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JUSTIFICATIVA

Por acreditar que seja possível a construção de uma Orientação Educacional


vista como uma prática social ampla, tão repleta de desafios, é que desenvolvi esta
pesquisa, com o propósito de analisar possibilidades e limites de atuação do
orientador educacional. Outro motivo que me moveu para a escolha desse tema foi o
interesse despertado para pesquisar com mais profundidade as perspectivas
teóricas e práticas que ressaltam a importância da sua atuação na cultura
organizacional da escola.
Percebi que o desenvolvimento deste projeto trará benefício direto para a
educação e a sociedade em geral. Esse é um tema relevante a ser pesquisado e
apresentará pontos para discussão e percepção da importância do profissional em
todas as escolas de educação básica do país. O Orientador Educacional, por ajudar
a comunidade escolar a compreender os diferentes processos pelos quais passa
esta comunidade, tem um significativo papel formativo, pois os elementos sócio-
culturais que sustentam a autoridade são a todo o momento mobilizados.

O orientador educacional vivencia alguns dilemas no seu cotidiano escolar,


um deles é o acúmulo de trabalho atribuído ao orientador. Para Milet (2001), os
alunos trazem para dentro da escola a sua realidade, ou seja, as dificuldades, a
fome, a miséria, o compromisso de trabalhar para ajudar os pais. A autora apresenta
o papel do Orientador Educacional, na qual este venha resgatar o aluno, ao
considerar a sua realidade de vida e fazê-la ser discutida, pensada, debatida em
todos os momentos da vida escolar.

No entanto, Grinspun cita algumas dificuldades que interferem na atuação do


orientador educacional, tais como: a forte influência da Psicologia numa identificação
terapêutica, considerando o aluno como único responsável pelo sucesso ou
fracasso; atribuições dispersas e mal definidas; e falta de uma formação continuada,
entre outros.
Outro dilema do Orientador Educacional é de ordem conjuntural, que limita o
trabalho do orientador, como o despreparo da família no exercício de seu papel, falta
de profissionais, principalmente a saúde, para quem encaminhar alunos que
necessitam de atendimento específico, formação docente que se revela insuficiente

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para a adequada atuação no processo ensino aprendizagem. Além dos fatores
estruturais como as condições do espaço físico e falta de materiais.
Tanto fatores estruturais quanto conjunturais estão presentes na fala de Melo
(1994, p.105)
Voltamos a afirmar que só a compreensão das condições concretas já
colocadas pelo desenvolvimento do processo de produção como condição
essencial para o encaminhamento dessa prática social tornará possível a
solução real das questões colocadas por essa mesma prática social para
serem resolvidas. E dentre essas questões coloque-se também a
Orientação Educacional.

A remoção da maior parte dos obstáculos citados não pode partir apenas de
vontades individuais, precisará ser fruto do esforço coletivo e dependerá das
mudanças que se prenunciam na organização do trabalho e no delineamento de
novos valores sociais.

Ao fazer uma análise quanto ao papel da Orientação Educacional em uma


escola que é parte integrante de uma sociedade, que tem seu papel a desempenhar
neste momento histórico, enfatiza que:

[...] o papel da Orientação Educacional no contexto atual, deslocou-se dos


alunos-problemas para todos os problemas dos alunos/ da escola e
refletindo, analisando, interferindo sobre esses problemas em tempos de
globalização e da pós-modernidade. Devemos trabalhar, com o aluno, na
possibilidade de sua totalidade, desenvolvendo o sentido da singularidade,
da autonomia, da dimensão da solidariedade, no verdadeiro significado do
humano (GRINSPUN, 2003, p. 73).

Uma pesquisa feita no Estado do Paraná pela Psicóloga e Mestre em

Administração Denise Ferreira, mostra que o orientador educacional, ao deparar-se

com a impossibilidade de cumprir as exigências da função, vive um conflito

estrutural entre fazer um trabalho perfeito e as possibilidades reais de sua

execução.

Em busca de subsídios para análise realizou-se uma pesquisa com 15


(quinze) professoras pedagogas da Rede de Ensino do Estado do Paraná,
no município de Santo Antônio Platina, diz que o orientador educacional
tem perdido espaço

2
As pesquisas demonstram que o burnout ocorre em trabalhadores altamente motivados, que
reagem ao estresse laboral trabalhando além dos seus limites até que entram em

colapso.

