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QOAA-AFN/2019

TURMA REGULAR
CONHECIMENTOS GERAIS MÓDULO – II

JANEIRO - FEVEREIRO
2019

PORTUGUÊS E REDAÇÃO Prof. Rafael Dias


MATEMÁTICA Prof. César Loyola
GEOGRAFIA ECÔNOMICA Prof. Odilon Lugão
HISTÓRIA MILITAR NAVAL Prof. Vagner Souza

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MATERIAL INTERNO DE USO EXCLUSIVO DOS ALUNOS


Proibida a reprodução total ou parcial

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REDAÇÃO

COMO MELHORAR A ESCRITA ?

1. USO DO GERÚNDIO NO TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO

1. O gerúndio é uma forma nominal que apresenta o processo verbal em curso. Daí decorrem as seguintes
características (uso correto):
a) valor de modo (Ele saiu chorando. = Ele saiu choroso.)
b) valor de tempo ( Encontramos Pedro estudando.= Encontramos Pedro que estudava.)
c) valor de duração (Permaneceu atendendo. = Permaneceu no atendimento.)
d) valor de causa/explicação (Enfrentando João, Pedro fez sucesso com as meninas. = Por enfrentar João, Pedro fez
sucesso com as meninas. Ou Pedro fez sucesso com as meninas, porque enfrentou João.)

(Percebendo que o ladrão se aproximava, sentiu medo. =Por perceber que o ladrão se aproximava, sentiu medo. Ou
Sentiu medo, pois percebeu que o ladrão se aproximava.)

e) valor de condição ( Sendo decidido assim, cumpra o acordado.= Se for decidido assim, cumpra o acordado.)
f) ação imediatamente anterior à do verbo principal (Recebendo os documentos, encaminhou-os logo à chefia. =
Quando recebeu os documentos, encaminhou-os logo à chefia.)

1.2. Desvios mais comuns no emprego do gerúndio:


a) Quando a ação descrita pela forma no gerúndio e o verbo da oração principal não puderem ser simultâneas. Exemplo
de erro: Chegando, saiu.
Correto: Ele chegou e, logo após, saiu.

b) Quando a ação expressa pelo gerúndio é posterior à do verbo da oração principal.


Exemplo de erro: Pela manhã, a menina não tomou o remédio, passando muito mal durante à tarde.
Correto: Pela manhã, a menina não tomou o remédio, consequentemente passou muito mal durante à tarde.
Pela manhã, a menina não tomou o remédio e passou muito mal durante à tarde.

c) Quando o gerúndio tem valor de adjetivo.


Exemplo de erro: Encontrou uma nota no jornal comemorando o fato.
Correto: Encontrou uma nota comemorativa do fato no jornal.

d) Quando o gerúndio é empregado para generalizações ou conclusões não fundamentadas.


Exemplo de erro: O garoto chorava muito causando medo aos que ali passavam.
Correto: O garoto chorava muito, o que pode ter causado medo aos que ali passavam.

EXERCÍCIOS

1. Verifique se ambas as construções correspondem ao considerado como bom uso do gerúndio. Escolha a que
considera mais aceitável ou mais correta. Justifique sua posição com base nas observações acima.

a) O policial viu o bandido correndo pela praia.


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b) O aluno apareceu, sendo recebido pela direção da escola duas semanas depois.
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c) A Marinha do Brasil criou um militar vencendo a competição.


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d) O aluno vai estar fazendo a prova dia 5 de novembro.


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2. As generalizações e as conclusões “precipitadas” devem ser evitadas durante a elaboração de um texto dissertativo-
argumentativo porque constituem uma espécie de vício na escrita. O mau uso do gerúndio pode gerar tais situações.
Analise as situações abaixo e reescreva-as adequadamente:

a) O Brasil passa por um bom momento na economia gerando um futuro de prosperidade e avanço tecnológico.
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b) As autoridades têm investido em novos projetos na área da Educação trazendo a tão esperada arrancada social.
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3. Assinale os períodos em que há uso inadequado de gerúndio e corrija-os:

a) A comunidade internacional vem esforçando-se no sentido de acompanhar, da melhor maneira possível, a crise no
mundo árabe. Observando diariamente o que lá ocorre.
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b) Os pais devem acompanhar a vida escolar de seus filhos. Demonstrando amor e dedicação. Só assim as crianças
terão bom aproveitamento como estudantes.

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c) Isso ocorre para fazer barulho e chamar atenção dos demais, tornando o trânsito mais barulhento, aumentando o
estresse e prejudicando a audição de muitos.
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d) O país precisa solucionar o problema do menor abandonado alcançando o desenvolvimento social tão esperado.
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2. COESÃO E COERÊNCIA
Um aspecto importante na construção do conteúdo do texto, principalmente no que diz respeito à coesão, coerência
e clareza do texto, está no emprego adequado dos conectivos.
Emprego de palavras ou expressões de sentidos semelhantes na coesão de um texto
Algumas palavras e expressões podem apresentar sentido bastante semelhante. Para empregá-las adequadamente,
é preciso revisar o trecho com atenção.

a) portanto, logo, então : sentido conclusivo; têm relação direta com o que foi dito anteriormente.
b) por isso, por conseguinte: sentido de consequência; podem ser usadas na conclusão.
c) haja vista: levando em consideração isso, considerando isso
d) com isso: usando isso como meio ou instrumento (algo mais concreto)
e) dessa forma, desse modo: usando como medida, modo, maneira de algo ser obtido
f) devido a, em virtude de: por causa de, em razão de
g) em decorrência de: consequentemente, em consequência
h) em detrimento de: em prejuízo de

1. Nas alternativas, numere com a ordem de importância ( 1 é o mais importante) para a coesão do trecho transcrito
da forma mais adequada:

1. Todos têm responsabilidade na questão sustentabilidade. Mundo, continente, nação precisam chegar ao
desenvolvimento de maneira que as gerações futuras possam desfrutar dele. É,___________________,
necessário que os governantes invistam recursos na área de educação e de gestão ambiental.

(A) Dessa forma (B) Para isso (C) Com isso (D) Portanto (E) Logo
2. No contexto atual, ser militar é cumprir rigorosamente ordens e missões; é conduzir-se com idoneidade e apropriação;
é estar sempre pronto para o cumprimento do dever. ________________ homens e mulheres diariamente dedicam-
se ao serviço militar, o que ainda é motivo de orgulho para eles.

(A) Com isso (B) Portanto (C) Dessa forma (D) Por isso (E) Para manter tal condição

3. A implementação de novas alternativas para o transporte público, se feita, possibilitará aos cidadãos mais
tranquilidade e conforto no percurso até o trabalho. É,_______________, necessário que as autoridades viabilizem
os projetos cujo objetivo maior seja atender melhor à população.

(A) Por isso (B) Dessa forma (C ) Consequentemente (D) Com isso (E) Para isso ocorrer

4.Os Estados Unidos possuem hoje grandes vantagens no cenário internacional ___________________________ o
seu grande poder econômico.

(A) haja vista (B) devido ao (c ) considerando (D) com base no (E) a partir do

5. Os países em desenvolvimento têm posto em prática ações conjuntas para solucionar questões ou entraves difíceis
de serem superados isoladamente. ________ tais nações têm alcançado sucesso em iniciativas como os acordos
comerciais do MERCOSUL.

(A) Com isso (B) Se isso for feito (C) Então (D) Logo (E) Para manter essa condição

6. Os projetos de desenvolvimento econômico no Brasil têm buscado formas de crescimento sustentável. _________
seremos reconhecidos, no cenário internacional, como nação desenvolvida.

(A) Assim (D) Quando esses programas forem obtidos


(B) Sendo assim (E) Se tais programas ocorrerem
(C) Dessa forma

7. Os funcionários da área da Saúde alegam que, além de sofrerem com a perda de poder de compra do salário,
enfrentam dificuldades muito grandes no exercício da profissão. No local de trabalho, costuma faltar todo tipo de
material. ______________________ resolveram entrar em greve.

(A) Devido a esses entraves (B) Dessa forma (C) Haja vista (D) Consequentemente (E) A partir disso

8. Muitos países, desde o século XX, têm implementado medidas favoráveis à produção e consumo de energia mais
limpa. ______________________ pode-se constatar progresso nessa área; outras fontes em breve surgirão para
atender às necessidades do ser humano, sem agredir ao planeta.

(A) Em decorrência de tais práticas (B) Portanto (C) Sendo assim (D) Com isso (E) Por isso

3. A ELABORAÇÃO DO TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO


Ao elaborar-se um texto dissertativo-argumentativo de acordo com a norma culta da língua, é preciso atentar para
os seguintes aspectos:

3.1. USO DE COLOQUIALISMOS OU EXPRESSÕES DE REGISTRO INFORMAL: o texto dissertativo-argumentativo


deve revelar certa capacidade de expressão formal, elegante, isenta e sem marcas da linguagem oral.

Devem ser evitados os seguintes tipos de construção:


Sem falar que ... (É importante mencionar ainda ...);
Não tem nada a ver ...(Não há relação clara entre ...);
Não vale a pena ... (Não é válido ...);
Bom que se diga ... (É preciso que se mencione/evidencie/aponte ...).

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3.2. USO DE VOCABULÁRIO INADEQUADO: a escolha do vocabulário revela a formação e a experiência de vida
daquele que escreve ou fala. Usar as palavras adequadas ao contexto indica preparo e qualificação do autor de um
texto. Ter claro o significado de palavras como etnia, raça, cidadania, sociedade, nação, estado é realmente
importante .

Exemplos de uso indevido:


Esse modelo tem desenvolvido diversos campos de trabalho para a sociedade ( população ).
Um bom governo deve priorizar questões básicas para a sobrevivência de sua população ( para a qualidade de vida da
população ).
Através dos erros, chegaremos aos acertos ( Por meio dos ...).
É preciso que a humanidade se conscientize da necessidade de ... (que os indivíduos se conscientizem...)
É preciso que a sociedade daquele lugar ... (comunidade)
No caso em tela ... ( Em casos como esses...)

OBS.: a locução usada para qualificar um nome deve manter-se no singular (meios de transporte, meios de
comunicação, pais de família, casos de mortalidade);

OBS.: deve ser evitada a locução expletiva é que ( Na verdade, a política é que fará a mudança . / a política fará )
/Devido à má distribuição de alimentos, é que a fome vem.... ( ...alimentos, a fome vem ...)

4. FALTA DE CONCISÃO: a redundância retórica é uma das formas mais comuns da prolixidade.
Observe-se o exemplo (GARCIA,1986): “Conforme a última deliberação unânime de toda a Diretoria, a entrada, a
frequência e a permanência nas dependências deste Clube, tanto quanto a participação nas suas atividades
esportivas, recreativas, sociais e culturais, são exclusivamente privativas dos seus sócios, sendo terminantemente
proibida, seja qual for o pretexto, a entrada de estranhos nas referidas dependências do mesmo.”
Tal aviso poderia ser simplesmente: “É proibida a entrada (ou frequência, ou a permanência) de estranhos” ou “Só é
permitida a entrada de sócios.”
Ao redigir, o autor de um texto deve buscar o equilíbrio entre enfatizar seu ponto de vista e manter a clareza e a
objetividade daquilo que diz.

5. OUTROS CUIDADOS IMPORTANTES

É preciso revisar o próprio texto com atenção para evitar

a) ausência de oração principal no período:


Isso porque a política ... / Claro que a saúde é importante ... / Interessante destacar que ...
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b) ausência de preposição antes do pronome relativo:


Essa é a crise que a imprensa se refere todo dia. / O local onde vai o migrante torna-se sua nova casa. / É comum
a mídia valorizar as falas das celebridades que faz alusão.
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6. PROBLEMAS DE ESTRUTURAÇÃO SINTÁTICA

6.1. USO DE FRASES FRAGMENTADAS


Frase fragmentada é um erro de construção que consiste em pontuar uma oração subordinada (ou uma locução) como
se fosse uma frase completa.

Ex.: O Brasil precisa encarar seus problemas. Com determinação e seriedade. (locução pertencente à frase anterior).
Trouxe sugestões. Que são muitas. (oração subordinada à anterior).

ATENÇÃO: todo enunciado deve ter sujeito e verbo; não deve ser introduzido por conjunção subordinativa,
pronome relativo ou forma nominal (infinitivo, gerúndio e particípio) sem que tenha oração principal a que
se refira.
Marque com (X) as frases fragmentadas e reescreva-as de forma adequada:

( ) Como o governo quer fazer reformas. O Legislativo parece disposto a ouvi-lo.


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( ) O governo quer fazer reformas. Que visam beneficiar a todos.


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( ) O governo quer fazer reformas. Em curto espaço de tempo.


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( ) Uma vez que o governo quer fazer reformas, o Legislativo parece disposto a começar a colaborar.
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( ) O governo quer fazer reformas. Sob condições específicas e de seu interesse.


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( ) Todos gostariam de acreditar no governo. Cientes da importância das reformas.


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( ) Acreditar no governo e importante. Para ele poder efetuar as reformas pretendidas.


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6.2. USO DE FRASES SIAMESAS


Frase siamesa é um erro de construção que consiste em unir duas frases completas como se fosse uma só.

Ex.: Nosso País precisa resolver o problema da fome, a fome revela um grande desequilíbrio social. Nosso País precisa
resolver o problema da fome, pois o mesmo revela um grande desequilíbrio social.
ATENÇÃO: - para corrigir esse erro, pode-se empregar ponto, ponto e vírgula, conjunção coordenativa ou transformar
uma das frases em oração subordinada.

Reescreva as seguintes frases de modo adequado:


a) Havia muitos interessados na queda do Presidente Collor, lembro-me de ter visto isso nos jornais
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b) As farmácias de manipulação representam um setor em ascensão na economia brasileira, os números das


estatísticas comprovam essa afirmação.
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c) No alto da montanha, há minérios, depois de explorados, renderão muito a nós.


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d) A onça é um animal em extinção, essa é alvo constante de caçadores.


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e) A testemunha negava-se a depor, ela estava com medo do réu.


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Texto 1: Navio da Marinha do Brasil socorre Fragata Liberal socorre refugiados na costa do
refugiados sírios na costa do Líbano Líbano - 11 de outubro de 2018
Migrantes estavam sem comida havia três dias A embarcação, sem combustível, foi localizada a cerca
O Globo com Ansa de 41 milhas náuticas da capital do Líbano, Beirute. A
15/10/2018 - 15:23 / 15/10/2018 - 16:33 fragata “Liberal”, que pertence à Marinha do Brasil, foi
Um navio da Marinha do Brasil socorreu 31 refugiados acionada pelo Comando da FTM, e imediatamente foram
que estavam à deriva em um barco clandestino na costa iniciadas as buscas por radar e com aeronaves.
do Líbano, no Mar Mediterrâneo Oriental, diringindo-se à Toda assistência necessária foi fornecida pela UNIFIL,
ilha do Chipre, que faz parte da União Europeia. para amenizar o sofrimento das pessoas a bordo, com o
Segundo o Ministério da Defesa brasileiro, o resgate foi fornecimento de água, comida, assistência médica e
feito pela fragata Liberal, que integra a Força Interina das alguns medicamentos.
Nações Unidas no Líbano (Unifil), na última quinta-feira. A “Liberal” permanece no local para prestar todo o
Os refugiados, provenientes da Síria, estavam sem auxílio possível aos refugiados, até a chegada de duas
comida e água havia três dias e receberam assistência do lanchas patrulha que realizarão o resgate. A fragata
navio brasileiro. escoltará os resgatados até as águas territoriais
"Toda assistência necessária foi fornecida pela Unifil, libanesas, e lá encerrará suas ações.
para amenizar o sofrimento das pessoas a bordo, com o Em setembro de 2015, a corveta brasileira Barroso, que
fornecimento de água, comida, assistência médica e estava a caminho para missão da FTM, também resgatou
alguns medicamentos", diz uma nota do Ministério da 220 imigrantes no Mar Mediterrâneo.
Defesa.
Segundo a Defesa, a embarcação continuou no local
para prestar todo o auxílio possível aos refugiados, à
espera de duas lanchas patrulha para resgatar os
imigrantes. O plano pretendido pela fragata era escoltar
os resgatados até as águas territoriais libanesas, e lá
encerrar suas ações. Não foi informado se esta parte da
missão já aconteceu, na tarde desta segunda-feira.
Segundo a Organização Internacional para as
Migrações (OIM), 25.437 migrantes forçados conseguiram
concluir a travessia do Mediterrâneo Oriental em 2018 e
FTM-UNIFIL
outros 152 morreram tentando.
A Marinha do Brasil participa desde 2011 da FTM-
Não é a primeira vez que um navio da Marinha brasileira
UNIFIL, ocasião em que assumiu o comando da Força
socorre migrantes em situação de risco. Em setembro de
2015, a corveta Barroso resgatou 220 refugiados que Tarefa Marítima multinacional e passou a enviar um navio
estavam numa embarcação precária no Mar para atuar como capitânia do Comandante da Força.
Mediterrâneo, numa operação que levou mais de 20 Atualmente, o contra-almirante Eduardo Machado
Vazquez é o comandante da FTM-UNIFIL, integrada por
horas. Entre os resgatados estavam 94 mulheres, 37
navios da Alemanha, Grécia, Indonésia e Turquia, além
crianças e quatro bebês, sírios em sua maioria. Na época,
do Brasil.
o comandante Alexandre Amendoeira Nunes contou que
muitos estavam desidratados. A Fragata “Liberal” desatracou da Base Naval do Rio de
Janeiro em agosto deste ano para realizar a “Operação
Líbano XIV”. Por um período de oito meses, a fragata
conduzirá as operações de interdição marítima a fim de
prevenir a entrada de armas não autorizadas no território
libanês, bem como qualquer material correlato, além de
contribuir para o adestramento da Marinha Libanesa.
É a quarta vez que a Fragata “Liberal” participa da
“Operação Líbano”, tendo atuado anteriormente, em 2012
(Líbano II), 2014 (Líbano V) e 2016 (Líbano X).
Com informações e fotos da Força Tarefa Marítima
A corveta havia sido acionada pelo Centro de Busca e UNIFIL. FONTE: Ministério da Defesa
Salvamento italiano para ajudar no resgate. A https://www.naval.com.br/blog/2018/10/11/fragata-
embarcação com os refugiados estava a cerca de 300 liberal-socorre-refugiados-na-costa-do-libano/
quilômetros da Sicília. Segundo a Marinha, a corveta
Barroso havia partido do Rio de Janeiro no dia 8 de agosto
para participar da Força-Tarefa Marítima das Nações
Unidas no Líbano. https://oglobo.globo.com/mundo/navio-
da-marinha-do-brasil-socorre-refugiados-sirios-na-costa-
do-libano-23157259

Exercício 1: Escreva um texto com 4 parágrafos de 5 a 7 linhas cada, sendo


1º parágrafo: apresentação do programa UNIFIL + TESE;
2º parágrafo: o problema dos refugiados;
3º parágrafo: a participação da MB no problema dos refugiados;
4º parágrafo: as consequências do salvamento.
Dica: faça, pelo menos, 3 frases por parágrafo.
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Texto 2: Submarino nuclear: segurança e vigora uma percepção social do baixo nível de importância
desenvolvimento da defesa nacional, os governos ficam à vontade para
PEDRO FONSECA JUNIOR empurrar com a barriga (OLIVEIRA, 2006, s.p.).
Escola Superior de Guerra O artigo decorre de consulta a fontes primárias,
Introdução levantamento bibliográfico de fontes secundárias, e
O Estado conforme previsto na Constituição Federal pesquisas em arquivos públicos e privados. Em paralelo,
tem o dever de assegurar a segurança e o assistiu-se a diversas conferências ligadas ao tema,
desenvolvimento da sociedade.Segundo a Política visitou-se instalações de interesse e também foram feitas
Nacional de Defesa (PND), segurança entrevistas com integrantes do PROSUB.
É a condição que permite ao País preservar sua O trabalho teve como fundamentação teórica os
soberania e integridade territorial, promover seus conceitos de segurança, defesa e políticas públicas. O
interesses nacionais, livre de pressões e ameaças, e conceito de segurança já foi anteriormente mencionado.
garantir aos cidadãos o exercício de seus direitos e Um conceito para defesa, além do existente na PND,
deveres constitucionais. (PND, 2012 p.13) pode-se encontrar também nas Políticas e Temas
Os países, de uma maneira geral, possuem um Especiais do Plano Mais Brasil.
sentimento constante de cerco e de ameaça externa, já A defesa de um país consiste, basicamente, no
que o mundo não possui uma governança centralizada, e conjunto das capacidades organizadas, com o objetivo de
na anarquia, a segurança é o fim mais importante. Apenas garantir a segurança do patrimônio natural e social, a
se a sobrevivência for assegurada é que os estados dissuasão por meio da capacidade de combate e os
podem com segurança procurar outros objetivos como a compromissos internacionais, que culminam com a
tranquilidade, o lucro e o poder. (WALTZ, 2002, p.175) manutenção da soberania do estado nacional (BRASIL,
Para Fiori (2014, p.38), isto explica a centralidade da 2013, p. 272).
preocupação que manifestam com relação à própria As ações de defesa contribuem para a garantia de
defesa, e também sua permanente preparação para a soberania e também para a construção de uma sociedade
guerra [...] todos os países que se transformaram em livre, justa, solidária e desenvolvida.
grandes potências capitalistas passaram por longos As políticas públicas são ferramentas utilizadas pelo
períodos de guerra ou por guerras extremamente Estado para mudar a realidade social. Especificamente,
destrutivas. as políticas públicas de defesa contribuem sobremaneira
O Brasil não está livre de pressões e ameaças. Para com o sentimento de segurança da sociedade, pois
Melo (2015, p. 25) o patrimônio brasileiro é um dos mais garantem a integridade territorial e soberania.
ricos do planeta, e “esses ativos estratégicos não estão a O PROSUB, como será visto, não contribui apenas
salvo da cobiça no futuro”. O ambiente internacional, com o sentimento de segurança, integridade territorial e
demanda ações do Estado para preservar sua soberania soberania, mas também para o fortalecimento da indústria
e integridade territorial, e assim promover e sustentar os nacional e o desenvolvimento científico e tecnológico do
interesses nacionais. Desse modo, o Estado deverá pôr país.
em prática “um conjunto de medidas e ações, com ênfase O Programa de Desenvolvimento de Submarino
no campo militar, para defesa do território, da soberania e A PND preconiza que “O País deve dispor de meios
dos interesses nacionais contra ameaças com capacidade de exercer vigilância, controle e defesa
preponderantemente externas, potenciais ou manifestas” das águas jurisdicionais brasileiras” (BRASIL, PND, 2012,
(BRASIL, PND, 2012, p.15). Essas medidas e ações são p.17), ou seja ter a capacidade de negar o uso do mar por
baseadas em dois instrumentos: Forças Armadas e Base uma força hostil. Fruto desta orientação a Estratégia
Logística de Defesa1. Nacional de Defesa (END) (2012) menciona que esta
O Programa de Desenvolvimento de Submarinos capacidade será obtida através de uma força naval
(PROSUB), pelos recursos empregados, é a maior política submarina de envergadura, composta de submarinos de
pública de defesa em desenvolvimento no Brasil e um dos propulsão diesel-elétrica e de propulsão nuclear.
maiores programas do gênero no hemisfério sul. Para o Para a END - Estratégia Nacional de Defesa - , é
Senador Ferraço, é o maior programa de capacitação inseparável de estratégia nacional de desenvolvimento.
industrial e tecnológico da indústria de defesa brasileira. Esta motiva aquela. Aquela fornece escudo para esta.
Quero crer um dos maiores programas desenvolvidos Cada uma reforça as razões da outra. Em ambas, se
inclusive neste momento em todo mundo. Um programa desperta para a nacionalidade e constrói-se a Nação.
estimado em 21 bilhões de reais e que é estratégico não (END, 2012, p.23)
só para Marinha do Brasil ou para defesa do nosso espaço O documento diz que o Brasil deve se capacitar para
marítimo, mas também para o fortalecimento da nossa projetar e construir os submarinos que garantirão a defesa
indústria de defesa e para o desenvolvimento científico e das águas jurisdicionais. Este desafio, na realidade,
tecnológico do nosso país (FERRAÇO, 2014, s.p.). significa a formulação de uma política pública voltada para
A questão central para reflexão neste trabalho é a autonomia estratégica e independência tecnológica. A
contribuição do PROSUB para a sustentação do binômio concretização desta política pública de defesa colocará o
segurança-desenvolvimento. Brasil em um patamar alcançado por apenas outros seis
Esta pesquisa se justifica pela necessidade da países: Estados Unidos da América, China, Inglaterra,
sociedade analisar e avaliar as políticas públicas de França, Rússia e Índia.
defesa, por ser a sua maior beneficiária. Diferentemente Em certa medida o movimento na direção da
dos países desenvolvidos, no Brasil quando o tema é independência tecnológica na área nuclear teve início
defesa, o povo não identifica a sua relevância. após o término da Segunda Guerra Mundial, quando
A sociedade civil é capaz de influenciar a adoção e o foram enviadas comitivas para os EUA, França e Ale-
desenvolvimento de políticas públicas, a exemplo do que manha, visando fazer acordos para instalação de reatores
ocorre com a saúde e a educação. No entanto, dado que nucleares em solo brasileiro. Embora tais ações não

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tenham sido bem sucedidas2 “atribuem-se aos esforços Nesta época, a indústria de armamentos francesa
dos integrantes dessas duas comitivas os gêneses dos sofria transformações decorrentes do fim da Guerra Fria e
ideais para o desenvolvimento de tecnologia nuclear, da onda neoliberal “que, ao pregar desregulamentação,
essencialmente nacional” (HENRIQUES, 2011, p.16). privatização, abertura de capital das empresas públicas e
A década de 1970 foi promissora para o domínio da desengajamento do Estado [...] questionava as próprias
tecnologia nuclear. No final de 1976, a Marinha indicou o bases do sistema de produção de armamentos” (MELO,
Capitão-Tenente Othon Luiz Pinheiro da Silva para se 2014, p.76). Cabe destacar que as empresas estratégicas
especializar na área nuclear no Massachusetts Institute of francesas eram vistas como os principais polos de
Technology (CORRÊA, 2010, p.77). No seu regresso, dois excelência e inovação do país (MELO, 2014, p.83).
anos depois, Othon emitiu um relatório no qual enfatizou Diante desse quadro o Presidente Sarkozy (2008-
que para adquirir a capacidade de construir um submarino 2012) dedicou especial atenção as indústrias de defesa e
nuclear duas etapas precisavam ser vencidas: o domínio lançou ambiciosa estratégia de exportações.
do ciclo de enriquecimento do combustível nuclear e a Sarkozy promoveu parcerias industrias em defesa com
construção de um reator piloto para testes. potências emergentes, vistas como dinâmicas e com
Em dezembro de 1978, o Alto Comando da Marinha, potencial de crescimento e investimento na área. Como
decidiu inserir na agenda naval um programa para projetar idealizadas por Sarkozy, essas parcerias eram fundadas
e construir submarino de propulsão nuclear. Essa decisão em transferência de tecnologia, formação de mão de obra
não foi importante apenas para a Força Naval, mas e capacitação industrial no país de destino. (MELO, 2014,
também para o desenvolvimento científico tecnológico p. 83)
nacional: Assim teve início a saga que se arrasta até os Desse modo, surgiu a convergência de interesses
dias de hoje com o Programa de Desenvolvimento de entre Brasil e França que culminou com uma parceria
Submarino com Propulsão Nuclear (PROSUB). estratégica entre os dois países. Além do citado, a França
Durante os anos 80 e 90, o Programa Nuclear da em relação aos outros seis países que projetam e
Marinha (PNM), por fatores que fogem ao escopo desse constroem submarinos emprega métodos e processos
trabalho, entrou em estado vegetativo. Até que na típicos do Ocidente e de mais fácil absorção pelos en-
primeira década deste século, fatos novos surgiram que genheiros e técnicos brasileiros; é um fornecedor
mudaram a história do PNM. tradicional de material bélico para o mundo ocidental;
Kingdon (1995 apud COSTA: CALMON, 2007) estava disposta a vender a tecnologia de projeto de
elaborou um modelo de análise de política pública, no qual submarinos, excluídos o projeto e a construção do reator
um tema é colocado na agenda quando existe uma e de seus controles; e, em razão do número de
convergência de três fluxos: o problema, a solução, e o submarinos a construir, apresentou vasto programa de
político. No tema em análise, existiam dois problemas, a nacionalização, com objetivo de aumentar a participação
descoberta de petróleo em alto mar e a determinação da brasileira na produção dos submarinos e preparar a base
END de que o Brasil deveria ter uma Força de Submarinos industrial nacional para futuros projetos da mesma
compatível com a sua dimensão geopolítica. A solução a natureza. Esses últimos aspectos foram os diferenciais a
Marinha tem buscado desde a década de 80 do século favor dos franceses (BRASIL, 2013b, p. 19).
passado: possuir a capacidade de projetar e construir O Comandante da Marinha, no início de 2008, foi para
submarinos. O gargalo estava no fluxo político. a Europa, juntamente com os Ministros Nelson Jobim e
Ao tomar posse no Comando da Marinha em março de Mangabeira Unger. Na França tiveram encontros com o
2007, o Almirante de Esquadra Júlio Soares de Moura Presidente Sarkozy, com o Ministro da Defesa francês
Neto recolocou o projeto de desenvolvimento do Hervè Morin, com representante da Direction Générale de
submarino nuclear como prioridade da Força Naval. Suas l’Armement (DGA), e com a Direction des Constructions
palavras iniciais demonstraram esta postura. Navales et Services (DCNS). Desse modo, Brasil e França
Merece menção o Programa Nuclear da Marinha, estabeleceram uma parceria estratégica, concretizada em
iniciado em 1979 e que apresenta considerável progresso, 29 de janeiro pelos respectivos Ministros da Defesa
mesmo restrito aos recursos da própria Força, com o Nelson Jobim e Hervè Morin. Neste dia foi concretizado
desenvolvimento de dois projetos: o do ciclo do um acordo relativo à cooperação no domínio da defesa.
combustível, empregando ultracentrífugas projetadas no (FONSECA, 2015, p.71)
Brasil, o que já se conseguiu; e o desenvolvimento e a A implementação dessa política pública de defesa
prontificação, com tecnologia própria, de uma planta pode ser analisada por diversos ângulos, entretanto, este
nuclear de geração de energia elétrica, incluindo o reator trabalho priorizou aspectos que impactam diretamente no
nuclear, o que ainda não está pronto (MOURA NETO, desenvolvimento nacional: transferência de tecnologia3,
2007, s.p.). formação de mão de obra (capacitação de pessoal) e
Em julho de 2007, o Presidente Luis Inácio Lula da capacitação industrial no país de destino (nacionalização).
Silva visitou, a convite do Ministro da Defesa, o Centro Transferência de tecnologia (TT)
Tecnológico da Marinha em São Paulo. Impressionado O submarino é considerado o vetor de guerra mais
com a grandeza do programa, o Presidente garantiu a complexo, considerando-se a qualificação da mão de obra
liberação de recursos para a Marinha concluir o projeto empregada, a quantidade de componentes e o seu peso.
das instalações de propulsão nuclear para submarinos. Isto, em parte, explica o motivo de apenas seis países
Graças a esse recurso foi possível acelerar a obra do terem adquirido a capacidade para projetar e construir
Laboratório de Geração de Energia Núcleo Elétrica essa arma. A figura abaixo compara a complexidade
(LABGENE) e continuar a Usina de Produção do tecnológica do submarino com outros armamentos. O
Hexafluoreto de Urânio. Este foi um grande passo para o submarino nuclear brasileiro (SNBR) não está no topo da
desenvolvimento científico tecnológico nacional, pois curva, porque não será equipado com armamento
permitiu abrir o caminho para a tão almejada nuclear. A tecnologia nuclear restringe-se a propulsão
independência na área nuclear. devido a compromissos internacionais assumidos pelo
Estado brasileiro.
Um fato curioso na figura é a defasagem de tempo submarino. Lorient recebeu trinta e um oficiais
para construção. Se um blindado e o SNBR iniciarem o engenheiros navais para aprenderem a projetar
processo simultaneamente, o meio naval demorará, submarinos. Os ensinamentos para construir tubos
aproximadamente 5 anos a mais para sua prontificação, o lançadores de torpedo foram transmitidos em Ruelle e
que em certa medida comprova a defasagem tecnológica nesse caso apenas para um oficial e um técnico. Em
entre os dois vetores de guerra. Para esta análise não Toulon, seis oficiais e oito engenheiros da Fundação
deve ser considerado outros fatores tais como restrições Ezute receberam conhecimentos de sistema de combate
de recursos humanos ou financeiros. para submarino. Já em Saint Tropez a TT do sistema
O ponto fulcral da parceria com a França é a lançador do Torpedo F-21 foi para dois oficiais.
transferência de tecnologia para projetar e construir Finalmente, em Sophia-Antipolis, dois oficiais receberam
submarinos. Para tanto diversos contratos foram conhecimentos do sistema do sonar.
assinados totalizando a quantia de € 3.283.433.000,00 ou Em palestra para a Comissão de Relações
R$ 13.270.400.000,00 ao câmbio de dezenove de março Internacionais e Defesa Nacional (CREDEN) do Con-
de 20164. gresso Nacional, o Coordenador-Geral do PROSUB
O contrato 6 prevê TT para: construção de submarinos; mencionou que os conhecimentos transmitidos pela
projeto de submarinos; projeto e construção do Estaleiro França para a capacitação dos engenheiros brasileiros
e Base Naval. São obrigações contratuais da DCNS: em projetar e construir os submarinos convencionais (S-
transferir conhecimentos, transferir informações, prestar BR) serão fundamentais para o desenvolvimento do
serviços de assistência técnica e ensinar como fazer. As projeto do submarino de propulsão nuclear (SN-BR), pois
TT são operacionalizadas de três maneiras: transferência neste a Marinha do Brasil é a autoridade responsável. A
direta (conhecimento passado diretamente na ponta da DCNS acompanhará todo o processo, exceto na parte da
linha), cursos e “On-the-Job-Training”5, como foi o caso propulsão. Muitos conhecimentos estão sendo absorvidos
das seções mais avante do primeiro submarino, pelos engenheiros brasileiros tais como:
construídas na França. Para Hirschfeld (2014, apud a) concepção geral: arranjos gerais,
FONSECA, 2015, p.88), a expectativa ao final do compartimentagem, casco resistente, propulsão,
processo de transferência de tecnologia é que o Brasil choques, ruído e vibração;
adquira capacitações para: b) ferramentas de concepção: cálculo de pesos,
a) projetar e construir submarinos (convencionais e estabilidade, índice de vulnerabilidade,
nucleares); compatibilidade eletromagnética, assinaturas;
b) projetar e construir bases e estaleiros navais; c) interfaces entre instalações;
c) projetar e manter sistemas de combate; d) hidrodinâmica, incluindo a realização de ensaios;
d) manter sistema SONAR; e e) concepção do casco resistente;
e) produzir equipamentos e sistemas. f) concepção das instalações mecânicas e elétricas;
Percebe-se na fala de Hirschfeld que técnicos g) concepção da propulsão, excluindo-se a instalação
brasileiros, não somente os de Marinha, estarão nuclear;
adquirindo capacitações, o que é uma demonstração h) sistema de combate: sistemas de detecção e
inequívoca de que o Programa tem potencial para sistemas de armas; e
influenciar diversos setores do desenvolvimento nacional. i) apoio logístico integrado (ALI)6: confiabilidade e
Capacitação de pessoal disponibilidade.
Segundo o Coordenador-Geral do PROSUB (2014,
apud FONSECA, 2015, p.87) aproximadamente trezentos Especificamente para a construção estão sendo
engenheiros e técnicos já foram enviados à diversas absorvidos os seguintes conhecimentos:
locais na França. Para Cherbourg, foram duzentos e trinta a) planejamento, gerenciamento e coordenação da
e oito (Marinha do Brasil, Nuclebrás Equipamentos construção;
Pesados e Itaguaí Construções Navais), para receberem b) estratégia de construção;
os conhecimentos de construção e detalhamento de

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c) requisitos necessários para as oficinas de b) buscar, a longo prazo, a nacionalização completa de
construção; todas as peças, componentes,
d) elaboração do projeto e dos desenhos de partes, sistemas e serviços;
fabricação; c) obter alta confiabilidade e segurança nos itens
e) exigências de qualificação de recursos humanos; nacionalizados;
f) construção do casco resistente; d) envolver a participação de universidades e/ou
g) gerenciamento da qualidade; instituições científicas e tecnológicas
h) qualificação do pessoal e dos processos; e nacionais, a própria Marinha, além da indústria
i) programas de computador: interfaces entre os selecionada, para possibilitar a
programas utilizados pela indústria francesa e aquele continuidade do desenvolvimento da tecnologia de
utilizado pela Marinha do Brasil. interesse; e
A expectativa é que em futuro próximo, o Brasil seja e) englobar, sempre que possível, a tecnologia de
capaz de projetar e construir de maneira autóctone seus projeto, a tecnologia de fabricação e a tecnologia de
submarinos, o significará autonomia estratégica e manutenção.
independência tecnológica. É mister considerar também Segundo a TechnoNews, na edição de outubro de
que a capacitação adquirida possibilitará a realização de 20148, 54 projetos de nacionalização da cadeia produtiva
outros empreendimentos tão ou mais complexos, estavam em andamento, dos quais 20 já tinham sido
inclusive com transbordamento para outras áreas aprovados pela Marinha, destacando-se o Sistema de
industriais tais como óleo e gás, construção naval etc. Combate (SC) desenvolvido pela Fundação Ezute; o
Nacionalização Sistema de Gerenciamento Integrado da Plataforma,
Os contratos comerciais 1A e 2A7 estão associados ao desenvolvido pela Mectron; e os Consoles Multifuncionais
Programa de Nacionalização da Produção (PNP), que do Sistema de Combate. O desenvolvimento desses
visa à capacitação para desenvolvimento, produção e sistemas é acompanhado por equipe técnica da Diretoria
manutenção de equipamentos e sistemas relativos aos de Sistemas de Armas da
submarinos convencionais e ao nuclear (BRASIL, 2013b). Marinha (DSAM). É importante mencionar que,
Para Fonseca (2015, p.121), “nacionalizar é capacitar existindo equipamentos similares no mercado nacional ou
o parque industrial brasileiro para: fabricar sistemas, que as indústrias tenham capacidade de produzir, a
equipamentos e componentes; treinar pessoal para o prioridade de aquisição será para empresas brasileiras.
desenvolvimento e integração de softwares específicos; e Segundo Talon9
dar suporte técnico às empresas durante a fabricação dos Para as empresas brasileiras que produzem
itens”. Com essa capacitação o Brasil poderá dar determinado equipamento semelhante ou similar ao
continuidade à fabricação de submarinos e atingir a equipamento do submarino, mas que não atende
autossuficiência tecnológica condizente com o completamente aos requisitos necessários ao projeto do
preconizado na Estratégia Nacional de Defesa. S-BR, a DCNS tem por obrigação contratual transferir a
A nacionalização no PROSUB é um processo tecnologia e o conhecimento para estas indústrias. [...]no
complexo fruto da dimensão do programa, do seu ineditis- programa da nacionalização, o fundamental é que, ao final
mo – construção do primeiro submarino brasileiro com do processo, as empresas brasileiras sejam autônomas e
propulsão nuclear – e diversidade de atores envolvidos, independentes na fabricação para, no futuro, suprirem a
públicos e privados. Enfim, é um empreendimento cujas demanda da Marinha para a manutenção e/ou construção
características técnicas e construtivas desafiadoras de submarinos.
configuram o “Estado da Arte” da Engenharia Naval Mais uma vez fica claro, nas palavras do gerente de
nacional. nacionalização do S-BR, que o Brasil busca a grandeza,
Para esse processo foram, segundo Talon e a independência tecnológica. E é essa perfomance que a
Cavalcanti (2014), seguidas algumas premissas: sociedade brasileira deve esperar de um programa com
a) reduzir gradualmente a compra de serviços e de tamanha magnitude.
produtos acabados no exterior;
O quadro abaixo classifica diversos setores da indústria brasileira segundo a intensidade tecnológica.

Baseado no QUADRO 1, foi elaborado o QUADRO 2 onde classificou-se 41 empresas envolvidas no PROSUB.
As empresas citadas fazem parte de uma amostragem já que não é possível ter acesso a todas envolvidas no
Programa. As que constam do quadro participam da fabricação do casco resistente, estrutura externa não resistente,
estrutura interna não resistente, estruturas isoladas, isolamentos, sistema elétrico, propulsão principal, segurança
de imersão, segurança específica, servidão, habitações, sistema de detecção de superfície, sistema de mastros
içáveis, sonar, gerenciamento do sistema de combate, sistema de contra medidas, sistemas de armas, comunicação
interna e sistema de gerenciamento do navio.
O quadro mostra que mais de 50% das empresas selecionadas são de média-alta e alta tecnologia, o que é coerente
com a complexidade do projeto. O quadro também nos leva a refletir que, dependendo da vontade política, o Pais
pode vir a ser um ícone em futuros projetos de construção de submarinos, com um parque industrial no estado da
arte.
É mister considerar que a seleção das empresas segue a uma lógica própria, na qual participam a Marinha e a DCNS,
conforme o fluxo mostrado na figura abaixo.

Considerações finais exemplos podem ser citados: a Shuller brasileira fez uma
Por diversos motivos, no Brasil, a reflexão sobre prensa de 8 mil toneladas após receber orientação dos
políticas públicas de defesa não tem o mesmo apelo que franceses, que é uma das maiores do mundo; no Estaleiro
as de saúde e educação, por exemplo. A defesa está para Enseada de Paraguaçu, em Maragogipe, Bahia, a
uma nação assim como um plano de saúde está para o Odebrecht utilizou muito do aprendizado no PROSUB-
indivíduo, o ideal é as capacitações não sejam EBN, ao deslocar uma parte da equipe que trabalhou na
empregadas, entretanto não deve ser questionado a sua obra de Itaguaí para atuar no projeto de Paraguaçu; a
importância. Micromazza, localizada no município de Vila Flores (RS),
O desenvolvimento econômico para Sandroni (1999, foi selecionada e capacitada pela DCNS para produzir as
p.169) é o “crescimento econômico (aumento do Produto válvulas com base no projeto original dos submarinos,
Nacional Bruto per capita) acompanhado pela melhoria do técnicos brasileiros foram para a empresa Issartel, na
padrão de vida da população e por alterações França, os conhecimentos adquiridos poderão ser usados
fundamentais na estrutura de sua economia”. O para a fabricação de válvulas de alta pressão de
crescimento econômico e a melhoria do padrão de vida da plataformas de exploração de petróleo em alto mar.
população, com segurança, somente serão possíveis se o Segundo o Nomar nº 885, de janeiro de 201610, a
Estado possuir uma capacidade de defesa a altura de sua produção, pelas empresas brasileiras, de peças,
estatura geopolítica. Assim sendo a nação ficará livre da equipamentos, materiais e sistemas, que façam parte do
cobiça de outra (s) unidade (s) política (s) por seus ativos pacote de material nacional dos submarinos
estratégicos. convencionais previstos no PROSUB, permite que, ao
O PROSUB provoca reflexões na sociedade brasileira. final do processo de nacionalização, elas sejam capazes
A necessidade de importar tecnologia, capacitar pessoal de produzir material de forma independente e autônoma.
e nacionalizar demonstra atraso para projetar e construir Muitos desses materiais têm uso dual, podendo ser
submarinos. Por outro lado, nenhuma empresa (no caso empregados em outros setores da indústria.
a DCNS) estabelece contrato deste porte, sem que a outra Desse modo não resta dúvida que o PROSUB contribui
parte tenha capacidade de absorver os conhecimentos para o desenvolvimento nacional, entretanto se não
necessários para o desenvolvimento do projeto. houver vontade política para o seu prosseguimento, assim
Um outro aspecto a considerar é que o Brasil se como a implementação de novos programas, os
capacitando para desenvolver um programa de tamanha conhecimentos obtidos ficarão obsoletos em curto espaço
complexidade, logicamente estará capacitado para de tempo.
realizar outros com menor valor agregado como é o caso Enfim, o trabalho procurou mostrar que o Estado
de navios de superfície. brasileiro, através da Marinha do Brasil, tem capacidade
Um fato importante a considerar que a tecnologia que para ser empreendedor e assumir riscos ao se envolver
está sendo transmitida certamente poderá ser empregada em projeto de tamanha complexidade tecnológica.
em outros projetos de caráter naval ou não. Alguns
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Exercício 2: Escreva um texto com 4 parágrafos de 5 a 7 linhas cada um, em que você defenda a construção e o uso
do submarino nuclear pelo Brasil. Crie uma linha de raciocínio sobre o tema.
Dica: faça, pelo menos, 3 frases por parágrafo.
Texto 3: MEC e Marinha vão lançar edital para incentivar área nuclear
Estudos devem contribuir também com a saúde e a agricultura
publicado: 13/11/2018 14h00, última modificação: 13/11/2018 14h00
O Ministério da Educação e o Comando da Marinha vão lançar até o final deste ano
um edital que destinará R$ 20 milhões para a criação de um programa de incentivo
à formação na área de energia nuclear, com bolsas para novas pesquisas.
O anúncio foi feito pelo ministro da Educação, Rossieli Soares, nessa segunda-feira
(12), após a 3ª Reunião Plenária do Comitê de Desenvolvimento do Programa
Nuclear Brasileiro. Rossieli destacou que as pesquisas nucleares vão muito
além do uso militar e podem ser aproveitadas para o desenvolvimento de
tecnologias em outras áreas que beneficiem diretamente a população, como saúde
e agricultura.
Ainda segundo o ministro, está na pauta do MEC, da Marinha e do Ministério da Ciência e Tecnologia a criação de
cursos de graduação e pós-graduação no complexo de Aramar, localizado em Iperó, município na Região
Metropolitana de Sorocaba (SP), que faz parte do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP).
O Centro é responsável pelo desenvolvimento do Programa Nuclear da Marinha do Brasil, que busca a
inserção do País na lista de nações que dominam esse tipo de tecnologia.
http://www.brasil.gov.br/noticias/educacao-e-ciencia/2018/11/mec-e-marinha-vao-lancar-edital-para-incentivar-area-
nuclear
Exercício 3: Escreva um texto com 4 parágrafos de 5 a 7 linhas cada um, em que você defenda a parceria entre MEC
e Marinha do Brasil.
Dica: faça, pelo menos, 3 frases por parágrafo.

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Texto 4: Brasil vence 38º Campeonato Mundial Militar de Judô
Delegação brasileira encerrou sua participação no evento com dez ouros e sete bronzes
publicado: 11/11/2018 17h28, última modificação: 12/11/2018 10h43

A equipe brasileira ficou com a primeira colocação no


quadro de medalhas do 38º Campeonato Mundial Militar de
Judô. A competição foi realizada no Centro de Educação
Física Almirante Adalberto Nunes (Cefan),
da Marinha do Brasil, no Rio de Janeiro, entre 8 e 12 de
novembro.
Os judocas do Brasil conquistaram 17 medalhas,
sendo dez ouros e sete bronzes. Rússia, com três ouros,
seis pratas e quatro bronzes, e França, com três ouros,
cinco pratas e três bronzes, completaram o pódio da
classificação geral.
O time que representou o Brasil foi formado por 18
militares, divididos igualmente entre as equipes masculina e feminina. Todos integram o Programa Atletas de Alto
Rendimento (PAAR) do Ministério da Defesa (MD) e são terceiros-sargentos das Forças Armadas do Brasil.
Organizado pela Marinha do Brasil, o 38º Campeonato Mundial Militar de Judô é um preparatório para os 7º Jogos
Mundiais Militares, que serão realizados em 2019, na cidade de Wuhan, na China, e para os Jogos Olímpicos de
2020, em Tóquio, no Japão. Mais da metade do time militar do Brasil faz parte da equipe da Confederação Brasileira
de Judô (CBJ).
Fonte: Ministério da Defesa

Exercício 4: Escreva um texto com 4 parágrafos de 5 a 7 linhas cada um, em que você defenda o incentivo ao Esporte
pela Marinha do Brasil.
Dica: faça, pelo menos, 3 frases por parágrafo.

Texto 5: PIRATARIA MARÍTIMA: AMEAÇA GLOBAL

1. INTRODUÇÃO mundial, bem como em relação aos direitos humanos das


A presente obra visa analisar as implicações à vítimas afetadas pela pirataria. Por derradeiro, verifica-se
sociedade global oriundas da prática de atos de pirataria que tal prática delitiva representa grande preocupação
marítima, como um dos desafios para a criação e para a sociedade global, merecendo, destarte, especial
efetivação de novos paradigmas na área do Direito, atenção quando do tratamento da temática do combate ao
principalmente no tocante às relações jurídicas na seara fenômeno da pirataria marítima, sendo necessário que a
dos transportes internacionais pelo modal aquaviário, comunidade internacional repense suas atitudes quando
comércio internacional e direitos humanos. Para tal, é do enfrentamento do tema.
realizada uma análise quantitativa e qualitativa de tais
eventos, com o objetivo de ressaltar a importância do 2. CONCEITO DE PIRATARIA MARÍTIMA
combate a tal conduta delitiva. A pirataria marítima, definida hoje como ato ilícito, nem
A pirataria marítima é fenômeno de grande preocupação sempre teve esta conotação:
na comunidade internacional, dados os enormes prejuízos [...] pirataria era entendida principalmente como um ato
à economia internacional, que arca com gastos que vão de guerra, quando navios, comandantes e tripulações
desde o pagamento de vultuosos resgates para soltura estavam sob a licença (‘Carta de Marque’) ou os auspícios
das vítimas e navios objeto de sequestros, passando pelo de um monarca ou governo para atacar e pilhar a frota de
efetivo combate ao fenômeno, com emprego de armas um Estado competidor numa dada rota comercial
militares de última geração, chegando até o aumento dos considerada monopólio para a aquisição de especiarias,
valores dos contratos de seguro marítimo e, tecidos, minerais nobres e presas de animais apreciados
consequentemente, dos produtos transportados pelo pelos artesãos europeus. Adicione-se o fato de que o ato
modal aquaviário, bem como as graves violações dos constituía-se de pirataria em qualquer porção do espaço
direitos humanos dos trabalhadores marítimos, vítimas marítimo, fosse realizado em alto-mar ou não (CALIXTO,
das mais diversas e cruéis formas de violência. 2006, p. 202-203).
Em plena era de grande desenvolvimento na áreas de O conceito de pirataria perdeu hodiernamente seu
energia, com a descoberta do pré-sal, e tecnologia, a caráter de ato com participação estatal, passando a ter
pirataria marítima se apresenta como um desafio para a como essência a finalidade privada, não se confundindo,
ordem internacional, visto que esta prática delitiva é portanto, com o corso, que contava com intervenção de
responsável por grandes prejuízos à economia mundial, um Estado que autorizava sua prática e dela se
bem como por graves violações aos direitos humanos de beneficiava. A doutrina conceitua pirataria como “o saque,
suas vítimas, que são submetidas à violência extrema. a depredação ou o apresamento de navio, geralmente sob
Para o melhor entendimento sobre a questão, faz-se violência, e com fins privados” (MARTINS, 2008, p. 82),
imperioso discorrer sobre o conceito de pirataria marítima ou mesmo como “qualquer roubo ou outro ato de
que, apesar de normatizado, gera grande discussões a violência, com fins privados e sem autorização de
respeito de sua abrangência, bem como das espécies de autoridade pública, cometido em mares ou no espaço
atos piratescos e modus operandi. Após é realizada uma aéreo localizados fora da jurisdição de qualquer Estado”
análise a respeito do impacto desses atos na economia (JENKINS, 2013). Entretanto, conforme será exposto
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mais adiante, quando da análise dos tipos relativos aos exemplo petróleo)] Os dois primeiros critérios — objeto e
atos de pirataria, não apenas atos violentos configuram o localização — são objetivos. Entretanto, a finalidade é
fenômeno ora estudado, mas também quaisquer atos de subjetiva por natureza, podendo comportar diferentes
auxílio ou instigação a esta prática. interpretações. Por exemplo, não há consenso entre os
A Convenção sobre o Alto-Mar de 1958 dispôs sobre os juristas se o animus furandi, a intenção de roubar, é
atos de pirataria, em seu artigo 15º, o seguinte: elemento necessário ou se atos de insurgentes
[...] Constituem pirataria os actos a seguir enumerados: procurando derrubar seu governo devem ficar fora da
1) Todo o acto ilegítimo de violência, de detenção ou definição. A jurisprudência das cortes nos Estados Unidos
toda a depredação cometida para fins pessoais pela da América e Reino Unido têm adotado que qualquer ato
tripulação ou passageiros de um navio privado ou de uma não autorizado de violência cometido no alto mar é
aeronave privada, e dirigidos: a) No alto mar, contra um pirataria (CANINAS, 2009, p. 106).
outro navio ou aeronave, ou contra pessoas e bens a seu Diante de tal dispositivo legal há que identificar três tipos
bordo; b) Contra um navio ou aeronave, pessoas ou bens, de ato de pirataria: pirataria propriamente dita,
em local fora da jurisdição de qualquer Estado. participação na pirataria e instigação ou auxílio à pirataria.
2) Todos os actos de participação voluntária para O primeiro tipo tem como elementos característicos: a
utilização de um navio ou de uma aeronave, quando violência, seja física (depredação) ou moral (mera
aquele que os comete tem conhecimento de factos que ameaça), sendo frequente o uso da primeira, dadas as
conferem a este navio ou a esta aeronave o carácter de proporções dos meios de transporte das vítimas (navios);
navio ou aeronave pirata. e os fins privados, visto que não se confundem os atos de
3) Toda a acção tendo por fim incitar a cometer os actos pirataria com atos típicos do poder de império de Estado
definidos nas alíneas 1) e 2) do presente artigo ou (presa bélica, captura e apreensão).
empreendida com a intenção de os facilitar. Os atos de pirataria referem-se às presas piratescas:
Tal texto, bem como outros regramentos sobre o tema, Denomina-se presa todo ato de depredação, praticado
foi repetido integralmente na Convenção das Nações no mar por homens que o percorrem roubando, à mão
Unidas sobre Direito do Mar (CNUDM III), de 1982, armada, navios de qualquer nação. Diz respeito,
também conhecida como Convenção de Montego Bay, principalmente, ao arrebatamento do navio ou à carga por
que em seu art. 101 define quais atos são considerados piratas. É o ato de pirataria (GIBERTONI, 2005, p. 234).
de pirataria, in verbis: O segundo tipo refere-se à participação na pirataria,
[...] Constituem pirataria quaisquer dos seguintes atos: segundo o qual não se faz necessária para a
a) ato ilícito de violência ou de detenção ou todo ato de caracterização do tipo o elemento da violência, mas sim,
depredação cometidos, para fins privados, pela tripulação apenas, o conhecimento do uso do navio para
ou pelos passageiros de um navio ou de uma aeronave cometimento de atos de pirataria. Tal espécie é
privados, e dirigidos contra: i) um navio ou uma aeronave usualmente cometida pela tripulação dos motherships3
em alto mar ou pessoas ou bens a bordo dos mesmos; ii) que não praticam propriamente os atos de violência contra
um navio ou uma aeronave, pessoas ou bens em lugar as vítimas de pirataria, mas que tem conhecimento do uso
não submetido à jurisdição de algum Estado; b) todo ato das embarcações para tal fim. O último tipo faz menção à
de participação voluntária na utilização de um navio ou de instigação ou auxílio à pirataria. Incitar refere-se ao ato de
uma aeronave, quando aquele que o pratica tenha instigar, reforçar a ideia de cometer as condutas descritas
conhecimento de fatos que dêem a esse navio ou a essa nas alíneas a ou b do mencionado dispositivo legal.
aeronave o caráter de navio ou aeronave pirata; c) toda a Auxiliar é a prestação de ajuda material à prática dos
ação que tenha por fim incitar ou ajudar intencionalmente citados atos, como por exemplo os piratas que atuam
a cometer um dos atos enunciados nas alíneas a) ou b). como assistentes de artilharia, no recarregamento das
Dessa forma, pode-se conceituar pirataria marítima RPGs4 utilizadas nos ataques às vítimas. São
como o cometimento, participação, induzimento ou equiparados a esses atos os cometidos por navios de
instigação, de ato ilícito danoso praticado com fins guerra na hipótese prevista no art. 102 da CNUDM III, in
privados e sem a autorização de autoridade pública, verbis:
perpetrados pela tripulação ou passageiros de um navio Os atos de pirataria definidos no Artigo 101,
contra navio ou pessoas localizados fora da jurisdição de perpetrados por um navio de guerra, um navio de Estado
algum Estado. ou uma aeronave de Estado, cuja tripulação se tenha
Diante de tal conceito, pode-se identificar três elementos amotinado e apoderado do navio ou aeronave, são
que devem ser avaliados quando da análise de atos de equiparados a atos cometidos por um navio ou aeronave
pirataria: privados.
O objeto do ato deve ser um navio, aeronave ou Vale ressaltar que todos esses atos descritos na
passageiros/tripulantes destes veículos. O critério CNUDM III, para que possam configurar pirataria, hão de
geográfico, por sua vez, estipula que o crime tem que ser ser praticados em lugar não submetido à jurisdição de um
perpetrado em alto mar ou em lugar onde não haja a Estado, sob pena de serem considerados outros tipos
jurisdição de um estado. Por este critério, deixariam de ser penais previstos na legislação interna de tal Estado,
considerados todos os atos cometidos nas águas delitos estes classificados pela Organização Marítima
interiores, mar territorial e zona econômica exclusiva Internacional (International Martime Organization – IMO)
(ZEE). [data venia, a rigor, a jurisdição é exercida somente como roubo armado contra navios (armed robbery against
no mar territorial e águas interiores, onde o Estado atua ships), conforme dispõe o item 2.2 do Anexo Code of
na plenitude do uso de seus poderes, visto que a zona Practice for the Investigation of Crimes of Piracy and
contígua destina-se apenas à fiscalização, um preparo Armed Robbery against ships da sua Resolução
para a entrada no navio no mar territorial, assim como na A.922(22):
zona econômica exclusiva há somente o monopólio da ‘Roubo armado contra navios’ significa qualquer ato
exploração de recursos naturais, quer sejam de natureza ilícito de violência ou de detenção ou qualquer ato de
animal (pesca), quer sejam de natureza mineral (por depredação, ou ameaça, não tipificado como ato de
pirataria, dirigido contra um navio ou contra pessoas ou 3.1. LOW-LEVEL ARMED ROBBERY
bens a bordo de um navio dentro da jurisdição do Estado Refere-se à modalidade mais simples de pirataria, sem
sobre tais infrações. destruição de partes do navio ou mesmo sequestro da
Faz-se mister ainda mencionar que tal assunto é tripulação, e com menor rentabilidade para os agentes,
também disciplinado na Convenção para Supressão de visto que consiste muitas vezes em pequenos roubos ou
Atos Ilícitos contra a Segurança da Navegação Marítima furtos.
(SUA Convention), que em seu artigo 3º disciplina que: O ‘Low-Level Armed Robbery’ é o nível mais baixo da
1. Qualquer pessoa comete delito se, ilícita e pirataria, no qual os piratas assaltam o navio e a tripulação
intencionalmente: (a) sequestar ou exercer controle sobre e fogem, sendo um dos romoves do assalto o cofre do
um navio, pela força ou ameaça de força ou por qualquer navio. Estes tipos de ataques ocorrem, normalmente,
outra forma de intimidação; ou (b) praticar ato de violência enquanto o navio está no porto ou no ancoradouro,
contra pessoa a bordo de um navio, se esse ato for capaz sucedendo-se, normalmente à noite. Ocasionalmente,
de pôr em perigo a navegação segura desse navio; ou (c) contudo raramente, o navio é levado para venda.
destruir um navio ou causar dano a um navio ou à sua (SARAMAGO, 2009)
carga e esse ato for capaz de pôr em perigo a navegação Vale ressaltar que é comum o enquadramento de tal
segura desse navio; ou (d) colocar ou mandar colocar em delito no conceito de armed robbery against ships, dado o
um navio, por qualquer meio, dispositivo ou substância fato de ocorrer com maior frequência em portos, área de
capaz de destruí-lo ou causar dano a esse navio ou à sua jurisdição do Estado em que se situa o porto. Como
carga, e esse ato puser em perigo ou for capaz de pôr em exemplo, pode ser citado o evento ocorrido no dia 16 de
perigo a navegação segura desse navio; ou (e) destruir ou outubro de 20125, em Conakry, na Guiné, em que seis
danificar seriamente instalações de navegação marítima assaltantes embarcaram em um navio cargueiro
ou interferir seriamente em seu funcionamento, se ancorado, furtando carga armazenada em contêineres. A
qualquer desses atos for capaz de pôr em perigo a tripulação ficou a salvo, pois se escondeu nos
navegação segura do navio; ou (f) fornecer informações alojamentos, entrando em contato imediatamente com o
que sabe serem falsas, dessa forma pondo em perigo a Centro de Denúncias do Internacional Maritime Bureau,
navegação segura de um navio; ou (g) ferir ou matar que transmitiu a mensagem às autoridades competentes.
qualquer pessoa, em conexão com a prática ou tentativa Os assaltantes fugiram com as citadas mercadorias ao ver
de prática de qualquer dos delitos previstos nas letras (a) a embarcação da patrulha enviada se aproximando. Outro
a (f). 2. Qualquer pessoa também comete delito se: (a) caso ocorreu 18 do mesmo mês e ano, em Tanjung Datu,
tentar cometer qualquer dos delitos previstos no parágrafo em Sarawak, na Malasia, onde ladrões abordaram um
1; ou (b) ajudar na prática de qualquer dos delitos rebocador que puxava uma balsa, roubaram o dinheiro da
previstos no parágrafo 1, cometido por qualquer pessoa, tripulação e fugiram.
ou for, de outra forma, cúmplice de pessoa que cometa tal
delito; ou (c) ameaçar, com ou sem condição, conforme 3.2. MEDIUM-LEVEL ARMED ASSAUL AND ROBBERY
disposto na lei nacional, com o objetivo de compelir É uma espécie intermediária de pirataria, em que são
pessoa física ou jurídica a praticar ou deixar de praticar empregados armamentos poderosos, utilizando violência
qualquer ato, cometer qualquer dos delitos previstos no para a consecução dos atos piratescos e táticas de
parágrafo 1, letras (b), (c) e (e), se essa ameaça for capaz abordagem das vítimas.
de pôr em perigo a navegação segura do navio em Segue-se o ‘Meddium-Level Armed Assault and
questão. Robbery’, no qual os actos de pirataria são realizados por
A SUA Convention, também conhecida como grupos que se encontram bem organizados e que operam
Convenção de Roma de 1988, foi criada com a finalidade com embarcações rápidas nas proximidades da costa. No
de suprir a anomia existente na CNUDM no sentido de ser entanto, o raio de acção pode ser alargado pela utilização
elemento da pirataria o fim privado do ato, dessa forma, de ‘navios-mãe’ (mother-ships), possuindo,
não integrando o tipo condutas baseadas em outros fins, frequentemente, radar. Neste caso, já estamos perante
como por exemplo, políticos e religiosos. um maior nível de brutalidade, com tripulação ameaçada,
Como se depreende, a Convenção de Roma de 1988, amarrada, e possivelmente ferida. O armamento utilizado
veio superar a lacuna da CNUDM ao não cobrir atos abrange armas automáticas, RPG’s ou morteiros.
políticos ilícitos em suas definições sobre pirataria, (SARAMAGO, 2009)
superando, bem assim, a necessidade do envolvimento Esta espécie também é classificada normalmente como
de dois navios para caracterizar o ato. Ao generalizar a armed robbery against ships, dado o fato de comumente
ofensa ou a ilicitude, as disposições do tratado de Roma visar navios ancorados. Entretanto, nada impede que seja
se aplicam tanto aos atos terroristas marítimos – privados realizada em região fora da jurisdição de algum Estado,
ou políticos – quanto à pirataria marítima. (CALIXTO, posto que os agentes contam com embarcações maiores
2006, p. 223) que lhes dão suporte.
Todavia, vale ressaltar que os atos de terrorismo O modus operandi nessa modalidade de pirataria
marítimo não se confundem com os de pirataria marítima, geralmente observa o seguinte:
dada a finalidade privada destes, que são o objeto da [...] as horas iniciais da manhã são o momento favorito
presente obra. dos piratas para atacar os navios que estão de passagem
em alto mar. Usualmente, estes atacantes tem um bom
3. ESPÉCIES DE PIRATARIA conhecimento de navios e se aproximam dos navios com
O International Maritime Bureau (IMB) disciplina que há rapidez de dezessete nós [aproximadamente 31,5km/h].
três dimensões de atos de pirataria: o Low-Level Armed Os piratas usam cordas e ganchos para chegarem ao
Robbery (LLAR), o Meddium-Level Armed Assault and convés. A partir deste ponto, os procedimentos usados
Robbery (MLAAR), e o Major Criminal Hijack (MCHJ) são similares aos empregados pelos ladrões armados nos
(SARAMAGO, 2009). portos. Os piratas de alto mar, entretanto, parecem ser
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mais violentos do que seus colegas da costa e geralmente marítimas. O mapa (RODRIGUE, 2014) abaixo ilustra esta
são mais bem armados. Depois de roubarem a tripulação assertiva.
e pegarem tudo o que puderem da carga do navio, os A principal rota marítima (core route), que liga as regiões
piratas normalmente trancam os membros da tripulação da América do Norte, Europa e Ásia, passa por todas as
em seus aposentos. Os piratas então partem, deixando o zonas de risco classificadas pelo IMB.
navio se movendo sem ninguém na ponte. Todavia, vale ressaltar que o IMB realiza seus estudos
(GOTTSCHALK, Jack A. et al, 2000, p. 130, tradução estatísticos incluindo nos atos de pirataria os roubos
nossa). armados praticados contra navios. Tal cálculo visa
Como exemplos, podem ser citados os eventos aumentar o número de incidentes reportados para
ocorridos no dia 15 de outubro de 20127 , no sul de Brass, fomentar o combate a estes delitos.
na Nigéria, em sete piratas armados embarcaram em um Tecnicamente, somente há pirataria se as condutas
rebocador através de uma lancha lançada de um navio praticadas estiverem de acordo com os ditames legais do
mãe, roubando os pertences pessoais da tripulação, bem art. 101 da CNUDM, isto é, somente se as condutas forem
como sequestrando sete integrantes desta; e no dia 4 do realizadas “em lugar não submetido à jurisdição de algum
mesmo mês e ano, em Lomé, Togo, em que: Estado”, no caso, além dos limites do mar territorial, pois,
Cerca de 10-12 piratas armados com armas automáticas do contrário, constituem-se em crimes de jurisdição
embarcaram em um navio-tanque à deriva. Os piratas interna dos Estados onde foram praticados.
sequestraram o navio tanque e reuniram toda a tripulação Destarte, somente algumas das áreas listadas como
na ponte enquanto esperavam por uma bunker barge [um zonas de risco pelo IMB são realmente regiões onde há
navio tanque pequeno de reabastecimento] para roubar a relevante número de incidentes de pirataria, como é o
carga do navio. Quando a bunker barge chegou, a caso da Costa da Somália, Golfo de Áden e Golfo da
tripulação do navio foi forçada a preparar as defesas para Guiné. As demais são áreas onde o maior número de
o navio atracar ao seu lado. Depois de roubar a carga os ataques constituem roubos armados contra navios, visto
piratas trancaram a tripulação na cabine do Comandante, que praticados em portos, ancoradouros, ou águas
danificando alguns dos equipamentos de navegação, próximas à costa.
roubaram dinheiro navio, pertences pessoais da
tripulação, provisões e itens eletrônicos e depois deixaram
o navio-tanque em 05/10/2012 nas primeiras horas da
manhã. Todos os tripulantes estão a salvo apesar de
algumas lesões físicas.8

3.3. MAJOR CRIMINAL HIJACK


Esta é a forma mais grave de pirataria e a mais rentável
das três espécies.
Na dimensão mais elevada distinguida pelo IMB, o
‘Major Criminal Hijack’, as acções são perpetradas por
organizações regionais de grande dimensão, ou mesmo
internacionais. Aqui, o navio é sequestrado, e é pedido um
resgate; há o recurso à violência extrema (por vezes a
tripulação é assassinada). Pode acontecer o navio ser
repintado, ser-lhe dada outra bandeira e registo sob outro
nome (Phantom Ship). São uma pequena parte dos
crimes de pirataria ocorridos em todo o mundo, no entanto
os mais rentáveis.
Quanto à última espécie, faz-se mister mencionar
importante caso, o do petroleiro MV Sirius Star, o maior
navio já sequestrado por piratas da história. Com carga
avaliada em US$ 100 milhões9 , e tripulação de 25
pessoas, foi sequestrado por piratas somalis em 15 de
novembro de 2008, sendo libertado após pagamento de
resgate no montante de US$ 3 milhões, em 9 de janeiro
de 200910.

4. ZONAS DE RISCO
O International Maritime Bureau (IMB) classifica
algumas regiões do mundo como zonas de risco em
relação à pirataria marítima, considerando o elevado
número de incidentes reportados a ele nestas regiões.
Essas regiões podem ser reunidas em cinco grupos
devido às suas características geográficas e
idiossincrasias: Costa da Somália, Golfo de Áden, Golfo
da Guiné, Sudeste da Ásia (Estreito de Malacca, Malásia,
Indonésia, Mar do Sul da China e outros) e Índia. Os
citados incidentes ocorrem nessas regiões por diversos
motivos, mas principalmente devido à sua localização
geográfica favorável à existência de importantes rotas
FIGURA 1. Principais rotas de comércio marítimo Zonas de risco de pirataria marítima

5. AMEAÇA GLOBAL
O fenômeno da pirataria marítima é de grande interesse da sociedade global, visto que mais de 80% do volume de
comércio mundial é realizado através do modal aquaviário (UNCTAD, 2011, p. 26, tradução nossa). De acordo com
relatório elaborado em 2012 pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (United
Nations Conference on Trade and Development – UNCTAD):
Dados preliminares indicam que o comércio marítimo mundial manteve-se estável em 2011 e cresceu 4%, com um total
de volumes atingindo o recorde de 8,7 bilhões de toneladas [...]. Esta expansão foi impulsionada pelo rápido
crescimento nos volumes de carga seca (5.6%) propelido pelo otimismo do comércio de contêineres e granel, que
cresceram 8,6% (expresso em toneladas) e 5,4%, respectivamente. (UNCTAD, 2012, p. 5,tradução nossa)

CONCLUSÃO
A pirataria marítima é fenômeno de extrema relevância para a sociedade global, visto que os prejuízos dele advindos
são preocupantes e comuns à toda a comunidade mundial. Hodiernamente, a pirataria se apresenta como um dos
maiores desafios na esfera internacional para o transporte pelo modal marítimo, afetando toda a cadeia produtiva e
de fornecimento, visto que os navios mais visados pelos criminosos são os que transportam produtos químicos,
petróleo e cargas gerais a granel ou em containers.
Quando os navios são sequestrados e sua carga roubada, há a interrupção de tais cadeias, o que gera enorme prejuízo
a todos os envolvidos nesta relação. Diante disso, os armadores que transportam cargas pelas chamadas zonas
críticas, localizadas nas principais rotas de comércio marítimo mundial, tem que arcar com prêmios mais caros,
majorados em razão do aumento do risco ao qual o objeto do contrato de seguro é
submetido.
Não obstante tais prejuízos, há outros que não podem ser mensurados, posto que causados às vidas humanas
envolvidas na prática do citado delito. Atualmente, o número de incidentes de pirataria foi bastante reduzido, se
comparados aos dos anos anteriores.
Entretanto, ainda se apresentam em escala alarmante, em número que preocupa a comunidade internacional, dada a
violência extrema típica de tais ataques. Nesse compasso, torna-se evidente a necessidade de serem repensadas
atitudes da comunidade global a fim de combater tal fenômeno. Atualmente, estas atitudes consistem no emprego
de máquinas e estratégias militares altamente dispendiosas, o que agrava ainda mais os custos gerados pela
pirataria.
Quando da aplicação de mecanismos de boa governança, há que serem considerados outros aspectos relacionados à
pirataria marítima, como a ausência de condições para um desenvolvimento digno das populações das áreas
afetadas e a incapacidade de autogestão das atividades precípuas pelos Estados a elas relacionados.
Destarte, na criação de novos paradigmas, bem como na efetivação dos atuais, relativos à área dos transportes por
meio marítimo, há que ser levada em conta a pirataria como desafio que deve ser superado. Nesta toada, não
obstante o emprego das atuais medidas de enfrentamento do problema que se fazem necessárias, acredita-se que
o empoderamento da figura estatal, através de investimentos na criação de capacidade de autogestão das
atividades precípuas dos Estados assolados pelo fenômeno pode ser uma solução, com resultados em longo prazo,
viável para a erradicação do problema ou, ao menos, sua minimização.
Fonte: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=52fe8f09c95a49a4

Exercício 5: Escreva um texto com 4 parágrafos de 5 a 7 linhas cada, sendo


1º parágrafo: apresentação do problema da pirataria marítima + TESE;
2º parágrafo: explicação de causas da pirataria marítima;
3º parágrafo: explicação de consequências da pirataria marítima;
4º parágrafo: REAFIRMAÇÃO DA TESE + explicação de soluções da pirataria marítima.
Dica: faça, pelo menos, 3 frases por parágrafo

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PLANEJAMENTO - Exemplo de roteiro de planejamento

Tema

Problemas do meio ambiente Ideia 1: Aquecimento global

Ideia 2: Queimadas / Desmatamento

Ideia 3: Falta de políticas públicas consistentes

Introdução

Técnica de introdução:

Tese: O ser humano tem destruído o meio ambiente a cada ano.

Desenvolvimento

Parágrafo 1 = ideia 1
Recentemente, cientistas descobriram que o aquecimento global é causado pela enorme destruição do meio
ambiente.
Parágrafo 2 = ideia 2
Dois problemas graves e recorrentes são as queimadas e os desmatamentos.
Parágrafo 3 = ideia 3
A falta de políticas públicas consistentes impede a preservação do ambiente.

Conclusão

Retomada da tese: O ser humano é, portanto, responsável pela destruição gradativa do meio ambiente.

Técnicas de conclusão:

Título
Planejamento Textual
Tema

Ideia 1:

Ideia 2:

Ideia 3:

Introdução

Técnica de introdução:

Tese:

Desenvolvimento

Parágrafo 1 = ideia 1

Parágrafo 2 = ideia 2

Parágrafo 3 = ideia 3

Conclusão

Retomada da tese:

Técnicas de conclusão:

Título

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INTRODUÇÃO
1) Funções:
* Contextualizar: de onde o tema surgiu? Qual a relevância da questão proposta? Qual é a melhor estratégia para
começar a falar desse tema? Essa estratégia “fere” a essência da introdução ou, ao contrário, consegue enriquecê-
la?
* Direcionar a abordagem: como o tema será tratado? Que ponto de vista será defendido?

2) Estrutura: Exemplo 3:
* 1º parágrafo do texto → cerca de cinco ou seis linhas Tema: a identidade da música brasileira
* Contextualização + Tese Quem vai à História descobre logo que o samba não seria
o mesmo sem os ritmos africanos e as danças latinas, o
2.1) Tese mesmo vale para outros estilos tipicamente brasileiros.
* Conceito: eixo central / linha de raciocínio / Expressão Nesse contexto, vê-se com histeria o alarme diante da
do ponto de vista. música americana nas rádios e lojas de CD. Entretanto a
velocidade das influências, hoje, é realmente motivo de
a) Tese explícita por etapas: explicitação dos três preocupação. Afinal, embora as trocas estejam na base
argumentos de qualquer cultura, os excessos da globalização
* Tese explícita por etapas: trata-se da apresentação econômica precisam ser filtrados, a fim de que a música
clara dos argumentos que serão explorados nos brasileira mantenha o mosaico que sustenta sua
parágrafos de desenvolvimento, resumidos em um identidade.
período, na ordem em que eles aparecerão no texto.
Arg1:
Exemplo 1:
Tema: Consumismo Arg2:
Tese: Embora necessário, o consumismo constitui uma
violência simbólica, que pode levar, também, à Arg3:
criminalidade.
b) Tese implícita por ideia geral ou palavra-chave:
Arg1: relevância econômica sugestão sutil de ponto de vista
Arg2: imposição de “necessidades” / sedução publicitária * Tese implícita por ideia geral ou palavra-chave: trata-
Arg3: criminalidade para o consumo se da sugestão genérica e/ou sutil da opinião que será
defendida na argumentação.
Exemplo 2: Exemplo 1:
Tema: Efeitos negativos da tecnologia:
Tema: Redução da maioridade penal Tese: Existe um paradoxo tecnológico: quanto maior o
Com o aumento da quantidade e da gravidade dos casos progresso, maior a desumanização.
de delinquência juvenil, vem à tona o debate em torno de Arg1: comunicação mediada
suas possíveis soluções. Dentre as propostas, destaca-se Arg2: dependência da tecnologia
a redução da maioridade penal para dezesseis anos no Arg3: redução das identidades culturais
Brasil. Embora seja necessário melhorar previamente o
sistema carcerário, essa mudança no código penal Exemplo 2:
confirma a precocidade dos jovens de hoje e ajuda a Tema: Representações sociais da mulher no Brasil
diminuir sua imunidade frente à lei. hoje
O discurso politicamente correto parece ocupar todos os
Arg1: espaços sociais disponíveis. Não seria diferente no que
diz respeito à mulher. Reconhecimento por parte de
Arg2: autoridades, mudanças na legislação eleitoral, teses e
mais teses acadêmicas. Na hora do comercial, porém, lá
Arg3: está a mesma mulher-objeto de sempre, corpo escultural,
boca calada. No Brasil, sem dúvida, vive-se uma espécie
de contradição, pois a imagem feminina oficial nunca
coincide com a real.
Exemplo 3: Exemplos:
Tema: Democracia e desigualdade social no Brasil. Tema: Descrença na política no mundo
Sabe-se que o Brasil é, historicamente, marcado por contemporâneo
absurdas desigualdades sociais e por nenhuma medida Muito se tem discutido acerca da desvalorização da
política eficaz para, pelo menos, amenizá-las. Nesse política no mundo atual. De fato, o descaso com o voto
contexto de displicência governamental, o abismo entre parece constituir forte sintoma desse panorama. Para
as classes apenas aumentou e chegou, nos dias atuais, a compreender tal fenômeno, cabe analisar a influência dos
uma assustadora realidade de divisão e segregação. O políticos, da sociedade e do próprio sistema. Só assim
paradoxal, no entanto, é que, mesmo em um país de será possível perceber a complexidade da situação.
muitas diferenças, há quem acredite viver em uma plena
democracia. Tema: Preservação ambiental
Não são poucos os fatores envolvidos na discussão
c) Tese implícita por pergunta: questionamento acerca de preservação ambiental hoje. Basta ler com
retórico e sugestivo atenção os jornais ou observar a força dos Partidos
* Tese por pergunta retórica: trata-se da sugestão de Verdes em boa parte do mundo. Em meio a esse grande
sutil de um ponto de vista por meio de um questionamento debate, ganha espaço a valorização da água, por razões
que induz a uma resposta. científicas, econômicas e humanitárias. Compreender tais
Exemplo 1: fatores é o primeiro passo para afastar uma ameaça grave
Tema: Os avanços da consciência ecológica no ao próprio ser humano.
mundo. Tema: Aquecimento global
Rio 92, Rio+10, Rio+20. Não há, na história, registro de É cada vez mais frequente a discussão sobre o
tantas reuniões e congressos para discutir os problemas aquecimento global. Realmente, os cientistas alertam
ambientais que desafiam a todos. Tema obrigatório em para os perigos da emissão de gases poluentes, os quais
sala de aula e em páginas de jornal, a ecologia entrou e afetam a temperatura da Terra. Diante disso, o homem
ficou em pauta. O que era pura ciência alcança o cidadão começa a se preocupar um pouco mais com suas atitudes,
comum, que, nos atos mais simples, aos poucos muda enquanto governos preparam leis e acordos. Resta saber
sua postura. Mantêm-se, no entanto, os problemas mais se ainda há tempo para mudar.
graves, causados pelas grandes empresas de sempre.
Nesse contexto, cabe indagar: de que adianta a pura b) Histórica
consciência individual se o sistema não vê obstáculos * Citação de época passada ou episódio histórico
para sua expansão destruidora? * Objetivo: comparação com o presente
Tema: Redução da maioridade penal → semelhança
Com o aumento da quantidade e da gravidade dos → diferença
casos de delinquência juvenil, vem à tona o debate em * Necessidade de exatidão, sem detalhismo
torno de suas possíveis soluções. Dentre as propostas, * Interdisciplinaridade
destaca-se a redução da maioridade penal no Brasil. Uma Exemplos:
análise menos emocionada da situação, no entanto, Tema: O fim das utopias
revela governos incapazes de oferecer educação de base; Em 1917, uma revolução começou a concretizar uma das
prisões lotadas, que não reintegram indivíduos à maiores utopias do ser humano – a criação de uma
sociedade e bandidos dispostos a aliciar pessoas cada sociedade igualitária. Menos de um século depois, em
vez mais jovens para o tráfico. Nesse contexto, será 1989, esse ideal acabou com a destruição de um muro
mesmo que prender jovens de dezesseis e dezessete que, de certa forma, o simbolizava. A sociedade mundial
anos será benéfico para o país? chegou ao século XXI descrente e cínica e apostou tudo
Exemplo 3: em uma única e triste certeza: o indivíduo. O problema –
Tema: Identidade da música brasileira ou solução, nesse caso, – é que o homem nunca deixou
Samba misturado à batida “Funk”. Música eletrônica com de sonhar.
pitadas de “Rock”. Jazz com apelo Brega. Se a essência Tema: Trote nas universidades
da música contemporânea é a mistura, o Brasil Na Idade Média, quando surgiu, o trote constituía um ritual
desempenha muito bem sua função. No país da de passagem cuja violência apresentava significados
miscigenação étnica, a produção musical herda a filosóficos: os traumas físicos e psíquicos ajudavam os
qualidade da reciclagem criativa, responsável pela calouros a entender seu novo lugar. Hoje, porém, essa
diversidade cultural da nação. Convém indagar: mosaico prática tornou-se vazia e se limita à expressão de uma
ou colcha de retalhos? violência cada vez mais banalizada.
2.2) Estratégias de contextualização
Tema: Problemas na política brasileira
a) Tradicional
Quando o governo militar se aproveitou da vitória
* Frases genéricas de ambientação
brasileira na Copa de 70 para fazer propaganda política,
- “quando o assunto é (...), não são poucas as dúvidas
muitos denunciaram uma postura populista. Hoje, apesar
presentes (...)”
da liberdade de imprensa, não são poucos os políticos que
- “muito se discute acerca de (...)”
agem apenas pela simpatia do público e fogem de
* Evitar os lugares-comuns medidas impopulares. Das cotas nas universidades ao
- “Atualmente” (impreciso) Bolsa Escola, passando pelos restaurantes populares,
- “Desde os primórdios da humanidade” (não faz sentido) muito pouco é feito para mudar, de fato, as estruturas
- “A cada dia que passa” sociais do País.

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c) Conceitual Tema: Identidade da música brasileira
* Definição da palavra-chave Samba misturado à batida “Funk”. Música eletrônica com
* Útil em temas reflexivos abstratos pitadas de “Rock”. “Jazz” com apelo Brega. Se a essência
da música contemporânea é a mistura, o Brasil
Exemplos: desempenha muito bem sua função. No país da
Tema: Educação brasileira hoje miscigenação étnica, a produção musical herda a
Em sua etimologia, educar significa elevar, conduzir a um qualidade da reciclagem criativa, responsável pela
patamar superior. Infelizmente, nem sempre a teoria se diversidade cultural da nação. Convém indagar: mosaico
aproxima da prática. O sistema educacional brasileiro é ou colcha de retalhos?
um bom exemplo desse distanciamento. Infraestrutura
decadente, baixa remuneração de profissionais e e) Jornalística
currículos antiquados não combinam com o discurso do * Micronarrativa que ilustre o tema
Ministério da Educação, pois o tornam etéreo. * Uma espécie de narrativa

Tema: A ciência e o dinheiro Exemplos:


Os dicionários registram que a ciência é o conjunto de Tema: Violência gratuita
conhecimentos de determinada área, obtidos segundo um Em junho de 2011, cinco adolescentes de classe média
método objetivo e demonstrável. Embora clara, essa espancaram uma empregada doméstica na Barra da
definição deixa de lado um fator cada vez mais presente Tijuca. De modo semelhante ao que ocorrera com o índio
no mundo científico: o dinheiro. Sejam as verbas para Galdino, incendiado em Brasília há dez anos, a vítima
universidades públicas, sejam os investimentos em ainda não entendeu por que sofreu a agressão. Às
laboratórios privados, o fato é que os cientistas tornaram- gargalhadas, o grupo repetia um fenômeno que não é
se reféns da lógica econômica. Nesse novo contexto, a novo e só piora a cada ano: a violência gratuita praticada
humanidade só tem a perder. por jovens abastados. Embora injustificável, essa prática
precisa ser compreendida para ser controlada. Eis o
Tema: A transgressão às leis no contexto desafio.
contemporâneo
Segundo o filósofo grego Aristóteles, “a lei é a razão livre Tema: Trote nas universidades
da paixão”. A julgar pelo panorama atual, esse precioso Há cerca de cinco anos, a USP foi palco de uma tragédia:
ensinamento tem sido constantemente desvirtuado. Para a morte de um calouro de medicina durante o trote. Esse
muitos, a paixão – como sinônimo de interesses e desejos episódio trouxe à tona uma discussão que ficara
pessoais – revela-se elemento inerente à observância de escondida por muito tempo. Trata-se do debate em torno
uma lei e, o que é pior, pode ser o pretexto necessário dos trotes universitários e sua violência descontrolada.
para que esta não seja sequer cumprida. Embora represente um sadismo compreensível, essa
prática vai de encontro ao espírito universitário e pode ser
d) Fotográfica substituída por atividades mais inteligentes.
* Citação de três imagens sucessivas que apresentem o
tema f) Cultural
* Vantagem: dinamismo *Interdisciplinaridade com a cultura: música, artes,
* Depois é preciso fazer uma frase para explicar os literatura, etc.
flashes.
Exemplos:
Exemplos: Tema: O sentido do tempo para o homem
Tema: Relações amorosas na atualidade contemporâneo
Adolescentes “ficando”. Namoros via internet. Aumento do Entre os poderes da Arte, encontra-se a capacidade de
número de divórcios. Tais são alguns dos indícios de que traduzir certas percepções em palavras ou imagens
as relações amorosas têm passado por transformações especiais. Na música, por exemplo, canções como a
profundas. Sem dúvida, a economia, a tecnologia e a “Oração ao Tempo”, de Caetano Veloso, e “Tempo Rei”,
aceleração dos processos têm sido decisivas na de Gilberto Gil, falam de um mesmo assunto e o fazem da
caracterização do amor contemporâneo. Cabe mesma maneira: personificam o tempo com letras
compreender esse processo para julgá-lo, se for o caso. maiúsculas. Essa opção faz sentido, sobretudo, quando
se reflete acerca da importância dada ao tempo pelo
Tema: O brasileiro diante do medo da violência homem contemporâneo, que o trata como uma espécie de
Olhos inquietos, bolsa levada à frente do corpo, andar religiosidade vazia.
apressado. Esses exemplos não tratam de um cidadão
neurótico, mas de um típico brasileiro morador das Tema: O sentido do tempo para o homem
grandes cidades. Seja nas estatísticas, seja nas ruas, a contemporâneo
violência aparece em todas as suas dimensões e, dessa Há cem anos, Einstein mudou a cosmovisão ocidental ao
forma, altera o cotidiano das pessoas. Nessa realidade, propor a teoria da relatividade. Embora se trate de assunto
todos garantem sua segurança como podem: uns complexo, a hipótese do físico alemão colocou o tempo
compram armas, outros planejam roteiros, outros ainda em evidência, tornando-se a grande questão desta época.
evitam sair de casa. Afinal, ninguém quer ser vítima da Em meio à preponderância da economia, nunca foi tão
violência. verdadeiro o clichê “tempo é dinheiro”. Em virtude dessa
visão pragmática, a aceleração tecnológica reduz o tempo
do homem, que tenta detê-lo em vão.
Tema: O sentido do tempo para o homem K) Comparação
contemporâneo Tema: Reforma agrária
Quando Santos Dumont inventou o relógio de pulso, O tema da reforma agrária está presente há bastante
talvez não tenha imaginado o quanto esse instrumento tempo nas discussões sobre os problemas mais graves
seria importante, até mesmo para evidenciar sua obra que afetam o Brasil. Numa comparação entre o
mais famosa. Sem dúvida, seja para embarcar num avião, movimento pela abolição da escravidão no Brasil, no final
seja para regular suas atividades vitais, o homem mede o do século passado, e o movimento atual pela reforma
tempo de tudo. Entretanto quanto mais a humanidade agrária, podem-se perceber algumas semelhanças. Como
imagina controlar a passagem dos ponteiros nos relógios, na época do Império existiam elementos favoráveis e
mais ela se torna refém desse controle. contrários a acabar com aquele mal, também hoje há os
que são a favor e os que são contra a implantação de uma
Outros Tipos de Contextualização reestruturação no campo.
g) Divisão
Tema: Exclusão Social
Predominam ainda no Brasil duas convicções errôneas
sobre o problema da exclusão social: a de que ela deve
ser enfrentada apenas pelo poder público e a de que sua
superação envolve muitos recursos e esforços
extraordinários. Experiências relatadas mostram que o
combate à marginalidade social em Nova Iorque tem
contado com intensivos esforços do poder público e ampla
participação da iniciativa privada.

a) Oposição
Tema: Educação no Brasil
De um lado, professores mal pagos, desestimulados,
esquecidos pelo governo. De outro, gastos excessivos
com computadores, antenas Wi-Fi, aparelhos de DVD.
Esse é o paradoxo que vive hoje a educação no Brasil.

h) Uma frase nominal seguida de explicação


Tema: Educação no Brasil.
Uma catástrofe. Essa é a conclusão da própria Secretaria
de Avaliação e Informação Educacional do Ministério da
Educação e Cultura sobre o desempenho dos alunos do
3º ano do Ensino Médio submetidos ao Sistema de
Avaliação da Educação Básica (Saeb), que ainda avaliou
estudantes em todas as regiões do território nacional. É
preciso, então, que o governo busque alternativas para
esse grave problema.

i) Citação
Tema: política demográfica
"As pessoas chegam ao ponto de uma criança morrer e
os pais não chorarem mais". O comentário do fotógrafo
Sebastião Salgado sobre o que viu em Ruanda é um
estímulo no estado de letargia ética que domina algumas
nações do Mundo Desenvolvido. Será que a humanidade
está deixando de ser humana?
j) Citação de forma indireta
Tema: Escravidão
O teórico Joaquim Nabuco, em sua comiseração pelo
escravo brasileiro, disse que este só tem a própria morte.
O movimento brasileiro antiescravista, quando já
fortalecido, deixou bem clara essa pungente acusação
nas palavras dos abolicionistas.

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EXERCÍCIO DE INTRODUÇÃO

Leia com atenção o seguinte texto: Amazônia Azul


Há quem diga que o futuro da humanidade dependerá das riquezas do mar. Nesse sentido, torna-se inexorável o
destino brasileiro de praticar sua mentalidade marítima para que o mar brasileiro seja protegido da degradação
ambiental e de interesses alheios. Na tentativa de voltar os olhos do Brasil para o mar sob sua jurisdição, por ser fonte
infindável de recursos, pelos seus incalculáveis bens naturais e pela sua biodiversidade, a Marinha do Brasil criou o
termo "Amazônia Azul", para, em analogia com os recursos daquela vasta região terrestre, representar sua equivalência
com a área marítima.
Mas como é delineada essa Amazônia Azul?
A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) tem origem em sua 3ª Conferência, encerrada em
10 de dezembro de 1982, em Montego Bay, na Jamaica. O Brasil assinou a convenção naquela mesma data,
juntamente com outros 118 países, mas só a ratificou em 1993; a CNUDM só entrou em vigor em 16 de novembro de
1994. Nela foram definidos os espaços marítimos: o Mar Territorial, que não deve ultrapassar o limite de 12 milhas
náuticas (MN); a Zona Contígua, adjacente ao mar territorial, cujo limite máximo é de 24 MN e é medida a partir das
linhas de base do mar territorial; a Zona Econômica Exclusiva (ZEE), medida a partir das linhas de base do mar territorial
e que não deve exceder a distância de 200 MN; e a Plataforma Continental, que compreende o solo e o subsolo das
áreas submarinas, além do mar territorial, podendo estender-se além das 200 milhas até o bordo exterior da margem
continental. A distância máxima está limitada a 350 milhas, a contar da linha de base a partir da qual se mede a largura
do mar territorial.
Foram definidos ainda conceitos complementares, como as Águas Interiores: situadas no interior das linhas de base
do mar territorial e que fazem parte das águas interiores de um país. Como exemplo, as águas do Rio Amazonas, do
São Francisco e da Lagoa dos Patos; as Águas Arquipelágicas, circunjacentes aos arquipélagos como os de Martim
Vaz e Trindade, Fernando de Noronha e o Atol das Rocas; Alto Mar, como se configuram as partes não incluídas na
zona econômica exclusiva, no mar territorial ou nas águas interiores, nem nas águas arquipelágicas de um Estado.
Regime das Ilhas: o Mar Territorial, a Zona Contígua, a Zona Econômica Exclusiva e a Plataforma Continental de uma
ilha são determinados de acordo com a convenção citada. Os rochedos, porém, não se prestam à habitação humana
ou à vida econômica, não tendo zona econômica exclusiva ou plataforma continental. Assim, no final dos anos 1990, o
Brasil adotou providências em relação aos rochedos São Pedro e São Paulo, situados a cerca de 520 MN do Estado
do Rio Grande do Norte: mudou-lhes o nome de “rochedos” para “arquipélago”; construiu e instalou lá um farol, para
substituir o que fora destruído por um sismo, em 1930, e construiu uma estação científica permanentemente guarnecida
por um pequeno grupo de pesquisadores.
O Alto-Mar, segundo os acordos internacionais, é franqueado a todos os Estados, sejam eles costeiros ou não, desde
que utilizado para fins pacíficos. Porém, os Estados devem estabelecer os requisitos necessários à atribuição da
sua nacionalidade a navios, para o registro deles em seu território e para o direito de mostrar sua bandeira, impedir
o transporte ilegal de material e pessoal, reprimir a pirataria e cooperar para a repressão do tráfico ilícito de drogas.
A pirataria tem crescido em determinadas áreas do mundo e deve ser combatida. Devemos estar prontos para
combater tal ilícito.
Uma breve observação do mapa acima permite esclarecer a importância da Amazônia Azul para o Brasil: com a
ampliação da nossa Plataforma Continental e mais as áreas marítimas dos Arquipélagos de Fernando de Noronha
e São Pedro e São Paulo, somadas à área marítima das ilhas Oceânicas de Trindade e Martim Vaz, a área disponível
para a exploração de riquezas e exploração científica (fundamental para o futuro da humanidade) se assemelha à
atual superfície amazônica. Não são necessárias maiores explicações para justificar as razões da necessidade de
protegê-la.

Dia da Amazônia Azul


O “Dia Nacional da Amazônia Azul” é celebrado no dia 16 de novembro. Sancionada pela Lei n° 13.187, de 11 de
novembro de 2015, a data foi escolhida em homenagem à entrada em vigor da Convenção das Nações Unidas
sobre Direito do Mar, em 16 de novembro de 1994.

