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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA


ENGENHARIA AMBIENTAL

Recuperação de Áreas Degradadas no Contexto da Microbacia


Hidrográfica: O Uso de Tecnologias de Geoprocesamento em sua
Caracterização, Planejamento e Gestão

Simei Diniz Vieira

São José dos Campos – SP

2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA

ENGENHARIA AMBIENTAL

Recuperação de Áreas Degradadas no Contexto de uma Microbacia


Hidrográfica: O Uso de Tecnologias de Geoprocessamento em sua
Caracterização, Planejamento e Gestão

Simei Diniz Vieira

Trabalho de Graduação apresentado ao Curso de


Engenharia Ambiental da Universidade Federal
de São Carlos, ofertado pela UAB-UFSCar.

Orientador:

Profa. Cláudia Moster Barros

São José dos Campos – SP

2019
Banca Examinadora

Trabalho de Graduação apresentado no dia 11 de junho de 2016 perante a


seguinte banca examinadora:

Orientador:

Profa. Cláudia Moster Barros

Convidado:

Prof. Marco Antonio Albano Moreira

Professoras da Disciplina:

Profas. Paula Rúbia Ferreira Rosa e Adriana Cristiane Ruy


"Para ver um mundo em um grão de areia, e os céus em uma flor silvestre, guarde o
infinito na palma de sua mão, e a eternidade em uma hora." trad. livre, William Blake
AGRADECIMENTOS

A Deus, Rocha sempre segura em todos os momentos.

À UFSCAR, pelo suporte de seus professores, tutores, técnicos e profissionais que


tem tornado possível com seu trabalho a manutenção da excelência deste curso;

À tutora Cláudia, cuja paciência, dedicação e prontidão em orientar tornaram


sempre claro o caminho do estágio e do Trabalho de Graduação;

A Antonio Marcio e Diego, supervisores de estágio, que compartilharam suas


experiências profissionais, sem medida e sempre oportunamente, tornando a experiência do
estágio agradável e construtiva;

A minha esposa Valéria, e meus filhos, Nicholas e Alan, por serem meu suporte
durante os anos de curso, e que foram e são minha maior motivação para completa-lo.
RESUMO

Constitui o objeto de estudo deste Trabalho de Graduação a bacia do ribeirão Santa


fé, no município de Jacareí, Estado de São Paulo. Essa bacia possui uma área de
aproximadamente 16 km², com baixo percentual de matas nativas, em sua maior parte
utilizada como pasto para gado bovino, possuindo uma zona ripária altamente degradada, e
parcela de sua área dedicada a reflorestamento com espécies de eucalipto para a indústria do
papel. Relatos de proprietários locais dão conta de constantes inundações e erosão nas
margens dos seus cursos d’água, o que levou à hipótese de altas perdas de solo na microbacia
de contribuição, corroborado inicialmente por verificação de suas condições locais. A
utilização de software de geoprocessamento (Quantum GIS 2.14.1) e dados de
sensoriamento remoto de fornecimento livre, aliado ao uso da Equação Universal de Perda
de solo (USLE), permitiu estimar a produção de sedimentos para duas condições: a situação
atual, e o cenário que inclui a recuperação das Áreas de Preservação Permanente de margem
de rio e de nascentes. Tais procedimentos tiveram como motivação a análise da eficácia da
recuperação das Áreas de Preservação Permanente sobre a redução das perdas de solo, bem
como mostrar as vantagens do uso das tecnologias de geoprocessamento na gestão
ambiental.

Palavras-chave: Bacias Hidrográficas, Áreas de Proteção Permanente,


USLE, Geoprocessamento.
ABSTRACT

This Graduation Project focused on a study of the Santa Fé stream watershed,


situated in the countryside of Jacareí, State of São Paulo. The watershed área –
approximately 16 km² - has few remaining natural forested areas, with a large percentage
dedicated to pasture. Also, it has highly degraded riparian zones, being eucalyptus
reforestation for the paper industry its secondary activity. Reports by local property owners
accounted for frequent flooding events and erosions on the river banks, which led to the
hypothesis of substantial soil loss in the watershed, as evinced by the local conditions in the
área. The use of a geoprocessing software (Quantum GIS 2.14.1), and downloadable remote
sensing data and imagery, alongside the Universal Soil Loss Equation (USLE), allowed for
the estimation of sediment yield for the following scenarios: the current watershed
conditions, and the ecological restoration of the Areas of Permanent Protection of the stream
shores and water springs. The purpose of these procedures was to assess the restoration of
the Areas of Permanent Protection in reducing soil loss, as well as to show the benefits of
using geoprocessing technologies in the management of these areas.