[...] o trabalho do orientador tem uma conotação de pluralidade dos objetivos,

que envolve, além dos aspectos pessoais do aluno, os aspectos políticos e sociais do

cidadão. A Orientação, por certo, procurará compreender e ajudar o aluno inserido no

seu próprio contexto, com suas culturas e seus próprios valores (GRINSPUN, 2001, p.

14)

Na verdade, a “Orientação Educacional deve ser vista como


uma área que pode caminhar junto com todos que buscam uma educação
de melhor qualidade e, se possível, numa dimensão mais ampla de um
mundo melhor”, assim aponta Grinspun (2005, p. 93).

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A Orientação Educacional é o eixo da moderna educação do adolescente. Por seu
intermédio, especialmente, a escola assume a grande função de formar
personalidades... A evolução da Orientação Educacional acompanha o movimento
pedagógico contemporâneo... A Orientação Educacional é fio condutor, o
instrumento ordenador. (Apud GRINSPUN 2000, p.48).

E continua em seu discurso, falando sobre a importância da Orientação


Educacional, seu papel e funções, bem como, sobre os objetivos esperados:
A Orientação Educacional transformará a escola instrutiva de nosso meio na escola
viva, pesquisadora e orientadora das aptidões e dos interesses... Guiará os alunos de
acordo com suas singularidades, para que possam ter maior rendimento, suas
virtualidades vocacionais... Buscará realizar esse equilíbrio com que a escola se
adapte às necessidades e aspirações dos alunos e os prepare para as exigências
profissionais e sociais futuras. (IDEM).

Caillé (1991), defende a idéia que cada casal cria seu modelo único de ser casal, que

ele chama de “absoluto de casal” que define a existência conjugal e determina limites. É o

que (Féres-Carneiro,1998) chamou de “identidade do casal ou conjugalidade”.

Segundo Costa (1999), durante o período colonial, séc. XIX, os casamentos se

davam através das razões ou interesses familiares. Pais tutores ou outros responsáveis, por

conta própria decidiam com quem as alianças iriam ser contraídas pelos filhos ou

tutelados, considerando apenas os benefícios econômicos e sociais do grupo familiar.

O casamento não celebrava, portanto diante da sociedade a união amorosa, o amor, o

afeto ou atração física, não eram algo levado em conta para que houvesse a ligação

conjugal. Outros interesses permeavam essas relações como preconceitos raciais, e

casamentos consangüíneos. No intercâmbio de riquezas, o dote confirmava os interesses

econômicos, e a mulher transferia para o marido parte dos bens da família de origem. Sem

dote a mulher estava votada ao celibato (Costa, 1999).

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A sexualidade não interferia quase nada na estabilidade familiar, não dependia do

nível de sexualidade para a solidez do casamento. O sexo tinha a conotação restrita da

cópula para a procriação. O prazer gratuito e sem reprodução era condenado pelo

catolicismo. (Costa, 1999)

A produção de sexualidade na constituição do modelo burguês, está voltado a um

“dispositivo” de poder, onde ocorre a transferência de nomes e bens. Portanto, na primeira

visão a sexualidade fez parte de um sistema de poder centralizado na figura da aliança,

onde se estabeleceu todo o sistema de casamento. (Foucault, 1977).

Segundo os autores Torres, Dias e Ramos-Cerqueira, (1999) o ciúme possui

maneiras diferentes de serem vistas, e com importantes variações nas diferentes culturas e

