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FACULDADE PAULISTA DE SÃO CAETANO DO SUL

PATRICIA Maria Neves Emídio - RM - 21835224077

AUTONOMIA E AS DUAS LÓGICAS DO TRATAMENTO


PARA O CRACK

SÃO PAULO

2019
FACULDADE PAULISTA DE SÃO CAETANO DO SUL

PATRICIA MARIA NEVES EMÍDIO - RM - 21835224077

AUTONOMIA E AS DUAS LÓGICAS DO TRATAMENTO


PARA O CRACK

Trabalho mensal da disciplina


Dispositivos de Apoio e Tratamento da
dependência Química de drogas, modelos
de internação, prof. João Pentagana, como
exigência para o curso de Saúde Mental e
Psiquiatria pela Faculdade Paulista de São
Caetano do Sul.

SÃO PAULO

2019
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 4

2. O QUE NOS CONTA HART SOBRE O USO E ABUSO DE CRACK? .. 5

3. CONCLUSÃO ........................................................................................ 8

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................... 9


1. INTRODUÇÃO

Por mais que pensemos em começar esta produção contando os


problemas sociais que o crack propõe, não podemos deixar sem evidenciar o
que é o crack, logo, vamos responder essa afirmativa baseando-nos em
cartilhas promovidas pelo governo federal. (CRUZ, VARGENS e RAMÔA,
2010, p. 41)

O crack é uma forma distinta de levar a molécula de cocaína ao cérebro.


Sabe-se que a cocaína é uma substância encontrada em um arbusto originado
de regiões dos Andes, sendo a Bolívia, o Peru e a Colômbia seus principais
produtores. Os nativos desta região mascam as folhas da coca desde antes da
chegada dos conquistadores espanhóis no século XVI. No século XIX, a planta
foi levada para a Europa onde se identificou qual era a substância que
provocava seu efeito. Esta foi, então, chamada de cocaína. (CRUZ, VARGENS
e RAMÔA, 2010, p. 41)

A partir daí, processos químicos passaram a ser utilizados para separar a


cocaína da folha da coca, gerando um pó branco, o cloridrato de cocaína.
Desde o século XIX, este pó branco é utilizado por usuários de cocaína seja
por meio de sua inalação nasal, seja dissolvida em água pela sua injeção nas
veias. Utilizando diferentes processos de fabricação, além do pó branco,
podem ser produzidas formas que podem ser fumadas. São elas: a merla, a
pasta de coca e o crack. (CRUZ, VARGENS e RAMÔA, 2010, p. 41)

Estas diferentes formas de administração da molécula de cocaína


(inalada, injetada ou fumada) têm efeitos distintos no indivíduo. Quando a
droga é fumada, isto faz com que grande quantidade de moléculas de cocaína
atinja o cérebro quase imediatamente produzindo um efeito explosivo, descrito
pelas pessoas que usam como uma sensação de prazer intenso. A droga é,
então, velozmente eliminada do organismo, produzindo uma súbita interrupção
da sensação de bem-estar, seguida, imediatamente, por imenso desprazer e
enorme vontade de reutilizar a droga. (CRUZ, VARGENS e RAMÔA, 2010, p.
41)

Esta sequência é vivida pelos usuários com um comportamento


compulsivo em que os indivíduos caem, com frequência, numa espiral em que
os atos de usar a droga e procurar meios de usar novamente se alternam cada
vez mais rapidamente. Outra diferença entre o crack e a cocaína em pó é que,
para os produtores de drogas, o crack é muito mais barato. Em resumo, o crack
é uma forma muito barata de levar as moléculas de cocaína ao cérebro em
segundos provocando efeito muito intenso. (CRUZ, VARGENS e RAMÔA,
2010, p. 42)

Quimicamente, entendemos aqui o que é o crack mas, socialmente, qual


a interferência de uma substancia psicoativa desse porte? Cruz, Vargens e
Ramôa (2010) nos trazem essa informação ao dizer que: 2,5% dos pacientes
internados por conta do crack morrem em um período curto; as mulheres,
jovens e mães precoces, trocam sexo por dinheiro para manter o vício o que
aumenta a proliferação de DST’s ( Doenças Sexualmente Transmissíveis) e
que a maioria dos que vem a falecer por conta da droga são homens, solteiros,
com menos de 30 anos e baixa escolaridade, as mortes ocorrem por fatores
externos também como homicídio (56,6%), overdose (8,7%), afogamento
(4,3%), comprovando as comorbidades de DST’s e uso do crack 26,1% das
mortes aconteceram por HIV/AIDS e 4,3% por Hepatite B, doenças
transmissíveis por contato.

