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SUMÁRIO:

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 4
1 - O QUE É CIÊNCIA? ..................................................................................... 6
1.1 Os tipos de conhecimento ..................................................................... 6
1.1.1 Conhecimento popular, ou senso comum ........................................... 6
1.1.2 Conhecimento Teológico .................................................................... 6
1.1.3 Conhecimento Filosófico ..................................................................... 7
1.1.4 Conhecimento Científico ..................................................................... 7
1.2 O que é método? ..................................................................................... 7
1.3 O que é metodologia? ............................................................................ 8
1.4 O que é pesquisa? .................................................................................. 8
1.5 O que é pesquisa científica? .................................................................. 9
1.6 Tipos de métodos científicos ................................................................. 9
1.6.1 Método Indutivo .................................................................................. 9
1.6.2 Método Hipotético-Dedutivo .............................................................. 10
1.6.3 Método Dialético ............................................................................... 10
1.6.4 Método Fenomenológico .................................................................. 10
1.7 Tipos de pesquisa científica ................................................................ 10
1.7.1 Quanto à natureza ou finalidade ....................................................... 11
1.7.2 Quanto à forma de abordagem do problema .................................... 11
1.7.3 Quanto aos procedimentos técnicos ................................................. 11
1.7.4 Quanto aos objetivos ........................................................................ 13
1.8 Níveis de pesquisa ................................................................................ 13
1.9 A pesquisa na pós-graduação ............................................................. 14
1.10 A ética na pesquisa ............................................................................. 14
1.11 Etapas da pesquisa ............................................................................. 15
2 - O PROCESSO DE LEITURA...................................................................... 17
3 - O PROJETO DE PESQUISA ...................................................................... 19
3.1 Escolha do tema.................................................................................... 21
3.2 Definição do problema de pesquisa .................................................... 22
3.3 Elementos pré-textuais ......................................................................... 24
3.4 Elementos textuais ............................................................................... 24
3.5 Elementos pós-textuais ........................................................................ 24
3.6 Elementos pós-textuais opcionais ...................................................... 24
3.7 Introdução ............................................................................................. 25
3.8 Hipótese ................................................................................................. 26
3.9 Título do trabalho .................................................................................. 26
3.10 Objetivos .............................................................................................. 27
3.10.1 Objetivos Gerais ............................................................................. 27
3.10.2 Objetivos Específicos ...................................................................... 27
3.11 Justificativa ......................................................................................... 27
3.12 Revisão de literatura ........................................................................... 29
3.13 A Metodologia ..................................................................................... 30
3.14 Sujeitos de pesquisa .......................................................................... 32
3.15 População, amostra e amostragem ................................................... 32
3.16 Instrumentos de coleta de dados ...................................................... 32
3.16.1 Questionário ................................................................................... 32
3.16.2 Entrevistas ...................................................................................... 32
3.17 Características das entrevistas ......................................................... 33
3.17.1 Não estruturadas ............................................................................ 33
3.17.2 Semiestruturadas ............................................................................ 33
3.17.3 Estruturadas ................................................................................... 33
3.17.4 Observação .................................................................................... 33
4 - A ANÁLISE DOS DADOS .......................................................................... 34
4.1 Análise estatística ................................................................................. 34
4.2 Análise de conteúdo ............................................................................. 34
4.3 Análise do discurso .............................................................................. 34
4.4 Interpretação das falas ......................................................................... 34
4.5 Triangulação .......................................................................................... 34
5 - A DIFERENÇA ENTRE O PROJETO DE PESQUISA E O TRABALHO DE
CONCLUSÃO DE CURSO – TCC ................................................................... 35
5.1 A escrita de diários ............................................................................... 36
5.2 O Diário de Leituras .............................................................................. 37
5.3 O diário para profissionais da educação ............................................ 38
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 40
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INTRODUÇÃO

Há séculos, o foco da Educação - e a serviço dela - tem sido a reflexão sobre a


necessidade de se desenvolver a criticidade e a reflexão.
No entanto, apesar dessa necessidade, ainda encontramos alunos e
professores com muitas dúvidas referentes a questões de base, que precisam
ser esclarecidas. Não se trata - absolutamente - de se colocar uma
necessidade em detrimento da outra, mas verificar de que forma conceitos
ainda tidos como básicos podem estar a serviço dessa sociedade crítica e
pensante.
A experiência vivida como professora – e como eterna estudante – me faz
verificar que os alunos muitas vezes são cobrados, no âmbito acadêmico, de
algo que muitas vezes não lhes foi ensinado. Pelo menos não formalmente. É o
caso de Metodologia do Trabalho Científico e das formas de se elaborar um
Trabalho de Conclusão de Curso, o famoso TCC. Muitas vezes, a disciplina de
Metodologia Científica é vista, pura e simplesmente, como uma disciplina
pouco ou nada interessante, entediante e sem atrativos. De acordo com Pedro
Demo, essa rejeição acontece em todos os cursos, da graduação e da pós-
graduação.
Um dos principais aspectos a se verificar é que a Metodologia não é,
absolutamente, uma disciplina necessária apenas para se desenvolver o
Trabalho de Conclusão de Curso, mas é para isso também.
A Metodologia é necessária individual e coletivamente, a fim de que por meio
dela possamos desenvolver ações integradoras, construir a nossa autonomia
no cotidiano. Mas, é preciso ressaltar, e novamente cito Demo, ao discorrer
sobre saber: “uma autonomia, não para tornar-se autossuficiente e
desconectado do todo, mas que integre os saberes”, ou seja, que conecte os
sujeitos da sociedade em que se vive.
Este material se propõe a abordar questões básicas, tidas muitas vezes como
pressupostos, mas essenciais ao estudo e ao fazer científico, que não podem,
absolutamente, permanecer como dúvidas, pois são essenciais e básicas.
Nosso propósito não chega a ser somar este conteúdo aos materiais
disponíveis nas mais diversas fontes, mas uma forma de auxiliar a
compreendê-los, facilitar a consulta de materiais disponíveis - em
universidades, livrarias, bibliotecas, e a aqueles amplamente difundidos na
comunidade digital – tornando-os assim mais acessíveis, principalmente aos
alunos de graduação e de pós-graduação lato-sensu.
Assim, aqui, de maneira bastante simples, são abordados os conceitos de
metodologia e ciência, além de discutir as formas de saberes, tidos como
importantes no âmbito cotidiano, procurando trazer a simplicidade e, por meio
dela, desmistificar o trabalho científico e o trabalho de conclusão de curso, que
muitas vezes, se propõe a ser um trabalho integrador.
Esperamos, com isso, contribuir com os nossos alunos e com nossos colegas
professores, na medida em que procuramos fazer com que aspectos
essenciais, muitas vezes deixados de lado, pela sua simplicidade, sejam
integrados aos saberes já existentes, e também aos que ainda estão a se
construir, contribuindo assim com a formação contínua. Que seja
emancipadora.
1 - O QUE É CIÊNCIA?

Lakatos e Marconi (2007, p. 80) defendem a ideia de que além der ser “uma
sistematização de conhecimentos”, ciência é “um conjunto de proposições
logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que
se deseja estudar.”
Consideramos útil a estudo de Ferrari (1974), apontando tarefas que a Ciência
deve cumprir. De acordo com o autor, algumas dessas tarefas são: a) aumento
e melhoria do conhecimento; b) descoberta de novos fatos ou fenômenos; c)
aproveitamento espiritual do conhecimento na supressão de falsos milagres,
mistérios e superstições; d) aproveitamento material do conhecimento visando
à melhoria da condição de vida humana; e) estabelecimento de certo tipo de
controle sobre a natureza.
Por sua vez, Demo (2000), acredita que “no campo científico é sempre mais
fácil apontarmos o que as coisas não são, razão pela qual podemos começar
dizendo o que o conhecimento científico não é.”