Keywords: Watersheds, Areas of Permanent Protection, USLE,


Geoprocessing.
SUMÁRIO
Banca Examinadora .......................................................................................................... 1
RESUMO ........................................................................................................................... 4
ABSTRACT ....................................................................................................................... 5
LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................... 7
LISTA DE TABELAS .......................................................................................................... 7
NOMENCLATURA ............................................................................................................. 8
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................9
1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................................... 11
1.1 A importância das zonas ripárias sobre o regime hidrológico, sob os aspectos qualitativo e
quantitativo ....................................................................................................................................11
1.2 A Evolução do conceito legal de Áreas de Proteção Permanente - APP.............................12
1.3 A Equação Universal de Perda de Solo (USLE) ...................................................................14
1.4 O advento das tecnologias de geoprocessamento...............................................................15
2 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................... 16
2.1 Materiais ................................................................................................................................16
2.2 Procedimentos ......................................................................................................................16
2.2.1 Cálculo do Fator C ...................................................................................................17
2.2.2 Cálculo do Fator LS .................................................................................................19
2.2.3 Calculo do Fator R (Erosividade da chuva) .............................................................19
2.2.4 Cálculo do Fator K ...................................................................................................21
2.2.5 Adoção do Fator P – Práticas de conservação do solo ..........................................22
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................... 23
3.1 Verificação das condições gerais na microbacia ..................................................................23
3.2 Cálculo da área da microbacia, com estimativa de área florestada .....................................25
3.3 Resultados da produção de sedimentos na microbacia .......................................................27
3.4 Análise comparativa de cenários de recomposição florestal, baseada em trabalhos
científicos prévios ..........................................................................................................................28
3.5 Discussão..............................................................................................................................30
4 CONCLUSÕES E SUGESTÕES .................................................................................. 32
4.1 CONCLUSÕES .....................................................................................................................32
4.2 SUGESTÕES ........................................................................................................................32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................33
BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................................36
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Mapa raster do fator C para as condições atuais da bacia hidrográfica. ..........................17

Figura 2: Mapa raster do fator C, levando-se em conta a reconstituição das APPs de margem de
rio e de nascentes. ............................................................................................................................18

Figura 3: Mapa do fator LS. ...............................................................................................................19

Figura 4: Valores de pluviosidade média anual no Brasil (IBGE, 2016). ..........................................20

Figura 5: Mapa do fator R. ................................................................................................................20

Figura 6: Mapa de solos do Brasil e detalhe da área de estudo. ......................................................21

Figura 7: Erosão nas margens do ribeirão Santa Fé, em trecho localizado no sítio São João. .......23

Figura 8: Sinais de assoreamento e queda de árvores e vegetação no leito do ribeirão. ................24

Figura 9: Erosão em encosta de morro. ............................................................................................24

Figura 10: Erosão em encosta de morro. ..........................................................................................25

Figura 11: Modelo de elevação digital, compondo parte do litoral norte paulista e vale do
Paraíba. .............................................................................................................................................25

Figura 12: Delineamento da bacia hidrográfica e identificação das áreas florestadas. ....................26

Figura 13: Hidrografia e contorno da bacia hidrográfica. ..................................................................26

Figura 14: Produção de sedimentos na microbacia para as condições atuais. ................................27

Figura 15: Produção de sedimentos na microbacia para o cenário de recuperação das APPs de
margem e nascentes. ........................................................................................................................28

Figura 16: Condições iniciais de conservação das matas para o trabalhode Pereira (2009). Nota-
se uma maior presença de florestas junto às margens dos rios e nascentes. .................................31

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Valores de pluviosidade média mensal e anual (INMET, 2016). ......................................21

Tabela 2: Resultados de perda média de solo na microbacia para as condições analisadas. ........27

Tabela 3: Tabela Comparativa de Resultados ..................................................................................29


NOMENCLATURA

Abreviações
Símbolo Descrição
APP Área de Preservação Permanente
AVA Área Variável de Afluência
CAR Cadastro Ambiental Rural
GIS Geographical Information Systems
MDE Modelo Digital de Elevação
NDVI Normalized Difference Vegetation Index
RL Reserva Legal
SIG Sistemas de Informação Geográfica
USLE Universal Soil Loss Equation
USDA United States Department of Agriculture
USGS United States Geological Survey Department
INTRODUÇÃO

