humanos e
cidadania
Direitos humanos e
cidadania
Presidente
Rodrigo Galindo
Conselho Acadêmico
Alberto S. Santana
Ana Lucia Jankovic Barduchi
Camila Cardoso Rotella
Cristiane Lisandra Danna
Danielly Nunes Andrade Noé
Emanuel Santana
Grasiele Aparecida Lourenço
Lidiane Cristina Vivaldini Olo
Paulo Heraldo Costa do Valle
Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro
Revisão Técnica
Fernanda Lara de Carvalho
Leonardo Ferreira
Editorial
Adilson Braga Fontes
André Augusto de Andrade Ramos
Cristiane Lisandra Danna
Diogo Ribeiro Garcia
Emanuel Santana
Erick Silva Griep
Lidiane Cristina Vivaldini Olo
ISBN 978-85-522-0217-2
CDD 341.272
2017
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
Convite ao estudo
Caro aluno, nesta Unidade 1, como dissemos, teremos uma
visão introdutória e geral dos direitos humanos e dos direitos
fundamentais que lhe possibilitará conhecer o contexto de
seu surgimento. Você estudará o conceito e o fundamento
dos direitos humanos, assim como o histórico de seu
desenvolvimento no plano internacional. No plano nacional,
do Brasil, você conhecerá alguns princípios importantes que
orientam os direitos em nossa Constituição Federal, como o
princípio da dignidade humana, e conhecerá de forma geral
os direitos fundamentais de nosso país. Por fim, trataremos de
alguns direitos específicos relacionados às dimensões de direitos
civis, e de direitos econômicos e sociais. Ao término, você estará
apto a aplicar todo este conhecimento em situações e casos
práticos.
- Superlotação;
Assimile
Segundo Comparato (2001, p. 1), o princípio da dignidade da pessoa
humana:
Vocabulário
O termo positivação significa estabelecer algo em uma norma (regra)
escrita.
Reflita
Se os direitos humanos forem fundamentados nas características
humanas, por exemplo, na razão ou na linguagem, isso significa que
quando uma pessoa possui alguma deficiência mental, ou não consegue
se comunicar propriamente com o mundo, não é titular de direitos
humanos?
Pesquise mais
Confira aqui um vídeo que conta a história dos Direitos Humanos.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=AJAdHxrX_as>.
Acesso em: 27 mar. 2017.
Assimile
Para que você compreenda a característica da universalidade dos
direitos humanos, caro aluno, deve ter em mente que ela está vinculada
à noção de que todos os seres humanos são iguais em seus direitos
e na sua dignidade. Devemos esclarecer a você, no entanto, que o
reconhecimento de que o ser humano é um sujeito de direitos, por ter
justamente a sua condição humana, acabou por flexibilizar o conceito
de soberania do Estado, como já vimos anteriormente. Além disso, tal
situação permitiu também ao ser humano ser também sujeito de direitos
em nível internacional (ALMEIDA; IKAWA; PIOVESAN, 2010, p. 1).
Pesquise mais
A Declaração Universal dos Direitos Humanos possui 30 artigos e você
poderá acessá-la neste endereço: <http://www.ohchr.org/EN/UDHR/
Documents/UDHR_Translations/por.pdf>. Acesso em: 27 mar. 2017.
Pesquise mais
Acesse o site da ONU para conhecer mais sobre o seu funcionamento.
Disponível em: <http://www.onu.org.br>. Acesso em: 27 mar. 2017.
Os sistemas regionais
Exemplificando
Conheça aqui o exemplo do caso do Complexo Penitenciário de
Pedrinhas que chegou à Corte em 2014:
Avançando na prática
Direitos Humanos dos povos indígenas
Descrição da situação-problema
Resolução da situação-problema
Ao elaborar o plano de segurança, você deverá ter em mente
que é preciso que se leve em consideração aqui os direitos
internacionais dos povos indígenas. Uma vez que os indígenas
são titulares dos direitos humanos previstos na Declaração
Universal dos Direitos Humanos, foi necessária a criação de
Princípios fundamentais
Os quatro primeiros artigos da Constituição – que estão sob o
“Título I: Dos Princípios Fundamentais” – estabelecem os princípios
fundamentais da República Federativa do Brasil. São princípios
fundamentais de nosso país – formado pela união dos Estados
e municípios e do Distrito Federal –, constituído como um Estado
Democrático de Direito: a soberania; a cidadania; a dignidade da
pessoa humana; os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; o
pluralismo político; e o princípio democrático.
Pesquise mais
Para saber mais sobre cada um desses princípios, recomendamos a
leitura das páginas 45-50 do livro Direitos Humanos de Guilherme Assis
de Almeida e de Silvia Apolinário indicado nas Referências.
Pesquise mais
Mas o que você acha que seria necessário para se ter uma vida
digna, isto é, decente e que propicie a escolha de caminhos e
possibilidades de vida?
A resposta a essa pergunta vai nos mostrar como todos os direitos
humanos decorrem do princípio da dignidade. Para que uma pessoa
possa crescer e desenvolver suas potencialidades de forma mais livre
e autêntica possível, ela precisa ter garantida sua saúde, alimentação,
moradia, afeto, educação, trabalho etc. Mas precisa também de
liberdade para fazer suas escolhas de vida, sejam elas religiosas,
profissionais, afetivas... precisa, ainda, de liberdade para manifestar
suas ideias livremente e para agir politicamente pelos seus ideais e
para exigir com que seus direitos sejam respeitados e garantidos pelo
Estado. Esse conjunto de necessidades e capacidades nada mais é
que o conteúdo dos direitos humanos, reconhecidos, por essa razão,
como princípios e direitos fundamentais na Constituição Brasileira.
É como resultado do princípio da dignidade que a Constituição
de 1988, no seu Título II, “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”,
estabelece uma extensa relação de direitos individuais e coletivos
(Capítulo I, Art. 5o), de direitos sociais (Capítulo II, Art. 6o a 11o), de direitos
de nacionalidade (Capítulo III, Art. 12o e 13o) e de direitos políticos
(Capítulo IV, Art. 14o a 16o). Nesse sentido, você deverá se perguntar:
o que o estudo dos direitos humanos, centrados na dignidade da
pessoa humana, contribuirão para que cada indivíduo tenha uma
vida plena e digna? Estudaremos isso a partir dos próximos tópicos,
especificamente com o reconhecimento dos direitos fundamentais.
Direitos fundamentais
Mas o que seriam os direitos fundamentais? Enquanto a expressão
direitos humanos refere-se aos direitos positivados nas declarações
e convenções internacionais que concretizam as exigências de
dignidade, liberdade e igualdade humanas, os direitos fundamentais
nada mais são do que os direitos humanos que foram reconhecidos e
são garantidos por lei no âmbito interno de um determinado Estado, no
Reflita
O artigo 5o da Constituição Federal diz que os direitos fundamentais se
aplicam aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país. Será que isso
significa que o estrangeiro que está de passagem no país não pode ser
considerado titular dos direitos fundamentais previstos na Constituição
Federal? Pense a respeito.
Vocabulário
Vinculante: que cria obrigação jurídica.
Exemplificando
No ano de 2013, o caso emblemático do pedreiro Amarildo de Souza,
preso, torturado e morto pela Polícia Militar do Rio de Janeiro da Unidade
de Polícia Pacificadora (UPP), da favela da Rocinha, ficou conhecido no
Brasil e no mundo.
Pesquise mais
Para conhecer a realidade brasileira no que tange à prática do crime de
tortura, recomendamos a leitura do relatório elaborado pela organização
Anistia Internacional:
Caros colegas,
Sabemos que a prática da tortura, infelizmente, é comum no
Brasil, sendo realizada principalmente pelas autoridades de nosso
país, que deveriam nos proteger. Durante a Ditadura Militar no Brasil
essa prática era a tal ponto “desenvolvida” que chegamos a exportar
técnicas para outros países. No entanto, mesmo depois da ditadura,
essa prática perdura dentre os agentes do governo, embora seja
explicitamente proibida por documentos internacionais e pela nossa
Constituição Federal de 1988.
