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DIREITO PENAL I

“Normalmente a primeira frequência corre mal”, por causa, sobretudo, dos mecanismos
de imputação, alertou o regente na primeira aula.

CASO PRÁTICO I

“António subtraiu sem autorização uma trotineta de um vizinho seu apenas para dar
umas voltas tendo-a devolvido algumas horas depois. Poderá aplicar-se a A o tipo
previsto no art.208º do CP?”

Duas hipóteses:

- Se for uma trotineta com motor é um “veiculo motorizado”, enquadrado pelo art. 208º.
Trata-se de um crime contra a propriedade.
- Se for uma trotineta sem motor não há a prática do crime previsto no art.208º porque o
artigo não fala na trotineta e em direito penal não pode recorrer-se à analogia.

PRINCIPIO DA LEGALIDADE (Art.1º CP)

Só pode ser responsabilizado quem pratica um facto (ninguém pode ser punido por
antecipação).

Quem pratica um facto previsto em lei anterior à prática do facto.

CASO PRÁTICO II
“António possui 5 mil pesetas em moedas de uma peseta em casa. De acordo com o CP
de 82 quem guardar moeda estrangeira em valor superior a mil escudos é punido com
pena de multa de 120 dias.
Com a entrada em vigor do euro saiu uma lei que alterou CP em 2002 e que veio
revogar aquele tipo penal.
Poderá António ser responsabilizado penalmente por ter tido moeda estrangeira em casa
desde 1983 até hoje”.

R – Não porque a aplicação da lei penal no tempo determina que o facto punível
segundo a lei vigente no momento da sua prática deixa de o ser se uma nova lei o
eliminar do número das infracções (art. 2.º n.2 do CP). É o que acontece neste caso;
guardar moeda estrangeira deixou de ser um tipo penal e António não poderá ser
responsabilizado penalmente.

CASO PRÁTICO III


“A AR publicou uma lei que indica que durante o período do euro 2004 quem sem ter
título profissional habilitante transportar bebidas alcoólicas em veículos automóveis é
punido com pena de prisão até um ano ou multa até 500 dias. Se se descobrir em
Dezembro de 2004 que Alberto sem título que o habilitasse, transportou bebidas

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alcoólicas em Junho desse ano, para o estádio da luz, poderá ser responsabilizado
penalmente?”

R – Poderá – se o tiver feito em veiculo automóvel - porque o facto é passível de pena


nos termos do art.2º n.3

CASO PRÁTICO IV
“Em 15 de Março de 2002, António e Belarmino, praticaram crimes de furto qualificado
tendo em conta que os valor dos objectos furtados era superior a 3.500 euros. Em 16 de
Maio ambos foram julgados e condenados em pena de prisão de 4 anos.
António recorreu da decisão mas Belarmino não.
Em 12 de Setembro quando ainda não havia decisão de recurso pelo tribunal superior,
saiu uma lei que veio considerar que o furto só será qualificado caso o objecto furtado
tenha um valor superior a 5.000 euros.
A pena de furto simples manteve-se inalterada sendo em ambas as leis de 3 anos de
prisão.”

R – António será beneficiado, em relação a Belarmino, com a redução do período de


prisão a que tinha sido condenado. Pondo de parte a consequência material do recurso
que apresentou, só a circunstancia de o ter apresentado, confere ao seu caso a
possibilidade de aplicação do disposto no art. 2º n.4 do CP. Ou seja, não tendo
transitado em julgado a sentença a que foi inicialmente condenado, António beneficiará
do regime mais favorável que a alteração da lei representa para o seu caso. Assim,
António terá de ser condenado por furto simples e não qualificado pelo que a sua pena
não poderá ultrapassar os 3 anos de prisão.

HISTÓRIA DAS PERSPECTIVAS:


- Visual
- Auditiva
- Cinestésica

ELEMENTOS DO CRIME:

- ACÇÃO – Acção dominável pela vontade

- TIPICIDADE – Tipos incriminadores que constam do CP

- ILICITUDE – A grande maioria dos comportamentos típicos são também ilícitos,


salvo nos casos de “causa de exclusão de ilicitude”.

- CULPA - Determinar se o agente poderia ou não ter actuado de outra forma. Se não
pudesse o comportamento não é culposo.

(Ininputável – é um incapaz de culpa)

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DIREITO PENAL (Ius Puniendi – Direito de Punir) – Poder punitivo do Estado,


enquanto legislador e aplicador das normas. Conjunto de normas jurídicas que vão
atribuir aos agentes de certo comportamento criminalmente relevante (conduta
especialmente grave) …
Rege-se pelo princípio da intervenção mínima. Ou seja, tudo o que possa ser regulado
por outros rácios do direito não chega ao direito penal, não é criminalizado.

FACTO ILÍCITO – Facto que vai-se subsumir na previsão da norma

CRIME –

NORMAS PENAIS – São normas que exprimem o mundo do dever ser. São compostas
por previsão e estatuição.

SANÇÃO CRIMINAL (Pena ou medida de segurança) – É a estatuição da norma

O CRITÉRIO DE BEM JURÍDICO – Conceito nasce com a revolução francesa e


funda-se na necessidade de limitar o poder punitivo do Estado. Essa limitação ao
legislador pré-existe ao próprio legislador, é do campo do direito natural.
A ideia da protecção dos bens jurídicos é projectada por Lyst (germânico).
O primeiro código penal que existe é da Baviera (sec.XVIII).
Inicialmente existia uma grande identificação entre o direito criminal e a moral da
sociedade. Uma situação que limitava a evolução da ciência jurídica.
É esta limitação que acentua a necessidade de separação entre os dois aspectos da
organização social.
O direito penal passa então a seguir um caminho distinto das regras de moral.

CRITÉRIO DA SUBSIDIARIEDADE

CRITÉRIO DA NECESSIDADE DA NORMA INCRIMINADORA

FINS DO DIREITO PENAL


Os fins do direito penal (em sentido restrito) são proceder a um ordenamento
sancionatório tendo em vista a prevenção, a ressocialização do delinquente e a sanção
do agente.

FINS DAS SANÇÕES PENAIS


PENA – É uma sanção criminal, de natureza repressiva, que tem por fim punir e que
tem vários fins. Primeiro a prevenção geral que tem duas componentes (prevenção
geral positiva – visa a integração - e a prevenção geral negativa – visa a intimidação, a
inibição). Segundo a prevenção especial em que a ideia é prevenir através da acção
sobre o(s) próprio(s) delinquente(s).
MEDIDAS DE SEGURANÇA – Não está em causa o “castigo”. Não mede a culpa do
agente mas sim a sua perigosidade. Por exemplo, mesmo que o condutor não tenha
culpa, se for perigoso, pode ser proibido de conduzir.

CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL

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PRINCÍPIOS:

PRINCÍPIO DA AUTONOMIA – O direito penal ancora-se muito bem na constituição,


de onde decorre a sua autonomia. No entanto não deixa de ser um ramo do direito.

PRINCIPIO DA LEGALIDADE – Art. 29º da CRP – O direito penal é matéria da


reserva de competência da Assembleia da República.

PRINCÍPIO DA JURISDICIONALIDADE – A competência para aplicação das sanções


cabe exclusivamente aos tribunais.

PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE – Não é possível aplicar uma pena a quem não é


passível de pena. A culpa é o limite máximo da responsabilidade do agente. A culpa é
pessoal (não quer dizer que não se possa responsabilizar as pessoas colectivas).

PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE – Fazer corresponder a um determinado


tipo de crime uma moldura penal razoável em função desse tipo.

PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE – O direito penal só trata de ilícitos a um


determinado nível. Quando está em causa um certo grau de bens jurídicos.

PRINCIPIO DA FRAGMENTARIDADE – Um ramo do direito que pode ser visto


como fragmentário.

PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA – Tem duas consequências:


1 – As penas – São limitadas por este princípio nos termos da CRP (que impede, por
exemplo, a pena de morte e a prisão perpétua).
2 – O cumprimento das penas -

PARTE GERAL – Até ao art.130º do CP. É a parte mais doutrinal, de enquadramento do


direito penal.

PARTE ESPECIAL – Começa no art.131º do CP. São os crimes tipificados.

DIREITO PENAL COMUM – É o que faz parte do CP. É o núcleo do direito penal.

DIREITO PENAL ESPECIAL – O que trata de área especificas: Crimes Ficais, Crimes
Militares, Crimes Informáticos, Crimes de Imprensa, Etc.

O DIREITO PENAL E OUTROS RAMOS DO DIREITO:

Direito penal e direito constitucional – os bens jurídicos são organizados segundo os


valores da constituição.

Direito penal e direito público – O direito penal integra-se no direito civil. Não há
nenhum facto criminalmente ilícito donde não nasça também responsabilidade civil.

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Direito penal e direito civil – A maior diferença é uma diferença de grau. O ilícito
criminal é mais graduado do que o ilícito civil. Os objectivos do direito civil e do direito
penal são completamente diferentes.

Direito penal e direito administrativo – A relação é sobretudo com a direito contra-


ordenacional que, no entanto, não é bem direito administrativo puro.

Direito penal e direito disciplinar – A relação é sobretudo com o direito processual


penal.

CASO PRÁTICO V
Em 15 de Novembro de 2004 saiu uma nova lei penal que veio indicar que a
imputabilidade passaria a ser considerada para quem tivesse 16 anos e a escolaridade
mínima obrigatória.
Para um agente que pratique um facto criminal em 12 de Novembro de 2004 com 16
anos de idade e sem ter cumprido a escolaridade mínima que lei se aplicaria?

R – A lei anterior a esta nova. Nos termos do art.2º n.1 é a lei vigente à data da prática
dos factos e é a lei mais favorável (aplicando-se o art.2º n.4). Estamos perante o
fenómeno da SUCESSÃO DE LEIS NO TEMPO O menor de 16 anos é inimputável
(art.19º).

NA SUCESSÃO DE LEIS NO TEMPO – Há várias leis que incidem sobre o mesmo


facto de formas diferentes. Nestes casos aplica-se a lei mais favorável ao agente (art.2º
n.4).

CASO PRÁTICO VI
Em 12 de Dezembro de 2003, António praticou um crime de abuso sexual contra
menores.
Em 12 de Janeiro de 2004 surge uma lei que indica ser atenuante o facto de alguém ter
sido vítima de abuso sexual.
António prova que foi alvo de abuso sexual quando tinha 15 anos.
O crime sexual na lei anterior era semi-publico e na nova público.
Quid Júris?

R – (Abuso sexual de crianças – art. 172º). Estão em causa duas leis diferentes e ambas
tem aspectos positivos (mais favoráveis) para o agente. O juiz terá de optar por aplicar
uma ou a outra. A diferença é que na lei mais antiga o crime é semi-publico. Na mais
nova há uma atenuante. Não podendo aproveitar o melhor de ambas as leis, o juiz terá
de seguir por um dos regimes.
Assim o mais favorável pode ser um ou outro, dependendo de várias hipóteses.
Se houver desistência do queixoso, o regime mais favorável é o da primeira lei.
No caso de não haver desistência, a atenuante aproveita mais ao agente.
O problema é que o juiz tem que optar antes de saber se há ou não desistência.
Este é um dos dilemas do direito penal. Em tese o ser um crime semi-publico, em
princípio, é sempre mais favorável. No entanto o problema existe.
Escolher em concreto qual é a lei mais favorável não é fácil.

Crime Publico – Desde que haja noticia que aconteceu o MP promove o processo

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Crime Semi-publico – Depende de queixa e é o MP quem então promove o processo.


Admite que o queixoso desista da queixa.

CASO PRÁTICO IX
Fernanda, portuguesa, enviou por via postal ao seu marido, um bolo feito por suas
próprias mãos, condimentado com uma doze razoável de estricnina. Este encontrava-se
em França, onde recebeu o bolo e o comeu, tendo, em consequência, falecido.

a) Poderia Fernanda ser julgada pela lei penal nacional?


b) Imagine que Fernanda o fizera em França, tendo fugido para Portugal dois
meses depois. Poderia ser aplicada a lei penal portuguesa, sabendo-se que em
França o homicídio é punido com uma pena de limite máximo inferior em dois
anos do limite máximo da lei penal portuguesa?

R – Pode: Art. 5.º n.1 d) se não pudermos considerar que o facto se praticou em
Portugal ou Art. 7.º n.1 se considerar-mos que foi praticado em Portugal.

R – Poderia ser aplicada a lei portuguesa, segundo o princípio da nacionalidade. Art.


5.º n.1 d).
Poderia aplicar-se a lei francesa por ser a mais favorável ao agente (Art. 6º n.2)

Estão subjacentes, à aplicação no espaço, os seguintes princípios:

Princípio da Territorialidade (Art. 4º) – Os crimes cometidos no território de um


Estado, independentemente da nacionalidade do agente, do ofendido e dos bens em
causa, são tratado pela lei desse Estado. O critério confere poder jurisdicional ao
pais onde o facto foi cometido ou onde os resultados se produziram (art. 7º).

PRINCÍPIOS COMPLEMENTARES OU SUBSIDIÁRIOS (por ordem de


importância):

Princípio da defesa (ou realista) (Art. 5º n.1 alinea A) – A lei aplicável é a da


nacionalidade do bem jurídico violado (independentemente da nacionalidade quer
doa gente quer do local onde é praticado). – Um principio importante porque hoje
temos muitos crimes praticados à distancia.