A busca por recursos naturais tem pautado os assentamentos humanos no planeta desde
o princípio de sua história, e dentro deste contexto, a água tem notavelmente ajudado a
moldar a maneira com a qual o Homem vem ocupando os seus espaços. Grandes exemplos
disso são as civilizações que habitaram a região da Mesopotâmia, entre os rios Tigre e
Eufrates, a civilização egípcia, às margens do poderoso rio Nilo, e os povos que deram início
aos primeiros conglomerados junto ao rio Indus, na península Índica.
Na medida em que se passou a ocupar o planeta, em direção às suas mais longínquas
regiões, este padrão tem se mantido, seja por ser a água recurso essencial para o consumo
humano, dessedentação de animais, irrigação de culturas, ou seu uso para as mais diversas
atividades.
Entretanto, na esteira da globalização que passou a tomar forma entre os séculos XV e
XVI, com o advento da era das navegações e a descoberta de novas terras, novos elementos
passaram a influenciar fortemente os movimentos humanos. Em particular, as revoluções
Industrial e Francesa, entre o final do século XVIII e início do XIX, provocaram
desdobramentos no campo social, político e técnico-científico, notadamente. A grande
explosão populacional que se seguiu, em grande parte devido às conquistas tecnológicas
alcançadas, passou a ser então fator primordial no grande aumento da pressão humana sobre
os recursos naturais.
Dentro deste contexto, a crescente degradação dos cursos de água, os riscos inerentes à
sua utilização e consequente escassez, ajudaram a mostrar que este não é um recurso natural
com disponibilidade permanente, sob os aspectos qualitativo e quantitativo, além de possuir
uma distribuição espacial desigual pelos continentes. Desta forma, é possível constatar que
o uso sustentável deste precioso recurso precisa passar necessariamente pela adoção de
medidas racionais de gestão e conservação.
Atualmente grande avanço do conhecimento em áreas diversas, como a geologia,
hidrografia, ciências do meio ambiente, bem como o desenvolvimento das tecnologias que
servem de base ao geoprocessamento, sensoriamento remoto, meios computacionais e
comunicações, tem permitido efetuar a caracterização ambiental de grandes áreas, de
maneira rápida e confiável, o que tem constituído um conjunto inestimável de ferramentas
de gestão ambiental.
Nas últimas décadas, em decorrência de um aumento do interesse mundial sobre as
questões ambientais, houve o surgimento de um conjunto de normas, leis e regulamentos
ambientais. No Brasil, vale destacar a edição, em 2012, do novo Código Florestal (Lei
Federal n⁰ 12.651, de 25 de maio de 2012), cujo texto determina, dentre outras ações, a
proteção das margens de rios e corpos d’água.
Embora a legislação ambiental estabelecida já esteja produzindo resultados visíveis,
especialmente a partir dos novos empreendimentos sendo executados, entende-se haver a
necessidade do uso de abordagens que privilegiem uma visão mais global e que também
sejam estimuladas pelos governos em seus vários níveis, através de ações estratégicas de
médio e longo prazos, no sentido de favorecer a reconstituição do equilíbrio ambiental e sua
manutenção, tendo em vista uma melhoria nos níveis de sustentabilidade.
Desta forma, ações pontuais são importantes, mas necessitam fazer parte de um plano
mais amplo, para que possam ter maior efetividade, dentro de um contexto mais amplo.
O presente trabalho nasceu a partir do tema do estágio: “Recuperação de Áreas
Degradadas”. Durante este período, foi visitada uma área localizada no município de Santa
Branca, Estado de São Paulo, denominada Sítio São João, às margens do ribeirão Santa Fé,
e que necessitou realizar um trabalho de recuperação de Área de Preservação Permanente
(APP), nas margens do referido curso d’água.
Na ocasião da visita à propriedade, o proprietário relatou acerca da ocorrência de erosões
nas margens do ribeirão, assoreamento em seu leito, além de inundações em ocasiões de
grande pluviosidade, quando o nível da água chega a subir cerca de 2 metros.
Especulou-se ser a razão destas ocorrências as condições nas imediações deste curso
d’água e tributários, a montante, pois a região é bastante utilizada para a criação de gado
bovino, e levantou-se a hipótese de ocorrência de maior número de erosões nessas áreas.
Em decorrência destes fatos, entendeu-se ser esta uma boa oportunidade para a
investigação da área e planejamento de meios para ajudar a mitigar tais efeitos, e fornecer
um ponto de partida para futuras ações de recuperação e gestão ambiental na área da
microbacia.
1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1 A importância das zonas ripárias sobre o regime hidrológico, sob os aspectos
qualitativo e quantitativo
Sob o prisma do senso comum, a correlação positiva entre o equilíbrio ambiental do
entorno dos cursos de água das bacias hidrográficas e os níveis qualitativos e quantitativos
deste precioso recurso parece mostrar-se evidente.
No Brasil, quando da chegada do rei D.João VI ao Rio de Janeiro, a preocupação com a
preservação das nascentes dos rios que abasteciam a cidade estava presente quando D. João
editou um decreto que obrigava cercar as áreas de nascentes, na região que viria a tornar-se
o Parque Nacional da Tijuca (FIGUEIRA; BESERRA, 2008, p. 136).
Recentemente, no final da década de 1990, a cidade de Nova York aumentou as taxas
de fornecimento de água potável com o propósito de adquirir propriedades nas nascentes de
seus principais cursos de água para proteger seu entorno, além de utilizar do recurso de
pagamento por serviços ambientais (PSA) a donos de propriedades nas áreas contíguas, que
se comprometessem a modificar o uso de suas terras, de produtoras de cultivares e
agropecuária para recuperação de áreas florestais (MAYRAND; PAQUIN, 2004, p.11).
No campo da pesquisa científica, vários trabalhos têm mostrado a influência da
cobertura vegetal e do solo alterado pela macro e micro fauna presentes sobre os regimes de
fluxo de água, sedimentos e nutrientes.
Hewlett e Hibbert (1967) trabalham o conceito de área variável de afluência (AVA), ou
seja, durante um evento de precipitação, o fluxo de água e sedimentos não obedece pura e
simplesmente ao conceito “Hortoniano” (HORTON, 1940), no qual o escoamento
superficial se dá a partir do momento em que a intensidade da chuva ultrapassa a capacidade
de infiltração do solo, mas sim a um processo pelo qual o escoamento é influenciado por
uma área dinâmica, que sofre modificações no decurso do deflúvio, e esta área é altamente
influenciada pelas condições da cobertura do solo, como a existência de vegetação, seu porte,
e a ação da fauna local sobre o solo, por exemplo.
Diferentes condições de uso dos solos modificam drasticamente a maneira como estes
se comportam diante da ocorrência de chuvas e do escoamento nos cursos de água. A
presença de macroporos no subsolo, por exemplo, pela ação de animais de portes variados,
e pela ação das raízes das árvores e seu decaimento, favorece o escoamento lateral (NEARY;
ICE; JACKSON, 2009). Os solos também modificam suas características após incêndios na
mata, como o desenvolvimento de hidrofobia (NEARY et al., 2005).
Entretanto, é a mata adjacente às margens dos cursos de água, denominada “zona
ripária” que possui maior influência direta sobre o curso de água, sendo também diretamente
influenciada por este (NAIMAN; DECAMPS, 1997). Tais regiões também tem o importante
papel de áreas “tampão”, ou seja, áreas de amortecimento dos efeitos do desprendimento de
sedimentos e agentes externos, como fertilizantes e agrodefensivos, provenientes de culturas
nas proximidades (MOSTER, 2007), e possuem características diferenciadas de solo,
vegetação e biota. Outra característica das zonas ripárias é que estas não apresentam uma
dimensão constante, ou que possa ser pré-determinada sem prévio exame. Seu delineamento
pode ser feito por métodos como a caracterização da vegetação, solo, e análise de sua
topografia (ZAKIA, 1998).

