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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

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AUTORIDADES

Governador do Estado do Rio de Janeiro


Exmº Sr Wilson Witzel

Secretário de Estado de Polícia Militar


Exmº Sr Coronel PM Rogério Figueredo de Lacerda

Subsecretário de Estado de Polícia Militar


Ilmº Sr Coronel PM Márcio Pereira Basílio

Diretor-Geral de Ensino e Instrução


Ilmº Sr Coronel PM Rogério Quemento Lobasso

Comandante do CFAP 31 de Voluntários


Ilmº Sr Tenente-Coronel PM Marcelo Andre Teixeira da Silva

Comandante do Centro de Educação a Distância da Polícia Militar


Ilmº Sr Tenente-Coronel PM Alexandra Ferraz de Oliveira

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APRESENTAÇÃO

Estamos vivendo a era da tecnologia, na qual a informação está cada dia


mais latente e veloz em nossa rotina diária. Este curso tem por objetivo , formar
e especializar os Cabos da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Para tal,
o Curso ocorrerá na modalidade semipresencial, pois as disciplinas ocorrerão na
modalidade EaD no ambiente virtual de aprendizagem, por intermédio da Escola
Virtual, no Centro de Educação a Distância Cel Carlos Magno Nazaré Cerqueira
(CEADPM) e as avaliações de forma presencial no Centro de Formação e
Aperfeiçoamento de Praças ( CFAP 31 Vol.).
É fundamental o seu empenho no curso, pois você terá na parte EaD
autonomia de estudos e de horários, mas também é necessário disciplina e
dedicação para o êxito dessa jornada, pois alcançar o sucesso depende do
esforço coletivo e também individual, objetivando que nossos policiais sejam
cada vez mais qualificados, bem treinados e especializados, para cumprirmos
nossa missão, buscando cada vez mais a excelência de nossas ações.
O bom treinamento envolve aspectos físicos e cognitivos, na era da
informação e da tecnologia, precisamos nos aprimorar cada vez mais a fim de
garantir uma tropa consciente, respeitosa, pautada em valores morais e
institucionais, garantindo assim o cumprimento de suas funções com dignidade
e excelência.
Esperamos que você aproveite ao máximo os conhecimentos adquiridos
através deste curso e busque uma reflexão acerca de suas funções perante a
sociedade e seus companheiros de profissão. Que seja um momento de
repensar as práticas e fortalecer seu vínculo profissional, ampliando cada vez
mais seus conhecimentos para lidar com as particularidades de ser um Policial
Militar no Estado do Rio de Janeiro.
Desejamos a todos bons estudos!

Rogério Quemento Lobasso – Coronel PM


Diretor-Geral de Ensino e Instrução

Marcelo André Teixeira da Silva – Ten Cel PM


Comandante do CFAP

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Desenvolvedores
Supervisão Geral EAD
CAP PM Ped Vania Pereira Matos da Silva

Equipe Técnica
SUBTEN PM Wilian Jardim de Souza
3º SGT PM Marco Antônio José Ribeiro Júnior
Conteudista
CAP PM Rui de Faria Souto
Exercícios
CAP PM Ped. Patrícia Kalife
2º SGT PM Elaine Xavier de Oliveira Alves de Lima
CB PM Juliana Pereira de Carvalho

Revisor Ortográfico
CAP PM Ped. Patrícia Kalife
2º SGT PM Elaine Xavier de Oliveira Alves de Lima
CB PM Juliana Pereira de Carvalho
Diagramação
2º SGT PM Wallace Reis Fernandes
3º SGT PM Ronie Camargo dos Santos
CB PM Michele Pereira da Silva de Oliveira
CB PM Alecsara Tognoc da Costa Abreu
CB PM Thiago Silva Amaral
Diagramação Interativa
2º SGT PM Wallace Reis Fernandes
SD PM Leonardo da Silva Ramos
Design Instrucional
CAP PM Ped Vania Pereira Matos da Silva
CB PM Bruna Alessandra da silva Braz Marques
Vídeo e Animação
CB PM Joyce Gaspar de Almeida
Designer Gráfico
2º SGT PM Wallace Reis Fernandes
SD PM Leonardo da Silva Ramos
Suporte ao aluno
2º SGT PM Anderson Inacio de Oliveira

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................6

DA CRIMINALÍSTICA E SEUS VESTÍGIOS .................................8

LOCAL DE INFRAÇÃO PENAL ..................................................25

DO LOCAL DE INFRAÇÃO PENAL ............................................28

EXAMES E LEVANTAMENTO TÉCNICOS PERICIAIS .................51

IMPRESSÃO PAPILOSCÓPICA ................................................60

IMPRESSÕES PAPILOSCÓPICAS ENCONTRADAS EM LOCAIS DE


CRIME....................................................................................61

CONCLUSÃO...........................................................................73

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................75

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INTRODUÇÃO

Originalmente o termo Criminalística foi desenvolvido por Hans


Gross como “Sistema de métodos científicos utilizados pela
polícia e pelas investigações policiais”. Somente no 1° Congresso
Nacional de Polícia Técnica, ocorrido em São Paulo no ano de 1947, a
Criminalística foi definida como “disciplina que tem como objetivo o
reconhecimento e a interpretação dos indícios materiais extrínsecos,
relativos ao crime ou à identidade do criminoso”, Garrido (2010).
Articulando dessa maneira, a Criminalística não como uma
ciência, mas como a aplicação do conhecimento de diversas Ciências e
Artes, para utilização dos métodos desenvolvidos e inerentes às
diversas áreas para auxiliar e informar as atividades policiais e
judiciárias de investigação criminal.
Assim, a Criminalística é uma ciência aplicada que utiliza
conceitos de outras ciências firmadas nos princípios da física, da
química e da biologia, no bojo de métodos e leis próprias embasadas
nas normas específicas constantes na legislação, principalmente a
processual penal. Embora não
possamos confundir o campo
da Criminalística com o da
Medicina Legal, e apesar de
ambas se responsabilizarem
pelos exames de corpo de
delito e, apresentem
interseção em vários
momentos, a Medicina Legal
tem como objetivo os exames
de vestígios intrínsecos (na
pessoa), relativos ao crime.
Como defende Garrido
(2008), durante a evolução da

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criminalística, diversas foram as denominações doutrinariamente


impróprias dadas à Criminalística: Criminologia Científica; Ciência
Policial; Investigação Criminal Científica; Policiologia, os quais se
aplicam também à administração policial e aos métodos de elucidação
geral. No entanto, o termo Criminalística é, oriundo da escola alemã,
sendo utilizado por toda Europa, “Kriminalistik e Criminalistique”. E
nesse sentido o próprio termo Ciência Forense não é sinônimo de
Criminalística em toda parte do mundo. Para Gialamas, Ciência Forense
deve ser definida como a aplicação das ciências à matéria ou problemas
legais cíveis, penais ou mesmo administrativos. Dessa forma, a
Criminalística seria apenas uma das matérias da Ciência Forense.
Cabe salientar que não podemos confundir Criminalística com
Criminologia, está última dá conta do estudo e da explicação da
infração legal, dos meios de se lidar com os atos desviantes, a postura
das vítimas, ou seja, o objetivo é o autor dos fatos desviantes, não
exclusivamente criminosos e como a sociedade se relaciona com este
fato.

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VAMOS VER UM POUCO DA CRIMINALÍSTICA E SEUS


VESTÍGIOS?

Começaremos por um breve Histórico da Criminalística!!

Desde os mais remotos tempos, a humanidade


tenta encontrar maneiras de esclarecer os delitos.
Assim, há relatos que já na velha Roma, o Imperador
César aplicara o método de “exame do local”, tendo
determinado o exame no quarto de uma vítima que
supostamente teria sido jogada pela janela por seu
marido, tendo constatado na ocasião “sinais certos de
violência”.
Há muita controvérsia acerca do início da
investigação forense, de maneira geral, pode-se dizer que a
investigação científica aplicada as questões legais tiveram início na
medicina legal. O exame de local era procedido pelo médico, que se
restringia ao exame do cadáver, com o tempo, a necessidade de
esclarecer a causa da morte, levou esse profissional a buscar outros
elementos que explicassem a dinâmica dos fatos, uma vez que, na
época a necropsia não era uma prática permitida.
O termo criminalística foi utilizado pela primeira vez em 1893 por
Hans Gross, jurista e magistrado, alemão, Professor de Direito penal
da Universidade de Graz, que publicou sua obra intitulada “Criminal
Investigation: A Pratical Handbook”.

Vamos ver o Conceito de Criminalística?

Criminalística, também conhecida como Ciência Forense, versa


sobre a análise de vestígios materiais extrínsecos relativos ao local
periciado, relacionando o modus operandi com a dinâmica descritiva,
oferecendo fundamentação material à instrução penal. Tem por
objetivo a interpretação dos vestígios, pela aplicação de diversas

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ciências, visando esclarecer tecnicamente os problemas criminais


relativos à determinação da existência do delito, a sua qualificação, a
identificação do criminoso, a legalização e a perpetuação das provas
materiais.

Peritos – você conhece o conceito e a classificação?

São técnicos de nível superior ou não, concursados ou não, mas


especializados em determinadas áreas do conhecimento humano, e
que, por designação da autoridade competente (autoridade de polícia
ou judiciária), prestam serviços à Justiça ou a Polícia, a respeito de
fatos, pessoas ou coisas.

Classificação e Investidura

Investidura é o ato pelo qual a


autoridade pública dá posse e o perito
assume o cargo ou encargo de realizar
a perícia. De acordo com a investidura,

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os peritos classificam-se em oficiais, leigos ou ad hoc, louvados ou


nomeados e assistentes técnicos.

Peritos oficiais

São funcionários públicos concursados para exercer a função de


realizar perícias nas diversas áreas e atuam por requisição da
autoridade de polícia judiciária do órgão ao qual pertencem.
Quando a perícia for de natureza médico-legal o exame deverá,
preferencialmente, ser realizado por
profissional médico, também
denominado perito médico ou
médico legista. Quando de outra
natureza, a responsabilidade deverá
recair sobre profissional de curso
superior denominado perito criminal.

Peritos leigos, ad hoc

Na ausência de perito oficial, ou se a instituição pública não


dispuser de serviço próprio para o exame que se pretende realizar, o
juiz poderá nomear duas pessoas idôneas, de nível superior para a
realização da perícia, conforme o disposto no §1º do art. 159 do Código
de Processo Penal.
Art. 159 do CPP
§1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas)
pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior
preferencialmente na área específica, dentre as quais tiverem
habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.
(Redação dada ao §1º pela Lei nº 11.690, de 09 de junho de
2008).

Peritos nomeados ou louvados: Na esfera cível ou trabalhista,


devido a diversidade de questões apreciadas, os exames normalmente
não são efetuados por peritos oficiais, mas por especialistas nomeados

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pelo Juiz, conforme os termos do §1º do art. 156 do Código de Processo


Civil e art. 3º da Lei nº 5.584, de 26 de junho de 1970.