Princípio da Justiça Universal – O agente é sujeito à lei do país onde foi


encontrado.

Princípio da Nacionalidade Activa (ou personalidade) (Art. 5º, n.1, alínea C


primeira parte) – A lei aplicável é a do país de origem do delinquente
(independentemente do local em que ele se encontre) – Trata-se de um princípio
superlativo que tem como objectivo que não haja impunidade.

Principio da Nacionalidade Passiva (Art. 5º n.1, alinea C segunda parte) – Crimes


praticados por estrangeiros contra portugueses

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Principio da Nacionalidade Activa e Passiva (Art. 5º n.1, alinea D) – Pressupõe


uma espécie de fraude à lei. Impedir que um português cometa fora do pais, no
estrangeiro, um facto que no local não é crime mas que em Portugal é crime (é o
caso do aborto).

Principio de aplicação supletiva (Art. 5º n.1, alínea E) – Aplicável a estrangeiros


que cometeram crimes contra estrangeiros e que se encontrem em Portugal não
sendo possível a extradição.

Principio da aplicação convencional da lei penal portuguesa (Art. 5º n.2) –


Quando, por acordo ou convenção internacional, Portugal tenha obrigação de julgar.

Princípio da Representação – Aplica-se a lei do país a crimes cometidos em


embarcações ou aeronaves.

CONCURSO APARENTE DE NORMAS OU LEIS PENAIS


É sempre o concurso de normas. Por exemplo art. 131º Vs art. 133º. Hà uma
relação de especialidade entre as duas normas e aplica-se a norma especial. É
aparente precisamente porque sabe-se exactamente qual a norma aplicável.
Existem outras relações de normas (que não apenas a de especialidade – norma
especial / norma geral):
Relação de subsidiariedade (expressa, art. 152º n.1, ou tácita, art. 150º n.2) – As
normas subsidiárias relacionam-se com outras.
Relação de consumpção – (Inter-criminis) Prática de crimes relacionados em que se
é condenado por um deles. Por exemplo quando há contrafacção de moeda e
colocação da mesma em circulação. Há dois crimes. Em principio o crime punido é
o último (consunpção pura), excepto quando o primeiro é mais grave (consunpção
impura). Os bens jurídicos violados pelos sucessivos crimes têm de ser os mesmos.

CONCURSO REAL DE LEIS PENAIS


É sempre de crimes. Quando são praticados mais do que um crime.
É de dois tipos:

CONCURSO HOMOGÉNEO – Se é o mesmo ilícito várias vezes

CONCURSO HETEROGÉNEO – Se os tipos de ilícito são distintos.

CASO PRÁTICO X
Em 1 de Janeiro de 2003 entra em vigor a lei X/2003 com o seguinte conteúdo:
Considerando a existência de uma grave situação de epidemia, a confecção de ou
distribuição de géneros alimentares com compostos de aves será punida com pena
de 1 a 3 anos de prisão. Mantendo-se a presente tipificação enquanto vigorar o surto
epidémico.
Em 1 de Fevereiro de 2003 Almerinda, portuguesa, assistente de bordo em avião
português, confecciona e serve a alguns passageiros, quando o avião atravessava
espaço aéreo espanhol, uma receita de aves de caça que, com o seu conhecimento,
não se encontravam em boas condições de consumo.

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Em 1 de Abril de 2003, é publicada para entrada imediata em vigor, a lei XY/2003


que revoga a lei X/2003.
Quid Júris?

R – Aplica-se a lei portuguesa (art. 4º alínea B). O principio da territorialidade é o


primeiro da aplicação da lei no espaço. Esta alínea B do art. 4º é precisamente uma
extensão deste principio.
Além deste há o aspecto da aplicação da lei no tempo: A lei X, que é uma lei
temporária (art. 2º n.3), é a lei em vigor no momento da prática do facto (art. 3º)
logo é a lei que se aplica a este caso e não a lei nova. Assim Almerinda incorre numa
pena de prisão de 1 a 3 anos.

TEORIA DA LEI PENAL

PRINCIPIO DA LEGALIDADE – Tem como base duas coisas; a exigência de que


os normativos aplicáveis estejam devidamente aprovados e em vigor e
No direito penal o Principio da Legalidade funciona também como mecanismo de
prevenção geral.
No inicio do sec. XIX, Anselm Feuerbach – Dizia “nullum crimen, nulla poena, sine
lege” – Relaciona a previsão (o crime) da norma com a sua estatuição (pena) sendo
que ambos tem que estar previstos na lei.

No sec. XX começa a ser um postulado de garantia. Não só a generalidade dos


cidadãos conhece as normas legais como tem nelas o limite do estado de direito.
O principio da legalidade é assim também um aspecto garantistico para o cidadão.
Não há estado de direito sem principio da legalidade.

Garantias do Principio da Legalidade:


- Art. 1º do CP – “Só pode ser punido criminalmente o facto descrito (…) por lei
anterior ao momento da sua prática”. Há aqui a negação da retroactividade.

- Nullun crimen, nulla poena, sine lege previa (nenhum facto pode ser crime sem
uma lei anterior que o qualifique).

- Nullun crimen, nulla poena, sine lege certa (a norma tem que ser “suficientemente
densa” determinada com suficiente precisão, como diz o Prof. Gomes Canotilho).

- Nullun crimen, nulla poena, sine lege scripta (o costume é excluido como fonte de
directo, excepto o costume internacional).

- Nulla poena sine judicio (Não pode haver pena sem julgamento).

A RESERVA DE LEI DA AR – É mais utilizada nas questões de processo penal do


que no código penal.
É reserva da AR tanto a criminalização como a descriminalização.

A SUCESSÃO DAS LEIS PENAIS NO TEMPO

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I-------------------------------I----------------------------I
Momento Pratica Caso Julgado Fim do Cumprimento
do facto da Pena

Até que momento se deve aplicar o principio da lei mais favorável ao agente?
Há autores que consideram que deve ser até ao caso julgado.
Outros defendem que deve ser até ao fim do cumprimento da pena (Profs. Taipa de
Carvalho, Germano Marques da Silva, Cavaleiro Feirreira).

O momento da prática do facto é unanimemente definido pela doutrina (art. 3º). É o


momento em que agente actuou ou deveria ter actuado (e não o momento do
resultado).

Isto é mais simples para os crimes instantâneos (aqueles cuja actuação se desenvolve
num único momento).

Há outros crimes que é mais difícil de determinar o momento. Os crimes duradouros


e crimes continuados. Quer nuns quer noutros a execução protela-se no tempo e o
momento da prática será qualquer um entre o início e o termo da acção.

Nos crimes duradouros a acção protela-se no tempo por unidade natural (o crime de
sequestro, por exemplo).

Nos crimes continuados a acção (art. 30º) protela-se no tempo através da realização
sucessiva do mesmo tipo de crime ou de vários tipos de crimes.

Crimes duradouros são os chamados crimes duradouros (o sequestro, por exemplo)

Só há sucessão de leis no tempo quando o facto é criminalizado quer pela lei antiga
quer pela lei nova.

A regra é a da aplicação da lei mais favorável ao agente.

Direito Penal Internacional – Trata da aplicação da lei penal extra-territorial a Portugal.


(é a possibilidade de nós julgarmos determinados factos que foram praticados no
estrangeiro). É basicamente o artigo 5º e 6º do CP.

Direito Internacional Penal – Conjunto de normas remissivas para os ordenamentos


nacionais (tal como o direito internacional privado). Resulta dos tratados e convenções
internacionais. O Tribunal Penal Internacional é supletivo relativamente aos tribunais
nacionais; só julgará se o tribunal interno o não fizer.

TEORIA GERAL DA INFRACÇÃO PENAL ou teoria geral do crime

É a forma doutrinal para depois o interprete ser capaz de aplicar os diferentes tipos de
crime aos factos ilícitos.
São as regras para fazer a subsunção da parte especial do CP aos factos ilícitos puníveis.

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ELEMENTOS ESSENCIAIS DA ACÇÃO:


Ser humana e dominada pela vontade…

CLASSIFICAÇÃO DE CRIMES

TIPICIDADE

CASO PRÁTICO XIII


Álvaro, adversário politico de Belmiro, ao vê-lo na rua a passear, agarra num taco de
basebol e desfere-lhe uma violenta pancada na cabeça. Belmiro morre imediatamente.
Quid Júris?
R - Trata-se de um crime de Resultado, logo tem de estabelecer-se a relação entre a
acção e o efeito – saber se há nexo de causalidade. É preciso fazer a imputação
objectiva – atribuir a responsabilidade de determinado evento à acção de alguém (é isto
que caracteriza um crime de resultado – que tem um resultado espaço-temporalmente
distanciado da acção do agente).
Como se faz a imputação objectiva?
Há várias teorias (3):
1 – Teoria da equivalência das condições (conditio sine qua non – condição sem a qual
não existe) – Há imputação objectiva quando o agente dá a causa sem a qual não
existiria o resultado/crime. Esta teoria tem um problema, não é segura. há sempre uma
cadeia de condições até ao resultado.
2 – Teoria da Causalidade Adequada – Não é qualquer causa que pode servir para
estabelecer a imputação objectiva. Não é qualquer causa, é a causa apta (conceito de
aptidão). Ou seja; aquela que é determinada pela Prognose Póstuma. Aquela que se
afigura a causa previsível, para o homem médio e tendo em conta os conhecimentos do
agente, do resultado verificado.
3 – Teoria

CASO PRÁTICO XIV


Alberto participou num jantar de natal de turma tendo ingerido diversas bebidas
alcoólicas. No regresso a casa, de automóvel, foi mandado parar por um agente da PSP,
que após ter efectuado teste do balão, lhe detectou uma taxa de 1.4 gramas de
alcoolemia por litro de sangue.
Quid Júris?
R – Trata-se de um crime de Mera Actividade (ou crime formal). O tipo preenche-se
com a simples actuação do agente.

CASO PRÁTICO XIV A


E se Alberto tivesse, momentos antes, batido noutro veiculo?
R – Existe uma acção jurídico-penalmente relevante (porque Alberto quando se
embriagou sabia que ia conduzir – actio liber in causa – Acção Livre na Causa), Há
tipicidade (art. 212º CP – Crime de Dano – um crime de resultado). Tem de ser feita a
Imputação Objectiva (atribuir o dano à acção do agente) – teoria da causalidade
adequada - causa apta a produzir o resultado verificado – verifica-se através da técnica
prognose póstuma.
Em conclusão Alberto praticou um crime de dano.

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Mas praticou também um crime de condução sobre efeito do álcool (art. 292º) na forma
simples (sem colocar em perigo a vida ou integridade física de outrem).
Há um concurso de crimes.

CASO PRÁTICO XV
Álvaro odiava o seu tio Belarmino. Sabendo que poderia vir a ser o seu único herdeiro
ofereceu-lhe um bilhete de avião na esperança de que Belarmino morresse.
Na viagem de regresso a Portugal o avião cai e Belarmino morre.
Quid Júris?
R – Há acção. Mas a oferta do bilhete é a causa apta a produzir o resultado? Não. Mas
há aqui um risco que tem de ser analisado.

Por isso há também a Teoria do Risco – Quem cria o risco também deve ser
responsabilizado. O risco terá de ser adequado em termos sociais. (Há riscos assumidos
pela ordem jurídica, como andar de carro ou de avião). Tem de ser um risco não
permitido pela ordem jurídica. Quando o agente cria, aumenta ou não diminui um risco
não permitido pela ordem jurídica. Para determinar se o risco é ou não permitido pela
ordem jurídica é necessário utilizar um critério de adequação social.

CASO PRÁTICO XVI


António disparou um tiro contra Belmiro com intenção de o matar. Uns minutos depois
Carlos que observou a acção de António, chamou uma ambulância. Diniz condutor da
ambulância, levou Belmiro mas antes de chegar ao hospital fez uma curva com tal
velocidade que a ambulância caiu por uma ravina. Belmiro morreu, Diniz sobreviveu.
Quid Júris?
R-

AS FONTES DA POSIÇÃO DE GARANTE


São fontes formais e de três ordens:
1 - Fonte legal – Imposta pela ordem jurídica (Exemplo; o dever do pai em relação ao
filho).
2 - Fonte contratual – Nasce de um contrato
3 - Posição de ingerência – Quando o agente cria um perigo para o bem jurídico fica
numa posição de garante do bem (exemplo; quando alguém faz uma queimada fica
obrigado a prevenir, evitar ou combater o incêndio).

A Doutrina e a Jurisprudência vêem a criar as SITUAÇÕES MATERIAIS DE


GARANTE. Porque há casos em que as situações formais de garante não chegam para
resolver os casos. Porque há casos em não há posição específica de garante mas, ainda
assim, pode sustentar-se a existência de um homicídio em vez de apenas uma omissão
de auxílio.
Se a vida da vítima depende única e exclusivamente do agente este passa a ter uma
posição específica de garante em vez de uma posição genérica de garante.

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Um exemplo de uma fonte material: Quando alguém recebe filhos de amigos em casa e
ao gerar-se uma situação em que é necessário actuar. O dono da casa tem uma situação
específica de garante.

