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PROCESSO Nº TST-RO-5078-79.2013.5.15.

0000

A C Ó R D Ã O
(SDI­2)
GMDAR/fsmr  

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE


SEGURANÇA. PENHORA DE VALORES EM
CONTA CORRENTE. PENSÃO DECORRENTE DA
MORTE DO PAI CREDITADA NA CONTA DA
DEVEDORA. REGULARIDADE DO GRAVAME.
Não se reveste de ilegalidade a
determinação judicial de penhora de
quantia determinada em conta bancária
mantida pela devedora se, além da
pensão decorrente da morte do pai,
ex-servidor público estadual,
créditos de natureza distinta são
também vertidos para a mencionada
conta bancária. Na espécie, como o
benefício   de   pensão   por   morte   não
representa a única fonte dos créditos
efetivados na conta bancária sobre a
qual   incidiu   o   gravame,   não   há
irregularidade na penhora eletrônica
levada   a   efeito   na   execução   movida
contra   a   Impetrante.   Como   bem
ponderado no provimento recorrido, a
circunstância   de   a   Impetrante   ser
médica, sócia de uma clínica médica,
explica   o   fato   de   possuir   outras
fontes   de   renda.   Consequentemente,
não   há   ilegalidade   na   penhora
eletrônica   levada   a   efeito   na
execução   redirecionada   contra   a
Impetrante,   inexistindo   mácula   ao
inciso   IV   do   art.   649   do   CPC,   bem
assim à diretriz da OJ 153 da SBDI­2
do TST. Recurso ordinário conhecido e
não provido.

Vistos,   relatados   e   discutidos   estes   autos   de


Recurso   Ordinário   n°  TST­RO­5078­79.2013.5.15.0000,   em   que   é
Recorrente  MARIA LUIZA DUARTE INNECO  e são Recorridos  ANGELA MARIA

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Superior do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
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PROCESSO Nº TST-RO-5078-79.2013.5.15.0000

MOREIRA   DE   SOUZA   ALMEIDA,     CLÍNICA   INFANTIL   SÃO   LUIZ   S/C   LTDA.   e


HÉLIO NIGRI e Autoridade Coatora JUIZ TITULAR DA 3ª VARA DO TRABALHO
DE SOROCABA.

Maria   Luiza   Duarte   Inneco,   sócia   da   Clínica


Infantil   São   Luiz   S/C   Ltda.,   impetrou   mandado   de   segurança,   com
pedido   liminar,   contra   decisão   do   Juiz   da   3ª   Vara   do   Trabalho   de
Sorocaba/SP   (autoridade   apontada   como   coatora),   que,   no   curso   da
execução   nº   113500­64.2003.5.15.0109,   movida   por   Ângela   Maria
Moreira   de   Souza   Almeida   (litisconsorte   passiva),   determinou   o
bloqueio de R$1.954,18 em sua conta corrente, dos quais R$1.378,16
alegou serem impenhoráveis porque correspondentes à pensão recebida
pela morte de seu pai, ex­funcionário público estadual.
Na   petição   inicial,   a   Impetrante   alegou,   em
síntese,   que   a   autoridade   coatora   descumpriu   a   regra   inscrita   no
art.   649,   IV,   do   CPC,   porquanto   a   pensão   é   absolutamente
impenhorável.
O pedido liminar foi indeferido às fls. 61/62.
Na sequência, o Tribunal Regional do Trabalho da
15ª Região julgou improcedente a pretensão mandamental (fls.
139/141).
Contra o referido acórdão, a Impetrante interpôs
recurso ordinário, pugnando pela liberação dos valores apreendidos
em sua conta corrente (fls. 145/153).
O Ministério Público do Trabalho manifestou-se
pela desnecessidade de intervenção ministerial na hipótese examinada
(fl. 170).
É o relatório.

V O T O

1. CONHECIMENTO

O recurso ordinário é tempestivo (fls. 142 e 145)


e a representação processual é regular (fl. 20). Quanto às custas
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processuais, a Recorrente foi declarada isenta do pagamento (fl.


109).
CONHEÇO.

2. MÉRITO

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PENHORA


DE VALORES EM CONTA CORRENTE. PENSÃO DECORRENTE DA MORTE DO PAI
CREDITADA NA CONTA. REGULARIDADE DO GRAVAME.

O eg. Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região,
ao   julgar   improcedente   a   pretensão   mandamental,   decidiu   nos
seguintes termos:

"Correta a impetração de mandado de segurança, por se tratar de


impugnação de ato que determinou a constrição de valores depositados em
conta da impetrante, que alega ser destinada a recebimento de bem
impenhorável, restando autorizado o manejo desta via excepcional.
Destarte, como demonstrado nos documentos dos autos e confirmado
pelo juízo de origem, a prova feita pela 3ª executada não permite o
acolhimento de suas alegações quanto à impenhorabilidade do valor
indicado, tendo em vista que o extrato de conta anexado revela o
recebimento de valores diversos, ou seja, não é destinada de forma
exclusiva ao recebimento da pensão. O valor necessário ao pagamento da
totalidade ou parte do crédito trabalhista não é, especificamente, o recebido
a título de pensão. Não cuidou a impetrante de demonstrar, de forma
inequívoca, esta correlação.
Assim, em que pese o entendimento acerca da impenhorabilidade
destas verbas, deve a análise ser feita de forma pontual, permitindo que se
analise a gama de documentos trazidos aos autos, por se tratar o crédito
buscado também de natureza alimentar.
No caso específico, há que se ponderar o fato de que a impetrante é
médica, sócia numa clínica onde também labora, ou seja, a verba objeto de
penhora não é sua única fonte de sustento, como pretende defender na
presente ação. E isto restou demonstrado nos documentos.
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Não se trata de proferir decisão que afronta os termos da orientação


