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RESUMO O presente artigo objetiva discutir as mediações das atuais *LUCIANA BATISTA DE OLIVEIRA CANTALICE
demandas postas ao assistente social, a partir do recorte é Mestre em Serviço Social pela
Universidade Federal da Paraíba,
das transformações societárias, enfocando, sobretudo, as professora do Departamento de Serviço
metamorfoses do mundo do trabalho e as novas expressões Social da Universidade Federal da Paraíba
da questão social, uma vez que se firmam a partir dessas e pesquisadora do Setor de Estudos em
transformações de situações de transição e de crise nas Análise de Conjuntura e Políticas Sociais
(SEPACOPS/PPGSS/UFPB. E-mail.:
formas de identidade, de integração e de conflito em lucantalice@bol.com.br.
sociedade, estabelecendo novas configurações no âmbito
da questão social e no curso desta, um processo que se **EDNA TANIA FERREIRA DA SILVA é Mestre
em Serviço Social pela Universidade
assevera devido ao esfacelamento da esfera pública e Federal da Paraíba, professora do
democrática do Estado. Desta feita, colocando para o Departamento de Serviço Social da
assistente social emergentes demandas, expressadas nas Universidade Federal da Paraíba e
diversas formas de precarização das condições de vida e de pesquisadora do Setor de Estudos em
Análise de Conjuntura e Políticas Sociais
trabalho da população. (SEPACOPS/PPGSS/UFPB.
E
sta é uma discussão cujo foco parte da série capital, - vale ressaltar o caráter de
de transformações societárias que se indissociabilidade das crises – identificando
consolidam na atualidade, articulando-as suas inflexões para o assistente social e as
às novas determinações que estão sendo postas problematizações inferidas às demandas dessa
ao Serviço Social. Essas novas configurações categoria profissional, buscando decifrá-las.
requisitam do assistente social a formulação de Optamos por discutir a categoria trabalho,
novas competências e de respostas às novas considerando que ele se constitui enquanto um
necessidades sociais. São tempos marcados por pressuposto da existência humana, por meio
uma crise societária, considerando que o atual do qual o homem faz a história, sendo uma
contexto sócio-histórico é permeado pelas atividade que se inscreve na esfera da produção
crises ideológicas, de valores, do capital, do e reprodução da vida material e social. Contudo,
trabalho, das utopias, dos paradigmas etc., as na atualidade, afirmar a centralidade do
quais, segundo Bobbio (1996), definem-se trabalho pode parecer um contra-senso, vez que
como um momento de mudanças dentro do vivenciamos, por várias vias, o descentramento
funcionamento de um sistema, em sentido e a desconstrução da categoria do trabalho,
positivo ou negativo, uma virada, por vezes, não mediante as metamorfoses instaladas nas suas
prevista e que desenvolve interações dentro formas de produção e organização. Tal
do referido sistema. centralidade se reafirma no fato de que o
Nessa perspectiva, abre-se um leque com trabalho “(...) se constitui, na sua essência, em
múltiplos caminhos de análise para a uma inter-relação ineliminável entre o homem
abordagem das transformações societárias da e a natureza” (LUKÄCS apud LESSA, 1997, p.09).
atualidade, bem como suas mediações com o “(...) o trabalho, na sua forma mais
Serviço Social. Entretanto, a presente proposta genérica, é uma necessidade natural e eterna
delimita-se em torno da crise do trabalho e do de efetivar o intercâmbio entre o homem e a
natureza e, por isso, uma esfera ineliminável deixar de ser um processo civilizatório de
do ser social” (MARX,1998, p. 218). É através do alcance mundial, envolvendo nações, regimes
trabalho que o homem transforma a natureza, políticos, projetos nacionais, classes e grupos
ao mesmo tempo em que transforma a si sociais, economias e sociedades, culturas e
mesmo, em busca da satisfação das suas civilizações, transpondo as fronteiras
necessidades. geográficas, históricas e político-culturais e
E o que nos parece intrínseco, na verdade, multiplicando as suas formas de articulação e
é adverso: a centralidade ontológica do trabalho contradição.