CASO PRÁTICO
António e Bento foram escalar uma montanha. Bento caiu e partiu um pé. António viu
mas decidiu seguir caminho. Bento foi encontrado morto ao fim de 48 horas.
Quid Júris?
R – Há uma omissão de António, que tinha uma posição especifica de garante, ao nada
fazer para auxiliar Bento, sendo que só ele o poderia fazer.
Há jurisprudência que defende que há uma solidariedade em práticas de risco, que o
facto de queremos fazer a escalada em grupo em vez de irmos sozinhos implica uma
solidariedade entre os elementos participantes.

TEORIA GERAL DA INFRACÇÃO CRIMINAL

Há um FACTO CONCRETO e uma HIPÓTESE LEGAL. É preciso fazer uma


SUBSUNÇÃO que permita aplicar a hipótese legal ao facto concreta.

A subsunção faz-se através de 5 elementos:


1 – Acção – Comportamento socialmente relevante dominável pela vontade. Há três
doutrinas principais:
- Conceito Causal - Comportamento humano dependente da vontade que produz
determinada consequência no mundo exterior. Implica sempre a intenção do agente logo
não pode explicar a omissão. Além disso, tratando-se de um conceito demasiado amplo,
não permite uma imputação correcta na medida em que corresponde a uma
responsabilização ad infinitum.
- Conceito Finalista – A teoria defende que o agente age sempre com uma determinada
finalidade. Existe também uma má relação com a omissão.
- Conceito Social – Parte do principio do comportamento socialmente relevante,
voluntário. Uma outra vantagem deste conceito é permitir expurgar acções ou
comportamentos que não interessam para o caso.

2 – Tipicidade – Previsto num tipo legal. Existem dois tipos de imputação; a objectiva
(adaptarmos o conceito de causalidade adequada para saber se o facto é imputável ao
agente do ponto de vista objectivo ao agente, despido da intenção do agente) e a
subjectiva (avaliar a intenção do agente no sentido de apurar se houve dolo ou apenas
negligencia).

3 – Ilicitude – Conduta condenável pela ordem jurídica como um todo, sem causas de
justificação. Mesmo que seja típica a acção pode ser lícita. Pode existir uma causa de
justificação. Como por exemplo a legitima defesa.

4 – Culpabilidade – Censurável. Sem causas de exclusão da culpa.

5 – Punibilidade – Preenche as condições de punibilidade.

A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA TEORIA DO ILÍCITO PESSOAL

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Há várias teorias:

TEORIA CLÁSSICA (Teoria de Liszt / Beling) Surgiu nos finais do sec. XVII e
vigorou até ao sec. XIX – Baseava-se nos quatro elementos. A acção era o movimento
corpóreo, um movimento corporal dentro do movimento mecanicista. (Não servia para a
omissão). A tipicidade era a discrição objectiva da própria conduta. (Não há elementos
subjectivos mas apenas objectivos). A ilicitude era vista do ponto de vista objectivo (a
intenção do agente não interessava). A culpabilidade era o único elemento que
concentrava todos os elementos subjectivos. Logo a culpa tinha duas modalidades: o
dolo e a negligência.
A teoria admitia os incapazes de culpa.

TEORIA NEOCLÁSSICA - (surgiu nos anos 1920). Também conhecida como filosofia
dos valores. Não rompe completamente com a teoria clássica. Antes adapta os seus
conceitos.

CASO PRÁTICO
Alberto decidiu atentar contra a vida de Belmiro enquanto este se encontrava em
viagem de comboio de Lisboa para Coimbra. Introduzindo-se na carruagem onde aquele
seguia, apontou uma arma e disparou dois tiros mortais, 30 segundos depois, em
consequência de um desvio da linha férrea, houve um descarrilamento no qual todos os
passageiros com excepto Alberto, perderam a vida.
R – Há aqui um crime de dano (e não apenas um crime de perigo), um crime de
resultado (evento que se destaca espacio-temporalmente da acção do agente), em que é
possível a imputação a Alberto. É preciso analisar a causa-efeito, uma vez que se trata
de um crime resultado. Logo terá de aplicar-se a teoria da causalidade adequada.
A questão está em saber, também, se é razoável acusar Alberto de homicídio quando
Belmiro teria morrido mesmo sem a sua acção. É que poderá haver uma interrupção ou
desvio do nexo-causal.
Não é este o caso.
Estamos perante a irrelevância das causas virtuais e hipotéticas.

Nos crimes de perigo (aqueles em que há apenas a susceptibilidade da lesão de um bem


e não a lesão efectivamente) temos:

Crimes de Perigo Abstrato – São os aqueles em que não é preciso provar a efectiva
colocação dos bens em perigo. (Exemplo; a condução sob o efeito do álcool).

Crimes de Perigo Concreto – É indispensável provar a efectiva colocação de um bem


em perigo. (Exemplo; art. 138º).

Crimes de Perigo Abstrato / Concreto – Quando os meios são de tal forma perigosos que
é de esperar que alguém fique efectivamente em perigo. Há quem defenda que existe
este tipo de crimes de perigo. O exemplo mais apontado é o da propaganda ao suicídio –
art. 139º).

Crimes de Perigo Singular – Quando está em causa apenas um único bem jurídico.

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Crimes de Perigo Comum – Quando estão em causa vários bens jurídicos.


Exemplo de norma proibitiva de Crime de Perigo Abstrato:
- Quem transportar explosivos mal acondicionados é punido com pena de prisão até 2
anos ou com pena de multa até 240 dias.

Exemplo de norma proibitiva de Crime de Perigo Concreto:


- Quem transportar explosivos mal acondicionados, colocando em perigo a vida de
outrem, é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa até 340 dias.

CASO PRÁTICO
Alberto, funcionário judicial, decidiu emprestar ao seu filho um veiculo automóvel,
propriedade do tribunal onde exerce funções, para que aquele tivesse carro no fim-de-
semana.
Quid Júris?
R – Há uma acção jurídico-penalmente relevante (comportamento humano dominável
pela vontade). É um crime tipificado – Peculato de Uso, art. 376º. É um crime de mera
actividade (crime formal). Não é necessário fazer imputação objectiva. Basta alguém ter
emprestado o carro para que se preencha o tipo.
Estamos perante um caso de crime especifico próprio.
No entanto, neste caso, é preciso ver a qualidade do agente. Há dois tipos de crimes
quanto à qualidade do agente:

Crimes Comuns - Aqueles que qualquer pessoa pode praticar. Exemplo, o homicídio
simples. Quase sempre quando a norma começa por “quem…” são crimes comuns.

Crimes Específicos – Aqueles em que se exige uma qualidade para que haja tipo.

Crimes Específicos Impróprios – Qualquer pessoa pode praticar mas se detiver uma
determinada qualidade a moldura penal será diferenciada.

CASO PRÁTICO
Anabela queria conhecer a casa de Barreiros, conhecida estrela. Para tal e usando o seu
cartão de funcionária das finanças, decidiu dirigir-se à residência de Barreiros,
indicando que estaria em funções de investigação e, mesmo contra a vontade do
proprietário, entrou.
Quid Júris?
Imagine que em vez de Anabela tinha sido o seu marido, que é pedreiro por conta
própria, a entrar.
R – Há uma acção. Um crime formal, especifico impróprio (art. 378º). È um crime
comum (pode ser praticado por qualquer pessoa – a violação de domicilio) art. 190º n.1.
O facto de ser praticado por um funcionário público em abuso de autoridade agrava a
responsabilidade / pena.
R 2 – No caso de ser o marido de Anabela, aplica-se o n.1 do art. 190. Nesse caso é um
crime comum.

Ver art. 136º


É crime especifico próprio, impróprio ou crime comum?

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ESTRUTURA DE TIPO DE ILICITO

É necessário considerar dois conceitos:

BEM JURÍDICO – Valor ideal da ordem social que está juridicamente protegido. (A
vida, por exemplo, a propriedade, a vida intra-uterina).

OBJECTO DA ACÇÃO – É aquilo a que se dirige a acção do tipo criminal. (No caso de
homicídio, o objecto da acção é uma pessoa em concreto). (No crime de furto o objecto
é a coisa móvel alheia).

Estes conceitos interessam para a definição material de crime por forma a agrupar os
tipos que visam tutelar os diversos crimes.
Na definição material de crime o conceito de bens jurídicos vai definir uma hierarquia.
O conceito de bem jurídico é muito importante também ao nível interpretativo e ao nível
dogmático. Neste último aspecto é importante para avaliar a causa de exclusão da
ilicitude ou a causa de exclusão da culpa.

O objecto da acção é importante para distinguir os vários estádios do cometimento do


crime. Mais especificamente para distinguir a tentativa da consumação. Na tentativa
temos todo o desvalor da acção. Na consumação temos…

GÉNEROS DOS TIPOS DE CRIMES

CRIMES DOLOSOS POR ACÇÃO:

CRIMES FORMAIS (não há qualquer evento, o que há é uma conduta) E MATERIAIS


(existe um evento de que depende a consumação).

CRIMES DE MERA ACTIVIDADE – Condução sob o efeito do álcool.

CRIMES DE RESULTADO – O Homicídio

CRIMES DE PERIGO – Quando NÃO HÁ uma efectiva lesão do bem juridico


Há os Crimes de Perigo Abstrato (o perigo funciona apenas como pressuposto ou
motivo da incriminação, podendo não haver uma situação realmente perigosa. Por
exemplo o perigo de posse de armas proibidas. Estes crimes são reduzidos ao mínimo
no código penal porque normalmente são punidos ao nível da contra-ordenação); os
Crimes de Perigo Concreto (o perigo é um pressuposto ou motivo da incriminação
mas também o resultado. Por exemplo o crime de exposição ao abandono) e os Crimes
de Perigo Abstrato-Concreto (têm elementos dos outros dois tipos de crimes. O
pressuposto é o perigo mas, ao contrário do concreto, o perigo não é o resultado do
evento, no entanto não basta apenas o crime abstrato para a incriminação. É então
quando o perigo resulta da própria acção-tipo. Resulta de meios particularmente
perigosos. Por exemplo, o crime de propaganda do suicídio).

CRIMES DE DANO – Quando HÁ uma efectiva lesão do bem juridico

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Nem sempre os crimes de dano são um crime de resultado.

CRIMES COMUNS – Os que podem ser cometidos por qualquer pessoa.

CRIMES ESPECÍFICOS – Os que só podem ser cometidos por determinadas pessoas.


Por exemplo o infanticídio.
Os crimes específicos podem ser PRÓPRIOS (só podem ser cometidos por uma
determinada pessoa. Exemplo; crime de prevaricação de advogado ou solicitador) e
IMPRÓPRIOS (podem ser praticados por qualquer pessoa mas se o forem por certas
pessoas a moldura penal é agravada. Exemplo; o crime de violação de domicilio por
funcionário).

CRIMES PERMANENTES – Os que se executam num período não limitado de tempo.


Exemplo; o crime de sequestro. O crime permanece ao longo de todo o tempo em que
decorre o sequestro.

CRIMES DE PERIGO COMUM (não confundir com os outros tipos de crimes de


perigo) – São os do art. 272º - Incêndios, explosões… que ameaçam uma multiplicidade
de interesses jurídicos.

CASO PRÁTICO
Manuel Triste, republicano fervoroso, descobre que D. Isabel Herédia está grávida e,
furioso, resolve “acabar com o problema”. Para tal observa os hábitos da senhora perto
da sua residência e , sabendo que alguns dias é a própria que conduz, decide colocar
explosivos na viatura. A caminho da cafetaria onde ia habitualmente, o carro explode e
morre D. Isabel, grávida de 18 semanas, e o motorista.

R – Manuel Triste é autor da prática de vários crimes previstos e punidos pelo CP.
Comecemos por atender ao crime de homicídio de D. Isabel de Herédia, que
entendemos constituir um Crime de Homicídio Qualificado, nos termos da alínea E do
n.2 do art. 131 do CP e uma vez que, de acordo com a teoria da infracção penal se
verifica a existência de todos os elementos necessários a tal incriminação.
Nomeadamente:
- Há acção – um comportamento humano dominável pela vontade tendente a atingir
uma finalidade.
- Há um crime tipificado – Foi ofendido o bem jurídico vida, com o dano morte, o que
prefigura um crime de resultado,
(Sendo um crime de resultado é necessário fazer a imputação objectiva) – Atribuir
aquele resultado à acção ou omissão de alguém. Neste caso à acção de Manuel Triste. É
preciso estabelecer um nexo de causalidade. Assim, de acordo com a teoria da causa
apta a produzir aquele resultado – através da técnica da prognose póstuma (que consiste
em ser ou não “previsível para o homem médio que a colocação daquela bomba no
automóvel iria causar aquela morte”).
Além desta, há outras teoria, nomeadamente a de sine qua non (afastada pela doutrina),
e a teoria do risco.
Trata-se de um crime de agente comum, de forma livre.

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Em termos de imputação subjectiva, de acordo com o art. 14º n.1, trata-se de um crime
praticado por dolo directo uma vez que tanto o elemento cognitivo como o volutivo são
muito fortes.
É preciso ver ainda:
A ilicitude
E a culpa
Ainda não aprendemos ambas.

