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2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
ENGENHARIA AMBIENTAL
Orientador:
2019
Banca Examinadora
Orientador:
Convidado:
Professoras da Disciplina:
A minha esposa Valéria, e meus filhos, Nicholas e Alan, por serem meu suporte
durante os anos de curso, e que foram e são minha maior motivação para completa-lo.
RESUMO
Figura 2: Mapa raster do fator C, levando-se em conta a reconstituição das APPs de margem de
rio e de nascentes. ............................................................................................................................18
Figura 7: Erosão nas margens do ribeirão Santa Fé, em trecho localizado no sítio São João. .......23
Figura 11: Modelo de elevação digital, compondo parte do litoral norte paulista e vale do
Paraíba. .............................................................................................................................................25
Figura 12: Delineamento da bacia hidrográfica e identificação das áreas florestadas. ....................26
Figura 15: Produção de sedimentos na microbacia para o cenário de recuperação das APPs de
margem e nascentes. ........................................................................................................................28
Figura 16: Condições iniciais de conservação das matas para o trabalhode Pereira (2009). Nota-
se uma maior presença de florestas junto às margens dos rios e nascentes. .................................31
LISTA DE TABELAS
Tabela 2: Resultados de perda média de solo na microbacia para as condições analisadas. ........27
Abreviações
Símbolo Descrição
APP Área de Preservação Permanente
AVA Área Variável de Afluência
CAR Cadastro Ambiental Rural
GIS Geographical Information Systems
MDE Modelo Digital de Elevação
NDVI Normalized Difference Vegetation Index
RL Reserva Legal
SIG Sistemas de Informação Geográfica
USLE Universal Soil Loss Equation
USDA United States Department of Agriculture
USGS United States Geological Survey Department
INTRODUÇÃO
A busca por recursos naturais tem pautado os assentamentos humanos no planeta desde
o princípio de sua história, e dentro deste contexto, a água tem notavelmente ajudado a
moldar a maneira com a qual o Homem vem ocupando os seus espaços. Grandes exemplos
disso são as civilizações que habitaram a região da Mesopotâmia, entre os rios Tigre e
Eufrates, a civilização egípcia, às margens do poderoso rio Nilo, e os povos que deram início
aos primeiros conglomerados junto ao rio Indus, na península Índica.
Na medida em que se passou a ocupar o planeta, em direção às suas mais longínquas
regiões, este padrão tem se mantido, seja por ser a água recurso essencial para o consumo
humano, dessedentação de animais, irrigação de culturas, ou seu uso para as mais diversas
atividades.
Entretanto, na esteira da globalização que passou a tomar forma entre os séculos XV e
XVI, com o advento da era das navegações e a descoberta de novas terras, novos elementos
passaram a influenciar fortemente os movimentos humanos. Em particular, as revoluções
Industrial e Francesa, entre o final do século XVIII e início do XIX, provocaram
desdobramentos no campo social, político e técnico-científico, notadamente. A grande
explosão populacional que se seguiu, em grande parte devido às conquistas tecnológicas
alcançadas, passou a ser então fator primordial no grande aumento da pressão humana sobre
os recursos naturais.
Dentro deste contexto, a crescente degradação dos cursos de água, os riscos inerentes à
sua utilização e consequente escassez, ajudaram a mostrar que este não é um recurso natural
com disponibilidade permanente, sob os aspectos qualitativo e quantitativo, além de possuir
uma distribuição espacial desigual pelos continentes. Desta forma, é possível constatar que
o uso sustentável deste precioso recurso precisa passar necessariamente pela adoção de
medidas racionais de gestão e conservação.
Atualmente grande avanço do conhecimento em áreas diversas, como a geologia,
hidrografia, ciências do meio ambiente, bem como o desenvolvimento das tecnologias que
servem de base ao geoprocessamento, sensoriamento remoto, meios computacionais e
comunicações, tem permitido efetuar a caracterização ambiental de grandes áreas, de
maneira rápida e confiável, o que tem constituído um conjunto inestimável de ferramentas
de gestão ambiental.