Neste breve resumo sobre o crack e o que ele pode causar socialmente e
individualmente, nos abre os parâmetros para discussão sobre o que nos
mostra Carl Hart, nascido em 1966, em Miami, nos Estado Unidos, é professor
de psicologia e de psiquiatria da Universidade de Columbia. Hart é conhecido
por sua pesquisa sobre abusos e vícios em drogas. Ele foi o primeiro professor
titular afro-americano de ciências na Universidade de Columbia. (2014)

2. O QUE NOS CONTA HART SOBRE O USO E ABUSO DE

CRACK?

No ano de 2014 o pesquisador Hart visitou o Brasil e explanou um pouco


dos seus conceitos sobre a utilização de drogas ilícitas, uma das entrevistas
dadas por ele foi para a revista eletrônica “Carta Maior” da qual nos
atentaremos a pequenos trechos que segue:

Amy Goodman: Vamos começar falando sobre de onde você vem.


Dr. Carl Hart: Bom, como dizem, eu vim do gueto. E, quando
pensamos nestas comunidades, logo pensamos naquela imagem de
lugares devastados pelo abuso de drogas: eu acreditei nessa narrativa por
muito tempo. Na verdade, eu tenho estudado as drogas há 23 anos; e por
20 acreditei que as drogas eram o problema das comunidades. Mas
quando eu comecei a olhar com mais cuidado, quando comecei a olhar as
evidências de maneira mais cuidadosa, ficou claro para mim que as drogas
não eram o problema. O problema era a pobreza, a política anti-drogas, a
falta de empregos - um leque variado de coisas. E as drogas eram apenas
um componente que não contribuía tanto quanto os outros que citei
anteriormente.

(...)

Amy Goodman: Então, fale-nos dos resultados destes estudos que


você vem publicando há alguns anos nos maiores jornais científicos.

Dr. Carl Hart: Bom, uma das coisas que me chocaram quando eu
comecei a entender o que estava acontecendo foi o fato de ter descoberto
que de 80% a 90% das pessoas que usam drogas como o crack, a
heroína, metanfetaminas, maconha, não são viciadas. Eu pensei, “espera
aí. Eu pensava que uma vez que se usava estas drogas, todos se
tornavam viciados, e essa era a causa dos problemas sociais.” Outra coisa
que eu descobri foi que se dermos alternativas às pessoas - como
empregos - elas não abusarão das drogas como fazem. Descobri isso no
laboratório com humanos assim como com animais.

Amy Goodman: o que você quer dizer? Você está dizendo que o
crack não é tão viciante quanto todos dizem?

Dr. Carl Hart: Bom, temos um belo exemplo agora: o prefeito de


Toronto, Rob Ford. Ele usou crack e fez seu trabalho normalmente.
Deixando de lado o que pensamos sobre ele ou suas políticas, ele foi ao
trabalho todos os dias. Ele fez seu trabalho. A mesma coisa aconteceu
com Marion Barry. Ele foi ao trabalho todos os dias. Na verdade, ele o fez
tão bem na opinião das pessoas de Washington que ele foi votado mesmo
depois de ter sido condenado pelo uso de crack. E assim é a maioria dos
usuários de crack. Assim como qualquer outra droga, a maior parte das
pessoas o faz sem outros problemas.

Amy Goodman: Compare com o álcool.


Dr. Carl Hart: Bom, quando pensamos no álcool, cerca de 10% a
15% dos usuários são viciados ou se encaixam em critérios do alcoolismo;
para o crack, cerca de 15% a 20% - quase a mesma coisa se tratando de
números. E nós sabemos disso cientificamente já faz 40 anos. Mas não
dizemos esse tipo de coisa ao público

Amy Goodman: Então, você está dizendo que alguém que toma
vinho todas as noites no jantar não seria considerado viciado da mesma
forma que a pessoa que usa crack é?