Art. 156 do CPC O juiz será assistido por perito quando a prova
do fato depender de conhecimento técnico ou científico.
§1º Os peritos serão nomeados entre os profissionais
legalmente habilitados e os órgãos técnicos e científicos
legalmente inscritos em cadastros mantidos pelo tribunal ao qual
o juiz está vinculado.

Conhece os Assistentes Técnicos?

São profissionais da confiança das partes, indicados para


acompanhar o exame do perito oficial ou nomeado pelo juiz.

Até o advento da Lei nº 11.690, de 09 de junho de 2008, a


indicação de assistentes técnicos pelas partes ficava restrita ao
processo civil (art. 465, §1º, I, do CPC) e trabalhista (art. 3º, parágrafo
único, da Lei nº 5.584/70).

Art. 465 do CPC


§1º Incumbe às partes, dentro de 5 (cinco) dias,
contados da intimação do despacho de nomeação do
perito:
I- Indicar o assistente técnico;

Agora também no processo penal (art. 159, §§ 3º e 5º, II, do


CPP), o Ministério Público, o assistente de acusação, o ofendido, o
querelante e o acusado têm a faculdade de indicar assistentes técnicos.

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Art. 159 ...


§3º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de
acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a
formulação de quesitos e indicação de assistente técnico
(acrescido pela Lei nº 11.690, de 09/06/08).
...
§ 5º Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes,
quanto à perícia:
...
II- Indicar assistentes técnicos que poderão apresentar
pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em
audiência (acrescido pela Lei nº 11.690, de 09/06/08).

Vamos aprender sobre Vestígio, evidência e indício?

O vestígio é o elemento essencial para uma investigação


objetiva, em melhor análise são todos os elementos materiais que
encontramos em um local de crime, que podem ou não estarem
relacionados ao evento periciado, alguns desses elementos serão
descartados por não fazerem parte da produção delituosa em exame.
É importante entender que o vestígio é o elemento sensível do fato,
esse conceito deve estar bem definido tanto para os peritos como para
todos os demais segmentos que interagem no local de crime ou que
manuseiam algum tipo de vestígio.
Todos os vestígios encontrados em um local de crime, em um
primeiro momento, são importantes e necessários para elucidar os
fatos, no momento em que os peritos chegam à conclusão de que o
vestígio está, de fato, relacionado ao evento periciado, ele deixará de
ser vestígio e passará a denominar-se evidência.
Essas duas expressões (vestígio e evidência) tecnicamente são
usadas no âmbito da perícia, no entanto, na fase processual tais
expressões são tratadas como indícios, conforme a definição do Código
de Processo Penal, abaixo transcrito.

Art. 239 Considera-se indício a circunstância conhecida


e provada, que tendo relação com o fato, autorize, por
indução, concluir-se a existência de outra ou outras
circunstâncias.

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Em resumo:

Tipos de vestígios

Os vestígios materiais podem ser organizados segundo vários


critérios e o quadro a seguir resume, de maneira exemplificativa e
didática, algumas das principais classificações existentes.

Verdadeiros
a) Quanto ao modo de produção Forjados ou falsificados
Ilusórios ou falsos

Visíveis
b) Quanto à percepção
Latentes

Perenes
c) Quanto à Persistentes
durabilidade Fugazes

Uma vez detectado o vestígio é importante cercar-se de cautela,


a fim de certificar-se quanto a sua idoneidade, pois devemos lembrar
que antes da chegada do perito a um local de crime, vários outros
segmentos funcionais, socorristas, agentes de trânsito, guardas
municipais, bombeiros, policiais militares e civis, executaram tarefas
no local, e todo esse transitar pelo local pode comprometer a
autenticidade do vestígio.
Assim os peritos podem encontrar os seguintes tipos de
vestígios no local de crime:

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 Vestígio verdadeiro: são aqueles produzidos diretamente pelos


autores da infração, ou seja, é produto direto das ações do
cometimento do delito em si.

 Vestígio forjado ou falsificado: É todo elemento encontrado


no local de crime, cujo autor teve a intenção de produzi-lo com
o objetivo de modificar o conjunto dos elementos originais
gerados pelo autor. Nesses casos o agente age dolosamente,
deixando ou produzindo evidências no local, objetivando
confundir a investigação.

 Vestígio ilusório ou falso: É todo elemento encontrado no local


de crime que não esteja relacionado às ações dos autores da
infração e cuja produção não tenha ocorrido de maneira
intencional, não há dolo.

 Vestígios perceptíveis: são os que podem ser diretamente


captados pelos sentidos humanos (visão, paladar, olfato e tato),
sem o auxílio de qualquer artifício ou aparelho, como manchas
de sangue, danos materiais evidentes, armas ou sinais de
arrastamento.

 Vestígios latentes: requerem a utilização de técnicas ou


aparelhos especiais para sua observação. Nesta categoria
podemos citar as manchas de esperma, os resíduos deixados
pelo disparo de arma de fogo (residuografia), algumas
impressões digitais, etc.

 Vestígios perenes: são os vestígios que não desaparecem com


o tempo, somente sendo destruídos por evento natural incomum
e de grandes proporções, ou propositalmente, pela ação do
homem. Como por exemplo, as ossadas, os danos decorrentes
de acidentes automobilísticos, as cavidades produzidas por

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projéteis de arma de fogo em móveis ou objetos, os próprios


projéteis e outros.

 Vestígios persistentes: são aqueles vestígios que não


precisam ser imediatamente analisados pelo perito, uma vez que
permanecem inalterados por um período mais ou menos longo,
permitindo sua apreciação tardia. São exemplos as manchas de
sangue em tecidos, os pelos, as fibras e outros materiais.

 Vestígios fugazes: são os que desaparecem com certa


facilidade, exigindo uma atuação rápida na sua coleta e
apreciação. Como exemplos, podemos citar as marcas de pneus
e pegadas, as manchas de sangue em locais públicos, os resíduos
decorrentes de disparos de armas de fogo, substâncias voláteis,
etc.

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 Marcas: são vestígios tridimensionais deixados sobre uma


superfície. Exemplos: marcas produzidas por dentes, marcas ou
impressões produzidas por pés descalços ou por solados
(pegadas).

 Impressões: são desenhos planos produzidos por substâncias


orgânicas ou não. Exemplos: impressões digitais, impressões
palmares, impressões de luvas.

 Marcas de arrastamento: essas marcas podem ser deixadas


em relevos, nos solos menos rígidos ou impressas com sangue,
líquidos orgânicos, tintas e outros materiais. As marcas de
arrastamento são muito importantes para a perícia porque
demonstram a intenção do agente em encobrir o crime ou
modificar a posição de coisas ou pessoas com a intenção simular
o fato.

 Fragmentos de pele, unhas, cabelos e pelos: são achados


com frequência em locais de crime, particularmente em
homicídios e crimes sexuais, e na maioria das vezes são
utilizados para determinação de autoria do crime.

 Manchas de líquidos ou secreções orgânicas: são todas as


modificações de cor, toda sujidade, toda deposição de material
estranho, visível ou não à vista desarmada, que podem ser
encontradas nos pisos e paredes, mobiliário, instrumentos, corpo
e vestes do autor e da vítima, constituindo elementos de grande
importância médico-legal e criminalística.
As manchas encontradas nos
locais submetidos a exames periciais são
de interesse sob dois aspectos principais:
a natureza da substância que as produziu
e a forma como se apresentam.

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Veja um pouco sobre a Coleta e Apreensão de vestígios.

Coleta e apreensão constituem-se em atos próprios do rito


legal. A coleta é efetuada no local de crime, onde os elementos
objetivos remanescentes, como por exemplo, recolhimento de
impressão digital, amostras de manchas de sangue, de armas,
instrumentos etc. O ato de coletar objetos no local de crime é de
responsabilidade legal dos peritos porque, além de estarem munidos
de fé pública, são também possuidores de competência técnica. Isso
parece bastante razoável, uma vez que uma pessoa leiga não
dominaria a técnica correta do proceder no caso de recolhimento de
evidências que requerem instrumentos e metodologia própria para a
coleta, evitando a contaminação dos vestígios pelo operador.
As imagens a seguir ilustram procedimentos inadequados de
coleta, onde podemos observar que os profissionais não estão com
vestimentas adequadas para o trabalho.

Fonte: www.nis.wvu.edu/ releases/Crimehouse.htm Fonte: www.dickinson.edu/ departments/biol/courses.html

A seguir podemos observar um estojo de munição sendo


coletado corretamente, em que o perito utiliza uma pinça própria para
o recolhimento do objeto, evitando o comprometimento das
microestrias deixadas pelos cavados e ressaltos do cano da arma.

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Fonte: www.noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2015/02/28

Sabemos que certos vestígios requerem cuidados especiais nas


coletas, com a utilização de materiais e instrumentos apropriados para
apreensão e acondicionamento. Abaixo, selecionamos alguns exemplos
de vestígios, com a orientação correta dos cuidados a serem adotados
por ocasião da coleta pelo perito.

 Armas de fogo: cuidados para preservar impressões digitais e


resíduos de disparo. Evitar introduzir objetos no cano da arma;

 Cabelos, fibras e pelos: acondicionamento em envelopes


individuais, com recolhimento usando pinças;

 Terras e Sujidades: recolhimento com auxílio de pinças


descontaminadas ou espátulas, com acondicionamento em
envelopes, ou plásticos, sempre de forma individual;

 Projeteis e estojos (munições): acondicionamento em


envelopes, evitando-se, nas respectivas coletas, contatos com
instrumentos metálicos;

 Peças de roupa: após secagem natural, recolher


individualmente, evitando-se o excesso de dobras;

 Pintura de veículos: os fragmentos questionados, encontrados


no local, devem ser coletados e acondicionados individualmente

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em envelopes ou plásticos. Recolher amostras padrões com auxílio


de uma espátula de madeira;

 Sangue: as manchas de sangue podem ser encontradas sob a


forma líquida (coletar em recipientes com agente anticoagulante
ou soro fisiológico) ou em crostas (recolher dos próprios suportes,
raspadas ou dissolvidas com soro fisiológico e transferir para
frascos.

A apreensão também é um ato legal, e é concretizado quando


o perito transfere às mãos do requisitante da perícia as evidências
materiais coletadas, para que no decorrer da investigação, a
autoridade remeta o que for necessário, acompanhado de quesitação,
para os devidos esclarecimentos, mediante a apresentação do laudo
competente, logo compete ao solicitante da perícia o ato de arrecadar.
A apreensão deve ser registrada adequadamente em
documento próprio, contendo a descrição e quantidade do material
arrecadado e entregue pelo perito à autoridade.

Sabe quais são os Tipos de embalagens para coleta de vestígio?

