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GUIA DE PEÇAS JURÍDICAS

Para advogados iniciantes


Dicas para leitura deste ebook

Tempo estimado de leitura: 40min.

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Quem somos

A Aurum Software é uma empresa


brasileira líder no desenvolvimento
de software jurídico. Há 20 anos no
mercado, possui unidades em São
Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis.

Com o objetivo de ser o braço


direito do advogado e grande
aliado dos escritórios de advoca-
cia, a Aurum entrega o que há de
melhor em soluções tecnológicas e
informativas para facilitar a rotina,
melhorar a gestão, simplificar os
processos de trabalho e otimizar o
tempo dos profissionais do direito.
Índice

Introdução
Capítulo 1
Petição Inicial
O ponto inicial é a definição da estratégia
Esqueça os modelos prontos de petições
Ajude na celeridade processual
Como narrar a história do meu cliente?
Deixe de lado a famosa estrutura: Dos Fatos, Do Direito e Do Pedido
O fechamento da sua petição inicial deve ser bem pensado

Capítulo 2
Contestação
Persuadir e convencer: essa é a chave de uma boa contestação
Utilize argumentos fortes
Plante a dúvida já na narrativa dos fatos
Contestação: peça única de defesa do Réu
Por fim, as questões de mérito
Capítulo 3
Réplica à contestação
Destaque as questões que não merecem ser provadas
Otimize o tempo

Capítulo 4
Embargos de declaração
Alteração legislativa
Atenção ao limite da lide e aos fatos debatidos

Capítulo 5
Agravo de Instrumento
Nova sistemática de preclusão
Evolução legislativa quanto à formação do instrumento
A necessidade de observância do princípio da dialeticidade
Pedido de efeito suspensivo ou de antecipação do mérito recursal

Capítulo 6
Recurso de apelação
Atenção aos limites da demanda
A teoria dos capítulos de sentença
Recurso parcial ou total?

Conclusão
Introdução

Uma das atividades rotineiras na vida do advogado é redigir peças jurídicas. Com
o tempo, esse tipo de tarefa se torna automático, mas para quem está come-
çando, sentir dificuldade na redação dos primeiros documentos é normal.

Afinal, é uma grande responsabilidade, não é mesmo? Uma peça de qualidade


pode interferir diretamente no andamento de casos e processos – assim como
uma não muito boa pode atrapalhar bastante o resultado do seu trabalho.

É nesse cenário que muitos advogados iniciantes saem em busca de modelos


prontos. Mas a verdade é que nós não acreditamos que essa seja a melhor
saída. Afinal, cada caso tem suas particularidades. Melhor do que se basear
em modelos prontos e genéricos é fazer os seus próprios documentos e, a
partir do seu jeito de trabalhar e do seu nicho de atuação, criar os seus pró-
prios modelos. ;)

Pensando nisso, reunimos seis peças jurídicas que você com certeza vai ter
que lidar no seu dia a dia: petição inicial, contestação, réplica à contestação,
embargos de declaração, agravo de instrumento e recurso de apelação.
O objetivo deste ebook é ser um guia para orientar você na produção desses

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materiais a partir das dicas pensadas, escritas e vividas pelo advogado Fernan-
do Cascaes, para que você entenda o motivo de cada item e não precise se
basear em modelos prontos. Dessa forma, suas peças serão ainda mais asser-
tivas e com maiores chances de sucesso!

Quem vai dar todas essas dicas especiais para redigir as melhores peças jurídi-
cas é o nosso parceiro Fernando Cascaes. Ele é especialista em Direito Socie-
tário e Empresarial, bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) e advogado inscrito na OAB de Santa Catarina.

Escolha um lugar confortável, puxa o bloquinho de notas (o tradicional de


papel ou o virtual) e vem aprender com nosso Guia de peças jurídicas para
advogados iniciantes.

Então, procure uma posição confortável


e tenha uma ótima leitura.

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Capítulo 1
Petição Inicial
A iniciativa de começar um processo é da parte e acontece por meio do protocolo
da petição inicial. Esse documento é uma peça fundamental e obrigatória na vida
de qualquer advogado! Afinal, sem ele não existe processo, certo? Por isso, vale a
pena dedicar tempo, atenção e estudo na redação desta peça. E é sobre isso que
falaremos neste primeiro capítulo. Então, vamos às dicas!

O PONTO INICIAL É
A DEFINIÇÃO DA ESTRATÉGIA

O jogo processual inicia muito antes da petição inicial. Ele começa já na elabora-
ção das estratégias.

