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v.35-2, p.69-76
Resumo Palavras-chave
O autor realiza um passeio pelas origens acentua que o psicólogo moderno deve saber Alquimia,
da alquimia e por sua existência em diferentes que, em termos científicos, só pode descrever aspectos
culturas e em diferentes épocas. Reconhece a o processo psicológico, uma vez que a natureza históricos,
alquimia como originando-se de técnicas má- real da psique transcende a consciência como alma da
matéria,
gico-míticas, que surgiram com o despertar da um mistério da vida ou da própria matéria. ■
projeções na
consciência. As diferentes alquimias incorpo-
matéria.
ram diferentes sabedorias, que buscam com-
preender as relações cósmicas do homem com
a matéria. A alquimia precedeu no nível objeti-
vo a química e no subjetivo a psicologia. Toda
matéria tem sua alma, que é perene. Os corpos,
porém, são formas transmutáveis. Acentua que
a física moderna, também como a alquimia,
admite a transmutação da matéria. A leitura que
Jung fez da simbólica alquímica, como projeção
de vivências inconscientes pessoais e arque-
típicas, trouxe uma compreensão psicológica
para o complexo simbolismo alquímico. O autor
É impossível dizer-se onde, quando e como ciência. Temos então dois polos: a consciência
surgiu a alquimia. Suas origens são várias, instrumental, clara e discriminada, surgindo jun-
imprecisas, difusas e discutíveis. to com a crença no sobre natural da qual a alma
São várias também as versões sobre a eti- humana faz parte. A ideia de que a conjugação
mologia da palavra alquimia. Parece referir-se de opostos, o polo claro, natureza (consciência),
ao Egito (Khem ou khan, nome antigo do Egito) com o polo escuro, sobrenatural (inconsciente),
e o artigo definido árabe “al” dando-al-chimia, é propiciadora de crescimento, vai permear toda
(a terra negra). Parece também prover da raiz a obra alquímica (opus).
grega chemeia, do egípcio chem, negro, que Se a alquimia tem origem nas técnicas ar-
pode referir-se à terra negra (Egito), ao negro caicas mágico-míticas, ela só pode instituir-se
da oxidação dos metais ou ao negro, cor sagra- como um saber, a partir de uma sabedoria que
da dos sacerdotes egípcios que como tintura procura compreender as relações cósmicas do
a preparavam secretamente, daí o termo “Arte homem com a matéria.
Negra” como arte do aperfeiçoamento em bus- A sabedoria pode ser formulada por um ho-
ca do divino. mem, o(a) sábio(a) (tipo Confúcio) que procura
Como mostra Eliade (1979), a alquimia teria compreender estas relações de um modo que
muito a ver com técnicas arcaicas, mágico-míti- pode ou não ser aceito. Com o advento das reli-
cas da humanidade, que devem ter surgido com o giões reveladas, a sabedoria é considerada como
despertar da consciência. Ter instrumentos (como vinda de Deus, sábio e único, que fala pela boca de
pedra e madeiras) e ser capaz de usá-los como seu profeta. Em várias civilizações antigas, encon-
utensílios tem a ver com a tomada de consciên- tramos alquimias que trouxeram valores que foram
cia, adaptação do homem ao seu meio natural. incorporados pela alquimia europeia. O raciocínio
As técnicas, pelo contrário, surgem quando alquímico é principalmente dedutivo e baseado
o homem promove a adaptação do meio natu- em duas premissas estabelecidas a priori: a unida-
ral às necessidades humanas, para atender às de da matéria e a existência de um potente agente
suas consciências. transformador, chamado “pedra filosofal”. Este
A emergência da consciência traz algo destaca- seria capaz de curar as imperfeições dos metais
do da natureza, mas traz também a percepção dos enobrecendo-os para se transformarem em ouro,
limites da própria consciência, ou seja, o medo do símbolo do perfeito e incorruptível. Do postulado
que permanece desconhecido e fora dela, ou seja, da unidade da matéria segue-se que um agente
o medo da noite com seus sonhos e da morte. seria capaz de curar enfermidades no humano e
No escuro da noite, o homem não sabe o que prolongar sua vida. A pedra filosofal seria esta me-
se ater. Daí consciência ter que ver com luz e es- dicina perfeita, com o nome de elixir da vida.