jurisprudencial nº 153, da SDI-2, mas sim de se verificar que o caso não se
amolda ao quanto ali contido, eis que não é esta a única fonte de sustento da
impetrante para se dar à mesma a qualidade de impenhorável:
‘Mandado de Segurança. Execução. Ordem de penhora sobre valores
existentes em conta salário. Art. 649, IV, do CPC. Ilegalidade (DJE
divulgado em 03, 04 e 05.12.2008)
Ofende direito líquido e certo decisão que determina o bloqueio de
numerário existente em conta salário, para satisfação de crédito trabalhista,
ainda que seja limitado a determinado percentual dos valores recebidos ou a
valor revertido para fundo de aplicação ou poupança, visto que o art. 649,
IV, do CPC contém norma imperativa que não admite interpretação
ampliativa, sendo a exceção prevista no art. 649, § 2º, do CPC espécie e não
gênero de crédito de natureza alimentícia, não englobando o crédito
trabalhista (g.n.).
Em face disto, a constrição deve ser tida por legal e não viola direito
líquido e certo da impetrante no tocante à impenhorabilidade desse valor.
O presente mandado de segurança é improcedente."

Nas   razões   do   mandado   de   segurança,   a   Impetrante


insiste  na  tese  de  que,  dos  R$1.954,18  penhorados  via  Bacenjud  em
sua conta bancária, R$1.378,16 são impenhoráveis (art. 649, IV, do
CPC), pois este valor corresponde à pensão que recebe pela morte do
pai, ex­funcionário público estadual.
Afirma que a impenhorabilidade é matéria de ordem
pública   e   que   demonstrou,   nos   autos   do   processo   originário,   a
natureza alimentar da quantia apreendida.
Sustenta   que   o   cotejo   do   extrato   bancário   com   o
demonstrativo   de   pagamento   expedido   pelo   Governo   do   Estado   de   São
Paulo comprova suas alegações.
Pugna   pelo   deferimento   da   segurança,   com   a
cassação   do   ato   ilegal,   a   declaração   da   ilegalidade   da   decisão
judicial e a liberação dos valores bloqueados.
Não lhe assiste razão.

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Trata­se   de   execução   movida   por   Ângela   Maria


Moreira   de   Souza   Almeida   (litisconsorte   passiva)   contra   Clínica
Infantil São Luiz S/C Ltda., redirecionada contra a Impetrante, que
é uma das sócias da pessoa jurídica (fl. 6).  
Os   demonstrativos   de   pagamento   anexados   às   fls.
24/25 da visualização eletrônica revelam que, de fato, a Impetrante
é beneficiária de pensão paga em virtude da morte de ex­professor de
educação básica do estado de São Paulo.
O extrato do Banco do Brasil comprova o crédito do
benefício previdenciário na conta da Impetrante (fl. 26).
Ocorre,   todavia,   que   o   mesmo   extrato,   juntado   à
fl. 26 dos presentes autos digitais, demonstra que a conta corrente
ali   referida   não   recebe   exclusivamente   o   crédito   da   pensão
decorrente da morte do pai da Impetrante.
Com   efeito,   no   breve   período   a   que   se   refere   o
extrato bancário, do dia 26/9/2012 a 8/10/2012, há informação de que
foi creditada, via depósito on line, a quantia de R$1.700,00 (um mil
e setecentos reais).
Como   bem   ponderado   no   provimento   recorrido,   a
circunstância   de   a   Impetrante   ser   médica,   sócia   de   uma   clínica
médica, explica o fato de possuir outras fontes de renda. 
É   possível   afirmar   com   certeza,   portanto,   que   o
benefício de pensão por morte do pai da Impetrante não representa a
única fonte dos créditos efetivados na conta bancária sobre a qual
incidiu o gravame.
Em   outras   palavras,  não   restou   provado,   a   partir
da   documentação   apresentada,   que   a   conta   bancária   sobre   a   qual
incidiu o bloqueio é destinada exclusivamente ao crédito da pensão
por morte recebida pela Impetrante.

Consequentemente,   não   há   ilegalidade   na   penhora


eletrônica   levada   a   efeito   na   execução   redirecionada   contra   a
Impetrante.
Preservada   a   norma   do   inciso   IV   do   art.   649   do
CPC, bem assim a diretriz da OJ 153 da SBDI­2 do TST. 
Firmado por assinatura eletrônica em 24/09/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal
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Por   essas   razões,  NEGO   PROVIMENTO  ao   recurso


ordinário. 

ISTO POSTO

ACORDAM  os Ministros da Subseção II Especializada
em   Dissídios   Individuais   do   Tribunal   Superior   do   Trabalho,  por
unanimidade, conhecer e negar provimento ao recurso ordinário.
Brasília, 23 de setembro de 2014.

Firmado por Assinatura Eletrônica (Lei nº 11.419/2006)


DOUGLAS ALENCAR RODRIGUES
Ministro Relator

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