épocas. No séc. XIV, o ciúme estava relacionado a paixão, zelo e a preservação de algo

importante, sem a pejorativa de possessividade e desconfiança. O ciúme era visto como

honra e moral nas sociedades monogâmicas, com vistas a incerteza da paternidade e

proteção a familia. No séc. XIX associa-se à insegurança imaturidade, fraqueza e falta de

controle, deixa de ser uma prerrogativa masculina para se tornar um problema das

mulheres. A busca incessante de evidências que confirmem ou afastem a suspeita é

acrescida da inquisição persistente sobre acontecimentos atuais ou passados, cuja eventual

confissão, no entanto, não traz paz e sim mais questionamentos, pois nenhuma confissão é

suficientemente detalhada e nenhuma prova de inocência é suficientemente convincente. A

busca de uma evidência que possa confirmar e afastar a suspeita dos acontecimentos atuais

ou passados, no entanto, nem mesmo a confissão traz sossego e sim a continuidade das

dúvidas e desconfiança, pois nenhuma confissão é suficiente diante da falta da prova da

inocência. Há casos em que ocorre comportamentos relacionados a depressão como

necessidade de demonstrações de afeto por vezes alternadas com raiva, ameaças e

agressões.

5
“Comportamentos furtivos, tais como examinar bolsos,
carteiras, recibos, contas, roupas íntimas e lençóis, ouvir
telefonemas, abrir correspondência, seguir o cônjuge ou
mesmo contratar detetives particulares costumam não
aliviar e ainda agravar sentimentos de remorso e
inferioridade.” (Torres, Dias e Ramos-Cerqueira,
p.165,1999).
Segundo Ferreira-Santos (2003), o ciúme possui as mais variadas formas de sentir

tão amargo, doído, sofrido, e muitas vezes inconfessável sentimento de ciúme. É

importante considerar no ciúme, sua origem, intensidade, duração, a forma como a pessoa

que sente reage, a importância que ele assume no seu cotidiano, como ele interfere na vida

de quem convive com a pessoa. Há ainda casos em que esse sentimento assume um

volume monstruoso desfigurando sua vida de tal forma que não há mais sossego possível.

São os casos em que o ciúme se torna patológico, doentio, tornando-se uma obsessão

descontrolada e descontroladora. O ciúme tem sempre algo de cruel, não só para quem o

sente, mas também para a pessoa sobre a qual é dirigido. Para quem o sente, o ciúme traz

consigo uma série de sentimentos negativos e torturantes, como o medo da perda de

alguém, a inveja de maior liberdade e determinação que se imagina o parceiro ter, a

inferioridade perante o rival, o qual se costuma minimizar adjetivos, poucos elogios, as

dúvidas sobre si mesmo, e os sentimentos de impotência, dependência, baixa auto-estima,

depressão e desespero.

Para Costa (1999), o casamento era uma instituição que visava a estabilidade da

sociedade, servindo apenas para a reprodução e união de riquezas, assim dando

continuidade à estrutura. À partir do momento em que o amor aparece no casamento,

quando simplesmente acontece por amor, não há mais interesse à priori em reprodução ou

união de riquezas.

À partir daí, surge a livre escolha, estando assim abrindo um ponto fraco no

casamento moderno, no qual desta forma fica sujeito á dissolução sendo aprovado ou não

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pela lei secular ou religiosa. Quanto maior for a possibilidade de fazer a escolha afetiva,

maior o espaço para o conflito entre o individual e o coletivo.

Na sociedade atual prega-se que tudo pode ser feito, mas não de uma vez por todas,

ou seja, nada dura para sempre. À partir do início do séc. XX com a entrada das mulheres no

mercado de trabalho, se tornou um fato polêmico. Segundo Garcia e Tassara (2001), as

mulheres utilizam alguns tipos de estratégias de confronto conjugal, estratégias diretas:

ordens, ameaças, reprimendas, cobranças, nesse tipo de estratégia haveria uma reclamação

explícita da insatisfação conjugal. Na indireta: jeitinho, chantagem emocional, fragilização

do marido e/ou dos filhos. Nesta situação o cônjuge age como se não quisesse controlar o

comportamento do outro, mas na verdade, controla. A forma com que o cônjuge atua na

estratégia é de acordo com o papel que o mesmo exerce na dinâmica familiar.( 2001, p.637)

As transformações sociais vem afetando a vida conjugal com suas influências e

reformulações psicológicas. Como todo relacionamento em geral, tem aspectos de

satisfação e conflitos, o que é inerente a condição humana.

