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ABORTO

ART. 124 a 128 do CP


NOTAS INICIAIS
Aborto provocado pela gestante ou com seu
consentimento: “Art. 124 - Provocar aborto
em si mesma ou consentir que outrem lho
provoque: Pena - detenção, de um a três
anos”.

Conceito: é a interrupção da gravidez com a


consequente interrupção da concepção. É a
eliminação da vida intrauterina.
OBSERVAÇÕES
1. No conceito de aborto não é necessária a
expulsão do feto.
2. Autólise: consiste em dissolvissão do embrião
e a reabsorção pelo organismo materno.
3. O feto pode sofrer o processo de
mumificação ou de maceração (entrar em
estado de putrefação mediante mergulho e
inserção em líquidos próprios.
A LEI NÃO FAZ DISTINÇÃO
Não há distinção entre óvulo fecundado (3
primeiras semanas), embrião (3primeiros
meses) ou feto (a partir do terceiro mês em
diante).

O aborto pode ser realizado desde o início da


gravidez até antes do parto (ainda
intrauterino)
HABEAS CORPUS n° 124.306 – 1ª T. STF
Uma decisão moderna e conceitual a respeito
do tema foi proferida pelo Supremo Tribunal
Federal nos autos do Habeas Corpus 124.306.

A 1ª Turma do STF considerou que o aborto, se


praticado até o terceiro mês de gestação, não
deveria ser considerado crime no caso
analisado
FUNDAMENTO da decisão do HC – 3
óticas
1: da ciência: Até o terceiro mês não há formação
do sistema nervoso,o que significa que não há
cérebro formado da criança.
Esse entendimento nos remete à morte clínica da
vítima que só ocorre com a morte cerebral.
2: do aspecto social: As mulheres que praticam o
aborto são as mulheres comuns, de todas as
classes sociais, muitas já têm filhos. A Pesquisa
Nacional do Aborto verificou que quanto menos
escolaridade, mais riscos de prática de aborto
inseguro sofrem as mulheres
3. Do ponto de vista jurídico: o V. Acórdão encontra
amparo não apenas na Constituição Federal, mas
também no marco jurídico internacional. Quanto
a este se destaca a Convenção sobre a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação contra as
Mulheres (Convenção CEDAW).
Agilizar a revisão da legislação que criminaliza o
aborto, a fim de eliminar as disposições punitivas
impostas às mulheres, como já recomendado
pelo Comitê 9 (CEDAW/C/BRA/CO/6, parágrafo
3.); e colaborar com todos os intervenientes na
discussão e análise do impacto do Estatuto do
Nascituro, que restringe ainda mais os já estreitos
motivos existentes que as mulheres façam
abortos legais, antes da aprovação pelo
Congresso Nacional do Estatuto do Nascituro
OBJETO JURÍDICO
É a vida do feto. A preservação da vida humana
intrauterina.
OBS: no aborto provocado por terceiro (art.
125/126) o objeto jurídico é a vida do feto, bem
como da gestante, e sua incolumidade física e
psíquica.
OBS: Embriões mantidos fora do útero (reprodução
“in vitro” ou assistida que consiste no
recolhimento do sêmen do homem, congelado e
depois introduzido no óvulo da mulher. Após a
fecundação, este óvulo é introduzido no útero da
mulher
OBS: alguns óvulos fecundados (embriões),
excedentes, são descartados e congelados.
Pergunta:
Há crime de aborto no caso de descarte desse
embriões?
Resposta: Fato atípico!
Não sendo dentro do útero não pode ser
considerado crime de aborto.
Não sendo considerada a existência de vida, não
há homicídio nem infanticídio.
Não é considerada coisa, não podendo ocorrer
crime de dano.
ELEMENTOS DO TIPO
É “provocar”, que significa dar causa, origem ao
aborto.
Ação física: até antes do parto. Visa a morte da
vida ultrauterina. Se for após, haverá
infanticídio (por influência do puerpério e
praticado pela própria gestante) ou homicídio
(pela gestante sem o puerpério ou por
terceiros).
MEIOS DE EXECUÇÃO
Crime de ação livre (ação ou omissão) através dos
seguintes meios:
1. químico: substâncias não necessariamente
abortivas,mas atuam por via de intoxicação
(arsênio,fósforo, mercúrio, ópio, etc.)
2. psíquicos: susto, terror, sugestão,etc;
3. físicos: podem ser mecânicos (ex: curetagem);
Térmicos (ex: aplicações de bolsa de água quente e
fria no ventre), elétricos (ex: corrente galvânica
– contínua - ou farádica - alternada)
Por omissão: quando o sujeito ativo tem a
posição de garantidor (médico, enfermeira,
parteira, etc) que vendo o risco e o trabalho
de parto nada faz para evitar o aborto
SUJEITO ATIVO
No art. 124 (auto aborto ou aborto consentido)
somente a gestante por tratar-se de crime de
mão própria (O crime de mão própria só pode ser
cometido pelo sujeito em pessoa, ou seja, pelo
autor direto da ação. Ninguém os comete por
intermédio de outrem.
Somente poder ser praticado pelo próprio agente
mas admite a participação (art. 29 do Código
Penal)
No aborto provocado por terceiro com ou sem
o consentimento da gestante (art. 125 e 126),
trata-se de crime comum,podendo ser
qualquer pessoa
SUJEITO PASSIVO
No auto aborto ou aborto consentido (art. 124
do CP) é o próprio feto.
OBS: não se concebe ser a gestante, neste
caso,sujeito ativo e passivo do mesmo crime.