Para montar as estratégias é preciso que os fatos que deram origem ao lití-
gio estejam bem especificados e nenhum detalhe pode ser esquecido. Aliás, dê
valor aos detalhes. Por vezes, os pequenos fatos é que desencadeiam consequ-
ências maiores. Ser minucioso e determinado para obter com afinco informa-
ções precisas sobre o assunto é a chave para um bom começo de processo. Para
isso, faça o número de reuniões suficientes e solicite todos os documentos que
entender pertinentes.

Com os fatos bem definidos e detalhados é chegada a hora de estudar o caso.


Saber o direito material, ler doutrinas relacionadas ao tema objeto da lide e
ver os entendimentos dos Tribunais sobre o assunto são passos básicos. Uma
boa dose de conhecimento sobre o assunto que, aplicado ao problema, facilita
extraordinariamente o trabalho.

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Ter domínio dos pontos fortes e fracos do direito de seu cliente é fundamen-
tal para poder traçar a estratégia processual mais adequada para o êxito da
demanda, sobretudo para auxiliar na dedução de alguns argumentos e passos
da parte adversária.

Depois de definida a estratégia, basta redigir a petição inicial.

ESQUEÇA OS MODELOS
PRONTOS DE PETIÇÕES

Modelos prontos de petição fazem com que o seu cérebro fique atrofiado, uma
vez que não é necessário raciocinar. A utilização de modelo pronto faz com que
o seu trabalho e o de uma mala direta sejam praticamente iguais se comparados
seus efeitos práticos. Ora, se você não consegue se diferenciar de uma mala direta,
quem dirá de seu concorrente. Costumo mandar um documento em branco quando
me pedem um modelo de petição.

Além dos motivos das linhas anteriores, é preciso ter em mente que um caso será
diferente de outro. Os modelos prontos nem sempre se encaixam perfeitamente
no caso de seu cliente. Por mais semelhantes entre si que possam parecer, sempre
existirá entre eles um detalhe ou um fato diferente.

Por isso, usar modelo pronto exige um zelo superior ao de começar uma petição de uma
página em branco, porque pode ocasionar erros banais se não tiver a devida atenção.
Portanto, a utilização de modelos prontos faz com que você se torne obsoleto,

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não competitivo mercadologicamente e dá chances ao cometimento de erros.
Nada obstante, a estrutura de uma petição é simples e possui quatro elementos
fundamentais: o endereçamento, a qualificação das partes, os argumentos e a
conclusão.

Conhecer os quatro elementos comuns a todas as petições e observar os regra-


mentos específicos da petição inicial, contestação, apelação, dentre outras peças,
faz com que você nunca mais precise de um modelo pronto.
Sendo assim, esqueça os modelos prontos!

AJUDE NA CELERIDADE PROCESSUAL

Um bom advogado evita que haja determinação de emenda ou complemen-


tação de sua inicial. Endereçar a petição ao juízo competente, qualificar as par-
tes de forma correta, valorar a causa, juntar a procuração e cumprir os demais
requisitos definidos pelo Código de Processo Civil é tarefa básica e não deve ser
exceção.

Atente-se à questão do endereço eletrônico das partes e da manifestação de


desinteresse na autocomposição, caso existente, pois são algumas das novas
exigências impostas pelo Código de Processo Civil.
Ainda que a determinação da emenda ou complementação da inicial não leve
ao fim prematuro do processo, certamente retardará o seu andamento. Ima-
gine, caro leitor, o quão difícil e constrangedor é explicar ao seu cliente que o

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processo não andou por um equívoco seu na elaboração da petição inicial. Por
isso, atenção redobrada para os requisitos da petição inicial.

COMO NARRAR A HISTÓRIA


DO MEU CLIENTE?

É duro admitir: advogados não sabem escrever. Não estou falando de gramática. O
que pretendo dizer é que advogados não possuem o dom da escrita que detinha,
por exemplo, Machado de Assis ou Sir Arthur Conan Doyle.

O advogado deve ser inteligível e prender a atenção do juiz. De nada serve o direito
de seu cliente ser excelente, se você não consegue expressá-lo de forma correta e
agradável. Uma narrativa confusa, frases mal elaboradas e a ausência de encade-
amento de ideias, tornam difícil a compreensão do direito e, principalmente, dos
fatos pelo juízo.