Segundo Benetti (2006), as situações de discórdia entre o casal, podem caracterizar-

se por diferentes níveis de intensidade, freqüência, conteúdo e resolução, além de serem

expressas no cotidiano familiar de forma aberta ou encoberta. Considera-se que todo o

sistema familiar envolve certo nível de conflito. Nos conflitos conjugais, é composto de

diferentes situações particulares a cada caso, que são a freqüência da ocorrência de

interações conflitivas entre o casal, a intensidade que é variada, podendo caracterizar-se

por situações de calma disputa entre o casal, até episódios envolvendo agressão violência

verbal, emocional e física. Na resolução dos conflitos, certos padrões negativos de

resolução podem provocar efeitos adversos. Muitas vezes o parceiro procura alcançar a

mudança no companheiro por meio de críticas, exigências e demandas intensas,

provocando a retração e desinteresse do outro parceiro, que passa a evitar a situação, calar-

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se ou deixar de exibir qualquer forma de interação. Surge também críticas, manifestações

de afeto negativo, utilização de ironia e de comentários depreciativos dirigidos ao

parceiro, assumindo assim um padrão constante, caracterizado por mútua hostilidade

contínua entre o casal.

Conforme os autores (Ariès, 1978; Giddens, 1992; Munhoz, 1996) que, em sua

origem, as principais funções do casamento estavam relacionadas a interesses políticos e

econômicos. Hoje as pessoas se casam principalmente por razões afetivas e sexuais. As

transformações sociais levaram ao questionamento do contrato matrimonial clássico e

geraram profundas mudanças na experiência conjugal, colocando as relações em um âmbito

muito diferente do já visto anteriormente na história social do casamento.

Perlin e Diniz (2005) postulam que, o estilo de vida contemporâneo quando

confrontadas com os ideais morais tradicionais, como a efetivação do contrato matrimonial e

o exercício da parentalidade apresentam um conjunto de características contraditórias. O

meio familiar é valorizado como local de realização de todas as expectativas emocionais e

pessoais.

Berger e Kellner (1970) descrevem então o casamento como sendo um ato

dramático, no qual dois estranhos, portadores de um passado individual diferente, se

encontram e se redefinem. O casal constrói assim, não somente a vivência presente, mas

reconstrói a realidade de um passado.

“A desestruturação da família é sucessivamente


imputada ao afrouxamento dos laços conjugais; ao
enfraquecimento da autoridade dos pais; à emancipação
da mulher; ao conservadorismo do homem; à rebeldia
da adolescência; à repressão da infância, ao excesso de
proteção aos filhos; à ausência de amor para com eles,
etc. Em suma, os indivíduos estariam como que
desaprendendo as regras de convivência que mantinham
a família coesa”.(Costa, 1999: p.11)

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Para Gotman (1994), citado por Betânia, Mantilla, Kaslow e Hammerschmidt

(2003), o desprezo, a defesa e a teimosia, são aspectos altamente preocupantes num

relacionamento.

“A constituição e a manutenção do casamento


contemporâneo são muito influenciadas pelos valores
do individualismo, enfatizam mais a autonomia e a
satisfação de cada cônjuge do que os laços de
dependência entre eles”. (Feres-Carneiro, 1998, p.4).

Grande parte dos desejos que não foram realizados, os sentimentos dolorosos de uma

forma ou de outra vem á tona no casamento, o que envolve os desejos e as frustrações no

relacionamento.

Segundo Garcia e Tassara, (2003), o temperamento difícil do parceiro(a) assume

características de nervosismo, intolerância, distanciamento entre outros, sendo assumido

como gerador de embates entre o par.

As maiores qualidades de um, pode ser os maiores defeitos do outro, causando assim

divergências de pensamento, atitudes e comportamentos.

Para os autores Braz, Dessen e Silva (2005), as conseqüências negativas das relações

conjugais insatisfatórias e possivelmente do divórcio ou da separação do casal, incluem o

risco de os cônjuges apresentarem psicopatologias de estarem envolvidos em acidentes

automobilísticos de exposição a incidência de doenças físicas, de cometerem suicídio,

homicídio ou atos de violência, de mortalidade em função de doenças em geral, entre outras.

A literatura aponta inúmeros prejuízos diretos e indiretos, tanto para os cônjuges como pra

seus filhos, provocados por uma relação conjugal insatisfatória.