Em relação à morte do motorista, em termos de imputação objectiva o caso é igual ao de


Isabel de Herédia. Já quanto à imputação subjectiva há diferenças relevantes. Neste caso
trata-se de dolo eventual uma vez que os elementos cognitivo (ele não sabia que o
motorista iria morrer embora soubesse que assim pudesse acontecer) e volitivo (não
queria que o motorista morresse mas conforma-se com a possibilidade de isso
acontecer) são muito fracos.
Embora neste caso exista “apenas” dolo eventual o tipo é igualmente crime de
homicídio qualificado uma vez que a motivação é da mesma forma o ódio politico.
Seria a mesma coisa, em relação à motivação, se em vez de dolo eventual fosse dolo
directo ou dolo necessário.

Há ainda a ver o aspecto de D. Isabel de Herédia estar grávida.


Trata-se de um crime de aborto (art. 140º do CP), um crime de resultado, crime de dano,
e, fazendo-se a imputação objectiva é importante o facto de o agente saber que a
senhora estava grávida. O agente sabia que o explosivo era apto a produzir a morte do
feto. Em termos de imputação subjectiva, existe dolo directo uma vez que os elementos
cognitivo e volitivo eram muito fortes. O agente sabia que o feto iria morrer e queria
esse resultado.
Se o agente desconhecesse que a senhora estava grávida seria um caso de negligencia
inconsciente. Neste caso o agente não seria responsabilizado pela morte do feto porque
o crime de aborto na forma negligente não está tipificado.

Além de tudo isto há aqui também um perigo de explosão. Crime de perigo comum (art.
272º).

CASO PRÁTICO
António, irritado com Bernardo, dá-lhe um murro no nariz provocando-lhe uma
escoriação. Contudo, e uma vez que Bernardo era hemofílico, ficou com uma
hemorragia que não estancou acabando por falecer.
Quid Juris
R – Há acção (comportamento humano dominável pela vontade), tipicidade (ofensas à
integridade física – art. 143º), é um crime de resultado, logo teremos de fazer a
imputação objectiva:
De acordo com a teoria da causalidade adequada, a acção é adequada a produzir o
resultado.
Em termos de imputação subjectiva, o elemento cognitivo (sabia que aquela agressão
produzia uma dano físico) e volitivo (queria produzi-la) são fortes, logo existe dolo
directo. Acontece que, com a morte, o crime é agravado pelo resultado (art. 18º). É um
crime que “vai para além da intenção” (Crimes Praeter Intecionais).

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Um crime agravado pelo resultado tem dois resultados:


1 – Que deriva da acção do agente
2 – que deriva do primeiro resultado.
Nestes casos é necessário estabelecer um duplo nexo causal:
1 – Entre a acção e o resultado
2 – Entre o primeiro resultado e o segundo resultado.
Através deste exercício podemos concluir que a acção, em termos objectivos, foi apta a
produzir o resultado morte.
Em termos de imputação subjectiva; há dolo em relação ao primeiro resultado e
negligencia em relação ao segundo resultado. É um crime agravado pelo resultado (art.
18º). Neste caso de ofensa à integridade física agravada pela morte (art. 145º). É preciso
provar que o agente foi pelo menos negligente em relação ao segundo resultado.

TEORIAS DA IMPUTAÇÃO SUBJECTIVA (Aplica-se apenas nos crimes de


resultado):

- TEORIA DA CONDICTIO SINE QUA NON (Ou da equivalência das condições) –


Primeira das teorias. É causa de um fenómeno todo aquele outro fenómeno sem cuja
existência ele também não teria existido, sendo o primeiro consequência do segundo.
Chama-se também teoria da “equivalência das condições” porque todas as condições de
um fenómeno se equivalem, ou seja, basta que seja retirada uma única delas para que o
fenómeno deixe de produzir-se.
É a teoria mais próxima das ciências naturais.
Mas como é que se percebe a relação causal) – Com o recurso a um juízo hipotético de
eliminação de uma fenómeno e concluir então se assim, sem esse fenómeno, o segundo
fenómeno se produziria. (Por exemplo, tendo A dado um tiro a B, poderemos fazer o
seguinte juízo: se A não tivesse dado o tiro B não teria morrido).
A principal critica a esta teoria é o número infinito de causas que figuram sempre para
cada fenómeno.
Além disso esta teoria poderia conduzir a responsabilização objectiva.
(Por exemplo, se A dá um murro a B e este morre por sofrer uma traumatismo craniano
em consequência da queda, o fenómeno murro, nesta teoria, seria a causa da morte,
quando na realidade não é assim. O agente seria responsabilizado pela morte em vez de
ser responsabilizado pelo murro, apesar de não ter tido intenção de matar).
Outro exemplo dos defeitos desta teoria é o das autorias comulativas, ou seja, se César
foi assassinado com 23 punhaladas, poder-se-ia ilibar alguns dos assassinos se
considerasse-mos que as outras punhaladas eram suficientes para provocar a morte.
É portanto uma teoria demasiado ampla, que não distingue entre as várias condições
aquelas que são relevantes do ponto de vista penal e ainda porque, em algumas
situações, não é suficientemente restrita.

- TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA – O conceito de causa é idêntico ao da


teoria anterior (a relação entre o primeiro e o segundo fenómeno). A diferença é que
nesta teoria só a acção adequada (apropriada) é que é relevante para efeitos de direito
penal. A acção adequada é encontrada através do Juízo de Prognose Póstuma. Um
sujeito dispara contra uma pessoa, matando-a. O juiz terá de observar se “era previsível
a um homem médio, colocado no lugar do agente, que em virtude do tiro a vitima
morresse”. É a esta técnica que se chama teoria da adequação.

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Esta técnica tem o “defeito” de não puder aplicar-se nos casos em que estão em causa
conhecimentos específicos por parte do agente. Por exemplo, um médico conhecedor de
venenos raros, pode prever que determinada substancia provoca a morte apesar de o
homem médio não o poder saber.

TEORIA DA RELEVÂNCIA – Considera o conceito de causa e restringe-o pela análise


do tipo de homicídio. Os resultados desta teoria são muito semelhantes aos da teoria da
causalidade adequada. mas não encara o crime em concreto mas em abstracto. É mais
casuística em relação à consequência do que a anterior.
Um individuo recebe uma bala próxima do coração. A teoria da condição sine qua non
só demonstra que a bala foi disparada por um determinado individuo (mas só por isso
não se pode sustentar que se trate de um homicídio tentado).

- TEORIA DO RISCO (estudar Klaus Roxin) – É uma melhoria da teoria da


causalidade adequada e funciona como complemento desta.
O resultado pode ser imputado a alguém quando ele cria, aumenta ou não diminui o
risco proibido que se concretiza no resultado obtido.
A teoria do risco trabalha em 7 tópicos que não são convenientemente tratados pela
teoria da causalidade adequada:
1 – Os casos de “diminuição do risco”. Exemplo: A dispara sobre B, pretendendo
atingi-lo na cabeça, isto é, mata-lo. Mas C está próximo de B e dá-lhe um empurrão em
resultado do qual B cai e sofre uma ofensa corporal. Esta ofensa corporal significa uma
diminuição do risco para o bem jurídico tutelado. Não haveria imputação objectiva das
ofensas corporais infringidas a B por C.
2 – Os “cursos causais hipotéticos”. É o trajecto que não se materializa mas que
noutras condições ou circunstâncias se teria materializado. Exemplo: A e B administram
cada um por si um veneno a C. C acaba por morrer por haver ingerido o veneno
ministrado por A. Mas vem a provar-se que C mesmo que não tivesse ingerido o veneno
de A teria morrido na mesma. A causa real é o veneno ministrado por A a causa
hipotética é o veneno ministrado por B.
A teoria da adequação teria grandes dificuldades em responder a esta situação porque
mesmo sem uma causa haveria o resultado. Para este caso é preciso lançar mão do curso
causal hipotético para demonstrar que os dois agentes podem ser responsáveis pela
morte da vitima.
A seria responsabilizado por crime de homicidio e B por crime de tentativa de
homicídio. Neste caso o risco era proibido.
3 – Casos em que há “Risco não proibido”. Há casos em que o risco não é proibido.
Exemplo: A, herdeiro de B, compra um bilhete de avião para oferecer a este na
esperança de que o avião caia. A intenção de A é que o avião caia, embora não faça nada
para que o avião caia. A teoria da causalidade adequada poderia imputar a morte a quem
comprou o bilhete mas comprar o bilhete não é um Risco Proibido.

4 - Resultado que cai fora do âmbito de protecção da norma. É a chamada


interrupção do nexo causal. (O Dr. Lince de Faria prefere resolver os casos pela
interrupção do nexo causal). Exemplo: A dispara um tiro contra B que cai no chão a
esvair-se em sangue mas que, enquanto ainda está viva é atingida por um raio que lhe
causa morte imediata. Nesta situação não há imputação objectiva. Há uma interrupção
do nexo causal. O resultado fica fora do âmbito de interpretação da norma.

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5 – Nos (apenas) crimes negligentes, os “casos dos comportamentos lícitos


alternativos”. Mesmo que o agente tivesse agido sem negligência o resultado danoso
ter-se-ia provavelmente produzido. Exemplo: o agulheiro dos caminhos-de-ferro
engana-se e provoca o choque entre dois comboios. Em princípio seria responsável por
vários homicídios por negligencia. Mas vem a provar-se que, mesmo sem o erro, na
outra linha também circulava uma composição em sentido contrário e também haveria
acidente. Esta situação é suficiente para que o agente não seja responsabilizado.

6 – Caso da “constituição anormal da vitima”. Exemplo: Um arranhão não é causa


adequada para provocar a morte. No entanto, num hemofílico, pode provocar a morte.
Se o agente conhecer a condição anormal da vitima é responsabilizado por esta teoria.

7 – “Crimes agravados pelo resultado”. Tem dois resultados: o resultado mais grave e
o resultado menos grave. O primeiro resultado é a título de dolo (a agressão por
exemplo) e o segundo resultado a título de negligência (a morte resultante da agressão).
Exemplo: A dá uma bofetada a B e este morre. Para haver uma imputação objectiva da
morte a A é preciso provar um duplo nexo causal: entre a acção e o primeiro resultado e
entre o primeiro resultado (a bofetada) e o segundo resultado (a morte).
A teoria do risco diz-nos que a bofetada não é passível de morte da vitima. O perigo
representado pela bofetada não é passível de concretização em morte da vitima.

Em conclusão, destes 7 tópicos os mais importantes são:


- A diminuição do Risco
- Os cursos causais hipotéticos
- O risco não proibido
- Resultado fora do âmbito de protecção da norma (interrupção do nexo causal)
- Comportamento licito alternativo para os crimes negligentes

Para os casos de constituição anormal da vitima basta saber se o agente conhece ou não
essa condição da vitima. Não é preciso aplicar a teoria.

O ERRO – Falsa (ou deficiente) percepção da realidade. A melhor maneira é distinguir


entre erro-ignorância e erro-suposição.

ERRO IGNORÂNCIA – É o único verdadeiramente tratado como erro em direito penal.


(Um caçador que mata outro pensando que disparava sobre uma peça de caça encoberta
pelos arbustos). Há um erro sobre elementos de facto, essenciais para preencher o tipo.
Há um desconhecimento (uma ignorância) sobre elementos de facto (ou de direito). Este
erro está no art.16º do CP. Este erro exclui o dolo mas não a negligência.

ERRO SUPOSIÇÃO – Chama-se também Tentativa Impossível. Art 23º n.3. (Um
caçador vê um movimento atrás do arbusto, quer matar o outro caçador, e dispara,
matando o cão de outro caçador). O caçador esta em erro. Um erro suposição. Ele supõe
que está lá uma pessoa, fica convencido que está a praticar um homicídio, mas está em
erro porque não está lá a vida humana. Este erro é uma tentativa impossível e não é
punível pelo direito penal.

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CASO PRÁTICO
António decidiu matar Bernardo. Ao ver na rua principal da cidade passar um homem
com a estatura de Bernardo e convencido de que seria ele, António disparou
mortalmente. Contudo o homem em quem acertara era Cardoso.
Quid Iuris?

R – Há uma acção jurídica e penalmente relevante, o bem jurídico é a vida, logo existe
um crime de homicídio. A conduta do agente foi adequada a produzir a morte da vitima.
Há aqui, no entanto, um erro ignorância, quanto ao objecto, mas não quanto ao bem
jurídico, logo o erro é irrelevante. Quando se trata de bens jurídicos idênticos o erro
ignorância é irrelevante. António seria punido por um crime de homicídio. E o dolo é
directo.

Exemplo de “ultrapassagem” do risco permitido:


Um industrial alemão fabricava pincéis com pelos de cabra. Esses pelos exigiam um
desinfectante especial porque senão poderiam provocar a morte de quem os manuseasse.
O industrial não usou o desinfectante e quatro funcionárias morreram.
O tribunal considerou que o industrial era responsável pelas mortes. O risco era superior
ao permitido.

Em Portugal a teoria dominante é a da causalidade adequada. Deve-se ao Prof.


Figueiredo Dias ter introduzido na nossa doutrina a teoria do risco.
Os mentores da escola de Lisboa (Prof. Cavaleiro Ferreira) e da escola de Coimbra
(Prof. Eduardo Correia) acolheram a mesma corrente.
No fundo é a corrente que tem como principal referencia internacional o Prof. Klaus
Roxin.

O DOLO (Art. 14º do CP)


Neste artigo estão previstas três modalidades de dolo:

- DOLO DIRECTO – Implica elemento Cognitivo (consciência da possibilidade da


acção produzir o resultado) e Volitivo (vontade de produzir o resultado).