clarecimento de um lado e não ter consciência Havia em várias antigas civilizações técnicas
tem a ver com escuridão e desconhecido de ou- complexas e refinadas, por exemplo, técnicas
tro. Esta vivência interna que se manifesta como com tinturas, vidros coloridos e metalurgia no
consciência também aparece como emoções, Egito que foram assimiladas pela alquimia, pela
como, por exemplo, amor e medo. Este interno qual se acreditava que coisas materiais estavam
assustador se assemelha ao sobrenatural com carregadas com coisas divinas.
deuses, fantasmas e demônios e parece sobre- Na Caldeia, havia a astrologia que associava
viver à morte, pois o ser humano pode pensar e planetas aos metais e ao destino dos homens.
desejar além do que está claro e distinto na cons- A alquimia chinesa desenvolveu técnicas de
preparo de elixires para tratamento médico e dos pré-socráticos, preocupada com o cosmo, o
prolongar a vida. Ela se consolida quando sobre tempo e a matéria e a filosofia dos neoplatôni-
estas técnicas e também técnicas de metalurgia cos. Para muitos, portanto, a alquimia só adqui-
se aplicassem a sabedoria do Taoísmo. Na alqui- re maturidade com os alexandrinos, quando, ao
mia hindu ocorreram coisas parecidas à chinesa, lado de técnicas antigas, temos um conjunto de
quando, sobre técnicas arcaicas, surgiram inter- doutrinas com afirmações sapienciais e religio-
pretações sapienciais do hinduísmo. sas nos séculos II e III.
Dos sumérios e babilônios vieram as técni- Data também desta época a junção na alqui-
cas para se obtiver metais a partir de minérios mia, da filosofia dos neoplatônicos com a cabala
e a produção de ligas metálicas como o bronze, judaica, a mântica caldaica e a mística egípcia.
realizadas como cerimômias religiosas. Para fun- Havia em alguns autores alquimistas uma verda-
dir o ferro deveria-se esperar a época adequada, deira teurgia, ou seja, a manipulação mágica dos
quando Marte estaria propiciador. Para sua fun- deuses em prol da satisfação dos desejos huma-
dição, o homem deveria estar preparado. Era o nos. Toda matéria é a mesma, nas suas diferentes
momento do Kairos, que iria ser o momento pro- formas de apresentação, inicialmente a mesma
pício para determinadas operações alquímicas. na sua origem, é a “prima matéria”, que por dife-
Houve grande florescimento da alquimia em rentes processos evolucionários adquire diferen-
Alexandria nos séculos II e III, que é considerada tes formas. Toda matéria tem uma alma comum
por muitos como aquela em que atingiu maior que por si só é permanente. A forma externa ou
maturidade e plenitude. Houve algumas propos- corpo, são modos de manifestação da alma do
tas alquímicas no século I A.C., mas difíceis de mundo (anima mundi) e, portanto, formas transi-
identificar e localizar. Reflexões da filosofia gre- tórias e transmutáveis em outras formas.
ga e dos neoplatônicos ampliaram e enriquece- Em essência, estes pontos de vista guardam
ram as percepções dos alquimistas helenísticos. estreita semelhança com os modernos pon-
No século VIII, através da Síria e Pérsia, tos de vista da física moderna. Esta verdadeira
a alquimia penetrou nos países árabes, vinda “alquimia moderna” tem mostrado a possibilida-
principalmente de Alexandria. Entre os árabes, de da transmutação de elementos. A “pedra filo-
floresceu em duas vertentes diferentes, uma es- sofal” seria um fantástico catalisador, capaz de
sencialmente prática, ligada ao artesanato e a provocar transformações na matéria. Um grande
medicina (vertente extrovertida), e outra ligada catalizador seria, por exemplo, um bombardeio
ao misticismo, vista como introvertida e cheia de nêutrons que iniciam a desintegração do Urâ-
de segredos. A primeira, ligada aos sunistas, nio 235 em outros elementos. O que antes era
reduziu-se mais à química, tendo em Al-Razi imaginação agora prova-se.
seu expoente, que introduziu a necessidade de A ideia da transmutação está implícita na
quantificar os materiais. A segunda, ligada aos teoria dos quatro elementos de Aristóteles.