O tipo de embalagem utilizada para coleta de vestígio, depende


do material em si. A embalagem deve proteger e preservar a evidência.
As embalagens de papel, são normalmente utilizadas para
vários objetos, como por exemplo, roupas, utensílios e acessórios,
fragmentos, amostras oleosas, fios de cabelo e fibras.

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Para pequenas amostras líquidas embalagens de vidro com


fechamento rosqueado ou hermético são satisfatórios.

As manchas de sangue são comumente encontradas em cenas


de crimes, e são de grande importância para a investigação, uma vez
que são capazes de vincular um indivíduo à autoria do ato criminoso e
subsidiar a interpretação da dinâmica da ação delituosa. No entanto,
faz necessária a correta coleta desse tipo de material, pois se mal
executada pode acarretar perda dessa evidência ou o enfraquecimento
desse tipo de prova.
As amostras de sangue coletadas em locais de crime devem
preferencialmente ser representativas e capazes de fornecer todas as
informações possíveis. Devem ser recolhidas não só do corpo da vítima
e da área principal da ação, mas também de suas áreas periféricas.

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As amostras podem ter origem distintas e se apresentar em


diferentes estados físicos e condições de preservação, portanto devem
exigir diversificadas formas de recolhimento. Lembrando que o DNA
presente na amostra pode facilmente ser degredado, se não for
adequadamente preservado, assim, a mostras de sangue colocadas em
embalagens transparentes e em contato com o ar, estão propensas a
contaminação microbiológica, com crescimento microbiano que
prejudicaria os exames laboratoriais, tornando-se assim, sem valor de
evidência.

Cadeia de custódia dos vestígios

Como já discutido até aqui a preservação e isolamento


adequados do local de crime, visando impedir a alteração e a
eliminação das evidências remanescentes no local, bem como o uso de
técnicas corretas de coleta e acondicionamento dos vestígios, são
condições essenciais para o sucesso da investigação.
Todos os procedimentos relacionados à evidência, desde a
coleta, o manuseio e análise, sem os devidos cuidados e sem a
observação de condições mínimas de segurança, podem acarretar na
falta de integridade da prova, provocando danos irrecuperáveis no
material coletado, comprometendo a idoneidade do processo e
prejudicando a sua rastreabilidade. Deste modo, é necessário que se
estabeleça um controle sobre todas as fases deste processo, assim,
tem-se adotado a Cadeia de Custódia como modelo nas mais variadas
áreas do conhecimento.

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A cadeia de custódia é um dos elementos que estão diretamente


relacionados com a idoneidade do vestígio, em que a primeira etapa
do processo de custódia tem início no momento do isolamento e
preservação do sítio de ocorrência, com a abordagem e levantamento
do local, seguindo um fluxo de ações que visam garantir sua idoneidade
e permitir a rastreabilidade da sequência dos fatos, com registro
minucioso do caminho que a amostra percorreu, quem manuseou,
como manuseou, como o vestígio foi obtido, como foi armazenado e
porque manusearam.

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Podemos observar no esquema acima, que o primeiro agente


responsável pelo encadeamento da custódia é o policial que comparece
ao local, a quem caberá o adequado isolamento e preservação do sítio
da ocorrência; em seguida a responsabilidade pelo fluxo da cadeia é
do perito de local, que providenciará para que as evidências sejam
registradas e coletadas dentro das técnicas, embalando-as
corretamente para que não se contaminem; logo depois caberá à
autoridade solicitante da perícia comparecer ao local, apreender o
material, transportá-lo e guardá-lo em local próprio até a formulação
dos quesitos quando será remetido ao instituto de criminalística,
cuidando para que o material a ser periciado se apresente íntegro.
Uma vez recebida a evidência para exames, a sequência dos
registros do encadeamento da custódia deve ser respeitada, devendo
o perito de laboratório, antes de receber o material oficialmente,
atentar para a integridade da embalagem, verificando a existência do
lacre.
Note que o art. 170 do
CPP determina que “nas
perícias de laboratório, os
peritos guardarão material
suficiente para a
eventualidade de nova
perícia. Sempre que
conveniente, os laudos
serão ilustrados com provas
fotográficas, ou
microfotográficas, desenhos ou esquemas”. O fato de a lei exigir a
guarda de amostra do material analisado garante ao investigado a
possibilidade de contestação e defesa. Se a cadeia de custódia do
material analisado não for rigorosamente controlada, ou seja, se os
registros dos profissionais que manipularam a evidência, ou ainda, se
as condições em que as mesmas foram acondicionadas, não forem

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adequadas, poderá representar uma falha na cadeia de custódia, o que


enfraquecerá o laudo oficial.
Devemos lembrar que o Assistente Técnico foi
criado com o advento da Lei nº 11.690, de 2008,
que alterou o Código de Processo Penal, permitindo
que esse profissional atuasse como fiscalizador das
partes. Observemos as atribuições que o art. 159, em seus parágrafos
5º e 6º, do CPP, confere ao Assistente Técnico.

Art. 159 §5º Durante o curso do processo judicial, é


permitido às partes quanto a perícia:
I –Requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a
prova ou para responderem a quesitos, desde que o
mandado de intimação e os quesitos ou questões a
serem esclarecidas sejam encaminhadas com
antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo
apresentar as respostas em laudo complementar;
III- Indicar assistentes técnicos que poderão
apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou
ser inquiridos em audiência.

§6º Havendo requerimento das partes, o material


probatório que serviu de base à perícia será
disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que
manterá sempre sua guarda, e na presença de perito
oficial, para exames pelos assistentes, salvo se for
impossível a sua conservação.

Assim, o perito assistente, ao elaborar laudo divergente ao


apresentado pelo perito oficial, deverá analisar primeiramente a cadeia
de custódia, certificando-se
que todas as alterações, como
condições de isolamento e
preservação do local, coleta e
acondicionamento do
material, técnicas
empregadas nas análises,
foram adequadamente
registradas e empregadas.

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VAMOS APRENDER SOBRE LOCAL DE INFRAÇÃO PENAL?

Há alguns anos atrás os peritos do instituto de


criminalística do Rio de janeiro foram solicitados para analisar
uma cena de crime. Chegando ao local, os profissionais encontraram a
seguinte situação, abaixo ilustrada:

• A vítima foi encontrada sentada em uma


cadeira com a cabeça pendida para trás;
• Em um cômodo utilizado como escritório
em sua residência;
• A sua frente estava a escrivaninha e a
seguir uma grande janela, e em uma de suas
placas de vidro havia uma perfuração de projétil de arma de fogo,
disparado de fora para dentro;
• Tanto na ferida de entrada do projétil na vítima (na cabeça – região
frontal) quanto no projétil, foi verificada a presença de micropartículas
de vidro;
• Os peritos acharam a provável posição da
vítima antes de ser atingida e projetaram o
prolongamento daqueles dois pontos (cabeça
e perfuração na janela), utilizando uma
caneta a laser e verificaram que o primeiro
anteparo externo era um edifício do outro lado da rua na altura do
quarto andar;
• Tanto a perícia quanto a polícia tinham a certeza de que a vítima foi
morta por um atirador experiente e que tal crime foi planejado, tendo
o criminoso agido exclusivamente com a razão;
• Na casa onde foi apreendido um notebook, que após periciado
descobriu-se que a vítima era sócia majoritário de uma empresa, tendo
como sócios minoritários seus dois filhos, que administravam as duas
filiais da empresa, uma nos Estados Unidos e a outra na China, e um
sobrinho que era sócio gerente na matriz;

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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

• A perícia no notebook, mostrou que a vítima controlava as contas


das empresas;
• Encontraram também vários e-mails aos demais sócios cobrando
providências sobre os baixos rendimentos;
• A perícia encontrou uma correspondência eletrônica entre a vítima e
seu irmão, expondo sua desconfiança de que seus filhos e seu sobrinho
poderiam estar desviando receitas das empresas;
• A investigação mostrou que os dois filhos tramavam a morte do pai
e planejavam que tudo desse a impressão de que o sobrinho fora o
mandante do crime;
• Encontraram um e-mail encaminhado por um dos filhos ao sobrinho
da vítima, informando que uma pessoa inventada iria até a firma para
receber o valor de vinte e cinco mil reais, por suposta prestação de
serviço de consultoria.
• A intenção do autor era ligar o atirador ao recebimento do
pagamento pelo falso suspeito, o sobrinho.

O cenário acima ilustra um típico local de infração penal de


morte violenta, que devido as suas particularidades, possui uma
abrangência que vai além do cômodo em que a vítima foi encontrada,
nos levará a refletir sobre os limites geográficos de um local de crime,
bem como nos apresentará às técnicas largamente empregadas nos
exames de perícia de local.

Croqui: É um desenho feito por profissional que mostra a cena do


crime em perspectivas apropriada e que pode ser incorporada ao laudo.

Evidência: Qualquer objeto que tenha ligação com a cena do crime

Local de crime: É a porção do espaço compreendida num raio que,


tendo por origem o ponto no qual é constatado o fato, se estende de
modo a abranger todos os lugares em que, aparentemente, necessária

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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

ou presumidamente, hajam sido praticados, pelo criminoso, ou


criminosos, os atos materiais preliminares ou posteriores, à
consumação do delito, e com este diretamente consumado.

Local mediato: É a área adjacente ao local imediato. É toda a região


espacialmente próxima ao local imediato e a ele geograficamente
ligada, passível de conter vestígios relacionados com a perícia em
execução.

Local imediato: É aquele que contém o palco principal do crime, onde


se concentrou a maioria dos vestígios.

Local relacionado: É todo e qualquer lugar sem ligação geográfica


direta com o local do crime e que possa conter algum vestígio ou
informação que propicie ser relacionado ou venha a auxiliar no
contexto do exame pericial

Local interno: área compreendida em todo ambiente fechado, isto é,


no interior de habitações de qualquer espécie. Considera-se também
como tal terreno cercado ou murado.

Local externo: Área compreendida fora das habitações. Exemplos:


floresta, bosques, via e logradouros públicos.

Local idôneo: É aquele que foi adequadamente preservado e isolado,


em que não se alterou o estado das coisas.

Local inidôneo: É aquele que não foi adequadamente preservado


e/ou isolado, assim, um local pode ter sido isolado, porém não
preservado.

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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

AGORA, VAMOS FALAR DO LOCAL DE INFRAÇÃO


PENAL!!!

