já ces-
tencesse, pertencia-lhes neste sentido, pois uma coi- sou do pecado". O homem que dormiu embriagado e
sa é pertencer ao mundo, e outra, muito diferente, é acordou com dor de cabeça, nào quer embriagar-se

417
I Coríntios

mais - enquanto estiver sofrendo a dor na carne. Ele, ponto de poder dizer que cada membro do seu corpo
por um pouco de tempo, cessou de seu pecado. tem contribuído para algum fim espiritual. Quarto,
Com outros, o mero pensamento do pecado causa sofrendo no corpo, no serviço de Deus.
sofrimento. Um tal está "armado com este pensa-
mento". Se ele sofre quando pensa no pecado, está Capitulo 7
" s e m " esse pecado - e pode ser o instrumento de
Deus para salvar desse mal a seu irmáo. Instruções íntimas aos casados (1-9). Notemos a
Segundo, entendemos que o entristecimento re- diferença entre o começo do capítulo 5 e do capítulo
sulta na oração para que seja tirado de entre vós 7. Somente depois de tratar de assuntos de mais ur-
quem está vivendo no pecado. gência é que o apóstolo pode começar a responder á
Terceiro, no caso de estar o malfeitor táo pouco carta que os coríntios lhe escreveram.
envergonhado que náo se afaste, será necessário a Os importantes ensinos aqui referentes ao matri-
igreja toda reunida excomungá-lo. mônio cristão devem ser meditados pelos que ainda
Naqueles primitivos tempos, o transgressor, ex- sào solteiros, para que cada um saiba se está prepa-
comungado da igreja local, nào achava outro abrigo, rado para os compromissos e responsabilidades do
e estava "entregue a Satanás". que é o príncipe des- matrimônio.
te mundo. Hoje, às vezes, acontece que o transgres- O leitor inteligente verá na frase "a devida bene-
sor, excomungado de uma igreja, é recebido por ou- volência" (v. 3) o que os gramáticos chamam eufe-
tra, e nào se sente abandonado ao mundo onde Sata- mismo. isto é. o emprego de uma expressão mais
nás reina. suave quando o escritor quer evitar uma escabrosi-
Aprendemos deste versículo 5 que pode haver pe- dade. N a nossa linguagem moderna, diríamos que
cados tào ruins, pecados para a morte, que acarre- " n e m um nem outro deve recusar a aproximação
tam "a destruiçáo da carne" - isto é, a morte - mas física na devida m e d i d a " .
que, ainda assim, o espirito será salvo no dia do Se- M a s o versículo 5 ensina que pode haver ocasiões
nhor Jesus. de maior preocupação espiritual em que os casados
Alguns entendem que o versículo 9 refere-se a concordam em observar, por algum tempo, completa
uma carta anterior que o apóstolo escrevera, mas abstinência.
que náo foi conservada. Crente e descrente na vida conjugai (10-24). Pre-
Os versículos finais ensinam que devemos fazer cisamos sempre distinguir entre o ideal e o real. O
d i f e r e n ç a entro o nosso p r o c e d i m e n t o com iníquos n a ideal seria que os casados fossem do mesmo parecer
igreja e iníquos no mundo. Mas lemos a solene pala- espiritualmente. O que muitas vezes acontece é que
vra "Deus julga os que estão de fora". uma parte se converte antes da outra, e então é ne-
cessário saber como poderão, ainda assim, viver em
Capítulo 6 harmonia.
O ensino dado oferece, outra vez, o meio preferí-
Paulo censura o litígio entre os crentes (1-11). vel e o meio permissível. O preferível é que a mulher
Vários pensamentos ligam-se com este trecho da Pa- crente fique coro seu marido descrente, e pelo seu
lavra: mesmo entre crentes é possível haver ques- procedimento correto é amável o ganhe para Cristo.
tões; geralmente o crente mais espiritual quererá an- O caso permissível é que, náo podendo mais agüen-
tes sofrer algum prejuízo, e náo contender. Pode ser tar a incompatibilidade, se aparte mais fique sem
necessário valer-se do parecer de terceiros, porém casar.
nesse caso o crente nunca deve recorrrer a um tribu- O versículo 14 náo é de muito fácil interpretação.
nal mundano, mas aos anciãos da igreja. O conselho O marido descrente é santificado pela mulher cren-
do apóstolo de pór na cadeira de juízo os de menos te. talvez no sentido de que Deus o considera em si-
estima, nào era para ser tomado ao pé da letra. Ele tuação diferente, envolto num ambiente mais cristão
falou assim apenas para envergonhar os irmáos con- do que a maioria dos descrentes. Eie é, em algum
tenciosos. sentido, "santificado", e os filhos são "santos". Em
virtude de terem um dos pais crentes no Senhor Je-
Julgar o mundo, julgar os anjos ( v v . 2,3), parece
sus. são, por isso, contemplados por Deus como ocu-
não se referir a qualquer julgamento de condenação,
pando situação bem diferente daquela dos filhos dos
mas a "governar", como os chefes no livro de Juizes
descrentes.
governavam.
As solenes advertências do versículo 10 merecem Diz F. W. Grant: " A santidade das crianças aqui
ser ponderadas. não é necessariamente uma condição espiritual, po-
O corpo do crente é santo (12-20) por vários moti- rém a de uma relação exterior, mas que, natural-
vos: a) porque ele foi lavado, santificado, justificado mente, manifesta o pensamento de Deus para a bên-
(9-12); b) porque é "para o Senhor", e o crente que ção dos que estão em tal relação.
sempre tem usado seu corpo para o Senhor pode. era Entendemos que as alusões á circuncisáo nos
caso de doença, provar que " o Senhor é para o cor- versículos 18,19 devem ser tomadas no sentido ceri-
po"; c ) porque é um templo (19.20). monial. significando "israelitas". O crente israelita
O crente piedoso quererá, com certeza, glorificar não necessita renegar sua nacionalidade, e o crente
o Senhor no seu corpo. Como poderá fazê-lo? Primei- gentio náo necessita naturalizar-se israelita.
ro. tomando o devido cuidado para nào prejudicá-lo Os versículos 20-24 nào ensinam que seja proibi-
pelo uso de coisas nocivas, como seja, bebidas alcoó- do mudar de emprego, mas que. qualquer que seja a
licas, extravagâncias em comidas, cigarros, etc. que condição de vida do crente, ele pode permanecer ali
lhe dêem cheiro do mundanismo, nem pondo sobre com Deus. uma vez que a sua ocupação seja honesta.
ele vestidos e pinturas vaidosas, ouro ou jóias. Se- O taberneiro. por exemplo, depois de convertido,
gundo. nào usando nunca suas faculdades ilicita- pode sentir a necessidade de mudar de emprego.
mente. Terceiro, exercitando-o no serviço de Deus. a Os crentes solteiros (25-40). Este trecho trata do

418
I Coríntios

caso dos solteiros crentes, de ambos os sexos. Note- o deve saber. Mas se alguém ama a Deus. esse é co-
mos o cuidado com que o apóstolo explica que o pa- nhecido dele). Concernente, pois. ao comer coisas sa-
recer que apresenta não é mandamento do Senhor crificadas aos ídolos, sabemos que um ídolo nada
(compare-se o versículo 10) embora, ao fim. acres- é..."
cente "eu cuido que tenho o Espirito de Deus" (v. Vemos em todo este capitulo o importante ensino
40). da consideração para com outras pessoas. O egoísmo
Vemos a maneira elevada e espintual pela qual preocupa-se primeiramente com o interesse próprio.
Paulo contempla o estado da solteira e do solteiro: O altruísmo com o bem dos outros. O leitor é egoísta
uma pessoa que "cuida das coisas do Senhor para ser ou altruísta?
santa, tanto no corpo como no espirito O leitor sol- O versículo 12 eleva o altruísmo ao nível mais
teiro encontra aqui um espelho em que contempla sublime, contemplando o mal - ou bem - que faze-
seu próprio aspecto? mos aos outros como feito a Cristo. Veja-se também
E admitido que o versículo 36 é bastante difícil Mateus 25.40.
de se explicar, e tanto Figueiredo como a V.B. agra-
vam a dificuldade acrescentando a palavra " f i l h a " Capítulo 9
Na impressão de Almeida de 1937. por um erro tipo-
gráfico. encontra-se "trata dignamente a sua vir- Paulo defende o seu apostolado (1-6). Vemos
gem " q u a n d o deve ser "mdignamente", como no ori- ^qui algumas características do verdadeiro apóstolo:
ginal. Por vários motivos prefiro a tradução de J.N. a) ser " l i v r e " - em que sentido. Paulo náo explica.
Darby e outros: "virgindade" e nào "virgem", pois Podemos tomar a palavra em todo sentido: ser livre,
torna o versículo muito mais compreensível. N á o é. pela salvação de Deus, da pena e poder do pecado;
de maneira alguma, questão de alguém resolver se ser livre, perante os homens, de compromissos e dívi-
sua filha virgem há de casar-se ou não. mas de a pes das; ser livre no seu serviço evangelístico para obede-
soa considerar a sua própria " v i r g i n d a d e " , e resolver cer unicamente à direçáo do seu Senhor; ser "livre de
se. conservando &e solteira, realizará melhor seu pa- todos os homens" e. contudo, servo de todos (v. 19);
pel de servo de Deus.
b) ver o Senhor Jesus Cristo, literalmente ou espiri-
Notemos com cuidado a condição essencial para tualmente; c ) poder apontar muitos convertidos
todo casamento cristão: "Que seja no Senhor" (v. seus.
39). Depois ele fala dos direitos de um apóstolo: o di-
Matrimônio " n o Senhor" importa muito mais do reito do sustento; o direito do matrimônio (no Se-
que apenas serem crentes os cônjuges. Significa sa- nhor); o direito do descanso.
ber a vontade divina (mediante a oração), e. depois Viver do Evangelho (7-18) é o direito dos que pre-
de adquirir a inteira certeza dessa vontade, agir de gam o Evangelho. Isto Paulo prova: a ) pela analogia
acordo com ela. da vida social, no caso do soldado e do lavrador; b )
A expressão " o tempo se abrevia" no versículo 29 pelo ensino da I^ei. que concede ao boi o direito de
é parecida com 1 Pedro 4.7: "Já está próximo o fim comer o grão que trilha; c ) pelo exemplo dos demais
de todas as coisas"e T i a g o 5.8,9: "Já a vinda do Se ministros da Palavra que. ministrando coisas espiri-
nhor está próxima... o juiz está á porta". Pensando tuais. receberam daqueles a quem serviam coisas
nos muitos séculos que tém decorrido desde que es- materiais; d ) pelo exemplo do sacerdócio que. ser-
sas palavras foram escritas, não podemos entendé- vindo o altar, participava do altar.
Ias ao pé da letra. Porém na experiência do crente,
Com estes argumentos chega à conclusáo: "As-
durante todos os tempos a vinda do Senhor tem sido
sim ordenou o Senhor aos que anunciam o Evange-
uma viva esperança que se pode realizar a qualquer
lho, que vivam do Evangelho".
momento.
Este importante versículo evidentemente admite
exceções. T o d o crente deve anunciar o Evangelho,
Capitulo 8 mas se todos os crentes vivessem do Evangelho seria
necessário que fossem sustentados pelos descrentes.
Resposta ás perguntas acerca das carnes sacrifi Ou, se a maioria dos que anunciam o Evangelho vi-
cadas aos ídolos (1-13). N o s versículos 1-4 temos vesse do Evangelho, então a maioria teria de ser sus-
mais um exemplo interessante da maneira como tentada pela minoria.
Paulo vai atrás de uma palavra (veja-se sobre capi- Por isso compreendemos que o apóstolo falava
tulo 2.1-8). Ele chega à palavra " s a b e m o s " no versí- . do6 que anunciam o Evangelho apostolicamente,
culo 1, e imediatamente deixa seu argumento para viajando constantemente e pregando as boas-novas
preocupar-se com o assunto da ciência - natural e es- nos lugares náo evangelizados. Ele aqui não diz se o
piritual - sugerido pela palavra "saber". N o versícu- profeta, ensinador ou pastor tem o mesmo direito,
lo 4 ele volta ao seu ensino referente ás coisas sacrifi- « mas em l T i m ó t e o 5.17.18 parece concedé Io aos
cadas aos ídolos. Os tradutores, náo percebendo esse "anciãos que governam bem".
costume do apóstolo, deram-se no versículo 1 a tra- Termina o trecho, porém, com as palavras "eu de
dução esquisita: "sabemos que todos temos ciência ". nenhuma destas coisas usei", e assim a cada evange-
uma afirmação inepta e sem sentido. M a s esse pre- lista compete resolver se deve seguir o ensino ou o
cioso parêntese do apóstolo, com que ele interrom- exemplo do apóstolo.
peu seu argumento, está cheio de ensino profundo O versículo 17 tem sido traduzido "mas se o faço
que muito merece nossa atenção. constrangido, sou um escravo encarregado de uma
A tradução inglesa de J.N. Darby está no seguin- administração" ( C . H . 398).
te sentido: " M a s concernente ás coisas sacrificadas O método e galardão do verdadeiro ministério
aos ídolos, sabemos (pois todos temos conhecimento: (19-27). Este trecho muito ensina sobre a maneira de
conhecimento incha, mas amor edifica. Se alguém servir com êxito no Evangelho. Aprendemos: a) A
pensa que sabe alguma coisa, nada sabe ainda como importância de acomodar-se às circunstâncias, preo-

419
I Corintios.

cupaçòes e preconceitos dos ouvintes. Vemos este preensível. O fato de ter cada tradutor acrescentado
mesmo espirito em Ezequiel quando disse: "Eu mo- a palavra " o s " , que náo está no grego, aumenta a di-
rava onde eles moravam; e fiquei ali sete dias. pas- ficuldade. A tradução ao pé da letra seria " b e b e r a m
mado no meio deles" ( E z 3.15). E somente depois de uma espiritual seguindo a rocha", que. contudo,
disso, depois de entrar profundamente no espirito, náo dá sentido muito claro. Alguém sugeriu a possí-
na atitude, na tristeza dos do cative:ro, ele falou, b) vel solução, que o incidente da rocha " s e g u i u " ao do
A importância de fazer-se servo de todos O ministro mar Vermelho no livro do Êxodo, pois é somente a
da Palavra que espera para ser servido em tudo. terá palavra " s e g u i n d o " que causa toda a dificuldade.
pouco êxito. "O Filho do homem não veio para ser Comunhão na mesa do Senhor requer separação
servido" ( M t 20.28). c ) A importância de subjugar o do pecado (14-21). Nos versículos 16.17 temos o cris-
corpo, para que a pregação nào seja prejudicada. tianismo: no 18. o judaísmo, e nos 19,20, o paganis-
Notemos nos versículos 24-27 a alusão aos jogos mo. Cada um está relacionado com o que lhe é, sim-
públicos daqueles tempos, que hoje foram substituí- bolicamente, vital: cristianismo, e a Ceia do Senhor:
dos pelas corridas de bicicletas, de automóveis, etc. judaísmo, e o sistema sacrificial; paganismo, e o cul-
to dos ídolos (Goodman).
Capítulo 10 Aprendemos aqui com referência à Ceia: a ) que
ações de graças têm ali todo cabimento (v. 16); b )
Israel no deserto (1-13). A chave deste trecho é que é uma comunhão: alguma coisa que concorda-
evidentemente o versículo 11. "tudo isto... escrito mos fazer, em vista do nosso comum interesse na
para aviso nosso". Devemos ver em todo o V . T . li- morte do Salvador; c ) que simboliza a unidade do
ções espirituais para nossa instrução. E quando sen- corpo de Cristo; d ) que quem está em comunhão com
timos a falta d- qualquer esclarecimento no V . T . demônios " n ã o p o d e " beber o cálice do Senhor, em-
(como. por exemplo, o nome da mulher de Caim), bora seja capaz de tomar os elementos "indignamen-
podemos pcrgunt r: " S e eu soubesse essa coisa nào te".
revelada, estaria ais bem preparado para minha Liberdade e caridade cristãs (22-33). N o t e m o s
vida cristã?" nos versículos 23,24.31 as regras perfeitas para a con-
O leitor estudioso pode observar que no versículo duta cristã.
2 a tradução mais fácil será "batizados a Moisés", e Aparece um caso interessante no versículo 27: o
náo " e m M o i s é s " , como se Moisés fosse um tanque crente convidado a uma festa pagá. Alguém pode
ou rio. A preposição grega " e i s " náo é muito fácil de "querer ir" ali e prestar seu bom testemunho. Pa-
reproduzir em português. Significa a. para, em dire- ra isso tem liberdade, mas indo á festa, precisa ir
ção a, quase sempre com a idéia de movimento ou como servo de Deus que é; e se julgar que ali a prova-
destino. Emprega-se aqui: "batizados 'eis' M o i s é s " e ção poderá ser demasiadamente forte, então deverá
em diversos outros versículos, como "batizados 'eis' ficar em casa.
C r i s t o " (G1 3.27). " e u em verdade vos batizo 'eis' o O versículo 33 merece ser ponderado diariamen-
arrependimento" ( M t 3.11),etc. te, para vermos se nos descreve a nós também. E
O povo de Israel, passando pelo mar Vermelho, uma escritura que expressa o mais puro altruísmo.
sentiu-se identificado com Moisés como capitào da Com ela vai o primeiro versículo do capítulo 11.
sua salvação. E nós. batizados a Cristo, olhamos
para Ele como o Capitão da nossa salvação. Mas Capitulo 11
-Joáo não podia ajuntar o povo a Moisés, porque este
morrera, nem a Cristo, porque Ele ainda náo se ma- Como as mulheres devem apresentar-se na igreja
nifestara. Por isso levantou o estandarte do arrepen- (1-16). O apóstolo, propondo corrigir certos defeitos
dimento, e reuniu o povo em seu redor. existentes entre os corintios. começa, como era seu
Notemos que nesse " b a t i s m o " no mar Vermelho costume, louvando. Se fizéssemos sempre assim,
e na nuvem (versículo 2 do nosso capitulo), o primei- teríamos mais êxito em nossas exortações.
ro " b a t i s m o " da Bíblia, os filhos foram " b a t i z a d o s " - Mais uma vez notamos o uso de " i r atrás de uma
junto com seus pais, nào que eles. sendo crianças, palavra". Desta vez é o vocábulo "cabeça ". N o versí-
pudessem compreender a importância de terem culo 3 a palavra tem. provavelmente, o sentido de
Moisés como seu capitào, mas depois, inconsciente- " c h e f e " . A cabeça dirige todo o corpo.
mente. haviam de tirar proveito. Sobre a ordem e decência nas igrejas, o apóstolo
Sobre este trecho o dr. Scroggie escreve: " A últi- ensina que as mulheres devem ter a cabeça coberta
ma parte de 9.27 pode ser tomada como chave de "por causa dos anjos", uma palavra de sentido
10.1-22. O assunto é: A possibilidade e perigo de ser problemático que tem sido explicada de diversas
desaprovado. Foi este o caso dos israelitas (1-10). maneiras.
Notemos: 1) Seus privilégios (1-4). Cinco deles sào N o versículo 6 ele propõe duas alternativas: ou
referidos, e devem ser procurados no V . T . por meio " c o b e r t a " , ou " s e m cabelo" (rapada): mas náo ad-
das referências. 2) Sua perversidade íõ-lO). Aqui mite que esteja " s e m cabelo".
também sáo mencionadas cinco coisas: cobiça, ido- O versículo 15 necessita ser interpretado com in-
latria, fornicação, provocação, desespero. 3 ) S u a teligência. N ã o podemos entender que Paulo no
pena (8-10). Foram derrotados, e pereceram, e con- versículo 15 desfaça a instrução que dera no versícu-
tudo haviam sido remidos do Egito por sangue. N ó s lo 6. pois isso seria absurdo. Precisamos ver outro
cristãos devemos pensar que uma perversão pecami- sentido nas suas palavras, que não inutilize o ensino
nosa de privilégios trará certamente o castigo. principal do trecho: que "a mulher que ora ou profe-
O versículo 4 apresenta uma dificuldade: "Bebe- tiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria
ram duma rocha espiritual que os acompanhava" cabeça".
( V . B . ) , ou "que os seguia" (Almeida e Figueiredo). Era costume oriental, no tempo dos apóstolos, a
M e s m o no original o versículo é bastante incom- mulher cobrir o rosto com véu quando andava nas

420
I Coríntios

ruas. Porém podia dar-se o caso, enquanto ela lavava e assim coma ". do que examinar o homem • seu pró-
roupa no córrego, passar algum homem, e encará-la. ximo, e assim deixar de comer.
M e s m o assim, no caso de náo ter véu disponível, te- O versículo 27 ensina que existe a possibilidade
ria um recurso: cobrir o rosto, com seu cabelo com- de comer "indignamente". Alguns entendem mal o
prido. Assim ela ter cabelo comprido lhe era "honro- versiculo. pensando que fala de comer "sendo indig-
so", mostrando que náo era mulher destituída de pu- no". Digno ninguém é: mas " i n d i g n a m e n t e " se refe-
dor. re á maneira e ao espirito de quem participa.
E visto que o cabelo crescido é honra para ela N o versiculo 32 achamos importante ensino sobre
("glória" na V . B . ) não queremos vê-la de todo sem o julgamento pelo Senhor do crente que erra. Ê uma
honra. Porém compete a cada mulher zelar pela sua coisa solene o filho desobediente ser "repreendido
honra. pelo Senhor", mas é bem mais triste o descrente
O cristão e a Ceia do Senhor (17-34). As seguintes ser "condenado com o mundo".
divisões foram propostas por Haroldo St. John:
" A Ceia do Senhor tem para o crente diversas sig- Capitulo 12
nificações. É uma confissão: a ) da unidade cristã; b )
de que tudo devemos à morte de Cristo; c ) do nosso Dons espirituais e seu uso na igreja (1-11). Vemos
interesse pessoal em Cristo: d ) de que esperamos a que no versículo 1 a palavra " d o n s " nào está no ori-
sua volta. ginal. Preferimos a tradução "manifestações espiri-
Assim: tuais". (Veja-se versiculo 7.) O Espirito Santo no
1) E uma confissão da unidade cristã. N ã o se crente há de manifestar-se de alguma maneira, mas
pode apontar melhor vinculo de união entre o povo nem sempre pela mesma maneira em todos. Este tre-
de Deus. Alguns, mas não todos, podem fazer de de- cho fala de nove diferentes manifestações (dons) da
terminado rito, doutrina, ou governo da igreja, seu presença do Espírito.
centro de união; mas todos 06 crentes (e somente os Notemos as alusões á Trindade nos versículos 3 e
crentes) confessam seu interesse na morte do Salva- 4-6.
dor. Diz F. W. Grant: "O apóstolo começa por falar de
2) E uma confissão de que tudo devemos d sua manifestações espirituais (sobrenaturais). Havia ou-
morte. O Senhor Jesus Cristo teve por bem lembrar- tras manifestações semelhantes sem serem essas,
nos desta maneira do preço do nosso resgate, porque: que se davam entre os cristãos. Havia manifestações
a ) facilmente nos esquecemos do fato; b ) o nosso ato de espíritos maus como no culto idolatra dos gentios.
de tomar a Ceia demonstra publicamente a gravida- no qual os corintios tiveram a sua parte nos tempos
de do pecado: c ) a recordação promove a santidade passados nas trevas. Sabiam que haviam sido leva-
do crente. dos aos ídolos mudos, conforme eram guiados. Agora
3) E uma confissão de interesse pessoal em Cris- com a manifestação do Espirito (Santo) no meio.
to. Cada crente tomando os símbolos sagrados as- precisam aprender a fazer distinção. Precisam ser
sim. medita: a) " s e m a expiaçáo feita por meu Sal- inteligentes para não serem iludidos pelo poder do
vador. meus pecados estariam todos sobre m i m " ; b ) inimigo; pois onde Deus opera, ali o inimigo agirá,
" o amor de Cristo para comigo foi provado até a talvez de modo semelhante: uma obra de imitação,
m o r t e " ; c ) "sinto um amor para Cristo que não sinto como aquela com que Janes e Jambres hostilizaram
para mais ninguém, porque Ele fez por mira o que a Moisés no Egito (2 T m 3.8). E claro que no meio da
mais ninguém f e z " . assembléia cristã o poder de Satanás poderá mani
4) E uma confissão de que esperamos a sua volta. festar-se assim e enganar os cristãos, a náo ser que
A Ceia é um serviço que recorda um Senhor ausente estejam sob a influência do Espirito Santo nas suas
à nossa vista natural, embora cremos estar Ele 'no manifestações na assembléia".
meio' espiritualmente. Por isso é um serviço: a ) que A ação do Espírito Santo na igreja. N o s versícu-
nos compete somente neste mundo; b ) que interessa los 4-15 o Espirito Santo é referido oito vezes, por
apenas aos crentes que esperam a sua volta; c) que isso podemos compreender a grande importância de
poderemos estar praticando, no próximo domingo, ter Ele liberdade para seu bendito ministério.
pela última vez antes da volta dele". Lendo com atenção, aprendemos as seguintes
O leitor participa da Ceia do Senhor? Por quê? verdades:
Qual é o pensamento que mais o preocupa ao tomar a ) O Espirito Santo não é limitado a um só ins-
parte? trumento quando Ele opera a harmoniosa adoração
Desordens na Ceia do Senhor. Ê muito fácil a Deus na igreja reunida.
acontecer, quando falta a espiritualidade, o serviço b ) Ministérios bem diversos podem ser todos ope-
de Deus degenerar em desordem. E o remédio mais rados pelo mesmo Espirito, mas nesta diversidade
evidente nem sempre é o remédio mais apropriado. de operações deve haver um só propósito, um só al-
As vezes " a emenda é pior do que o soneto". Para vo. um só poder espiritual dominando todo o movi-
evitar que um irmão carnal fale inconvenientemente mento.
na igreja, ás vezes determinam que somente um tem N a orquestra, o único que não se ouve (porque
o direito de falar. Para evitar que alguém cite um náo toca instrumento) é o regente. E, contudo, ele
hino que nào condiga bem com o caráter da reunião, dirige a música toda. Assim também o Espirito de
resolvem que o pastor deve escolher todos os hinos Deus na igreja está presente para dominar todo o
com antecedência; assim evitam-se muitas desor- culto (v. 11).
dens. M a s o Espírito Santo nesse caso náo mais tem c ) O Espírito Santo, embora nem sempre se sirva
liberdade para "repartir particularmente a cada um de todos, quer liberdade para servir-se de "cada um"
como quer". (v. 11), do modo que Ele quiser.
Entendemos que é melhor fazer o que ensina o d ) L'ma prova de que qualquer ministério é "do
versículo 28: "Examine-se pois o homem a si mesmo. Espirito" é que seja "útil" ( v . 7), isto é, que seja

421
I Coriniu»
agradável a Deus, que seja proveitoso aos ouvintes: gie escreveu, " n o t e m o s : primeiro, a preeminéncia do
que ensine, admoeste, anime, console, ou, de alguma amor (1-3). D e v e ser soberano: a ) no coração (v. 1).
maneira, promova e estimule a vida espiritual. porque um êxtase, embora angélico, é inútil sem o
Qualquer ministério que náo se entende náo é do amor; b ) na inteligência ( v . 2), pois a sua ausência
Espirito, porque náo é útil. Entre outros ministérios torna sem valor os dons intelectuais; c ) na vontade
que não são úteis podemos contar missas ditas em ( v . 3). porque sem o amor nada vale o sacrifício su-
latim; hinos cantados de maneira que náo se enten- premo de dar a vida. Segundo, os prerrogativas do
dem as palavras. amor (4-7). Suas virtudes são primeiro resumidas e
Cada membro do corpo é necessário (12-31). " O depois analisadas. Dividem-se em virtudes negati-
apóstolo faz uma parábola do corpo humano, e divi vas e passivas e virtudes positivas e ativas. Sob o
de-a em quatro partes. Primeira parte (15.16): Ne- titulo 'O amor é longânimo', estão oito coisas que o
nhuma desculpa, mas responsabilidade para todos. amor náo é; depois, sob o título 'O amor é benig-
O pé náo pode desculpar-se porque nào é máo, nem o no', estão quatro coisas que o amor f a z : sofre, crê, es-
ouvido porque não é olho. Segunda parte (17-20): pera. suporta. Terceiro, a permanência do amor (8-
Nenhum monopólio, mas variedade. T o d o o corpo 13). A grande verdade é que o amor nunca falha, em-
um olho? U m gigantesco ouvido, sem haver qualquer bora falhe tudo o mais..."
outro membro? Que monstruosidade! Terceira parte
(21-24): Nenhuma independência, mas mutualida- T o d o s os dons. sem o amor, nada são (1-3); mas o
de A divisão no corpo vem de um ou outro dizer 'não amor, ainda que não haja dons, é tudo (4-7). O par-
necessito de ti'. Quarta parte (25,26): Nenhum cial e imperfeito náo pode ser permanente; assim a
egoísmo, mas simpatia. O sofrimento de um é o de permanência do amor prova a sua perfeição (8-31).
todos" (Goodman). N o sentido espiritual, quem ama, vive.
E um exercício interessante trocar a palavra " a -
O versículo 23 nos f a z lembrar que muitas vezes m o r " por " e u " , e ler (se pudermos) " e u sou sofredor,
os membros que menos contribuem para o bem-estar eu sou benigno, eu náo sou invejoso, e t c . "
do corpo, maior cuidado precisam da parte dos que
cuidam da igreja local. Podemos também estudar este capítulo da se-
E curioso que, embora "jyastores" figurem entre guinte maneira: a» o amor é essencial no serviço cris-
os ministérios referidos em Efésios 4.1, que Cristo, tão (1-3); b ) o amor tem qualidades distintivas (4-7);
subindo ao alto, deu aos homens, esse dom náo está c ) o amor não finda com a vida atual (8-13).
na lista daqueles que Deus pós na igreja (v. 28), em- 1) O amor é essencial no serviço. N o t e m o s que
bora figurem os "ensinadores" nestes três versículos ( c o m o em Romanos capitulo 7)
Interdependência dos membros do Corpo de Cris- o apóstolo relata a sua própria experiência. Outros
to. Cada membro de Cristo na nossa vizinhança nos pregadores podem confirmá-la por experiências pró-
é necessário porque: prias.
a ) P o d e ajudar e completar o nosso serviço. O pé V e m o s que as quatro coisas que Paulo reprova
coopera com a mão quando andamos para nosso como não tendo nenhum valor sem o amor. são todas
ponto de trabalho. coisas que engrandecem a pessoa, alimentando o
b ) Pode receber de nós a cooperação que desen- amor próprio, mas não podem substituir o amor ao
volve a nossa vida espiritual e ao m e s m o t e m p o pro- próximo.
move a sua espiritualidade. T o d o o capitulo 13 é um parêntese que interpreta
c ) A harmoniosa cooperação de todos os membros o argumento do apóstolo sobre línguas, e descreve "o
de Cristo na vizinhança constitui um testemunho caminho mais excelente" que ele julgava superior
importante da unidade da Igreja de Deus. aos mais notáveis dons.
Diversidade de dons. Acharíamos mais cômodo, Seria muito bom se todas as pessoas que a m b i -
talvez, a reunião de todos os dons em uma só pessoa, cionam " f a z e r f i g u r a " na igreja concordassem com o
mas o versículo 28 ensina a sua distribuição em di- caminho mais excelente.
versos membros da Igreja. V a m o s estudar a vanta- 2) O amor tem qualidades distintivas. A s positi-
gem dessa distribuição: a ) assim, não fica um só vas - Ionganimidade. benignidade, amor à verdade,
sobrecarregado; b) assim, cada um tem seu préstimo; tolerância, confiança, esperança, paciência. As ne-
c ) assim, todos recebem preparo, para serem aptos gativas náo inveja, não é leviano, nem orgulhoso,
para o uso do Espírito se Ele quiser ( v . 11); d ) assim, nem indecente, nem egoísta, nem melindroso, nem
ninguém é engrandecido demais, nem depreciado desconfiado.
demais; e ) assim, um passageiro abatimento espiri-
Convém considerar estas qualidades uma por
tual da parte de um. previamente apontado para o
uma, e pensar quais delas estavam reveladas em
ministério, náo prejudica todo o serviço, pois o Espi-
Cristo durante a sua vida terrestre; e se nosso amor a
rito dispõe de outros instrumentos.
Deus e ao próximo se manifesta por meio delas.
O leitor pode examinar as diferenças entre os 3) O amor não acaba. A transformação completa
dons, e considerar se freqüentemente ou raras vezes de nossas circunstâncias, condição, poderes, etc. no
dois dons se encontram na mesma pessoa. porvir acabará com muitas coisas hoje apreciadas e
E importante notar-se que o apóstolo, no versícu- necessárias - profecias, línguas, ciências, etc. A t é a
lo 31, aponta uma coisa mais excelente que "os me- fé e a esperança acabarão, mas o maior de tudo - o
lhores dons", e sem a qual os maiores dons ficam amor - permanecerá.
sem valor. E o amor, que ele descreve no capitulo 13.
Vemos manifestações do amor fraternal na consi-
Capitulo 13 deração do apóstolo para com seus irmãos, evitando
até coisas lícitas no caso de náo edificarexn (10.23). e
Os dons para o ministério necessitam ser inspira- seu cuidado em não dar escândalo a ninguém
dos pelo amor (1-13). Sobre este capitulo o dr. Scrog- (10.31.32).

422
I CorintU»
Capitulo 14 menor dos apóstolos, que náo era digno de ser cha-
mado apóstolo, mas que. sem dúvida alguma, era
O dom de profecia é superior ao dom de línguas. apóstolo mesmo. (Veja-se também capitulo 9.2).
A chave deste trecho é "edificação", e com esta pala- O versículo 10 contém preciosos ensinos. É como
vra podemos provar qualquer manifestação na igre- se Paulo dissera: " S o u . perante Deus e a sua Igreja,
ja, carnal ou espiritual: Será para edificação em apenas o que a graça de Deus me tem feito. Minha
amor? Ocupa-nos com Deus revelado em Cristo? posição social nada vale. nem minha educação aos
Vemos que, no caso dos corintios, este desejo de pés de Gamaliel, nem minha capacidade intelectual.
" f a z e r f i g u r a " na igreja, falando linguas incom- T u d o o que vale é aquilo que é obra da graça de Deus
preensíveis, era acompanhado por um descuido de em m i m " .
disciplina necessária em casos de imoralidade. Ê coi- A importância da ressurreição (12-16). D e passa-
sa perigosa quando o crente começa a ficar desequi- gem percebemos a completa ausência de qualquer
librado. dando importância exagerada àquilo que corpo de doutrina fundamental que houvesse de ser
chama atenção para ele mesmo, e desprezando aqui- aceito para se conseguir a filiação á igreja primitiva.
lo que ocupa a igreja com Cristo e a santidade da Aqui vemos na igreja de Corinto mais de um que ne-
vida diária. gava a ressurreição! O apóstolo combate energica-
A ordem do ministério na igreja local (26-40). Ve- mente esse ensino, e afirma a inutilidade do cristia-
mos que entre os crentes em Corinto havia excesso nismo sem essa verdade fundamental; mas não man-
de ministério. Hoje em dia. muitas vezes há falta de- da excomungar os que ignoravam a verdade.
le. Muitàs vezes, para apreciar o positivo, devemos
Por isso o apóstolo começa a impor limites. " F a - encarar o negativo. Para avaliar um mundo com o
ça-se tudo para edificação" devia tapar a boca de Evangelho, precisamos pensar primeiro num mundo
muitos par oleiros, faladores e oradores carnais. (ou um indivíduo) sem o Evangelho. Para entender um
Depois aconselha não falar linguas sem haver mundo criado por Deus, devemos pensar num mun-
quem interprete. Se esta simples regra fosse obedeci- do que se tivesse criado a si mesmo. Para saber o que
da hoje. acabaria de vez com as manifestações car- significa a ressurreição de Cristo, devemos imaginar
nais que desacreditam a causa do Evangelho em al- o caso de um Cristo que acabasse de morrer.
gumas igrejas. 1) O negativo. O apóstolo considera uma varieda-
N o versículo 29 limita ainda mais. Dos que falam de de circunstâncias ligadas á hipótese de não haver
"profeticamente" (veja-se o versículo 3) basta que a ressurreição dos mortos:
f a l e m dois ou trés. Ê interessante ver que o ministé- a ) Nesse caso. Cristo não ressurgiu - a bem-
rio aos homens, para a sua edificação, é limitado a aventurança de haver um Salvador e Mestre vivo,
dois ou trés, mas não há limite para o culto dirigido a presente, poderoso, fica sendo meramente um fato
Deus. Nisso não há perigo de excesso. histórico passado, e o cristão está abraçado com um
Vemos aqui as mulheres caladas na igreja (não defunto.
na Escola Dominical ou na reunião da mocidade); e b ) Nesse caso. nossa fé é vã, porque a fé cristã
este silêncio tem quatro motivos, introduzidos pela abraça, náo a um menino no colo da mãe, nem um
palavra "porque", dois neste capítulo ( v v . 34,35) e mártir pregado na cruz, mas um Salvador vivo á des-
dois em 1 T i m ó t e o 2.13.14. tra de Deus.
As palavras "e os outros julguem " no versículo 29 c ) Nesse caso. o Evangelho é falso - porque afir-
merecem atenção. Mostram que a igreja não tem ma, como sua verdade central, a ressurreição de
obrigação de escutar ministério sem proveito. Se for Cristo. N ã o pode haver um Evangelho sem um Sal-
evidente que o ministério de alguém não edifica, os vador vivo.
outros devem dizer-lhe, e convidá-lo a ouvir em vez d ) Nesse caso. os pecados não foram purificados.
de falar. Se Cristo não ressurgiu náo há prova de que a sua
O versículo 36 tem sido traduzido: [ " P o r que que- morte expiatória tenha sido suficiente.
reis mudar a prática das igrejas?"] Porventura saiu e ) Nesse caso. os santos falecidos pereceram, aca-
de vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para baram. não existem mais senão na memória.
vós?" ( C . H . 410). f ) Nesse caso. nossa situação é lamentável - a
vida fica sem sentido, sem orientação, sem esperan-
Capítulo 15 Ç»-
2) O positivo. Cristo ressurgiu. Isto significa, que:
O fato da ressurreição de Cristo (1-11). Primeiro, a) Cristo ressurgiu com as primícias de toda alma
pregado: depois, provado. morta; como em Adão todos morreram, assim em
Neste trecho vemos o que Paulo pregava entre os Cristo todos sob seu senhorio são vivificados; b) por-
corintios. como em 2.2 vemos o que ele " s a b i a " entre que Cristo ressurgiu, todos os que são dele ressurgi-
eles. Nos versículos 1,2 temos quatro pensamentos: rão ao seu encontro nos ares (1 Tis 4.17); c ) porque
pregar o Evangelho; receber o Evangelho; permane- Cristo ressurgiu, todas as potências inimigas serão
cer no Evangelho; ser salvo (do pecado) pelo Evan- aniquiladas, e Deus será tudo em todos (v. 28).
gelho. Cada um. destes pensamentos merece ser bas- (Devemos muitos destes pensamentos sobre o
tante ponderado. capítulo 15 ao dr. Goodman.)
Podemos indagar o que significa "crer em vão" A ordem da ressurreição (20-34). Nisto, como em
(v. 2). T a l v e z crer apenas com a inteligência, sem o tudo. Cristo devia ter a primazia, e ser "as primícias
coração sentir interesse no assunto; acreditar nas dos que dormem ".
verdades, sem pensar na urgência delas para si; crer Devemos atender ás expressões no versículo 22
por motivos egoístas de interesse próprio sem nenhu- "em Adão" e "em Cristo' Em que sentido está cada
ma verdadeira apreciação da graça e amor de Deus. um "em Adão"? Está por ser ' de" Adão: derivando
O versículo 9 ensina que Paulo se considerava o a vida física dele. E no mesmo sentido o crente está

423
I Caríntim
em Cristo por ser de Cristo, derivando a sua nature- Capítulo 16
za espiritual dele.
No versículo 29 encontramos a célebre expressão As coletas para os crentes de Jerusalém (1-4).
"batizados pelos mortos", que tanto trabalho tem Embora esta coleta visasse a uma necessidade local
dado aos expositores. e passageira, ela contém alguma instrução proveito-
Tratando-se de uma escritura que tem sido expli- sa para as contribuições de agora.
cado tão diferentemente pelos sábios, nào queremos Foi uma contribuição coletiva da igreja, e náo
ser dogmáticos. A explicação comum de que o após- apenas de alguns crentes interessados; tinha o mes-
tolo contemplava os recém-batizados como preen- mo sentido das coletas feitas em outras igrejas vizi-
chendo as vagas deixadas nas fileiras da igreja petos nhas: foi o conjunto das economias semanais; foi
crentes falecidos, é inadmissível, porque introduz proporcional à receita de cada contribuinte; os por-
uma idéia da qual nem sombra existe em todo o N . T . tadores das contribuições seriam os que as igrejas
N e m então nem agora podemos imaginar o candida- aprovassem.
to a espera de uma vaga. deixada por um falecimen-
to. para então ser batizado. Os projetos de Paulo para o futuro (5-9). Ele reco-
Proferimos a seguinte explicação dada pelo dr. nheceu a conveniência de visitas repetidas; de servi-
W.EL Vine: " L e m b r a d o s de que o originai foi escrito ço continuado durante meses; a importância de en-
sem pontuação, podemos pôr a nota de interrogação trar por "uma porta grande e eficaz " quando se abre;
depois da palavra "batizados'', e ent&o o versículo dc persistir, ás vezes, apesar de haver muito» adver-
adquire sentido de acordo com a doutrina da Escri- sários.
tura. Assim ler-se-á: "Que farão os que são batiza- Podemos crer que todos estes projetos para servi-
dos? £ para ( " h u p e r " , soòre) os mortos, se os mortos ço futuro tinham sido feitos.com a condição "se Deus
não ressuscitam". quiser". Aqui vemos o apóstolo em incessante ativi-
O apóstolo está discutindo, não o batismo, mas a dade. M a i s tarde, passa anos inteiros na cadeia. Em
ressurreição. MaB no caso de náo haver nenhuma qual dos períodos floresce mais a sua vida espiritual?
ressurreição, então Cristo é um dos mortos, e os bati- Recomendações e saudações (10-24). Neste tre-
zados estão apenas (pelo seu batismo) associados cho notamos o empenho individual de Paulo por
com gente morta. cada um dos seus companheiros e cooperadores.
"As más conversações corrompem os bons costu- Pensamos que talvez houvesse alguma coisa em
mes" (v. 33). Aqui o apóstolo está citando o poeta T i m ó t e o que o tornasse desprezível aos corintios. Te-
pagáo Menander, diz F. W. Grant (seguindo Jeróni- ria sido a sua mocidade? fraqueza física? acanha-
mo). Assim aprendemos que até um pagáo instruído mento? falta de instrução secular?
pode expressar sentimentos de acordo com a verdade
O versículo 12 ensina- nos que o servo de Deus é res-
de Deus.
ponsável ao seu Senhor, e que. ás vezes, nem os rogos
O método da ressurreição (35-50). Ê inevitável de um apóstolo o influem. A o menos os corintios fi-
que. de uma verdade tão sublime como a ressurrei- caram sabendo que a demora de uma visita de Apoio
ção, nasçam algumas perguntas: Como? Com que náo foi porque Paulo tivesse querido impedir o refor-
corpo? etc. Semente ira e colheita servem para ilus- ço às fileiras dos "apolistas" (3.4).
trar o caso. embora náo o expliquem.
Notemos que todo o simbolismo da ressurreição Devemos ler este versículo: "Roguei-lhe muito
traz a idéia de progresso, melhoramento, desenvolvi- que fosse com os irmãos l portadores desta carta 1"
mento e até de glória. ( C . H . 415).
A expressão "corpo espiritual" (v. 44), ainda que N o versículo 15 temos uma segunda alusão à " c a -
pouco explica, ao menos permite-nos sustentar a s a " de Estefanas (que entendemos ter sido um velho
idéia de que. na ressurreição, persiste a individuali- crente residindo em Corinto. mas no momento em
dade, forma, expressão, atividade, etc. Sugere tam- visita ao apóstolo), e aprendemos que é ordem divina
bém ama diferença, de essência - espiritual e não na igreja que os nào-trabalhadores se submetam aos
natural ou material; de origem - do Céu e não da ter» que auxiliam na obra e no trabalho. Consulte-se
ra; de estado - incorrupçáo em lugar de corrupção; sobre 1.16 para ver a diferença no original entre a pa-
de aspecto na imagem de Cristo e náo de Adão. O lavra para " c a s a " aqui e ali.
assunto é profundo, e podemos bem deixar o seu exa- Sobre o versículo 22. o dr. Bullinger tem alguns
me mais minucioso para o porvir. pensamentos referentes ao lugar onde se encontra
Nem todos os crentes morrerão. O triunfo final no final da carta. Em toda a epístola o apóstolo tinha
(51-58). U m dos segredos de Deus é aqui revelado: reprovado muitos males: sectarismos, imoralidades,
nem todos os crentes morrerão, mas todos serão litígios, erros ritualísticos e doutrinários; mas no fi-
transformados. Este trecho, com 1 Tessalonicenses nal não aponta mais nenhum destes males, porém
4.14-17. dá-nos o ensino mais detalhado sobre a se- diz que uma falta de-amor ao Senhor Jesus Cristo é o
gunda vinda de Cristo, embora aqui essa vinda não mal mais temível que possa haver entre os seus leito-
seja expressamente mencionada, mas sim seu efeito res. E acrescenta a palavra "Maranatha": O Senhor
imediato sobre os crentes falecidos ou vivos. " A vem, sem explicar por que o diz.
transformação" maravilhosa é predita nos versículos Termina esta carta, tão cheia de admoestações e
53,54. até de repreensões, com a expressão do seu amor. Se-
Notemos a significação da palavra "portanto" no rá aásiro conosco? Quando precisamos repreender al-
versículo 58. Podemos examinar a nós mesmos: " S o u guém, deixamos com ele, ao término deste serviço, a
eu f i r m e ? " ; " S o u constante?" impressão do nosso amor fraternal?