Dr. Carl Hart: Exatamente. Então, o crítério, para mim, para julgar se
alguém é ou não viciado é o de se esta pessoa tem problemas nas suas
funções psicossociais. Ela vai ao trabalho? Ela lida com suas
responsabilidades? O ela deixa de lado suas atividades? E quando
pensamos em drogas como o álcool, as pessoas podem beber todos os
dias e ainda assim lidar com todas suas responsabilidades. O mesmo se
dá com usuários de crack. O mesmo se dá com usuários de cocaína. O
mesmo com maconha. Pense da seguinte forma: os três últimos
presidentes recentes usaram drogas ilícitas, e todos eles cumpriram com
suas responsabilidades. Eles alcançaram os níveis mais altos de poder. E
teríamos orgulho deles se fossem nossos filhos, apesar do fato de terem
usado drogas ilegais.

(...)

Neste pequeno trecho da entrevista podemos ver que tudo faz parte da
visão que se tem da droga e como podemos tratá-la. Observemos que para
Hart (2014) em um vídeo postado no youtube fala sobre duas lógicas de
tratamento dos adictos em crack, que acreditamos ser passível para qualquer
outra droga (lícita ou ilícita). Primeiramente ele fala da oportunidade
econômica, diz que se as pessoas tiverem oportunidades econômicas básicas
não terão motivos para cair na tentação das drogas que, muitas vezes, é um
mecanismo de fuga para os problemas da vida. Em seguida fala do tratamento
mais importante o desenvolvimento do pensamento crítico que acontece por
meio da educação. Para ele a solução é a educação, ensinar o mal que a
droga pode fazer, quando usada em excesso ou quando inicia-se seu uso é o
que pode servir de tratamento de maneira eficaz.
Ao olharmos para a história de vida de Hart vemos que a educação o
salvou de um final dentro da estatística e, talvez, o investimento em educação
pode ser a melhor forma de repensar os dependentes químicos.

3. CONCLUSÃO

Nosso país tem como característica proibir tudo aquilo que não é
socialmente aceito. O aborto é proibido, o uso de drogas é proibido, atravessar
fora da faixa de pedestres é proibido, claro que algumas proibições são para
garantir a segurança dos brasileiros, mas, algumas são apenas por falta de
empatia, conhecimento e manutenção do status quo da população, é uma
forma de separar quem é o famoso “cidadão de bem” de quem não é.

O grande problema é que ao rotularmos cidadãos de bem e não cidadãos


de bem, não conseguimos entender como o outro funciona, logo julgamos,
pressupomos e deixamos que o governo nos diga o que é melhor.

Hart nos faz refletir sobre as duas formas de tratar o adicto em crack:
Melhorar as condições monetárias e educar, a grande questão aqui é: Será que
nosso governo quer que essas coisas caminham juntas em prol da população
marginalizada?

De maneira geral, e de acordo com as atitudes do nosso governo,


acreditamos que a resposta para a pergunta anterior seja não. Por esse motivo
continuamos matando nossos dependentes químicos e simplesmente
ignorando as formas que temos para evitar que novos dependentes surjam.

Por esses e outros motivos que já citamos aqui é que o trabalho da


equipe multidisciplinar se faz importante, um olhar individualizado e a
psicoeducação é de extrema importância para ajudar um adicto, afinal ele é um
sujeito, um cidadão que precisa de ajuda, já que foi excluso pelo sistema da
qual faz parte. Todas essas atitudes passam pela autonomia do sujeito de
“querer” sair dessa vida, mas, como vimos no vídeo, a consciência existe, o
que falta é a ressignificação da vida, para que eles tenham a força para lutar
contra a droga e acima de tudo, o apoio para vencê-la.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CRUZ, Marcelo Santos; VARGENS, Renata Werneck; RAMÔA, Marise de


Leão. Crack. Uma abordagem multidisciplinar. 2010 Disponível em <
https://www.tjmt.jus.br/intranet.arq/cms/grupopaginas/105/988/Crack_Uma_abo
rdagem_multidisciplinar_-_Prof%C2%AA_Francisca_Luc%C3%A9lia_-
_Curso_UFMT.pdf> Acesso em 01/05/2019

DEMOCRACYNOW.COM. "As drogas não são o problema": entrevista


com o neurocientista Carl Hart. 2014. Disponível < https://www.cartamaior.co
m.br/?/Editoria/Direitos-Humanos/-As-drogas-nao-sao-o-problema-entrevista-
com-o-neurocientista-Carl-Hart-/5/30021> Acesso em 01/05/2019

ESTUDI FLUXO. CARL HART – Crack – É possível entender. 2014.


Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=zTX7880gpZ4> Acesso em
01/05/2019

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