Introdução

Diversos órgãos de Segurança Pública podem


estar envolvidos no atendimento em locais de crime, como, o Corpo de
Bombeiros no resgate e salvamento da vítima, na retirada do cadáver
preso nas ferragens, na remoção dos veículos, cadáveres ou produtos
perigosos da via pública; da Polícia Militar no isolamento da área, no
controle do tráfego e também no resgate da vítima; da Polícia Civil na
investigação do acidente; da Perícia Oficial na realização da perícia de
criminalística.
A investigação do local do crime reúne a ciência, a lógica e a lei.
O exame é demorado, pois envolve informações sobre as condições do
local, localização dos vestígios e a coleta de todas as evidências de
forma com que todas sejam preservadas.
Por exemplo, pode ser necessário coletar sangue de uma vidraça
e isso deve ser feito sem que o perito esbarre no vidro, visto que ali
podem existir impressões digitais.
É necessário que esses elementos sejam preservados na forma
original, de modo que o laboratório, que processará estes vestígios,
possa reconstruir o crime ou identificar o criminoso, de forma a
constituir provas admissíveis pela justiça.
O perito, quando chega ao local do crime, deve se certificar se
este foi preservado, através de uma inspeção inicial da cena,
verificando se alguém mexeu em alguma coisa antes da sua chegada.
O perito deve conversar com os policiais visando saber se eles tocaram
em algo. Caso isso tenha ocorrido, ele deve relatar as modificações e
os consequentes prejuízos ao exame em seu laudo.
Segundo Eraldo Rabelo a definição de local de crime é:

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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

Local de crime é a porção do espaço compreendida num


raio que, tendo por origem o ponto no qual é constatado
o fato, se estende de modo a abranger todos os lugares
em que, aparentemente, necessária ou
presumidamente, hajam sido praticados, pelo criminoso,
ou criminosos, os atos materiais preliminares ou
posteriores, à consumação do delito, e com este
diretamente consumado.

Este conceito nos leva a refletir que a investigação pericial ou


policial, não deve ficar adstrita aos limites da cena do crime, sendo
este apenas o ponto de partida para chegar aos demais pontos ou
lugares em que possam ter ocorrido parte daquele crime ou até mesmo
seu planejamento. Aos investigadores caberá atentar para os fatos
prévios e posteriores à consumação do crime, incluindo desde o
planejamento inicial até a dissimulação, destruição ou ocultação de
vestígios após o crime, sendo o local do crime o ponto de partida para
obtermos essas informações.

Netto e Espindula, em sua obra intitulada “ Manual de


atendimento a locais de morte violenta”, acrescenta o conceito de local
de crime virtual ao conceito tradicional do local físico, palpável,
material e objetivo a que tradicionalmente estamos acostumados.
O exemplo da ocorrência relatada no início da aula nos mostra
como a tecnologia virtual vem ampliando os limites para o
planejamento ou desdobramentos posteriores do local de crime. Vamos

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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

imaginar que uma pessoa planeja matar alguém, e utilizando a internet


crie vestígios forjados que apontem a autoria do delito para uma
terceira pessoa, utilizando por exemplo e-mails ou mensagens em
redes sociais com declarações que, embora inverídicas, possam atribuir
a autoria do delito ao terceiro envolvido.
Naquele exemplo, foi observado que a cena em que estava a
vítima foi o ponto inicial para a investigação e que o local da infração
ultrapassava os limites físicos do local da cena do homicídio, se
estendendo até o local de onde partiu o disparo, ao local do falso
suspeito (o sobrinho) e dos filhos, sendo esses últimos denominados
locais virtuais.

Você sabia que os Locais de exames periciais...

É todo lugar, que por ter sido palco de acontecimentos ou abrigar


objeto de interesse à justiça Civil ou Criminal, deve ser examinado pelo
perito e, eventualmente, pelos assistentes técnicos.
Contudo, a investigação pericial ou policial, não deve ficar
adstrita aos limites da cena do crime, sendo este apenas o ponto de
partida para chegar aos demais pontos ou lugares em que possam ter
ocorrido parte daquele crime ou até mesmo seu planejamento.
Aos investigadores caberá atentar para os fatos prévios e
posteriores à consumação do crime, incluindo desde o planejamento
inicial até a dissimulação, destruição ou ocultação de vestígios após o
crime, sendo o local do crime o ponto de partida para obtermos essas
informações.

Você sabe qual a Classificação dos locais?

Os locais podem ser classificados segundo vários critérios. O


quadro a seguir resume os principais:

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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

Classificação do local de crime

Homicídio

Furto

a) Quanto a natureza jurídica do fato Acidente de tráfego

Local de incêndio

Local de explosão

Interno
Imediato
Externo
b) Quanto ao local de ocorrência Mediato

Relacionado
Virtual

Idôneo
c) Quanto ao isolamento
Inidôneo

A classificação quanto ao local da ocorrência tem por objetivo


determinar a natureza da área onde o mesmo ocorreu.
 Local interno: área compreendida em todo ambiente fechado,
isto é, no interior de habitações de qualquer espécie. Considera-
se também como tal terreno cercado ou murado.
 Local externo: área compreendida fora das habitações.
Exemplos: floresta, bosques, via e logradouros públicos.
 Local imediato: é aquele que contém o palco principal do crime,
onde se concentrou a maioria dos vestígios. Em um acidente de
trânsito entre dois carros, é o ponto em que ocorreu o sítio de
colisão e suas imediações, ponto em que os veículos pararam
após o embate, por exemplo.

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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

É importante ressaltar que ao analisar o local imediato, o perito


deve descrever minuciosamente o estado das coisas, estabelecendo
referenciais dos posicionamentos dos objetos de análise (um corpo, em
local de homicídio; um veículo, em local de acidente de trânsito, etc.)
em relação à referenciais imóveis existentes no local. Essa prática
denominado amarração do local, permite que o cenário seja a
qualquer tempo reproduzido caso haja necessidade de novas
diligências.
O esquema a seguir ilustra a amarração de um local de acidente
de trânsito com vítima fatal, em que um ônibus colidiu com um carro
de passeio em um cruzamento sinalizado vindo a arrastá-lo por mais
de vinte metros após o sítio de colisão. Reparem que o perito realizou
medidas das distâncias entre os veículos na posição de repouso após a
colisão e um poste que existia no local, adotando por referencial as
rodas das laterais direita dos veículos envolvidos. Percebam que o
perito estabeleceu um ponto fixo existente no local e relacionou à dois
pontos diferentes do objeto analisado, no caso as rodas do veículo,
veremos mais adiante que existem outras metodologias para amarrar
o local.
2,
98
m

5 m
1,9
27,50 m

Avenida Marechal
Fontenele
N º 81A

m
0
3,3

4,1
Rua Monclaro

0
Mena Barreto
0m

m
3,0
6,
50
m

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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

Note que no cenário ilustrado acima o local imediato é o ponto


da via em que os veículos possivelmente colidiram (sítio de colisão),
além do local de repouso dos veículos após a colisão, uma vez que os
principais vestígios foram encontrados nesse ambiente.
A descrição do local imediato deve abranger, além da precisão
do endereço, referenciais precisos de localização, contendo
informações sobre as condições em que o objeto de análise foi
encontrado, se em local aberto ou fechado, se exposto à intemperes
ou não, se iluminado por luz natural ou não, dentre outros.
A posição em que os vestígios são encontrados em um local de
crime é de grande relevância para se estabelecer a compatibilidade do
objeto com a dinâmica dos fatos a ser estabelecida. Em um local de
morte violenta, por exemplo, em que o instrumento utilizado para a
consumação da morte seja encontrado a uma distância superior à do
alcance da vítima, não é razoável estabelecer a dinâmica dos fatos
como auto eliminação. Podemos imaginar ainda um local de suposta
auto eliminação em que a arma de fogo nas mãos da vítima encontra-
se com a trava de segurança acionada, impedindo o disparo, poderá
ser a diagnose diferencial entre homicídio e a auto eliminação.
 Local mediato: É a área adjacente ao local imediato. É toda a
região espacialmente próxima ao local imediato e a ele
geograficamente ligada, passível de conter vestígios relacionados
com a perícia em execução.
Na ilustração do acidente de trânsito apresentada
anteriormente, o local mediato é a porção do cenário que está além do
sítio de ocorrência (ponto de impacto e local de repouso dos veículos),
em que é possível encontrar vestígios relevante ao fato, nesse caso
abrangeria basicamente a marca de frenagem deixada pelo ônibus
antes do impacto.
 Local relacionado: É todo e qualquer lugar sem ligação
geográfica direta com o local do crime e que possa conter algum

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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

vestígio ou informação que propicie ser relacionado ou venha a


auxiliar no contexto do exame pericial.
O exemplo que estamos estudando não apresenta um local
relacionado, mas imaginemos que o cenário fosse de um
atropelamento e que o condutor do veículo atropelador tivesse se
evadido do local com o veículo, sendo localizado dois dias depois, em
uma cidade distando 300km do local em que se dera a ocorrência. Na
via em que se desenrolou a ocorrência foram deixadas marcas de
frenagem de alguns metros de comprimento, antes do provável ponto
de impacto.
O local relacionado seria aquele em que o automóvel foi
encontrado posteriormente, visto que este não possuía ligação
geográfica direta com o local em que se desenvolveu a ocorrência.

A importância da preservação e Isolamento do Local de Crime

A coleta e preservação adequada das evidências são aspectos


essenciais para qualquer investigação criminal bem sucessiva, a falta
de isolamento e respectiva preservação dos vestígios em um local de
crime, no Brasil, é um dilema com que os peritos lidam diariamente. A
dificuldade em preservar o estado das coisas em um local de infração
penal pode ser atribuída a uma questão cultural, em que a população
por curiosidade se desloca por entre os vestígios, chegando muitas
vezes a coletá-los, imaginando estarem contribuindo com a
investigação, comprometendo assim, a legalidade do vestígio.
Com a vigência da Lei nº 8.862/94 que alterou o art. 6º, inciso
I e II, bem como o art. 169, do Decreto Lei nº 3.689/41 (Código de
Processo Penal), a responsabilidade pelo isolamento e preservação do
local de crime passou a ser obrigação da autoridade policial que for
designada para atender a ocorrência, bem como dos demais
segmentos funcionais (socorristas, investigadores, Delegados, dentre
outros) que interagem no local.

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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

Tais determinações legais que garantem essa nova condição


para o local de crime estão previstos nos dispositivos a seguir,
transcritos do Código de Processo Penal (CPP).

Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da


infração penal, a autoridade policial deverá:
I- Dirigir-se ao local, providenciando para que
não se alterem o estado e a conservação das coisas,
até a chegada dos peritos criminais;
II- Apresentar os objetos que tiverem relação
com o fato, após liberados pelos peritos criminais.

Art. 169 Para o efeito de exame do local onde


houver sido praticada a infração, a autoridade
providenciará imediatamente para que não se
altere o estado das coisas até a chegada dos
peritos, que deverão instruir seus laudos com
fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos.
Parágrafo único – Os peritos registrarão, no laudo,
as alterações do estado das coisas e discutirão, no
relatório, as consequências dessas alterações na
dinâmica dos fatos.