e a diminuição da sua presença enquanto Assim, processa-se uma totalidade
dimensão da vida cotidiana são duas questões abrangente, complexa e contraditória,
distintas. A centralidade, para o ser social, não circunscrevendo uma nova escala de valores,
decorre prescritivamente da centralidade ou mesmo, novas formulações às cartografias
política dos trabalhadores nem da centralidade geopolíticas, blocos e alianças, polarizações
cotidiana do trabalho. O papel e a condição ideológicas e interpretações científicas. Mas
política dos trabalhadores estão intimamente esse processo, conforme Ianni (1999), tem-se
relacionados à concreta relação social de uma realizado de forma violenta, no qual se
classe e à totalidade social que implicam o globalizam as coisas, as idéias, as pessoas, num
desdobramento de várias mediações sociais ciclo histórico de continuidades, recorrências,
necessárias à categoria trabalho, porém que tensões e rupturas, versando, dessa forma, a
não podem ser contidas e resumidas ao trabalho universalização do capitalismo, corporificado
enquanto tal. em um novo impulso, de forma extensiva e
A compreensão do caráter fundante do intensiva, através de novas tecnologias, da
trabalho para o ser social, isto é, o ser puro, criação de novos produtos, recriação do mundo
imediato e indeterminado, passa a assumir a do trabalho e mundialização dos mercados.
posição do ser que se apresenta a partir da Nessa divisão transnacional do trabalho,
materialização do trabalho, porquanto é a forja-se uma nova configuração que é
categoria de trabalho que potencializa a perpassada por uma redistribuição de
transformação do ser meramente biológico e empresas, de corporações e conglomerados por
indeterminado para o ser efetivamente social. todo o mundo. Estabelece-se uma nova diretriz
Estabelecida uma mediação que articula a de organização, ao invés de áreas de
especificidade do ser no mundo dos homens concentração da indústria, centros financeiros,
com a totalidade existente, elucidam-se a organizações de comércio e mídia nos países
gênese e o desenvolvimento do ser - o ente - dominantes, firmando-se uma redistribuição
social. em vários países e continentes. “Forma-se toda
Em face de o trabalho proporcionar a uma cadeia mundial de cidades globais, que
sociabilidade, as transformações societárias em passam a exercer papéis cruciais na
desenvolvimento na contemporaneidade generalização das forças produtivas e relações
apontam, conseqüentemente, para a emersão de produção em moldes capitalistas, bem como
de metamorfoses no mundo do trabalho, que na polarização de estruturas globais de poder”
põem em “xeque” as condições de sua (IANNI, 1999, p.13-14).
realização, organização e reprodução. Ocorre uma reestruturação das empresas,
Vivenciamos, nas últimas décadas do que apontam para produtividade, agilidade,
século XX e se estendendo até os dias atuais, capacidade de inovação e competitividade. Na
de forma contundente e contínua, o processo realidade, tal reestruturação assinala novas
de globalização e criação da sociedade global formas de organização social e técnica do
que, em si, formam uma unidade em trabalho.
movimento, expressando um novo ciclo de Uma questão a ser considerada na relação
expansão do capitalismo, que não poderia entre capitalismo e trabalho é que, nas mais
que a vinculava à maior parte das proteções E, nessas situações descritas, encon-
contra os riscos sociais, porque a condição tramos o trabalho como um elo que pode
salarial era, na modernidade, a matriz-base representar um suporte de inserção na estrutura
dessas sociedades. Na contemporaneidade, social, através de uma relação sólida e estável
cria-se o abismo quando se firma o declínio - de forma a representar uma área de integração
para não dizer o aniquilamento - da condição ou através de uma relação aleatória - fator
salarial para uma enorme parcela dos determinante para uma “possível” recolocação
trabalhadores, em escala mundial. na dinâmica social. Todavia a não participação
em uma atividade produtiva e/ou a ausência
[ ...] o desemprego em massa e a
instabilidade das situações de de relação com o trabalho traz para o indivíduo
trabalho, a inadequação dos sistemas a exclusão2.
clássicos de proteção para dar Ainda nesse contexto, há uma zona que
cobertura a essas condições, a
multiplicação de indivíduos que
se configura enquanto intermediária, que é
ocupam na sociedade uma posição de perpassada pela vulnerabilidade social disposta
supranumerários, “ inempregáveis”, no trabalho precário e na fragilidade dos
inempregados ou empregados de um mecanismos de proteção, delimitando a parcela
modo precário, intermitente. (CASTEL,
1998, p. 21).