Nas últimas décadas, em decorrência de um aumento do interesse mundial sobre as
questões ambientais, houve o surgimento de um conjunto de normas, leis e regulamentos
ambientais. No Brasil, vale destacar a edição, em 2012, do novo Código Florestal (Lei
Federal n⁰ 12.651, de 25 de maio de 2012), cujo texto determina, dentre outras ações, a
proteção das margens de rios e corpos d’água.
Embora a legislação ambiental estabelecida já esteja produzindo resultados visíveis,
especialmente a partir dos novos empreendimentos sendo executados, entende-se haver a
necessidade do uso de abordagens que privilegiem uma visão mais global e que também
sejam estimuladas pelos governos em seus vários níveis, através de ações estratégicas de
médio e longo prazos, no sentido de favorecer a reconstituição do equilíbrio ambiental e sua
manutenção, tendo em vista uma melhoria nos níveis de sustentabilidade.
Desta forma, ações pontuais são importantes, mas necessitam fazer parte de um plano
mais amplo, para que possam ter maior efetividade, dentro de um contexto mais amplo.
O presente trabalho nasceu a partir do tema do estágio: “Recuperação de Áreas
Degradadas”. Durante este período, foi visitada uma área localizada no município de Santa
Branca, Estado de São Paulo, denominada Sítio São João, às margens do ribeirão Santa Fé,
e que necessitou realizar um trabalho de recuperação de Área de Preservação Permanente
(APP), nas margens do referido curso d’água.
Na ocasião da visita à propriedade, o proprietário relatou acerca da ocorrência de erosões
nas margens do ribeirão, assoreamento em seu leito, além de inundações em ocasiões de
grande pluviosidade, quando o nível da água chega a subir cerca de 2 metros.
Especulou-se ser a razão destas ocorrências as condições nas imediações deste curso
d’água e tributários, a montante, pois a região é bastante utilizada para a criação de gado
bovino, e levantou-se a hipótese de ocorrência de maior número de erosões nessas áreas.
Em decorrência destes fatos, entendeu-se ser esta uma boa oportunidade para a
investigação da área e planejamento de meios para ajudar a mitigar tais efeitos, e fornecer
um ponto de partida para futuras ações de recuperação e gestão ambiental na área da
microbacia.
1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1.1 A importância das zonas ripárias sobre o regime hidrológico, sob os aspectos
qualitativo e quantitativo
Sob o prisma do senso comum, a correlação positiva entre o equilíbrio ambiental do
entorno dos cursos de água das bacias hidrográficas e os níveis qualitativos e quantitativos
deste precioso recurso parece mostrar-se evidente.
No Brasil, quando da chegada do rei D.João VI ao Rio de Janeiro, a preocupação com a
preservação das nascentes dos rios que abasteciam a cidade estava presente quando D. João
editou um decreto que obrigava cercar as áreas de nascentes, na região que viria a tornar-se
o Parque Nacional da Tijuca (FIGUEIRA; BESERRA, 2008, p. 136).
Recentemente, no final da década de 1990, a cidade de Nova York aumentou as taxas
de fornecimento de água potável com o propósito de adquirir propriedades nas nascentes de
seus principais cursos de água para proteger seu entorno, além de utilizar do recurso de
pagamento por serviços ambientais (PSA) a donos de propriedades nas áreas contíguas, que
se comprometessem a modificar o uso de suas terras, de produtoras de cultivares e
agropecuária para recuperação de áreas florestais (MAYRAND; PAQUIN, 2004, p.11).
No campo da pesquisa científica, vários trabalhos têm mostrado a influência da
cobertura vegetal e do solo alterado pela macro e micro fauna presentes sobre os regimes de
fluxo de água, sedimentos e nutrientes.