A dificuldade em preservar o local de crime, parece ainda mais


grave quando a autoridade policial, agente responsável em preservar
e isolar o local, não cumpre a sua obrigação prevista em Lei.
Note que o parágrafo único do art. 169 do CPP, obriga ao perito
registrar e refletir sobre as consequências técnicas da não preservação
e isolamento do local de infração penal para a análise da cena do crime

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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

deixada pelo(s) infrator(es) e pela(s) vítima(s). Se as condições da


integridade física de um local violado não forem comentadas no laudo,
não importando se por motivo justificado ou não, fatalmente levarão
as investigações e a justiça a erro.
Tomemos como exemplo
uma vítima que se sentiu mal, caiu
sobre o passeio de pedestres, bateu
a cabeça e veio a óbito, ao sofrer a
intervenção de bombeiros e/ou
paramédicos, teve seu corpo
movimentado, os bolsos de suas
Fonte: Manual de Atendimento a Locais de Morte Violenta
vestes vasculhados à procura de
documentos que o identificasse, parte de suas roupas cortadas ou
removidas para localização de ferimentos. Se não for informado ao
perito que chegou posteriormente ao local e este não comentar em seu
laudo os efeitos de tal intervenção, parecerá que houve latrocínio ou
algo parecido.
O registro pelo perito das condições de isolamento e
preservação do local quando feitos de maneira correta demonstrará a
credibilidade dos vestígios materializados e consequentemente a
confiabilidade da interpretação da prova.
Por outro lado, um local que foi isolado e
preservado adequadamente, garante ao perito
estabelecer a dinâmica dos fatos de maneira
confiável.
Ao lado, segue imagens de um local onde
ocorreu um disparo anômalo (acidental) de arma
de fogo, quando o portador do armamento
desembarcava do veículo.

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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

Como o local encontrava-se preservado e


isolado (note a faixa zebrada), o perito pode
garantir que o veículo não teve sua posição
alterada após o disparo e, com isso, pode
estabelecer a trajetória do projétil, que atingiu
primariamente a face interna da porta dianteira direita acima da
dobradiça inferior de fixação do veículo, tendo os peritos constataram
que a trajetória assumida pelo projétil indicava que a porta encontrava-
se com seu ângulo máximo de abertura no momento do disparo, vindo
o projétil a transfixar a lataria e percorrer toda a extensão do vão
existente entre a viatura e a rampa de acesso, aproximadamente 1,48
m (um metro e quarenta e oito centímetros), até atingir a barra
metálica da rampa de acesso.
A falta de preservação de local ou qualquer outro corpo de delito
tem início na conduta inadequada dos agentes de segurança que
interagem com o local. Nesse particular, a corporação regulou os
procedimentos a serem adotados pelos Policiais militares em local de
infração penal, orientando-os quanto ao correto proceder em relação à
interdição dos locais em que tenha ocorrido crime, bem como a
preservação dos elementos objetivos de valor criminalístico (vestígios)
neles encontrados, conforme o previsto na Nota de Instrução Nº 006,
de 05 de outubro de 1998.
Para entendermos a dinâmica e procedimentos a serem
adotados para um eficaz isolamento e preservação do local de infração
penal, é necessário conhecer alguns conceitos relativos ao exame de
local, que passaremos a seguir a definir e classificar.

Metodologia para o isolamento e preservação do


local, vamos aprender sobre isso?

Já discutimos a importância e a obrigação legal em preservar


um local de infração, contudo a delimitação do perímetro da área a ser

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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

isolada não é uma tarefa muito fácil. Observamos que o sítio de


ocorrência se estende além dos limites da área do local imediato,
assim, o isolamento estabelecido no entorno da cena do crime deve
ser maior do que o espaço ocupado pelos componentes da cena
principal.

Antes de isolar a área, o primeiro agente público responsável


pelo ato deve estar ciente dos diferentes aspectos físicos e formais da
topografia do local, sua situação e classificação em local interno e
externo.
Se houver vestígios ou objetos a serem inutilizados pela ação
de intempéries (chuva, vento, umidade) tais como manchas de sangue,
pegadas, sulcos, marcas de arrastamento de pneus, armas e outros,
deverão ser protegidos cobrindo-se com plásticos, lonas, latas, tábuas
ou o que houver a mão. Deve o policial cuidar para que os vestígios
não sejam tocados ou alterados de posição a serem cobertos.

Disponível em http://www.aerofatos.com.br/2015_02_01_archive.html

http://www.aerofatos.com.br/2015_02_01_archive.html
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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

O isolamento e preservação de um local externo apresentam


características que dificultam o trabalho, tendo em vista a amplitude e
características topográficas da área.
O agente que iniciar o isolamento do local externo deve atentar
para que o mesmo seja o mais extenso possível, objetivando que não
se percam evidências materiais de valor criminalísticos remanescentes.
Esses limites podem mais tarde facilmente ser reduzidos, porém
dificilmente poderão ser ampliados sem que tenha havido
contaminação das áreas adjacentes nesse intervalo.
O policial militar deverá interditar apenas
a área que contenha vestígios, procurando tanto
quanto possível não interromper o trânsito se for
o caso de fato ocorrido em logradouro, adotando
as demais providências preconizadas para o local
de infração penal interno.
Em locais internos, essa missão se torna mais fácil, porque a
área se localiza “intramuros”, sendo naturalmente limitada, cabendo
ao agente guarnecer seus acessos, lembrando que em alguns casos a
área mediata também merece cuidados especiais.
A primeira autoridade policial que comparecer ao local, também
deve se assegurar que as evidências físicas não sejam perdidas,
contaminadas ou movidas, podendo utilizar dos mais diversos meios
para garantir a preservação, como uso de plásticos, lonas e caixas para
proteger da chuva, cordas e fitas refletoras para isolar, etc.
Um dos grandes problemas em perícias em locais onde ocorrem
crimes é o inadequado isolamento e preservação do local. Essa
problemática abrange três fases distintas:

 A primeira compreende o período entre a ocorrência do crime até


a chegada do primeiro policial. Nesse período, a curiosidade de
pessoas em verificar de perto o ocorrido causam alterações
significativas no local pelo fato de estarem se deslocando na cena.

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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

 A segunda fase compreende o período desde a chegada do


primeiro policial até o comparecimento da autoridade de polícia
judiciária. Esta fase apesar de menos grave que a anterior,
apresente muitos problemas em razão da falta de cuidado dos
agentes em adotar medidas cautelares para a preservação e
isolamento adequado do local.

 A terceira fase, compreende o período entre a chegada da


autoridade de polícia judiciária até a chagada do perito,
nessa fase ocorrem diversas falhas, em função da pouca atenção
e da falta de atenção daquela autoridade quanto à importância
que representa para ele um local bem preservado.

Técnicas operacionais para preservação de local do crime

1) Socorrer a vítima (primeiros socorros) ou providenciar


atendimento médico;

2) Prender o infrator (se possível);

3) Interditar o local;

4) Preservar o local;

5) Comunicar o fato ao CECOPOM, ou a sala de Operações e à DP


da circunscrição;

6) Arrolar testemunhas e realizar a investigação preliminar;

7) Aguardar no local a chegada da Autoridade de Polícia Judiciária


e da Perícia Criminal.

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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

Em relação à preservação do local, deve o policial adotar as


seguintes medidas:

a) Não tocar ou alterar a posição dos objetos existentes no local,


considerando que a posição dos móveis desarrumados ou
desviados de suas posições normais e roupas de cama em
desalinho, constituem elementos objetivos para a realização
dos exames periciais;

b) Não mexer nem recolher armas, estojos, projéteis,


documentos e papéis em geral e o que mais houver, nem
permitir que outras pessoas o façam;

c) Se houver cadáver, permanecer em suas proximidades sem o


tocar ou mudar de posição, não permitir também que outras
pessoas assim procedem;

d) Nas violações de fechaduras, não fechar ou permitir que as


fechem com as chaves que lhes são próprias, preservando-se
assim os eventuais vestígios;

e) Não adentrar ao veículo, nos casos de fatos de interesse


criminalístico envolvendo veículos, a fim de preservar as
impressões digitais, palmares e outras, encontradas
principalmente nos retrovisores, volante, nos vidros, no painel
do veículo;

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f) Nada deverá ser tocado ou retirado do interior do veículo, tais


como armas, bolsas, carteiras, pertences pessoais da vítima,
agendas ou quaisquer outros objetos.

g) Não fumar ou permitir que fumem no local de infração penal,


visto que palitos de fósforo, cinzas e pontas de cigarros, muitas
vezes constituem elementos de valor criminalísticos e, se
tiverem sido depositados no local após o seu isolamento,
poderão confundir os peritos;

h) Os aparelhos telefônicos existentes no loca, bem com as


dependências sanitárias ou quaisquer outras, não deverão ser
utilizadas.

Agora, vamos aprender sobre Avaliação do


isolamento

Caberá ao perito quando chegar ao local


avaliar se a amplitude da área isolada foi suficiente
para abranger os vestígios remanescentes do crime. Este deverá
também observar as condições de preservação do local, registrando
todas as alterações encontradas, bem como as condições em que
encontrou o local, como por exemplo:

 Se as luzes encontravam acesas;


 Qual a posição em que se encontrava o câmbio seletor de marchas
do veículo;
 Se a paleta do limpador do para-brisas estava acionada;
 Qual a leitura do hodômetro do veículo;
 O grau de abertura das portas e janelas, se parcialmente ou
totalmente;
 Se o piso se encontrava molhado;
 Se havia deposição de material arenoso no asfalto;

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 A disposição da mobília, observando se alguma foi movida,


cuidando para que ninguém a recoloque em seu lugar.

Essas informações são especialmente importantes para


estabelecer a dinâmica dos fatos.

Escolha de metodologia para processamento do local

Antes de adentrar ao local, o perito decidirá qual a orientação


do deslocamento que irá adotar. Existem algumas metodologias de
pesquisa da cena do crime, aceitas como padrão.
É importante ressaltar que ao adotar uma orientação de
deslocamento padrão, o perito irá diminuir as chances de modificar,
retirar ou destruir algum vestígio mais sensível. A tabela abaixo, elenca
alguns deslocamentos padrão adotados.

DESLOCAMENTOS

Nome Quando a técnica é mais utilizada

Espiral Áreas abertas, sem delimitações físicas (Ex.: florestas, campos, mar)

Varredura Locais externos, podem ser utilizadas em associação com outras


técnicas, como a orientação em quadrantes (Ex.: Ruas, quadras)

Quadrante Em amplas áreas abertas ou fechadas, com muita concentração de


vestígios, o quadrante pode ser maior ou menos conforme a
concentração de vestígios

Grade Em áreas abertas ou fechadas, com muita concentração de vestígios

Linha Em áreas abertas com maior quantidade de analistas

Radial Utilizado em áreas circulares

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LEIA UM POUCO MAIS SOBRE AS CONSIDERAÇÕES!!!!

