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Ainda no mesmo ano, outros textos chamaram a atenção para tal perspectiva
de renovação: em escrito intitulado “Les isolés” (“Os isolados”), de janeiro de 1890, G.
Albert-Aurier, colaborador assíduo do Mercure, crítico e escritor de aspirações
simbolistas, apropriou-se do exemplo da arte de Van Gogh para explicitar o anseio de
revigoramento da produção artística europeia – deve-se considerar, ainda, que a
revista foi uma das primeiras a reconhecer o valor da produção do pintor holandês,
publicando reproduções de suas obras e, ainda, sua correspondência com amigos e
com seu irmão Théodore:
Vincent Van Gogh, com efeito, não é somente um grande
pintor, entusiasta de sua arte, de sua paleta e da natureza; é,
ainda, um sonhador, um devoto exaltado, um devorador de
belas utopias, que vive de ideais e de sonhos.
Por muito tempo, ele se deleitou em imaginar uma renovação
da arte, possível por meio de um movimento de civilização:
uma arte das regiões tropicais; os povos que reivindicam
imperiosamente obras que correspondam aos novos meios
habitados; os pintores que se encontram cara-a-cara com uma
natureza até então desconhecida, formidavelmente luminosa,
que confessa, enfim, a incapacidade das velhas artimanhas de
escolas, e que se dedica a procurar, inocentemente, a cândida
tradução de todas essas novas sensações!... (AURIER, 1890:
28)
Vallette afirma, também, que o ciclo naturalista havia chegado ao fim, graças
à evolução dos jovens literatos:
1
Possivelmente, trata-se do romancista e contista estadunidense Nathaniel Hathorne.
embrionário, combina também com o efeito de prazer da
novidade aparente de reais e egoístas delícias. O leitor, no
primeiro caso (o da absoluta novidade), está excitado, mas
perplexo, perturbado, e, até um certo ponto, ele sofrerá de sua
impossibilidade de compreender, da idiotice que o impede de
perceber a ideia. No segundo caso, seu prazer é duplicado. Ele
experimenta delícias intrínsecas e extrínsecas. Ele goza com a
intensidade da novidade e do pensamento, ele se aproveita
disso como algo realmente novo e absolutamente original, não
somente no escritor, mas nele – leitor. Ambos, imagina-se, e
sós, entre todos os homens, pensaram assim. Ambos criaram
isso juntos. Há, portanto, entre eles, um vínculo de simpatia –
uma simpatia que erradia cada página do livro. (POE, 1892:
141)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos últimos anos do século XIX, a França passou por mudanças estruturais
e, ainda, por modificações no âmbito literário. O descontentamento com as instituições
vigentes resultou, ainda, em uma necessidade de renovação das artes, o que resultou,
entre outras manifestações, na ascensão do Simbolismo.
Na década de 1880, grupos se reuniram para sustentar e divulgar essa
estética. Tratou-se de um tempo que foi, ainda, fervilhante para o periodismo. Algumas
publicações foram efêmeras; outras, em contrapartida, consolidaram-se. O Mercure de
France, ou sua “série moderne”, foi revista que se edificou nesse cenário. Seus
colaboradores assinaram textos afinados aos propósitos de renovação do período,
defendendo diferentes concepções na arte e no pensamento. Discorriam sobre
autores, de seu tempo e mesmo de outrora, que propusessem elementos formais e
temas que se distanciassem daquilo que já estava estabelecido.
As primeiras publicações do Mercure de France atribuíram fôlego a textos
posteriores que mantiveram o apreço pelas questões atreladas à renovação na
literatura e nas artes, mantendo sua sintonia não apenas com as bases conceituais do
Simbolismo, mas assimilando, igualmente, conceitos e ideias que propulsionaram as
vogas do século XX.
REFERÊNCIAS
ALBERT, Henri. Friedrich Nietzsche. Mercure de France. Paris, jan. 1893. p. 46-65.
AMARAL, Glória Carneiro do. Navette literária França-Brasil: a crítica de Roger
Bastide. São Paulo: EDUSP, 2010. (Tomo I)
AURIER, G.-Albert. Les isolés. Mercure de France. Paris, jan. 1890. p.24-29.
GOURMONT, Rémy de. La littérature “Maldoror”. Mercure de France. Paris, fev. 1890.
p. 97-102.
ROUX, Saint-Pol. De l’Art Magnifique. Mercure de France. Paris, fev. 1892. p. 97-104.