Com base nas ideias presentes nos textos acima, redija 4 parágrafos diferentes de introdução sobre o tema:
A importância da Amazônia Azul
OBS.:
- Utilize as várias técnicas de contextualização e de tese;
- Não se esqueça de indicar a técnica por você escolhida antes de cada parágrafo.
- Faça 2 ou 3 frases em cada parágrafo;
- Faça parágrafos de 4 a 6 linhas;
GRAMÁTICA

Acentuação Gráfica
Regras Gerais (não houve mudanças pelo novo Acordo Ortográfico):
Leva
Terminados em: EXEMPLOS
acento?

Monossílabos -a(s), -e(s), -


Sim
tônicos o(s)

-a(s), -e(s),
Oxítonas Sim
-o(s), -em, -ens

Não *

-a(s), -e(s),
Paroxítonas -o(s), -em, -ens,
-am

Sim
Proparoxítonas Qualquer letra

* Essas terminações não fazem parte de ditongos nem são nasais.

Regras Especiais (Só houve mudanças na posição paroxítona):


Ditongos Levam acento os ditongos abertos quando oxítonos. (-éi, -éu, -ói)

Hiatos 1ª vogal (em ditongo só nas oxítonas) + í(s), ú(s) [sem nh]

Acentos diferenciais a) de timbre: pôde [e fôrma(s), opcionalmente]


b) de tonicidade: pôr
c) de número: ele tem/eles têm, ele vem/eles vêm (e derivados)

Latinismos álibi, fórum, harmônium, memorândum, múndi, superávit e tônus.

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Exercícios
01. Assinale a opção que contém erro de acentuação na série de monossílabos tônicos.
(a) crás, lá, vá, más; (c) quê, vê-lo, mês, três; (e) pô-lo, pô-la, pôs, côr.
(b) fé, pés, és, Sé; (d) pó, nós, só, cós;

02. Assinale a opção que contém erro de acentuação na série de palavras paroxítonas.
(a) dândi, beribéri, íbis, Cáli; (c) factótum, parabélum, álbuns, (d) hífens, plâncton, elétrons;
(b) ônus, cáctus, lótus, retrovírus; fóruns; (e) bíceps, tríceps, quadríceps.

03. Assinale a opção que contém erro de acentuação na série de palavras paroxítonas.
(a) âmbar, éter, fêmur, sênior; (c) dólmen, pólen, próton, (d) incrível, imóvel, míssil, afável;
(b) cóccix, tórax, ônix, Fênix; nêutron; (e) ímã, Cristovão, sótão, órfã.

04. Assinale a opção que contém erro de acentuação na série de palavras paroxítonas terminadas em ditongo.
(a) escritório, etérea, série; (c) ingênuo, anágua, mágoa; (e) distíngues, extínguem,
(b)suspensório,calendário, (d) bilíngue, anáguas, contíguo; conséguem.
abstêmios;

05. Assinale a opção que contém erro de acentuação na série de palavras proparoxítonas.
(a) insólito, tétrico, nostálgico; (c) antropofágico, hiperbólico, (d) dramático, econômico,
(b) rúbrica, cosmonáutico, ótico; hermenêutico;
letárgico; (e) fétido, hálito, metalúrgico.

06. Assinale a opção que contém erro de acentuação na série de palavras com ditongo.
(a) andróide, epopéia, tipóia; (c) europeus, colmeia, centopeia; (e) Gláuber, Áurea, Cleide.
(b) pastéis, arranha-céus, corrói; (d) boi, urubu-rei, apogeu;

07. Assinale a opção que contém erro de acentuação na série de palavras com hiato.
(a) voo, enjoo; (c) creem, leem; (e) deem-me, reveem-nos.
(b) magôa, corôa; (d) perdoa-o, abençoa-a;

08. Assinale a opção que contém erro de acentuação no i da série de palavras com hiato.
(a) Icaraí, Jacareí; (c) atraindo, contribuiu; (e) gratuíto, fluído (subst.).
(b) saídas, caístes; (d) ladainha, coroinha;

09. Assinale a opção que contém erro de acentuação no u da série de palavras com hiato.
(a) Grajaú, tuiuiú; (c) baiúca, feiúra; (e) Raul, extrauterino.
(b) reúnem, mundaú; (d) conteúdo, transeunte;

10. Assinale a opção que contém apenas acentos diferenciais (aqueles que não podem ser explicados por nenhuma
regra ortográfica) de timbre ou de tonicidade.
(a) pôr (verbo), pôde (pret. Perf.) e fôrma (=modelo oco);
(b) dê (verbo), é (verbo), réis (moeda antiga);
(c) fábrica (subst.), sábia (adjetivo), sabiá (subst.);
(d) bobó (subst.), lã(subst.) camelô (comerciante de calçada);
(e) convidássemos, envolvêssemos, retornássemos.

11. Assinale a opção que contém um par de formas verbais que caracteriza o segundo componente como caso de
acento diferencial de número (3ª pessoa do plural).
(a) (ele) intervém & (eles) (c) (ele) entretêm & (eles) (e) (ele) tém & (eles) têm.
intervêm; entretém;
(b) (ele) relê & (eles) relêem; (d) (ele) prevê & (eles) prevêem;

12. Assinale a opção cuja série de palavras recebe acento em virtude da mesma regra ortográfica.
(a) contratá-la, vendê-la, atraí-la, (b) táxi, pálido, maracujá, hábito; (d) cânion, ômicron, sêmen;
propô-lo; (c) escarcéu, carretéis, caracóis; (e) atraísse, faraó, Anhangabaú.

13. Assinale a opção que não contém palavra acentuada em virtude da mesma regra ortográfica de LUNÁTICA.
(a) anômalo; (c) metáfora; (e) clímax.
(b) dígrafo; (d) antítese;

14. Assinale a opção que contém palavra acentuada tanto no singular como no plural.
(a) (o) inglês; (c) (o) convés; (e) (ele) antevê.
(b) (o) álcool; (d) (o) cós;

15. Assinale a opção que contém palavra acentuada apenas no singular.


(a) júnior; (c) pôster; (e) sustém.
(b) trenó; (d) fôrma;
16. Assinale a opção que contém palavra acentuada apenas no plural.
(a) pera (c) vez; (e) item.
(b) urubu; (d) juiz;

17. Assinale a opção que contém erro de acentuação na série de palavras oxítonas.
(a) sofá, atrás, maracujá, dirá, falarás, encaminhá-la, encontrá-lo-á;
(b) banzé, pontapés, você, buquê, japonês, obtê-lo, recebê-la-emos;
(c) jiló, avô, avós, gigolô, compôs, paletó, indispô-lo;
(d) além, alguém, também, ele intervém;
(e) armazéns, parabéns, vinténs, hiféns.

18. Assinale a opção que não contém palavra acentuada em virtude da mesma regra ortográfica de FREGUÊS.
(a) carijó; (c) vatapá; (e) ioiô
(b) matinês; (d) açaí;

19. Assinale a opção cuja série de palavras recebe acento em virtude da mesma regra ortográfica de ÍNDIO.
(a) estapafúrdia, espécie; (c) chimpanzé, tarumã; (e) intrínseco, rígido;
(b) acessível, caráter; (d) Estêvão, Asdrúbal;

Uso do hífen
Algumas regras do uso do hífen foram alteradas pelo novo Acordo. As observações a seguir referem-se ao uso do hífen
em palavras formadas por prefixos ou por elementos que podem funcionar como prefixos, como: aero, agro, além,
ante, anti, aquém, arqui, auto, circum, co, contra, eletro, entre, ex, extra, geo, hidro, hiper, infra, inter, intra, macro,
micro, mini, multi, neo, pan, pluri, proto, pós, pré, pró, pseudo, retro, semi, sobre, sub, super, supra, tele, ultra, vice
etc.
1. Com prefixos, usa-se sempre o hífen diante de palavra iniciada por h.
Exemplos:
anti-higiênico
anti-histórico
macro-história
Exceção: Não se emprega hífen com os prefixos des- e in- quando o 2º elemento perde o h inicial: desumano (nesse
caso, a palavra humano perde o h), desumidificar, inábil, inumano etc.
2. Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal diferente da vogal com que se inicia o segundo elemento.
Exemplos:
aeroespacial
agroindustrial
anteontem
antiaéreo
Exceção: o prefixo co aglutina-se em geral com o segundo elemento, mesmo quando este se inicia por o: coobrigar,
coobrigação, coordenar, cooperar, cooperação, cooptar, coocupante etc.
Atenção: o encontro de vogais diferentes tem facilitado o fenômeno da elisão de vogal do 1º e do 2º elemento:
eletracústico, ao lado de eletroacústico, por exemplo. Mais uma vez se recomenda que se evitem essas elisões,
ressalvados os casos já correntes na tradição lexicográfica.
3. Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por consoante diferente de r
ou s.
Exemplos
anteprojeto
antipedagógico
autopeça
autoproteção
Atenção: com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen. Exemplos: vice-rei,
vice-almirante etc.
4. Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s. Nesse caso,
duplicam-se essas letras
antirracismo
antirreligioso
antirrugas
antissocial
cosseno
infrassom
minissaia
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5. Quando o prefixo termina por vogal, usa-se o hífen se o segundo elemento começar pela mesma vogal.
Exemplos:
anti-ibérico contra-almirante micro-ondas
anti-imperialista contra-atacar
auto-observação contra-ataque

6. Quando o prefixo termina por consoante, usa-se o hífen se o segundo elemento começar pela mesma consoante
Exemplos:
hiper-requintado
inter-racial
inter-regional
sub-bibliotecário

Atenção:
• Nos demais casos não se usa o hífen. Exemplos: hipermercado, intermunicipal, superinteressante, superproteção.
• Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra iniciada por r: sub-região, sub-raça etc.
• Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de palavra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-
americano etc.

7. Quando o prefixo termina por consoante, não se usa o hífen se o segundo elemento começar por vogal.
Exemplos:
hiperacidez interestelar superamigo
interestadual interestudantil superaquecimento

8. Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, usa-se sempre o hífen.
Exemplos:
além-mar ex-hospedeiro pré-vestibular
além-túmulo ex-prefeito pró-europeu
aquém-mar ex-presidente recém-casado
ex-aluno pós-graduação recém-nascido
ex-diretor pré-história sem-terra

9. Deve-se usar o hífen com os sufixos de origem tupi-guarani: -açu, -guaçu e -mirim. Exemplos: amoré-guaçu, anajá-
mirim, capim-açu.

10. Deve-se usar o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando não
propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares. Exemplos: ponte Rio-Niterói, eixo Rio-São Paulo.

11. Emprega-se o hífen nos compostos por justaposição sem termo de ligação quando p 1º elemento, por extenso ou
reduzido, está representado por forma substantiva, adjetiva, numeral ou verbal. Exemplos:
Afro-asiático Decreto-lei Porta-aviões
Afro-luso-brasileiro Guarda-chuva Porta-retrato
Amor-perfeito Guarda-noturno Primeiro-ministro
Ano-luz João-ninguém Sócio-democracia
Arcebispo-bispo Luso-brasileiro Sul-africano
Arco-íris Má-fé Tio-avô
Conta-gotas Mesa-redonda Vaga-lume

Observação: Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição.
Exemplos:
girassol mandachuva paraquedista
madressilva paraquedas pontapé

Atenção:
 As formas empregadas adjetivamente do tipo afro-, anglo-, euro-, franco-, indo-, luso-, sino- e assemelhadas
continuarão a ser grafadas sem hífen: afrodescendente, afrogenia, afrofilia; eurocêntricom francofone, lusofonia etc.
 Os outros compostos com a forma verbal para- e manda- seguirão sendo separados por hífen conforme a tradição
lexicográfica: para-brisa(s), para-choque(s), para-lama(s), etc.; manda-lua, manda-tudo.
 O acordo não trata nem exemplifica compostos formados com elementos repetidos, com ou sem alternância vocálica
ou consonântica, do tipo blá-blá-blá, reco-reco, lenga-lenga, zum-zum, zás-trás, zigue-zague, pingue-pongue, tico-
tico, tique-taque, xique-xique etc. O espírito do Acordo sugere que tais compostos entrem na regra geral, ou seja,
são de natureza nominal, não contêm elemento de ligação, constituem unidade sintagmática e semântica e mantêm
acento próprio. Assim também os possíveis derivados: lenga-lengar, zum-zunar.
 Serão escritos com hífen os compostos entre cujos elementos há o emprego do apóstrofo: cobra-d’água, mestre-
d’armas, mãe-d’água, olho-d’água etc.
 Quando o 1º elemento está representado pela forma mal e o 2º elemento começa por vogal, h ou l, usa-se hífen:
mal-afortunado, mal-entendido, mal-estar, mal-humorado, mal-limpo etc.; porém, malcriado, malditoso, malgrado,
malnascido, malvisto etc. Exceção: Mal com o significado de “doença” grafa-se com hífen: mal-caduco (epilepsia),
mal-francês (sífilis) etc.
 Não se emprega o hífen nas ligações da preposição de às formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo
haver. Exemplo: hei de, hás de, hão de, etc.

12 . Emprega-se o hífen nos topônimos compostos pelas formas grã, grão, ou por forma verbal ou, ainda, naqueles
ligados por artigo.
Exemplos:
Grã-Bretanha Passa-Quatro Baía de Todos-os-Santos
Grão-Pará Quebra-Costas Entre-os-Rios
Abre-Campo Albergaria-a-Velha

Atenção: serão hifenizados os adjetivos gentílicos derivados de topônimos compostos que contenham ou não
elementos de ligação. Exemplos: alto-rio-docense, belo-horizontino, cruzeirense-do-sul, mato-grossense, mato-
grossense-do-sul, juiz-forano etc.

13. Emprega-se o hífen nos compostos que designam espécies botânicas, zoológicas e áreas afins, estejam ou não
ligadas por preposição ou qualquer outro elemento.
Exemplos:
Abóbora-menina Erva-do-chá (mas malmequer)
Coco-da-baía Vassoura-de-bruxa Bem-te-vi
Erva-doce Feijão-verde Formiga-branca
Couve-flor Bem-me-quer

14. Não se emprega o hífen nas locuções, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas
ou conjuncionais.
Exemplos:
Cão de guarda À parte À toa (adj.)
Fim de semana À vontade Dia a dia(subs.)
Cor de café com leite Abaixo de Deus nos acuda
Ele próprio À parte de Um maria vai com as outras
Quem quer que seja A fim de que

15. Para clareza gráfica, se no final da linha a partição de uma palavra ou combinação de palavras coincidir com o
hífen, ele deve ser repetido na linha seguinte.
Exemplos:

Na cidade, conta-
-se que ele foi viajar.

O diretor recebeu os ex-


-alunos.

16. Com o prefixo não, só se usa hífen nas seguintes palavras: não-me-deixes, não-me-esqueças, não-me-toquense,
não-me-toques, não-te-esqueças, não-te-esqueças-de-mim.
17. Com o prefixo bem-, só não se usa hífen com as seguintes palavras: bem de alma, bem de fala, bem te vi
(simpatizante de partido político).
Resumo
Emprega-se o hífen quando:

1º elemento HÍFEN 2º elemento


Prefixo que termina por vogal HÍFEN Iniciado por vogal igual à vogal final do
1º elemento ou iniciado por h
Prefixo quer termina com r (hiper, inter, super) HÍFEN Iniciado por h ou r
Prefixo que termina com b (ab, ob, sob, sub) HÍFEN Iniciado por b, h ou r
Prefixo que termina com d (ad) HÍFEN Iniciado por d, h ou r
Mal HÍFEN Iniciado por vogal, h ou l
Circum, pan HÍFEN Iniciado por vogal, h, m, ou n
co HÍFEN Iniciado por h
Ex, pós, pré, pró, sota, soto, vice, vizo, além, aquém, HÍFEN Qualquer elemento
recém, sem, bem
Elemento terminado por vogal com acento gráfico (ou HÍFEN -açu, -guaçu, -mirim
quando a pronúncia exige: capim-açu)
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1. Assinale a opção que contém erro na grafia de 28. Identifique a frase que contém erro quanto ao uso de
palavras compostas. hífen.
(a) recém-inaugurada, granfino; (a) Fiquei habituado ouvindo apenas cantigas de maldizer
(b) grão-rabino, tambor-mor; (b) Desengonçado e mal-acabado, o negócio ia de mal a
(c) és-nordeste, acácia-negra; pior.
(d) bico-de-lacre, girassol; (c) Houve aquele mal estar porque ele é um mal
(e) quarta-feira, rio-grandense-do-sul. agradecido.
(d) Apresentaram-me um menino mal-educado e
22. Assinale a opção que contém erro na grafia de malcriado.
palavras compostas. (e) Meus olhos malferidos revelam que estou mal-
(a) bota-fora, come-e-dorme; -humorado.
(b) limpa-vidros, vai e vem;
(c) canário-da-terra, gato de botas; 29. Identifique a frase que contém erro quanto ao uso de
(d) passa-tempense, pega-varetas; hífen.
(e) cata-vento, Iaiá me sacode. (a) Bem-aventurado aquele que é bem-ordenado por seus
pais.
23. Assinale a opção que contém erro na grafia de (b) Essas bem-feitorias são atribuídas a criaturas bem-
palavras compostas. ditas.
(a) são-paulino, santo-amarense; (c) Fiquei bem-visto no rádio quando perceberam que sou
(b) santa-cruzense, donquixotismo; bem-falante.
(c) pica-pau, vaivém; (d) Meu terno ficou bem-acabado e o preço foi bem barato.
(d) ato-show, novo-horizontino; (e) Um profissional bem-vestido é sempre bem-
(e) queda de braço, pé de moleque. -vindo.

24. Assinale a opção que contém erro na grafia de 30. Identifique a frase que contém erro quanto ao uso de
palavras compostas. hífen.
(a) belo-horizontino, bom-bocado, peixe-boi; (a) Seu sangue azul é uma questão de ponto de vista.
(b) novaiguaçuense, tampouco, peixe-espada; (b) O carro forte bateu num gelo baiano.
(c) beladona, prima-dona, peixe-de-briga; (c) Consta do livro de bordo que ele é um bom-copo.
(d) primo-irmão, tão somente, peixe-japonês; (d) A pedra de toque da economia foram as medidas
(e) misto-quente, sanguessuga, peixe-prego. preventivas do Governo.
(e) Mandaram para o olho da rua aquele menino de ouro.
25. Assinale a opção que contém erro na grafia de
palavras compostas. 31. Assinale a opção que contém erro na grafia de
(a) peça-chave, guarda-civil, salário-hora; palavras derivadas.
(b) bode-expiatório, roupa-de-baixo, camisa-social; (a) caeté-açu, araçá-guaçu, igarapé-miriense;
(c) camisa de força, guarda-noturno, redator chefe; (b) curumim-açu, jataí-guaçu, araçá-mirim;
(d) salário-família, baba de moça, meio-tempo; (c) jataí-açu, maracanã-guaçu, tucu-mirim;
(e) à queima-roupa, pão de ló, rosa-cruz (d) tangará-açu, caroba-guaçu, abelha-mirim;
(e) tucumã-açu, mirim-guaçu, araçá-guaçu.
26. Identifique a frase que contém erro quanto ao uso de
hífen. 32. Assinale a opção que contém erro na grafia de
(a) Comprei cheiro-verde, amor-perfeito e laranja- palavras derivadas.
-seleta. (a) extra-atmosférico, extra-ordinário;
(b) Plantei batata-inglesa, bem-me-quer e capim- (b) metacelulose, meta-histórico;
-gordura. (c) paraolimpíadas, parapsicologia;
(c) Encomendei a erva-cidreira, o inhame-roxo e a maria- (d) pré-adolescência, pré-nupcial;
sem-vergonha. (e) ultraoceânico, ultrassonografia;
(d) Fotografei a salsa-do-campo, a sempre-viva e a rosa
dos ventos. 33. Assinale a opção que contém erro na grafia de
(e) Pedi a vitamina-de-frutas, a gaiola-torácica e um saco- palavras derivadas.
de-gatos. (a) anteconjugal, anteontem;
(b) antielitista, antiimperialista;
27. Identifique a frase que contém erro quanto ao uso de (c) sobre-exposição, sobressair;
hífen. (d) sublunar, subalpino;
(a) Falarei amanhã na convenção luso- (e) super-realidade, supersafra.
-hispanobrasileira.
(b) Trataremos de questões técnico-industriais. 34. Assinale a opção que contém erro na grafia de
(c) O acordo sino-tibetano vai acontecer. palavras derivadas.
(d) Houve uma perigosa celebração fanático- (a) circum-adjacente, circum-navegação, circunlabial;
-religiosa. (b) ex-atleta, ex-corrupto, ex-patrão;
(e) Faremos estudos sintático-semântico- (c) não-conformista, não cumprimento, não-
-estilísticos. -violência;
(d) pós-colonial, pós-pago, pós-socrático;
(e) vice-almirante, vice-liderança, vice-reitor.
35. Assinale a opção que contém erro na grafia de 41. Assinale a opção que contém erro na grafia da palavra
palavras derivadas. formada por recomposição.
(a) adjunto, ad-rogação; (a) aeroespacial;
(b) arqui-inimigo, arqui-hiperbólico; (b) agroindustrial;
(c) co-herdeiro, copiloto; (c) cardiorrespiratório;
(d) contra-reforma, contra-senha; (d) eletrossiderurgia;
(e) pericárdio, perissístole. (e) lipoigiene.

36. Identifique a opção que contém apenas palavras com 42. Assinale a opção que contém erro na grafia da palavra
erro quanto ao uso de hífen. formada por recomposição.
(a) antiácido, antiaéreo, anti-hemorrágico, anti- (a) macrorregião;
-herói, anti-inflacionário; (b) mega-operação;
(b) contracheque, contra-ataque, contradança, (c) micro-hino;
contraespião, contraindicação; (d) mididesvalorização;
(c) extra-conjugal, extra-curricular, extra-escolar, extra- (e) minimercado.
gramatical, extra-judicial;
(d) sobrecapa, sobrecoxa, sobre-erguer, sobre- 43. Assinale a opção que contém erro na grafia da palavra
-humano, sobrevoo. formada por recomposição.
(e) ultra-apressado, ultrafecundo, ultra-humano, (a) maxissaia;
ultramarino, ultrarradical. (b) mesofauna;
(c) mono-espécie;
37. Identifique a frase que contém erro quanto ao uso de (d) multi-imperialismo;
hífen. (e) unissexuado.
(a) Para interagir comigo, vai ser preciso interconectar
máquinas. 44. Assinale a opção que contém erro na grafia da palavra
(b) Nosso interrelacionamento é apenas intersocial. formada por recomposição.
(c) O ônibus interescolar faz transporte interbairros. (a) neoexpressionismo;
(d) Li um estudo inter-helênico com abordagem (b) paleomagnético;
interdisciplinar. (c) pluriocular;
(e) Ela fez um exame interocular e intermaxilar. (d) poliinsaturado;
(e) pseudossufixo.
38. Identifique a frase que contém erro quanto ao uso de
hífen. 45. As combinações tetra + campeonato, penta + sílabo,
(a) A justaposição não é o mesmo que a contraposição. hexa + valência, hepta + cloro e octo + secular, formadas
(b) O pós-comunismo talvez se assemelhe com o pré- por composição, devem ser escritas com ou sem hífen?
apocalipse. (a) Todas elas devem ser escritas com hífen;
(c) A desumanização das pessoas gera o que se chama (b) Nenhuma delas deve ser escrita com hífen;
inumanidade. (c) O hífen é opcional nas cinco palavras;
(d) O trans-atlântico naufragou por falta de (d) Apenas penta-sílabo e octo-secular recebem hífen;
retropropulsores. (e) Apenas tetra-campeonato recebe hífen;
(e) O exemplo supracitado não é igual ao infraescrito.

39. Identifique a frase que contém erro quanto ao uso de


hífen.
(a) Vi um sem-terra conversando com um sem-
-teto.
(b) Entreouviram meu depoimento porque deixaram a
porta entreaberta.
(c) Ela tem hipo-sensibilidade e hiper-atividade.
(d) Faço palestras intramuros e uso meu próprio
retroprojetor.
(e) As regiões supra-hepática e suprarrenal estão
normais.

40. “Um acordo entre os dois países facilitará a


coprodução de filmes”. Caso o prefixo não fosse CO, mas
SUPER, como seria grafada a palavra?
(a) super-produção;
(b) superprodução;
(c) super produção;
(d) súper-produção;
(e) súper produção;

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Exercícios Complementares
1. 6. Assinale a alternativa em que todas as palavras
mudariam de sentido, caso estivessem sem acento.
a) sóbrio, história, está
b) vários, vítimas, matá-los
c) é, já, país
d) é, está, país
e) têm, matá-los, sóbrio

7. Assinale a alternativa que o texto está acentuado


corretamente.
Mantida a norma-padrão da língua portuguesa, a frase a) A princípio, metia-me grandes sustos. Achava que
que preenche corretamente o segundo balão é: Virgilia era a perfeição mesma, um conjunto de
a) Todos os dragões o tem. qualidades sólidas e finas, amorável, elegante, austera,
b) Todos os dragões têm isso. um modêlo.
c) Os dragões todos lhe tem. b) A princípio, metia-me grandes sustos. Achava que
d) Sempre se encontra dragões com isso. Virgília era a perfeição mesma, um conjunto de
e) Sofre disso todos os dragões. qualidades sólidas e finas, amorável, elegante, austera,
um modelo.
2. Em qual alternativa todas as palavras em negrito c) A princípio, metia-me grandes sustos. Achava que
devem ser acentuadas graficamente? Virgília era a perfeição mesma, um conjunto de
a) Atraves de uma lei municipal, varias pessoas qualidades solidas e finas, amorável, elegante, austera,
recebem ingressos gratis para o cinema. um modêlo.
b) É dificil correr atras do prejuizo sozinho. d) A principio, metia-me grandes sustos. Achava que
c) Aqui, em Foz do Iguaçu, a dengue esta sendo um Virgilia era a perfeição mesma, um conjunto de
grande problema de saude publica. qualidades sólidas e finas, amorável, elegante, austera,
d) O bisneto riscou os papeizinhos com o lapis. um modelo.
e) O padrão economico do juiz é elevado. e) A princípio, metia-me grandes sustos. Achava que
Virgília era a perfeição mesma, um conjunto de
3. Quanto à ortografia e à acentuação, assinale a qualidades sólidas e finas, amoravel, elegante, austera,
alternativa CORRETA. um modelo.
a) Após um gesto de comando, os que ainda estão de pé
sentão-se e fazem silencio para houvir o diretor. 8. Assinalar a alternativa em que todos os hiatos não
b) Mesmo que sofresse-mos uma repreenção por queixa precisam ser acentuados:
de algum professor mais cioso de suas obrigações, a
a) balaústre - saúde - viúvo - baú
oférta parecia-nos irrecusável.
b) juízes - jesuíta - ateísmo - taínha
c) Marta nunca deicha o filho sózinho na cosinha,
c) paúl - atraír - raínha - raíz - juíz
temerosa de que ele venha a puchar uma panela sobre
d) baía - contribuír - saída - juízo
sí.
e) faísca - baínha - caída - ataúde
d) À excessão de meu primo, que se mostrava um tanto
pretencioso, todos os garotos eram bastante humildes.
9. Marque a alternativa em que todas as palavras
e) A perícia analisaria a flecha, em busca de vestígios
que pudessem fornecer indícios sobre sua trajetória. devem ser acentuadas:
a) parabens - tambem - idem - porem
4. Assinale a alternativa em que as palavras estão b) ninguem - holandes - atras - cipo
acentuadas graficamente pelas mesmas regras por que c) Parana - nuvem - vezes - fuba
estão acentuadas, respectivamente, em: "chalé", "céu", d) armazen - talvez - atraves - ingles
"existência". e) japonesa - marques - ole - apos
a) atrás, dói, próprio.
10. Em cada série de palavras a seguir, apenas uma
b) três, caráter, evidência.
deve ser acentuada. Assinale-a:
c) Jaú, caráter, máscara.
d) pré-requisitos, ruína, vários. a) cedo - biologia - velozes - bau
e) fé, mídia, competência. b) campainha - toda - bolo - companhia
c) dicionario - dificil - editora - tenis
5. As palavras que são acentuadas graficamente pelas d) anel - trovão - rua - poço
mesmas regras de "fácil", "científica" e "Moisés",
respectivamente, são: 11. Devem ser acentuados todos os vocábulos de:
a) negócio, saída, já. a) bau, rainha, restituiste
b) espírito, atribuída, herói. b) construimos, distraido, substituia
c) cárter, lógica, atrás. c) faisca, gaucho, viuvez
d) incluído, século, dólar. d) saisse, saiu, uisque
e) benefício, saúde, cafés.
Gabarito:
Resposta da questão 1: [B]
As alternativas [A], [C], [D] e [E] apresentam desvios à norma culta da língua portuguesa. Para que isso não
acontecesse, deviam ser substituídas por:
[A] Todos os dragões o têm.
[C] Os dragões todos o têm.
[D] Sempre se encontram dragões com isso.
[E] Sofrem disso todos os dragões.
Assim, é correta apenas a alternativa [B].
Resposta da questão 2: [A]
“Através” é oxítona terminada em “es”, “várias” é paroxítona terminada em ditongo (acompanhado de “s”) e “grátis” é
paroxítona terminada em “is”. Assim, as três palavras devem ser acentuadas.
Resposta da questão 3: [E]
Apenas a opção [E] está correta. As demais deveriam ser substituídas por:
[A] – após um gesto de comando, os que ainda estão de pé sentam-se e fazem silêncio para ouvir o diretor;
[B] – mesmo que sofrêssemos uma repreensão por queixa de algum professor mais cioso de suas obrigações, a oferta
parecia-nos irrecusável;
[C] – Marta nunca deixa o filho sozinho na cozinha, temerosa de que ele venha a puxar uma panela sobre si;
[D] – à exceção de meu primo, que se mostrava um tanto pretensioso, todos os garotos eram bastante humildes.
Resposta da questão 4: [A]
Resposta da questão 5: [C]
Resposta da questão 6: [D]
Resposta da questão 7: [B]
Resposta da questão 8: [C]
Resposta da questão 9: [B]
Resposta da questão 10: [A]
Resposta da questão 11: [B]

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CLASSES DE PALAVRAS DA LÍNGUA PORTUGUESA

Existem dez classes de palavras. Costuma-se adotar, com finalidades didáticas, a divisão em variáveis e invariáveis.

CLASSE
GRAMATICA CONCEITOS EXEMPLOS
L
Nomeia os seres.
1(V) SUBSTANTIVO (concreto, abstrato, simples, composto, fada, carro, beleza, guarda-chuva.
primitivo, derivado, comum, próprio, coletivo)
Caracteriza os nomes.
gordo, amarelo-limão, feliz, amarelo,
2(V) ADJETIVO (simples, composto, primitivo, derivado, pátrio
de mãe.
ou gentílico)
Define ou indefine os seres.
3(V) ARTIGO o, a, os, as, um, uma, uns, umas.
(definidos e indefinidos)
Substitui, acompanha, ou faz referência ao
nome.
(Pessoal (reto, oblíquo, de tratamento), eu, você, o, a, meu, este, alguém, que,
4(V) PRONOME
possessivo, demonstrativo, indefinido, aquele.
relativo, interrogativos). Funções: substantivo
ou adjetivo.
Quantifica os seres ou designa a ordem
numérica. dois, quarto, quádruplo, onze avos,
5(V) NUMERAL
(cardinal, ordinal, fracionário, multiplicativo, século.
coletivo)
Indica processo (ação, estado ou fenômeno),
6(V) VERBO varia em tempo, modo, número, pessoa, voz ficar, nascer, chover, estar, dançar.
(ativa, passiva e reflexiva).
Exprime circunstâncias e se refere a adjetivo, a
verbo ou a outro advérbio.
7(I) ADVÉRBIO hoje, muito, diariamente, lá, não.
(tempo, modo, afirmação, negação, dúvida,
companhia, lugar, assunto, preço, etc.)
a, ante, após, até, com, contra, de,
8(I) PREPOSIÇÃO Relaciona palavras. desde, em, entre, para, perante,
por, sem, sob, sobre, atrás.
Relaciona orações. que, mas, porque, todavia, embora, à
9(I) CONJUNÇÃO
(coordenativas e subordinativas) medida que, quando, se, para que.
Expressa sentimentos, emoções ou representa
10(I) INTERJEIÇÃO ah!, ufa!, oxalá!, pô!
um chamamento.
(V): Variáveis. (I): Invariáveis.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE:
Poucas palavras podem pertencer a uma só classe na língua portuguesa. A maioria pode assumir classe diferente
dependendo da ordem ou do contexto. Exemplos: O professor japonês saiu. O japonês professor saiu.

SUBSTANTIVO

INFORMAÇÕES ESSENCIAIS - Substantivo é a palavra que dá nome aos seres em geral (pessoas, lugares, animais,
coisas, ações ou qualidades). É variável em gênero, número e grau. O substantivo pode ser classificado sob vários
critérios:

Comum (generaliza um nome) - Ex.: países, nome, carro.


Próprio (particulariza um nome) – Ex.: Brasil, João, Fusca.

Coletivo (noção de grupo) – Ex.: enxame, matilha, pinacoteca.


Concreto (o nome apresenta existência própria) – Ex.: mesa, ventilador, Saci-Pererê.
Abstrato (o nome depende de algo ou de alguém para existir) – Ex.: amor, beijo, pontapé.

Primitivo (nome que não provém de nenhuma outra palavra) – Ex.: árvore, flor, carta.
Derivado (nome formado a partir de outro) – Ex.: arvoredo, florista, carteiro.

Simples (apresenta um radical) – Ex.: chuva, palma, tempo.


Composto (apresenta dois ou mais radicais) – Ex.: guarda-chuva, palma-de-santa-rita, passatempo.
Obs.: 1. Se for levado em consideração apenas o aspecto semântico, em algumas situações, a identificação contextual
de um substantivo pode ficar mais complexa. Sugere-se antepor à palavra um artigo (definido ou indefinido) ou
pronome (possessivo, demonstrativo ou indefinido). Aceitando a palavra uma dessas determinações, será
interpretada como substantivo. Assim, tem-se:
artigo + substantivo: o dia, os dias, um dia, uns dias.
pronome + substantivo: meu dia, este dia, algum dia.

2. As palavras podem passar a substantivos se receberem a anteposição de um artigo. Exemplo: O amar ainda é
importante. O feio bonito lhe parece. O doce perguntou ao doce qual era o doce mais doce: o doce respondeu ao
doce que o doce mais doce era o doce de batata-doce.

Flexão de Gênero
Os substantivos em português podem pertencer ao gênero masculino ou ao gênero feminino. São masculinos os
substantivos a que se pode antepor o artigo o: o homem, o gato, o mar, o dia, o pôr do sol. São femininos os
substantivos a que se pode antepor o artigo a: a mulher, a menina, a gata, a terra, a semana, a mesa.

Importante: O uso das palavras masculino e feminino costuma provocar confusão entre a categoria gramatical de
gênero e a característica biológica dos sexos. Para evitá-la, observe que se define gênero como um fato relacionado
com a concordância das palavras em seu relacionamento linguístico: pó, por exemplo, é um substantivo masculino
pela concordância que estabelece com o artigo o, e não porque se possa pensar num possível comportamento
sexual das partículas de poeira.

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
Formação do feminino:
1 – Substantivos biformes: apresentam uma forma para o masculino e outra para o feminino.

a) a maior parte dos substantivos terminados em –o átono forma o feminino com –a.
Ex.: menino / menina, gato / gata

b) a maior parte dos substantivos terminados em consoante forma o feminino pelo acréscimo de –a.
Ex.: camponês / camponesa, juiz / juíza, professor / professora.
Obs.: ator/atriz, imperador / imperatriz, embaixador / embaixatriz (esposa do embaixador) ou embaixadora (mulher que
ocupa o cargo), senador / senadora.

c) a maior parte dos substantivos terminados em –ão forma o feminino por –ã ou –ao.
Ex.: anfitrião / anfitriã, cidadão/ cidadã, leão / leoa, leitão / leitoa.
Obs.: nos aumentativos, a substituição é por –ona: sabichão / sabichona, valentão / valentona.
Destaquem-se os pares: sultão/sultana, cão/cadela, ladrão / ladra, perdigão / perdiz, barão/baronesa.

d) alguns substantivos ligados a título de nobreza, ocupações ou dignidades formam feminino em -esa, -essa, -isa.
Ex.: Abade / abadessa, duque / duquesa, poeta/poetisa.

e) alguns substantivos terminados em –e formam o feminino com a substituição desse –e por –a.
Ex.: infante / infanta, monge / monja, governante/governanta, hóspede/hóspeda, parente/parenta,
presidente/presidenta, alfaiate/alfaiata. (OBS.: Também aparecem como uniformes)
f) alguns substantivos apresentam formações irregulares para o feminino.
Ex.: herói / heroína, marajá / marani, rei / rainha.

g) Alguns apresentam radicais diferentes.


Ex.: cavaleiro / amazona, cavalheiro / dama, genro / nora, pai / mãe, bode / cabra, cavalo / égua.

h) os terminados em vogal tônica, -s, -l, -z têm a forma feminina em -a:


guri/guria, peru/perua, freguês/freguesa, oficial/oficiala, zagal/zagala, juiz/juíza

2 – Substantivos Uniformes
a) Comuns de dois gêneros: apresentam uma única forma para os dois gêneros. Nesse caso, a distinção entre a forma
masculina e feminina é feita pela concordância com um artigo ou outro determinante.
Ex.: o/a artista, o/a cliente, o/a colega, o/a gerente.

b) Sobrecomuns: designam seres humanos e são sempre do mesmo gênero.


Ex.: o algoz, o cônjuge, a criança, o indivíduo, a vítima, a criatura, a testemunha.

c) Epicenos: designam animais (e algumas plantas) e são sempre do mesmo gênero.


Ex.: a águia, o jacaré, o besouro, o mamoeiro, a palmeira, a baleia.

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Observações sobre gênero:
1. Mudança de gênero e de significado:
o baliza (soldado que, que à frente da tropa, indica os movimentos que se deve realizar em conjunto; o que vai à frente
de um bloco carnavalesco, manejando um bastão)
a baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite ou proibição de trânsito)

o cabeça (chefe)
a cabeça (parte do corpo)

o cisma (separação religiosa, dissidência)


a cisma (ato de cismar, desconfiança)

o cinza (a cor cinzenta)


a cinza (resíduos de combustão)

o capital (dinheiro)
a capital (cidade)

o coma (perda dos sentidos)


a coma (cabeleira)

o coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro)


a coral (cobra venenosa)

o crisma (óleo sagrado, usado na administração da crisma e de outros sacramentos)


a crisma (sacramento da confirmação)

o cura (padre, pastor, curandeiro, médico)


a cura (ato de curar)

o estepe (pneu sobressalente)


a estepe (vasta planície de vegetação)

o guia (pessoa que guia outras)


a guia (documento, pena grande das asas das
aves)

o grama (unidade de peso)


a grama (relva)

o caixa (funcionário da caixa)


a caixa (recipiente, setor de pagamentos)

o lente (professor)
a lente (vidro de aumento)

o moral (ânimo)
a moral (honestidade, bons costumes, ética)

o nascente (lado onde nasce o Sol)


a nascente (a fonte)

o maria-fumaça (trem como locomotiva a vapor)


a maria-fumaça (locomotiva movida a vapor)

o pala (poncho)
a pala (parte anterior do boné ou quepe, anteparo)

o rádio (aparelho receptor)


a rádio (estação emissora)

o voga (remador)
a voga (moda, popularidade)
2. Substantivos que apresentam dúvida quanto ao gênero:
MASCULINO: clã, milhar, champanha, dó, eclipse, estratagema, orbe, suéter, telefonema, diadema

FEMININO: alface, bacanal, preá, cal, cútis, dinamite, gênese, libido, omoplata, síndrome, sentinela

MASCULINO OU FEMININO: ágape, componente (masculino no Brasil e feminino em Portugal), avestruz, diabetes,
personagem, sabiá, dengue, diabete(s), gambá, hélice, sósia, trama.
Flexão de Número
1. Substantivos Simples
a) Acrescenta-se a desinência –s aos substantivos terminados em vogal, ditongo oral ou ditongo nasal –ãe:
Ex.: casa / casas, herói / heróis, mãe /mães
Obs.: “avôs” (o avô materno e o paterno) e avós (casal formado por avô e avó, ou plural de avó).

b) Acrescenta-se a desinência –s aos substantivos terminados em –m. Essa letra é substituída por –n- na forma do
plural.
Ex.: atum / atuns, homem / homens, jardim / jardins

d) A maioria dos substantivos terminados em –ão forma o plural com –ões. (incluem-se os aumentativos)
Ex.: balão / balões, botão / botões, leão / leões.

 Os paroxítonos terminados em –ão e alguns poucos oxítonos e monossílabos formam o plural com –s. Ex.: bênção
/ bênçãos, chão / chãos, cristão / cristãos, irmão / irmãos, órfão / órfãos.
 Alguns substantivos terminados em –ão formam o plural com –ães. Ex.: alemão / alemães, capitão / capitães,
sacristão / sacristães, cão / cães.
 Em alguns casos, há mais do que uma forma aceitável para esses plurais; a tendência da língua portuguesa atual
no Brasil é utilizar a forma de plural em –ões. Ex.: anão / anões / anãos, ancião / anciões / anciães / anciãos, verão
/ verões / verãos, vilão / vilões/ vilães/ vilãos, guardião / guardiões / guardiães, ermitão / ermitões / ermitães/
ermitãos.

e) Os substantivos terminados em –r e –z formam o plural com -es.


Ex.: açúcar / açúcares, cruz / cruzes, hambúrguer / hambúrgueres.
Obs.: Caráter / caracteres, júnior / juniores, sênior / seniores, Júpiter/Jupíteres, Lúcifer/Lucíferes

f) Os substantivos terminados em –s formam o plural com acréscimo de –es; quando paroxítono ou proparoxítonos,
são invariáveis.
Ex.: gás / gases, mês / meses, país / países, o atlas / os atlas, um lápis / dois lápis, o ônibus / os ônibus, o pires / os
pires.

g) Os substantivos terminados em –al, -el, -ol e –ul formam o plural em –is.


Ex.: canal / canais, álcool / alcoóis ou álcoois), papel / papéis
Obs.: mal / males, real (antiga moeda) / réis, cônsul / cônsules, gol / gols.

h) Os substantivos oxítonos terminados em –il trocam o –l pelo –s; os paroxítonos trocam essa terminação por –eis.
Ex.: ardil / ardis, fóssil / fósseis, barril / barris, fuzil / fuzis.
Obs.: projétil / projéteis / projetis, réptil / répteis / réptis.

i) Os substantivos paroxítonos terminados em –x são invariáveis; a indicação de número depende da concordância com
algum determinante.
Ex.: um clímax / alguns clímax, o tórax / os tórax

2. Observações sobre número:


2.1. Plural com metafonia (som da letra o fica aberto como em ovos)
abrolho, antolho,caroço,choco,corcovo,coro,corpo,corvo,despojo,destroço,
esforço, fogo, forno, foro, fosso,imposto, jogo, miolo, olho, osso, ovo, poço, porco,
posto, povo,reforço, rogo, socorro, tijolo, torto, troço
2.2. Plural dos diminutivos: põem-se no plural os dois elementos e suprime-se o -s do substantivo como nos exemplos:
animai (-s) zinhos - animaizinhos
leõe (-s) zinhos - leõezinhos
lençoi (-s) zinhos – lençoizinhos

2.3. Plural dos nomes gregos em N

certâmen – certamens ou certâmenes


dólmen ( dolmem) - dolmens ou dólmenes
gérmen – germens ou gérmenes
hífen – hifens ou hífenes
pólen (polem) - polens ou pólenes
regímen - regimens ou regímenes

2.4. Nomes empregados só no plural


afazeres , alvíssaras, anais, belas-artes, belas-letras, confins, exéquias, núpcias, trevas, víveres, nomes dos
naipes (ouros, espadas,copas, paus)

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2.5. Nomes que não variam:
o tórax – os tórax
o ônix – os ônix
MAS: cós – cós ou coses

2.6. Variações semânticas


Bem (o que é bom) - bens (propriedades)
Féria (produto do trabalho diário) - férias (dias de descanso)

2.7. Plural dos nomes estrangeiros

Campus - campi
Corpus - corpora
Pro labore - pro laboribus
Curriculum - curricula
Memorandum - memoranda
Logos - logoi
Topos - topoi
Lady - ladies
Sportman - sportmen
Blitz – blitze

3. Plural dos substantivos compostos


a) somente o PRIMEIRO elemento vai para o PLURAL
1. nos compostos com preposição clara ou oculta ;
cavalo-vapor – cavalos-vapor
cana-de-açúcar - canas-de-açúcar
jararaca-de-cauda-branca - jararacas-de-cauda-branca

2. quando o segundo exprime a ideia de fim, semelhança, ou delimita o primeiro:

navio-escola - navios-escola
manga-rosa - mangas-rosa
peixe-boi – peixes-boi
salário-família - salários-família
bomba-relógio - bombas-relógio

b) somente o SEGUNDO elemento vai para o PLURAL


1. nos compostos com GRÃO, GRÃ,VICE e BEL:
grã-cruz - grã-cruzes
grão-prior - grão-priores
bel-prazer - bel- prazeres

2. nos compostos de tema verbal ou palavra invariável + substantivo ou adjetivo:


furta-cor - furta-cores
beija-flor - beija-flores
abaixo-assinado - abaixo-assinados
alto-falante - alto - falantes
ex-marido - ex-maridos
vice-rei - vice-reis

3. nos compostos de três ou mais elementos não sendo o segundo preposição:


bem-te-vi - bem-te-vis

4. nos compostos de emprego onomatopeico com repetição total ou parcial


da primeira unidade:
reco-reco - reco-recos
tique-taque - tique-taques

5. Nos compostos grafados ligadamente:


Fidalgo - fidalgos
Girassol - girassóis
Vaivém – vaivéns
Pontapé - pontapés
c) ambos VARIAM
1. nos compostos de dois substantivos ou substantivo e adjetivo :
terça-feira - terças-feiras
salário-mínimo - salários-mínimos
amor-perfeito - amores-perfeitos
guarda-civil - guardas-civis
guarda-mor - guarda-mores
lugar-comum - lugares-comuns

obs.: lugar-tenente - lugar-tenentes (Bechara) e lugares-tenentes (VOLP).

2. nos compostos de temas verbais repetidos :


corre-corre - corres-corres
ruge-ruge - ruges-ruges
pula-pula - pulas-pulas

OBS.: Há também: corre-corres, ruge-ruges, pula-pulas

ATENÇÃO : ficam invariáveis

a) as frases substantivas :
a estou-fraca - as estou-fraca
o disse me disse - os disse me disse
o bumba meu boi - os bumba meu boi
o fora da lei - os fora da lei

b) os compostos de tema verbal e palavra invariável ;


o ganha pouco – os ganha pouco
o pisa mansinho - os pisa mansinho
o cola tudo - os cola tudo

c) os compostos de dois temas verbais de significado oposto :


o leva e traz - os leva e traz
o vai-volta - os vai-volta

CUIDADO: admitem mais de um plural os compostos


guarda-marinha - guardas-marinha, guardas-marinhas(BECHARA) e guarda-marinhas (VOLP)
padre-nosso - padres-nossos ou padre-nossos
salvo-conduto - salvos-condutos ou salvo-condutos

Grau dos substantivos

Os graus aumentativo e diminutivo dos substantivos podem ser formados por dois processos.

1. Sintético: com acréscimo de sufixos aumentativos ou diminutivos.


Ex.: rato / ratão / ratinho.

2. Analítico: com acréscimo de adjetivo que indica aumento ou diminuição de proporções.


Ex.: rato / tato grande / rato pequeno.

Obs.: No uso efetivo da LP, as formas sintéticas de indicação de grau são normalmente usadas para conferir valores
afetivos aos seres nomeados pelos substantivos. Observe formas como amigão, partidão, bandidaço, mulheraço;
livrinho, rapazola, futebolzinho. Em todas elas, o que interessa é transmitir sentimentos como carinho, admiração,
ironia ou desprezo, e não noções ligadas ao tamanho físico dos seres nomeados.

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EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
1. Circule os substantivos presentes nas frases: 5. Assinale a opção em que a flexão em gênero não
altera o significado da palavra.
a) Os cabelos soltos caíam-lhe sobre a testa. a) Em Brasília, morávamos num apartamento voltado
para o nascente.
b) João agradeceu o convite. b) Seus problemas estavam estreitamente relacionados
ao cura.
c) A cada dia eu ficava mais alegre. c) O caixa havia modificado radicalmente seu
d) A festa na casa de Rodrigo foi barulhenta. comportamento.
d) Saiu do teatro para interpretar um personagem já
e) Fortaleza é uma bela cidade. consagrado na televisão.

f) A tristeza se estampava no seu sorriso. 6. Use artigos e estabeleça corretamente a concordância


de gênero nas frases seguintes:
g) A discussão foi muito animada. b) ___ cabeça da rebelião foi decapitad___. ____
cabeça foi expost__ em praça pública.
h) Meus tios combinaram a pescaria. c) Tod__ ___ capital da empresa está aplicad__ em
i) O preso denunciou os comparsas. bancos d__ capital do país.
d) ___ cura confessou-se incapaz de proporcionar
j) Ele me deu vontade de rir. remédios para ___ cura dos pacientes.
e) ___ moral dos jogadores era pequen__.
k) Sentia angústia com o trânsito. f) Quem sabe consigamos construir ___ moral mais
voltad__ para a eliminação das desigualdades
i) A neve era artificial. sociais?
g) Quant__ gramas de ouro teriam sido espalhad__s
m) Levei um susto com o caminhão. pel__ grama?
2. I - O cônjuge se aproximou. 7. Indique o sentido de cada uma das palavras
II - O servente veio atender-nos. destacadas nas frases:
III - O gerente chegou cedo. a) É um sujeitinho!
b) É um mulherão!
Não está claro se a frase se refere a homem ou mulher c) É um timaço!
d) É um timeco!
a) no primeiro período. e) Vou passar uns diazinhos na praia.
b) no segundo período. f) Que gentalha!
c) no terceiro período. g) Por que você se envolve com essa gentinha?
d) no primeiro e no segundo períodos. h) Ele pegou um peixão! Quatro quilos!
e) no segundo e no terceiro períodos. i) A namorada dele é um peixão!
3. Aponte a frase que não contenha um substantivo 8. Somente em uma das frases de cada conjunto a
empregado no grau diminutivo: palavra em destaque exerce o papel de substantivo.
a. Coleciono corpúsculos significativos por princípios Identifique-a e circule-a.
óbvios da minha natureza.
b. Faça questiúnculas somente se forem suficientes a) I. O homem sempre teve o sonho de explorar o
para a formação de ideias essenciais. universo infinito.
c. Os silvícolas optaram pelo uso da linguagem II. O homem sempre teve o sonho de explorar o infinito.
fundamental em gestos e expressões. III. O saber é infinito.
d. O chuvisco contínuo de gracejos sentimentais
perturba-me a mente cansada. b) I. A velha igreja ficava do lado direito da avenida.
e. Esses versículos poderão complicar sua relação com II. O barulho era tanto que não ouvimos direito o que ela
os visitantes de má política. disse.
III. Você não tem o direito de prejudicar seus amigos.
4. Assinale o período que NÃO contém um substantivo
sobrecomum: c) I. A planta do apartamento não está muito detalhada.
a. Ele foi a testemunha ocular do crime naquela II. O agricultor planta as sementes meses antes da
polêmica reunião. colheita.
b. Aquela jovem ainda conserva a ingenuidade meiga e
dócil da criança. 9. Forme o plural dos diminutivos>
c. A intérprete morreu mantendo-se como um ídolo a) papel:_____________________________________
indestrutível na memória de seus admiradores. b) colher: ____________________________________
d. As famílias desestruturam-se quando os filhos c) flor:_______________________________________
adolescentes agem sem consciência. d) anel: _____________________________________
e. A criatura executou com melancolia e suavidade a e) farol:_____________________________________
sinfonia preferida pela plateia.
10. Forme o plural dos compostos:
a) zum-zum: ____________________________________________________________________
b) pé de moleque: ________________________________________________________________
c) banana-maçã: _________________________________________________________________
d) ex-namorado: _________________________________________________________________
e) beija-flor: ____________________________________________________________________
f) navio-aeródromo: ________________________________________________________________
g) navio-aríete: ____________________________________________________________________
h) navio-auxiliar: __________________________________________________________________
i) navio-baleeiro: __________________________________________________________________
j) navio-carvoeiro: _________________________________________________________________
k) navio-cisterna: __________________________________________________________________
l) navio-correio: ___________________________________________________________________
m) navio-escola: ___________________________________________________________________
n) navio-escolta: ___________________________________________________________________
o) navio-farol: ____________________________________________________________________
p) navio-hospital: __________________________________________________________________
q) navio-oficina: ___________________________________________________________________
r) navio-petroleiro: _________________________________________________________________
s) navio-sonda: ____________________________________________________________________
t) navio-tanque: ____________________________________________________________________
u) navio-tênder: ____________________________________________________________________
v) navio-transporte: _________________________________________________________________
w) navio-varredor: __________________________________________________________________

11. Preencha com a palavra adequada:


a) A estátua assenta em ___________________ de granito.( sapato / sapata)
b) Não beba água de ________________. Não pise em _________________d’água. (poço / poça)
c) Adoro-te, ó _______________ da santa cruz! Traze _____________para o fogo. ( lenho / lenha)
d) De um só ______________ pode fazer-se um barco. Esta casa é de __________________.(madeiro / madeira)
e) Era um mármore branco cortado de ___________ verdes. O sangue gelou-se-me nas ___________. (veios /veias)
h) __________________de roseira. _________________de peixe. (espinho / espinha)
i) Uso _____________ de couro. O guerreiro vinha de espada à ____________. (cinto / cinta)
j) ____________florestal. ______________________ com apetitosas alfaces. (horto / horta)
O cruzado trazia sobre a armadura ______________escarlate. A jovem gostava de usar __________ verde. (saio /
saia)

ADJETIVO
Adjetivo é a palavra que expressa qualidade, característica ou estado dos seres em geral. É variável em gênero, número
e grau. Pode ser classificado de quatro formas.
Primitivo (não são formados por derivação de nenhuma outra palavra) – Ex.: azul, curto, feliz.
Derivado (formado por derivação) – Ex.: azulado, infeliz, desconfortável.
Simples (apresentam um radical) – Ex.: branco, claro, livre.
Composto (apresenta dois ou mais radicais) – Ex.: luso-africano, político-institucional, sul-rio-grandense.
Obs.: A locução adjetiva é uma expressão geralmente formada de preposição + substantivo, com valor de adjetivo. Ex.:
A água da chuva destruiu a lavoura de café. Ele apresentou uma atitude sem qualquer cabimento.
Emprego dos adjetivos e locuções adjetivas
1. Qualificação: livro interessante, restaurante modesto.
2. Caracterização: livro verde, livro grosso, livro de cima.
3. Informação: livro de meu pai, roupa importada da Alemanha.
4. Restrição: Secretaria de Educação, porta da sala,
5. Frequentemente, usa-se o adjetivo depois do substantivo. Ex.: Os assuntos ecológicos ganharam destaque.
6. Seu emprego antes do substantivo, em determinados contextos, confere-lhe destaque. Ex.: Suas belas músicas me
encantam.
7. Sua posição, em alguns casos, pode alterar-lhe o sentido. Ex.: A personagem central era uma pobre mulher. A
personagem central era uma mulher pobre.

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INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
1. FLEXÃO DE NÚMERO
1.1. Plural dos adjetivos simples: seguem as mesmas regras dos substantivos.
1.2. Plural dos adjetivos compostos
1.2.1. Apenas o último elemento varia quando
*palavra invariável + adjetivo: semi-internos
*adjetivo + adjetivo: amizades luso-brasileiras; conflitos sino-soviéticos; folhas azul-claras.
OBS.: Nos substantivos compostos que designam cores, ambos os elementos vão para o plural: os verdes-claros, os
amarelos-esverdeados, os azuis-escuros.
EXCEÇÕES : surdo-mudo - surdos-mudos;
1.2.2. Adjetivos referentes a cores são invariáveis quando o segundo elemento da composição é um substantivo:
canários amarelo-ouro, uniformes verde-oliva, blusas verde-garrafa, camisas vermelho-sangue
OBS.: Nos substantivos compostos desse tipo, admitem-se dois plurais:
O verde-água - os verdes-águas ou os verdes-água
O verde-abacate - os verdes-abacates ou os verdes-abacate
1.4. São adjetivos invariáveis: azul-marinho, azul-celeste.
2. FLEXÃO DE GÊNERO (formação do feminino)
2.1. Os adjetivos terminados em –o trocam essa terminação por –a.
Ex.: ativo / ativa, branco / branca
2.2. Os terminados em –es, -or e –u geralmente recebem a terminação –a.
Ex.: freguês / freguesa, sedutor / sedutora, cru/ crua.
Obs.: os adjetivos hindu, sensabor, cortês, incolor, multicor, bicolor, tricolor, maior, melhor, menor, pior, superior,
anterior, posterior são usados dessa forma também para o feminino. Ex.: roupa hindu, atitude superior.
2.3. Os terminados em –ão trocam essa terminação por –ã, -ona e, mais raramente, por –oa.
Ex.: alemão / alemã, cristão / cristã, chorão / chorona, comilão / comilona, beirão / beiroa.
2.4. Os terminados em –eu (com som fechado) trocam essa terminação por -eia/ os terminados em –eu (som aberto)
trocam por –oa.
Ex.: ateu / ateia, europeu / europeia, ilhéu / ilhoa, tabaréu / tabaroa.
Exceções: judeu / judia, sandeu / sandia, réu/ré
2.5. Feminino dos compostos: apenas o segundo elemento varia. Ex.: literatura hispano-americana
Exceção: menino surdo-mudo / menina surda-muda
Observação importante: Os adjetivos compostos cujo segundo elemento é um substantivo são invariáveis. Ex.: amarelo-
ouro, verde-mar.
2.6. Há muitos adjetivos uniformes (servem para masculino e feminino): agrícola, audaz, exemplar, frágil, ruim.
3. GRAUS DO ADJETIVO
COMPARATIVO (Indica uma relação de 1 ser para 2 adjetivos ou de 2 seres para 1 adjetivo.)
3.1. Grau comparativo de igualdade: Pedro é tão forte quanto eu./ Pedro é tão forte quanto inteligente.
3.2. Grau comparativo de superioridade: Pedro é mais forte (do) que eu./ Pedro é mais forte (do) que inteligente.

3.3. Grau comparativo de inferioridade: Pedro é menos forte (do) que eu. / Pedro é menos forte (do) que inteligente.

OBS.: Ao se comparar 2 qualidades ou ações de sum ser, empregam-se “mais bom”, “mais mau”, “mais grande”, “mais
pequeno” e, vez de melhor, pior, maior, menor:
Ele é mais bom do que mau. A escola é mais grande do que pequena. Ele é mais mau do que simpático. Ele é mais
pequeno do que grande.
SUPERLATIVO (Destaca um ser)
3.4. Superlativo absoluto: Pedro é muito forte. (analítico)
Pedro é fortíssimo. (sintético)

3.5. Superlativo relativo: Pedro é o mais forte da turma. (de superioridade)


Pedro é o menos forte da turma (de inferioridade)

Obs.: na linguagem coloquial, pode-se empregar a repetição do mesmo adjetivo, sem pausa e sem vírgula.
O dia está belo belo. Ela era linda linda.
4. FORMAÇÃO DO SUPERLATIVO ABSOLUTO SINTÉTICO
4.1. Forma-se pelo acréscimo de –íssimo: 4.6. Adjetivos em -imo e -rimo :
original - originalíssimo célebre – celebérrimo
belo – belíssimo humilde - humílimo
triste - tristíssimo livre – libérrimo
magro – macérrimo
4.2. Adjetivos terminados em –vel têm o superlativo em negro – nigérrimo
–bilíssimo: pobre – paupérrimo
amável - ambilíssimo
terrível –terribilíssimo 4.7. Adjetivos terminados em -io :
móvel –mobilíssimo sério – seriíssimo
cheio – cheiíssimo
4. 3. Adjetivos terminados em –z fazem o superlativo necessário – necessariíssimo (também com um só –i )
em –císsimo :
capaz – capacíssimo
feliz – felicíssimo
atroz – atrocíssimo

4. 4. Adjetivos terminados em -m e -ão recebem -


níssimo :
comum – comuníssimo
são – saníssimo

4.5. Adjetivos que seguem a forma latina no superlativo :


amargo –amaríssimo
amigo – amicíssimo
antigo – antiquíssimo
benéfico – beneficentíssimo
cristão – cristianíssimo
cruel – crudelíssimo
doce – dulcíssimo
fiel – fidelíssimo
frio – frigidíssimo
geral – generalíssimo
inimigo – inimicíssimo

4.8. Comparativos e superlativos anômalos


adjetivos comparativo de superioridade superlativo Absoluto Relativo

bom melhor ótimo o melhor


mau pior péssimo o pior
grande maior máximo o maior
pequeno menor mínimo o menor

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EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
1. “Talvez seja bom que o proprietário do imóvel possa 7. Assinale a alternativa em que o termo cego(s) é um
desconfiar de que ele não é tão imóvel assim.” As adjetivo:
palavras destacadas assumem, respectivamente, a) "Os cegos, habitantes de um mundo esquemático,
valor de sabem aonde ir..."
a) substantivo e substantivo. b)"O cego de Ipanema representava naquele momento
b) substantivo e adjetivo. todas as alegorias da noite escura da alma..."
c) adjetivo e verbo. c)"Todos os cálculos do cego se desfaziam na turbulência
d) advérbio e adjetivo. do álcool."
e) adjetivo e advérbio. d)"Naquele instante era só um pobre cego."
e)"... da Terra que é um globo cego girando ao caos."
2. Assinale o período em que ocorre a mesma relação
significativa indicada pelos termos destacados em "A 8. Se preenchermos os espaços com a expressão
atividade científica é tão natural quanto qualquer colocada entre parênteses, ficará gramaticalmente
outra atividade econômica": correta somente a frase da alternativa:
a) Ele era tão aplicado, que em pouco tempo foi a) Naquele ano, passariam pela ponte... de pessoas.
promovido. (duas milhões)
b) Quanto mais estuda, menos se aprende. b) Quando chegaram ao local, ... estava dormindo. (o
c) Tenho tudo quanto quero sentinela)
d) Sabia a lição tão bem como eu. c) Tivemos... deles, mas não pudemos fazer nada. (muita
e) Todos estavam exaustos, tanto que se recolheram dó)
logo. d) Por causa do ferimento, ... não resistiu e morreu. (a
sabiá)
3. “Os homens são os melhores fregueses do bairro" ... e) Falta apenas... para completarmos a quantidade
Os melhores encontra-se no grau: exigida. (uma milhar)
a) comparativos de superioridade. 9. Assinale a alternativa que completa corretamente as
b) superlativo comparativo de superioridade. lacunas da frase.
c) superlativo absoluto sintético. Ficou com... quando soube que... caixa do banco
d) superlativo relativo sintético de superioridade. entregara aos ladrões todo o dinheiro... clã.
4. Assinale a alternativa em que o adjetivo está flexionado a) o moral abalado- o – do
no grau superlativo absoluto sintético: b) a moral abalada- o – da
a) O garoto é tão inteligente quanto sua irmã. c) o moral abalado –o- da
b) O aluno é o mais inteligente da sala. d) a moral abalado – a – do
c) A cerveja está geladíssima. e) a moral abalada – a – da
d) O político é muito influente.
e) O leite está melhor que o café. 10. Classificam-se como substantivos as palavras
destacadas, exceto em:
5. O desagradável da questão era vê-lo de mau humor a) "... o idiota com quem os moleques mexem...".
depois da troca de turno. b) "... visava a me acostumar à morna tirania...".
Na frase acima, as palavras em destaque comportam-se, c) "Adeus, volto para meus caminhos".
respectivamente, como: d) "... conheço até alguns automóveis...".
a) substantivo, adjetivo, substantivo e)"... todas essas coisas se apagarão em lembranças...".
b) adjetivo, advérbio, verbo 11. Classifique o grau dos adjetivos nas frases abaixo.
c) substantivo, adjetivo, verbo a) O cajueiro é mais alto que a roseira.
d) substantivo, advérbio, substantivo _____________________________________________
e) adjetivo, adjetivo, verbo
b) A palmeira é a mais alta árvore desse lugar.
6. Qual o significado das palavras destacadas nas frases? _____________________________________________
a) O príncipe era um homem grande.
_____________________________________________ c) Henrique está menos adiantado do que Paulo.
_____________________________________________ _____________________________________________
b) O príncipe era um grande homem. d) Esta lição parece tão fácil como a precedente.
_____________________________________________ _____________________________________________
_____________________________________________
c) Se você tem-se decepcionado com amigos cachorros, e) Guardei as melhores recordações daqueles dias de
arrume um cachorro amigo. férias.
_____________________________________________ _____________________________________________
_____________________________________________
f) Sem o teu auxílio, o meu trabalho seria péssimo.
d) Seja paciente no trânsito para não ser paciente (usuário _____________________________________________
do) no hospital.
_____________________________________________ g) fizemos uma viagem muito rápida.
____________________________________________ _____________________________________________

h) Moras em casa maior do que a minha.


_____________________________________________
M
A
T
E
M
Á
T
I
C
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A
POTENCIAÇÃO E RADICIAÇÃO Definições e Demonstrações:

Raiz de 1 quociente e quociente de 2 raízes: o


Regras: quociente de 2 radicais do mesmo índice, é o radical do
mesmo índice cujo o radicando é quociente dos
radicandos do divisor e do dividendo.

Raiz de 1 Raiz: A raiz de índice n da raiz de índice p de


um certo numero e a raiz de índice n.p desse numero.

Raiz de 1 produto e produto de 1 raiz: A raiz de um


produto e igual ao produto das raizes do mesmo indice.

Multiplicação de Potencia da mesma base (no caso


base -3): O produto de potencia da mesma base é a
potencia com a mesma base cujo expoente é a soma dos
expoentes dos factores.

Divisão de potencias com a mesma base (base -2): O


quociente de potencias com a mesma base é uma
potencia com a mesma base e cujo expoente é a diferença
entre os expoentes do dividendo e do divisor.

Potencia de expoente fracionário: Reciprocamente todo


o radical é convertível em potencia de expoente
fracionário.

Potencia de uma potência: A potência de uma potencia


é outra potência com a base da 1ª e expoente igual ao
produto dos expoentes.

Introdução ao radical: Qualquer coeficiente ou fator de


um radical pode passar para fator do seu radicando desde
que se multiplique o seu expoente pelo índice do radical.
Os Exercícios seguintes 1., 2. e 3. são os mais
importantes para a manipulação fluente de potencias e
raízes, verifique com atenção a simplicidade das
operações:

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O próximo exercício vem demonstrar o porque das 2. Efetue os seguintes cálculos elevando ao quadrado
operações entre coeficiente (o n° fora da raiz) e cada um dos exercícios propostos:
radicando (o n° dentro da raiz) são possíveis.

Quando o expoente da raiz for igual ao expoente do


radicando, o radicando vira coeficiente de expoente 1.

Exercícios:
Vamos resolver alguns exercícios simples da utilização de
potência e radicais, saliento, a simplicidade destes
exercícios farão com que domine muito bem esse tipo de
operações podendo posteriormente tentar resolver
exercícios maiores e mais complexos.

1. Efetue as divisões e multiplicações propostas:


No exercício seguinte, Não se preocupe com a
utilização de letras, só precisa assumir a letra como se
fosse um numero qualquer do qual não sabe o valor.

NOTA: Existe diferença entre o uso dos sinais:

significa equivalente; usa-se quando não é feito


cálculo nenhum mas sim um arranjo, simplificação,
moldagem do exercício de forma a que possamos
percebê-lo melhor. Resolucão 2.2

1. O exercício 2., propõe que se eleve ao quadro,


o sinal de igual; apresenta sempre um resultado é assim colocamos tudo entre parênteses indicando
sempre realizada alguma operação (soma, divisão, que se vai englobar todo o calculo no quadrado:
subtração ou multiplicação).

2. Segundo a regra Potência de uma Potência


multiplicam-se os dois expoentes de potencia:
3. Conforme a regra Introdução ao radical qualquer
coeficiente pode passar para radicando (para dentro
da raiz) desde que se multiplique o seu expoente pelo
da raiz:

4. Seguinte, a regra Multiplicação de potencia da


mesma base diz que se as base forem iguais então dá-
se uma a mesma base e somam-se os seus
expoentes:
QUESTÕES DE CONCURSOS

1) Calculando a expressão abaixo obtemos:

5. Continuando, aplica-se a regra Raiz de uma raiz


onde têm-se 2 raízes com o mesmo índice ou a) – 10/9
expoente, 2, multiplicam-se então os seus expoentes
e como seu produto resulta numa só raiz: b) -3/5

c) 2

d) 3

e) 1/5

2) Qual o valor da expressão é:

a) 3/5

b) 2/3

c) 2
3. Calcule utilizando as operações de potências :
d) 23/7

e) 32/9

3) Simplificando a raiz temos:

a) 8

b) 10

c) 12

d) 14

e) 16

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9) Desenvolvendo a expressão

4) Efetuando-se a expressão obtemos: obtemos:


a) 5 a) 2
b) 7 b) 3
c) 9 c) 4
d) 10 d) 5
e) 12 e) 6

10) Calcule :

5) Ache o valor de : a) 2/3

a) 1/3 b) 3/5

b) 3/5 c) 2

c) 2/7 d) 5/4

d) 4/9 e) 7/4

e) 5

11) Calcule :
6) Calcule o valor da expressão :
a) - 63/8
a) – 1
b) - 32/5
b) 0
c) – 3/5
c) 1
d) 7/8
d) 2
e) 7/5
e) 3

7) Efetue : 12) Calcule :


a) 2/3 a) 2
b) 5/9 b) 3
c) 1/3 c) 4
d) 2 d) 5
e) 3 e) 6

8) Calculando a expressão obtemos:

a) 2/5

b) 3/5

c) 3

d) 4

e) 4/5
5 3
18) Racionalize :
13) Desenvolva : 5 3
a) - 56/17 a) 4  15
b) - 13/23
b) 1  15
c) - 119/25

d) - 23/19 c) 1  15

e) – 17/37 d) 5

14) Calcule : e) 3
a) 15

b) 21 19) Desenvolva :

c) 27 a) 10
d) 30
b) 3 10
e) 32
c) 5 10

15) Calculando-se o valor de , obtemos: d) 7 10

a) 5 e) 10 10
b) 6
1 1 1 1
20) Se A    , qual o valor de ?
c) 8 2 2 1 2 1 A
d) 10
2
e) 12 a)
3
23 . 3 2
16) Simplifique : 2
6 b)
25 5
a) 1
3 2
c)
b) 2 5
c) 3
2
d) 4 d)
2
e) 5
3 2
e)
17) Efetue : 2
a) 2

b) 3

c) 3 2

d) 2 2

e) 2

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a
 1 
24) (U.E. Londrina) Calculando-se    onde
21) (FUVEST) A expressão a seguir  243 
28 2
a)
a   , obtém-se:
5 5
a) - 81
29
b) b) - 9
5
c) 9
c) 28
d) 81
d) 29
e) um número não real
1
 258  3
e)  
 10  1
   1 4 1 6 2

25) Calcule  8  2
 16  27 3 é igual:
4

  

a) - 5
22) (FUVEST) Qual é o valor da expressão:
b) - 3

c) - 1

d) 0
a) 3
e) 2
b) 4

c) 3

  
1
d) 2 26) (Mackenzie) Se 2x.k y 1.5t 3 . 2x 1.k y .5t 1  150 ,
então k vale:
e) 2
a) 1

b) 2
33 n  3.32 n  9.31 n
23) Simplificando-se a expressão c) 3
9.32 n
para n , obtem-se: d) 4

e) 5
a) 1/6

b) 1/3

c) 6.3
n1 27) (ESPM) 251  250  249 é igual a:

d) 1  3
1 n a) 248
b) 249
e) 3
n1

c) 249

d) 248
e) 250
2n 3.2  2n 1.7 QUESTÕES DO CONCURSO QOAM
28) (F.C. Chagas) A expressão é igual a:
5.2n  4
a) 40 1) (QOAM) Entre 5 e 5.000, tem-se k números da forma

b) 30
2 n , onde n é um número natural. Qual é o valor de k?
a) 8
c) 5/8
b) 9
d)  2 2
c) 10
e) 2 6
d) 11

e) 12
29) Sabe-se que n é um número natural e maior do que 1.
2 2 n  2 2 n 2
 8
Então o valor da expressão é: 4
5 2) (QOAM) 3
é igual a:

a) 1/5
a) 1/16
n
b) 2 b) 1/8
3
c) 1/6
c) 24
d) 6
n
d) e) 16
2
n
 
e) 0,25
5 3) (QOAM - 2011) Sabendo que k  2
9
, qual o

k 2 n 1 .k 3n
valor de ?
213  216 k 7 : k n
30) Simplificando a expressão ,obtemos:
215
3
a)
a) 2 2

b) 1,5 3
b)
c) 2,25 4
d) 2 2
c)
e) 1 2

2
d)
4

2
e)
3

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k 7) (QOAM – 2017) Ao simplificar a expressão
4) (QOAM – 2012) Determine o valor de , sabendo
10
que k  28  2 3  3 2 :  , encontra-se:

a)
5
a)
4 b)

8 c)
b)
3
d)
13
c)
7
e)
7 8) (QOAM – 2017) Assinale a opção que apresenta o valor
d)
5 simplificado da expressão

11
e) .
6
a) 1

b) 3/2
5) (QOAM – 2013) Qual é o valor numérico da expressão
a2  1  a2 1 a 2  1  a 2  1 quando a  25 ? c) 2
E 
a 1  a 1
2 2
a2  1  a2 1 d) 4/3

a) 1 e) 6/5

b) 2 9) (QOAM – 2018) Consideradas satisfeitas as condições


de existência das frações e simplificando as expressões
c) 210
d) 211

e) 213 e , é

correto afirmar que vale:


6) (QOAM – 2014) Sabendo-se que
4
A8  A8  A8  A8  B 
k  3 5 4 7 1 e    2 o valor de 4
k é:
B .B .B .B .B  A
a) 1

b) 2

c) 3

d) 4

e) 5

GABARITO – QUESTÕES DE CONCURSOS


1–a 2–e 3–c 4–b 5–d 6–c 7–b 8–a
9–d 10 – e 11 – a 12 – e 13 – c 14 – c 15 – b
16 – b 17 – c 18 – a 19 – b 20 – b 21 – d 22 – b
23 – b 24 – b 25 – a 26 – c 27 – c 28 – a 29 – b
30 – b.
GABARITO – QUESTÕES DO CONCURSO QOAM
1–c 2–a 3–d 4–d 5–d 6–b 7–e 8–b
9 – a.
TEORIA DOS CONJUNTOS Relações entre conjuntos
Símbolos
Relação de Inclusão: Para relacionar um conjunto com
: pertence : existe outro conjunto (ou subconjunto) utilizamos a relação de
inclusão.
: não pertence : não existe
Exemplo: Se considerarmos o conjunto formado por
: está contido : para todo (ou qualquer que
todas as letras do alfabeto e o conjunto formado pelas
seja)
vogais, podemos dizer que (A contém V) ou
: não está (V está contido em A)
contido : conjunto vazio
Relação de Pertinência: Se é um elemento de , nós
N: conjunto dos números
: contém podemos dizer que o elemento pertence ao conjunto
naturais
e podemos escrever . Se não é um elemento
Z : conjunto dos números de , nós podemos dizer que o elemento não
: não contém
inteiros
pertence ao conjunto e podemos escrever .
Q: conjunto dos números
/ : tal que
racionais Exemplos:
Q'= I: conjunto dos números
: implica que irracionais 

: se, e somente R: conjunto dos números reais
se

Símbolos das operações


: A intersecção B Conjunto vazio: é um conjunto que não possui


elementos. O conjunto vazio é representado por { } ou
: A união B .
A - B: diferença de A com B
Conjunto unitário: é um conjunto que possui somente um
a < b: a menor que b elemento.

: a menor ou igual a b

a > b: a maior que b Subconjuntos: quando todos os elementos de


um conjunto A qualquer pertencem a um outro
: a maior ou igual a b conjunto B, diz-se, então, que A é um
subconjunto de B, ou seja A B. Observações:
:aeb
 Todo o conjunto A é subconjunto dele próprio, ou
: a ou b seja ;
 O conjunto vazio, por convenção, é subconjunto
de qualquer conjunto, ou seja
Conjunto Universo: Em certos problemas da teoria dos
conjuntos, é preciso que se defina um conjunto que
contenha todos os conjuntos considerados. Assim, todos
os conjuntos trabalhados no problema seriam DIAGRAMAS DE EULER-VENN – Um bom modo de
subconjuntos de um conjunto maior, que é conhecido visualizarmos relações entre conjuntos é através dos
como conjunto universo, ou simplesmente universo. diagramas de Euler-Venn. Os conjuntos são
representados por regiões planas interiores a uma curva
Por exemplo: em um problema envolvendo conjuntos de fechada e simples.
números inteiros, o conjunto dos números inteiros Z é o
conjunto universo; em um problema envolvendo palavras
(consideradas como conjuntos de letras), o universo é o
alfabeto.

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Operações com conjuntos Conjunto Complementar: Dado um universo U, diz-se
complementar de um conjunto A, em relação ao universo
União de Conjuntos: dados os conjuntos A e B, define- U, o conjunto que contém todos os elementos presentes
se como união dos conjuntos A e B ao conjunto no universo e que não pertençam a A. Também define-
representado por , formado por todos os se complementar para dois conjuntos, contanto que um
elementos pertencentes a A ou B, ou seja: deles seja subconjunto do outro. Nesse caso, diz-se, por
exemplo, complementar de B em relação a A (sendo B
um subconjunto de A) — é o complementar relativo — e
usa-se o símbolo . Matematicamente:

Exemplo:

A = { 3,4,9,{10,12},{25,27} }

D = { {10,12} }

Intersecção de Conjuntos: dados os conjuntos A e B,


define-se como intersecção dos conjuntos A e B ao
conjunto representado por , formado por todos os Conjunto das Partes ou Potência
elementos pertencentes a A e B, simultaneamente, ou
Dado um conjunto A, definimos o conjunto das partes
seja:
de A, , como o conjunto que contém todos os
subconjuntos de A (incluindo o conjunto vazio e o próprio
conjunto A).

Uma maneira prática de determinar é pensar em


todos os subconjuntos com um elemento, depois todos
os subconjuntos com dois elementos, e assim por diante.

Exemplo:

Diferença de Conjuntos: dados os conjuntos A e B, Se A = { 1, 2, 3 }, então = { ∅, {1}, {2}, {3},


define-se como diferença entre A e B (nesta ordem) ao {1, 2}, {1, 3}, {2, 3}, {1, 2, 3} }.
conjunto representado por A-B, formado por todos os
elementos pertencentes a A, mas que não pertencem a Número de subconjuntos de um conjunto: se um conjunto
A possuir n elementos, então existirão 2n subconjuntos de
B, ou seja
A.

Quantidade de subconjuntos não vazios: 2n - 1

Relação Quantitativa com 2 conjuntos:

n  A  B   n  A  n  B   n  A  B 

CONJUNTOS NUMÉRICOS

Produto Cartesiano: dados os conjuntos A e B, chama-  Conjunto dos números naturais (IN)

IN={0, 1, 2, 3, 4, 5,...}
se peoduto cartesiano A com B, ao conjunto AxB,
Um subconjunto importante de IN é o conjunto IN*:
formado por todos os pares ordenados (x,y), onde x é
IN*={1, 2, 3, 4, 5,...}  o zero foi excluído do conjunto
elemento de A e y é elemento de B, ou seja IN.
Podemos considerar o conjunto dos números naturais
ordenados sobre uma reta, como mostra o gráfico abaixo:
 Conjunto dos números inteiros (Z)  Conjunto dos números irracionais

Z={..., -3, -2, -1, 0, 1, 2, 3,...} Os números irracionais são decimais infinitas não
periódicas, ou seja, os números que não podem ser
O conjunto IN é subconjunto de Z. escrito na forma de fração (divisão de dois inteiros). Como
Temos também outros subconjuntos de Z: exemplo de números irracionais, temos a raiz quadrada
Z* = Z-{0} de 2 e a raiz quadrada de 3:
Z+ = conjunto dos inteiros não negativos = {0,1,2,3,4,5,...}
Z_ = conjunto dos inteiros não positivos = {0,-1,-2,-3,-4,- 2  1,4142135...
5,...} 3  1,7320508...

Observe que Z+=IN.


Um número irracional bastante conhecido é o número
Podemos considerar os números inteiros ordenados
sobre uma reta, conforme mostra o gráfico abaixo: =3,1415926535...

 Conjunto dos números reais (IR)

Dados os conjuntos dos números racionais (Q) e dos


 Conjunto dos números racionais (Q)
irracionais, definimos o conjunto dos números reais como:
Os números racionais são todos aqueles que podem ser
colocados na forma de fração (com o numerador e
denominador  Z). Ou seja, o conjunto dos números
IR=Q  {irracionais} = {x|x é
racionais é a união do conjunto dos números inteiros com racional ou x é irracional}
as frações positivas e negativas.

5 3 3
Então : -2,  ,  1, , 1, , por exemplo, são números racionais. O diagrama abaixo mostra a relação entre os
4 5 2 conjuntos numéricos:

Exemplos:
3 6 9
a)  3   
1 2 3
1 2 3
b) 1   
1 2 3

Assim, podemos escrever:

a Portanto, os números naturais, inteiros, racionais


Q  {x | x  , com a  Z , b  Z e b  0} e irracionais são todos números reais. Como
b subconjuntos importantes de IR temos:
É interessante considerar a representação decimal de um IR* = IR-{0}
número racional, que se obtém dividindo a por b. IR+ = conjunto dos números reais não negativos
IR_ = conjunto dos números reais não positivos
Exemplos referentes aos decimais exatos ou finitos:
1 6 7 Obs: entre dois números inteiros existem infinitos
 0,333...  0,857142857142...  1,1666... números reais. Por exemplo:
3 7 6
 Entre os números 1 e 2 existem infinitos números
reais:
1,01 ; 1,001 ; 1,0001 ; 1,1 ; 1,2 ; 1,5 ; 1,99 ; 1,999 ;
1,9999 ...
1 6 7  Entre os números 5 e 6 existem infinitos números
 0,333...  0,857142857142...  1,1666...
3 7 6 reais:
Exemplos referentes aos decimais periódicos ou infinitos: 5,01 ; 5,02 ; 5,05 ; 5,1 ; 5,2 ; 5,5 ; 5,99 ; 5,999 ;
5,9999 ...
Todo decimal exato ou periódico pode ser representada
na forma de número racional.

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QUESTÕES DE CONCURSOS 5) Sendo M(0) o conjunto dos múltiplos de zero e D(0) o
conjunto dos divisores de zero, M(0) e D(0) são,
1) Se um conjunto A possui 1024 subconjuntos, então o respectivamente conjuntos:
cardinal de A é igual a:
a) unitário e infinito
a) 5
b) unitário e vazio
b) 6
c) vazio e unitário
c) 7
d) vazio e infinito
d) 9
e) infinito e vazio
e) 10

6) Sejam A e B possuem um único elemento em comum.