1.2 A Evolução do conceito legal de Áreas de Proteção Permanente - APP


O conceito legal de áreas de proteção permanente surgiu, inicialmente, com o primeiro
código florestal brasileiro (BRASIL, 1934): o Decreto n⁰ 23.793, de 23 de janeiro de 1934,
onde era utilizado o termo “florestas protetoras” (BORGES, 2008, e BRASIL, 1934):

Art. 4⁰ - Serão consideradas florestas protetoras as que, por sua localização, servirem
conjunta ou separadamente para qualquer dos fins seguintes:
a) conservar o regime das águas;
b) evitar a erosão das terras pela ação dos agentes naturais;
c) fixar dunas;
d) auxiliar a defesa das fronteiras, de modo julgado necessário pelas autoridades militares;
e) assegurar condições de salubridade pública;
f) proteger sítios que por sua beleza mereçam ser conservados;
g) asilar espécimes raros de fauna indígena.

Este decreto já mostrava em seu texto valores voltados à proteção e preservação


ambiental. Entretanto, o texto não enquadrava tais áreas de maneira mais detalhada, e na
prática seu cumprimento se limitava a áreas que fossem consideradas de interesse social
(BORGES, 2008).
Em 1961, foi instituído um grupo de trabalho para elaboração da nova Lei Florestal,
constituído por 6 membros, e que foi responsável pelo texto inicial do que se tornaria a Lei
Federal n⁰ 4.771, aprovada em 15 de setembro de 1965 (RIBEIRO, 2011). Esta lei (BRASIL,
1965) veio a delinear a APP de maneira mais específica, atribuindo medidas de acordo com
a dimensão dos cursos de água:

Art. 2⁰ - Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas


e demais formas de vegetação situadas:
a) ao longo dos rios ou de outro qualquer curso d’água, em faixa marginal cuja largura
mínima será:
1- de 5 (cinco) metros para os rios de menos de 10 (dez) metros de largura;
2- igual à metade da largura dos cursos que meçam de 10 (dez) a 200 (duzentos) metros
de distância entre as margens;
3- de 100 (cem) metros para todos os cursos cuja largura seja superior a 200 (duzentos)
metros.
b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou artificiais;
c) nas nascentes, mesmo nos chamados “olhos d’água”, seja qual for a sua situação
topográfica;
d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;
e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45⁰, equivalente a 100% na
linha de maior declive;
f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;
g) nas bordas dos taboleiros ou chapadas;
h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, nos campos naturais ou
artificiais, as florestas nativas e as vegetações campestres.

O texto definitivo, no entanto, seria aprovado em 2012, na forma da Lei n⁰ 12.651/2012,


na qual se especifica as seguintes definições acerca das APP (BRASIL, 2012):

Art. 4o Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para


os efeitos desta Lei:
I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos
os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima
de: (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta)
metros de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200
(duzentos) metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600
(seiscentos) metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600
(seiscentos) metros;
II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:
a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte)
hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;
b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;
III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de barramento
ou represamento de cursos d’água naturais, na faixa definida na licença ambiental do
empreendimento;
IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua
situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros;
V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100%
(cem por cento) na linha de maior declive;
VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;
VII - os manguezais, em toda a sua extensão;
VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa
nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;
IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem)
metros e inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a partir da curva de nível
correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação sempre em relação à
base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho
d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da
elevação;
X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a
vegetação;
XI - em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de 50
(cinquenta) metros, a partir do espaço permanentemente brejoso e encharcado.