424
V
2 Corintios

2.3. Os princípios da contribuição cristã e seus


frutos (9.6-15).
3. Paulo, e seus detratores na igreja dos corintios
(10.1 a 13.10).
so, sendo sua p a r t i d a 3.1. Sua autoridade divina (10.1-18).
dúvida, pelo tumulto <At 19.23-41). 3.2. Seu apostolado manifesto (11.1 a 12.10).
caminho, chegou finalmente a Trõa- 3.3. Sua admoestaçáo fiel (12.11 a 13.10) ( S c r o g -
de Corinto. O regresso de T i to, porém, gie).
o que muito perturbou Paulo. que. re-
ceando algum incidente desagradável, atravessou o
A M E N S A G E M DE 2 CORÍNTIOS
mar e foi encontrar T i to em Filipos (2 Co 2.12,13;
7.5,6) - (Lee).
A Segunda Epístola aos Corintios é ura apêndice
A carta foi escrita em Filipos. provavelmente no da primeira, e como tal tem por assunto o ministério.
ano 60. Já temos visto que o caráter do corpo de Cristo pres-
Tema. A carta descobre o estado físico e espiri- supõe a existência do ministério. As várias funções e
tual de Paulo: fraqueza, cansaço, dor, e opressão es- qualidades dos membros tornam cada um, no seu lu-
piritual, devido à sua solicitude pelos corintios, à sua gar, ministro de todos os demais. Alguns há, sem dú-
manutenção das verdades da graça de Deus, apesar vida. mais proeminentes no ministério do que ou-
do» ensinadores legalistas, e á sua angústia de cora- tros, e na epístola aos Corintios o próprio apóstolo é o
çáo, oriunda da desconfiança dos cristãos-judeus. A exemplo do ministério no seu caráter mais elevado e
doutrina dos legalistas fora acompanhada da nega- manifesto.
ção da autoridade apostólica de Paulo (Scofield).
N ã o devemos permitir que esta verdade desvie
nosso pensamento da idéia mais ampla do ministé-
A N A L I S E DE 2 CORÍNTIOS rio, ligada a todo o corpo de Cristo, que o apóstolo
apresenta no primeiro capitulo desta epístola. Paulo
Saudação e ação de graças (1.1-11). era o cristão modelo, como vemos em Filipenses. Era
1. Paulo, e a má interpretação dos seus movimentos modelo na sua conversão, como mostra na sua epís-
(1.12 e 7.16). tola a Timóteo. Era modelo na sua condição ante-
1.1. O ministério do Evangelho: uma explicação rior, como principal dos legalistas e chefe de perse-
(1.12 a 2.13). guidores. Aqui é o modelo do ministro de Cristo; mas
1.2. O ministério do Evangelho: uma exposiçáo náo devemos permitir que a sua proeminência neste
(2.14 a 5.21). particular ofusque o pensamento mais amplo, como
1 . 3 . 0 ministério para com o Evangelho: uma acontece cora a maioria dos comentários. Está claro
exortação (6.1 a 7.16). que o ministério tem vários aspectos, e em algumas
2. Paulo, e a contribuição para os santos em Jerusa- das suas formas não somente não é público, mas
lém (caps. 8 e 9). pode ser muito oculto. Mas as coisas que parecem
2.1. O exemplo da Macedónia. e um apelo (8.1- mais fracas sáo necessárias, como o apóstolo nos re-
15). corda, e náo havemos de pensar no ministério como
2.2. A delegação a Corinto. e a sua missão (8.16 a exclusividade de uma certa classe. Assim a epístola
9.5). vai-se alargando desde uma mera defesa de Paulo

425'
2 Corhüio*
perante os coríntios - ou quando muito, das suas ne- Porém, nos versículos 14-17 vemo-lo voltando à
cessidades pessoais nessa assembléia - para incluir o sua serenidade habitual, quando começou novamen-
que é de interesse geral. Isto notamos desde o come- te a preocupar-se cora Cristo.
ço da epístola ( G r a n i ) . N o versículo 14 devemos preferir a V . B . - "con-
duz-nos em triunfo", Diz F. W Grant "Não é
Capitulo 1 'faz-nos triunfar'. O triunfo era de Deus mesmo, de
Deus que tem interesse em que nunca falhe em tudo
Ações de graças (1-11). Os dois pensamentos o que pertence a Cristo".
principais deste trecho sáo tribulaçào e triunfo; so-
frimento e salvação. Notemos os versículos que fa- Capitulo 3
lam destas coisas: tribulaçào (3,8); sofrimento
(5,6,7); salvação (6) - (Scroggie). Cartas de recomendação (1-5). Estas cartas re-
presentam um recurso de valor para os crentes ou
Vale a pena meditar sobre o que se diz de Deus no pregadores que viajam. Alguns, pouco conhecidos,
versículo 3, e sobre a sua significação para nós hoje. necessitam de tais cartas para que sejam bem rece-
Visto que o trecho tem muito a dizer de "consola- bidos nos lugares que visitam. Outros, bem conheci-
ção", podemos ligar com ele Joáo 15.11. dos, como era o apóstolo, podem achá-las supérfluas.
Notemos progresso de experiência espiritual: o Quando os pregadores tornam a visitar seus p-óprios
apóstolo passa por grandes provações; como resulta- filhos na fé pod*m dizer: "Vós sois a nossa carta".
do tem preciosas experiências das consolações de O novo concerto (6-18). Neste trecho os versícu-
Deus; conseqüentemente pode melhor consolar os los 7-16 sào um parêntese em que Paulo, havendo
outros. Alguma coisa parecida poderá acontecer co- aludido ao N o v o Concerto (v. 6). segue comparando-
nosco. o com o Velho. Ele reconhece que o Velho Testamen-
Porque demorou Paulo a sua ida (12-24). Deste to era glorioso, mas que o Novo, o Evangelho, é ain-
trecho aprendemos: como é importante ter uma boa da mais glorioso.
consciência; que simplicidade, sinceridade e graça
de Deus sào características de um ministério provei- Fazemos da versáo inglesa do Rev. Wilfrid Isaacs
toso; que as verdades reconhecidas valem, às vezes, a seguinte tradução dos versículos 12-18: "Não é de
mais do que novidades (v. 13); que pode haver moti- se estranhar que. com essa perspectiva, falemos com
vos suficientes por que uma viagem projetada náo se a máxima ousadia. Moisés costumava pôr um véu no
realiza; que o exemplo de Cristo é a norma do crente seu rosto para que os filhos de Israel, ao contempla-
(v. 19); que o apóstolo era compassivo, até para com rem a glória, náo a vissem passar e desaparecer. Nós
esses coríntios carnais ( v . 24). náo necessitamos desse véu A glória [ o ministério?!
agi>ra é permanente. Mas a mente de Israel tornara
insuscetível de convicção. Até hoje a glória do velho
Capítulo 2
concerto, como eles o lêem, lhes é escondida por um
véu táo impenetrável como nunca - um véu que náo
Paulo continua a sua explicação(1-13). Este tre- se levanta para que vejam essa glória desaparecer
cho ocupa-se com a pessoa iníqua da primeira Epís- em Cristo. A té hoje quando os livros de Moisés são li-
tola, agora arrependida. Contém ensinos preciosos dos, o véu está sobre seus corações Mas quando o
que demonstram como o amor fraternal opera quan- seu coração se voltar ao Senhor, o véu será retirado;
do há arrependimento. M a s era preciso escrever: o que já está acontecendo. E o próprio Senhor é o
"Rogo-vos que confirmeis com ele o vosso amor". Os Espirito. Assim o véu pode ser removido somente
disciplinados pela igreja necessitam de muito cuida- com o consentimento deles, pois onde está o Espírito
do e paciência da parte dos seus irmáos. Quando es- do Senhor não há compulsão.
tas qualidades faltam, os crentes podem ser " v e n c i -
dos por Satanás", que terá ganhado uma vitória. "E no nosso caso? Náo usamos um véu como
Perdão e consolação pela igreja local, que zela Moisés. Nossos rostos sáo como espelhos: todos refle-
náo somente pela honra de Deus, mas também pela timos a glória do Senhor, e à medida que exibimos a
restauração espiritual do pecador. sua formosura para que todos a vejam, nosso caráter
Para que este trabalho da igreja seja bem feito é se transforma concomitantemente. toma mo-nos se-
preciso, ás vezes, "muita tribulaçào e angústia de melhantes a Ele. voltando-nos da glória do antigo,
coração" da parte de quem zela pela santidade da para encarar a glória de novo, como se fosse pelo so-
igreja. Qual de nós pode falar em ter derramado pro do soberano Espirito, que nos leva adiante".
"muitas lágrimas" sobre o pecado de outro? E preci- Esta traduçáo é tão luminosa que náo necessita
so haver a prova do amor dos irmáos para com o ar- de explicaçáo.
rependido. E preciso haver esperança que a "repreen- "A letra mata" (v. 6). " D e v e m o s observar com
são feita por muitos" tenha produzido frutos saluta- cuidado que o apóstolo náo fala aqui da letra da Es-
res, beneficio» permanentes. Ê preciso haver apre- critura (como alguns entendem) mas da letra do Ve-
ciação do fato que Satanás, às vezes, aproveita des- lho Concerto, a saber, da Lei. N ã o é verdade que a
vios para conseguir derrotas ( v . 11). letra da Escritura mata. M e s m o a letra da Lei... evi-
Caráter e frutos do ministério de Paulo (14-17). dentemente náo é contra nós, mas é semelhante ás
Quando Paulo chegou a Trôade, parece que ele esta- boas lições de um velho professor cujos ensinos sáo
va com o espírito bastante agitado, tanto que náo proveitosos, embora não sejamos seus alunos. M a s o
pôde aproveitar bem a bela oportunidade de serviço concerto legal, e somente ele. mata. Se vivemos de-
crístáo que se lhe apresentou (2.13). Havia razáo baixo da Lei, logo descobriremos que é um ministé-
para alguma agitação. M a s náo era isto demais? rio de morte e não de vida.
Porventura o leitor fica tão perturbado que náo pode " E s t a glória (do velho concerto) passa. A glória
prosseguir no seu serviço? (Scroggie). na face de Moisés tem de dar lugar á glória em outra

426
I Corintios.
Face, e o ministério da morte, ao ministério do Espi- Notemos no versículo 10 que a preocupação cons-
rito. que revela a Cristo. Aqui a glória permanece, e é tante com a morte do Salvador resulta na conformi-
uma glória que o pecador impotente pode contem- dade com sua vida N o versículo 12 Paulo contrasta
plar com goro e satisfação. Há nela um Evangelho, o seu caso com o dos corintioe, que gozavam abun-
e, como logo aprendemos, é o Evangelho da glória de dantemente das comodidades da vida (1 Co 4.8), en-
Cristo. Assim o ministério da condenação tinha gló- quanto Paulo tinha renunciado tudo que o mundo
ria, mas quanto o excede em glória o ministério da oferecia, para melhor desempenhar seu serviço.
justiça!" ( G r a n t ) . Traduz-se o versículo 12: "De maneira que em
ruis opera a morte, e isso para vos resulta em vida''
Capitulo 4 ( C . H 417).
Vemos que. apesar de todas as suas provações,
O ministério do Evangelho (1-7). O assunto deste ele estava sempre animado (16-18).
capitulo é. ainda, o ministério do Evangelho. Note
mos a significação das palavras "este ministério". Capitulo 5
Vemos o apóstolo entusiasmado pela grandeza do
serviço que lhe fora confiado, e por isso encorajado a Porque a morte não tem terrores para o servo de
cumpri-lo sem desfaleeer. Deus (1-12). O dr. Scroggie toma 4.7 a 5.10 como
N o vertviculo 2 notemos as coisas que o apóstolo sendo uma secçào da epístola, e noia o ensino se-
evitou, por serem prejudiciais ao seu trabalho espiri guinte: Uma provação atual (4.8-18). Uma perepec
t uai: e como ele fez questão de se recomendar ã C O I I S tiva abençoada (5.1). Um desejo ardente (2-4). Um
ciência dos ouvintes pela sua conduta irrepreensivel. propósito eterno (5). Uma alternativa animadora (6-
e náo apenas ao entendimento deles pelos seus argu- 8). Uma ambição perpétua (9). Um motivo domi-
mentos. nante (10).
Aprenderpos deste trecho: que há coisas que o
Sobre o Tribunal de Cristo o dr. Goodman diz:
ministro de Deus necessita renunciar: que seu teste-
munho é o seu modo de viver, e náo apenas verbal; "A este tribunal temos três principais referências no
que pessoas "perdidas' podem não perceber a for- N . T . Devemos distingui-lo d o julgamento do Gran-
mosura do Evangelho de Cristo: que o Evangelho re- de T r o n o Branco referido em Apocalipse 20.11-15.
vela a " g l ó r i a " de Cristo e ilumina o crente; que o que resulta na "segunda morte" que o crente nunca
pregador mais convencido de que sua mensagem é provará (Jo 5.24; Rm 8.1; A p 20.6).
um " t e s o u r o " pode sentir que seu corpo é um "vaso " N o Tribunal de Cristo, o Redentor congregará
de burru" ( v . 7). os remidos em torno de si; mais ninguém estará pre
O dr. Gray resume assim o caráter do ministério sente: ninguém quererá outra coisa senão as decisões
do apóstolo Era um ministério triunfante (2.14-17); que Ele pronuncia, pois ali todo6 o amarão e confia-
era um ministério comprovado pela conversão dos rão nele. Contudo 1) todos serão manifestos, isto é,
corintios (3.1-5); era um ministério espiritual (3.6- todos aparecerão na realidade, e todos os enganos e
18). e era um ministério honesto (4.1-7). fingimentos desaparecerão. 2) Cada um receberá
Geo Goodman observa que este capitulo diz vá- louvor ou censura de acordo com o testemunho da
rias coisas referentes ao próprio apostolo: sua vida e serviço. As trés referências a esta cena
são: a) aqui em 2 Corintios 5.10, onde afirma será
1) Ele reconhecia que seu corpo era como 'vaso manifestado tudo o que temos feito no corpo; b ) em
de barro" ( v . 7), isto é. sujeito a todas as enfermida- Romanos 14.10, onde se diz que nossas relações com
des da carne. nossos irmãos serão examinadas, e c ) 1 Corintios
2) Ele sofria constantes provações: atribulado, 3.10-15. onde vemos que nosso serviço a Deus será
perplexo, perseguido, abatido, mas nào desanimado. provado como por fogo. Um homem verdadeiro apre-
3 ) A excelência d o poder d e D e u s e s t a v a nesse cia o julgamento de um juiz reto. Somente o iníquo
vaso de barro, de maneira que veio a ser um vaso tem m e d o " .
para honra. Quem cuidaria convenientemente desse
A tradução de Wilfrid Isaacs pode ajudar-nos a
vaso. estando nele um tesouro tão excelente? Real-
entender os versículos 13-15: "Somos loucos, dizem
mente só o próprio Cristo.
eles; bem, nesse caso. ao menos somos admitidos aos
4) As tristezas nunca o subjugaram. Perplexo, pensamentos de Deus; e em tratar convosco somos
mas nào desanimado; perseguido, mas nào desam- bastante ajuizados. Em verdade estamos bem con-
parado; abatido, mas náo destruído trolados - o amor de Cristo nos governa
5) A vida de Cristo manifestou-se no seu corpo "Isso, não é loucura, ê a razão por que enfrenta-
(10,11). Foi este poder de vida, dentro dele, que o ca- mos os maiores perigos. Para nós a amargura da
pacitou a suportar as provações de fora. Havia morte morte já passou. Temos passado o julgamento sobre
em redor, mas vida interiormente. nós mesmrjs no sen rido de que. visto ser a morte de
6 ) A morte operou nele, mas era vida para os ou- um equivalente à morte de todos, então, assim,
tros (12). Ele viu o fruto do seu sofrimento no salva- quando Ele morreu, todos perderam o direito de vi-
ção desses que procurou ganhar. ver".
7 ) A esperança gloriosa o sustinha (14). Deus o Uma mensagem de reconciliação (20.21). Aqui o
havia de ressuscitar e apresentar com Cristo. apóstolo roga, não aos crentes corintios. mas ao
_ 8 ) A fé fixou seu olhar nas coisas invisíveis, que mundo dizendo "que vos reconcilieis com Deus".
são eternas: todo o demais é passageiro (18). A reconciliação no N . T . quer dizer o restabeleci-
Tributação (8-18). Neste trecho Paulo desenvolve mento de relações íntimas entre Deus e os homens.
o ensino do versículo 7 afirmando que seu serviço eru É preciso notar oue a falta de harmonia e amiza-
acompanhado de muita tributação. de é um resultado do pecado que há no mundo, e que

427
2

cria um afastamento entre a criatura e o Criador (Is d ) A diferença de compreensão em tudo que é de
59.2). Notemos que: mais importância resultaria em freqüentes desaven-
a) O propósito da reconciliação foi de I V u * e não ças.
dos homens, e assim Ele revelou o amor. recurso, e ) O crente ficaria embaraçado de evangelizar o
propósito e poder de Deus. descrente, por estar ele mesmo desobedecendo o en-
b ) O processo da reconciliação foi o de Deus en- sine do N . T .
viar o Filho, como porta-voz do propósito divino, a Esta proibição pode-se referir, náo somente ao
manifestação do poder, graça e misericórdia de matrimônio, mas também á sociedade comercial e a
Deus; o único competente para consumar a grande outras associações voluntárias.
tarefa, mediante uma obra expiatória. 2) Relações não proibidas sáo as de patrão e em-
c ) A conseqüência da reconciliação é que o crente pregado; entre vizinho, compatriota e parente. As
em Jesus Cristo está bem com Deus: refugia-se em vantagens do contato do crente com o descrente na
Deus em vez de refugiar-se de Deus; ama seu Deus- vida social são tão evidentes quanto as desvantagens
Salvador em vez de receá-lo; encontra seu maior de um jugo "desigual". Assim:
prazer em obedecer á vontade divina, já que tem a) O servo crente, pelo seu bom procedimento,
aprendido a desconfiar da sua própria vontade peca- "adorna a doutrina" ( T t 2.10), e aprende humilda-
minosa. de. sujeição, paciência, longanimidade, tolerância,
b ) Reprova e limita o mal que há no mundo (1 P e
Capitulo 6 2.12). c ) O vizinho crente nos seus contatos sociais
tem oportunidades para evangelizar.
A abnegação de Paulo no seu ministério (1-10).
" N e s t e trecho vemos trinta maneiras pelas quais po- Capitulo 7
demos recomendar-nos como servos de Deus. Deve-
mos meditar em cada uma - se for possível, de joe- " N o primeiro versículo, o apóstolo faz uma dis-
lhos. Se pregássemos como arcanjos, seria tudo em tinção entre purificação e santidade. A primeira é
váo se náo tivéssemos a vida divina e náo manifes- uma operação instantânea; a segunda, progressiva; e
tássemos Cristo em nosso caráter e conduta. E essa ambas seguem sempre nessa ordem. Pode haver pu-
vida que dá poder e eficácia a tudo que dizemos" rificação sem santidade, mas não pode haver santi-
(Scroggie). dade sem purificação" (Scroggie).
"Receber a graça de Deus em vão" (v. 1) significa Este trecho permite-nos ver o profundo empenho
aceitar as verdades do Evangelho de modo que não do apóstolo pelo bem espiritual dos corintios. Se nôs
produzam na alma o efeito que era de se esperar. De- usássemos semelhante linguagem, acaso pareceria
vemos pensar em todo o serviço de evangelizaçáo exagerada?
como sendo " n ó s cooperando com Ele". Sobre o versículo 8 diz F. W. Grani: " S e o apósto-
Um apelo para separação e pureza (11-18). Este lo os contristou pela carta anterior, não podia agora
trecho termina em 7.1. Os trés pensamentos princi- lastimar-se, embora se tivesse lastimado no momen-
pais aqui são " d i l a t a ç á o " e "purificação". Podemos to - um caso notável de que nem sempre a inspiração
examinar-nos para verificar se temos coração aca- do escritor inspirado era consciente. Aqui temos
nhado ou dilatado. uma carta que todos reconhecemos como inspirada,
e contudo, num momento de fraqueza. Paulo lasti-
A separação ensinada aqui é o afastamento d o
ma-se de tê-la escrito. Isto demonstra como as nos-
imundo, do incrédulo, das trevas deste mundo. A
sas afeições podem, por um pouco, subjugar o nosso
Escritura não ensina a separação de irmãos em Cris-
raciocínio, e até o nosso juízo espiritual!"
to.
A palavra "Belial", ivmu nome própriu uu N.T., Nos versículos 9-16 temos um estudo sobre o ar-
significa Satanás (Pequeno Dicionário Bíblico). rependimento. e no versículo 9 vemos uma distinção
"Sereis para mim filhos..." (v.18). Em Mateus entre o arrependimento e a tristeza.
5.44,46 o ensino é que se faça o bem... para que sejais
filhos, e aqui nos versículos 17,18 é apartar-se do O versículo 10 faz uma diferença importante en-
mal, para que sejais filhos; porque, no sentido bíbli- tre a "tristeza segundo Deus" e a "tristeza do mun-
co, um " f i l h o " é quem apresenta as feições do pai. doQuais as características de ambas? Lemos de
Estudando com mais atenção os versículos 14.15, sete frutos do arrependimento no versículo 11. Mere-
podemos considerar: cem ser estudados separadamente.
1) Relações que sáo proibidas, e por que o sáo. Vemos pelos últimos versículos do capítulo, como
2) Relações que não são proibidas, e por que não o o apóstolo fala bem dos corintios, que ele tanto cen-
sáo. surara na sua primeira carta. A sua plena confiança
1) Relações proibidas. Entendemos que esta es- neles é bem afirmada no versículo 16.
critura proíbe absolutamente o matrimônio do cren-
te com o descrente, porque: Capítulo 8
a) Seria um jugo desigual, tendo um dos dois o
desejo de avançar no serviço de Deus, e o outro dis- Ainda a contribuição (1-6). Encontramos agora o
posto a recuar. apóstolo muito empenhado na contribuição para os
b ) O matrimônio é uma figura da relação entre crentes em Jerusalém. Cita o exemplo das igrejas da
Cristo e sua igreja, da qual o casamento entre crente Macedônia, a fim de estimular os corintios. Vemos
e incrédulo seria uma caricatura. que tribulação e pobreza nem sempre impedem a
c ) O prejuízo para os filhos seria enorme, não ha- liberalidade. Em todo caso, parece-nos estranho que
vendo acordo entre os pais para criá-los "na admoes- os crentes da Macedônia. em estado de "profunda
taçáo do Senhor". pobreza", fossem convidados a mandar uma oferta

428
2 Cormtiu

aos crentes necessitados da igreja-màe em Jerusa- é uma triste necessidade o servo de Deus defender-
lém. se. Evidentemente, havia detratores e acusadores do
" U m a das mais importantes graças da vida crista apóstolo em Corinto. e era necessário desmentir as
é a da contribuição. O crente que ainda não apren- suas calúnias. Porém o apóstolo, ao defender-se, fé-
deu a dar alegremente (9.7), liberalmente ( v . 2 e Rm lo com seu olhar fito na "mansidão e benignidade de
12.8), o que pode (v. 3). e sabiamente (v. 14). ainda Cristo".
não começou a reconhecer seus privilégios e respon Pelo versiculo I I entendemos que havia um ad-
sabiiidades" (Goodman). versário entre os corintios, que se fizera mais notável
A exortação (7-15t. Sobre a contribuição para que os outros. Paulo náo o menciona por nome; cha-
qualquer obra de Deus. aprendemos: a) que o crente ma-o "o tal".
deve " a b u n d a r " nessa graça; b) que a sua contribui- Como é diferente o estilo desta carta do daquele
ção prova a sinceridade do seu amor; c ) que o exem- aos Romanos! Porém aqui Paulo escreve a seus pró-
plo do Senhor Jesus Cristo é a sua inspiração; d ) que prios filhos na fé. e em Romanos, a desconhecidos.
a boa vontade pouco valor tem sem o cumprimento; "Podemos notar algumas características de um
e ) que ninguém precisa pensar em dar o que não «breiro eficiente: a) ele náo milita segundo a c a m e
tem; 0 que a contribuição pode ser; ás vezes, reci- (v. .'*); b) suas armas náo sáo carnais; c ) náo se ocupa
proca. com o aspecto exterior (v. 7); d ) emprega §eg poder
Os mensageiros (16-24). Algumas características para edificaçào; e ) náo se compara com os outros; f )
de T i t o e seu companheiro podem instruir-nos nas não se gloria no que já estava preparado (v. 15)"
qualidades próprias para os portadores de contribui- (GtHtdman).
ções dos crentes: solicitude (16); diligência (17); boa Vemos que o espirito de Paulo era o de um verda-
reputação 118): aprovação da igreja (19); cooperação deiro pioneiro, sempre anelante para ir mais além. e
no trabalho do Evangelho (22). anunciar o Evangelho onde Cristo náo tinha sido
anunciado.
Capitulo 9

Continua o assunto da contribuição (1-15). É cla- Capitulo 11


ro que. embora se trate aqui de assunto particular e
local, podemos aprender lições sobre diversos casos " N o s versículos 1-12 o apóstolo previne os corin-
de contribuição para o serviço de Deus. Além de so- tios contra três erros de doutrina: 'outro Jesus', cria-
correr os crentes pobres, podemos contribuir para ção, talvez, da imaginação humana; 'outro espirito'
casas de oração, viagens de evangelização. publica- que nào o Espirito Santo a quem o cristão obedece;
ção do Bíblias e tratados, socorro aos vizinhos neces- 'outra evangelho' que nào anuncia o perdão divino
sitados, etc. Vemos, na maneira pela qual Paulo tra- mediante uma obra expiatória. Paulo ainda defende
tou do caso. energia, prontidão, prudência, simpatia seu oficio apostólico (1-6), e aqui afirma o seu méto-
e amor aos irmãos que careciam de recursos. do (7-11). e o seu motivo (12-15)" (Scroggie).
Podemos ligar 1 Joáo 3.17 com este trecho Com respeito às suas necessidades pessoais, Pau-
Nos versículos 6-13, Paulo contempla de modo lo recebeu vária» vezes donativos dos filipenses, mas
mais amplo todo o assunto da contribuição, ligando recusou-se a receber dos corintios carnais. Quis an-
tudo a Deus e à abundância da sua graça. Podemos tes aceitar de "os irmãos que vieram da Macedónia "
estudar os " t o d o s " do versiculo 8. do que deles. E tudo isto para "cortar ocasião aos
Wilfrid Isaacs traduz os versículos 5-7 livremen- que buscam ocasião" para poderem dizer que o após-
te: "Julguei necessário solicitar o serviço desses ir- tolo explorava seus fUhos na fé.
mãos. para que vos visitassem bem cedo, e combi- Lamsa termina o versículo 12: "não sejam acha-
nassem que a beneficência de que vós haveis dado dos assim como nós".
aviso fosse pronta para remessa imediata; conto com Paulo, noa versículos 13-15, denuncia energica-
a prontidão daqueles que não pensam senão em con- mente os "falsos apóstolos" do seu tempo, que ele
ferir benefícios, e nào com a hesitação daqueles que afirma sem rebuços serem servos de Satanás. Que
calculam as probabilidades de lucro mediante o gas- diria ele hoje de todos os ensinadores falsos que ex-
to feito. Contudo, se quereis considerar o resultado, ploram a humanidade?
não vos esqueçais do ditado: 'Aquele que semeia com
Notemos aqui que Paulo reconhece de Satanás;
escassez, ceifará com escassez; e quem semeia gene- que é um ente real e náo uma mera influência malig-
rosamente terá uma ceifa abundante' A o mesmo na.
tempo, preocupação com os resultados tende a um
Os sofrimentos de Paulo por amor do Evangelho
acanhamento espiritual do qual náo desejo que se- (16-33). O apóstolo reconhece a necessidade de se de-
jais vitimas. Desejo ver cada um livre para fazer sua fender, mas ao mesmo tempo acha a tarefa táo desa-
própria escolha - uma escolha determinada pelo im- gradável. que a considera loucura. Relata minucio-
pulso espontâneo do seu próprio coração. Todos de- samente seus sofrimentos por amor do Evangelho,
vem dar porque tém prazer em dar, pois somente porém náo todos eles, porque ainda náo fizera a via-
quem dá com prazer satisfaz o amor de Deus". gem a Roma. Ficamos sabendo que a narrativa em
O capitulo que tanto ensina sobre contribuição, Atos é muito incompleta, pois pouco noe conta de to-
termina muito bem com uma alusão á maior de to- das as provações relatada» aqui. O dr. Goodman re-
das as dádivas. A palavra " i n e f á v e l " significa " q u e sume a lista assim: a) abundantes trabalhos, em que
nào se pode expressar por palavras". Paulo náo poupava seu corpo cansado; b ) crueldade
e perseguições, tendo sido muitas vezes açoitado e
Capitulo 10 encarcerado: c ) perigos marítimos e terrestres devido
ás sua» muitas viagens; d ) cansaço e necessidades
Autoridade apostólica (1-18). Neste capitulo
devido à fome, frio, nudez; e ) ansiedade pelas igre-
Paulo defende a sua autoridade apostólica. As vezes

429
2 Coríntios _

jas, cada dia trazendo novo» cuidados; 0 indignida Vemos, afinal, que o maior cuidado do apóstolo
des, como quando ele (outrora o orgulho dos fari- náo é justificar-se, mas corrigir os pensamentos errô-
seus) foi baixado num cesto pela muralha. neos dos coríntios, para que ele tivesse algum gozo
Mas em todas estas provações ele experimentou a no proveito espiritual deles(w. 19.21).
proteção divina.
Capitulo 13
Capitulo 12
Cltimos avisos e saudações (1-13). " P a u l o conti-
A visão celestial ( M O ) . "Este é um trecho bas- nua a defesa do seu apostolado. Outros podem afir-
tante instrutivo. O homem que. no capitulo anterior, mar sem razão que sào apóstolos, mas nenhum deles
é rebaixado, neste é arrebatado ao Paraíso. Como pode dar as provas que ele oferece. As evidências que
sào variadas as experiências do crente! Porventura o ele aponta sáo: a) Que náo desculpara os pecados dos
leitor é 'um hrimem em Cristo7 Como é triste estar coríntios. Alguns tinham continuado no pecado após
'sem Cristo'.' Quem está 'em Cristo* agora, estará uma confissão de fé. e isso ele nào queria tolerar. Se
'com Cristo' para sempre" (Scroggie). a salvação tem algum sentido, é salvação do pecado:
O propósito do apóstolo era mostrar que. ao con- a fé que náo resulta em vencer a prática do pecado
trário dos apóstolos que se glorificavam na carne náo é a fé que salva a alma da ira vindoura, b) O po-
(11.18) e na sua suposta grandeza e poder, ele gloria- der de Deus tinha operado poderosamente nos pró-
va-se naquilo de que os homens naturalmente se en- prios coríntios. Eles deveriam examinar a si mesmos
vergonham: em enfermidades, fraquezas, persegui para ver se achavam neles uma novidade de vida.
çòes. provações. A razão é que, apesar de tudo. o po- Essa era a prova do apostolado de Paulo, c ) Seu po-
der de Cristo descansava sobre ele, e assim toda a der fora manifestado na fraqueza; nisso e k era pare-
glória era do seu Senhor e nào dele" (Goodman). cido com o seu Mestre, que tinha sido crucificado em
fraqueza. mas ressuscitara pelo poder de Deus. Que
C.H. página 460, termina o versículo 2: "Fot arre-
o servo se parecesse com seu Senhor era mais uma
batado no poder de Cristo até o terceiro céu "
prova do seu apostolado" (Goodman).
E evidente que a "paciência" é uma coisa muito
necessária no serviço de Deus (vv. 11-18). O ministro Ê importante notar o parêntese nos versículos
de Deus precisa de muita paciência (6.4). e aqui o 3.4, de maneira que devemos ler: "Visto que buscais
apóstolo considera "toda apaciência" um dos sinais uma prova que é Cristo que fala em mim... exami-
do seu apostolado (v. 12). E inigualável a linguagem nai-vos (nào a mim, mas| a vós mesmos, se per ma
com que ele expressa seu desinteresse e amor (v. 15). rteceis na fé..."
O versículo 16 costuma ser mal-entendido. A tra- "Esta é a terceira vez que estou para vos visitar"
dução livre de Wilfrid Isaacs esclarece-o completa- (v 1>. Paulo nota que tinha havido apenas uma visi-
mente. "Admitindo que eu não vos importunei com ta. e que a visita proposta ficou adiada. Agora, pela
minhas necessidades, resta ainda a acusação de que terceira vez. Paulo propõe fazer a sua (segunda) visi-
sou um sujeito sem escrúpulo, que vos explorei sem o ta.
perceberá es, por uma sutil armadilha Pois bem, Comparando 12.14 com 1.23 e 2.2. vemos que se
pergunto se podeis mencionar alguém que mandei trata de uma segunda visita, mas proposta pela ter-
visitar-vos, e dizer que o empreguei pora vos explo- ceira vez. Embora resolvera ir, ainda náo fora, para
rar* Pedi a cooperação àe Tito. e enviei com ele nos- náo ir com tristeza.
so irmão. Tito vos explorou em alguma coisa? Náo A ultima saudação no versículo 11 merece ser
foram todos do mesmo espirito f Náo seguiu cada um meditada. Outra vez Paulo ensina a seus leitores que
o exemplo do seu antecessor f" as suas saudações devem ser santas (12).

430
Gaiatas
— —

Epistola aos Gálatas foi es- 2. Um argumento doutrinário (3.1 a 5.1).


crita provavelmente no Justificação é por fé em Cristo somente.
ano 60 durante a terceira 2.1. A doutrina discutida e aplicada (3.1-29).
(segunda?) visita de Paulo 2.2. A doutrina ilustrada e aplicada (4.1 a 5.1).
a Corinto. Paulo soube que 3. Uma exortação prática (5.2 a 6.10).
gálatas. que náo eram gregos mas Devemos entrar no pleno gozo da nossa liberta-
"uma parte da corrente de bárbaros que ção.
Grécia no terceiro século antes de Cristo" 3.1. A subversão da Liberdade (5.1 12).
dos legalistas, os entusiasmados 3.2. A expressão da Liberdade (5.13-15).
. vindos da Palestina. 3.3. O segredo da Liberdade (5.16-26).
3.4. 0 resultado da Liberdade (6.1-10).
O tema da carta é a vindicaçào do Evangelho da Resumo e Conclusão (6.11-18) - (Scroggie).
Graça de Deus e a sua libertação de qualquer mistu-
A M E N S A G E M DE G A L A T A S
ra de legalismo, que tende a comprometer seu cará-
ter do pura graça.
" Ê geralmente aceito (com base em 4.13: "há
O erro dos gálatas apresenta-se por duas formas, muito tempo vos preguei o Evangelho") que a epís-
ambas as quais são refutadas na Epístola. A primei- tola foi precedida por duas visitas à Galácia. Na pri-
ra ensinava que a obediência à Lei é misturada com meira Paulo sofreu bastante (G1 4.13-15). sendo en-
fé como base da justificação do pecador; a segunda, tretanto bem recebido e amavelmente tratado pelos
que o crente justificado é aperfeiçoado pela guarda afetuosos gálatas. mas já na segunda visita, ou de-
da Lei. pois, o apóstolo pôde ver que os outrora zelosos cren-
Paulo combate o primeiro erro, argumentando tes "depressa passaram... para outro evangelho",
que a justificação veio mediante o pacto com Abraão fascinados por qualquer cerimônia do rito judaico. E
(Gn 15.18), e que a Lei. que foi dada 430 anos mais por isso esta carta é uma forte e viva admoestaçáo. £
tarde - e cujo efeito foi condenar e não justificar - a única das epístolas de Paulo que náo começa por
não pode anular uma salvação baseada num pacto palavras de louvor. "Estou admirado" é a exclama-
anterior. Ele combate o segundo erro defendendo a ção do apóstolo. Todavia a afabilidade da carta é in-
obra do Espirito Santo como santificador (Scofield). teiramente igual á sua veemência. Eis o que a seu
respeito diz o Prof. Sabatier. " N à o há coisa alguma
na linguagem antiga ou moderna que se possa com-
A N A L I S E DE G A L A T A S parar com esta epístola. A alma de Paulo brilha nes-
tas poucas páginas em toda a sua força. Idéias largas
Saudação e assunto (1.1-10). e luminosas, lógica penetrante, ironia amarga, tudo
1 . Uma narrativa pessoal (1.11-2.21). o que constitui a argumentação mais enérgica, a in-
Paulo reivindica a sua autoridade apostólica. dignação mais veemente, e também a afeição mais
1.1. Sua divina revelação do Evangelho (1.11-17). tema, se encontram em combinação, formando uma
1.2. Sua relação com Pedro e as igrejas (1.18-24). obra poderosa".
1.3. Sua recepção pelos apóstolos em Jerusalém
(2.1-10). "Além dos esforços empregados pelos mestres ju-
1.4. Seu conflito com Pedro, e a sua significação daizantes para conquistarem proséíitos, também se
(2.11-21). havia intentado minar a autoridade do apóstolo. In-

431'
GáUui
sinuaram no espírito dos gálatas que Paulo era infe- Notemos o contraste no versículo 19: "Morto
rior a Pedro e aos outros apóstolo®, de quem aqueles para a Lei; vivo para Deus". Que significa para o lei-
deturpadores da verdade diziam ter recebido as suas tor?
doutrinas e credenciais. Para regular este importan- O precioso versículo 20, embora não necessite de
te assunto, que, na opiniáo do apóstolo, náo sendo muita explicação, merece profunda meditação. Que
esclarecido, punham em risco a vida do cristianismo, aprende dele o leitor?
ele de seu próprio punho escreveu (6-11) esta epísto-
la (ou talvez parte dela) em largos e vigorosos carac- Capitulo 3
teres, em contraste çom o seu costume nas outras
cartas" (Angus). O dom do Espirito é pela fé, náo por obras legais
(1-18). O apóstolo aqui apresenta mais um argumen-
Capitulo 1 to. baseado no dom do Espírito, que náo tinha sido
recebido por obras da Lei. Notemos a energia da sua
Introdução (1-10). Logo de início vemos o cuida- linguagem, e o perigo para o bem espiritual dos gála-
do do apóstolo em afirmar que sua autoridade apos- tas que Paulo percebia no caso de voltarem ao lega-
tólica nào era "dos homens" (como fonte da sua ori- lismo. Que diria ele hoje dos propagandistas da Lei
gem), nem "pelos homens" (como se algum abono de Moisés no Brasil?
humano fosse necessário para que ele pudesse exer-
cer seu ministério). O versículo 7 ensina que "os que são da fé" são fi-
Começa com a saudação de costume: "Graça e lhos de Abraão, espiritualmente falando, e o versícu-
paz", como sempre nas cartas ás igrejas, e náo "gra- lo 9 que os mesmos são "benditos com o crente
ça, misericórdia e paz" como nas cartas a indiví- Abraão".
duos. No versículo 10 fala de outra classe de gente: "Os
Notemos o propósito principal de Cristo em dar- que são das obras da Lei", e não admite qualquer
se por nossos pecados: "livrar-nos do presente século mistura das duas classes. " O argumento aqui é com-
mau", e não apenas d ar-nos um ingresso para o Céu. plexo e profundo. Todos os justificados o são pela fé
(6-9). Por isso. ninguém pode ser justificado pela Lei
Vemos nos versículos 6-9 a grande preocupação
(10-12). Mas a Lei tem de ser satisfeita para que al-
do apóstolo com o ensino errôneo que lavrara entre
guém possa ser justificado (13,14). A revelação da
as igrejas da Galácia; ensino esse que ele nào demora
Lei náo pode de maneira alguma desfazer a Promes-
em denunciar. Ele fala do novo ensino legalista como
sa (15-18). Entre a promessa dada a Abraão e a Lei
"outro evangelho, que não é outro". E hoje todo o en-
dada a Moisés houve um período de 430 anos (17), de
sino que tende a pôr os crentes debaixo da Lei e nào
maneira que Abraão não podia ter sido justificado
debaixo da graça, merece o mesmo titulo.
pela Lei, mas somente pela fé. Somos justificados so-
O Evangelho de Paulo é uma revelação (11-24), mente por aquilo que Cristo f e z " (Scroggie).
nào uma tradição recebida dos outros apóstolos.
Este trecho também dá-nos outros pensamentos: Sobre a Lei diz F. W. Grant; "Como sistema de
que o zelo religioso mal orientado tende a perseguir; governo mundano - o governo de um povo terrestre -
que a pregação de Paulo não era a proclamação ape- a Lei. nas suas recompensas e apenas, não ia além da
nas de uma verdade, mas de uma Pessoa (v 16); que terra. Ela nunca disse ao cumpridor dos mandamen-
seu contato com Deus era tão imediato e individual tos: "Irás para o Céu", nem ao transgressor convicto:
que ele não sentiu a necessidade de conferenciar com "Irás para o Inferno". "A alma que pecar, essa mor-
os apóstolos em Jerusalém (v. 17); que mais tarde re- rerá". e "o homem que as fizer viverá por elas", era
conheceu a conveniência da comunhão com os outros linguagem comum e compreensível aos homens, e
( w . 18,19); porque ele tinha poucas relações com as assim o sentido da Lei é tão claro e inteligível como é
igrejas na Judéia. inegável o seu poder de condenar.
Os versículos 19-39 dividem-se em três partes: a)
Capitulo 2 a intenção da Lei é condenar o pecado; é uma disci-
plina preparatória (19-24); b) a regra de vida para o
Nos versículos 1-14 Paulo continua a relatar suas cristão é a graça e náo a Lei (v. 25); c) o crente justi-
relações com os outros apóstolos, e como trabalhava ficado é filho e não servo debaixo da Lei (26-29).
em harmonia com eles. Entre outras coisas aprende- "A lei nos serviu de preceptor, até Cristo" (v.
mos: que uma revelação divina guiou o apóstolo a 24). Teve ao menos esse valor: o de encaminhar o
procurar mais íntimas relações com seus irmãos (v. povo de Deus, apontando a senda da retidão, até que
2); que ele resistiu energicamente uma tentativa de Cristo viesse e revelasse uma vida ainda mais perfei-
tornar Tito em simples prosélito dos judeus, median- ta.
te a circuncisào ( w . 3-5): que a missão de Paulo vi- O versículo 27 considera a pessoa batizada como
sava mais particularmente aos gentios ( w . 7-9); que "revestida de Cristo", apresentando exteriormente o
Paulo sentiu a necessidade de opor-se a Pedro quan- aspecto do seu Salvador. Quem tivesse o batismo
do este se comprometeu com práticas legalistas. mas náo esse aspecto estaria desmentindo a sua pro-
Dos versículos 17,18 Scofield oferece a seguinte fissão cristã.
paráfrase: "Se nós judeus, ao procurarmos a justifi-
cação pela fé em Cristo, tomamos o lugar de meros Capítulo 4
pecadores como os gentios. será por isso que Cristo
nos torna pecadores? De maneira alguma. E por co- Servo ou filho? (1-14). Aqui o apóstolo ilustra,
locar-nos novamente debaixo da Lei, depois de ter- por uma comparação legal; seu argumento que o
mos procurado a justificação por Cristo, que proce- cristão não está debaixo da Lei. dizendo que o her-
demos como sendo ainda pecadores náo justificados, deiro enquanto menino está debaixo de regulamen-
procurando a justiça mediante as obras da Lei" ( w . tos como qualquer servo. A frase "Os primeiros rudi-
15-21). mentos do mundo" provavelmente se refere aos

432
Gúlatas
mandamentos de proibição como " N á o comerás", O versiculo 12 é de sentido muito incerto; a V.B.
dado a Adáo, e depois outros a Israel, na Lei de Moi- se afasta muito do original; Almeida tem "fossem
sés. cortados". Uma tradução ao pé da letra seria "se
Devemos notar a distinção entre o estado de " f i - cortassem ".
lho" (v. 5); e "servo" ( v . l ) , e ver que o sentido de fi- Nos versículos 13-15 Paulo aponta a mais alta ex-
lho não é tanto o de criança, mas de alguém que goza pressão da liberdade cristá: nào no desenfreamento.
o privilégio e a confiança de um companheiro, com a mas no amor fraternal. Amor ao próximo é o cumpri-
dignidade de herdeiro, e o aspecto moral de seu Pai. mento da Lei. O aviso do versiculo 15 ainda tem ca-
Diz F. W. Grant: "Somos filhos de Deus pela fé bimento!
em Cristo Jesus (3.26). porém havia filhos antes do Obras da carne e fruto do Espírito (16-26). Neste
cristianismo... Cristo morreu, não somente pela na- trecho, como em outros lugares, é difícil resolver se
ção, mas 'para reunir em um corpo os filhos de Deus "Espirito" deve ler-se com o " E " maiúsculo ou mi-
que estavam dispersos' 'Jo 11.52). Havia filhos de núsculo. Onde tem o artigo no original, como no
Deus sob a Lei. mas enquanto estavam ali em nada versiculo 22. certamente é preferivel com o " E " . Nos
eram diferentes dos servos. Não clamavam 'Aba, outros versículos, se lemos "espirito" entendemos a
Pai'. Nem o Pai os reconhecia abertamente..." nova natureza espiritual do crente. Assim podemos
O leitor estudioso quererá distinguir entre o em- entender os versículos 16,17,18,25, etc.
prego da palavra "teknon", criança e "huios", filho Ê quando há uma nova natureza, uma nova cria-
no sentido mais amplo do termo. Quando se fala da ção, que há conflito entre a velha natureza e a nova
dignidade de um filho de Deus. a palavra é sempre (17), mas pela ação do Espírito Santo há vitória.
"huios". Em Gálatas emprega se a palavra "tek- Em toda a epístola o apóstolo afirma que o crente
non" em 4.25,27,28,31. e "huios" em 4.6,7,22,30 e em Cristo náo está debaixo tia Lei, e isto por vários
também 1.16; 2.20; 3.7.26. As traduções portuguesas motivos: porque a Lei náo é da fé (3.12.23); porque
traduzem as duas palavras por "filho". Cristo nos resgatou (13); porque "a fé veio" (3.25);
Aprendemos pelo versiculo 10 que o apóstolo con- porque somos guiados pelo Espírito (5.18).
siderava perigosa a tendência ao legalismo e a preo- Podemos pensar que o versiculo 23 é irônico, e es-
cupação com "dias de guarda". crito porque os gálatas eram tão preocupados com o
O versículo 14 parece indicar que havia alguma legalismo.
coisa no corpo de Paulo que podia torná-lo desprezí-
vel aos olhos dos homens. Alguns pensam que era
um defeito da vista. O versículo 15 parece confirmar
esse pensamento.
O versiculo 19 merece ser bastante meditado, em Capitulo 6
todo o seu sentido ( w . 15-20). Linguagem tão forte,
na boca de qualquer de nó®, parecia, talvez, um exa- As últimas exortações (1-18). O dr. Scofield faz
gero. Importa duas crises de profundo exercício espi- as seguintes divisões deste capitulo:
ritual, táo intenso que parecia uma agonia. A pri- 1) A nova vida como irmandade ( w . 1-6): a) o
meira vez, pela conversão dos gálatas; a segunda caso de um irmão que peca; b) o caso de um irmão
vez, por uma transformação ainda mais sublime, sobrecarregado; c) o caso de um irmão que ensina.
ainda mais importante: "até que Cristo seja formado 2) A nova vida como lavoura (vv. 7-9).
em vós". 3) A nova vida como beneficência (v. 10).
Porventura o apóstolo sentiria o mesmo com res- 4) A nova vida no amor que sacrifica ( w . 11-13).
peito a qualquer de nós? 5) A exultaçáo da nova vida ( w . 14.15).
"Mudar a minha voz" (v. 20). Falar com mais 6) A paz da nova vida (v. 16).
alegria, vendo nos gálatas grau mais elevado de espi- 7) A nova comunhão de sofrimento ( w . 17.18).
ritualidade. O ensino do versiculo 1 para os irmãos espirituais
Uma alegoria. Fatos históricos podem ter sentido é táo importante que merece ser ponderado constan-
espiritual (21-31). Aprendemos deste trecho que temente - e posto em prática.
Paulo considerava os incidentes do V . T . como con- É proveitoso contrastar os versículos 2 e 4. £ nos-
tendo figuras espirituais para o ensino dos crentes da so privilégio levar as cargas uns dos outros, e assim
atualidade. ganhar seu amor; mas também é certo que cada um,
O fato recordado no versículo 29. que o carnal em algum sentido, tem de levar a sua própria carga,
perseguia o espiritual, se era verdade nos tempos pois náo podemos sofrer as dores alheias. Ê como
apostólicos, e ainda é verdade hoje afirma o ditado brasileiro: " O dono do defunto pega
na cabeça".
Capítulo 5 Antes de terminar a carta, o apóstolo torna a cen-
surar os ensinadores legalistas, que queriam circun-
Liberdade cristã (1-15). O apóstolo continua a cidar os crentes de entre os gentios.
afirmar a incompatibilidade do legalismo com o O versículo 17 faz-nos pensar que Paulo conside-
Evangelho da graça. Quem pretende justificar-ae rava "marcas do Senhor Jesus" os sinais dos açoites
alegando sua obediência á Lei, afasta-se de Cristo e que levava no seu corpo. Qual dos leitores pode dizer
cai da graça. o mesmo?