Perlin e Diniz (2005) os dados de registro civil do Censo de 2000 (IBGE, 2003)

mostram uma importante diminuição do número de casamentos e um aumento significativo

do número de divórcios. Observa-se que o aumento significativo no número de divórcios pode

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denunciar uma insatisfação com o casamento, ou, ao menos, denuncia que o mesmo vem

passando por momentos desafiadores; entretanto, se tem o fato intrigante de que, mesmo

diante desse quadro, as pessoas, em sua maioria, pretendem ou desejam se casar ao menos

uma vez. A maioria dos homens e mulheres afirmaram o desejo de encontrar, em algum

momento da vida, uma parceria para constituir uma família. Os dados e as pesquisas nos

levam a crer que estamos diante de um quadro paradoxal: as pessoas querem construir

relacionamentos duradouros ao mesmo tempo que não querem - ou não conseguem.

Freud (1930) postula aos apaixonados no auge da paixão, o sentimento oceânico de

serem um só, de regredirem ao narcisismo; embora possa a vida psíquica viver a capacidade

de fusão, possa também ter a capacidade de se diferenciar do outro.

Para alguns autores (Norgren, Souza, Kaslow, Hammerschmidt e Sharlin (2004), a

satisfação conjugal possui um conceito subjetivo, visando em ter as próprias necessidades e

desejos supridos, podendo assim, satisfazer em menor ou maior grau ao que o outro espera;

um dar e receber recíproco e espontâneo. Estando assim, relacionados com sensações e

sentimentos de bem-estar, contentamento, companheirismo, afeição e segurança, em

comparação à realidade vivenciada no casamento, decorrem de fatores que propiciam

intimidade no relacionamento.

Os desejos e projetos conjugais é a realidade em comum do casal, e dessa realidade

em comum surge a necessidade de vivenciar a conjugalidade.

Segundo Kaslow e Hammerschmidt (1992), não significa necessariamente que

quando um casal permanece junto por longo tempo, tenham um bom relacionamento.

Muitas vezes a exigência consigo mesmo, o aumento das expectativas e até mesmo a

extrema idealização do outro, pode provocar tensão e conflito na relação conjugal, podendo

levar à separação. Tendo em vista que o casamento pode representar para os cônjuges a

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principal área de auto-realização social. As expectativas lançadas no casamento são tão

grandes que os cônjuges não aceitam que não sejam correspondidas suas expectativas, vindo

a dissolução.

Para Calligaris (2001):

“ (...) O casamento hoje deve estar ligado a uma noção


de mutatividade, transformação, flexibilidade, em
relação ao novo e diferente, constituindo um espaço de
desenvolvimento interpessoal e criatividade(...) A chave
da felicidade estaria no esforço dos parceiros em
conviver com a mesmice de todos os dias, levada a sério
e isso nos reservaria uma novidade a cada esquina’(...)
(p. 05).

Os diferentes papéis exercidos por homens e mulheres, a necessidade de adaptação

às diversas mudanças sociais, econômicas e tecnológicas tem sua influência na nova

configuração do casamento.

Segundo Lipp (1996), citado por Figueiredo (2005), a comunicação relacionada a

tecnologia é uma queixa comum entre casais. Portanto, o comprometimento da qualidade da

comunicação dos casais atuais tem sido envolvido por fatores diversos, desde a mudança

dos papéis dos homens e mulheres até o avanço tecnológico.

Um dos fatores que se torna queixa entre casais, é a dificuldade de comunicação que

os tem atingido, tanto no que diz respeito ao noticiário da TV, internet entre outros, que tem

comprometido a qualidade de convívio e comunicação entre casais.

Para Dela Coleta (1991), existem causas do sucesso e do fracasso no casamento,

sendo assim, realizou alguns estudos dos quais apontaram como importantes: o diálogo e a

compreensão entre os cônjuges. ”A maior parte dos casamentos, durante a maior parte do

tempo, são de precários à péssimos”. (Lins, 1997: p. 142).

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Em Féres-Carneiro (1995), foi constatado que as mulheres mais do que os homens,

buscam mudanças e valorizam muito mais as conversas íntimas, elas demonstram querem

mais discutir e conversar sobre a relação.