- DOLO NECESSÁRIO – Implica elemento Cognitivo mas menos do elemento


Volitivo.
- DOLO EVENTUAL – Implica menos do elemento Cognitivo e menos do elemento
Volitivo.

A figura do dolo teve origem no direito romano onde era a responsabilidade pela
provocação de um resultado (ora isto é mais culpa do que dolo).
O direito germânico era muito mais objectivista. O que interessava era a imputação
objectiva de um dano ao agente. Saber se tinha culpa ou não era menos importante.

DOLO – É o conhecimento e a vontade da realização do facto típico. O prof. Figueredo


Dias inclui ainda, além dos elementos intelectual e volitivo, um elemento emocional: “a
atitude do agente em relação à norma jurídica violada”.

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Os outros autores como a Dra. Teresa Beleza, Prof. Rui Pereira e Prof. Rui Palma, não
concordam. Consideram só existirem os dois primeiros elementos.

- O ELEMENTO INTELECTUAL ou COGNITIVO – É o conhecimento de todos os


elementos da factualidade típica. Exemplo de elementos da factualidade típica: No
crime de homicídio o elemento da factualidade típica é uma pessoa viva. No crime de
furto é o bem alheio.

- O ELEMENTO VOLITIVO, da vontade – A resolução de executar a acção típica pelo


agente. Tem que haver uma base de vontade mínima e isso não tem nada a ver com uma
ilusão, um desejo ou uma esperança.

DOLO ANTECEDENTE existe uma intenção prévia do agente que não tem nada a ver
com a acção. Exemplo: A quer matar B e vai planear um acidente de caça para o matar.
Mas acaba por não executar o plano. No entanto, por uma circunstancia negliegente,
acaba por matar o outro. Neste caso o dolo não tem efeitos.

DOLO CONSEQUENTE – Exemplo: A dispara contra B. A não promove o seu auxilio


e B morre por se esvair em sangue. São duas coisas distintas. O dolo reporta-se à
omissão ausente.

A NEGLIGENCIA (Art. 15º)

Consciente e inconsciente são modalidades de negligência (não são graus).

CAUSAS DE JUSTIFICAÇÃO (OU DE EXCLUSÃO DE ILICITUDE)

As causas de justificação ultrapassam o Código Penal. Algumas estão fora do direito


penal.

Para o Prof. Cavaleiro de Ferreira as causas de justificação integravam apenas


elementos objectivos e nenhum elementos subjectivos.

Hoje a doutrina (por exemplo o Prof. Figueiredo Dias) entende que as causas de
justificação integram também elementos subjectivos. O Prof. Figueiredo Dias entende
que a lógica do 38º n.4 pode ser aplicado analogicamente a todas as outras situações de
justificação.
O CP não responde directamente. Mas indirectamente o n.4 do art. 38º diz-nos que o
elemento subjectivo é importante para esta causa de justificação. Por exemplo; na
legitima defesa, A vai agredir B, porém B ignora que A o vai agredir e por sua vez
agride A. Estamos perante um pressuposto de legitima defesa, o problema é que A
ignora essa situação, logo A não pode invocar a legitima defesa. Falta o elemento
subjectivo.

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Para o Prof. Cavaleiro Ferreira o não saber que ia ser agredido não era importante. O
que interessava era haver objectivamente uma situação de legitima defesa. Havia então
uma actuação justificada.

Em conclusão, para uma teoria que defende os elementos subjectivos, o conhecimento é


essencial nas situações de causas de justificação.

O Prof. Rui Pereira considera que não há causas de justificação sem elementos
subjectivos. Invoca razões sistemáticas, com base na teoria do ilicito pessoal (da teoria
do crime): a acção comporta um elemento finalista. Se a acção é tendencialmente
finalista como é que podemos agir para repelir uma agressão se não sabemos que o
outro nos vai agredir? Isto quer dizer que para actuar em legitima defesa o agente tem
que ter conhecimento da intenção do outro.
Todas as causas de justificação tem pelo menos o elemento intelectual presente (o
conhecimento). Nalgumas existe também o elemento volitivo.

Os elementos subjectivos são:


- Elemento intelectual (o conhecimento)
- Elemento volitivo (o querer)

Causas de Justificação:
- O consentimento (art. 38º) - obriga ao conhecimento – Elemento intelectual
- A legitima defesa - obriga ao conhecimento e ao animus defendendi – Elementos
intelectual e volitivo

Art. 38º n.4 – Porque é que agente neste caso não é punido pelo crime mas apenas pela
tentativa?
R – Porque existe uma semelhança com a tentativa (na tentativa existe uma intenção do
agente mas o resultado não se vem a verificar). A causa de justificação não vai interferir
na intenção do agente (que nem tem conhecimento), vai é retirar a consumação do
crime. É que se existe consentimento, a vitima já está à espera. Por exemplo, se a vitima
gosta de levar estalos, embora o agente não saiba disso, a vitima já está à espera de levar
o estalo e até aprecia. Logo não há consumação do crime. É por isso que nestes casos a
acção é punida como tentativa. (o consentimento, no entanto, só é admitido para certos
crimes. Não se admite quando estão em causa bens indisponíveis, como a vida, por
exemplo).
Em conclusão: o resultado é justificado (é consentido pela vitima) a intenção é que não
é justificada (porque não havia conhecimento do agente), logo é a intenção que é punida
como tentativa.

A Ilicitude tem dois desvalores:


- Desvalor da acção
- Desvalor do resultado

Com o consentimento fica justificado o desvalor do resultado. Logo só a tentativa


(desvalor da acção) é punida.

Sempre que a causa de justificação contenha apenas o elemento intelectual aplica-se o


38º n.4.

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No caso da legítima defesa é diferente porque estão em causa dois elementos


subjectivos (intelectual e volitivo).
Para o Prof. Figueiredo Dias esta lógica do 38º n.4 poderia ser aplicada à legitima
defesa e o agente deveria ser punido apenas por tentativa (em caso de A agredir B sem
saber que este ia agredi-lo).

No caso da Legitima Defesa Objectiva (quando o agente não sabe que ia ser agredida),
há quem defenda a aplicação do 38º n.4 e quem defenda que o agente deve ser punido
por crime consumado. É o caso do Prof. Rui Pereira que defende que o 38º n.4 só se
aplica a causas de justificação que tenha apenas o elemento intelectual. Logo em todas
as outras, que contém também o elemento volitivo, o agente deve ser punido pela
consumação do crime.

SITUAÇÃO DE ERRO
Faltam os elementos objectivos.
Por exemplo, B aproxima-se de A, B pensa que A o vai agredir e agride-o. Há um erro.
B está em erro.
Outro exemplo: B agride A porque pensa que A consente. Consentimento Putativo. B
está em erro.
Aplica-se o art. 16º n.2 – porque falta um elemento objectivo.

No caso de erro o agente está em erro sobre os pressupostos de facto da causa de


justificação. Há consentimento putativo ou legitima defesa putativa. Ou seja; o agente
pensa que há consentimento ou que está a agir em legitima defesa.

O agente convence-se que há um incêndio em sua casa e para se salvar arromba a porta
de casa do vizinho. Há um Direito de Necessidade Putativo. O agente pensa que existe
Direito de Necessidade.

A doutrina:

- Teoria Rigorosa da Culpa (Welzel – autor da escola finalista) – Quem estivesse em


erro seria punido por crime doloso. O erro poderia ser desculpável (excluía a culpa) ou
indesculpável (se atenuava a culpa).
É difícil perceber, ao nível da culpa, se o erro é desculpável ou indesculpável, pelo que a
teoria era difícil de aplicar.

- Teoria dos Elementos Negativos do Tipo – O tipo teria elementos positivos e


negativos (ou permissivos ou causas de exclusão). As causas de justificação
enquadravam-se no tipo (tipicidade) e não na ilicitude. Isto significa que só preencheria
o tipo quem praticasse um homicídio (elemento positivo) mas simultaneamente não
tivesse uma causa de justificação (elemento negativo).
Também não se aplica hoje, diz-se que esta teoria é uma pura ficção.

O Código Penal separa os tipos incriminadores das causas de justificação ou tipos


permissivos.

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- Teoria da Culpa Moderada (é a do nosso CP) – Sempre que houver erro sobre os
pressupostos de facto de uma causa de justificação o agente pode ser punível por crime
negligente.
É por isso que o
Art. 16º n.2 – Exclui o dolo. (Segue a mesma estatuição do n.1 do mesmo artigo).
Aplica-se sempre o n.3: “fica ressalvada a punição por negligência”.

Causas de exclusão da ilicitude e Causas de exclusão da culpa. Ambas implicam a não


punição do agente. Mas têm consequências diferentes. No caso de causa de exclusão da
culpa é possível outra causa de exclusão da ilicitude mas em causa de exclusão da
ilicitude já não é possível outra causa de exclusão da ilicitude.
Primeira situação: Não há causa de justificação sobre causa de justificação (não há
legitima defesa sobre legitima defesa).
Segunda situação: A causa de justificação, quando aplicável é extensível a todos os
participantes (cúmplice e instigador).

No caso de exclusão da culpa é possível a legitima defesa (art. 33º). Mas, ao contrário
da ilicitude, é subjectiva, não é extensível a todos os comparticipantes. Teria de haver
uma causa de exclusão da culpa para cada um.

TIPOS DE CAUSAS DE EXCLUSÃO DE ILICITUDE (DE JUSTIFICAÇÃO)

LEGAIS:

- Legitima Defesa (32º) – Tem dois grandes princípios de base: O direito não deve
ceder perante o ilícito (a necessidade de assegurar o direito no momento) e o Principio
da autonomia (cada um tem uma faculdade de autoprotecção).
PRESSUPOSTOS (elementos extrínsecos) da legítima defesa – São dois. A existência
de interesses juridicamente protegidos (quaisquer interesses protegidos pelo direito mas
individualizados e não difusos) e a existência de uma agressão actual e ilícita (acção
dominável pela vontade, ou omissão, mesmo negligente, desculpável ou inimputável,
que terá de ser actual ou iminente e ilícita).
REQUISITOS (elementos intrínsecos) da legítima defesa – São dois. Primeiro a
necessidade de defesa (que não seja possível recorrer à tutela publica e utilizar o meio
menos gravoso disponível em tempo útil) e o segundo o animus defendendi (tem dois
elementos, o intelectual e o volitivo).

- Direito de Necessidade (34º)


- Conflito de Deveres (36º)
- Obediência Hierárquica (36º)
- Consentimento do Ofendido (38º) – O consentimento pode ser causa de exclusão da
tipicidade (art. 190º, por exemplo) ou da ilicitude (art. 38º - apenas nos casos de bens
jurídicos livremente disponíveis – art. 149º, por exemplo - e se o facto não ofender os
bons costumes). O consentimento pode ser expresso, por qualquer meio, de forma séria,
livre e esclarecida, ou presumido (art. 39º). O consentimento tem de ser conhecido do
agente.
- Direito de Detenção (C. Processo Penal) – Quando há uma situação de flagrante
delito, sempre que ao crime couber uma determinada pena, o próprio particular, na
ausência de uma autoridade policial, pode deter o agente até à chegada das autoridades.
É uma causa de justificação para o crime de coação.

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- Acção Directa (C. Civil, art. 336º) – Pode operar quando estão em causa bens
patrimoniais. Tem aspectos da legítima defesa e do direito de necessidade. É praticável
em casos em que tenha havido uma agressão ilícita mas que já não é actual (se fosse
actual seria legitima defesa ou direito de necessidade). Existe quando alguém é roubado,
não percebe logo (pelo que não à legitima defesa) mas detecta a sua carteira na mão de
uma pessoa que se preparara para apanhar um avião. Pode agir em acção directa para
recuperar a sua carteira.
- Direito de Correcção (C. Civil, art. 1878º e 1875º) – O direito dos pais de educarem
os filhos (com limites porque senão pode chegar à fronteira dos maus tratos).
- Direito à Greve (Lei da Greve) – É uma causa de justificação relativamente ao art.
385º do Código Penal.
- Causas Especificas
- Causas Especificas para a Interrupção Voluntária da Gravidez (142º) – Causas de
justificação para a interrupção voluntária da gravidez. A alínea a) pode agrupar-se com a
alínea b) – é a indicação saúdo-terapeutica: a vida ou grave perigo para a saúde da mãe
– a alínea c) – é a chamada indicação eugénica (do grego “bem nascida”): tem um
prazo, excepto para fetos inviáveis - e a alínea d) – indicação ética, tem prazo.

SUPRA LEGAIS:
- Legitima Defesa Preventiva -
- Estado de Necessidade Defensivo –

A CULPA – O comportamento só é culposo se for exigível ao agente, se for censurável.


(história da Tábua de Carniades – num naufrágio, existindo uma tábua de salvação já no
limite da lotação, não é censurável que não se admitam mais pessoas apesar de se saber
que os excluídos vão morrer).
A culpa é constituída por três elementos:
- A Censurabilidade / Exigibilidade
- A Capacidade de Culpa do Agente (imputabilidade) – É importante devido à
inimputabilidade – art. 19º e 20º (em razão da idade, devido a anomalia psíquica ou a
provocada pelo próprio agente).
- A Consciência da Ilicitude
Os dois últimos elementos são os elementos…

O critério para aferir a culpa – Se uma outra pessoa (o homem médio) colocada no lugar
do agente agiria ou não de outra forma.