Concluindo:
Em conclusão, esperamos de todos da equipe uma conduta
irrepreensível, que respeite a dignidade e os direitos fundamentais
daqueles que estão sob nossa guarda e autoridade temporariamente,
para que a função da pena seja cumprida, ou seja, para que estas
pessoas possam voltar a participar de nossa sociedade e usufruir
plenamente de seus direitos.
Agradecemos a atenção de todos.
Cordialmente,
Chefe de Segurança.
Avançando na prática
Segurança de estádio
Descrição da situação-problema
Resolução da situação-problema
Primeiramente, é preciso dizer que não havia motivo para que
o agente de segurança retirasse a camisa do torcedor, uma vez
que este já fora revistado e imobilizado. O torcedor encontra-se
neste momento sob a guarda de sua equipe de segurança, o que
significa que esta equipe é responsável por sua integridade física e
moral. A remoção da camisa sem qualquer necessidade constitui
uma violação à sua dignidade e à sua intimidade (princípios e
direitos fundamentais previstos na Constituição Federal). É preciso
repreender o funcionário por ter feito um uso arbitrário, ou seja,
em desrespeito à lei, do poder que detinha naquele momento
sobre o torcedor. Além disso, o xingamento constitui também
uma forma de agressão, desta vez violando integridade moral e a
honra do torcedor. É preciso explicar ao funcionário que essas são
condutas muito graves, que violam direitos fundamentais e que
não podem se repetir. Em vista da gravidade, seria correto relatar
o ocorrido a seu superior para que este tome as providências em
relação ao funcionário, considerando também que a Constituição
Federal assegura, em seu artigo 5o, X, o direito à indenização pelo
dano moral decorrente da violação.
Pesquise mais
Você pode ler o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais
e Culturais de 1966: Presidência da República. Decreto no 591, de 6 de
julho de 1992. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/1990-1994/d0591.htm>. Acesso em: 3 abr. 2017.
Assimile
As dimensões dos direitos humanos não podem ser consideradas de
forma independente. Uma dimensão depende da outra para se realizar
plenamente. Isso se dá por conta da interdependência e indivisibilidade
dos direitos humanos.
Reflita
A qual dimensão pertence o direito à autodeterminação dos povos?
Você acha que no Brasil esse direito é realizado para todos os povos que
compõem o “povo brasileiro”?
Pesquise mais
Você poderá ler estes julgamentos realizados pelo STF, fazendo uma
pesquisa de jurisprudência no site. Disponível em: <http://www.stf.
jus.br/portal/jurisprudencia/pesquisarJurisprudencia.asp> Acesso em:
27 jul. 2017, procurando pelos seguintes julgados (que são Recursos
Extraordinários – RE), conforme já foram citados:
Pesquise mais
Para que você saiba mais sobre o Plano Nacional de Saúde do Sistema
Penitenciário, acesse o link a seguir e obtenha mais conhecimentos, a
fim de auxiliá-lo na resolução da situação-problema desta seção:
Assimile
Quem foi Nelson Mandela?
Vocabulário
Para que você compreenda melhor a trajetória de vida de Nelson Mandela
e sua influência na elaboração das Regras Mínimas para tratamento de
prisioneiros da ONU, você deverá saber que o Apartheid foi um regime
que se estendeu de 1948 a 1994 na África do Sul, conhecido por praticar
uma política racial de segregação. Nesse regime, a minoria branca
detinha todo o poder econômico e político da região, assim como o
direito ao voto, em detrimento de uma maioria negra. Esta maioria era
oprimida e obrigada a obedecer a uma legislação separatista que os
desfavorecia e segregava.
Avançando na prática
A importância e a implementação de penas alternativas –
prestação de serviços à comunidade
Descrição da situação-problema
Convite ao estudo
Caro aluno, na Unidade 1, você teve uma visão geral dos
direitos humanos e fundamentais no plano internacional e
nacional e deve ter começado a perceber de forma crítica
como esses direitos se relacionam e dependem uns dos outros
para que sejam protegidos e realizados. Agora, na Unidade 2,
você estudará dois grupos de direitos específicos e as relações
existentes entre eles: o Direito à Segurança e os Direitos Políticos.
Esses direitos em muitos momentos podem parecer conflitantes
e você verá qual a importância de harmonizá-los para a garantia
de um Estado Democrático de Direito.
Ao final da Unidade 2, você entenderá qual o papel do
Estado na realização dos direitos humanos ligados ao exercício
da liberdade política e nos direitos humanos ligados ao direito à
segurança de forma crítica. E compreenderá também qual o seu
papel e sua responsabilidade frente ao Estado e à sociedade na
garantia desses direitos enquanto agente de segurança. Desse
modo, você será capaz de elaborar o produto solicitado nesta
Unidade, qual seja, o ofício à corregedoria de polícia, justificando
sua desobediência legítima a uma ordem ilegal de seu superior
hierárquico, tendo em vista os parâmetros de direitos humanos e
fundamentais cabíveis.
Dessa vez, o contexto de aprendizagem proposto é o seguinte:
Imagine que, recentemente, o Governo do Estado de
Pernambuco decidiu fechar algumas escolas de ensino médio e
transferir seus alunos para outras escolas para cortar gastos da
pasta de Educação. Professores, alunos e familiares de alunos
organizaram uma manifestação pública para o dia seguinte
à publicação do Decreto do Governador no Diário Oficial, às
17h, partindo de uma importante via de Recife, para se oporem
ao fechamento das escolas e exigir melhores condições na
educação estadual. A manifestação se dará em uma região
comercial da cidade, onde encontram-se muitos comércios e
um grande hospital.
Para garantir a segurança na manifestação foi mobilizada uma
Tropa de Choque.
Além disso, os lojistas decidiram fechar seus comércios mais
cedo e mobilizaram mais agentes de Segurança Privada para
garantir a segurança de seu patrimônio. Ocorre que a manifestação
não transcorre calmamente, havendo alguns problemas. Para
apurar as ocorrências, a Corregedoria de Polícia abre um inquérito
para investigar o ocorrido e auferir as responsabilidades.
Você acha que em uma situação como essa encontraremos
direitos que estão em conflito e que não podem ser
harmonizados? Nesse caso, existiriam limites ao direito de
reunião e manifestação dos professores e estudantes? Por quê?
Qual você acha que seria o papel da Tropa de Choque e dos
agentes de segurança privada em uma manifestação como essa?
Para resolver essas questões, na Seção 2.1 desta Unidade
você estudará o que e quais são os direitos políticos e quais os
seus limites, aprendendo também qual o sentido e o conceito da
política e alguns de seus vícios nos dias de hoje.
Na Seção 2.2 você verá qual o papel do direito à segurança na
garantia dos direitos políticos, percebendo como esses direitos se
relacionam com o direito à propriedade, e como a violência pode
descaracterizar e prejudicar o exercício da liberdade política.
Por fim, na Seção 2.3 veremos como o respeito às ordens sem
que se reflita sobre sua legitimidade e ética pode ser prejudicial
aos direitos humanos, estudando o caso do funcionário nazista
Eichmann. Em vista desse problema, veremos como podemos,
em um Estado Democrático de Direito, desobedecer às ordens
ilegais e evitar a responsabilização pessoal.
Seção 2.1
Direitos políticos
Diálogo aberto
Assimile
O termo Estado de Direito significa o Estado em que todo o poder
estatal é exercido e pautado (limitado) pela ordem jurídica em que nele
estiver vigente. A atuação estatal, com suas funções e demais atuações,
assim como todas as garantias e direitos de seus cidadãos sempre
estarão submetidas ao Direito.