1.1 Os tipos de conhecimento

O conhecimento pode ser de vários tipos. De acordo com Costa e Costa


(2012), o conhecimento pode ser de vários tipos: Conhecimento popular – ou
senso comum; Conhecimento Teológico; Conhecimento Filosófico;
Conhecimento Científico.

1.1.1 Conhecimento popular, ou senso comum

É o que as pessoas geralmente chamam de ‘sabedoria popular’. Diz respeito


às tradições e experiências vividas, que por sua vez, sob esse aspecto, não
considera o conhecimento científico (LAKATOS e MARCONI, 2010). Esse tipo
de conhecimento tem por característica:
- Valorativo – é baseado nas tradições e na cultura popular;
- Verificável – Seu limite é o que se pode perceber;
- Falível e Inexato – Conforma-se com a aparência e com os comentários ditos
aleatoriamente.

1.1.2 Conhecimento Teológico


Fundamenta-se no sagrado. Apesar de sistemático, suas evidências não são
verificáveis (LAKATOS e MARCONI, 2010).
Esse tipo de conhecimento tem por característica:
- Valorativo – Apoia-se em doutrinas e crenças;
- Infalível e exato – Não é possível verificar suas evidências.

1.1.3 Conhecimento Filosófico

Procura discernir entre o certo e o errado e fundamenta-se na razão humana


(LAKATOS e MARCONI, 2010).
Esse tipo de conhecimento tem por característica:
- Valorativo: apoia-se na razão;
- Não Verificável: Os resultados não podem ser confirmados ou refutados;
- Racional: Os enunciados são logicamente organizados;
- Infalível e Exato – Não se verificam as hipóteses.

1.1.4 Conhecimento Científico

Tem por característica a capacidade de analisar, explicar, justificar. Esse tipo


de conhecimento tem por característica:
- Real – Lida com os fatos;
- Verificável – As hipóteses podem (ou não) ser verificadas;
- Sistemático – Segue uma ordem lógica;
- Falível – Pelo fato de não ser definitivo;
- Aproximadamente exato – Novas hipóteses podem alterá-lo;

1.2 O que é método?

A palavra método vem do grego methodos e significa o caminho para se


chegar a determinado fim.
Prodanov e Freitas (2013) definem método científico como o “conjunto de
procedimentos intelectuais e técnicos adotados para atingirmos o
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conhecimento”, ou seja, os processos usados na investigação. São eles:


dedutivo, indutivo, hipotético-dedutivo, dialético e fenomenológico.
Os cientistas e filósofos da atualidade falam sobre a diversidade de métodos,
todos eles determinados pelo tipo de objeto a ser investigado. As ciências,
mesmo no campo das ciências exatas, possuem métodos diferentes de
investigação. As ciências humanas dispõem de uma gama variada de métodos.

“O MÉTODO CIENTÍFICO NÃO PODE SER ENTENDIDO COMO ALGO


FECHADO, INFALÍVEL. ELE DEVE SIM POSSUIR UM RIGOR CIENTÍFICO
COMPATÍVEL COM O NÍVEL DE ESTUDO EM DESENVOLVIMENTO . NÃO
SE PODE EXIGIR DE UMA MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO O MESMO
RIGOR DE UMA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO. O IMPORTANTE EM
QUALQUER PESQUISA É QUE O MÉTODO ADOTADO ESTEJA DENTRO
DE UM CONTEXTO COERENTE E LÓGICO , SEJA NA GRADUAÇÃO OU NA
PÓS - GRADUAÇÃO .” (COSTA E COSTA, 2012)

1.3 O que é metodologia?

Prodanov e Freitas (2013) definem Metodologia como “a aplicação de


procedimentos e técnicas que devem ser observados para construção do
conhecimento, com o propósito de comprovar sua validade e utilidade nos
diversos âmbitos da sociedade. ”
Em outras palavras, é o campo em que se estuda os melhores métodos para a
construção do conhecimento, em determinada área, servindo a diferentes
setores da sociedade.
Em um nível aplicado, continuam os autores, a Metodologia examina,
descreve e avalia métodos e técnicas de pesquisa que possibilitam a coleta
e o processamento de informações, visando ao encaminhamento e à
resolução de problemas e/ou questões de investigação. É uma ciência que
serve às outras ciências, ou seja, ajuda-as a identificar, classificar e
desenvolver os procedimentos para determinado estudo.

SLIDE 1
1.4 O que é pesquisa?

Conjunto de ações realizadas para descobrir algo em determinada área do


conhecimento. É o meio utilizado para saber algo sobre o qual se tem dúvida,
ou quer saber-se mais a respeito, uma investigação. Todas as pesquisas
precisam de um levantamento de dados. Assim, todo pesquisador precisa
coletar dados para realizar sua pesquisa, ou seja, fazer a coleta de dados.
Pesquisar é buscar respostas.

1.5 O que é pesquisa científica?

É importante ressaltar, conforme destacam Prodanov e Freitas (2013 p.43) que


“muito do que chamamos de pesquisa não passa de simples compilação ou
cópia de algumas informações desordenadas ou opiniões várias sobre
determinado assunto e, o que é pior, não referenciadas devidamente”.
Assim, fica evidente: não basta simplesmente pegar trechos em diferentes
obras (muitas vezes usando apenas os recursos de ‘copiar’ e ‘colar’), formatá-
los, normatizá-los e chamá-los de pesquisa. É preciso dar a ela a devida
importância.
Sendo uma das atividades principais no meio acadêmico, é por meio da
pesquisa que se produz conhecimento, ou seja, é pelas pesquisas que
sabemos mais sobre determinado campo, ou assunto. Para isso, é necessário
seguir alguns procedimentos, de maneira rigorosa. Portanto, muita leitura se
faz necessária, além de resumos, fichamentos e, dependendo do tipo de
pesquisa, o uso de outros instrumentos: questionários, entrevistas, para citar
alguns.
Para Gil (2008 p.26), pesquisa é o “processo formal e sistemático de
desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é
descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos
científicos. ”

1.6 Tipos de métodos científicos

 Método Indutivo
 Método Dedutivo
 Método Hipotético – Dedutivo
 Método Dialético
 Método Fenomenológico

1.6.1 Método Indutivo

Parte de dados particulares até chegar a conclusões gerais, ou seja, vai do


micro ao macro.
Método Dedutivo
Usado nas ciências matemáticas, parte daquilo que já se sabe, das conclusões
já estabelecidas, para, por meio do raciocínio, chegar a uma questão particular,
uma conclusão. Parte do macro para o micro.

1.6.2 Método Hipotético-Dedutivo

Questiona os conceitos já existentes, a fim de criar novos conhecimentos. De


acordo com GIL (1999), uma hipótese pode ser confirmada por meio do método
dedutivo, enquanto que para derrubar uma hipótese, é possível valer-se do
método hipotético-dedutivo, validando assim a verificação da conclusão a que
se chegou.

1.6.3 Método Dialético

Típico das pesquisas qualitativas tem por característica a interpretação


dinâmica e totalizante da realidade. Nela, os fatos não podem ser considerados
fora de um contexto social (GIL, 1999).

1.6.4 Método Fenomenológico

Ocupa-se da descrição de uma experiência vivida, a fim de descobrir as


estruturas a ela correspondentes. É muito usado para esclarecer um fenômeno,
esclarecendo os fatos que lhe são pertinentes. Não parte de leis, não é
dedutivo e nem empírico. Ocupa-se da descrição da essência, é puramente
descritivo (GIL, 1999; LAKATOS e MARCONI, 2000).