2) Se A, B e A  B são conjuntos com 90, 50 e 30 Se o número de subconjuntos de A é igual a metade do
elementos, respectivamente, então o número de número de subconjuntos de B, o número de elementos do
elementos do conjunto A  B é: conjunto A união B é o:
a) 10 a) A metade do número de elementos de B
b) 70 b) A metade do número de elementos de A
c) 85 c) O dobro do número de elementos de B
d) 110 d) O dobro do número de elementos de A
e) 170 e) Igual ao número de elementos de B

3) Se F é um conjunto com n + 1 elementos, então o 7) A e B são conjuntos disjuntos e subconjuntos do


número de elementos de P(F), ou seja, conjunto das conjunto universo (U). Se A’ e B’ são conjuntos
partes do conjunto F, é: complementares em U (conjuntos universo) então (B’ – A)
a) 2(n + 1)  (A  B) é:

b) n + 1 a) Conjunto vazio

c) 2n b) Conjunto Universo

d) 4n c) A união B’

n d) (A – B)’
e) 2.2
e) A’ – B

8) Num grupo de estudantes, 80% estudam inglês, 40%


4) Dois clubes X e Y possuem um total de 3.000 sócios. estudam francês e 10% não estudam nenhuma dessas
Sabe-se que 1.850 são sócios de X e 2.500 são sócios de duas línguas. Nesse grupo, a porcentagem de alunos que
Y. O número de sócios de X que não são sócios de Y é: estudam ambas as línguas é:
a) 350 a) 25%
b) 500 b) 50%
c) 1.150 c) 15%
d) 1.350 d) 33%
e) 1.500 e) 30%
9) Se n é o número de subconjuntos não-vazios do 13) Numa pesquisa com fuzileiros navais foram feitas as
conjunto formado pelos múltiplos estritamente positivos seguintes perguntas para que respondessem sim ou não:
de 5, menores do que 40, então o valor de n é: Gosta de tirar serviço? Gosta de realizar treinamento de
guerra? Responderam sim somente à primeira pergunta
a) 127 65 fuzileiro; 85 responderam sim à segunda; 30
b) 125 responderam sim a ambas; e 35 responderam não a
ambas. Quantos fuzileiros foram entrevistados.
c) 124
a) 185
d) 120
b) 155
e) 110
c) 150

d) 195
10) Analisando as carteiras de vacinação das 84 crianças
de uma creche, verificou-se que 68 receberam a vacina e) 200
Sabin, 50 receberam a vacina contra Sarampo e 12 não
foram vacinadas. Quantas dessas crianças receberam as
duas vacinas? 14) Numa pesquisa realizada entre 500 pessoas, 318
gostavam de uma mercadoria A, 264 de uma mercadoria
a) 11 B e 112 gostavam das duas mercadorias. Quantos não
b) 18 gostavam da mercadoria A e nem da B?

c) 22 a) 30

d) 23 b) 32

e) 46 c) 35

d) 40

11) Sejam R e S conjuntos que possuem três elementos e) 42


em comum. Se o número de subconjuntos de R é a quarta
parte do número de subconjuntos de S, o número mínimo
de elementos do conjunto R  S é o: 15) Em uma prova de concurso público compareceram
500 candidatos. 30% deles acertaram a questão A,
a) 5 enquanto que 10% acertaram as questões A e B. Quantos
b) 4 candidatos acertaram apenas a questão B?

c) 6 a) 320

d) 6 b) 350

e) impossível c) 380

d) 400

12) Em uma divisão do CPA são praticados dois esportes, e) 420


vôlei e natação. Exatamente 75% dos militares praticam
vôlei e 70% natação. Sabendo que todo militar é
praticante de pelo menos um dos esportes, determine o 16) Numa turma de 30 alunos, 6 escrevem com a mão
percentual de militares que praticam somente um dos esquerda e dois com as duas mãos. Quantos escrevem
esportes. com a mão direita?

a) 40% a) 18

b) 45% b) 20

c) 50% c) 22

d) 55% d) 24

e) 60% e) 26

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17) Numa turma de 35 alunos, 27 gostam de futebol, 16 21) Numa pesquisa de mercado, verificou-se que 2000
de basquete e 13 gostam dos dois. Quantos não gostam pessoas usam os produtos A ou B. O produto B é usado
nem de futebol e nem de basquete? por 800 pessoas, e 320 pessoas usam os dois produtos
ao mesmo tempo. Quantas pessoas usam o produto A?
a) 5
a) 1480
b) 6
b) 1500
c) 7
c) 1520
d) 8
d) 1540
e) 9
e) 1560

18) Uma pesquisa entre telespectadores mostrou que, em


cada 100 pessoas, 60 assistem a novela A, 50 assistem a 22) Sabe-se que o sangue das pessoas pode ser
novela B, 50 assistem a novela C, 30 assistem as novelas classificado em quatro tipos quanto a antígenos. Em uma
A e B, 20 as novelas B e C, 30 as novelas A e C, e 10 as pesquisa efetuada num grupo de 120 pacientes de um
três novelas. Quantos não assistem a essas novelas? hospital, constatou-se que 40 deles têm o antígeno A, 35
têm o antígeno B e 14 têm o antígeno AB. Nestas
a) 8 condições, pede-se o número de pacientes cujo sangue
b) 10 tem o antígeno O.

c) 12 a) 57

d) 14 b) 59

e) 16 c) 60

d) 63

19) Numa cidade existem dois clubes A e B, que têm e) 70


juntos 6000 sócios. O clube A têm 4000 sócios e os dois
clubes têm 500 sócios comuns. Quantos sócios têm o
clube B? 23) Em uma O.M. Naval são praticados dois esportes,
vôlei e basquetebol. Exatamente 80% dos fuzileiros
a) 2300 praticam vôlei e 60% basquetebol. Sabendo que todo
b) 2400 fuzileiro é praticante de pelo menos um dos esportes,
determine o percentual de fuzileiros que praticam ambos.
c) 2500
a) 28%
d) 2600
b) 32%
e) 2740
c) 36%

d) 38%
20) Numa pesquisa , verificou-se que, das pessoas
consultadas, 100 liam o jornal A, 150 liam o jornal B, 20 e) 40%
liam os dois jornais (A e B) e 110 não liam nenhum dos
dois jornais. Quantas pessoas foram consultadas?

a) 320

b) 340

c) 350

d) 360

e) 380
24) Numa competição militar com 60 sargentos do CAP, 28) Consultados 500 militares sobre as manobras de
11 jogam xadrez, 31 são homens ou jogam xadrez e 3 guerra a que habitualmente participam obteve-se o
mulheres jogam xadrez. Calcule o número de homens que seguinte resultado: 280 militares participam da manobra
não jogam xadrez. A, 250 participam da manobra B e 70 participam de outras
manobras distintas de A e B. O número de militares que
a) 20 participam da manobra A e não participam da manobra B
b) 26 é:

c) 30 a) 170

d) 32 b) 180

e) 34 c) 185

d) 190

25) Numa O.M. Naval há n sargentos. Sabe-se que 56 e) 196


sargentos praticam natação, 21 praticam natação e judô,
106 praticam apenas um dos dois esportes e 66 não
praticam judô. O valor de n é: 29) Uma pesquisa de mercado sobre o consumo de três
marcas A, B e C de um determinado produto apresentou
a) 146 os seguintes resultados: A 48%, B 45%, C 50%, A e B
b) 148 18%, A e C 15%, B e C 25% e nenhuma das três marcas
5%. Qual a porcentagem dos entrevistados que
c) 152 consomem uma e apenas uma das três marcas?
d) 156 a) 57%
e) 158 b) 58%

c) 60%
26) Numa pesquisa com marujos, foram feitas as d) 61%
seguintes perguntas para que respondessem sim ou não:
Gosta de navegar? Gosta de tirar serviço? Responderam e) 62%
sim à primeira pergunta 90 marujos; 70 responderam sim
à segunda; 25 responderam sim a ambas; e 40
responderam não a ambas. Quantos marujos foram 30) Numa O.M., 58% dos militares são do sexo masculino.
entrevistados. Entre os homens, 22% estão na O.M. há mais de cinco
anos; entre as mulheres, este percentual é de 27%. A
a) 170 porcentagem total de militares da O.M. que lá servem há
b) 175 mais de cinco anos é de:

c) 180 a) 21,8%

d) 182 b) 22,6%

e) 186 c) 23,7%

d) 24,1%

27) Temos 400 militares numa corporação da Marinha, e) 25,4%


constatou-se que: 160 deles são oficiais, 130 são homens
e 50 são homens oficiais. O número de militares praças
mulheres é:

a) 150

b) 155

c) 160

d) 168

e) 170

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31) Um estudo de grupos sanguíneos humanos realizados 35) Quantos elementos nós temos em:
com 1000 pessoas (sendo 600 homens e 400 mulheres) ( A  B ) ( B  A) .
constatou que 470 pessoas tinham o antígeno A, 230
pessoas tinham o antígeno B e 450 pessoas não tinham
nenhum dos dois. Determine o número de pessoas que
têm os antígenos A e B simultaneamente.

a) 120

b) 130

c) 135

d) 140

e) 150 a) 109

b) 198

32) A e B são conjuntos disjuntos. Se A’ e B’ são c) 216


conjuntos complementares em U (conjunto universo), d) 262
então o complementar de (B – A)  (A – A’) em U é:
e) 290
a) A’

b) B’

c) (A  B)’
36) Dados os conjuntos A  1,3, 4, 7,8 ,

d) (A  B)’ B  2, 4, 6, 7 e C  2,3,5, 7,8 , então o conjunto

e) A  B  A  C   B é:
a) 1,3,5,8
33) Sendo A e B dois conjuntos quaisquer, determine x
para que n(A) = x + 1, n(B) = 3 – x e n(A x B) = 3. b) 2,3, 4, 6,8
a) 0 ou 2
c) 3
b) 1 ou 3

c) 2 ou 4 d) 3,8
d) 1 ou 4
e) 
e) 2 ou 5

34) Um treinamento militar era constituído de dois


exercícios. 300 militares concluíram somente um dos 37) Dado o conjunto A  1, , 1, 2 ,3, 3,1 podemos
exercícios, 260 concluíram o segundo, 100 militares afirmar:
concluíram os dois e 210 não concluíram o primeiro.
Quantos militares fizeram o treinamento. a)   A
a) 380
b) 1, 2  3,1  A
b) 400

c) 430 c) 1, 2  A
d) 450
d)  A
e) 460
e) 1, 2  3,1  A
38) A e B são dois conjuntos tais que A – B tem 30 41) O diagrama representa o conjunto
elementos, A  B tem 10 elementos e A  B tem 48
elementos. Então, o número de elementos de B – A é:

a) 22

b) 12

c) 10

d) 8

e) 18

39) Dados os conjuntos A  1,3, 4, 7,8 ,


B  2, 4, 6, 7 e C  2,3,5, 7,8 , então o conjunto
B   A  C  é:

1,3,5,8
42) Sejam A, B e C três conjuntos não disjuntos. Das
a)
figuras abaixo, aquela cuja região sombreada representa
o conjunto ( A  B )  C é:
b) 2,3, 4, 6,8
c) 3
d) 2, 4, 6
e) 

40) A parte hachurada no gráfico, representa:

Página 67 de 120
43) Numa turma de 35 alunos, 27 gostam de futebol, 16 46) Consultados 500 militares sobre as manobras e
de basquete e 13 gostam dos dois. Quantos não gostam guerra a que habitualmente participam obteve-se o
nem de futebol e nem de basquete? seguinte resultado: 280 militares participam da manobra
A, 250 participam da manobra B e 70 participam de outras
a) 5 manobras distintas de A e B. O número de militares que
b) 6 participam da manobra A e não participam da manobra B
é:
c) 7
a) 100
d) 8
b) 150
e) 9
c) 180

d) 200

e) 210
44) Um programa de proteção e preservação de
tartarugas marinhas, observando dois tipos de
contaminação dos animais, constatou em um de seus
postos de pesquisa, que: 88 tartarugas apresentavam
sinais de contaminação por óleo mineral, 35 não 47) Num seminário sobre as doenças relacionadas ao
apresentavam sinais de contaminação por radioatividade, fumo reuniram-se 50 pessoas, 32 são fumantes, 10 são
77 apresentavam sinais de contaminação tanto por óleo homens não fumantes e 20 são mulheres fumantes.
mineral como por radioatividade e 43 apresentavam sinais Quantas mulheres não fumantes foram ao seminário.
de apenas um dos dois tipos de contaminação. Quantas
tartarugas foram observadas? a) 6

a) 144 b) 8

b) 154 c) 9

c) 156 d) 10

d) 160 e) 12

e) 168

45) Num grupo de 54 pessoas, 20 usam óculos, 25 são 48) Num avião temos brasileiros, estrangeiros, fumantes
homens e 8 são mulheres que usam óculos. Calcule e não fumantes. O total de passageiros é 50. 32 são
quantas mulheres não usam óculos. brasileiros, 8 homens estrangeiros não fumantes, 25
fumantes, 10 mulheres brasileiras não fumantes, 2
a) 20 homens estrangeiros fumantes, 12 mulheres brasileiras
fumantes, 16 brasileiros fumantes. Determine quantos
b) 21 passageiros não fumantes tem no avião?
c) 22 a) 20
d) 23 b) 22
e) 24 c) 25

d) 28

e) 30
49) Numa prova de 3 questões, 4 alunos erraram todas as 51) Em uma pesquisa de mercado, foram entrevistadas
questões; 5 acertaram só a primeira; 6 acertaram só a várias pessoas acerca de suas preferências em relação a
segunda; 7 acertaram só a terceira; 9 acertaram a primeira três produtos: A, B e C. Os resultados da pesquisa
e a segunda; 10 acertaram a primeira e a terceira; 7 indicaram que:
acertaram a segunda e a terceira e 6 acertaram todas as
questões. Quantos alunos possui a turma? - 210 pessoas compram o produto A

a) 36 - 210 pessoas compram o produto B

b) 38 - 250 pessoas compram o produto C

c) 40 - 100 pessoas não compram nenhum dos três produtos

d) 42 - 60 pessoas compram os produtos A e B

e) 45 - 70 pessoas compram os produtos A e C

- 50 pessoas compram os produtos B e C

50) Após uma briga de n malucos em um hospício, - 20 pessoas compram os três produtos
verificou-se que: Quantas pessoas foram entrevistadas?
- 50 malucos perderam os olhos a) 670
- 48 malucos perderam os braços b) 970
- 40 malucos perderam as pernas c) 870
- 28 malucos perderam os olhos e os braços d) 610
- 22 malucos perderam os olhos e as pernas e) 510
- 24 malucos perderam os braços e as pernas

- 10 malucos perderam braços, olhos e pernas

Pergunta-se: 52) Em uma pequena cidade, todos os 200 habitantes


(1) Quantos malucos brigaram masculinos gostam de praticar pelo menos um dos três
esportes: xadrez, futebol e voleibol. Sabe-se que do total:
(2) Quantos malucos perderam somente as pernas
- 100 gostam de xadrez
(3) Quantos malucos tiveram pelo menos duas perdas
- 100 gostam de futebol
a) 74; 12; 18
- 100 gostam de voleibol
b) 100; 4; 74
- 50 gostam de xadrez e futebol
c) 74; 4; 54
- 50 gostam de futebol e voleibol
d) 80; 54; 6
- 20 gostam de xadrez e voleibol
e) 100; 2; 30
Quantos habitantes masculinos gostam de praticar futebol
e voleibol e não gostam de praticar xadrez?

a) 22

b) 24

c) 26

d) 28

e) 30

Página 69 de 120
53) Considerando os conjuntos A  1, 2, 2 , B  2 , 56) (ESAL) Foi consultado um certo número de pessoas
sobre as emissoras de TV que habitualmente assistem.
C  ,3 e D  1, 2,3 , assinale a opção Obteve-se o resultado seguinte: 300 pessoas assistem ao
canal A, 270 pessoas assistem o canal B, das quais 150
INCORRETA.
assistem ambos os canais A e B e 80 assistem outros
a) 2  A canais distintos de A e B. O número de pessoas
consultadas foi:
b) 2  A ` a) 800

c)  C b) 720

d) C c) 570

d) 500
e) CD
e) 600

54) O número de subconjuntos X que satisfazem à


equação 1,3,5  X  1, 2,3, 4,5,6 é: 57) (UF – Uberlândia) Num grupo de estudantes, 80%
estudam Inglês, 40% estudam Francês e 10% não
a) 8 estudam nenhuma dessas duas línguas. Nesse grupo, a
porcentagem de alunos que estudam ambas as línguas é:
b) 10
a) 25%
c) 12
b) 50%
d) 16
c) 15%
e) 64
d) 33%

e) 30%

55) X e Y são dois conjuntos não vazios. O conjunto X


possui 64 subconjuntos. O conjunto Y, por sua vez, possui
256 subconjuntos. Sabe-se, também, que o conjunto 58) (VUNESP) Uma população utiliza 3 marcas diferentes
Z  X  Y possui 2 elementos. Desse modo, conclui-se de detergente: A, B e C. Feita uma pesquisa de mercado
que o número de elementos do conjunto P  Y  X é colheram-se os resultados tabelados abaixo:
igual a:

a) 4

b) 6

c) 8 Pode-se concluir que o número de pessoas que


d) 1 consomem ao menos duas marcas é:

e) vazio a) 99

b) 94

c) 90

d) 84

e) 79
59) (UNESP) Numa classe de 30 alunos, 16 alunos 63) (CESGRANRIO) Em uma universidade são lidos dois
gostam de Matemática e 20 de História. O número de jornais A e B; exatamente 80% dos alunos leem o jornal A
alunos desta classe que gostam de Matemática e de e 60% o jornal B. Sabendo-se que todo aluno é leitor de
História é: pelo menos um dos jornais, o percentual de alunos que
leem ambos é:
a) exatamente 16
a) 48%
b) exatamente 10
b) 60%
c) no máximo 6
c) 40%
d) no mínimo 6
d) 140%
e) exatamente 18
e) 80%

60) (AFA) Entrevistando 100 oficiais da AFA, descobriu-


se que 20 deles pilotam a aeronave TUCANO, 40 pilotam 64) Numa escola há n alunos. Sabe-se que 56 lêem o
o helicóptero ESQUILO e 50 não são pilotos. Dos oficiais jornal A, 21 lêem os jornais A e B, 106 lêem apenas um
entrevistados, quantos pilotam o TUCANO e o ESQUILO? dos dois jornais e 66 não leem o jornal B. O valor de n é:

a) 5 a) 127

b) 10 b) 137

c) 15 c) 158

d) 20 d) 183

e) 25 e) 249

61) Uma prova era constituída de dois problemas. 300 65) (AFA) Em um grupo de n cadetes da Aeronáutica, 17
alunos acertaram somente um dos problemas, 260 nadam, 19 jogam basquetebol, 21 jogam voleibol, 5
acertaram o segundo. 100 alunos acertaram os dois e 210 nadam e jogam basquetebol, 2 nadam e jogam voleibol, 5
erraram o primeiro. Quantos alunos fizeram a prova? jogam basquetebol e voleibol e 2 fazem os três esportes.
Qual o valor de n, sabendo-se que todos os cadetes desse
a) 300 grupo praticam pelo menos um desses esportes?
b) 350 a) 31
c) 400 b) 37
d) 450 c) 47
e) 500 d) 51

e) 60

62) (UF VIÇOSA) Dentre 100 leitores dos jornais A e B,


40 lêem o jornal A e 70 lêem o jornal B. O percentual dos
leitores que leem os jornais A e B é:

a) 10%

b) 17%

c) 28%

d) 11%

e) 30%

Página 71 de 120
66) (UF Pará) Uma escola tem 20 professores, dos quais QUESTÕES DO CONCURSO QOAM
10 ensinam Matemática, 9 ensinam Física, 7 Química e 4
ensinam Matemática e Física. Nenhum deles ensina
Matemática e Química. Quantos professores ensinam 1) (QOAM) Para cumprir pelo menos uma de duas
Química e Física e quantos ensinam somente Física? missões, A e B, 80% das praças de uma determinada
a) 3 e 2 Base Naval se apresentaram como voluntários. Se 60%
desses voluntários querem cumprir a missão A e 55%
b) 2 e 5 desses voluntários querem cumprir a missão B, qual é o
percentual das praças da referida Base Naval que são
c) 2 e 3 voluntários para ambas as missões A e B? a) 15%
d) 5 e 2 b) 12%
e) 3 e 4 c) 10%

d) 8%
67) Numa sociedade, existem 35 homens (que usam e) 6%
óculos ou não), 18 pessoas que usam óculos, 15 mulheres
que não usam óculos e 7 homens que usam óculos. O
número de pessoas que são homens ou usam óculos é:

a) 42
2) (QOAM - 2006) De um certo grupo de 180 Oficiais da
b) 46 Marinha do Brasil, 122 pertencem ao conjunto T dos
Tenentes, 108 pertencem ao conjunto A de Oficiais da
c) 50 Armada e 75 pertencem aos dois conjuntos. Quantos são
d) 54 os Oficiais desse grupo que não pertencem ao conjunto T
nem ao conjunto A?
e) 61
a) 155

b) 100

c) 75
68) (U.F. Ouro Preto) Numa sala de aula com 60 alunos,
11 jogam xadrez, 31 são homens ou jogam xadrez e 3 d) 55
mulheres jogam xadrez. Conclui-se portanto, que: e) 25
a) 31 são mulheres

b) 29 são homens

c) 29 mulheres não jogam xadrez

d) 23 homens não jogam xadrez 3) (QOAM – 2007) Sejam P e Q conjuntos que possuem
e) 9 homens jogam xadrez um único elemento em comum. Se o número de
subconjuntos de P é igual ao dobro do número de
subconjuntos de Q, o número de elementos do conjunto
P  Q é o:

69) Feito exame de sangue em um grupo de 200 pessoas, a) Triplo do número de elementos de P
constatou-se que: 80 delas tem sangue com fator Rh
b) Triplo do número de elementos de Q
negativo, 65 tem sangue tipo O e 25 tem sangue tipo O
com fator Rh negativo. O número de pessoas, com c) Quádruplo do número de elementos de P
sangue de tipo diferente de O e com fator Rh positivo é:
d) Dobro do número de elementos de P
a) 40
e) Dobro do número de elementos de Q
b) 65

c) 80

d) 120

e) 135
4) (QOAM - 2008) A e B são subconjuntos de U. Se A’ e e) 55%
B’ são os seus respectivos complementares em U, então
7) (QOAM – 2011) No intuito de conhecer suas
 A  B    A  B ' é igual a: preferências alimentares, uma pesquisa foi feita junto à
guarnição de um navio que estava prestes a iniciar
a) A’ viagem. A pesquisa apontou que os marinheiros que
b) B’ consomem carne de frango não consomem peixe.
Apontou ainda que 40% consomem carne de frango, 30%
c) A consomem peixe, 15% consomem carne de frango e
carne bovina, 20% consomem carne bovina e peixe e 60%
d) B consomem carne bovina. É correto concluir que a
e) A’ – B’ porcentagem de marinheiros que não consome nenhum
dos três alimentos é igual a:

a) 18%

b) 15%
5) (QOAM – 2009) Dados os conjuntos
A  B  C  1, 2,3, 4,5,,6,7,8,9,10 ,
c) 10%

d) 8%
A  B  2,3,8 , A  C  2,7 , B  C  2,5, 6 ,
e) 5%
A  B  1, 2,3, 4,5,6,7,8 . Qual é o conjunto C  B ?

a) 7,9,10 8) (QOAM – 2012) Um homem programou um passeio de


barco com seus netos, num domingo de verão, por ilhas
b) 7,8,10 secundárias da Baía de Guanabara. Ele selecionou,
dentre as muitas existentes, algumas ilhas que foram
c) 5, 7,8 listadas formando o seguinte conjunto: I = (Ilha das
Enxadas, Ilha da Conceição, Ilha de Brocoió, Ilha do Sol,
Ilha do Pinheiro). O objetivo do passeio era visitar o maior
d) 5, 7,9 número de ilhas possível do conjunto I, porém,
dependendo de fatores climáticos, isso podia não
e) 8,9,10 acontecer. O homem, então organizou um número de
roteiros levando em conta a possibilidade de visitação a
cinco ilhas, quatro ilhas, três ilhas, duas ilhas e apenas a
uma ilha, pois decidiu que, mesmo com tempo ruim, ao
6) (QOAM - 2010) Um banco promoveu uma seleção de menos a uma ilha, ele levaria os netos convidados.
pessoal para o quadro de estagiários. Exigia-se que os
candidatos fossem estudantes universitários. Concluída a Considerando os dados e que a ordem de visitação às
seleção, foi feito um levantamento sobre as carreiras que ilhas não diferencia os roteiros, quantos roteiros, foram
os estagiários selecionados estavam cursando. O organizados?
levantamento apontou que:
a) 28
I. 60% dos selecionados cursavam Economia ou
b) 29
Administração de Empresas;
c) 30
II. 30% dos selecionados cursavam Administração de
Empresas; d) 31
III. 25% dos selecionados que cursavam Economia e) 32
também cursavam Administração de Empresas.

De acordo com as informações apresentadas acima, é


correto afirmar que a porcentagem de selecionados que
cursavam Economia é igual a:

a) 10%

b) 30%

c) 37,5%

d) 40%

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9) (QOAM – 2014) Sejam A e B conjuntos não vazios tais GABARITO – QUESTÕES DE CONCURSOS
que n(A – B) = 3 e n(A) = k, logo o total de subconjuntos
1 – e; 2 – d; 3 – e 4 – b 5 – b 6 – d 7 – b 8–e
não vazios de A  B é igual a: 9–a 10 – e 11 – a 12 – d 13 – a 14 – a 15 – b
16 – e 17 – a 18 – b 19 – c 20 – b 21 – c 22 – b
a) 2k 3 23 – e 24 – a 25 – e 26 – b 27 – c 28 – b 29 – a
30 – d 31 – e 32 – c 33 – a 34 – d 35 – d 36 – d
b) 2 k 3  1 37 – d 38 – d 39 – d 40 – a 41 – c 42 – a 43 – a
44 – a 45 – b 46 – c 47 – b 48 – c 49 – a 50 – c
c) 2k 1 51 – d 52 – e 53 – e 54 – a 55 – b 56 – d 57 – e
58 – d 59 – d 60 – b 61 – d 62 – a 63 – c 64 – c
d) 2k 1  1 65 – c 66 – c 67 – b 68 – c 69 – c.

GABARITO – QUESTÕES DO CONCURSO QOAM


e) 2k  1
1–b 2–e 3–e 4–c 5–a 6–d 7–e 8–d
9–b 10 – c 11 – e 12 – a.

10) (QOAM – 2015) Seja N o número total de maneiras de


escolher pelo menos um brinquedo, de um total de 7
distintos, existentes em um parque de diversões. Pode-se
afirmar que N é um número natural:

a) par, formado por dois algarismos.

b) ímpar, formado por dois algarismos.

c) ímpar, formado por três algarismos.

d) par, formado por três algarismos.

e) ímpar, formado por um algarismo.

11) (QOAM – 2016) Dados os conjuntos


e ,
determine a soma de todos os inteiros pertencentes ao
conjunto A – B.

a) 3

b) 5

c) 6

d) 8

e) 9

12) (QOAM – 2017) Considere o conjunto dos números


naturais Considere, ainda, que

Se o símbolo # representa a quantidade de elementos de


um conjunto, é correto afirmar que:

a)

b)

c)

d)

e)
G
E
O
G
R
A
F
I
Página 75 de 120
A
5. A LÓGICA DOS ESPAÇOS INDUSTRIAIS

5.1 - As transformações no espaço

5.1.1 - Evolução e classificação das Indústrias


Indústria é a atividade por meio da qual os seres humanos transformam matéria-prima em produtos semi-acabados
(matérias-primas para outros produtos) ou em produtos acabados. Nos dias atuais essa atividade é muito importante,
pois quase tudo o que consumimos e utilizamos é processado ou produzido por ela.
Além de oferecer empregos, a indústria produz capital, desenvolve o comércio, os transportes e os serviços,
dinamizando a economia. Um país industrializado pode suprir muitas de suas necessidades de consumo internas,
reduzir as importações e aumentar as exportações.
Quanto à evolução histórica da indústria, podemos reconhecer três estágios fundamentais: o artesanato, a manufatura
e a maquinofatura.

• Artesanato. Estágio em que o produtor (artesão) era responsável por todas as fases da produção e até mesmo pela
comercialização (em geral, local) do produto. Quase não havia divisão social do trabalho e não se utilizavam máquinas,
mas somente ferramentas simples. O artesanato prevaleceu até por volta do século XVII, porém ainda pode ser
encontrado em todas as partes do mundo, sobretudo nos países e comunidades mais defasados tecnicamente.

• Manufatura. Apesar de a expressão "manufaturado" ser frequentemente empregada para designar os produtos
industrializados, a manufatura corresponde ao estágio intermediário entre o artesanato e a maquinofatura. Nessa fase,
já havia divisão do trabalho (cada operário realizava uma tarefa ou se responsabilizava por parte da produção), mas a
produção ainda dependia fundamentalmente do trabalho manual, embora se empregassem algumas máquinas simples.
De modo geral, nessa fase o artesão deixou de ser o responsável por todas as etapas da produção e se transformou
em assalariado. O capital e os meios de produção já eram propriedade de um patrão. A manufatura caracterizou a fase
inicial do capitalismo, sobretudo nos séculos XVII e XVIII.

• Maquinofatura. É o estágio atual, iniciado no século XVIII, com a Revolução Industrial. Pode ser caracterizado pelo
emprego maciço de máquinas e fontes de energia modernas (carvão mineral, petróleo etc.), produção em larga escala,
grande divisão e especialização do trabalho. Em muitos casos, a divisão do trabalho é tão grande ou específica que o
trabalhador perde a noção do todo ou do produto final. Em outros casos, o processo está tão modernizado que a mão-
de-obra é quase inexistente, sendo a produção quase totalmente realizada por robôs.

Há muitas diferenças na forma como cada país se integrou ou ainda se integra a esses estágios.

5.1.2 - Classificações da Indústria


As indústrias podem ser classificadas de acordo com vários critérios, como a maneira de produzir, a quantidade de
matéria-prima ou de tecnologia, empregadas na produção, entre outros.
Levando em conta a maneira de produzir: temos as indústrias extrativas, que utilizam meios financeiros e técnicas
modernas para extrair recursos naturais (como, por exemplo, minérios, madeira, pescado); as indústrias de
beneficiamento ou de processamento, que beneficiam ou refinam produtos como o petróleo (petroquímica) e cereais,
por exemplo; a indústria de construção (como a construção civil); e a indústria de transformação (de calçados, de
computadores, entre outros), que transforma ou reelabora a matéria-prima.
Quanto à quantidade de matéria-prima e energia empregadas na produção: podemos falar de indústrias leves, (de
bebidas, de produtos farmacêuticos etc.), que consomem menos energia e matérias-primas e de indústrias pesadas
(de máquinas, navios, veículos), que, por exigirem vultosos investimentos, contaram inicialmente com capital estatal ou
pertencem a grandes grupos empresariais.
Quanto à tecnologia empregada: temos as indústrias tradicionais, características da Primeira Revolução Industrial,
que ainda requerem bastante mão-de-obra, em regime fordista, e utilizam tecnologia tradicional; e as indústrias
dinâmicas, como a informática, a aeroespacial e outras, que dependem mais de tecnologia moderna e de capital,
requerendo menos mão-de-obra (porém mais qualificada).

Quanto ao destino dos produtos, podemos dividir as indústrias em dois grandes grupos:
• de bens de produção - São aquelas que produzem bens para outras indústrias. Podem ser de dois tipos: as indústrias
de bens intermediários, que produzem matérias-primas que servirão de base para outras indústrias, como, por exemplo,
a extrativa mineral, a petroquímica, a siderúrgica, a metalúrgica, a do cimento e a química de base; e as indústrias de
bens de capital ou de equipamentos, que produzem equipamentos para outras indústrias, ou seja, são responsáveis
em parte pelo funcionamento destas. São exemplos as indústrias que produzem máquinas, motores, outros
equipamentos, material de transporte.
• de bens de consumo - São as indústrias que produzem bens (mercadorias) para uso e consumo da população, como
a indústria têxtil, a alimentícia, a de móveis etc. Geralmente localizam-se nas proximidades dos centros consumidores.
As indústrias de bens de consumo, por sua vez, podem ser divididas em indústrias de bens de consumo duráveis
(automóveis e eletrodomésticos, por exemplo) e de bens de consumo não-duráveis (alimentos, calçados, roupas e
remédios, entre outros).

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5.2 - Fatores de localização industrial: concentração e desconcentração
5.2.1 - As transformações na indústria e nos espaços
Dentre outros assuntos, na apostila anterior tratamos das fases da Revolução Industrial, que gerou profundas
transformações socioeconômicas, decorrentes
do progresso da técnica aplicada à indústria.
A partir da industrialização, o espaço
geográfico também se modificou: cidades e
regiões inteiras se formaram e se organizaram.
A função comercial das cidades na Idade Média
cedeu lugar à função industrial, o que fortaleceu
a divisão territorial do trabalho não só entre o
meio rural e o urbano, mas também entre as
cidades. Em alguns lugares, a produção em
larga escala deu origem à sociedade de
consumo; em outros, a ampliou.
Num primeiro momento, a industrialização
restringiu-se aos países desenvolvidos. Da
Inglaterra, onde se originou na segunda metade
do século XVIII, ela se expandiu para os demais
países europeus (século XIX), além dos
Estados Unidos, do Japão e da Rússia. A etapa
em que ocorreu a industrialização dos atuais
países desenvolvidos é conhecida como
industrialização clássica. Durante muito tempo a industrialização foi um privilégio das grandes potências, que fizeram
dessa atividade uma forma de domínio, pois países e colônias dependiam de seus fornecimentos.
Os diagramas abaixo representam diferentes estratégias de localização da indústria siderúrgica, considerando a
localização das matérias-primas e dos mercados de consumo.
A melhor localização é a que possibilita a maior rentabilidade - essa é a regra básica da teoria da localização industrial.
Na etapa inicial da industrialização moderna - ocorrida no século XIX na Europa, Estados Unidos e Japão -, os custos
de transporte eram extremamente elevados.
Como o carvão mineral representava a fonte de energia básica tanto para as indústrias de base que produzem matéria-
prima para outras indústrias como para as indústrias de bens de consumo que produzem para o mercado consumidor,
as bacias carboníferas tornaram-se áreas de concentração fabril (figura 26.1). Também ocorreu a concentração
industrial em áreas produtoras de minério de ferro.
Durante a primeira metade do século XX, entretanto, o carvão foi perdendo o domínio que exercia sobre o suprimento
energético industrial. O petróleo, o gás natural e a eletricidade, cujos custos de transporte são muito menores, passaram
a ser amplamente usados como fonte de força motriz ou de energia térmica. Além disso, os meios de transporte
obtiveram desenvolvimento espantoso.
Mesmo assim, as velhas regiões fabris que haviam nascido associadas a jazidas carboníferas ou a reservas minerais
continuaram a responder pela maior parte da produção industrial do mundo. A introdução das linhas de montagens
fabris e a emergência do sistema de produção em série, dirigido para o consumo de massas, reafirmaram as vantagens
locacionais das grandes concentrações industriais. As novas empresas e os setores industriais em ascensão
beneficiaram-se do ambiente industrial criado pelas indústrias já instaladas, mercado consumidor, força de trabalho,
das redes ferroviárias e rodoviárias e serviços.
Essa dinâmica de crescimento é conhecida pela expressão economias de aglomeração. Como vimos, o meio
geográfico típico do regime fordista é o das grandes aglomerações de fábricas, de mercados de consumo e de
trabalhadores.
Nas últimas décadas do século XX, com o esgotamento do fordismo e a emergência da revolução tecnocientífica, os
novos padrões locacionais passaram a apontar no sentido da desconcentração espacial das indústrias, ou seja, da
busca de novas áreas de localização e da emergência de novos polos produtivos, afastados das aglomerações
tradicionais.
5.2.2 - A nova divisão internacional do trabalho - DIT
A etapa relativa à industrialização dos países subdesenvolvidos, que ocorreu em sua maioria após a Segunda Guerra
Mundial, é chamada de industrialização tardia ou retardatária.
Inicialmente esses países apoiaram-se, inicialmente, nas indústrias de bens de consumo não-duráveis (alimentícia,
têxtil, de vestuário). Foi o caso de Brasil, México, Argentina, África do Sul, Índia, Coréia do Sul, Taiwan e Cingapura.
O surgimento desse novo grupo de países tornou ultrapassada a tradicional DIT e deu lugar à nova divisão internacional
do trabalho, formada por três conjuntos de países:
• os industrializados ou centrais, que fabricam e exportam todos os tipos de produtos, além dos produtos da indústria
de ponta, e apresentam um setor terciário predominante. As indústrias de ponta ou de alta tecnologia são indústrias
dinâmicas, que utilizam tecnologia sofisticada e trabalho qualificado e fornecem produtos dos seguintes ramos, entre
outros: informática (computadores), telecomunicações, lasers, eletroeletrônicos, química fina, biotecnologia, tecnologia
nuclear, engenharia genética e aeroespacial.
• os industrializados semi-periféricos, que fabricam e até exportam produtos com tecnologia tradicional, como a
indústria têxtil e a siderurgia, mas entre esses países há ainda aqueles que exportam produtos agrícolas, matérias-
primas brutas minerais e vegetais, ou seja commodities. É o caso de Brasil, México, África do Sul e Índia, por exemplo.
Enquanto que outros a industrialização foi pautada principalmente nas exportações: Cingapura, Coréia do Sul, Hong
Kong e Taiwan.
• os não-industrializados periféricos, que continuam gerando e exportando basicamente produtos primários (por
exemplo, a maioria dos países africanos e asiáticos e parte dos latino-americanos).
5.2.3 - Concentração Industrial
As indústrias tradicionais (as primeiras a serem formadas, pouco automatizadas e que empregavam muita mão-de-
obra) procuravam se instalar em áreas que ofereciam o maior número ou a melhor combinação possível de fatores
necessários à produção (fontes de energia, capitais, mão-de-obra abundante, transporte eficiente para fornecimento
de matéria-prima e escoamento de mercadorias) e à comercialização dos produtos (mercado consumidor). Procuravam
assim obter o menor custo de produção e distribuição possível, para ter o máximo de lucro. Em geral, encontravam
essas condições nas proximidades dos grandes centros urbanos. Observe a figura ao lado, que apresenta a distribuição
geográfica mundial das indústrias.
Durante a Primeira Revolução Industrial (meados do século XVIII e primeira metade do XIX), inúmeras cidades
industriais surgiram nas proximidades de regiões carboníferas (fonte de energia mais utilizada na época) da Inglaterra
(Yorkshire, Lancashire, Midlands), da Alemanha (Vale do Ruhr), da França (Alsácia, Lorena), da Rússia (Donetz) e da
Polônia (Silésia).
Durante a Segunda Revolução Industrial (segunda metade do século XIX), com o desenvolvimento de novos meios
de transporte e o surgimento de novas fontes de energia, como o petróleo e a eletricidade, mais fáceis de transportar,
o carvão foi perdendo importância na localização industrial. Surgiram, assim, novas áreas industriais.
Na segunda metade do século XX, as concentrações de indústrias tradicionais eram importantes polos econômicos,
constituindo verdadeiros complexos, tal sua quantidade e variedade. Alguns exemplos são o manufacturing belt
(cinturão das indústrias) do NE dos EUA e as concentrações industriais da Europa Ocidental e do Japão.

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5.2.4 - Desconcentração industrial
Muitas das tradicionais regiões industriais já não são os polos industriais mais importantes. Nos Estados Unidos, por
exemplo, a indústria moderna situa-se nos estados do sul (Texas, Louisiana, Mississipi) e na Califórnia. Na região
Sudeste brasileira, o setor de serviços já ultrapassa o setor industrial. A Europa ocidental e o Japão têm exportado
muitas indústrias para os chamados "países emergentes" da América Latina e da Ásia.
No pós-guerra, empresas transnacionais estadunidenses, europeias e, posteriormente, japonesas estiveram à frente
do processo de estabelecimento de modernas regiões industriais em países dos continentes africano, asiático e latino-
americano. Aproveitando-se da variedade de recursos naturais, da mão-de-obra e energia baratas e abundantes, dos
incentivos governamentais e da falta ou ineficiência de legislações de proteção ao meio ambiente, as corporações
multiplicaram o número de filiais, modificando as paisagens dessas regiões.
Atualmente essa desconcentração industrial tem-se acentuado e as indústrias abandonam áreas tradicionais (com
custos de produção elevados) em busca de localizações mais vantajosas, principalmente em áreas que ofereçam mão-
de-obra barata, mercado consumidor expressivo, atuação sindical fraca ou inexistente, isenções de impostos,
concessões, incentivos fiscais etc. A modernização dos meios de comunicação permite vender produtos e serviços com
mais facilidade (via internet, por exemplo) para qualquer parte do mundo, sem estar fisicamente próximo dos grandes
centros de consumo ou das fontes de matérias-primas. As redes de comunicação permitem administrar e controlar,
simultaneamente, empresas em todo o mundo.
A indústria têxtil, a siderúrgica e a de bebidas, por exemplo, têm transferido suas fábricas para os países
subdesenvolvidos, em busca de mão-de-obra mais barata. Mesmo as indústrias de base, tradicionalmente situadas em
locais ricos em matéria-prima, de modo a reduzir gastos com transporte, nas últimas décadas afastaram-se desses
locais e, em muitos países centrais, aproximaram-se do litoral.
Atualmente, a China é o maior produtor têxtil mundial, mas também a Índia, o Paquistão e a Indonésia vêm
incrementando a produção e as vendas no mercado externo. Por sua vez, as indústrias têxteis dos Estados Unidos e
da União Europeia passaram a investir em novas tecnologias, tais como fibras químicas, tornando-se cada vez mais
intensivas em capital e especializando-se em produtos de maior valor agregado. Além disso, os países ricos e seus
estilistas continuam a ditar os padrões da moda e da elegância, no mundo todo.
Com a modernização das comunicações e dos transportes, matérias-primas provenientes do interior ou de outros
países podem chegar rapidamente aos portos, nas proximidades dos quais se instalam siderúrgicas, petroquímicas etc.
Dessa forma, é possível exportar mercadorias com a mesma facilidade.
Assim, as indústrias já não precisam mais se localizar nos corredores das áreas produtoras, o que dificultava muito o
transporte até o mercado de consumo. Elas se espalham pelos continentes em busca de vantagens.
Na escala global, a tendência de desconcentração é resultante da industrialização de vastas regiões do mundo
subdesenvolvido, em especial no Sudeste Asiático e na América Latina, que ocupam fatias significativas da produção
industrial mundial em muitos setores.
Também no setor automobilístico, o peso das indústrias situadas em países subdesenvolvidos tem aumentado
significativamente. Atraídas pelos menores custos de mão-de-obra, a Volkswagen, a Ford, a Chrysler, a Citröen e a
Peugeot passaram a fabricar motores em suas filiais mexicanas. Além disso, várias fábricas de montagem final de
automóveis para exportação foram implantadas na cidade de Monterrey, enquanto a Volkswagen se instalou em Puebla
e a Nissan em Águas Calientes. Os Estados Unidos são o destino final de grande parte dessa produção mexicana.
No contexto da América do Sul, o Brasil é considerado estratégico no mapa das grandes transnacionais do automóvel:
nesse caso, elas são atraídas não só pelos baixos salários, mas também pela grande dimensão do mercado interno.
A Coréia do Sul representa um caso singular: o país desenvolveu uma indústria automobilística própria, que concorre
em muitos mercados com as montadoras sediadas nos países desenvolvidos.
Mesmo setores considerados de alta tecnologia, como o de informática, passam por uma desconcentração, ainda que
seletiva, no plano internacional. O setor de pesquisa e de concepção de novos produtos e equipamentos permanece
fortemente concentrado nos Estados Unidos, no Japão e na União Europeia; porém, parte da linha de produção dos
chips e microprocessadores, da montagem final dos equipamentos e a produção de alguns tipos de software migraram
para países industrializados semi-periféricos, em especial para a Índia.
Na escala nacional, também ocorre uma tendência à desconcentração. As velhas concentrações industriais dos países
desenvolvidos vêm perdendo terreno para novas regiões produtivas, marcadas pelo uso de tecnologias modernas, pelo
baixo consumo energético e pela forte integração com as universidades e os centros de pesquisa e desenvolvimento.
A maior parte das antigas regiões industriais formadas em torno das bacias carboníferas da Europa e dos Estados
Unidos, por exemplo, apresenta diminuição das atividades produtivas, perda de dinamismo e elevadas taxas de
desemprego.

5.3 - Ciclos tecnológicos da Revolução Industrial


A Revolução Industrial divide a história das civilizações em duas épocas nitidamente diferentes. Antes dela, a economia
repousava sobre uma base técnica que evoluía apenas muito lentamente. Depois dela, a transformação tecnológica
transformou-se no fundamento da vida econômica. Do ponto de vista social e cultural, as civilizações pré-industriais
norteavam-se pela tradição, enquanto a civilização industrial orienta-se pela mudança.
A economia industrial desenvolve-se, desde o nascimento das primeiras fábricas, através de ciclos longos que
começam com uma fase de rápido crescimento e acumulação de capital, atravessam uma fase de estabilização e, em
seguida, conhecem uma fase descendente caracterizada pela redução do crescimento e dos lucros empresariais. O
economista russo Nikolai Krondatieff, pesquisando na década de 1920 as estatísticas de produção industrial, consumo,
preços, juros e salários da Grã-Bretanha, Estados Unidos e França, foi o primeiro a registrar esses ciclos longos. Mais
tarde, o economista austríaco Joseph Schumpeter estudou-os em profundidade, conseguindo associá-los à marcha da
inovação tecnológica.

5.3.1 - A "destruição criadora"


Baseado em estudos iniciados pelo economista russo Nikolai Krondatiev, na década de 1920, o economista austríaco
Joseph Schumpeter, desenvolveu nos anos 1930, a teoria dos ciclos de desenvolvimento da economia industrial que,
segundo o mesmo, se desenvolve por meio de ciclos ou ondas de inovações tecnológicas. (...) Estabeleceu que a
economia evoluiu por meio da "destruição criadora". Quando um conjunto de novas tecnologias encontra aplicação
produtiva, as tecnologias tradicionais são "destruídas", isto é, deixam de criar produtos capazes de competir no mercado
e acabam sendo abandonadas.
Na fase inicial, ascendente, do ciclo, as novas tecnologias distinguem os empresários inovadores dos que continuam
utilizando as tecnologias tradicionais. Os inovadores são "premiados" com elevadas taxas de lucros e erguem
verdadeiros impérios empresariais. Nesse momento as empresas que estão inserindo as inovações tecnológicas obtém
lucros de monopólio. Isto porque não há concorrentes ou muito pouca concorrência, até o momento em que começa
a ocorrer a inflexão no comportamento dos preços.
Na fase de estabilização, os lucros caem para patamares menores, pois a maior parte das empresas adotou o novo
conjunto de tecnologias e a competição tornou-se mais acirrada.
Finalmente, a fase descendente caracteriza-se por um excesso de oferta em relação à demanda. As tecnologias que
inauguraram o ciclo tornaram-se, a essa altura, tradicionais. A lucratividade diminui de tal forma que a concorrência
tira dos mercados as empresas que não conseguem trabalhar com margem tão pequena de lucros. Ou, então, as
empresas financeiramente mais fortes adquirem (compram) as mais fracas, incorporando suas parcelas nos mercados.
Esse momento é chamado de concentração de capitais e, normalmente, ocorrem na fase final das ondas de inovação
e antecedem o, possível, início de uma nova onda.

5.3.2 - Ondas de inovação tecnológica da economia industrial

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A fase inicial de cada onda de inovação é a época de ouro dos empreendedores. Adaptando pioneiramente as
novidades tecnológicas à produção, empreendedores ousados conquistam vastos mercados. Quase do nada, surgem
empresas de grande porte, que se tornam símbolos do seu tempo. Enquanto isso, grandes empresas baseadas em
padrões tecnológicos superados entram em crise e acabam se reformulando ou simplesmente desaparecem. É na fase
inicial que ocorre a "destruição criadora". Quando a onda de inovação atinge a fase de estabilização, as novidades
tecnológicas consistem em aperfeiçoamentos do padrão tecnológico estabelecido. Essa é a época de ouro das grandes
empresas, que dominam mercados já plenamente configurados. Os pequenos empreendedores, que não dispõem de
recursos financeiros vultosos, são incapazes de concorrer com as grandes empresas. Freqüentemente, seus
empreendimentos e suas inovações são incorporados pelas empresas dominantes. Outras vezes, tecnologias melhores
são rejeitadas, pois um padrão menos eficiente adquiriu aceitação geral.
Na fase descendente da onda de inovação, os mercados estão saturados. A economia registra superprodução.
Inúmeras empresas revelam-se incapazes de sustentar a concorrência, cada vez mais feroz, e são incorporadas por
conglomerados mais poderosos. Essa é a época de ouro da centralização de capitais. Quando, finalmente, uma nova
onda se inicia, surgem mercadorias revolucionárias. Sob o impacto da "destruição criadora", a superprodução é
eliminada pois os consumidores dirigem-se, ansiosamente, para os novos produtos disponíveis. Assim, o ciclo
recomeça, em novas bases tecnológicas.
As idéias de Schumpeter permitem identificar os cinco ciclos - ou ondas - de inovação, das fábricas têxteis do século
XVIII até a "era dos computadores".

5.3.3 - Tecnologia e geografia


Os ciclos econômicos longos estão associados às formas de organização do espaço geográfico. A energia hidráulica,
fundamento dos primórdios da industrialização, atraiu as fábricas para as margens dos cursos de água. A máquina a
vapor, desde meados do século XIX, atraiu as fábricas para os depósitos carboníferos. O advento das ferrovias
possibilitou a exploração de novas terras pela agropecuária comercial. A energia elétrica libertou a indústria das
localizações tradicionais e revolucionou a divisão técnica do trabalho no interior das fábricas.
A Inglaterra deu a largada para a Revolução Industrial. Nas últimas décadas do século XVIII, uma série de inovações
na tecnologia de produção (como a máquina de fiar e o tear hidráulico) possibilitou a mecanização do setor têxtil. A
produtividade das indústrias algodoeiras - as primeiras indústrias modernas - cresceu exponencialmente a partir de
então. Produzia-se muito mais e em muito menos tempo.
Ao lado da indústria têxtil, a modernização das fundições de ferro impulsionou o ciclo inicial da industrialização. Há
séculos, o ferro era fundido em fornalhas a lenha. A utilização do carvão mineral em altos fornos capazes de gerar
temperaturas elevadíssimas inaugurou a siderurgia moderna.
O carvão se tornava cada vez mais importante. A sua utilização, como força motriz, foi iniciada com o aperfeiçoamento
da máquina a vapor, em 1769. Mas apenas em meados do século XIX, na Inglaterra, a máquina a vapor substituiu,
largamente, o tear hidráulico. Na França e nos EUA, a energia hidráulica sobreviveu por mais tempo.
A revolução do carvão expressou-se, fora das fábricas, no setor de transportes. As ferrovias e os barcos a vapor
"encurtaram" as distâncias, reduzindo brutalmente os custos de deslocamento de matérias-primas e alimentos. Na
segunda onda de inovações da Revolução Industrial, as terras das planícies centrais dos Estados Unidos tornaram-se
celeiros de alimentos para as cidades européias.
Não por acaso, o século XIX ficou conhecido com a "era das ferrovias". Ao mesmo tempo em que serviam para escoar
mais rapidamente os produtos e para unificar os mercados, as ferrovias foram uma excelente opção para os
investidores dos países industrializados. Assim, rapidamente, os trilhos ferroviários ganharam o mundo, barateando os
custos de transportes e aumentando os lucros do comércio.
A segunda onda caracterizou-se, ainda, por um grande salto tecnológico na siderurgia. O forno Bessemer, inventado
em 1855, utilizava rajadas de oxigênio no refino do ferro fundido, permitindo a obtenção de aços de alta qualidade. No
oeste da Alemanha, junto às jazidas carboníferas do vale do rio Ruhr, desenvolveram-se os conglomerados siderúrgicos
da maior concentração industrial européia.
As cidades industriais típicas do século XIX - tais como Manchester e Liverpool, na Inglaterra, e Colônia, na Alemanha
- eram de tamanho médio, localizadas junto às bacias carboníferas. Elas concentravam a produção siderúrgica e a
produção de têxteis de algodão. O ritmo da produção fabril regulava a vida nesses centros urbanos, onde a maioria da
população era composta de empregados assalariados das indústrias.
A primeira onda da Revolução Industrial restringiu-se, praticamente, à Grã-Bretanha. Na segunda onda, se espraiou
pela Europa, fincando raízes na Bélgica, França, Alemanha, Suécia e, um pouco depois, na Holanda, Itália, Áustria e
Rússia. Do outro lado do Atlântico, a indústria estabelecia-se nas cidades do nordeste dos EUA. No final do século, sob
o impulso da centralização do poder político, o Japão decolava para o industrialismo.
Durante a maior parte do século XIX, a Grã-Bretanha conservou a liderança econômica. A sua frota mercante, a maior
do mundo, havia conquistado o domínio dos mares. A supremacia comercial garantiu a disponibilidade dos capitais
necessários para o investimento industrial e assegurou o controle sobre os mercados fornecedores de matérias-primas.
A Revolução Industrial abriu as portas para a formação da economia-mundo, ou seja, para a incorporação de todos os
povos e continentes nos fluxos mercantis e circuitos de investimentos centralizados pelas potências industriais. Nas
últimas décadas do século XIX, navios cargueiros singravam os oceanos transportando mercadorias industriais,
matérias-primas minerais e produtos agrícolas. O imperialismo - anexando novas áreas coloniais na África e Ásia e
esferas de influência na América Latina - criou um verdadeiro mercado de dimensões planetárias.
As potências industriais importavam basicamente dois tipos de mercadorias: matérias-primas e produtos agrícolas
tropicais. Para as colônias e áreas de influência, elas exportavam seus produtos industrializados, principalmente os
têxteis e metalúrgicos. A estrutura comercial britânica revela com nitidez a divisão internacional do trabalho gerada
pelas ondas iniciais da Revolução Industrial: no século XIX, alimentos e matérias-primas constituíam 75% das
importações; 85% das exportações eram produtos fabricados.
A borracha das florestas equatoriais da África e do Brasil, o estanho da Bolívia, o cobre do Chile, do Peru e do Congo,
por exemplo, se tornaram matérias-primas fundamentais para as novas indústrias européias e norte-americanas. Os
navios mercantes traziam das regiões tropicais enormes quantidades de cacau, açúcar e café, gêneros cujo consumo
estava se popularizando nas cidades da Europa e dos Estados Unidos.
O traçado das ferrovias ilumina uma das características essenciais da geografia produzida pelo imperialismo. Na França
e na Inglaterra, assim como nos demais países industrializados da Europa, foram construídos troncos principais
complementados por uma densa rede de trilhos que se espalham em todas as direções, facilitando o transporte no
interior do território e unificando o mercado interno. Nos Estados Unidos, os grandes ramais ferroviários cortaram
transversalmente o território e ajudaram a integrar o oeste agrícola ao nordeste industrial.
Entretanto, na África - como também na América Latina - as ferrovias nasceram para ligar as regiões produtoras de
matérias-primas aos portos exportadores. Até hoje, o seu traçado serve de espelho da organização do espaço
produzida pelo imperialismo. Nesse caso, o mercado externo funcionava como principal motor da economia. As redes
de transporte, em vez de integrar, fragmentavam os espaços nacionais. Junto com o espaço geográfico de dimensões
planetárias, emergia uma divisão internacional do trabalho que iria marcar de forma duradoura as populações de
continentes inteiros.
A divisão internacional do trabalho no capitalismo industrial envolvia também fluxos de investimentos diretos das
potências econômicas para as suas esferas de influência. Tais investimentos de capital concentravam-se,
essencialmente, em setores de infra-estrutura (eletricidade, iluminação, telefonia) e transportes (ferrovias, portos).
Na última década do século XIX, a economia industrial britânica foi ultrapassada pelos Estados Unidos. Na primeira
década do século XX, era ultrapassada também pela Alemanha. Contudo, a sua duradoura liderança passada
continuou, por algum tempo, a se refletir nos investimentos de capital no exterior. No início da Primeira Guerra Mundial,
os capitais britânicos estabelecidos no estrangeiro representavam mais que o dobro dos investimentos franceses e
quase o triplo dos investimentos alemães
A geografia dos movimentos de capitais refletia, com bastante fidelidade, a influência política das potências. Os capitais
britânicos fluíam para todos os continentes, alimentando negócios no Império, na América e no Oriente. França,
Alemanha e Holanda tinham vultosos investimentos, direcionados para a Europa do leste e as colônias afro-asiáticas.
Na época, os capitais norte-americanos apenas começavam a ganhar o estrangeiro, limitando-se praticamente aos
países vizinhos da América do Norte.
Os países-fábricas dominavam o mundo com os seus produtos e seu capital. As economias coloniais e semicoloniais
se especializaram na produção de uns poucos produtos primários, e cada vez mais se tornavam dependentes dos
mercados e investimentos externos.

5.3.4 - O fordismo e o "século americano"


No alvorecer do século XX, um novo conjunto de tecnologias deflagrava a terceira onda da industrialização. O uso do
petróleo como combustível e a invenção do motor a combustão interna originavam a indústria automobilística. Nascia,
ao mesmo tempo, a moderna indústria química. A eletricidade tornava-se a fonte de energia das fábricas. Os motores
elétricos e, com eles, as linhas de montagem propiciavam um salto extraordinário na produtividade do trabalho.
Simultaneamente, a difusão do telex e do telefone revolucionavam as comunicações. "Os últimos serão os primeiros" -
esse provérbio bíblico descreve, com alguma precisão, a evolução do mundo industrial durante a terceira onda. A
maturidade industrial britânica foi atingida muito cedo, em meados do século XIX, cerca de 70 anos depois da
decolagem industrialista. A Alemanha, a França e os Estados Unidos, que só então decolavam para o mundo industrial,
não precisaram sequer de meio século para alcançar a maturidade. Esses países retardatários aproveitaram-se dos
avanços tecnológicos britânicos para queimar etapas e saltar degraus. Na Grã-Bretanha, pelo contrário, a força inercial
dos velhos padrões tecnológicos sabotava o ritmo da inovação.
Os Estados Unidos constituem o exemplo mais notável desse avanço por saltos que caracterizou a industrialização das
potências retardatárias. As suas condições históricas e geográficas específicas - principalmente, a ausência de um
passado feudal e as enormes potencialidades agrícolas do seu território - possibilitaram um surto de desenvolvimento
desconhecido nos demais países industriais.
A etapa do consumo de massa, caracterizada pela incorporação da maior parte da população ao mercado consumidor
de bens industriais, foi atingida pelos Estados Unidos já na década de 1920. Na Europa industrial, inclusive na pioneira
Grã-Bretanha, essa etapa só veio a ser alcançada mais tarde, pouco antes ou logo depois da Segunda Guerra Mundial
(1939-1945).
A economia-mundo atravessou dois grandes ciclos no século XX. Até a Segunda Guerra Mundial viveu a onda
tecnológica baseada nos motores a combustão interna, no petróleo e na eletricidade. Essa onda propiciou a "idade de
ouro" da década de 1920, caracterizada pelo intenso crescimento que se seguiu à Primeira Guerra Mundial,
abruptamente interrompida pelo crash da Bolsa de Nova York, em 1929. A Grande Depressão da década de 1930
assinalou, dolorosamente, a fase descendente do ciclo.
Depois da Segunda Guerra Mundial o crescimento foi retomado sobre novas bases tecnológicas. A indústria eletrônica
criou centenas de novos produtos e conferiu mais um impulso à produção automobilística. O desenvolvimento da
petroquímica gerou a indústria de plásticos e fibras sintéticas. A aeronáutica civil beneficiou-se dos avanços na aviação
militar, produzindo mais uma revolução nos transportes.
A quarta onda industrial reativou a produção e a circulação de mercadorias. Nas décadas do pós-guerra, o crescimento
industrial e a ampliação do comércio mundial atingiram índices maiores que os registrados desde meados do século
XIX.
A hegemonia dos Estados Unidos atingiu o seu ápice pouco depois da Segunda Guerra Mundial, quando a vitalidade
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das suas indústrias contrastava com a desorganização geral dos sistemas produtivos dos países europeus e do Japão,
arrasados pelo conflito. O Produto Nacional Bruto (PNB) das cinco potências econômicas européias e do Japão
somados não atingiam o da potência hegemônica. A quarta onda de inovação desenvolvia-se, em escala ainda mais
pronunciada que a terceira, como uma "onda americana". As novas tecnologias surgiam nas indústrias da América do
Norte e os novos produtos estabeleciam-se, em primeiro lugar, no mercado consumidor dos EUA.

5.3.5 - Adeus ao fordismo


A economia industrial do século XX desenvolveu-se sobre a base da aplicação da eletricidade à produção e da
reorganização das fábricas em torno da linha de montagem. Essas inovações, introduzidas por Henry Ford na sua
fábrica de automóveis, disseminaram-se por todos os setores e permitiram a produção em série de mercadorias
estandartizadas para mercados de massa. O aprofundamento da divisão técnica do trabalho, o emprego de mão-de-
obra numerosa e semi-qualificada e a utilização intensiva de energia são características associadas ao fordismo.
A revolução tecnocientífica e as indústrias de ponta da onda atual de inovações anunciam o esgotamento do fordismo.
O conceito de produção serializada para mercados homogêneos é substituída pela de produção flexível de mercadorias
adaptadas a nichos de mercado com exigências específicas. A meta fordista da redução de preços através da constante
ampliação da escala de produção dá lugar ao contínuo aperfeiçoamento tecnológico dos produtos, com incorporação
de valor a cada nova versão. Os computadores pessoais, por exemplo, custam cada vez mais, mas a sua capacidade
de processamento cresceu muito mais rapidamente que seus preços.
As indústrias de ponta da revolução tecnocientífica não são vorazes consumidoras de energia. Elas se caracterizam
pela intensa aplicação da ciência e do conhecimento na elaboração de novos produtos. As empresas que lideram a
inovação investem pesadamente em pesquisa científica e tecnológica. As universidades e centros de pesquisa
constituem elos da produção industrial e a mão-de-obra de alta qualificação é disputada pelas corporações da
informática, das telecomunicações, da robótica, da biotecnologia e da química fina.

EMPRESA IBM Samsung Canon Sony Microsoft Panasoni Toshiba Hon Hai Qualcomm
c
PATENTE 6.80 4.676 3.825 3.09 2.660 2.601 2.416 2.279 2.103
9 8
Fonte: http://epocanegocios.globo.com/inspiracao/Empresa/noticia/2014/01/ibm-lidera-ranking-de-patentes

O meio geográfico típico do fordismo são as concentrações industriais associadas a jazidas carboníferas, reservas
minerais ou metrópoles. Essas concentrações estruturam-se em torno de ferrovias, rodovias ou portos. No seu entorno,
estendem-se cidades ou bairros operários. A atividade sindical é intensa e as relações sociais são marcadas pelos
movimentos reivindicativos de tipo corporativo.
O meio tecnocientífico-informacional é pós-fordista. As corporações estruturam redes de âmbito global, integradas
virtualmente pelas tecnologias da informação. Essas redes abrangem centros de pesquisa e laboratórios, plantas
industriais e uma vasta gama de empresas fornecedoras de produtos e serviços. Muitas vezes, a administração
empresarial foi inteiramente separada das plantas industriais, assim como os centros de pesquisa e laboratórios. A
produção em larga escala realiza-se, freqüentemente, em fábricas estabelecidas em países que dispõem de força de
trabalho barata. Os diversos componentes de um produto podem ser fabricados em lugares diferentes do mundo,
selecionados em função das vantagens comparativas de cada país. As operações produtivas repetitivas automatizam-
se e a mão-de-obra semiqualificada é largamente substituída por robôs industriais.
Texto de autoria de Demétrio Magnoli – Graduado em Jornalismo e Ciências Sociais pela USP e Doutor em
Geografia Humana pela USP
5.3.6 - A terceira Revolução Industrial
Hoje, um fantasma ronda a vida dos trabalhadores: o desemprego. Para muitos estudiosos, trata-se de um desemprego
estrutural, isto é, causado pelas transformações que vêm ocorrendo no padrão ou modelo de desenvolvimento produtivo
e tecnológico que predomina nos países capitalistas avançados. Essas transformações apresentam diferenças nos
países onde ocorrem, mas estão alterando a organização do processo produtivo e do trabalho em todos eles e no resto
do mundo também. E tais mudanças afetam o conjunto do mundo do trabalho.
À primeira vista, os robôs ou as novas tecnologias de produção parecem ser os únicos e mais cruéis causadores desse
desemprego. No entanto, existem outras razões de ordem econômica, social, institucional e geopolítica que, associadas
à tecnologia, formam um conjunto que explica melhor aquilo que, para alguns analistas, significaria até mesmo o fim
de uma sociedade organizada com base no trabalho.
O sistema capitalista sofreu transformações ao longo de sua história. As mudanças podem ser profundas, acumular
tensões sociais e graves problemas econômicos, gerar crises, guerras e revoluções políticas, mas o sistema permanece
basicamente o mesmo, isto é, trata-se de um sistema produtor de mercadorias cuja venda tem por objetivo o lucro. Por
isso o chamamos, indistintamente, de economia de mercado ou economia capitalista.
No entanto, para que as empresas capitalistas produzam mais e mais mercadorias - com maior eficiência e melhores
níveis de produtividade, ganhando em competitividade em relação a outras empresas, e sempre que possível obtendo
lucros crescentes - elas precisam criar e aplicar novas técnicas e novas formas de organização da produção e do
trabalho, dividir funções com outras empresas, negociar salários, estipular taxas de lucros etc.
Mas o capitalismo não se restringe apenas às unidades empresariais e suas dinâmicas internas. Na sociedade como
um todo, existem outros componentes extremamente importantes que precisam ser levados em consideração, pois
interferem na vida das próprias empresas. Tais componentes podem ser as formas institucionalizadas, como as regras
do mercado, a legislação social, a moeda, as redes financeiras, em grande parte estabelecidas pelo Estado, ou ainda,
as disputas pelo poder das nações, o comércio internacional, a renda e o consumo de cada família, a qualidade dos
recursos humanos, as convenções coletivas, as idéias produzidas etc.
Quando esse conjunto de elementos, e muitos outros, é razoavelmente ajustado e aceito pela sociedade (não se trata
de um consenso pleno, pois sempre haverá oposições e tensões), estamos diante de um modelo de desenvolvimento
capitalista dominante, com uma organização territorial correspondente. E esse modelo permanece até que uma nova
crise ocorra e novos rearranjos sejam feitos na sociedade e no espaço.
Após a crise de 1929, o modelo de desenvolvimento que aos poucos passou a dominar nos países de tecnologia
avançada - Estados Unidos, Japão e em boa parte da Europa -, mantidas suas especificidades, levou o nome de
fordismo, pois nesse modelo foram incluídas formas de produção e de trabalho postas em prática pioneiramente nos
EUA, nas décadas de 1910 e 1920, nas fábricas de automóveis do empresário norte-americano Henry Ford.
O fordismo teve seu ápice no período posterior à Segunda Guerra Mundial, nas décadas de 1950 e 1960, que ficou
conhecido na história do capitalismo como “Os Anos Dourados”.
O modelo fordista pós-guerra, dependia da subida constante dos salários para manter o mercado ativo, ou seja, manter
os níveis de produção e de consumo crescentes. Porém, os salários não podiam crescer a ponto de ameaçar os lucros
empresariais; mantiveram-se os níveis salariais e os lucros aumentando os preços dos produtos, o que gerou uma crise
inflacionária.
Nos Estados Unidos, os gastos públicos se agigantaram, tanto interna como externamente - a guerra do Vietnã foi um
exemplo. A moeda americana ficou debilitada. Esse país, que durante todo o período de domínio do fordismo
assegurava a estabilidade da economia mundial com base em sua moeda - o dólar -, viu esse sistema monetário
declinar. A competitividade da Europa e do Japão superavam a dos Estados Unidos. Assistia-se a uma verdadeira
guerra comercial, que nunca deixou de crescer.
A partir da década de 1970, a saída foi investir num novo modelo que rompesse com aquilo que era considerado a
rigidez do modelo fordista. A ordem era flexibilizar, ou seja, golpear a rigidez nos processos de produção, nas formas
de ocupação da força de trabalho, nas garantias trabalhistas e nos mercados de massa, então saturados.
As empresas multinacionais, para restabelecer sua rentabilidade, expandiram espacialmente sua produção por
continentes inteiros. Surgiram novos países industrializados. Os mercados externos cresceram mais que os mercados
internos. O capitalismo internacional reestruturou-se.
Os países de economia avançada precisaram criar internamente condições de competitividade. A saturação dos
mercados acabou gerando uma produção diversificada para atender a consumidores diferenciados. Os contratos de
trabalho passaram a ser mais flexíveis. Diminuiu o número de trabalhadores permanentes e cresceu o número de
trabalhadores temporários. Flexibilizaram-se os salários - cresceram as desigualdades salariais, segundo a qualificação
dos empregados e as especificidades da empresa. Em muitas empresas, juntou-se o que o taylorismo separou: o
trabalhador pensa e executa. Os sindicatos viram reduzidos seu poder de representação e de reivindicação. Ampliou-
se o desemprego.
Os compromissos do Estado do bem-estar social foram sendo rompidos pouco a pouco. Eliminaram-se,
gradativamente, as regulamentações do Estado.
As políticas keynesianas - que se revelaram inflacionárias, à medida que as despesas públicas aumentavam e a
capacidade fiscal estagnava - forçaram o enxugamento do Estado.
A transformação do modelo produtivo começou a se apoiar nas tecnologias que já vinham surgindo nas décadas do
pós-guerra (automação e robotização) e nos avanços das novas tecnologias da informação. O método de produção
americano foi substituído pelo método japonês de produção enxuta, que combina máquinas cada vez mais sofisticadas
com uma nova engenharia gerencial e administrativa de produção - a reengenharia, que elimina a organização
hierarquizada. Agora, engenheiros de projetos, programadores de computadores e operários interagem face a face,
compartilhando idéias e tomando decisões conjuntas.
O novo método, rotulado por muitos como toyotismo, numa referência à empresa japonesa Toyota, utiliza menos
esforço humano, menos espaço físico, menos investimentos em ferramentas e menos tempo de engenharia para
desenvolver um novo produto. A empresa que possui um inventário computadorizado, juntamente com melhores
comunicações e transportes mais rápidos, não precisa mais manter enormes estoques. É o just in time.
O novo método permite variar a produção de uma hora para outra, atendendo às constantes exigências de mudança
do mercado consumidor e das mudanças aceleradas nas formas e técnicas de produção e de trabalho. A ordem é
manter estoques mínimos, produzindo apenas quando os clientes efetivam uma encomenda.
As grandes empresas começaram a repassar para as pequenas e médias empresas subcontratadas um certo número
de atividades, tais como concepção de produtos, pesquisa e desenvolvimento, produção de componentes, segurança,
alimentação e limpeza. Isso passou a ser conhecido como terceirização. Com ela, as grandes empresas reduziram
suas pesadas e onerosas rotinas burocráticas e suas despesas com encargos sociais, concentrando-se naquilo que é
estratégico para seu funcionamento.
A produção flexível vem transformando espaços e criando novas geografias, à medida que ocorrem redistribuições dos
investimentos de capital produtivo e especulativo e, conseqüentemente, redistribuição espacial do trabalho. Numerosas
empresas se transferiram das tradicionais concentrações urbanas e regiões industriais congestionadas, poluídas e
sindicalizadas, para novas áreas nas quais a organização e o poder de luta dos trabalhadores é pouco significativa.
Surgiram novos complexos de produção - os complexos científicos-produtivos -, ligados a universidades e centros de
pesquisa onde as inovações são constantes.
Um caso exemplar desses complexos é o do Vale do Silício (Silicon Valley), na Califórnia, cujo modelo se difundiu por
vários países. Nesse complexo, a Universidade de Stanford, juntamente com empresas do ramo da microeletrônica,
criou um parque tecnológico cuja fama cresceu com a produção de semicondutores e o uso do silício como matéria-

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prima para sua fabricação. O Vale do Silício faz parte de uma área maior em torno da baía de São Francisco onde se
estabeleceram numerosas indústrias de alta tecnologia.
Esses tecnopolos também são encontrados no interior das tradicionais regiões industriais que vêm se modernizando,
a exemplo da região industrial de Frankfurt, na Alemanha, ou ainda daquelas que procuram sair de uma situação de
estagnação, como no caso da região de Turim, na Itália, ou de Lyon, na França.
O sistema just in time exige também uma reorganização do território. As firmas subcontratadas pelas grandes empresas
se aglomeram em torno da planta terminal de produção, criando um novo tipo de aglomeração produtiva.
Esse é o caso da fábrica da Volkswagen, instalada em Resende (RJ), que vem atraindo outras empresas que
produzirão, no próprio terreno da fábrica, componentes utilizados na montagem de ônibus e caminhões.
Sem nenhuma dúvida, vivemos hoje mudanças profundas que se refletem no mundo do trabalho. Para os mais
otimistas, a questão do desemprego tecnológico será resolvida pela própria tecnologia avançada que estimulará o
surgimento de novos setores produtivos e de atividades humanas a ela ligados, exigindo, assim, novos trabalhadores.
Para outros, o sonho dos empresários de fábricas sem operários está prestes a ser realizado.
Também nos setores agrícolas e de serviços, as máquinas substituem o trabalho humano. Corporações multinacionais
fazem notar que estão cada vez mais competitivas, e ao mesmo tempo anunciam demissões em massa. A questão
que se coloca neste final de século é a seguinte: para onde vão os trabalhadores?
A resposta dependerá da posição assumida pelas sociedades como um todo.

5.3.7 - A indústria na era da globalização


No pós-guerra, os diversos avanços tecnológicos e a internacionalização da economia iniciaram a fase da Terceira
Revolução Industrial, Tecnológica ou Informacional.
Nas últimas décadas do século XX ocorreram também modificações na forma de produzir. O modelo fordista/taylorista
foi substituído pelo modelo toyotista. A capacidade de adaptação ou de flexibilização na produção (modelo toyotista)
passou a ser mais valorizada do que as divisões rígidas na produção (fordismo/taylorismo). A produção e os produtos
fabricados tornaram-se cada vez mais complexos, impondo a
necessidade de integrar indústrias e laboratórios de pesquisa, o que
levou a tecnologia a ocupar um lugar cada vez mais importante na
produção industrial.
Outra transformação significativa foi a criação e a ampliação da indústria
de ponta, com a utilização de máquinas de ajuste flexível, que permitem
modificações rápidas no processo produtivo. Essas indústrias
dependem de inovações constantes e, portanto, de investimentos em
pesquisas científicas e tecnológicas.
Beneficiando-se do progresso nos transportes e nas comunicações, a
produção industrial espalhou-se por vários continentes, permitindo
separar a concepção e a execução do produto.
Com a globalização, a indústria deixou de ter o espaço local e regional
como base, ultrapassando as fronteiras nacionais. Componentes de um
produto podem ter origem em países diferentes, pois as corporações
aproveitam as vantagens comparativas das economias nacionais.
Qualquer desvantagem pode acarretar a troca do fornecedor ou mesmo
a transferência de unidades produtoras inteiras. Sources: WIPO Statistics Database and EPO PATSTAT
Estabeleceu-se uma nova divisão de trabalho, a partir de uma divisão database, October 2015.
territorial de indústrias. As indústrias de ponta concentram-se nos países centrais ou desenvolvidos. As economias de
maior avanço tecnológico criam novos produtos e investem na comercialização mundial por meio de estratégias de
marketing (estudo dos mercados). Atuam no cotidiano das pessoas, articulando continentes inteiros com os mesmos
produtos e as mesmas imagens. Atualmente, esse tipo de indústria é em parte responsável pela preponderância de um
país sobre outro.

5.3.8 - A 4ª Revolução Industrial

O que é a 4ª revolução industrial - e como ela deve afetar nossas vidas


Valeria PerassoDa BBC - 22 outubro 2016
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral-37658309

No século 18 foi a máquina a vapor. Desta vez, serão os robôs integrados em sistemas ciberfísicos os
responsáveis por uma transformação radical. E os economistas têm um nome para isso: a quarta revolução
industrial, marcada pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas.
Eles antecipam que a revolução mudará o mundo como o conhecemos. Soa muito radical? É que, se cumpridas as
previsões, assim será. E já está acontecendo, dizem, em larga escala e a toda velocidade.
"Estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará fundamentalmente a forma como vivemos,
trabalhamos e nos relacionamos. Em sua escala, alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer
coisa que o ser humano tenha experimentado antes", diz Klaus Schwab, autor do livro A Quarta Revolução Industrial,
publicado este ano.
A industrialização mudará de uma maneira radical e, com ela, o universo do emprego.Os "novos poderes" da
transformação virão da engenharia genética e das neurotecnologias, duas áreas que parecem misteriosas e distantes
para o cidadão comum.
No entanto, as repercussões impactarão em como somos e como nos relacionamos até nos lugares mais distantes do
planeta: a revolução afetará o mercado de trabalho, o futuro do trabalho e a desigualdade de renda. Suas
consequências impactarão a segurança geopolítica e o que é considerado ético.
Então de que se trata essa mudança e por que há quem acredite que se trata de uma revolução?
O importante, destacam os teóricos da ideia, é que não se trata de um desdobramento, mas do encontro desses
desdobramentos. Nesse sentido, representa uma mudança de paradigma e não mais uma etapa do desenvolvimento
tecnológico.
"A quarta revolução industrial não é definida por um conjunto de tecnologias emergentes em si mesmas, mas a transição
em direção a novos sistemas que foram construídos sobre a infraestrutura da revolução digital (anterior)", diz Schwab,
diretor executivo do Fórum Econômico Mundial e um dos principais entusiastas da "revolução".
"Há três razões pelas quais as transformações atuais não representam uma extensão da terceira revolução industrial,
mas a chegada de uma diferente: a velocidade, o alcance e o impacto nos sistemas. A velocidade dos avanços atuais
não tem precedentes na história e está interferindo quase todas as indústrias de todos os países", diz o Fórum.
Também chamada de 4.0, a revolução acontece após três processos históricos transformadores. A primeira marcou o
ritmo da produção manual à mecanizada, entre 1760 e 1830. A segunda, por volta de 1850, trouxe a eletricidade e
permitiu a manufatura em massa. E a terceira aconteceu em meados do século 20, com a chegada da eletrônica, da
tecnologia da informação e das telecomunicações.
Agora, a quarta mudança traz consigo uma tendência à automatização total das fábricas - seu nome vem, na verdade,
de um projeto de estratégia de alta tecnologia do governo da Alemanha, trabalhado desde 2013 para levar sua produção
a uma total independência da obra humana.
A automatização acontece através de sistemas ciberfísicos, que foram possíveis graças à internet das coisas e à
computação na nuvem.
Os sistemas ciberfísicos, que combinam máquinas com processos digitais, são capazes de tomar decisões
descentralizadas e de cooperar - entre eles e com humanos - mediante a internet das coisas.
O que acontecerá com o emprego?
O que vem por aí, dizem os teóricos, é uma "fábrica inteligente". Verdadeiramente inteligente. O princípio básico é que
as empresas poderão criar redes inteligentes que poderão controlar a si mesmas.
Os números econômicos são impactantes: segundo calculou a consultora Accenture em 2015, uma versão em escala
industrial dessa revolução poderia agregar 14,2 bilhões de dólares à economia mundial nos próximos 15 anos.
No Fórum Mundial de Davos, em janeiro deste ano, houve uma antecipação do que os acadêmicos mais entusiastas
têm na cabeça quando falam de Revolução 4.0: nanotecnologias, neurotecnologias, robôs, inteligência artificial,
biotecnologia, sistemas de armazenamento de energia, drones e impressoras 3D.
Mas esses também serão os causadores da parte mais controversa da quarta revolução: ela pode acabar com cinco
milhões de vagas de trabalho nos 15 países mais industrializados do mundo.

O que é a 4ª revolução industrial - e como ela deve afetar nossas vidas


Revolução para quem?
Os países mais desenvolvidos adotarão as mudanças com mais rapidez, mas os especialistas destacam que as
economias emergentes são as que mais podem se beneficiar.
A quarta revolução tem o potencial de elevar os níveis globais de rendimento e melhorar a qualidade de vida de
populações inteiras, diz Schwab. São as mesmas populações que se beneficiaram com a chegada do mundo digital -
e a possibilidade de fazer pagamentos, escutar e pedir um táxi a partir de um celular antigo e barato.
Obviamente, o processo de transformação só beneficiará quem for capaz de inovar e se adaptar.
"O futuro do emprego será feito por vagas que não existem, em indústrias que usam tecnologias novas, em condições
planetárias que nenhum ser humano já experimentou", diz David Ritter, CEO do Greenpeace Austrália/Pacífico em uma
coluna sobre a quarta revolução industrial para o jornal britânico The Guardian.
E os empresários parecem entusiasmados - mais que intimidados - pela magnitude do desafio, uma pesquisa aponta
que 70% têm expectativas positivas sobre a quarta revolução industrial.
Ao menos esse é o resultado do último Barômetro Global de Inovação, uma pesquisa que compila opiniões de mais de
4.000 líderes e pessoas interessadas nas transformações em 23 países.
Ainda assim, a distribuição regional é desigual e os mercados emergentes da Ásia são os que estão adotando as
transformações de uma forma mais intensa que os de economias mais desenvolvidas.
"Ser disruptivo é o padrão modelo para executivos e cidadãos, mas continua sendo um objetivo complicado de se
colocar em prática", reconhece o estudo.
Os perigos do cibermodelo
Nem todos veem o futuro com otimismo: as pesquisas refletem as preocupações de empresários com o "darwinismo
tecnológico", onde aqueles que não se adaptam não conseguirão sobreviver.
E se isso acontece a toda velocidade, como dizem os entusiastas da quarta revolução, o efeito pode ser mais
devastador que aquele gerado pela terceira revolução.
A revolução terá que criar uma nova relação entre pessoas e robôs. No entanto, por trás disso há dilemas éticos e
sociais a resolver, dizem os críticos.
"No jogo do desenvolvimento tecnológico, sempre há perdedores. E uma das formas de desigualdade que mais me
preocupa é a dos valores. Há um risco real de que a elite tecnocrática veja todos as mudanças que vêm como uma
justificativa de seus valores", disse à BBC Elizabeth Garbee, pesquisadora da Escola para o Futuro da Inovação na
Sociedade da Universidade Estatal do Arizona (ASU).

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"Esse tipo de ideologia limita muito as perspectivas que são trazidas à mesa na hora de tomar decisões (políticas), o
que por sua vez aumenta a desigualdade que vemos no mundo hoje", diz.
"Considerando que manter o status quo não é uma opção, precisamos de um debate fundamental sobre a forma e os
objetivos desta nova economia", diz Ritter, que considera que deve haver um "debate democrático" em relação às
mudanças tecnológicas.
Os mercados emergentes da Ásia estão na vanguarda da quarta revolução, dizem os especialistas
Por um lado, há quem desconfie de que se trata de uma quarta revolução: é certo que as mudanças são muitas e
profundas, mas o conceito foi usado pela primeira vez em 1940 em um documento de uma revista de Harvard
intitulado A Última Oportunidade dos Estados Unidos, que trazia um futuro sombrio para avanço da tecnologia e seu
uso representa uma "preguiça intelectual", diz Garbee.
Outros, mais pragmáticos, alertam que a quarta revolução só aumentará a desigualdade na distribuição de renda e
trará consigo todo tipo de dilemas de segurança geopolítica.
O mesmo Fórum Econômico Mundial reconhece que "os benefícios da abertura estão em risco" por causa de medidas
protecionistas, especialmente barreiras não tarifárias do comércio mundial que foram exacerbadas desde a crise
financeira de 2007: um desafio que a quarta revolução deverá enfrentar se quiser entregar o que promete.
"O entusiasmo não é infundado, essas tecnologias representam avanços assombrosos. Mas o entusiasmo não é
desculpa para a ingenuidade e a história está infestada de exemplos de como a tecnologia passa por cima dos marcos
sociais, éticos e políticos que precisamos para fazer bom uso dela", diz Garbee.

Para a Alemanha, a revolução 4.0 é uma prioridade

5.4 - Desemprego
Se, por um lado, as inovações tecnológicas introduzidas nas indústrias aumentaram a produtividade, por outro lado,
reduziram os empregos, o que implica sérias questões sociais.
Enquanto os empregos, juntamente com as fábricas, foram transferidos para os países subdesenvolvidos, nos países
centrais parte da mão-de-obra passou a ser ocupada pelo setor terciário.
Lembre-se que as atividades econômicas geralmente são classificadas em três setores:
• setor primário – compreende a agricultura, a pecuária, a caça e o extrativismo;
• setor secundário – é composto pelas atividades industriais, em qualquer nível tecnológico;
• setor terciário ou de prestação de serviços – abrange o comércio, setor financeiro, setor público, educação,
transportes, em suma todas as atividades que normalmente ocorrem em áreas urbanas, com exceção das indústrias.
Esse setor complementa os dois primeiros, pois permite ou induz ao consumo de produtos e exerce papel fundamental
na produtividade.
Atualmente, com o atual estágio tecnocientífico, tende-se a redividir os setores de atividade econômica em quatro,
incluindo o setor quaternário, que abrange a pesquisa de alto nível (biotecnologica, robótica, aeroespacial, etc).
Assim, as inovações tecnológicas do passado acabaram com alguns postos de trabalho, mas deram origem a outros,
em novos setores da economia.
Atualmente, as inovações tecnológicas têm provocado não só aumento de produtividade, mas também desemprego
em todos os grupos de países. Isso ocorre até mesmo no setor terciário, uma vez que a tecnologia da informação
invade o setor de serviços, automatizando bancos, telecomunicações, escritórios, comércio etc. Os computadores, além
de diminuir a participação humana, permitem produção programada e variada; a robotização reduz os custos na
produção e permite realizar atividades que envolvem riscos de segurança ou ocorrem em lugares de difícil acesso ao
ser humano, como dutos ou o fundo do mar (instalação de equipamentos).
Esse processo provoca o desemprego estrutural, que afasta do mercado de trabalho grande massa de população
durante períodos mais ou menos prolongados, atingindo principalmente jovens (dificuldade de acesso ao primeiro
emprego) e trabalhadores de pouca qualificação técnica.
5.5 - O setor terciário, a ciência e a indústria
Com a globalização, os estabelecimentos industriais também sofreram mudanças. As fábricas subsistem, mas criaram-
se grandes estabelecimentos industriais, que se especializaram na produção, em pesquisas, na aquisição e na difusão
de tecnologias, ou são sede das grandes empresas, nas quais se tomam as decisões importantes.
Verifica-se assim maior interdependência entre o setor secundário e o terciário, pois as indústrias necessitam de
tecnologia, de centros de testes e de desenvolvimento de programas, assim como da informática, de transporte rápido,
de serviços de marketing e de consultoria para vendas e exportações.

5.6 - Os tecnopolos
Surgiram também os tecnopolos, polos
tecnológicos ou parques científicos, que
correspondem aos lugares (cidades ou bairros de
uma cidade) nos quais se instalaram instituições
de ensino ou empresas especializadas em
pesquisas e na aplicação de tecnologias de ponta
(inovações tecnológicas que permitem maior
produtividade e rendimento). Observe o mapa ao
lado.
Na Califórnia, o Silicon Valley (Vale do Silício),
implantado na década de 1950, é uma importante
área de inovação científica e tecnológica,
destacando-se na produção de chips, na
eletrônica e na informática. A Europa conta com
tecnopolos em quase todos os países,
destacando-se a França - com Nice, Toulouse,
Montpellier e outros -, a Alemanha - com Munique
-, a Itália, o Reino Unido, além de Japão e Canadá.
Atualmente os tecnopolos assumem maior importância do que as regiões industriais tradicionais, como a do Vale do
Ruhr, na Alemanha, ou Pittsburgh, nos Estados Unidos.
Indiferentes aos efeitos sociais negativos (miséria, desemprego), as indústrias se informatizam, compram robôs,
contratam modernos sistemas de comunicação. No mundo atual, a ciência tem sido colocada mais a serviço daqueles
que pagam do que a serviço das reais necessidades sociais. No Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 1999
afirma-se que, na agenda de pesquisa em biotecnologia, o dinheiro fala mais alto que a necessidade, apontando o
contraste entre os tímidos investimentos destinados à investigação de doenças tropicais e à vacina contra o HIV/Aids:
"Cosméticos e tomate de amadurecimento lento assumem prioridade em relação à vacina contra a malária e às
colheitas resistentes à seca em regiões periféricas".
Sem ciência e tecnologia, um país está condenado ao atraso e à dependência. Como os países subdesenvolvidos têm
acesso limitado aos setores
dinâmicos do conhecimento, o
crescimento das desigualdades tem
sido inevitável: aumentam as
diferenças entre países pobres e
ricos, e milhões de pessoas são
marginalizadas pela falta de acesso
às novas tecnologias, entre elas a
internet.
O comércio de novas tecnologias e a
lei da propriedade intelectual, assim
como a legislação sobre royalties e
patentes, ilustram essa situação: são
realizados com pouca participação
dos países subdesenvolvidos.

5.7 - Novos materiais industriais e


meio ambiente
A humanidade viveu milhares de
anos sem muitas das invenções que
só surgiram no século XX, como
carros, telefones, energia elétrica,
aparelhos elétricos. Atualmente,
esses e muitos outros produtos são
considerados imprescindíveis para a
maior parte da sociedade.
Um dos materiais que hoje faz parte
do cotidiano das pessoas é o plástico, que, por sua leveza e capacidade de ser modelado, pode ser transformado em
qualquer tipo de artefato. Pesquisas conduziram também à criação de outros materiais sintéticos, ou seja, materiais
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não existentes na natureza, como náilon, acrílico (resistente e transparente), PVC, poliésteres, polietileno,
clorofluorcarboneto (CFC) e silicone, entre outros.
Todo esse desenvolvimento tecnológico tem provocado crescentes problemas de contaminação do meio ambiente. Os
CFCs, por exemplo, atacam a camada de ozônio na estratosfera, causando sérios danos ambientais, tema abordado
também no último capítulo deste volume. Os materiais sintéticos, por não serem biodegradáveis, isto é, por não se
degradarem naturalmente no ambiente por ação de micro-organismos, provocam poluição nos continentes, nos rios e
até mesmo nos oceanos, nos quais muitas vezes são despejados. Além disso, podem apresentar toxidade, quando
utilizados em embalagens, ou durante o processo de fabricação.
Embora tenha provocado transformações e avanços tecnológicos e sociais jamais vistos em toda a história, propiciando
bem-estar e enriquecimento, a atividade industrial também deixou à margem do progresso e do bem-estar milhões e
milhões de pessoas, além, é claro, de provocar danos praticamente irreparáveis à natureza e à humanidade.

5.8 - Cenários regionais


Os Estados Unidos, o Japão e a União Européia são as principais potências industriais da atualidade. Em cada uma
delas, a herança das velhas aglomerações industriais e o impacto das mudanças tecnológicas produziram paisagens
industriais características. A Comunidade de Estados Independentes (CEI) e a China, que também vêm se firmando
como grandes exportadores de produtos industrializados, integram-se ao mercado mundial a partir de trajetórias muito
diferentes.

5.8.1 - Estados Unidos: a reorganização territorial da indústria


A industrialização estadunidense começou na porção Nordeste do país, onde se desenvolveram as indústrias de
consumo da Nova Inglaterra, impulsionadas pelos centros comerciais e bancários do Atlântico, como Nova York e
Boston. Mas, desde o fim da Guerra Civil (1861-1865), o eixo industrial passou a se deslocar para o interior, na direção
das bacias carboníferas dos Montes Apalaches e das cidades da região dos Grandes Lagos.
Nas últimas décadas do século XIX, emergiu uma estrutura espacial centralizada por um vasto e nítido polo industrial:
o Manufacturing Belt, ou Cinturão Fabril, no Nordeste e Grandes Lagos. Nessas áreas desenvolveram-se as indústrias
de bens de produção, baseadas no carvão e minério de ferro, e nasceu a indústria automobilística. A navegação através
do Rio São Lourenço foi interligada por grandes obras de engenharia ao sistema lacustre, abrindo toda a região às
embarcações que cruzavam o Oceano Atlântico. Os centros siderúrgicos de Chicago e Pittsburgh se integraram à
indústria mecânica, concentrada em Detroit. Logo, essa área passou a representar cerca de três quartos da produção
industrial nacional.
Após a Segunda Guerra Mundial, um conjunto de fatores contribuiu para abalar a supremacia industrial do
Manufacturing Belt. Um volume crescente de investimentos industriais passou a se dirigir para o sul e para o oeste; a
política de construção de estradas de rodagem e os programas de desenvolvimento nas bacias dos rios Tennessee e
Colúmbia dinamizaram novas áreas; os campos petrolíferos do Golfo do México e da Califórnia, com produção
crescente, atraíram mais investimentos; e a reconstrução econômica do Japão, por seu turno, despertou o interesse
comercial pela Bacia do Pacífico e, portanto, pela costa oeste.
Essas transformações originaram o chamado Sun Belt, o Cinturão do Sol, que abrange as variadas novas áreas
emergentes do sul e do oeste. O dinamismo econômico dessas áreas contrasta com a estagnação ou mesmo regressão
do Manufacturing Belt. As indústrias siderúrgicas implantadas no pós-guerra foram atraídas pelas reservas de ferro e
carvão de Birmingham, no estado do Alabama, ou para a região de Los Angeles, na costa do Pacífico, onde a sucata
é utilizada como matéria-prima. A metalurgia de não-ferrosos beneficiou-se das vastas reservas de cobre, chumbo,
níquel e outros minerais da área das Montanhas Rochosas, na região de Salt Lake City.
A indústria mecânica também desconcentrou-se, buscando localizações no sul e no oeste, onde a força das
organizações sindicais é menor. Os centros aeronáuticos e espaciais, muito ligados ao esforço armamentista,
implantaram-se em pontos diversos do território.

Porém, foi a indústria de alta tecnologia que representou o setor mais importante para o crescimento do Sun Belt. As
indústrias desse grupo caracterizam-se por não serem dependentes de fontes de matérias-primas pesadas. Os
produtos finais têm elevado valor unitário, o que reduz a importância dos custos de transporte. Por outro lado, a força
de trabalho científica e técnica altamente qualificada e intensos investimentos de capital constituem as exigências
cruciais para o sucesso desses empreendimentos. Assim, uma grande variedade de novas localizações, distantes das
regiões tradicionais, passou a abrigar centros empresariais de alta tecnologia.
A eletrônica e a informática oferecem um bom exemplo dessas novas localizações. Na Califórnia, formou-se o célebre
Vale do Silício. A concentração industrial estrutura-se em torno da Baía de San Francisco, num conjunto de pequenas
localidades onde estão centenas de empresas que produzem computadores (como a Apple e a Hewlett Packard) e
softwares para a internet. A Universidade de Stanford forma grande parte dos quadros científicos e técnicos que atuam
nessas empresas. No Texas, as cidades de Dallas, Houston e Austin tornaram-se centros emergentes.

5.8.2 - Japão: a desconcentração industrial


Desde as últimas décadas do século XIX, a
expansão industrial no Japão foi fortemente
concentrada nas cidades da Costa do
Pacífico. Como o país praticamente não
dispõe de reservas de carvão ou de minério
de ferro, a siderurgia japonesa sempre
apresentou um padrão portuário de
localização, pois é por via marítima que
chegam os insumos importados. Ao redor
dos grandes centros siderúrgicos,
desenvolveram-se vastos distritos industriais.
Após a Segunda Guerra Mundial, a
reconstrução industrial conservou o padrão
tradicional de concentração espacial. Novos
e importantes polos petroquímicos foram
construídos junto aos portos. Os centros
urbanos de Tóquio, Yokohama, Osaka,
Nagoya, Kobe e Kyoto funcionaram como
ímãs para as indústrias de bens de consumo
em ascensão no país.
As deseconomias de aglomeração tornaram-se nítidas a partir da década de 1970. Os "choques" do petróleo e a
elevação gradual da remuneração da mão-de-obra refletiram-se nos custos de produção, já fortemente pressionados
pelo crescimento vertiginoso dos preços de terrenos e de aluguéis. O padrão locacional da indústria japonesa entrou
então em uma encruzilhada - e a desconcentração transformou-se em estratégia para a recuperação da
competitividade.
Nesse contexto, centenas de empresas japonesas tomaram o rumo do exterior, procurando localizações fora do
arquipélago. Os países da orla da Ásia e do Pacífico tornaram-se áreas receptoras de investimentos diretos japoneses,
que lá encontraram custos mais baixos de força de trabalho e de terrenos.
Além disso, o governo japonês passou a incentivar a desconcentração industrial no interior do arquipélago financiando
a implantação de diversos tecnopolos fora das regiões industriais tradicionais. Programas de investimentos públicos
em infraestruturas portuárias, de transporte e de comunicação foram concebidos para tornar novas áreas atrativas aos
estabelecimentos industriais. A ilha de Hokkaido, o leste da ilha de Honshu, e as cidades portuárias das ilhas de Kyushu
e Shikoku transformaram-se em polos industriais. Observe a figura abaixo.

5.8.3 - União Europeia: rumo à integração industrial?


A Europa foi o berço das primeiras grandes aglomerações industriais do planeta, na maioria polarizadas pela presença
de complexos siderúrgicos. Na pioneira Grã-Bretanha, a siderurgia assentou-se sobre as reservas de hulha do Black
Country (Birmingham), do País de Gales e do sul da Escócia.
Na Alemanha, o Vale do Rio Ruhr tornou-se a maior região siderúrgica da Europa. A hulha do Ruhr e das reservas
menores na Bélgica abastecia também as indústrias francesas, através do sistema fluvial do Rio Reno e de seus
afluentes. Essa integração industrial franco-alemã transformou as ricas regiões da fronteira em foco de disputas
geopolíticas e militares, que se estenderam do século XIX à Segunda Guerra Mundial. No pós-guerra, o tratado da
Comunidade Européia do Carvão e do Aço (Ceca) transformou a disputa em colaboração ativa, unificando fretes e
tarifas em toda a bacia do Rio Reno.
Entretanto, apesar da integração precoce de parte da siderurgia, a lógica das economias nacionais é que presidiu a
implantação da atividade industrial no continente.
Cada país tinha seu mercado, delimitado e regulado por uma moeda nacional, no interior do qual as empresas traçavam
suas estratégias de localização.
Assim, diversos setores industriais europeus desenvolveram estruturas paralelas. Não existe, por exemplo, uma
indústria automobilística europeia, mas sim indústrias automobilísticas francesas, alemãs e italianas. A localização das
sedes e das unidades produtivas dessas empresas foi escolhida em função de fatores internos a cada um desses
países. É por isso que é muito difícil comparar o espaço industrial da União Européia com o dos Estados Unidos, apesar
de se tratar de economias de dimensões similares. A produção do espaço industrial estadunidense se deu no interior
de um único mercado nacional, regulado por uma única moeda - o dólar.

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Na Alemanha, principal potência econômica da União Européia, o complexo industrial do Reno-Ruhr continua a ocupar
lugar de destaque, mas existem muitos outros polos industriais importantes, comandados principalmente pelas
indústrias mecânicas, químicas e eletrônicas.
Na França, os principais centros industriais desses mesmos setores espalham-se no centro-norte do país, destacando-
se a região parisiense, a Alsácia-Lorena e a região da cidade de Lion.
Na Grã-Bretanha, grande parte dos novos investimentos se direciona para a região de Londres, que concentra
indústrias químicas e mecânicas. As velhas regiões industriais carboníferas, por sua vez, há décadas enfrentam um
quadro de crise econômica e social generalizada. Na Itália, os centros industriais mais importantes, ligados
principalmente à siderurgia e às indústrias mecânicas, situam-se em Turim, Milão e Gênova, no norte do país.
O aprofundamento da integração econômica entre os países da União Européia, coroado em janeiro de 1999 com a
adoção de uma moeda única - o euro -, abriu o caminho para uma profunda reorganização espacial da indústria
européia. Contando com um espaço monetário unificado, as empresas e os setores industriais tendem a traçar suas
estratégias locacionais visando o conjunto do mercado europeu. Os processos de fusão entre empresas, de eliminação
de unidades produtivas redundantes e de mudança de localização de fábricas refletem as necessidades geradas pela
concorrência em escala européia.
A integração também parece ser o caminho da indústria de alta tecnologia. Com a criação de grandes consórcios de
pesquisa e desenvolvimento, as empresas européias buscam enfrentar a concorrência com o Japão e os Estados
Unidos. A indústria aeronáutica ilustra esse fenômeno, tal como mostra o caso da Airbus.

5.8.4 - CEI: da desconcentração estratégica ao modelo exportador


Na antiga União Soviética, o processo de industrialização foi marcado pelo controle estatal sobre os meios de produção
e pelo planejamento centralizado. Nesse caso, as estratégias de localização industrial não derivaram de fatores
econômicos; elas resultaram de escolhas políticas.
Dispondo de imensas reservas de carvão, petróleo e minérios nos Montes Urais, na Ásia Central e na Sibéria ocidental,
o Estado investiu intensamente na criação de regiões industriais dispersas, associadas aos recursos naturais. Essa
dispersão funcionava como uma medida de segurança, tornando a indústria soviética menos vulnerável na hipótese de
uma guerra.
Assim, a indústria de base do país desenvolveu-se em cinturões sucessivos, ao longo do traçado da Ferrovia
Transiberiana. Cada um desses cinturões organiza-se em torno de um polo produtivo de grandes dimensões, nucleado
por algumas usinas gigantescas. A indústria de bens de consumo, que jamais conheceu um grande desenvolvimento,
apresenta maior difusão espacial e atende aos mercados locais.
Quando a União Soviética deixou de existir, a indústria pesada (que transforma produtos brutos em semi-elaborados)
enfrentava problemas agudos de defasagem tecnológica. O vasto processo de privatização das empresas estatais
implicou o fechamento de unidades
produtivas obsoletas, com queda abrupta da
produção, do emprego e do PIB.
Mas, no contexto da implantação da
economia de mercado na área da CEI, o
setor industrial representa forte atrativo para
as corporações transnacionais. A indústria
pesada está assentada sobre ampla base de
recursos naturais, dispõe de mão-de-obra
qualificada e opera com baixos custos de
trabalho. Essas vantagens comparativas
fundamentam o novo modelo exportador que
se consolida na Rússia, principal herdeira da
indústria pesada soviética, e mais
lentamente em algumas outras repúblicas da
CEI.
O setor energético está no centro da
reconversão da economia russa.
Atualmente, a exportação de produtos
primários - principalmente petróleo bruto e
gás natural- representa mais de 40% do
total, e as manufaturas básicas - o aço, o
alumínio e os produtos da indústria mineral-
equivalem a cerca de 30% das vendas externas totais.

5.8.5 - China: uma nova potência industrial


A China se tornou uma potência industrial e exportadora nos últimos decênios. A política de liberalização e abertura
econômica lançada em 1978 abriu o país para os investimentos estrangeiros.
As vantagens concedidas pelo governo às companhias transnacionais e a mão-de-obra barata abundante
transformaram o país em uma das mais importantes plataformas de exportação de bens de consumo do mundo, em
especial nos setores intensivos em mão-de-obra, tais como têxteis e de brinquedos. A participação do país no comércio
mundial passou de menos de 1 % em 1973 para perto de 8% em 2006. A concorrência com os produtos chineses vem
provocando falências generalizadas em vastas regiões industriais do mundo subdesenvolvido.
A internacionalização da economia acelerou as transformações estruturais no espaço chinês, aprofundando as
diferenças de renda entre a cidade e o campo e entre a indústria e a agricultura. O ponto de partida das reformas
industriais foi a criação das Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), em 1984, que funcionam como verdadeiros enclaves
econômicos internacionalizados. As empresas instaladas em ZEEs beneficiam-se de legislação especial. A maioria
desses enclaves situa-se em cidades do litoral sudeste ou em polos urbanos dos vales dos rios Yang-Tsé e Huang-Ho.
O litoral, onde se concentram as principais cidades, configura-se como espaço econômico internacionalizado. O
dinamismo econômico dessa faixa, onde a renda per capita é mais elevada, difunde-se aos poucos e através dos vales
fluviais para o cinturão agrícola interior. Nessas províncias essencialmente rurais, a agricultura percorre uma trajetória
desigual de modernização e libera numeroso contingente de trabalhadores para o litoral industrializado. As estimativas
indicam que mais de 100 milhões de pessoas estão em permanente migração na China, constituindo força de trabalho
temporária nos polos urbanos e industriais.
A indústria pesada, por sua vez, concentra-se na Manchúria, que dispõe de vastas reservas de carvão mineral e
importantes jazidas de ferro. O complexo estatal de indústrias de base instalado nessa região garante ao país o primeiro
lugar na produção mundial de aço. Contudo, essa área sofre de problemas estruturais de defasagem tecnológica.

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6. BRASIL: MODELO ECONÔMICO, DINÂMICAS TERRITORIAIS E ESPAÇO INDUSTRIAL

6.1 - As regiões brasileiras


A colonização portuguesa deixou
heranças na ocupação e construção do
território brasileiro. A integração entre as
diversas regiões foi feita
gradativamente, conforme estudaremos
ao longo deste capítulo.
O IBGE é o órgão responsável pela
elaboração da divisão regional ou
regionalização oficial do território
brasileiro. Trata-se de uma ordenação
ou classificação que agrupa unidades
com características semelhantes, a
partir de determinados critérios.
Essa divisão tem, entre outras
finalidades, a agregação e a divulgação
de dados estatísticos que facilitem o
planejamento, a integração nacional e a
redução das desigualdades entre as
regiões do Brasil.
Neste capítulo iremos estudar a
formação econômica e a ocupação
regional do Brasil. Para tanto, vamos
inicialmente conhecer algumas das
regionalizações oficiais propostas pelo
IBGE.
A primeira divisão regional do Brasil, elaborada pelo IBGE, data de 1942. Nessa divisão, as unidades federadas foram
agrupadas em macro-regiões.
Em 1970, uma nova divisão oficial definiu as regiões Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste, compondo uma
regionalização bem semelhante àquela que vigora nos dias atuais. Na regionalização de 1980, a região Centro-Oeste
ganhou o novo estado de Mato Grosso do Sul. Em 1988, com o desmembramento de Goiás, o recém-criado estado de
Tocantins passou a integrar a Região Norte. Observe os mapas abaixo.