Assimile
O sufrágio universal é o direito de votar nas eleições e também o
direito de ser votado. Ele é universal porque não possui quaisquer
distinções ou restrições em virtude de origem social, de gênero, de
poder econômico, de ideologia política ou de caráter religioso.
Exemplificando
Recentemente, temos um exemplo de plebiscito e outro de referendo
de que você deve se lembrar. Em 1993, cinco anos após a promulgação
da Constituição Federal de 1988, ocorreu um plebiscito para que a
população brasileira escolhesse sua forma de governo (que poderia
ser a república ou a monarquia constitucional) e seu sistema de
governo (poderia optar entre parlamentarismo ou presidencialismo). A
decisão do plebiscito, que vigora até os dias de hoje, foi pela república
presidencialista. Já com relação ao referendo, em 2005, a população
foi consultada acerca de projeto de lei que proibia a comercialização
de armas de fogo e de munições. O resultado foi a rejeição pela ampla
maioria da população desse projeto de lei, continuando-se assim com o
comércio de armas de fogo.
Reflita
Muito embora estes sejam os direitos políticos centrais reconhecidos
pela Constituição Federal de 1988, o exercício da cidadania se dá a partir
de diversos outros direitos e liberdades que ela também nos assegurou. A
noção do exercício da cidadania está intimamente ligada à necessidade
de participação na vida do Estado, o que ocorre, de grande maneira, pelo
exercício dos direitos políticos, conforme mencionados anteriormente.
Mas será que a vida política e a cidadania somente podem ser exercidas
dessa maneira? Você ainda verá nesta seção que a cidadania e os direitos
políticos também podem ser exercidos por meio de reunião pacífica ou
de livre associação para se manifestar contra atos do governo quando
parcela da população esteja descontente. Mas que, mesmo neste caso,
os direitos humanos têm de ser respeitados, assim como a ordem
pública e o direito à segurança a que todos temos direito...
Pesquise mais
Você sabe o que é justiça de transição? De acordo com o Dicionário
de Direitos Humanos da Escola Superior do Ministério Público da União,
a justiça de transição é: “[...] o conjunto de abordagens, mecanismos
(judiciais e não judiciais) e estratégias para enfrentar o legado de
violência em massa do passado, para atribuir responsabilidades, para
exigir a efetividade do direito à memória e à verdade, para fortalecer as
instituições com valores democráticos e garantir a não repetição das
atrocidades.”
O que é a política?
Para tratar desse tema invocaremos uma autora muito importante
no estudo da política, a teórica Hannah Arendt, que foi uma judia
alemã que viveu na Alemanha até a eclosão da Segunda Guerra
Mundial e teve de fugir em virtude da política de perseguição aos
judeus praticada pelo Nazismo. Ela dedicou sua vida a estudar o
totalitarismo e as formas como este regime poderia ser evitado e,
com ele, as barbáries que se seguiram.
Vocabulário
No mundo grego, a cidade era designada pelo termo pólis.
Vocabulário
Aqui, isonomia não pode ser entendida como a igualdade perante a lei,
como costumeiramente a definimos, mas sim como o igual direito à
atividade política.
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Resolução da situação-problema
É importante que você saiba que o direito à liberdade de
expressão e de manifestação do pensamento, que é um direito
civil e político, abrange também, como uma de suas modalidades,
o direito à informação, que é um direito fundamental protegido
pelo Art. 5o, XIV e XXXIII, e pelo artigo 220 da Constituição
Federal. A Lei de Acesso à Informação (Lei 12.527/2011) vem
regular justamente a garantia de acesso à informação prevista no
artigo 5o, XXXIII, que estabelece que “todos têm direito a receber
dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou
de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da
lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo
seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.” Nesse
sentido, você deve disponibilizar os boletins solicitados nos
termos e respeitando os procedimentos e prazos da Lei, sendo
os boletins de ocorrência, neste caso, de interesse coletivo e não
estando cobertos por qualquer sigilo em seu Estado.
Assimile
Lembre-se de que os direitos humanos de primeira dimensão
correspondem aos direitos civis e políticos e estão ligados à ideia de
liberdade do indivíduo em relação ao Estado. Nesse caso, correspondem
também à noção de prestações negativas do Estado, ou seja, de não
ingerência na vida privada do indivíduo e respeito à sua liberdade e
garantia dos direitos a ela relacionados.
Pesquise mais
Conheça um pouco do pensamento de Marx por meio do seguinte
vídeo:
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fSQgCy_iIcc>.
Acesso em: 18 jul. 2017.
(não se esqueça de ativar as legendas em português)
Reflita
O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MTST) ocupa as
propriedades improdutivas como forma de acelerar a reforma agrária
e garantir, de fato, que toda pessoa tenha direito à propriedade. Eles
argumentam que a terra é fonte de vida e deve ser utilizada em benefício
de toda a população. O que você pensa a esse respeito?
Exemplificando
Uma das formas pelas quais os interesses econômicos privados
influenciam nos governos e no Estado é por meio das doações a
campanhas eleitorais. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal
declarou a inconstitucionalidade da doação de empresas a partidos
e candidatos, sob argumento de que as doações podem favorecer a
corrupção, como de fato temos observado, mas isso não agradou os
representantes eleitos, que querem a volta das doações:
Violência na política
Agora vamos explorar um assunto muito pertinente à política,
que é o significado do poder e qual sua relação com a violência.
Hannah Arendt explica que a palavra poder foi por muito
tempo definida como um instrumento de domínio e sempre teve
uma íntima relação com a violência, uma vez que este domínio
geralmente pressupõe uma relação de forças. Ela escreve que
essas definições derivam de nossas tradições do pensamento
político: da velha noção do poder absoluto que acompanhou o
surgimento do Estado-nação soberano na Europa, e dos termos
usados desde a Antiguidade grega para definir as formas de
governo como domínio do homem pelo homem.
Houve, no entanto, momentos em que poder não significou
uma relação entre dominadores e dominados. Na cidade-Estado
(pólis) ateniense que se denominava uma isonomia, ou na
civitas romana. Nessas ocasiões, o que se tinha em mente era
um conceito de poder e de lei que não repousava na relação
mando-obediência. A república moderna foi baseada nessas
formas de governo. Nela, o domínio da lei, assentado no poder
do povo, poria fim ao domínio do homem sobre o homem.
Assimile
O poder é independente da violência e não precisa dela para ser exercido.
Ele se caracteriza pela ação política coletiva.
Avançando na prática
A propriedade pública e sua proteção pelo Estado versus direito à
segurança de manifestantes
Descrição da situação-problema
Resolução da situação-problema
Primeiramente, é importante considerar que a demarcação de
terras indígenas contribui para a política de ordenamento fundiário
do Governo Federal e dos Entes Federados e, consequentemente,
para a redução de conflitos pela terra, uma vez que os Estados
e Municípios passam a ter melhores condições de cumprir
com suas atribuições constitucionais de atendimento digno a
seus cidadãos, com atenção para às especificidades dos povos
indígenas.
No entanto, antes mesmo da demarcação, os indígenas
devem ter sua segurança pessoal e humana garantidas. As ações
dos madeireiros ameaçam a segurança pessoal (ou seja, sua
Pesquise mais
O cineasta francês Alain Resnais dedicou-se à temática das tragédias
ocorridas durante a Segunda Guerra Mundial em dois filmes. Um
deles intitulado Noite e neblina, um documentário que mostra as
terríveis violações de direitos humanos nos campos de concentração
e extermínio alemães; e outro intitulado Hiroshima, meu amor, uma
ficção que traz como pano de fundo a tragédia da bomba atômica de
Hiroshima.
Pesquise mais
Recomendamos o filme Hannah Arendt (2012), dirigido por Margarethe
von Trotta, que conta justamente o episódio em que a pensadora vai
assistir ao julgamento e relatá-lo, e os impactos de sua narração naquele
momento.