433
^Efésios

fésios foi escrita de Roma 3.2. A segunda oração (3.14-19).


em 64 d.C. E a primeira 3.3. Doxologia (3.20.21).
em ordem das cartas es- P A R T E U. P R Á T I C A (caps. 4 e 6).
critas durante o encarce- 1..4 vocação da igreja (4.1-16).
raraento romano, e foi en- 2. Conduta da igreja (4 17 a 6.9).
i com Colossenses e Filemom. por máo de 2.1. Conduta individual (4.17-32).
é a carta mais impessoal de Paulo. 2.2. Conduta social (5.1-21).
»s 'aos efésios" não estão nos melhores 2.3. Conduta doméstica (5.22 a 6.9).
Colossenses (4.16) menciona uma carta 3 . 0 conflito da igreja (6.10-20).
Tem sido conjecturado que a epísto- Conclusão (6.21-24) - (Scroggie)
la que conhecemos como dirigida aos efésios é real-
mente essa carta aos Iaodicenses. Provavelmente foi A M E N S A G E M DE EFÉSIOS
enviada às igrejas de Éfeso e Laodicéia sem ser ende-
reçada a qualquer uma delas. Então o endereço seria " A epístola aos Efésios leva-nos às maiores altu-
"aos santos e fiéis em Cristo Jesus", em qualquer ras da posição cristã. É. como bem se entende, a
parte. epístola dos lugares celestiais. Cristo está assentado
A doutrina da epístola confirma este pensamen- ali, e nós estamos sentados com Ele. A própria cena
to. Ela contém a mais elevada verdade da Igreja, do nosso conflito é os lugares celestiais. Nisto, hà
mas nada diz sobre a ordem na Igreja. A Igreja aqui é uma semelhança, como tem sido notado há tempos,
a verdadeira Igreja, "seu corpo", nào a igreja local com o livro de Josué. Precisamente como Israel pre-
como em Filipos. Corinto, etc. Trés pensamentos cisava tomar posse praticamente daquilo que lhe
principais aparecem nesta epístola: a posição exalta- pertencia pelo dom de Deus, assim devemos nós to-
da. pela graça de Deus. do crente; a verdade concer- mar posse daquilo que é nosso nos lugares celestiais.
nente ao Corpo de Cristo, e o andar condigno com A altura da perspectiva aqui dá-nos uma mais am-
essa posição (Scofield). pla visão da verdade do que aquele que temos gozado
anteriormente - de fato. a mais larga possível.
A N Á L I S E DE EFÉSIOS " E verdade que em Romanos a declaração do
nosso lugar em Cristo perante Deus implica virtual-
Introdução (1.1.2) mente a posição celestial, mas o assunto nào é desen-
P A R T E l, D O U T R I N Á R I A (1.3 a 3.21). volvido ali. Temos em Romanos a Cabeça da nova
1. Os propósitos de Deus concernentes ao Cristo pes- criação; em Gálatas. a nova criaçáo é referida ca-
soal, e à oração do apóstolo (1.3-23). sualmente. Em Efésios. em algum sentido, vamos
1.1. O propósito pessoal (3-14). mais adiante. A nova criação e sua Cabeça estão em
1.2. A primeira oração (15-23). contraste com a velha criaçáo e o primeiro Adão;
2: Os crentes, os objetivos dos propósitos e das ora- mas aqui encontramos todas as coisas reunidas em
ções (2.1-10). Cristo, coisas no Céu e na terra. Olhamos para trás
2.1. Nosso estado pela natureza (1-3). para ver o propósito divino a nosso respeito antes
2.2. Nossa posição pela graça (4-10). que o mundo existisse. Olhamos adiante para ver a
3. Os propósitos de Deus concernentes ao Cristo graça de Deus manifestada aos principados e potes-
místico, e d oração do apóstolo (2.11 a 3.19). tades nos lugares celestiais na sua 'bondade conosco
3.1. O propósito místico (2.11 a 3.13). em Cristo Jesus', e a divina glória manifestada na

435'
Iféúm

Igreja durante os séculos. Assim temos a visão mais sultado de uma iluminação espiritual. O objetivo
ampla que se encontra no N.T. progressivo é triplo, e é indicado pela repetição de
"Efésios não trata do aspecto terrestre, por assim 'que*. Qual então é o conteúdo desses 'quês' divinos?
dizer, da nossa posição, como se apresenta em Ro- Qual a riqueza da glória da herança que Deus terá
manos e Gálatas. Náo lemos nem 'mortos ao pecado' nos seus santos depois da sua final redenção0 (Com-
nem 'á lei' nem 'crucificadoao mundo'. Aqui. somos pare-se isto com nossa herança nele, v. 14.) Qual a
criados em Cristo Jesus, vivificados nele. elevados e grandeza do seu poder para conosco, exercitado em
sentados com Ele nos lugares celestiais. Isso é o que é toda a obra da sua graça desde a regeneração até a
nosso individualmente, e o que prepara o caminho ressurreição?
para o desenvolvimento da verdade da Igreja. Pri- "Depois segue a perspectiva da oração, na qual
meiro vemos que a noiva de Cristo há de ser do seu brilha a verdade da ressurreição, entronização, e au-
parentesco, como Abraão exigiu que fosse a noiva de toridade de Cristo" (Goodman).
Isaque. Assim temos logo de começo o que é indivi-
dual e que prepara o caminho para considerarmos Capitulo 2
nossa posiçào corporativa como unidos a Cristo pelo
Espírito e feitos membros do seu corpo, bem como A salvação é pela graça (1-10). Aqui começamos
habitação de Deus pelo Espirito. Esta i a plena reve- a notar a distinção entre "vós" (gentios) e "nós" (ju-
lação agora daquilo que foi mistério escondido em deus convertidos). Weymouth traduziu o primeiro
Deus nos séculos passados. Paulo é o ministro espe- versículo assim: "Também a vós gentios, que fostes
cial dessa verdade, para levar os homens á plenitude mortos pelas vossas ofensas e pecados, em que está-
da bênção" (Grant). veis acostumados enquanto andáveis nos caminhos
deste mundo e obedecieis o príncipe das potestades
Capitulo 1 do ar. dos espíritos que agora operam ruis corações
dos filhos da desobediência - a vós Deus tem dado a
Nos versículos 1-14 temos a saudação 1.2) e os vida".
sete elementos da posição do crente (3-14). Neste trecho os descrentes sáo descritos como:
" H á seis capítulos nesta epístola, trés doutriná- j a) Mortos em pecados: insensíveis e impotentes
rios e três exortativos. O assunto da epístola é '.4 como cadáveres: corruptos - mortos espiritualmen-
História, a Glória e o Destino da Igreja de Deus' - te.
essa multidão de pecadores salvos, chamados dentre b) Andando segundo o curso deste mundo. Um
judeus e gentioc, PÃ<> fei toe um corpo em Cristo. De andar nào necessariamente imoral ou irreligioso,
pois de saudar os santos e fiéis em Êfeso, o apóstolc mas um andar mundano: "sem Deus no mundo" (v.
aborda imediatamente o seu assunto. Ele bendiz s 12).
Deus por tudo o que tem feito por seu povo: c) Levados por Satanás - o grande espírito-
a) Ele nus abençoou com todas as bênçãos espiri- mestre que dirige o curso deste mundo e determina
tuais nos lugares celestiais em Cristo. 'Em lugares as ações dos filhos da desobediência.
celestiais' é uma expressão que se repete quatro ve- d) Vivendo em concupiscéncias carnais, entre-
zes nesta epístola (1.3: 2.6; 3.10; 6.12). Significa a es- gues aos prazeres do corpo e da mente.
fera espiritual em que somos introduzidos Depois de pintar este quadro tão negro, o apósto-
b) Os crentes sáo escolhidos (4). predestinados lo apresenta outro, cheio de formosura, com as pala-
(5). e aceitos, tudo no amado (6). Um corpo escolhi- %Tas "mas Deus", e fala, entusiasmado:
do, mas a escolha é feita de acordo com a presciência a) Do seu grande amor que se manifesta em mise-
de Deus (1 Pe 1.2). ricórdia, e que se manifestará no porvir nas abun-
c) Estes crentes têm redenção, perdão, sabedoria, dantes riquezas da sua graça (v. 7).
í> prudência, e o conhecimento do vontade dc Dcu3 b ) D o seu poder vivificador. q u e c h a m a à vida UM
(7-9). Sua redenção do juizo, da morte e do Inferno mortos e os assenta juntamente com Cristo nos luga-
foi pelo precioso sangue (v. 7). res celestiais (5.6).
d) O propósito de Deus é 'consagrar em Cristo to- c) Da natureza da salvação. Pensemos na signifi-
das as coisas' e fazer uma criação inteiramente nova, caçáo do tempo presente no versículo 8. Nossa fé de
da qual o Senhor Jesus é a cabeça e a Igreja, o corpo hoje, que hoje aprecia a graça de Deus em toda a sua
em que Ele manifesta sua plenitude e glória ( w . significação, prova que Cristo salva hoje do pecado.
22.23). Podemos indagar se apreciamos devidamente tudo
e ) Deus já nos deu seu Espirito, que é o sinal e pe- que a graça de Deus deve significar para nós mes-
nhor de que Ele completará a obra. Que perspectiva mos, e se temos provado todo o seu poder salvador?
gloriosa!" (Scroggie). d) Do verdadeiro lugar das obras. Aqui temos três
O versículo 6 tem sido traduzido "pelo qual nos referências às obras. A salvação náo provém das
fez aceitos a si no amado'' (C.H. 364). obras (v. 8); náo podemos merecê-la. Deus opera (v.
Oração apostólica (15-23). Temos aqui a primei- 10); somente Ele pode salvar. "Para as boas obras"
ra das duait grande* orações do a põe tolo nesta carta. ( v . 10), primeiro salvos, depois t r a b a l h a n d o .
A primeira pede luz. a segunda amor. O versículo -5 tem sido traduzido assim: "[Estan-
"Notemos aqui trés coisas: a ocasião da oraçáo do nós também mortos em nossas ofensas] nos cha-
(15.16); o objetivo da oraçáo (17-19a); a perspectiva mou para partilharmos da vida de Cristo [pela graça
da oraçáo (19b-23). sois salvos]" (C.H. 708).
" A ocasião está em tudo que precede: 'por esta Judeus e gentios (11-22). Neste trecho aparece
causa' (v. 15). O objetivo é duplo: preparativo e pro- ainda mais claramente a distinção entre "nós" e
gressivo, cada parte sendo introduzida pela palavra "vós". Nos versículos 12,13 Paulo contrasta a dife-
'que'. O objetivo preparativo (17.18a) é que os cren- rença entre os gentios "sem Cristo" e os cristãos "em
tes tenham o pleno conhecimento de Deus. como re- Cristo".

436'
Tféúot

Depois ele considera o caso do judeu harmoniza- teiro; seu cumprimento - para a eternidade; sua pro-
do com o gentio no cristianismo, desfeita a parede de fundeza - faz-nos pensar na Cruz, amor até a morte;
separação, e a inimizade terminada, tendo ambos sua altura - sugere o Céu, a consumação do amor de
acesso ao mesmo Pai. pertencente* á mesma família, Cristo será ter-nos cora Ele na C a « do Pai.
e concidadãos. e) O apóstolo afirma que esse amor ultrapassa o
Agora Cristo é a nossa paz (v. 14). isto é, quem conhecimento - isto é. que melhor do que saber é
faz a paz entre judeu e gentio. Como é Ele a paz? Ele amar e ser amado, pois o amor satisfaz o coração de
é a paz: um modo que não está ao alcance do conhecimento.
a) Salvando o judeu das suas ordenanças (v. 15). f ) Que sejam cheios de toda a plenitude de Deus.
Elas náo o podem salvar, e apenas o condenavam Esta expressão é explicada no capítulo 4.13 (Good-
como transgressor, porque os judeus não as guarda- man).
va. Assim o Senhor tirou essas ordenanças abolindo- Depois destas profundas petições, o apóstolo ter-
as como meio de salvação. mina com sublimes palavras de oração (vv. 20.21).
b) Morrendo por judeu e gentio, dando-lhes uma
salvação comum. Assim foram reconciliados, não so- Capítulo 4
mente com Deus, mas um com o outro, na sua mor-
te. Não há mais diferença entre eles: judeus e gentios Aqui passamos da primeira á segunda metade
formam "um corpo" (v. 16). desta maravilhosa epístola, depois de doutrina, de-
c ) Pregando paz a ambos na mesma base (v. 17). ver: depois de teologia, ética. A primeira parte trata
d) Dando o mesmo Espírito (v. 18)\por quem elea dc princípios: cata dc práticas. Ali, a chamada: aqui,
têm acesso ao Pai. Assim há agora um santo Tem- a conduta. Aquela, da possessão interior; esta. da
plo, edificado de pedras vivas - a Igreja de Deus - manifestação exterior (Scroggie).
que é a morada de Deus pelo Espirito ( w . 21,22) - Os versículos 1-6 tratam mais especialmente da
(Goodman). vocação do cristão. Nos versículos 1-3 temos as cinco
O fundamento (v. 20). Podemos parafrasear este características de um andar digno de nossa alta vo-
versiculo: "Edificados sobre o fundamento [referido cação. Os versículos 4-6 falam da sétupla unidade do
nos ensinos 1 dos apóstolos e profetas". Diz Espírito.
F. W. Grant: " O s 'apóstolos e profetas' não sáo o fun- Três grupos de unidades (4-6). F. W Grant chama
damento, mas puseram o fundamento. 'Outro fun- atenção para três círculos concêntricos aqui. O mais
damento ninguém pode pôr além do que já está pos- interior, onde reconhecemos um Espirito, um Corpo
to, o qual é Jesus Cristo' (1 Co 3.11)". e uma esperança; outro maior, onde todos têm a
mesma crença, e o mesmo batismo cristão; e o mais
Capítulo 3 extensivo de todos, onde se confessa "um Deus e Pai
de todos". "Um corpo e um Espírito" dá-nos, por as-
A Igreja, um segredo escondido durante os tem- sim dizer, o caráter mais profundo da unidade, para
pos antigos (1-13). Este segredo 6 explicado no versí- a qual a 'esperança da nossa vocação' necessaria-
culo 6: "A saber, que os gentios sáo co-herdeiros e do mente contribui. Depois temos o circulo da profissão
mesmo corpo", participando, junto com os israeli- cristã... Aqui temos "um Senhor". Cristo, com a au-
tas, nas bênçãos do Evangelho. Náo podemos com- toridade que lhe pertence; "uma fé", istoé, a mesma
preender todo o alcance dessa revelação sem enten- crença, verdades que todos reconhecem; "um batis-
dermos o exclusivismo dos judeus, pois julgavam mo", que não é, como vemos imediatamente, o ba-
que, fora da nação escolhida, não havia salvação. tismo com o Espirito, pois isso havia de relacionar-se
com o primeiro circulo mais do que com o segundo.
Ainda com respeito ao "segredo" aprendemos:
Ainda mais. o batismo sem qualificação parece sem-
a) Xâo fora revelado em outras gerações Os ju-
pre referir-se ao batismo com água, enquanto o ba-
deus nem ao menos sonharam em semelhante coisa;
tismo com o Espirito precisa ser referido com o
os profetas nunca o disseram; náo é referido no V.T.
acréscimo dessa palavra... Aqui é simplesmente o
(v. 5).
batismo com água. que se liga. como temos visto, ao
b) Paulo aprendeu esse segredo por uma revela- reino, e por isso ao Senhor. É nisso que seu senhorio é
ção especial. Ele o chama de " o mistério" (v. 3,4), confessado. £ o que leva para a esfera do discipulado
isto ê. o segredo de Deus. e assim vai ligado com "uma f é " que significa a cren-
c) Paulo recebeu graça especial para pregar esse ça de um discípulo.
segredit (v. 7). Chamou-o "as riquezas incompreensí-
veis de Cristo" (v. 8). Riquezas de graça e misericór- "Finalmente temos uma unidade ainda mais lar-
dia. transbordando em bênçãos para pecadores gen- ga, 'um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e
tios (Goodman). por todos, e em todos'. Isto leva-nos para aquilo que
A segunda oraçáo do apóstolo (14-21). Paulo aqui inclui os próprios anjos..."
pede pelos crentes em Efeso: Esta citação está de acordo com o ensino de mui-
a) Que sejam fortalecidos espiritualmente. Ne- tos expositores eruditos, e supõe que os tradutores ti-
cessitamos ser fortes espiritualmente para sermos veram razão em escrever ''Espírito" com letra
arraigados c fundados em amor (v. 17). maiúscula. Figueiredo e Rohden têm "um espírito"
b) Que Cristo habite nos seus corações pela fé: o com letra minúscula, e um expositor recente disse
coraçáo tão constantemente ocupado com Cristo, que as palavras se referem ao único espírito cristão
que governe todo o nosso pensamento. admissível na Igreja de Deus: o espirito de Cristo que
c ) Que sejam arraigados e fundados em amor. caracteriza todo verdadeiro crente.
para que o amor seja o motivo e a força de todas as Os dons para o ministério (7-16). Podemos notar
suas ações. que sáo distribuídos entre diversas pessoas, de ma-
d) Que compreendam o amor de Cristo na sua neira que na Igreja de Deus, cada membro do Corpo
quádrupla medida (v. 18): sua largura - o mundo in- tem o seu préstimo individual.

437'
O versículo 13 expressa o sublime fim proposto, nào como néscios mas como sábios; 4) remir o tempo
mediante os variados dons dados ã Igreja de Cristo (v. 16) aproveitando toda oportunidade (Goodman).
para a sua edificação: "até que todos cheguemos... à O versículo 18 merece ser meditado, notando-se,
medida da estatura completa de Cristo". Nenhum cuidadosamente, que a sensação de prazer que o be-
crente pode individualmente expressar entre seus vi- bedor procura no vinho, o crente obtém com maior
zinhos toda a graça de Cristo - somente o Corpo todo vantagem pelo poder do Espirito de Deus.
poderá manifestar completamente todo o caráter da Os deveres domésticos (22-33). Lemos aqui do
sua divina Cabeça, mas cada crente deve expressar "matrimônio no Senhor", e encontramos idéias e
alguma coisa de Cristo, de maneira que quem lida ideais que nào podem ser devidamente realizados se-
com o crente possa aprender ao menos um pouco do não entre crentes que andam em comunhão com
que Cristo é. Deus. A mulher, por exemplo, não pode reverenciar
Podemos atender ao versículo 12 na V.B. "tendo seu marido se ele é criminoso ou devasso, mas sim. se
em vista o aperfeiçoamento dos santos para o traba- ele a ajuda a compreender melhor a graça e a santi-
lho do ministério". Diz Grani: " O aperfeiçoamento dade de Cristo; se ele eleva toda a vida espiritual de-
dos santos, sendo os santqs membros do Corpo de la. Assim náo será difícil reverenciá-lo.
Cristo, seria evidentemente o colocar cada um deles O apóstolo considera o casal como empenhado na
no seu lugar; esse lugar é de ministério, pois tal é a sublime tarefa de representar entre seus vizinhos a
função de cada membro". Cada um tem seu présti- intimidade, o amor, a unidade de propósito e esforço
mo, e a edificação do Corpo depende da "justa ope- que existe entre Cristo e sua Igreja. Os jovens cren-
ração de cada parte" (v. 16). Sabemos que no corpo tes. antes de se aventurarem numa tarefa tào subli-
humano, a saúde depende do serviço de cada me, devem pensar bem na solenidade do caso. e pro-
membro no seu devido exercício. curar em oração a graça necessária.
Cada membro do Corpo de Cristo deve prestar al-
gum serviço para o bem geral. Nem todos são
"língua" e, como no corpo humano, alguns membros Capitulo 6
ficam mais ocultos do que outros. Mas cada membro
do Corpo é um contribuinte, e, se tem saúde, terá Filhos e servos (1-9). Obediência é a primeira li-
atividade. çáo para os filhos, e quem nunca aprendeu a obede-
A santidade cristã (17-32). Notemos a alusão ao cer náo será competente para mandar. Depois de
"homem velho" e ao "homem novo" nos versículos obedecer aos pais, aprende-se a obedecer a Deus,
22-24. O homem velho é o que eu era por natureza; o para náo cair "na transgressão de Adão"
novo é o que sou pela graça de Deus. Os "filhos ", no versículo 1. são "crianças" ("tek-
O versículo 26 merece cuidadosa atenção: "Irai- nia"). pois os filhos adultos não mais estão sob a
vos. e não pequeis: não se ponha o sol sobre a vossa obediência, mas tém plena responsabilidade pelas
ira". O crente deve indignar-se na presença do mal, suas ações. E o pai sensato não exige obediência dos
mas precisa cuidado para que uma justa indignação filhos moços, mas os instrui a obedecer o que é direi-
não degenere em pecado. E. em todo caso. náo deve to e da vontade de Deus.
guardar o seu ressentimento - ao pôr do sol precisa Os pais necessitam bastante inteligência espiri-
verificar se seu espirito está de novo sereno. Como é tual para náo provocar nos filhos aquilo que é da car-
triste ver o cristão conservando a sua ira, dormindo ne (v. 4).
com ela, acordando com ela, até que todo o seu espi- Para ser bom servo, necessita-se de obediência,
rito fica contaminado com o mal que devia ter repro- submissão, desejo de agradar a Deus no serviço, con-
vado e esquecido! sagração ao trabalho e esperança de uma recompen-
Este trecho todo está cheio de preciosos conselhos sa divina. Muitas vezes os deveres de servos e senho-
referentes á vida prática do crente, e seu ensino resu- res competem ás mesmas pessoas. O negociante é
me-se no pensamento de que devemos tratar os ou- servo dos seus fregueses e senhor dos seus emprega-
tros como Deus nos tem tratado a nós (v. 32). dos. E o Senhor tanto de senhores como de servos é
Deus (v. 9).
A armadura de Deus (10-17). Este trecho trata do
Capitulo 5 poder da armadura e dos inimigos do guerreiro cris-
tão. O poder do crente está "no Senhor", à seme-
Conduta social do crente (1-21). Os "filhos ama- lhança de um menino que, quando perseguido pelos
das" de Deus, imitadores de seu Pai. devem - andar companheiros, se anda de mãos dadas com seu pai.
em amor, repelindo a impureza (1-5); andar na luz. enfrenta-os confiadamente.
repelindo as trevas (6-14); andar em sabedoria, repe- A armadura de Deus é relatada nos versículos 13-
lindo a tolice (15-21) - (Scroggie). 18:
Entre outros ensinos neste trecho, notamos: a) a) O cinto da verdade. Verdade, em tudo, é uma
que as coisas impuras não devem ser mencionadas proteção importante na nossa vida espiritual.
entre os crentes (3); b) que a conversação frívola e b) A couraça da justiça. O crente que náo anda
torpe náo convém (4); c) que o corpo deve ser consi- com justiça será facilmente derrotado pelo inimigo.
derado sagrado (3,5) como templo do Espirito Santo; c) O calçado do Evangelho da paz. Por onde o
d) que a ninguém deve ser permitido enganar-nos crente anda deve deixar um rasto do Evangelho e si-
nestas coisas (6), pois, às vezes, acontece que gente nais que ele pertence a "gente de paz". Um cristão
impura zomba da castidade. contencioso é uma contradição, uma anomalia.
Para andar como filhos da luz (v. 8) devemos: 1) d) O escudo da fé. "Notemos o artigo definido.
recusar toda comunicação com "as obras das trevas" Significa aqui a Palavra de Deus para nossa defesa.
(v. 11); 2) despertar-nos (v. 14) e repelir as coisas Cristo serviu-se deste escudo trés vezes auando resis-
mortas do pecado; 3) andar prudentemente (v. 15) tiu ao Diabo" (Goodman).

438'
Ifésios

e) O capacete da salvação. Isaias 59.17 diz: "Pós a) Que a oraçio deve ser constante, dirigida pelo
v elmo de salvação sobre sua cabeça " A idéia parece Espirito Santo, e feita "por todos os santos" (ou ao
ser da certeza da salvação de Deus... a esperança se- menos por todos os que conhecemos como tais), per-
gura e certa que guarda a mente das incertezas e dú- severante. e contendo "súplicas" - rogos urgentes.
vidas. b) Que o servo de Deus deve e pode contar com as
f ) A espada do Espirito - a saber, a Palavra de orações dos crentes seus conhecidos.
Deus empregada pelo Espirito para convencer e as- c) Que um crente pode ser "irmão amado"e tam-
segurar. bém "fiel ministro no Senhor".
g) Toda oração "Alguns 'poderes* <v. 12) somen- d) Que paz. amor e fé podem resultar da nossa
te podem ser vencidos pela oração. A oração é por comunhão com Deus (v. 13).
'todos os santos*. Isso deve ser ponderado" (Good- e) Inúmeros pensamentos preciosos poderão sur-
man). gir de uma prolongada meditação no versículo 24.
Palavras finais (18-24). Deste pequeno trecho po- Que o leitor experimente, escrevendo o resultado
demos aprender mais algumas lições finais: do seu estudo!

439
£Filipenses

data da epístola é, prova- 4.2. A sua espiritualidade (8.9).


velmente, 64 d.C. O moti- 4.3. A sua suficiência (10-20).
vo é referido em 4.10-18. A Conclusão (4.21-23).
é um recibo: o mais
belo recibo em toda a lite- A M E N S A G E M DE FILIPENSES
ratura. "Esta é a carta de um amigo aos amigos. Os cris-
é "experiência cristã". Há algumas ca- tãos filipenses tinham enviado um donativo, por
notáveis: mão de Epafrodito, ao apóstolo encarcerado, e esta
há nenhuma citação do V . T . carta é a acusação do seu recebimento. T e m sido
" g o z o " ou "regozijo" se encontra em dito com razão: " N a epístola a Filemom vemos como
o apóstolo pede um favor; na epístola aos Filipenses
c) O espírito é mencionado apenas três vezes vemos como ele agradece um favor.
(1.19; 2.1; 3.3). " A primeira visita de Paulo a Filipos foi em 52
d ) Esta epístola contém menos censura e mais d.C., e suas experiências ali são detalhadas no livro
louvor do que qualquer outra. de Atos. Foi uma visita frutífera, e quando o apósto-
As divisões correspondem aos capítulos: lo seguiu para Tessalónica deixou atrás o núcleo de
1) Cristo, a vida do crente; regozijo no sofrimen- uma robusta igreja. A Epístola foi escrita uns dez
to. anos depois da primeira visita. E uma carta, não de
2) Cristo, o exemplo do crente; regozijo em hu- condenação, mas de elogio; contudo, podemos dis-
mildade e serviço. cernir, através da sua linguagem amável, uma ligei-
3) Cristo, o objetivo do crente; regozijo, apesar ra repreensão. Parece que Evódia e Síntique ocupa-
das imperfeições. vam lugares de destaque entre os crentes em Filipos.
4) Cristo, o poder do crente; regozijo, apesar da e que estavam em desacordo. Por isso o apóstolo,
ansiedade (Scofield). quando agradece a dádiva, aproveita a ocasião para
exortar a todos a que sejam unânimes e humildes, e
A N Á L I S E DE F I L I P E N S E S para tanto cita o exemplo de Cristo.
" A nota principal da epístola, porém, é a de rego-
Introdução (1.1,2). zijo, e, indiretamente, ela mostra que há um gozo
1. O feliz descanso da vida cristã \ (1.3-26). que será a experiência normal do crente; um gozo
1.1. Descanso na promessa do passado (3-11). que tempos e circunstâncias não podem abalar. 'Re-
1.2. Descanso no propósito do presente (12-18). gozijai-voa sempre no Senhor, e outra vez voz digo:
1.3. Descanso no plano do porvir (19-26). regozijai-vos'" (Scroggie).
2. O ideal sublime da vida cristã (1-27 a 2.30).
2.1. A medida apontada (1.27 a 2.18). Capítulo 1
2.2. A medida aproximada (2.19-30).
3. A energia piedosa da vida cristã (3.1 a 4.1). "Em Cristo... em FOipos" (1-11). Todos nós vive
3.1. O cristianismo oposto ao judaísmo (3.1-16). mos em duas esferas, uma espiritual, e outra natu-
3.2.0 cristianismo oposto ao desenfreamento ral, devendo aquela predominar.
(3.17 a 4.1). Como era de seu costume, o apóstolo primeira-
4. A grande superioridade da vida cristã (4.2-20). mente dá graças (3-7), e depois ora pelos seus leito-
4.1. O seu altruísmo (2-7). res (8-11).

441'
Tilipmtes

N o t e m » » neste trecho que Paulo se regozija: na Será assim que usamos exortar uns aos outros?
oração (4); na confiança que a obra começada será Notemos que a consideração do versículo 3 im-
consumada (6); em poder escrever estas palavras (9- porta um juízo humilde, que pensa nas limitações
11) (Goodman). próprias, e nas vantagens alheias.
Vemos que a preocupação principal do apóstolo " O assunto dos versículos M l é harmonia pela
aqui é a cooperação dos filipenses no Evangelho (v. humildade, primeiro por exortação (1-4); depois por
5), manifestada na remessa, com bastante dificulda- exemplo (5-11). A base (1), a natureza (2) e a ocasião
de. de sua costumeira contribuição material, pela (3,4) da exortação aparecem primeiro, e depois nossa
mào de Epafrodito (4.16-18). atenção é chamada para o supremo exemplo (5-11).
Dos prejuízos nascem proveitos (12-26). O argu- " N o s versículos 6-8 contemplamos a humilhação
mento de Paulo aqui visa provar que seu encarcera- do Filho de Deus, sendo destacadas a sua preexistên-
mento estava contribuindo para proveito do Evange- cia (6), encamação (7,8a), e crucificaçâo (8b). De-
lho. Os versículos 13,14 não devem ser mal-entendi- pois assistimos à exaltação do Filho do homem (9-
dos: os filipenses podiam sentir-se um tanto abala- 11). em que lemos: Cristo exaltado (9a); uma honra
dos ao ouvir que o pregador estava na cadeia - talvez conferida: o nome (9b); e um fim decretado: adora-
por algum delito. Por isso ele explica que em Roma ção universal (10,11). E maravilhoso!" (Scroggie).
era bem compreendido, e que seu encarceramento Confessar Cristo como Senhor da nossa vida (v.
foi por causa da pregação do Evangelho de Cristo, e 11), significa, agora, salvação do pecado (Km 10.10);
náo por nenhum crime e que muitos irmãos, anima- mas confessá-lo como Senhor, futuramente, signifi
dos pela ousadia de Paulo, tomaram coragem para cará. pelo menos, submissão.
evangelizar seus vizinhos. Os versículos 12,13 merecem ser estudados com
Os versículos 15-18 ensinam-nos que o nome de atenção e cuidado, pois nos ensinam que nossa sal-
Cristo estava sendo bastante divulgado e nem sem- vação do pecado dia após dia náo é uma coisa que
pre |x>r crentes, mas o apóstolo apreciava toda esta Deus faz sem nossa vontade, mas consiste de duas
publicidade, pois havia de, ao menos, preocupar o partes: 1) querer a vontade de Deus, e 2) efetuar a
povo com o novo ensino. vontade de Deus. E ensinam ainda mais - que é
O versículo 20. que nào parece precisar de expli- Deus quem opera em nós estes santos desejos e a
cação, merece nossa prolongada meditação. A sua conduta que deles resulta.
significação é que foi escrito em vista do compareci- N o versículo 17 temos uma alusão aos antigos sa-
mento de Paulo perante o imperador Nero. crifícios pagáos, sobre os quais era costume derra-
N o versículo 23 a expressão "partir, e estar com mar vinho ou libaçáo no momento de serem queima-
Cristo" não importa, necessariamente em "morrer". dos. O apóstolo considera a conversão dos filipenses
Enoque e Elias "partiram" para estar com Deus, como sacrifício oferecido a Deus: e a si mesmo ape-
mas sem morrerem e alguns tém pensado que o gran- nas como a libaçáo que acompanhava a oferta.
de apóstolo cria que ele podia ter tido a mesma expe- Timóteo e Epafrodito (19-30). Vemos quanto o
riência caso quisesse (a linguagem do versículo 22 apóstolo apreciava estes dois amigos, tão úteis no
faz a alternativa depender da escolha do apóstolo) serviço do Evangelho. Vemos em Timóteo: a sinceri-
mas por amor da sua obra evangélica quis antes ficar dade do seu empenho pelos crentes; seu serviço su-
mais tempo neste mundo. Contudo, isto é um pensa- bordinado. "como filho ao pai",'era que outros po-
mento sem base suficiente para ser afirmado positi- dem imitá-lo com proveito; que era obreiro único, e
vamente. por isso indispensável (20a); que muito devia ao pie-
Bullinger traduz o versículo 23 assim: "Mas pre- doso lar em que fora criado (2 Tm 1.5).
ferirei nem um nem outro, mas a volta [do Senhor] e Epafrodito (ou Epafras, Cl 1.7 e 4.12) era irmáo
estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor" cooperador, companheiro nos combates, mensageiro
(J. 62). e ministro. Dele, lemos: suas saudades dos filipen-
Vários conselhos (27-30). Aqui temos uma exor- ses, seu sentimento porque ouviram da sua doença,
tação à perseverança, ao amor fraternal, à humilda- sua dedicaçáo ao serviço, seu desprendimento da
de e à santidade - bom assunto para um sermão! própria vida.
Quais serão as características de um comporta- N o versículo 30, notemos com cuidado a expres-
mento digno do Evangelho (27)? são "a falta do vosso serviço". Paulo não está censu-
O sentido dos versículos 28-30 é um tanto proble- rando os filipenses, mas referindo-se à inevitável de-
mático. mas parece-nos que o apóstolo quer dizer mora da sua costumeira contribuição. O caso está
que as aflições dos crentes convenciam seus adversá- perfeitamente explicado no capitulo 4.10.
rios, de que eram gente perdida, mas que os crentes
podiam considerá-los antes como ocasiões para ex- Capitulo 3
perimentarem a salvação de Deus.
"Na carne"ou "em Cristo"? (1-12). N o versículo
Capitulo 2 2 temos um triplo aviso, para que nos guardemos: a)
dos cães - gente profana, que não sabe dar valor ás
Um contraste notável (1-18). Nos dois primeiros coisas espirituais; b) dos maus obreiros - pessoas que
versículos temos um excelente exemplo do estilo que praticam a iniqüidade, malfeitores: c) dos da (falsa)
o apóstolo usava nas suas exortações. Merece um circuncisáo (emprega-se aqui uma palavra de des-
cuidadoso estudo. Ele primeiro acumula motivos, prezo: "katatomen" ou mutilados) - os formalistas
apela para as mais preciosas bênçãos do cristianis- religiosos, que fazem mais questão de ritos e sacra-
mo, das quais seus leitores têm experiência, e então mentos do que do culto espiritual.
pede, como especial favor ("Completai o meu go- Há três sinais do verdadeiro crente: a) Ele serve a
zo"), que os filipenses sejam de um mesmo senti- Deus pelo Espírito (3), isto é, ele nào é meramente
mento. de um mesmo amor, de um mesmo ânimo. um religioso, homem de formalidades e cerimônias.

442
Tilipeiua

mas um adorador guiado pelo Espirito (Jo 4.2-4). b) te o encarceramento de Paulo em Roma, a primeira
Regozija-se em seu gozo - para ele o viver é Cristo, c) geralmente no começo das cartas, a última mais
Nào tem confiança na carne. para o fim. A razão é evidente. A primeira parte des-
Nos versículos 4-6 temos um aviso contra a con- sas epistolas é doutrinária, a segunda, prática. Esta-
fiança numa justiça legal. Nos versículos 7-9 Cristo é mos "em Cristo" pela craça divina: devemos andar e
o objetivo da fé do crente, e a fonte da sua justiça. agir "no Senhor" O Senhor Jesus é o Cristo (ungido)
Nos versículos 10-14 Cristo é o objetivo do desejo do de Deus nunca é chamado "nosso" Cristo mas
crente, em comunhão com Ele. Ele e o nosso Senhor Assim, somos achados "em
Notemos o argumento dos versículos 12-14. Cris- Cristo", onde náo há nenhuma condenação (Rm
to tinha lançado mão de Paulo, tinha-o "alcança- 8.1). e sim há uma nova criação (2 Co 5.17): mas de-
do". e agora ele quer ardentemente conquistar o prê- vemos lembrar-nos de que Ele é o nosso Senhor, e
mio para o qual Cristo o "alcançou". tudo fazer "no Senhor" (Goodman).
Um menino vagabundo é adotado por uma famí- O versículo 6 ensina-nos: 1) a náo estarmos solíci-
lia de tratamento. Podemos bem compreender que tos; 2) a sermos dependentes sempre; 3) e agradeci-
todo o seu empenho será o de corresponder ao propó- dos em tudo.
sito de quem "lançou mão" dele. Os versículos 8.9 dão-nos ensino precioso sobre o
Note-se com cuidado que o apóstolo não está afir- que devemos pensar e fazer.
mando que ainda náo ressurgiu, pois isso seus leito- Auxilio material (10-23). Afinal o apóstolo trata
res já sabiam. A ressurreição que ambiciona é "de expressamente do assunto que ocasionou a carta: a
entre" os mortos (V.B.) náo "dos mortos" como em contribuição da qual Epafrodito fora portador. Po-
Almeida (v. 11). demos aprender muito pelo seu modo de tratar do
"Sede meus imitadores" (13-21). A palavra "per- caso. Em que nossa atitude para com o dinheiro é
feitos" no versículo 15 tem o valor de "maduros ", "a- parecida com a dele?
dultos" ( H b 5.14). As características dos cristãos No versículo 12 ele diz "sei", e nós, podemos di-
adultos são: a) o mesmo sentimento: o mesmo desejo zé-lo também? Vemos que uma grande parte do tre-
que havia em todos os seus irmãos - o de agradar seu cho é o contentamento, e a confiança em que Deus
Salvador; b) a mesma regra, sujeitos à vontade de há de suprir.
Deus revelada na Palavra - a "política " dos céus (v. O Dr. Scroggie diz: "Trés coisas aqui devem ser
20). Seu maior empenho é promover os interesses do cuidadosamente notadas: 1) A maneira pela qual as
reino de Deus. contribuições devem ser dadas, espontaneamente,
Não é porventura o nosso dever viver de tal modo constantemente, alegremente, com sacrifício. 2) A
que seja possível dizermos: "Sede meus imitado- maneira pela qual as contribuições devem ser recebi-
res"? (17). das: deve haver amplo reconhecimento, generosa
apreciação, respeito pela própria independência, um
sincero desejo pelo enriquecimento do ofertante. 3)
Capítulo 4
As promessas pelas quais os recursos são garantidos
(19). Notemos aqui fonte, extensão, medida, condi-
"Em Cristo" e "no Senhor" (1-9). Estas duas ex- çáo".
pressões são freqüentes nas epístolas escritas duran-

443'
Colossenses

olossense* foi levada pelo 2.2.2. Pelo lado positivo (2.20 a 3.4).
mesmo portador de Efé- 3. Exortação (3.5 a 4.6) - o cristão.
sios e Filemom havendo 3.1. A vida intima do cristão: princípios espiri-
sido escrita, provavelmen- tuais (3.5-17).
te. na mesma ocasião. 3.2. A vida pública do cristão: preceitos especiais
(3.18 a 4.6).
tinha trabalhado no ministério da
Palavra. de Colossos (1.7). esteve pre- Conclusão (4.7-18).
» « junto eui Roma. Dele. provavelmente,
C O N F R O N T O DE C O L O S S E N S E S C O M EFE-
igreja. Foram
SIOS
nas verdades fundamentais (1.3-8),
sutil dois erros lavravam: O primei-
ro era o legalismo na sua forma alexandrina de asce- A admirável semelhança entre esta epístola e a
ticismo: "náo toques, não proves, náo manuseies" escrita aos efésios mostra que tendências parecidas
(2.21), acrescido de um pouco de observância judai- se manifestavam nas duas igrejas às quais foram di-
ca de "dias de guarda", sendo o fim disso a mortifi- rigidas, podendo também atribuir-se a analogia ao
caçáo da carne. (Veja-se também Romanos 8.13.) A fato de, sendo as duas epístolas produzidas mais ou
segunda forma do erro era o misticismo, "metendo- menos ao mesmo tempo, terem naturalmente ocorri-
se em coisas que nunca viram" (2.18) - o resultado do as mesmas idéias e ainda as mesmas expressões.
de especulações filosóficas. Porque estes sáo perigos E, na verdade, elas devem ser lidas juntamente. " U -
sempre presentes. Colossenses foi escrita, nào so- ma". observa Micaelis. " é comentário da outra".
mente para esse dia, mas para o aviso da Igreja em Uma diferença, contudo, de tom enfático se nota ne-
todos os tempos <Scofield). las. Na epístola aos Colossenses, Paulo, levado pela
controvérsia, sustenta com firmeza a natureza de
A N A L I S E DE COLOSSENSES Cristo e o que Ele é para com a sua Igreja, ao passo
que na aos Efésios é explicada a unidade da Igreja e
Introdução (1.1-14). o seu glorioso destino nos desígnios do seu divino
1. Doutrina (1.15 a 2.3) - O Cristo. Fundador. Esta epístola devia ser enviada a Laodi-
1.1. A pessoa de Cristo (15-19). céia, devendo os colossenses receber de Laodicéia
1.1.1. Sua relação com Deus (15a). outra epístola que para eles também fora escrita
1.1.2. Sua relação com a criação (15b-17). (4.16), e que provavelmente era a carta-circular co-
1.1.3. Sua relação com a Igreja (18.19). nhecida pelo nome de Epístola aos Efésios (Angus).
1.2. A obra de Cristo (1.20 a 2.3).
1.2.1. O propósito glorioso (1.20). Capitulo 1
1.2.2. O cumprimento parcial (1.21-23).
1.2.3. O instrumento escolhido (1.24 a 2.3). Introdução e saudação (1-8). A igreja á qual Pau-
2. Polêmica (2.4 a 3.4) - a Igreja. lo mandou de Roma esta carta achava-se cm uma
2.1. A posiçáo da Igreja (2.4-15). das três cidades contíguas na Frígia, uma província
2.1.1. O perigo que ameaça (4-7). da Ásia Menor - Colossos, Laodicéia. Hierápolis
2.1.2. A doutrina que salva (8-15). (4 13).
2.2. A Responsabilidade da Igreja (2.16 a 3.4). A carta contém quatro capítulos, dois de doutri-
2.2.1. Pelo lado negativo (2.16-19). na e dois de exortação. Foi escrita para avisar os

445'
Coiosstrtscs

crentes contra o perigo da preocupação com a reli- Notemos que seu serviço muitas vezes tinha o ca-
gião e nào com Cristo. Como nas igrejas da Galácia. ráter de conflito (v. 29).
o legalismo tomava o lugar de uma simples fé em Do versículo 28 diz F. W Grant "Este. diz o após-
Cristo, assim, aqui. o asceticismo, o misticismo, as tolo, é meu alvo: admoestar todo homem e ensinar
observáncias religiosas, cerimônias e sujeição a orde- todo homem, para apresentar todo homem perfeito
nanças humanas substituíram a verdadeira confian- em Cristo. Trabalhou de acordo com a plenitude do
ça no Salvador (Goodman). Evangelho. Preocupou-se com 'todo homem' e não
O apóstolo dã graças pelos colossenses, por sua fé, meramente com os que já aceitaram o Evangelho - o
amor e esperança (4,5). Note-se bem: fé em Cristo; pensamento do seu coração é que "todo homem seja
amor aos cristãos; esperança da segunda vinda; fé perfeito em Cristo".
fundada na Cruz; amor em comunhão atual; espe-
rança que contempla a coroa (Scroggie). Capitulo 2
Vemos que o Evangelho sempre produz fruto
quando é recebido sinceramente (v. 6). Detalhes da vida cristã (1-13). Vários assuntos
A oração do apóstolo (9-14). Notemos: a) A oca- são referidos neste trecho. Os versículos 1-3 dizem
sião desta oração: em conseqüência das noticias re- que em Cristo estão todos os tesouros da sabedoria.
cebidas; b ) o sentido da oração: que os colossenses ti- Quando queremos entender qualquer assunto de in-
vessem inteligência espiritual para entenderem a teresse espiritual, convém ponderá-lo na presença de
vontade divina; c) o propósito da oração: que andas- Cristo e teremos luz.
sem dignamente no Senhor; d) a consumação da ora- Nos versículos 4-7 vemos o perigo das palavras
ção: ações de graças da parte dos colossenses pelas persuasivas, mas falsas. N o versículo 8 somos avisa-
bênçãos recebidas (v. 12). dos contra a filosofia e o legalismo. Nos versículos 9-
13 vemos como nossas bênçãos espirituais são inti-
Esta oração cita as principais bênçãos do cristia- mamente ligadas a Cristo.
nismo: perdão e redenção (14), governo (13), santifi-
cação (12), reforço (11), instrução (9.10). Notemos ainda outras particularidades deste tre-
Cristo exaltado (15-23). Os versículos 15-19 rela- cho: Mais uma vez Paulo fala do seu serviço em ora-
tam as "preeminências" de Cristo: seu direito de ção como combate (v. 1). N o versículo 7 vemos as
herdeiro: sua primogenitura; seu poder criador; sua duas partes da vida cristã: a parte oculta (arraiga
soberania, tudo feito para Ele: prioridade, antes de dos) e a parte visível (sobreedificados). Estas duas
todas as coisas; senhorio da Igreja: e da ressurreição. partes devem ser igualmente desenvolvidas. Apren-
Podemos entender a expressão: "o primogênito demos do versículo 9 que tudo quanto Deus é foi ma -
de t'*da criatura" no sentido que a Ele pertence a nifestado em Cristo Os versículos 11-13 ensinam-
primazia em tudo; Ele é o começo (e também a con- nos que o verdadeiro valor do batismo, como tam-
sumação) da nova criação de Deus. "E eu o farei bém da circuncisào, está na sua significação moral,
meu primogênito, o mais alto dos reis da terra" (SI nào no rito em si.
89/27). Primogênito (como " f i l h o " ) na Bíblia nem Bullinger traduz o versículo 11 assim: "No qual
sempre contém a idéia de geração. também estais circuncidados com a circuncisào não
Também a expressão "primogênito dentre os feita por mão. no despimento do corpo, a saber, da
mortos" nào é para se entender ao pé da letra, pois carne: a circuncisào de Cristo" (J. 41).
outros foram ressuscitados antes dele. Mas essa dig- Conselhos diversos (14-23). Vemos aqui como o
nidade, essa preeminéncia, pertence a Cristo mais apóstolo põe à parte o ritualismo mosaico, e avisa os
que a qualquer outro. Somente Ele podia dizer: colossenses contra alguns que podiam argüi-los por
"Dou a minha vida para depois tornar a tomá-la". comidas, bebidas, dias de guarda, sábados ou luas
Podemos pensar em tudo que a "plenitude" do novas. etc. E ainda hoje o aviso é necessário, pois a
versículo 19 contém, e ligá-lo com o capitulo 2.9, que tendência para o legalismo prevalece.
afirma a profunda verdade que toda a plenitude da
divindade habitava num corpo humano. Capitulo 3
O segredo de "Cristo em ixis. esperança da gló- O cristão unido a Cristo (1-4). Devemos ligar o
ria " (24-29). Neste pequeno trecho o apóstolo ocupa- versículo 1 com 2.20. Vemos que o cristão é conside-
se com uma coisa bastante incompreensível aos rado morto com Cristo e também ressuscitado com
olhos do mundo: a transformação de caráter que Ele. Os que morreram com Cristo estão sujeitos a
muitas vezes se manifesta no crente no Senhor Je- uma lei mais elevada do que ordenanças humanas
sus; e ele explica o caso pelas palavras bem significa- (2.20-23), porque eles também ressuscitaram (em fi-
tivas "Cristo em vós". Cristo na memória do crente, gura) com Cristo, e sua vida está escondida com
de maneira que ele constantemente recorda a obra Cristo em Deus.
redentora: Cristo no seu pensamento, de modo que
ele sempre medita na vida santa do seu Salvador: Notemos a palavra "manifestar" no versículo 4,
Cristo no seu coração, amando um Salvador que que podemos ligar com 1 João 3.2.
ama; Cristo na sua vontade. Senhor e soberano. Avisos diversos (5-17). Neste trecho o apóstolo
avisa contra pecados carnais (v. 5), que o crente deve
Podemos achar um pouco difícil interpretar o "mortificar" - e outros pecados ( w . 8,9) igualmente
versículo 24 "o resto das aflições de Cristo". Paulo reprováveis.
náo tinha partilhado das afrontas ou desprezo» como O "velho homem " (v. 9) é o que somos por natu-
os outros apóstolos durante a vida terrestre do Se- reza, como filhos de Adão; o "novo homem" o que
nhor; não tivera o privilégio de dar-lhe dos seus bens. somos pela graça, como filhos de Deus.
do modo que algumas mulheres fizeram, nem de es- A verdade do novo nascimento náo importa qual-
tar ao pé da Cruz; mas no seu serviço á Igreja espera- quer atividade da nossa parte, mas quando lemos de
va sofrer alguma coisa por amor. "despir" e "vestir" vemos que inclui apreciação de

446
Coiütsenses

uma vida melhor, propósito de renunciar um passa- cialmente moços que podia encaminhar na obra. A
do pecaminoso, dependência da graça divina, ambi- instrução do serviço de Deus por um obreiro experi-
ção de atingir um ideai sublime... e que mais? mentado é o modo bíblico, e é melhor do que um
Os deveres domésticos (18-25). Neste trecho no- mero ensino teórico para o serviço. Alguns dos nomes
tamos mais uma vez a grande semelhança entre Efé- sáo:
sios e Colossenses. Aprendemos aqui que o cristia- Tíquico - com trés medalhas de ouro: "fiel minis-
nismo se manifesta primeiro no lar. As virtudes tro", "irmão amado", e "conservo no Senhor".
apontadas sào: nas esposas, submissão; nos patrões, Onésimo. o escravo fugitivo que Paulo achou em
eqüidade. Roma. e mandou de volta ao seu senhor Filemom.
Então ele era "meu filho"; agora é "amado e fiel ir-
Capítulo 4 mão". Crescera na graça.
Aristarco era companheiro de prisão. Era mace-
O primeiro versículo pertence ao capitulo ante- dónio de Tessalônica (At 27.2), e sofreu num tumul-
rior e ao assunto de deveres domésticos (vv. 1-6). to em Êfeso (At 19.29).
Notemos IK> versículo 2 oração, expectação, agra- João Marcos, que abandonara o trabalho, voltan-
decimento. O versículo 6 merece muita meditação, do para casa (At 13.13). agora restaurado e de novo
pois ensina o que deve ser a conversação do crente. trabalhando.
Podemos considerar tudo que está incluído na pala- Justo, também chamado Jesus, José, ou Barrabás
vra "graça", que deve ser a primeira característica (At 1.23). Este era um dos dois escolhidos pelos onze.
da conversação do crente. Contém a idéia de simpa- para tomar o lugar de Judas.
tia, altruísmo, espiritualidade, tolerância, etc. O Epafras, muitas vezes chamado Epafrodito. é re-
" s a l " é o que conserva da corrupção. ferido, como também Lucas, o médico amado
Saudações finais (7-18). "Os companheiros de ( Goodman).
Paulo" fornecem ótimo assunto para o estudo. O A mensagem dada a Arquipo pode ter ensino
apóstolo gostava de ter outros obreiros com ele, espe- para nós.