6.2 - A economia agroexportadora e a organização do espaço

6.2.1 - Séculos XVI e XVII: a cana-de-açúcar


A exploração da colônia portuguesa na América iniciou-se com a coleta de pau-brasil, árvore da qual se extraía uma
tintura vermelha (para o tingimento de tecidos) de grande valor na Europa. A intensa exploração de pau-brasil ocasionou
a destruição de parte da Mata Atlântica (floresta que cobria quase toda a faixa litorânea) e provocou a escassez dessa
madeira, tornando a sua extração antieconômica.
A efetiva ocupação do território foi feita a partir de grandes empreendimentos agrícolas: as plantations, caracterizadas
pela monocultura (cultivo de um só produto) em grandes extensões de terra. Nessa fase da colonização, os portugueses
optaram pelo cultivo da cana, para produção e exportação de açúcar. Esse produto tinha grande valor de mercado e
os portugueses já dominavam seu cultivo, praticado em colônias situadas em ilhas do Oceano Atlântico. Por ocupar
grandes áreas, essa atividade provocou desmatamento e devastação das florestas próximas ao litoral. Constituiu-se,
assim, um modelo agroexportador (modalidade de agricultura voltada para a exportação).
A produção agrícola em grande escala necessitava de muita mão-de-obra. Inicialmente os indígenas aprisionados
trabalhavam nas lavouras. Porém, a caça e a escravização desses povos não era um negócio lucrativo para a
metrópole. Essa é uma das explicações para o envolvimento dos portugueses com um novo comércio regularmente
organizado e altamente lucrativo: o de pessoas escravizadas trazidas da África.
Para o continente africano, as consequências do tráfico negreiro foram desastrosas: milhões de mulheres, crianças e
homens africanos foram perseguidos e arrancados de seus territórios e casas e trazidos à força para o continente
americano. Os africanos que se aliavam com os colonizadores passavam a se especializar na caça de pessoas para
escravizar em troca de algumas mercadorias. Rivalidades acentuadas pelo colonizador com o infame comércio de
seres humanos fizeram com que diversos povos se voltassem uns contra os outros e reinos inteiros fossem destruídos.
As relações sociais e a organização tradicional de centenas de povos foram desestruturadas, e ecos dessas rivalidades
repercutem até a atualidade.
A economia colonial-escravista necessitava também de
capitais e tecnologia, empreendimento garantido pela
associação dos portugueses com os holandeses, que
refinavam e comercializavam o açúcar. Vamos analisar
o mapa ao lado e interpretar o conteúdo a seguir.
Durante os séculos XVI e XVII, o nordeste do território
colonial era a principal área de cultivo de cana. O plantio
da cana e a produção do açúcar eram feitos no engenho,
o conjunto de terras que incluía as áreas de cultivo, a
casa do dono, a habitação dos escravizados (senzala),
o local de produção do melaço e uma capela. Outras
atividades econômicas foram implantadas nesse
período. Entre elas, destacam-se a criação de gado e as
lavouras de algodão e de fumo, no sertão, além de
culturas de subsistência, destinadas à produção dos
alimentos consumidos nos engenhos e nos centros
urbanos.
A monocultura canavieira continuou a predominar na
economia dessa região. Entretanto, outras atividades
econômicas importantes se sucederam na história da América portuguesa, como a mineração (século XVIII, na região
das Minas Gerais) e o café (meados do século XIX, no sudeste do território). O trabalho de escravizados foi utilizado
legalmente durante todo o período colonial, perdurou após a independência, durante o período imperial, e só foi abolido
no final do século XIX, pouco antes da proclamação da República.
A busca de metais e pedras preciosas foi um dos fatores que impulsionou a expansão do território colonial português.
Contudo, foi somente no final do século XVII que os bandeirantes paulistas fizeram as primeiras descobertas de ouro,
na atual região de Minas Gerais. Houve uma verdadeira corrida do ouro para essa região, atraindo colonos brasileiros
e portugueses e resultando na fundação de novos povoados e vilas.
A atividade mineradora entrou em declínio na segunda metade do século XVIII. Antes disso, porém, ela acarretou
modificações importantes na organização do espaço brasileiro. Entre elas, destacam-se a formação de um mercado
interno e o efetivo povoamento e urbanização de determinadas áreas do interior da América portuguesa.
O trabalho de escravizados continuou a ser a base da geração de riquezas e suas condições de vida eram ainda mais
precárias do que nos engenhos. No entanto, houve um aumento do número de escravizados que conseguiram alforria,
comprando sua liberdade ou recebendo-a em troca da descoberta de minerais preciosos.
A economia colonial, até então constituída por núcleos econômicos dispersos e isolados, começou a se interligar devido
à atividade mineradora.
Apesar do ouro e dos diamantes retirados da região das minas, poucas pessoas fizeram fortuna e mesmo estas muitas
vezes acabavam se endividando. Grande parte das riquezas minerais extraídas na colônia foi enviada a Portugal e
utilizada para pagar dívidas que esse país tinha com a Inglaterra. Enquanto isso, a maioria da população era pobre e
passava privações devido à carestia de alimentos. Afinal, como vimos no mapa, quase tudo que era consumido era
importado de outras regiões.

6.2.2 - Século XIX: na rota do café


Com a decadência do rendimento das minas, a partir de 1750, a agricultura novamente se tornou a atividade econômica
mais importante do território colonial. O cultivo de café já existia desde o século XVIII, em Belém, no Pará, e no Rio de
Janeiro. Mas foi na primeira metade do século XIX que esse produto foi plantado no Vale do Paraíba, entre São Paulo
e Rio de Janeiro.
Essa nova atividade econômica deslocou o eixo da economia para o sudeste do território colonial. Essa área desfrutava
de condições de clima e relevo adequadas para o cultivo do café, mão-de-obra escravizada proveniente da região das
minas, vias de transporte e portos implantados desde a época da mineração, entre outros fatores.

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Cultivado para exportação principalmente em grandes latifúndios (extensas propriedades rurais) e com técnicas
tradicionais, o café acarretava o esgotamento dos solos. Esse fato
levava os agricultores a procurarem novas terras. Na segunda
metade do século XIX, o café já estava sendo cultivado nas terras
roxas (solo fértil de origem vulcânica) do oeste paulista e
expandindo-se também para o Paraná.
Com a abolição da escravatura, a partir do final do século XIX a
mão-de-obra escravizada utilizada no início do ciclo do café foi
substituída pela mão-de-obra assalariada de imigrantes
europeus.
O café também causou profundas modificações na organização
do espaço brasileiro. Parte do capital proveniente da atividade
cafeeira ajudou a financiar as indústrias alimentícia e têxtil. O
desenvolvimento da cafeicultura também foi responsável por
investimentos em equipamentos urbanos, tais como serviços
públicos de iluminação nas capitais e principais cidades, pela
expansão de uma infra-estrutura de transporte, tais como
ferrovias e portos, pela construção de usinas hidrelétricas etc.
Mas, sobretudo, a expansão cafeeira, em sua marcha em busca
de terras férteis, provocou o desmatamento de extensas áreas
antes recobertas pela Mata Atlântica.
No final do século XIX, a produção cafeeira dominava a economia
e crescia juntamente com o aumento dos preços do café no
mercado internacional.
No início do século XX, outros países já haviam ampliado a sua
participação no mercado mundial do café. Safras recordes do
produto fizeram os preços caírem e obrigaram o governo a tomar
medidas de contenção das plantações e de retirada de parte do
produto do mercado, com a finalidade de elevar os preços.
A economia agroexportadora, assentada principalmente na monocultura cafeeira, deixava o país na dependência do
mercado externo. A depressão econômica de 1929 ocasionou queda acentuada dos preços e nas exportações de café
e provocou uma grande crise no Brasil.
No final do século XIX, também faziam parte da economia agro-exportadora outros produtos, tais como o cacau
produzido no litoral da então província da Bahia e a produção de cana-de-açúcar, que continuava importante. Além
disso, havia também extração de borracha nas seringueiras da Amazônia.

6.2.3 - A economia urbano-industrial


A crise mundial de 1929 forçou o país a buscar novos rumos para a sua economia. Desde o século XIX já haviam
surgido pequenas fábricas no Brasil, principalmente têxteis.
O capital gerado pela cafeicultura foi empregado em grande parte na criação de uma infra-estrutura que facilitou as
atividades urbanas (comércio, bancos, portos, casas de exportação).
A construção de vias e meios de transporte (ferrovias, bondes urbanos) e a produção de eletricidade para iluminar as
cidades foram dois fatores importantes no desenvolvimento da industrialização brasileira. O primeiro fator possibilitou
o escoamento de produtos e o segundo foi utilizado também para acionar as primeiras máquinas elétricas.
A população urbana cresceu, fruto da melhoria das condições de vida nas cidades e do êxodo rural (fluxo da população
das áreas rurais para as urbanas) provocado pelas crises do café.
A chegada de imigrantes trazia para as cidades uma mão-de-obra relativamente qualificada para o trabalho assalariado
fabril. Formava-se, assim, uma parcela da população pronta para o consumo e, portanto, um mercado interno.
Com os países europeus envolvidos na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), algumas indústrias brasileiras puderam
exportar seus produtos (principalmente alimentos e matérias-primas), fato que estimulou uma industrialização
embrionária.
No entanto, ainda faltavam capitais e um mercado consumidor de dimensões nacionais, já que este se concentrava no
sudeste e as demais regiões apresentavam crescimento lento ou estagnado.
Foi somente a partir da década de 1930 que o Brasil alcançou um nível de crescimento em bases mais modernas,
ultrapassando o modelo agroexportador e voltando-se para o mercado interno.
Os recursos minerais e a existência de estradas de ferro foram importantes para o desenvolvimento industrial do país.
No entanto, o crescimento industrial inicial se deu de forma concentrada, com grande destaque para o sudeste do país.
A partir da cafeicultura e do início da industrialização, o Brasil vinculou-se a novos parceiros comerciais. Principalmente
após a Segunda Guerra Mundial, diversas empresas estrangeiras se instalaram no Brasil. Foram as chamadas
multinacionais, ou melhor, transnacionais - pois, apesar de ultrapassarem as fronteiras nacionais, elas têm pátria
definida, a de origem do capital. Nessa
época, essas corporações se espalharam
por diversos países. Passaram a transferir
não apenas seus produtos, mas também
algumas de suas unidades produtoras
(suas fábricas) em busca de mercados e
de matérias-primas mais baratas e
abundantes.
A industrialização também provocou
mudanças socioespaciais no Brasil.
Vejamos algumas delas:
• O comércio, antes limitado às regiões
centrais de cada atividade econômica e à
sua área de influência, foi aos poucos se ampliando para o nível inter-regional, constituindo um mercado nacional.
• Desenvolveu-se uma infra-estrutura, principalmente nos setores de transportes, energia e comunicações, que
proporcionou maior grau de integração entre as diversas regiões do país.
• Aumentou a população das cidades e ampliou-se o espaço físico urbano. As indústrias se desenvolveram nas cidades,
pois estas ofereciam concentração de mão-de-obra e de capitais, infra-estrutura, comércio e outros serviços.
Formava-se, assim, uma parcela da população pronta para um novo modelo de produção baseado na indústria e nas
cidades.

6.3 - Do arquipélago econômico à economia nacional


Até o início do século XX, o território brasileiro funcionava como um arquipélago econômico. Essa denominação se
refere à fragmentação espacial das atividades econômicas, organizadas em torno de um polo ou de uma região isolada,
quase autônoma, e de seu produto de exportação. Nessa situação as economias regionais estavam pouco articuladas.
Como exemplos podemos citar a economia açucareira do nordeste, a coleta de drogas do sertão e a extração de
borracha, no norte, e o café, no sudeste.
A estrutura de arquipélago foi sendo progressivamente superada pela formação de uma economia nacional integrada.
A integração territorial e econômica do país foi, em grande parte, resultante dos seguintes fatores:
• políticas de industrialização implementadas na década de 1930;
• expansão dos investimentos estrangeiros, que passaram a formar redes de alcance nacional;
• incremento das trocas comerciais entre as regiões.
Ainda no final do século XIX e início do século XX, outras atividades econômicas foram responsáveis pela expansão e
povoamento de áreas ainda pouco integradas ao território. Podemos citar como exemplos:
• a extração da borracha na floresta amazônica e a conseqüente ocupação dessa área (principalmente por nordestinos);
• a expansão das plantações de café e as frentes pioneiras (avanço de colonizadores) para o oeste paulista, o norte do
Paraná e o sul do Mato Grosso do Sul;
• a política de interiorização do desenvolvimento (década de 1940 e 1950), que resultou na construção e na
transferência da capital do país para Brasília (1960) e a política de integração nacional (década de 1970), que atraiu
novos habitantes para o Centro-Oeste.
Esses movimentos, conhecidos como marcha para o oeste, contaram também com a construção de novas vias de
acesso, investimentos em infra-estrutura, tais como a construção de hidrelétricas, e incentivos a grandes projetos
agropecuários e de extrativismo.

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6.3.1 - A integração econômica

A organização atual do espaço brasileiro ainda guarda heranças das diversas atividades econômicas que se sucederam
na história do país. Muitas áreas se desestruturaram com o declínio dessas atividades, gerando desequilíbrios
regionais. Observe a figura seguinte para compreender melhor a evolução dessa integração econômica, desde o final
do século XIX.
A partir de meados do século XX, acentuaram-se os investimentos em infra-estrutura e incentivos do governo ao
desenvolvimento regional, tendo como objetivo a reativação econômica de regiões estagnadas e a desconcentração
de atividades industriais, agropecuárias e de serviços.
Com a industrialização, a diversificação produtiva e a integração de mercados, ocorrida principalmente no século XX,
houve maior integração entre os diversos pólos produtivos existentes. A economia brasileira passou a ter alcance
nacional. No entanto, as principais atividades econômicas ainda se
concentram no sudeste e no sul do território.
No Brasil, desde a segunda metade do século XX, não só as atividades
econômicas se diversificaram, mas também foram ampliadas as redes
de relações entre elas e as zonas de influência dos principais pólos
econômicos. O país assumia a atual feição urbano-industrial.

6.3.2 - As regiões geoeconômicas


Essa nova realidade geoeconômica suscitou uma proposta de divisão
regional diferente daquela proposta pelo IBGE. Essa proposta (não-
oficial), formulada pelo geógrafo Pedro Pinchas Geiger em 1967,
divide o Brasil em três grandes unidades, as regiões geoeconômicas
ou complexos regionais, que refletem os arranjos espaciais resultantes
da industrialização do país.
As três regiões são: Centro-Sul Nordeste e Amazônia. Na época em
que essa proposta foi formulada, o Centro-Sul despontava como
núcleo dinâmico da economia brasileira, tanto na agricultura como na
indústria e nos serviços urbanos. O complexo regional nordestino
destacava-se pela disseminação da pobreza e pelas correntes
migratórias que deixavam a região. A Amazônia, por sua vez, era uma
região fracamente povoada que apenas começava a ser incorporada ao conjunto da economia nacional.
Como as características geoeconômicas muitas vezes ultrapassam os limites dos estados, alguns territórios estaduais
são cortados pelo limite entre duas regiões geoeconômicas diferentes.

6.4 - Globalização e território brasileiro.


6.4.1 - Modelo econômico e políticas industriais.
O processo de globalização repercutiu fortemente na economia e na geografia do Brasil, a partir da década de 1980.
Até então, o modelo econômico nacional era baseado na forte presença do Estado na economia e na manutenção de
barreiras alfandegárias que protegiam a indústria instalada no Brasil frente às suas concorrentes no mercado mundial.
Esse modelo, responsável pelo surgimento de uma economia de tipo urbano-industrial no país, ficou conhecido pelo
nome de substituição de importações. Ele foi assim denominado por que o governo federal buscava criar condições
para que os mais diversos setores industriais fossem instalados no Brasil, passando a produzir internamente
mercadorias que antes eram importadas.
Como resultado, entre o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e o início da década de 1970, o Brasil foi uma
das economias que mais cresceram no mundo: em torno de 7% ao ano. No início da década de 1980, o Brasil
apresentava uma estrutura econômica complexa, na qual se destacavam um parque industrial amplo e diversificado,
um espaço nacional integrado e um elevado grau de urbanização. É bem verdade que a renda nacional sempre esteve
fortemente concentrada durante todo esse período e, por isso mesmo, a maior parte dos brasileiros não usufruiu dos
benefícios do crescimento da economia.
Para entender melhor o impacto da globalização sobre o padrão de desenvolvimento nacional vigente até a década de
1980, é preciso estudar um pouco mais as diferentes etapas de implantação do processo de substituição de
importações e o seu funcionamento.

6.4.2 - Do desenvolvimentismo à tríplice aliança


O processo de substituição de importação se iniciou de fato na década de 1930, quando Getúlio Vargas chegou ao
poder com uma plataforma política claramente desenvolvimentista, ou seja, que privilegiava a criação de um ambiente
propício à modernização do país pela via da industrialização.
Nessa época, uma parte importante do dinheiro acumulado com as vendas de café no mercado internacional passou a
ser direcionada para o desenvolvimento da indústria, por meio da importação de máquinas e equipamentos necessários
para a ampliação do parque fabril, principalmente no setor de bens de consumo não-duráveis. Além disso, o governo
passou a investir pesadamente na produção de matérias-primas industriais (tais como o aço) e na geração de energia,
tornando o Brasil cada vez mais atraente para o capital industrial.
Após a Segunda Guerra Mundial, as grandes corporações transnacionais passaram a abrir filiais no Brasil e a produzir
internamente os bens de consumo duráveis que, até então, o país precisava comprar no mercado internacional.
Com o crescimento acelerado da produção industrial interna, o modelo de substituição de importações atingiu uma
nova etapa e o Brasil finalmente se tornou um país industrializado. Mas o papel do Estado continuou a ser fundamental,
tanto na produção de matérias-primas básicas quanto na geração de infra-estrutura. Os investimentos estatais se
direcionavam para a produção de aço e de energia, mas também para a abertura de novas estradas que facilitassem
a integração do mercado interno.
Durante os governos militares (1964-1985), o padrão de desenvolvimento conhecido como substituição de importações
ainda ditava os rumos da política industrial brasileira. Sendo assim, a indústria doméstica continuava protegida da
concorrência internacional pelas elevadas tarifas de importação.
Nesse período, a estrutura produtiva passou a ser dominada por três grandes agentes, sendo por isso conhecida como
tríplice aliança. Esses agentes eram: o capital estatal, o capital privado nacional e o capital transnacional.
O capital estatal era dominante nos setores de infra-estrutura e de bens de produção, tais como siderurgia, indústria
química, mineração, energia e telecomunicações. Durante o governo militar, surgiram imensas companhias estatais
que controlavam setores estratégicos da indústria e da economia brasileira, tais com a Siderbras (na siderurgia), a
Eletrobrás (na geração de eletricidade) e a Telebrás (telecomunicações).
O capital privado nacional dominava sobretudo o setor de bens de consumo não-duráveis, tais como têxteis, alimentos
e calçados, que exigiam menores investimentos em tecnologia. Em alguns setores, o capital nacional se integrava ao
circuito produtivo dos grandes conglomerados internacionais. É o caso, por exemplo, da produção de autopeças, que
abastecia as montadoras automobilísticas instaladas no país.
As empresas transnacionais destacavam-se principalmente no setor de bens de consumo duráveis. O setor
automobilístico foi o grande destaque do período, acompanhado de perto pelo setor de eletrodomésticos. As empresas
transnacionais eram os principais compradores dos bens de produção e da energia produzidos pelo capital estatal.
Essa estrutura em tripé garantiu elevadas taxas de crescimento, em especial durante os anos do chamado milagre
econômico (1967-1973), nos quais a economia brasileira cresceu a taxas médias anuais de 10%! Mas, como vimos,
apenas uma minoria dos brasileiros, formada pelas elites e pelas camadas médias urbanas, conheceu os benefícios
desse crescimento, sob a forma de uma ampliação inédita da capacidade de consumo. Para o resto da população,
sobrou apenas o trabalho duro e mal remunerado, além da oferta de serviços públicos bastante ineficientes em áreas
essenciais como saúde e educação.

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6.4.3 - Endividamento e crise econômica
O padrão de desenvolvimento nacional conhecido como substituição de importações alavancou o setor industrial não
apenas no Brasil mas também em outros países latino-americanos, como o México e a Argentina. No entanto, esse
modelo entrou em esgotamento na década de 1980, e a euforia do crescimento chegou ao fim. Dessa crise, emergiu o
padrão de desenvolvimento que até hoje comanda a economia brasileira.
Mudanças importantes no cenário internacional, tais como o
esgotamento dos mecanismos de financiamento externo
(essenciais para garantir os gastos do governo) e as crises do
petróleo contribuíram para o desgaste desse modelo. A
redução do principal fator de dinamismo - o investimento
público - aprofundou desequilíbrios internos como a inflação e
o desemprego.
Em 1973 ocorreu a primeira crise do petróleo. Os países
exportadores, reunidos na Opep, impuseram um embargo ao
fornecimento de petróleo para os Estados Unidos e a Europa.
Esse fato provocou uma recessão mundial. Durante o
embargo, o preço do produto quadruplicou.
O segundo "choque do petróleo", em 1979, elevou o preço do
produto a níveis recordes e agravou a recessão econômica mundial. A produção e a distribuição de petróleo foram
abaladas devido a uma revolução no Irã, segundo exportador mundial de petróleo.
No Brasil, acentuou-se a desestabilização econômica, expressa, sobretudo, pelo elevado endividamento externo. No
início da década de 1980, as taxas de juros dispararam no mercado internacional, e o volume de dinheiro que saía sob
a forma de pagamento de juros passou a ser muito maior do que aquele que entrava sob a forma de novos empréstimos.
Em outras palavras, as contas não fechavam.
O endividamento externo foi uma das principais causas da crise. Afinal, a maior parte dos investimentos realizados pelo
Estado era resultante de empréstimos tomados no mercado internacional. Assim, as grandes obras se transformaram
em uma imensa dívida externa.
Dessa maneira, o Estado perdeu a capacidade de continuar investindo na modernização industrial e mesmo de realizar
a manutenção necessária ao funcionamento dos setores sob o seu comando. O resultado foi quase imediato: as
estradas se deterioraram e se encheram de buracos, a oferta de energia permaneceu estagnada, as inovações
tecnológicas praticamente cessaram nas grandes empresas estatais. Por todas essas razões, a década de 1980 ficou
conhecida como a "década perdida", ou seja, uma década marcada pela desaceleração do crescimento da economia,
pela diminuição da oferta de empregos, pela escalada inflacionária e por graves crises sociais.

6.4.4 - Um novo modelo econômico: privatizações e liberalização


A "década perdida" refletiu o descompasso entre o padrão de desenvolvimento nacional e as mudanças na ordem
econômica global. A intensificação dos fluxos internacionais de capitais nos mercados financeiros e a abertura das
economias nacionais ao comércio global figuram entre os aspectos dessa mudança.
No Brasil, os governos Collor de Melo (1990-1992) e Itamar Franco (1992-1994) iniciaram a abertura da economia
nacional, eliminando parte das barreiras protecionistas que resguardavam a indústria doméstica. Em 1991 iniciou-se o
Programa Nacional de Desestatização, com grande participação de capitais provenientes dos Estados Unidos, da
Espanha e de Portugal.
Durante o primeiro mandato do presidente
Fernando Henrique Cardoso (1995-1998)
consolidou-se um novo modelo econômico,
assentado sobre as privatizações, a liberalização
da economia e a atração de investimentos
estrangeiros diretos.
Uma nova política monetária, expressa no Plano
Real, lançado em 1994, teve a finalidade de
estabilizar a economia nacional, interrompendo a
escalada inflacionária. Além disso, foram realizadas
uma série de reformas constitucionais e uma
política fiscal voltadas para equilibrar o orçamento
público. Para garantir a estabilidade da moeda, o
Estado deveria arrecadar mais e gastar menos.
A liberalização da economia expressou-se,
principalmente, na drástica redução do
protecionismo comercial. O aumento acelerado
das importações tinha como finalidade ampliar a
competitividade das indústrias instaladas no país
mediante a ampliação da concorrência externa.
Além disso, pretendia-se reduzir os custos de
importação de bens de capital e matérias-primas
industriais, criando condições favoráveis para os
novos investimentos estrangeiros na indústria.
Numa primeira etapa do programa de
privatizações, entre 1991 e 1993, foram vendidas
as grandes siderúrgicas estatais, como a
Usiminas, a CST, a CSN, a Cosipa e a Açominas.
Nessa etapa, o Estado se desfez também de
algumas importantes empresas químicas,
petroquímicas e de fertilizantes.
Numa segunda etapa, entre 1994 e 1998,

passaram para controle privado as malhas


ferroviárias regionais da antiga Rede Ferroviária
Federal (RFFSA) e a Embraer, maior empresa
brasileira do setor aeroespacial. Mas o marco dessa
etapa foi a privatização da Companhia do Vale do
Rio Doce (CVRD), uma das maiores empresas no
ramo da extração mineral.
No final da década da 1990, as privatizações
atingiram o setor das telecomunicações. As estatais
da telefonia foram divididas em empresas regionais
e vendidas em disputados leilões.
O programa de desestatização foi acompanhado
pela criação de agências de fiscalização das
empresas privadas que se tornaram
concessionárias de serviços públicos. Entre estas,
destacam-se aquelas que operam nos setores de
telecomunicações, de energia elétrica e petrolífera.
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)
tem a função de assegurar a realização de
concorrências no setor da telefonia e o cumprimento
dos compromissos contratuais de qualidade e universalização dos serviços.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) destina-se a supervisionar a geração e a distribuição de eletricidade.
A Agência Nacional do Petróleo (ANP) foi criada para coordenar a concessão de áreas para prospecção e exploração
do petróleo em território nacional. Embora a Petrobras não tenha sido privatizada, ela perdeu o monopólio sobre essas
atividades.
Assim, o Estado deixou de ser o condutor do crescimento econômico, transformando-se em agente regulador das
atividades econômicas privadas. Entretanto, o processo de privatização repercutiu em um aumento inédito nas tarifas
de serviços essenciais: em 1994, o gasto com as principais tarifas públicas correspondia a cerca de 10% da renda dos
trabalhadores brasileiros; em 2004, esse mesmo gasto consumia 23% da renda média.

6.5 - O sistema de transportes


O sistema de transportes constitui um elemento importante na economia nacional. Os custos de transporte incidem
sobre os custos das matérias-primas e dos produtos finais e, portanto, são um elemento determinante da
competitividade das mercadorias produzidas por um país nos mercados interno e externo.
Desse modo, sistemas de transportes caros e ineficientes limitam as localizações empresariais, tanto no campo quanto
nas cidades, e reduzem o potencial de geração de riquezas de toda a economia. Por outro lado, as redes de transportes
refletem os modelos econômicos e o padrão de inserção das economias nacionais no mercado global.

6.5.1 - O predomínio das ferrovias


As redes de transportes implantadas no Brasil nas últimas décadas do século XIX e no início do século XX, por exemplo,
refletiam as necessidades do modelo agroexportador. O transporte ferroviário dominava durante essa etapa.
O traçado das linhas ferroviárias regionais interligava as áreas produtoras de mercadorias primárias aos portos
exportadores. Assim, a principal malha regional foi implantada na região cafeeira paulista, que se abria em leque para
as terras do interior e se afunilava na direção do Porto de Santos .
Com a emergência da economia urbano-industrial, o transporte ferroviário entrou em decadência e teve início a
implantação de uma rede rodoviária de dimensões nacionais.

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6.5.2 - O Brasil rodoviário
Iniciada na década de 1930, essa nova política de transportes consolidou-se com a criação da Petrobras e o
desenvolvimento da indústria automobilística, na década de 1950.
O resultado dessa política foi à criação das grandes rodovias de integração nacional. As regiões Sul e Nordeste foram
interligadas à Região Sudeste através da BR-116 e da BR-
101. Nas décadas de 1950 e 1960, as capitais do Centro-
Oeste e Brasília foram conectadas ao Sudeste. Em
seguida, Brasília e Cuiabá tornaram-se os trampolins para
a integração da Amazônia, através da BR-153 (Belém-
Brasília) e da BR-364, que parte de Mato Grosso e abre
caminho para Rondônia e Acre.
Além disso, foram modernizadas e expandidas as ligações
viárias que servem aos principais eixos de circulação do
Sudeste, a região mais industrializada. Essa modernização
aconteceu sobretudo nas rodovias paulistas, tais como os
sistemas Anhanguera-Bandeirantes (entre São Paulo e
Campinas), Anchieta-Imigrantes (entre São Paulo e a
Baixada Santista) e Dutra-Ayrton Senna (entre São Paulo e
o Vale do Paraíba).

6.5.2.1 - Crise e privatização


Na década de 1980, a crise financeira do Estado brasileiro
comprometeu seriamente os investimentos em infra-
estrutura, atingindo em especial a malha rodoviária,
símbolo do Brasil industrial. A falta de recursos para
investimentos em construção e em manutenção acarretou um quadro de grave deterioração das estradas brasileiras.
Na década seguinte, no contexto do programa de desestatização, muitas rodovias passaram a ser administradas por
concessionários privados.

6.5.2.2 - A busca da integração


O novo modelo econômico brasileiro fundamenta-se na busca de maior integração aos fluxos da economia global.
Para tanto, uma nova política de transportes foi elaborada na década de 1990. O objetivo dessa política é aumentar a
eficiência geral da economia e elevar a competitividade das exportações por meio de empreendimentos privados, com
incentivos governamentais, em ferrovias e hidrovias.
Mas não se trata da substituição da prioridade
rodoviária pela ênfase nas ferrovias e hidrovias em um
sistema integrado entre os modos de transporte das
diferentes regiões brasileiras. O objetivo é aumentar a
inserção do país na economia globalizada.
Alguns dos mais importantes empreendimentos
destinam-se a facilitar o escoamento da produção
agropecuária do Centro-Oeste e da Amazônia
meridional. É o caso, por exemplo, da Ferronorte.
Observe que o centro e o sul do Mato Grosso do Sul já
estão conectados aos portos de Santos e Paranaguá
pelas ferrovias Noroeste do Brasil, Novoeste e
Ferropar. Os trilhos da Ferronorte já alcançaram o norte
do Mato Grosso do Sul e, numa segunda etapa, devem
chegar a Cuiabá e Porto Velho. De Porto Velho, as
mercadorias podem ser embarcadas na Hidrovia do
Madeira, chegar ao Rio Amazonas e, daí, ao Oceano
Atlântico. Além disso, existe o projeto de outro ramal,
entre Cuiabá e Santarém.
A Ferrovia Norte-Sul e a Hidrovia Araguaia-Tocantins são empreendimentos complementares, projetados para facilitar
o escoamento da produção agropecuária de uma vasta área que se estende pelo oeste baiano, Goiás, Tocantins e
nordeste de Mato Grosso. A estrada de ferro estará conectada às rodovias e ferrovias do Sudeste. Do outro lado, tanto
a ferrovia quanto a hidrovia interligam-se à Estrada de Ferro Carajás, que transporta minérios e grãos para o Porto de
Itaqui, no Maranhão.
O mais importante transporte fluvial no país é a Hidrovia Tietê-Paraná, que conecta as regiões Sul e Sudeste aos
vizinhos Argentina e Paraguai.
6.5.3 - Dos portos para o mundo
Os portos marítimos e fluviais com capacidade para receber embarcações de longo curso conectam o sistema nacional
de transportes ao mercado mundial. Do ponto de vista da movimentação de cargas, os maiores portos brasileiros são
dois grandes terminais exportadores de minérios e produtos siderúrgicos: Tubarão, no Espírito Santo, e Itaqui, no
Maranhão. No litoral do Sudeste encontra-se a maior concentração de portos de forte movimento.
Na Região Sul, destacam-se as exportações agropecuárias de Paranaguá e Rio Grande.
Os circuitos produtivos: o caso do mineiro de ferro
“A CVRD, fundada em 1942 como empresa pública, foi privatizada em 1997, apresentando atualmente a seguinte
composição acionária: CSN (26%), Banco Opportunity (17%), Nation Bank (9%), quatro fundos de pensão - Previ,
Petros, Funcep e Funcesp (39%) - e BNPESPar/InvestPar (9%). Grandes capitais financeiros são aplicados na
mineração, reforçando o seu poder de fazer política.
Na fase de distribuição e transporte [...], a CVRD sempre teve uma presença ativa. Desde a sua fundação ela se
projetou para o mercado externo e construiu seu próprio cais na baía de Vitória (ES). Hoje o Porto de Tubarão (ES) é
o porto mais especializado no Brasil em exportação de minério de ferro, totalmente automatizado e com equipamentos
de tecnologia avançada [...]. a CVRD controla também o Terminal de Ponta da Madeira, no Porto de Itaqui, em São
Luís (MA), que movimenta o ferro de Carajás. Ambos os portos estão ligados às jazidas de Minas Gerais e do Pará,
respectivamente, por ferrovias especializadas de uso privativo da empresa: a Estrada de Ferro Vitória-Minas e a Estrada
de Ferro Carajás [...].
Na fase do transporte marítimo, a CVRD é proprietária da Docenave, empresa com navios especializados para granéis
sólidos minerais. Essa empresa tem a maioria de sua frota mercante registrada na Libéria, em sua subsidiária Seamar
[...]. ela se encontra entre as dez principais companhias marítimas que participam das exportações brasileiras, sendo
apenas duas nacionais: a Docenave e a Fronape, na Petrobrás.”
ARROYO, Monica. Território brasileiro e mercado externo: uma leitura dessa relação na virada do século XX.
In: SOUZA, Maria Adélia A. de (Org.). Território brasileiro: usos e abusos. Campinas: Territorial. 2003

6.6 - A indústria e o território brasileiro.


A estrutura regional brasileira é de tipo centro-periferia. O Sudeste funciona como núcleo dessa estrutura, em virtude
da concentração espacial da indústria. No interior do Sudeste, o estado de São Paulo e o triângulo São Paulo - Rio de
Janeiro-Belo Horizonte abrigam os principais polos dinâmicos da indústria no país.
A industrialização do Sul evoluiu em ritmo mais lento, mas acelerou-se recentemente.
Hoje, Sudeste e Sul integram suas estruturas produtivas industriais, configurando uma "região concentrada", na
expressão do geógrafo Milton Santos.
As regiões periféricas apresentam pólos industriais isolados. No Nordeste, os pólos principais surgiram como fruto do
planejamento estatal. Na Amazônia, a Zona Franca de Manaus é um enclave industrial criado por motivos geopolíticos.

6.6.1 - Concentração e desconcentração


A industrialização promove a concentração espacial da riqueza e dos recursos financeiros e produtivos. Na etapa inicial
desse processo, os custos de transferência, isto é, o que se gasta com o deslocamento de matéria (bens e pessoas)
ou informações (serviços e capitais), são extremamente elevados, devido ao fraco desenvolvimento das redes de
transporte e de comunicações. O espaço geográfico oferece um espectro limitado de opções de localização para as
empresas industriais. As fábricas instalam-se nas escassas localizações que se destacam pela amplitude do mercado
consumidor, pela oferta de força de trabalho ou pelos recursos naturais e matérias-primas disponíveis.
Na etapa seguinte, manifesta-se a força das economias de aglomeração. Os centros industriais pioneiros recebem
infra-estruturas de energia, transportes e comunicações. O dinamismo industrial impulsiona o crescimento das cidades,
provocando ampliação dos mercados consumidores e da oferta de força de trabalho. As fábricas já implantadas
produzem bens intermediários (bens utilizados na produção de outros bens), que funcionam como insumos para outras
fábricas. Indústria atrai indústria: em torno dos lugares pioneiros, formam-se manchas industriais cada vez mais
complexas e diversificadas.

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Essa tendência de concentração espacial acompanhou a industrialização brasileira, desde o início do século XX. Em
escala nacional, seu resultado foi à configuração, no Sudeste, de uma região industrial central, dinâmica e integrada
(veja o mapa). O núcleo dessa região corresponde ao estado de São Paulo.
A geografia industrial depende, em grande medida, dos investimentos diretos das empresas estatais e das estratégias
de desenvolvimento regional do Estado. A política governamental de implantação da siderurgia moderna, entre as
décadas de 1940 e 1960, reforçou a concentração espacial da indústria no Sudeste. O poder multiplicador da siderurgia
e as infra-estruturas de transportes a ela associadas aprofundaram o abismo entre a região industrial central e o restante
do país.
No Sul e no Nordeste, formaram-se regiões industriais periféricas, bastantes distintas uma da outra. Na Amazônia e no
Centro-Oeste, as indústrias estabeleceram-se como enclaves isolados. Em escala regional, o movimento concentrador
gerou aglomerações industriais associadas às metrópoles e às capitais estaduais.
Em certo ponto do desenvolvimento econômico, a tendência de concentração espacial da indústria arrefece e dá lugar
a movimentos de desconcentração. A evolução das tecnologias e infra-estruturas de transportes e comunicações reduz
significativamente os custos de transferência. O espaço geográfico torna-se mais fluido, descortinando inúmeras novas
localizações atraentes para as empresas industriais. (veja os gráficos)

Nessa etapa, manifesta-se a força das deseconomias de aglomeração. Nas regiões industriais tradicionais, crescem
os custos dos terrenos, assim como os impostos municipais. A força de trabalho, organizada em sindicatos, consegue
aumentos salariais. Diversos outros custos, de difícil mensuração, originam-se do congestionamento de tráfego e da
poluição ambiental típicas das metrópoles. Em busca do melhor retorno para o capital, os investimentos empresariais
são desviados para novas localizações. No Brasil, esse fenômeno começou a se desenvolver na década de 1970. Seus
sintomas transparecem na perda de participação do Sudeste na força de trabalho da indústria de transformação e no
valor total da produção industrial.
Os números da participação na força de trabalho
industrial parecem revelar um vigoroso processo de
desconcentração, mas as perdas relativas do Sudeste se
refletem em aumentos expressivos do emprego industrial
apenas na Região Sul. Já os números da participação no
valor da produção industrial revelam que o predomínio do
Sudeste ainda é muito expressivo, embora revelem a
expansão da indústria em outras regiões, especialmente
no Sul e no Norte. Neste último caso, a expansão
industrial está diretamente ligada ao crescimento da Zona
Franca de Manaus.
Em conjunto, os dados evidenciam, paralelamente a um
processo limitado de desconcentração, a modernização
tecnológica das empresas industriais do Sudeste, que
provoca redução relativa do emprego de mão-de-obra.
Eles também indicam que a Região Sul abriga diversos
focos de novos investimentos industriais.

6.6.2 - A integração do Centro-Sul


As tendências de reorganização espacial da indústria no Brasil impulsionam a integração do Centro-Sul do país. No fim
das contas, desenvolve-se um processo de "descentralização na concentração” que acentua os contrastes entre o
Centro-Sul e o restante do território nacional. O geógrafo Milton Santos observou que esse processo é um aspecto da
tendência mais ampla de soldagem entre as estruturas produtivas do Sudeste e do Sul. Ele sugeriu identificar uma
região concentrada, formada por essas duas grandes regiões e polarizada pelo capital financeiro estabelecido no
estado de São Paulo.
A evolução da participação dos estados na produção industrial revela com mais nitidez as direções da descentralização
industrial. Em quase três décadas, a participação do estado de São Paulo reduziu-se de 55% para 41 % do valor da
produção industrial. Em termos relativos, a redução da participação do Rio de Janeiro foi ainda maior que a de São
Paulo. Por outro lado, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná experimentavam significativa ampliação da sua
participação, e os dois primeiros ultrapassaram o Rio de Janeiro.
A liderança industrial continua, claramente, com o
estado de São Paulo, apesar do recente declínio
relativo. O declínio do Rio de Janeiro é mais antigo e
mais nítido. Mas os investimentos repelidos pelas
deseconomias de aglomeração de São Paulo e do Rio
de Janeiro não procuram, em sua maior parte, o
Nordeste. As principais decisões empresariais de
localização conduzem à implantação de novas unidades
produtivas em Minas Gerais ou na Região Sul,
reforçando as desigualdades de riqueza entre as
regiões.
A região concentrada beneficia-se de vantagens
extraordinárias, do ponto de vista da localização
industrial. Nela, encontram-se os maiores e mais
dinâmicos mercados consumidores, as reservas de
força de trabalho de melhor qualificação e uma
diversificada base industrial que oferece bens de capital
e intermediário para as novas fábricas. Os investimentos
repelidos pelas metrópoles são atraídos pelas cidades
médias servidas por adequadas infra-estruturas de
transportes e comunicações.
O estado de São Paulo continua a atrair grandes
investimentos industriais, principalmente nos setores de
alta tecnologia, enquanto unidades produtivas baseadas
no uso intensivo de mão-de-obra são repelidas para
novas localizações. Além disso, a descentralização
espacial da indústria desenvolve-se paralelamente a um
aprofundamento da centralização financeira. A cidade de São Paulo ampliou sua liderança no campo das atividades
bancárias e dos mercados financeiros em geral, reafirmando sua condição de principal pólo econômico do país.

6.6.2.1 - A região industrial central


O Sudeste é o dínamo industrial de todo o Brasil. No seu interior, as principais concentrações industriais estão
associadas às aglomerações metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Um mapa da localização
das unidades produtivas de empresas industriais, comerciais e de serviços no Sudeste revela o peso dominante do
triângulo formado por essas metrópoles.
A cidade de São Paulo transformou-se no principal pólo industrial do país já nas primeiras décadas do século XX, em
virtude de sua situação geográfica estratégica, como elo entre o leque de ferrovias que se abria para o Oeste cafeeiro
e o porto de Santos. Sob o impulso da economia cafeeira, a capital paulista tornou-se um próspero centro de negócios
de exportação e importação e de atividades bancárias, atraindo capitais e empresários. O fluxo imigratório orientado
inicialmente para o café gerou uma classe operária numerosa, constituída por trabalhadores italianos e espanhóis. O
crescimento econômico do interior abria vastos mercados consumidores para os manufaturados que começavam a ser
fabricados na capital.
As zonas industriais pioneiras situaram-se junto dos eixos ferroviários que ligavam a cidade ao Rio de Janeiro (Estrada
de Ferro Central do Brasil), ao longo dos bairros do
Belenzinho, Brás e Mooca. Outro distrito industrial
surgiu na Lapa, junto aos trilhos da Estrada de Ferro
Sorocabana. Com as indústrias, a cidade cresceu e se
transformou.
No pós-guerra, o crescimento industrial alterou os
padrões de localização das unidades produtivas. A
indústria transbordou os limites do município da
capital, difundindo-se para as cidades vizinhas e
acelerando o processo de conurbação. Os eixos
rodoviários substituíram as linhas de trem, atraindo as
novas fábricas que se implantavam.
Ao longo do eixo da via Anchieta, na direção da
Baixada Santista, os municípios de Santo André, São
Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Diadema
passaram a abrigar as grandes montadoras automobilísticas. Com elas, instalaram-se as fábricas de autopeças e as
metalúrgicas e, mais tarde, as indústrias químicas. O chamado ABCD transformou-se na maior aglomeração industrial
da América Latina e no foco do movimento sindical brasileiro.
No eixo da via Dutra, na direção do Rio de Janeiro, uma significativa aglomeração industrial foi criada no município de
Guarulhos. Entre as rodovias Raposo Tavares e Castelo Branco também surgiu uma aglomeração industrial, nos
municípios de Osasco e Carapicuíba. Um extenso arco de chaminés passava a circundar a capital.
O crescimento industrial do Rio de Janeiro foi impulsionado por fatores essencialmente políticos. No início do século
XX, a cidade era a capital do país e abrigava o maior porto marítimo nacional. Contava com cerca de 900 mil habitantes,
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enquanto São Paulo não ultrapassava os 250 mil. Mas não polarizava uma economia de exportação com o dinamismo·
das plantações cafeeiras paulistas e conheceu um crescimento industrial menos vigoroso.
A industrialização do Rio de Janeiro apoiou-se na dimensão do mercado consumidor formado pela aglomeração urbana
e nos atrativos oferecidos pela presença dos órgãos de governo e empresas estatais. A tradicional rivalidade entre São
Paulo e Rio foi também uma expressão da rivalidade entre o capital privado e a burocracia do Estado.
Assim como em São Paulo, as linhas férreas definiram a localização das zonas industriais, que se organizaram no norte
da cidade, enquanto a faixa sul, na orla litorânea, abrigava os bairros residenciais de alta renda. Mais tarde, cidades
vizinhas da Baixada Fluminense - como Nova Iguaçu, Duque de Caxias, São João de Meriti e Nilópolis - passaram a
abrigar aglomerações industriais. Nova Iguaçu, com cerca de 1 milhão de habitantes, situada no eixo da via Dutra e da
E. F. Central do Brasil tem a maior aglomeração industrial da periferia do Rio de Janeiro. Duque de Caxias, com cerca
de 800 mil habitantes, é um pólo químico organizado em torno da refinaria de petróleo da Petrobras.
Na zona serrana, localiza-se outra concentração industrial fluminense. Nas cidades de Petrópolis, Teresópolis e Nova
Friburgo, desenvolveu-se um pólo têxtil de destaque, que conquistou parcelas expressivas do mercado nacional.
Belo Horizonte nasceu em 1897, como uma cidade planejada. Sua origem está ligada a um projeto estratégico das
elites mineiras, destinado a reverter o processo de decadência econômica de Minas Gerais. A expansão da economia
cafeeira paulista e o crescimento do poder de atração do Rio de Janeiro contrastavam com a estagnação de Minas
Gerais, que havia um século conhecera o inexorável declínio da mineração.
A transferência da capital de Ouro Preto para a nova cidade foi um ato simultaneamente simbólico e estratégico. Ouro
Preto recordava as riquezas perdidas do passado; Belo Horizonte, capital sem passado, evocava a luta por um futuro
de glórias. Ouro Preto, no caminho da zona da Mata mineira, situava-se em área cada vez mais influenciada pelo Rio
de Janeiro; Belo Horizonte, 100 quilômetros a noroeste, pretendia ser um centro polarizador da vida econômica mineira.
Desde a década de 1930 as elites mineiras direcionaram sua atenção para o desenvolvimento industrial. Essa
orientação materializou-se por meio da concessão de incentivos diversos para a atração de investimentos industriais
privados e também por uma pressão permanente sobre o governo central, destinada a garantir a instalação de um
vasto parque siderúrgico estatal.
As políticas de concessão de incentivos para o capital privado resultaram na vigorosa industrialização dos arredores
de Belo Horizonte, com a formação de núcleos fabris modernos e diversificados. Contagem, com mais de meio milhão
de habitantes, é o principal desses núcleos, abrigando um importante parque metalúrgico e químico. A industrialização
de Betim ganhou impulso definitivo com a instalação da primeira fábrica da Fiat no país.

6.6.2.2 - Implantação da grande siderurgia


A Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, criada em 1917 como associação entre capitais privados nacionais e
estrangeiros, foi até meados do século XX a única grande usina de aço do país. Situada em Sabará (MG), utilizava o
minério do Quadrilátero Ferrífero e carvão vegetal para produzir mais de metade dos lingotes de aço do país.
Mas a grande siderurgia brasileira nasceu a partir de duas empresas estatais: a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD),
atual Vale, e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), implantadas por Getúlio Vargas, em 1942. A CVRD encarregou-
se da extração, transporte ferroviário e naval e comercialização dos minérios do Quadrilátero Ferrífero, antes de
expandir suas atividades para inúmeras outras jazidas do país. A CSN, financiada por empréstimos dos Estados
Unidos, obedeceu a prioridades estratégicas do governo de Getúlio Vargas, que pretendia utiliza-la como foco de
estímulo à industrialização do país e símbolo da soberania nacional.
A localização da CSN foi objeto de estudos de viabilidade realizados por uma Comissão Siderúrgica Nacional. O
relatório do governador de Minas Gerais, enviado à comissão, argumentava que o fator preponderante deveria ser a
proximidade das jazidas ferríferas, matéria-prima básica na fabricação do aço. Entretanto, o parecer final da comissão
consagrou Volta Redonda, no vale do Paraíba fluminense, como a localização mais adequada.
Os técnicos acentuaram a proximidade dos mercados consumidores, a facilidade de transporte do minério produzido
na região do Quadrilátero Ferrífero, através da E. F. Central do Brasil, e a proximidade dos portos do Rio de Janeiro e
de Angra dos Reis, para receber o carvão mineral importado e o produzido em Santa Catarina. A grande usina estatal
consagrou a opção pelo carvão mineral, revertendo à tendência anterior ao uso da madeira das florestas tropicais.
A decisão de produzir aço no vale do Paraíba foi ao mesmo tempo, técnica e política. Por meio dela, o Estado canalizava
os investimentos futuros das empresas privadas para a então capital do país e para São Paulo. Nesse contexto, os
minérios do Quadrilátero Ferrífero funcionavam apenas como retaguarda para o crescimento do eixo econômico
estabelecido entre as duas principais metrópoles brasileiras. Mas começava aí a luta de Minas Gerais para atrair os
investimentos públicos na grande siderurgia para o seu território.
Na década de 1950 começaram a nascer mais duas grandes siderúrgicas estatais: a Companhia Siderúrgica Paulista
(Cosipa), em Cubatão, e a Usina Siderúrgica de Minas Gerais (Usiminas), em Ipatinga. A Cosipa foi planejada como
siderúrgica privada, mas, durante o empreendimento, o Estado tornou-se o principal acionista. A usina entrou em
funcionamento em 1965, recebendo minério de ferro pela E. F. Central do Brasil. O carvão mineral passou a
desembarcar, desde 1969, no terminal portuário especializado junto da usina.
A Usiminas surgiu pela associação de capitais estatais, dos governos federal e estadual, com um consórcio de
investidores japoneses. A usina entrou em operação em
1963 e revelou-se a mais moderna e eficiente de todos os
grandes empreendimentos siderúrgicos estatais.
Na década de 1970, a política de expansão do parque
industrial brasileiro conduziu à construção de mais duas
grandes usinas estatais: a Açominas, em Ouro Branco
(MG), e a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), em
Vitória, no Espírito Santo. Essas usinas de grande porte
consolidaram a opção pelo carvão mineral como
combustível.
As pressões das elites políticas e econômicas de Minas
Gerais, amparadas nas jazidas do Quadrilátero Ferrífero,
surtiram efeito: além da Usiminas e da Açominas, outras
importantes usinas configuraram o Vale do Aço, que é a
maior concentração siderúrgica do país. Em seu interior,
aparecem também usinas que utilizam o carvão vegetal -
entre elas a pioneira Belgo-Mineira, a Acesita e a
Mannesman - proveniente da madeira de reflorestamento.
A siderurgia no Sudeste estruturou-se em torno das
ferrovias e portos ligados ao transporte dos minérios do Quadrilátero Ferrífero. A E. F. Central do Brasil é o principal
suporte da CSN e da Cosipa. A E. F. Vitória-Minas, construída pela CVRD para o transporte dos minérios até o porto
de Tubarão, gerou a concentração industrial do Vale do Aço. No litoral do Espírito Santo, junto ao porto de Praia Mole,
instalou-se a CST.
Na década de 1990, a CVRD e as siderúrgicas estatais foram privatizadas. Com isso, desenvolveram-se estratégias
de integração vertical e horizontal dos negócios. A CVRD tornou-se uma das principais acionistas da CST e adquiriu
participações na Açominas e na CSN. Aproveitando-se de seu controle sobre a E. F. Vitória - Minas, o complexo
portuário de Tubarão e o terminal de contêineres de Sepetiba, ela integrou a extração e o transporte de minérios de
ferro e manganês e a produção e exportação de aço.
O controle da CVRD sobre as infra-estruturas de transportes também sustentou a diversificação de atividades. No fim
da década de 1970, antes da privatização, a CVRD instalou uma fábrica de celulose de eucalipto em Belo Oriente (MG),
nas proximidades da ferrovia. Outra fábrica de celulose, constituída por uma associação com a Companhia Suzano,
começou a operar na década de 1990 em Mucuri, no extremo sul da Bahia. A matéria-prima para os dois
empreendimentos é fornecida pelas Florestas Rio Doce, que atua no reflorestamento e comércio de madeira em Itabira
(MG) e São Mateus, no norte do Espírito Santo.
6.6.2.3 - O espaço industrial paulista
O estado de São Paulo abriga a maior concentração industrial do país, localizada na Grande São Paulo. Mas o processo
de descentralização iniciou-se na década de 1970, quando os índices de crescimento industrial do interior
ultrapassaram os da metrópole. Em 2002, a participação da metrópole no emprego industrial do estado havia caído
para 51%, enquanto sua parte no valor da produção girava em torno de 60%.
A descentralização é consequência da expansão
econômica do interior do estado, deflagrada pela
modernização da agricultura e da agroindústria. O
crescimento das economias das cidades médias
gerou mercados consumidores e reuniu força de
trabalho para a indústria. A implantação de infra-
estruturas energéticas e vias de transportes
modernos criou novas localizações atraentes para os
investimentos industriais.
Ao mesmo tempo, a descentralização reflete a
tendência ao deslocamento de novas empresas para
fora das localizações metropolitanas. Num primeiro
momento, esse movimento manifestou-se pela
transferência de empregos industriais do município
de São Paulo para outros municípios da Grande São
Paulo. Num segundo momento, desde a década de
1980, registrou-se redução da participação da
indústria na oferta de empregos em toda a metrópole
paulista.
O crescimento industrial da capital concentra-se em
empresas de alta tecnologia, que absorvem parcela
relativamente reduzida da força de trabalho. A
metrópole paulista assume, definitivamente, a
característica de aglomeração baseada nos serviços

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e no comércio. A indústria procura novas localizações no interior do estado, configurando manchas de industrialização
ao longo dos quatro principais eixos rodoviários que interligam a Grande São Paulo às cidades médias do interior.
As vias Anhanguera e Bandeirantes estruturam o corredor industrial Campinas-Araraquara-Ribeirão Preto. A região de
Campinas realiza mais de 16% do valor da produção industrial do estado e apresenta crescimento fortemente
concentrado no campo da alta tecnologia, abrigando empresas nacionais e transnacionais de microeletrônica,
semicondutores, telefonia e equipamentos cirúrgicos.
O corredor industrial que se estende entre Campinas e Araraquara abrange os polos industriais de Americana, Limeira,
Piracicaba, Rio Claro e São Carlos. Americana especializou-se na indústria têxtil. São Carlos é um pólo de alta
tecnologia, baseado na pesquisa científica universitária, que revela forte capacidade de atração de investimentos.
As vias Dutra e Ayrton Senna estruturam os palas industriais do vale do Paraíba paulista, que formam a terceira
concentração industrial do estado, gerando cerca de 6,5% do valor da produção. A expansão inicial baseou-se na
metalurgia, abastecida pelos bens intermediários produzidos na CSN. Depois, instalaram-se indústrias bélicas e
aeronáuticas, como a Embraer, e fábricas de automóveis e caminhões. Como ocorreu com a região de Campinas, a
arrancada industrial do vale do Paraíba beneficiou-se de investimentos públicos em ciência e tecnologia.
A via Castelo Branco impulsionou a industrialização da região de Sorocaba. A aglomeração caracteriza-se pela indústria
pesada, com predomínio das fábricas de bens intermediários e de capital. Votorantin e Mairinque são sedes de
indústrias de cimento e de alumínio do Grupo Votorantin e dependem das receitas produzidas por essas empresas. Em
Sorocaba encontram-se indústrias de máquinas pesadas. A região gera pouco mais de 5% do valor da produção
industrial do estado.
O sistema Anchieta - Imigrantes liga a metrópole à aglomeração industrial da Baixada Santista, na raiz da serra do Mar.
Cubatão tornou-se uma localização industrial importante com a implantação das três usinas de força da Light, entre as
décadas de 1920 e 1950. O deslanche industrial ocorreu com a instalação da Refinaria Presidente Bernardes, da
Petrobras, em 1955. Atrás dela, vieram fábricas petroquímicas e químicas, como a Alba, a Cia. Brasileira de Estireno,
a Union Carbide e a Copebrás. Mais tarde, instalaram-se as indústrias de fertilizantes.
A Cosipa funcionou como base do parque metalúrgico da aglomeração. As limitações físicas da Baixada Santista, em
virtude da barreira natural representada pela serra do Mar, e o forte impacto ambiental das atividades fabris tendem a
limitar o crescimento industrial da área do litoral. Atualmente, a região da Baixada Santista gera pouco mais de 2% do
valor da produção industrial do estado.
6.6.2.4 - Os três ciclos industriais da Região Sul
Na Região Sul, de Porto Alegre a Curitiba,
estendem-se concentrações industriais cada vez
mais integradas às estruturas produtivas e
financeiras do Sudeste (veja o mapa).
Historicamente, as empresas industriais mais
importantes surgiram de capitais locais,
conquistaram o mercado regional e passaram
mais tarde a atuar no mercado nacional. A
expansão industrial apoiou-se em fatores
regionais. O fluxo imigratório que formou
colônias alemãs, italianas e eslavas trouxe
muitos artífices e trabalhadores qualificados. Um
empresariado regional apareceu nas áreas
coloniais.
O vale do Itajaí e o nordeste catarinense ilustram
esse modelo de industrialização. Nas cidades de
Joinville, Blumenau e Brusque desenvolveram-
se fábricas têxteis, de louças e de brinquedos. O
complexo têxtil cresceu e conquistou o mercado nacional. Outro exemplo de expansão de uma indústria local é
oferecido pelos estabelecimentos vinícolas da serra Gaúcha, implantados nas cidades de Caxias do Sul e Bento
Gonçalves. Nas cidades gaúchas de colonização alemã próximas a Porto Alegre, como Novo Hamburgo e São
Leopoldo, estabeleceram-se fabricantes de artigos de couro e calçados.
O modelo industrial da região estruturou-se sobre indústrias tradicionais, voltadas para a fabricação de bens de
consumo não-duráveis, dependentes de matérias-primas vegetais e agropecuárias. É o que ocorre não só com a
fabricação de vinhos, artigos de couro e calçados, como também com a agroindústria de óleos vegetais disseminada
pelas principais cidades do interior e, ainda, os frigoríficos e indústrias de fumo do Rio Grande do Sul. O importante
ramo de madeira e mobiliário do Paraná, estabelecido em Curitiba e Ponta Grossa, é outra ilustração desse processo.
No pós-guerra, a industrialização do Brasil meridional ingressou num segundo ciclo, modernizando-se e diversificando-
se. A principal concentração industrial organizou-se na região metropolitana de Porto Alegre, onde o município de
Canoas se destacou como pólo metalúrgico, químico e de material elétrico. Em Curitiba, surgiram estabelecimentos
mecânicos. No nordeste catarinense, em torno de Joinville, implantaram-se indústrias de cerâmica, de plásticos e
metalúrgicas. Na zona Carbonífera catarinense, em Criciúma e Siderópolis, desenvolveram-se indústrias
carboquímicas.
O ciclo mais recente de investimentos industriais é comandado por empresas transnacionais e por processos de fusão
entre conglomerados do Sudeste e empresas da Região Sul. A capacidade regional de atrair investimentos está
relacionada à presença de mão-de-obra qualificada e mercados consumidores significativos, além de custos gerais
menores que os do triângulo São Paulo- Rio de Janeiro- Belo Horizonte. A integração econômica do Mercosul
representa outro elemento positivo para as decisões de investimentos industriais no Brasil meridional, especialmente
em virtude da modernização dos sistemas de transportes. Mas, de modo geral, o processo tende a reforçar as
concentrações já existentes.
No Paraná, municípios dos arredores de Curitiba - como São José dos Pinhais e Campo Largo - despontam como
alternativas de localização no anel que circunda o estado de São Paulo. Em Santa Catarina, os polos de Joinville e
Blumenau recebem os principais investimentos, enquanto o sudeste do estado recompõe-se da crise gerada pelo
fechamento da quase totalidade das minas de carvão mineral.
No Rio Grande do Sul, o panorama é mais complexo, em função do agravamento das disparidades econômicas entre
o norte e o sul do estado. O eixo dinâmico da economia gaúcha é o corredor Porto Alegre-Caxias do Sul. A capital
perde participação na indústria, especializando-se no comércio e nos serviços. Por outro lado, os municípios
conurbados do corredor viário Canoas-Novo Hamburgo experimentam vigoroso crescimento industrial. Mais além da
metrópole, a serra Gaúcha, polarizada por Caxias do Sul, continua a diversificar seu parque industrial.
Em contraste, a concentração secundária, estruturada em torno de Pelotas e do porto de Rio Grande, experimenta
significativo declínio da sua participação na indústria do estado. A crise desse corredor tradicional está associada à
decadência da agropecuária da Campanha Gaúcha, que sofre os efeitos da concorrência dos produtos argentinos e
uruguaios.
6.6.3 - Nordeste: a industrialização periférica
A industrialização do Nordeste desenrolou-se sob o signo das políticas de desenvolvimento regional conduzidas pelo
governo federal. Tais políticas estimularam uma limitada desconcentração da indústria, em escala nacional, mas
provocaram concentração industrial, em escala regional.
A criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), em 1960, foi o ponto de partida de um
projeto de desconcentração industrial baseado no planejamento estatal. Através de um vasto programa de incentivos
fiscais (benefícios como redução de alíquota de imposto, isenção de impostos, etc.) o Estado conseguiu direcionar
investimentos privados do Centro-Sul para o Nordeste.
A implantação de usinas hidrelétricas de porte no rio São Francisco e a presença de mão-de-obra abundante e barata
funcionaram como incentivos suplementares.
Na Bahia, a estratégia conduziu à criação do pólo petroquímico de Camaçari e do distrito industrial de Aratu, ambos na
região metropolitana de Salvador. O pólo de Camaçari, estabelecido na década de 1970, gira em torno da Refinaria
Landulfo Alves, da Petrobras. O parque industrial químico representou uma mudança estrutural na economia baiana,
tornando-se logo a principal fonte de receita tributária do estado. No distrito de Aratu predominam as indústrias de bens
de consumo duráveis atraídas pelos incentivos da Sudene.
Sob o impulso da Sudene, surgiram também polos de produção de bens intermediários, como as indústrias de
fertilizantes de Sergipe e o complexo químico Salgema, atual Braskem, de Alagoas. Os insumos produzidos por esses
pólos são, em geral, transformados no Sudeste e, em especial, no estado de São Paulo.
Em Pernambuco, os investimentos incentivados pela Sudene concentraram-se nas cidades de Jaboatão, Cabo e
Paulista, que fazem parte da região metropolitana de Recife. Nessa aglomeração também predominam as indústrias
de bens duráveis, controladas por capitais sediados no Centro-Sul.
O Ceará seguiu trajetória diferente. Os incentivos fiscais contribuíram para a formação de um importante pólo têxtil em
Fortaleza, baseado principalmente em capitais locais e herdeiro da tradicional indústria doméstica de fiação e
tecelagem. A modernização recente aumentou a eficiência das indústrias de fiação, que exibem competitividade
internacional.
A industrialização incentivada conectou a economia nordestina ao Sudeste, que consome a maior parte da sua
produção e fornece máquinas e equipamentos adquiridos no mercado interno. Contudo, em escala regional, essa
estratégia promoveu nítida concentração geográfica de indústrias nas três metrópoles nacionais nordestinas.
Na década de 1990, a abertura da economia brasileira e a redução dos incentivos da Sudene interromperam a trajetória
de integração industrial do Nordeste com o Sudeste. Os governos estaduais nordestinos engajaram-se então em
projetos de atração de novos investimentos industriais, que não estão subordinados às necessidades do mercado do
Sudeste, mas à lógica da economia globalizada. Nessa moldura, trata-se de produzir bens de consumo duráveis e bens
intermediários destinados à exportação. O baixo custo da mão-de-obra regional funciona como fator vital para a atração
de capitais nacionais e internacionais.
As estratégias empregadas pelos governos estaduais abrangeram a concessão de incentivos diretos e indiretos, como
a desoneração de tributos e a doação de terrenos, e a implantação de infra-estruturas destinadas a reduzir os custos
de exportação, como os portos de Suape, em Pernambuco, e Pecém, no Ceará. O governo baiano, à custa de pesados
incentivos, conseguiu atrair para Camaçari uma fábrica da Ford. Em Pernambuco, a perda de indústrias têxteis para o
Ceará e de indústrias de calçados para a Paraíba é compensada, em parte, pelo crescimento da produção de material
elétrico. Está em curso a criação de um pólo de indústrias de alta tecnologia em Recife, que tem como modelo o
tecnopolo estabelecido com sucesso em Campina Grande, a "capital do Agreste”, na Paraíba.
Contudo, é no Ceará que se registra o mais vigoroso crescimento industrial do Nordeste, nos setores de calçados,
têxtil, eletrônico e mecânico. A política de incentivos do governo estadual orienta-se por uma perspectiva de
interiorização da expansão econômica que busca reduzir o fluxo migratório para Fortaleza. Junto ao porto de Pecem,
uma usina siderúrgica funciona como plataforma para o nascente distrito industrial. Obras de infra-estrutura viária, a
construção de novos açudes e a exploração da energia eólica ajudam a atrair investimentos. A estratégia de
interiorização gerou polos industriais limitados, mas promissores, em Sobral, no vale do rio Acaraú, em Iguatu, junto ao
açude de Orós, e em Crato e juazeiro do Norte, no Cariri.

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6.6.4 - Os enclaves industriais amazônicos
A indústria aparece na Amazônia sob a forma de enclaves, estabelecidos a partir de incentivos federais ou para explorar
recursos minerais. Esses focos industriais não estão conectados ao mercado regional, mas aos mercados do Centro-
Sul e do exterior.
O mais importante enclave industrial fica na capital do Amazonas. A Zona Franca nasceu em 1967, sob a supervisão
da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), vinculada ao Ministério do Interior. Com ela, era deflagrada
uma operação geopolítica para a criação de um expressivo centro industrial em plena Amazônia. Sua meta consistia
em reforçar o poder nacional na "região de fronteira".
A estratégia tinha a meta de transformar a capital do Amazonas em "porto livre" para importações e exportações. A
isenção de impostos sobre importação de máquinas, matérias-primas e componentes e sobre exportação de
mercadorias, aliada ao baixo custo da mão-de-obra local, deveria atrair empresas transnacionais e nacionais para a
fabricação de bens de consumo duráveis.
Sob esse ponto de vista, a Zona Franca foi um sucesso. O estado do Amazonas saltou de 145 indústrias em 1967 para
800 em 1977, sendo 549 localizadas em Manaus. No seu auge, no início da década de 1990, a Zona Franca
representava 75% do PIB de todo o Estado e gerava mais de 120 mil empregos diretos e indiretos.
As empresas eletroeletrônicas dominam a aglomeração industrial, vindo em seguida as mecânicas e as de informática.
Os mercados consumidores são extrarregionais: a maior parte dos celulares, eletrodomésticos, monitores, relógios e
motocicletas made in Manaus destinam-se ao Centro-Sul do país. Os capitais dominantes são transnacionais e
praticamente não se utilizam matérias-primas ou insumos regionais. A Zona Franca é uma ilha industrial cercada de
florestas por todos os lados.
A política de abertura da economia nacional, com a redução das tarifas de importação, teve impacto negativo sobre a
Zona Franca. Os empregos industriais diretos, que chegaram a ultrapassar 75 mil em 1990, caíram para cerca de 55
mil em 2001. A crise evidenciou os riscos associados ao caráter artificial do enclave, que depende da manutenção
permanente de incentivos fiscais. Contudo, ocorreu notável recuperação dos níveis de emprego e, em 2007, o pólo
industrial absorvia cerca de 86 mil trabalhadores.
O Pará e o Maranhão abrigam enclaves metalúrgicos ligados ao beneficiamento e à exportação de produtos minerais.
A Vale antiga CVRD, associada a empresas transnacionais, controla esses projetos voltados para o mercado externo.
Em Barcarena, nas proximidades de Belém, a Alumínio do Norte do Brasil S.A. (Alunorte) produz alumina (matéria
prima básica usada na fabricação do alumínio) e a Alumínio Brasileiro S.A. (Albras) fabrica alumínio. Em São Luís, na
ponta dos trilhos da E. F. Carajás, a Alumínio do Maranhão S.A. (Alumar), fruto de um investimento de dois bilhões de
dólares, emprega diretamente mais de 4 mil funcionários na produção de alumina e alumínio.
6.7 - Internacionalização das empresas brasileiras
A abertura da economia brasileira nos anos 1990, provocou em várias grandes corporações brasileiras genuínas a
preocupação e reavaliação de suas estratégias empresariais. Algumas aceitaram a participação de capitais externos
na sua composição e, até mesmo, influenciando nas suas gestões. Outras partiram para a ofensiva, enfrentando novas
fronteiras nacionais.
É importante salientar que esta postura não era novidade, visto que durante os governos militares algumas das nossas
importantes empresas da construção pesada foram estimuladas pelas nossas relações diplomáticas, com os novos
países africanos e do Oriente Médio, a participarem de concorrências internacionais para as obras de infra-estrutura
naqueles países e começaram bem mais cedo este processo de internacionalização.
As estratégias adotadas pelas nossas grandes incorporações a partirem para a internacionalização são as mesmas
adotadas pelas suas congêneres globais - fusões, com empresas líderes nos mercados nacionais, e incorporações,
adquirindo empresas locais, que não sejam líderes, para iniciarem a presença nos novos mercados - conforme os
mercados alvos.
A Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet) tem
acompanhado este fenômeno. Em suas últimas avaliações identificou os seguintes argumentos, apresentados
pelos empresários brasileiros, que justificam a adoção da estratégia de internacionalização e as barreiras à expansão
no exterior.

Portanto, devemos nos acostumar com a presença, cada vez maior, de empresas genuinamente brasileiras atuando
no mercado global. Não apenas exportando a partir do território brasileiro, mas atuando a partir de plataformas externas.
Este cenário considera todos os setores da economia, mas tem se destacado do industrial.
EXERCÍCIOS
01. O Vale do Silício, na costa oeste dos EUA, e Tsukuba, cidade japonesa, tem em comum com a Região Metropolitana
de Campinas e o Vale do Paraíba o fato de:
(A) se apresentarem como cidade global, polarizando o país, fazendo a ligação entre este e o resto do mundo.
(B) apresentarem uma recente desmetropolização, que é um processo associado à diminuição dos fluxos migratórios
em direção das metrópoles.
(C) serem um tecnopolo, por desenvolverem tecnologia de ponta.
(D) apresentarem intenso êxodo populacional em direção às metrópoles maiores vizinhas, como São Paulo, no caso
de Campinas.
(E) poderem vir a se tornar grandes megalópoles.

02. O Brasil é considerado um país de grandes contrastes regionais. Às grandes diferenças naturais existentes, juntam-
se as disparidades humanas. Assim, para conhecer melhor o território brasileiro, a forma encontrada foi dividi-lo
regionalmente.
Entre os tipos de divisão regional existentes, assinale a opção que se ajusta melhor ao processo de formação histórica-
territorial do país.
(A) divisão em cinco macrorregiões
(B) divisão em três regiões geoeconômicas ou complexos regionais
(C) divisão em centros econômicos
(D) divisão em meso e microrregiões
(E) divisão regional a partir da divisão regional do trabalho

03. Os governos de Getúlio Vargas e de


Juscelino Kubitschek foram momentos
marcantes da história econômica
brasileira, especialmente no que se refere
ao desenvolvimento industrial do país.
Uma semelhança entre o processo de
industrialização brasileiro verificado no
governo de Vargas e no de JK está
apontada em:
(A) expansão do mercado interno,
(B) flexibilização do monetarismo,
(C) regulação da política ambiental,
(D) autonomia do progresso tecnológico,
(E) expansão para o mercado externo,
inserindo-se na política norte-americana
de contenção ao comunismo.

04. O Brasil está inserido no cenário mundial como um país ainda especializado na exportação de produtos intensivos
em recursos naturais e em mão-de-obra. Nos últimos anos, ocorreram importantes mudanças na composição das
exportações do país em direção a determinados bens de maior intensidade tecnológica.
A respeito desse assunto, assinale a opção correta.
(A) Em termos regionais, houve uma diminuição da diversificação geográfica das exportações brasileiras, com um
decréscimo maior nas vendas para mercados não tradicionais como Leste Asiático, especialmente China, Rússia e
continente africano.
(B) Houve uma especialização das exportações brasileiras nos setores mais dinâmicos do comércio mundial.
(C) O desempenho geográfico das exportações brasileiras foi melhor nos mercados consumidores de maior dinamismo,
como a China.
(D) A análise por região e setor revela que os Estados Unidos da América e a América Latina são os principais destinos
das exportações brasileiras de produtos intensivos em recursos naturais.
(E) As exportações brasileiras para a União Europeia e o Leste Asiático são fortemente concentradas em produtos
intensivos em tecnologia.

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05. QOAM 2011 Considere o texto a seguir.
“[...] é possível imaginar uma desconcentração da produção industrial sem, necessariamente, o Sudeste brasileiro e
suas metrópoles principais perderem o comando do parque industrial (...) Pelo menos em nível das 40 maiores
empresas nacionais, estatais e multinacionais, a perda da posição da metrópole paulista é evidente. A defesa da
“supremacia paulista” agora precisa ser feita da posição mais frágil com o argumento de que a metrópole paulista ainda
é, pelo menos, a sede principal da vida financeira do país [...].”
Philip Gunn. Urbanização do Sudeste: dominação das metrópoles?. In Maria Flora Gonçalves (org.). O novo Brasil
urbano: impasses, dilemas, perspectivas, p. 94-95.
A região Sudeste brasileira ainda concentra a maior parte do parque industrial nacional, no entanto, mudanças
estruturais nesse sentido são observadas desde a década de 1980. Nesse sentido, assinale a opção que faça menção
coerente a essa realidade.
(A) A desconcentração geográfica ou espacial das indústrias, especialmente da Região Metropolitana de São Paulo,
ocorreu em direção ao nordeste do país, especialmente aquelas dos segmentos ligados às atividades de serviços
financeiros, informática e química fina, ficando a Grande São Paulo, basicamente, com atividades voltadas para os
segmentos mais pesados, como as indústrias de base.
(B) Ainda que a metrópole paulista esteja crescendo num ritmo mais lento do que o de outras, em parte fruto de uma
política oficial de governo, por exemplo, com incentivos fiscais, a Região Metropolitana de São Paulo continua
comandando os principais segmentos econômicos do país, assim sendo, a desconcentração geográfica das indústrias
é relativa, pois não desconcentrou, necessariamente, o desenvolvimento.
(C) A partir dos anos 1990, com o desenvolvimento dos meios de transportes e de comunicação, difundidos por todo o
território nacional, além da expansão da oferta de energia, a Região Sudeste teve um forte decréscimo em sua
participação junto aos setores secundário e terciário, especialmente São Paulo, uma vez que os investimentos públicos
estão superando os ditos privados nas demais regiões do país.
(D) Com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), criado pelo Governo Federal, houve a difusão e o
incremento das chamadas superintendências, como a SUDAM, SUDECO e SUDESUL, as quais são as maiores
responsáveis, tanto pelo incremento industrial das regiões sob suas respectivas responsabilidades, como pelos
financiamentos econômicos do setor secundário.
(E) O fato da Região Sudeste estar passando tanto por um sensível declínio em seu crescimento industrial como em
sua participação junto ao PNB, são consequências típicas do chamado neoliberalismo econômico, o qual impõe
medidas reguladoras de mercado, onde o estado é compelido a redistribuir as diversas atividades produtivas por todo
o seu território, equacionando melhor assim o seu desenvolvimento.

06. QOAM 2011 O Japão é considerado uma das grandes potências econômicas do planeta, no entanto, foi arrasado
durante a 2ª GM. Fato curioso foi a sua incrível recuperação estrutural e econômica num relativo curto espaço de tempo.
Sobre as causas que possibilitaram a recuperação da economia japonesa neste período, é CORRETO afirmar que
(A) a sua condição de parceiro da extinta URSS o possibilitou adquirir grandes somas de recursos do chamado bloco
oriental, uma vez que durante a Guerra Fria o Japão desempenhou um importante papel de apoio geopolítico aos
soviéticos.
(B) a sua vocação portuária, com intenso no cenário asiático, além de um subsolo rico em minerais, garantiu a esse
país uma retomada rápida de suas atividades industriais, especialmente das indústrias de base, as quais revitalizaram
rapidamente suas siderurgias e metalurgias.
(C) os pesados investimento nas área bélicas e de educação possibilitaram uma rápida reestruturação de sua
economia, o que atraiu grandes contingentes de trabalhadores do sudeste asiático, fato imprescindível que estimulou
o seu mercado de consumo interno.
(D) as bases produtivas desse país, calcada em organizações originadas dos clãs familiares, conhecidos como
zaibatsus, foram estimuladas novamente pelo Estado, o que contribuiu decisivamente para retomada do crescimento
econômico desse país.
(E) a posição geográfica e a insularidade desse país, além da proximidade de várias nações do sul e sudeste asiático,
as quais investiram pesadamente no mercado japonês, estimularam a sua vocação financeira, o que acabou
desenvolvendo nessa nação grandes corporações bancárias, já na década de 1950.
07. QOAM 2011 A República Popular da China, conhecida também como o dragão chinês, vem batendo recordes de
crescimento econômico nas últimas décadas, ao ponto de ser apontada, por alguns especialistas, como a grande
potência do século XXI. Apesar desse crescimento econômico, esse país enfrenta alguns problemas. Assim sendo,
assinale a opção que retrata coerentemente um problema que a China apresenta.
(A) Com um subsolo extremamente pobre em recursos minerais metálicos e fósseis, a dependência das importações
dessas matérias primas é enorme, fato compensado com a sua grande disponibilidade de mão de obra, tornando,
assim, as suas manufaturas baratas no mercado global.
(B) A sua pouca tradição rural, uma vez que historicamente a taxa de urbanização desse país sempre foi elevada,
resulta num déficit alimentar enorme, o que acaba desviando verbas de investimentos produtivos para importar grandes
quantidades de alimentos.
(C) O fato desse país não fazer parte da OMC é um entrave para a sua dinamização econômica, pois esse prefere ficar
fora dos ditames e regras estipuladas pelas grandes potências econômicas, exatamente para vender suas mercadorias
mais baratas, especialmente nos mercados de maior poder de compra.
(D) As chamadas ZEE, localizadas no interior do território chinês, cuja finalidade é estimular a integração territorial e
comercial do país, vêm onerando o custo final da produção, o que acaba impelindo aos produtores repassarem esse
custo ás suas mercadorias, tornando-a mais caras.
(E) Apesar desse país estar conseguindo grandes crescimentos na área econômica, em grande parte fruto dos
subsídios oficiais e da sua abundância de mão de obra farta e barato, presencia-se no mesmo uma liberdade política
ainda pequena, o que contribui para gerar inúmeras insatisfações populares e certo receio dos grandes investidores do
planeta.

08. Observe o mapa da Malha Ferroviária do Brasil.


Com respeito às áreas indicadas no mapa acima, assinale a alternativa que
relaciona corretamente sistemas logísticos e produtos de exportação.
(A) I - Portos de Belém e de São Luís: minério de ferro, papel e celulose
II - Portos do Rio de Janeiro e de Niterói: trigo e fertilizantes.
III - Portos de Paranaguá e de Itajaí: soja e carnes (congeladas).
(B) I - Portos de São Luís e de Natal: pescados e carvão mineral.
II - Portos de Tubarão e de Vitória: minério de ferro, papel e celulose
III - Portos de São Francisco do Sul e de Florianópolis: minério de ferro, papel
e celulose.
(C) I - Portos de Itaqui e de Pecém: minério de ferro, manganês e frutas.
II - Portos de Tubarão e de Vitória: minério de ferro, papel e celulose
III - Portos de Paranaguá e de Itajaí: soja e carnes (congeladas).
(D) I - Portos de Belém e de São Luís: minério de ferro, papel e celulose
II - Portos do Rio de Janeiro e de Niterói: pescados e carvão mineral.
III - Portos de São Francisco do Sul e de Florianópolis: minério de ferro, papel
e celulose.
(E) I - Portos de Itaqui e de Pecém: minério de ferro, manganês e frutas.
II - Portos de Tubarão e do Rio de Janeiro: soja e carnes (congeladas
III - Portos de Paranaguá e de Itajaí: trigo e fertilizantes.

09. De todas as transformações impostas pelo meio técnico-científico-informacional à logística de transportes,


interessa-nos mais de perto a intermodalidade. E por uma razão muito simples: o potencial que tal “ferramenta logística”
ostenta permite que haja, de fato, um sistema de transportes condizente com a escala geografia do Brasil. HUERTAS,
D. M. O papel dos transportes na expansão recente da fronteira agrícola brasileira. Revista transportes y território,
Universidade de Buenos Aires, n. 3, 2010 (adaptado).
A necessidade de modais de transporte interligados, no território brasileiro, justifica-se pela(s)
(A) variações climáticas no território, associadas à interiorização da produção.
(B) grandes distâncias e a busca da redução dos custos de transporte.
(C) formação geológica do país, que impede o uso de um único modal.
(D) proximidade entre a área de produção agrícola intensiva e os portos.
(E) diminuição dos fluxos materiais em detrimento de fluxos imateriais.

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10. Com base nas charges e em seus
conhecimentos, assinale a alternativa correta.
(A) Apesar da grave crise econômica que
atingiu alguns países da Zona do Euro, entre os
quais a Grécia, outras nações ainda pleiteiam
sua entrada nesse Bloco.
(B) A ajuda financeira dirigida aos países da
Zona do Euro e, em especial à Grécia, visou
evitar o espalhamento, pelo mundo, dos efeitos
da bolha imobiliária grega.
(C) Por causa de exigências dos credores
responsáveis pela ajuda financeira à Zona do
Euro, a Grécia foi temporariamente suspensa desse Bloco.
(D) Com a crise econômica na Zona do Euro, houve uma sensível diminuição dos fluxos turísticos internacionais para
a Europa, causando desemprego em massa, sobretudo na Grécia.
(E) Graças à rápida intervenção dos países membros, a grave crise econômica que atingiu a Zona do Euro restringiu-
se à Grécia, França e Reino Unido.

11. A atual organização do espaço geográfico brasileiro decorre da maneira como o território foi ocupado e constituído,
principalmente com as relações sociais de produção que se sucederam ao longo dos séculos. Essa organização
espacial foi fruto da expansão capitalista, em que a economia foi mais estruturada para atender à demanda do mercado
externo do interno.
Com base na formação do território brasileiro e sua consolidação como país em desenvolvimento, analise as
proposições e assinale a CORRETA.
(A) A fragmentação da economia brasileira em arquipélago econômico, mais direcionado ao mercado externo do que
ao interno, não se constituiu em um entrave à integração nacional nem ao seu desenvolvimento econômico, pois, nas
primeiras décadas do século XX, à crescente industrialização foi o elo para a integração regional e nacional.
(B) A crise econômica de 1929, ocorrida nos Estados Unidos, transformou o mecanismo comercial agroexportador
brasileiro em economia industrial, propiciando ao país competir com a mesma intensidade com as potências
econômicas da época.
(C) Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek foram sinônimos de modernizadores do parque industrial brasileiro através
da substituição de importações, sendo Getúlio Vargas associado ao capital estrangeiro e JK ao capital estatal, este
último com o slogan “ 50 anos em 5 “.
(D) Fernando Collor foi o responsável pela implantação da doutrina neoliberal no Brasil, abrindo de maneira irrestrita,
a economia nacional ao capital estrangeiro, provocando o fechamento de inúmeras indústrias, privatizando estatais e
acentuando ainda mais as desigualdades sociais.
(E) A década de 1970 ficou conhecida como “década perdida”. Nesse período, o governo, comprometido com a política
do FMI, deixou de investir na modernização industrial e na manutenção de outros setores da economia fundamentais
ao crescimento econômico.

12. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, os avanços tecnológicos aprofundaram e transformaram os vínculos
entre os países. A globalização não é um fato novo mas adquire dimensões distintas e mais complexas que no passado.
Hoje há duas esferas da globalização: a real e a virtual.
A partir do texto não é correto afirmar:
(A) a globalização real compreende o crescimento do comércio mundial que se concentra, atualmente, nos bens de
maior valor agregado e conteúdo tecnológico;
(B) na globalização real predominam, nos movimentos do mercado financeiro, os capitais de curto prazo transferidos
por ordens de pagamento;
(C) na globalização real, os segmentos mais importantes da produção mundial se realizam dentro das matrizes das
corporações transnacionais e suas filiais no resto do mundo;
(D) a globalização virtual inclui os extraordinários avanços no processamento e transmissão de informação e imagens
em escala planetária;
(E) a globalização virtual e a real interagem para gerar a visão de um mundo sem fronteiras – a intermediação mediática
contagia o plano real transmitindo modas, pautas culturais e padrões de consumo.
13. QOAM 2011 Considere o texto a seguir.
“[...] é possível imaginar uma desconcentração da produção industrial sem, necessariamente, o Sudeste brasileiro e
suas metrópoles principais perderem o comando do parque industrial (...) Pelo menos em nível das 40 maiores
empresas nacionais, estatais e multinacionais, a perda da posição da metrópole paulista é evidente. A defesa da
“supremacia paulista” agora precisa ser feita da posição mais frágil com o argumento de que a metrópole paulista ainda
é, pelo menos, a sede principal da vida financeira do país [...].”
Philip Gunn. Urbanização do Sudeste: dominação das metrópoles?. In Maria Flora Gonçalves (org.). O novo Brasil
urbano: impasses, dilemas, perspectivas, p. 94-95.
A região Sudeste brasileira ainda concentra a maior parte do parque industrial nacional, no entanto, mudanças
estruturais nesse sentido são observadas desde a década de 1980. Nesse sentido, assinale a opção que faça menção
coerente a essa realidade.
(A) A desconcentração geográfica ou espacial das indústrias, especialmente da Região Metropolitana de São Paulo,
ocorreu em direção ao nordeste do país, especialmente aquelas dos segmentos ligados às atividades de serviços
financeiros, informática e química fina, ficando a Grande São Paulo, basicamente, com atividades voltadas para os
segmentos mais pesados, como as indústrias de base.
(B) Ainda que a metrópole paulista esteja crescendo num ritmo mais lento do que o de outras, em parte fruto de uma
política oficial de governo, por exemplo, com incentivos fiscais, a Região Metropolitana de São Paulo continua
comandando os principais segmentos econômicos do país, assim sendo, a desconcentração geográfica das indústrias
é relativa, pois não desconcentrou, necessariamente, o desenvolvimento.
(C) A partir dos anos 1990, com o desenvolvimento dos meios de transportes e de comunicação, difundidos por todo o
território nacional, além da expansão da oferta de energia, a Região Sudeste teve um forte decréscimo em sua
participação junto aos setores secundário e terciário, especialmente São Paulo, uma vez que os investimentos públicos
estão superando os ditos privados nas demais regiões do país.
(D) Com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), criado pelo Governo Federal, houve a difusão e o
incremento das chamadas superintendências, como a SUDAM, SUDECO e SUDESUL, as quais são as maiores
responsáveis, tanto pelo incremento industrial das regiões sob suas respectivas responsabilidades, como pelos
financiamentos econômicos do setor secundário.
(E) O fato da Região Sudeste estar passando tanto por um sensível declínio em seu crescimento industrial como em
sua participação junto ao PNB, são consequências típicas do chamado neoliberalismo econômico, o qual impõe
medidas reguladoras de mercado, onde o estado é compelido a redistribuir as diversas atividades produtivas por todo
o seu território, equacionando melhor assim o seu desenvolvimento.

14. QOAM 2011 A República Popular da China, conhecida também como o dragão chinês, vem batendo recordes de
crescimento econômico nas últimas décadas, ao ponto de ser apontada, por alguns especialistas, como a grande
potência do século XXI. Apesar desse crescimento econômico, esse país enfrenta alguns problemas. Assim sendo,
assinale a opção que retrata coerentemente um problema que a China apresenta.
(A) Com um subsolo extremamente pobre em recursos minerais metálicos e fósseis, a dependência das importações
dessas matérias primas é enorme, fato compensado com a sua grande disponibilidade de mão de obra, tornando,
assim, as suas manufaturas baratas no mercado global.
(B) A sua pouca tradição rural, uma vez que historicamente a taxa de urbanização desse país sempre foi elevada,
resulta num déficit alimentar enorme, o que acaba desviando verbas de investimentos produtivos para importar grandes
quantidades de alimentos.
(C) O fato desse país não fazer parte da OMC é um entrave para a sua dinamização econômica, pois esse prefere ficar
fora dos ditames e regras estipuladas pelas grandes potências econômicas, exatamente para vender suas mercadorias
mais baratas, especialmente nos mercados de maior poder de compra.
(D) As chamadas ZEE, localizadas no interior do território chinês, cuja finalidade é estimular a integração territorial e
comercial do país, vêm onerando o custo final da produção, o que acaba impelindo aos produtores repassarem esse
custo ás suas mercadorias, tornando-a mais caras.
(E) Apesar desse país estar conseguindo grandes crescimentos na área econômica, em grande parte fruto dos
subsídios oficiais e da sua abundância de mão de obra farta e barato, presencia-se no mesmo uma liberdade política
ainda pequena, o que contribui para gerar inúmeras insatisfações populares e certo receio dos grandes investidores do
planeta.

15. Num contexto mundial marcado por importantes transformações, o ambiente econômico brasileiro sofreu grandes
mudanças nos anos noventa. Tendeu-se a romper o padrão dominante nas décadas anteriores no qual a prioridade
era dada à montagem de uma base econômica que iria lentamente se desconcentrando pelos espaços periféricos do
país. O Estado nacional que jogava um papel importante nesse processo, tanto por suas políticas explicitamente
regionais como pela ação de suas estatais, agora retrai-se.
Com relação ao texto NÃO é correto afirmar que houve:
(A) anulação do peso de atração de fatores tradicionais como mão-de-obra abundante e barata em regiões mais pobres.
(B) redução do movimento de desconcentração do desenvolvimento na direção das regiões menos desenvolvidas;
(C) estímulo a determinados “focos exportadores” independente da região onde a área foco está inserida;
(D) crescente papel da logística nas decisões da localização dos estabelecimentos;
(E) ação ativa de governos locais – estados ou municípios, oferecendo incentivos fiscais.

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16. O local e o global determinam se reciprocamente, umas vezes de modo congruente e consequente, outras de modo
desigual e desencontrado. Mescla-se e tencionam-se singularidades, particularidades e universalidades. Conforme
Anthony Giddens,“A globalização pode assim ser definida como a intensificação das relações sociais em escala
mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos
ocorrendo a muitas milhas de distância e vice versa. Este é um processo dialético porque tais acontecimentos locais
podem se deslocar numa direção inversa às relações muito distanciadas que os modelam. A transformação local é,
assim, uma parte da globalização”.
Octávio Ianni, Estudos Avançados. USP. São Paulo, 1994. Adaptado.
Neste texto, escrito no final do século XX, o autor refere-se a um processo que persiste no século atual. A partir desse
texto, pode se inferir que esse processo tende a levar à
(A) padronização da vida cotidiana.
(B) melhor distribuição de renda no planeta.
(C) intensificação do convívio e das relações afetivas presenciais.
(D) maior troca de saberes entre gerações.
(E) retração do ambientalismo como reação à sociedade de consumo.

17. QOAM 2011 O Japão é considerado uma das grandes potências econômicas do planeta, no entanto, foi arrasado
durante a 2ª GM. Fato curioso foi a sua incrível recuperação estrutural e econômica num relativo curto espaço de tempo.
Sobre as causas que possibilitaram a recuperação da economia japonesa neste período, é CORRETO afirmar que
(A) a sua condição de parceiro da extinta URSS o possibilitou adquirir grandes somas de recursos do chamado bloco
oriental, uma vez que durante a Guerra Fria o Japão desempenhou um importante papel de apoio geopolítico aos
soviéticos.
(B) a sua vocação portuária, com intenso no cenário asiático, além de um subsolo rico em minerais, garantiu a esse
país uma retomada rápida de suas atividades industriais, especialmente das indústrias de base, as quais revitalizaram
rapidamente suas siderurgias e metalurgias.
(C) os pesados investimento nas área bélicas e de educação possibilitaram uma rápida reestruturação de sua
economia, o que atraiu grandes contingentes de trabalhadores do sudeste asiático, fato imprescindível que estimulou
o seu mercado de consumo interno.
(D) as bases produtivas desse país, calcada em organizações originadas dos clãs familiares, conhecidos como
zaibatsus, foram estimuladas novamente pelo Estado, o que contribuiu decisivamente para retomada do crescimento
econômico desse país.
(E) a posição geográfica e a insularidade desse país, além da proximidade de várias nações do sul e sudeste asiático,
as quais investiram pesadamente no mercado japonês, estimularam a sua vocação financeira, o que acabou
desenvolvendo nessa nação grandes corporações bancárias, já na década de 1950.

18. Embora não haja, nos dias atuais, os conflitos do contexto bipolar da Guerra Fria, vários conflitos e estados de
tensão cobrem o espaço geográfico mundial.
Sobre esses conflitos e situações de tensão NÃO está correto afirmar que:
(A) a Rússia enfrenta, desde os anos 90, movimentos separatistas, como o da Chechênia, localizada no Cáucaso, uma
das regiões mais conflituosas do mundo por causa da enorme diversidade étnico-religiosa;
(B) o Iraque, em conseqüência da invasão liderada por tropas norte-americanas, em 2003, vive um clima de guerra civil
que levou à dissolução do exército iraquiano e ao atual colapso da capacidade administrativa do Estado;
(C) os palestinos lutam pela formação de um Estado nacional enfrentando o Estado de Israel em disputas por território
como as da faixa de Gaza;
(D) o Irã desenvolve um programa nuclear para conquistar uma posição de potência regional, apesar das ameaças do
Ocidente e das sansões econômicas que lhe foram impostas pela ONU;
(E) o Afeganistão enfrenta uma guerra civil tentando se libertar do grupo radical Talibã, que ocupa o poder após o longo
período de domínio do país pela ex-União Soviética.

19. A economia brasileira passou por várias etapas em sua evolução, de uma estrutura basicamente agroexportadora,
reinante até as primeiras décadas do século XX, para a industrialização que materializou-se a partir da década de 1950.
Assinale a opção correta sobre as mudanças implementadas na economia brasileira no período compreendido entre
1956 e 1961.
(A) O domínio do capital externo em investimentos produtivos diretamente junto às indústrias de bens intermediários,
acabou por refletir em uma forte dispersão industrial pelo país.
(B) O deslocamento dos investimentos por parte do Estado, do setor de bens de produção para as atividades ligadas
aos de bens consumo não-duráveis, favoreceu a ascensão do capital privado externo no primeiro setor.
(C) Os incentivos cambiais, tarifários, fiscais e creditícios oferecidos pelo governo federal ao capital externo,
privilegiaram setores como o automobilístico, o de máquinas e ferramentas.
(D) A diminuição dos encargos exteriores do país, como o pagamentos de royalties, dos serviços técnicos, dos
dividendos e juros, facilitou os investimentos do capital privado nacional em detrimento do capital externo.
(E) O rompimento como o capital transnacional e fortalecimento do capital privado nacional, especialmente junto às
indústrias de bens de consumo duráveis, inaugurou a política do governo conhecida como Plano de Metas.
20. Por todos os continentes e países do mundo encontramos inúmeros produtos oriundos da indústria. Mas, não
precisamos viajar para conhecê-los. Em cada espaço de nossa casa temos esses exemplos: a cama, a roupa, o som
e a TV estão entre eles. Todos esses produtos são o resultado da transformação de matérias-primas, com suprimento
de energia, em produtos industrializados. Até consolidar esse processo, a indústria passou por vários estágios de
produção.
Com base na análise do texto e nos conhecimentos sobre a evolução, os tipos e a localização das indústrias no Brasil
e no Mundo, pode-se afirmar:
(A) A Primeira Revolução Industrial foi marcada pela hegemonia alemã, pelo uso do carvão, como principal fonte de
energia, e pela grande dispersão da atividade industrial em termos do espaço mundial.
(B) O avanço da Revolução Técnico-Científica-Informacional já é marcante no Japão, na Alemanha, nos Estados
Unidos e em outros países, embora ainda haja a permanência de inúmeros traços da Segunda Revolução Industrial.
(C) O vale do Silício brasileiro localiza-se em São Paulo e no interior de Minas Gerais e assim como o original norte-
americano, concentra, atualmente, indústrias consideradas de tecnologia de ponta, especialmente de informática,
eletrônica e de telecomunicações.
(D) O Sudeste afirmou-se como pólo da industrialização brasileira, sobretudo graças à infra-estrutura urbana e de
transportes desenvolvida em função da cafeicultura, devido à chegada dos imigrante norte americano e pela
concentração de consumidores.
(E) No Brasil a região sudeste reduziu significativamente a concentração industrial tornando-se pouco expressiva devido
a “guerra fiscal” que acarretou a diminuição das taxas de crescimento de parte de seus estados e aumentou a
expressividade industrial no nordeste.