Princípio da Culpa – Decorre, desde logo, da Constituição (art.1º, 13º, 18º). É a


existência de um efectivo nexo subjectivo entre o agente e o facto. (Não tem nada a ver
com a imputação subjectiva, que tem a ver com o dolo ou a negligência. O dolo e a
negligência fazem parte do tipo, da tipicidade). É obvio, no entanto, que uma conduta
dolosa é mais culposa que uma conduta negligente, mas são estádio diferentes. Pode
haver dolo com maior ou menor culpa.
Não há pena sem culpa e a medida da pena não pode exceder a medida da culpa (art.
71º).
Nexo subjectivo porque a culpa respeita individualmente a cada um dos agentes
independentemente de quantos praticaram o crime.
O direito penal é, por isso, um direito penal da culpa e não um direito penal do agente (o
agente até pode ser um agente da pior espécie, mas se não tiver culpa…).

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O juízo da ilicitude começa em sede de imputação objectiva e subjectiva da ilicitude.


Tem a ver com a apreciação da situação jurídica de um ponto de vista objectivo (teorias
de imputação – da causalidade adequada e teoria do risco).

O juízo da culpa é apreciado mais adiante (noutro estádio). Há também um nexo


objectivo mas distinto da imputação objectiva porque é apreciada também a formação
da vontade do agente.
É preciso ver, em relação a cada agente individualmente, a capacidade de culpa
(imputabilidade ou inimputabilidade do agente, ou ainda imputabilidade diminuída), a
censurabilidade ou exigibilidade (a inexigibilidade é também uma causa genérica de
exclusão da culpa) e ainda a consciência da ilicitude (art. 17º - é também uma causa de
exclusão da culpa desde que o erro não seja censurável).

O juízo de ilicitude precede o juízo de culpabilidade.

A concepção normativa da culpa (teoria doutrinária – estudar) – Assenta grandemente


no elemento censurabilidade.

Caso Prático:
Alberto arromba a porta da casa de Bento, introduz-se lá dentro e encontra B inanimado
devido a uma fuga de gás. Graças à ventilação provocada pelo arrombamento da porta
Bento começa a recuperar.
Quid Júris?
R – O comportamento de Alberto é uma acção humana, controlável pela vontade,
penalmente relevante. Existe um concurso aparente de crimes. Um de introdução em
local vedado ao público qualificada (por existir arrombamento). É um crime de mera
actividade (não é preciso fazer imputação objectiva). Terá de fazer-se a imputação
subjectiva (em que há dolo directo, existindo os elementos cognitivo e volitivo). Quanto
à ilicitude, existe uma causa de exclusão da ilicitude (art. 34º - e por faltar o elemento
subjectivo intelectual, a intenção de protecção, - conjugado pelo art. 38º n.4 que é
aplicado analogicamente). Assim Alberto seria punido apenas pela tentativa do crime
que praticou.
Se o perigo não existisse e Alberto entrasse na casa de Bento pensando que precisava de
o salvar, tratava-se de um erro sobre as circunstâncias do facto (art. 16º n.2). Haveria
um erro de necessidade putativo. Neste caso seria excluído o dolo (art. 16º n.3) pelo
que o agente deveria ser responsabilizado por negligência. Como a negligência não está
ressalvada no tipo este agente não poderia ser responsabilizado (art. 13º).

Caso Prático:
Um grupo de turistas visita uma gruta sem saída onde se encontram já sete pessoas. Ao
entrar um gordo fica entalado à porta da gruta. Não há maneira de alimentar os
enclausurados. Perante o perigo de vida das pessoas encurraladas será licito colocar em
em causa a vida do gordo? Sete vidas valem mais do que uma? Não. Juridicamente essa
comparação não pode ser estabelecida.
R-

Caso Prático:

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Ana segue numa caminhada pela serra e, com mais 2 pessoas, iniciam uma descida.
Ficaram em risco. Mas Ana só tinha um cabo para auxiliar um deles. Assim um salva-se
mas Bento cai do penhasco e perde a vida.
Quid Júris?
R – Há uma omissão imprópria - quando Ana tem uma posição de garante material, por
deter o monopólio dos meios de salvamento - que produz um crime de homicídio. Ana
sabe que vai produzir a morte, embora não queira. Há dolo necessário. Na ilicitude
existe uma causa de exclusão: há um conflito de deveres (deve salvaguardar dois bens
mas só consegue salvar um). Para isso terá de satisfazer-se o dever de valor igual ou
superior. Neste caso os bens (vidas humanas) são iguais.

Caso Prático:
António está prestes a desferir um tiro em Bernardo. Contudo Cardoso, rival politico de
António, arremessa-lhe um tijolo à perna para se livrar dos recentes resultados
eleitorais. Ao fazê-lo e com a dor provocada pelo embate, António desvia a trajectória
do tiro e não acerta em ninguém.
Quid Júris?
R–

Caso Prático:
Ana entra na sua sala e encontra Bertolino com uma faca apontada ao pescoço da sua
colega Carla. Sem pensar em mais nada agarra num agrafador que estava em cima da
escrivaninha e atira-o ao braço de Bertolino. Bertolino fica com o braço ensaguentado.
Bertolino e Carla, actores amadores, estavam a ensaiar a ultima cena da peça “mais vale
tarde do que sangue no alguidar”.
Quid Júris?
R – Estamos perante uma acção jurídico-penalmente relevante, fazendo-se a imputação
objectiva vê-se que a acção produziu aquele resultado (trata-se de um crime de resultado
– crime contra a integridade física). É preciso fazer também a imputação subjectiva.
Assim é preciso apreciar se existem os pressupostos da legitima defesa, de terceiro. Não
existem. Não há agressão actual e ilícita (primeiro pressuposto). O que há é uma má
percepção da realidade por parte do agente. Um erro (art. 16º n.2), uma legitima defesa
putativa.
Os requisitos: se a ameaça existisse o meio seria necessário, havia também animus
defendendi.
A consequência do erro do 16º n.2 é a exclusão do dolo. O agente só pode ser punido a
titulo de negligência (art. 148º - ofensas à integridade física por negligência).
Ana poderia ser responsabilizada por ofensa à integridade física por negliegência.

Caso Prático:
Anabela vê o seu amigo B ser mordido por uma cobra. Sem pensar duas vezes e vendo o
seu amigo a desmaiar decide agarrar num canivete e fazer-lhe um corte para extrair o
sangue impregnado. Quando B retoma a consciência fica indignado e diz-lhe que acha
inadmissível o corte que lhe fez afirmando-lhe que nunca lhe permitiria tal coisa se
estivesse consciente.
R – Há uma acção de Anabela (um comportamento humano controlável pela vontade). É
uma acção típica (trata-se de uma agressão à integridade física de B – art. 143º). Quanto
à ilicitude existe uma causa de exclusão da ilicitude: o Consentimento Presumido (art.
39º).

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Autor Material – É aquele que pratica os factos por si mesmo (art. 26º)

Instigador – Alguém que convence outra pessoa a praticar um facto, que lhe cria a
vontade de praticar o facto.

Cúmplice Material – O que presta ajuda de meio (fornece o meio para a prática do
facto).

Cúmplice Moral – O que presta ajuda na preparação

O cúmplice não entra no domínio do facto. A vontade é do autor. O cúmplice é o que


tem a menor intervenção. É por isso que é punido com uma pena especialmente
atenuada (art. 27º). O artigo diz que o cúmplice é punido com a pena fixada para o autor
especialmente atenuada. Atenção que isto não quer dizer que será punido com uma pena
igual á do autor de que foi cúmplice, porque isso quereria dizer que se aplicaria o
mesmo grau de culpa a ambos Mas antes que se aplica uma atenuação à pena que se
fixaria para o cúmplice se ele próprio fosse o autor (precisamente porque só pode ser
punido pela sua própria culpa).

Autor Mediato (autor moral) – É aquele que actua por intermédio de outro (o autor
material).
A diferença em relação ao Instigador é que no caso do Autor Mediato o autor material
não tem uma vontade relevante. Há portanto uma instrumentalização.

Co-autoria – Os agentes acordam praticar o facto em conjunto.

I convence A a matar B. A mata porque sabe que B sofre de uma doença terminal.
I é o instigador. A é o autor material.
Qual é a responsabilidade de cada um deles?
Começa-se sempre pelo autor material. Assim:
A praticou uma acção jurídico-penalmente relevante, típica (um homicídio), ilícita, não
há causas de exclusão da culpa nem da ilicitude. No entanto ele matou porque não
conseguia ver o sofrimento do B, ou seja, por compaixão (art. 133º). É um homicídio
privilegiado (tem a ilicitude do homicídio simples mas tem uma culpa diminuta, logo
uma pena bastante atenuada).
Como se apura a responsabilidade do Instigador?
O princípio da culpa é fundamental (porque é um elemento pessoal). A tipicidade e
ilicitude é igual à do autor. A culpa é que será diferente. No caso do autor há culpa
privilegiada. Mas o instigador não tem essa culpa. Logo será punido por homicídio
simples (terá uma pena mais pesada). Art. 26º (estende a tipicidade e a ilicitude ao
instigador) e 29º (limita a pena ao grau de culpa de cada participante – teoria da
acessoriedade limitada).

Teoria da acessoriedade limitada – É possível estender as circunstâncias de ilicitude do


autor para o co-participante mas o que não se pode estender é a culpa. A culpa terá de
ser aferida autonomamente para cada um deles.

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(O principio da culpa deve sair na segunda frequência)

Caso Prático:
Alberto decidiu matar o seu vizinho Bento por saber que este tinha intenção de sair do
país sem lhe pagar o que devia. Para tal pediu ajuda a Cardoso o qual lhe forneceu uma
arma de dois canos para o efeito. Alberto entrou em casa de Bento e ao vê-lo disparou
acabando porém por acertar em Daniela, mulher daquele, que ficou gravemente ferida
num braço. Ao contar o sucedido a Cardoso, já depois de ter saído dali, este disse-lhe
que, se fosse a si, saia do país e que o melhor era subtrair o Mercedes do vizinho para
não dar nas vistas.
Alberto fugiu para Espanha com o carro de Bento.
Quid Júris?
R – Alberto é o autor material. Há um erro na execução do crime. Há actos de execução
(art. 22º n.2 alinea B) pelo que em relação a Bento há uma tentativa de homicídio.
Em relação à mulher, Daniela, há dolo (teve intenção) mas atingiu-a por negligência.
Pode ser punido por ofensa à integridade física por negligência (art. 148º).
Cardoso é cúmplice material (forneceu o meio para o crime) art. 27º. Estende-se a
ilicitude e a tipicidade do autor ao cúmplice, pela teoria da assessoriedade limitada. Em
relação à tentativa de homicídio o cúmplice seria também punido mas não em relação à
ofensa à integridade física porque foram praticadas por negligência e não há transmissão
dos elementos ilicitude e tipicidade sem dolo.
Quando ao crime de furto do automóvel, temos um autor material – Alberto que leva o
carro – e um instigador - Cardoso porque convenceu o outro. O instigador seria
responsabilizado através da teoria da assessoriedade limitada. A ilicitude do autor
estende-se-lhe. Só a culpa é que não se lhe transmite.

Caso Prático:
Alberto, patrão de Bruno, menor de 15 anos, pagou 500 euros a Carlos para praticar
actos homossexuais com o menor. Carlos assim o fez.
Quid Júris?
R – Art. 174º, 175º e 177º

Caso Prático:
António pagou 500 euros a Bento para ofender a integridade física do namorado da sua
filha, Gastão. Bento aceita o dinheiro e paga por sua vez 250 euros a Cândido para
efectuar o trabalho. Cândido deu vários murros em Gastão deixando-o com um
traumatismo craniano.
Quid Júris?
R – Trata-se de um crime de ofensas à integridade física (art. 143º), um crime de
resultado. Em relação a Cândido há imputação objectiva e imputação subjectiva. Não há
causas de exclusão da ilicitude nem da culpa.
Quanto a António é o instigador (art. 26º), foi ele que criou a vontade relevante para a
prática do crime, pagando. O Prof. João Raposo defende que se o instigador tinha como
vontade convencer alguém a praticar um crime mas não é esse segundo que o vai
praticar mas sim um terceiro existe uma “aberratio ictus” (um erro na execução).
O mesmo professor João Raposo tem outra teoria: Admite que há um desvio no nexo
causal mas é um desvio irrelevante pelo que o instigador continua a ser o primeiro. Ou
seja, a instigação determina-se pela criação da vontade relevante. O assistente da cadeira
prefere esta segunda teoria.

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Bento seria um cúmplice (art. 27º). Teria de aplicar-se a teoria da acessoriedade


limitada.
Tanto em relação a A como a B não existem causas de exclusão da ilicitude nem da
culpa.

CÚMULO JURÍDICO (art. 77º) – Não se faz o cúmulo aritmético. Quando alguém
pratica vários crimes aplica-se uma pena como se o conjunto fosse apenas um único
crime. Existem balizas, o limite máximo é a soma das penas de todos os crimes
praticados pelo agente e o limite mínimo é a pena do crime mais grave cometido pelo
agente. O juiz soma as penas que aplicaria ao agente por cada uma das penas, encontra
uma nova “moldura penal” e volta a fazer o cruzamento entre essa nova “moldura
penal” e a medida da culpa do agente.