As mulheres concebem casamento como “relação amorosa”, para os homens, o

casamento é sobretudo”constituição de família”. Muitos culpam a dificuldade de manterem

a relação conjugal ao fato de ambos terem se casado muito cedo, (com menos de 23 anos), e

conforme as dificuldades e os conflitos foram surgindo, a falta de maturidade a eles

requerida pela vida compartilhada para a manutenção da conjugalidade, provocou assim, a

separação.

Diferentes estudos realizados, mostram que os homens traem mais doa que as

mulheres. Discute como o sentimento de identidade masculina está relacionado ao de

identidade sexual. Sendo assim, relacionamentos sexuais freqüentes e numerosos com

diferentes mulheres, muitas vezes é a forma em que os homens encontram para a afirmação

da sua masculinidade.

Ressalta-se que a diferença de sentimentos, associados à infidelidade masculina,

apenas as mulheres demonstram sentimentos de culpa pela traição. Tendo em vista que a

traição masculina é muito mais aceita culturalmente que a feminina, sendo assim os homens

conseguem lidar melhor com e com mais tranqüilidade com a infidelidade que as mulheres.

Caruso (1989), afirma que toda separação é implicada pela vivência de muito

sofrimento, e que estudar a separação amorosa significa estudar a presença da morte na

vida, ou seja, os cônjuges vivenciam uma sensação de morte recíproca, cada um tem que

morrer em vida dentro do outro.

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Para Féres-Carneiro (1998) embora a separação muitas vezes possa ser a melhor

solução para um casal, ela é sempre vivenciada como uma situação extremamente dolorosa,

sendo necessário a elaboração de um luto.

Pela forma de conceberem diferentes a idéia de casamento, como já foi visto, para os

homens quando a relação de “constituição de família” é interrompida os homens sentem-se

“frustrados e fracassados”, e para as mulheres quando a “relação de amor” termina, elas

sentem-se “magoadas e sozinha”.

Lins (1997), postula que muitos casais de acordo com pesquisas feitas pelo IBGE,

declararam estar decepcionados com o casamento, mediante as expectativas que foram

depositadas. A felicidade conjugal parte de uma idéia concebida à partir da expectativa que

se tem do casamento. Nos dias atuais os anseios e as expectativas são bem diferentes em

relação ao casamento, e essas expectativas e anseios tornaram-se quase que impossíveis de

serem satisfeitas. Existe uma equivocada crença de que o amor é a solução para todos os

problemas, sendo que em novos termos é necessário a auto-realização das potencialidades

individuais, e que a união de duas pessoas não deva exigir sacrifícios, e sim que ambos

possam enriquecer a relação possibilitando o crescimento individual.

A sociedade atual, traz a reflexão conceitos sobre o relacionamento entre homens e

mulheres, o amor, o casamento e a sexualidade. De repente essa nova configuração abre um

espaço para se experimentar novas sensações à partir de se perceber as singularidades.

(Lins, 1997).

Metodologia

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Participantes

Participaram da pesquisa, 30 pessoas entre homens e mulheres, que eram representantes da

população geral. Foram usados como critérios de inclusão: terem sido casados até 03 anos

e não terem constituído nova relação até o presente momento, pertencentes às chamadas

camadas médias da população, pois se partiu do pressuposto de que teriam grau de

escolarização que permitisse responder questionário do procedimento, o qual requer boa

capacidade de compreensão da linguagem escrita.

Pesquisa não experimental qualitativa, com aplicação de questionário com 05 perguntas.

Procedimento de análise dos dados: Os dados foram submetidos à análise de

conteúdos e organizados em textos e tabelas onde foram expostas as freqüências e

porcentagens.

A coleta de dados foi efetuada em uma instituição de ensino superior, consistindo da

aplicação de um questionário, com a finalidade de caracterizar os motivos que interferiram

na separação dos casais. O questionário possuía a caracterização de questões abertas. Cada

questão foi posta em análise de conteúdos. Inicialmente fez-se a leitura cuidadosa das

entrevistas para análise temática.