1.7 Tipos de pesquisa científica

As pesquisas científicas podem ser classificadas de várias formas. Neste


estudo, utilizaremos as formas apresentadas por Gil (1999), Andrade (2006) e
Cervo et. al. (2007), ao apontarem as formas mais tradicionais de classificação.
De acordo com os autores, as pesquisas podem ser classificadas conforme:

 Natureza ou finalidade
 Forma de abordagem
 Procedimentos técnicos
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 Objetivos

https://www.youtube.com/watch?v=ey9bTshV308
1.7.1 Quanto à natureza ou finalidade

Nesse campo, podemos citar a Pesquisa Básica, também conhecida por


Pesquisa Pura, e a Pesquisa Aplicada. A Pesquisa Básica contribui com a
ciência por meio dos novos conhecimentos que são gerados. Neste tipo de
pesquisa, não há a preocupação de aplicação prática ou imediata dos
resultados. Já a Pesquisa Aplicada volta-se para a solução de problemas
específicos.

1.7.2 Quanto à forma de abordagem do problema

Nesse campo temos as Pesquisas Quantitativas e as Pesquisas Qualitativas.


A Pesquisa Quantitativa organiza os estudos por meio de quantidades,
utilizando números, opiniões e informações, a fim de classificá-los.
Já a Pesquisa Qualitativa tem o seu foco no processo, interpretando os fatos,
dando-lhes significado.

1.7.3 Quanto aos procedimentos técnicos

São vários os procedimentos técnicos que podem classificar as pesquisas.


Assim, temos: Pesquisa Bibliográfica; Pesquisa Documental; Pesquisa
Experimental; Levantamento; Estudo de caso; Pesquisa Expost-Facto;
Pesquisa-Ação; Pesquisa Participante.

Pesquisa Bibliográfica: De acordo com Gil (1999): “A pesquisa bibliográfica é


desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de
livros e artigos científicos”. O autor esclarece que embora quase todos os
estudos exijam a pesquisa bibliográfica, há pesquisas desenvolvidas
unicamente a partir delas.

Pesquisa Documental: É a pesquisa realizada a partir de documentos,


contemporâneos ou retrospectivos. Dela fazem parte as tabelas, os índices,
cartas, pareceres, fotografias. É muito usada no campo das Ciências Humanas.
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Pesquisa Experimental: Tem por característica a definição de um objeto de


estudo, selecionando-se em seguida as variáveis capazes de influenciá-lo. A
partir daí são definidas as formas de observação e de controle. É adequada
para avaliar um produto, processo ou serviço.

Levantamento: Tem por objetivo definir, ou identificar, as práticas e/ou


opiniões de determinado grupo. É usado quando há o desejo de se conhecer o
comportamento, a opinião, a motivação de determinado grupo.

Estudo de Caso: Como o próprio nome já diz, refere-se ao estudo de um caso.


Normalmente é utilizado quando se deseja saber ‘como’ e ‘por que’. Nele, o
pesquisador tem pouco ou nenhum controle sobre os eventos que deseja
conhecer.
De acordo com Stake (1998:258), o estudo de caso não é exatamente uma
escolha metodológica, mas uma escolha de um objeto a ser estudado,
chamando a atenção para a questão daquilo que, especificamente pode ser
aprendido a partir de um determinado caso. Estudo de caso seria então um
‘estudo limitado’ que enfatiza a unidade e a totalidade daquele sistema, porém,
alerta o autor, fixa a atenção nos aspectos de relevância do problema
apresentado pela pesquisa.
https://www.youtube.com/watch?v=8cIVzQNf6Bk
Para Nunan (1992), um caso estudado em profundidade, ou seja, amplamente
detalhado, pode produzir experiências vicárias aos leitores, ou seja, o leitor da
pesquisa poderá lembrar-se, em alguma extensão, de casos, situações e
fenômenos parecidos. Stake (1998 p. 94) denomina esse processo
“generalização naturalística”. A comparação entre casos semelhantes pode
produzir uma generalização maior (ou não).

Segundo André (1995), a abordagem do estudo de caso vem sendo usada há


muitos anos em diferentes áreas do conhecimento, dentre elas, a área
educacional. No entanto, continua a autora, é necessário verificar se a unidade
de estudo possui “limites bem definidos, tal como uma pessoa, um programa,
uma instituição ou um grupo social” (André 1995 p.31).

Pesquisa Ex-post Facto: Nesse tipo de pesquisa, estuda-se as ocorrências


após um fato, sobre o qual o pesquisador não tem controle algum, ou seja, o
fato não foi provocado pelo pesquisador. Este tipo de pesquisa tem como
objetivo investigar possíveis relações de causa e efeito.
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Pesquisa-Ação: É o tipo de pesquisa em que se investiga a própria prática,


com o intuito de aprimorá-la. Por meio dela, busca-se unir a pesquisa à ação. A
compreensão e o conhecimento acontecem por meio da prática, que por sua
vez é pesquisada.
https://www.youtube.com/watch?v=Pah5un4s8o0
Pesquisa Participante: Desenvolvida a partir da interação entre o pesquisador
e os demais participantes da interação. Está relacionada com o fato observado
pelo pesquisador e tem como objetivo obter informações sobre a realidade dos
participantes.

1.7.4 Quanto aos objetivos

Pesquisa Exploratória: Tem por objetivo levantar informações sobre o que se


pesquisa, a fim de delimitar o trabalho, verificando assim as condições para
que se desenvolva o trabalho. Geralmente, é uma preparação, para a pesquisa
explicativa.

Pesquisa Descritiva: Descreve as características de determinado grupo, ou


fenômeno, estabelecendo as relações entre as variáveis, valendo-se de
questionário e também da observação sistemática.

Pesquisa Explicativa: Tem por objetivo identificar as causas dos fenômenos


estudados, por meio de métodos experimentais ou ainda por meio da
interpretação que se dá por meio dos métodos qualitativos.

1.8 Níveis de pesquisa

Pedro Demo (1991, 1994, 2000) chama a atenção para a necessidade de se


entender pesquisa de acordo com dois princípios: princípio científico e princípio
educativo.
Como princípio científico, a pesquisa requer, além de observação constante,
um diálogo com a realidade, a fim de desenvolver conhecimento bastante para
confrontar teoria, método, experiência e prática.
Como princípio educativo, a pesquisa promove a transformação, em termos
pessoais e sociais. De acordo com o autor, a pesquisa promove a capacidade,
a capacidade de inventar soluções criativas para os mais diversos problemas e
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questionamentos, ao mesmo tempo em que ela mesmo questiona, promovendo


condições para o desenvolvimento de uma motivação emancipatória, que leva
um sujeito a recusar ser tratado como objeto (1991, p.78-94). Demo defende a
presença da pesquisa desde a educação infantil, até os níveis superiores.
Segundo ele, aprende-se por meio da pesquisa.
https://www.youtube.com/watch?v=7hLqaJLQ5Q4
1.9 A pesquisa na pós-graduação

Os cursos de pós-graduação, tanto os programas de especialização como os


de mestrado e doutorado, são finalizados com a apresentação de uma
monografia. Todo trabalho monográfico, independentemente da área do
conhecimento, traz na Introdução uma pergunta de pesquisa, que deve ser
respondida. Assim, o trabalho de conclusão de curso, geralmente chamado de
TCC, apresenta uma pesquisa que foi desenvolvida. Utiliza referencial teórico,
descreve procedimentos ou métodos e faz a discussão dos dados. Outros
elementos também se fazem presentes, como a Introdução, a lista de
referências e, em alguns casos, anexos. São várias as etapas da pesquisa e,
consequentemente, do texto escrito. Veremos esses itens adiante.