Nesse ponto, sempre dou três dicas que entendo essenciais para quem trabalha
comigo. Primeira: muita leitura. Esqueça de livros técnicos e parta para a literatura.
Além de um ótimo entretenimento, melhora o vocabulário e ajuda a aprimorar a
narrativa dos fatos. Faça um teste, aposto que as suas petições passarão a ser mais
deleitáveis.

A outra dica é inspirada em uma das famosas frases de Thomas Jefferson: “O mais
valioso de todos os talentos é aquele de nunca usar duas palavras quando uma
basta”. Seja objetivo. Por que escrever trinta laudas se tudo poderá ser dito em

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apenas dez? Repetir o dito com palavras diferentes não é didático, mas sim enfa-
donho. Entre uma petição de dez laudas e outra com trinta, o magistrado certa-
mente preferirá a menor. Então, escreva o necessário para a compreensão do caso
e para a subsunção dos fatos a norma, nada mais, nada menos.

Por fim, olvide o latinismo. Se o latim é uma língua morta, para que ressuscitá-la em
cada petição? Nosso direito privado já possui enorme influência do direito romano,
o que basta. Vamos respeitar o Código de Processo Civil que diz ser obrigatório o
uso da língua portuguesa em todos os atos e termos do processo e deixar os mor-
tos em paz.

DEIXE DE LADO A FAMOSA ESTRUTURA:


DOS FATOS, DO DIREITO E DO PEDIDO

Os fatos e argumentos jurídicos estão intimamente ligados. Como argumentar


somente na Lei sem fazer a subsunção dos fatos a norma e vice-versa? Impossível,
é a resposta mais prudente. Por esse motivo, costumo direcionar a narrativa para
as consequências jurídicas de determinado fato que está sendo descrito. É um tra-
balho difícil e que exige muita prática para tornar-se espontâneo. No entanto, traz
um resultado sensacional.

Algo que auxilia muito para o aperfeiçoamento dessa técnica é a divisão em tópi-
cos. Cada questão a ser debatida equivalerá a um tópico. Para isso, inspire-se em
matérias jornalísticas. Jornais têm que vender notícias, igual você tem que “ven-
der” o direito de seu cliente. Os títulos dos tópicos de sua petição serão o primeiro

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passo para prender a atenção do juiz ao caso de seu cliente.

Depois, cada tópico deverá ser uma história com começo, meio e fim, idêntico a
uma matéria jornalística ou a um capítulo de um livro. São pequenas histórias que
ao final chegam à conclusão da procedência dos pedidos de seu cliente.

Já os argumentos de autoridade devem ser utilizados com cautela na petição ini-


cial. Em uma lide em que se discute acidente de trânsito, via de regra, não é neces-
sário trazer jurisprudência e doutrina sobre responsabilidade civil, pois é um caso
de baixa complexidade. Deixe os argumentos pautados em doutrina e jurispru-
dência para as questões mais complexas e controvertidas do seu caso. Assim, a sua
petição ficará mais limpa e agradável.

Porém, se existe um precedente vinculante ao caso do seu cliente e esta é a pre-


missa para o pedido, você deverá demonstrar que os fatores determinantes do
julgado se encaixam perfeitamente ao caso. Sua petição deverá ficar mais simples
e direta, pautada apenas no precedente. Da mesma forma, para fugir da regra da
aplicação do precedente vinculante, você deverá demonstrar que o caso de seu
cliente difere do julgado.

Enfim, você deve convencer e persuadir o juiz a respeito do direito de seu cliente,
demonstrando claramente a ligação entre os fatos e o direito, independente da
estrutura adotada.

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O FECHAMENTO DA SUA PETIÇÃO INICIAL
DEVE SER BEM PENSADO

A parte dos pedidos é uma das que mais exige a sua dedicação, já que o juiz não pode-
rá decidir diferente do que foi a ele requerido, sob pena de nulidade da sentença.

Na formulação dos pedidos é importante ter bem clara a divisão quinaria das ações
(declaratória, constitutiva, condenatória, mandamental e executiva latu sensu).
Utilize a carga predominante da ação para formular o seu pedido, lembrando sem-
pre que pode haver cominação de ações em uma mesma petição.

Outro ponto fundamental no momento do pedido é a ponderação dos riscos de


sucumbência. Não formule pedidos que sabidamente serão julgados improceden-
tes. O Código de Processo Civil trouxe regras bem definidas para a condenação
em honorários. Contudo, todo bônus vem com ônus. E o ônus desta conquista da
advocacia é o aumento da responsabilidade na formulação dos pedidos, visto as
eventuais consequências patrimoniais para o cliente.