Caso Prático:
António, Maria e José decidiram entrar num plano para assaltar o Banco Espírito
Comercial. Para tal arranjaram umas meias de vidro, enfiaram-nas na cabeça e
dirigiram-se à dependência de Vila Nova de Cima. António e José entraram no banco
tendo Maria ficado à porta para verificar se aparecia alguém. Maria, muito nervosa, e
começando a pensar nos seus filhos, decidiu ir à policia e denunciar todo o sucedido.
António e José foram surpreendidos quando se encontravam à porta do banco com
milhares de euros, prontos para fugirem.
Quid júris?

Caso Prático:
Artur, Bento e Carlos decidiram assaltar uma ourivesaria em Setúbal e gizaram um
plano nos termos do qual, durante a noite, o primeiro arrombaria a porta, o segundo,
armado com uma pistola, ficaria na rua para verificar se alguém se aproximava e o
terceiro entraria na loja para retirar as jóias mais valiosas.
De seguida pôr-se-iam em fuga num automóvel conduzido por Artur, o qual haviam
pedido emprestado a Duarte.
Ainda Artur não acabara de forçar a porta da ourivesaria quando surgiu o primeiro
contratempo: Ernesto, policia de serviço, passou ocasionalmente pelo local. Bento
disparou contra ele dois tiros. O primeiro acertou-lhe no tórax e o segundo passou ao
lado e acabou por acertar em Hermínio que escondido atrás de uns arbustos e não
percebendo até a presença dos assaltantes, se preparava também ele para disparar sobre
Ernesto uma vez que descobrira naquele dia ser aquele amante da sua mulher.
Carlos assustado com tudo o que estava a acontecer decidiu desistir do assalto
abandonando os seus colegas, no entanto estes perseguiram-no e Artur entrou na loja
retirando jóias no valor de 100 mil euros.
Atraído pelo ruído, Fernando, que vivia nas redondezas, foi averiguar o que se passava.
Viu Ernesto que se esvaia em sangue mas decidiu não pedir auxilio porque pensou que
ele já estava morto. Receoso de contactos com a policia resolveu mesmo afastar-se
rapidamente. Foi nessa altura que a policia, alertada por um vizinho que ouvira os tiros,
chegou ao local. Vendo Fernando que se retirava, Gil, agente da policia, pensando que
se trataria de um dos assaltantes, ordenou-lhe que parasse. Fernando pôs-se em fuga e
Gil disparou em direcção às pernas daquele mas acabou por lhe acertar num pé.
Em consequência dos factos descritos Hermínio teve morte imediata. Ernesto, que ainda
estava vivo quando a policia chegou ao local, morreu a caminho do hospital. Fernando

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acabou também por morrer mas apenas porque por ser hemofílico não foi possível
estancar em tempo útil a perda de sangue motivada pelo tiro no pé.
Determine a responsabilidade jurídico-penal dos intervenientes.

R – Quanto à autoria, Artur, Bento e Carlos são co-autores. Ernesto será, à partida, um
cúmplice.
Bernardo disparou contra Ernesto. Existe uma acção jurídico-penalmente relevante, que
configura um crime de homicídio (131º), um crime de resultado, em que existe um
evento que se destaca espacio-temporalmente da acção, pelo que terá de ser estabelecido
o nexo causal e feita a imputação objectiva. Para isso existem várias teorias:
- Teoria da equivalência da condição – Saber se o agente produziu a causa sem a qual
aquele resultado não se produziria.
- Teoria da causa adequada – Saber se o agente deu a causa apta à produção daquele
resultado. Neste caso teremos de aplicar o mecanismo da prognose póstuma (verificar se
para um homem médio com os conhecimentos do agente era previsível que a sua acção
produziria aquele resultado).
- Teoria do risco – O agente é responsável quando cria, aumenta ou não diminui um
risco não permitido pela ordem jurídica.
E através da teoria da causa adequada está feita a imputação objectiva. A acção produziu
aquele resultado.
Depois terá de ser feita a imputação subjectiva: Podemos concluir que há dolo directo
ou dolo necessário. Há elemento cognitivo (ele sabe que disparando contra o tórax de
Ernesto o pode matar) e pode ou não haver elemento volitivo conforme ele tenha ou não
pretendido atingir realmente o tórax. Neste caso podemos argumentar por uma das duas
hipóteses.
Não há causas de exclusão da ilicitude, nem da culpa nem da pena.
Ao disparar o segundo tiro Bernardo em vez de acertar Ernesto atinge Hermínio. Há
aberratio Ictus, um erro na execução. Relativamente ao bem jurídico que o agente tentou
atingir há uma tentativa, neste caso de homicídio, em relação ao bem jurídico atingido
existe um crime de homicídio, não com dolo, apenas por negligência porque o agente
não actuou com o dever objectivo e subjectivo de cuidado a que estava obrigado de
forma a não provocar aquele resultado. Teremos então uma situação de negligência e
poderemos, face à hipótese em concreto, sustentar que é consciente ou inconsciente. É
preciso é fundamentar se o agente se conformou ou não com o resultado produzido. Há
por isso uma tentativa por negligência.
Acontece que ao atingir Hermínio, Bernardo impediu que este eventualmente disparasse
sobre Ernesto, logo poderá existir aqui uma legitima defesa de terceiro. Os requisitos e
os pressupostos estão reunidos: a acção foi necessária, a ameaça era actual e ilícita. Há
que verificar também se há animus defendendi (o agente saber e querer actuar em
legitima defesa). Sobre isto a doutrina divide-se. Há autores que dispensam a
obrigatoriedade de animus defendendi (Prof. Germano Marques da Silva e Prof.ª
Fernanda Palma) e outros que exigem esse elemento para se poder considerar legitima
defesa. Neste caso não faz no entanto qualquer sentido considerar que se trata de
legitima defesa porque o agente não está a actuar para tutelar o terceiro mas sim para ele
próprio atentar contra o bem jurídico vida.
Há um assalto. Mas Carlos decide desistir do crime. Aplica-se o art. 25º porque é um
caso de desistência em comparticipação. Carlos praticou apenas actos de execução
(art.22º) e uma vez que desistiu temos que ver se a sua desistência é ou não relevante
para a sua punibilidade. Não é relevante porque ele nada fez para impedir o crime, logo
os pressupostos do art. 25º não se verificam. No elemento subjectivo, ele tinha dolo.

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Não há causas de exclusão da ilicitude nem da culpa. Se não fosse um caso de furto
qualificado haveria tentativa? Sim porque há uma condição objectiva de punibilidade –
ser um crime com uma moldura penal superior a três anos (art. 23º n.1).
Bento e Artur são co-autores de um crime de furto. Trata-se de um crime de resultado
(fazer a imputação objectiva e a imputação subjectiva).
No caso de Duarte (que emprestou o carro) é cúmplice material – porque ele tinha dolo
de cumplicidade, sabia que o carro se destinava à prática de um crime (art. 27º). O
cúmplice é responsabilizado aplicando-se a teoria da acessoriedade limitada –
estendendo-se as circunstancias da ilicitude e da tipicidade dos autores ao cúmplice,
exceptuando-se a culpa. Verifica-se depois a sua culpa. A pena a aplicar terá de ter em
conta o art. 27º n.2 e o art. 73º.
Fernando não auxiliou Ernesto que se esvaía em sangue porque pensou que este já
estava morto. Há uma omissão própria (art. 200º) porque ele nada fez para evitar a
produção do resultado morte. Isto se considerar-mos que Fernando não tinha uma
posição genérica de garante, de fonte material, uma vez que tinha o monopólio dos
meios de salvamento (porque foi o único que viu Ernesto ferido). Se considerar-mos que
tinha essa posição de garante Fernando poderá ser punido por um crime de homicídio
negligente (art. 137º).
No entanto existe um erro sobre as circunstancias de facto, sobre o objecto (Fernando
desconhecia que estava lá uma vida) porque Fernando não se apercebeu de que Ernesto
ainda estava vivo (art. 16º n.1). Neste caso o dolo seria excluído pelo que Fernando
poderia ainda ser punido por homicídio por negligência se concluirmos que tinha o
dever de verificar se Ernesto estava vivo. Trata-se de uma negligência inconsciente
porque se o agente pensou logo que a vitima estava morta foi porque nem sequer
admitiu a hipótese de ela estar ainda viva.
A partir do momento em que há está omissão de Fernando verifica-se um desvio do
nexo causal entre a acção de B e o resultado morte de E. Assim B passa a ser acusado de
tentativa e não de homicídio consumado. Isto porque o domínio do facto deixou de estar
no B para estar em Fernando.
Gil ordena a F que pare (esta ordem é uma coacção ilícita mas existe uma causa de
exclusão da ilicitude por tratar-se de um policia – art. 31º n.2 alínea C) e depois dispara
contra as pernas – é um crime de ofensa à integridade física – um crime de resultado
pelo que teremos de fazer a imputação objectiva e a imputação subjectiva – em que há
dolo directo ou necessário, conforme a fundamentação.
Em consequência deste ferimento Fernando morreu por ser hemofílico. É um crime
agravado pelo resultado. Há então dolo no primeiro resultado (ofensa à integridade
física) e haverá negligência no segundo (homicídio) se considerarmos que violou o
dever objectivo e subjectivo de cuidado mas como Gil não sabe que Fernando é
hemofílico por isso não lhe pode ser exigido esse cuidado, logo não há negligencia. Gil
será responsabilidade por ofensa à integridade física grave (art. 144º). Mas Gil estava
em erro (art. 16º n.2) porque pensava que Fernando tinha participado no crime, havia
então uma causa de exclusão da ilicitude, logo é afastado o dolo pelo que será acusado
apenas de ofensa à integridade física por negligência (art. 148º).
Depois é preciso ver se há concursos.
Há em relação a Bernardo (crimes de tentativa de homicídio doloso, um homicídio por
negligência e um furto). É um concurso verdadeiro (vários crimes), real (várias acções)
e heterogéneo (tem vários tipos).

Livro de João Raposo:

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“A instigação em cadeia”

TENTATIVA

É uma forma de crime embora não consumado. Em que todos os actos de execução
foram produzidos mas o resultado não se verificou.
Não há tentativas negligentes. Deriva sempre de uma intenção do agente. Tem de haver
dolo.
Para verificar a tentativa é essencial apurar o inter criminis (o percurso do agente):
Começa com a mera resolução criminosa (a decisão do agente de cometer o crime – que
não é punível porque ainda não tem relevância no mundo exterior), continua com os
actos preparatórios (art. 21º - já podem ser puníveis – são os actos que antecedem a
execução do crime), e termina com os actos de execução (que são puníveis – preenchem
a tentativa que é punível – art. 23º).
Todo o inter criminis é exactamente igual ao do crime doloso consumado com excepção
do resultado, que no caso da tentativa não se verifica.

Há dois tipos de consumação:


- Consumação Formal – É a produção do resultado típico (no homicídio a produção da
morte).
- Consumação Material ou exauriamento do crime – Tem a ver com haver ou não lesão
do bem jurídico. Há lesão material quando além da tipicidade existe lesão do bem
jurídico. Por exemplo: um pai abandona o filho na serra (há consumação formal do
crime de exposição ao abandono) mas só há consumação material se a criança morrer ou
sofrer lesão. É que o pai pode desistir de lhe provocar a morte e ir busca-lo antes da
consumação material.

Nos crimes de dano a consumação material e formal coincidem. Já não é assim nos
crimes de perigo. Quando se verifica o resultado, o perigo, não há obrigatoriamente
lesão do bem jurídico. Neste caso há uma consumação formal mas não há uma
consumação material.

Esta distinção dos tipos de consumação é importante para efeitos de desistência. É que
nos crimes de dano ainda é possível ao agente desistir de provocar a consumação
material mesmo depois de já ter consumado a formal.

Teorias sobre a punibilidade da tentativa:

- Teoria Objectiva – Foi a primeira. A punição da tentaiva era fundamentada pela


colocação em perigo do bem jurídico tutelado pela norma. Ou seja, um homicídio
tentado era punido por se ter colocado em perigo o bem jurídico vida.
É um raciocino incipiente porque não se pode aplicar à tentativa impossível. Por
exemplo, um individuo dispara uma arma descarregada (o meio não é apto à produção
do resultado). Esta tentativa impossível é punida pelo alarme social.

- Teoria Subjectiva – Em que o fundamento da punibilidade da tentativa é a


manifestação por parte do agente de uma vontade contrária ao direito.

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Esta teoria é demasiado ampla porque se assim fosse os actos preparatória seriam em
regra puníveis (quando o são apenas excepcionalmente).

- Teoria da Impressão – Contem elementos das duas outras. Da teoria subjectiva, com
uma vontade contrária ao direito, mas – misturando a teoria objectiva – não é toda a
vontade contrária ao direitos, apenas a vontade que lese a confiança da ordem jurídica e
da paz jurídica.
A tentativa impossível é punida pelo alarme social (há ma lesão da confiança jurídica
entre a comunidade).
Ainda não é a teoria perfeita porque, por exemplo, alguém tenta matar com um veneno
que nem sequer se detecta através da autópsia; isto não causa alarme social nenhum,
porque as pessoas nem sabem que o veneno existe. Contudo a tentativa existiu e esta
teoria não a contempla.