447
1 Tessalonicenses
y
objetivo da carta foi 2. Uma palavra de explicação (caps. 2 e 3).
triplo: 1) Confirmar 2.1. Difamação e sofrimento (2.1-16).
novos convertidos nas 2.2. Noticias e agradecimento (2.17 e 3.10).
verdades fundamen- 2.3. »ração e propósito (3.11-13).
tais que já aprende- 3. Uma palavra de exortação (caps. 4 a 5.24).
ram. 2) Ex i-los a prosseguir na santidade. 3) 3.1. Com respeito á conduta cristã (4.1-12).
Confortã- »to aos já falecidos. A segunda vin- 3.2. Com respeito ao conforto cristão (4.13 a 5.11).
da d e C ipa lugar de destaque na Epístola. De 3.3. Com respeito à concordância cristã (5.12-24).
passagem, carta mostra a riqueza de doutrina do Conclusão (5.25-28) - (Scroggie).
evange primitivo. Durante uma missão de
aproxi kmente um mês. o apóstolo ensinou todas
as grandes doutrinas da fé cristã, a saber: Eleição M E N S A G E M DE 1 T E S S A L O N I C E N S E S
(1.4); Espirito Santo (1.5,6;; 4.8; 5.19); Segurança
(1.5); Trindade (1.1.5.6); Conversão (1.9); Segunda " E especialmente notável que, tanto nesta como
Vinda de Cristo (1.10; 2.19; 3.13; 4.14-17; 5.23); Tes- na epístola seguinte, não sejam feitas referências aos
temunho do crente (2.12; 4.1); Santificaçáo (4.3; assuntos que. nas epístolas posteriores de Paulo, tém
5.23); Dia de Jeová (5.1-3); Ressurreição (4.14-18). especial importância, como a liberdade dos gentios
etc. (Scofield). com respeito à lei cerimonial judaica, e a doutrina da
justificação pela fé. Provavelmente as controvérsias
O apóstolo escreveu esta carta no ano 54, pouco que ocasionaram estes ensinamentos, característica-
depois da sua partida de Tessalônica (At 17.1-10). e mente paulinos, náo se tinham ainda levantado nas
é a primeira das suas cartas. igrejas da Macedônia. O simples Evangelho, como
Robert Lee dá as seguintes divisões da Epístola: foi pregado aos tessalonicenses. é resumido nestas e
Capítulo 1. A vinda do Senhor, uma esperança em outras passagens (1.9.10; 2.11-12; 4.2-7.14). Es-
inspiradora para o novato. pecial insistência é feita sobre a certeza e ação súbita
Capítulo 2. A vinda do Senhor, uma esperança da segunda vinda de Cristo, com este mandamento:
encorajadora para o fiel servo. 'Vigiai e sede sóbrios' (5.2-11). Desta instrução, de-
Capitulo 3 a 4.12. A vinda do Senhor, uma espe- duziram muitos crentes que estava próximo o apare-
rança purificadora para o crente. cimento de Cristo, e, tirando do fato uma conclusão
Capitulo 4.13-18. A vinda do Senhor, uma espe- errônea, choravam a perda dos seus amigos faleci-
rança consoludora para o aflito. dos, qué. segundo imaginavam, já não teriam a ale-
Capitulo 5. A vinda do Senhor, uma esperança gria de ver o divino Salvador. Paulo, porém lhes dá
despertadora para o cristão sonolento. os devidos esclarecimentos em 4.14-17. Náo nega a
possibilidade de Jesus vir durante a vida deles, mas
A N A L I S E DE 1 T E S S A L O N I C E N S E S tranqüiliza-os, dizendo: 'Nós. os que vivermos, não
precederemos os que dormem... os que morreram em
Introdução (1.1) Cristo ressuscitarão primeiro' Quer isto dizer que do
1. Uma palavra de exultaçdo (1.2-10). povo cristão os primeiros ressuscitados serão 06 san-
1.1. Por causa do amor que servia (2-4). tos que já repousam. N á o há aqui referência alguma
1.2. Por causa da fé que recebia (5-7). aos outros mortos, quer ímpios, quer pagâos" (An-
1.3. Por causa da esperança que perseverava (8- gus).
10).

449
2Htssãlonicenses

Capitulo 1 7) Exortava e consolava a cada um (v. 11). Nào


somente era manso, mas forte e sábio.
A igreja modelo, r os trés tempos da rida cristã Nos versículos 17-20 o apóstolo revela sua grande
(1-10). Vários pontos neste capítulo merecem a nos- afeição por esses crentes novatos, e afirma o seu de-
sa atenção: No versículo 3 lemos de fé. esperança e sejo de tomar a vê-los. Ele reconhece que terá moti-
amor. cada um com um qualificativo. Ficamos sa- vo de gloriar-se. na vinda de Cristo, nesses seus fi-
bendo como podemos conhecer os eleitos de Deus. lhos na fé.
Vemos que imitadores do apóstolo podem tornar-se
exemplos ( w . 5,6). R principalmente lemos nos Capitulo 3
versículos 9.10 a história espiritual dos tessalonicen-
ses: sua conversão, seu serviço e sua esperança. O irmão modelo, e a santificação do crente (1-
"Neste capítulo notamos: D a maneira de prega- 13). Este irmáo modelo é Timóteo. Vemos nele: sub-
ção; 2) a natureza da conversão dos tessalonicenses; missão ao obreiro superior, devoção ao serviço de
Deus. harmonia com seu companheiro de serviço,
3) o fruto, em suas vidas transformadas.
capacidade para servir os crentes, sondo ele um por-
1) A maneira da pregação era que o Evangelho tador de boas noticias (v. 6).
lhes veio: a) em poder, isto é. com autoridade sobre a
consciência; b) no Espirito Santo, produzindo con- Devemos notar, de passagem, as expressões de
vicção do pecado, e c) 'em muita certeza da fé', sem sentimento cristão que abundam nas cartas de Pau-
nenhuma nota duvidosa. lo. Vale a pena fazer uma lista de todas elas. Aqui.
no versículo 8, está uma profundamente comovente:
2) A natureza da sua conversão Receberam a Pa-
"Vivemos, se estais firmes no Senhor". Será que nós
lavra e seguiram o Senhor. Isto importa aflição, mas
falamos assim?
trouxe gozo no Espirito Santo (6). A sua conversão
era manifesta em trés coisas: a) Converteram-se dos Nos versículos 12.13 temos uma pequena, mas
ídolos. Isto será sempre assim. Cristo será o supremo muito preciosa oraçáo. Somos nós "irrepreensíveis
Senhor na vida. Ele náo partilhará a sua glória com em santidade"?
outro, b) Serviram o vivo e verdadeiro Deus. Náo Neste capitulo a expressão "vossa fé" ocorre cin-
meramente salvação mas serviço, isto é. obediência co vezes. Timóteo foi enviado para fortalecer a fé
em tudo, pois a fé cristã é uma obediência do fundo desses irmãos (2). Hà receio de que a fé ceda com a
do coração a um novo Senhor, c) Esperavam o Filho tentação (5). Há boas noticias da fé que opera pelo
de Deus do Céu, vivendo com essa bendita esperança amor (6). Estas noticias alegram o apóstolo nas suas
a iluminar as suas vidas. Tudo isto é, sem dúvida, tributações (7). Ele desejava ver os irmàos e aperfei-
resumido no versículo 3: sua obra de fé. seu trabalho çoar o que faltava na fé deles (10).
de amor. sua paciência de esperança.
" D e tudo aprendemos que coisa preciosa é a fé. e
3) O fruto, em vidas transformadas Chegaram a que tenra planta é. E evidente que ela precisa de cul-
ser exemplos (7) e testemunhas (8) da graça salvado- tura e direção. Em outras escrituras aprendemos três
ra de Deus" (Goodman). coisas a respeito da fé: I ) Cresce (2 Ts 1.3). N o
principio é uma semente pequena, mas bem alimen-
Capitulo 2 tada e nutrida, aumenta em força até poder lançar
no mar uma árvore (Lc 17.6) e vencer o mundo (1 Jo
O servo modelo, e seu galardão (1-13). Este servo, 5.4). 2) Dá fruto (Cl 1.6). quando devidamente culti-
como logo percebemos, é o próprio Paulo. Notemos vada. 3) Opera pelo amor (G1 5.6) - (Goodman).
algumas das suas características: persistência, ousa- Bullinger traduz o fim do versículo 13: "Com to-
dia, combate aos adversários, propósitos de agradar dos os seus santos anjos" (J. 252).
seu Senhor, brandura, afeição, abnegação, serviço
laborioso, santidade, justiça, irrepreensibilidade. Capitulo 4
As qualidades que náo mostrou foram: engano,
imundicia. fraude, ambição da glória dos homens O andar modelo (1-12). Vemos que a vida cristã
nem dos crentes, egoísmo, avareza. é, ás vezes, chamada "um andar", e neste aspecto
O dr. Goodman nota sete características do mi- podemos considerá-la como um movimento constan-
nistério de Paulo: te. um progresso contínuo, um esforço com um alvo.
1) "tomamo-nos ousados" (v. 2). Exigia coragem um propósito firme. Nào é pular, nem escorregar,
para a pregação do Evangelho em face de sofrimen- mas. às vezes, é considerada cocno "corrida". Resu-
tos e maus tratos. me-se completamente na frase "andar e agradar a
2) "fomos aprovados de Deus" (v. 4). Deus prova Deus".
os corações do seu povo antes de confiar-lhes a sua Vemos, pelos versículos 3-8. que o apóstolo nào
graça salvadora. descuidou de exortar seus leitores com referência à
3) "fomos brandos" (v. 7). O pregador que ganha vida sexual. Sua linguagem é elevada e seu ensino
almas náo é mero teólogo, mas um homem simpático sensato. O versículo 4 merece especial atenção. N o
que deseja a salvação dos seus semelhantes. versículo 6 devemos preferir a tradução da V.B. à de
4) "fomot voluntários" (v. 8), dispostos a fazer Almeida.
qualquer coisa para a salvação dos homens. Proposta emenda de tradução (v. 4): "Que cada
5) Sáo quis ser pesado (v. 9). Paulo, como obreiro um saiba dominar seu corpo em santificação e hon-
digno do seu salário, podia ter recebido sustento, ra" (C.H. 308).
mas nào quis fazê-lo. A esperança do crente (13-18). Evidentemente, o
6) Comportamento santo, justo e irrepreensível apóstolo, durante as poucas semanas da sua visita a
(v. 10). O bom procedimento tem muito a ver com o Tessalônica, tinha dado ensino referente á segunda
bom êxito da pregação. vinda de Cristo que impressionara bastante seus ou-

450
_1 Teuêlonuenses

«iates. Porem tinham uma duvida com respeito aos Diz o dr. Goodman: "O dia do Senhor nào deve
crer:te< falecidos como havia de ser com eles? ser confundido com a vinda do Senhor, o assunto do
O dr. Torrey entende que a frase "pela palavra" capitulo anterior. O dia do Senhor é sempre um dia
(v 15) é uma alusão ao ensino de Marcos capítulo 13 de juízo e ira (veja-se Joel 2.11 e 2 Pedro 3.10). mas.
(Documents, p. 4). \ isto que o crente não é destinado ã ira (v. 9), mas a
Paulo explica que: "Deus os tornará a trazer com salvação, esse dia náo o apanhará como o ladrão
ele" (v. 14), e até mesmo "ressuscitarão primeiro". apanha sua vitima que náo vigia (v. 4); o crente é fi-
antes de serem "arrebatados" os crentes vivos (v. lho da luz e não das trevas. Esses que sáo 'filhos do
17) diae estão preparados para a salvação, viverão jun-
Geralmente se entende que este arrebatamento tamente com Cristo (v. 10). depois de terem sido ar-
dos crentes, ao encontro do Senhor nos ares. será rebatados para estarem para sempre com Ele (4.17).
uma coisa particular, oculta, diferente da vinda glo- antes de começar o dia do Senhor. Este 'dia do Se-
riosa quando Cristo virá ã Terra com seus santos, nht r' é uma expressão empregada para destacar o
para iniciar o reino milenar Contudo há divergência fato de que vem o t e m p o quando 'o dia do homem ' (1
de parecer sobre o assunto entre os estudiosos. Co 4.3) terminara, isto é. o período em que ao ho-
O versiculo 16 dá a entender que todos os que mem é permitido fazer a própria vontade, sem ser le-
morreram em Cristo serão incluídos no número dos vado a um juizo imediato".
ressurgidos.
Diversos preceitos c saudações (12-28). Nào le-
Os crentes, pensando nos seus irmãos falecidos, mos de nomeação apostólica de anciãos entre os tes-
podem consolar-se com estas palavras <v. 18). salonicenses. mas vemos que estes deviam reconhe-
cer e estimar os que trabalhavam entre eles, e os ad-
Capitulo 5 moestavam.
O andar modelo e o dia de Jeová ( l . l l ) . Neste As exortações que seguem, embora bem impor-
trecho o apóstolo trata de outro assunto e de outro tantes. náo carecèm de muita explicaçào. "Orai sem
período que ele chama "os tempos e ai estações (v. cessar" pode significar que devemos estar sempre no
1) e "o dia do Senhor " (v. 2), e explica que a inaugu- espirito de dependência, esperando sempre de Deus
ração do "dia do Senhor" será uma coisa inesperada o recurso suficiente para todas a necessidades.
e aterradora para o descrente, mas nào constituirá
surpresa para os cristão? (v. 4>. O versículo 23 fala de espirito, alma e corpo, as-
sim salientando a tríplice natureza do ser humano.
E. sendo assim, ele baseia algumas importantes Nosso corpo nos liga com a terra, da qual comemos
exortações práticas sobre esse fato. os frutos; nossa alma nos relaciona com nossos seme-
Resume seu argumento no versiculo 10 dizendo lhantes, e convivemos com eles; nosso eápirito nos
que a sorte do crente vivo. como a do falecido, será relaciona com Deus. e falamos com Ele em oração.
"viver juntamente com Ele", quando Cristo se ma- Assim nos achamos relacionados com o mundo ma-
nifestar glorioso. terial. o mundo social, e o mundo espiritual.

451'
2 Tessalonicenses

3.5. Oração (16).


Conclusão (17,18) - (Scroggie).

volta A M E N S A G E M DE 2 T E S S A L O N I C E N S E S
portador desta e seu re-
idéias dos tessalonicenses. A segunda epístola aos Tessalonicenses é, como
" O a&unto fica, infelizmente, um tanto obscure- as segundas epístolas em geraL um suplemento à
i ' j t ~rr z : tradução errada do capítulo 2.2 - 'o dia primeira. Como a esperança cristã - a vinda do Se-
de Cristt estivesse já perto', que deve ser 'o dia do nhor - permeia e caracteriza a primeira epístola, as-
Senhor já presente'. Os crentes tessalonicenses fo- sim a paciência desta esperança caracteriza a segun-
ram 'movidos no seu entendimento' t 'perturbados' da.
por uma carta falsificada que lhes dava a entender A vinda do Senhor continua a ser proeminente:
que as perseguições que sofriam eram as do 'grande e mas agora é mais a vinda ao mundo (seu apareci-
terrível dia do Senhor', do qual tinham aprendido a mento ou manifestação) do que a remoção do seu
esperar que fossem guardados pelo 'dia de Cristo e povo do mundo, que, embora ocupe lugar importan-
nossa reunião com Ele' (2.1). te, é referida apenas uma vez (2.1). O aparecimento
de Cristo é o que termina inteiramente o "dia do ho-
'•Primeira Tessalonicenses ocupa-se mais com o mem " sobre a terra - o período da vontade do ho-
'dia de Cristo' e Segunda Tessalonicenses com o 'dia mem sem qualquer manifesta intervenção divina.
do Senhor' (Scofield). A manifestação de Cristo será a manifestação do
mundo também - apanhado, como será. em franco
A N Á L I S E DE 2 T E S S A L O N I C E N S E S desafio a Deus e ao seu Pilho. E para permitir que
seu verdadeiro caráter se torne evidente, o "impedi-
Introdução (1.1.2) mento", que tem conservado as coisas em estado su-
Ações de graças (1.3,4). portável, será removido, e o príncipe deste mundo
1. Preliminar: Inspiração para os oprimidos (1.5-12). desfraldará o estandarte da rebelião entre os louvo-
1.1. O segundo advento, e a recompensa dos ho- res das nações: e, havendo terminado toda a neutra-
mens (5-10). lidade, o restante dos seguidores de Cristo tornar-se -
1.1.1. Oração (11,12). á mais uma vez, e mais do que nunca, como ovelhas
2. Profética: Instrução para os perplexos (2.1-17). entre lobos, até que o Pastor, com vara de ferro, "a-
2.1. O segundo advento, e o curso dos aconteci- pascente as nações".
mentos (1-17). Este é o tempo do Anticristo e da "mentira" - o
2.1.1. Ações de graças (13.14). tempo de retribuição sobre aqueles a quem. por não
2.1.2. Exortação (15). terem amor á verdade. Deus enviará uma forte delu-
2.1.3. Oração (16,17). sáo: poderes, sinais e maravilhas mentirosas darão
3. Prática: Admoestações para os desordeiros (3.1- aparentemente o atestado á mentira satânica. E as-
16). sim os homens congregar-se-áo contra Jeová e seu
3.1. Pedido (1.2). Cristo (SI 2) até que o sopro do Senhor fira seus ini-
3.2. Certeza (3,4). migos.
3.3. Oração (5). Isto, pois, é o assunto central da epístola que va-
3.4. O segundo advento, e o dever atual (6-15). mos estudar; um assunto solene para nós que pode-

453'
2 Htssãlonicenses
mas discernir, e nào muito distante, o aparecimento Capitulo 2
dessas nuvens ameaçadoras. As lições práticas para
nós sáo igualmente importantes. Toda a profecia do
futuro é assim uma luz atual em lugares escuros, O dia do Senhor, e o homem do pecado (1-12)."
para guiar os pés dos peregrinos na senda divina. Convém tornar a ler o prefácio do dr. Scofield e esta
Que lhe prestemos toda atenção! (Grant). Epístola para entender os versículos 1-3.
Antes do "dia do Senhor" e dos juízos referidos
no primeiro capitulo, ao menos duas coisas acontece-
rão: "a apostasia" e a manifestação do "homem do
Capitulo 1
pecado". O versículo 7 tem sido interpretado de uma
variedade de modos, mas podemos aceitar, ao menos
provisoriamente, esta interpretação dada por Sco-
Saudação (1-4). Notemos como Paulo gostava de field: " A ordem dos acontecimentos é: 1) A operação
associar consigo, nas suas cartas, alguns dos seus do mistério da injustiça (v. 7). que principiou no pró-
companheiros. Desta vez aparece os nomes de Silva- prio tempo do apóstolo. 2) A apostasia da igreja pro-
no e Timóteo. Como era seu costume, ele começa fessa (v. 3; Lc 18.8: 2 T m 3.1-8). 3) A remoção da-
dando graças pela fé crescente e o amor fraternal do® quele que resiste o mistério da injustiça ( w . 6.7).
tessalonicenses. Quem resiste é uma pessoa, " e l e " , e visto que um
" T r é s coisas existem num homem de Deus: Fé, mistério sempre importa um elemento sobrenatural
Esperança, e Amor, 'estas três' distinguem o verda- ( M t 13.11).esta pessoa, a nosso ver, náo pode ser ou-
deiro cristào (1 Co 13.13), pois o homem de Deus é tra senão o Espirito Santo, que será "removido"
um homem de fé: um homem com uma grande e quando a Igreja for arrebatada v. 7: 1 Ts 4.14-17).
abençoada esperança, e um homem com amóf pelos 4) A manifestação do "iníquo" (Is 2.12; w . 9-12). 5)
outros; e. por isso. muito diferente dos iniquos habi- A vinda gloriosa de Cristo, e a destruição do iníquo
tantes da cidade onde moravam estes tessalonicen- (v. 8; Ap 19.11-21).
ses..." Bullinger traduz o versículo 7: "Porque ja o se-
Conforto na perseguição (5-12). Convém pôr sen- gredo da insubordinação opera: somente há um que
tido na tradução mais acertada do versículo 10 (J. o detém até que do meio seja tirado" (J. 254).
160): "Quando tiver vindo para ser glorificado nos Há um outro parecer inteiramente diferente, de
seus santos". O apóstolo relata os juízos do "dia do um erudito expositor que investiga profundamente a
Senhor", mas explica que isto «e dará depois do arre- linguagem do original. Este nota que o Espirito San-
batamento da Igreja (1 Ts 4.13-17), após Cristo ter to não é mencionado, nem referido Longe de ser o
vindo para buscar os seus. Espírito Santo, este expositor entende que é o mes-
Nesse dia futuro, os perturbadores serão pertur- mo "iníquo" do versículo 8, que 'agora se detém
bados (v. 6). oculto, mas prestes a manifestar-se. Nào temos es-
"Dois grandes acontecimentos iam suceder: 1) a paço para traduzir todo o argumento, que ocupa al-
revelaçáo do Senhor Jesus Cristo do Céu, em vingan- gumas páginas. Sinto náo ter registrado o nome des-
ça (vv. 7,8), e 2) sua vinda para ser glorificado nos te expositor.
seus santos (v. 10). Ambos estes acontecimentos sào Exortação e oração (13-17). Notamos no versículo
manifestações, e devem ser distingüidos do aconteci- 13 um importante desenvolvimento da palavra "sal-
mento em 1 Tessalonicenses 4.13-18. que é o arreba- vação". explicando o que é. a saber, "santificação do
tamento dos seus santos da terra" (Goodman). espírito", ou como podemos dizer, um espírito de
Falando do versículo 8 diz F W Grant: " T e m sido santidade pessoal; e como vem a ser eficaz em nós:
assunto de muita discussão, se aqui se fala de duas "pela fé da verdade". Isto é, que toda a verdade de
classes ou de dois aspectos da mesma gente. Se este Deus revelada no Evangelho tende a santificar o
juízo abrange todos os homens, entáo é evidente que crente, salvando-o do pecado e do mundo.
nem todos têm ouvido o Evangelho. Certamente náo Notemos a pequena mas linda oração dos versí-
se refere ao julgamento dos mortos, conforme apre- culos 16,17.
sentado no livro do Apocalipse, mas somente dos vi-
vos, ao aparecimento de Cristo Pode haver dúvida
sobre se isto é um julgamento universal, e a dúvida Capitulo 3
não pode ser resolvida aqui sem uma longa digres-
são. Contudo, náo precisamos entender que o após- Paulo pede as orações dos tessalonicenses (1-5).
tolo tenha querido referir-se a todo o mundo, numa Quando nós pedimos as orações dos irmãos, será nes-
afirmação evidentemente designada para consolar os
te mesmo sentido?
perseguidores tessalonicenses. Seus perseguidores
Devemos considerar a expressão no versículo 5 "a
certamente tinham este duplo caráter - não conhe-
oaciéncia de Cristo". Aqui neste mundo Ele era o
ciam a Deus e nào obedeciam o Evangelho... Na sua
ignorância, náo lhes faltava oportunidade para co- "Homem de dores"; no Milênio será o Rei glorioso,
nhecimento e esta é, na verdade, a condição de todos exultante: e hoje é caracterizado por paciência, espe-
os pagãos. Deus nào pode ocultar-se dos homens que rando por longos séculos até o momento em que "o
o procuram, e toda a ignorância provém, na sua es- trabalho da sua alma ele verá e ficará satisfeito" (Is
sência, mais do coração do que da mente. A vingan- 53.11). "Ora. o Senhor encaminha os vossos cora-
ça de Deus, de que o versículo aqui fala, náo pode ções... na paciência de Cristo",
cair sobre meras crianças que não têm noção de Exortações ftnaisi6-18). Vemos que estas exorta-
Deus, pois isso seria incompatível com a natureza di ções tocam muito de perto na vida diária dos cren-
vina. Mas aqui. evidentemente, fala-se de uma igno- tes, quer particularmente, quer reunidos com seus ir-
rância culpável". mãos. "Apartar-se " do desordeiro nào é precisamen-
te a mesma coisa como excomungá-lo. mas tem em

454
2 Htssãlonicenses
vista o mesmo fim: a sua restauração. Outro conse- | náo tem uma vida exemplar está negando seu Se-
lho parecido temos no versículo 14 - o de não nos nhor e declarando, tacitamente, que náo se submete
"misturar" com o irmão desobediente. O crente que I ao domínio de Cristo.

455
1 Timóteo

data desta epístola depen- 1.3. A superintendência (3.1-13).


de de saber-se se Paulo es- 1.3.1. Os bispos, suas qualificações e funções
teve preso em Roma uma (1-7).
ou duas vezes. Se foi por 1.3.2. Os diáconos, suas qualificações e fun-
duas vezes, então 1 Timó- ções (8-13).
durante o intervalo entre essas prisões, 2. O ministério de Timóteo (3.14 a 6.19).
apenas um cncarceramento, a epístola foi 2.1. Seu andar - pessoal (3.14 a 4.16).
antes da última viagem a Jerusalém. 2.1.1. Sua relaçáo com a verdade na igreja
" A inpdida que as igrejas de Cristo aumentaram (3.14-16).
em número, a questão de ordem, de firmeza na fé, e 2.1.2. Sua relaçáo com o erro na igreja (4.1-
de disciplina tomou-se importante. N o começo, os 11).
regulavam pessoalmente esses assuntos, 2.1.3. Seu dever para com todos na igreja
mas ao aproximar-se o fim do período apostólico, (4.12-16).
tornou-se necessário que houvesse uma clara revela- 2.2. Sua obra - oficial (5.1 a 6-18).
ção para a direção das igrejas. Tal revelação temos 2.2.1. Seu dever para com o rebanho (5.1 a
em 1 Timóteo e em Tito. A chave desta epístola é 6.2).
'para que saibas como convém andar na casa de 2.2.2. Seu dever para com o mal (6.3-16).
Deus' (3.15). Bem teria sido para as igrejas se nada 2.2.3. Seu dever para com os ricos (6.17-19).
tivessem acrescentado à ordem divina nem dela di- Conclusão (6.20.21) - (Scroggie).
minuído.
M E N S A G E M DE 1 T I M Ó T E O
" A s divisões sáo cinco: 1) legalismo e doutrina er-
rônea reprovados (1.1-20); 2) oração, e a divina or- "Parece serem dois os principais fins desta epís-
dem entre os sexos ensinadas (2.1-15); 3) qualifica- tola:
ções dos anciãos e diáconos (3.1-16); 4) o andar de 1. Destruir as falsas doutrinas dos mestres judai-
um 'bom ministro' (4.1-16); 5) o trabalho de um cos. que, sob o pretexto de fidelidade à Lei, ensina-
'bom ministro' (5.1 a 6.21)" (Scofield). vam mandamentos que estavam em desacordo com
os santos preceitos cristãos. Os erros e as verdades
A N A L I S E DE 1 T I M Ó T E O respectivas são expostos com certa energia em 4.7-10
e 6.3-5,20,21. (Compare-se Atos 20.27-32 com 2
Introdução (1.1,2) Corintios 4.1-7.)
1. A Igreja de Deus (1.3 a 3.13). 2. Guiar e animar Timóteo no desempenho da
1.1. Sua doutrina (1.3-20). sua missão, dando-lhe esclarecimentos: quanto às
1.1.1. O caráter e conteúdo da verdade (3-1). devoções públicas (2.1-8); sobre os deveres e compor-
1.1.2. A comissão de Paulo e a carga de Timó- tamento das mulheres cristãs (2.9-12); (compare-se
teo (12-20). coro 1 Corintios 11.3-16; 14.34-40 e 1 Pedro 3.1-6);
1.2. Seu culto (2.1-15). sobre os que tinham cargos eclesiásticos (3.1-13);
1.2.1. A matéria da oração no culto público (1- sobre seu próprio ensino (3.14 a 4.10); sobre a sua
10). santidade pessoal (4.11-16); e sobre a direçáo da sua
1.2.2. A maneira de procederem as mulheres igreja na maneira de tratar os transgressores, as viú-
no culto público (11-15). vas, os bons e os maus anciãos, os escravos e os ricos.

457'
1 Timóteo

indicando os deveres destas diversas classes de pes- ou superioridade, mas de ordem divina na natureza
soas (caps. 5,6). (Compare-se com Tito 1.10 a 3.11.) (1 Co 11.1-16). Quando uma mulher abandona o lar
Junto aos ensinamentos que o apóstolo fornece ao para assumir lugar na política ou no púlpito, ela
seu discípulo acham-se também vivas e afetuosas re- abandona sua suprema oportunidade na vida
comendações, referências à própria conversão de (Scroggie).
Paulo, e solenes previsões sobre a vinda de Cristo" O versículo 15 nem sempre é bem entendido, em-
(Angus). bora contenha uma preciosa promessa para a mulher
crente quando ela encara a suprema provação da sua
Capitulo 1 vida: ela pode confiar que será salva do maior perigo.
Mas a promessa está condicionada à conduta de
Introdução (1,2). Notemos como se fala do escri- ambos: "Se permanecerem em fé e amor e santifica-
tor e do leitor. Depois temos duas seções, a primeira ção, com moderação" Essa moderação não se refere,
referente à verdade (3-11), e a segunda ao testemu- evidentemente, à santidade, mas às relações físicas.
nho (12-20): o de Paulo (12-17) e o de Timóteo (18- Quando esta moderação (ou. durante certos perío-
20) (Scroggie). dos, abstinência) é na medida que a natureza e a Es-
Notemos na saudação a palavra "misericórdia", critura requerem, um "feliz parto" é prometido á
como geralmente nas cartas aos indivíduos. A mise- mulher crente que é santa e amável.
ricórdia alivia o peso; a graça dã forças para suportá-
lo. Em nossa vida individual podemos contar, mui- Capitulo 3
tas vezes com a misericórdia de Deus. Paulo pediu
misericórdia em 2 Corintios 12.8. mas recebeu algu-
ma coisa melhor: "a minha graça te basta". Os deveres dos superintendentes e servidores
(1.13). Há duas classes na Igreja: os servos e os servi-
As "genealogias" referidas no versículo 4 são as
dos; os que vão á igreja para receber, e os que vão
genealogias israelitas, sobre as quais costumava ha-
para dar.
ver intermináveis discussões, visto que. durante o
cativeiro na Babilônia, os documentos haviam sido Quem deseja "a superintendência", quem zela
pelo bem-estar do rebanho de Deus. deseja uma ex-
perdidos. Hoje náo se discute mais genealogias, mas.
celente obra. mas necessitará de abundante paciên-
talvez, outros assuntos igualmente sem proveito.
cia no desempenho do seu serviço.
Nos versículos 5 e 18 Almeida fala de "manda-
mento" e a V.B. de uma "admoestaçáo". Preferimos E vemos que precisará de muitas excelentes qua-
lidades para ser aprovado de Deus e de seus irmãos.
esta última. Refere-se às instruções dadas pelo após-
tolo para orientar Timóteo no seu serviço. Também os servidores (geralmente chamados
"diáconos"). cujo trabalho se prende particularmen-
Os versículos 9,10 explicam a utilidade da Lei
te aos interesses materiais da igreja local, precisam
para argüir os iníquos e convencê-los da sua trans-
de qualidades especiais, que atinjam suas esposas.
gressão.
Notemos que neste trecho o apóstolo não se ocu-
No versículo 15 notem-se: o fato histórico, o pro-
pa com os dons para o ministério da Palavra, deta-
pósito divino, o reconhecimento do apóstolo. Com-
lhados em Efésios 4.11-16. cujo préstimo náo é limi-
parem-se as cinco citações da "palavra fiel" nestas
tado a uma determinada localidade, mas encara a
duas cartas. edificação de todo o corpo de Cristo. Os cargos aqui
No versículo 20 encontramos um surpreendente referidos tém seu serviço apenas na igreja local.
exemplo da disciplina apostólica, que mostra como o
A igreja, coluna e apoio da verdade (14-16). O
mal lavrava na igreja primitiva, e como o apóstolo o
versículo 15 ensina-nos que a Igreja de Deus tem a
combatia energicamente.
santa tarefa de manter neste mundo um testemunho
Aprendemos que quem descuida de conservar à verdade.
uma boa consciência é capaz de fazer naufrágio da fé
Im pressiona-nos. no versículo 16. o inspirado re-
(v. 19).
sumo da vida terrestre de Jesus, tanto pelo que diz
Capitulo 2 como pelo que omite. Nem uma palavra da Cruz!

Oração pública (1-8). Uma variedade de pontos Capitulo 4


importantes é reiterada aqui: a) O dever da oração
pública. Quanta preparação fazemos para falar aos A apostasia nos últimos tempos (1-5). Não é difí-
homens (pregação) e quão pouca para falar com cil descobrir aqui um aviso contra o espiritismo, mas
Deus (oração), b) Os elementos da oração: súplica, "espíritos enganadores" podem falar também pela
petição, intercessáo, agradecimento, c) O assunto da boca de homens vivos e perversos.
oração: todos os que estão em eminência - reis, pre- Devemos notar nesta epístola a grande importân-
sidentes, governadores, e todos os homens com quem cia de uma boa consciência (1.5.19; 3.9: 4.2).
lidamos, d) Motivos e bases de tais orações (3-7). "Apostasia é uma coisa que somente pode acon-
São orações aceitáveis a Deus: boas em si. promo- tecer na esfera da profissão cristã: o mundo nada
vem a salvação dos homens, promovem a aproxima- tem de que apostatar" (Scroggie).
ção de Deus por aquele que é Redentor e Mediador, Conselhos íntimos para um jovem servo da Deus
e) A direção da oração pública, que fica entregue ao (6-16). Vemos o santo empenho do apóstolo em que
cuidado dos homens, e deve ser feita de maneira seu "filho na fé" obtenha bom resultado no serviço, e
que combine com a sua importância (v. 8). os conselhos sensatos que lhe dá.
Se algum moço náo quiser ser desprezado, que
O comportamento das mulheres no culto público
seja um exemplo. Uma vida exemplar não pode ser
(9-15). N o plano de Deus e na ordem da natureza o
desprezível (v.12).
homem e não a mulher é cabeça no lar e na família,
na igreja e no Estado. Não é questão de inferioridade

458
1 Timóteo

Capítulo 5 Os deveres dos sewos (1,2). Fala-se aqui dos es-


cravos, e vemos que o apóstolo não ensina a transfor-
Os velhos e as viuvas (1-16). Vemos como o após- mar a ordem social do seu tempo, mas antes proce-
tolo ensina a proceder bem em todas as relações da der no meio dela de maneira que "Deus e a sua dou-
vida. e a tratar todos como convém. Também vemos trina' sejam honrados.
que a igreja não deve assumir obrigações para com os " O Evangelho não vem destruir, nem tomar des-
parentes das viúvas. necessárias as obrigações sociais; os patrões conti-
Alguns entendem que os versículos 9-15 se refe- nuam a ser patrões, e os servos permanecem como
rem às viúvas na lista de serventes da igreja: "As servos. O cristianismo nào desfaz a ordem social,
viúvas moças não deviam ser colocadas nessa posi- mas infunde nela um novo espirito, e orienta todas
ção. porque era provável que. desejando casar-se de as suas relações para a harmonia espiritual" (Scrog-
novo. seriam infiéis ao seu compromisso de se dedi
carem ao serviço de Deus. Naturalmente Paulo nào Doutrinas errôneas: riquezas verdadeiras (3-10).
queria dizer que seria pecado uma viúva casar-se. O verdadeiro ensino concorda com "as sãs palavras
pois do contrário náo teria recomendado isso no de nosso Senhor Jesus Cristo" e "a doutrina que é se-
versículo 14. Ele quer afirmar que isso seria incom- gundo a piedade". Qualquer ensino fora desta norma
patível com a fidelidade dessa viúva a Cristo, depois náo é verdadeiro. Uma boa prova é: "Depois que
de se ter comprometido a dedicar o restante da sua aceitou tal ensino, Fulano tornou-se mais piedoso?"
vida ao serviço da igreja" (Gray). Notemos que esta Concernente às riquezas, é certo que não levare-
escritura nào tem aplicação a moças solteiras, mas mos deste mundo coisa alguma que temos, mas so-
expressamente às viúvas idosas. mente o que somos. Quem é rico neste sentido?
Acerca dos anciãos (17-19). Devemos notar o sen- Conselhos cristãos (11-21). Nos versículos 11-16
tido da palavra "honra" aqui, e em outros lugares. temos um impressionante aspecto da vida cristã,
Evidentemente significa "sustento" em recompensa não como um passeio, mas um progresso; náo um
de bons serviços prestados. Paulo emprega duas descanso mas um conflito. Notemos as palavras "fo-
comparações para reforçar seu argumento: ao boi ge. segue, milita".
que trilha o grão no eirado é permitido por decreto Os versículos 17-19 contêm palavras de aviso e
divino comer do grão: e " o obreiro é digno do seu sa- encorajamento aos ricos, e o conselho de serem ricos
lário". em boas obras. Notemos a exortação do versículo 19:
Vários conselhos (20-25). O conselho no versículo "Que lancem mão da vida eterna", que contém tam-
22: "a ninguém imponhas precipitadamente as bém uma promessa de bênção futura.
mãos", parece referir-se à nomeação de pessoas para "Conheci um rico que foi interrogado como sua
o serviço da igreja. "Participar de pecados alheios" riqueza influía na sua vida espiritual, e respondeu:
pode ter o sentido de consentir com o mal praticado 'Tenho Deus em tudo*. Mais tarde ele perdeu todo o
por outros, ou dele tirar lucro. seu dinheiro, e foi perguntado como era com ele ago-
ra? Respondeu: 'Tudo tenho em Deus'. Bem-
aventurados aqueles que nào sáo vitimas das suas
Capítulo 6 vantagens".

459
2 Timóteo

sta tocante carta foi escri- 2.2. O apelo final (4.1-8).


ta por Paulo a seu 'mui 2.2.1. A coisa por fazer (1.2).
amado filho' pouco antes 2.2.2. O motivo de fazé-la (3-8).
do seu martírio (4.6-8), e b) Paulo anela por Timóteo por causa de si mes-
contém as últimas pala- mo (4.9-18).
vras do graade apóstolo que a inspiração preservou. Conclusão (4.19-22) - (Scroggie)
Timóteo (em comum com 2 Pedro, e 2
do andar pessoal e do testemunho de M E N S A G E M DE 2 T I M Ó T E O
de Cristo em dias de apostasia e
As igrejas na Asia náo se tinham " A segunda carta contrasta, em muitos sentidos,
nem cessado de se chamarem cristãs, com a primeira. Na primeira, a casa de Deus está em
mas tinham abandonado as doutrinas da gTaça reve- ordem, com tudo que é necessário para conservar a
ladas mediante o apóstolo Paulo. Esta era uma pro- piedade que convém a essa casa. Existe um funda-
va de que a apostasia já tinha começado na sua pri- mento que permanece firme, e aquilo que se tem tor-
meira fase: o legalismo. nado 'uma grande casa'. com seus vasos, náo somen-
te para honra mas também para desonra. Náo se fala
" A s divisões naturais sáo quatro: 1) A saudação
mais de anciões nem de diáconos. Cada um precisa,
apostólica (1.1-18). 2) O caminho de um servo apro-
pelo visto, resolver por si mesmo, e agir por si mes-
vado de Deus em dias de apostasia (2.1-26). 3) A
mo. ainda que tudo esteja contra ele...
apostasia e a Palavra (3.1-17). 4) Um fiel servo e seu
fiel Senhor (4.1-22)" (Scofield). " N ã o se fala de melhoramento de tal condição.
Precisamos encará-la. não num espirito de covardia,
A N Á L I S E DE 2 T I M Ó T E O mas com firme confiança naquele que permanece
sempre o mesmo; sendo sustentados de acordo com
Introdução (1.1.2). os conselhos divinos a nosso respeito antes que hou-
a) Paulo anela por Timóteo (1.3-5). vesse a Igreja e o mundo. O apóstolo mostra-se mais
1. O fornecimento pessoal para o ministério (1.6 a espiritual do que nunca; com a luz da eternidade nos
2.26). olhos e o reconhecimento de que seu bom combate
1.1. As qualidades essenciais (1.6-18). está terminado, deixa seus companheiros da fé sem o
1.1.1. O zelo. e seu incentivo (6,7). recurso de qualquer poder apostólico.
1.1.2. A coragem, e seu incentivo (8-12). " A partida de Paulo deste modo é significativa.
1.1.3. A persistência, e seu incentivo (13-18). Ele náo vai com a simpatia e comunhão de todo o
1.2. A disciplina necessária (2.1-26). povo de Deus. como havíamos de imaginar, pois os
1.2.1. Seu dever para consigo (1-7). da Asia o tinham abandonado; dos que o rodeavam
1.2.2. Seu dever para com a verdade (8-14). em Roma somente dois ou trés lhe tém proporciona-
1.2.3. Seu dever para com a igreja (15-26). do completa satisfação. As circunstâncias sáo as
2. O cumprimento público do ministério (cap. 3 a mais tristes que se podem imaginar, mas o Céu ain-
4.8). da brilha, e o caminho resplandece com a glória divi-
2.1. A mudança vindoura (cap. 3). na até terminar no dia perfeito que se aproxima"
2.1.1. O mal que devia ser enfrentado (1-9). (Grant).
2.1.2. O encorajamento para enfrentá-lo (10- Objeto e conteúdo da Epístola. Um dos fins desta
epístola foi pedir a Timóteo que viesse depressa ter

461'
2 TimóUo

com Paulo (4.9). porque os outros seus amigos o ti- dever para consigo mesmo (1-7). seu dever á verdade
nham abandonado, â exceçáo do seu fiel companhei- (8 14). e seu dever a Igreja (15-26). Aqui temos diver-
ro Lucas. (Veja-se 4.10-12.) Desejava a presença de sas instruções e sugestões. Por exemplo: a) Palavras
Timóteo e de Marcos (estando já inteiramente sana- ou trabalho? (14-17). b) A Igreja de Deus permanece
da a antiga indisposição para com este), para que (19). Ela ê chamada "o firme fundamento" de Deu6.
ambos pudessem animá-lo nas suas provações, e au- c) A casa e os vasos (20.21). A casa nào é o mundo
xiliá-lo na obra do ministério (v. 11) (Angus). nem a Igreja. E o cristianismo, istoé, a totalidade da
gente que se chama cristã, d) A verdadeira fraterni-
Capitulo 1 dade. e as pessoas com quem devemos associar-nos
(22). e) A possibilidade da restauração. Leiamos o
Neste capitulo temos recordações (1-5); exorta- versículo 26 assim: "Desprendendo-nos dos laços do
ções (6-14); reconhecimentos (15-18). Diaho | hav endo sido cativos delel e submetenáo-nns
Notemos outra vez "misericórdia' na saudação. á vontade de Deus" (Scroggie)
Vemos ainda: a importância de uma consciência Algumas vezes o versículo 21 tem sido mal inter-
pura preparada por antepassados piedosos (v. 5); o pretado. como se ensinasse crente afastar-se de cren-
que o Evangelho revela (v. 10): o cristão náo se en- te. A obrigação do crente é "purificar-se destas coi-
vergonha de sofrimentos • w . 12.16); o que Onesiforo sas". Não é possível purificar-nos de vasos, mas de
fez. etc. quaisquer coisas que desonram a Deu*. E ao mesmo
"Podemos notar que Paulo: 1) Dá graças (1-5), tempo que nos afastamos de qualquer erro que haja
referindo-se ao passado. 2) Exorta (6-14), isto com em nosso irmão, apeguemo-nos a ele por ser membro
referência ao futuro. Timóteo é exortado a ter zelo de Cristo e do mesmo Corpo místico de que nós tam-
(C.7). coragem (8) e lealdade (13.14). 3) Reconhece bém fazemos parte.
(15-18). Ura reconhecimento é com lágrimas, outro O versículo 22 ensina-nos de que devemos fugir, e
com regozijo, e notemos que é sobre este último que com quem podemos seguir:certamente com "os que.
ele se demora mais" (Scroggie). com um coração puro. invocam ao Senhor". E possí-
Notemos na V.B. versículo 9. "antes dos tem- vel que certos crentes ignorem muitas verdades que
pos eternos" e ficamos pensando que, no caso nós sabemos, ou que saibam muitas verdades que
dos tempos serem realmente "eternos", é difícil ima- nós ignoramos, mas podemos andar com eles até
ginar um tempo "antes" da eternidade. Almeida onde eles andam com Deus.
tem "tempos dos séculos" Grant traduz "antes do
periodt) das épocas", e explica assim: " A s dispensa- Capítulo 3
çôes. de fato. náo tinham começado quando Deus
deu esta promessa. A inocência tinha terminado. Corrupção nos últimos tempos (1-9). Aqui temos
Deus na sua graça tinha lançado mão da sua criatura um terrível quadro do desenvolvimento do pecado
caída, e isso em vista de uma bênção futura que des- nos últimos tempos. Estes vinte diferentes aspectos
faria todas as conseqüências da Queda". da depravaçào podem não ser evidentes na mesma
Sobre "o modelo das sás palavras", diz Grant: pessoa, mas náo seria impossível descobrir todos eles
" A doutrina, embora correta, náoé bastante; precisa representados entre todas os classes do povo. E. con-
ser 'na fé e na caridade que há em Cristo JesusA tudo. nem todos apresentam pessoalmente tão terrí-
verdade deve ser recebida no coração disposto e obe- veis características. Felizmente conhecemos muitos,
diente. e apreciada pela alma atraída por ela. pro- mesmo entre os descrentes, que sáo pacíficos, honra-
vando o poder que ela traz". dos, altruístas, leais e até amáveis.
"Misericórdia á casa de Onesiforo" (v. 16). C d-
O crente, reprovando em si todo o pecado, confes-
H. entendem que Onesiforo era já falecido, mas de-
sa: "Pela graça de Deus. sou o que sou".
vido ao seu procedimento exemplar o apóstolo invo-
cou uma bênção sobre a sua família. "Este é o trecho dos 'amantes' A palavra ocorre
cinco vezes no grego: Amantes de si mesmos (2); do
dinheiro (2); sem amor para os bons (3); sem amor
Capítulo 2
para com Deus (4): mais amantes dos deleites ( 4 ) "
(Scroggie).
Sete características (1-13). Neste capitulo o cris-
tão é contemplado sob sete diferentes aspectos: filho Para entender quem eram Janes e Jarnbres. po-
(1); soldado (3); atleta (5); lavrador (6); obreiro (15); demos consultar Êxodo 7.11. "Segundo o Targum de
vaso (20); e servo (24). A maior parte destas relações •lõnatas, estes oram os nomes tradicionais dos feiti-
requer atividade, propósito, energia, entusiasmo, ceiros que resistiram a Moisés" (C.H.)
persistência, c o r a g e m , altruísmo. Exortação a fxrrsevcrar na sá doutrina (10-17).
No versículo 11 temos mais uma "palavra fiel", e Paulo lembra a Timóteo que ele tem acompanhado
até o versículo 13 uma lista das consolações com que de perto o exemplo apostólico e assim aprendido por
podemos contar. " O versículo 13 nào quer dizer que sua própria observação qual o procedimento cristão
Cristo nos salvará quer creiamos, quer náo. mas an- em todas as variadas circunstâncias da vida. Quão
tes que Ele não pode anular a sua declaração que freqüentemente Paulo se apresenta como modelo
'quem crê náo será condenado' ( M c 16.16)" (Scrog- para os outros imitarem, e quào raramente nós faze-
gie). mos o mesmo!
Nos versículos 11-13 encontramos mais uma das Nos versículos 15-17 o apóstolo salienta o sumo
citações tão características das Epístolas. Parece ser valor das Escrituras para instruir e enobrecer a vida
citada de um hino cristão. (C.H.) cristã, afirmando que seu valor é não somente único
Conselhos Cristãos (14-26). "Neste capitulo o mas suficiente "para que o homem de Deus seja per-
apóstolo expõe a disciplina necessária para quem as- feito e perfeitamente instruído para toda a boa
pira ao ministério cristão, e aponta a Timóteo seu obra ".

462
1 Timóteo

Durante os séculos, cristãos eruditos tém procu- Cada pregador precisa atender às quatro exorta-
rado verificar quais os livros religiosos que podem in- ções do versiculo 5.
cluir na lista de "Escrituras divinamente inspira- Paulo prevê a sua morte (6-22). "Este é um dos
das" ("graplié theupneuslue»"). e sobre a maior parte mais comoventes trechos da literatura bíblica; é a
há completo acordo. Contudo, os romanistas in- revelação dos pensamentos e do coraçáo de um gran-
cluem diversos livros que os evangélicos chamam "a- de homem na presença da morte. Vemos aqui como
pócrifos". Por outro lado, a Igreja Ortodoxa rejeita um cristão pode e deve morrer. Notemos estas três
alguns que nós incluímos, como 2 Pedro. "2 e 3 Joáo. coisas: a) O vigor espiritual de Paulo perante a mor
• Judas e Apocalipse Um dos manuscritos bíblicos te: 'Estou pronto' b) Seu notável resumo da vida
mai* antigos do mundo "o Côdex Sinai ti eus" inclui cristá: 'Combati. acabei, guardei', c) Sua visão
sublime da felicidade futura; a coroa reservada; o
a Epístola de Barnabé. O cânon ou catálogo dos li-
Salvador que vem.
vros sagrados nào foi determinado desde o começo
por qualquer autoridade apostólica, mas pela per- "Embora contemplasse o fim. Paulo nào perdeu
cepção espiritual da Igreja. Quando, afinal, o Conci- seu interesse na vida. nem no ministério do Evange-
lio de Trento pronunciou-se, muito mais tarde (no lho. Pelo versículo 6 parece que o fim chegara, mas
ano 1560) sobre o assunto, resolveu incluir no cánon dos versículos 11.13 vemos que Paulo estava contan-
os chamados "livros apócrifos". do com mais algumas semanas ou meses. Como se
explica isto? Tem sido sugerido que entre os versícu-
Capitulo 4 los 8 e 9 veio um intervalo em que Paulo compareceu
perante seu juiz. sem que a sentença fosse pronun-
Evangelizaçáo (1-5). Neste pequeno trecho temos ciada. Essa sena a 'primeira defesa do versiculo 16.
uma urgente e comovente exortaçào a pregar a Pala- O interesse humano e divino deste trecho é muito
vra O serviço do pregador deve ser "diante dc Deus grande. Note-se especialmente o que se diz de De-
e do Senhor ,Jesus Cristo", deve ser feito tendo em rnas. Marcos e Alexsndre" (Scroggie).
vista a "sua vinda e o seu remo"; deve realizar-se. O versiculo 6 é parecido com Filipenses 1.23. Nos
em todo o tempo, com repreensão do pecado, com tempos antigos era costume derramar uma "liba-
exortaçào à fé. com instrução na verdade e com toda çào" de vinho ou outro líquido sobre os sacrifícios, e
a longanimidade: sim, deve realizar-se com um espi- Paulo compara-se com uma essa libaçáo.
rito que compreenda o perigo do pecador, compade- "Também enviei Ttquico a Èfeso" (v.12). Se en-
ce-se de seu estado, e cuida do seu bem-estar espiri- tendermos que Timóteo estava em Êfeso. então
tual. Tíquico seria o portador da Epístola (C.H.)