Nos últimos anos, o cumprimento no que tange à preservação e recuperação de áreas de


preservação permanente tem-se dado devido à exigência do Licenciamento Ambiental,
também preconizado pela Lei n⁰ 6.938/81 (BRASIL, 1981), que estabelece a Política
Nacional de Meio Ambiente – PNMA – e o próprio código florestal, em cujo escopo está
estabelecida a exigência do Cadastro Ambiental Rural (CAR), que para que seja
implementado, exige que o proprietário averbe as áreas de reserva legal e APP.

1.3 A Equação Universal de Perda de Solo (USLE)


A Equação Universal de Perda de Solo (USLE – Universal Soil Loss Equation) é uma
equação de cunho empírico, fruto da pesquisa em erosão de solos por ação da água, nos
EUA, a partir da década de 1930 (LAFLEN; MOLDENHAUER, 2003). Segundo Renard et
al. (2011), a USLE em sua versão inicial foi desenvolvida pelo Serviço de Pesquisas em
Agricultura, do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA-ARS), sob a
direção de W.H. Wischmeier.
A USLE, em suas várias versões – original, modificada e revisada – tem sido
amplamente utilizada como meio de predizer a perda de solo por ação da precipitação em
nível mundial (LAFLEN e MOLDENHAUER).
Forma da Equação (RENARD et al, 1997):
A = R.K.LS.C.P, onde:x
• A = Perda de solo (t/ha.ano);
• R = Fator de erosividade causada pela chuva (MJ.mm/ha.h);
• K = Fator de erodibilidade do solo (t.h./MJ.mm);
• LS = Fator conjunto de comprimento e grau de declive –
adimensional;
• C = Fator de uso e manejo do solo – adimensional;
• P = Fator de práticas de conservação do solo – adimensional.

1.4 O advento das tecnologias de geoprocessamento


Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG, ou GIS, do inglês Geographic Information
Systems) começaram a surgir a partir do final dos anos 1960, no Canadá e Grã-Bretanha,
pela necessidade de mapeamento de regiões de difícil acesso, por razões econômicas e pela
disponibilização de dados coletados por satélites de sensoriamento (COPPOCK; RHIND,
1991).
Inicialmente o seu desenvolvimento ocorreu sem a utilização de computadores, o que
veio a se tornar realidade com o aumento da produção, popularização e redução dos custos
de aquisição de recursos computacionais, vindo a automatizar o processamento destes dados,
gerando produtos com qualidade cada vez maior (ONSRUD; KUHN, 2016).
As tecnologias que dão suporte ao geoprocessamento evoluíram de tal forma nos últimos
anos, e a disponibilização de softwares e hardware de alto desempenho e baixo custo tem
permitido a ampliação do uso do SIG em vários segmentos científicos, como a pesquisa
acadêmica, caracterização ambiental, plantio de espécies florestais, e planejamento urbano,
dentre outros (LONGLEY et al, 2005).
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Materiais
Para o delineamento da bacia hidrográfica do ribeirão Santa Fé, fez-se uso de um modelo
digital de elevação (MDE), fornecido pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais),
a partir do projeto Topodata, que oferece modelos digitais de elevação do Brasil, a partir de
dados fornecidos pelo USGS (departamento norte-americano de prospecção geológica)
através do programa SRTM (Shuttle Radar Topography Mission – missão realizada no ano
2000 pela tripulação do ônibus espacial Endevour, fornecendo dados de elevação por radar
da maior parte dos continentes, com resolução de 30 metros).
Tais modelos são fornecidos gratuitamente pelo USGS, e foram posteriormente tratados
pelo INPE para correção de erros, sendo igualmente disponibilizados de forma gratuita
através de sua página na internet (TOPODATA, 2016).
Para a consecução dos cálculos e geração dos dados gráficos, utilizou-se os softwares
open source (código aberto e de uso gratuito) Quantum GIS 2.14.1 e Grass 7.0.3 (QGIS,
2016).