21. Nos gráficos, ao lado, estão indicadas


mudanças que afetaram a sociedade brasileira em
um período que inclui os Governos Militares (1964-
1985) e o restabelecimento do regime democrático
de 1985 aos dias de hoje.
Analisando o primeiro e o segundo gráficos,
conclui-se que a partir dos anos 1960 até o final do
século XX, ocorreram condições que contribuíram
para a manutenção do subdesenvolvimento,
apesar do crescimento econômico, favorecendo,
respectivamente, a ocorrência de:
(A) redução da pobreza e estabilização do deficit público
(B) diminuição do poder aquisitivo e incremento da dívida externa
(C) crescimento da riqueza nacional e elevação da concentração de renda
(D) expansão do desenvolvimento econômico e elevação da remuneração salarial
(E) crescimento econômico e elevação da renda per capita.

22. O Brasil, como outros países, passa por transformações estruturais nos processos de produção e de trabalho
industrial.
Entre essas transformações temos, exceto:
(A) redução relativa do número de empregos industriais;
(B) alteração do perfil de habilidades e qualificação dos trabalhadores;
(C) fortalecimento da base sindical organizada;
(D) aprofundamento da automação on line, flexível e abrangente;
(E) poupança do capital de giro com a minimização dos estoques;

23. Sobre a industrialização brasileira marque a opção incorreta:


(A) A região Nordeste passou por um processo de industrialização mais recente comparativamente ao Sudeste. Devido
a suas condições locacionais, infraestruturais, dos investimentos e da qualificação de sua mão de obra, a região
Nordeste desenvolveu mais o setor de bens de consumo não duráveis como os setores alimentício, calçadista, têxtil e
construção civil.
(B) O Nordeste possui setores industriais relativamente mais simples e suas cadeias produtivas tem maior capacidade
de contratar mão de obra, com vantagens comparativas para uma região carente de atividades.
(C) A concentração histórica de capital na região Sudeste, foi geradora de novas necessidades de consumo e
diversificação. Isso acaba transformando a região na maior concentração industrial do Brasil, caracterizado por setores
dos mais variados, com unidades de produção que vão desde as mais simples, bens de consumo não duráveis, como
alimentícia e construção civil, até as mais complexas e desenvolvidas como informática e aviação, passando pela
indústria pesada como siderúrgicas.
(D) A evolução tecnológica e comercial criou novas demandas e mudanças locacionais, favorecendo a descentralização
da produção e o surgimento de tecnopolos, com pouca expressão no cenário mundial, mas que concentram áreas de
formação de mão de obra, pesquisa e produção que aos poucos estão evoluindo.
(E) Os mercados das regiões Norte e Nordeste tornaram-se mais exigentes nas últimas décadas, buscando maior
qualidade e diversidade comercial. Assim sendo, as empresas se mobilizam para essas regiões também com vistas ao
aumento dos rendimentos regionais.

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MÓDULO II GABARITO DOS EXERCÍCIOS

0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2
1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3
C B A C B D E C B A D B B E A A D C C B C C E
H
I
S
T
Ó
R
I
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A
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CAPÍTULO IV

AS NAÇÕES MODERNAS
1) Portugal:
Projetada sobre o Oceano Atlântico, a Península Ibérica é a região
mais ocidental da Europa.
Desde épocas pré-históricas, povos lígures e iberos, talvez
provenientes do norte da África, se estabeleceram na região, seguidos dos
celtas, oriundos do centro da Europa, nos fins do século VII aC.
misturaram-se, formando uma população que se convencionou chamar
de celtibero. Fenícios, gregos e cartagineses, povos marítimos e
comerciantes, frequentaram a costa mediterrânea da península,
localizando-se, eventualmente, em trechos dessa costa, fundando
feitorias ao mesmo tempo em que impregnavam os seus costumes nos
habitantes.
A disputa entre Roma e Cartago pela supremacia no Mar Mediterrâneo
salientou a importância estratégica da região. A vitória de Roma abriu as
portas da Ibéria ao seu domínio. Tornou-se célebre a resistência de
Viriato, chefe destemido dos Lusitanos, que enfrentou as legiões romanas
a partir de 147aC, conseguindo um acordo de paz em 141aC. A luta
prosseguiu, terminando com o assassinato de Viriato 139aC por três
traidores. A destruição de Numância 133aC consolidou a conquista
romana. A elevada cultura romana exerceu, então, sobre os povos
mesclados da região, uma forte influência, em especial nos costumes, na
língua (latim vulgar, que era falado pelos comerciantes e soldados) e na
religião, com a assimilação do cristianismo.
Com o enfraquecimento do Império Romano, no século V, povos
bárbaros penetraram em seus domínios, apoderando-se das terras que
lhes apraziam. Em 409, álanos, vândalos e suevos conquistaram a
Península Ibérica sobrepondo-se à população existente e, em parte,
cristianizada.
Nada construíram, antes, guerrearam entre si e não puderam resistir à penetração dos visigodos em
414, chefiados por Ataulfo. Em pouco tempo, os visigodos estenderam o seu poder sobre a península e,
quando, em 586, morreu o Rei Leovigildo, formavam um poderoso reino. Seu filho Recaredo adotou o
cristianismo como religião oficial (587).
Ao mesmo tempo em que a religião cristã impregnava os habitantes da Península Ibérica, outra
religião, recentemente formada por Maomé, espalhava-se entre os povos do norte da África. Atrair mais
elementos, mesmo empregando a Guerra Santa, passou a ser a meta prioritária dos recém-convertidos.
O Rei visigodo Rodrigo não se mostrou com capacidade para detê-los. Derrotado na batalha
próximo do lago Janda, em julho de 711, reorganizou as forças em Segoyuela, mas, neste local, perdeu o
reino e a vida (713). Rapidamente, os invasores muçulmanos, em sua maioria berberes, ocuparam a região,
impondo seus hábitos à população amedrontada.
Alguns visigodos cristãos não aceitaram a nova soberania. Refugiaram-se nas montanhas das
Astúrias e, dirigidos pelo nobre Pelágio, iniciaram a reconquista, Ao mesmo tempo, os invasores exerciam
na população (chamada moçárabe1) forte influência, dando início à cultura do arroz e da cana-de-açúcar,
criando a manufatura da seda e da lã, produzindo uma arquitetura de rara beleza, restando muitos exemplos
na região sul da atual Espanha.

1
Moçárabe: população cristã em territórios dominados pelos islâmicos. Apesar de manterem sua fé cristã, adotaram a língua e
outros costumes árabes durante o período de controle desse povo sobre territórios na península ibérica. Com a retomada do
controle do território pelos cristãos, os islâmicos que ficaram na mesma condição foram chamados de mudéjares.
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Pouco a pouco, os cristãos, espremidos ao norte, organizaram-se e recuperaram territórios aos
mouros (isto é, aqueles que não professavam a fé católica), transformando-os em mudéjares.
Depois da vitória alcançada na batalha de Covadonga, em 718, os cristãos formaram o reino das
Astúrias. Sucessivamente, constituíram os reinos de Leão, Navarra, Aragão e Castela. A luta contra os
mouros excitava os nobres, alguns provenientes de outras terras, ávidos de glórias militares e que nela
divisavam uma verdadeira cruzada. Raimundo, filho do Conde da Borgonha, e seu primo Henrique
ofereceram-se ao Rei de Leão e Castela, Afonso VI, para participarem das lutas.
Os dois jovens francos tão bem se houveram que o rei lhes premiou largamente. Raimundo recebeu
o governo da Galiza e a filha do rei, Urraca, em casamento. D. Henrique ganhou um pequeno condado,
chamado Portucalense, cujo nome deriva de uma antiga povoação romana na foz do Rio Douro e a mão de
outra filha de Afonso VI, Taraja.
O Conde Henrique de Borgonha combateu os mouros com vigor. Seu filho, D. Afonso Henriques,
obteve, em 25 de julho de 1139, uma notável vitória contra os mouros (talvez na região de Beja ou nas
planuras de Ourique), intitulando-se REX nesse mesmo ano, atitude legitimada graças ao amparo dos papas
Lúcio II e Alexandre III em troca da vassalagem oferecida. Em 1143, o Rei Afonso VII confirmou, ao
Conde de Portucale o título de REX (Tratado de Zamora). Estava fundado o Reino de Portugal.
A dinastia de Borgonha começa com D. Afonso Henriques.
Seguiram-se Sancho I, primogênito de D. Afonso Henriques, Afonso
II, Sancho II, deposto pelo Papa Inocêncio IV, com isso acarretando
luta civil em Portugal, terminada com a subida, ao trono, de Afonso
III, D. Dinis, seu filho, em cujo reinado foram criadas as
Universidades (1290), a princípio em Lisboa e depois (1308) sediada
em Coimbra, e a Ordem de Cristo (Bula de João XXII de 15 de março
de 1319), D. Afonso IV, D. Pedro I, que coroou Inês de Castro rainha
depois de morta, e, finalmente, D. Fernando, falecido em 1383.
Entretanto, foi ele quem aumentou o espaço geográfico do reino,
tomando-o, palmo a palmo aos mouros, conquistando também o
reino do Algarve, ao sul.
Esta fase da história portuguesa é caracteristicamente
militar, como consequência da Guerra de Reconquista. A
principal atividade econômica é a agricultura. O rei governava
seus súditos com firmeza, convocando, quando lhe aprazia, uma
assembleia, intitulada Cortes, composta por representantes dos
nobres, clero e povo, Portugal não experimentou um sistema
feudal como ocorria em outras regiões europeias, em
decorrência do poder exercido pela realeza.
Essa política centralizadora só foi possível graças à
criação de vários funcionários incumbidos do sistema fiscal e
judiciário, capazes de transitar no emaranhado de leis que se
encontravam em vigor. A primeira tentativa de ordenar a
Observatório de Sagres, no Cabo São
legislação ocorreu no reinado de Afonso III; chamou-se Livro
Vicente, ao Sul do Algarve
das Leis e Posturas.
Com a morte de D. Fernando, pretendeu o trono D. João,
rei de Castela, casado com D. Beatriz, filha do rei falecido. O povo e pequena parte da nobreza apoiaram a
D. João, mestre da Ordem de Cavalaria de Avis, filho bastardo de D. Pedro I. Na batalha de Aljubarrota
(1385), o Mestre de Avis, ajudado pelo condestável D. Nuno Álvares Pereira, venceu as pretensões dos
castelhanos e deu início à Dinastia de Avis. D. João I instalou-se firmemente no trono, caminhando para o
absolutismo monárquico. Ligado à burguesia, reduziu os direitos dos nobres e do clero, ao mesmo tempo
em que se voltou para o alargamento dos horizontes comerciais, exigidos por essa mesma burguesia, que
cobiçava as riquezas das distantes Índias. Diversas cidades litorâneas transformaram-se em entrepostos
comerciais; a pesca se desenvolveu.

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D. João I faleceu em 1433, substituído por seu filho D. Duarte, que instituiu a Lei Mental
(08/04/1434) que assim se chamou porque já se achava estruturada na mente de D. João I, possivelmente
com a ajuda do doutor João das Regras. Em síntese, ela proibia que os não primogênitos, mulheres,
ascendentes e colaterais pudessem herdar bens doados pela Coroa. Foi, assim, um duro golpe na nobreza.
No reinado seguinte, de D. Afonso V, as leis de Portugal foram reunidas nas Ordenações Afonsinas
que receberam publicação em 1446.
Depois dos vikings, os portugueses foram os primeiros que lançaram as vistas para a imensidão do
oceano Atlântico. Diversas causas concorreram para dar a esse pequeno povo uma hegemonia mercantil de
caráter colonial. Portugal só aparentemente está ligado ao planalto castelhano, pois o curso alto dos rios
peninsulares não é navegável por causa da estiagem e da irregularidade do fundo do leito. Em compensação,
a navegabilidade do curso baixo dos rios, juntamente com os grandes portos do litoral, deu conexão
econômica às regiões ocidentais, de maneira que Portugal constitui um Estado costeiro com interesses
marítimos perfeitamente definidos. As aspirações nacionais orientaram-se assim necessariamente para o
mar.
Por outro lado, no Portugal primitivo, a produção industrial, excluindo-se a da marinha de sal, mal
bastava às mais elementares necessidades da vida cotidiana. Por escassas que fossem, e de fato o eram, as
aspirações de conforto ou de luxo então existentes, só pelo comércio de importação poderiam ser satisfeitas.
Em contrapartida, havia excedentes quanto a certos produtos agrícolas, pecuários e apícolas e neles se
encontraria natural fundamento de equilibradas trocas comerciais.
Porém só com os progressos da constituição
territorial do País essas trocas se estabeleceram em
acentuado ritmo, criando-se então condições
adequadas e, como, ao tomarem vulto, elas
impunham o uso da via marítima, também só então
verdadeiramente se estabeleceu o contato entre o
Homem e o Mar na orla do ocidente peninsular em
que se instituíra o Estado português.
A conquista de Lisboa (1147), transferindo
para os portugueses a posse de um porto natural de
excepcional valor, abria à expansão comercial
portuguesa por via marítima as mais lisonjeiras
perspectivas; e a posse de Silves, temporária
primeiro (1189-1191), definitiva desde os meados
do século XIII, privando os muçulmanos do último
dos seus grandes portos ocidentais, bases de ação
Antigo mapa de Lisboa, cerca de 1812,
naval depredadora dos litorais cristãos - consolidou feito pelo inglês Sir Arthur, conde de Wellington,
as condições de segurança necessárias àquela durante as Guerras Napoleônicas.
expansão.
Pode dizer-se que até o fim do século XII não houve marinha da Espanha Ocidental. As lutas de
reconquista eram exclusivamente por terra, e a imperícia marítima dos cristãos, juntamente com os relativos
progressos dos árabes, concorria para tornar difícil a conservação das praças litorâneas conquistadas. Os
primeiros dispunham apenas de pequenas lanchas costeiras, enquanto os outros, tinham navios
regularmente armados e equipados, com que percorriam toda a costa ocidental, refrescando nos seus portos,
abastecendo-os de munições e gente quando estavam cercados e desembarcando amiúde com o fim de
atacar os campos dos cristãos e cativar os indefesos. Mas, desde meados do século XII o exame das armas
de cruzados, com cujo auxílio Lisboa e depois Alcácer foram tomadas, tinha vindo acrescentar os
conhecimentos, demonstrando ao mesmo tempo que sem o império no mar, jamais poderia levar-se a cabo
a conquista do sul do reino.
A conquista de Constantinopla pelos turcos em 29 de maio de 1453, seguida pouco depois pela da
Ásia Menor e da Península dos Bálcãs, acarretou o dano e, por fim, a supressão do tráfego que as cidades
comerciais da Itália, especialmente Gênova, mantinham com os Portos do Bósforo, do mar Negro e do
Cáspio. A conquista de Constantinopla marcou o início de um crescente movimento de destruição das

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vantagens e regalias comerciais que Veneza e Gênova usufruíam há muito tempo. Tornaram-se dia a dia
mais difíceis as relações das colônias italianas estabelecidas no antigo Império Bizantino com as cidades
pátrias, não só pelas dificuldades do intercâmbio, como pelas depredações, confiscos e perdas de foros que
elas próprias sofriam. Por fim, os descobrimentos portugueses no Atlântico deslocaram as correntes
mercantis que cruzavam o Mediterrâneo da Ásia para a Europa. Quando Pedro Pasqualigo, embaixador de
Veneza em Lisboa, comunicou que os portugueses tinham achado uma nova rota para as Índias e oferecido
especiarias mais baratas que os venezianos, esse acontecimento foi considerado um desastre público. Em
consequência, os venezianos fizeram saber ao sultão do Egito que seu país e sua religião estavam em perigo
e ofereceram-lhe armas e braços para exterminar os recém-vindos. A ajuda veneziana aos camorins hindus
não impediu, contudo, o estabelecimento dos portugueses na Índia e noutros pontos do Oriente. Assim,
outra das principais fontes da prosperidade da República mudou de explorador.
Veneza, provida de uma marinha grandiosa, superior a de qualquer outro Estado, pôde conservar
ainda no século XVI um prestígio invejável e uma importância política e comercial incomum. As fontes de
sua prosperidade e de seu poderio se achavam, entretanto, já cortadas, e a decadência processou-se
inexoravelmente daí por diante, até o final do século XVIII, quando Napoleão extinguiu o Estado
Veneziano.
A empresa de Silves, no tempo de Sancho I, já tinha navios portugueses. Essa marinha existiu nos
reinados de Sancho II e de Afonso III, como o provam as expedições marítimas que terminaram pela
conquista definitiva do Algarves e as façanhas do lendário Fuás Roupinho. Havia então já um corpo de
tropas especiais de embarque e nas terceiras navais se construía, sob direção de mestres estrangeiros, navios
de alto bordo para as frotas militares do rei. A frota de navios grossos que ajudara a tomada de Faro, as
fustas, as barcas, as caravelas, as pinaças e as bojudas naus do tempo deviam, em caso de guerra, defender
eficazmente o magnífico estuário do Tejo. No tempo de Afonso III, já o poder marítimo português é de tal
ordem que os navios vão em socorro à Castela, e o Papa convida os lusitanos a acompanhar as gentes do
Norte às cruzadas.
Livre da ameaça árabe, graças à conquista das principais cidades costeiras e sendo propelido para o
mar em virtude de razões já citadas, o comércio português pôde iniciar seus primeiros passos. Já em 1194
há notícias de ter naufragado um navio português que se destinava a Bruges, e os portugueses são
encontrados nos meados do século XII na feira anual de São Demétrio em Tessalônica. Em 1202, João Sem
Terra tomava sob sua proteção os mercadores portugueses que fossem residir nos seus domínios. Em 1290,
as relações comerciais com a França eram já tão importantes que Filipe, o Belo, concedeu aos mercadores
portugueses que frequentavam o porto de Honfleur, importantes privilégios, confirmados depois por vários
monarcas franceses que àquele sucederam. Inversamente, os comerciantes estrangeiros começaram a
interessar-se por Portugal. Os armadores da Normandia, do Flandres e da Inglaterra já no fim do século
XIII demandavam o Tejo para mercadejar.
Com o desenvolvimento do comércio, o da marinha, sua servidora, impulsionou por sua vez a
indústria de construção naval nas margens do Tejo. Em 1237 e 1260, fazem-se referências muito claras ao
arsenal régio e à carreira de construção em Lisboa.
O reinado de D. Diniz marca uma segunda era na história da Marinha nacional. Sendo a Marinha
Mercante e a Militar reciprocamente indispensável, os cuidados do rei administrador dirigiram-se
principalmente a fomentar a primeira, cuja importância o tratado de comércio feito em 1308 com a
Inglaterra acusa D. Diniz na sua eficiente missão organizadora, tendo criado o serviço de recrutamento nas
povoações marítimas.
As condições de navegação nessa época de pirataria infrene impunham caráter militar à Marinha
Mercante, confundindo-se assim as duas marinhas nacionais, cujo incremento levou D. Diniz a criar, em
1307, para sua superintendência, o cargo de Almirante Maior.
A obra de D. Diniz foi continuada por D. Fernando, que assistiu ao pleno desenvolvimento de uma
potência comercial e marítima. O rei em pessoa era armador e negociante de certos gêneros exclusivos.
Criou o rei bolsas de seguros marítimos mútuos, em Lisboa e no Porto, com o produto de uma taxa especial
lançada sobre o comércio, instituindo o cadastro ou estatística naval. Reduziu à metade os direitos de
importação dos gêneros trazidos por navios nacionais, estabelecendo assim um direito diferencial de
bandeira, a cuja sombra se multiplicou o número dos navios mercantes portugueses. Deu, aos que

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desejassem construí-los, a faculdade de cortar as madeiras nas matas reais. Os cuidados do rei em favor da
Marinha Mercante abraçavam também a Marinha de Guerra. A armada que foi bloquear Sevilha (1372) era
no dizer do cronista – formosa campanha de ver – e contava trinta e duas galés e trinta naus redondas. Vinte
e três meses teve bloqueado o Guadalquivir e retirou-se o bloqueio com o decreto de paz. Outra frota quase
tão poderosa como essa foi ainda ao Mediterrâneo, na seguinte guerra de Castela, para sofrer o desastre de
Saltes (1381).
A Marinha foi uma criação da monarquia e um produto da nação. Desde a reunião das esquadras
cruzadas no Tejo para a conquista de Lisboa, desde a introdução dos genoveses, que vieram ensinar a
navegar, vê-se começar a se formar essa nação cosmopolita, destinada à vida comercial, marítima e
colonizadora. Toda a atenção administrativa se aplica para o desenvolvimento da navegação e do comércio
pelo magnífico porto aonde todos os navios, em viagem dos mares do Norte para o Mediterrâneo, vinham
refrescar, desde que Lisboa era cristã.
O desenvolvimento do comércio, da navegação e de outras atividades correlatas, como não podia
deixar de ser, promoveu em Portugal a ascensão da burguesia que até então pouca importância tivera no
quadro social da nação. Esta burguesia comercial, rica, ativa, inteligente, não podia deixar de sentir as
mesmas aspirações das suas congêneres das restantes nações marítimas da Europa. E a sua influência na
gênese da expansão marítima portuguesa não se pode negar. Influência bem poderosa, porquanto é certo
que desde meados do século XIV a sua ação política era progressiva. No século seguinte, os reis portugueses
já dispunham do instrumento marítimo indispensável a obras mais vastas.
Sobre a abertura do mar, o primeiro lugar cabe indiscutivelmente aos portugueses. Foram eles que
durante mais de 200 anos abriram novos caminhos, exploraram novas fontes de riquezas e descobriram
novas terras. A descoberta da América por Colombo, a serviço da Espanha, é um episódio isolado, ao passo
que as navegações portuguesas se desenrolaram com caráter de continuidade e, muitas vezes, com planos
preestabelecidos.
Portugal inicia em 1415, conquistando Ceuta, uma
obra de expansão com um horizonte tão vasto que em menos
de um século realizou todos os objetivos econômicos da
Europa, duplicou os conhecimentos geográficos e feriu de
morte o poder muçulmano no Oriente. Duas ordens de razões
explicam a primazia de Portugal, desde que a expansão
ultramarina perdeu a feição de mero tentame, característico
dos séculos XIII e XIV: por um lado, a incapacidade das
demais nações marítimas; por outro, o grau de aptidão que
Portugal atingira.
Veneza, Gênova e Aragão, sobre não disporem de
recursos financeiros e militares exigidos por uma nação Ceuta, hoje território
completa e demorada, eram potências mediterrâneas, espanhol no Marrocos.
portanto com uma situação geográfica que as colocava em
nível de inferioridade relativamente à expansão por via
atlântica.
Castela e França estavam a braços com alarmantes
problemas políticos e militares de que dependia a sua
definitiva constituição territorial. Em Portugal, pelo
contrário, tudo se congregava no sentido de tornar viável a
obra de expansão com que sonhavam todos os grandes
espíritos europeus.
A extensão territorial e a independência nacional eram problemas definitivamente resolvidos;
Portugal podia consagrar todos os seus esforços a outro qualquer empreendimento. Estreita faixa de terra
debruçada sobre o Atlântico, a situação geográfica e uma remota atividade marítima dos habitantes já de

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antemão estabeleciam o sentido atlântico da expansão portuguesa. Inicialmente, o objetivo do príncipe D.
Henrique era modesto: explorar as costas da África além do cabo Não2.
Em meio ao primeiro quartel do século XV, a virtual
capacidade portuguesa para a tarefa do descobrimento marítimo foi
valorizada pela clarividente e firme intervenção de um homem o
infante D. Henrique, comumente conhecido pelo epíteto de
Navegador, não porque largamente tivesse navegado, pois não
excederam Marrocos os seus maiores percursos marítimos, mas por
se reconhecer que à sua ação decisiva se deveram o início e os
primeiros êxitos da expansão ultramarina portuguesa. Fundando a
Escola de Navegação e o Observatório, em Sagres, o infante D.
Henrique não só proporcionou aos marinheiros portugueses
elementos para mais arrojadas investidas contra o oceano, como
também sistematizou as expedições marítimas que passaram a serem
organizadas em obediência a diretrizes seguras. A bússola, o
astrolábio e o quadrante já guiavam as expedições marítimas
enviadas anualmente de Sagres pelo Infante a sondar o oceano, ou a
descer a costa para o sul. As ilhas de Porto Santo, Madeira e os
Açores foram por esta forma descobertas.
Com o ano de 1434, abriu-se na história de Portugal um período de sistemáticas explorações
marítimas que, lançadas cadencialmente como vagas contra a costa de todo o sul da África, em sessenta e
quatro anos rasgara o caminho pelo oceano até a Índia. A primeira que se registra é a de Afonso Gonçalves
Balda e de Gil Eanes que, com uma barca e um barinel3, foram para além do Bojador cerca de cinquenta
léguas. Nos anos seguintes, outros exploradores avançaram cada vez mais, para o sul, tendo Nuno Tristão
ultrapassado o cabo Branco. A mais baixa latitude geográfica (10ºN) logrou-a em 1446 Álvaro Fernandes,
sobrinho do Capitão Zarar, que foi para o sul do cabo Verde cento e dez léguas.
Na data da morte do Infante (1460) estavam, por conseguinte, descobertos, reconhecidos, estudados
e explorados cerca de dois mil quilômetros de costa para além do cabo Bojador.
No reinado de Afonso V, as expedições foram em pequeno número. As campanhas marroquinas
desviavam a atenção da conquista do oceano. Todavia, o golfo da Guiné foi reconhecido graças às viagens
empreendidas por iniciativa de Fernão Gomes, cidadão de Lisboa. Destacaram-se as expedições de
Fernando Pó, Lopo Gonçalves, Rui Sequeira, Diogo Cão e Pero de Sintra, que em 1471, segundo consta,
foi o primeiro navegante português a atingir o hemisfério sul.
A empresa iniciada pelo infante D. Henrique prosseguiu nas mãos do rei D. João II que tomou a
peito descobrir os mundos remotos. O seu poder naval era já tão grande, que o Tejo via com pasmo o
famoso galeão de mil tonéis, monstro boiando n'água, eriçado de canhões. Nunca os estaleiros tinham
produzido navio tão grande. Mandou o rei aperfeiçoar as bússolas, desenhar cartas marítimas para
orientação das rotas, cometendo esses estudos a uma junta que fez as primeiras tábuas de declinação do
Sol.
As expedições marítimas foram reiniciadas com maiores recursos. Em 1486 Bartolomeu Dias recebe
a missão de descobrir a passagem sul do continente africano, e, em 1488, após ter sido jogado mar afora
por uma violenta tempestade, voltou para leste para retomar o acompanhamento do litoral como vinha
fazendo e teve a surpresa de verificar que não o encontrava mais; voltou então para o norte e reencontrou
o litoral à sua frente (W-E); após prosseguir para leste algum tempo voltou e só então descobriu o extremo
sul da África, que, muito acertadamente, chamou de cabo das Tormentas, rebatizado mais tarde de cabo da
Boa Esperança.

2
O Cabo Não ou Cabo do Não, actual Cabo Chaunar, é um cabo situado na costa atlântica da África, no sul do Marrocos,
entre Tarfaya e Sidi Ifni. Até ao século XV era considerado intransponível por europeus e muçulmanos, de onde se originou o
seu nome.
3
Barca era um navio pequeno de madeira, com uma só coberta e com velas latinas e que podia levar ou não cesto de gávea.
Barinel é uma embarcação pequena que possui vela quadrangular podendo também ser movido utilzando remos.
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1.1) A Descoberta do Caminho Marítimo para as Índias:
Portugal não se garantiu apenas por meio de instrumento diplomático na questão da propriedade das
terras descobertas e por descobrir. Usou também o velho e eficiente recurso da união familiar: D. Manuel,
rei de Portugal, pediu a mão de D. Isabel, filha dos Reis católicos Fernando e Isabel, para sua rainha,
realizando-se o casamento em 1497. Somente depois de garantidas para si as terras africanas já
descobertas e afastada durante muito tempo a possibilidade de conflito com a Espanha é que Portugal
reiniciou a sua jornada para as Índias pelo oriente.
No entanto, quando Vasco da Gama parte em 1497, ele segue a rota de todos os navegantes que
demandavam a costa da África até a altura de Serra Leoa e daí, surpreendentemente, guina para alto mar,
afastando-se do golfo da Guiné, região onde as calmarias eram frequentes e onde começava o trecho do
litoral africano em que a corrente de Benguela e os ventos dominantes são contrários ao sentido de
navegação. A corrente Sul-Equatorial e os ventos dominantes o levam para além do meio do Atlântico, a
ponto de ver sinais de terra, do que daria notícia a Cabral, quando este partiu para sua viagem em 1499,
da qual resultaria a descoberta do Brasil. Durante três meses só vê céu e água. Navegando decididamente
no rumo aproximado sul, vai encontrar, na altura do Prata e do sul da África, correntes e ventos favoráveis
que o levam diretamente ao extremo sul da África.
Nos dez anos que remos tanto com a viagem de
mediaram entre essas duas Vasco da Gama, pois na
viagens e enquanto tantas navegação para o golfo da
coisas importantes aconte- Guiné a ida e a volta não se
ciam, como já vimos, é obvio faziam pelo mesmo caminho,
que alguém andou esquadri- o que demonstrava perfeito
nhando todo o Atlântico Sul. conhecimento do regime e do
Observando o regime dos Representação de Calecute no atlas sentido das correntes
"Civitates orbis terrarum"
ventos, não nos surpreende- marinhas no Atlântico Norte.
(Georg Braun e Franz Hogenber, 1572

Passado o cabo da Boa Esperança, sobe ele o litoral africano do Índico até encontrar povos que lhe
dão seguras notícias das Índias, pois mantinham com essas regiões um comércio regular; esse comércio era
feito pelos árabes, que desde o século VIII possuíam o domínio do mar no oceano Índico. Contratando, por
bom dinheiro, um excelente piloto árabe, Vasco da Gama segue diretamente para as tão desejadas Índias,
aonde chega às proximidades de Calicute, em 20 de maio de 1498.
Os navios lusitanos, de grande porte em comparação com os dos árabes, não tinham a liberdade de
ação dos navios de guerra inimigos, mas tinham maior poder de fogo. E o mundo estava entrando numa
época de predomínio do fogo sobre movimento e choque. Foi nessa disputa que os portugueses, apesar das
distâncias mas fortemente amparados por um governo resoluto, em poucos anos tomaram dos orientais o
domínio dos mares índicos e passaram a exercer, com exclusividade, o comércio das especiarias e demais
mercadorias do Oriente para a Europa.
Com a chegada de Vasco da Gama a Calicute na Índia, a ligação marítima imediata entre a Europa
e as Índias tinha sido conseguida. O encontro dessa rota marítima foi somente o primeiro passo para o
verdadeiro fim. A questão mais difícil estava ainda de pé: estabelecer nas costas índicas mediante pacíficas
negociações com os chefes indígenas ou por imposição da força, pontos de apoio para o comércio e adquirir
depois, em face dos árabes, uma posição dominante. Os árabes tinham em seu poder, há vários séculos,
toda a navegação comercial pelo mar Vermelho e do golfo Pérsico até Málaca, depósito principal dos
produtos da Ásia Oriental. Era preciso arrebatar aos árabes essa situação de predomínio.
Mal Vasco da Gama regressou com as provas do resultado feliz de sua viagem, treze navios se
fizeram à vela sob o comando de Pedro Álvares Cabral, levando mil e duzentos soldados para vencer os
hindus. Ao demandar o cabo da Boa Esperança, a frota aportou ao litoral brasileiro, acrescendo dessa forma
os domínios do rei de Portugal, tomando posse das terras demarcadas pelo Tratado de Tordesilhas. Na Índia,
Cabral recebeu por toda parte votos de amizade e voltou para Portugal carregando riquezas nos poucos
navios que haviam escapado às desventuras da expedição. O rei, encorajado por esse primeiro ensaio,
equipou quinze navios de alto bordo, sendo confiado o comando a Vasco da Gama. O almirante português

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reduziu vários estados à condição de tributários, destroçou a frota do samorim de Calicute, e a presa enorme
que encontrou nesses navios valeu-lhe uma acolhida entusiástica no regresso.
Em viagem posterior, Francisco de Albuquerque obteve consentimento do rei de Cochin para
construir o Forte de Santiago e a Igreja de São Bartolomeu. Assim foi colocada a primeira pedra do domínio
espiritual e temporal de Portugal no país, domínio que iria durar até 1961. A heróica resistência no Forte
Santiago, com Eduardo Pacheco à frente de um punhado de bravos, contra a investida de dezenas de
milhares de soldados do samorim consolidou a posição portuguesa na Índia. A partir desse momento,
Portugal se considerou senhor dessas paragens. Não satisfeito de retirar ricas mercadorias, enviou Francisco
de Almeida na qualidade de Vice-Rei. A prudência e o valor de Almeida foram coroados do mais feliz
sucesso. Ele submeteu as tribos dos reis de Quiloa, de Mombaça e de outros Estados, construindo também
muitos fortes. Lourenço, seu filho, abordou a ilha de Ceilão. A posição e os portos dessa ilha fazem com
que ele seja o centro do comércio da África e da China. Nenhum porto é comparável, nesses mares, ao de
Trinquernale.
O Plano de domínio português acha-se esboçado na carta que o primeiro Vice-Rei, Francisco de
Almeida, enviou a D. Manuel I. É esse um dos documentos mais importantes da história portuguesa no
Oriente: "Toda a nossa força seja no mar, desistamos de nos apropriar da terra. As tradições antigas de
conquista, o império sobre reinos tão distantes não convém. Destruamos estas gentes novas [árabes,
afegãos, etíopes, turcomanos] e assentemos as velhas e naturais desta terra e costa e depois iremos mais
longe. Com as nossas esquadras teremos seguro o mar e protegidos os indígenas em cujo nome reinaremos
de fato sobre a Índia, e se o que queremos são os produtos dela, o nosso império marítimo assegurará o
monopólio português contra o turco e o veneziano”.
Perante a ameaça portuguesa e instigado por Veneza, o
sultão do Egito enviou para a Índia, mar Vermelho abaixo, uma
numerosa frota de guerra. Porém em Diu, a 3 de fevereiro de
1509, Francisco de Almeida a destroçou, apesar de os egípcios
contarem com o concurso de artilheiros italianos.
Nos anos seguintes, os portugueses iniciaram uma
política de conquista que, graças aos eminentes dotes militares
de Afonso de Albuquerque, se traduziu numa série de
extraordinários êxitos. Assaltou Goa, na costa de Malabar;
depois ocupou as Molucas e após uma desesperada luta
apoderou-se da rica cidade de Malaca. A notícia das invencíveis
esquadras estrangeiras, estendendo-se ao longo dos países
litorâneos do oceano Índico e de todas as partes, acudiram
embaixadores de reis indígenas para fazer alianças e tratados de
comércio.
Esses acordos permitiram o estabelecimento de feitorias e a
construção de firmes fortalezas para protegerem os comerciantes
portugueses. Desse modo, ficou o Extremo Oriente submetido à
esfera de interesse da Lusitânia. Mas Albuquerque percebeu, com
extraordinária perspicácia que, para aniquilar totalmente a
hegemonia mercantil dos árabes (mouros, como diziam os
portugueses), era preciso obturar a rota de importância mundial até
então, que atravessava o mar Vermelho e o Golfo Pérsico. Todos
os seus recursos militares fracassaram diante dos muros de Aden,
mas no ano de 1515 conseguiu forçar a cidade de Ormuz e,
levantando nela uma grande fortaleza, cortou ao comércio arábico
a ligação com o Mediterrâneo. Ormuz, Goa e Malaca, os três
pontos cardeais do império fundado por Albuquerque no breve
Península Arábica
período de cinco anos, valiam o domínio em todo o mar das Índias
e a vassalagem de todas as costas,

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desde Sofala, em África, ao cabo de Jar-Hafum; desde Khor Fakhan, na Arábia, até o golfo Pérsico; desde
o Indo até ao cabo Kumari; daí às bocas do Ganges e, descendo pelo Arakan e pelo Pegu, até Malaca com
as ilhas dispersas de Madagascar e Sokotra, Anjediva, os arquipélagos de Lakha (Laquedivas) e de Malaca
(Maldivas), Sinala (Ceilão) e Sumatra e Java, Bornéu e as Molucas até os pontos extremos de Banda e
Ambon.
Decaídos os árabes de sua privilegiada posição de intermediários entre o Oriente e o Ocidente, a
corrente de produtos orientais, que da Ásia anteriormente ia para a Europa através do Mediterrâneo, foi
encaminhada diretamente para Portugal, seguindo a via marítima.
A expansão portuguesa na Ásia continuou no decorrer de quase todo o século XVI, exigindo
frequentemente o recurso às armas, o que absorvia grande parte dos recursos do reino. Durante esse tempo,
os portugueses mantinham suas pretensões no Marrocos, sustentando diversas guerras, embora de pequena
envergadura. Ao mesmo tempo, seus navegantes descobriram várias ilhas no Atlântico Sul, chegaram às
costas do Canadá e exploraram quase todo o litoral da América do Sul. A partir da terceira década desse
século também foi iniciada a colonização do Brasil, e Portugal soube defender com indomável energia a
posse das novas terras, enfrentando a crescente agressividade de marinheiros ingleses, franceses e
holandeses. Num extremo do mundo, seus marinheiros, comerciantes e religiosos chegaram ao Japão e se
estabeleceram em Macau, na China; no outro, seus pescadores, ao largo da Terra Nova começaram a retirar
dos mares o bacalhau ali encontrado em cardumes imensos e, segundo consta, auxiliaram o navegante
francês Jacques Cartier nas suas primeiras explorações no Canadá. Assim, os portugueses, que não tinham
quarenta mil homens sob armas, faziam tremer o Império de Marrocos, os Berberes da África, os
mamelucos, os árabes e todo o Oriente de Ormuz à China, do cabo da Boa Esperança até Cantão, exercendo
seu domínio sobre mais de quatro mil léguas, por meio de uma cadeia de empórios e fortalezas.

1.2) Outras Navegações Portuguesas:


Os lusos andaram mesmo, como diz o poema famoso Os Lusíadas, “por mares nunca dantes
navegados”, pelo menos por europeus.
Mesmo antes da descoberta da América por Colombo, já nela teriam estado os portugueses: em
1491, João Vaz Corte Real e Álvaro Martins Homem estiveram na Terra Nova e, no mesmo ano da viagem
de Colombo, João Fernandes Labrador e Pedro de Barcelos descobriram a península que teria até hoje o
nome do primeiro.
Em 1501, Gaspar Corte Real descobriu o estreito de Davis, entre a Groenlândia e o continente norte-
americano e esteve naquela grande ilha.
As navegações lusitanas no Índico levaram à conquista de quase toda a costa da África e à descoberta
de inúmeras ilhas (Ceilão, Maurício, Reunião, Madagascar, Maldivas, Sonda, Sumatra, etc.).
Em 1516, Duarte Coelho atinge a Cochinchina (atual Vietnã) e, em 1525, Luiz Vaz Torres descobre a
Austrália. A Nova Guiné, em 1538, com João Fogaça, e o Japão, em 1541, com Fernão Mendes Pinto e
Antônio da Mota, mostram quão longe chegaram os portugueses para as bandas do Oriente.
Mas, o ponto alto das navegações lusitanas viria com as viagens de João Martins que, em 1588,
descobriu a passagem do noroeste, passando pelo estreito de Davis, mar de Baffin, ilhas Árticas, norte do
Alasca e estreito de Bering, vindo a sair no Pacífico, e de David Melgueiro que, em 1660, descobriu a
passagem do nordeste, partindo do Japão, passando pelo norte da Sibéria e das ilhas Spitzberg e chegando
a Portugal pelo norte do Atlântico.
Desse imenso império colonial pouco restou a Portugal; a decadência começou em 1580 com a
entrega da coroa ao Rei espanhol Felipe II, o que fez com que os holandeses, que estavam em luta com os
espanhóis, passassem a atacar os navios portugueses.

1.3) O Apogeu de Portugal:


Apesar dos sintomas de decomposição, o império comercial português atingiu, no fim do século
XVI, o seu apogeu. As frotas singravam carregadas de preciosidades até os mares do Japão e da China,
requerendo o serviço de mais de quatrocentos navios de alto bordo, além de duas mil caravelas e vasos

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menores. Considerada a obra toda do pequeno reino, convém reconhecer a sua grandeza excepcional em
relação às limitações de recursos. Portugal era um pequeno Estado com escassa população e condições
econômicas limitadas. Fundando sua expansão política e econômica no comércio marítimo e no império
colonial viu-se face a face com as grandes potências marítimas que ambicionavam por igual a implantação
de colônias e linhas de comércio oceânicas. Exangue em homens, sem recursos, principalmente devido às
funestas campanhas no Marrocos, e tendo perdido a independência para a Espanha após o desastre de
Alcácer-Quibir4, Portugal não pôde manter a maior parte de seu grandioso império ante a investida cada
vez mais pertinaz das novas potências marítimas surgidas na Europa. Enquanto os Países Baixos solapavam
o poder lusitano nas Índias Orientais, seja por ações diretas, seja fomentando a rebelião dos indígenas já
submetidos, a Inglaterra colaborava na ruína do império português, ajudando em 1622 a Pérsia a
reconquistar Ormuz. A Espanha, que se esforçava para proteger suas colônias na América, deixou em pleno
abandono as possessões portuguesas. No Brasil, onde já havia uma população de origem portuguesa
relativamente numerosa, as investidas holandesas fracassaram, mas na África e no Oriente os empórios e
fortalezas lusitanas, que dispunham de limitadas guarnições e com as comunicações precariamente
mantidas com a metrópole, foram sendo tomadas uma a uma.
Em 1640, Portugal conseguiu sacudir o domínio espanhol. D.
João IV, elevado ao trono pelo voto popular, encontrou o reino
arruinado por 61 anos de servidão (União Ibérica), sem exército, sem
navios, sem artilharia. Seguiram-se quase vinte anos de guerras antes
que a independência portuguesa fosse formal e definitivamente
reconhecida pelas demais potências europeias. Os portugueses
recobraram o Brasil, mas perderam as Molucas, Cochim, Ceilão, o cabo
da Boa Esperança e tudo mais de que os holandeses se haviam
apoderado nas Índias Orientais. Por outro lado, já não havia condições
nos séculos XV e XVI para serem recomeçadas as aventuras oceânicas.
O tempo do valor pessoal havia passado. No lugar das navegações
aventurosas estavam estabelecidas linhas de comércio regular
controladas por rivais poderosos. Dessa forma, a Holanda e a Inglaterra
foram as herdeiras do império econômico construído por Portugal.

4
O desastre de Alcácer-Quibir corresponde ao falecimento do rei de Portugal D. Sebastião, que combatendo no norte da África
os mulçumanos, ainda como parte das guerras de reconquista e das cruzadas, desaparece em batalha. Sua morte gera duas
situações históricas: a primeira é que ele tinha 23 anos de idade à época e ainda não tinha herdeiros. Após sua morte, assumiu o
trono seu tio que era cardeal da Igreja Romana e que ao morrer também não tinha herdeiros, permitindo a tomada do trono de
Portugal pelos espanhóis, correspondendo este período à União Ibérica. A segunda situação é que seu desaparecimento fomentou
histórias de que ele havia sido arrebatado ao reino dos céus e de lá retornaria comandando hordas celestiais para combater os
infiéis mulçumanos. Deste fato surgem os movimentos religiosos conhecidos como sebastianistas, com ações principalmente na
colônia portuguesa do Brasil.
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2) Espanha:

A Espanha, com seu planalto extenso cercado


de ásperas cordilheiras, é um país nitidamente
continental. Os rios caudalosos na época das chuvas e
secos no verão, fechados quase sempre por bancos em
sua desembocadura, prestam-se pouco à navegação.
Também não tem a Espanha bons portos, e mesmo o
tráfego pela costa é difícil. Em oposição a Portugal, a
Espanha é um país interior, no qual, ao lado da
agricultura, da viticultura e da criação do bicho-da-
seda, teve grande importância a indústria pastoril.
Além disso, o país era bastante extenso para alimentar
devidamente a população, de maneira que esta não
sentia necessidade alguma de arriscar-se em empresas
ultramarinas para aquisição de novas terras.
Embora houvesse ao longo do litoral uma população de arrojados marinheiros, como os de
Barcelona e Valência, os quais enfrentaram na Idade Média lutas porfiadas contra as frotas das cidades
marítimas italianas, os espanhóis não teriam empreendido, possivelmente, o caminho dos descobrimentos,
se um estrangeiro, o genovês Cristóvão Colombo, não lhes tivesse mostrado as rotas do oceano. Além de
apresentar seus planos por duas vezes ao governo espanhol, Colombo tentou conseguir o apoio de Gênova,
Inglaterra, França e Portugal.
Pouco antes de a expansão marítima portuguesa atingir o objetivo de chegar às Índias, a Espanha
acabou por organizar expedições atlânticas, tornando-se a segunda monarquia europeia a fazê-lo. A
primeira viagem espanhola, bastante modesta, foi concebida em 1492 por Cristóvão Colombo. Partiu em
agosto daquele ano, em três pequenas caravelas, com o projeto de atingir as Índias contornando o globo
terrestre, navegando sempre em direção ao Ocidente. Assim, buscava-se uma rota alternativa àquela
controlada pelos portugueses no sul, em torno da África.
A ideia de Colombo era relativamente simples: partindo do pressuposto de que a Terra era redonda,
as Índias poderiam ser atingidas navegando-se para o ocidente em vez do oriente. Como, porém,
a base de sua argumentação (a redondeza da Terra) fosse assunto mais do que discutido, até inaceitável para
a época, Colombo foi muitas vezes ridicularizado; se não tivesse chegado a fazer a viagem que o
imortalizou, seu mérito seria enorme somente pela fé inabalável que tinha na sua teoria; anos de persistência
foram necessários para conseguir convencer alguém que pudesse efetivamente auxiliá-lo. E esse alguém
foi a Rainha da Espanha Isabel.
Mas, antes de ver a sua ideia aceita na Espanha,
Colombo havia estado em Lisboa onde sua ideia também não
fora aceita, mas não pelos mesmos motivos que na Espanha,
isto é, descrença na ideia daquele visionário. Não, ao que tudo
indica, os sábios portugueses não acharam a ideia absurda e
tanto isso é verdade, que a levaram ao rei. Mas não interessava
a Portugal abandonar uma norma que vinha seguindo havia
meio século, isto é, chegar às Índias passando pelo sul da
África, para adotar uma nova conduta que poderia ser correta,
mas também poderia resultar em nada; essa viagem que
Colombo imaginava era uma aventura, sem dúvida, e os
portugueses já estavam muito mais adiantados na maneira de
encarar o problema.
Colombo chega às Índias Ocidentais

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De qualquer modo, porém, após longas peregrinações e dissabores, Colombo pôde armar a sua
pequena frota de três navios: a Santa Maria, a Pinta e a Niña. A Santa Maria, a maior das três caravelas,
tinha apenas 27 metros de comprimento e deslocava 100 toneladas; a Niña, a menor, deslocava apenas 40
toneladas.
Colombo desconhecia a existência de um vasto continente entre a Europa e as Índias; imaginava a
distância entre a Europa e a Ásia pelo ocidente muito menor do que realmente é. Durante a viagem, teve
que mentir para as guarnições rebeladas, dizendo que ainda não haviam percorrido o caminho previsto.
Colombo chegou ao continente americano, acreditando ter
alcançado as Índias, e morreu acreditando nisso. A descoberta da
ilha de Guanahani, hoje Watling Island, uma das Bahamas, e, logo
a seguir, Cuba e Hispaniola, hoje Haiti, convenceu Colombo de
ter chegado às Índias, ideia essa tanto mais reforçada quando
soube vagamente da existência de um grande império, mais a
oeste, onde havia muitos metais preciosos; os indígenas se
referiam ao Império Asteca, mas para Colombo eram as tão
ambicionadas Índias. Somente em 1504 desfez-se o engano,
quando o navegador Américo Vespúcio confirmou tratar-se de
um novo continente.
A essa altura, portugueses e espanhóis, espalhados pelo
Atlântico, detinham o monopólio das expedições oceânicas,
sendo seguidos por outras nações a partir do início do século XVI,
especialmente França e Inglaterra.
Entretanto, os dois reinos ibéricos já haviam decidido a
partilha do mundo antes mesmo que outras nações começassem a
se aventurar nos novos territórios: em 1493, as bênçãos do papa Alexandre VI a esse acordo levaram à
edição da Bula Intercoetera, substituída no ano seguinte pelo tratado de Tordesilhas. Este estipulava que
todas as terras situadas a oeste do meridiano de Tordesilhas (por sua vez situado 370 léguas a oeste do
arquipélago de Cabo Verde) pertenceriam à Espanha, enquanto as terras situadas a leste seriam portuguesas.
O Acordo anterior previa apenas 100 léguas, mas a insistência por parte dos portugueses se deu não apenas
para garantir as posses de terras já parcialmente conhecidas no litoral da América do Sul, mas
principalmente as terras ocupadas nas Índias, já que a linha imaginária dividia o globo terrestre ao meio.
A divisão, embora hábil do ponto de vista político, porque tentava evitar um conflito entre duas
importantes nações da cristandade, era frontalmente contrária aos prováveis interesses dos demais estados
(França, Inglaterra, Veneza, Gênova, etc.), que eram sumariamente excluídos da repartição do mundo. Para
Portugal era injusto, porque equiparava todo o longo e paciente trabalho de 70 anos com uma única viagem
dos espanhóis.
Fosse como fosse, a decisão papal era impossível de ser aplicada pelas seguintes razões:
a) não estabelecia qual o meridiano que serviria
de ponto de partida para a contagem da
longitude;
b) o meridiano de Açores não é o mesmo do
arquipélago de Cabo Verde;
c) qualquer que fosse o grupo de ilhas
considerado, haveria necessidade de se
estabelecer exatamente qual a ilha e qual o
ponto nessa ilha para servir de ponto de partida,
pois mesmo uma pequena diferença pode
acarretar longas discussões diplomáticas; e
d) a légua portuguesa não era igual à espanhola
e a bula não dizia qual delas deveria ser usada
como medida.

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Desse modo, iniciou a Espanha uma política que não correspondia ao seu caráter continental, na
qual, a princípio, o povo não participou de maneira alguma. Não obstante, o recém-fundado Império
Colonial Espanhol conseguiu adquirir um imenso poder, graças à sua favorável situação geral em relação
às novas rotas marítimas. Além disso, os fabulosos êxitos dos primeiros aventureiros excitaram o afã dos
demais, fazendo com que fossem realizadas verdadeiras façanhas. Sob o comando de chefes da têmpera de
Pinzon, Vespúcio, Cortez, Pizarro, Del Cano, Magalhães, Narvaez, Ayolas, De Soto, Balboa e muitos
outros, os espanhóis, a partir dos primeiros anos do século XVI, transformaram grande parte do mundo em
palco de suas arrojadas expedições de conquista. Embora em pequeno número, esses aventureiros
edificaram o maior império colonial do século, conquistando regiões imensas em meio a dificuldades e
perigos incontáveis.
Sucediam-se as conquistas com tal rapidez, que durante o meio século seguinte quase não passava
um ano sem que o Império Colonial Espanhol ganhasse um grande território. Durante esse período, a
Espanha foi a potência mais importante do mundo. Abarcavam seus territórios o sul da Itália, a Holanda,
a Bélgica, a Espanha, Portugal e partes consideráveis da Franca, toda a América Central e Meridional, a
maior parte dos territórios ocidentais e meridionais dos Estados Unidos, as ilhas Filipinas, Madeira, Açores,
Cabo Verde, a Guiné, o Congo, Angola, Ceilão, Bornéu, Sumatra, Molucas, com numerosos
estabelecimentos em outras terras similares e continentais da Ásia. Nessa época, o exército espanhol era
reputado o melhor da Europa. No mar, o prestígio das armas espanholas foi assegurado pela vitória sobre
os turcos em Lepanto (1571).
Entretanto, a dispersão geográfica dos países submetidos à lei dos Habsburgos foi uma causa de
enfraquecimento para a Espanha, considerando que, para realizar a coesão política de suas possessões
disseminadas pelo mundo inteiro, ela tinha que ser toda poderosa no mar, o que não foi conseguido, se bem
que tentado constantemente. As numerosas guerras que a Espanha sustentou na Europa esgotaram os
tesouros tirados do México e do Peru. Por outro lado, essas guerras impediram-na de consagrar suas
energias e suas riquezas na manutenção do poderio marítimo que lhe asseguraria o controle dos territórios
mais preciosos: os da América e os dos Países Baixos.
A Espanha, depois de anexar Portugal (União Ibérica de 1580 a 1640), estava quase tão em contato
com o mar como a Inglaterra e dispunha, além disso, de uma frota de guerra com tradição naval, mas era
frota de galés, com escravos por remadores, e as suas tradições eram as do Mediterrâneo. A esquadra que
triunfou sobre os turcos em Lepanto, com a tática de Salamina e Actium, não poderia resistir à descarga
simultânea de Drake, não poderia atravessar o Atlântico e de pequena utilidade seria na baía de Biscaia e
no canal da Mancha.
A Espanha possuía, é fato, os seus navios para a navegação oceânica que velejavam ao longo da
costa americana ou atravessavam o Atlântico de Cádiz ao Novo Mundo, serviam para levar imigrantes e
trazer a prata e o ouro, mas, não sendo navios de guerra, caíram como presa fácil nas garras dos piratas
ingleses. Na realidade, a Espanha só começou a construir navios capazes de combater a Inglaterra nas
vésperas da deflagração da guerra regular.
Havida a Reforma na Inglaterra, fundou-se ali a igreja anglicana; reinava lá a Rainha Isabel I, filha
de Henrique VIII, que mantinha presa sua prima Maria Stuart, Rainha da Escócia, que era católica. A
pretexto de vingar a morte de Maria Stuart, finalmente condenada pela soberana inglesa, e reclamando
direitos ao trono inglês, Felipe II, na verdade pressionado pelos problemas econômicos da Espanha e
ansioso para pôr as mãos na Inglaterra pré-industrial, lançou-se à guerra a fim de derrubar Isabel I.
Na verdade, Felipe II tinha grandes motivos para lançar-se numa luta contra os ingleses. Isabel I
encorajara as atividades de corso contra o comércio espanhol. Corsários renomados trafegaram pelos mares
a serviço da economia inglesa na segunda metade do século XVI. Um dos mais famosos, Francis Drake,
atravessou o estreito de Magalhães em 1578 e fustigou intensamente as cidades e povoações espanholas da
costa ocidental da América. Depois de dar a volta ao mundo, retornou à Inglaterra pelo cabo da Boa
Esperança levando ouro, prata e jóias estimadas em meio milhão de libras esterlinas. A Rainha Isabel I
aceitou e aprovou plenamente a empresa de Drake, recebendo boa parte do tesouro trazido e fazendo-o
cavaleiro no convés de seu próprio navio.

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O momento mais crítico de toda a história da Espanha chegou quando
a Armada que enviara contra as costas da Inglaterra sofreu irreparável derrota
em 1588; cento e sessenta navios, dois mil e seiscentos canhões, oito mil
marinheiros e vinte e dois mil homens de tropas, tal foi a força. Veio o
desastre e atrás dele as extraordinárias aventuras que afligiram o resto da
frota: tempestades, fome, enfermidades. Menos da metade dos navios
conseguiu retornar à Espanha.
Manobrando com superioridade e evitando toda forma a abordagem,
em que levariam desvantagem, empregando ainda canhões de maior alcance,
os ingleses impediram o êxito dos espanhóis.
Não houve nenhuma grande batalha. Houve diversos encontros, todos
taticamente indecisos, mas que alcançaram um grande resultado estratégico:
os espanhóis não desembarcaram na Inglaterra. Dando a volta nas ilhas
britânicas, já de regresso ao reino, a Grande Armada perdeu cerca de metade
de seus navios, dispersos por tempestades, afundando no Atlântico ou caindo
sobre rochedos costeiros. Historiadores de tempos posteriores reconheceram
que o catastrófico fracasso da Armada marcou o início do declínio da
Espanha.
Se bem que fosse ainda preciso deixar passar três séculos para ver consumar-se a perda de suas
últimas colônias, o domínio do seu vasto império colonial achou-se imediatamente abalado por aquele
primeiro golpe na hegemonia marítima. Se bem que a Espanha houvesse ainda podido manter grandes frotas
até as guerras de Napoleão, nunca mais foi potência verdadeiramente temível.
Assim, por falta de um comércio próprio para cimentar o poder marítimo espanhol, apesar de toda
a força política e militar de Felipe e do seu império sobre milhões de indivíduos dispersos por metade do
globo, parte do Império ruiu ante o ataque de um pequeno Estado insular e de algumas cidades rebeldes das
planícies lamacentas e das dunas da Holanda.
A Espanha possuía o melhor exército da Europa no fim do século XVIII (1588). Felipe II tratou de
embarcar esse exército em navios que mandou preparar, a fim de desembarcar nas ilhas britânicas. A
empresa seria relativamente fácil, se não houvesse o mar pela frente! Os espanhóis tinham magníficos
soldados, mas para o recrutamento indispensável de marinheiros não dispunham da classe numerosa e
enérgica de mercadores e homens do mar particulares, tais como os que eram a riqueza e o orgulho da
Inglaterra.
Manobrando com superioridade e evitando toda forma a abordagem, em que levariam desvantagem,
empregando ainda canhões de maior alcance, os ingleses impediram o êxito dos espanhóis.
Não houve nenhuma grande batalha. Houve diversos encontros, todos taticamente indecisos, mas que
alcançaram um grande resultado estratégico: os espanhóis não desembarcaram na Inglaterra. Dando a volta
nas ilhas britânicas, já de regresso ao reino, a Grande Armada perdeu cerca de metade de seus navios,
dispersos por tempestades, afundando no Atlântico ou caindo sobre rochedos costeiros. Historiadores de
tempos posteriores reconheceram que o catastrófico fracasso da Armada marcou o início do declínio da
Espanha.
Em consequência, permanecendo grande potência em terra, não mais foi possível à Espanha
competir no mar com a Holanda e a Inglaterra. Enfraquecida no mar, que serviu de ligação entre as várias
partes do Império durante dois séculos, tornou-se a Espanha inimiga natural de grande número de potências
que se esforçavam em arrancar o pavilhão de Castela das terras conquistadas ou das riquezas extraídas dos
novos territórios. Em todas as colônias de alguma importância, foram os espanhóis obrigados a levantar
fortificações custosas, a fim de garantir uma proteção relativa contra os ataques de piratas e das frotas das
potências inimigas. Embora decadente, a Marinha de Castela não estava, porém, ausente dos mares e soube
por mais de uma vez impor-se a seus contendores, como sucedeu ao largo dos Abrolhos por ocasião das
invasões batavas no Brasil (Jornada dos Vassalos).

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A ameaça contra as rotas marítimas, cada vez


maior com o decorrer dos anos, obrigou a Espanha
a tomar medidas extremas. Todo o tráfego era
regulado de maneira a encher as máximas
condições possíveis de segurança contra os navios
corsários das nações rivais. Uma vez por ano, dos
portos de Cádiz, Sevilha e S. Lucas partiam dois
comboios de navios mercantes escoltados por
navios de guerra. Um desses comboios, chamado
Frota, fazia vela para o México, e o outro
chamado Galeão, se dirigia para a América do
Sul. A Frota levava a Vera Cruz as mercadorias
destinadas à Nova Espanha.

Os galeões destinados ao abastecimento de Caracas, da Nova Granada, do Peru, do Chile,


desembarcavam suas mercadorias em Cartagena e em Porto Bello. Galeão e Frota reuniam-se em Havana
carregados de metais preciosos e dos produtos do México e da América do Sul, e entravam juntos em Cádiz.
Os comboios não seguiam cada ano a mesma rota, a fim de evitar o ataque dos navios corsários e o itinerário
era rigorosamente fixado pelo governo central. Todos os mercadores que quisessem exportar mercadorias
para as colônias ou importar na Espanha produtos coloniais tinham que se servir das duas frotas armadas
pelo Estado.
Paralelamente ao declínio da Marinha espanhola, se processou o esfacelamento do outrora
majestoso Império de Felipe II. Ainda nos séculos XVI e XVII, após o desastre da "Invencível Armada”, a
Espanha perdeu, na Europa, quase todo o território extra-peninsular e algumas ilhas nas Antilhas. No século
XVIII, em consequência da Guerra de Sucessão de Espanha, na qual a frota de Castela sofreu sérias
derrotas, Málaga, Gibraltar e a ilha de Minorca, no próprio território metropolitano, caíram sob os golpes
da Marinha britânica. A ilha de Minorca voltou, anos após, ao poder da Espanha, graças ao apoio da
Marinha francesa, mas Gibraltar até hoje está sob o pavilhão inglês.
Espanha, depois de Portugal, indicara o caminho a seguir, mas os holandeses, na Batalha de Dunes,
em 1639, deram o golpe de misericórdia no poderio naval dos espanhóis e, daí em diante, a luta pela
hegemonia marítima degenerou numa disputa confusa entre as grandes potências da Europa.
O progressivo esfacelamento do Império, de onde provinham os principais recursos para o tesouro
de Madri, as guerras incontáveis e desastrosas aliadas à infeliz situação social e econômica do próprio
território metropolitano, colocaram a Espanha no caminho da decadência. A agricultura ibérica, que na
Idade Média fora a mais adiantada da Europa, entrou em colapso e por volta de 1700 já mal podia alimentar
a população do país. Também as principais indústrias, como a da lã e da seda, minguaram.
O período napoleônico trouxe novas desgraças ao vacilante reino. Com indomável energia e
ferocidade, o povo espanhol enfrentou a invasão francesa, mas enquanto sustentava a luta heróica, a maior
e melhor parte do seu vasto Império Colonial alcançava a liberdade. Em consequência, a população
declinou, e a miséria espalhou-se.
Até a segunda década do século XIX, quase todas as colônias da América Central e do Sul se haviam
separado do Governo de Madri. No decorrer do século XIX, a Espanha deixou de vez de ser uma grande
potência. Sua população pouco havia crescido em confronto com a dos demais países europeus. Desprovida
de recursos naturais, não pôde a nação ibérica acompanhar o ritmo acelerado da revolução industrial
processado noutros países da Europa. Não dispondo de colônias ricas, sem indústria de vulto, sem outros
recursos internos que permitissem o desenvolvimento comercial, dilacerada por graves dissensões internas,
a Espanha era uma sombra do que fora. Em 1898, depois das derrotas navais de Manilha e Santiago, a
Espanha foi obrigada a concluir a infeliz guerra contra os Estados Unidos, perdendo Cuba, Porto Rico e as
Filipinas.

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3) França:
A história marítima da França não apresenta, como
ocorre com a da Inglaterra, interesse especial antes do século
XVI. Até aquela época, principalmente durante a Guerra dos
Cem Anos, o canal da Mancha foi teatro de grandes contendas
navais entre ingleses, flamengos, frísios e franceses, sem que
dessas pugnas surgisse uma potência de características
eminentemente marítimas, dominando as rotas oceânicas com
suas frotas de guerra e mercante, como faziam então, no
Mediterrâneo, as repúblicas italianas. As próprias batalhas
navais da Guerra dos Cem Anos foram mais entrechoques de
exércitos embarcados que procuravam cruzar um largo fosso de
água salgada.
No século XVI, contudo, nas cidades marítimas da Normandia e da Bretanha, por espírito de
aventura e desejo de lucro, começou-se a armar navios para ousadas expedições que seguiam nas esteiras
das frotas portuguesas e espanholas, as senhoras dos mares da época. Não faltavam nas cidades marítimas
francesas marinheiros arrojados e hábeis navegantes desde muitos séculos afeitos às aventuras pesqueiras
nas perigosas paragens da Bretanha e do mar do Norte. Certos cronistas franceses mencionam viagens
realizadas por esses intrépidos navegantes ao longo da costa da África, anos antes das expedições
portuguesas terem explorado aquelas regiões. Não há, porém, provas concretas dessas aventuras marítimas.
Se não se pode estabelecer sobre muitos sólidos fundamentos que os franceses precederam aos portugueses
ao longo das costas ocidentais do continente africano, ao menos se sabe, sem dúvida, que eles os seguiram
de bem perto. Suas excursões foram mesmo, desde o começo, um motivo da reclamação dos reis de
Portugal.
Desde 1488, um comandante de nome Cousin frequentava as costas da Guiné, e seis anos, apenas,
após Vasco da Gama ter dobrado o cabo da Boa Esperança para se lançar à conquista das Índias Orientais,
um navegador normando, Birot Paulmier de Gouneville, partiu de Honfleur, no começo de junho de 1503,
para seguir a rota do célebre português. A partir de 1510, a Terra Nova se tornou a meta dos pescadores
bretões e bem depressa a costa da França pululou de corsários que espreitavam a navegação espanhola e
portuguesa no Novo Mundo, procurando deitar mão no ouro e nos produtos americanos.
O primeiro monarca francês que se interessou pelas aventuras ultramarinas foi Francisco I. Ele
determinou em 1523 as viagens à América de Verazzani, florentino a serviço da França. Nos anos seguintes,
os irmãos Parmantier chegaram ao mar das Índias e à Sumatra, e Jacques Cartier e Roberval iniciaram a
exploração do litoral canadense. Ao mesmo tempo, os armadores franceses iniciaram um vigoroso
contrabando de pau-brasil no Atlântico Sul, sendo tenazmente perseguidos pelos lusitanos. Em seguida, por
questões religiosas, os franceses procuraram fundar uma colônia na baía de Guanabara, mas também aí
foram repelidos pelos portugueses.
Nos sessenta anos seguintes, os franceses tentaram ainda fixar-se no Brasil e na América do Norte.
Conseguiram descobrir e colonizar algumas ilhas das Antilhas, (Martinica, São Domingos, Santa Lúcia) e
estabeleceram-se firmemente na Guiana e no Canadá. Quase todos esses empreendimentos foram, porém,
realizados por iniciativa privada dos armadores das cidades do Atlântico, principalmente Saint Malô,
Dieppe, Honfleur e La Rochelle, pois, após Francisco I, por uma razão ou outra, os reis de França
abandonaram de vista as realizações no além-mar.
Com Henri IV, o Estado francês voltou a ocupar-se das atividades marítimas, sendo aplicados
grandes esforços para o ressurgimento da Marinha Mercante e a retomada da política colonial de Francisco
I. Pela convenção de 1606, confirmou o Estado francês a situação privilegiada que disputavam desde muito
tempo os navios franceses no Levante e nos Estados Barbarescos, e assegurou à França a posse da maior
parte do tráfego do Canadá. Paralelamente, a Marinha francesa com sanguinolenta determinação procurou
cercar as correrias dos corsários argelinos e tunisianos.

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A atividade desenvolvida por Henri IV no domínio econômico foi continuada, seguindo um
princípio mais centralizado por Richelieu, pois ele representava um incomparável elemento de prestígio,
força e prosperidade. “Aquele que é mestre do mar tem grande poder na terra” disse Richelieu (1558-
1642), quando ministro de Luiz XIII, foi o primeiro a compreender a importância do poder marítimo para
garantir a influência internacional da França.
O regulamento marítimo é o mais característico das diferentes
medidas tomadas por Richelieu, para estimular e proteger eficazmente o
comércio francês. Foi interditada a exportação de mercadorias francesas,
exceção feita do sal, em navios de outras nacionalidades, ficando
estabelecido que a cabotagem deveria ser feita em navios nacionais e sendo
proibido aos franceses se servirem dos navios dos estrangeiros. Além do
mais, foram criados institutos de hidrografia e escolas para pilotos e
carpinteiros. Richelieu favoreceu em seguida a criação das companhias de
comércio, conferindo mesmo títulos de nobreza aos armadores e negociantes
mais eminentes, tudo no sentido de desenvolver poderosamente a Marinha e
o domínio colonial francês por ele considerados essenciais à grandeza da
nação. Em suma, Richelieu antecipou-se mesmo em suas medidas, às que
seriam adotadas na Grã-Bretanha, poucos anos depois, no “Ato de
Navegação”.

A fim de garantir a expansão da grande obra, Richelieu tomou medidas enérgicas para expandir a
Marinha de Guerra. Para comandá-la e guarnecê-la apelou para os melhores marinheiros da costa, atraindo-
os com soldos elevados. Todo o vasto complexo industrial que serve de base ao desenvolvimento marítimo
foi criado ou desenvolvido. No Havre e em Bronage, fundiam-se os canhões necessários ao armamento dos
navios. Importantes estaleiros de construção foram instalados em Indret, no Loire, ao abrigo dos assaltos
de surpresa. No Levante (Mediterrâneo), o porto principal das galeras ficou sendo Marselha, como era da
tradição, e Toulon, cuja importância começou a crescer, servia de base aos navios a vela. Mas todo esse
progresso foi de qualquer forma artificial, pois não chegou a criar interesses duradouros que afetassem as
camadas numerosas e importantes da população francesa.
A Marinha de Guerra, reaparelhada por Richelieu, distinguiu-se em lutas porfiadas contra ingleses
e espanhóis, no Atlântico e no Mediterrâneo (La Rochelle e Guaretaria), mas o Cardeal morreu em 1642,
deixando inacabado o gigantesco empreendimento. A Marinha de Guerra havia começado a viver, mas sua
estrutura era ainda frágil e poderia desmoronar se não fosse cercada de cuidados inteligentes ou se fosse
negligenciada. A única parte sólida da obra de Richelieu era, aliás, a Marinha de Guerra, mais fácil, mais
rápida e mais necessária, na época, de ser colocada em primeiro plano. As partes referentes ao
desenvolvimento colonial e à Marinha Mercante foram incomparavelmente mais frágeis.
Nos anos seguintes à morte de Richelieu, não sendo mais a Marinha sustentada por uma vontade
possante, corroída pelo terrível flagelo das discórdias internas, declinou lentamente. A Marinha, que é
essencialmente um instrumento de política exterior, deveria mais do que nenhuma outra instituição sofrer
dos conflitos interiores. Daí em diante, ela não recebeu mais dinheiro.
Em 1659, a paz dos Pirineus pôs fim à interminável guerra com a Espanha. A França triunfara em
terra, mas nos mares ela havia caído do lugar brilhante a que fora alçada pela lúcida vontade do grande
Cardeal. Os espanhóis haviam tomado Tortuga em 1653 e os ingleses a Arcádia em 1656. Fato mais grave
e pesado de consequências foi o fato de que a Companhia das Ilhas da América e depois a Companhia da
Nova França haviam sido constrangidas, para escaparem à ruína, a renunciar a seus direitos. Assim,
enquanto as companhias inglesas e holandesas auferiam lucros fantásticos de suas atividades nos oceanos,
integrando cada vez mais um número elevado de habitantes na vida marítimo-comercial, na França ocorria
o inverso.
A depressão econômica e política que a França sofreu durante dezoito anos sob o ministério de
Mazarino, sucedeu um período de grande prosperidade e de novo poderio, consequência da hábil política
econômica de Colbert que ficou no poder de 1661 a 1683. Sua aparição marca o ponto culminante do

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mercantilismo e da época mais próspera, mais gloriosa do comércio e do movimento colonial francês. Um
dos atos mais importantes de Colbert foi a publicação em 1673 das "Ordenanças do Comércio". A fim de
que as exportações fossem constantemente superiores às importações, Colbert colocou a indústria e o
comércio em condições favoráveis para o desenvolvimento e os tornaram capazes de resistir vitoriosamente
à concorrência estrangeira. Interditou a exportação das matérias-primas necessárias à indústria, reservou
mais uma vez o comércio de cabotagem aos navios franceses, encorajou a pesca em alto-mar e, enfim,
estimulou, por prêmios, a exportação de produtos manufaturados franceses. Essa política, entretanto, era
entravada pela falta de navios, pois em 1664 os ingleses possuíam quatro mil navios de comércio, os
holandeses dezesseis mil e a França dispunha de apenas duzentos.
Ante essa situação, Colbert ocupou-se particularmente do desenvolvimento e do aumento da
Marinha Mercante, com o fito de centralizar em mãos francesas o comércio dos transportes. Criou arsenais
e estaleiros em Brest, Rochefort: e no Havre, protegeu as florestas de madeiras de lei para obter a matéria
necessária à construção naval, encorajou por meio de prêmios e subvenções o armamento de navios
mercantes, favoreceu a compra de navios construídos e armados no estrangeiro. Ao mesmo tempo, os
navios mercantes pertencentes a outras nações foram submetidos, nos portos franceses, a uma taxa de
cinquenta sous por tonelada, na entrada e na saída. Pela Ordenança Marítima de 1681, criou escolas de
aprendizes, destinadas a formar um corpo numeroso de marinheiros hábeis e de pilotos experimentados.
Por conseguinte, Colbert procurou seguir com maior vigor a política anteriormente adotada por Richelieu,
a mesma, aliás, que a Inglaterra então procurava aplicar.
Paralelamente à expansão da Marinha Mercante e do comércio exterior, Colbert atacou o problema
da reorganização da Marinha de Guerra francesa, pois ele bem compreendia o papel capital da Marinha no
processo global do desenvolvimento marítimo. Na perseguição de seu grande ideal e na realização de seu
sonho grandioso, Colbert não foi bem entendido, nem bem secundado. Desaparecido ele, ninguém saberia
continuar sua obra, mas, enquanto viveu, soube imprimir um desenvolvimento econômico à França, nunca
antes igualado. Estaleiros, depósitos, hospitais surgiram da terra e se abrigaram atrás de fortificações. O
trabalho desses arsenais foi organizado e regulamentado. Na Holanda, foram procurados os engenheiros
que deveriam servir de iniciadores. Em breve, das carreiras dos arsenais, começaram a sair numerosos
navios de guerra, todos semelhantes nas proporções. Em 1671, eram já 120 os navios de guerra de linha e
70 os brulotes, fragatas e galeras nas costas do Atlântico e de Provença. Em 1677, duzentos navios militares
estavam à disposição do governo. Um amplo recrutamento de marinheiros assegurava 52 mil homens de
guarnição. A Marinha Mercante, enquanto isso sob a administração do grande ministro, superava a cifra de
mil unidades.
Faltou tempo a Colbert para orientar o povo para o mar, ligando-o pecuniariamente à prosperidade
do comércio marítimo. Essa tarefa também ultrapassava as forças de um homem. Só o tempo poderia agir,
mas faltaram continuadores. A Marinha de guerra não se fundou sobre uma frota de comércio poderosa que
por simples jogo de interesse lhe teria assegurado a longevidade. Criação artificial, toda de prestígio, ela
não sobreviveria à vontade que a havia feito ressurgir. Seignelay, plasmado por seu pai, encontraria ainda
esse caráter artificial da Marinha de Guerra que, depois dele, cairia de toda a sua altura. Mas, sob o impulso
fecundo dos dois Colbert, ela iria conhecer um esplendor que não deveria jamais alcançar no decorrer da
sua longa história.
Nas primeiras ações bélicas a que foi chamada a participar, a magnífica frota construída por Colbert
cobriu-se de glórias, derrotando, sob o comando de Tourville e Duquesne, espanhóis, holandeses e ingleses
nas batalhas de Stromboli, Palermo e Beachy Head.
Em aparência, Seignelay, ao morrer, deixou a Marinha poderosa, vitoriosa, florescente. Na
realidade, essa Marinha era um colosso com pés de argila. Ela era o fruto de uma vontade, a de Colbert,
prolongada, mas desvirtuada por seu filho.

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Quando pela política ambiciosa de Luiz XIV foram desencadeadas
diversas guerras terrestres, pesaram sobre o Estado francês encargos tão
grandes que para a frota de guerra só houve disponíveis parcos recursos. Por
outro lado, a Inglaterra, Estado puramente naval, pôde aplicar, em
consequência da sua posição insular, todas as suas energias ao cuidado da
frota, relativamente segura contra um ataque por terra. Valendo-se de seus
aliados continentais, a Inglaterra pôde manter, ao mesmo tempo, as forças
terrestres da França empenhadas, impedindo a frota francesa de se
desenvolver. Se, com suas rivais, Inglaterra e Holanda, a frota da França
tivesse, para proteger numerosos e importantes interesses comerciais, o
espírito de nação, não se teria jamais afastado dela. Mas tudo estava para ser
feito nesse sentido, e era necessário mais do que a vontade e a vida de um
homem para obter resultados bem assentes. As deficiências básicas do
desenvolvimento marítimo francês em breve manifestaram-se. Já Tourville
não pôde deixar Brest suficientemente cedo em 1690, devido à falta de
Luiz XIV marinheiros. As guerras em terra absorviam todos os recursos humanos e
materiais da nação.
Mal tinha morrido Seignelay, e um memorial foi apresentado ao rei, propondo suprimir a Marinha,
que custava muito caro e que só servia para guardar as costas, função que, segundo ainda esse documento,
poderia muito bem ser desempenhada por recrutas do exército.
A partir da segunda fase da Guerra do Augsburgo, a Marinha francesa sofreu uma série de reveses,
culminando com o desastre de La Hague. Foi o fim da grandiosa Marinha de Guerra construída por Colbert.
O declínio da Marinha francesa acentuou-se em decorrência da Guerra de Sucessão da Espanha.
Para que ela pudesse renascer, seria preciso dinheiro e vontade. Não havia, porém, nem uma nem outra
coisa. Desencorajados pelas experiências infelizes de quase um século, os comerciantes franceses estavam
menos do que nunca dispostos a arriscar no mar interesses cuja proteção exigia uma forte Marinha. A
extraordinária vitalidade não tardaria a recolocar a França em plena saúde. Seu comércio conheceu novos
dias de esplendor, mas daí por diante ele se fez, na maior parte, sob pavilhão estrangeiro, mais
especialmente o inglês.
Por conseguinte, nem interesses políticos, nem interesses particulares exigiram a manutenção de
uma frota de guerra. Foi tacitamente admitido que a França devia abandonar definitivamente toda pretensão
ao tridente de Netuno. A Marinha desdenhada e considerada inútil davam-se apenas os créditos necessários
para impedi-Ia de morrer de vez.
Nas décadas seguintes, nada foi feito de notável para alçar novamente a França à categoria de
potência naval capaz de disputar a hegemonia britânica. No conflito seguinte entre as duas grandes nações
rivais, a Guerra de Sucessão da Áustria, não houve encontros navais de importância. A guerra revestiu-se
do caráter das guerras às comunicações. Os franco-espanhóis perderam 3.400 navios mercantes e os
ingleses 3.200. Se os números foram sensivelmente iguais em valor absoluto, foram incomparavelmente
mais desastrosos em valor relativo para as Marinhas da França e da Espanha, considerando suas fraquezas
numéricas em relação à frota mercante do Reino Unido.
A Guerra dos Sete Anos pouco depois teve características diferentes. A França tentou enfrentar a
Inglaterra nos mares com uma frota inferior em número e qualidade, sofrendo, em consequência, uma série
de derrotas que a privaram das ligações com os territórios ultramarinos. Uma a uma, suas principais
colônias, na Índia e no Canadá, foram ocupadas pelo inimigo. Custou essa guerra à Marinha francesa 37
naus e 56 fragatas. Em 1763, ao ser assinado o Tratado de Paris, pondo fim ao conflito, praticamente não
existia Marinha francesa, e a Marinha Mercante estava reduzida a poucos navios.
O orgulho nacional ferido e a certeza agora dominante nos círculos governamentais de que a perda
das melhores colônias fora fruto da ausência de marinha poderosa levaram a França, a partir de 1770, a
empreender um grande esforço no sentido de reequipar a frota de guerra. Sob a brilhante administração de
Choiseul, os estaleiros franceses do Atlântico e do Mediterrâneo voltaram à atividade. Um grande número
de municipalidades financiou a construção de navios. Os comerciantes e o povo em geral contribuíram, nas

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várias províncias, para a construção de uma nova frota de guerra, desejosos de tirarem a desforra dos
ingleses.
Toda uma esquadra renasceu assim da generosidade pública, do patriotismo de uma nação. Mas essa
oferta generosa era também marcada pelo caráter artificial que conservava a Marinha inteira. Ela era fruto
de um elã sentimental, tanto mais efêmero quanto mais violento e não o resultado durável de uma sólida
discussão de interesses comprometidos. Richelieu e Colbert: tinham pelo menos tentado fundar sobre a
rocha sólida de uma Marinha mercante próspera a torre orgulhosa da Marinha de Guerra. A de Choiseul
não iria repousar senão sobre a areia, malgrado a bela aparência que deveria adquirir. Ela estava destinada
a desmoronar, desde que soprasse o vento de uma borrasca.
A guerra recomeçou em 1778, a propósito da independência das colônias inglesas da América do
Norte, estendendo-se rapidamente às Índias, como sucedera durante a Guerra dos Sete Anos.
A nova Armada francesa, sob o comando de Guichen, De Grasse e sobretudo de Suffren, conheceu
novamente dias de glória, desempenhando papel decisivo no desenrolar da guerra. A rendição de Cornwallis
marcou o fim da guerra ativa no continente americano. O desenrolar da luta estava na verdade assegurado
desde o dia em que a França devotou seu poderio marítimo à causa das colônias.
A paz foi assinada em 1783. A França tinha enfim uma bela Marinha, adquirida ao preço de terríveis
provas, mas a paz ia ter uma duração bem curta, e a Marinha, sustentáculo de tantas esperanças, iria
retroceder, ficando reduzida a quase nada. Sua decadência faria com que, malgrado uma colheita de vitórias
terrestres como o mundo jamais havia presenciado, malgrado o gênio do maior chefe militar dos tempos
modernos, a França sucumbiria finalmente diante do antigo adversário, forte numa só arma que se mostraria
decisiva: uma frota, senhora dos mares.
Com a Revolução Francesa, recomeçaram os dias negros da Marinha
gaulesa. Esse corpo tão robusto ainda em 1789 iria bem cedo entrar em
decomposição. Pela chaga da emigração, seu sangue mais puro se perdeu.
Mais da metade dos oficiais foram para o estrangeiro. A Marinha não era mais
do que um corpo exangue. A centelha vivificante que havia feito da França a
Grande Nação não havia tocado sua Marinha. Essa Revolução não trouxe
senão sua ruína, sua desorganização, sua indisciplina, sem lhe comunicar seu
entusiasmo, sua fé criadora. A grande agitação acusava, mais nitidamente que
nunca, o divórcio de fato existente entre a Marinha e o país. As razões desse
divórcio eram as mesmas do século XVIII. As longínquas previsões de
Colbert confirmaram-se.

Sem Marinha Mercante, sem interesses pecuniários no mar, a França não se poderia interessar senão
superficialmente, passageiramente, pela Marinha. Ela não era carne de sua carne como a Marinha inglesa
o era da Grã-Bretanha.
Mas uma vez caiu a Marinha francesa, agora vítima das dissensões internas e, consequência
desastrosa, levou na sua queda a Marinha do comércio. Quando foi assinada a paz de Amiens (Em1802,
pondo fim as hostilidades entre a França e a Inglaterra causadas pela Revolução Francesa), havia já muitos
anos que nenhum pavilhão de comércio francês tremulava nos mares do globo. Sem elementos para
enfrentar a Marinha inglesa, mais uma vez a França recorreu à guerra de corso. O decreto de 23 thermidor,
do ano III, definiu o fim a atingir: devastar o comércio do inimigo, destruir, aniquilar suas colônias, forçá-
lo a uma bancarrota vergonhosa. Bem cedo, dos portos do Atlântico saíram para o oceano, armados em
corsários, quase todos os navios capazes de navegar e iniciaram o ataque às rotas marítimas britânicas. Face
à devastação crescente exercida no seu comércio, os ingleses se viram obrigados a recorrer ao sistema de
comboios. Frotas imensas (de 500 e mesmo de 1.000 navios) atravessavam as regiões particularmente
perigosas, sob escolta de navios de guerra. Em 1801, os resultados, ao todo, desde o começo da guerra,
eram os seguintes: 5.557 navios mercantes haviam sido capturados; 593 corsários tomados; 41.500
marinheiros franceses feitos prisioneiros.

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Ao ser assinada a paz de Amiens, a perda anual média da Marinha
Mercante inglesa era de 500 navios, mas ela contara com 16.728 navios, em
1795 e 17.885, em 1800. A guerra de corso havia, por conseguinte, fracassado
na sua fase inicial.
Paralelamente à guerra de corso, Napoleão procurou aparelhar a
Marinha de Guerra francesa de maneira a, pelo menos, obter uma supremacia
temporária no canal da Mancha, mas a batalha de Trafalgar marcou o fim de
tal intenção. A batalha de Trafalgar, esmagando totalmente a remanescente
Marinha francesa e comprometendo por longo tempo seu futuro, resolveu de
maneira definitiva o grande problema da rivalidade pela hegemonia marítima,
nascida sob Luiz XIV. Como único recurso, a França continuou a guerra de
corso. No total de 11 anos de guerra (1803-14), 5.314 navios mercantes
ingleses foram capturados, mas os britânicos por seu turno destruíram ou
colocaram fora de estado de os atacar, 440 corsários guarnecidos por 27.600
marinheiros. No fim dessa longa guerra, a França não tinha mais que 100
Napoleão Bonaparte
corsários armados.
Na mesma época, perto de 25.000 navios mercantes faziam tremular o pavilhão britânico em todos
os mares do globo. Dos 1.500 navios franceses de longo curso existentes na abertura das hostilidades não
restavam mais de 200 em 1814. A Marinha Mercante da França estava morta ao lado da Marinha de Guerra.
Depois do esboroamento do Império e da última convulsão dos Cem Dias, a França renunciou à marinha.
Com a paz, a Marinha Mercante francesa recuperou-se, graças ao vigor do comércio interno e à existência
de estaleiros eficientes no país. Mais lento foi o renascimento da frota de guerra. Cerca de quarenta anos
durou a convalescença da Marinha de Guerra francesa. Malgrado a ação por ela desenvolvida em várias
demonstrações de força contra o Brasil (1828), Algéria (1830), Portugal (1831), México (1837) e Argentina
(1845), só voltou a ser poderosa de fato durante o Segundo Império, por ocasião da guerra da Criméia.

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4) Holanda:
Os estuários dos rios flamengos ofereciam na Idade
Média portos naturais ideais, pois penetravam
profundamente nas terras e eram acessíveis aos grandes
navios da época, permitindo, ao mesmo tempo, aos
pequenos barcos avançar bem longe no interior. As
condições naturais do país eram, portanto, propícias ao
desenvolvimento das cidades comerciais, e já durante o
reino de Carlos Magno, sob a influência de uma situação
política estável, podia-se prever o incremento que
tomariam mais tarde nos Países Baixos as manufaturas e o
comércio de lã. A criação do Império de Carlos Magno e
sua extensão até o rio Elba mudaram a posição geográfica
relativa dos Países Baixos e os tornaram eminentemente
próprios ao comércio. As regiões em torno dos rios Reno,
Mosa e Escalda ocupavam daí por diante não mais uma
posição terminal ou fronteiriça como haviam ocupado sob
os romanos, mas uma posição central, no interior do
Império Carolíngio.

O desenvolvimento econômico precoce dos Países Baixos foi paralisado pelas invasões normandas
(vikings) e pelo esboroamento do Império Carolíngio. Os rios que facilitavam o tráfego facilitavam também
a entrada dos normandos que no decorrer do século IX destruíram numerosas cidades e levaram suas
devastações ao Sul, até o Artois e a Picardia.
Depois de cessadas as incursões dos homens do Norte, as cidades dos Países Baixos desenvolveram
as indústrias têxteis, e a população do país adensou-se. A prosperidade das cidades dos Países Baixos foi
incrementada no decorrer do século XV por um estranho fenômeno. Com efeito, entre 1417 e 1425 os
cardumes de arenque desapareceram do Sund. Por razões ainda desconhecidas, os arenques cessaram de
fugir do mar do Norte. Qualquer que tenha sido a razão dessa mutação, ela teve efeitos marcantes, pois
constituiu perda sensível para as cidades hanseáticas, principalmente para Lübeck, e foi um ganho notável
para os holandeses.

A descoberta do processo de secar o peixe


forneceu aos holandeses a matéria para exportação
bem como para o consumo interno e veio a constituir
a pedra angular de sua riqueza. Para a Holanda como
para Veneza, a pesca junto à indústria e ao comércio
de peixe salgado e seco marcou o estágio inicial de
sua carreira marítima e comercial. O mar do Norte, Mar do
pouco profundo, oferecia colheitas mais ricas que as Norte
terras baixas e mal drenadas das planícies do
Flandres. Mar Báltico
Os barcos flamengos passaram a explorar as
localidades vizinhas às ilhas Faroe e à Groenlândia,
trazendo arenque em quantidade crescente. Numa
palavra, a Holanda procurou e encontrou recursos no
mar e não somente tornou-se com Bruges, na Idade Principais rotas marítimas das Ligas Hanseáticas
Média, um centro internacional da navegação e da
finança, mas também, como Veneza, uma grande
potência naval.

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A luta vitoriosa para a libertação do jugo espanhol favoreceu a criação de um Estado forte e
consciente da importância do mar na vida nacional. Se já antes, pelo ocaso do poder mundial espanhol, os
holandeses eram vizinhos incômodos, converteram-se depois da Guerra da Independência em adversários
triunfantes que, protegidos pela forca política de seu Estado naval, orientavam todos os esforços no sentido
de conseguirem a máxima grandeza para seu comércio. Não se contentaram eles em abalar totalmente o
comércio hanseático para o Ocidente, mas com singular atrevimento avançaram para o verdadeiro domínio
da Hansa, o Mar Báltico, reduzindo nele, cada vez mais, a influência das cidades alemãs. Mais tarde,
favorecidos por uma posição geográfica intermediária entre o Báltico, a França, o Mediterrâneo e a foz dos
rios alemães, os holandeses absorveram rapidamente quase todo o tráfego comercial europeu, e, no fim do
século XVI, Espanha e Portugal, não menos que Veneza e as Cidades Hanseáticas, viram-se despojadas da
maior parte de seus transportes marítimos pelos atrevidos marinheiros e comerciantes batavos.
A Holanda procurou em primeiro lugar satisfazer as necessidades dos países marítimos mais
próximos situados a leste e a oeste, trocando madeiras e cereais que produziam uns, por sal e vinhos que
produziam outros. O arenque seco, os mercadores batavos transportavam para as embocaduras de todos os
rios vindos do Sul, desde o Vístula até o Sena, e ao longo do Reno, do Mosa, do Escalda. Seus navios iam
procurar lã em Chipre, seda em Nápoles e, da Noruega, traziam uma grande parte da madeira necessária à
construção de seus barcos. Das planícies da Prússia e da Polônia e mesmo da Rússia, eles traziam o linho
e, sobretudo, os gêneros alimentícios que constituíam um artigo de importância indispensável, visto o solo
da Holanda só poder então, segundo uma autoridade competente da época, alimentar um oitavo de seus
habitantes.
Se bem que os holandeses se tivessem assenhoreado de uma grande parte do comércio europeu, não
tiraram menor proveito e o melhor de suas glórias nas suas relações com as Índias Orientais. A indiferença
dos portugueses em primeiro lugar e em seguida a dos espanhóis pelo transporte e venda das especiarias
nos mercados europeus, permitiu aos mercadores flamengos e holandeses dele se apoderarem. As medidas
proibitivas adotadas por Felipe II (da Espanha) para aniquilar a navegação e o comércio das Províncias do
Norte e em particular da Holanda, que tinha sido colocada à frente da nova Confederação Republicana
(1609), longe de enfraquecer o inimigo, estimularam-lhe a resistência e a agressividade. A interdição feita
pela Espanha aos navios holandeses de entrarem seus portos colocou os mercadores da nova confederação
em situação precária, visto a interdição impedi-los de se aprovisionarem de especiarias e de produtos
coloniais. A Holanda foi, portanto, obrigada a enfrentar contra a Espanha uma luta de morte. De todos os
atos hostis que a Holanda dirigiu contra a Espanha, a empresa nas Índias foi a que mais assustou o rei e a
nação, e a que feriu mais fundo, imprimindo por outro lado, poderoso desenvolvimento aos Países Baixos.
Os primeiros mercadores holandeses que no declinar do século XVI atingiram Java e as Molucas,
depois de terem violado por intermédio de Cornelius Hontmann o segredo da rota marítima, limitaram-se
a obter dos príncipes locais, em troca de produtos mais baratos do que os vendidos pelos portugueses, as
reduções dos direitos alfandegários e a concessão ao longo da costa, para instalar depósitos, representações
e etc., com o fim de criar uma corrente de atividade comercial baseada na troca de produtos nacionais ou
importados pelos mais procurados do Oriente. Nessa época, a autoridade governamental não interveio
suficientemente nesse setor, e o tráfego marítimo foi confiado a numerosas companhias privadas que se
tinham constituído nos diversos portos da Holanda e que armavam frotas de comércio e de guerra contra os
portugueses na Índia. Para eliminar os perigos da concorrência recíproca e para resistir energicamente aos
espanhóis e portugueses, procedeu-se a fusão das diversas sociedades numa só companhia, constituída em
1602, sob o nome de Companhia Holandesa das Índias Orientais, com o capital inicial de cerca de sete
milhões de florins. A Companhia recebeu do Estado o privilégio, para um período de vinte anos, do pleno
controle sobre a navegação e o tráfego com o Oriente, por seu lado, ela se dedicou a armar os navios, a
combater os inimigos, a contratar aventureiros para o serviço, a redigir tratados, a criar empórios e
estabelecimentos financeiros nas Índias. Na época de maior atividade bélica contra os portugueses e
espanhóis, a Sociedade chegou a ter uma esquadra de cento e oitenta navios de trinta a sessenta canhões,
guarnecidos por doze a treze mil homens.