463
Tito
_

eu tema é muito parecido guir a carreira do ministério, qualidades muito ne-


com o de 1 Timóteo. Ambas cessárias por causa dos falsos mestres, cujos princí-
as cartas ocupam-se com a pios doutrinários eram perigoaoa, c do caráter geral
ordem que devia haver nas dos cref-nses. Em seguida dá a Tito várias instru-
igrejas. A diferença é que em ções, qi ele devia transmitir a diferentes classes de
1 T i m ó t j b a ênfase está na sã doutrina (1 T m 1.3- pessoas; prescreve aos anciãos e aos jovens as virtu-
I". .na ordem divina nas igrejas locais (Tt des que deviam rigorosamente distingui-los; exorta
1.5). O valor permanente destas epístolas está nesta Tito, que era jovem, a que seja exemplo vivo das vir-
dupla aplicação: de um lado é aplicada às igrejas tudes que ele tinha de recomendar; ensina os servos
j n Q q U e ( j i 7 respeito à verdade de Deus. e a serem obedientes e fiéis, porquanto o Evangelho da
às descuidadas na ordem da casa de Deus. salvação era para indivíduos de todas as classes e
A importância desta ordem é evidenciada pela repe- condições, a fim de os tornar santos neste mundo, e
tição das provas pelas quais os verdadeiros anciãos e prepará-los para melhor e mais elevada vida. Instrui
servidores podem ser conhecidos" (Scofield). depois Tito sobre a obediência ás autoridades consti-
tuídas, devendo ele aconselhar a todos um compor-
A N Á L I S E DE T I T O tamento gentil e pacifico, e lembrar-lhes ao mesmo
tempo a sua primitiva vida desejada, e a salvação
Introdução (1.1-4). que eles tinham alcançado pela livre graça de Deus.
1. A regra da igreja (1.5-16). " O apóstolo insiste na obrigação que todos os
1.1. Sua natureza (5-9). crentes tém de ser cuidadosos na prática de boas
1.2. Sua necessidade (10-16). ações, e. depois de acautelar Tito para que nào entre
2. O andar da igreja (2.1-15). em investigações frivolas, nem se meta em discus-
2.1. O » preceito» (1-10). sões inúteis, e de lhe dar derradeiras instruções, fe-
2.2. O poder (11-15). cha a epístola com saudações e uma bènçáo" (An
3. O Estado e a Igreja (3.1-11). gus).
3.1. Seu dever exterior (1-7).
3.2. Sua disciplina interior (8-11). Capitulo 1
Conclusão (3.11-15).
Introdução (1-4). a) O escritor: Paulo, um servo,
C O N T E Ü D O DA E P Í S T O L A e por isso obediente, persistente e abnegado; um
apóstolo, e por isso (endo autoridade, missão, expe-
" H á uma notável semelhança entre esta epístola riência. coragem e responsabilidade, b) O destinatá-
e a primeira a Timóteo, supondo-se por isso que fo- rio: Tito. um crente gentio, um filho na fé de Paulo,
ram escritas mais ou menos na mesma ocasião. Esta c) A saudação fala de: "graça" que fornece alento es-
epístola tem a particularidade de encerrar em mui piritual para suportar a provação; "misericórdia ",
pequeno espaço uma grande soma de instruções, que alivia o peso da provação; "paz", que conserva o
compreendendo a doutrina, a moral e a disciplina. espirito sereno apesar da provação.
Trata dos seguintes pontos: Depois de uma saudação O governo na igreja local (5-16). Vemos que o
apostólica, declarando a razão por que Tito tinha titulo "ancião" e "superintendente" (bispo) se refe
sido revestido de especial autoridade. Paulo descre- rem à mesma pessoa (5.7), a palavra ancião apon-
ve as qualidades requeridas naqueles que deviam se- tando a pessoa, e superintendente, o serviço.

465'
Tito

Esse serviço, quando o ancião tratava com con- zer a idéia gnóstica de que a salvação era apenas
tradizentes, era o de exortar na sã doutrina e conven- para os iluminados" (C.H.).
cer (v. 9. V.B.); tratando-se dos mentirosos, tapar-
lhes a boca; no caso de os malfeitores, reprová-los se- Capitulo 3
veramente. e no caso dos crédulos, preveni-los con-
tra fábulas judaicas. Admoestações finais (1-11). Este capitulo diz
Cada uma das qualificações de anciáo na igreja muito sobre as boas obras, ao mesmo tempo que nos
deve ser ponderada. Quando vemos todas elas reuni- ensina que nussa salvação é pela misericórdia divina
das num irmáo de idade e experiência, não podemos e não por nossas obras de justiça (v. 5).
duvidar que esse seja um verdadeiro anciáo na igre- Aqui o apóstolo emprega a palavra salvação,
ja- como quase sempre, no sentido de salvação do peca-
do. referindo-se a ela como purificação e "renova-
ção" A lavagem remove a imundícia. o mal, e a re-
Capitulo 2 novação introduz o que antes não havia: o bem.
Cada um pode, com bastante proveito, fazer uma
Procedimento cristão (1-10). Notemos neste tre- lista de tudo que a graça de Deus tem tirado da sua
cho a íntima relaçáo entre credo e conduta, entre vida: antigas inclinações más. ambições baixas, de-
verdade e vida. Pode dar-se o caso de algum velho sejos carnais, etc; e depois acrescentar as novidades
(ou menos velho) ser são na fé. mas não na paciência que o Evangelho de Cristo lhe tem trazido: novos in-
(v. 2). Notemos o que as mulheres velhas devem ser. teresses, novas simpatias, novos serviços, etc.
e o que náo devem ser. Das mulheres novas lemos Nesta epístola a vida eterna é uma esperança
sete coisas (4.5), e ensinam que a esfera do ministé- (1.2: 3.7) e nào uma atualidade, como geralmente no
rio principal da mulher é o lar. Algumas podem ser N . T . A verdade toda é que essa abençoada vida pode
chamadas para interesses gerais, mas a maioria pode ser gozada constante e diariamente (mediante a fé
melhor servir a Deus como esposas e mães (Scrog- em Cristo) agora, mas será conhecida em toda a sua
gie). plenitude no porvir, por ser a vida familiar dos céus,
No caso dos moços, vemos uma diferença interes- a vida de Deus, a vida exemplificada em Cristo, a
sante, pois, para eles. Tito deve apresentar-se como vida que foi contemplada pelos discípulos (1 Jo
modelo, ensinando, pelo seu exemplo, boas obras, 1.1,2), a única vida que permanece.
doutrina incorruptível, etc. Devemos pôr sentido nas coisas que o crente evi-
Os servos têm o precioso privilégio de "adornar a ta. segundo o ensino do versículo 9. As "genealogias"
doutrina" em tudo. Isso poderá animar qualquer dos israelitas foram perdidas durante o período do
crente a ser servo ao menos em algumas coisas tal- Cativeiro, e haviam de ser recordadas pela memória,
vez na igreja. imperfeitamente, e disso resultavam intermináveis
A graça de Deus (11-15). Em torno destes versí- discussões sem proveito.
culos acumulam-se uma infinidade de pensamentos: Recomendações finais (12-15). Neste trecho le-
o que é a graça de Deus; como se manifestou: o que mos de quatro pessoas .e de um lugar - Nicópolis - na
traz, a quem traz; a conduta que ela ensina; a espe- costa Oeste da Macedônia. Vemos que o apóstolo
rança que ela inspira; quem foi o mensageiro dessa dispunha da cooperação de vários companheiros,
graça, e qual a sua obra. servos de Deus, e providenciava quanto ao seu bem-
"Trazendo a salvação a iodos os homens " (v. 11). estar (v.13). O bom obreiro trabalha bem, e o bom
"Esta afirmação parece ter o propósito de contradi- dirigente é o que consegue bom serviço dos outros.

466
Mlemom

m escravo de Filemom 3. O apelo reforçado (17-22).


(membro importante da 3.1 O débito mútuo (17-19).
igreja em Colossos), cha- 3.2. O gozo mútuo (20-22).
mado Onésimo. tinha fugi- Conclusão (23-25) - (Scroggie).
do c chegado a Roma. apa- Esta epístola mostra:
com dinheiro do seu senhor. Ali. sob a 1) Uma revelação do caráter de Paulo. Descobri-
Paulo, foi convertido, e ganhou a afei- mos ser ele cortês, amável, humilde, santo e altruís-
çáo do )lo pelo seu gratc e dedicado serviço, ta.
Mu» el legalmente, o escravo de Filemom. e 2) Um exemplo da diplomacia e sabedoria do
Paulo n quis segurá-lo no seu serviço, pois náo lhe ap<>*t<4tr E uma obra de mestre; um modelo de cor-
era lícito reter um escravo nem aceitar o seu serviço tesia. de jeitosa e delicada intercessáo.
sem o consentimento do seu senhor. Paulo se mostra:
"O problema de Paulo: 1) Queria salvar o escravo a > Desejoso de despertar a simpatia do coraçáo de
fugitivo do severo e cruel castigo que. pela lei roma- Filemom. mencionando várias vezes que é prisionei-
na. merecia. 2) Queria conciliar Filemom sem humi- ro.
lhar Onésimo; queria recomendar o culpado sem b) Cordial para com os predicados de Filemom.
desculpar a sua ofensa Como fazer isso? Eis o tornando assim, difícil a ele deixar de exercitá-los
problema do velho apóstolo. em perdoar Onésimo ( w . 4-7).
"O estratagema de Paulo: 1) Acha que o escravo c) Tardio em mencionar o nome de Onésimo até
náo deve ir só ao encontro do seu senhor ofendido, ter assim preparado o caminho.
por isso aproveita a mediação de Tiquico. que vai a d) Sem interesse em ordenar ou exercer sua auto-
Colossos. 2) Escreve esta carta pes><«l a Filemom. ridade apostólica, mas rogando como amigo íntimo
para Onésimo levar consigo, carta evsa que é modelo ( w . 8.9.20).
de diplomacia e cortesia 3) Então, para tornar ainda
mais difícil a Filemom deixar de perdoar o culpado, e) Implorando encarecidamente. referindo-se a
ele o recomenda à igreja toda (Cl 1.9). Onésimo como seu "filho" (10), e presumindo que
Filemom fará o que pede (21).
" D e toda a correspondência particular do apósto- 0 Ciente do mal praticado por Onésimo (v. 11) e
lo Paulo, somente esta carta tem sido conservada; é promete pagar qualquer prejuízo (18.19).
uma jóia". Robert Lee g) Compreensivo sobre Onésimo, pois embora ou-
trora inútil, assevera que no futuro Onésimo será um
servo fiel ("Onésimo" significa útil).
A N Á L I S E DE F I L E M O M
h) Com sabedoria para escolher suas palavras
Introdução (1-3). com cuidado. Diz "separado" (v. 15) e náo "fugiti-
1. O apelo visado (5-7). vo". Evita empregar qualquer palavra que pudesse
1.1. Amor e l'é de Filemom (4,5). despertar ressentimento em Filemom. e por isso em-
1.2. Fé e amor de Filemom (6.7). prega um termo que nào descreve o caráter do ato do
2. O apelo detalhado (8-16). escravo, mas exprime simplesmente seu aspecto ex-
2.1. Sua base' (8.9). terior.
2.2. Sua natureza (10-12). i) Esperançoso de em breve ver Onésimo ser li-
2.3. Sua força (13-16). berto e também de tornar a ver Filemom (22). Como

467'
poderia este encarar o apóstolo se nào fizesse o que 4) Uma analogia da nossa redenção. O pecador é
ele pedia? propriamente de Deus. Náo somente fugiu do seu
3) Uma ilustração do método divino de reforma Senhor, mas furtou algo dele. A Lei nào lhe oferece
sociaL Esta epístola tem sido referida pelos advoga- direito de asilo, mas a Graça concede-lhe direito de
dos da escravatura para justificá-la. Mas poderia a apelo. Ele refugia-se em Cristo, que Deus tem na
escravatura continuar se os versículos 16,17 fossem conta de seu companheiro. Nele é recebido como fi-
postos em prática? Ê uma boa ilustração do poder lho. e acha um intercessor e pai; volta para Deus. e é
reformador do Evangelho, que procura ganhar seu recebido, nàó como escravo, mas como o próprio
fim mediante a persuasáo e nào pela compulsão; Cristo, sendo lançada toda a divida na conta de Cris-
pela mansidáo e náo pela violência. to.

468'
Hebreus

autor é desconhecido, e 1.2 Inferior (2.5-18).


isto tem sido motivo de 2. Moisés e Cristo (3.1-6).
controvérsia desde os Advertência (b) (3.7-19).
primeiros tempos. Há 3.Jo*ué e Cristo (4.1-10).
vários motivos para Advertência (c) (4.11-13).
ser da autoria de Apoio. Para 4. Aaráo e Cristo (4.14 a 5.10).
veja-se "Combndge Bible for Advertência (d) (5.11 a 6.20).
5. Melquisedeque e Cnsto (cap. 7).
interior é certo que Hebreus foi ( B ) As Instituições (caps. 8 a 10.18).
da destruição do templo, em 70 d.C. 6. A aliança e Cristo (cap. 8).
7. O tabemáeulo e Cristo (9.1-12).
As passagens doutrinárias revelam o pro- 8. As ofertas e Cristo (9.13 a 10.18).
pósito do livro. Foi escrito com um objetivo duplo: 1) Dwisáo II (10.19-39).
confirmar os crentes israelitas, mostrando-lhes que o A EXORTAÇÃO CENTRAL
judaísmo tinha terminado, devido ao cumprimento 1. Exortação á liberdade e comunhão (10.19-25).
por Cristo de todo o propósito da Lei; e 2) os trechos Advertência (e) (10.26-31).
de exortação mostram que o escritor tinha em vista o 2. Exortação á paciência e perseverança (10.32-39).
sempre-presente perigo de os crentes judeus volta- Divisão III (caps. 11 a 13.21).
rem ao judaísmo. £ claro, de Atos. que até os mais A APLICAÇÃO PRATICA
robustos dos crentes da Palestina ficaram presos a
1. A "Obra da fé" (cap. 11).
uma estranha mistura de judaísmo e cristianismo
2. A "Paciência da Esperança" (12.1-24).
(At 21,23.24). e esse laço teria seu perigo para os cris-
Advertência ( f ) (12.25-29).
tãos professos entre os judeus da Dispersão.
3. "Trabalho de amor" (13.1-21).
" A nota tônica da carta é 'melhor'. Hebreus dá Epílogo (13.22-25).
uma série de contrastes entre as boas coisas do ju-
daísmo e as coisas melhores de Cristo. Cristo é me- A M E N S A G E M DE HEBREUS
lhor do que os anjos; do que Moisés. Josué ou Aaráo;
e o Novo Concerto é melhor do que o Concerto Mo- De tudo que F. W. Grant escreveu na sua Introdu-
saico. O escritor contempla toda a esfera de profis- ção a Hebreus, temos lugar apenas para o seguinte:
são cristã; por isso temos os avisos necessários para " O cristianismo é caracterizado por duas coisas,
advertir o mero professo" (Scofield). que são simbolizadas pelo véu rasgado. Deus náo
mais habita nas densas trevas. Ele está na luz. Pode
A N Á L I S E DE HEBREUS sair ao homem; o homem pode entrar na sua presen-
ça. De fato. as duas coisas se cumpriram: Deus saiu
Prólogo (1.1-4). ao encontro do homem, na Pessoa de Cristo' e. em
Dwisáo / (capa. 1 a 10.18). Cristo, o homem vai à presença de Deus. O evange-
O E N S I N O DOUTR1NAL lho de Joáo mostra-nos especialmente o primeiro; e
( A ) As personalidades (1.4 a 7.28). Hebreus, o segundo, e estabelece a ligação entre os
1. Os anjos e Cristo (1.4 a 2.18). pontos de vista de João e do autor; assim. Cristo,
1.1. Superior (1.4-14). como homem, é visto como apóstolo, aquele que saiu
Advertência (a) (2.1-a). com a mensagem de Deus em quem Deus se declara.

469'
Vekrtus
Hebreus desenvolve mai» amplamente o segundo: o Porém F. W. Grant interpretou o versículo dife-
homem entrando para Deus. Esta é a conseqüência rentemente: " D e v e ser evidente que se refere ao apa-
da obra consumada sobre a terra antes que Cristo recimento de Cristo na segunda vinda. Este é o sen-
entrasse, pela qual depois entrou, nào simplesmente tido das palavras Quandju outra uez introduz o pri-
com o titulo que sempre tinha pessoalmente, mas mogênito no mundo'. Dificilmente pode ser aplicado
como 'sumo sacerdote da nossa confissão à encarnaçào. É verdade que os anjos adoraram,
"Que Deus saiu à procura do homem ê a glória do como sabemos, quando Cristo nasceu, mas náo fo-
Evangelho. O Filho de Deus. em forma humana, é 'o ram chamados para adorar desta maneira pública
resplendor da sua glória'. Ele tem falado, mas fez que evidentemente é indicada aqui. Então a superio-
mais. Viveu, amou, sofreu, morreu entre nós. e vol- ridade de Cristo sobre os anjos será plenamente ma-
tou no poder desse sacrifício, pelo qual aqueles por nifesta - e a sua superioridade sobre todos, de acordo
quem foi oferecido encontram um 'novo e vivo cami- com o nome que lhe foi dado".
nho' para chegar á presença de Deus.
" T a n t o essa saida como essa entrada se encon- Capitulo 2
tram em Hebreus, e também no começo da primeira
epístola de João. Nisto João e Paulo combinam, Cristo e os anjos (1-9). Este assunto já foi referido
cada um destacando a verdade a seu modo. e cada no capitulo 1. Ali Cristo é melhor do que os anjos:
um olhando pela senda da glória divina para vere re- aqui é "feito um pouco menor" do que eles.
conhecer o objetivo do outro. João olha do Céu para " A pergunta: 'Que é o homem?' é introduzida as-
a Terra. Paulo dá Terra para ô Céu. O objetivo cen- sim: >m certo lugar testificou alguém' (v. 6). isto é,
tral de cada um é aquele que é 'o apóstolo e sumo sa- em certo lugar na Bíblia. De fato a pergunta ocorre
cerdote de nossa confissão' Esta plena revelação do trés vezes no V . T . Vamos considerar seu sentido: a)
cristianismo está em contraste com todas as comuni- Salmo 8.3.4: 'Quando vejo os teus céus, obra dos teus
cações fragmentárias dos profetas que a precede- dedits. a lua e as estrelas que preparaste, que é o ho-
ram..." mem mortal para que te lembres dele? b) Salmo
144.3,4: 'Senhor, que é o homem?... O homem é se-
Capitulo 1 melhante d vaidade; os seus dias são como uma
A revelação final na pessoa do Filho (1-14). Neste sombra que passa', c) Jó 7.17,20: 'Que éo homem?...
trecho a divindade de Cristo se nos apresenta de três Pequei, que te farei, ó guarda dos homens?' A cita-
maneiras: por afirmação direta (1-3); por compara- ção (a) faz-nos pensar no homem como infinitamen-
ção com os anjos; pela confirmação das Escrituras. te pequeno comparado com o universo; a ( b ) que ele
Em relação a Deus, Cristo é o Filho, o resplendor é passageiro; a ( c ) que ele é pecaminoso. E, contudo,
e a imagem (expressão). Em relação ao universo, Ele esta criatura pequena, passageira e pecaminosa, é o
é seu criador, sustentador e possuidor. Em relação à objeto da graça redentora e do dom da vida eterna na
Igreja. Ele é o seu profeta, sacerdote e rei (1-3). No- pessoa daquele que agora vemco á destra de Deus"
temos o argumento: O Filho e os servos (5,6); o Sobe- (Goodman).
rano e os súditos (7-9); o Criador e as criaturas (10- N o fim do versículo 9 a palavra "pantos", todo,
12). Notemos nos versículos 5-14 e nas sete citações está no singular, e pode ser traduzida "todo homem "
do V . T . (Scroggie) (F W Grant).
A expressão no versículo 2 "por quem criou igual- O Salvador que sofreu (10-18). Este trecho trata
mente os mundos" é problemática. A palavra "aio- da missão do Salvador, como 1-9 trata da sua pes-
nas" traduzida mundos nào tem esse sentido em ou- soa. N o versículo 16 vemos a esfera da obra; no versí-
tra parte da Bíblia senão aqui e talvez em Hebreus culo 17 o escopo da obra. e no versículo 18 o poder da
11.3. A palavra grega " a i o n " significa época, embora obra de Cristo (Scroggie).
alguns aleguem que os judeus a empregavam por
universo. Wilfrid Isaacs traduz o fim do versículo 3: Alguns pensamentos nascem deste trecho: no
"Época após época, plano após plano, Deus tem tra- versículo 10 a palavra "aperfeiçoasse" merece a nos-
tado com os homens por meio de Cristo". Mas mes- sa atenção. Náo podemos pensar que Cristo fosse im-
mo assim o versículo não se torna muito compreensí- perfeito antes de sofrer; contudo, faltava-lhe uma
vel. Numa observação, esse tradutor explica: "Sabe- coisa: a experiência do sofrimento. (Consulte-se aqui
mos que a época em que vivemos depende do Calvá- 1 Corintios 13.4).
rio e dos sofrimentos de Cristo; sabemos que a época Vemos (v. 11) que Cristo chegou tão perto de nós,
vindoura dependerá da sua glória e soberania, mas que nos pode chamar de "irmãos", estabelecendo as-
aqui se nos diz que todas as épocas, tantas quantas sim um precioso laço de intimidade. N ã o se encon-
houver, dependem dele em alguns sentidos". tra, em todo o N . T . , nenhum caso em que o crente
"Cristo é superior aos anjos em cinco pontos: a) chame Cristo de irmão (nem tampouco "meu Jesus"
estes têm o nome de anjos. Ele o de Filho (v. 5); b) ou "bom Jesus"), mas Ele assim nos chama a nós.
eles são adoradores. Cristo é adorado (v. 6); c) os an-
jos são criaturas. Ele é o Criador (7-12); d ) eles são A expressão no versículo 16 "tomou os anjos"
ministros da salvação. Ele o seu autor (13,14); e) no (Alm. e Fig.) ou "presta auxãio aos anj<ts" (V.B.),
tempo vindouro os anjos serão súditos. Cristo, o so- pode significar que a obra da redenção náo visa aos
berano (2.5-9)" (Gray). anjos caídos, mas à humanidade.
Notemos em Almeida, no versículo 6. uma ambi- O versículo 18 fornece muito assunto para nossa me-
güidade de tradução e na V.B. um erro gramatical. ditação. para respondermos a perguntas como as se-
Não devemos ler "quando outra.vez introduz", como guintes: "Quais tentações semelhantes ás nossas en-
se já o tivesse introduzido alguma vez e agora fosse frentou Jesus?"; " E m que sentido sofreu Ele por isso?";
fazé*k> novamente, mas "e outra uez. quando intro- "Até que ponto Jeaua simpatiza conosco nas numas ten
duz no mundo o primogênito, diz." tações?"; "Qual o socorro que Ele nos oferece?".

470
Hetnus

Capitulo 3 Terra era também típico, pois se Josué tivesse dado


o descanso final que Deus propusera, Davi nào teria
Moisés e Jesus (1-11). "Aqui temos trés parágra- falado de outro descanso (v. 8): 'Portanto resta ainda
fos: a) Cristo, e a vocação cristã (1.2). Devemos con- um repouso sabá tico para o povo de Deus' (v. 9).
siderar Jesus que. como apóstolo (um que representa "Que repouso é este? O primeiro sábado da cria-
Deus perante o povo), é comparado com Moisés sob çáo resultou de uma obra consumada. O repouso na
dois aspectos: foi nomeado para o serviço, e nele foi obra de Cristo, este glorioso descanso de Deus. resul-
fiel. tou de "Está consumado" e nele entram aqueles que
" O segundo parágrafo é b) A Casa e o Construtor repousam das suas obras' (v. 10) e confiam em Cris-
(3.4). A casa referida é a economia judaica, represen- t o " (Goftdman).
tada por Moisés; este é considerado a construção, e Sobre o versículo 12 diz Grant: "Alma e espirito,
Cristo o Construtor, maior que Moisés. assim distinguidos, náo podem ser senão as duas
" O terceiro parágrafo é c) O Servo e o Filho (5,6) partes da natureza imaterial do homem, entre as
Duas casas são consideradas aqui. a Casa de Israel, quais a Escritura, ao contrário do que muitos pen-
na qual Moisés era um servo, e a Igreja cristã sobre a sam, sempre distingue. A alma é a parte inferior,
qual Cristo é o Filho. Nisto também Ele é maior que sensitiva, instintiva, emocional, que. quando não
Moisés" (Scroggie) (como no caso do homem) iluminada com a luz do
Dos versículos 5,6 diz Grant: "Assim a diferença espírito, é simplesmente animal, e que também,
entre Moisés e aquele que tipicamente representou é quando o homem não está no poder do Espirito de
deveras grande, Moisés era fiel em toda a casa de Deus. tenderá para isso mesmo. O espirito é inteli-
Deus como servo ministrante, para testemunho das gente e moral, é aquilo que compreende as coisas hu-
coisas a serem referidas mais tarde... Cristo, por ou manas (1 Co 2.11). No homem natural, que é real-
tro lado, é o Filho, nào sobre 'a sua própria casa* (is- mente o homem psicológico, o homem influído pela
to não é o sentido aqui), mas sobre a casa de Deus. E alma (1 Co 2.14), a consciência, com seu reconheci-
aquele a quem todas as coisas pertencem, por quem mento de Deus. está amortecido, e a própria mente
são. e para quem são; e isto liga a sua obra desde o se torna terrena. Por isso é importante dividir entre
principio com a que realiza agora pelo homem caído; 'alma e espirito'. 'Juntas c medulas' dá-nos a idéia
e em vista de tudo que o pecado tem feito na criaçáo da diferença entre o externo e o interno, a forma ex-
de Deus". terior e a essência escondida nela..."
Conseqüências da incredulidade (12-19). A pri- O grande sumo sacerdote (14-16). Devemos me-
meira parte do capitulo é ensino; aqui temos exorta- ditar na significação de Cristo como sacerdote, con-
ção. O autor nunca deixou de aplicar as verdades do trastá-la com sua obra de Salvador. Como Salvador,
cristianismo à vida dos crentes. liberta-nos do mal; como sumo sacerdote, nos intro-
Podemos aorender algumas lições do trecho, a sa- duz no bem. O Salvador, como Moisés, liberta do po-
ber: der do inimigo o povo de Deus: o Sacerdote mantém-
a) que um coração mau produz descrença e afas- nos em contato com Deus. Recorremos ao Salvador
tamento de Deus (v 12); b) que o pecado é "engano- para obter o perdão do pecado em virtude da sua
so ", mas que as exortações dos nossos irmãos podem obra redentora; chegamos por nosso sumo sacerdote
conservar-nos do endurecimento espiritual que o pe- ao trono da graça para alcançarmos misericórdia e
cado traz; c) que o crente deve reter firmemente sua graça suficientes para as necessidades da nossa pere-
confiança em Cristo e assim ser seu constante com- grinação terrestre.
panheiro na obra divina no mundo: d) que o próprio Mas é necessário "chegar" para alcançar. Chegar
crente deve recear qualquer coisa que possa resultar com fé. pela oração, na esperança de encontrar pro-
em endurecimento de coração (v. 15); e) que a des- visão divina suficiente, e com gratidão pela bondade
crença impede de entrar no gozo das promessas de que nos convida.
Deus (v. 19).
N o versículo 14 devemos ler "nos tornamos com Capítulo 5
panheiros de Cristo", a palavra traduzida "compa-
nheiros", é a mesma empregada em 1.9. O sumo sacerdócio (1-11). "Já se tornou eviden-
" O perigo contra o qual se nos avisa no versículo te para o leitor cuidadoso que o propósito do autor
12 é a apostasia: 'apartar-se do Deus vivo'. Este peri- desta epístola é estabelecer a comparação entre o sa-
go é agravado por: cerdócio de Cristo e o de Aaráo. O autor quase che-
a) um coração mau e incrédulo (v. 12); b) pelo gou a esse assunto no fim do capitulo2 (17.18). e es-
engano do pecado (v. 13); c) por provocar ou entris- tava no ponto de fazer a comparação (3.1), quando
tecer o Espírito de Deus (16.17); d) pela desobedièn se afastou do assunto para falar de Moisés (3.2-6). e
cia (18)" (Goodman). depois de Josué (4.4-11). Mas volta ao mesmo tópico
em 4.14-16, e. no começo do capitulo 5, prepara o
Capítulo 4 campo para a discussão, afirmando que Cristo era
sacerdote. Era necessário provar isto antes de pros-
O repouso da fé (1-13). " A palavra 'descanso' seguir no seu argumento. Ele o prova de duas manei-
neste trecho é aplicada a três coisas: a) Ao descanso ras: Cristo era sacerdote porque: a) tinha uma natu-
do sábado, instituído na criação ( w . 3.4); b) ao des- reza humana capaz de simpatizar com nossa fraque-
canso da Terra l*rometida (v.5); c) ao descanso que za (1-3), e b) Ele foi divinamente constituído, como
Davi previu: o descanso do Evangelho, que se encon- Aaráo o tinha sido (4-10). Sua designação, porém, foi
tra somente em Cristo ( w . 7-9). de outra ordem que a de Aaráo; a saber, a de Melqui-
"Destes três descansos se nos ensina: a) que o Sá- sedeque (5.10), de quem o autor falará mais adiante,
bado é figura (Cl 2.16,17), um tipo de descanso do depois de outra digressão ocupada « m i avisos e en-
coração que se acha em Cristo; b) que o descanso na corajamentos (5.12 a 6.20)" (Grav).

471'
Vekreui

As qualidades de sacerdote sáo: a) que seja desig- " A palavra no versiculo 6 traduzida por Almeida
nado por Deus (4), pois ninguém pode tomar para si 'recair' e pela V.B. 'cair' significa 'tropeçar ou escor-
esta missão; b) que tenha coração compassivo. pois regar para um lado', inas nào apostatar ou voltar
necessita ternura e paciência para tratar com ho- para trás.
mens ignorantes e errantes: c) que tenha experiência "Assim vemos pelos versículos 7 e 8 que é desne-
(2). havendo ele mesmo provado a tristeza, tentação cessário fazer aquilo que o apóstolo reprova no versí-
e enfermidade (7-9). Ora. Cristo está perfeitamente culo l e declara impossível no versículo6. O versícu-
habilitado para ser sacerdote em todas estas particu- lo I ensina náo lançar alicerces vez após vez. O versí-
laridades (Goodman). culo 4 ensina que é impossível fazer novamente aqui-
E um pouco difícil traduzir as palavras "ek tha- lo que. por sua natureza, nào pode ser repetido. Pois
natou" no versículo 7. O versículo náo quer dizer "li- no caso desses que: foram iluminados; provaram o
orá-lo de morrer", mas livrá-lo (afinal) da morte que dom celestial; foram feitos participantes do Espirito
havia de sofrer como nosso substituto. Podemos ver Santo: provaram a boa Palavra de Deus e as virtudes
um caso paralelo no viajante que. embora passando do século vindouro, e caíram no pecado, é impossível
pelo naufrágio, vem aiinal a ser salvo. A preposição operar outra vez o novo nascimento e a conversão,
" e k " significa fora de e o sentido é que o bendito presumindo-se terem eles crucificado novamente o
Substituto havia de ser tirado fora da morte depois Filho de Deus e dado aos seus inimigos ocasião de
de ter consumado a obra expiatória. Lázaro, quatro blasfemar.
dias depois de ter morrido, foi "livrado da morte" " N à o somente é impossível mas é também desne-
pelo poder de Cristo. cessário. porque incorrem numa penalidade seme-
Ensino adiantado ou rudimentar? (11-14). Este lhante àquela que sobrevém a uma vinha infrutífera.
trecho é importante por mostrar a necessidade de Se, essa vinha, depois de ter recebido as chuvas, su-
adaptar o ensino ao aluno. Qua.ve toda contenda en- pre com seu produto as necessidades dos seus culti
tre crentes resulta da insistência em dar ensino que o vadores. a bénçào está sobre ela. e o terreno partici-
discípulo não pode receber. Se dermos um bife a pa do beneficio, mas se produz espinhos e abrolhos, é
uma criancinha, ela o rejeitará, e com protestos. In- julgada inútil: incorre em maldição: da palha se faz
sitir em que outros recebam o que nós sabemos (por uma fogueira, eliminando-a (1 Co 3.13).
exemplo) do batismo ou do governo na igreja, terá "Nosso Senhor e todos os escritores do N.T. tém
resultado semelhante, se esses "outros" forem crian- muito a dizer das penalidades do crente desobedien-
ças espirituais. O apóstolo queria dar ensino adian- te e indigno; 'sôlvo', mas imprestável. Seu Senhor a
tado referente a Melquisedeque. porém achou neces- quem serviu mal 'lhe dará a sua parte com os infiéis'
sidade primeiro de maior preparo dos seus leitores. (Lc 12.46).
" A terra que produz espinhos e abrolhos nào é
Capitulo 6 maldita, mas falta pouco: perto está da maldição ".
Esta exposiçào do trecho pode não ser. à primeira
O dr. Scroggie faz as seguintes divisões: 5.11-14. vista, muito fácil de se compreender, mas vale a
admtH-<taçâo; 6.1-3, exortação. 6.4-8. aviso; 6.9-12. pena tornar a lê-la devagar e várias vezes, para veri-
encorajamento; 6.13-20, certeza. ficar que seu sentido está de acordo com a linguagem
Os versículos 4-9 têm ocasionado tremenda con- da Escritura.
trovérsia entre os crentes, e tém sido interpretados Outros expositores, incluindo Goodman. Scrog
mui diversamente. A explicação mais completa que gie e Grant, entendem que o trecho trata de aposta-
tenho encontrado, e uma que dá seu pleno valor às sia da fé com a volta ao judaísmo.
pia lavras empregadas no original, é a de Wilfrid Para entender toda a epístola aos Hebreus. o me-
Isaacs Ocupa quatro páginas da sua tradução de lhor parágrafo que tenho encontrado é do livro "Un-
Hebreus. por isso nào posso dar aqui senào um resu- translatable Riches", de Kenneth S. Wuest Ele de-
mo. dica 30 página» a uma exposiçào de Hebreus capítu-
Ele começa comentando duas interpretações lo 6. inas podemos apenas traduzir o seguinte pará-
opostas: a primeira é que o homem visado está real- grafo:
mente perdido, mas nunca foi realmente crente; a "Assim, o propósito do escritor era ajudar os ju-
segunda, que é realmente crente, mas náo está real- deus de então, que tinham abandonado a freqüência
mente perdido. Pode-se dizer, porém.que nessas pública dos serviços do templo, e se tinham identifi-
duas interpretações foram esquecidas certas consi- cado com esses grupos de pessoas que se reuniam no
derações de contexto e tradução, as quais náo ofere- nome de uin Messias invisível, o sumo sacerdote do
cem uma terceira solução para a dificuldade, mas sistema da Nova Aliança, com seus sacrifícios típi-
mostram que tal dificuldade náo existe. cos. Estes judeus ainda não-salvos sofreram perse-
"Todos os intérpretes tém suposto que o assunto guição e estavam em perigo de renunciarem a sua
do trecho é o destino humano. Esta suposição é errô- profissão cristã e voltarem aos sacrifícios antigos do
nea. O assunto aqui nào é o destino humano, mas sistema levítico (10.32-34)".
'métodos de evangelizaçáo'. A promessa de Deus com juramento (13-20).
"Yçnjos que aquilo que o apóstolo manda aos Aprendemos deste trecho: que Deus promete bênção
seus leitores nào repetirem é uma coisa, que por sua aos seus; que confirma suas promessas com jura-
própria natureza, não pode ser repetida: o 'esclareci- mento; que seus propósitos são imutáveis; que Ele
mento' (v. 4) que a pessoa recebe no começo da sua mesmo é nosso refúgio: que a firmeza da sua palavra
crença. deve ser nossa consolação; que a "âncora " da alma é
"Notemos o argumento: por novamente o funda- a esperança da futura bênção com Deus.
mento é desnecessário, impossível, indesejável. O N o fim deste capitulo o apóstolo volta da sua lon-
versículo 1 diz 'nào convém '; o versiculo 6 'nào pi/de' ga digressão, e continua sua exposição do sacerdócio
e os versículos 7,8 'nào precisa'. de Melquisedeque.

472
Hebreus

Capitulo 7 Capitulo 8

Traduzimos os versículos 1-12 da versào de Wil- O velho e o novo santuário (1-6). Neste trecho ve-
frid Isaacs: '\Por que Melquisedeque? JMelquisede- mos o novo contrastado com o velho. " O sacerdócio
que, rei de Salém e sacerdote do Deus altíssimo, en- Ievítico tinha um tabernáculo construído no deserto,
controu Abraão quando este regressava da destrui- no qual se ofereciam os sacrifícios ordenados sob o
ção dos reis e o abençoou, e Abraão deu-lhe o dizimo, velho concerto. Nosso sumo sacerdote tinha um cor-
a escolha dos despojo». Notemos primeiramente o po imaculado no qual (o verdadeiro tabernáculo. v.
significado do seu nome - rei da justiça. .Justiça qua- 2) Ele cumpriu todas as figuras do Velho Testamen-
se necessariamente resulta em conflito, mas ele era to. Era maior (em valor) e mais perfeito (para seu
rei de Salém. que significa rei da paz. Nem uma pa- fim) do que o antigo. Náo foi feito por màos (como
lavra se diz de seu pai, de sua mãe ou de seus ante- fora o primeiro) nem foi 'desta criaçáo', pois foi espe-
passados, do seu nascimento ou morte. e. feito nisto cialmente preparado por Deus (9.11)" (Scroggie).
semelhante ao Filho de Deus. ele mantém seu sacer- Grant chama atençáo para a diferença entre a
dócio perpetua mente. morte da vitima e o oferecimento do sacrifício. Evi-
"Note-se a importância do homem a quem dentemente Cristo nào se matou, mas ofereceu-se
Abraão deu o dizimo dos despojos - Abraão de quem como sacrifício.
toda a nossa raça descendeu. Note-se mais que os O velho e o novo concerto ou aliança (7-13).
descendentes dos filhos de Levi, detentores do sacer- Quem usa a Bíblia de Almeida ou a V.B. precisa fa-
dócio, são autorizados, pela Lei. a impor o tributo do zer uma emenda de traduçáo no versículo 8 e ler:
dizimo sobre o povo, isto é, a seus irmãos, filhos de "Porque, reprovando (o velho concerto], lhes diz .."
Abraão como eles. Em contraste com eles, Melquise- O versículo 7 mostra que a coisa reprovada foi a
deque. sem nenhum parentesco com Levi ou sua velha aliança, não por causa de qualquer defeito,
família, recebe dízimos de Abraão, e abençoa ao que inas porque nào podia servir mais como meio de Is-
tinha as próprias promessas de Deus. Note-se mais rael alcançar a bénçào divina. O medico às vezes diz:
que quem dá a bênção é superior a quein a recebe; "Este remédio náo serve; vou dar-lhe outra receita";
isto é evidente. Note-se também que, enquanto os nào que o primeiro medicamento fosse imprestável,
que recebem dízimos aqui sáo homens mortais, no mas porque nào provou ser adequado ao estado do
caso de Melquisedeque, a Escritura apresenta-o so- doente.
mente como vivente. Podemos ir além e dizer que Devemos notar as diferenças entre as duas alian-
Levi. recebedor dos dízimos, teve de pagar dizimo, ças: a) A antiga era uma aliança de obras; a nova. de
pois estava nos lombos do seu antepassado quando graça, b) Na velha aliança a Lei foi escrita em pe-
Melquisedeque se encontrou com Abraão. Mesmo dras; na nova, na mente, para ser entendida, e no co-
assim a legislação nacional baseou-se no sacerdócio ração para ser amada.
levi ti co. Isto prova que o propósito do sacerdócio era As bênçãos da nova aliança são quatro: a) cora-
ajudar os homens a satisfazerem, completa e final- ção transformado; b) certeza da proteção divina; c)
mente. as exigências de Deus. Porventura o sacerdó- Cristo conhecido; d) certeza do perdão.
cio ievítico conseguiu isto? Se o fez. que necessidade Uma aliança, pacto ou concerto é semelhante ao
havia de sacerdócio de outra ordem? Que necessida- que hoje chamamos um contrato. Mediante um con-
de havia de ser ele chamado de outra linhagem, nào trato duas pessoas estabelecem suas relações mú-
de Abraão mas de Melquisedeque? (Esta pergunta tuas. geralmente com referência a um determinado
exige resposta], pois as implicações de uma mudan- serviço e à respectiva remuneração. As condições sáo
ça de sacerdócio sáo graves: envolvem nada menos ajustadas entre as duas partes.
que uma mudança da própria constituição". Quando Deus faz uma aliança com os homens, é
Melquisedeque e Cristo (12-28). Aprendemos Ele quem determina as condições, e o homem quem
aqui várias coisas de Cristo, o sacerdote-rei: a) Era as aceita. Para uma lista das oito grandes alianças
da tribo de Judá, a tribo real. b) Semelhante a Mel- que Deus tem feito com os homens, veja-se o fim de
quisedeque. o verdadeiro tipo. e náo a Aaráo. que Gênesis 1 em O Velho Testamento Explicado.
náo podia continuar porque morreu, c) Foi designa- A lei da vontade de Deus. escrita 110 coração,
do por juramento divino, como diz no Salmo 110.4. pode ter muito sentido para os pais. como modelo
d) E mediador de melhor concerto (8.6). e) Nunca para a educação dos filhos. A criança está sob uma
mais morrerá (24) e assim pode continuar sua obra lei de obediência, que a obriga a agir. ás vezes, con-
até o fim. 0 E capaz de salvar (25) os que se chegam tra a vontade própria. Antes de chegar a ser moço ou
a Deus por Ele. g) Seu caráter é tão perfeito quanto a homem, os pais sensatos procuram ganhar a afeiçào
sua obra - santo, separado de pecadores, h) Seu úni- do filho a tal ponto que o filho deseje agradar seus
co e perfeito sacrifício é perdurável (27); a Lei fez sa- pais em tudo. Então a lei do pai fica escrita no seu
cerdotes a homens imperfeitos, o juramento desig coração.
flou o Filho, perfeito para sempre (28) (Goodman)
" N à o é na qualidade de pecadores que Cristo, o Capitulo 9
sumo sacerdote, intercede por nós junto a Deus. mas
como os muitos filhos que Ele leva à glória. O sumo Sacrifícios imperfeitos que se repetem (1-10). N o
sacerdote cuida de fraquezas e não de pecados, 'mas versículo 1 "o primeiro" (Almeida) quer dizer "opri-
se alguém pecar, temos um Advogado com o Pai' (1 meiro concerto". No versículo 2 "o primeiro" quer
Jo 2.1). Cristo é Sacerdote e Advogado, mas a ques- dizer "o primeiro recinto do tabernáculo", chamado
tão do pecado está resolvida para nós para com "o lugar santo", para distingui-lo do recinto mais in-
Deus, enquanto entre os filhos e o Pai essa questão terior chamado "o santo dos santos' ou lugar santís-
pode necessitar ser reaberta freqüentemente" simo. onde Deus habitava oculto, e onde o sumo sa-
(Grant). cerdote entrava apenas uma vez no ano (v. 7).

473
Hebreus

O "segundo véu " era a divisão entre o lugar santo aqueles que estão sendo consagrados a Deus a satis-
e o lugar santíssimo; esse é o véu que foi rasgado de fazerem todas as exigências divinas".
alto a baixo ( M c 15.38). para que o remido pudesse " N ó s somos justificados por seu sangue (Rm 5.9).
entrar e adorar, e Deus sair e abençoar a humanida- e nada pode ser apresentado contra os escolhidos de
de. Deus (Rm 8.33). Fomos santificados pela oferta (v_
" O sacerdócio levítico tinha um santuário sobre a 10). isto é. constituídos povo separado e santo (SI
terra (o tabemáculo no deserto) que era em todos os 4.3, Al. Hb 13.12), idôneo para comparecer perante
seus detalhes um tipo de Cristo. Consistia, como é Deus, e temos sido aperfeiçoados para sempre ( v .
bem sabido, de três partes: o pátio, o lugar santo e 14). isto é, foi-nos dado um meio de nos aproximar
o lugar santíssimo. N o santíssimo estava a arca da mos e estarmos perante Deus, no valor do sangue (v.
aliança, uma caixa coberta de ouro. contendo as tá- 19). e isto para sempre" (Goodman)
buas da Lei. e sobreposta pelo propiciatório e os que- Notemos que nos versículos 12 e 14 para sempre
rubins. Constituía, em figura, o trono de Deus (SI traduz as palavras gregas "eis to dienekes" em per-
99.1), e sobre tudo brilhava a glória divina. Essa san- petuidade. A mesma frase é traduzida continua
ta presença de Deus ficava oculta do lugar santo por mente em Hebreus 7.3 e 10.1. e não se emprega em
um véu. Só uma vez no ano o sacerdote entrava no qualquer outra parte do N . T . Onde lemos para sem-
santíssimo, no dia dez do sétimo mês. no Grande Dia pre em Mateus 21.19, etc. o grego é "eis ton aiona"
da Expiaçâo. quando o sangue de uma oferta pelo para a época; ou, como em Romanos 1.25, etc. "ei*
pecado, previamente sacrificada sobre o altar de tous aionas", para as épocas.
cobre no pátio, era levado ao lugar santíssimo pelo Privilégios e deveres (19-25). Façamos aqui um
sumo sacerdote e espargido sobre o propiciatório e resumo de toda a epístola: a) ensino doutrinário (1.1
perante ele. Tudo isto tem a sua explicação aqui em a 10.18); b) exortação central (10.19-39); c) aplica
Hebreus..." (Goodman). ção prática (11.1 a 13.25). Estamos agora na segunda
O sacrifício perfeito, que não se repete (11-22). O destas divisões, em que há duas exortações, separa-
versículo 12 aqui explica o capitulo 8.3. Essa alguma das por um aviso. A primeira exortação (19-25) á li-
coisa que o grande sumo sacerdote ofereceu quando berdade e comunhão; o aviso (26-311 dos perigos da
entrou, foi seu próprio sangue, que fez expiaçâo pelos apostasia; a segunda exortação (32-39) á paciência e
pecados. perseverança (Scroggie).
Todas as versões dificultam a interpretação do Notemos também as exortações dos versículos
versículo 16 quando traduzem a palavra grega 22-24, cheguemo-nos; guardemos a confissão: "con-
"diatheke" por testamento em vez de concerto, pac- sidere mo-nos uns aos outros".
to, ou aliança, e algumas empregam a palavra "tes-
Proposta emenda de tradução (v. 21); "E tendo
tamento" no versículo 15.
um sumo sacerdote".
Mas aqui náo temos nenhuma mudança de as-
Aviso contra o pecado voluntário (26-39). A inter-
sunto: continua a tratar-se da "nova aliança", e a
pretação deste trecho tem ocupado bastante tempo e
tradução do versículo 16 por Bullinger é provavel-
talento de muitos expositores. Náo é possível, no pe-
mente exata: "Pois onde há um concerto, a morte do
queno espaço de que-dispomos, apresentar nem um
apontado (sacrifício) é necessária: pois um concerto
resumo de todos eles. Por isso limitar-nos-emos a
é confirmado somente sobre (vitimas ou sacrifícios)
traduzir o que diz o erudito Wilfrid Isaacs, por pare
mortos; visto que náo tem valor enquanto o aponta-
cer-nos a exposição mais adequada e aceitável.
do (sacrifício) vive".
A sugestão de que somos herdeiros pelo testa- "Este trecho deve ser lido á luz da lei da salvação
mento de um Cristo defunto é repugnante a todo o e do pecado, da qual o V . T . e o N . T . apresentam
sentido do cristianismo. muitas afirmações enfáticas e coerentes. A lei da sal-
Cristo oferece-se uma vez para sempre (23-28). vação diz que a vida eterna é, pelo dom de Deus, as-
Neste trecho temos quatro importantes verdades re- segurada a todo homem que está em intimo contato
ferentes a Cristo: Seu primeiro advento (v. 24); sua com Ele, pela fé no Salvador crucificado. A lei do pe-
obra expiatória (v. 26.28); seu serviço de advogado cado diz que cada pecado tem sua pena apropriada,
(v. 24); seu segundo advento (v. 29). e que nenhum homem, com a certeza da vida eterna
ou sem ela. fica isento da "lei de causa e efeito" -
cada um há de segar o que semeou. Estas duas leis
Capitulo 10 náo são mutuamente exclusivas - náo se contradi-
zem. As afirmações do Salmo 89.31-33; Isaías 63.7-
11; 2 Corintios 5.10; Gálatas 6.7 são bem conhecidas
O sacrifício final (1-18). Notemos três coisas: a) a
e inteligíveis.
vontade de Deu» (5-10); b) a obra de Cristo (11-14);
c) o testemunho do Espírito (15-17) - (Goodman). O " A diferença entre o pecado de um crente e de
argumento deste trecho é que o sacrifício de Cristo é um descrente, ou entre a pena de um e de outro, se
final, a) porque foi feito uma vez para sempre, em nos apresenta nas Escrituras náo como diferença de
contraste com os sacrifícios do V.T.; b) por causa da espécie, mas de grau. "Fogo é sempre fogo. mas há
presente posição real de Cristo. Os sacerdotes do um fogo que náo é. em si. uma maldição, mas está
V.T. sempre estavam em pé, seu trabalho nunca ter- perto da maldição" ( H b 6.8). Do crente que náo é
minava, mas nosso sumo sacerdote está sentado â vencedor não se diz que será destruído pela segunda
destra de Deus; c) porque Ele cumpriu perfeitamen- morte, mas dá a entender que ele sofrerá algum pre-
te' tudo que foi predito a respeito do novo concerto juízo por ela (Ap 2.11). Em ambos os casos, as ex-
(15-18) - (Scroggie). pressões são significativamente discretas, sendo a
Wilfrid Isaacs dá a seguinte tradução do versícu- diferença entre um crente e um descrente, essencial-
lo 14: " N á o resta mais nada por fazer, porque por mente, uma diferença náo de condição, mas de D O S Í - ,
uma oferta que é eternamente válida ele habilitou ção.