Reflita
Você acha que o governo brasileiro funciona hoje como uma
burocracia? Você acredita que os agentes desse governo podem
ser responsabilizados pessoalmente por seus atos quando cumprem
ordens?
Exemplificando
Confira o documentário que traz o depoimento da secretária de
Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, que integrava a burocracia
totalitária e veja como o sistema burocrático pode contribuir para que
não reconheçamos nossa responsabilidade pessoal diante de nossas
ações em serviço:
Disponível.em:.<http://hojeemdia.com.br/almanaque/document%C3%A1rio-
trazperturbador-depoimento-da-secret%C3%A1ria-de-goebbels-1.460685>
;.<http://www.dw.com/pt-br/entrevista-com-ex-secret%C3%A1ria-de-
goebbels-vira-document%C3%A1rio/av-38789546>. Acesso em: 31 jul. 2017.
Pesquise mais
Por esse motivo, uma das formas de resistência à lei injustas, que
se contrapõe à resistência baseada em técnicas da violência, é a
desobediência civil. Essa modalidade de resistência remonta ao pensador
norte-americano Henry David Thoreau. Você deve saber também que
quando a desobediência civil é exercida por um grupo de pessoas, ela
gera poder a este grupo.
Conheça melhor sobre a sua vida e seu pensamento assistindo ao vídeo
disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=JJL9S0J8-4k>.
Acesso em: 18 jul. 2017.
(não se esqueça de habilitar as legendas em português)
Pesquise mais
Você poderá saber um pouco mais sobre as ouvidorias de polícia e o
controle externo que elas exercem sobre a atividade policial ao ler a
tese de doutorado de COMPARATO, Bruno Konder. As ouvidorias de
polícia no Brasil: controle e participação. Disponível em: <http://www.
teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde-25052007-143115/pt-br.php>.
Acesso em: 12 jun. 2017.
Assimile
A Corregedoria de Polícia é um órgão de controle interno e a Ouvidoria
de Polícia é um órgão de controle externo.
Senhor Corregedor,
Venho por meio deste relatar e esclarecer o que segue. Nesta
manhã recebi uma ordem verbal de meu superior hierárquico, o
Oficial XXXXXX referente ao protesto dos professores previsto para
amanhã que tem por objetivo reiterar as reivindicações do protesto
ocorrido no dia XXXXXX. Enquanto oficial designado para coordenar
a operação que acompanhará este protesto, me foi ordenado que
identificasse e prendesse os líderes do sindicato dos professores
participantes no protesto de maneira arbitrária.
Descrição da situação-problema
Resolução da situação-problema
Constatada a conduta ilegal por parte dos policiais, que viola
a segurança pessoal, bem como a integridade física do garoto
detido, primeiramente, você deve se preocupar em identificar os
policiais, por sua identificação funcional ou ao menos pela placa
da viatura. Se houver testemunhas, ou outras formas de provas, é
conveniente reuni-las. Isso vai ajudar na condução de um futuro
processo investigativo. A conduta mais adequada seria realizar
uma denúncia, seja diante da Ouvidoria de Polícia de seu Estado,
ou da Corregedoria da Polícia Militar de seu Estado. Por um lado,
a Ouvidoria não tem poder investigativo, por outro, sendo um
órgão externo à polícia, é garantida a realização de um controle
externo de sua denúncia, através de seu acompanhamento pelo
órgão. A Corregedoria, por seu turno, possui poder investigativo,
podendo instaurar um processo administrativo ou um Inquérito
Policial Militar, mas é um órgão essencialmente de controle
interno.
Vocabulário:
[*] Código Castrense – É o Código Penal Militar.
[**] Caserna – Similar à área em que se localiza o quartel militar.
Promoção da igualdade e
valorização da diversidade:
combate ao preconceito e à
discriminação
Convite ao estudo
Caro aluno, seja bem-vindo à Unidade 3 do Curso de
Direitos Humanos e Cidadania. Já realizamos a metade de
nosso percurso. Na Unidade 2, estudamos os direitos políticos
e sua interação com os demais direitos, em especial o direito
à propriedade e à segurança. E nesta unidade estudaremos os
direitos especiais das pessoas em situação de vulnerabilidade.
Você aprenderá como tomar decisões em vista desses grupos
específicos, com um olhar compreensivo e inclusivo em relação
ao outro, ao diferente.
Contexto de aprendizagem
Situação-problema
Enquanto gestor da equipe de segurança do shopping center, você
é notificado pelo gerente que haverá, no próximo fim de semana, um
encontro (rolezinho) que trará uma grande quantidade de jovens ao
shopping. Você precisa orientar seus funcionários em como garantir
a segurança do shopping e de seus estabelecimentos comerciais
respeitando os direitos humanos dos jovens e outros frequentadores
do estabelecimento. Considerando o perfil diversificado dos jovens
e dos outros frequentadores do shopping, as orientações devem
contemplar alguns grupos vulneráveis:
- Pessoas portadoras de necessidades especiais.
- Crianças e adolescentes.
- Pessoas idosas.
- Mulheres.
Para resolver essa situação que propomos agora, você encontrará
as informações necessárias fazendo a leitura do "Não pode faltar".
Vamos começar?
Reflita
Você acredita que hoje em dia o direito à hospitalidade universal
é respeitado? E por quê? Você poderá pensar a respeito disso ao
tomar como exemplo o caso bastante recente e atual da guerra da
Síria e os movimentos migratórios desse país em direção à Europa,
principalmente, formados por refugiados dessa guerra. Você acredita
que exista essa hospitalidade universal pelos países europeus em receber
esses refugiados?
Pesquise mais
Você poderá encontrar mais detalhes sobre o conceito de hospitalidade
universal na obra do filósofo alemão Immanuel Kant, À Paz Perpétua.
Assista a uma breve explicação sobre esse conceito no vídeo a seguir,
que trata do assunto a partir dos conceitos de “posse comunitária da
terra” e “obrigação de convivência de um ser humano para com o outro”.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=kGRCkk3xM5w>.
Acesso em: 4 jul. 2017.
Reflita
Assista ao vídeo do professor Gilberto Rodrigues sobre os direitos das
minorias:
RODRIGUES, G. Quais são os direitos das minorias? Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=Y5hoPS-mQsc>. Acesso em: 13
jun. 2017.
Exemplificando
Você sabe qual é a origem da Lei Maria da Penha (Lei Federal nº
11.340/2006)? A Lei Maria da Penha foi aprovada no Brasil após solicitação
da Comissão Interamericana de Direitos Humanos para que a justiça
julgasse o caso de diversas tentativas de homicídio à vítima, Maria da
Penha, por seu companheiro. A justiça penal brasileira demorou 15 anos
para dar uma sentença judicial conclusiva ao caso. Foi nesse sentido que
a Comissão Interamericana agiu, pela demora do Estado brasileiro em
tomar providências em uma questão ligada à violência praticada contra
uma mulher brasileira.
Pesquise mais
Em uma recente decisão judicial, no Estado do Rio de Janeiro, a Lei Maria
da Penha foi aplicada em um caso envolvendo uma transexual. Sua mãe foi
proibida de se aproximar dela, em um raio de 500 metros, por tê-la internado
forçadamente em uma clínica psiquiátrica, privando-a da convivência com
sua companheira, além de amigos e familiares. Agrediu também a vítima.
A justificativa para a aplicação da lei, segundo o juiz do caso, é que a Lei
Maria da Penha protege a cidadã do gênero feminino contra qualquer ato
violento, ainda que o agressor seja do sexo feminino. Além disso, concluiu
que, em uma sociedade machista, comportamentos violentos e do mesmo
tipo podem e são, muitas vezes, repetidos por mulheres.