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Depois da criação da Companhia das Índias Orientais,
a atividade comercial holandesa se fez cada vez mais
eficiente. O Almirante Warwick, verdadeiro fundador das
colônias holandesas no Oriente, fazendo-se a vela com
quatorze navios para aquelas paragens onde a frota
portuguesa não o podia enfrentar, fortificou no território do
rei de Johor, em Java, um empório que dispunha de uma baía
abrigada, e fez aliança com vários príncipes de Bengala.
Novos empórios foram criados nas costas do
Malabar, em Sumatra e Amboina, o que permitiu aos
holandeses tornar mais efetiva a concorrência dirigida contra Henry Hudson, entre 1610-11 navegando
pelo rio que hoje tem seu nome nos EUA,
portugueses e espanhóis. Os antigos estabelecimentos e os entre Nova York e os grandes lagos.
primeiros empórios transformavam-se, pouco a pouco, em
núcleos de ocupação militar. Foi procedida depois a
conquista direta dos territórios.
O socorro prestado pelos holandeses ao imperador de Mata valeu-lhes pouco a pouco a posse de
toda a ilha de Java, e, em 1641, a aliança com o rei de Atch serviu para tomar os portugueses Malaca e as
mais importantes ilhas de especiarias. A luta se prolongou na costa de Malabar onde os portugueses tinham
raízes mais fortes, mas os holandeses acabaram por triunfar e se apoderaram de Cochin, de Cananor e de
Ceilão (1656). Já nos meados do século XVII, as costas e ilhas do oceano Índico achavam-se praticamente
submetidas ao pavilhão holandês. Assim, a Companhia das Índias Orientais, depois de se ter enriquecido
com os despojos do Império Colonial Português, estendeu suas conquistas até o arquipélago de Sunda,
estabelecendo o centro de seu domínio entre a Ásia e a Austrália. A ilha de Java, e em particular o porto de
Batávia, se encontrava na confluência das rotas marítimas do Oriente. Quase todo o tráfego exercido pelos
árabes, hindus e chineses ficou assim submetido ao controle holandês.
Os comerciantes holandeses penetraram com facilidade no Japão, onde foram bem acolhidos e
substituíram os portugueses já ali estabelecidos havia várias décadas. Também na ilha de Formosa se
estabeleceram os ousados traficantes batavos.
Com a ocupação do cabo da Boa Esperança (1652), transformado em ponto de apoio e em escala
para as frotas comerciais e de guerra em caminho das colônias da Ásia e Austrália, os holandeses tornaram-
se senhores absolutos das rotas marítimas do Oriente, conseguindo centralizar em suas mãos quase todo o
monopólio do tráfego de especiarias.
As expedições holandesas na América não foram coroadas de tão brilhante sucesso, entretanto, elas
voltavam sempre com rico saque feito sobre espanhóis ou portugueses. O maior triunfo no gênero foi a
captura por Pieter Hein em 1628 de uma frota de galeões espanhóis procedentes do México e carregados
de prata e ouro. Esse fato se deu logo após a primeira invasão holandesa no nordeste brasileiro, na Bahia,
quando os holandeses, após serem expulsos do Brasil, deram com o carregamento em sua viagem de volta.
O apresamento desta carga financiou a formação de uma frota mais equipada e poderosa que voltou ao
Brasil e invadiu o nordeste em Recife e Olinda.
De forma semelhante à sua congênere das Índias Orientais, a Companhia das Índias Ocidentais,
formada em 1611, para responder às necessidades de guerra e da luta comercial contra a Espanha, conseguiu
conquistar algumas ilhas nas Antilhas e os portos de Recife e Olinda na costa brasileira. No Brasil, contudo,
a Companhia enfrentou uma guerra quase perene em face da hostilidade dos habitantes de língua
portuguesa, o que lhe consumiu grande parte dos lucros. A resistência brasileira obrigou a Companhia a
abandonar o solo sul-americano depois de menos de vinte e cinco anos de precário domínio.
A principal fonte de renda da Companhia das Índias Ocidentais ficou sendo o ataque à navegação
espanhola e portuguesa. Ela despendeu entre 1623 e 1636 quatro milhões e quinhentos mil libras para
equipar oitocentos navios, mas aprisionou quinhentos e quarenta navios cuja carga valia cerca de seis
milhões de libras. A essa soma cumpre juntar três milhões resultantes da pilhagem e saque contra os
portugueses. Também na América do Norte, procuravam os batavos se estabelecer e, ao longo do território

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atualmente compreendido entre Nova York e Nova Jersey, surgiram numerosas colônias holandesas que
tiveram por centro comercial a cidade de Nova Amsterdã (atual Nova York).
Dessa forma, no fim do século XVI e no começo da segunda metade do século XVII, a Holanda,
graças às conquistas de suas principais companhias, formou um vasto domínio colonial que lhe permitiu
controlar as rotas marítimas do oceano Indico e do Atlântico. Foi o apogeu da Holanda.
A Holanda tornara-se a Fenícia dos tempos modernos. As manufaturas de fazendas, tecidos de linho
etc., que empregavam seiscentas mil almas, abriram novas fontes de ganho ao povo, anteriormente limitado
ao comércio do queijo e do peixe. A pesca apenas já os havia enriquecido. O arenque salgado alimentava
cerca de um terço da população da Holanda, sendo sua produção de trezentas mil toneladas de peixe salgado
que rendiam mais de oito milhões de francos anualmente. O poderio naval e comercial da República
desenvolvera-se rapidamente. Só a frota mercante da Holanda tinha dez mil velas com cento e sessenta e
oito mil marinheiros e sustentava duzentos e sessenta mil habitantes.
Os portos, os golfos, os braços de mar holandeses estavam cobertos de navios, e todos os canais do
interior do país pululavam de embarcações. Dizia-se, exagerando, que havia na Holanda tanta gente
habitando sobre as águas como sobre terra firme. Contavam-se duzentos grandes e trezentos médios navios,
tendo por porto principal Amsterdã. Uma floresta sombria e espessa de mastros avançava até a cidade.
Nessas condições, Amsterdã tinha alcançado, com efeito, uma importância extraordinária. No espaço de
trinta anos, a cidade experimentou por duas vezes aumentos consideráveis. Uma viagem às Índias era coisa
corrente. Aprendia-se a navegar com qualquer vento. Cada casa era uma escola de navegação; por toda
parte havia cartas náuticas. Entretanto, situadas entre a França e a Inglaterra, foram as Províncias Unidas,
depois que se libertaram da Espanha, constantemente envolvidas em guerras, ora contra uma, ora contra
outra. Essas guerras exauriram suas finanças, aniquilaram sua Marinha e causaram o rápido declínio de seu
tráfego, das manufaturas e do comércio. Primeiramente a Holanda se viu envolvida numa série de guerras
contra a Inglaterra. Desde muito tempo a prosperidade britânica nos oceanos fazia prever um conflito entre
as duas potências marítimas. O “Ato de Navegação” de Cromwell tornou o conflito inevitável. Com esse
Ato a Inglaterra procurou obter o monopólio do transporte marítimo para a América, Ásia e África, só
permitindo às demais nações usar seus navios nessas rotas marítimas para a condução de seus próprios
produtos, sob pena de confisco e captura. A Holanda não podia aceitar essa medida sem protestar, pois era
ela a grande intermediária no comércio de especiarias orientais. Estalou imediatamente a guerra.
A primeira guerra, embora desfavorável aos Países Baixos, não
foi decisiva. Como resultado dela, que durou justamente um ano e onze
meses (1653-54), os ingleses afirmam ter sido vitoriosos em cinco ações
gerais e ter capturado mil e setecentos navios avaliados em seis milhões
de libras, enquanto os holandeses capturaram apenas um quarto desse
total.
A excessiva dependência às rotas marítimas foi desastrosa para
os holandeses. O alimento, as vestimentas, o material para confecção de
suas manufaturas, muita madeira e cânhamo com que construíam e
equipavam seus navios eram importados exclusivamente por via
marítima. Ao atingir a guerra dezoito meses, os negócios marítimos
tinham cessado.
As principais fontes de recursos do Estado, como a pesca e o
comércio, nada rendiam. As oficinas pararam, e o trabalho foi suspenso.
O Zuyder-Zee tornou-se uma floresta de mastros, o país se encheu de
ruínas, e o capim cresceu nas ruas de Amsterdã. Era a consequência
inevitável da perda do domínio do mar.
Os mais brilhantes almirantes batavos e ingleses do século surgiram nessa guerra: Tromp e de
Ruyter de um lado; Blake e Monk de outro.
Dez anos de paz restabelecera, em parte, a prosperidade holandesa, e por conseguinte as razões de
atrito com a Inglaterra. Em breve, rompeu a Segunda Guerra Anglo-Holandesa que, como a precedente foi
exclusivamente marítima e teve as mesmas características gerais. Três grandes batalhas foram travadas: a

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primeira, ao largo de Lowestoft (03/06/1665), na qual ambas as Esquadras adversárias mantiveram-se em
longas colunas, chamadas linhas de batalha, o que serviu de modelo para os encontros navais durante mais
de um século; a segunda, conhecida como Batalha dos Quatro Dias (1 a 5/06/1666, no Estreito de Dover; a
terceira, ao largo de North Foreland. Na primeira e na última delas, os ingleses conseguiram um sucesso
decisivo; na segunda, a vantagem ficou com os holandeses.
Apesar da Segunda Guerra Anglo-Holandesa marcar
mais uma etapa de ascensão marítima da Grã-Bretanha em
detrimento dos Países Baixos, não significou a desaparição nos
oceanos dos navios batavos. Em 1666, a tonelagem mundial da
Marinha Mercante orçava por dois milhões de toneladas, das
quais 900 mil cabiam à Holanda, 500 mil à Grã-Bretanha, 250
mil a Hamburgo, Dinamarca, Suécia e Dantzig e 250 mil à
Espanha, Portugal e Itália. O comércio europeu não podia ficar,
dessa forma, privado repentinamente dos navios batavos.
Após uma trégua de sete anos, a guerra recomeçou, tendo a Holanda que enfrentar o poderio
combinado anglo-francês durante dois anos (1672-74). De Ruyter alcançou então a vitória de Solebay. Três
batalhas navais tiveram lugar em 1673, todas próximas à costa das Províncias Unidas: as duas primeiras,
ao largo de Schoneveld, e a terceira que ficou conhecida como a batalha de Texel. Nenhuma delas foi
decisiva. A batalha de Texel, fechando a série de guerras em que os holandeses e ingleses lutaram de igual
para igual pela posse dos mares, viu a Marinha holandesa na mais alta eficiência, e seu maior expoente, de
Ruyter, no cume de sua glória. Mas o poder, sendo relativo, mostrava por outro lado que a balança estava
pendendo pouco a pouco para o lado britânico.
Com notável perspicácia os estadistas ingleses perceberam a mudança de pesos nos pratos da
balança do poder. A Holanda já não era o fator de maior peso, mas sim a sombra crescente da França, unida,
populosa e sob a administração eficiente de Colbert e a ambição de Luiz XIV. Os ingleses, com realismo,
firmaram a paz com os Países Baixos, paz essa que não mais foi perturbada. A retirada da Inglaterra, que
ficou neutra durante os remanescentes quatro anos de guerra, necessariamente tornou o conflito menos
marítimo. O teatro de operações navais transferiu-se para o Mediterrâneo, onde os holandeses, dessa feita
aliados aos antigos inimigos espanhóis, enfrentaram o recém-criado poderio marítimo da França. Contudo,
a esquadra francesa, sob o comando de Duquesne, foi vitoriosa em Stromboli e em Agosta. Na última dessas
batalhas, de Ruyter encontrou a morte.
No decorrer dessa guerra o comércio marítimo holandês, depredado pelos piratas franceses, sofreu
pesadamente, perdendo, inclusive, indiretamente, a preferência dos países estrangeiros que passaram a dar
preferência ao transporte feito por pavilhões neutros. Quando, finalmente, os ataques de Luiz XIV forçaram
a Holanda a consagrar a sua riqueza e energia à defesa do próprio solo, essa nação decaiu gradualmente
perante a Inglaterra, na corrida pela hegemonia comercial.
A guerra de Sucessão da Espanha (1702-13) virtualmente eliminou as Províncias Neerlandesas da
esfera de alta política. Em verdade elas eram aliadas da Grã-Bretanha e, portanto, do lado vitorioso na
guerra. Entretanto, os esforços que haviam sido obrigados a despender, quer em terra como no mar,
exauriram-nas completamente. Suas contribuições em navios, homens e dinheiro declinaram
continuamente até a paz de Utrecht, quando então só dispunham de pouca influência. Os ganhos nesse
tratado foram quase nulos. Mas se o visível declínio das Províncias Unidas data da paz de Utrecht, o declínio
real começara antes. A Holanda deixou de ser citada entre as grandes potências da Europa. Sua Marinha
não seria no futuro um fator militar na diplomacia, e seu comércio também acompanhou a decadência geral
do Estado.
Até o final do século XVIII, a Marinha Mercante dos Países Baixos ainda se manteve como a maior
em tonelagem da Europa, mas pouco a pouco foi cedendo lugar à britânica, que era amparada pela política
segura do Governo de Sua Majestade e pelos canhões do Royal Navy. Assim, como a Holanda fora a
herdeira do comércio marítimo hanseático, português e espanhol, a Grã-Bretanha foi a herdeira do comércio
batavo.

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5) Grã-Bretanha:
A Grã-Bretanha teve sempre seu destino ligado
ao mar e aos portos e rios que desde os tempos
primitivos abriram suas regiões interiores ao oceano.
Assim, muito antes que aspirasse dominar os mares, a
eles esteve sujeita. Dos povoadores iberos e celtas aos
saxões e dinamarqueses, dos comerciantes pré-
históricos e fenícios aos senhores romanos e
normandos, sucessivas vagas de colonos guerreiros, os
mais enérgicos homens do mar, agricultores e
traficantes da Europa vieram pelas águas para habitar
a Ilha ou para insinuar os seus conhecimentos e
espírito aos antigos habitantes.
Entretanto, os primeiros povos que habitaram a
Grã-Bretanha não se notabilizaram no mar. A
Inglaterra vivia então da agricultura e do pastoreio.
Seus homens eram pastores e fazendeiros antes que
mercadores ou marinheiros, e antes da conquista
normanda, por longo tempo, nem o Estado nem a
Marinha insular estiveram habilitados a defender a Ilha. Exceto quando protegida pelas galés e legiões
romanas, a antiga Grã-Bretanha esteve, portanto, particularmente exposta à invasão.
Mas se invadir a Grã-Bretanha era extraordinariamente fácil antes da conquista normanda, tornou-
se extraordinariamente difícil depois. A razão é clara. Um Estado bem organizado, com um povo unido em
terra e uma força naval no mar, podia defender-se por detrás do canal contra qualquer superioridade militar.
Assim, nos tempos antigos, a relação da Inglaterra com o mar foi passiva e receptiva e nos tempos
modernos, ativa e adquiridora. Num e noutro caso é a chave de sua evolução.
Nos séculos seguintes à conquista normanda, embora permanecesse a Inglaterra um país sobretudo
agrícola, o adensamento progressivo de uma população de pescadores, marinheiros e mercadores nos
magníficos e inúmeros portos marítimos e fluviais começou a revelar a futura tendência do povo da Ilha.
Essa classe aumentou em prestígio e em riqueza, primeiro em consequência das Cruzadas e depois em
virtude da Guerra dos Cem Anos.
No decurso da longa série de conflitos com a França nos séculos XIV e XV, é curioso observar, tão
cedo na história, que os principais traços da política inglesa já aparecem impostos pela situação do país. A
Inglaterra tinha necessidade da supremacia no mar, na falta da qual não podia continuar o comércio, nem
enviar tropas ao continente, nem se manter em ligação com as tropas já enviadas. Enquanto a superioridade
naval foi mantida, a Inglaterra manteve-se em solo francês, graças à ligação constante com seus exércitos
desembarcados no continente. Todavia, as comunicações foram perturbadas várias vezes pela investida de
marinheiros gauleses e a reação de um país populoso como a França obrigou, no fim da longa luta, os
ingleses a se retirarem. De qualquer forma, o solo britânico se viu a salvo dos ataques inimigos, a não ser
das suas rápidas e pequenas investidas. A verdadeira expansão marítima inglesa começou, porém, mais
tarde e pode ser datada da criação da Marinha Real.
Na realidade, a Inglaterra, em 1485, era ainda um país pastoril. A fonte principal de riquezas
derivava não da construção naval ou da manufatura de têxteis, mas de fazendas de ovelhas, do crescimento
da lã. Os principais mercados para esses produtos eram as ricas cidades dos Países Baixos no estuário do
Reno. Durante a Guerra dos Cem Anos, o canal da Mancha fora defendido, na medida do possível, pelos
combativos marinheiros da frota mercante, lutando, por vezes, separadamente como piratas, por vezes como
em Sluys, sob comando nomeado pelo rei. Henrique V começara a construir uma esquadra real, mas a sua
obra não passara dos primórdios e foi posteriormente descontinuada.
Henrique VII encorajara a Marinha Mercante; no entanto, não armou uma frota exclusivamente para
fins de guerra. Coube a Henrique VIII criar uma armada efetiva de navios reais de combate, com estaleiros

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reais em Woolwich e Deptford; fundou também a corporação da Casa da Trindade. A política marítima de
Henrique VIII teve importância dupla. Não só criou navios especialmente tripulados e apetrechados para o
combate em serviço nacional, como também os seus arquitetos navais planejaram muitos desses navios
segundo um modelo aperfeiçoado. Eram veleiros melhor adaptados ao oceano do que as galés a remos das
potências mediterrâneas, e melhor adaptadas à manobra em batalha do que os navios redondos do tipo
medieval, a bordo dos quais navegavam os mercadores ingleses, e os espanhóis atravessavam o Atlântico.
Ao mesmo tempo, o descobrimento da América veio incentivar a atividade comercial da Inglaterra.
As Ilhas Britânicas tinham sido, durante a Idade Média, um setor marginal relativamente pouco
importante do mundo civilizado; um país conhecido, no máximo, como fornecedor de lã ou de estanho. É
verdade que já se achavam nas Ilhas as premissas geográficas de seu poderio ulterior; os magníficos portos
marítimos e abundantes portos fluviais, aos quais, durante a maré alta, podiam chegar as embarcações de
maior calado; a técnica perfeita, a experiência naval que os habitantes da costa tinham adquirido em sua
luta contra os elementos e, sobretudo, a esplêndida posição marítima, a coberto dos ataques do continente
e a posição mercantil posteriormente tão elogiada entre os Estados mais progressivos da Europa e as terras
virgens das colônias americanas.
Gradualmente, durante os reinados Tudors, os ingleses perceberam que a sua remota posição insular
se modificara e passara a ponto central, dominando com vantagem as modernas rotas de comércio e de
colonização. O poder, a riqueza e a aventura os esperavam no longínquo termo de viagens oceânicas
fabulosamente longas. A luta pela supremacia comercial e naval sob as novas condições se travaria
claramente entre a Espanha, a França e a Inglaterra; todos esses países estão voltados para o oceano
Atlântico, que subitamente se tornara o principal centro de comunicações do mundo, e cada um deles
encontrava-se em processo de unificação sob um Estado moderno, com consciência étnica agressiva e sob
uma monarquia poderosa. Dessa forma, dos tempos Tudors em diante, a Inglaterra tratou a política europeia
simplesmente como um meio de firmar a sua própria segurança face à invasão e de levar avante os seus
planos ultramarinos. A sua insularidade, convenientemente aproveitada, deu-lhe imensa vantagem sobre a
Espanha e a França na concorrência marítima e colonial.
Com a sua configuração estreita e irregular, com uma linha de costa grandemente recortada, por fim
em paz com seu único vizinho terrestre, a Escócia, bem fornecida de portos, grandes e pequenos, apinhados
de marinheiros e pescadores, o Estado encontrava-se sujeito à influência e às idéias dos homens de comércio
e da armação naval, que formavam uma única classe com as melhores famílias provinciais nos condados
marítimos. Dado que nenhum ponto na Inglaterra se situa a mais de setenta milhas da costa, uma elevada
proporção dos seus habitantes tinha algum contato com o mar, ou pelo menos com as populações marítimas.
Acima de tudo, Londres está sobre o mar, ao passo que Paris está no interior e Madri fica o mais distante
possível da costa. Por conseguinte, na Inglaterra, embora a população total fosse pequena em comparação
com a francesa ou a espanhola, havia uma grande comunidade marítima acostumada há séculos a sulcar as
tempestuosas vagas do mar no Norte. Em breve, os representantes da comunidade marítima inglesa
começaram a estender o raio de ação de suas atividades, já agora contando com a proteção da Marinha de
Guerra Real, construída e armada segundo princípios modernos, e que dava apoio profissional aos esforços
guerreiros de mercadores e piratas particulares.
A fim de encontrar saída para a
nova manufatura têxtil, os
mercadores aventureiros da
Inglaterra, desde o princípio do
século XV, procuraram
vigorosamente novos mercados na
Europa, não sem o constante
derramar de sangue, por mar e por
terra, numa época em que a pirataria
era tão geral que dificilmente podia
ser considerada desonrosa e em que
os privilégios comerciais eram

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frequentemente recusados e conquistados ao gume de espada. Com o fito de aproveitar uma situação
vantajosa, foram fundadas, com o apoio da Coroa, várias companhias de comércio, e, naturalmente, a
Marinha Mercante inglesa teve forte impulso. Assim, de 76 navios com mais de cem toneladas, que a Grã-
Bretanha dispunha em 1560, o número subiu a 177 em 1582, quase todos pertencentes às quatro principais
companhias: a das Índias, a do Levante, a de Moscou e a da Guiné.
Lado a lado com as mais guerreiras empresas de Drake, roubando aos espanhóis e abrindo o
comércio com as colônias pela força dos canhões, também houve muito tráfego de caráter mais pacífico na
Moscóvia, na África e no Levante (mar Negro). No entanto, era impossível traçar uma clara linha divisória
entre os comerciantes pacíficos e os guerreiros, porque, por seu lado, os portugueses atacavam todos os que
se aproximavam das costas africanas ou indianas. Não raras vezes, na costa africana, repercutiu o estrépito
da batalha entre os contrabandistas ingleses e os monopolizadores portugueses, e, para o fim do reinado de
Isabel I (Elizabeth I – A Rainha Virgem), os mesmos ruídos começaram a quebrar o silêncio dos mares
indianos e do arquipélago malaio. Um combate naval com um pirata ou com um rival estrangeiro constituía
incidente inevitável na vida do mais honesto comerciante, quer em tempo de paz, quer em tempo de guerra.
Em Londres, formaram-se companhias para suportar as despesas e os riscos das necessárias
hostilidades; a Rainha passou-lhes cartas de concessão de autoridade diplomática e militar para o outro lado
do globo (Cartas de Corso)5, aonde nunca chegaram navios do rei ou embaixadores reais. Os comerciantes
ingleses, viajando para aproveitar as suas oportunidades legais, foram os primeiros a representar o país na
corte do Czar, em Moscou, e do Mongol, em Agra. Os comerciantes isabelinos não hesitavam também em
atravessar o Mediterrâneo, apesar da guerra com a Espanha. A Companhia do Levante comerciava com
Veneza e as suas ilhas gregas, e com o mundo muçulmano mais para além. Dado que os inimigos navais
eram os venezianos e os espanhóis, o Sultão acolheu bem os heréticos ingleses em Constantinopla. Mas na
rota até aí tinham que se defender das galés espanholas, próximo do estreito de Gibraltar e dos piratas da
Barbaria, ao longo da costa argelina. Tais foram os princípios do poder marítimo inglês no Mediterrâneo,
se bem que não fosse antes dos tempos Stuarts que a Marinha Real seguiu até onde a frota mercantil travara
já tantas batalhas.
A guerra entre a Espanha e a Inglaterra, tanto tempo adiante, eclodiu enfim em 1587. Felipe II
enviou no ano seguinte contra a Grã-Bretanha uma grande esquadra, a Invencível Armada, conduzindo um
exército de vinte e dois mil homens que deveria ser reforçado pelos terços espanhóis estacionados nos
Países Baixos (Holanda). Os números das duas esquadras chefiadas, respectivamente, por Howard e pelo
Duque de Medina Sidônia não eram desiguais. Os ingleses, combinando a Marinha Real com a Marinha
Mercante armada, dispunham de esmagadora superioridade de canhões bem como de arte náutica e arte de
artilharia. Os espanhóis só eram superiores em tonelagem de navios secundários e em soldados que
alinhavam no convés, mosqueteiros e piqueiros, esperando em vão que os ingleses se aproximassem,
segundo as antigas regras de guerra naval. Mas os ingleses preferiam o duelo entre a artilharia e a infantaria
à distância. Não admira por isso que a esquadra espanhola sofresse terrível estrago, ao passar pelo Canal.
Já desmoralizados ao chegarem à baía de Calais, manobraram mal os navios, em face dos barcos de
fogo de Drake, e fracassaram em todas as tentativas de embarcar o exército do Príncipe de Parma que os
aguardava.
Depois de outra derrota, em grande batalha diante de Gravelines, os espanhóis deveram a uma
mudança dos ventos conseguirem escapar da total destruição nos baixios arenosos da Holanda; os navios
correram enfunados pela tempestade, sem provisões, sem água e sem abrigo, à roda das costas penhascosas
da Escócia e da Irlanda. Os ventos, as vagas e as rochas do remoto noroeste completaram muitos naufrágios
começados pelo canhão no canal da Mancha. Os grandes navios, às fornadas de dois e de meia dúzia ao
mesmo tempo, amontoaram-se nas costas onde os homens das tribos célticas, que tudo ignoravam e nada
se preocupavam com as lutas dos povos civilizados que arremessavam essa colheita de náufragos para as
suas regiões, chacinaram e esbulharam, aos milhares, os melhores soldados e os mais altivos nobres da
Europa.

5
A diferença entre o pirata e o corsário era apenas que o segundo tinha autorização de um Estado para suas ações, tendo
obrigações com este Estado de partilha dos bens pilhados ou no cumprimento de uma missão em nome do rei.
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A primeira tentativa séria da Espanha para conquistar a Inglaterra foi também a última. O esforço
colossal despendido em construir e equipar a Invencível Armada, filha de tão ardentes preces e expectativas,
não podia, como o futuro mostrou, repetir-se efetivamente, embora daí em diante a Espanha mantivesse no
Atlântico uma frota de guerra mais formidável do que nos dias em que Drake pela primeira vez viajara até
o continente espanhol. Mas o resultado da luta decidira-se logo em princípio por esse acontecimento único
que toda a Europa imediatamente reconhecera como um ponto de inflexão da História. O destino da Armada
demonstrou a todo o mundo que o senhorio dos mares passara dos povos mediterrâneos para as gentes do
Norte.
A Inglaterra não elaborara ainda um sistema financeiro e militar capaz de suportar o seu recente
poder naval. Ao término do reinado de Isabel, com escassos cinco milhões de habitantes, não era bastante
rica e populosa para anexar as possessões espanholas ou fundar um império colonial próprio, mesmo a
colônia estabelecida por Raleigh, na Virgínia, era prematura, em 1587.
Quando na época Stuart, a riqueza acumulada e a população supérflua da Inglaterra lhe permitiram
retomar a obra colonizadora, dessa vez em paz com a Espanha, o rumo dos puritanos e outros imigrantes
levou-os necessariamente às paragens setentrionais da América onde não se encontravam espanhóis.
Enquanto a Marinha espanhola exerceu o exclusivo domínio do Mar das Caraíbas, do oeste do
Atlântico e do leste do oceano Pacífico, nenhuma ocupação britânica foi possível, quer nas Índias
Ocidentais, quer no litoral da América do Norte. Enquanto a Marinha portuguesa dominou o Atlântico Sul
e o oceano índico, o comércio com o Oriente pela rota do Cabo esteve fora de questão. Ao ser destroçado
em conjunto o poderio naval peninsular na guerra que depois da derrota da Armada continuou até 1604,
ficaram abertas ambas, a leste e a oeste, ao comércio inglês e à colonização. Entretanto, por falta de apoio
do Estado, a expansão marítima comercial da Grã-Bretanha não atingiu, nos primeiros anos do século XVII,
toda a pujança de que já era capaz; houve mesmo um período de retrocesso durante o reinado de Jaime I, o
único rei Stuart que desprezou totalmente a Marinha.
Os conflitos entre a Inglaterra
e a Espanha diminuíram em 1603,
com a morte da rainha Isabel e a
ascensão ao trono de Jaime I, também
rei da Escócia e filho de Maria Stuart
(que havia sido assassinada pela
prima, a rainha Isabel). Hipnotizado
pelo mito espanhol, mais do que
Isabel, Jaime logo selou aliança com
o inimigo da véspera. Fazendo isso,
abandonou a luta pela independência
dos holandeses e lançou as sementes
para futuras hostilidades entre a
Inglaterra e a Holanda.
A Inglaterra continuava a ser uma comunidade marítima, mas durante trinta anos deixou de ser uma
potência naval. A incúria com a Marinha anulou alguns dos efeitos benéficos da paz com a Espanha. Os
termos do tratado que encerrou a guerra isabelina davam aos mercadores ingleses liberdade de comércio
com a Espanha e com as suas possessões na Europa, mas não mencionavam as pretensões dos marítimos
isabelinos no tráfego com a América Espanhola e com as regiões monopolizadas por Portugal na África e
na Ásia. O governo inglês não continuou a apoiar tais pretensões e deixou decair a Marinha Real, ao passo
que procurava com toda a sua força não consentir na pirataria. Nestas circunstâncias, prosseguiu a guerra
privada com os espanhóis e portugueses, sem o auxílio do Estado.
Durante o próprio reinado de Jaime I, a Cia. Inglesa das Índias Orientais fundou uma frutuosa
feitoria em Surate e no reinado de Carlos I edificou a fortaleza de São Jorge, em Madrasta, e ergueu outras
feitorias em Bengala. Tais foram as humildes origens comerciais do domínio britânico na Índia. Mas de
início esses comerciantes das Índias Orientais não eram apenas feitores: destruíam o monopólio português
pela ação diplomática nas cortes dos potentados gentios ou pela metralha dos navios no mar.

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Ao governo regicida (de Cromwell) cabe o crédito da ressurreição do
poder naval inglês e do estabelecimento da Marinha, numa base de permanente
eficiência que todos os governos subsequentes, qualquer que fosse a sua feição
política, honestamente esforçaram-se por manter. As medidas que se tomaram,
escreve Julius Corbett, transformaram a Marinha, de modo a adaptar-se à sua
finalidade moderna, e estabeleceram a Inglaterra como a grande potência naval
do mundo. O renascimento da Marinha de Guerra, com Blake, e o Governo do
Estado, por uma classe de homens em contato estreito com a comunidade
marítima e especialmente com Londres, fizeram reviver inevitavelmente a
rivalidade com os holandeses.
Durante uma geração, os marinheiros da Holanda tinham dominado,
frequentemente, com bastante insolência, os mares da Europa Setentrional e da
América e os oceanos Atlântico e Índico; tinham pescado nas áreas de pesca
britânicas e quase monopolizado o comércio de transportes da Inglaterra e das
suas colônias americanas. O reaparecimento sério da concorrência inglesa foi
Oliver Cromwell marcado pelo Ato de Navegação e pela Guerra Anglo-Holandesa de 1653-54.
Mas o desfecho da luta contra a supremacia marítima da Holanda não foi
decidido antes dos primórdios do século XVIII. Já há muito, no reinado de Ricardo II, os Parlamentos
tinham promulgado Leis de Navegação, a fim de limitarem a entrada de navios estrangeiros nos portos
ingleses, mas devido à escassez da Marinha inglesa, não foi possível fazê-las cumprir. A situação mudou
durante a ditadura de Cromwell. O “Ato de Navegação” votado em 1651 pelo Longo Parlamento, por
proposição de Cromwell, e que foi designado pelo nome de Magna Carta da Marinha Inglesa tinha um
duplo fim: arruinar o poderio comercial holandês e por conseguinte desenvolver a Marinha inglesa.
Pelo Ato de Navegação, as mercadorias procedentes dos países extra-
europeus e desembarcadas na costa inglesa deveriam ser importadas em navios
de construção e de proprietário inglês ou comandado por comandante inglês.
Pelo menos três quartos das tripulações deveriam ser formados de marinheiros
ingleses. Além do mais, reservavam-se exclusivamente aos navios ingleses as
cabotagens, a relação entre as colônias e as comunicações entre a Inglaterra e
suas colônias. O comércio de importação das mercadorias europeias não foi
permitido senão aos ingleses e aos navios dos países de origem, isto para evitar
os intermediários holandeses. Essas medidas tiveram por efeito imediato um
aumento da navegação britânica e por conseguinte estimularam a fabricação
dos navios. O próprio Estado contribuiu largamente, encorajado pelos preços
dos grandes armadores e dos importadores de trigo, o que permitiu aos
primeiros desenvolver uma grande atividade. Para que os armadores pudessem
facilmente recrutar as tripulações necessárias aos seus navios, os órfãos foram
obrigados a se tornarem marinheiros, facilitou-se a naturalização de
Carlos I
marinheiros estrangeiros, prometeram-se auxílios aos marinheiros velhos ou
doentes, às viúvas e aos órfãos dos desaparecidos no mar.
Para dar confiança ao público e levar os armadores a aumentarem as frotas mercantes, esquadras
poderosas faziam a política dos mares, e mediante um pagamento módico, um engenhoso sistema de seguro
protegia os negociantes contra todo acidente. Bem cedo os estaleiros nacionais eram impotentes para atender
ao ritmo sempre crescente do tráfego marítimo.
O “Ato de Navegação" foi dessa forma um repto a todas as navegações marítimas e em especial
uma declaração de guerra lançada aos holandeses. O conflito declarado entre as duas potências marítimas
começou em 1653, e, apesar do valor de seus marinheiros, a Holanda foi vencida depois de quase dois anos
de guerra. A Holanda sofreu mais do que a Inglaterra, porque possuía menos recursos em terra e porque,
pela primeira vez, desde que constituía uma nação, defrontava uma potência hostil que bloqueava o canal
da Mancha às frotas mercantes que lhe traziam de longe a vida e a riqueza.

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As alterações profundas surgidas na política interna da Grã-Bretanha após a morte de Cromwell já
não mais afetaram o desenvolvimento marítimo do país. A corte e o Parlamento da Restauração aceitaram
as tradições de esquadra de guerra da República. Carlos II e seu irmão Jaime mostraram interesse pessoal
pelas questões navais e o Almirantado continuou a ser bem servido. O Parlamento Cavalheiro e o Partido
Tory consideravam a Marinha com especial favor.
Em breve eclodiu outra guerra marítima com a Holanda, o reacender da luta entre as duas
comunidades mercantes, iniciada durante a República. Por ambos os contendores ela foi conduzida com as
mesmas esplêndidas qualidades de perícia naval combativa e na mesma escala colossal da primeira vez. De
novo a nação maior levou a melhor na guerra, e, pelo Tratado de Breda, a Holanda cedeu Nova Amsterdã
à Inglaterra que passou a chamar a cidade de Nova York.
Ainda mais uma vez, em 1672, a Inglaterra, aliando-se à França, entrou em luta contra a Holanda,
mas dela se retirou um ano e meio após. O Parlamento Cavalheiro acabara por compreender que essa guerra,
bem analisada, não era a continuação da antiga luta entre a Inglaterra e a Holanda pela supremacia naval.
O desaparecimento da Holanda como potência independente encerraria em si a ameaça à segurança
marítima inglesa, porque o delta do Reno cairia nas mãos da França. A França também era um concorrente
marítimo, potencialmente até mais formidável do que a Holanda, e caso se estabelecesse em Amsterdã,
rapidamente poria fim à supremacia naval inglesa.
A partir das guerras anglo-holandesas, a política externa da Inglaterra caiu cada vez mais sob a
influência de considerações mercantis. No fim do período Stuart, a Inglaterra era a maior nação
manufatureira e comercial do mundo. Londres ultrapassara Amsterdã como o maior empório mundial.
Havia um comércio próspero com o Oriente, o Mediterrâneo e as colônias americanas, baseado na venda
de artigos têxteis ingleses, cujo transporte até o outro lado do globo se efetuava nos grandes navios de
navegação oceânica dessa nova era. Já então as classes governantes estavam resolvidas a gastar o que fosse
necessário na Marinha e o mínimo no Exército.
Ao período da guerra mercantil anglo-holandesa sucedeu o da luta sustentada entre a Inglaterra e a
França pela hegemonia do mar, bem como para manter o equilíbrio europeu. Essa série de guerras,
conhecidas como a segunda guerra dos cem anos perdurou, nos mares, até a batalha de Trafalgar, em 1805,
e, em terra, até Waterloo dez anos depois. Na realidade, o conflito consistiu de sete guerras, separadas umas
das outras por pequenos intervalos de paz indecisa. Cada vez mais se começaram a perceber, especialmente
depois que o gênio iluminado de Pítt tornou claro o fato, que o objetivo supremo era o senhorio dos mares
e a manutenção do império nele baseada.
Desde a guerra dos Trinta Anos o Estado francês, sob a enérgica direção de Richelieu, havia
robustecido seu poder em tais condições, que já podia intervir com probabilidade de êxito nos mares. Tinha-
se apropriado de ricas possessões coloniais, e uma poderosa frota estava disposta a defender o comércio
ultramarino. O conflito entre as duas grandes potências europeias em ascensão tornou-se inevitável. A
primeira guerra da longa série foi a chamada da Liga de Augsburgo, que durou de 1689 a 1697. Graças à
eficiente Marinha criada por Colbert, no início a vitória sorriu às armas francesas. Em 1690, a Esquadra
francesa, sob o comando de Tourville, derrotou a frota aliada anglo-holandesa na batalha de Beachy Head,
mas a vitória não foi devidamente aproveitada. Os cortesãos da terrestre Versailles não tinham o sentido da
oportunidade naval que raras vezes faltou aos estadistas que atentavam ao fluxo e refluxo do mundo através
das marés que batem o Tâmisa.
Dois anos depois, os aliados triunfaram sobre Tourville na batalha naval de La Hougue. La Hougue
mostrou-se tão decisivo quanto Trafalgar, porque Luiz XIV, tendo desafiado com sua política grosseira e
arrogante toda a Europa para uma guerra terrestre, não conseguiu manter a Marinha francesa à altura de
suas necessidades, devido ao esforço despendido com os exércitos e fortalezas necessários à defesa
simultânea de todas as suas fronteiras terrestres. A superioridade temporária da Marinha de Guerra francesa,
em 1690, resultara da política bélica da corte e não se fundara no mesmo grau que as marinhas da Inglaterra
e da Holanda em recursos proporcionalmente elevados de navegação mercantil e riqueza comercial.
Quando, portanto, a política guerreira de Luiz XIV o induziu a descuidar-se da Marinha, a favor das forças
terrestres, o declínio naval francês precipitou-se e tornou-se permanente, com o que sofreram o comércio e
as colônias francesas.

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Os marinheiros da França, quando a sua grande esquadra deixou de ter missão a cumprir, voltaram
as suas energias para a pirataria. O Almirante Tourville foi eclipsado por Jean Bart. O comércio inglês
sofreu com a sua ação e a dos outros corsários, mas prosseguiu a despeito desses entraves, ao passo que o
comércio francês desapareceu dos mares. Ao se fecharem as fronteiras da França, devido à posição de
exércitos hostis, essa nação teve de passar a sustentar-se dos seus próprios recursos decrescentes, enquanto
a Inglaterra se abastecia em todo o mundo, desde a China a Massachusetts. Assim, em paralelo com o
desenvolvimento da Inglaterra deu-se a decadência marítima e financeira da França.
A Guerra da Liga de Augsburgo terminou pelo indeciso
Tratado de Ryswick. Após um intervalo difícil de quatro anos,
estalou de novo em escala ainda mais ampla a Guerra de
Sucessão da Espanha, que terminou com o Tratado de Utrecht
em 1713. Esse tratado, que abre o período estável e
característico da civilização do século XVIII, assinala o advento
da supremacia marítima, comercial e financeira da Grã-
Bretanha.
A primeira condição de guerra vitoriosa contra Luiz
XIV, quer no mar, quer em terra, era a aliança da Inglaterra e da
Holanda. A colaboração apresentava-se menos difícil porque a
inveja comercial da Inglaterra pela Holanda diminuía à medida
que os navios holandeses baixavam ante os recursos pela
primeira vez mobilizados de seu aliado.
A Inglaterra prosperou durante a guerra, ao passo que o
fardo das contribuições para a guerra e o esforço na luta minaram lentamente a grandeza artificial da
pequena república. A Grã-Bretanha, em consequência, acentuou ainda mais sua primazia naval. O fato é
tanto mais de espantar por ter sido a guerra destituída de qualquer ação notável. O domínio anglo-holandês
nos mares era tão completo que não pôde ser desafiado, e isso condicionou todo o curso da guerra. Apenas
uma vez grandes esquadras se encontraram, e os resultados foram indecisos. Desistiram então os franceses
da luta pelo mar e se concentraram na guerra pela destruição do comércio. Os aliados puderam assim enviar
seus exércitos, quando e como quiseram.
O feito mais notável da Marinha durante a guerra foi a captura da cidade de Gibraltar por Rooke e
Shovel, em 1704, e a conquista de Minorca com a magnífica baía de Porto Mahou, por Stanhope e Leake,
em 1708.
O esmagador poderio naval da Inglaterra foi o fator determinante na história europeia durante o
período mencionado, mantendo a guerra no estrangeiro enquanto conservava seu próprio povo em
prosperidade no território metropolitano e construía o grande Império. Mas nenhuma das conquistas
territoriais, ou todas juntas, comparou-se em grandeza e muito menos em solidez com o ganho da Inglaterra
de seu inigualável poderio naval, que começara durante a Guerra da Liga de Augsburgo e que recebeu seu
acabamento na de Sucessão da Espanha. Com ele a Inglaterra controlou o grande comércio oceânico, graças
a navios de guerra que não tinham rivais e que as outras nações, exauridas, não podiam enfrentar. Esses
navios estavam agora seguros, baseados em sólidas posições em todos os cantos disputados do mundo. O
comércio, que havia assegurado sua prosperidade e a de seus aliados e a sua eficiência militar durante a
guerra, embora atacado e perturbado pelos corsários inimigos (aos quais ele só pôde prestar atenção parcial
em vista das constantes exigências noutros setores) começou, com um salto, vida nova quando a guerra
acabou.
O Tratado de Utrecht juntamente com o Tratado suplementar de Raistádt, feito em 1714,
inauguraram um quarto de século de paz quase perfeito. Exaurido pelo sofrimento, em todo o mundo o
povo ansiava pelo retorno da prosperidade e do comércio pacífico. Não havia nenhum país apto como a
Inglaterra, com riqueza, capital e navios, para levar a cabo essa missão e colher as vantagens. Durante a
guerra de Sucessão da Espanha, a eficiência da Marinha Real significara viagens seguras e, mais ainda,
utilização dos navios mercantes. Os navios mercantes ingleses, sendo melhores protegidos que os
holandeses, ganharam a reputação de oferecer mais seguro transporte, e o tráfego naturalmente passara cada

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vez mais para suas mãos. Essa conquista de preferência mundial foi mantida em tempo de paz. Mas do que
nenhuma outra potência, a Inglaterra consolidou então as bases sólidas do poderio marítimo, o qual não
residia meramente na sua grande Marinha. A França tivera tal Marinha em 1688, que desaparecera corno
uma folha no fogo. Nem residia só no comércio próspero; poucos anos depois da época em questão, o
comércio da França tomaria magníficas proporções, mas o primeiro tiro de guerra o varreria dos mares
como a Marinha de Cromwell já antes eliminara o da Holanda. Foi com a união dos dois (Comércio e
Marinha), cuidadosamente compensados, que a Inglaterra conquistou o poderio naval sobre e a despeito
dos outros Estados. Assim, essa conquista, se acha associada à Guerra de Sucessão da Espanha. Antes dessa
guerra, a Inglaterra era uma das potências navais; depois dela passou a ser a potência naval, sem uma
segunda. Esse poderio ela alcançou só, sem compartilhar com amigos ou disputar com inimigos. Ela só era
rica e, no seu controle dos mares e da navegação intensiva, tinha a fonte de riqueza já tão segura nas mãos,
que não havia, na época, perigo de um rival no oceano.
Seguiu-se uma era de paz. Uma certa interferência, é verdade, foi causada no começo do período
pelos esforços espanhóis para recobrarem as ilhas de Sardenha e Cicília que, pelos tratados, haviam sido
cedidas à Áustria e à Sabóia, respectivamente. Uma frota inglesa, entretanto, sob o comando do Almirante
George Byng, restaurou a tranqüilidade em agosto de 1718, ao largo do cabo Passaro, graças a uma
esmagadora vitória sobre a esquadra espanhola.
A longa luta só recomeçou em 1739. No começo, a França permaneceu neutra, e a Inglaterra disso
se aproveitou para iniciar uma série de ataques contra a sua secular inimiga, a Espanha. O Almirante Vernon
começou bem a guerra, capturando com apenas seis navios a cidadela fortemente defendida de Porto Bello
(1739), mas esse sucesso preliminar foi contrabalançado pelos fracassos de Cartagena (1740-41) e de
Santiago de Cuba (1741). No Mediterrâneo, uma esquadra combinada franco-espanhola de vinte e sete
navios chocou-se ao largo de Toulon com a esquadra inglesa de vinte e nove navios do Almirante Mathews.
A batalha foi violenta, mas indecisa. O conflito crucial, entretanto, entre a Grã-Bretanha e a França, ocorreu
não na Europa, mas na Índia e na América do Norte, onde pequenos esquadrões bateram-se com violência
e habilidade.
A paz de Aix-la-Chapelle, que pôs fim a essa guerra chamada de Sucessão da Áustria, marcou
apenas uma trégua de oito anos, e nada decidiu em definitivo.
Mais uma vez o longo conflito recomeçou em 1756. Os ingleses aplicaram seu esforço diretamente
no conflito marítimo, colonial e comercial. A Inglaterra estabeleceu como objetivo precípuo o completo
domínio do mar para expulsar os franceses da América do Norte e para os impedir de estabelecer um
império na Índia. Noutras palavras, eles reconheceram pela primeira vez, claramente, a natureza do conflito
em que estavam mergulhados, intermitentemente, por mais de um século.
A guerra não começou bem para a Inglaterra. A ilha de Minorca foi capturada por tropas francesas
desembarcadas da esquadra de La Galissonière (1757), e uma frota inglesa enviada em socorro da ilha foi
repelida. Dois anos depois, porém, as vitórias navais de Lagos e Quiberon eliminaram a ameaça de uma
invasão das Ilhas Britânicas. Nesse predestinado ano de 1759, os franceses perderam, ao todo, não menos
de trinta e cinco navios de linha e ficaram assim reduzidos à impotência nos mares. A Espanha, entretanto,
que até então se conservara fora da guerra, tinha ainda uma armada de cerca de 50 navios. Em 1762, ela foi
atraída ao conflito pela promessa de recobrar Gibraltar e Minorca. Sua entrada na guerra meramente serviu
para completar o triunfo britânico. Em agosto de 1762, Havana foi capturada e com ela doze navios de
linha, para não mencionar tesouros avaliados em mais de três milhões de libras. Dois meses depois, Manilha
e todas as Ilhas Filipinas foram capturadas por uma expedição enviada da Índia.
A paz de Paris (1763), que pôs fim à Guerra dos Sete Anos, deu à Inglaterra a supremacia absoluta
na América do Norte e na Índia, além da posse de importantes ilhas no mar das Caraíbas. Ao mesmo tempo,
a Marinha Mercante inglesa, que a despeito de todas as guerras crescera de 1.320 navios em 1666 para
5.730 em 1760, alcançou a supremacia que iria durar até o século XX.
Seguiram-se cerca de quinze anos de paz, durante os quais a França reconstruiu sua frota de guerra.
O levante das Colônias Inglesas na América do Norte deu ensejo à França e à Espanha de lutarem
novamente pela posse das rotas marítimas. Na Índia, Souffren, com poucos navios, conseguiu lutar algumas
vezes vantajosamente contra as forças navais inglesas, superiores em número. Em 1781, a supremacia

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inglesa nas águas americanas foi perdida. Uma esquadra francesa, sob o comando do Conde de Grasse,
muito mais numerosa e de melhores navios que o esquadrão inglês, sob o comando do Almirante Graves,
cortou as comunicações da Ilha com a força principal britânica, conduzida por Lorde CromwelI, em
Yorktown, e compeliu-a a rendição. A queda de Yorktown marcou o fim virtual da Guerra da Independência
Americana, mas a vitória decisiva alcançada pelo Almirante Rodney na batalha de Santas restituiu em parte
a supremacia naval britânica e permitiu à Inglaterra alcançar melhores termos de paz (1783). As perdas de
suas melhores colônias e o renascimento da Marinha francesa pareceram indicar uma próxima decadência
da Inglaterra. Todavia, as ligações vitais das outras partes do Império Britânico foram mantidas, como
durante todas as guerras do século XVIII, e, após a derrota de 1783, a Inglaterra entrou rapidamente em
fase de recuperação, tirando de suas colônias os recursos necessários.
Em breve, por ocasião da Revolução, a Marinha francesa se auto destruiu, e, quando, em 1792, o
conflito entre as duas potências recomeçou, não havia competidor sério para a Royal Navy.

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CAPÍTULO V

AS NAÇÕES COLONIAIS
1) O que é Colonialismo:

Colonialismo é a política de exercer o controle ou a autoridade sobre um território ocupado e


administrado por um grupo de indivíduos com poder militar, ou por representantes do governo de um país
ao qual esse território não pertencia, contra a vontade dos seus habitantes que, muitas vezes, são
desapossados de parte dos seus bens (como terra arável ou de pastagem) e de eventuais direitos políticos
que detinham.
O termo colônia vem do latim, designando o estabelecimento de comunidades de Romanos,
geralmente para fins agrícolas, fora do território de Roma. Ao longo da história, a formação de colônias foi
a forma como o ser humano se espalhou pelo mundo.
A exploração desenfreada dos recursos dos territórios ocupados — incluindo a sua população, quase
totalmente aniquilada, como aconteceu nas Américas, ou transformada em escravos que espalharam pelo
resto do mundo, como na África — levou a movimentos de resistência dos povos locais e, finalmente à sua
independência, num processo denominado descolonização, terminando estes impérios coloniais em meados
do século XX.
Os historiadores muitas vezes distinguem duas formas básicas de colonialismo, principalmente com
base no número de pessoas do país colonizador que se estabelecem na colônia:
- O colonialismo de desenvolvimento: envolvia um grande número de colonos, geralmente à procura de
terras férteis para cultivar, que poderiam migra por intenção própria ou a partir de das intenções de seus
estados de origem, onde eram estimulados ou forçados a migrarem para o espaço colonial. Esse tipo de
colonização buscava o crescimento interno, portanto, fomentava a criação de indústrias, tinha mão de obra
assalariada, as propriedades eram pequenas e tinha grande dinamismo econômico, fazendo trocas
comerciais internas e com áreas coloniais ou metropolitanas diversas. Um exemplo foi a área Nordeste dos
EUA.
- O colonialismo de exploração: envolvia menos colonos, normalmente interessados em extrair recursos
naturais ou minerais para exportação para a metrópole. Esta categoria inclui entrepostos, mas aplica-se mais
para as colônias muito maiores, onde os colonos proporcionaram grande parte da administração e possuíam
a maioria das terras e do capital, mas dependiam de mão de obra escrava indígenas (locais) ou de outros
povos, como foi o caso de povos africanos para o trabalho nas Américas. A colônia de plantation no Sudeste
dos EUA se ajusta ao modelo de exploração do colonialismo. Os agricultores na Índia sob domínio britânico
colonial também foram forçados a cultivar determinados produtos e vendê-los a Grã-Bretanha, a fim de
pagar impostos opressivos e assim por diante.
Estes modelos de colonialismo se sobrepõem. Em ambos os casos, as pessoas se mudaram para a
colônia e os bens eram exportados para a metrópole.
Em alguns casos, o colonialismo ocorreu em áreas substancialmente pré-preenchidas e o resultado
foi tanto uma população culturalmente mista (como os mestiços das Américas), ou uma população
racialmente dividida, como na Argélia Francesa ou Rodésia do Sul.

A atividade que poderia ser chamada de colonialismo tem uma longa história. Os egípcios, fenícios, gregos
e romanos, todos construíram colônias na Antiguidade. A palavra "metrópole" vem do grego metropolis
[grego: "μητρόπολις"] - "cidade mãe". A palavra "colônia" vem do latim colonia' '- "um lugar para a
agricultura". Entre os séculos XI e XVIII, os vietnamitas estabeleceram colônias militares ao sul de suas
fronteiras originais e absorveram o território, em um processo conhecido como nam tiến.[4]

1.1) O Colonialismo Moderno:


Começou com a Era dos Descobrimentos. Portugal e Espanha descobriram novas terras do outro
lado do oceano e construíram feitorias. Para algumas pessoas, é esta construção de colônias em outro

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continente que diferencia o colonialismo de outros tipos de expansionismo. Essas novas terras foram
divididas entre o Império Português e o Império Espanhol, primeiro pela bula papal Inter Coetera (1493) e
depois pelo Tratado de Tordesilhas (1494) e o Tratado de Saragoça (1529). Este período também é
associado com a Revolução Comercial ou Mercantilismo. O final da Idade Média viu reformas na
contabilidade e sistema bancário na Itália e no Mediterrâneo oriental. Essas ideias foram adotadas e
adaptadas na Europa Ocidental para os altos riscos e benefícios associados aos empreendimentos coloniais.
No século XVII, ocorreu a criação do império colonial francês e do Império Colonial Neerlandês,
bem como do Império Colonial do Reino de Inglaterra, que mais tarde tornou-se o Império Britânico.
Também ocorreu a criação de algumas colônias suecas e um império colonial dinamarquês. A disseminação
dos impérios coloniais foi reduzida no final do século XVIII e início do século XIX pela Guerra
Revolucionária Americana (Independência dos EUA) e a independência da América Espanhola. No
entanto, muitas novas colônias foram estabelecidas após esse tempo, inclusive para o império colonial
alemão e o império belga. No final do século XIX, muitas potências europeias estavam envolvidas na
partilha da África.
O Império Russo, Império Otomano e o Império Austríaco existiam ao mesmo tempo, como os
impérios acima, mas não expandiram sobre os oceanos. Em vez disso, esses impérios expandiram através
da rota mais tradicional de conquista de territórios vizinhos. Havia, porém, alguma colonização russa das
Américas através do Estreito de Bering. O Império do Japão modelou-se nos impérios coloniais europeus.
Os Estados Unidos ganharam territórios ultramarinos após a Guerra Hispano-Americana e o termo "Império
americano" foi cunhado.
Após a Primeira Guerra Mundial, os vitoriosos Aliados dividiram o império colonial alemão e
grande parte do Império Otomano. Esses territórios foram divididos em classes de acordo com a rapidez
com que eram consideradas que eles estariam prontos para a independência, no entanto, a descolonização
fora das Américas demorou para ocorrer até depois da Segunda Guerra Mundial. Em 1962, as Nações
Unidas criaram um Comitê Especial de Descolonização, muitas vezes chamado de Comitê dos 24, para
incentivar este processo.

1.2) Neocolonialismo:
O termo neocolonialismo tem sido usado para se referir a uma variedade de coisas desde a
descolonização, após a Segunda Guerra Mundial. Geralmente, ele não se refere a um tipo específico de
colonialismo, mas sim ao colonialismo por outros meios. Especificamente, a teoria de que a relação entre
os países mais fortes e mais fracos é semelhante ao colonialismo de exploração, sem que o país mais forte
tenha que construir ou manter colônias. Tais teorias são baseadas em relações econômicas e interferência
na política de países mais fracos pelos países mais fortes. (Um dos exemplos relacionados a
neocolonialismo foi o caso de a Europa colonizar a África e a Ásia no final do século XIX).

1.3) Colonialismo e Geografia:


Os colonos agiam como o elo entre os nativos e a hegemonia imperial, fazendo a ponte geográfica,
ideológica e comercial entre os colonizadores e colonizados. Painter, J. e Jeffrey, A. afirmam que
“Determinados avanços ajudaram a expansão dos Estados europeus. Com ferramentas como a cartografia,
construção naval, navegação, mineração e produtividade agrícola, os colonizadores tinham uma grande
vantagem sob os outros. A sua consciência da superfície da Terra e a abundância de habilidades práticas
forneceram aos colonizadores um conhecimento que, por sua vez, criou poder.
Painter e Jeffrey argumentam também que a geografia como uma disciplina não foi e não é uma
ciência objetiva, mas sim é baseada em suposições sobre o mundo físico. Considerando que isso pode ter
dado ao Ocidente uma vantagem em relação à exploração, ele também criou zonas de inferioridade racial.
Crenças geográficas, como o determinismo ambiental, a visão de que algumas regiões do mundo são
subdesenvolvidas, legitimaram o colonialismo e criaram noções de evolução distorcidas. Estes elementos
são agora vistos como conceitos elementares. Geógrafos políticos afirmam que o comportamento colonial
foi reforçado pelo mapeamento físico do mundo, visualmente separando "eles" de "nós". Os geógrafos

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focam principalmente os espaços do colonialismo e do imperialismo, mais especificamente, a apropriação
material e simbólica do espaço, permitindo o colonialismo.
1.4) Colonialismo e Imperialismo:
Uma colônia é parte de um império e, portanto, o colonialismo está intimamente relacionado com o
imperialismo. Supõe-se que o colonialismo e o imperialismo são intercambiáveis, entretanto, na verdade,
o imperialismo é o conceito, enquanto o colonialismo é a prática. O colonialismo é baseado em uma visão
imperial, criando assim uma relação de consequência. Através de um império, o colonialismo é estabelecido
e o capitalismo é expandido.

2) A “Descoberta do Brasil”

Antes de qualquer coisa, é necessário explicar o termo descobrimento para a “invenção do Brasil”.
Diferente da conotação de achado, de ocasional, o termo descobrimento está mais relacionado à
“destapamento”, a retirar a cobertura, demonstrando ao mundo as propriedades aqui pertencentes à coroa
portuguesa.
Pedro Álvares Cabral recebeu a incumbência, dentre todas as ordens que
compunham sua missão, de realizar uma pequena exploração da terra a descobrir e
registrar a presença portuguesa na “Terra Nova”. Para tal, após cumprir esta parte da
missão, mandou escrever uma extensa carta, através de seu escritor oficial Pero Vaz
Caminha, contando e descrevendo os achados na terra, a qual juntou com diversos
suvenires como aves, plantas e pequenos objeos das tribos indígenas, e mandou de
volta a Portugal em um dos seus treze navios recebidos para a empreitada.
Para uma melhor compreensão, vamos descrever os fatores que preexistiram
ao descobrimento do Brasil.

2.1) As Razões da Expansão Marítima:


Durante o século XIII, a população europeia redescobriu o comércio e o valor da moeda,
consequência do melhor emprego das técnicas agrícolas e consequentemente da alimentação dos homens.
Cresceram os bens de consumo e as trocas se reanimaram, permitindo aparecer um novo tipo de
profissional: o mercador, e uma nova classe social: a nobreza mercantil, ou simplesmente, a burguesia.
Abrindo suas próprias rotas, os comerciantes acampavam em locais de sua escolha e exibiam suas
mercadorias. Nasciam, assim, as feiras, sendo famosas as de Flandres e Champanhe. Aos poucos, esse
comércio foi sendo transferido para as cidades (burgos), que cresceram em tamanho e população, tornando
o europeu mais exigente e refinado.
A busca de novas mercadorias provocou o aparecimento das especiarias (produtos destinados as
classes mais abastadas), que vinham principalmente das Índias. Os mercadores organizavam caravanas e as
transportavam até Constantinopla ou Alexandria, onde eram apanhadas pelos navegantes italianos,
especialmente os de Gênova e Veneza, que as distribuíam no mercado europeu. Ao lado do cravo, canela,
gengibre, açúcar, pimenta e etc., usados na farmácia e culinária, misturavam-se o incenso, mirra, tecidos e
tapetes, pérolas, pedras preciosas, tudo em pequena quantidade e por preços elevados, tendo em vista os
impostos (pedágios, câmbio monetário e tarifas alfandegárias) que nelas incidiam, nos diversos lugares por
onde passavam. Existia, assim, uma ligação comercial com as Índias, que ninguém sabia bem onde ficavam,
mas que todos falavam de suas fabulosas riquezas e costumes extravagantes. As viagens de Marco Pólo,
fantasiosamente descritas em seu “Livro das Maravilhas do Mundo”, excitavam o espírito dos aventureiros.
Assim, os mercadores acumularam riquezas e se agruparam em associações de proteção ao seu
desenvolvimento. Essas associações eram chamadas de Guildas. Alguns mercadores conseguiram edificar
impérios econômicos fabulosos. Um vasto circuito se originou, abrangendo do mar Mediterrâneo ao mar
Báltico, passando pelo oceano Atlântico e o mar do Norte. No Báltico, a presença de comerciantes alemães
(prussianos, teutões, germânicos, etc.) permitiu surgir uma das mais famosas formas de associação de

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comércio: a HANSA, que congregava várias cidades, como Lübeck, Hamburgo, Antuérpia, Leipzig,
Bremen etc., provocando o enriquecimento dos portos intermediários, como Lisboa.
Mas esse progresso viria a ser bruscamente afetado. As migrações dos povos mongóis
convulsionaram a Ásia no século XIII. Seus parentes próximos, os turcos, procuraram o ocidente,
estabelecendo-se na Ásia Menor, fazendo de Brussa sua capital. Atravessaram os Dardanelos, em 1354, e
ocuparam Galipoli. Invadiram a Trácia, comandados pelo Sultão Murad, que enfrentou, com êxito, os
sérvios na batalha de Kosovo (15/06/1389). Bajazet I, filho de Murad, completou essa conquista e venceu
os cristãos na batalha de Nicópolis (1396). Restava o Império Bizantino, quase restrito à área da cidade de
Constantinopla, último reduto de cristianismo encravado nessas conquistas turcas. O Sultão Maomé II
dispôs-se a conquistá-lo, entrando em Constantinopla em 29 de maio de 1453 (queda de Roma Oriental).
Esses eventos perturbaram o comércio europeu, ocasionando uma crise na segunda metade do século
XIV. Dificuldades climáticas e ebulição política causada pela Guerra dos Cem Anos contribuíram para essa
crise, agravada pela presença da peste bubônica proveniente da Ásia nos porões dos navios desde a época
dos Cruzados. Enquanto a população enfurecida caçava bruxos e endemoniados, proliferavam
tranquilamente os ratos portadores de pulgas contaminadas por uma bactéria que provocava a doença. Os
camponeses, irrequietos, pilhavam as caravanas, reduzindo a segurança das rotas terrestres. Na França ficou
conhecida a Jacquerie, que era uma associação de ladrões. A tríade guerra-peste-fome reduziu
drasticamente a população europeia em aproximadamente 1/3 e foi um duro golpe no comércio que se via
prejudicado na fonte fornecedora e, agora, no mercado consumidor.
O estabelecimento turco em Constantinopla, transformada em capital das terras conquistadas e
rebatizada de Istambul, provocou a ruína do comércio mediterrâneo, dificultando a obtenção das especiarias
que se tornaram menos abundante e, portanto, mais caras. Era necessário encontrar um meio de se chegar
às Índias, fontes das especiarias, e impedir o avanço turco. Como o ideal de cruzada ainda se encontrava
latente, o desejo de difundir o cristianismo mesclou-se aos interesses econômicos. Igualmente, tornava-se
urgente, para a Europa, achar ouro. As raras minas europeias desse metal se exauriram no mundo antigo e
o progresso exigia o ouro como base das transações comerciais modernas.
Esse plano simples esbarrava em vários e complicados problemas para a ciência da época, amarrada
em falsas noções, especialmente quanto ao formato da Terra e às verdadeiras distâncias geográficas, e ao
misticismo religioso. Tais desconhecimentos levaram os homens a acreditarem em muitas fantasias,
relativas às Índias e ao mar Tenebroso (oceano Atlântico), achando que era povoado por monstros e com
abismos em suas bordas (a cultura da época pregava que a Terra era reta e quadrada), ou no fabuloso reino
cristão do Preste João, situado no centro da África, que seria cheio de riquezas incontáveis.
Com o progresso comercial, surgiram nas cidades mais ricas redutos de saber chamados de
“Universidades”. Nestes redutos, o conhecimento dos antigos estudiosos gregos e romanos começou a ser
reencontrado e analisado (citemos, em especial, a Geografia, de autoria do grego Claudio Ptolomeu),
associado aos conhecimentos de matemática e astronomia, adquiridos dos árabes.
Alguns sábios chegaram a sustentar a esfericidade da Terra, principiaram a observação das estrelas,
verificaram mapas antigos. Pierre d'Ailly, bispo de Cambrai, resumindo o que se conhecia da geografia da
época, escrevia “Imago Mundi” (1483).

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Ao mesmo tempo, penetravam no continente europeu,
provenientes da China através dos árabes, várias invenções que, em
conjunto, marcariam o início dos tempos modernos: a bússola, que
permitia a orientação para os navegantes, a pólvora, que provocou
a invenção das armas de fogo, facilitando a defesa dos aventureiros
e intensificando as ações dos usurpadores, e o papel que, aliado à
descoberta da técnica tipográfica (Gutenberg entre 1440 e 1450),
difundiu os conhecimentos. A mais importante dessas invenções
ocorreu em Portugal. Partindo das antigas embarcações
mediterrâneas, os portugueses aperfeiçoaram lentamente a caravela,
comprida, leve, popa quadrada, proa levantada, utilizando três velas
latinas, que mais tarde foram trocadas por velas redondas, capaz,
assim, de viagens arrojadas em alto-mar. O astrolábio, círculo de
bronze graduado (provavelmente uma invenção grega, adaptada por
Martin Behaim, de Nüremberg), servia para medir a altura dos
astros e estrelas e determinar a posição do viajante, utilizando-se,
para o mesmo fim, o quadrante e a balestilha.

A figuração dos continentes se aperfeiçoa com a presença de “cartas”, contendo inúmeras fantasias,
chamadas “portulanos” (as primeiras cartas náuticas). Granjearam fama o alemão Martin Behaim e o
holandês Mercator (Gerhard Kremer), que vinculou seu nome ao primeiro sistema científico de
representação cartográfica.
O grande problema da náutica da época consistia em não se conhecer qualquer processo que
permitisse a determinação da longitude a bordo precisão.

2.2) Os Portugueses se Espalham pelo Mundo:


Conhecida outrora pelo nome de Lusitânia, a região que hoje é Portugal foi originalmente habitada
por populações iberas de origem indo-européia. Mais tarde, foi ocupada, sucessivamente, por fenícios
(século XII aC), gregos (século VII aC), cartagineses (século III aC), romanos (século II aC) e,
posteriormente, pelos visigodos (povo germânico, convertido ao cristianismo no século VI), desde o ano
de 624. Em 711, a região foi conquistada pelos muçulmanos, impulsionados por sua política de
expansionismo, tendo como base uma coligação formada por árabes, sírios, persas, egípcios e berberes,
estes em maioria, todos unidos pela fé islâmica e denominados mouros.
A resistência aos invasores só ganhou força a partir do século XI, após a formação dos reinos
cristãos ao norte, como Leão, Castela, Navarra e Aragão. A guerra deflagrada contra os mouros contou
com o apoio de grande parte da aristocracia européia, atraída pelas terras que a conquista lhes
proporcionaria.
A origem do próprio Estado português se deu com a formação do Condado Portucalense, sob o
domínio de Dom Henrique de Borgonha. As vitórias alcançadas pelos exércitos de Dom Henrique
mostraram à Santa Sé a importância que estes vinham adquirindo com o sucesso das lutas militares. Assim,
os interesses do senhorio do condado e os do papado iam aos poucos convergindo para o reconhecimento
da autonomia portucalense ante o Reino de Leão.
O Tratado de Zamora, firmado em 1143 entre o duque portucalense Dom Afonso Henriques (1128-
1185), filho de Henrique de Borgonha, e Dom Afonso VII, imperador de Leão, determinou o
reconhecimento, por parte deste último, da independência do antigo condado, agora Reino de Portugal.
Além da agricultura, o comércio marítimo e a pesca eram importantes atividades praticadas em
Portugal, país de solo nem sempre fértil e produtivo. A atividade pesqueira destacou-se como fundamental
para complemento da alimentação de sua população.
Situado em posição geográfica estratégica, à beira do Oceano Atlântico e próximo ao Mediterrâneo,
era de se esperar que desenvolvesse grande devotamento à navegação e, consequentemente, à construção

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naval. Natural, também, que a Marinha portuguesa fosse utilizada em caráter militar, o que ocorreu a partir
do século XII.
Foi Portugal, pequeno país ibérico, com privilegiada posição em frente ao oceano Atlântico, que
tomou a dianteira nas navegações. Barrado em suas pretensões a Este, pelo crescente poderio de Castela, o
mar apresentava-se como seu destino natural.
No reinado de D. Sancho II (1223-1245) podem ser assinaladas as primeiras tentativas de
implantação de uma frota naval pertencentes ao estado, ordenando inclusive a construção de locais
específicos nas praias para reparo de embarcações.
D. Dinis (1279-1325) criou mecanismos de desenvolvimento da marinha e do comércio português.
Realizou os primeiros tratados de comércio com os ingleses, instituiu a Marinha Real, criou o primeiro
posto de Almirante, Nuno Fernandes Cogominho, e plantou florestas para a indústria naval.
No reinado de D. Fernando I (1367-1383) a construção naval ganhou grande incentivo com isenções
de impostos, criação de vantagens e garantias (seguros feitos pela Companhia das Naus) aos construtores
navais.
O monopólio exercido pelas cidades italianas de Gênova e Veneza sobre as rotas de comércio com
a Ásia levou os grupos mercantis portugueses a procurar outra alternativa para realização de seus negócios
e, consequentemente, para obtenção de lucros. A saída seria o contato direto com os comerciantes árabes,
evitando o intermediário genovês ou veneziano. Para isso muito contribuiu a estrutura naval já existente no
reino, cujo desenvolvimento foi estimulado pela coroa.
A expansão ultramarina portuguesa começou quando D. João I (1385-1433), por desejos de seus
filhos, os infantes D. Duarte (mais tarde D. Duarte I de 1433-1438), D. Pedro e D. Henrique (o Navegador),
ordenou a conquista da cidade marroquina de Celta, que caiu em seu poder a 21 de agosto de 1415. A
cristandade acompanhava com grande interesse a atividade do único povo cristão que começou a lutar
contra os infiéis (árabes, mulçumanos ou mouros) e a obter vitórias.
D. Henrique, o Navegador (assim chamado porque se dedicou às navegações e não porque tenha
navegado), foi a alma da expansão marítima portuguesa. A partir de 1418, exerceu a função de governador
da Ordem de Cristo: tornava-se quase um sacerdote. Provavelmente em 1418, fixou a sua residência em
Sagres, longe da Corte, onde mais facilmente poderia dedicar-se à sua cruzada: a descida pelo litoral
africano e a sua consequente identificação. Ele sentiu a necessidade de conseguir boas informações, quase
todas obtidas em Celta, local de concentração caravaneira. Ele juntou mapas, narrativas de pilotos, velhos
manuscritos, livros da época. Rodeou-se de vários personagens, como Jaime de Maiorca e o astrônomo
Abraão Zacuto, autor do “Almanach Perpetuum”, na tentativa de aperfeiçoar os conhecimentos geográficos
para que a sua empresa não representasse mera aventura, mas traduzisse o resultado de investigação
científica, matemática... Ele não tinha interesse em descobrir riquezas; o seu desejo era apenas expandir a
Fé de Cristo.
Lançaram-se, então, os portugueses (e todos os estrangeiros que em Portugal oferecessem os seus
serviços) na descoberta do desconhecido litoral africano. Em 1418, João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz
Teixeira encontram a ilha de Porto Santo; em 1421 alcançaram a Madeira e os Açores com Diogo de Silves;
em 1434, Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador; em 1441, Antão Gonçalves atingiu um rio que chamou do
Ouro.
Logo depois (1442), Nuno Tristão chegou ao Cabo Branco e em 1444, atingiram a Ilha de Arguim,
no Senegal, onde instalaram a primeira feitoria em território africano e iniciaram a comercialização de
escravos, marfim e ouro. Em 1445, Lançarote, Gonçalo de Sintra e Dinis Dias acharam o Cabo Verde.
Nesse mesmo ano, o veneziano Alvisse Da Mosto atingiu o Rio Gâmbia; nova viagem fez em 1457,
quando, então, divisou uma desconhecida constelação, batizando-a de Cruzeiro do Sul. Em 1460, Pedro de
Cintra navegou até Serra Leoa.
Este período coincide com o advento do humanismo em Portugal, em decorrência do intenso
relacionamento com as cidades comerciais italianas e o Papado. Vários intelectuais, procedentes de distintas
regiões europeias, procuram o reino português. A expansão ultramarina permitiu uma convergência de
interesses entre os setores mercantis, clero e nobreza, ficando ao Estado o papel de controlador. Essa aliança
garantia aos comerciantes as possibilidades de riqueza sem o bloqueio do Estado, ao clero a secular luta

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contra os infiéis e o controle religioso das áreas conquistas, ampliando os domínios da Santa Sé, aos nobres
a riqueza advinda do poder e ao Estado a riqueza na cobrança de impostos e tributos.
A morte do infante D. Henrique, ocorrida em 13/11/1460, arrefeceu o ritmo das navegações, dando
uma esfriada nos ânimos dos navegadores que, timidamente, continuaram por meios próprios os estudos do
oceano. Prosseguiram mais tarde os portugueses, orientados pelo próprio Rei D. João II que somente subiu
ao trono em 1481, indo até 1495.
Nesta oportunidade, já estava maduro e definido um plano sistemático para serem alcançadas as
Índias. Revestindo as viagens de cauteloso sigilo, substituindo as cruzes de madeira por padrões de granito,
o rei desdobrou a ideia dedicando-se a descobrir a rota para lá.
Em 1482, Diogo Cão aportou no Rio Zaire. Pouco depois (1485), em nova viagem, descobriu o
Cabo do Padrão. Como Diogo Cão não encontrara o término do continente africano, o rei resolveu
solucionar esta questão incumbindo Bartolomeu Dias para prosseguir na rota marítima, a Pero da Covilhã
de ir, por terra, até o Mar Vermelho e a Afonso de Paiva para encontrar o suposto reino do Preste João.
Partiram os dois últimos de Lisboa em 8 de maio de 1487. Covilhã alcançou Sofala e percorreu as costas
da África Oriental.
Finalmente, em janeiro de 1488, Bartolomeu Dias dobrou a ponta terminal do continente africano,
chamando-a de Cabo das Tormentas, denominação essa trocada pelo monarca para Cabo da Boa Esperança.
Essa expansão vinha ao encontro de desejos cristãos. A cristandade estava apreensiva, desde a
derrota de Nicópolis (1396) e da queda de Constantinopla (1453), com o avanço turco. Por isso, Portugal
obteve, da Santa Sé, seguidas e proveitosas concessões que, em resumo, doavam todas as terras, descobertas
e por descobrir, para os portugueses (Bulas Rex regnume, Et sisuscepti, de Eugênio IV; Cuncta mundi, de
Nicolau V, Interccetera quée, de Calisto III; Aeterni regis, de Xisto IV, e Orthodoxóe fidei, de Inocêncio
VIII).

2.3) A América Descoberta:


O reino português transformou-se num centro de aventureiros, sábios e navegantes de várias
nacionalidades que se empenhavam na tarefa da descoberta do caminho para as Índias. Entre eles, destacou-
se Cristóvão Colombo, uma das figuras mais discutidas da História.
Genovês de origem, talvez nascido em 1451, pouco sabemos de seus primeiros anos de vida. Não
parece ter feito grandes estudos (Eu, que não sou um sábio... escreveu), mas, com certeza, impressionou-se
pelo movimento das descobertas, nas quais vários compatriotas seus participavam. Lançarote, Usodimare,
os irmãos Vivaldi, Antonio da Noli, eram todos genoveses a serviço do Infante. O livro de Marco Pólo
devia ser sua leitura preferida, especialmente este trecho o impressionava: "Cipango (Japão) é uma ilha do
Oriente que está no mar alto, longe da terra firme 1.005 milhas... chamam a este mar o de Cin, mas ele é o
grande mar do Ocidente".
É possível que Colombo tenha navegado à Islândia, onde entrou em contato com as notícias que os
descendentes dos vikings guardavam de Vinland, a futura América, reunidas na Erik Saga Rhauda (seus
drakkars já foram encontrados nas costas americanas). Depois dessa viagem, estabeleceu-se em Portugal.
Mas, os conhecimentos ou ignorâncias deste genovês ainda constituem um enigma para os
estudiosos de sua vida. Para sobreviver, realizou algumas viagens comerciais por conta de firmas
genovesas. Nessa oportunidade, 1481, casou-se com Filipa Moniz, herdeira do rico comerciante
Bartolomeu Perestrelo. Esse casamento lhe permitiu refletir sobre seu grande projeto; Colombo passa a
viver na ilha de Porto Santo, próxima da Madeira, onde nasceu seu filho Diego. É possível, também, que
tenha efetuado algumas viagens em caravelas portuguesas pelo litoral africano. Aos poucos, foi
amadurecendo a ideia de chegar às Índias pelo caminho do Ocidente, ao mesmo tempo em que muito
aprendia com os portugueses.
Incentivado pelo conteúdo da carta do sábio florentino Paolo Toscanelli (por alguns tidos como
apócrifa), que acreditava na esfericidade da Terra, enviada ao cônego Fernão Martins, em Lisboa, da qual
deve ter tomado conhecimento, Colombo instalou-se em Lisboa onde já vivia seu irmão Bartolomeu e,
certamente em 1484, conseguiu que o Rei D. João II examinasse o seu projeto para chegar às Índias por
meio mais rápido: atravessaria o mar Tenebroso. Para melhor convencer o soberano, argumentou com a

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redondeza da Terra e determinou que cada grau tivesse 56,5km (o certo é 111km), tornando pequena a
distância entre Lisboa e a costa da Índia. Ouvido por um conselho de homens de saber foram seus planos
desaprovados e recusados em seguida pelo rei, não propriamente porque os portugueses não aceitassem as
suas idéias, nessa fase das navegações bem válidas, mas porque Colombo exigia demais, podendo muitos
portugueses fazer o mesmo pelo amor à Pátria.
Colombo não queria tentar a sua aventura sem o respaldo de um soberano. Em 1485, dirigiu-se para
Castela. Passou um tempo no convento franciscano de La Rabida, causando forte impressão a Frei Antonio
de Marchena, que o encorajou. Dirigiu-se a Sevilha, ligando-se ao banqueiro florentino Berardi. Este o
apresentou ao Duque de Medinaceli, que se propôs financiar o projeto. Mas Colombo desejava o apoio real.
Fernando e Isabel, reis de Aragão e Castela, empenhavam-se em vencer o último reduto mouro: o reino de
Granada. Auxiliado, também, pelo Duque de Medinasidonia. Colombo conseguiu uma entrevista com a
rainha em Córdova e uma promessa para o futuro.
Colombo instalou-se junto à Corte, que se fixara em Córdova, e aguardou até que se transferiu com
a Corte para Salamanca no final do ano de 1486. Nesta cidade, os reis católicos fizeram reunir uma comissão
de sábios visando a apreciar o projeto de Colombo. Esta comissão conclui ser o mesmo inviável.
Desanimado, Colombo retornou a Lisboa e tentou retomar as conversações com o Rei D. João II, sem
qualquer êxito. No final do ano de 1489, encontrava-se em terras espanholas, no acampamento real diante
de Baza.
O tempo passou; suas esperanças iniciais diminuíram. O prior do convento, Padre Luan Pérez,
convenceu-o a ter paciência, ao mesmo tempo em que enviava uma carta à rainha, que convocou Colombo
à sua presença. Novamente expôs seus planos. Meses depois, em 2 de janeiro de 1492, Granada rendeu-se:
estava aberto o caminho para Colombo.
Os reis católicos aceitaram as suas imposições nas Capitulações de Santa Fé (17 de abril). Com
dinheiro adiantado à Coroa pelos banqueiros Luis Santángel e Francisco Pinelo e alguma ajuda dos
armadores de Palos, Martim e Vicente Pinzón, totalizando 1.170.000 maravedis (pequena moeda de cobre
em uso), Colombo reuniu duas caravelas, a Pinta (140t) e a Nina (100t) e a nau Santa Maria (250t),
guarnecidas com 110 homens.
Partiu de Palos a 3 de agosto. A 8 de setembro, suspendeu das Canárias e entrou no desconhecido.
Descobrindo no percurso o fenômeno da declinação magnética, Colombo chegava, a 12 de outubro, na ilha
de Guanaany, por ele chamada San Salvador (hoje Watling Island, uma das Bahamas).
Como não se acharam sinais de civilização, a viagem prosseguiu; Colombo encontrou Cuba
(chamada de Joana) e Haiti (batizada de Espanhola); nesta ilha, construiu um forte com os restos da Santa
Maria, chamado Navidad, deixando uma guarnição sob o comando de Diego Arana. Ao regressar, Colombo
aportou primeiro em Lisboa, comunicando ao Rei D. João II que descobrira o caminho para as Índias.
Colombo ainda realizou mais três viagens ao Novo Mundo: em 1493, com 17 navios e tripulação de 1.500
homens, de caráter colonizador; algumas ilhas foram descobertas e Colombo fundou Isabela, na Espanhola;
em 1498, tendo atingido terras continentais americanas e, em 1502, quando explorou o litoral da América
Central, morrendo pouco depois (20/05/1506), em Valladolid, sem saber que achara um continente novo.

2.4) O Acordo de Tordesilhas:


A existência de diversas bulas papais assegurando aos portugueses terras não descobertas, fez com
que os reis da Espanha logo recorressem ao Papa Alexandre VI, pertencente à família aragonesa dos Bórgias
(portanto parente dos reis), para que lhes confirmasse a posse das terras encontradas por Colombo. Através
das bulas Eximin e Devotionis (de 03/05/1493) e das duas Inter Coetera (de 04/05/1493), o papa estabeleceu
uma demarcação para a soberania de Castela, imaginando um meridiano que, distante 100 léguas das ilhas
de Açores e Cabo Verde, daria início às posses castelhanas.

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D. João II não se conformou e disse: “ficou mui confuso e creo verdadeiramente que esta terra
descoberta lhe pertencia”. Tentou, diplomaticamente, a anulação das Bulas, sem resultado. Mandou que
Ruy de Sande propusesse um paralelo, o das Canárias, para servir de divisão entre as posses de Castela e
Portugal, que guardaria o domínio meridional. Recusada essa proposta, enviou a Castela Rui de Pina e Pero
Dias, os quais não obtiveram resultados satisfatórios. Apelou, então, para a ameaça, aparelhando forte
esquadra que disputaria, pelas armas, as terras descobertas.
Os reis católicos espanhóis não se interessaram, porém, em medir forças com Portugal; a fatigante
e secular luta contra os mouros tinha acabado apenas em 1492 com a tomada da cidade de Granada, colocar
o país recém unificado em uma guerra era muito arriscado e os negócios decadentes da Itália aconselhavam
uma política pacífica. Assim, Castela procurou negociações diretas. Na pequena cidade castelhana de
Tordesilhas, reuniram-se os negociadores (D. Gutierrez de Cárdenas, D. Enrique Enriquez e o Dr. Rodrigo
Maldonado, por parte de Castela, e Rui de Sousa, seu filho João de Sousa, Ayres de Almada e Duarte
Pacheco Pereira, representando Portugal), que assinaram, a 7 de junho de 1494, a Capitulacíon de La
Partícion del Mar Oceano, por meio da qual ficavam fixadas as áreas de influência dos dois países, através
de um meridiano (em toda a extensão da Terra) que passasse a oeste de 370 léguas do arquipélago de Cabo
Verde: as terras não europeias a leste seriam de Portugal e as situadas a oeste ficavam espanholas.
Esse tratado representou uma grande vitória da diplomacia lusa, pois defendia a rota africana que
os nautas portugueses há tantos anos perseguiam. Por outro lado, sem esclarecer de qual ilha partiria a
contagem e nem qual o tipo de légua a ser usado, o tratado nunca pôde ser realmente demarcado, nem
respeitado por ambos os países, que se interessavam na persistência da dúvida.
A Capitulação de Saragoza (22/04/1529), consequência da descoberta das Molucas por Fernão de
Magalhães, procurou solucionar esse problema. Reconheceu Portugal, governado por D. João III, serem as
Molucas pertencentes à Espanha, adquirindo-as por 350 mil ducados. Com isso, firmava-se o meridiano de
Tordesilhas, na América, entrando na posse portuguesa a Banda Oriental do Uruguai, as terras do Chaco
Paraguaio e grande parte da região amazônica.

2.5) O Caminho das Índias Decifrado:


A viagem de Pero de Covilhã permitiu ao Rei D. João II entrar na posse de um cálculo de distância
entre a costa da África e o Malabar (costa ocidental da Índia); isso em 1491. Estava completada, embora
empiricamente, a triangulação do caminho para as Índias: Lisboa, Cabo da Boa Esperança e Calecute.
Morreu D. João II em 1495. Seu substituto, D. Manuel I, o Venturoso, reuniu homens (160) e armas
usuais e artilharia em quatro embarcações (S. Gabriel, S. Rafael, Bérrio, e um transporte para mantimentos
chamado de São Miguel), cujo comando deu a Vasco da Gama, "experimentado nas coisas do mar, em que
tinha feito muito serviço a El-Rei D. João".

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A 8 de julho de 1497, a armada partia da praia do
Restelo, pequena língua de areia colada à Torre de
Belém. A viagem foi penosa. Depois de dobrarem o
Cabo da Boa Esperança, as naus de Vasco da Gama
alcançaram a Baía de S. Brás, onde destruíram a nau
transporte; chegaram a Moçambique a 22 de março e
em Mombaça a 7 de abril. Nestes locais observaram
a hostilidade dos habitantes. Em Melinde, Vasco da
Gama conseguiu um prático, Ahmad lbn Madjid, que
conduziu os portugueses a Calicute, chegados neste
local a 20 de maio de 1498. Durante três meses, Vasco
da Gama demorou-se em Calicute, esforçando-se, em
vão, por atar relações amigáveis com o governante
Vasco da Gama chega em Mombaça, no Quênia,
em 7/4/1498
local, o Samorim.

A 29 de agosto, resolveu regressar a Portugal. Em Cananor, adquiriu muitas especiarias. Atacada de


escorbuto, a tripulação ficou reduzida; somente a 7 de janeiro (1499) a expedição aportou a Melinde,
confiando o nauta português ao potentado local um padrão (Monumento de pedra que os portugueses
erguiam em terras por eles descobertas) "por nome Santo Espírito". Em fins de agosto, dava entrada em
Lisboa, com metade dos navios e da tripulação, rendendo, a aventura, mais de 5.000 %.
A façanha de Vasco da Gama colocou Portugal em contato direto com a região das especiarias, do
ouro e das pedras preciosas, e, como consequência, passou a ser o principal fornecedor de tais produtos na
Europa, abalando seriamente o comércio das repúblicas italianas.

2.6) A Viagem de Cabral:


As riquezas que as Índias ofereciam afiguravam-se imensas. Era necessário, porém, que os
portugueses se impusessem aos habitantes e aos monopolizadores do comércio das especiarias. Resolveu,
então, D. Manuel reunir uma tripulação escolhida em uma forte esquadra, entregando o seu comando, com
o título de capitão-mor, a Pedro Álvares Cabral, que, além de pequenos conhecimentos náuticos, possuía
provada capacidade de administração. Secundava-lhe no comando Sancho de Tovar. Serviam-lhe de
orientação instruções escritas sob a inspiração de Vasco da Gama (o original, incompleto, acha-se no
Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa).
A expedição partiu de Lisboa a 9 de março de 1500. Nela embarcaram hábeis pilotos, como
Bartolomeu Dias e seu irmão Diogo, Gaspar de Lemos, Nicolau Coelho, Simão de Miranda, Duarte Pacheco
Pereira; destacava-se, ainda, o mestre João, físico de bordo, Pero Vaz de Caminha, escrivão da feitoria a
ser fundada, frei Henrique Soares, que arcava junto com poucos religiosos com a tarefa de evangelização
dos infiéis, e Aires Correia, que ia ser o feitor. Somavam 1500 homens em 10 naus e três navios menores.
Dificuldades entravaram a viagem. Perto de Cabo Verde, desapareceu a nau comandada por Vasco
de Ataíde, "comida pelo mar” como se dizia. Afastando-se da costa da África, os portugueses tomaram a
direção sul-sudoeste, com a intenção de achar terras. A 21 de abril, pressentiram sinais de terra; no dia
seguinte, viram pequena elevação, que recebeu o nome de Monte Pascoal. A 23, chegaram junto à praia, na
foz do Rio Caí, onde foram travados os primeiros contatos com os indígenas. Procuraram um ancoradouro
mais ao norte, fundeando numa enseada, por eles batizada de Porto Seguro (hoje Baía Cabrália, no litoral
do Estado da Bahia). Verificaram-se novos contatos amigáveis com os naturais; rezaram-se duas missas,
uma no ilhéu da Coroa Vermelha e outra em terra firme, e tomou-se posse da terra levantando-se uma
grande cruz de madeira. Batizou-se a terra, que se supunha ser uma ilha, com o nome de Vera Cruz. Pedro
Álvares resolveu notificar ao rei o acontecido. Extensa carta foi escrita por Pero Vaz de Caminha, levada
por Gaspar de Lemos, que, a 2 de maio, retornava a Portugal. No mesmo dia, Cabral partia para as Índias,
onde cumpriu a sua missão.
Sobre o “achamento” do Brasil existem três documentos importantes: a carta de Caminha
(encontrada no Arquivo da Torre do Tombo por José de Seabra da Silva e publicada em 1817 por Aires do

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Casal), a carta do mestre João ao Rei D. Manuel I e a carta deste aos reis católicos, verdadeira comunicação
oficial. Ainda podemos citar a Relação do Piloto Anônimo (publicada no livro Paesi Nuovamente Ritrovatí,
de Montalbocido) e o manuscrito Valentím Fernandês, publicado em 1940, pela Academia Portuguesa da
História.
Não há hoje dúvida de que a expedição, de quatro caravelas, comandada por Vicente Yanez Pinzón
atingiu, em janeiro de 1500, o litoral do atual Estado do Ceará (ponta de Mucuripe), dando, assim, a
prioridade do descobrimento aos espanhóis. Pinzón prosseguiu a sua viagem para o Rio Oiapoque. Na sua
esteira navegou outro espanhol, Diego de Lepe, com dois navios, tendo reconhecido as regiões do atual
Amapá, após haver alcançado Pinzón na foz do Rio Amazonas.
No dia 2 de maio, a frota de onze navios levantou âncoras rumo a Calicute, deixando na praia dois
degredados, além de outros tantos que desertaram de bordo. Antes de atingirem o Cabo da Boa Esperança
quatro navios naufragaram e desgarrou-se a nau comandada por Diogo Dias, que percorreu todo o litoral
africano, reencontrando a frota na altura de Cabo Verde quando esta retornou.
Com seis navios, Cabral alcançou as Índias, em setembro de 1500. Em Calicute, as negociações
foram difíceis, surgindo desentendimentos com os indianos, quando portugueses foram mortos em terra
(inclusive o escrivão da armada, Pero Vaz de Caminha) e o porto bombardeado. Em seguida, a Armada
ancorou em Cochim e Cananor, onde foi bem recebida, abastecendo-se de especiarias antes da viagem de
retorno, iniciada no dia 16 de janeiro de 1501. Em 23 de junho, finalmente, a Armada adentrou o Rio Tejo,
concluindo sua jornada.

2.7) A Questão Casualidade/Intencionalidade:


Embora haja autores que defendam a tese de que o Brasil já fora visitado por fenícios, egípcios,
cartagineses, gregos e árabes antes de Cabral, nada disso está provado e, assim, não vamos perder tempo
em discutir hipóteses pouco prováveis.
É provável, porém, que navegantes europeus tivessem estado no Brasil antes de Cabral. Quanto a
um pelo menos, não há dúvida: o espanhol Vicente Yañez Pinzon, o mesmo que acompanhara Colombo na
sua primeira viagem, percorreu o litoral do Nordeste e do Norte em janeiro de 1500. Quanto a outro, o
português Duarte Pacheco Pereira, um dos signatários do Tratado de Tordesilhas, é extremamente provável
não apenas pela sua narrativa como também pela circunstância de estar na esquadra de Cabral, sem que se
saiba qual era nela a sua função. Outros portugueses poderão ter aqui estado sem que tenhamos qualquer
certeza a respeito. Os argumentos a favor da casualidade do descobrimento são:
a) o trecho da carta de Pero Vaz de Caminha em que ele diz: “O que se pode imaginar de mais
fortuito, por ser obra não da humana, mas da divina vontade”;
b) o fato de não haver na esquadra de Cabral os padrões de pedra que, desde D. João II, costumavam
levar os navios portugueses para assinalar a posse das novas terras descobertas;
c) a circunstância de que as instruções do rei a Pedro Álvares Cabral não falavam no Brasil;
d) o desvio, já feito por Vasco da Gama, para evitar as calmarias do golfo da Guiné.
Em compensação, militam em favor da intencionalidade do descobrimento as fortes razões que já
citamos, quais sejam a atitude portuguesa diante da divisão feita pelo Papa, o conhecimento da ciência
náutica e da geografia do Atlântico que já possuíam, a presença de Duarte Pacheco Pereira na frota e o fato
de que qualquer possível desvio da esquadra causado pela corrente Sul-Equatorial, bastante duvidoso aliás,
não levaria a frota à região do sul da Bahia, mas bem mais ao norte, na altura de Pernambuco. Quanto às
tão faladas calmarias, é completamente fora de propósito que elas fossem responsáveis por tão dilatado
desvio.
Se considerarmos que o governo português poderia ter interesse em fingir o “descobrimento”, os
três primeiros argumentos a favor da casualidade caem por terra, ao passo que os contrários são muito mais
sólidos. O estudo profundo do problema indica, com alta probabilidade de acerto, que o Brasil já era
conhecido dos portugueses antes de 1500 e que, por motivos políticos, o fato foi ocultado até que pudesse
ser feito oficialmente o “descobrimento”.

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Vasco da Gama entrega a carta de D. Manuel I, rei de Portugal, ao Samorim (governante) de Calicute na Índia.