474
7fcfcan

" N o eterno conselho de Deus nada pode desfazer mais certeza das coisas que ele percebe espiritual-
a imunidade de destruição do crente em Cristo - a mente do que aquelas que seus olhos enxergam.
destruição referida em 2 Pedro 3.16. Contudo, qual- A fé no período primordial (4-7). Notemos que
quer pecado perturba imediatamente a certeza dessa começa, não com Adáo. mas com Abel N.'o raso de
isenção. O crente bem sabe que nenhum pecado Abel. era fé no sacrifício; no de Enoque, fé na comu-
pode ficar sem castigo: a 'vingança' de Deus é sim- nhão com Deus; no de Noé. fé que testifica (Scrog-
plesmente a operação da lei de causa e efeito. Ele en- gie).
tende que seu pecado é pior que o de algum rebelde A fé nn período dos patriarcas (8-22). O escritor
contra a lei de Moisés, e merece maior castigo: seu laia primeiro da fé e das coisas invisíveis (8-16). de-
reconhecimento da misericórdia divina fica ofuscado pois da fé e das coisas improváveis (17-22). Abraão
pelo seu reconhecimento da ira de Deus contra o pe- creu que Deus era capaz de ressuscitar os próprios
cado. E deve ser assim mesmo, comprovado como é mortos. A fé de Isaque aceitou a determinação divi-
pela experiência dos cristãos mais eminentes em to- na. que pós de lado as consagradas leis de herança.
dos os tempos. Na esfera espiritual nossos propósitos muitas vezes
" O leitor terá notado que, nesta exposição, sua sofrem modificações por Deus. e somente pela fé é
atenção tem sido dirigida especialmente para as pa que p*»demos aproveitar as lições que disso advém.
lavras 'expectação' e 'merecedor' porque uma pena- A fê durante o período israelita (23-40). Notemos
lidade pode ser merecida e esperada c, contudo, nào particularmente no caso de Moisés, como sua fé era
chegar a ser infligida. E a penalidade pode estar tão sempre a "visão do invisível" - era o que ele percebia
'perto da maldição' que seja parecida com a própria com Deus. e vemos que ele por essa fé recusou (24) as
maldição. Estas escrituras bastam para demonstrar vantagens do mundo; escolheu (25) uma sorte apa-
que o castigo do pecado do crente será adequado á rentemente desprezível; deu valor (26) ao privilégio
ofensa". do sofrer com o povo de Deus; enxergou (27) aquilo
Até aqui é a explicaçáo de W. Isaacs. Podemos que o olho natural nào percebe; deixou a terra onde
nos servir de uma simples comparação: Um pai de nascera: e náo temeu, mas ficou firme, como quem
família vê seu menino, com outros garotos da rua. enxerga o invisível.
brincando e jogando pedras, que, afinal, quebram as Nossa fé também pode sustentar-nos no meio de
vidraças da sua casa. Por isso ele chama um policial tremendas provações semelhantes às que sofreu o
e entrega os rapazes estranhos á justiça para serem povo de Deus nos versículos 33-37, ou. mesmo que
castigados. Porém ele não entrega seu filho á policia: não tenhamos que passar por grandes provas, a fé
leva-o para casa e ele mesmo o castiga. pode sustentar-nos nas pequenas provações da nossa
N o versículo 19 a p a l a v r a t r a d u z i d a por A l m e i d a vida diária. Que cada um possa dizer: " E o que vejo
"santuário" e por V.B. "lugar santo" é. literalmente, em Deus que me dá esta serenidade".
nos (lugares) santos. Dá-se a mesma coisa em 9.8,12 Todos estes homens de fé do V.T. faleceram sem
e 13.11. O lugar santíssimo, o "santo dos santos ", é ver o prometido Messias (39". mas um dia eles co-
mencionado, diz Grant. somente uma vez em nosco, alcançarão essa preciosa consumação.
Hebreus: no capitulo 9.3. O ensino do 10.19 é que te-
mos ousadia para entrar nos lugares santos (consti- Capitulo 12
tuídos agora num só lugar santo, por ter sido rasgado
o véu) pelo sangue de Cristo. "Isto náo quer dizer A vida cristã considerada como corrida (1-4). A
que o véu é removido. E por Jesus sempre que entra- grande nuvem de testemunhas sáo os crentes do
mos na presença de Deus. e o véu sempre tem seu lu- capitulo 11. e todos testificam que a melhor vida é a
gar. Este mesmo véu. no tipo. foi bordado com os vida que enxerga a graça e a vontade de Deus. e que
emblemas da glória que é sua em resultado da sua resolutamente prossegue na carreira da fé. A esses
obra consumada. Isto nào é removido e nào quere- podemos acrescentar os milhares de fiéis -lestemu-
mos que o seja. Rasgado e removido são coisas dife- nhas que tiveram experiência semelhante desde que
rentes. Por Ele nos aproximamos de Deus. mas Ele esta carta foi escrita.
teve de morrer para que assim fosse" (Grant). E "olhando para Jesus " e considerando-o que po-
demos prosseguir na carreira da fé.
Nesta corrida espiritual podemos distinguir entre
Capitulo 11 empeci fhus e pecados Não se refere aos deveres. que
nunca constituem empecilhos na carreira espiritual.
Introdução (1-3). Não precisamos pensar que no O esforço para manter determinada posição no mun-
versículo 1 temos uma definição da fé. mas que. cer- do pode se tornar empecilho para o crente, sem cons-
tamente. temos algumas das suas características. As tituir pecado.
palavras "firme fundamento" e "prova" náo sáo
bem empregadas neste versículo. Alguns podem pre- A necessidade, maneira e propósito da disciplina
ferir a versão de Wilfrid Isaacs: "Nossa fé em Deus é de Deus (5-11). Este é o trecho clássico sobre a disci-
também a firme base sobre a qual é fundada nossa plina na família de Deus. e a experiência da correção
alegre antecipação das boas coisas vindouras, con- divina é uma das provas de que somos filhos. Mas é
vencendo-nos. como por evidência que náo pode »er de se notar que a disciplina é aproveitada somente
contradita da realidade das coisas invisíveis". Ou a por aqueles que sáo "exercitados" por ela (v. 11).
de Grant: "Ora. a fé é a certeza das coisas esperadas, Há dois erros em que podemos incorrer com res-
a convicção das coisas náo vistas". Bulhnger traduz: peito à disciplina divina: "desprezar a correção do
"Fé é também o titulo das coisas que se esperam, e a Senhor", isto é, deixar de reconhecer que a provação
persuasão das que náo se vêem". é a vara de Deus para nos corrigir; ou desanimar sob
A fé torna real para nossa alma o mundo espiri- a correção, pensando que Deus quer nos esmagar,
tual onde Deus é supremo. Um homem de fé tem quando seu propósito é ensinar-nos.

475
tiebf€ us

Exortações e avisos (12-17). Este trecho abunda agradável - a saber, com reverência e piedade. Pode-
em encorajamento e animação. Provavelmente o mos dizer que a impiedade é a atitude de quem nào
versículo 13 deve ser lido: "Deixar pegadas retas" se importa com a vontade de Deus. A atitude contrá-
lembrado» de que outros seguirão nas nossas pisa- ria constitui a piedade.
das. "Todos os que são de Cristo têm deveres para A revelação de Deus no versículo 29 merece ser
com eles mesmos (v. 13). para com seus semelhantes ponderada.
(v. 14). e para com Deus (1417)**.
Notemos a condição essencial para que alguém Capitulo 13
"veja" o Senhor (v. 14). Se pouco percebemos de
Deus em nossa vida, pode ser por alguma falta de Mais exortações (1-9). O dr. Scroggie diz: "Ve-
santidade pessoal mos na terceira divisào desta epístola (cap. 11 a
Devemos notar que o que Esaú buscou com lágri- 13.21) trés temas: A obra da fé (cap. 11), a paciência
mas não foi o arrependimento, mas a bênção que da esperança (cap. 12), e o trabalho do amor (cap.
perdera pela sua leviandade. 13). A fé, olhando para trás, vé a Cruz; a esperança,
olhando para a frente, avista a coroa; o amor se ex-
Diz F W. Grant: " U m só ato pode revelar o cará-
pressa na comunhão. A fé realiza; a esperança visua-
ter de uma pessoa, como sucedeu com Esaú aqui!
liza; o amor vitaliza. Ora. o amor sem expre**ão
Por um bocado de comida, ele negociou a sua primo-
nada é, e por isso este capitulo está cheio de deveres
genitura. e esse ato o caracterizou como pessoa pro-
por cumprir, deveres pessoais, sociais e religiosos, os
fana, isto é, que habitualmente deixa Deus fora dos
dois primeiros nos versículos 1-6 e o terceiro nos
seus planos. Assim mesmo ele desejava a bênção, e
versículos 7-19".
buscou-a ardentemente depois de a ter perdido,
como Balaáo que queria morrer a morte do justo sem Nos versículos 7,17 e 24 encontramos o verbo gre-
ter vivido a vida do justo ( N m 23.10). Assim Esaú go "hegoumai", traduzido por Almeida como subs-
'não achou lugar para o arrependimento' porque, tantivo. pastores e chefes, por Fig. prelados e supe-
embora quisesse a bênção perdida, náo julgou seus riores. pela V.B .os que governam. Pode ser melhor
próprios caminhos diante de Deus". traduzido guias, e dos quais devemos lembrar (v. 7)
O versículo 17 pode ser traduzido: "...querendo no caso de já terem falecido, obedecer ( v . 17) os que
ele ainda depois herdar a benção, foi rejeitado [por- ainda vivem, e saudar (v. 24) ou (como podemos in-
que náo achou lugar de arrependimento], ainda que terpretar livremente) cuidar do bem-estar material
com lágrimas buscou [a bênção]". daqueles que cuidam do nosso alimento espiritual-
0 « dois montes (18-24). Mais uma vez temoe aqui mente (1 Cu 9.14). Ê interessante notar que estes,
o ensino de que o crente em Cristo náo está debaixo como também os "pastores" em Efésios 4.11, são re-
da Lei mas debaixo da graça. O monte palpável, ma- feridos no plural, que nos permite esperar que haja
terial, Sinai, era o símbolo da lei de Deus porque foi mais de um em cada igreja local.
ali que Deus deu a Lei a Moisés. Este trecho fala de
grandes realidades da nossa experiência cristã: Je- Culto e sacrifício cristãos (10-17). Alguns enten-
sus, o Mediador; Deus, o Juiz; o sangue da expiaçáo: dem que há no versículo 10 uma alusão á Santa Ceia.
a Igreja; os justos aperfeiçoados. Que significam es- Vemos neste trecho certos pensamentos importantes
tas realidades para o leitor? ligados ao culto cristão - santificação, separação,
opróbrio, esperança (v. 14).
N o versículo 18 da V.B. encontramos o que deve
ser erro tipográfico: " N à o tendes chegado ao fogo A obediência e a submissão ensinadas no versícu-
palpável e incendiado", pois a idéia de um fogo "pal- lo 17 têm o mesmo cabimento hoje como nos tempos
pável" parece por demais estranha. Ficamos imagi- apostólicos. Se tivermos qualquer dúvida a quem de-
nando qual a diferença entre fogo palpável e fogo im- vemos submeter-nos na igreja local, podemos inda-
polpóvcl. Contudo é certo que alguns manuscritos gar quais »áo oa irmãos "que velam por nossas al-
não têm a palavra "monte" - como também nào se mas, como aqueles que hão de dar conta delas".
encontra a palavra " f o g o " . O sentido do trecho ensi- Conclusão e bênção apostólica (18-25). O versícu-
na-nos a suprir a palavra "monte", de acordo com o lo 18 aponta uma condição essencial em quem pede
versículo 22. as orações dos outros.
Avisos e ensinos (25-29). Ê um perigo nào dar ou- Apesar de náo trazer assinatura, a carta tem um
vidos quando Deus fala ( P v 1.24), por isso temos a estilo afetuoso, muito parecido com o de Paulo. As
advertência do versículo 25. O versículo 28 aponta o palavras de exortaçào (v. 22). como em todas as epís-
espírito em que o crente pode servir a Deus de modo tolas paulinas. encontram-se no fim da carta.

476
Tiago

iago (Mt 4.21) chamado As divisões sáo cinco: 1) A prova da fé (caps. 1 e


"o justo", mencionado 2). 2) A realidade da fé provada pela língua (3.1-18).
por Paulo, junto com 3) Reprovação do mundanismo (4.1-17). 4) Adver-
Ccfas c Joáo. como "co- tências aos ricos (5.1-6). Exortação (5.7-20) - (Sco-
luna'' da igreja cm Je- field).
rusalém (G11.9). Era filho de Alfeu, e primo (ou. se-
gundo o uso»ntre os judeus, " i r m ã o " ) do Senhor Je- A N Á L I S E DE T I A G O
sus. |0 d r . l l r a y entende haver três Tiagos no N . T .
e que esse mamado "irmão do Senhor" náo é o mes- Superscrição (1.1)
mo Tiago, filho de Alfeu]. Parece ter sido. como ho- 1. Passando por provações (1.2-15).
mem religioso, austero, legal, cerimonial (At 21.18- 2. A prática da verdade (1.16-27).
24). 3. O respeito a pessoas (2.1-13).
4. A relação entre obras e fé (2.14-26).
Data. A tradição coloca o martírio de Tiago no 5. O domínio da língua (cap. 3).*
ano 62. A sua epístola náo dá demonstração das
6. Fonte e remédio do mal (4.1-12).
maiores revelações referentes á Igreja e da doutrina
7. Incerteza e disciplina da vida (4.13 a 5.11).
distintiva da graça feita pelo apóstolo Paulo, nem se-
quer das discussões concernentes á relação dos con- Apresentação (5.12-20)
vertidos de entre os gentios para com a lei de Moisés,
que culminaram no primeiro concilio da Igreja ( A t Sobre juramentos (5.12). Sobre oração (5.13-18).
15), que Tiago presidiu. Isto dá a entender que sua Sobre salvação (5.19.20).
epístola foi a primeira carta dirigida aos cristãos.
A M E N S A G E M DE T I A G O
7*iema. Por "as doze tribos que andam dispersas"
devemos entender, nào os israelitas, mas os judeus " N á o há contradição entre Tiago e Paulo; con-
convertidos entre a Dispersão. A igreja começou com templam a mesma coisa de pontos de vista diferen-
eles ( A t 2.5-11). Tiago, que parece náo ter saído de tes. Paulo ocupa-se com a justificação inicia) que
Jerusalém, sentiria uma especial responsabilidade tem lugar quando um homem pela fé aceita Jesus
por essas ovelhas dispersas. Eles ainda freqüenta- Cristo como Salvador; Tiago, com a justificação pro-
vam a sinagoga, ou chamavam suas próprias as- gressiva que tem lugar quando um homem pelas
sembléias por esse nome ( T g 2.2). Parece, por Tiago suas boas obras prova a realidade da sua fé. Com
2.1-8. que ainda usavam o estilo dos tribunais da si- Paulo o terreno da justificação é objetivo - encontra-
nagoga para julgar casos entre eles. A epístola é, «p pm Cristo: rom Tiago p «nhjprivo - pncont.rs-sp no
pois. muito elementar. Supor que Tiago 2.14-26 é próprio homem. O ponto de convergência destes dois
uma polêmica contra a doutrina paulina da justifi- aspectos é que as obras que justificam são obras que
cação pela fé. é absurdo: ainda não tinham sido es- nascem da fé em Cristo" (Campbell).
critas. nem Gálatas nem Romanos.
"Esta epístola tem sido combatida pelo que náo
O tema de Tiago é "religião" (grego "threskeia" diz. Carece mais do que qualquer outra de elementos
- serviço religimo exterior) como a expressão e prova distintivamente cristãos e espirituais. Somente duas
da fé. Ele náo apresenta as obras em contraste com a vezes Tiago emprega a palavra "evangelho". Nem
fé, mas afirma que a fé sempre produz as obras de uma vez ele alude á redençáo, á encamaçáo, á res-
acordo com o que se cré. surreição. ou à ascensão. Os próprios preceitos da

477'
TÍA00

moral sáo ensinados sem as constantes alusões aos para longe. Parecia que fugira para sempre, porém
motivos essencialmente cristáos que nunca faltam tal náo sucedeu. Em seguida voltou, e. muito satis-
nos escritos de Paulo, e que constituem a base de to- feito, acompanhou seu dono, submisso á sua direção.
dos os apelos em Pedro e Joáo. Porém náo foi esse o Uma lei mais forte do que a corrente o prendia agora:
aspecto da verdade que foi dado a Tiago para salien- era a lei da amizade. Náo queria mais afastar-se do
tar; se outros foram incumbidos de falar da doutrina dono que amava.
cristã, Tiago foi incumbido de enfatizar a ética cris-
Dizia, entáo. esse crente que havia em Londres
tá. Ele apresenta essencialmente o ensino dc Cristo,
três classes de cachorros: os cachorros vagabundos,
por isso há pouco ensino referente a C r i s t o "
que tinham liberdade sem lei; os cachorros presos
(Beyschlag).
por corrente, que tinham lei sem liberdade; os ca-
"Tem-se dito que esta carta é baseada no Sermão
chorros presos pelo amor. com a "lei da liberdade".
da Montanha, e. examinando-a com cuidado, verifi-
que podiam, mas náo mais queriam fugir.
camos que. até certo ponto, esse alvitre se justifica"
( Scroggie). Os cristáos que esperam encontrar no Novo Tes-
tamento um novo código de leis e regulamentos, nào
Capitulo 1 têm compreendido a "lei da liberdade" cristã, que
ensina o discípulo sincero a consultar, não um livro
O propósito das provações (1-12). Podemos ob- de regras, mas a vontade de um Salvador amado.
servar que a provação muitas vezes traz proveito, se
não material, ao menos moral. As pessoas provadas Capitulo 2
desenvolvem coragem, paciência, resolução, recurso,
serenidade de espírito, se passam pelas provações A prova do amor fraternal (1-13). O ensino deste
com Deus. Por isso podemos contar a provação como trecho é, evidentemente, que a pessoa digna de nossa
coisa vantajosa (v. 2), sabendo que dela resultará be- estima será quem tiver valor espiritual, e não apenas
nefício espiritual ( w . 3,4). aparência proveniente da roupa ou do dinheiro.
Vemos que o pobre pode ser provado por inespe- Notemos as duas leis referidas aqui: a lei real - de
rada riqueza (v.9), e o rico por pobreza inesperada, amar o próximo como a si mesmo, e (outra vez) a lei
mas "bem-aventurado o homem que suporta a pro- da liberdade.
vação" (v.12).
" H á dois aspectos da tentação ou provação Os "ricos" que Tiago considera aqui são iníquos e
(v 12): esoa que vem pcx sofrimento e a que vem opressores. F e l i z m e n t e n e m todos oa ricos s á o a s s i m ,
por sedução. Assim, a perseguição e os prazeres do alguns há que sabem servir a vontade de Deus com
pecado sáo provações, embora geralmente falamos seu dinheiro.
destes últimos como 'tentação'. Enquanto estiver A prova das boas obras (14-26). Sobre este trecho
fora de nós, a tentação pode ser resistida, mas se en- o dr. Scroggie escreve: "Estes versículos ensinam: 1)
contrar resposta no coração, ai está o pecado. Nesse A inutilidade de uma mera crença (14-17). A única
sentido nosso bendito Senhor não podia ser tentado, espécie de fé que é proveitosa é a praticante (14-16).
pois nada havia nele para responder á sedução. As Mera profissão nào somente é sem proveito, mas
'diversas tentações' do versículo 3. são, sem dúvida, desmoraliza (15-16). A fé do Evangelho é como árvo-
provações de sofrimento, embora a provação possa re que produz fruto. 2) Há a necessidade de a fé ge-
vir de outra maneira" (S. Ridout). nuína demonstrar a sua existência (18,19). A afirma-
A tentação não vem de Deus (13-21) é o ensino ção de ser crente deve poder ser provada (14-18), e
destes versículos. Nem tampouco se afirma, aqui. provada por obras, não palavras. A única demons-
que ela vem do Diabo, mas antes das nossas concu- tração da fé é a sua operação (18). Fé sem fruto não
piscèncias. vale mais que obras mortas. A prova que uma árvore
O versiculo 18 dá-nos um ensino precioso sobre o é frutífera é o fruto que dá. A crença dos demônios é
novo nascimento: a "palavra da verdade", revelando uma ilustração de fé sem fruto (19). Semelhante fé é
Deus ás nossas almas, produz um novo ser espiri- intelectual, nào experimental; teórica, náo prática.
tual. 3) A prova de que a justificação é mediante a fé que
O versiculo 21 merece ser meditado e ponderado. opera (20-26) - primeiro, no caso de Abraão (21-24),
Ensina-nos a rejeitar para podermos receber - como depois, no caso de Raabe (25). Paulo também cita
o lavrador costuma limpar a terra antes de semear - (Rm 4.3) a passagem em Gênesis 15.6 sobre a qual
e depois considera a revelação de Deus como "enxer- Tiago edifica seu argumento no versículo 23, mas
tada" em nós. para que assim haja novidade de vida cada qual a emprega a seu modo. Paulo a contempla
e fruto agradável a Deus. do ponto de vista da promessa. Tiago do ponto de
vista do incidente sobre o monte Moriá. provavel-
A prova da obediência e a prova da religião ver-
mente uns 50 anos mais tarde. Os dois pontos de vis-
dadeira (22-27). Neste trecho encontramos a expres-
ta têm cabimento. A conclusão de todo o argumento
são "a lei da liberdade", uma lei mais santa, mais
é que a fé sem obras é como o corpo sem espirito (26).
poderosa do que qualquer código de regulamentos.
Ê viva e operosa a nossa fé?
Um médico cristão de Londres ilustrou a lei da li-
berdade por uma experiência interessante. Ele rece-
beu de presente um magnífico cão de raça, e costu- Precisamos distinguir entre "obras da fé" e o que
mava. a princípio, levá-lo a passear todas as tardes, o mundo chama "boas obras'r ou esmolas. Obras da
preso por uma corrente. Isto continuou por algumas fé sáo o procedimento que resulta de alguma coisa
semanas, até o cão se acostumar com ele. Então, um que temos visto ou ouvido ou compreendido de Deus.
dia. saíram sem a corrente. Além dos dois exemplos dados neste capitulo, pode-
Logo que o cão se achou na rua. sem a " l e i " da mos achar muitas ilustrações de obras da fé no capi-
corrente para segurá-lo, correu, cora grandes saltos. tulo onze de Hebreus

478'
Twfo

Capitulo 3 Jque| o espirito dentro de nós deseja com ciúmes?


Mas ele dá uma graça maior".
A verdadeira fé dominará a língua (1-12). N o Explica Bullinger que: " A q u i 'pneuma", espírito.
capítulo 1.19 encontramos o resumo do ensino deste é empregada psicologicamente, referindo-se aos mo-
trecho: "Todo homem seja pronto para ouvir, tardio vimentos invisíveis da mente, que são chamados,
para falar ". 'pneuma' por metonímia. em contraste com o corpo,
Podemos achar estranho doze versículos serem que é visível.
dedicados á língua, mas quando refletimos nas con- "Estes movimentos são sempre maus continua-
seqüências das conversas boas e más. havemos de mente. como a Escritura diz. (Veja-se Gênesis 6.5;
concordar que nào é demais. Devemos cuidar de: 1) o 8.21. etc.) Ê isso mesmo que diz o versículo anterior
que falamos; 2) como falamos; 3) o que e de quem fa- (v. 4). que é reforçado aqui por uma referência ao
lamos; 4) quando falamos; 5) quando nos convém ca- testemunho geral do V. T . com respeito à natureza
lar. velha ou homem natural. (Veja-se Mateus 15.13;
É verdade, como diz Tiago, que uma língua des- João 3.6; Romanos 7.18; 8.5.7; 1 Corintios 2.14.
governada é ura "mundo de iniqüidade", mas sabe- etc.)"
mos também que uma conversa sadia, santa, inteli- Uma vida de acordo com a vontade de Deus (13-
gente pode ser de inestimável valor. 17). Este trecho nos mostra que a característica do
Mas quando reprovamos a língua perversa, deve- crente é a submissão à vontade de Deus em todos os
mos sempre lembrar que as palavras apenas revelam detalhes da vida (v. 15). Nenhum plano que deixa de
o que está no coração: "Do que há em abundância no consultar essa vontade pode ter bom êxito.
coração, disso fala a boca " ( M t 12.34). Para que nos- Os pecados de omissão referidos no versículo 17
sa conversa seja boa e proveitosa precisa haver bons merecem ser ponderados. Ao fim do dia. o crente de-
pensamentos e desejos. sejando. na sua oração, confessar a Deus os seus pe-
A sabedoria que vem do alto (13.18). Desta sabe- cados. pode nào recordar ter praticado qualquer
doria cristá podemos aprender muitas coisas, a sa- mal. Contudo é bem possível ter de reconhecer que
ber: nào fez todo o bem possível durante o dia.
a) Seus contrastes: o que náo é - náo é ciência;
nem produto de muitos estudos; nem a prudência do Capitulo 5
amor próprio.
b) Suas origens: resulta da nova natureza espiri- Os ricos censurados (1-6). Não devemos pensar
tual do crente; desenvolve-se pela sua constante co- que esta enérgica apóstrofe dos ricos malvados seja
munhão com Deus; é instruída pelo estudo da Pala- dirigida aos leitores crentes. Pelo contrário, o escri-
vra; vem "do alto" - da preocupação, náo com inte- tor. depois de ocupar-se particularmente com seus
resses e política mundanos, mas com o reino de Deus irmãos oprimidos pelos ricos (2.6). agora, por um
e sua justiça. momento, vira-se para esses opressores, e faz sua de-
c) Suas características: é pura. pacifica, modera- núncia fulminante.
da, tratável, misericordiosa, frutífera, imparcial ( v . " O denominador comum de todos os crimes aqui
17). atribuídos aos ricos é o egoísmo". E esse mesmo
d) Seus valores: torna o crente um bom vizinho; egoísmo é capaz de manifestar-se em alguém que
faz dele uma testemunha da verdade; reprova o pe- nào seja rico!
cado no mundo; ensina o crente a tratar bem os seus Paciência na perspectiva da vinda do Senhor (7-
semelhantes (v. 13). 11). " H á uma dupla necessidade de paciência: a)
Vemos pelo que diz das duas "sabedorias" que quando somos perseguidos pelos ímpios (vv. 7.8). e
podemos entender que representam dois "ensinos": b) quando há diferenças de opinião entre crentes
um terreno, animal e diabólico, e o outro espiritual - (vv. 9-11). Há muitas coisas que devem animar nos-
a saber, o que aprendemos de Deus. sa paciência. Nestes trechos mencionam se os se-
guintes: os processos da natureza (7). a volta do Se-
Capítulo 4 nhor (8). o exemplo dos profetas (10». e a experiência
de Jó (11).
Diversos a visos (1-12). Primeiro, contra conten- Conselhos finais (12-20). Merece nossa especial
das entre irmãos; segundo, contra o mundanismo na atenção o precioso ensino aqui sobre a confissão dos
igreja: terceiro, contra a insubmissão a Deus; quar- pecados. Devido ao escandaloso abuso do confessio-
to, contra a maledicéncia. nário no romanismo. a confissão dos pecados entre os
Podemos estudar: a ) a existência de tais males crentes tem caído em desuso, e o importante ensino
nas igrejas; b ) o seu perigo e prejuízo; c) o seu remé- de Tiago 5.14-16 tem sido negligenciado.
dio; d ) como evitar a sua repetição. E precisamos notar a intima relação entre a con-
Convém notar-se a diferença entre a amizade fissão dos pecados, a oração dos anciãos da igreja, e a
com o mundo, reprovada no versículo 4. e amor para cura do doente.
com o mundo que Cristo revelou (Jo 3.16). Há uns 40 anos, um irmào moço, simpático, inte-
A tradução do versículo 5 é muito incerta. Pode ligente e espiritual caiu doente de uma enfermidade
ser que devamos ler: "Porventura o espirito que em misteriosa que dois médicos não podiam definir nem
nós habita tem ciúmes?" Neste caso o argumento do curar.
apóstolo é que o Espírito Santo de l>eus náo é ciu- Aos domingos os crentes da vizinhança costuma-
mento. por isso. se havia entre seus leitores pessoas vam reunir-se na mesma casa onde o moço jazia
ciumentas e cobiçosas (v. 2), não tinham aprendido doente, e perguntei-lhe se nào sentia o desejo de cha-
estas coisas com Deus. mar os irmàos mais velhos para orarem sobre ele?
Mas Bullinger dá um sentido inteiramente dife- Respondeu que sim. e, antes de orarmos, li esta es-
rente: "Cuidais vós que a Escritura fala em vão critura, que tão intimamente liga a cura do corpo

479'
Tiago

com a confissão do pecado. Perguntei-lhe se não se Alguns tém procurado evitar o claro ensino desta
lembrava de algum pecado que devia confessar? escritura, dizendo que, no caso de ter ofendido nos-
so irmão, devemos confessar o pecado a ele. Mas
Ele respondeu que tinha muitos pecados, mas
(embora isso seja a verdade) <• trecho não diz palavra
não se lembrava de qualquer que devia confessar
alguma desse irmão ofendido, e nào convém acres-
nesse momento. Oramos todos, mas sem poder e sem
centar a Escritura alguma coisa que ela não contém.
resultado.
Devemos atender ao importante ensino sobre a
No domingo seguinte repetiu-se o mesmo pmces salvação no versículo '20. A explicação de F. W
so. as mesmas perguntas, as mesmas preces e a mes- Grant é a seguinte: " E a restauração de um crente
ma falta de resultado. E a enfermidade misteriosa desviado que se contempla aqui. A palavra 'conver-
aumentava. Na terça-feira seguinte o moço chamou ter* naturalmente faz-nos pensar na conversão de
nos, pela manhã cedo. e confessou um pecado bas- um descrente, mas o Senhor falou da "conversão" de
tante grave. Disse-nos que se tinha arrependido mui- Pedro quando este se tinha desviado da verdade. Na
to e tinha confessado seu pecado a Deus. mas agora linguagem de Tiago, se náo na de Hebreus também,
sentia que isso não era suficiente; que devia confes- um homem convertido pode ser ainda pecador. Em
sar sua culpa aos irmãos. Oramos então com mais Corinto muitos estavam fracos e doentes, e muitos
confiança, e o doente melhorou lentamente e viveu dormiam (na morte) por causa dos seus pecados.
mais alguns anos. dando sempre um bom testemu- Deste modo cobre-se uma multidão de pecados, não
nho cristão. somente pelo amor que individualmente cobre peca-
dos, como lemos em outro lugar, mas pelo trabalho
Devemos confessar os nossos pecados a Deus. desse amor na restauração de uma alma. que é a ma-
mas nào nos esqueçamos do importante ensino: neira acertada. r»o governo de Deus, para se cobrir
"Confessai ns imttsns pecados un» aos ou Ir uma multidão de pecados".

480'
1 (Pedro

sta carta foi escrita por C A R Á T E R E C O N T E Ú D O DA EPÍSTOI-A


Pedro perto do fim da sua
vida. provavelmente em "Esta epístola é analisada por Leighton nos se-
60 d.C.. enquanto ele visi- guinti termos: Ê um esboço muito claro, ainda que
tava Babilônia (5.13). resumido, das consolações e instruções necessárias
onde tin iido estabelecida uma igreja cristã (al- para animar e dirigir um cristão no caminho do Céu,
puns teólo entendem que a palavra "Babilônia" elevando seus pensamentos e desejos no tocante à fe-
se refere Roma). E dirigida principalmente aos licidade espiritual, e dando-lhe forças para vencer os
cristãos breus (1.1). mas inclui também converti- obstáculos provenientes da corrução interior e das
dos entre Vis gentios (2 9.10) - (Iwe) tentações e aflições exteriores. Sáo muitos os pontos
Tema. A epístola apresenta todas as verdades de doutrina que a epístola encerra, mas os princi-
fundamentais da fé cristã, com ênfase especial sobre pais, em que há mais insistência, sáo estes três: fé,
a Exoiaçào. A nota distintiva de 1 Pedro é a prepara- obediência, e paciência, para firmeza da crença,
ção para a vitória sobre o sofrimento. Essa palavra para direção na vida. e para conforto no sofrimento.
ocorre 15 vezes, e é a chave da Epístola. E. para maior impressão na alma daqueles a quem
escreve, é muitas vezes posto diante dos seus olhos o
Divisões. 1) Sofrimento do crente, em vista da
incomparável exemplo do divino Mestre e a grande-
plena salvação, capitulo 1 a capitulo 2.8. 2) A vida
za das suas promessas, para que o sigamos" (Angus).
cristã, em vista da setupla posição do crente, e do so-
frimento vicário de Cristo (2.9 a 4,19). 3) Serviço
Capítulo I
cristão, à luz da vinda do Sumo Pastor <5.1-14) -
(Scofield). Prefácio e saudação (1,2). Aprendemos deste tre-
cho: que a eleição de Deus tem relação com a sua
A N Á L I S E DE PRIMEIRA PEDRO presciência; que a presença do Espirito Santo tem
uma influência santificadora na vida do crente: que
Introdução (1.1.2). a eleição divina é para "a obediência"; que "o san-
1. A vocação do cristão (1.3 a 2.10. Salvação). gue de Jesus Cristo" significa muito para o crente no
1.1. A doutrina (1.3-12). Evangelho: "graça e paz " de Deus podem ser desfru-
1.2. O dever (1.13-25). tadas em medida crescente ("multiplicadas") na
1.3 O desígnio (2.1-10). nossa experiência cristã, E deveras um prefácio
2. A» obrigações do cnstào (2.11 a 3.12, Sujeição). cheio de sentido e ensino precioso!
A palavra inicial (2.11,12, Pessoal). Os "estrangeiros dispersos " do versículo 1 sáo os
2.1. Sujeição política (2.13-17). judeus (convertidos ao Evangelho) espalhados por
2.2. Sujeição social (2.18-25). diversos países em redor da Palestina.
2.3. Sujeição conjugai (3.1-7). Ação de graças pela esperança da salvação (3-
A palavra final (3.8-12, Relativa). 12). Pedro nào escreve da Igreja mas do cristão
3. A disciplina do cristão (3.13 a 5.11). (4.16). Notemos algumas das lições deste trecho:
3.1. Disciplina no mundo (3.13 a 4.6). a) A ressurreição de Cristo importava para Pedro
3.2. Disciplina na igreja (4.7 a 5.7). e os demais apóstolos quase num renascimento de
3.3. Disciplina nos lugares celestiais (5.8-11). nova esperança, e nisso Pedro reconhece a misericór-
Conclusão (5.12-14). dia de Deus (v. 3).

481'
I 'Pedro

b) Deus guarda nos céus uma herança incorruptí- N o versículo 5 os crentes reunidos constituem
vel para o crente, e guarda na terra o crente para "sacerdócio santo" para oferecerem sacrifícios espi-
essa herança ( w . 4,5). rituais; no versículo 9 são "sacerdócio real" para
c) Nossa fé pode contar confiada mente que sere- anunciarem ao mundo as virtudes de seu Salvador.
mos assim guardados. Que estes dois serviços nos ocupem mais e mais!
d) A plenitude da salvação de Deus será revelada Comportamento cristão (11-17). Algumas das li-
somente no porvir (v. 5). ções deste trecho sáo: A carnalidade combate a espi
e) A alegria espiritual pode sobrepujar a tristeza ritualidade. O nosso andar irrepreensível será o nos-
natural (v. 6). so mais importante testemunho entre os vizinhos.
D Nossa fé há de ser provada, e essa prova é pre- Nossa submissão às autoridades dev e ser "por amor
ciosa a Deus. do Senhor". Fazendo o bem, podemos tapar a boca
g) O dia da revelação de Jesus Cristo será um dia dos homens loucos. O crente deve "honrar" o rei (ou
de glória para o crente (v. 7). As demais lições do tre- chefe do pais) devido à posição de responsabilidade
cho, o leitor poderá descobrir por si. que ocupa, ainda que encontre dificuldade em res-
Notemos no versículo 9 (e em Tiago 5.20) a ex- peitá-lo pelo seu proceder.
pressão tantas vezes usada na teologia e tão rara- Os deveres dos servos cristãos (18-25). O crente
mente na Bíblia: "a salvação da alma". que é empregado deve fazer questão de ser bom em-
Bullinger traduz o versículo 7: "Para que vossa pregado. e o que é patrão deve ser bom patrão. Aqui.
bem provada fé, muito mais preciosa do que o ouro mais uma vez, o exemplo do Senhor Jesus nos ajuda,
que perece e é provado pelo fogo, se ache em lou- e. de passagem, aprendemos: que seu sofrimento foi
vor... " por nós; que Ele é nosso exemplo; que Ele levou nos-
Exortação a santidade (13-25). Notemos neste sos pecados, e é o Pastor e Superintendente das nos-
trecho certas expressões: a) "Cingindo os lombos do sas almas.
vosso entendimento" (v. 13). Os homens dos países
orientais usavam camisas compridas, que desciam Capítulo 3
até os joelhos. Quando trabalhavam no campo, arre-
gaçavam a camisa e prendiam-na com a cinta, de Marido e esposa (1-7). Todas as relações da vida
forma que lhes ficassem todos os movimentos livres são santificadas e enobrecidas pelo cristianismo. Es-
para correrem, saltarem ou fazerem qualquer outro pecialmente no matrimônio é preciso haver o temor
exercício ativo. Encontramos aqui a mesma figura de Deus para que haja felicidade. Sobre este trecho o
aplicada á mente: "cingiros lombos do entendimen- dr. Scrttggie escreve: "Considera-se primeiro o caso
t o " importa ficar intelectualmente pronto para qual da esposa (1-6). Quais são as características da espo-
quer açáo; alerta; apercebido; disposto, b) "Resgata- sa ideal? N o coração será mansa (v. 4). casta (v. 2), e
dos da vossa vã maneira de viver" (v_ 18). Notemos tranqüila (v. 6).
como é diferente esta maneira de referir-se à salva- "Castidade é a formosura da pureza. A mansidão
ção de Deus. da idéia geral da salvação como simples da mulher crente toma-a altruísta, sossegada e es-
bilhete de entrada ao Céu sencialmente modesta (consulte-se o versículo 3). A
Notemos também o que o versículo 23 diz sobre o tranqüilidade desta esposa, 'não temendo nenhum
novo nascimento - que é pela Palavra de Deus, as- espanto', provém dum coração calmo e confiante.
sim concordando com Tiago 1.18. Às vezes, como "Semelhante esposa será sujeita a seu próprio
aqui. a Palavra é tão identificada com Cristo que é marido ( w . 1-5).
difícil fazer distinção. "Quanto ao marido (v. 7) ele será razoável ('com
entendimento') e também lhe terá respeito ('dando
Capítulo 2 honra à mulher'). Se um homem não respeita sua es-
posa náo será razoável para com ela. Dois erros de-
Progresso cristão (1-10). Este trecho apresenta o vem ser evitados: de um lado. o da servilidade na es-
progresso cristão do ponto de vista individual e cole- posa e da prepotência no marido; e, do outro, a falta
tivo. O primeiro como crescimento (v. 2), o outro de submissão por parte da esposa e a falta de autori-
como construção (v. 5). Num caso temos a figura do dade por parte do marido. O primeiro é um erro anti-
corpo; no outro, de uma casa. Um se refere ao crente; go; o segundo, é moderno".
o outro á Igreja (Scroggie). A frase no versículo 4 "o homem escrmdido no co-
Notemos a ordem: "deixar" primeiro, e depois ração" nem sempre se entende bem. Devemos ler
"desejar". A expressão "leite racional" quer dizer " d o " e não " n o " . Refere-se ao nosso "homem inte-
"alimento para nossa inteligência espiritual". rior". que deve ser o alvo de mais carinho no seu
A expressão "chegando-vos para Ele" (v. 4) me- adorno, e que perante Deus é de maior importância
rece ser ponderada. Será o que temos feito? Alguns do que o homem exterior.
se chegam para um pregador eloqüente, outros para Amor fraternal, e paciência na aflição (8-22). No-
uma doutrina predileta, ou um rito mais correto, ou- temos algumas características do crente exemplar: é
tros para um método de governo na igreja. Seria bom entusiasmado pelo bem (v. 13); é corajoso, e, apesar
se pudéssemos dizer que é "para Ele" que temos che- do sofrimento, regozija-se (v. 14); está sempre pron-
gado - que é Cristo que atrai nossa alma, que Ele e* to para testificar da sua fé em Cristo (v. 15); cultiva
sua Palavra são o centro da nossa congregaçáo. uma boa consciência.
Temos ensino precioso no versículo 5 sobre o sa- O versículo 8: "Sede todos do mesmo sentimen-
cerdócio cristão, composto de todos os "eleitos de to". faz-nos lembrar que, embora haja diferenças de
Deus" e nào apenas de um clero humanamente orde- pensamento na família cristã, devido às diferenças
nado. O serviço deste sacerdote é "oferecer sacrifí- de inteligência, deve haver em todos o mesmo senti-
cios espirituais" que Hebreus 13.15 explica serem mento, o mesmo amor para com o Salvador, pois isso
"sacrifícios de louvor". nào depende de inteligência mas do coração.