A elaboração da petição inicial exige dedicação, atenção e tempo, principalmente


em casos difíceis e complexos. É a partir dela que irá se desenrolar o processo. A
decisão sobre o direito de seu cliente será realizado pelo juiz, porém, a busca
pelo melhor resultado começa na formulação da estratégia e de uma boa peti-
ção inicial.

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Capítulo 2
Contestação
Não existe direito bom ou direito ruim, causa ganha ou perdida. O que existe,
em verdade, é direito bem ou mal argumentado. Advogar é ter uma única causa:
a do seu cliente.

Para mim, é na contestação que o advogado mostra o seu talento, pois con-
testar é a arte de desconstruir e construir argumentos. É desqualificar fatos
jurídicos e torná-los controvertidos.

PERSUADIR E CONVENCER:
ESSA É A CHAVE DE UMA BOA CONTESTAÇÃO

Na contestação, você, enquanto advogado, deve persuadir e convencer o Magis-


trado de que a demanda contrária ao seu cliente não deve prosperar. Ele, Juiz,
é o foco e o alvo de toda a argumentação. E digo: você não deve se valer ape-
nas de argumentos jurídicos, porque muitas das vezes é preferível adotar um
argumento que pareça mais equitativo, mais oportuno, mais útil, mais razoável
e adaptado à situação. Porém, para deixar a peça mais atrativa ao leitor, não
demore em tudo que é notório ou em fatos que são objetos de experiência
comum.

Iniciar o debate com os argumentos mais relevantes e mais fortes é fundamen-


tal para que o Juiz assinta com a tese de seu cliente. A qualidade dos argumen-
tos está não apenas na dificuldade em refutá-los, mas principalmente em
seus próprios atributos. Persuadir, desde o início da argumentação, o Juiz a
concordar com a tese de seu cliente pode ser a chave para o sucesso da contes-

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tação. Por isso, sempre comece com os argumentos mais fortes e deixe os mais
fracos por último.

UTILIZE ARGUMENTOS FORTES

Para saber quais são os argumentos mais fortes, é importante ter conhecimento
pleno da demanda proposta, desde os fatos até o teor dos documentos. Eu gos-
to muito de riscar e rabiscar as petições e documentos que estou contestando,
de aderir notas de papel (post-its) neles, tudo no objetivo de rascunhar ideias
de argumentos, pontos fortes e fracos. Assim, as impressões não se apagam
no tempo e fica muito mais fácil encadear ideias em um segundo momento. É
essencial encontrar a melhor metodologia para manter as ideias e os argumen-
tos vivos na memória.

Após ter domínio sobre a demanda a ser contestada, procure buscar fatos e
documentos com seu cliente. Somente com as duas versões dos fatos é que
você poderá traçar a melhor estratégia e os argumentos mais convincentes.
Importante: não influencie o cliente. Durante a reunião para discussão do caso,
deixe-o falar primeiro sobre os fatos e depois faça os questionamentos neces-
sários para a elaboração da peça. Busque sempre uma versão isenta de paixões
para melhor conhecer os pontos fortes e fracos do direito de seu cliente. Ele
não deve tentar convencê-lo sobre a improcedência da demanda proposta.
Esse papel cabe a você frente ao Poder Judiciário. Portanto, jamais influencie
ou direcione seu cliente a respeito de fatos colocados na inicial.

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O próximo passo é ler novamente a petição inicial para poder elaborar o roteiro
de sua contestação, pontuar preliminares a serem arguidas e fatos importantes
a serem objetados. Depois de tudo isso, não tenha pressa em terminar a peça,
utilize todo o prazo, leia e releia para verificar se não deixou nenhum argumen-
to para trás.

PLANTE A DÚVIDA JÁ
NA NARRATIVA DOS FATOS

Na efetiva elaboração da peça, não esqueça que o Juiz possui inúmeros casos
para julgar. Dessa maneira, facilite a vida do Togado e ajude seu cliente narran-
do os fatos de maneira com que o julgador não tenha que voltar até a petição
inicial para entender o que está em debate. A narrativa da demanda inicial tam-
bém pode ser utilizada para influenciar o Magistrado nas premissas dos argu-
mentos da contestação, pois toda argumentação é indício de dúvida. Plante
dúvidas a respeito do direito do autor no meio da narrativa da petição inicial,
isso alicerçará os seus fundamentos de contestação.