Hewlett e Hibbert (1967) trabalham o conceito de área variável de afluência (AVA), ou
seja, durante um evento de precipitação, o fluxo de água e sedimentos não obedece pura e
simplesmente ao conceito “Hortoniano” (HORTON, 1940), no qual o escoamento
superficial se dá a partir do momento em que a intensidade da chuva ultrapassa a capacidade
de infiltração do solo, mas sim a um processo pelo qual o escoamento é influenciado por
uma área dinâmica, que sofre modificações no decurso do deflúvio, e esta área é altamente
influenciada pelas condições da cobertura do solo, como a existência de vegetação, seu porte,
e a ação da fauna local sobre o solo, por exemplo.
Diferentes condições de uso dos solos modificam drasticamente a maneira como estes
se comportam diante da ocorrência de chuvas e do escoamento nos cursos de água. A
presença de macroporos no subsolo, por exemplo, pela ação de animais de portes variados,
e pela ação das raízes das árvores e seu decaimento, favorece o escoamento lateral (NEARY;
ICE; JACKSON, 2009). Os solos também modificam suas características após incêndios na
mata, como o desenvolvimento de hidrofobia (NEARY et al., 2005).
Entretanto, é a mata adjacente às margens dos cursos de água, denominada “zona
ripária” que possui maior influência direta sobre o curso de água, sendo também diretamente
influenciada por este (NAIMAN; DECAMPS, 1997). Tais regiões também tem o importante
papel de áreas “tampão”, ou seja, áreas de amortecimento dos efeitos do desprendimento de
sedimentos e agentes externos, como fertilizantes e agrodefensivos, provenientes de culturas
nas proximidades (MOSTER, 2007), e possuem características diferenciadas de solo,
vegetação e biota. Outra característica das zonas ripárias é que estas não apresentam uma
dimensão constante, ou que possa ser pré-determinada sem prévio exame. Seu delineamento
pode ser feito por métodos como a caracterização da vegetação, solo, e análise de sua
topografia (ZAKIA, 1998).
Art. 4⁰ - Serão consideradas florestas protetoras as que, por sua localização, servirem
conjunta ou separadamente para qualquer dos fins seguintes:
a) conservar o regime das águas;
b) evitar a erosão das terras pela ação dos agentes naturais;
c) fixar dunas;
d) auxiliar a defesa das fronteiras, de modo julgado necessário pelas autoridades militares;
e) assegurar condições de salubridade pública;
f) proteger sítios que por sua beleza mereçam ser conservados;
g) asilar espécimes raros de fauna indígena.
2.2 Procedimentos
Em campo, foram realizadas incursões pela região da microbacia do ribeirão Santa Fé,
verificando as condições de uso do solo e da vegetação local, e buscando informações com
alguns dos moradores locais para complementar os dados sobre esta área.
Posteriormente, foi feito uso de imagens de satélite (INPE, 2016) para a verificação
visual da área do sítio São João e da microbacia contribuinte do ribeirão Santa Fé, que passa
pela propriedade. Passou-se então ao delineamento da microbacia hidrográfica, com o uso
dos programas de geoprocessamento Quantum GIS 2.14.1 (importação do MDE da região,
enquadramento da região alvo e exportação para o módulo Grass) e Grass 7.0.3 (utilização
do MDE para o cálculo dos limites da bacia hidrográfica), com o propósito de calcular sua
área e verificar as condições de uso de solo e vegetação.
2.2.1 Cálculo do Fator C
Para o cálculo do fator C, utilizou-se da fórmula (DE JONG, 1994):
Vale ressaltar que foi adotado um valor único para o fator R, por simplificação da
geração do mapa resultante. Uma abordagem mais precisa levaria em conta a interpolação
de dados das diferentes estações existentes na região.
Figura 6: Mapa de solos do Brasil e detalhe da área de estudo. Fonte: IBGE (2016).