Algumas considerações devem ser feitas, acerca das


orientações estabelecidas nesses deslocamentos. Qualquer
que seja a orientação do deslocamento, os peritos vão
examinando a área, fotografando-a e marcando os vestígios
encontrados.
Note que o deslocamento em espiral pode ser feito no sentido
horário ou anti-horário, a partir do ponto mais distante do local mais
distante do local imediato delimitado pelo perito.
O deslocamento em varredura, assim como o espiral, o exame
tem sentido de fora para o local de maior concentração dos vestígios.
A varredura pode ser dividida em duas partes, a fim de não
ultrapassar o ponto em que está a maior concentração de vestígios, ou
seja, duas varreduras tomando-se o sentido de fora para dentro.
No deslocamento em quadrante, se o perito achar adequado e
as condições permitirem, poderão ser utilizadas fitas, barbantes,
marcação com giz ou cordas para fazer o esquadrinhamento.
As fotos abaixo ilustram um local de explosão, em que o perito
utilizou o deslocamento em quadrante, reparem que o perito optou por
esquadrinhar o local com auxílio de um marcador em giz.

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Epicentro

Fonte: arquivo pessoal – Perito EB Cleraldo

Marcação dos vestígios encontrados

Ao iniciar sua marcha de deslocamento pelo cenário em análise,


o perito deverá sinalizar a localização dos vestígios encontrados no
caminho. Os recursos utilizados para a marcação da localização dos
vestígios podem variar bastante, podendo ser utilizado desde
marcadores comerciais próprios para cena de crime até materiais
improvisados pelo perito.
A foto abaixo o perito utilizou um pedaço de papel adesivo para
marcar o posicionamento da evidência.

Fonte: arquivo pessoal do professor

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Vamos aprender um pouco mais sobre o


Levantamento fotográfico topográfico?

Os aspectos técnicos observados na cena do crime devem ser


documentados por meio de levantamentos fotográficos, topográficos e
descritivos, podendo ser documentados por outros recursos tais como,
modelagem de marcas deixadas por vestígios sólidos, filmagem,
levantamento de impressões digitais, palmares e dentre outros.
As fotografias da cena do crime devem ser feitas sem a
interferência do fotógrafo ou de qualquer outra pessoa em relação ao
posicionamento dos vestígios. Nas condições ideais o objeto deve
permanecer em sua posição inicial e, qualquer alteração desse
posicionamento para a fotografia dever ser registrada em campo
próprio no laudo.
O legislador tornou obrigatório o registro fotográfico em local de
ocorrência com cadáver, assim preceitua o art. 164 do CPP: “Os
cadáveres serão sempre fotografados nas posições em que forem
encontrados, bem como, na medida do possível, todas as lesões
externas e vestígios deixados no local de crime”.
As fotografias das evidências em um local de crime devem
seguir uma metodologia que inclui três posicionamentos básicos:
fotografia panorâmica, fotografia geral e foto em detalhe do objeto.
A fotografia panorâmica tem por objetivo ilustrar o local onde
ocorreu o crime, bem como a área no entorno, engloba a maior
extensão possível do cenário. Já a fotografia geral alcança uma
distância intermediária, objetivando estabelecer o posicionamento da
evidência em relação à cena do crime. Por outro lado, a foto em detalhe
do objeto mostrará como a evidência foi encontrada na cena do crime
pelos investigadores, bem como os detalhes da evidência.
As fotos a seguir ilustram esses três tipos de fotografias
registradas em local de disparo acidental de arma de fogo.

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Embora os registros fotográficos sejam frequentemente


utilizados para documentar uma cena de crime, elas podem conferir ao
objeto uma falsa sensação de perspectiva e muitas vezes não
apresentam uma representação acurada das dimensões do objeto ou
ainda sua relação espacial.
Assim, após os registros fotográficos das evidências e do local
em si, os peritos devem registrar o cenário através de croquis e
diagramas, nos quais as dimensões, escalas de grandeza e distâncias
dos objetos devem ser respeitadas, garantindo que o observador tenha
uma visão espacial completa sem distorções.
O perito pode escolher qualquer ângulo de visão para o registro
topográfico da cena do crime, a seguir podemos observar que o local
de disparo acidental ilustrado pelas fotografias anteriores é
representado em três diferentes ângulos de visão, conforme os croquis
abaixo.

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VAMOS ENTENDER MAIS SOBRE EXAMES E


LEVANTAMENTO TÉCNICOS PERICIAIS!!!!

Em um cruzamento devidamente sinalizado,


ocorre a colisão lateral entre um ônibus e um veículo
de passeio, conforme o representado a seguir:

Veículos se
aproximando do
cruzamento

Momento da colisão

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Veículo 1 começa a
arrastar o veículo 2

Posição final dos


veículos após a
colisão

Reflectografia: é o método que se utiliza de raios de luz refletidos


sobre a superfície e tem sua aplicação na revelação de imagens
subjacentes (latentes) gravadas em substratos.

Fotografias multissensoriais: registradas com utilização de recursos


fotográficos capazes de captar radiações eletromagnética

Imagens térmicas: são aquelas obtidas com o auxílio de câmera


capaz de capturar radiação infravermelha e convertê-la para faixa
visível do espectro luminoso, tornando possível a visão do calor gerado
por objetos

Macrofotografia: trata-se de uma técnica fotográfica utilizada para


mostrar pequenos objetos e/ou detalhes destes, de difícil visualização
a olho nu.
Fotomicrografia: permite o registro de imagens ampliadas,
resultantes do uso de lentes potentes capazes de mostrar detalhes e
objetos não visíveis à vista desarmada.

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Croqui: é a ilustração sem escala do local, que objetiva apenas a


demonstração de um fato ou versão.

Desenho linear: é o desenho formado apenas por linhas, como


gráficos, diagramas ou organogramas.

Rebatimento topográfico: é a ilustração rebatida do piso, do teto e


das quatro paredes.

Levantamento topográfico: é o desenho que busca representar no


papel plano os acidentes geográficos de uma determinada área, com
os acidentes e objetos colocados em sua superfície.

Método da triangulação: são estabelecidos dois pontos fixos no


ambiente (A, B) e a partir desses pontos são registradas as distâncias
de duas evidências (x, y).

Método da linha base: é traçada uma linha entre dois pontos fixos
(A, B) no ambiente e são feitas medidas de distâncias das evidências
(x, y) a partir dessa linha em um ângulo reto.

Método da coordenada polar: utiliza-se de um compasso para medir


o ângulo entre o ponto específico de uma estrutura reta, como uma
parede por exemplo, e a evidência.

VANT: Veículo Aéreo Não Tripulado. Existem diversas maneiras de


proceder ao levantamento de local, efetuadas em conjunto ou
separadamente, conforme a necessidade. Todas elas, entretanto,
podem ser classificadas, de acordo com o momento de sua realização,
como iniciais ou complementares.

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Levantamento descritivo

No levantamento descritivo do local, o perito deverá verificar as


condições de preservação do local,
registrando todas as alterações encontradas,
seguindo uma metodologia que compreende
procedimentos e etapas ordenadas de forma
lógica, ilustrados a seguir:

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 Produção de anotações do local:

 Data e hora do início dos exames;


 Localização exata do evento;
 Condições atmosféricas encontradas no início dos exames. É
importante registrar as condições encontradas pelo perito
quando da sua chegada ao local, pois vestígios como manchas
de sangue podem ter desaparecido em decorrência de sua
diluição.
 Condições de iluminação: muitas vezes os exames são realizados
em distintas fases do dia, exigindo uma caracterização completa
dessas condições, pois sem a iluminação natural, as condições
de iluminação serão distintas;
 Condições de visibilidade: não dependem tão somente das
condições de iluminação no local, mas também da existência de
anteparos, depressões no terreno, dentre outros, que poderiam
dificultar a visão completa da vítima ou do autor;
 Condições topográficas da área: uma boa descrição deve incluir
detalhes relativos a acidentes topográficos eventualmente
existentes na área a ser descrita.

 Completa análise das vias de acesso:

 Nos locais internos, todas as vias de acesso devem ser


verificadas (portas, janelas, portões, etc), e qualquer
irregularidade deverá ser descrita e documentada.
Arrombamentos, entradas forçadas, janelas abertas, devem
merecer especial atenção.
 Nos locais externos deve-se explicitar as formas de acesso
disponíveis para o local, caminhos, vias, logradouros, avenidas,
viadutos etc.

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Levantamento fotográfico

Fotografias em locais externos

 Ilustrar vistas gerais da cena do fato, incluindo pontos de


referência, como lotes, construções, placas, marcos, vias
públicas etc.

 Ilustrar as reais condições de isolamento do local, no momento


exato da chegada da equipe pericial, sobretudo principalmente
quando o local não está satisfatoriamente preservado e isolado;

 Registrar posições relativas entre diferentes vestígios, adotando


posição intermediária;

 Registrar detalhes de cada vestígio encontrado (fotografias de


detalhes). Nesse tipo de foto é aconselhável a utilização de
escalas e placas com números ou letras que identifiquem o
vestígio.

Fotografias em locais internos

 Registra obrigatoriamente todos os cômodos e ambientes;

 Realizar uma sequência de fotos desde o acesso ao cômodo até


o vestígio, respeitando a orientação do deslocamento (espiral,
varredura, quadrante, radial, grade, linha) adotado pelo perito;

 Registrar posições relativas entre diferentes vestígios, adotando


posição intermediária;

 Registrar detalhes de cada vestígio encontrado (fotografias de


detalhes).

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Levantamento topográfico

O levantamento topográfico consiste na “amarração” dos


vestígios. Nessa etapa, utilizando-se de trenas (que podem ser
convencionais ou digitais), o perito deverá medir e anotar todas as
distâncias que se fizerem necessárias. A escolha do ponto de
amarração e do sistema a ser utilizado (triangulação, linha base,
coordenada polar) será feito de acordo com as características do local.

O levantamento topográfico deve incluir:

 Dimensões obtidas durante o processo de amarração dos


vestígios;

 Medidas que forneçam a exata posição dos vestígios encontrados


na cena. Cada objeto deverá ser localizado por duas medidas
feitas a partir de pontos fixos, como portas, paredes, postes de
iluminação pública etc.

 Dimensões de portas, móveis e janelas, quando necessário;

 Coordenadas geográficas para locais abertos (obtidos por mapas


ou GPS).

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Levantamento do cadáver

Exame do cadáver no local

 Análise visual do cadáver sem o movimentar, descrevendo a


posição em que o corpo foi encontrado;
 Descrição da vítima, incluindo sexo, cor, fase cronológica
(criança, jovem, adulto ou idoso), compleição física,
comprimento e cor dos cabelos, cor dos olhos, uso de barba,
bigode, cavanhaque e outros detalhes relevantes;
 Descrever o estado e disposição das vestes e pertences da
vítima;
 Identificação das lesões visíveis encontradas, classificando-as
quanto ao tipo de lesão (Incisas, Perfuroincisas, Punctórias,
Contusas, Cortocontusas, Perfurocontusas), apontando sua
localização com auxílio de silhuetas anatômica e medidas;
 Identificação de possíveis sinais de luta, representados por
lesões de defesas observadas principalmente em mãos, braços e
antebraços;
 Verificação de vestígios diretamente no corpo, tais como
manchas de sangue, resíduos oriundos de disparos de armas de
fogo e vestígios do agressor;
 Avaliação detalhada das mãos para constatar todo tipo de
vestígios, em especial, a presença de resíduos de disparo de
arma de fogo;

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 Observação e descrição de todos os fenômenos cadavéricos;


 Observação de sinais característicos capazes de individualizar a
pessoa, como tatuagem, as quais devem ser fotografadas,
especialmente quando a vítima não está identificada e quando as
condições do corpo impedem um reconhecimento direto;
 Coleta de amostras de sangue e cabelo da vítima;
 Confrontação dos vestígios encontrados no cadáver com aqueles
verificados na cena do crime.