CONTESTAÇÃO:
PEÇA ÚNICA DE DEFESA DO RÉU

Depois da narrativa dos fatos, é chegada a hora das preliminares. Mas não perca
tempo nelas. A extinção do processo sem julgamento de mérito empobrece o
direito e dificulta a sua evolução. Aliás, hoje vigora em nosso sistema processual
cível a primazia do julgamento de mérito. Então, sempre que possível, o Magis-

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trado irá ultrapassar as preliminares para julgar o mérito. É um progresso do
nosso direito que deve ser homenageado pelos advogados, evitando a morte
prematura do processo por questões meramente processuais. Por isso, foque
nas questões de mérito.

Todavia, as preliminares não são as vilãs do processo civil. O novo Código de


Processo Civil (CPC) concentrou todas as manifestações do requerido na contes-
tação, passando esta a ser a peça única de defesa. Assim, outra grande mudan-
ça do nosso direito processual é a inclusão da exceção de incompetência e de
impugnações ao valor da causa e a concessão do benefício de gratuidade de
justiça exatamente nas preliminares. As matérias que outrora eram ventiladas
em incidentes apartados, agora devem ser arguidas em preliminares.

POR FIM,
AS QUESTÕES DE MÉRITO

Não deixe fatos incontroversos! Essa é a regra que deve ser lembrada na obje-
ção das questões de mérito. Deixar fato incontroverso é abdicar da produção
de prova em favor de seu cliente, o que é inaceitável.

Caso haja algum fato que não possa ser controvertido, desqualifique-o em rela-
ção ao direito pugnado. Traga argumentos que impeçam a aplicação de deter-
minada regra de direito. Semeie a dúvida.

Lembre-se: para fazer uma boa contestação é necessário conhecer profunda-

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mente o direito material, as posições doutrinárias e jurisprudenciais. Portanto,
dedique-se ao conhecimento do direito material debatido para melhor argu-
mentar e contrapor os fatos da petição inicial.

Saber argumentar, desconstruir premissas falsas e falaciosas não é apenas ques-


tão de filosofia, é o papel do advogado que atua com contencioso. É o caminho
para o sucesso da defesa de seu cliente e para uma boa contestação.

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Capítulo 3
Réplica
à Contestação
Como já comentei nos capítulos anteriores, o conhecimento dos pontos fortes e
fracos do direito de seu cliente é essencial para traçar as estratégias processuais
adequadas e antecipar possíveis argumentos da parte adversária. Se esse passo
foi seguido, elaborar a réplica à contestação será muito mais simples.

A réplica à contestação é o momento para o advogado reforçar os argumentos


com doutrina e jurisprudência e destacar os pontos que não dependem de pro-
va. Também é o espaço para preparar a fase instrutória do processo, ao deixar
bem claro sobre quais questões deverão recair as provas.

DESTAQUE AS QUESTÕES QUE


NÃO MERECEM SER PROVADAS

No processo civil, os fatos notórios, os confessos, os incontroversos e também


aqueles em cujo favor milita a presunção legal de existência ou de veracidade,
não dependem de prova. A réplica serve para preparar a instrução processual.
Assim, a réplica à contestação é o momento processual ideal para que o autor
da demanda deixe evidente ao Magistrado a existência de fatos que não neces-
sitam de dilação probatória. Isso, além de acelerar o processo, também evita
discussão sobre algumas questões.

Por essa razão, caro leitor, eu gosto de elencar na réplica os fatos incontrover-
sos e confessos. Destacar tais pontos e suas consequências jurídicas auxilia no
julgamento procedente dos pedidos de seu cliente, pois orienta o Juiz a esse
raciocínio e evita a produção de provas desnecessárias.

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OTIMIZE O TEMPO

Ter uma boa biblioteca é motivo de orgulho para qualquer advogado, pois a
busca do conhecimento do direito material começa sempre pela leitura de
diversos autores do assunto pesquisado. Alerto que a leitura deve ser pautada
sempre em doutrinas de excelência. A observação é necessária, pois, cada dia
mais, o Google passa a ser a grande fonte de informação de muitos. Portanto,
caro leitor, se você deseja destacar-se de seus concorrentes, é necessário ser
criterioso na escolha dos conteúdos para os estudos. Prefira um bom livro às
buscas rápidas na internet.

Da mesma forma, o conhecimento dos julgados favoráveis e contrários ao direi-


to de seu cliente facilita o mapeamento dos pontos fortes e fracos do direito de
seu cliente.