482
I Jeén
Nos versículos 18-21 lemos que "Cristo pade- mortos sáo os falecidos que. em vida. ouviram a pre
ceu . para levar-nos a Deus' e. no versículo 18 do gaçáo do Evangelho referente a uma arca de salva-
capitulo anterior, para "resgatar-nos da nossa vã ção
maneira de viver Os dois versículos dão-nos uma Nos versículos 10,11 temos precioso ensino sobre
idéia muito completa da salvação de Deus. N o pri- o ministério da igreja: quem recebeu um dom de
meiro aspecto, ela "livra-nos" e no segundo, "leva- Deus para edificação da igreja deve ministrar a pala-
nos". vra ramo repartindo as bênçãos de Deus; e quem fala
No versiculo 19 temos uma alusão aos "espíritos publicamente deve falar de conformidade com o sen-
em prisão" que tem sido assunto de estudo por parte tido das Escrituras. O ensino é dirigido a "cada u m "
dos teólogos Aqui darei apenu*- as minhas conclu- entre os crentes que tém recebido verdades edifican-
sões: que os "espíritos" nào foram de homens faleci- tes: ele deve pensar que as preciosidades que goza
dos. mas de anjos caídos, e que a "pregação" não foi não são para si somente, mas também para seus ir-
uma evangelizaçào. mas a proclamação da vitória de mãos.
Cristo sobre todas as forças do mal. A prtwação pode ser uma hênçáo (12-19) Alguns
E interessante no versiculo 21. pela única vez no entendem que o versículo 17 se refere a destruição do
N . T . . ver juntos salvação e batismo. Queremos en- templo em Jerusalém, que se deu cerca de dez anos
tender em que sentido o batismo "salva'" 7 mais tarde.
No versiculo 18 a frase "dificilmente se salva"
Certamente o batismo nào salva do Inferno, pois náo se refere à salvaçào eterna, mas á salvação do
é o sangue de Cristo e nào a água do batismo que pu- mal que nos rodeia, e talvez à salvação da pequena
rifica do pecado, e o apóstolo explica que náo é o rito igreja em Jerusalém, logo antes da destruição dessa
em si que salva, embora lave materialmente "a cidade.
imundícia da carne", porém é quando a boa cons-
Alguns podem estranhar a expressão "ao 'fiel'
ciência do crente está de acordo com a significação
Criaditr" no versiculo 19. Fiel a quem? Somente a
de seu batismo que ele está. praticamente, salvo das
Ele mesmo! A frase ensina-nos: que Deus será eter-
vaidades do mundo, após as quais correm aqueles
namente coerente com o seu próprio ser: que suas
que nào se sentem identificados com o Pai. o Filho e
ações estaráo sempre de acordo com a sua natureza
o Espirito Santo por um sagrado rito de iniciação.
que é amor.
Capitulo 4 Capítulo 5

Novidade de vida (1-11). No incidente da mulher Os deveres dos anciãos, dos mancebos e de todos
adúltera em .João 8 Jesus disse: "Aquele que entre (1-9). Sabemos de Joào 8.9 e Atos 2.17 que a palavra
vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra "presbitero" às vezes se refere simplesmente a um
contra ela" homem de idade que náo seja oficialmente ancião da
Havemos de entender, dai, que nunca devemos igreja. Este sentido torna-se mais evidente quando a
reprovar o mal nos outros por náo estar nenhum de palavra "ancião" vem contrastada com a palavra
nós "sem pecado'"' Se assim fosse não podia haver "mancebo". Aqui no versiculo 1 podemos entende-la
governo, disciplina ou justiça no mundo. em qualquer dos sentidos. Apesar de náo serem os
V amos examinar o que significa a frase "sem pe- anciãos aqui chamados pastores, ao menos eles de-
cado". O versículo 1 de nosso capitulo nos ajudará: vem prestar serviços análogos, apascentando o reba-
"Aquele que padeceu na carne, já cessou do peca- nho, e isso com esperança de galardão quando apare-
do". ou ao menos do pecado que causou seu sofri- cer o Sumo Pastor (v. 4).
mento. E evidente, pelo ensino deste trecho, que a vida
Quem se embriagou, e acordou no dia seguinte cristà é de provações, porém é vida em que podemos
com dor de cabeça, não quer beber mais. pelo menos experimentar o apoio divino.
enquanto a dor continua. Saudações finais (10-14). Os versículos 10,11 con-
Mas o crente pode armar-se com este pensamen- templam a vitória final da carreira cristã. Podemos
to. e sofrer no seu espirito pela ui gestão do pecado, acreditar que as provações atuais porão em realce a
em vez de sofrer no seu corpo pela comissão do {seca- eterna glória do porvir.
do. Chegamos, por isso, à conclusão de que o único Dois companheiros de Paulo. Silvano e Timóteo,
que está em condições de julgar o pecado é aquele aparecem na saudação final. E difícil acreditar-se
que sofre no seu pensamento quando precisa ocupar- que os dois estivessem com Pedro na remota cidade
se com o pecado. da Babilônia, que fora completamente ( ? ) desman-
O versiculo 6 sobre "o Evangelho pregado aos telada e destruída por Seleuco Nicator 300 anos an-
mortos " é muito discutido. Basta dar aqui um resu- tes. E isso que leva alguns a entenderem que Pedro
mo da melhor explicação. A pregação é "evangeliza- escreveu de Roma. chamando-a de "Babilônia".
çào" - náo apenas "anúncio" como em 3.19. e os

483
2 tPedro

egunda Pedro e Segunda Ti- 3.2 A verdade da vinda atestada (5-10).


móteo tém muito em co- 3.3. A verdade da vinda aplicada (ll-18a).
mum. Em ambas, os escrito- Doxologia (18b) - (Scroggie)
res sabem que o martírio se
aproxima (2 T m 4.6; 2 Pe D E S T I N O E FIM DA EPÍSTOLA
21.18.19); ambos mostram coragem e
a apostasia na sua última A Epístola é dirigida a todos os crentes < 1.1), e es-
sido desviados da fé (2 T m pecialmente às mesmas pessoas a quem foi mandada
Pedro atribui a origem da apostasia aos a primeira (3.1). Foi escrita pouco antes do martírio
falso* (2 Pe 2.1-3. 15-19). Em Judas do apóstolo (1.14), circunstância esta que lhe dá um
fases da apostasia Entretanto em ar solene.
r pessi- Na primeira epístola Pedro exorta os crentes a
mismo. Deus e suas promessas ainda são o recurso que sejam pacientes nos sofrimentos, mas nesta re-
do crente." comenda-lhes perseverança na verdade, para que
nào caiam nos erros e infidelidade daqueles tempos.
Data: Provavelmente 66 d.C.
E o melhor preservativo para isso é, como lhes diz.
As divisões são: 1) As grandes virtudes cristãs uma piedade progressiva (1.3-11). Além disso, eles
(1.1-14). 2) As Escrituras exaltadas (1.15-21). 3) Avi- encontrarão uma prova clara da verdade das Escri-
sos acerca dos ensinadores apóstatas (2.1-22). 4) A turas no cumprimento das profecias e no testemu-
segunda vinda de Cristo e o dia de Jeová (3.1-18) - nho irrefragável dos santos de Deus (1.12-21). Em
(Scofield). termos muito enérgicos e terríveis, ele avisa os falsos
mestres, e os que pnncipiavam a atendê-los, a res-
A N A L I S E DE 2 PEDRO peito de sua culpa e perigosa propaganda (2.1-22);
assegurando-lhes que a segunda vinda do Senhor,
Introdução (1.1). embora pareça estar com grande demora, e na maior
1. O conhecimento de Deus. e o crescimento do cris- clemência de Deus. é tão certa como o Dilúvio (3.1-
tão (1.2-21). 13). Em seguida apresenta o lado brilhante da mes-
1.1. Nossa provisão ampla (2-4). ma verdade, e aconselha os cristãos a que sejam dili-
1.2. Nosso progresso atual (5-11). gentes e santos (3.14-18) Apelando para os ensina-
1.3. Nosso penhor permanente (12-21). mentos de Paulo, como confirmação das suas idéias,
2. O conhecimento de Deus. e o perigo do cristão nota-se que eles tinham sido torcidos por certos ho-
(2.1-22). mens com o fim de justificarem as mais perniciosas
2.1. Falsos ensinadores: sua doutrina definida (1- práticas, mas isso havia de ser remediado pelo co-
3a) nhecimento das Escrituras, devendo existir sempre
2.2. Falsos ensinadores; sua destruiçáo declarada nos crentes uma boa disposição para aprender, com
(3b-9). espírito de humildade (3.15,16) - (Angus).
2.3. Falsos ensinadores; seus feitos descritos (10-
22). Capítulo 1
3. (J conhecimento de Deus. e a esperança do cristão
(3.1-18a). A necessidade da diligência (1-11). Este trecho
3.1. A verdade da vinda atacada (1-4). pode ser dividido assim: a) o apelo à diligência (1-4);

485'
2 Jedn

b) o resultado da diligência (5-7); c ) as razões pela está dentro da igreja, manilesta-se entre os ensina-
diligência (8-11). dores, resulta em dissolução e em difamação das ver-
O trecho contém um exemplo de aritmética espi- dades do Evangelho (v. 2), revela avareza, fingimen-
ritual - um exercício de somar (5-7). Não é suficiente to. insubmissào ao Senhor (v. 1).
o cristão ter crença; ele precisa ter caráter também. Onde largamente a iniqüidade opera. Deus é ca-
Visto que está rodeado de perigos espirituais, ele paz de cuidar dos fiéis e piedosos (v. 9), cuja fideli-
precisa acrescentar a sua fé a virtude ou coragem, dade se tornará mais evidente no meio da apostasia
faltando a qual o cristão poderá fracassar. geral.
Mas nào basta ao crente ser corajoso: ele deve ser O versículo 9, ao fim. deve ser "submetendo-os a
instruído (pelas Escrituras) também, por isso preci- castigo disciplinar".
sa acrescentar á virtude a ciência Os versículos 10-16 continuam a descrição dos
Ademais, sua vida espiritual deve ser isenta de ensinadores perversos, atribuindo-lhes carnalidade.
exageros, e idéias ou costumes fantásticos, por isso imundicia e corrução Mas o apóstolo diz que os
ele acrescenta à sua ciência a temperança. tais receberão o "galardão da injustiça" (v. 13). Sáo
Mas as provações continuarão, e durante 06 anos comparáveis ao falso profeta Balaáo.
o crente necessitará de paciência ou fortaleza: um Nos versículos 17-22 lemos, nào somente dos fal-
espirito persistente. E a i n d a m a i s . c o n v é m lho a pie- sos ensinadores. mas também dos que são dosenca-
dade que em todas as ocasiões consulta a vontade de minhados por eles (v. 18). Neste trecho aprendemos a
Deus. Isto, quanto às suas relações com Deus; e com solene verdade que o cristáo professo mas nào renas-
respeito aos companheiros crentes, ele necessitará de cido é comparável a uma "porca lavada " (mas náo a
amor fraternal (filadélfia), e deve acrescentar ao uma ovelha de Cristo), purificado apenas exterior-
amor fraternal aquele amor, "agape", que deseja o mente. e disposto a voltar na primeira ocasião opor-
bem de todos. tuna "ao espojadouro de lama" (v. 22).
O versículo 11 merece ser meditado com oração,
bastantes vezes. Todo verdadeiro crente espera ter Capitulo 3
entrada no "reino eterrut", mas terá uma entrada
"ampla "? Terá sim, mas somente no caso de ter feito
O dr. Scroggie divide este capitulo assim: a) A
a " s o m a " dos versículos 5-7.
verdade da segunda vinda atacada (1-4). b) A verda-
Em que sentido é o crente "participante da natu- de da segunda vinda atestada (5-10). c) A verdade
reza divina " (v. 4)? Podemos dizer que a natureza de da segunda vinda aplicada (11-18).
qualquer ser é m u m a du> seu» guetos e desicotUn. Os profetas falaram; Cristo falou; como pode o
Assim a natureza de um peixe é gostar da água e náo crente esquecer-se?
do calor, a natureza do pássaro é gostar de voar e nào
Estranhamos a expressão "os vossos apóstolos"
de correr; a natureza humana gosta deste mundo e
no versículo 2, mas se encontra em quase todas as
tudo que ele contém, e nào gosta de pensar em deixá-
traduções. Figueiredo traduz: "Que ele vos deu pelos
lo ao morrer. A natureza de Deus é gostar da santi-
seus apóstolos", que é um pouco mais compreensí-
dade. da pureza de Cristo, e nào do pecado. Assim
vel.
cada um pode verificar até que ponto é participante
da natureza divina. O fim do versículo 5 pode ser traduzido: "Uma
terra havendo sua subsistência fora da água e dentro
Uma recordação do monte da transfiguração (12-
da água".
21). E importante ver o apóstolo Pedro, depois de
longos anos. ainda preocupado com essa inolvidável O "dia do Senhor " no versículo 10 não é o arreba-
experiência no monte (v. 18). tamento da Igreja, mas. provavelmente, a vinda glo-
riosa de Cristo para terminar a Grande Tribulaçào e
O versículo 20 tem sido exposto de várias manei-
inaugurar o Milênio.
ras. algumas delas, um tanto fantásticas. O dr. Grey
acha preferível traduzir a palavra "epilusis" origem Há alguns motivos para aceitar a tradução da
em vez de interpretação, e então o sentido está expli- V.B. do versículo 10: "A terra e as obras que nela há
cado pelo versículo 21. Nenhuma profecia do Velho serão descobertas" (Prophecy Monthly, vol. xv. n° 6.
Testamento originou-se do profeta, mas da inspira- p 13), mas isto é desaprovado positivamente por
ção divina. Burgon (R. R. 355).
F. W.Grant traduz "a sua própria interpretação" Nos versículos 11-18, o apóstolo aplica a verdade
em vez de "particular". Isto é. que a profecia deve da segunda vinda de Cristo à vida prática do crente.
ser entendida de acordo com o sentido de toda a Es- Dos versículos 15,16 aprendemos: que Pedro co-
critura. nhecia todas as Epístolas de Paulo; e que tinha ver-
dadeiro afeto pelo apóstolo; que não entendia tudo
Capitulo 2 que Paulo escrevera; que sabia de várias más inter-
pretações das Cartas, que contava Paulo entre os
Nos versículos 1-9 notamos: que o apóstolo, ha- que ensinavam as mesmas verdades (Scroggie).
vendo falado dos profetas verdadeiros (1.19), agora Podemos atender ao aviso no versículo 17 e à
fala dos falsos. Vemos que a iniqüidade referida aqui exortação no versículo 18.

486
1 João
p — — —

st a é uma carta familiar C A R Á T E R E D E S T I N O DA E P Í S T O L A


de um pai aos seus filhi-
nhos que estão no mundo. Esta parte do Novo Testamento, embora chama-
É um dos mais íntimos li- da epístola, podia mais justamente denominar-se
vros inspirados. O mundo uma dissertação sobre as doutrinas do cristianismo
é considerado uma coisa e os deveres dos cristãos. Parece ter sido dirigida aos
exterior, pecado do r rente é comparado à ofensa crentes em gerai, e especialmente aos gentios e aos
de uma nça contra seu pai, e é tratado como as- residentes na Ásia Menor, entre os quais João tinha
sunto d a mil ia (1.9; 2.1). O governo moral do uni- trabalhado (2.7. 12-14, 20-27). O escritor náo julgou
verso n é discutido. O pecado desse filho como necessário indicar o seu nome como autor, mas a no-
ofensa I^ei foi resolvido pela Cruz, e "Jesus Cristo, tável semelhança, tanto na matéria como nas ex-
o justo é agora o seu advogado para com o Pai. O pressões, que se observa entre esta epístola e os ou-
Evangelho de Joáo nos conduz para dentro da Casa tros escritos de Joáo, confirma o testemunho dos
do Pai; sua primeira epístola faz com que nos sinta- cristãos da igreja primitiva, sendo isso uma prova
mos á vontade ali. Uma palavra terna se emprega satisfatória de que o mesmo apóstolo a escreveu. Ela
para "filhos", "teknia", criancinhas. Paulo ocupa-se foi certamente escrita por uma pessoa que viu Jesus
com nossa posição pública de filhos; João com nossa e observou as suas obras (1.1-4 e 4.14). Ê suposição
proximidade como crianças na família do Pai (Sco- geral que foi mandada de Êfeso, mas náo se sabe a
field). data precisa; é muito provável que seja dos fins do
século primeiro, tendo em atenção os erro» que ai sáo
Escritor. O apóstolo João, segundo toda a tradi-
condenados. Euald sugere o ano 90 e o Prof. Ramsay
ção. e confirmada pelas provas internas e pela com-
entre 90 c 100 (Angus).
paração com o Evangelho de João.
Data: Provavelmente 90 d.C.
Capítulo 1

A N Á L I S E DE 1 JOÁO .4 encamação toma possível a comunhão com o


Pai e o Filho (1-4). O dr. Scroggie diz desta epístola:
Introdução (1.1-4). "Ela trata do cristão, não da igreja. As notas predo-
1 A aproximação do cristão a Deus. que é Luz (1.5c minantes sáo vida. luz e amor Entre a introdução
2.29). (1.1-4) e a conclusão (5.21), podemos discernir trés
1.1. Condições para se andar na Luz (1.5 e 2.11). partes: o progresso do cristão na luz divina (1.5 a
1.2. Impedimentos de andar na Luz (2.12-29). 2.29): a atitude do cristão perante o amor divino (3.1
2 .4 atitude do cristão em Deus. que é Amor (3.1 a a 4/21); a afinidade do cristão com a vida divina (5.1-
4.21). •20)".
2.1. Para com o mal que nega o amor (3.1 a 4.6).
2.2. Para com o amor que contraria o mal (4.7-21). Notemos a semelhança entre o começo desta
3. A afinidade do cristão com Deus. que é Vida (5.1- epístola e o do evangelho de João. Em ambos Cristo
20). é a Palavra: a expressão. No evangelho Ele expressa
3.1. A possessão da vida eterna (1-12). o que Cristo é - é a Palavra de Deus; na epístola Ele
3.2. O conhecimento da vida eterna (13-20). expressa o que a vida é - é a Palavra da vida. Se que-
Conclusão (21) - (Scroggie). remos saber o que significa a "vida eterna'7 podemos

487'
1 Joic

vé-la revelada em Cristo. Em resumo podemos dizer ele e seu Salvador que nào precisa de que ninguém o
que é uma vida de intimidade com o Pai. ensine. O bom filho não precisa que ninguém lhe en-
As condições para a comunhão com Deus (5-10); sina a amar seus pais: ele tem alguma coisa lá dentro
a) um andar na luz; b) a admissão que o pecado exis- que o ensina.
te em nós; c) o pecado confessado, perdoado e purifi- Notemos no versículo 28 a significante frase:
cado. "quando ele se manifestar", que é repetida em 3.2. O
«£ste pequeno capítulo fala muito de comunhnn dia da manifestação gloriosa de Cristo será também
A palavra significa "comum interesse", e podemos o dia da manifestação dos remidos, como, evidente-
meditar sobre todos os interesses que temos em co- mente. filhos de Deus (3.2). Hoje o exterior aspecto
mum com o Pai e o Filho. Nessa lista podemos in- i deles é muito semelhante ao dos descrentes.
cluir um comum interesse em promover a santidade,
em servir a raça humana, em estabelecer o reino de Capitulo 3
Deus no mundo, em divulgar a luz do Evangelho,
etc. Como podem os filhinhos conhecer uns aos outros
"Se dissermos que estamos sem pecado, engana• (1-10). Segundo 2.29. é pela prática da justiça (pa-
mo-nos" (v. 8). O crente no seu primeiro amor, pode gando pontualmente as suas dividas?) e, segundo
pensar que não mais existe nele essa tendência para 3.3, porque se purificam.
insubmissão à vontade divina que se chama "peca- N o versículo 4 a palavra "anomia" geralmente
do", mas o apóstolo explica que tal pensamento é en- traduzida iniqüidade significa mais exatamente in-
gano: a tendência ainda existe, mas os pecados (os sujeição. E todo pecado tem este mesmo caráter, a
frutos dessa má árvore, o pecado) podem ser purifi- saber, "insujeiçáo" á vontade de Deus.
cados, perdoados, e também evitados. Lemos no versículo 9 que "qualquer que é nasci-
do de Deus não pratica pecado", isto é. ele não é in-
Capítulo 2 submisso à vontade de Deus mas procura em tudo
conformar-se a ela. O nào renascido nào mostra esta
A comunhão com Deus mantida pela advocacia sujeição.
de Cristo (1-2). A palavra traduzida aqui "Advoga- F. W. Grant comenta as palavras "a sua semente
do " é a mesma traduzida "Consolador" em João permanece nele" assim: " A semente divina é a Pala-
14.16. O sentido é parecido com "Protetor" no uso vra pela qual o crente foi feito participante da natu-
brasileiro. "Advocacia é a obra do Senhor Jesus Cris- reza divina. Cada semente só pode produzir sua pró-
to em prol do crente que peca. que Ele executa junto pria espécie, conforme a pergunta de Tiago: 'Pode a
ao Pai. e pela qual, devido á eterna eficácia do seu figueira produzir azeitonas ou a videira figosf' O
sacrifício, Ele restaura o crente à comunhão" (Sco- cristão é caracterizado por aquilo que é de Cristo, e
field). somente por isso. Como veremos, o apóstolo fala
.4 prova da comunhão: obediência e amor (3-14). sempre daquilo que é característico. Reconhece
Somente pela obediência podemos conhecer a Cristo como resultante da nova natureza que alguma coisa
(3.4), amar a Cristo (5), e permanecer em Cristo (6). que náo fosse digna de Cristo seria desonrá-lo. Com
Devemos compreender que os mandamentos de outro apóstolo já aprendemos a considerar como ver-
Deus náo são imposições arbitrárias, mas as condi- dadeiramente não nos pertencendo aquilo que ainda
ções necessárias para termos vida, paz e poder. em nós houver do velho homem. Ora. a fé que assim
nos identifica com o que é de Deus é. evidentemente,
Notemos as três classes: crianças, moços e pais -
um principio santo que desconhece a incoerência..."
evidentemente em sentido espiritual, pois náo se re-
fere á idade das pessoas. Das crianças - filhinho» - Como os filhinhos devem conviver (11-24). Ve-
lemos duas coisas: seus pecados sáo perdoados e eles mos que a convivência da família cristã é caracteri-
conhecem o Pai. Dos pais. repete-se a mesma verda zada pelo amor fraternal. " A palavra 'amar' empre-
de: "Conhecestes aquele que é desde o principio". É gada aqui. é 'agapao', e deve ser distinguida de 'phi-
uma característica do crente mais maduro, que ele leo'; a primeira significa amor motivado por um
>u» ocupa mais com Cristo do que com verdades, pro- princípio fundamental: a secunda, a emoção de uma
fecias. ritos, bênçãos espirituais, etc. afeição natural. Este 'phileo' nem sempre podemos
O mundo e tudo que nele há (15-17). O apóstolo sentir para com nossos irmãos na fé; mas o 'agape'
resume tudo que há no mundo em três concupiscên- devemos sempre devotar-lhes" (Scroggie).
cias. e o cristão deve reprovar (e náo amar) tais coi- Os versículos 20.21 consideram o caso de um
sas ruins. £ verdade que há também no mundo coi- crente condenado por seu coração (não por sua cons-
sas aproveitáveis, como altruísmo, abnegação, amor ciência), talvez por ter faltado com o próprio amor
puro, dever, etc. mas o apóstolo não está pensando para com algum irmão. E o que sempre acontece.
nelas quando fala de "tudo que há no mundo" que o O versículo 22 aponta mais uma condição para
crente náo deve amar. que sejam atendidas nossas orações.
Os filhinhos são avisados contra os apóstatas,
que negam a divindade de Cristo (19-29). A prova de Capitulo 4
ortodoxia ou heterodoxia é o que se pensa de Cristo.
Ele é a pedra de toque. Os falsos profetas (1-6). Alguns tém entendido
Notemos como o apóstolo se ocupa com " o come- deste trecho que nos tempos do apóstolo João alas-
ço". e os ensinos recebidos quando seus leitores pri- trava-se o ensino dos gnósticoe, que negava a verda-
meiro abraçaram a fé. Não quer saber de novidades. deira humanidade de Cristo, alegando que Ele era
"Se em vós permanecer o que desde o principio ou- um ser espiritual com apenas a aparência de ho-
vistes, também permanecereis no Filho e no Pai". mem.
Como devemos entender o versículo 27? O Espiri- O erro corrente nos dias de hoje é o contrário: a
to Santo no crente estabelece tal intimidade entre admissão da sua verdadeira humanidade com a ne-

488'
: 1 JOCO

gação de ser Ele "Deus manifesto em carne" Náo "amar". "testificar" Serão as palavras que melhor
devemos admitir ensino de nenhuma espécie que re- expressam nossa vida diária'' O versículo 2 ensina-
presente mal a pessoa do Senhor Jesus Cristo. nos como o amor se manifesta na obediência. Numa
Quem é de Deus ouve e obedece o ensino apostó- família, o menino que verdadeiramente ama a seus
lico (v. 6). irmãos será obediente aos pais. ainda que seu irmáo
O amor fraternal (7-15). Vemos como o amor con- o convide a fazer travessura Mostrará melhor seu
tinua sendo a preocupação principal do velho após- amor para com o irmão, obedecendo aos pais.
tolo. e o amor c sempre possível quando pensamos
mais no bem que há nos outros do que nos seus defei- Nos versículos 7.8 devemos omitir as seguintes
tos. Três aspectos do amor aparecem nestes capítu- palavras: "Sn céu. o Pai, a Palavra, e o Espirito
los: o amor de Deus para conosco, o nosso amor para Santo: e estes três são um. E três são os que testifi-
com Ele. e o amor fraternal entre os crentes. cam na terra", por nào se encontrarem nos melhores
O crente em quem se manifesta alguma coisa do manuscritos.
espirito de Cristo tem mais uma prova que está nele
(v. 13). A eficácia da oração (14-21). "Depois da posse da
vida eterna (1-12). é a experiência da vida eterna
O amor que Deus nos tem (16-21) continua sendo
(13-20). Isto é manifestado na ousadia da ação espi-
o tema. Aprendemos deste trecho que o crente amo-
ritual (13-17) e na certeza do conhecimento espiri-
roso é o crente bem chegado a Deus: que o crente
tual (18-20). Nota-se 'sabemos' quatro vezes repeti-
amoroso terá confiança no dia do juízo; que o crente
do. E*ta é uma das palavras-chaves da epístola, e
representa seu Salvador aqui neste mundo (v. 17);
ocorre ao menos 40 vezes nos cinco capítulos. Aqui
que é inevitável, a quem ama o bem revelado em
temos um fato da história: 'O Filho de Deus é vindo';
Deus. amar também a seus irmãos que são parecidos
um fato da experiência: 'No que é verdadeiro esta-
com Deus.
mos'; e um fato de testemunho: 'Este é o verdadeiro
Deus e a vida eterna'" (Scroggie).
Capítulo 5
Parece haver falta de ligação do versiculo 21 com
A fé em Cristo e suas conseqüências (1-13). As o trecho que o precede. Quais os ídolos em que o
palavras principais deste trecho parecem ser "crer ". apóstolo pensava?

489'
2 João

oão apresenta o essencial para o an- estilo e de assunto se conclui que as duas cartas fo-
dar pessoal do crente numa época ram escritas na mesma ocasião e com referência aos
em que "muitos enganadores entra- mesmos pontos. E dirigida a uma senhora cristã e
ram no mundo" (v. 7). A chave do seus filhos, com o fim de lhes dar coragem para per
ensino da epístola é a frase "a ver- *everar na verdade, evitando apoiar os enganadores
qual João se refere ao conjunto de toda a (Angus).
revelada: as Escrituras.
O apóstolo João .4 verdade e o amor são inseparáveis na vida cris-
Provavelmente 90 d.C. tã (1-6). A palavra senhora no grego é "kyria", que
pode ser nome próprio, e talvez deva ser assim en-
A Epístola estü dividida em trés partes: tendida aqui Era muito comum entre os gregos. È
O caminho da verdade e do amor ( w . 1 6). O perigo possível que esta carta tenha sido dirigida a uma no
dos caminhos nào indicados pela Bihlia (7 -11). O de- tável crente chamada "kyria", que morava perto de
sejo e a saudação (12.13) (Scofield fifeso. onde Joào ministrava na sua velhice. A carta
é breve, porque o apóstolo ia logo visitar essa irmã
ANÁLISE DE 2 JOÁO em Cristo (v 12) (Gray).
Notemos, como nas cartas individuais de Paulo,
Introdução (1-3).
a saudação "graça, misericórdia e par".
1. O endereço (la ).
Comparando o versiculo 4 com 13, ficamos sa-
2. As chaves (lb-3).
bendo que os filhos de kyria estavam em visita á sua
a) amor; b) verdade.
1. O caminho do crente (4-6).
tia.
1.1. O andar na verdade (4). Mais uma vez vemos a intima relação entre o
1.2. O andar no amor (5.6). amor e a obediência (v. 6).
2. O pengo do crente (7-11). Perigos doutrinários (7-13). Novamente, como na
2.1. A natureza desse perigo (7). sua primeira carta (4.3). o apóstolo se refere á nega-
2.2. A relação do crente com o pengo (8-11). ção da verdadeira humanidade de CriHto. Notemos
Conclusão (12.13) - (Scroggie). neste trecho: a possibilidade de perder a bênção es-
Carta a uma senhora cristã Dos treze versículos piritual; o perigo de nào perseverar; a proibição da
de que consta esta segunda epístola, oito se acham fraternidade com os que negam a Cristo; as alegrias
substancialmente na primeira. Pela semelhança de da fraternidade espiritual (v. 12).

491'
3 João

velho apóstolo escreve primeiro século as igrejas cristás. Sobre este assunto
a certa igreja que está observa o Prof. S.D.F. Salmond o seguinte: " A carta
permitindo a um tal ajuda-nos a achar qual o caráter daquelas igrejas,
Diótrefes o exercício de náo dum modo ideal, mas nas suas veniadeiras con-
prepotência que. mais dições de todos os dias. com as suas virtudes e com
tarde, se trnou comum, mas que nos tempos apos- os seus defeitos; com as suas nobres figuras e com as
tólicos eri lovidade. Diótrefes tinha rejeitado as car- ignóbeis; com os seus humildes membros e com os
tas e as íutoridades apostólicas. Parece que tinha ambiciosos, fazendo-nos conhecer ao mesmo tempo
também/rejeitado o ministério de pregadores visi- os erros daqueles tempos. Vemos ali esteriotipada a
tantes U . 10) e lançado fora aqueles que os recebe- sua vida variada, mista e movimentada. Mostra-nos
ram. Historicamente, esta carta assinala o inicio da também alguma coisa sobre a independência das
presunção clerical e sacerdotal no seu predomínio mesmas igrejas, a natureza do seu ministério, a rela-
sobre as igrejas, que resultou no desaparecimento da ção em que estavam neste particular, e a ordem e ad-
primitiva ordem eclesiástica. Esta Epístola revela ministração que seguiam" (Angus).
também o recurso do crente para esse dia. Náo mais Dos versículos 1-4 aprendemos: que Gaio era fi-
escrevendo como Apóstolo mas como anciáo. Joáo di- lho na fé do apóstolo (v. 4); que era um crente amá-
rige a carta, náo á igreja como tal. mas a um homem vel; que era de se desejar que ele tivesse prosperida-
fiel na igreja, para o conforto e animação dos que fi- de material, porque era hospedeiro de irmáos visi-
caram firmes na primitiva simplicidade. tantes; que o seu andar era consoante com a verdade
Escritor: O apóstolo Joio. de Deus.
Data: Provavelmente 90 d.C. Analisando os versículos 5-8, ficamos sabendo:
que Gaio era um irmáo altruísta, que hospedava ir-
Divisões: Saudações pessoais (1-4). Instruções
mãos e estrangeiros também: que sua liberalidade
concernentes aos irmãos ministrantes (5-8). Diótre-
era notável; que havia alguns ministros itinerantes
fes e Demétrio (9-14) - (Scofield).
da Palavra que nào esperavam hospitalidade dos
gentios; que hospedando os tais cooperamos com a
ANALISE DE 3 JOÃO verdade de Deus.
Introdução (1-4). Podemos resumir o caráter de Diótrefes nos se-
L Confirmação de Gaio (5-8). guintes termos: era egoísta, vaidoso, contencioso,
2. Condenação de Diótrefes (9.10). maldizente. perseguidor ( w . 9-14).
3. Recomendação de Demétrio (11,12). Demétrio. ao contrário, tinha um triplo testemu-
Conclusão (13,14). nho (12).
O apóstolo faz-nos lembrar que nem tudo pode
M E N S A G E M DE 3 JOÃO ser escrito por carta; às vezes é necessária uma en-
trevista pessoal (v. 14).
Esta Epístola é de particular interesse pelo fato Notemos neste último versículo a alusão signifi-
de nos dar o conhecimento do que eram no fim do cativa aos "amigos" e náo a todos os crentes.

V 493
dicionário de Davis b) Um perigo (4).
d i z : " A q u e l e s que 1. Uma Exposição do perigo (5-16),
identificam os irmáos 1.1. Os apóstatas serão destruídos (5-7).
do Senhor com os fi- 1.2. Os apóstatas sáo denunciados (8-11).
lhos de Alfeu. náo obs- 1.3. Os apóstatas são descritos (12-16).
tante desta Epístola, com o
apóstolo 2. Uma exortação ao dever (17-23).
Afora o simples nome, nada mais
podemos 2.1. O dever bíblico (17-19).
além das inferéndas que se podem
tirar a 2.2. O dever pessoal (20.21).
dos irmãos do Senhor, que náo cre-
ram 2.3. O dever relativo (22,23).
viveu sobre a terra (Jo 7.5). mas
que Conclusão (24.25).
fizeram seus discípulos
(At Ilustrações extra-bíblicas. Para ilustrar a doutri-
Diz o dr. Angus: "Alguns identificam o autor des- na que apresenta. Judas recorre, como Paulo em cer-
ta epístola com 'Judas, náo o Iscariotes' (Jo 14.22), tos casos (At 17.28; 2 Tm 3.8; T t 1.12), a fontes fora
conhecido também por Lebeu, e Tadeu. Era esta a das Escrituras. A referência á disputa entre Miguel e
opinião geral dos 'santo6 pais', e é adotada por Wi- o Diabo acerca do corpo de Moisés foi, segundo se
ner, Hofmann. Lang, Kiel. Tregelles e Wordsworth. diz, tirada da Assunção de Moisés, obra judaica apo-
"Outros combatem essa idéia, sustentando que. calíptica. que se supõe ter sido escrita pelo ano 50
se Judas tivesse sido apóstolo, ele se referiria a si a.C. pouco mais ou menos, existindo dela apenas
mesmo como tal, e náo se apresentaria como irmão fragmentos. A obra etíope Livro de Enoque. que é ci-
deste ou daquele. tada no versículo 14. era bem conhecida no6 tempos
"Além disso, a referência aos apóstolos no versí- da compilação do N.T., notando-se coincidências de
culo 17 dá a entender que o autor náo pertencia ao pensamento e de linguagem em algumas das epísto-
seu número. O mais provável é que Tiago, bispo da las paulinas, na epístola aos Hebreus e no Apocalip-
igreja de Jerusalém, e este Judas eram os irmãos do se. Presume-se ter esse livro aparecido no segundo ou
Senhor a que se refere ( M t 13.55). Esta é agora a opi- primeiro século antes de Cristo, pertencendo a uma
nião mais seguida pelos expositores". espécie de literatura apocalíptica ligada ao nome de
Enoque. A obra consta de cinco partes ou livros, de
Tema: "Contender pela fé". Nesta breve carta é
variado caráter, e abundante em intercalações, que
prevista a apostasia da igreja professa. Em 2 Timó-
provavelmente foram feitas muito depois da sua
teo e 2 Pedro é considerada como já iniciada.
publicação (Angus).
Divisões: Introdução (1.2). Ocasião da Epístola
(3.4). A apostasia é uma possibilidade (5-7). Ensina-
Davis chama este Livro de Enoque "uma produi
dores apóstatas descritos (8-19). Os santos consola-
ção extravagante, ampliando a história antediluvia-
dos (20-25) - (Scofield).
na de um modo inacreditável".
A N Á L I S E DE JUDAS I*rimeiras advertências (1-4). Notemos as três
coisas ditas dos leitores da Epístola, no versículo 1, e
Introdução (1-4). as três coisas desejadas para eles no versículo 2.
1. O endereço (1.2). Vemos como a corrupção tende a entrar no terre-
2. As chaves (3.4). no mais sagrado, na Igreja de Deus, e que os crentes
a) Um dever (3). fiéis precisam estar sempre de sobreaviso contra

495'
Judêt

"homens ímpios que convertem em dissolução a gra- fiéis, os crentes amados, edificados sobre sua santís-
ça de Deus". sima fé E nào somente há um caminho, mas há
Os versículos 5-7 apresentam alguns casos histó- também a missáo (v. 22) de salvar alguns, que ainda
ricos de apostasia, e como o juízo de Deus caia sobre nào estào de todo perdidos.
os iníquos. Até os próprios anjos têm sido julgados. Depois de contemplar a apostasia geral, o escri-
Sodoma e Gomorra serviram, durante os séculos, tor. afinal, volta seus olhos para Deus. satisfeito e
como exemplo do juízo divino sobre cidades impeni- contente, e irrompe em louvores e ações de graças
tenles. por toda a bondade e suficiência que descobre no
Ensinadores apóstatas (8-19). Desses notamos Deus-salvador.
que sáo carnalmente contaminados (v. 8); insubmis- Se devemos crer que estamos agora nos "últimos
sos à autoridade (v. 8); inaldizentes de coisas que tempos " da história da Igreja sobre a terra, será lici-
nào entendem (v 10); falam perversidade por inte- to indagar se vemos alguns indícios dessa "aposta-
resse próprio (v. I I ) ; procuram a convivência com os sia" predita por Pedro e Judas, quais sào seus sinais,
crentes <v. 12); teráo castigo eterno ("eis ton aiona". e em que partes do mundo se encontra. Náo é de es-
pela época). perar. por exemplo, que vamos descobrir apostasia
Bullinger traduz o versículo 14: "Milhares de nos lugares recentemente evangelizados. que somen-
seus santos anjos". te agora comoçama entrar nas bênçáos do cristianis-
Exortação e doxologia (20-25). Vemos que no mo.
meio da apostasia geral há uma senda divina para os

496'
Apocalipse

deste livro, de- lho eterno (14.1-13). 4) O ajuntamento dos reis em


itar aos leitores Armagedorn ( 16.13-16). 5) As quatro aleluias no Céu
as exposições dos mais eru- (19.1-6).
ditos expositores, e consul- T o 'os estes trechos nào apresentam uma narra
tei uma variedade de livros, çáo c« itinua Olhando para trás e para diante, eles
a fim apontamentos mais instrutivos. As resumem fatos cumpridos e falam de conseqüências
que apresento, porém, seguem, na sua futuras como se já estivessem realizadas. Em 14.1.
maior o livro sobre o Apocalipse, de A.C. Ga- por exemplo, o Cordeiro e o Restante se vêem. profe
ensino está de acordo com o de outros co- ticamente. sobre o monte Siào, embora ali nào che-
iguaimente eruditos. guem efetivamente (20.4-6).
que muitos outros tém feito exposi- No Apocalipse, o fim do período da Igreja fica
ções e interpretações hem diferentes, porém náo ins- sem terminar. Terminará com o cumprimento de 1
piram tanta confiança. Tessalonicenses 4.14-17. É geralmente entendido
Escritor; o apóstolo -Joáo (1.1). que os capítulos 4 a 19 correspondem á setuagé^ima
[)ata: 96 d.C. semana de Daniel (Dn 9.27). A Grande Tribulaçào
Tema: O tema do livro é Jesus Cristo, que se nos começa no meio da semana e continua por três anos
apresenta de maneira tríplice: 1) Quanto ao tempo: e meio ( A p 11.3 a 19.21). A Tribulaçào termina com
"que é. que era, e que há de rir". 2) Quanto às suas a manifestação do Senhor e o conflito de Armage-
relações: para com as igrejas (1.9 a 3.22), para com a dorn ( M t 24.29.30: Ap 19.11-21). Segue o Reino ( A p
tribulaçào (4.1 a 19 21). e para com o reino (20.1 a 20 4.6); depoi* disso um curto período (Ap 20.7-15) e
22.21). 3) Quanto a seus cargos como sumo sacerdote então a eternidade (Scofield).
(8.3-6). noivo (19.7-9), e Rei-juiz (20-1-15).
Divisões: Devem ser claramente discernidas as A N A L I S E DE A P O C A L I P S E
três principais divisões, para que a interpretação
seja coerente. Joáo recebeu ordens para escrever Prólogo (1.1-8).
sobre três classes de coisas (1.19): 1. Coisas passa- 1. Uma visão àa graça ( 1 9 a 3.22).
das: "o que tens visto", istoé. a visâoem Patmos; 2. 1.1. O Cristo soberano (1.9-20).
coisas presentes: "ai que sáo", ou seja. coisas então 1.2. As sete Igrejas (caps. 2 e 3).
existentes - evidentemente as igrejas na Ásia: 3. coi- 2. Uma visão de governo (caps. 4 a 19.10).
sas futuras: "as que depois hão de acontecer", isto é, 2.1. Cenário e processo do julgamento (caps. 4 a
os acontecimentos depois de terminar o período da 11).
Igreja. Esta terceira divisão, como Erdman demons- 2.1.1. O trono e o livro selado (caps. 4 e 5).
trou, contém uma série de seis setes. Os seis setes 2.1.2. A abertura dos selos (caps. 6 a 8.1).
sào: 1) Os sete selos (4.1 a 8.1». 2) As sete trombetas 2.1.3. As trombetas (caps. 8.2 a cap 11)
(8.2 a 11.19). 3) As sete personagens (12.1 a 14.20). 4) 2.2. Os instrumentos e conseqüências do julga-
As sete taças (15.1 a 16.21). 5) Os sete juízos (17.1 a mento (cap. 12 a 19.10).
20.15). 6) As sete coisas novas (21.1 a 22.21). 2.2.1. O conflito do bem e do mal (caps. 12 a
As cinco passagens parentéticas sáo: 1) O restan- 14).
te de Israel e os santos durante a Tribulaçào (7.1-17). 2.2.2. As taças da ira de Deus (caps. 15 e 16).
2) O anjo, o pequeno livro, as duas testemunhas 2.2.3. A destruição da Babilônia (caps. 17 a
(10.1 a 11.14). 3) O Cordeiro, o Restante, e o Evange 19.10).

497'
3. Uma visão gloriosa (19.11 a 22.5). que é indiscutível é que as pnmeiras coisas que Joáo
3.1. O reino milenar (cap. 19.11 a cap. 20). viu. "as coisas que sáo", nada tém com " o Dia do Se
3.2. A Nova Jerusalém (cap. 21 a 22.5). nhor", mas antes contrastam com ele.
Epílogo (22.6-21) - (Scrvggie). Podemos estudar neste trecho o que João ouviu, e
o que viu - a visão dos versículos 12-16.
O aspecto de Cristo nesta visão é muito parecido
O ESCOPO DO LIVRO com o que é descrito em Daniel 10.5.6. "Cada deta-
lhe fala de uma feição da sua glória como aquele que
A leitura cuidadosa do Apocalipse, sem idéias cuida e ministra às igrejas - o Senhor no meio"
preconcebidas, resultará em vermos que suas notas (Goodman).
principais são: 1) L,*m gTande conflito entre o Bem e o "Nesta visão Cristo é revelado em sua dignidade
Mal. e 2) Uma gloriosa vitória do Bem sobre o Ma), oficial, grande afeição (13), perfeita santidade, co
isto é. Deus vencendo o Diabo e toda a sua atividade. nhecunento consumidor (14), justo juízo, autoridade
Nào importa ao momento a exata interpretação do absoluta (15), administração soberana, verdade dis-
livro, pois o fato deste secular conflito entre o Bem e criminadora, e transcendente glória (16)" (Scrg-
o Mal é independente de qualquer interpretação par- gie).
ticular. por sser um fato evidente em rada página da A urdem para escrever (19,20). Estes dois versí-
história humana. Mas neste livro vemos bem claro o culos são de suma importância, porque mencionam
resultado do conflito e o triunfo do Bem sobre o Mal as três divisões que fornecem a chave para entender
(Scroggie). o livro todo.
Nota: A canonicidade do Apocalipse demorou a
ser reconhecida pela Igreja: Segundo a lista dada " A S COISAS Q U E S Ã O " - A S M E N S A G E N S A S
pelo dr. Angus, nào era admitida por Eusébio Panfi- S E T E IGREJAS
lio. Cirilo de Jerusalém. Concilio de Laodicéia. Gre-
gório Nazianzeno. Anfilóquio de Icônio, e Filástrio Capitulo 2
de Bréscia.
Diz Lamsa: " O Concilio de Beth-Lapeth delibe- Adotamos o parecer de muitos instruidos exposi-
rou sobre a aceitação do Apocalipse, que nào está in- tores do Apocalipse, de que as cartas ás sete igrejas
cluído no cànon da Peshita e. por muitos séculos, fornecem um esboço profético da Igreja até a vinda
nào foi aceito pelos cristãos orientais". do Senhor, sendo incluído este período nas "coisas
Dia o dr. Angus: "Depois do ano -400, já não exis- que s ã o " (1.19). Traduzimos da Bíblia de Scoficld o»
tiam dúvidas a respeito do cànon do Novo Testa- títulos de cada igreja.
mento". Um dos motivos mais eficientes para perceber
mos nas cartas um valor profético é o fato de que as
A V I S Ã O E M P A T M O S DO FILHO DO H O M E M quatro últimas falam todas da vinda do Senhor,
GLORIFICADO dando a entender que esses quatro aspectos da Igre-
ja. em algum sentido., hão de permanecer até essa
Capitulo 1 vinda.
Notemos: que cada mensagem-começa com uma
Introdução e saudação (1-8). Encontramos sem- descrição distintiva do Senhor; que a cada igreja o
pre neste livro grupos de sete. e ainda com maior fre- Senhor diz "sei", "farei", "darei", "virei", etc; que
qüência grupos de três. Nestes oito versículos ini- cada igreja é exortada a ouvir o que o Espírito diz:
ciais há sete destes grupos de três. sendo o primeiro o que a cada igreja se fala dum galaidào para o vence-
que João testificou: da Palavra de Deus; do testemu- dor.
nho de Cristo; de tudo que tinha visto. Devemos considerar quem são os anjos dá» igre-
Há uma especial bem-aventurança ligada com jas, visto que tantas vezes têm sido discutida a ques-
este livro do Apocalipse: a bem-aventurança de tão. Podemos concordar com Scofield que o sentido
quem lê ou ouve. e guarda. Se a bênção fosse somen- mais natural é que o anjo - ou mensageiro - era esse
te para quem entende o livro todo. poucos, até mes- que vinha de cada igreja em visita ao apóstolo, e que.
mo dos crentes mais instruidos. poderiam alcançá- voltando, seria o portador da "carta". A o mesmo
la. tempo devemos notar que os anjos sáo "estrelas" e
Se a revelação de Jesus Cristo fosse limitada ao por isso podem ser considerados, sem exagero, como
que está escrito nesta introdução ainda assim sa- focos luminosos nas igrejas. Mas não devemos acres-
beríamos muitas preciosas verdades a seu respeito. centar à Escritura qualquer coisa com respeito aos
Quais sáo? anjos que a Bíblia não diz. como. por exemplo, que
somente o anjo tinha o direito de ministrar, ou ce-
A visão na ilha de Patmos (9-18). N o versiculo 10
lebrar a Ceia.
encontramos o primeiro dos problemas de que este
livro está cheio: o "dia do Senhor" significa o Do- A mensagem a Êfeso: A Igreja no fim da Idade
mingo, ou " o Dia do Senhor" como em 1 Corintios Apostólica - falta-lhe o primeiro amor (1-7).
5.5; 1 Tessalonicenses 5.2, etc.? Ê assunto muito dis- Êfeso significa ^desejado"; a Igreja como objeto
cutido pelos estudiosos, mas ainda náo resolvido. A do amor de Cristo; por esse amor Ele se deu a si mes
palavra traduzida " d o Senhor" é "kuriakos", nunca mo. O Senhor louva muitas coisas em Êfeso. mas
empregada em outra parte do N . T . senão em 1 censura a falta do seu primeiro amor. Conosco pode-
Corintios 11.20. Podia melhor ser traduzida "senho- se dar a mesma coisa.
ria 1". Scofield explica nicolaitas assim: " O termo vem
Alguns, incluindo F. W. Grant, entendera que sig- de 'niko'. subjugar, e 'laos'. o povo ou leigos Nào
nifica " n o Domingo", apontando assim o apóstolo a existe vestígio de nenhuma seita dos nicolaitas. Se a
localidade (Patmos) e o dia (Domingo) das visões. O palavra é simbólica, refere-se ao começo da noção de

498'
uma ordem sacerdotal na Igreja, um 'clero', que nome que ele aprovava escrito. Assim a pedra bran-
mais tarde dividiu uma irmandade igual ( M t 23.8) ca fala de aprovação, mas aqui é aprovação da parte
em 'clero' e "leigos"'. Aquilo que em Êfeso eram de Cristo. N o manã vemos a apreciação de Cristo
"obras" torno u-ne "doutrina"' em Pérgamo (v. 15) pelo crente: na pedra branca a aprovação do crente
(Pequeno Dicionário Bíblico). por Cristo. Ê a sua aprovação do vencedor que aqui
A mensagem a Smirna - Período das grandes per- se tem em mira. e o novo nome escrito é alguma coi-
seguições. até 316 d. C. (8-11). sa entre Ele e esse vencedor".
Smirna quer dizer "mirra", um dos ingredientes A mensagem a Tia tira - De 5(X) a 1500 anos - o
empregados na embalsamaçào de corpos. N o meio triunfo do balaonismo e do mcolaitismo - Um res-
dos seus sofrimentos. Smirna ouve que há um Salva- tante crente (18-29).
dor (que foi morto, mas vive) sobre todos, sabendo " A corrupção que entrou como dilúvio no século
tudo. prevendo tudo. controlando tudo. animando quarto aumentou até merecer o título de 'profunde-
todos. A coroa da vida é para os fiéis, mas fidelidade zas de Satanás' (v. 24). Tiatira leva-nos ao período
importa sacrifício, e. às vezes, sofrimento. do pleno desenvolvimento do romamsmo. Aqui nos-
A expressáo "os que se dizem judeus e náo são" so Senhor fala de si como o Filho de Deus. O roma-
lembra-nos duma seita moderna que pretende colo- nismo fala dele mais como o filho da Virgem, o filho
car os crentes sob a lei de Moisés, com o sábado ju- de Maria. A apostasia romana tem colocado uma
daico. Esse ensino errado tem encontrado apoio, na mulher no lugar do Filho de Deus, «Jeubel, a mulher
falta de um claro testemunho, no meio evangélico, iníqua, representa o papismo. Jezabel era uma mu-
ao ensino que "não estamos debaixo da lei. mas de- lher pagã casada com um rei israelita (1 Rs 16.31 i.
baixo da graça" (Rm 6.15). Ela era rainha idólatra. e perseguidora dos verdadei-
Diz F.W Grant: " N a epistola aos Colossenses ros profetas de Deus (1 Rs caps. 18 a 21). Aplicamos
achamos o apóstolo enfrentando as mesmas tendên- tudo isto á Igreja Romana na sua luxúria e idolatria
cias quando lhes diz que a cédula ou obrigação das espirituais. Na quarta parábola do Reino, em Ma-
ordenanças que nos era contrária. Cristoa tinha tira- teus 13, correspondente a este quarto período da
do e anulado, cravando-a na Cruz (Cl 2.14). Por isso Igreja, nosso Senhor fala de uma mulher que tomou
nào deviam ser julgados com respeito ao sábado ou fermento (corrução) e o escondeu em trés medidas de
aos manjares do judaismo. fina e pura farinha (simbolizando a doutrina de Cris-
" A epistola a Timóteo fala ainda mais positiva- to). A mulher na parábola do fermento é Roma, a Je-
mente quando trata dos que queriam ser mestres da zabe! da mensagem a Tiatira" (Gabelein).
Lei. mas nào entendiam o que diziam - nem perce- Notemos no versículo 25 a alusão á segunda vin-
biam as conseqüências terríveis que haviam de re- da. que é referida na mensagem a cada uma das últi-
sultar do seu legalismo, Assim o conflito com o ju- mas quatro igrejas. Isto nos ajuda a compreender
daismo nào era coisa meramente exterior, pois den- que o estado da igreja figurada em cada uma dessas
tro da própria Igreja tinha a sua mais ampla signifi- quatro continua até o fim.
cação. Tornou-se. de fato. a causa em que o ataque
do inimigo á graça do Evangelho era mais evidente, e Capitulo 3
assim a própria Igreja foi transformada, náo somente
na sua forma exterior, mas em todo o seu espirito, A mensagem a Sardis - O período logo após á Re-
numa mera continuação daquilo que os homens ain- forma - Um restante crente (1-6).
da chamam a Igreja judaica... Aos homens que intro- " E m Sardis vemos o período da Reforma, o perío-
duziram tal mudança, dizendo-se judeus sem o se- do que produziu o Protestantismo. A Reforma foi de
rem, o Senhor chama de a sinagoga de Satanás. " Deus, e os grandes homens que se empenharam nela
A mensagem a Pérgamo - A igreja sob o favor im- foram poderosos instrumentos do Espirito Santo.
perial. De 316 até o fim (12.17). Mas da Reforma nasceram as organizações humanas
Pérgamo significa "elevado" ou "casado". "Esta conhecidas por Protestantismo. A Reforma começou
igreja era culpada de tolerar o que nào devia, Havia bem. mas logo chegou a ser. nos diferentes sistemas
nela muitas coisas boas (13), mas permitia no seu protestantes, uma coisa morta, sem vida espiritual.
meio o que era ruim (14,15). Havia pecado passivo e Com nome de viver, mas morta. Tal é a sentença do
ativo. Deixar de condenar e, quando possível, excluir Senhor contra as igrejas que nasceram da Reforma".
o pecado de nosso meio. é participar do mal. Se for- Diz F. W Grant: " A promessa ao vencedor aqui
des culpados de semelhante transigência no vosso tem um caráter um tanto negativo: 'não riscarei seu
coração, na vida comercial ou na igreja, deveis arre- nome do livro da vida '...O vestir-se de branco é mais
pender-vos; senáo. a espada da verdade (16) vos feri- positivo, como é também a confissão dos seus pelo
r á " (Scroggie). Senhor perante o Pai e os anjos. Mas em tudo senti-
Na mensagem ao vencedor, o que mais parece ter mos falta da aprovação plena que achamos nas ou-
cativado a imaginação dos cristãos é a "pedra bran- tras cartas. Não há, ao menos, o que vimos em Pér-
ca" pois se fala dela em alguns hinos. Mas, afinal, gamo. o maná escondido e a pedra branca".
que significa para o crente a pedrinha branca? Nào A mensagem a Filadélfia: A verdadeira igreja no
seria melhor pensar também no "maná escondido": meio da igreja professante (7-13).
a secreta preocupação com Cristo, que é o sustento Nesta carta, como na carta a Smirna. náo há re-
espiritual do crente; e o "novo nome" de intimidade preensão. Filadélfia quer dizer "amor fraternal".
entre ele e seu Salvador, que parece importar num Como Sardis saiu de Tiatira. e é um protesto contra
precioso laço de amizade individual: o segredo do ela. assim Filadélfia (no sentido histórico e proféti-
Senhor, para com quem o teme? co) sai de Sardis e é um protesto contra a falta de
Da pedra branca, diz Grant: "Essa era a pedra vida no seio do Protestantismo oficial... Em Filadél-
branca que nas eleições o eleitor colocava na urna; fia há uma revivificação do ensino profético, e uma
nela estava gravado o nome do seu candidato, com o ardente expectação da vinda do Senhor ( v . l l ) . A

499'
Apocalipse

promessa ao vencedor em Filadélfia merece ser pon- Os relâmpagos, vozes e trovões simbolizam o tro-
derada demoradamente. no de Deus no seu aspecto judicial.
A expressão "eu te guardarei da hora da tentação Sobre os "sete Espíritos de Deus"diz Grant: " E -
que há de rir nobre o mundo" é geralmente tomada les são as diferentes operações do Espirito nessa per-
como uma promessa que a Igreja fiel nào passará feição que necessariamente lhe pertence". O que le
pela Grande Tribulação, sendo arrebatada primeira- mos em Isaias 11.2 se parece um tanto com isto.
mente. De fato. custa-nos acreditar que uma tal pro- Do "mar de vidro, semelhante ao cristal" diz
messa tivesse seu pleno cumprimento na acanhada Grant • "Isto é para lembrar-nos do mar de bronze no
experiência de uma pequena igreja local na Asia Me- templo (1 Rs 7.23, etc.), que era para purificação.
nor. em tempos completamente passados. Aqui a purificação está consumada; náo há mais ne-
A expressão "os que habitam na terra " (v. 10) en- cessidade de água. vendo-se, portanto, um mar da-
contra-se várias vezes no Apocalipse, e parece refe- quilo que representa a perfeita pureza".
rir-se particularmente às pessoas mundanas: "os As quatro criaturas viventes. e a grande adoração
moradores s/ibre a terra" (6-11) As criaturas viventes nào representam a Igre-
Diz F. W. Grant: "Filadélfia inclui todos aqueles ja, nem uma classe especial de santos, mas são os se-
que procuram em tudo ser obedientes à Palavra de res sobrenaturais vistos no V.T. e sempre em cone-
Cristo (v. 10) e nào admitem que palavras humanas xão com o trono e a presença de Jeová. São os queru-
lhe sejam acrescentadas. De fato. aquilo que se bins da grande visão de Ezequiel capítulos 1 e 10.
acrescenta a essa Palavra vem a tomar-lhe o lugar. Sua palavra "Santo' Santo! Santo!" lembra-nos os
Filadélfia importa a recusa de tudo isto. para guar- serafins também (Is 6). O culto aqui é ao Criador.
dar aquilo que é certamente a Palavra de Cristo". "Nota-se aqui que as criaturas viventes apenas
.4 mensagem a Laadicéia () estado final de apos- celebram e declaram; e os anciãos adoram com en-
tasia (14-22) Caiando a Igreja é aparentemente tendimento. Em todo o Apocalipse os anciãos apre-
apóstata, e está morta, há sempre esperança para o sentam as razões do seu culto. Eles tém inteligência
indivíduo: "se alguém ouvir a minha voz". Cristo espiritual" (Darby).
pede coragem abnegação, fidelidade até a morte. "Freqüentemente tem sido notado como estas
Para vencer em I^aodicéia. quando o mundo protegia criaturas viventes correspondem á significação dos
a Igreja, precisava-se de um cristianismo ainda mais quatro evangelhos e à sua apresentação de Cristo.
apurado, uma satisfação com Cristo que nào ligava Assim, em Mateus, o evangelho do Reino, vemo-lo
importância aos favores mundanos £ digno de nota como o Leão da tribo de Judá; em Marcos, o evange-
que. qualquer que seja o estado da igreja professan- lho do Servo perfeito, vemo-lo como o paciente boi.
te. Cristo conta sempre com alguns que vencem e al- servindo a vontade de Deus e a necessidade humana;
guns que tem ouvidos para ouvir a sua voz. em Lucas vemos o semblante de um homem, porque
F. W. Grant explica que Laodicéia significa "as é o evangelho do Filho do homem; e em João. o evan-
maneiras", " o direito" ou " o juízo do povo". Expres- gelho celestial, vemos a águia voando" (Ridout).
•iões relacionadas, importando a voz popular.
Capítulo 5

" A S COISAS QUE HÃO DE SER DEPOIS" 0 livro selado, e quem pode abri-lo (1-7). Pode-
- O FIM DOS TEMPOS mos observar as diversas personagens que figuram
neste capítulo: o que está sentado no trono; o anjo
Capitulo 4 forte; o Leão que é também o Cordeiro; as criaturas
viventes; os anciãos; os muitos anjos, e toda criatura.
Entramos agora na terceira divisão do livro: "as Entre todos, o único digno de abrir o livro dos julga-
corsos que depois destas hão de acontecer" que ocu- mentos divinos concernentes à Terra é o Cordeiro.
pam os capítulos I a 22 A cena também muda. e a Nós. que já conhecemos Cristo como "o Cordeiro
Igreja nào mais está na Asia. mas no Céu. de Deus que tira o pecado do mundo", sabemos que
O trono no Céu, e os anciãos entronizados (1-5). mais tarde Ele será revelado como o Leáo da tribo de
Devemos entender que entre o fim do capítulo 3 e o Judá, o soberano universal, alvo da adoração dos se-
começo do 4 se cumpriu 1 Tessalonicenses 4.15-17. res celestiais.
N o versículo 3 a pedra sardònica é provavelmen- Grant comenta a significação dessa relação de
te idêntica ao rubi, uma pedra preciosa de cor de Cristo como "o Leão da tribo de Judá", isto é, rela-
sangue. A pedra jaspe nào era o jaspe comum, de cionado com Israel e não com a Igreja.
pouco valor: era uma pedra resplandecente (21.11». Os anciãos adoram (8-14). Notemos com cuidado
Muitos pensam que era o diamante, ou talvez a opa- que o motivo da adoração dos seres vivos e dos an-
la. Nosso Senhor e a glória da sua pessoa são assim ciãos é a redenção (9). Náo entoam esse cântico os
representados simbolicamente por estas pedras: sua anjos ao redor do trono, nem as demais criaturas
glória na pedra brilhante: sua obra redentora na pe- (13).
dra sardònica de cor de sangue. Esta visão, que nos permite ver alguma coisa da
"Os vinte e quatro anciãcts" (v.4) a quem repre- adoração nos céus, pode servir de modelo para nosso
sentam? " N à o podem ser anjos: anjos nunca se vêem culto aqui.
sentados sobre tronos, nem são coroados, nem po- Alguns tém ensinado que o livro selado represen-
dem cantar o cântico da redenção. Há somente um ta os documentos da herança universal que Cristo há
sentido possível: representam os remidos, os santos de receber, mas náo temos base bíblica para afirmar
na glória. Mas por que vinte e quatro? Lembra-nos isto positivamente.
das 24 turmas de sacerdotes do templo (1 Cr 24). O que sabemos do Livro é: que estava na destra
Duas vezes doze sugere os santos do Velho e Novo do que estava sentado no trono; que estava fechado;
Testamento". que estava selado; que quando o Cordeiro o tomou.

