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Relatório de visita aos museus:

Memorial Minas Gerais Vale e MM Gerdau - Museu das Minas e do Metal


Cefart | Acessibilidade e Estética | Isabela Cordeiro Lopes

Realizamos duas visitas aos museus das Minas e do Metal e ao Memorial Minas Gerais,
respectivamente. Apesar do tempo curto, foram visitas muito ricas no material de observação e
discussão que propiciaram, principalmente no que toca aos aspectos educativo e expográfico, e
às suas implicações sociais e políticas. São ambos os museus parte do Circuito Liberdade,
funcionando em dois grandes e imponentes prédios históricos da cidade de Belo Horizonte.
Conservando principalmente um caráter educativo, de ensino prático e interativo de dois
aspectos centrais da vida mineira (a metalurgia e os minérios; e a história de Minas Gerais),
ambos os museus cativam os visitantes por suas múltiplas possibilidades de interação, diversão
e encontro com aquilo que está exposto. Cabe, aqui, observar um fato relevante para a análise
dos ambientes museais e de sua opção narrativa: tanto o Memorial quanto o Museu pertencem
a duas grandes empresas privadas de exploração de minério - Vale e Gerdau, respectivamente.
A isso cabe somar o comentário de que, interessados em entreter da melhor e mais efetiva
maneira o maior número possível de visitantes, os museus preocupam-se, em primeiro lugar,
com sua imagem como empresas perante o público, e sua narrativa, estética e escolhas
curatoriais serão nesse sentido.

Estética: Ambos os museus prezam por uma estética arrojada e chamativa:


expograficamente, afastam-se tanto quanto possível da escolha pelo cubo branco, optando, ao
invés disso, pela estética da caixa preta. Com espaços pouco iluminados, paredes escuras e
organização muitas vezes labiríntica, os museus procuram, auxiliados por recursos tecnológicos
e interativos, os museus procuram criar um ambiente de imersão e maravilhamento em que o
público entre inteiramente. Tanto o Memorial Minas Gerais quanto o Museu das Minas e do
Metal optam por não manter o formalismo ritual das paredes brancas e dos corredores
silenciosos impostos pelo conceito do cubo branco: pelo contrário, a estética escolhida por eles
abre espaço (ainda que não inteiramente, pois é social e culturalmente construída a aura e o
fetiche dos museus) para vozes mais altas, toques nos materiais expostos, risos nas salas, etc.
Isso é um fator positivo, que encoraja maior participação do público nos espaços e é, certamente
conlvidativo.
Essa escolha, tão contemporânea expograficamente quanto possível, acaba por não
deixar espaço livre para a construção ou levantamento de questões contraditórias, críticas ou de
conflito com a narrativa pré-estabelecida e passada pelas instituições. Envoltos pela diversão e
pelas múltiplas possibilidades, os visitantes não são colocados em um espaço de
questionamento ou de embate, sendo mais fácil serem pegos por um discurso já corriqueiro e
banalizado, que é aquele adotado pelas narrativas.

Acessibilidade: A começar pelo que ambos os museus visitados têm em comum, é


preciso comentar que, a despeito de sua grande preocupação em conquistar o público e em ser
abrangentes, nenhum dos dois consegue ser realmente acessível para todos os visitantes. Apesar
da rapidez das visitas, foi possível observar a ausência de piso tátil nos corredores e espaços de
visita, de iluminação apropriada (os ambientes são, devido às estratégias interativas, pouco
iluminados), de sinalização em Braille ou Libras, entre outros. A lista pode ser extensa, e de
fato continuaria a ser se fosse feita uma análise mais completa.
No Museu das Minas e do Metal, onde pudemos ter uma visita mediada, foi possível
conhecermos as estratégias do corpo educativo do espaço no sentido de adequar-se aos públicos
diversos. Apesar de ainda faltarem muitas iniciativas, existe um esforço em tornar a experiência,
não apenas para públicos com deficiência, mais prática, fornecendo materiais para toque e
interação, jogos, etc. Ainda nesse sentido, o grupo de profissionais também trabalha na criação
de guias e materiais em Braille e, apesar de ainda faltar boa parcela de iniciativas, o espaço tem
uma atenção nesta direção: mesmo não havendo a possibilidade de uma visita autônoma e livre
por parte de pessoas com mobilidade restrita, deficiência visual ou auditiva, os mediadores
estão preparados e habituados a receberem esses públicos, podendo, de alguma forma, melhorar
sua experiência no espaço museal.

Por fim, as visitas foram, sem dúvida, muito enriquecedoras no que tange a compreensão
das estratégias expositivas, suas vantagens e falhas. Este relatório articula os principais pontos
de uma forma breve e superficial, o que certamente aponta para a vastidão de análises possíveis
e potenciais da observação de ambos os espaços expositivos.

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