2.2 Procedimentos
Em campo, foram realizadas incursões pela região da microbacia do ribeirão Santa Fé,
verificando as condições de uso do solo e da vegetação local, e buscando informações com
alguns dos moradores locais para complementar os dados sobre esta área.
Posteriormente, foi feito uso de imagens de satélite (INPE, 2016) para a verificação
visual da área do sítio São João e da microbacia contribuinte do ribeirão Santa Fé, que passa
pela propriedade. Passou-se então ao delineamento da microbacia hidrográfica, com o uso
dos programas de geoprocessamento Quantum GIS 2.14.1 (importação do MDE da região,
enquadramento da região alvo e exportação para o módulo Grass) e Grass 7.0.3 (utilização
do MDE para o cálculo dos limites da bacia hidrográfica), com o propósito de calcular sua
área e verificar as condições de uso de solo e vegetação.
2.2.1 Cálculo do Fator C
Para o cálculo do fator C, utilizou-se da fórmula (DE JONG, 1994):

𝐹𝑎𝑡𝑜𝑟 𝐶 = 0,431 − 0,805 × 𝑁𝐷𝑉𝐼,


onde 𝑁𝐷𝑉𝐼 corresponde ao índice de vegetação por diferença normalizada. O cálculo
do índice acima obedeceu ao procedimento adotado por Tucker (1979), conforme a fórmula:
𝑁𝐼𝑅 − 𝑅𝐸𝐷
𝑁𝐷𝑉𝐼 =
𝑁𝐼𝑅 + 𝑅𝐸𝐷
onde 𝑁𝐼𝑅 é a imagem raster em infravermelho próximo, e 𝑅𝐸𝐷 a imagem raster da faixa
visível do vermelho, ambos arquivos obtidos do banco de dados online do departamento de
geologia dos Estados Unidos (USGS, 2016). Os cálculos foram efetuados fazendo uso da
ferramenta calculadora raster, do software QUANTUM GIS.
Em seguida, foi gerado um mapa raster do fator C para a condição de Áreas de
Preservação Permanente de margem de rio e nascentes efetuando-se uma superposição de
áreas de buffer em torno dos rios da microbacia (com faixas de 30 metros) com o mapa do
fator C previamente criado, obtendo-se desta forma dois cenários para o cálculo da produção
de sedimentos.
Os resultados obtidos são apresentados nas figuras 1 e 2 abaixo:

Figura 1: Mapa raster do fator C para as


condições atuais da bacia hidrográfica.
Figura 2: Mapa raster do fator C, levando-
se em conta a reconstituição das APPs de
margem de rio e de nascentes.
2.2.2 Cálculo do Fator LS
Para o cálculo do fator LS, foi utilizado o algoritmo ‘r.watershed’, do módulo GRASS
do software QUANTUM GIS. Este algoritmo calcula diversas características de bacias
hidrográficas a partir de um modelo digital de elevação (MDE), tais como: área da bacia,
percurso dos cursos de água, mapa de declividades, e o fator LS, todos de forma automática.
O resultado é apresentado na figura 3, a seguir:

Figura 3: Mapa do fator LS.

2.2.3 Calculo do Fator R (Erosividade da chuva)


Para o cálculo deste fator, fez-se uso de dados de pluviosidade do INMET (2016),
segundo procedimento definido por Lombardi e Moldenhauer (1992), segundo a fórmula:
0,841
𝑝2
𝐼𝐸 = 68,730 × ( )
𝑃

Onde 𝐼𝐸 é o índice de erosão, 𝑝 a pluviosidade mensal, e 𝑃 a pluviosidade anual. Sendo


este cálculo efetuado para cada média mensal de cada mês, a média aritmética dos 12 valores
encontrados resultou no valor 𝐹𝑎𝑡𝑜𝑟 𝑅 = 491,1𝑀𝐽. 𝑚𝑚/ℎ𝑎. ℎ
A tabela 1, abaixo, mostra os valores de pluviosidade mensal e anual, e os valores para
𝐼𝐸 encontrados para cada média mensal, cuja média aritmética resultou no valor final para
o fator R. O resultado é mostrado na figura 5 onde consta, como ilustração, o mapa de
pluviosidades anuais médias do Brasil (figura 4).

Figura 4: Valores de pluviosidade média anual no Brasil (CPRM, 2016).

Figura 5: Mapa do fator R.


Tabela 1: Valores de pluviosidade média mensal e anual (INMET, 2016).
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ ANUAL
192,5 151,2 132,8 59,8 30,3 32,5 26,6 31,9 52,8 120,5 122,0 202,1 1155,0
1270,36 846,29 680,35 177,80 56,66 63,75 45,52 61,79 144,21 577,74 589,89 1378,72

Vale ressaltar que foi adotado um valor único para o fator R, por simplificação da
geração do mapa resultante. Uma abordagem mais precisa levaria em conta a interpolação
de dados das diferentes estações existentes na região.

2.2.4 Cálculo do Fator K


Tendo em vista que os procedimentos para o cálculo do fator K envolveriam, sondagens
e determinação do tipo de solo através de amostragem na área da microbacia, o que fugiria
ao escopo deste trabalho, no que diz respeito à disponibilidade de tempo, foi adotado um
valor único, com base no mapa de solos do Brasil, de caráter menos específico (IBGE, 2016).
Para a classe de solo desta região (Argissolo Vermelho-Amarelo), adotou-se o valor 0,03
para o fator K (BAPTISTA, 2003), conforme ilustra a figura 6.