2.2.5 Adoção do Fator P – Práticas de conservação do solo
O fator P é um fator adimensional, variando de 0 a 1, sendo valores próximos de zero
referentes a áreas com alto grau de utilização de práticas de conservação do solo, como o
terraceamento, e valors próximos de 1 referentes a áreas com baixo nível de utilização de
práticas de conservação do solo. Uma vez que a microbacia do ribeirão Santa Fé não utiliza
dessas práticas, possuindo alto grau de desflorestamento, adotou-se, por simplificação, o
valor de 0,8 para este trabalho.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Verificação das condições gerais na microbacia
O sítio São João é uma propriedade localizada no município de Santa Branca, São Paulo,
na região do vale do rio Paraíba, no leste deste Estado.
Durante a visita ao sítio São João, foram verificadas as condições locais das margens do
ribeirão Santa Fé, que apresentavam forte erosão e assoreamento de seu leito, além de queda
e carreamento de vegetação (figs. 8 e 9). Em conversa com o proprietário do sítio, este
informou que, em ocasiões de grande pluviosidade, o nível da água pode subir cerca de 2
metros, causando prejuízos à sua propriedade e agravando os problemas de erosão nas suas
margens.
A área da propriedade, de maneira geral, possui um bom nível de cobertura vegetal, boa
parte desta com espécies nativas, com uma nascente localizada em níveis mais elevados do
sítio.
Com base nos primeiros dados coletados, decidiu-se por efetuar uma incursão pelas
áreas a montante do sítio São João, com o objetivo de verificar as condições das margens
dos cursos d’água principal e contribuintes, e de seu entorno.
Figura 7: Erosão nas margens do ribeirão Santa Fé, em trecho localizado no sítio São João.
Figura 8: Sinais de assoreamento e queda de árvores e vegetação no leito do ribeirão.
Foi constatado que as áreas a montante são regiões utilizadas, em sua maior parte, como
pasto para gado, possuindo pouca ou nenhuma vegetação nativa nas imediações dos cursos
d’água, um grande número de erosões próximas aos topos de morro e em locais de maior
inclinação, principalmente (figs. 9 e 10).
A região como um todo está localizada na serra do Mar, e possui relevo acidentado, com
ocorrência de altas declividades. Acrescenta-se também a existência de diversas plantações
de eucalipto nas propriedades adjacentes.
As margens dos cursos d’água, de uma maneira geral, não possuem nenhuma mata ciliar,
com exceção das áreas localizadas nas nascentes localizadas ao norte da microbacia.
Figura 11: Modelo de elevação digital, compondo parte do litoral norte paulista e vale do Paraíba.
O cálculo da área da microbacia resultou em um valor de 16.130.350,94 m², ou cerca de
16,1 km². Os trechos florestados (tanto por mata nativa como por florestas de eucaliptos)
totalizaram cerca de 4.035.028,80 m², ou seja, cerca de 25% da área total da bacia (fig. 12).
4.1 CONCLUSÕES
O estabelecimento do corpo da legislação ambiental brasileira levou a mudanças
importantes nos paradigmas até então em voga. A partir da exigência da recomposição e
restauração das áreas de proteção permanente, bem como das reservas legais, espera-se que
haja uma melhora sensível na maneira com que são geridos os recursos naturais.
Os resultados visualizados em pesquisas anteriores e neste trabalho, demonstram que há
inegáveis ganhos ambientais para as microbacias hidrográficas, se postos em prática estes
mecanismos. Conclui-se também acerca da necessidade de utilização de boas práticas de
conservação do solo e dos cursos d’água, o que tem provocado danos às propriedades e ao
meio ambiente, pela ocorrência de erosões e grandes perdas do solo.
4.2 SUGESTÕES
O advento do conceito de APP representou um grande avanço na conservação e proteção
das margens dos cursos d’água, mas ainda se sente falta de um mecanismo que possa permitir
ações de gestão, no âmbito das microbacias hidrográficas, com o intuito de planejar as áreas
mais adequadas para o estabelecimento das reservas legais e orientar acerca das atividades
executadas na área, tendo em vista uma utilização mais sustentável de seus recursos.
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