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CORRENTE ELETRICA € RESISTORES 1, INTRODUGAO Na Unidade 1, Eletrostatica, estudamos conduto- 1es em equilibrio eletrostatico, isto é condutores cujos portadores de carga eétrica livres nio se movimentam em nenhum sentido preferencial O tinico movimento possivel desses portadores 6a agitagio térmica, um movi- ‘mento desordenade, sem diresao e sentido prvilegiados. [Nessa agitagio, todasas diregoes esentidos sio igualmen- teprovaveis. Lembre-se de que o campo elétrico no inte- rior de um condutor em equilrio letrostitico é nul, ¢ 6 potencial eltrico ¢ igual em todos os seus pontos. Nao 1h, portanto, nesse caso, diferenga de potencial entre dois pontos do condutor. quaisquer que sejam eles, ‘Neste capitulo, porém, vamos estudar situagdes em, «ques portadores de carga elétrca se mover em um sen- Lido preferencial Dizemos, nesss situagées, que os con- dutoressio percortidos por correntes elétricas ‘A Hletrodinamicaé0 estudo das correntes eétricas, ‘suas causas ¢ 0s efeitos que produzem no “caminho" por onde passam os portadores de carga cletrica livres. [As correntes elétricas tém papel fundamental no mundo modemo, estando presentes nos siste- mas de iluminacio residenciais e urbanos, nos ele- trodomésticos em geral, na industria, nos computa- ores, nos aparelhos de comunicacio, nos veiculos automotores etc Para perccbermos a importancia do assunto, ¢ sé maginar o caos que ocorreria se as fontes de energia clé- trica parassem de funcionar e, consequentemente, nao ppucléssemos mais gerarcorrentes elétricas Essa dependéncia tecnolégica teve inicio no fi- nal do século XIX, quando as primeiras limpadas iluminavam, linguidas, algumas poucas vias de centros mundiais importantes. Eram lampadas a- ras, perigosas ¢ pouco duraveis. Foi o pesquisador € empresirio estadunidense Thomas Alva Edison quem, depois de anos de abnegada busca, construiu, cm 1879, uma lampada constituida de uma ampo- la de vidro dentro da qual se produzia alto vacuo. filamento era de bambu carbonizado, o que propor- cionava razoavel durabilidade e um brilho intenso ¢ constante. Posteriormente, essa concepeio foi substi- twida por limpadas com filamento de tungsténio, um ‘metal que trabalha incandescente em temperaturas proximas de 3000 °C, sem se fundir. Imediatamente esse dispositivo tomou conta dos mais diversos rin- bes, prolongando o dia das pessoas, que se tornaram, de fato, reéns da cletricidade. ‘Mas, apesar de a lampada incandescente com fi- lamento de tungsténio ter sido uma idcia literalmente Juminosa, seu rendimento era muito ruim, Apenas 5% Vista noturna da cidade do Rio de fancito-RJ, Margo de 2015 Sem a energia eltrcafornecida plas uss pelas bateras, cst cendrio seria muito dferete, LUMIONDE 2 4 ELETRODINAMICA da energia clétrica que lhe era oferecida se transformava cem luz; restante, 95%, virava energia térmica sem ne lua serventia. Hoje, embora ainda utilizemos lim padas incandescentes em larga escala, hi sistemas bem melhores que oferecem rendimentos maiores, como as Lampadas fluorescentes, de vapor de mercitio e sédio, de LED ¢ plasma. Essastiltimas tendem a causar uma grande revolugao em iluminagio nos préximos anos Aswezes, porém, as correntes clétricas causam tam thém desagradveis surpresas, Por exemplo, no caso de choques elétricos ~ que nada mais sto que efeitos pro- duzidos por correntes elétricas estabelecidas em alguma regio do nosso corpo - ou no caso de correntes exces sivas eventuais, que danificam nossos letrodomésticos, Os raios que vemos no céu ~ exuberantes, porém pperigosos ~ eos trovbes que ouvimos durante as tempes- tades também sao consequéncias de intensas