Por tudo isso, costumo ter uma pasta no computador para cada pesquisa rea-
lizada para a elaboração de uma petição inicial. Lá estão as passagens de dou-
trinas que entendo serem úteis em algum momento processual, bem como os
julgados que servem para o mesmo fim. Além de otimizar o tempo da elabora-
ção da réplica à contestação, essas informações ainda podem ser usadas para
atacar os argumentos utilizados pelo réu e fortalecer aqueles favoráveis ao seu
cliente.

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Capítulo 4
Embargos
de declaração

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O recurso de Embargos de Declaração é cabível contra todo pronunciamento judi-
cial, como uma decisão interlocutória, sentença e acórdão. Ele possui sua funda-
mentação vinculada ao esclarecimento de obscuridade, eliminação de contradi-
ção, supressão de omissão, ou correção de erro material.

Importante dizer isso para deixar claro que os Embargos de Declaração não servem
para reforma da decisão atacada, mas apenas para sanar vícios intrínsecos a ela.

ALTERAÇÃO LEGISLATIVA

Toda e qualquer decisão judicial deve ser motivada, sob pena de nulidade. Por
isso, existem três vícios intrínsecos das decisões judiciais: a ausência de funda-
mentação; a deficiência de fundamentação; e a ausência de correlação entre
fundamentação e o dispositivo. Perceba que todas as três hipóteses podem ser
reduzidas em um único defeito: a ausência de fundamentação.

O Código de Processo Civil de 2015 – o novo CPC – inovou ao dizer quando a


decisão judicial é considerada não fundamentada. Essa é uma alteração muito
positiva. A referida mudança legislativa força os Magistrados a irem além do
piloto automático e das fórmulas prontas. Dessa forma, eles são obrigados a
saírem do conforto de invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer
outra decisão e precisam explicar a relação da norma e dos conceitos jurídicos
indeterminados, para levá-los a realmente decidirem o caso concreto. Afinal, no
direito, nem sempre há uma única resposta para todos os casos.

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Portanto, o papel principal do advogado nos Embargos de Declaração é des-
tacar os defeitos da fundamentação da decisão judicial em razão dos fatos e
das provas constantes dos autos.

ATENÇÃO AO LIMITE DA LIDE


E AOS FATOS DEBATIDOS

Para elaboração dos Embargos de Declaração é necessário ter atenção aos fatos
que qualificam ou desqualificam o direito pugnado, principalmente nos casos
em que se pretende sustentar a omissão no pronunciamento judicial.

Por isso, relembro o capítulo sobre petição inicial, no qual ressaltei a importân-
cia da narrativa dos fatos e da correta delimitação dos pedidos. Para o advo-
gado da parte autora, será a chance de ter um bom recurso de Embargos de
Declaração contra uma sentença. Com uma petição inicial bem delimitada, o
advogado poderá argumentar com maior facilidade sobre os vícios da funda-
mentação da decisão atacada, uma vez que já demonstrou claramente a ligação
entre os fatos e o direito de seu cliente.

Para o advogado do réu não é muito diferente. Quando falei sobre contestação,
sugeri que o advogado semeasse a dúvida acerca do direito da parte autora. E
como fazer isso? Simples: basta não deixar fatos incontroversos, ou, na impos-
sibilidade de controverter determinado fato, é fundamental desqualificá-lo em
relação ao direito perseguido pelo autor da ação. Lembre-se que o Juiz deverá
sempre demonstrar a relação da norma ou de súmula, jurisprudência ou prece-

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dente ao caso concreto. Por essa razão, o trabalho na contestação de desquali-
ficar os fatos em relação a determinada norma ou precedente é essencial para
se obter sucesso no recurso de Embargos de Declaração.

Tudo isso, porque a decisão será considerada omissa quando o Magistrado não
enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada na decisão. Se não houve o enfrentamento prévio
da matéria, dificilmente se obterá êxito no recurso de Embargos de Declaração
com fundamento na omissão.

Veja que o sucesso da fase recursal depende muito de como o processo foi
conduzido até então. Como mencionado em linhas anteriores, os Embargos de
Declaração servem unicamente para sanar vícios da decisão e não para reformar
os seus fundamentos jurídicos. Contudo, há situações em que o acolhimento
do recurso poderá implicar modificação da decisão recorrida, o que acontece,
principalmente, nos casos de omissões.

Portanto, analisar se a decisão atacada possui efetivamente algum dos vícios que
possibilitam a oposição de Embargos de Declaração e, se existentes, demonstrá-
-los de maneira clara e objetiva é imprescindível para o sucesso de seu recurso.