Figura 6: Mapa de solos do Brasil e detalhe da área de estudo. Fonte: IBGE (2016).
2.2.5 Adoção do Fator P – Práticas de conservação do solo
O fator P é um fator adimensional, variando de 0 a 1, sendo valores próximos de zero
referentes a áreas com alto grau de utilização de práticas de conservação do solo, como o
terraceamento, e valors próximos de 1 referentes a áreas com baixo nível de utilização de
práticas de conservação do solo. Uma vez que a microbacia do ribeirão Santa Fé não utiliza
dessas práticas, possuindo alto grau de desflorestamento, adotou-se, por simplificação, o
valor de 0,8 para este trabalho.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Verificação das condições gerais na microbacia
O sítio São João é uma propriedade localizada no município de Santa Branca, São Paulo,
na região do vale do rio Paraíba, no leste deste Estado.
Durante a visita ao sítio São João, foram verificadas as condições locais das margens do
ribeirão Santa Fé, que apresentavam forte erosão e assoreamento de seu leito, além de queda
e carreamento de vegetação (figs. 8 e 9). Em conversa com o proprietário do sítio, este
informou que, em ocasiões de grande pluviosidade, o nível da água pode subir cerca de 2
metros, causando prejuízos à sua propriedade e agravando os problemas de erosão nas suas
margens.
A área da propriedade, de maneira geral, possui um bom nível de cobertura vegetal, boa
parte desta com espécies nativas, com uma nascente localizada em níveis mais elevados do
sítio.
Com base nos primeiros dados coletados, decidiu-se por efetuar uma incursão pelas
áreas a montante do sítio São João, com o objetivo de verificar as condições das margens
dos cursos d’água principal e contribuintes, e de seu entorno.

Figura 7: Erosão nas margens do ribeirão Santa Fé, em trecho localizado no sítio São João.
Figura 8: Sinais de assoreamento e queda de árvores e vegetação no leito do ribeirão.

Foi constatado que as áreas a montante são regiões utilizadas, em sua maior parte, como
pasto para gado, possuindo pouca ou nenhuma vegetação nativa nas imediações dos cursos
d’água, um grande número de erosões próximas aos topos de morro e em locais de maior
inclinação, principalmente (figs. 9 e 10).
A região como um todo está localizada na serra do Mar, e possui relevo acidentado, com
ocorrência de altas declividades. Acrescenta-se também a existência de diversas plantações
de eucalipto nas propriedades adjacentes.

Figura 9: Erosão em encosta de morro.


Figura 10: Erosão em encosta de morro.

As margens dos cursos d’água, de uma maneira geral, não possuem nenhuma mata ciliar,
com exceção das áreas localizadas nas nascentes localizadas ao norte da microbacia.

3.2 Cálculo da área da microbacia, com estimativa de área florestada


Com o uso do software Quantum GIS, importou-se o mapa digital de elevação do
quadrante ao qual pertence a região de estudo (fig. 11) para posterior cálculo da área da
microbacia e delineamento das principais áreas vegetadas.

Figura 11: Modelo de elevação digital, compondo parte do litoral norte paulista e vale do Paraíba.
O cálculo da área da microbacia resultou em um valor de 16.130.350,94 m², ou cerca de
16,1 km². Os trechos florestados (tanto por mata nativa como por florestas de eucaliptos)
totalizaram cerca de 4.035.028,80 m², ou seja, cerca de 25% da área total da bacia (fig. 12).

Figura 12: Delineamento da bacia hidrográfica e identificação das áreas florestadas.

Figura 13: Hidrografia e contorno da bacia hidrográfica.


3.3 Resultados da produção de sedimentos na microbacia
Para os dois cenários analisados – condições atuais e recomposição das APPs de margem
e nascente – chegou-se aos resultados constantes na tabela 2:

Tabela 2: Resultados de perda média de solo na microbacia para as condições analisadas.


Perda Média de Solo
Perda Média de Solo nas Redução Percentual de
com Recuperação de APPs de
Condições Atuais (t/ha.ano) Perda de Solo (%)
Margem (t/ha.ano)

4,96 4,01 19,25

Figura 14: Produção de sedimentos na microbacia para as condições atuais.


Figura 15: Produção de sedimentos na microbacia para o cenário de recuperação das APPs de margem
e nascentes.

3.4 Análise comparativa de cenários de recomposição florestal, baseada em


trabalhos científicos prévios

A atual legislação ambiental, e em especial a Lei Federal n⁰ 12.651/2012 (conhecida