O GLOBO. Mãe que internou filha ‘trans’ é proibida de se aproximar dela
pela Lei Maria da Penha. 05/06/2017. Disponível em: <https://oglobo.
globo.com/brasil/mae-que-internou-filha-trans-proibida-de-se-aproximar-
dela-pela-lei-maria-da-penha-21437280#ixzz4jAT9XxS0>. Acesso em: 20
jun. 2017.
Essa discussão permanece bastante atual para tratarmos do assunto sexo
biológico versus identidade de gênero. O primeiro, enquanto dado natural,
não necessariamente corresponderá à identidade de gênero do indivíduo,
pois esta é uma construção social. Além disso, a experiência de cada ser
humano, a forma como ele se identifica, poderá corresponder ou não ao
seu sexo biológico, que somente pode ser feminino ou masculino. Você
poderá ver maiores detalhes sobre o assunto no link da notícia que trata de
caso semelhante sobre a aplicação da Lei Maria da Penha em uma situação
de agressão a uma transexual por seu companheiro: <http://www.migalhas.
com.br/Quentes/17,MI240416,21048-Lei+Maria+da+Penha+pode+ser+ap
licada+em+favor+de+transexual>. Acesso em: 4 jul. 2017.
Assimile
Ainda veremos, na última seção da Unidade 4, a questão de conflitos
de direitos. Mas é bom que você já tenha em mente que, no caso de
aleitamento materno, pela regra da proporcionalidade, e como maneira de
se resolver o conflito entre o direito à alimentação da criança e a proteção
contra atos obscenos em público, privilegia-se o direito à alimentação da
criança neste caso. Isto se deve ao fato de o propósito de se alimentar a
criança ser louvável em relação a uma aparente obscenidade praticada
pela sua mãe, ao ter de despir-se parcialmente em local público para
fazê-lo. Não há a prática de ato obsceno: o propósito da alimentação da
criança desqualifica e invalida essa eventual obscenidade, pois se trata
de um ato que não pode ser enquadrado como ato obsceno, uma vez
que o propósito é alimentar uma criança, e que não há outra alternativa,
portanto, pelo fato de ela necessitar do aleitamento materno.
Exemplificando
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos recebeu uma
denúncia quando houve o assassinato de oito crianças e adolescentes
nas proximidades da Igreja Candelária, no centro da cidade do Rio de
Janeiro, em 1993. Já a Corte Interamericana de Direitos Humanos foi
acionada no caso, envolvendo o Governo do Distrito Federal, quando
ocorreu a morte de jovens em um centro de internação para o
cumprimento de medidas socioeducativas. O governo foi condenado
por omissão e descaso, sendo obrigado a construir um novo centro de
internação e a fechar o outro por precariedade de suas instalações.
Reflita
Como já vimos anteriormente, as crianças e os adolescentes também
estão sujeitos à proteção integral de seus direitos pelo Estado. Você já parou
para pensar, em um caso concreto, se os direitos de uma criança e de um
idoso estivessem sendo questionados, qual ou quais deles prevaleceriam
um em relação ao outro? Como você decidiria a esse respeito e a quem
daria prioridade se tivesse de escolher entre um e outro?
Avançando na prática
Direitos das mulheres: o direito à amamentação
Descrição da situação-problema
2.
Assimile
Para que você não tenha dúvidas sobre os conceitos de igualdade
perante a lei e de diversidade, vamos esclarecer um pouco mais. A
ideia de igualdade perante a lei, como vimos, encerra a noção de não
se garantir direitos ou privilégios a determinados grupos de cidadãos em
prejuízo dos demais, por via legal, em situações em que todos sejam
iguais ou estejam em situação de igualdade. Parafraseando o escritor
George Orwell, que escreveu Revolução dos Bichos, em 1945, um
cidadão não pode ser mais igual do que outro cidadão.
Vocabulário
Selecionamos aqui alguns termos que você deverá saber diferenciar
quando tratar de temas ligados à diversidade sexual:
Tipos de orientação sexual:
Heterossexual: “Pessoa que se sente atraída afetiva e/ou sexualmente
por pessoas do sexo/gênero oposto.”
Homossexual (gays e lésbicas): “Pessoa que se sente atraída afetiva e/ou
sexualmente por pessoas do mesmo sexo/gênero.”
Bissexual: “Pessoa que se sente atraída afetiva e/ou sexualmente por
pessoas de ambos os sexos/gêneros.”
Pesquise mais
Sobre a luta da população LGBT para terem reconhecidos seus direitos
civis nos Estados Unidos, movimento iniciado no final da década de
1970, sob liderança do ativista gay Harvey Milk, assista ao filme Milk: A
Voz da Igualdade (Estados Unidos, 2008), do diretor Gus Van Sant. Você
pode conferir o trailer acessando o link a seguir. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=0vX-X259gxA>. Acesso em: 7 jun. 2017.
Reflita
Você já pensou que gays, lésbicas, transexuais e toda a comunidade LGBT
sentem, uns pelos outros, o mesmo amor que os heterossexuais? Assista
ao videoclipe da música Same Love (Mesmo Amor), do artista norte-
americano Macklemore, legendado, e pense a respeito disso! Acesse o
link. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=vrVjBrHJ1Js>.
Acesso em: 7 jun. 2017.
Reflita
Você é a favor ou contra a criminalização da homofobia? Essa é
ainda uma questão bastante controversa na atualidade brasileira. Os
argumentos a favor giram em torno da ideia de que, com a previsão
da homofobia como crime, haveria, por assim dizer, o reconhecimento
das orientações sexuais diversas da heterossexualidade. Explicamos:
o Estado, ao criminalizar a prática da homofobia, protegerá um bem
jurídico, qual seja a vida, a identidade e a orientação sexual do indivíduo
que não seja heterossexual. Além disso, há quem argumente que, com
a previsão de punição específica contra essa prática, sua incidência
diminuiria na realidade. Contudo, há argumentos contrários. Neste
último caso, argumenta-se que a existência de uma pena para punir
a homofobia, caso se torne crime, não levará à solução da verdadeira
causa do problema: o ódio à população LGBT. A pena não protegeria a
pessoa, tampouco seria capaz de prevenir a violência ou de ressocializar
o agressor. Além disso, com a sua existência, ter-se-ia uma sensação
superficial de que o problema já estaria resolvido por haver punição. Esta
corrente ressalta ainda que a prevenção da homofobia se dá por um
Para você pensar mais a este respeito, acesse os links a seguir com
argumentos contrários à criminalização. Disponível em: <http://www.
sul21.com.br/jornal/homofobia-criminalizar-nao-e-combater/>. Acesso
em: 6 jul. 2017.
Exemplificando
O Brasil tem reconhecido diversos direitos civis à população LGBT. Em
uma decisão histórica, no ano de 2011, o Supremo Tribunal Federal
acabou por reconhecer a equivalência dos direitos e deveres dos
casais homossexuais e heterossexuais, o que, na prática, demonstrou,
juridicamente, que casais homossexuais também constituem entidades
familiares. A partir dessa decisão adveio a Resolução nº 175/2013 do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que vedou o não reconhecimento
do casamento civil de homossexuais pelos cartórios. Além disso, temos
o exemplo da Lei nº 10.948/2001, do Estado de São Paulo, aprovada
para punir, administrativamente, práticas discriminatórias contra a
população LGBT. Há também o Decreto nº 55.588/2010, do Estado
de São Paulo, que obriga a tratar as pessoas transexuais e travestis pelo
seu nome social (que é o prenome a partir do qual estas pessoas se
identificam e reconhecem como sendo de sua identidade e também
por sua comunidade). Ainda, com relação ao nome, tem sido intenso
o movimento nos tribunais brasileiros para a retificação de registro
social (do prenome especialmente) de cidadãos e cidadãs transexuais
brasileiros. Apesar de ainda não dispormos de uma lei que determine
essa possibilidade de retificação, os procedimentos para que ocorra
Avançando na prática
Abordagem policial na população LGBT
Descrição da situação-problema
Resolução da situação-problema
O Procedimento de Operação-Padrão da Polícia Militar do
Estado de Pernambuco prevê algumas regras especialmente
designadas para a população LGBT, quando for abordada por
policiais, incluindo-se eventuais procedimentos de revista pessoal.