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Capítulo 5
Agravo
de Instrumento

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O Agravo de Instrumento é cabível contra as decisões interlocutórias que
comportam urgência e que estão elencadas em lei. Ah, e com o novo CPC ela
sofreu alterações que merecem uma atenção extra, ok?

NOVA SISTEMÁTICA
DE PRECLUSÃO

O Código de Processo Civil de 2015 rompe a tradição do processo civil nacional


e altera a sistemática de preclusão. Hoje, com exceção hipóteses de cabimento
de Agravo de Instrumento, as questões resolvidas na fase de conhecimento não
são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação
ou em contrarrazões. Ou seja, houve a extinção do nosso velho conhecido Agra-
vo Retido. Mas hoje, o assunto é outro. Por isso, vou me limitar a essa simples
menção sobre a nova sistemática da preclusão apresentada pelo novo CPC.

EVOLUÇÃO LEGISLATIVA QUANTO


À FORMAÇÃO DO INSTRUMENTO

De volta ao assunto do Agravo de Instrumento, ressalto que o primeiro passo


para um recurso bem sucedido é formar corretamente seu instrumento. A lei
estabelece quais são as peças obrigatórias que devem ser juntadas ao recurso
interposto e faculta à parte apresentar outras que considere úteis ao julgamen-
to da causa.

Antigamente, o esquecimento de traslado de peças obrigatórias significava a

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morte do recurso. Porém, hoje, em razão da prioridade do julgamento de méri-
to, o relator do recurso deve conceder ao recorrente um prazo para sanar o
vício ou complementar a documentação exigível. A mudança é positiva, uma vez
que o Código deixa de cultuar a forma pela forma e privilegia o julgamento do
direito material.

Contudo, volto a repetir o que disse no capítulo sobre petição inicial: um bom
advogado age para evitar a determinação de retificação de sua peça, pois, ain-
da que o ato não importe no fim prematuro do recurso, retarda o andamento
regular dele. Em se tratando de Agravo de Instrumento, onde as discussões
são essencialmente urgentes, a atenção e dedicação para a formação perfei-
ta do recurso se torna ainda mais fundamental para garantir o direito de seu
cliente. Por isso, boa parte da atenção deve estar voltada à correta formação do
instrumento do recurso.

É importante frisar que nem sempre o direito de seu cliente vai estar fundamen-
tado nas peças elencadas pela lei como obrigatórias. Em consequência disso, a
análise detida de todos os documentos e peças do processo faz com que você
perceba qual deverá ser elevado ao grau de facultativo. Essa verificação pode
ser a chave para o sucesso do recurso, afinal, ao contrário do que acontece com
as peças obrigatórias, o relator não tem o dever de oportunizar a juntada pos-
terior de peças facultativas ao recorrente, principalmente porque incumbe à
parte o ônus de comprovar os fatos constitutivos de seu direito.

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A NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA
DO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE

A crítica à decisão impugnada é característica dos recursos. Por isso, todo recur-
so deve, obrigatoriamente, atacar os fundamentos da decisão hostilizada. Esse
é o princípio da dialeticidade. Assim, para quem deseja elaborar um bom recur-
so de Agravo de Instrumento, é importante evitar a mera reprodução ou remis-
são a determinada petição constante do processo.

PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO OU


DE ANTECIPAÇÃO DO MÉRITO RECURSAL

No início deste capítulo mencionei que o Agravo de Instrumento é o recurso


cabível contra as decisões interlocutórias que tratam de questões urgentes, cuja
eficácia imediata pode implicar em dano grave, de difícil ou impossível repara-
ção. Dessa maneira, é importante verificar se a questão debatida no recurso
comporta pedido de efeito suspensivo ou de antecipação de tutela recursal.
Isso vai assegurar ou satisfazer o direito de seu cliente, motivo fundamental do
requerimento.

Portanto, os pedidos recursais não se limitam somente ao de reforma ou nuli-


dade da decisão impugnada, pois aqueles relativos à suspensão da eficácia da
decisão ou de antecipação dos efeitos da tutela recursal também têm espaço
no recurso.

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Capítulo 6
Recurso
de Apelação

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O recurso de apelação é cabível, via de regra, contra a sentença. A exceção que
merece maior atenção é referente à sentença parcial de mérito (julgamento
antecipado parcial do mérito). Nesses casos, a sentença será impugnada mediante
recurso de agravo de instrumento.

Assim como no agravo de instrumento, o recurso de apelação deve atacar


objetivamente os fundamentos da decisão recorrida, sujeito ao princípio da
dialeticidade. Abordarei a seguir alguns aspectos que entendo serem importantes
para um bom recurso de apelação.