Exame das vestes

 Análise de todas as vestes (inclusive roupas íntimas, calçados e


etc);
 Descrição da disposição geral das vestes, atentando para
detalhes como cintos desafivelados, zíperes abertos, botões fora
de suas respectivas casas ou ocupando casas trocadas, ou
quaisquer outras anormalidades;
 Retirada das vestes deve ser feita de forma cuidadosa, evitando-
se a perde de algum vestígio que possa estar neste suporte. Por
vezes, é necessário cortar as vestes, isso deve ser feito de com
muito cuidado e, por fim deve ser registrado;
 Identificação e registros fotográficos de orifícios, rasgos,
descosturamentos e botões arrancados;
 Identificação de manchas (sangue, esperma, resíduo de disparos
de arma de fogo);
 Descrição completa do conteúdo presente nos bolsos,
discriminando a sua localização exata;
 Fotografar cada veste, em suas duas faces (anterior e posterior)
e, se necessários também internamente.

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VAMOS APRENDER SOBRE IMPRESSÃO


PAPILOSCÓPICA?

Datilograma: é a palavra que designa cada um dos desenhos digitais.


É uma palavra híbrida, formada por 2 radicais de origem diferente, do
grego DAKTILOS=dedos e do latim GRAMA= marca.

Reprodução simulada: corpo de delito facultativo, complementar,


misto, que se louva em informações subjetivas prestadas por pessoas
envolvidas no evento a ser apurado.

Papiloscopia: é o estudo das papilas dérmicas em geral existentes no


corpo humano.

Pegada: é toda marca ou impressão produzida no solo ou em outros


suportes (portas, janelas, paredes) pelo pé calçado ou descalço.

Datiloscopia: é um método de identificação policial/judiciário,


estruturado em bases científicas e experimentais, organizados em
sistemas precisos.

Podoscopia: é a ciência que estuda a planta do pé, tendo por objetivo


estabelecer a identidade humana através das papilas dérmicas.

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AGORA, VAMOS ESTUDAR IMPRESSÕES


PAPILOSCÓPICAS ENCONTRADAS EM LOCAIS DE
CRIME!!!

Papiloscopia

A papiloscopia é o estudo das papilas dérmicas em geral


existentes no corpo humano, porém as partes que mais interessam a
perícia são:
 Extremidade dos dedos, ou seja, o estudo das impressões
digitais;
 Estudo das palmas das mãos, ou seja, impressões palmares;
 Estudos das impressões plantar, solado dos pés.

Postulados da papiloscopia

a) Perenidade - Os desenhos formados pelos sistemas de linhas que


compõem as impressões digitais, especialmente aquelas
localizadas nas extremidades dos dedos, permanecem os mesmos
desenhos desde o seu aparecimento, ao sexto mês de vida
intrauterina, até a decomposição do corpo após a morte.
Apesar dos desgastes naturais verificados em decorrência da
passagem dos anos, bem como os provocados pelo manuseio cotidiano
de substâncias químicas (óleos, graxas, ácidos, cimentos), que causam
danos à epiderme, também conhecidos como estigmas profissionais,
tão logo seja suspenso o manuseio dessas substâncias, os desenhos
digitais afloram novamente.

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b) Imutabilidade - Os desenhos papiloscópicos das palmas das


mãos, dos plantares, e das extremidades dos dedos não se
modificam, nem mesmo patologicamente.
Em determinados casos de queimadura na pele, as quais
levantam uma camada de pele ou ocasionam o aparecimento de
bolhas, tão logo seja recuperada a pele, retornam os mesmos
desenhos. Cabe salientar que em determinados cortes produzidos por
lâminas afiadas e que o corte só atingiu a epiderme (parte superficial
da pele), não deixará cicatriz, assim, não haverá modificação dos
desenhos. Contudo, em corte mais profundos, em que a derme é
atingida, ficará cicatriz permanente, pois a derme é a matriz, onde
ficam os desenhos que são exteriorizados pela epiderme.

c) Variabilidade - Os desenhos papiloscópicos das palmas das


mãos, dos plantares, e das extremidades dos dedos são sempre
diferentes de dedo para dedo, de mão para mão, de indivíduo
para indivíduo. Ao longo dos anos, cientistas vêm estudando os
desenhos papilares, e consagrou-se a impossibilidade de dois
indivíduos terem os mesmos desenhos digitais com todas as
minúcias existentes em ambas.

d) Individualidade - Deste o 6º mês de vida intrauterina que no feto


começa a formar-se os desenhos digitais, que permanecem por
toda a vida e só desaparecem após a morte, com putrefação do
cadáver. Cada pessoa possui desenhos próprios e individuais,
quer dizer, constituem formas inconfundíveis e que servem para
identificar um indivíduo entre milhões de outros, sem a menor
dúvida e sem possibilidade de erros. São diferentes entre
membros de uma mesma família, não se transmite por
hereditariedade e são diferentes até entre os gêmeos.

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A datiloscopia
A datiloscopia é um método de identificação
policial/judiciário, estruturado em bases científicas e
experimentais, organizados em sistemas precisos,
praticáveis e de uso corrente nos órgãos policiais.

Impressões plantares

Em um local de crime examinado por peritos criminais, nenhum


vestígio poderá ser deixado de ser examinado.
Nesse contexto da investigação criminal, se destacam as
impressões plantares, também denominadas pegadas.
Pegada é toda marca ou impressão produzida no solo ou em
outros suportes (portas, janelas, paredes) pelo pé calçado ou descalço.

A identificação humana por intermédio do plantar

A podoscopia é a ciência que estuda a planta do pé, tendo por


objetivo estabelecer a identidade humana através das papilas
dérmicas.

As papilas dérmicas que envolvem os pés, principalmente as


que ficam sob eles, são grossas e obedecem aos mesmos postulados
da Papiloscopia (imutabilidade, variabilidade e perenidade dos
desenhos e pontos característicos).

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No plantar, as extremidades dos artelhos são os que realmente


apresentam desenhos os mais variados, sendo dessa maneira, um
elemento de identificação assim como os dedos das mãos.
A identificação humana por meio da impressão plantar é
bastante difícil, porém as pegadas têm alto valor criminalístico,
possibilitando ao perito constatar que o suspeito esteve na cena do
crime.

Pegadas

As pegadas podem ficar marcadas na terra ou em outras


substâncias capazes de receber impressão de pé calçado ou desnudos
(descalço). Para uma adequada coleta de impressões plantares é
preciso que o técnico tenha conhecimento da anatomia do pé. Este
detalhe é de grande importância, pois ele deverá saber, ao analisar a
pegada, se quem a produziu tem algum defeito físico no pé, além de
outras informações relevantes que poderão ser obtidas.
A planta do pé, na face inferior, é cavada em forma abobadada
e se assenta no solo em três pontos de apoio, conforme classificado na
ilustração 1, que são:
 Na região do calcanhar;
 Na região externa do pé;
 Na região anterior

Ilustração 1

Fonte: Del-Campo (2008)

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Classificação dos tipos de pés Pé seco e plano


Pé seco e arqueado
Pé cheio e arqueado
Pé cheio e plano

Pés varus
Pés valgos
Informações das impressões Principais anomalias dos pés
plantares Pés digitígrados
Pés talus
Pés normais

Estáticas
Dinâmica da ação do criminoso (paradas)
Pegadas dinâmicas

Classificação dos tipos de pés

Cheio e secos: a diferença entre eles é que os cheios possuem o


dorso elevado e os secos, rebaixados.

Planos e arqueados: dizem respeito às


plantas dos pés, em que os planos, também
conhecidos como pés chatos, a planta do pé
se assenta de forma parelha sobre a
superfície de contato, e os arqueados, em
face de sua geometria, descarregam-se em
sua parte anterior e posterior.

Principais anomalias dos pés

Pés varus: são aqueles cujas extremidades


frontais se apresentam voltadas para dentro e
descarregam a maior parte do peso em suas laterais
externas, o que pode estar associado à geometria das
pernas, popularmente conhecido como andar de
cowboy.

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Pés Valgos: consiste em uma alteração


na linha de distribuição de peso na região
calcânea, causando uma proeminência do
calcâneo para fora do corpo, que projeta o
tendão de Aquiles para a parte interna do
corpo, popularmente conhecido como pés
espalhados.

Pés digitígrados: Consistem naqueles que


deixam suas marcas somente na parte da
frente, uma vez que a pisada é realizada
com a parte anterior do pé, não entrando
em contato com o seu calcanhar.

Pés talos: são aqueles cuja geometria


arqueada de suas plantas só permite a
impressão da parte anterior e posterior dos
pés.

Pés normais: produzem pegadas em que é


possível observar os três pontos de apoio (região do
calcanhar, região externa do pé e região anterior),
com o formato similar ao mostrado na imagem ao
lado.

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Dinâmica da ação do criminoso

O perito criminal no local de crime, ao encontrar pegadas e ao


examiná-las, irá verificar se trata de pagadas estáticas ou dinâmicas.
As disposições das pegadas e do sapateado indicam o caminho
percorrido pelo criminoso e pela vítima, na cena do crime.
Pegadas estáticas: em situações de parada, normalmente
verifica-se a presença das pegadas de ambos os pés posicionados lado
a lado, com impressão homogênea e mais profundas do que aquelas
deixadas durante movimentação.
Nas pegadas estáticas (pessoa parada) deve verificar:

 Se os dois pés estão um ao lado do outro, nesse caso deve-se


indagar se houve interrupção da caminhada. De onde, ou de qual
direção veio. Que direção tomou após a parada;
 Verificar a presença de pontas de cigarro, palitos de fósforo
queimados, latas de refrigerantes ou cervejas, invólucros de
balas, chicletes mascados e outros vestígios que outros vestígios
que indiquem permanência;
 Pegadas numerosas, distribuídas de maneira aleatória, poderão
indicar nervosismo da pessoa que ali parou, podendo
corresponder a várias hipóteses como o estado nervosismo e
ansiedade da pessoa que produziu as pegadas, indicando sua
locomoção de um lado para outro ou até mesmo em círculos;
 Diversas pegadas em um local não só denotam a parada de uma
pessoa na cena, mas podem também indicar a presença de
diversificadas pessoas na cena do crime, nesse caso recomenda-
se examinar suas dimensões, profundidades, peculiaridades da
pisada, de onde vieram e para onde vão.