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3) A Colonização do Brasil:

3.1) O Período Pré-Colonial (1500 – 1530):


De 1500 a 1530, Portugal preocupou-se exclusivamente em desvendar a terra encontrada,
inexistindo um plano de colonização. Por isso, se chama de Pré-Colonial a esta fase.
Não se sabe ao certo em que data, em 1500, Gaspar de Lemos chegou a Lisboa com as notícias da
terra achada. Mas foram estas notícias, sem dúvida, que motivaram o monarca a organizar uma expedição
com destino à terra descoberta, no ano seguinte, com três naus; nela embarcou Américo Vespúcio como
observador comercial. Ela percorreu grande parte do litoral, batizando e mapeando os acidentes, de acordo
com as festas do calendário religioso. As informações obtidas ocasionaram a mudança do nome da terra
descoberta para Terra de Santa Cruz, mas decepcionaram o rei: ela não passava de uma região vasta e sem
possibilidades econômicas imediatas. Nesse mesmo ano de 1501, ainda foi armada a expedição de João da
Nova, sobre a qual pouco sabemos, mas que, possivelmente, encontrou a Ilha de Ascensão. Em 1502,
percorreu a costa Estevão da Gama, tendo achado a ilha da Trindade. Entre 1502 e 1503, Fernão de Loronha
esteve no Brasil, tendo descoberto a ilha que chamou de São João ou Quaresma (hoje Fernando de
Noronha).
A instauração de uma colônia portuguesa no território americano não se deu imediatamente após a
tomada de posse por Pedro Álvares Cabral em 1500. Portugal mantinha seus recursos voltados para o
comércio oriental, deixando o Brasil, por alguns anos, numa posição secundária, visto que aqui não haviam
sido encontrados metais preciosos ou produtos similares aos do rentável comércio afro-asiático. A única
preocupação com o território recém-conquistado era a de garantir a sua posse diante das contínuas
investidas de outros países europeus.
A primeira expedição exploradora enviada ao Brasil, em 1501, que trazia a bordo o italiano Américo
Vespúcio, além de nomear diversas localidades litorâneas, como a baía de Todos os Santos e o lugarejo de
São Sebastião do Rio de Janeiro, confirmou a existência do pau-brasil, madeira da qual se extraía um
corante já utilizado na Europa para tingimento de tecidos. As observações de Américo e seus mapas fazendo
um dos primeiros registros do Brasil, acabaram servindo de referência para as nações europeias, o que
acabou batizando o continente descoberto por Colombo com o nome de América.
Em 1503, outra expedição chefiada por Gonçalo Coelho fundou feitorias no litoral fluminense,
visando à armazenagem da madeira e ao carregamento de navios. Administrados pelos feitores, muitos
desses entrepostos eram fortificações que garantiam a posse lusa em detrimento de outros conquistadores.
Ao formarem plantios e dedicarem-se à criação de animais para o sustento, transformavam-se, também, em
núcleos colonizadores.
Devido à abundância do pau-brasil no litoral brasileiro, Portugal estabeleceu o estanco, ou seja, o
monopólio real sobre a exploração do produto. Mais à frente, diante da inexistência de braços europeus
suficientes nas embarcações e nas feitorias, e devido à extração adentrar ao território em algumas
localidades, utilizou-se mão-de-obra dos nativos indígenas para garantir a extração das madeiras. Por meio
do escambo (troca) os indígenas realizavam o corte e o transporte da madeira e recebiam por isso objetos
vistosos, mas de pouco valor, como espelhos e miçangas.
A extração do pau-brasil atraía também os contrabandistas estrangeiros, o que levou o governo
português a enviar, sob o comando de Cristóvão Jacques, expedições militares ao litoral brasileiro, em 1516
a 1519, 1521 a 1522 e 1526 a 1528 com práticas de extrema violência contra qualquer navio ou pessoa não
portuguesa encontrados em águas brasileiras.
Concluía-se que a região encontrada aparecia em época inoportuna para Portugal, apesar de possuir
um pau-de-tinta, logo declarado monopólio da Coroa. Desprezá-la não traduzia uma boa política, pois era
conveniente manter sempre garantida a rota marítima para as Índias. Por isso, o rei resolveu alugar a terra.
Foi feito, então, o “Trato”, isto é, uma concessão por três anos a Fernão de Loronha, Bartolomeu Marchione
e Benedito Morelli (provavelmente cristãos novos), para explorar as riquezas da terra, mediante o
pagamento de 4.000 cruzados anuais e o compromisso de enviar à nova terra seis navios pelo mesmo espaço

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de tempo. Concedia-se ao primeiro comerciante uma capitania hereditária: o arquipélago por ele
descoberto. Pouco sabemos hoje dos aspectos jurídicos desse Trato e o seu funcionamento.
Esses arrendatários armaram, então, a expedição de 1503, sob o comando de Gonçalo Coelho,
integrando-a Américo Vespúcio, que, assim, retornava ao Novo Mundo. Dividida em duas esta expedição,
depois das ilhas de Fernando de Noronha, onde naufragou o navio capitânia, ignora-se por onde andou o
seu comandante, que só reapareceu em Portugal quatro anos depois. Parece que Vespúcio explorou a costa
até Cabo Frio, onde fez uma entrada e construiu um pequeno reduto fortificado (primeira feitoria em terras
brasileiras).
O fato de a América ter hoje esse nome prende-se a este
personagem e suas viagens na costa brasileira. Um grupo de
humanistas da cidade de Saint-Dié, França, protegido por Renato,
Duque da Lorena, imaginou reimprimir a Geografia de Ptolomeu,
com uma introdução que ilustrasse aos leitores sobre a importância
desse geógrafo antigo. Incumbido dessa introdução,
Waldseemüller compôs uma primeira parte de cosmografia geral e
uma segunda, formada pela narrativa das viagens de Vespúcio
contidas nas cartas enviadas a seu amigo Soderini (consideradas
por muitos como apócrifas) e a Lourenço de Médicis. O mapa que
acompanhava o estudo de Waldseemüller trazia o nome América
colocado na costa brasileira, passando depois a designar todo o
continente, em detrimento do seu verdadeiro descobridor.
Pormenor do mapa de Waldseemüller de 1507

Em 1511, situa-se a viagem da nau Bretoa (cujo nome provém de sua construção em algum estaleiro
da Bretanha), comandada por Cristóvão Pires e tendo por piloto João Lopes de Carvalho, provavelmente
ainda pertencente ao Trato. Do Brasil arrecadou 5.008 toros de pau-de-tinta, 35 indígenas e 70 animais. A
expedição de Estevão Fróis, que navegou no litoral norte em 1513, acabou por ser apreendida pelas
autoridades espanholas nas Antilhas. Em 1514, esteve em nossas costas a expedição armada por D. Nuno
Manoel (pilotava um dos dois navios João de Lisboa), conhecida pela Nova Gazeta da Terra do Brasil
(publicada na Alemanha e sem data sob o título original Newveil Zeytungauss Pressillglandt) e que, talvez,
tenha percorrido o rio da Prata antes dos espanhóis.
Acredita-se que, por essa ocasião, terminou o Trato com Fernão de Loronha ou que o mesmo
possuísse novo arrematante, o armador Jorge Lopes Bixorda.
Diversos navios ou armadas aportavam nas costas brasílicas em demanda das Índias ou delas, de
retorno, paravam para se abastecerem de água e alimentos.
Foram essas expedições que, por vezes, largaram degredados ou que, sofrendo naufrágios,
proporcionaram o aparecimento, em diversos pontos da costa, de portugueses que representaram o traço de
união entre os indígenas e a futura colonização. Destacaram-se Diogo Álvares Correia, apelidado
Caramuru, João Ramalho, Cosme Fernandes, conhecido como o Bacharel de Cananéia, Antônio Rodrigues,
Francisco de Chaves e Aleixo Garcia, que chegou a terras hoje pertencentes ao Paraguai e Bolívia
precedendo, nessas regiões, os espanhóis, encontrando a morte nas mãos dos índios guaranis.
Por essa época, a terra descoberta começou a ser chamada de Brasil. A origem desse nome pode se
prender à cor de brasa da madeira (vermelha) que existia em abundância no litoral, pode ser uma corruptela
do italiano versino ou versil, nome de madeira de tinta proveniente do Oriente ou da geografia medieval
que havia inventado uma ilha no mar Tenebroso (oceano Atlântico) chamada Barzil ou Bersil, onde
existiam muitas riquezas, inclusive e, sobretudo o versil. Ora, fácil foi os navegantes identificarem a terra
encontrada com a lendária ilha. Lá, em 1503, Giovani da Empoli dizia: "... la terra della Vera Croce ouer
del Bresil cosi nominata" (in Viaggio Fatto nell’India, Venetia, 1554). Denominavam-se brasileiros todos
aqueles que comerciavam com o pau-de-tinta.
Durante esse período, andou velejando em nosso litoral o português João Dias de Solís (1515 a
1516) a serviço de Castela, na tentativa de encontrar uma passagem para as Índias. O mesmo fez outro
português (igualmente a serviço de Castela), Fernão de Magalhães (1519), o qual, tendo permanecido 13
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dias na Baía de Guanabara, nos últimos dias de dezembro, batizou involuntariamente a região com o nome
de Rio de Janeiro, e, mais feliz que seus antecessores, descobria a tão cobiçada passagem no extremo sul
da América. Mais tarde, 1526, o veneziano Sebastião Caboto percorreu a costa brasileira (suas viagens, de
ponto a ponto da costa, deram origem ao estilo de navegação que foi batizado mais tarde de cabotagem).
O pau-de-tinta atraiu também os franceses, corsários a mando do Rei Francisco I (este monarca
desconhecia o "Testamento de Adão” que havia dividido o mundo em duas partes entre os reis de Portugal
e Espanha, seus primos). Ele enviou corsários (entrelopos) com o objetivo de apanhar a madeira.
Conhecemos bem a expedição do navio Espoir, comandado por Binot Paulmier de Gonneville, que
percorreu a Baía de Todos os Santos, em 1504. Jean Parmentier, francês de Dieppe, velejou do Amazonas
ao Prata, por volta de 1525 (citado em Ramúsio: Delle Navigationi ed viaggi, III); mas muitos outros navios
dos estaleiros de Jean Ango certamente aqui estiveram. Hábeis no trato com os indígenas, esses mairs (como
eram chamados os franceses pelos indígenas) gozavam de maior simpatia. Por isso, D. Manuel I determinou
que Cristóvão Jaques, descendente de ilustre família aragonesa e fidalgo da Casa Real, e os dois navios a
seu comando policiassem o litoral, o que pouco adiantou. Essa viagem durou de 21 de junho de 1516 a 9
de maio de 1519; Jaques fundou uma feitoria na Ilha de Itamaracá (em Pernambuco).
De novo, o rei enviou Cristóvão Jaques ao Brasil, com dois navios, em 1521, em uma viagem de
reconhecimento pela costa meridional: a crítica história moderna, baseada em documentação irrefutável
(carta de Juan de Zúniga ao Imperador Carlos V, existente no Arquivo Geral de Simancas), conclui que
Jaques penetrou no rio da Prata e explorou o rio Paraná.
Morrendo D. Manuel I em 1521, subiu ao trono D. João III; as notícias que chegavam à Corte de
Lisboa de que navios franceses estavam sendo armados para efetuarem o corso nas terras brasileiras levaram
o monarca a incumbir o mesmo Cristóvão Jaques, em 1527, de idênticas funções policiadoras, com uma
nau e cinco caravelas, mas Jaques procurou desencumbir-se da missão. Sabemos ter havido cruento
combate na baía de Todos os Santos. É possível que tenham ocorrido outros encontros com corsários, mas,
sozinho, pouco podia fazer. Em 1528, Jaques regressou a Portugal, Substituiu-o Antônio Ribeiro, sobre o
qual nada sabemos. E, finalmente, exerceu esta atividade Duarte Coelho, entre 1530 e 1531, tendo
combatido os índios caetés que favoreciam os franceses.
Durante esses trinta anos, os portugueses (pêros para os indígenas) mantiveram contatos amistosos
com os naturais, os quais se prestaram bem na exploração da madeira. O homem de pele branca despertava
curiosidade e um irresistível atrativo para a mulher indígena. Ele significava superioridade.
Algumas feitorias, escassamente habitadas, começaram a povoar a costa: havia a de Cabo Frio, uma
na Baía de Todos os Santos, cujo feitor chamava-se João de Braga, e outra no litoral de Pernambuco.

3.2) O Período Colonial (1530 – 1808):

3.2.1) A Expedição de Martim Afonso de Sousa:


Tendo em vista a rápida decadência das Índias, nas qual Portugal estava perdendo homens e dinheiro
e não mais adquirindo os fabulosos lucros iniciais, resolveu D. João III voltar-se para o Brasil. O próprio
Cristóvão Jaques propunha ao rei começar a colonização.
Passados 30 anos da chegada de Cabral, diante da progressiva crise do comércio com o Oriente e
das ameaças estrangeiras ao domínio sobre seu território na América, Portugal voltou-se para a efetiva
colonização dessas terras. Foram organizadas expedições colonizadoras, sendo a primeira delas a
comandada por Martim Afonso de Souza, que aqui chegou em 1531.
Nomeado capitão-mor da esquadra e das terras coloniais pelo rei de Portugal, Martim Afonso
chegou trazendo homens, sementes, plantas, ferramentas agrícolas e animais domésticos. Estava imbuído
de amplos poderes para descobrir novas riquezas, combater estrangeiros, policiar, administrar e povoar as
terras coloniais. Consigo embarcaram cerca de 400 colonos, entre os quais Vicente Lourenço, piloto-mor,
Pedro Anes, que conhecia a língua dos indígenas, Pero Cápico, depois escrivão em S. Vicente, Henrique
Montes, que acompanhara Solis na expedição ao Prata e regressara a Portugal com Caboto, e o seu irmão
Pero Lopes de Sousa. Todos em duas naus, um galeão e duas caravelas.

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Partiram de Lisboa, a 3 de dezembro de 1530. Em janeiro chegaram ao cabo de S. Agostinho, onde
apresaram três navios franceses, sendo os mesmos incorporados à armada portuguesa. Diogo Leite recebeu
incumbência de, com as duas caravelas, percorrer o litoral norte, acreditando-se que, provavelmente,
velejou até a foz do rio Gurupi. A esquadra continuou viagem rumo sul, parando na Baía de Todos os
Santos, onde os portugueses entraram em contato com Caramuru. Prosseguindo, em meio a fortes ventos e
chuvas, aportaram, a 30 de abril, na Baía de Guanabara, onde Martim Afonso permaneceu três meses.
Reaparelhou os navios, ordenou a confecção de dois bergantins de 15 bancos, fez pequenas explorações
perto do litoral e mandou construir uma casa sólida na embocadura de um rio, a qual foi chamada pelos
índios de carioca (a casa do branco).
Além de organizar expedições que penetraram no território para reconhecimento e busca de
riquezas, Martim Afonso dirigiu-se à foz do rio da Prata, no sul, para efetivar o domínio luso diante da
crescente presença espanhola na região. Lá aprisionou vários navios piratas franceses.
Colocando em prática sua política colonizadora, iniciou a distribuição de sesmarias (lotes de terra)
aos novos habitantes que se dispusessem a cultivá-las, bem como a plantação da cana-de-açúcar e a
construção do primeiro engenho da colônia. Um ano antes de partir para Portugal, havia fundado, em 1532,
as vilas de São Vicente e Santo André da Borda do Campo, respectivamente, no litoral e no interior do atual
estado de São Paulo.
Suspenderam em direção sul até a ilha de Cananéia (atual ilha de Bom Abrigo), onde ficaram 44
dias. Instado por Francisco de Chaves e pelo Bacharel de Cananéia, que afirmavam serem grandes as
riquezas do interior, o capitão-mor mandou que alguns homens (talvez 80), chefiados por Pero Lobo,
penetrassem em busca delas guiados por Chaves, mas eles nunca voltaram. Continuaram rumo sul. Na
entrada da Lagoa dos Patos um bergantim desapareceu, em virtude do mau tempo. Tendo o capitânia
naufragado, na Punta del Este de Maldonado, pararam na ilha da Palma. Martim Afonso determinou que
seu irmão inspecionasse o rio da Prata, com um bergantim e 30 homens. Pero Lopes nada encontrou de
importante. Martim Afonso aguardou o retorno do irmão e, juntos, rumaram para o norte. No dia 20 de
janeiro, entraram na enseada de São Vicente. A terra pareceu tão convidativa que decidiram erigir neste
local uma povoação. Assim, no dia 22 de janeiro de 1532, Martim Afonso fundou uma vila na ilha de São
Vicente. Nessa região vivia um português entre os índios chamado Antônio Rodrigues. No alto da serra
onde João Ramalho, também português, vivia, Martim Afonso lançou as bases de outra povoação:
Piratininga (de curta vida). Iniciou-se a agricultura de tipo europeu e aclimatou-se a cana-de-açúcar.
Tendo em vista o mal estado dos navios, resolveu-se que Martim Afonso permaneceria em São
Vicente e que Pero Lopes retornaria a Portugal (utilizando as melhores embarcações), a dar conta ao rei do
que se havia passado. A 22 de maio, partiu Pero Lopes.
No litoral de Pernambuco deu combate e se apoderou de duas embarcações francesas; em seguida,
atacou poderoso fortim francês, comandado pelo Senhor de La Motte, guarnecido com 70 homens,
conseguindo dominar seus ocupantes, depois de 18 dias de lutas. Pero Lopes fez erigir uma fortificação
(em Igaraçu), na qual deixou homens comandados por Vicente Martins Ferreira.
Nessa mesma ocasião, a esquadra portuguesa de Antônio Correia aprisionava, na costa espanhola
da Andaluzia, a nau La Pélerine (15/08/1532), contendo muitos toros de pau-brasil, algodão, papagaios e
outras mercadorias. D. João III amadurecia os planos de colonização mais abrangente.
O Dr. Diogo de Gouveia, que dirigia em Paris o Colégio de Sainte Barbe, argumentou a necessidade
de uma colonização mais eficaz; sua carta ao soberano português, escrita em Rouen, é datada de 01/03/1532.
Em carta enviada a Martim Afonso (por João de Sousa), escrita em 28 de setembro, o rei lhe comunicava
o propósito de dividir o Brasil em capitanias hereditárias. Martim Afonso regressou ao reino depois de 13
de março de 1533, deixando o Padre Gonçalo Monteiro para dirigir os negócios de sua capitania.

3.2.2) O Projeto Agrícola da Exploração Colonial Portuguesa:


A partir do século XV, políticas colonizadoras diferenciadas marcaram a integração do continente
americano à vida política e, principalmente, econômica europeia. Parte da América do Norte foi colonizada
por ingleses como uma região de povoamento, embora o Sul do território dos atuais Estados Unidos fosse
uma região de exploração.

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Já a colonização ibérica na atual América Latina caracterizou-se por basear-se no domínio
monopolista metropolitano, a serviço do Estado e de sua classe mercantil, que tinha interesse em assegurar
a posse e a exploração colonial e executar a administração e a fiscalização.
Pelas características peculiares tanto da realidade da colônia portuguesa quanto da expansão lusa, a
colonização optou pela agricultura. Também diferentemente das colônias espanholas, caracterizadas pela
atividade mineradora, não foi possível a utilização em larga escala da mão-de-obra indígena. Pelo menos
não em longo prazo, visto que na colônia (a essa altura já denominada Brasil), a população nativa era
relativamente pouco numerosa e foi rapidamente exterminada na faixa litorânea.
Para viabilizar a ocupação e o povoamento da colônia, a Coroa portuguesa recorreu ao cultivo da
cana-de-açúcar, pois aqui, ao contrário do que ocorrera nas áreas de dominação espanhola, não foram
descobertas jazidas de metais preciosos.
Levado da Ásia para a Europa por árabes e cristãos engajados nas cruzadas durante a Idade Média,
o açúcar era uma especiaria das mais valiosas no início do século XV. Chegou a fazer parte de dotes de
rainhas e princesas e era comercializado a preços elevados, garantindo alta lucratividade aos mercadores.
Embora Portugal já conhecesse a agricultura da cana-de-açúcar desde o século XIII, foi só na
segunda metade do século XIV, com D. Henrique, o navegador, que a atividade açucareira ganhou
amplitude e deixou de ser uma produção limitada e isolada. Essa mudança deu-se graças à instalação de
engenhos na ilha da Madeira, seguida de avanço das técnicas de cultivo e grande utilização da mão-de-obra
escrava, trazida das regiões conquistadas da costa africana. Assim, as lavouras de cana espalharam-se pelos
arquipélagos atlânticos, ganhando importância também nos arquipélagos dos Açores, de Cabo Verde e nas
ilhas de São Tomé e Príncipe.
A consequente aproximação de Portugal com os mercadores e banqueiros de Flandres (norte da
Europa), responsáveis pelo financiamento, refino e distribuição do açúcar, possibilitou o acesso dos
portugueses à infraestrutura comercial europeia, controlada pelos holandeses, bem como ao seu abundante
capital, para o financiamento do empreendimento agrícola brasileiro.
De posse dessas condições, Portugal tinha ainda a solução para o
problema da mão-de-obra, podendo dar início a um empreendimento
de tão vastas proporções. A escravidão era a muito praticada por
europeus e árabes na África negra. Foi considerada uma instituição
justa, quando, no seu início, os portugueses escravizavam os mouros,
considerados infiéis pelos cristãos. A "infidelidade" religiosa acabou
sendo também estendida aos negros africanos não islâmicos,
legitimando sua escravização.
Os negros africanos compunham mão-de-obra compulsória e
abundante, fundamental para a implantação da indústria canavieira em
um extenso território. Dois fatores explicam, em resumo, o emprego do
trabalho escravo africano em maior escala quando comparado ao
indígena: os interesses ligados ao tráfico negreiro, que logo se tornou
um empreendimento altamente lucrativo para a Coroa e mercadores
portugueses, e o simples desaparecimento da população indígena da
área açucareira.

1º Projeto de divisão da “Terra


Nova”
3.2.3) O Sistema de Capitanias Hereditárias:
Os resultados proveitosos que o sistema de capitanias alcançou em diversas ilhas portuguesas,
especialmente na Madeira, levaram o rei a empregá-lo igualmente no Brasil. Resumia-se em doar o uso de
pedaços de terra a cidadãos escolhidos, que possuíssem fortuna própria e que pudessem correr os riscos
existentes.

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Devemos, hoje, admirar a notável estratégia empregada pelo governo português: destituído de
recursos pecuniários para empreender a ocupação da terra brasileira, acenou com largas perspectivas para
que alguns empresários arcassem com o ônus e enfrentassem o incógnito, permanecendo a Coroa à espera
dos lucros futuros.
Foi, então, o Brasil dividido em 15 grandes lotes de terra, mediante várias paralelas que partiam de
ponto conhecido da costa (na verdade 14 capitanias) e terminavam na incerta linha de Tordesilhas,
entregues a 12 homens de confiança durante o ano de 1534. Pertenciam à baixa nobreza e já haviam prestado
importantes serviços ao rei. É possível que o mapa de Gaspar Viegas tenha servido de base para as divisões
territoriais.
Cada donatário recebia uma Carta de Doação, documento pelo qual se efetivava a doação do uso,
com a descrição da terra e a outorga da governança da mesma, com o título de capitão-mor, explicitando
seus direitos e deveres; e um Foral, que fixava os direitos, deveres, foros, tributos e coisas que os futuros
colonos deviam ao rei ou ao capitão-donatário.
O capitão-donatário não se tornava proprietário da capitania: ficava na sua posse, que era transmitida
hereditariamente em linha masculina, preferentemente, sem ser objeto de negociações ou partilha. Exercia
a justiça, podendo até condenar à morte, nomeava funcionários, doava terras para cultivo (sesmarias),
mantinha propriedade plena em determinada área escolhida, cobrava impostos à população (5% do pau-
brasil e do pescado, 1% dos impostos pagos à Coroa, postagens e 500 reis anuais dos tabeliães).
Podia acoitar e homiziar réus julgados e condenados no reino e em outras capitanias, com a
finalidade de facilitar o povoamento. Tinha o direito de fundar vilas, o que, em Portugal, era atribuição
exclusiva do rei. Era-lhe permitido reduzir os naturais ao cativeiro e vendê-los em Portugal até o máximo
de 39 por ano. A Coroa reservava-se o direito de cunhar moedas e estipulava como rendas o quinto (20%)
dos metais e pedras raras, a dizima das colheitas (10%), a vintena do pescado (5%) e o monopólio do pau-
brasil (estanco).
Aos donatários cabia ocuparem as suas terras e iniciarem o povoamento e a obtenção de lucros. Os
que se aventuraram em plagas americanas tiveram de enfrentar dificuldades enormes com os índios, que
não compreenderam, com o ambiente geográfico hostil e com a falta de recursos. Por isso, formou-se a
opinião que o sistema resultou em um fracasso, que é um erro. Foram as capitanias que iniciaram a ocupação
efetiva do litoral e mantiveram um estado de alerta, impedindo a conquista estrangeira, ao mesmo tempo
em que o português impunha a sua cultura ao gentio.
Vejamos como os donatários se houveram com suas capitanias. Antônio Cardoso de Barros não se
preocupou com sua terra. João de Barros, Fernão Álvares de Andrade e Aires da Cunha associaram-se e
enviaram uma expedição que alcançou poucos resultados, perdendo a vida este último no naufrágio da
capitânia. A vila de Nazaré desapareceu em três anos. A tentativa de Luis de Melo em 1554 acabou
fracassando, motivo pelo qual as capitanias ao norte da de Itamaracá ficaram sem colonização.
A capitania de Pero Lopes (que, como seu irmão, não regressou ao Brasil, desaparecendo em
naufrágio na costa de Madagascar), em Itamaracá, permaneceu vítima das incursões de franceses que
instigavam os indígenas contra os portugueses; administrou-a Francisco de Braga e, após a morte de Pero
Lopes, João Gonçalves. As lutas contra os selvagens não permitiram o seu progresso e o da pequena vila
de Conceição. Os outros quinhões de Pero Lopes não receberam atenção. Pero Góis da Silveira erigiu na
sua capitania de São Tomé a vila da Rainha, mas não conseguiu a paz com os índios goitacás, e a região
permaneceu no abandono. Vasco Fernandes Coutinho emigrou com toda a sua família para sua capitania
do Espírito Santo; fundou uma vila (Vila Velha) e iniciou a plantação do açúcar. Em 1558, fundou a vila
de Vitória. Retirou-se para a Europa (Lisboa), deixando em seu lugar D. Jorge de Menezes, que não soube
evitaras dissensões com os indígenas. Coutinho renunciou, após vinte anos, os seus direitos. Em Porto
Seguro, Pero de Campos Tourinho fundou a vila do mesmo nome e, facilitado pela acolhida dos índios
tupiniquins, pôde expandir o povoamento em direção ao interior com o nascimento de núcleos, como Santo
Amaro e Santa Cruz. Essa harmonia foi quebrada em 1550 quando morreu Tourinho, e seu filho, Fernão,
mostrou-se incompetente e despertou a fúria dos índios aimorés. A irmã de Fernão, Isabel, vendeu os
direitos da capitania ao Duque de Aveiro. A capitania da Bahia possuía habitantes antes da criação das
donatárias; seu capitão, Francisco Pereira Coutinho, transportou-se para ela com colonos em sete navios e

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teve o apoio de Diogo Álvares. Foi levantada uma vila, chamada do Pereira (1535). Após os primeiros
momentos de tranquilidade, os abusos dos portugueses provocaram a revolta indígena, e Coutinho e sua
gente morreram nas mãos dos tupinambás. Em 1548, esta capitania reverteu à Coroa. Jorge de Figueiredo
Correa, donatário de Ilhéus, mandou instalar uma povoação com o nome de São Jorge dos ilhéus, mas nunca
pisou em suas terras, deixando a sua administração para o castelhano Francisco Romero. Seus filhos e
herdeiros, Jorge e Jerônimo, venderam-na ao comerciante italiano radicado em Lisboa, Lucas Giraldes.
Duas capitanias, a de Pernambuco, de Duarte Coelho, e a de São Vicente, de Martim Afonso (que
não mais retornou ao Brasil), prosperaram, tendo em vista o êxito da plantação de cana e a aliança com os
índios locais. Engenhos moíam a cana, e o português ia substituindo a simples exploração do pau-brasil
pela produção açucareira. Duarte Coelho fundou, na sua capitania, a vila de Olinda, em 9 de março de 1535,
recebendo muitos colonos do reino e de outras capitanias; Recife, à beira d'água, nasceu no ano seguinte.
Na de São Vicente, Braz Cubas deu início ao povoado de Santos (1545) que se desenvolveu com rapidez.
Alguns estrangeiros (os Adorno de Gênova e os Schetz da Holanda) contribuíram para o progresso da
capitania. Um engenho, chamado de São Jorge dos Erasmos, foi o primeiro existente. Enfrentaram, também,
as suas dificuldades: a primeira, o ataque a Igaraçú pelos índios, descrito por Hans Staden, e a segunda, a
desconhecida "guerra do Iguape", motivada pelo Bacharel de Cananéia e espanhóis de Ruy Mosqueira,
foragido da expedição de Caboto, que naquele local passaram a residir (1534), expulsos todos pela gente
de São Vicente. Seus habitantes compreenderam a necessidade de organizarem uma defesa; seguindo o
modelo português, a ordenança foi formada em 9 de setembro de 1542, integrada por portugueses e
tupiniquins amigos. Nesse mesmo ano, a primitiva vila mudou-se para terra firme.
Durante 15 anos uma nova paisagem se criara. Onde antes existiam matas e algumas feitorias para
arrecadação do pau-brasil, agora frutificavam povoados e vilas. Em 1539, Belchior Camacho recebeu em
capitania a ilha da Trindade.
Apesar de iniciado o povoamento, os corsários não tinham desistido do Brasil, edificando feitorias
nos locais abandonados pelos portugueses. Em muitos pontos, como o êxito da colonização dependia de se
organizar a luta contra os indígenas a fim de permitir o desenvolvimento da agricultura. Esses fatos e mais
a decadência do comércio com as Índias levaram o Rei D. João III ao estabelecimento de uma administração
centralizada na terra do Brasil.

3.2.4) A Centralização do Governo:


Diante das dificuldades existentes, os
donatários e vários colonos apelaram ao rei,
pedindo o seu auxílio. D. João resolveu atendê-los,
dando um corretivo no sistema instituído, sem,
contudo, modificá-lo.
Encarregou D. Antônio de Ataíde, Conde da
Castanheira, de organizar uma regulamentação
que, aprovada a 17 de dezembro de 1548, criava
um governo no Brasil, sem extinguir o sistema de
Capitanias Hereditárias, antes, completava-o,
centralizando-o. O “Regimento Castanheira”
possuía 41 artigos e sete suplementares regulando
as funções do governador.
Baya de Todos os Santos - 1560

Ao governador (que só foi denominado geral depois de 1577) incumbia “dar favor e ajuda as outras
povoações e se ministrar justiça e prover nas cousas que comprirem a meu serviço e aos negócios de minha
fazenda e a bem das partes”. Colocava-se acima dos donatários, pois representava a própria pessoa do rei.
Ficava assim com a alçada judicial, única modificação expressiva na autoridade dos donatários. Estes
continuavam a comandar as forças militares em suas respectivas capitanias; mas o governador detinha a
autoridade militar sobre todo o território brasileiro.

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O governador não devia interferir nas capitanias a não ser quando solicitado, para restabelecer a
ordem ou por desrespeito do donatário. Ao governador cabia desenvolver a economia e aumentar a
produção açucareira. O mesmo regimento criava os cargos de ouvidor geral, superior aos magistrados
existentes, provedor-mor da Fazenda, para fiscalizar a arrecadação de impostos de todas as capitanias, e
capitão-mor da Costa, para comandar as operações navais contra invasores. Tais cargos deviam melhor
prover a administração. Finalmente, proibiu a escravização do silvícola, exceto para os que fossem
capturados em "guerra justa".
Para a sede do governo, D. João III escolheu a Capitania da Bahia, retomada pela terça
(pensão) de 400 mil réis anuais ao filho de Francisco Pereira Coutinho, falecido. Surgia, assim, a primeira
Capitania Real ou da Coroa. Ao mesmo tempo, estabelecia que nela fosse fundada a primeira cidade,
Salvador, capital da Colônia.

3.2.5) Os Governadores Gerais:


A) Tomé de Souza:
O primeiro governador tinha de reunir boas qualidades de administração e comando. A Carta Régia
de 7 de janeiro de 1549 nomeava Tomé de Souza (primo de Martim Afonso e do Conde da Castanheira)
para exercer o difícil encargo; fidalgo austero, adquirira fama nas guerras da África como militar de valor.
A 29 de março, aportava na vila do Pereira trazendo Pero Góis da Silveira como Capitão-mor da Costa,
Antônio Cardoso de Barros, como Provedor-mor da Fazenda, Pero Borges, Ouvidor-geral, e o Padre
Manoel da Nóbrega, chefiando seis jesuítas, além de colonos, seiscentos soldados, quatrocentos degredados
e operários sob as ordens do mestre Luis Dias.
Escolheu um sítio elevado, em frente à vila do Pereira, e nele ergueu Salvador, que permaneceu a
capital da Colônia por dois séculos. Dedicou os primeiros momentos da sua administração a essa tarefa,
recebendo ajuda de Caramuru, de um castelhano chamado Filipe Guilhem e dos índios tupinambás, aos
quais apavorou com os canhões que trouxera.
Desenvolveu a cultura da cana-de-açúcar, introduziu o gado vindo de Cabo Verde, doou sesmarias,
tendo-se tornado famosa a Casa da Torre de Garcia d'Ávila, que se dedicou à criação extensiva de bovinos.
Organizou uma entrada em busca de metais preciosos, comandada pelo castelhano Francisco Brueza de
Espiãosa, que nada encontrou.
Tomé de Sousa revelou-se um sábio administrador: a todos cativou, apesar de, algumas vezes, ter
sido muito enérgico. Fez uma viagem demorada pelas capitanias; encantou-se com a beleza selvagem da
Guanabara; admirou o progresso de São Vicente, acabando de erguer a fortaleza da Bertioga; reconheceu a
fundação das vilas de Santos e Santo André de Borda do Campo (08/04/1553), iniciativa de João Ramalho,
e criou a vila de Itanhaém. Durante o seu governo, em 1551, o Papa Júlio III criou o primeiro bispado,
vindo exercer a função D. Pero Fernandes. Os jesuítas iniciaram a catequese e o ensino, tendo sido fundado
o colégio da Bahia, ao lado da igreja da Ajuda, por eles construída. Em 1551, diversas moças órfãs
chegaram a Salvador.
Entregou a administração ao seu sucessor, em 13 de julho de 1553. Por essa época, esteve Hans
Staden, pela segunda vez, em terras brasileiras, Embarcado na armada de Diego de Senabria que se dirigia
ao Prata, naufragou, sendo acolhido em São Vicente na casa de seu patrício Heliodoro Eoban. Foi
contratado para servir na Bertioga, mas se descuidou e caiu prisioneiro dos indígenas. Outro alemão, Uirich
Schmidel, natural de Straubing, acompanhou D. Pedro de Mendonça ao rio da Prata, aventurando-se,
depois, em nossas terras, atingindo São Vicente em junho de 1553, deixando interessante relato muito
elucidativo desta fase de nossa história.

B) Duarte da Costa:
Para substituir Tomé de Sousa, o rei escolheu Duarte da Costa, Armeiro-mor do reino, nomeado a
1º de março, mas só a 13 de julho de 1553 chegava a Salvador, trazendo 260 pessoas, entre as quais estava
um filho seu, Álvaro, herói das lutas nas Índias, e o jesuíta Luis da Grã, com alguns padres e o irmão José
de Anchieta.

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Talvez animado de bons desejos, Duarte da Costa não pôde demonstrá-los. Faltava-lhe a prática do
mando e a experiência da guerra. O seu governo foi logo agitado pelo desentendimento entre seu filho, mais
liberal, e o bispo, intransigente. A população dividiu-se, prejudicando a administração, diminuindo a
autoridade do governador. O rei chamou o bispo a Lisboa, a fim de pessoalmente lhe relatar os
acontecimentos. Embarcou no navio N. S da Ajuda, e, quando este passou nos Baixios de D. Rodrigo,
naufragou; apanhado pelos caetés (onde hoje é a praia do Francês, Maceió, Alagoas), junto com os 95 que
se salvaram, sofreu suplício, a 15 de junho de 1556, em ritual mágico-religioso (escaparam um português,
"língua", e dois escravos índios, portadores das notícias). A atitude dos caetés valeu-lhes represália
implacável e uma mudança política em face das populações indígenas.
Difícil, hoje, concluir quem estava com a razão; contudo, sem o concurso de D. Álvaro, os indígenas
não seriam expulsos do Recôncavo (1555).
A 25 de janeiro de 1554, os jesuítas, tendo à frente Nóbrega, Provincial da Companhia, fundavam
o Colégio dos Meninos de São Paulo, em Piratininga, origem da cidade de São Paulo.
Sem que Duarte da Costa pudesse impedir, os franceses, comandados por Nicolau Durand de
Villegagnon, instalavam-se, em 1555, na Baía de Guanabara. Amargurou-o a impossibilidade de reagir,
bem como a morte do rei D. João III, seu protetor (11/06/1557); na vila do Pereira, morria Diogo Álvares,
o Caramuru. Duarte da Costa terminou o seu governo (1558) enfrentando revoltas indígenas em
Pernambuco, no Espírito Santo, em Porto Seguro, bem como, no sul, os tamoios, liderados pelo feroz
Cunhambeba, ameaçaram os colonos.

C) Men de Sá:
Para substituir Duarte da Costa, o Rei D. João III escolheu um homem (Carta régia de 23/07/1556)
considerado virtuoso e de grande cultura jurídica (era desembargador da Casa de Suplicação e irmão do
poeta Francisco Sá de Miranda). Men de Sá aportou em Salvador a 28 de dezembro de 1557 (mas só
assumiu o cargo a 3 de janeiro), sabendo que teria dois problemas graves a enfrentar: pacificar a população
da capital, agitada com os eventos do governo anterior, e expulsar os franceses da Guanabara.
Começou por adotar diversas medidas repressivas contra os abusos do povo, especialmente o jogo.
Desenvolveu a agricultura da cana-de-açúcar, em parte negligenciada. Construiu um engenho real, a fim de
atender aos lavradores mais modestos. Incentivou a formação de aldeamentos indígenas, proibindo que se
dessem aguardente e armas aos índios. Combateu os goitacás (do Espírito Santo), que se submeteram após
vários combates (sendo mais importante a batalha dos Nadadores), num dos quais faleceu seu filho Fernão.
Ao mesmo tempo, Vasco Rodrigues Caldas reduziu à obediência as tribos do Rio Paraguaçu, e Braz Fragoso
amansou os aimorés. Organizou duas entradas, confiando uma à direção de Vasco Rodrigues Caldas (1561)
e outra a Martim Carvalho (1568).
Os caetés, declarados "fora da lei", acabaram desaparecendo, vítimas da “Guerra Justa”. E muitos
outros índios também sucumbiram em decorrência da epidemia de varíola, que, trazida por embarcadiços
portugueses, alastrou-se entre as povoações do litoral e interior próximo.
Men de Sá chefiou uma expedição contra os franceses alojados na Baía de Guanabara; em virtude
de persistirem esses estrangeiros na mesma região, a metrópole enviou reforços, sob o comando de Estácio
de Sá, que trazia instruções para fundar um núcleo português, a cidade de São Sebastião, na área cobiçada
pelos franceses, o que foi executado em 1º de março de 1565. Permaneceram em lutas intermitentes cerca
de dois anos. Men de Sá resolveu, então, retornar à Guanabara, em 1567, participando da expulsão dos
franceses e transferindo a cidade para local mais adequado, visando ao seu desenvolvimento.

3.2.6) A Sucessão de Men de Sá:


A tarefa de Men de Sá estava cumprida, e ele pediu que o substituíssem. Estava velho, enfermo e
saudoso da pátria. Numa carta desabafava: "... não parece justo que por servir bem, a paga seja terem-me
degredado em terra de que tão pouco fundamento se faz".
Em 1570, o Rei D. Sebastião (governando desde 1568) designou D. Luiz Fernandes de Vasconcelos.
Este, porém, não chegou ao Brasil. Suas seis naus, com colonos e 40 jesuítas, chefiados pelo Padre Inácio
de Azevedo, foram atacadas por piratas franceses sob o comando de Jacques Sore (13/09/1571), na altura

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das Canárias. Conseguiu, o futuro governador, escapar (o mesmo não acontecendo com parte dos jesuítas
atirados ao mar), tomando a direção das Antilhas, rumando, em seguida, para os Açores. Com alguns
reforços, dirigiu-se novamente para o Brasil, encontrando-se no caminho com outro pirata francês, Jean
Capdeville. O governador morreu no combate que se travou, bem como outros portugueses, sendo
martirizados os jesuítas, em número de 13, que ainda restavam. Esses jesuítas foram todos beatificados com
o título de “Os 40 Mártires do Brasil”.
Men de Sá prosseguiu governando, não mais contando com um auxiliar valioso: o Padre Manoel da
Nóbrega falecia no Rio de Janeiro em 18 de outubro de 1570.
Em 2 de março de 1572, morria Men de Sá em Salvador, deixando apreciável fortuna pessoal e rica
em paz a terra que por tanto tempo governara. Foi sepultado na igreja dos padres da Companhia de Jesus.
O Ouvidor-geral, Fernão da Silva, passou a responder interinamente. A vastidão territorial da
Colônia levou o governo português a uma nova experiência para mais bem administrar. Assim, por ato de
10 de dezembro de 1572, o Brasil foi dividido em duas partes: o norte, com capital em Salvador, e
estendendo-se até o Porto Seguro, e o sul, tendo por sede o Rio de Janeiro.
Recebeu o governo do norte Luis de Brito e Almeida, ficando com o do sul Antônio Salema, ambos
experimentados na administração. Luis de Brito preocupou-se com a exploração do interior, organizando
diversas entradas com o objetivo de encontrar riquezas. Valeu-se de Sebastião Fernandes Tourinho, que
subiu o Rio Doce, e de Antônio Dias Adorno, que entrou pelo Rio Caravelas. Nada, porém, descobriram.
Os metais continuavam escondidos, desafiando a argúcia e o apetite dos colonizadores. Lutou contra os
potiguares de Itamaracá, com pouco êxito. Iniciou, também, a conquista de Sergipe, obtendo resultados
negativos, como antes já ocorrera com Garcia d'Ávila. Antônio Salema expulsou os franceses de Cabo Frio,
numa audaz expedição de quatrocentos homens e setecentos índios, ao mesmo tempo em que submeteu os
tamoios. Isso permitiu a tranqüilidade para a população carioca,
Por regresso ao reino de Antônio Salema (1577), Luis de Brito assumiu o governo voltando-se à
administração unificada, por Alvará de 12/04/1577, nomeado, nessa mesma data, Lourenço da Veiga. Foi
então, por isso, denominado de Governo Geral.
Luis de Brito exerceu o governo por mais alguns meses, passando-o a 1º de janeiro de 1578, Durante
a administração de Lourenço da Veiga houve tentativas de conquista da Paraíba e verificou-se a União
Ibérica. Veiga faleceu em Salvador, a 04/06/1581.

4) A União Ibérica (1580 – 1640):


O rei D. Sebastião (1557 a 1578), que substituía seu avô D. João III (que nove filhos teve, sem que
algum tenha sobrevivido) aos três anos de idade, representou para os portugueses uma esperança. O
monarca, envolvido por uma educação anacrônica, acalentou a conquista do Marrocos. Seus conselheiros
tentaram, em vão, demovê-lo. O jovem rei arregimentou voluntários, alugou mercenários em Flandres,
obteve homens da Espanha, sob o comando do Coronel Alonso Aguilar. Aprestou, assim, um exército de
18 mil homens que, sem algum preparo militar, desembarcava em Tânger, na África. Caminharam a pé até
Larache, seu objetivo. Contra eles Mulei Abdel-Malek reuniu grandes forças e os cercou em Kar-el-Kebir
(Alcazer-Quebir) a 04/08/1578. A luta foi sangrenta, e o rei sucumbiu com o seu exército.
Portugal ficava sem a sua O Cardeal de 66 anos
mocidade, sem dinheiro, conseguiu governar
sem o seu rei e sem a Portugal durante dois
vitória para compensar anos, cercado de
tão grandes perdas. O gente malévola e
único possível herdeiro inescrupulosa.
era seu tio-avô, o cardeal Morreu sem indicar
D. Henrique, que dos 13 um sucessor, extin-
filhos de D. Manuel I era guindo com ele a
o único que ainda estava dinastia de Avis
vivo. (31/01/1580).

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Declarada a vacância do trono, diversos pretendentes apareceram, emergindo três candidatos com
possibilidades concretas, por serem netos do Rei D. Manuel I: D. Catarina, Duquesa de Bragança, filha de
D. Duarte I, Duque de Guimarães; D. Antônio, Prior do Crato (isto é, chefe do ramo português da Ordem
de Malta), filho de D. Luís, Duque de Beja; e Filipe II, que reinava na Espanha, filho de D. Isabel.
As pretensões da duquesa se esmaeceram, preferindo o povo a D. Antônio; mas este tinha contra si
ser filho natural de mãe judia, pois D. Violante Gomes era uma cristã-nova. Venceu o rei da Espanha,
inicialmente corrompendo com ouro a nobreza portuguesa e, depois, com um rápido argumento: um
exército de 25 mil infantes invadiu o reino luso sob o comando do Duque d'Alba.
Aclamado em Santarém, aceito na capital, D. Antônio, que chegou a ter um curto reinado de um
mês, esboçou uma fraca reação, com forças minguadas e irregulares, no encontro da Ponte de Alcântara.
D. Antônio perdia e fugia para os Açores. A 16 de abril de 1581, as Cortes reunidas em Tomar reconheceram
Filipe II (de Espanha), rei de Portugal, com o título de Filipe I (em Portugal). Abria-se uma nova fase
histórica, comumente denominada de DOMNIO ESPANHOL. Na verdade, a designação é imprópria, uma
vez que existiu, apenas, uma UNIÃO REAL ou UNIÂO IBÈRICA, não se concretizando a anexação de
Portugal à Espanha.

Dos Açores, D. Antônio tentou uma


reação. Pediu auxílio à rainha-mãe de França,
Catarina de Médicis, que lhe enviou o primo,
Filipe Strozzi, conhecido nauta florentino, com
50 navios. O prêmio para essa ajuda francesa
era a parte sul do Brasil, sempre cobiçada pela
França. O mesmo florentino rondou, com três
navios, o Rio de Janeiro: portava o título de
vice-rei... mas não conseguiu apoderar-se da
cidade graças à habilidade da mulher do
governador, Salvador Correia de Sá, ausente na
ocasião. De Sevilha e Lisboa, lançou-se ao seu
encontro D. Álvaro de Bazán, Marquês de
Santa Cruz, com 34 galeões.
O Combate Naval de 25/06/1582

A batalha ocorreu perto da Ilha Terceira (25/06/1582), com a derrota de D. Antônio e a morte de
Strozzi e de D. Francisco Portugal, ativo auxiliar do Prior do Crato. O Brasil seria mesmo da Espanha, por
algum tempo.
A promessa de Filipe II (de Espanha) de preservar relativa autonomia de Portugal e manter suas
colônias sem submetê-las à Espanha, garantiu à colônia portuguesa na América poucas mudanças políticas
significativas. Houve apenas substituição da metrópole que exercia o monopólio comercial e o controle
administrativo. No entanto, o domínio espanhol acabou por abolir, na prática, as determinações do tratado
de Tordesilhas, o que favoreceu o avanço dos colonos portugueses em direção ao interior, permitindo a
expansão do território, estimulada principalmente pela busca de metais preciosos.
Como se pode constatar, durante a União Ibérica, o Brasil teve governantes exclusivamente
portugueses. Contudo, uma nova paisagem se criara como consequência do período dos “Filipes”: o
Nordeste e o Norte integravam-se ao território luso; a penetração para o interior se intensificara; criou-se
um intercâmbio comercial no Cone Sul com os centros espanhóis localizados no Rio da Prata; nasceram
diversos povoados e vilas; e expeliram-se os estrangeiros em quase todos os pontos litorâneos que tentaram
se estabelecer.
Destacavam-se como mercadorias brasileiras o açúcar, o couro, o pau-brasil e o algodão.

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4.1) A Restauração em Portugal:
O domínio dos Filipes reduzira, gradualmente, Portugal à miséria. Conduzido pelo Conde-duque de
Olivares, mantinha-se dócil província de Espanha. A cobrança do imposto extraordinário de quinhentos mil
cruzados fez explodir tumultos populares em Évora que se alastraram no Alentejo e Algarve, passando ao
Minho, atingindo o Porto e Lisboa. Tropas espanholas investiram sobre terras lusas cometendo os mais
reprováveis atropelos.
O envolvimento da Espanha em diversos conflitos militares na Europa, porém, pôs seus inimigos
contra a colônia portuguesa. Inglaterra, França e Países Baixos realizaram várias invasões ao território da
colônia. Isso enfraqueceu a economia lusitana, acarretando um movimento pela restauração da autonomia.
Uma revolução na Catalunha, tendo por fulcro Barcelona, ajudou os portugueses. Em 1639,
começou a fervilhar uma conspiração que encontrou apoio na nobreza e no clero, em especial os jesuítas.
O povo aceitou satisfeito, pois jamais compactuara com o domínio espanhol.
Depois de alguns momentos de indecisão, o Duque de Bragança foi aclamado rei, em 1º de
dezembro de 1640, com o nome de D. João IV, após uma rebelião vitoriosa em Lisboa. Os restauradores
só se libertaram do domínio inaugurando o governo da dinastia de Bragança.
Para combater as dificuldades econômicas herdadas do período anterior, o novo monarca
intensificou a exploração e reforçou a administração colonial, criando o Conselho Ultramarino. A
centralização política colonial e a rigidez fiscalizadora da metrópole intensificaram-se com a ampliação dos
poderes administrativos dos governos-gerais, que subordinaram colonos e donatários, e a eliminação
progressiva das capitanias particulares. Os inúmeros choques entre a Coroa e os interesses locais semearam
as primeiras manifestações contra a autoridade metropolitana.
O Brasil recebeu com alegria as notícias da restauração do governo em Portugal em fevereiro de
1641. O Marquês de Montalvão tratou de reconhecer o novo monarca (embarcando as poucas tropas
espanholas e napolitanas existentes), o mesmo fazendo Salvador Correia de Sá e Benevides no Rio de
Janeiro. Em São Paulo, a aclamação de Amador Bueno6 não tem maior expressão: ela reflete as ligações da
capitania com as terras platinas.

5) As Invasões do Território Português Brasileiro:


A) Os Franceses:
Durante o século XVI, os corsários franceses frequentavam o litoral brasileiro, retirando o
ibirapitanga nativo (pau-brasil), atividade que se mostrava cada vez mais arriscada, tendo em vista o
progresso da colonização portuguesa. Melhor seria empenharem-se na fundação de um núcleo permanente.
A França vivia dias agitados; católicos e calvinistas (huguenotes) não se entendiam, e a intolerância desses
grupos antagônicos provocava distúrbios políticos. Uma colônia na América serviria de refúgio a todos que
desejassem viver e prosperar em paz. Constituíram, estas, as razões que nortearam a criação da França
Antártica.

6
O primeiro fato histórico significativo e pitoresco do Brasil se deu por ocasião da proclamação do paulistano Amador Bueno
de Ribeira como rei de São Paulo. Após a separação das coroas lusa e espanhola, e iniciada a restauração do Reino de Portugal,
em 1640, parte da população da cidade, em geral de origem espanhola, decide proclamar rei um de seus filhos mais ilustres.
Alguns desejavam continuar fiéis ao reino de Castela, pois acreditavam que em breve estariam de novo sob sua autoridade. Mas,
para não dar mostras de seu intento, esse grupo dizia apenas proclamar um filho de São Paulo como seu rei. Amador Bueno,
entretanto, consciencioso e percebendo a artimanha das famílias espanholas, declinou o convite. Porém, chegaram a jurá-lo de
morte, caso ele não aceitasse a coroa paulistana. Ele, então, já seguido pelos gritos de muitos, refugia-se no Mosteiro de São
Bento. O Abade e a comunidade monástica saíram para deter a multidão, que logo se conteve em respeito aos religiosos. Bastava
gritar ao lado de fora do mosteiro sua aclamação. Aos poucos, os religiosos foram convencendo a população da falacidade do
intento, até acalmarem-se e desistirem de vez do que planejavam fazer.

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A.1) A França Antártica:
Henrique II, reinando na França, resolveu enviar às terras brasileiras o piloto e cartógrafo do Havre,
Le Testu, com o objetivo de colher informações sobre a costa. Essa viagem, ocorrida em 1551, teve a
duração de seis meses. Le Testu confeccionou 56 portulanos (cartas náuticas primitivas).
Concebeu a expedição colonizadora o Vice-Almirante da Bretanha (cargo político e não militar).
Nicolas Durand de Villegagnon, cavaleiro de Malta, senhor de Tercy, Marquês de Villegagnon e
personagem de destaque na corte francesa. Com habilidade, despertou o interesse do cardeal de Lorena,
acenando-lhe com a difusão do catolicismo, e do Almirante Gaspard de Coligny, simpático à Reforma
Protestante, possuidor de valimento junto ao rei Henrique II. Uma viagem exploratória foi realizada por
Villegagnon ao Brasil (com um ou dois navios), tendo os franceses visitado a área de Cabo Frio e
adjacências. Villegagnon concluiu ser a Guanabara o melhor sítio para instalar a sua colônia. Ao retornar
para a França, conseguiu a aprovação de seu plano e a dotação de dez mil francos.
Com dois navios de 200t e um menor para carga e quatrocentos homens, católicos e huguenotes da
ralé de Paris e Rouen, a expedição largou do Havre em agosto de 1555 e entrou na Baía de Guanabara a lº
de novembro do mesmo ano, instalando-se numa ilha que os índios chamavam de Serigipe (hoje
Villegagnon, onde funciona a Escola Naval). Todos ajudaram a levantar um forte, que tomou o nome de
Coligny, para servir de abrigo e defesa da posição.
Villegagnon desenvolveu uma grande atividade. Impôs
uma disciplina férrea entre os colonos que, por isso,
passaram a detestá-lo, urdindo mesmo uma conspiração
para matá-lo que, descoberta, levou à morte na forca dos
dois responsáveis. Conseguiu, porém, o chefe francês o
desenvolvimento da colônia, a implantação de uma
agricultura e a amizade dos índios tamoios (que o
chamaram de Paicolás), por ele cativados com astúcia.
Em 1557, chegou à Guanabara Bois-le-Comte,
sobrinho de Villegagnon, com três navios, neles
embarcados trezentos colonos, cinco mulheres e teólogos
calvinistas (Pierre Richer e Guillaume Chartier),
provocando muitas discussões, bem ao sabor da época.
Alguns insatisfeitos preferiram retirar-se do forte,
estabelecendo-se na Carioca, construindo, ao lado, uma
olaria: 1ª Briqueterie. Outros se embrenharam pelas matas.
Desiludido, Villegagnon retornou à Europa (em 1559),
prometendo voltar, o que nunca cumpriu, ganhando, assim,
dos calvinistas, o apelido de “Caim da América”.
Conseguiu, no entanto, uma indenização por parte do
governo português e, do governo francês, uma carta de
corso contra os portugueses; mas não a usou, preferindo
Mapa do Rio de Janeiro – séc. XVI negociá-la com Portugal, recebendo a soma de trinta mil
ducados.
O Governador Men de Sá encontrava-se em Ilhéus quando recebeu notícias dos franceses por um
que desertara: Jean de Coynta, senhor de Bouléz, que, em troca da liberdade, lhe forneceu as informações
que precisava sobre a posição militar de seus patrícios e do Forte de Coligny.
A situação não permitia delongas; os jesuítas aconselhavam a fundação de um núcleo na Guanabara:
Nóbrega, em carta de 2 de setembro de 1557 ao padre Miguel de Torres, em São Vicente, afirmava esse
ponto de vista, "como sempre se desejou".
Chegados, enfim, os reforços tão insistentemente pedidos, a 30 de novembro de 1559, chefiados por
Bartolomeu de Vasconcelos da Cunha, Men de Sá reuniu mais homens, em duas naus e três navios menores,
e dirigiu-se para a Guanabara. O ataque ao Forte de Coligny verificou-se a 15 de março de 1560; resistiram
os intrusos por dois dias. Orientados por Bouléz, dois portugueses (Manoel Coutinho e Afonso Martins

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Diabo) conseguiram entrar no forte e explodir seu paiol de pólvora, causando grande confusão. Os franceses
se retiraram escondendo-se nos matos próximos, com a ajuda dos tamoios; 74 renderam-se, Esse combate
é historiado em carta do padre Nóbrega, que o assistiu, datada de 01/06/1560, ao Cardeal D. Henrique.
Men de Sá limitou-se a arrasar o forte. Não dispunha de gente nem meios para criar um núcleo de
povoamento permanente, o que seria aconselhável. Da Guanabara, dirigiu-se a São Vicente e, depois, para
Salvador. No Espírito Santo, aceitou a renúncia do donatário Vasco Fernandes, nomeando Belchior de
Azevedo para administrar a região. Bouléz ficou em São Vicente, mas, hostilizado pelos habitantes, foi
remetido para Salvador onde enfrentou processo como herege e mandado, em seguida, preso para a
Inquisição de Lisboa onde foi desterrado para a Índia.
Os franceses, orientados pelos tamoios, tomaram novas posições na Ilha de Paranapuan (hoje
Governador). Insuflando os indígenas, conseguiram que o chefe Cunhambeba os reunisse para o ataque a
São Vicente e ao Colégio dos Meninos de São Paulo. Compreendendo o perigo que se avizinhava das
povoações portuguesas, o padre Manoel da Nóbrega e o irmão José de Anchieta entrevistaram-se com os
chefes indígenas. Duraram cinco meses as negociações, três dos quais Anchieta ficou como refém (quando
então compôs o poema à Virgem), terminando com o armistício de Iperoig (próximo de Ubatuba): os
portugueses não mais seriam atacados (14/09/1563).
Da terra do Brasil não cessavam de chegar a Lisboa pedidos no sentido de se fundar uma povoação
no Rio de Janeiro. Constitui documento valioso a carta de Brás Cubas a D. Sebastião de 25 de abril de 1562.
O Governador Men de Sá confiou a Estácio de Sá (seu sobrinho) a delicada tarefa de obter, na Corte,
novos recursos contra os franceses e a licença para a fundação de uma cidade.
A metrópole, compreendendo o perigo que representavam os franceses na Guanabara, resolvia
enviar reforços sob o comando de Estácio de Sá, igualmente incumbido de fundar uma cidade, ponto de
apoio para garantir o êxito da empresa.
Com seis caravelas e duzentos homens, Estácio de Sá aportou em Salvador no dia 1º de maio de
1563, onde obteve alguns voluntários. Logo, iniciou viagem para o sul, passando no Espírito Santo, ali
apanhando o chefe Araribóia e seus temiminós, que se incorporaram à expedição com a finalidade de se
vingarem dos tamoios. Estácio de Sá entrou na Guanabara, apresou uma nau francesa, tendo permanecido
por dois meses observando as posições (janeiro/fevereiro de 1564). Seguiu, depois, para São Vicente, onde
passou o resto do ano em preparativos. No princípio do ano de 1565, reuniu todos e, a 1º de março, chegou
ao Rio de Janeiro, desembarcando em ponto estratégico previamente escolhido (hoje é a praça de esportes
da Escola de Educação Física do Exército, na Urca), fundando, assim, a cidade de São Sebastião do Rio de
Janeiro. Ergueram-se casas rústicas em torno do marco da fundação, cercadas por um muro artilhado de
madeira e barro; no centro instalaram a câmara e cadeia, a casa do governador e a capela, sob a orientação
do Padre Gonçalo de Oliveira e do irmão Anchieta, abrigando a estátua do Padroeiro. Nada de grandioso,
apenas um estabelecimento militar. Os primeiros funcionários receberam suas incumbências.
Durante dois anos, ficaram portugueses e franceses em luta, sem haver, contudo, um encontro
aberto. Famoso ficou o Combate das Canoas, durante o qual se diz ter aparecido o próprio São Sebastião
em auxílio dos lusos.
Instado por Anchieta que, passando pelo Rio de Janeiro, observara quão frágil era a posição dos
portugueses, resolveu o governador dar uma ajuda pessoal. Aproveitando estar no porto de Salvador a
esquadra (três galeões) de Cristóvão de Barros, nela embarcou-se, acompanhado do bispo D. Pero Leitão,
do padre Inácio de Azevedo (visitador da Companhia) e de muitos voluntários. Chegaram ao Rio a 18 de
janeiro de 1567. Acertaram iniciar o ataque a 20, dia do Santo Guerreiro, protetor da cidade e do Exército
de Portugal. Em Uruçu-Mirim (hoje Glória/Flamengo), os franceses perderam heroicamente. Alvejado no
olho por uma seta ervada, Estácio de Sá entrou em agonia, morrendo um mês depois. A raridade de
documentos não nos permite hoje conhecer esse personagem; situa-se entre os muitos jovens idealistas que
Portugal produziu, plasmando com sua presença os instantes decisivos do nascimento da cidade (a Igreja
de S. Sebastião guarda seus restos mortais). Seguiu-se o ataque ao reduto de Paranapuan (hoje Ilha do
Governador), com dois dias de duração.
Expulsos os estrangeiros, resolveu o Governador Men de Sá garantir a posse da região contra outros
ataques. Assim, no primeiro dia de março de 1567, transferiu a cidade para o Morro do Descanso, depois

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chamado do Castelo (já demolido), porque todo o conjunto lembrava um castelo medieval, excelente sob o
ponto de vista estratégico e livre dos ares pouco salubres da baixada. Nomeando seu sobrinho Salvador
Correa de Sá (04/03/1568) para o governo da cidade, rumou satisfeito para o norte. Para Araribóia deu
terras onde hoje é o Rio Comprido: em 1573, o chefe índio mudou-se, com sua gente, para o lado oposto
da baía, conhecido por Praia Grande, fundando o aldeamento de São Lourenço, que deu origem a Niterói
(= água escondida). Toda a região foi erigida em capitania da Coroa, a segunda portanto. Apesar de
pertencer a Martim Afonso de Sousa, que ainda vivia, por ele não foi reclamada.
Os corsários franceses fixaram-se, então, em Cabo Frio. E não tardaram em investir sobre a
desguarnecida cidade do Rio de Janeiro. Em 18 de maio de 1568, surpreenderam os seus habitantes
entrando, de imprevisto, na baía com quatro naus, oito lanchas e várias canoas e se prepararam para o ataque
à taba de Araribóia que ainda não se havia transferido para a Praia Grande. Contando com pequeno reforço
(35 homens) enviado pelo Governador Salvador Correa de Sá, Araribóia optou por desferir um ataque de
surpresa. O êxito obtido foi notável: em pouco tempo os invasores partiram confusos e envergonhados.
Os habitantes da cidade, animados por essa vitória, resolveram persegui-los. Embarcaram em canoas
e, a 8 de junho, avistaram o reduto francês em Cabo Frio, protegido por uma nau de 200t. Iniciou-se o
combate que pendeu para os lusos após a morte do comandante francês atingido na viseira de sua armadura
por certeira flecha. A nau, abordada em seguida, caiu em mãos portuguesas; conduzida para o Rio de
Janeiro, teve a artilharia aproveitada para as defesas da cidade.
No segundo governo de Salvador Correa (1577 a 1598), o Rio de Janeiro sofreu outra incursão de
franceses como resultado da ajuda que a Rainha Catarina de Médicis prestou a D. Antônio, Prior do Crato,
a fim de que este pudesse obter o trono português vago com a morte do Cardeal D. Henrique em 1580. O
florentino Filippe Strozzi, primo da rainha, recebeu o título de vice-rei do Brasil e se apressou em vir
apoderar-se do Rio de Janeiro. Três naus apresentaram-se à entrada da Baía de Guanabara (1583). O
governador achava-se ausente; mas a população, liderada por sua mulher, D. Inês, acendeu fogueiras e
iludiu os intrusos com falsos movimentos que deram a impressão de grande número de pessoas. O ataque
não chegou a se consumar.
Poidemil de Soson, capitão da nau Le Volant, guarnecida de 116 homens, aportou (1595) em Sergipe
no desejo de retirar madeira; capturados por Diogo de Quadros, foram na condição de prisioneiros para
Salvador, morrendo todos enforcados. No mesmo ano, Elisee de La Tramblade, capitão da nau Le Saige,
com 75 homens, visava igualmente ao comércio do pau-brasil; o Governador D. Francisco de Sousa, que
os capturou, concedeu-lhes a liberdade. Ainda no mesmo ano, outros franceses desembarcaram em Ilhéus,
afugentando os moradores e procuraram saquear as casas; alguns poucos destemidos, liderados pelo mestiço
Antônio Fernandes, alcunhado de Catucadas, organizaram-se e revidaram contra os intrusos, logrando
eliminar vários, inclusive o chefe, motivo pelo qual os gauleses se retiraram.
Entre 15 e 18 de agosto de 1597, uma armada francesa, composta de 13 navios, investiu sobre o
Forte do Cabedelo, na Paraíba; o comandante, contando com 20 homens e cinco peças de artilharia, resistiu,
morrendo heroicamente. Os franceses retiraram-se para o norte.
Para os franceses seria mais seguro o estabelecimento de uma empresa definitiva onde lançariam as
bases de uma ocupação permanente. A costa equinocial do Brasil servia aos seus intentos.

A.2) A França Equinocial:


Entre 1596 e 1597, o Capitão Jean Guerard, de Dieppe, andou explorando a costa norte. É quase
certo que outros marujos franceses comerciaram com os tupinambás. Acredita-se que em 1594, Jacques
Riffault, bom conhecedor desta costa norte do Brasil, imaginou criar uma colônia na região que permanecia
abandonada. Regressando ao seu país, Riffault cativou um gentil-homem de Saint Maure de Touraine,
chamado Charles des Vaux com o projeto de um estabelecimento duradouro no Maranhão. Armaram três
navios e partiram em 15 de março de 1594, mas acabaram perdendo um deles em frente à Ilha Upaomeri
(depois batizada de São Luís). Os franceses deixaram-se ficar nela, misturando-se aos gentios, obtendo a
sua estima. Desgostoso com seus companheiros, Riffault, reduzido a um único navio, retornou à França
deixando ainda vários colonos sob a orientação de Charles des Vaux. Depois de alguns anos aproveitando

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um dos navios de Dieppe, des Vaux conseguiu regressar à Europa e procurou interessar a Corte francesa
no sentido de erguer uma colônia naquelas paragens.
O Rei Henri IV determinou a Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière, de seguir para o
Maranhão para assegurar-se do que dizia des Vaux. La Ravardière deixou Cancale em 12 de janeiro de
1604 regressando em agosto. E, com o posto de Vice-Almirante da Costa do Brasil, velejou, outra vez, para
a América, em 1607, estando entre os seus tripulantes des Vaux. Após 18 meses, retornou à França
acreditando ser possível a colonização francesa na costa equinocial.
O assassinato do rei Henri IV (14/05/1610) impediu um apoio oficial e rápido. Parece que La
Ravardière se entusiasmou com as possibilidades da região. Mas a empresa exigia dinheiro. Depois de
alguns meses, La Ravardière obteve o amparo de François de Rasilly, senhor de Aumelles, que obteve os
bons ofícios do Conde de Soissons, Charles de Bourbon, príncipe de sangue, bem como do banqueiro
Nicolas de Harlay de Sancy, Barão de Bolle e de Gros-Boís. Em 1612, concluíam-se os aprestos da
expedição. Em três navios (Régent, Charlotte e Sainte Anne), Daniel de La Touche embarcou colonos,
soldados, fidalgos e quatro padres capuchinhos.
Partiram de Cancale a 19 de março de 1612; passaram por Fernando de Noronha, costearam o
Nordeste e, a 26 de julho, aportaram à ilha do Maranhão. Em 6 de agosto começaram a erguer um povoado
fortificado, com a ajuda indígena, inaugurando-o no primeiro dia de novembro de 1612, com o nome de
São Luís.
Na verdade, os franceses não alcançaram as riquezas prometidas nem encontraram metais e pedras
com os quais sonhavam. Doenças e dificuldades várias geraram descontentamentos, diante das regras
estabelecidas pelos chefes, em observância aos desejos dos padres capuchos. A ausência da continuidade
do amparo oficial contribuiu para o desânimo geral, apesar de Rasilly, que retornou à França em 7 de
dezembro, ter pelejado pela empresa do Maranhão, conduzindo consigo alguns índios que receberam
batismo diante de Luís XIII. A ajuda que recebeu, de seis mil escudos, da rainha-mãe serviu apenas para
armar de novo o Régent e fazê-lo retornar ao Maranhão com alguns reforços (15/07/1614) e transportando
dez padres capuchinhos sob o comando do padre Archange Pembroke.
Sabedores, os portugueses, desse estabelecimento francês, procuraram logo eliminá-lo antes que
aumentasse. O Governador Gaspar de Sousa organizou uma expedição com oito navios e a confiou a
Jerônimo de Albuquerque – brasileiro nato, que por sua condição é considerado o primeiro brasileiro a
comandar uma força naval –, neto do tuxaua Arcoverde, tendo como segundo o Sargento-mor Diogo de
Campos Moreno (que, em 1615, escreveu Jornada do Maranhão); a esta expedição agregou-se Martim
Soares Moreno quando passou pelo Ceará. Nessa região, em Jericoacoara, construíram um forte costeiro
(N. S. do Rosário) e exploraram a terra e a marinha em direção ao Maranhão. Em cumprimento desta
missão, Martim Soares fez-se tanto ao largo com o seu navio que se viu arrastado pelas correntes até as
Antilhas de onde se passou à Europa.
Com segurança, avançou Albuquerque e desembarcou com seus homens em Guaxenduba (hoje
Tajuaba), a 26 de outubro de 1614; construíram um reduto, sob orientação de Francisco de Frias de
Mesquita, e lhe deram o nome de S. Maria; contavam com trezentos soldados e duzentos índios.
Não perderam tempo os franceses em atacá-los, a 11 de novembro, tomando três embarcações e
fazendo prisioneiros, e a 19 (Combate de Guaxenduba) com duzentos homens brancos e 1.500 índios, todos
em sete naus e 46 canoas, combatendo-se com água pela cintura a maior parte desse dia. Ficaram mortos
115 franceses e prisioneiros, nove; Albuquerque teve 11 mortos e 18 feridos, entre estes um filho.
Apesar da superioridade numérica, os franceses sofreram derrota tão grande que La Ravardière
solicitou um armistício (com a intenção de obter reforços na França ou um acordo diplomático), aceito
imprudentemente por Albuquerque, mas que, no entanto, permitiu tempo para se conseguir reforços no
Brasil. Seguiram representantes diplomáticos para as respectivas cortes europeias (Capitão Du Prats e
Gregório de Albuquerque para Paris e Sargento-mor Diogo Moreno e Mathieu Maillard para Lisboa), onde
não despertaram interesse. Albuquerque passou-se para a ilha, nela fundando o Fortim de S. José de Itapari.
Ignorando a autorização do Rei Filipe II permitindo que os franceses permanecessem em terras do
Maranhão, o Governador Gaspar de Sousa determinou que Alexandre de Moura, Capitão-Mor de

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Pernambuco, se preparasse para repelir os franceses. O próprio governador deslocou-se para Recife a fim
de, pessoalmente, incentivar os derradeiros aprestos.
Assim, em outubro de 1615, grossos reforços (seiscentos soldados em nove navios) portugueses
aportaram ao Maranhão, chefiados por Alexandre de Moura, que, juntando as suas forças com as de
Jerônimo de Albuquerque, cercou a fortificação francesa (São Luís), guarnecida com duzentos homens e
17 peças de artilharia. Com medo de ser tratado como pirata, o que representaria a forca, La Ravardière
optou pela capitulação firmada no dia 4 de novembro de 1615; no dia imediato, o forte foi entregue aos
portugueses. Os franceses retiraram-se quase todos. La Ravardière e des Vaux foram conduzidos a
Pernambuco e desta capitania para Lisboa, onde permaneceram encarcerados na Torre de Belém, nela
morrendo des Vaux. La Ravardière foi solto após três anos.
Jerônimo de Albuquerque, que apôs ao seu nome o de Maranhão, foi designado governador das
terras conquistadas, e Alexandre de Moura, após a expulsão dos franceses, subiu a costa brasileira e fundou,
no estuário do rio Amazonas, o forte do Presépio, base da cidade de Belém do Pará, e, a partir da fixação
de portugueses na bacia Amazônica e a manutenção de flotilhas permanentes, Portugal se apossou de grande
parte do território, o que fez da Amazônia Oriental um legado para o Brasil.

A.3) As Ações de Corsários Franceses no Rio de Janeiro:


Nascera a Cidade do Rio de Janeiro da luta contra os franceses de Villegagnon. Nascera militar.
Encastoara-se numa elevação estratégica, logo conhecida como Morro do Castelo, provendo a sua defesa
na construção de baterias e pequenas fortificações. Eliminado o perigo francês, alijados estes do litoral sul,
pôde os cariocas procurar os terrenos secos da várzea, onde se desenvolveu a cidade durante o século XVII.
Caminhos e ruas se foram formando sem ordem, à medida que as casas iam sendo construídas ou que se
erguiam as igrejas e conventos, maciços trabalhos que até hoje afrontam o tempo. Dedicando-se ao cultivo
da cana-de-açúcar, à pesca da baleia dentro da baía, mas, principalmente, ao comércio, sendo importante o
de escravos, a população da cidade prosperou e aumentou no decorrer do século XVII, atingindo a casa dos
dez mil. A descoberta do ouro no planalto trouxe a euforia a todos, sacudindo seus moradores da mansa
vida que por mais de cem anos desfrutavam. Trazia notoriedade para a cidade.
E constituiu essa a razão principal que moveu Jean François Duclerc a tentar tomar o Rio de Janeiro
em 1710. A cobiça do ouro. Auxiliou-o a política europeia: Portugal aliara-se à Inglaterra pelo célebre
Tratado de Methuen (1703), contrário à subida de Filipe d'Anjou, neto de Luis XIV de França, ao trono
espanhol, como Filipe V.
Com uma nau (L'Oríflame), quatro fragatas (L’Atlante, La Díane, La Valeur e La Venus) e 1300
homens, decidiu o Capitão-de-Navio Duclerc tomar o Rio de Janeiro. Soubera quão fracas eram a tropa e a
defesa da praça sob o governo de Francisco de Castro Moraes, o qual, em vão, havia clamado junto ao rei
sobre a necessidade de reaparelhamento geral. A 17 de agosto, surgiram os franceses na entrada da barra,
arvorando bandeiras inglesas, estratagema que não funcionou. Tiros cruzados impediram maior
aproximação. Rumaram para o sul, desembarcando na ilha Grande; nela saquearam fazendas e obtiveram
quatro escravos de Bento do Amaral da Silva que, daí por diante, lhes serviram como guias. A tentativa de
atingirem as areias de Sacopenapan (Copacabana hoje) foi frustrada pelo Tenente Rodrigo de Freitas e por
alguns populares. Mas, a 11 de setembro, entraram por Guaratiba sem serem molestados.
Duclerc caminhou, com seus comandados, pelos capinzais da Tijuca, pilhando e depredando.
Tocada a rebate na cidade, acorreram os homens a se apresentarem aos seus oficiais. Somavam dois mil,
ao todo, e mais alguns voluntários. Em conjunto levantaram uma trincheira que ia do Morro da Conceição
ao de S. Antônio (já demolido) e aguardaram o invasor. Na Lagoa da Sentinela, houve combate com a
Companhia dos Estudantes, comandada por Bento do Amaral Coutinho, sem resultados. Os franceses
prosseguiram pelo caminho de Mata-Cavalos (hoje Rua Riachuelo), encontrando, na Lagoa do Desterro,
um punhado de homens liderados por Frei Francisco de Menezes. Mas o frade, que já fora militar, não
logrou barrar o passo do invasor, que avançou em direção do Morro do Castelo. Não puderam subi-lo e
tomar o Forte de S. Sebastião, dada a resistência movida por populares. Desistiu Duclerc de se apoderar
desse morro, embrenhando-se pelas ruas até chegar ao Largo do Carmo (hoje Praça XV), desnorteado e
com a sua formação militar dispersa. No largo, se generalizou o combate. Tentou o chefe francês abrigar-

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se no Convento do Carmo, desconhecendo que os seus ocupantes eram exímios na arte da pancadaria. O
governador, oficiais e suas praças chegavam ao largo, procedentes da trincheira, cuja defesa não mais se
fazia necessária. Quase bloqueado, Duclerc invadiu o trapiche de Luis da Mota, esboçando uma resistência
anulada pela presença de canhões apontados contra a construção. Preferiu capitular: 220 ficaram feridos;
mortos, 450. Por parte da cidade as perdas tinham se elevado a trezentos, com igual número de feridos.
Alguns prédios estavam em chamas.
Distribuíram-se os soldados franceses nas guarnições militares em regime de prisão (600
provavelmente); os comandantes dos navios que conduziram os invasores, inteirando-se do sucedido por
um aviso mandado pelo próprio Duclerc, deliberaram rumar para a Martinica. Dias depois, os oficiais
franceses receberam ordem de embarcar para Salvador. E o Capitão Duclerc ficou encerrado no Colégio
dos jesuítas, de onde saiu, para uma casa da Rua da Quitanda, com a cidade por menagem; apesar da guarda
que o protegia, quatro mascarados invadiram-na e o assassinaram (18/03/1711), constituindo esse crime,
até hoje, um mistério.

Nova Ação Francesa:


Homem habituado ao mar (era Capitão-de-Navio), Duguay-Trouin já havia concebido o ataque ao
Rio de Janeiro e encontrava-se em preparativos, quando as notícias do malogro de Duclerc, e logo depois
de seu assassinato, ecoaram na Corte francesa. Esses fatos lhe deram um pretexto emocional.

Reunindo navios dados pelo rei ao capital de


acionistas (1.200.000 francos obtidos com de
Coulange, de Beauvais, de La Sandre-le-Fer, de
Belle-Isle-Pepin, de L'Espine d'Anican, de
Chapdelaine e do Conde de Toulouse) que
acreditavam nas riquezas que devia possuir a
cidade do Rio de Janeiro, Duguay-Trouin pôde
compor uma esquadra de 17 navios (capitânia
Le Lys, de 74 peças de artilharia) e obter 5.764
homens. Durante a viagem ele apresou mais um
navio de origem inglesa.

Prevenido pela metrópole, o Governador Castro Moraes organizou a defesa, concitando o General-
de-Batalha-do-Mar Gaspar da Costa Ataíde, apelidado "o Maquines", a que colaborasse, utilizando os
homens e os recursos de seus quatro navios, que estavam casualmente no porto do Rio. O efetivo total da
cidade atingia 3.270 homens, muitos dos quais índios, ou populares, pouco afeitos à profissão das armas.
A 12 de setembro de 1711, despontaram os franceses na entrada da barra, forçando-a, graças a um
pequeno nevoeiro. Os tiros dos fortes litorâneos não impediram a entrada dos franceses, apesar de terem
provocado trezentas baixas. Navegaram, lentamente, em direção da ilha de Villegagnon, sem serem
molestados, pois a fortificação nela instalada encontrava-se inoperante por causa da explosão do paiol de
pólvora. Bombardearam a cidade, ao mesmo tempo em que procuraram tomar as naus do Maquines,
conseguindo apenas uma, pois as outras foram inutilizadas por ordem de seu comandante.
Solicitou, o governador, que o Maquines garantisse, com seus homens, a ilha das Cobras, ponto
vulnerável. Mas não sabemos até hoje porque esse militar, tão famoso em guerras passadas, negligenciou
a sua parte, permitindo que os franceses tomassem a ilha nessa mesma noite. Tiros foram trocados com
peças assestadas no Mosteiro de S. Bento, mas sem proveito algum. Na manhã de 14, Duguay-Trouin
desembarcou seus homens na praia de S. Diogo, perto da Bica dos Marinheiros, e ocupou os morros de S.
Diogo, Livramento e Conceição, instalando, neste último, na casa do bispo, o seu quartel general. Do dia
15 ao 18, os invasores fustigaram a cidade com seus canhões. Castro Moraes procurou resistir, ao mesmo

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tempo em que pedia ajuda às capitanias vizinhas. Apenas de Parati chegavam 580 homens, sob o comando
de Francisco do Amaral Gurgel.
No dia 19, um emissário francês exigia a rendição. Castro Moraes respondeu: "... Enquanto a
entregar-vos a cidade pelas ameaças que me fazeis, havendo-me ela sido confiada por El-Rei, meu Senhor,
não tenho outra resposta a dar-vos senão que a hei de defender até a última gota de meu sangue". Mas na
tarde do dia seguinte, os militares e notáveis da cidade, reunidos em conselho pelo governador, votaram
unanimemente pelo abandono da praça e a concentração em outra posição, com o auxílio de reforços, para
se proceder a um contra-ataque. Ordenada a retirada, esta se verificou no correr da noite, transformando-se
numa fuga desordenada e vergonhosa, em meio a um temporal fantástico, onde não foram poucos os saques
às propriedades da área rural. Concentraram-se todos em Moxambomba (hoje Nova Iguaçu).
Os próprios prisioneiros da expedição anterior, logrando evadirem-se, avisaram na manhã de 21 ao
comandante francês que a cidade se encontrava em suas mãos. Os fortes se renderam.
Donos da cidade, os franceses procederam a uma completa pilhagem, enquanto se calavam as
últimas resistências esparsas, momento em que morreu Bento do Amaral Coutinho. Duguay-Trouin não
ficou satisfeito com o saque: exigiu do governador um resgate, para não terminar de destruir a cidade.
Tentou ganhar tempo Castro Moraes, mas, pressionado pelos principais, que temiam perda de suas
propriedades, acabou cedendo em pagar a soma de 610.000 cruzados, além de cem caixas de açúcar e
duzentos bois. Como se imaginava, chegaram os reforços do planalto, comandados por Antônio de
Albuquerque Coelho de Carvalho, que, inexplicavelmente, não se empenhou em nenhuma ação militar com
os seus seis mil companheiros.
A 13 de novembro, partia Duguay-Trouin com uma expressiva presa, cujos lucros foram fixados
em 95%. Pensou atacar Salvador a pretexto de livrar os oficiais de Duclerc ainda presos. Ventos difíceis o
impediram, perdendo, mesmo, dois navios. Do rei francês, recebeu a promoção a Chefe-de-Esquadra e a
comenda de S. Luis e, da História, a fama de marujo audaz. Escreveu depois um livro de memórias.
O povo do Rio de Janeiro atribuiu a Castro Moraes a sua desventura. Alcunhou-o de grosseiro nome
e instou para que Albuquerque assumisse. Realmente, o governador não estava à altura de exercer um
comando militar; tivera êxito em 1710, como consequência do malogro do adversário, não por sua tática
militar. A sua incapacidade se demonstrava diante de um chefe como Duguay-Trouin. Castro Moraes foi
preso, bem como outros oficiais, abrindo-se logo uma devassa, com ouvidores da Bahia, que concluíram
pela culpabilidade de todos, remetidos, em seguida, para o Reino. O governador perdeu seus bens e partiu,
deportado, para o Indução, somente reabilitado em 1730; os militares receberam castigos severos e destinos
semelhantes. Menos o Maquines, contra quem nada se imputou. Uma segunda devassa aberta em Lisboa e
terminada em 1716 concluiu pela culpabilidade de Gaspar da Costa, condenado à prisão, pena que não se
aplicou por falecimento do réu. Antônio de Albuquerque foi, também, censurado pela sua atitude, perdendo
a governança.

B) Os Ingleses:
Os ingleses interessaram-se pelas riquezas nativas do Brasil ainda no século XVI. William Atkins,
em comando do navio Paul of Plymouth, realizou três viagens proveitosas à costa brasileira em 1530, 1536
e 1540. Mas, as correrias de flibusteiros ingleses nos mares brasileiros ocorreram quando o Brasil, seguindo
o destino de Portugal, passou a ser administrado pela Espanha. A rivalidade existente entre esta potência e
o reino de Elizabeth I, que projetava a Inglaterra nos mares, explica as incursões inglesas nos lados
meridionais do Oceano Atlântico. Devemos, também, assinalar a existência das cartas de John Whithali,
inglês radicado em Santos, enviadas a parentes, narrando a presença de pepitas de ouro; elas aguçaram os
corsários, contribuindo, assim, para as viagens de alguns deles.
Em 1583, Edward Fenton, com dois navios, investiu sobre a vila de São Vicente, travando combate
com três galeões espanhóis, comando de André de Equino, que se encontravam no local. Depois de cinco
dias, Fenton desistiu da empresa, apesar de ter afundado um dos galeões. Um dos navios ingleses,
capitaneado por Luke Ward, rumou imediato para a Inglaterra; Fenton ainda fez aguada no Espírito Santo
e tentou comerciar com o donatário Vasco Fernandes Coutinho.

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Em 21 de abril de 1587, Robert Withringhton e Christopher Lister, cada um comandando uma nau
de guerra e contando com mais duas embarcações, entraram na Baía de Todos os Santos, apresando
pequenos navios mercantes. A cidade de Salvador resistiu, mas os dois corsários saquearam as fazendas do
recôncavo até junho. Durante esse período, houve diversos pequenos combates com perdas de ambos os
lados.
Quando Thomas Cavendish (o corsário elegante) resolveu excursionar no Brasil, já havia realizado
a famosa viagem de circunavegação do globo, a terceira que se tinha notícia. Sua esquadra era composta
de um galeão, duas naus e dois navios menores, com quatrocentos homens de guarnição. Em Cabo Frio,
apresou um navio português; desembarcou na ilha Grande, onde fez aguada e provocou desordens. Em
seguida, atacou a Vila de Santos (15/12/1591) e dela se apoderou, saqueando-a. O mesmo destino encontrou
a Vila de São Vicente. Cavendish as deixou parcialmente destruídas e incendiadas. Satisfeito, levantou
ferros em 03/02/1592, velejando litoral sul. Atingiu o Estreito de Magalhães. Dificuldades várias o
pressionaram a regressar pelo Oceano Atlântico. Perto de Santos obteve alguns víveres. Resolveu atacar,
de novo, a vila, mas os habitantes repeliram os intrusos. Cavendish rumou para o norte, atingiu Vitória e
desembarcou uma força de ocupação. Em renhido combate, os habitantes e mais índios guerreiros
destroçaram o contingente inglês. Na ilha de São Sebastião abandonou 20 feridos, dos quais apenas dois
sobreviveram, sendo um deles Antony Knivet, que escreveu curioso relato de suas aventuras. Cavendish
faleceu, com 37 anos, nessa viagem de retorno à Inglaterra.
James Lancaster, tendo como colaborador Edward Fenner, se apresentou diante de Recife e Olinda
com uma armada de 12 navios em abril de 1595. Os moradores não dispunham de forças para efetuar uma
resistência. Recife foi tomada. Quatro dias depois, chegaram três naus e dois navios menores sob o comando
do francês Jean Noyer que se associou aos ingleses. Durante 31 dias, a vila do Recife foi saqueada. Os
recifenses hostilizaram os corsários com táticas de guerrilhas e muitos foram mortos, inclusive Jean Noyer.
Mas o resultado econômico da empresa mostrou-se excelente para os invasores.
Os ingleses ambicionaram se estabelecer na região amazônica, com visíveis interesses de
colonização. Em 1604, Charles Leigh comerciou com os indígenas locais; o mesmo ocorreu com Robert
Harcourt em 1609. A partir de abril até o final do ano de 1610, Sir Thomas Roe realizou minucioso
reconhecimento hidrográfico, visando à descoberta de riquezas. Retornou à Inglaterra, mas enviou duas
expedições até 1614, época em que deve ter sido construído pequeno reduto na embocadura do rio
Amazonas. Sabedor que a região amazônica podia proporcionar muitas vantagens, o Capitão Roger North
obteve uma concessão real (1619) e formou, com nobres e pessoas de dinheiro, uma companhia de
exploração. North, escolhido governador da colônia a ser implantada, organizou uma expedição que se
lançou ao mar em 30/04/1620. Em sete semanas, alcançou a foz do Amazonas navegando até a confluência
do rio Jenipapo, onde já existiam ingleses. Nesse local estacionou. North regressou, depois, à Inglaterra.
Na Amazônia, o posto avançado da colonização portuguesa era o Forte do Presépio; governava-o,
desde 18 de junho de 1621, Bento Maciel Parente, que tudo informava à metrópole do avanço dos ingleses.
De Lisboa, chegava ao Brasil uma nau artilhada, de reforço, sob o comando de Luiz Aranha de Vasconcelos.
Aranha penetrou no Rio Amazonas até o Xingu, tendo destruído os fortes holandeses de Maturu e Nassau;
retornou a Belém com muitos prisioneiros. Na mesma ocasião, Parente excursionou no Rio Amazonas
combatendo o posto inglês fundado por North. Pouco depois, as duas expedições, de Parente e de Aranha,
juntaram-se, ocasião em que foi atacada uma nau holandesa comandada por Pieter Adriaansz, que preferiu
atear fogo ao seu navio para que o mesmo não caísse em mãos dos portugueses. Parente erigiu um forte no
Gurupá e o guarneceu com 50 homens.
Os estrangeiros não desistiram das luxurientas terras amazônicas. Em 1625, o irlandês James Purcell
e o holandês Nikolaas Ouclaen fixaram-se na foz do Xíngu (Mandiutuba). Tão logo as notícias chegaram
ao Forte do Presépio, Parente determinou que Pedro Teixeira, Jerônimo de Albuquerque e Pedro da Costa
Favela, conduzindo cinquenta soldados e trezentos índios, desalojassem os intrusos. Participava desta
expedição Frei Antônio da Marciana. Atacaram o inimigo no dia 23 de maio de 1625, bipartindo as forças
por terra e embarcadas em canoas. Durante a noite, os ingleses e holandeses fugiram agasalhando-se em
outras duas casas-fortes que possuíam rio abaixo. Pedro Teixeira perseguiu-os, juntamente com Costa
Favela, matando alguns e fazendo muitos prisioneiros, inclusive Purcell, que obteve a liberdade em seguida.

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No meio do ano de 1627, Roger North, Robert Harcourt e mais 55 associados fundaram a Companhia da
Guiana. No início do ano de 1628, 112 colonos deslocaram-se para a Amazônia, chefiados por James
Purcell. Sem serem incomodados, ergueram fortim de madeira no Tucuiu, nas vizinhanças do
estabelecimento que Pedro Teixeira arrasara quatro anos antes. Pedro Teixeira recebeu a incumbência de
combater os estrangeiros; em setembro de 1629, fortificou-se perto dos inimigos. Teixeira contava com 120
soldados e 1.600 índios. Com essa gente cercou o forte que tinha o nome de Torrego. Em 24 de outubro, os
do forte se entregaram. Teixeira fez 180 prisioneiros incluindo James Purcell que, pela segunda vez, caía
em mãos dos portugueses. A Companhia da Guiana não esmoreceu: em outubro, logo após a rendição do
Forte Torrego, e perto dele, duzentos colonos ergueram o Forte North e prosperaram. Somente em 1631,
mês de janeiro, pôde o Governador do Pará, Jácome Raimundo de Noronha, organizar uma expedição
contra estes ingleses. O combate foi sangrento em razão da resistência oferecida pelos ingleses. Com a fuga
e morte destes, Noronha desmanchou o reduto e retomou a Belém.
A última tentativa inglesa ocorreu ainda nesse mesmo ano de 1631, financiada pelo Conde de
Berkshire. O Capitão Roger Fry, conduzindo um navio e quarenta homens, erigiu o Forte de Cumau,
próximo à foz do Rio Matari. Contra eles partiu Feliciano Coelho de Carvalho, com 240 soldados e cinco
mil índios, utilizando 127 canoas. Fry morreu nos combates que se travaram. Os ingleses retiraram-se, e
Feliciano Coelho arrasou o forte.
Os atos portugueses para garantir a posse das terras amazônicas foram de extrema crueldade. Os
estrangeiros presos geralmente eram enforcados e as tribos indígenas que apoiassem os não portugueses
eram aprisionadas e escravizadas. Para impedir a reentrada de estrangeiros, foi concebida uma flotilha
permanente na região, apoiando as ações e patrulhando os rios.

C) Os Holandeses:
A inabilidade com que o Rei Filipe II tratou o problema religioso nos Países Baixos e debilidade da
coroa espanhola após a derrota da Invencível Armada para a Inglaterra, originaram uma guerra de libertação
que acabou sendo vitoriosa para os holandeses. Nascia um novo país, a República das Províncias Unidas
dos Países Baixos, a futura Holanda, e em franca rivalidade com a Espanha. Esta fechou seus portos aos
navios batavos, cônscia do poderio marítimo que desfrutava. Para a Holanda que surgia afigurava-se
indispensável à libertação dos mares, mas só a iria obter através de lutas. Desenvolvendo-se rapidamente,
graças aos capitais judeus provenientes da Península ibérica, a Holanda organizou empresas mercantis que
deram origem ao seu império. A primeira foi a Companhia das Índias Orientais (1602), seguindo-se a das
Índias Ocidentais, criada por Willen Usselinx. A sua administração compunha-se de 19 diretores, o
chamado Conselho dos Dezenove, que funcionava em Amsterdã e Midelburg. Essas duas companhias
constituíam empresas mercantis paraestatais, de amplos poderes, pouco influindo nelas os “stathouders”
(governantes) dessa República das Províncias Unidas dos Países Baixos durante esse período que interessa
ao Brasil (Moritz, de 1584 a 1625, Frederich-Henrich, de 1625 a 1647, Willen II, de 1647 a 1650, e Johan
van Witt, de 1650 a 1672). Para justificar a expansão marítima de sua pátria, Hugo von Groot escreveu
Maré liberum, em 1609, tendo provocado uma grande polêmica na Europa.
Deduz-se, portanto, que o procedimento de Filipe II atiçou os holandeses a procurarem nas próprias
fontes os produtos que distribuíam na Europa; a paralisação do mecanismo de revenda dos mesmos
representaria a morte da nação, que fundamentava a sua economia no comércio. O desejo de dominar as
terras produtoras de açúcar não consistiu a única razão das invasões holandesas em terras do Brasil;
desestabilizar o império espanhol (e português) no Atlântico consistia o objetivo primordial.
Por isso, alguns holandeses andaram investigando o nosso litoral. Os quert, comandando uma urca
holandesa, participou do assalto à Bahia impetrado pelos corsários ingleses Withringhton e Lister. Em 9 de
fevereiro de 1599, Olivier van Noortt, utilizando as boas qualidades do seu navio Eendracht, tentou
desembarcar no Rio de Janeiro, mas foi repelido. No mesmo ano, Hartman e Broer, com sete embarcações,
assolaram o recôncavo baiano conseguindo alguma presa. Em 1604, Paulus van Carden, com sete navios,
aventurou-se na Bahia, apoderando-se de muito açúcar. Dez anos depois, Joris van Spilberg, com seis
navios, ocupou a ilha Grande, efetuando depredações em São Vicente e em Santos. Pouco depois, em 1615,

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o Governador do Rio de Janeiro, Constantino Menelau, afugentou holandeses que se encontravam em Cabo
Frio, logrando fazer alguns prisioneiros, enviados para o governador geral.
Os holandeses interessaram-se, também, pela Amazônia; sabe-se que Pieter Adriaansz fundou, em
1616, uma colônia na margem do Rio Paru. Um comércio intenso e regular se estabeleceu. Os portugueses
reagiram enviando uma expedição sob o comando de Luís Aranha de Vasconcelos, que destruiu redutos
holandeses e apresou uma nau capitaneada por Adriaansz. Outro holandês, Nikolaas Ouclaen, associou-se
ao irlandês Purcell e fundou um núcleo na foz do Rio Xingu (Mandiutuba) arrasado por Pedro Teixeira,
Jerônimo de Albuquerque e Pedro da Costa Favela. Ouclaen escapou levando muitos em sua companhia.
Teixeira e seus companheiros perseguiu-os atingindo os fortes da ilha dos Tucujus, que combateram e
tomaram no dia seguinte, regressando a Belém com prisioneiros. Ouclaen morreu no campo de batalha.
Afigurava-se melhor, concluíram, ocupar a Zuickerlând, isto é, a terra do açúcar. Foi o que
aconselhou à Companhia, em 1624, Jan Andries Moerbeeck no escrito que intitulou “Motivos porque a
Companhia das Índias Ocidentais deve tirar ao rei da Espanha a terra do Brasil”.

C.1) A Invasão da Bahia (1624 a 1625):


Em 1621, os holandeses criaram a West-Indische Compagnie, a Companhia das Índias Ocidentais.
O Governador do Estado do Brasil, Diogo de Mendonça Furtado, prevenido pela metrópole da
iminente invasão, recebera ordens de preparar a defesa. Organizaram-se milícias e todos aguardavam os
holandeses, que não apareceram. Mas o Bispo D. Marcos Teixeira, cioso da Sé que estava construindo, não
admitiu a paralisação dos trabalhos; desentendeu-se com o governador prejudicando a defesa.
Quando, na manhã de 09/05/1624, chegaram os holandeses, Salvador estava desguarnecida.
Apresentaram-se com um total de 26 navios e 3.300 homens, sob o comando do Almirante Jacob Willekens,
sendo o Coronel Joan van Dorth o encarregado do desembarque e ocupação.
Os holandeses pisaram em terra entre o Forte de Santo Antônio e a cidade; a população masculina,
armada em guerra, procurou resistir. Sentindo a inutilidade de barrar o passo do inimigo, fugiram todos
para o interior e ergueram o Arraial do Rio Vermelho, permanecendo o governador e 17 auxiliares, bem
como os jesuítas, que foram aprisionados e enviados para a Holanda. Estavam vitoriosos os intrusos.
Haviam conquistado com facilidade a capital da Colônia. Apesar de uma proclamação democrática e do
apelo que fez para que todos voltassem aos seus afazeres, van Dorth governou uma cidade vazia. A
população havia se reunido em torno do bispo e decidiu cercar Salvador e empregar o método de
emboscadas, levando em conta o conhecimento melhor do terreno. Formaram 27 companhias de ataque,
com vinte a quarenta homens em cada, que apareciam nos lugares mais diversos e mantinham o inimigo
assustado. Numa dessas emboscadas (17 de junho), Francisco Padilha e seu primo, Francisco Ribeiro,
mataram van Dorth, e, noutra, o seu sucessor, Albert Schouten (3 de setembro).
Durante quase um ano permaneceram em luta; o bispo, esgotado pelas duras fainas, durante as quais
se procurara redimir de suas atitudes iniciais, faleceu a 8 de outubro, substituído, em 3 de dezembro, por
Francisco de Moura, que apertou o cerco contra Salvador.
Com morosidade, o Rei Filipe IV (e III de Portugal) organizou uma expedição militar de libertação,
conhecida como Jornada dos Vassalos, composta de 38 navios espanhóis, 20 portugueses e 4 napolitanos,
todos sob o comando de D. Fadrique de Toledo Osório, Marquês de Villanueva de Valdueza; os napolitanos
achavam-se dirigidos pelo Marquês de Coprani, sendo seu Sargento-mor Giovani Vicenzo Sanfelice, feito
depois Conde de Bagnoli com notável atuação na invasão holandesa em Pernambuco. A Jornada dos
Vassalos, assim chamada por ter entre seus nobres fidalgos espanhóis, portugueses e italianos, todos
voluntários para defender a causa da coroa ibérica. A Jornada dos Vassalos foi também a maior força naval
que havia atravessado o Atlântico até aquela data.
Entraram na Baía de Todos os Santos em 29 de março, exatamente 86 anos depois da chegada de
Torné de Sousa. Durante o mês de abril, procedeu-se o desembarque das tropas e se destruiu ou apresou o
material flutuante inimigo; alguns combates ocorreram no centro de Salvador. Cercados, os holandeses,
pela mão de seu chefe, Johann Errist Kijf, assinaram a paz e se retiraram do Brasil no primeiro dia de maio
de 1625. A armada de socorro holandesa chegou depois da retomada de Salvador.