ATENÇÃO AOS
LIMITES DA DEMANDA

Já disse, em outra oportunidade, que o Juiz não pode julgar de forma diversa
daquela requerida pelo autor da ação na petição inicial, nem mesmo conhecer
de questões que não estejam ditas nos autos. Isso quer dizer que o Magistrado
está limitado aos pedidos da parte autora, razão pela qual a formulação dos
requerimentos é tão importante e demanda tempo e dedicação do advogado.

A primeira etapa da elaboração do recurso de apelação é contrapor os pedidos


iniciais com a sentença. Somente depois disso é possível verificar os pontos a
serem atacados pela via recursal e se houve a correta distribuição dos ônus pro-
cessuais (custas e honorários).

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A TEORIA DOS
CAPÍTULOS DE SENTENÇA

A sentença pode conter mais de uma decisão, a depender da quantidade de


pedidos cumulados na inicial. Assim, cada solução adotada para determinado
pedido será um capítulo de sentença e poderá ser atacado pela via recursal.
Fatiar a sentença, delimitando os seus capítulos de acordo com cada pedido,
facilita a elaboração do recurso, pois permite enxergar com mais clareza os pon-
tos a serem rebatidos.

Como dito acima, de acordo com o princípio da dialeticidade, é característica


dos recursos combater os fundamentos da decisão atacada. Dessa forma, a divi-
são dos capítulos de sentença torna-se ainda mais essencial para a elaboração
do recurso de apelação.

RECURSO PARCIAL OU TOTAL?

O recurso de apelação pode ser total ou parcial. Ou seja, ele poderá tratar sobre
todos os pontos da sentença ou apenas de alguns. Em razão do efeito devoluti-
vo da apelação e do princípio da congruência, o Tribunal apreciará somente as
questões ventiladas pelo recurso.

A escolha de combater parcial ou totalmente a sentença possui inúmeras variá-


veis, tais como: interesse recursal, legitimidade, vontade da parte, ou, conveni-
ência de interposição do recurso. A análise deverá ser realizada caso a caso, pois

35
não existe uma regra geral.

No entanto, duas questões devem ser pensadas no momento da interposição


do recurso: a preclusão e os custos processuais.

Falei no artigo sobre Agravo de Instrumento que o Código de Processo Civil 2015
(o novo CPC) mudou a sistemática da preclusão, quando determina que as ques-
tões resolvidas na fase de conhecimento não são cobertas pelo impedimento.
A mencionada alteração da regra não se aplica para o recurso de Apelação, no
qual os capítulos de sentença devem ser combatidos, sob pena de transitarem
em julgado. Em outras palavras, não sendo devolvida determinada questão ao
Tribunal, a parte não poderá mais discutir a justiça da sentença referente a tal
ponto. Então, é de grande responsabilidade a decisão de não combater deter-
minado capítulo de sentença, pois a sua consequência jurídica é o trânsito em
julgado da matéria.

A verificação dos riscos e sucumbência, para o autor da demanda, já deve ter


sido realizada no momento da proposição da ação, conforme mencionado no
artigo sobre petição inicial. Para o réu que teve sentença proferida contra si,
sob a ótica do custo processual, é na apelação o momento de constatar a perti-
nência de impugnar determinado ponto da sentença. Recorrer de questões já
consolidadas nos Tribunais Pátrios pode aumentar os ônus de sucumbência. Ao
julgar o recurso, o tribunal deve aumentar os honorários fixados anteriormen-
te, levando em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal. Assim, é

36
importante ponderar os custos do processo para decidir sobre a interposição
do recurso de apelação.

Busco registrar as razões da não interposição, total ou parcial, do recurso junto


ao cliente, informando-o, de forma clara e explícita, quanto aos eventuais riscos
e consequências resultantes dessa escolha. Apenas com o “de acordo” do clien-
te, e para evitar questionamentos futuros sobre o ato, é que não interponho o
recurso de apelação.

Portanto, para elaborar um bom recurso de apelação é importante ter conhe-


cimento da teoria dos capítulos de sentença. Com essa teoria em mente, e
tendo o domínio dos fatos do processo, ficará mais simples decidir as estraté-
gias sobre o recurso de apelação, principalmente, sobre quais pontos recorrer
e como fazê-lo.

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Conclusão

Muitas dicas boas, né? Esperamos que esse material ajude você nos primeiros pas-
sos da sua advocacia e auxilie na hora de redigir peças jurídicas de qualidade. :)

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