Exposição e Análise de Dados

Tabela 1- Motivos que levaram o fim do casamento

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Categorias n %
Ciúme 8 26,66
Traição 7 23,33
Imaturidade 3 10,00
Rotina 3 10,00
Brigas 3 10,00
Problemas financeiros 2 6,66
Agressões verbais 2 6.66
Outros 3 10,00
Total 31 100

Os entrevistados apresentaram como motivos o ciúme (26,66%), e a traição (23,33%) das

respostas como sendo maiores motivos para o término do casamento.

Tabela 2- Principais dificuldades enfrentadas


Categoria n %
Dificuldades Financeiras 7 23,33
Ciúmes 5 16,66
Desconfiança 4 13,33
Nascimento dos Filhos 3 10,00
Irresponsabilidade 3 10,00
Imaturidade 2 6,66
Rotina 2 6,66
Perda da Identidade 2 6,66
Insegurança 2 6,66
Outros 2 6,66
Total 32 100

As respostas dos entrevistados mostraram que principais dificuldades enfrentadas

foram, a financeira (23,33%), e o ciúme (16,66%) mostra-se como a segunda maior

dificuldade enfrentada.

Tabela 3- Aspectos Positivos da relação

Aspectos Positivos
Categoria n %
Carinho 8 26,66
Filhos 7 23,33
Respeito 3 10,00

15
Amizade 3 10,00
Amadurecimento 2 6,66
Amor 2 6,66
Companheirismo 2 6,66
Sexo 2 6,66
Outros 3 10,00
Total 32 100

Aspectos Negativos
Categoria n %
Ciúme 9 30,00
Imaturidade 7 23,33
Rotina 3 16,66
Falta de Cumplicidade 3 10,00
Temperamento difícil 2 6,66
Vícios 2 6,66
Desconfiança 2 6,66
Outros 2 6,66
Total 30 100

Dentre os aspectos positivos da relação responderam carinho (26,66%), e filhos (23,33%)

entretanto em comparação com os aspectos negativos o ciúme lidera com (30,00%), e a

imaturidade (23,33%).

Tabela- 4. Como imagina a próxima relação afetiva

Categorias n %
Não imagina 9 30,00
Diferente da primeira 7 23,33
Com dinheiro 3 10,00
Com Respeito 3 10,00
Confiança 3 10,00
Cumplicidade 2 6,66
Não quer próxima relação 2 6,66
Mais diálogo 2 6,66
Total 33 100

Os entrevistados responderam que não imagina uma próxima relação (30,00%) e uma

relação diferente da primeira, (23,33%).

Tabela 5 - Erros que não pensa em repetir na próxima relação


Categorias n %
Não ter próxima relação 7 23,33

16
Menos rotina 5 16,66
Falta de liberdade 5 16,66
Falta de compreensão 3 10,00
Falta de tolerância 3 10,00
Respeitar a individualidade 2 6,66
Não ser ciumento 2 6,66
Não ser infiel 2 6,66
Total 29 100

Responderam que não querem ter uma próxima relação (23,33%), em comparação aqueles que

estão dispostos a uma nova relação, esperam que seja com menos rotina e mais liberdade, ambos

responderam (16,66%).

Discussão

Na discussão sobre os motivos que levaram os casais a separarem com até três anos de

convivência, várias questões foram desenvolvidas sobre o assunto. Discute-se também a

questão de que na sociedade contemporânea, os indivíduos se separam não porque o

casamento não é importante, mas porque sua importância é tão grande que os cônjuges não

aceitam que ele não corresponda as expectativas lançadas na união. Através da pesquisa foram

apresentados alguns motivos relevantes que levaram ao término do casamento. Foi

demonstrado também que o casamento atual revela um retrato das influências externas, da

dinâmica social e econômica que a sociedade tem experimentado.

A análise dos dados trouxe algumas caracterizações possibilitando destacar aspectos que

envolvem questões relacionadas aos motivos que levam os casais a separarem.