No caso em tela, ao ter sido destacado para a operação de
identificação das travestis de Olinda, justificada pela prática de
crimes por essa população, que, no caso, são profissionais do sexo,
você deverá abordá-las e revistá-las caso haja suspeita de porte de
drogas que caracterizem tráfico ou porte de armas brancas (facas,
canivetes, tesouras, objetos pontiagudos e perfurantes).
Ao chegar ao local, você deverá:
1. Identificar-se pelo nome que consta em seu uniforme.
2. Esclarecer o motivo de sua abordagem – identificação
das travestis.
Com base nos textos acima mencionados, julgue as afirmativas abaixo como
verdadeiras (V) ou falsas (F):
I. O direito à igualdade deve ser respeitado sempre, independentemente da
orientação sexual de cada cidadão, que, pelo direito à liberdade, é livre para
manifestar e viver essa orientação sexual da forma como melhor lhe aprouver.
II. Há quem defenda que, apesar de a homofobia ainda não ser criminalizada no
Brasil, a ocorrência de tantos homicídios de membros da comunidade LGBT
é um dado alarmante que deve influenciar os parlamentares a modificarem
o Código Penal brasileiro nesse sentido, a fim de que se tente diminuir a
prática de tais crimes e não exista impunidade para aqueles que os praticarem,
muito embora existam opiniões contrárias nesse sentido, que afirmam que
a existência de punição estatal não previne a violência, ao contrário, pode
aumentá-la, e que a prevenção da homofobia se dá por uma transformação
social, através de processo social e educacional.
III. O Estado não deve realizar ações de políticas públicas afirmativas para
proteger a população LGBT e lhes conceder direitos civis, tais como o
casamento civil igualitário ou o tratamento pelo nome social em órgãos
públicos de travestis e transgêneros, sob risco de ferir o princípio da igualdade
jurídico-formal, consagrado na Constituição Federal de 1988.
Agora, assinale a única alternativa CORRETA:
a) V-F-F.
b) V-F-V.
c) V-V-F.
d) F-F-V.
e) V-V-V.
2.
3.
Assimile
É importante destacar que não se trata de empatia, uma vez que não
devemos sentir como o outro sente, mas imaginar como se sentiriam,
pensariam. Deve-se pensar seus próprios pensamentos, mas no lugar de
outra pessoa.
Reflita
Você já pensou em quais são os seus exemplos? Eles são pessoas reais,
figuras religiosas, personagens históricos, personagens fictícios? Por que
essa pessoa constitui um exemplo para você? O que a distingue?
Teoria do Reconhecimento
A teoria e as políticas do reconhecimento partem da tese de
que nossa identidade é formada, em parte, pela existência ou
inexistência do reconhecimento. Assim, uma pessoa ou grupo
pode ser realmente prejudicado se aqueles que o rodeiam, seja
no âmbito familiar ou no social, os desprezarem, por não o
reconhecer pelo que é ou por o considerar inferior. Essa teoria
parte do pressuposto de que nossas identidades são definidas
não apenas por nós mesmos mas também na existência com os
outros, e seu não reconhecimento pode ser prejudicial. No nível
íntimo, é fácil verificar até que ponto uma identidade necessita e
é vulnerável ao reconhecimento concedido, ou não, por aqueles
que são importantes e próximos. Mas isso pode ser transposto para
o plano social: a recusa de reconhecimento pode constituir uma
forma de opressão.
Ocorreram duas mudanças na modernidade de extrema
importância para que se desenvolvesse uma preocupação com
o reconhecimento. A primeira delas foi a noção moderna de
dignidade, que já exploramos na Unidade 1, que como vimos hoje
possui um sentido universalista e igualitário. Antes de a dignidade
humana ser considerada universal, o reconhecimento era associado
exclusivamente à posição social ocupada por uma determinada
pessoa ou grupo na sociedade. Decorrem da concepção moderna
de dignidade a concepção igualitária e universal dos direitos
humanos. O conteúdo de uma política de dignidade universal
visa à igualdade de direitos. O que se deve evitar a todo custo é
a existência de cidadãos de primeira classe e de segunda classe.
A segunda mudança diz respeito ao conceito de autenticidade,
segundo o qual cada ser humano tem um modo singular de existir
e ser no mundo, sendo que devemos reconhecer igualmente
todas as formas particulares de ser. O desenvolvimento da noção
Avançando na prática
Inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho
Descrição da situação-problema
Resolução da situação-problema
É preciso que você explique aos funcionários que a contratação
das pessoas com deficiência faz parte de uma política de ação
afirmativa, que consiste em medidas especiais e temporárias, que
são tomadas espontânea ou compulsoriamente, com o objetivo,
neste caso específico, de compensar perdas provocadas pela
discriminação e marginalização e promover o reconhecimento
desse grupo enquanto pessoas capazes de desempenhar funções
e contribuir para a sociedade. Você pode também apresentar a
eles o Estatuto da Pessoa com Deficiência e a Lei nº 7.853/1989,
que dispõe sobre o apoio à pessoa portadora de deficiência.
Essas duas leis têm um grande enfoque na integração da pessoa
com deficiência à sociedade, uma vez que sua exclusão e
2.
Com base nessas indicações, pode-se dizer que o juízo, como uma
faculdade distinta do pensar e do querer, no pluralismo do cogito
arendtiano, é a capacidade de lidar com o particular sem perder
o horizonte do seu significado geral. É uma habilidade política
3.
A novidade reside na formulação explícita que agora é feita da
exigência de reconhecimento. E o que tem contribuído para esse
caráter explícito, da forma que eu indiquei atrás, é a divulgação da
ideia de que o reconhecimento é essencial para a nossa formação. [...]
Um dos autores responsáveis por essa transição é, sem dúvida alguma,
o falecido Frantz Fanon, cuja obra marcante [...] (Os Condenados
da Terra) defendia que a principal arma dos colonizadores era a
imposição da imagem que eles concebiam dos colonizados sobre
os povos subjugados. Estes, para se libertarem, deveriam, primeiro
expurgar-se dessas imagens autodepreciativas. [...] [A] noção de que a
mudança da imagem adotada implica uma luta, que tem lugar dentro
do indivíduo subjugado e contra o dominador, tem conhecido uma
aceitação generalizada. (TAYLOR, 1998, p. 85)
Cidadania, prevenção e
planejamento na promoção
dos direitos humanos
Convite ao estudo
Caro aluno, finalmente chegamos à última unidade de nosso
curso, a Unidade 4. Lembramos que na Unidade 3 você estudou
a promoção do direito à igualdade e da diversidade por meio
do combate ao preconceito e à discriminação, bem como por
meio de leis específicas que contemplam as necessidades de
grupos vulneráveis. Você aprendeu também como se avaliar e
julgar situações em momentos de crise ou inéditas em que não
é possível confiar em padrões universais, ou mesmo nas leis. É
preciso aprender a julgar e a tomar decisões por nós mesmos,
desconfiando, muitas vezes, das ordens que recebemos de
autoridades ou mesmo de algumas leis que podem ser injustas.
Cidadania
O termo cidadania traz a ideia de participação na vida do Estado,
que se exterioriza, principalmente, pelo exercício dos direitos políticos,
Assimile
Os direitos humanos que temos hoje são derivados, em grande medida,
de uma conquista histórica e política, ou seja, foram conquistados por
meio da convivência coletiva dentro de uma comunidade política.
E mesmo atualmente, em que são internacionalmente positivados,
sua promoção e efetivação dependem da atuação em comunidades
políticas, o que é imensamente facilitado pelo vínculo de cidadania.