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Pegadas dinâmicas: o exame das pegadas fornece características


típicas do caminhar de determinadas pessoa.
Quando o indivíduo anda, tem uma direção (sentido) ao longo
de uma linha reta, também chamada de linha de direção, que é a linha
da qual a pegada se apresenta simetricamente, representado pela linha
tracejada em azul na ilustração 2.
A linha do pé é definida como a linha perpendicular às linhas
que tangenciam as curvas da frente e de trás de uma pegada,
representada pela linha em preto na ilustração 2.
O ângulo do passo é o ângulo produzido pela continuidade da
linha do pé até encontrar a linha de direção, é por assim dizer, a
inclinação formada entre a linha de direção e a linha do pé. Para os
homens, costuma variar entre 30º e 32º e nas mulheres entre 26º a
28º.
O comprimento do passo é definido pela medida entre duas
pegadas, ou seja, é a distância compreendida entre o ponto médio do
calcanhar de uma pegada com o ponto médio do calcanhar da outra
pegada.
O comprimento do passo em adultos pode variar entre 70 a 75
cm. Medidas com 80 cm ou mais sugerem que a pessoa que as
produziu tinha pernas longas ou andava apressadamente, podendo
estar correndo, porém, se ultrapassar o comprimento de 90 cm,
provavelmente quem as produziu estava correndo.
Na largura do passo a medida é realizada da mesma maneira
que no comprimento do passo, contudo, o referencial é o ponto médio
das curvas da frente das pegadas. Em adultos a largura do passo
costuma variar entre 40 a 45 cm.

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Ilustração

do passo
Largura
Ângulo
do passo

comprimento
do passo

Impressões digitais

Os desenhos das cristas papilares são individuais com


particularidades e as mais completas variedades de figuras que
garantem a sua individualidade, não havendo dois indivíduos com
desenhos e características idênticas, mesmo entre dois dedos da
mesma pessoa. Estas impressões são imutáveis, evidenciando-se
desde o sexto mês de vida intrauterina, e permanecendo invariáveis
até depois da morte, podendo o desenho individual ampliar-se com o
crescimento, mas nunca mudar.
Existem vários processos de identificação, formulados e
estabelecidos ao longo da história por pesquisadores que utilizaram
diferentes métodos e parâmetros, porém o sistema datiloscópico de
VUCETICH, criado pelo cientista Juan Vucetich Kovacevich, enquanto
trabalhava para a Polícia da província de Buenos Aires, tornou-se o
mais eficiente.
O Sistema de Identificação através da Datiloscopia de Vucetich,
empregado no Brasil desde 1903, utiliza as impressões digitais dos 10
(dez) dedos e realiza uma combinação de letras A, I, E, V e dos
números 1, 2, 3 e 4, resultando em um elevado número de fórmulas
datiloscópicas. As letras são empregadas para representar os tipos
fundamentais nos polegares e os números os tipos fundamentais nos
demais dedos. Os tipos fundamentais de VUCETICH são representados,
abreviadamente, pelos seguintes símbolos:

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Denominação Polegar Demais dedos


Arco A 1
Presilha interna I 2
Presilha externa E 3
Verticilo V 4

Podemos dizer que os desenhos digitais são


formados por três sistemas de linhas. A base de todo
método de classificação gira em torno desses sistemas,
que são: BASILAR, MARGINAL e NUCLEAR.

Classificação do Sistema VUCETICH


Classificação primária Descrição Datilograma

O desenho datiloscópico é composto


por linhas mais ou menos paralelas,
Arco (A) que vão de uma extremidade à outra
do campo digital (não possuem
deltas)

O datilograma tem um delta à direita


do observador, constituído de linhas
que, partindo da esquerda vão ao
Presilha Interna (I) centro do núcleo, curvam-se e voltam
ou tendem a voltar ao local de partida,
formando uma ou mais laçada de
perfeita inflexão.
O datilograma tem um delta à
esquerda do observador, constituído
de linhas que, partindo da direita vão
Presilha Externa (E) ao centro do núcleo, curvam-se e
voltam ou tendem a voltar ao local de
partida, formando uma ou mais laçada
de perfeita inflexão.

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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

O datilograma é composto por dois


deltas, sendo um à esquerda e outro
à direita do campo digital, tendo um
Verticilo (V)
núcleo de forma diversa e, pelo
menos, uma linha livre e curva à frente
de cada delta.

No Sistema de VUCETICH existem 4 tipos de desenhos


fundamentais que servem de base para toda a classificação
datiloscópica. São eles: ARCO - PRESILHA INTERNA - PRESILHA
EXTERNA – VERTICILO.

Subclassificação dos datilogramas

Classificação
Subclassificação Datilograma
primária

Plano: é o arco desprovido de quaisquer


alterações em sua formação, contendo
Arco linhas quase retas ou levemente curvas,
paralelas, que partindo de um lado da
falangeta fazem uma pequena curvatura no
centro e vão terminar do lado oposto.

Bifurcado Interno: é aquele que apresenta


Arco em uma mesma linha uma bifurcação à
direita do observador.

Bifurcado Externo: é aquele que apresenta


Arco em uma mesma linha uma bifurcação à
esquerda do observador.

Angular: também chamado de pirâmide, é


formado por linhas mais ou menos paralelas
que vão de uma extremidade a outra do
Arco datilograma e fazem uma ascensão no
centro do desenho digital, com curvatura
das linhas, em acentuado valor angular,
chegando a se parecer com uma pirâmide
ou um triângulo.

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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

Classificação Primária Subclassificação Datilograma

Invadida: possuem algumas linhas


que invadem ou tendem a invadir
outras linhas normais, formadora
de laçada.

Dupla: são assim denominados


Presilha desenhos digitais em que
aparecem 2 presilhas distintas,
com dois deltas.

Ganchosa: é a presilha cujas


laçadas apresentam-se em forma
de gancho, tendo uma inflexão
oblíqua ao delta.

Classificação Primária Subclassificação Datilograma

Circular: é o verticilo que tem na


formação do núcleo pelo menos
um círculo livre.

Verticilo
Espiral: é o verticilo que tem na
formação do núcleo, linhas que
configuram uma espiral para
direita ou para a esquerda.

Espiral duplo ou vorticiforme: é o


verticilo que tem na formação do
Verticilo núcleo, linhas duplas que
configuram espiral para a direita
ou para a esquerda.

Ovoidal: quando a configuração


do seu núcleo tem a semelhança
Verticilo de uma elipse alongada,
podendo ser inclinada para a
direita ou para a esquerda.

Sinuoso: é o verticilo que tem na


formação do núcleo uma ou mais
Verticilo
laçadas formadas por linhas
sinuosas.

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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

CONCLUSÃO

Tendo em vista a conclusão deste curso o importante é salientar


que a criminalística é a disciplina que tem como objetivo o
reconhecimento e a interpretação dos indícios materiais extrínsecos,
relativos ao crime ou à identidade do criminoso, tendo sua origem na
Medicina Legal. Sua ação no crime, aqui descrito como fato típico,
antijurídico e culpável, é sempre a de fornecer elementos materiais
para o inquérito e para fundamentar a decisão do tribunal.
Na Policia Militar utilizamos a expressão local de infração penal,
cujo o significado é mais amplo que crime, para o qual os diversos
órgãos do Estado atuam conforme a Constituição os determina.
Definimos o local de infração penal como a região do espaço em
que ocorreu um evento delituoso, cuja primeira tarefa é o isolamento
da área no caso dos crimes que estejam consumados, seguido da
preservação e comunicação do fato as autoridades. Sendo ainda, tarefa
da Policia Militar, se possível arrolar testemunhas e aguardar no local
até a chegada da autoridade de polícia judiciária.
Neste sentido, a autoridade de polícia judiciária é o Delegado nos
crimes comuns e o Comandante da OPM nos casos dos crimes militares,
ou em ambos os casos quem estas autoridades delegarem para
representá-los. Neste, sentido corpo de delito é o elemento principal
de um local de crime, em torno do qual gravitam os vestígios e para o
qual convergem as evidências, que posteriormente no inquérito se
transformará em prova, que é todo elemento pelo qual se procura
mostrar a existência e a veracidade de um fato.
Assim, a doutrina incumbe à acusação provar a existência do fato
criminoso e de causas que implicar aumento de pena, e como está
previsto no Art. 156 do CPP “A prova da alegação incumbirá a quem a
fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício...”, de modo, que na
cadeia de custódia, todos possuem responsabilidade para garantia do
jus puniendi do Estado.

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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

Podemos dividir de maneira didática o inquérito em duas partes,


uma objetiva e outra subjetiva, cuja, separação que trata
resumidamente das provas materiais e testemunhais. No que tange ao
serviço policial militar devemos observar que o isolamento e
preservação do local de infração penal é fundamental para elucidação
do fato e para se determinar a autoria e materialidade dos fatos e que
muitas vezes, ao deixar de observar determinados procedimentos
previstos na legislação interna, podem trazer grande prejuízo para
ação penal, o que muitas vezes faz com que autores e crimes deixem
de ser responsabilizados e escapem ao crivo da Justiça.
Especificamente nos casos dos Crimes Militares, além da
observação dos preceitos institucionais, é preciso salientar que a
função de autoridade de polícia judiciária é exercida pelo Comandante
da OPM, e que conforme o Código de Processo Militar no § 2º do art.
10 “O aguardamento da delegação não obsta que o oficial responsável
por comando, direção ou chefia, ou aquele que o substitua ou esteja
de dia, de serviço ou de quarto, tome ou determine que sejam tomadas
imediatamente as providências cabíveis, previstas no art. 12, uma vez
que tenha conhecimento de infração penal que lhe incumba reprimir
ou evitar.”
Convém ressaltar que, conforme o CPPM em sua alínea “a” do
art. 12 a autoridade de polícia que trata o art. 10, deverá se dirigir ao
local, providenciando para que se não alterem o estado e a situação
das coisas, enquanto necessário.
Assim, os conhecimentos adquiridos neste curso, são uma
ferramenta auxiliar no desenvolvimento da atividade policial ostensiva,
servindo de guisa para o
estabelecimento da correta
cadeia de custódia, permitindo
assim, que o Tribunal forme juízo
adequado, podendo alcançar a
Justiça.

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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

NETTO, Amilcar; ESPÍNDULA, Alberi. Manual de atendimento a


locais de morte violenta. Millennium. 2. Ed. Campinas-SP: 2016.
Cap. 3 e 7.

SANTIAGO, Elizeu. Criminalística Comentada. Millennium. 1. Ed.


Campinas-SP: 2014. modulo 18, 28, 45.

TOCCHETTO, Domingos; STUMVOLL, Vitor. Criminalística.


Millennium. 6. Ed. Campinas-SP: 2014. Cap. 3.

FIGINI, Adriano; Silva, José Roberto. Identificação Humana.


Millennium. 2. Ed. Campinas-SP: 2003. Cap. 1, 3 e 4.

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