correntes clétricas que ocorrem na atmosfera 2. CORRENTE ELETRICA Podemos definir corrente elétrica da seguinte Corrente elétrica ¢ 0 movimento ordenado, isto € com ditegio e sentido preferenciais, de por- tadores de carga eltrica, Na ilustragao a seguit, acorrente létrica é 0 movi mento ordenado de elétrons ou de ions negativos. Agora, a corrente elétrica é 0 movimento ordena: do de ions positivos: ‘A definigao apresentada evidencia que, para gerar ‘uma corrente elétrica apreciavel em um material, cle precisa ser um condutor elétrico. Como foi visto em Eletrostatica, existem trés tipos de condutores: «+ 05 metais € a grafita, em que os portadores mé. veis de carga elétrica sao 0s elétrons livres; «+ as solugdes eletroliticas, em que os portadores éveis sio fons positivos e negativos; + os gases ionizados, em que os portadores méveis podem ser ions positivos, ions negativos e elé trons livres Em Eletrostatica nao falamos de corrente elétri- a porque naquela unidade enfatizamos situagdes de equilibrio eletrostitico, Entretanto, para esse equill- brio seratingido, correntes elétricas tiveram de existir, apesar de transitérias Quando, por exemplo, um condutor eletrizado foi colocado em contato com um condutor neutro, este se cletrizou em virtude da movimentacio de portadores de carga elétrica, ou seja, de uma corrente clétrica que fluiu de um dos condutores para o outro Corrente elétrica no vacuo? & possivel haver corrente elétrica consideravel no ‘vacuo, produzida nao por portadores do meio, eviden temente, mas por portadores langados no meio. F 0 caso, por exemplo, de se provocar no vacuo ‘uma rajada de eléteons (rains catddicos), Bo que acon- tece nos antigos tubos de imagem de televisao analégi- a (cinescépio) e nos osciloscépios catédicos 3. CAUSA DA CORRENTE ELETRICA Agora que ja sabemos o que é uma corrente elé trica, vamos ver 0 que provoca 0 movimento dos por- tadores de carga eletrica nos materiais condutores, ou seja, 0 que gera uma corrente elétrica Para isso, considere duas placas metélicas A e B, cletzizadas de modo que o potencial eletrico de A (¥,) scja maior que o de B (V,) Em seguida, vamos ligar A a B por meio de um fio também metélico. Com isso, os elétrons livres passam a se deslocar de B para A, ow seja, do poten- cial menor para o maior. Assim, geramos uma cor- rente elétrica no fi. corrente de leronen0 fo | Comrente ete reitres | capltulo 93 94 A medida que saem elétrons de B, 0 potencial Vp vaicrescendo; ea medida que chegam elétronsem A. 0 potencial v, vai diminuindo, Simbolicamente, temos © esquema abaixo Quando os potenciais v, ¢ V, tornam-se iguais, cessa o deslocamento dos eléttons de B para A, cessan- do, portanto, a corrente potencialelétrica ltrica através do fio. ‘Assim, podemos afirmar que A cottente elétrica & causada por uma diferenga de potencial elétrico (ddp) ou tensao elétrica, A explicagdo para o aparecimento da corrente elé trica também pode ser dada com base no conceito de campo elétrico Quando o fio é liga w+ do entre as placas A cB, A le um campo elétrico E é es- . tabelecido no interior do fio, orientado do. potencial . maior para o menor. Como a carga elétrica dos elétrons li: é megativa, surgem neles for- gas elétricas F de sentido oposto a0 do campo, Dessa forma, os elétrons livres pas sam ase deslocar de B para A, criando-se, entio,acor rente elétrica no fio, E importante observar que esse fio nao esté em equilibrio eletrostatico, Por isso, 0 campo elétrico em sewinterior nio énulo. Quando a diferenca de potencial U entre Ae B se anula,o mesmo acontece com o campo elétrico E, pois, Ed =U. Anulando-seo campo, 0 condutor entra em equilibrio letrostitico: a corrente