Reflita
Você acredita que os imigrantes e refugiados podem ser considerados
cidadãos? Pense a respeito.
Reflita
Você pensa que a organização em redes é mais condizente com o
exercício da cidadania do que a estrutura de representação tradicional?
Participação
Dessa maneira, essa participação do cidadão nos negócios do
Estado somente pode se dar em regimes de governo democráticos,
em que são garantidos direitos civis, políticos, econômicos e sociais
de todos os indivíduos. Assim, a atuação do cidadão gira em torno
da necessidade de adquirir, preservar e exigir que seus direitos sejam
respeitados, garantidos e cumpridos pelo Estado democrático de
direito. Para que você se lembre também, a filósofa Hannah Arendt
(2009 apud LAFER, 1988, p. 16), ao definir cidadania, afirmou que é o
“direito a ter direitos”. E essa atividade de participação nos negócios
do Estado pelo cidadão se dá, no Estado democrático de direito, por
meio da política, como outrora também já dissemos. É a participação
nos negócios estatais concernentes ao interesse público, o qual
se dá na vida real por meio da formulação e implementação das
políticas públicas. E essa participação também tem um lugar em que
ela acontece: em uma comunidade. Logo, é dentro da comunidade
em que o cidadão está (o município, os estados, o Distrito Federal e a
União, entes federativos brasileiros) que ela se verifica. Nesse sentido,
o cidadão membro da comunidade tem a noção de pertencimento,
por meio do qual poderá exigir seus direitos.
Para sistematizarmos e fazermos com que você compreenda a
Controle social
O controle social pode ser definido como sendo o
compartilhamento de poder do Estado com a sociedade, a partir
Pesquise mais
Você sabia que além da existência dos conselhos existe outro mecanismo
de controle e participação social muito utilizado no Brasil? São os
orçamentos participativos, por meio dos quais diversos municípios
brasileiros formulam consultas e audiências públicas, em que convocam
a população para que estabeleçam e definam a forma como o dinheiro
público será empregado e gasto diretamente nas políticas públicas
dessas cidades.
Exemplificando
Como exemplo desses conselhos, temos o Conselho de Defesa
dos Direitos da Pessoa Humana e o Conselho Nacional dos Direitos
Avançando na prática
Agindo preventivamente para a promoção de direitos humanos
Descrição da situação-problema
Resolução da situação-problema
Primeiramente, é preciso que você esclareça que a Polícia
Comunitária atua com enfoque na promoção dos direitos
humanos, e não na repressão, buscando realizar direitos humanos
com ações positivas, e não somente coercitivas e repressoras.
No entanto, para que esse tipo de atuação seja efetiva, é preciso
que se compreendam as necessidades, as motivações e o
comportamento da população a qual são destinadas as normas, e
que se haja sobre essas necessidades. É preciso, portanto, ampliar
a participação dos cidadãos, inclusive daqueles que se encontram
à margem da sociedade, e torná-los agentes políticos e partícipes
do Estado. Essa participação é importante também para o direito
à segurança. O desenvolvimento de ações de encorajamento
e de promoção de direitos humanos será mais efetivo com a
1.
O que [Hannah Arendt] afirma é que os direitos humanos
pressupõem a cidadania não apenas como um fato e um
meio, mas sim como um princípio, pois a privação da
cidadania afeta substantivamente a condição humana,
uma vez que o ser humano privado de suas qualidades
acidentais – o seu estatuto político – vê-se privado de
sua substância. (LAFER, 1991, p. 151)
2.
A compreensão da cidadania para o século XXI deve ser
cada vez mais ampla, não podendo se restringir apenas ao
direito do ser humano de atuar apenas no campo político.
3.
Pesquise mais
Sobre a desmilitarização das polícias brasileiras, leia os artigos a seguir
para saber um pouco mais e tentar formar uma opinião: <https://
noticias.terra.com.br/brasil/policia/policia-brasileira-mata-e-morre-mais-
do-que-em-outros-paises,9828b860e660a410VgnVCM20000099cce
b0aRCRD.html>; <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/05/paises-
da-onu-recomendam-fim-da-policia-militar-no-brasil.html> e <http://
epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/05/precisamos-desmilitarizar-
policias-diz-especialista-europeu.html>. Acesso em: 17 ago. 2017.
Policiamento comunitário
Há, contudo, alguns movimentos internos à polícia militar que
visam romper com o paradigma de policiamento essencialmente
repressivo e distante da comunidade que vigia à época da ditadura,
por exemplo, a criação de polícias comunitárias. No entanto, isso
ainda é uma iniciativa particular a cada estado da federação.
A principal premissa do policiamento comunitário seria o
respeito aos direitos humanos, sendo necessária a participação dos
cidadãos, além de entidades públicas e privadas, na identificação e
resolução rápida dos problemas ligados à segurança. O conceito de
policiamento comunitário tem por base a cooperação entre agentes
de segurança e a população, de modo que juntos possam resolver os
problemas de segurança. Para que seja eficiente, é preciso que esses
dois atores sejam parceiros atuantes na resolução dos problemas que
diagnosticarem na localidade onde estão inseridas. O policiamento
comunitário deve se dar localmente, uma vez que cada comunidade
tem as suas particularidades e vai exigir soluções diferentes das outras.
O ideal, portanto, é que o comando seja descentralizado.
O profissional de segurança que atuar no policiamento
comunitário deve ser alguém capaz de mediar conflitos, estabelecer
diálogo e estar próximo da comunidade. A mediação de conflitos - é
importante que se esclareça - não pode ser voltada para a erradicação
imediata do conflito, que frequentemente tem um caráter repressivo,
mas ser capaz de, em coordenação com as partes envolvidas, buscar
Ação preventiva
Sob a perspectiva das ações preventivas de segurança, esta deve
ser reconhecida como um direito, cujas dimensões e impactos são
muito mais amplos do que apenas a esfera penal ou a atividade policial.
Nesse sentido, novamente, o conceito de segurança humana parece
muito adequado a essa perspectiva. Assim, a segurança pública deixa
de ser de responsabilidade apenas dos sistemas de polícia e justiça,
mas envolve uma série de outros atores e poderes para além das forças
policiais e de segurança. Não é possível, portanto, responsabilizar
apenas as polícias estaduais pela ineficiência do Estado brasileiro no
enfrentamento à violência.
Além disso, quando tratamos de ações preventivas e policiamento
comunitário, é importante que tenhamos em mente uma perspectiva
local. Assim, os poderes locais, por exemplo, municípios, subprefeituras
e entidades da sociedade civil que atuam localmente, passam a ser
de extrema importância. Além disso, essas ações, frequentemente,
devem ser promovidas em interseção com o desenvolvimento urbano
local. Nesse sentido, uma legislação que promove essa interseção é o
Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001), que enfatiza o planejamento
participativo como um dos pilares das boas práticas de governança
territorial e de prevenção.
Exemplificando
A Prefeitura de São Paulo construiu um sistema de indicadores de
direitos humanos denominado Sistema Intraurbano de Monitoramento
dos Direitos Humanos, o qual monitorava indicadores quantitativos
de direitos humanos e os relacionava a partir da base territorial das
subprefeituras, respeitando sua interdependência e indivisibilidade.
Reflita
Embora esse tipo de sistema exemplificado acima não exista em muitos
locais, esse exemplo nos mostra como é possível olhar para os dados a
partir da perspectiva dos direitos humanos e extrair deles informações
valiosas para se pensar os problemas das comunidades. É possível, por
exemplo, correlacionar o indicador síntese da dimensão “violência” com
o indicador síntese da dimensão “criança e adolescente”. Faça esse
exercício e reflita: o que essa correlação mostra?