Sobre a forma que é vivenciado o casamento, as dificuldades que permeiam toda a

relação. Notou-se um número considerável de casais em que o ciúme foi visto como o maior

motivo da separação (26,66%). Conforme os autores Torres, Dias, Ramos-Cerqueira (1999), o

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ciúme possui diferentes maneiras de ser visto, busca a evidência que confirme a suspeita e

traz consigo as dúvidas, desconfianças e inseguranças. Para Ferreira-Santos (2003), existem

casos em que o ciúme se torna patológico, tornando-se em obsessão descontrolada e

descontroladora. Diz ser um sentimento definido como: amargo, doído e sofrido, não só para

quem sente mas para quem é dirigido.

A traição (23,33%) como o segundo maior motivo, diferença de sentimentos,

associados à infidelidade masculina, apenas as mulheres demonstram sentimentos de culpa

pela traição. Tendo em vista que a traição masculina é muito mais aceita culturalmente que a

feminina, sendo assim os homens conseguem lidar melhor com e com mais tranqüilidade

com a infidelidade que as mulheres. Embora a separação muitas vezes possa ser a melhor

solução para um casal, ela é sempre vivenciada como uma situação extremamente dolorosa,

sendo necessário a elaboração de um luto. (Féres-Carneiro, 1998).

Toda separação é implicada pela vivência de muito sofrimento, e que estudar a

separação amorosa significa estudar a presença da morte na vida, ou seja, os cônjuges

vivenciam uma sensação de morte recíproca, cada um tem que morrer em vida dentro do

outro. (Caruso,1989).

Houve casais que responderam que os pontos negativos maiores no casamento

foram o ciúme, imaturidade e rotina respectivamente e que as maiores dificuldades

enfrentadas foram as dificuldades financeiras, ciúmes desconfiança.

Para alguns mesmo em crise a relação teve pontos positivos, como o carinho em

primeiro lugar e os filhos em segundo lugar.

Foi perguntado sobre a possibilidade de uma nova relação afetiva, alguns responderam

que não imagina uma próxima relação por ter ficado com muitas feridas e tem medo te tentar

de novo, mostram que um grande número não imagina uma próxima relação, pois relataram

terem ficado muito magoados e se sentirem fracassados. (Féres-Carneiro,2003). Outros já

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disseram que pretende tentar de novo, mas espera que seja diferente da primeira, com

dinheiro, respeito confiança e cumplicidade.

As pesquisas mostram que as transformações sociais vem afetando a vida conjugal com

suas influência e reformulações psicológicas. Como todo relacionamento em geral, tem

aspectos de satisfação e conflitos, que é inerente a condição humana. Os desejos e

frustrações no relacionamento são em grande parte dos desejos que não foram realizados,

são decorrentes de expectativas que não foram devidamente correspondidas (Lipp,1997). A

separação provoca nos cônjuges sentimentos de fracasso, impotência e perda, precisando ser

elaborado um luto. A sociedade vem experimentando um retrato das influências externas e

da dinâmica social e econômica revelando um retrato do casamento atual.

Considerações Finais

Talvez o ser humano deseje coisas semelhantes para si mesmo, ou seja, ser amado,

respeitado, sentir-se seguro, compartilhar desejos e sonhos, ter suas necessidades físicas,

emocionais e espirituais satisfeitas, bem como ter a possibilidade de dividir tudo isso com

alguém especial ao longo da vida.

Para que um relacionamento conjugal continue perdurando ao longo dos anos, há

necessidade de investir na relação, empenhando-se para que ela seja proveitosa para os dois,

tentando encontrar o equilíbrio e partilhando interesses e buscando evitar tédio e a repatição.

O casamento émenos uma questão de escolha certa e mais de trabalho em equipe.

Para se desconstruir a conjugalidade e se construir novamente uma identidade

individual,e um processo trabalhoso, lento e vivenciado com muitas dificuldades pelos

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cônjuges. Embora exista sentimentos de uma possível liberdade, também se mistura com

sentimento de solidão.

É importante perceber que a relação conjugal é uma construção e que, ao casar, o

trabalho está apenas começando. Duração e satisfação como o presente estudo demonstrou, é

menos uma questão de escolha certa e mais trabalho de equipe, o poder perceber onde se está

errando e ter a possibilidade de uma mudança.

A reprodutibilidade dos problemas conjugais sugere, assim, a existência de um

manancial do qual se originam, que é de esfera de ideologia – que configura expectativas,

riscos e possibilidades.

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