cessa 4, GERADOR ELETRICO Acorrenteelétrica gerada no fio peas placas AeB, como vimos no item anterior, $6 existe em um curto como vimos em Eletrostatica, intervalo de tempo, cessando em seguida, quando se anula a diferenca de potencial entre elas. Na pritica, LUMIONDE 2 4 ELETRODINAMICA entrctanto, a corrente elétrica deve perdurar pelo tem- po que for necessirio, Para isso, é preciso manter dite. rentes os potenciais elétricos nas extremidades do fio Imagine que, na situagdo apresentada no item an terior, fosse possivel acontecer o seguinte: todo elétron que chegasse & placa A fosse transportado por alguém atéa placa B, como representa figura abaixo. fio metitico © VAa> Ve. essa forma, os potencias elétricos das placas Ae B nunca se igualariam ea corrente elétrica no fio seria mantida, Esse agente transportador de elétrons de A para B exerceria neles uma forga F, e essa forga realiza- nia um Uabalho, Assim, nesse transporte haveria um fornecimento de energia aos elétrons. Para falar dessa energia, € preciso recordar que a energia potencial eletrostitica (ou elétrica) de uma particula eletrizada com carga eléttica , situada em uma posigdo em que o potencial elétrico, év, é dada por: pa No caso de elétrons, q é negativa (Ieia o boxe a se: ‘guit), Entao, quando os elétrons vao da placa B para a placa A (Vv, > Vy) eles perdem energia potencial elé trica;, quando o agente transportador osleva de volta para a placa B, eles ganham energia potencial elétrica © agente citado repoe nos elétrons a energia potencial elétrica que perderam. Como veremos mais adiante, a energia potencial elétrica que os elétrons perdem quando se deslocam de uma extremidade do fio até a ultra éfornecida ao fio na forma de energia térmica, Em uma fungio do tipo y = kx em quekéuma constante diferente de zero, nem sempre é correto afirmar que se x aumenta, y também aumenta, De fato, sea constante k for negativa, o aumento de x ‘mplicaré a dimimuigto de y. Por exemplo, conside- reafungao y = —2x. Parax = 1, temosy = —2¢, parax = 2, temosy = —4. Portanto, quando x aumenta de 1 para 2, y di- minui de ~2 para —4. Na realidade, quem faz essa reposigio de energia potencial elétrica nao é esse agente imaginario, mas um dispositivo denominado gerador elétrico, Para isso, 0 gerador elétrico deve dispor de alguma modalidade de energia etransformé-la em energia potencial elétrica. E © aso, por exemplo, das pilhas comuns de lanterna ¢ das baterias usadas em automiveis, nas quais a energia E=1kWh Entio, em vez de dizer que o ferro elétrico consu- ‘miu 3600000 J, podemos dizer, de modo mais sim- ples, que ele consumiu 1 kWh. Observe que: 1kWh = 3,6 1087 13. VALORES NOMINAIS Os fabricantes de limpadas, ferros elétricos de passar roupa, chuveitos elétricos etc, especificam em seus produtos pelo menos dois valores, denominados valores nominais. Um deles éa tenséo nominal, que ¢ atensio da rede elétrica paraa qual o produto foi fabri- cado, e 0 outro éa poténcia nominal, que éa poténcia elétrica consumida pelo produto quando submetido & tensio nominal Considere, por exemplo, uma kimpada com as se- guintes especificagbes: 100 W-I10 V, Esses valores no- minais informam ao usuario que essa lampada opera com poténcia igual a 100 W, desde que seja submetida uma diferenga de potencial igual a 110 V. Sea limpada for ligada a uma tensio menor que a ‘nominal, a poténcia dissipada também ser menor que a nominal, e a impada iluminars menos. Entretanto, se for ligada a uma tensio maior que a nominal, alam- pada dissipara poténcia maior e iluminara mais, mas sua vida ttl serd reduzida ‘A potdncia minima deste chhuveizo€igual a 5400 W desde que este igado tama rede trea