como o Código Florestal), exige que as propriedades rurais sejam cadastradas no Cadastro
Ambiental Rural (CAR), e tenham averbadas as áreas referentes à Reserva Legal e APP
(BRASIL, 2012).
O percentual exigido de Reserva Legal é de 20% da área da propriedade, e são exigidas
recomposições de mata nativa, nas margens dos cursos d’água com largura igual ou inferior
a 10 metros de margem a margem, em largura de 15 metros para áreas consolidadas, ou seja,
áreas com benfeitorias ou atividades agrossilvopastoris que tenham se estabelecido em data
anterior a 22 de julho de 2008 (BRASIL, 2012).
Para áreas não consolidadas, a exigência passa a ser 30 metros de faixa junto às margens
desses cursos d’água. Além disso, áreas de nascentes requerem faixas de APP que ocupem
um raio de 50 metros do ponto central dessas nascentes ou olhos d’água.
A área compreendida pela bacia hidrográfica do ribeirão Santa Fé não possui áreas
florestadas nas margens da maioria de seus cursos d’água e as demais áreas de floresta,
embora perfaçam cerca de 25% da área total da microbacia, boa parte deste total é ocupado
com o plantio de eucalipto.
Vale também acrescentar que a Lei 12.651/2012 também determina que áreas com
declividade superior a 100% sejam recompostas por mata nativa, sendo também
classificadas como APP.
Pereira (2009), realizou um trabalho sobre a bacia do rio Corumbataí, São Paulo,
analisando cenários de recomposição de mata nativa de APP, Reservas Legais distribuída
aleatoriamente na propriedade e Reservas Legais inseridas em áreas críticas (como por
exemplo em áreas suscetíveis a erosões), com o uso de ferramentas de geoprocessamento.
Os resultados da pesquisa mostraram uma redução de cerca de 10% na produção de
sedimentos no caso da recomposição de APPs, 21% com a recomposição de Reservas Legais
distribuídas de forma aleatória, e 69,8% na recomposição de Reservas Legais em trechos
críticos.
De maneira análoga, Domingos (2006) e Machado e Vettorazzi (2003) chegaram a
conclusões semelhantes com relação à recomposição de APPs.
Comparadas aos resultados encontrados nessas pesquisas, as perdas de solo da bacia do
ribeirão Santa Fé mostram uma diferença significativa, no que diz respeito à recomposição
das APP de margem de rio e de nascentes, conforme a tabela 3:
Tabela 3: Tabela Comparativa de Resultados

Tabela Comparativa de Resultados

Redução Percentual de Perda de Solo


CASO
(%)

Bacia do Ribeirão Santa Fé 19,25

(PEREIRA, 2009) 10,01

(DOMINGOS, 2006) 9,54

(MACHADO;VETTORAZZI; XAVIER, 2003) 10,8


3.5 Discussão
Entende-se que, visto ser a área da microbacia estudada altamente antropizada, seja pela
baixa ocorrência de mata nativa e vegetação ripária, seja pelas más práticas de conservação
do solo, como pisoteamento de margens e nascentes por gado e trabalhadores nas
propriedades, haveria um grande ganho com relação às condições ambientais e de redução
de degradação de seus cursos d’água.
Uma vez tendo sido identificados visualmente diversas ocorrências de voçoroca,
principalmente em áreas com grande declividade, a sua recomposição florestal certamente
influenciaria positivamente na redução das perdas de solo e sedimentos, causando os
problemas verificados de erosão e assoreamento de seus cursos d’água.
Com relação à diferença percentual encontrada entre os trabalhos referenciados e o
presente trabalho, quanto à redução da perda de sedimentos para o cenário de recuperação
de APP, há duas hipóteses a considerar:

 A diferença encontrada, pode ter ocorrido em grande parte devido às


simplificações adotadas, para os fatores K, R e P;

 As condições iniciais das APPs de margem da microbacia, objeto deste estudo,


são consideradas de alto nível de degradação, enquanto que, tomando por
exemplo o trabalho de Pereira (2009), existem condições mais favoráveis de
conservação das matas ripárias, conforme pode ser observado na figura seguinte.
Deste modo, um maior ganho foi alcançado na redução das perdas de solo para
a microbacia do ribeirão Santa Fé.
Figura 16: Condições iniciais de conservação das matas para o trabalhode Pereira (2009). Nota-se uma
maior presença de florestas junto às margens dos rios e nascentes.
4 CONCLUSÕES E SUGESTÕES

4.1 CONCLUSÕES
O estabelecimento do corpo da legislação ambiental brasileira levou a mudanças
importantes nos paradigmas até então em voga. A partir da exigência da recomposição e
restauração das áreas de proteção permanente, bem como das reservas legais, espera-se que
haja uma melhora sensível na maneira com que são geridos os recursos naturais.
Os resultados visualizados em pesquisas anteriores e neste trabalho, demonstram que há
inegáveis ganhos ambientais para as microbacias hidrográficas, se postos em prática estes
mecanismos. Conclui-se também acerca da necessidade de utilização de boas práticas de
conservação do solo e dos cursos d’água, o que tem provocado danos às propriedades e ao
meio ambiente, pela ocorrência de erosões e grandes perdas do solo.

4.2 SUGESTÕES
O advento do conceito de APP representou um grande avanço na conservação e proteção
das margens dos cursos d’água, mas ainda se sente falta de um mecanismo que possa permitir
ações de gestão, no âmbito das microbacias hidrográficas, com o intuito de planejar as áreas
mais adequadas para o estabelecimento das reservas legais e orientar acerca das atividades
executadas na área, tendo em vista uma utilização mais sustentável de seus recursos.
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