de incluídos precariamente. Mas quando há uma
crise, como a que se firma na contem-
Contudo, não podemos falar do fim da poraneidade, essa zona intermediária se dilata,
condição de assalariamento, haja vista que, alavancando processos de exclusão e/ou
atualmente, expande-se o setor de prestação desfiliação.
de serviços, cuja remuneração desse tipo de Diante do exposto, a questão social
trabalho recorre à figura do salário. Mas o que persiste incisivamente, todavia metamor-
se verifica é a ruptura com o estatuto de foseando-se na aproximação dos atores
proteção contra os riscos sociais, visto que este intitulados de “ inúteis para o mundo”,
passa a não mais existir no novo e precário reconhecidos nos vagabundos da revolução
mundo do trabalho, sendo estabelecidas formas industrial, como também nos inúmeros
precarizadas e fragmentadas de inserção social. “ inempregáveis” do mundo do trabalho da
Diante da nova ofensiva do capital, ganha atualidade, particularizando, é claro, os
centralidade a problemática da integração e/ processos que geravam tais situações e as
ou coesão social, num cenário em que se prima diferentes dinâmicas no que concerne à forma
pelas determinações da dissociação social de suas manifestações, mas podendo ser
através dos ditames da vulnerabilidade, da comparados.
invalidação e da exclusão em massa, ou como
Essa problematização se fundamenta em
concebe Castel, do processo de “desfiliação”,
um divórcio entre o reconhecimento dos
no qual o indivíduo é colocado em situação de
direitos dos cidadãos - com o respaldo da ordem
flutuação na estrutura social, passando a vagar
jurídico-política - e uma ordem econômica que
à margem da sociedade sem encontrar um lugar
assinala e sustenta a pauperização e a
designado.
desmoralização da massa de trabalhadores.
Silhuetas incertas, à margem do Sobrepõe-se um enigma social entre a coesão
trabalho e nas fronteiras das formas e a fratura da sociedade, que coloca em questão
de troca socialmente consagradas -
desempregados por período longo,
moradores dos subúrbios pobres, 2
A exclusão, para Martins (1997, p.19), consiste em um
beneficiários da renda mínima de
processo crescente de acumulação da pobreza, e esta, em
inserção, vítimas das readaptações
níveis absolutos, passando a incorporar um caráter de
industriais, jovens à procura de
irreversibilidade, em que o excluído não vê nenhuma
emprego e que passam de estágio a
possibilidade de ascensão social nem dispõe dela “[...] Ela
estágio, de pequeno trabalho à
cai sobre o destino dos pobres como uma condenação
ocupação provisória [...] (Ib. 23) irremediável.”
ABSTRACT The present objective article to argue the mediations of current of the demands ece of fishes to the
social assistent from the clipping of social transformations, over all, focusing the metamorphoses of
the world of the work and the new expressions of the social mutter. Search to identify, in this context,
the situations of transitions and crisis in the forms of identity of integration and conflict in the society,
Radicalized for the fragments of the public and democratic sphere of the state. In intetion to point the
mediations to the traditional demands, reedited, imminent and potential of the expressed social
service in the diverse forms of poor conditions of life and work of the population.
ALVES, Giovanni. O novo (e precário) mundo LESSA, Sérgio. Trabalho e ser social. Macéio:
do trabalho: reestruturação produtiva e crise EUFC/EDUFAL, 1997.
do sindicalismo. 1ª ed. São Paulo: BOITEMPO,
2000. 365 p. MARX, Karl. O Capital: crítica da economia
política: Livro I v. 01. 16ª ed. Rio de Janeiro:
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio Civilização Brasileira, 1998. 966 p. ISBN 85-200-
sobre as metamorfoses e a centralidade do 467-9.
mundo do trabalho. 5ª ed. São Paulo: Cortez, MOTA, Ana Elizabete. (org.) A nova fábrica de
1998. 155 p. ISBN 85-249-0555-7 consensos. São Paulo: CORTEZ, 1998. 215 p.
ISBN 85-249-0691-6
CANTALICE, Luciana Batista de Oliveira. As
atuais demandas postas ao assistente social: NETTO, José Paulo. Transformações
entre as transformações no mundo do Societárias e Serviço Social: notas para uma
trabalho e as novas expressões da questão análise prospectiva da profissão no brasil. IN:
social. (Dissertação de Mestrado). João Serviço Social e Sociedade n.º 50. São Paulo:
Pessoa: PPGSS/UFPB, 2002. 223p. CORTEZ, 1996. 132 p.