Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Nos capítulos iniciais da carta aos Gálatas, Paulo trata particularmente de sua defesa pessoal como apóstolo de Jesus Cristo.
No capítulo 1, com vigor insofismável, o apóstolo combate os argumentos falaciosos de seus opositores, os falsos mestres
judaizantes, os quais estavam tentando prejudicar o seu apostolado e o evangelho.
Todavia, no capítulo 2, o apóstolo continua defendendo o seu apostolado e o evangelho, porém, de forma mais
abrangente, ressaltando que o seu evangelho em nada difere do evangelho pregado pelos outros apóstolos de Cristo
(2.1-10).
Ainda, no capítulo 2, Paulo apresenta sua contundente defesa ao evangelho da graça (2.11-14). Em seguida, “o
apóstolo introduz a gloriosa doutrina da justificação pela fé no contexto do conflito que teve com o apóstolo Pedro
(2.15-21)”.1
Agora, no capítulo 3.1-14, Paulo manifesta, de forma concisa, seu poderoso argumento em defesa da doutrina da
justificação pela fé em três seções.
Na primeira seção, que compreende os versículos 1-5, o apóstolo enfatiza a veracidade da justificação pela fé na experiência
de vida dos gálatas.
Na segunda seção, por sua vez, que abarca os versículos 6-9, ele utiliza o exemplo de Abraão como suporte para o seu
argumento em defesa da justificação pela fé.
E, na terceira seção, composta pelos versículos 10-14, Paulo conclui sua proposição, realçando o contraste entre a lei e a fé
no aspecto da justificação.
EXPLANAÇÃO
A palavra insensatos ανόητοι (anoetos), no grego, descreve uma pessoa tola e que age sem sabedoria.3 Essa palavra não
somente denota uma incapacidade de pensar, mas também a falha em usar a mente para raciocinar.
Calvino observa que “a queda dos gálatas era mais uma questão de demência do que de ingenuidade”.4 John Stott ressalta
que “o afastamento dos gálatas do evangelho era não apenas uma espécie de traição espiritual (1.6), mas também um ato de
loucura (3.1).5
Destarte, “aqueles crentes que outrora haviam crido em Jesus e sido salvos pela graça, agora estavam retornando e
colocando-se novamente debaixo do jugo da lei”.6 Paulo declara que este retroceder da fé dos gálatas é um ato extremo
de pessoas sem juízo. (NTLH) Era como se ele dissesse: Ó gálatas sem juízo! (NTLH)
APLICAÇÃO PRÁTICA - Quando alguém conhece o verdadeiro evangelho da graça de Deus e retrocede na fé, voltando a
professar uma doutrina contrária aos ensinamentos de Cristo que outrora defendia na época do engano do falso evangelho
pregado por religiões pagãs e igrejas/seitas neopentecostais, tal pessoa perdeu a razão!
1.2 OUVIR OS FALSOS MESTRES É SER ENGANADO PELO FALSO EVANGELHO (vs.1b)
A palavra grega εβάσκανεν (abaskanen), traz a ideia de um “feitiço; significa enfeitiçar, lançar um encanto, procurar
prejudicar alguém mediante um mau olhado ou por palavras malignas”.7 Nesta segunda exortação aos gálatas, Paulo
assevera enfaticamente: Quem os enfeitiçou? (NVI, NBV) Ou quem foi que enfeitiçou vocês? (NTLH)
O apóstolo sublinha que, pelo fato de se atentarem ao que os falsos mestres ensinavam, os gálatas estavam, na verdade,
enfeitiçados, enganados, completamente cegos pela mentira do falso evangelho. Hendriksen corrobora que “os gálatas não
se deram conta que um Cristo suplementado é um Cristo suplantado”.8
Um Cristo diferente do Cristo apresentado pelo verdadeiro evangelho é um Jesus que nunca existiu. É um “Cristo”
fabricado pela cobiça do homem para satisfazer suas próprias vontades egoístas!
APLICAÇÃO PRÁTICA - A base operante por trás do falso evangelho tem a sua origem em Satanás. O próprio diabo é o
espírito mentiroso que age por meio dos falsos pastores, impelindo-os a ensinar a mentira e adulterarem o verdadeiro
evangelho, tornando-o um falso evangelho sincrético, o qual tem corrompido e levado muitos crentes à perdição.
Mateus 7.15 – Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos
devoradores. (ARA)
24.11 – E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos… (ARC)
Versículo 24 – … porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se
possível fora, enganariam até os escolhidos. (ARA)
1 Timóteo 4.1-2 – O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos
enganadores e doutrinas de demônios. Tais ensinamentos vêm de homens hipócritas e mentirosos, que têm a consciência
cauterizada. (NVI)
Grande parte da estupidez cristã para entender e aplicar o evangelho talvez se dê a esse feitiço causado pelo falso evangelho
ensinado pelos falsos pastores.9 Por isso vemos muitos crentes enfeitiçados e presos no engano do diabo. Uma pungente e
triste realidade em nossos dias!