Assimile
Recapitulando, no planejamento e na gestão de segurança, os
indicadores, como vimos, podem servir de subsídio a atividades de
planejamento e formulação de políticas públicas nas diferentes esferas
de governo e em conjunto com a sociedade civil. Podem, ainda, ajudar
no monitoramento das condições de vida e bem-estar da população.
Sua utilização pode, finalmente, ser definida pelos objetivos específicos
do projeto elaborado.
0,85
0,81
0,77
0,73
0,68
0,63
2004 2006 2008 2010
Descrição da situação-problema
Resolução da situação-problema
Em primeiro lugar, é preciso frisar que há muito mais que
os municípios podem fazer na área da segurança que não
envolve, necessariamente, guardas municipais. Reconhecer a
responsabilidade das cidades na garantia da segurança pública
significa aceitar a ideia de que a segurança não é apenas uma
questão de polícia, que não são as únicas responsáveis pela
ineficiência do Estado em combater a violência. Os municípios
podem adotar práticas de segurança como política pública
que extrapolam a lógica do confronto, adotando o caminho
da prevenção. Embora os gestores políticos prefiram, muitas
vezes, comprometer-se com práticas de maior impacto eleitoral,
ações cujo impacto é facilmente mensurável, como compra
de equipamentos ou aumento do efetivo das instituições de
segurança stricto sensu, as políticas públicas que focam na
prevenção são mais efetivas a longo prazo.
3.
Reflita
O direito à vida é um direito absoluto ou ele permite limitações? O que
você pensa sobre essas limitações, caso existam e estejam previstas por
algum ordenamento jurídico, nos casos de eutanásia e de aborto? E
nos casos da pessoa presa, em que seu direito à liberdade é restringido,
como fica o seu direito à vida? Assista aos seguintes vídeos, em que há
uma introdução à restrição do direito à vida no ordenamento jurídico
Exemplificando
A transversalidade ou a interdependência dos direitos humanos pode
ser observada em relação ao direito à vida e a todos os outros direitos
humanos. Afinal, sem a vida não é possível que a pessoa humana possa
existir e ser titular dos demais direitos humanos. Nesse caso, além da
inter-relação, da complementaridade, há uma vinculação do direito
à vida aos demais direitos humanos. Porém, apesar dessa vinculação
do direito à vida a todos os outros direitos humanos, como dissemos
acima, não há hierarquia (superioridade ou inferioridade) entre os direitos
humanos: todos eles estão no mesmo nível.
Assimile
Quais são os princípios que a Constituição Federal de 1988
estabelece? São diversos, mas a título exemplificativo temos os
princípios fundamentais do Estado brasileiro: soberania, cidadania,
dignidade da pessoa humana, valores sociais concernentes ao
trabalho e à livre iniciativa e pluralismo político. Outro exemplo
são os princípios que regem as relações internacionais do Estado
brasileiro. São eles: independência nacional, prevalência dos
direitos humanos, autodeterminação dos povos, não intervenção,
igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pacífica de
conflitos, repúdio ao terrorismo e ao racismo, cooperação entre
os povos para o progresso da humanidade e concessão de asilo
político.
Observe que são normas que contêm valores e bens, a fim de orientar
a aplicação e interpretação de outras normas, de regras, tanto na sua
fase de elaboração quanto de aplicação na realidade.
Assimile
Subsunção quer dizer o ato de subsumir. E subsumir, por sua vez, significa
levar em consideração um fato ou ato jurídico para a aplicação de uma
lei ou até de uma decisão judicial àqueles. Logo, subsunção nada mais é
do que se verificar o enquadramento da regra em relação ao ato ou fato
jurídico, ou seja, à realidade.
Assimile
Sopesamento significa o ato de sopesar, ou seja, contrabalançar,
equilibrar. No caso de sopesamento de princípios, quando houver
conflito entre estes, contrabalanceia-se um em relação ao outro, de
modo a haver um equilíbrio no final, ainda que um seja aplicável em
detrimento do outro. O equilíbrio se dará justamente pelo fato de ambos
continuarem a existir. Não cabe falar em desequilíbrio entre os princípios,
Exemplificando
O jurista André de Carvalho Ramos cita diversos casos em que há
conflitos de direitos humanos fundamentais. Por exemplo, o conflito
entre a liberdade de expressão e o direito à privacidade, à intimidade;
também pode haver conflito entre o direito à vida, o direito à liberdade
religiosa e o próprio direito à liberdade nos casos de aborto, eutanásia
ou de transfusão de sangue de pessoas cuja religião não permita esse
procedimento, porém a pessoa esteja sob risco de morte (como é o
caso das Testemunhas de Jeová). Além disso, temos ainda a questão
da liberdade de locomoção e o direito de greve: imagine um protesto
por melhores condições e salários no ensino público, na principal via
de uma grande cidade, na hora do rush – o direito à greve é justamente
causar transtornos e chamar a atenção para o problema que os grevistas
enfrentam. Mas como ficaria o transporte de pacientes por ambulância
que necessitem passar por essa região, ou até mesmo o transporte de
pessoas presas que necessitam ser transferidas de um presídio ao outro,
dada a periculosidade de seu comportamento?
Pesquise mais
Você poderá conferir o jurista alemão Robert Alexy falar sobre a
regra da proporcionalidade em evento realizado em 2016 para
comemorar os 70 anos do Tribunal Superior do Trabalho e os 75
anos da Justiça do Trabalho, em Brasília, acessando os seguintes
links: <https://www.youtube.com/watch?v=QH9aQ9taj5Y>; <https://
www.youtube.com/watch?v=il3fd6wh938>; <https://www.youtube.
com/watch?v=Q6WYQ-xXX6o>; e <https://www.youtube.com/
watch?v=PUADSNBTJmU>. Acessos em: 14 ago. 2017.
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Resolução da situação-problema
Ao se deparar com o protesto na marginal, liderado pelos
moradores de favela próxima, por melhores condições de
habitação, e encontrando a marginal bloqueada para a livre
circulação dos veículos, você deverá parar o veículo que conduz
e conversar com o representante ou líder da manifestação,
após identificá-lo. Deverá explicar que, muito embora o direito
à manifestação seja legítimo e que possa ser realizado por
meio do bloqueio parcial de vias de circulação, ele não poderá
ser absoluto. O direito à saúde dos presos que você transporta
deverá ser privilegiado, no caso, pelo fato de o direito à vida estar
entrelaçado a ele, de maneira mais intensa naquele momento,
dada a condição temporária do transporte dos presos, e que você
necessita continuar seu trajeto.
Essa análise deverá ser feita a partir da utilização das três
máximas parciais da regra da proporcionalidade: adequação,
necessidade e proporcionalidade em sentido estrito. A adequação:
a observação do direito à saúde dos presos é a medida mais
adequada em relação ao direito à manifestação dos moradores da
favela, em virtude de se atentar para a preservação da vida desses
indivíduos que se encontram em situação de encarceramento. A
2.
3.
O direito à vida tem um conteúdo de proteção positiva que
impede configurá-lo como um direito de liberdade que
inclua o direito à própria morte. O Estado, principalmente
por situações fáticas, não pode prever e impedir que
alguém disponha de seu direito à vida, suicidando-se ou
praticando eutanásia. Isso, porém, não coloca a vida como
direito disponível, nem a morte como direito subjetivo do
indivíduo.
[...]
O ordenamento jurídico-constitucional não autoriza,
portanto, nenhuma das espécies da eutanásia, quais sejam, a
ativa ou passiva (ortotanásia). Enquanto a primeira configura
o direito subjetivo de exigir-se de terceiros, inclusive do
próprio Estado, a provocação de morte para atenuar
sofrimentos (morte doce ou homicídio por piedade), a
segunda é o direito de opor-se ao prolongamento artificial
da própria vida, por meio de artifícios médicos, seja em caso
de doenças incuráveis e terríveis, seja em caso de acidentes
gravíssimos (o chamado direito à morte digna). (MORAES,
2003, p. 91-92)