1.10 A ética na pesquisa

Atualmente as pesquisas científicas são amplamente divulgadas,


principalmente pela Internet. Esse fato amplia a discussão sobre ética na
pesquisa (PALÁCIOS et al., 2002). Os autores Prodanov e Freitas (2013)
questionam: o que significa falar de “ética na pesquisa científica”? Ética é a
ciência da conduta humana; é o princípio sistemático da conduta moralmente
correta, explicam eles, ressaltando que, no campo da pesquisa científica, a
ética é vista como “conduta moralmente correta durante uma indagação, a
procura de uma resposta para uma pergunta.” Ética na pesquisa científica
indica que o estudo em questão deve ser feito de modo a procurar
sistematicamente o conhecimento, por observação, identificação, afirmam eles.
Assim, é muito importante observar as regras de conduta, não somente nos
procedimentos que envolvem experimentação, ou observação, em que é
desejável haver autorização expressa. A honestidade deve ser configurada
inclusive (ou principalmente, em alguns casos) naquilo que pode ser chamado
de plágio, ou seja, um indivíduo usar o trabalho de outro, ao todo ou em partes
e apresenta-lo como seu. Isso não só é antiético, como também é qualificado
como crime de violação do direito autoral, não só pelas leis brasileiras, mas
também pelas internacionais.
É possível citar autores, trazer trechos de trabalhos publicados, na Internet, ou
impressos, desde que o autor seja citado. Para fazer isso, é de fundamental
importância consultar as normas da ABNT, para saber a forma correta ao citar
determinado autor, ou pesquisador.
A resolução CNS 196 (1996) amplia o conceito de pesquisa científica a todas
as pesquisas que envolvem seres humanos, direta ou indiretamente e não mais
só nas pesquisas experimentais, na área da saúde. Evidencia-se assim a
utilização de parâmetros éticos nas pesquisas de campos diversos. Como bem
ressaltam Prodanov e Freitas (2013), “a Resolução CNS 196 (1996) é
considerada uma recomendação ética e não uma lei. Isso não a torna mais ou
menos relevante”.

1.11 Etapas da pesquisa

Não há uma forma única de se desenvolver uma pesquisa, mas de forma geral,
há procedimentos a serem seguidos. Para tanto, elencamos abaixo os
considerados mais comuns.
 Escolha do tema
 Revisão de literatura
 Justificativa
 Formulação do problema
 Definição dos objetivos
 Metodologia
 Coleta de dados
 Tabulação dos dados
 Análise e conclusão dos resultados
 Redação e apresentação

“Para a realização de pesquisas em qualquer nível, é necessária a

elaboração de um projeto de pesquisa.”

(PESCUMA e CASTILHO, 2010)

A elaboração de qualquer projeto depende de dois fatores fundamentais


(COSTA e COSTA, 2009):
1. A capacidade de enxergar, com os olhos da mente, a imagem da
situação futura.
2. Ser capaz de idealizar um plano a ser executado em determinado
tempo, pré-estabelecido.
Sobre o projeto de pesquisa, discorreremos mais adiante. Por enquanto, basta
saber que é recomendável fazê-lo, em função de sua utilidade. Antes, no
entanto, apresentaremos as considerações necessárias para outro processo,
de fundamental importância que estará presente durante todo o período de
execução: a leitura.
2 - O PROCESSO DE LEITURA

A leitura irá permear todo o período da pesquisa, até mesmo antes de se


escrever o projeto de pesquisa. É um exercício complexo e fundamental, de
autorrespeito e de autoconhecimento. Querer fazer um trabalho de pesquisa e
não aceitar que é necessário reservar um tempo específico para a leitura é
faltar com respeito aos objetivos, tanto pessoais como profissionais. Por meio
da leitura, da observação às preferências por determinados assuntos, autores
ou obras, é possível exercitar o autoconhecimento. Além disso, o processo de
leitura pode nos dar pistas para o desenvolvimento de nossa pesquisa. O
roteiro abaixo pode nortear o processo de leitura e contribuir com a sua
preparação para o desenvolvimento do seu trabalho.
Roteiro para Leitura
Um exercício:
 Complexo
 Fundamental
 De autorrespeito e de autoconhecimento
 O que eu sei sobre esse assunto? (Listar)
 O que eu tenho para ler sobre esse assunto? (Folhear)
 O que eu aprendi tem relação com minha vida pessoal? (Explicar)
 O que já se escreveu sobre o assunto? (Pesquisar)
 Esgotar a leitura sobre o assunto
 Marcas de memória
 Gostei/Não gostei/Por que gostei?/Por que não gostei?
 Não entendi / Com quem posso esclarecer?
 O que é mais interessante e o que é menos interessante nesse assunto?
 Quais são as minhas dúvidas?
 Com quem vou conversar sobre isso? Definir quais leituras comporão o
trabalho;
 Sobre quais temas assumirei escrever?
 Quais temas ...
 Eu devo pesquisar?
 Eu poderia esgotar?
 Eu poderia estudar?
 Consulte TCC, dissertações e teses.
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3 - O PROJETO DE PESQUISA

Antes de iniciar qualquer empreendimento, é necessário fazer um projeto, o


que equivale a calcular, examinar, pensar, ponderar. Assim, antes de iniciar
uma pesquisa, é fundamental avaliar as possibilidades de execução e
determinar o roteiro a ser seguido. Aquilo que pode parecer ‘perda de tempo’,
na verdade é a premissa mínima de possibilidade de sucesso. No caso de uma
pesquisa, o projeto nada mais é do que o planejamento em etapas, um roteiro
estabelecido que deve ser seguido, embora possa ser modificado.
É um texto que apresenta o problema, além de apontar detalhadamente as
ações a serem executadas, o caminho e a ordem das atividades que serão
realizadas, a fim de que se construa a pesquisa científica. As leituras são o
passo inicial. São fundamentais para que se construa o escopo que dará
sustentação a aquilo que foi observado inicialmente. O elemento central do
projeto de pesquisa é a formulação do problema. Mas para formular problema,
o indivíduo precisa utilizar outros saberes. Esses outros saberes é que o
ajudarão a compreender a realidade que o cerca, compreender cientificamente
o que quer descobrir, o que quer pesquisar. Isso será possível com o auxílio da
leitura. É importante entender que mesmo o melhor dos escritores, que fazem
da escrita sua profissão, pode ver-se com dificuldade para definir e
consequentemente escrever um projeto de pesquisa. Não é uma ação rotineira,
típica do dia a dia e vai demandar esforço e dedicação constantes. Além disso,
é necessário que os pesquisadores compreendam, principalmente os alunos de
graduação e pós-graduação, que o desenvolvimento de uma pesquisa, em
todas as suas fases, é um processo de construção, inserido em um projeto
maior, também de construção, que é o processo de ensino-aprendizagem.
Nessa fase, é importante contar com o auxílio do orientador, que direcionará os
aspectos necessários para a elaboração do trabalho, em todas as suas etapas.
Fazer e refazer são ações típicas desse processo e não podem – e nem devem
– ser entendidas como erro ou fracasso, mas como processo.

https://www.youtube.com/watch?v=_O6ldjySTLQ
Pedro Demo (1991, p.65-66) propõe passos para a elaboração de um projeto
de trabalho. São eles:
01. Definir um tema, um problema interessante a ser estudado, um assunto
sobre o qual se deseja conhecer mais.
02. Definir as etapas para a realização do estudo, o que implica em
sistematizar.
03. Conviver com os limites do conhecimento
04. Perguntar-se o que já sabe sobre o tema, verificando se há possibilidade
de avançar.
05. Avaliar o tema, prestar atenção ao tamanho do projeto, verificando se
será possível executá-lo, considerando o tempo e os recursos
disponíveis, tais como: recursos financeiros, possibilidade de levantar os
dados e tempo.
06. Aprofundar a leitura, a fim de formular o quadro teórico, ou seja, as
teorias que darão sustentação ao trabalho.
07. Desenhar, ainda que depois se modifique, os passos da análise:
bibliografia, forma de interpretar os dados, posicionamento científico.

3.1 Escolha do tema

A pergunta que permeia a definição do tema é “O que vou pesquisar? ”.