500
houve ao abrir de cada selo, uma nova revelação pro- os cubram. Em relação a este selo, leiam-se Isaias
fética. Por isso podemos concluir que o Livro conti- 24; 34.2-4; Joel 2.30,31; Sofonias 1 e Ageu 2.6.7"
nha a declaração dos fatos que deviam acontecer: fa- (Gabelein).
tos estes que somente Cristo tinha o direito de reve-
lar. Seis dos seios abrem-se sucessivamente no capi- U M A VISÃO P A R E N T E T I C A E N T R E O S E X T O
tulo 6 e o sétimo no capitulo 8. E O S É T I M O SELOS

Capitulo 6 Capítulo 7

Abertura dos quatro primeiros seios (1-8). Neste O restante de Israel chamado e selado (1-8). "Es-
trecho podemos considerar os três primeiros seios, te restante é freqüentemente visto nas páginas da
cuja abertura revela, profeticamente, alguma coisa profecia do V . T . Lemos de seus anelos e suas ora-
dos acontecimentos futuros antes do estabelecimen- ções. Algumas das passagens sáo: Salmos 44.10-26:
to do Milênio. 55-57; 64; 78; 80; Isaías 63.15 a capitulo 64. Este res-
Devemos omitir as palavras " e v ê " ( Almeida) nos tante, iluminado pelo Espirito Santo, subsistirá du-
versículos 1,3,5 e 7. A palavra " V e m " nào é dirigida rante todo o período de sete anos. Muitos sofrerão
a Joào mas aos respectivos cavaleiros. martírio, mas a maior parte passará por toda a Tri-
Muitos tém julgado que o vencedor sobre o cava- butação, perseverando até o fim. e sendo salvo pelo
lo branco representa as conquistas do Evangelho, seu Rei, nosso Senhor, quando Ele vier em glória...
mas, bem ponderada, essa interpretação é inaceitá- Eles são os pregadores do Evangelho do Reino, como
vel. testemunho a todas as nações antes de chegar o fim
O progresso do Evangelho durante os séculos nào ( M t 24.14). Assim durante o tempo da execução dos
tem sido táo espetacular que possa corresponder a juízos haverá uma pregaçáo mundial do Evàngélho
semelhante símbolo. Tem sido um progresso lento, do Reino, proclamando a vinda do rei, chamando ao
oculto, em face de terríveis perseguições, e seu triun- arrependimento e fé no seu nome, e ainda oferecendo
fo. embora real. nunca tem sido muito evidente aos misericórdia" (Gabelein).
olhos naturais. £ mais aceitável a interpretação de Diz F. W. Grant: " O propósito do sexto selo é o de
Scofield, Gabelein, e outros: " O cavaleiro aqui é um assinalar os que pertencem a Deus. tornando-se as-
notável ditador, náo o Anticristo pessoalmente, mas sim. como depois veremos (9.4), uma proteção con-
a 'ponta pequena' que Daniel viu sair do animal que tra a praga dos gafanhotos".
tinha dez pontas (Dn 7.8)... Este chefe vindouro do S. Ridout diz o seguinte: " O fato de que os assi-
ressurgido império romano sairá conquistando, e se nalados constituem um restante tirado da massa da
fará seu chefe político..." nação, os caracteriza suficientemente. Sem dúvida
Ao abrir do segundo selo, a paz é tirada da terra, são semelhantes em caráter ao restante referido em
e. em conseqüência das guerras, vem o terceiro selo, Ezequiel 9.4: 'Marca com um sinal as testas dos ho-
com fomes, que resultam em pestiléncias e morte no mens que suspiram e que gemem por causa de todas
quarto selo. Tudo isso foi predito por Cristo em Ma- as abominações que se fazem no meio dela (Jerusa-
teus 24.5,6. lém)'. A impressão do sinal tinha em vista a matan-
.4 abertura do quinto selo (9-11) descobre as al- ça subseqüente da massa ímpia. .O que sempre ca-
mas dos que morreram pela Palavra de Deus. que - racteriza um restante (piedoso) é uma tristeza mo-
coisa estranha - pedem vingança, no espirito de Is- ral, um horror, diante da iniqüidade reinante. Dos
rael no Velho Testamento e nào do cristianismo. Isto tais, diz o Senhor: 'Eles serão meus no dia que eu fa-
faz-nos lembrar que, com a retirada da Igreja da ter- ço. uma possessão particular' (Ml 3.17)".
ra, se finda o dia da graça, e os juízos que seguem Gentios salvos durante a Tribulação (9-17). " A
condizem mais com a vingança do que com a salva- grande multidão representa gentios que ouviram o
ção de Deus. Durante muitos séculos a graça divina testemunho final, e creram. Nosso Senhor fala deles
tem sido ultrajada e desprezada, mas, afinal, o dia no grande julgamento das nações como ovelhas que
da ira divina chegará. ficam à sua direita, e herdam o reino ( M t 25.31, etc.)
Estes mesmos mártires do fiel restante de Israel, Os 'irmàos' do nosso Senhor, mencionados em Ma-
mortos durante os três anos e meio da Grande Tribu- teus 25. sáo o restante de Israel. Esta grande compa-
laçáo, são referidos novamente no capítulo 20.4. nhia náo estará perante um trono celeste, mas pe-
O sexto selo (12-17). O abalo de todas as coisas. rante o trono milenar sobre a terra. E uma cena mi-
Uma antecipaçáo do fim. "Devemos entender lite- lenar. depois de terminada a Tribulação.
ralmente ou simbolicamente os acontecimentos sob " O capítulo termina com uma descrição das bên-
este selo? Uma grande parte é simbólica, mas ao çãos milenares para estas nações remidas".
mesmo tempo é possível que haverá grandes fenôme-
nos físicos. Tudo o que há no mundo está sendo aba- Capitulo 8
lado. Os poderes civis e governamentais deste mun-
do sáo abalados; todas as categorias, desde os reis O sétimo selo (1-5). Neste trecho o "outro anjo"
até os escravos, sáo afetadas. E quando estes tempos (v. 3) sem dúvida é o próprio Senhor, o único compe-
de abalo tiverem chegado plenamente, quando os tente para apresentar a Deus as orações dos santos.
tronos caírem e a anarquia reinar; quando o colapso O silêncio no Céu é uma introdução a acontecimen-
da civilização estiver acompanhado de sinais na ter- tos solenes.
ra e no céu, os 'moradores-na-terra' verão antecipa- " O sétimo selo leva-nos imediatamente àquilo
damente a aproximação do dia da ira. O terror en- que rege todo o curso dos acontecimentos. As trom-
cherá cada coraçáo, e os que tém zombado da oração betas que vão soar sáo trom betas de guerra. Corres-
(como agora fazem os que rejeitam a Cristo), terão pondem ao cerco de Jerico, feito sete vezes no último
uma reunião de oração para pedir aos rochedos que dia da sua existência, e mostram-nos detalhadamen-

501'
Apocalipse

te o julgamento do mundo prefigurado pela queda e ENTRE A SEXTA E A SÉTIMA TROMBETAS


juízo de Jerico. Devemos recordar que. no quadro do U M P A R Ê N T E S E C O M V Á R I A S VISÕES
V.T., as trombetas são de jubileu. De um lado fazem (cap. 10 a 11.14)
soar uma nota de alarme e juízo, mas do outro falam
de liberdade e restauração: e aqui vemos o que é que Capitulo 10
move a Mão que move o universo: a saber, que as
trombetas soam como resposta divina às súplicas O anjo forte e « livrinho (1-7). Este anjo é geral-
dos santos" (Grant). mente interpretado como representando o proprio
As quatro primeiras trombetas (6-13). Estas têm Senhor. ' Antes da abertura do sétimo selo, Ele apa-
um caráter mais brando que as três últimas. Os juí- rece na sua dignidade sacerdotai. Aqui. antes de to-
zos profetizados ferem "a terça parte" da terra, refe- car a sétima trombeta. Ele aparece da mesma forma,
rindo-se provavelmente, á esfera do antigo Império mas é chamado anjo forte, e percebemos a sua digni-
Romano, incluindo quase toda a Europa. " O grande dade real. A nuvem, o arco-íris. o rosto como o sol,
monte ardendo em fogo" (v. 8) é para ser entendido etc., tudo atesta a mesma coisa"
em sentido simbólico. Na Bíblia uma montanha re- Diz Grant: "Assim também o arco-íris, que ulti-
presenta um reino (SI 46.2: Is 2.2: Zc 4.7, e especial- mamente vimos em redor do trono de Deus. cinge a
mente Jeremias 51.25). O mar representa as nações. sua cabeça. Apos tristeza vem o gozo; após a tempes-
Algum reino, ardendo interiormente, devido talvez à tade o frescor; é a manitestação. afinal, dos benditos
revolução, sera precipitado no instável mar das na- atributos de Deus; embora haja. naquilo que passa,
ções, e o resultado será ainda maior destruição de uma glória que permanece. E esta glória aproxima-
vida e comércio. se mais, agora, na Pessoa do que desce á Terra. Mas
o seu rosto é como o sol; ali deveras vemo-lo. Que ou-
Capitulo 9 tro tem rosto semelhante? No nosso Céu nào há dois
sóis - nossa órbita nào é elipse e sim circulo.
A quinta tn»mbeta (1-12). Há um " a i " ligado a Sobre o livrinho. diz o mesmo autor: " O sétimo
cada uma das últimas trés trombetas Isto foi anun- selo abre um livro que havia sido visto no Céu; a séti-
ciado no último versículo do capitulo anterior. A "á- ma seção aqui mostra-nos outro livro, já aberto, mas
guia" mencionada era arauto de grandes juízos ( M t é um livrinho. Nào tem o escopo ou plenitude do ou-
24.28: A p 19.17.18). A quinta trombeta é um juízo tro Aqui nào lemos que o escrito enche a página a
especial sobre o Israel apóstata. A Grande Tributa- transbordar. E um livrinho aberto, mas estava até
ção dos três anos e meio finais agora começa. N o agora fechado; um livro cujo conteúdo diz respeito
capitulo 12.12 lemos alguma coisa da mensagem de exclusivamente a Terra, e nào ao Céu. como o livro
tribulaçào da águia. que tinha os sete selos. Nisto temos a chave para en-
" A estrela que cai do céu com a chave do abismo tendermos qual é o livrinho, pois a característica da
é Satanás. Aprendemos os detalhes disto no capitulo profecia do V.T. é precisamente isto. que nos abre as
12". coisas terrestres, nào as celestiais... tudo está de
Grant observa que no caso do terceiro anjo a es- acordo: o testemunho profético (o testemunho do li-
trela "cai" do Céu. mas com o quinto anjo a estrela vrinho aberto) é para ser agora consumado repenti-
já está "caída " ( V . B . ) . " É a história de um apóstata. namente... e agora a fé (como aconteceu com o profe-
A ele é dada a chave do abismo, e por seu meio abre- ta) deve comer o livrinho destas maravilhosas comu-
se sobre a terra uma influência satânica do abismo nicações, doce na boca mas amargo no ventre, pois
semelhante á fumaça de uma grande fornalha... O as últimas tribulações da terra já sobre vi eram..."
abismo ou cova nào é o próprio Inferno, nem. segun- O livrinho comido (8-11). " N á o é u m livro selado,
do a Escritura, já está Satanás ali. No N . T . 'cova* é mas aberto. Refere-se ás profecias do Velho Testa-
muitas vezes o sinônimo de mas morra, e pelo visto é mento relativas a Israel durante a Grande Tribula-
esse o sentido aqui. Assim 06 demônios rogam que çào.
não sejam lançados no abismo (Lc 8.31) e Satanás. "João recebeu ordem para comer o livro. (Veja-se
no capítulo 20, está encerrado ali... Ezequiel 2.8 e 3.3). Era doce e amargo. Tal é a pala-
"Porém devemos lembrar que toda a linguagem vra profética referente a estas coisas. Doce, porque
aqui é simbólica. Náo precisamos supor que Cristo fala de liberdade e uma gloriosa consumação, mas
ponha literalmente a chave da mas morra nas mãos depois de digerido, bem compreendido, revela amar-
de um apóstata..." gura. os sofrimentos e os juízos que se ligam a este
A sexta trom beta - o segundo ai (13-21). Seguem- período".
se ainda mais juízos. Um grande exército destroi "a
terça parte" - o ressurgido Império Romano. "Os Capitulo 11
quatro anjos tém sido interpretados diversamente.
Não devem ser identificados com os anjos do capitu-
lo 7.1. A plena compreensão desta profecia nào pode- (Neste capítulo continua o segundo parêntese,
mos esperar antecipadamente. Ligada a esta invasão até o versículo 14.)
há mais uma manifestação do poder de demônios As duas testemunhas (1-6). As alusões ao templo,
(20.21)". ao altar, ao átrio. etc., mostram que o assunto aqui é
" P o r que 'quatro anjos'? e que simbolizam 0 A re- Israel. A Igreja náo é visada neste capítulo. " O s me-
pressão sob a qual estavam indica que eram poderes ses agora sáo referidos pela primeira vez no Apoca-
contrários, e exclui a possibilidade de anjo6 santos: lipse. Sào idênticos aos 1260 dias. ao tempo (ano),
nem é provável serem literalmente anjos. Parecem tempos (2 anos), e divisão de tempo (meio ano) na
poderes representativos; e, na interpretação históri- profecia de Daniel, e aos últimos três anos e meio da
ca. eles tém sido tomados como representando as di- setuagésima "semana" de Daniel.
visões do antigo império turco..." Fazer destes 42 meses 1260 anos, como muitos ex-

502
Apocalipse
poeitores têrr. feito, é uma suposição destituída do será logo seguida por seu encarceramento no abismo
apoio das Escrituras. Estes 1260 dias (trés anos e durante mil anos.
meio) são o período da última parte da Grande Tri- "Referente á mulher, o deserto significa um lugar
bulaçáo. ou seja, a Grande Tribulação propriamente de isolamento; e o 'lugar preparado por Deus', o cui-
dita. Então Israel apóstata catará na sua pior condi- dado de Deus por Israel. Mas não será a naçáu toda.
ção. sob influência satânica e idolatra ( M t 12.43-45). Haverá uma parte apóstata que toma o lado de Sata-
As duas testemunhas têm sido explicadas mui di- nás e do Anticristo. As águas que a serpente lança
versamente por diferentes expositores. E preciso no- contra a mulher representam o ódio que Satanás fo-
tar que aparecem durante os três anos e meio da menta contra Israel".
Grande Tribulação e não em qualquer dos séculos já
passados Diz Gabelein 'Cremos que estas duas tes-
Capitulo 13
temunhas representam o grande testemunho a ser
dado a .Jerusalém durante os 1260 dias da Tribula-
ção. Talvez os chefes serão dois vultos principais, A besta que subiu do mar (1-10). " A besta que
manifestando o espírito de Moisés e Elias, e dotados Joáo viu subir do mar é o Império Romano. Este. Da-
de poder sobrenatural; mas é evidente que há alusão niel viu como um monstro medonho com dentes de
aum grande número de testemunhas. Eles mantém, ferro e com dez pontas. Daniel tinha visto o Babilô-
r. meio de cena* satânicas, um grande testemunho nico. o Medo-Persa e o Greco-Macedónio. sob a figu-
para Deus". ra de um leào. um urso e um leopardo. Joáo vê esta
besta aqui como leopardo, com pés de urso e boca de
.4 besta e as testemunhas (7-14). "Esta besta leào...
saindo do abismo é o ressurgido Império Romano sob As dez pontas são ns der reinos que existirão nes-
a ponta pequena, visto por Daniel na besta com qua- se império. Mais tarde se nos diz que estes dez reis
tro pontas (Dn 7.8). Enquanto domina sobre 06 gen- "têm um mesmo intento, e entregarão o seu poder e
tios, virar-se á furiosamente contra os santos de Is- autoridade à besta" (17.13).
rael".
A besta que subiu da terra (11-18). " A segunda
" N o versículo 10 vemos nova alusão á classe que besta náo é um império com um grande chefe, mas é
é chamada "os que habitam na terra' Convém estu- uma pessoa. A primeira besta é um poder político; a
dar as passagens onde são referidos: 3.10; 6.10; 8.13; segunda é um chefe religioso. A primeira é um poder
11 10; 13.8: 14.6; 17.8. São cristãos apóstatas, cegos, gentilico, e seu chefe um gentio; a segunda é um ju-
endurecidos. Filipenses 3.18.19 dá seu caráter e des- deu.
tino.
A primeira besta, mediante seu chefe, faz no co-
A sétima trombeta: o terceiro ai (15-18). Isto nos meço dos sete anos um concerto com muitos dos ju-
!rva ao fim da Tribulação e ao começo do Milênio. deus, mas no meio da semana ele quebra o concerto
Cristo reina, e seus servos, os profetas e os santos, re- (Dn 9.27). Este concerto será provavelmente a per-
cebem seu galardão e reinam com Ele. missão aos judeus para edificar o templo e recomeçar
O versículo 19 pertence ao assunto do capitulo seu culto e seus sacrifícios. A primeira e a segunda
12. que volta para ocupar-se com acontecimentos bestas fazem um concerto, que marca o começo da
anteriores. setuagésima semana de Daniel. Mas quando a ponta
pequena, a primeira besta, chega a ser dominada por
Satanás. ela quebra este concerto. Então a segunda
Capítulo 12 besta exige que adorem a primeira besta e a si mes-
ma também. Esta segunda besta é o Anticristo.
.4 mulher com criança (1-6). "Quem é esta mu- Que significa o número 666? Se colecionássemos
lher vestida do sol? Os romanistas tèm querido pro- todas as interpretações deste número poderíamos
var que é a virgem Maria. Muitos expositores pen- encher muitas páginas. Sete é o número completo e
sam que é a Igreja A luz do escopo deste livro do perfeito; seis é incompleto, e é o número de um ho-
Apocalipse é impossível entender que seja a Igreja. A mem (v. 18). Aqui temos seis por três vezes. Signifi-
mulher representa a nação de Israel. Todos os ca a humanidade caida. cheia de orgulho, desafian-
símbolos o confirmam, especialmente a coroa com as do a Deus. " O número 666 significa o dia do homem
dore estrelas (Gn 37.9). e seu desafio a Deus. na sua culminação sob o poder
"Ela aparece vestida da glória do sol - isto é. de Satanás".
Cristo mesmo, como brevemente aparecerá em po-
der supremo como o Sol da Justiça (Ml 4.2), pois é o Capitulo 14
sol que governa o dia. Por isso a sua antiga glória,
antes do aurora a glória refletida pelos tipos e O Cot devo e w Í44.000 (1-0). "Este capítulo con-
símbolos ê como a lua debaixo dos seus pés. A co- tém sete visões. O Senhor responderá ás orações do
nta de doze estrelas sobre sua cabeça fala natural- perseguido povo de Israel e livrá-lo-á por sua própria
mente das doze tribos". vinda do Céu Esta gloriosa manifestação é plena-
Guerra no Céu (7-12). Este trecho, revela-nos al- mente revelada no capitulo 19. Aqui é antecipada."
gumas coisas acerca de Satanás, a saber, seus no- Com respeito aos 144.000 Gabelein escreve: "Es-
mes: o Dragão (a antiga serpente), o Diabo. Satanás. tes 144.000 nada têm com a Igreja. Os anciãos referi-
e o Acusador dos irmãos. (Veja-se Jó 1 e 2.) dos no versículo 3 são distintos dos 144.000 e incluem
Vemos que em tempos de provação diabólica e representam a Igreja. Os 144.000 são a companhia
pode haver vitória "pelo sangue do Cordeiro, e pela assinalada no capitulo 7 mas também incluem o res-
palavra do seu testemunho". tante de Israel que sofre, mais precisamente na Pa-
O dragão persegue a mulher (13-17). Devemos li- lestina. Em uma palavra, representam "todo Israel"
gar o versículo 6 com o versículo 14. Satanás com- salvo pela vinda do Libertador desde Siáo (Rm
preende que seu tempo é curto. Sua expulsão do Céu 11.26).

503
1

Apocalipse
" O versículo 4 é para ser entendido figurativa- fontes das águas são envenenados e corrompidos (v.
mente. Se fosse literal, os 144.000 seriam todos ho- 4). A quarta praga tem sido explicada simbolica-
mens. Eles não se contaminaram com as corruções e mente: " o sol representa a suprema autoridade do
idolatria prevalecentes na Terra". Império Romano".
A pritclamaçáo do Evangelho eterno (6.7). "Nada Na quinta praga o trono da besta é inundado de
tem com a evangelizaçâo do presente período da ira. Tinham dito sobre ela: "Quem é semelhante à
Igreja. O 'anjo' náo se entende literalmente. A prega- besta. e quem pode pelejar contra ela?" (13.4). Aqui
ção de um Evangelho nunca foi confiada a um anjo, Deus responde na sua ira. Ainda assim, nào temos o
mas aos homens. O Evangelho pregado é o do reino, completo julgamento das duas bestas, que vem mais
e os pregadores são o fiel restante do povo de Israel". adiante.
A mensagem do "Evangelho eterno" (literalmen- Sexta e sétima pragas (12-21). Há uma intima re-
te "Evangelho da época" ou, talvez, "das épocas") é lação entre os juízos das trombetas e das taças, que
interessante: a) Temei a Deus! b) Dai-lhe glória! c ) notamos mais especialmente no caso da sexta trom
Adorai o Deus-Criador! E em todas as épocas seme- beta (9.13) e sexta taça. visto que em ambas se men-
lhante mensagem pode ser chamada um "Evange- ciona o rio Eufrates. Uma interpretação histórica do
lho". Apocalipse supõe que o rio Eufrates figura a nação
.4 queda da Babilônia (8-11) é antecipada aqui. A turca, mas nada há na Bíblia que apoie esta idéia. O
"prostituição da Babilônia e uma figura de iniqüida- rio Eufrates era um dos limites do Império Rumaiw.
de religiosa. Anuncia-se o julgamento dos adorado- uma espécie de barreira dividindo entre o Ocidente e
res da besta. Vemos a ira de D>eus revelada onde, du- o Oriente. Removida esta barreira, os reis do Oriente
rante tantos séculos, foi pregada a sua graça. podem invadir a Terra Santa. Ezequiel descreve
uma grande invasão (caps. 38.39). Veja-se também
A ceifa e a vindima (12-20). O Filho do homem
Joel 3.2. (Para um estudo de Babilônia veja-se sobre
vem com juízo. Os ceifeiros são os anjos ( M t 13.41).
o capítulo 17.)
O dia de vingança já chegou. (Leia-se Isaías 63.1-6;
-Joel 3; Zacarias caps. 12-14.)
Diz F. W.Grant: " A s visões do capítulo 14 che- Capítulo 17
gam evidentemente ao termo dos julgamentos na
própria vinda do Senhor. As 'taças' (cap. 16), por A mulher prostituta (1-6). O nosso espaço dis-
isso náo podem vir depois ou ir mais além. De fato. a ponível náo nos permite entrar em todos os argu-
vinda do Senhor não é atingida por eias. embora pos mentos que identificam "Babilônia" neste capitulo
sa ser subentendida, pois nas taças a ira de Deus é com Roma papal. João viu a mulher sentada sobre
consumada. N o capitulo 14. onde temos a resposta uma beata de cor dc oecarluta (v. 3). qu# alguns ex-
do Cordeiro ao desafio do inimigo, Ele aparece. A positores entendem figurar o Império Romano res-
manifestação do Anticristo é respondida pela mani- surgido. Tal besta parece ser identificada com esse
festação de Cristo, como o dia termina a noite; mas Império. A mulher ''embriagada com o sangue dos
então o dia raiou. Nas 'taças' há simplesmente a des- santos" faz-nos lembrar as torturas da " S a n t a " In-
truiçáo do mal; e enquanto as visões anteriores clas- quisição e todas as perseguições religiosas, que nun-
sificam de maneira divina os objetos da ira, as taças ca poderão ser consumadas na própria cidade de Ba-
dão-nos antes a história detalhadamente - a suces bilônia.
são dos acontecimentos; embora isto. já se vê. tenha
A interpretação pelo anjo (7-15). Este trecho é
propósito moral e sentido divino".
importante como sendo um dos poucos casos em que
os símbolos do Apocalipse são interpretados. "Os
Capítulo 15 sete reis ou cabeças no versículo 10 representam di-
ferentes formas de governo no Império Romano, al-
O cântico de Moisés e do Cordeiro (1-4). Aqui se gumas já passadas... A oitava cabeça, que vai para a
segue m a i s u m a cena d e a d o r a ç ã o antes d c s a í r e m oe perdição (v. 11), é o chefe do Império, a ponta peque-
anjos com as sete últimas pragas. Que contraste en- na que Daniel viu na besta com dez pontas".
tre a ocupação dos remidos com seu Salvador e a A desolação da prostituta (16-18). A mulher fica
ocupação dos anjos, com juizes sobre a terra! Os ado- montada na besta pouco tempo. As dez pontas, os
radores aqui náo são anciãos, mas os harpistas que já dez reinos e a besta, viram-se contra eia (v. 16). E
temos visto em 14.2.3. Deus, no seu justo juizo. que tem decretado sua de-
Os sete anjos procedem do templo (5-8). Mais solação desta maneira. "A mulher que viste é a gran-
bem-aventurada sorte a nossa, de sermos os mensa- de cidade que reina sobre os reis da terra". A cidade
geiros da misericórdia de Deus, do que essa dos an- não pode ser outra senão Roma, com o nome simbóli-
jos, os mensageiros da sua ira. Mas a graça despreza- co de Babilônia.
da por muitos séculos será seguida por juízos divi-
nos. Capitulo 18
Os anjos saem do santuário com as máos vazias,
mas recebem de uma das criaturas viventes as taças Neste capitulo vamos usar as divisões d ^ i s por
da ira de Deus. Scofield.
A última forma da cristandade apóstata - A ad-
Capítulo 16 vertência ao povo de Deus (1-8). Este capitulo apre-
senta mais o aspecto social e comercial da cristanda-
As cinco primeiras pragas i. 1-10). Os julgamentos de apóstata, e náo tanto o aspecto religioso, como no
das taças afetam não somente o Império Romano capítulo anterior. O anjo do versículo 1 pode ser no-
mas o mundo todo (v. 1). Podem ser penas simbóli- vamente o próprio Senhor.
cas ou literais. O mar (v. 3) pode representar os gen- Babilônia feita habitação de demônios, pode sig-
tios. Todos os gozos da vida figurados pelos rios e nificar algum grande desenvolvimento do espiritis-

504
— — _ _

mo. Os reis do versículo 3 nào sào os dez reis do Im- "Zacarias 14.2 cumpre-se agora. Enquanto vas-
pério, pois estes sáo instrumentos no julgamento da tos exércitos cobrem montanhas e vales, o alvo visa-
prostituta, enquanto aqueles lamentam a sua des- do será Jerusalém Todas as nações seráo ajuntadas
truição (v. 9). contra ela. A angústia de Jerusalém é a maior da sua
Neste meio corrupto ainda há alguns que Deus história, mas O fiel restante espera o livramento pro-
pode chamar "povo meu", e, a estes, a palavra é "Sai metido. A besta, chefe do Império, e a segunda bes-
dela!" Durante todos os séculos esta advertência ta. o Anticristo, chamada também de o falso profeta,
tem despertado os crentes sinceros, para nào se com- agem de comum acordo nesta cena final. Vemo-los
prometerem com associações duvidosas. juntos no versículo 20".
O aspecto humano de "Babilônia" (9-19). Segue- Diz F W.Grant "O Milênio não é a eterna bem-
se aqui uma lamentaçáo geral de todos os que têm aventuranca: não é o sábado, com o qual tantos que-
lucrado com o comércio de "Babilônia", agora que rem compará-lo. Corresponde antes ao sexto dia o
chegou a hora da sua destruiçào. As mercadorias de dia em que o homem e a mulher (tipos de Cristo e a
Babilônia aqui sáo de 28 diferentes espécies, come- Igreja) são colocados sobre as outras criaturas. O sé-
çando com ouro e terminando com almas humanas. timo dia é o tipo do descanso de Deus. que é o único
Sabemos que ainda há quem faça negócio de criatu- verdadeiro descanso para seu povo (Hb 4.9). O Milê-
ras humanas, sacrificando corpos e almas no seu co- nio é o último per:odo da prova do homem, e nào seu
mércio. Ao estudar os artigos do comércio da cristan- descanso. É prova nas melhores circunstâncias
dade apóstata, reparamos que todos sào de luxo. possíveis - a justiça reinando, o curso do mundo
A vista angélica de Babilônia (20-24). Em Jere- transformado, o Céu aberto, a terra cheia do conhe-
mias 51.60-64. lemos que Seraias foi mandado por cimento da glória de Deus. a recordação de juízos
Jeremias a atar uma pedra ao livro que continha as passados para admoestar sobre o futuro. Então será
palavras do profeta, e lançá-lo no rio Eufrates. "E resolvido o problema de -se. afinal, o pecado é mero
dirás: Assim se submergirá Babilônia por causa do fruto da ignorância, de mau governo ou de quaisquer
mal que vou trazer sobre ela". Aqui um anjo toma dos acidentes da vida aos quais tão freqüentemente é
uma grande pedra de moinho e a atira no mar. assim atribuído. Ficará evidente a sua origem quando, de-
simbolizando a completa destruição do sistema iní- pois de mil anos de bênçãos. Satanás for solto da sua
quo e da cidade igualmente iníqua. prisão; somente então a última lição quanto ao ho-
mem será plenamente aprendida".
Capitulo 19
Capítulo 20
Quatro aleluias no Céu. (1.6). Mais uma vez te- Satanás amarrado; o reino milenar (1-6). Seis ve-
mos a frase significativa "depois destas coisas" (4.1; zes neste capitulo lemos dos mil anos. Outras passa-
7.1; 18.1). A primeira vez foi no capítulo 4. a respeito gens que podem ser consultadas sobre o reino mile-
dos "céus", e depois disso a encontramos várias ve- nar sáo: Mateus 19.28; Atos 3.19-21; Romanos 8.19-
zes. Aqui a imensa multidáo celebra o triunfo do 23; Efésios 1.10; Filipenses 2.9-11; Colossenses 1.20.
Cordeiro sobre todo o poder inimigo. Podemos acrescentar ainda a escritura: "Porque
As bodas do Cordeiro (7-10). A prostituta está convém que reine até que haja posto a todos os ini-
sendo julgada, aquela que queria figurar como a noi- migos debaixo dos seus pês. Ora, o último inimigo
va do Cordeiro; a verdadeira noiva (a Igreja) vê-se na que há de ser aniquilado é a morte. Porque todas as
glória. Alguns tém pensado que a noiva é Israel, mas coisas sujeitou debaixo dos seus pés. Mas quando diz
esquecem-se de que esta é uma cena celestial, e as que todas as coisas lhe estão sujeitas, claro está que
bénçàos de Israel, sào terrestres. Em tempos passa- se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas" (1
dos Israel figurava como a esposa de Jeová (Is 54.5). Co 15.25-27). Com estas escrituras podemos ainda li-
mas por causa dos seus pecados foi repudiada. gar Salmo 72.7,8: Isaias 2.4; 6.3; 65.25: Hebreus 2.14.
"A sua esposa se aprontou" (v. 7). A graça de Satanás solto; a última revolta (7-10). Deus per-
Deus forneceu o vestido branco, e o sangue da expia- mite Satanás sair da sua prisão para demonstrar o
çào é o titulo à glória. que é a natureza humana. A humanidade já foi pro-
Os céus abertos e a vinda do Rei (11-16). Chega- vada sob todas as condições possíveis, e falhou em
mos agora ao grande acontecimento tantas vezes cada prova. Falhou debaixo da Lei. e ainda mais de-
mencionado no V.T. - a manifestaçào de Cristo, de baixo da Graça, e agora, nas circunstâncias mais glo-
volta para julgar o mundo e receber seu reino mile- riosas, durante o Milênio, quando o Senhor é conhe-
nar. Gabelein aponta as seguintes criaturas que se cido em todo o mundo e reina em justiça, o homem
referem ao mesmo assunto: Salmos 2; 45; 46; 47; torna a falhar, nào correspondendo á graça de Deus
50.1-6; 68; 110; Isaías 11:24.19-23; 25; 26; 63.1; 65.5- Ainda haverá afinal homens dispostos a aderir á re-
16; Daniel 2.44.45; 7.9-14; Joel 3; Zacarias 14; volta de Satanás e a se rebelarem contra Deus. Sobre
Hebreus 3. (Vejam-se também Mateus 24.29,30; isto podemos consultar algumas passagens do V.T.,
Atos 1.11:2 Tessalonicenses 1.7-10.) por exemplo: Salmos 18.44; 66.3; Isaías 66.23,24.
A batalha do Armagedom (16.16) e o dia da vin- Sobre Gogue e Magogue. Gabelein escreveu:
gança (17-21). Hoie mesmo vemos nações que estão "Gogue e Magogue (v. 8) náo devem ser identifica-
embriagadas com as soas proezas militares, e pode- dos com Gogue e Magogue em Ezequiel 38 e 39. A in-
mos entender que este espírito belicoso aumentará vasão da terra descrita por Ezequiel é anterior ao
ainda mais. Tais povos, afinal, poderão encontrar-se Milênio. Gogue e Magogue não devem ser entendi-
com um guerreiro mais forte que eles. e então sofre- dos literalmente: os nomes sáo empregados metafo-
rão as conseqüências do seu militarismo. A quem o ricamente. A invasão antes do Milênio é uma figura
quiser é concedido conhecer Cristo como Salvador. desta revolta final... Os remidos estão acima da ter-
Amigo e Protetor, mas quem se atrever a lutar con- ra. na Nova Jerusalém, mas eles têm acesso á terra e
tra Ele saberá que Ele é o Vencedor. participam com o Rei no governo da terra".

506
Apocalipse

O Grande Trono Branco (11-15). Nosso Senhor ca será removida da terra, e as suas glórias durante o
falou de duas ressurreições (Jo 5.29), uma para a vi- Milênio sào plenamente descritas pelos profetas do
da e outra para a morte. O Apocalipse (ala da pri- V . T (Veja-se. por exemplo. Isaías 62.2-5...)
meira. "Eata « a primeira ressurreição" (v. 5). A pri-
meira ressurreição foi completada no começo do Mi- " O muro com suas doze portas, doze anjos, doze
lênio. O restante dos mortos (v. 5) são, necessaria- nomes das tribos, doze fundamentos, mostra alguma
mente, os mortos iníquos. O juízo do Grande Trono relação entre a cidade santa, a esposa do Cordeiro e a
Branco é um juízo somente dos mortos. Jerusalém terrestre.
"Quem é o Juiz sobre o trono? Náo o Pai. mas o "Que esta cidade não pode ser uma habitação
Filho (Jo 5.22). O Trono náo está estabelecido sobre terrestre, vê-se pelas suas medidas aproximada
a terra nem em relação aos tempos e dispensações. E mente 2.000 quilômetros de comprimento, largura, e
um cena exterior á história humana. Passamos do - altura! Prensamente o que estas medidas signifi
T e m p o para a Ktemidade!'* (Scott). cam. náo pi»demos interpretar, mas provavelmente
contém a idéia de simetria perfeita
Capítulo 21 Para uma explicação de todos os símbolos conti-
dos na descrição da Nova Jerusalém é preciso con-
Novos céus e nova terra (1-8). N o capítulo 20.11 sultar um comentário sobre o Apocalipse.
lemos que céus e terra fugiram, e náo se achou lugar
para ele». Kealizar-se-á entáo a grande conflagração Diz F.W.Grant: " A 'cidade' que nos é revelada
de que fala Pedro, quando "os céus passarão com aqui náo é uma simples figura dos santos, como. pelo
grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfa- termo empregado, a Noiva, a Esposa do Cordeiro',
rão. e a terra e a» obras que nela há, se queimarão" alguns entendem. Há outra» escrituras que apresen-
(2 Pe 3.10). Mas no mesmo capítulo lemos: "Mas tam um sentido mais positivo. 'Jerusalém dr cima.
mis. segundo 'a sua promessa, aguardamos novos que é nossa mãe' (G1 4) náo pode ser entendida as
céus e nova terra, em que habita a justiça" (v. 13). sim, embora a Igreja fosse assim chamada pelo pen-
Durante o Milênio, a justiça reina na terra, mas de samento da Idade Média. Ainda assim nào podia ser
pois surge um novo estado de coisas onde a justiça chamada 'de cima'.
habita.
" E m Hebreus 12 temos um testemunho ainda
" O céu mencionado neste capitulo náo pode ser o mais definido. Ali a 'Igreja dos primogênitos inscri-
céu inteiro, pms há um céu que não pode ser tocado tos no Céu'. tanto como 'os espirite* dos justos aper-
por este fogo purificador. O céu quer dizer, muitas feiçoados'. em outras palavras, tanto cristãos como
vezes, a atmosfera que envolve a terra, que outrora » n t o s do V.T.. sáo mencionados distintamente da
era a esfera do grande usurpador, o príncipe das po- 'cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste"; portanto,
testades do ar". (Veja-se I&aias 65.17 e 66.22.) náo podem ser idênticos.
"Mas quanto aos tímidos | medrosos. V.B.]... a
sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre" " M as a cidade é a 'noiva, a Esposa do Cordeiro'
(v 8). Não é licito aplicarmos este terrível castigo a
N o V . T . a figura do matrimônio emprega se da mes-
todos os medrosos sem discriminação. Os discípulos, ma maneira Israel era assim a esposa de Jeová (Is
durante a tempestade no lago. mostraram-se "me- 54.1; Jr 31.32). agora repudiada por causa da sua in
drosos" (a mesma palavra grega), mas nào vão para fidelidade, mas que voltará ainda (Oséias 2) e será
o Inferno por isso Evidentemente o sentido é muito recebida e reabilitada. Novamente seu Criador será
restrito, e possivelmente refere se a pessoas que. por •eu marido, e bênção maior que a primitivo lhe será
covardia, nào se converteram a Cristo, receando a outorgada. N o Salmo 45 o Rei de Israel, o Messias, é
perseguição. o Noivo; o Cântico de Salomão é o cântico místico do
seu consórcio. Jerusalém assim leva seu nome: 'Este
Contudo, alguns podem achar difícil conciliar é o nome pelo qual ela será chamada: Jeová, a nossa
este versículo, que aparentemente engloba tímidos, Justiça' (Jr 33.16; 23.6). A terra também será des
abomináveis e assassinos no mesmo castigo, com ou- posada' (Is 62.4).
tras escrituras que ensinam que o castigo será de
acordo com a ofensa (Lc 12.47), como também a jus- " N o N . T . a mesma figura emprega-se, e da mes-
tiça humana requer, e com Apocalipse 20.12 que fala ma maneira o Batista fala do seu gozo como 'amigo
de os mortos serem julgados "segundo as suas obras " do Noivo' e de ouvir a voz do Noivo (Jo 3.29). E na
uma Borte que mesmo a nossa inteligência natural parábola das virgens ( M t 25). são os cnstáos os que
aprova, embora deseje que a justiça seja temperada saem ao encontro do Noivo, por isso mesmo eles náo
com misericórdia. sào a noiva, que ainda é Israel (de acordo com o sen-
Notemos que o mesmo capitulo que fala em tão tido geral das profecias) Alguns percebem nas bodas
tremendos juízos contém também as palavras: de Caná da C.altl*ia também um reflexo do mesmo
"Deus limpará dos seus olhos toda lágrima", e nos pensamento".
deixa pensando que porventura, " t o d a " quer dizer o O novo templo e a nova luz (22-27) Esta cidade
que diz, e inclui lágrimas de arrependimento, de re- celestial nào necessita de um templo, porque Deus
morso. de desapontamento, de desespero. estará acessível aos seus habitantes espirituais, não
A Nooa Jerusalém (9 21). Este trecho ocupa-nos em um determinado lugar e ocasião, mas sempre e
outra vez com o período milenar. O que foi dito em por toda parte. "Quando as nações e os reis da terra
20.2-6 é agora revelado mais plenamente, e temos subirem a Jerusalém terrestre para adorar a Deus
uma descrição da noiva, a esposa do Cordeiro, na sua durante o Milênio (SI 72.8 I I : Is 60.1-3: Zc 14.T6I.
glória milenar, em relação a Israel e ás nações sobre sem dúvida levantarão seus olhos á Jerusalém ceie»
a terra. tiai. Sobre o monte Siâo, na terra de Israel, desran
"Esta descrição da Nova Jerusalém é simbólica: sará a glória de Deus, e por cima a visão da cidade
ela náo está sobre a terra. A Jerusalém terrestre nun- onde a glória habita e donde a glória emana".

506
Apocalipse

Capitulo 22 serviço santo; 4) "verão seu rosto"; 5) o nome na tes-


ta; 6) ausência de noite; 7) um reino etemo.
O novo Paraíso, e o rio da água da vida (1-7).
A última mensagem da Bíblia (8-19). O que mais
Continua ainda a visão de Jerusalém celestial, com o
no* impressiona nesta mensagem é a expressão "eis
rio da vida • a árvore da vida para a saúde das na-
que cedo venho", seis vezes repetida em palavras di-
ções. A Jerusalém terrestre terá também «eu rio (Ez
ferentes. Como podemos entendé-las? Quase dois
47.1 e Zc 14.8). Tornando a estudar Ezequiel 47 mil anos já decorreram desde que essas palavras fo-
achamos mais alguma coisa que corresponde á cida- ram escritas, e ainda dizem os descrentes: "Onde es-
de celestial: "E junto do ribeiro, d sua margem, de tá a promessa da sua vinda t"
uma e de outra banda, subirá toda sorte de árvore Ao menos uma coisa parece evidente: que Deu*
que dá fruto para se comer: ndo cairá a sua folha, quis que. durante os séculos, a esperança da volta do
nem perecerá o teu fruto: nos seus meses produzirá Senhor fosse para os remidos sempre viva, imediata,
novos frutos, porque as suas águas saem do santuá- purificadora (1 Jo 3.3) em todos os tempos.
rio: e o seu fruto servirá de alimento e sua folha de A nossa compreensão essa vinda pode não pare-
remédio". cer "cedo", mas em vista dos ilimitados séculos da
Repetimos, isto se dará na Jerusalém terrestre. eternidade, pode parecer cedo para Deus, para quem
Bem se tem dito que "as coisas terrestres sáo mode- mil anos sáo como um dia.
ladas na semelhança das celestiais". (Veja-se Êxodo A última promessa e a última oração da Bíblia
25.40; 26.30; 27.8.) O rio sobre a terra, com suas ár- (20,21). A promessa persuade-nos de que a grande
vores, frutos e remédios, é como que uma sombra preocupação do Salvador atualmente, como durante
projetada pela árvore da vida na Jerusalém celestial. os séculos passados, é a segunda vinda. Tem-se dito
que durante o período da sua vida terrestre Jesus era
A árvore da vida faz-nos pensar do Éden. A árvo- " o homem de dores"; que atualmente é o homem de
re do conhecimento do bem e do mal não apareceu paciência, e que, afinal, quando receber a sua Igreja
mais. Como disse alguém: " A árvore cujo fruto trou- remida, será o homem de regozijo (Ef 5.27).
xe a morte, secou-se na Cruz". E o crente esperançono corresponde á inspiradora
Os versículos 3-6 falam de sete glórias dos remi- promessa com sua oração fervorosa "Ora vem. Se-
das: 1) ausência de maldição: 2) governo divino; 3) nhor Jesus!"

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