1 João 4.1 – Amados, não creiam em qualquer espírito (doutrina, ensinamento), mas examinem os espíritos (ensinamentos)
para ver se eles procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo. (NVI)
APLICAÇÃO PRÁTICA - A prova irrefutável de que uma pessoa foi justificada pela fé em Cristo reside na experiência de
vida. A fé salvadora é indelevelmente manifestada pelas boas obras em consonância com o evangelho que cremos (Tg 2.17-
18). Se não há atitudes que denotam o novo nascimento, tal pessoa não foi justificada pela fé, e, portanto, não faz parte da
família de Deus.
APLICAÇÃO PRÁTICA - Nenhuma pessoa pode tornar-se cristã sem o Espírito Santo, pois se alguém não tem o Espírito
de Cristo, esse tal não é dele (Rm 8.9). Entretanto, o Espírito nos é dado não pelas obras da lei, mas pela pregação da fé.
Nossa entrada na família de Deus, quando recebemos o Espírito, é pela porta da fé e não pelas obras.15 A salvação acontece
quando respondemos em fé a pregação do evangelho.
Muitos cristãos pensam que a observância de certos preceitos ascéticos – como o jejum, a abstinência de algumas roupas, de
assistir TV, de ir ao cinema, de praticarem esportes, e outras atividades que proporcionam o lazer – irão santificá-los e levá-
los ao crescimento espiritual. Nenhuma prática devocional com “aparência religiosa” tem este poder (Cl 2.20-23). David
Stern assegura que a obediência de forma legalista aos mandamentos de Deus é propriamente desobediência a lei.20
O crescimento na santificação é proveniente da ação do Espírito santo em nós. As disciplinas espirituais que o cristão
observa são, na verdade, a evidência de que ele está sendo aperfeiçoado por Deus. Se não há crescimento espiritual, não há
devoção; se há crescimento espiritual, há devoção (Fp 2.13).
APLICAÇÃO PRÁTICA - Sofrer pelo evangelho é privilégio glorioso. O sofrimento, quando visto e encarado na
perspectiva de Deus, redunda em glórias a Ele e em peso de glória a nós (2 Co 2.17).
Romanos 8.18 – Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será
revelada. (NVI)
Quando somos perseguidos e maltratados por causa da nossa fé em Cristo, isto é agradável e glorifica a Deus, pois denota
que estamos no caminho certo e sendo indizivelmente aperfeiçoados pelo nosso Senhor.
1 Pedro 2.19-21 – Porque é louvável que, por motivo de sua consciência para com Deus, alguém suporte aflições sofrendo
injustamente. Pois que vantagem há em suportar açoites recebidos por terem cometido o mal? Mas se vocês suportam o
sofrimento por terem feito o bem, isso é louvável diante de Deus. Para isso vocês foram chamados, pois também Cristo
sofreu no lugar de vocês, deixando-lhes exemplo, para que sigam os seus passos. (NVI)
2.5 Os milagres que recebemos de Deus são pela fé (vs.5)
Paulo continua seu argumento incisivo aos gálatas em defesa da justificação pela fé, ao passo que demonstra espanto e
indignação com mais uma pergunta hipotética: Aquele, pois, que vos concede o Espírito e que opera milagres entre vós,
porventura, o faz pelas obras da lei ou pela pregação do evangelho? (ARA) Em outras palavras, será que Deus, que vos dá
o seu Espírito e realiza tantos milagres entre vocês – faz tudo isso como resultado das suas tentativas de obediência as leis
judaicas ou pela fé com a qual receberam a palavra? (NBV)
Há uma conexão aqui entre o dom do Espírito (a vida eterna) e os milagres. A palavra milagres aponta para o poder de
Deus, enquanto o termo Espírito acentua a graça divina. Por outro lado, Espírito tem relação com milagres, e, neste caso, é
realçado a manifestação do Espírito na realização de sinais e prodígios. De qualquer maneira, não seria equivocado
entendermos a obra do Espírito aqui de forma mais abrangente.
Donald Guthirie afirma que o Espírito é essencialmente um dom, não pode ser merecido. As obras da lei representavam,
portanto, um canal incongruente para receber um dom de semelhante fonte. Se for argumentado que tanto a lei quanto o
Espírito têm sua origem em Deus, é necessário reconhecer que a diferença fundamental está em que a lei deve ser obedecida
pelo esforço humano, e o Espírito recebido pela fé.24
O evangelho pregado por Paulo e Barnabé na Galácia não havia chegado apenas por meio de palavras sublimes que
expressam o Cristo crucificado, mas com grande manifestação de curas e milagres (At 14.3). “Tanto a dádiva do Espírito
como a operação de milagres chegaram até os gálatas pela pregação da fé, e não pelas obras da lei”.25
APLICAÇÃO PRÁTICA - É triste a realidade da igreja hodierna. Muitos crentes vivem não pela fé, mas pelas as atitudes.
O falso evangelho imbuído na igreja evangélica ensina que, para obterem o favor de Deus, os cristãos precisam obedecer a
“certas regras contidas na palavra de Deus”. Com efeito, são preceitos e doutrinas humanas de instituições religiosas. Mas
não é isso que o verdadeiro evangelho ensina. Infelizmente, muitos cristãos estão presos neste obscuro e escravizador
caminho do sincretismo evangélico.