Trata-se da definição e delimitação do assunto. É importante que o
pesquisador esteja familiarizado com esse tema, ou seja, que já se tenha
estabelecido certo conhecimento sobre ele, não sendo totalmente alheio. A
escolha de um tema que não faz parte da realidade do aluno não só dificulta
a pesquisa e o trabalho como um todo, mas pode inviabilizar a execução.
Isso acontece porque será necessário reunir um conjunto de informações
para delimitar o problema (SEVERINO, 2008). Igualmente importante é
escolher um tema cuja consulta seja possível, ou seja, as fontes de
informação devem estar ao alcance do pesquisador. Além disso, é
fundamental definir a abrangência do tema, os limites conceituais, definir
sua extensão. Essa ação possibilitará a especificidade e o contexto de
pesquisa. Estando esta parte definida, é hora de pensar a pesquisa em
relação ao tempo.
Azevedo (1997 p. 42) chama a atenção para o cuidado necessário que se
deve ter em relação ao prazo disponível e o tempo que a pesquisa irá
demandar.
Perguntas para auxiliar a escolha do tema
 O que eu quero estudar?
 O que eu gosto de estudar?
 O que eu gosto é necessariamente o que eu quero estudar?
É possível conciliar ‘o que eu quero’ com ‘o que eu gosto’?
(E talvez com ‘o que eu preciso’?)
 Quais assuntos atraem minha atenção, meu interesse?
 Este assunto (tema) que começo a identificar está ao meu
alcance, ou seja, consigo levantar informações sobre ele?
 Quanto tempo essa pesquisa demandaria?
 Esse tempo é o mesmo tempo de que disponho?

3.2 Definição do problema de pesquisa

Um projeto fala de um problema. Mas não é o problema que conhecemos em


termos de obstáculo, o que não deu certo, algo a ser resolvido e/ou superado.
É a questão que vai nortear toda a pesquisa científica. A definição do problema
é decorrente da experiência do pesquisador, daquilo que ele observou e julgou
importante saber mais a respeito. Em pesquisa científica, estabelecer um
problema é o primeiro passo para a contextualização. Um problema de
pesquisa deve ser bem delimitado, apresentar limites e conceitos bem
definidos, ser passível de análise e conclusão. Além disso, deve ser relevante,
o que equivale a ter utilidade.

Perguntas para auxiliar a definir o problema de pesquisa


 Qual é a realidade que me interessa saber mais a
respeito?
 O que eu não sei e quero saber?
 A questão que me interessa está inserida nesse contexto?
 A pesquisa científica pode contribuir para elucidar esse
problema?
 Eu consigo ter acesso aos dados necessários para a
pesquisa?
 Há relação entre o tema e o problema?
 A pesquisa sobre esse assunto é relevante? A quem?

Na fase do projeto, é recomendável desenvolver um plano de ação para a


execução da pesquisa. O quadro abaixo (GIL, 2010; PINHEIRO, 2010, COSTA
e COSTA, 2009) ilustra esse plano de ação, descrevendo suas fases:
Quadro 1 – Plano de Ação para o Desenvolvimento de uma Pesquisa

Fonte: Costa e Costa (2013)


Costa e Costa (2013 p. 23) indicam as partes que geralmente compõem um
projeto:

3.3 Elementos pré-textuais

 Capa
 Folha de rosto
 Dedicatória (opcional)
 Sumário
Outros elementos - Esses outros elementos não são opcionais, mas só
precisam aparecer se o texto do projeto também apresentá-los. Do
contrário, não é necessário colocá-los.

3.4 Elementos textuais

 Introdução – Contextualiza a pesquisa, apresentando o problema e a


questão de pesquisa
 Hipótese (s) ou pressuposto(s)
 Objetivos - Geral e específico
 Justificativa (por quê e para quê)
 Referencial teórico / Revisão de literatura
 Procedimentos metodológicos
 Limitação da pesquisa
 Cronograma

3.5 Elementos pós-textuais

 Referências bibliográficas

3.6 Elementos pós-textuais opcionais

 Bibliografia
 Glossário
 Apêndices
 Anexos
3.7 Introdução

É a parte do trabalho em que o pesquisador faz a apresentação do tema,


contextualiza e formula o problema e as perguntas de pesquisa, que devem
estar claras e ser realistas, além de relevantes. Deve informar os objetivos, as
características e o contexto do trabalho, indicando a problemática maior e o
problema menor. A fim de conhecer melhor o contexto em que o problema está
inserido, é fundamental trazer para o trabalho, os resultados de outros
pesquisadores, ainda que tenham diferenças significativas. Esse processo,
além de promover o conhecimento sobre a área a ser estudada, possibilita
gerar confiança e credibilidade ao leitor do trabalho. Não é necessário ser um
problema inédito. Os diferentes contextos em que acontecem as pesquisas
garantem as diferenças necessárias.

Resumindo:
 Introdução é a apresentação de um trailer do trabalho para o leitor.
 Indica:
 A problemática mais ampla na qual se insere o trabalho.
 O problema menor (seu problema).
 Narre a história de seu trabalho, o modo como você foi se
desenvolvendo e desenvolvendo o trabalho.
 Coloque o problema dentro de uma história (contextualização).
 Apresente outros trabalhos que trataram do assunto que você trata,
ainda que haja diferenças entre eles. Conte o que eles trataram, o
que encontraram, como trataram do assunto. Você deve conhecer
autores que trabalharam, ou que trabalham, com esse tema.
 É principalmente neste ponto que se deve ter humildade e espírito
científico suficientes para reconhecer o que os outros fizeram a
respeito do assunto.
 Convença-se de que você não precisa ser a pessoa que pela 1ª. vez
tocou o problema.
3.8 Hipótese

Suposição usada como ponto de partida para uma pesquisa científica, que
tenta dar respostas ao problema a ser estudado. É uma afirmação considerada
válida até ser comprovada ou refutada.
Todo trabalho científico deve relacionar o problema apresentado com os dados
coletados por meio da pesquisa bibliográfica e os dados coletados. A partir daí,
surgem as hipóteses, que, na medida em que o trabalho for se desenvolvendo,
podem ser confirmadas ou não. Caso não sejam confirmadas, dizemos que a
hipótese foi refutada.
Minayo (1996) afirma que o temo “hipótese tem uma conotação enraizada na
abordagem quantitativa”. De acordo com Costa e Costa (2013), as pesquisas
com abordagens qualitativas adquirem a característica de pressupostos. Nelas,
o termo hipótese é automaticamente substituído por “pressuposto”.

Perguntas para auxiliar a formulação das hipóteses


 Qual é a possível resposta para o meu problema?
 O que eu acredito, ou, o que eu acho ser possível a respeito do
problema escolhido?
 Tenho somente uma suposição a respeito dessa possível resposta?
Ou tenho várias? Nesse caso, quais?

3.9 Título do trabalho

O título reflete e sintetiza a ideia da pesquisa como um todo. Deve ser atrativo,
convidar à leitura. Geralmente é elaborado quando o trabalho já estiver pronto,
pois o pesquisador terá aprofundado seu conhecimento sobre o assunto e os
campos de abrangência já estarão definidos. No entanto, convém ressaltar,
que é importante ter um título provisório, tendo a clareza de que serão feitas
modificações, até que se chegue ao título definitivo.

Perguntas para auxiliar a escolha do título


 Como meu trabalho se chamará?
 Esse título (provisório) reflete o que pretendo realizar?
 Está coerente com o conteúdo?
3.10 Objetivos

Aquilo que se pretende fazer. Os objetivos têm função norteadora e indicam o


que se pretende desenvolver, ou atingir, com a pesquisa. Podem ser
classificados como gerais e específicos.

3.10.1 Objetivos Gerais

São os objetivos de maior amplitude. São consideradas as possíveis


contribuições que se pretende dar por meio da pesquisa.