xiitas, teve em Mohamed Ibn-U-mail um grande A natureza busca o aperfeiçoamento. Das ideias
místico, que ficou conhecido como Sênior, seu gregas, pouco parece ter havido uma extensão
nome latino, na alquimia europeia. para a concepção da pedra filosofal e o elixir da
No século X, a alquimia retorna à civiliza- vida como agentes que buscam a perfeição para
ção cristã, pelos árabes na Europa (Espanha o mundo inanimado e animado.
e Sicília), unindo-se à filosofia escolástica e a Um dos primeiros títulos da alquimia helenís-
sapiência cristã. tica é a Physica do pseudoDemócrito que mostra
Para muitos a alquimia, pelo menos a hele- o mago caldeu Ostanes no templo de Memphis
nística, seria filha do encontro da tecnologia e, através de um aforisma zoroastriano, recebeu
química e da mágica dos egípcios com a filosofia as receitas para obtenção do ouro e de elixires
para a imortalidade, justificados pela teoria gre- alquimistas, também símbolos arquetípicos do
ga dos quatro elementos, da mântica caldaica, inconsciente coletivo. Nelas, assim, aparecerá
da Astrologia e do rito do fogo do zoroastrismo. o coletivo arquetípico, próprio do ser humano,
Na idade média, com influências de outras de maneira exuberante, pois os alquimistas não
alquimias, a europeia tornou-se um grande sis- tinham consciência que eram expressões do seu
tema filosófico que busca penetrar e harmonizar inconsciente. Achavam que eram realmente ex-
os mistérios da criação e da vida. Propõem-se a pressões de alterações na matéria que para eles
relacionar o microcosmo do homem com o ma- era una, e, por conseguinte, não havia nenhuma
crocosmo do universo. crítica ou defesa contra suas expressões.
A alquimia é muito mais que uma forma ru- Esta simbólica expressava tudo aquilo que
dimentar de ciência experimental. A busca da é próprio e eternamente presente na psique in-
transmutação de matéria inanimada, os metais, consciente coletiva, ou seja, a vivência dos ar-
é apenas um objetivo incidental. Com isto ela quétipos, na busca da estruturação da consci-
busca provar sua mais essencial e ampla pro- ência. Por esta razão, Jung identificou em muitas
posta da unidade de todas as coisas. Encon- expressões simbólicas dos alquimistas, expres-
tramos na alquimia uma vasta rede de ideias e sões simbólicas idênticas às que apareciam nos
afirmações na qual se misturam rudimentos de sonhos e imaginações de seus clientes.
química, relacionados com religião, folclore, Como dizia Jung (1991), a psique objetiva é
mitologia, astrologia, magia, misticismo, filoso- autônoma em alto grau, sendo o inconsciente
fia, teologia e outros campos de imaginação e uma realidade psíquica que só aparentemente
experiência humana, ou seja, tudo o que é mani- pode ser disciplinada. É um lado da natureza
festação do inconsciente pessoal e coletivo. que não pode se melhorado nem deteriorado,
Uma das compreensões da simbólica al- podemos auscultar seus segredos, mas não
química é a de que se tratava de projeções do manipulá-los. Fica claro que ambos estavam ex-
alquimista sobre a matéria e suas alterações, pressando símbolos arquetípicos, presentes na
do inconsciente pessoal e de imagem arquetípi- personalidade do ser humano, que sempre exis-
cas expressas pelo seu Self, principalmente de tiram e existirão sempre pois são arquetípicos e
seu processo de individuação. próprios de nossa espécie. Aparecerão, no en-
A associação da alquimia com religião e psi- tanto, com algumas características próprias do
cologia tem mostrado que ela é tão ou mais im- tempo e da cultura de quem os está vivenciando,
portante para a psicologia do que para a quími- porém idênticos na sua essência.
ca. Esta interpretação, proposta por Jung, trouxe A ideia básica da alquimia é que tudo provém
enorme compreensão para os complexos, confu- do Uno. O processo alquímico é uma reconstru-
sos e as vezes incompreensíveis manifestações ção microcósmica do processo de criação ou em
da alquimia. outras palavras uma recriação. Para desmanchar
A compreensão da alquimia como projeções o “corpo” em sua forma atual, a procura da for-
de vivências inconscientes, pessoais e arquetí- ma original do Uno, várias operações eram feitas.