- Teoria do nosso código penal (art. 22º e 23º)


Há três elementos essenciais:
- Vontade manifestada contrária ao direito
- Lesão da confiança da comunidade
- Colocação em perigo de um bem jurídico.

Elementos subjectivos da tentativa:


- O Dolo
- Os elementos subjectivos essenciais da ilicitude – Nos casos em que eles existam.
- Os elementos objectivos da tentativa – São dois: primeiro a prática de actos de
execução (art.22º n.1) e a não consumação (art. 22º n.1).

Como se separam os actos preparatórios dos actos de execução?


Há vários critérios de distinção:
1 – Formal objectivo – Ver prof. Figueiredo Dias
2 - Material Objectivo – Ver prof. Figueiredo Dias
3 – Subjectivo – Ver prof. Figueiredo Dias
4 - Final Objectivo – (é o critério mais importante) Um acto será preparatório ou
executivo de acordo com o plano concreto do agente. Significa que o mesmo acto pode
ser nuns casos preparatório e noutros casos de execução.
Exemplo: A pretende matar B com veneno. Deita o veneno num copo de leite. Há duas
hipóteses: se dá o copo de leite à vitima (misturar o veneno é um acto preparatório e o
dar o copo é um acto de execução) ou se deixa o copo de leite no sitio em que a vitima
costuma todas as noite beber um copo de leite (misturar é um acto de execução porque
já não há mais qualquer acto depois desse).

Requisitos da punição da tentativa (art. 23º):

Tentativa Idónea – A punibilidade é a criação de um perigo para um determinado bem


jurídico.
Tentativa Impossível – Diferentemente da tentativa impossível não é criado perigo para
o bem jurídico. Neste caso a punibilidade tem a ver com o alarme social.

A tentativa existe, quase exclusivamente, nos crimes de resultado (que incluem os


crimes de dano). Nos crimes de mera actividade não se fala tanto em tentativa porque é

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difícil saber onde acabam os actos preparatórios e os de execução. É difícil separar os


actos de execução da consumação.
Nos casos em que for possível separar os actos de execução da consumação a tentativa
pode ser punível mesmo nos crimes de mera actividade. Para isso é preciso atender ao
plano do agente.

A PUNIBILIDADE – Pode conter uma condição objectiva de punibilidade (uma


circunstancia alheia ao tipo de crime). Por exemplo, art. 151º. Outro exemplo de uma
condição objectiva de punibilidade é a exigência de o criminoso se encontrar em
território nacional para que possa ser punido.
Existem também as causas de isenção da pena. Por exemplo, a existência do vinculo
matrimonial entre as pessoas é geralmente uma causa de isenção da pena – o cônjuge
pode ser isento da pena de cumplicidade em relação ao agente.
As causas de isenção de responsabilidade criminal (as amnistias ou os perdões de
pena, em que existe tipicidade, ilicitude e culpa mas a conduta deixa de ser
criminalmente ilícita devido a uma causa extrínseca).
Ainda as condições procedimentais da situação criminal - em processo penal o
Ministério Publico tem duas formas de agir: ou actua directamente ou é exigida queixa
do ofendido (nos crimes menos graves).

A Desistência

CRIMES OMISSIVOS
Praticados por quem tem uma posição de garante
Não há acção logo não há causalidade mas tem que haver imputação objectiva que terá
de ser feita em relação não à acção mas à conduta que o agente deveria ter tido para
evitar o resultado. Essa conduta tem de ser dolosa, ou seja, o agente tendo de tomar uma
conduta não a adopta e provoca o resultado. É difícil saber o que é o dolo numa conduta
omissiva. É o grau de intenção do agente (com os elementos volitivo e intelectual) por
forma a não actuar de acordo com o que lhe era exigido. Assim dolo directo existe
quando o agente quer a realização do facto típico (sabe que ao não mandar a bóia o
agente vai morrer). O dolo necessário existe quando o resultado é uma consequência
necessária da sua conduta de não agir (o agente sabe nadar e o nadador não lhe atira
uma bóia sabendo que há o risco de o agente não conseguir salvar-se mas pensa “se
morrer morre”). Ou seja no dolo necessário existe uma hipótese de o resultado não se
produzir.
A omissão pode ter tentativa. Numa omissão própria (art. 200º) dificilmente pode haver
uma tentativa. O Dr. Rui Pereira defende que ainda assim é possível (quando o agente
para o carro para ligar para o 112 mas não o chega a fazer e depois aparece um terceiro
que acaba por agir). Nos crimes por omissão imprópria (art. 10º n.2 mais outro artigo)
pode haver tentativa (um banhista não socorre uma pessoa que está a afogar-se mas esta
acaba por salvar-se de outra forma).
Nos crimes por omissão há menos energia criminosa, menos desvalor da acção (menor
ilicitude) e menos culpa.

A posição de garante tem 3 fontes:


1 - Posição de garante resultante da lei – As relações familiares, entre os cônjuges ou na
união de facto, a relação de pais / filhos
2 - Posição de garante resultante de contrato – Por exemplo as educadoras de infância
em relação às crianças à sua guarda. Não precisa de ser contrato escrito.

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3 - Posição de garante resultante da ingerência – Em que a pessoa criou uma situação de


perigo e tem a obrigação de evitar que se produza o dano.

Em qualquer destes 3 situações não há um quantun do dever jurídico. Esse dever não é
quantificado em nenhuma das três fontes.
Para isso fala-se em dois níveis de deveres:
- Deveres de protecção de determinados bens jurídicos – Divide-se em 3 grupos:
1 – Vinculação natural – A relação pai-filho,
2 – Relações comunitárias
3 – A assunção voluntária da tutela de um determinado bem jurídico (por exemplo,
substituir-nos voluntariamente a um socorrista)
- Deveres em que a pessoa que tem a posição de garante está obrigado a controlar
certas fontes de perigo – Quando um carro não está em condições de circular e
provoca um acidente de que resulta um morto – temos nesse caso um crime de
homicídio doloso por omissão porque o condutor tinha a obrigação de controlar essa
fonte de perigo.
Outro exemplo, os pais que tem o dever de controle de fonte de perigo em relação a um
filho cuja conduta se aproxima da incapacidade.

TIPO DE CRIMES OMISSIVOS

Casos de interrupção do processo salvador – O agente pega na bóia mas depois não a
atira ao afogado.

Casos de colocação em estado de incapacidade de empreender a acção salvadora –


O agente que se embriaga com o objectivo de cometer o crime

Casos de participação activa em crimes omissivos – A aconselha B a não mandar a


bóia.

Diferença entre omissão própria (pura) – é a lei que descreve qual é o comportamento
que o agente deve ter em certas omissões (por exemplo a omissão de auxilio em que os
pressupostos estão definidos na lei, há uma norma perceptiva) e omissão imprópria
(impura) – resulta de se ter a obrigação de se evitar um certo resultado e resulta do
artigo 10º justaposto a alguns artigos do CP (desde que o crime seja um crime de
resultado)

Crimes de omissão imprópria - São todos os crimes de resultado a que nós somamos um
dever de garante.

Teorias da Assessoriedade:
O que é que se comunica dos vários elementos do crime (acção, tipicidade, ilicitude,
culpa e punibilidade) entre o autor e os comparticipantes e vice-versa.

Assessoriedade Extrema – Nesta teoria transmitem-se todos os elementos


Assessoriedade Mínima – O que se transmite é a acção e a tipicidade

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Assessoriedade Limitada – Transmite-se a acção, tipicidade e ilicitude

O nosso código penal exclui as teorias Mínima e a da Inter-acessoriedade (art. 29º)


porque a culpa não se transmite.

A teoria que o nosso código segue é a teoria da Acessoriedade Limitada (os elementos
que se comunicam são a acção, a tipicidade e a ilicitude).

Comparticipação na Tentativa:
Sendo uma forma de crime dolosa faz sentido existirem participantes na tentativa

CRIMES NEGLIGENTES
(Art. 13º - o crime é doloso sempre que a lei não diga que é negligente)
A negligência está no art. 15º.

O mesmo tipo de crime pode ser doloso (por exemplo no homicídio, art. 131º) ou
negligente (por exemplo no homicídio, art. 137º).

Elementos do Crime Negligente:


1 – Relação causal entre a Acção e o Dano
2 – Relação entre a Acção do agente e o Dever de Cuidado (se a acção do agente violou
o dever de cuidado).

Há Modalidades de negligência (consciente ou inconsciente – art. 15º) e Graus de


negligência (simples ou grosseira).

(Os crimes de perigo não tem a sua correspondência na forma negligente)

O crime negligente não admite tentativa (que por definição é dolosa). A instigação e
cumplicidade também não existem. Pode haver autorias paralelas, não pode é haver co-
autorias (porque não há intenção logo não pode haver combinação ou planos).

CONCURSOS

Concurso aparente ou de normas - O individuo mata outro motivado por compaixão


(133º) – Preenche simultaneamente os tipos do 131º e do 133º - Isto é um concurso
aparente ou de norma. Há uma pluralidade de normas das quais se aplica uma. Para isso
é preciso recorrer a critérios como o da especialidade (a norma especial prevalece sobre
a norma geral), subsidiariedade (só se aplica a norma subsidiária se não houver uma
norma primária para aplicar ao caso concreto. Por exemplo art. 152º n.1 in fine), a
subsidiariedade implícita (aplica-se normalmente nos crimes de perigo e de dano. Por
exemplo alguém que deixa uma criança em Monsanto às 3 da manhã: isto pode ser um
crime de exposição ao abandono e pode ser uma tentativa de homicídio, depende da
intenção do agente), da consupção (para chegar ao crime mais gravoso comete outros e
com a consupção é punido não por todos mas apenas pelo último (por exemplo quando

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alguém para assaltar uma causa rebenta com a porta. Além do crime de roubo pratica o
crime de dano da porta. Neste caso em principio é punido pelo último que é o crime
mais grave. Quando o ultima crime é o mais grave diz-se consupção pura. A impura é ao
contrário. Por exemplo quando para praticar um crime de burla o agente pratica outro,
mais grave, de falsificação de documentos) e ainda o facto exterior não punível
(Alguém furta uma pasta e depois para evitar ser descoberto queima a pasta. Há duas
normas que se lhe aplicam. A doutrina divide-se. Há autores que dizem que o agente
deve ser punido por dois crimes e outros que o agente deve ser punido apenas por um
crime).
O agente é punido por um único crime.

Concurso verdadeiro (art. 30º) – É um concurso de crimes. O agente é punido por


uma pluralidade de crimes. O concurso verdadeiro pode ser por duas razões:
- Devido a várias acções do agente
- Devido a uma única acção do agente
O concurso verdadeiro pode ser:
Concurso Ideal – Há uma acção para uma pluralidade de crimes.
Concurso Real – No código penal são equiparados mas em termos dogmáticos são
diferentes os concursos ideal e real. Real é quando há uma pluralidade de acções para
uma pluralidade de crimes.
Tanto o concurso real como o ideal podem ser heterogéneos ou homogéneos.
Real Heterogéneo – Vários acções ou vários tipos de crime.
Real Homogéneo – Várias acções e o mesmo tipo de crimes.

PENAS

Art. 40º – Fim da pena e principio da culpa

Conceitos de Penas:

- Moldura Penal, Pena Legal ou Pena Aplicável:


- Penalidade simples – Aquela que aponta exclusivamente para uma pena de prisão.
- Penalidade compósita – sempre que o CP aponta para duas modalidades diferentes de
pena.

-Pena Aplicada, Pena Judicial ou Pena Concretamente Aplicada -

Como se determina a medida aplicável, a medida abstrata da pena?


- Passa pela moldura penal específica e pela construção que se fizer relativamente aos
vários subtipos.

Atenuação especial – Art. 73º (para os casos de cumplicidade e de tentativa) e por via do
art. 72º n.1.

Penas principais no nosso CP:


- Pena de Prisão -
- Pena de Multa (art. 47º) – É fixada em dias num mínimo de 10 dias e um máximo de
360. A pena de multa pode ser substituída por trabalho.

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As penas principais podem ser:


- Aplicáveis
- Substituíveis

Penas Acessórias (não são automáticas) – Art. 65º e SS. Não há penas acessórias sem
pena principal. Não há também penas acessórias que decorram directamente das penas
principais. Ou seja, para aplicar a pena acessória é necessária uma fundamentação
autónoma, não basta a fundamentação que sustenta a pena principal.

Medidas de Segurança – São em regra aplicadas aos inimputáveis mas também aos
imputáveis particularmente perigosos (por exemplo, na estrada, a condutores perigosos).

Se houver um concurso de circunstâncias agravantes para o mesmo tipo concorre a


agravante que tiver uma responsabilidade maior.

O mesmo acontece se houver um concurso de circunstâncias atenuantes. Deve ser


considerada a atenuante de maior relevância.

Para determinar a medida da pena é preciso primeiro determinar a medida da culpa.


Porque a medida da culpa é o limite máximo da medida da pena (art. 40º).
Para graduar a culpa em concreto os juízes recorrem a critérios subjectivos que passam
pela avaliação do plano do agente, pela censurabilidade, perversidade, intensidade do
dolo, padrão da jurisprudência, etc.
Essa culpa a que o juiz chega é depois convertida na medida da pena (art. 71º n.1)

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