3.10.2 Objetivos Específicos

São as metas mais específicas, as etapas a serem cumpridas. São elas que,
somadas, conduzirão ao desfecho do objetivo geral.
Os objetivos devem ser formulados com a utilização de verbos no infinitivo, tais
como: aplicar, avaliar, buscar, caracterizar, determinar, enumerar, formular,
encontrar, explicar.
É muito comum os estudantes, tanto dos cursos de graduação como de pós-
graduação, no momento da definição dos objetivos – e da redação –
confundirem objetivos gerais com objetivos específicos. Portanto, ao formulá-
los, verifique se eles fazem parte de uma amplitude maior, podendo ser
considerados gerais, ou se fazem parte de determinada etapa da pesquisa,
nesse caso podendo ser classificados como específicos.

Perguntas para auxiliar a definição dos objetivos


 O que eu quero conseguir com essa pesquisa?
 Quais são as etapas para se conseguir esse resultado?

3.11 Justificativa
As perguntas que norteiam a justificativa são ‘por quê’ e ‘para quê’. As
respostas a essas perguntas é que definirão os motivos da pesquisa,
mostrando de que forma os resultados poderão contribuir para a solução, ou
para a compreensão (conforme o objetivo) do problema estudado. É nesta
parte que o pesquisador defenderá a ideia de seu trabalho, a fim de que seja
considerado relevante.

Sugestões para auxiliar a estruturação da justificativa

 Por que eu estou trabalhando isso?


 Apresente o problema e sua relevância; os motivos que o
levam a trabalhar com o tema escolhido.
 Para que eu estou trabalhando isso?
 Apresente o que espera que seja sua contribuição; aquilo que
se quer dar.
 Para quem você acha que vai servir o seu trabalho?
 Apresente quem você acredita que será beneficiado com os
resultados do trabalho, a quem será útil
 Justificar não é contar o que, do ponto de vista pessoal, o que o
motivou a fazer o trabalho, embora isso possa aparecer também.
 Justificar também não é dizer que se quer ser um profissional
melhor, e nem afirmar que o trabalho poderá ser útil a outros.
profissionais.

Em termos de relevância, são considerados de especial importância os de


caráter pessoal, acadêmico, profissional e social.
Relevância pessoal: O problema é importante para o pesquisador. É
importante apresentar as circunstâncias responsáveis pela escolha.
Relevância acadêmica: Todas as pesquisas são capazes de contribuir para a
comunidade científica. Portanto, é muito importante apontar em que a pesquisa
difere das demais pesquisas já elaboradas na área, ou seja, qual será sua
contribuição efetiva.
Relevância profissional: Merece especial atenção o aspecto que se refere à
aplicação prática da pesquisa no âmbito profissional, ou seja, por que essa
pesquisa será importante na profissão.
Relevância social: O pesquisador deve estar bastante atempo e consciente da
utilidade que seu trabalho terá para o desenvolvimento social e para o
desenvolvimento de outros projetos, no âmbito da sociedade como um todo.

Qual é a relevância deste tema?


Relevância pessoal: Por que me interesso por esse assunto?
Relevância acadêmica: De que forma este tema está ligado ao
conhecimento científico atual? E de que forma este tema pode ser útil às
pesquisas da atualidade?
Relevância profissional: Como este trabalho pode contribuir com o
desenvolvimento de minha profissão? Este tema vai ajudar a resolver algum
problema de minha profissão? Em caso afirmativo, qual?
Relevância social: Este trabalho pode contribuir para a solução de algum
problema social? Em caso afirmativo, como se dá essa contribuição?

3.12 Revisão de literatura

Para Costa e Costa (2013 p.33), a revisão de literatura também pode ser
chamada de revisão bibliográfica, fundamentação bibliográfica, ou revisão
teórica. É nesta seção que o pesquisador apresentará o que já foi escrito sobre
o tema e por quem foi escrito. As perguntas que nortearão essa fase são: “O
que tem sido publicado sobre esse tema? Quem já escreveu sobre isso? O que
escreveu?”
Moura et al (1998) afirmam que a revisão de literatura é capaz de ampliar o
conhecimento existente sobre o assunto, contribuindo desta forma para
clarificar as questões da pesquisa. Com isso, as lacunas existentes no assunto,
assim como áreas pouco exploradas, podem ser mais facilmente identificadas
e estudadas. Assim, são esclarecidos aspectos teóricos, metodológicos e
analíticos, o que permitirá o debate sobre a questão em si.
A expressão referencial teórico, afirmam Costa e Costa (2013 p. 34), é
empregada quando a revisão da literatura aborda um tema específico, que
servirá de base aos estudos vinculados ao problema de pesquisa. Diante disso,
tem-se uma revisão sobre determinada teoria, que norteará a análise dos
dados.
Podem ser consultados artigos de revistas científicas (até 5 anos, exceto para
clássicos, neste caso, a idade do material consultado não importa), livros,
publicações feitas em anais de congressos, teses e dissertações, realizadas
em instituições reconhecidas.
Para elaborar a revisão da literatura, convém adotar os seguintes passos:
01. Levantamento de material produzido, tanto impresso quanto eletrônico,
que tratem do tema.
02. Ler cuidadosamente o material encontrado.
03. Iniciar a elaboração do referencial teórico.

Perguntas para auxiliar a elaboração da revisão bibliográfica

 Quais autores e textos tratam deste tema?


 Há mais de uma posição sobre o assunto? Em caso afirmativo, quais
são elas? Em que elas diferem?
 Como essas obras se relacionam com minha pesquisa? Estão
realmente relacionadas com o meu trabalho?
 Do material que apresentei, existe algum que não está (muito)
relacionado com minha pesquisa? Em caso afirmativo, essa obra
deve ser retirada do referencial teórico?
 Falta alguma obra que eu pretendia usar e não usei? Em caso
afirmativo, qual (ou quais)?

3.13 A Metodologia

A Metodologia do trabalho diz respeito aos procedimentos metodológicos que


serão adotados durante o trabalho. A pergunta norteadora desta seção é:
“Como fazer?”.
 Nesta parte será descrita o conjunto de atividades organizadas para a
coleta dos dados. Além da leitura, que é fundamental em todo e
qualquer tipo de pesquisa, outros procedimentos podem ser necessários
e, consequentemente, utilizados. Alguns deles são: experimentação,
observação, entrevista, questionário, análise de documentos, grupo
focal. A metodologia deve apresentar uma descrição detalhada e
minuciosa dos procedimentos do trabalho. Além disso, deverá informar
quem participa da pesquisa, quais são as características dessas
pessoas, quais os instrumentos utilizados para a coleta de dados, além
de especificar os procedimentos adotados.
Perguntas para auxiliar o planejamento metodológico

 Como vou desenvolver minha pesquisa?


 Por que escolhi esse tipo de pesquisa?
 Esta metodologia, este ‘caminho’ está de acordo com os
objetivos de pesquisa?
 Quais são os instrumentos para a coleta de dados?
 Com quem, onde e quando vou coletar esses dados?
 Quem vai participar da pesquisa? Quais são as
características dessas pessoas?

Nesta parte do trabalho, além de indicar o tipo de pesquisa que será realizado,
é necessário indicar também a abordagem da pesquisa, ou seja, se a pesquisa
terá abordagem qualitativa ou quantitativa. O que define se a pesquisa terá
uma abordagem quantitativa ou qualitativa é o contexto em que os dados serão
analisados, e não o tipo de pesquisa (CANZONIERI, 2010; CRESWELL, 2010).