picas trouxe um sentido psicológico importan- Ao nível do individual, o corpo das coisas poderia
tíssimo para a compreensão do riquíssimo, exu- ter a operação de dissolução, chamada solutio e
berante e confuso simbolismo alquímico. Estas seguida da coagulação, a coagulatio. Era a sol-
expressões simbólicas aconteceram em diferen- vite corpora et coagulate spiritum. Havia muitas
tes culturas, em diferentes lugares e diferentes outras operações: calcinatio, putrefatio, coniunc-
épocas, devendo, portanto, estar presentes, para tio etc. Como afirmava Jung, o desenvolvimento
os diferentes alquimistas, além de aspectos pes- e crescimento da personalidade, não pode ser
soais e culturais próprios de vivências de cada completo só à custa das vivências externas. É fun-
damental que venha da própria personalidade, A imagem central da alquimia é o opus com a
do Self, motivações que os inspirem e promovam qual o alquimista tinha um compromisso sagrado,
seu desenvolvimento e aprimoramento. era a busca do valor supremo, o ouro alquímico.
As íntimas conexões entre o simbolismo alquí- O segredo alquímico não podia ser divulgado
mico e as metáforas das religiões são muito gran- e sua violação seria um crime pois poderia cair
des. Por exemplo, o grande símbolo da união dos em mãos inadequadas que poderiam fazer mal
opostos, expresso por inúmeras metáforas em to- uso dele. As energias transpessoais devem ser
das as religiões, por exemplo, Cristo unido à igre- secretas e sagradas e não apossadas pelo ego
ja, está presente em inúmeros símbolos alquími- que não pode se identificar com imagens arque-
cos, como o casamento do rei e da rainha. Outro típicas o que seria uma inflação, um não conhe-
exemplo, unicórnio, monstro hermafrodita simbo- cer a si mesmo e seus limites.
lizando uma coniunctio opositorum está presente A ideia da prima matéria veio dos filósofos
em várias alquimias. A serpente gnóstica é com- pré-socráticos como um a priori de que o mundo
parável ao mercúrio alquímico ou à água divina, derivava de uma substância original e única da
símbolo que leva todas as coisas à maturação e qual derivava o mundo. Seria da parte desses fi-
desenvolvimento, buscando aperfeiçoamento. lósofos ou uma imaginação, ou um pensamento
irracional, ou uma impressão visual e, portanto,
É o espírito da vida, a anima mundi. Serpente e o
uma manifestação de um fato psíquico arquetí-
chifre do unicórnio são alexipharmakons, ou seja,
pico, projetados na matéria, já que o mundo é
são antídotos contravenenos.
obviamente múltiplo.
A experiência alquímica europeia era mais
A prima matéria sofrendo um processo de
uma “vivencia mágica” do que uma experiência
diferenciação se parava-se em quatro elemen-
científica concreta e repetível. Ela fundamenta-
tos: terra, ar, fogo e água que combinado-se em
va-se na concepção animista da natureza. Nela
proporções variadas formariam todos os objetos
tudo é movido por uma alma, da qual a alma hu-
físicos, os corpos.
mana participa. Isto possibilitou o estreito para-
A alquimia descreve um processo de trans-
lelismo entre o que acontece com a matéria du-
formação química e das instruções para sua
rante sua transmutação e o que acorria na alma
realização. Embora muito variáveis elas coinci-
do alquimista. Como já dissemos, Jung trouxe dem em algumas partes principais desde o co-
uma nova interpretação para os textos e sím- meço da Era Cristã. Seriam quatro os estágios
bolos alquímicos como sendo projeções do in- da opus caracterizados pelas cores originais:
consciente do alquimista sobre a matéria e suas preto (nigredo), branco (albedo), amarelo (xan-
transformações e seus símbolos coletivos de seu tosis) e vermelho (rubedo). No século XV, as co-
processo de individuação. Ele mostra fenomeno- res foram reduzidas a três, caindo em desuso a
logicamente que a opus é uma projeção sobre a xantosis. Dizia-se que apesar de serem quatro
matéria do acontecer psicológico no processo de elementos, as cores eram três. A mudança na
individuação. Este, para Jung (1997), pode ocor- classificação dos estágios foi devida ao signi-
rer na segunda metade da vida, principalmente ficado simbólico do quaternio e da trindade,
em pessoas preocupadas com sua melhoria in- ou seja, foi devida a razões internas psicológi-
terna e desenvolvimento de sua personalidade cas, e não externas.