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A Companhia das Índias Ocidentais não obtivera os lucros que sonhara. Antes, só adquirira
prejuízos advindos dos graves erros de planejamento da empresa. Pensou que atacando a capital
conquistaria toda a Colônia; menosprezou o adversário, supondo que ele não teria competência ou que não
se unisse; não conservou sua força naval, perdendo, assim, o domínio do mar. Contudo, aprendera que o
melhor ponto da costa era Pernambuco.
Nesse mesmo ano de 1625, nos dias 12 e 13 de março, Pieter Hein investiu sobre Vitória, no Espírito
Santo; mas os habitantes repeliram os intrusos. Em 1627, o mesmo Hein, com nove navios e 1.500 homens,
efetuou uma sortida contra Salvador (já sem a presença da Jornada dos Vassalos) apresando diversos navios
mercantes. Hein continuou assolando o recôncavo; em um desses combates, no Rio Pitanga (12 de junho),
com os habitantes perdeu a vida o Capitão Francisco Padilha. No ano seguinte, Hein conseguiu apreender
15 naus componentes da esquadra da Prata, comandada por D. Juan de Benavides. Foi com o lucro dessa
presa, calculado em 15 milhões de florins, que a Companhia pôde preparar outra expedição contra o Brasil.
Mas, Pieter Hein não ganhou as glórias do comando: morreu em 1629.

C.2) Invasão de Pernambuco (1630 a 1654):


Entretanto não se acreditava em uma segunda invasão, nem nas advertências de Frei Antônio
Rosado, que clamava que “de Holinda para Holanda não havia mais que uma diferença de um i para um
a” (segundo a grafia da época que escrevia os dois nomes com H). Os espanhóis, tomando conhecimento
que se tramava a ocupação de Pernambuco, determinaram que o seu Capitão-mor, Matias de Albuquerque,
regressasse ao Brasil, concedendo-lhe uma ajuda de 27 soldados e três caravelas. Albuquerque fez o que
pôde para a defesa da capitania.
Em 14 de fevereiro de 1630, surgiram os holandeses em
frente a Olinda. Era uma armada de 69 velas, entre as
quais 35 grandes naus, e 7.280 homens, entre marujos e
soldados. Todos comandados pelo Almirante Wendrich
Comeliszoon Lonck e do Coronel Diederik van
Waerdenburch. Forçaram o porto sem conseguir entrar,
por estar a barra obstruída, preferindo desembarcar
2.948 homens mais ao norte, na praia do Pau Amarelo,
guiados pelo judeu Antônio Dias, que morara em
Pernambuco. Matias de Albuquerque, com 850 homens,
ofereceu combate junto ao Rio Doce, perdendo, apesar
da bravura de seus comandados. Ainda houve resistência
em Olinda, mas Matias de Albuquerque retirou-se para
Recife onde ainda esboçou um contra-ataque.
Gravura neerlandesa mostrando o cerco a Olinda em 1630

Percebendo que a permanência em Recife se mostrava arriscada, destruiu os armazéns, navios com
preciosas cargas e se retirou para as margens do Rio Capiberibe, a igual distância entre os dois núcleos,
fundando o Arraial do Bom Jesus (04/03/1630), formado com todos aqueles que fugiam dos holandeses.
Com a capitulação do Forte de São Jorge, comandado por Antônio Lima, os holandeses ocuparam Recife
(03/03/1630).
Enquanto o arraial se tornava uma fortificação capaz de resistir aos inimigos, os nossos
organizaram-se no sistema de guerrilhas que bons resultados dera na primeira invasão. Os mais diversos
elementos se confraternizaram para combater os intrusos, destacando-se os índios do bravo Poti (depois
batizado de Antônio Filipe Camarão) e diversos negros sob o comando de Henrique Dias.
As guerrilhas predispunham os invasores a um permanente estado de sobreaviso, causando, assim,
intenso nervosismo nos holandeses, que se viram em situação constrangedora. Por isso, construíram as
fortificações do Brum, de Cinco Pontas e Três Pontas.
Logo receberam reforços: 16 navios e cerca de mil homens sob o comando de Adriaen Iansen Pater.
Por isso, animaram-se a ocupar a ilha de Itamaracá, onde ergueram o Forte Orange. Entretanto, o governo
espanhol aprestou uma esquadra que visava a compelir os invasores a uma capitulação. Comandava-a D.

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Antonio de Oquendo. Este atingiu Salvador em 13 de junho (1631); em setembro, fez-se ao mar para
conduzir reforços para Matias de Albuquerque. Os holandeses estavam, porém, vigilantes; Oquendo tentou
safar-se se dirigindo para o sul; Pater seguiu-o.
Encontraram-se as duas esquadras em setembro de 1631, em Abrolhos, travando o primeiro combate
naval de larga envergadura da história brasileira (Combate Naval de Abrolhos) e de toda a América até
aquele momento. Outra grande batalha só terá lugar em 1640. Oquendo dispunha de vinte navios de guerra,
com 439 peças, comboiando navios que transportavam açúcar e 12 caravelas com tropas de apoio, sob o
comando do Conde de Bagnoli. Pater tinha 16 navios com 472 peças. Às nove horas de manhã, começou a
batalha que durou até o anoitecer. Oquendo repeliu o ataque adversário provocando a sua fuga, tendo sido,
portanto, o vencedor, apesar de ter tido tantas perdas quanto Pater, que morreu nesse dia, afundando com
sua capitânia Prinz Wíllen. Complementando a sua missão, Oquendo conseguiu desembarcar o
destacamento militar comandado pelo Conde de Bagnoli; pouco depois, esta força juntou-se aos que
seguiam Albuquerque.
A posição dos holandeses estabilizara-se. Dispunham, nesse momento, de sete mil homens. Seu
comandante, Coronel Waerdenburch, firmou-se na Ilha de Itamaracá; a direção do Forte Orange foi
entregue ao Coronel Crestofle d'Artischau Arciszewsky, mercenário polonês.
Por ordem de Albuquerque, Bagnoli e trezentos napolitanos dirigiram-se para o Cabo de Santo
Agostinho, onde erigiram o Forte de Nazaré.
Em 25 de novembro, Waerdenburch incendiou Olinda e se concentrou no Recife. Tentou conquistar
o Forte Cabedelo, na foz do Rio Paraíba, sem sucesso; a pequena expedição do Capitão Smient atingiu o
Forte Ceará e não foi mais feliz; e a investida sobre o Forte dos Reis Magos redundou em fracasso.
Mas, a traição de Calabar (20 de abril de 1632) mudou a sorte dos acontecimentos. Domingos
Fernandes Calabar era um natural da terra, nascido em Porto Calvo; seu interesse residia na ambição de
enriquecer. Desentendendo-se com Albuquerque, talvez por causa do contrabando de alimentos, foi expulso
do arraial. Os holandeses, agora dirigidos por um homem de valor, o General Sigmund von Schkoop, e
tendo o apoio de um conhecedor da terra, conseguiram desarticular as guerrilhas e alcançar inúmeras
vitórias: partindo do Forte de Orange, na Ilha de Itamaracá, dominaram toda a ilha, expulsando o Capitão
Salvador Pinheiro e sua gente; assaltaram Igaraçu; cercaram o forte do Rio Formoso, onde o Capitão Pedro
de Albuquerque e vinte homens resistiram a quatro ataques mas morreram 19; o capitão, ferido, foi
conduzido ao Recife e se restabeleceu, seguindo para as Antilhas e daí para a Europa. Waerdenburch
retirou-se para a Europa, sendo substituído (24/03/1633) pelo Major Rembach. Ainda com a participação
de Calabar, uma expedição, sob o comando de Lichtardt, ocupou Natal e cercou o Forte dos Reis Magos,
no Rio Grande do Norte, capitulando a sua guarnição (12/12/1633). Em 16 de dezembro (1634), os
holandeses conquistaram o Forte de Cabedelo na Paraíba; em seguida, assaltaram o Forte de Santo Antônio,
situado na margem esquerda do Rio Paraíba, e investiram sobre Filipéia, que passou a se chamar Frederícia.
Continuando sob a orientação de Calabar, os holandeses ocuparam Porto Calvo e obtiveram a rendição do
Forte de Nazaré (02/07/1635). Em seguida, cercaram o Arraial do Bom Jesus, que se rendeu em 8 de julho,
apesar dos esforços de seu comandante, Coronel André Marin.
Cerca de sete mil pessoas encetaram penosa marcha para o sul, em direção a Alagoas. Reagiu
Sebastião do Souto cercando Porto Calvo e obrigando a render-se o Major Picard, com seus 402 homens,
entre os quais se encontrava Calabar. Albuquerque, sabedor deste episódio vitorioso, acorreu em Porto
Calvo e ordenou o enforcamento de Calabar, que, assim, ocorria, por ironia da História, na terra que nascera
(22 de julho de 1635).
Esses fatos sacudiram a Corte do rei espanhol que mandou um reforço de 1.700 soldados, sob o
comando do General D. Luis de Roias y Boria, Duque de Gandía, substituto de Albuquerque, recolhido
preso ao Reino. Resolveu o afoito duque oferecer combate aberto. Em Mata Redonda, próximo a Porto
Calvo, alinhou seus combatentes, 1.100, contra 1.300 do Coronel Arciszewsky, perdendo espetacularmente,
sendo morto logo aos primeiros tiros (18/01/1636). Seu exército contou duzentas baixas e recuou para Porto
Calvo; os holandeses tiveram quarenta mortos e 85 feridos, mas não souberam aproveitar a vitória. O duque
foi substituído por Bagnoli, que prudentemente volveu ao sistema de guerrilhas.

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C.2.1) Governo de Nassau (1637 a 1644):
Firmava-se, assim, o Domínio Holandês. As exportações de açúcar aumentavam gradativamente,
bem como o pau-brasil e outros produtos; a população voltava aos seus afazeres normais. Por isso, a
Companhia procurou um homem que reunisse o gênio militar à capacidade administrativa para consolidar
seus domínios. A escolha recaiu no Conde Johan Mouritz von Nassau-Siegen, natural de Dilenburg
(17/06/1604), dotado de aguda inteligência e educação humanista esmerada; falava alemão, holandês,
francês e latim com fluência. Contava, então, com 33 anos de idade. O príncipe alemão chegou ao Recife a
23 de janeiro (1637), com o título de governador geral, capitão-general e almirante, enfeixando, assim,
todos os poderes militares e civis. Trouxe soldados, colonos, artesãos, cientistas e artistas.
Desenvolveu-se logo uma atividade militar. Expulsou Bagnoli de Alagoas, após a vitória de
Comandatuba (18/02/1637), ribeiro que deságua no Rio das Pedras, ao sul de Porto Calvo, Alagoas. Nassau
atacou, com 4.400 homens, o destacamento de 1.180 do Tenente-Coronel Alonso Ximenes de Almirón, que
sofreu grandes perdas (Henrique Dias teve a metade de seu braço esquerdo amputada). Bagnoli retirou-se
para o sul com sua gente, deixando ainda alguns no forte de Porto Calvo que capitulou em 6 de março.
Em Penedo, à margem do São Francisco, Nassau levantou um forte; devastou Sergipe e absorveu
parte do Ceará até Fortaleza, No ano seguinte, 16 de abril, uma esquadra holandesa, comando de Joan van
der Mast, contando com a presença do Conde de Nassau, entrou na Baía de Todos os Santos desejando
ocupar Salvador. Desembarcaram em praia deserta e avançaram sobre a cidade defendida pelo Conde de
Bagnoli e sua gente. O Governador geral, Pedro da Silva, depois cognominado “o Duro”, a tudo proveu,
Verificaram-se vários combates isolados, salientando-se ataque, noturno, de Nassau em 18 de maio, ganho
pelos nossos graças à investida que Luis Barbalho fez na retaguarda do inimigo. No dia 25, Nassau desistiu
de ocupar Salvador: regressou com sua gente aos navios velejando para Pernambuco. O Rei Filipe IV
recompensou o governador dando-lhe o título de Conde de São Lourenço e ao Conde de Bagnoli, a
dignidade de príncipe e o feudo do Monteverde. Nassau dirigiu, então, o seu interesse para a costa da África:
conquistou São Jorge da Mina, de onde obteve muitos escravos. Recife foi feita sua capital, com o nome
de Cidade Maurícia (Mouritzstadt). Nela levantou o seu palácio, o Vriburg (Retiro), cujo chão é ocupado
hoje pela sede do governo de Pernambuco (Palácio das Princesas).
Nassau caracterizou o seu governo pela inteligência, sobriedade e bom senso. Procurou logo
embelezar a sua capital a fim de dotá-la de todo o conforto, melhorando o padrão de vida da população.
Diversas ruas e praças receberam calçamento de tijolos esmaltados à moda holandesa; pontes foram
construidas e os alagados foram drenados por meio de canais, muitos dos quais projetados pelo engenheiro
Frederik Pistor. Fundou o primeiro observatório astronômico da América, dirigido por Georg MarcGrave.
Nele, também, atuou o cosmógrafo Michiel de Reyter. MarcGrave associou-se a Willen Piso, que era
médico do conde e ambos escreveram a História Naturalis Brasiliée (Leyclen, 1648). Algumas expedições
procuraram devassar o interior e descobrir riquezas, destacando-se aquela que Gidean Morris de Jorge
dirigiu.
As artes floresceram, com os pintores Franz Post (irmão de Pieter), o alemão Zacharías Wagener, o
desenhista Albert Ekhout.
Estabeleceu a liberdade de fé, cada qual podia ter a religião que quisesse. Com essa política, Nassau
conseguiu atrair muitos brasileiros e portugueses, chegando a conceder-lhes assentos nos conselhos de
Escabinos (Schepenen), que substituíram as câmaras de vereadores, cujo presidente, o escolteto, defendia
os interesses da Companhia e possuía o poder de polícia. Os judeus abriram sinagogas, sendo duas na capital
do Brasil Holandês: Zur Israel e Maguen Abrahan.
A lavoura da cana renasceu, permitindo lucros fabulosos, graças ao funcionamento de engenhos,
cujos antigos senhores receberam atenções e mercês. Um desses, João Fernandes Vieira, nascido na Ilha da
Madeira, obteve importante posição. Nassau preocupou-se com a plantação da mandioca, alimento popular,
e impediu a derrubada de cajueiros, cujos frutos serviam para alimentação dos pobres.
A importância que Recife atingiu no século XVII como sede do Brasil Holandês explica,
igualmente, a presença de estrangeiros, devendo-se registrar o comerciante francês Louis Heins, católico,
mas existiram alguns calvinistas, como Joachim Soler (franceses aderiram aos luso-brasileiros contra os
holandeses, sendo interessante lembrar a figura de François Dumont, que se especializou em artifícios

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militares de fogo). Diversos ingleses viveram no Recife como mercenários da Companhia das Índias. Os
irlandeses dedicaram-se ao comércio ambulante. Numerosos, também, foram os alemães, alguns
mercenários, como o Coronel Von Schkoppe. Muitos israelitas se estabeleceram no Recife, aproveitando-
se do clima de liberdade; é o caso do médico Abraão Mercalo e do rabino Isaac da Fonseca.
Não haviam desanimado os nossos. Da metrópole, vinha o Conde da Torre, D. Fernando de
Mascarenhas, novo governador, com 26 galeões e outros navios menores transportando reforços. Era 20 de
janeiro de 1639. André Vidal de Negreiros e Antônio Dias Cardoso dirigiram-se para a Paraíba, para
organizarem guerrilhas contra os holandeses. Nessa oportunidade, diversos paulistas, incluindo Antônio
Raposo Tavares, atingiram Salvador a fim de integrar a força do Conde da Torre.
O conde preparou-se por quase um ano, fazendo-se ao mar em novembro, com 48 navios de guerra
e vários transportes, levando uma tropa de reforço de diversas capitanias brasileiras, todas sob o comando
do Príncipe de Bagnoli. Nassau mandou-lhe ao encontro uma esquadra de 41 navios, dirigida pelo
Almirante Willem Cornellizoon Loos, A 12 de janeiro, encontraram-se ao norte de Itamaracá, na altura da
Ponta de Pedras, morrendo Loos nesse mesmo dia; o segundo combate travou-se no dia seguinte em frente
ao Cabo Branco; o terceiro, no dia 14, ocorreu na altura da Paraíba, havendo perda de ambos os lados; o
último encontro verificou-se no dia 17, perto da baía Formosa, tendo o Conde da Torre repelido os
holandeses que perderam três navios. O conde determinou o desembarque de 1.400 soldados em Touros
(Rio Grande do Norte). Estes, conduzidos por Luis Barbalho, atravessaram território inimigo, travando
vários combates, atingindo, enfim, Salvador após quatro meses de marcha.
A Batalha Naval de 1640, a segunda grande batalha em águas brasileiras, foi uma derrota para os
hispano-luso-brasileiros. Após cinco dias de combates intermitentes, as tropas não haviam sido
desembarcadas, a força naval estava cada vez mais ao norte de onde deveriam estar e com resultados
insatisfatórios, a força holandesa muito pouco sofrera e, por conseguinte, os holandeses continuavam a
manter o domínio dos mares, e se aproveitando desse domínio expandiram sua conquista ao longo da costa
nordestina.
Substituído o Conde da Torre, mandado preso para Lisboa onde findou nos cárceres de S. Julião,
chegava D. Jorge de Mascarenhas, Marquês de Montalvão, o primeiro a possuir o título de vice-rei do
Brasil, empossado a 26/05/1640, sem que o Brasil fosse elevado à categoria de vice-reinado. Em
01/12/1640, ocorreria a restauração da coroa em Portugal, com o Duque de Bragança sendo empossado rei
com o título de D. João IV.

C.2.2) A Luta de Reconquista (A Insurreição Pernambucana):


Devido aos elevados custos das guerras europeias, principalmente com a Inglaterra, a Companhia
das Índias Ocidentais adotara nova política financeira e administrativa para a região nordestina. A nova
estratégia impunha crescentes restrições aos gastos e cobranças dos empréstimos feitos aos senhores de
engenho, o que contrariava o caminho escolhido por Nassau. Em junho de 1641, Holanda assinou uma
trégua de dez anos com Portugal, mas antes de assinar este armistício, trataram de alargar suas conquistas,
ocupando no Brasil as regiões de Sergipe e Maranhão e, na África, São Tomé e Angola. Nassau não
concordava com essa política e seu descontentamento levou-o a ser destituído do cargo e a regressar ao seu
país em 1644.
Os últimos anos da administração de Nassau foram de crescentes dificuldades na economia
açucareira nordestina, com o declínio de preços no mercado europeu, a perda de safras por incêndios, pragas
e inundações, a elevação dos juros dos empréstimos e a consequente falência de muitos senhores, de
engenho.
Com a saída de Nassau, foi retomado o confronto com a Companhia das Índias Ocidentais. Antes
mesmo que ele deixasse o Brasil, a luta havia-se reacendido no Maranhão, culminando com a expulsão dos
holandeses de São Luís. A insurreição alastrou-se por todo o Nordeste, atingindo, em 1645, Pernambuco,
onde a situação se tornava cada vez mais tensa, dada a intensificação da cobrança das dívidas contraídas na
época de Nassau. Logo depois, eclodiu o movimento que determinou a expulsão definitiva dos holandeses
da região, a Insurreição Pernambucana.

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A inteligente administração de Nassau afastou a possibilidade de uma grande reação contra os
holandeses. Sua saída provocou o desejo de expulsar os intrusos. Um conselho de três negociantes fanáticos
(Hamel, de Amsterdã, Bas, de Harlen, e Bullestrate, de Midelburg) substituía Nassau, direcionando-se por
restringir a liberdade religiosa. A repulsa ao luteranismo embasou um forte sentimento popular contra os
holandeses.
Cumpre consignar, porém, que os eventos que culminaram com a saída dos holandeses principiaram
no Maranhão, a 30/09/1642, ainda na administração nassoviana. Antônio Muniz Barreiros tomou, aos
invasores, o Forte do Calvário, no Itapecuru, e derrotou-os em Cotim; Antônio Teixeira de Melo, que passou
a exercer o comando, venceu a batalha do Outeiro da Cruz, em 22/02/1644, obrigando os batavos a se
retirarem no dia 28, atravessando o Ceará. André Vidal de Negreiros coordenou a insurreição: ele conseguiu
atrair o rico português João Fernandes Vieira. Vários senhores de engenho aderiram à causa que não podia
ser oficial, tendo em vista o Tratado de Paz.
Os colonos não contaram inicialmente com a ajuda direta de Portugal (sem finanças pelo desastroso
período de União Ibérica, preso à Trégua dos Dez Anos com a Holanda e em guerra de libertação com a
Espanha) e defendiam interesses próprios discordantes da política oficial lusa. Após as primeiras vitórias
dos colonos, o movimento foi ganhando apoio metropolitano, com o envio de reforços. O fortalecimento
da luta, que tinha entre seus líderes o negro Henrique Dias e o indígena Felipe Camarão, ganhou mais força
com o apoio dos grandes senhores de engenho às forças populares.
De tudo sabia o Governador Geral Antônio Teles da Silva, que recebera instruções secretas do rei
no sentido de desencadear uma guerra subversiva nos domínios holandeses.
O Sargento-mor Antônio Dias Cardoso recebeu incumbência de penetrar na região da Paraíba e
Pernambuco para treinar homens. Seu nome, hoje, emerge como figura exponencial na atividade militar,
que precede à ação propriamente dita.
Assim, a "guerra brasílica", que teve tão bons resultados iniciais, cedeu lugar à presença de
profissionais com bom nível de treinamento. E como não era possível alcançar uma vitória somente com a
tropa de linha, procedeu-se a um amplo recrutamento nos interiores próximos e distantes. Um relatório
holandês resume como se afiguravam as forças luso-brasileiras: "É um exército composto tanto de soldados
como de moradores, mamelucos, índios e negros".
Sob o pretexto de vencer índios em revolta, ardilosamente provocada por Filipe Camarão com seus
seguidores, atingiu Pernambuco uma força sob o comando de Henrique Dias, e, para "prenderem" João
Fernandes Vieira, uma tropa de infantaria foi mandada para Pernambuco, comando de André Vidal de
Negreiros e Martim Soares Moreno. O plano contava, ainda, com a adesão de Dirk Hoogstraten, que
comandava o Forte de Nazaré, e Gaspar van der Ley, casado com uma brasileira. Marcou-se o início da
conjura para 24 de junho de 1645. Os insurgentes se denominaram de independentes.
Souberam de tudo os batavos por causa das denúncias de Sebastião Carvalho e Fernando Vale,
obrigando os nossos a se apressarem e a deflagrarem o movimento a 13 de junho. Encontraram-se, perto
do monte das Tabocas (03/08/1645), os 1.600 homens conduzidos por Antônio Dias Cardoso contra os
1500 homens comandados pelo Coronel Hendríck van Haus, resultando em uma vitória dos independentes.
Vieira recebeu o comando geral e marchou sobre Recife, compelindo os batavos a uma capitulação no
Engenho de Nassau (Casa-forte) em 17 de agosto.
Os êxitos dos independentes conduziram à organização, na Bahia, em 1644, de uma força naval para
auxiliá-los. Inicialmente esta Força foi encaminhada para Pernambuco, fundeando em frente à Recife.
Tentando camuflar suas intenções eles declararam que estavam ali para apoiar os holandeses na pacificação
da praça, no entanto, receberam como resposta às suas cartas o pedido de se retirarem Dalí, e não sendo
favorável a ação por estarem em número reduzido, em posição inferior e devido a tempestades que
ocorreram durante sua estadia, acabaram se retirando sem ter havido qualquer combate. Este episódio ficou
conhecido como “A Jornada do Galeão”. Esta força improvisada, comandada pelo Coronel Jerônimo
Serrão de Paiva, acabou por se separar das forças de Salvador Correa de Sá devido às tempestades e abrigou-
se na Baía de Tamandaré, litoral de Pernambuco. No dia 09/09/1645, o Almirante Lichthardt resolveu atacá-
la. Os navios portugueses (sete naus, três caravelas e quatro menores) estavam fundeados. Os holandeses

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investiram com oito navios. Os marujos e soldados portugueses atiraram-se na água e fugiram: uma derrota
completa de Serrão de Paiva.
Apesar deste revés, Fernandes Vieira e seus seguidores prosseguiram em direção a Recife e
fundaram o Arraial Novo do Bom Jesus, na Várzea. Sua construção começou a partir de 15/10/1647. A luta
foi intensa naquele ano, Sigmund von Schkoop assolou a ilha de Itaparica e obteve algumas vantagens. A
possível ameaça a Salvador motivou o rei português a preparar uma força naval. Denomina-a "Armada de
Socorro do Brasil", dando o comando a Antônio Teles de Menezes, feito Conde de Vila Pouca de Aguiar.
Em 24 de dezembro de 1647, os vinte navios dessa armada chegavam a Salvador.
Von Schkoop não aguardou a presença deste reforço; abandonou Itaparica em 15 de dezembro. E
qual seria o efetivo holandês nesta oportunidade? Os holandeses deviam contar com uma força de,
aproximadamente, cinco mil homens, além de uns mil indígenas. Excetuando estes, os homens estavam
treinados segundo o sistema europeu, próprio da Guerra dos 30 Anos. Mas o moral da tropa já começava a
enfraquecer.
Desejando evitar o prolongamento das hostilidades, o Rei D. João IV efetuou gestões diplomáticas
neste ano de 1647. Enviou à Holanda o Padre Antônio Vieira com a oferta de três milhões de cruzados em
troca da devolução das terras, o que não foi aceito. Pensou o jesuíta em oferecer a Holanda, a título precário,
a capitania de Pernambuco, pela desistência das outras terras; expôs suas idéias em documento que o rei
português apelidou de "Papel Forte" (14/03/1647). Mas a sugestão do Padre Vieira foi recusada pelo
Conselho da Coroa,
O mesmo jesuíta, então, elaborou o plano de uma companhia de comércio, no estilo holandês, que
deveria colaborar para a expulsão dos holandeses em troca de vantagens comerciais futuras. A Companhia
Geral de Comércio do Brasil somente se constituiu com capitais dos cristãos-novos que obtiveram do rei a
suspensão do confisco de seus bens (06/02/1649).
Não havendo como escapar da luta armada, o rei deliberou enviar um experimentado militar para
comandar os independentes. Escolheu Francisco Barreto de Menezes (que tinha 30 anos de idade), que
recebeu o posto de Mestre-de-Campo-General. Após acidentada viagem, Barreto conseguiu chegar ao
Arraial Novo, onde tomou posse de seu cargo em 16 de abril de 1648. Barreto soube valer-se de André
Vidal e Dias Cardoso, prováveis planejadores dos movimentos que precederam os combates nos arredores
de Recife, Percebendo a intenção do comando holandês de impor à população civil, que apoiava o
movimento insurrecional, pesadas perdas, Barreto se antecipou e se postou em local favorável a uma
batalha, isto é, nos Montes Guararapes (cuja significação é: nos tambores).
Em 19 de abril de 1648, Barreto obteve uma vitória expressiva nesse local. Contava com 2.220
homens provenientes da Paraíba, de Igaraçú, de Goiana e da Bahia. Os holandeses deviam contar com 4.500
homens e, talvez, 500 indígenas. A batalha travou-se mais precisamente no Boqueirão, abaixo do Morro do
Telégrafo. A batalha durou cinco horas: holandeses tiveram 515 mortos e 523 feridos; os independentes
sofreram 80 baixas (contando-se entre estas o índio Poti, que veio a falecer em 24 de agosto). No dia
seguinte, Barreto apoderou-se de Olinda e estreitou o cerco sobre Recife.
No Rio de Janeiro, o seu governador,
Salvador Correa de Sá e Benevides,
aprestou expedição com a finalidade de
reconquistar Angola. Com novecentos
homens e guarnições distribuídos em 21
navios, Benevides partiu para a África
em 12 de maio de 1648, logrando êxito
em sua missão. Devido a base desta ação
ter sido o Rio de Janeiro e ainda contar
com a participação de brasileiros,
inclusive índios, a libertação de Angola
em favor da coroa lusa em 1648 é
considerada a primeira projeção
Batalha de Guararapes (1879), Victor Meirelles. brasileira de poder para o exterior.
Museu Nacional de Belas Artes, Brasil

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A evidência da necessidade da manutenção das rotas de navegação entre Portugal, a África e o
Brasil, levou a criação da Companhia Geral do Comércio do Brasil, ainda em 1648.
A impossibilidade de continuar sustentando o domínio do mar conduziu a situação difícil para os
invasores. Por isso, o Coronel Van den Brinck deliberou desferir outra batalha. Com 4.200 homens e seis
canhões, ocupou os Montes Guararapes. Os nossos, dispondo de 2.600 infantes e 150 cavalarianos, tentaram
desalojá-los, sem conseguir; às 13 horas do dia 19 de fevereiro (1649), os holandeses desceram das posições
que se encontravam, travando-se a luta na planície, decidindo-se favoravelmente para os independentes.
Brinck faleceu na refrega, juntando-se às mil baixas inimigas.
A guerra ainda prosseguiu por mais cinco anos; os holandeses não se expunham além de Recife, e
os independentes não dispunham de artilharia de sítio nem de engenheiros para acometer as fortificações
da cidade.
Ao mesmo tempo em que os holandeses sofriam derrotas na colônia, como na batalha do monte das
Tabocas e nas duas batalhas de Guararapes, enfraqueciam-se também no cenário europeu diante da
Inglaterra, que se transformara na sua principal concorrente no comércio internacional.
Vários holandeses compreenderam que a luta estava próxima do fim e, amotinados, buscaram
refúgio nas Antilhas. E as guerras navais que se abriram entre a Holanda e a Inglaterra, em decorrência do
Ato de Navegação, de Cromwell, concorreram para apressar o desfecho. Os Atos de Navegação, decretados
pelo governo inglês de Oliver Cromwell a partir de 1650, protegiam os mercadores ingleses e suprimiam a
forte participação holandesa no comércio inglês. As tensões crescentes deram início à guerra entre Países
Baixos e Inglaterra (1652-1654), o que favoreceu a maior aproximação entre ingleses e portugueses. Diante
da derrota militar para os britânicos, os holandeses, enfraquecidos e desgastados, também perderam para
as forças luso-pernambucanas, que, em 1654, puseram fim à sua dominação sobre o Brasil.
Schkoop e seus homens se viram reduzidos ao Recife, perdendo as suas praças fortes, cercados por
mar pelos 64 navios mercantes e 13 de guerra, comando do Almirante Francisco de Brito Freire, armados
pela Companhia Geral de Comércio do Brasil. Assim, capitulou o Forte do Rego (14/01/1654). Na margem
esquerda do rio Capibaribe, rendeu-se o reduto Altenar (Major Berghen e 180 homens); no dia 23, pediu
armistício o Forte Cinco Pontas, comandado por Waulter van Loo. Três dias depois, este, Cilbert de With
e Huybrecht Brest assinaram com Francisco Álvares Moreira, o Capitão Manoel Gonçalves Correa e o
Capitão Afonso de Albuquerque uma capitulação, com 27 artigos, no local chamado Campina do Taborda
(nome de um pescador residente no local). Barreto recebeu as chaves de Recife no dia 28. Os holandeses
retiraram-se, em seguida, das terras brasileiras; alguns, porém, permaneceram misturando-se à população
local.
A Companhia das Índias Ocidentais não se deu por vencida: em 1657 declarou guerra a Portugal e
formalizou o bloqueio naval à entrada do Rio Tejo. Diante da resistência portuguesa, as hostilidades se
abriram, passando em seguida às negociações diplomáticas graças à interferência do Rei da Inglaterra,
Carlos II. Tantas exigências impôs o governo holandês que, somente a 06/08/1661, o Rei Afonso VI
conseguiu a assinatura do Tratado de Haia, pelo qual a Companhia das Índias Ocidentais desistiu do Brasil,
indenizada com quatro milhões de cruzados e a posse do Ceilão, Málaca e Molucas.

5) Os Anos do 1700:

A) A Descoberta do Ouro:
A pobreza da inicialmente próspera capitania de São Vicente, frente ao sucesso do empreendimento
açucareiro no Nordeste, levou à organização de bandeiras, expedições cujo objetivo era procurar riquezas
no interior da colônia e apresamento de nativos, além de ataques contratados a quilombos, como ocorreram
posteriormente.
Diante da ocupação de Pernambuco e da região africana de Angola pelos holandeses, as demais
capitanias não tinham acesso a carregamentos de escravos. Assim, embora as primeiras bandeiras de
apresamento de índios visassem obter mão-de-obra para a pequena lavoura paulista ou a venda para regiões

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próximas, progressivamente passaram também a sanar as dificuldades dos senhores de engenho do
Nordeste, onde se localizava a maior produção agrícola baseada em mão-de-obra escrava.
Muitas bandeiras atacaram as missões jesuíticas do Oeste e Sul da colônia, capturando milhares de
nativos e cobrando um valor mais alto pelos aculturados por estarem adaptados ao trabalho agrícola.
A atividade apresadora de índios entrou em decadência, com o fim do domínio espanhol e a
retomada do comércio de africanos pelos portugueses, normalizando o abastecimento de escravos para a
colônia. Os paulistas organizados em bandeiras dedicaram-se, então, a atacar aldeamentos de nativos
insubmissos e de negros fugidos que viviam em quilombos. Essas expedições, a serviço dos fazendeiros ou
da administração colonial, eram chamadas de bandeiras de contrato, destacando-se a de Domingos Jorge
Velho, que venceu a resistência dos cariris e janduís e destruiu o quilombo de Palmares, em fins do século
XVII.
As mais importantes bandeiras foram, contudo, as destinadas à procura de metais preciosos,
incentivadas pela metrópole devido ao declínio da economia açucareira nordestina na segunda metade do
século XVII devido ao sucesso do empreendimento exercido pelos holandeses nas Antilhas após a expulsão
do Brasil. O financiamento das expedições paulistas trouxe a descoberta de ouro na região de Minas Gerais
– como em Vila Rica, atual Ouro Preto, e Sabará –, depois Mato Grosso e Goiás, dando início à atividade
econômica mineradora na colônia.

Portugueses, estrangeiros e
colonos de outras áreas, apelidados
pelos paulistas de emboabas
(forasteiros), foram atraídos para a
região das minas, entrando em conflito
armado com os descobridores das
jazidas e terminando por expulsá-los da
região. Os bandeirantes paulistas
dirigiram-se, então, para a região central
da colônia; em 1719, Pascoal Moreira
Cabral descobriu ouro em Cuiabá e, em
1722, Bartolomeu Bueno Filho achou
riquezas em Goiás.
Apesar de terem dizimado e
submetido à escravidão muitos grupos
indígenas, é inegável a contribuição das
bandeiras para a ocupação e
povoamento do interior do Brasil,
fundando povoados, criando vilas,
dando início à exploração mineradora e, A área de mineração no início do século XVIII
sobretudo, ampliando as fronteiras da
colônia além dos limites estabelecidos
pelo tratado de Tordesilhas.

B) Os Vice-Reis na Bahia:
A descoberta do ouro e dos diamantes e o consequente progresso da Colônia despertaram a
administração portuguesa, que passou a olhar com maior interesse para o Brasil, Coincidiu com o
desabrochar do iluminismo cartesiano entre os pensadores europeus, que influenciaram os governantes a
assumir atitudes mais justas para com os povos. Reinou D. João V de 1706 a 1750.
A partir de 1714 os governadores gerais, que tinham por capital Salvador, ostentam o título de vice-
rei, sem, contudo, existir qualquer ato de elevação do Brasil a vice-reino; foram enviados ilustres homens
e administradores capazes, que empreenderam obras de vulto.

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O Marquês de Angeja (D. Pedro Antônio de Noronha) realizou ótimo governo (1714 a 1718); serviu-
se do Brigadeiro Jean Massé, calvinista francês, que ergueu fortificações no estilo Vauban e reformou e
ampliou os fortes de S. Marcelo e do Barbalho, ambos em Salvador. Reabriu a Casa da Moeda, aumentou
a Sé, enquanto a população ia construindo suas casas sem regularidade alguma. La Barbinnais, francês,
visitou Salvador nessa época deixando interessante descrição da cidade e de seu povo devoto e indolente.
O Conde de Vimieiro (D. Sancho de Faro) sucedeu-lhe (1718) e, já doente, morreu a 13 de outubro
de 1719, ficando uma Junta a exercer a administração. Conseguiu celebridade em razão do castigo aplicado
aos piratas ingleses, cujo navio encalhara na costa fluminense, em Macaé, enforcando 27.
Trazia a experiência, por ter sido vice-rei da Índia, o Conde de Sabugosa (Vasco Fernandes Cesar
de Menezes), que assumiu em 1720, estendendo, por 15 anos, o seu governo. Completou as obras de
fortificações e visitou diversas capitanias; severo e disciplinador, condenou sete soldados à morte,
consequência de um motim em Salvador (10/05/1728); esclarecido, criou a Academia Brasílica dos
Esquecidos, a 7 de março de 1724, em dependências de seu palácio, tendo se reunido 18 vezes. Iniciou a
cobrança do donativo para perfazer o dote da Infanta D. Maria Bárbara (1727), num total de sete milhões
de cruzados (a serem pagos em 25 anos).
Substituiu-o Conde das Galveias (André de Meio e Castro), assumindo a 11 de maio de 1735;
favoreceu a capital, concorrendo para a construção de três conventos de freiras: Lapa, Mercês e Soledade,
este, iniciativa do jesuíta Gabriel Malagrida.
Sucedeu-lhe o Conde de Antouguia (D. Luís Pedro Peregrino de Carvalho de Menezes e Ataíde) em
1749, permanecendo como vice-rei até 1755.
Governou, em seguida (primeira intervenção do Marquês de Pombal), o 6º Conde dos Arcos (D.
Marcos de Noronha), de 1755 a 1760. O conde reedificou o fortim do Rio Vermelho, bem como cobrou
impostos que facilitaram Pombal na reconstrução de Lisboa, vitimada pelo terremoto de 1755. O 1º
Marquês do Lavradio (D. Antônio de Almeida Soares e Portugal), último dos vice-reis que teve Salvador
como capital, exerceu sua atividade por apenas seis meses, porque logo faleceu, ficando uma junta em seu
lugar até 1763, quando houve a transferência da capital para o Rio de Janeiro.

C) Progressos do Rio de Janeiro:


A tomada da cidade por Duguay-Trouin repercutiu fundo no espírito de seus habitantes: sacudiu-os
da letargia do século anterior, fez-lhes nascer ideias patrióticas. A metrópole, por sua vez, preocupou-se
com a defesa da praça, escoadouro natural da riqueza do planalto. Enviou o Brigadeiro João Massé com a
incumbência de relatar as falhas militares e propor os meios de saná-las. O brigadeiro imaginou cercar o
centro urbano de forte muro, o qual o protegeria dos lados de terra, mas deixaria indefesa a marinha.
Contudo, a sua construção começou a ser feita.
Em 1719, começa a governança de Ayres de Saldanha e Albuquerque, em cuja administração foi
erguido o Aqueduto da Carioca, uma dupla fila de arcos ligando o morro do Desterro (depois Santa Teresa)
ao de S. Antônio (já demolido), para que pudesse ser conduzido o precioso líquido até o chafariz, na ocasião
construído, que se chamou da Carioca, dando nome também ao largo e à Rua do Piolho, que dele saía em
direção ao Campo dos Ciganos (hoje Praça Tiradentes).
Substituiu-o (1725 a 1732) Luís Vahia Monteiro, o Onça, assim apodado pela sua valentia pessoal
e ousadia no combate à marginalidade que proliferava na cidade. Opôs-se com tenacidade ao descaminho
do ouro; ergueu uma fortaleza na ilha das Cobras, retomada aos padres bentos; abandonou a construção do
muro de defesa por entender que ele nada defendia. Suas atitudes contrariaram a muitos notáveis que
começaram a lhe mover oposição. Desgostou-se e adoeceu, momento em que a Câmara se aproveitou para
afastá-lo do cargo.
Inicia-se, então, o longo governo de Gomes Freire de Andrade, depois, em 1758, feito Conde da
Bobadela. Servindo-se do engenheiro e artista, Brigadeiro José Fernandes Pinto Alpoim, levantou a Casa
do Trem (trem = conjunto de apetrechos militares), hoje servindo de sede do Museu Histórico Nacional,
ergueu a casa do governador, no Largo do Carmo (hoje Praça XV de Novembro), construiu o Convento de
S. Teresa (onde se encontra enterrado), acreditando nos ideais religiosos de Madre Jacinta de São José.
Perto da Lagoa do Boqueirão, mandou levantar o Convento da Ajuda (demolido em 1913). Na Ilha de

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Villegagnon, arrasou pequena elevação para edificar uma imponente fortificação, da qual ainda se guardam
restos encastoados na Escola Naval. Seu devotamento à cultura lhe permitiu apadrinhar a criação das
Academias dos Felizes e dos Seletos, bem como a instalação da tipografia de Antônio Isidoro da Fonseca.
Incumbido pelo Marquês de Pombal de chefiar a comissão demarcadora meridional do Tratado de Madri,
esteve ausente da governança por vários anos, empenhando-se arduamente na tarefa que lhe fora confiada.
Faleceu no Rio, a 12 de janeiro de 1763. Já estava amadurecida a ideia de transferir a capital de Salvador
para o RJ, onde melhor se atenderia à mineração e às fronteiras platinas.
Durante esse período, a cidade se alargou em direção norte, ocupando terras pertencentes aos
jesuítas, ou em direção de Botafogo, onde João de Sousa Pereira Botafogo possuía extensa propriedade.
Lagoas vão sendo aterradas, transformadas em largos e praças, mas as ruas, tortuosas, ainda não tinham
iluminação nem calçamento. Apresentava-se florescente a vida econômica, quer por causa dos contratos
das baleias, quer pelo mercado de "peças" da África, ou mesmo pela produção de açúcar e aguardente. A
indústria naval encontrava-se em franco progresso. A crescente prosperidade de seus habitantes, aliada ao
forte espírito religioso, permitiu a construção de suntuosas igrejas.

D) A Administração do Marques de Pombal:


Grandes mudanças se operaram no início do reinado de D. José I, que ascendeu ao trono português
em 1750. Nomeando Sebastião José de Carvalho e Melo, antigo representante em cortes da Inglaterra, 1738,
e Áustria, 1744, onde se casou com Leonor Daun (da nobreza austríaca), ministro do Estrangeiro e Guerra,
o rei depositou, gradativamente, em suas mãos confiança e poderes. Dignificou-o como Conde de Oeiras e
Marquês de Pombal. Sua presença e atuação apagaram o rei: o verdadeiro monarca foi Pombal.
O Iluminismo forneceu o respaldo para a atuação do Marquês de Pombal, em Portugal e no Brasil.
Percebeu, o esclarecido ministro, que os padres inacianos dificultavam a execução dos acordos
diplomáticos no Sul do Brasil, agitado pela Guerra Guaranítica. Por isso, determinou a liberdade dos índios
(Carta-régia de 04/04/1755 para o Estado do Grão-Pará e Maranhão e 08/05/1758 para o Estado do Brasil),
acabando com a administração dos sacerdotes nas aldeias.
Mas os jesuítas desfrutavam de grandes poderes. Chegaram mesmo, conforme entendeu a
investigação da época, a conspirar contra a vida do rei, junto com o Duque de Aveiro (D. José I escapou
com ferimentos de um atentado à bala em 03/09/1758, ocorrido perto do Palácio da Ajuda, quando voltava
à noite da casa de uma amante. Condenados diversos implicados, em um processo um pouco obscuro, entre
os quais os marqueses de Távora, fortes opositores políticos do primeiro ministro, Pombal conseguiu o
assentimento do rei para expulsar os jesuítas de terras portuguesas (03/09/1759). Os 550 inacianos
residentes no Brasil foram compelidos a sair.
O prosseguimento da Guerra Guaranítica conduziu a acertar com a Espanha o Tratado de El Pardo
(1761): a guerra indígena chegava ao fim, mas novos conflitos se abriam nas fronteiras sulinas tendo por
antagonistas os aliados anteriores. Pombal anulou todas as regalias dos antigos capitães donatários,
acabando por abolir as primitivas capitanias, em 1759, através de concessões aos donatários existentes.
Conservou-se apenas o nome, como divisão administrativa. Reuniu as capitanias de Porto Seguro e Ilhéus
à da Bahia. Criou as de São José do Rio Negro, Rio Grande de São Pedro e Piauí. Tendo em vista a extração
do ouro e o cuidado com a fronteira sulina, achou o marquês ser melhor transferir a capital para o Sul,
escolhendo a cidade do Rio de Janeiro. Elevou a Colônia à categoria de vice-reino (1763), abrindo uma
época faustosa para o Brasil.
Extinguiu, em 1774, o estado do Maranhão, centralizando a administração. Numerosas vilas
nasceram e se desenvolveram em todo o território. Instalou-se, no Rio de Janeiro, um Tribunal da Relação
(1751), bem como diversas juntas de justiça, nas capitanias. Pombal preocupou-se com a situação
econômica do Brasil, criando as Companhias de Comércio do Grão-Pará e Maranhão e de Pernambuco e
Paraíba. Acabou com os contratos de diamantes. Dos Açores, conseguiu enviar perto de vinte mil colonos
a fim de contrabalançar a medida de liberdade dos índios. Ao mesmo tempo, estimulou os casamentos entre
portugueses e nativas. Aboliu a discriminação entre cristãos velhos e novos, estes de procedência judia
(25/05/1773). Diminuiu os poderes do tribunal da Inquisição (01/09/1774).

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A morte do Rei D, José I (24/02/1777) interrompeu a atuação do Marquês de Pombal. A nova
soberana, D. Maria I, derrubou o marquês, perseguiu-o e condenou-o a viver a vinte léguas de Lisboa; esse
movimento ficou conhecido como a "Viradeira". D. Maria I governou somente até 1792, quando, pela
insanidade que a perturbou, ocupou a regência seu segundo filho, D. João (mais tarde D. João VI).

E) O Governo dos Vice-Reis no Rio de Janeiro:


A transferência da capital para o Rio de Janeiro e a elevação a vice-reino, medidas tomadas pelo
Marquês de Pombal, em 1763, marcaram uma nova etapa para o Brasil: um amadurecimento, lento, mas
decisivo, caracteriza o governo dos vice-reis no Rio de Janeiro.
Homens de reconhecida capacidade administrativa e militar, dedicados funcionários, pertencentes à
nobreza e ligados à monarquia, os vice-reis conduzem o Brasil a uma época de esplendor dentro do período
colonial, encerrada com a chegada da Corte, em 1808.
O Conde da Cunha (D. Antônio Álvares da Cunha), primeiro desses vice-reis, preocupou-se com a
organização militar. Recebeu o Tenente-General João Henrique Böhm, com seus auxiliares, Jacques Funck
e Francesco Roscio, e os regimentos portugueses, para os quais construiu quartéis. Criou uma companhia
de dragões de cavalaria, para a guarda do vice-rei. Reaparelhou diversas fortificações costeiras,
especialmente as do Rio de Janeiro e a de S. Antônio do Monte Frio, em Macaé. Como ponto alto de sua
administração, criou o Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro. Teve, também, de executar a Carta-régia de
1766, que extinguiu o ofício de ourives em Minas, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro. Substituiu-o, em
31/08/1767, o Conde de Azambuja, D. Antônio Rolim de Moura, continuador de sua obra.
A partir de 1769, comanda os destinos do Brasil o 2º Marquês do Lavradio (D. Luís d'Almeida
Portugal). Durante nove anos, foi um incansável administrador, incrementando as atividades agrícolas,
introduzindo as culturas do chá, do arroz, da anileira (para a fabricação do anil ou índigo), do cânhamo,
protegendo as primeiras plantações de café, despertando o interesse pela amoreira e a cultura do bicho-da-
seda e da cochonilha, pequeno inseto nativo do México capaz de produzir matéria tintorial (ácido
carmínico). Mandou arruar parte da capital, dando origem ao bairro da Glória, que dotou de um chafariz
que se conserva até hoje. Reaparelhou as defesas do Rio de Janeiro e edificou o Forte do Leme. Durante
sua gestão partiram as tropas luso-brasileiras para o sul, obtendo, o Tem-General Böhm, a restauração do
Rio Grande. Houve, contudo, a perda da ilha de Santa Catarina. Não se descuidou o marquês da instrução,
criando uma Aula de Comércio, para caixeiros.
Sucedeu-lhe outro grande estadista: Luís de Vasconcelos e Sousa (30/04/1778 a 09/05/1790),
dedicado ao embelezamento da capital. Preparava-a, sem o saber, para receber a monarquia. Ajudado por
Mestre Valentim (Valentim da Fonseca e Silva), construiu o Passeio Público, onde se espalhava, pestilenta,
a Lagoa do Boqueirão, com terras do morro das Mangueiras, que desapareceu; ganhava a cidade um salão
ao ar livre. E, em frente ao portão principal, nascia a rua das Belas Noites (Marrecas, depois), em aclive
suave, a encontrar-se com a dos Barbonos (hoje Evaristo da Veiga). Inaugurou a iluminação pública a óleo
de baleia ou peixe, com 73 lampiões e povoou a cidade de chafarizes, em especial o da Pirâmide, da lavra
de Mestre Valentim. Criou a Casa dos Pássaros, origem do Museu Nacional. Reedificou a Igreja e
Recolhimento do Parto, vítima de grande incêndio (1789). Perseguiu os contrabandistas de ouro e conseguiu
encarcerar o famoso bandido Mão-de-Luva, alcunha de Manoel Henriques, que desencaminhava o ouro
que encontrara em um arraial (hoje cidade de Cantagalo - RJ). Uma conjuração, tendo por cenário Vila
Rica, pretendeu emancipar parte do Brasil; seus líderes, denunciados, acabaram presos, sendo o mais
famoso Tiradentes.
O Conde de Resende (D. José Luís de Castro), que assumiu em seguida (até 14/10/1801), não se
tornou bem-visto pela população, que lhe deu o apelido de “Conde da Resinga”; levantou o segundo andar
do palácio dos vice-reis; abriu algumas novas ruas na capital. Apressou a devassa contra os conjurados
mineiros, que se concluiu em sua gestão. Fechou a Sociedade Literária, crendo ter esta implicações com o
movimento de Minas. Ocorreu, também, a Conjuração Baiana.
Seguiram-se D. Fernando José de Portugal e Castro e D. Marcos de Noronha e Brito, 8º Conde dos
Arcos (até 22/01/1808).

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F) Progresso Econômico:
O século XVIII corresponde ao ciclo do ouro, consequência lógica do encontro das minas e veios
auríferos pelos bandeirantes e desbravadores. Os mineradores e tropeiros vão lentamente sedimentando a
conquista obtida, também, graças ao aventureiro ávido de riquezas, que termina por se fixar no interior após
a dissolução de seus sonhos de grandeza.
Em 1702, 19 de abril, a metrópole organizou o Regimento dos Superintendentes, Guardas-Mores e
Oficiais-Deputados para as Minas de Ouro e, para cumpri-lo, instituiu a Intendência das Minas.
Qualquer descoberta devia ser comunicada à intendência; os guardas-mores demarcavam o local e
distribuíam as "datas" (porções de terra), exclusão de uma, do descobridor, e de outra, da Coroa. As demais
entravam em sorteio para os candidatos possuidores de, no mínimo, 12 escravos.
A princípio, os mineradores apenas afastavam o cascalho da margem dos ribeirões com toscos
instrumentos; passo importante representou a adoção da bateia, de origem africana. A presença da água
consistia em necessidade elementar: apanhava-se ouro nos córregos (ouro da água), nas margens dos rios
(ouro de tabuleiro) e nas encostas secas (ouro de grupiara), utilizando-se a água para o desmonte do
cascalho. A "cata" do ouro era simples nos dois primeiros casos, mas complicava-se no terceiro, devendo-
se levar a água, por força humana ou animal, a regos de madeira, provocando, pela atuação da gravidade, a
lavagem das faldas dos montes e a formação de uma "cata" artificial. Daí a importância das águas ser origem
de muitas desavenças. Obtinha-se o ouro de veio talhando a rocha e triturando os pedaços em pilões.
Ao rei cabia 20% do ouro encontrado: consistia no "quinto", imposto que aparece nas Ordenações
e Regimentos mineiros, desde os primeiros tempos coloniais. Em virtude das dificuldades de arrecadação
e de fiscalização, a Intendência estipulou, em 1713, por proposta dos mineradores, a finta, anuidade fixa
cobrada ao distrito mineiro, montante em trinta arrobas de ouro; em 1718, reduziu-se para 25. Esta fórmula
não suprimia a sonegação; por isso, a metrópole criou as Casas de Fundição em 1720, mas com atuação
efetiva a partir de 1725, destinadas a converter o ouro minerado em barras seladas, proibindo-se,
igualmente, a circulação do ouro não quintado, A produção diminuiu tanto que a Intendência das Minas
aplicou a capitação, a partir de 1º de julho de 1735, sem eliminar a arrecadação dos quintos. A capitação
consistia numa taxa fixa (quatro oitavas e 3/4) que o minerador pagava por cada escravo de mais de 14 anos
empregado na sua lavra; as lojas, vendas e boticas da região mineira contribuíam com uma capitação que
variava entre oito e 24 oitavas (cada oitava equivalia a 3,586 gramas). Avolumaram-se os protestos contra
esse sistema, injusto, pois devia ser pago mesmo nas fases de pesquisa ou ainda que nenhum resultado se
chegasse, Assim, a Coroa retomou ao quinto, depois de 3 de dezembro de 1750, exigido sob a forma de
finta, equivalente a cem arrobas. Somaram-se os déficits por causa da exaustão dos veios auríferos,
arrecadados compulsoriamente sob a forma de derrama, a qual não consistia em novo imposto.
Mas o contrabando do ouro ou o "descaminho", bem como a falsificação dos selos reais para a
fabricação de barras sem a retirada do imposto, floresceu em todo o século XVIII, apesar das medidas
repressivas e da vigilância dos registros, postos de fiscalização nos caminhos das Minas. Através de trilhas
pouco frequentadas, o ouro era levado a Salvador ou ao Rio de Janeiro e, desses portos, para outros lugares,
como Açores, Buenos Aires, Antilhas, de onde se transportava para a Europa. Contribuía a venalidade de
muitos funcionários públicos, mesquinhamente pagos. Utilizava-se qualquer fardo para esconder o ouro,
tendo ficado famosos os “santos-de-pau-oco”. O governador do Rio, Luís Vahia Monteiro, sobre tudo isso
preveniu a Coroa, não tendo desta recebido apoio devido. Célebre ficou a quadrilha de Inácio de Souza
Ferreira que tinha uma fundição clandestina na serra de Paraopeba e agentes espalhados nas principais
cidades.
Calcula-se a produção aurífera em 982t, o que representa boa parte do ouro circulante no mundo.
Entretanto, a condição política do Brasil não lhe permitiu aproveitar-se dessa riqueza para próprio
desenvolvimento. Serviu para Portugal levar uma vida luxuosa e de ócio, adquirindo produtos
manufaturados ingleses e entregando à Inglaterra, aos poucos, o ouro brasileiro. Mas o sonho das minas
não durou muito: antes de terminar o século XVIII, o ouro já estava esgotado. Deficiências técnicas e
ignorância dos mineradores aliaram-se para impedir a extração de depósitos profundos.
As primeiras notícias de diamantes datam de 1714, Pouco depois, em 1727, Bernardo da Fonseca
Lobo achou as primeiras pedras no sítio de Morrinhos, em Cerro Frio. Vários mineradores acorreram à

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região. Em 1734, Portugal criou a Intendência dos Diamantes, submetida a uma legislação especial, o
Regimento das Terras Diamantinas (conhecido como Livro da Capa Verde), datado de 1771. Até 1740,
permitiu-se a livre exploração; depois, contratou-se com particulares a obtenção dos diamantes,
delimitando-se o Distrito Diamantífero, cujo centro localizava-se no Arraial do Tijuco (hoje Diamantina).
O contratador devia pagar, aproximadamente, £40.000 anuais. Famosos ficaram Felisberto Caldeira Brant,
que encontrou falência depois de vários infortúnios, e João Fernandes Oliveira, que não mediu dinheiro
para contentar Xica da Silva. Calcula-se em três milhões de quilates o fornecimento durante a época
colonial, provocando uma baixa de 75%, por quilate, na venda de diamantes em mercados da Europa.
A exploração das minas acarretou um rápido povoamento do interior. Sendo o ouro a preocupação
maior, ninguém pensou em plantar e criar, o que gerou uma grande dificuldade de vida, pela deficiência
dos meios de subsistência. A comida vinha de muito longe e chegava às Minas por preços absurdos. Assim,
surgiram as fortunas alicerçadas no comércio e na criação de gado. O ouro mudou o posicionamento social:
nos séculos anteriores importavam as grandes sesmarias agora, a situação social fundamentava-se nas
riquezas móveis. Com o tempo, dispersam-se os mineradores, arraiais, povoados e vilas se formavam, se
desenvolveu o comércio com o litoral, ao mesmo tempo em que são abertos caminhos percorridos pelos
tropeiros. A parte Sul, com o Rio de Janeiro à frente, progrediu muito, enquanto o Nordeste entrou
lentamente em decadência.
Corria o dinheiro português quer cunhado no Reino, quer produzido nas casas de moeda em Minas.
De ouro existiam: a dobra de oito escudos e valor de 12,800 réis, a dobra de quatro escudos, com valor de
6.400 réis, a meia-dobra, de 3.200, o escudo, de 1.600 réis, o meio-escudo e o quarto de escudo, chamado
cruzado. De 1724 a 1727, existiram os cruzados-novos, com valor de 480 réis. A unidade da moeda de prata
chamava-se tostão, com valor de 100 réis. Havia moedas de cobre de 40 e 20 réis, A diversidade de moedas
e a variedade de cunhagens produziram um sistema monetário verdadeiramente anárquico, isso sem contar
com a presença de moedas falsificadas pelas próprias casas de moedas ou por particulares.
O açúcar, grande riqueza do século XVII, ocupou, no século XVIII, lugar secundário. Fazendas se
despovoaram por causa das minas, coincidindo com a baixa do preço do produto que já começava a
enfrentar a concorrência do produzido nas Antilhas. Contudo, a Bahia exportava, em 1798, de 14 a 18 mil
caixas de açúcar, e Pernambuco, de 12 a 13 mil.
O cultivo do tabaco intensificou-se pelo desenvolvimento do vício de fumar. Antonil dedicou 12
capítulos de seu livro ao tabaco. Havia, em Lisboa, uma Alfândega do Tabaco, reorganizada por Pombal
em 1751. Em certos anos, o lucro com o tabaco subia ao dobro do que se obtinha com o ouro. Provavelmente
em 1757, Pombal enviou à Vila de Cachoeira, na Bahia, André Moreno com a incumbência de preparar o
tabaco em folhas para a fabricação de charutos. O cacau conseguiu um lugar de destaque, existindo
plantações em Ilhéus, sul da Bahia.
Somente no final do século, renasceu a economia agrícola vinculada ao algodão, vegetal têxtil nativo
da América. O nascimento de indústrias fabris mecanizadas, resultado da descoberta da máquina a vapor
(James Watt em 1769), ofereceu ao Brasil a oportunidade de produzir algodão e vendê-lo à Inglaterra, que
começou a encontrar dificuldades de extrair de suas próprias colônias americanas. Em 1775, a produção
atingia cinco milhões de libras (peso), aumentando, em 1791 para 26 milhões. O cultivo do algodão
concentrou-se no Maranhão, espalhando-se, depois, em outros pontos do litoral. As atividades ficaram
vinculadas ao escravo, usando-se o descaroçamento manual; a máquina inventada por Eli Whitney, em
1793, não chegou a ser conhecida no Brasil.
Os colonizadores se aproveitaram de muitas espécies vegetais indígenas, neste século XVIII, já
participando da alimentação dos habitantes, como procuraram plantar os vegetais que normalmente
integravam a sua dieta europeia; o trigo e a uva não chegaram a se desenvolver, apesar dos esforços
despendidos; diversas árvores frutíferas se deram bem e passaram a ser cultivadas, Merece citação especial
o coqueiro, proveniente da Ásia e da Oceania. O vice-rei, 2º Marquês do Lavradio, iniciou o cultivo do
arroz e do chá, este plantado com sucesso nos arredores do Rio de Janeiro. Não sendo alimentícias, mas de
alto interesse, lembremos o cultivo da amoreira, da anileira e do cânhamo. Utilizou-se, também, o mate,
proveniente das missões guaraníticas.

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O café, introduzido no Pará, em 1727, pelo ajudante Francisco Xavier Palheta, que transportou a
planta da Guiana Francesa, cumprindo ordem do governador do Estado do Maranhão, João Maia da Gama,
ainda estava em fase de aclimatação.
Percorrendo a costa norte do Brasil lentamente e sem muito sucesso, o café chegou ao Rio de
Janeiro, trazido pelo desembargador do Maranhão João Alberto Castelo Branco, ocasião em que governava
a Repartição do Sul Gomes Freire de Andrade (1760). Apenas duas mudas foram plantadas em chãos do
Convento dos Barbonos, na rua do mesmo nome (hoje Evaristo da Veiga). Apesar dos desvelos dos padres,
uma delas morreu, mas a outra se desenvolveu dando frutos que, apanhados pelo holandês J. Hoppman,
este os plantou em suas terras de Mata Porcos (hoje Estácio), formando extenso cafezal, protegido pelo
vice-rei Marquês do Lavradio. Rapidamente, os pés de café se espalharam na terra carioca, principalmente
na fazenda do Mendanha (Campo Grande – RJ), de propriedade do Padre Antônio Couto da Fonseca, que
os plantou na vila de Resende, fundada pelo vice-rei Conde de Resende. Ao final do século, podiam ser
vistas plantações de café em São Paulo e Minas Gerais.
Durante o século XVII, o gado bovino subiu morosamente pelas duas margens do Rio São Francisco
até as suas nascentes. Criado extensivamente, ele se multiplicou em terras mineiras, atingindo, neste século
XVIII, o planalto goiano e mato-grossense. De São Vicente, foi o gado levado para Paranaguá, e de tal
maneira ele se desenvolveu, que os criadores procuraram os "campos de cima", fundando Curitiba. De
Curitiba, o gado caminhou para o sul, encontrando bons pastos nos pampas sulinos. Nessa região, o gado
cavalar começou a ser criado com bastante proveito, barateando o preço da montaria até então acessível a
poucos, No fim do século, a área sulina produzia excelente charque, distribuído para todo o Brasil,
ocasionando a decadência parcial do gado nordestino.
A circulação de riquezas, resultado da descoberta das minas, provocou o nascimento de pequenas
manufaturas: cerâmica, metalurgia, ourivesaria, tecelagem e outras menores, o que não foi bem-visto pela
metrópole. Em 1766, ficava proibida a profissão de ourives. O alvará de 5 de janeiro de 1785 proibiu a
instalação de estabelecimentos fabris. Em consequência, as tecelagens paralisaram-se, com exclusão
daquelas destinadas ao fabrico de tecidos para os escravos e sacaria. Bastante desenvolvida mostrou-se a
pesca da baleia, cetáceo abundante no litoral sul, em especial na Baía de Guanabara. No Rio de Janeiro
funcionaram armações que industrializavam a carne, o azeite, as barbatanas e o espermacete (cera branca
existente na cabeça de baleias e cachalotes empregada na fabricação de cosméticos). Os curtumes
necessários a obtenção de couro, utilizável para a exportação, existiram em vários centros urbanos. E as
fábricas de anil, no Rio e no Pará, chegaram a exportar para a metrópole até quinhentas arrobas anuais.
Continuamos, neste século XVIII, a enviar para a metrópole os produtos nativos brasileiros,
recebendo, em troca, os manufaturados de origem portuguesa ou estrangeira, através de comerciantes
portugueses. Chamava-se, esse intercâmbio, de Pacto Colonial, estando vedado a qualquer nação fazer o
comércio direto em portos brasileiros. Mas, em algumas vezes, navios ingleses burlavam esse acordo e,
alegando arribada forçada, efetuavam trocas comerciais diretas, com alguns subornos às autoridades locais.
O comércio interno, por via terrestre com as terras espanholas, tornou-se muito importante e até hoje pouco
conhecido, dado o seu caráter de contrabando. Muitos “peruleiros” embrenhavam-se pelas regiões
desconhecidas, visando lucros com as populações andinas, brancas ou nativas.
Apesar de a Companhia Geral de Comércio do Brasil ter sido extinta em 1720, a ideia renasceu
durante a época de Pombal, que criou, em 1755, a Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão
e, em 1759, a Companhia de Pernambuco e Paraíba. Ambas conseguiram altos lucros praticando abusos
na venda de produtos que monopolizavam. Foram extintas por D. Maria I em 1778 e 1779, respectivamente.
O comércio negreiro mostrou-se ativo e compensador durante este século XVIII, graças às
necessidades das minas, onde o africano não vivia muito tempo. Havia um trânsito permanente de tumbeiros
para os mercados brasileiros, enriquecendo a quantos a esse negócio se dedicavam.
Relativamente ao comércio interno, não possuímos dados suficientes. Tratavam-se de mercadorias
destinadas à exportação e que eram transportadas aos portos de embarque; e os produtos estrangeiros que,
a partir desses mesmos portos, se distribuíam no resto do país. Tropas de muares percorriam os caminhos
conhecidos solidificando a conquista que os bandeirantes haviam iniciado.

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G) As Revoltas Coloniais - Inconfidências e Sedições:
No final do século XVII, o Brasil começou a entrar numa fase de profundas transformações. Reinóis,
nativos e escravos amalgamavam-se nas duras tarefas de conquistar a terra, domesticar o gentio e,
sobretudo, expulsar invasores. Formava-se lentamente a argamassa do povo brasileiro, provocando
movimentos sediciosos ainda inconsistentes e de fundo nitidamente econômico, uma reação contra o
fiscalismo exagerado. A amplitude territorial e a heterogeneidade da população não permitiram a presença
de movimentos amplos e sim regionais.
Estão entre as principais revoltas a Aclamação de Amador Bueno (SP), A Sedição do Rio de Janeiro,
A Revolta de Beckman (MA), A Guerra dos Emboabas (SP/MG), A guerra dos Mascates (PE), O Motim
do Maneta (BA), A Revolta de Vila Rica e A Conjuração do Rio de Janeiro, todas de caráter nitidamente
terrestre e sem participação de fatos marítimos.
Houve também movimentos de Emancipação como a Conjuração ou Inconfidência Mineira e a
Conjuração Bahiana.
Nesta parte veremos apenas as revoltas que tiveram alguma participação naval, e ao longo da
apostila as demais como nos combates no Pará (Cabanagem), no Rio Grande do Sul (Guerra dos Farrapos
ou Revolução Farroupilha), na Bahia (Sabinada), no Maranhão e Piauí (Balaiada) e em Pernambuco
(Revolta Praieira – após a coroação de D. Pedro II).

G.1) Conspiração ou Conjura de Nosso Pai:


Logo depois da expulsão dos holandeses de Pernambuco, verificou-se um motim popular no Recife
contra a pessoa do seu terceiro capitão-general, Jerônimo de Mendonça Furtado, o “Xumberga" (assim
apelidado por usar bigodes iguais a von Schomberg), que todos sabiam tirano e desonesto.
O pretexto surgiu quando o governador ofereceu festejos ao Marquês de Mondevergue, comandante
de uma esquadra francesa de 12 velas procedente de São Lourenço em direção a Madagascar. A
cordialidade pareceu traição. Conspiraram o ouvidor André de Barros Rego, os vereadores de Olinda,
Lourenço Cavalcanti, João Ribeiro e alguns principais.
Organizada uma falsa procissão de Nosso Pai ou Viático (destinada à extrema-unção dos
moribundos), na tarde de 31 de agosto (1666), esta tomou a direção da casa do governador, que não hesitou
em acompanhá-la. Em determinado momento, os conjurados dominaram a escolta do governador, o
colocaram no Forte do Brum, remetendo-o preso, no dia seguinte, para o Reino (em Portugal, recebeu
condenação de cárcere perpétuo na Ásia). No mesmo dia, a população depredou casas e atacou aos marujos
franceses.
O vice-rei não castigou o delito; nomeou André Vidal de Negreiros para prover o cargo, nele
permanecendo seis meses.

G.2) A Revolução Pernambucana de 1817:


As antigas tradições de bravura e liberdade da terra pernambucana explodiram em 1817, já sob
administração direta de D. João, como uma consequência direta da atuação da maçonaria bem como por
causa do esclarecimento de muitos pernambucanos, principalmente sacerdotes, os quais haviam adquirido
largueza intelectual no seminário de D. José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho em Olinda. Não
faltavam, em Pernambuco, sociedades secretas, como o Areópago de Itambé, responsável pelo plano de
trazer Bonaparte para o Brasil, no que se convencionou chamar a Conspiração dos Suassunas (1801), fato
um tanto brumoso em razão da escassez de documentos, a Academia do Cabo, a Loja Restauração, a
Academia do Paraíso, a Universidade Secreta, de Antônio Carlos, e a Escola Secreta, de Vicente Ribeiro
dos Guimarães Peixoto. Divergências entre reinós e brasileiros aumentaram as dificuldades nos
relacionamentos entre os habitantes, agravadas por uma crescente alta do custo de vida, resultado de
diversos matizes de atravessadores e da baixa do produto básico da região, o açúcar, nos mercados
estrangeiros.
A situação econômica agravara-se em virtude de exigências do governo estabelecido no Rio de
Janeiro; acresce ter sido assolado o Nordeste, em 1816, por intensa seca.

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Governava a capitania Caetano Pinto de Miranda Montenegro, desde 1804, o qual havia feito
excelente administração nos sete anos anteriores em Mato Grosso, criando a fortificação de Miranda. O
povo de Pernambuco, maliciosamente, dizia ser ele Caetano no nome, Pinto na coragem, Monte na altura
e Negro nas ações, o que não corresponde à realidade. Estavam descontentes os pernambucanos, conforme
apontou o depoimento de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada.
Nessa ocasião, o capixaba Domingos José Martins, que vivia em Londres como sócio de importante
firma comercial (Barroso, Martins, Dourado & Carvalho), chegou a terras pernambucanas assumindo a
liderança de um movimento republicano de independência, tal como prometera a Francisco de Miranda.
Fundou a loja maçônica Pernambuco do Ocidente. Na sua casa do Recife, ou no engenho do Cabo, reuniam-
se os conjurados, sendo os mais exaltados o Padre Miguelinho (Miguel Joaquim de Almeida e Castro), o
Padre João Ribeiro Pessoa, o Padre Roma (José Inácio Ribeiro de Abreu e Lima), Frei Joaquim do Amor
Divino e Caneca, Antônio Gonçalves da Cruz, vulgo "Cabugá", Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, o
Capitão Domingos Teotônio Jorge Pessoa, Guimarães Peixoto, Manoel Correia de Araújo e Antônio de
Morais Silva (famoso por seu Dicionário da Língua Portuguesa).
Um alferes do regimento dos Henriques, Roberto Francisco Cabral, miliciano preto, surrou um
português que injuriava os brasileiros; este fato, ocorrido na festa anual da Estância, em fevereiro, que
comemorava a derrota holandesa, provocou tensão na tropa.
Delatado o movimento por José da Cruz Ferreira, procurou o governador aplacá-lo. Em ordem do
dia de 4 de março, recomendou aos oficiais e praças dos regimentos andarem em paz no tratamento
cotidiano; no dia 6, o Conselho Militar, por ele reunido, deliberou sobre a prisão dos maiores suspeitos,
logo efetivada pelo Marechal José Roberto Pereira da Silva, em relação aos paisanos, o mesmo não
conseguindo o Brigadeiro Manoel Joaquim Barbosa de Castro, no caso dos militares, pois encontrou a
morte na espada do Capitão José de Barros Lima, conhecido como Leão Coroado. Sabedor do ocorrido,
mandou o governador seu ajudante-de-ordens, Tenente-Coronel Alexandre Tomás, ao quartel revoltoso,
onde foi recebido a tiros, morrendo.
O governador refugiou-se no Forte do Brum (este nome deriva da corruptela do nome holandês
Bruyn), enquanto o Tenente Antônio Rabelo soltava os conspiradores presos. A população vibrava e dava
gritos de morte aos "marinheiros", isto é, aos portugueses. A 7 de março, Caetano Pinto assinou uma
capitulação, sendo-lhe permitido embarcar, no dia 10, para o Rio de Janeiro.
Os revoltosos organizaram um governo republicano provisório de cinco membros (Domingos José
Martins, Domingos Teotônio Jorge, José Luís de Mendonça, Padre João Ribeiro e Manoel Correia de
Araújo) e de um conselho consultivo, com igual número, fundamentada a sua situação jurídica pela
publicação de um folheto conhecido pela sua primeira palavra: Preciso, de José Luís de Mendonça. Esse
governo revolucionário adotou algumas medidas fúteis e outras sem expressão, bem como determinou
enviar delegados a países estrangeiros. "Cabugá" partiu para os Estados Unidos, ligando-se aos emigrados
franceses que queriam tirar Napoleão de Santa Helena; o inglês Kesner, para Londres; e Félix José Tavares
de Lira, para Buenos Aires, a fim de solicitarem ajuda a esses governos. Ideou-se uma bandeira desenhada
por Antônio Alves, redigiu-se um projeto de Constituição, no qual vinha assegurada a liberdade de imprensa
e de religião e a igualdade de todos perante a lei.
Aderiu ao movimento a capitania da Paraíba, por causa da anuência do Tenente-Coronel Francisco
José da Silveira, um dos que detinha o poder legal, seguindo-lhe a do Rio Grande do Norte, com liderança
do Coronel André de Albuquerque Maranhão. O governo revolucionário mandou logo para o Ceará o
seminarista José Martiniano de Alencar, que, apenas, provocou ligeiro motim no Crato, preso pelo Capitão-
mor José Pereira Filgueiras. Na Bahia, onde havia simpatizantes, o seu governador, o Conde dos Arcos,
não teve dúvidas em fuzilar o Padre Roma, emissário dos pernambucanos, no Campo da Pólvora
(29/03/1817), atual Praça Pedro II.
O mesmo governador da Bahia iniciou a contra-ofensiva. Três navios mercantes, armados em
guerra, comandados pelo Capitão-Tenente Rufino Batista, bloquearam Recife, enquanto os 1.500 homens
liderados pelo Marechal Joaquim de Melo Leite Cogominho de Lacerda efetuavam penosa marcha por
terra, passando por Vila Nova e Penedo.

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De tudo soube D. João, a 25 de março, com a chegada de Caetano Pinto, recolhido à fortaleza da
ilha das Cobras. Mandou aprestar uma força naval (fragata Tetis, capitânia, Capitão-de-Fragata Luís da
Cunha Moreira, brigues, Benjamim, Capitão-Tenente Fernando José de Melo, e Aurora, Capitão-de-Fragata
José Félix Pereira de Campos, e a escuna Maria Teresa, Capitão-Tenente Nuno José Manoel de Melo) e a
entregou ao Chefe-de-Esquadra Rodrigo Lobo. Este içou velas e partiu em 2 de abril.
Diversos voluntários se alistaram no Rio de Janeiro, formando um contingente, sob o comando do
Brigadeiro Luís do Rego Barreto; dirigiram-se para as capitanias conflagradas em uma divisão de
transporte, a 4 de maio, totalizando três mil homens.
As capitanias que aderiram ao movimento entraram logo na legalidade. A tropa baiana vencia os
bisonhos revolucionários no engenho do Utinga. O Marechal Cogominho atravessava a região de Alagoas
e se avizinhava da localidade de Serinhaérn, onde o Capitão Antônio dos Santos logrou prender Domingos
José Martins, colocado em um dos navios da esquadra bloqueadora. A 13 de maio, Cogominho atacou e
venceu o Coronel Luís Francisco de Paula no Trapiche do Ipojuca, evadindo-se, este, em veloz montaria.
Domingos Teotônio, aclamado ditador nesses dias agitados, ainda tentou uma reação, mas preferiu
abandonar Recife, com quase dois mil adeptos, que se dissolveram na marcha para o interior. As forças
legais entravam em Recife, 20 de maio. Alguns rebeldes foram encaminhados para Salvador, à exceção do
Padre João Ribeiro, que se suicidou enforcando-se em uma árvore.

Julgados por um tribunal militar, recaiu a execução


em 12, entre os quais Domingos José Martins,
Domingos Teotônio Pessoa, Capitão José de Barros
Lima e o Padre Miguelinho, sacrificados no Campo da
Pólvora. O rei concedeu alguns perdões isolados como
júbilo pela sua aclamação; em 1821, 6 de fevereiro,
decretou anistia geral. Entre os anistiados, Monsenhor
Francisco Muniz Tavares notabilizou-se pelo relato
que fez dos fastos revolucionários. Amadurecia o ideal
de independência que cinco anos mais tarde seria uma
realidade concreta.

6) Guerras, Tratados e limites no Sul do Brasil:


A fronteira do Sul do Brasil demorou a ser definida devido à ferrenha disputa travada entre Portugal
e Espanha que tinham interesse em dominar a estratégica região Platina. Para consolidar o domínio da
região, os dois reinos travavam diversas batalhas – nas quais o poder naval de ambos os lados foi muito
empregado – e vários acordos foram firmados.

6.1) Tratado de Lisboa (1681):


Já no primeiro ano de sua fundação, 1680, a Colônia do Sacramento foi atacada e reconquistada aos
espanhóis pelo governador de Buenos Aires, sendo devolvida aos portugueses em 1683 após a assinatura
do Tratado de Lisboa, em 1681.

6.2) Tratados de Utrecht (1713 e 1715):


Desde o século XVI, corsários franceses farejaram as costas brasílicas contrabandeando o pau-de-
tinta. Suas tentativas de fixação na terra, em toda a região do Atlântico Sul, foram frustradas pelos
portugueses, que sempre conseguiam alijá-los, empurrando-os para o Norte. Localizados bem acima da foz
do Amazonas, empenharam-se em uma expansão em terras, não bem definidas, de Portugal. Invadiram o
Amapá, chamado de Guiana brasileira. O Governador do Estado do Maranhão, Antônio de Albuquerque,
apressou-se em enviar tropas que iniciaram difícil e prolongada luta, solucionada pelo Tratado de Utrecht
de 1713.

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A morte do rei de Espanha Carlos II, em novembro de 1700, sem deixar um sucessor, acabou por
colocar toda a Europa em adversidade. A tentativa de se colocar no trono espanhol um rei de origem
francesa propiciava um desequilíbrio nos pesos da balança do poder europeu, já que os dois maiores e mais
poderosos exércitos da época eram justamente os francês e espanhol. As negociações diplomáticas de
Utrecht representaram o fim dessa Guerra de Sucessão da Espanha. Delas fez parte Portugal por ser aliado
da Inglaterra, enviando João Gomes da Silva, Conde de Tarouca, e D. Luís da Cunha, que obtiveram com
a diplomacia o que teria sido muito dispendioso com a força das armas. No Tratado de 11 de abril, a França
renunciava as suas pretensões às terras do Cabo do Norte, situadas entre os rios Amazonas e Oiapoque ou
Vicente Pinzón (como ainda é chamado pelos franceses), aproveitando-se este último para servir de
fronteira entre as duas nações. Representou um êxito diplomático português.
No segundo Tratado de Utrecht, 6 de fevereiro de 1715, a Espanha restituiu a Colônia do Sacramento
a Portugal, sem, contudo, provocar a calma na região. A reabertura das lutas luso-espanholas europeias,
entre 1735 e 1737, predispôs Portugal a se desfazer da Colônia.

6.3) Tratado de Madri (1750)


O conflito ocorrido entre as cortes portuguesa e espanhola entre 1735 e 1737 motivou a terceira
investida hispânica sobre a Colônia de Sacramento. Cumprindo ordem do governador de Buenos Aires, em
junho de 1735, navios espanhóis já empreendiam um bloqueio naval18 à colônia lusa enquanto quatro mil
soldados realizavam um sítio por terra.
No Rio de Janeiro, o governador interino, Brigadeiro José Silva Paes, preparou e enviou, às pressas,
uma força naval para socorrer a colônia. Assim que chegou à região do Prata, essa força naval dissipou o
bloqueio que os navios espanhóis vinham impondo à Colônia de Sacramento.
Em Portugal, o recebimento da notícia do assédio espanhol à colônia lusa levou o rei a ordenar o
preparo de uma força naval que foi constituída por duas naus e uma fragata. Essa força suspendeu de Lisboa
em março de 1736 e, ao chegar ao Rio de Janeiro, recebeu reforços. Juntou-se a ela o Brigadeiro Silva Paes,
contendo ordens de socorrer a Colônia de Sacramento e, se possível, reconquistar Montevidéu (fundada e
abandonada pelos luso-brasileiros e novamente fundada pelos espanhóis) e fortificar o Rio Grande de São
Pedro. A força naval portuguesa no Prata combateu os espanhóis, apoiou a Colônia de Sacramento e
estabeleceu o domínio do mar na região. Após alcançar seus objetivos, parte dessa força regressou ao Rio
de Janeiro.
O Brigadeiro Silva Paes permaneceu no Sul e, após ameaçar um ataque a Montevidéu – que não
ocorreu devido ao grande risco dos navios ficarem encalhados –, decidiu partir para o Rio Grande de São
Pedro e cumprir a missão de fortificá-lo. Ao chegar, tratou o Brigadeiro de organizar suas defesas e mandou
construir o forte que denominou Jesus, Maria e José. Estavam assim criadas as condições para o início da
povoação da região, que recebeu, mais tarde, casais açorianos para ocupar a terra.
Mesmo após a assinatura por portugueses e espanhóis do armistício de 1737, o cerco terrestre à
Colônia de Sacramento continuou demonstrando a grande instabilidade que existia nas relações entre as
duas colônias.
Procurando solucionar suas questões de limites, Portugal e Espanha resolveram assinar, em 1750, o
Tratado de Madri, que, dentre outras medidas, estabeleceu a posse da Colônia de Sacramento para a
Espanha e a de Sete Povos das Missões para Portugal. Esse tratado foi fruto do trabalho de Alexandre de
Gusmão, secretário de D. João V, junto ao qual teve grande influência. Foram nomeadas duas comissões
para demarcarem a fronteira, uma para o norte – onde Portugal teve como representante Francisco Xavier
de Mendonça Furtado (irmão do Marquês de Pombal) – e outra para o sul, sendo o representante português
Gomes Freire de Andrade. A troca estabelecida pelo Tratado não foi efetuada, pois os índios que viviam
nas Missões se recusaram a deixar o local, empreendendo uma resistência armada, levando os luso-
espanhóis a responderem com ação militar conjunta que, em 1756, por meio da força, ocuparam a região

6.4) A Guerra Guaranítica (1753-1756):


Duas comissões mistas se constituíram com o propósito de demarcar as novas fronteiras. A comissão
do sul iniciou os seus trabalhos em 1752. Achava-se integrada pelo Marquês de Valdelirios, delegado

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espanhol, e pelo Conde da Bobadela, representando Portugal. O Conde fez-se acompanhar de numerosos
técnicos e homens de saber. A região a ser percorrida era apreciavelmente conhecida.
Os demarcadores do norte, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão do Marquês de Pombal,
e D. José de Iturriaga, depararam com imensas dificuldades telúricas. Seus trabalhos mal começaram tendo
sido quase nulos os resultados. D. Antônio Rolim de Moura Tavares, que substituiu Mendonça Furtado,
fundou um destacamento militar, em 1760, origem do Forte de Nossa Senhora da Conceição (Rondônia).
Apesar da clareza do Tratado, os colonos do Sacramento negaram-se a abandonar a Colônia, ao
mesmo tempo em que os índios guaranis se rebelavam na localidade de Santa Tecla, instigado pelos jesuítas.
Gomes Freire, com o objetivo de cumprir a sua missão, mandou levantar, 1752, na confluência dos rios
Pardo e Jacuí, uma fortificação, denominando-a de Jesus-Maria-José (esse forte deu origem à cidade do
Rio Pardo).
Portugueses e espanhóis combinaram um ataque conjunto às Missões, mas que redundou em
fracasso, já que o Governador de Buenos Aires, D. José de Andonaegui, não prosseguiu em sua marcha
envolvente. Gomes Freire, exposto ao ataque dos índios tapes e goanoas (ou minuanos), travou algumas
escaramuças sangrentas e se retirou, em novembro de 1754, para o reduto de Jesus-Maria-José.
Inutilmente o Padre Luís Altamirano, enviado do Geral dos jesuítas, instava para que a luta cessasse
e que todos (deviam somar uns trinta mil) abandonassem as novas posses portuguesas; obedeceram os
Povos de S. Borja, S. Luís e S. Lourenço, recusando-se os demais. Alegavam a importância geográfica dos
Povos e a perda das extensas plantações de erva-mate, fonte substancial da riqueza da região, que os
portugueses iriam se apoderar e controlar daí por diante.
A teimosia dos jesuítas repercutiu mal nas
Cortes Ibéricas, provocando o aparecimento de um
acentuado espírito anti-jesuítico. O rei da Espanha
afastava o seu confessor, o Padre Rábago, poderoso
advogado da Companhia. Ordens expressas
chegavam a Gomes Freire e a Valdelirios para que
tomassem a região das Missões e acabassem com a
Guerra Guaranítica. No primeiro dia de fevereiro
de 1756, as forças conjuntas se reuniram ao lado do
arroio Jaguari: somavam 2.500 infantes, dirigidos
por Bobadela, Andonaegui, D. José Joaquim de
Viana, Governador de Montevidéu, e Tomás Luís
Osório, Coronel de Dragões do Rio Grande. Os
indígenas aglomeravam-se em torno da liderança
São Miguel – RS, uma das Missões Jesuíticas
de Neenguiru, que havia sido batizado com o nome
de Nicolau.
Combateram em Vacacaí no dia 7 e em Caiboaté no dia 10, onde a mortandade indígena
transformou-se em verdadeira hecatombe (1.500 mortos). Em 10 de maio, foi vencida a última resistência
dos índios no combate de Churieby; a 17 de maio, conquistava-se o Povo de S. Miguel, submetendo-se os
demais. Os nativos que sobraram refugiaram-se nos matos.
Empossado governador de Buenos Aires, em 4 de novembro 1756, D. Pedro de Cevallos, inimigo
do Tratado de 1750, prometeu aos jesuítas sua simpatia, ao mesmo tempo em que permitiu que os índios
retornassem aos Povos. Por isso, Gomes Freire retirou-se para o Rio de Janeiro (aonde chegou a 20 de abril
de 1759), permanecendo precária a posse das Missões. Na Colônia, a luta prosseguia sem solução.

6.5) O Distrato de El Pardo (ou Tratado do Pardo) (1761):


Já tinha começado na Europa a Guerra dos Sete Anos (1756-1763) entre Inglaterra e França, diante
da qual Portugal permanecera neutro. Mas a tendência de Carlos III de Espanha ligar-se à França no
chamado Pacto de Família e a consequente necessidade para o reino português de manter a aliança inglesa,
somando-se ao incômodo que a Guerra Guaranítica ocasionava em terras americanas, embasaram a
proposta do Marquês de Pombal ao Rei D. José I de anulação do Tratado de Madri. O Tratado de El Pardo,

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assinado a 12 de fevereiro de 1761, não foi outro tratado de limites, mas um simples distrato. E nem por
isso sobreveio a paz. No ano seguinte, combatiam espanhóis e portugueses em sua fronteira europeia, estes
ajudados por Lorde Abermale. Pombal estava certo: a Inglaterra não lhe faltara.
Essa campanha europeia não se revestiu de grande importância; serviu, porém, para demonstrar a
fraqueza da organização militar portuguesa e, logo em seguida, para melhorá-la a contratação de um famoso
militar de Frederico da Prússia, o Conde reinante de Schaumburg-Lippe.
Devido aos conflitos terem retornado à região somados as questões de declínio da produção das
Minas Gerais, a capital do Brasil colonial foi transferida de Salvador – BA, para o Rio de Janeiro em 1763.

6.6) Perda e Restauração do Rio Grande:


Celebrado entre portugueses e espanhóis, anulou os efeitos do Tratado de Madri e estabeleceu que
a Colônia de Sacramento voltasse a ser de Portugal. Durante a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), Portugal
e Espanha voltaram a ficar em lados opostos quando, em 1761, a Espanha assinou um tratado de aliança
com a França, o que levou a Grã-Bretanha a declarar guerra aos espanhóis. Como consequência, Portugal,
que apoiava os britânicos, foi invadido em 1762 por forças hispânicas consequentemente a guerra se
propagou para o Sul do Brasil. Na região do Prata, o governador de Buenos Aires ordenou ao comandante
do cerco, que estava sendo feito à Colônia de Sacramento, que fosse restabelecido o tiro de canhão como
limite reconhecido para a praça e “convidasse” o governador da Colônia de Sacramento a desocupar
imediatamente as Ilhas de Martin Garcia e dos Hermanos. Ainda delegou ao Capitão Francisco Gorriti a
incumbência de viajar até a Vila de Rio Grande para entregar, ao comandante da mesma, um ofício, em que
exigia a desocupação daquelas terras, já que, com a nulidade do Tratado de Madri, as terras voltavam a
pertencer à Espanha. O Governador de Buenos Aires, D. Pedro Antônio Cevallos, tinha ambicioso projeto
de dominação do Sul do Brasil, e preparou-se militarmente para atacara Colônia de Sacramento, recebendo
reforços da Espanha em navios, material de artilharia e munição.
A Colônia de Sacramento dispunha para sua defesa de uma pequena tropa, que não excedia 500
homens, e o Governador Vicente da Silva Fonseca respondia às intimações de Cevallos procurando ganhar
tempo, enquanto aguardava reforços. Em outubro de 1762, a Colônia de Sacramento foi atacada pela quarta
vez e, não obstante a resistência oferecida pelos portugueses, capitulou.
Os espanhóis continuaram avançando sobre terras ocupadas pelos luso-brasileiros e com
superioridade de forças tomaram o Rio Grande de São Pedro em 1763. Apesar de ter sido restabelecida
a paz entre as duas nações após a assinatura do Tratado de Paris, e o governador de Buenos Aires restituir
a Colônia de Sacramento, este continuou com a ocupação do Rio Grande de São Pedro, que pretendia tornar
definitiva tendo como base o Tratado de Tordesilhas. Não obstante a reclamação dos portugueses por via
diplomática, foi necessário empreender uma ação militar, na qual tropas luso-brasileiras, comandadas pelo
Tenente-General João Henrique Boehm (alemão a serviço de Portugal), juntamente com o emprego da
Esquadra portuguesa, reconquistaram o Rio Grande de São Pedro em abril 1776.
Em 1777, os espanhóis protestaram contra a tomada do Rio Grande pelos portugueses e, após
insucessos diplomáticos, decidiram enviar uma poderosa expedição sob o comando de D. Pedro de
Cevallos, nomeado primeiro vice-rei do Rio da Prata. Coube ao Marquês da Casa de Tilly o comando da
força naval espanhola, que era composta de 19 navios de guerra e 26 de transporte. Embora providências
tenham sido tomadas, no sentido de combater tal ameaça pelo Marquês de Pombal, os espanhóis ocuparam
a Ilha de Santa Catarina e pela quinta vez atacaram a Colônia de Sacramento.

6.7) O Tratado de Santo Ildefonso (1777):


Com a morte de D. José I, em fevereiro de 1777, assumiu o trono de Portugal D. Maria I. Na tentativa
de resolver as questões de limites entre Portugal e Espanha, foi assinado em 1º de outubro de 1777 o Tratado
de Santo Ildefonso. Por este tratado, ficou estabelecido a restituição a Portugal da Ilha de Santa Catarina,
porém os lusos perderam a Colônia do Santíssimo Sacramento e a região dos Sete Povos das Missões. Este
tratado deixou os espanhóis com o domínio exclusivo do Rio da Prata, sendo deveras desvantajoso para
Portugal.

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6.8) Tratado (ou Paz) de Badajós (1801):
A estabilidade entre as relações luso-espanholas foi afetada quando Napoleão Bonaparte, desejoso
de castigar Portugal por participar, com seus navios, de cruzeiros ingleses no Mediterrâneo e visando a
trazer os portugueses para zona de influência francesa, forçou a Espanha a declarar guerra a Portugal em
1801. O rompimento das relações entre os dois países na Europa durou poucas semanas, sem ações militares
dignas de registro, ficando o episódio conhecido como a Guerra das Laranjas.
Na América, porém, a chegada da notícia sobre o conflito entre as duas coroas desencadeou o
rompimento de hostilidades entre as populações da fronteira. No Rio Grande de São Pedro, tropas foram
aprestadas para defenderem as fronteiras, ainda em processo demarcatório, e os luso-brasileiros invadiram
e conquistaram os Sete Povos das Missões, do lado espanhol, enquanto os hispano-americanos invadiram
o Sul de Mato Grosso. O Tratado de Badajós pôs fim à guerra de França e Espanha contra Portugal, tendo
a Espanha por direito de guerra, conservado a praça de Olivença, na Europa, e a Colônia de Sacramento.
Portugal recuperou no sul da América o território dos Sete Povos das Missões.

As Guerras Napoleônicas mudaram todo cenário construído ao longo do Século XVIII

A família real portuguesa embarca para o Brasil no cais de Belém (Portugal) em 29/11/1807,
fugindo da invasão francesa em Portugal por tropas de Napoleão Bonaparte.

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BIBLIOGRAFIA DESTE MÓDULO


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Serviço de Documentação da Marinha, 2006.
- BELOT, R. de, A Guerra Aeronaval no Mediterrâneo, 1939-1945. 2ª ed. Rio de Janeiro: Record, s/d.
- CAMINHA, Vice-Almirante João Carlos. História Marítima. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército
(BibliEx), Coleção General Benício, 1980.
- FROTA, Guilherme de Andrea. Quinhentos anos de História do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do
Exército (BibliEx), Coleção General Benício, 2000.
- HART, B. H. Liddell, As Grandes Guerras da História. 3ª ed. São Paulo: IBRASA, 1982.
- LIMA, Roberto Luiz Fontenelle. Guerra e Desarmamento. Duque de Caxias: Imprensa Naval.
- MAGNOLI, Demétrio. História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2009.
- VICENTINO, Cláudio & DORIGO, Gianpaolo. História para o ensino médio – História Geral e do
Brasil. São Paulo: Scipione. 2002. vol. único.
- VIDIGAL, Armando & ALMEIDA, Francisco E. A. Guerra no Mar: Batalhas e Campanhas Navais
que Mudaram a História. Rio de Janeiro: Record, 2009
- A Importância do Mar na História do Brasil - coordenação Carlos Frederico Simões Serafim;
organização Armando de Senna Bittencourt. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Básica, 2006. 216 p. (Coleção Explorando o ensino 13)

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