Abordagens quantitativas e qualitativas e pontos de vista


Abordagem
Ponto de vista Quantitativa Qualitativa
Ciências Naturais Sociais
Características do Conhecimento científico Conhecimento
projeto científico, filosófico e
senso comum
Diretriz Hipótese Pressuposto
Foco Busca explicação Busca compreensão
Papel do pesquisador Observador a distância, Interpretador da
objetivo realidade, imerso no
contexto
Papel dos sujeitos Tende a servir-se dos Tende a comunicar-se
sujeitos com os sujeitos
Natureza dos dados Objetivos Subjetivos
Objetivos Estudos confirmatórios Estudos exploratórios
Tipos de dados Simples, fragmentáveis, Múltiplos, construídos
mensuráveis através da interação
humana
Representação dos Numéricos Verbais e imagéticos
dados com possibilidades de
dados numéricos
Resultados Busca generalizações Busca particularidades
Análise dos dados Estatística Interpretação
Orientação Orientada para Orientada para o
resultados processo
Fonte: Costa e Costa (2013)

3.14 Sujeitos de pesquisa

São os participantes da pesquisa. É necessário apresenta-los, descrevê-los e


justificar a escolha.

3.15 População, amostra e amostragem

A população é o conjunto de todos os elementos, apresentando uma ou mais


características em comum. A amostra é parte dessa população e amostragem
é a forma suada para se obter essa amostra.

3.16 Instrumentos de coleta de dados

São os recursos utilizados para se obter os dados que serão analisados. Entre
os mais comuns, estão os questionários, as entrevistas e as observações.

3.16.1 Questionário

Geralmente é usado quando se quer atingir um grande número de pessoas,


sendo essa sua vantagem principal. Pode ser estruturado com perguntas
abertas e/ou fechadas. Deve ser breve e elaborado com linguagem simples e
objetiva. Ao elaborar um questionário, o pesquisador deve ter em mente o que
ele precisa saber, ou seja, qual problema ele deseja responder, quais hipóteses
precisam ser testadas, além de ter muito claro quais são os objetivos que se
deseja alcançar.

3.16.2 Entrevistas
Geralmente são usadas quando se quer atingir um número restrito de pessoas.
Sua grande vantagem é a possibilidade de interação do pesquisador com o(s)
entrevistado(s).
De acordo com Nunan (1992 p.149), as entrevistas podem ser caracterizadas
em termos do grau de formalidade aplicado, variando de não estruturadas,
passando pelas semiestruturadas, até as estruturadas. Em entrevistas
semiestruturadas, o entrevistador tem uma ideia geral de onde quer que o
entrevistado chegue, mas não inicia a entrevista com uma série de perguntas
previamente determinadas e sim com tópicos e pontos de debate que
determinarão o curso da entrevista.

3.17 Características das entrevistas

3.17.1 Não estruturadas

Entrevistas não estruturadas, ou seja, as perguntas são feitas enquanto a


conversa vai acontecendo.

3.17.2 Semiestruturadas

Seguem um roteiro; são realizadas com perguntas abertas.

3.17.3 Estruturadas

Perguntas são elaboradas a partir de um formulário.

3.17.4 Observação

Procedimento para acesso aos fenômenos estudados. Imprescindível em


qualquer modalidade de pesquisa.
4 - A ANÁLISE DOS DADOS

A análise dos dados refere-se à forma pela qual os dados serão analisados, a
técnica que será utilizada. Os dados isolados não possuem significado.
Precisam fazer parte de determinado contexto, a fim de poderem ser
considerados ‘informação’. Dentre as principais técnicas de análise de dados,
ou mais comumente conhecidas, temos:

4.1 Análise estatística

Usada nos estudos de abordagem quantitativa (MINGOTI, 2005);

4.2 Análise de conteúdo

O que está sendo dito no texto;

4.3 Análise do discurso

Como algo está sendo dito no texto;

4.4 Interpretação das falas

Interpretação das falas dos sujeitos, valendo-se da revisão de literatura;

4.5 Triangulação

Utilização de diversas fontes de coleta de dados.


5 - A DIFERENÇA ENTRE O PROJETO DE PESQUISA E O TRABALHO DE
CONCLUSÃO DE CURSO – TCC

O projeto de pesquisa se refere ao planejamento do trabalho a ser


desenvolvido, da pesquisa que será realizada. No projeto, o pesquisador tem a
clareza do caminho a ser percorrido, além das estratégias e instrumentos que
serão utilizados.
O trabalho de conclusão (monografia, dissertação, tese) diz respeito aos
resultados que foram alcançados, conforme foram estabelecidos no projeto
(SEVERINO, 2007).
Ambos apresentam e descrevem as etapas de leitura prévia, a introdução, os
objetivos, a metodologia, os instrumentos de coleta e análise de dados. No
entanto, enquanto um apresenta o que será feito, o outro descreve os
resultados, valendo-se do que foi planejado e anteriormente estabelecido.
O trabalho final deve conter, além da introdução, do referencial teórico e da
metodologia, as informações que foram coletadas, devidamente analisadas,
apresentando um encadeamento lógico e objetivo. Nele deverá constar a
resposta (ou as respostas) às perguntas de pesquisa, apontadas na introdução.
Nesta fase do trabalho, é primordial atentar-se para a verificação dos objetivos,
ou seja, verificar se os objetivos foram atingidos, ou não, e se eles constituem
uma unidade de informação lógica e compreensível. Tudo o que foi vivido
durante o processo de pesquisa é importante. Dentre este ‘tudo’, é necessário
selecionar, conforme os objetivos do trabalho, é que é relevante (e o que não
é) apresentar no trabalho final.
As considerações finais do trabalho (ou conclusão) consideram o
aproveitamento do processo, não só em termos de aprendizagem, mas de
contribuições que se deixa para a comunidade científica. É também nesta
seção que se fala acerca das possibilidades de desenvolvimento de outras
pesquisas, ou seja, o que a pesquisa verificou em termos de oportunidade para
pesquisas futuras. Faz-se necessário esclarecer que uma pesquisa não pode –
e nem deve – querer responder a toas as perguntas e será de grande valia
reconhecer adequadamente as limitações da pesquisa efetuada, pois assim o
campo de abrangência será definido adequadamente. Em outras palavras, é
importante que a pesquisa se ocupe de responder suas perguntas de pesquisa
e atente a seus objetivos de trabalho.
As referências bibliográficas são o último elemento na apresentação de um
trabalho, seja ele projeto de pesquisa ou trabalho de conclusão de curso. As
referências constituem-se de uma lista em ordem alfabética com os nomes das
obras citadas no trabalho, com seus respectivos autores e editoras, além do
ano de publicação.
Apêndices e anexos não são obrigatórios, devendo constar apenas nos casos
em que houver necessidade.
5.1 A escrita de diários