ou em termos religiosos como a salvação de sua A sequência das fases da opus, nos diferen-
alma. Atualmente, a psicologia analítica fala em tes autores depende em primeiro lugar de sua
processo de individuação ocorrendo em toda a concepção da meta, que são tão variáveis como
vida e vindo do Self, para o crescimento e aper- os processos individuais. Às vezes, trata-se como
feiçoamento da consciência. meta, da obtenção da tintura branca e vermelha,
às vezes da pedra filosofal, capaz de promover material, por isto a conhece. Haveria um vago fe-
transformações, ou o elixir de vida, a panaceia, nômeno de consciência na matéria.
capaz de curar doenças e prolongar a vida. Estamos diante de um mistério que não con-
O lápis philosophorum é muitas vezes a pri- seguimos compreender. Isto pode nos colocar
ma matéria, ou o meio de produzir ouro, ou um na posição mais humilde e modesta de termos
ser místico chamado Deus terrestris ou Salvator. que descrever fenômenos de acordo com nossos
A opus inicia-se com a evocação da sabedo- conhecimentos atuais e reconhecermos nossa
ria divina, condutora do processo. ignorância em termos científicos da compreen-
A primeira fase, a nigredo, estado confuso são de tais fenômenos.
da matéria é atingida por diferentes operações e Como nos mostra a história, a alquimia exis-
se encerra para muitos quando surgem as “scin- tiu em inúmeras civilizações por séculos e de
tillas, centelhas que brilham e são associadas às certo modo está viva em nossas ideias.
ilhas de consciência”. Através de diferentes ope- Assim, no estudo da obra de Jung, seu livro
rações, evolui-se para a segunda fase, a albedo Psicologia e Alquimia (1991), é de importância
ou fase da prata, na qual se estabelece a ordem fundamental, o que mostra o quanto ela tem
sapiencial esclarecedora com a união dos opos- para nos ensinar sobre a psique humana e seu
tos. Esta evolui para a rubedo, o nascer do sol, funcionamento. De certo modo, nós, analistas
associada à vitória sobre a morte e a redenção junguianos, somos todos alquimistas, porém
da humanidade. com mais consciência de nosso trabalho.
Um dos conceitos básicos da alquimia, além Os alquimistas sabiam que a produção da
da prima matéria, de espaço, tempo e energia pedra filosofal era um milagre que só poderia
de uma partícula, é o conceito daquilo que se ocorrer Deo concendente.
poderia chamar de afinidade química. Era com- O psicólogo moderno deve saber que, em
preendida pela alquimia como uma atração inex- termos científicos, só pode apresentar uma des-
plicável que certas substâncias exerciam sobre crição de um processo psicológico, uma vez que
outras e a repulsão por outras. sua natureza real transcende a consciência, tal
O inconsciente pode fornecer modelos a como o mistério da vida ou da matéria.
que se pode chegar diretamente desde o inte- O psicólogo não explica o mistério, apenas o
rior da personalidade e estes podem se ajustar aproxima um pouco mais da consciência indivi-
a realidade exterior. Von Franz (1980) fala em dual, comprovando com base em dados empíri-
duas explicações possíveis para este fenômeno: cos o caráter real e passível de experiência do
o inconsciente tem conhecimento de outras rea- processo de individuação.
lidades ou ele é uma parte da mesma coisa que Como dizia Jung, é parte da ética do pesqui-
constitui a realidade exterior, pois ignoramos sador poder reconhecer o ponto em que seu sa-
como o inconsciente se liga à matéria. ber chega ao limite.
O inconsciente não material fornece ideias Este limite significa o início de conhecimen-
sobre a realidade material, ou ele próprio está tos mais altos. ■
ligado à matéria sendo um fenômeno dela. Von
Franz pensa que Jung inclinava-se a pensar hipo-
teticamente que o inconsciente tem um aspecto Recebido em: 14/08/2017 Revisão: 07/11/2017
Abstract
Resumen
Referências
ELIADE, M. F. Alquimistas. Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 1979. JUNG, C. G. O Eu e o inconsciente. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
(Obras completas de C.G. Jung, v. 2/2).
JUNG, C. G. Psicologia e alquimia. Petrópolis, RJ:
Vozes, 1991. VON FRANZ, M. L. Alquimia. São Paulo, SP: Cultrix, 1980.