Prof. Me.

Carlos Eduardo Siqueira

csouza@pucsp.br

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

COGEAE
2019
— O haicai nasceu no Japão (séc. XVI), derivado da renga, poesia tradicional do país.
— Matsuo Bashô (1644-1694), poeta-andarilho, imortalizou esse gênero poético como um
caminho para se atingir a “iluminação”, dentro de preceitos zen-budistas.
— Octavio Paz (1914-1997) utilizou diferentes metáforas para definir o haicai: “instante
poético”, “anotação rápida”, “palavra-cápsula carregada de poesia”, “verdadeira recriação
de um momento privilegiado: exclamação, caligrafia, pintura e meditação, tudo junto”.
— Poesia condensada, o haicai é uma espécie de flash, imagem completa disparada contra a
retina mental. Não fala do vento, venta; não fala do canto, canta; não fala da água, molha.
— No Brasil, o haicai foi amplamente praticado no século XX. O poeta Guilherme de
Almeida desenvolveu uma forma fixa para o haicai em língua portuguesa: 17 sílabas
distribuídas em 3 versos (5-7-5) que buscam apresentar uma imagem relacionada à
percepção da natureza e associada à sensação, emoção ou sentimento.
 Velhice
Uma folha morta
Um galho, no céu grisalho.
Fecho a minha porta.

(Guilherme de Almeida)
 Velhice
U/ma/ fo/lha/ mor/ta
Um/ ga/lho/, no/ céu/ gri/sa/lho.
Fe/cho a/ mi/nha/ por/ta.
 Caridade
Desfolha-se a rosa.
Parece até que floresce
O chão cor-de-rosa

(Guilherme de Almeida)
 Infância
Um gosto de amora
Comida com sol. A vida
Chamava-se "Agora”.

(Guilherme de Almeida)
 Na poça de lama,
como no divino céu,
também passa a lua.

(Afrânio Peixoto)
 O velho tanque
Uma rã mergulha,
Barulho de água.

(Matsuo Bashô. Trad. Paulo Franchettie e Elza Doi)

O velho tanque
rã sal'
tomba
rumor de água

(Matsuo Bashô. Trad. Haroldo de Campos)

 hoje à noite
até as estrelas
cheiram a flor de laranjeira

(Paulo Leminski)
duas folhas na sandália
o outono
também quer andar

(Paulo Leminski)
 milagre
a lágrima
para

(Paulo Leminski)
 luz na noite
o escuro
foi-se

(Paulo Leminski)
 lua crescente
o escuro cresce
a estrela sente

(Paulo Leminski)