Um instrumento fundamental no processo de ensino-aprendizagem e,


consequentemente, no desenvolvimento de uma pesquisa é o diário de
aprendizagem. De acordo com Bailey (1990) os diários podem ser usados tanto
para pesquisa como em vários outros contextos diversos: aprendizagem de
língua estrangeira, interação professor-aluno, formação de professores.
A autora define o diário como um relato em 1ª. pessoa acerca da
aprendizagem ou da experiência profissional, escrito de maneira sincera e
imparcial para depois ser analisado naquilo que tange os eventos considerados
como padrão e/ou aqueles que mais chamam a atenção do pesquisador, que
pode ser o próprio autor do diário.
Segundo Machado (1998), a utilização do diário se impôs a partir do século
XIX. As contradições sociais e os ideais de liberdade típicos da época,
associados à realidade do cotidiano dos indivíduos foram o pano de fundo para
a utilização do diário de maneira mais contundente. De acordo com Liberali
(1999:21) “o diário apareceria como uma forma de dar vazão aos conflitos
interiores”.
Se tomarmos tal informação como ponto de partida e compararmos com os
dias de hoje, verificaremos que o tipo de sociedade na qual vivemos, também
parece favorecer a utilização dos diários, o que faz com que sua utilização seja
cada vez mais diversa, pois ele vai aparecer em diferentes campos de atuação
e sob diferentes pontos de vista: literário, metodológico, científico, educacional,
entre outros.
Os textos de Barthes (1979) e de Machado (1998), remetem a produção
diarista a um momento em que o autor entra em contato consigo mesmo,
procurando dar sentido a aquilo que vive, por meio da escrita, que pode, ou
não, ter características de um texto falado. Por meio do diário, o autor pode
assumir o papel que quiser, vislumbrando assim o sentido de “liberdade” que
geralmente se atribui à produção diarista. Naquele instante, o indivíduo é
totalmente livre para relatar suas impressões acerca de documentários,
palestras, seminários, aulas, textos, observações diversas. Essas produções,
dependendo do objetivo com que foram desenvolvidas podem (ou não) se
transformar em documentos de pesquisa, instrumentos de ensino-
aprendizagem, instrumentos do processo de avaliação de ensino-
aprendizagem, ensaios teóricos e outros materiais com finalidade de pesquisa,
a fim de que se promova não apenas um processo reflexivo, mas também a
transformação da ação, por meio da reflexão.
Liberali (1999), baseando-se em Machado (1998) e Zabalza (1994) apresenta
algumas áreas de conhecimento em que os diários aparecem e sua finalidade:
ciências sociais, história, psicologia clínica, pesquisas educacionais, entre
outras. Dentre essas áreas, a que mais nos interessa é a educacional. A autora
afirma que o diário pode ser:
 Instrumento de pesquisa

 Instrumento de ensino-aprendizagem

 Exploração da dinâmica de situações concretas, por meio dos relatos de


protagonistas.

O indivíduo escreve para si, mas sabe que poderá haver outro “eu” a ler os
registros. É um espaço para que se registrem opiniões e impressões, além de
hipóteses, dúvidas, resumos de palestras e de outros materiais usados no
processo educativo e/ou de pesquisa. Diferente da visão valorizadora de
acúmulo de informações fatuais, a utilização do diário é pertinente em
situações em que a observação e a reflexão, aliadas ao raciocínio e a
determinada forma de encadear o pensamento, promotoras de reflexão, se
façam presentes. Nesse ambiente, o diário pode ser usado como um
instrumento capaz de contribuir para a (re) organização do processo,
fornecendo ao pesquisador, ao professor e ao aluno informações sobre o
processo, tanto da pesquisa, como do indivíduo como um todo.
Para Zabalza (1994) os diários podem ser entendidos como a expressão das
características, tanto de alunos como de professores. Pode apresentar
estruturas das aulas e descrição das tarefas. Nele podem ser registradas as
impressões acerca de aulas, materiais, dúvidas, percepções, hipóteses,
intenções, além de referências a sentimentos e atuações do indivíduo. Nesse
contexto, ele se coloca diante dos fatos, avaliando e reavaliando o processo,
podendo muitas vezes perceber a necessidade de se posicionar de maneira
diferente, de se reorganizar.
O diário como instrumento de pesquisa suscita diferentes tipos de reflexão. A
interferência do pesquisador pode oferecer condições para a ocorrência da
reflexão sobre a prática durante o trabalho de pesquisa.
Como instrumento de ensino-aprendizagem, é possível citar a utilização do
diário como diário de leituras, cujas impressões, tendo o principal aporte na
pesquisa de Machado (1998), são apresentadas a seguir.

5.2 O Diário de Leituras


A experiência pessoal vivida com diários de leitura e o desejo de buscar o
aprofundamento científico-metodológico da utilização desse instrumento são
retratados na produção de Machado (1998).
Em sua obra, a autora conta que, de acordo com a experiência vivida por ela
enquanto aluna, o diário era - de maneira simplificada - um texto do aluno,
produzido em primeira pessoa, escrito à medida que se lia um texto proposto
pela professora, buscando-se relacionar os conteúdos a quaisquer outros
conhecimentos que se tivesse. No caso, como ela tinha o intuito de
desenvolver uma pesquisa científica, buscava também relacionar os conteúdos
a sua pesquisa, além de relacioná-los a outros conhecimentos. Segundo a
autora, a adesão à produção de um diário de leituras foi imediata. Ela percebia
que, conforme as instruções dadas, a produção favorecia a criação de
determinadas condições de produção de leitura, “que a obrigavam a ser mais
lenta” (eu diria mais cuidadosa) “possibilitando o uso estratégico e consciente
de vários tipos de informação, a interação com essas informações e uma
interação mais efetiva entre o leitor e o texto”, ou seja, ao escrever o diário a
partir da leitura de um texto recomendado pela professora, a autora se
deparava com a possibilidade de interagir com essas informações, lançando
mão de seu conhecimento prévio, relacionando as informações com sua
realidade e fazendo questionamentos. Evidencia-se assim, outra forma de
utilização do diário de leituras no âmbito da sala de aula.

5.3 O diário para profissionais da educação

Tratando-se de professores, a utilização do diário, segundo Zabalza (1994),


possibilita encontrar uma descrição de sua ação e do seu pensamento,
segundo suas próprias percepções. Na narração que o diário oferece, os
professores reconstroem a sua ação, explicitam simultaneamente (umas vezes
com maior clareza que outras) o que são as suas ações e quais são a razão e
o sentido que atribuem a tais ações. (p.30). Isso equivale a aceitar que nem
tudo está previamente dito ou estabelecido, ajustando-se, segundo Peres
Gomes (1983), ao paradigma da investigação que considera o ensino como um
processo de tomadas de decisões e o professor como o profissional
encarregado de adotá-las
A interferência do professor pode oferecer condições para a ocorrência da
reflexão sobre a prática durante o trabalho de pesquisa, quando o professor
retoma as situações posteriormente, sendo questionado a respeito de sua
ação.

O uso dos diários parece se entremear no processo de ensino-aprendizagem,


sendo um instrumento de poder a indivíduos que procuram entender sua
prática. Enquanto diário de aprendizagem pode ser do aluno e do professor.
Enquanto instrumento que auxilia na formação de professores, pode ser diário
de professor e de coordenador, em qualquer âmbito é desejável que seja
crítico-reflexivo. Portanto, faz-se essencial a meu ver, usarmos os diários e
trocarmos impressões a fim de percebermos de que maneira podemos
trabalhar com o instrumento em diferentes contextos de atuação, verificando
como podemos contribuir com o processo de ensino-aprendizagem de nossos
alunos, de nossos professores e em nosso próprio processo.

Sugestões para utilização do diário na pesquisa


 Escreva (sem medo de ser feliz!) tudo o que achou sobre o texto, o que
entendeu e o que não entendeu. Pense no que o texto quis dizer a você,
se conseguiu, ou não e por quê.
 Tente entrar nas ideias do autor, pondere essas ideias, pense a respeito
de seus valores pessoais, de sua experiência e posicione-se diante
dessas ideias (Concordo com isso? Sim ou não? Por quê?).
 Tente construir sua dúvida, tente entender sua dúvida e pense sobre as
possibilidades de respostas. Escreva-a.
 Encontre possibilidades para resolver sua dúvida, lendo outros materiais
e/ou perguntando a alguém. Pense: “Com quem eu posso conversar
sobre esse assunto? Quem poderia esclarecer essa dúvida?”.

Recomendamos, portanto, o uso do diário desde os primeiros dias do curso de


pós-graduação, a fim de que se promova um processo crítico, reflexivo e que
possa nortear não só a pesquisa, mas todo o momento de vivenciar e aprender
com as experiências.

“A aprendizagem não é descobrir o que as


outras pessoas já sabem, mas é resolver os
nossos próprios problemas, para os nossos
próprios fins, questionando, pensando e
testando até que a solução seja uma nova
parte de nossa vida.”

Charles Handy
REFERÊNCIAS

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