No aborto provocado por terceiro sem o


consentimento da gestante: a gestante e o
feto (crime de dupla subjetividade passiva)
CONSUMAÇÃO
Consuma-se com a morte da vida intrauterina.
É crime material (exige um resultado) e
instantâneo (esgota-se no mesmo momento
de sua consumação.
OBS: pode ser que o feto nasça com vida e logo
em seguida venha a morrer por razão de sua
expulsão do ventre da gestante.
DIU E PÍLULA DO DIA SEGUINTE
São permitidos por Lei pelo Estado, logo, seus
princípios ativos não podem ser considerados
crimes.
PROVA DO DELITO
É crime que deixa vestígios,portanto,o exame de
corpo de delito é obrigatório. CPP
Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática
da infração penal, a autoridade policial
deverá: ... VII - determinar, se for caso, que se
proceda a exame de corpo de delito e a
quaisquer outras perícias
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios,
será indispensável o exame de corpo de delito,
direto ou indireto, não podendo supri-lo a
confissão do acusado.
NEXO DE CAUSALIDADE E
TENTATIVA
A morte do feto deve ser por razão das
manobras e meios utilizados para a
consumação do aborto.

Caso o feto venha morrer por outra causa, será


tentativa.
Crime impossível
1. Emprego de meio absolutamente inidôneo
gera crime impossível. Ex: realizar práticas do
aborto tomando água com açúcar crendo ter
ingerido veneno.

Se o meio for relativamente idôneo, haverá


tentativa. Ex: tomar veneno em dose bem
ínfima que não chega a causar aborto na
gestante.
2. Absoluta impropriedade do objeto. Ex: ingerir
substância capaz de causar o aborto, mas o
feto já se encontrava morto no ventre da mãe.
ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo direto ou eventual. Não se admite a
modalidade culposa da gestante (fato atípico).

OBS: conduta culposa de terceiro fará com que


ele responda pelo crime do art. 129, § 2°,V
(lesão corporal grave na modalidade culposa)
Aborto provocado pela gestante ou com seu
consentimento Art. 124 - Provocar aborto em si
mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena
- detenção, de um a três anos.

Aborto provocado por terceiro


Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da
gestante:Pena - reclusão, de três a dez anos.

Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da


gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior,
se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é
alienada ou debil mental, ou se o consentimento é
obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência
Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos
anteriores são aumentadas de um terço, se,
em conseqüência do aborto ou dos meios
empregados para provocá-lo, a gestante sofre
lesão corporal de natureza grave; e são
duplicadas, se, por qualquer dessas causas,
lhe sobrevém a morte.
CAUSAS DE EXCLUSÃO DA
ILICITUDE
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por
médico:
Aborto necessário OU TERAPÊUTICO
I - se não há outro meio de salvar a vida da
gestante; Aborto no caso de gravidez
resultante de estupro – (Humanitário ético)II
- se a gravidez resulta de estupro e o aborto é
precedido de consentimento da gestante ou,
quando incapaz, de seu representante legal
DISCRIMINANTE PUTATIVA
§ 1°, do art. 20 do CP (erro de tipo) No aborto
legal, caso a junta médica, por exemplo,
chegar à conclusão de que a gente corre
perigo por equivoco no diagnóstico haverá
exclusão do dolo e, portanto,do próprio crime
ABORTO EUGÊNICO OU PIEDOSO
Aquele em que se realiza com o fim de impedir
que a criança nasça com enfermidade
incurável e que debilita a vida da criança.
Ex: anencefalia
OBS: não há previsão legal disso. Há
entendimento jurisprudencial: STJ, 5ª Turma,
HC n° 56.572 SP

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