de 220 V 14. FUSIVEL E DISJUNTOR 0 fusivel éum condutor (geralmente de cobre,esta- ho, chumbo oualuminio) que protege os circuitos clétri- cos contra correntes excessivas. Fle é projetado de modo a nio permitir ue a corrente elétrica perdre no circuit, quando ultrapassa um determinado valor, Alguns tipos de fusve, Em condigdes normais de funcionamento, isto é en- quanto a corrente nao ultrapassa o valor maximo admi- ido, a temperatura atingida pelo fusivel é inferior ao seu ponto de fusto, Entretanto, sea corrente se eleva acima do maximo, a temperatura do fusivel aumenta e atinge seu ponto de fusio. Fundindo-se, o circuito se abre ea corrente cessa. Dessa mancira, o fusivel protege apare- hose instalagées elétricas Esse excesso de corrente pode ser resultado de so- Drecarga na rede elétrica (excesso de aparelhos ligados simultaneamente) ou de curto-circuito (contato direto entre dois fios da rede elétrica).Se nio fosseainterven- «20 dos fusiveis (¢ disjuntores), os riscos de incéndio nas instalagdes seriam muito maiores. Conene ela eresntares 1 cAPITULO 4 101 102 simbolo dos fusiveis, nos esquemas de circuitos letricos, é: asa Bota éadeguado CO tise isin Milne des Observea seguir o esquema de dois tipos de fusivel rmpecede ——_protsode Borel viiiooe wh i i perlio | emis Fy pees enacts [ftir metélica fusivel / KR emia emeto WS ermi , fuse) Fasivel de roses Fasivel de cartucho, E importante salientar, no entanto, que nio é s6 0) fusivel que garante a seguranca de circuitos elétricos Um dispositive muito usado atualmente na pro- tegio de circuitos ¢ disjuntor. que abre o circuito au- tomaticamente quando a corrente elétrica ultrapassa dterminado limite. disjuntor tem uma grande van- {agem sobre os fusiveis: uma ver climinada a causa da corrente excessiva, ele é novamente ligado, ¢ 0 citcui- to volta is condligies normais de operacio, enquanto 6 fusivel, uma ver fun- dido, tem de ser troca- do. Muito raramente um disjuntor precisa ser substituido por outro, Por isso, é cada vez mais raro ousode fusiveisnas instalagoeselétricas resi- denciaise industrias. Quadro de dsjuntores de ama instlagsoelética za um prédio residencial, 0 que significam os 220 V ou os 110 V em sua casa? as ‘Como voce sabe, no ferro elétricoligado a uma tomada em sua casa, 5 porexemplo,acorrenteclétrica alternada,com frequénciaiguala 60 Hz. Isso acontece porquea diferensa de potencial (4dp) U entre os terminais AB da tomada também éalternada. ‘Vamos simbolizar por V, eV, 0s potenciais desses terminais edefinir addp Uentte eles porU = V, Vy Durante mw s, Vx é maior que Vz ¢ U € positiva. No préximo —Tomada intervalo de 1 s, asituagao se inverte: v, se torna menor que V, ¢ U passa a ser negativa, 20 ( grafico deU emfungio dotempo,nocasodeuma yy tomada de 220 V, éconforme o representado ao lado. ‘Observe, entio, que a ddp U disponivel na tomada_310}-~/ varia entre —310 V ¢ +310 V, aproximadamente. Mas, entdo, o que significa dizer que essa tomada é de 220 V? Significa que, se um ferro eétrico, por exemplo, em. ‘vex de er ligado nessa tomada, se submetesse a uma ddp Uconstantee igual a 220 V, como se fosseligado a uma 549 superbatera, le esquentaria de modo exatamente igual Note, entio, que 05 220 V na realidade nao existem, io significando apenas uma tensio constante efctcia (denominada tensio eficaz) que produziria no ferro ‘o mesmo efito produrido pela tensio real, que varia entre —310Ve +310V. No caso de uma tomada de 110 V, a situagio € andloga. Agora, a ddp real varia entre —155 Ve +H155 V, aproximadamente. ‘Voltaremos ao assunto (valor eficaz) no Capitulo 11 LUMIONDE 2 4 ELETRODINAMICA

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